Este documento é um resumo de três capítulos de um livro de ficção sobre uma família que administra um local conhecido como "A Catedral", onde todos os sete pecados capitais são explorados. O resumo descreve a preparação de um jantar misterioso, o passado complexo de uma personagem feminina chamada Jezabel e um momento íntimo entre Jezabel e outra personagem feminina chamada Dalila.
Este documento é um resumo de três capítulos de um livro de ficção sobre uma família que administra um local conhecido como "A Catedral", onde todos os sete pecados capitais são explorados. O resumo descreve a preparação de um jantar misterioso, o passado complexo de uma personagem feminina chamada Jezabel e um momento íntimo entre Jezabel e outra personagem feminina chamada Dalila.
Este documento é um resumo de três capítulos de um livro de ficção sobre uma família que administra um local conhecido como "A Catedral", onde todos os sete pecados capitais são explorados. O resumo descreve a preparação de um jantar misterioso, o passado complexo de uma personagem feminina chamada Jezabel e um momento íntimo entre Jezabel e outra personagem feminina chamada Dalila.
Este documento é um resumo de três capítulos de um livro de ficção sobre uma família que administra um local conhecido como "A Catedral", onde todos os sete pecados capitais são explorados. O resumo descreve a preparação de um jantar misterioso, o passado complexo de uma personagem feminina chamada Jezabel e um momento íntimo entre Jezabel e outra personagem feminina chamada Dalila.
É estritamente proibido a reprodução e/ou armazenamento dessa obra, parcial ou completa através de qualquer meio sem o consentimento por escrito da autora.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares
e acontecimentos descritos são produtos da imaginação do autor. Certos locais poderão existir, mas os eventos são fictícios.
Diagramação: Manu Marinho
Revisão: Ana Laura Ritter Brito Betagem: Izabelly Psendziuk, Debora Garibaldi Capa: Bruna Silva NOTA DA AUTORA DEDICATÓRIA PREFÁCIO PRÓLOGO ATO I ATO II ATO III AGRADECIMENTOS Um bando de estrangeiros que havia no meio deles encheu-se de gula, e até os próprios israelitas tornaram a queixar-se, e diziam: “Ah, se tivéssemos carne para comer! Números 11:4 Esse é o terceiro de sete contos em torno da família e negócios dos De La Cruz, que irão explorar os sete pecados capitais baseados no catolicismo. Não precisam ser lidos em ordem, pois são histórias independentes e não sequenciais, entretanto, se passam no mesmo universo. Os contos possibilitam que você conheça os De La Cruz pelo ponto de vista de personagens marcantes, que cruzaram o caminho da família e deixaram um pouco de si nas paredes da Catedral. O conto não tem pretensão de fazer você se apaixonar pelos personagens. A intenção é que você perceba que existem pessoas que não conseguem exercer controle sobre suas próprias ações e se rendem à imoralidade com mais facilidade. Algumas apenas nascem assim. Esse em especifico não é uma história bonita.
Aviso: Este conto contém cenas de violência gráficas,
incesto, canibalismo, abuso sexual, abuso infantil e sexo explícito Para garotas que tiveram seus corpos tomados de si, pegue-os de volta. Dante Alighieri apresentou os pecados em seus três infernos. São Tomás de Aquino transformou o conceito em sete círculos, e Mahatma Gandhi também deu sua versão. Em La Catedral você verá o porquê homens caem de joelhos sobre seus pecados, venerando e morrendo por cada um deles. Luxúria, raiva, soberba, preguiça, inveja, gula e avareza podem levar a alma humana a seu maior ato de perversão. Quem ali entrava puro, jamais saía da mesma maneira. Erguida acima de ruínas de uma antiga igreja, La Catedral, era onde tudo de ruim, desumano e cruel poderia existir e sair das mãos da família De La Cruz.
Mas essa história, ainda não é sobre eles.
A cozinha gigante que fica acoplada aos fundos da Catedral, já havia realizado um pouco de tudo. Ainda que nenhuma estrela Michelin tenha preparado o suficiente o renomado chefe francês, Timothée Laurent, para o que seus patrões haviam mandado ele criar. Enquanto orientava seus subordinados sobre o tempero da carne, já pronta para ser assada, percebeu que pessoas com dinheiro e poder tinham algo em comum: a loucura de quebrar regras pelo próprio prazer. Laurent sabia como comandar uma cozinha, cumprindo a exigência da família De La Cruz há tantos anos que sequer lembrava quando foi a última vez que não serviu as melhores experiências a eles e seus convidados. Admirando o que ele e sua equipe haviam feito, acompanhou com o olhar os três irmãos se sentarem ao redor da grande mesa de mogno do salão que ficava no último andar da Catedral, que anos atrás era o local sagrado onde padres, sacerdotes e bispos faziam suas refeições e discutiam sobre a Bíblia. O mais velho, sentou-se à cabeceira. O cabelo escuro crescido, penteado para trás e com alguns fios brancos começava a denunciar a idade de Alejandro De La