TESE Goulart

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 219

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE


DEPARTAMENTO DE CONTABILIDADE E ATUÁRIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CONTABILIDADE

GERENCIAMENTO DE RESULTADOS CONTÁBEIS


EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NO BRASIL

André Moura Cintra Goulart

Orientador: Prof. Dr. Luiz Nelson Guedes de Carvalho

Co-orientadora: Profa. Dra. Marina Mitiyo Yamamoto

SÃO PAULO

2007
Profa. Dra. Suely Vilela
Reitor da Universidade de São Paulo

Prof. Dr. Carlos Roberto Azzoni


Diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade

Prof. Dr. Fábio Frezatti


Chefe do Departamento de Contabilidade e Atuária

Prof. Dr. Gilberto de Andrade Martins


Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis
ANDRÉ MOURA CINTRA GOULART

GERENCIAMENTO DE RESULTADOS CONTÁBEIS


EM INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS NO BRASIL

Tese apresentada ao Departamento de Contabilidade e


Atuária da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo como parte dos
requisitos para a obtenção do título de Doutor em Ciências
Contábeis.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Nelson Guedes de Carvalho

Co-orientadora: Profa. Dra. Marina Mitiyo Yamamoto

São Paulo

2007
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Seção de Processamento Técnico do SBD/FEA/USP

Goulart, André Moura Cintra


Gerenciamento de resultados contábeis em instituições financeiras no
Brasil / André Moura Cintra Goulart. -- São Paulo, 2007.
219 p.

Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, 2008


Bibliografia.

1. Contabilidade bancária 2. Contabilidade de lucros 3. Instituição


financeira 4. Bancos 5. Derivativos 6. Crédito 7. Operações bancárias
I. Universidade de São Paulo. Faculdade de Economia, Administração
e Contabilidade. II. Título.

CDD – 657.8
i

Reconheço que PELA TUA GRAÇA tenho recebido boas dádivas.


Sejam a Ti, Senhor, o meu trabalho e a minha vida.
ii

AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Marina Mitiyo Yamamoto, orientadora acadêmica. Por ter me


acompanhado, e se colocado ao meu lado, em todo o trabalho, com serenidade, apoio e
confiança, o que trouxe a mim o necessário respaldo e a segurança para evoluir no
trabalho. Verdadeira satisfação tê-la como orientadora. Pela sua competência,
humildade, compreensão e por tudo o que é, como profissional e como pessoa, meu
respeito e admiração!
Ao Prof. Dr. L. Nelson Carvalho, orientador acadêmico. Pela orientação, com sua
competência, segurança, humildade e bom humor. Pela colaboração, apoio e preciosa
oportunidade de convivência e aprendizado.
Ao Prof. Dr. Carlos Donizeti Macedo Maia, orientador no Banco Central. Por ter
reservado preciosas horas de trabalho para acompanhar e orientar os trabalhos da tese.
Pela lealdade, competência e dedicação demonstradas, e pelo desejo por meu sucesso.
Satisfação ter sua colaboração e a gratificante oportunidade de convivência e
aprendizado.
Ao Prof. Dr. Luiz João Corrar, pela atenção, valiosas sugestões oferecidas no
andamento dos trabalhos, pela convivência e aprendizado nas disciplinas cursadas.
Aos competentes colegas Lucio Rodrigues Capelletto, João Lourenço de Siqueira
França e Maurel Alexis Weichert, pela atenção dispensada durante a elaboração da tese,
disposição para diálogos e contribuições agregadas.
Ao Banco Central do Brasil, pelas condições para dedicação ao doutorado.
Ao meu pai, Márcio, por ter seus olhos voltados para mim desde os meus primeiros
passos nos estudos e na vida profissional. Pelas orientações e conselhos, pela
inestimável ajuda e incontáveis ensinamentos. Agradeço a Deus pela feliz convivência,
pelo privilégio de tê-lo como pai e, também, como grande amigo.
À minha mãe, Anildes, por ser, nas lutas e nas alegrias, um lugar de abrigo, um
manancial de amor e de cuidado. Pelo desejo tão intenso e verdadeiro pelo meu sucesso.
Pelo sustento em oração. Mulher admirável, preciosa filha e instrumento de Deus, mãe
querida e amada.
Aos meus irmãos, Luciano, Alexandre e Flávia, por estarem sempre ao meu lado, por
serem meus companheiros, pela sincera expectativa por minha realização e pela alegria
compartilhada nas conquistas.
iii

RESUMO

As instituições financeiras apresentam, como particularidade, a dependência de recursos


de terceiros para o desenvolvimento de suas atividades, assumindo importância a
realização de captações a baixos custos. Para tanto, é fundamental a manutenção de
imagem de solidez financeira, eficiência de desempenho e boa reputação. Neste
contexto, entende-se que a suavização de resultados (income smoothing) é prática de
gerenciamento de resultados contábeis (GR) de especial interesse para os bancos. Isto
decorre da relevância, no segmento bancário, de transmitir imagem de constância de
resultados, evitando-se a apresentação de altas volatilidades nos lucros divulgados, as
quais podem afetar negativamente a percepção dos investidores quanto aos padrões
futuros de resultados e quanto aos riscos envolvidos nas operações da instituição. O
presente trabalho investiga a utilização, pelas instituições financeiras (IF) em atuação no
Brasil, da contabilização de operações de crédito, títulos e valores mobiliários (TVM) e
derivativos para fins de GR. Questiona-se se os padrões contábeis vigentes no sistema
financeiro nacional (SFN), nas três áreas mencionadas, estão sendo empregados com o
propósito de suavização de resultados. Na pesquisa empírica, adotando-se as técnicas de
correlação e regressão, foram avaliados dados contábeis semestrais das 50 maiores IF
em atuação no Brasil, no período de junho de 2002 a dezembro de 2006, tendo em vista
identificar a possível utilização da PDD (provisão para devedores duvidosos nas
operações de crédito) ou de ajustes a valor de mercado de TVM ou do resultado com
derivativos para a suavização de resultados. As análises são realizadas para o conjunto
das 50 maiores instituições, com o objetivo de apreender o comportamento geral do
SFN, não sendo propósito a identificação de comportamentos individualizados em
termos de GR. Os resultados obtidos indicam o emprego das operações de crédito e
derivativos na suavização de resultados contábeis e também dos ajustes positivos a valor
de mercado de TVM. O efeito na suavização de resultados revelou-se mais forte no caso
de operações de crédito, por meio da PDD, e derivativos, por meio do resultado com
derivativos, nesta ordem de importância, tendo posição de menor relevância os ajustes a
VM de TVM. Constatou-se que a PDD é o instrumento mais “poderoso” em termos de
suavização de lucros bancários, seguido pelos derivativos; os ajustes positivos a VM de
TVM também favorecem a suavização de resultados contábeis, mas desempenham
papel menos relevante, não contribuindo de forma tão significativa como a PDD e o
resultado com derivativos. Quanto aos derivativos, o efeito de suavização de resultados
alinha-se com sua utilização como instrumento de proteção (hedge), de maneira a evitar
maiores flutuações nos lucros contábeis das IF. Em suma, constatou-se o efeito de
suavização no resultado contábil por meio das despesas com PDD (operações de
crédito), resultado com derivativos e também, mas em menor intensidade, por meio das
receitas com ajustes positivos a VM de TVM. As despesas com ajustes negativos a VM
de títulos, por sua vez, não tiveram confirmada sua participação no processo de GR e de
suavização dos lucros das instituições financeiras em atuação no Brasil.
iv

ABSTRACT

Financial institutions present, as a distinctive feature, a dependence of financial


resources from third parties for the development of their activities. This way, the
obtaining of low cost funding becomes a major issue and in order to succeed in doing
so, it is fundamental to sustain financial soundness, performance efficiency and a good
reputation. In this context, income smoothing is perceived to be an earnings
management (EM) practice of especial interest for banks. This derives from the fact that
it is relevant – for the banking industry –, to transmit an image of constant earnings,
thus preventing high volatilities in reported earnings, which could affect negatively
investors’ perception concerning future levels of earnings as well as the risks taken in
the operations carried out by the institution. This work investigates the employment of
credit, securities and derivatives accounting by financial institutions in Brazil, for the
purpose of managing results. The question is whether actual accounting standards of the
Brazilian financial system (BFS) – in the three mentioned areas –, are being used so as
to smooth earnings. In the empirical research, considering the period of June 2002 to
December 2006, semiannual accounting data from the 50 greatest financial institutions
in Brazil were analyzed so as to identify any pattern of income smoothing by means of
loan & loss provision, unrealized gains or losses on securities or net gains (or losses) on
derivatives. The analyses were conducted for the 50 greatest financial institutions taken
as a whole, so as to grasp the general behavior of the Brazilian financial system. This
way, individual behavior of any particular institution in terms of EM is not the purpose
of this work. The results obtained in this work hints at the employment of credit and
derivatives accounting as well as unrealized gains on securities in order to smooth
earnings. The income smoothing effect proved to be more prominent in the case of loan
& loss provisions derived from credit operations. Derivatives accounting were found to
be next in importance, being unrealized gains on securities the less relevant source of
smoothing. As for derivatives, the income smoothing effect is in accordance with their
use as an instrument of hedging: they prevent great fluctuations (in terms of earnings)
from happening. In short, this work indicates that the income smoothing is brought into
effect by loan & loss provisions, gains (losses) on derivatives as well as via unrealized
gains on securities (to a lesser degree). The unrealized losses on securities, however,
had neither a role in the process of EM nor were they items that could account for
income smoothing of financial institutions in Brazil, according to the estimates obtained
from the correlation and regression analysis.
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS 2
LISTA DE QUADROS 3
LISTA DE TABELAS 4
I – INTRODUÇÃO 5
1. Introdução 5
2. Problema 12
3. Objetivo 13
4. Justificativa 14
5. Premissas assumidas 25
6. Metodologia e estrutura do trabalho 28
II – GERENCIAMENTO DE RESULTADOS 29
1. Introdução 29
2. Objetivo da divulgação contábil 30
3. Gerenciamento de resultados contábeis 33
3.1 - Definição 33
3.2 - Discricionariedade 38
3.3 - Acumulações (accruals) 42
3.4 – Motivações 45
3.5 - Modalidades de gerenciamento de resultados 49
3.5.1 – Modalidades – relação e breve descrição 50
3.5.2 - Suavização de resultados (income smoothing) 51
3.5.3 - Evitar a divulgação de perdas ou lucros declinantes 58
3.6 - Custos e benefícios do gerenciamento de resultados 61
4. Procedimentos de pesquisa em gerenciamento de resultados 65
5. Governança corporativa 71
6. Revisão de estudos realizados 71
III – CONTABILIDADE BANCÁRIA 89
1. Introdução 89
2. Contabilização de operações de crédito 94
3. Contabilização de operações com TVM 96
4. Contabilização de operações com derivativos 105
IV – MODELOS E HIPÓTESES 111
1. Introdução 111
2. Desenho da pesquisa 112
3. Análise por meio de correlação 121
4. Análise por meio de regressões 124
V – TESTES E RESULTADOS OBTIDOS 131
1. Introdução 131
2. Análises iniciais 132
3. Análise de correlação 141
4. Análise de regressão 147
VII – CONSIDERAÇÕES FINAIS 175
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 201
Glossário 206
Apêndices 207
2

LISTA DE ABREVIATURAS

AD Acumulações discricionárias
AND Acumulações não discricionárias
AT Ativos totais
BCB BCB
BIS Bank for International Settlements
CVM Comissão de Valores Mobiliários
DRE Demonstração do Resultado do Exercício
DPV Disponíveis para venda (títulos DPV)
Fasb Financial Accounting Standards Board
GR Gerenciamento de resultados (contábeis)
Iasb International Accounting Standards Board
IF Instituição financeira (ou instituições financeiras)
LL Lucro líquido
MtM Marcação a mercado (mark-to-market)
PDD Provisão para devedores duvidosos
PL Patrimônio Líquido
SEC Securities and Exchange Commission
SFN Sistema financeiro nacional
TVM Títulos e valores mobiliários
VM Valor de mercado
3

LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Contas de resultado relacionadas ao ajuste a VM de TVM 103
Quadro 2 – Contas utilizadas como variáveis nos modelos de regressão 104
Quadro 3 – Modelos de regressão – operações de crédito 124
Quadro 4 – Modelos de regressão – despesas de ajustes a VM de TVM 126
Quadro 5 – Modelos de regressão – receitas de ajustes a VM de TVM 127
Quadro 6 – Modelos de regressão – resultados de ajustes a VM de TVM 128
Quadro 7 – Resumo dos modelos de regressão – TVM 129
Quadro 8 – Modelos de regressão – derivativos 130
Quadro 9 – Variáveis empregadas na análise de correlação e regressão 131
Quadro 10 – Descrição dos modelos de regressão empregados 148
Quadro 11 – Resumo de desempenho das versões dos testes de regressão 172
Quadro 12 – Resumo das classes de títulos e procedimentos de contabilização 209
4

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Operações de crédito, TVM e derivativos no SFN 14


Tabela 2 – Variáveis de Lucro Líquido e Lucro Líquido / Ativo Total 132
Tabela 3 – Carteiras de Crédito, TVM e Derivativos 133
Tabela 4 – Variáveis de PDD e PDD / AT 133
Tabela 5 – Variáveis de Ajustes a Valor de Mercado de TVM 134
Tabela 6 – Variáveis de Ajustes Positivos a Valor de Mercado de TVM 135
Tabela 7 – Variáveis de Ajustes Negativos a Valor de Mercado de TVM 135
Tabela 8 – Variáveis de Resultado com Derivativos 136
Tabela 9 – Medidas de lucro – avaliação preliminar da suavização de resultados 137
Tabela 10 – Crédito – PDD (análise de correlação) 143
Tabela 11 – TVM – Despesas – AjNVM (análise de correlação) 143
Tabela 12 – TVM – Despesas – AjNVMdpv (análise de correlação) 143
Tabela 13 – TVM – Despesas – AjNVMneg (análise de correlação) 144
Tabela 14 – TVM – Receitas – AjPVM (análise de correlação) 144
Tabela 15 – TVM – Receitas – AjPVMdpv (análise de correlação) 144
Tabela 16 – TVM – Receitas – AjPVMneg (análise de correlação) 144
Tabela 17 – TVM – Resultado - AjVM (análise de correlação) 145
Tabela 18 – TVM – Resultado - AjVMdpv (análise de correlação) 145
Tabela 19 – Resultado com Derivativos (análise de correlação) 145
Tabela 20 – Crédito – Variável dependente: PDD (análise de regressão) 154
Tabela 21 – TVM – Variável dependente: AjNVM (análise de regressão) 155
Tabela 22 – TVM – Variável dependente: AjNVMdpv (análise de regressão) 156
Tabela 23 – TVM – Variável dependente: AjNVMneg (análise de regressão) 157
Tabela 24 – TVM – Variável dependente: AjPVM (análise de regressão) 158
Tabela 25 – TVM – Variável dependente: AjPVMdpv (análise de regressão) 159
Tabela 26 – TVM – Variável dependente: AjPVMneg (análise de regressão) 160
Tabela 27 – TVM – Variável dependente: AjVM (análise de regressão) 161
Tabela 28 – TVM – Variável dependente: AjVMdpv (análise de regressão) 162
Tabela 29 – Derivativos – Variável dependente: ResDeriv (análise de regressão) 163
Tabela 30 – Resumo – Estatísticas de avaliação dos modelos 167
Tabela 31 – Critérios de provisão das operações de crédito 208
5

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
__________________________________________________________

1. Introdução

1.1 – Sistema financeiro e gerenciamento de resultados

As atividades desenvolvidas pelas instituições financeiras (IF), sobretudo as


relacionadas à intermediação financeira, são de grande relevância para o
desenvolvimento econômico de um país. Por este motivo, entende-se como fundamental
a existência de um sistema financeiro sólido, baseado em instituições adequadamente
estruturadas nas esferas operacional, administrativa e financeira, e com operações
pautadas pela eficiência e pelo atendimento aos requisitos legais e às demandas sócio-
econômicas.
Uma das bases de um sistema financeiro sólido consiste na transparência das
instituições bancárias perante o mercado de capitais, os investidores, o público em geral.
Neste sentido, órgãos internacionais e bancos centrais de diversas nações têm defendido
a divulgação, por parte dos bancos, de informações que evidenciem satisfatoriamente a
situação das instituições relativamente a diversos aspectos relevantes como a situação
patrimonial e financeira, os resultados obtidos, a administração organizacional,
incluindo aspectos pertinentes aos controles internos e à gestão de riscos.
Práticas de gerenciamento de resultados contábeis (GR), contudo, podem revelar-se um
obstáculo para que as demonstrações financeiras representem adequadamente a real
situação patrimonial, financeira e de resultados dos bancos1. Por este motivo, e pela
freqüência com que é observado, o GR, além de ser estudado por acadêmicos, tem sido
objeto de atenção por parte da mídia e dos reguladores, conforme observado por Barton
(2001:2): “Acredita-se que o gerenciamento de resultados tem sido tão comum que a
mídia e os reguladores têm expressado preocupação quanto aos seus efeitos sobre a
qualidade dos resultados divulgados e o funcionamento do mercado de capitais.”2
Dechow & Skinner (2000:236) também destacam, como objetivo recente da SEC

1
Apesar de os bancos constituírem apenas uma das modalidades de instituições financeiras, utilizam-se,
neste trabalho, os dois termos (bancos e instituições financeiras) indistintamente. Considere-se, ainda, que
grande parte dos “bancos” consistem, na realidade, em conglomerados financeiros, os quais, além de
atividades bancárias, envolvem operações de leasing, financeira, corretora e distribuidora de títulos e
valores mobiliários, seguros, previdência privada, capitalização e gestão de recursos.
2
Texto no original: “earnings management is believed to be so common that the media and regulators are
expressing concern about its effects on the quality of reported earnings and the functioning of capital
markets.”
6

(Securities and Exchange Commission), a melhoria na qualidade da divulgação


financeira, o que inclui a redução do GR3.
O gerenciamento de resultados pode ser entendido como um conjunto de ações
intencionais, por parte dos preparadores de demonstrações financeiras, com impactos
sobre a representação contábil da entidade, dentro dos limites permitidos pelas normas e
padrões contábeis, tendo em vista o atendimento de interesses dos gestores da
organização objeto da divulgação financeira4.
Importante salientar que tais interesses, de modo geral, não se coadunam com o objetivo
de fornecer informação fidedigna e útil aos usuários da informação contábil. Com isto, o
GR pode distorcer as informações divulgadas pelas empresas, com efeitos sobre a
análise dos participantes do mercado e, em conseqüência, também sobre o processo de
alocação de recursos na economia. Assim, a despeito de existirem variados tratamentos
contábeis aceitos no âmbito dos princípios contábeis, a suscetibilidade das apropriações
de receitas e despesas à manipulação pode, em casos extremos, resultar em números
contábeis desprovidos de capacidade informativa (Schipper, 1989:91).
Práticas de GR, portanto, podem resultar na divulgação de informações que não
refletem adequadamente a situação patrimonial e de resultados da entidade, pois as
referidas práticas objetivam o atendimento de interesses particulares, não se propondo,
prioritariamente, a refletir percepções e representar rigorosamente as reais expectativas
dos gestores relativamente à situação patrimonial presente e futura da entidade.
Vale observar que o que enseja práticas de GR é a existência de tratamentos contábeis
diferenciados, mas igualmente tolerados, no que se refere ao reconhecimento,
mensuração e divulgação de eventos econômicos empresariais. Percebe-se a existência,
na contabilidade, de situações não caracterizadas pela objetividade, e que dependem, no
processo de sua evidenciação, do julgamento e de estimativas realizadas por parte dos
gestores da empresa. Provisão para devedores duvidosos, contingências e depreciação
são exemplos de itens com essa natureza.
Esta situação constitui a discricionariedade dos procedimentos contábeis, caracterizada
pela possibilidade de diferentes tratamentos contábeis, por parte do preparador de
demonstrações financeiras, relativamente a um mesmo evento econômico. Tais
alternativas de ações propiciam a realização de escolha pautada por objetivos da própria
entidade objeto de divulgação, como, por exemplo, apresentar um lucro maior para

3
Texto no original: “(...) SEC´s recent goal to improve the quality of financial reporting, which includes
reducing earnings management.”
4
No capítulo II, é desenvolvida análise pormenorizada sobre o “gerenciamento de resultados”.
7

aumentar o preço das ações da empresa no mercado, ou um lucro menor, tendo em vista
evitar a atenção de fiscais de impostos ou mesmo de políticos (esfera legislativa) que
visam o aumento de tributos sobre as atividades da empresa.
Gera-se, assim, um problema de assimetria de informações entre gestores internos e
usuários externos das demonstrações financeiras, com “a apresentação de resultados que
não condizem, necessariamente, com a melhor representação da realidade econômica,
financeira e patrimonial das entidades.” (Fuji,2004:4)
A assimetria é fomentada pela divulgação imprecisa de informações pelas empresas,
com o que colaboram as práticas de GR. A conseqüência da divulgação imprecisa é o
incremento da assimetria de informações entre empresa e investidores, o que, por sua
vez, aumenta a incerteza destes sobre a situação das companhias, com prováveis
impactos no custo de capital, seja por meio de exigência de juros mais altos em
empréstimos ou pelos impactos negativos na liquidez das ações da empresa. Por outro
lado, a transparência empresarial, com ampla e fidedigna divulgação de informações,
pode reduzir a assimetria e as incertezas relativamente às perspectivas da entidade,
colaborando para que esta obtenha melhores condições nas operações com terceiros,
como, por exemplo, taxas menores nas captações no mercado de capitais.
Neste contexto, define-se a importância de avaliar se os padrões contábeis vigentes no
sistema financeiro nacional (SFN) têm sido utilizados para a adequada representação
das instituições financeiras (IF), ou se têm sido instrumentos de GR, tendo em vista o
atendimento de interesses dos próprios bancos, em detrimento das demandas dos
usuários da informação contábil – como investidores e depositantes –, que requerem
informações confiáveis e úteis para a tomada de decisões.
Ressalte-se que a inadequada representação contábil das IF, com o que podem colaborar
as ações de GR, além de prejudicar investidores e depositantes bancários – sujeitos a
erros na escolha dos bancos com os quais desejam operar e nas exigências de taxas
diferenciadas nas aplicações, em função dos riscos de cada instituição –, pode
comprometer a credibilidade da própria contabilidade, com efeitos danosos também
sobre o desempenho do sistema financeiro no desenvolvimento econômico do país.
Neste sentido, Dechow & Skinner (2000:246-247) observam que, quando o GR torna-se
público (revelation of earnings management), reduz-se a credibilidade do disclosure da
empresa, e a informação de que a empresa gerencia resultados pode ser interpretada,
pelos investidores, como um sinal de que as perspectivas econômicas da companhia são
8

piores do que se previa anteriormente (quando o GR ainda não era de conhecimento


público).
Conforme mencionado, a informação divulgada pelas empresas tem o potencial de
influenciar seus custos de captação. A empresa percebida como de menor capacidade de
geração de resultados futuros pode enfrentar a exigência, por parte dos credores, de
juros mais elevados em suas captações, sejam estas efetivadas por meio de empréstimos
bancários ou títulos lançados no mercado. Neste contexto, é razoável assumir que as
empresas, especialmente as que se encontram em fase de realização de captações,
utilizarão práticas de GR com o propósito de influenciar as percepções de risco e
resultados futuros dos participantes do mercado, como investidores e credores. Nesta
linha, Dechow et al (1996:1,30) concluem que o desejo de obter financiamento a baixo
custo é importante motivação para o GR e que as empresas experimentam significativo
aumento em seus custos de capital quando o GR se torna público.
Alguns estudos têm tratado de um caso particular de captação de recursos, investigando
o GR em empresas que se encontram em processo de emissão de ações, quando há forte
interesse em aumentar a demanda pelas ações e o seu preço, reduzindo o custo de
captação. Sobre isto, Teoh et al (1998) constataram que empresas gerenciam lucros no
período anterior à oferta, vindo a apresentar, contudo, menores lucros contábeis e
menores retornos no mercado acionário (em termos de variações nos preços das ações)
após a emissão.

1.2 – Particularidade do setor bancário


Quanto ao objetivo de reduzir custos de financiamento, importa destacar uma
particularidade dos bancos: encontram, nos recursos captados junto ao público
(poupadores e investidores), a matéria-prima para suas operações e, por este motivo,
vêem-se em constante processo de captação. Pode-se dizer que um banco não cessa de
realizar captações: busca, sempre, a captação de recursos, por meio de depósitos a
prazo, em contas-corrente ou de poupança, lançando títulos no mercado (de dívida ou
capital), ou mesmo, indiretamente, a partir das captações para fundos de investimentos.
A característica marcante das instituições financeiras, de estarem em constante processo
de captação, remete a outra particularidade do setor bancário: a necessidade de construir
e manter imagem de solidez financeira, o que envolve boa situação de liquidez,
capacidade de geração de resultados, controles internos eficazes e adequada gestão de
riscos. Os dois elementos – constante captação e necessidade de imagem de solidez –,
estão intimamente conectados: o mercado-alvo dos bancos (agentes superavitários,
9

poupadores, investidores) só será conquistado e convencido a alocar seus recursos em


determinado banco se este for reconhecido como uma instituição bem gerenciada, com
boas perspectivas (potencial de geração de resultados futuros) e não sujeita a perdas que
coloquem em risco sua saúde patrimonial e solidez financeira.
Neste contexto é que se defende, neste trabalho, que os bancos apresentam particular e
especial interesse na suavização de resultados (income smoothing), prática de GR que
fomenta a imagem de constância de lucros e distanciamento de riscos (pela menor
volatilidade apresentada nos resultados). Este trabalho focaliza a análise de práticas de
suavização de resultados, pelos bancos atuantes no Brasil, por meio da contabilização de
operações de crédito, títulos e valores mobiliários (TVM) e derivativos.
Deste modo, a definição, neste trabalho, de prováveis práticas de GR utilizadas no
segmento bancário parte da identificação e análise dos interesses subjacentes à realidade
dos bancos, envolvendo a dependência de recursos de terceiros5, o conseqüente
benefício de se garantir fontes vastas e menos custosas de financiamento, a
particularidade de estarem em constante processo de captação, e a necessidade de
manutenção de imagem de solidez financeira. Este contexto fundamenta o interesse, no
segmento bancário, por práticas como a suavização de resultados. Esta base da pesquisa,
calcada nos interesses específicos do segmento bancário, alinha-se com a proposição
final da revisão conduzida por Dechow & Skinner (2000:248):
Com base na pesquisa existente, chegamos à conclusão que a compreensão dos
incentivos gerenciais é chave para o entendimento da pretensão em se engajar no
gerenciamento de resultados6.

Registre-se que os referidos autores ressaltam a importância, para o sucesso das


pesquisas, de que os acadêmicos focalizem mais detidamente os interesses relacionados
ao mercado de capitais, entre os quais figuram a necessidade de captação de recursos
junto ao mercado (investidores, depositantes), não se atendo prioritariamente a
motivações contratuais como as relativas aos planos de remuneração variável de
executivos com bônus vinculados a números contábeis. A propósito, cabe observar que,
além da suavização de resultados, outras práticas de GR podem ser presentes nas IF,
como as ligadas ao objetivo de aumentar lucros para alcançar metas de contratos de
remuneração variável. Entende-se, contudo, que o interesse na suavização de resultados

5
Ressalte-se que, nos conglomerados financeiros, há empresas não financeiras que também podem
realizar captações, de maneira que as fontes de recursos, para os conglomerados, não se restringem às
captações realizadas pelas instituições financeiras.
6
Texto no original: “Based on extant research, we came to the conclusion that understanding
management´s incentives is key to understanding the desire to engage in earnings management.”
10

é especialmente significativo para os bancos, e também representativo de motivações


gerais presentes no segmento financeiro, dada a necessidade de atendimento à relevante
necessidade setorial: a manutenção de imagem de solidez que garanta a condição de
buscar, no mercado, os recursos necessários para as operações. Neste sentido, Beatty et
al (1995:234) afirmam a existência de interesses no GR, por parte dos gestores
bancários, tendo em vista a redução do custo de capital. Acrescente-se que a
apresentação de padrão consistente de resultados reduz as pressões de órgãos de
supervisão bancária, direta e indiretamente: bons e constantes resultados não somente
chamam menos a atenção da fiscalização como facilitam a captação de recursos no
mercado, o que também favorece a atividade da instituição, demandando-se menor
acompanhamento da supervisão (Collins et al, 1995:268).
Quanto às motivações para o GR, convém observar que, no sistema financeiro, podem
existir diferenças entre os bancos, dependendo da situação específica de cada instituição
relativamente a aspectos como porte (volume de ativos), ter (ou não) ações listadas em
bolsa de valores e condição de banco de “varejo” (atendimento a elevado número de
clientes, incluindo os de baixo poder aquisitivo ou de poupança, com operações de valor
não elevado) ou de “atacado” (atendimento a menor número de clientes, priorizando
grandes empresas, com operações com valor médio elevado).

1.3 – Relação risco versus retorno


No item anterior, foram comentados traços do contexto bancário como a situação de
constante processo de captação, dependência de recursos de terceiros e necessidade de
manter imagem de solidez financeira, tendo em vista a obtenção de recursos a baixos
custos. Neste contexto é que os bancos apresentam o interesse em transmitir ao mercado
a imagem de instituição de menor risco, financeiramente sólida, com bom potencial de
geração de resultados e menor probabilidade de enfrentar dificuldades financeiras que
prejudiquem o tempestivo pagamento de suas dívidas (captações), nas condições
estabelecidas com os investidores (credores, poupadores).
Saliente-se que a volatilidade nos resultados contábeis divulgados pode afetar
adversamente a percepção de risco empresarial, fazendo com que os investidores
demandem taxas de retorno mais altas nos negócios com a empresa, o que inclui taxas
mais altas em financiamentos concedidos (custos de captação mais altos). A suavização
de resultados é uma forma de sinalizar o nível de resultados futuros que os investidores
podem esperar (Poitras et a., 2005:914). Assim, os bancos podem utilizar o instrumento
de suavização para transmitir imagem de constância de lucros e, com isto, influenciar a
11

percepção de risco dos investidores e reduzir seus custos de captação. Nesta linha,
Kanagaretnam et al (2001:7) observam que, como o custo dos financiamentos obtidos
depende do risco percebido no mercado, os gestores dos bancos possuem incentivo para
suavizar lucros e reduzir maiores flutuações nos resultados contábeis.
Também foi ressaltado que os agentes superavitários são convencidos a alocar seus
recursos em determinado banco se este for reconhecido como bem gerenciado, com
boas perspectivas e potencial de geração de lucros. Sabe-se, contudo, que não somente
os bancos com boas perspectivas conseguem captar recursos. Também aqueles
desprovidos de melhores perspectivas obtêm os financiamentos necessários ao
desenvolvimento de suas atividades. Isso remete à relação risco versus retorno, pela
qual, conforme fundamentos da teoria de finanças, quanto maior o risco apresentado por
um ativo, maior tende a ser o retorno esperado por parte dos investidores que nele
aplicam. Tal relação entre risco e retorno é evidenciada pelo CAPM (Capital Asset
Pricing Model), modelo que estabelece que o retorno esperado de um título é
positivamente (e linearmente) relacionado ao indicador de risco de mercado do título,
denominado beta (Ross et al,1995:227). Assim, quanto maior (menor) o risco, maior
(menor) o retorno esperado. E quanto maior (menor) o risco de um ativo, maior (menor)
será o prêmio de risco demandado pelos investidores. Nesse sentido, os bancos
oferecem um prêmio de risco para atrair depósitos no mercado, sendo que este prêmio
de risco é reduzido quando indicadores de solidez, como o nível de capital próprio, são
incrementados (Scholes et al, 1990:643).
Nesta lógica, um banco percebido como de risco elevado deverá experimentar taxas de
captação mais altas que um banco reconhecido como de baixo risco e financeiramente
sólido. É o risco refletido no preço. O preço, no caso, refere-se ao juro requerido pelos
poupadores nas transações com os bancos tomadores de recursos. Como o risco acaba
influenciando o preço, há natural interesse bancário em transmitir ao mercado imagem
de baixo risco. Essa influência do risco percebido (pelos investidores) no preço pode ser
observada, por exemplo, quando os bancos realizam captações por meio de CDB
(Certificado de Depósito Bancário).
Considera-se relevante, assim, a existência de mecanismos eficientes de precificação de
ativos no mercado. Para tanto, requer-se grau satisfatório de transparência (disclosure),
de maneira que os participantes do mercado possam identificar e avaliar os níveis de
risco apresentados pelas contrapartes com quem realizam operações.
12

Conforme destacado, a percepção de risco afeta o custo de capital das empresas, o qual
pode ser considerado como a taxa de retorno exigida pelos fornecedores de capital.
Segundo Gitman (1997:382-383), há uma relação geral entre risco e custos de
financiamento, pela qual o custo de capital depende de três elementos: custo livre de
risco de um dado tipo de financiamento, prêmio de risco de negócio (business premium)
e prêmio de risco financeiro (financial premium), conforme segue:

kj = rj + bp + fp
kj = custo dos vários tipos de financiamento, j; rj = custo livre de risco de um dado tipo de
financiamento, j; bp = prêmio de risco de negócio; fp = prêmio de risco financeiro.

Assim, o custo de captação de uma empresa depende do custo livre de risco, do risco
específico do negócio e do risco financeiro (definido como o risco de a empresa ser
incapaz de cumprir com seus compromissos financeiros). Depreende-se, pela equação
proposta por Gitman, que fatores de risco afetam o custo de capital das empresas, o que
oferece fundamento para se defender o especial interesse dos bancos em influenciar a
percepção de risco dos participantes do mercado, tendo em vista reduzir os custos de
captação. Neste propósito, requer-se a manutenção de imagem de solidez financeira, a
qual é fomentada pela apresentação de padrão de resultados constantes, sem
volatilidades que possam aumentar as percepções de risco quanto aos lucros futuros.
Ressalte-se, conforme já observado, que a prática de suavização de resultados enseja a
constância de lucros. Tal constância, por sua vez, é compatível com a imagem de
estabilidade, e esta, segundo Moyer (1990:132), é preocupação dos reguladores e
legisladores bancários. Nesse sentido, a constância de resultados contábeis, além de
contribuir para a redução de custos de captação, pode ser útil também para evitar maior
atenção por parte dos supervisores bancários. Acrescente-se, conforme Scholes et al
(1990:626), que o incremento de capital próprio, objeto de monitoração pelos
reguladores, favorece a captação bancária de recursos a baixos custos e reduz
possibilidade de intervenção pelo órgão regulador, o que corrobora a importância da
imagem de solidez para os bancos.

2. Problema
Este trabalho tem como propósito responder a seguinte questão: Há evidências de que as
instituições financeiras em atuação no Brasil utilizam a contabilização de operações de
crédito, TVM e derivativos como instrumento de gerenciamento de resultados?
13

De maneira mais específica, a questão de pesquisa pode ser definida da seguinte forma:
Há evidências de que as instituições financeiras utilizam a contabilização de operações
de crédito, TVM e derivativos como instrumento de gerenciamento de resultados, tendo
em vista a suavização dos resultados divulgados?
Assim, questiona-se se os padrões contábeis vigentes no SFN têm sido utilizados para a
fidedigna representação da situação patrimonial das instituições financeiras ou se estas
têm utilizado as normas e os procedimentos contábeis relativos às operações de crédito,
TVM e derivativos como instrumentos de gerenciamento de resultados, tendo em vista
interesses dos gestores bancários. Registre-se que estes interesses podem não se
coadunar com o objetivo das demonstrações financeiras, de evidenciação, transparência
e fornecimento de informações úteis para a tomada de decisões por parte dos usuários
da informação contábil.

3. Objetivo
O objetivo do trabalho é avaliar se existe utilização, por parte das instituições
financeiras em atuação no Brasil, da contabilização de operações de crédito, TVM e
derivativos como instrumento de gerenciamento de resultados. Especificamente,
objetiva-se identificar se estas contas específicas estão sendo utilizadas para a
suavização de resultados das instituições financeiras.
É propósito do trabalho realizar pesquisa bibliográfica e produzir evidências que sejam
úteis para a avaliação do grau em que os padrões contábeis vigentes no SFN, nas áreas
de crédito, TVM e derivativos, têm sido efetivamente utilizados para a evidenciação e a
adequada representação da situação patrimonial, financeira e de resultados das
instituições financeiras, em atendimento às demandas dos usuários da informação
contábil. Ao mesmo tempo, espera-se a geração de evidências que sinalizem até que
ponto os padrões contábeis vigentes têm sido utilizados para o GR, em atendimento a
interesses das próprias IF, como no caso de “suavização de resultados”.
Tem-se como objetivo, assim, verificar se há indícios de GR contábeis, no âmbito das
IF em atuação no Brasil, em três áreas: crédito, TVM e derivativos.
Cumpre mencionar que, embora esta pesquisa focalize a suavização de resultados,
outras práticas de GR também podem ser consideradas como de interesse das IF, como
ações no sentido de evitar a divulgação de perdas e lucros declinantes.
14

4. Justificativa

4.1 – Introdução

Neste item, são apresentadas as justificativas para a realização de pesquisa envolvendo


o tema de gerenciamento de resultados contábeis em IF com atuação no Brasil.
Primeiramente, discute-se como o GR pode revelar-se um obstáculo à consecução dos
objetivos das demonstrações financeiras, com prejuízos à transparência empresarial e
possíveis impactos negativos para a solidez do sistema financeiro e a eficiência de
mercado. Em seguida, aborda-se a carência de estudos voltados às IF e que contemplem
não somente a área de operações de crédito.
Quanto ao foco deste trabalho em operações de crédito, TVM e derivativos, sua
relevância para as instituições financeiras atuantes no Brasil é ilustrada a seguir:
Tabela 1 – Operações de crédito, TVM e derivativos no SFN
em R$ mil TVM e
31/12/2006 ativo total crédito % derivativos %
50 maiores bancos 1.699.538.603 566.026.658 33,3% 472.720.519 27,8%
SFN 1.997.735.742 690.868.087 34,6% 509.764.759 25,5%
Fonte: Relatório disponível em <http://www.bcb.gov.br/?CONINF>. Acesso em 12/04/07.

Além dos dados acima expostos, cabe considerar que, se somarmos as posições ativas
em crédito, TVM e derivativos, estas representavam, conjuntamente, 61,1% dos ativos
dos 50 maiores bancos e 60,1% dos ativos de todo o SFN em 31/12/2006.

4.2 – Objetivo da contabilidade


Hendriksen7, in Most (1977:107), defende que “o ponto de partida de qualquer campo
de estudo é estabelecer seus limites e determinar seus objetivos.”8 Esta postura baseia-se
no entendimento de que questões de ordem prática, com a forma de divulgação de
informações, devem considerar os objetivos da contabilidade para a sua eficácia.
Em linha com esta postura, antes de discutir o gerenciamento de resultados contábeis,
propriamente dito, deve-se considerar os objetivos da contabilidade, que se relaciona
diretamente com a evidenciação e a transparência empresarial. As práticas de GR, por
sua vez, podem prejudicar a consecução dos objetivos das demonstrações financeiras.
Segundo Iudícibus (2000:20), “o objetivo básico dos demonstrativos financeiros é
prover informação útil para a tomada de decisões econômicas.”

7
HENDRIKSEN, E. S. Accounting Theory. Rev. ed. Homewood, Ill., 1970, p.102.
8
Texto no original: “the starting point for any field of study is to set forth its boundaries and determine its
objectives.”
15

Ao mencionar a expressão “decisões econômicas”, o autor indica a importância de que


as empresas prestem ao público as informações relacionadas a eventos que tenham
afetado ou que possam vir a afetar a situação patrimonial da entidade. Aqui, identifica-
se um argumento em favor de que os bancos transmitam ao público informações que
representem adequadamente suas operações, patrimônio e resultados, tendo em vista
que os usuários utilizam as demonstrações financeiras para a tomada de decisões.
Em atendimento aos objetivos da contabilidade, os padrões contábeis vigentes no SFN
devem, idealmente, promover a adequada evidenciação das instituições financeiras.
A utilização dos padrões contábeis para outras finalidades, que não a transparência e a
fidedigna representação das entidades, pode prejudicar o atendimento dos objetivos das
demonstrações financeiras, em detrimento dos usuários da informação contábil, que
visam a tomada racional de decisões com base nas informações divulgadas.
Nesse sentido, é de grande utilidade avaliar até que ponto os padrões contábeis vigentes
no SFN têm sido efetivamente utilizados para a adequada representação das instituições
financeiras ou se estas têm utilizado os referidos padrões, por meio de práticas de GR,
para atender a outros interesses, os quais podem não ser compatíveis com a
transparência empresarial e com o satisfatório disclosure das organizações.
Justifica-se, assim, a realização de estudos que visam produzir evidências sobre a
eficiência das normas contábeis na promoção da transparência empresarial no sistema
financeiro. Este tipo de evidência apresenta utilidade para os diversos tipos de usuários
das demonstrações financeiras, que utilizam a informação contábil para a tomada de
decisões, para auditores e também para a autoridade monetária, o Banco Central,
responsável pela elaboração de normas contábeis e pela fiscalização no SFN. Enseja-se,
desta maneira, a promoção de evidências que sejam úteis para o aprimoramento dos
padrões contábeis adotados no sistema financeiro, em benefício da transparência das
instituições bancárias perante o público e da eficiência de mercado.
Quanto à atuação do Banco Central como responsável pelas normas contábeis aplicáveis
às IF, Healy & Wahlen (1999:369-370) mencionam algumas questões que podem ser
tratadas em estudos sobre gerenciamento de resultados: Quais os motivos para GR?
Quais contas (accruals) parecem ser gerenciadas e quais não apresentam evidências de
gerenciamento? Qual a magnitude e a freqüência do GR? Quais as conseqüências
econômicas do GR? Quais os efeitos dos padrões contábeis que requerem julgamento,
ensejando práticas de GR? Para os autores, respostas a essas questões podem ser úteis
aos órgãos responsáveis pela definição de padrões contábeis:
16

Se houver áreas em que o gerenciamento de resultados é identificado como freqüente


(comum), e com efeitos significativos nos resultados e na alocação de recursos, os
órgãos responsáveis pela definição de padrões contábeis podem considerar meios de
aprimorar os padrões contábeis existentes e expandir os requerimentos de
evidenciação, tendo em vista o aprimoramento da divulgação financeira.
Alternativamente, se o gerenciamento de resultados existe, mas não é comum, e
apresenta efeitos apenas modestos na alocação de recursos, há menor necessidade de
9
que os padrões de divulgação financeira sejam revisados.

Outra questão, levantada por Schipper (1989:91), é se as regras contábeis devem ser
promulgadas de maneira que as oportunidades para o GR sejam eliminadas. Conforme a
autora, é uma forma diferente de perguntar se o GR gera conseqüências adversas, se os
custos da discricionariedade contábil são mais altos que seus benefícios. Na análise
destes questionamentos, deve-se ter claro que o GR tem impactos na divulgação
financeira e que, conforme exposto no item a seguir, a transparência empresarial e a
adequada evidenciação contábil têm se revelado propósitos dos reguladores. A
discricionariedade sobre a PDD (provisão para devedores duvidosos), a propósito, bem
como seus efeitos – benéficos ou prejudiciais à solidez do sistema bancário – têm sido
objeto de debate entre profissionais, acadêmicos e reguladores. Quanto a estas questões,
Kanagaretnam et al (2001:2) destacam que a visão da SEC (Secutities and Exchange
Commission) e de quatro agências de regulação bancária (conforme pronunciamento
Federal Reserve Release, November 24, 1998) é que, embora o processo de
determinação da PDD envolva julgamento, não deve ser usada para manipular
resultados e iludir investidores.

4.3 – Solidez do sistema financeiro e disciplina de mercado


As atividades desenvolvidas pelas IF, sobretudo as relacionadas à intermediação
financeira, são de grande relevância para o desenvolvimento econômico. Por este
motivo, entende-se como fundamental a existência de um sistema financeiro sólido,
baseado em instituições adequadamente estruturadas e com operações pautadas pela
eficiência e pelo atendimento aos requisitos legais e às demandas sócio-econômicas.
Uma das bases de um sistema financeiro sólido consiste na transparência dos
intermediários financeiros perante o mercado de capitais, reforçando a confiabilidade
dos bancos na sociedade. Nesse sentido, órgãos internacionais e bancos centrais têm
defendido a divulgação, por parte dos bancos, de informações que evidenciem

9
Texto no original: “If there are identifiable areas in which earnings management is common and has a
significant effect on earnings and resource allocation, standard setters can consider ways to refine existing
accounting standards and expand disclosure requirements to enhance financial reporting. Alternatively, if
earnings management exists but is not commonplace and has only a modest effect on resource allocation,
there is less need for financial reporting standards to be revised.”
17

satisfatoriamente a situação das instituições relativamente a situação patrimonial e


financeira, resultados obtidos, administração organizacional e controles internos.
No âmbito das IF, assumem destaque as recomendações elaboradas pelo Comitê de
Supervisão Bancária da Basiléia (Basel Committee on Banking Supervision), entidade
do BIS (Bank for International Settlements) que reúne representantes de autoridades de
supervisão bancária de diversas nações, e que foi estabelecido pelos bancos centrais dos
países do Grupo dos Dez, em 1975.
O BIS tem publicado diversos documentos que tratam da disponibilização pública de
informações por parte de IF. Na visão do BIS (1999), padrões elevados de evidenciação
fomentam a disciplina de mercado, na medida em que oferecem condições aos
participantes do mercado de exercerem uma espécie de fiscalização sobre as diversas
instituições bancárias atuantes no sistema financeiro.
A representação e a importância do Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia (BIS) no
mercado financeiro mundial têm sido amplamente reconhecidas. Evidência disso é a
adoção, pelos órgãos de supervisão bancária e pelas IF de diversos países, das
recomendações do Comitê relativas à adequação de capital.
Conforme detalhado no documento “A New Capital Adequacy Framework” (1999), o
sistema de adequação de capital proposto pelo Comitê de Supervisão Bancária da
Basiléia, caracterizado pela recomendação de que as IF detenham capital em função dos
riscos assumidos, fundamenta-se em três pilares complementares. Estes, atuando
conjuntamente, são elementos essenciais de um sistema de exigibilidade de capital que
tem como objetivo precípuo assegurar a solidez e a estabilidade do sistema financeiro.
Cada um dos três pilares é entendido como um instrumento necessário para a
constituição de um mecanismo adequado de supervisão do sistema bancário e de cada
instituição, individualmente. Segue a descrição básica dos três pilares:
Pilar 1 – requerimentos mínimos de capital (em função dos riscos assumidos);
Pilar 2 – avaliação da supervisão bancária quanto ao sistema de alocação de capital
adotado (assegurar que capital da instituição é consistente com seu perfil de risco); e
Pilar 3 – disciplina de mercado: constitui-se de requisitos de disclosure, os quais
colaboram para a efetiva disciplina de mercado.
O Pilar 3, disciplina de mercado, tem o propósito de fomentar elevados padrões de
evidenciação, colaborando para o fortalecimento do papel dos participantes do mercado
no estímulo a que os bancos detenham adequados níveis de capital.
18

Para o entendimento da função exercida pelo Pilar 3, cabe a seguinte consideração: à


medida que o sistema financeiro torna-se mais transparente, divulgando informações
amplas e fidedignas, o mercado, através da atuação de seus diversos participantes, acaba
exercendo uma “pressão”, uma espécie de fiscalização, no sentido de que cada
instituição detenha níveis de capital consoantes com seu perfil de risco. Desta maneira,
padrões elevados de divulgação – que permitem aos usuários da informação contábil a
realização de avaliações bem fundamentadas –, colaboram para que os bancos
mantenham adequadas estruturas de capital, capazes de garantir a solidez das
instituições quando da ocorrência de perdas em função dos riscos assumidos.
Acrescente-se que a transparência de informações fomenta a eficiência na alocação de
recursos no mercado de capitais, favorecendo o direcionamento de investimentos às
instituições que detêm níveis de capital adequados; este processo fortalece os estímulos
para que os bancos observem os requerimentos mínimos de capital recomendados pelos
órgãos de supervisão. Hendriksen & Breda (1999:117) corroboram a importância da
informação para a eficiência na alocação de recursos no mercado de capitais.
Ao se discutir a disciplina de mercado, uma das questões levantadas é se os
participantes do mercado, como os investidores, são realmente capazes de identificar e
avaliar o risco assumido pelos bancos. Segundo Romera (2005:13), “a disciplina de
mercado parte do pressuposto de que a fiscalização e a regulamentação pelas
autoridades governamentais não são suficientes se não houver pressão e monitoramento
do mercado.” Dessa maneira, os agentes superavitários podem disciplinar as instituições
que assumem níveis de risco muito elevados, retirando seus depósitos ou cobrando taxas
de juros mais elevadas. A disciplina de mercado, neste contexto, pode ser entendida
como o processo no qual os investidores obtêm e avaliam informações sobre as
instituições financeiras e as incorporam nas operações que realizam, incluindo as
negociações com títulos.
Em consonância a esta tendência de valorização do disclosure, o Banco Central do
Brasil (2002b:107) afirma que os princípios que têm norteado os trabalhos da autoridade
monetária nacional são a manutenção de uma estrutura normativa e de supervisão
adequadas às necessidades de monitoramento do SFN, à defesa dos clientes, à
transparência e à disciplina de mercado (grifos nossos).
Assim, no âmbito doméstico, o Banco Central também tem empenhado esforços para a
melhoria do grau de transparência das instituições do SFN. A Circular 2.990/2000, por
exemplo, criou a obrigatoriedade de elaboração e remessa das Informações Financeiras
19

Trimestrais (IFT) pelas instituições financeiras. A IFT é destinada à autoridade


monetária, ao sistema financeiro, analistas de mercado e público em geral. Conforme o
Banco Central (2002b:102), a criação da IFT foi motivada pelo
(...) reconhecimento da importância de garantir ao mercado acesso tempestivo, de
forma transparente e racional, a informações contábeis relativas às atividades das
instituições financeiras, bem como informações sobre a estrutura de ativos e passivos
dessas organizações. Assim, além das informações contábeis, a IFT incorpora
informações financeiras, estatísticas e gerenciais, representando um grande avanço no
sentido de estabelecer procedimentos padronizados para a divulgação de tais
informações, em linha com o esforço internacional de promover a disciplina de
mercado por meio da transparência.

Vale ressaltar, ainda, que o objetivo das demonstrações contábeis consiste na provisão,
aos diferentes usuários, de informação útil para a tomada de decisões, de maneira que a
divulgação praticada pelas empresas relaciona-se diretamente com os objetivos da
contabilidade. Entende-se como relevante que o fornecimento de informações por parte
das IF tenha sua utilidade incrementada para acionistas, investidores, clientes
(incluindo-se os depositantes), órgãos do governo (com destaque para a supervisão
bancária), empregados, fornecedores e, de maneira geral, para toda a comunidade. Nesta
linha, o Banco Central do Brasil (2002b:100) afirma que:
Somente a partir de um nível de transparência satisfatório, com informações
confiáveis, baseadas em bons princípios contábeis e em sistemas de controle interno
eficientes, é que reguladores, participantes do mercado, acionistas, investidores e
outros usuários da informação serão capazes de avaliar com precisão a condição
financeira de determinada instituição, seu desempenho, o andamento de seu negócio e
os riscos relacionados às suas atividades.

O BIS (1999:18), ao discutir a importância do Pilar 3, afirma que um banco que é visto,
pelo mercado, como seguro e bem gerenciado, provavelmente obterá, nas transações
com investidores, credores, depositantes e outras contrapartes, condições mais
favoráveis relativamente aos bancos percebidos como de maior risco. Verifica-se que as
contrapartes tendem a requerer maiores prêmios de risco e garantias adicionais nas
transações com bancos que apresentam maior risco. Esse tipo de pressão, exercida pelos
participantes do mercado, é possibilitado por padrões elevados de divulgação, que
proporcionam condições para que os usuários realizem avaliações bem fundamentadas
sobre as instituições.
Com o mesmo enfoque, o Banco Central (2002a: título 2, capítulo 20, seção 10,
subseção 10, p.2-3), defende a “adoção de práticas que exijam a maior transparência
possível, por parte das instituições financeiras”, de maneira que “o público esteja bem
informado para escolher com quais instituições deseja trabalhar.” Assim, as melhores
20

são premiadas pela disciplina de mercado.” No mesmo documento, a autoridade


monetária expressa, como um dos objetivos da supervisão bancária, “promover maior
transparência nas informações prestadas ao público pelas instituições financeiras.”
O estabelecimento da relação entre a transparência e a disciplina de mercado faz
constatar que a evidenciação, no sistema financeiro, além de proporcionar o
atendimento das demandas de informações por parte dos usuários, também constitui
uma importante ferramenta a ser utilizada pelos supervisores bancários de cada país no
propósito de fortalecimento do sistema financeiro local. O Comitê da Basiléia (1999:11)
defende esta importante função exercida pela evidenciação:
O Comitê também acredita que os supervisores têm um forte interesse em facilitar
uma efetiva disciplina de mercado como uma “alavanca” para o fortalecimento da
segurança e da solidez do sistema bancário. A efetiva disciplina de mercado requer
informação confiável e tempestiva que permita aos participantes de mercado
realizarem avaliações de risco bem fundamentadas.”10

Desta afirmação, depreende-se que: (i) a disciplina de mercado, que requer informações
que permitam avaliações bem fundamentadas, é um mecanismo relevante para o
fortalecimento do sistema bancário e (ii) os supervisores têm forte interesse em
promover a disciplina de mercado, tendo em vista a solidez do sistema financeiro.
Pelo exposto, pode-se dizer que a existência de padrões contábeis adequados é elemento
fundamental para a qualidade e a solidez do SFN e para a disciplina e eficiência de
mercado. Estes "padrões adequados" envolvem os procedimentos contábeis específicos
para as IF, em suas diversas modalidades operacionais.
Considerando que os bancos encontram nas operações de crédito, com títulos e valores
mobiliários (TVM) e derivativos três de suas principais modalidades de atividades,
entende-se como relevante a existência de padrões de contabilidade eficientes, em
termos de evidenciação, nas três áreas operacionais mencionadas11. Nesse sentido,
questiona-se se os procedimentos contábeis vigentes no SFN, nas áreas de crédito, TVM
e derivativos, são efetivamente utilizados para a adequada e fidedigna representação da
situação patrimonial dos bancos, ou se, de outra forma, têm sido objeto de ajuste
discricionário por parte dos gestores bancários, funcionando como instrumentos de
gerenciamento de resultados contábeis com vistas ao atendimento de interesses das

10
Texto no original: “The Committee also believes that supervisors have a strong interest in facilitating
effective market discipline as a lever to strengthen the safety and soundness of the banking system.
Effective market discipline requires reliable and timely information that enables market participants to
make well-founded risk assessments.”
11
Vale ressaltar que, embora não sejam objeto de estudo neste trabalho, há outras áreas que, em termos
contábeis, assumem relevância no contexto bancário e também são passíveis de ajuste discricionário,
como amortização de ativos diferidos, provisões para contingências e consolidação de balanços.
21

próprias IF – como nas práticas de suavização de resultados –, em detrimento dos


interesses dos usuários das demonstrações financeiras.
McNutt (2003:1) salienta que o GR em bancos é interessante campo de estudo, pois, se
realizado em extensão observada em empresas não bancárias, como a Enron, pode ter
impactos severos na economia global. Para o autor, ao mesmo tempo em que uma crise
em um grande banco pode ter profundo impacto nos fundos de seguro de depósitos, uma
série de colapsos relacionados ao GR em bancos considerados grandes demais para falir
(“too big to fail”) pode ser devastador para a economia mundial. E, nesse tipo de
situação, o governo e, por conseguinte, os cidadãos que pagam impostos, podem acabar
sendo, de fato, os “garantidores de última instância”.
Assim, caracteriza-se a importância do estudo das práticas de gerenciamento de
resultados em bancos, tendo em vista a relevância da adequada evidenciação contábil
para a solidez do sistema financeiro, o papel vital deste para o desenvolvimento
econômico global, bem como os possíveis prejuízos gerados para governos e cidadãos
no caso de “quebras” de instituições financeiras.

4.4 – Carência de estudos


Grande parte dos estudos sobre GR excluem as instituições financeiras de suas análises
em função das particularidades operacionais e contábeis dos bancos. Esta realidade,
mencionada por McNutt (2003:1-2) e Cornett et al (2006:2), é exemplificada por
trabalhos como: Jones (1991), Dechow et al (1996), Burgstahler & Dichev (1997), Teoh
et al (1998), Barton (2001), Martinez (2001), Poitras et al (2002), Marquardt &
Wiedman (2004), Tukamoto (2004), Cardoso (2005) e Rodrigues (2006).
Entre os estudos que consideram os bancos, focalizam-se, normalmente, as operações de
crédito e o GR com base na provisão para devedores duvidosos (PDD), não se
considerando outras áreas importantes como TVM e derivativos. São exemplos: Wahlen
(1994), Beaver & Engel (1996), Ahmed et al (1998), Lobo & Yang (2001), McNutt
(2003), Fuji (2004) e Cornett et al (2006). Alguns estudos sobre gerenciamento de
capital, resultados e impostos, no segmento bancário, não se restringem à análise da
PDD, contemplando outras modalidades operacionais como ganhos e perdas com títulos
(security gains and losses). São exemplos: Moyer (1990), Scholes et al (1990), Beatty
et al (1995), Collins et al (1995), Shrieves & Dahl (2001) e Zenderski (2005).
Para Collins et al (1995:267), os três principais componentes discricionários do
resultado bancário são: ganhos e perdas com títulos, ganhos e perdas não recorrentes e
22

PDD. Isto reforça a importância de não se analisar apenas a PDD, mas, também, outros
itens do resultado bancário que podem estar sendo empregados no GR.
Há também estudos que focalizam a PDD, mas que excluem os bancos de suas análises,
como no clássico estudo realizado por McNichols & Wilson (1988), que, a propósito,
oferece argumento em favor de se examinar outros itens de resultado, além da PDD. Os
autores observam que, para algumas empresas, o exercício da discricionariedade sobre a
PDD pode conduzir a pequenas variações no resultado divulgado. As evidências obtidas
sugerem que, para as empresas analisadas, a discricionariedade sobre a PDD varia de
1% a 4% do resultado. Conforme os autores (p.16), “embora isto possa parecer
imaterial, o exercício da discricionariedade sobre a PDD, em conjunção a outras contas
com componentes discricionários, pode ajudar os gestores a alcançarem metas de
resultados(...).”12 Nota-se que McNichols &
Wilson ressaltam que a discricionariedade da PDD pode ter efeitos não tão
representativos, mas que, quando aliada à discricionariedade sobre outras contas, pode
oferecer as condições necessárias para a desejada influência sobre os resultados da
empresa. Identifica-se, assim, um argumento em favor da análise conjunta de mais de
um componente discricionário do resultado contábil das empresas. Nesta linha, Kato et
al (1998:1,5) concluíram que as acumulações (accruals) totais e os ganhos e perdas em
transações com títulos, conjuntamente, operam de maneira mais apropriada enquanto
instrumentos de gerenciamento de resultados nos bancos no Japão, destacando que é
mais plausível que os gestores usem amplo espectro de itens para alcançar seus
objetivos de GR.
Healy & Wahlen (1999:369-370), ao abordarem diferentes questões que podem ser
tratadas em estudos sobre GR, mencionam a seguinte: Quais contas (accruals) parecem
ser gerenciadas e quais não apresentam evidências de gerenciamento?
A partir desta questão, entende-se como relevante avaliar não somente se a
contabilização de operações de crédito, e respectiva provisão, têm sido utilizadas com o
propósito de GR, mas se outras modalidades operacionais como TVM e derivativos
também têm sido instrumentos de GR. Pode-se levantar argumentos teóricos e/ou
lógicos em favor da hipótese de que a contabilização de um determinado tipo de
operação, como derivativos, seja instrumento de gerenciamento, mas, em se tratando de

12
Texto no original: “Although this may seem immaterial, exercising discretion over the provision for
bad debts, in counjuncion with other discretionary accruals, can help managers achieve target income.”
23

pesquisa científica, entende-se como relevante a obtenção de evidências empíricas que


indiquem a existência ou não de práticas de gerenciamento.
Acrescente-se que as normas vigentes no SFN, nas áreas de TVM e derivativos –
Circulares 3.068 e 3.082, respectivamente –, são de introdução recente (anos de 2001 e
2002), constituindo-se, atualmente, as primeiras seqüências históricas de dados
contábeis já considerando os novos padrões de contabilização, o que enseja a realização
de pesquisa contábil empírica sobre as referidas modalidades operacionais.
Para Healy & Wahlen (1999), respostas a questões sobre quais contas são objeto de
gerenciamento e quais não são, podem ser úteis aos responsáveis pela definição de
padrões contábeis, permitindo identificar áreas em que o GR é comum, com demanda
por esforços de aprimoramento dos padrões contábeis vigentes, e áreas em que o
gerenciamento não é comum, indicando menor necessidade de revisão dos padrões
contábeis. Nesta linha, os autores (p.372) afirmam que:
De maneira geral, existem poucas evidências de gerenciamento de resultados
utilizando contas específicas (specific accruals), sugerindo que esta é provavelmente
uma frutífera área para futuras pesquisas. Por meio do exame de contas específicas, os
pesquisadores podem prover evidências diretas aos órgãos responsáveis pela definição
de padrões, relativamente a áreas em que as normas funcionam bem e onde há espaço
para melhorias. Como benefício secundário, tais estudos podem ser úteis no
desenvolvimento de modelos mais robustos de acumulações (accruals models).13
E acrescentam (p.380):
Se há que existir um debate mais informado sobre as implicações do gerenciamento de
resultados para os órgãos responsáveis pela definição de padrões, precisamos de
evidências adicionais em questões como as seguintes: Quais padrões contábeis são
usados para gerenciamento de resultados? Qual a freqüência com que os gestores
utilizam o julgamento na divulgação financeira para gerenciar resultados, mais do que
comunicar o desempenho da empresa aos investidores? (...).14

Como bem observam os autores, não se pode discutir em que áreas existe e em que
áreas não existe GR se não houver evidências sobre tais questões. Há demanda por
evidências sobre em quais áreas têm sido observadas práticas de GR. Para tanto, faz-se
necessária a realização de pesquisas que não tratem apenas de uma modalidade
operacional, ampliando a investigação para outras áreas. Este é um dos propósitos do

13
Texto no original: “Overall, there is little evidence on earnings management using specific accruals,
suggesting that this is likely to be a fruitful area for future research. By examining specific accruals,
researchers can provide direct evidence for standard setters of areas where standards work well and where
there may be room for improvement. As a secondary benefit, such studies may be able to develop more
powerful accrual models.”
14
Texto no original: “If there is to be a more informed debate about the implications of earnings
management for standard setting, we need additional evidence on the following questions. Which
accounting standards are used to manage earnings? What is the frequency of managers´ use of reporting
judgment to manage earnings rather than to communicate firm performance to investors? (…)”
24

presente trabalho: avaliar o GR não somente na área de crédito, tradicionalmente


pesquisada, mas também em outras áreas relevantes, a saber, TVM e derivativos.
Importante considerar que grande parte dos estudos sobre GR utilizam a abordagem de
acumulações totais (total accruals), investigando a parcela do resultado contábil que
pode ter sido objeto de manipulação (componente discricionário). Neste tipo de estudo,
não se produzem evidências sobre quais contas, especificamente, podem estar sendo
utilizadas para o GR. Além de Healy & Wahlen (1999), outros autores, como Marquardt
& Wiedman (2004:461), também ressaltam haver poucas evidências sobre quais contas
específicas são usadas para o GR, enquanto McNichols (2000) defende que o progresso
na literatura de GR tem maior probabilidade de acontecer com base em estudos de
acumulações específicas (specific accruals).
Outro aspecto a destacar, conforme Dechow & Skinner (2000:236), é que os
acadêmicos têm apresentado tendência a focalizar, em suas pesquisas, os incentivos
contratuais para o GR, como os relativos a planos de remuneração variável (bônus
vinculados a números contábeis) e contratos de dívida com cláusulas restritivas (debt-
covenants). Para os autores, um caminho para o sucesso nas pesquisas é focalizar, sim,
os incentivos gerenciais para o GR, mas especialmente os relacionados ao mercado de
capitais15.16 Entende-se que a necessidade de constante captação de recursos no
mercado, por parte dos bancos, vincula-se às motivações para GR relacionadas ao
mercado de capitais. Neste sentido, Dechow et al (1996:31) concluem que o desejo de
captar recursos externos a baixos custos, a despeito de representar significativa
motivação econômica para a manipulação de resultados, tem recebido relativamente
pouca atenção em pesquisas acadêmicas.
Nesta linha, conforme discutido na introdução, este trabalho parte da situação bancária
de necessidade de constante processo de captação no mercado de capitais, e do
conseqüente incentivo para a construção de imagem de solidez financeira, para a
assunção da premissa de que os bancos apresentam tendência à utilização de práticas de
GR como a suavização de resultados.

