TESE Goulart
TESE Goulart
TESE Goulart
SÃO PAULO
2007
Profa. Dra. Suely Vilela
Reitor da Universidade de São Paulo
São Paulo
2007
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Seção de Processamento Técnico do SBD/FEA/USP
CDD – 657.8
i
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE ABREVIATURAS
AD Acumulações discricionárias
AND Acumulações não discricionárias
AT Ativos totais
BCB BCB
BIS Bank for International Settlements
CVM Comissão de Valores Mobiliários
DRE Demonstração do Resultado do Exercício
DPV Disponíveis para venda (títulos DPV)
Fasb Financial Accounting Standards Board
GR Gerenciamento de resultados (contábeis)
Iasb International Accounting Standards Board
IF Instituição financeira (ou instituições financeiras)
LL Lucro líquido
MtM Marcação a mercado (mark-to-market)
PDD Provisão para devedores duvidosos
PL Patrimônio Líquido
SEC Securities and Exchange Commission
SFN Sistema financeiro nacional
TVM Títulos e valores mobiliários
VM Valor de mercado
3
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Contas de resultado relacionadas ao ajuste a VM de TVM 103
Quadro 2 – Contas utilizadas como variáveis nos modelos de regressão 104
Quadro 3 – Modelos de regressão – operações de crédito 124
Quadro 4 – Modelos de regressão – despesas de ajustes a VM de TVM 126
Quadro 5 – Modelos de regressão – receitas de ajustes a VM de TVM 127
Quadro 6 – Modelos de regressão – resultados de ajustes a VM de TVM 128
Quadro 7 – Resumo dos modelos de regressão – TVM 129
Quadro 8 – Modelos de regressão – derivativos 130
Quadro 9 – Variáveis empregadas na análise de correlação e regressão 131
Quadro 10 – Descrição dos modelos de regressão empregados 148
Quadro 11 – Resumo de desempenho das versões dos testes de regressão 172
Quadro 12 – Resumo das classes de títulos e procedimentos de contabilização 209
4
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
__________________________________________________________
1. Introdução
1
Apesar de os bancos constituírem apenas uma das modalidades de instituições financeiras, utilizam-se,
neste trabalho, os dois termos (bancos e instituições financeiras) indistintamente. Considere-se, ainda, que
grande parte dos “bancos” consistem, na realidade, em conglomerados financeiros, os quais, além de
atividades bancárias, envolvem operações de leasing, financeira, corretora e distribuidora de títulos e
valores mobiliários, seguros, previdência privada, capitalização e gestão de recursos.
2
Texto no original: “earnings management is believed to be so common that the media and regulators are
expressing concern about its effects on the quality of reported earnings and the functioning of capital
markets.”
6
3
Texto no original: “(...) SEC´s recent goal to improve the quality of financial reporting, which includes
reducing earnings management.”
4
No capítulo II, é desenvolvida análise pormenorizada sobre o “gerenciamento de resultados”.
7
aumentar o preço das ações da empresa no mercado, ou um lucro menor, tendo em vista
evitar a atenção de fiscais de impostos ou mesmo de políticos (esfera legislativa) que
visam o aumento de tributos sobre as atividades da empresa.
Gera-se, assim, um problema de assimetria de informações entre gestores internos e
usuários externos das demonstrações financeiras, com “a apresentação de resultados que
não condizem, necessariamente, com a melhor representação da realidade econômica,
financeira e patrimonial das entidades.” (Fuji,2004:4)
A assimetria é fomentada pela divulgação imprecisa de informações pelas empresas,
com o que colaboram as práticas de GR. A conseqüência da divulgação imprecisa é o
incremento da assimetria de informações entre empresa e investidores, o que, por sua
vez, aumenta a incerteza destes sobre a situação das companhias, com prováveis
impactos no custo de capital, seja por meio de exigência de juros mais altos em
empréstimos ou pelos impactos negativos na liquidez das ações da empresa. Por outro
lado, a transparência empresarial, com ampla e fidedigna divulgação de informações,
pode reduzir a assimetria e as incertezas relativamente às perspectivas da entidade,
colaborando para que esta obtenha melhores condições nas operações com terceiros,
como, por exemplo, taxas menores nas captações no mercado de capitais.
Neste contexto, define-se a importância de avaliar se os padrões contábeis vigentes no
sistema financeiro nacional (SFN) têm sido utilizados para a adequada representação
das instituições financeiras (IF), ou se têm sido instrumentos de GR, tendo em vista o
atendimento de interesses dos próprios bancos, em detrimento das demandas dos
usuários da informação contábil – como investidores e depositantes –, que requerem
informações confiáveis e úteis para a tomada de decisões.
Ressalte-se que a inadequada representação contábil das IF, com o que podem colaborar
as ações de GR, além de prejudicar investidores e depositantes bancários – sujeitos a
erros na escolha dos bancos com os quais desejam operar e nas exigências de taxas
diferenciadas nas aplicações, em função dos riscos de cada instituição –, pode
comprometer a credibilidade da própria contabilidade, com efeitos danosos também
sobre o desempenho do sistema financeiro no desenvolvimento econômico do país.
Neste sentido, Dechow & Skinner (2000:246-247) observam que, quando o GR torna-se
público (revelation of earnings management), reduz-se a credibilidade do disclosure da
empresa, e a informação de que a empresa gerencia resultados pode ser interpretada,
pelos investidores, como um sinal de que as perspectivas econômicas da companhia são
8
5
Ressalte-se que, nos conglomerados financeiros, há empresas não financeiras que também podem
realizar captações, de maneira que as fontes de recursos, para os conglomerados, não se restringem às
captações realizadas pelas instituições financeiras.
6
Texto no original: “Based on extant research, we came to the conclusion that understanding
management´s incentives is key to understanding the desire to engage in earnings management.”
10
percepção de risco dos investidores e reduzir seus custos de captação. Nesta linha,
Kanagaretnam et al (2001:7) observam que, como o custo dos financiamentos obtidos
depende do risco percebido no mercado, os gestores dos bancos possuem incentivo para
suavizar lucros e reduzir maiores flutuações nos resultados contábeis.
Também foi ressaltado que os agentes superavitários são convencidos a alocar seus
recursos em determinado banco se este for reconhecido como bem gerenciado, com
boas perspectivas e potencial de geração de lucros. Sabe-se, contudo, que não somente
os bancos com boas perspectivas conseguem captar recursos. Também aqueles
desprovidos de melhores perspectivas obtêm os financiamentos necessários ao
desenvolvimento de suas atividades. Isso remete à relação risco versus retorno, pela
qual, conforme fundamentos da teoria de finanças, quanto maior o risco apresentado por
um ativo, maior tende a ser o retorno esperado por parte dos investidores que nele
aplicam. Tal relação entre risco e retorno é evidenciada pelo CAPM (Capital Asset
Pricing Model), modelo que estabelece que o retorno esperado de um título é
positivamente (e linearmente) relacionado ao indicador de risco de mercado do título,
denominado beta (Ross et al,1995:227). Assim, quanto maior (menor) o risco, maior
(menor) o retorno esperado. E quanto maior (menor) o risco de um ativo, maior (menor)
será o prêmio de risco demandado pelos investidores. Nesse sentido, os bancos
oferecem um prêmio de risco para atrair depósitos no mercado, sendo que este prêmio
de risco é reduzido quando indicadores de solidez, como o nível de capital próprio, são
incrementados (Scholes et al, 1990:643).
Nesta lógica, um banco percebido como de risco elevado deverá experimentar taxas de
captação mais altas que um banco reconhecido como de baixo risco e financeiramente
sólido. É o risco refletido no preço. O preço, no caso, refere-se ao juro requerido pelos
poupadores nas transações com os bancos tomadores de recursos. Como o risco acaba
influenciando o preço, há natural interesse bancário em transmitir ao mercado imagem
de baixo risco. Essa influência do risco percebido (pelos investidores) no preço pode ser
observada, por exemplo, quando os bancos realizam captações por meio de CDB
(Certificado de Depósito Bancário).
Considera-se relevante, assim, a existência de mecanismos eficientes de precificação de
ativos no mercado. Para tanto, requer-se grau satisfatório de transparência (disclosure),
de maneira que os participantes do mercado possam identificar e avaliar os níveis de
risco apresentados pelas contrapartes com quem realizam operações.
12
Conforme destacado, a percepção de risco afeta o custo de capital das empresas, o qual
pode ser considerado como a taxa de retorno exigida pelos fornecedores de capital.
Segundo Gitman (1997:382-383), há uma relação geral entre risco e custos de
financiamento, pela qual o custo de capital depende de três elementos: custo livre de
risco de um dado tipo de financiamento, prêmio de risco de negócio (business premium)
e prêmio de risco financeiro (financial premium), conforme segue:
kj = rj + bp + fp
kj = custo dos vários tipos de financiamento, j; rj = custo livre de risco de um dado tipo de
financiamento, j; bp = prêmio de risco de negócio; fp = prêmio de risco financeiro.
Assim, o custo de captação de uma empresa depende do custo livre de risco, do risco
específico do negócio e do risco financeiro (definido como o risco de a empresa ser
incapaz de cumprir com seus compromissos financeiros). Depreende-se, pela equação
proposta por Gitman, que fatores de risco afetam o custo de capital das empresas, o que
oferece fundamento para se defender o especial interesse dos bancos em influenciar a
percepção de risco dos participantes do mercado, tendo em vista reduzir os custos de
captação. Neste propósito, requer-se a manutenção de imagem de solidez financeira, a
qual é fomentada pela apresentação de padrão de resultados constantes, sem
volatilidades que possam aumentar as percepções de risco quanto aos lucros futuros.
Ressalte-se, conforme já observado, que a prática de suavização de resultados enseja a
constância de lucros. Tal constância, por sua vez, é compatível com a imagem de
estabilidade, e esta, segundo Moyer (1990:132), é preocupação dos reguladores e
legisladores bancários. Nesse sentido, a constância de resultados contábeis, além de
contribuir para a redução de custos de captação, pode ser útil também para evitar maior
atenção por parte dos supervisores bancários. Acrescente-se, conforme Scholes et al
(1990:626), que o incremento de capital próprio, objeto de monitoração pelos
reguladores, favorece a captação bancária de recursos a baixos custos e reduz
possibilidade de intervenção pelo órgão regulador, o que corrobora a importância da
imagem de solidez para os bancos.
2. Problema
Este trabalho tem como propósito responder a seguinte questão: Há evidências de que as
instituições financeiras em atuação no Brasil utilizam a contabilização de operações de
crédito, TVM e derivativos como instrumento de gerenciamento de resultados?
13
De maneira mais específica, a questão de pesquisa pode ser definida da seguinte forma:
Há evidências de que as instituições financeiras utilizam a contabilização de operações
de crédito, TVM e derivativos como instrumento de gerenciamento de resultados, tendo
em vista a suavização dos resultados divulgados?
Assim, questiona-se se os padrões contábeis vigentes no SFN têm sido utilizados para a
fidedigna representação da situação patrimonial das instituições financeiras ou se estas
têm utilizado as normas e os procedimentos contábeis relativos às operações de crédito,
TVM e derivativos como instrumentos de gerenciamento de resultados, tendo em vista
interesses dos gestores bancários. Registre-se que estes interesses podem não se
coadunar com o objetivo das demonstrações financeiras, de evidenciação, transparência
e fornecimento de informações úteis para a tomada de decisões por parte dos usuários
da informação contábil.
3. Objetivo
O objetivo do trabalho é avaliar se existe utilização, por parte das instituições
financeiras em atuação no Brasil, da contabilização de operações de crédito, TVM e
derivativos como instrumento de gerenciamento de resultados. Especificamente,
objetiva-se identificar se estas contas específicas estão sendo utilizadas para a
suavização de resultados das instituições financeiras.
É propósito do trabalho realizar pesquisa bibliográfica e produzir evidências que sejam
úteis para a avaliação do grau em que os padrões contábeis vigentes no SFN, nas áreas
de crédito, TVM e derivativos, têm sido efetivamente utilizados para a evidenciação e a
adequada representação da situação patrimonial, financeira e de resultados das
instituições financeiras, em atendimento às demandas dos usuários da informação
contábil. Ao mesmo tempo, espera-se a geração de evidências que sinalizem até que
ponto os padrões contábeis vigentes têm sido utilizados para o GR, em atendimento a
interesses das próprias IF, como no caso de “suavização de resultados”.
Tem-se como objetivo, assim, verificar se há indícios de GR contábeis, no âmbito das
IF em atuação no Brasil, em três áreas: crédito, TVM e derivativos.
Cumpre mencionar que, embora esta pesquisa focalize a suavização de resultados,
outras práticas de GR também podem ser consideradas como de interesse das IF, como
ações no sentido de evitar a divulgação de perdas e lucros declinantes.
14
4. Justificativa
4.1 – Introdução
Além dos dados acima expostos, cabe considerar que, se somarmos as posições ativas
em crédito, TVM e derivativos, estas representavam, conjuntamente, 61,1% dos ativos
dos 50 maiores bancos e 60,1% dos ativos de todo o SFN em 31/12/2006.
7
HENDRIKSEN, E. S. Accounting Theory. Rev. ed. Homewood, Ill., 1970, p.102.
8
Texto no original: “the starting point for any field of study is to set forth its boundaries and determine its
objectives.”
15
Outra questão, levantada por Schipper (1989:91), é se as regras contábeis devem ser
promulgadas de maneira que as oportunidades para o GR sejam eliminadas. Conforme a
autora, é uma forma diferente de perguntar se o GR gera conseqüências adversas, se os
custos da discricionariedade contábil são mais altos que seus benefícios. Na análise
destes questionamentos, deve-se ter claro que o GR tem impactos na divulgação
financeira e que, conforme exposto no item a seguir, a transparência empresarial e a
adequada evidenciação contábil têm se revelado propósitos dos reguladores. A
discricionariedade sobre a PDD (provisão para devedores duvidosos), a propósito, bem
como seus efeitos – benéficos ou prejudiciais à solidez do sistema bancário – têm sido
objeto de debate entre profissionais, acadêmicos e reguladores. Quanto a estas questões,
Kanagaretnam et al (2001:2) destacam que a visão da SEC (Secutities and Exchange
Commission) e de quatro agências de regulação bancária (conforme pronunciamento
Federal Reserve Release, November 24, 1998) é que, embora o processo de
determinação da PDD envolva julgamento, não deve ser usada para manipular
resultados e iludir investidores.
9
Texto no original: “If there are identifiable areas in which earnings management is common and has a
significant effect on earnings and resource allocation, standard setters can consider ways to refine existing
accounting standards and expand disclosure requirements to enhance financial reporting. Alternatively, if
earnings management exists but is not commonplace and has only a modest effect on resource allocation,
there is less need for financial reporting standards to be revised.”
17
Vale ressaltar, ainda, que o objetivo das demonstrações contábeis consiste na provisão,
aos diferentes usuários, de informação útil para a tomada de decisões, de maneira que a
divulgação praticada pelas empresas relaciona-se diretamente com os objetivos da
contabilidade. Entende-se como relevante que o fornecimento de informações por parte
das IF tenha sua utilidade incrementada para acionistas, investidores, clientes
(incluindo-se os depositantes), órgãos do governo (com destaque para a supervisão
bancária), empregados, fornecedores e, de maneira geral, para toda a comunidade. Nesta
linha, o Banco Central do Brasil (2002b:100) afirma que:
Somente a partir de um nível de transparência satisfatório, com informações
confiáveis, baseadas em bons princípios contábeis e em sistemas de controle interno
eficientes, é que reguladores, participantes do mercado, acionistas, investidores e
outros usuários da informação serão capazes de avaliar com precisão a condição
financeira de determinada instituição, seu desempenho, o andamento de seu negócio e
os riscos relacionados às suas atividades.
O BIS (1999:18), ao discutir a importância do Pilar 3, afirma que um banco que é visto,
pelo mercado, como seguro e bem gerenciado, provavelmente obterá, nas transações
com investidores, credores, depositantes e outras contrapartes, condições mais
favoráveis relativamente aos bancos percebidos como de maior risco. Verifica-se que as
contrapartes tendem a requerer maiores prêmios de risco e garantias adicionais nas
transações com bancos que apresentam maior risco. Esse tipo de pressão, exercida pelos
participantes do mercado, é possibilitado por padrões elevados de divulgação, que
proporcionam condições para que os usuários realizem avaliações bem fundamentadas
sobre as instituições.
Com o mesmo enfoque, o Banco Central (2002a: título 2, capítulo 20, seção 10,
subseção 10, p.2-3), defende a “adoção de práticas que exijam a maior transparência
possível, por parte das instituições financeiras”, de maneira que “o público esteja bem
informado para escolher com quais instituições deseja trabalhar.” Assim, as melhores
20
Desta afirmação, depreende-se que: (i) a disciplina de mercado, que requer informações
que permitam avaliações bem fundamentadas, é um mecanismo relevante para o
fortalecimento do sistema bancário e (ii) os supervisores têm forte interesse em
promover a disciplina de mercado, tendo em vista a solidez do sistema financeiro.
Pelo exposto, pode-se dizer que a existência de padrões contábeis adequados é elemento
fundamental para a qualidade e a solidez do SFN e para a disciplina e eficiência de
mercado. Estes "padrões adequados" envolvem os procedimentos contábeis específicos
para as IF, em suas diversas modalidades operacionais.
Considerando que os bancos encontram nas operações de crédito, com títulos e valores
mobiliários (TVM) e derivativos três de suas principais modalidades de atividades,
entende-se como relevante a existência de padrões de contabilidade eficientes, em
termos de evidenciação, nas três áreas operacionais mencionadas11. Nesse sentido,
questiona-se se os procedimentos contábeis vigentes no SFN, nas áreas de crédito, TVM
e derivativos, são efetivamente utilizados para a adequada e fidedigna representação da
situação patrimonial dos bancos, ou se, de outra forma, têm sido objeto de ajuste
discricionário por parte dos gestores bancários, funcionando como instrumentos de
gerenciamento de resultados contábeis com vistas ao atendimento de interesses das
10
Texto no original: “The Committee also believes that supervisors have a strong interest in facilitating
effective market discipline as a lever to strengthen the safety and soundness of the banking system.
Effective market discipline requires reliable and timely information that enables market participants to
make well-founded risk assessments.”
11
Vale ressaltar que, embora não sejam objeto de estudo neste trabalho, há outras áreas que, em termos
contábeis, assumem relevância no contexto bancário e também são passíveis de ajuste discricionário,
como amortização de ativos diferidos, provisões para contingências e consolidação de balanços.
21
PDD. Isto reforça a importância de não se analisar apenas a PDD, mas, também, outros
itens do resultado bancário que podem estar sendo empregados no GR.
Há também estudos que focalizam a PDD, mas que excluem os bancos de suas análises,
como no clássico estudo realizado por McNichols & Wilson (1988), que, a propósito,
oferece argumento em favor de se examinar outros itens de resultado, além da PDD. Os
autores observam que, para algumas empresas, o exercício da discricionariedade sobre a
PDD pode conduzir a pequenas variações no resultado divulgado. As evidências obtidas
sugerem que, para as empresas analisadas, a discricionariedade sobre a PDD varia de
1% a 4% do resultado. Conforme os autores (p.16), “embora isto possa parecer
imaterial, o exercício da discricionariedade sobre a PDD, em conjunção a outras contas
com componentes discricionários, pode ajudar os gestores a alcançarem metas de
resultados(...).”12 Nota-se que McNichols &
Wilson ressaltam que a discricionariedade da PDD pode ter efeitos não tão
representativos, mas que, quando aliada à discricionariedade sobre outras contas, pode
oferecer as condições necessárias para a desejada influência sobre os resultados da
empresa. Identifica-se, assim, um argumento em favor da análise conjunta de mais de
um componente discricionário do resultado contábil das empresas. Nesta linha, Kato et
al (1998:1,5) concluíram que as acumulações (accruals) totais e os ganhos e perdas em
transações com títulos, conjuntamente, operam de maneira mais apropriada enquanto
instrumentos de gerenciamento de resultados nos bancos no Japão, destacando que é
mais plausível que os gestores usem amplo espectro de itens para alcançar seus
objetivos de GR.
Healy & Wahlen (1999:369-370), ao abordarem diferentes questões que podem ser
tratadas em estudos sobre GR, mencionam a seguinte: Quais contas (accruals) parecem
ser gerenciadas e quais não apresentam evidências de gerenciamento?
A partir desta questão, entende-se como relevante avaliar não somente se a
contabilização de operações de crédito, e respectiva provisão, têm sido utilizadas com o
propósito de GR, mas se outras modalidades operacionais como TVM e derivativos
também têm sido instrumentos de GR. Pode-se levantar argumentos teóricos e/ou
lógicos em favor da hipótese de que a contabilização de um determinado tipo de
operação, como derivativos, seja instrumento de gerenciamento, mas, em se tratando de
12
Texto no original: “Although this may seem immaterial, exercising discretion over the provision for
bad debts, in counjuncion with other discretionary accruals, can help managers achieve target income.”