Cruz, que sorria para a mulher que se sentava à sua direita. Victoria De La Cruz era o anjo caído que os homens poderiam sonhar, mas jamais ousariam encostar. O cabelo preto e liso batia na cintura e a expressão de divertimento pelo que iria acontecer era vista em seus lábios, somente perdia para a animação que seu irmão mais novo, sentado à sua frente, expressava. Conhecido por flertar até com uma faca apontada para sua garganta, Sebastian também tinha os cabelos grandes, os fios loiros que caiam sobre seu rosto eram jogados para trás com uma simples passada de mão. — E que o jantar comece! — Sebastian ordena, rindo, enquanto ergue sua taça para o alto. Victoria e Alejandro se entreolham e esboçam um pequeno sorriso. E assim, o jantar foi servido. “Violinos tocando e anjos chorando Quando as estrelas se alinharem eu estarei lá Não, eu não me importo com todos eles Porque tudo que eu quero é ser amada E tudo que me importa é você” Tattoo – Loren O cheiro de álcool me trazia uma sensação familiar e ao mesmo tempo degradante. Lembrava-me de quando precisava limpar as feridas nas costas da minha mãe usando um produto semelhante, e em seguida derramar o álcool sobre o chão para limpar os excrementos que seu corpo liberava. Lembrava-me do hálito forte que saía da boca de papai quando ele entrava no quarto que um dia dividiu com a minha mãe, e agora, comigo. Mamãe tinha Alzheimer. Ao completar 48 anos de idade, a sua doença se agravou com a descoberta do diabetes. Eu me tornei a mulher da casa e da sua cama. Nasci quando ela tinha trinta e quatro anos, e meu pai, dez anos mais novo, tinha apenas vinte e quatro e o desejo ter filhos. Ele vinha de família rica, mas abandonou tudo para viver na miséria com o amor da sua vida. No meio de infidelidades, socos e fome, Camila me criou, mas nunca foi uma grande fã da maternidade, e foram inúmeras as vezes em que disse que eu fui o meio para um fim. Fitei por alguns instantes a mulher de meia-idade que se abaixava para pegar o pano acinzentado pela sujeira do piso do salão principal e deixava um rastro com cheiro de álcool pairando sobre o ar. A Catedral, construída com blocos de pedra e uma aparência maquiavélica, se mantinha em pé com a sujeira que álcool algum limparia e olhos curiosos só conseguiam ver quando a noite caía. Ao entrar aqui, me tornei Jezabel. Um novo nome, um rosto bonito e nenhuma história. O meu passado apenas batia na porta quando papai me visitava, e infelizmente, com mais frequência do que eu gostaria. Andando pelo salão, me distraí ao som do bar sendo organizado e da louça sendo lavada. Senti uma mão pequena e macia passear pela minha cintura e, ao virar, vi o rosto que já tinha gravado na memória apoiar-se em meu ombro. Sorri, e me enchi de esperança como sempre acontecia quando a tinha por perto. Há dois anos, desde que coloquei meus olhos em Dalila que dançava lindamente sobre o palco, ela se tornou o meu mundo. Era minha primeira noite aqui e foi como se tudo ao nosso redor estivesse parado no tempo. Só existia a mulher de pele negra e as luzes vermelhas que passeavam por seu corpo curvilíneo. Ela era expressiva, alegre e sempre via o melhor lado das coisas, mesmo vivendo nesse inferno, muito diferente de mim. Como a maioria das outras garotas, nós havíamos sido vendidas para a Catedral quando nossa maioridade legal chegou. A vida que Dalila levava aqui era melhor do que a fome e a violência de onde vinha. — Um milhão de pesos por tus [ 1 ] pensamentos. — comentou, colocando-se à minha frente. A pele negra era banhada pela luz do ambiente, reluzindo, o cabelo crespo sempre bem arrumado e um sorriso branco, que moldava seu rosto perfeito, chegava até os olhos grandes e escuros, dando a impressão de que tocá-la era um pecado. Eu a via com olhos enfeitiçados, e tinha certeza que não era a única, quando ela passeava pelo salão. — Você não teria esse dinheiro nem se sua vida dependesse disso, cariño [ 2 ] . Devolveu uma gargalhada gostosa de ouvir. — Você não precisa ser estraga-prazer sempre, tá? — O que faz aqui? — Olhei para trás esperando a nossa carrasca pessoal reclamar que estávamos paradas no meio do salão sem fazer nada, mesmo sabendo que havíamos feito mais do que conseguíamos para manter uma falsa ordem naquele lugar. — Hum… — colocou as mãos atrás das costas e arqueou as sobrancelhas numa expressão brincalhona. — Ouvi boatos que la jefa [ 3 ] foi resolver coisas para a família. — Para Ximena não estar aqui, nos rondando duas horas antes, alguma coisa importante aconteceu. — Cruzei os braços na frente do corpo e derrubei a cabeça para o lado, encarando Dalila que me devolvia o olhar travesso, preparada para aprontar algo. — Mas não é só isso, certo? — Algumas garotas estão ocupadas com os figurinos… — disse enquanto se aproximava. Seus dedos passeavam pelo meu pescoço de forma lenta. — E os seguranças estão mais preocupados em conversar com as garotas, então… Eu não precisava ser muito inteligente para entender que aquilo era um