15
Texto no original: “with regard to this focus on incentives, we argue that academics’ research efforts
should focus more on capital market incentives for earnings management (…)”
25

5. Premissas assumidas
No decorrer do trabalho, algumas premissas e hipóteses orientadoras são assumidas.
Assume-se que os usuários das demonstrações financeiras tomam decisões racionais
com base nas informações divulgadas pelas empresas. Por este motivo, entende-se como
relevante que os padrões contábeis colaborem para a adequada evidenciação da situação
patrimonial e de resultados das IF, tendo em vista a consecução do objetivo das
demonstrações financeiras: provisão de informação útil para a tomada de decisões.
Também é assumida a existência de oportunidades, no âmbito dos padrões contábeis
vigentes no SFN, para a utilização de julgamento (discricionariedade) e, a partir disso,
apresentação de diferentes resultados contábeis, sem desrespeitar os princípios de
contabilidade. Entende-se que os gestores podem aproveitar-se das referidas
oportunidades de julgamento (“espaços” de discricionariedade) para fornecer
informações que lhes sejam mais convenientes, atendendo a interesses particulares, e
não propriamente ao objetivo de evidenciar adequadamente, de maneira fidedigna, a
real situação patrimonial e de desempenho das entidades. Quanto a este aspecto, vale
citar Fuji (2004:57), que aponta, como “uma das causas importantes” do GR:
(...) a flexibilidade dos princípios e normas contábeis, que permite uma margem de
arbitrariedade na elaboração das demonstrações contábeis, dadas as brechas legais e
ambigüidade de interpretação, possibilitando a apresentação de informações contábeis
pautadas nos interesses dos administradores e gerentes da empresa. As demonstrações
contábeis, por sua vez, podem estar em conformidade com a legislação contábil
vigente, mas não retratar fidedignamente a realidade econômico –financeira da
empresa, o que vai contra os interesses dos usuários da informação.
Considera-se, portanto, um contexto de assimetria de informações entre gestores e
usuários externos da informação contábil, onde os executivos das empresas buscam a
maximização de suas utilidades e o alcance de seus objetivos particulares, não pautando
suas ações, necessariamente, por princípios éticos e pela busca inexorável da
maximização da utilidade de outras partes interessadas na empresa (stakeholders).
Cabe salientar que os bancos, para o sucesso de suas atividades, dependem da
confiabilidade perante o público, a qual figura com um dos principais trunfos na
captação de recursos junto a terceiros (investidores, depositantes). Estes recursos
constituem a “matéria-prima”, o “insumo básico” das operações bancárias. Neste
contexto, é natural o entendimento de que os bancos têm especial cuidado em manter

16
Não se ignora, contudo, que os bancos contrabalançam os diferentes e possíveis benefícios existentes
no GR: tributários, regulatórios e os relacionados à divulgação financeira (disclosure). São também
considerados os custos envolvidos, como o risco de o GR ser detectado e afetar a imagem da instituição.
26

sólida imagem no mercado, podendo lançar mão de artifícios contábeis, como práticas
de GR, tendo em vista transparecer situação mais atrativa perante o público.
Pesquisas desenvolvidas no segmento bancário, como Ahmed et al (1999), Beatty et al
(1995) e Fuji (2004), assumem hipótese de relação positiva entre PDD e resultado
contábil (excluído da PDD), o que é considerado evidência de suavização de resultados
por meio da PDD. Assim, quando o resultado demonstra-se inferior ao esperado, reduz-
se o montante da PDD, para mitigar efeitos negativos nos lucros; quando o resultado é
alto, aproveita-se para aumentar volume da PDD. Este contexto de pesquisa baseia-se na
premissa de que gestores possuem incentivos para suavizar resultados.
No que se refere à manutenção de imagem de solidez, aparentando menor nível de
riscos, é razoável supor a adoção, por parte dos bancos, de práticas de suavização de
resultados. O interesse na adoção deste tipo de prática é hipótese orientadora do
presente trabalho. Entende-se que há incentivos para que as empresas adotem práticas
como a suavização, pois isto pode fazer com que os participantes do mercado tenham
percepção de menor volatilidade nos fluxos de resultados, indicando menor nível de
risco e, consequentemente, reduzindo as taxas demandadas nas captações realizadas e
aumentando os preços dos títulos emitidos pelas companhias (Hand,1989:596).
É assumido, portanto, que as IF preferem resultados suavizados17 (postura similar à
adotada por Hand, 1989:597). Os testes realizados objetivam avaliar se os dados são
consistentes ou não com as implicações derivadas da hipótese assumida.
Cabe considerar a existência de evidências de utilização da referida prática de GR pelas
empresas, conforme Rodrigues (2006) e, também, por parte dos bancos atuantes no
Brasil, conforme Fuji (2004), e nos EUA, conforme Collins et al (1995), que
constataram relação positiva entre PDD e resultado contábil, evidência consistente com
hipótese de suavização. Beatty et al (1995:254), empregando equações simultâneas, não
confirmaram hipótese de suavização (apenas com estimação por mínimos quadrados
verificou-se uso de PDD para suavização).
Quanto à base teórica para a assunção de hipótese de suavização de resultados,
encontra-se fundamentação em trabalhos como os desenvolvidos por Bowen et al
(1999) e Burgstahler & Dichev (1997), que abordam a teoria dos custos de transação.
Segundo esta teoria, as empresas possuem incentivos para utilizar a divulgação
financeira no sentido de fortalecer sua reputação e, com isto, influenciar os termos de
negociação com stakeholders, como os custos de captações junto a credores. Ocorre que

17
No capítulo II, item 3.5.2, são discutidas as bases para a hipótese de suavização de resultados.
27

os credores – incluindo os depositantes bancários –, ao analisarem o risco de a empresa


que faz a captação falhar no pagamento de juros ou na devolução de principal,
consideram a reputação do tomador de recursos. Esta reputação, por seu turno, é
influenciada pelas demonstrações financeiras e pelo padrão de resultados divulgados.
Corroborando a especial importância, para as IF, da imagem perante o público, o BIS
(1999a:18), ao discutir a importância da transparência e da evidenciação contábil,
afirma que um banco que é visto, pelo mercado, como seguro e bem gerenciado,
provavelmente obterá, nas transações com investidores, credores, depositantes e outras
contrapartes, condições mais favoráveis relativamente aos bancos percebidos como de
maior risco. Nota-se que as contrapartes tendem a requerer maiores prêmios de risco
nas transações com bancos que apresentam maior risco. Esse tipo de pressão, exercida
pelos participantes do mercado, é possibilitado por padrões elevados de divulgação, que
proporcionam condições para que os usuários realizem avaliações bem fundamentadas
sobre as instituições.
Com o mesmo enfoque, o Banco Central do Brasil (2002a: título 2, capítulo 20, seção
10, subseção 10, p.2-3), defende a “adoção de práticas que exijam a maior transparência
possível, por parte das instituições financeiras”, de maneira que “o público esteja bem
informado para escolher com quais instituições deseja trabalhar. Assim, as melhores são
premiadas pela disciplina de mercado.”
Pelo exposto, constata-se que, de um lado, figuram instituições bancárias que buscam
manter imagem confiável perante o público, podendo utilizar, para tanto, práticas de
GR. De outro lado, os reguladores demonstram a preocupação de que o sistema
financeiro apresente elevados padrões de divulgação de informações e de transparência,
para a garantia da disciplina de mercado. Nesta situação, ganha importância a avaliação
dos padrões contábeis vigentes no SFN no que se refere à sua utilização para o GR e sua
eficácia para a fidedigna representação das IF.
Assume-se, ainda, conforme Liberty & Zimmerman (1986:711) e Healy (1985), que há
custos no processamento das informações contábeis divulgadas pelas empresas, de
modo que os usuários externos possuem dificuldade em identificar e ajustar plenamente
as demonstrações financeiras relativamente às práticas de GR adotadas.
28

6. Metodologia e estrutura do trabalho


Para a consecução dos objetivos do trabalho, são desenvolvidas revisão bibliográfica e
pesquisa empírica. A revisão bibliográfica tem como propósito desenvolver as bases
teóricas do trabalho, envolvendo temas como GR, incluindo estudos com foco em
bancos, e contabilidade bancária. Segue o enfoque dado à base teórica:
Capítulo II - Gerenciamento de resultados: conceitos, práticas de GR, motivações,
procedimentos de pesquisa.
Capítulo III - Contabilidade de instituições financeiras: explicitar conceitos e
procedimentos contábeis relativos às operações de crédito, TVM e derivativos; analisar
possibilidades de GR no âmbito das normas contábeis.
Quanto à pesquisa empírica, foram avaliados dados contábeis das 50 maiores
instituições financeiras em atuação no SFN, pelo critério de tamanho de ativos,
conforme classificação decrescente apresentada no site do Banco Central do Brasil.
Foram utilizados dados contábeis semestrais, no período de junho de 2002 a dezembro
de 2006, realizando-se análises estatísticas com base em contas relacionadas às
operações de crédito, TVM e derivativos, tendo em vista investigar as relações entre
itens de resultado em cada uma destas três áreas operacionais e o lucro líquido das IF. O
período considerado na pesquisa (junho de 2002 a dezembro de 2006) deve-se ao início
de vigência de normas específicas para as áreas de TVM e derivativos, notadamente as
Circulares 3.068 e 3.082, editadas, respectivamente, em 2001 e 2002, pelo Banco
Central.
Na análise estatística, são empregadas as técnicas de correlação e regressão,
preconizadas em literatura específica sobre o tema. Utiliza-se o pacote estatístico SPSS
(Statistical Package for Social Sciences), versão 15.
Desta maneira, a metodologia de pesquisa é orientada por abordagem empírico-
analítica, com levantamento de informações contábeis secundárias de IF.
Conforme exposto, as bases teóricas do trabalho são abordadas nos capítulos II e III. No
capítulo IV, são apresentados os modelos e hipóteses da pesquisa. No capítulo V,
discutem-se os resultados obtidos. No capítulo VI, as conclusões são formuladas
considerando os resultados obtidos na pesquisa empírica e a base teórica constituída.
Com o propósito de elucidação de termos utilizados, consta um glossário ao final do
trabalho, com expressões em língua inglesa utilizadas na literatura internacional.
29

CAPÍTULO II – GERENCIAMENTO DE RESULTADOS


__________________________________________________________

1. Introdução
O presente capítulo, ao discutir o tema gerenciamento de resultados (GR), tem como
objetivo constituir uma das bases teóricas para a realização deste trabalho.
O capítulo é iniciado abordando-se o objetivo da divulgação de informações contábeis.
Em seguida, é discutido o conceito de GR. Parte-se, então, para o tratamento de alguns
aspectos específicos, como a definição sobre acumulações (accruals), acumulações
discricionárias, suavização de resultados (income smoothing) e os incentivos para GR.
O GR é tema bastante discutido na literatura acadêmica internacional e tem ganhado
espaço de pesquisa também no âmbito doméstico, especialmente após os colapsos
financeiros, na década de 1990, de grandes corporações multinacionais, cujas
demonstrações financeiras não retratavam de maneira fidedigna a situação patrimonial.
Figurando com freqüência em importantes periódicos internacionais, como The
Accounting Review, Journal of Accounting and Economics e Journal of Accounting
Research, apresenta, como outro indicativo de relevância, as revisões de literatura
(surveys) elaboradas por autores como Schipper (1989), Healy & Wahlen (1999) e
Dechow & Skinner (2000).
Nos estudos sobre GR, questões como as seguintes são tradicionalmente abordadas
(Martinez: 2001, 37-38): i) Ocorre? Está ocorrendo gerenciamento de resultados
contábeis?; ii) Por quê? Quais são os incentivos e as motivações para que as empresas
gerenciem resultados?; iii) Como ocorre o GR? Quais componentes das demonstrações
são utilizados?; iv) Quais são os efeitos? Quais as conseqüências do GR?
Este trabalho focaliza a primeira e a terceira questões, buscando avaliar a ocorrência de
GR e quais contas podem estar sendo utilizadas no processo de gerenciamento.
Nesta introdução à discussão sobre o GR, cumpre considerar premissas assumidas pela
teoria positiva da contabilidade relativamente ao comportamento dos gestores
organizacionais. A teoria positiva da contabilidade, diferentemente da teoria normativa,
não se volta ao estudo de como as empresas deveriam divulgar informações. O enfoque
positivo é procurar descrever como as empresas efetivamente realizam escolhas
contábeis e decidem que tipo de informação divulgarão. “Apoiando-se em princípios da
teoria econômica, o ponto de partida para decifrar essa questão é a idéia de que os
30

indivíduos agem basicamente em função de interesses pessoais, procurando maximizar


seu bem-estar.” (Iudícibus & Lopes, 2004:19)
O ambiente empresarial passa a ser visto como um conjunto de indivíduos que agem
impulsionados por interesses próprios, de modo oportunista, buscando defender seus
interesses pessoais. Percebe-se que noções de lealdade, moralidade e outros valores do
gênero não são incorporadas à teoria, assumindo, pelo contrário, que os objetivos
pessoais guiam as ações dos agentes (Iudícibus & Lopes, 2004: 19-20).
Nessa linha, nota-se que a divulgação contábil empresarial não é realizada em função
apenas do objetivo de garantir a confiabilidade e a fidedignidade das informações
prestadas. Outros fatores, como os interesses particulares dos preparadores das
demonstrações contábeis, exercem decisiva influência sobre o que será divulgado,
podendo prejudicar a neutralidade da divulgação financeira.
Assim, o GR pode ser entendido como uma forma de interferência de interesses
específicos dos preparadores de demonstrações contábeis no conteúdo ou na forma de
apresentação e divulgação de informações por parte das empresas.

2. O objetivo da divulgação contábil

A teoria da contabilidade advoga que o objetivo da divulgação financeira é proporcionar


aos usuários um conjunto de informações que permita a tomada de decisões. Nesta
linha, “o objetivo básico dos demonstrativos financeiros é prover informação útil para a
tomada de decisões econômicas.” (Iudícibus,2000:20)
A importância das demonstrações financeiras é realçada quando se considera a
existência da assimetria de informações e do conflito de agência no ambiente
empresarial.
A assimetria de informações estabelece que usuários internos (gestores) possuem amplo
conjunto de informações para a tomada de decisões, diferentemente dos usuários
externos, que dependem da divulgação de informações (evidenciação, disclosure) para
constituir base fundamentada para suas decisões econômicas. Percebe-se que o contexto
é de desvantagem informacional dos acionistas (e demais usuários externos)
relativamente aos altos executivos da empresa.
O conflito de agência é estabelecido a partir da relação entre principal (acionista) e
agente (executivo contratado pelo acionista para atuar na empresa de acordo com os
interesses do principal). O conflito advém da existência de interesses contrastantes entre
acionistas e executivos contratados, os quais podem priorizar seus próprios interesses,
31

em detrimento dos acionistas. Nesta situação, conforme Iudícibus & Lopes (2004:172),
“o acionista deve-se cercar do maior número possível de instrumentos para evitar que
seja expropriado pelo administrador”, sendo que o conflito de agência leva à
“necessidade de alinhamento dos interesses dos acionistas com os interesses dos
executivos.”18
Entende-se que, atualmente, a assimetria de informações e o conflito de agência
permeiam as atividades das organizações, tornando necessária a sua consideração em
um estudo sobre GR. Neste trabalho, assume-se a existência dos dois elementos citados,
entendendo-se a contabilidade como um dos possíveis instrumentos que podem ser úteis
na redução da assimetria de informações e no tratamento dos problemas que podem
advir a partir do conflito de agência.
Neste contexto, a contabilidade se apresenta como um instrumento de provisão de
informações, no propósito de oferecer bases satisfatórias para a tomada de decisões de
usuários como acionistas, investidores, credores e fornecedores, reduzindo a distância
informacional destes usuários para como os executivos da empresa (insiders).
Para a garantia da “transparência”, faz-se necessário que as empresas divulguem tanto
as informações “positivas” como as “negativas”. Se uma empresa apresentou lucro em
um período, isto divulgará, se apresentou prejuízo, não poderá omiti-lo.
O disclosure satisfatório, dessa maneira, pode ser definido como a divulgação, por parte
das empresas, de todas as informações, positivas e negativas, que tenham relevância
para os usuários da informação. Pode-se entender como relevantes as informações que
influenciam decisões de investimento e aquelas relacionadas a eventos que têm ou que
podem vir a ter impactos patrimoniais em uma empresa.
Para a consecução do objetivo da contabilidade, requer-se que as empresas apresentem
padrões satisfatórios de evidenciação, oferecendo informações amplas, tanto as
“positivas” como as “negativas”, o que garantirá a transparência empresarial e permitirá
que os usuários possam realizar julgamentos adequados e tomar decisões com
fundamentos consistentes e não enviesados.
No propósito de alcançar a referida transparência empresarial, importa que a informação
divulgada apresente as características qualitativas da informação contábil, como a
integridade (integralidade ou completeza) e a confiabilidade.

18
Possível forma de alinhamento de interesses é dada por planos de remuneração que vinculam a
compensação de executivos a interesses dos acionistas, como alcance de lucros e incremento no valor de
ações da companhia.
32

Entende-se que a informação é completa quando envolve todos os aspectos que possam
ter relevância no processo de tomada de decisões dos usuários e quando não há omissão
de dados importantes que os usuários têm a expectativa de ter conhecimento.
Para a garantia da confiabilidade, é necessário que a informação seja neutra e que
proporcione representação fiel dos eventos que visa evidenciar.
A neutralidade é prejudicada quando há seleção prévia, conforme interesses da empresa,
sobre o que será divulgado: “as demonstrações financeiras não são neutras se, pela
seleção ou apresentação da informação, influenciam a tomada de decisão ou o
julgamento, com o objetivo de obter um resultado predeterminado.” (Iasb, 2001:63)
Pelo exposto, pode-se afirmar que as demonstrações financeiras têm sua neutralidade
comprometida quando a empresa, ao omitir informações sobre seus resultados,
influencia e prejudica o processo de avaliação dos usuários. A omissão, no caso, pode
ser motivada, por exemplo, pela intenção de não evidenciar um aspecto negativo das
operações realizadas e do processo de obtenção de resultados, tendo em vista a
manutenção de uma imagem positiva diante do público.
O não alcance de algumas características essenciais da informação contábil, como a
integridade e a confiabilidade, pode ser decorrência do gerenciamento de resultados.
Evidencia-se, assim, a relevância do estudo das práticas de GR, pois estas podem
prejudicar a transparência empresarial, com possíveis danos até mesmo à confiabilidade
do público em relação à contabilidade, além de fomentar a incerteza entre investidores
e, no caso do sistema financeiro, entre os depositantes. Quanto à prática de suavização
de resultados, especificamente, nota-se que sua utilização prejudica as avaliações dos
participantes do mercado relativamente aos valores e à variabilidade dos resultados
empresariais, comprometendo a percepção mais acurada quanto à capacidade de
geração de resultados futuros e riscos envolvidos.
Vale mencionar os impactos funestos que um ambiente de incerteza e um clima de
desconfiança entre agentes superavitários (potenciais poupadores) podem acarretar na
poupança nacional e nas condições para o sistema financeiro desempenhar sua missão
de intermediação financeira, vital para o crescimento econômico de uma nação.
Registre-se que a informação contábil é relevante para que os poupadores decidam em
que bancos depositarão seus recursos e quanto esperarão receber de rendimento, dado o
nível de risco percebido. Quando a informação contábil, base para as decisões, revela-se
inverídica ou não confiável, abala-se a estrutura em que está baseado o mecanismo de
poupança popular e de investimento, com impactos negativos para o sistema financeiro
33

e o mercado de capitais, e efeitos que podem ser desastrosos para a economia. Crucial,
portanto, assegurar a qualidade e a confiabilidade da informação contábil divulgada ao
público, especialmente a relativa aos intermediários financeiros, entre os quais é alocada
parte significativa da poupança popular.
Relevante, neste contexto, verificar a existência de GR nas instituições financeiras, e se
estas têm lançado mão de práticas de gerenciamento de resultados contábeis com o
intuito de influenciar a percepção de risco dos diversos agentes econômicos. Trata-se de
análise que envolve o grau em que a contabilidade tem efetivamente sido instrumento
de redução da assimetria de informações, proporcionando bases satisfatórias para a
tomada de decisões de usuários como os depositantes, e colaborando para que o sistema
financeiro possa exercer com sucesso o papel de intermediação financeira.
Cabe observar que a distorção e a omissão de informações relevantes, ao mesmo tempo
em que prejudicam os usuários externos – que buscam informações satisfatórias para
fundamentar suas decisões –, podem estar alinhadas com interesses de um tipo
específico de usuários, os acionistas. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando o gestor
utiliza artifícios contábeis para inflar os lucros da empresa, com vistas ao aumento do
preço das ações da companhia. Esta prática, a despeito de prejudicar a fidedigna
evidenciação, pode atender aos interesses (pelo menos de curto prazo) dos detentores de
ações. Por esse motivo, práticas de GR podem não ser censuradas por membros de
conselhos de administração quando estes possuem participações acionárias na entidade
da qual são conselheiros e que devem monitorar (Cornett et al, 2006:7).

3 – Gerenciamento de resultados contábeis

3.1 – Definição

O gerenciamento de resultados contábeis (GR), na literatura internacional, é comumente


denominado earnings management. Outras expressões, com menor freqüência, também
são observadas: contabilidade criativa (creative accounting) e manipulação de
resultados (earnings manipulation). Como será abordado ainda neste item, o termo
manipulação pode apresentar conotação diferenciada relativamente ao GR, envolvendo
práticas não aceitas ou não incluídas no rol de alternativas possíveis quando respeitados
os princípios de contabilidade geralmente aceitos.
O gerenciamento de resultados, conforme Healy & Wahlen (1999:368):
34

Ocorre quando os gestores usam o julgamento no processo de elaboração das


demonstrações financeiras e na estruturação de transações, para alterar as informações
financeiras divulgadas, seja para iludir alguns stakeholders sobre o desempenho
econômico da empresa ou para influenciar os resultados contratuais que dependem dos
19
números contábeis divulgados.

Percebe-se que o GR envolve ações dos gestores com o propósito de alterar as


informações divulgadas sobre o desempenho da empresa. Estas ações gerenciais
possuem alguma motivação, e motivação que pode não ser condizente com o objetivo
das demonstrações financeiras: o fornecimento de informações úteis para a tomada de
decisões de usuários externos. Com isto, pode-se distorcer o conjunto de informações
divulgadas, prejudicando-se a adequada representação da realidade econômica da
entidade, com efeitos sobre a análise dos participantes do mercado e, em conseqüência,
também sobre o processo de alocação de recursos na economia.
Um exemplo de motivação para o GR é a intenção de influenciar a remuneração dos
dirigentes; isso pode ocorrer quando o esquema de compensação adotado vincula a
remuneração variável dos diretores ao lucro contábil divulgado (quanto maior o lucro,
maior a remuneração dos executivos). Neste tipo de situação, é fácil compreender a
possível existência de interesses gerenciais no aumento dos lucros divulgados.
Quanto à palavra “iludir” (mislead no original), utilizada por Healy & Wahlen, pode dar
a entender que o GR envolve uma espécie de fraude contábil. Quanto a isso, vale
considerar a observação de Martinez (2001:26), que alerta que:
É crucial entender que ‘gerenciamento dos resultados contábeis’ não é fraude contábil.
Ou seja, opera-se dentro dos limites do que prescreve a legislação contábil, entretanto,
nos pontos em que as normas contábeis facultam certa discricionariedade para o
gerente, este realiza suas escolhas não em função do que dita a realidade concreta dos
negócios, mas em função de outros incentivos, que o levam a desejar reportar um
resultado distinto.

A identificação de fraudes contábeis ou ilegalidades, portanto, não é escopo deste


trabalho. Cabe considerar, contudo, que nas áreas em que a contabilidade faculta ao
gestor a possibilidade de fazer escolhas contábeis, estas serão exercidas não
necessariamente com base, apenas, no que dita a realidade do evento econômico em

19
Texto no original: “Earnings management occurs when managers use judgment in financial reporting
and in structuring transactions to alter financial reports to either mislead some stakeholders about the
underlying economic performance of the company or to influence contractual outcomes that depend on
reported accounting numbers.”
35

análise, mas, por vezes, com base em outros fatores exógenos, que influenciam as
decisões gerenciais, como os interesses particulares da empresa e do próprio gestor20.
Ao definir, por exemplo, o montante das despesas de provisão para devedores
duvidosos, que visa ajustar o valor dos créditos a receber a níveis adequados e
compatíveis com a realidade, o gestor pode não se ater apenas à qualidade do crédito em
análise ou à situação do devedor, podendo se deixar influenciar por outros aspectos,
como o interesse em transparecer ao mercado a existência de uma carteira de crédito de
boa qualidade. Constata-se, assim, a interferência de fatores exógenos, que transcendem
a realidade concreta do evento sob análise. Estes fatores exógenos guardam relação com
interesses particulares daqueles que preparam as demonstrações financeiras, os quais
podem constituir motivações para o GR21.
Dechow & Skinner (2000:238) tratam a fraude na contabilidade como “uma forma
extrema de gerenciamento de resultados”, citando a definição da National Association
of Certified Fraud Examiners (1993), pela qual a caracterização da fraude depende da
intenção gerencial subjacente, mas também do fato de se tratar de uma apresentação
incorreta (fora dos limites dos princípios contábeis) e deliberada (consciente) de
informações enganosas: “a intencional e deliberada apresentação incorreta de
informações, ou omissão de fatos materiais ou dados contábeis, constituindo algo
enganoso (...) e que causaria, no leitor, a mudança em seu julgamento ou decisão.”22
Embora as fraudes possam ser consideradas como uma forma (extrema) de GR, deve-se
ter claro que se trata de manipulação que viola as normas e princípios contábeis,
configurando prática inaceitável. Nesta linha, Cornett et al (2006:1), também observa
que, em situações extremas, o GR resultou em escândalos amplamente divulgados
envolvendo Enron, Merck, WorldCom e outras grandes empresas norte-americanas.
Dechow et al (1996:3) observam que, embora não exista claro consenso na literatura
quanto à definição de GR, o termo é geralmente restringido a práticas inseridas nos
limites dos princípios contábeis geralmente aceitos (PCGA). Quanto à manipulação,
adotam definição que inclui práticas tanto dentro como fora dos PCGA, ressaltando que
as que extrapolam os limites dos PCGA envolvem potenciais custos legais.

20
Apesar de o conceito de GR não se coadunar com fraude contábil, cabe considerar que medidas de GR
produzidas em pesquisas, baseadas em apropriações discricionárias de receitas ou despesas, podem,
eventualmente, captar efeitos de operações que, na realidade, constituem irregularidades ou fraudes.
21
No item 3.4, há descrição pormenorizada das motivações para o gerenciamento de resultados.
22
Texto original: “the intentional, deliberate, misstatement or omission of material facts, or accounting
data, which is misleading (…) and would cause the reader to change or alter his or her judgment or
decision.” Cooking the book: What every accountant should know about fraud. N.92-5401, 12.
36

Quanto às formas pelas quais os resultados podem ser gerenciados, há diferentes


instrumentos, como mudança de estimativas (vida útil de ativos) ou em procedimentos
contábeis (depreciação acelerada para linear; PEPS para UEPS, na avaliação de
estoques), a discricionariedade dos gestores relativamente às apropriações de receitas e
despesas, melhor explicada no item a seguir, e, também, por meio da efetiva realização
de operações, como mudanças na estrutura de capital (objeto de estudo de Hand, 1989)
ou a venda de títulos em momento considerado oportuno23 pela gestão da empresa.
No caso de GR por meio de ação discricionária sobre contabilização de receitas e
despesas, ou mudança de procedimentos contábeis, não se alteram as condições
econômicas ou a essência das atividades da empresa, com impactos tão somente sobre o
conteúdo informacional divulgado ao público. Já no caso de GR por meio da realização
de operações, além de se influenciar a divulgação, pode-se efetivamente alterar as
condições econômicas e financeiras da entidade. Ao se vender um título ou fechar-se
um contrato de derivativo com objetivo de hedge (proteção), por exemplo, altera-se não
somente o conteúdo divulgado nas demonstrações financeiras, mas, também, a real
situação patrimonial e as condições para geração de resultados futuros.
Aproveitando o entendimento sobre os diferentes instrumentos para o GR, vale
considerar a definição proposta por Schipper (1989:92):
Por “gerenciamento de resultados”, quero dar a entender “gerenciamento da
divulgação” no sentido de uma intervenção proposital no processo de divulgação
financeira externa, com a intenção de obter algum benefício particular (em oposição a,
digamos, simplesmente facilitar a operação natural do processo).24

Em sua definição de GR, a autora ressalta a característica de se tratar de uma


intervenção na divulgação. O foco é a informação divulgada, a preocupação é com o
disclosure, tendo em vista os efeitos, para a empresa, da informação publicamente
apresentada. Tais efeitos decorrem da utilização das informações divulgadas, pelos
participantes do mercado, para a tomada de decisões econômicas como a concessão de
créditos e a compra de títulos corporativos. Evidencia-se, assim, o objetivo do GR:
influenciar as percepções dos agentes do mercado quanto às condições da empresa.
Considere-se que a ação discricionária sobre receitas e despesas pode simplesmente
alterar a informação divulgada, sem impactar as condições econômicas da empresa,

23
Bartov (1993) constatou suavização de resultados a partir da escolha do momento de venda de ativos.
24
Texto no original: “By ‘earnings management’ I really mean ‘disclosure management’ in the sense of a
purposeful intervention in the external financial reporting process, with the intent of obtaining some
private gain (as opposed to, say, merely facilitating the neutral operation of the process).”
37

enquanto que a realização de operações com vistas ao GR, além de influenciar a


divulgação, também altera as condições econômicas.
Outro aspecto a comentar, da definição de Schipper, refere-se à intenção gerencial de
obter algum benefício particular, envolvendo ação deliberada dos gestores no sentido de
apresentar resultados segundo interesses específicos que não propriamente promover a
transparência de informações, evidenciando a realidade econômica de cada negócio, e
de reduzir a assimetria informacional para com o público externo. Assim, pode ser
prejudicada a fidedigna representação da entidade por meio das demonstrações
financeiras. Esta fiel representação é conseguida quando há “natural operação do
processo”, o que consiste na divulgação financeira em consonância com os princípios
contábeis geralmente aceitos, sem interferência de outros interesses.
Assim, são apresentados os resultados que atendam aos interesses dos gestores e/ou
intentos da empresa, os quais revelam-se diferentes dos resultados que seriam
divulgados no caso de obediência imparcial aos princípios e normas contábeis vigentes,
bem como ao objetivo das demonstrações contábeis, a saber, o fornecimento de
informações úteis para a tomada de decisões por parte dos usuários externos. Neste
caso, de apresentação de resultados que podem ser considerados distorcidos em relação
ao que estabelecem os princípios e normas contábeis, compromete-se a neutralidade e
prejudica-se a fidedignidade da informação divulgada.
Mas vale ressaltar que, mesmo havendo respeito aos princípios e normas contábeis,
existirá, sempre, o exercício do julgamento dos preparadores das demonstrações
contábeis e a realização de estimativas e previsões por parte dos gestores. Isso não
implica, necessariamente, o GR, vez que a perfeita objetividade não é parte integrante
dos padrões contábeis. Estes por vezes ensejam certa subjetividade e até alguma
arbitrariedade na apuração do lucro, o que, apesar de comprometer a plena objetividade,
constitui mecanismo de grande utilidade para a consecução do objetivo de evidenciação
da realidade empresarial.
A questão chave, portanto, não é identificar se há ou não alguma subjetividade ou o
exercício do julgamento por parte dos gestores, mas, sim, se as decisões contábeis estão
em linha com os padrões da contabilidade ou se visam satisfazer tão somente a
interesses particulares, conforme premissa assumida pela teoria positiva. É saber até que
ponto a discricionariedade, intrínseca à contabilidade, está sendo utilizada em favor do
“bem informar” ou em benefício de grupos particulares, como gestores ou acionistas
majoritários, que buscam a consecução de seus objetivos.
38

3.2 – Discricionariedade
Umas das mais importantes informações produzidas pela contabilidade é o resultado
(lucro ou prejuízo) apresentado ao final da demonstração do resultado do exercício
(DRE) e utilizada pelos analistas para avaliar o desempenho das empresas. No entanto,
grande parte dos usuários da informação contábil desconhece que o lucro divulgado
pelas empresas possui componentes que envolvem certo grau de subjetividade.
Alguns procedimentos contábeis, que interferem no resultado apurado, podem não ser
fielmente representativos da real situação da empresa objeto de evidenciação. Um
exemplo é dado pela provisão para devedores duvidosos (PDD), cujo valor depende da
avaliação do gestor da empresa quanto à qualidade do crédito e à situação do devedor.
Esta avaliação envolve tanto aspectos objetivos (como os dias de atraso no recebimento
do crédito) como subjetivos (a exemplo da avaliação quanto às perspectivas do
devedor). A definição do valor da PDD, portanto, não se apresenta como algo
estritamente objetivo, sendo suscetível à interferência de fatores subjetivos.
Acrescente-se que, além de envolver aspectos subjetivos, a definição do valor da PDD,
a cada período, pode ser também influenciada por outros interesses que não
propriamente a efetiva evidenciação da real situação do crédito em análise. O gestor da
empresa pode estar interessado em divulgar situação de crédito mais confortável do que
transparece a realidade dos devedores, tendo em vista sinalizar que o processo de
concessão de créditos de sua empresa é eficiente e/ou que a carteira de créditos
(recebíveis) da empresa é de melhor qualidade do que efetivamente apontam os fatos.
Quando seguidos estritamente os princípios de contabilidade geralmente aceitos
(PCGA), sem interferência de outros interesses que possam distorcer os números
contábeis, caracteriza-se a ausência de GR, e o montante da PDD deve ser definido de
maneira que o valor líquido das contas a receber represente a expectativa dos gestores
quanto ao futuro recebimento dos créditos. Neste contexto, a diferença entre a provisão
divulgada e aquela definida conforme os PCGA pode ser considerada como acumulação
discricionária (discretionary accrual).
Os usuários externos das demonstrações financeiras (outsiders), contudo, têm
dificuldade em separar o que é discricionariedade sobre os resultados e o que é erro de
previsão dos gestores quanto ao futuro recebimento de créditos. É difícil, para este tipo
de usuário, determinar a extensão e os efeitos da discricionariedade sobre os números
contábeis. A discricionariedade sobre receitas e despesas, relativamente a outros
39

instrumentos, revela-se, portanto, com um meio mais eficaz de GR no que se refere à


não percepção, por parte dos outsiders, conforme McNichols & Wilson (1988:4):
Os efeitos do gerenciamento de resultados por meio de mudanças de procedimentos
contábeis e transações facilmente “visualizadas” são mais provavelmente “desfeitas”
pelos usuários externos. O gerenciamento de resultados por meio do componente
discricionário das acumulações é menos provavelmente “desfeito”.25

A dificuldade de identificação, por parte dos usuários, quanto às práticas de GR


utilizadas – especialmente as que envolvem a discricionariedade sobre os números
contábeis –, constitui estímulo para que os bancos empreguem técnicas de GR.
Os componentes não perfeitamente objetivos da DRE não se reduzem à PDD,
envolvendo outros itens como a despesa de depreciação (depende da estimativa de vida
útil de ativos), provisões para contingências (chegam a considerar, para sua definição,
pareceres jurídicos e argumentos subjetivos) e capitalização de gastos, itens
considerados passíveis de ajuste discricionário por parte dos gestores.
Importa reconhecer que diversos itens que compõem o resultado de uma empresa, sejam
receitas ou despesas, podem ser influenciados por interesses particulares da empresa, os
quais nem sempre se coadunam com o objetivo de bem informar os usuários externos.
Nesta linha, receitas podem ser postergadas e despesas antecipadas quando há interesse
em apresentar um lucro menor, ao mesmo tempo em que o inverso pode ser observado
quando o interesse é aumentar o lucro. Assim, o lucro contábil é aumentado pelo
incremento (decréscimo) de receitas (despesas) discricionárias.
O GR é possibilitado pelo fato de o processo de elaboração das demonstrações
contábeis envolver certo grau de subjetividade, dada a relativa flexibilidade dos
princípios e normas contábeis. Na esteira desta subjetividade e flexibilidade existentes,
observa-se que interesses particulares, como dos gestores, podem constituir ingredientes
determinantes no conteúdo da divulgação financeira.
Além de não abranger todas as possíveis situações experimentadas nos negócios
empresariais, os padrões contábeis, ao tratarem de alguns assuntos, permitem ao gestor
a escolha entre diferentes procedimentos alternativos, considerados igualmente válidos e
aceitáveis. Cria-se, então, um espaço de atuação para o gestor no que se refere a
aspectos como o conteúdo e a forma da divulgação, o momento e o método de
mensuração, o valor de estimativas contábeis e de provisões orientadas à cobertura de

25
Texto no original: “The effects of earnings management through accounting procedure changes and
highly visible transactions are likely to be ‘undone’ by outsiders. Earnings Management through the
discretionary component of accruals is less likely to be ‘undone’.”
40

perdas prováveis, e a classificação de valores mensurados (como de um gasto ou


investimento como despesa ou ativo a ser amortizado).
Nesse sentido, quando a regulamentação e os padrões contábeis revelam flexibilidade,
abre-se espaço e cria-se oportunidade para que os gestores exerçam o que se chama de
discricionariedade na escolha dos critérios e procedimentos contábeis que serão
adotados. Nestas situações, é possível que os dirigentes da empresa preparem números
contábeis que não atendem estritamente à demanda de revelar a essência e a realidade
dos negócios, priorizando o atendimento de interesses particulares como influenciar a
percepção dos credores quanto à capacidade de pagamento da entidade.
A discricionariedade existente na contabilidade não é, em sua essência, boa ou ruim.
Pode ser benéfica, pois flexibiliza os procedimentos contábeis, abrindo espaço para que
a empresa comunique ao usuário a sua real situação26. Assim, gestores de empresas com
diferentes ambientes operacionais não ficam presos a um inflexível conjunto de regras
que, pela sua rigidez, poderia prejudicar a comunicação27. Ao mesmo tempo, a
discricionariedade enseja que interesses particulares dos gestores da empresa acabem
interferindo nos números contábeis, resultando em divulgações enviesadas que não
revelam a real situação da empresa, mas que colaboram, sim, para o atendimento de
outros interesses específicos, como aumentar a remuneração variável de executivos, em
esquemas de compensação vinculada aos lucros divulgados.
O GR consiste justamente na utilização da discricionariedade contábil para o
atendimento de interesses específicos, particulares, em confronto com o objetivo das
demonstrações financeiras, a saber, a divulgação de informações fidedignas, que
representam adequadamente, sem viés, a situação patrimonial, financeira e de resultados
da entidade objeto de divulgação.
Neste contexto, decisões contábeis realizadas dentro dos limites dos princípios
contábeis podem ser consideradas como gerenciamento de resultados se forem
utilizadas com o propósito de obscurecer ou mascarar a real performance econômica
(Dechow & Skinner, 2000:240), em detrimento da fiel representação da entidade.
Paralelamente, a discricionariedade não resulta em GR quando revela as reais

26
A discricionariedade, que envolve julgamento e estimativas, no contexto do regime de competência,
tem justamente o objetivo de criar condições para que a contabilidade forneça números que representem
melhores medidas da performance econômica, relativamente aos fluxos de caixa.
27
No contexto desta flexibilidade, é atribuída ao gestor a escolha do método de depreciação mais
compatível com a realidade do ativo imobilizado da empresa, permitindo também a opção quanto ao
método de custeio mais apropriado e sintonizado com seu processo produtivo.
41

conseqüências das decisões gerenciais, o que é alcançado quando são seguidos,


estritamente, os princípios contábeis, sem interferência de outros interesses gerenciais.
Entendido o conceito de discricionariedade, cabe observar que o resultado contábil não
se compõe exclusivamente de fluxos de caixa já realizados. Se uma empresa apresentou
lucro de $ 5 mil, não se pode deduzir que este valor impactou positivamente no caixa da
empresa, pois o lucro não é decorrente do confronto entre entradas e saídas de caixa.
Para se chegar ao resultado contábil, o regime adotado não é o de caixa, mas o de
competência (accrual basis), pelo qual as receitas são reconhecidas não quando do
efetivo recebimento (em caixa), mas quando “ganhas”, realizadas, quando o esforço
para a sua consecução é completado ou, ao menos, praticamente completado. Ao
mesmo tempo, devem ser reconhecidas as despesas incorridas e que se relacionam com
as receitas contabilizadas no período. Assim, as despesas devem ser reconhecidas na
medida em que se contabilizam as receitas, conforme o princípio da confrontação, de
maneira que sejam reconhecidas, em um mesmo período, tanto as receitas “ganhas”
como as despesas relacionadas aos esforços de obtenção dessas receitas contabilizadas.
Entendendo-se o lucro como a confrontação entre receitas e despesas, é fácil
compreender que sua medida não guarda relação direta com o caixa gerado durante o
período. Dedução óbvia pelo fato de que receitas contabilizadas em um período não são
todas já realizadas no caixa: parte é caixa (receitas decorrentes de vendas a vista) e parte
é apropriação relativa a aumentos patrimoniais (receitas decorrentes de incrementos no
ativo duplicatas a receber, com origem em vendas a prazo).
Assim, pode-se dizer que o resultado contábil apurado em um período é composto
parcialmente por caixa (itens que já tiveram impacto no caixa) e parcialmente por
receitas e despesas que ainda não tiveram contrapartida no caixa, mas que foram
contabilizadas em decorrência do regime de competência.
O fato de o lucro contábil não ser representativo do caixa gerado no período não deve
ser entendido como uma falha da contabilidade. Pelo contrário: o objetivo das
demonstrações contábeis, mais do que evidenciar fluxos de caixa realizados, é oferecer
bases satisfatórias para a antecipação (projeção) de fluxos de caixa futuros, tendo em
vista a tomada de decisões econômicas. Assim, as demonstrações contábeis se propõem
a mensurar o resultado no sentido econômico, considerando a variação na riqueza
patrimonial, e não, tão somente, a variação financeira em disponibilidades. Com isto, as
demonstrações contábeis, elaboradas conforme o regime de competência (e os demais
princípios contábeis), podem ser entendidas como uma melhor leitura da riqueza
42

empresarial relativamente à simples evidenciação dos fluxos de caixa realizados,


constituindo base para a realização de estimativas, por parte dos usuários, quanto às
futuras entradas e saídas de caixa. Nesta linha, Hendriksen & Breda (1999:315-6)
observam que: i) os investidores possuem interesse em avaliar as magnitudes, as datas
de ocorrência e a incerteza de entradas de caixa futuras; ii) o Fasb, órgão responsável
pela elaboração de padrões contábeis nos Estados Unidos, concluiu que, ao invés de
fornecer histórico de fluxos de caixas passados – os quais tendem a não ser
caracterizados pela regularidade –, uma forma de atender à demanda por bases
satisfatórias para a projeção de fluxos de caixa futuros é fornecer balanços e
demonstrações de resultados, com detalhes sobre os recursos (aplicações), as obrigações
e o patrimônio (riqueza), bem como medidas de lucros e seus componentes.
Em literatura internacional, as receitas e despesas contabilizadas pelo regime de
competência são denominadas accruals, o que é abordado no item a seguir.

3.3 – Acumulações (accruals)


Conforme exposto, os accruals referem-se às receitas apuradas e às despesas
reconhecidas com base no regime de competência, e não em decorrência do efetivo
recebimento da receita em caixa ou do efetivo pagamento da despesa.
O termo accrual pode ser traduzido para o português como acumulação, remetendo à
noção de receitas ou despesas que se acumulam em decorrência do transcurso de prazos.
Assim ocorre na apropriação de receitas relativas a incrementos patrimoniais
observados em ativos como duplicatas a receber (decorrentes de vendas a prazo) ou em
títulos adquiridos, constituindo aplicações financeiras.
A frase a seguir, ilustra o conceito: “Keeping your money in a savings account is a very
good way to accrue interest.”28 A tradução poderia ser: Guardar seu dinheiro em uma
conta de poupança é uma forma muito boa de acumular juros.” Nota-se que os
rendimentos de uma aplicação financeira são acumulados à medida que transcorrem os
dias em que os recursos são mantidos na poupança. Da mesma forma, despesas advêm
de dívidas (empréstimos obtidos). Verifica-se, portanto, que receitas e despesas são
acumuladas em decorrência do transcurso de prazos (pro-rata temporis) e das variações
(acréscimos ou decréscimos) patrimoniais observadas em ativos e passivos.
Além de “acumulação”, poderia ser utilizado, alternativamente, o termo “apropriação”,
remetendo ao procedimento de apropriar receitas ou despesas pro-rata temporis. Os
43

accruals, assim, seriam entendidos como receitas ou despesas “acumuladas” ou


“apropriadas”, utilizando-se, por exemplo, o termo apropriações discricionárias.
Os accruals podem ser de natureza discricionária (discretionary accrual) ou não
discricionária (non-discretionary accrual). São considerados discricionários quando
dependem do julgamento do gestor e não discricionários quando independem do
julgamento do preparador de demonstrações financeiras. Conforme Teoh et al
(1998:67), as acumulações não discricionárias são proxies para o reconhecimento de
acumulações fora do controle dos gestores e as acumulações discricionárias são proxies
para o GR. Segundo Kothari (2001:161), as apropriações discricionárias e o GR são
usados como sinônimos na literatura.
Assim, é comum, nos estudos acadêmicos, a utilização das acumulações discricionárias
(AD) como medida (proxy) de GR. Quanto maiores AD, entende-se como mais forte ou
evidente a prática de GR. Sendo positivas (negativas) as AD, constata-se o interesse em
aumentar (reduzir) o lucro, ou melhorar (piorar) o resultado.
Martinez (2001:17) oferece distinção elucidativa entre as duas modalidades:
Considerando que eventualmente o “gestor” possa tomar a decisão de aumentar ou
diminuir as acumulações por motivos alheios à realidade do negócio, cria-se a
necessidade didática de subdividir estas em: acumulações discricionárias
(discretionary accruals) e acumulações não discricionárias (non discretionary
accruals). Estas últimas seriam as exigidas de acordo com a realidade do negócio, as
primeiras seriam artificiais e teriam como único propósito “gerenciar” o resultado
contábil.

Face ao objetivo primário do regime de competência, que é refletir os eventos


econômicos subjacentes, é razoável supor que, de maneira geral, a parcela não
discricionária das receitas e despesas apropriadas tende a ser maior que a discricionária.
Ademais, na ausência de GR, uma variação na provisão para devedores duvidosos, por
exemplo, só seria observada no caso de mudanças na realidade econômica, como no
caso de alterações na condição de crédito dos tomadores.
A investigação do valor das acumulações discricionárias é um grande desafio
metodológico. Também para o usuário externo é difícil discernir quando uma escolha
contábil decorre da mensuração objetiva do gestor (apropriação não discricionária), e
quando depende do julgamento do gestor, podendo ser motivada por fatores exógenos
ao processo de avaliação contábil (apropriação discricionária), como interesses
oportunistas que podem comprometer a divulgação neutra, sem viés, e a fidedigna
representação da empresa, sem “segundas intenções”.

28
Frase retirada de: JELIN, Israel I. Dicionário Inglês Português. São Paulo: FTD, 2005, p.25.
44

Neste contexto, pode-se definir como má utilização da discricionariedade aquela que


prejudica a boa comunicação da empresa por meio das demonstrações financeiras,
tornando mais agudos os problemas decorrentes da assimetria de informações entre
gestor e os demais interessados na empresa (usuários externos).
Ações da auditoria independente e da fiscalização governamental, tendo em vista
averiguar a aderência das práticas contábeis relativamente aos princípios e normas
contábeis, podem ser instrumentos relevantes para evitar que a discricionariedade seja
mal utilizada. Ao mesmo tempo, deficiências de auditoria e fiscalização podem
colaborar com usos desconhecidos e descontrolados da discricionariedade por parte dos
gestores empresariais, abrindo espaço até mesmo para as manipulações que
transcendem os limites permitidos pelos princípios contábeis, alcançando o campo das
fraudes e ilegalidades. Ao mesmo tempo em que não se define como objetivo deste
trabalho a identificação de fraudes, não se pode assumir que os procedimentos de
auditoria e fiscalização sejam plenamente eficientes, impossibilitando qualquer tipo de
manipulação ou atos ilícitos. Nesse sentido, é razoável considerar que, entre as
“acumulações discricionárias” podem figurar valores que decorrem, na realidade, de
práticas que vão além do conceito básico de gerenciamento de resultados, figurando
entre os elementos de manipulação e fraude contábil.
Cabe salientar que os princípios contábeis permitem certa discricionariedade na
divulgação de informações contábeis, possibilitando que os accruals incorporem tanto
as expectativas dos gestores sobre os fluxos de caixa futuros como as conseqüências de
ações gerenciais que visam manipular os números contábeis.
A partir da distinção entre resultado contábil e fluxo de caixa, pode-se definir como
acumulações (accruals) a diferença entre lucro líquido e fluxo de caixa líquido. Assim,
as acumulações envolvem receitas e despesas que participam da apuração do lucro, mas
que não implicam, necessariamente, em equivalente movimentação de caixa no período
ou momento de contabilização. O volume de acumulações e sua representatividade no
resultado contábil dependem da natureza e das condições do negócio, bem como de
estimativas e avaliações discricionárias do gestor.
O resultado contábil inclui acumulações (apropriações de receitas e despesas conforme
o regime de competência), pois se entende que o conjunto “acumulações + caixa” é uma
melhor medida de desempenho econômico do que apenas o caixa (McNichols &
45

Wilson, 1988:30). O trecho seguinte, retirado de pronunciamento do Fasb (1985)29, in


Dechow & Skinner (2000:235), expõe a lógica do regime de competência:
O regime de competência objetiva o registro dos efeitos financeiros, em uma entidade,
das transações e outros eventos e circunstâncias com impactos no caixa da entidade,
em períodos nos quais essas transações, eventos e circunstâncias ocorrem, mais do que
apenas nos períodos em que o caixa é recebido ou pago pela entidade30.

O motivo de a contabilidade utilizar as acumulações consiste no entendimento de que os


resultados apurados conforme o regime de competência proporcionam melhor
informação sobre o desempenho econômico comparativamente ao regime de caixa.
As acumulações são segregadas em correntes (contas de resultado com contrapartida no
ativo ou passivo circulantes) e não correntes (contrapartida em contas que não
circulantes). Considerando que as contas de resultado possuem contrapartida em contas
do balanço patrimonial, as acumulações podem ser estimadas a partir das variações
observadas em contas do balanço. Para estimar as acumulações correntes, pode-se
adotar o procedimento de computar as variações no capital de giro líquido, excluindo as
disponibilidades e financiamentos de curto prazo, focalizando-se, assim, as alterações
em contas a receber, estoques, despesas antecipadas e outras contas a pagar. Já as
acumulações não correntes, por simplificação, podem ser consideradas como as
despesas de depreciação a amortização, ignorando-se outros accruals não correntes.
Teoh et al (1998:66) registra que pesquisadores contábeis defendem que os há maior
discricionariedade sobre as acumulações correntes, que podem envolver, por exemplo,
reconhecimento antecipado de receitas de venda a prazo e PDD.

3.4 – Motivações
A contabilidade, que tem o papel de fornecer informações fidedignas aos seus usuários,
pode sofrer a influência de fatores exógenos como os interesses dos preparadores de
demonstrações financeiras. Tais interesses particulares podem constituir motivações
para o GR. As várias possíveis motivações (ou incentivos) para o GR podem ser
classificadas em: 1) vinculadas ao mercado de capitais; 2) contratuais e 3)
regulamentares e custos políticos (Martinez, 2001:38).

29
FASB. Elements of Financial Statements. Statement of Financial Accounting Concepts, n.6, Norwalk.
30
Texto no original: “Accrual accounting attempts to record the financial effects on an entity of
transactions and other events and circumstances that have cash consequences for the entity in the periods
in which those transactions, events, and circumstances occur rather than only in the periods in which cash
is received or paid by the entity.”
46

3.4.1 – Motivações vinculadas ao mercado de capitais


Investidores e analistas de investimentos lançam mão das informações contábeis
buscando constituir percepções de risco e de retorno esperado das diversas alternativas
de investimento disponíveis no mercado, incluindo ações e títulos lançados pelas
companhias. A ampla utilização das informações divulgadas pelas empresas cria o
incentivo para que os executivos gerenciem os resultados contábeis, tendo em vista
influenciar as percepções do mercado e reduzir custos de captação. Dechow et al
(1996:1,30) obtiveram evidências de que uma importante motivação para o GR é o
desejo de obter financiamento externo a baixo custo, e que as empresas experimentam
significativo aumento em seus custos de capital quando o GR se torna público.
Uma das hipóteses levantadas é que as empresas em fase de emissão de ações
apresentam a tendência ao GR, incrementando lucros com o objetivo de aumentar o
preço de venda das ações. Este foi o objeto de estudo de Teoh et al (1998), que
constataram que empresas utilizam principalmente as acumulações discricionárias
correntes para aumentar os lucros no período anterior à oferta, vindo a apresentar,
contudo, menores lucros e retornos no mercado acionário após a emissão.
Martinez (2004:50-54) revisou as pesquisas sobre GR com motivações ligadas ao
mercado de capitais, destacando que empresas podem gerenciar resultados com vistas
ao favorecimento de sua imagem no mercado em períodos anteriores à emissão de ações
ou títulos de dívida, tendo em vista melhores condições de captação.
Entre as motivações ligadas ao mercado de capitais, pode-se citar o intuito de
corresponder a determinadas referências (benchmarks) de resultados existentes no
mercado, como evitar a divulgação de perdas, apresentar lucros trimestrais crescentes e
atingir expectativas dos analistas de investimentos quanto aos resultados trimestrais.
Quanto aos referidos benchmarks, Degeorge et al (1999)31, apud Dechow & Skinner
(2000:243), obtiveram evidências da existência de uma hierarquia para as empresas: o
mais importante é evitar a divulgação de perdas, sendo que, uma vez alcançado este
propósito, busca-se a divulgação trimestral de resultados crescentes, partindo-se, então,
para o terceiro objetivo, corresponder às expectativas e às previsões dos analistas.
Esta hierarquia encontra base nas respostas dos participantes do mercado ao alcance de
cada um dos benchmarks: o mercado acionário responde positivamente ao alcance de
uma referência e negativamente ao não alcance. Pelo fato de se tratar de referências

31
Degeorge, F., J. Patel & R. Zeckhauser. Earnings management to exceed thresholds. Journal of
Business 72, p.1-33, 1999.
47

simples (simple benckmarks), é razoável supor que pelo menos parte dos investidores,
ao invés de desenvolver análises profundas, toma decisões com base em medidas
simples de resultados (heurísticas), como a taxa trimestral de crescimento dos lucros ou
a apresentação de pequeno lucro ao invés de pequeno prejuízo. Isto sugere custos de
processamento de informações relativamente altos para os investidores, reforçando a
importância, para as empresas, do gerenciamento dos números contábeis com vistas ao
alcance dos benchmarks, dado que, quanto mais superficial a análise feita pelos
investidores, mais fácil tende a ser “enganá-los” com práticas de GR.
Ressalte-se que altos custos de processamento de informação não são compatíveis com
a tradicional visão acadêmica de eficiência de mercado (e baixos custos de
processamento), pela qual não seria difícil, para os usuários externos, desfazer práticas
de GR das empresas. Por outro lado, custos de processamento não tão baixos favorecem
a eficácia das práticas de GR, pela dificuldade dos usuários em desfazê-las.
Conforme segue, Dechow & Skinner (2000:247) resumem as idéias acima expostas:
os participantes do mercado respondem ao fato de os resultados corresponderem ou
não a simples referências; os gestores parecem praticar o gerenciamento de resultados
(GR) para alcançar estas referências simples de resultados; e participantes de mercado
podem ser “enganados” por práticas relativamente simples de GR. Contudo, se o GR é
revelado aos participantes de mercado, a empresa pode sofrer duras “punições”. Estas
evidências parecem ser de difícil conciliação com a tradicional visão acadêmica de
que os mercados são eficientes e os custos de processamento de informação são
baixos32.

Pelo exposto, indica-se haver forte interesse das empresas em corresponder a referências
e expectativas do mercado, constituindo mais um argumento para que os bancos
objetivem a suavização de resultados, e também evitar a divulgação de perdas e lucros
declinantes, que configuram referências simples acompanhadas pelos participantes do
mercado (investidores, analistas, imprensa e supervisores bancários).

3.4.2 – Motivações contratuais


Os inúmeros contratos estabelecidos no ambiente empresarial envolvem acionistas,
executivos, funcionários, credores e outros stakeholders. Parte destes contratos
dependem de números contábeis. Um exemplo é dado pela remuneração de executivos,

32
Texto no original: “market participants respond to whether earnings meet fairly simple benchmarks;
managers appear to practice earnings management to meet these simple earnings benchmarks; and market
participants can be ‘fooled’ by relatively simple earnings management practices. However, if earnings
management is revealed to market participants, the firm can face relatively harsh penalties. These
findings seem hard to reconcile with traditional academic views that markets are efficient and information
processing costs are low.”
48

que pode ser definida em função da magnitude dos lucros contábeis. A remuneração
variável (bônus) condicionada a lucros é um exemplo que evidencia claramente a
possibilidade de existirem motivações contratuais para o GR.
As motivações contratuais também são observadas em contratos de dívida (lending
agreements) que contêm cláusulas com restrições ou penalidades vinculadas a números
contábeis (debt covenant clauses). Estas cláusulas se propõem a aliviar o conflito de
interesses entre o tomador do empréstimo e o detentor do título de dívida. Uma empresa
pode, por exemplo, sofrer um acréscimo de juros ou uma restrição em linha de crédito
caso não mantenha determinado nível de liquidez. Neste contexto, empresas na
iminência de não conseguir respeitar cláusulas estabelecidas podem ser incentivadas à
manipulação de números contábeis. Este tema foi pesquisado por Bartov (1993).
A manipulação de resultados para baixo em períodos de negociação com sindicatos
(convenções coletivas), tema pesquisado por Liberty & Zimmerman (1986), também
pode ser citada como exemplo de motivação contratual.

3.4.3 – Motivações regulamentares e custos políticos


A regulamentação e outros aspectos ligados à ação governamental (como a aplicação de
multas, o aumento de impostos e a liberação de algum tipo de subsídio) exercem
influência sobre as empresas e os preparadores de demonstrações financeiras. Exemplos
de custos políticos são o aumento de impostos ou o incremento nas ações de fiscalização
em empresas ou setores altamente lucrativos.
Nesta situação, empresas com lucros muito elevados em relação a outros setores podem
ver-se incentivadas a práticas contábeis que reduzam seus resultados, tendo em vista
não chamar demasiadamente a atenção dos órgãos arrecadadores, que podem propor o
aumento de impostos. Registre-se que o lucro contábil divulgado, contudo, não equivale
ao lucro “real”, usado pela contabilidade fiscal para fins de apuração do imposto a
pagar. Cabe aqui observar que os bancos em atuação no Brasil, especialmente os de
grande porte, têm apresentado lucros elevados nos últimos anos, chamando a atenção da
imprensa e na esfera política. É uma possível hipótese de estudo, portanto, que os
bancos procurem evitar a apresentação de lucros muito elevados, tendo em vista
desviar-se dos chamados custos políticos.
Jones (1991), utilizando o componente discricionário das acumulações totais, testou se
empresas que buscam proteção tarifária gerenciam resultados para baixo (income-
49

decreasing accruals). Constatou ações de redução de lucros por parte das referidas
empresas, durante os períodos em que foram investigadas, confirmando o GR.
Para Beaver & Engel (1996:182), as motivações regulamentares surgem em função do
desejo de divulgar números contábeis que façam com que o banco pareça, para os
reguladores, menos arriscado ou com melhor adequação de capital.

3.5 – Modalidades de gerenciamento de resultados


Neste tópico, são apresentadas, inicialmente, no item 3.5.1, relação e breve descrição
das principais modalidades de GR. Nos itens 3.5.2 e 3.5.3, são desenvolvidas,
respectivamente, discussões mais detalhadas sobre duas modalidades de GR: suavização
de resultados e evitar a divulgação de perdas. Os motivos para a atenção especial com
estas duas práticas de GR são apresentados nos parágrafos a seguir.
As instituições financeiras (IF) apresentam, como característica marcante, a
dependência da confiabilidade perante o público e da manutenção de imagem de solidez
financeira. Um banco, para seu sucesso, carece da percepção favorável de risco por
parte do mercado, incluindo os agentes superavitários, que possuem recursos
disponíveis para aplicação. Considerando esta realidade, entende-se ser razoável
assumir a hipótese de que as IF adotem a prática de suavização de resultados, para
transmitir imagem de menor risco (compatível com a menor oscilação nos resultados) e
a prática de evitar a divulgação de perdas (tendo em vista o conteúdo informacional
negativo das perdas ou dos lucros declinantes).
Conforme exposto no capítulo I, item 1.2, entende-se que as instituições financeiras,
pelas particularidades do setor bancário – situação de constante processo de captação e
necessidade de manutenção de imagem de solidez –, apresentam especial interesse na
prática de suavização de resultados. Neste contexto, este trabalho focaliza a análise de
práticas de suavização de resultados, pelos bancos atuantes no Brasil, por meio da
contabilização de operações de crédito, TVM e derivativos. Considerando este enfoque,
na presente pesquisa, é realizada, a seguir, no item 3.5.2, discussão mais aprofundada
sobre a suavização de resultados. A prática de evitar a divulgação de perdas, apesar de
não ser objeto de análise empírica neste trabalho, é também identificada como de
interesse dos bancos, sendo, por este motivo, discutida no item 3.5.3. Cabe salientar,
conforme será exposto, que a base teórica para a prática de evitar a divulgação de
perdas, incluindo a teoria dos custos de transação, também constitui fundamentação
para a hipótese de suavização.
50

Cumpre ainda registrar que, além da suavização de resultados, outras práticas de GR


podem ser observadas no segmento bancário. Um exemplo é dado pelo Banco Nacional
que, em 1995, face à identificação de ativos insolventes e gerenciamento fraudulento de
lucros, teve sua intervenção decretada pelo Banco Central do Brasil. Neste caso, a
prática identificada não era de suavização de resultados, mas, sim, de utilização de
artifícios no sentido de inflar lucros.

3.5.1 – Modalidades – relação e breve descrição


Conforme Martinez (2001:43), há diferentes modalidades de GR, podendo ser
destacadas as seguintes:
a) Alterar lucros tendo em vista atingir determinadas metas (target earnings)
As metas podem estar acima ou abaixo do resultado do período, levando os gestores a
algum tipo de manipulação, com vistas ao alcance da meta. São exemplos de metas:
nível de lucro necessário para que executivos obtenham bônus; nível de lucro
esperado/previsto pelos analistas de mercado. No caso de bônus de executivos, se o
lucro do período apresenta-se inferior à meta, gestores podem usar artifícios para
aumentar o resultado, tendo em vista a percepção da desejada remuneração variável.
b) Suavização de resultados (income smoothing).
O objetivo é reduzir a variabilidade (evitar oscilação) nos resultados e passar ao
mercado imagem de constância, a qual pode ser útil na constituição de imagem de
solidez financeira e bom desempenho.
c) Reduzir lucros correntes em prol de lucros futuros (big bath accounting ou take a bath)
Ações que acarretam a piora dos resultados atuais tendo em vista a apresentação de
resultados superiores no futuro. Este tipo de prática pode ocorrer quando uma empresa
apresenta um prejuízo e não possui condições, por meio do GR, de reverter o resultado
negativo para um ganho. Nesta situação, já que é inevitável a apresentação de prejuízo,
a empresa pode adiar o reconhecimento de receitas ou adiantar o reconhecimento de
despesas, piorando ainda mais o resultado, de modo que, no futuro, haja mais facilidade
de apresentação de melhores resultados. A idéia é sinalizar para o mercado uma melhora
de desempenho após um resultado negativo.
Em termos de motivação, resultados também podem ser artificialmente reduzidos tendo
em vista a obtenção de algum tipo de benefício governamental (como proteção
tarifária), evitar custos políticos (aumento de impostos ou fiscalização) ou não ter que
pagar altos dividendos.
51

d) Evitar a divulgação de perdas ou lucros declinantes (apresentar lucros crescentes)


Neste caso, se empresa apura pequeno prejuízo em um período, lança mão de práticas
de GR para reverter a situação de pequeno prejuízo e apresentar pequeno lucro.
Considerando os possíveis propósitos do GR, tem-se, como primeiro objetivo, evitar
pequenas perdas. Mas, uma vez que isto já tenha sido alcançado, passa-se a um segundo
objetivo: a apresentação de lucros crescentes. A melhoria de resultados pode ser
observada nos lucros trimestrais ou anuais, podendo ser útil para o alcance de
prognósticos de analistas, manutenção de imagem de crescimento contínuo e,
conseqüentemente, a obtenção de prêmios no mercado, refletidos em aumentos nos
preços de ações e menores custos de captação.
Importante destacar que a gestão dos resultados é realizada através da manipulação das
acumulações discricionárias (AD), ou seja, a parte dos accruals sujeita à interferência
por parte do gestor. As AD referem-se aos lançamentos contábeis associados ao regime
de competência, envolvendo receitas e despesas cujo reconhecimento depende da
avaliação discricionária do gestor.

3.5.2 – Suavização de resultados (income smoothing)


Neste trabalho, são testadas hipóteses de utilização de diferentes contas, por parte dos
bancos, com vistas à suavização (alisamento) de resultados. Pela importância para esta
pesquisa, é desenvolvida, neste item, uma revisão de conceitos relativos ao tema.
Conforme McNichols & Wilson (1989:2), a hipótese de suavização de resultados prevê
que as empresas escolhem acumulações (accruals) tendo em vista minimizar a variação
dos lucros divulgados. Quando o lucro é muito alto, as empresas escolhem acumulações
para reduzi-lo (income-reducing accruals); quando é muito baixo, escolhem
acumulações para aumentá-lo (income-increasing accruals).
Se a empresa puder escolher entre dois períodos para reconhecer uma receita, a opção
mais provável é aquela que resulta em fluxo mais suavizado de lucros. Observa-se,
assim, a prática de “estocar” receitas em períodos com bons resultados, para utilizá-los
em momentos de baixos lucros. Fields et al (2001:279) citam evidências de que quando
os resultados correntes são ruins e os resultados esperados são bons, os gestores,
motivados por preocupações com demissões, “emprestam” resultados do futuro para o
período atual (e vice-versa). Nesta linha, Kanagaretnam et al (2001) constataram que
bancos com bom (pobre) desempenho corrente e pobre (bom) desempenho futuro
esperado estocam lucros para o futuro (emprestam lucros do futuro) pela redução
52

(aumento) do lucro corrente por meio da PDD. Este tipo de prática de suavização de
resultados é conseguido pelos gestores através do uso de accruals discricionários.
Segundo Lobo & Yang (2001:226), os incentivos para a suavização de resultados
existem quando o resultado de um banco apresenta-se em nível muito elevado ou muito
reduzido relativamente aos resultados dos outros bancos. A hipótese implícita que
oferece base para o argumento é que os reguladores prestam especial atenção aos
bancos com resultados muito altos ou muito baixos.
Mas não é apenas com a escolha do momento de reconhecimento de receitas e despesas
que se pode suavizar resultados. Outro instrumento é a efetiva realização de operações,
como a venda de títulos em momento considerado oportuno, para aumentar resultado.
Assim, há formas de GR que influenciam tão somente o volume de receitas e despesas
reconhecidas conforme o regime de competência, sem afetar condições econômicas da
empresa, mas há também as que geram efetivo impacto no fluxo de caixa. Martinez
(2001:80) oferece ilustração das diferentes formas de GR com vistas à suavização de
lucros:

Ilustração 1 – Diferentes formas de GR e maneiras de reduzir variabilidade dos lucros

Intencional (provocado) Reduzir variabilidade


(income smoothing)

Natural (inerente ao negócio)

Artificial (escolhas contábeis) Real (decisões econômicas)

Intertemporal Classificatório Exemplos de práticas “reais”


Reconhecimento de Dependendo da - reduzir despesas de P&D
transações em classificação na DRE, - vender ativos reais
momentos pode-se reduzir - aumentar despesas de
convenientes (ex. variabilidade em treinamento ou publicidade
receitas). determinados itens
como lucro operacional.

