Falling For Your Best Friend's Twin - Emma St. Clair

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Falling For Your Best Friend’s Twin (#1)

Falling For Your Boss (#2)

Falling For Your Fake Fiancé (#3)


The Twelve Holidates (#3.5)

Falling For Your Best Friend (#4)

Falling For Your Brother’s Best Friend (#4.5)

Falling For Your Enemy (#5)


Há um milhão e uma razões pelas quais eu não deveria me
apaixonar pelo irmão gêmeo da minha melhor amiga...

Pena que o amor não é razoável.

Zane é meu total oposto. Ele namora uma série de mulheres


que não são nada parecidas comigo

E de jeito nenhum eu arriscaria a amizade de Zoey por causa da


minha pequena paixão pelo irmão dela.

Mas quando Zane me contrata para ajudar a corrigir uma falha


no software de sua startup, me deparo com dois problemas:

1. Alguém de dentro parece sabotá-lo.


2. Trabalhar com Zane todos os dias deixa meus
sentimentos mais intensos.

Meu plano mestre é farejar o traidor, ajudar Zane a salvar a


empresa e sair enquanto meu coração ainda está intacto. Nada
demais.

Mas, de alguma forma, sou arrastada em uma viagem de spa


com os investidores. O que significa passar um fim de semana
inteiro com Zane e dividir um quarto com seu sócio.

Me. Matem. Agora.


Isso pode servir para destruir minha paixão de uma vez por
todas.

Se não me destruir primeiro...

Falling for Your Best Friend's Twin é uma comédia


romântica divertida e emocionante, com opostos que
atraem, romance, uma desastrosa massagem para casais
e uma dose saudável de proximidade forçada. Toneladas
de química escaldante com romance a portas fechadas!
TABELA DE CONTEÚDOS
Love Clichés
Sinopse
Tabela de Conteúdos
Aviso – bwc
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Cara Dra. Love
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Cara Dra. Love
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Cara Dra. Love
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Cara Dra. Love
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Cara Dra. Love
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Cara Dra. Love
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Cara Dra. Love
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Epílogo
Cena bônus: Abby + Zane Para Sempre
Uma nota de Emma
Obrigada!
AVISO – BWC
Essa presente tradução é de autoria pelo grupo Bookworm’s
Cafe. Nosso grupo não possui fins lucrativos, sendo este um
trabalho voluntário e não remunerado. Traduzimos livros com
o objetivo de acessibilizar a leitura para aqueles que não sabem
ler em inglês.
Para preservar a nossa identidade e manter o funcionamento
dos grupos de tradução, pedimos que:
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• Não comente com o autor que leu este livro
traduzido;
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Caso esse livro tenha seus direitos adquiridos por uma
editora brasileira, iremos exclui-lo do nosso acervo.
Em caso de denúncias, fecharemos o canal
permanentemente.
Aceitamos críticas e sugestões, contanto que estas sejam
feitas de forma construtiva e sem desrespeitar o trabalho da
nossa equipe.
CAPÍTULO UM

Abby

QUANDO FINALMENTE CHEGO ao restaurante, eu estou


apenas dez minutos atrasada. Três dos meus amigos nem
piscam quando eu deslizo para o último assento vazio,
ofegando um pouco, mas Zoey me dá o olhar mortal
patenteado dos Abramson. Minha melhor amiga e seu irmão
gêmeo, Zane, provavelmente saíram do útero dando esse olhar
para as enfermeiras do hospital.
Aprendi a ignorá-lo, mas Zoey costumava colocar medo em
mim quando nos conhecemos no nosso primeiro ano de
faculdade. As poucas vezes que vi Zane fazer isso, meu corpo
teve uma reação totalmente diferente. Uma que eu nunca
admitiria para Zoey, por toda a coisa de gêmeos e tudo mais.
Estou menos incomodada com seu olhar de desaprovação
do que com o fato de meus amigos terem dizimado o conteúdo
da cesta de pão. Há um pãozinho solitário, que eu pego.
— Ei, senhoritas! Desculpe, estou atrasada. Eu perdi alguma
coisa? Além dos pães, obviamente.
E a manteiga. O pequeno prato de prata contendo a
manteiga também foi totalmente limpo, percebo quando Sam,
Harper e Delilah dizem seus olás. A garçonete para e eu me
esforço para escolher um sanduíche com ingredientes que
posso reconhecer e pronunciar.
— Eu também poderia tomar um café? — Eu pergunto,
entregando meu cardápio. — E mais pãezinhos e manteiga?
— Você não precisaria pedir mais manteiga se tivesse
chegado na hora. — Zoey levanta uma sobrancelha loira
perfeitamente cuidada.
— Guarde seu discurso, mãe. Eu fiquei presa no trabalho.
Bem. No meu trabalho extracurricular.
— Atraso perdoado. Oh! Isto me lembra. Tenho um
possível emprego para você. Eu te conto depois do almoço —
Zoey diz.
Nos últimos seis meses, tenho tentado construir uma base
de clientes para poder largar meu emprego fixo. Eu quero ser
uma analista de sistemas ou trabalhar com segurança
cibernética, mas estou presa fazendo trabalho básico de TI em
um escritório sugador de almas. Geeks de tecnologia como eu
são quase tão comuns em Austin quanto cantores tentando ter
sua grande chance. Há muitos empregos, mas ainda mais
pessoas tentando preenchê-los.
Atualmente eu estou ajudando o meu irmão, Jason, que
fundou uma empresa que tem tido um enorme sucesso
projetando videogames. Toda vez que falo com ele, ele me
oferece um emprego em tempo integral. Um que seria um
sonho comparado à minha situação atual. Tão tentador.
Mas eu nunca gostei de jogar do jeito que Jason sempre
gostou. Claro, seria melhor que essa posição estúpida de TI,
mas eu teria que voltar para Katy, nos arredores de Houston,
porque Jason me quer no local. Por mais que eu sinta falta dos
meus pais e ame Jason, Jessa e meus sobrinhos, de jeito nenhum
eu vou deixar Austin a menos que eu esteja sendo arrastada.
Sam bate levemente em seu copo de água para chamar nossa
atenção. Quando finalmente nos calamos, ela limpa a garganta
e sorri de um jeito que me deixa nervosa.
— A razão pela qual eu chamei todos vocês aqui hoje…
Um gemido coletivo sobe da mesa, abafando Sam. Todas
sabemos o que significa um almoço com Sam. Geralmente algo
a ver com seu alter ego, Dra. Love, precisando que façamos um
favor a ela.
Zoey me cutuca no ombro.
— Abby, eu pensei que você tivesse planejado este almoço!
— Eu? — Eu balanço minha cabeça. — Quero dizer, eu te
contei sobre isso, mas…
Harper me corta, olhando na minha direção.
— Abby me convidou também.
A desaprovação de Zoey pode não funcionar mais em mim,
mas Harper, com seu cabelo escuro, olhos intensos e físico
musculoso, ainda me aterroriza. Ela parece uma bela, mas
malvada rainha de um conto de fadas. Uma que faz CrossFit e
pode jogar um pneu gigante em seu rosto com uma mão.
— Igualmente — diz Delilah, seu sotaque doce como mel
do Alabama de alguma forma estendendo aquela sílaba em
quatro. Ela dá um tapinha na minha mão e me dá um olhar com
simpatia genuína.
Eu estreito meus olhos para Sam.
— Você me enganou para convidar todas no seu lugar?
Ela tem a audácia de piscar. Eu me lembro agora – Sam fez
parecer que eu estava lembrando a todas de um almoço que já
havia sido planejado. Normalmente, eu teria visto suas reais
intenções. Mas Sam aproveitou o fato de eu estar distraída
ultimamente com todo o trabalho extra de freelancer. Estou,
praticamente, funcionando à base de cafeína.
Sam sorri, parecendo puramente maquiavélica.
— Como eles chamam isso em linguagem de computação...
eu usei a porta dos fundos1?
Todo mundo ainda está dirigindo seus olhares sombrios
para mim. Eu levanto minhas mãos.
— Ei, eu também sou uma vítima!
— Você deveria ter previsto isso — diz Harper.
Eu deveria. Afinal, nós cinco fomos colegas de quarto em
várias formações nos últimos cinco anos, desde que nos
conhecemos no primeiro ano na Universidade do Texas. Eu sei
que Sam é traiçoeira, como diria Gollum. Hobbit complicado. E

1
Ela fez um trocadilho com um backdoor. É um tipo de malware que nega
procedimentos normais de autenticação para acessar um sistema.
agora, graças à minha ajuda involuntária, ela nos atraiu para um
almoço com uma pauta de trabalho. Fantástico.
Sam levanta a voz e continua.
— Como eu estava dizendo, chamei todas vocês aqui hoje
porque tenho uma grande oportunidade e...
— Você precisa da nossa ajuda — Delilah, Harper e eu
dissemos em coro. Conhecemos esse roteiro de cor.
— Pessoal, se vocês apenas ouvissem! — Sam começa a falar
mais rápido agora, como se soubesse que estamos prestes a nos
amotinar. — Consegui um contrato para um livro. O que
significa que o almoço é por minha conta!
A mesa explode em aplausos, abraços e basicamente o caos.
Por enquanto, a irritação com Sam está esquecida. Nós
atormentamos uma à outra, mas nós cinco sempre nos
protegeremos. Este negócio do livro tem sido o sonho de Sam
desde que eu a conheci.
Nossa garçonete aparece, acenando com as mãos como se
quisesse nos calar. Zoey, que está em pé toda sua altura de
amazonas2 para abraçar Sam, a encara. A garçonete corre de
volta para a cozinha como se estivesse sendo perseguida por um
bando de dementadores de Harry Potter. Espero que ela não
esteja com muito medo para voltar e trazer a minha manteiga.

2
Referência as Guerreiras Amazonas, da mitologia grega, que possuíam
1,70m de altura e eram consideradas mulheres altas para a sua época.
Quando finalmente estamos todas sentadas e um pouco
mais calmas, Harper lança um olhar para Sam.
— Estamos todas super felizes por você. Mas a pergunta é: o
que você precisa de nós?
Sam mexe com seus talheres.
— Preciso reforçar minha presença online antes do
lançamento. Posts mais longos com conselhos sobre
relacionamento. Além disso, histórias que posso usar para
escrever o livro de verdade.
— Então, você precisa que nós escrevamos mais e-mails
falsos pedindo conselhos para você-sabe-quem? — Zoey
pergunta.
Sam recebe toneladas de e-mails como a Dra. Love, mas nem
todos são um bom entretenimento, que é o que diferencia sua
coluna: bons conselhos com uma pitada de sarcasmo. Há anos,
ela nos pede para enviar e-mails com nomes de usuários
anônimos com problemas de relacionamento falsos. Ela não
sabe quais são reais e quais são os nossos – embora, se ela
adivinhar, temos que pagar um jantar a ela.
— Fale baixo — diz Sam, olhando ao redor do restaurante.
Abby começou o Querida Dra. Love como uma coluna
local em um site de notícias de Austin, mas ficou tão popular
que é distribuído em grandes cidades em todos os Estados
Unidos. Quanto mais bem-sucedida ela se torna, com mais
medo Sam fica de sua identidade ser revelada. Ela diz que a Dra.
Love recebe tanto e-mails de ódio quanto pedidos de
conselhos, provavelmente por causa de todas as separações que
ela instigou.
— Definitivamente, continuem enviando e-mails, embora
algumas de vocês estejam ficando descuidadas em esconder suas
identidades. — Sam me dá um olhar aguçado.
Eu dou de ombros.
— A rivalidade DC versus Marvel é um problema
potencialmente real em um relacionamento.
Isso me faz ganhar vários revirar os olhos da mesa.
— Para o livro, precisarei de histórias maiores e mais
substanciais, não apenas perguntas. De preferência histórias de
amor reais. — Sam brinca com a ponta de sua trança escura.
Harper levanta uma sobrancelha.
— E você está nos perguntando?
Sam é a única em um relacionamento, então eu entendo
totalmente o ceticismo de Harper. No geral, parecemos
bastante mal sucedidas no que diz respeito ao amor.
Amaldiçoadas, se estou sendo honesta. Especialmente
considerando o fato de que somos todas atraentes à nossa
maneira e ninguém tem bigode, rabo ou algum tipo de hábito
estranho como coletar fiapos da máquina de secar roupa.
Zoey é totalmente focada em sua carreira e jura que não tem
tempo para namorar. Harper é linda, mas aterrorizante. Eu não
passo do segundo encontro com um cara há anos. E não tenho
certeza sobre Delilah. A ex-rainha da beleza não sente falta de
caras perseguindo-a. Eu vi dois tentando chamar sua atenção
apenas neste almoço. Mas além de um relacionamento a
distância enquanto estávamos na faculdade, ela não namorou a
sério.
Se Sam está contando conosco, ela pode estar com
problemas.
A garçonete chega com nossa comida, tomando cuidado
para evitar contato visual com Zoey. Ela ganha pontos comigo
trazendo dois recipientes de manteiga e café com um cheiro
incrível.
— Qual é a jogada? — Zoey diz, enquanto começamos a
comer. Eu meio que espero que ela pegue o telefone e comece
a fazer anotações detalhadas. — Existe um tema para o livro?
— Eu amo clichês. Você sabe, como as tropes comuns.
Eu levanto minha mão.
— Parei de entender na parte das tropes.
Eu posso falar código de computador fluente, mas a única
maneira que eu passei nas minhas aulas de inglês na faculdade
foi com as aulas intensas de Sam. Que envolvia madrugadas e
trufas de chocolate como recompensa por respostas corretas,
como se eu fosse um cachorro. Eu nem ligava, porque:
chocolate. E passei raspando com um C.
— As tropes são como a história central em uma comédia
romântica ou em um filme da Hallmark.
— Como o de Natal que vocês me forçaram a assistir? — Eu
pergunto. — Aquele em que a garota não sabe que o cara que
ela conhece online também é o Papai Noel no shopping onde
ela trabalha?
— E um bilionário — destaca Delilah. — Lindo de morrer.
Quem diria que o Papai Noel poderia ser gostoso?
— Sim! — Quando Sam ri, sinto que ganhei uma trufa de
chocolate. — Aquele filme tinha uma trope de identidade
secreta. Misturado com as tropes de namoro online e do
bilionário, que pode ser muito parecido com uma história de
gente rica com gente pobre.
— Esses enredos são todos tão falsos — diz Zoey. — Você
espera que nós namoremos Papais Noéis secretos ou
encontremos bilionários?
Sam levanta um dedo.
— As tropes são exageradas, com certeza. Mas há uma razão
pela qual elas são populares. Eles são comuns. Quase universais.
Pense nisso. Quantas de vocês conhecem alguém que se
apaixonou pelo melhor amigo?
Todos nós olhamos para Harper. Sua pele cor de oliva fica
vermelha, mas ela finge não notar que todos nós estamos
olhando. Estamos tentando dizer a ela há anos que seu melhor
amigo, Chase, está apaixonado por ela, mas ela não quer saber
disso. Eu acho que ela está apaixonada por ele também, mas ela
definitivamente não está pronta para enfrentar essa verdade.
— Ou pelo chefe deles? — Sam pergunta.
Todos nós tentamos não olhar para Zoey, que com certeza
vai nos matar com seus olhos de laser se falarmos sobre seu
chefe gostoso, mas muito mais velho e muito fora dos limites,
Gavin.
— Há toneladas dessas coisas. — Sam começa a contar em
uma mão. — Relacionamento falso, romances com segunda
chance, cowboy, inimigos para amantes... você entendeu.
Harper revira os olhos.
— Sim, mas que tal um relacionamento falso? Isso é
ridículo. Assim como a maioria dessas histórias. Elas são
previsíveis e totalmente irreais.
— Eu tive um relacionamento falso — diz Delilah,
mordendo o lábio para conter um sorriso.
— Poderia ter sido — diz Harper com uma risada.
— Na verdade — eu digo. — Eu também.
Agora todas estão rindo. Se não fossem minhas amigas,
todas estariam mortas para mim. Mortas.
— Você teve? Precisamos de detalhes — Zoey diz.
— Foi no acampamento de codificação no verão antes da
sétima série. Havia uma grande briga entre as duas equipes
sobre nosso código-fonte e, assim, para distrair o melhor
programador da outra equipe...
Zoey levanta a mão.
— Você já disse o suficiente. Eu deveria saber que isso teria
a ver com computadores.
— A maior parte da minha vida tem a ver com
computadores. Não se esqueça de quem consertou seu laptop
quando você pegou um vírus ao abrir aquele anexo com…
— De qualquer forma! De volta às grandes novidades do
livro de Sam! — Zoey grita.
Eu sorrio, amando esse pequeno trunfo sobre Zoey.
Ninguém pensaria menos dela por tentar abrir um anexo
mostrando fotos secretas de um certo irmão Hemsworth de
sunga em uma praia particular. Se eu ganhasse um centavo para
cada pessoa que pegou um vírus, me aposentaria e compraria
minha própria ilha.
Não é nada para se envergonhar, mas Zoey não quer admitir
que por baixo de sua fachada de negócios, ela tem um outro
lado. Ela é como uma tainha, negócios na frente, mas muita
diversão escondida atrás. Bem lá atrás, atrás de uma cerca de
arame farpado. Eu vi o outro lado de Zoey apenas um punhado
de vezes, e é como um avistamento de unicórnio. Muitas vezes
me pergunto se Zane, igualmente tenso e todo profissional, tem
o mesmo lado divertido escondido em algum lugar. Eu pagaria
um bom dinheiro para ver isso.
— Por que você não usa seu próprio relacionamento? —
Harper sugere.
— Seria perfeito! — Delilah diz. — Vocês são adoráveis.
— Eles são perfeitos demais — Zoey resmunga.
Ela não está errada. Matt, o namorado de Sam, está a cerca
de três segundos de ser seu noivo, e eles têm um desses
relacionamentos perfeitos. Enquanto estamos todas felizes por
sua inevitável proposta, a primeira de nós a se casar será como
o primeiro dominó a cair. Vai atrapalhar o delicado equilíbrio
entre colegas de quarto e amigas que mantemos há anos.
Mais importante, por causa do mercado imobiliário de
Austin, sem nós cinco, não podemos pagar o aluguel da casa em
que moramos há dois anos desde a formatura. É uma
localização incrível na moderna área de South Congress. A casa
histórica em estilo de artesão foi atualizada e renovada, então
cada uma de nós tem seu próprio quarto, mesmo que seja
pequeno. Até que nossas circunstâncias mudem, ou a menos
que a dona, que é uma senhora mais velha, morra e seus filhos
aumentem o aluguel, é a casa perfeita.
— Eu sei que estou pedindo muito — diz Sam, recostando-
se na cadeira. — Eu não estou tentando forçar vocês a fazer isso.
Apenas continuem o que já estão fazendo, e se acontecer de você
se depararem com um desses clichês ou tropes de amor, deixem-
me escrever sobre isso. Seus nomes serão alterados, obviamente.
Não vou compartilhar coisas que deixem vocês
desconfortáveis.
— O que ganhamos? — Zoey pergunta.
Eu cutuco seu ombro.
— Além de ajudar nossa boa amiga, você quer dizer.
Zoey assente.
— Certo.
Sam se inclina sobre a mesa e abaixa a voz.
— Meu adiantamento foi bem alto. Tipo, seis dígitos.
Leva um minuto para processarmos isso. Além de Delilah,
que já tentou de tudo, desde passear com cães até ser modelo,
estamos todas indo muito bem. Mas nada com um
adiantamento de seis dígitos.
— Eu preciso que isso funcione — diz Sam. — Preciso
vender meu livro para recuperar o adiantamento e garantir
outro negócio. Então, tenho uma ideia para agradecer as
minhas incríveis colegas de quarto que me ajudaram a chegar
aqui. Se Matt propor...
— Quando Matt propor — interrompe Harper.
Sam sorri e cruza os dedos.
— Quando Matt me pedir em casamento, continuarei
contribuindo com o aluguel pelo primeiro ano após o nosso
casamento.
Estamos todas atordoadas em silêncio. Isso é um grande
presente. Chocante, especialmente vindo de Sam. Não que ela
seja exatamente egoísta, mas ela não é a primeira das minhas
amigas que eu pediria ajuda. Este é um mau negócio para ela,
mas é ótimo para nós. Eu, por exemplo, não estou prestes a dizer
não.
— Fechado — eu digo. — Precisamos agitar as mãos ou
assinar algo com sangue?
Zoey toca minha mão.
— Isso é um grande negócio. Talvez devêssemos ir com
calma e pensar sobre isso.
Sam balança a cabeça.
— Já pensei nisso. Eu não teria tido tanto sucesso sem o
apoio de vocês. Eu quero fazer isso.
— Sam quer fazer isso — eu digo.
Harper sorri para mim.
— Você tem certeza disso? Pode significar que você tem que
ir a mais de um encontro com um cara, Abs.
— Ha-ha.
Eu tento abafar a dor. Porque isso me incomoda. Eu
simplesmente não me interessei por nenhum dos caras com
quem sai. Ainda assim, o que eu chamo de minha maldição do
primeiro encontro (na verdade, uma maldição do primeiro e do
segundo encontro) parece minha culpa de alguma forma. Eu
sou como a garota que é mandada para casa na primeira noite
do Bachelor3, que nem sequer recebe um artigo de
recapitulação em um blog.
Debaixo da mesa, Zoey agarra minha mão. Ela sabe o
quanto isso me incomoda secretamente. E como, desde que
meu irmão mais velho começou a ter filhos, sonhei em ter
minha própria família. De alguma forma, as pessoas têm a ideia
de que porque eu sou sarcástica, uma nerd total por
computador, e pinto meu cabelo (atualmente é loiro com a
metade inferior de rosa), que eu não ouço meu relógio
biológico tiquetaqueando como uma bomba-relógio. Mesmo

3
The Bachelor é um reality show de encontros amorosos, produzido pela
rede de televisão norte-americana ABC desde 2002.
em uma cidade como Austin, que tem uma vibe muito mais
artística, as pessoas carregam uma ideia subconsciente de como
uma mãe deve se parecer ou agir. E essa ideia definitivamente
não sou eu.
Delilah franze o nariz de botão perfeito.
— Isso parece um negócio muito maior do que escrever e-
mails falsos para receber conselhos.
Zoey pega sua mão de volta e acena.
— Estou hesitante também. Deixando você compartilhar
nossas histórias pessoais? Não tenho certeza. Não que eu não
ame nossa casa ou sua oferta. É muito generoso.
Sam junta os dedos sobre a mesa, encontrando cada um de
nossos olhos.
— Senhoritas, vocês estão dentro ou estão fora? Eu preciso
de vocês. Eu realmente preciso. Isso é importante. É caso de
vida ou morte. Não posso estragar este livro. E todas vocês
sabem que eu não poderia ter feito nenhuma das coisas da Dra.
Love sem vocês.
— Oh, estamos bem cientes — diz Harper. — Duvido que
você vai receber uma história minha, mas vou concordar com
isso.
— Você já sabe que estou dentro — eu digo.
— Eu também. Supondo que eu possa encontrar um
homem — Delilah diz.
— Encontrar homens não é problema para você — digo a
ela. — Há dois deles olhando para você do bar agora.
Eu aponto, e Delilah ri quando dois caras de terno levantam
suas bebidas na direção dela. Suas bochechas ficam rosadas,
deixando-a ainda mais parecida com uma princesa da Disney.
A qualquer momento, um pássaro vai pousar em seu ombro e
começar a amarrar fitas em seu cabelo.
— Ok, tudo bem — diz Delilah.
Zoey é a única que ainda está em silêncio.
— Tudo bem — ela finalmente diz. — Mas só estou fazendo
isso porque gosto da nossa casa. E de vocês. Eu não vou
inventar nada, no entanto.
Sam acena com a mão.
— Sem histórias inventadas para o livro.
— Mas e se nenhum de nós puder ajudar? E se ficarmos
solteiras? — E amaldiçoadas, eu acho.
Sam sorri.
— Mesmo que eu não consiga nenhum material para o
livro, o acordo permanece. Mas tenho esperança em todas
vocês.
Pelo menos uma de nós tem.
CAPÍTULO DOIS

Abby

APÓS SAIRMOS, Zoey e eu caminhamos pela calçada, já que


nossos prédios são próximos um do outro. Zoey fica quieta e
continua alisando seu rabo de cavalo, que já está perfeito e
totalmente alinhado. É assim que eu sei que ela ainda está
desconfortável com a ideia clichê de amor de Sam.
— Vai ficar tudo bem — digo a ela. — Se encontrarmos um
cara e cairmos em um dessas tropes, ótimo. Você não precisa
correr atrás de um relacionamento. Quero dizer, Sam
praticamente prometeu que nossas vidas podem continuar
normalmente, e então ela vai continuar pagando aluguel depois
que ela se casar.
— Não é só isso — Zoey diz. — Eu odeio mudanças. Está
ficando real, sabe? A ideia de todas nós seguirmos em frente em
algum momento. Começa com uma pessoa ficando noiva.
Então todas as nossas amizades vão mudar. É o começo do fim.
— Uau — eu digo. — Você é totalmente triste e melancólica
sobre isso. Pare de se preocupar tanto.
Chegamos ao prédio dela e ela solta um longo suspiro.
— Desculpe. Vou melhorar isso.
— Talvez algo bom saia disso. Além do aluguel.
Zoey sorri.
— Talvez você acabe conhecendo alguém incrível!
— Duvidoso. Você vê tudo isso? — Eu aceno minhas mãos
sobre meu jeans skinny rasgado e camiseta gráfica da Hawkins
Middle School AV Club. — Pouquíssimas pessoas conseguem
lidar com isso.
Sua testa franze.
— O que é o Clube AV?
Eu sorrio, fazendo uma nota mental para forçar Zoey a
assistir Stranger Things.
— Não se preocupe com isso.
Zoey e eu somos como um casal estranho. Ela está de saia e
blazer, com sua camisa branca abotoada até o topo. Ela até usa
meia-calça, o que eu pessoalmente acho um crime no Texas.
— Ah, antes que eu esqueça — Zoey diz — eu dei seu
número para Zane.
— Zane?! Você está me arranjando com Zane?!
Embora Zane seja lindo com seu cabelo loiro escuro e olhos
azuis que eu poderia me afogar, ele é exatamente como Zoey.
Exceto que é vinte vezes mais intenso.
Estou chocada, embora não odeie a ideia. Eu posso ter um
pequeno crush por seu irmão, mas não há como ele sentir o
mesmo. Além disso, é totalmente inapropriado ter uma paixão
secreta pelo gêmeo da sua melhor amiga. É por isso que eu
nunca mencionei isso.
Paixão? Que paixão. Eu não tenho paixão alguma.
Zoey olha para mim como se eu tivesse perdido o controle,
então começa a rir tanto que ela começa a bufar.
— Não. Oh meu Deus, não. Eu não estou arranjando você
com Zane. Ele tem algum tipo de bug com seu aplicativo Eck0.
Você sabe, da sua startup. Eu recomendei você. — Ela ri
novamente. — Você e Zane saindo? Uau. Não.
Recuso-me a ficar ofendida, pois concordo plenamente.
Zane e eu seríamos um casal ainda mais estranho do que Zoey
e eu. Ainda assim, uma pequena parte de mim está ferida. Por
que Zane e eu não podíamos funcionar? Dizem que os opostos
se atraem, e basicamente somos de continentes diferentes.
Enfio os sentimentos de mágoa no buraco profundo e escuro
onde escondo minha paixão.
— Eu amo bugs4 — eu digo. — Dos tipos encontrados em
computadores. Não do tipo barata-voadora-tão-grande-
quanto-a-sua-cara.
— Ai credo. Uma coisa na qual podemos concordar. Ele
provavelmente vai te mandar uma mensagem hoje. Seja legal.
— Eu sempre sou legal — eu digo, ansiosa para pegar meu
telefone e verificar se ele já me enviou uma mensagem.
Ainda rindo, Zoey entra em seu prédio, e vou para o
trabalho que odeio mais do que baratas voadoras. Hoje, estou
removendo principalmente vírus de pessoas que abriram

4
O termo “Bug” é um jargão usado no ambiente de desenvolvimento para
identificar uma falha no sistema, mas pode ser relacionado a insetos também.
anexos e fazendo outros trabalhos mundanos que me fazem
querer enfiar um pendrive no meu olho. Quando meu telefone
finalmente toca com uma mensagem de Zane, eu praticamente
caio da minha cadeira.

Número desconhecido: Abby, é Zane, irmão de


Zoey. Nos encontramos algumas vezes. Ela
mencionou que você é alguém que poderíamos
contratar como freelancer para ajudar a resolver
alguns problemas técnicos que estamos
encontrando em nosso aplicativo. Por favor,
informe se você está livre e se seria capaz de
ajudar. Obrigado, Zane.

Eu já estou rindo. Eu nunca li um texto que soasse como


uma carta formal antes. Quem escreve assim? Zane realmente
faz Zoey parecer uma mulher selvagem completamente
descomposta.
Isso vai ser muito divertido. Porque não tem como eu não
mexer com ele.

Abby: Ei, Z. E aí. Eu sou tão boa com tecnologia


quanto o Kanye é bom com tweets ruins. Fico feliz
em ajudar por um valor ou pelo seu filho
primogênito.

Enquanto espero por uma resposta, salvo o número dele no


meu telefone. Ele vibra na minha palma um momento depois.

Zane: Devo entender que você está disponível?


Obrigado, Zane.
Abby: Estou disponível. Em todos os sentidos da
palavra.

Oh meu Deus. Eu bato minha mão na minha boca assim que


eu pressiono o enviar. Por que eu digitei isso? Às vezes meus
dedos se movem muito mais rápido que o meu cérebro. Eu
queria ser engraçada, mas parece que estou flertando.

Zane: Maravilhoso. Minha assistente enviará um e-


mail com os detalhes. É um pouco urgente, então
gostaríamos de começar o mais rápido possível.
Esta noite, se você puder. Entendo que você
pode precisar trabalhar à noite e nos fins de
semana, devido ao seu emprego atual. Estamos
no escritório até tarde na maioria das noites
também. Obrigado, Zane.

Não consigo decidir se Zane perdeu o flerte no meu texto


anterior, ou optou por ignorá-lo e focar nos negócios. Eu
sorrio, incapaz de me ajudar enquanto começo a digitar
novamente. Zane é como um sofá em uma exposição de
móveis, perfeitamente imaculado com almofadas arrumadas
em ângulos exatamente retos. Eu só quero pular para cima e
para baixo, ou talvez retirar os meus sapatos e tirar uma soneca.