23
Como bem observam os autores, não se pode discutir em que áreas existe e em que
áreas não existe GR se não houver evidências sobre tais questões. Há demanda por
evidências sobre em quais áreas têm sido observadas práticas de GR. Para tanto, faz-se
necessária a realização de pesquisas que não tratem apenas de uma modalidade
operacional, ampliando a investigação para outras áreas. Este é um dos propósitos do
13
Texto no original: “Overall, there is little evidence on earnings management using specific accruals,
suggesting that this is likely to be a fruitful area for future research. By examining specific accruals,
researchers can provide direct evidence for standard setters of areas where standards work well and where
there may be room for improvement. As a secondary benefit, such studies may be able to develop more
powerful accrual models.”
14
Texto no original: “If there is to be a more informed debate about the implications of earnings
management for standard setting, we need additional evidence on the following questions. Which
accounting standards are used to manage earnings? What is the frequency of managers´ use of reporting
judgment to manage earnings rather than to communicate firm performance to investors? (…)”
24
15
Texto no original: “with regard to this focus on incentives, we argue that academics’ research efforts
should focus more on capital market incentives for earnings management (…)”
25
5. Premissas assumidas
No decorrer do trabalho, algumas premissas e hipóteses orientadoras são assumidas.
Assume-se que os usuários das demonstrações financeiras tomam decisões racionais
com base nas informações divulgadas pelas empresas. Por este motivo, entende-se como
relevante que os padrões contábeis colaborem para a adequada evidenciação da situação
patrimonial e de resultados das IF, tendo em vista a consecução do objetivo das
demonstrações financeiras: provisão de informação útil para a tomada de decisões.
Também é assumida a existência de oportunidades, no âmbito dos padrões contábeis
vigentes no SFN, para a utilização de julgamento (discricionariedade) e, a partir disso,
apresentação de diferentes resultados contábeis, sem desrespeitar os princípios de
contabilidade. Entende-se que os gestores podem aproveitar-se das referidas
oportunidades de julgamento (“espaços” de discricionariedade) para fornecer
informações que lhes sejam mais convenientes, atendendo a interesses particulares, e
não propriamente ao objetivo de evidenciar adequadamente, de maneira fidedigna, a
real situação patrimonial e de desempenho das entidades. Quanto a este aspecto, vale
citar Fuji (2004:57), que aponta, como “uma das causas importantes” do GR:
(...) a flexibilidade dos princípios e normas contábeis, que permite uma margem de
arbitrariedade na elaboração das demonstrações contábeis, dadas as brechas legais e
ambigüidade de interpretação, possibilitando a apresentação de informações contábeis
pautadas nos interesses dos administradores e gerentes da empresa. As demonstrações
contábeis, por sua vez, podem estar em conformidade com a legislação contábil
vigente, mas não retratar fidedignamente a realidade econômico –financeira da
empresa, o que vai contra os interesses dos usuários da informação.
Considera-se, portanto, um contexto de assimetria de informações entre gestores e
usuários externos da informação contábil, onde os executivos das empresas buscam a
maximização de suas utilidades e o alcance de seus objetivos particulares, não pautando
suas ações, necessariamente, por princípios éticos e pela busca inexorável da
maximização da utilidade de outras partes interessadas na empresa (stakeholders).
Cabe salientar que os bancos, para o sucesso de suas atividades, dependem da
confiabilidade perante o público, a qual figura com um dos principais trunfos na
captação de recursos junto a terceiros (investidores, depositantes). Estes recursos
constituem a “matéria-prima”, o “insumo básico” das operações bancárias. Neste
contexto, é natural o entendimento de que os bancos têm especial cuidado em manter
16
Não se ignora, contudo, que os bancos contrabalançam os diferentes e possíveis benefícios existentes
no GR: tributários, regulatórios e os relacionados à divulgação financeira (disclosure). São também
considerados os custos envolvidos, como o risco de o GR ser detectado e afetar a imagem da instituição.
26
sólida imagem no mercado, podendo lançar mão de artifícios contábeis, como práticas
de GR, tendo em vista transparecer situação mais atrativa perante o público.
Pesquisas desenvolvidas no segmento bancário, como Ahmed et al (1999), Beatty et al
(1995) e Fuji (2004), assumem hipótese de relação positiva entre PDD e resultado
contábil (excluído da PDD), o que é considerado evidência de suavização de resultados
por meio da PDD. Assim, quando o resultado demonstra-se inferior ao esperado, reduz-
se o montante da PDD, para mitigar efeitos negativos nos lucros; quando o resultado é
alto, aproveita-se para aumentar volume da PDD. Este contexto de pesquisa baseia-se na
premissa de que gestores possuem incentivos para suavizar resultados.
No que se refere à manutenção de imagem de solidez, aparentando menor nível de
riscos, é razoável supor a adoção, por parte dos bancos, de práticas de suavização de
resultados. O interesse na adoção deste tipo de prática é hipótese orientadora do
presente trabalho. Entende-se que há incentivos para que as empresas adotem práticas
como a suavização, pois isto pode fazer com que os participantes do mercado tenham
percepção de menor volatilidade nos fluxos de resultados, indicando menor nível de
risco e, consequentemente, reduzindo as taxas demandadas nas captações realizadas e
aumentando os preços dos títulos emitidos pelas companhias (Hand,1989:596).
É assumido, portanto, que as IF preferem resultados suavizados17 (postura similar à
adotada por Hand, 1989:597). Os testes realizados objetivam avaliar se os dados são
consistentes ou não com as implicações derivadas da hipótese assumida.
Cabe considerar a existência de evidências de utilização da referida prática de GR pelas
empresas, conforme Rodrigues (2006) e, também, por parte dos bancos atuantes no
Brasil, conforme Fuji (2004), e nos EUA, conforme Collins et al (1995), que
constataram relação positiva entre PDD e resultado contábil, evidência consistente com
hipótese de suavização. Beatty et al (1995:254), empregando equações simultâneas, não
confirmaram hipótese de suavização (apenas com estimação por mínimos quadrados
verificou-se uso de PDD para suavização).
Quanto à base teórica para a assunção de hipótese de suavização de resultados,
encontra-se fundamentação em trabalhos como os desenvolvidos por Bowen et al
(1999) e Burgstahler & Dichev (1997), que abordam a teoria dos custos de transação.
Segundo esta teoria, as empresas possuem incentivos para utilizar a divulgação
financeira no sentido de fortalecer sua reputação e, com isto, influenciar os termos de
negociação com stakeholders, como os custos de captações junto a credores. Ocorre que
17
No capítulo II, item 3.5.2, são discutidas as bases para a hipótese de suavização de resultados.
27
1. Introdução
O presente capítulo, ao discutir o tema gerenciamento de resultados (GR), tem como
objetivo constituir uma das bases teóricas para a realização deste trabalho.
O capítulo é iniciado abordando-se o objetivo da divulgação de informações contábeis.
Em seguida, é discutido o conceito de GR. Parte-se, então, para o tratamento de alguns
aspectos específicos, como a definição sobre acumulações (accruals), acumulações
discricionárias, suavização de resultados (income smoothing) e os incentivos para GR.
O GR é tema bastante discutido na literatura acadêmica internacional e tem ganhado
espaço de pesquisa também no âmbito doméstico, especialmente após os colapsos
financeiros, na década de 1990, de grandes corporações multinacionais, cujas
demonstrações financeiras não retratavam de maneira fidedigna a situação patrimonial.
Figurando com freqüência em importantes periódicos internacionais, como The
Accounting Review, Journal of Accounting and Economics e Journal of Accounting
Research, apresenta, como outro indicativo de relevância, as revisões de literatura
(surveys) elaboradas por autores como Schipper (1989), Healy & Wahlen (1999) e
Dechow & Skinner (2000).
Nos estudos sobre GR, questões como as seguintes são tradicionalmente abordadas
(Martinez: 2001, 37-38): i) Ocorre? Está ocorrendo gerenciamento de resultados
contábeis?; ii) Por quê? Quais são os incentivos e as motivações para que as empresas
gerenciem resultados?; iii) Como ocorre o GR? Quais componentes das demonstrações
são utilizados?; iv) Quais são os efeitos? Quais as conseqüências do GR?
Este trabalho focaliza a primeira e a terceira questões, buscando avaliar a ocorrência de
GR e quais contas podem estar sendo utilizadas no processo de gerenciamento.
Nesta introdução à discussão sobre o GR, cumpre considerar premissas assumidas pela
teoria positiva da contabilidade relativamente ao comportamento dos gestores
organizacionais. A teoria positiva da contabilidade, diferentemente da teoria normativa,
não se volta ao estudo de como as empresas deveriam divulgar informações. O enfoque
positivo é procurar descrever como as empresas efetivamente realizam escolhas
contábeis e decidem que tipo de informação divulgarão. “Apoiando-se em princípios da
teoria econômica, o ponto de partida para decifrar essa questão é a idéia de que os
30
em detrimento dos acionistas. Nesta situação, conforme Iudícibus & Lopes (2004:172),
“o acionista deve-se cercar do maior número possível de instrumentos para evitar que
seja expropriado pelo administrador”, sendo que o conflito de agência leva à
“necessidade de alinhamento dos interesses dos acionistas com os interesses dos
executivos.”18
Entende-se que, atualmente, a assimetria de informações e o conflito de agência
permeiam as atividades das organizações, tornando necessária a sua consideração em
um estudo sobre GR. Neste trabalho, assume-se a existência dos dois elementos citados,
entendendo-se a contabilidade como um dos possíveis instrumentos que podem ser úteis
na redução da assimetria de informações e no tratamento dos problemas que podem
advir a partir do conflito de agência.
Neste contexto, a contabilidade se apresenta como um instrumento de provisão de
informações, no propósito de oferecer bases satisfatórias para a tomada de decisões de
usuários como acionistas, investidores, credores e fornecedores, reduzindo a distância
informacional destes usuários para como os executivos da empresa (insiders).
Para a garantia da “transparência”, faz-se necessário que as empresas divulguem tanto
as informações “positivas” como as “negativas”. Se uma empresa apresentou lucro em
um período, isto divulgará, se apresentou prejuízo, não poderá omiti-lo.
O disclosure satisfatório, dessa maneira, pode ser definido como a divulgação, por parte
das empresas, de todas as informações, positivas e negativas, que tenham relevância
para os usuários da informação. Pode-se entender como relevantes as informações que
influenciam decisões de investimento e aquelas relacionadas a eventos que têm ou que
podem vir a ter impactos patrimoniais em uma empresa.
Para a consecução do objetivo da contabilidade, requer-se que as empresas apresentem
padrões satisfatórios de evidenciação, oferecendo informações amplas, tanto as
“positivas” como as “negativas”, o que garantirá a transparência empresarial e permitirá
que os usuários possam realizar julgamentos adequados e tomar decisões com
fundamentos consistentes e não enviesados.
No propósito de alcançar a referida transparência empresarial, importa que a informação
divulgada apresente as características qualitativas da informação contábil, como a
integridade (integralidade ou completeza) e a confiabilidade.
18
Possível forma de alinhamento de interesses é dada por planos de remuneração que vinculam a
compensação de executivos a interesses dos acionistas, como alcance de lucros e incremento no valor de
ações da companhia.
32
Entende-se que a informação é completa quando envolve todos os aspectos que possam
ter relevância no processo de tomada de decisões dos usuários e quando não há omissão
de dados importantes que os usuários têm a expectativa de ter conhecimento.
Para a garantia da confiabilidade, é necessário que a informação seja neutra e que
proporcione representação fiel dos eventos que visa evidenciar.
A neutralidade é prejudicada quando há seleção prévia, conforme interesses da empresa,
sobre o que será divulgado: “as demonstrações financeiras não são neutras se, pela
seleção ou apresentação da informação, influenciam a tomada de decisão ou o
julgamento, com o objetivo de obter um resultado predeterminado.” (Iasb, 2001:63)
Pelo exposto, pode-se afirmar que as demonstrações financeiras têm sua neutralidade
comprometida quando a empresa, ao omitir informações sobre seus resultados,
influencia e prejudica o processo de avaliação dos usuários. A omissão, no caso, pode
ser motivada, por exemplo, pela intenção de não evidenciar um aspecto negativo das
operações realizadas e do processo de obtenção de resultados, tendo em vista a
manutenção de uma imagem positiva diante do público.
O não alcance de algumas características essenciais da informação contábil, como a
integridade e a confiabilidade, pode ser decorrência do gerenciamento de resultados.
Evidencia-se, assim, a relevância do estudo das práticas de GR, pois estas podem
prejudicar a transparência empresarial, com possíveis danos até mesmo à confiabilidade
do público em relação à contabilidade, além de fomentar a incerteza entre investidores
e, no caso do sistema financeiro, entre os depositantes. Quanto à prática de suavização
de resultados, especificamente, nota-se que sua utilização prejudica as avaliações dos
participantes do mercado relativamente aos valores e à variabilidade dos resultados
empresariais, comprometendo a percepção mais acurada quanto à capacidade de
geração de resultados futuros e riscos envolvidos.
Vale mencionar os impactos funestos que um ambiente de incerteza e um clima de
desconfiança entre agentes superavitários (potenciais poupadores) podem acarretar na
poupança nacional e nas condições para o sistema financeiro desempenhar sua missão
de intermediação financeira, vital para o crescimento econômico de uma nação.
Registre-se que a informação contábil é relevante para que os poupadores decidam em
que bancos depositarão seus recursos e quanto esperarão receber de rendimento, dado o
nível de risco percebido. Quando a informação contábil, base para as decisões, revela-se
inverídica ou não confiável, abala-se a estrutura em que está baseado o mecanismo de
poupança popular e de investimento, com impactos negativos para o sistema financeiro
33
e o mercado de capitais, e efeitos que podem ser desastrosos para a economia. Crucial,
portanto, assegurar a qualidade e a confiabilidade da informação contábil divulgada ao
público, especialmente a relativa aos intermediários financeiros, entre os quais é alocada
parte significativa da poupança popular.
Relevante, neste contexto, verificar a existência de GR nas instituições financeiras, e se
estas têm lançado mão de práticas de gerenciamento de resultados contábeis com o
intuito de influenciar a percepção de risco dos diversos agentes econômicos. Trata-se de
análise que envolve o grau em que a contabilidade tem efetivamente sido instrumento
de redução da assimetria de informações, proporcionando bases satisfatórias para a
tomada de decisões de usuários como os depositantes, e colaborando para que o sistema
financeiro possa exercer com sucesso o papel de intermediação financeira.
Cabe observar que a distorção e a omissão de informações relevantes, ao mesmo tempo
em que prejudicam os usuários externos – que buscam informações satisfatórias para
fundamentar suas decisões –, podem estar alinhadas com interesses de um tipo
específico de usuários, os acionistas. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando o gestor
utiliza artifícios contábeis para inflar os lucros da empresa, com vistas ao aumento do
preço das ações da companhia. Esta prática, a despeito de prejudicar a fidedigna
evidenciação, pode atender aos interesses (pelo menos de curto prazo) dos detentores de
ações. Por esse motivo, práticas de GR podem não ser censuradas por membros de
conselhos de administração quando estes possuem participações acionárias na entidade
da qual são conselheiros e que devem monitorar (Cornett et al, 2006:7).
3.1 – Definição
19
Texto no original: “Earnings management occurs when managers use judgment in financial reporting
and in structuring transactions to alter financial reports to either mislead some stakeholders about the
underlying economic performance of the company or to influence contractual outcomes that depend on
reported accounting numbers.”
35
análise, mas, por vezes, com base em outros fatores exógenos, que influenciam as
decisões gerenciais, como os interesses particulares da empresa e do próprio gestor20.
Ao definir, por exemplo, o montante das despesas de provisão para devedores
duvidosos, que visa ajustar o valor dos créditos a receber a níveis adequados e
compatíveis com a realidade, o gestor pode não se ater apenas à qualidade do crédito em
análise ou à situação do devedor, podendo se deixar influenciar por outros aspectos,
como o interesse em transparecer ao mercado a existência de uma carteira de crédito de
boa qualidade. Constata-se, assim, a interferência de fatores exógenos, que transcendem
a realidade concreta do evento sob análise. Estes fatores exógenos guardam relação com
interesses particulares daqueles que preparam as demonstrações financeiras, os quais
podem constituir motivações para o GR21.
Dechow & Skinner (2000:238) tratam a fraude na contabilidade como “uma forma
extrema de gerenciamento de resultados”, citando a definição da National Association
of Certified Fraud Examiners (1993), pela qual a caracterização da fraude depende da
intenção gerencial subjacente, mas também do fato de se tratar de uma apresentação
incorreta (fora dos limites dos princípios contábeis) e deliberada (consciente) de
informações enganosas: “a intencional e deliberada apresentação incorreta de
informações, ou omissão de fatos materiais ou dados contábeis, constituindo algo
enganoso (...) e que causaria, no leitor, a mudança em seu julgamento ou decisão.”22
Embora as fraudes possam ser consideradas como uma forma (extrema) de GR, deve-se
ter claro que se trata de manipulação que viola as normas e princípios contábeis,
configurando prática inaceitável. Nesta linha, Cornett et al (2006:1), também observa
que, em situações extremas, o GR resultou em escândalos amplamente divulgados
envolvendo Enron, Merck, WorldCom e outras grandes empresas norte-americanas.
Dechow et al (1996:3) observam que, embora não exista claro consenso na literatura
quanto à definição de GR, o termo é geralmente restringido a práticas inseridas nos
limites dos princípios contábeis geralmente aceitos (PCGA). Quanto à manipulação,
adotam definição que inclui práticas tanto dentro como fora dos PCGA, ressaltando que
as que extrapolam os limites dos PCGA envolvem potenciais custos legais.
20
Apesar de o conceito de GR não se coadunar com fraude contábil, cabe considerar que medidas de GR
produzidas em pesquisas, baseadas em apropriações discricionárias de receitas ou despesas, podem,
eventualmente, captar efeitos de operações que, na realidade, constituem irregularidades ou fraudes.
21
No item 3.4, há descrição pormenorizada das motivações para o gerenciamento de resultados.
22
Texto original: “the intentional, deliberate, misstatement or omission of material facts, or accounting
data, which is misleading (…) and would cause the reader to change or alter his or her judgment or
decision.” Cooking the book: What every accountant should know about fraud. N.92-5401, 12.
36
23
Bartov (1993) constatou suavização de resultados a partir da escolha do momento de venda de ativos.
24
Texto no original: “By ‘earnings management’ I really mean ‘disclosure management’ in the sense of a
purposeful intervention in the external financial reporting process, with the intent of obtaining some
private gain (as opposed to, say, merely facilitating the neutral operation of the process).”
37
3.2 – Discricionariedade
Umas das mais importantes informações produzidas pela contabilidade é o resultado
(lucro ou prejuízo) apresentado ao final da demonstração do resultado do exercício
(DRE) e utilizada pelos analistas para avaliar o desempenho das empresas. No entanto,
grande parte dos usuários da informação contábil desconhece que o lucro divulgado
pelas empresas possui componentes que envolvem certo grau de subjetividade.
Alguns procedimentos contábeis, que interferem no resultado apurado, podem não ser
fielmente representativos da real situação da empresa objeto de evidenciação. Um
exemplo é dado pela provisão para devedores duvidosos (PDD), cujo valor depende da
avaliação do gestor da empresa quanto à qualidade do crédito e à situação do devedor.
Esta avaliação envolve tanto aspectos objetivos (como os dias de atraso no recebimento
do crédito) como subjetivos (a exemplo da avaliação quanto às perspectivas do
devedor). A definição do valor da PDD, portanto, não se apresenta como algo
estritamente objetivo, sendo suscetível à interferência de fatores subjetivos.
Acrescente-se que, além de envolver aspectos subjetivos, a definição do valor da PDD,
a cada período, pode ser também influenciada por outros interesses que não
propriamente a efetiva evidenciação da real situação do crédito em análise. O gestor da
empresa pode estar interessado em divulgar situação de crédito mais confortável do que
transparece a realidade dos devedores, tendo em vista sinalizar que o processo de
concessão de créditos de sua empresa é eficiente e/ou que a carteira de créditos
(recebíveis) da empresa é de melhor qualidade do que efetivamente apontam os fatos.
Quando seguidos estritamente os princípios de contabilidade geralmente aceitos
(PCGA), sem interferência de outros interesses que possam distorcer os números
contábeis, caracteriza-se a ausência de GR, e o montante da PDD deve ser definido de
maneira que o valor líquido das contas a receber represente a expectativa dos gestores
quanto ao futuro recebimento dos créditos. Neste contexto, a diferença entre a provisão
divulgada e aquela definida conforme os PCGA pode ser considerada como acumulação
discricionária (discretionary accrual).
Os usuários externos das demonstrações financeiras (outsiders), contudo, têm
dificuldade em separar o que é discricionariedade sobre os resultados e o que é erro de
previsão dos gestores quanto ao futuro recebimento de créditos. É difícil, para este tipo
de usuário, determinar a extensão e os efeitos da discricionariedade sobre os números
contábeis. A discricionariedade sobre receitas e despesas, relativamente a outros
39
25
Texto no original: “The effects of earnings management through accounting procedure changes and
highly visible transactions are likely to be ‘undone’ by outsiders. Earnings Management through the
discretionary component of accruals is less likely to be ‘undone’.”