convite, um que eu jamais recusaria. Acompanhei Dalila para o quarto que sempre íamos para fugir daquela realidade, e entrar em um tempo somente nosso. Não era permitido qualquer tipo de relacionamento entre as pessoas que viviam aqui, uma regra que sempre violamos. Fechei a porta assim que entramos, Dalila retirou as roupas que usava e se deitou na cama espaçosa e bagunçada que deveria estar arrumada. O sorriso diabólico e faminto foi o bastante para eu sentir minha boceta pulsar, retirar com urgência a minha roupa e engatinhar para cima dela. Minha boca se arrastou por seu corpo, tecendo beijos por seu pescoço e descendo da barriga até chegar ao clitóris. Passei a língua pelo ponto pulsante e ouvi um leve arfar de seus lábios. Minha boca envolveu a carne da sua boceta e meti a língua lambendo e sugando a excitação que escorria. Dalila segurou minha cabeça com a mão, pressionando na direção do seu corpo em busca de mais atrito. Deslizei dois dedos para dentro dela em movimentos lentos, enquanto minha boca continuava sugando o clitóris e mordiscando os grandes lábios. Depois de sua risada, seu gemido era meu som favorito, ainda mais quando implorava para gozar chamando meu nome. Enfiei mais um dedo e senti sua boceta esmagando eles. Aumentei o ritmo, com meus dedos pressionando o lugar certo, ela se desfez em prazer em minutos. Lambi a boceta lambuzada de excitação e subi minha boca em direção a dela. Beijando-a para que sentisse seu próprio gosto. Sem deixar de mover os dedos dentro dela, agora mais lentamente, Dalila tinha a respiração entrecortada. — Você aguenta? — Sussurro contra a sua boca molhada, a sujando com sua própria excitação. — Você está molhada o suficiente para aguentar a minha mão inteira dentro de você? Dalila concordou em um breve aceno, incapaz de falar. Como sempre, seu olhar era profundo e cheio de desejo. Desci a boca até os seios empinados que imploravam por atenção, sugando-os com vontade. Sentei sobre os calcanhares em cima da cama enquanto observava seu corpo se ondular em prazer e brilhar pelo suor. Suas mãos massageavam apressadamente os próprios peitos em busca de alívio. Encarei sua boceta sugando e se expandindo enquanto enfiava meus dedos em um vaivém. Minha outra mão acariciava seu clitóris oferecendo mais prazer, quanto mais ela relaxar, mais fácil para receber minha mão inteira. Deslizei o quarto dedo, ela grunhiu na cama e apertou mais seus peitos, a boca entreaberta. — Olhe pra mim! — ordenei. Dalila me encarou e era o bastante pra eu cair na perdição dos seus olhos. Como a porra de uma sereia, ela conseguia me arrastar para o fundo dela sem que eu pensasse duas vezes. Enfiei o polegar lentamente, sentindo sua boceta esmagar mais a minha mão enquanto eu lutava para que ela recebesse tudo dentro dela. O olhar que ela me dava era de pura luxúria, e eu sabia que entre nós, me era tudo permitido. Esfregando seu clitóris mais rápido, senti minha mão se encaixando. — Dói? — Indago, a voz soa baixa e rouca. — Eu aguento. — respondeu, a voz por um fio. — Boa garota. Minha mão se movia com dificuldade para dentro e fora da sua boceta, e foi o necessário para seu corpo responder em um prazer inebriante. Seus gemidos tornaram-se mais intensos e acompanhei ela se desfazer em um grito agudo. Sorri, satisfeita. Retirei a mão de dentro dela, que abriu os olhos me assistindo lamber cada um dos dedos para sentir seu gosto. Seu sorriso reluziu algo dentro de mim, e foi naquele momento que entendi que o que eu sentia por Dalila era quase criminoso de tão intenso e esmagador. — Minha vez. — comentou e ergue-se, me jogando na cama. Eu sabia que ela estava dolorida por dentro, com o corpo exausto de gozar, mas isso não foi um impeditivo. Sua boca desceu por meu corpo e ela lambeu minha boceta melada. Sua língua me explorava em um ritmo frenético. A boca saiu, dando espaço para que eu sentisse dois dedos entrando e se movendo lentamente, enquanto a outra mão deslizava o dedo à procura de espaço para entrar no meu cu. Relaxei sobre seu toque, sentindo seus dedos explorarem meus pontos de prazer e sua boca sugar a parte interna da minha coxa até voltar ao meu clítoris dolorido. Não demorou muito para suas investidas se tornassem violentas e rápidas, deixando minhas partes levemente doloridas, me fazendo tremer e se desfazer em cada toque. Dalila retirou os dedos e beijou minha barriga. Continuei com os olhos fechados, acalmando minha respiração, senti sua movimentação para fora da cama em direção ao banheiro para lavar as mãos. Ela voltou, deitou-se ao meu lado com a cabeça em cima do meu ombro. Seus dedos gelados subiam e desciam, brincando por minha barriga. Neste momento, expondo-se ao risco de sermos pegas e morrermos, descansei com Dalila junto ao meu corpo. Suadas, satisfeitas e tentando respirar com mais calma para organizar os próprios pensamentos e sentimentos. Encarei as paredes rústicas daquele lugar, achando irônico como o inferno podia ter me guardado seu anjo mais bonito.