Abby: Obrigada! Mal posso esperar para ver


você.
Termino com um emoji de carinha de beijo. Isso me faz rir
tanto que Micah, a outra pobre e infeliz alma de TI que
trabalha comigo, gira em seu assento.
— O que é tão engraçado?
Micah é basicamente a única pessoa que eu suporto no meu
escritório. Provavelmente porque somos igualmente
superqualificados e igualmente miseráveis. Nós também
estamos secretamente tentando encontrar outros empregos e
trabalhos paralelos, o que eu tenho certeza que é desaprovado.
— Oh, nada. Apenas brincando com o irmão da minha
amiga.
— Qual amiga? — ele pergunta, um pouco ansioso demais.
Eu cometi o erro de convidar meus amigos para a festa de Natal
do meu escritório uma vez. Micah tem se referido a elas como
o Esquadrão das Gostosas desde então.
Eu dou uma olhada nele.
— Lembrete: nunca vai acontecer — digo a ele. Suas orelhas
ficam rosadas. — Não que você não seja um cara legal. Não é
isso. Estou falando com o irmão de Zoey, o Zane. Gêmeos, daí
os nomes Z.
Eu entendo isso totalmente, porque meu irmão, Jason,
casou-se com a Jessa, depois teve dois meninos, Jace e Joey. Jessa
vai ter o seu terceiro a qualquer momento. Estou esperando
uma ligação da minha mãe para que eu possa dirigir para casa.
Mal posso esperar para conhecer minha nova sobrinha, e não
apenas porque o nome dela é Addie. Não sei por que eles se
afastaram de sua nomenclatura preferida, mas gosto que seja
parecido com meu nome. Tenho grandes planos para mimá-la.
— Então, por que você está brincando com ele?
— Eu estou fazendo alguns trabalhos para sua startup, a
Eck0.
Micah se aproxima, tentando olhar para a tela do meu
computador.
— Eck0? Acho que já ouvi falar deles. Então, Zane
contratou você para ajudá-los com um problema.
— Sim. E ele tem um grande pau na bunda — eu digo.
Como que para provar meu ponto, um e-mail da assistente
de Zane já está esperando na minha caixa de entrada com um
acordo de não divulgação para assinar e alguns outros
formulários. Muitas vezes temos que preencher algo, mas a
quantidade de papelada é um exagero.
Micah bufa.
— Divirta-se trabalhando com ele. Se ele te demitir, mande-
o na minha direção.
— Despedida? Eu? Okay, certo.
— Eu sei, eu sei. Todos nós sabemos que você é a melhor.
— Micah revira os olhos e volta ao trabalho. — Só não se
esqueça de mim se souber de algum emprego em potencial.
— Sempre me lembro das pequenas pessoas que tornam isso
possível — digo a ele.
Seu telefone toca, e enquanto Micah atende, eu adiciono
minha assinatura eletrônica a algumas dúzias de formulários.
Quando eu os mandei de volta, eu mando uma mensagem para
Zane.

Abby: Assinado! Terminei de assinar a minha


papelada. Não tenho certeza se li todas as letras
miúdas, no entanto. Espero não ter desistido do
CRV5 do meu carro.

Zane: Você nunca deve assinar contratos que


não leu. Aconselhamos que leia com atenção,
assine e devolva.

Abby: Brincadeira. Claro que eu li.

Eu não li. Em algum lugar no segundo parágrafo, eu me


distraí.

Zane: Só por segurança, mandei minha assistente


enviar novas cópias.

— Argh!
Micah me cala, apontando para o telefone que ele ainda tem
no ouvido. Quando verifico minha caixa de entrada
novamente, há outro e-mail com os mesmos formulários. Ok,
então o tiro saiu pela culatra.
Não aguento fazer isso de novo, então fecho meu e-mail e
começo a trabalhar no meu trabalho real. Se Zane quer ter
certeza de que eu os li, eu vou dar a ele bastante tempo para

5
CRV é o Certificado de Registro de Veículos, documento que comprova a
propriedade do bem.
achar que eu li. Eu coloco meu telefone no silencioso e enfio na
minha bolsa.
Quase uma hora depois, quando finalmente paro para
verificar, há nada menos que cinco mensagens de Zane,
perguntando sobre a papelada. Cada uma parece mais irritada
que a anterior. Uma mensagem aparece enquanto estou lendo.

Zane: Abby, você teve a chance de ler os


formulários? Minha assistente disse que não
obteve retorno. Atenciosamente, Zane.

Passamos de “Obrigado, Zane” para “Atenciosamente,


Zane”. Meu palpite é que seu nível de irritação aumentou.
Posso imaginá-lo andando pelo escritório, passando a mão pelo
cabelo do jeito que Zoey faz quando está brava. Eu gosto da
imagem mental dele confuso, com o cabelo perfeitamente
despenteado. Eu mordo meu lábio, tentando afastar esse
pensamento.
Ele é irmão de Zoey. Fora dos limites. Não importa o quão
gostoso ele possa parecer com o cabelo despenteado e uma
carranca. Por que os caras carrancudos são tão gostosos? Mas
eu sei porquê: Sr. Darcy. Jane Austen criou gerações de
mulheres que querem homens rabugentos e mal-humorados
que escondem um pedaço sensível e romântico.
Em vez de procurar gifs do Sr. Darcy (que é o que o meu
cérebro quer fazer), eu mando para ele um meme do gatinho
agarrado a um galho com as palavras “aguente firme” escritas.
Sua resposta vem apenas alguns segundos depois.

Zane: Você sabe quando você poderá lê-los?


Agradecido, Zane.

Abby: Meu advogado deve terminar de olhar


dentro de uma hora.

Nós dois devemos ter o mesmo tipo de telefone porque eu


posso ver os pontos enquanto ele digita, então eles
desaparecem. Enquanto eu os vejo reaparecer e desaparecer, eu
fecho os formulários, adicionando minha assinatura e envio de
volta para a sua assistente.

Zane: Abby, isso é um assunto sério. Se você não


conseguir preencher formulários simples,
recomende outra pessoa. Só escolhi você como
um favor para Zoey.

Ai.
Como de costume, eu fui um pouco longe demais. Eu gosto
de mexer com ele. Acho que ele não sente o mesmo.
Aparentemente, eu sou apenas irritante. Estou mais magoada
do que deveria.
— Você está bem? — Micah de repente está de pé sobre
minha mesa, franzindo a testa para mim. — Você parece
chateada.
— Tudo bem — eu digo.
— Se isso é sobre o trabalho, estou ficaria feliz fazer no seu
lugar
— Eu cuido disso — eu digo. — Obrigada.
Micah se afasta, provavelmente em busca do café que é a
única parte decente deste escritório. E nem é um bom café.
Eu digito um texto simples e chato para Zane com dedos
rígidos. Então eu apago e coloco uma mensagem em algum
lugar entre chato e exagerado.

Abby: Sua assistente deveria ter recebido uma


devolutiva alguns minutos atrás. Assinado, selado
e entregue.

Eu considerei digitar “Eu sou sua” no final para completar


as linhas da música6. Mas eu não posso me forçar a fazê-lo. E eu
odeio estar me censurando por Zane. Se fosse para qualquer
outra pessoa, eu teria escrito.
Estou prestes a guardar meu telefone quando ele vibra na
minha mão.

Zane: Acho que isso significa que você é minha?


;) Estamos trabalhando durante o jantar aqui.
Quer vir quando terminar o turno no seu
escritório? Vamos pedir no The Wall. Envie-me o
seu pedido. Grato, Zane.

Eu não posso evitar o sorriso enorme que toma conta do


meu rosto. Zane respondeu à minha mensagem com uma

6
"Signed, Sealed, Delivered (I'm Yours)” é uma canção soul do músico norte-
americano Stevie Wonder, lançada em junho de 1970 como single da gravadora
Tamla da Motown.
piada! Quanto à ideia de ser dele... tenho que abanar o rosto
com uma das pastas da minha mesa.
Eu quase envio uma mensagem para Zoey para perguntar se
ela sabia que seu irmão realmente tinha senso de humor por
baixo de sua concha impenetrável. E se ela disse a ele o nome do
meu restaurante asiático favorito. Em última análise, é estranho
falar com ela sobre Zane.
Em vez disso, eu mando para Zane um gif do Tom Cruise
em Top Gun dando um sinal de positivo, junto com um pedido
de frango com laranja, extra picante e arroz frito.
Durante o resto do meu dia, eu me pego cantarolando
Temptations baixinho. Cinco horas parece não chegar rápido
o suficiente.
CAPÍTULO TRÊS

Zane

— ABBY É BOA NO SEU TRABALHO? — Eu exijo quando minha


irmã finalmente atende o telefone.
— A melhor — Zoey diz sem pausa. — Por que? Eu já te
disse isso quando a recomendei.
— Eu sei, é só que ela é sempre tão...
Eu luto e não encontro a palavra certa para o quão distraído
eu estive com Abby esta tarde. Não quero admitir para minha
irmã que a distração é dupla. Abby me deixou nervoso com seu
profissionalismo e qualificações e também com os seus textos
bobos e depois me ignorando por algumas horas.
Mas além disso? Eu sempre me distraí com Abby. A melhor
amiga da minha irmã é ela mesma sem constrangimento algum
– peculiar e sincera. Ela também é linda, mas não ostenta isso
com maquiagem pesada ou roupas justas. Há uma sensação de
que ela encontra ou cria alegria onde quer que vá, como se
estivesse extraindo o máximo que pode de sua vida. É uma
qualidade que sempre me lembrou minha mãe.
As mensagens de Abby mantiveram minha mente longe do
trabalho a tarde toda. E foi o ponto alto do ano. Não é exagero,
o que definitivamente é um sinal de que estou trabalhando
demais.
Zoey ri.
— Ela já está brincando com você? Abby é incrível em seu
trabalho. Ela também gosta de apertar botões. Eu a amo. Mas
ela pode ser... irritante.
Ela definitivamente é isso. Mas para ser honesto, Abby
também é um monte de coisas que eu nunca admitiria para a
minha irmã gêmea.
Intrigante. Cativante. Surpreendente. Estranhamente
viciante.
Durante toda a tarde, sentei-me em reuniões sobre os
investidores de capitais de risco com meu telefone na mão,
verificando as mensagens de texto. Eu mal registrei o que Jack
estava dizendo sobre os potenciais novos investidores.
Felizmente, essa é a área dele. Eu apareço para os jantares, mas
é ele que tem todo o charme para conquistá-los.
— O que ela está fazendo? — Zoey pergunta. — Eu vou te
ajudar a decodificar Abby se você precisar.
— Estou esperando há algumas horas que ela assine o
acordo de não divulgação e outros documentos que enviei.
— Isso não soa como Abby. Ela é incrivelmente séria
quando se trata de trabalho. Tem certeza de que ela recebeu os
formulários? Talvez você devesse verificar novamente. Quando
minha empresa a contratou, ela nos devolveu tudo em vinte
minutos.
Eu corro a mão pelo meu cabelo, me sentindo
estranhamente culpado pela minha resposta a Abby mais cedo.
— Zane? — Zoey diz. — O que você fez?
Talvez com seu duplo sentido de gêmeo, Zoey parece
suspeitar que fiz algo estúpido. Que eu fiz.
Eu rolo uma caneta para frente e para trás em minha mesa.
— Na verdade, ela enviou de volta os formulários. Bem
rápido. Rápido demais — Eu paro. — Então, nós os enviamos
novamente.
— Zane! Pare de ser um idiota. Isso é completamente culpa
sua. Ela provavelmente está ocupada trabalhando agora. Deixe-
me adivinhar. Você a incomodou a tarde toda?
— Não a tarde toda.
— Eu juro para você, Zane. Não me faça me arrepender de
indica-lá para você. Ela é a melhor. E ela é minha melhor amiga.
Não quero que você estrague as coisas.
— Eu não tenho intenção de…
— E outra coisa. — Zoey realmente não consegue parar de
falar agora. Adoro quando ela fica assim, mesmo que seja
dirigido a mim, porque ela fica igual a mamãe costumava ficar
quando se entusiasmava por alguma coisa. Isso me faz sentir
como se um pedaço dela ainda estivesse por aí, vivendo através
de Zoey.
— Certifique-se de se manter profissional, Zane.
— Em vez de… — Eu só quero fazê-la dizer isso. Minha vida
amorosa é um ponto constante de discórdia entre Zoey e eu.
Podemos ser parecidos em muitos aspectos, mas não em
nossas vidas amorosas. Sempre a rainha do gelo, Zoey não
namora. Ponto final. Pelo menos ela não namora desde que nos
formamos na faculdade há dois anos. Como eu, ela é uma
profissional de sucesso. Ao contrário de mim, ela não vê o
namoro casual como uma maneira divertida de esquecer o
trabalho. Eu também suspeito que ela está apaixonada por seu
chefe.
— Ao invés de se aproximar de Abby, depois manda-lá
embora. Seu Modus Operandi habitual.
— Você faz parecer que eu sou uma espécie de Casanova7
que só parte corações. Não vou dormir por aí ou deixar um
rastro de corações partidos para trás.
— Certoooooo. Você provavelmente já saiu com todas as
garotas da cidade pelo menos uma vez.
— Talvez duas vezes — eu inexpressivo. — Mas eu parei
com isso.
— Uh-hum. De qualquer forma — Zoey diz, e eu posso
imaginá-la acenando com a mão desdenhosa, assim como
mamãe costumava fazer. Juro que sinto meu coração apertar
um pouco. Eu não sei por que mamãe está aparecendo tanto
em minha mente hoje. Mas a perda é assim. Mesmo depois de
todos esses anos, às vezes a dor é como um tapa na cara. — Essa
é uma discussão desnecessária. Abby não gostaria de namorar
com você de qualquer maneira.

7
Referência ao escritor italiano Giacomo Casanova, que era considerado um
sedutor por conta de sua agitada vida amorosa.
— Ai.
Realmente dói, embora eu tenha certeza que Zoey não
acreditaria em mim. Eu não sei por que ela tem uma opinião
tão ruim sobre mim. Claro, eu vou em muitos encontros. Mas
o que eu disse era verdade: não estou dormindo com ninguém.
Nem mesmo perto disso.
Fazer parte de uma startup significa que não tenho tempo
para um relacionamento. Nos últimos dois anos, mal tive
tempo para comer. Namorar casualmente é legitimamente uma
maneira de desfrutar da companhia de outra pessoa, de
desabafar. Sou um perfeito cavalheiro, abrindo portas,
pagando a conta, sendo aberto com minhas expectativas.
Mantém as coisas leves.
E sim, talvez também seja uma maneira de manter meu
coração guardado. Depois de perder minha mãe, não tenho
certeza se consigo pensar em me aproximar de alguém
novamente. Por isso, não me aproximo.
— Desculpe, irmãozinho. Nem toda mulher se apaixona
por seu charme especial.
— Ainda não conheci uma que não se apaixonou. — Eu
sorrio, sabendo que ela vai ouvi-lo na minha voz.
— Você é nojento. Eu tenho que ir. Apenas lembre-se do
que eu disse… seja bom para Abby. Mesmo que ela não esteja
afim de você, tenho certeza de que pode deixá-la infeliz de
outras maneiras. Não faça isso.
— Qualquer coisa para você, Zoey.
Ela faz outro som de nojo.
— Ah, e tomei a liberdade de enviar o cardápio do The Wall.
É o favorito dela. O caminho para o coração de Abby é através
da comida.
The Wall é meu lugar favorito de fusão asiática. Abby tem
bom gosto.
— Eu pensei que você não queria que eu chegasse perto do
coração dela.
— Eu não quero. Uma Abby bem alimentada é uma Abby
que trabalha melhor. Confie em mim. Dê café e comida e ela
fará com que todos os seus problemas tecnológicos
desapareçam. Oh! E chocolate. Ou Twizzlers. Se você puder
instalar um gotejamento constante de cafeína e açúcar, ela
estará pronta. Eu tenho que ir, mano.
— Você só falou comigo por dois minutos! — Eu grito, mas
ela já desligou.
Enquanto isso, a única coisa que passa pela minha cabeça
agora é o que ela disse sobre Abby não estar interessada em
mim. Isso me incomoda. Não que eu ache que sou tudo isso,
não importa o que eu disse para Zoey. Eu só não gosto da ideia
de que minha irmã pode ser a melhor amiga de Abby, mas não
acha que eu seja um cara bom o suficiente para merecê-la.
Veremos.
CARA DRA. LOVE
De: [email protected]
Para: [email protected]

Cara Dra. Love,


Estou apaixonada por um cara no meu local de trabalho
desde o ano passado, e estamos nos vendo secretamente há um
mês. Nossa política diz que namorar é permitido, mas acho que
ele está nervoso em começar qualquer coisa porque pode ser
promovido.
Estou cansada de ver as vagabundas do escritório flertando
com ele e estou pronta para reivindicá-lo! Não tenho certeza de
quanto tempo mais aguento esperar.
Atenciosamente,
A Tristeza Ama Companhia

De: [email protected]
Para: [email protected]

Querida Tristeza,
Papo reto: seu cara não está nervoso. Ele não está
interessado.
E, porque você está me escrevendo, sei que você é uma
mulher inteligente que merece coisa melhor. Muito melhor.
Ele está se escondendo atrás da desculpa do local de
trabalho, e se você não acredita em mim, pressione-o sobre o
assunto. Normalmente não sou de ultimatos, mas em casos
como este, às vezes você precisa de uma postura rígida para
descobrir onde ambos estão.
Eu sinto muito. Você merece o melhor. Solidariedade, irmã.
Triste por você,
Dra. Love

PS: Apenas para futura referência, é sua reivindicação, a


menos que estejamos falando de costelinha.
PPS: Como mulheres, vamos parar de nos chamar de
vagabundas. Isso só autoriza os caras a nos chamarem de vadias
e vagabundas. Responda com o filme do qual roubei essa
citação e eu lhe darei um vale-presente para o café de sua
escolha.

De: [email protected]
Para: [email protected]

Querida, Dra. Love,


Meninas Malvadas. Duh.
Além disso, você estava tão certa. Ele aparentemente estava
vendo várias outras mulheres... do escritório. Namorar no local
de trabalho é ok. Namorar duas ou três ao mesmo tempo não
é.
Adivinha quem ganhou a promoção?
Obrigada!!!
Atenciosamente, Solteira e Promovida
CAPÍTULO QUATRO

Abby

EU SEI que não deveria continuar tentando irritar Zane. Mas eu


simplesmente não consigo evitar. Ainda estou com a camiseta
de Stranger Things, mas troco minha calça jeans por uma calça
de tweed masculina que fica larga cintura e prendo o cabelo em
tranças. O toque final é um pirulito.
O que imediatamente atrai o olhar crítico de Zane quando
ele me deixa entrar no escritório, que é um espaço muito básico
e chato em um shopping center. Eu faço o meu melhor para
manter um rosto vazio enquanto seus olhos se concentram em
meus lábios. Eu estava tentando incomodar, mas vê-lo olhar
para minha boca acaba me incomodando de uma maneira
totalmente diferente.
Eu tiro o pirulito da minha boca e o jogo na lata de lixo mais
próxima.
— Oi, Zane! Há quanto tempo. Estou pronto para mexer
pessoalmente com o seu sistema.
Eu movo minhas sobrancelhas para ele e sinto que ganhei
um prêmio quando suas bochechas coram. Faça Zane Corar
pode ser um ótimo novo jogo.
— Venha por aqui — diz ele concisamente. Eu o sigo,
notando a forma como a linha apertada de seus ombros
combina com a de Zoey quando ela está estressada. Só que os
ombros de Zane são muito mais largos do que eu me lembro,
mesmo em seu paletó.
Os homens usam ombreiras? Faço uma nota mental para
encontrar uma desculpa para dar revistar ele mais tarde e
verificar. Para fins de pesquisa.
Apesar da falta de caráter, este lugar imediatamente me atrai
com sua energia frenética. Eu prospero em ambientes de
trabalho como este, o que me faz sentir um aperto no
estômago. Fazia muito tempo que não sentia isso no meu
trabalho atual.
Percebo que Zane estava falando comigo enquanto eu
estava ocupada verificando o lugar. Eu dou a ele um olhar de
desculpas.
— Desculpe. Fiquei distraída. Este lugar tem energia! Eu
amo isso.
Seus olhos avaliadores varrem a sala, mas mais como se
estivessem encontrando falhas do que apreciando.
— Obrigado. Nós trabalhamos duro. Será melhor quando
você consertar o que está errado. — Ele começa a andar de
novo, me levando em direção a uma série de cubículos e mesas
nos fundos. Juro que o ouço murmurar: — Se você puder
consertar o que está errado.
Oh, ele apenas me desafiou com isso. Esqueça o Faça Zane
Corar. O nome do jogo é Prove Que Zane Está Errado. Agora
eu gostaria de ter usado minha bandana com o chifre de
unicórnio, só para que eu pudesse me gabar ainda mais quando
eu destruísse sua opinião ruim sobre mim.
— É aqui que você pode se instalar — diz ele, estendendo
um braço para uma mesa utilitária em um canto onde está
escrito Ikea. Não literalmente, é claro, mas tem aquele visual
espartano sueco. Mas eu não me importo, porque ele tem
vários monitores configurados exatamente como eu
especifiquei em um e-mail para a sua assistente. Provavelmente
vou acabar fazendo muito do trabalho no meu laptop, mas
queria dar o primeiro mergulho profundo em seu sistema
diretamente dos seus servidores.
— Venham para a mamãe — eu digo, arrastando a mão
sobre os monitores gigantes. — Olá, queridos. Prontos para
irem para a batalha?
Zane tosse, soando como se estivesse encobrindo uma
risada. A ideia de que eu poderia fazê-lo rir me emociona mais
do que fazê-lo corar. Não tanto quanto ganhar seu respeito, na
verdade. Fazer os três seria como a tríplice perfeita.
— Todas as informações de login estão dentro da pasta,
junto com um exemplo do problema que estamos enfrentando.
Abro a pasta e começo a ler, ansiosa para começar.
Zane continua parado ali até eu olhar para ele.
— Algo mais?
— Eu também tenho comida, como prometido. Eu vou
pegar.
A cadeira de escritório range e não tem apoio para as costas.
Isso vai ter que mudar. Se eu precisar de mais de uma noite de
trabalho, no caso. Minha esperança é acabar com o problema
deles esta noite e fazer o queixo de Zane cair. Metade do tempo
quando as pessoas me contratam, elas pensam que é algo
enorme que me leva cinco minutos para descobrir. Desde o
início, isso não parece grande coisa. Eu ligo o computador e
começo a trabalhar.
Eu mal olho para cima quando Zane volta com meu pedido.
— Você pode simplesmente colocar isso na mesa — digo a
ele.
— Você precisa de mais alguma coisa? — ele pergunta.
Eu aceno para ele, já com o código até a cintura.
— Não. Obrigada pela comida. Vou comer quando subir
para respirar.
— Quer que eu guarde na geladeira?
— Não, está tudo bem. — Ele hesita, e eu sou novamente
forçada a olhar para ele. — Qual é o problema?
— Eu só não quero que você tenha intoxicação alimentar.
Comida deixada de fora por mais de meia hora...
— Zane. Eu cuido disso. Agora, xô.
— Meu escritório é logo ali se você precisar de mim.
Finalmente, Zane me deixa em paz e eu coloco meus fones
de ouvido, aumentando o volume de Vivaldi. Às vezes gosto de
techno ou rock, mas quando estou começando um projeto, o
Vivaldi tem uma grande energia que me motiva.
Minutos ou horas depois, eu me afasto da mesa, meu
pescoço e minha mandíbula apertados. Eu me levanto, me
espreguiçando. Definitivamente foram horas. O escritório
ainda tem um pequeno zumbido, mas ficou mais vazio.
Este bug é muito maior em teoria do que o que Zane
descreveu. Ou ele estava muito otimista, ou ele simplesmente
não sabe nada sobre o lado do desenvolvimento das coisas. Eu
estou supondo que é a última opção. Para alguém de fora, o
problema com seu código pareceria uma falha. Mas no final,
quase parece... intencional. A programadora em mim está
animada. Adoro um bom desafio. E se alguém estiver
hackeando ou sabotando o aplicativo, nada me faria mais feliz
do que pegar o hacker.
Pegando meus recipientes para viagem e um par de
pauzinhos, eu saio em busca do escritório de Zane.
— Você se perdeu? — Um cara com uma bagunça de cabelo
loiro e uma camisa desabotoada me intercepta, sorrindo
enquanto olha para o meu peito. Estou prestes a dizer algo que
provavelmente vou me arrepender mais tarde, quando ele diz:
— Eu amo essa série.
Ah, bom. Não um esquisitão. Apenas mais um fã de
Stranger Things.
— Eu também. É incrível.
— Você provavelmente vai pensar que eu sou um idiota
total, mas eu tenho o conjunto LEGO do Mundo Invertido.
— Sério? Eu queria, mas eles pararam de vender.
Ele e eu sorrimos um para o outro por um minuto até me
lembrar para onde estou indo. Para longe desse cara adorável,
que parece ser meu tipo, mas não mexe nada comigo, e em
direção ao homem que definitivamente não é meu tipo e ainda
tem meu coração pulando como meus sobrinhos depois que eu
dei Pop Rocks a eles.
— Você pode me apontar na direção do escritório de Zane?
Ele imediatamente parece nervoso.
— Zane? Ele não gosta de ser incomodado. — Abaixando a
voz, ele diz: — Além disso, acho que a escolhida da semana
acabou de chegar.
Nojento. Zoey sempre reclamou dos hábitos de namoro de
Zane, mas eu nunca testemunhei isso.
Não tenho motivos para me incomodar ou sentir a estranha
pontada de ciúme que está patinando sobre minha pele. Zane é
o irmão da minha melhor amiga e meu chefe por enquanto. É
isso.
— Está tudo bem. Ele está me esperando.
— Oh! Você é a gênia da tecnologia. — Ele parece de
repente um pouco menos entusiasmado.
Eu faço uma pequena reverência e quase derrubo meu
frango ao molho laranja.
— Eu mesma. Eu sou Abby.
— Josh. Estou na equipe de programação se precisar de
alguma coisa. Fico feliz em ajudar se você tiver alguma
dificuldade. Eu ajudei a projetar o que você está fuçando.
E aí está. Sutil, mas é um exemplo clássico do delicado ego
masculino após ser ameaçado por uma mulher inteligente. Se
eu lhe der mais cinco minutos, ele vai estar reclamando de algo
que aprendi sozinha no ensino médio.
— Então... o escritório de Zane?
— Certo. — Josh me leva para a parte de trás do grande
espaço aberto para uma porta do escritório que está aberta. Ele
para a uns bons três metros de distância e aponta. — Boa sorte.
Ligue se precisar de ajuda.
Ele sorri novamente, voltando à personalidade de cara legal
com que começou.
— Se você ouvir gritos, será Zane, não eu. — Com uma
piscadela, eu me afasto, parando do lado de fora da porta aberta
quando ouço vozes.
— Zane, por quê? As coisas estavam indo tão bem! — O
gemido na voz dessa garota é como pregos em um quadro-
negro. Este é o tipo de mulher que Zane namora? Eca triplo.
Essa coisa que não é ciúme cresce dentro de mim, como um
balão com muito hélio.
A sensação nojenta no meu estômago se intensifica quando
vejo a mulher dentro do escritório. Ela é um tipo de modelo,
esbelta e linda, enfiada em um vestido que mostra sua cintura
fina e não tão pequenos, hum, outros ativos.
Essencialmente, ela é a antítese de mim. Assim como os
tipos de garotas que passaram o ensino fundamental e médio
me aterrorizando. Me chamando de garota nerd (não é
mentira) ou pior, fingindo ser minha amiga para que pudessem
fazer alguma brincadeira estúpida e me humilhar.
Sinto meu pescoço ficar quente.
Não. Você não é mais aquela garota. Você é dona de si e é
inacreditavelmente incrível. Já passamos disso, Abs.
Minha conversa estimulante funciona totalmente. Talvez
seja porque na minha cabeça, ouço a voz do Agente Gibbs do
NCIS. Ele é muito convincente.
Entendi, Gibbs. Eu sou incrível.
— E a viagem de fim de semana? — ela choraminga. — Eu
estava ansiosa por um tempo sozinha com você. Muito tempo
sozinha.
Eca. Eu não quero imaginar Zane tendo um tempo sozinho.
Não com esse tipo de mulher de qualquer maneira. Eu me
importaria de ficar sozinha em um quarto com ele? Não.
Além do fato óbvio de que eu não sou o tipo dele. E ele não
é seu, Gibbs me lembra.
Certo.
— Isso é uma viagem de trabalho, de qualquer maneira —
diz ele. — Eu sinto muito.
Sem ser capaz de ver Zane da minha posição atual, posso
apenas focar no estrondo profundo de sua voz.
O timbre profundo de sua voz vai direto para minha barriga,
lançando dezenas de asas batendo. Eu tento imaginá-los como
morcegos, não como borboletas, mas por alguma razão, isso
força meu cérebro a imaginar Zane como Batman. Com aquele
maxilar quadrado e uma coisa séria e melancólica que ele tem,
ele daria um delicioso Bruce Wayne.
Não ajuda.
— Sinto muito — diz Zane. — As coisas estão loucas com o
lançamento. Não é um bom momento.
Uma pausa.
— Talvez depois do seu lançamento? Eu posso esperar. —
A esperança em sua voz é quase pior do que o lamento. Posso
sentir o cheiro do desespero e decido fazer um favor a todos
nós.
Eu respiro e entro direto em seu escritório.
— Zane, eu terminei de olhar ao redor. Não é bom.
Seu rosto foca em mim. A mulher na cadeira em frente a sua
mesa me olha da cabeça aos pés, finalmente voltando-se para
Zane como se ela tivesse me dispensado como se eu não fosse
uma ameaça.
Oh querida. Se ao menos você soubesse.
Eu não tiro meus olhos de Zane. E há o olhar de choque que
eu esperava. Só que agora não é tão satisfatório porque posso
ver um pânico mal escondido.
— O que? — ele pergunta.
— Bugs. Você tem bugs. Uma infestação.
A mulher salta para seus pés.
— Com bugs você quer dizer insetos? O que…
Eu me viro para encará-la.
— Você passou muito tempo perto dele? Eu só pergunto
porque esses tipos de bugs tendem a se multiplicar. Não é
seguro até que eu possa fazer uma esfoliação completa e tirá-los.
Mas é um grande trabalho.
Zane salta para ficar em pé.
— Abby! O que você... eu não...
— Está tudo bem. Eu posso lidar com isso. Você só precisa
saber com o que está lidando.
A mulher lança a Zane um olhar horrorizado e praticamente
sai correndo porta afora com sua bolsa. Enquanto ela passa por
mim, noto que há um cachorrinho lá dentro. Pobre carinha.
Sento-me em sua cadeira vazia e coloco meus pés em cima
da mesa de Zane, cavando minha comida. Não percebi como
estou com fome.
Zane cai em seu assento, passando a mão pelo cabelo, me
lembrando de Zoey. Eu amo que eles têm todos os mesmos
trejeitos. Me dá um guia de como ele funciona.
— De nada — eu digo.
— O que?
Aponto meus pauzinhos para a porta.
— Por se livrar de seu primeiro problema com pragas. Esse
tipo é particularmente difícil de erradicar. Você só precisa
cortar e correr, ou eles vão se cravar bem fundo.
Esse rubor, que eu não posso deixar de achar adorável no
rosto esculpido de Zane, aparece mais uma vez. Isso me mostra
seu lado humano. Não sei dizer se ele está furioso comigo,
impressionado ou outra coisa.
Batidas lentas da porta chamam minha atenção. Eu inclino
minha cabeça para trás, olhando para o homem de cabeça para
baixo.
Mesmo de um ângulo engraçado, o homem é lindo. Alto,
que é algo que eu amo sendo uma pessoa pequena. Jeans
escuros que pendem dos quadris estreitos, destacando o peito
largo enfiado em uma polo azul.
— Foi uma performance e tanto — diz ele, os olhos fixos em
mim. Eles são de um marrom profundo, como uma dose
perfeita de blond espresso roast8. Mas eu prefiro o azul
profundo de Zane.
O sangue está subindo à minha cabeça, então me sento
direito. Zane me encara, seu olhar fazendo pingue-pongue
entre mim e o homem, que entrou no escritório. Ele se encosta
na parede, parecendo que deveria estar em um pôster de filme
ou algo assim. Esse sorriso perverso tem um quê de herói bad
boy escrito por toda parte. Um pouco arrogante demais para o
meu gosto.
— Você definitivamente trocou por coisa melhor — ele diz
para Zane.