40
26
A discricionariedade, que envolve julgamento e estimativas, no contexto do regime de competência,
tem justamente o objetivo de criar condições para que a contabilidade forneça números que representem
melhores medidas da performance econômica, relativamente aos fluxos de caixa.
27
No contexto desta flexibilidade, é atribuída ao gestor a escolha do método de depreciação mais
compatível com a realidade do ativo imobilizado da empresa, permitindo também a opção quanto ao
método de custeio mais apropriado e sintonizado com seu processo produtivo.
41
28
Frase retirada de: JELIN, Israel I. Dicionário Inglês Português. São Paulo: FTD, 2005, p.25.
44
3.4 – Motivações
A contabilidade, que tem o papel de fornecer informações fidedignas aos seus usuários,
pode sofrer a influência de fatores exógenos como os interesses dos preparadores de
demonstrações financeiras. Tais interesses particulares podem constituir motivações
para o GR. As várias possíveis motivações (ou incentivos) para o GR podem ser
classificadas em: 1) vinculadas ao mercado de capitais; 2) contratuais e 3)
regulamentares e custos políticos (Martinez, 2001:38).
29
FASB. Elements of Financial Statements. Statement of Financial Accounting Concepts, n.6, Norwalk.
30
Texto no original: “Accrual accounting attempts to record the financial effects on an entity of
transactions and other events and circumstances that have cash consequences for the entity in the periods
in which those transactions, events, and circumstances occur rather than only in the periods in which cash
is received or paid by the entity.”
46
31
Degeorge, F., J. Patel & R. Zeckhauser. Earnings management to exceed thresholds. Journal of
Business 72, p.1-33, 1999.
47
simples (simple benckmarks), é razoável supor que pelo menos parte dos investidores,
ao invés de desenvolver análises profundas, toma decisões com base em medidas
simples de resultados (heurísticas), como a taxa trimestral de crescimento dos lucros ou
a apresentação de pequeno lucro ao invés de pequeno prejuízo. Isto sugere custos de
processamento de informações relativamente altos para os investidores, reforçando a
importância, para as empresas, do gerenciamento dos números contábeis com vistas ao
alcance dos benchmarks, dado que, quanto mais superficial a análise feita pelos
investidores, mais fácil tende a ser “enganá-los” com práticas de GR.
Ressalte-se que altos custos de processamento de informação não são compatíveis com
a tradicional visão acadêmica de eficiência de mercado (e baixos custos de
processamento), pela qual não seria difícil, para os usuários externos, desfazer práticas
de GR das empresas. Por outro lado, custos de processamento não tão baixos favorecem
a eficácia das práticas de GR, pela dificuldade dos usuários em desfazê-las.
Conforme segue, Dechow & Skinner (2000:247) resumem as idéias acima expostas:
os participantes do mercado respondem ao fato de os resultados corresponderem ou
não a simples referências; os gestores parecem praticar o gerenciamento de resultados
(GR) para alcançar estas referências simples de resultados; e participantes de mercado
podem ser “enganados” por práticas relativamente simples de GR. Contudo, se o GR é
revelado aos participantes de mercado, a empresa pode sofrer duras “punições”. Estas
evidências parecem ser de difícil conciliação com a tradicional visão acadêmica de
que os mercados são eficientes e os custos de processamento de informação são
baixos32.
Pelo exposto, indica-se haver forte interesse das empresas em corresponder a referências
e expectativas do mercado, constituindo mais um argumento para que os bancos
objetivem a suavização de resultados, e também evitar a divulgação de perdas e lucros
declinantes, que configuram referências simples acompanhadas pelos participantes do
mercado (investidores, analistas, imprensa e supervisores bancários).
32
Texto no original: “market participants respond to whether earnings meet fairly simple benchmarks;
managers appear to practice earnings management to meet these simple earnings benchmarks; and market
participants can be ‘fooled’ by relatively simple earnings management practices. However, if earnings
management is revealed to market participants, the firm can face relatively harsh penalties. These
findings seem hard to reconcile with traditional academic views that markets are efficient and information
processing costs are low.”
48
que pode ser definida em função da magnitude dos lucros contábeis. A remuneração
variável (bônus) condicionada a lucros é um exemplo que evidencia claramente a
possibilidade de existirem motivações contratuais para o GR.
As motivações contratuais também são observadas em contratos de dívida (lending
agreements) que contêm cláusulas com restrições ou penalidades vinculadas a números
contábeis (debt covenant clauses). Estas cláusulas se propõem a aliviar o conflito de
interesses entre o tomador do empréstimo e o detentor do título de dívida. Uma empresa
pode, por exemplo, sofrer um acréscimo de juros ou uma restrição em linha de crédito
caso não mantenha determinado nível de liquidez. Neste contexto, empresas na
iminência de não conseguir respeitar cláusulas estabelecidas podem ser incentivadas à
manipulação de números contábeis. Este tema foi pesquisado por Bartov (1993).
A manipulação de resultados para baixo em períodos de negociação com sindicatos
(convenções coletivas), tema pesquisado por Liberty & Zimmerman (1986), também
pode ser citada como exemplo de motivação contratual.
decreasing accruals). Constatou ações de redução de lucros por parte das referidas
empresas, durante os períodos em que foram investigadas, confirmando o GR.
Para Beaver & Engel (1996:182), as motivações regulamentares surgem em função do
desejo de divulgar números contábeis que façam com que o banco pareça, para os
reguladores, menos arriscado ou com melhor adequação de capital.
(aumento) do lucro corrente por meio da PDD. Este tipo de prática de suavização de
resultados é conseguido pelos gestores através do uso de accruals discricionários.
Segundo Lobo & Yang (2001:226), os incentivos para a suavização de resultados
existem quando o resultado de um banco apresenta-se em nível muito elevado ou muito
reduzido relativamente aos resultados dos outros bancos. A hipótese implícita que
oferece base para o argumento é que os reguladores prestam especial atenção aos
bancos com resultados muito altos ou muito baixos.
Mas não é apenas com a escolha do momento de reconhecimento de receitas e despesas
que se pode suavizar resultados. Outro instrumento é a efetiva realização de operações,
como a venda de títulos em momento considerado oportuno, para aumentar resultado.
Assim, há formas de GR que influenciam tão somente o volume de receitas e despesas
reconhecidas conforme o regime de competência, sem afetar condições econômicas da
empresa, mas há também as que geram efetivo impacto no fluxo de caixa. Martinez
(2001:80) oferece ilustração das diferentes formas de GR com vistas à suavização de
lucros:
33
Texto no original: “it is simply assumed that firms prefer smoothed EPS” (EPS: earnings per share).
54
desta variância ser alta, maior a probabilidade de falência e menor o preço de venda da
dívida.34
Nesta situação, no propósito de aumentar o preço de venda dos títulos emitidos – o que
colabora com a maximização da riqueza dos acionistas –, os gestores procuram
influenciar a percepção de risco dos credores, buscando minimizar a variância dos
resultados divulgados pela empresa. Para tanto, práticas de GR podem ser utilizadas
para suavização dos lucros. Outra possível ilação, a partir da citação acima, é que
empresas com menor probabilidade de falência podem ter menos incentivo para adotar
práticas de suavização.
Vale mencionar que, no modelo de Trueman e Titman (1988:131-133), os credores não
são capazes de observar se os gestores utilizam práticas de GR para suavização de
resultados. Isto constitui incentivo para que os gestores adotem tais práticas, pois
mesmo que a empresa não gerencie resultados, os credores (e outros participantes do
mercado) podem desconfiar que a empresa o esteja fazendo, imputando aos resultados
econômicos da empresa uma maior volatilidade do que a identificada pela simples
observação do fluxo de lucros divulgados. Desta maneira: “se os detentores de títulos
acreditam que o gestor suaviza os resultados divulgados da empresa, o gestor tem um
incentivo para fazê-lo.”35 Mesmo que os credores acreditem que o gestor não suaviza os
resultados, este continua tendo um incentivo para fazê-lo, pois, com a suavização,
melhora-se a avaliação dos participantes de mercado quanto à variância dos resultados.
Kanagaretnam et al (2001:1) observam que a preocupação dos gestores quanto a
estabilidade de emprego (job security) cria um incentivo para que estes suavizem
resultados. Os autores verificaram que, entre os bancos com bom desempenho corrente
e desempenho futuro esperado ruim, houve prática de “estocar” lucros para períodos
futuros, por meio do aumento da PDD e conseqüente redução do lucro corrente;
constatou-se, adicionalmente, que a necessidade de obtenção de financiamento externo é
variável relevante para explicar diferenças na extensão desta prática de suavização de
resultados bancários.
Bartov (1993:842-843), que constatou suavização de resultados a partir da escolha do
momento da venda de ativos, observa que a divulgação de resultados com menor
34
Texto no original: “The price that the firm receives for the debt, or alternatively the required interest
rate, is a function of the risk-neutral debt holders’ beliefs about variance of the firm’s economic earnings,
since the probability that the firm will go bankrupt is directly related to this variance. The greater the
probability that this variance is high, the greater the probability of bankruptcy and the lower the selling
price of the debt.”
35
Texto no original: “if the debt holders believe that the manager smooths the firm’s reported income, the
manager has an incentive to do so.”
55
36
Texto no original: “Income smoothing has been hypothesized (…) to convey private information to
investors about current and prospective performance (…) and to lower the firm´s cost of capital by
reducing variability in income (…)”
56
37
Texto no original: “(...) an informal consensus exists among many practitioners and academics that
managers do engage in efforts to smooth the time-series of accounting earnings.”
38
Texto no original: “It is widely believed that corporate managers often engage in income smoothing,
taking actions to dampen fluctuations in their firms’ publicly reported net income.”
39
Texto no original: “(…) firms which impose high costs on claim holders if they go bankrupt would be
more likely to smooth income. Since both the probability and costs of bankruptcy differ less among firms
within industry groupings than across industries, the tendency to smooth income should, therefore, be
related to industry classifications.”
57
de captações por meio da venda de títulos de dívida provê um incentivo para que uma
empresa suavize seu resultado divulgado.”40 Ocorre que, nos bancos, a realização de
captações é uma constante, pois encontram nos recursos de terceiros a matéria-prima
para suas atividades. Configura-se, em função desta particularidade – dependência de
constante captação de recursos no mercado –, o interesse bancário na divulgação de
lucros não caracterizados pela alta volatilidade. Ademais, como nos bancos a “venda de
dívida” é uma constante e há necessidade de manter imagem confiável (instituição “sem
riscos”, segura), considera-se a hipótese de suavização de resultados como mais
apropriada relativamente à hipótese de aumento de lucros antes da emissão de uma
dívida em particular (como no caso de gerenciamento de resultados previamente à
emissão de ações, hipótese confirmada por Teoh et al, 1998).
Pelo exposto, considera-se razoável supor-se a utilização, por parte dos bancos, de
práticas de suavização de resultados, em benefício da divulgação de resultados sem
maiores variações. Entende-se que estas práticas, conjuntamente, podem ser úteis para a
manutenção de imagem de solidez financeira (e boa capacidade de pagamento) perante
o mercado.
40
Texto no original: “The analysis here has shown that the sale of debt provides an incentive for a firm to
smooth its reported income.”
59
41
A heurística é caracterizada por métodos de resolução de problemas que, embora não rigorosos, em
geral refletem o conhecimento humano e permitem obter uma solução prática e satisfatória.
60
influenciar a percepção dos usuários quanto à sua reputação, tendo em vista obter
melhores termos nas negociações efetivadas.
Em função da melhor imagem fomentada com a divulgação de bons lucros: clientes
podem pagar preços mais altos pelos produtos, pois entendem que há mais garantias de
assistência (de qualidade) no futuro; pelo menor risco de inadimplência, fornecedores e
credores podem oferecer melhores condições de pagamento; empregados menos
provavelmente abandonarão a empresa, nem exigirão altos salários para permanecer.
Conforme conclusão de Bowen et al (1995), os stakeholders consideram a reputação
empresarial para avaliar as chances de suas demandas serem efetivamente satisfeitas,
levando os gestores a utilizar a divulgação financeira para influenciar a percepção
quanto à reputação da empresa.
Observe-se, ainda, que cada empresa (e setor de atividade) apresenta grau específico de
dependência relativamente aos stakeholders e aos termos de negociações com estas
partes interessadas. No que se refere às atividades bancárias, identifica-se claramente a
relevância dos investidores e depositantes.
Em consonância à teoria dos custos de transação, Dechow et al (1996:4,10) observam
que gestores e acionistas podem se beneficiar da manipulação das percepções dos
investidores se isto proporcionar fontes adicionais de financiamento em condições mais
favoráveis. No estudo realizado por estes autores, envolvendo empresas identificadas
pela SEC (Securities and Exchange Commission) como tendo violado padrões
contábeis, de 49 motivações relatadas, 22 foram identificadas como estando
relacionadas à emissão de títulos (captação).
A teoria dos custos de transação, portanto, explica a motivação para o gerenciamento de
resultados, tendo em vista a boa reputação da empresa. Em bancos, as motivações
relativas a bons termos de negociações são evidentes, especialmente as que se referem
aos custos de captação, refletidos nos juros demandados por poupadores em suas
aplicações. Por este motivo, é crucial, para os bancos, a manutenção de boa imagem, o
que pode ser favorecido por meio de práticas como evitar a divulgação de perdas, bem
como a suavização de resultados, tendo em vista reduzir os custos da matéria-prima
bancária: os recursos captados junto a terceiros. Mesmo para empresas não bancárias, a
intenção de obter financiamento nos melhores termos possíveis é relevante incentivo
para o GR, conforme Poitras et al (2002:905).
Entende-se, desta forma, que a teoria dos custos de transação também constitui
fundamentação para a hipótese de suavização de resultados por parte dos bancos. O fato
61
Outra consideração das autoras (p.467) é que práticas que visam à redução de lucros
são, em geral, menos custosas, embora impliquem decréscimos nos preços de ações.
Quanto à diferenciação entre itens recorrentes e não recorrentes, são exemplos,
respectivamente, as receitas de vendas e os “itens especiais” (como lucros não
operacionais decorrentes da venda de imobilizado ou de investimentos).
Os benefícios da utilização de um ou outro item de resultado no GR variam em função
do contexto da empresa e das motivações que possui para alterar os resultados. Para
uma empresa em fase de emissão de ações, será mais interessante inflar receitas
recorrentes do que incrementar o resultado com itens não recorrentes, pois o mercado
tende a avaliar com maior peso e de maneira mais favorável a apresentação de um
aumento de receita de vendas (recorrente) do que o lucro advindo da venda de
imobilizado (não recorrente)43.
Neste contexto, Marquardt & Wiedman (2004) investigaram quais contas as empresas
apresentavam tendência a utilizar, para GR, em três diferentes contextos: emissão de
ações (interesse de aumentar preço das ações), management buyout (interesse de reduzir
preço das ações), e empresas que buscam evitar divulgação de lucros declinantes. Dado
o forte interesse em aumentar o preço das ações, e os evidentes benefícios a serem
obtidos, as autoras previram que as empresas em fase de emissão de ações antecipariam
receitas, mesmo sendo este mecanismo de maior risco de detecção. Já para as empresas
em management buyout, o instrumento previsto foi a postergação do reconhecimento de
receitas. Para as empresas que objetivavam evitar a divulgação de lucros declinantes, foi
prevista a utilização de um meio menos custoso de GR: a utilização de “itens especiais”,
menos passíveis de detecção. As evidências obtidas confirmaram as expectativas,
42
Original: “We argue that recurring revenue and expense items are potentially more costly to manage
than nonrecurring expenses, such as those included in special items. Furthermore, among recurring
income statement items, revenues are often, though not always, more costly to manage than expenses.”
43
Em termos de avaliação de ações, itens recorrentes são mais relevantes do que os não recorrentes, pois
causam maior impacto no valor presente estimado das ações, dada sua repetição em períodos futuros.
65
4.1 - Introdução
44
Em alguns trabalhos, como em Marquardt & Wiedman (2004), as acumulações totais são definidas
como a diferença entre o lucro líquido antes de itens extraordinários e o fluxo de caixa das operações.
45
Apesar de as AcT não serem proxy precisa de GR, vale registrar que empresas identificadas pela
Secutities and Exchange Commission como manipuladoras de resultados apresentavam AcT maiores
relativamente às empresas não identificadas como manipuladoras (Dechow et al.,1996:2,18).
69
AcT – AND = AD
Vale observar que, no modelo de Jones, o valor não esperado das acumulações totais é
captado pelo termo de erro (εit), constituindo a medida de GR. A premissa é que as
apropriações regulares (não discricionárias) de receitas e despesas são função do
montante de receitas e do tamanho do ativo permanente, considerando-se os desvios a
este comportamento como acumulação discricionária. Nota-se, assim, que as variáveis
montante de receitas e tamanho do ativo permanente são consideradas adequadas bases
(proxies) para estimação das acumulações “normais”, esperadas, não discricionárias.
Em suma: no modelo de Jones, há suposição de que os ajustes contábeis regulares são
função do tamanho dos ativos que os geram, bem como estão associados ao incremento
de receitas; desvios a estes comportamentos são captados pelo erro de estimativa, o que
é interpretado como apropriação discricionária.
Bom lembrar que se trata de modelos, representações da realidade, tentativas de
estimação com base em uma aproximação da realidade. Há, portanto, risco de erro na
estimação das acumulações discricionárias. E como estas são definidas como indicativo
do grau de GR, evidencia-se o risco de conclusões não apropriadas.
Dechow et al (1995), em avaliação dos modelos para o estudo dos accruals, chegaram à
conclusão de que a versão modificada do modelo de Jones (1991) oferece os testes mais
significativos para detectar GR. Este modelo foi formulado com o objetivo de eliminar a
tendência do modelo original de Jones para mensurar acumulações discricionárias com
erro quando a discricionariedade sobre receitas é exercida. Neste propósito, ajustou-se a
variável independente relativa à variação de receitas, deduzindo-se desta a variação nas
contas a receber.
Relativamente à abordagem de acumulações específicas, o método de acumulações
agregadas apresenta a vantagem de trabalhar com uma medida mais ampla de
discricionariedade; por outro lado, não proporciona percepções mais detalhadas sobre
como se processa o GR.
Constata-se que a abordagem de estudo com base nas acumulações agregadas é
caracterizada pela complexidade, envolvendo erros de mensuração, problemas
econométricos e dificuldade de modelagem e de estimativas, com precisão, dos
componentes discricionariamente alterados nos resultados contábeis. Neste contexto,
Dechow & Skinner (2000:236,241) reconhecem a dificuldade das atuais metodologias
de pesquisa na identificação das empresas que praticam o GR, afirmando que os estudos
acadêmicos oferecem evidências limitadas sobre o GR, o que se deve, parcialmente, à
referida dificuldade de mensuração.
71
5. Governança corporativa
Pesquisas como a realizada por Dechow et al (1996) investigam a relação entre GR e
estruturas de governança corporativa (GC) das empresas. De modo geral, tem-se o
entendimento de que empresas com deficiências de governança apresentam maior
tendência a práticas ativas de GR (Dechow & Skinner, 2000:248).
Evidências sugerem que empresas com práticas agressivas de GR apresentam maior
probabilidade de não terem comitês de auditoria, terem conselho de administração
dominado por pessoas ligadas à empresa (insiders), apresentarem um presidente que é o
fundador da empresa e, também, com boas chances de ocupar cumulativamente o cargo
de presidente do conselho. Em estudo sobre bancos norte-americanos, Cornett et al
(2006) concluem que os mecanismos de governança podem funcionar como uma
restrição ao uso da discricionariedade no gerenciamento de resultados.
O trabalho de Hand constitui fundamento para a hipótese de que bancos possam utilizar
operações de venda de TVM ou com derivativos para suavização de resultados. Neste
caso, o GR é realizado não pela ação sobre o componente discricionário de uma conta,
nem por mudança de critério contábil, mas pela efetiva realização de transações.
46
Texto no original: “Such by-products can be considered as indirect earnings management techniques;
in them a firm undertakes a financing or investment activity primarily for the accounting by-product it
yields rather than the effect on the firm’s wealth. By this criteria, a swap, although appearing to be a pure
financing transaction, may rather have been an indirect method of managing earnings.”
77
ganhos e perdas com títulos. A hipótese de uso da discricionariedade para evitar custos
políticos não foi confirmada: não houve evidência de que os gestores de bancos com
elevadas receitas operacionais ajustam os resultados para baixo, o que é incompatível
com a suavização de resultados. Uma possível explicação é que os reguladores
bancários estão mais preocupados com a estabilidade do sistema financeiro
relativamente ao propósito de evitar lucros excessivos.
Cabe observar que, quando considerados apenas os bancos com capital abaixo do
mínimo requerido, a variável independente índice de adequação de capital apresentou
coeficiente significativamente negativo nas regressões em que a variável dependente é
PDD, ou baixas de crédito, ou ganhos e perdas com títulos (p.151). Conclui-se que os
gestores realizam ajustes contábeis para aumento do índice de adequação de capital
quando o capital encontra-se em nível inferior ao mínimo requerido.
conclusão é que os bancos, nas decisões quanto à realização de ganhos e perdas com
títulos, contrabalançam os custos e os benefícios relacionados ao gerenciamento de
capital, resultados e impostos, levando ao entendimento de que o planejamento
tributário pode ir muito além da simples minimização de impostos a pagar.