Fonte: Martinez (2001:80)

Uma dificuldade para a livre implementação de práticas de suavização refere-se à


possibilidade de que, no caso de aumento do lucro em um período, por meio de práticas
de GR, ocorra um acréscimo nos impostos a serem pagos. Mas, mesmo neste caso,
53

pode-se optar pela suavização, considerando os benefícios gerados para a empresa em


decorrência da apresentação de fluxo menos volátil de resultados. Esta foi a constatação
de Shrieves & Dahl (2001:1241), que verificaram que os ganhos com títulos, mesmo
que impliquem aumento tributário, não deixam de ser utilizados pelas empresas que têm
em vista alcançar seus objetivos em termos de resultados e capital.
Segundo Fuji (2004:55), “o termo income smoothing, traduzido literalmente como
“renda suavizada”, significa que as companhias preferem relatar uma tendência estável
no crescimento do faturamento, ou seja, um fluxo regular das receitas, e não uma série
com oscilações, caracterizada por picos e vales.”
Hand (1989:597) assumiu que as empresas preferem apresentar lucros suavizados33.
Constatou que as empresas adotam práticas de suavização de lucros por ação. Quanto à
motivação, Hand (p.596) observa que as empresas têm incentivos para suavizar os
lucros, pois isto pode fazer com que os participantes do mercado percebam menor
volatilidade nos fluxos de caixa produzidos pela empresa, de modo a reduzir as taxas de
juros demandadas pelos investidores e aumentar os preços das ações da companhia.
Para compreender o interesse das empresas em adotar ações de suavização de
resultados, cabe considerar a relação entre risco e retorno esperado. Pela teoria de
finanças, quanto maior o risco apresentado por um ativo, maior tende a ser o retorno
esperado por parte dos investidores que nele aplicam. A volatilidade nos resultados
pode afetar adversamente a percepção de risco empresarial, fazendo com que os
participantes de mercado demandem taxas de retorno mais altas nos negócios com a
empresa, o que inclui um preço menor da companhia no mercado acionário e taxas mais
altas em empréstimos concedidos (custos de captação mais altos). Neste contexto,
conforme Poitras et al (2005:914), a suavização é uma forma de sinalizar o nível de
resultados futuros que os investidores podem esperar.
Trueman & Titman (1988:130), ao proporem modelo para análise da decisão gerencial
de suavizar resultados, consideram uma empresa emitindo um título de dívida, e
assumem que seus credores, na definição de juros demandados, levam em conta a
volatilidade dos fluxos de resultados econômicos da empresa como base para estimativa
do risco percebido na operação:
O preço que a empresa recebe pela dívida, ou, alternativamente, a taxa de juros
requerida, é função das percepções dos tomadores de dívidas sobre a variância dos
resultados econômicos da empresa, visto que a probabilidade de a empresa entrar em
falência é diretamente relacionada com esta variância. Quanto maior a probabilidade

33
Texto no original: “it is simply assumed that firms prefer smoothed EPS” (EPS: earnings per share).
54

desta variância ser alta, maior a probabilidade de falência e menor o preço de venda da
dívida.34

Nesta situação, no propósito de aumentar o preço de venda dos títulos emitidos – o que
colabora com a maximização da riqueza dos acionistas –, os gestores procuram
influenciar a percepção de risco dos credores, buscando minimizar a variância dos
resultados divulgados pela empresa. Para tanto, práticas de GR podem ser utilizadas
para suavização dos lucros. Outra possível ilação, a partir da citação acima, é que
empresas com menor probabilidade de falência podem ter menos incentivo para adotar
práticas de suavização.
Vale mencionar que, no modelo de Trueman e Titman (1988:131-133), os credores não
são capazes de observar se os gestores utilizam práticas de GR para suavização de
resultados. Isto constitui incentivo para que os gestores adotem tais práticas, pois
mesmo que a empresa não gerencie resultados, os credores (e outros participantes do
mercado) podem desconfiar que a empresa o esteja fazendo, imputando aos resultados
econômicos da empresa uma maior volatilidade do que a identificada pela simples
observação do fluxo de lucros divulgados. Desta maneira: “se os detentores de títulos
acreditam que o gestor suaviza os resultados divulgados da empresa, o gestor tem um
incentivo para fazê-lo.”35 Mesmo que os credores acreditem que o gestor não suaviza os
resultados, este continua tendo um incentivo para fazê-lo, pois, com a suavização,
melhora-se a avaliação dos participantes de mercado quanto à variância dos resultados.
Kanagaretnam et al (2001:1) observam que a preocupação dos gestores quanto a
estabilidade de emprego (job security) cria um incentivo para que estes suavizem
resultados. Os autores verificaram que, entre os bancos com bom desempenho corrente
e desempenho futuro esperado ruim, houve prática de “estocar” lucros para períodos
futuros, por meio do aumento da PDD e conseqüente redução do lucro corrente;
constatou-se, adicionalmente, que a necessidade de obtenção de financiamento externo é
variável relevante para explicar diferenças na extensão desta prática de suavização de
resultados bancários.
Bartov (1993:842-843), que constatou suavização de resultados a partir da escolha do
momento da venda de ativos, observa que a divulgação de resultados com menor

34
Texto no original: “The price that the firm receives for the debt, or alternatively the required interest
rate, is a function of the risk-neutral debt holders’ beliefs about variance of the firm’s economic earnings,
since the probability that the firm will go bankrupt is directly related to this variance. The greater the
probability that this variance is high, the greater the probability of bankruptcy and the lower the selling
price of the debt.”
35
Texto no original: “if the debt holders believe that the manager smooths the firm’s reported income, the
manager has an incentive to do so.”
55

volatilidade pode transmitir, ao mercado acionário, informação positiva sobre a


persistência futura dos lucros correntes; ademais, há evidências de que a rotatividade
(turnover) de executivos é maior quando os lucros correntes são menores que os do ano
anterior, sugerindo que gestores alisem resultados para garantir seus cargos.
Trueman & Titman (1988:127-128, 135) mencionam outras razões para que os gestores
corporativos adotem práticas de suavização de resultados, pois: i) acreditam que os
investidores, no mercado de ações, pagam mais por uma empresa com um fluxo
suavizado de resultados; ii) podem reduzir as demandas de investidores e credores por
retornos esperados, reduzindo o custo de captação da empresa (tais demandas são
influenciadas pela percepção de risco, baseada na volatilidade dos resultados da
empresa); iii) dada a melhor avaliação quanto à probabilidade de falência, podem afetar,
de maneira favorável à empresa, os termos de negociações efetivadas com investidores,
credores, clientes, empregados e fornecedores; iv) ao reduzir a percepção de risco dos
participantes do mercado, permitem à empresa obter melhores condições nas operações
realizadas (a exemplo das captações), aumentando o fluxo de caixa esperado para os
acionistas, bem como o valor da empresa (neste sentido, a suavização de resultados é
atividade que “agrega valor”).
Questão chave para o entendimento da suavização de resultados refere-se ao fato de que
a regularidade no comportamento de itens das demonstrações financeiras pode ser
interpretada, no mercado, como sinal de estabilidade e segurança, sendo que a excessiva
flutuação pode representar maior risco empresarial. Por este motivo, podem ser
observadas elevadas provisões (despesas) em períodos considerados bons (lucros
favoráveis) e redução das mesmas em períodos desfavoráveis (Fuji,2004:55).
Considerando que a regularidade de resultados pode ser interpretada como sinal de
estabilidade e segurança, entende-se, conforme Shrieves & Dahl (2001:1222)36, que a
prática de suavização pode ser empregada pelas empresas tanto para transmitir
informação privada aos investidores sobre o desempenho presente e futuro, como para
diminuir o custo de capital com a redução da variabilidade nos resultados.
Pelo exposto, entende-se a suavização de resultados como uma forma de GR com o
propósito de apresentar resultados com menor oscilação, com distribuição mais
constante (alisada), mascarando as reais conseqüências das decisões gerenciais, e tendo
em vista a obtenção de melhores condições nas transações com contrapartes, a exemplo

36
Texto no original: “Income smoothing has been hypothesized (…) to convey private information to
investors about current and prospective performance (…) and to lower the firm´s cost of capital by
reducing variability in income (…)”
56

de credores e investidores, que, pela percepção de menor nível de risco, podem


demandar menores taxas de juros em empréstimos concedidos e aceitar pagar preços
mais elevados pelos títulos emitidos pelas empresas.
A conseqüência da referida prática de GR, em termos de divulgação financeira, é que o
resultado apresenta menor variação relativamente ao comportamento que seria
observado caso não se considerassem os efeitos da ação de suavização.
Afora as evidências empíricas atestando práticas de suavização de resultados, vale
considerar “o consenso informal que existe entre profissionais e acadêmicos, de que os
gestores se empenham em suavizar as séries temporais de resultados contábeis das
empresas.”37 (Hand, 1989:596) Trueman & Titman (1988:127) corroboram este
consenso afirmando que “é amplamente assumido que os gestores corporativos
freqüentemente se engajam na suavização de resultados, implementando ações para
reduzir as flutuações nos lucros publicamente divulgados.”38
Dechow & Skinner (2000:238-241) alertam que a identificação de práticas de
suavização de resultados pode ser difícil, pois o regime de competência (accrual
accounting) tende à apresentação de resultados com menos flutuações relativamente ao
padrão observado no regime de caixa. Por este motivo, às vezes é difícil discernir a
suavização decorrente de práticas de GR daquela que advém da operação natural do
regime de competência e do exercício legítimo da discricionariedade, que objetivam a
apresentação de informações que sejam úteis para os investidores avaliarem o
desempenho econômico e a capacidade futura de geração de caixa das empresas.
Conforme citação a seguir, Trueman e Titman (1988:137) observam que empresas que,
em situação de falência, impõem altos custos aos seus credores e a outras partes
interessadas, apresentam maior probabilidade de engajar-se em práticas de suavização:
(...) empresas que impõem altos custos a partes interessadas, no caso de falência, mais
provavelmente adotarão práticas de suavização de resultados. Visto que a
probabilidade e os custos da falência diferem menos entre empresas de um mesmo
setor, e mais entre diferentes setores, a tendência para suavização de resultados deve,
portanto, ser relacionada à classificação setorial.39

37
Texto no original: “(...) an informal consensus exists among many practitioners and academics that
managers do engage in efforts to smooth the time-series of accounting earnings.”
38
Texto no original: “It is widely believed that corporate managers often engage in income smoothing,
taking actions to dampen fluctuations in their firms’ publicly reported net income.”
39
Texto no original: “(…) firms which impose high costs on claim holders if they go bankrupt would be
more likely to smooth income. Since both the probability and costs of bankruptcy differ less among firms
within industry groupings than across industries, the tendency to smooth income should, therefore, be
related to industry classifications.”
57

Entende-se que os bancos constituem um tipo de empresa que, no caso de falência,


impõem altos custos para suas “partes interessadas”, entre as quais se destacam os
depositantes. As perdas sofridas pelos poupadores, além de implicarem pesados danos
individuais, geram conseqüências sociais que podem ser desastrosas, prejudicando a
disposição à poupança. Aproveitando a citação acima, pode-se dizer que os bancos
possuem tendência à adoção de práticas de suavização de resultados, o que constitui
mais um argumento em favor da hipótese assumida no presente trabalho.
Um fator que pode prejudicar a observação de práticas de suavização de resultados
refere-se à existência de planos de remuneração variável de executivos com resultados
contábeis mínimos a serem alcançados para a percepção de bônus. Neste contexto, se a
empresa apresentar resultado muito inferior ao necessário para o alcance de bônus, sem
ter condições de atingir o nível necessário, poderá maximizar despesas discricionárias e
minimizar receitas discricionárias, tendo em vista aumentar a probabilidade de alcançar,
no futuro, o nível mínimo de resultado necessário para o bônus.
Quanto à presente pesquisa, que trata de instituições financeiras, considera-se a hipótese
de suavização de resultados, pois entende-se que o objetivo de suavização, de maneira
geral, seja mais forte para os bancos, que carecem da manutenção de imagem de solidez
financeira para o sucesso de seus negócios. A menor variação nos resultados é uma
forma de transmitir sinais de constância e bom desempenho, em benefício da imagem de
solidez. Ademais, cabe considerar que a não divulgação de detalhes quanto a planos de
remuneração variável, por parte dos bancos no âmbito doméstico, dificulta a realização
de pesquisa envolvendo a possibilidade de alcance de bônus por parte de executivos,
bem como seus impactos nas práticas de GR.
Um dos fatores que colaboram para a constituição de imagem de solidez financeira é a
capacidade de geração de resultados futuros. Uma das bases para os agentes do mercado
avaliarem tal capacidade é, justamente, o histórico de resultados apresentados. Neste
contexto, ganha relevância, para os bancos, a divulgação de seqüência constante de
lucros, sem picos e vales que podem sinalizar possíveis riscos ou mesmo deficiências de
desempenho. Além da suavização, outro propósito evidente para a indústria bancária é
evitar a divulgação de perdas e lucros declinantes, pois estes também influenciam
negativamente a percepção quanto ao potencial de lucros futuros.
Outro argumento favorável à hipótese de que os bancos têm interesse na divulgação de
resultados suavizados é dado por Trueman & Titman (1988:137), que, após extensa
discussão sobre o tema, afirmam que “a análise desenvolvida mostrou que a realização
58

de captações por meio da venda de títulos de dívida provê um incentivo para que uma
empresa suavize seu resultado divulgado.”40 Ocorre que, nos bancos, a realização de
captações é uma constante, pois encontram nos recursos de terceiros a matéria-prima
para suas atividades. Configura-se, em função desta particularidade – dependência de
constante captação de recursos no mercado –, o interesse bancário na divulgação de
lucros não caracterizados pela alta volatilidade. Ademais, como nos bancos a “venda de
dívida” é uma constante e há necessidade de manter imagem confiável (instituição “sem
riscos”, segura), considera-se a hipótese de suavização de resultados como mais
apropriada relativamente à hipótese de aumento de lucros antes da emissão de uma
dívida em particular (como no caso de gerenciamento de resultados previamente à
emissão de ações, hipótese confirmada por Teoh et al, 1998).
Pelo exposto, considera-se razoável supor-se a utilização, por parte dos bancos, de
práticas de suavização de resultados, em benefício da divulgação de resultados sem
maiores variações. Entende-se que estas práticas, conjuntamente, podem ser úteis para a
manutenção de imagem de solidez financeira (e boa capacidade de pagamento) perante
o mercado.

3.5.3 – Evitar a divulgação de perdas ou lucros declinantes


Neste cenário, caso a empresa apure pequeno prejuízo em um período, lançará mão de
práticas de GR, envolvendo aumento de receitas e/ou redução de despesas, para reverter
a situação de pequeno prejuízo e apresentar pequeno lucro. Em conseqüência, há
tendência de verificação de um ponto de descontinuidade no histograma de distribuição
de freqüências dos resultados, no ponto de lucro zero, com concentração de casos de
lucros logo acima do ponto zero, e freqüências menores que as esperadas (assumindo
uma distribuição normal) de pequenos prejuízos.
O procedimento de reversão de pequenos prejuízos está baseado no fato de que o
mercado interpreta de forma desproporcionalmente negativa a apresentação de um
número negativo no resultado (prejuízo), sendo bem mais condescendente e favorável
àqueles que apresentam pequenos lucros, o que configura fortes incentivos para evitar a
divulgação de perdas ou declínio nos lucros.
Em linha com esta lógica, Burgstahler & Dichev (1997) constataram que pequenas
perdas e pequenos decréscimos em lucros são pouco usuais, enquanto que pequenos

40
Texto no original: “The analysis here has shown that the sale of debt provides an incentive for a firm to
smooth its reported income.”
59

ganhos e pequenos aumentos em lucros são largamente observados, o que constitui


evidência de GR para evitar a divulgação de perdas e de lucros declinantes.
O objetivo configurado, portanto, é a apresentação de números positivos nas
demonstrações financeiras, seja em números absolutos (lucros) ou em variações
percentuais (taxa de variação positiva na evolução dos resultados).
Para Burgstahler & Dichev (1997:101) há duas possíveis explicações para o GR. A
primeira, baseada na teoria dos custos de transação (transactions costs theory), é que os
gestores, de maneira oportunista, evitam divulgar perdas ou quedas em resultados, tendo
em vista reduzir os custos em transações com stakeholders, assumindo que as decisões
destes são freqüentemente baseadas em pontos de corte considerados chave, como lucro
zero ou taxa nula de crescimento de resultados (heuristic cutoffs at zero changes or
levels of earnings)41. A segunda explicação baseia-se na teoria denominada, em língua
inglesa, prospect theory, que sugere que grandes ganhos de utilidade e, portanto, os
maiores incentivos para GR, ocorrem quando se move de uma perda relativa ou absoluta
para um ganho. Os autores ainda ressaltam que, para o caso de instituições financeiras,
os incentivos para evitar divulgação de perdas e lucros declinantes podem estar ligados
também ao monitoramento da supervisão bancária (como a realizada pelo Banco
Central, no caso brasileiro).
A teoria dos custos de transação baseia-se em duas premissas:
As informações sobre resultados afetam os termos de transações da empresa com seus
stakeholders, com condições mais favoráveis às empresas com bons resultados.
Os custos de processamento de informações são suficientemente altos, de maneira que
pelo menos alguns stakeholders determinam os termos de transações com as empresas
com base em pontos de corte chave (como lucro zero). Assim, empresas com lucros
abaixo do ponto de corte são penalizadas com condições desproporcionalmente piores
de transações relativamente às empresas situadas acima do ponto de corte.
Bowen et al (1995) observam que clientes, fornecedores, empregados e credores
possuem interesses e demandas relativamente às empresas. Os stakeholders avaliam a
reputação da empresa relativamente à possibilidade de efetivo cumprimento de suas
demandas, e, em função disso, definem os termos de negociações com a empresa. Neste
contexto, os gestores têm um incentivo à utilização das demonstrações financeiras para

41
A heurística é caracterizada por métodos de resolução de problemas que, embora não rigorosos, em
geral refletem o conhecimento humano e permitem obter uma solução prática e satisfatória.
60

influenciar a percepção dos usuários quanto à sua reputação, tendo em vista obter
melhores termos nas negociações efetivadas.
Em função da melhor imagem fomentada com a divulgação de bons lucros: clientes
podem pagar preços mais altos pelos produtos, pois entendem que há mais garantias de
assistência (de qualidade) no futuro; pelo menor risco de inadimplência, fornecedores e
credores podem oferecer melhores condições de pagamento; empregados menos
provavelmente abandonarão a empresa, nem exigirão altos salários para permanecer.
Conforme conclusão de Bowen et al (1995), os stakeholders consideram a reputação
empresarial para avaliar as chances de suas demandas serem efetivamente satisfeitas,
levando os gestores a utilizar a divulgação financeira para influenciar a percepção
quanto à reputação da empresa.
Observe-se, ainda, que cada empresa (e setor de atividade) apresenta grau específico de
dependência relativamente aos stakeholders e aos termos de negociações com estas
partes interessadas. No que se refere às atividades bancárias, identifica-se claramente a
relevância dos investidores e depositantes.
Em consonância à teoria dos custos de transação, Dechow et al (1996:4,10) observam
que gestores e acionistas podem se beneficiar da manipulação das percepções dos
investidores se isto proporcionar fontes adicionais de financiamento em condições mais
favoráveis. No estudo realizado por estes autores, envolvendo empresas identificadas
pela SEC (Securities and Exchange Commission) como tendo violado padrões
contábeis, de 49 motivações relatadas, 22 foram identificadas como estando
relacionadas à emissão de títulos (captação).
A teoria dos custos de transação, portanto, explica a motivação para o gerenciamento de
resultados, tendo em vista a boa reputação da empresa. Em bancos, as motivações
relativas a bons termos de negociações são evidentes, especialmente as que se referem
aos custos de captação, refletidos nos juros demandados por poupadores em suas
aplicações. Por este motivo, é crucial, para os bancos, a manutenção de boa imagem, o
que pode ser favorecido por meio de práticas como evitar a divulgação de perdas, bem
como a suavização de resultados, tendo em vista reduzir os custos da matéria-prima
bancária: os recursos captados junto a terceiros. Mesmo para empresas não bancárias, a
intenção de obter financiamento nos melhores termos possíveis é relevante incentivo
para o GR, conforme Poitras et al (2002:905).
Entende-se, desta forma, que a teoria dos custos de transação também constitui
fundamentação para a hipótese de suavização de resultados por parte dos bancos. O fato
61

é que, se a divulgação de perdas, taxas declinantes de rentabilidade ou grande


volatilidade nos lucros implica suportar custos mais pesados nas transações com
stakeholders, configuram-se incentivos para a apresentação de lucros e taxas crescentes
de rentabilidade, bem como de seqüência mais estável de resultados.

3.6 - Custos e benefícios do gerenciamento de resultados


Gerenciar resultados apresenta potenciais custos e benefícios para as empresas.
Marquardt & Wiedman (2004:465) argumentam que o custo e o benefício dependem da
conta (accrual) que está sendo utilizada para o GR, bem como do contexto em que a
empresa está inserida e das motivações que possui para o gerenciamento.
Custos significativos podem advir de situações em que o GR é detectado por agentes do
mercado, quando é possível haver algum tipo de sanção por parte de órgão de
fiscalização ou mesmo da imprensa. Mesmo que o GR não seja detectado, custos são
manifestos, como, por exemplo, o ônus de ter que reconhecer, no futuro, despesas
reconhecidas a menor em períodos passados.
Para as instituições financeiras (IF), que dependem da manutenção de boa imagem junto
ao público, o risco de as práticas de GR serem detectadas e isso tornar-se de
conhecimento público é questão de grande relevância. Uma notícia veiculada com
crítica às práticas de divulgação de informações, ou com suspeitas de distorções nas
demonstrações financeiras, pode ter conseqüências funestas, prejudicando o potencial
de captação de um banco. Caracteriza-se, assim, um dilema, pois a não utilização de
qualquer tipo de prática de GR pode também acarretar efeitos não desejados sobre a
imagem de uma instituição. É evidente que os bancos, de maneira geral, devem procurar
se precaver quanto aos riscos de detecção. Por outro lado, convém observar que, no
Brasil, a fiscalização realizada pelo Banco Central é pautada pelo sigilo de informações,
de modo que eventuais descobertas de distorções nas demonstrações financeiras não são
divulgadas no mercado, mitigando a possibilidade de as IF experimentarem custos
decorrentes das práticas de GR.

Custos do gerenciamento detectado


Considera-se o GR detectado quando sua utilização torna-se de conhecimento público,
situação em que poderão ser experimentados impactos desfavoráveis sobre a imagem da
empresa, preços de suas ações e custos de captação. Nesta linha, Dechow et al
(1996:3,5) observam que, enquanto os manipuladores de resultados não identificados
usufruem de menores custos de captação, a sua identificação é associada com
62

substanciais aumentos no custo de capital e impactos desfavoráveis na reputação da


empresa e na credibilidade de sua divulgação financeira. A detecção pode ocorrer por
diferentes meios, a seguir descritos, sendo, em geral, de ocorrência mais provável
quando envolve a contabilização a maior de receitas e distorção de itens recorrentes do
resultado (Marquardt & Wiedman, 2004:467-469).
Processos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – A literatura internacional
apresenta evidências de que processos movidos pela CVM (no caso norte-americano,
SEC enforcement acts) são associados a reações negativas nos preços de ações,
indicando alto custo neste tipo de detecção. Os processos do órgão governamental são
de ocorrência mais provável para casos de manipulação de itens recorrentes e
contabilização a maior de receitas, o que sinaliza custos mais altos nestes tipos de GR.
Quanto às IF em atuação no Brasil, destaca-se, além da fiscalização da CVM, a
supervisão realizada pelo Banco Central, que tem, como regra, o sigilo da informação
obtida nas inspeções. Mesmo que não haja divulgação das descobertas, é certo que os
bancos procuram evitar a identificação do GR por parte da fiscalização, pois os custos
decorrentes não se restringem às conseqüências da revelação pública.
Republicação de balanço – Anúncios de republicação de balanço são normalmente
associados a quedas nos preços de ações. As republicações são de ocorrência mais
provável no caso de contabilização de receitas em níveis superiores aos adequados.
Trata-se de mais um elemento que reforça a teoria de que o GR por meio de
contabilização inadequada de receitas seja potencialmente mais custosa do que outros
meios. No caso brasileiro, o Banco Central possui autoridade para determinar a
republicação de balanço dos bancos.
Litígios com acionistas – Processos judiciais movidos por acionistas ocasionam, em
muitos casos, impactos negativos nos preços de ações. O GR aumenta a probabilidade
de alegações de fraude por parte de stakeholders, sendo um custo potencial a ser
suportado pelas empresas engajada em práticas de GR.
Ressalvas de auditorias – Práticas de GR podem aumentar a probabilidade de
ressalvas de auditorias em balanços, o que é associado a efeitos desfavoráveis na
imagem e no preço das ações da empresa. Quanto à ação dos auditores, Moyer
(1990:126) observa que a auditoria funciona como um limitador da ação discricionária
dos gestores sobre itens contábeis como a provisão para créditos duvidosos.
McNichols & Wilson (1988:1) ressaltam que, mesmo que o auditor conheça a avaliação
dos gestores sobre a probabilidade de não recebimento de créditos, não exigirá provisão
63

exatamente compatível, aceitando que esteja enquadrada dentro de limites considerados


razoáveis.
Cobertura negativa da imprensa – Críticas da imprensa relativamente à política
contábil de uma empresa representam custos para os praticantes de GR. Temas comuns
nesse tipo de reportagem são a contabilização a maior de receitas e o não
reconhecimento de despesas.

Custos do gerenciamento não detectado


Mesmo que o GR não seja publicamente revelado, há custos para a empresa praticante,
podendo ser citados, conforme Marquardt & Wiedman (2004:469-470):
Reversão de acumulações (accruals) – Práticas de GR podem produzir efeitos
desejados no período em que são utilizadas, mas produzirão efeitos contrários no futuro.
O reconhecimento a maior de receitas no período corrente traz a necessidade de
contabilização menor de receitas no futuro, impactando negativamente os lucros.
Restrições na flexibilidade futura de divulgação financeira – O GR no período
corrente restringe a flexibilidade de práticas contábeis no futuro, tendo em vista a
necessidade de reversão de apropriações realizadas com intuito de GR.
Custos de auditoria – Os custos de auditoria podem ser mais altos para empresas que
realizam GR. Convencer os auditores quanto à adequação dos procedimentos contábeis
adotados também pode requerer maiores esforços por parte da gestão da empresa
(Trueman & Titman, 1988:136).
Qualidade percebida no resultado da empresa – Mesmo não sendo detectado, o GR
pode influenciar a percepção de qualidade dos resultados da empresa.
Probabilidade de detecção – O risco de futura detecção pode ser entendido com um
custo do GR, podendo levar empresas a não praticá-lo.
No caso de práticas de GR que envolvem o reconhecimento acelerado de receitas, outro
possível custo a ser arcado refere-se ao eventual aumento de impostos, em decorrência
do incremento no lucro apresentado (Trueman & Titman, 1988:128).

Custos e benefícios relativos às contas utilizadas no gerenciamento


As empresas experimentam diferentes custos e benefícios, dependendo das contas
“manipuladas”, bem como do contexto em que se dá o GR e de sua motivação. O GR,
portanto, não apresenta, sempre, os mesmos custos e benefícios; há diferenças que
dependem do item utilizado e da motivação que a empresa tem para alterar seus lucros.
Para Marquardt & Wiedman (2004:465), a avaliação a maior de receitas (overstatement
of revenues) tem se demonstrado como o método mais custoso de GR,
64

comparativamente, por exemplo, ao registro a menor de despesas. Ademais, itens não


recorrentes de resultado são mais fáceis e menos custosos de serem gerenciados
relativamente aos itens recorrentes. Vale citar as autoras (p.466):
Argumentamos que receitas e despesas recorrentes são potencialmente mais custosas
de gerenciar que despesas não recorrentes, como as incluídas em itens especiais. Além
disso, entre itens recorrentes de resultado, receitas são, não sempre, mas
freqüentemente, mais custosas de gerenciar do que despesas.42

Outra consideração das autoras (p.467) é que práticas que visam à redução de lucros
são, em geral, menos custosas, embora impliquem decréscimos nos preços de ações.
Quanto à diferenciação entre itens recorrentes e não recorrentes, são exemplos,
respectivamente, as receitas de vendas e os “itens especiais” (como lucros não
operacionais decorrentes da venda de imobilizado ou de investimentos).
Os benefícios da utilização de um ou outro item de resultado no GR variam em função
do contexto da empresa e das motivações que possui para alterar os resultados. Para
uma empresa em fase de emissão de ações, será mais interessante inflar receitas
recorrentes do que incrementar o resultado com itens não recorrentes, pois o mercado
tende a avaliar com maior peso e de maneira mais favorável a apresentação de um
aumento de receita de vendas (recorrente) do que o lucro advindo da venda de
imobilizado (não recorrente)43.
Neste contexto, Marquardt & Wiedman (2004) investigaram quais contas as empresas
apresentavam tendência a utilizar, para GR, em três diferentes contextos: emissão de
ações (interesse de aumentar preço das ações), management buyout (interesse de reduzir
preço das ações), e empresas que buscam evitar divulgação de lucros declinantes. Dado
o forte interesse em aumentar o preço das ações, e os evidentes benefícios a serem
obtidos, as autoras previram que as empresas em fase de emissão de ações antecipariam
receitas, mesmo sendo este mecanismo de maior risco de detecção. Já para as empresas
em management buyout, o instrumento previsto foi a postergação do reconhecimento de
receitas. Para as empresas que objetivavam evitar a divulgação de lucros declinantes, foi
prevista a utilização de um meio menos custoso de GR: a utilização de “itens especiais”,
menos passíveis de detecção. As evidências obtidas confirmaram as expectativas,

42
Original: “We argue that recurring revenue and expense items are potentially more costly to manage
than nonrecurring expenses, such as those included in special items. Furthermore, among recurring
income statement items, revenues are often, though not always, more costly to manage than expenses.”
43
Em termos de avaliação de ações, itens recorrentes são mais relevantes do que os não recorrentes, pois
causam maior impacto no valor presente estimado das ações, dada sua repetição em períodos futuros.
65

demonstrando que o contexto empresarial e a motivação subjacente para o GR


interferem nas contas específicas que são usadas para o GR.
Quanto ao presente trabalho, tem como objetivo avaliar quais contas específicas os
bancos podem estar utilizando com o objetivo de gerenciar seus resultados.
Considerando este objetivo de pesquisa, cabe mencionar que o GR envolvendo diversas
contas pode revelar-se como de mais provável detecção, aumentando o custo marginal
associado à gestão de cada conta (Marquardt & Wiedman, 2004:471). Este argumento
pode ser apresentado como possível justificativa para uma eventual concentração de
GR, por parte de um banco, na utilização de uma conta específica, como a PDD,
evitando o gerenciamento de várias contas simultaneamente.

4. Procedimentos de pesquisa em gerenciamento de resultados

4.1 - Introdução

Na literatura, são identificadas três classes de procedimentos metodológicos para


estudos empíricos na área de GR:
1) Distribuição de freqüências (histogramas);
2) Análise de acumulações específicas (specific accruals);
3) Análise de acumulações agregadas (total accruals), com vista à estimação de
acumulações discricionárias (discretionary accruals).
Cabe salientar a existência de resultados empíricos conflitantes nas pesquisas sobre GR,
o que se deve também à utilização de diferentes modelos e à ausência de consenso
metodológico entre os pesquisadores (Lobo & Yang, 2001:224).

4.2 – Distribuição de freqüências


Tendo o trabalho de Burgstahler & Dichev (1997) como precursor, a abordagem baseia-
se no exame das distribuições de freqüências (histogramas) dos resultados contábeis das
empresas. A distribuição dos resultados contábeis para um vasto número de empresas e
períodos (distribuição cross-sectional) é analisada, focalizando-se o comportamento das
freqüências em torno de pontos de referência, como lucro zero e resultado do ano
anterior.
Avalia-se, por exemplo, a incidência de observações de resultados um pouco acima e
um pouco abaixo do lucro zero, tendo como objetivo identificar um possível
comportamento de evitar a divulgação de pequenos prejuízos, em benefício da
apresentação de pequenos lucros. Esta prática é constatada quando se identifica número
66

significativamente superior de empresas com pequenos lucros, em contraste com


número bastante reduzido de empresas apresentando pequenos prejuízos, o que se
confronta com a hipótese de distribuição normal de resultados.
Analisando distribuições cross-sectional (pooled) de resultados, Burgstahler & Dichev
(1997) obtiveram evidências de que as empresas evitam a divulgação de prejuízos e de
decréscimos em resultados: constaram-se baixas freqüências de pequenos decréscimos
em resultados e pequenos prejuízos, e altas freqüências de pequenos incrementos em
resultados e pequenos lucros.
Por meio da análise de distribuição de freqüências, Rodrigues (2006) encontrou
evidências de práticas de evitar a divulgação de pequenos prejuízos em companhias
abertas classificadas como nível 1 de governança corporativa na Bovespa.
Pensando-se em variação de resultados, havendo ações no sentido de evitar a divulgação
de taxas de retorno declinantes, deve-se constatar número significativamente superior de
empresas apresentando pequenos aumentos em suas taxas de lucros relativamente às
empresas que apresentam pequenas reduções.
Uma possível explicação para este tipo de fenômeno é que os stakeholders definem os
termos de suas transações com a empresa com base em um ponto de corte como lucro
zero (ou taxa nula de aumento nos lucros), de modo que o benefício marginal do GR
aumenta significativamente para as empresas que, por meio de práticas de
gerenciamento, conseguem transitar de um pequeno prejuízo para um pequeno lucro. Se
realmente os stakeholders utilizam este tipo de ponto de corte em suas análises, assume
relevância o alcance do objetivo de apresentação de um resultado positivo, sendo que,
no caso, a conta utilizada para o GR não é o aspecto mais importante. Neste contexto,
empresas que intentam evitar a divulgação de perdas (ou lucros declinantes) podem
lançar mão de itens não recorrentes de resultados, considerados menos custosos (em
termos de riscos de detecção do GR) relativamente ao reconhecimento a maior de
receitas recorrentes, considerado como potencialmente mais custoso, pela maior
probabilidade de detecção (Marquardt & Wiedman, 2004:472).
A vantagem do método é a simplicidade, não sendo necessário estimar acumulações
discricionárias. Por outro lado, não evidencia a magnitude do GR, nem sinaliza qual
técnica pode ter sido utilizada para manipular o resultado.
67

4.3 – Acumulações específicas


Este tipo de abordagem focaliza e modela o comportamento de itens específicos de
acumulações (accruals), como a despesa de provisão para devedores duvidosos (PDD),
não se dando ao trabalho de estimar o total de acumulações das empresas. Pode também
focalizar uma indústria ou setor de atividade, em particular. Exemplos deste tipo de
estudo são McNichols & Wilson (1988), que examinaram o GR por meio da PDD, e
Marquardt & Wiedman (2004), que avaliaram a preferência de utilização de contas
específicas por parte de empresas em diferentes contextos de GR.
O trabalho focalizado em contas ou indústrias específicas enseja o desenvolvimento de
modelagem mais compatível com problemas particulares, demandando base de dados
mais detalhada e conhecimento institucional sobre o setor analisado. Tem sido comum o
emprego desta abordagem no estudo de bancos, como no caso de Beatty et al (1995),
Collins et al (1995), Ahmed et al (1999) e Fuji (2004).
Na análise de acumulações específicas, são utilizadas técnicas estatísticas de correlação
e regressão, podendo-se adotar, como procedimento de pesquisa:
utilização de modelo para estimar o componente discricionário da conta específica sob
análise, como fizeram McNilchols & Wilson (2000) com a PDD;
estimação e análise da relação entre um item específico (como a PDD) e o resultado
contábil (lucro líquido), tendo em vista a identificação de possível uso na suavização de
resultados, como desenvolvido por Rodrigues (2006).
O presente trabalho, empregando técnicas de correlação e regressão, investiga a
utilização de operações de crédito, TVM e derivativos na suavização de resultados em
instituições financeiras, conforme exposto no capítulo IV.
McNichols (2000) defende que o progresso na literatura de GR mais provavelmente
ocorrerá a partir de estudos com base na análise de acumulações específicas, e não na
abordagem de acumulações agregadas que, a despeito de ser a mais utilizada, apresenta
problemas quanto à confiabilidade das medidas de GR utilizadas.
McNichols & Wilson (1989:2) observam que, em estudos de acumulações específicas,
se a medida de acumulação discricionária representar pequena parte do componente
discricionário do resultado, a pesquisa pode falhar na identificação do GR,
especialmente quando outros componentes (além do examinado) são manipulados. Este
é mais um argumento em favor de se avaliar, conforme proposta do presente trabalho, a
possível utilização, por parte dos bancos, de diferentes contas no GR.
68

4.4 – Acumulações agregadas


Neste tipo de abordagem, trabalha-se com o total de acumulações (total accruals).
Identifica-se quanto do resultado é caixa e quanto é competência (accrual)44. A partir do
total de acumulações (accruals), procura-se estimar o que é componente discricionário
(sujeito à interferência do gestor) e o que é não discricionário (receitas e despesas
reconhecidas independentemente de análise subjetiva do gestor).
Há diferentes metodologias, de mais simples a mais sofisticadas que, partindo do total
de acumulações, procuram identificar o componente discricionário no resultado
contábil. A importância da estimação do componente discricionário reside no fato de
que as acumulações discricionárias (AD) são definidas como indicativo (proxy) do grau
de GR. Considerando a magnitude e a representatividade das AD, pode-se inferir se a
empresa está ou não praticando o GR.
Para tanto, diversos modelos foram criados com o intuito de produzir estimativas das
AD. Neste tipo de estudo, estimar as AD com precisão é o grande desafio. A qualidade
do modelo empregado, no que se refere à adequada estimação do componente
discricionário, é questão crítica para o sucesso da pesquisa. Uma das dificuldades de
modelagem refere-se ao fato de que o componente não discricionário das acumulações
pode ser grande relativamente à parcela discricionária, situação em que a proxy de GR
pode ser falha e não estatisticamente significante (McNichols & Wilson, 1989:2). Outra
dificuldade é que as acumulações totais podem apresentar valores elevados não em
função de práticas de GR, mas em decorrência natural do aumento de vendas (gerando
maiores receitas) e/ou aumento de ativo imobilizado (gerando depreciação).
Na abordagem de acumulações agregadas, são exemplos de modelos criados: Healy
(1985), DeAngelo (1986), Jones (1991) e modelo modificado de Jones conforme
proposição de Dechow et al (1995).
Healy (1995), em abordagem mais simplificada, utilizou as acumulações totais (AcT)
como proxy da discricionariedade (AD). As AD são estimadas com base nos desvios em
relação à média das acumulações totais, havendo pressuposto de que condições e
atividades econômicas da empresa não se alteram ao longo do tempo45. DeAngelo
(1986), por sua vez, utilizou as variações nas AcT como proxy das AD.

44
Em alguns trabalhos, como em Marquardt & Wiedman (2004), as acumulações totais são definidas
como a diferença entre o lucro líquido antes de itens extraordinários e o fluxo de caixa das operações.
45
Apesar de as AcT não serem proxy precisa de GR, vale registrar que empresas identificadas pela
Secutities and Exchange Commission como manipuladoras de resultados apresentavam AcT maiores
relativamente às empresas não identificadas como manipuladoras (Dechow et al.,1996:2,18).
69

Na abordagem de acumulações agregadas, conforme observado, a presença de GR é


diagnosticada com base no total de acumulações. Considerando que as acumulações
totais (AcT) são constituídas por dois componentes – discricionário e não discricionário
–, Jones (1991) objetivou estimar o componente não discricionário e, assim,
indiretamente, definir o montante das acumulações discricionárias (AD). A autora supõe
que as acumulações não discricionárias (AND) dependem do nível de receitas e da
magnitude do ativo imobilizado. As acumulações correntes estariam vinculadas às
receitas, enquanto que acumulações não correntes (depreciação é a principal)
dependeriam do ativo imobilizado. É processada uma regressão múltipla (cross-
sectional) tendo as AcT como variável dependente; os coeficientes estimados são então
utilizados para calcular as AND. A diferença entre as acumulações totais e as não
discricionárias é considerada como devida às acumulações discricionárias.

AcT – AND = AD

Procura-se prever, através de regressões, o nível esperado de AND no resultado das


empresas. Assume-se que as AND podem ser satisfatoriamente previstas pelas variáveis
“variação de receitas” e “ativo imobilizado”, de modo que o erro de previsão é
entendido como uma variação não esperada dos accruals. Esta variação não esperada é
definida como acumulação discricionária, proxy do GR. No caso da depreciação, por
exemplo, assume-se que o nível esperado (não discricionário) deve ser uma proporção
constante do ativo permanente, definindo-se o valor excedente a esta proporção como
um componente não esperado e discricionário (arbitrário).

Modelo de Jones (1991)


ANDit = α1 (1 / A t-1) + α2 (∆ RTt) + α3 (APt)
ANDit = acumulações não discricionárias da empresa i no período t;
A t-1 = ativos totais em t – 1;
∆ RTt = variação da receita líquida no período t (relativamente a t – 1), dividida pelo
ativo total em t - 1;
APt = ativo permanente em t, dividido pelo ativo total em t – 1;
α 1, α2, α3 = coeficientes estimados pela regressão.
AcTit = a1 (1 / A t-1) + a2 (∆ RTt) + a3 (APt) + εit
AcT it = acumulações totais da empresa i no período t;
εit = termo de erro estatístico (resíduo);
a1, a2, a3 = estimadores dos coeficientes α 1, α2, α3.
70

Vale observar que, no modelo de Jones, o valor não esperado das acumulações totais é
captado pelo termo de erro (εit), constituindo a medida de GR. A premissa é que as
apropriações regulares (não discricionárias) de receitas e despesas são função do
montante de receitas e do tamanho do ativo permanente, considerando-se os desvios a
este comportamento como acumulação discricionária. Nota-se, assim, que as variáveis
montante de receitas e tamanho do ativo permanente são consideradas adequadas bases
(proxies) para estimação das acumulações “normais”, esperadas, não discricionárias.
Em suma: no modelo de Jones, há suposição de que os ajustes contábeis regulares são
função do tamanho dos ativos que os geram, bem como estão associados ao incremento
de receitas; desvios a estes comportamentos são captados pelo erro de estimativa, o que
é interpretado como apropriação discricionária.
Bom lembrar que se trata de modelos, representações da realidade, tentativas de
estimação com base em uma aproximação da realidade. Há, portanto, risco de erro na
estimação das acumulações discricionárias. E como estas são definidas como indicativo
do grau de GR, evidencia-se o risco de conclusões não apropriadas.
Dechow et al (1995), em avaliação dos modelos para o estudo dos accruals, chegaram à
conclusão de que a versão modificada do modelo de Jones (1991) oferece os testes mais
significativos para detectar GR. Este modelo foi formulado com o objetivo de eliminar a
tendência do modelo original de Jones para mensurar acumulações discricionárias com
erro quando a discricionariedade sobre receitas é exercida. Neste propósito, ajustou-se a
variável independente relativa à variação de receitas, deduzindo-se desta a variação nas
contas a receber.
Relativamente à abordagem de acumulações específicas, o método de acumulações
agregadas apresenta a vantagem de trabalhar com uma medida mais ampla de
discricionariedade; por outro lado, não proporciona percepções mais detalhadas sobre
como se processa o GR.
Constata-se que a abordagem de estudo com base nas acumulações agregadas é
caracterizada pela complexidade, envolvendo erros de mensuração, problemas
econométricos e dificuldade de modelagem e de estimativas, com precisão, dos
componentes discricionariamente alterados nos resultados contábeis. Neste contexto,
Dechow & Skinner (2000:236,241) reconhecem a dificuldade das atuais metodologias
de pesquisa na identificação das empresas que praticam o GR, afirmando que os estudos
acadêmicos oferecem evidências limitadas sobre o GR, o que se deve, parcialmente, à
referida dificuldade de mensuração.
71

5. Governança corporativa
Pesquisas como a realizada por Dechow et al (1996) investigam a relação entre GR e
estruturas de governança corporativa (GC) das empresas. De modo geral, tem-se o
entendimento de que empresas com deficiências de governança apresentam maior
tendência a práticas ativas de GR (Dechow & Skinner, 2000:248).
Evidências sugerem que empresas com práticas agressivas de GR apresentam maior
probabilidade de não terem comitês de auditoria, terem conselho de administração
dominado por pessoas ligadas à empresa (insiders), apresentarem um presidente que é o
fundador da empresa e, também, com boas chances de ocupar cumulativamente o cargo
de presidente do conselho. Em estudo sobre bancos norte-americanos, Cornett et al
(2006) concluem que os mecanismos de governança podem funcionar como uma
restrição ao uso da discricionariedade no gerenciamento de resultados.

6. Revisão de estudos realizados

Neste item, realiza-se revisão de trabalhos com potencial de contribuição para a


presente pesquisa. A despeito de alguns trabalhos já terem sido objeto de citação, em
pontos específicos deste texto, procura-se apresentar revisão mais abrangente sobre cada
estudo, destacando aspectos proveitosos para esta pesquisa.

6.1 – Pesquisas no Brasil

Martinez (2001) – estudo pioneiro entre companhias abertas no Brasil


Martinez (2001), em estudo pioneiro sobre o GR no Brasil, focalizou as companhias
abertas (sem considerar IF). Constatou que empresas com resultados muito ruins os
manejam, de maneira a piorá-los ainda mais, visando melhores resultados no futuro.
Documentou evidências de GR para evitar divulgação de perdas. Por meio de análise de
contas específicas, analisou GR para reduzir variabilidade dos resultados.
Na análise de despesas como a PDD, objetivou avaliar a relação desta com a variação
no LL (hipótese de suavização) e endividamento (hipótese de que empresas mais
endividadas praticam mais GR), inserindo também, como variável explicativa, a carteira
de recebíveis da empresa:
72

DespDevDuvt = α0 + α1 VLL + α2 Exigt / At + α3 CRect + ε1


DespDevDuvt = despesas com PDD, medida em termos de ativos totais;
VLL = variação do LL, excluindo DespDevDuv, medida em termos de ativos totais;
Exigt / At = indicador de endividamento (razão entre exigibilidades e ativos totais);
CRect = contas a receber, medidas em termos de ativos totais.

Utilizando 112 observações, encontrou coeficiente de 0,026 para VLL (significante ao


nível de 5%) e 0,029 para CRec (significante a 1%), consistentemente com o esperado.
No teste da hipótese de suavização, constam, como variáveis explicativas, a variação do
resultado contábil e o valor da carteira de créditos, divididas (ponderadas) pelos ativos.

Fuji (2004) – provisão para devedores duvidosos em instituições financeiras


Para os 50 maiores bancos atuantes no Brasil, verificou indícios de GR por meio do uso
da PDD, com base em informações trimestrais de marco de 2000 a setembro de 2003.
Também foram identificadas práticas no sentido de evitar a divulgação de perdas e
sustentar desempenho recente, com base em balanços semestrais.
Para o teste de suavização, avaliou a relação entre despesas com PDD e resultado
contábil (exclusive PDD), passivo exigível e operações de crédito, constatando relação
positiva entre PDD e resultado contábil (“Res”):

DespDevDuv = α0 + α1 Res + α2 P + α3 Op.Cred + ε


DespDevDuvt = despesas com PDD;
Res = resultado, excluindo despesas com PDD;
P = passivo exigível;
OpCred = operações de crédito.

A abordagem é semelhante à utilizada por Martinez (2001). Considerando tratar-se de


IF, o posicionamento assumido na presente pesquisa é que o uso da variável “P” não é
adequado para representação de risco (alta alavancagem) ou para teste de hipótese de
endividamento, pois o passivo exigível, para os bancos, não constitui apropriado
indicador de risco. Os coeficientes das três variáveis explicativas foram considerados
válidos e consistentes com as expectativas: 0,443 para “Res”, - 0,171 para “P” e 0,578
para “OpCred”, com R2 de 0,645. Depreende-se que, sendo maiores as operações de
crédito, maiores serão as despesas com PDD, e, quanto maior o resultado, maior o valor
absoluto da PDD, confirmando-se a hipótese de utilização da PDD para suavização de
resultados.
73

Zenderski (2005) – PDD e ganhos com títulos para negociação em bancos


Empregou dados de 53 conglomerados financeiros, para 57 meses (mar/2000 a
dez/2004), e técnica de dados em painel em dois estágios. Avaliou se o componente
discricionário da PDD é usado para GR e se ajustes a mercado de títulos para
negociação são usados como instrumento complementar à PDD. Constatou relação
positiva entre PDD discricionária e resultado contábil, confirmando hipótese de
suavização de resultados, e relação negativa entre ganhos e perdas com títulos para
negociação e PDD, confirmando que ajustes a valor de mercado de títulos para
negociação são usados como instrumento complementar à PDD, no GR.
Na estimação do componente discricionário da PDD (1º estágio), empregou, como uma
das variáveis explicativas, a variação no saldo da carteira de créditos (Cosif 1.6.0.00.00-
1). Espera-se sinal positivo para esta variável, mas o efeito da variação na carteira de
créditos não é perfeitamente previsível, pois o montante da PDD é função não somente
do volume de créditos, mas da qualidade dos novos créditos concedidos. Na análise da
PDD discricionária (2º estágio), utilizou, como variáveis explicativas, o resultado
contábil antes de tributos e PDD e os ganhos ou perdas não realizados com TVM para
negociação (dividido pelos ativos de início de período). Com base na premissa de
suavização, espera-se sinal positivo para o resultado contábil; com base na premissa de
uso complementar no GR relativamente à PDD, espera-se que ganhos e perdas não
realizados com títulos para negociação apresente sinal negativo.
Os resultados confirmam que a PDD é utilizada em prática de GR com objetivo de
suavização de resultados, sendo que os ganhos ou perdas não realizados com TVM para
negociação exercem papel complementar relativamente à PDD no GR. Na equação em
que a variável dependente é a PDD discricionária, o resultado antes de tributos e PDD
apresentou coeficiente de 0,1305 (p-value 0,0000) e os ganhos e perdas não realizados
com títulos para negociação apresentou coeficiente de -0,2109 (p-value 0,0159). Em
modelo alternativo com estimação em um estágio (PDD como variável dependente,
agregando variáveis explanatórias dos dois modelos anteriores), o resultado antes de
tributos e PDD apresentou coeficiente de 0,3899 (p-value 0,0000) e ganhos ou perdas
não realizados com títulos para negociação, coeficiente de -0,3850 (p-value 0,0875).

Rodrigues (2006) – resultados não operacionais


Examinou a utilização de receitas e despesas não operacionais como instrumento de GR
em 25 companhias classificadas na Bovespa como nível 1 de governança corporativa,
totalizando amostra de 500 empresas-trimestre, sem incluir bancos.
74

Com base na distribuição de freqüências de lucros líquidos trimestrais, verificou


freqüência mais alta que a esperada de pequenos lucros relativamente a pequenos
prejuízos, configurando indícios de prática de evitar divulgação de perdas. Pela análise
de correlação, rejeitou hipótese de GR, não configurando a utilização de itens não
operacionais para reduzir variabilidade de lucros. A regressão, contudo, indicou redução
da variabilidade dos lucros por meio resultados não operacionais.
A abordagem utilizada é de análise de contas específicas, sendo empregado o seguinte
modelo de regressão (modelo 1):

RecNãoOper = α0 + α1 VLL + α2 Exig + α3 Perm + ε1


RecNãoOper = receita não operacional;
VLL = variação do lucro líquido excluído o efeito contábil da variável dependente;
Exig = passivo exigível total
Perm = ativo permanente total

No modelo 2, a variável dependente é “DespNãoOper” (despesa não operacional).


O GR investigado, no caso, é a suavização de resultados por meios das receitas e
despesas não operacionais.
Quanto à variável “Exig”, afirma-se expectativa de coeficiente positivo no modelo 1, de
modo que, quanto maior o endividamento, maior o esforço da empresa para produzir
maiores resultados (no modelo 2, expectativa é inversa). Esta expectativa baseia-se na
hipótese de endividamento: empresas mais endividadas são mais sujeitas a usar métodos
contábeis que aumentam o lucro (Iudícibus & Lopes, 2004:23). Esta modelagem,
contudo, não é entendida, no presente trabalho, como adequada ao tratamento de
bancos, pois, para estes, o tamanho do exigível não é aspecto negativo nem indicador de
risco, pois a matéria-prima para suas atividades constitui-se, justamente, de recursos de
terceiros captados no mercado. Por este motivo, não se entende como apropriado usar o
modelo acima na presente pesquisa.
Quanto à variável “Perm”, o autor elucida que sua utilização deve-se a maior parte das
receitas e despesas não operacionais serem provenientes de transações com ativos fixos
da empresa. O teste t realizado, contudo, indicou coeficiente nulo para esta variável.
Rodrigues (2006) obteve resultados que não contrariam a hipótese de GR para reduzir
variabilidade dos lucros por meio das receitas e despesas não operacionais.
75

Xavier (2007) – Gerenciamento de resultados em bancos comerciais no Brasil


Investigou o GR por meio de ágios em investimentos em controladas e coligadas,
classificação de TVM, PDD e passivos contingentes nos vinte maiores bancos
comerciais em atuação no Brasil. O foco da pesquisa envolve questões relevantes para o
tema de GR em bancos. No entanto, em virtude da metodologia empregada no trabalho,
optou-se por não considerar os resultados obtidos por Xavier na presente tese.

6.2 – Pesquisas no exterior

McNichols & Wilson (1988) – provisão para devedores duvidosos


Pesquisa sobre a utilização de conta específica. Modelam o valor esperado da PDD (não
discricionária) com base nos PCGA, por meio de regressões cross-sectional; tentativa é
estimar a PDD que seria obtida a partir do uso estrito dos PCGA (situação de ausência
de GR). O desvio da provisão relativamente ao valor esperado (previsto conforme
modelo) é tratado como discricionário, refletindo GR. Amostra é de 289 empresas-ano
com contratos de compensação de executivos com metas de resultado mínimo para
percepção de bônus. Resultados indicam que o componente discricionário da PDD é
utilizado para reduzir lucros para as empresas com resultados muito altos ou muito
baixos. A lógica é que empresas com resultados muito altos já alcançaram metas de
resultados, enquanto empresas com resultados muito baixos estariam irreversivelmente
distantes das metas, de modo que, nos dois casos, seria razoável diminuir um pouco o
resultado tendo em vista constituir bases para manipulação, para cima, de lucros futuros.
Evidências obtidas não são compatíveis com a suavização de resultados. Observou-se
que empresas que não apresentaram resultados extremos exerceram discricionariedade
para, em geral, aumentar resultados.

Hand (1989) – debt-equity swaps para suavização de resultados


Examina a razão de as empresas realizarem trocas de dívida por capital (debt-equity
swaps). Conclui que empresas utilizam o ganho contábil do swap para suavizar
(compensar) decréscimos transitórios nos lucros por ação. A contribuição consiste no
entendimento de que empresas, no propósito de suavizar resultados, além de atuarem
por meio do componente discricionário dos resultados, podem efetivamente realizar
transações, tendo em vista aproveitar seu resultado contábil para suavização de
resultados. As evidências indicam (p.587-588) que o objetivo de ganho contábil para
76

suavização de resultados demonstrou-se como motivação muito mais forte


relativamente à obtenção de efetivos ganhos financeiros. Dos 245 swaps analisados, 19
foram realizados por bancos. Verifica-se que transações podem ser realizadas pelas
empresas tendo como motivação o GR, e não propriamente o efeito financeiro ou
econômico. Conforme Hand (1989:596), o efeito contábil em termos de suavização de
resultados pode ser definido como um “subproduto” da transação realizada:
Tais subprodutos podem ser considerados como técnicas indiretas de gerenciamento
de resultados; nestas, a empresa realiza uma atividade de financiamento ou
investimento fundamentalmente em função do subproduto gerado pela transação, mais
do que o efeito sobre a riqueza da empresa. Por este critério, um swap, embora
parecendo uma pura transação financeira, pode, na realidade, ter sido um método para
gerenciar resultados.46

O trabalho de Hand constitui fundamento para a hipótese de que bancos possam utilizar
operações de venda de TVM ou com derivativos para suavização de resultados. Neste
caso, o GR é realizado não pela ação sobre o componente discricionário de uma conta,
nem por mudança de critério contábil, mas pela efetiva realização de transações.

Moyer (1990) – PDD, ganhos e perdas com títulos e gerenciamento de capital


Estudou a ação discricionária dos gestores bancários no sentido de reduzir custos
decorrentes do desrespeito aos níveis mínimos de capital e custos políticos advindos da
divulgação de receitas muito elevadas. A idéia é avaliar se os gestores ajustam PDD,
baixas de crédito (loan charge-offs) e ganhos e perdas com venda de títulos para
gerenciamento de capital e/ou para desviar a atenção de órgãos reguladores e
legisladores (no caso de divulgação de receitas muito elevadas). A premissa é que os
reguladores e legisladores bancários empregam medidas contábeis para monitorar as
instituições financeiras e que as ações destes órgãos podem impor custos aos bancos,
que, assim, encontram incentivos para ajustar discricionariamente os itens contábeis
tendo em vista, por exemplo, melhorar o nível de capital.
Foram utilizadas 845 observações (bank-years) no período de 1981 a 1986. Os
resultados (p.143,148-149) indicam que, quanto mais próximo um banco está de
desrespeitar o nível mínimo de capital requerido, maiores tendem a ser os ajustes
discricionários, o que confirma o emprego de itens contábeis para gerenciamento de
capital; confirmou-se o uso da PDD para este fim, diferentemente de baixas de crédito e

46
Texto no original: “Such by-products can be considered as indirect earnings management techniques;
in them a firm undertakes a financing or investment activity primarily for the accounting by-product it
yields rather than the effect on the firm’s wealth. By this criteria, a swap, although appearing to be a pure
financing transaction, may rather have been an indirect method of managing earnings.”
77

ganhos e perdas com títulos. A hipótese de uso da discricionariedade para evitar custos
políticos não foi confirmada: não houve evidência de que os gestores de bancos com
elevadas receitas operacionais ajustam os resultados para baixo, o que é incompatível
com a suavização de resultados. Uma possível explicação é que os reguladores
bancários estão mais preocupados com a estabilidade do sistema financeiro
relativamente ao propósito de evitar lucros excessivos.
Cabe observar que, quando considerados apenas os bancos com capital abaixo do
mínimo requerido, a variável independente índice de adequação de capital apresentou
coeficiente significativamente negativo nas regressões em que a variável dependente é
PDD, ou baixas de crédito, ou ganhos e perdas com títulos (p.151). Conclui-se que os
gestores realizam ajustes contábeis para aumento do índice de adequação de capital
quando o capital encontra-se em nível inferior ao mínimo requerido.

Scholes et al. (1990) – ganhos e perdas com títulos em bancos


Estudaram a ação discricionária dos gestores sobre ganhos e perdas com a venda de
títulos, analisando a influência, sobre este item, dos incentivos relacionados ao
gerenciamento de capital, resultados e impostos. Para Collins et al (1995:277), Scholes
et al é o único estudo prévio que encontrou as relações esperadas entre ganhos e perdas
com títulos e resultados, impostos e capital (regulatory capital).
Para Scholes et al (641,644), os níveis de capital requeridos, os resultados, o nível de
PDD e os impostos influenciam, nos bancos, a realização de ganhos com títulos. No
modelo de regressão adotado, as variáveis são ponderadas em relação ao ativo total, e os
ganhos e perdas realizados com títulos constituem a variável dependente. As variáveis
independentes incluem capital próprio, PDD, ganhos e perdas não realizados com títulos
(controle para componente não discricionário), e dummy relativa à tributação.
Espera-se que ganhos com títulos aumentem quando capital é reduzido (expectativa de
coeficiente negativo). Quando à PDD, a expectativa de sinal depende se o objetivo é
compensar ou reforçar o efeito da PDD no resultado; no primeiro caso (suavização), a
expectativa é de sinal positivo, e, no segundo caso, de sinal negativo. As evidências
(p.646) confirmam que os ganhos e perdas com títulos são usados para gerenciamento
de capital, impostos e resultados, sendo que, em relação à PDD, verificou-se que
emprego para suavização de resultados (compensar efeito da PDD no resultado). Quanto
ao capital próprio, quando este se apresenta em nível baixo, os bancos revelaram-se
mais propensos a vender ativos apreciados ou postergar a venda de títulos
desvalorizados, confirmando o gerenciamento de capital por meio da venda de títulos. A
78

conclusão é que os bancos, nas decisões quanto à realização de ganhos e perdas com
títulos, contrabalançam os custos e os benefícios relacionados ao gerenciamento de
capital, resultados e impostos, levando ao entendimento de que o planejamento
tributário pode ir muito além da simples minimização de impostos a pagar.

Bartov (1993) – momento da venda de ativos e suavização de resultados


Investigou se gestores manipulam resultados por meio do momento (timing) escolhido
para a venda de ativos de longa maturação. Considerando a contabilização pelo custo
histórico e que os gestores podem escolher o momento da venda, verifica-se que a
diferença entre os valores de aquisição e de mercado será reconhecida no resultado
quando da venda do ativo, configurando oportunidade de GR por meio da escolha do
momento de alienação dos ativos.
Assume-se hipótese de correlação negativa entre o resultado com a venda de ativos e
variações no resultado contábil (lucro líquido, excluído o efeito da venda de ativos).
Utilizaram-se regressões cross-sectional para o período de 1987 a 1989, tendo os
resultados com a venda de ativos como variável dependente e as variações anuais em
lucros contábeis como variável explicativa.
As evidências obtidas são consistentes com a escolha do momento de venda de ativos
contribuindo para a suavização de resultados: ganhos com a venda de ativos são
significativamente mais altos para empresas exibindo decréscimos em lucros anuais,
relativamente às que apresentam incrementos. A despeito de o procedimento contábil
vigente ser de registro pelo custo histórico – diferentemente da marcação a mercado
exigida para títulos para negociação e disponíveis para venda e derivativos não
destinados a hedge, nas instituições financeiras –, entende-se que as evidências obtidas
por Bartov constituem fundamento para a hipótese de que possa haver uso, nos bancos,
da venda de títulos ou o “desfazimento” de posições com derivativos para fins de GR.
Considere-se que ganhos e perdas não realizados de títulos, registrados no PL, também
podem vir a ser utilizados para GR, caso ocorra alienação dos ativos, por exemplo
(acrescente-se que este tipo de resultado é de natureza operacional, não extraordinária,
constituindo instrumento de proveitosa conotação para o GR).
Cumpre citar que Poitras et al (2002:925), em estudo semelhante ao de Bartov para
empresas de Singapura, confirmaram hipótese de suavização por meio da venda de
ativos, constatando sinal negativo para a variável explicativa de resultado contábil.
79

Wahlen (1994) – conteúdo informacional da PDD em bancos


Examinou o conteúdo informacional e o impacto no preço de ações de três tipos de
divulgações relacionadas a crédito: empréstimos vencidos e incobráveis (non-
performing loans), baixas de crédito (loan chargeoffs) e PDD (loan loss provision).
Verificou que gestores exercem discricionariedade sobre PDD, aumentando seus níveis
quando as expectativas de fluxos de caixas futuros se elevam, evidência consistente com
o GR. Conclui que, embora a PDD seja medida de perdas prováveis que reduzem o
lucro, investidores interpretam o aumento em seu componente não discricionário como
uma “boa notícia” relativamente às expectativas de fluxos de caixa futuros.
Na estimativa do componente não discricionário da PDD, tendo a PDD como variável
dependente, empregou cinco variáveis independentes, incluindo a carteira de crédito.

Beatty et al. (1995) – Gerenciamento de capital e resultados em bancos


Objetiva avaliar se bancos agem discricionariamente sobre a PDD e outras transações,
como venda de títulos, alterando sua magnitude e momento (timing), para gerenciar
capital, resultados ou impostos47. O sistema de cinco equações simultâneas utilizado
conta com as variáveis dependentes: baixa de créditos, PDD, miscelânea de ganhos
(MsG), ganhos com planos de pensão e emissão de títulos. Objetiva-se avaliar se há uso
de cada modalidade no gerenciamento de capital, resultados, e impostos. MsG envolve
oito itens, entre os quais os ganhos na venda de títulos são o principal componente
(p.243,259). As equações da PDD e MsG apresentam, respectivamente, sete e oito
variáveis explicativas, sendo que uma delas é o resultado contábil (antes de impostos e
das cinco transações analisadas). Verifica-se, portanto, a utilização de variável
explicativa relativa ao resultado contábil quando consta, como variável dependente, a
PDD ou item relativo a resultados auferidos com TVM. Outro aspecto a destacar é que
na estimativa do componente não discricionário dos ganhos com a venda de títulos,
utiliza-se a variável independente indicativa do valor contábil dos títulos (p.243-
244,260). Assim, verifica-se que o valor patrimonial da carteira de títulos é empregado
como variável explicativa da variável dependente relacionada a resultado com TVM.
Evidências indicam que baixa de créditos, PDD, MsG e emissão de títulos são utilizados
no gerenciamento de capital. Quanto ao GR (p.254), constatou-se que MsG (inclui

47
Gerenciamento de capital consiste em ações discricionárias para manutenção de níveis mínimos de
capital. Gerenciamento de impostos, relacionado ao planejamento tributário, enseja, por exemplo, a venda
de ativos valorizados e reconhecimento dos lucros, quando há prejuízo líquido no período.
80

ganhos com venda de títulos) é utilizado com este propósito48. No entanto, a PDD
revelou-se não relacionada aos resultados contábeis, sugerindo que gestores não a
utilizam, discricionariamente, para o GR. Por outro lado, empregando-se estimação por
mínimos quadrados, concluiu-se que PDD é usada para GR.
O trabalho destaca que operações de crédito e TVM podem ser utilizadas não somente
para o GR, mas, também, para gerenciamento de capital ou impostos, e que as decisões
de GR referentes a crédito podem ser influenciadas pelas decisões relativas a TVM, e
vice-versa.