8
É um café da América Latina com um sabor suave e aveludado e notas
sutilmente doces e vibrantes com um tom de caramelo profundo.
Meu cérebro está tentando processar suas palavras, mas
continua retornando uma mensagem de erro.
— Huh? Quem está trocando o que agora? — Eu pergunto.
O homem ri, mas o som não tem o mesmo efeito em mim
que a voz profunda de Zane tem. Na verdade, quanto mais
tempo esse cara novo fica aqui, mais ele destaca o quanto eu
prefiro o homem do outro lado da mesa. Aquele que é todo
errado para mim. E quem, segundo sua irmã, nunca se
interessaria.
— Eu nunca pensei que Zane namoraria alguém tão
inteligente e atrevida. Eu vi você entrar e ela sair correndo e
somei dois mais dois.
Tantas palavras.
Tantas palavras lisonjeiras.
Eu só queria que eles estivessem saindo da boca de Zane.
— Você entendeu mal — Zane diz, assim que eu deixo
escapar — Sua matemática está errada.
— O que? — o cara pergunta.
Agora os dois homens estão olhando para mim e, santa
mamãe, é difícil formular frases completas.
Eu limpo minha garganta e sento, tirando meus pés da mesa
de Zane.
— Sua matemática. Você disse que somou dois mais dois,
mas obteve um cinco. Ou talvez algo como cinco mil. Zane e
eu? Não somos um casal. — Eu rio, pensando novamente na
mulher insípida, mas linda, que acabei de espantar. Eu não
posso nem competir com isso. — Definitivamente não somos
um casal.
Zane parece ofendido. Provavelmente porque estou
insultando sua escolha de mulheres.
— Abby é nossa especialista em tecnologia — ele
praticamente rosna. — Nós a contratamos para consertar a
falha.
— Oh. — O outro cara aponta entre nós. — Então, vocês
dois não estão... juntos?
Espero que Zane diga algo sobre o quão ridícula é a ideia.
Ou rir como estou fazendo agora, embora seja mais uma
risadinha. Porque mesmo que a imagem mental de Zane como
Batman pareça presa no meu cérebro, não há como ele me ver
como sua Vicky Vale. Ou Mulher-Gato. Ou Rachel Dawes.
Faça a sua escolha de franquias, e eu não chego aos pés de
nenhuma.
Mas Zane não diz nada. Surpreendente.
— Zane é o irmão da minha melhor amiga — eu explico,
como se isso colocasse um ponto final.
— Excelente. Eu sou Jack, já que meu sócio aqui é muito
rude para me apresentar.
Jack se aproxima para apertar minha mão. Uma lufada de
colônia me atinge. Bonito, mas um pouco demais. Eu puxo
minha mão bem a tempo de espirrar.
— Saúde — Jack diz, voltando para sua posição na parede.
— De volta à pauta principal — diz Zane, sua voz
claramente irritada. Seus olhos azuis me prendem no lugar. —
Temos bugs ou não?
— Oh, você tem bugs. Enormes. Muito pior do que você
pensava.
Sua irritação dá lugar a um olhar de pânico. Ele e Jack
trocam um olhar. Jack se desprende da parede e se empoleira na
beirada da mesa.
— Isso vai atrasar nosso lançamento? É em um mês. Quão
grande é o escopo do problema?
— Vai ficar tudo bem — eu digo. — Mas vocês vão me ver
muito mais. Vão me pagar muito mais também.
Jack se vira para olhar para Zane.
— Devemos cancelar a viagem?
— Não — diz Zane. — Precisamos ainda mais de novos
investidores agora. Vai ficar tudo bem. Abby vai cuidar de nós.
Certo?
Ele parece um pouco desesperado, e é o máximo que já vi
sua casca dura quebrar. Isso me suaviza ainda mais em relação a
ele.
Eu sorrio.
— Eu te ajudo. Zoey não te disse o quão incrível eu sou? —
Eu agito meus cílios para ele, feliz em vê-lo se contorcer em seu
assento.
— Ela disse — diz Zane.
— Excelente.
Jack me olha com um olhar que não sei interpretar, como se
ele estivesse me avaliando. Isso faz meus dedos começarem a se
contorcer.
Jack olha para Zane.
— Se você acabou de se livrar de Charlotte…
— Chelsea.
— Certo. Charlotte era a do mês passado, eu acho? — Jack
pergunta. Zane não responde.
Eu bufo, e Jack me dá um sorriso largo.
— Se você se livrou da Chelsea, vai precisar de um encontro
para o fim de semana. E o meu simplesmente foi por água
abaixo.
As sobrancelhas de Zane se erguem.
— O que aconteceu com a Anna?
Jack acena com a mão.
— Não se preocupe com isso. De qualquer forma. Você está
levando Abby?
Tenho certeza que o olhar de choque no meu rosto reflete o
de Zane.
— Lendo-me para onde? — Eu pergunto.
— Não. — Zane balança a cabeça com firmeza.
Jack e Zane me ignoram. Seus olhos estão travados, como se
fossem dois touros prestes a lutar.
Eu aceno minha mão entre eles.
— Ei pessoal. Onde estamos indo?
— Estamos levando alguns de nossos investidores de risco,
nosso potencial capital de risco, em uma viagem — respondeu
Zane, embora não tivesse tirado os olhos de Jack.
— Então, Abby não é seu par? — Jack pergunta.
— Abby ainda está aqui, pessoal — eu digo.
Ainda assim, os dois machos lutadores me ignoram. As
narinas de Zane se dilatam. Eu acharia cômico, exceto que eu
sinto que de alguma forma, eu me tornei a bandeira vermelha.
Estou engasgando com a testosterona aqui.
— Abby não é meu par — Zane diz.
— Então, você não vai se importar se eu perguntar a ela. —
A declaração de Jack é um desafio.
Os últimos minutos são como olhar para uma criptografia
sem a chave. Estou seguindo, mas por pouco. Eu entendo que
há uma viagem de trabalho com investidores e esses dois
querem ou não querem que eu vá.
O que eu não descobri é o contexto aqui. Dê-me o código
de qualquer dia da semana. Tem padrões discerníveis. As peças
se encaixam em um todo. Pessoas? Muito imprevisível.
— Tudo bem — diz Zane, não olhando para mim, embora
eu saiba que ele tem que sentir meus olhos nele.
Com um sorriso largo no qual de alguma forma não confio,
Jack se vira para mim. Estranhamente, quanto mais tempo ele
fica nesse escritório e quanto mais palavras saem de sua boca,
menos atraente ele se torna.
— Você gostaria de ser meu par em um retiro corporativo?
Puramente profissional, é claro.
Acho que ele acrescentou essa última parte porque eu estava
tão ocupada descascando meu queixo do chão.
— Você quer que eu faça o que agora?
— Temos um fim de semana com alguns investidores em
potencial. Eles estão trazendo suas esposas e nós estamos
levando encontros para equilibrar as coisas. — Sem aviso, Jack
entra no meu espaço e pega minha mão. Eu luto contra o desejo
de puxá-la de volta. — Você estaria disposta a ser meu par neste
fim de semana com os investidores?
Estou olhando nos olhos de Jack. Mas continuo lançando
olhares furtivos para Zane. Tem essa coisa que Zoey faz quando
está muito chateada, e Zane está fazendo agora. Parece que ele
respirou fundo e está segurando. Suas bochechas estão
vermelhas, e seus olhos estão praticamente saltando de sua
cabeça.
Eu estreito meus olhos para Jack.
— Eu não vou dormir com você.
Por que essa é a primeira coisa que sai da minha boca, eu não
sei. Eu quero ser capaz de retroceder os últimos segundos e
dizer alguma coisa, qualquer coisa, além disso.
Os olhos de Jack se arregalam, e então ele aperta minha mão,
soltando uma risada.
— Anotado. Eu gosto de uma mulher que fala o que pensa.
Então, o que você acha?
Acho que quero cair de cara no chão. Especialmente
quando eu olho para cima e vejo Zane olhando para mim com
o tipo de olhos que você costuma ver em filmes com raios laser
saindo deles. Eu espero ver vapor saindo de seus ouvidos.
O que eu não entendo é por que ele está chateado. Ele não
me quer, então não sei por que se importa se Jack me pediu para
ser seu par. Mas Zane definitivamente se importa.
Aqui está a coisa: esta não é a minha vida.
Eu nunca sou a garota no centro das atenções masculinas.
Especialmente entre dois homens que se parecem com Jack e
Zane. Eu sou a garota nerd no começo do filme, antes da
reforma. A diferença é que eu não quero a reforma. Tentei ser
outra pessoa, deixando que outras pessoas me dissessem como
eu deveria parecer. Essa única vez foi suficiente para provar que
mudar por outra pessoa nunca é o movimento certo. Eu sou eu.
E embora eu ainda lute contra as inseguranças de vez em
quando, no geral, já percorri um longo caminho.
Jack ainda está segurando minha mão, rindo um pouco,
provavelmente ainda com meu comentário idiota sobre sexo.
— Vamos, Abby — Jack diz. — Seja meu par. Isso
significará um fim de semana livre em um resort, boa comida e
provavelmente uma conversa chata com estranhos.
— Abby precisa consertar a falha. Ela vai estar muito
ocupada — Zane diz.
Eu levanto uma sobrancelha para Zane. Sua falta de fé em
minhas habilidades está realmente me irritando.
— Não tão ocupada que eu não possa tirar alguns dias de
folga.
— Você me prometeu que poderíamos lançar a tempo —
diz Zane.
— E vocês vão. Posso trabalhar de qualquer lugar. Mesmo
de um resort.
Zane e eu ainda estamos nos encarando quando Jack solta
minha mão, parecendo desapontado. Mas é o olhar satisfeito
no rosto de Zane que me faz falar.
— Eu vou — digo a Jack.
Um sorriso se abre em seu rosto.
— Você irá?
— Sim.
Eu vou me arrepender disso. Eu sei. Porque a tensão e a
testosterona nesta sala estão em níveis inseguros, como um
reator nuclear com um núcleo instável. Eu também tenho zero
desejo de passar o tempo conhecendo e conversando com as
esposas dos investidores em algum resort. Eu já posso imaginar
o rosto de Zoey quando eu contar a ela. Ela não vai acreditar.
E realmente tenho muito trabalho a fazer se quiser resolver
o problema com o código deles. Provavelmente passarei o
tempo todo pedindo serviço de quarto enquanto meu rosto
está enterrado em um laptop.
Mas algo sobre o rosto irritado de Zane apenas aperta esses
botões em mim. Aqueles que me fazem sentir como se eu
tivesse que provar a mim mesma. Eu tenho que provar. E eu
vou.
— Então, estamos bem? — Jack pergunta. — Abby, você
vem comigo, e Zane, você pode conseguir outro encontro?
— Oh, Zane nunca tem problemas em conseguir encontros
— eu digo.
Quando minha boca tem um vazamento? Posso ser um
pouco honesta demais, um pouco franca demais. Mas não
costumo transmitir todos os pensamentos assim que me vêm à
cabeça.
— Não é problema — Zane praticamente rosna.
O som baixo envia um pequeno arrepio através de mim.
— Estou ansioso pelo nosso fim de semana, Abby, — Jack
diz, piscando para mim antes de sair pela porta.
Percebo no segundo que ele se foi que estou sozinha com
uma versão de Zane que se parece com Zoey quando ela
descobriu que seu namorado estava traindo-a no primeiro ano.
Essencialmente, seus olhos gritam assassinato. E não sei
exatamente por quê. Ele está chateado comigo ou com Jack?
— Então, hum. Eu vou voltar ao trabalho, — eu digo,
pegando meu recipiente de comida. — Obrigada novamente
pelo jantar.
Zane apenas resmunga, fazendo algo em seu telefone.
Na porta, eu me viro.
— Então, quando é essa viagem?
— Este fim de semana. Eu já te mandei uma mensagem com
um itinerário.
Claro, ele fez isso. Sentindo uma mistura de confusão,
decepção e irritação, deixo Zane e volto para o meu espaço de
trabalho. Posso não entender o que aconteceu no escritório ou
em que tipo de problema estarei neste fim de semana, mas, por
enquanto, posso me perder no que entendo: código.
CAPÍTULO CINCO

Zane

— VOU envenenar o café dela.


Zoey suspira e o som sai alto e claro pela conexão Bluetooth
do meu Lexus.
— Então você provavelmente não deveria ter admitido isso
em voz alta. Agora vou ter que testemunhar contra você
quando for chamada sob juramento.
Eu aperto o volante com mais força. Preciso me acalmar,
para não bater o carro. Não que estejamos nos movendo a mais
de oito quilômetros por hora desde que saí do escritório da
Eck0. Você pensaria que não haveria tráfego às nove horas da
noite, mas algo está sempre em obras em Austin.
— Você se importa de me dizer o que ela fez para você ficar
tão irritado? E o que você fez para provocá-la?
— Provocá-la? Fiz absolutamente tudo que ela pediu. O
setup que ela queria ao pé da letra. — Não que Abby tivesse
pedido muito. Eu esperava uma longa lista, mas tudo o que ela
queria era uma mesa vazia com monitores duplos.
— Uh-hu — Zoey diz. — E a comida? Você pediu no The
Wall?
— Sim — eu fervo. Embora Abby não tenha começado a
comer até que já estivesse frio. Quem come comida que está
parada há mais de uma hora? Abby, é quem faz isso. Estremeço
só de pensar nisso.
— Então, você não fez nada com ela?
— Não. Então…
— Então o que?
Finalmente chego ao meu bairro. Uma vez que estou na
garagem da pequena casa que comprei há um ano, desligo o
motor e apenas fico sentado, olhando para as janelas escuras. É
uma casa que grita para se estabelecer com uma esposa e filhos.
Na verdade, sou o único cara solteiro em todo o bairro. Todas
as outras casas têm balanços ou bicicletas na frente. E depois há
eu: o cara solteiro que mal mobiliou o lugar e nunca está em
casa. Não tenho certeza do que estava pensando, comprando
um lugar como este. Apenas destaca o que eu não tenho. E o
que eu não tenho certeza se eu realmente quero.
— Eu não fiz nada, mas Abby me encontrou tentando
terminar com Chelsea.
— Ela era a ruiva?
— Não. A loira.
— Huh. Eu não sabia sobre uma loira.
— Nós só fomos em dois encontros — eu digo.
— Ah. Então, sua última namorada de dois encontros passa
no escritório, e Abby fez o quê?
Ela realmente me fez um favor, para ser honesto. Eu me
pego sorrindo quando penso em Chelsea praticamente
correndo do meu escritório com seu cachorro na bolsa. Se eu
tivesse visto o cachorro primeiro, não teria ido a um encontro
sequer com Chelsea. Pode me chamar de implicante, mas
cachorros em bolsas são um problema.
— Olá? Zane? Você ainda está aí?
— Desculpe. Estou aqui. Está tudo bem. Eu me resolvo com
a Abby. Ela não é o problema. Sou eu.
Eu quase posso ouvir o som do queixo de Zoey caindo.
— Espere. Você acabou de admitir que você é o problema?
Eu gemo.
— Eu não deveria ter ligado para você.
— Não desligue. Desculpe por pegar no seu pé. Olha, eu
sabia que era arriscado recomendar a Abby. Ela gosta de me
irritar, então eu deveria saber que ela faria o mesmo com você.
Mas ela de verdade é a melhor.
Isso me faz sentir um pouco melhor. Tanto sobre a
capacidade de Abby de consertar o que está acontecendo com
nosso aplicativo e site, e que não sou só eu. Se ela fizer isso com
Zoey também, então me sinto um pouco honrado. Como se eu
tivesse passado por algum tipo de processo de aprovação.
— Alguma dica? Além de mantê-la alimentada e cheia de
cafeína? — Eu pergunto. — Não a manter acordada depois da
meia-noite? Ou talvez não alimentá-la depois da meia-noite.
Zoey ri.
— Você está cheio de surpresas! Admitir que algo é culpa
sua, pedir ajuda e agora fazer piadas. Se eu não soubesse, diria
que Abby está exercendo uma boa influência sobre você.
Ela está? Não tenho certeza se alguma dessas coisas são boas.
Eu sei o que papai diria sobre as três.
— E se você está pensando em papai…
— Como você faz isso?
— Nós somos gêmeos. E mesmo que fôssemos apenas irmão
e irmã normais, crescemos na mesma casa. Compartilhamos
experiências. E quase posso ouvir papai dizendo para você ser
forte, ser um homem. Não fazer perguntas, não pedir ajuda e
não mostrar fraqueza.
Eu fecho meus olhos. Papai não é um cara mau. De verdade.
Ele é apenas um militar que teve que lidar com a criação de dois
filhos sozinho quando sua esposa morreu em um acidente de
carro enquanto eles estavam no ensino médio. A única maneira
que ele sabia como lidar com isso era com mais regras. O riso
em nossa casa foi enterrado bem ao lado da mamãe. Ele fez o
seu melhor, mas é como se a balança virasse, forçando eu e Zoey
a sermos tão estruturados quanto papai.
Nós conversamos sobre isso, depois que estávamos na
faculdade, fora de casa, onde parecia que tínhamos um pouco
de espaço para respirar. E mesmo que nós dois gostassemos de
relaxar um pouco, às vezes parece uma tarefa impossível. Quão
solto é muito solto? Como é o equilíbrio? Estrutura e regras
parecem seguras.
Agora, toda essa conversa parece perigosa. Eu nos levo de
volta para assuntos mais tranquilos.
— Sim, Zo. Estou lhe pedindo ajuda. Marque este dia em
sua agenda.
— Já estou colocando uma estrela dourada. Certo, curso
intensivo para lidar com Abby. Primeiro, eu desisti de lutar
contra a força que é a Abby. Ela é Abby e ela não vai mudar.
Levei os dois primeiros anos de faculdade para descobrir isso.
Agora, eu aprecio suas peculiaridades. E eu sei que ela
geralmente está procurando uma reação quando ela me irrita,
então eu não dou a ela uma.
— Ok. Eu posso tentar isso. — Abby definitivamente
apertou todos os meus botões hoje. Ela era como aquela criança
que entra no elevador e usa as duas mãos para apertar o botão e
parar em cada andar. E estou envergonhado com o quão eficaz
foi.
— Segundo, perceba que sob seu exterior duro, ela tem um
centro macio.
Zoey faz uma pausa, e de alguma forma, eu sei o que ela vai
dizer em seguida. Há uma coisa que sempre descrevemos dessa
maneira. Eu me preparo apoiando minha cabeça contra o
volante e apertando meus olhos fechados.
— Assim como os biscoitos de chocolate da mamãe.
Minha boca praticamente enche de água com a memória,
mesmo enquanto meu peito queima. Mamãe nunca escreveu
sua receita secreta, algo que Zoey e eu percebemos na primeira
vez que decidimos fazer uma fornada depois que ela morreu.
Estávamos no segundo ano do ensino médio, e lembro de
encontrar Zoey chorando no chão da cozinha, os cartões de
receita da mamãe espalhados ao redor dela no azulejo. A visão
das lágrimas da minha irmã e a caligrafia da minha mãe nos
cartões foi como uma facada no meu estômago.
“Não está aqui” ela disse. “Mamãe é a única que sabia a
receita.”
Eu a envolvi em meus braços e choramos juntos. Não era sobre
os biscoitos. Ok, talvez uma ou duas lágrimas fossem por causa
dos biscoitos. Eles eram realmente muito bons. Mas mais porque
não entraríamos em casa sentindo aquele cheiro delicioso de
novo. O cheiro que nos dizia que mamãe estava em casa, e ela
estava assando os cookies.
Eu me inclino para trás, soltando uma respiração constante.
— Eu sinto falta dela — eu digo, tentando discutir a emoção
que está subindo, ameaçando cortar minhas vias aéreas.
— Eu também, Z.
Por alguns minutos, ficamos assim. O tipo perfeito de
silêncio, aquele que diz muito sem que nenhum de nós precise
falar.
Finalmente, Zoey limpa a garganta.
— Então, você tem tudo sobre controle com a Abby?
— Sim, eu aprovei na aula de introdução a Abby.
— Aprovou? — Zoey ri. — Não. Você foi reprovado antes
da prova final, que aparentemente é neste fim de semana.
Como ela se envolveu nessa coisa de investidores, afinal?
Eu gemo. Abby já deve ter mencionado isso para minha irmã.
O que mais ela disse? Especificamente, o que ela disse sobre mim?
— Jack — digo a ela. — Foi assim que ela se envolveu.
— Ahhh. — O tom de Zoey é o mesmo que ela usaria se
você dissesse a ela que os guaxinins rasgaram um saco de lixo
por todo o pátio dos fundos. — Não diga mais nada.
Zoey não é a maior fã de Jack. E nem eu, se formos honestos.
Na teoria, ele é o sócio perfeito para a startup de diversas
maneiras. Mas quanto mais tempo passo com ele, menos gosto
dele. E mais me arrependo de estar preso a ele. Ele é muito
espertinho e amigável, não tenho certeza se realmente confio
nele.
Especialmente depois que ele deu em cima de Zoey, fazendo
o tipo de comentário que você nunca quer fazer para o irmão
de uma garota. Se já não tivéssemos começado a Eck0, eu nunca
teria chamado-o para ser meu sócio.
Depois de hoje? Eu gosto dele menos ainda.
— Não deixe Jack machucar Abby — Zoey avisa.
Apenas o pensamento faz minha pressão arterial subir. Não
quero nem pensar em Jack e Abby. Mesmo que este fim de
semana seja para cortejar os investidores, não mulheres, eu
odeio pensar em Abby como seu par. Eu mal consegui me
conter de pular sobre a mesa, tirar Jack do caminho e perguntar
à Abby.
É só porque você se sente protetor, digo a mim mesmo. Ela é
amiga da sua irmã, então, naturalmente, você quer cuidar dela
como você faz com Zoey.
Essa explicação está começando a parecer muito fraca. A
verdade é que gostei da ideia de Abby como minha
acompanhante no fim de semana. Mas ela é a melhor amiga de
Zoey. Não posso sair com ela casualmente e seguir em frente.
Não tenho certeza de onde isso deixa as coisas.
— Isso nem é como um encontro de verdade. É uma coisa
de negócios — digo a Zoey e a mim mesma.
— Uh-hum. E você acha que Jack não estava planejando
mais do que negócios com quem ele quer comer?
Ela está certa. E essa raiva protetora e sentimento estranho
que só pode ser ciúme dispara de volta na minha espinha. Estou
pronto para socar Jack novamente por perguntar a Abby bem
na minha frente.
Você poderia ter perguntado a ela, covarde.
Por que eu não fiz isso? Faço uma lista mental de razões. Ela
é a melhor amiga da minha gêmea, o que pode ser complicado.
Ela aperta meus botões. E ela tem todos os hábitos de um gato
selvagem, colocando os pés em cima da minha mesa, comendo
comida que estava fria, assustando a garota com quem eu estava
saindo. Ela usa camisetas sobre programas de TV e tem cabelo
rosa.
A lista realmente desmorona quando tenho que admitir que
gosto do cabelo rosa de Zoey. E seus lábios rosados que
combinam. Na verdade, nem me importo com as calças
estranhas que ela estava usando hoje, porque a confiança que
ela usava chamou toda a minha atenção.
E por mais que Abby tenha me irritado hoje, é a primeira
coisa real que sinto em muito tempo. Eu quase não reconheço
o que é sentir outra coisa além de estresse.
— Vou cuidar dela. Mas desde que Jack convidou ela, estou
precisando de um encontro. Você acha que…
— Não. Eu não estou te arranjando uma das minhas amigas.
Sem chance.
— Mas é realmente apenas negócios. Quem vier vai comer
comida chique e ir ao spa. De graça. Eu sou realmente uma má
companhia?
— Você é incrível. Mas eu nunca te arranjaria com alguém
que eu gosto. Eu sei como isso terminaria.
— Nós conversamos sobre isso. Não estou pronto para
sossegar, então estou apenas namorando casualmente.
— Eu sei o que significa namoro casual, Zane.
— Eu prometo que não é assim.
— Não vamos por este caminho. O que acontece nas calças
de Zane fica nas calças de Zane.
Eu não posso deixar de rir.
— Nada está acontecendo nas minhas calças.
— Lalalala! Não consigo te ouvir! Bjusssssssssssssssssssssssss!
— Está bem, está bem. Eu parei. Zoey? — Acho que por um
segundo ela desligou.
— Apenas fique longe das calças de Abby.
— ZOEY!
Ela está rindo de novo, e apesar do quanto eu estou odiando
nosso tópico atual de conversa, eu adoro ouvi-la rir. Ela não faz
isso o suficiente. Nem eu.
— Você nunca vai sossegar, irmãozinho?
— Você vai?
— Claro — Zoey diz. — Em algum momento.
— Igualmente. Mas estou bem com o casual. Por enquanto.
Olho para minha casa escura, imaginando quanto tempo o
“por enquanto” vai durar. Eu não estou feliz. Eu posso
reconhecer isso. E, no entanto, a ideia de mudar, de procurar
algo fora do quadrado seguro que desenhei para mim, é como
atravessar uma daquelas pontes com fundo de vidro.
— Certo. Apenas lembre-se do que eu disse. Abby parece
mais forte do que ela. E ela é muito boa em seu trabalho, então
confie nela. Eu gostaria que isso terminasse com meus dois
relacionamentos mais importantes ainda intactos.
— Ah, eu sou um dos seus relacionamentos mais
importantes? — Eu provoco, sabendo muito bem que Zoey e
eu ainda somos grandes amigos. Mesmo que tenhamos algumas
linhas duras traçadas sobre as coisas sobre as quais não falamos.
Na minha opinião, Zoey está totalmente equipada com algum
tipo de vestimenta protetora que será destrancada apenas na
noite de núpcias. Ela termina todos os encontros com apertos
de mão ou beijos na bochecha.
— Acredite, irmãozinho. Você e Abby são meus dois
amigos mais próximos. Não se entusiasme. Separe o trabalho e
o pessoal.
Eu ri.
— Sim, como você faz com seu chefe?
Sua voz fica estridente, do jeito que sempre fica quando ela
está mentindo.
— Eu não tenho…
— Boa noite, Zoey!
Desligo a chamada, balançando a cabeça. Minha irmã
compartilha a mesma teimosia que eu, então não fico surpreso
no meu caminho para dentro de casa quando ela explode meu
telefone com mensagens de texto. Eu não preciso lê-las para
saber que ela está negando que algo está acontecendo com ela e
seu chefe.
Pego um copo de água, usando um dos três copos que
possuo, e me encosto no balcão. Eu mando de volta uma
mensagem: acho que a senhorita protesta demais.

Zoey: Shakespeare vai se levantar da sepultura e


tu, Brutos, vai ter sua bunda flácida chutada por
usar mal sua citação.

Zane: Minha bunda não está mais flácida. Quer


que eu mande uma foto de como fica na calça
do meu terno? Você pode compartilhá-la com
suas amigas quando perguntar se elas irão na
minha viagem corporativa. -Zane
Zoey: Bloqueado. Você está bloqueado.
Esqueça tudo o que eu disse sobre você ser
importante. Você está morto para mim.

Zoey: Igualmente. Você sabe mesmo como


enviar imagens por mensagem de texto?

Estou de pé na cozinha escura, sorrindo para o meu telefone


quando outra mensagem aparece. Um que faz meu coração
começar a acelerar como um motor na linha de partida.

Abby: Eu me diverti trabalhando para você hoje.


Seu escritório tem uma ótima vibração.
Considere-me impressionada, Z.

Sinto um calor em meu peito com suas palavras e começo a


digitar um agradecimento. Não deveria me deixar tão feliz que
ela usa o mesmo apelido que Zoey usa. Antes que eu possa dar
uma boa resposta, outra vem.

Abby: Exceto pelo cara rígido de terno. Esse cara


precisa de férias.

Esse calor sangra direto em algo mais parecido com irritação.


Eu sou o único cara no escritório que usa terno. Até mesmo
Jack se arruma apenas quando estamos fazendo reuniões ou
jantares importantes com investidores. Sempre ouvi o eco da
frase “Vista-se para o trabalho que você quer, não para o que
você tem”. Podemos ser uma startup, mas vejo Eck0 indo a
lugares. No topo das listas Forbes e Fortune 500.
Processe-me por me vestir a caráter. Adoro usar um bom
terno. E se eu não estiver errado, eu vi Abby me olhando hoje.
Eu suspeito que ela gostou do jeito que parecia também.
Eu tento pensar em uma resposta apropriada. No momento
em que troquei de roupa e saí da minha casa escassamente
decorada pela garagem onde montei uma academia em casa,
ainda não obtive uma resposta inteligente.
E com Abby, sinto que preciso melhorar meu jogo de
mensagens de texto. Ser sarcástico e engraçado. Usar gifs ou
memes adequadamente. Pare de assinar meu nome como se eu
tivesse cem anos.
Entre os sets, envio uma mensagem. É chato, mas talvez seja
só eu.