47
Gerenciamento de capital consiste em ações discricionárias para manutenção de níveis mínimos de
capital. Gerenciamento de impostos, relacionado ao planejamento tributário, enseja, por exemplo, a venda
de ativos valorizados e reconhecimento dos lucros, quando há prejuízo líquido no período.
80
ganhos com venda de títulos) é utilizado com este propósito48. No entanto, a PDD
revelou-se não relacionada aos resultados contábeis, sugerindo que gestores não a
utilizam, discricionariamente, para o GR. Por outro lado, empregando-se estimação por
mínimos quadrados, concluiu-se que PDD é usada para GR.
O trabalho destaca que operações de crédito e TVM podem ser utilizadas não somente
para o GR, mas, também, para gerenciamento de capital ou impostos, e que as decisões
de GR referentes a crédito podem ser influenciadas pelas decisões relativas a TVM, e
vice-versa.
48
MsG é usado para GR e gerenciamento de capital, mas, prioritamente, para GR (p.256).
81
Kim & Kross (1998) – mudança normativa e uso da PDD para GR em bancos
Avaliaram se a mudança nas normas de requerimento de capital, em 1989, provocou
alteração nas estimativas de PDD por parte dos gestores bancários nos EUA. Na
estimação da PDD, utilizaram oito variáveis independentes, incluindo LOAN
(operações de crédito), CHLOAN (variação nas operações de crédito) e, para testar
hipótese de suavização de resultados, DROA (retorno sobre ativos, ROAt, deduzido da
média de ROAt para a amostra, indicando o desvio de retorno relativamente ao
mercado). O coeficiente positivo para DROA confirmou hipótese de suavização por
meio da PDD apenas para bancos com sólida base de capital. Resultados obtidos
indicam que bancos com menor adequação de capital (low capital banks) reduziram
nível da PDD tendo em vista gerenciamento de capital e resultados
49
Texto no original: “Although cash flow from operations are declining prior to the offering, managing of
issuing firms report high and improving earnings by managing discretionary current accruals. In the year
of the offering, reported earnings peak despite relatively weak cash flow from operations because
managers continue to take large positive discretionary current accruals. Post-offering, high net income
cannot be sustained because cash flows form operations do not improve sufficiently and issuers can no
longer continue to take large discretionary accruals. Issuers with the highest discretionary current accruals
in year –1 experience the largest drop in net income after the issue.”
83
Barton também registra que: é mais provável que grandes empresas usem derivativos;
gestores usam derivativos e apropriações discricionárias para melhorar percepção de
risco dos credores, o que aumenta a capacidade de endividamento; empresa com maior
cobertura de analistas têm maior probabilidade de uso de derivativos; gestores
selecionam políticas de gestão de riscos e de resultados conjuntamente; hedging e GR
são difíceis de mensurar precisamente, de modo que erro de mensuração é inevitável.
O SFAS 133, norma do Fasb, requer que derivativos sejam apresentados a valor justo,
com ganhos e perdas incluídos em resultados, a menos que derivativo seja qualificado
como hedge. Barton observa que este procedimento aumenta a volatilidade dos
resultados contábeis, tornando mais difícil divulgar resultados constantes. Com isto, o
SFAS 133 pode resultar em menor uso de hedge (derivativos) e maior uso de
apropriações discricionárias no GR. O SFAS 133 pode, portanto, incrementar o custo do
uso de derivativos vis-à-vis apropriações discricionárias, o que sugere possíveis efeitos
da norma nas estratégias de hedge e GR.
O estudo de Barton demonstra que a realização de operações com derivativos pode ter
como propósito justamente a suavização de resultados. Diferentemente de uma operação
de crédito, que não visa reduzir a volatilidade do resultado contábil, os derivativos
podem ser empregados para este propósito, mitigando os efeitos de fatores relativos ao
risco de mercado. Neste contexto, identifica-se a relevância de investigar se o uso de
derivativos, pelos bancos, tem contribuído para a suavização de lucros.
Lobo & Yang (2001) – suavização de resultados em bancos por meio da PDD
Os autores citam que há evidências empíricas conflitantes nos estudos sobre GR.
Testam hipótese de suavização de resultados por meio da PDD com emprego de
diferentes metodologias (regressão específica para cada banco, regressão cross-
sectional anual, regressão pooled time-series cross-sectional e dados em painel),
confirmando existência de prática de suavização nas quatro modelagens empregadas.
O modelo de regressão adotado propõe-se a testar hipóteses de suavização, sinalização e
gerenciamento de capital, empregando a PDD como variável dependente e conjunto de
oito variáveis independentes, entre as quais figuram o lucro líquido antes da PDD e
impostos (para teste da suavização) e, como variável de controle para componente não
discricionário da PDD, a variação no valor das operações de crédito. Foi encontrada
correlação negativa entre esta variável e a PDD, o que indica melhoria na qualidade dos
créditos incrementais (p.233). Nas regressões específicas para cada banco, a variável
“variação nas operações de crédito” não apresentou coeficiente significativo. Cabe
também observar que foi obtida evidência (p.238) de que bancos de menor porte tendem
a se engajar mais na prática de suavização relativamente aos bancos maiores. Nas quatro
metodologias empregadas, confirmou-se a hipótese de suavização de resultados por
meio da PDD (p.241-245). Nas regressões, a variável independente representativa do
lucro pré-suavização (lucro antes da PDD), apresentou os seguintes coeficientes (e p-
values): regressão específica para cada banco: 0,164 (0,001); regressão cross-sectional
anual: 0,127 (0,0007); regressão pooled cross-sectional: 0,135 (0,0001); dados em
painel: 0,154 (0,0001).
com títulos e a PDD são utilizados para suavização de resultados. Foi propósito verificar
se os ganhos com títulos são inversamente relacionados com o resultado não
discricionário e se ganhos com títulos e PDD são complementares. Na hipótese de
suavização, sugere-se que os ganhos com títulos são usados para amortecer o impacto
de menores resultados não discricionários ou maiores provisões de crédito (PDD).
Na equação em que os ganhos com títulos (GAINS) constituem a variável dependente,
constam 13 variáveis independentes, cabendo destacar: ROI, representando o resultado
não discricionário ou “pré-gerenciamento”, dado pelo “lucro divulgado deduzido dos
impostos, itens extraordinários, ganhos com títulos e PDD” dividido pelos ativos totais;
PROV, representada pela PDD/ativos totais de início de período; e dLOANS,
representando a variação anual na carteira de créditos/ativos totais de início de período.
Na equação em que a PDD é a variável dependente, cabe destacar, entre as 13 variáveis
independentes: ROI (resultado “pré-gerenciamento”) e GAINS (ganhos & perdas com
venda de títulos/ativos totais de início de período) e dLOANS.
Na equação de ganhos com títulos (R2 Ajustado de 0,5548), ROI e PDD apresentaram
coeficientes de, respectivamente, -0,5896 (p-value 0,0001) e 0,5997 (p-value 0,0001),
confirmando relação negativa entre GAINS e ROI. Conclui-se que o aumento de 1% no
resultado não discricionário gera decréscimo de 0,59% nos ganhos com títulos,
constatando-se também o uso de GAINS como fator de compensação do efeito da PDD.
Na equação da PDD (R2 Ajustado de 0,4008), ROI e GAINS apresentaram coeficientes,
respectivamente, de 0,8264 (p-value 0,0001) e 1,4040 (p-value 0,0001), confirmando-se
a relação positiva da PDD com o resultado não discricionário: a cada 1% de aumento no
resultado contábil “pré-gerenciamento”, observa-se aumento de 0,83% na PDD. A
conclusão é que a PDD e os ganhos com títulos são utilizados na suavização de
resultados, sendo instrumentos complementares no GR.
receitas tendem a ser avaliados com mais peso pelos analistas. Entre empresas em
situação de management buyout (interesse de redução do preço das ações), verificou-se
que DR apresentavam níveis reduzidos, pelo reconhecimento a menor de receitas.
Empresas com objetivo de evitar a divulgação de lucros declinantes demonstraram-se
menos preocupadas em apresentar lucros que pareçam permanentes, apresentando maior
disposição para uso de métodos mais transparentes, como itens especiais (não
recorrentes), bastante utilizados para aumentar resultados.
O trabalho contribui para o entendimento de que o mecanismo escolhido para GR
depende dos custos associados à gestão de cada tipo de conta e dos benefícios advindos
de cada contexto particular. A empresa pode preferir determinados mecanismos de GR,
e de contas específicas, dependendo do contexto em que está inserida, e de suas
motivações. Sugere-se (p.486) que futuras pesquisas podem tratar da função que
acumulações específicas desempenham em outros contextos.
Observa-se que variáveis são divididas (ponderadas) pelo ativo total, para evitar efeito
escala.
Utiliza-se a variação nas operações de crédito com base no entendimento de que a PDD
é função também dessa variável. Verifica-se que, quando variável dependente é a PDD,
pode-se adotar, como variável explicativa, a variação nas operações de crédito.
88
89
1. Introdução
50
Diferentemente da linha normativa, em que opiniões assumem papel destacado, a metodologia positiva
é fundamentalmente baseada em observações da realidade e no teste empírico de hipóteses.
90
Objeto de pesquisa
Os resultados contábeis podem ser gerenciados por meio de diferentes instrumentos,
como a mudança de procedimentos contábeis (depreciação acelerada para linear ou
PEPS para UEPS, na avaliação de estoques), a discricionariedade dos gestores
relativamente às apropriações de receitas e despesas, e, também, por meio da efetiva
realização de operações, como a venda de títulos em momento considerado oportuno.
Para Beatty et al (1995:234), há incentivos para que os gestores bancários manipulem
tanto accruals como o momento de transações como a venda de ativos. Segundo Moyer
(1990:124), os gestores podem ajustar, ao final do ano, as apropriações de receitas e
despesas (accruals), mas não os fluxos de caixa, cabendo observar que ajustes sobre a
provisão para créditos não afetam os fluxos de caixa, enquanto que os ganhos e perdas
decorrentes da venda de títulos têm impacto sobre o caixa.
Quanto ao objeto de estudo deste trabalho, Collins et al (1995:268) observam que tanto
as provisões de crédito (PDD) como os ganhos e perdas com títulos podem ser
empregados no gerenciamento e suavização de resultados: “espera-se que baixos (altos)
níveis de resultados correntes não discricionários motivem os gestores a realizar ganhos
(perdas) com títulos e diminuir (aumentar) a PDD.”51 Scholes et al (1990) encontraram
evidências de gerenciamento de capital, impostos e resultados por meio das transações
com títulos. No que se refere aos derivativos, Barton (2001) constatou que empresas
podem utilizá-los para suavização de resultados, e que, neste caso, há menor
necessidade de emprego de apropriações discricionárias para o gerenciamento de
resultados contábeis.
No caso de operações de crédito, conforme já discutido no item 3.2 do capítulo II, o
valor da PDD (despesa de provisão para devedores duvidosos) é definido em função do
julgamento do gestor quanto ao risco dos empréstimos concedidos. Há oportunidade,
portanto, para a ação discricionária do gestor nos ajustes realizados em ativos por meio
da provisão estabelecida, com impacto nos resultados. Para Moyer (1990:125-126), os
51
Texto no original: “low (high) levels of nondiscretionary current earnings are expected to encourage
managers to realize investment security gains (losses) and to decrease (increase) the loan loss provision.”
91
52
A cotação de preço publicada em um mercado ativo é usualmente reconhecida como melhor evidência
de valor justo.
92
não se pode defender que seja uma medida caracterizada pela subjetividade e
desprovida de elementos objetivos e verificáveis.
Para Moyer (1990:126), o gestor pode divulgar vários níveis de perdas ou ganhos com
TVM, dependendo dos títulos que seleciona para venda. Pelo fato de que títulos podem
ser vendidos com relativamente pouco esforço, os ganhos e perdas com a venda de
TVM são considerados itens sujeitos a ajuste discricionário do gestor ao final do ano.
Segundo Shrieves & Dahl (2001:1224), o momento de realização de ganhos e perdas
com títulos é elemento de discricionariedade dos gestores bancários, mas a realização de
ganhos não transmite nova informação aos investidores, uma vez que os ganhos não
realizados são divulgados nas demonstrações contábeis.
Com os derivativos, além das oportunidades relativas à classificação e à marcação a
mercado, a própria decisão de realizar uma operação com derivativo pode ter como
principal motivação o GR. Isto porque os derivativos podem ser usados com diferentes
propósitos, como especulação (busca de ganhos a curto prazo) ou hedge (proteção,
tendo em vista reduzir possibilidades de perda e evitar oscilações nos resultados).
Pelo exposto, percebe-se que, no caso de operações de crédito, as oportunidades de GR
advêm, fundamentalmente, da ação discricionária do gestor. Já no caso de TVM e
derivativos, as oportunidades, além de envolverem a classificação e a marcação a
mercado, remetem à efetiva realização de operações com estes instrumentos, seja a
venda de títulos em momentos considerados oportunos, para incrementar lucros do
período, ou o fechamento de contratos de derivativos destinados à redução de possíveis
perdas, com efeitos sobre a volatilidade dos resultados contábeis divulgados.
Poitras et al (2002:903) observam que transações como a venda de ativos,
diferentemente de ações discricionárias sobre a PDD ou mudança de critérios contábeis,
não possuem apenas efeitos contábeis, mas, também, conseqüências econômicas e
financeiras, o que é corroborado por Kato et al (1998:5). Assim, não é tão simples
afirmar se uma empresa vende ativos pelos efeitos contábeis ou pelas motivações
econômicas, como o objetivo de auferir lucros em momento de alta dos títulos. Embora
seja possível gerenciar resultados por meio do momento da venda de ativos, a
motivação contábil pode ser pequena relativamente aos interesses econômicos
envolvidos. Esta discussão lança luz sobre o fato de que o GR por meio de transações
como a venda de títulos e a negociação com derivativos pode apresentar outras
motivações, além das relativas aos efeitos contábeis gerados. Neste sentido, há
“hipóteses competitivas”, de modo que se o GR é constatado, pode ser difícil determinar
93
53
Com a introdução da marcação a mercado (MtM), pode-se reduzir possibilidades de impactar
resultados com base na venda de títulos valorizados, da forma realizada quando do registro pelo custo
histórico acrescido de apropriação de rendimentos. O procedimento vigente, de MtM para títulos
destinados à negociação, já incorpora no resultado, imediatamente, as variações no valor de mercado.
94
PDD, os ganhos e perdas não realizados de títulos para negociação. Collins et al (1995)
encontraram evidências de GR, no segmento bancário, por meio das despesas de PDD e
ganhos e perdas com títulos (security gains and losses).
Necessário diferenciar a provisão que consta do balanço e que funciona como conta
redutora do ativo créditos, e a provisão com natureza de despesa. Os autores
referenciam estas duas provisões, respectivamente, como allowance for bad debts e
provision for bad debts. Assim, a provisão final constante do balanço é dada pela
provisão inicial (balanço), acrescida da despesa de provisão contabilizada no período
(PDD), deduzida das baixas (reduções relativas aos créditos excluídos do patrimônio),
sendo a PDD definida como a despesa reconhecida a cada período em função dos
créditos que se espera não receber.
McNichols & Wilson (p.19-20) ainda sugerem maior probabilidade de manipulação
material na PDD, e não nas “baixas” (write-offs), observando que estas são
96
acompanhadas de perto pelos auditores e têm seu valor definido de forma “mecânica”,
não subjetiva, considerando critérios mais simples como o número de dias de atraso.
Quanto às evidências empíricas, Fuji (2004) e Zenderski (2005), para os bancos atuantes
no Brasil, e Collins et al (1995), para bancos nos EUA, constataram relação positiva
entre PDD e resultado contábil, confirmando hipótese de suavização por meio da PDD.
Beatty et al (1995:254), empregando equações simultâneas, não confirmaram hipótese
de suavização (apenas com estimação por mínimos quadrados verificou-se uso de PDD
para suavização). Aproximadamente dois terços dos bancos analisados por Collins et al
(1995:279) divulgaram despesas de PDD menores (maiores) em anos com resultados
não discricionários baixos (altos), o que é consistente com bancos suavizando resultados
no decorrer do tempo. Scholes et al (1990:646) constataram relação positiva entre
ganhos com a venda de títulos e PDD, o que indica utilização das transações com títulos
para compensar efeito da PDD nos resultados divulgados (income smoothing).
Kanagaretnam et al (2001) verificaram que bancos com desempenho corrente ruim e
bom desempenho futuro esperado “emprestaram” resultados de períodos futuros,
reduzindo PDD corrente; entre bancos com bom desempenho corrente e desempenho
futuro esperado ruim, houve prática de “estocar” lucros para períodos futuros, por meio
do aumento da PDD e conseqüente redução do lucro corrente; constatou-se,
adicionalmente, que neste segundo caso a necessidade de obtenção de financiamento
externo é variável relevante para explicar diferenças na extensão da prática de
suavização de resultados bancários.
3.1 – Introdução
No que se refere aos TVM, identificam-se possibilidades de GR na classificação dos
títulos adquiridos, na marcação a mercado, bem como nas decisões quanto à venda de
títulos (incluindo a escolha quanto ao momento da alienação).
Na classificação de títulos, práticas de GR podem ser empregadas pelo fato de os
procedimentos de avaliação serem diferenciados em função da categoria em que um
título é classificado. Assim, dependendo da classificação adotada, impacta-se o
resultado de forma diferente. Sobre isso, vale citar Fuji (2003:52):
O gerenciamento de resultados pode ocorrer ao se classificar um papel numa categoria
quando na realidade deveria estar em outra categoria. Se um banco, por exemplo,
deseja mostrar um lucro numa carteira de títulos, pode declarar que são papéis para os
quais vai esperar o vencimento - digamos títulos federais que vão vencer dentro de
alguns anos – e registrar custo mais juros proporcionais, superior ao valor de mercado.
97
54
Kato et al. (1998:6) verificaram que, em amostra de 89 bancos no Japão, durante 11 anos (1982 a
1992), as médias cross-sectional de ganhos e perdas em transações com títulos foram todas positivas.
99
para venda (DPV) para a categoria negociação, tendo em vista afetar o resultado do
período.
O GR a partir dos valores utilizados para o ajuste pelo valor de mercado consiste em
adotar valores de mercado mais altos quando se quer aumentar o resultado e valores
mais baixos quando se intenciona a redução do resultado. Esta possibilidade origina-se
do fato de que, em diversos casos, o valor de mercado pode não ser estabelecido de
forma estritamente objetiva, podendo ser necessária utilização de algum modelo para
estimação do valor de mercado, o que enseja certo grau de subjetividade. Além disso,
vale mencionar que, mesmo quanto há cotação de mercado disponível, pode haver
opções de escolha entre valor médio de negociação, de abertura ou de fechamento, o
que também enseja possível alteração de resultados a partir da medida escolhida.
Cumpre reconhecer a dificuldade em determinar, em um trabalho de pesquisa, se as
instituições estão adotando valores de mercado mais altos ou mais baixos no objetivo de
impactar o resultado em um sentido desejado. O que se pode avaliar é se os ajustes estão
influenciando positiva ou negativamente o resultado, havendo dificuldade, contudo, em
definir se os parâmetros de mercado utilizados para o ajuste estão sendo artificialmente
mais altos ou mais baixos.
Importante considerar que, no caso dos títulos para negociação, o impacto no resultado,
a partir do ajuste a valor de mercado, é imediato, enquanto que, no caso dos títulos
DPV, o que se obtém é um “estoque” de ganhos ou perdas não realizados no PL, o qual
poderá futuramente ser utilizado para o GR, sendo necessário, para tanto, a venda dos
títulos ou a reclassificação para outra categoria. Cabe registrar que o ajuste a valor de
mercado deve ser realizado no mínimo por ocasião dos balancetes e balanços. Ressalte-
se que, no artigo 2o da Circular, afirma-se que títulos para negociação e DPV devem ser
ajustados pelo valor de mercado, mas não se especifica com detalhes o que é valor de
mercado, como calculá-lo, de que fonte obtê-lo. O que se determina é que a
metodologia de apuração do valor de mercado é de responsabilidade da IF, devendo ser
estabelecida com base em critérios consistentes e passíveis de verificação.
Considerando a possibilidade de estimação do valor provável de realização mediante
modelo de precificação, verifica-se que há espaço para a discricionariedade no que se
refere ao valor de mercado a ser adotado no ajuste dos títulos para negociação e DPV.
Mas também é requerida a existência de critérios consistentes e passíveis de verificação,
e a imparcialidade na escolha de taxas a serem utilizadas para a estimação dos valores
prováveis de realização. Tais exigências mitigam a discricionariedade dos gestores na
101
definição dos valores a serem utilizados para o ajuste. No entanto, para que a avaliação
dos TVM a valor de mercado seja efetivamente imparcial, assume importância a ação
eficiente da auditoria e da fiscalização relativamente às práticas adotadas.
Apesar de a norma brasileira mencionar apenas o termo valor de mercado, o que se
estabelece, na realidade, é o ajuste pelo valor justo, sendo o valor de mercado, quando
disponível, o parâmetro adotado. E é na estimação do valor justo, pela subjetividade
implícita, que se identifica oportunidade para a ação discricionária dos gestores no
sentido de atender aos interesses das instituições financeiras.