Bowen et al. (1995) – divulgação financeira e reputação empresarial


Já foram apresentados aspectos gerais deste trabalho no capítulo II, item 3.5.3.
Investigam a relação entre escolhas contábeis (envolvendo avaliação de estoques e
depreciação) e as demandas de clientes, fornecedores, empregados e credores de curto
prazo. A hipótese é que a escolha de métodos contábeis é associada com a extensão com
que a empresa depende das demandas de stakeholders. Utilizaram-se regressões cross-
sectional, com variáveis divididas (ponderadas) por ativos totais. Assume-se que
gestores possuem incentivos para divulgar resultados de modo a influenciar a avaliação
dos stakeholders sobre a reputação da empresa.
Observa-se que alguns credores não possuem somas relevantes aplicadas em empresas,
não havendo incentivos para análise aprofundada sobre as demonstrações financeiras.
Este é um aspecto de interesse para o segmento bancário, pois os depositantes, de modo
geral, a despeito de se interessarem pela reputação dos bancos, não se dão ao trabalho
de analisar, com sofisticação, sua divulgação financeira.
Quanto às variáveis relativas às demandas de stakeholders, são de difícil análise
conceitual e empírica. Para credores, objetivando representar sua importância para a
empresa, utiliza-se o valor dos títulos de curto prazo divulgados no balanço. Registre-se
que esta proxy não seria adequada para bancos, pois possuem diversos instrumentos de
captação e têm nos recursos de terceiros o insumo básico para suas atividades. Para
representar demandas de outros stakeholders (afora os especificados), utilizam-se gastos
com publicidade, indicando a importância da reputação para a empresa.
Em suma: as demandas de stakeholders constituem importante fator explicativo das
escolhas contábeis das empresas; stakeholders utilizam números contábeis divulgados
para avaliar a reputação da empresa; gestores possuem incentivos para escolher métodos

48
MsG é usado para GR e gerenciamento de capital, mas, prioritamente, para GR (p.256).
81

contábeis tendo em vista influenciar a reputação da empresa e melhorar termos de


negociações com stakeholders; a força de tais incentivos varia em função da extensão
com que as empresas (ou setores) dependem dos stakeholders.
Aproveitando estas conclusões, ao considerar que os bancos possuem grande
dependência de recursos captados junto a terceiros e que a reputação é fator crítico para
seu sucesso, entende-se haver fortes interesses por GR no setor bancário.

Ahmed et al. (1995) – PDD e gerenciamento de capital e de resultados em bancos


Usando amostra de 113 bancos no período de 1986 a 1995, constataram uso da PDD
para gerenciamento de capital regulatório, mas não encontraram relação significante
entre PDD e resultados (antes da PDD), não se confirmando hipótese suavização de
resultados. O modelo empregado apresenta, como variável dependente, a PDD
(ponderada em relação às operações de crédito) e um conjunto de sete variáveis
explicativas, sendo que a relativa aos resultados é dada pelo resultado contábil antes de
impostos e PDD, dividido por ativos totais. O coeficiente estimado da variável de
resultados (antes da PDD) apresentou valor positivo (0,01), mas não significante.

Kim & Kross (1998) – mudança normativa e uso da PDD para GR em bancos
Avaliaram se a mudança nas normas de requerimento de capital, em 1989, provocou
alteração nas estimativas de PDD por parte dos gestores bancários nos EUA. Na
estimação da PDD, utilizaram oito variáveis independentes, incluindo LOAN
(operações de crédito), CHLOAN (variação nas operações de crédito) e, para testar
hipótese de suavização de resultados, DROA (retorno sobre ativos, ROAt, deduzido da
média de ROAt para a amostra, indicando o desvio de retorno relativamente ao
mercado). O coeficiente positivo para DROA confirmou hipótese de suavização por
meio da PDD apenas para bancos com sólida base de capital. Resultados obtidos
indicam que bancos com menor adequação de capital (low capital banks) reduziram
nível da PDD tendo em vista gerenciamento de capital e resultados

Teoh et al. (1998) – empresas em fase de emissão de ações


Empresas em fase de emissão de ações têm interesse em que o preço de suas ações seja
incrementado, tendo em vista o evidente benefício financeiro. Uma forma de buscar este
objetivo é adotar práticas de GR, ajustando componentes discricionários do resultado
para aumentar lucros nos períodos anteriores à oferta, impressionando os investidores.
Este foi o objeto de estudo de Teoh et al (1998), que constataram que empresas utilizam
82

principalmente as acumulações discricionárias correntes para aumentar lucros no


período anterior à oferta, vindo a apresentar, contudo, menores lucros e retornos no
mercado acionário após a emissão. Utilizando regressões cross-sectional, documentou-
se relação negativa entre acumulações discricionárias correntes anteriores à emissão e
lucros e retornos de ações após a emissão. Em suma (p.79):
Embora o fluxo de caixa das operações seja declinante antes da oferta, os gestores das
empresas emissoras divulgam altos e crescentes lucros por meio da gestão de
acumulações discricionárias correntes. No ano da oferta, os lucros divulgados atingem
um pico, a despeito do fluxo de caixa relativamente fraco, pois os gestores continuam
a sustentar grandes acumulações discricionárias correntes positivas. Após a oferta, os
altos lucros não podem mais ser sustentados, pois o fluxo de caixa das operações não
aumenta suficientemente e os emissores não mais podem continuar apresentar grandes
acumulações discricionárias. Os emissores com as mais altas acumulações
discricionárias correntes no ano –1 [ano anterior à oferta] experimentam a maior
queda no lucro líquido após a emissão.49

Depreende-se que empresas efetivamente se engajam em práticas de GR em períodos


anteriores à oferta de ações, o que se trata de um tipo de captação. Considerando que os
bancos encontram-se em constante processo de captação, é razoável assumir que
também utilizarão práticas de GR. Contudo, em decorrência da particularidade de
“captação constante”, aliada à necessidade de manutenção de imagem de segurança e
baixos riscos, considera-se a hipótese de suavização de resultados como mais apropriada
relativamente à hipótese de aumento de lucros.
Outro aspecto a ser ressaltado (p.94), é que os investidores ingenuamente utilizam as
informações de lucros apresentados pelas emissoras para extrapolar lucros futuros; são
otimistas nas previsões e depois se decepcionam. A indicação é de um mercado
imperfeito (não informacionalmente eficiente). Neste contexto, empresas têm estímulo à
adoção de práticas de GR, tendo em vista a redução de custos de captação, cabendo aos
reguladores analisar os custos da discricionariedade contábil, especialmente quando
investidores possuem consideravelmente menos informação que emissores. Entende-se
que estes comentários são pertinentes à industria bancária, caracterizada pela realização
de diversos tipos de captação e pelo sigilo de informações, que, em alguns casos, pode
fomentar a assimetria informacional para com os depositantes.

49
Texto no original: “Although cash flow from operations are declining prior to the offering, managing of
issuing firms report high and improving earnings by managing discretionary current accruals. In the year
of the offering, reported earnings peak despite relatively weak cash flow from operations because
managers continue to take large positive discretionary current accruals. Post-offering, high net income
cannot be sustained because cash flows form operations do not improve sufficiently and issuers can no
longer continue to take large discretionary accruals. Issuers with the highest discretionary current accruals
in year –1 experience the largest drop in net income after the issue.”
83

Barton (2001) – uso de derivativos e suavização de resultados


Observa que resultados contábeis são a soma de fluxos de caixa (FC) e apropriações de
receitas e despesas (accruals) (resultados = FC + accruals). Logo, reduzir a volatilidade
do FC reduz a volatilidade do resultado. O trabalho avalia em que extensão empresas
fazem o trade off entre uso de derivativos e apropriações para controlar a volatilidade
dos resultados. Como derivativos são usados para reduzir oscilações de resultados e FC
(uso para hedge), hipótese é que derivativos e accruals servem como substitutos
parciais para suavização de resultados. Não são substitutos “plenos”: não se escolhe
utilizar um e não utilizar outro, mas uso de derivativos pode reduzir necessidade de uso
das apropriações discricionárias no GR. Usando equações simultâneas, encontrou
significativa associação negativa entre valores nocionais de derivativos e apropriações
discricionárias, indicando que firmas com maior uso de derivativos apresentam menor
nível de apropriações discricionárias, confirmando hipótese de que funcionam como
substitutos parciais para a suavização de resultados.
Como resultados contábeis são constituídos por FC e accruals, a variância do resultado
é função da variância dos FC, variância dos accruals e correlação entre FC e accruals:
σ2R = σ2FC + σ2A + 2 ρ σFC σA
Assim, para alterar a volatilidade dos resultados, gestores podem ajustar a volatilidade
dos FC, a volatilidade das apropriações ou a correlação entre FC e apropriações. Os
derivativos podem ser utilizados para reduzir a volatilidade dos FC ou dos accruals. Por
este motivo é que derivativos podem funcionar como substitutos para o uso de accruals
no GR. Saliente-se que apropriações de receitas e despesas, diferentemente dos
derivativos, não afetam diretamente os FC. Resultados obtidos indicam que variável
“derivativos” é negativamente associada com a volatilidade dos resultados, das
apropriações e dos FC, o que é consistente com uso de derivativos para reduzir
volatilidades dos FC e apropriações e, em conseqüência, dos resultados. Ressalte-se que
se gestores usam derivativos para aumentar a volatilidade do FC (uso especulativo ou
hedge ineficiente), podem ter que gerenciar apropriações em maior extensão para
suavizar resultados. Neste caso, magnitudes dos derivativos e das apropriações
discricionárias serão positivamente correlacionadas, configurando uso complementar
para GR. Esta complementaridade não é considerada na pesquisa, pois Barton constatou
correlação negativa entre o uso de derivativos e volatilidade dos FC, o que é consistente
com o uso dos derivativos para hedge (redução de volatilidade).
84

Barton também registra que: é mais provável que grandes empresas usem derivativos;
gestores usam derivativos e apropriações discricionárias para melhorar percepção de
risco dos credores, o que aumenta a capacidade de endividamento; empresa com maior
cobertura de analistas têm maior probabilidade de uso de derivativos; gestores
selecionam políticas de gestão de riscos e de resultados conjuntamente; hedging e GR
são difíceis de mensurar precisamente, de modo que erro de mensuração é inevitável.
O SFAS 133, norma do Fasb, requer que derivativos sejam apresentados a valor justo,
com ganhos e perdas incluídos em resultados, a menos que derivativo seja qualificado
como hedge. Barton observa que este procedimento aumenta a volatilidade dos
resultados contábeis, tornando mais difícil divulgar resultados constantes. Com isto, o
SFAS 133 pode resultar em menor uso de hedge (derivativos) e maior uso de
apropriações discricionárias no GR. O SFAS 133 pode, portanto, incrementar o custo do
uso de derivativos vis-à-vis apropriações discricionárias, o que sugere possíveis efeitos
da norma nas estratégias de hedge e GR.
O estudo de Barton demonstra que a realização de operações com derivativos pode ter
como propósito justamente a suavização de resultados. Diferentemente de uma operação
de crédito, que não visa reduzir a volatilidade do resultado contábil, os derivativos
podem ser empregados para este propósito, mitigando os efeitos de fatores relativos ao
risco de mercado. Neste contexto, identifica-se a relevância de investigar se o uso de
derivativos, pelos bancos, tem contribuído para a suavização de lucros.

Kanagaretnam et al. (2001) – PDD e suavização de resultados em bancos


Observam que a preocupação dos gestores quanto à estabilidade de emprego cria um
incentivo para que estes suavizem resultados. Verificaram que bancos com desempenho
corrente ruim e bom desempenho futuro esperado “emprestaram” resultados de períodos
futuros, reduzindo PDD corrente. Entre bancos com bom desempenho corrente e
desempenho futuro esperado ruim, houve prática de “estocar” lucros para períodos
futuros, por meio do aumento da PDD e conseqüente redução do lucro corrente;
constatou-se, adicionalmente, que neste segundo caso a necessidade de obtenção de
financiamento externo é variável relevante para explicar diferenças na extensão da
prática de suavização de resultados bancários. Outras variáveis, como a disponibilidade
de mecanismo alternativo de suavização (escolha do momento da venda de títulos) e o
fato de o banco ser ou não bem capitalizado não foram significantes na explicação de
diferenças na suavização de resultados. Evidências confirmam que PDD é utilizada na
85

suavização de resultados e que a necessidade de financiamento externo tem influência


sobre o componente discricionário da PDD.
No modelo de regressão, PDD é variável dependente e, entre as independentes, figuram
os ganhos e perdas realizados com títulos para venda, o quociente
“empréstimos/depósitos” (indicando necessidade por financiamento externo) e a
variação na carteira de crédito.

Lobo & Yang (2001) – suavização de resultados em bancos por meio da PDD
Os autores citam que há evidências empíricas conflitantes nos estudos sobre GR.
Testam hipótese de suavização de resultados por meio da PDD com emprego de
diferentes metodologias (regressão específica para cada banco, regressão cross-
sectional anual, regressão pooled time-series cross-sectional e dados em painel),
confirmando existência de prática de suavização nas quatro modelagens empregadas.
O modelo de regressão adotado propõe-se a testar hipóteses de suavização, sinalização e
gerenciamento de capital, empregando a PDD como variável dependente e conjunto de
oito variáveis independentes, entre as quais figuram o lucro líquido antes da PDD e
impostos (para teste da suavização) e, como variável de controle para componente não
discricionário da PDD, a variação no valor das operações de crédito. Foi encontrada
correlação negativa entre esta variável e a PDD, o que indica melhoria na qualidade dos
créditos incrementais (p.233). Nas regressões específicas para cada banco, a variável
“variação nas operações de crédito” não apresentou coeficiente significativo. Cabe
também observar que foi obtida evidência (p.238) de que bancos de menor porte tendem
a se engajar mais na prática de suavização relativamente aos bancos maiores. Nas quatro
metodologias empregadas, confirmou-se a hipótese de suavização de resultados por
meio da PDD (p.241-245). Nas regressões, a variável independente representativa do
lucro pré-suavização (lucro antes da PDD), apresentou os seguintes coeficientes (e p-
values): regressão específica para cada banco: 0,164 (0,001); regressão cross-sectional
anual: 0,127 (0,0007); regressão pooled cross-sectional: 0,135 (0,0001); dados em
painel: 0,154 (0,0001).

Shrieves & Dahl (2001) – suavização de resultados em bancos japoneses


Com amostra de 607 observações e período de análise de 1989 a 1996, verificaram que
os bancos japoneses definem os ganhos com a venda de títulos e a PDD de maneira a
suavizar os resultados. No sistema de equações simultâneas, objetivou-se avaliar, entre
outros aspectos como gerenciamento de capital e tributário, em que medida os ganhos
86

com títulos e a PDD são utilizados para suavização de resultados. Foi propósito verificar
se os ganhos com títulos são inversamente relacionados com o resultado não
discricionário e se ganhos com títulos e PDD são complementares. Na hipótese de
suavização, sugere-se que os ganhos com títulos são usados para amortecer o impacto
de menores resultados não discricionários ou maiores provisões de crédito (PDD).
Na equação em que os ganhos com títulos (GAINS) constituem a variável dependente,
constam 13 variáveis independentes, cabendo destacar: ROI, representando o resultado
não discricionário ou “pré-gerenciamento”, dado pelo “lucro divulgado deduzido dos
impostos, itens extraordinários, ganhos com títulos e PDD” dividido pelos ativos totais;
PROV, representada pela PDD/ativos totais de início de período; e dLOANS,
representando a variação anual na carteira de créditos/ativos totais de início de período.
Na equação em que a PDD é a variável dependente, cabe destacar, entre as 13 variáveis
independentes: ROI (resultado “pré-gerenciamento”) e GAINS (ganhos & perdas com
venda de títulos/ativos totais de início de período) e dLOANS.
Na equação de ganhos com títulos (R2 Ajustado de 0,5548), ROI e PDD apresentaram
coeficientes de, respectivamente, -0,5896 (p-value 0,0001) e 0,5997 (p-value 0,0001),
confirmando relação negativa entre GAINS e ROI. Conclui-se que o aumento de 1% no
resultado não discricionário gera decréscimo de 0,59% nos ganhos com títulos,
constatando-se também o uso de GAINS como fator de compensação do efeito da PDD.
Na equação da PDD (R2 Ajustado de 0,4008), ROI e GAINS apresentaram coeficientes,
respectivamente, de 0,8264 (p-value 0,0001) e 1,4040 (p-value 0,0001), confirmando-se
a relação positiva da PDD com o resultado não discricionário: a cada 1% de aumento no
resultado contábil “pré-gerenciamento”, observa-se aumento de 0,83% na PDD. A
conclusão é que a PDD e os ganhos com títulos são utilizados na suavização de
resultados, sendo instrumentos complementares no GR.

Marquardt & Wiedman (2004) – contas específicas em contextos diferenciados


Examinaram a utilização de contas específicas no GR, como duplicatas a receber (DR),
estoques, contas a pagar e depreciação. Defende-se que, dependendo da motivação da
empresa, existem custos e benefícios diferenciados no uso de cada tipo de conta para o
GR. Resultados indicam que: empresas no contexto de oferta de ações (interesse em
aumentar preço das ações) preferem incrementar resultados com mecanismos que
sugerem que lucros divulgados persistirão no futuro (itens recorrentes); DR constituem
instrumento mais utilizado, apresentando níveis elevados em virtude do reconhecimento
acelerado de receitas (mais do que a postergação de despesas), pois aumentos de
87

receitas tendem a ser avaliados com mais peso pelos analistas. Entre empresas em
situação de management buyout (interesse de redução do preço das ações), verificou-se
que DR apresentavam níveis reduzidos, pelo reconhecimento a menor de receitas.
Empresas com objetivo de evitar a divulgação de lucros declinantes demonstraram-se
menos preocupadas em apresentar lucros que pareçam permanentes, apresentando maior
disposição para uso de métodos mais transparentes, como itens especiais (não
recorrentes), bastante utilizados para aumentar resultados.
O trabalho contribui para o entendimento de que o mecanismo escolhido para GR
depende dos custos associados à gestão de cada tipo de conta e dos benefícios advindos
de cada contexto particular. A empresa pode preferir determinados mecanismos de GR,
e de contas específicas, dependendo do contexto em que está inserida, e de suas
motivações. Sugere-se (p.486) que futuras pesquisas podem tratar da função que
acumulações específicas desempenham em outros contextos.

McNutt (2003) – provisão para devedores duvidosos em bancos norte-americanos


Propõe modelo de equações simultâneas para estudo das relações entre GR e variáveis
como capital, risco, performance e governança corporativa, para o contexto de bancos
norte-americanos com ações em bolsa. McNutt (p.19) justifica a não utilização de dados
em painel pelo fato de haver fusões e falências durante período de pesquisa, o que
prejudica a disponibilidade de dados necessários (para uso de dados em painel). Assim,
para inclusão de todas as observações, propõe-se que dados sejam combinados
(regressão pooled). A proxy de GR é a PDD discricionária, medida por meio de variação
do modelo de Jones (1991), conforme segue:

LLP jt / TAj,t-1 = τ0 (1 / TAj,t-1) + τ1 (∆ Loans jt / TAj,t-1)


LLP (loan losss provision) = PDD do banco j no tempo t;
TAj,t-1 (total assets) = ativos totais do banco j, no tempo t – 1;
∆ Loans jt = Variação na carteira de créditos do banco j em t (entre t-1 e t);

Observa-se que variáveis são divididas (ponderadas) pelo ativo total, para evitar efeito
escala.
Utiliza-se a variação nas operações de crédito com base no entendimento de que a PDD
é função também dessa variável. Verifica-se que, quando variável dependente é a PDD,
pode-se adotar, como variável explicativa, a variação nas operações de crédito.
88
89

CAPÍTULO III – CONTABILIDADE BANCÁRIA


__________________________________________________________

1. Introdução

Este capítulo discute as oportunidades de GR no âmbito dos procedimentos de


contabilização das operações de crédito, TVM e derivativos, entre as instituições
financeiras atuantes no Brasil, cuja base normativa advém do Conselho Monetário
Nacional e do Banco Central do Brasil. Para esta discussão, é relevante o entendimento
sobre as normas de contabilização vigentes no SFN, descritas no Apêndice 1.
Também são discriminadas, neste capítulo, contas (rubricas) utilizadas nos testes
empíricos realizados, cujos resultados são apresentados no capítulo V.

Particularidades das instituições financeiras e do ambiente brasileiro


As IF, pelas particularidades que as caracterizam, tanto operacional como
contabilmente, não são, na maioria das vezes, contempladas nos estudos sobre GR.
Operam em mercado extremamente regulamentado, com normas que refletem
preponderantemente as demandas do ambiente regulatório e tributário.
Outras especificidades do mercado de capitais brasileiro – enorme concentração de
propriedade, com poucos acionistas controlando a totalidade do capital votante,
inexistência de verdadeiras public companies, falhas institucionais na proteção ao
investidor minoritário e relevância do mercado bancário no crédito empresarial –,
cooperam conjuntamente para a diminuta demanda da informação contábil como
redutora da assimetria de informações entre insiders e público externo.
Considerando as especificidades do ambiente institucional de cada país, bem como os
diferentes graus de desenvolvimento econômico, e diante da necessidade de que a
pesquisa contábil assuma contornos nacionais, respondendo a questões e atendendo a
demandas mais ligadas à realidade de cada nação, entende-se como recomendável a
realização de estudos que tratem de aspectos pertinentes, por exemplo, ao sistema
financeiro brasileiro.
As características discricionárias da contabilidade não são uniformes, mudando em
função do país e de sua realidade institucional e cultural. Quanto ao SFN, há também
particularidades que oferecem campo fértil para a investigação contábil no contexto da
metodologia positiva de pesquisa50.

50
Diferentemente da linha normativa, em que opiniões assumem papel destacado, a metodologia positiva
é fundamentalmente baseada em observações da realidade e no teste empírico de hipóteses.
90

Neste contexto, este trabalho objetiva realizar investigação sobre a utilização da


discricionariedade contábil por parte das IF em atuação no Brasil. Espera-se iniciar
processo de preenchimento de um campo de pesquisa até então pouco explorado, pois,
além de se tratar de IF, estarão sendo focalizadas, além das operações de crédito, as
áreas de TVM e derivativos, na esfera de operações de tesouraria.

Objeto de pesquisa
Os resultados contábeis podem ser gerenciados por meio de diferentes instrumentos,
como a mudança de procedimentos contábeis (depreciação acelerada para linear ou
PEPS para UEPS, na avaliação de estoques), a discricionariedade dos gestores
relativamente às apropriações de receitas e despesas, e, também, por meio da efetiva
realização de operações, como a venda de títulos em momento considerado oportuno.
Para Beatty et al (1995:234), há incentivos para que os gestores bancários manipulem
tanto accruals como o momento de transações como a venda de ativos. Segundo Moyer
(1990:124), os gestores podem ajustar, ao final do ano, as apropriações de receitas e
despesas (accruals), mas não os fluxos de caixa, cabendo observar que ajustes sobre a
provisão para créditos não afetam os fluxos de caixa, enquanto que os ganhos e perdas
decorrentes da venda de títulos têm impacto sobre o caixa.
Quanto ao objeto de estudo deste trabalho, Collins et al (1995:268) observam que tanto
as provisões de crédito (PDD) como os ganhos e perdas com títulos podem ser
empregados no gerenciamento e suavização de resultados: “espera-se que baixos (altos)
níveis de resultados correntes não discricionários motivem os gestores a realizar ganhos
(perdas) com títulos e diminuir (aumentar) a PDD.”51 Scholes et al (1990) encontraram
evidências de gerenciamento de capital, impostos e resultados por meio das transações
com títulos. No que se refere aos derivativos, Barton (2001) constatou que empresas
podem utilizá-los para suavização de resultados, e que, neste caso, há menor
necessidade de emprego de apropriações discricionárias para o gerenciamento de
resultados contábeis.
No caso de operações de crédito, conforme já discutido no item 3.2 do capítulo II, o
valor da PDD (despesa de provisão para devedores duvidosos) é definido em função do
julgamento do gestor quanto ao risco dos empréstimos concedidos. Há oportunidade,
portanto, para a ação discricionária do gestor nos ajustes realizados em ativos por meio
da provisão estabelecida, com impacto nos resultados. Para Moyer (1990:125-126), os

51
Texto no original: “low (high) levels of nondiscretionary current earnings are expected to encourage
managers to realize investment security gains (losses) and to decrease (increase) the loan loss provision.”
91

gestores bancários possuem discricionariedade sobre as operações de crédito, podendo


acelerar ou postergar a venda de créditos (interferindo no momento de reconhecimento
de ganhos e perdas), classificar uma operação como não passível de apropriação de
rendimentos (nonaccruing) mais cedo do que exigido pelas normas, ou mesmo
emprestar recursos adicionais a um devedor, garantindo a continuidade dos pagamentos
e a apropriação de rendimentos; quanto à PDD, especificamente, Moyer observa que,
pelo fato de o gestor usar julgamento em sua definição, é considerada item passível de
ajuste ao final do ano (adjustable at year-end).
No que se refere aos TVM, identificam-se possibilidades de GR na classificação dos
títulos adquiridos, na marcação a mercado, bem como nas decisões quanto à venda de
títulos (incluindo a escolha quanto ao momento da alienação). Quanto à marcação a
mercado, além do aspecto relativo à escolha do critério de marcação e da medida para
valor de mercado, cabe reconhecer que, em diversos casos, não há preço de mercado
disponível52, sendo necessário estimar o valor justo (fair value) por meio de modelo de
precificação que, além de envolver premissas, pode ensejar estimativas subjetivas.
Cumpre observar, contudo, que quando não há valor de mercado, o valor justo, a ser
estimado, deve guardar relação com o fluxo de caixa a ser realizado ou já realizado (no
passado). Não se trata, portanto, de medida subjetiva e desprovida de relação com
valores já financeiramente realizados ou a serem realizados. O valor justo pode ser
entendido como o montante pelo qual um ativo poderia ser transacionado, ou um
passivo quitado, entre partes conhecedoras do assunto (igualmente bem informadas
sobre o objeto de negociação) e dispostas a negociar em uma transação sem
favorecimentos. Verifica-se, pela definição, que a medida de valor justo guarda relação
com o fluxo de caixa (montante pelo qual um ativo pode ser transacionado ou um
passivo quitado). Mesmo quando se requer o uso de modelo de avaliação para
estimativa, a medida de valor pode ser obtida com razoável confiança quando baseada,
por exemplo, em dados de mercados ativos e premissas consideradas apropriadas e
consistentes. Considerando que o valor justo trata-se de uma medida que, em seu
processo de estimativa, remete a fluxos de caixa (a serem realizados ou mesmo já
realizados no passado), e que deve estar vinculada a um valor que, conforme estimativas
e previsões realizadas, será ou deverá efetivamente ser recebido ou pago pela empresa,

52
A cotação de preço publicada em um mercado ativo é usualmente reconhecida como melhor evidência
de valor justo.
92

não se pode defender que seja uma medida caracterizada pela subjetividade e
desprovida de elementos objetivos e verificáveis.
Para Moyer (1990:126), o gestor pode divulgar vários níveis de perdas ou ganhos com
TVM, dependendo dos títulos que seleciona para venda. Pelo fato de que títulos podem
ser vendidos com relativamente pouco esforço, os ganhos e perdas com a venda de
TVM são considerados itens sujeitos a ajuste discricionário do gestor ao final do ano.
Segundo Shrieves & Dahl (2001:1224), o momento de realização de ganhos e perdas
com títulos é elemento de discricionariedade dos gestores bancários, mas a realização de
ganhos não transmite nova informação aos investidores, uma vez que os ganhos não
realizados são divulgados nas demonstrações contábeis.
Com os derivativos, além das oportunidades relativas à classificação e à marcação a
mercado, a própria decisão de realizar uma operação com derivativo pode ter como
principal motivação o GR. Isto porque os derivativos podem ser usados com diferentes
propósitos, como especulação (busca de ganhos a curto prazo) ou hedge (proteção,
tendo em vista reduzir possibilidades de perda e evitar oscilações nos resultados).
Pelo exposto, percebe-se que, no caso de operações de crédito, as oportunidades de GR
advêm, fundamentalmente, da ação discricionária do gestor. Já no caso de TVM e
derivativos, as oportunidades, além de envolverem a classificação e a marcação a
mercado, remetem à efetiva realização de operações com estes instrumentos, seja a
venda de títulos em momentos considerados oportunos, para incrementar lucros do
período, ou o fechamento de contratos de derivativos destinados à redução de possíveis
perdas, com efeitos sobre a volatilidade dos resultados contábeis divulgados.
Poitras et al (2002:903) observam que transações como a venda de ativos,
diferentemente de ações discricionárias sobre a PDD ou mudança de critérios contábeis,
não possuem apenas efeitos contábeis, mas, também, conseqüências econômicas e
financeiras, o que é corroborado por Kato et al (1998:5). Assim, não é tão simples
afirmar se uma empresa vende ativos pelos efeitos contábeis ou pelas motivações
econômicas, como o objetivo de auferir lucros em momento de alta dos títulos. Embora
seja possível gerenciar resultados por meio do momento da venda de ativos, a
motivação contábil pode ser pequena relativamente aos interesses econômicos
envolvidos. Esta discussão lança luz sobre o fato de que o GR por meio de transações
como a venda de títulos e a negociação com derivativos pode apresentar outras
motivações, além das relativas aos efeitos contábeis gerados. Neste sentido, há
“hipóteses competitivas”, de modo que se o GR é constatado, pode ser difícil determinar
93

qual a motivação mais relevante, se a contábil ou a econômica. Se constatada, por


exemplo, a relação negativa entre resultados com derivativos e o resultado contábil
(antes dos derivativos), há possibilidade de que os derivativos estejam sendo negociados
com finalidade de suavização de resultados (motivação contábil) ou que os derivativos
estejam sendo utilizados efetivamente para hedge, tendo-se em vista os efeitos
econômicos e financeiros para a empresa.
Um exemplo do uso de transações com títulos pode ser dado no caso de empresa, que
experimentando decréscimo em seu lucro contábil, decide vender títulos com ganhos
não realizados registrados no PL. Com isto, aproveita-se o efeito contábil do ganho na
venda do título para aumentar-se o lucro divulgado, mas também são gerados efeitos
econômicos relacionados à mudança patrimonial e à entrada de caixa.
Importante considerar que as decisões relativas à PDD, TVM ou derivativos, com
propósito de GR, podem ser interdependentes. Se há forte restrição de GR em uma área,
como TVM, pode-se recorrer à outra modalidade, como PDD, para se alcançar o
resultado desejado. Esta visão é corroborada por Beatty et al (1995:232), que
constataram interações entre decisões contábeis (discricionariedade sobre accruals) e de
investimento (como venda de títulos): a limitação na capacidade dos gestores para
escolher estrategicamente o momento da venda de títulos com objetivo de GR (uma
decorrência da introdução da marcação a mercado53), pode simplesmente induzir à
substituição no instrumento usado para GR, lançando-se mão de forma alternativa,
como postergar despesas de PDD. Outra constatação (p.258) é que a decisão de venda
de títulos para GR é determinada conjuntamente com outras decisões, como a relativa à
PDD; há interdependência nas decisões, de maneira que o nível da PDD depende do
volume de ganhos realizados por meio da venda de títulos. Note-se que a introdução da
marcação a mercado para títulos pode ter conseqüências talvez não previstas pelos
reguladores: remover a discricionariedade em uma área pode acarretar maior ação
discricionária em outra. Deste modo, os autores afirmam que a contabilização de títulos
a valor justo pode incrementar o uso discricionário da PDD.
Neste contexto, vale citar evidências obtidas em outras pesquisas. Zenderski (2005)
verificou que conglomerados financeiros constituem parcela discricionária de PDD com
a finalidade de GR, empregando, como complemento ao gerenciamento por meio da

53
Com a introdução da marcação a mercado (MtM), pode-se reduzir possibilidades de impactar
resultados com base na venda de títulos valorizados, da forma realizada quando do registro pelo custo
histórico acrescido de apropriação de rendimentos. O procedimento vigente, de MtM para títulos
destinados à negociação, já incorpora no resultado, imediatamente, as variações no valor de mercado.
94

PDD, os ganhos e perdas não realizados de títulos para negociação. Collins et al (1995)
encontraram evidências de GR, no segmento bancário, por meio das despesas de PDD e
ganhos e perdas com títulos (security gains and losses).

2. Contabilização de operações de crédito


Conforme mencionado no capítulo I, a maior parte dos estudos envolvendo bancos
focaliza o GR por meio da provisão para devedores duvidosos (PDD), não
contemplando, normalmente, outras modalidades operacionais.
As operações de crédito podem ser consideradas como a principal modalidade de
aplicação dos recursos bancários. Para Beaver & Engel (1996:177), a PDD é o principal
accrual do setor bancário; Segundo Kanagaretnam et al (2001:1), trata-se, para a
maioria dos bancos, do maior accrual, cumprindo papel significante na suavização de
resultados.
Com base nos princípios de contabilidade, entende-se que as empresas devem realizar
provisão que garanta que o valor das contas a receber represente a efetiva expectativa
dos gestores quanto ao futuro recebimento dos créditos. A estimativa de provisão, no
balanço, deve produzir um valor líquido de contas a receber que apresente adequação ao
valor realizável. Assim, deve a PDD refletir a avaliação gerencial corrente quanto ao
nível futuro de perdas na carteira de crédito, conforme preconizado pelas normas e
princípios contábeis (conservadorismo, realização de receita e confrontação com
despesas). A PDD, contudo, é caracterizada por envolver discricionariedade contábil em
sua definição (McNutt, 2003:1), aspecto já discutido no capítulo II (item 3.2).
McNichols & Wilson (1988:1,7) observam que, na ausência de GR, o montante da PDD
deve garantir que o valor líquido das contas a receber represente a expectativa dos
gestores quanto ao futuro recebimento de créditos. Esta é a realidade esperada quando
seguidos os princípios de contabilidade. Disto decorre que a diferença entre a provisão
divulgada e aquela definida de acordo com os princípios contábeis pode ser considerada
acumulação discricionária (discretionary accrual). No caso de ausência de GR, uma
variação na PDD só seria observada em virtude de mudanças na realidade econômica,
como alterações na condição de crédito dos tomadores.
McNichols & Wilson (1988:19) assumem, como premissa básica, que é possível aos
gestores manipular a PDD, observando que isto não seria factível se a provisão fosse
estabelecida como um percentual fixo sobre as vendas ou como função de outro item
observável a auditores e usuários externos. Mas, como a provisão requer julgamento,
entende-se que os gestores possuem discricionariedade na definição de seu valor.
95

Para Cornett et al (2006:2), os gestores bancários possuem discricionariedade quanto ao


tamanho da PDD registrada a cada período, de modo que em períodos de baixos
resultados em outras áreas do banco, os gestores podem postergar o registro de
provisões para aumentar o lucro e vice-versa.
Se perdas são prováveis e podem ser razoavelmente estimadas, deve ser registrada
despesa de modo a aumentar a provisão constante do balanço e reduzir o lucro
divulgado. Considerando que gestores possuem informação privativa quanto aos riscos
da carteira de crédito, e que a estimativa de perdas requer julgamento (envolvendo
aspectos subjetivos), entende-se que os gestores podem exercer discricionariedade
quanto ao momento de registro de despesas de PDD (Wahlen,1994:457).
Cabe observar, contudo, que o componente discricionário da PDD é objeto de detalhada
regulamentação no sistema financeiro, não estando suscetível tão somente à análise
subjetiva. No caso do SFN, é apresentada, no Apêndice 1, visão geral sobre as normas
de registro e avaliação contábil. Apesar da existência de regulamentação, e de
fiscalização, entende-se que não se elimina a hipótese de GR por meio da PDD.
Em função da importância das operações de crédito para as IF, dada a sua significativa
representatividade relativamente ao PL, a mensuração e a divulgação adequadas da
PDD constituem aspecto de grande relevância para que os usuários das demonstrações
financeiras possam realizar avaliação correta de riscos e sobre a capacidade do banco
honrar compromissos com depositantes (Niyama & Gomes, 2005:54-55).
McNichols & Wilson (1988:17-18) definem o mecanismo de contabilização das
operações de crédito da seguinte maneira:

PROVISÃO NO INÍCIO DE PERÍODO + DESPESA DE PROVISÃO – BAIXAS = PROVISÃO FINAL

Necessário diferenciar a provisão que consta do balanço e que funciona como conta
redutora do ativo créditos, e a provisão com natureza de despesa. Os autores
referenciam estas duas provisões, respectivamente, como allowance for bad debts e
provision for bad debts. Assim, a provisão final constante do balanço é dada pela
provisão inicial (balanço), acrescida da despesa de provisão contabilizada no período
(PDD), deduzida das baixas (reduções relativas aos créditos excluídos do patrimônio),
sendo a PDD definida como a despesa reconhecida a cada período em função dos
créditos que se espera não receber.
McNichols & Wilson (p.19-20) ainda sugerem maior probabilidade de manipulação
material na PDD, e não nas “baixas” (write-offs), observando que estas são
96

acompanhadas de perto pelos auditores e têm seu valor definido de forma “mecânica”,
não subjetiva, considerando critérios mais simples como o número de dias de atraso.
Quanto às evidências empíricas, Fuji (2004) e Zenderski (2005), para os bancos atuantes
no Brasil, e Collins et al (1995), para bancos nos EUA, constataram relação positiva
entre PDD e resultado contábil, confirmando hipótese de suavização por meio da PDD.
Beatty et al (1995:254), empregando equações simultâneas, não confirmaram hipótese
de suavização (apenas com estimação por mínimos quadrados verificou-se uso de PDD
para suavização). Aproximadamente dois terços dos bancos analisados por Collins et al
(1995:279) divulgaram despesas de PDD menores (maiores) em anos com resultados
não discricionários baixos (altos), o que é consistente com bancos suavizando resultados
no decorrer do tempo. Scholes et al (1990:646) constataram relação positiva entre
ganhos com a venda de títulos e PDD, o que indica utilização das transações com títulos
para compensar efeito da PDD nos resultados divulgados (income smoothing).
Kanagaretnam et al (2001) verificaram que bancos com desempenho corrente ruim e
bom desempenho futuro esperado “emprestaram” resultados de períodos futuros,
reduzindo PDD corrente; entre bancos com bom desempenho corrente e desempenho
futuro esperado ruim, houve prática de “estocar” lucros para períodos futuros, por meio
do aumento da PDD e conseqüente redução do lucro corrente; constatou-se,
adicionalmente, que neste segundo caso a necessidade de obtenção de financiamento
externo é variável relevante para explicar diferenças na extensão da prática de
suavização de resultados bancários.

3. Contabilização de operações com TVM

3.1 – Introdução
No que se refere aos TVM, identificam-se possibilidades de GR na classificação dos
títulos adquiridos, na marcação a mercado, bem como nas decisões quanto à venda de
títulos (incluindo a escolha quanto ao momento da alienação).
Na classificação de títulos, práticas de GR podem ser empregadas pelo fato de os
procedimentos de avaliação serem diferenciados em função da categoria em que um
título é classificado. Assim, dependendo da classificação adotada, impacta-se o
resultado de forma diferente. Sobre isso, vale citar Fuji (2003:52):
O gerenciamento de resultados pode ocorrer ao se classificar um papel numa categoria
quando na realidade deveria estar em outra categoria. Se um banco, por exemplo,
deseja mostrar um lucro numa carteira de títulos, pode declarar que são papéis para os
quais vai esperar o vencimento - digamos títulos federais que vão vencer dentro de
alguns anos – e registrar custo mais juros proporcionais, superior ao valor de mercado.
97

Ao deixar de "marcar a mercado", o banco "esconde" um prejuízo embutido na


carteira de títulos. A manipulação de classificação, uma vez que ela permite
tratamentos contábeis de reconhecimento de receitas em momentos distintos, pode
proporcionar gerenciamento de resultados.

Zenderski (2005:17) também defende a possibilidade de GR por meio de TVM:


Os ganhos ou perdas não realizados decorrentes da avaliação da carteira a valor de
mercado (...) podem ser utilizados pelas instituições financeiras com a finalidade de
gerenciamento de resultados. Isso pode ocorrer por meio da manutenção, na categoria
“para negociação”, dos títulos cujos ganhos ou perdas não realizados têm atendido ao
interesse dos gestores, no que se refere ao impacto sobre os resultados do período, ou
da reclassificação para essa categoria, dos títulos registrados como “disponíveis para
venda”, visando reconhecer no resultado os ganhos ou perdas não realizados
registrados em conta destacada do patrimônio líquido.

Quanto à marcação a mercado, há espaço para GR nas escolhas do critério de marcação


e da medida para valor de mercado. A escolha de medidas que resultam em valores mais
elevados para ativos pode impactar positivamente os resultados. Um exemplo seria a
escolha de cotações de fechamento de ações, ao invés de cotações médias, o que poderia
resultar em valor mais alto ou mais baixo para os ativos. Além deste aspecto, cabe
reconhecer que, em diversos casos, não há preço de mercado disponível, sendo
necessário estimar o valor justo (fair value) por meio de modelo de precificação que,
além de envolver premissas, pode ensejar estimativas subjetivas.
As situações em que se requer o uso de algum modelo para estimativa de valor justo não
se restringem aos casos em que não há cotação de mercado disponível. Há situações em
que há cotação disponível, mas esta não é representativa do “real” valor de mercado,
não sendo adequada a sua utilização como medida de valor justo. Isso pode ocorrer
quando houve uma negociação isolada e não representativa com debêntures, por
exemplo, título que, a propósito, ainda não possui mercado secundário desenvolvido no
Brasil. Neste caso, há cotação disponível, mas esta pode não representar fielmente um
valor considerado justo, que seria amplamente aceito em eventuais negociações
envolvendo outros participantes do mercado. Esta situação pode também ser observada
quando a negociação é realizada por partes relacionadas, podendo envolver preços não
considerados confiáveis no que se refere à representação da oferta e demanda pelo ativo
no mercado.
Dechow et al (1996:10), em estudo sobre empresas identificadas como tendo violado
padrões contábeis, relata que, dos 92 casos de manipulação identificados, três referem-
se à avaliação a maior de títulos para negociação (overstatement of marketable
securities). Trata-se de evidências de utilização da avaliação de títulos para o GR.
98

Quanto aos ganhos auferidos na venda de títulos, Beatty et al (1995:254) constataram


que são utilizados para GR em bancos, bem como para o gerenciamento de impostos.
Isto pode ser consistente com hipótese de suavização: quando há grande lucro, pode-se
aproveitar para vender títulos com perdas não realizadas, reduzindo-se lucro contábil, o
que enseja menor pagamento de impostos; quando há prejuízo, bancos podem aproveitar
para vender ativos com ganhos não realizados, para melhorar resultado. Ressalte-se que,
conforme evidências obtidas por Scholes et al (1990), os gestores bancários, nas
decisões quanto à realização de ganhos e perdas com títulos, contrabalançam os custos e
os benefícios relativos ao gerenciamento de resultados, capital e impostos.
Sobre a possível utilização da venda de ativos para suavização de resultados, pode-se
considerar que, se uma IF apurou lucro acima do esperado (com variação positiva
elevada em relação ao ano anterior), gestores podem decidir vender títulos com perdas
não realizadas (assumindo que acreditem que estas perdas não serão revertidas, pelo
menos a curto prazo). No caso de apuração de lucro abaixo do esperado, a decisão seria
pela venda de títulos com ganhos não realizados e manutenção de títulos com perdas
não realizadas, para mitigar variação negativa nos lucros contábeis.
Deve-se esclarecer que a validade da hipótese de suavização de resultados não é
incompatível com o fato de a maioria dos resultados com a venda de TVM poder ser
positiva54. Para a confirmação da suavização, não é necessário que, quando o lucro
contábil (excluído deste o resultado com TVM) aumenta, seja verificado um prejuízo na
venda de títulos. O que acontece, é que quando o lucro contábil apurado está acima do
esperado (ou com variação positiva anormal), pode haver tendência à apresentação de
um resultado com TVM inferior ao patamar de outros períodos (em que o lucro contábil
não foi acima do esperado). Bartov (1993:850) constatou esta realidade no caso de
venda de ativos de longa maturação para suavização de resultados.
Os gestores bancários demonstram preocupação com o lucro e o capital divulgados, os
quais são acompanhados por acionistas, investidores e reguladores. Se gestores
(insiders) possuem melhor informação do que os fornecedores de capital sobre o valor
dos ativos, podem considerar proveitoso transmitir ao mercado tal informação,
especialmente em momentos em que há necessidade de novas fontes de capital.
Segundo Scholes et al (1990:641), uma das formas de transmitir a informação é vender
os ativos, o que constitui mais um argumento em favor da ação discricionária dos

54
Kato et al. (1998:6) verificaram que, em amostra de 89 bancos no Japão, durante 11 anos (1982 a
1992), as médias cross-sectional de ganhos e perdas em transações com títulos foram todas positivas.
99

gestores relativamente à venda de títulos, tendo em vista o gerenciamento de resultados


e os objetivos da política de divulgação (disclosure).
Outro aspecto é que as diferentes composições dos ativos das empresas implicam
variações na capacidade de engajar-se em práticas de GR (Poitras et al, 2002:907).
Considerando que nos ativos dos bancos atuantes no Brasil há significativos montantes
aplicados em TVM, especialmente títulos públicos federais, identifica-se contexto
favorável, no segmento bancário, para o uso de títulos no GR.
Quanto às evidências empíricas, Collins et al (1995:277) constataram uso de ganhos e
perdas com títulos no GR, com relação negativa entre este item e o resultado contábil
(pré-suavização). Beatty et al (1995) verificaram que ganhos com venda de títulos são
usado no GR. Zenderski (2005) concluiu que ajustes a valor de mercado de títulos para
negociação são utilizados como instrumento complementar à PDD, no GR. Scholes et al
(1990) obtiveram evidências de utilização de ganhos e perdas com títulos para fins de
gerenciamento de resultados, capital e impostos, verificando que as transações com
títulos são utilizadas também para a suavização de resultados. Kato et al (1998:13)
concluíram, com base em amostra de 89 bancos atuantes no Japão, entre 1982 e 1992,
que os ganhos e perdas em transações com títulos constituem fonte indispensável de
discricionariedade na gestão dos resultados bancários. Kanagaretnam et al (2001:18)
concluíram que gestores bancários utilizam a PDD para suavização de resultados e que,
a necessidade de obtenção de financiamento externo é variável relevante para
determinação do grau de suavização por meio do componente discricionário da PDD;
por outro lado, a escolha do momento da venda de títulos, definida pelos autores como
mecanismo alternativo de suavização, não apresentou resultados significativos na
explicação de diferenças (cross-sectional) na extensão da prática de suavização.

3.2 – Oportunidades de GR na contabilização de TVM


São identificadas diferentes formas possíveis de GR na contabilização de TVM, com
procedimentos normativos estabelecidos pela Circular 3.068 (descrita no Apêndice 1).
Há possibilidade de gerenciamento de resultados a partir da classificação de TVM ou da
definição dos valores utilizados para o ajuste pelo valor de mercado.
A primeira possibilidade envolve práticas de classificação e reclassificação de TVM
com o objetivo de impactar os resultados, considerando que cada categoria possui
critério específico de registro e avaliação, com ou sem impacto no resultado do período.
Nesta forma de GR, um banco poderia, por exemplo, reclassificar títulos disponíveis
100

para venda (DPV) para a categoria negociação, tendo em vista afetar o resultado do
período.
O GR a partir dos valores utilizados para o ajuste pelo valor de mercado consiste em
adotar valores de mercado mais altos quando se quer aumentar o resultado e valores
mais baixos quando se intenciona a redução do resultado. Esta possibilidade origina-se
do fato de que, em diversos casos, o valor de mercado pode não ser estabelecido de
forma estritamente objetiva, podendo ser necessária utilização de algum modelo para
estimação do valor de mercado, o que enseja certo grau de subjetividade. Além disso,
vale mencionar que, mesmo quanto há cotação de mercado disponível, pode haver
opções de escolha entre valor médio de negociação, de abertura ou de fechamento, o
que também enseja possível alteração de resultados a partir da medida escolhida.
Cumpre reconhecer a dificuldade em determinar, em um trabalho de pesquisa, se as
instituições estão adotando valores de mercado mais altos ou mais baixos no objetivo de
impactar o resultado em um sentido desejado. O que se pode avaliar é se os ajustes estão
influenciando positiva ou negativamente o resultado, havendo dificuldade, contudo, em
definir se os parâmetros de mercado utilizados para o ajuste estão sendo artificialmente
mais altos ou mais baixos.
Importante considerar que, no caso dos títulos para negociação, o impacto no resultado,
a partir do ajuste a valor de mercado, é imediato, enquanto que, no caso dos títulos
DPV, o que se obtém é um “estoque” de ganhos ou perdas não realizados no PL, o qual
poderá futuramente ser utilizado para o GR, sendo necessário, para tanto, a venda dos
títulos ou a reclassificação para outra categoria. Cabe registrar que o ajuste a valor de
mercado deve ser realizado no mínimo por ocasião dos balancetes e balanços. Ressalte-
se que, no artigo 2o da Circular, afirma-se que títulos para negociação e DPV devem ser
ajustados pelo valor de mercado, mas não se especifica com detalhes o que é valor de
mercado, como calculá-lo, de que fonte obtê-lo. O que se determina é que a
metodologia de apuração do valor de mercado é de responsabilidade da IF, devendo ser
estabelecida com base em critérios consistentes e passíveis de verificação.
Considerando a possibilidade de estimação do valor provável de realização mediante
modelo de precificação, verifica-se que há espaço para a discricionariedade no que se
refere ao valor de mercado a ser adotado no ajuste dos títulos para negociação e DPV.
Mas também é requerida a existência de critérios consistentes e passíveis de verificação,
e a imparcialidade na escolha de taxas a serem utilizadas para a estimação dos valores
prováveis de realização. Tais exigências mitigam a discricionariedade dos gestores na
101

definição dos valores a serem utilizados para o ajuste. No entanto, para que a avaliação
dos TVM a valor de mercado seja efetivamente imparcial, assume importância a ação
eficiente da auditoria e da fiscalização relativamente às práticas adotadas.
Apesar de a norma brasileira mencionar apenas o termo valor de mercado, o que se
estabelece, na realidade, é o ajuste pelo valor justo, sendo o valor de mercado, quando
disponível, o parâmetro adotado. E é na estimação do valor justo, pela subjetividade
implícita, que se identifica oportunidade para a ação discricionária dos gestores no
sentido de atender aos interesses das instituições financeiras.
Quanto aos ganhos ou perdas não realizados, registrados no PL, devem ser transferidos
para o resultado do período quando da venda definitiva dos títulos. Observa-se espaço
para a ação discricionária da IF, que, no intuito de afetar o resultado do período, positiva
ou negativamente, pode avaliar o impacto que seria causado, no resultado do período,
no caso de venda de parte ou totalidade dos títulos DPV, com a conseqüente
transferência de ganhos ou perdas não realizados para as contas de resultado. Se houver,
por exemplo, interesse em aumentar o resultado, podem ser vendidos títulos DPV com
significativos ganhos não realizados. Por outro lado, se não há intenção de afetar o
resultado positivamente, não serão vendidos títulos com significativos ganhos não
realizados ou poderão, ainda, ser vendidos títulos com perdas não realizadas, as quais
ocorrem quando valores de mercado são inferiores aos contábeis.
Os rendimentos produzidos pelos TVM, independentemente da categoria em que
classificados, devem ser computados diretamente no resultado do período. Todos os
TVM têm seus rendimentos incorporados ao resultado do período; mas, no caso dos
títulos para negociação e DPV, requer-se, adicionalmente, o ajuste pelo valor de
mercado, computando-se a valorização ou desvalorização em contas de resultado,
quando títulos para negociação, ou em conta destacada do PL, quando títulos DPV.
A reclassificação de títulos é permitida nos balanços semestrais, mas há regras para esta
prática, cabendo destacar:
A transferência de categoria deve levar em conta a intenção e a capacidade financeira
da instituição e ser efetuada pelo valor de mercado do título.
As transferências são efetuadas, portanto, pelo valor de mercado do título.
Na transferência da categoria negociação para as demais, não é admitido o estorno
dos valores já computados no resultado decorrentes de ganhos ou perdas não realizados.
Quando há transferência de títulos para negociação para outra categoria, não se admite o
estorno de valores que já afetaram o resultado anteriormente. Disso depreende-se que a
102

transferência de títulos a partir da categoria negociação não é instrumento eficaz para o


gerenciamento de resultados, especialmente a curto prazo.
Na transferência da categoria DPV, ganhos e perdas não realizados (no PL) devem
ser reconhecidos no resultado do período: imediatamente, quando para a categoria
negociação ou em função do prazo remanescente até o vencimento, quando para a
categoria mantidos até o vencimento.
A reclassificação de títulos DPV para a categoria negociação revela-se como possível
instrumento de GR, pois ganhos e perdas não realizados, registrados em componente
destacado do PL, são imediatamente reconhecidos no resultado do período.
Na transferência da categoria mantidos até o vencimento para as demais, ganhos e
perdas não realizados devem ser reconhecidos imediatamente, no resultado do período,
quando para a categoria negociação, ou como componente destacado no PL, quando
para a categoria DPV.
Pelo exposto acima, a reclassificação de títulos mantidos até o vencimento para a
categoria negociação também se revela como possível instrumento de GR, pois ganhos
e perdas não realizados devem ser imediatamente reconhecidos no resultado do período.
Se a transferência é feita para DPV, não se impacta o resultado no momento da
reclassificação, mas gera-se estoque de ganhos ou perdas não realizados, classificados
no PL, e que poderão, futuramente, ser reconhecidos em resultado, no caso de venda
definitiva ou reclassificação. No entanto, há rigorosas restrições quanto à transferência
de títulos mantidos até o vencimeto, que limitam bastante a utilização deste tipo de
reclassificação como instrumento eficaz de GR, sobretudo quando há eficiente ação de
fiscalização e auditoria na supervisão e controle das práticas contábeis adotadas pelas
instituições. A referida restrição é dada pelo seguinte parágrafo da norma: A
transferência somente poderá ocorrer por motivo isolado, não usual, não recorrente e
não previsto, ocorrido após a data da classificação, de modo a não descaracterizar
intenção evidenciada quando da classificação.
Considerando o texto da Circular 3.068, verifica-se que há possibilidade de GR na
contabilização de TVM no âmbito das IF em atuação no Brasil. É evidente a
possibilidade a partir da classificação e reclassificação de títulos, especialmente
daqueles classificados como DPV, com ganhos e perdas não realizados “estocados” no
PL. No entanto, para avaliar se as instituições estão lançando mão deste mecanismo de
reclassificação para o GR, requer-se um modelo de análise passível de aplicação no caso
brasileiro, no momento ainda não disponível, pelo menos até onde pôde alcançar a
103

revisão bibliográfica realizada neste trabalho. Ademais, há também dificuldade de


pesquisa relativamente aos dados que se fazem necessários para a investigação.
Conforme melhor explicado a seguir, os dados contábeis que envolvem títulos DPV são
significativamente menores, em quantidade de observações, relativamente aos dados
pertinentes, por exemplo, aos TVM classificados como para negociação.
Por este motivo, é desenvolvida, neste trabalho, investigação sobre a relação entre as
contas de resultado de ajuste a valor de mercado dos TVM classificados como
negociação e DPV e outras variáveis como o resultado contábil das instituições e o valor
que os bancos possuem aplicados em TVM, em seus ativos.

3.3 – Contas e variáveis utilizadas nos testes


Neste item, são discriminadas as contas (Cosif) relacionadas a TVM e as variáveis
utilizadas nos testes empíricos realizados.
As contas de resultado relacionadas ao ajuste a valor de mercado são as seguintes:
Quadro 1 – Contas de resultado relacionadas ao ajuste a valor de mercado de TVM
Cosif Título
7.1.5.90.00-6 TVM - AJUSTE POSITIVO AO VALOR DE MERCADO
7.1.5.90.10-9 Títulos para Negociação
7.1.5.90.20-2 Títulos Disponíveis para Venda
8.1.5.80.00-6 TVM - AJUSTE NEGATIVO AO VALOR DE MERCADO
8.1.5.80.10-9 Títulos para Negociação
8.1.5.80.20-2 Títulos Disponíveis para Venda
Base normativa: Carta-Circ. 3023; Carta-Circ 3026

A conta 7.1.5.90.00-6 – TVM – Ajuste Positivo ao Valor de Mercado, tem a função


de registrar as valorizações decorrentes do ajuste ao valor de mercado dos TVM
classificados na categoria negociação, bem como dos valores positivos transferidos ao
resultado do período daqueles classificados como DPV por ocasião da venda definitiva
ou transferência de categoria, tendo como contrapartida a adequada conta patrimonial.
Percebe-se que, se uma instituição, com o objetivo de incrementar seu resultado, utilizar
o mecanismo de reclassificação de títulos DPV para a categoria negociação, o efeito, em
termos de receitas, aparecerá na conta 7.1.5.90.20-2 - Títulos DPV.
A conta 8.1.5.80.00-6 – TVM – Ajuste Negativo ao Valor de Mercado tem a função
de registrar as desvalorizações decorrentes do ajuste ao valor de mercado dos TVM
classificados como negociação, bem como dos valores negativos transferidos ao
resultado do período daqueles classificados como DPV, por ocasião da venda definitiva
ou transferência de categoria, tendo como contrapartida a adequada conta patrimonial.
104

Percebe-se que, se a instituição, com objetivo de impactar negativamente seu resultado,


utilizar mecanismo de reclassificação de títulos DPV para a categoria negociação, o
efeito, em termos de despesas, aparecerá na conta 8.1.5.90.20-2-Títulos DPV.
Cumpre citar a conta 6.1.6.00.00-9 – Ajuste a Valor de Mercado – TVM e Derivativos,
que se trata de conta do PL, com função de ser contrapartida das valorizações e
desvalorizações decorrentes do ajuste a valor de mercado dos títulos DPV, possuindo o
subtítulo 6.1.6.10.00-6 – Títulos Disponíveis para Venda.
Os modelos de regressão empregados, apresentados no capítulo IV, utilizam variáveis
que são montadas a partir das contas apresentadas no quadro a seguir:
Quadro 2 – Contas utilizadas como variáveis nos modelos de regressão
Cosif Título Tipo
1 7.1.5.90.00-6 TVM – AJUSTE POSITIVO AO VALOR DE MERCADO Receita
2 7.1.5.90.10-9 Títulos para Negociação Receita
3 7.1.5.90.20-2 Títulos Disponíveis para Venda Receita
4 8.1.5.80.00-6 TVM – AJUSTE NEGATIVO AO VALOR DE MERCADO Despesa
5 8.1.5.80.10-9 Títulos para Negociação Despesa
6 8.1.5.80.20-2 Títulos Disponíveis para Venda Despesa
7 3.0.3.30.00-1 TÍTULOS PARA NEGOCIAÇÃO Compensação
8 3.0.3.40.00-8 TÍTULOS DISPONÍVEIS PARA VENDA Compensação

As variáveis dependentes utilizadas nas regressões são as seguintes:

AjVM – Ajuste a Valor de Mercado: Resultado final gerado com todas as


avaliações, a valor de mercado, de TVM classificados como negociação ou DPV. A
avaliação a valor de mercado gera lançamentos em contas patrimoniais ativas onde são
contabilizados os TVM, com contrapartida em contas de resultado, no caso de títulos
para negociação, ou em conta destacada do PL, no caso de títulos DPV. Quanto às
avaliações que têm contrapartida em resultado, calculando-se o efeito final de todas as
receitas e despesas geradas, obtém-se um resultado final líquido, que neste trabalho é
denominado Ajuste a Valor de Mercado, sendo identificado pela variável AjVM.
Composição: Saldo da conta 7.1.5.90.00-6 (TVM – Ajuste Positivo ao VM) subtraído
do saldo da conta de 8.1.5.80.00-6 (TVM – Ajuste Negativo ao VM).
AjPVM – Ajuste Positivo a Valor de Mercado: Receitas geradas com a avaliação a
valor de mercado de títulos para negociação ou DPV. Refere-se ao total de
contrapartidas positivas (receitas) geradas com a avaliação a valor de mercado de TVM,
ou seja, o montante em que o resultado da instituição é positivamente afetado com as
receitas produzidas pela avaliação de títulos conforme definido pela Circular 3.068.
Composição: Saldo da conta 7.1.5.90.00-6 (TVM – Ajuste Positivo ao VM).
105

AjNVM – Ajuste Negativo a Valor de Mercado: Soma de despesas geradas com a


avaliação a valor de mercado de títulos para negociação ou DPV. Refere-se ao total de
contrapartidas negativas (despesas) geradas com a avaliação a valor de mercado de
TVM, ou seja, o montante em que o resultado da instituição é negativamente afetado
com as despesas de avaliação de títulos conforme definido pela Circular 3.068.
Composição: Saldo da conta 8.1.5.80.00-6 (TVM – Ajuste Negativo ao VM).
AjPVMneg – Ajuste Positivo a Valor de Mercado – negociação: Receitas geradas
com a avaliação a valor de mercado dos títulos para negociação.
Composição: Saldo da conta de receita 7.1.5.90.10-9 (Títulos para Negociação).
AjPVMdpv – Ajuste Positivo a Valor de Mercado – DPV: Receitas geradas com a
avaliação a valor de mercado dos títulos DPV.
Composição: Saldo da conta 7.1.5.90.20-2 (Títulos DPV).
AjNVMneg – Ajuste Negativo a Valor de Mercado – negociação: Despesas
geradas com a avaliação a valor de mercado dos títulos para negociação.
Composição: Saldo da conta 8.1.5.80.10-9 (Títulos para Negociação).
AjNVMdpv – Ajuste Negativo a Valor de Mercado – DPV: Despesas geradas com
a avaliação a valor de mercado dos títulos DPV.
Composição: Saldo da conta 8.1.5.80.20-2 (Títulos DPV).
AjVMdpv – Ajuste a Valor de Mercado – DPV: Trata-se do efeito líquido gerado
em resultado a partir da avaliação a valor de mercado dos títulos DPV. A relevância
desta variável deve-se à especial possibilidade identificada de GR a partir da
reclassificação de títulos classificados em DPV, os quais possuem ganhos e perdas
“estocados” no PL, os quais, no caso de reclassificação para a categoria negociação,
podem ser direcionados ao resultado da instituição.
Composição: Saldo da conta 7.1.5.90.20-2 (Títulos DPV) subtraído do saldo da conta
8.1.5.80.20-2 (Títulos DPV).
Utiliza-se a variável TVMit, representativa do montante aplicado em títulos para
negociação e DPV, como variável independente. Esta é composta pela somatória do
saldo de duas contas de compensação, registrada com base no valor de mercado dos
títulos: 3.0.3.30.00-1 – Títulos para Negociação e 3.0.3.40.00-8 – Títulos DPV.