As canções de ninar sempre tinham um gosto amargo na minha
boca, eram lembranças que eu lutava para esquecer. Papai as cantava sempre que acariciava meu cabelo, com o intuito de me fazer dormir depois de seus toques sujos. Era o único amor paterno que eu conhecia, era o seu jeito de dizer que me amava e que cuidava de mim. Mamãe não conseguia mais ajudá-lo da forma que ele precisava, então eu estava presente para ele. Eu sabia o quanto era errado. As meninas da escola nunca contavam essas histórias quando falavam sobre seus pais, e eu jamais ousaria ser a primeira. Meu coração acelerou, as batidas frenéticas e pulsantes chegavam em meus ouvidos, quando a porta do quarto da Catedral em que eu o aguardava abriu e fechou, denunciando sua chegada. Não me movi, continuei sentada na beirada da cama, os olhos fixos analisavam os pelos finos e loiros da minha coxa. À noite, quando rezava, perguntava para Deus por qual razão a forma de amor dele doía tanto a ponto de me rasgar por dentro. E eu não sabia se a pergunta era direcionada a Deus ou ao papai. No momento em que ele tocou no meu ombro, me deitou sobre a cama e, mais uma vez, invadiu meu corpo com investidas violentas, eu desassociei daquilo que vivia e enxerguei os olhos brilhantes e profundos de Dalila, lembrei-me de seu sorriso que me fazia suspirar e da sua risada que era o meu som favorito toda vez que ouvia. Meu bicho-papão nunca se escondeu no armário ou embaixo da cama, ele vinha durante o dia e eu não podia pedir socorro quando meu salvador e meu algoz eram a mesma pessoa. … Abri lentamente os olhos para verificar se papai dormia ao meu lado, ele sempre o fazia. Encarei o homem que estava deitado inspirando profundamente e de forma pacífica, ele tinha lábios finos, uma barba alinhada com fios brancos que imitavam o mesmo tom do cabelo curto, preto e desgrenhado. Ele era bonito por fora, mas por dentro, era como um corpo em decomposição: pútrido e nojento. Assustei-me com o toque baixo do celular e esperei o som cessar. Papai não se mexeu, continuou dormindo. Percebi que estava prendendo a respiração, e aos poucos, liberei o ar lentamente enquanto acompanhava os movimentos que o corpo de Mathias fazia. O toque voltou a preencher o ambiente e levantei com cuidado procurando o celular. Vasculhei as roupas no pé da cama e a tela brilhou, revelando um contato salvo como “Amor” e a imagem de uma mulher que era desconhecida para mim. Eu não podia acreditar, eu não queria acreditar. Peguei o celular com as mãos trêmulas, a boca do estômago dando um nó e a queimação se expandindo. Ele vem aqui, e tem alguém. O homem deitado nessa cama segue me abusando e voltando para sua nova família. Deslizei a tela para atender e senti meu coração parar por um segundo. — Papai? — A voz infantil soou do outro lado, animada e esperançosa pela resposta. O celular caiu no chão em um baque alto e eu deslizei lentamente para o mesmo lugar, absorvendo o choque de saber que ele poderia estar fazendo o mesmo com outra criança, roubando seus sonhos e sua vida cada vez que entrava em seu quarto. A realidade, lentamente, se mostrava para mim. Fora destas paredes ele possui outra vida, outra filha e uma mulher ao seu lado que não sabe do que ele é capaz. — O que você está fazendo aí? — O barulho do celular caindo finalmente o despertou. Ele reconhece o ambiente e entende o que acabou de acontecer, pulando da cama em direção ao celular, ele nota a chamada ainda ligada. Seu rosto se transforma em puro ódio. Não vi o momento em que o seu pé acertou minha costela, mas senti a dor aguda quando meu corpo foi jogado para o lado com o impacto. — Que merda você fez, sua cadela? — Você tem outra vida… tem outra filha, e deve fazer o mesmo com ela. — murmuro, me arrastando para longe dos seus pés, mas não o suficiente para ele não conseguir me pegar. Mathias se posiciona sobre mim, os joelhos encaixados em cada lado do meu corpo. Suas mãos agarraram meu pescoço, apertando-o. — Eu jamais tocaria na minha filha, sua putinha. — grunhiu. O ódio era visível no tom da sua voz e no olhar carregado que me encarava como se eu fosse uma destruidora de lares, visto que ele havia arrancado tudo de mim. Arranhei seus braços tentando afrouxar o aperto do meu pescoço. Uma de suas mãos se fechou e veio em direção ao meu rosto, acertando meu nariz e boca em um murro violento. Minha cabeça latejava pela dor, do meu nariz escorria o sangue que deixava um gosto amargo na boca. Desejei morrer naquele momento. — M-me solta, po-por favor… — implorei com a voz embargada do choro. — Você foi uma putinha obediente quando a sua mãe faltou na cama e vai continuar sendo até quando eu quiser. Dar um fim naquela vagabunda doente foi a melhor coisa que fiz. Um. Dois. Três. Senti sua mão se afastar do meu pescoço. E mais uma vez, eu rezei questionando os motivos de passar por tudo isso. Implorei pela morte e implorava para que quem me quisesse, viesse e tomasse o que restou da minha alma. Qual pecado eu havia cometido para ser castigada desde pequena? — Me mate, papai. — sussurrei o meu desejo. Eu estava inerte naquele chão, eu não sentia mais nada além de dor por cada centímetro do meu corpo. Mathias se colocou novamente em cima de mim, sua voz agressiva e olhos transtornados foram a última coisa que vi quando ele voltou a segurar minha cabeça com as duas mão e enfiar no chão: — Eu não sou seu pai, cadela.
A primeira coisa que senti quando recobrei a consciência: dor.