Zane: Obrigado por todo o trabalho duro hoje,


Abs. -Z

Ou isso era muito pessoal? Por que eu a chamei pelo apelido


que ouvi Zoey usar? Eu odeio que estou pensando demais
sobre mensagens de texto.
Vejo os pontinhos enquanto ela digita alguma coisa, mas
desligo o telefone. Porque mesmo que eu saiba, tudo que Abby
faz provoca uma reação em mim. Os tipos de reações que estou
começando a ter estão longe de ser irritados. Eles estão no
extremo oposto do espectro, e isso não pode ser bom.
Quando vou para a cama, eu desmorono e verifico meu
telefone. E quando não há uma mensagem de Abby, me sinto
muito mais desapontado do que deveria.
CARA DRA. LOVE
De: [email protected]
Para: [email protected]

Cara Dra. Love,


Sou recém-casada e eu esperava uma vida feliz. Ou, pelo
menos, aquele período da lua de mel de que todos falam.
Em vez disso, meu marido deixa suas roupas por toda a casa,
joga pratos sujos na pia e acha que soltar um pum na mesa de
jantar é um evento esportivo, e ele está ganhando uma medalha
de ouro.
Como posso encontrar a vida de casada que eu esperava?
Sinceramente,
Decepcionada

De: [email protected]
Para: [email protected]

Querida Decepcionada,
Diminua suas expectativas.
Ou pegue um cachorro. Eles são mais fáceis de treinar e
geralmente peidam por baixo da mesa.
A melhor opção, e a que menos pessoas parecem usar, é
sentar juntos, conversar sobre suas expectativas e tentar ver
onde cada um pode ceder um pouco.
Boa sorte!
Dra. Love
CAPÍTULO SEIS

Abby

— EU NÃO POSSO FAZER ISSO — eu digo, caindo


dramaticamente na minha cama. — Você vai ter que ir no meu
lugar.
— E passar o fim de semana em um encontro duplo com
meu irmão? Passo.
Eu rolo e apoio minha cabeça na minha mão.
— Não é como se você fosse sair com ele.
— Não. Eu estaria com Jack. E por mais nojento que fosse
namorar meu irmão, namorar Jack seria pior.
— Jack é tão ruim assim? — Eu pergunto, os nervos na
minha barriga parecendo um poço de víboras.
Durante toda a semana, trabalhando longos dias no meu
emprego fixo e noites mais longas no escritório de Zane, o
pavor foi crescendo. Eu tentei realmente me enterrar no
trabalho, o que não foi difícil, considerando que
definitivamente há alguém mexendo com a codificação do
aplicativo. E eles são bons. Não tão bons quanto eu, mas estão
me fazendo suar pelo meu dinheiro. Não é de admirar que Josh
e os outros técnicos de sua equipe não consigam descobrir. Josh
ofereceu sua ajuda mais de uma vez, tenho certeza que não está
feliz por eu ter sido chamada para limpar o que ele não
conseguiu. Ele ainda é amigável, mas posso sentir os
sentimentos territoriais que ele tenta esconder.
E falando em esconder sentimentos, a pequena paixão
adormecida por Zane que eu mantive por anos como uma
pequena brasa, virou uma fogueira que você provavelmente
pode ver do espaço.
Há o Oceano Atlântico, o verde exuberante da América do
Norte e aquela coisa vermelha pulsante no Texas? Isso é apenas o
crush de Abby por Zane.
Teria ficado uma chama pequena e manejável se ele não
tivesse começado a ser tão legal. Quando cheguei na terça, ele
colocou um pote de Twizzlers na minha mesa. Quarta-feira,
minha cadeira barulhenta foi substituída por uma versão
ergonômica que eu sabia que não era barata. Não foi tanto a
despesa da cadeira, mas o fato de ele ter notado meu
desconforto e trocado sem eu ter pedido. Ontem à noite ele saiu
para jantares e eu não o vi. Eu me senti como uma criança cujo
pirulito foi roubado. Amuada, mal-humorada e
irracionalmente chateada. Isto é, até que ele mandou um
mensageiro me entregar um flat white9, o meu café favorito.
Ele ainda estava tenso, muito formal e muito nervoso ao
meu redor. Eu não sei muito bem como ler os gestos gentis,
além de supor que Zoey disse a ele como me manter feliz. Mas
uma parte de mim fica totalmente tonta com cada novo gesto

9
Uma bebida à base de café espresso e leite vaporizado.
atencioso. Agora que vamos sair do escritório por dois dias...
não sei o que esperar dele. Estou muito nervosa com isso. Zoey
não está melhorando as coisas falando sobre Jack.
Zoey vira para mim e, vendo a expressão no meu rosto, se
senta ao meu lado na cama.
— Você vai ficar bem. Eu disse a Zane para cuidar de você.
Eu pisco para ela por meio segundo.
— Você disse a Zane para cuidar de mim? Da mesma forma
que disse a ele para me manter abastecido com comida e cafeína
esta semana?
Seu olhar culpado diz tudo. O café, os Twizzlers, a cadeira –
ele fez tudo como um favor a Zoey. Claro, ele fez. Por que mais
Zane seria tão bom comigo? A decepção na minha barriga
eclipsa a preocupação que eu tinha antes de passar o fim de
semana com Jack.
— Eu dei algumas dicas ao Zane — diz Zoey.
— Ugh. Você sabe como isso é constrangedor? É como os
pais deixando notas específicas para a babá sobre como lidar
com seu filho problemático.
— Você não é uma criança problemática. Você está fazendo
um grande favor a Zane, Zoey.
— Obrigada, eu acho?
Eu repreendo qualquer parte rebelde de mim que ficou toda
agitada com o gêmeo da minha melhor amiga.
Quieta, garota! Abby Má! Nenhuma paixão por Zane.
NÃO.
Mas qualquer parte do meu subconsciente precisa ir para a
escola de obediência, já que eu começo a ficar toda agitada
quando ouço sua voz ou vejo seu rosto. Meu subconsciente não
está ouvindo, e ainda quer pular nos móveis e perseguir carros.
Espero conseguir evitar que Zoey perceba. Eu nunca
poderei admitir meus sentimentos para ela. Ela iria ficar
lembrando disso pelo o resto de nossas vidas. Pior, ela sentiria
pena de mim. Quero dizer, ela já riu da ideia de eu e Zane
namorarmos. Isso deveria ter sido suficiente para me avisar.
Zoey faz uma careta.
— Eu também posso ter pedido a Zane para não deixar Jack
deflorar você.
Eu paro de respirar completamente. Eu posso sentir o rubor
começando no meio do meu peito, aumentando até minhas
bochechas e orelhas.
— Zoey. Você disse ao seu irmão, aquele com quem estou
prestes a passar o fim de semana, aquele que namora qualquer
coisa com um sutiã número 36 e pernas, para não deixar seu
parceiro de negócios me deflorar ?
— Não com essas palavras exatas. Mas basicamente.
Eu caio de volta na cama, gemendo. Algo me apunhala na
têmpora, e eu jogo um sutiã com aro pelo quarto.
— Diga-me novamente por que eu não deveria me sentir
como uma criança que você pediu ao seu irmão para tomar
conta?
Zoey se levanta e começa a vasculhar minhas roupas
novamente.
— Pare de chafurdar. Você está sendo dramática. Agora,
estou escolhendo suas roupas, passando e ajudando você a fazer
as malas.
— Passar roupa? — Acho que não olhei para um ferro nos
últimos, ah, não sei... dez anos? — Isso é algo que as pessoas
ainda fazem?
— Sim. Muitos de nós passamos as roupas.
Sento-me, observando Zoey mover os cabides no meu
armário.
— Eu nem tenho o tipo de roupa que precisa ser passada a
ferro.
Embora eu não me oponha a saias e vestidos, costumo usar
roupas mais divertidas e descontraídas. Nada como a camisa
branca de colarinho que Zoey vestiu depois de trocar o terninho
de hoje. Esta é a versão casual de Zoey: calça cáqui e camisa
branca passada. Meu casual é um um par de jeans desbotados
que eu mesma cortei com e uma regata canelada preta.
— Podemos misturar e combinar do armário de Sam, se
necessário.
Sam é a única na casa que é pequena como eu e próxima ao
meu tamanho. O estilo dela está alguns passos abaixo do estilo
formal e casual chique de Zoey, mas ainda mais Ann Taylor10,
do que Forever 21, onde é mais provável que eu faça compras.
Sinto que a eternidade no nome me dá luz verde para fazer
compras lá. Posso fingir para sempre que ainda tenho 21 anos,
mesmo que todos os outros na loja sejam adolescentes. Ou a
mãe de um adolescente.
— Você sabe alguma coisa sobre esses investidores ou suas
esposas?
A pergunta de Zoey me arrasta de volta ao meu dilema atual
e ao meu pavor. Porque não só estou passando o fim de semana
com minha paixão flamejante e seu sócio nojento, mas dois
estranhos e suas esposas. Em um spa resort. Não há nada sobre
este fim de semana que seja confortável para mim.
Eu balanço minha cabeça.
— Mas suponho que eles tenham dinheiro, já que Jack e
Zane estão cortejando-os em um resort cinco estrelas. O que
significa que eles provavelmente são mais velhos e alguns graus
mais chiques do que eu.
Zoey murmura uma resposta, puxa uma camisa azul do
armário, jogando-a ao meu lado. Eu brinco com os botões,
aquela sensação nervosa se contorcendo no meu estômago
novamente.

10
Ann Tyalor é uma rede de lojas femininas com um estilo mais clássico e
formal.
— Você não vai me fazer fingir ser alguém mais... normal,
não é?
Zoey para o que está fazendo e gira para me encarar. Seus
olhos piscam, e eu sei que ela sabe exatamente no que estou
pensando. Ela é a única, além de meus pais ou irmão, que sabe
exatamente por que essa pergunta é importante para mim.
Depois de tantos anos, gostaria que meu passado não viesse à
tona de vez em quando, trazendo toda a minha autoconsciência
das profundezas com ele.
Tocando minha mão, Zoey diz:
— Normal não é uma coisa. Você é você. Não mude seu
estilo por ninguém, Abs. Você é perfeita do jeito que é.
Eu sei isso. Eu entendo.
Normalmente, sou autoconfiante, cheia de arrogância, não
insegura e carente. Mas este fim de semana está tão fora da
minha zona de conforto que me joga de volta um pouco, de
volta a Abby do Passado que não tinha certeza de nada. Acima
de tudo, de ela mesma.
Eu aceno, dando a Zoey um sorriso torto, e nós duas
fingimos que meus olhos não estão molhados.

O primeiro sinal de que este fim de semana vai ser pior do que
eu esperava é a acompanhante de Zane. E isso quer dizer alguma
coisa, considerando que eu tinha expectativas muito baixas
para começar.
— Eu fico enjoada no carro — a morena de pernas
compridas diz, empinando seu quadril e agitando suas
extensões de cílios para Zane.
A única coisa que me impede de agir como doente é que
Zane não parece impressionado com todo o seu truque. Ele
nem deu uma espiada na impressionante metade superior dela,
o que é chocante, já que ela está apontando essas coisas para ele
desde que saiu do carro com botas de caubói, uma saia curta e
um pedaço de material que finge ser um top. Até mesmo Jack
teve dificuldade em manter os olhos afastados. Não é
surpreendente. Também não é legal.
Dois pontos para Zane.
O gêmeo da minha melhor amiga (sempre é bom me
lembrar desse fato) parece totalmente irritado enquanto olha
para mim.
Oh. Ah! Não é que ele não esteja encantado com o ato de
Charla. Ele está irritado porque isso significa que ele tem que se
sentar comigo. Não com seu encontro de fim de semana.
Fantástico.
— Excelente. Pule para frente, Charla — Jack diz com um
sorriso, abrindo a porta do passageiro para ela. Ele claramente
não se importa com a troca de assento.
Se eu estivesse esperando que qualquer um dos caras abrisse
minha porta, eles poderiam ter me deixado no estacionamento.
Todo mundo já está com os cintos de segurança quando eu
entro no pequeno banco traseiro do carro de Jack. Não
conheço carros, mas o motor ronrona e é todo brilhante por
fora, com couro macio por dentro.
— Tantos botões! — Charla ri, e eu engasgo um pouco
quando Jack a ajuda com o cinto de segurança.
Que tipo de mulher adulta precisa de ajuda para se afivelar?
Meu sobrinho mais novo pode se afivelar na cadeirinha, e ele
tem seis anos.
Eu olho para Zane, para ver como ele está levando o flerte
descarado na frente, mas ele está tão virado em direção à janela
que eu só posso ver a parte de trás de sua cabeça. Olho para a
pequena cicatriz branca ao longo da linha do cabelo. Zoey me
disse uma vez que era de um acidente de carro, mas nunca me
deu os detalhes. Eu sou uma daquelas pessoas que acha que as
cicatrizes nos dão caráter. Eles contam nossas histórias. Talvez
eu possa quebrar a tensão estranha aqui com a troca de
histórias.
Sem realmente pensar nisso, traço meu dedo ao longo da
linha da cicatriz de Zane. Ele praticamente pula da cadeira,
batendo na minha mão.
— O que? — ele estala.
— Uau. Desculpe. Eu só estava me perguntando sobre sua
cicatriz. Zoey disse que foi de um acidente de carro?
Os olhos de Zane se arregalam, mas um momento depois,
ele está totalmente sob controle novamente. Quase. Ainda há
uma selvageria em seu olhar que me diz que essa cicatriz tem a
ver com algo muito grande. Eu gostaria que Zoey tivesse me
avisado. Eu gosto de irritar ele, mas isso não é aborrecimento. É
dor. Eu reconheço bem.
— Sim. Foi um acidente de carro.
Ele se volta para a janela novamente, e eu observo os tendões
e músculos flexionando em seu pescoço. Eu não deveria estar
pensando em como o pescoço de Zane é quente quando ele está
chateado, mas qualquer coisa é melhor do que pensar no fato
de que acabei de trazer algo doloroso de seu passado. As pessoas
podem pensar que eu só olho para meu umbigo sem me
importar com o que as pessoas pensam, mas a verdade é que eu
me importo. Muito.
— Que tipo de música devemos ouvir? — Jack pergunta
alegremente, alheio à nuvem de constrangimento pairando
sobre o banco de trás. — Qualquer coisa menos…
— Country! — Charla diz, e eu juro que ouço três gemidos
iguais. Charla parece não ouvi-los, ou talvez ela não se importe,
porque momentos depois, o carro está cheio de alguém
cantando sobre o amor perdido em um campo e algo sobre
garrafas de Bud.
Zane ainda tem a cabeça colada à vista do lado de fora da
janela enquanto fazemos nosso caminho lentamente para fora
de Austin no tráfego da tarde de sexta-feira. Não posso suportar
a ideia de que o aborreci ao trazer casualmente à tona algo
doloroso em seu passado. Eu tenho uma masmorra inteira
cheia dessas memórias, e eu odeio quando uma consegue
escapar.
— Zane? — Eu sussurro. Há um leve movimento em seus
ombros, mas ele não se vira nem responde.
Como se estivesse tentando domar um animal selvagem,
estendo cautelosamente meu braço e roço meus dedos ao longo
de seu ombro. Ele endurece, mas não se afasta. Dou um
pequeno aperto em seu ombro, tentando não pensar em como
seus músculos são bons e firmes.
Quando eu não o deixo ir depois de alguns segundos, Zane
se vira levemente. Apenas o suficiente para eu notar como o
azul em seus olhos é a mesma cor brilhante do céu sem fim lá
fora.
— Sinto muito — eu sussurro. Ele balança a cabeça, então
eu lambo meus lábios e continuo. — Eu não queria me
intrometer. Eu não sabia.
Zane engole, e eu nunca o vi tão vulnerável. Eu nunca o vi
vulnerável, ponto final. Acontece algo no meu coração.
Minha mão ainda está em seu ombro, e eu afrouxo meu
aperto um pouco. A música – e o canto de Charla – está alto,
então inclino minha cabeça em direção a Zane.
— Você vê isto? — Aponto para uma cicatriz na minha
bochecha, observando seus olhos rastrearem o movimento. Eu
sei que meu rosto cora. Não posso evitar, eu odeio a cicatriz
redonda e branca.
Respirando fundo, continuo, baixando um pouco a voz.
— Tive uma acne terrível na adolescência. Meu rosto
parecia ter passado por um moedor de carne. Isso foi de uma
espinha que infeccionou. Então se transformou em
estafilococo. Acabei no hospital por dois dias.
Os olhos de Zane estão presos nos meus, aquele olhar azul
profundo hipnotizante. Eles são uma piscina infinita, e eu
quero mergulhar.
— Você sabe como é embaraçoso quando alguém pergunta
sobre minha cicatriz e eu tenho que dizer a eles que é de uma
espinha? — Eu engulo. Às vezes, dizer a verdade é um trabalho
árduo. — Eu costumava usar maquiagem pesada para cobrir a
acne, para cobrir essa cicatriz. Não estou mais me escondendo.
Com isso, eu deixei minha mão cair. Eu não quero que Zane
sinta o jeito que está tremendo. Já me expus o suficiente.
Eu não esperava que Zane dissesse nada. Eu não estava
pedindo isso. Quando seus lábios se abrem para falar, a
respiração para em meus pulmões.
Antes que ele possa dizer uma palavra, Charla vira a cabeça
entre os dois bancos da frente.
— Não se preocupe. A cicatriz é quase imperceptível.
A mulher tem orelhas de morcego para acompanhar seus
seios que desafiam a gravidade? Eu estava sussurrando aqui
atrás. Sussurrando.
— Eu tenho um corretivo incrível que vou deixar você
experimentar quando chegarmos ao resort — diz Charla.
— Uh-hum. — Não. De jeito nenhum estamos virando
conhecidas que trocam corretivo. A piada será dela quando
perceber que não tenho corretivo para trocar. Hidratante,
rímel e brilho labial, baby. Essa é a minha rotina de beleza.
Mas ela continua.
— É feito de medula óssea de elefante bebê. Totalmente
mágico. Contanto que você não pense nos pobres elefantes
bebês.
Charla ri, e eu honestamente me pergunto se ela tem alma.
Como não pensar nos elefantes bebês? Bebês elefantes vão
assombrar meus sonhos.
O rosto assustador de Hannibal Lecter invade minha
mente.
Você pode ouvir os bebês elefantes gritando, Clarice?
É Abby. Mas sim. Sim, eu posso.
Charla deve estar brincando.
Dumbo.
Ela quer esfregar a medula óssea de Dumbo no meu rosto.
Ela definitivamente não tem alma. Quando ela se vira para
pegar minha mão, eu considero abrir minha porta e fazer um
rolo de barril direto para a estrada.
— Nós vamos ser melhores amigas até o final deste fim de
semana. Eu tenho certeza. Estou tão feliz que estamos
compartilhando um quarto!
Dividir um quarto?
Charla dá um gritinho, depois volta a massacrar as músicas
country, como se ela não tivesse acabado de confessar ter
matado bebês elefantes por causa da beleza e depois jogado uma
bomba muito desagradável no meu colo. Um que espero
difundir o mais rápido possível.
Lentamente, para não puxar o fio errado, volto para Zane.
Antes mesmo de falar, eu sei a resposta para minha pergunta.
— Estou dividindo um quarto com ela? — Eu assobio.
Zane tem um olhar miserável em seu rosto. Esqueça o ato de
pobre-Zane, todo o Zane de eu-tenho-memórias dolorosas. Ele
vai morrer.
— Era isso ou ficar com Jack. Reservamos apenas dois
quartos.
E lá vem a bomba.
CAPÍTULO SETE

Abby

EU CONSIGO NÃO matar Zane, embora eu mande uma


mensagem para Zoey perguntando se ela ainda seria minha
amiga se seu irmão misteriosamente não voltasse para casa neste
fim de semana.
Até agora, ela não respondeu.
O resort é bom o suficiente para me distrair dos meus
pensamentos homicidas, pelo menos por alguns minutos.
Enquanto espero no saguão por Jack para resolver alguns
problemas com nossa reserva, estou lendo sobre as instalações.
Tem dois spas – porque um não é suficiente? – e um lindo
exterior com várias piscinas, banheiras de hidromassagem e um
rio calmo. Há também três restaurantes e dois cafés. Sem
mencionar um punhado de bares de verdade, que posso
frequentar, dependendo de como for este fim de semana.
— Aqui. — Zane empurra uma xícara de café para mim. —
É um flat white.
Beber não significa que estou cedendo. Significa apenas que
preciso de cafeína. Concordo com a cabeça e pego de suas
mãos, com cuidado para não tocar seus dedos. Estou muito no
limite para esse tipo de contato agora.
— Obrigada. Uma oferta de paz?
— Um pedido de desculpas — diz Zane, alisando a mão pelo
cabelo. — Sinto muito que você tenha se envolvido nisso. De
verdade, eu sinto.
Tomo um gole do meu café, que é excelente.
— Você vai precisar fazer mais do que isso.
— Eu sei. Tratamento no spa. Serviço de quarto. Flat whites
ilimitados. O que precisar.
— Você acha que pode me comprar? Eu não sou esse tipo
de garota. — Dou-lhe o meu menor sorriso, minha própria
versão de uma oferta de paz.
— Eu definitivamente não acho que você seja esse tipo de
garota.
Zane desliza as mãos nos bolsos, eu suspeito porque ele está
tentando não passar as mãos pelo cabelo novamente. Embora
eu o tenha visto em roupas casuais durante a faculdade, eu me
acostumei tanto a vê-lo em um terno esta semana que Zane em
jeans escuro e uma camisa pólo me confunde.
Charla e Jack se juntam a nós, parecendo um pouco íntimos
demais. Não que eu esteja brava com isso. Honestamente,
imaginá-la com Zane me faz sentir toda incomodada e suja.
Ainda mais do que pensar em mim e Jack. Que nojo.
— Você está pronta, colega de quarto? — Charla enlaça seu
braço no meu. — Isso vai ser muito divertido! Mas só temos
uma hora antes do jantar. Espero que você me deixe fazer sua
maquiagem!
Esqueça querer matar Zane por me fazer dividir um quarto
com Charla. Preciso que ele me salve do que tenho certeza que
será uma hora de tortura, apenas para ser seguido de um jantar
doloroso com os investidores e suas esposas.
Eu prefiro pular todas as festividades para descobrir o
código. Mais especificamente, tentando descobrir quem está
manipulando-o. Eu sinto que estou jogando xadrez, só que
quem eu estou jogando contra não sabe que outra pessoa
entrou no jogo. Sou cuidadosa, ganhando tempo, procurando
pistas e fazendo meu plano. Isso parece muito mais divertido
do que um jantar esnobe.
Mesmo que o jantar tenha o benefício de mais tempo com
Zane.
— Vamos lá! — Charla me puxa pelo braço e eu mal consigo
pegar minhas malas enquanto faço malabarismos com meu flat
white.
Zane me lança outro olhar de desculpas, que acho que será
apenas um dos muitos neste fim de semana.
Ele vai me dever uma vida inteira de flat whites. E eu gosto
bastante da ideia de cobrar.

— Viu? Eu disse que essas coisas eram ótimas — diz Charla.


Eu vendi oficialmente minha alma. Porque o que quer que
Charla passou no meu rosto é incrível e tão mágico quanto ela
disse. Posso até dizer que vale a pena a morte de quantos
filhotes de elefantes foram necessários. (Eu ainda estou
escolhendo acreditar que isso é uma mentira.)
Minha pele fica radiante. Viçosa. Brilhante.
O resto da minha maquiagem também não é tão ruim.
Recusei-me a deixar Charla fazer a maquiagem para mim, mas
permiti que ela ficasse por cima do meu ombro, latindo
instruções. Ela até me convenceu a fazer um delineado usando
um delineador líquido aleatório que encontrei no fundo do
meu kit de maquiagem de viagem. Pensando bem, Zoey
provavelmente colocou lá.
Até meu cabelo parece incrível em cachos macios ao redor
dos meus ombros. Achei que talvez Charla pudesse sugerir que
eu escondesse as pontas cor-de-rosa, prendendo-as em um
penteado, mas Charla disse que eu deveria mostrá-las.
De qualquer forma, o resultado final é que eu me sinto
como uma estrela de Hollywood, prestes a andar no tapete
vermelho nos braços de um ator de primeira linha.
Exceto que o ator esta noite é o Jack. Bleh.
Charla aponta para minha bochecha, onde a cicatriz
redonda é apenas visível.
— Eu ouvi o que você disse sobre não se esconder mais.
Quero dizer, duvido que alguém notaria se você não apontasse.
Mas ainda assim. Admiro sua confiança em si mesma.
Eu poderia dizer a ela quanto trabalho deu para chegar aqui.
O quanto eu lutei para ter a confiança necessária para entrar em
uma sala, sem me perguntar se cada pessoa estava me julgando
pelo que eu usava e quem eu era. Na verdade, ainda me
pergunto isso às vezes. No geral, eu sou confiante. Eu sei quem
eu sou, e me sinto segura sendo eu mesma. Mas as inseguranças
nunca desaparecem completamente. Agora, eu sou apenas
melhor em desligá-las. É trabalhoso, no entanto.
Mas não vou corrigir Charla e arrombar a porta para minhas
humilhações passadas. Mesmo que ela ainda continue.
— Eu amo que você não está tentando impressionar
ninguém. Você está tão segura de si mesma. E você é linda, com
um estilo que é todo seu.
Ela está sendo tão... legal. Eu me sinto instantaneamente
culpada por todos os pensamentos não tão legais que tive sobre
ela. Minha opinião sobre Charla mudou na última hora. Talvez
ela adore country, não cante bem e tenha seios que podem
servir de arma, mas ela é realmente muito gentil.
— Obrigada. Você é uma grande instrutora de maquiagem,
— digo a ela. — É isso que você faz para viver? Maquiagem e
cabelo?
Estou perguntando por curiosidade e também para marcar
um horário para um corte quando voltar.
Charla ri, seu nariz enrugando adoravelmente como ela faz.
— Quem me dera. Eu sou uma assessora econômica.
Minha boca fica seca.
— Uma Assessora econômica?
— Surpresa?
— Eu, uh…
Não há como esconder meu choque. Acho que fiz as
mulheres retroceder décadas com minhas suposições sobre
Charla com base em como ela se veste e no fato de que ela
possui o brilho efervescente de uma líder de torcida do ensino
médio. Você sabe, antes de se cansarem da vida.
— Eu sinto muito. Eu não deveria estar surpresa.
Normalmente eu não faço suposições sobre as pessoas. De
verdade. Isso foi burrice da minha parte. E raso.
Acenando com a mão, Charla pega um pincel de
maquiagem e vai trabalhar em suas bochechas, inclinando-se
para perto de mim enquanto faz isso. Seu cabelo faz cócegas no
meu ombro.
— Não se preocupe com isso. Acontece o tempo todo.
Trabalho com números o dia todo. Paga bem, mas é chato e
tudo mais. Eu me solto quando não estou no trabalho. Sou
alegre e sorridente, o que faz as pessoas pensarem que isso
significa que eu sou estúpida.
— Você é tudo menos estúpida. Você é cheia de surpresas
— digo a ela, me levantando para que eu possa ficar sobre os
meus calcanhares.
Outra surpresa é o vestido preto de bom gosto e conservador
que Charla está usando. Seu peito está modestamente coberto,
e a bainha chega até os joelhos. Ela está usando pérolas. Pérolas.
Tudo isso faz com que meu vestido preto mais curto com
cinto cravejado e gargantilha combinando pareça um pouco
escandaloso. Definitivamente não parece que vamos ao mesmo
jantar.
Um buraco acabou de se abrir no chão? Porque eu acho que
meu estômago simplesmente mergulhou nele.
Esqueça a minha confiança que Charla apenas admirava. Eu
a perdi completamente.
Eu preciso ficar longe das luzes quentes na frente do
espelho. Abanando meu rosto, vou até a cama e começo a
vasculhar minha bolsa. Não como se eu fosse encontrar alguma
coragem lá para combater o intenso ataque de nervos.
O serviço de quarto entrega vinho, certo? Porque estou
pensando seriamente em me trancar no banheiro pelo resto da
noite. Eu e a jacuzzi gigante podemos ter nosso próprio
encontro. Na verdade, vou trocar o pedido de vinho por
champanhe. Bolhas de sabão e bolhas da champanhe. Perfeito.
Ab-by. Agente Gibbs para o resgate. Esta não é mais você.
Com algumas respirações profundas e alguma ginástica
mental, concordo com meu Gibbs interior. Este não sou eu.
Minhas inseguranças não me possuem. O aperto no meu peito
afrouxa enquanto Charla se dirige para a porta.
— Está na hora. — Dando-me um último olhar de
avaliação, ela diz: — Você vai impressionar Jack.
Mas eu não me importo com Jack. E não é como se eu
pudesse dizer a Charla que estou mais preocupada com o que o
encontro dela pensa sobre mim. Pego minha bolsa e dou a ela
um sorriso que é uma total farsa.
— Vamos impressionar as esposas de alguns investidores.
CARA DRA. LOVE
De: [email protected]
Para: [email protected]

Cara Dra. Love,


Minha namorada fica insinuando sobre ficar noiva. O que
ela não sabe é que eu tenho guardado dinheiro para o anel dos
sonhos dela e estou quase lá.
O problema é que toda essa irritação está me fazendo pensar
duas vezes. Ela vai me incomodar tanto assim se nos casarmos?
Estou me sentindo inseguro se devo propor agora.
Sinceramente,
Cara que não consegue pensar em um nome criativo

De: [email protected]
Para: [email protected]

Prezado Cara Importunado,


Normalmente, as pessoas estão fazendo o seu melhor
durante o namoro. Quanto mais longo o relacionamento, mais
da pessoa real você verá.
Se ela está resmungando agora, é melhor apostar que ela
estará resmungando mais tarde.
A meu ver, você tem duas opções. A primeira é correr
gritando para as colinas. É uma opção válida, embora covarde.
A segunda é falar abertamente sobre o assunto. O fato de
você estar escrevendo para mim em vez de ser direto com sua
namorada me diz que você precisa crescer e amadurecer.
É simples: corra ou converse, cara.
Sinceramente,
Dra. Love
CAPÍTULO OITO

Zane

ISSO NÃO É UM ENCONTRO. NÃO É.