Quanto aos ganhos ou perdas não realizados, registrados no PL, devem ser transferidos
para o resultado do período quando da venda definitiva dos títulos. Observa-se espaço
para a ação discricionária da IF, que, no intuito de afetar o resultado do período, positiva
ou negativamente, pode avaliar o impacto que seria causado, no resultado do período,
no caso de venda de parte ou totalidade dos títulos DPV, com a conseqüente
transferência de ganhos ou perdas não realizados para as contas de resultado. Se houver,
por exemplo, interesse em aumentar o resultado, podem ser vendidos títulos DPV com
significativos ganhos não realizados. Por outro lado, se não há intenção de afetar o
resultado positivamente, não serão vendidos títulos com significativos ganhos não
realizados ou poderão, ainda, ser vendidos títulos com perdas não realizadas, as quais
ocorrem quando valores de mercado são inferiores aos contábeis.
Os rendimentos produzidos pelos TVM, independentemente da categoria em que
classificados, devem ser computados diretamente no resultado do período. Todos os
TVM têm seus rendimentos incorporados ao resultado do período; mas, no caso dos
títulos para negociação e DPV, requer-se, adicionalmente, o ajuste pelo valor de
mercado, computando-se a valorização ou desvalorização em contas de resultado,
quando títulos para negociação, ou em conta destacada do PL, quando títulos DPV.
A reclassificação de títulos é permitida nos balanços semestrais, mas há regras para esta
prática, cabendo destacar:
A transferência de categoria deve levar em conta a intenção e a capacidade financeira
da instituição e ser efetuada pelo valor de mercado do título.
As transferências são efetuadas, portanto, pelo valor de mercado do título.
Na transferência da categoria negociação para as demais, não é admitido o estorno
dos valores já computados no resultado decorrentes de ganhos ou perdas não realizados.
Quando há transferência de títulos para negociação para outra categoria, não se admite o
estorno de valores que já afetaram o resultado anteriormente. Disso depreende-se que a
102
55
Exemplos de pronunciamentos ou normas: IAS 39 (Iasb), SFAS 133 (Fasb) e Circular 3.082 (BCB).
56
Dada a expressiva volatilidade do mercado de derivativos, entende-se que o custo histórico não é
medida adequada de valor, transmitindo informação de menor relevância para o investidor.
107
empresa, com conseqüente impacto nos resultados contábeis. Isto ocorre quando os
derivativos são empregados para fins de hedge. Um exemplo é de uma empresa que
possui dívidas indexadas à variação do dólar, e que, para evitar decréscimos de
resultados em decorrência de oscilação cambial, realiza operação de compara de
contratos futuros de dólar, para que, no caso de queda do dólar, a perda incorrida na
dívida (pelo incremento de despesas), seja compensada pelo ganho com a posição em
derivativos, configurando a suavização de resultados.
Pelo exposto, pode-se dizer que o teste de uso de derivativos para suavização de
resultados, por parte dos bancos, pode também ser interpretado com um teste para
avaliar se os bancos estão utilizando derivativos como instrumento de hedge. A
constatação de relação negativa entre o resultado contábil (excluído o efeito do
resultado com derivativos) e o resultado com derivativos pode ser evidência de uso dos
derivativos para suavização de lucros. Esta prática, vale notar, pode ser
operacionalizada tanto por meio tanto da discricionariedade na contabilidade de
derivativos (ajustes na classificação ou marcação a mercado) como através da efetiva
realização de operações com finalidade de hedge, tendo em vista a suavização de
resultados econômicos e financeiros, com conseqüente impacto contábil.
Barton (2001), conforme observado no capítulo III, item 6.2, constatou que empresas
que usam derivativos apresentam menores níveis de apropriações discricionárias,
sugerindo a confirmação da hipótese de que o uso de derivativos permite a suavização
de resultados, havendo menor necessidade de utilizar accruals para o GR.
Outro aspecto que favorece o uso de derivativos para GR refere-se ao fato de que os
derivativos, a exemplo dos swaps, podem ser realizados muito rapidamente, conforme
observado por Hand (1989:597)57.
Quanto à marcação a mercado, identificam-se oportunidades de GR nas escolhas do
critério de marcação e da medida para valor de mercado. A escolha de medidas que
resultam em valores mais elevados para ativos ou mais baixos para passivos pode
impactar positivamente os resultados. Além da escolha da medida de valor, nota-se que,
em diversos casos, não há preço de mercado disponível, sendo necessário estimar o
valor justo por meio de modelo de precificação que, além de envolver premissas, enseja
estimativas subjetivas.
Galdi & Pereira (2006:4), ao comentarem os ajustes contábeis que podem ser
discricionariamente influenciados, afirmam que “no caso dos derivativos, esses ajustes
57
Texto no original: “A swap could also be effected very quickly.”
108
podem ser ainda mais relevantes, considerando que o princípio contábil de avaliação
pelo custo histórico é abandonado e passa-se a utilizar o fair value”.
Se, por um lado, há possibilidade de GR por meio da contabilização a valor justo, dada
a subjetividade envolvida, cabe reconhecer que o registro pelo custo histórico também
ensejava práticas de GR. Na contabilização a custo histórico, ganhos não realizados,
dados pela diferença entre valor de mercado e valor de custo (acrescido de
rendimentos), podem impactar os resultados com a venda dos títulos possuídos ou o
desfazimento das operações de derivativos.
Quanto à Circular 3.082 (descrita no Apêndice 1), representa uma contabilidade
especial para operações com derivativos designados à proteção de riscos, com as
operações designadas como hedge tendo seus resultados diferidos para o momento no
qual as variações nos itens sendo protegidos forem reconhecidas. Isto resulta do
princípio da confrontação (matching principle), pelo qual as receitas e despesas relativas
a uma operação devem ser reconhecidas no mesmo período. Assim, os resultados do
derivativo não devem impactar o resultado no período de sua ocorrência, mas, sim,
quando o item sendo protegido tem sua variação reconhecida.
Quanto à adoção de valores de mercado, importa ressaltar que o critério efetivamente
empregado envolve a avaliação a valor justo. Tem-se o entendimento de que preços
cotados em mercados ativos representam a mais confiável e verificável medida de valor
justo. Mas quando preços de mercado não estão disponíveis, há necessidade de estimar
o valor justo, abrindo-se possibilidade de contabilização de valor estimado, adotando-se,
para tanto, técnicas como fluxo de caixa descontado e modelos de determinação de
preço justo de opções (Black & Scholes). Verifica-se, assim, a possibilidade de abertura
de campo subjetivo58 na contabilização de derivativos, o que sugere a existência de
oportunidades de GR. Cabe ressaltar que, considerando o dinamismo de preços inerente
ao mercado de derivativos, a adoção de valores de mercado demonstra-se mais
adequada do que o uso de custos históricos, especialmente no que se refere à utilidade e
relevância da informação para o usuário.
Identificam-se, portanto, oportunidades de GR na classificação e na avaliação a valor de
mercado de derivativos. Quanto à classificação, pelo rigor dos critérios para a
qualificação como hedge, percebe-se que as oportunidades de GR não são tão amplas.
Quanto à avaliação, quando se adota o valor de mercado, pode-se realizar escolha entre
58
Neste capítulo, item 1 – Introdução – Objeto de pesquisa, ressaltou-se que o valor justo, apesar de
poder envolver elementos subjetivos, não deve ser definido como uma medida caracterizada pela
subjetividade e desprovida de elementos objetivos e verificáveis.
109
1. Introdução
valores entre -1 e 1, explica até que ponto duas variáveis estão “co-relacionadas”,
produzindo um número que quantifica o tipo e o grau de relacionamento. Não
necessariamente indica relação causa-efeito entre variáveis, apesar de esta relação poder
estar presente (Lapponi, 2000:166).
O objetivo da análise de regressão linear é encontrar a equação de uma reta que permita
descrever e compreender a relação entre variáveis aleatórias, podendo também ser útil
para projetar ou estimar uma variável em função de outra.
Neste trabalho, utiliza-se a regressão do tipo pooled cross-sectional. Segundo Lobo &
Yang (2001:224), a maior parte dos estudos sobre GR emprega estimação por pooled
time-series cross-sectional regressions, que é simples relativamente ao processamento
de dados (apenas um coeficiente de regressão é estimado para cada variável de
interesse), mas apresenta a limitação de assumir existência de apenas uma relação para
toda a amostra, sem considerar a heterogeneidade entre bancos (assume-se que todas
empresas apresentam o mesmo comportamento em termos de suavização de resultados,
rejeitando-se a heterogeneidade que, na prática, muito provavelmente prevalece).
Cumpre mencionar, contudo, que Lobo & Yang (2001), no estudo da suavização de
resultados, empregaram diferentes métodos de estimação e obtiveram evidências
consistentes para diferentes modelos utilizados em pesquisas anteriores – regressões
específicas para bancos, regressões anuais cross-sectional, regressões pooled e dados
em painel –, o que constitui indicativo de que a não consideração da heterogeneidade
entre bancos não compromete os resultados no estudo da suavização de resultados.
2. Desenho da pesquisa
59
Conforme Relatório 50 Maiores Bancos disponibilizado pelo Banco Central do Brasil em
<http://www.bcb.gov.br>.
60
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social: instrumento de financiamento de longo
prazo do Governo Federal, fomentando empresas de interesse ao desenvolvimento do país.
113
Desta maneira, na investigação referente a cada uma das áreas (crédito, TVM e
derivativos), foram utilizadas as observações disponíveis, ou seja, as informações, em
cada semestre, de bancos com saldos contábeis nas rubricas envolvidas nos testes. Na
análise da relação entre a PDD (provisão para devedores duvidosos) e o resultado
contábil expurgado da PDD, foram utilizadas, para cada semestre considerado, as
observações de todos os bancos que apresentavam saldos de PDD, excluindo-se as
instituições que não possuíam saldos contábeis nesta rubrica. O mesmo procedimento
foi adotado para as análises relativas a itens de resultado de TVM e para derivativos.
Assim, no caso de derivativos, por exemplo, foram utilizadas, para cada semestre
considerado, as observações de todos os bancos que apresentavam saldos de resultado
com derivativos, excluindo-se as instituições que não possuíam saldos contábeis
relativos às operações com derivativos. Com isto, não são iguais os números de
observações consideradas em cada análise (de correlação e regressão). Para efeito de
comparação entre as diferentes áreas operacionais investigadas, seria preferível que
fossem iguais os números de observações consideradas para crédito, TVM e derivativos.
No entanto, conforme já observado, para viabilizar a análise comparativa entre as três
áreas investigadas, no que se refere à hipótese de utilização de itens contábeis para
suavização de resultados, adotou-se o procedimento descrito, com utilização das
análises de correlação e regressão, e consideração, em cada análise específica, para cada
semestre, as informações de bancos com saldos contábeis existentes nos itens
pertinentes a cada uma das análises (no caso de crédito, a PDD, no caso de TVM, itens
de resultados relativos aos ajustes a valor de mercado de títulos e, no caso de
derivativos, o resultado com derivativos).
Utiliza-se o pacote estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 15.
61
Texto no original: “Income smoothing suggests that banks will use their discretion over loan-loss
provisions to cause provisions to vary directly with both nondiscretionary income and security gains.
Using similar logic, income smoothing will motivate banks to cause security gains to vary inversely with
nondiscretionary income, and directly with increases in provisions.”
116
62
Collins et al. (1995:270-1) usam a variação nas exigibilidades como proxy de crescimento bancário e
observam que os bancos tipicamente financiam 90% de seus ativos com dívida, havendo forte correlação
(0,94) entre a variação das exigibilidades e a variação dos ativos totais.
118
desta variável não é tão evidente para o caso dos bancos. Mas, de modo geral, parece ser
razoável esperar-se um coeficiente positivo, pois quanto maiores as captações de
recursos de terceiros, maiores tendem ser as aplicações dos bancos em crédito, TVM e
derivativos, aumentando-se as contas de resultados relativas a estas três modalidades
operacionais.
Em virtude do diferente significado do passivo exigível para os bancos, relativamente às
empresas não financeiras, não é utilizada, neste trabalho, a variável “Exigt/At”. Vale
citar que, em investigação exploratória realizada, identificou-se alta correlação entre
passivo exigível e montante de aplicações em TVM (correlação de Pearson da ordem de
0,90), o que sugere que o passivo exigível pode realmente ser uma proxy do tamanho
das operações bancárias (e não de seu risco). Neste sentido, incluir simultaneamente a
variável relativa ao passivo e outra variável relativa a aplicações em TVM poderia
acarretar problema de multicolinearidade, uma vez que, aumentando o passivo exigível,
aumentam os recursos disponíveis para aplicação, os quais podem ser direcionados aos
TVM e, havendo redução de captações, é natural que sejam reduzidas as aplicações em
TVM. Neste contexto, conforme constatado em investigação exploratória, explica-se
por que, ao se trabalhar com uma regressão com variáveis independentes “VLL” e
“Exigt/At”, não se obtém grande incremento de poder explicativo com a inclusão de
variável independente que represente as aplicações em TVM. Outro aspecto interessante
é que, na investigação exploratória, não houve confirmação do sinal do coeficiente
esperado (para a variável representativa de aplicação em TVM) apenas quando esta
variável foi empregada em regressões juntamente com a variável independente relativa
ao passivo exigível, o que pode ser entendido como evidência da inadequação de uso
das duas variáveis concomitantemente.
63
Collins et al. (1995:272), na estimação do componente não discricionário dos ganhos e perdas com
títulos, empregam o rendimento médio anual de títulos do tesouro, considerando que a flutuação no valor
dos títulos é função das mudanças nas taxas de juros. Observa-se que os autores buscam variável
explicativa relacionada (ou que remeta) ao valor dos títulos.
119
64
Alternativamente, pode-se considerar, conforme Bartov (1993:843), não o “resultado contábil”, mas a
mudança (variação) no resultado contábil.
122
Neste tópico, são empregadas regressões que contam, como variável dependente, a
PDD, ou itens de resultados relacionados a TVM, ou o resultado com derivativos. As
variáveis explicativas são RES (resultado contábil excluído o efeito da variável
dependente) e variável representativa da aplicação bancária em créditos, ou em TVM,
ou em derivativos, dependendo da modalidade operacional sob análise.
Quando a variável dependente tem natureza de despesa, como no caso de PDD, a
expectativa é que o sinal da variável RES seja positivo, pois quando o resultado contábil
(excluído o efeito da despesa sob análise) aumenta (diminui), espera-se que a despesa
seja aumentada (diminuída), atendendo-se ao objetivo de suavização do resultado
contábil final. Quando a variável dependente tem natureza de receita ou de resultado
(receitas deduzidas de despesas), a expectativa é a inversa, de coeficiente negativo para
a variável RES.
Ressalte-se que os modelos empregados não objetivam prever os valores da variável
dependente, mas compreender como e avaliar em que medida as variáveis analisadas
estão relacionadas.
Neste item, testa-se a relação entre despesas de ajuste a valor de mercado de TVM e o
resultado contábil (excluído o efeito da referida despesa). As variáveis dependentes,
explicadas no capítulo III, são: AjNVM (Ajuste Negativo a Valor de Mercado - VM),
AjNVMneg (Ajuste Negativo a Valor de Mercado Títulos para Negociação) e
AjNVMdpv (Ajuste Negativo a Valor de Mercado Títulos DPV). Para cada uma destas
três variáveis, são empregados dois grupos de modelos, conforme segue:
Hipótese: Existe relação positiva entre a despesa de ajuste a valor de mercado de TVM
e o resultado contábil (excluído deste a referida despesa), configurando a utilização das
operações com TVM para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se obter um coeficiente positivo para RES ExclTVM it, pois quando
este apresenta crescimento, a expectativa é que haja aumento na despesa com TVM,
tendo em vista a diminuição do lucro e suavização do resultado final. Se há diminuição
em RES ExclTVM it, o incentivo é para que se reduza a despesa com TVM, de modo que se
mantém a expectativa de sinal positivo. Quanto à variável TVMit, espera-se coeficiente
positivo, tendo como base a premissa de que há relação positiva entre despesas com
TVM e o tamanho da carteira ativa de TVM.
Hipótese: Existe relação negativa entre a receita de ajuste a valor de mercado de TVM e
o resultado contábil (excluído deste a referida receita), configurando a utilização das
operações com TVM para suavização de resultados.
Expectativa: Espera-se obter um coeficiente negativo para RES ExclTVM it, pois quando
este apresenta crescimento, a expectativa é que haja redução na receita com TVM, tendo
em vista a diminuição do lucro e suavização do resultado final. Se há diminuição em
RES ExclTVM it, o incentivo é para que se aumente a receita com TVM, de modo que se
mantém a expectativa de sinal negativo. Quanto à variável TVMit, espera-se coeficiente
positivo, tendo como base a premissa de que há relação positiva entre receitas com
TVM e o tamanho da carteira ativa de TVM.
Este modelo objetiva testar a hipótese de existência de relação entre o resultado com
derivativos e o resultado contábil (expurgando deste o resultado com derivativos).
1. Introdução
Os testes realizados baseiam-se em análises de correlação e de regressão, sendo
utilizados dados contábeis semestrais das 50 maiores instituições financeiras atuantes no
Brasil, no período de junho de 2002 a dezembro de 2006.
No capítulo IV, são descritos a base de dados amostrais (item 2.1), o enfoque da análise
empírica, a metodologia e os modelos empregados. No capítulo III, há explicações
sobre as variáveis utilizadas na análise de correlação e de regressão. Tendo em vista
facilitar a leitura do capítulo, cabe discriminar, no quadro a seguir, as variáveis
utilizadas na análise de correlação e, como variáveis dependentes, na análise de
regressão:
2. Análises iniciais
Neste item, são apresentadas estatísticas descritivas sobre variáveis empregadas nos
testes realizados (2.1) e uma avaliação preliminar sobre o efeito das contas de resultado
de crédito, TVM e derivativos na suavização dos lucros bancários (2.2).
A tabela acima indica uma média de LL semestral da ordem de R$ 160 milhões, com
desvio-padrão significativo, de R$ 395 milhões. O índice de LL/AT aponta uma
rentabilidade semestral sobre o ativo de 0,63%. O maior prejuízo encontrado na amostra
foi de R$ 1.089 milhões, enquanto o maior lucro foi de R$ 3.195 milhões.
133
65
O significado de valor nocional é explicado no capítulo III, item 4.2.
134
disponíveis para venda, conforme será mostrado a seguir, ainda neste item. O valor
médio da PDD, no semestre, é de R$ 215 milhões, representando 0,87% do ativo.
Nos ajustes positivos a VM, há, também, reduzido número de observações na variável
específica de títulos DPV (AjPVMdpv). Na média, os ajustes positivos semestrais são
de R$ 40,7 milhões nos títulos para negociação e de R$ 14,0 milhões nos títulos DPV,
com representatividade média sobre o ativo de, respectivamente, 0,32% e 0,06%.
Assim como no caso da PDD, os valores dos ajustes negativos a VM são apresentados
em módulo; ressalte-se, pela natureza da conta, tratar-se de saldos negativos. Repete-se
a situação de menor número de dados para os ajustes relativos aos títulos DPV. As
representatividades médias semestrais, relativamente ao ativo, para as três variáveis, são
de, respectivamente, 0,05%, 0,04% e 0,01%, o que indica impactos negativos mais
severos por parte dos títulos para negociação relativamente aos títulos DPV.
136
Ressalte-se o menor número de observações para as variáveis relativas aos títulos DPV,
o que é fator de limitação para a análise. Cumpre também considerar que o fato de o
agregado das instituições não apresentar indicativo consistente de emprego dos títulos
DPV na suavização não significa que instituições, tomadas individualmente, não o
estejam fazendo.
Seguem alguns gráficos com o propósito de ilustrar a análise desenvolvida, elucidando a
redução na dispersão do lucro a partir da PDD, Ajuste a VM de TVM e Resultado com
Derivativos.
3. Análise de correlação
3.1 - Introdução
A análise de correlação tem o objetivo de investigar o tipo e a força do relacionamento
entre itens de resultado em cada modalidade operacional e o resultado contábil excluído
o efeito do resultado na modalidade operacional sob análise (resultado “pré-
suavização”), tendo em vista identificar possível utilização da PDD (operações de
crédito) ou de itens de resultado de TVM (ajustes a valor de mercado) ou derivativos
para a suavização de resultados. As hipóteses testadas para cada modalidade operacional
(crédito, TVM e derivativos), encontram-se descritas no capítulo IV.
Tanto para a PDD, como para cada item de resultado de TVM (receita, despesa ou
resultado) e para o resultado com derivativos, foram avaliados os coeficientes de
correlação entre estes itens citados e o resultado contábil “pré-suavização” de seis
diferentes formas (identificadas nas tabelas de resultados a serem apresentadas, na 1ª
coluna, como versões “A” a “F”). A seguir, no item 3.2, são explicadas as seis versões.
66
Como são utilizados dados semestrais, tomando-se o caso em que “t1” é junho de 2003, por exemplo,
“t2” será dezembro de 2003, ou seja, “t2” refere-se à data “t1” adicionada de um período (um semestre).