As memórias vieram como uma avalanche, doeu mais do que qualquer murro que Mathias acertou em meu corpo. Eu não era filha dele, ele sempre me tratou assim pois sabia que eu não era sua filha. — Acorda, cariño. — Ouvi a voz familiar que eu tanto gostava. Era um sussurro sofrido. — Por favor, acorde. Grunhi abrindo os olhos e reconhecendo o ambiente vazio e mal iluminado. Estava deitada na minha cama, no quarto apertado que todas nós ficávamos, não sabia como havia chegado, tinha quase certeza de que a mulher frente a frente comigo foi bem convincente para fazer algum homem me carregar até aqui. — Quanto tempo estou assim? — indaguei, tentando sentir algo além da dor. — Umas dez horas. — respondeu. Dalila suspirou pesadamente e me encarou. Não havia aquele brilho nos seus olhos. — O que aconteceu naquele quarto? Fechei os olhos para evitar desabar em choro na sua frente. — Ximena não está nada contente com o que aconteceu. — espiei seu rosto. Dalila encarava os próprios dedos, como uma garota mimada encara as unhas. — Por você não estar fazendo dinheiro e não por estar toda quebrada. Deixei escapar um riso baixo mas me arrependi com o latejar em minha cabeça. A sua tentativa de melhorar o ar do ambiente sempre fazia eu me render. — Você é uma vagabunda. — sussurrei gemendo com a dor. — Você sempre foi boa com elogios, não é? Dalila me entregou um copo com água e algumas pílulas brancas que tomei sem pensar muito sobre o que poderia ser. — Acho que você pode descansar por mais um tempo. Assenti e me encaixei na pequena cama que era a coisa mais confortável que meu corpo poderia sentir. Ela apoiou a cabeça no meu peito e segurou minha mão, senti o cheiro do seu cabelo e seu toque mandou embora toda a incerteza que eu tinha. — Eu irei matá-lo. — confidenciei, sem impedir que as lágrimas caíssem e o salgado delas fizessem os machucados do meu rosto arder. — Juro por qualquer merda, que eu vou fazer aquele homem sentir o inferno que ele me causou. Dalila ergueu o rosto, sua boca a centímetros da minha. Ela respirou fundo. — Nós iremos. O seu olhar mudou para algo que nunca havia visto em seu belo rosto, o sorriso perverso tomava conta de seus lábios. Senti o ódio se alastrando pelo meu corpo como uma raiz invadindo o chão para manter-se de pé. “Você não pode tirar isso de mim Não vê que não vou aceitar isso deitada? E eu posso te ouvir quando fala seu veneno Palavras ruins não podem me machucar agora, eu não vou aceitar isso deitada” Lying Down – Celine Dion Quatro semanas se passaram. O inchaço do meu rosto havia sumido, as manchas roxas ainda estavam presentes no meu corpo, agora amarelo-esverdeadas. Toda vez que eu me encarava no espelho pronta para me vestir e rebolar em cima do palco, eu odiava Mathias com todas as minhas forças. Sua voz sempre voltava como um sermão, as lembranças de que fui obrigada a ficar embaixo dele desde a minha infância me causavam arrepios. Ximena disse que ele não voltaria mais, e somente entraria aqui se pagasse o dobro. Em suas palavras, os De La Cruz não gostavam de ter seus brinquedos quebrados pela metade do preço. Eu sabia que ele voltaria, a sua obsessão existia desde que eu era uma garotinha. Mathias sempre voltava, mesmo depois de me machucar e dessa vez não seria diferente. Acompanhei o olhar de Dalila passeando sobre o salão principal. Era uma noite agitada para homens e mulheres que gostavam de perversidade na cidade de Medellín. Recostada no bar, esperei, sem ânimo, por minha vez para dançar ou para algum cliente me convidar para um dos quartos. As luzes passeavam pelo ambiente, homens em ternos caros tinham garotas com metade da idade rebolando em seus colos. A luz vermelha refletindo os pontos principais do lugar brincava iluminando as garotas que rebolavam nos pole dances. Meus olhos encontraram os dele e eu estremeci, Mathias estava ali parado no meio do salão me procurando. Segurei o braço de Dalila e ela me olhou preocupada. — Ele está aqui. — sussurrei. Seu rosto se direcionou para o meio do salão, procurando por ele. — Fique tranquila, vai dar tudo certo. Senti ele chegar perto de mim antes mesmo de olhá-lo novamente. A roupa estava bem alinhada no corpo, com certeza era cara. O cabelo cortado, a barba com acabamento bem feito e um olhar sombrio. Ele passeou os olhos pelo meu corpo e pelo de Dalila, e eu entendi o que aconteceria logo em seguida. Ximena chegou atrás dele com o melhor sorriso que poderia dar, usando o batom vermelho com um vestido da mesma cor que apertava o seu corpo, deixou o cabelo preto ondulado cair sobre os seios expostos em um decote generoso. Se o inferno fosse feito de cobras, Ximena seria a rainha delas. Não havia um pingo de humanidade dentro daquele corpo quando o assunto era ser leal aos De La Cruz. — Garotas, o senhor Vargas pagou uma bela quantia para ter a diversão das duas essa noite. — sorriu de forma macabra. Aquela vagabunda sabia que ele era o homem que quase me matou, contudo, era inegável que o dinheiro compraria até mesmo a minha liberdade dentro desse lugar. — Garantam uma noite inesquecível para ele no quarto seis. Ximena piscou, acariciou as costas do homem e saiu rebolando entre as pessoas dispersas no salão. Dalila segurou minha mão e ficou ao meu lado, exibindo o falso sorriso gentil e animado. — Daremos a melhor noite ao senhor. Mathias não respondeu, apenas