Você saberia, diz a voz de Zoey na minha cabeça.
Considerando que você esteve em mil deles.
Ha ha. Muito engraçado, Zo.
Se é estranho que eu às vezes tenha conversas mentais com
minha gêmea, então que seja. Eu nunca ouvi falar que isso é
uma daquelas coisas de gêmeos – e acredite em mim, eu
procurei quando comecei a ter discussões com ela na minha
cabeça – mas eu apenas considero a voz de Zoey como minha
consciência. Meu próprio Grilo Falante.
A questão é que, eu percebo enquanto Jack e eu esperamos
ao lado dos elevadores por Abby e Charla, eu realmente não
fiquei tão nervoso assim em um encontro. Talvez uma ou duas
vezes no ensino médio, quando eu realmente gostava das
garotas que eu convidava para sair, e quando eu me importava
se elas dissessem não.
Antes de mamãe morrer.
Nos últimos anos, namorar tem sido como conferir os livros
da biblioteca. Eu escolhia uma que eu gostasse, a mantinha por
uma semana ou duas e depois a devolvia. E embora eu saiba que
comparar mulheres com livros de biblioteca possa parecer
ruim, não é como se eu estivesse terminando o livro. Raramente
passamos do primeiro capítulo. Não dobrei os cantos das
páginas nem nada bárbaro. Sem compromisso, nada sério. Eu
sempre fui direto sobre isso, e exceto quando as mulheres
ficavam pegajosas, como Chelsea, ninguém se machucava.
Que você saiba. Eu realmente gostaria de poder tirar a voz de
Zoey da minha cabeça às vezes. Mas talvez seja exatamente o
que eu preciso ouvir esta noite.
Porque por mais que eu odeie a sensação de palmas das mãos
suadas e meu estômago caindo na sola dos meus pés, isso me
lembra de como costumava ser. De quem eu costumava ser.
Acho que estar nervoso é uma coisa boa.
Exceto que eu não deveria estar sentindo nada. Porque isso
não é um encontro.
Estou abrindo um caminho no tapete entre os elevadores e
a loja de presentes. Enquanto isso, Jack é a imagem da
tranquilidade, encostado na parede, lendo algo em seu telefone.
Às vezes me pergunto se ele tem alma. Ou se ele vendeu em
troca da marca constante e arrogante de confiança que ele usa.
— Nervosismo não fica bem em você — Jack diz, sem tirar
os olhos do telefone.
— Sim, bem, um de nós tem que se preocupar com esta
reunião.
Jack desliza o telefone no bolso e sorri.
— Eu me importo. Mas estou muito ocupado manifestando
sucesso aqui para me preocupar.
Manifestando. Essa é a palavra favorita de Jack. Ele
manifesta sucesso, riqueza e todos os tipos de coisas
diariamente. Prefiro o bom e velho trabalho duro. É por isso
que sou sempre o último a sair do escritório e o primeiro a
entrar.
Eu gostaria de poder me manifestar imediatamente fora
desta situação. Prefiro estar em casa. Treinando. Sentindo a
tensão diminuir enquanto eu empurro meu corpo ao limite.
Este lugar tem que ter uma academia. Provavelmente uma boa.
Assim que terminarmos este jantar, é onde estarei.
Talvez seja apenas nervosismo, porque muita coisa depende
desses investidores. Já temos tantos investidores, mas
precisamos de mais para passar pela reta final, até o lançamento
em um mês. O vinho e jantar nunca foram a minha parte
favorita. Sou eu que faço as coisas nos bastidores, onde prefiro
ficar. Mas Jack insiste que nós dois precisamos ser o rosto da
empresa. Eu sei que ele está certo, mesmo que eu odeie isso.
E esta noite, somada à pressão normal, temos dois coringas:
Charla e Abby.
Charla é um erro. Uma escolha desesperada. O número dela
estava no meu telefone, salvo como Charla Do Bar, AE. Eu
tinha uma vaga lembrança dela na minha cabeça como uma
morena bonita e sorridente que eu pretendia convidar para sair,
mas esqueci. O AE em seu nome me fez pensar que talvez ela
fosse profissional. Mas a roupa em que ela apareceu me fez
pensar se a sigla não significava outra coisa, como Atendente de
Estacionamento.
E depois há Abby. Eu só a vi de saia uma vez, e ela foi
combinada com botas de motociclista. Ela estava incrível, mas
se ela usar algo assim esta noite, como os investidores e suas
esposas reagirão? E como vou me impedir de ser totalmente e
absolutamente distraído por ela? Essa é a verdadeira questão.
Nesse momento, o elevador apita. E, como se Jack e eu
pudéssemos sentir os ocupantes antes de abrir, nós nos
endireitamos, observando as nossas acompanhantes saírem.
Não tenho certeza do que é mais chocante: a forma como
Charla se transformou para que ela realmente pareça uma
contadora, ou a maneira como todo o meu corpo reage a Abby
em um vestido.
Primeiro minha respiração falha, como se o oxigênio no ar
tivesse sido substituído por algum outro tipo de composto,
muito denso para meus pulmões. Então meu peito aperta e
meu coração dispara como um cavalo de corrida liberado do
portão de largada. Ele se foi, e talvez eu nunca mais possa pegá-
lo.
Abby não parece ter saído de um escritório, mas também
não parece que foi tirada de um show de rock em algum lugar.
Não. Abby está... linda. Única. Tentadora. Apetitosa. E como
a mulher sensata e de boca esperta que tem assombrado meu
escritório e minha mente a semana toda.
Seu cabelo loiro platinado acaba em cachos rosa. Ela ainda
não está com uma tonelada de maquiagem, mas está com um
pouco mais do que o habitual. Seus olhos são escuros e lindos,
a cor avelã que eu tenho tentado definir parecendo mais verde
do que marrom. Mas são os lábios que me atraem, cheios e
rosados como chiclete.
Eu nem percebo que estou andando em direção a ela até que
Jack fica entre nós, envolvendo seus braços em torno de Abby
em um abraço.
Porque ela não é minha acompanhante. Ela é dele.
Apesar desse fato, e apesar da realidade de Charla parada
aqui, eu tenho que lutar contra a vontade de jogar Jack por
cima da minha cabeça e dentro do vaso de figueira ao lado do
elevador.
Com toda a disciplina do meu corpo, me viro para encarar
Charla, copiando Jack enquanto lhe dou um abraço rápido.
— Você parece perfeita — eu digo, querendo falar isso. Ela
se parece exatamente com o que eu esperava quando lhe disse
que esperávamos causar uma boa impressão aos investidores no
jantar.
Então, por que estou terrivelmente desapontado?
Talvez porque de repente eu tenha certeza do que quero. E
não é um namoro casual e depois uma despedida amigável. Não
é uma distância cuidadosa, onde o meu coração não está
envolvido. Não é o tipo de mulher com quem tenho saído.
Bonita. Tediosa. Segura.
Eu quero Abby.
Enquanto eu assisto, Jack estende o braço para ela com um
sorriso.
— Devemos?
Abby olha para mim, como se esperasse por algo. Eu me
pergunto se minha compreensão está em todo o meu rosto. Ela
pode sentir meu desejo de estar ao lado dela? Ela pode sentir o
quanto eu quero arrancar os braços de Jack?
Naquele dia em meu escritório, eu deveria ter lutado com
Jack por ela. Eu deveria ter reivindicado Abby e pedido que ela
fosse minha acompanhante. Vê-la com ele é uma tortura.
Mas eu não perguntei a ela. Eu deixei Jack ganhar. E eu não
digo nada agora enquanto Jack a leva embora.
Charla pega meu braço.
— Tudo bem?
Nem mesmo perto.
— Estou bem — digo a ela.
Nossa mesa é grande e redonda, o que vai dificultar as
conversas. Jack se senta entre Abby e Charla, deixando-me sem
uma visão clara de Abby. Como não consigo ver o rosto dela,
eu estou desesperado por qualquer coisinha que vejo. Sua mão
em seu copo de água. Seu cabelo roçando a toalha de mesa.
Quando ela se inclina para o lado, vejo uma tatuagem saindo de
seu vestido perto de sua clavícula. Como eu não percebi isso
antes?
E como é a tatuagem?
Como se ela sentisse meus olhos, procurando por ela, Abby
finalmente pega e segura meu olhar, me dando um sorriso
secreto que eu quero enfiar na minha carteira do jeito que
alguns homens guardam fotos de seus filhos. É o tipo de olhar
que eu quero lembrar para sempre e ver de novo e de novo.
Meus olhos são atraídos para a pequena cicatriz branca em seu
rosto, aquela que ela me contou no caminho até aqui.
É quase imperceptível, lembrando-me de um pequeno
pedaço de uma constelação, uma estrela solitária piscando no
alto da sua bochecha. Lembrando a vulnerabilidade em sua voz
quando ela me contou sobre o que eu tenho certeza que foi
humilhante na época, eu gostaria de ter tido a chance de fazer o
mesmo. Para me abrir para ela.
Ela me pegou de surpresa, perguntando sobre a cicatriz na
parte de trás da minha cabeça. Meu cabelo quase cobre-a, e não
preciso vê-la, pois está na parte de trás da minha cabeça. As
pessoas não costumam perguntar sobre isso, mas eu ainda
gostaria de poder cobri-la. Pena que eu odeio cabelos
compridos, e mullets nunca estarão na moda.
Veio do vidro temperado – você sabe, o material que não
deveria cortar você – do acidente de carro que matou minha
mãe.
Eu balanço minha cabeça, percebendo que Abby se
inclinou para trás novamente, escondida da minha vista.
O jantar não foi tão horrível quanto eu pensava. Jack joga
conversa fora e bajula daquele jeito que ele faz tão bem, e os
investidores parecem estar se divertindo. Eventualmente,
trocamos os assentos para que as mulheres ficassem de um lado
da mesa e os homens do outro. É mais conveniente para a
conversa de negócios, mas parece muito... machista. Como se
tivéssemos relegado às mulheres à mesa das crianças no Dia de
Ação de Graças.
E como Abby agora está bem na minha frente, eu sou
submetido aos olhares ocasionais que ela lança em minha
direção, dizendo que concorda.
Dos breves trechos da conversa das mulheres, ouvi frases
confusas como guarda-roupa cápsula (tipo, uma cápsula do
tempo?), alinhamento capilar (dos pneus?), e
micropigmentação (que soa como uma morte lenta ou talvez
como minis pessoas pintando o cabelo). Abby lança um olhar
para mim quando uma das esposas dos investidores – Sara, eu
acho – menciona marcar compromissos amanhã para fazer as
unhas.
Eu não posso deixar de sorrir de volta para Abby, então
percebo que eu perdi alguma pergunta que Rick, o marido de
Sara, acabou de fazer.
— Desculpe, você poderia repetir isso? — Eu pergunto.
— Eu estava me perguntando sobre as especificações do
aplicativo. Jack disse que você era o único que sabia. Está no
caminho certo para ser concluído?
Claro, Rick faria essa pergunta. Meus olhos vão direto para
Abby. Não quero revelar que estamos tendo problemas, mas
também não quero dar uma frase pronta para ele.
— Está no caminho certo — diz Abby, inclinando-se para
frente em seu assento.
Um silêncio cai sobre a mesa por um momento enquanto os
dois investidores a percebem e as mulheres parecem um pouco
escandalizadas por Abby ter se juntado à conversa dos homens.
Não posso deixar de me perguntar como eles a veem: cabelo
rosa escovando a toalha de mesa, seus olhos castanhos
brilhantes, sua voz confiante. Ela é cativante. Eu tenho que me
forçar a desviar o olhar para que eu não fique encarando.
— E você é? — Philip pergunta, tocando a ponta de seu
bigode. Ele tem feito isso a noite toda, como se achasse que
fosse rastejar para longe como a lagarta que se parece.
— Abby. Estou ajudando com as redes neurais e
classificando as estruturas de dados para maximizar a eficiência.
Dessa forma, quando milhões de usuários baixarem o
aplicativo no primeiro dia, ele não irá travar.
Eu nem sei o que todas as palavras significam, já que não sou
a pessoa da tecnologia, mas há algo sexy na maneira como Abby
está soltando a linguagem.
Rick sorri.
— Gostaria de pensar em mim mesmo como envolvido no
desenvolvimento. Perdoe-me por perguntar, mas você está
lidando com o site também? Estou curioso sobre o
desenvolvimento adaptativo e como você está equilibrando a
interface do usuário versus a experiência do usuário.
Tenho a impressão de que Rick está apenas soltando termos
para coisas que estão acima do seu conhecimento. A parte de
trás do meu pescoço começa a suar, e Jack me dá um pequeno
olhar de pânico que eu poderia ter perdido se não o conhecesse
tão bem.
Abby empurra sua cadeira para trás.
— Gostaria de dar uma olhada na interface? Se estiver tudo
bem para Jack e Zane, é claro.
Ela olha para mim, não para Jack, em busca de aprovação, o
que faz o orgulho se espalhar pelo meu peito. Não sou louco
por deixar as pessoas verem mais do que precisam ver, mas
quando Abby pisca para mim, eu aceno. Ela acha que é seguro,
e eu confio nela.
Instantes depois, Abby tem um pequeno tablet na mão e se
posicionou entre Rick e Philip, percorrendo a maquete do
nosso site e, em seguida, o que parece ser um monte de códigos.
É imediatamente óbvio que Rick não tinha ideia do que estava
falando, mas está apenas concordando com o que Abby diz.
Quando ela diz algo sobre uma rede gorila, eu me pergunto
se ela está brincando com ele também. Seu rosto está muito
sério, mas há um brilho em seus olhos. Mais ou menos como o
que ela tinha quando estava brincando comigo naquele
primeiro dia.
Jack encontra meus olhos, sorrindo e alguns minutos
depois, Rick balança a cabeça, me dando um sorriso irônico.
— Bem, você me convenceu bastante até agora.
Até agora? Eu juro por alguns segundos, parece que todos
os órgãos do meu corpo foram vaporizados. Puf. Se foi.
— Depois de ouvir tudo isso? Estou vendido. — Ele meio
que se levanta e estende a mão para apertar a minha, depois a de
Jack.
Eu sei que estou sorrindo como uma idiota, mas estou tão
aliviado que nem me importo. Philip segue o exemplo,
apertando nossas mãos e dando um tapinha gentil nas costas de
Abby.
— Com alguém tão experiente quanto Abby em sua equipe,
me sinto muito mais seguro.
Nem Jack nem eu nos preocupamos em corrigi-lo,
explicando que ela começou esta semana como terceirizada. Se
eles estão a bordo por causa dela, é melhor deixá-los pensar que
Abby está em tempo integral.
Abby encontra meus olhos, e vejo o brilho de orgulho em
seu sorriso presunçoso e o lindo rubor rosa em suas bochechas.
Eu engulo o caroço crescente na minha garganta.
Duas vezes hoje, Abby me resgatou de alguma forma.
Primeiro, com a coisa toda da cicatriz. Eu sabia que ela contou
sua história apenas para tirar a pressão de mim quando ela
atingiu um ponto sensível. Eu não estava preparado para ela
perguntando, e minhas emoções subiram à superfície antes que
eu pudesse engaiolá-las.
Não foi culpa dela, mas eu vi o quanto ela se sentiu mal.
Agora, ela acabou de fazer o movimento final para selar o
acordo e garantir esses investidores.
Tudo sem diminuir sua Abbyzisse em uma única grama.
Como evidenciado quando ela se vira para Philip e pergunta:
— Quantos programadores são necessários para aparafusar
uma lâmpada?
Piadas? Ela está contando piadas agora? Quero enviar-lhe
algum tipo de sinal, um que diga: Abortar! Abortar! Abortar!
Temos as coisas fechadas. Agora é quando devemos nos
afastar da mesa.
Por favor, não deixe que seja uma piada suja. Por favor, não
deixe que seja uma piada suja.
Philip sorri – pelo menos, acho que ele está sorrindo sob
aquele bigode terrível – e diz:
— Quantos?
— Nenhum — Abby diz. — Isso é um problema de
hardware.
Rick dá uma gargalhada, e tanto Philip quanto Jack se
juntam. Eu meio que entendi a piada, mas ainda estou um
pouco em pânico. Jack me dá um olhar duro, me dizendo para
relaxar enquanto Philip pede uma rodada de bebidas depois do
jantar.
E pelos próximos quarenta e cinco minutos, eu bebo meu
vinho do porto, observando Abby manter Rick, Philip e Jack
entretidos com piadas de desenvolvedores e histórias de
pesadelos de codificação. Há uma pequena parte de mim que
ainda está nervoso, mas uma parte maior se sente orgulhoso
vendo Abby trabalhar na mesa. Ao contrário do exterior liso e
polido de Jack, Abby é encantadora, mas totalmente ela
mesma.
Hilária, um pouco irreverente e completamente sedutora.
No final da noite, quase esqueci Charla, que se junta a mim
enquanto todos nos levantamos da mesa. É então que noto que
Jack colocou Abby debaixo do braço. Uma onda de ciúme me
atinge, tão palpável e esmagadora quanto o calor quando você
sai de um prédio com ar-condicionado no Texas durante o
verão.
Eu não posso me sentir assim sobre a melhor amiga da
minha irmã. Não posso.
E porque não? aquela voz irritante da Zoey pergunta.
Mas enquanto estou assistindo Jack com Abby, ainda
debaixo de seu braço estúpido, todas as minhas razões voaram
direto para fora da minha cabeça.
Rick sorri para Abby, depois para Jack.
— Você é um homem de sorte — diz ele. — Melhor manter
esta aqui perto.
— Eu pretendo — Jack diz, olhando para Abby.
Mas ela está olhando diretamente para mim, não para ele.
Eu juro que ela parece pronta para fugir. Isso alimenta meu ego
e minha motivação.
Os planos mudam, amigo. Eu penso, olhando para Jack. Os
planos mudam.
CAPÍTULO NOVE

Abby

— E ENTÃO EU contei uma piada de codificação, e todos


fingiram entender. Oh meu Deus, você deveria tê-los visto
rindo — eu digo, tentando, mas não conseguindo manter
minha voz baixa.
Estou em uma escada no resort, o único lugar tranquilo que
encontrei quando Charla foi para a cama. Eu peguei meu
laptop para trabalhar, mas tive que ligar para Zoey primeiro e
me gabar.
— Zane fingiu uma risada da sua piada de codificação? — A
voz de Zoey está cheia de descrença.
— Não. Ele foi o único que não riu.
Ele apenas olhou para mim, na verdade. Com um olhar que
eu não conseguia ler, mas isso me fez querer subir em seu colo
e beijá-lo.
O olhar em seu rosto quando ele estava satisfeito comigo fez
meu corpo inteiro ficar quente. Esta noite, quando eu tinha os
investidores comendo na minha mão, seu rosto passou de
choque para algo como orgulho e admiração. E então mudou
para algo ainda mais intenso, como um desejo cru ou uma
promessa.
Agora que estou falando com Zoey, pensar em Zane assim
faz eu me sentir horrível. Quero dizer, realisticamente, se eu
gostasse de Zane e Zane gostasse de mim, Zoey não ficaria no
nosso caminho. Ela ficaria?
É só que ela me alertou para ficar longe dele tantas vezes,
falando sobre como ele nunca fala sério. Como ele não se
compromete, mas já saiu com a metade de Austin.
Zane sai com mulheres como Charla. Não mulheres como
você.
Esse é um pensamento desanimador. Um que me ajuda a
banir meus pensamentos rebeldes de perseguir Zane.
— Estou orgulhosa por você, Abs. Mas eu sabia que você
seria incrível — Zoey diz, bocejando.
São apenas nove e meia da noite, mas isso é pelo menos
trinta minutos depois de sua hora de dormir. E eu preciso
trabalhar na última anomalia que encontrei no código.
Finalmente tenho cem por cento de certeza de duas coisas:
alguém está sabotando o código e essa pessoa tem acesso local
aos servidores. Como se eles trabalhassem na Eck0.
— Eu vou te deixar ir, mas eu tenho algo para contar a você
primeiro.
— Vá em frente — Zoey diz, bocejando novamente.
— Digamos que encontrei algo enquanto vasculhava que
fez parecer que alguém está intencionalmente sabotando o
aplicativo.
Zoey suspira.
— Você está falando sério? Quão certa você está?
— Quase cem por cento. Ainda não contei ao Zane porque
queria ter certeza absoluta.
— Eu sei que ele gostaria de saber se alguém está invadindo.
Você deveria dizer a ele agora.
Mordo o lábio antes de responder.
— Esse é o ponto. Não é um hacker. É alguém de dentro,
que trabalha na Eck0.
Uma dessas pessoas é Jack, apesar do fato de que ele diz não
saber muito sobre programação ou desenvolvimento. Há algo
nele que eu não confio.
Mas depois de vê-lo esta noite cortejando os investidores,
não posso acreditar que seja ele. Ninguém iria trabalhar tão
duro para obter apoio financeiro e depois estragar tudo.
— Eu não posso acreditar. — Zoey parece atordoada. —
Quero dizer, eu posso. Eu vi muita sabotagem no meio
corporativo nos últimos dois anos. Mas ainda assim. Eu odeio
que isso esteja acontecendo com meu irmão. Ele trabalhou
tanto.
— Eu sei.
Ela suspira.
— Eu esperaria até que você tenha cem por cento de certeza.
Eu conheço o Zane. Primeiro, ele vai surtar. Então, ele vai
querer revisar cada fragmento de evidência.
— Foi isso o que eu imaginei. Obrigada, Zo.
— A qualquer hora, Abs.
Damos boas-noites e me acomodo em meu pequeno
recanto no topo da escada deserta para fazer um trabalho que é
cada vez menos sobre dinheiro e cada vez mais sobre o homem
que me contratou.

Em algum lugar, um alarme está disparando. Não é o alarme do


meu telefone, percebo quando o sono começa a se dispersar e
desaparecer. Normalmente, eu acordo com The Black Keys, o
volume começando baixo e depois ficando mais alto, me
tirando suavemente do sono.
O bip-bip-bip que estou ouvindo me tira do sono com um
solavanco. Levanto e começo a andar, para onde não tenho
certeza, mas imediatamente tropeço em alguma coisa e caio no
chão.
Por que estou em um tapete de pele de vaca falso? Espere.
Isso não é falso. Por que estou em um tapete de pele de vaca de
verdade?
Meus olhos se abrem finalmente quando uma voz semi-
familiar chega aos meus ouvidos.
— Oh meu Deus, eu sinto muito! Esqueci de apertar soneca
no meu alarme.
Tudo volta para mim como um download instantâneo. O
resort. Charla. O jantar. Verificando o código até bem depois
das três da manhã.
— Café — eu gemo, me levantando. Excelente. Agora eu
tenho um arranhão do tapete em ambos os joelhos.
Provavelmente é uma vingança por usar o corretivo do bebê
elefante.
— Você está sangrando! — Charla diz, enquanto eu afundo
de volta na minha cama.
— Perigos da vida no hotel — murmuro. — Que horas são?
Eu pisco para Charla, percebendo pela primeira vez que ela
está enrolada em uma pequena toalha de hotel, cabelo
encharcado e gotas de água brilhando em sua pele. Estou
sangrando e meu cabelo pelo que eu posso dizer é como um
ninho de pássaro e meus olhos estão tão inchados que mal
consigo ver. E ela se parece com a capa de uma revista em um
maldito maiô.
— Acho que não temos um kit de primeiros socorros, mas
provavelmente poderíamos pedir um? — Charla parece
insegura.
Examino meus joelhos. Queimadura típica de tapete.
Apenas manchas grandes e cruas com um pouco de sangue.
— Não estou com hemorragia nem nada. Está tudo bem.
— Hum, seus olhos — diz ela. — Você está bem?
Eu suspiro. Sempre que não durmo o suficiente, meus olhos
explodem como os de um baiacu nas primeiras horas em que
estou acordada. Minhas colegas de quarto adoram essas manhãs
e estão sempre tentando tirar fotos comigo. Porque não
consigo ver muito bem, por conta do inchaço, sou um alvo
fácil. Graças a Deus, o Facebook permite que você se
desmarque das fotos.
— Eu só fui dormir tarde. Estou bem. Você disse algo sobre
café?
— Acho que você disse algo sobre café. Já tomei meu chá
verde. — Ela deve notar o olhar de desespero no meu rosto,
porque ela se agarra a isso. — Acho que tem uma máquina no
banheiro.
Charla gira tão rápido que sua toalha se levanta, me dando
uma boa vista.
Essa é uma maneira de me acordar. Ela erroneamente usou
uma toalha de mão? Ou uma de rosto?
Isso tudo é demais. Até mesmo café de hotel feito em um
banheiro com água da torneira serve, pelo menos para me
acordar o suficiente para que eu possa descer para tomar um
café de verdade.
Alguém bate na porta. Eu realmente espero que o serviço de
quarto de alguma forma tenha ouvido meu grito silencioso por
ajuda e tenha trazido um prato de bacon e um expresso duplo.
Eu tropeço em direção à porta, mas Charla já chegou lá. Ela
abre a porta, não parecendo nem um pouco perturbada por
estar usando uma toalha de rosto glorificada.
Jack e Zane estão parados ali, de olhos arregalados.
Não sei o que é pior. Charla em sua toalha, ou eu, parecendo
uma toupeira meio morta com um ninho de cabelos loiros e
rosa em volta da minha cabeça.
— Entrem — diz Charla, abrindo mais a porta.
Porque, com certeza. Eles já viram tudo. Por que não?
Zane hesita, mas Jack entra direto, dando a Charla um olhar
apreciativo que a faz rir. Ela dá um tapa no peito dele de
brincadeira antes de correr para o banheiro com um punhado
de roupas.
— Saio logo! — ela chama pela porta. — Não façam nada
que eu não faria!
Não sei o que ela faria ou não faria, mas posso dizer
categoricamente que seu aviso é totalmente desnecessário. Jack
está agora reclinado na cadeira do escritório, sorrindo para
mim.
— Não é uma pessoa matinal? — ele diz.
— Se com isso você quer dizer que eu não sou uma pessoa
de manhã, então sim. Pelo menos não até eu tomar café.
Zane, que estava parado na porta, claramente sem saber se
quer entrar neste circo, entra decididamente e estende um copo
para viagem que cheira a vida e alegria.
— Um flat white — diz ele.
— Você é o espécime perfeito de um homem — eu digo.
Tomo alguns goles, grata por não estar quente o suficiente
para me queimar antes de perceber o que acabei de dizer a Zane.
Eu não deveria ser responsabilizada por nada que eu diga nas
primeiras horas de qualquer dia. Especialmente não depois de
só algumas horas de sono.
Eu limpo minha garganta.
— Obrigada.
— Você está bem? — Ele parece realmente preocupado, o
que é adorável, especialmente comparado à diversão
presunçosa no rosto de Jack.
— Eu apenas levo algum tempo para acordar normalmente.
E eu fiquei acordada até tarde.
— Não, você está sangrando — diz ele.
Certo. Meus joelhos. Eu olho para baixo, e eles parecem um
pouco piores agora. Na verdade, há um rastro de sangue quase
até o tornozelo na minha perna direita. Perfeito.
— Caí da cama.
Zane parece horrorizado, e enquanto o café me deixa mais
consciente, fico mortificada. Pareço algo arrastado de um
pântano. Eu tenho hálito matinal. Eu estou sangrando.
Provavelmente é bom que ele me veja assim. Quero dizer,
poderia muito bem me ajudar a superar minha pequena
(também conhecida como: crescendo a cada minuto) paixão
pelo gêmeo da minha melhor amiga, certificando-se de que ele
nunca se interesse por mim. Não importa o que eu pensei ter
visto em seus olhos na noite passada.
— Acordadas até tarde assistindo filmes? Tendo lutas de
travesseiros? — Jack balança as sobrancelhas sugestivamente, e
se eu não precisasse desse café para existir agora, eu o jogaria
nele.
Eu realmente achei que ele era fofo quando o conheci? Cada
minuto que passo com ele, ele fica mais e mais... nojento.
— Eu estava trabalhando na falha — eu digo, olhando. Ele
provavelmente não pode dizer, já que meus olhos estão tão
pequenos agora.
— Você consertou? — Zane pergunta, sua voz soando
muito esperançosa. Eu gostaria que minhas notícias não fossem
decepcionantes.
O problema de falar com quem não é programador é que
eles não entendem nossa linguagem. Eu digo falha, porque Jack
e Zane vão entender isso. Exceto que a falha implica que é uma
coisa singular, quando a realidade é muito mais complexa. Eu
simplesmente não consigo explicar isso para eles. Pelo menos,
não sem analogias.
— Infelizmente, não é um problema que eu possa corrigir.
O código é como uma teia de aranha. E quando um bug cai
nele, ele impacta a parte da web onde ele cai, mas também
impacta toda a web. Pense assim: estou tentando descobrir
onde todos os bugs chegaram seguindo o movimento da web.
Então eu tenho que descobrir quem trouxe os bugs. Mas
não estou dizendo isso, ainda não. Lembro-me das palavras de
Zoey, que Zane vai querer uma trilha inteira de provas. Estou
perto. Provavelmente no final do fim de semana. Talvez
segunda-feira. Ou no meio da semana. Devo ser capaz de dizer
onde o código foi introduzido, o que me dará uma assinatura
ou um login ou endereço IP para reduzi-lo. Se eles são espertos,
o que eu suspeito que sejam, provavelmente estão alternando
entre vários endereços IP para mascarar a localização. Mas
também sou inteligente. Fazia tempo que não tinha um desafio
como esse, e acredite, estou aqui para isso.
Eu vou descobrir isso, então darei a Zane todas as provas que
ele precisa. Além disso, consertarei o dano. Eu serei a heroína
do dia e também serei paga.
Mas então eu não vou ver Zane todos os dias. O pensamento
faz minhas esperanças desmoronarem um pouco, mas eu me
lembro que não quero Zane. Muito complicado. Muito
certinho. Muito irmão de Zoey.
Enquanto ele olha meus joelhos novamente, eu lembro que
eu nem preciso me preocupar com nada acontecendo com
Zane agora que ele me viu em meu estado naturalmente
perturbador.
Charla sai do banheiro, o cabelo em um nó bagunçado,
ainda parecendo uma modelo sexy em uma camisa de ombro e
calça de ioga. Estou um pouco surpresa com a roupa,
considerando nosso resort chique.
— Qual é o plano para hoje? — Eu pergunto em torno de
um bocejo.
— Golfe — Jack diz. Percebo então, porque meus olhos
minúsculos de verruga estão começando a abrir graças à
cafeína, que os caras estão vestindo camisas pólo, shorts cáqui
e sapatos engraçados. Golfe. Ok. Isso significa...
— Dia de spa! — Charla grita.
— Dia de spa? — Li sobre todas as amenidades no panfleto
lá embaixo, algumas coisas que conheço, como massagens, mas
também coisas que não entendo e não consigo pronunciar.
Juro que li algo sobre Cara de Vampiro11. Não mesmo, caralho.
— Legal. Se divirta. Acho que vou ficar aqui e trabalhar.
Charla ri, pegando minha mão e acenando. Estou
preocupada que todo o movimento vá empurrar meu flat
white.
— Não, boba — diz Charla, ainda agitando meu braço ao
redor.
Lembro-me novamente que ela é uma assessora econômica.
Uma garota inteligente que processa números e por acaso age
como o estereótipo de uma modelo de maiô de fraternidade.
— Você e eu vamos. Vamos nos encontrar com Sara e Mel
em vinte minutos. Melhor se preparar!
Os horrores desta manhã são intermináveis. Eu tenho que ir
a um spa. Com Charla e as esposas dos investidores. É por isso
que estou aqui. Eu olho para Zane com olhos suplicantes. Mas,
novamente, meus olhos podem não estar abertos o suficiente
neste momento para transmitir emoção.
Eu prefiro carregar tacos ou andar em um carrinho de golfe
ou até mesmo entrar em um lago para encontrar bolas. Jacarés
quase nunca estão tão distantes a noroeste, apesar da história
que ouvi sobre um encontrado em Dallas recentemente.