4. Contabilização de operações com derivativos


4.1 – Introdução
A contabilização de derivativos para as instituições do SFN baseia-se na avaliação de
operações conforme o valor justo (fair value), sendo que, para sua mensuração,
106

emprega-se normalmente o valor de mercado. No entanto, quando não há preço de


mercado disponível, requer-se adoção de algum modelo de estimação, o que agrega
subjetividade ao processo de avaliação contábil.
O valor justo pode ser entendido como o montante pelo qual um ativo pode ser
negociado entre partes não relacionadas, quando estas contrapartes não agem sob
pressão, mas realizam a transação espontaneamente, conforme seus interesses.
Conforme pronunciamentos de órgãos como Iasb e Fasb, e normas editadas pelo Banco
Central do Brasil, depreende-se o entendimento de que o custo histórico não constitui
critério adequado para mensuração de derivativos, devendo ser adotado o critério de
valor justo55. Quando se abandona a contabilização pelo custo histórico e adota-se o
registro pelo valor justo, pode-se aumentar a utilidade da informação para o usuário56,
mas, por outro lado, incrementa-se a subjetividade do processo de elaboração de
informações contábeis; segundo Lopes e Martins (2005:66), o custo histórico possui
maior objetividade do que o fair value, sendo verificado por intermédio de documentos
fiscais, enquanto que o valor justo passa, necessariamente, por algum tipo de estimativa.
Quando se emprega o valor de mercado como medida, assume-se a premissa de que a
cotação de mercado é adequada representação do valor justo. Mesmo no caso de adoção
do valor de mercado, há subjetividade, pois podem existir diferentes opções, como
preço médio de negociação, preço de abertura ou de fechamento. Quando não há valor
de mercado disponível, requer-se o uso de algum modelo de estimação, como o cálculo
do valor presente dos fluxos de caixa previstos, o que envolve subjetividade, tanto no
que se refere aos fluxos projetados como na escolha de taxa para desconto.
As possíveis oportunidades de uso da contabilização de derivativos para fins de GR
relacionam-se com a classificação das operações realizadas, a marcação a mercado e a
efetiva realização e desfazimento de operações de derivativos. Assim, a própria decisão
de realizar uma operação com derivativo pode ter como principal motivação o
gerenciamento de resultados contábeis. Isto se deve ao fato de que os derivativos podem
ser utilizados com diferentes propósitos, como especulação (busca de ganhos de curto
prazo) ou hedge (proteção, tendo em vista reduzir possibilidades de perda e evitar
decréscimos ou oscilações nos resultados).
É importante destacar esta característica dos derivativos, de poderem ser usados,
prioritariamente, para a suavização de resultados econômicos e financeiros de uma

55
Exemplos de pronunciamentos ou normas: IAS 39 (Iasb), SFAS 133 (Fasb) e Circular 3.082 (BCB).
56
Dada a expressiva volatilidade do mercado de derivativos, entende-se que o custo histórico não é
medida adequada de valor, transmitindo informação de menor relevância para o investidor.
107

empresa, com conseqüente impacto nos resultados contábeis. Isto ocorre quando os
derivativos são empregados para fins de hedge. Um exemplo é de uma empresa que
possui dívidas indexadas à variação do dólar, e que, para evitar decréscimos de
resultados em decorrência de oscilação cambial, realiza operação de compara de
contratos futuros de dólar, para que, no caso de queda do dólar, a perda incorrida na
dívida (pelo incremento de despesas), seja compensada pelo ganho com a posição em
derivativos, configurando a suavização de resultados.
Pelo exposto, pode-se dizer que o teste de uso de derivativos para suavização de
resultados, por parte dos bancos, pode também ser interpretado com um teste para
avaliar se os bancos estão utilizando derivativos como instrumento de hedge. A
constatação de relação negativa entre o resultado contábil (excluído o efeito do
resultado com derivativos) e o resultado com derivativos pode ser evidência de uso dos
derivativos para suavização de lucros. Esta prática, vale notar, pode ser
operacionalizada tanto por meio tanto da discricionariedade na contabilidade de
derivativos (ajustes na classificação ou marcação a mercado) como através da efetiva
realização de operações com finalidade de hedge, tendo em vista a suavização de
resultados econômicos e financeiros, com conseqüente impacto contábil.
Barton (2001), conforme observado no capítulo III, item 6.2, constatou que empresas
que usam derivativos apresentam menores níveis de apropriações discricionárias,
sugerindo a confirmação da hipótese de que o uso de derivativos permite a suavização
de resultados, havendo menor necessidade de utilizar accruals para o GR.
Outro aspecto que favorece o uso de derivativos para GR refere-se ao fato de que os
derivativos, a exemplo dos swaps, podem ser realizados muito rapidamente, conforme
observado por Hand (1989:597)57.
Quanto à marcação a mercado, identificam-se oportunidades de GR nas escolhas do
critério de marcação e da medida para valor de mercado. A escolha de medidas que
resultam em valores mais elevados para ativos ou mais baixos para passivos pode
impactar positivamente os resultados. Além da escolha da medida de valor, nota-se que,
em diversos casos, não há preço de mercado disponível, sendo necessário estimar o
valor justo por meio de modelo de precificação que, além de envolver premissas, enseja
estimativas subjetivas.
Galdi & Pereira (2006:4), ao comentarem os ajustes contábeis que podem ser
discricionariamente influenciados, afirmam que “no caso dos derivativos, esses ajustes

57
Texto no original: “A swap could also be effected very quickly.”
108

podem ser ainda mais relevantes, considerando que o princípio contábil de avaliação
pelo custo histórico é abandonado e passa-se a utilizar o fair value”.
Se, por um lado, há possibilidade de GR por meio da contabilização a valor justo, dada
a subjetividade envolvida, cabe reconhecer que o registro pelo custo histórico também
ensejava práticas de GR. Na contabilização a custo histórico, ganhos não realizados,
dados pela diferença entre valor de mercado e valor de custo (acrescido de
rendimentos), podem impactar os resultados com a venda dos títulos possuídos ou o
desfazimento das operações de derivativos.
Quanto à Circular 3.082 (descrita no Apêndice 1), representa uma contabilidade
especial para operações com derivativos designados à proteção de riscos, com as
operações designadas como hedge tendo seus resultados diferidos para o momento no
qual as variações nos itens sendo protegidos forem reconhecidas. Isto resulta do
princípio da confrontação (matching principle), pelo qual as receitas e despesas relativas
a uma operação devem ser reconhecidas no mesmo período. Assim, os resultados do
derivativo não devem impactar o resultado no período de sua ocorrência, mas, sim,
quando o item sendo protegido tem sua variação reconhecida.
Quanto à adoção de valores de mercado, importa ressaltar que o critério efetivamente
empregado envolve a avaliação a valor justo. Tem-se o entendimento de que preços
cotados em mercados ativos representam a mais confiável e verificável medida de valor
justo. Mas quando preços de mercado não estão disponíveis, há necessidade de estimar
o valor justo, abrindo-se possibilidade de contabilização de valor estimado, adotando-se,
para tanto, técnicas como fluxo de caixa descontado e modelos de determinação de
preço justo de opções (Black & Scholes). Verifica-se, assim, a possibilidade de abertura
de campo subjetivo58 na contabilização de derivativos, o que sugere a existência de
oportunidades de GR. Cabe ressaltar que, considerando o dinamismo de preços inerente
ao mercado de derivativos, a adoção de valores de mercado demonstra-se mais
adequada do que o uso de custos históricos, especialmente no que se refere à utilidade e
relevância da informação para o usuário.
Identificam-se, portanto, oportunidades de GR na classificação e na avaliação a valor de
mercado de derivativos. Quanto à classificação, pelo rigor dos critérios para a
qualificação como hedge, percebe-se que as oportunidades de GR não são tão amplas.
Quanto à avaliação, quando se adota o valor de mercado, pode-se realizar escolha entre

58
Neste capítulo, item 1 – Introdução – Objeto de pesquisa, ressaltou-se que o valor justo, apesar de
poder envolver elementos subjetivos, não deve ser definido como uma medida caracterizada pela
subjetividade e desprovida de elementos objetivos e verificáveis.
109

diferentes opções, como valor médio de negociação, de abertura ou fechamento;


acrescente-se a isso o fato de que, não havendo cotação disponível, requer-se estimação
de valor justo, o que agrega subjetividade ao processo contábil.
Por outro lado, no caso de assumir-se não haver manipulação na avaliação dos
derivativos a mercado, importa considerar que a investigação da relação entre os
resultados com derivativos e o resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido, expurgado
do efeito dos derivativos), conforme exposto no capítulo IV, é relevante como forma de
avaliar se os derivativos estão ou não contribuindo com a suavização dos resultados
contábeis das instituições financeiras. No caso de confirmação do efeito de amenização
da volatilidade dos resultados contábeis, indica-se a eficaz utilização dos derivativos
como hedge; por outro lado, caso os derivativos não contribuam com uma seqüência
mais suavizada de resultados contábeis, constata-se que, ou não estão sendo empregados
com finalidade de hedge, ou sua utilização, com finalidade de hedge, não está sendo
eficaz no sentido de redução da variabilidade dos resultados bancários.

4.2 – Contas e variáveis utilizadas nos testes


Para avaliação do resultado auferido com derivativos por parte das IF, são utilizadas
duas contas (Cosif), uma de receita e uma de despesa. Confrontando-se os saldos destas
duas contas, obtém-se o “resultado com derivativos”, que é utilizado como variável
dependente, conforme modelo de regressão apresentado no capítulo IV.
A conta de receita, com código 7.1.5.80.00-9 – Rendas em Operações com Derivativos,
possui a função de registrar as rendas em operações com derivativos, inclusive os
ajustes positivos ao valor de mercado. Esta conta possui diversos subtítulos, cabendo
destacar: 7.1.5.80.11-9 - Swap; 7.1.5.80.21-2 – Termo; 7.1.5.80.31-5 – Futuro;
7.1.5.80.39-1 – Opções – Ações; 7.1.5.80.42-5 – Opções – Ativos Financeiros e
Mercadorias; 7.1.5.80.90-6 – Outros.
A conta de despesa, com código 8.1.5.50.00-5 – Despesas em Operações com
Derivativos, possui a função de registrar as despesas em operações com derivativos,
inclusive os ajustes negativos ao valor de mercado. Esta conta possui diversos
subtítulos, cabendo destacar: 8.1.5.50.00-5 - Swap; 8.1.5.50.21-8 – Termo; 8.1.5.50.31-
1 – Futuro; 8.1.5.50.39-7 – Opções – Ações; 8.1.5.50.42-1 – Opções – Ativos
Financeiros e Mercadorias; 8.1.5.50.90-2 – Outros.
A variável representativa do resultado com derivativos, utilizada como variável
dependente nos modelos de regressão, é dada pelo saldo da conta 7.1.5.80.00-9
subtraído do saldo da conta 8.1.5.50.00-5, sendo denominada Res Deriv.
110

Note-se que, no caso de derivativos, as referidas contas de receita e despesa acolhem


tanto as apropriações decorrentes do regime de competência como as relacionadas aos
ajustes a valor de mercado, diferentemente dos TVM, cuja contabilização oferece contas
específicas de receita e despesa para os ajustes a valor de mercado.
Apesar de se utilizar a variável Res Deriv, cabe ressalvar que esta variável, baseada em
rubricas contábeis, pode não expressar com precisão o efetivo resultado das operações
com derivativos. Para obter medidas adequadas de resultado com derivativos, seria
necessário adotar critérios de apuração gerencial, não se baseando apenas em critérios
contábeis. Para avaliar o desempenho das operações com derivativos, uma das questões
que, por exemplo, deveriam ser consideradas, refere-se às operações estruturadas, que
requerem a consideração não somente do derivativo, mas dos outros instrumentos
envolvidos (no caso de hedge de uma operação de captação, por exemplo, é preciso
considerar o resultado com derivativos conjuntamente com as variações observadas na
dívida contratada que é objeto de proteção).
Quanto à variável independente, representativa da carteira de derivativos, é utilizada a
conta 3.0.6.10.00-6 - Contratos de Ações, Ativos Financeiros e Mercadorias, que
registra o valor dos contratos de operações com ações, ativos financeiros e mercadorias
realizadas no mercado a termo, futuro, de opções e swaps, com recursos próprios e de
terceiros. Nos modelos de regressão adotados, esta variável é denominada Deriv. Em
relação a esta variável, cabe ressalvar que o valor obtido a partir da utilização da conta
3.0.6.10.00-6 não representa, com precisão, o efetivo valor da “carteira de derivativos”.
O valor registrado na referida rubrica refere-se ao valor nocional de swaps (valor base
do contrato, em relação ao qual são calculadas as variações das pontas ativa e passiva do
swap); no caso de opções, ao produto “quantidade x preço de exercício”; no caso de
futuros, ao produto “quantidade de contratos x multiplicador específico para cada
contrato (tamanho padrão do contrato) x preço futuro”; no caso de termo, ao valor de
liquidação do contrato. Assim, cabe considerar que a variável Deriv, apesar de ser
utilizada como proxy da carteira de derivativos, não pode ser considerada como
representação precisa da magnitude desta carteira.
111

CAPÍTULO IV – MODELOS E HIPÓTESES


__________________________________________________________

1. Introdução

Este capítulo tem como propósito descrever os modelos utilizados e as hipóteses


estabelecidas para teste com base em dados contábeis das IF em atuação no Brasil.
A fundamentação conceitual e teórica para as hipóteses estabelecidas é apresentada em
capítulos anteriores. Como exemplos de aspectos relevantes desta fundamentação,
podem ser citados os conceitos relacionados ao GR (capítulo II) e a particularidade
bancária de terem, como matéria-prima para suas atividades, os recursos captados no
mercado; desta dependência dos recursos de terceiros, e do conseqüente interesse em
garantir fontes vastas e menos custosas de financiamento, advém a necessidade de
manutenção de imagem de solidez financeira. Este contexto fundamenta o interesse, no
segmento bancário, por práticas de GR como a suavização de resultados, o que já foi
discutido no capítulo I, itens 1 e 5, e no capítulo II, itens 3.5.2 e 3.5.3.
No capítulo II, item 3.5.2, foram discutidos aspectos relativos à suavização de
resultados, bem como estabelecidas as bases para a hipótese de que os bancos utilizem
este tipo de prática de GR. Os testes realizados, que se propõem a avaliar se os dados
são ou não consistentes com as implicações derivadas das hipóteses estabelecidas,
empregam as técnicas de correlação e regressão. O propósito é avaliar a utilização de
resultados de crédito, TVM e derivativos no GR, verificando-se a relação entre estes
resultados e o resultado contábil das IF. Para tanto, as variações entre períodos nas
contas de resultado de crédito, TVM e derivativos são confrontadas com as variações no
lucro líquido (excluindo-se deste o resultado com a modalidade operacional sob
análise), identificando-se o tipo e a força do relacionamento existente.
As técnicas de correlação e regressão se propõem a avaliar, com base em dados
amostrais, se e como duas ou mais variáveis estão relacionadas. Conforme Stevenson
(1981:341) “a análise de correlação dá um número que resume o grau de
relacionamento entre duas variáveis; a análise de regressão tem como resultado uma
equação matemática que descreve o relacionamento.”
O coeficiente de correlação expressa a tendência e a força da relação linear entre duas
variáveis, com base em conjunto de observações emparelhadas. Podendo assumir
112

valores entre -1 e 1, explica até que ponto duas variáveis estão “co-relacionadas”,
produzindo um número que quantifica o tipo e o grau de relacionamento. Não
necessariamente indica relação causa-efeito entre variáveis, apesar de esta relação poder
estar presente (Lapponi, 2000:166).
O objetivo da análise de regressão linear é encontrar a equação de uma reta que permita
descrever e compreender a relação entre variáveis aleatórias, podendo também ser útil
para projetar ou estimar uma variável em função de outra.
Neste trabalho, utiliza-se a regressão do tipo pooled cross-sectional. Segundo Lobo &
Yang (2001:224), a maior parte dos estudos sobre GR emprega estimação por pooled
time-series cross-sectional regressions, que é simples relativamente ao processamento
de dados (apenas um coeficiente de regressão é estimado para cada variável de
interesse), mas apresenta a limitação de assumir existência de apenas uma relação para
toda a amostra, sem considerar a heterogeneidade entre bancos (assume-se que todas
empresas apresentam o mesmo comportamento em termos de suavização de resultados,
rejeitando-se a heterogeneidade que, na prática, muito provavelmente prevalece).
Cumpre mencionar, contudo, que Lobo & Yang (2001), no estudo da suavização de
resultados, empregaram diferentes métodos de estimação e obtiveram evidências
consistentes para diferentes modelos utilizados em pesquisas anteriores – regressões
específicas para bancos, regressões anuais cross-sectional, regressões pooled e dados
em painel –, o que constitui indicativo de que a não consideração da heterogeneidade
entre bancos não compromete os resultados no estudo da suavização de resultados.

2. Desenho da pesquisa

2.1 – Base de dados amostrais, enfoque e metodologia dos testes


São utilizados dados contábeis semestrais das 50 maiores59 instituições financeiras
atuantes no Brasil, no período de junho de 2002 a dezembro de 2006. Não é incluído o
BNDES60, pelas particularidades inerentes às atividades desempenhadas. Para as
instituições que operam como conglomerados financeiros, consideram-se as
informações do documento 4040 (balancetes), obtidas junto ao Banco Central. Segundo
Niyama & Gomes (2005:168), o Documento 4040, Consolidado Operacional,
representam a entidade contábil de forma mais completa, incluindo dependências e

59
Conforme Relatório 50 Maiores Bancos disponibilizado pelo Banco Central do Brasil em
<http://www.bcb.gov.br>.
60
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social: instrumento de financiamento de longo
prazo do Governo Federal, fomentando empresas de interesse ao desenvolvimento do país.
113

subsidiárias, no país e no exterior, bem como entidades financeiras vinculadas por


interesse econômico comum. No Apêndice II, é apresentada a relação das instituições
participantes da pesquisa.
Ressalte-se que as análises são realizadas para o conjunto das 50 maiores instituições,
não sendo propósito a identificação de comportamentos individualizados em termos de
gerenciamento de resultados contábeis. Objetiva-se apreender o comportamento geral
do SFN, adotando-se o conjunto das 50 maiores instituições como uma representação
relevante. Cabe registrar, neste contexto, que em caso de não confirmação da hipótese
de suavização, nesta pesquisa, não é eliminada a possibilidade de que instituições
específicas, no SFN, adotem práticas de GR e suavização de resultados. E, quando da
confirmação da hipótese de pesquisa (utilização de itens contábeis para suavização de
resultados), importa considerar que os resultados obtidos estão baseados na “média” do
conjunto das 50 instituições, o que, em tese, envolve bancos que efetivamente
empregam práticas de GR e bancos que não o fazem.
Cabe observar que algumas pesquisas na área de GR têm utilizado a técnica estatística
de dados em painel. Neste trabalho, especificamente, não se optou por essa técnica em
virtude da impossibilidade de dispor de todos os dados necessários para a pesquisa
empírica, para todas as instituições e datas consideradas, nas três áreas operacionais
investigadas (crédito, TVM e derivativos).
No presente trabalho, é desenvolvida uma análise comparativa de três importantes áreas
operacionais: crédito, TVM e derivativos. Ocorre que há diversos casos de instituições
que não possuem operações nas três áreas simultaneamente, para todas as datas
consideradas. E há casos de instituições que possuem operações nas três áreas, em
diversas datas, porém não em todas. Se fosse feita a opção de trabalhar-se apenas com
as informações completas (instituições que possuem operações nas três áreas, para as
diversas datas consideradas), haveria drástica redução no número de observações,
prejudicando as análises e conclusões.
Neste contexto, decidiu-se pela utilização das técnicas de correlação e regressão,
realizando-se análises independentes para cada modalidade operacional, ensejando o
aproveitamento de todas as observações contábeis existentes nas áreas de crédito, TVM
e derivativos. Este procedimento permite alcançar um dos propósitos da pesquisa:
avaliar comparativamente o uso da contabilização de receitas e despesas relacionadas a
crédito (PDD), TVM e derivativos para a suavização de resultados.
114

Desta maneira, na investigação referente a cada uma das áreas (crédito, TVM e
derivativos), foram utilizadas as observações disponíveis, ou seja, as informações, em
cada semestre, de bancos com saldos contábeis nas rubricas envolvidas nos testes. Na
análise da relação entre a PDD (provisão para devedores duvidosos) e o resultado
contábil expurgado da PDD, foram utilizadas, para cada semestre considerado, as
observações de todos os bancos que apresentavam saldos de PDD, excluindo-se as
instituições que não possuíam saldos contábeis nesta rubrica. O mesmo procedimento
foi adotado para as análises relativas a itens de resultado de TVM e para derivativos.
Assim, no caso de derivativos, por exemplo, foram utilizadas, para cada semestre
considerado, as observações de todos os bancos que apresentavam saldos de resultado
com derivativos, excluindo-se as instituições que não possuíam saldos contábeis
relativos às operações com derivativos. Com isto, não são iguais os números de
observações consideradas em cada análise (de correlação e regressão). Para efeito de
comparação entre as diferentes áreas operacionais investigadas, seria preferível que
fossem iguais os números de observações consideradas para crédito, TVM e derivativos.
No entanto, conforme já observado, para viabilizar a análise comparativa entre as três
áreas investigadas, no que se refere à hipótese de utilização de itens contábeis para
suavização de resultados, adotou-se o procedimento descrito, com utilização das
análises de correlação e regressão, e consideração, em cada análise específica, para cada
semestre, as informações de bancos com saldos contábeis existentes nos itens
pertinentes a cada uma das análises (no caso de crédito, a PDD, no caso de TVM, itens
de resultados relativos aos ajustes a valor de mercado de títulos e, no caso de
derivativos, o resultado com derivativos).
Utiliza-se o pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 15.

2.2 – Modelos de regressão para testes de suavização de resultados


Conforme exposto no item 3.5.2 do capítulo II, a suavização de resultados, que se
propõe a reduzir a variabilidade dos lucros divulgados, prevê que contas específicas
(como PDD e resultados com TVM ou derivativos) exerçam papel oposto ao sentido da
variação do lucro líquido.
No caso de operações de crédito, quando o lucro (excluído o efeito da despesa de PDD)
aumenta, tem-se a expectativa que a PDD atue no sentido de reduzi-lo; se o lucro cai,
pode-se postergar o registro de provisões, de maneira que a PDD impacte o resultado de
forma menos adversa relativamente a períodos anteriores, podendo contribuir até para
115

mitigar a queda; cumpre-se, assim, com o papel de suavização do resultado contábil


final. Como a PDD é uma despesa, não se quer dizer que, quando o resultado contábil
diminui, que a PDD apresentará valor positivo, mas, sim, que tenderá a apresentar valor
menor (menor valor absoluto em relação ao período anterior), contribuindo menos
intensamente para a redução do resultado.
Nesta linha, diversos estudos assumem a hipótese de relação positiva entre PDD e
resultado contábil (antes da PDD), com base na premissa de interesse gerencial para
suavizar resultados. No segmento bancário, Collins et al (1995), Beatty et al (1995),
Ahmed et al (1999), Lobo & Yang (2001), Shrieves & Dahl (2001) e Fuji (2004) são
exemplos de estudos que assumem hipótese de relação positiva entre PDD e resultado
contábil, o que é considerado evidência de suavização de resultados por meio da PDD.
Assim, quando o resultado demonstra-se inferior ao esperado, reduz-se o montante da
PDD, para mitigar efeitos negativos nos lucros; quando o resultado é alto, aproveita-se
para aumentar o volume da PDD. Este mecanismo de suavização de resultados por meio
da PDD é explicado da seguinte forma por Shrieves & Dahl (2001:1222), que também
incluem os ganhos com títulos como possível instrumento de suavização, o qual pode
também ser usado com complemento da PDD no GR:
A suavização de resultados sugere que os bancos usarão sua discricionariedade sobre a
PDD de maneira que as provisões variem diretamente com os lucros não
discricionários e os ganhos com títulos. Na mesma lógica, a suavização motivará os
bancos a fazer com que os ganhos com títulos variem inversamente em relação aos
lucros não discricionários, e diretamente em relação aos aumentos nas provisões61.

A partir da citação de Shrieves & Dahl, depreende-se que a suavização de resultados


implica que a despesa de PDD é discricionariamente influenciada, “caminhando” no
mesmo sentido dos lucros não discricionários e dos ganhos com títulos: quando o lucro
não discricionário e os ganhos com títulos são altos, as despesas com PDD (em valor
absoluto) também são altas, efetivando-se a suavização. Do mesmo modo, os ganhos
com títulos, no propósito de suavização, “caminham” em sentido contrário aos lucros
não discricionários (quando lucro é alto, ganhos com títulos são menores), e no mesmo
sentido em relação às provisões, de maneira que quando a PDD (em valor absoluto) é
alta, os ganhos com títulos também tendem a ser elevados. Os autores (p.1229) também
afirmam que a premissa de suavização de resultados oferece base para a hipótese de

61
Texto no original: “Income smoothing suggests that banks will use their discretion over loan-loss
provisions to cause provisions to vary directly with both nondiscretionary income and security gains.
Using similar logic, income smoothing will motivate banks to cause security gains to vary inversely with
nondiscretionary income, and directly with increases in provisions.”
116

relação positiva entre a PDD e o resultado não discricionário (resultado “pré-


gerenciamento”), bem como entre PDD e ganhos com a venda de títulos, o que implica
complementaridade entre estes dois elementos no propósito de GR.
Pesquisas envolvendo empresas não financeiras também testam a suavização de
resultados com base na avaliação do sinal do coeficiente da variável independente
relacionada ao resultado contábil, como no caso de Poitras et al (2002) e Rodrigues
(2006), que utilizam como variável dependente, respectivamente, os ganhos com venda
de ativos permanentes (investimentos) e receitas e despesas não operacionais.
Nos modelos de regressão adotados neste trabalho, constam, como variável dependente,
a despesa com PDD, ou itens de resultado de operações com TVM (ajustes a valor de
mercado), ou o resultado de operações com derivativos.
Como variável explicativa, é utilizado o resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido)
expurgando-se deste o resultado relativo à variável dependente. A lógica é testar a
relação entre o resultado em uma modalidade operacional (crédito, TVM ou derivativos)
e o lucro líquido expurgado do efeito da variável dependente.
No caso de operações de crédito, por exemplo, testa-se a relação entre a despesa de
PDD (variável dependente) e o lucro líquido (LL), excluindo-se deste o valor da PDD.
O objetivo é avaliar se existe relação positiva entre a PDD e o LL (antes da contribuição
da despesa de PDD). A existência de relação positiva indica que a PDD pode estar
sendo utilizada para suavização de resultados, de modo que quando o resultado contábil
(LL) apresenta crescimento, a PDD apresenta aumento (em valor absoluto), e quando o
resultado contábil apresenta diminuição, a PDD apresenta decréscimo, funcionando,
portanto, como um fator de alisamento do resultado contábil final.
A variável explicativa utilizada deve ser entendida, portanto, como o resultado contábil
(LL) antes do resultado com a modalidade operacional que consta como variável
dependente. O cálculo consiste em tomar o LL e excluir deste o resultado com a
modalidade operacional. No teste do resultado com TVM, por exemplo, se o LL soma $
80 e o resultado com TVM tem valor de $ 4, a variável explicativa apresentaria valor de
$ 76, pois, para obtê-la, é deduzido do LL o resultado positivo com TVM.
Além do resultado contábil (expurgado do efeito da variável dependente), também se
empregam outras variáveis explicativas de controle, conforme exposto a seguir.
117

2.3 - Análise crítica de modelo para estudo de empresas não financeiras


A metodologia de análise de contas específicas objetiva verificar se as contas
selecionadas oscilam em comparação a determinadas variáveis. No estudo de empresas
não financeiras, pode-se citar o modelo utilizado por Martinez (2001):

DespDevDuvt = α0 + α1 VLL + α2 Exigt / At + α3 CRect + ε1


DespDevDuvt = despesas com PDD, medida em termos de ativos totais;
VLL = variação do LL, excluindo DespDevDuv, medida em termos de ativos totais;
Exigt / At = indicador de endividamento (razão entre exigibilidades e ativos totais);
CRect = contas a receber, medidas em termos de ativos totais.

Quanto ao modelo acima, cabem ressalvas quanto à aplicação no objeto de pesquisa do


presente trabalho. A amostra de Martinez constitui-se de companhias abertas brasileiras,
sem incluir IF, identificando-se um problema para a aplicabilidade no estudo de bancos.
Isto é evidenciado pelo emprego da variável independente “Exigt/At” (endividamento).
Ocorre que, em indústrias ou comércio, o passivo exigível grande pode ser indicativo de
risco, sendo encarado como aspecto negativo, pela alavancagem financeira. Já para os
bancos, um alto passivo exigível, pelo contrário, pode ser entendido como aspecto
positivo, sugerindo confiabilidade no mercado e a capacidade de captação de junto ao
público, o que é fundamental para as IF. Por este motivo, costuma-se dizer que o risco
bancário não está no passivo, ou no tamanho do passivo, mas, sim, na qualidade dos
ativos.
No modelo de Martinez, com relação ao endividamento, espera-se uma relação inversa:
quanto maior for o passivo exigível, menor será a despesa de PDD, de modo que o
coeficiente de “Exigt/At” deve ser negativo. Uma possível explicação é que as empresas
com maior passivo exigível podem ser identificadas como de maior risco, tendo-se
motivação para apresentar melhores resultados, para melhoria de sua imagem.
Para os bancos, a relação entre o passivo exigível e a imagem junto ao público não é tão
clara. O tamanho do passivo não funciona como indicador de risco, pois conseguir
grandes volumes de captação é fator positivo. O tamanho do passivo, ao invés de indicar
risco, pode sinalizar capacidade de captação, confiabilidade e, também, tamanho das
operações62. Desta forma, a formação de expectativas quanto ao sinal do coeficiente

62
Collins et al. (1995:270-1) usam a variação nas exigibilidades como proxy de crescimento bancário e
observam que os bancos tipicamente financiam 90% de seus ativos com dívida, havendo forte correlação
(0,94) entre a variação das exigibilidades e a variação dos ativos totais.
118

desta variável não é tão evidente para o caso dos bancos. Mas, de modo geral, parece ser
razoável esperar-se um coeficiente positivo, pois quanto maiores as captações de
recursos de terceiros, maiores tendem ser as aplicações dos bancos em crédito, TVM e
derivativos, aumentando-se as contas de resultados relativas a estas três modalidades
operacionais.
Em virtude do diferente significado do passivo exigível para os bancos, relativamente às
empresas não financeiras, não é utilizada, neste trabalho, a variável “Exigt/At”. Vale
citar que, em investigação exploratória realizada, identificou-se alta correlação entre
passivo exigível e montante de aplicações em TVM (correlação de Pearson da ordem de
0,90), o que sugere que o passivo exigível pode realmente ser uma proxy do tamanho
das operações bancárias (e não de seu risco). Neste sentido, incluir simultaneamente a
variável relativa ao passivo e outra variável relativa a aplicações em TVM poderia
acarretar problema de multicolinearidade, uma vez que, aumentando o passivo exigível,
aumentam os recursos disponíveis para aplicação, os quais podem ser direcionados aos
TVM e, havendo redução de captações, é natural que sejam reduzidas as aplicações em
TVM. Neste contexto, conforme constatado em investigação exploratória, explica-se
por que, ao se trabalhar com uma regressão com variáveis independentes “VLL” e
“Exigt/At”, não se obtém grande incremento de poder explicativo com a inclusão de
variável independente que represente as aplicações em TVM. Outro aspecto interessante
é que, na investigação exploratória, não houve confirmação do sinal do coeficiente
esperado (para a variável representativa de aplicação em TVM) apenas quando esta
variável foi empregada em regressões juntamente com a variável independente relativa
ao passivo exigível, o que pode ser entendido como evidência da inadequação de uso
das duas variáveis concomitantemente.

2.4 – Variáveis independentes utilizadas nos modelos de regressão


Ainda quanto ao modelo de Martinez, acima exposto, a variável “CRec” representa as
operações de crédito. No presente estudo, no entanto, o objeto de pesquisa não é
constituído somente pelas operações de crédito. A análise envolve contas relacionadas
com TVM e derivativos. Desta maneira, no propósito de adequação do modelo, requer-
se o uso do valor aplicado pelos bancos em TVM63 e derivativos.

63
Collins et al. (1995:272), na estimação do componente não discricionário dos ganhos e perdas com
títulos, empregam o rendimento médio anual de títulos do tesouro, considerando que a flutuação no valor
dos títulos é função das mudanças nas taxas de juros. Observa-se que os autores buscam variável
explicativa relacionada (ou que remeta) ao valor dos títulos.
119

No caso de TVM, há grupo contábil específico, no ativo, para as aplicações em TVM no


grupo 1.3, com as contas: 1.3.1.00.00-7 – Livres (TVM Livres) e 1.3.1.10.00-4 – Títulos
de Renda Fixa. A rubrica 1.3.1.00.00-7 inclui títulos de renda fixa, de renda variável,
cotas de fundos, aplicações em TVM no exterior, títulos de desenvolvimento
econômico, títulos de renda fixa intermediados, não incluindo, porém, títulos vinculados
a operações compromissadas. Já a rubrica 1.3.1.10.00-4 envolve diversos tipos de títulos
de renda fixa, como títulos públicos (LTN e LFT, por exemplo) e privados como CDB,
Debêntures, Letras Hipotecárias, de Câmbio e Imobiliárias. Também há contas de
compensação, no grupo 3.0.3, para o controle de aplicações em TVM, com distinção
para as três categorias: 3.0.3.30.00-1 – Títulos para Negociação; 3.0.3.40.00-8 – Títulos
DPV e 3.0.3.50.00-5 – Títulos Mantidos até o Vencimento.
Assim, ao se pensar em variável que indique as aplicações em TVM, identificam-se as
contas do grupo 1.3 (patrimoniais) ou 3.0.3, de compensação (para controle), tendo
como critério de registro o valor de mercado dos títulos para negociação e DPV e de
custo, acrescido de rendimentos, no caso de títulos mantidos até o vencimento. Em
investigação exploratória, foi testado o uso, como variável independente, tanto de contas
do grupo 1.3 como do grupo 3.0.3, constatando-se que os modelos com a variável
relativa às contas 3.0.3 apresentaram melhores coeficientes de explicação R2, e a
variável baseada no grupo 1.3 apresentou coeficiente não significativo por mais vezes, o
que consubstancia a preferência, nesta pesquisa, pelo uso da variável explicativa
baseada no grupo de contas 3.0.3.
Deste modo, são empregadas as seguintes variáveis explicativas e de controle nos
modelos de regressão adotados nesta pesquisa:
RES – Resultado: Resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido), excluído o efeito da
variável dependente sob análise (PDD, ou resultado com TVM ou derivativos).
Créd – Carteira de crédito: Montante aplicado em empréstimos e financiamentos,
com base no grupo de contas 1.6.0.00.00-1 (Cosif).
TVM – Carteira de TVM: Soma do saldo das contas: 3.0.3.30.00-1 – Títulos para
Negociação e 3.0.3.40.00-8 – Títulos DPV, representando o valor aplicado em TVM.
Deriv – Carteira de derivativos: Saldo da conta 3.0.6.10.00-6 - Contratos de Ações,
Ativos Financeiros e Mercadorias (registra valor dos contratos de nos mercados a termo,
futuro, de opções e swaps).

Ressalte-se, conforme explicado no capítulo V, que são testadas, nos modelos


empregados, diferentes formas das variáveis explicativas acima especificadas,
120

utilizando-se o montante (valor absoluto) do resultado contábil, de crédito, TVM e


derivativos, e a variação nestes valores (variação do resultado contábil e das aplicações
em crédito, TVM e derivativos).
Quanto ao emprego da variável “Créd”, representativa das operações de crédito
constantes no ativo dos bancos, trata-se de procedimento utilizado por Martinez (2001),
Fuji (2004), Kanagaretnam et al (2001), Lobo & Yang (2001), Shrieves & Dahl (2001)
e McNutt (2003), sendo que nestes três últimos trabalhos é empregada a variação nas
operações de crédito. A introdução desta variável baseia-se no fato de que a despesa de
PDD, além de ser função do risco dos créditos concedidos, guarda também relação com
o tamanho da carteira de crédito. Nesta linha, Beaver & Engel (1996:179-180,186), na
estimação do componente não discricionário da PDD, empregam, como variável
independente, o total da carteira de crédito. Kim & Kross (1998:79), na estimação da
PDD, utilizaram, como variáveis independentes, tanto a carteira de crédito (LOAN)
como a sua variação (CHLOAN). Lobo & Yang (2001:229) observam que, em virtude
de a PDD ser uma despesa relacionada a um período, é apropriado incluir, como
variável independente, a variação no valor das operações de crédito como fator de
determinação do nível da PDD; salientam que o efeito das mudanças nas operações de
crédito sobre a PDD é imprevisível devido às incertezas quanto à qualidade dos créditos
incrementais. De maneira geral, espera-se que aumentos nas operações de crédito
influenciem positivamente as despesas com PDD, mas é necessário considerar que não
necessariamente a relação será positiva, pois a PDD depende também da qualidade dos
novos créditos concedidos (e não somente de seu volume).
Quanto ao emprego da variável “TVM”, representativa da carteira de títulos, trata-se de
adaptação do procedimento utilizado no estudo da PDD (com inclusão da carteira de
crédito como variável explicativa). A introdução da variável TVM baseia-se na
premissa de que os resultados auferidos com operações de TVM apresentam relação
com o tamanho da carteira ativa de TVM, embora esta relação não seja clara e direta
quanto no caso da PDD relativamente ao montante de operações de crédito. Acrescente-
se que Kato et al (1998:8), na estimação de acumulações (accruals) totais, utilizou a
variável independente HSEC (holding securities), representando a carteira de títulos
detidos pelos bancos.
121

3. Análise por meio de correlação

A análise por meio de correlação tem o objetivo de investigar o tipo e a força do


relacionamento entre o “resultado em cada modalidade operacional” e o “resultado
contábil excluído o efeito do resultado na modalidade operacional sob análise”
(resultado “pré-suavização”), tendo em vista identificar possível utilização da PDD
(operações de crédito) ou de itens de resultado de TVM ou derivativos para suavização
de resultados. As hipóteses, que devem ser testadas para cada modalidade operacional
(crédito, TVM e derivativos), são descritas a seguir:

3.1 – Operações de crédito


Hipótese: Existe correlação positiva entre a PDD e o resultado contábil64 (excluída deste
a PDD), configurando a utilização das operações de crédito para suavização de
resultados.
Expectativa: Espera-se obter coeficiente positivo, pois quando o resultado contábil
(excluído o efeito da PDD) apresenta crescimento, a expectativa é que também haja
aumento na despesa com PDD (em valor absoluto), tendo em vista a diminuição do
lucro e suavização do resultado final. Se há diminuição do resultado contábil, o
incentivo é para que se reduza a PDD, mantendo-se a expectativa de sinal positivo.

3.2 – Operações com TVM


Neste tópico, analisa-se a correlação entre itens de resultado com TVM e o resultado
contábil (excluído o resultado com TVM). As hipóteses são definidas de forma
diferenciada de acordo com a natureza do item de resultado com TVM utilizado, o qual
pode ser uma despesa, uma receita ou um resultado (confronto entre receitas e
despesas). Considerando a premissa de suavização de resultados, quando empregada
uma despesa, a hipótese é de correlação positiva com o resultado contábil, quando
empregada uma receita ou um resultado, a hipótese é de correlação negativa.
Assim, investigou-se a correlação entre as contas de resultado com avaliação de TVM e
o resultado contábil das instituições, buscando-se responder às seguintes questões:
- Há relação positiva entre despesas com avaliação de TVM e os resultados das IF?
- Há relação negativa entre receitas com avaliação de TVM e os resultados das IF?
- Há relação negativa entre resultados com avaliação de TVM e os resultados das IF?

64
Alternativamente, pode-se considerar, conforme Bartov (1993:843), não o “resultado contábil”, mas a
mudança (variação) no resultado contábil.
122

São estabelecidas as seguintes hipóteses:

Hipótese relativa às despesas de ajuste a valor de mercado


Hipótese: Existe correlação positiva entre as despesas com avaliação de TVM e o
resultado contábil (excluído deste o efeito das referidas despesas), configurando a
utilização das operações com TVM para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se coeficiente positivo, pois quando o resultado contábil (excluído
o efeito da despesa com o ajuste dos TVM) apresenta crescimento, a expectativa é que
haja aumento na despesa com TVM, tendo em vista a diminuição do lucro e suavização
do resultado final. Se há diminuição do resultado contábil, o incentivo é para que se
reduzam as despesas, mantendo-se expectativa de sinal positivo. Havendo prática de
suavização de resultados, espera-se que a despesa com ajuste de TVM tenha correlação
positiva com o LL divulgado (excluído o efeito da despesa com TVM). Assim, quando
o LL (antes da despesa) aumenta, espera-se que a despesa com TVM também aumente,
e vice-versa, de modo a atender ao propósito de suavização.
Variáveis utilizadas (definidas no capítulo III): AjNVM, AjNVMneg e AjNVMdpv.

Hipótese relativa às receitas de ajuste a valor de mercado


Hipótese: Existe correlação negativa entre as receitas com avaliação de TVM e o
resultado contábil (excluído deste o efeito das referidas receitas), configurando a
utilização das operações com TVM para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se coeficiente negativo, pois quando o resultado contábil (excluído
o efeito da receita com o ajuste dos TVM) apresenta crescimento, a expectativa é que
haja redução na receita com TVM, tendo em vista suavização do resultado final. Se há
diminuição do resultado contábil, o incentivo é para que se aumentem as receitas,
mantendo-se expectativa de sinal negativo. Havendo prática de suavização de
resultados, espera-se que a receita com ajuste de TVM tenha correlação negativa com o
LL divulgado (excluído o efeito da receita com TVM). Assim, quando o LL (antes da
receita) aumenta, espera-se que a receita com TVM seja reduzida, e vice-versa, de modo
a atender ao propósito de suavização.
Variáveis utilizadas (definidas no capítulo III): AjPVM, AjPVMneg e AjPVMdpv.
123

Hipótese relativa ao resultado de ajuste a valor de mercado


O resultado de ajuste a valor de mercado consiste na receitas de ajuste a valor de
mercado deduzidas das despesas de ajuste a valor de mercado.
Hipótese: Existe correlação negativa entre os resultados com avaliação de TVM e o
resultado contábil (excluído deste o efeito dos resultados com avaliação de TVM),
configurando a utilização das operações com TVM para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se coeficiente negativo, pois quando o resultado contábil (excluído
o efeito do resultado com o ajuste de TVM) apresenta crescimento, a expectativa é que
haja redução no resultado com ajuste de TVM, tendo em vista a suavização do resultado
contábil. Se há diminuição do resultado contábil, o incentivo é para que se aumentem os
resultados com ajuste de TVM, mantendo-se expectativa de sinal negativo. Havendo
prática de suavização de resultados, espera-se que o resultado com ajuste de TVM tenha
correlação negativa com o LL divulgado (excluído o efeito do resultado com TVM).
Assim, quando o LL aumenta, espera-se que o resultado com TVM seja reduzido, e
vice-versa, de modo a atender ao propósito de suavização.
Variáveis utilizadas (definidas no capítulo III): AjVM e AjVMdpv.

3.3 – Operações com derivativos


Hipótese: Existe correlação negativa entre o resultado com derivativos e o resultado
contábil (excluído deste o resultado com derivativos), configurando a utilização dos
derivativos para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se obter coeficiente negativo, pois quando o resultado contábil
(excluído o efeito do resultado com derivativos) apresenta crescimento, a expectativa é
que haja redução no resultado com derivativos, tendo em vista a diminuição do lucro e
suavização do resultado final. Se há diminuição do resultado contábil, o incentivo é para
que se aumente o resultado com derivativos.
124

4. Análise por meio de regressões

Neste tópico, são empregadas regressões que contam, como variável dependente, a
PDD, ou itens de resultados relacionados a TVM, ou o resultado com derivativos. As
variáveis explicativas são RES (resultado contábil excluído o efeito da variável
dependente) e variável representativa da aplicação bancária em créditos, ou em TVM,
ou em derivativos, dependendo da modalidade operacional sob análise.
Quando a variável dependente tem natureza de despesa, como no caso de PDD, a
expectativa é que o sinal da variável RES seja positivo, pois quando o resultado contábil
(excluído o efeito da despesa sob análise) aumenta (diminui), espera-se que a despesa
seja aumentada (diminuída), atendendo-se ao objetivo de suavização do resultado
contábil final. Quando a variável dependente tem natureza de receita ou de resultado
(receitas deduzidas de despesas), a expectativa é a inversa, de coeficiente negativo para
a variável RES.
Ressalte-se que os modelos empregados não objetivam prever os valores da variável
dependente, mas compreender como e avaliar em que medida as variáveis analisadas
estão relacionadas.

4.1 – Modelos - operações de crédito


Este modelo objetiva testar a hipótese de existência de relação ente a PDD (Provisão
para Devedores Duvidosos) com o resultado contábil (Lucro ou Prejuízo Líquido) das
IF (expurgando deste a PDD). São utilizados dois grupos de modelagem para os testes,
sendo que no segundo grupo existem duas variáveis explicativas.

Quadro 3 – Modelos de regressão – operações de crédito

grupo 1) PDD it = α0i + β RES EexclCréd it + εit


grupo 2) PDD it = α0i + β RES ExclCréd it + Crédit + εit
PDD it = PDD da empresa i no período t
α0i = constante (intercepto) da empresa i
β = coeficiente da variável explicativa
RES ExclCréd it = resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido) excluído da PDD it
Crédit = operações de crédito da empresa i no momento t
εit = termo de erro estatístico
Escala: variáveis PDD it, RESExclCréd it e Crédit são medidas em termos de ativos totais.
125

Pela hipótese estabelecida, as IF realizam gerenciamento de resultados com base na


PDD, utilizando-as para a suavização de lucros.
Hipótese: Existe relação positiva entre PDD e o resultado contábil (excluído deste a
PDD), configurando utilização das operações de crédito para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se obter um coeficiente positivo para RES ExclCréd it, pois quando
este apresenta crescimento, a expectativa é que também haja aumento na PDD, tendo
em vista a diminuição do lucro e suavização do resultado final. Se há diminuição em
RES ExclCréd it, o incentivo é para que se reduza a PDD, de modo que se mantém a
expectativa de sinal positivo. Assim, havendo GR, um maior resultado contábil motiva
um maior aprovisionamento nas operações de crédito, de modo a amenizar lucros.
Quanto à variável Crédit, espera-se coeficiente também positivo, pois quanto maior o
valor das operações ativas de crédito, maior tende a ser a despesa de provisão.
A divisão das variáveis pelo valor dos ativos totais consiste em procedimento utilizado
por diversos autores, como Martinez (2001), Ahmed et al (1995), Cornett et al
(2006:11), Beatty et al (1995:258), Collins et al (1995:270,289), Scholes et al (1990),
Kato et al (1998:6) e Kim & Kross (1998), tendo em vista mitigar problemas de
heteroscedasticidade decorrente de diferença de porte nas instituições pesquisadas. Lobo
& Yang (2001:238) utilizaram duas medidas alternativas como escala (valor das
operações de crédito e ativos totais), sem acarretar alterações nas inferências obtidas.
126

4.2 – Modelos - operações com TVM


Neste tópico, objetiva-se testar a hipótese de existência de relação entre itens de
resultados com TVM e o resultado contábil (Lucro ou Prejuízo Líquido) das IF
(expurgando deste o resultado com TVM). O item de resultado que figura como variável
dependente pode ser uma despesa, uma receita ou um resultado (receitas deduzidas de
despesas). Considerando a premissa de suavização de resultados, quando o item de
resultado que consta como variável dependente é uma despesa, espera-se coeficiente
positivo para a variável explicativa RES. Quando o item de resultado é uma receita ou
um resultado, espera-se sinal negativo para RES.

Teste relativo às despesas de ajuste a valor de mercado

Neste item, testa-se a relação entre despesas de ajuste a valor de mercado de TVM e o
resultado contábil (excluído o efeito da referida despesa). As variáveis dependentes,
explicadas no capítulo III, são: AjNVM (Ajuste Negativo a Valor de Mercado - VM),
AjNVMneg (Ajuste Negativo a Valor de Mercado Títulos para Negociação) e
AjNVMdpv (Ajuste Negativo a Valor de Mercado Títulos DPV). Para cada uma destas
três variáveis, são empregados dois grupos de modelos, conforme segue:

Quadro 4 – Modelos de regressão – despesas de ajustes a valor de mercado de TVM

grupo 1) Desp TVM it = α0i + β RES ExclTVM it + εit


grupo 2) Desp TVM it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
Desp TVM it = despesa de ajuste a valor de mercado de TVM da empresa i no período t
α0i = constante (intercepto) da empresa i
β = coeficiente da variável explicativa
RES ExclTVM it = resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido) excluído da despesa que
consta como variável dependente
TVMit = carteira de TVM da empresa i no momento t
εit = termo de erro estatístico
Escala: variáveis são medidas em termos de ativos totais.

Pela hipótese estabelecida, as IF realizam gerenciamento de resultados com base no


resultado das operações com TVM, utilizando-as para a suavização de lucros.
127

Hipótese: Existe relação positiva entre a despesa de ajuste a valor de mercado de TVM
e o resultado contábil (excluído deste a referida despesa), configurando a utilização das
operações com TVM para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se obter um coeficiente positivo para RES ExclTVM it, pois quando
este apresenta crescimento, a expectativa é que haja aumento na despesa com TVM,
tendo em vista a diminuição do lucro e suavização do resultado final. Se há diminuição
em RES ExclTVM it, o incentivo é para que se reduza a despesa com TVM, de modo que se
mantém a expectativa de sinal positivo. Quanto à variável TVMit, espera-se coeficiente
positivo, tendo como base a premissa de que há relação positiva entre despesas com
TVM e o tamanho da carteira ativa de TVM.

Teste relativo às receitas de ajuste a valor de mercado


Neste item, testa-se a relação entre receitas de ajuste a valor de mercado de TVM e o
resultado contábil (excluído o efeito da referida receita). As variáveis dependentes,
explicadas no capítulo III, são: AjPVM (Ajuste Positivo a Valor de Mercado),
AjPVMneg (Ajuste Positivo a Valor de Mercado Títulos para Negociação) e
AjPVMdpv (Ajuste Positivo a Valor de Mercado Títulos DPV). Para cada uma destas
três variáveis, são empregados dois grupos de modelos, conforme segue:

Quadro 5 – Modelos de regressão – receitas de ajustes a valor de mercado de TVM

grupo 1) Rec TVM it = α0i + β RES ExclTVM it + εit


grupo 2) Rec TVM it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
Rec TVM it = receita de ajuste a valor de mercado de TVM da empresa i no período t
α0i = constante (intercepto) da empresa i
β = coeficiente da variável explicativa
RES ExclTVM it = resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido) excluído da receita que
consta como variável dependente
TVMit = carteira de TVM da empresa i no momento t
εit = termo de erro estatístico
Escala: variáveis são medidas em termos de ativos totais.

Pela hipótese estabelecida, as IF realizam gerenciamento de resultados com base no


resultado das operações com TVM, utilizando-as para a suavização de lucros.
128

Hipótese: Existe relação negativa entre a receita de ajuste a valor de mercado de TVM e
o resultado contábil (excluído deste a referida receita), configurando a utilização das
operações com TVM para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se obter um coeficiente negativo para RES ExclTVM it, pois quando
este apresenta crescimento, a expectativa é que haja redução na receita com TVM, tendo
em vista a diminuição do lucro e suavização do resultado final. Se há diminuição em
RES ExclTVM it, o incentivo é para que se aumente a receita com TVM, de modo que se
mantém a expectativa de sinal negativo. Quanto à variável TVMit, espera-se coeficiente
positivo, tendo como base a premissa de que há relação positiva entre receitas com
TVM e o tamanho da carteira ativa de TVM.

Teste relativo aos resultados de ajuste a valor de mercado


Neste item, testa-se a relação entre resultados de ajuste a valor de mercado de TVM e o
resultado contábil (excluído o efeito da variável dependente). As variáveis dependentes,
explicadas no capítulo III, são: AjVM (Ajuste a Valor de Mercado) e AjVMdpv (Ajuste
a Valor de Mercado Títulos DPV). Para cada uma destas duas variáveis, são
empregados dois grupos de modelos, conforme segue:

Quadro 6 – Modelos de regressão – resultados de ajustes a valor de mercado de TVM

grupo 1) Res TVM it = α0i + β RES ExclTVM it + εit


grupo 2) Res TVM it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
Res TVM it = resultado de ajuste a valor de mercado de TVM da empresa i no período t
α0i = constante (intercepto) da empresa i
β = coeficiente da variável explicativa
RES ExclTVM it = resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido) excluído do resultado de
TVM que consta como variável dependente
TVMit = carteira de TVM da empresa i no momento t
εit = termo de erro estatístico
Escala: variáveis são medidas em termos de ativos totais.

Pela hipótese estabelecida, as IF realizam gerenciamento de resultados com base no


resultado das operações com TVM, utilizando-as para a suavização de lucros.
129

Hipótese: Existe relação negativa entre o resultado de ajuste a valor de mercado de


TVM e o resultado contábil (excluído deste o efeito da variável dependente),
configurando a utilização das operações com TVM para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se obter um coeficiente negativo para RES ExclTVM it, pois quando
este apresenta crescimento, a expectativa é que haja redução no resultado com TVM,
tendo em vista a diminuição do lucro e suavização do resultado final. Se há diminuição
em RES ExclTVM it, o incentivo é para que se aumente o resultado com TVM, de modo
que se mantém a expectativa de sinal negativo. Quanto à variável TVMit, espera-se
coeficiente positivo, tendo como base a premissa de que há relação positiva entre
resultados com TVM e o tamanho da carteira ativa de TVM.
Vale observar que Bartov (1993) e Poitras et al (2002), ao analisarem o resultado com a
venda de ativos, empregaram, como variável explicativa, o resultado contábil, com
expectativa de sinal negativo para esta variável, em teste da hipótese de suavização.

Em suma, são os seguintes os modelos empregados nas regressões (TVM):

Quadro 7 – Resumo dos modelos de regressão – TVM


Variável dependente Modelo
AjNVM (despesa) AjNVM it = α0i + β RES ExclTVM it + εit
AjNVM (despesa) AjNVM it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
AjNVMneg (despesa) AjNVMneg it = α0i + β RES ExclTVM it + εit
AjNVMneg (despesa) AjNVMneg it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
AjNVMdpv (despesa) AjNVMdpv it = α0i + β RES ExclTVM it + εit
AjNVMdpv (despesa) AjNVMdpv it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
AjPVM (receita) AjPVM it = α0i + β RES ExclTVM it + εit
AjPVM (receita) AjPVM it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
AjPVMneg (receita) AjPVMneg it = α0i + β RES ExclTVM it + εit
AjPVMneg (receita) AjPVMneg it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
AjPVMdpv (receita) AjPVMdpv it = α0i + β RES ExclTVM it + εit
AjPVMdpv (receita) AjPVMdpv it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
AjVM (resultado) AjVM it = α0i + β RES ExclTVM it + εit
AjVM (resultado) AjVM it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
AjVMdpv (resultado) AjVMdpv it = α0i + β RES ExclTVM it + εit
AjVMdpv (resultado) AjVMdpv it = α0i + β RES ExclTVM it + TVMit + εit
130

4.3 – Modelos - operações com derivativos

Este modelo objetiva testar a hipótese de existência de relação entre o resultado com
derivativos e o resultado contábil (expurgando deste o resultado com derivativos).

Quadro 8 – Modelos de regressão – derivativos

Grupo 1) Res Deriv it = α0i + β RES ExclDeriv it + εit


grupo 2) Res Deriv it = α0i + β RES ExclDeriv it + Derivit + εit
Res Deriv it = resultado das operações com derivativos da empresa i no período t
α0i = constante (intercepto) da empresa i
β = coeficiente da variável explicativa
RES ExclDeriv it = resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido) excluído o resultado
com derivativos da empresa i no período t
Deriv it = Carteira de derivativos da empresa i no momento t
εit = termo de erro estatístico
Escala: variáveis são medidas em termos de ativos totais.

Pela hipótese estabelecida, as IF realizam gerenciamento de resultados com base no


resultado das operações com derivativos, utilizando-as para a suavização de lucros.
Hipótese: Existe relação negativa entre o resultado com derivativos e o resultado
contábil (excluído deste o resultado com derivativos), configurando a utilização das
operações com derivativos para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se obter um coeficiente negativo para RES ExclDeriv it, pois quando
este apresenta crescimento, a expectativa é que haja redução no resultado com
derivativos, tendo em vista a diminuição do lucro e suavização do resultado final. Se há
diminuição em RES ExclDeriv it, o incentivo é para que se aumente o resultado com
derivativos, de modo que se mantém a expectativa de sinal negativo. Quanto à variável
Derivit, espera-se coeficiente positivo, tendo como base a premissa de que há relação
dos resultados com derivativos e o tamanho da carteira de derivativos.
131

CAPÍTULO V – TESTES E RESULTADOS OBTIDOS


_____________________________________________________________________

1. Introdução
Os testes realizados baseiam-se em análises de correlação e de regressão, sendo
utilizados dados contábeis semestrais das 50 maiores instituições financeiras atuantes no
Brasil, no período de junho de 2002 a dezembro de 2006.
No capítulo IV, são descritos a base de dados amostrais (item 2.1), o enfoque da análise
empírica, a metodologia e os modelos empregados. No capítulo III, há explicações
sobre as variáveis utilizadas na análise de correlação e de regressão. Tendo em vista
facilitar a leitura do capítulo, cabe discriminar, no quadro a seguir, as variáveis
utilizadas na análise de correlação e, como variáveis dependentes, na análise de
regressão:

Quadro 9 – Variáveis empregadas na análise de correlação e regressão


Variável Área Natureza Explicação
PDD Crédito despesa Provisão para Devedores Duvidosos
AjNVM TVM despesa Ajuste Negativo a Valor de Mercado: soma de
despesas geradas com a avaliação a valor de
mercado de títulos para negociação ou
disponíveis para venda (DPV)
AjNVMdpv TVM despesa Ajuste Negativo a Valor de Mercado – DPV:
despesas geradas com a avaliação a valor de
mercado dos títulos disponíveis para venda.
AjNVMneg TVM despesa Ajuste Negativo a Valor de Mercado –
Negociação: despesas geradas com a avaliação
a valor de mercado dos títulos para negociação.
AjPVM TVM receita Ajuste Positivo a Valor de Mercado: receitas
geradas com a avaliação a valor de mercado de
títulos para negociação ou DPV.
AjPVMdpv TVM receita Ajuste Positivo a Valor de Mercado – DPV:
receitas geradas com a avaliação a valor de
mercado dos títulos disponíveis para venda.
AjPVMneg TVM receita Ajuste Positivo a Valor de Mercado –
Negociação: receitas geradas com a avaliação a
valor de mercado dos títulos para negociação.
AjVM TVM resultado Ajuste a Valor de Mercado: efeito líquido, no
resultado contábil, das receitas e despesas com
avaliação a valor de mercado dos títulos para
negociação e disponíveis para venda.
AjVMdpv TVM resultado Ajuste a Valor de Mercado – DPV: efeito
líquido, no resultado contábil, a partir da
avaliação a valor de mercado dos títulos DPV.
ResDeriv Derivativos resultado Resultado com derivativos
132

Neste capítulo, são apresentadas análises iniciais no item 2, os resultados da análise de


correlação no item 3 e de regressão no item 4.

2. Análises iniciais
Neste item, são apresentadas estatísticas descritivas sobre variáveis empregadas nos
testes realizados (2.1) e uma avaliação preliminar sobre o efeito das contas de resultado
de crédito, TVM e derivativos na suavização dos lucros bancários (2.2).

2.1 – Estatísticas descritivas


A seguir, são apresentadas estatísticas descritivas de variáveis empregadas nas análises
de correlação e regressão.

Tabela 2 – Variáveis de Lucro Líquido e Lucro Líquido / Ativo Total


LL LL/AT
N Valid 494 494
Missing 6 6
Mean 159.966.223,40 ,0063
Median 26.374.736,16 ,0059
Std. Deviation 395.181.541,15 ,0220
Minimum -1.089.373.543,26 -,3596
Maximum 3.195.151.087,65 ,1068
Percentiles 25 7.445.498,94 ,0027
50 26.374.736,16 ,0059
75 100.153.666,37 ,0107
LL = Lucro Líquido; AT = Ativo Total.

A tabela acima indica uma média de LL semestral da ordem de R$ 160 milhões, com
desvio-padrão significativo, de R$ 395 milhões. O índice de LL/AT aponta uma
rentabilidade semestral sobre o ativo de 0,63%. O maior prejuízo encontrado na amostra
foi de R$ 1.089 milhões, enquanto o maior lucro foi de R$ 3.195 milhões.
133

Tabela 3 - Carteiras de Crédito, TVM e Derivativos


Crédito TVM Deriv
Crédito /AT TVM /AT Deriv /AT
N Valid 488 488 477 477 443 443
Missing 12 12 23 23 57 57
Mean 7.048.690.683 ,31 4.839.614.395 ,25 30.108.708.169 1,92
Median 984.608.991 ,30 999.433.868 ,21 3.125.325.445 ,78
Std.
15.176.549.008 ,19 8.908.358.505 ,18 60.925.309.869 3,00
Deviation
Minimum 283.500 ,00 3.197.464 ,00 55.290 ,00
Maximum 113.857.668.435 ,97 47.954.376.825 ,87 739.291.310.323 23,12
Percen- 25
Tiles
384.896.346 ,15 253.043.254 ,11 321.479.781 ,10
50 984.608.991 ,30 999.433.868 ,21 3.125.325.444 ,78
75 3.966.358.490 ,43 4.452.217.289 ,33 46.444.714.908 2,26
Crédito = carteira ativa de crédito; TVM = carteira ativa de TVM; Deriv = carteira de
derivativos (valores nocionais); AT = Ativo Total.
Quanto às carteiras, observa-se que Derivativos apresenta o maior número de casos
“perdidos” (missing), o que indica que há menor número de instituições que realizam
operações com derivativos relativamente a crédito e TVM. Quanto à magnitude das
carteiras, Derivativos assume destaque em decorrência de trabalhar-se com valores
nocionais65, e não com os montantes efetivamente aplicados. A carteira média de
crédito, da ordem de R$ 7,0 bilhões, é superior à carteira de TVM, com R$ 4,8 bilhões,
representando, respectivamente, 31% e 25% do ativo total.

Tabela 4 - Variáveis de PDD e PDD / AT


PDD PDD/AT
N Valid 457 457
Missing 43 43
Mean 215.180.956,24 ,0087
Median 22.278.134,36 ,0054
Std. Deviation 469.240.034,51 ,0113
Minimum 150,53 ,0000
Maximum 3.529.810.593,78 ,0881
Percentiles 25 5.315.241,34 ,0018
50 22.278.134,36 ,0054
75 123.629.715,56 ,0110
PDD = Provisão para Devedores Duvidosos; AT = Ativo total.
Destaque-se, inicialmente, que os valores das despesas de PDD, acima, são
apresentados em módulo; ressalte-se, contudo, pela natureza da conta, tratar-se de
saldos negativos. Observam-se 43 observações “perdidas” de PDD, o que não é elevado
se comparado com a situação das variáveis de ajustes a valor de mercado de títulos

65
O significado de valor nocional é explicado no capítulo III, item 4.2.
134

disponíveis para venda, conforme será mostrado a seguir, ainda neste item. O valor
médio da PDD, no semestre, é de R$ 215 milhões, representando 0,87% do ativo.

Tabela 5 - Variáveis de Ajustes a Valor de Mercado de TVM


AjVM AjVM/AT AjVMdpv AjVMdpv/AT
N Valid 400 400 74 74
Missing 100 100 426 426
Mean -537.349,98 -,0001 -4.579.657,15 -,0004
Median 48.709,16 ,0000 -64.403,59 ,0000
Std. Deviation 133.427.053,63 ,0118 49.544.543,37 ,0045
Minimum -1.050.322.373,50 -,1364 -231.032.382,48 -,0348
Maximum 1.354.839.916,14 ,0785 285.122.641,32 ,0105
Percentiles 25 -4.764.142,70 -,0006 -5.364.405,78 -,0001
50 48.709,15 ,0000 -64.403,58 ,0000
75 8.790.987,83 ,0008 1.044.880,75 ,0000
AjVM = Ajuste a Valor de Mercado (VM); AjVMdpv = Aj. VM títulos DPV;AT = Ativo total.

Nos ajustes a VM de TVM, há 400 observações válidas e 100 casos “perdidos” em


AjVM, variável que agrega os ajustes positivos e negativos de títulos para negociação e
DPV. Em AjVMdpv (que agrega os ajustes positivos e negativos dos títulos DPV), há
apenas 74 observações válidas, em virtude do menor número de instituições que
realizam operações com títulos DPV. As médias dos ajustes são negativas, de – R$ 537
mil para AjVM e – R$ 4.580 mil para AjVMdpv, o que indica que, quando se
consideram apenas as operações com títulos DPV, os resultados dos ajustes demonstram
maiores valores absolutos, e impactos negativos mais severos nos resultados contábeis
das instituições. Pela consideração das medianas, observa-se que a maior parte dos
AjVM são positivos, enquanto a maior parte dos AjVMdpv são negativos. Cabe
registrar, contudo, que AjVM apresenta maior variabilidade (dispersão) relativamente a
AjVMdpv. Em termos de relevância, as representatividades dos AjVM e AjVMdpv,
relativamente ao ativo, variam, respectivamente, de –13,6% a 7,8% e de –3,5% a 1,0%,
com médias bastante reduzidas, de –0,01% e –0,04%.
135

Tabela 6 - Variáveis de Ajustes Positivos a Valor de Mercado de TVM


AjPVM AjPVMneg AjPVMdpv
AjPVM /AT AjPVMneg /AT AjPVMdpv /AT
N Valid 367 367 361 361 61 61
Missing 133 133 139 139 439 439
Mean 42.382.965 ,0032 40.727.231 ,0032 13.967.502 ,0006
Median 5.805.971 ,0005 5.576.272 ,0005 1.042.441 ,0000
Std. Deviation 125.872.955 ,0089 125.299.760 ,0090 43.803.793 ,0016
Minimum 276 ,0000 276 ,0000 18 ,0000
Maximum 1.642.339.511 ,0785 1.642.339.511 ,0785 285.122.641 ,0105
Percen 25
-tiles
687.011 ,0001 696.675 ,0001 146.832 ,0000
50 5.805.970 ,0005 5.576.272 ,0005 1.042.441 ,0000
75 31.338.780 ,0023 30.799.340 ,0021 6.218.106 ,0003
AjPVM = Ajuste Positivo a Valor de Mercado (VM); AjPVMneg = Aj. Positivo a VM títulos p/
negociação; AjPVMdpv = Aj. Positivo a VM títulos DPV; AT = Ativo total.

Nos ajustes positivos a VM, há, também, reduzido número de observações na variável
específica de títulos DPV (AjPVMdpv). Na média, os ajustes positivos semestrais são
de R$ 40,7 milhões nos títulos para negociação e de R$ 14,0 milhões nos títulos DPV,
com representatividade média sobre o ativo de, respectivamente, 0,32% e 0,06%.

Tabela 7 - Variáveis de Ajustes Negativos a Valor de Mercado de TVM


AjNVM AjNVMneg AjNVMdpv
AjNVM /AT AjNVMneg /AT AjNVMdpv /AT
N Valid 369 369 363 363 58 58
Missing 131 131 137 137 442 442
Mean 42.735.740 ,0033 40.161.366 ,0032 20.532.970 ,0012
Median 4.729.581 ,0005 4.337.166 ,0004 1.279.897 ,0001
Std. Deviation 128.669.249 ,0111 127.796.524 ,0111 45.869.273 ,0048
Minimum 17 ,0000 17 ,0000 43 ,0000
Maximum 1.403.954.211 ,1364 1.390.640.158 ,1364 242.720.401 ,0348
Percen 25
610.534 ,0001 525.494 ,0001 113.917 ,0000
-tiles
50 4.729.581 ,0005 4.337.166 ,0004 1.279.897 ,0001
75 26.275.788 ,0021 22.199.793 ,0020 15.775.112 ,0003
AjNVM = Ajuste Negativo a Valor de Mercado (VM); AjNVMneg = Aj. Negativo a VM títulos
p/ negociação; AjNVMdpv = Aj. Negativo a VM títulos DPV; AT = Ativo total.