esperou que andássemos até o quarto reservado e nos seguiu de prontidão pelo corredor. Os quadros com pinturas assustadoras expostos nas paredes de tijolos desgastados me perturbavam sempre que passava por aquele caminho, era quase um presságio de que aquilo não terminaria bem. Mathias não era burro, sabia que me recolher atrás de Dalila significava alguma coisa. E como meu demônio pessoal, ele fazia o papel com precisão de ferir tudo que eu tocava. Passei os olhos por todo o quarto, analisando cada item disposto naquele lugar. Seguindo o padrão dos outros quartos aqui da Catedral, o lugar tinha uma cama grande no centro, com lençóis brancos. A cabeceira era de madeira, onde já fui amarrada muitas vezes por clientes com esse tipo de fetiche. Ao lado da cama, mesas de cabeceira que possuíam gavetas com itens sexuais dentro. O tapete vermelho redondo ajudava o ambiente a ficar menos cru, junto dos quadros que seguiam o mesmo estilo de pintura das obras do corredor. No canto inferior, havia uma porta que direcionava ao banheiro, a decoração não fugia do estilo rústico, antigo e quase abandonado que a Catedral oferecia. A parede da porta de entrada tinha uma poltrona de cada lado, e foi em uma delas que Mathias se sentou tirando as roupas e ficando nu com o pau grosso e ereto batendo na barriga. Só o medo que ele nos causava já o excitava. — Quero ver as duas se pegando. Nos entreolhamos, e, com as mãos tremendo, toquei o corpo de Dalila. Suas mãos estavam na minha cintura e de maneira tímida beijei seus lábios. Sua boca não deu tanta aprovação para que eu enfiasse a língua. O meu desconforto era refletido no dela. Senti Mathias me arrancando de perto de Dalila e jogando-me no chão. Rapidamente levou uma de suas mãos, grande e forte, para o pescoço dela, a empurrando na cama e invadindo o espaço dentro da calcinha que ela usava. — Já que você não sabe comer uma boceta, irei mostrar como que faz. — grunhiu contra o rosto de Dalila, que se virou para me encarar. Ela estava enojada, e com ódio. A tentativa de afastar ele do seu corpo não foi bem sucedida. Não permitiria que aquele homem machucasse a única mulher que amo. Reuni forças – que eu não tinha, engoli o medo que travava o meu corpo quando eu ficava ao seu lado e me arrastei até o pé da mesa de cabeceira, puxei a gaveta com cuidado aproveitando que Mathias se entretinha atacando Dalila. Ele não reagiu, não sabia de onde vinha a dor, quando acertei sua cabeça com toda a força que eu tinha. Mathias caiu ao lado do corpo de Dalila em cima da cama, desesperada ela se levantou e saiu para longe dele. Nos entreolhamos mais uma vez, aflitas. — Tire a lingerie, vamos amarrar os braços e pernas dele com elas. — disse para Dalila, que agarrou as pernas do homem desmaiado em cima da cama e, com dificuldade, o posicionamos no meio dela. Rapidamente tirou sua calcinha e sutiã e prendeu as pernas dele em um aperto forte, certificando-se de que estava preso o suficiente para que ele não soltasse. Repeti o mesmo com a minha lingerie e amarrei seus braços na estrutura da cama. Nuas, encaramos o homem desacordado à nossa frente esperando ele recobrar a consciência. Abracei Dalila e meu coração pesou dentro do peito, percebendo que ela tremia como eu. Olhei para as roupas do homem jogadas no chão, pegando o cinto dele, amarrei em volta do seu pescoço. — Você segura aqui, assim que ele acordar. Fiquei em cima dele, enquanto Dalila segurava o cinto de pé ao lado da cabeça de Mathias. Não demorou muito para ele abrir os olhos e gemer de dor. Seus olhos ficaram assustados ao constatar o que acontecia, mas logo relaxaram. — Então vocês curtem essas coisas com cordas? Você nunca me disse isso, criança. Soquei seu rosto e mais uma vez ele gemeu de dor. Minha mão ficou dolorida com o impacto, mas a adrenalina que atravessava minhas veias me impedia de sentir qualquer coisa que não raiva. — Por que você fez isso comigo? Mathias revirou os olhos. — Já falei que aquela cadela da sua mãe me deu você. Arregalei os olhos sem acreditar. — Não minta, Mathias. — Ora, o que houve com a voz gostosa me chamando de papai? Dalila puxou o cinto e ele tossiu se debatendo em desespero. — Responda, porra. — Eu tô respondendo. — gritou. Graças aos De La Cruz, ninguém ouvia choro de puta sendo estuprada nos quartos. Muito menos desse homem implorando por ajuda. Dalila parou de apertar e ele respirou aliviado. — Por que, Mathias? — Eu descobri que sua mãe me traía, aquela cadela chegou grávida de você depois de ficar meses na rua, enquanto eu chorava por ela em casa. Ela me daria a criança se eu continuasse sustentando seu vício. — confessou com a voz num sussurro. — Minha família ainda me dava dinheiro e eu dava a ela. Quando ela adoeceu, ela me deu você. Ela disse que eu poderia fazer o que quisesse com você. — E você… — Fodi você? É… eu comi você em todos os buracos que você tem e eu vou continuar enfiando meu pau em você. — gritou. — Agora me desamarrem, suas cadelas loucas. Quando criança, toda vez que a porta se fechava quando ele saia do meu quarto, eu levantava e corria até o banheiro. Perdi a conta de quantas vezes precisei limpar o sangue que escorria da minha boceta e do meu cu, perdi a conta das vezes que esfreguei água quente no meu corpo a ponto de deixar a pele vermelha em brasa. Um dia ouvi de uma mãe que buscava sua filha na