11
É um procedimento estéstico que envolve tirar sangue do seu braço, separar
plaquetas e aplicá-las de volta em seu rosto.
— Não se preocupe — Jack diz. Porque, claramente, tem
emoção suficiente está vazando pelo meu rosto inchado para
transmitir meu pânico. — Nós nos encontraremos com vocês
mais tarde para uma massagem para casais.
Só assim, estou totalmente e terrivelmente acordada, e
quando Jack dá primeiro a Charla e depois a mim um sorriso
predatório, eu penso em como soa adorável uma luta livre de
um jacaré.
CAPÍTULO DEZ

Abby

CADA UMA das minhas colegas de quarto trocaria de lugar


comigo agora. Um dia gratuito em um spa sofisticado. Eu não
posso nem reclamar com elas sobre isso porque elas ficariam
todas, Boohoo! A pobre e mimada Abby e seus problemas de
primeiro mundo!
E eu entendo. De verdade. Isto é um presente.
Mas a lógica não faz nada para apagar o pânico que estou
experimentando enquanto estou em um quarto com apenas
um roupão me cobrindo.
— Eu tenho que ficar nua? — Perguntei à mulher que me
entregou o roupão.
Ela apenas riu, como se pensasse que eu estava brincando.
Eu não estava.
Este dia parece uma casa de terror, onde cada quarto é pior
que o anterior. Talvez se não tivesse começado comigo me
despindo e sendo lavada em uma sala com um ralo no chão. Isso
é o que eles fazem com os prisioneiros. Eu meio que esperava
que eles jogassem algum tipo de tratamento contra piolhos no
meu cabelo ou me dessem um banho de pulgas.
Depois da lavagem de mangueiras, que a mulher que a
administrava parecia gostar demais, fui submetida a horas em
traje de banho com Charla, Sara e Mel. Horas. Passando por
várias piscinas e uma sauna a vapor. Essa parte não foi terrível.
Eu não deveria estar reclamando. Ou sendo tão miserável.
É só que... essa coisa toda desperta muitas lembranças para
mim. Passar tanto tempo com mulheres que não conheço,
mulheres que parecem tão diferentes e cujas conversas giram
em torno de coisas que não me interessam: bolsas, sapatos e
tratamentos de spa. As rugas na testa e o botox para combatê-
la. Descobri que sou a única na área metropolitana de Austin
que não faz tratamentos faciais regulares.
Acrescente o fato de que estar de maiô – ou, como agora,
sem um maiô – me faz sentir tão vulnerável. Tão exposta.
Eu não odeio meu corpo, mas tenho a mesma
autoconsciência que a maioria das mulheres tem. Talvez um
pouco mais, apenas por causa de todas as coisas que
aconteceram no ensino fundamental e médio que eu tento
esquecer.
Eu não amo desfilar vestindo quase nada. Especialmente
quando as mulheres com quem estou não parecem ter nenhum
escrúpulo sobre isso. Porque então eu não sou apenas
autoconsciente, eu sou auto consciente sobre ser
autoconsciente. Havia até mulheres que andavam totalmente
nuas sem nenhuma preocupação no mundo. Quero dizer, vão,
senhoras! Façam o que quiserem. Mas apenas destacou as
inseguranças que ainda preciso chutar para fora.
Eu tenho que admirar um grupo de mulheres que deveriam
estar na casa dos oitenta, andando por aí com tudo para fora.
Ênfase no tudo. Resolvi começar um fundo para a mamoplastia
que certamente vou precisar um dia. Então, acho que se eu
quiser olhar pelo lado positivo, posso dizer que hoje foi
educacional.
— Abby! Você está vindo? — Charla bate na porta, me
fazendo pular.
Aperto o nó do roupão com mais força.
— Só um segundo!
Se o objetivo era relaxar, foi um fracasso total. Cada
músculo do meu corpo está tenso, e minha reação de lutar ou
fugir está em alta velocidade. Não tenho esperança de que a
massagem no final do dia vá ajudar, porque é uma massagem
para casais. Com Jack.
Ele não fez nada para me fazer pensar que está tentando
cruzar quaisquer limites que eu estabeleci, mas, novamente,
nós vamos ficar nus em um quarto juntos. Coberto com
lençóis ou toalhas ou algo assim – eu acho? – e com massagistas,
mas ainda assim. Se me sinto desconfortavelmente consciente
em um maiô com outras mulheres, não há como relaxar nua em
um quarto com Jack.
Quando acho que não consigo mais adiar, abro a porta.
— Oi! — Charla acena, como se não tivéssemos nos visto e
passado horas juntos.
— Ei.
— Posso falar com você por um minuto? — Charla puxa a
faixa de seu roupão.
A preocupação se acumula em meu intestino. Esse tipo de
conversa quase nunca é boa.
— Claro. E aí?
— É sobre as massagens de hoje. — Ela morde o lábio, seus
olhos castanhos me lançando um olhar que é ao mesmo tempo
compassivo e suplicante.
O que quer que ela esteja prestes a dizer, eu acho que vou
odiar.
— Ok. O que houve?
— Eu só queria verificar se está tudo bem. Sobre Zane.
Oh não. Ela sabe que eu gosto dele? Eu sou tão óbvio?
Ontem à noite, eu não pude deixar de encontrar meus olhos
sendo atraídos para ele. Algumas vezes, eu o peguei olhando
para mim, e ele tinha esse sorrisinho, quase como se estivesse
orgulhoso de mim. Isso me fez sentir muito incrível.
Charla deve ter notado que eu o olhava. Ela sabe que eu
gosto de Zane, seu encontro no fim de semana. E agora, ela está
fazendo aquela coisa de garota onde ela verifica se eu estou bem
se ela e Zane realmente namorarem.
Claramente, não posso culpá-la. Zane é incrível. Que bom
que Charla quer falar comigo sobre isso. Doce, mas
desnecessário. Não é como se Zane tivesse me pedido para ser
seu par neste fim de semana. Ele teve a oportunidade. Mas ele
não o fez.
Eu posso literalmente sentir o calor do constrangimento
subindo pela minha espinha, vértebra por vértebra. A última
coisa que quero é falar sobre Charla e Zane. Não quero que
Charla seja uma contadora e uma garota legal. Era mais fácil se
concentrar em sua incapacidade de cantar uma música.
Eu levanto uma mão.
— Não diga mais nada. Está tudo bem.
Charla tenta esconder o sorriso, mas não adianta. Ela
certamente sorri, então joga seus braços em volta de mim. O
embaraço se transforma em pavor e ciúme como a queima de
mil sóis.
— Tem certeza? Eu não quero pisar no seu pé — ela diz,
finalmente me soltando do abraço. Eu posso ver a melancolia
em seus olhos. Eu não posso culpá-la. Zane é incrível.
— Você tem minha bênção — eu consigo dizer, não
preparada para o ataque – quero dizer, segundo abraço – que
acontece.
— Estou tão feliz que você disse isso — diz ela, espremendo
um pouco mais da minha alma com seus braços ossudos. — Eu
não queria entrar em seu território. Você tem sido tão legal. Eu
tenho que honrar o código feminino.
Eu mal contenho meu bufo. Código feminino. Eu gostaria
de pegar o código feminino e mostrar a ela exatamente onde ela
poderia colocá-lo.
Caramba. Até meus insultos são chatos agora.
— Podemos parar de nos abraçar?
Charla ri como se eu tivesse acabado de dizer a coisa mais
engraçada, mas felizmente, ela me deixa ir.
— Você é a melhor — diz ela. — Obrigada por ser tão
incrível sobre isso.
Ela praticamente salta para a próxima parte do spa. Se ao
menos ela soubesse os pensamentos em minha cabeça, que
oscilam entre desmembramento e decapitação.
Tudo bem. Na próxima semana, terei terminado de
trabalhar para Zane. Eu o verei ocasionalmente com Zoey
como eu costumava fazer, e serei totalmente normal. Certo.
Minha concepção de normal. Vou encontrar um cara legal,
fofo e nerd que possa falar em código comigo e faremos bebês
super inteligentes e nerds. Zane vai se estabelecer
eventualmente com alguém como Charla.
Tudo vai ficar bem.
Mesmo assim, estou me arrastando enquanto entro na sala
de massagem para casais, onde uma mulher ainda mais baixa
que eu sorri e me diz para me despir e me cobrir com um lençol.
E achando o roupão ruim. Pelo menos não há mangueiras à
vista.
Há uma divisória entre as duas mesas, mas está aberta. Jack
não está aqui, então corro para pendurar meu roupão em um
gancho e me enrolo no lençol, estilo burrito, o que me faz sentir
um pouco mais segura. Eu não sei como eles vão me tirar disso,
mas é um problema para se preocupar daqui a alguns minutos.
Meus pobres joelhos queimados pelo tapete estão ardendo
quando me deito de bruços na mesa com um gemido. Eu subo
como uma minhoca até que meu rosto se encaixe no buraco,
permitindo-me olhar para o chão de madeira escuro. Achei que
a dor nos meus joelhos poderia diminuir, mas ainda estou
gemendo quando a porta se abre.
— Abby?
Viro a cabeça o máximo que posso. Zane está na porta. Não
Jack.
E isso machuca. Não deveria. Mas não importa o quanto eu
diga a mim mesma que não deveria me importar com Zane, isso
não faz doer menos.
— Quarto errado — eu digo. — Charla está no outro.
Olhando para todos os lugares, menos para o meu corpo
envolto em lençol, Zane fecha a porta e entra com um sorriso.
— Perguntei a Jack se poderíamos trocar.
Leva um momento para que suas palavras sejam registradas.
Mas quando o fazem, a euforia atinge meu peito como uma
injeção de hélio, fazendo meu coração disparar pela parte
superior do meu corpo. Oh. Oh! Era sobre isso que Charla
estava me perguntando: trocar de parceiro. Eu simplesmente
não entendi.
Espere. Foi ideia de Zane trocar?
— Eu não me importo — eu digo, tentando parecer
tranquila. Mas mesmo enquanto as palavras saem da minha
boca, de repente estou muito consciente do fato de que estou
nua em um quarto com Zane.
Claro, há um lençol em volta de mim como se eu fosse o
molde para um projeto de papel machê, mas de repente todas
aquelas partes de mim que nunca foram vistas por olhos
masculinos se acendem.
Se a CIA estivesse vigiando lá fora com imagens térmicas, eu
seria o item vermelho mais brilhante de todo o prédio. Os
mísseis guiados por calor redirecionaram seus cursos direto
para mim.
Enquanto Zane assente, dando um passo à frente para tirar
os sapatos, percebo que ele também está prestes a ficar nu, e
coloco meu rosto de volta em seu lugar, tentando respirar em
um ritmo humanamente normal.
Estou hiper consciente de cada som. O farfalhar quando
Zane tira a camisa. O tilintar da fivela do cinto. O arrastar de
pés enquanto ele tira o short. O que eu nunca ouvi foi o som
da divisória se movendo. O que significa que se eu apenas
inclinar minha cabeça, vou ver Zane se despindo. Não devo
espiar Zane. Não devo espiar Zane.
Fechar os olhos torna as coisas piores, porque meus outros
sentidos se aguçam. Eu posso sentir o cheiro dele. Realmente
deveria haver uma lei regulando os produtos corporais
masculinos. Todos eles devem estar usando feromônios de
algum tipo. Essa é a única explicação que eu tenho para a forte
compulsão que me dá vontade de sair desta cama e me grudar
em Zane.
Já tive paixões. Pequenas e minúsculas, mas este é um
pedregulho enorme rolando morro abaixo, ganhando
velocidade à medida que avança.
Eu gostaria de ter meu telefone. Eu preciso das opções de
telefonema amigo. Algum apoio moral ou conselho,
provavelmente de Sam, definitivamente não de Zoey, sobre
como me controlar.
Eu fico grata quando ouço Zane se acomodar na mesa.
Conto silenciosamente até sessenta, inclino a cabeça e espio.
E quem diria? Ele está olhando para mim.
— Oi — eu digo. Abby Gates, conversadora brilhante.
Zane sorri, e eu estou derretendo em uma poça no chão.
— Ei.
— Como foi o golfe? — Assunto bom e seguro. Um que é
tão chato quanto o beisebol. Talvez mais chato.
— Eu odeio golfe — Zane diz, fazendo uma careta. — Eu
também odeio socializar com as pessoas. Então, basicamente,
foi horrível.
Eu estou rindo, e então ele está sorrindo. Qualquer tensão e
constrangimento que eu sinta se dissipa como uma névoa
matinal, e voltamos a ser apenas eu e Zane. O eu e Zane que nos
tornamos esta semana.
Amigos... mais ou menos.
— Como foi o spa?
Eu sorrio, ecoando sua resposta.
— Eu odeio spas. Eu também odeio conversa de garotas.
Então, basicamente, foi horrível.
Zane ri, o som enchendo a sala da mesma forma que enche
algo dentro de mim. Ele não ri muito, raramente sorri, e isso
parece como ganhar um daqueles concursos manipulados em
parques, aqueles com o cachorro de pelúcia gigante como
prêmio.
— Na verdade, foi melhor do que eu esperava — digo a ele,
pulando totalmente a parte em que eles me molharam como
uma prisioneira.
Suas sobrancelhas se erguem.
— O que você estava esperando?
— Eu simplesmente não gosto de todos esses mimos — eu
digo. — Sou bem simples. Além disso, eu realmente odeio toda
a conversa de garotas. Prefiro me esfaquear com um garfo do
que ter que falar sobre quais modelos de bolsas estão em alta
nesta temporada.
— Sobre o que você prefere falar?
A voz de Zane é genuinamente curiosa, e a pergunta parece
um novo território. É inocente o suficiente. Mas esta semana,
Zane perguntou principalmente coisas como o que eu quero
pedir no menu ou se fiz progressos na correção do código deles.
Esta pergunta é como Zane pegando minha mão e me
puxando para fora da cerca em torno da amizade casual que
construímos. É emocionante, mas também é um território
novo, e não sei exatamente o que fazer com isso.
Eu solto um suspiro.
— Não sei. Acho que gosto de falar sobre filmes e programas
de TV. Livros. Coisas de programação, mas isso geralmente é
com colegas de trabalho, não com amigos.
— Sobre o que você e minha irmã conversam? Sempre me
perguntei.
Ele se perguntou? Sempre? Sobre mim e Zoey?
Sobre mim?
Meu coração é um ginasta olímpico, fazendo algum tipo de
giro complicado nas barras paralelas.
— Zoey e eu conversamos sobre tudo, eu acho. Trabalho.
Vida. — Eu paro. — Rapazes.
Sua expressão facial não muda, mas sua voz parece mais
baixa quando ele pergunta:
— Você já falou sobre mim?
Eu engulo em seco. Existem algumas maneiras que eu
poderia responder isso, e eu não sei qual é a escolha certa agora.
Não tenho certeza de onde estão os limites da propriedade ou
se o topo das cercas está eletrificado.
Eu gostaria de dizer que falamos sobre ele, que eu pergunto
a Zoey sobre ele. Eu adoraria dar dicas sobre meu interesse por
ele, mesmo que de alguma forma.
Mas a verdade é que eu sempre tentei não pensar em Zane
do jeito que estou pensando nele agora. Ele era objetivamente
atraente, um cara legal, além de toda a sua reputação de
playboy. Eu não o via como uma pessoa de interesse porque ele
estava fora dos limites. Você não namora o irmão da sua melhor
amiga. Definitivamente não o seu irmão gêmeo. Muitas coisas
para estragar. Então não. Eu não falei com Zoey sobre Zane.
Mas eu não quero dizer isso.
Eu fico com o humor, sempre meu padrão e meu escudo.
Com um revirar de olhos exagerado, eu digo:
— O tempo todo. Quero dizer, basicamente não teríamos
uma amizade se não tivéssemos que conversar sobre você.
Ele ri novamente, e acho que preciso gravar o som
secretamente. Eu provavelmente poderia tocá-lo para plantas e
fazer flores desabrocharem, mesmo em variedades que não
florescem. É tão mágico.
Os massoterapeutas escolhem esse momento para entrar, e a
decepção cai sobre mim como uma onda desonesta. Há um
homem muito alto que parece um assassino sueco e a mulher
baixinha que me disse para me despir quando entrei.
Oh, por favor, deixe-me ficar com a pequena mulher. Acho
que o assassino sueco pode danificar permanentemente meus
músculos com suas mãos gigantes.
E então, é claro, ele caminha até mim com um sorriso,
estalando seus dedos enormes e mortais de assassino.
— Olá — diz ele, em uma voz alegre e cadenciada que não
parece se encaixar em seu corpo desmedido. Nenhum vestígio
de sotaque também. Nada de sueco. Nada de assassino. — Eu
sou Nathan, e vou fazer sua massagem profunda hoje.
Eu tento me apoiar desajeitadamente para apertar a mão
dele, percebendo que não consigo tirar minha mão. Nathan
olha para a coisa do lençol de burrito que eu estou fazendo.
— Vamos arrumar isso — diz ele, e começa a puxar em uma
extremidade.
Nathan obviamente não percebeu o quão forte eu me
enrolei ou então ele não tem consciência de sua própria força.
Porque quando ele puxa, duas coisas acontecem.
Primeiro, isso tira meu equilíbrio da posição precária em
que eu estava.
Segundo, seu forte puxão não apenas solta o lençol, isso
começa a despir-me.
Antes que eu possa reagir, o lençol está indo para um lado,
me girando para o outro.
É como quando você puxa um pedaço de papel-toalha, mas
em vez da borda perfurada ceder, a coisa toda se desenrola,
caindo do balcão e deixando um rastro de papel-toalha para
trás.
Só que, no meu caso, não há muitas folhas, e eu rolo para
fora da mesa.
O ar frio atinge minha pele pouco antes de eu atingir o chão,
continuando a rolar por causa da força do puxão de Nathan.
Estou nua e rolando pelo caro piso de madeira, ciente de
todo o ar na minha pele exposta e também da dor no meu
quadril e costelas da minha aterrissagem. Tenho certeza que
meus joelhos estão sangrando de novo também. Meu cotovelo
deve ter batido na lateral do meu corpo porque consegui tirar
o fôlego de mim mesma, então não consigo nem respirar para
falar ou gritar.
Todos os pensamentos da minha dor corporal desaparecem
quando paro logo abaixo do rosto de Zane. Seus olhos azuis
estão arregalados e fixos nos meus.
Oh, por favor, que eles estejam fixados apenas em meus olhos.
Apenas.
Em.
Meus.
Olhos.
Ele pisca, e é aí que ar suficiente volta aos meus pulmões
para gritar.
Ainda estou gritando quando Nathan joga o lençol em cima
de mim, como se estivesse jogando um cobertor no fogo.
Isso é o que eu sou: chamas.
Estou queimando de vergonha, virando cinzas. Eu paro de
gritar, tentando recuperar o fôlego. E então a voz familiar de
Zane está bem ao meu lado, sua mão forte apertando meu
ombro através do lençol.
— Abs? Você está bem? Abby?
Não consigo encontrar palavras para respondê-lo. Ele me dá
uma pequena sacudida, então gentilmente puxa o lençol do
meu rosto.
Os dois massagistas se foram. Somos só eu e Zane. Vestindo
nada além de lençóis. E ainda estou deitada no chão como uma
louca.
— Sinto muito — eu digo. A preocupação em seu rosto faz
com que lágrimas brotem em meus olhos.
— Ei — ele diz, aquela voz profunda como veludo
envolvendo meu coração. — Você não precisa se desculpar.
Você está bem? Foi uma queda e tanto.
— Você viu isso?
Como se ele soubesse que não estou apenas perguntando se
ele me viu cair, as pontas de suas orelhas ficam rosadas. Ele
balança a cabeça, me dando um pequeno sorriso.
— Não.
A respiração que eu não percebi que estava segurando no
meu peito.
— Ok.
— Ok. Quer que eu te ajude a se levantar?
— Não! Não, eu estou bem.
Zane assente.
— Vou me acomodar e fechar os olhos, para que você possa
voltar para a mesa. — Ele faz uma pausa, e eu posso vê-lo
tentando não rir. — Provavelmente é mais fácil deitar, então é
só colocar o lençol em cima do seu corpo. Ao invés de se enrolar
como uma múmia.
— Cale-se.
Zane sorri enquanto se levanta, revelando quilômetros de
carne bronzeada e musculosa. Seu abdômen tem gominhos. E
é tudo encabeçado por um peito largo com a mais fina camada
de cabelo loiro claro.
É uma coisa boa que eu não esteja em posição de me mover,
porque eu acho que não poderia me impedir de me prender a
ele como uma trepadeira.
— Meus olhos estão fechados — diz ele, uma vez que está
de volta na mesa.
Agarrando o lençol firmemente ao meu corpo, volto para a
mesa, sentindo todos os lugares onde vou estar machucada mais
tarde. Mas mais profundo do que os ferimentos superficiais,
posso sentir o impacto profundo de Zane colidindo com meu
coração.
CARA DRA. LOVE
De: [email protected]
Para: [email protected]

Cara Dra. Love,


No nosso cinquentenário de casamento, dei à minha esposa
algo que ela sempre quis: um papagaio.
Eu não me importo com o pássaro, exceto por uma
peculiaridade. Não há uma maneira educada de dizer isso,
então vou apenas dizer: o papagaio ficou no nosso quarto no
início, e ele tem o hábito de imitar os sons do quarto. Se é que
me entende.
Desde então, tiramos a coisa do nosso quarto, mas agora ele
está se apresentando na área principal da casa. Ele parece gostar
especialmente de fazer isso quando temos convidados.
Está realmente impactando nosso relacionamento. Gostaria
de me livrar do nosso amigo ave, mas minha esposa acha que
podemos treiná-lo. Até agora, seus esforços não estão
funcionando.
Algum conselho?
Papagaio do Poughkeepsie

De: [email protected]
Para: [email protected]

Caro Papagaio,
Honestamente, sinto muito que você esteja tendo esse
problema embaraçoso e esteja causando conflito, bom para
você! Eu espero ainda estar fazendo barulho no quarto depois
de cinquenta anos de casada. Parabéns por um relacionamento
feliz, saudável (e barulhento)!
Sobre o papagaio... sugiro deixá-lo em uma sala com a
televisão em um desses canais da igreja. Talvez ele repita alguns
hinos ou versículos da Bíblia.
Ou vá na direção oposta. Deixe-o assistir a um filme +18
repetidamente por um tempo. Então você pode colocar a culpa
no que quer que saia da boca dele nos donos anteriores,
incluindo os sons do quarto.
Boa sorte!
Dra. Love
CAPÍTULO ONZE

Zane

MEDUSA.
Sodoma e Gomorra.
Meu pai quando ele está decepcionado comigo ou com Zoey.
Pensar em coisas que poderiam me transformar em pedra ou
uma estátua de sal ou simplesmente me vaporizar em contato
foi a única maneira que eu mantive meus olhos colados nos de
Abby quando ela rolou debaixo da minha mesa de massagem
alguns minutos atrás. Nua.
Foi um pensamento desesperado. Não é meu melhor plano.
Mas funcionou. Enquanto a pequena mulher crava suas
mãos habilidosas em minhas costas, eu me parabenizo por uma
demonstração bem-sucedida de disciplina e autocontrole sob
imensa pressão.
Eu não espiei, nem um pouco, apesar de toda a pele cremosa
visível à minha volta. Eu poderia não ter sido transformado em
pedra se eu apenas olhasse por um segundo, mas eu não poderia
fazer isso com Abby. De jeito nenhum eu iria tirar vantagem do
momento. Eu podia ver o quão em pânico, quão assustada,
quão vulnerável ela estava quando eu fixei meu olhar em seus
olhos.
Seus lindos olhos castanhos, em constante mudança, eram
mais castanhos do que verdes naquele momento, com um
pequeno anel de ouro ao redor da pupila. Era nisso que eu
estava pensando quando ela começou a gritar.
Agora, as coisas se acalmaram e estamos adequadamente
cobertos enquanto nossos massagistas estão começando.
Exceto que não há como eu relaxar e descontrair. Meu
coração ainda está batendo na garganta pensando em Abby.
Eu sabia que a troca era uma má ideia quando Jack a propôs.
Eu particularmente não queria um encontro de casais com
Charla, mas não havia nada tentador para mim sobre ela, então
fazer uma massagem para casais ou qualquer outro número de
atividades seminuas não teria sido tão difícil. Abby é uma
história diferente.
Enquanto penso nisso e tento manter o resto dos meus
pensamentos em um lugar respeitoso e cavalheiresco, Abby ri.
— Desculpe — ela diz imediatamente, ainda meio rindo.
— Você sente cócegas? — pergunta o grande desmiolado
com as mãos nas costas dela.
Eu não sou ciumento. Eu não sou ciumento.
— Não — ela diz e então ri novamente. — Desculpe.
Eu me encontro sorrindo. Suas risadinhas são como abrir
uma garrafa cheia de felicidade. Uma que foi mexida e agora
está borbulhando e saindo pelo gargalo. São pequenas coisas
como essa, coisas que nunca entrariam em uma lista do que
você procura em um relacionamento, que me prendem tanto a
Abby.
Muitas outras coisas sobre ela preencheria uma lista mais
tradicional. Ela é linda, e não do jeito retocado e maquiado. Ela
é inteligente, definitivamente mais inteligente do que eu. Sobre
algumas coisas, de qualquer maneira. Ela é engraçada. Não me
lembro da última vez que ri com alguém como ri com ela esta
semana. Depois daquela primeira noite no Eck0, ela não
parecia mais estar tentando me irritar. Em vez disso, caímos em
uma companhia fácil. Uma que eu realmente poderia me
acostumar.
Abby também é corajosa. Não um covarde como eu, que se
esconde atrás do trabalho e das ocupações. Ela coloca todas as
cartas na mesa, desafiando as pessoas a levá-la ou deixá-la.
Eu sei qual a escolha eu quero fazer.
Agora ela ri, uma explosão alta de som, e eu ouço a
massagista suspirar.
— Você está bem aí? — Eu pergunto, ainda sorrindo.
— É só… — Ela para, rindo novamente. — Eu não posso…
Mais risadinhas.
Seu massagista está começando a parecer irritado.
— Quais áreas são delicadas? Eu posso tentar evitá-las.
Não pense em áreas. Não pense em áreas.
— Hum, tipo tudo.
— Você sente cócegas em todos os lugares?
Ela limpa a garganta.
— Normalmente não. Só agora com você.
— Eu vou tentar suas pernas.
Não pense nas pernas dela. Não pense nas pernas dela.
Minha mãe ficaria orgulhosa de quão duro eu estou
trabalhando para ser o cavalheiro que ela sempre me convenceu
a ser. Ainda me lembro de uma conversa em particular, pouco
antes de ela morrer, quando ela disse:
— As mulheres são um tesouro. Um presente. O que você faz
com o tesouro?
— Acumula? — Eu perguntei, sendo um garoto de quinze
anos sarcástico.
Mamãe me deu um tapa no braço, mas ela estava sorrindo.
— Não, Smaug12. Você o protege. Você o guarda. Você sempre
se lembra de seu valor.
Não sei se Zoey teve conversas semelhantes, mas voltada
para meninas. Talvez mamãe a tenha ensinado a se valorizar ou
a tomar cuidado com dragões gananciosos tentando acumular
mulheres.
Abby é um tesouro, e ela se torna mais valiosa aos meus
olhos a cada momento que estou com ela.
A sala fica mais quente enquanto eu faço o meu melhor para
não pensar em como nós dois estamos nus agora. Isso é tortura.