142
versão E) LL – PDD t2-t1 LL – PDD t2-t1 dividido (ponderado) por ativos totais
(ambas as variáveis na mesma data-base);
versão F) Var LL-PDD idem à versão C.
No caso da versão B, é tomado o valor de “LL – PDD” na data “t2”, e deste é deduzido
o valor de “LL – PDD” calculado para a data anterior (“t1”). Na versão C, toma-se “LL
– PDD” para a data “t2”, e deste valor é deduzido “LL – PDD” calculado para a data
anterior (“t1”); a diferença obtida (que é a variação, em valor absoluto, da variável “LL
– PDD” entre as datas “t1” e “t2”) é então dividida pelo valor de “LL – PDD” na data
inicial (“t1”), obtendo-se, assim, um número na forma decimal que indica a
representatividade da variação de “LL – PDD”, entre duas datas, relativamente ao valor
incial da variável (“LL – PDD”).
As versões acima descritas (de “A” a “F”) são empregadas, de forma similar, nos testes
realizados para TVM e derivativos.
3.3.1 - Introdução
São apresentados a seguir os resultados obtidos nas análises de correlação para as áreas
de crédito, TVM e derivativos. As variáveis empregadas encontram-se explicadas
detalhadamente nos capítulos III e IV, encontrando-se discriminadas também na
introdução deste capítulo. Para a área de crédito, focaliza-se a PDD, e, para a área de
derivativos, o “resultado com derivativos” (receitas deduzidas das despesas com
derivativos). Para a área de TVM, avaliam-se oito itens: AjNVM, AjNVMdpv,
AjNVMneg, AjPVM, AjPVMdpv, AjPVMneg, AjVM e AjVMdpv.
Legenda utilizada nas tabelas (explicação - símbolos empregados nas colunas 6 e 7):
1) CRÉDITO
Tabela 10) CRÉDITO - PDD (sinal esperado para coeficiente: positivo)
VARIÁVEIS N correlação p-value sinal classif.
A PDD x LL-PDD 457 0,950 0,000 1
B PDD x LL-PDD t2-t1 457 0,386 0,000 3
C PDD x Var LL-PDD 455 0,018 0,694 X
D PDD/AT x LL-PDD /AT 457 0,423 0,000 2
E PDD/AT x LL-PDD t2-t1/AT 455 0,209 0,000 4
F PDD/AT x Var LL-PDD 455 0,026 0,585 X
2) TVM
Tabela 11) DESPESAS – AjNVM (sinal esperado para coeficiente: positivo)
VARIÁVEIS N correlação p-value sinal classif.
A AjNVM x LL-AjNVM 369 -0,143 0,006 ⌧
B AjNVM x LL-AjNVM t2-t1 302 0,030 0,600 X
C AjNVM x Var LL-AjNVM 300 -0,005 0,925 XX
D AjNVM/AT x LL-AjNVM/AT 369 -0,346 0,000 ⌧
E AjNVM/AT x LL-AjNVMt2-t1/AT 300 -0,145 0,012 ⌧
F AjNVM/AT x Var LL-AjNVM 300 -0,019 0,738 XX
3) DERIVATIVOS
Tabela 19) Resultado com Derivativos (sinal esperado coeficiente: negativo)
VARIÁVEIS N Correlação p-value Sinal classif.
A ResDeriv x LL-ResDeriv 451 -0,404 0,000 3
B ResDeriv x LL-ResDeriv t2-t1 358 -0,235 0,000 4
C ResDeriv x Var LL-ResDeriv 356 -0,023 0,667 X
D ResDeriv/AT x LL-ResDerivAT 451 -0,837 0,000 1
E ResDeriv/AT x (LL-ResDeriv t2-t1)/AT 356 -0,579 0,000 2
F ResDeriv/AT x Var LL-ResDeriv 356 -0,138 0,009 5
4. Análise de regressão
4.1 - Introdução
O objetivo da análise de regressão linear é encontrar a equação de uma reta que permita
descrever e compreender a relação entre variáveis aleatórias, podendo também ser útil
para projetar ou estimar uma variável em função de outra(s).
Nos modelos de regressão adotados neste trabalho, constam, como variável dependente,
a despesa com PDD, ou itens de resultado de operações com TVM (ajustes a valor de
mercado), ou o resultado de operações com derivativos.
Como variável explicativa, é utilizado o resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido)
expurgando-se deste o resultado relativo à variável dependente. A lógica é testar a
relação entre o resultado em uma modalidade operacional (crédito, TVM ou derivativos)
e o lucro líquido expurgado do efeito da variável dependente. Outras explicações sobre
os modelos adotados, incluindo a descrição das variáveis de controle empregadas
148
Variável Modelos
Modalidade dependente
2A PDD = α + β (LL-PDD) + Créd + ε
2B PDD = α + β (LL-PDDt2-t1) + Créd t2-t1 + ε
Crédito PDD 2C PDD = α + β Var (LL-PDD) + Var Créd ε
2D PDD/AT = α + β (LL-PDD)/AT + Créd/AT + ε
2E PDD/AT = α+β(LL-PDDt2-t1)/AT+Crédt2-t1/AT + ε
2F PDD/AT = α + β Var (LL-PDD) + Var Créd+ ε
1A AjNVM = α + β (LL-AjNVM) + ε
1B AjNVM = α + β (LL-AjNVMt2-t1) + ε
TVM AjNVM 1C AjNVM = α + β Var (LL-AjNVM) + ε
Despesa 1D AjNVM/AT = α + β (LL-AjNVM)/AT + ε
1E AjNVM/AT =α+β(LL-AjNVMt2-t1)/AT+ε
1F AjNVM/AT = α + β Var (LL-AjNVM) + ε
2A AjNVM = α + β (LL-AjNVM) + TVM + ε
2B AjNVM = α + β (LL-AjNVMt2-t1) + TVMt2-t1 + ε
TVM AjNVM 2C AjNVM = α + β Var (LL-AjNVM) + Var TVM + ε
Despesa 2D AjNVM/AT = α + β (LL-AjNVM)/AT + TVM/AT + ε
2E AjNVM/AT =α+β(LL-AjNVMt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjNVM/AT = α + β Var (LL-AjNVM) + Var TVM + ε
1A AjNVMdpv = α + β (LL-AjNVMdpv) + ε
1B AjNVMdpv = α + β (LL-AjNVMdpv t2-t1) + ε
TVM AjNVMdpv 1C AjNVMdpv = α + β Var (LL-AjNVMdpv) + ε
Despesa 1D AjNVMdpv/AT = α + β (LL-AjNVMdpv)/AT + ε
1E AjNVMdpv/AT = α + β (LL-AjNVMdpv t2-t1)/AT + ε
1F AjNVMdpv/AT = α + β Var (LL-AjNVMdpv) + ε
2A AjNVMdpv = α + β (LL-AjNVMdpv) + TVM + ε
2B AjNVMdpv = α + β (LL-AjNVMdpv t2-t1)+TVMt2-t1+ε
TVM AjNVMdpv 2C AjNVMdpv = α + β Var (LL-AjNVMdpv)+Var TVM + ε
Despesa 2D AjNVMdpv/AT = α +β(LL-AjNVMdpv)/AT+TVM/AT+ε
2E AjNVMdpv/AT=α+β(LL-AjNVMdpvt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjNVMdpv/AT = α+β Var(LL-AjNVMdpv)+Var TVM+ε
1A AjNVMneg = α + β (LL-AjNVMneg) + ε
1B AjNVMneg = α + β (LL-AjNVMneg t2-t1) + ε
TVM AjNVMneg 1C AjNVMneg = α + β Var (LL-AjNVMneg) + ε
Despesa 1D AjNVMneg/AT = α + β (LL-AjNVMneg)/AT + ε
1E AjNVMneg/AT = α + β (LL-AjNVMneg t2-t1)/AT + ε
1F AjNVMneg/AT = α + β Var (LL-AjNVMneg) + ε
2A AjNVMneg = α + β (LL-AjNVMneg) + TVM + ε
2B AjNVMneg = α + β (LL-AjNVMneg t2-t1) + TVMt2-t1+ε
TVM AjNVMneg 2C AjNVMneg = α + β Var (LL-AjNVMneg) + Var TVM + ε
Despesa 2D AjNVMneg/AT = α +β(LL-AjNVMneg)/AT+TVM/AT+ε
2E AjNVMneg/AT=α+β(LL-AjNVMneg t2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjNVMneg/AT = α+β Var(LL-AjNVMneg)+Var TVM+ε
150
Variável Modelos
Modalidade dependente
1A AjPVM = α + β (LL-AjPVM) + ε
1B AjPVM = α + β (LL-AjPVMt2-t1) + ε
TVM AjPVM 1C AjPVM = α + β Var (LL-AjPVM) + ε
Receita 1D AjPVM/AT = α + β (LL-AjPVM)/AT + ε
1E AjPVM/AT = α + β (LL-AjPVMt2-t1)/AT + ε
1F AjPVM/AT = α + β Var (LL-AjPVM) + ε
2A AjPVM = α + β (LL-AjPVM) + TVM + ε
2B AjPVM = α + β (LL-AjPVMt2-t1) + TVMt2-t1 + ε
TVM AjPVM 2C AjPVM = α + β Var (LL-AjPVM) + Var TVM + ε
Receita 2D AjPVM/AT = α + β (LL-AjPVM)/AT + TVM/AT + ε
2E AjPVM/AT =α+β(LL-AjPVMt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjPVM/AT = α + β Var (LL-AjPVM) + Var TVM + ε
1A AjPVMdpv = α + β (LL-AjPVMdpv) + ε
1B AjPVMdpv = α + β (LL-AjPVMdpv t2-t1) + ε
TVM AjPVMdpv 1C AjPVMdpv = α + β Var (LL-AjPVMdpv) + ε
Receita 1D AjPVMdpv/AT = α + β (LL-AjPVMdpv)/AT + ε
1E AjPVMdpv/AT = α + β (LL-AjPVMdpv t2-t1)/AT + ε
1F AjPVMdpv/AT = α + β Var (LL-AjPVMdpv) + ε
2A AjPVMdpv = α + β (LL-AjPVMdpv) + TVM + ε
2B AjPVMdpv = α + β (LL-AjPVMdpv t2-t1) +TVMt2-t1 + ε
TVM AjPVMdpv 2C AjPVMdpv = α + β Var (LL-AjPVMdpv) + Var TVM + ε
Receita 2D AjPVMdpv/AT =α + β(LL-AjPVMneg)/AT + TVM/AT+ε
2E AjPVMdpv/AT =α+β(LL-AjPVMdpvt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjPVMdpv/AT =α + β Var(LL-AjPVMdpv)+Var TVM+ε
1A AjPVMneg = α + β (LL-AjPVMneg) + ε
1B AjPVMneg = α + β (LL-AjPVMneg t2-t1) + ε
TVM AjPVMneg 1C AjPVMneg = α + β Var (LL-AjPVMneg) + ε
Receita 1D AjPVMneg/AT = α + β (LL-AjPVMneg)/AT + ε
1E AjPVMneg/AT = α + β (LL-AjPVMneg t2-t1)/AT + ε
1F AjPVMneg/AT = α + β Var (LL-AjPVMneg) + ε
2A AjPVMneg = α + β (LL-AjPVMneg) + TVM + ε
2B AjPVMneg = α + β (LL-AjPVMneg t2-t1) +TVMt2-t1 + ε
TVM AjPVMneg 2C AjPVMneg = α + β Var (LL-AjPVMneg) + Var TVM + ε
Receita 2D AjPVMneg/AT =α + β(LL-AjPVMneg)/AT + TVM/AT+ε
2E AjPVMneg/AT =α+β(LL-AjPVMnegt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjPVMneg/AT =α + β Var (LL-AjPVMneg)+Var TVM+ε
1A AjVM = α + β (LL-AjVM) + ε
1B AjVM = α + β (LL-AjVMt2-t1) + ε
TVM AjVM 1C AjVM = α + β Var (LL-AjVM) + ε
Resultado 1D AjVM/AT = α + β (LL-AjVM)/AT + ε
1E AjVM/AT = α + β (LL-AjVMt2-t1)/AT + ε
1F AjVM/AT = α + β Var (LL-AjVM) + ε
151
Variável Modelos
Modalidade dependente
2A AjVM = α + β (LL-AjVM) + TVM + ε
2B AjVM = α + β (LL-AjVMt2-t1) + TVMt2-t1 + ε
TVM AjVM 2C AjVM = α + β Var (LL-AjVM) + Var TVM + ε
Resultado 2D AjVM/AT = α + β (LL-AjVM)/AT + TVM/AT + ε
2E AjVM/AT = α + β (LL-AjVMt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjVM/AT = α + β Var (LL-AjVM) + Var TVM + ε
1A AjVMdpv = α + β (LL-AjVMdpv) + ε
1B AjVMdpv = α + β (LL-AjVMdpv t2-t1) + ε
TVM AjVMdpv 1C AjVMdpv = α + β Var (LL-AjVMdpv) + ε
Resultado 1D AjVMdpv/AT = α + β (LL-AjVMdpv)/AT + ε
1E AjVMdpv/AT = α + β (LL-AjVMdpv t2-t1)/AT + ε
1F AjVMdpv/AT = α + β Var (LL-AjVMdpv) + ε
2A AjVMdpv = α + β (LL-AjVMdpv) + TVM + ε
2B AjVMdpv = α + β (LL-AjVMdpv t2-t1) + TVMt2-t1 + ε
TVM AjVMdpv 2C AjVMdpv = α + β Var (LL-AjVMdpv) + Var TVM + ε
Resultado 2D AjVMdpv/AT = α + β (LL-AjVMdpv)/AT + TVM/AT + ε
2E AjVMdpv/AT=α+β(LL-AjVMdpvt2-t1)/AT+TVMt2-t1/AT+ε
2F AjVMdpv/AT = α + β Var (LL-AjVMdpv) + Var TVM +ε
1A ResDeriv = α + β (LL-ResDeriv) + ε
1B ResDeriv = α + β (LL-ResDeriv t2-t1) + ε
Derivativos ResDeriv 1C ResDeriv = α + β Var (LL-ResDeriv) + ε
Resultado 1D ResDeriv/AT = α + β (LL-ResDeriv)/AT + ε
1E ResDeriv/AT = α + β (LL-ResDeriv t2-t1)/AT + ε
1F ResDeriv/AT = α + β Var (LL-ResDeriv) + ε
2A ResDeriv = α + β (LL-ResDeriv) + Deriv + ε
2B ResDeriv = α + β (LL-ResDeriv t2-t1) + Deriv t2-t1 + ε
Derivativos ResDeriv 2C ResDeriv = α + β Var (LL-ResDeriv) + Var Deriv +ε
Resultado 2D ResDeriv/AT = α + β (LL-ResDeriv)/AT + Deriv/AT + ε
2E ResDeriv/AT =α+β(LL-ResDeriv t2-t1)/AT+Derivt2-t1/AT+ε
2F ResDeriv/AT = α + β Var (LL-ResDeriv) + Var Deriv + ε
PDD = Provisão para Devedores Duvidosos; α e β = coeficientes; LL = Lucro Líquido; ε =
termo de erro; t2-t1 = indica variação da variável entre duas datas em valor absoluto (vide item
3.2); Var = indica variação decimal da variável (vide item 3.2); AT = Ativo Total; Créd =
carteira de crédito; AjNVM = Ajuste Negativo a Valor de Mercado; TVM = carteira de TVM;
AjNVMdpv = AjNVM títulos disponíveis para venda (DPV); AjNVMneg = AjNVM títulos
para negociação; AjPVM = Ajuste Positivo a VM; AjPVMdpv = AjPVM títulos DPV;
AjPVMneg = AjPVM títulos para negociação; AjVM = Ajuste a VM; AjVMdpv = AjVM títulos
DPV; ResDeriv = Resultado com Derivativos; Deriv = Carteira de derivativos (valor nocional).
“resultado com derivativos” (receitas deduzidas das despesas com derivativos). Para a
área de TVM, figuram, como variável dependente, os ajustes a valor de mercado de
títulos, que podem assumir a forma de despesa (ajustes negativos), receita (ajustes
positivos) e resultado (confrontação de ajustes positivos e negativos).
Antes de tratar dos resultados obtidos, cabe introduzir observações sobre os
pressupostos do Modelo Clássico de Regressão Linear. Não foram identificados
problemas de autocorrelação serial (resíduos) e multicolinearidade. As regressões, de
modo geral, apresentaram problemas de não normalidade dos resíduos; o recurso da
transformação logarítmica das variáveis não permitiu o pleno atendimento da premissa
de normalidade das perturbações, apenas amenizando o problema em algumas das
regressões de crédito e TVM. Foram também identificados problemas de
heteroscedasticidade; a transformação logarítmica, neste caso, conseguiu reverter ou
pelo menos amenizar o problema no caso de regressões de crédito e TVM. Nos modelos
de regressão com variáveis transformadas (por logaritmo), não foram produzidos sinais
diferentres de coeficientes, relativamente aos obtidos nos modelos com variáveis em
suas formas originais (sem transformação logarítmica), observando-se apenas a redução
dos coeficientes R2 ajustados. Desta maneira, verificou-se que a análise do sinal do
coeficiente da variável de lucro “pré-suavização” (lucro expurgado do valor da variável
dependente) não é alterada com a utilização das variáveis em sua forma original (sem
transformação). Registre-se, a propósito, que a análise do sinal (positivio ou negativo)
do coeficiente da variável independente de lucro (expurgado da variável dependente) é
base para as conclusões relativas à suavização de resultados, foco do presente trabalho.
A seguir, são apresentados os resultados das análises de regressão realizadas, em tabelas
que resumem os resultados obtidos, ensejando comparação entre as diferentes versões
de modelos empregados e entre as diferentes áreas investigadas (crédito, TVM e
derivativos). Nas tabelas de resultados, a 1ª coluna mostra a versão do teste (há doze
versões, divididas em dois grupos: 1A a 1F e 2A a 2F). A 2ª coluna mostra o número de
observações (N) consideradas em cada análise de regressão. Nas colunas 3 a 7, constam
os coeficientes de correlação “R”, “R2” (R quadrado), “R2 Ajust” (R2 Ajustado),
estatística “F” e “sig F” (valor p da estatística F). A 8ª coluna contém as variáveis
independentes que apresentaram coeficientes não significativos, em cada modelo. As
duas últimas colunas constituem apontamentos da validade de cada modelo de regressão
153
Legenda utilizada nas tabelas (explicação - símbolos empregados nas colunas 9 e 10):
67
Ao se comparar o R2 Ajustado de modelos, o tamanho N da amostra e a variável dependente devem,
idealmente, ser iguais. Nesta pesquisa, contudo, pela metodologia adotada e dados disponíveis, conforme
já explicado, trabalha-se com diferentes variáveis dependentes e quantidades de observações.
154
Análise sintética:
todos os 12 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o
esperado (sendo 8 coeficientes significativos e 4 não significativos);
4 modelos (1C, 1F, 2C e 2F) com problema de significância no teste F;
destaque para modelos 1A e 2A, com altos R2 Ajustados, 0,902 e 0,933,
respectivamente, e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o
esperado e significativos, nos valores de + 0,539 e + 0,254, respectivamente.
155
Análise sintética:
apenas 1 modelo (2B) com sinal da variável independente de lucro de acordo com o
esperado (e não significativo);
6 modelos com problema de significância no teste F;
11 modelos com sinal do coeficiente da variável independente de lucro contrário à
expectativa, o que indica não confirmação da hipótese de suavização de resultados.
156
Análise sintética:
apenas 1 modelo (1A) com sinal da variável independente de lucro de acordo com o
esperado (e não significativo);
10 modelos com problema de significância no teste F;
11 modelos com sinal do coeficiente da variável independente de lucro contrário à
expectativa, o que indica não confirmação da hipótese de suavização de resultados.
157
Análise sintética:
apenas 2 modelos (1B e 2B) com sinal da variável independente de lucro de acordo
com o esperado, mas com coeficientes não significativos;
6 modelos com problema de significância no teste F;
10 modelos com sinal do coeficiente da variável independente de lucro contrário à
expectativa, o que indica não confirmação da hipótese de suavização de resultados.
158
Análise sintética:
10 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
com coeficientes significativos;
apenas 1 modelo (2C) com problema de significância no teste F;
destaque para modelos 1D e 2D, com R2 Ajustados de, respectivamente, 0,121 e
0,166 e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
significativos, nos valores de, respectivamente, - 0,127 e - 0,124.
159
Análise sintética:
reduzido número de observações (média de 52 observações);
9 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado
(sendo 5 coeficientes significativos e 4 não significativos);
9 modelos com problema de significância no teste F;
modelos, em geral, com baixos R2 Ajustados.
160
Análise sintética:
10 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
com coeficientes significativos;
apenas 1 modelo (1C) com problema de significância no teste F;
destaque para modelos 1D e 2D, com R2 Ajustados de, respectivamente, 0,123 e
0,170 e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
significativos, nos valores de, respectivamente, - 0,128 e - 0,125.
161
Análise sintética:
10 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado
(sendo 8 coeficientes significativos e 2 não significativos);
4 modelos (1C, 1F, 2C e 2F) com problema de significância no teste F;
destaque para modelos 1D e 2D, com R2 Ajustados de, respectivamente, 0,259 e
0,260 e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
significativos, nos valores de, respectivamente, - 0,225 e - 0,224.