Assim como no caso da PDD, os valores dos ajustes negativos a VM são apresentados
em módulo; ressalte-se, pela natureza da conta, tratar-se de saldos negativos. Repete-se
a situação de menor número de dados para os ajustes relativos aos títulos DPV. As
representatividades médias semestrais, relativamente ao ativo, para as três variáveis, são
de, respectivamente, 0,05%, 0,04% e 0,01%, o que indica impactos negativos mais
severos por parte dos títulos para negociação relativamente aos títulos DPV.
136

Tabela 8 - Variáveis de Resultado com Derivativos


ResDeriv ResDeriv/AT
N Valid 451 451
Missing 49 49
Mean 15.048.258,61 -,0014
Median -46.179,55 ,0000
Std. Deviation 302.920.599,90 ,0210
Minimum -1.908.343.000,18 -,1236
Maximum 1.748.915.596,64 ,1185
Percentiles 25 -21.815.889,00 -,0047
50 -46.179,55 ,0000
75 20.405.692,86 ,0033
ResDeriv = Resultado com Derivativos; AT = Ativo total.
Na média, os resultados semestrais com derivativos são de R$ 15,0 milhões. Os
resultados com derivativos divididos (ponderados) pelo ativo total, por sua vez,
apresentam média de –0,14% do ativo total. O fato de a média de ResDeriv ser positiva,
enquanto a média de ResDeriv/AT ser negativa pode ser explicado pela perda de peso
dos resultados positivos com derivativos quando da ponderação pelo ativo total; isto
sinaliza a incidência de bancos de menor porte com resultados negativos em derivativos.
A maior parte dos resultados são negativos, conforme indica a mediana de ResDeriv. O
pior resultado é de – R$ 1,9 bilhão, enquanto o melhor é de R$ 1,7 bilhão. Há 451
observações disponíveis, e 49 casos perdidos de instituições que não apresentaram, no
semestre, resultado com derivativos.

2.2 – Análise preliminar - suavização de lucros


Neste item, são apresentadas estatísticas descritivas de diferentes medidas de lucro
contábil das instituições participantes da pesquisa, ensejando avaliações iniciais sobre o
efeito de contas de resultado de crédito, TVM e derivativos na suavização dos lucros.
Na tabela a seguir, são apresentadas diferentes medidas de lucro e respectivas medidas
de desvio-padrão. O objetivo é ensejar análise da variação de dispersão do lucro pré-
gerenciamento (lucro expurgado do item sob análise) para o lucro líquido. Assim, por
exemplo, se o lucro expurgado da PDD apresentar maior desvio-padrão do que o lucro
líquido (que já inclui a PDD), tem-se um indicativo de utilização da PDD para a
suavização dos resultados contábeis. O lucro líquido (LL) e o LL dividido (ponderado)
pelo ativo total (LL/AT) são destacados, pois todas as outras medidas de lucro têm suas
dispersões comparadas com estas duas primeiras medidas de lucro. A última coluna,
“Redução na dispersão do LL” mostra quanto foi gerado de redução no desvio-padrão
do lucro a partir do item sob análise, como a PDD, por exemplo; quanto maior a
redução, maior o efeito da variável no sentido de suavização do lucro líquido.
137

Tabela 9 – Medidas de lucro – avaliação preliminar da suavização de resultados


Medida de lucro No de Média Desvio-padrão Redução na
casos (R$ mil) (R$ mil) dispersão do LL
LL 494 159.966 395.182
LL/AT 494 ,0063 0,0220
LL-PDD 457 387.781 826.396 R$ 431.214 mil
LL-PDD/AT 457 0,0149 0,0242 0,0022
LL-AjVM 400 193.993 448.972 R$ 53.790 mil
LL-AjVM/AT 400 0,0053 0,0268 0,0048
LL-AjVMdpv 74 359.500 445.883 R$ 50.701 mil
LL-AjVMdpv/AT 74 0,0082 0,0094 -0,0126
LL-AjPVM 367 166.211 443.123 R$ 47.941 mil
LL-AjPVM/AT 367 0,0019 0,0247 0,0027
LL-AjPVMneg 361 171.033 447.148 R$ 51.966 mil
LL-AjPVMneg/AT 361 0,0018 0,0249 0,0029
LL-AjPVMdpv 61 352.570 452.054 R$ 56.872 mil
LL-AjPVMdpv/AT 61 0,0063 0,0055 -0,0165
LL-AjNVM 369 163.965 445.887 R$ 50.705 mil
LL-AjNVM/AT 369 0,0019 0,0254 0,0034
LL-AjNVMneg 363 169.668 450.565 R$ 55.383 mil
LL-AjNVMneg/AT 363 0,0019 0,0254 0,0034
LL-AjNVMdpv 58 294.988 392.252 - R$ 2.930 mil
LL-AjNVMdpv/AT 58 0,0061 0,0088 -0,0132
LL-ResDeriv 451 159.026 421.003 R$ 25.821 mil
LL-ResDeriv/AT 451 0,0077 0,0253 0,0033
LL = Lucro Líquido; AT = Ativo Total; PDD = Provisão para Devedores Duvidosos; AjVM =
Ajuste a Valor de Mercado (VM); AjVMdpv = AjVM Títulos Disponíveis para Venda; AjPVM
= Ajuste Positivo a VM; AjPVMneg = AjPVM títulos para negociação; AjPVMdpv = AjPVM
títulos DPV; AjNVM = Ajuste Negativo a VM; AjNVMneg = AjNVM títulos para negociação;
AjNVMdpv = AjNVM títulos DPV; ResDeriv = Resultado com Derivativos.

Considerando as medidas de lucro em valor absoluto (não ponderadas em relação ao


ativo), observa-se que, à exceção do AjNVMdpv, todas as outras variáveis colaboram
para a redução do desvio-padrão do LL. Nas medidas de lucro divididas (ponderadas)
pelo ativo, AjVMdpv/AT, AjPVMdpv/AT e AjNVMdpv/AT são as que não colaboram
para a suavização (na medida de lucro em valor absoluto, entretanto, o AjPVMdpv
contribui com a redução do desvio-padrão do LL em R$ 57 milhões). Constata-se,
assim, que a PDD, os ajustes a valor de mercado de títulos para negociação e o resultado
com derivativos favorecem a redução da dispersão do LL, o que constitui indicativo de
utilização destes itens na suavização de lucros. Quanto aos títulos DPV, as evidências
não são unânimes em apontar seu emprego na suavização. Em termos de relevância,
merece destaque a PDD, efetivando redução no desvio-padrão do LL da ordem de R$
431 milhões. Menos relevantes são as reduções geradas pelo AjVM, R$ 54 milhões, e
pelo resultado com derivativos, R$ 26 milhões.
138

Ressalte-se o menor número de observações para as variáveis relativas aos títulos DPV,
o que é fator de limitação para a análise. Cumpre também considerar que o fato de o
agregado das instituições não apresentar indicativo consistente de emprego dos títulos
DPV na suavização não significa que instituições, tomadas individualmente, não o
estejam fazendo.
Seguem alguns gráficos com o propósito de ilustrar a análise desenvolvida, elucidando a
redução na dispersão do lucro a partir da PDD, Ajuste a VM de TVM e Resultado com
Derivativos.

Gráfico 1 – Distribuição do Lucro Líquido


139

Gráfico 2 – Distribuição do Lucro Líquido ponderado em relação ao Ativo Total

Gráfico 3 – Distribuição do Lucro Líquido expurgado da PDD


140

Gráfico 4 – Distribuição do Lucro Líquido expurgado do Ajuste a VM

Gráfico 5 – Distribuição do Lucro Líquido expurgado do Resultado com Derivativos


141

3. Análise de correlação
3.1 - Introdução
A análise de correlação tem o objetivo de investigar o tipo e a força do relacionamento
entre itens de resultado em cada modalidade operacional e o resultado contábil excluído
o efeito do resultado na modalidade operacional sob análise (resultado “pré-
suavização”), tendo em vista identificar possível utilização da PDD (operações de
crédito) ou de itens de resultado de TVM (ajustes a valor de mercado) ou derivativos
para a suavização de resultados. As hipóteses testadas para cada modalidade operacional
(crédito, TVM e derivativos), encontram-se descritas no capítulo IV.
Tanto para a PDD, como para cada item de resultado de TVM (receita, despesa ou
resultado) e para o resultado com derivativos, foram avaliados os coeficientes de
correlação entre estes itens citados e o resultado contábil “pré-suavização” de seis
diferentes formas (identificadas nas tabelas de resultados a serem apresentadas, na 1ª
coluna, como versões “A” a “F”). A seguir, no item 3.2, são explicadas as seis versões.

3.2 – Descrição das versões dos testes de correlação


No caso de operações de crédito, analisa-se a correlação entre a PDD e o lucro líquido
(LL) expurgado da PDD (resultado contábil “pré-suavização”). Mas, nos testes, são
empregadas diferentes formas para estas variáveis (PDD e LL expurgado da PDD). O
emprego de diferentes formas para as variáveis decorre do fato de que não há
unanimidade nas pesquisas anteriores quanto ao formato de cada variável. Neste
contexto, optou-se por calcular e avaliar os coeficientes de correlação com as variáveis
expressas de diferentes maneiras, não restringindo as análises a um formato apenas.
No caso da PDD, utiliza-se, nas três primeiras versões dos testes (A, B, C), o valor
absoluto da PDD, e nas três últimas versões (D, E, F), a PDD dividida (ponderada)
pelos ativos totais (ambas as variáveis, PDD e ativos totais, na mesma data-base). No
caso do lucro líquido “pré-suavização”, empregam-se as seguintes formas:
versão A) LL – PDD valor do LL expurgado do valor da PDD;
versão B) LL – PDD t2-t1 (LL – PDD) na data “t2” deduzido do (LL – PDD) na
data “t1”, indicando a variação de LL – PDD (em valor absoluto) entre duas datas66;
versão C) Var LL-PDD variação de LL-PDD entre duas datas, na forma decimal;
versão D) LL-PDD/AT LL-PDD dividido (ponderado) por ativos totais (ambas
as variáveis na mesma data-base);

66
Como são utilizados dados semestrais, tomando-se o caso em que “t1” é junho de 2003, por exemplo,
“t2” será dezembro de 2003, ou seja, “t2” refere-se à data “t1” adicionada de um período (um semestre).
142

versão E) LL – PDD t2-t1 LL – PDD t2-t1 dividido (ponderado) por ativos totais
(ambas as variáveis na mesma data-base);
versão F) Var LL-PDD idem à versão C.

No caso da versão B, é tomado o valor de “LL – PDD” na data “t2”, e deste é deduzido
o valor de “LL – PDD” calculado para a data anterior (“t1”). Na versão C, toma-se “LL
– PDD” para a data “t2”, e deste valor é deduzido “LL – PDD” calculado para a data
anterior (“t1”); a diferença obtida (que é a variação, em valor absoluto, da variável “LL
– PDD” entre as datas “t1” e “t2”) é então dividida pelo valor de “LL – PDD” na data
inicial (“t1”), obtendo-se, assim, um número na forma decimal que indica a
representatividade da variação de “LL – PDD”, entre duas datas, relativamente ao valor
incial da variável (“LL – PDD”).
As versões acima descritas (de “A” a “F”) são empregadas, de forma similar, nos testes
realizados para TVM e derivativos.

3.3 – Resultados da análise de correlação

3.3.1 - Introdução
São apresentados a seguir os resultados obtidos nas análises de correlação para as áreas
de crédito, TVM e derivativos. As variáveis empregadas encontram-se explicadas
detalhadamente nos capítulos III e IV, encontrando-se discriminadas também na
introdução deste capítulo. Para a área de crédito, focaliza-se a PDD, e, para a área de
derivativos, o “resultado com derivativos” (receitas deduzidas das despesas com
derivativos). Para a área de TVM, avaliam-se oito itens: AjNVM, AjNVMdpv,
AjNVMneg, AjPVM, AjPVMdpv, AjPVMneg, AjVM e AjVMdpv.

3.3.2 – Resultados obtidos


Nas tabelas de resultados a seguir apresentadas, a 1ª coluna mostra a versão do teste (há
seis versões, identificadas pelas letras “A” a “F”). Na 2ª coluna, constam as duas
variáveis cujo coeficiente de correlação é apresentado na 4ª coluna. A 3ª coluna
apresenta o número de observações consideradas em cada teste. A 5ª coluna apresenta o
valor p (p-value) do teste. A 6ª coluna indica se o coeficiente de correlação obtido
apresenta sinal conforme a expectativa, de acordo com a hipótese de suavização de
resultados (as hipóteses e expectativas estão descritas no capítulo IV). A 7ª e última
coluna objetiva evidenciar uma classificação das seis versões dos testes empregados. Os
símbolos empregados nas colunas 6 e 7 são explicitados a seguir (legenda). Na 7ª
coluna, quando o coeficiente de correlação obtido apresenta sinal de acordo com a
143

expectativa e com significância estatística, é apontado um número, que indica a


classificação da versão entre as seis analisadas (classificação 1 é a melhor, e 6 a pior).

Legenda utilizada nas tabelas (explicação - símbolos empregados nas colunas 6 e 7):

( ) sinal do coeficiente de correlação obtido de acordo com a expectativa


(X) coeficiente de correlação não significativo ao nível de 5%
(⌧) coeficiente de correlação significativo (5%), mas com sinal contrário à expectativa
(XX) coeficiente de correlação não significativo (5%) e com sinal contrário à expectativa

1) CRÉDITO
Tabela 10) CRÉDITO - PDD (sinal esperado para coeficiente: positivo)
VARIÁVEIS N correlação p-value sinal classif.
A PDD x LL-PDD 457 0,950 0,000 1
B PDD x LL-PDD t2-t1 457 0,386 0,000 3
C PDD x Var LL-PDD 455 0,018 0,694 X
D PDD/AT x LL-PDD /AT 457 0,423 0,000 2
E PDD/AT x LL-PDD t2-t1/AT 455 0,209 0,000 4
F PDD/AT x Var LL-PDD 455 0,026 0,585 X

2) TVM
Tabela 11) DESPESAS – AjNVM (sinal esperado para coeficiente: positivo)
VARIÁVEIS N correlação p-value sinal classif.
A AjNVM x LL-AjNVM 369 -0,143 0,006 ⌧
B AjNVM x LL-AjNVM t2-t1 302 0,030 0,600 X
C AjNVM x Var LL-AjNVM 300 -0,005 0,925 XX
D AjNVM/AT x LL-AjNVM/AT 369 -0,346 0,000 ⌧
E AjNVM/AT x LL-AjNVMt2-t1/AT 300 -0,145 0,012 ⌧
F AjNVM/AT x Var LL-AjNVM 300 -0,019 0,738 XX

Tabela 12) DESPESAS – AjNVMdpv (sinal esperado para coeficiente: positivo)


VARIÁVEIS N correlação p-value sinal classif.
A AjNVMdpv x LL-AjNVMdpv 58 0,066 0,621 X
B AjNVMdpv x LL-AjNVMdpv t2-t1 43 -0,251 0,104 XX
C AjNVMdpv x Var LL-AjNVMdpv 43 -0,165 0,291 XX
D AjNVMdpv/AT x LL-AjNVMdpv/AT 58 -0,438 0,001 ⌧
E AjNVMdpv/AT x LL-AjNVMdpvt2-t1/AT 43 -0,223 0,151 XX
F AjNVMdpv/AT x Var LL-AjNVMdpv 43 -0,134 0,393 XX
144

Tabela 13) DESPESAS – AjNVMneg (sinal esperado para coeficiente: positivo)


VARIÁVEIS N correlação p-value sinal Classif.
A AjNVMneg x LL-AjNVMneg 363 -0,154 0,003 ⌧
B AjNVMneg x LL-AjNVMneg t2-t1 299 0,031 0,590 X
C AjNVMneg x Var LL-AjNVMneg 297 -0,010 0,862 XX
D AjNVMneg/AT x LL-AjNVMneg/AT 363 -0,343 0,000 ⌧
E AjNVMneg/AT xLL-AjNVMnegt2-t1/AT 297 -0,145 0,012 ⌧
F AjNVMneg/AT x Var LL-AjNVMneg 297 -0,018 0,754 XX

Tabela 14) RECEITAS - AjPVM (sinal esperado para coeficiente: negativo)


VARIÁVEIS N correlação p-value sinal classif.

A AjPVM x LL-AjPVM 367 -0,104 0,046 6


B AjPVM x LL-AjPVMt2-t1 310 -0,253 0,000 3
C AjPVM x Var LL-AjPVM 308 -0,124 0,030 5
D AjPVM/AT x LL-AjPVM/AT 367 -0,352 0,000 1
E AjPVM/AT x LL-AjPVMt2-t1/AT 308 -0,319 0,000 2
F AjPVM/AT x Var LL-AjPVM 308 -0,234 0,000 4

Tabela 15) RECEITAS - AjPVMdpv (sinal esperado para coeficiente: negativo)


VARIÁVEIS N correlação p-value sinal classif.
A AjPVMdpv x LL-AjPVMdpv 61 -0,046 0,722 X
B AjPVMdpv x LL-AjPVMdpvt2-t1 48 -0,287 0,048 2
C AjPVMdpv x Var LL-AjPVMdpv 48 -0,205 0,162 X
D AjPVMdpv/AT x LL-AjPVMdpv/AT 61 0,154 0,236 XX
E AjPVMdpv/AT x LL-AjPVMdpvt2-t1/AT 48 -0,311 0,032 1
F AjPVMdpv/AT x Var LL-AjPVMdpv 48 -0,134 0,365 X

Tabela 16) RECEITAS - AjPVMneg (sinal esperado para coeficiente: negativo)


VARIÁVEIS N correlação p-value sinal classif.
A AjPVMneg x LL-AjPVMneg 361 -0,110 0,037 6
B AjPVMneg x LL-AjPVMnegt2-t1 305 -0,242 0,000 4
C AjPVMneg x Var LL-AjPVMneg 301 -0,123 0,033 5
D AjPVMneg/AT x LL-AjPVMneg/AT 361 -0,354 0,000 1
E AjPVMneg/AT x LL-AjPVMnegt2-t1/AT 303 -0,318 0,000 2
F AjPVMneg/AT x Var LL-AjPVMneg 301 -0,237 0,000 3
145

Tabela 17) RESULTADO – AjVM (sinal esperado para coeficiente: negativo)


VARIÁVEIS N correlação p-value sinal classif.

A AjVM x LL-AjVM 400 -0,271 0,000 4


B AjVM x LL-AjVMt2-t1 327 -0,444 0,000 3
C AjVM x Var LL-AjVM 325 -0,067 0,228 X
D AjVM/AT x LL-AjVM/AT 400 -0,510 0,000 1
E AjVM/AT x LL-AjVMt2-t1/AT 325 -0,474 0,000 2
F AjVM/AT x Var LL-AjVM 325 -0,081 0,145 X

Tabela 18) RESULTADO – AjVMdpv (sinal esperado coeficiente: negativo)


VARIÁVEIS N correlação p-value sinal classif.
A AjVMdpv x LL-AjVMdpv 74 -0,155 0,186 X
B AjVMdpv x LL-AjVMdpvt2-t1 57 -0,253 0,058 X
C AjVMdpv x Var LL-AjVMdpv 57 -0,091 0,503 X
D AjVMdpv/AT x LL-AjVMdpv/AT 74 -0,472 0,000 1
E AjVMdpv/AT x LL-AjVMdpvt2-t1/AT 57 -0,210 0,116 X
F AjVMdpv/AT x Var LL-AjVMdpv 57 -0,086 0,525 X

3) DERIVATIVOS
Tabela 19) Resultado com Derivativos (sinal esperado coeficiente: negativo)
VARIÁVEIS N Correlação p-value Sinal classif.
A ResDeriv x LL-ResDeriv 451 -0,404 0,000 3
B ResDeriv x LL-ResDeriv t2-t1 358 -0,235 0,000 4
C ResDeriv x Var LL-ResDeriv 356 -0,023 0,667 X
D ResDeriv/AT x LL-ResDerivAT 451 -0,837 0,000 1
E ResDeriv/AT x (LL-ResDeriv t2-t1)/AT 356 -0,579 0,000 2
F ResDeriv/AT x Var LL-ResDeriv 356 -0,138 0,009 5

Cabe destacar, inicialmente, a diferença do número de observações consideradas em


cada um dos dez conjuntos de análises de correlação (cada conjunto com seis versões).
As análises que apresentam as maiores quantidades de observações são crédito e
derivativos e, no que se refere às análises relativas a TVM, aquelas que não tratam
especificamente de ajustes relacionados aos títulos disponíveis para venda (DPV).
Percebe-se que, em virtude de um menor número de instituições apresentar saldos
contábeis para os ajustes a valor de mercado de títulos DPV, há reduzido número de
146

observações consideradas para as análises relativas a AjNVMdpv, AjPVMdpv e


AjVMdpv, o que representa uma limitação para a investigação.
No que se refere aos coeficientes de correlação obtidos e respectivos sinais, crédito
apresenta os resultados mais significativos. Na versão A, o coeficiente foi de 0,950 (p-
value 0,000), o que indica notável correlação positiva entre a PDD e o resultado contábil
(expurgado da PDD), sinalizando a confirmação da hipótese de suavização de
resultados. As versões D, B e E também merecem destaque. Ressalte-se que, nas seis
versões, todos os coeficientes apresentaram sinal de acordo com a expectativa.
Focalizando-se a hipótese de suavização de resultados, o segundo grupo a ser destacado
é o de derivativos, no qual as seis versões apresentaram coeficientes negativos,
conforme o esperado, o que sugere a confirmação da hipótese de suavização. As versões
D, E e A merecem destaque, com coeficientes, respectivamente, de –0,837, -0,579 e –
0,404 (os três significativos, com p-value 0,000). Os resultados apontam para o efeito de
suavização de resultados desempenhado pelos derivativos, o que sugere utilização com
finalidade de proteção (hedge), de modo que, quando o resultado contábil aumenta, o
resultado com derivativos cai, e quando o resultado contábil é reduzido, mostra-se
crescente o resultado com derivativos.
Quanto aos TVM, é preciso segregar a análise de despesas, receitas e resultados.
Nas despesas de TVM (ajustes negativos a valor de mercado), os resultados, em geral,
apresentam problemas de significância e, mais grave, na maioria dos casos com
coeficientes de correlação com sinal contrário ao esperado, não confirmando, portanto, a
hipótese de suavização.
Nas receitas de TVM (ajustes positivos), diferentemente, quase todos os resultados
apresentam sinal de coeficiente de correlação de acordo com o esperado. Nos grupos
AjPVM (Ajuste Positivo a VM) e AjPVMneg (Ajuste Positivo a VM Títulos para
Negociação), todos os coeficientes apresentam sinal negativo, conforme o esperado, e,
no grupo AjPVMdpv (Ajuste Positivo a VM Títulos DPV), apenas em uma das seis
versões o sinal é positivo. Neste grupo, AjPVMdpv, há também problemas de
significância em quatro das seis versões, o que, face também ao reduzido número de
observações, prejudica a robustez dos resultados no que tange à confirmação da
hipótese de suavização. Já nos grupos AjPVM e AjPVMneg, todos os coeficientes, além
de apresentarem sinal de acordo com o esperado, são também significativos; a ressalva
refere-se ao fato de que os módulos dos coeficientes não são elevados, merecendo
destaque (positivo) as versões D (com variáveis divididas pelo ativo total), com
147

coeficiente de –0,352 em AjPVM e –0,354 em AjPVMneg. De maneira geral, constata-


se o efeito de suavização no resultado contábil por meio das receitas com ajustes
positivos a valor de mercado de títulos para negociação.
Quanto aos resultados de TVM (obtidos a partir da confrontação dos ajustes a valor de
mercado negativos com os positivos), os coeficientes de correlação apresentam sinais
negativos, conforme o esperado. No entanto, no grupo AjVMdpv (Ajuste a VM Títulos
DPV), com número de observações reduzido, identificam-se problemas de significância
em cinco das seis versões. Já no grupo AjVM (Ajuste a VM), apenas as versões C e F
não apresentam resultado significativo, cabendo destacar as versões D, E e B, com
coeficientes, respectivamente, de –0,510, -0,474 e –0,444, o que indica o efeito de
suavização, no resultado contábil, dos ajustes (positivos e negativos) de TVM a valor de
mercado.
Em relação aos TVM, a principal conclusão refere-se ao fato de que os ajustes negativos
a valor de mercado (despesas) não demonstram efeito de suavização de resultados
contábeis, enquanto que os ajustes positivos (receitas) desempenham o papel de
suavização, com resultados consistentes para os títulos para negociação. Em relação a
crédito e derivativos, confirma-se a hipótese de suavização, com resultados consistentes,
o que, no caso de derivativos, sugere a utilização com finalidade de hedge.

4. Análise de regressão
4.1 - Introdução
O objetivo da análise de regressão linear é encontrar a equação de uma reta que permita
descrever e compreender a relação entre variáveis aleatórias, podendo também ser útil
para projetar ou estimar uma variável em função de outra(s).
Nos modelos de regressão adotados neste trabalho, constam, como variável dependente,
a despesa com PDD, ou itens de resultado de operações com TVM (ajustes a valor de
mercado), ou o resultado de operações com derivativos.
Como variável explicativa, é utilizado o resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido)
expurgando-se deste o resultado relativo à variável dependente. A lógica é testar a
relação entre o resultado em uma modalidade operacional (crédito, TVM ou derivativos)
e o lucro líquido expurgado do efeito da variável dependente. Outras explicações sobre
os modelos adotados, incluindo a descrição das variáveis de controle empregadas
148

(carteiras de crédito, TVM e derivativos) e as hipóteses assumidas, encontram-se


descritas no capítulo IV.

4.2 – Descrição dos modelos de regressão


São empregados modelos de regressão para operações de crédito, TVM e derivativos,
figurando, como variável dependente, respectivamente, a PDD, ajustes a valor de
mercado de TVM (que podem constituir uma despesa, uma receita ou um resultado) e o
resultado com derivativos (confrontação de receitas e despesas com derivativos). No
total, há dez variáveis dependentes, uma relativa a operações de crédito (PDD: Provisão
para Devedores Duvidosos), uma relativa a derivativos (ResDeriv: Resultado com
Derivativos) e oito relativas a ajustes a valor de mercado de TVM. Estes oito tipos de
ajustes a valor de mercado, que constituem variáveis dependentes, encontram-se
discriminados na introdução deste capítulo. Descrições detalhadas sobre as variáveis
dos modelos, dependentes e independentes, constam dos capítulos III e IV.
No quadro a seguir, são discriminados os modelos de regressão adotados. Para cada
variável dependente, são realizados testes em doze versões, identificadas, no quadro, em
dois grupos, de “1A” a “1F” e de “2A” a “2F”. As três primeiras versões (A, B e C),
empregam valores absolutos das variáveis, enquanto as três últimas versões (D, E e F)
utilizam as variáveis ponderadas em relação ao ativo total. A diferença entre o grupo 1
(versões 1A a 1F) e o grupo 2 de modelos (versões 2A a 2F) é que este inclui uma
variável de controle: carteira de crédito, TVM ou derivativos. A existência de seis
versões de testes, em cada grupo de modelos (grupos 1 e 2), decorre do emprego de
diferentes formas para as variáveis dependentes e independentes, tendo em vista não
haver unanimidade, nas pesquisas anteriores, quanto ao formato de cada variável.
Explicação sobre as diferentes formas das variáveis utilizadas nos testes consta do item
3.2 deste capítulo.
Quadro 10 – Descrição dos modelos de regressão empregados
Variável Modelos
Modalidade dependente
1A PDD = α + β (LL-PDD) + ε
1B PDD = α + β (LL-PDDt2-t1) + ε
Crédito PDD 1C PDD = α + β Var (LL-PDD) + ε
1D PDD/AT = α + β (LL-PDD)/AT + ε
1E PDD/AT = α + β (LL-PDDt2-t1)/AT + ε
1F PDD/AT = α + β Var (LL-PDD) + ε
149

Variável Modelos
Modalidade dependente
2A PDD = α + β (LL-PDD) + Créd + ε
2B PDD = α + β (LL-PDDt2-t1) + Créd t2-t1 + ε
Crédito PDD 2C PDD = α + β Var (LL-PDD) + Var Créd ε
2D PDD/AT = α + β (LL-PDD)/AT + Créd/AT + ε
2E PDD/AT = α+β(LL-PDDt2-t1)/AT+Crédt2-t1/AT + ε
2F PDD/AT = α + β Var (LL-PDD) + Var Créd+ ε
1A AjNVM = α + β (LL-AjNVM) + ε
1B AjNVM = α + β (LL-AjNVMt2-t1) + ε
TVM AjNVM 1C AjNVM = α + β Var (LL-AjNVM) + ε
Despesa 1D AjNVM/AT = α + β (LL-AjNVM)/AT + ε
1E AjNVM/AT =α+β(LL-AjNVMt2-t1)/AT+ε
1F AjNVM/AT = α + β Var (LL-AjNVM) + ε
2A AjNVM = α + β (LL-AjNVM) + TVM + ε
2B AjNVM = α + β (LL-AjNVMt2-t1) + TVMt2-t1 + ε
TVM AjNVM 2C AjNVM = α + β Var (LL-AjNVM) + Var TVM + ε
Despesa 2D AjNVM/AT = α + β (LL-AjNVM)/AT + TVM/AT + ε
2E AjNVM/AT =α+β(LL-AjNVMt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjNVM/AT = α + β Var (LL-AjNVM) + Var TVM + ε
1A AjNVMdpv = α + β (LL-AjNVMdpv) + ε
1B AjNVMdpv = α + β (LL-AjNVMdpv t2-t1) + ε
TVM AjNVMdpv 1C AjNVMdpv = α + β Var (LL-AjNVMdpv) + ε
Despesa 1D AjNVMdpv/AT = α + β (LL-AjNVMdpv)/AT + ε
1E AjNVMdpv/AT = α + β (LL-AjNVMdpv t2-t1)/AT + ε
1F AjNVMdpv/AT = α + β Var (LL-AjNVMdpv) + ε
2A AjNVMdpv = α + β (LL-AjNVMdpv) + TVM + ε
2B AjNVMdpv = α + β (LL-AjNVMdpv t2-t1)+TVMt2-t1+ε
TVM AjNVMdpv 2C AjNVMdpv = α + β Var (LL-AjNVMdpv)+Var TVM + ε
Despesa 2D AjNVMdpv/AT = α +β(LL-AjNVMdpv)/AT+TVM/AT+ε
2E AjNVMdpv/AT=α+β(LL-AjNVMdpvt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjNVMdpv/AT = α+β Var(LL-AjNVMdpv)+Var TVM+ε
1A AjNVMneg = α + β (LL-AjNVMneg) + ε
1B AjNVMneg = α + β (LL-AjNVMneg t2-t1) + ε
TVM AjNVMneg 1C AjNVMneg = α + β Var (LL-AjNVMneg) + ε
Despesa 1D AjNVMneg/AT = α + β (LL-AjNVMneg)/AT + ε
1E AjNVMneg/AT = α + β (LL-AjNVMneg t2-t1)/AT + ε
1F AjNVMneg/AT = α + β Var (LL-AjNVMneg) + ε
2A AjNVMneg = α + β (LL-AjNVMneg) + TVM + ε
2B AjNVMneg = α + β (LL-AjNVMneg t2-t1) + TVMt2-t1+ε
TVM AjNVMneg 2C AjNVMneg = α + β Var (LL-AjNVMneg) + Var TVM + ε
Despesa 2D AjNVMneg/AT = α +β(LL-AjNVMneg)/AT+TVM/AT+ε
2E AjNVMneg/AT=α+β(LL-AjNVMneg t2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjNVMneg/AT = α+β Var(LL-AjNVMneg)+Var TVM+ε
150

Variável Modelos
Modalidade dependente
1A AjPVM = α + β (LL-AjPVM) + ε
1B AjPVM = α + β (LL-AjPVMt2-t1) + ε
TVM AjPVM 1C AjPVM = α + β Var (LL-AjPVM) + ε
Receita 1D AjPVM/AT = α + β (LL-AjPVM)/AT + ε
1E AjPVM/AT = α + β (LL-AjPVMt2-t1)/AT + ε
1F AjPVM/AT = α + β Var (LL-AjPVM) + ε
2A AjPVM = α + β (LL-AjPVM) + TVM + ε
2B AjPVM = α + β (LL-AjPVMt2-t1) + TVMt2-t1 + ε
TVM AjPVM 2C AjPVM = α + β Var (LL-AjPVM) + Var TVM + ε
Receita 2D AjPVM/AT = α + β (LL-AjPVM)/AT + TVM/AT + ε
2E AjPVM/AT =α+β(LL-AjPVMt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjPVM/AT = α + β Var (LL-AjPVM) + Var TVM + ε
1A AjPVMdpv = α + β (LL-AjPVMdpv) + ε
1B AjPVMdpv = α + β (LL-AjPVMdpv t2-t1) + ε
TVM AjPVMdpv 1C AjPVMdpv = α + β Var (LL-AjPVMdpv) + ε
Receita 1D AjPVMdpv/AT = α + β (LL-AjPVMdpv)/AT + ε
1E AjPVMdpv/AT = α + β (LL-AjPVMdpv t2-t1)/AT + ε
1F AjPVMdpv/AT = α + β Var (LL-AjPVMdpv) + ε
2A AjPVMdpv = α + β (LL-AjPVMdpv) + TVM + ε
2B AjPVMdpv = α + β (LL-AjPVMdpv t2-t1) +TVMt2-t1 + ε
TVM AjPVMdpv 2C AjPVMdpv = α + β Var (LL-AjPVMdpv) + Var TVM + ε
Receita 2D AjPVMdpv/AT =α + β(LL-AjPVMneg)/AT + TVM/AT+ε
2E AjPVMdpv/AT =α+β(LL-AjPVMdpvt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjPVMdpv/AT =α + β Var(LL-AjPVMdpv)+Var TVM+ε
1A AjPVMneg = α + β (LL-AjPVMneg) + ε
1B AjPVMneg = α + β (LL-AjPVMneg t2-t1) + ε
TVM AjPVMneg 1C AjPVMneg = α + β Var (LL-AjPVMneg) + ε
Receita 1D AjPVMneg/AT = α + β (LL-AjPVMneg)/AT + ε
1E AjPVMneg/AT = α + β (LL-AjPVMneg t2-t1)/AT + ε
1F AjPVMneg/AT = α + β Var (LL-AjPVMneg) + ε
2A AjPVMneg = α + β (LL-AjPVMneg) + TVM + ε
2B AjPVMneg = α + β (LL-AjPVMneg t2-t1) +TVMt2-t1 + ε
TVM AjPVMneg 2C AjPVMneg = α + β Var (LL-AjPVMneg) + Var TVM + ε
Receita 2D AjPVMneg/AT =α + β(LL-AjPVMneg)/AT + TVM/AT+ε
2E AjPVMneg/AT =α+β(LL-AjPVMnegt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjPVMneg/AT =α + β Var (LL-AjPVMneg)+Var TVM+ε
1A AjVM = α + β (LL-AjVM) + ε
1B AjVM = α + β (LL-AjVMt2-t1) + ε
TVM AjVM 1C AjVM = α + β Var (LL-AjVM) + ε
Resultado 1D AjVM/AT = α + β (LL-AjVM)/AT + ε
1E AjVM/AT = α + β (LL-AjVMt2-t1)/AT + ε
1F AjVM/AT = α + β Var (LL-AjVM) + ε
151

Variável Modelos
Modalidade dependente
2A AjVM = α + β (LL-AjVM) + TVM + ε
2B AjVM = α + β (LL-AjVMt2-t1) + TVMt2-t1 + ε
TVM AjVM 2C AjVM = α + β Var (LL-AjVM) + Var TVM + ε
Resultado 2D AjVM/AT = α + β (LL-AjVM)/AT + TVM/AT + ε
2E AjVM/AT = α + β (LL-AjVMt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjVM/AT = α + β Var (LL-AjVM) + Var TVM + ε
1A AjVMdpv = α + β (LL-AjVMdpv) + ε
1B AjVMdpv = α + β (LL-AjVMdpv t2-t1) + ε
TVM AjVMdpv 1C AjVMdpv = α + β Var (LL-AjVMdpv) + ε
Resultado 1D AjVMdpv/AT = α + β (LL-AjVMdpv)/AT + ε
1E AjVMdpv/AT = α + β (LL-AjVMdpv t2-t1)/AT + ε
1F AjVMdpv/AT = α + β Var (LL-AjVMdpv) + ε
2A AjVMdpv = α + β (LL-AjVMdpv) + TVM + ε
2B AjVMdpv = α + β (LL-AjVMdpv t2-t1) + TVMt2-t1 + ε
TVM AjVMdpv 2C AjVMdpv = α + β Var (LL-AjVMdpv) + Var TVM + ε
Resultado 2D AjVMdpv/AT = α + β (LL-AjVMdpv)/AT + TVM/AT + ε
2E AjVMdpv/AT=α+β(LL-AjVMdpvt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjVMdpv/AT = α + β Var (LL-AjVMdpv) + Var TVM +ε
1A ResDeriv = α + β (LL-ResDeriv) + ε
1B ResDeriv = α + β (LL-ResDeriv t2-t1) + ε
Derivativos ResDeriv 1C ResDeriv = α + β Var (LL-ResDeriv) + ε
Resultado 1D ResDeriv/AT = α + β (LL-ResDeriv)/AT + ε
1E ResDeriv/AT = α + β (LL-ResDeriv t2-t1)/AT + ε
1F ResDeriv/AT = α + β Var (LL-ResDeriv) + ε
2A ResDeriv = α + β (LL-ResDeriv) + Deriv + ε
2B ResDeriv = α + β (LL-ResDeriv t2-t1) + Deriv t2-t1 + ε
Derivativos ResDeriv 2C ResDeriv = α + β Var (LL-ResDeriv) + Var Deriv +ε
Resultado 2D ResDeriv/AT = α + β (LL-ResDeriv)/AT + Deriv/AT + ε
2E ResDeriv/AT =α+β(LL-ResDeriv t2-t1)/AT+Derivt2-t1/AT+ε
2F ResDeriv/AT = α + β Var (LL-ResDeriv) + Var Deriv + ε
PDD = Provisão para Devedores Duvidosos; α e β = coeficientes; LL = Lucro Líquido; ε =
termo de erro; t2-t1 = indica variação da variável entre duas datas em valor absoluto (vide item
3.2); Var = indica variação decimal da variável (vide item 3.2); AT = Ativo Total; Créd =
carteira de crédito; AjNVM = Ajuste Negativo a Valor de Mercado; TVM = carteira de TVM;
AjNVMdpv = AjNVM títulos disponíveis para venda (DPV); AjNVMneg = AjNVM títulos
para negociação; AjPVM = Ajuste Positivo a VM; AjPVMdpv = AjPVM títulos DPV;
AjPVMneg = AjPVM títulos para negociação; AjVM = Ajuste a VM; AjVMdpv = AjVM títulos
DPV; ResDeriv = Resultado com Derivativos; Deriv = Carteira de derivativos (valor nocional).

4.3 – Resultados obtidos


São apresentados a seguir os resultados obtidos nas análises de regressão. As variáveis
empregadas encontram-se explicadas no item 4.2 e também nos capítulos III e IV. Para
a área de crédito, a variável dependente é a PDD, e, para a área de derivativos, o
152

“resultado com derivativos” (receitas deduzidas das despesas com derivativos). Para a
área de TVM, figuram, como variável dependente, os ajustes a valor de mercado de
títulos, que podem assumir a forma de despesa (ajustes negativos), receita (ajustes
positivos) e resultado (confrontação de ajustes positivos e negativos).
Antes de tratar dos resultados obtidos, cabe introduzir observações sobre os
pressupostos do Modelo Clássico de Regressão Linear. Não foram identificados
problemas de autocorrelação serial (resíduos) e multicolinearidade. As regressões, de
modo geral, apresentaram problemas de não normalidade dos resíduos; o recurso da
transformação logarítmica das variáveis não permitiu o pleno atendimento da premissa
de normalidade das perturbações, apenas amenizando o problema em algumas das
regressões de crédito e TVM. Foram também identificados problemas de
heteroscedasticidade; a transformação logarítmica, neste caso, conseguiu reverter ou
pelo menos amenizar o problema no caso de regressões de crédito e TVM. Nos modelos
de regressão com variáveis transformadas (por logaritmo), não foram produzidos sinais
diferentres de coeficientes, relativamente aos obtidos nos modelos com variáveis em
suas formas originais (sem transformação logarítmica), observando-se apenas a redução
dos coeficientes R2 ajustados. Desta maneira, verificou-se que a análise do sinal do
coeficiente da variável de lucro “pré-suavização” (lucro expurgado do valor da variável
dependente) não é alterada com a utilização das variáveis em sua forma original (sem
transformação). Registre-se, a propósito, que a análise do sinal (positivio ou negativo)
do coeficiente da variável independente de lucro (expurgado da variável dependente) é
base para as conclusões relativas à suavização de resultados, foco do presente trabalho.
A seguir, são apresentados os resultados das análises de regressão realizadas, em tabelas
que resumem os resultados obtidos, ensejando comparação entre as diferentes versões
de modelos empregados e entre as diferentes áreas investigadas (crédito, TVM e
derivativos). Nas tabelas de resultados, a 1ª coluna mostra a versão do teste (há doze
versões, divididas em dois grupos: 1A a 1F e 2A a 2F). A 2ª coluna mostra o número de
observações (N) consideradas em cada análise de regressão. Nas colunas 3 a 7, constam
os coeficientes de correlação “R”, “R2” (R quadrado), “R2 Ajust” (R2 Ajustado),
estatística “F” e “sig F” (valor p da estatística F). A 8ª coluna contém as variáveis
independentes que apresentaram coeficientes não significativos, em cada modelo. As
duas últimas colunas constituem apontamentos da validade de cada modelo de regressão
153

analisado. A 9ª coluna apresenta uma classificação de acordo com o R2 Ajusado67


(sendo 1 a melhor e 6 a pior, vez que há seis versões, de “A” a “F”, marcando-se um X
quando o modelo apresentou problema de significância no teste F). A 10ª e última
coluna indica se o coeficiente obtido para a variável independente de lucro (expurgado o
valor da variável dependente) apresenta sinal conforme a expectativa, de acordo com a
hipótese de suavização de resultados (hipóteses e expectativas descritas no capítulo IV).
Os símbolos empregados nas duas últimas colunas são explicitados a seguir (legenda).
Ressalte-se que cada versão de modelo, “1A" por exemplo, possui três linhas na tabela:
a 1ª linha apresenta as estatísticas enumeradas acima (colunas 1 a 10); a 2ª linha mostra
o modelo de regressão com os coeficientes obtidos; a 3ª linha indica a significância de
cada coeficiente das variáveis independentes.

Legenda utilizada nas tabelas (explicação - símbolos empregados nas colunas 9 e 10):

(X) modelo com problema de significância (teste F)


( ) sinal da variável de lucro de acordo com o esperado e significativo
( ) sinal da variável de lucro de acordo com o esperado, mas não significativo
(⌧) sinal da variável de lucro contrário ao esperado e significativo
(⌧⌧) sinal da variável de lucro contrário ao esperado e não significativo
Observação : nas análises de significância, utiliza-se nível de 5%.

A seguir, as tabelas de resultados, na seguinte ordem:


Crédito (variável dependente: PDD) tabela 20;
TVM (variáveis dependentes: ajustes a valor de mercado) tabelas 21 a 28;
Derivativos (variável dependente: resultado com derivativos) tabela 29.

67
Ao se comparar o R2 Ajustado de modelos, o tamanho N da amostra e a variável dependente devem,
idealmente, ser iguais. Nesta pesquisa, contudo, pela metodologia adotada e dados disponíveis, conforme
já explicado, trabalha-se com diferentes variáveis dependentes e quantidades de observações.
154

Tabela 20) Crédito – Variável dependente: PDD


Sinal esperado da variável independente de lucro: positivo.
Modelo N R R2 R2 F Sig F Coeficiente não significativo Classif. sinal
Ajust (ao nível de 5%) R2Ajust
1A 457 0,950 0,902 0,902 4189,992 0,000 constante 1
PDD = 6055251 + 0,539 (LL - PDD)
(0,426) (0,000)
1B 457 0,386 0,149 0,147 79,628 0,000 3
PDD = 2E+008 + 0,366 (LL - PDDt2-t1)
(0,000) (0,000)
1C 455 0,018 0,000 -0,002 0,155 0,694 Var (LL-PDD) X
PDD = 2E+008 + 94641,536 Var (LL - PDD)
(0,000) (0,694)
1D 457 0,423 0,179 0,177 99,310 0,000 2
PDD/AT = 0,006 + 0,198 (LL - PDD)/AT
(0,000) (0,000)
1E 455 0,209 0,044 0,042 20,786 0,000 4
PDD/AT = 0,008 + 0,075 (LL - PDDt2-t1)/AT
(0,000) (0,000)
1F 455 0,026 0,001 -0,002 0,299 0,585 Var (LL-PDD) X
PDD/AT = 0,009 + 3,17E-0,006 Var (LL - PDD)
(0,000) (0,585)
Média 456 0,335 0,213 0,211
2A 457 0,966 0,933 0,933 3155,327 0,000 constante 1
PDD = 3585488 + 0,254 (LL - PDD) + 0,016 Créd
(0,571) (0,000) (0,000)
2B 455 0,858 0,736 0,735 630,526 0,000 2
PDD = 5E+007 + 0,106 (LL - PDDt2-t1) + 0,127 Créd t2-t1
(0,000) (0,000) (0,000)
2C 454 0,053 0,003 -0,002 0,628 0,534 as três variáveis independentes X
PDD = 2E+008 + 98254,97 Var (LL - PDD) -2E+007 Var Créd
(0,964) (0,683) (0,295)
2D 457 0,497 0,247 0,244 74,641 0,000 constante 3
PDD/AT = 0,001 + 0,170 (LL - PDD)/AT + 0,016 Créd/AT
(0,283) (0,000) (0,000)
2E 455 0,233 0,054 0,050 12,994 0,000 4
PDD/AT = 0,009 + 0,081 (LL - PDDt2-t1)/AT - 0,011 Créd t2-t1/AT
(0,000) (0,000) (0,026)
2F 454 0,046 0,002 -0,002 0,484 0,616 Var (LL-PDD), Var Créd X
PDD/AT = 0,009 + 3,25E-0,006 Var (LL - PDD) + 0,000 Var Créd
(0,000) (0,577) (0,414)
Média 455 0,442 0,329 0,326

Análise sintética:
todos os 12 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o
esperado (sendo 8 coeficientes significativos e 4 não significativos);
4 modelos (1C, 1F, 2C e 2F) com problema de significância no teste F;
destaque para modelos 1A e 2A, com altos R2 Ajustados, 0,902 e 0,933,
respectivamente, e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o
esperado e significativos, nos valores de + 0,539 e + 0,254, respectivamente.
155

Tabela 21) TVM – Variável dependente: AjNVM (Ajuste Negativo a Valor de


Mercado) - Sinal esperado da variável independente de lucro: positivo.
Modelo N R R2 R2 F Sig F Coeficiente não significativo Classif. sinal
Ajust (ao nível de 5%) R2Ajust
1A 369 0,143 0,021 0,018 7,699 0,006 2 ⌧
AjNVM = 5E+007 - 0,041 (LL - AjNVM)
(0,000) (0,006)
1B 302 0,030 0,001 -0,002 0,275 0,600 (LL-AjNVMt2-t1) X ⌧⌧
AjNVM = 3E+007 - 0,007 (LL - AjNVMt2-t1)
(0,000) (0,600)
1C 300 0,005 0,000 -0,003 0,009 0,925 Var (LL-AjNVM) X ⌧⌧
AjNVM = 3E+007 - 10797,4 Var (LL - AjNVM)
(0,000) (0,925)
1D 369 0,346 0,120 0,117 49,913 0,000 1 ⌧
AjNVM/AT = 0,004 - 0,152 (LL - AjNVM)/AT
(0,000) (0,000)
1E 300 0,145 0,021 0,018 6,413 0,012 3 ⌧
AjNVM/AT = 0,002 - 0,020 (LL - AjNVMt2-t1)/AT
(0,000) (0,012)
1F 300 0,019 0,000 -0,003 0,113 0,738 Var (LL-AjNVM) X ⌧⌧
AjNVM/AT = 0,002 - 2,3E-006 Var (LL - AjNVM)
(0,000) (0,738)
Média 323 0,115 0,027 0,024
2A 368 0,388 0,150 0,146 32,253 0,000 1 ⌧
AjNVM = 3E+007 - 0,125 (LL - AjNVM) + 0,006 TVM
(0,000) (0,000) (0,000)
2B 300 0,133 0,018 0,011 2,679 0,070 (LL-AjNVMt2-t1) X
AjNVM = 2E+007 + 0,013 (LL - AjNVMt2-t1) + 0,003 TVM t2-t1
(0,000) (0,330) (0,029)
2C 300 0,059 0,004 -0,003 0,524 0,593 Var (LL-AjNVM), Var TVM X ⌧⌧
AjNVM = 3E+007 - 13331,4 Var (LL - AjNVM) - 1257772 Var TVM
(0,000) (0,907) (0,309)
2D 368 0,361 0,131 0,126 27,401 0,000 2 ⌧
AjNVM/AT = 0,002 - 0,150 (LL - AjNVM)/AT + 0,007 TVM/AT
(0,028) (0,000) (0,034)
2E 300 0,147 0,022 0,015 3,276 0,039 TVMt2-t1/AT 3 ⌧
AjNVM/AT = 0,002 - 0,020 (LL - AjNVMt2-t1)/AT + 0,001 TVMt2-t1/AT
(0,000) (0,013) (0,691)
2F 300 0,021 0,000 -0,006 0,065 0,937 Var (LL-AjNVM), Var TVM X ⌧⌧
AjNVM/AT = 0,002 - 2,3E-006 Var (LL - AjNVM) + 9,69E-006 Var TVM
(0,000) (0,740) (0,895)
Média 323 0,185 0,054 0,048

Análise sintética:
apenas 1 modelo (2B) com sinal da variável independente de lucro de acordo com o
esperado (e não significativo);
6 modelos com problema de significância no teste F;
11 modelos com sinal do coeficiente da variável independente de lucro contrário à
expectativa, o que indica não confirmação da hipótese de suavização de resultados.
156

Tabela 22) TVM – Variável dependente: AjNVMdpv (Ajuste Negativo a VM


Títulos DPV) - Sinal esperado da variável independente de lucro: positivo.
Modelo N R R2 R2 F Sig F Coeficiente não significativo Classif. sinal
Ajust (ao nível de 5%) R2Ajust
1A 58 0,066 0,004 -0,013 0,247 0,621 LL-AjNVMdpv X
AjNVMdpv = 2E+007 + 0,008 (LL - AjNVMdpv)
(0,020) (0,621)
1B 43 0,251 0,063 0,040 2,762 0,104 LL-AjNVMdpv t2-t1 X ⌧⌧
AjNVMdpv = 2E+007 - 0,046 (LL - AjNVMdpv t2-t1)
(0,001) (0,104)
1C 43 0,165 0,027 0,003 1,145 0,291 Var(LL-AjNVMdpv) X ⌧⌧
AjNVMdpv = 2E+007 - 1718830 Var (LL - AjNVMdpv)
(0,003) (0,291)
1D 58 0,438 0,192 0,177 13,299 0,001 1 ⌧
AjNVMdpv/AT = 0,003 - 0,237 (LL - AjNVMdpv)/AT
(0,000) (0,001)
1E 43 0,223 0,050 0,027 2,147 0,151 (LL-AjNVMdpv t2-t1)/AT X ⌧⌧
AjNVMdpv/AT = 0,000 - 0,022 (LL - AjNVMdpv t2-t1)/AT
(0,006) (0,151)
1F 43 0,134 0,018 -0,006 0,746 0,393 Var(LL-AjNVMdpv) X ⌧⌧
AjNVMdpv/AT = 0,000 - 3,7E-005 Var (LL - AjNVMdpv)
(0,012) (0,393)
Média 48 0,213 0,059 0,038
2A 57 0,184 0,034 -0,002 0,950 0,393 LL-AjNVMdpv, TVM X ⌧⌧
AjNVMdpv = 2E+007 - 0,026 (LL - AjNVMdpv) + 0,001 TVM
(0,043) (0,387) (0,199)
2B 43 0,343 0,118 0,074 2,670 0,082 (LL-AjNVMdpv t2-t1), TVM t2-t1 X ⌧⌧
AjNVMdpv = 2E+007 - 0,049 (LL - AjNVMdpv t2-t1) - 0,002 TVM t2-t1
(0,000) (0,081) (0,123)
2C 43 0,249 0,062 0,015 1,322 0,278 Var(LL-AjNVMdpv), Var TVM X ⌧⌧
AjNVMdpv = 2E+007 - 1606692 Var (LL - AjNVMdpv) - 3584517 Var TVM
(0,002) (0,321) (0,230)
2D 57 0,444 0,197 0,167 6,613 0,003 TVM/AT 1 ⌧
AjNVMdpv/AT = 0,003 - 0,238 (LL - AjNVMdpv)/AT - 0,001 TVM/AT
(0,006) (0,001) (0,634)
2E 43 0,290 0,084 0,038 1,840 0,172 LL-AjNVMdpvt2-t1/AT,TVMt2-t1/AT X ⌧⌧
AjNVMdpv/AT = 0,000 - 0,024 (LL - AjNVMdpv t2-t1)/AT - 0,001 TVMt2-t1/AT
(0,003) (0,128) (0,227)
2F 43 0,191 0,037 -0,012 0,758 0,475 Var(LL-AjNVMdpv), Var TVM X ⌧⌧
AjNVMdpv/AT = 0,000 - 3,5E-005 Var (LL - AjNVMdpv) - 7,0E-005 Var TVM
(0,009) (0,423) (0,384)
Média 48 0,284 0,089 0,047

Análise sintética:
apenas 1 modelo (1A) com sinal da variável independente de lucro de acordo com o
esperado (e não significativo);
10 modelos com problema de significância no teste F;
11 modelos com sinal do coeficiente da variável independente de lucro contrário à
expectativa, o que indica não confirmação da hipótese de suavização de resultados.
157

Tabela 23) TVM – Variável dependente: AjNVMneg (Ajuste Negativo a VM


Títulos Negociação) - Sinal esperado da variável independente de lucro: positivo.
Modelo N R R2 R2 F Sig F Coeficiente não significativo Classif. sinal
Ajust (ao nível de 5%) R2Ajust
1A 363 0,154 0,024 0,021 8,765 0,003 2 ⌧
AjNVMneg = 5E+007 - 0,044 (LL - AjNVMneg)
(0,000) (0,003)
1B 299 0,031 0,001 -0,002 0,291 0,590 LL-AjNVMneg t2-t1 X
AjNVMneg = 2E+007 + 0,007 (LL - AjNVMneg t2-t1)
(0,000) (0,590)
1C 297 0,010 0,000 -0,003 0,030 0,862 LL-AjNVMneg X ⌧⌧
AjNVMneg = 2E+007 - 19553,9 Var (LL - AjNVMneg)
(0,000) (0,862)
1D 363 0,343 0,118 0,115 48,210 0,000 1 ⌧
AjNVMneg/AT = 0,003 - 0,149 (LL - AjNVMneg)/AT
(0,000) (0,000)
1E 297 0,145 0,021 0,018 6,375 0,012 3 ⌧
AjNVMneg/AT = 0,002 - 0,020 (LL - AjNVMneg t2-t1)/AT
(0,000) (0,012)
1F 297 0,018 0,000 -0,003 0,099 0,754 LL - AjNVMneg X ⌧⌧
AjNVMneg/AT = 0,002 - 2,1E-006 Var (LL - AjNVMneg)
(0,000) (0,754)
Média 319 0,117 0,027 0,024
2A 362 0,370 0,137 0,132 28,554 0,000 1 ⌧
AjNVMneg = 3E+007 - 0,122 (LL - AjNVMneg) + 0,006 TVM
(0,000) (0,000) (0,000)
2B 299 0,128 0,016 0,010 2,467 0,087 (LL-AjNVMnegt2-t1) X
AjNVMneg = 2E+007 + 0,011 (LL - AjNVMneg t2-t1) + 0,003 TVM t2-t1
(0,000) (0,417) (0,032)
2C 297 0,054 0,003 -0,004 0,430 0,651 Var (LL-AjNVMneg), Var TVM X ⌧⌧
AjNVMneg = 3E+007 - 21680,4 Var (LL - AjNVMneg) - 1115921 Var TVM
(0,000) (0,848) (0,363)
2D 362 0,360 0,130 0,125 26,807 0,000 constante 2 ⌧
AjNVMneg/AT = 0,002 - 0,148 (LL - AjNVMneg)/AT + 0,007 TVM/AT
(0,051) (0,000) (0,026)
2E 297 0,148 0,022 0,015 3,280 0,039 TVMt2-t1/AT 3 ⌧
AjNVMneg/AT = 0,002 - 0,020 (LL - AjNVMneg t2-t1)/AT + 0,001 TVMt2-t1/AT
(0,000) (0,013) (0,653)
2F 297 0,021 0,000 -0,006 0,063 0,939 Var (LL-AjNVMneg), Var TVM X ⌧⌧
AjNVMneg/AT = 0,002 - 2,1E-006 Var (LL - AjNVMneg) + 1,22E-005 Var TVM
(0,000) (0,757) (0,869)
Média 319 0,180 0,051 0,045

Análise sintética:
apenas 2 modelos (1B e 2B) com sinal da variável independente de lucro de acordo
com o esperado, mas com coeficientes não significativos;
6 modelos com problema de significância no teste F;
10 modelos com sinal do coeficiente da variável independente de lucro contrário à
expectativa, o que indica não confirmação da hipótese de suavização de resultados.
158

Tabela 24) TVM – Variável dependente: AjPVM (Ajuste Positivo a Valor de


Mercado) - Sinal esperado da variável independente de lucro: negativo.
Modelo N R R2 R2 F Sig F Coeficiente não significativo Classif. sinal
Ajust (ao nível de 5%) R2Ajust
1A 367 0,104 0,011 0,008 125361322 0,046 6
AjPVM = 5E+007 - 0,03 (LL - AjPVM)
(0,000) (0,046)
1B 310 0,253 0,064 0,061 21,018 0,000 3
AjPVM = 4E+007 - 0,103 (LL - AjPVMt2-t1)
(0,000) (0,000)
1C 308 0,124 0,015 0,012 4,780 0,030 5
AjPVM = 4E+007 - 2833941 Var (LL - AjPVM)
(0,000) (0,030)
1D 367 0,352 0,124 0,121 51,590 0,000 1
AjPVM/AT = 0,003 - 0,127 (LL - AjPVM)/AT
(0,000) (0,000)
1E 308 0,319 0,101 0,099 34,547 0,000 2
AjPVM/AT = 0,003 - 0,096 (LL - AjPVMt2-t1)/AT
(0,000) (0,000)
1F 308 0,234 0,055 0,052 17,677 0,000 4 ⌧
AjPVM/AT = 0,003 + 0,000 Var (LL - AjPVM)
(0,000) (0,000)
Média 328 0,231 0,062 0,059
2A 367 0,389 0,152 0,147 32,545 0,000 2
AjPVM = 2E+007 - 0,114 (LL - AjPVM) + 0,006 TVM
(0,001) (0,000) (0,000)
2B 310 0,258 0,067 0,061 10,962 0,000 TVMt2-t1 4
AjPVM = 4E+007 - 0,102 (LL - AjPVMt2-t1) + 0,002 TVMt2-t1
(0,000) (0,000) (0,341)
2C 306 0,134 0,018 0,011 2,750 0,066 Var TVM X
AjPVM = 5E+007 - 2810321 Var (LL - AjPVM) - 1967494 Var TVM
(0,000) (0,032) (0,391)
2D 367 0,413 0,171 0,166 37,460 0,000 constante 1
AjPVM/AT = 0,001 - 0,124 (LL - AjPVM)/AT + 0,011 TVM/AT
(0,244) (0,000) (0,000)
2E 308 0,322 0,103 0,098 17,587 0,000 TVMt2-t1/AT 3
AjPVM/AT = 0,003 - 0,096 (LL - AjPVMt2-t1)/AT - 0,003 TVMt2-t1/AT
(0,000) (0,000) (0,415)
2F 306 0,234 0,055 0,049 8,797 0,000 Var TVM 5 ⌧
AjPVM/AT = 0,003 + 0,000 Var (LL - AjPVM) + 2,67E-005 Var TVM
(0,000) (0,000) (0,859)
Média 327 0,292 0,094 0,089

Análise sintética:
10 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
com coeficientes significativos;
apenas 1 modelo (2C) com problema de significância no teste F;
destaque para modelos 1D e 2D, com R2 Ajustados de, respectivamente, 0,121 e
0,166 e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
significativos, nos valores de, respectivamente, - 0,127 e - 0,124.
159

Tabela 25) TVM – Variável dependente: AjPVMdpv (Ajuste Positivo a VM Títulos


DPV) - Sinal esperado da variável independente de lucro: negativo.
Modelo N R R2 R2 F Sig F Coeficiente não significativo Classif. sinal
Ajust (ao nível de 5%) R2Ajust
1A 61 0,046 0,002 -0,015 0,128 0,722 LL-AjPVMdpv X
AjPVMdpv = 2E+007 - 0,005 (LL - AjPVMdpv)
(0,034) (0,722)
1B 48 0,287 0,082 0,062 4,130 0,048 2
AjPVMdpv = 1E+007 - 0,044 (LL - AjPVMdpv t2-t1)
(0,023) (0,048)
1C 48 0,205 0,042 0,021 2,021 0,162 Var (LL-AjPVMdpv) X
AjPVMdpv = 2E+007 - 7610883 Var (LL - AjPVMdpv)
(0,018) (0,162)
1D 61 0,154 0,024 0,007 1,435 0,236 constante, (LL-AjPVMdpv/AT) X ⌧⌧
AjPVMdpv/AT = 0,000 + 0,046 (LL - AjPVMdpv)/AT
(0,355) (0,236)
1E 48 0,311 0,097 0,077 4,918 0,032 1
AjPVMdpv/AT = 0,001 - 0,086 (LL - AjPVMdpvt2-t1)/AT
(0,013) (0,032)
1F 48 0,134 0,018 -0,003 0,837 0,365 Var (LL-AjPVMdpv) X ⌧⌧
AjPVMdpv/AT = 0,001 + 0,000 Var (LL - AjPVMdpv)
(0,022) (0,365)
Média 52 0,190 0,044 0,025
2A 61 0,358 0,128 0,098 4,253 0,019 constante 1
AjPVMdpv = 8820488 - 0,041 (LL - AjPVMdpv) + 0,002 TVM
(0,223) (0,021) (0,005)
2B 48 0,288 0,083 0,042 2,028 0,143 TVMt2-t1 X
AjPVMdpv = 1E+007 - 0,044 (LL - AjPVMdpvt2-t1) + 0,000 TVMt2-t1
(0,029) (0,050) (0,907)
2C 48 0,212 0,045 0,002 1,057 0,356 Var (LL-AjPVMdpv), Var TVM X
AjPVMdpv = 2E+007 - 7296830 Var (LL - AjPVMdpv) - 1078960 Var TVM
(0,019) (0,189) (0,718)
2D 61 0,223 0,050 0,017 1,515 0,228 as três variáveis independentes X
AjPVMdpv/AT = 0,001 - 0,048 (LL - AjPVMdpv)/AT - 0,002 TVM/AT
(0,130) (0,217) (0,214)
2E 48 0,317 0,101 0,061 2,517 0,092 TVMt2-t1/AT X
AjPVMdpv/AT = 0,001 - 0,090 (LL - AjPVMdpv t2-t1)/AT + 0,001 TVMt2-t1/AT
(0,044) (0,030) (0,657)
2F 48 0,217 0,047 0,005 1,108 0,339 as três variáveis independentes X ⌧⌧
AjPVMdpv/AT = 0,001 + 0,000 Var (LL - AjPVMdpv) + 0,000 Var TVM
(0,057) (0,281) (0,248)
Média 52 0,269 0,076 0,038

Análise sintética:
reduzido número de observações (média de 52 observações);
9 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado
(sendo 5 coeficientes significativos e 4 não significativos);
9 modelos com problema de significância no teste F;
modelos, em geral, com baixos R2 Ajustados.
160

Tabela 26) TVM – Variável dependente: AjPVMneg (Ajuste Positivo a VM Títulos


Negociação) - Sinal esperado da variável independente de lucro: negativo.
Modelo N R R2 R2 F Sig F Coeficiente não significativo Classif. sinal
Ajust (ao nível de 5%) R2Ajust
1A 361 0,110 0,012 0,009 4,394 0,037 6
AjPVMneg = 5E+007 - 0,031 (LL - AjPVMneg)
(0,000) (0,037)
1B 305 0,242 0,058 0,055 18,816 0,000 3
AjPVMneg = 4E+007 - 0,099 (LL - AjPVMneg t2-t1)
(0,000) (0,000)
1C 301 0,123 0,015 0,012 4,579 0,033 5
AjPVMneg = 4E+007 - 2940535 Var (LL - AjPVMneg)
(0,000) (0,033)
1D 361 0,354 0,125 0,123 51,473 0,000 1
AjPVMneg/AT = 0,003 - 0,128 (LL - AjPVMneg)/AT
(0,000) (0,000)
1E 303 0,318 0,101 0,098 33,920 0,000 2
AjPVMneg/AT = 0,003 - 0,096 (LL - AjPVMneg t2-t1)/AT
(0,000) (0,000)
1F 301 0,237 0,056 0,053 17,737 0,000 4 ⌧
AjPVMneg/AT = 0,003 + 0,000 Var (LL - AjPVMneg)
(0,000) (0,000)
Média 322 0,231 0,061 0,058
2A 361 0,364 0,132 0,127 27,302 0,000 2
AjPVMneg = 2E+007 - 0,109 (LL - AjPVMneg) + 0,006 TVM
(0,001) (0,000) (0,000)
2B 305 0,247 0,061 0,055 9,829 0,000 TVMt2-t1 4
AjPVMneg = 4E+007 - 0,097 (LL - AjPVMneg t2-t1) + 0,002 TVMt2-t1
(0,000) (0,000) (0,357)
2C 299 0,132 0,017 0,011 2,619 0,075 Var TVM X
AjPVMneg = 4E+007 - 2927285 Var (LL - AjPVMneg) - 1893072 Var TVM
(0,000) (0,035) (0,410)
2D 361 0,418 0,175 0,170 37,977 0,000 constante 1
AjPVMneg/AT = 0,001 - 0,125 (LL - AjPVMneg)/AT + 0,011 TVM/AT
(0,346) (0,000) (0,000)
2E 303 0,321 0,103 0,097 17,279 0,000 TVMt2-t1/AT 3
AjPVMneg/AT = 0,003 - 0,096 (LL - AjPVMneg t2-t1)/AT - 0,003 TVMt2-t1/AT
(0,000) (0,000) (0,412)
2F 299 0,237 0,056 0,050 8,807 0,000 Var TVM 5 ⌧
AjPVMneg/AT = 0,003 + 0,000 Var (LL - AjPVMneg) + 1,23E-005 Var TVM
(0,000) (0,000) (0,936)
Média 321 0,287 0,091 0,085