12
Smaug, o Dourado, ou apenas Smaug, é um dragão fictício criado por J. R.
R. Tolkien na obra O Hobbit.
— Você está tenso — murmura minha massagista, cravando
os cotovelos nas minhas costas.
Você não tem ideia.
Abby ri novamente, e o massagista geme.
— Suas panturrilhas também? — ele pergunta.
Ela está rindo tanto que mal consegue falar.
— Eu sinto muito. — Risada. — Ai. — Suspiro. — E meus
joelhos doem. Isso não é engraçado. Não é engraçado — ela diz,
e então perde completamente o controle em uma risada que
não para.
Eu não posso deixar de rir também, e eu inclino minha
cabeça para a mulher fazendo o seu melhor para soltar meus
músculos rígidos.
— Talvez nós devêssemos encerrar o dia — eu digo a minha
massagista. — Parece bom, Abby?
— Sim! — ela praticamente grita.
— O próximo é o seu spa privado — diz a mulher. — Para
ir para a banheira de hidromassagem e o chuveiro é só passar
por aquela porta.
Banheira de hidromassagem, ok. Banho? Não.
— Meu maiô está no vestiário — diz Abby, ainda respirando
pesado depois de todas as risadas.
— É uma sala privada — diz seu massagista. —
Normalmente os trajes de banho não são necessários.
E depois de soltar aquela bomba, a porta se fecha atrás dos
dois. Quero olhar para Abby, ler seu rosto, mas estou tão
paranóico depois do incidente anterior que enfiei minha
cabeça no buraco da mesa de massagem.
— Abs? Você está decente?
— O suficiente — ela diz.
Nós nos sentamos ao mesmo tempo, e eu sorrio quando
vejo como ela está segurando o lençol em seu corpo.
— E agora? Claramente, a parte do dia da banheira de
hidromassagem e do chuveiro no estilo Adão e Eva não está na
mesa.
— Concordo. — Eu paro. — O que está na mesa?
Ela morde o lábio por um momento.
— Eu poderia ir buscar nossos trajes de banho? Eu nunca
digo não a uma banheira de hidromassagem.
Eu aceno, arquivando o comentário da banheira de
hidromassagem para mais tarde.
— Excelente. Exceto que eu vim direto do golfe. Sem roupa
de banho.
— Tenho certeza que suas boxers ou qualquer outra coisa
cobrem o bastante, certo? A menos que você seja um tipo de
cara que usa aquelas cuequinhas brancas apertadas.
— Não desde que eu tinha sete anos.
— Bom saber.
Abby me faz fechar os olhos enquanto ela coloca seu
roupão, então ela desaparece para encontrar suas coisas. Eu
coloco minha cueca boxer quando ela sai, que é
definitivamente muito mais curta e apertada do que minha
sunga usual, mas eu pulo na banheira de hidromassagem que
fica no quarto ao lado. A água borbulhante faz um ótimo
trabalho cobrindo as coisas.
Enquanto espero Abby voltar, penso no quanto mamãe a
teria amado. Não há uma mulher que eu gostaria de namorar
seriamente desde que mamãe morreu, nenhuma que teria
levado para casa se mamãe ainda estivesse por perto. Eu
realmente não tinha pensado nisso.
Mas estou pensando nisso agora. Com Abby.
Eu continuo sentado no meio da água morna borbulhante,
percebendo que a razão pela qual estou pensando nisso agora é
porque, pela primeira vez, finalmente, eu realmente quero algo
mais.
E eu quero isso com Abby.
CAPÍTULO DOZE

Abby

SINTO-ME como um soldado cansado depois da batalha


quando tropeço no quarto no final do dia de spa. Realmente
deveria ser O Dia do Spa, letras maiúsculas para comemorar a
luta. A pura batalha de força de vontades que fez eu me arrastar
até o fim. E o esforço que levou para não cobiçar Zane o tempo
todo em que estávamos na banheira de hidromassagem juntos.
Talvez fosse só eu, mas a tensão naquela sala era mais espessa do
que a neblina. Eu praticamente fugi depois de vinte minutos,
alegando que estava muito quente.
E estava. Só não era por causa da temperatura da água.
Eu preciso de alguém para conversar hoje, e não tem como
ser Zoey. Eu ligo para Sam, gemendo ao telefone.
— É possível que um dia de spa deixe alguém mais
estressado?
— Você deveria se sentir relaxada — diz Sam.
— Eu sei. Eu seria a inveja de todas na casa. Então, não diga
a elas que estou reclamando, ok?
— Claro — Sam diz, e eu sei o que ela quer dizer é que eu
provavelmente terei minha história de terror imortalizada em
algum lugar em seu livro. Nada é sagrado, eu descobri. Mas ela
pelo menos muda os nossos nomes e falsifica qualquer
descrição.
— Certo. Devo começar com a parte em que eles me
molharam nua como uma prisioneira, ou quando eu caí da
mesa de massagem nua na frente de Zane?
Sam já está rindo antes de eu terminar a parte sobre a
mangueira.
— Definitivamente Zane, — ela diz. — Eu não posso
acreditar que você ficou pelada na frente do irmão da Zoey.
— Quem ficou pelada na frente do meu irmão? — A voz de
Zoey está de repente bem ali.
Eu conto até dez na minha cabeça, apertando a ponte do
meu nariz.
— Estou no viva-voz?
— Ei, Abs! — um coro de vozes chama.
— O que aconteceu com Zane? — Zoey exige.
— Nada! Quero dizer alguma coisa. Mas não é algo que você
precise surtar.
Com um suspiro, conto sobre o dia inteiro, desde a
mangueira até a conversa interminável de garotas e o espetáculo
embaraçoso que eu causei durante a massagem não uma, mas
duas vezes.
— Eu não sabia que você tinha cócegas — diz Sam.
— Eu não tenho! Não sei. Era como se uma coisa fizesse
cócegas, e então eu não conseguia parar de pensar sobre isso ou
rir. Tivemos que parar mais cedo e entrar na banheira de
hidromassagem.
— Você entrou na banheira de hidromassagem com meu
irmão pelado? — Zoey soa como um vulcão em erupção, como
se o topo acabasse de explodir da montanha e suas palavras
fossem as cinzas e lava saindo.
— Não. Com trajes de banho. — Eu me certifico de não dar
detalhes, então não estou mentindo, mas também não estou
contando que Zane estava de cueca.
Tudo bem que foi minha sugestão, mas eu não tinha ideia
de quão distante um maiô era de sua cueca escura quando
sugeri. Especialmente quando ela estivesse molhada e se
moldando ao seu corpo. Seu corpo é totalmente incrível e
musculoso.
Já que ele era tão respeitoso comigo, eu fiz o meu melhor
para manter meus olhos colados em seu rosto quando
finalmente saímos porque nossos dedos estavam se
transformando em ameixas secas.
E eu me recuso a ter vergonha de checar a bunda dele. Era
como aquele tipo de escolha que realmente não é uma escolha.
A desvantagem é que não há como qualquer outro homem
no mundo viver de acordo com o traseiro de Zane. Não há
palavras. Isso fica fora da conversa também.
— Parece que vocês dois estão realmente se conectando —
diz Sam, e eu posso apenas ouvir o sorriso em sua voz, e as rodas
girando. — Talvez eu consiga meu primeiro clichê amoroso: se
apaixonar pelo irmão da sua melhor amiga.
Minha boca se abre, e eu não consigo nem fazer minha
língua formar sons para protestar.
Talvez porque eu estaria mentindo se o fizesse?
— Ah, Zane e Abby seriam tão fofos! Eu totalmente
shipparia eles — Delilah diz em seu sotaque de sulista.
— Eu só acredito vendo — diz Harper.
Mas Zoey, assim como eu, fica em silêncio.
— Você gosta dele? — Sam exige.
— Eu não sei… quer dizer, eu não tenho certeza eu, uh...
— Você gosta dele — diz Sam, soando presunçosa.
— Você gosta dele, gosta mesmo — acrescenta Delilah.
Zoey? Onde está Zoey? Eu preciso ver a expressão dela
agora. Antes que eu confesse ou negue qualquer coisa.
— Podemos mudar para uma chamada de vídeo?
Um instante depois, estou olhando para os profundos olhos
castanhos de Sam e seus longos cabelos escuros. Seus olhos são
suaves, compreensivos, enquanto ela entrega o telefone para
Zoey.
No momento em que vejo seu rosto, me lembro de Zane.
Hoje, porém, não vejo semelhanças. Estou mais impressionada
com as diferenças. Seus olhos são um azul um pouco mais
escuro, seu nariz mais fino. Os lábios de Zane são mais cheios,
e quando ele sorri, o tipo real quando está feliz, não tentando
impressionar os investidores, o canto esquerdo levanta um
pouco mais do que o direito. Seu cabelo é um loiro mais escuro,
provavelmente porque Zoey faz luzes regularmente.
— Zo?
— Abs. — Sua voz é como um carretel de fio, bem enrolado.
Eu engulo e sento reto na minha cama.
— Zoey, eu posso ter desenvolvido uma paixonite pelo seu
irmão.
Paixonite é pouco. É como quando você compra um jeans
de um tamanho menor, pensando que talvez possa se enfiar
neles, ou talvez eles caibam no próximo mês. Alerta de spoiler:
você vai doá-los para a caridade um ano depois, quando os
encontrar no fundo de uma gaveta com a etiqueta ainda.
Zoey franze os lábios e passa a mão pelo cabelo.
— Eu não impediria você de sair com ele, Abs. Você achou
que eu faria isso?
Eu dou de ombros.
— Acho que nunca pensei nisso. Não quero que as coisas
fiquem estranhas. Ou ruins. Você é minha melhor amiga.
Eu fungo e percebo que é tarde demais para esconder que
minhas emoções de hoje foram direto para meus canais
lacrimais. Zoey, que é uma chorona simpática, passa a mão
sobre os olhos.
— Eu não quero que você se machuque, Abs. Zane nunca
foi capaz de se comprometer. Não desde…
Não desde que perderam a mãe. Isso foi no ensino médio,
antes de eu conhecer qualquer um deles, então só sei o pouco
que Zoey compartilhou. A mãe deles morreu em um acidente
de carro, onde Zane era o único passageiro. O pai deles é bem
rude e sem sentido, um ex-militar que não deu muito carinho.
Eu o encontrei uma vez e senti que deveria enfiar minha camisa
por dentro das calças e ficar em posição de sentido.
— Eu acho que é por isso que Zane é... do jeito que ele é
sobre namoro.
Eu concordo.
— Ok.
Eu me sinto toda contorcida por dentro pensando em Zane
perdendo sua mãe. Eu sempre pensei que era nojento o quanto
ele ia em encontros. Mas se for algum tipo de mecanismo de
defesa, isso é perigoso. Ativa aquela parte de mim que vê
alguém que está sofrendo. Quero enviar a equipe de busca e
salvamento.
— Ele pode nem gostar de mim. Quero dizer, ele é tão…
Perfeito. Essa é a palavra que quero usar. Não que eu ache
que ele não tenha defeitos. Ele precisa relaxar, embora eu o
tenha visto relaxar um pouco esta semana. Mais do que eu
pensei que ele poderia. Depois tem o lance de playboy, que
agora me parece menos horrível com o que Zoey disse sobre a
mãe deles.
Com defeitos e tudo, se você fizesse um currículo para o cara
que qualquer um gostaria de namorar, Zane marcaria todos os
checks da lista. Se estivéssemos de volta à escola, ele seria o rei
dos descolados. Enquanto isso eu sou... eu. Não a garota que
pega aquele cara.
Como se pudesse ler meus pensamentos, Zoey me nivela
com o olhar que reserva para as pessoas que a cortam a sua
frente no trânsito ou não dão, pelo menos, uma gorjeta de vinte
por cento.
— Fique quieta. Eu sei o que você está pensando e pare.
Agora.
Zoey é a única que sabe tudo o que aconteceu no ensino
médio, e por que eu poderia questionar alguém como Zane
estando genuinamente interessado em mim. Eu aprecio que ela
seja vaga o suficiente para que eu não tenha que explicar para o
resto das nossas colegas de quarto ouvindo. Eu mordo meu
lábio, dando-lhe um pequeno aceno.
— Meu irmão idiota teria sorte de ter uma chance com você,
Abs.
Então seus olhos endurecem.
— Se ele te machucar, eu nem me importo o porquê. Eu vou
castrá-lo. — Seus olhos se arregalam. — Quimicamente. Eu vou
drogá-lo. Porque eu não vou chegar perto dele... quer dizer, eu
não iria...
— Já percebemos — Harper chama do fundo. — Castração
química. Você não vai chegar perto…
— Ahh! Chega!
O telefone cai quando Zoey coloca as mãos sobre os
ouvidos. Agora estou vendo todas de baixo. Sam se abaixa para
pegar o telefone.
Ela está sorrindo enquanto seu rosto preenche a tela.
— Bem, agora que resolvemos isso, parece que eu vou
conseguir a primeira história para o meu livro. E estou feliz por
você — acrescenta ela.
Há uma batida na porta. Charla deve ter perdido a chave.
Novamente. Essa já é a segunda vez. Eu me pergunto se há um
limite.
— Só um segundo! — Eu aviso.
— Quem é? — Sam pergunta.
— Apenas minha colega de quarto, — eu digo, mas então
uma voz profunda que definitivamente não é Charla chama
pela porta.
— Sou eu — diz Zane.
Meus olhos se abrem.
— É Zane — eu sussurro no telefone. Esqueci que
estávamos conversando por vídeo e estou segurando o telefone
na minha cara.
Há coros de aplausos e assobios ao telefone.
— Não faça nada que eu não faria! — Eu ouço Zoey
dizendo.
— Ai credo! Você não faria nada — Delilah diz.
— Exatamente — Zoey responde.
Zane bate novamente.
— Abby?
— Espere!
— Mantenha-me informada — Sam chama em uma voz
cantante.
Eu desligo, esperando que Zane não tenha ouvido nada
disso.
Abro a porta, olhando para o rosto bonito de Zane. Eu sinto
que o que acabei de confessar para Zoey é evidente em meus
olhos.
— Era minha irmã? — ele pergunta.
— O que?
Ele ouviu tudo o que elas disseram? Vou afundar pelos dois
andares abaixo.
Zane inclina a cabeça para o lado.
— Eu apenas pensei ter ouvido a voz da Zoey. Você está
bem?
Concordo com a cabeça, só agora sentindo que meus
pulmões estão funcionando o suficiente para que eu possa
respirar.
— Sim.
— Eu tenho uma pergunta. Está mais para um favor — diz
ele.
— Ok. — Eu não pareço ser capaz de produzir mais do que
respostas de uma palavra. Eu posso dizer que Zane percebe, mas
ele não chama atenção para isso.
Sua mão vai até o cabelo, aquele gesto nervoso que ele
compartilha com Zoey.
— Eu queria ver se eu poderia ficar aqui esta noite.
Esqueça as respostas de uma palavra. Estou sem palavras.
Sem ar. Apenas eu ali de pé com minha boca abrindo e
fechando.
— Eu acho, uh, Charla e Jack estão planejando ficar em
nosso quarto esta noite.
OK. Zane está aqui porque não pode entrar em seu quarto,
não porque quer ficar comigo. Estou igualmente aliviada e
desapontada.
Eu abro a porta.
— Entre.
— Obrigado. — Ele balança a cabeça enquanto entra no
quarto, roçando meu braço. — Eu não percebi que eles
estavam lá no começo. Ouvi sons que não consigo esquecer.
— Ai, credo. — Eu rio, voltando para minha cama. Zane se
senta na beirada da cama de Charla, parecendo rígido. — Se
você vai ficar, pode ficar à vontade. Quer pedir algo pelo serviço
de quarto?
— Agora você está falando — diz Zane, pegando o livro de
menu encadernado em couro na mesa entre as duas camas. —
O que soa bem para você?
— Qualquer coisa. Nada de sushi. Eu não como peixe cru.
Zane sorri.
— Duvido que eles tenham sushi para serviço de quarto.
— Ei, é um lugar chique. Nunca se sabe.
Ele folheia as páginas enquanto eu pego meu laptop. Eu
preciso de um escudo, um amortecedor entre mim e o homem
agora estendido na outra cama, sapatos e meias, cabelo
despenteado. Eu nunca vi Zane tão... desabotoado. Eu amo
isso.
Meu plano para esta noite era continuar pressionando para
encontrar os problemas com o aplicativo. Eu realmente quero
algo que eu possa apresentar a Zane. Quanto mais cedo melhor,
porque a verdade de que alguém está intencionalmente
bagunçando as coisas martela na minha mente. Trabalhar agora
matará dois coelhos com uma cajadada só, me impedindo de
fazer qualquer coisa que eu possa me arrepender com Zane.
— Pizza gourmet? — ele pergunta.
— Depende. Você gosta de coberturas estranhas?
— Só se o bacon for estranho.
— Se bacon é estranho, eu não quero ser normal.
Zane ri, porque a coisa é, eu não sou realmente normal para
começar. Não como ele, de qualquer maneira. Ele poderia ser
usado como medida quando se trata de um homem de
colarinho branco de classe média alta.
Talvez eu devesse parar de considerar isso. Por que é que o
Sr. Exemplar, que é normal, iria querer ficar comigo, a garota
nerd colorida e fora das linha, mesmo que eu tenha a benção da
irmã dele?
CAPÍTULO TREZE

Zane

COMPARTILHAR um quarto com Abby é uma péssima ideia, e


eu não poderia estar mais animado com isso. Exceto que ela
basicamente me ignorou desde que eu invadi o quarto. Entre o
computador e o telefone, ela está grudada nos eletrônicos há
uma hora. A vantagem é que eu posso olhar para ela.
Eu vejo seus dedos voarem sobre o telefone enquanto ela
manda uma mensagem para alguém. O pequeno sorriso em seu
rosto acende um lampejo de ciúme. Eu quero ser aquele que a
faz sorrir assim.
— Pra quem você está digitando?
Ela olha para mim, seu sorriso se alargando.
— Minha cunhada, Jessa. Ela está grávida de cem meses.
Toda vez que ela manda uma mensagem ou liga, eu acho que é
ela me dizendo que está em trabalho de parto.
— Vocês são próximas, então?
Ela acena.
— Meu irmão é legal. Ele totalmente não merece Jessa, na
verdade. Ela é incrível. E seus meninos são loucos, da melhor
maneira possível.
Eu vejo algo em seu rosto enquanto ela fala sobre sua
família. Um calor ilumina suas feições, quase como a diferença
entre estar dentro de casa sob toda aquela luz artificial e depois
sair para o sol.
— Você quer ter filhos?
A pergunta parece assustá-la, e o telefone cai em seu colo.
Por que eu perguntei isso? É uma pergunta que namorados
fazem. Não uma pergunta de primeiro ou segundo encontro.
Já perguntei isso a uma mulher? Não, definitivamente NÃO.
Eu nem perguntei à minha irmã.
Eu tento manter meu rosto neutro, como se eu não estivesse
começando a suar, como se a pergunta fosse apenas um tipo de
pergunta amigável, para te conhecer.
— Na verdade, eu... sim. Eu quero filhos. — Ela procura
meu rosto, suas palavras ganhando confiança enquanto ela
balança a cabeça. — Eu gostaria de ter um monte.
Meus olhos se arregalam.
— Defina um monte? Tipo, um cacho de bananas? Ou, algo
como um cacho de uvas?
Abby joga a cabeça para trás e ri. Eu observo o lugar onde
seu pulso salta, logo abaixo de sua mandíbula. Sua pele ali é
pálida e lisa. Quero arrastar meus lábios ao longo dela, traçar
um caminho até sua boca. Eu engulo em seco quando ela olha
para mim, enxugando algumas lágrimas de seus olhos.
— Eu nunca ouvi ninguém fazer uma analogia de frutas
com crianças.
— E eu nunca ouvi alguém dizer que quer um monte de
filhos. Estou apenas tentando obter uma estimativa aqui.
Cinco? Cinquenta?
Seus lábios se contraem, um sorriso brincalhão emergindo
lentamente.
— Por que? Qual é o seu número de corte? Não acha que
você poderia lidar com um monte, Zane?
Eu dou de ombros.
— Gosto de um bom desafio. Me dê o seu número.
Abby me olha por um momento, e eu me sinto um pouco
apavorado porque juro que é como se ela tivesse lendo a minha
mente. Um pensamento assustador. Porque a minha mente
está completamente focada em Abby agora.
— Algo entre três e cinco. Apenas dependendo de quão
difícil realmente é. Você poderia lidar com isso?
Com você? Sim. Eu acho que eu poderia.
Estou sentada a poucos metros de Abby e, embora me
sentisse óbvio e exposto sob seu olhar, sei que ela não está lendo
minha mente. Se ela pudesse, saberia que uma mudança sísmica
ocorreu um momento atrás. Embora eu tenha comprado
minha casa com a vaga ideia de uma família e filhos, estava
embaçado. Irreal. Muito longe no futuro.
Agora? Parece quase perto o suficiente para tocar. Do outro
lado do espaço entre as duas camas.
Percebo que Abby ainda está esperando minha resposta.
Colocando um sorriso leve que não grita, tenha meus bebês!, eu
digo:
— Se você pudesse lidar com isso, eu poderia.
— Você não parece surpreso que eu queira ter uma família
grande — Abby diz, sua voz um pouco mais baixa, um pouco
mais suave do que momentos atrás.
Isso parece uma daquelas perguntas de iceberg, onde há
muito enterrado por baixo. Algo subentendido que eu não sei.
Pelo menos, ainda não. Muita coisa depende da minha
resposta, mas não tenho certeza do que preciso dizer, então vou
com a verdade, esperando que seja o que ela precisa.
— Você está de brincadeira? É fácil imaginá-la com uma
família grande e agitada. Você seria uma ótima mãe.
Embora Abby se afaste, abaixando a cabeça para que eu não
possa ver completamente sua expressão, não perdi seu sorriso.
Ding! Ding! Ding! Resposta certa, Zane.
Exceto que isso me fez pensar na minha mãe, e como ela
ficaria feliz em ser uma mosca na parede para ouvir essa
conversa. E então surge aquela dor, aquela que às vezes hiberna
por dias ou semanas, e então me pega de surpresa, tão crua e real
quanto quando a perdi.
Eu sou grato que a conversa morre um pouco. Eu preciso de
um momento para me recompor, para deixar a dor da saudade
da minha mãe passar por mim. Depois de alguns minutos onde
a digitação de Abby é o único som, posso respirar novamente.
— Alguém já mencionou que você é uma workaholic? —
Eu pergunto a ela.
Abby levanta a cabeça para olhar para mim, lentamente,
como se estivesse contando até dez mentalmente. Talvez ela
seja, porque eu juro que vejo seus lábios se movendo quando
ela finalmente encontra meu olhar, uma sobrancelha arqueada.
É exatamente o tipo de olhar que eu esperava obter, e não
consigo conter meu sorriso.
— A gente se conhece? — ela pergunta. — Eu sou a sujo.
Você deve ser... o mal lavado.
— Prazer em conhecê-la, suja.
— Digo o mesmo — diz Abby, fechando seu laptop com
um clique satisfatório. Ela o coloca na cadeira que ela arrastou
para o lado da cama e volta toda sua atenção para mim. — Você
sabe que é sua culpa eu estar trabalhando agora.
— Também é minha culpa você estar aqui agora.
— Você já se arrependeu?
Abby ainda tem um olhar atrevido em seu rosto, um que
passei a apreciar de uma maneira totalmente nova esta semana.
Mas eu sinto um pouco de vulnerabilidade lá também, logo
abaixo da superfície. Lembro-me do que Zoey me disse, que
Abby é mais sensível do que deixa transparecer.
— De jeito nenhum eu poderia me arrepender. — Começo
a contar nos dedos. — Primeiro, você está consertando o nosso
problema. E me garantiram, principalmente por você, que você
é a melhor.
Seu sorriso é largo e pateta, seus olhos castanhos brilhantes.
Há algo sobre ser o único a colocar esse olhar em seu rosto. Eu
nunca usei drogas, mas do jeito que meu coração dá um chute
feliz, eu sinto que entendi o motivo de toda agitação. Porque
eu poderia facilmente me viciar nesse sentimento, nesse olhar.
Para Abby.
— Segundo, você proporcionou horas de incontáveis
entretenimentos hoje no spa.
Seus olhos se arregalam, depois se estreitam. Ela joga um de
seus travesseiros em mim e usa o outro para se esconder. Eu
pego o que ela joga, e só porque ela não está olhando, eu o
coloco na minha cara. Cheira como ela, baunilha e café.
— Eu nunca vou ficar livre disso, não é?
— Sem chance.
Ela murmura algo debaixo do travesseiro que não consigo
entender. Eu considero jogar o travesseiro de volta para ela, mas
decido ficar com ele. Posso dormir esta noite sentindo o cheiro
dela.
Esquisito? Não. Provavelmente não.
— Número três. Você está me deixando dormir em seu
quarto para evitar... coisas que não devem ser nomeadas. Por
isso, sou eternamente grato.
Abby deixa o travesseiro cair em seu colo e coloca seu cabelo
rebelde atrás das orelhas. Ainda está bagunçado em alguns
lugares. Não que eu fosse contar a ela. Eu sei que ela pensa em
mim como alguém que é abotoado, alinhado e totalmente
arrumado. E sim, talvez eu seja um pouco exigente sobre as
coisas serem de uma certa maneira.
Mas estar perto de Abby esta semana fez algo para mim. É
quase como se a irreverência dela por essas coisas, pelo decoro e
pelas regras e dizer a coisa certa na hora certa para as pessoas
certas me abrandou um pouco. Não totalmente. Eu ainda sou
como uma camisa abotoada, mas agora estou meio para fora da
calça.
É surpreendente... e eu gosto disso.
Ela franze o nariz.
— Eu estava meio que brincando quando disse ao Jack que
não dormiria no quarto com ele nesta viagem. Não estou
brincando que eu não iria dormir com ele, eu não iria, mas eu
realmente não achei que isso seria uma opção. Acho que eu
estava errada.
Eu realmente odeio pensar em Jack e Abby e dormir juntos
na mesma frase. Mesmo que eu tenha a sorte de estar aqui com
Abby agora.
— O quão bem você conhece Jack?
Por que ainda estamos falando sobre Jack? Isso é o que eu
realmente quero saber.
— Somos amigos desde a faculdade.
— E como vocês decidiram entrar no negócio juntos?
— Por que você está tão curiosa sobre mim e Jack de
repente?
O tom de Abby é casual, o tipo de casual que não é nada
casual. Eu sei que ela não está interessada em Jack. Ela deixou
isso claro. Então, o que ela quer?
— Nenhuma razão em especial. Apenas curiosidade. Já que
estou investigando o negócio, só queria saber como as coisas
funcionavam entre você e Jack. Vocês parecem tão... diferente.
— Que bom que você percebeu isso. Eu poderia ficar
ofendido de outra forma. — Eu sorrio. — Às vezes, é preciso
ter aquela pessoa que pensa de maneira totalmente oposta para
completar as coisas.
Sabe quem mais é meu oposto? Você, Abs. Você. Talvez
devêssemos completar as coisas juntos.
Ai credo. Arquive isso nas frases de paquera que nunca
deveriam ver a luz do dia.
Mas é algo que eu realmente tenho pensado, mais e mais a
cada momento que passa. Antes de Zoey sugerir que eu
contratasse Abby, a melhor amiga da minha irmã era como
uma miragem. Sedutora, mas apenas à distância. Ela não era
uma presença sólida na minha vida para que eu pudesse tocar.
Eu não tinha nenhuma esperança de que algo real pudesse vir
do aperto nervoso do meu estômago sempre que eu via Abby.
Além disso, ela é amiga de Zoey. E Zoey sempre me disse que as
suas amigas estão fora dos limites.
Minha irmã e Abby são grudadas desde o primeiro ano da
faculdade. Esse tipo de lealdade diz muito sobre o caráter de
Abby. E se ela e Zoey podem se dar tão bem, não é lógico que
ela e eu também podemos?
— Parece estar funcionando bem para vocês dois. — Abby
faz uma pausa, pegando um fio solto no travesseiro.
Quando ela olha para mim, é quase timidamente, através de
seus cílios.
— Você está desapontado? Já que Jack se deu bem e você
acabou comigo?
A raiva quente percorre meu corpo em um instante. Se deu
bem? Abby acha que Charla é o se dar bem? Ela acha que estou
decepcionado?
Antes que eu pense sobre isso, meus pés descalços tocaram
o chão e eu atravesso o espaço entre nós. Ela é tão pequena, me
fazendo sentir poderoso quando me inclino sobre ela. Estou
ultrapassando todos os tipos de limites, mostrando muito da
minha intenção, mas algo sobre a ideia de ela se sentir o prêmio
de consolação me deixou revoltado.
Os olhos de Abby estão arregalados, seu corpo congelado,
como um coelho no olhar de um lobo. Talvez isso me torne
uma pessoa terrível, mas eu meio que gosto de ser o lobo.
— Abby — eu digo, minha voz baixa e áspera. — Você não
é uma decepção. Você é o se dar bem.
As palavras pairam entre o ar entre nós. Em um momento,
o feitiço vai quebrar e eu provavelmente vou me arrepender da
minha honestidade. E o fato de eu estar essencialmente me
intrometendo no espaço dela. Enquanto eu estou assistindo,
sua garganta balança enquanto ela tenta engolir.
— Ok — ela sussurra.
— Ok.
Com um aceno firme, eu me acomodo na minha cama ao
lado do travesseiro que cheira a Abby e pego o controle remoto.
— O que devemos assistir?
— Assistir? Oh, não. Tenho algo melhor em mente.
Abby rola para me encarar, apoiando-se no cotovelo e
apoiando a cabeça com a mão. O sorriso em seu rosto é tão
perverso que todo o meu corpo fica quente. Minhas mãos estão
dormentes. E eu sinto meu coração batendo nas partes erradas
do meu corpo, como se tivesse escapado da gaiola das minhas
costelas e estivesse fazendo uma turnê mundial.
— Como o quê? — O tom grave da minha voz é
embaraçoso. E pela segunda vez hoje, me sinto como um
adolescente, muito afetado por coisas simples que Abby diz ou
faz.
— É hora de eu conseguir todos os podres da Zoey.
— Os podres? — O balde de água fria não poderia ter sido
mais eficaz. Pensar na minha gêmea faz isso comigo. — Da
minha irmã?
— Oh, vamos lá. Por favor? Você sabe que ela está me
alimentando com informações sobre você há anos.
Ela tem? Meus olhos se estreitam. Os de Abby se
arregalaram de repente.
— Não que eu tenha perguntado sobre você. Ela só
precisava reclamar, e eu estava lá.
— Uh-hum. — As bochechas de Abby estão coradas, e é um
visual que eu amo nela. Um visual que eu gostaria de ser a causa.
E não porque ela está envergonhada. — Que tipo de coisas ela
te contou?
Abby para, parecendo desconfortável. Seu olhar se move
para as fotografias da natureza emolduradas na parede atrás de
mim. Eu olho de volta para as fotos, então para ela.
— Aquele coelhinho fofo não pode te salvar. Sobre o que
você e Zoey conversaram?
Eu não acho que ela vai responder no início, e eu estou
começando a ficar nervoso. Eu sempre fui bem direto. Sem
muitos podres, sem nada o que esconder. Meu coração volta
para o meu torso, mas aterrissa no meu estômago, não no meu
peito. Eu não tenho muitos podres, exceto por…
— Seus, uh, hábitos de namoro. — Abby tosse, ainda sem
olhar para mim. — Principalmente como ela pensa que você é
um grande vagabundo.
Eu caio para trás com um gemido e cubro meu rosto com o
travesseiro. É aquele que cheira a Abby. Por alguns segundos,
eu inspiro e expiro, deixando seu cheiro me preencher,
considerando o que dizer que não é muito embaraçoso ou não
me faz parecer pior.
Por que demorei até esta semana para perceber o quão
estúpido eu fui? Quão egoísta? Mesmo que eu não tenha
dormido com metade de Austin, o que tenho certeza que é o
que minha irmã e Abby pensam. Sair e namorar de forma tão
irracional ainda é estúpido, imaturo e injusto. Mamãe teria
muito a dizer sobre isso. E nada seria bom.
Finalmente, eu rolo, espelhando a pose de Abby e ainda
segurando seu travesseiro para me apoiar.
— Abs, eu quero que você saiba uma coisa. — Eu me
certifico de manter meu olhar firmemente travado no dela.
— Ok. — A expressão em seu rosto é meio torturada, como
se ela desejasse ter evitado completamente essa conversa. Mas
eu nos empurrei direto para isso, não foi? É melhor assim.
Deixar tudo às claras. Se alguma coisa acontecer entre eu e
Abby, teremos que falar sobre nosso histórico de namoros em
algum momento, de qualquer forma. Agora, pelo menos ela
pode decidir antes mesmo de começarmos, se vale a pena dar
uma chance.
— Já saí com muitas mulheres. Isso é verdade.
— Mulheres como Charla e Chelsea — ela diz, e eu percebo
como isso deve parecer para alguém como Abby, uma mulher
que é completamente o oposto das mulheres que trabalham
para colocar seu valor do lado de fora.
Abby mantém sua beleza como uma pérola, escondida, bem
protegida. Não que ela não seja linda por fora, porque ela é.
Mas quanto mais tempo passo com ela, é como se ela estivesse
abrindo pouco a pouco para revelar o verdadeiro tesouro.
É um pelo qual vale a pena lutar. Um que vale a pena ir atrás.
Mas não posso contar tudo isso a ela. Ainda não, quando
ainda não a convidei para um encontro adequado, ou nem
mesmo flertei o suficiente para dar a ela a sensação de que estou
interessado.
Interessado? Ah. Eu estou apaixonado.
Então, eu me contenho, por enquanto, e simplesmente digo
a ela a verdade.
— Eu não queria namorar ninguém de verdade. Nos
últimos anos, desde... bem, por muito tempo, eu apenas
namorei casualmente. Encontros. Eu não tenho feito mais do
que sair casualmente.
Eu a prendo com um olhar, querendo que ela saiba o que
estou dizendo sem ter que soletrar. Ela me dá um breve aceno
de cabeça, então eu continuo.
— Sempre fui claro sobre minhas intenções. Casual. Alguns
encontros. É isso. Nada mais. Não houve ninguém que já tenha
feito eu me sentir tentado a pedir mais.
Até agora.
Até você.
Ainda bem que Abby não consegue ouvir os pensamentos
que estou projetando. Tenho certeza de que ela sairia correndo
do quarto se soubesse o quanto é tentadora. Não apenas
fisicamente, embora eu estivesse mentindo se dissesse que não
odiava o espaço entre nós. Que eu não estava lutando contra os
pensamentos de subir em sua cama e mostrar a ela exatamente
como estou me sentindo ao invés de dizer isso.
Mas, mais do que nunca, sei que preciso me conter. Porque
eu quero mais com Abby, e quero fazer as coisas de forma
diferente. Eu não posso arriscar assustá-la confessando minha
atração, fisicamente ou não. É muito. Cedo demais. Seria como
jogá-la no fundo da piscina.
Então, novamente, o que eu sei? Eu não tenho experiência
de relacionamento sério para comparar.
O ar na sala ficou espesso e quente, como se fosse uma
atmosfera completamente diferente. Estamos em uma bolha,
criada pelas minhas palavras, pelos meus sentimentos e talvez –
espero – pelos sentimentos dela também.
Abby é difícil de ler. Ela fala o que pensa a maior parte do
tempo, ou o que ela fala é o que pensa, mas apenas um pedaço.
O resto está sob a superfície, cuidadosamente guardado. Eu me
pergunto se eu posso ser o único a passar pelas barricadas.
Por enquanto, preciso dissipar a tensão, fazer nós darmos
alguns passos para trás, mesmo que eu queira fazer o oposto.
Eu tenho evitado o compromisso por tanto tempo que é difícil
entender que agora estou querendo correr para isso. Sinto-me
um pouco como um carro descendo uma ladeira íngreme, sem
saber se meus freios vão funcionar.
Eu forçadamente relaxo meu corpo e dou a Abby um sorriso
brilhante.
— Então. Os podres da Zoey. Por onde você quer que eu
comece?
CARA DRA. LOVE
De: [email protected]
Para: [email protected]

Cara Dra. Love,


Eu amo minha namorada, mas me envolvi com outra
mulher. Minha principal preocupação é não ferir os
sentimentos de nenhuma das duas.
Como posso ficar arrumar isso?
Enrolado

De: [email protected]
Para: [email protected]

Caro Enrolado,
Se sua principal preocupação não é machucá-las, acho que
eu posso ajudá-lo. Junte as duas e diga a verdade. Então sua
principal preocupação pode mudar para as duas machucando
você.
Dica: eu usaria caneleiras.
Esperando que você consiga o que merece,
Dra. Love
PS: Se você me passar os telefones delas, ficarei feliz em dar a
notícia e deixá-las quebrar seu nariz.