162
Análise sintética:
12 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado
(sendo 4 coeficientes significativos e 8 não significativos);
modelos, em geral, com baixos R2 Ajustados e 9 modelos com problema de
significância no teste F;
destaque para modelos 1D e 2D com R2 Ajustados de, respectivamente, 0,259 e
0,260 e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
significativos, nos valores de, - 0,225 e - 0,224.
163
Análise sintética:
10 modelos com sinal da variável independente de lucro de acordo com o esperado
(sendo 8 coeficientes significativos e 2 não significativos);
2 modelos (1C e 2C) com problema de significância no teste F;
destaque para modelos 1D e 2D, com R2 Ajustados de, respectivamente, 0,700 e
0,702 e coeficientes da variável independente de lucro de acordo com o esperado e
significativos, nos valores de, respectivamente, - 0,694 e - 0,695.
164
Registre-se, inicialmente, que as evidências obtidas com base nos testes de regressão
(Tabelas 20 a 29) são compatíveis com os resultados da análise de correlação, descritos
no item 3.3.2. A presente análise de regressão, portanto, corrobora as conclusões
formuladas a partir dos resultados da análise de correlação, verificando-se a
compatibilidade entre os resultados das duas técnicas estatísticas empregadas, o que
constitui base para as conclusões da pesquisa.
Cabe mencionar a diferença do número de observações nas análises de regressão de
crédito, TVM e derivativos. Foram realizadas dez análises de regressão: uma para
crédito, oito relativas a TVM e uma para derivativos, tendo, como variáveis
dependentes, respectivamente, a PDD, ajustes a valor de mercado de títulos e o
resultado com derivativos. Cada análise de regressão foi realizada em doze versões
(divididas nos grupos 1 e 2, nas versões, 1A a 1F e 2A a 2F, respectivamente). A seguir,
é apresentado um gráfico com as regressões realizadas, identificadas pela variável
dependente, com o número médio de observações consideradas nas doze versões.
Gráfico 6 – Número médio de observações consideradas em cada regressão
PDD 456
AjNVM 323
AjNVMdpv 48
AjNVMneg 319
APVM 328
APVMdpv 52
APVMneg 322
AjVM 350
AjVMdpv 63
ResDeriv 379
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
PDD – Provisão para Devedores Duvidosos; AjNVM – Ajuste Negativo a Valor de Mercado (VM);
AjNVMdpv – Ajuste Negativo a VM Títulos DPV (Disponíveis para Venda); AjNVMneg – Ajuste
Negativo a VM Títulos para Negociação; APVM – Ajuste Positivo a VM; AjPVMdpv – Ajuste
Positivo a VM Títulos DPV; AjPVMneg – Ajuste Positivo a VM Títulos para Negociação; AjVM –
Ajuste a VM; AjVMdpv – Ajuste a VM Títulos DPV; ResDeriv – Resultado com Derivativos.
exposto no capítulo I, item 4.1, Tabela 1. Assim, há grande quantidade de bancos com
informações contábeis disponibilizadas para a área de crédito. Em seguida, destaca-se o
conjunto de regressões que tem o Resultado com Derivativos (ResDeriv) como variável
dependente, com média de 379 observações. Quanto às regressões relacionadas aos
TVM, que apresentam ajustes a valor de mercado como variáveis dependentes, o
número de observações é inferior, sendo bastante reduzido no caso das regressões que
envolvem ajustes a valor de mercado de títulos DPV (disponíveis para venda), com
número médio de observações de 48 (Ajuste Negativo a VM), 52 (Ajuste Positivo a
VM) e 63 (Ajuste a VM). Já para as regressões que têm, como variáveis dependentes,
ajustes a VM específicos para títulos para negociação ou “gerais” (envolvendo ajustes
tanto para títulos DPV como para negociação), o número de observações não é tão
reduzido, com mínimo de 319 e máximo de 350. O menor número de observações para
as regressões que tratam especificamente dos ajustes relativos a títulos DPV é
conseqüência do reduzido número de bancos que realizam operações com títulos
classificados como DPV. Nos casos específicos das regressões com as variáveis
dependentes AjNVMdpv, AjPVMdpv e AjVMdpv, o baixo número de observações
consideradas é um aspecto limitador das análises estatísticas realizadas.
Conforme discutido por Gujarati (2000:202-3), não se deve conferir importância
exagerada aos coeficientes de explicação R2 na análise de resultados das regressões.
Segundo o autor, o objetivo da análise de regressão não é propriamente alcançar um R2
alto, mas obter estimativas confiáveis dos verdadeiros coeficientes de regressão da
população e fazer inferências sobre eles. Neste sentido, a obtenção de um baixo R2 não
quer dizer que o modelo seja necessariamente ruim, cabendo avaliar, prioritariamente, a
significância estatística dos coeficientes obtidos e se os seus sinais estão de acordo com
as expectativas teóricas que se tem a priori.
Os coeficientes de determinação R2 e R2 Ajustado constituem medidas de quão bem
um modelo se ajusta a um determinado conjunto de dados, indicando a proporção de
variação total na variável dependente explicada pelas variáveis independentes. Para
comparação de modelos, é recomendada a utilização do R2 Ajustado, que considera o
número de variáveis explicativas presentes em cada modelo. Vale citar que se o R2
Ajustado apresentar valor negativo, pode-se considerá-lo como sendo zero. Apesar de
ser recomendável que se comparem R2 Ajustados de modelos com o mesmo tamanho
de amostra e com as mesmas variáveis dependentes, realizamos a comparação deste
coeficiente de explicação relativamente aos modelos testados, tendo como objetivo
166
PDD
0,933
AjNVM 0,146
AjNVMdpv 0,177
AjNVMneg 0,132
APVM 0,166
APVMdpv 0,098
APVMneg 0,170
AjVM 0,260
AjVMdpv 0,212
ResDeriv 0,702
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
PDD – Provisão para Devedores Duvidosos; AjNVM – Ajuste Negativo a Valor de Mercado (VM);
AjNVMdpv – Ajuste Negativo a VM Títulos DPV (Disponíveis para Venda); AjNVMneg – Ajuste
Negativo a VM Títulos para Negociação; APVM – Ajuste Positivo a VM; AjPVMdpv – Ajuste
Positivo a VM Títulos DPV; AjPVMneg – Ajuste Positivo a VM Títulos para Negociação; AjVM –
Ajuste a VM; AjVMdpv – Ajuste a VM Títulos DPV; ResDeriv – Resultado com Derivativos.
O gráfico acima permite visualizar que, em termos de poder explicativo, assumem
destaque as regressões relacionadas às áreas de crédito e derivativos, que têm como
variáveis dependentes a PDD e o resultado com derivativos (ResDeriv),
respectivamente. Nos modelos de TVM, são bem menores as proporções em que as
variáveis independentes explicam as variações nos ajustes a valor de mercado.
Nas regressões de crédito, na versão 1A, a variável independente de lucro (Lucro
Líquido expurgada a PDD) explica 90,2% das variações na PDD; na versão 2A, as
variáveis independentes (Lucro expurgada a PDD e Carteira de Crédito) explicam,
conjuntamente, 93,3% das variações na PDD, variável dependente. Nas regressões de
derivativos, na versão 1D, a variável independente de lucro (Lucro Líquido expurgado o
Resultado com Derivativos) explica 70,0% das variações no Resultado com
Derivativos; na versão 2D, as variáveis independentes (Lucro expurgado o Resultado
com Derivativos e Carteira de Derivativos) explicam, conjuntamente, 70,2% das
variações na variável dependente, ResDeriv.
167
Nas oito regressões relativas aos TVM, não há diferença marcante de magnitude dos
coeficientes de explicação R2 Ajustados para as regressões relacionadas aos ajustes
negativos (despesas de ajustes a VM), positivos (receitas de ajustes a VM) e “gerais”
(confrontação de receitas e despesas de ajustes a VM). Nestes três grupos, destacam-se
os R2 Ajustados das regressões com os ajustes gerais: 0,260 para AjVM e 0,212 para
AjVMdpv.
A análise dos sinais e da significância dos coeficientes das variáveis independentes de
lucro (lucro “pré-gerenciamento”, dado pelo lucro expurgado o valor da variável
dependente) e dos resultados do teste F (teste de significância do modelo), para as doze
versões de cada um dos dez conjuntos de regressões, permite evoluir na análise empírica
conduzida. Conforme já apontado nas “Análises Sintéticas”, após cada uma das tabelas
de resultados (Tabelas 20 a 29), pode-se montar a seguinte tabela resumida:
Tabela 30 – Resumo – Estatísticas de avaliação dos modelos
Área Variável Sinal conforme esperado Teste F (modelo)
dependente significativo não significativo total significativo não significativo
Crédito PDD 8 4 12 8 4
TVM AjNVM 0 1 1 6 6
TVM AjNVMdpv 0 1 1 2 10
TVM AjNVMneg 0 2 2 6 6
TVM APVM 10 0 10 11 1
TVM APVMdpv 5 4 9 3 9
TVM APVMneg 10 0 10 11 1
TVM AjVM 8 2 10 8 4
TVM AjVMdpv 4 8 12 3 9
Derivativos ResDeriv 8 2 10 10 2
PDD – Provisão para Devedores Duvidosos; AjNVM – Ajuste Negativo a Valor de Mercado (VM);
AjNVMdpv – Ajuste Negativo a VM Títulos DPV (Disponíveis para Venda); AjNVMneg – Ajuste
Negativo a VM Títulos para Negociação; APVM – Ajuste Positivo a VM; AjPVMdpv – Ajuste
Positivo a VM Títulos DPV; AjPVMneg – Ajuste Positivo a VM Títulos para Negociação; AjVM –
Ajuste a VM; AjVMdpv – Ajuste a VM Títulos DPV; ResDeriv – Resultado com Derivativos.
Na tabela acima, para cada conjunto de regressões testadas (em doze versões), indica-se,
na 3ª, 4ª e 5ª colunas, o número de coeficientes da variável independente de lucro (lucro
expurgado o valor da variável dependente) que apresentaram sinal conforme o esperado.
A 3ª coluna mostra o número de coeficientes com sinal conforme o esperado e
significativo, enquanto que a 4ª coluna mostra o número de coeficientes conforme a
expectativa, mas não significativo. Lembre-se que a apresentação de sinal conforme o
esperado sinaliza a confirmação da hipótese de suavização de resultados. Assim, quanto
maior o número de coeficientes com sinal conforme a expectativa, mais forte a
evidência de prática de gerenciamento de resultados contábeis. Note-se que cada
conjunto de regressões pode apresentar um máximo de doze coeficientes com sinal
168
conforme a expectativa, pois cada modelo foi testado em doze diferentes versões. Na 6ª
coluna, indica-se quantos modelos não apresentaram problema de significância no teste
F (teste de validade do modelo). Na 7ª e última coluna, é apontada a quantidade de
modelos que apresentaram problemas de significância no teste F (p-value > 0,05).
Somando-se os valores da 6ª e 7ª colunas, em cada linha, chega-se a 12, número de
versões testadas para cada variável dependente. As colunas 5 e 6 estão destacadas em
cinza, pois quanto maiores os valores nelas apresentados (sendo no máximo doze), mais
forte a evidência de suavização de lucros por meio da variável dependente em estudo.
Com base na análise dos sinais dos coeficientes das variáveis independentes de lucro
(colunas 3, 4 e 5 da tabela 30), pode-se afirmar que há evidências de suavização de
resultados na área de crédito (PDD), derivativos (ResDeriv), nos ajustes “gerais” a valor
de mercado, dados pela confrontação de ajustes positivos e negativos (AjVM e
AjVMdpv), e nos ajustes positivos a valor de mercado (AjPVM, AjPVMdpv e
AjPVMneg). Para os ajustes negativos a VM (AjNVM, AjNVMdpv e AjNVMneg),
contudo, as evidências obtidas não permitem confirmar a hipótese de suavização de
resultados.
Ainda tratando da análise dos coeficientes das variáveis independentes de lucro, a área
de crédito destaca-se como a que apresenta mais fortes evidências de gerenciamento de
resultados (GR). As regressões de crédito apresentaram todos os doze coeficientes com
sinal positivo (sendo oito significativos), o que se alinha com o emprego da PDD para
suavização de resultados contábeis. Com base no modelo 1A, depreende-se que quando
o lucro “pré-gerenciamento” (lucro, expurgado o valor da PDD, dado pela variável “LL
– PDD”) aumenta em uma unidade, a despesa de PDD aumenta em 0,539, o que cumpre
com o efeito de suavização de resultados.
Na área de derivativos, em dez das doze versões de modelos foram obtidos coeficientes
com sinal negativo (sendo oito significativos), o que indica o emprego dos derivativos
para a suavização de lucros. Com base no modelo 1A, depreende-se que quando o lucro
“pré-gerenciamento” (lucro, expurgado o resultado com derivativos, dado pela variável
“LL – ResDeriv”) aumenta em uma unidade, o resultado com derivativos é reduzido em
0,291, o que gera efeito de suavização de resultados. Na versão 2A, a cada aumento de
uma unidade no lucro (expurgada a variável dependente), o resultado com derivativos
reduz-se em 0,415.
169
variáveis independentes de lucro serem negativos, cumpre observar que, assim como no
caso dos ajustes positivos a VM, as magnitudes dos referidos coeficientes (em módulo)
não são elevadas. Este é o caso, por exemplo, da versão 2A das regressões de AjVM,
em que a variável de lucro “LL – AjVM” apresenta coeficiente – 0,151.
Pelo exposto, pode-se concluir que há evidências de emprego das operações de crédito e
derivativos na suavização de resultados contábeis, sendo que a área de crédito é a que
apresenta evidências mais fortes de prática de GR. Quanto aos TVM, há evidências de
emprego de ajustes positivos a valor de mercado e de ajustes “gerais” (confrontação de
ajustes positivos e negativos) na suavização de lucros, não havendo base empírica para
atestar o emprego dos ajustes negativos no GR. Cabe observar, contudo, que o efeito na
suavização de resultados revelou-se mais forte no caso de operações de crédito, por
meio da PDD, e derivativos, por meio do resultado com derivativos, nesta ordem de
importância, tendo posição de menor relevância os ajustes a VM de TVM. Desta
maneira, constata-se que a PDD é o instrumento mais “poderoso” em termos de
suavização de lucros bancários, seguido pelos derivativos; os ajustes a valor de mercado
de TVM (especialmente os ajustes positivos, que se referem a receitas de valorização de
títulos no mercado) também favorecem a suavização de resultados contábeis, mas
desempenham papel menos relevante, não contribuindo de forma tão significativa como
a PDD e o resultado com derivativos. Os ajustes negativos a VM, por sua vez, não
exercem função de alisamento dos lucros bancários. Quanto aos derivativos, cumpre
observar que o efeito de suavização de resultados desempenhado alinha-se com a
utilização, por parte dos bancos, dos derivativos como instrumento de proteção (hedge),
de maneira a evitar maiores flutuações nos lucros contábeis das instituições financeiras.
A avaliação dos resultados do teste F (significância dos modelos) corrobora a validade
dos modelos de crédito (oito versões significativas e quatro não significativas) e
derivativos (dez versões significativas e duas não significativas). Nos ajustes positivos a
valor de mercado de TVM, são bons os desempenhos dos modelos de AjPVM e
AjPVMneg, com onze modelos válidos e apenas um não significativo; os modelos de
AjPVMdpv, por sua vez, apresentam apenas três versões significativas, o que pode ser
explicado também pelo reduzido tamanho de amostra. Nos ajustes “gerais” a VM
(confrontação de ajustes positivos e negativos), o conjunto de regressões de AjVM
apresenta oito modelos significativos e quatro não significativos, o que pode ser
considerado desempenho de razoável para bom; da mesma forma que nos ajustes
positivos, o conjunto de regressões específico para ajustes de títulos DPV (AjVMdpv)
171
Introdução ao tema
Suavização de resultados
A suavização de resultados é uma forma de sinalizar o nível de resultados futuros que os
investidores podem esperar (Poitras et al, 2005:914). Assim, os bancos podem utilizar o
instrumento de suavização para transmitir imagem de constância de lucros e, com isto,
influenciar a percepção de risco dos investidores e reduzir seus custos de captação.
Beatty et al (1995:234) também afirmam a existência de interesses no GR, por parte dos
gestores bancários, tendo em vista a redução do custo de capital. Nesta linha,
Kanagaretnam et al (2001:7) observam que, como o custo dos financiamentos obtidos
depende do risco percebido, os gestores dos bancos possuem incentivo para suavizar
lucros e reduzir maiores flutuações nos resultados contábeis.
Ademais, apresentação de padrão consistente de resultados reduz as pressões de órgãos
de supervisão bancária: a constância de bons resultados não somente chamam menos a
atenção da fiscalização como facilitam a captação de recursos, o que também favorece a
atividade da instituição (Collins et al, 1995:268).
Conforme McNichols & Wilson (1989:2), a hipótese de suavização de resultados prevê
que as empresas escolhem acumulações (accruals) tendo em vista minimizar a variação
dos lucros divulgados. Quando o lucro é muito alto, as empresas escolhem acumulações
para reduzi-lo; quando é muito baixo, escolhem acumulações para aumentá-lo. Assim,
se a empresa puder escolher entre dois períodos para reconhecer uma receita, a opção
mais provável é aquela que resulta em fluxo mais suavizado de lucros.
Mas não é apenas com a escolha do momento de reconhecimento de receitas e despesas
que se pode suavizar resultados. Outro instrumento é a efetiva realização de operações,
como a venda de títulos em momento considerado oportuno. Assim, há formas de GR
que influenciam tão somente o volume de receitas e despesas reconhecidas conforme o
regime de competência, sem afetar condições econômicas da empresa, mas há também
as que geram efetivo impacto no fluxo de caixa.
Trueman & Titman (1988:127-128, 135) mencionam razões para que os gestores
corporativos adotem práticas de suavização de resultados: crença de que os investidores,
no mercado de ações, pagam mais por uma empresa com um fluxo suavizado de
resultados; possibilidade de mitigar demandas de investidores por retornos esperados,
reduzindo o custo de captação da empresa; dada a melhor avaliação quanto à
probabilidade de falência, pode-se afetar, de maneira favorável à empresa, os termos de
178
Metodologia
A suavização de resultados, que se propõe a reduzir a variabilidade dos lucros
divulgados, prevê, em sua hipótese orientadora, que contas específicas (como a PDD)
exerçam influência no sentido oposto ao da variação do lucro líquido. No caso de
operações de crédito, por exemplo, quando o lucro (excluído o efeito da despesa de
PDD) aumenta, tem-se a expectativa de que a PDD atue no sentido de reduzi-lo; se o
lucro cai, pode-se postergar o registro de provisões, de maneira que a PDD influencie o
resultado de forma menos adversa relativamente a períodos anteriores; cumpre-se,
assim, com o papel de suavização do resultado contábil final.
Neste trabalho, foram testadas hipóteses de utilização de diferentes contas (contábeis),
por parte dos bancos, com vistas ao alisamento de resultados. As rubricas analisadas
foram: PDD, ajustes a valor de mercado de TVM e resultado com derivativos.
Na pesquisa empírica, foram avaliados dados contábeis semestrais das 50 maiores IF em
atuação no SFN, no período de junho de 2002 a dezembro de 2006. Foram empregadas
as técnicas estatísticas de correlação e regressão, tendo em vista identificar a possível
utilização da PDD (operações de crédito) ou de itens de resultado de TVM (ajustes a
valor de mercado) ou derivativos para a suavização de resultados. O período
considerado na pesquisa deve-se ao início de vigência de normas específicas para as
180
Resultados obtidos
As análises foram realizadas para o conjunto das 50 maiores instituições atuantes no
SFN, não sendo propósito a identificação de comportamentos individualizados em
termos de GR. O detalhamento dos resultados encontra-se no capítulo V.
Na análise de correlação, tanto para a PDD, como para cada item de resultado de TVM,
e para o resultado com derivativos, foram avaliados os coeficientes de correlação entre
estes itens citados e o resultado contábil “pré-suavização” de seis diferentes formas
(identificadas como versões “A” a “F”), conforme explicado no capítulo V, item 3.2.
No que se refere aos coeficientes de correlação obtidos e respectivos sinais, crédito
apresentou os resultados mais significativos. Na versão A, o coeficiente foi 0,950 (p-
value 0,000), o que indica alta correlação positiva entre a PDD e o resultado contábil
(expurgado da PDD), sinalizando a confirmação da hipótese de suavização de
resultados. Ressalte-se que, nas seis versões, os coeficientes apresentaram sinal de
acordo com a expectativa.
O segundo grupo a ser destacado é o de derivativos, no qual as seis versões
apresentaram coeficientes negativos, conforme o esperado, o que sugere a confirmação
da hipótese de suavização. As versões D e E merecem destaque, com coeficientes,
respectivamente, –0,837 e –0,579 (ambos significativos). Os resultados apontam para o
efeito de suavização de resultados desempenhado pelos derivativos.