escola, em mais um momento onde eu fora esquecida pelos meus pais, que Deus dava suas batalhas mais difíceis para seus melhores soldados. Quando sentia a dor atravessando meu corpo eu lembrava dessas palavras, quando cheguei aqui e me deitei com um homem estranho que continuou a me quebrar por dentro, eu lembrei daquelas palavras. O Deus que dava as batalhas, também me assistia perder todas elas, e agora ele me assistiria caindo em pecado. Sentindo o ódio por todo o meu corpo, desci a boca pelo seu abdome e usei a única arma possível. Mordi sua barriga até sangrar, ouvindo seus gemidos, mordi seu peito com tanta força que a carne se partiu e foi possível sentir o gosto metálico de sangue. Cuspi o pedaço da carne no chão, e continuei arrancando cada pedaço dele. Seus gritos desesperados eram a melhor melodia que eu poderia escutar. Estava cega de ódio, nada me faria parar o que eu já havia começado. Peguei seu pau mole e ouvi, mais uma vez, ele implorar para que eu parasse. Sorri examinando seu rosto, essa foi a minha primeira vez que sorri de verdade para ele. — Você nunca se importou com meus pedidos para parar, papai. — lambi seu pau. — Por que eu me importaria com os seus? Seus olhos encaravam os meus, aterrorizados e incrédulos. Enfiei seu pau na minha boca e mordi com violência. Mathias urrou de dor e se debateu mais uma vez, começou a tossir e eu entendi que Dalila estava apertando o cinto em volta do seu pescoço. Com brutalidade, arranquei o pedaço da cabeça do seu pau e mastiguei o encarando. O sangue escorreu pela minha boca descendo pelo meu rosto, o mesmo sangue que escorria pelo seu corpo e manchava os lençóis brancos. Engoli o que tinha na boca e voltei pra cima dele, minhas mãos foram em direção a sua cabeça e gritando, meti os polegares nos seus olhos, sentindo eles explodirem e se derramarem nas minhas mãos. — Encontro você no inferno, papai. — sussurrei. Olhei para Dalila que me encarava com olhos transtornados, levei minha mão no pescoço dele apertando e acenei para Dalila fazer o mesmo. Em minutos, senti a vida sair de seu corpo quando ele parou de se debater. Nos afastamos ao constatar sua morte. Levantei desatando o nós dos pés e Dalila fez o mesmo com o que amarrava suas mãos. Empurramos o corpo para fora da cama que caiu em um baque surdo. Conseguia ouvir as batidas do meu coração no pé do ouvido, minhas mãos tremiam e eu havia me esquecido como se respirava. O único som do ambiente era das lufadas ansiosas que tentávamos controlar. Olhei para o meu corpo que estava coberto de sangue e encarei o que havia feito. Dalila sentou-se à minha frente. A pele cintilava uma mistura de suor e sangue. O sorriso macabro no rosto analisava cada centímetro do meu corpo, e como se eu esperasse por aquilo, ela veio ao meu encontro, seus lábios acertaram os meus em um beijo agressivo com gosto de sangue. Sua mão subiu em direção ao meu cabelo, puxando os fios e trazendo meu rosto para mais perto de si, enquanto sua língua explorava cada centímetro da minha boca. Empurrei-a na cama, a deitando de costas. Encaixei minhas pernas no meio das pernas dela, uma ficando embaixo e a outra por cima do seu corpo, buscando fricção entre nossas bocetas que já estavam meladas de excitação. Continuei os movimentos com violência em busca do meu próprio orgasmo enquanto ela fazia o mesmo embaixo de mim. Eu precisava do corpo dela no meu, precisava sentir seu toque e sua boceta mais do que precisava de ar para respirar. Quando Dalila gritou se perdendo em orgasmo, eu a acompanhei sentindo uma enorme onda de prazer. Era cru e animalesco. Estávamos rendidas na perversidade e loucura daquele ato. Caí na cama ao lado dela, limpei o sangue do seu rosto angelical e a beijei suavemente. Meu algoz estava caído e morto ao meu lado, e eu sabia que alguma divindade maior iria me cobrar por isso. “Em caso de morte, é isso que eu quero Isso é o que eu quero Então não fique triste quando eu me for Há uma coisa que eu espero que você saiba Eu te amei tanto” The loneliest - Maneskin Aos sete anos eu conheci a fome. Recordava claramente das minhas mãos pequenas abrindo os armários da casa pela terceira vez em busca de algo para comer. Mamãe e papai não voltavam para casa há quatro dias. Quando Camila voltou, não sei se eu poderia chamar aquilo de mãe. Ela não me reconhecia, e muito menos eu a ela. Os olhos transtornados e a agitação, buscando por algo que eu não tinha, me assombravam. Quando ela finalmente caiu em cima da própria poça de vômito, me tranquei no quarto esperando pelo papai. A água me mantinha viva na medida do possível. Não sabia desde quando estava trancada nos calabouços da Catedral. Era curioso como um local sagrado ficava cada vez mais macabro quando se conhecia mais de dentro dele. Me traziam água e voltavam depois de um longo tempo. Não me alimentavam, a fome doía, me fazendo desejar a morte. Sentia-me inútil igual à minha mãe no final da sua vida. Convivendo com o que meu corpo tinha expelido ao meu redor, não tinha forças nem para me levantar de onde estava jogada. Eu sabia que Dalila estava em algum lugar aqui embaixo, mas não sabia se a sua situação era igual ou pior do que a minha. Eu estava desesperada por não saber o que iria acontecer. Senti meu corpo sendo arrastado para fora daquele lugar, a água gelada atingiu minha pele exposta e fez meus ossos doerem. O