Análise sintética:
10 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
com coeficientes significativos;
apenas 1 modelo (1C) com problema de significância no teste F;
destaque para modelos 1D e 2D, com R2 Ajustados de, respectivamente, 0,123 e
0,170 e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
significativos, nos valores de, respectivamente, - 0,128 e - 0,125.
161

Tabela 27) TVM – Variável dependente: AjVM (Ajuste a Valor de Mercado)


Sinal esperado da variável independente de lucro: negativo.
Modelo N R R2 R2 F Sig F Coeficiente não significativo Classif. sinal
Ajust (ao nível de 5%) R2Ajust
1A 400 0,271 0,073 0,071 31,444 0,000 4
AjVM = 2E+007 - 0,080 (LL - AjVM)
(0,032) (0,000)
1B 327 0,444 0,197 0,194 79,644 0,000 3
AjVM = 2E+007 - 0,126 (LL - AjVMt2-t1)
(0,001) (0,000)
1C 325 0,067 0,004 0,001 1,458 0,228 Var (LL-AjVM) X
AjVM = 2E+007 - 1080377 Var (LL - AjVM)
(0,005) (0,228)
1D 400 0,510 0,260 0,259 140,183 0,000 1
AjVM/AT = 0,001 - 0,225 (LL - AjVM)/AT
(0,034) (0,000)
1E 325 0,474 0,224 0,222 93,462 0,000 2
AjVM/AT = 0,001 - 0,116 (LL - AjVMt2-t1)/AT
(0,000) (0,000)
1F 325 0,081 0,007 0,003 2,129 0,145 Var (LL-AjVM) X ⌧
AjVM/AT = 0,001 + 0,000 Var (LL - AjVM)
(0,001) (0,145)
Média 350 0,308 0,128 0,125
2A 399 0,387 0,150 0,146 34,982 0,000 constante 4
AjVM = -90067,4 - 0,151 (LL - AjVM) + 0,005 TVM
(0,990) (0,000) (0,000)
2B 327 0,444 0,197 0,192 39,741 0,000 TVMt2-t1 3
AjVM = 2E+007 - 0,126 (LL - AjVMt2-t1) + 0,000 TVMt2-t1
(0,002) (0,000) (0,796)
2C 323 0,070 0,005 -0,001 0,789 0,455 Var (LL-AjVM), Var TVM X
AjVM = 2E+007 - 1065756 Var (LL - AjVM) - 625803 Var TVM
(0,005) (0,237) (0,719)
2D 399 0,514 0,264 0,260 70,990 0,000 constante, TVM/AT 1
AjVM/AT = 0,000 - 0,224 (LL - AjVM)/AT + 0,004 TVM/AT
(0,845) (0,000) (0,175)
2E 325 0,474 0,225 0,220 46,635 0,000 TVMt2-t1/AT 2
AjVM/AT = 0,002 - 0,115 (LL - AjVMt2-t1)/AT -0,001 TVMt2-t1/AT
(0,000) (0,000) (0,783)
2F 323 0,081 0,007 0,000 1,068 0,345 Var (LL-AjVM), Var TVM X ⌧
AjVM/AT = 0,001 + 0,000 Var (LL - AjVM) + 2,08E-005 Var TVM
(0,003) (0,145) (0,883)
Média 349 0,328 0,141 0,136

Análise sintética:
10 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado
(sendo 8 coeficientes significativos e 2 não significativos);
4 modelos (1C, 1F, 2C e 2F) com problema de significância no teste F;
destaque para modelos 1D e 2D, com R2 Ajustados de, respectivamente, 0,259 e
0,260 e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
significativos, nos valores de, respectivamente, - 0,225 e - 0,224.
162

Tabela 28) TVM – Variável dependente: AjVMdpv (Ajuste a VM Títulos DPV)


Sinal esperado da variável independente de lucro: negativo.
Modelo N R R2 R2 F Sig F Coeficiente não significativo Classif. sinal
Ajust (ao nível de 5%) R2Ajust
1A 74 0,155 0,024 0,011 1,779 0,186 constante, LL-AjVMdpv X
AjVMdpv = 1623179 - 0,017 (LL - AjVMdpv)
(0,827) (0,186)
1B 57 0,253 0,064 0,047 3,751 0,058 constante, LL-AjVMdpv t2-t1 X
AjVMdpv = 3147813 - 0,039 (LL - AjVMdpv t2-t1)
(0,592) (0,058)
1C 57 0,091 0,008 -0,010 0,455 0,503 constante, Var (LL-AjVMdpv) X
AjVMdpv = 2586230 - 1798730 Var (LL - AjVMdpv)
(0,685) (0,503)
1D 74 0,472 0,223 0,212 20,677 0,000 1
AjVMdpv/AT = 0,001 - 0,224 (LL - AjVMdpv)/AT
(0,024) (0,000)
1E 57 0,210 0,044 0,027 2,544 0,116 constante, LL-AjVMdpv t2-t1/AT X
AjVMdpv/AT = 0,000 - 0,044 (LL - AjVMdpv t2-t1)/AT
(0,184) (0,116)
1F 57 0,086 0,007 -0,011 0,410 0,525 constante, Var (LL-AjVMdpv) X
AjVMdpv/AT = 0,000 - 6,2E-005 Var (LL - AjVMdpv)
(0,265) (0,525)
Média 63 0,211 0,062 0,046
2A 73 0,304 0,092 0,066 3,554 0,034 constante 2
AjVMdpv = -2779906 - 0,051 (LL - AjVMdpv) + 0,001 TVM
(0,714) (0,011) (0,025)
2B 57 0,262 0,069 0,034 1,997 0,146 as três variáveis independentes X
AjVMdpv = 2227324 - 0,038 (LL - AjVMdpv t2-t1) + 0,001 TVMt2-t1
(0,717) (0,070) (0,591)
2C 57 0,091 0,008 -0,028 0,226 0,798 as três variáveis independentes X
AjVMdpv = 2407517 - 1804595 Var (LL - AjVMdpv) + 218429,7 Var TVM
(0,726) (0,505) (0,940)
2D 73 0,474 0,224 0,202 10,123 0,000 constante, TVM/AT 1
AjVMdpv/AT = 0,002 - 0,224 (LL - AjVMdpv)/AT - 0,001 TVM/AT
(0,077) (0,000) (0,787)
2E 57 0,214 0,046 0,010 1,294 0,283 as três variáveis independentes X
AjVMdpv/AT = 0,000 - 0,044 (LL - AjVMdpv t2-t1)/AT + 0,000 TVMt2-t1/AT
(0,270) (0,122) (0,771)
2F 57 0,197 0,039 0,003 1,085 0,345 as três variáveis independentes X
AjVMdpv/AT = 0,000 - 6,5E-005 Var (LL - AjVMdpv) + 0,000 Var TVM
(0,547) (0,498) (0,191)
Média 62 0,257 0,080 0,048

Análise sintética:
12 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado
(sendo 4 coeficientes significativos e 8 não significativos);
modelos, em geral, com baixos R2 Ajustados e 9 modelos com problema de
significância no teste F;
destaque para modelos 1D e 2D com R2 Ajustados de, respectivamente, 0,259 e
0,260 e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
significativos, nos valores de, - 0,225 e - 0,224.
163

Tabela 29) Derivativos – Variável dependente: ResDeriv (Resultado com Derivativos)


Sinal esperado da variável independente de lucro: negativo.
Modelo N R R2 R2 F Sig F Coeficiente não significativo Classif. sinal
Ajust (ao nível de 5%) R2Ajust
1A 451 0,404 0,163 0,161 87,653 0,000 3
ResDeriv = 6E+007 - 0,291 (LL - ResDeriv)
(0,000) (0,000)
1B 358 0,235 0,055 0,052 20,728 0,000 4
ResDeriv = 3E+007 - 0,171 (LL - ResDeriv t2-t1)
(0,015) (0,000)
1C 356 0,023 0,001 -0,002 0,185 0,667 Var (LL-ResDeriv) X
ResDeriv = 4E+007 - 591220 Var (LL - ResDeriv)
(0,015) (0,667)
1D 451 0,837 0,701 0,700 1051,626 0,000 1
ResDeriv/AT = 0,004 - 0,694 (LL - ResDeriv)/AT
(0,000) (0,000)
1E 356 0,579 0,335 0,333 178,101 0,000 2
ResDeriv/AT = -0,002 - 0,324 (LL - ResDeriv t2-t1)/AT
(0,032) (0,000)
1F 356 0,138 0,019 0,016 6,843 0,009 5 ⌧
ResDeriv/AT = -0,003 + 0,000 Var (LL - ResDeriv)
(0,006) (0,009)
Média 388 0,369 0,212 0,210
2A 436 0,639 0,408 0,405 149,054 0,000 constante 2
ResDeriv = 3136025 - 0,415 (LL - ResDeriv) + 0,003 Deriv
(0,809) (0,000) (0,000)
2B 337 0,458 0,209 0,205 44,210 0,000 constante 4
ResDeriv = 8173981 - 0,191 (LL - ResDeriv t2-t1) + 0,003 Deriv t2-t1
(0,567) (0,000) (0,000)
2C 336 0,025 0,001 -0,005 0,104 0,901 Var (LL-ResDeriv), Var Deriv X
ResDeriv = 4E+007 - 601510 Var (LL - ResDeriv) - 105634 Var Deriv
(0,015) (0,672) (0,862)
2D 436 0,838 0,703 0,702 512,489 0,000 Deriv/AT 1
ResDeriv/AT = 0,004 - 0,695 (LL - ResDeriv)/AT + 7,60E-005 Deriv/AT
(0,000) (0,000) (0,683)
2E 336 0,580 0,336 0,332 84,360 0,000 Deriv t2-t1/AT 3
ResDeriv/AT = -0,002 - 0,321 (LL - ResDeriv t2-t1)/AT + 0,000 Deriv t2-t1/AT
(0,021) (0,000) (0,375)
2F 336 0,139 0,019 0,013 3,267 0,039 Var Deriv 5 ⌧
ResDeriv/AT = -0,003 + 0,000 Var (LL - ResDeriv) + 1,26E-005 Var Deriv
(0,005) (0,012) (0,755)
Média 370 0,447 0,279 0,275

Análise sintética:
10 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado
(sendo 8 coeficientes significativos e 2 não significativos);
2 modelos (1C e 2C) com problema de significância no teste F;
destaque para modelos 1D e 2D, com R2 Ajustados de, respectivamente, 0,700 e
0,702 e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
significativos, nos valores de, respectivamente, - 0,694 e - 0,695.
164

Registre-se, inicialmente, que as evidências obtidas com base nos testes de regressão
(Tabelas 20 a 29) são compatíveis com os resultados da análise de correlação, descritos
no item 3.3.2. A presente análise de regressão, portanto, corrobora as conclusões
formuladas a partir dos resultados da análise de correlação, verificando-se a
compatibilidade entre os resultados das duas técnicas estatísticas empregadas, o que
constitui base para as conclusões da pesquisa.
Cabe mencionar a diferença do número de observações nas análises de regressão de
crédito, TVM e derivativos. Foram realizadas dez análises de regressão: uma para
crédito, oito relativas a TVM e uma para derivativos, tendo, como variáveis
dependentes, respectivamente, a PDD, ajustes a valor de mercado de títulos e o
resultado com derivativos. Cada análise de regressão foi realizada em doze versões
(divididas nos grupos 1 e 2, nas versões, 1A a 1F e 2A a 2F, respectivamente). A seguir,
é apresentado um gráfico com as regressões realizadas, identificadas pela variável
dependente, com o número médio de observações consideradas nas doze versões.
Gráfico 6 – Número médio de observações consideradas em cada regressão

PDD 456
AjNVM 323
AjNVMdpv 48
AjNVMneg 319
APVM 328
APVMdpv 52
APVMneg 322
AjVM 350
AjVMdpv 63
ResDeriv 379
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500

PDD – Provisão para Devedores Duvidosos; AjNVM – Ajuste Negativo a Valor de Mercado (VM);
AjNVMdpv – Ajuste Negativo a VM Títulos DPV (Disponíveis para Venda); AjNVMneg – Ajuste
Negativo a VM Títulos para Negociação; APVM – Ajuste Positivo a VM; AjPVMdpv – Ajuste
Positivo a VM Títulos DPV; AjPVMneg – Ajuste Positivo a VM Títulos para Negociação; AjVM –
Ajuste a VM; AjVMdpv – Ajuste a VM Títulos DPV; ResDeriv – Resultado com Derivativos.

O conjunto de regressões com maior número médio de observações (N = 456), é o de


crédito, que tem a PDD como variável dependente. Isto é justificado pelo fato de que as
operações de crédito constituem a mais importante aplicação bancária, conforme
165

exposto no capítulo I, item 4.1, Tabela 1. Assim, há grande quantidade de bancos com
informações contábeis disponibilizadas para a área de crédito. Em seguida, destaca-se o
conjunto de regressões que tem o Resultado com Derivativos (ResDeriv) como variável
dependente, com média de 379 observações. Quanto às regressões relacionadas aos
TVM, que apresentam ajustes a valor de mercado como variáveis dependentes, o
número de observações é inferior, sendo bastante reduzido no caso das regressões que
envolvem ajustes a valor de mercado de títulos DPV (disponíveis para venda), com
número médio de observações de 48 (Ajuste Negativo a VM), 52 (Ajuste Positivo a
VM) e 63 (Ajuste a VM). Já para as regressões que têm, como variáveis dependentes,
ajustes a VM específicos para títulos para negociação ou “gerais” (envolvendo ajustes
tanto para títulos DPV como para negociação), o número de observações não é tão
reduzido, com mínimo de 319 e máximo de 350. O menor número de observações para
as regressões que tratam especificamente dos ajustes relativos a títulos DPV é
conseqüência do reduzido número de bancos que realizam operações com títulos
classificados como DPV. Nos casos específicos das regressões com as variáveis
dependentes AjNVMdpv, AjPVMdpv e AjVMdpv, o baixo número de observações
consideradas é um aspecto limitador das análises estatísticas realizadas.
Conforme discutido por Gujarati (2000:202-3), não se deve conferir importância
exagerada aos coeficientes de explicação R2 na análise de resultados das regressões.
Segundo o autor, o objetivo da análise de regressão não é propriamente alcançar um R2
alto, mas obter estimativas confiáveis dos verdadeiros coeficientes de regressão da
população e fazer inferências sobre eles. Neste sentido, a obtenção de um baixo R2 não
quer dizer que o modelo seja necessariamente ruim, cabendo avaliar, prioritariamente, a
significância estatística dos coeficientes obtidos e se os seus sinais estão de acordo com
as expectativas teóricas que se tem a priori.
Os coeficientes de determinação R2 e R2 Ajustado constituem medidas de quão bem
um modelo se ajusta a um determinado conjunto de dados, indicando a proporção de
variação total na variável dependente explicada pelas variáveis independentes. Para
comparação de modelos, é recomendada a utilização do R2 Ajustado, que considera o
número de variáveis explicativas presentes em cada modelo. Vale citar que se o R2
Ajustado apresentar valor negativo, pode-se considerá-lo como sendo zero. Apesar de
ser recomendável que se comparem R2 Ajustados de modelos com o mesmo tamanho
de amostra e com as mesmas variáveis dependentes, realizamos a comparação deste
coeficiente de explicação relativamente aos modelos testados, tendo como objetivo
166

obter uma indicação comparativa de desempempenho dos modelos nas áreas


investigadas (crédito, TVM e derivativos). A tabela a seguir mostra os mais altos R2
Ajustados obtidos em cada um dos dez conjuntos de regressões.
Gráfico 7 – Melhor R2 Ajustado de cada conjunto de regressões

PDD
0,933
AjNVM 0,146
AjNVMdpv 0,177
AjNVMneg 0,132
APVM 0,166
APVMdpv 0,098
APVMneg 0,170
AjVM 0,260
AjVMdpv 0,212
ResDeriv 0,702
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1

PDD – Provisão para Devedores Duvidosos; AjNVM – Ajuste Negativo a Valor de Mercado (VM);
AjNVMdpv – Ajuste Negativo a VM Títulos DPV (Disponíveis para Venda); AjNVMneg – Ajuste
Negativo a VM Títulos para Negociação; APVM – Ajuste Positivo a VM; AjPVMdpv – Ajuste
Positivo a VM Títulos DPV; AjPVMneg – Ajuste Positivo a VM Títulos para Negociação; AjVM –
Ajuste a VM; AjVMdpv – Ajuste a VM Títulos DPV; ResDeriv – Resultado com Derivativos.
O gráfico acima permite visualizar que, em termos de poder explicativo, assumem
destaque as regressões relacionadas às áreas de crédito e derivativos, que têm como
variáveis dependentes a PDD e o resultado com derivativos (ResDeriv),
respectivamente. Nos modelos de TVM, são bem menores as proporções em que as
variáveis independentes explicam as variações nos ajustes a valor de mercado.
Nas regressões de crédito, na versão 1A, a variável independente de lucro (Lucro
Líquido expurgada a PDD) explica 90,2% das variações na PDD; na versão 2A, as
variáveis independentes (Lucro expurgada a PDD e Carteira de Crédito) explicam,
conjuntamente, 93,3% das variações na PDD, variável dependente. Nas regressões de
derivativos, na versão 1D, a variável independente de lucro (Lucro Líquido expurgado o
Resultado com Derivativos) explica 70,0% das variações no Resultado com
Derivativos; na versão 2D, as variáveis independentes (Lucro expurgado o Resultado
com Derivativos e Carteira de Derivativos) explicam, conjuntamente, 70,2% das
variações na variável dependente, ResDeriv.
167

Nas oito regressões relativas aos TVM, não há diferença marcante de magnitude dos
coeficientes de explicação R2 Ajustados para as regressões relacionadas aos ajustes
negativos (despesas de ajustes a VM), positivos (receitas de ajustes a VM) e “gerais”
(confrontação de receitas e despesas de ajustes a VM). Nestes três grupos, destacam-se
os R2 Ajustados das regressões com os ajustes gerais: 0,260 para AjVM e 0,212 para
AjVMdpv.
A análise dos sinais e da significância dos coeficientes das variáveis independentes de
lucro (lucro “pré-gerenciamento”, dado pelo lucro expurgado o valor da variável
dependente) e dos resultados do teste F (teste de significância do modelo), para as doze
versões de cada um dos dez conjuntos de regressões, permite evoluir na análise empírica
conduzida. Conforme já apontado nas “Análises Sintéticas”, após cada uma das tabelas
de resultados (Tabelas 20 a 29), pode-se montar a seguinte tabela resumida:
Tabela 30 – Resumo – Estatísticas de avaliação dos modelos
Área Variável Sinal conforme esperado Teste F (modelo)
dependente significativo não significativo total significativo não significativo
Crédito PDD 8 4 12 8 4
TVM AjNVM 0 1 1 6 6
TVM AjNVMdpv 0 1 1 2 10
TVM AjNVMneg 0 2 2 6 6
TVM APVM 10 0 10 11 1
TVM APVMdpv 5 4 9 3 9
TVM APVMneg 10 0 10 11 1
TVM AjVM 8 2 10 8 4
TVM AjVMdpv 4 8 12 3 9
Derivativos ResDeriv 8 2 10 10 2

PDD – Provisão para Devedores Duvidosos; AjNVM – Ajuste Negativo a Valor de Mercado (VM);
AjNVMdpv – Ajuste Negativo a VM Títulos DPV (Disponíveis para Venda); AjNVMneg – Ajuste
Negativo a VM Títulos para Negociação; APVM – Ajuste Positivo a VM; AjPVMdpv – Ajuste
Positivo a VM Títulos DPV; AjPVMneg – Ajuste Positivo a VM Títulos para Negociação; AjVM –
Ajuste a VM; AjVMdpv – Ajuste a VM Títulos DPV; ResDeriv – Resultado com Derivativos.

Na tabela acima, para cada conjunto de regressões testadas (em doze versões), indica-se,
na 3ª, 4ª e 5ª colunas, o número de coeficientes da variável independente de lucro (lucro
expurgado o valor da variável dependente) que apresentaram sinal conforme o esperado.
A 3ª coluna mostra o número de coeficientes com sinal conforme o esperado e
significativo, enquanto que a 4ª coluna mostra o número de coeficientes conforme a
expectativa, mas não significativo. Lembre-se que a apresentação de sinal conforme o
esperado sinaliza a confirmação da hipótese de suavização de resultados. Assim, quanto
maior o número de coeficientes com sinal conforme a expectativa, mais forte a
evidência de prática de gerenciamento de resultados contábeis. Note-se que cada
conjunto de regressões pode apresentar um máximo de doze coeficientes com sinal
168

conforme a expectativa, pois cada modelo foi testado em doze diferentes versões. Na 6ª
coluna, indica-se quantos modelos não apresentaram problema de significância no teste
F (teste de validade do modelo). Na 7ª e última coluna, é apontada a quantidade de
modelos que apresentaram problemas de significância no teste F (p-value > 0,05).
Somando-se os valores da 6ª e 7ª colunas, em cada linha, chega-se a 12, número de
versões testadas para cada variável dependente. As colunas 5 e 6 estão destacadas em
cinza, pois quanto maiores os valores nelas apresentados (sendo no máximo doze), mais
forte a evidência de suavização de lucros por meio da variável dependente em estudo.
Com base na análise dos sinais dos coeficientes das variáveis independentes de lucro
(colunas 3, 4 e 5 da tabela 30), pode-se afirmar que há evidências de suavização de
resultados na área de crédito (PDD), derivativos (ResDeriv), nos ajustes “gerais” a valor
de mercado, dados pela confrontação de ajustes positivos e negativos (AjVM e
AjVMdpv), e nos ajustes positivos a valor de mercado (AjPVM, AjPVMdpv e
AjPVMneg). Para os ajustes negativos a VM (AjNVM, AjNVMdpv e AjNVMneg),
contudo, as evidências obtidas não permitem confirmar a hipótese de suavização de
resultados.
Ainda tratando da análise dos coeficientes das variáveis independentes de lucro, a área
de crédito destaca-se como a que apresenta mais fortes evidências de gerenciamento de
resultados (GR). As regressões de crédito apresentaram todos os doze coeficientes com
sinal positivo (sendo oito significativos), o que se alinha com o emprego da PDD para
suavização de resultados contábeis. Com base no modelo 1A, depreende-se que quando
o lucro “pré-gerenciamento” (lucro, expurgado o valor da PDD, dado pela variável “LL
– PDD”) aumenta em uma unidade, a despesa de PDD aumenta em 0,539, o que cumpre
com o efeito de suavização de resultados.
Na área de derivativos, em dez das doze versões de modelos foram obtidos coeficientes
com sinal negativo (sendo oito significativos), o que indica o emprego dos derivativos
para a suavização de lucros. Com base no modelo 1A, depreende-se que quando o lucro
“pré-gerenciamento” (lucro, expurgado o resultado com derivativos, dado pela variável
“LL – ResDeriv”) aumenta em uma unidade, o resultado com derivativos é reduzido em
0,291, o que gera efeito de suavização de resultados. Na versão 2A, a cada aumento de
uma unidade no lucro (expurgada a variável dependente), o resultado com derivativos
reduz-se em 0,415.
169

Nos modelos de TVM (Títulos e Valores Mobiliários), conforme já observado, é preciso


segregar a análise de despesas (ajustes negativos), receitas (ajustes positivos) e
resultados (confrontação de ajustes positivos e negativos).
Nas despesas de TVM (ajustes negativos a valor de mercado), em nenhum dos modelos
há variáveis independentes de lucro com coeficientes significativos apresentando sinal
positivo, conforme é a expectativa no contexto da hipótese de suavização de resultados.
Os conjuntos de regressões das variáveis dependentes AjNVM (Ajuste Negativo a VM),
AjNVMdpv (Ajuste Negativo a VM Títulos DPV) e AjNVMneg (Ajuste Negativo a
VM Títulos para Negociação), cada um testado em doze versões, apresentaram,
respectivamente, onze, onze e dez coeficientes com sinal contrário à expectativa, o que
constitui evidência de não utilização dos ajustes negativos a valor de mercado como
instrumento de suavização de resultados contábeis.
Nas receitas de TVM (ajustes positivos), diferentemente, a maioria dos modelos
apresenta sinal de coeficiente da variável independente de lucro de acordo com o
esperado. Nos grupos de AjPVM (Ajuste Positivo a VM), AjPVMdpv (Ajuste Positivo
a VM Títulos DPV) e AjPVMneg (Ajuste Positivo a VM Títulos para Negociação), há,
respectivamente, dez, nove e dez coeficientes com sinal de acordo com a expectativa,
havendo problemas de significância de coeficiente apenas no caso de AjPVMdpv,
conjunto de regressões com reduzido tamanho de amostra (número médio de
observações igual a 52). Cabe ressalvar que, a despeito de a maior parte dos modelos
apresentar sinal do coeficiente da variável independente de lucro de acordo com o
esperado, o que sugere a confirmação da hipótese de suavização, não são elevadas as
magnitudes destes coeficientes (em módulo), o que aponta efeito de menor relevância
dos ajustes positivos a VM na suavização de resultados; neste aspecto, na versão 2A dos
modelos de AjPVM, por exemplo, o coeficiente da variável “LL – AjPVM” foi – 0,114.
Quanto aos resultados de TVM ou ajustes “gerais” de TVM (obtidos a partir da
confrontação dos ajustes a VM negativos com os positivos), os conjuntos de regressões
com as variáveis AjVM (Ajuste a VM) e AjVMdpv (Ajuste a VM Títulos DPV)
apresentam, respectivamente, dez e doze versões de modelos com coeficientes
negativos, de acordo com a expectativa, o que indica a confirmação da hipótese de
suavização. No conjunto de regressões da variável AjVMdpv, contudo, oito dos doze
coeficientes não são significativos, com o que provavelmente contribui o reduzido
tamanho amostral (número médio de observações igual a 63). Apesar da evidência
favorável à suavização de resultados, em virtude de a maior parte dos coeficientes das
170

variáveis independentes de lucro serem negativos, cumpre observar que, assim como no
caso dos ajustes positivos a VM, as magnitudes dos referidos coeficientes (em módulo)
não são elevadas. Este é o caso, por exemplo, da versão 2A das regressões de AjVM,
em que a variável de lucro “LL – AjVM” apresenta coeficiente – 0,151.
Pelo exposto, pode-se concluir que há evidências de emprego das operações de crédito e
derivativos na suavização de resultados contábeis, sendo que a área de crédito é a que
apresenta evidências mais fortes de prática de GR. Quanto aos TVM, há evidências de
emprego de ajustes positivos a valor de mercado e de ajustes “gerais” (confrontação de
ajustes positivos e negativos) na suavização de lucros, não havendo base empírica para
atestar o emprego dos ajustes negativos no GR. Cabe observar, contudo, que o efeito na
suavização de resultados revelou-se mais forte no caso de operações de crédito, por
meio da PDD, e derivativos, por meio do resultado com derivativos, nesta ordem de
importância, tendo posição de menor relevância os ajustes a VM de TVM. Desta
maneira, constata-se que a PDD é o instrumento mais “poderoso” em termos de
suavização de lucros bancários, seguido pelos derivativos; os ajustes a valor de mercado
de TVM (especialmente os ajustes positivos, que se referem a receitas de valorização de
títulos no mercado) também favorecem a suavização de resultados contábeis, mas
desempenham papel menos relevante, não contribuindo de forma tão significativa como
a PDD e o resultado com derivativos. Os ajustes negativos a VM, por sua vez, não
exercem função de alisamento dos lucros bancários. Quanto aos derivativos, cumpre
observar que o efeito de suavização de resultados desempenhado alinha-se com a
utilização, por parte dos bancos, dos derivativos como instrumento de proteção (hedge),
de maneira a evitar maiores flutuações nos lucros contábeis das instituições financeiras.
A avaliação dos resultados do teste F (significância dos modelos) corrobora a validade
dos modelos de crédito (oito versões significativas e quatro não significativas) e
derivativos (dez versões significativas e duas não significativas). Nos ajustes positivos a
valor de mercado de TVM, são bons os desempenhos dos modelos de AjPVM e
AjPVMneg, com onze modelos válidos e apenas um não significativo; os modelos de
AjPVMdpv, por sua vez, apresentam apenas três versões significativas, o que pode ser
explicado também pelo reduzido tamanho de amostra. Nos ajustes “gerais” a VM
(confrontação de ajustes positivos e negativos), o conjunto de regressões de AjVM
apresenta oito modelos significativos e quatro não significativos, o que pode ser
considerado desempenho de razoável para bom; da mesma forma que nos ajustes
positivos, o conjunto de regressões específico para ajustes de títulos DPV (AjVMdpv)
171

também apresenta desempenho insatisfatório no teste F, com apenas três modelos


considerados válidos (significativos). Constata-se a influência negativa do reduzido
tamanho amostral no desempenho e na validade dos modelos específicos para ajustes a
valor de mercado de títulos disponíveis para venda.
Em suma, constata-se o efeito de suavização no resultado contábil dos bancos por meio
das despesas com provisão para devedores duvidosos (operações de crédito), resultado
com derivativos e também, mas em menor intensidade, por meio das receitas com
ajustes positivos a valor de mercado de TVM. As despesas com ajustes negativos a
valor de mercado de títulos, por sua vez, não tiveram confirmada sua participação no
processo de GR e de suavização dos lucros das instituições financeiras em atuação no
Brasil.

Análise das versões dos modelos


Para cada variável dependente estudada, foram realizados testes em doze diferentes
versões, divididas em dois grupos: 1 (versões 1A a 1F) e 2 (2A a 2F). Os resultados das
regressões nas versões mencionadas constam das tabelas 20 a 29. Conforme descrito no
item 4.2, cada versão empregou diferente conjunto de variáveis independentes, com
formas de mensuração de variáveis também diferenciadas.
No que se refere às versões dos testes de regressão e às diferentes formas empregadas
para as variáveis independentes, o quadro a seguir mostra, na 3ª e 4ª colunas, as versões
que apresentaram os melhores desempenhos, nos grupos 1 e 2, respectivamente. Assim,
nas regressões em que a PDD é a variável dependente, por exemplo, destacaram-se, no
grupo 1, como primeira e segunda melhor classificadas, as versões 1A e 1D e, no grupo
2, as versões 2A e 2B. Na regressão em que a variável dependente é o AJNVMdpv,
apenas a versão D teve desempenho satisfatório, tanto no grupo 1 como no grupo 2. Nas
colunas 5 a 16, indica-se um “x” nas versões em que a variável independente de lucro
apresentou problema de significância. Na última coluna, indica-se, para cada variável
dependente, o total de vezes em que a variável independente de lucro apresentou
problema de significância. E, na última linha, indica-se o total de vezes em que cada
versão de regressão apresentou problema de significância na variável independente de
lucro. Na versão 1A, por exemplo, a variável independente de lucro apresentou
problema de significância em três das dez regressões; e, no conjunto de regressões da
PDD, em uma “leitura horizontal”, houve problema de significância com a variável
independente de lucro em quatro das doze versões testadas.
172

Quadro 11 – Resumo de desempenho das versões dos testes de regressão


variável melhores versões variável indep.com problema de significância
área dependente grupo 1 grupo 2 1a 1b 1c 1d 1e 1f 2a 2b 2c 2d 2e 2f soma
crédito PDD a, d a, b x x x x 4
TVM AjNVM d, a a, d x x x x x x x 7
TVM AjNVMdpv d d x x x x x x x x x x 10
TVM AjNVMneg d, a a, d x x x x x x 6
TVM AjPVM d, e d, a x x x 3
TVM AjPVMdpv e, b a x x x x x x x 7
TVM AjPVMneg d, e d, a x x 2
TVM AjVM d, e d, e x x x x 4
TVM AjVMdpv d d, a x x x x x x x x x 9
Derivativos ResDeriv d, e d, a x x x 3
soma 3 4 8 1 2 7 1 5 10 1 3 10 55

Analisando-se a 3ª e 4ª colunas do quadro, depreende-se que a versão D destacou-se


como a de melhor desempenho, figurando, no grupo 1, como melhor classificada em
oito dos dez conjuntos de regressões, e ainda como segunda melhor classificada em um
conjunto de regressões (PDD). No grupo 2, também merece destaque a versão D,
melhor classificada em seis dos dez conjuntos de regressões, e segunda melhor
classificada em dois outros conjuntos (AjNVM e AjNVMneg). A versão A também
apresentou bom desempenho: no grupo 1, melhor classificada e segunda melhor
classificada em uma e duas oportunidades, respectivamente; e, no grupo 2, melhor
classificada e segunda melhor classificada em quatro oportunidades (aparecendo por
oito vezes em destaque na 4ª coluna). Cabe também mencionar a versão E, destacada
por seis vezes nas colunas 3 e 4 do quadro.
Lembre-se que as versões A e D são semelhantes, mensurando a variável independente
de lucro com os valores absolutos das variáveis de Lucro Líquido (LL) e da variável
dependente. A diferença da versão A para a D é que esta divide (pondera) as variáveis
pelo Ativo Total (AT). No caso da PDD, por exemplo, a variável independente, na
versão A, é dada por “LL – PDD” e, na versão D, por “(LL – PDD)/AT”. Já a versão
1E, por sua vez, utiliza a variação entre duas datas de “LL – PDD”, variação em valor
absoluto. Conclui-se, portanto, que as variáveis mensuradas nas formas propostas nas
versões A e D apresentaram desempenho superior às outras versões.
A constatação acima é corroborada pela análise da segunda parte do quadro (intitulada
“variável independente com problema de significância”). Verifica-se que as versões A e
D foram as que apresentarm menor número de problemas com a variável independente
de lucro, coforme apontado na última linha do quadro (com os totais de 3, 1, 1 e 1 nas
colunas referentes às versões 1A, 1D, 2A e 2D, respectivamente). As versões C e F, por
sua vez, foram as que apresentaram pior desempeho, com os totais de 8, 7, 10 e 10, nas
173

versões 1C, 1F, 2C e 2F, respectivamente. Ressalte-se que as versões C e F são


similares, mensurando as variáveis independentes como variação entre duas datas na
forma decimal (com a diferença de que a versão F divide variáveis pelo Ativo Total).
No caso da PDD, por exemplo, a variável independente de lucro, na versão 1C, é
mensurada como a variação de “LL – PDD” entre duas datas, com apresentação da
variação na forma decimal (e não como valor absoluto, como no caso da versão B).
Por fim, cabe aproveitar os somatórios indicados na última coluna, onde é apontado,
para cada conjunto de regressões, o número de vezes em que a variável independente de
lucro apresentou problema de significância. As regressões de crédito (PDD) e
derivativos (resultado com derivativos) apresentaram bom desempenho, com problemas
de significância na variável independente (de lucro) por quatro e três vezes,
respectivamente. Quanto às regressões relacionadas aos TVM, houve problemas
marcantes no caso das regressões relativas aos ajustes negativos a valor de mercado
(AjNVM, AjNVMdpv e AjNVMneg) e também quando se trata de ajustes específicos
para títulos DPV (AjPVMdpv e AjVMdpv). Para os ajustes positivos a valor de
mercado (AjPVM) e para os ajustes “gerais” (AjVM), por outro lado, o desempenho foi
satisfatório, à exceção dos casos de ajustes específicios para títulos DPV, como já
observado. Desta maneira, os somatórios apresentados na última coluna do quadro 10
reforçam as conclusões formuladas anteriormente, que destacam como satisfatórias, e
com indicação de confirmação da hipótese de suavização de resultados contábeis, as
evidências obtidas para as regressões de crédito (PDD), ajustes positivos a valor de
mercado de TVM e derivativos.
174
175

CAPÍTULO VI – CONSIDERAÇÕES FINAIS


__________________________________________________________

1. Visão sintética da pesquisa realizada

Introdução ao tema

As atividades desenvolvidas pelas instituições financeiras (IF) são de grande relevância


para o desenvolvimento econômico das nações. Uma das bases de um sistema
financeiro sólido consiste na transparência dos bancos perante o mercado de capitais.
Práticas de gerenciamento de resultados contábeis (GR), contudo, podem constituir um
obstáculo para que as demonstrações financeiras representem adequadamente a real
situação patrimonial, financeira e de resultados das IF.
O GR pode ser entendido como um conjunto de ações intencionais, por parte dos
preparadores de demonstrações financeiras, com impactos sobre a representação
contábil da entidade, dentro dos limites permitidos pelas normas e padrões contábeis,
tendo em vista o atendimento de interesses dos gestores da organização objeto da
divulgação financeira. Tais interesses, de modo geral, não se coadunam com os
objetivos de evidenciar a realidade econômica de cada negócio, fornecer informação
fidedigna aos usuários da informação contábil, e reduzir a assimetria informacional para
com o público externo. Com isto, o GR pode distorcer as informações divulgadas pelas
empresas, com efeitos sobre a análise dos participantes do mercado e, em conseqüência,
também sobre o processo de alocação de recursos na economia. Práticas de GR,
portanto, podem resultar na divulgação de informações que não refletem
adequadamente a situação da entidade, pois objetivam o atendimento de interesses
particulares, não se propondo, prioritariamente, a refletir as percepções e a representar
rigorosamente as reais expectativas dos gestores relativamente à situação patrimonial
presente e futura da entidade.
A informação divulgada pelas empresas tem o potencial de influenciar seus custos de
captação. A empresa percebida como de menor capacidade de geração de resultados
futuros pode enfrentar a exigência de juros mais elevados em suas captações, dada a
maior percepção de risco. Quanto ao objetivo de reduzir custos de financiamento,
importa destacar uma particularidade dos bancos: encontram, nos recursos captados
junto ao público, a matéria-prima para suas operações. A característica marcante de
estarem em constante processo de captação remete a outra particularidade do setor
176

bancário: a necessidade de manutenção de imagem de solidez financeira. Os dois


elementos – constante captação e necessidade de imagem de solidez –, estão
intimamente conectados: o mercado-alvo das IF (agentes superavitários) só será
convencido a alocar seus recursos em determinado banco se este for reconhecido como
uma instituição bem gerenciada, com boas perspectivas (o que implica potencial de
geração de resultados futuros) e não sujeita a perdas que coloquem em risco sua saúde
patrimonial.
Neste contexto, defende-se, neste trabalho, que os bancos apresentam particular e
especial interesse na suavização de resultados (income smoothing), prática de GR que
fomenta a imagem de constância de lucros e distanciamento de riscos (pela menor
volatilidade apresentada nos resultados).
Este trabalho teve como propósito responder a seguinte questão: Há evidências de que
as instituições financeiras utilizam a contabilização de operações de crédito, TVM e
derivativos como instrumento de GR, tendo em vista a suavização dos resultados
divulgados? Assim, questiona-se se os padrões contábeis vigentes no SFN têm sido
utilizados para a fidedigna representação da situação patrimonial das IF ou se estas têm
utilizado as normas e os procedimentos contábeis relativos às operações de crédito,
TVM e derivativos como instrumentos de GR, tendo em vista interesses dos gestores
bancários.
No que se refere às justificativas para a realização de pesquisa envolvendo o tema de
gerenciamento de resultados contábeis (eanings management) em IF, cabe mencionar,
primeiramente, que o GR pode revelar-se um obstáculo à consecução dos objetivos das
demonstrações financeiras, com prejuízos à transparência empresarial e possíveis
impactos negativos para a solidez do sistema financeiro e a eficiência de mercado.
Outro aspecto é a carência de estudos voltados às IF e que contemplem não somente as
operações de crédito. Acrescente-se a isto a relevância das operações de crédito, TVM e
derivativos no contexto bancário: somando-se as posições ativas nas três áreas
mencionadas, estas representavam, conjuntamente, 61,1% dos ativos dos 50 maiores
bancos e 60,1% dos ativos de todo o SFN em 31/12/2006.
No capítulo II e III foram desenvolvidas revisões sobre duas relevantes áreas de
conhecimento para a presente pesquisa. No capítulo II, tratou-se do gerenciamento de
resultados contábeis, explorando-se conceitos como a discricionariedade, as motivações
para o GR, e suas modalidades, entre as quais figura a suavização de resultados. No
capítulo III, foi abordada a contabilidade bancária, focalizando-se aspectos específicos
177

das áreas de crédito, TVM e derivativos, com discussão sobre as oportunidades de


práticas de GR nas três áreas analisadas.

Suavização de resultados
A suavização de resultados é uma forma de sinalizar o nível de resultados futuros que os
investidores podem esperar (Poitras et al, 2005:914). Assim, os bancos podem utilizar o
instrumento de suavização para transmitir imagem de constância de lucros e, com isto,
influenciar a percepção de risco dos investidores e reduzir seus custos de captação.
Beatty et al (1995:234) também afirmam a existência de interesses no GR, por parte dos
gestores bancários, tendo em vista a redução do custo de capital. Nesta linha,
Kanagaretnam et al (2001:7) observam que, como o custo dos financiamentos obtidos
depende do risco percebido, os gestores dos bancos possuem incentivo para suavizar
lucros e reduzir maiores flutuações nos resultados contábeis.
Ademais, apresentação de padrão consistente de resultados reduz as pressões de órgãos
de supervisão bancária: a constância de bons resultados não somente chamam menos a
atenção da fiscalização como facilitam a captação de recursos, o que também favorece a
atividade da instituição (Collins et al, 1995:268).
Conforme McNichols & Wilson (1989:2), a hipótese de suavização de resultados prevê
que as empresas escolhem acumulações (accruals) tendo em vista minimizar a variação
dos lucros divulgados. Quando o lucro é muito alto, as empresas escolhem acumulações
para reduzi-lo; quando é muito baixo, escolhem acumulações para aumentá-lo. Assim,
se a empresa puder escolher entre dois períodos para reconhecer uma receita, a opção
mais provável é aquela que resulta em fluxo mais suavizado de lucros.
Mas não é apenas com a escolha do momento de reconhecimento de receitas e despesas
que se pode suavizar resultados. Outro instrumento é a efetiva realização de operações,
como a venda de títulos em momento considerado oportuno. Assim, há formas de GR
que influenciam tão somente o volume de receitas e despesas reconhecidas conforme o
regime de competência, sem afetar condições econômicas da empresa, mas há também
as que geram efetivo impacto no fluxo de caixa.
Trueman & Titman (1988:127-128, 135) mencionam razões para que os gestores
corporativos adotem práticas de suavização de resultados: crença de que os investidores,
no mercado de ações, pagam mais por uma empresa com um fluxo suavizado de
resultados; possibilidade de mitigar demandas de investidores por retornos esperados,
reduzindo o custo de captação da empresa; dada a melhor avaliação quanto à
probabilidade de falência, pode-se afetar, de maneira favorável à empresa, os termos de
178

negociações com credores e investidores; ao reduzir a percepção de risco dos


participantes do mercado, a empresa pode obter melhores condições nas operações
realizadas (a exemplo das captações), aumentando o fluxo de caixa esperado para os
acionistas, bem como o valor da empresa (nesse sentido, a suavização de resultados é
atividade que “agrega valor”).
Questão chave para o entendimento da suavização de resultados refere-se ao fato de que
a regularidade no comportamento de itens das demonstrações financeiras pode ser
interpretada, no mercado, como sinal de estabilidade e segurança, sendo que a excessiva
flutuação pode indicar maior risco empresarial. Assim, Bartov (1993:842-843) observa
que a divulgação de resultados com menor volatilidade pode transmitir, ao mercado
acionário, informação positiva sobre a persistência futura dos lucros correntes. Por este
motivo, podem ser observadas elevadas provisões (despesas) em períodos considerados
bons (lucros favoráveis) e redução das mesmas em períodos desfavoráveis
(Fuji,2004:55).
Pelo exposto, entende-se a suavização de resultados como uma forma de GR com o
propósito de apresentar resultados com menor oscilação, com distribuição mais
“alisada”, não caracterizada por “picos e vales”, mascarando as reais conseqüências das
decisões gerenciais, e tendo em vista a obtenção de melhores condições nas transações
com contrapartes, a exemplo de credores e investidores, que, pela percepção de menor
nível de risco, podem demandar taxas de juros menores em empréstimos concedidos e
aceitar pagar preços mais elevados pelos títulos emitidos pelas empresas. A
conseqüência da suavização de resultados, em termos de divulgação financeira, é que o
resultado apresenta menor variação relativamente ao comportamento que seria
observado caso não se considerassem os efeitos da referida prática de GR.
Na presente pesquisa, que trata de instituições financeiras, considera-se a hipótese de
suavização de resultados, pois entende-se que o objetivo de suavização, de maneira
geral, seja mais forte para os bancos, que carecem da manutenção de imagem de solidez
financeira para o sucesso de seus negócios. A menor variação nos resultados é uma
forma de transmitir sinais de constância e bom desempenho, em benefício da imagem de
solidez.
Um dos fatores que colaboram para a constituição de imagem de solidez financeira é a
capacidade de geração de resultados futuros, e uma das bases para os agentes do
mercado avaliarem tal capacidade é, justamente, o histórico de resultados apresentados.
179

Em tal contexto, ganha relevância, para os bancos, a divulgação de seqüência constante


de lucros, sem picos e vales que podem sinalizar riscos ou deficiências de desempenho.
Outro argumento favorável à hipótese de que os bancos têm interesse na divulgação de
resultados suavizados é dado por Trueman & Titman (1988:137), que afirmam que a
realização de captações por meio da venda de títulos de dívida provê incentivo para que
uma empresa suavize o resultado divulgado. Ocorre que, nos bancos, a realização de
captações é uma constante. Configura-se, em função desta particularidade –
dependência de constante captação de recursos no mercado –, o interesse bancário na
divulgação de lucros não caracterizados pela volatilidade. Ademais, como nos bancos a
captação é uma constante e há necessidade de manter imagem confiável, considera-se a
hipótese de suavização de resultados como mais apropriada relativamente à hipótese de
aumento de lucros antes da emissão de uma dívida em particular (como no caso de GR
previamente à emissão de ações, hipótese confirmada por Teoh et al, 1998).
Pelo exposto, considera-se razoável a suposição de emprego, por parte dos bancos, de
práticas de suavização, em benefício da divulgação de resultados sem maiores variações
e da manutenção de imagem de solidez financeira perante o mercado.

Metodologia
A suavização de resultados, que se propõe a reduzir a variabilidade dos lucros
divulgados, prevê, em sua hipótese orientadora, que contas específicas (como a PDD)
exerçam influência no sentido oposto ao da variação do lucro líquido. No caso de
operações de crédito, por exemplo, quando o lucro (excluído o efeito da despesa de
PDD) aumenta, tem-se a expectativa de que a PDD atue no sentido de reduzi-lo; se o
lucro cai, pode-se postergar o registro de provisões, de maneira que a PDD influencie o
resultado de forma menos adversa relativamente a períodos anteriores; cumpre-se,
assim, com o papel de suavização do resultado contábil final.
Neste trabalho, foram testadas hipóteses de utilização de diferentes contas (contábeis),
por parte dos bancos, com vistas ao alisamento de resultados. As rubricas analisadas
foram: PDD, ajustes a valor de mercado de TVM e resultado com derivativos.
Na pesquisa empírica, foram avaliados dados contábeis semestrais das 50 maiores IF em
atuação no SFN, no período de junho de 2002 a dezembro de 2006. Foram empregadas
as técnicas estatísticas de correlação e regressão, tendo em vista identificar a possível
utilização da PDD (operações de crédito) ou de itens de resultado de TVM (ajustes a
valor de mercado) ou derivativos para a suavização de resultados. O período
considerado na pesquisa deve-se ao início de vigência de normas específicas para as
180

áreas de TVM e derivativos, notadamente as Circulares 3.068 e 3.082, editadas pelo


Banco Central em 2001 e 2002, respectivamente.
Nos modelos de regressão adotados, constam, como variável dependente, a despesa com
PDD, ou ajustes a valor de mercado de TVM, ou o resultado de operações com
derivativos. O resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido), expurgando-se deste o
resultado relativo à variável dependente, é utilizado como variável explicativa. A lógica,
no caso, é testar a relação entre itens de resultado em uma modalidade operacional
(crédito, TVM ou derivativos) e o lucro líquido expurgado do efeito da variável
dependente. O detalhamento dos modelos encontra-se nos capítulos IV e V.
Quanto aos ajustes a valor de mercado de TVM, foram utilizadas as seguintes variáveis:
Ajustes negativos a valor de mercado (despesas)
AjNVM – Ajuste Negativo a Valor de Mercado Soma de despesas geradas
com a avaliação a valor de mercado de títulos para negociação ou disponíveis para
venda.
AjNVMdpv - Ajuste Negativo a Valor de Mercado – DPV Despesas
geradas com a avaliação a valor de mercado dos títulos disponíveis para venda.
AjNVMneg – Ajuste Negativo a Valor de Mercado – negociação Despesas
geradas com a avaliação a valor de mercado dos títulos para negociação.

Ajustes positivos a valor de mercado (receitas)


AjPVM – Ajuste Positivo a Valor de Mercado Receitas geradas com a
avaliação a valor de mercado de títulos para negociação ou disponíveis para venda.
AjPVMdpv – Ajuste Positivo a Valor de Mercado – DPV Receitas geradas
com a avaliação a valor de mercado dos títulos disponíveis para venda.
AjPVMneg – Ajuste Positivo a Valor de Mercado – negociação Receitas
geradas com a avaliação a valor de mercado dos títulos para negociação.

Ajustes “gerais” a valor de mercado (confrontação de despesas e receitas)


AjVM - Ajuste a Valor de Mercado Efeito líquido, no resultado contábil,
das receitas e despesas com avaliação a valor de mercado dos títulos para negociação e
DPV.
AjVMdpv – Ajuste a Valor de Mercado - DPV Efeito líquido, no resultado
contábil, a partir da avaliação a valor de mercado dos títulos disponíveis para venda.

Relativamente às oportunidades de GR nas operações de crédito, cumpre observar que o


valor da PDD é definido em função do julgamento do gestor quanto ao risco dos
181

empréstimos concedidos, ensejando discricionariedade nos ajustes realizados em ativos


por meio da provisão estabelecida, com impacto nos resultados. No que se refere aos
TVM, identificam-se possibilidades de GR na classificação dos títulos adquiridos, na
marcação a mercado, bem como nas decisões quanto à venda de títulos (incluindo a
escolha quanto ao momento da alienação). Com os derivativos, além das oportunidades
relativas à classificação e à marcação a mercado, a própria decisão de realizar uma
operação pode ter como principal motivação o GR. Isto, porque os derivativos podem
ser usados com diferentes propósitos, como especulação ou hedge (proteção, tendo em
vista reduzir possibilidades de perda e evitar oscilações nos resultados).
Pelo exposto, percebe-se que, no caso de operações de crédito, as oportunidades de GR
advêm, fundamentalmente, da ação discricionária do gestor. Já no caso de TVM e
derivativos, as oportunidades, além de envolverem a classificação e a marcação a
mercado, remetem à efetiva realização de operações com estes instrumentos, seja a
venda de títulos em momentos considerados oportunos, para incrementar lucros do
período, ou o fechamento de contratos de derivativos destinados à redução de possíveis
perdas, com efeitos sobre a volatilidade dos resultados contábeis divulgados.
As hipóteses relativas ao sinal do coeficiente de correlação e ao sinal da variável
explicativa de lucro (no caso da análise de regressão), conforme a lógica da prática de
suavização de resultados, são as seguintes:
Crédito – variável: PDD (provisão para devedores duvidosos)
Correlação: correlação positiva entre a PDD e o resultado contábil (excluída deste a
PDD).
Regressão: relação positiva entre PDD e o resultado contábil (excluído deste a PDD).
TVM – variável: despesas de ajuste negativo a valor de mercado
Correlação: correlação positiva entre as despesas com avaliação de TVM e o resultado
contábil (excluído deste o efeito das referidas despesas).
Regressão: relação positiva entre a despesa de ajuste a valor de mercado de TVM e o
resultado contábil (excluído deste a referida despesa).
TVM – variável: receitas de ajuste positivo a valor de mercado
Correlação: correlação negativa entre as receitas com avaliação de TVM e o resultado
contábil (excluído deste o efeito das referidas receitas).
Regressão: relação negativa entre a receita de ajuste a valor de mercado de TVM e o
resultado contábil (excluído deste a referida receita).
182

TVM – variável: resultado de ajuste positivo a valor de mercado (confrontação de


ajustes negativos e positivos)
Correlação: correlação negativa entre os resultados com avaliação de TVM e o resultado
contábil (excluído deste o efeito dos resultados com avaliação de TVM).
Regressão: relação negativa entre o resultado de ajuste a valor de mercado de TVM e o
resultado contábil (excluído deste o efeito da variável dependente).
Derivativos – variável: resultado com derivativos
Correlação: correlação negativa entre o resultado com derivativos e o resultado contábil
(excluído deste o resultado com derivativos).
Regressão: relação negativa entre o resultado com derivativos e o resultado contábil
(excluído deste o resultado com derivativos).

No que se refere às expectativas acima apresentadas, cabe lembrar que a apresentação


de sinal de coeficiente conforme o esperado é evidência que indica a confirmação da
hipótese de suavização de resultados.

Resultados obtidos
As análises foram realizadas para o conjunto das 50 maiores instituições atuantes no
SFN, não sendo propósito a identificação de comportamentos individualizados em
termos de GR. O detalhamento dos resultados encontra-se no capítulo V.
Na análise de correlação, tanto para a PDD, como para cada item de resultado de TVM,
e para o resultado com derivativos, foram avaliados os coeficientes de correlação entre
estes itens citados e o resultado contábil “pré-suavização” de seis diferentes formas
(identificadas como versões “A” a “F”), conforme explicado no capítulo V, item 3.2.
No que se refere aos coeficientes de correlação obtidos e respectivos sinais, crédito
apresentou os resultados mais significativos. Na versão A, o coeficiente foi 0,950 (p-
value 0,000), o que indica alta correlação positiva entre a PDD e o resultado contábil
(expurgado da PDD), sinalizando a confirmação da hipótese de suavização de
resultados. Ressalte-se que, nas seis versões, os coeficientes apresentaram sinal de
acordo com a expectativa.
O segundo grupo a ser destacado é o de derivativos, no qual as seis versões
apresentaram coeficientes negativos, conforme o esperado, o que sugere a confirmação
da hipótese de suavização. As versões D e E merecem destaque, com coeficientes,
respectivamente, –0,837 e –0,579 (ambos significativos). Os resultados apontam para o
efeito de suavização de resultados desempenhado pelos derivativos.
183

Quanto aos TVM, é preciso segregar a análise de despesas, receitas e resultados. Nas
despesas de TVM (ajustes negativos a valor de mercado), os resultados, em geral,
apresentaram problemas de significância e, mais grave, na maioria dos casos com
coeficientes de correlação com sinal contrário ao esperado, não confirmando, portanto, a
hipótese de suavização. Nas receitas de TVM (ajustes positivos), diferentemente, quase
todos os resultados apresentaram sinal de coeficiente de correlação de acordo com o
esperado. De maneira geral, constata-se o efeito de suavização no resultado contábil por
meio das receitas com ajustes positivos a valor de mercado de títulos para negociação.
Quanto aos “resultados” de ajustes de TVM (obtidos a partir da confrontação dos
ajustes a valor de mercado negativos e positivos), os coeficientes de correlação
apresentaram sinais negativos, conforme o esperado, o que indica o efeito de suavização
dos ajustes de TVM a valor de mercado.
Em relação aos TVM, a principal conclusão é que os ajustes negativos a valor de
mercado (despesas) não demonstram efeito de suavização de resultados contábeis,
enquanto que os ajustes positivos (receitas) desempenham o papel de suavização, com
resultados significativos para os títulos para negociação. Em relação a crédito e
derivativos, confirmou-se a hipótese de suavização, com resultados consistentes.
Nos modelos de regressão adotados, constam, como variável dependente, a despesa com
PDD, ou itens de resultado de operações com TVM (ajustes a valor de mercado), ou o
resultado de operações com derivativos. Como variável explicativa, é utilizado o
resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido) expurgando-se deste o resultado relativo à
variável dependente. A lógica é testar a relação entre o resultado em uma modalidade
operacional (crédito, TVM ou derivativos) e o lucro líquido expurgado do efeito da
variável dependente. Outras explicações sobre os modelos adotados, incluindo descrição
sobre variáveis de controle e hipóteses assumidas, encontram-se no capítulo IV.
No total, há dez variáveis dependentes, sendo uma relativa a operações de crédito
(PDD), uma relativa a derivativos (ResDeriv: Resultado com Derivativos) e oito
relativas a ajustes a valor de mercado de TVM. Para cada variável dependente, foram
realizados testes em doze versões, divididas em dois grupos, de “1A” a “1F” e de “2A”
a “2F”, conforme detalhado no capítulo V, item 4.2.
As evidências obtidas com base nos testes de regressão são compatíveis com os
resultados da análise de correlação. A análise de regressão, portanto, corrobora as
conclusões formuladas a partir dos resultados da análise de correlação, verificando-se a
compatibilidade entre os resultados das duas técnicas estatísticas empregadas.
184

Em termos de poder explicativo, destacaram-se as regressões relacionadas às áreas de


crédito e derivativos, que têm como variáveis dependentes a PDD e o resultado com
derivativos (ResDeriv), respectivamente. Nos modelos de TVM, são bem menores as
proporções em que as variáveis independentes explicam as variações nos ajustes a valor
de mercado.
Com base na análise dos sinais dos coeficientes das variáveis independentes de lucro
(lucro “pré-gerenciamento”, dado pelo lucro expurgado o valor da variável dependente),
pode-se afirmar que há evidências de suavização de resultados na área de crédito
(PDD), derivativos (ResDeriv), nos ajustes “gerais” a valor de mercado, dados pela
confrontação de ajustes positivos e negativos (AjVM e AjVMdpv), e nos ajustes
positivos a valor de mercado (AjPVM, AjPVMdpv e AjPVMneg). Para os ajustes
negativos a VM (AjNVM, AjNVMdpv e AjNVMneg), contudo, as evidências obtidas
não permitem confirmar a hipótese de suavização de resultados.
Ainda tratando da análise dos coeficientes das variáveis independentes de lucro, a área
de crédito destaca-se como a que apresentou mais fortes evidências de GR. As
regressões de crédito apresentaram, nas doze versões, coeficientes com sinal positivo
(sendo oito significativos) , o que se alinha com o emprego da PDD para suavização de
resultados contábeis. Com base no modelo 1A, depreende-se que quando o lucro “pré-
gerenciamento” (lucro, expurgado o valor da PDD, dado pela variável “LL – PDD”)
aumenta em uma unidade, a despesa de PDD aumenta em 0,539 (em valor absoluto), o
que cumpre com o efeito de suavização de resultados.
Na área de derivativos, em dez das doze versões de modelos foram obtidos coeficientes
com sinal negativo (sendo oito significativos), o que indica o emprego dos derivativos
para a suavização de lucros. Com base no modelo 1A, depreende-se que quando o lucro
“pré-gerenciamento” (lucro, expurgado o resultado com derivativos, dado pela variável
“LL – ResDeriv”) aumenta em uma unidade, o resultado com derivativos é reduzido em
0,291, o que gera efeito de suavização de resultados. Na versão 2A, a cada aumento de
uma unidade no lucro, o resultado com derivativos reduz-se em 0,415.
Nos modelos de TVM, é preciso segregar a análise de despesas (ajustes negativos),
receitas (ajustes positivos) e resultados (confrontação de ajustes positivos e negativos).
Nas despesas de TVM (ajustes negativos a valor de mercado), em nenhum dos modelos
houve variáveis independentes de lucro com coeficientes significativos apresentando
sinal positivo, de maneira que as evidências apontam para a não utilização dos ajustes
negativos a valor de mercado como instrumento de suavização de resultados contábeis.
185

Nas receitas de TVM (ajustes positivos a VM), diferentemente, a maioria dos modelos
apresentou sinal de coeficiente da variável de lucro de acordo com o esperado. Apesar
das evidências no sentido da confirmação da hipótese de suavização, cabe ressalvar que
não são elevadas as magnitudes dos coeficientes obtidos (em módulo), o que aponta
efeito de menor relevância dos ajustes positivos na suavização de resultados.
Quanto aos resultados de TVM (ajustes “gerais”, obtidos a partir da confrontação dos
ajustes negativos com os positivos), apesar da evidência favorável à confirmação da
hipóstese de suavização, em virtude de a maior parte dos coeficientes das variáveis de
lucro serem negativos, cumpre observar que, assim como no caso dos ajustes positivos,
as magnitudes dos referidos coeficientes (em módulo) não são elevadas.
Pelo exposto, pode-se concluir que há evidências de emprego das operações de crédito e
derivativos na suavização de resultados contábeis, sendo que a área de crédito é a que
apresenta evidências mais fortes de prática de GR. Quanto aos TVM, há evidências de
emprego de ajustes positivos a valor de mercado e de ajustes “gerais” (confrontação de
ajustes positivos e negativos) na suavização de lucros, não havendo base empírica para
atestar o emprego dos ajustes negativos no GR. Cabe observar que o efeito na
suavização de resultados revelou-se mais forte no caso de operações de crédito, por
meio da PDD, e derivativos, por meio do resultado com derivativos, nesta ordem de
importância, tendo posição de menor relevância os ajustes a VM de TVM. Desta
maneira, constata-se que a PDD é o instrumento mais “poderoso” em termos de
suavização de lucros bancários, seguido pelos derivativos; os ajustes a valor de mercado
de TVM (especialmente os ajustes positivos, que se referem a receitas de valorização de
títulos no mercado) também favorecem a suavização de resultados contábeis, mas
desempenham papel menos relevante, não contribuindo de forma tão significativa como
a PDD e o resultado com derivativos. Os ajustes negativos a VM, por sua vez, não
exercem função de alisamento dos lucros bancários.