183
Quanto aos TVM, é preciso segregar a análise de despesas, receitas e resultados. Nas
despesas de TVM (ajustes negativos a valor de mercado), os resultados, em geral,
apresentaram problemas de significância e, mais grave, na maioria dos casos com
coeficientes de correlação com sinal contrário ao esperado, não confirmando, portanto, a
hipótese de suavização. Nas receitas de TVM (ajustes positivos), diferentemente, quase
todos os resultados apresentaram sinal de coeficiente de correlação de acordo com o
esperado. De maneira geral, constata-se o efeito de suavização no resultado contábil por
meio das receitas com ajustes positivos a valor de mercado de títulos para negociação.
Quanto aos “resultados” de ajustes de TVM (obtidos a partir da confrontação dos
ajustes a valor de mercado negativos e positivos), os coeficientes de correlação
apresentaram sinais negativos, conforme o esperado, o que indica o efeito de suavização
dos ajustes de TVM a valor de mercado.
Em relação aos TVM, a principal conclusão é que os ajustes negativos a valor de
mercado (despesas) não demonstram efeito de suavização de resultados contábeis,
enquanto que os ajustes positivos (receitas) desempenham o papel de suavização, com
resultados significativos para os títulos para negociação. Em relação a crédito e
derivativos, confirmou-se a hipótese de suavização, com resultados consistentes.
Nos modelos de regressão adotados, constam, como variável dependente, a despesa com
PDD, ou itens de resultado de operações com TVM (ajustes a valor de mercado), ou o
resultado de operações com derivativos. Como variável explicativa, é utilizado o
resultado contábil (lucro ou prejuízo líquido) expurgando-se deste o resultado relativo à
variável dependente. A lógica é testar a relação entre o resultado em uma modalidade
operacional (crédito, TVM ou derivativos) e o lucro líquido expurgado do efeito da
variável dependente. Outras explicações sobre os modelos adotados, incluindo descrição
sobre variáveis de controle e hipóteses assumidas, encontram-se no capítulo IV.
No total, há dez variáveis dependentes, sendo uma relativa a operações de crédito
(PDD), uma relativa a derivativos (ResDeriv: Resultado com Derivativos) e oito
relativas a ajustes a valor de mercado de TVM. Para cada variável dependente, foram
realizados testes em doze versões, divididas em dois grupos, de “1A” a “1F” e de “2A”
a “2F”, conforme detalhado no capítulo V, item 4.2.
As evidências obtidas com base nos testes de regressão são compatíveis com os
resultados da análise de correlação. A análise de regressão, portanto, corrobora as
conclusões formuladas a partir dos resultados da análise de correlação, verificando-se a
compatibilidade entre os resultados das duas técnicas estatísticas empregadas.
184
Nas receitas de TVM (ajustes positivos a VM), diferentemente, a maioria dos modelos
apresentou sinal de coeficiente da variável de lucro de acordo com o esperado. Apesar
das evidências no sentido da confirmação da hipótese de suavização, cabe ressalvar que
não são elevadas as magnitudes dos coeficientes obtidos (em módulo), o que aponta
efeito de menor relevância dos ajustes positivos na suavização de resultados.
Quanto aos resultados de TVM (ajustes “gerais”, obtidos a partir da confrontação dos
ajustes negativos com os positivos), apesar da evidência favorável à confirmação da
hipóstese de suavização, em virtude de a maior parte dos coeficientes das variáveis de
lucro serem negativos, cumpre observar que, assim como no caso dos ajustes positivos,
as magnitudes dos referidos coeficientes (em módulo) não são elevadas.
Pelo exposto, pode-se concluir que há evidências de emprego das operações de crédito e
derivativos na suavização de resultados contábeis, sendo que a área de crédito é a que
apresenta evidências mais fortes de prática de GR. Quanto aos TVM, há evidências de
emprego de ajustes positivos a valor de mercado e de ajustes “gerais” (confrontação de
ajustes positivos e negativos) na suavização de lucros, não havendo base empírica para
atestar o emprego dos ajustes negativos no GR. Cabe observar que o efeito na
suavização de resultados revelou-se mais forte no caso de operações de crédito, por
meio da PDD, e derivativos, por meio do resultado com derivativos, nesta ordem de
importância, tendo posição de menor relevância os ajustes a VM de TVM. Desta
maneira, constata-se que a PDD é o instrumento mais “poderoso” em termos de
suavização de lucros bancários, seguido pelos derivativos; os ajustes a valor de mercado
de TVM (especialmente os ajustes positivos, que se referem a receitas de valorização de
títulos no mercado) também favorecem a suavização de resultados contábeis, mas
desempenham papel menos relevante, não contribuindo de forma tão significativa como
a PDD e o resultado com derivativos. Os ajustes negativos a VM, por sua vez, não
exercem função de alisamento dos lucros bancários.
Conforme relatado, a área de crédito foi a que apresentou evidências mais fortes de
prática de GR, figurando, entre os itens analisados, como o instrumento mais poderoso
em termos de suavização dos lucros bancários. Esta constatação é coerente com o fato
de a PDD ser a principal apropriação (accrual) do setor bancário (Beaver &
Engel,1996:177), cumprindo papel significante na suavização de resultados
(Kanagaretnam et al,2001:1). As evidências obtidas na presente pesquisa, que indicam o
papel relevante da PDD no gerenciamento de resultados contábeis bancários no
mercado doméstico, corroboram conclusões de estudos anteriores que também
constataram a participação da PDD no GR, como são os casos de Fuji (2004) e
Zenderski (2005), para os bancos atuantes no Brasil, e Collins et al (1995) e
Kanagaretnam et al (2001), para bancos atuantes em mercados estrangeiros, os quais
constataram relação positiva entre PDD e resultado contábil, confirmando hipótese de
suavização.
Com base nos princípios de contabilidade, entende-se que as empresas devem realizar
provisão de modo a garantir que o valor das contas a receber represente a efetiva
expectativa dos gestores quanto ao futuro recebimento dos créditos. A PDD, ressalte-se,
é caracterizada por envolver discricionariedade contábil em sua definição (McNutt,
2003:1). As evidências empíricas obtidas no presente trabalho estão alinhadas com a
proposição de que os gestores bancários possuem discricionariedade quanto ao tamanho
da PDD registrada a cada período, de modo que em períodos de baixos resultados em
outras áreas do banco, os gestores podem postergar o registro de provisões para
aumentar o lucro e vice-versa, conforme Cornett et al (2006:2).
Considerando a significativa influência da PDD no resultado bancário, e a identificada
prática de GR por meio da referida provisão, convém observar que a manipulação dos
valores aprovisionados não produz efeitos tributários, pois a regulamentação fiscal
admite a dedução das provisões somente quando a perda do crédito torna-se efetiva e
confirmada. Por outro lado, as práticas de suavização de resulados, ao alterarem o lucro
contábil, impactam o montante de dividendos distribuídos, corroborando a relevância
das práticas de GR do ponto de vista de acionistas e investidores.
Quanto aos derivativos, cumpre observar que o efeito de suavização de resultados
desempenhado alinha-se com a utilização, por parte dos bancos, dos derivativos como
instrumento de proteção (hedge), de maneira a evitar maiores flutuações nos lucros
contábeis das instituições financeiras. Tem-se indicação, assim, da utilização dos
derivativos com finalidade de proteção (hedge), de modo que, quando o resultado
187
pode mitigar a necessidade de lançar mão das apropriações discricionárias no GR. Neste
contexto, um tema para pesquisa futura consistiria em avaliar se as instituições que mais
utilizam derivativos apresentam a característica de emprego menos freqüente, ou com
menor intensidade, das apropriações discricionárias de receitas e despesas para fins de
gerenciamento de resultados contábeis.
Quanto aos TVM, foi verificado que os ajustes positivos e os ajustes “gerais” a valor de
mercado (dados pela confrontação de ajustes positivos e negativos) contribuem com a
suavização dos resultados bancários. Cabe ressaltar, contudo, que o efeito de
suavização, no caso, não é tão relevante quanto o desempenhado pela PDD e
derivativos. Já os ajustes negativos a valor de mercado (VM) não tiveram confirmada
sua participação no GR.
Assim, outra questão que poderia ser objeto de estudo futuro refere-se à determinação
das razões para as receitas de ajustes positivos a VM participarem do processo de
suavização de resultados, diferentemente das despesas de ajustes negativos.
Possível ilação é que, no contexto de ajustes negativos, as instituições, perante a
desfavorável situação de desvalorização dos títulos possuídos, assumem em geral a
postura conservadora de registrar as perdas, pautando a contabilização pela estrita
observação do procedimento de reconhecimento de perdas preconizado pelas normas,
enquanto que, no contexto favorável de valorização dos títulos, identificam situação
mais confortável para efetivar os ajustes contábeis considerando também os interesses
particulares em termos de gerenciamento de resultados. Na situação de valorização de
títulos, os ganhos auferidos devem ser reconhecidos, integralmente, conforme prática de
marcação a mercado. No entanto, conforme McNichols & Wilson (1989:2), a hipótese
de suavização de resultados prevê que as empresas escolhem acumulações (accruals)
tendo em vista minimizar a variação dos lucros divulgados, de maneira que, quando o
lucro é muito alto, as empresas escolhem acumulações para reduzi-lo (income-reducing
accruals) e, quando é muito baixo, escolhem acumulações para aumentá-lo (income-
increasing accruals). Se a instituição financeira puder escolher entre dois períodos para
reconhecer uma receita, a opção mais provável é aquela que resulta em fluxo mais
suavizado de lucros. Nesse sentido, Fields et al (2001:279) citam evidências de que,
quando os resultados correntes são ruins e os resultados esperados são bons, os gestores
“emprestam” resultados do futuro para o período atual (e vice-versa). Na mesma linha,
Kanagaretnam et al (2001) constataram que bancos com bom (pobre) desempenho
corrente e pobre (bom) desempenho futuro esperado estocam lucros para o futuro
189
(emprestam lucros do futuro) pela redução (aumento) do lucro corrente por meio da
PDD.
Na presente pesquisa, as evidências indicam a utilização das receitas de valorização de
títulos como instrumento de suavização dos resultados contábeis dos bancos atuantes no
Brasil, o que sugere a prática de “estocar” receitas em períodos com bons resultados,
para utilizá-los em momentos de baixos lucros. Tal prática pode ser observada, por
exemplo, em instituições que possuem em seu ativo títulos indexados ao câmbio e que
experimentam ganhos em um contexto de valorização do dólar, o que configura
oportunidade para o gerenciamento de resultados por meio da contabilização de ajustes
positivos em nível inferior ao que seria constituído no caso de observância irrestrita à
orientação normativa. Uma possível justificativa apresentada pelas instituições
financeiras para a não conformidade à norma, que preconiza o reconhecimento pleno da
alteração de valor de mercado do título, consiste na possibilidade de a valorização do
título cambial não ser permanente; tal justificativa, contudo, carece de embasamento
legal, conforme legislação específica relativa aos títulos classificados pelas instituições
como para negociação ou disponíveis para venda. Os procedimentos de gerenciamento
de resultados contábeis que incluem este tipo de prática irregular não podem ser
incorporados ao conceito descrito em algumas definições teóricas encontradas na
literatura, que tradicionalmente ressaltam o respeito aos ditames normativos. Assim,
Dechow et al (1996:3), observam que, embora não exista claro consenso na literatura
quanto à definição de GR, o termo é geralmente restringido a práticas inseridas nos
limites dos princípios contábeis geralmente aceitos68. Um exemplo deste tipo de
definição é encontrado em Martinez (2001:26):
É crucial entender que ‘gerenciamento dos resultados contábeis’ não é fraude contábil.
Ou seja, opera-se dentro dos limites do que prescreve a legislação contábil, entretanto,
nos pontos em que as normas contábeis facultam certa discricionariedade para o
gerente, este realiza suas escolhas não em função do que dita a realidade concreta dos
negócios, mas em função de outros incentivos, que o levam a desejar reportar um
resultado distinto.
68
Dechow et al (1996), contudo, adotam, em seu estudo, definição que inclui práticas tanto dentro como
fora dos limites dos princípios contábeis, preferindo utilizar o termo “manipulação” (de resultados).
190
69
Texto no original: “(...) annual audits limit a manager´s discretion over the loan loss provision.”
192
mercado quanto à relação “risco versus retorno” das empresas. É questão que merece
cuidadosa análise, portanto, em que medida as práticas de GR podem prejudicar a
transparência no SFN, gerando incertezas e representando um comprometimento para a
estabilidade do sistema financeiro e a proteção aos investidores. As decisões relativas
aos direcionamentos nos processos de regulamentação e supervisão dos mercados
dependem, entre outros fatores, da resposta à referida questão.
Na discussão sobre a regulação do sistema financeiro, outro ponto merece ser
considerado: as decisões relativas à PDD, TVM ou derivativos, com propósito de GR,
podem ser interdependentes. Se há forte restrição de gerenciamento em uma área, como
TVM, pode-se recorrer a outra modalidade, como PDD, para se alcançar o resultado
desejado. Esta visão é corroborada por evidências obtidas por Beatty et al (1995:258),
que constataram interações entre decisões contábeis (accruals) e de investimento (como
venda de títulos), sugerindo que a limitação da capacidade dos gestores escolherem
estrategicamente o momento da venda de títulos, com objetivo de GR, pode
simplesmente induzir uma substituição no instrumento usado na gestão de resultados,
lançando-se mão de forma alternativa, como postergar ou acelerar despesas de PDD.
Nestas considerações finais, foram elaborados comentários que envolem a auditoria, a
fiscalização e a regulação do sistema financeiro. Note-se, conforme apontado acima,
que restrições normativas às práticas de GR, em uma área específica, podem
incrementar a utilização de outros instrumentos que não foram objeto de regulmentação
igualmente rigorosa. Quanto a isso, Kim & Kross (1998:71), discorrendo sobre as
práticas de GR, observam que as entidades reguladoras podem elaborar políticas mais
eficientes quando consideram os impactos normativos sobre os incentivos e os
comportamentos gerenciais, assunto que também é de interesse dos auditores70. Disto
depreende-se a utilidade dos estudos sobre GR para reguladores, auditores e outras
partes que de alguma forma são afetadas pelas conseqüências da gestão dos resultados
contábeis. Clarifica-se, assim, a utilidade das incursões nas teorias (e estudos empíricos)
que permeiam o gerenciamento de resultados contábeis e os incentivos gerenciais
envolvidos.
Tratar dos impactos normativos sobre os comportamentos gerenciais enseja reflexão
relativa a como as questões contábeis, atualmente, constituem fator marcante nas
decisões gerenciais quanto às operações realizadas. A consideração das normas
70
Texto no original: “(…) regulatory bodies can make more efficient policies if they consider the impact
of regulations on managerial incentive and behavior. The results might also be of interest to auditors.”
196
contábeis, com seus impactos nos lucros apurados e nas exigências de capital, constitui
“insumo” decisivo das ações gerenciais. Ao se decidir pela realização de uma operação,
não são levados em conta apenas os resultados financeiros esperados, mas também os
efeitos contábeis. Quanto a isso, vale considerar o discurso de Douglas McEachern,
Presidente do Comitê de Poupança e Empréstimo do AICPA (American Institute of
Certified Public Accountants), conforme citação de Scholes et al (1990:648):
Ao lidar com clientes e outras contrapartes, freqüentemente pergunto ‘qual é o
resultado desta transação conforme os princípios contábeis? O que ocorre
relativamente aos objetivos tributários? O que acontece em termos de práticas
contábeis exigidas pelos órgãos reguladores, e, por último, infelizmente, em alguns
casos, qual é o resultado econômico disso?’ Infelizmente, muitas das transações que
têm sido feitas pela indústria, especialmente pela indústria de poupança e empréstimo,
e em Wall Street (mercado acionário), são guiadas pelo resultado contábil e projetadas
71
em função deste aspecto (contábil).
71
Texto no original: “In dealing with clients and others, I often (...) ask ‘what is the GAAP result of this
transaction? What happens for tax purposes? What happens under regulatory accounting practices and
lastly, unfortunately, in some cases, what is the economic result of this?’ Unfortunately, many of the
transactions that are being undertaken by the industry, especially by the savings and loan industry, and by
Wall Street, are driven by and designed around the accounting result.”
197
por Kato et al (1998:5). Esta discussão lança luz sobre o fato de que o GR, por meio de
transações como a venda de títulos e a negociação com derivativos, pode apresentar
outras motivações, além das relativas aos efeitos contábeis gerados. Nesse sentido, há
“hipóteses competitivas”, de modo que se o GR é constatado, pode ser difícil determinar
qual a motivação mais relevante, se a contábil, ou a econômica. Se constatada, por
exemplo, a relação negativa entre resultados com derivativos e o resultado contábil
(expurgado o efeito das operações com derivativos), há possibilidade de que os
derivativos estejam sendo negociados com a finalidade de suavização de resultados
(motivação contábil) ou de que os derivativos estejam sendo utilizados efetivamente
para hedge, tendo-se em vista os efeitos econômicos e financeiros para a empresa.
Um exemplo do uso de transações com títulos que pode ser dado é o caso de empresa
que, experimentando decréscimo em seu lucro contábil, decide vender títulos com
ganhos não realizados registrados no PL (patrimônio líquido). Com isto, aproveita-se o
efeito contábil do ganho na venda do título para aumentar o lucro divulgado, mas
também são gerados efeitos econômicos relacionados à mudança patrimonial e à entrada
de caixa.
Neste contexto, seria proveitoso, em investigações futuras, o desenvolvimento de
metodologias que permitissem investigar a motivação existente nas operações com
títulos e derivativos que apresentam efeito de suavização nos resultados contábeis, mas
que podem ter, como finalidade primordial, os efeitos econômicos e financeiros.
Cumpre registrar algumas limitações da pesquisa realizada. A investigação focalizou a
existência de suavização de resultados bancários por parte da despesa de PDD, ajustes a
valor de mercado de TVM e resultado com derivativos. No entanto, não foram
empenhados esforços na identificação de formas ou procedimentos de gerenciamento de
resultados. Não foi investigado, por exemplo, se as instituições adotam valores de
mercado mais altos ou mais baixos no objetivo de influenciar o resultado em um sentido
desejado. O que foi avaliado é se os ajustes contribuem com a redução da variabilidade
dos lucros, não se definindo, contudo, se os parâmetros utilizados para o ajuste são
artificialmente mais altos, ou mais baixos, relativamente a valores de mercado
considerados imparciais. Este tipo de investigação, apesar da relevância para órgãos de
supervisão bancária e de proteção ao investidor, não integrou os objetivos do presente
trabalho.
Não se dispor de seqüência histórica mais longa de dados contábeis representa uma
limitação na pesquisa empírica realizada. Relativamente a este problema, encontra-se
198
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202
GLOSSÁRIO
Apêndice I
Procedimentos de contabilização de operações de crédito, TVM e derivativos
1. Introdução
Neste apêndice, são apresentados os procedimentos de contabilização de operações de
crédito, TVM e derivativos, conforme normas vigentes no SFN. O entendimento de tais
procedimentos é base para a leitura do capítulo III e para a compreensão da análise
empírica realizada.
Apêndice II
Relação das instituições financeiras participantes da pesquisa empírica
Neste apêndice, é apresentada a relação das instituições participantes da pesquisa
empírica, com especificação do montante de ativos totais em dezembro de 2006.
Ativo Total Ativo Total
Nome (R$ mil) Nome (R$ mil)
1 BANCO DO BRASIL 296.356.419 26 BMG 4.624.199
2 BRADESCO 213.302.930 27 BESC 4.246.753
CAIXA ECONOMICA MERCANTIL DO
3 FEDERAL 209.532.835 28 BRASIL 5.058.303
4 ITAU 205.156.179 29 IBIBANK 3.816.176
5 ABN AMRO 119.160.302 30 ABC-BRASIL 3.777.299
SANTANDER
6 BANESPA 102.125.938 31 RABOBANK 3.775.465
7 UNIBANCO 97.785.134 32 SS 3.754.127
8 SAFRA 61.820.338 33 BANCOOB 3.586.143
9 HSBC 58.265.728 34 PINE 3.205.491
10 VOTORANTIM 56.707.483 35 ING 2.939.051
11 NOSSA CAIXA 39.319.392 36 BRB 2.783.207
12 CITIBANK 30.755.195 37 DAYCOVAL 3.035.739
13 UBS PACTUAL 20.260.656 38 BMC 2.391.458
14 BANRISUL 15.697.307 39 CLASSICO 2.314.032
15 BBM 12.401.765 40 BANSICREDI 4.517.633
16 BNB 12.477.424 41 BARCLAYS 2.139.151
17 ALFA 11.075.730 42 CRUZEIRO DO SUL 2.117.546
18 BNP PARIBAS 10.673.186 43 SOFISA 2.098.479
19 DEUTSCHE 9.007.310 44 BGN 2.075.383
20 CREDIT SUISSE 10.811.532 45 WESTLB 1.815.860
21 JP MORGAN CHASE 8.282.640 46 RURAL 1.809.355
22 FIBRA 8.345.297 47 BANCO JOHN DEERE 1.662.583
23 BIC 7.325.085 48 SCHAHIN 1.542.764
24 BASA 5.158.922 49 DRESDNER 1.566.521
25 BANESTES 5.637.362 50 BANESE 1.443.796