sabão era esfregado de forma violenta para limpar a sujeira. Desassociei do que estava acontecendo, eu sempre fazia isso quando as coisas se tornavam difíceis para meu cérebro aguentar. Em algum momento, a luz amarela doeu em meus olhos depois de tanto tempo deixada encarando a escuridão. O homem forte que me carregava, me colocou em pé e me arrastou para sentar na cadeira que ficava na cabeceira da enorme mesa. Encarei minhas mãos trêmulas jogadas no meu colo, a roupa branca e desgastada que me puseram mal cobria meu corpo cheio de hematomas da surra que levei quando descobriram o que eu fiz. Meu olhar se ergueu e enxerguei três pessoas sentadas na mesa junto a mim. Ainda estávamos na Catedral, e eu sabia disso por causa da mesma decoração que se repetia neste salão. As paredes eram desgastadas e escuras, a mesa rústica com uma madeira forte e antiga. Senti o ardor do fogo no lado esquerdo do meu rosto, e olhei para a lareira que crepitava engolindo as madeiras e me perdi por alguns segundos fitando as chamas. — Creio que nossa convidada está morrendo de fome. — A voz masculina grave me fez virar o rosto rapidamente. Estreitei os olhos para enxergar melhor os rostos, era a família De La Cruz sentada ao meu redor. Eu os reconheço desde que os vi reunidos no salão principal como se nada os abalasse, e no fim, era verdade, nada abalava aqueles três. A voz vinha do homem sentado na cabeceira, à minha frente. O cheiro de comida invadiu meus sentidos em um baque e me dei conta da mesa posta abaixo do meu nariz. Havia uma variedade de frutas, carnes, saladas e doces, tudo perfeitamente organizado sobre a mesa, implorando por ser devorado. Era um banquete. Minha barriga roncou alto. Olhei para eles, constrangida. — Vamos lá, Dahmer [ 4 ] . — o homem loiro incentivou apontando para o banquete. A língua passando pelas presas que possuía em seu belo sorriso. — Alimente sua fome. Não era preciso um segundo incentivo, eu estava passando fome há dias e comeria tudo que visse pela frente, e foi o que fiz. Não sabia quando seria a próxima refeição, e, da maneira mais desesperada possível, enfiei cada alimento na boca mal tendo tempo de mastigar para engolir. O gosto da carne assada foi o melhor que já senti na minha vida. A carne mal passada tinha o sabor defumado dos temperos e um leve gosto de sangue do animal morto. Ergui os olhos e vi os três me encarando atentamente de maneira curiosa, enxerguei diversão em seus olhares. É claro que a família De La Cruz estava se divertindo com a desgraça alheia, o mundo deles foi construído em cima disso. — Acho que você precisa se alimentar com todas as partes que esse animal oferece. — a mulher sorridente comentou. O contraste dos dentes brancos e dos lábios vermelhos me hipnotizava. Do escuro surge uma enorme bandeja prateada fechada, o cozinheiro colocou-a na minha frente, enquanto outra pessoa ia limpando o resto da comida para fora da mesa. Victoria De La Cruz levantou-se, tirou a tampa reluzente que permitia que eu visse meu reflexo destruído. O que se revelou ali embaixo quebrou meu coração mais do que qualquer coisa. O sorriso não existia. Os olhos que eu tanto amava admirar estavam vazios. A cabeça morta de Dalila me encarava de forma macabra. Meus ouvidos doíam pelo grito agudo e ensurdecedor que saía do fundo da minha garganta. Quando me dei conta do que haviam servido naquele jantar, já era tarde demais. Faminta, eu havia comido a carne da única mulher que já amei. Esse pecado capital é capaz de transformar uma pessoa em escrava de seus desejos e impulsos, perdendo a capacidade de tomar decisões conscientes e responsáveis. Em busca de satisfação imediata, negligenciando a dimensão moral de suas ações e das consequências para si e para os outros. Render-se ao pecado da gula é condenado, principalmente, por revelar falta de controle sobre os desejos e apetites, colocando o prazer e a satisfação pessoal acima dos princípios morais e espirituais. Esse pecado é visto como um desejo insaciável, uma busca desenfreada por prazeres materiais que pode gerar a negligência de outras responsabilidades e o desrespeito ao corpo, que é considerado um templo sagrado. Escrever cada conto e sempre um misto de emoções de como eu curto escrever esse tipo de coisa trágica! Mas não fique triste, em breve, teremos nossos finais felizes <3 E eu estou louca para ver seus surtos na minha dm (@queridacretina) ou nas avaliações da amazon ou skoob! Obrigada por embarcarem na jornada de conhecer esses personagens com muitos erros e uma lista extensa de crimes rs Obrigada Ana, minha revisora, seu trabalho é sempre incrível e impecável nas palavras que saem da minha cabecinha perturbada! Obrigada as minhas betas, cada surto de voces me faz entender que estou no caminho certo! Obrigada Rafael, por me ouvir por horas contar as ideias mais crimonosas que alguem poderia pensar e ainda me amar como se eu fosse uma garotinha indefesa. Até a próxima, Emma [1] Do espanhol: teus [2] Do espanhol: querido(a). Forma de tratar carinhosamente uma pessoa que gostamos. [3] Do espanhol: a chefe. [4] Jeffrey Lionel Dahmer foi um assassino em série americano. Dahmer assassinou 17 homens e garotos, entre 1978 e 1991, sendo a maioria dos assassinatos ocorridos entre os anos de 1989 e 1991. Seus crimes eram particularmente hediondos, e alguns envolvia canibalismo.