2. Comentários sobre os resultados obtidos, limitações e sugestões de novas


pesquisas
Em suma, constatou-se o efeito de suavização no resultado contábil dos bancos por
meio das despesas com PDD (operações de crédito), resultado com derivativos e
também, mas em menor intensidade, por meio das receitas com ajustes positivos a valor
de mercado de TVM. As despesas com ajustes negativos a valor de mercado de títulos,
por sua vez, não tiveram confirmada sua participação no processo de GR e de
suavização dos lucros das instituições financeiras em atuação no Brasil.
186

Conforme relatado, a área de crédito foi a que apresentou evidências mais fortes de
prática de GR, figurando, entre os itens analisados, como o instrumento mais poderoso
em termos de suavização dos lucros bancários. Esta constatação é coerente com o fato
de a PDD ser a principal apropriação (accrual) do setor bancário (Beaver &
Engel,1996:177), cumprindo papel significante na suavização de resultados
(Kanagaretnam et al,2001:1). As evidências obtidas na presente pesquisa, que indicam o
papel relevante da PDD no gerenciamento de resultados contábeis bancários no
mercado doméstico, corroboram conclusões de estudos anteriores que também
constataram a participação da PDD no GR, como são os casos de Fuji (2004) e
Zenderski (2005), para os bancos atuantes no Brasil, e Collins et al (1995) e
Kanagaretnam et al (2001), para bancos atuantes em mercados estrangeiros, os quais
constataram relação positiva entre PDD e resultado contábil, confirmando hipótese de
suavização.
Com base nos princípios de contabilidade, entende-se que as empresas devem realizar
provisão de modo a garantir que o valor das contas a receber represente a efetiva
expectativa dos gestores quanto ao futuro recebimento dos créditos. A PDD, ressalte-se,
é caracterizada por envolver discricionariedade contábil em sua definição (McNutt,
2003:1). As evidências empíricas obtidas no presente trabalho estão alinhadas com a
proposição de que os gestores bancários possuem discricionariedade quanto ao tamanho
da PDD registrada a cada período, de modo que em períodos de baixos resultados em
outras áreas do banco, os gestores podem postergar o registro de provisões para
aumentar o lucro e vice-versa, conforme Cornett et al (2006:2).
Considerando a significativa influência da PDD no resultado bancário, e a identificada
prática de GR por meio da referida provisão, convém observar que a manipulação dos
valores aprovisionados não produz efeitos tributários, pois a regulamentação fiscal
admite a dedução das provisões somente quando a perda do crédito torna-se efetiva e
confirmada. Por outro lado, as práticas de suavização de resulados, ao alterarem o lucro
contábil, impactam o montante de dividendos distribuídos, corroborando a relevância
das práticas de GR do ponto de vista de acionistas e investidores.
Quanto aos derivativos, cumpre observar que o efeito de suavização de resultados
desempenhado alinha-se com a utilização, por parte dos bancos, dos derivativos como
instrumento de proteção (hedge), de maneira a evitar maiores flutuações nos lucros
contábeis das instituições financeiras. Tem-se indicação, assim, da utilização dos
derivativos com finalidade de proteção (hedge), de modo que, quando o resultado
187

contábil aumenta, o resultado com derivativos cai, e quando o resultado contábil é


reduzido, mostra-se crescente o resultado com derivativos.
As possíveis oportunidades de uso da contabilização de derivativos para fins de GR
relacionam-se com a classificação das operações realizadas, a marcação a mercado e a
efetiva realização de operações com derivativos. Considerando que os derivativos
podem ser utilizados com diferentes propósitos, como especulação (busca de ganhos de
curto prazo) ou hedge (propósito de reduzir possibilidades de perda e evitar decréscimos
ou oscilações nos resultados), depreende-se que a própria decisão de realizar uma
operação com derivativo pode ter como principal motivação o gerenciamento de
resultados contábeis. É importante destacar esta característica dos derivativos, de
poderem ser usados, prioritariamente, para a suavização de resultados financeiros de
uma empresa, com conseqüente impacto nos resultados contábeis, o que ocorre quando
da utilização com finalidade de hedge.
Pelo exposto, pode-se dizer que o teste de uso de derivativos para suavização de
resultados, por parte dos bancos, pode também ser interpretado como um teste para
avaliar se os bancos estão utilizando derivativos como instrumento de hedge. A
constatação da relação negativa entre o resultado contábil (excluído o efeito do
resultado com derivativos) e o resultado com derivativos pode ser interpretada como
evidência de uso dos derivativos para suavização de lucros, com emprego eficaz para
fins de hedge; por outro lado, caso os derivativos não contribuíssem com a apresentação
de seqüência mais suavizada de resultados contábeis, a constatação seria de realização
de operações que não se propõem ao hedge, ou de utilização com finalidade de hedge,
mas de maneira ineficaz, sem contribuir com a diminuição da variabilidade dos
resultados bancários. As evidências empíricas obtidas na presente pesquisa permitem
afirmar que os derivativos, no conjunto dos bancos analisados, favorecem a redução da
variabilidade dos resultados, o que indica o emprego com finalidade de hedge, com
eficácia.
Barton (2001), a propósito, considerando a possibilidade de emprego dos derivativos
para suavização de resultados, constatou que as empresas que usam derivativos
apresentam menores níveis de apropriações discricionárias. Depreende-se disto que o
emprego de derivativos reduz a necessidade de uso de apropriações discricionárias para
o gerenciamento de resultados contábeis. A explicação é que derivativos e accruals
(apropriações de receitas e despesas conforme regime de competência) servem como
substitutos parciais para a suavização de resultados, de modo que o uso dos derivativos
188

pode mitigar a necessidade de lançar mão das apropriações discricionárias no GR. Neste
contexto, um tema para pesquisa futura consistiria em avaliar se as instituições que mais
utilizam derivativos apresentam a característica de emprego menos freqüente, ou com
menor intensidade, das apropriações discricionárias de receitas e despesas para fins de
gerenciamento de resultados contábeis.
Quanto aos TVM, foi verificado que os ajustes positivos e os ajustes “gerais” a valor de
mercado (dados pela confrontação de ajustes positivos e negativos) contribuem com a
suavização dos resultados bancários. Cabe ressaltar, contudo, que o efeito de
suavização, no caso, não é tão relevante quanto o desempenhado pela PDD e
derivativos. Já os ajustes negativos a valor de mercado (VM) não tiveram confirmada
sua participação no GR.
Assim, outra questão que poderia ser objeto de estudo futuro refere-se à determinação
das razões para as receitas de ajustes positivos a VM participarem do processo de
suavização de resultados, diferentemente das despesas de ajustes negativos.
Possível ilação é que, no contexto de ajustes negativos, as instituições, perante a
desfavorável situação de desvalorização dos títulos possuídos, assumem em geral a
postura conservadora de registrar as perdas, pautando a contabilização pela estrita
observação do procedimento de reconhecimento de perdas preconizado pelas normas,
enquanto que, no contexto favorável de valorização dos títulos, identificam situação
mais confortável para efetivar os ajustes contábeis considerando também os interesses
particulares em termos de gerenciamento de resultados. Na situação de valorização de
títulos, os ganhos auferidos devem ser reconhecidos, integralmente, conforme prática de
marcação a mercado. No entanto, conforme McNichols & Wilson (1989:2), a hipótese
de suavização de resultados prevê que as empresas escolhem acumulações (accruals)
tendo em vista minimizar a variação dos lucros divulgados, de maneira que, quando o
lucro é muito alto, as empresas escolhem acumulações para reduzi-lo (income-reducing
accruals) e, quando é muito baixo, escolhem acumulações para aumentá-lo (income-
increasing accruals). Se a instituição financeira puder escolher entre dois períodos para
reconhecer uma receita, a opção mais provável é aquela que resulta em fluxo mais
suavizado de lucros. Nesse sentido, Fields et al (2001:279) citam evidências de que,
quando os resultados correntes são ruins e os resultados esperados são bons, os gestores
“emprestam” resultados do futuro para o período atual (e vice-versa). Na mesma linha,
Kanagaretnam et al (2001) constataram que bancos com bom (pobre) desempenho
corrente e pobre (bom) desempenho futuro esperado estocam lucros para o futuro
189

(emprestam lucros do futuro) pela redução (aumento) do lucro corrente por meio da
PDD.
Na presente pesquisa, as evidências indicam a utilização das receitas de valorização de
títulos como instrumento de suavização dos resultados contábeis dos bancos atuantes no
Brasil, o que sugere a prática de “estocar” receitas em períodos com bons resultados,
para utilizá-los em momentos de baixos lucros. Tal prática pode ser observada, por
exemplo, em instituições que possuem em seu ativo títulos indexados ao câmbio e que
experimentam ganhos em um contexto de valorização do dólar, o que configura
oportunidade para o gerenciamento de resultados por meio da contabilização de ajustes
positivos em nível inferior ao que seria constituído no caso de observância irrestrita à
orientação normativa. Uma possível justificativa apresentada pelas instituições
financeiras para a não conformidade à norma, que preconiza o reconhecimento pleno da
alteração de valor de mercado do título, consiste na possibilidade de a valorização do
título cambial não ser permanente; tal justificativa, contudo, carece de embasamento
legal, conforme legislação específica relativa aos títulos classificados pelas instituições
como para negociação ou disponíveis para venda. Os procedimentos de gerenciamento
de resultados contábeis que incluem este tipo de prática irregular não podem ser
incorporados ao conceito descrito em algumas definições teóricas encontradas na
literatura, que tradicionalmente ressaltam o respeito aos ditames normativos. Assim,
Dechow et al (1996:3), observam que, embora não exista claro consenso na literatura
quanto à definição de GR, o termo é geralmente restringido a práticas inseridas nos
limites dos princípios contábeis geralmente aceitos68. Um exemplo deste tipo de
definição é encontrado em Martinez (2001:26):
É crucial entender que ‘gerenciamento dos resultados contábeis’ não é fraude contábil.
Ou seja, opera-se dentro dos limites do que prescreve a legislação contábil, entretanto,
nos pontos em que as normas contábeis facultam certa discricionariedade para o
gerente, este realiza suas escolhas não em função do que dita a realidade concreta dos
negócios, mas em função de outros incentivos, que o levam a desejar reportar um
resultado distinto.

Tal conceituação parece falar de um gerenciamento de resultados “beatificado”. Seria o


gerenciamento de resultados, na prática, realmente merecedor de elevação à condição de
“santo”? Textos teóricos não estariam sendo condescendentes ao julgar e definir o GR
praticado no dia-a-dia das empresas? Não haveria, no conjunto de práticas contábeis
denominadas “gerenciamento”, assim como nos seres humanos, um traço de

68
Dechow et al (1996), contudo, adotam, em seu estudo, definição que inclui práticas tanto dentro como
fora dos limites dos princípios contábeis, preferindo utilizar o termo “manipulação” (de resultados).
190

imperfeição? Uma visão equilibrada da realidade – fundamentada na teoria, sim, mas


que não se furta a enxergar e que não ignora as evidências empíricas – enseja um
segundo conceito de GR, ampliado, que abre espaço para abrigar as irregularidades, ou
seja, práticas que não necessariamente constituem fraudes, mas que carecem da
esperada aderência às determinações normativas. Este segundo conceito de GR, mais
“acolhedor”, não se propõe a substituir o primeiro, “beatificado”, mas tem o mérito de
chamar a atenção para o fato de que algumas práticas que se abrigam sob as “asas” do
conceito beatificado são, na realidade, intrusos mal-educados que, a despeito de não
convidados, teimam em estar presentes. A existência de irregularidades, a propósito, é
explicada, pelo menos em parte, por um pressuposto da Teoria Positiva da
Contabilidade, que é a “idéia de que os indivíduos agem basicamente em função de
interesses pessoais, procurando maximizar seu bem-estar” (Iudícibus & Lopes,
2004:19). Nesse voltar-se aos interesses particulares – no caso da presente pesquisa, o
interesse de suavização de resultados por parte das instituições financeiras –, é que as
empresas se distanciam da representação fidedigna de sua realidade patrimonial,
financeira e de resultados – objetivo das demonstrações contábeis –, chegando a
extrapolar, em alguns casos, os limites normativos.
Conforme exposto, encontram-se, em textos teóricos, definições que enquadram o
gerenciamento de resultados contábeis nos limites normativos, identificando nas ações
discricionárias e na flexibilidade inerente à contabilidade o espaço para as práticas de
GR. Apesar de não se tratar de um conceito incorreto, pois há empresas que
efetivamente praticam o GR sem ferir os padrões normativos, cumpre reconhecer a
existência, no dia-a-dia das empresas, de procedimentos que visam o gerenciamento dos
resultados, com propósito de suavização de lucros, por exemplo, mas que ultrapassam
os limites regulamentares, adentrando o campo das irregularidades. Evidências obtidas
na presente pesquisa (que indicam o emprego de ajustes positivos a valor de mercado de
TVM e a não utilização dos ajustes negativos como instrumento de suavização) sugerem
a existência de práticas de não reconhecimento integral das valorizações de títulos, em
desacordo com os ditames normativos vigentes no sistema financeiro nacional
relativamente aos títulos classificados como para negociação e disponíveis para venda.
A investigação científica, que se propõe a evoluir na compreensão e explicação da
realidade, além de fundamentar-se nas teorias existentes, deve, conforme a Teoria
Positiva da Contabilidade, pautar-se pelas constatações empíricas, configurando
processo científico em que teoria e experimentação caminham juntas. Neste contexto,
191

considerando a importância das evidências obtidas com base em dados da realidade,


propõe-se um conceito que reconheça a possibilidade de que procedimentos irregulares
sejam empregados pelas empresas com a finalidade de gerenciamento de resultados;
ressalte-se que tais práticas irregulares não necessariamente constituem fraudes,
caracterizadas pela maior gravidade e pelo ato ilícito intencional com propósito de
auferir ganhos ou vantagens de forma desonesta e enganosa.
O que não parece conveniente é que a definição de GR tenha, como uma de suas bases,
a plena aderência às normas; elemento basilar do conceito é, sim, o objetivo de alcançar
propósitos específicos, como o de suavização de resultados, e atender a interesses
particulares da empresa, sem ter-se a prioridade de que a divulgação contábil cumpra
com o papel de bem informar, retratando de forma fidedigna a situação patrimonial e de
resultados das entidades e as conseqüências das decisões gerenciais.
A existência de irregularidades nos procedimentos contábeis empresariais chama a
atenção para a relevância da auditoria independente e da fiscalização governamental,
que se propõem a averiguar a conformidade relativamente aos princípios e normas
contábeis, constituindo instrumentos para evitar que práticas irregulares sejam adotadas
“em nome” da discricionariedade. Nesse sentido, Moyer (1990:126) afirma que a
auditoria limita a discricionariedade do gestor relativamente à provisão para devedores
duvidosos69. Dessa maneira, ratifica-se a importância de contínuo invesimento na
qualificação das equipes de auditoria e fiscalização, tendo em vista o adequado
monitoramento das práticas empresariais. Por outro lado, deficiências de auditoria e
fiscalização podem colaborar com usos indevidos da discricionariedade por parte dos
gestores, abrindo espaço até mesmo para manipulações que transcendem os limites
permitidos pelos princípios contábeis, alcançando o campo das fraudes e ilegalidades.
Não parece razoável assumir, a propósito, que os procedimentos de auditoria e
fiscalização sejam plenamente eficientes, impossibilitando qualquer tipo de
manipulação ou atos ilícitos. Assim, é razoável considerar que, em meio às chamadas
práticas de gerenciamento de resultados, podem existir valores que decorrem, na
realidade, de procedimentos que vão além da simples ação discricionária do gestor,
constituindo irregularidades ou mesmo manipulações. Visando também o
aprimoramento das elaborações conceituais na área de GR, cabe incentivar a
investigação e a obtenção de evidências, em pesquisas futuras, sobre o possível emprego
de práticas irregulares com a finalidade de gestão dos resulados contábeis.

69
Texto no original: “(...) annual audits limit a manager´s discretion over the loan loss provision.”
192

A proposta, portanto, é que se considere a possibilidade de existência de práticas


irregulares com propósito de GR, ao invés de assumir, como premissa, que todos os
procedimentos que se propõem ao gerenciamento de resultados contábeis estejam,
necessariamente, dentro dos limites normativos. Nesse sentido, não se entende como
conveniente estabelecer a aderência normativa como requisito ou base do conceito de
GR. Melhor que se mencione tratar-se de uma intervenção proposital no processo de
divulgação financeira externa, com a intenção de obter algum benefício particular
(Schipper, 1989:92), destacando a existência de procedimentos que objetivam satisfazer
interesses particulares dos gestores empresariais, com possível (e indesejável)
comprometimento da transparência e da representação fidedigna da entidade. Mais
apropriado que se ressalte que os gestores, ao ensejo da discricionariedade contábil,
podem adotar procedimentos com o objetivo de alterar as informações divulgadas, tendo
em vista iludir alguns stakeholders sobre o desempenho econômico da empresa (Healy
& Wahlen, 1999:368). Em vez de conceituar o GR como um conjunto de práticas
necessariamente inseridas nos limites normativos, melhor entender que as
irregularidades podem também ser efetivadas com o intuito de gerenciar resultados. E,
quanto às fraudes, clarifica-se, como caminho mais adequado, a sua definição como
uma “forma extrema de gerenciamento de resultados”, conforme Dechow & Skinner
(2000:238), ao invés de sumariamente exclui-las do conceito de GR.
Ressalte-se que, mesmo havendo respeito aos princípios e normas contábeis, existirá,
sempre, o exercício do julgamento por parte dos preparadores das demonstrações
contábeis e a realização de estimativas e previsões por parte dos gestores. Isso não
implica, necessariamente, a existência de GR, vez que a perfeita objetividade não é
parte integrante dos padrões contábeis. Estes permitem certa subjetividade na apuração
do lucro, o que, apesar de comprometer a plena objetividade, constitui mecanismo que,
ao ensejar a flexibilidade na divulgação, apresenta grande utilidade para a consecução
do objetivo de evidenciação das realidades empresariais específicas.
A questão, portanto, não é identificar se há ou não alguma subjetividade ou o exercício
do julgamento por parte dos gestores, mas se as decisões contábeis estão em linha com
os padrões da contabilidade ou se visam satisfazer tão somente a interesses particulares.
Trata-se de saber até que ponto a discricionariedade, intrínseca à contabilidade, está
sendo utilizada em favor do “bem informar” ou sendo empregada prioritariamente em
benefício de grupos particulares, como gestores ou acionistas majoritários, que
naturalmente têm em vista a consecução de seus objetivos.
193

Apesar da possibilidade de as práticas de gerenciamento de resultados prejudicarem a


transparência empresarial, convém observar, contudo, que os procedimentos de
suavização de resultados por meio da PDD, derivativos e ajustes a valor de mercado de
TVM podem gerar conseqüências que, para o sistema financeiro, podem ser, ao menos
em alguns casos, desejáveis. Isto decorre de que a apresentação de lucros não
caracterizados por picos e vales, com menor variabilidade, tende a fomentar a imagem
de solidez, contribuindo com a percepção de menor nível de risco por parte dos agentes
do mercado e favorecendo, em última instância, um ambiente caracterizado pela
tranqüilidade e confiança, necessário para fundamentar o bem-sucedido cumprimento da
importante missão de intermediação financeira desempenhada pelos bancos.
Dada a percepção de menor nível de risco por parte dos agentes do mercado, as práticas
de GR que colaboram com a evidenciação de resultados suavizados trazem benefícios às
instituições financeiras. Em paralelo, há benefícios de longo prazo em se construir uma
boa reputação por meio de divulgações confiáveis e tempestivas de informação.
Algumas empresas, na expectativa de alcançar benefícios de curto prazo, colocam em
risco e até perdem o referido benefício de longo prazo ao se engajar em práticas
agressivas de GR. Os bancos, pelo especial cuidado com a reputação, podem evitar
práticas de GR, tendo em vista garantir os benefícios de longo prazo oriundos da
imagem confiável favorecida por divulgações fidedignas. Assim, conforme Dechow et
al (1996:31), faz-se necessário considerar, na política contábil empresarial, que práticas
agressivas de GR podem não ser compensadoras, pois os benefícios de curto prazo
alcançados talvez sejam pequenos face aos riscos de impactos negativos à reputação,
decorrentes da perda de confiabilidade no caso de identificação, no mercado, das
práticas de gerenciamento de resultados contábeis.
Registre-se que as evidências obtidas na presente pesquisa, indicando a utilização dos
ajustes positivos a VM de títulos como instrumento de suavização de resultados, não
estão em desacordo com estudos anteriores que, de diferentes formas, verificaram a
participação dos TVM no processo de gerenciamento de resultados contábeis, como é o
caso de Collins et al (1995), Beatty et al (1995), Zenderski (2005), Scholes et al (1990)
e Kato et al (1998:13). Acrescente-se que a prática de manipulação de receitas de
ajustes a valor de mercado de títulos possui relação com o estudo desenvolvido por
Dechow et al (1996:10), sobre empresas identificadas como tendo violado padrões
contábeis, no qual foram relatados casos de avaliação a maior de títulos para negociação
194

(overstatement of marketable securities), constituindo evidência de emprego da


avaliação de títulos com finalidade de gerenciamento de resultados.
Diante das evidências empíricas obtidas nesta pesquisa, que apontam o emprego da
PDD, do resultado com derivativos e dos ajustes positivos a valor de mercado de TVM
na suavização de resultados, enseja-se discussão sobre a regulação no sistema financeiro
nacional. Considerando a existência de procedimentos de GR, cabe aos órgãos de
regulação analisar até que ponto as práticas contábeis que visam à suavização de lucros
podem ser prejudiciais, tanto do ponto de vista de proteção ao investidor, foco da
Comissão de Valores Mobiliários, como de estabilidade do sistema financeiro,
prioridade do Banco Central do Brasil. Cumpre a cada órgão governamental avaliar em
que medida as práticas de gerenciamento de resultados contábeis podem comprometer
os dois elementos citados, fundamentais para o desenvolvimento econômico do país, a
saber, a estabilidade do sistema financeiro e a proteção aos investidores, entre os quais
figuram os compradores de títulos (de dívida e ações), e também os depositantes
bancários. E, permeando a discussão sobre a regulamentação no SFN, outra questão é
levantada: devem os reguladores bancários priorizar grau mais rígido de regulação, com
menor flexibilidade de atuação para as instituições financeiras, ou, alternativamente,
estabelecer princípios básicos para as operações bancárias e, paralelamente, elevar os
padrões de disclosure? Cabe a reflexão: mais normas, ou mais evidenciação? Caminhar
no sentido de um sistema baseado em regras (rules-based), ou em princípios
(principles-based)?
A defesa da priorização da transparência encontra base no entendimento de que os
participantes do mercado necessitam de condições adequadas para identificar e avaliar
os níveis de risco apresentados pelas contrapartes com quem realizam operações. Outro
argumento em favor do nível satisfatório de disclosure consiste na idéia de que o
mercado não teme a divulgação de um prejuízo, em si, mas a incerteza. Se um prejuízo
é divulgado, mas são explicitadas suas causas, demonstrando não se tratar de item de
natureza recorrente, encontra-se explicação para o resultado negativo e evidencia-se
como será o futuro, com perspectivas de lucros. O problema, então, é a incerteza, pois
esta prejudica a formação das percepções de risco quanto a resultados e fluxos de caixa
futuros. Ressalte-se que, na avaliação dos riscos empresariais, as práticas de
gerenciamento de resultados, incluindo as de suavização de lucros, podem constituir
obstáculo à percepção mais acurada sobre a real situação patrimonial, financeira e de
resultados das instituições financeiras, comprometendo a análise dos participantes do
195

mercado quanto à relação “risco versus retorno” das empresas. É questão que merece
cuidadosa análise, portanto, em que medida as práticas de GR podem prejudicar a
transparência no SFN, gerando incertezas e representando um comprometimento para a
estabilidade do sistema financeiro e a proteção aos investidores. As decisões relativas
aos direcionamentos nos processos de regulamentação e supervisão dos mercados
dependem, entre outros fatores, da resposta à referida questão.
Na discussão sobre a regulação do sistema financeiro, outro ponto merece ser
considerado: as decisões relativas à PDD, TVM ou derivativos, com propósito de GR,
podem ser interdependentes. Se há forte restrição de gerenciamento em uma área, como
TVM, pode-se recorrer a outra modalidade, como PDD, para se alcançar o resultado
desejado. Esta visão é corroborada por evidências obtidas por Beatty et al (1995:258),
que constataram interações entre decisões contábeis (accruals) e de investimento (como
venda de títulos), sugerindo que a limitação da capacidade dos gestores escolherem
estrategicamente o momento da venda de títulos, com objetivo de GR, pode
simplesmente induzir uma substituição no instrumento usado na gestão de resultados,
lançando-se mão de forma alternativa, como postergar ou acelerar despesas de PDD.
Nestas considerações finais, foram elaborados comentários que envolem a auditoria, a
fiscalização e a regulação do sistema financeiro. Note-se, conforme apontado acima,
que restrições normativas às práticas de GR, em uma área específica, podem
incrementar a utilização de outros instrumentos que não foram objeto de regulmentação
igualmente rigorosa. Quanto a isso, Kim & Kross (1998:71), discorrendo sobre as
práticas de GR, observam que as entidades reguladoras podem elaborar políticas mais
eficientes quando consideram os impactos normativos sobre os incentivos e os
comportamentos gerenciais, assunto que também é de interesse dos auditores70. Disto
depreende-se a utilidade dos estudos sobre GR para reguladores, auditores e outras
partes que de alguma forma são afetadas pelas conseqüências da gestão dos resultados
contábeis. Clarifica-se, assim, a utilidade das incursões nas teorias (e estudos empíricos)
que permeiam o gerenciamento de resultados contábeis e os incentivos gerenciais
envolvidos.
Tratar dos impactos normativos sobre os comportamentos gerenciais enseja reflexão
relativa a como as questões contábeis, atualmente, constituem fator marcante nas
decisões gerenciais quanto às operações realizadas. A consideração das normas

70
Texto no original: “(…) regulatory bodies can make more efficient policies if they consider the impact
of regulations on managerial incentive and behavior. The results might also be of interest to auditors.”
196

contábeis, com seus impactos nos lucros apurados e nas exigências de capital, constitui
“insumo” decisivo das ações gerenciais. Ao se decidir pela realização de uma operação,
não são levados em conta apenas os resultados financeiros esperados, mas também os
efeitos contábeis. Quanto a isso, vale considerar o discurso de Douglas McEachern,
Presidente do Comitê de Poupança e Empréstimo do AICPA (American Institute of
Certified Public Accountants), conforme citação de Scholes et al (1990:648):
Ao lidar com clientes e outras contrapartes, freqüentemente pergunto ‘qual é o
resultado desta transação conforme os princípios contábeis? O que ocorre
relativamente aos objetivos tributários? O que acontece em termos de práticas
contábeis exigidas pelos órgãos reguladores, e, por último, infelizmente, em alguns
casos, qual é o resultado econômico disso?’ Infelizmente, muitas das transações que
têm sido feitas pela indústria, especialmente pela indústria de poupança e empréstimo,
e em Wall Street (mercado acionário), são guiadas pelo resultado contábil e projetadas
71
em função deste aspecto (contábil).

A regulamentação contábil se propõe à evidenciação empresarial (transparência) e, no


caso bancário, também objetiva a solidez do sistema financeiro. Ocorre que, para
alcançar esta solidez, a eficiência operacional e econômica nas operações bancárias é
ingrediente básico. Sem eficiência econômica, compromete-se a solidez. Identifica-se aí
um possível conflito: se na realização de operações financeiras os efeitos contábeis são
priorizados, em detrimento dos econômicos, pode-se estar colocando em risco a solidez
das instituições, pois fatores econômicos são potenciais e relevantes causas de
instabilidade. Deste modo, os órgãos reguladores deparam-se com mais um desafio:
alinhar as regulamentações contábeis ao objetivo de eficiência econômica das
instituições financeiras, não fazendo do arcabouço normativo um fim em si mesmo, e,
muito menos, um entrave à eficiência operacional dos agentes que operam no mercado
financeiro.
Considerando que a análise realizada no presente trabalho envolveu diferentes variáveis,
cabe ressaltar que o emprego de TVM e derivativos no GR, diferentemente da PDD, não
envolve tão somente a interferência em apropriações discricionárias de receitas e
despesas, com efeito no resultado contábil, mas sem impacto nos fluxos de caixa da
entidade. Poitras et al (2002:903) observam que transações como a venda de ativos,
diferentemente das ações discricionárias sobre a PDD, não possuem apenas efeitos
contábeis, mas, também, conseqüências econômicas e financeiras, o que é corroborado

71
Texto no original: “In dealing with clients and others, I often (...) ask ‘what is the GAAP result of this
transaction? What happens for tax purposes? What happens under regulatory accounting practices and
lastly, unfortunately, in some cases, what is the economic result of this?’ Unfortunately, many of the
transactions that are being undertaken by the industry, especially by the savings and loan industry, and by
Wall Street, are driven by and designed around the accounting result.”
197

por Kato et al (1998:5). Esta discussão lança luz sobre o fato de que o GR, por meio de
transações como a venda de títulos e a negociação com derivativos, pode apresentar
outras motivações, além das relativas aos efeitos contábeis gerados. Nesse sentido, há
“hipóteses competitivas”, de modo que se o GR é constatado, pode ser difícil determinar
qual a motivação mais relevante, se a contábil, ou a econômica. Se constatada, por
exemplo, a relação negativa entre resultados com derivativos e o resultado contábil
(expurgado o efeito das operações com derivativos), há possibilidade de que os
derivativos estejam sendo negociados com a finalidade de suavização de resultados
(motivação contábil) ou de que os derivativos estejam sendo utilizados efetivamente
para hedge, tendo-se em vista os efeitos econômicos e financeiros para a empresa.
Um exemplo do uso de transações com títulos que pode ser dado é o caso de empresa
que, experimentando decréscimo em seu lucro contábil, decide vender títulos com
ganhos não realizados registrados no PL (patrimônio líquido). Com isto, aproveita-se o
efeito contábil do ganho na venda do título para aumentar o lucro divulgado, mas
também são gerados efeitos econômicos relacionados à mudança patrimonial e à entrada
de caixa.
Neste contexto, seria proveitoso, em investigações futuras, o desenvolvimento de
metodologias que permitissem investigar a motivação existente nas operações com
títulos e derivativos que apresentam efeito de suavização nos resultados contábeis, mas
que podem ter, como finalidade primordial, os efeitos econômicos e financeiros.
Cumpre registrar algumas limitações da pesquisa realizada. A investigação focalizou a
existência de suavização de resultados bancários por parte da despesa de PDD, ajustes a
valor de mercado de TVM e resultado com derivativos. No entanto, não foram
empenhados esforços na identificação de formas ou procedimentos de gerenciamento de
resultados. Não foi investigado, por exemplo, se as instituições adotam valores de
mercado mais altos ou mais baixos no objetivo de influenciar o resultado em um sentido
desejado. O que foi avaliado é se os ajustes contribuem com a redução da variabilidade
dos lucros, não se definindo, contudo, se os parâmetros utilizados para o ajuste são
artificialmente mais altos, ou mais baixos, relativamente a valores de mercado
considerados imparciais. Este tipo de investigação, apesar da relevância para órgãos de
supervisão bancária e de proteção ao investidor, não integrou os objetivos do presente
trabalho.
Não se dispor de seqüência histórica mais longa de dados contábeis representa uma
limitação na pesquisa empírica realizada. Relativamente a este problema, encontra-se
198

explicação no fato de as normas de marcação a mercado de TVM e derivativos,


fundamentalmente as Circulares 3.068 e 3.082, terem sido editadas pelo Banco Central
do Brasil em 2001 e 2002, respectivamente. A dificuldade encontrada poderá ser
amenizada em investigações futuras, na medida em que as pesquisas são realizadas em
datas mais distanciadas do início de vigência das referidas normas. Outro gargalo
identificado refere-se à existência de reduzida quantidade de informações contábeis
relativas aos títulos disponíveis para venda, o que é justificado em face da preferência
bancária, constatada, pela classificação dos títulos adquiridos como para negociação.
O desenvolvimento dos modelos de regressão empregados neste trabalho constitui
objeto para futuros estudos, tendo em vista o aprimoramento de modelagens específicas
para a análise de instituições financeiras, o que inclui a introdução de novas variáveis
explicativas. Na presente pesquisa, foi analisada a relação entre o resultado contábil e a
PDD, ajustes a valor de mercado de TVM e resultado com derivativos; possível
aperfeiçoamento envolve a análise da relação do resultado contábil com o componente
discricionário de cada um dos três elementos mencionados (PDD, ajustes de TVM e
resultado com derivativos), sendo necessário, para tanto, o desenvolvimento de modelo
para estimação do componente discricionário, como empregado em Beatty et al (1995).
Aspecto que merece ser citado refere-se ao fato de terem sido utlizadas informações de
conglomerados financeiros, não sendo incluídas operações com seguros, previdência e
cartão de crédito. Cabe notar, contudo, que o GR pode se processar no âmbito de
conglomerados econômicos, que envolvem os três tipos de operações mencionadas, as
quais, a propósito, ganham cada vez mais importância nos negócios empresariais.
A assimetria de informações estabelece que usuários internos (gestores) possuem amplo
conjunto de informações para a tomada de decisões, diferentemente dos usuários
externos, que dependem da divulgação de informações (disclosure) para constituir base
fundamentada para suas decisões econômicas.
A carência de algumas características essenciais da informação contábil, como a
integridade (integralidade ou completeza) e a confiabilidade, pode ser decorrência do
gerenciamento de resultados. Evidencia-se, assim, a relevância do estudo das práticas de
GR, pois estas podem comprometer a transparência empresarial, com possíveis danos
até mesmo à confiabilidade do público em relação à contabilidade, além de fomentar a
incerteza entre investidores e, no caso do sistema financeiro, entre os depositantes.
Quanto à prática de suavização de resultados, especificamente, prejudica as avaliações
dos participantes do mercado relativamente aos valores e à variabilidade dos resultados
199

empresariais, podendo comprometer a percepção mais acurada quanto à capacidade de


geração de resultados futuros e riscos envolvidos.
Registre-se que a informação contábil é relevante para que os poupadores decidam em
que bancos depositarão seus recursos e quanto esperarão receber de rendimento, dado o
nível de risco percebido. Quando a informação contábil, base para as decisões, revela-se
inverídica ou não confiável, abala-se a estrutura em que está baseado o mecanismo de
poupança popular e de investimento, com impactos negativos para o sistema financeiro
e o mercado de capitais, e efeitos que podem ser desastrosos para a economia. Crucial,
portanto, assegurar a qualidade e a confiabilidade da informação contábil divulgada ao
público, especialmente a relativa aos intermediários financeiros, entre os quais é alocada
parte significativa da poupança popular.
Relevante, neste contexto, verificar a existência de GR nas instituições financeiras, e se
estas têm lançado mão de práticas de gerenciamento de resultados contábeis com o
intuito de influenciar a percepção de risco dos diversos agentes econômicos. Trata-se de
análise que envolve o grau em que a contabilidade tem efetivamente sido instrumento
de redução da assimetria de informações, proporcionando bases satisfatórias para a
tomada de decisões de usuários como os depositantes, e colaborando para que o sistema
financeiro possa exercer com sucesso o papel de intermediação financeira.
O GR envolve ações dos gestores com o propósito de alterar as informações divulgadas
sobre o desempenho da empresa. Estas ações gerenciais possuem alguma motivação, e
motivação que pode não ser condizente com o objetivo das demonstrações financeiras: o
fornecimento de informações úteis para a tomada de decisões de usuários externos. Com
isto, pode-se distorcer o conjunto de informações divulgadas, prejudicando-se a
adequada representação da realidade econômica da entidade, com efeitos sobre a análise
dos participantes do mercado e, em conseqüência, também sobre o processo de alocação
de recursos na economia.
Nas áreas em que a contabilidade faculta ao gestor a possibilidade de fazer escolhas
contábeis, estas são exercidas não necessariamente com base, apenas, no que dita a
realidade do evento econômico em análise, mas, por vezes, com base em outros fatores
exógenos, que influenciam as decisões gerenciais, como os interesses particulares da
empresa e do próprio gestor.
Ao definir, por exemplo, o montante das despesas de provisão para devedores
duvidosos, que visa ajustar o valor dos créditos a receber a níveis adequados e
compatíveis com a realidade, o gestor pode não se ater apenas à qualidade do crédito em
200

análise ou à situação do devedor, podendo se deixar influenciar por outros aspectos,


como o interesse em transparecer ao mercado a existência de uma carteira de crédito de
boa qualidade. Constata-se, assim, a interferência de fatores exógenos, que transcendem
a realidade concreta do evento sob análise. Estes fatores exógenos guardam relação com
interesses particulares daqueles que preparam as demonstrações financeiras, e tais
interesses podem constituir motivações para o GR.
Percebe-se, portanto, que a influência de interesses particulares dos gestores no
processo de elaboração das demonstrações contábeis contribui, em alguns casos, com a
apresentação incorreta (fora dos limites dos princípios contábeis) e deliberada de
informações enganosas, o que, em última instância, pode comprometer a utilidade da
informação contábil divulgada, causando, no usuário externo, a mudança de seu
julgamento e decisão. E quando a decisão do usuário das demonstrações contábeis é
afetada, com possibilidade de prejuízos a investidores e depositantes bancários, todo o
mecanismo de poupança popular é colocado em risco, com os conseqüentes efeitos
negativos ao crescimento econômico das nações.
Neste contexto, percebe-se a inefável importância da contabilidade. E quanto é
relevante estudar as práticas de gerenciamento de resultados no sistema financeiro e no
mercado de capitais. A contabilidade, muito mais do que um conjunto de regras de
escrituração, é uma linguagem. É por meio dela que empresas se comunicam com a
sociedade; ela é instrumento de evidenciação entre aqueles que precisam captar recursos
para financiar suas atividades e aqueles que buscam oportunidades de aplicação de suas
poupanças. Se práticas de GR são capazes de prejudicar esta comunicação, encontra-se
aí um frutífero campo de investigação, com relevância para indivíduos, empresas e toda
a sociedade. Melhorando essa comunicação, agrega-se confiança nas relações
estabelecidas. E disto advêm segurança nas análises realizadas e convicção nas decisões
tomadas. Tudo isso baseado na confiança em uma linguagem, a linguagem contábil.
É aí que a contabilidade pode ajudar-nos a resgatar a consciência de que a boa
comunicação é vital, de quão saudáveis são os relacionamentos pautados pela confiança,
e de como confiar (e ser confiável) é essencial à vida.
201

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
_________________________________________________________
AHMED, A. S., C. TAKEDA & THOMAS, S. Bank Loan Loss Provisions: A
Reexamination of Capital Management, Earnings Management and Signaling Effects.
November 1998. Journal of Accounting and Economics, 28, 1999, p. 1-25.
ALTAMURO, J., BEATTY, A. L. & WEBER, J. The effects of accelerated revenue
recognition on earnings management and earnings informativeness: evidence from SEC
staff accounting bulletim No. 101. The Accounting Review, v.80, n.2, April 2005.
AMARAL, C. A. L. V. do. Derivativos: O que são e a Evolução quanto ao Aspecto
Contábil. Revista de Contabilidade e Finanças, USP, n.32, maio/agosto 2003.
BANCO CENTRAL DO BRASIL. Circular 3.082. Critérios para registro e avaliação
contábil de instrumentos financeiros derivativos. Brasília, 2002.
______. Manual da Supervisão Bancária. Agosto de 2002a. Disponível em
<http://www.bcb.gov.br>. Acesso em 17/01/2003.
______. Relatório de Estabilidade Financeira. Novembro de 2002b. Disponível em
<http://www.bcb.gov.br>. Acesso em 17/01/2003.
BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS - BIS. A New Capital Adequacy
Framework. Basel Committee on Banking Supervision. Junho de 1999. Disponível em
<http://www.bis.org>. Acesso em 07/05/2002.
BARTON, J. Does the use of financial derivatives affect earnings management
decisions? The Accounting Review, v.76, n.1, January 2001, p.1-26.
BARTON, J. & SIMKO, P. J. The balance sheet as an earnings management
constraint. The Accounting Review, v.77, Supplement 2002.
BARTOV, E. The timing of asset sales and earnings manipulations. The Accounting
Review, v.68, n.4, October, p.840-855, 1993.
BEATTY, A. & BETTINGHAUS, B. Interest Rate Risk Management of Bank Holding
Companies: An Examination of Trade-offs in the Use of Investment Securities and
Interest Rate Swaps. Working Paper Series, May 1997.
BEATTY, A., CHAMBERLAIN, S. L. & MAGLIOLO, J. Managing financial reports
of commercial banks: the influence of taxes, regulatory capital, and earnings. Journal of
Accounting Research, v.33, n.2, p.231-261, 1995.
BEATTY, A. & HARRIS, D. G. Intra-group interstate strategic income management
for tax, financial reporting and regulatory purposes. The Accounting Review, v.76, n.4,
October 2001.
BEATTY, A. & PETRONI, K. R. Earnings Management to avoid earnings declines
across publicly and privately held banks. The Accounting Review, v.77, n.3, 2002.
BEAVER, W. H. & ENGEL, E. E. Discretionary Behavior with Respect to Allowance
for Loan Losses and the Behevior of Securities Prices. Journal of Accounting and
Economics, v.22, p.177-206, 1996.
BEDARD, J. C. & JOHNSTONE, K. M. Earnings manipulation risk, corporate
governance risk, and auditors planning and pricing decisions. The Accounting Review,
v.79, n.2, April 2004.
BOWEN,R., Ducharme,L. & SHORES,D. Stakeholders’ implicit claims and accounting
metlhod choice. Journal of Accounting and Economics 20(3), p.255-295, 1995.
202

BROWN, L. P. & CAYLOR, M. L. A temporal analysis of quarterly earnings


threshold: propensities and valuation consequences. The Accounting Review, v.80,
n.2, April 2005.
BURGSTAHLER, D. & DICHEV, I. Earnings management to avoid earnings
decreases and losses. Journal of Accounting and Economics 24, 1997, p.99-126.
BURGSTAHLER, D. C., HAIL, L. & LEUZ, C.. The Importance of Reporting
Incentives: Earnings Management in European Private and Public Firms. The
Accounting Reviewk 81, n.5, 2006, p.983-1016.
CARDOSO, R. L. Regulação Econômica e Escolhas de Práticas Contábeis: Evidências
no Mercado de Saúde Suplementar Brasileiro. Tese de doutorado em Ciências
Contábeis. São Paulo: FEA-USP, 2005.
CHEN, K. C. & YUAN, H. Earnings management and capital resource allocation:
evidence form China´s accounting-based regulation of rights issues. The Accounting
Review, v.79, n.3, July 2004.
COLLINS, J. H., SHACKLEFORD, D. A. & WAHLEN, J. M. Bank Differences in the
Coordination of Regulatory Capital, Earnings and Taxes. Journal of Accounting
Research, v.33, n.2, p.263-291, 1995.
CORNETT, M. M., McNUTT, J. J. & TEHRANIAN, H. Earnings Management at
Large U.S. Bank Holding Companies. January 2006. Disponível em:
<http://www.ssrn.com>. Acesso em: 27/07/2006.
CUPERTINO, C. M. Earnings Management: Estudo de Caso do Banco Nacional.
Revista de Contabilidade e Finanças, USP, n.41, v.2, maio/agosto 2006, p.110-120.
DEANGELO, L. E. Accounting Numbers as Market Valuation Substitutes: A Study of
Management Buyouts of Public Stockholders. The Accounting Review, v.61,n.3, 1986.
DECHOW, P. M. & DICHEV, F. D. The quality of accruals and earnings: the role of
accrual estimation erros. The Accounting Review, v.77, Supplement 2002.
DECHOW, P. M., R. G. SLOAN, and A. P. SWEENEY. Causes and Consequences of
Earnings Manipulation: An Analysis of Firms Subject to Enforcement Actions by the
SEC. Contemporary Accounting Research 13: p.1-36, 1996.
DECHOW, P. M.; SLOAN, R. G.; SWEENEY, A. P. Detecting earnings management.
The Accounting Review, v. 70, n.2, p.193-225, April 1995.
DECHOW, P. M.; SKINNER, D. Earnings Management: reconciling the views of
accounting academics, practitioners and regulators. Accounting Horizons, Sarasota,
v.14, n.2, p.235-250; 2000.
EWERT, R. & WAGENHOFER, A. Economic Effects of Tightening Accounting
Standards to Restrict Earnings Management. The Accounting Review, v.80, n.4, 2005.
FINANCIAL ACCOUNTING STANDARDS BOARD. Statement of Financial
Accounting Standards No. 133: Accounting for Derivatives Instruments and Hedging
Activities, 1998.
FIELDS, T. D, LYS, T. Z. & VINCENT, L. Empirical Research on Accounting Choice.
Journal of Accounting and Economics 31, p.255-307, 2001.
FRANCIS, J. Discussion of empirical research on accounting choice. Journal of
Accounting and Economics 31, p.309-319, 2001.
203

FUJI, A. H. Gerenciamento de resultados contábeis no âmbito das instituições


financeiras atuantes no Brasil. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). São
Paulo: FEA-USP, 2004.
GALDI, F. C. & PEREIRA, L. M. Fair value dos Derivativos e Gerenciamento de
resultados nos Bancos Brasileiros. Não publicado.
GITMAN, L. J. Princípios de Administração Financeira. São Paulo: Harbra, 1997.
GOULART, A. M. C. Evidenciação Contábil do Risco de Mercado por Instituições
Financeiras no Brasil. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). São Paulo: FEA-
USP, 2003.
GUJARATI, D. N. Econometria Básica. São Paulo: Pearson Education do Brasil,2000.
HAIR JR., J. F., ANDERSON, R. E., TATHAM, R. L., BLACK, W. Análise
Multivariada de Dados. Porto Alegre: Bookman, 2005.
HAND, J. Did Firms Undertake Debt-Equity Swaps for an Accounting Paper Profit or
a True Financial Gain? The Accounting Review, October, 1989.
HAYN, C. The information content of losses. Journal of Accounting and Economics 20,
p.125-153, 1995.
HEALY, P. M. The effect of bônus schemes on accounting decisions. Journal of
Accounting e Economics 7, p. 85-107, 1985.
HEALY, P. M.; PAPELU, Krishna G. A review of the empirical disclosure literature.
December, 2000. Disponível em: <http:\\www.ssrn.com>. Acesso em: 10/04/2003.
HEALY P. M.; WAHLEN, J. M. A review of the earnings management literature and
its implications for standard setting. Accounting Horizons, v.13, p. 365-383, 1999.
HENDRIKSEN, E. S. & BREDA V. M. F. Teoria da Contabilidade. Tradução da 5ª
edição americana por Antonio Z. Sanvicente. São Paulo: Atlas, 1999.
HODDER, L., KOHLBECK, M. & McANALLY, M. L. Accounting Choices and Risk
Management: SFAS 115 and U.S. Bank Holding Companies. February 2002. Disponível
em: < http://www.ssrn.com>. Acesso em: 27/07/2006.
IASB – International Accounting Standards Board. International Accounting Standards
2001. Londres: Iasb, 2001.
_______. International Accounting Standard 39 (IAS 39) – Financial instruments:
recognition and measurement. Londres: Iasb, 2003.
IUDÍCIBUS, S. de. Teoria da Contabilidade. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2000.
IUDÍCIBUS,S.;LOPES,A.B. Teoria Avançada da Contabilidade.São Paulo:Atlas, 2004.
JONES, J. J. Earnings management during import relief investigations. Journal of
Accounting Research, Chicago, v. 29, n.2, p.193-228, Autumn 1991.
KANAGARETNAM, K., LOBO, G. J. & YANG. P. Joint Testes of Singnaling and
Income Smoothing Through Bank Loan Loss Provisions. Contemporary Accounting
Research, v.21, n.4, winter 2004.
KANAGARETNAM, K., LOBO, G. J. & MATHIEU R. Managerial Incentives for
Income Smoothing through Bank Loan Loss Provision. 2001. Disponível em
<http://www.ssrn.com>. Acesso em 26.01.2007.
204

KATO, K., KUNIMURA, M. & YOSHIDA, Y. Discretionary behavior of banks´


earnings and banks’ dividends guideline in Japan. May, 1998. Disponível em
<http://www3.bus.osaka-cu.ac.jp/apira98/archives/pdfs/45.pdf>. Acesso em: 26/01/2007.
KIM, M. & KROSS, W. The Impact of the 1989 Change in Bank Capital Standards on
Loan Loss Provision and Loan Write-offs. Journal of Accounting and Economics, v.25,
p.69-99, 1998.
KOTHARI, S. P. Capital Markets Research in Accounting. Journal of Accounting
Research, 2001, p.105-231.
LAPPONI, J. C. Estatística usando Excel. São Paulo: Lapponi Editora, 2000.
LIBERTY, S., & ZIMMERMAN, J. Labor Union Contract Negotiations and
Accounting Choices. The Accounting Review, October 1986, p. 692-712.
LEUZ, C., NANDA, D., WYSOCKI, P. D. Earnings Management and Investor
Protection: an International Comparison. Journal of Financial Economics 69, 2003.
LOBO, G. J. & YANG, D.H. Bank Managers’ Heterogeneousm Decisions on
Discretionary Loan Loss Provisions. Review of Quantitative Finance and Accountig,
v.16, p.223-250, 2001.
LOPES, A.B. A informação contábil e o mercado de capitais. São Paulo: Pioneira, 2002.
______. A relevância da informação contábil para o mercado de capitais: o modelo de
Ohlson aplicado à Bovespa. Tese (Doutorado em Ciências Contábeis), FEA-USP, São
Paulo, 2001.
LOPES, A. B. & LIMA, I. S. Contabilidade e Controle de Operações com Derivativos.
São Paulo: Thomson, 2003.
LOPES, A. B. & MARTINS, E. Teoria da Contabilidade – Uma Nova Abordagem. São
Paulo: Atlas, 2005.
MARQUARDT, C. A. & WIEDMAN, C. I. How are Earnings Managed? An
Examination of Specific Accruals. Contemporary Accounting Research, v.21, n.2,
Summer 2004, p.461-491.
MARTINEZ, A. L. “Gerenciamento” dos resultados contábeis: estudo empírico das
companhias abertas brasileiras. Tese (Doutorado em Ciências Contábeis), FEA-USP,
São Paulo, 2001.
McNICHOLS, M. Research Design Issues in Earnings Management. Journal of
Accounting and Public Policy 19, p.313-345, 2000.
McNICHOLS, M. & WILSON, P. Evidence of Earnings Management from the
Provision for Bad Debts. Journal of Accounting Research, v.26, Supplement, 1988.
McNUTT, J. J. Earnings mnagement at publicly traded banks: a simultaneous
equations estimations. College of Business and Administration, Southern Illinois
University, Carbondale, May 2003.
MOYER, S. E. Capital Adequacy Ratio Regulations and Accounting Choices in
Commercial Banks. Journal of Accounting and Economics 13, p.123-154, July 1990.
MULFORD, C. W. & COMISKEY, E. E. The financial numbers game: detecting
creative accounting practices. New York: John Willey Trade, 2002.
NELSON, M. W., ELLIOTT, J. A. & TARPLEY, R. L. How are Earnings Managed?
Examples from Auditors. Accounting Horizons, v.17, Supplement 2003.
205

NIYAMA, J. K., & GOMES, A. L. O. Contabilidade de Instituições Financeiras. São


Paulo: Atlas, 2005.
NEWMAN, P. Discussion of ‘An Explanation of Accounting Income Smoothing’.
Journal of Accounting Research 26 supplement, p.140-143, 1988.
PHILLIPS, J., PINCUS, M. & REGO, S. O. Earnings management: new evidence
based on deferred tax expense. The Accounting Review, v.78, n.2, April 2002.
PINCUS, M. & RAJGOPAL, S. The interaction between accrual management and
hedging: evidence from oil and gas firms. The Accounting Review, v. 77, n.1, 2002.
POITRAS, G., WILKINS, T & KWAN, Y. S. The Timing of Asset Sales: Evidence of
Earnings Management? Journal of Business Finance & Accounting, 29, 2002.
RODRIGUES, A. Gerenciamento dos Resultados Contábeis através de Receitas e
Despesas Não-operacionais: Estudo Empírico das Companhias “Nível 1” – Bovespa.
Congresso USP de Contabilidade, 2006.
ROMERA, M. P. Disciplina de Mercado na Indústria Bancária Brasileira: Um Teste
sobre o Comportamento dos Depositantes. Dissertação (Mestrado em Gestão
Econômica de Negócios). Brasília: UnB, 2005.
ROSS, S. A., WESTERFIELD, R. W. & JAFFE, J. F. Administração Financeira –
Corporate Finance. Tradução de Antonio Zorato Sanvicente. São Paulo: Atlas, 1995.
SCHIPPER, K. Commentary on earnings management. Accounting Horizons, v.3, p.91-
102, December 1989.
SCHOLES, M. S., WILSON, G. P. & WOLFSON, M. A. Tax Planning, Regulatory
Capital Planning and Financial Reporting Strategy for Commercial Banks. The Review
of Financial Studies, v.3, n.4, p.625-650, 1990.
SHRIEVES, R. E. & DAHL, D. Discretionary Accounting and the Behavior of
Japanese Banks under Financial Duress. Journal of Banking and Finance, v.27, 2001.
SKINNER, D. J.; Myers, L. A. Earnings momentum and earnings management. Abril,
1999. Disponível em <http://ssrn.com/abstract=161731>. Acesso em: 15/12/2005.
SMITH, M. J. Ex ante and ex post discretion over arm´s length transfer prices. The
Accounting Review, v.77, n.1, January 2002.
STEVENSON, W. J. Estatística Aplicada à Administração. São Paulo: Harbra, 1981.
TEOH, S. H., WELCH, I. & WONG, T. J. Earnings management and the
underperformance of seasoned equity offerings. Journal of Financial Economics, 50,1998.
TRUEMAN, B & TITMAN, S. An Explanation for Accounting Income Smoothing.
Journal of Accounting Research 26 supplement, p.127-139, 1988.
TUKAMOTO, Y. S. Contribuição ao estudo do ”gerenciamento” de resultados – uma
comparação entre as companhias abertas brasileiras emissoras de ADRs e não
emissoras de ADRs. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). FEA-USP: São
Paulo, 2004.
TURNER, LYNN E & GODWIN, J. H. Auditing, Earnings Management, and
International Accounting Issues at the Securities and Exchange Commission.
Accounting Horizons, v.13, n.3, September 1999, p.281-297.
WAHLEN, J. The nature of information in commercial bank loan loss diclosures. The
Accounting Review, v.69, n.3, July, p.455-478, 1994.
206

XAVIER, P. H. M. Gerenciamento de Resultados por Bancos Comerciais no Brasil.


Tese (Doutorado em Ciências Contábeis). São Paulo: FEA-USP, 2007.
ZENDERSKY, H. C. Gerenciamento de Resultados em Instituições Financeiras no
Brasil – 2000 a 2004. Dissertação (Mestrado em Ciências Contábeis). Brasília: UnB,
2005.

GLOSSÁRIO

Accruals Acumulações, apropriações de receitas e despesas conforme o


regime de competência.
Cross-sectional Idéia de “corte transversal”. Técnica estatística de regressão
que envolve a análise de dados de diferentes empresas em um
mesmo período. É comum o emprego de bases de dados de
mais de um período, quando se utiliza o termo pooled e o
número de observações é referenciado como “empresas-ano”,
constituindo uma combinação de dados de corte e séries
temporais.
Disclosure Evidenciação contábil, divulgação de informações financeiras,
transparência.
Discretionary accrual Acumulações (apropriações) discricionárias de receitas ou
despesas, que dependem do julgamento dos gestores, podendo
estar vinculadas a interesses particulares que não a fidedigna
representação da situação da empresa.
Nondiscretionary Acumulações (apropriações) não discricionárias de receitas ou
accrual despesas que não dependem decisivamente do julgamento do
gestor e que atendem ao objetivo de representação da situação
patrimonial e financeira da entidade.
Earnings Management Gerenciamento de resultados (GR).
Management buyout Aquisição (ou tentativa de aquisição) de controle da empresa
pelos seus executivos.
Income smoothing “Alisamento” ou suavização de resultados. Prática de
gerenciamento de resultados que objetiva a apresentação de
resultados sem grandes oscilações ao longo do tempo.
Stakeholders Grupos que possuem interesse na empresa. Incluem acionistas,
credores, fornecedores, empregados, clientes.
207

Apêndice I
Procedimentos de contabilização de operações de crédito, TVM e derivativos

1. Introdução
Neste apêndice, são apresentados os procedimentos de contabilização de operações de
crédito, TVM e derivativos, conforme normas vigentes no SFN. O entendimento de tais
procedimentos é base para a leitura do capítulo III e para a compreensão da análise
empírica realizada.

2. Normas vigentes no SFN


2.1 - Estrutura de contas – Cosif
Para a realização da pesquisa, é importante conhecer a estrutura básica de contas do
Cosif, o plano contábil que apresenta critérios e procedimentos contábeis a serem
observados pelas instituições do SFN. O Cosif estabelece estrutura padronizada de
contas, com diversos grupos, nos quais devem ser contabilizadas as diversas operações
realizadas. Cada rubrica possui um código, como “Caixa” (código 1.1.1.00.00-9), dentro
do grupo “Disponibilidades” (1.1.0.00.00-6). Existem nove grupos de contas,
identificados pelo número inicial do código: 1) ativo circulante e realizável a longo
prazo; 2) ativo permanente; 3) compensação (ativo); 4) passivo circulante e exigível a
longo prazo; 5) resultados de exercícios futuros; 6) PL; 7) contas de resultado credoras;
8) contas de resultado devedoras; 9) compensação (passivo).

2.2 – Operações de crédito


A Lei 6.404/1976 estabelece que devem ser realizadas provisões para ajustar créditos ao
valor provável de realização, não se especificando, contudo, o critério para a
constituição da provisão.
No SFN, até março de 2000, os critérios para definição do valor da PDD eram definidos
pela Resolução 1.748/1990. Em 21/12/1999, com o objetivo de adequação às novas
realidades no mercado, foram introduzidos, por meio da Resolução 2.682, critérios mais
abrangentes para a constituição de provisão, tendo em vista o estabelecimento de
provisões mais sensíveis ao risco de cada operação e tomador.
A Resolução 2.682 determina a classificação das operações de crédito em níveis
decrescentes de risco: AA (provisão nula), A, B, C, D, E, F, G e H (provisão de 100%).
A classificação é de responsabilidade da instituição detentora do crédito, devendo ser
efetuada com base em critérios consistentes e verificáveis, amparada por informações
relativas ao devedor (situação econômico-financeira, grau de endividamento,
capacidade de geração de resultados, fluxo de caixa, administração e qualidade de
controles, pontualidade e atrasos nos pagamentos, setor de atividade econômica) e à
operação (natureza e finalidade, garantias, valor). Além disto, eventual atraso no
pagamento também interfere na classificação (por exemplo: atraso entre 15 e 30 dias:
risco nível B, no mínimo). A provisão deve ser feita em montante suficiente para fazer
face a perdas prováveis na realização dos créditos. Constituída mensalmente, não pode
ser inferior ao somatório decorrente dos seguintes percentuais:
208

Tabela 31 - Critérios de provisão das operações de crédito


Nível de risco Período de atraso Provisão mínima (%)
AA - -
A - 0,5
B entre 15 e 30 dias 1,0
C entre 31 e 60 dias 3,0
C entre 61 e 90 dias 10,0
E Entre 91 e 120 dias 30,0
F entre 121 e 150 dias 50,0
G entre 151 e 180 dias 70,0
H superior a 180 dias 100,0

Cumpre mencionar que é vedado o reconhecimento de encargos em operações que


apresentem atraso superior a 60 dias no pagamento de principal ou juros e que operação
objeto de renegociação deve ser mantida, no mínimo, no mesmo nível de risco em que
estiver classificada anteriormente à renegociação (admite-se reclassificação para menor
risco quando houver amortização significativa da operação ou quando fatos novos
justificarem a mudança do nível de risco).
Apesar de haver definição regulamentar de percentuais de provisão para cada nível de
risco e orientações sobre quais informações devem ser consideradas no processo de
análise, deve-se reconhecer a presença de aspectos subjetivos na classificação, e que os
critérios adotados para análise das operações são de responsabilidade de cada IF, o que
sugere certa flexibilidade, espaço de ação discricionária e oportunidade de GR. Neste
contexto é que podem ser observadas provisões menores em quando os lucros
demonstram-se abaixo de níveis esperados ou desejados, e, por outro lado, provisões em
volumes elevados e até mesmo excedentes (acima do mínimo exigido) em momentos
em que os lucros foram altos ou acima de patamares previstos.

2.3 – Operações com TVM


Documentos elaborados por organismos internacionais de definição de padrões
contábeis, como o Iasb e o Fasb, prevêem, desde 1993, a utilização do valor justo e a
classificação contábil de TVM em três categorias: para negociação, disponíveis para
venda e mantidos até o vencimento. Esta classificação foi introduzida no SFN por meio
da Circular 3.068 do Banco Central, com efeitos a partir de 31/3/2002.
A Circular 3.068, de 8/11/2001, determina que os títulos adquiridos por IF devem ser
classificados nas seguintes categorias: para negociação (“N”): títulos adquiridos com o
propósito de serem ativa e freqüentemente negociados; disponíveis para venda
(“DPV”): títulos que não se enquadram nas outras duas categorias; mantidos até o
vencimento (“M”): títulos adquiridos para os quais haja intenção e capacidade
financeira de mantê-los em carteira até o vencimento.
Em termos de avaliação, títulos N e DPV devem ser ajustados pelo valor de mercado
com contrapartida no resultado (quando N) ou em conta destacada do PL (quando
DPV). Já os classificados como M, devem ser avaliados pelo custo de aquisição,
acrescido dos rendimentos, com impacto no resultado. Quanto aos títulos DPV, ganhos
ou perdas não realizados (em conta do PL) devem ser transferidos para resultado
quando da venda definitiva dos títulos. Assim, pode-se montar o seguinte quadro:
209

Quadro 12 – Resumo das classes de títulos e procedimentos de contabilização


Categorias Características Registro Contrapartida do ajuste
NEGOCIAÇÃO NEGOCIAÇÃO ATIVA E VALOR DE RESULTADO
FREQÜENTE MERCADO
DISPONÍVEIS NÃO ENQUADRADOS EM VALOR DE CONTA DESTACADA DO
PARA VENDA “N” e “M” MERCADO PL
MANTIDOS ATÉ O INTENÇÃO e CAPACIDADE CUSTO (sem ajuste)
VENCIMENTO FINANCEIRA
Para fins do ajuste previsto para títulos N e DPV, a metodologia de apuração do valor
de mercado é de responsabilidade da IF e deve ser estabelecida com base em critérios
consistentes e verificáveis, podendo ser utilizado, como parâmetro: a) preço médio de
negociação; b) valor líquido provável de realização obtido mediante adoção de técnica
ou modelo de precificação ou c) preço de instrumento financeiro semelhante, levando
em conta prazos de pagamento e vencimento, risco de crédito e moeda ou indexador.
Observa-se que o item “a”, acima, constitui, de fato, um parâmetro de valor de mercado;
já os itens “b” e “c” apontam para uma estimativa de valor justo. Fica evidente que a
norma, ao prever o ajuste pelo “valor de mercado”, estabelece formas de determinação
que envolvem elementos do valor justo, conceito amplamente utilizado em documentos
do Iasb e Fasb sobre contabilização de instrumentos financeiros, conforme será
abordado a seguir.
A Circular 3.068, portanto, estabelece, na prática contábil do SFN, elementos do valor
justo, ainda que se restrinja a mencionar o termo “valor de mercado”. Além disso,
introduz inovação contábil de classificação de títulos em três categorias, prática já
prevista no exterior desde 1993. Constitui, assim, um avanço na contabilidade brasileira
de TVM. Avanço de proporções limitadas, uma vez que a Circular atinge apenas as IF,
enquanto que normas internacionais, como as do Iasb e do Fasb, definem um alcance
empresarial mais amplo, não restrito às instituições financeiras.

2.4 – Operações com derivativos


As operações com derivativos – que envolvem os produtos termo, futuros, swaps ou
opções –, podem ter como finalidade a especulação (busca de ganhos a curto prazo) ou
hedge (proteção; operações realizadas para mitigar possibilidades de perdas).
No SFN, a Circular 3.082, editada em 30/01/2002 e com efeitos a partir de 30/06/2002,
trouxe significativas alterações na contabilização de derivativos, incorporando
recomendações de pronunciamentos internacionais do Iasb, como o IAS 39 (Financial
Instruments: Recognition and Measurement) e do Fasb, como o SFAS 133 (Accouting
for Derivative Financial Instruments and Hedging Activities). Uma das principais
alterações envolve o reconhecimento dos derivativos como ativo ou passivo, de acordo
com o valor justo dos direitos ou obrigações, adotando-se, como medida do fair value, o
valor de mercado (quando disponível).
Os derivativos, conforme Circular 3.082, podem ser definidos como instrumentos cujo
valor varia em decorrência da mudança em taxa de juros, preço de título, preço de
mercadoria, taxa de câmbio, índice de bolsa de valores, índice de preço, etc., cujo
investimento inicial seja inexistente ou pequeno em relação ao valor do contrato, e que
sejam liquidados em data futura.
210

Com o objetivo de segregar operações cujo objetivo é a geração de resultados daquelas


visam a redução de prejuízos, os derivativos, conforme a Circular 3.082, devem ser
classificados como destinados a especulação ou com finalidade de hedge.
O hedge é definido como a designação de derivativo com o objetivo de compensar os
riscos decorrentes da exposição a variações no valor de mercado ou fluxo de caixa de
ativo ou passivo, e cuja resposta ao risco objeto de hedge ocorra de modo semelhante.
Há distinção entre hedge de risco de mercado e de fluxo de caixa. O primeiro busca
eliminar ou reduzir a exposição ao risco de variações no valor de mercado de um ativo
ou passivo. O hedge de fluxo de caixa busca eliminar ou reduzir a exposição ao risco de
variações do fluxo de caixa futuro de uma transação prevista.
Os derivativos destinados a hedge e respectivos itens objeto de hedge devem ser
ajustados a valor de mercado, no mínimo, por ocasião dos balancetes mensais e
balanços, observado que: i) para aqueles classificados como hedge de risco de mercado,
a valorização ou desvalorização deve ser registrada em contrapartida a adequada conta
de receita ou despesa, no resultado do período; ii) para aqueles classificados como
hedge de fluxo de caixa, a valorização ou desvalorização deve ser registrada: a parcela
efetiva, em contrapartida a conta destacada do PL (como um ganho ou perda
“potencial”, fora do resultado do período); qualquer outra variação, em contrapartida a
adequada conta de receita ou despesa, no resultado do período.
Entende-se por parcela efetiva aquela em que a variação no item objeto de hedge é
compensada pela variação no instrumento de hedge. Os ganhos ou perdas referentes à
parcela não efetiva devem ser reconhecidos no resultado simultaneamente ao registro
contábil das perdas e ganhos no item objeto de hedge.
Ressalte-se que, para a qualificação do derivativo como hedge, há necessidade de
atendimento a rigorosos critérios, como possuir identificação documental do risco
objeto de hedge, informação detalhada sobre a operação, processo de gestão de risco e
metodologia de avaliação da efetividade do hedge desde a concepção da operação. Para
comprovação da efetividade, requer-se que as variações no valor de mercado ou no
fluxo de caixa do instrumento de hedge compensam as variações no valor de mercado
ou no fluxo de caixa do item objeto de hedge em intervalo entre 80% e 125%.
O não atendimento das exigências, a qualquer tempo, implica na desclassificação da
operação e imediata transferência, ao resultado, no caso do hedge de fluxo de caixa, dos
valores referentes à operação, registrados em conta destacada do PL.
Quanto ao hedge de risco de mercado, com ganhos e perdas imediatamente
reconhecidos no resultado, juntamente com a perda ou ganho do item que está sendo
protegido, cabe observar que, se hedge for perfeito, o impacto no resultado será nulo,
pois variação do derivativo será oposta à variação do item protegido; se hedge não for
perfeito, a parte ineficaz causará impacto no resultado.
No que se refere aos derivativos não destinados a hedge, devem ser avaliados a
mercado, com ganhos e perdas reconhecidos no resultado do período.
211

Apêndice II
Relação das instituições financeiras participantes da pesquisa empírica
Neste apêndice, é apresentada a relação das instituições participantes da pesquisa
empírica, com especificação do montante de ativos totais em dezembro de 2006.
Ativo Total Ativo Total
Nome (R$ mil) Nome (R$ mil)
1 BANCO DO BRASIL 296.356.419 26 BMG 4.624.199
2 BRADESCO 213.302.930 27 BESC 4.246.753
CAIXA ECONOMICA MERCANTIL DO
3 FEDERAL 209.532.835 28 BRASIL 5.058.303
4 ITAU 205.156.179 29 IBIBANK 3.816.176
5 ABN AMRO 119.160.302 30 ABC-BRASIL 3.777.299
SANTANDER
6 BANESPA 102.125.938 31 RABOBANK 3.775.465
7 UNIBANCO 97.785.134 32 SS 3.754.127
8 SAFRA 61.820.338 33 BANCOOB 3.586.143
9 HSBC 58.265.728 34 PINE 3.205.491
10 VOTORANTIM 56.707.483 35 ING 2.939.051
11 NOSSA CAIXA 39.319.392 36 BRB 2.783.207
12 CITIBANK 30.755.195 37 DAYCOVAL 3.035.739
13 UBS PACTUAL 20.260.656 38 BMC 2.391.458
14 BANRISUL 15.697.307 39 CLASSICO 2.314.032
15 BBM 12.401.765 40 BANSICREDI 4.517.633
16 BNB 12.477.424 41 BARCLAYS 2.139.151
17 ALFA 11.075.730 42 CRUZEIRO DO SUL 2.117.546
18 BNP PARIBAS 10.673.186 43 SOFISA 2.098.479
19 DEUTSCHE 9.007.310 44 BGN 2.075.383
20 CREDIT SUISSE 10.811.532 45 WESTLB 1.815.860
21 JP MORGAN CHASE 8.282.640 46 RURAL 1.809.355
22 FIBRA 8.345.297 47 BANCO JOHN DEERE 1.662.583
23 BIC 7.325.085 48 SCHAHIN 1.542.764
24 BASA 5.158.922 49 DRESDNER 1.566.521
25 BANESTES 5.637.362 50 BANESE 1.443.796

TOTAL 50 MAIORES 1.699.538.603 TOTAL SFN 1.997.735.742

Verifica-se que as 50 maiores instituições representam 85,1% do total de ativos do SFN.


Observe-se que a classificação disponibilizada pelo Banco Central do Brasil é feita em
ordem decrescente de ativos totais líquidos de operações de intermediação, sendo que a
tabela acima apresenta valores de ativos totais (sem excluir intermediação), o que
justifica o fato de a seqüência da tabela (classificação de 1 a 50) não se apresentar em
perfeita ordem decrescente, como no caso das posições 15 e 16.

Você também pode gostar