De: [email protected]
Para: [email protected]

Dra. Love,
Você é uma merda. Eu reclamei com seu gerente e espero
que você seja demitida.
CAPÍTULO QUATORZE

Abby

EU NÃO SOU UMA PESSOA MATINAL. Assim como eu nunca


vou chegar na hora. Mas quando o cheiro de café me tira do
sonho de jogar polo montando unicórnios, decido que poderia
repensar minha postura nas manhãs. Não é grande coisa,
apenas reescrever o código que me faz odiá-los.
Pelo menos, se eu pudesse acordar todas as manhãs para
encontrar um Zane sem camisa, sorrindo e segurando uma
xícara de café.
— Bom dia, linda — diz ele, e assim, estou acabada.
Totalmente rendida.
— Oi — eu consigo resmungar.
Eu sei que de manhã, eu realmente sou a coisa mais distante
da beleza. Mas Zane? Ele é uma visão gloriosa.
Foi-se o Sr. Perfeito, e em seu lugar está uma versão mais
suave e gentil. Uma com o cabelo despenteado pelo sono, uma
deliciosa barba por fazer e um rosto que é de alguma forma
brilhante e cansado ao mesmo tempo. É como trocar um livro
duro de capa dura com a sobrecapa por uma brochura gasta
que foi lida por completo, suas páginas macias.
Eu mencionei que ele está sem camisa?
Ele deve ter tirado durante a noite, dormindo apenas de
bermuda, ou talvez de cueca, já que não conseguia entrar no
quarto para pegar suas coisas. A última coisa que me lembro é
de assistir ao filme Up - Altas Aventuras com ele e discutir sobre
qual de nós estava chorando. Alerta de spoiler: nós dois
estávamos chorando. Eu já tinha visto o filme antes, mas nunca
consegui passar os primeiros cinco minutos sem chorar.
Percebo que estou encarando, mas não posso ser
responsabilizada por minhas ações antes do café. O sorriso de
Zane se alarga, e eu me livro da névoa do sono, me puxando um
pouco mais perto de uma posição sentada.
— Eu disse isso em voz alta, não disse?
— Sim. E eu concordo. Você não pode ser responsabilizado
por suas ações agora. Por isso o café. — Ele me entrega o copo.
Se eu tinha alguma dúvida de que isso era mais do que um
crush, ela vaporizou no momento em que nossos dedos se
roçam quando ele me entrega o café. Eu poderia estar usando
uma placa que diz: Abandone a esperança, todos vocês que
entram aqui.
— É só da máquina de café — Zane diz com um sorriso de
menino que faz meu coração dar rodopios. — Ainda não desci
ao saguão para pegar um café de verdade para você.
— Obrigada — eu digo, tomando um gole. Não é terrível e
servirá para me mover. — Eu treinei você bem, jovem padawan.
Meu tom é leve, mas minha voz interior está dizendo coisas
como, case-se comigo. Quantos filhos devemos ter? Prefiro safiras
e esmeraldas a diamantes.
Zane estica os braços acima da cabeça, bocejando, e embora
eu tenha visto muito dele sem camisa ontem durante a parte do
dia de spa dos casais, não me importo de dar outra olhada em
toda aquela pele dourada e as linhas duras de seu peito e
abdômen.
Quanto tempo de academia é preciso para obter um corpo
assim? Quando ele arranja tempo? Seria estranho perguntar se
ele poderia me levantar no supino?
— O que você tanto está pensando aí?
Zane estende a mão para alisar o sulco na minha testa que
sempre se forma quando estou mergulhada em pensamentos.
Ao seu toque, tudo muda de lado, e eu sou como um navio
afundando em um filme, todos os alarmes tocando e as luzes
piscando. Pessoas enlouquecidas no convés enquanto a coisa
toda se inclina para bombordo.
No que estou pensando? Ah, nada demais. Tipo, como eu
adoraria jogar o café fora e atacar você, escalando seu corpo forte
como se eu fosse um esquilo e você fosse minha árvore favorita.
— Que horas são e que tipo de café da manhã eles servem
neste estabelecimento.
— Um adorável. Com waffles.
— Belgas?
Zane acena com a cabeça, parecendo satisfeito consigo
mesmo.
— Deixe-me adivinhar: Zoey te contou?
— Sim. Parte do manual da Abby.
— O que mais tem nessa coisa?
— Principalmente que para manter Abby funcionando e
feliz, tenho que mantê-la totalmente cafeinada e alimentada
com suas comidas favoritas.
— Eu não sou um carro. Ou um animal de zoológico —
resmungo.
— Claro que não — Zane diz. — Você é uma Abby. Um
tipo único.
E então, como se ele não tivesse feito meu coração fazer uma
dança feliz, ele se levanta e diz:
— Eu vou tomar banho primeiro!

Estou mais acordada, mas não menos confusa uma hora depois,
caminhando ao lado de Zane enquanto nos dirigimos para o
elevador e, esperançosamente, para um café melhor e um
grande e fofo waffle belga.
Os tapetes são tão macios que todo o corredor tem essa
sensação de silêncio, e estou tentada a tirar meus chinelos e
andar descalça sobre eles. Então eu faço.
— O que você está fazendo? — Zane pergunta. Seu tom de
voz é divertido, não irritado como poderia ter sido algumas
semanas atrás.
— Esse tapete é incrível. Você deveria tentar.
— Você quer que eu tire meus sapatos e meias e ande
descalço pelo hotel?
Eu faço uma careta para ele.
— Quando você coloca assim, parece loucura.
— Certo.
Paramos para que Zane possa tirar as meias e os sapatos. Ele
ainda está com sua roupa de golfe de ontem, já que todas as suas
roupas estavam presas no quarto com Charla e Jack. Eu iria
provocá-lo sobre a caminhada da vergonha, mas desde que ele
dormiu no meu quarto, não tem a mesma graça.
Quando suas meias estão bem enfiadas em seus sapatos e ele
está descalço no tapete, ele abre os braços.
— Feliz agora?
— Não, idiota. Você tem que andar por aí. Arraste os pés
um pouco. Isso é como o Taj Mahal para os dedos dos pés.
Eu me movo em um pequeno círculo, arrastando meus pés
para que as fibras de pelúcia estejam praticamente massageando
meus dedos. Zane apenas olha, e por um momento, acho que é
tudo o que ele vai fazer: olhar como se eu fosse uma maluca.
Mas então ele se junta a mim, e me deixa ridiculamente feliz
em ver esse homem alto e devastadoramente bonito andando
descalço em círculos em um hotel chique. Eu começo a rir.
— Agora você está feliz?
Mais do que eu poderia dizer.
— Sim.
Mas então, vozes familiares soam ao virar da esquina do
corredor onde estão os elevadores. Os olhos de Zane encontram
os meus, e a próxima coisa que eu sei, ele está abrindo uma
porta ao nosso lado que eu nem tinha notado e me empurrando
para dentro.
Agora estamos de pé, minhas costas pressionadas contra seu
peito, em um pequeno armário de limpeza que cheira a
desinfetante e alvejante.
— O que estamos fazendo? — Eu assobio, ciente de cada
respiração que ele dá, e como seu peito empurra mais
firmemente contra o meu.
— Se escondendo.
— Por que estamos nos escondendo?
— Não sei! Eu entrei em pânico!
Eu rio, e Zane me cala, o que me faz rir mais. Suas grandes
mãos pousam em meus quadris e, de repente, não há ar neste
armário. Eu sou um fogo, e eu queimei tudo.
As vozes do lado de fora ficam mais altas, mesmo que o
armário pareça ficar mais quente, menor. Eu sou Alice, e bebi
qualquer poção que me fizesse crescer dez vezes o meu
tamanho. É assim que me sinto quando estou cada vez mais
consciente de cada centímetro do corpo de Zane, cada lugar
que está tocando o meu.
— Zane. — Minha voz soa embargada. É um aviso. Mas
para que? Não sei. Só que este momento parece muito
combustível. Muito grande.
Suas mãos apertam meus quadris, e eu estremeço quando ele
se aproxima, seus lábios roçando minha orelha.
— Silêncio, Abs. Eles vão embora em um minuto.
Talvez eu não queira que eles desapareçam. Talvez eu queira
ficar neste armário pelo resto da minha vida.
E como esse momento é tão intenso, como um sistema
sobrecarregado, meu servidor trava.
— Este armário realmente deveria ter sido trancado — eu
digo. — Ter acesso a todos esses produtos químicos é perigoso.
— É? — A voz de Zane é baixa, fazendo meus dedos dos pés
enrolarem. Ele parece... divertido. Mas não há nada de
engraçado nisso.
— Você sabe quantas crianças morrem por ano ao ingerir
produtos de limpeza simples?
— Não posso dizer que sim.
Zane levanta uma mão do meu quadril, e estou desapontada
até que ele escova meu cabelo para trás, colocando-o sobre um
ombro. Seus dedos acariciam a pele sensível lá, mal roçando
minha clavícula antes de enrolar ao redor do lado nu do meu
pescoço.
— Mais de cem mil crianças por ano são hospitalizadas.
Pare de falar, Abby.
Isso é Gibbs na minha cabeça, e é apenas o lembrete de que
preciso fechar minha boca.
Estou tremendo, espero que apenas por dentro, enquanto
duas pontas dos dedos de Zane encontram o pulso no meu
pescoço.
— Você está nervosa, Abs?
Caramba, sim, estou nervosa. Você está desestruturando meu
mundo.
Estou vivendo no Mundo Invertido de Stranger Things, um
mundo que se parece muito com o meu, exceto pelo homem
atrás de mim. Aquele que se parece com o irmão gêmeo da
minha melhor amiga.
Mas neste mundo, Zane é doce e gentil e até engraçado. Ele
faz minhas entranhas derreterem e me enrola em um nó
complicado que temo que nunca se desfaça.
Sem aviso, seus lábios substituem as pontas dos dedos no
meu pescoço no beijo mais terno e elétrico de toda a minha
vida.
Suave, mas firme, sua boca faz uma pausa no meu pulso,
como se estivesse testando minha reação, e quando eu não me
movo – porque não posso me mover – ele pressiona outro
pequeno beijo no lado da minha garganta. Então outro.
Ele está seguindo a veia do meu pescoço para baixo, abrindo
um caminho de calor que posso sentir em todos os lugares. Em
todos os lugares. Mesmo aquele lugar no meu cotovelo onde o
corpo não tem muitas terminações nervosas, mesmo aquele
lugar se levanta e diz: OIIE.
Minhas pálpebras se fecham, e eu ainda sou Alice, mas estou
caindo direto na toca do coelho, caindo de cabeça no País das
Maravilhas.
Em um movimento que eu não esperava, Zane me gira, e
então seus lábios estão nos meus. Eu congelo completamente.
Meus joelhos travam. Meus cotovelos se endireitam. Minha
coluna é como uma haste de metal, me mantendo
perfeitamente imóvel.
Então, os lábios de Zane começam a se mover, me
persuadindo a fazer o mesmo. Não é preciso ser muito
convincente. Minhas mãos deslizam em volta de seu pescoço.
Eu inclino minha cabeça, convidando-o a ir mais fundo, e Zane
obedece.
O beijo é uma dança lindamente coreografada, uma que eu
não sei, mas tudo bem, porque Zane está completamente na
liderança. Ele tem controle sobre cada parte de mim. Se ele
dissesse ao meu dedo mindinho para mexer agora, ele
obedeceria.
Ele me beija e me beija, até que o perigo dos produtos
químicos parece bobo comparado ao perigo da boca de Zane
na minha.
Uma voz familiar soa do lado de fora da porta.
— Por que tem sapatos no meio do corredor?
A aterrissagem é abrupta quando Zane se afasta, nossos
lábios fazendo um pequeno barulho enquanto se separam.
Ficamos ali, ouvindo.
Charla, a assessora econômica, deve estar do lado de fora
deste armário, olhando os nossos sapatos. A boca de Zane não
vai muito longe, pairando, sua respiração rápida e ofegante
soprando sobre minha pele.
— Eu acho que esses são os sapatos de Zane — Jack diz.
Há uma pausa. E então a porta do armário se abre. Zane e
eu piscamos para Charla e Jack, que estão do lado de fora da
porta.
Eu não sei o que dizer, ou como me mover. Devemos sair,
certo?
Zane ainda tem as duas mãos nos meus quadris. Não tenho
certeza se pareço tão completamente beijada quanto me sinto,
mas com base em suas expressões, suspeito que sim.
Zane limpa a garganta, dá um tapinha no meu quadril e me
empurra para a porta.
— Bom dia — diz ele, passando por mim para pegar nossos
sapatos.
— Por que vocês estão em um armário? — Charla pergunta,
sua cabeça balançando entre nós.
— Sim, por que? — Jack pergunta, parecendo tão
presunçoso, tão divertido, que eu quero enfiá-lo no armário e
deixá-lo lá. Em vez disso, vou para o corredor, fechando a porta.
Zane se abaixa na minha frente, cutucando meu pé. Percebo
que ele está tentando colocar meus chinelos de volta. Eu nunca
tive um homem colocando um sapato no meu pé antes. Isso
parece uma coisa estranha de se querer.
E, no entanto, enquanto Zane desliza cuidadosamente um
chinelo no lugar e depois o outro, acho que esse é um gesto
subestimado, do tipo que poderia fazer uma mulher se
apaixonar. Ele dá um tapinha no topo do meu pé antes de calçar
seus próprios sapatos. Eu mal resisto ao desejo de correr meus
dedos por seu cabelo, apertando minhas mãos em vez disso.
— Estávamos testando todas as comodidades — diz Zane.
— Certo, Abs?
— Sim — eu digo. — O que ele falou.
Jack balança para trás nos calcanhares, com as mãos nos
bolsos.
— Oh? E como estavam as comodidades?
Zane olha para mim, seus olhos azuis praticamente me
perfurando.
— Incrível. Perfeito. Mas ainda há muitos testes a serem
feitos. Muitos cômodos para explorar.
Apenas quando eu penso que ele me hipnotizou, me
arrastando para o azul de seus olhos, Zane pisca, e é como se
alguém tivesse ligado cabos jumper13 no meu coração.

13
Cabos Jumper são normalmente utilizados em distribuidores de
equipamentos telefônicos de comutação, interligação de blocos, terminais em
armários de distribuição e em quadros de indústrias e edifícios.
CAPÍTULO QUINZE

Abby

AS PESSOAS ASSOCIAM A RESSACA AO ÁLCOOL, mas na verdade


existem muitos tipos de ressaca. Ressaca de muito sorvete e
ressaca de besteiras. Uma vez, Sam e eu fomos a um bar de
rodízio de saladas e tivemos ressaca de salada. Eu não teria
pensado que isso era possível.
Descubro um novo tipo de ressaca no domingo quando
volto para casa do resort, arrastando minhas malas: uma ressaca
de Zane.
Eu largo as minhas malas e sento de pernas cruzadas na
minha cama, me perguntando por que a casa está tão quieta.
Eu seguro meu telefone na palma da mão, ansiosa para enviar
uma mensagem para Zane. Eu disse adeus a ele uma hora atrás,
um adeus estranho e cheio de significado, onde parecia que
deveríamos nos abraçar ou beijar ou algo assim, mas em vez
disso apenas sorrimos sem jeito um para o outro como se
tivéssemos 12 anos de idade, até que eu entrei no meu carro.
Uma hora, e eu sinto falta dele. Eu quero mandar uma
mensagem para ele. Ligar para ele. Dirigir até a casa dele, onde
quer que seja. Eu ultrapassei totalmente o ponto sem retorno
quando se trata de Zane.
Talvez mandar uma mensagem para ele seja exatamente o
que eu preciso fazer. As pessoas falam que para curar uma
ressaca é só beber um pouco de álcool na manhã seguinte. Não
consigo imaginar que isso realmente funcione. Mesmo assim,
eu quero – não, eu preciso – mais de Zane para aliviar a tensão.
Apenas um golinho. Uma mensagem. Nada demais.
Quero dizer, eu não diria não a um longo gole de Zane.
A analogia é um pouco confusa, mas o ponto é: um fim de
semana não foi suficiente.
E eu estou realmente dividida sobre para onde ir a partir
daqui. Existem duas opções igualmente aterrorizantes, indo em
direções opostas.
A primeira opção é terminar este trabalho para Zane e voltar
a vê-lo ocasionalmente, casualmente. Eu vou parar de ver ele
completamente. Ele volta para o irmão de Zoey. Um conhecido
casual na melhor das hipóteses.
Esta escolha é totalmente decepcionante, mas segura. Fácil.
Não dá trabalho. Covarde. Sem risco algum. Zane seria como
qualquer outro cara que eu sai. Certo. Sem a parte do encontro,
já que não tivemos um encontro. Apenas... fizemos meia
massagem para casais, passamos a noite juntos em camas
separadas e demos uns amassos em um armário de hotel.
A outra opção é aquela em que eu mergulho direto no que
está sendo construído entre nós. Os beijos incríveis. O flerte
pelo resto da manhã durante o café da manhã e quando saímos.
A maneira como ele entrelaçou nossos dedos durante a maior
parte da viagem de carro para casa.
Dar as mãos nunca pareceu tão... transformador. São apenas
mãos. Usamos para lavar pratos, digitar, abrir portas de carros
e uma centena de outras coisas mundanas. Mas não havia nada
mundano sobre Zane segurando minha mão, traçando padrões
nas costas da minha mão com o polegar.
Esta opção é claramente a vencedora. Apenas pensar em
Zane me faz sentir quente e fria, fraca e tonta. É como se eu
estivesse gripada. A gripe do amor. Isso é uma coisa?
O problema, porém, é o puro terror do desconhecido que
vem junto. Eu não tive nenhum relacionamento sério. Eu não
estava interessada nos caras com quem sai. E estranhamente, os
caras não parecem querer continuar saindo comigo quando
não estou dormindo com eles. E a intimidade física não é de
forma alguma algo que eu entraria sem conhecer alguém muito
bem, sem estar realmente comprometida.
Sim, tudo bem, talvez eu até goste da ideia de esperar até que
eu me case com alguém e tenha toda essa rede de segurança de
confiança antes de transar. Isso é como tentar resolver quem
veio primeiro, o ovo ou a galinha: não vou dormir com um cara
com quem não me comprometi, e os caras não querem se
comprometer sem dormir com alguém.
Estou percebendo que isso não parece tanto com o dilema
do ovo e galinha e mais com um problema de ovo podre.
Zane? Ele é um ovo de ouro. Mas isso não torna menos
aterrorizante considerar o que acontece a seguir.
Ainda estou segurando o telefone nas mãos, mordendo o
lábio, tentando pensar em algo inteligente, espirituoso,
sedutor. Mas não muito exagerado. Tanta pressão! Meus dedos
pairam sobre as teclas.
Eu poderia dizer a ele o quanto eu gostava de ficar acordada
até tarde com ele, compartilhando histórias. Ele me deu
informações sobre Zoey, e então conversamos sobre nós
mesmos. Ele me contou como é difícil agradar o pai, como o
pai desaprova a startup. Eu até contei a ele sobre ter sofrido
bullying no ensino médio, mesmo que eu não tenha dado a ele
os detalhes sobre o que aconteceu e por que me formei em uma
escola online. Talvez um dia, dependendo de como as coisas
fiquem entre nós.
Enquanto estou olhando para o meu telefone, ainda
debatendo, ele vibra com uma mensagem de Zane.

Zane: Eu tenho uma pergunta para você.

Abby: E eu tenho uma resposta para você:


dezessete.

Zane: Incorreto. Talvez você deva esperar pela


pergunta?

Abby: Talvez você devesse perguntar em vez de


me enviar outras perguntas aleatórias que não é
a verdadeira pergunta que você quer fazer?
Zane: Justo. Minha pergunta é …

Eu espero. E espero. E espero. Os pontos que mostram que


ele está digitando vêm e vão. Tenho a sensação de que ele não
tem certeza do que perguntar, mas está tentando me fazer
sofrer.

Abby: Minha oferta para responder sua pergunta


expira em três…

Abby: Dois...

Zane: Você gostaria de vir jantar hoje à noite?

Eu tenho treze anos, e minha mãe acabou de me comprar


ingressos para ver o show do Finger Eleven. É assim que a
pergunta de Zane me faz sentir. Ou, como imagino que teria
sido, já que minha mãe nunca aprovou meu gosto por rock.
Zane quer jantar comigo. Deixo cair o telefone por um
momento, coloco meu travesseiro sobre o rosto e grito.
— Está tudo bem aqui?
Eu largo o travesseiro e grito de verdade, assustando Sam,
que se contorce um pouco, agarrando-se ao batente da porta.
— Sam! Você me assustou! Achei que não tinha ninguém
em casa.
Sorrindo, ela entra e se senta ao meu lado na cama. De
repente, estou muito ciente da conversa aberta no meu telefone
e o tiro de sua visão. Seu sorriso se torna perverso.
— O que está acontecendo aqui?
— Nada.
— Que mensagens você está escondendo?
Eu não respondo, segurando o telefone no meu peito. Sam
se afasta mais para trás na cama, encostando-se na parede e
fingindo examinar suas unhas, que estão todas roídas. Isso é
uma coisa sobre Sam. Ela geralmente está totalmente arrumada,
usando algum tipo de roupa fofa e moderna, mas suas unhas
estão um lixo. Quanto mais estressada ela estiver, mais curtas
elas estarão. Eu estou supondo que a pressão deste negócio do
livro está realmente afetando ela.
Provavelmente é por isso que ela está aqui: para obter os
detalhes do meu clichê de amor. Eu me apaixonei pelo irmão
da minha melhor amiga. Seu gêmeo, nada menos.
— Não se importe comigo. Apenas finja que não estou aqui
— ela diz.
— Ugh! Sam. Eu não posso fazer isso com você sentada aí.
— Fazer o que? — ela perguntou, piscando seus grandes
olhos castanhos para mim. — Que tipo de mensagens você está
enviando que não pode escrever na frente de uma de suas
melhores amigas?
— Certo. Aqui. — Porque eu sei que ela vai me importunar
até eu contar tudo a ela, eu entrego meu telefone para Sam.
Avidamente, ela o pega e lê, seu sorriso cresce à medida que
lê. Ela empurra o telefone de volta para mim.
— Responda ao homem! Ele provavelmente está
enlouquecendo desde que acabou de te convidar para sair e
você parou de responder.
— Certo. — Eu não deveria estar nervosa. Quer dizer, não
posso dizer nada além de sim ao convite dele. Eu quero
perguntar se eu posso ir agora mesmo. Mas estou hesitando. Eu
coloco o telefone de volta no meu colo, e Sam geme. — E se isso
for um erro?
— Como pode ser um erro? — Sam pergunta. — Zane é um
cara legal, certo?
— Certo.
— E Zoey o mataria se ele te machucasse, correto?
— Sim. Ela o mataria com alegria.
— Então? — Sam levanta um ombro. — Qual é o
problema?
Eu mordo meu lábio. O negócio é que tudo isso é um
território novo para mim. Pelo menos, é assim que me sinto. É
uma tela de computador em branco quando você está prestes a
começar a escrever um programa. Há tanta coisa pela frente
que você ainda não sabe, tantos erros a cometer, tanto espaço
em branco para o erro. Nós nos beijamos, mas não fizemos
promessas ou declarações. Sem compromissos.
— Parece muita pressão — eu digo. — Quero dizer, e se
estragarmos as coisas e tudo ficar estranho com Zoey para
sempre?
E se eu tiver meu coração partido?
— E se você não fizer isso? E se for incrível? E se você e Zane
forem a combinação perfeita e então você se casar com ele e ter
a melhor cunhada de todos os tempos, sem drama porque vocês
já são amigas?
— Eu acho…
— No pior cenário: não dá certo. Você e Zoey continuam
amigas. Além deste trabalho com ele, quantas vezes você viu
Zane?
Eu penso sobre isto. Infelizmente, eu categorizei cada vez
que vi Zane nos últimos anos. Eu jantei com Zoey e seu pai no
Natal e Zane apareceu, vestindo aquele terno cinza carvão que
eu amo. Em outubro passado eu o encontrei em um bar
enquanto ele estava em um encontro. Ele sorriu de longe e
ergueu o copo para mim.
— Provavelmente uma vez por ano. Talvez duas vezes?
— Não é grande coisa — diz Sam.
Fico quieta por um minuto, pensando nos meus últimos
anos miseráveis de namoro.
— E a minha maldição do primeiro encontro? Eu posso
contar na minha mão o número de caras que me pediram um
segundo encontro. A última vez que saí em mais de dois
encontros com o mesmo cara foi na faculdade.
Sam não me diz que sou estúpida, embora eu saiba como
isso soa. Não existe maldição. Mas eu gostaria que houvesse.
Porque dizer que estou amaldiçoada é melhor do que a
alternativa, que é eu falho antes mesmo de chegar a um terceiro
encontro.
Com um sorriso suave, Sam se aproxima para encostar a
cabeça no meu ombro.
— Permissão para falar livremente sobre o que você chama
maldição do primeiro encontro?
— Isso é um conselho da Sam, ou um conselho da Dra.
Love?
Ela revira os olhos.
— Ambos. Primeiro, acho que você não se conectou com
nenhum desses caras. Eles não eram o cara. Ou até mesmo um
cara bom o suficiente para você. Você sai com alguns trastes,
Abs. Você ficou realmente desapontada com algum deles?
A maioria de seus rostos são um borrão em minha mente.
— Não.
— Segundo, acho que você tem uma tendência à
autossabotagem. Você está assustada. Embora por um lado
você seja uma das pessoas mais corajosas que conheço, por
outro, acho que você tem algumas inseguranças profundas. O
que é normal — ela diz rapidamente. — Eu acho que é mais
seguro para você cortar os caras e pular fora. Ou assustar os
caras.
As palavras de Sam parecem uma rebarba no meu coração.
Espinhosas. Desconfortável. Dolorosa, se eu pensar sobre elas
por muito tempo. O que, é claro, significa que ela está certa.
Fico grato quando ela continua, porque não consigo
encontrar as palavras.
— O amor é assustador. Mas se não fosse, não seria tão
incrível quando funcionasse. Acho que você precisa ser
corajosa com Zane, Abby. Não dê desculpas. E não sabote. —
Ela me cutuca no braço.
— Ai. Você sabe que eu me machuco facilmente.
Sam me cutuca novamente.
— Mande uma mensagem para o homem. Ele
provavelmente está morrendo lá.
Mais do que eu já quis qualquer coisa em muito tempo, eu
quero acreditar em Sam. Eu quero tentar as coisas com Zane,
apesar dos riscos.
Outra cutucada.
— Sim. Envie a mensagem. Três letras. SIM.
— Você é um valentona— eu digo, mas eu envio a
mensagem. Mais de três letras.

Abby: Eu deveria ficar em casa e trabalhar.

É verdade. Zane ficando comigo na noite passada me


impediu de fazer muito do trabalho que eu deveria estar
fazendo por ele.
— Sua sedutora suja — diz Sam, uma nota de admiração em
sua voz. — Eu não sabia que você tinha isso em você.

Zane: Tenho certeza que seu chefe vai ser


complacente.
Abby: Você não diria isso se o conhecesse.

Zane: Tenho certeza de que ele é um sujeito


honesto e respeitável.

Abby: Ele é meio estressado.

Zane: Talvez ele só precise de alguém para


ajudá-lo a relaxar.

— Garota — diz Sam. — Seu jogo é forte. Você sabia que


foi assim que eu conquistei Matt?
Eu consigo segurar um revirar de olhos. Todas nós, há pelo
menos um ano, fomos informadas de todos os detalhes do
relacionamento perfeito de Sam com seu provável futuro
noivo.
— Sim, Sim. Eu sei.

Zane: Abby.

Abby: Zane.

Zane: Venha jantar.

Abby: Você é tão mandão.

Zane: Seu chefe e eu temos isso em comum. Não


me faça ir te buscar. Eu sei onde você mora.

Abby: Estarei aí às 7.

Zane: Vejo você às 7:15. -Z

Isso me faz sorrir. Ele sabe que vou me atrasar e não se


importa. Pelo menos, estou assumindo que isso significa que
ele não se importa. Ele provavelmente vai ser como Zoey, onde
ele sabe que vou me atrasar, mas ele ainda vai falar.
Sam grita e praticamente me dá um abraço quando
bloqueio o telefone.
— Isso, minha amiga, foi um flerte sério. Agora. Derrame os
detalhes. Todos os detalhes.
— Isso vai estar no seu livro?
— Provavelmente. Mas estou perguntando porque me
importo — diz ela.
Eu a empurro.
— Com certeza. — Quando ela agita seus cílios para mim,
eu continuo. — Certo. Eu vou te contar tudo. Mas afaste-se
para que uma garota possa respirar seu próprio ar.
Embora revire os olhos, estou secretamente animada por
finalmente ter um cara de quem gosto o suficiente para falar,
mesmo sabendo que Sam vai publicar a coisa toda.
CAPÍTULO DEZESSEIS

Zane

ABBY ESTÁ VINDO PARA O JANTAR. Abby está vindo para o


jantar.
O que significa que estou me arrastando como um carro de
controle remoto sendo dirigido por uma criança de quatro
anos, todo irregular e fora de controle, girando em círculos. A
única coisa que não fiz foi bater nas paredes.
A porta do banheiro não conta.
Minha casa é, como a maioria das coisas na minha vida,
arrumada e organizada. Mas quando se trata de minha casa, essa
tendência à limpeza se traduz em algo frio e pouco convidativo.
Essa é uma grande metáfora para a minha vida, realmente.
Pelo menos, minha vida até Abby. As coisas têm seu lugar e seu
propósito. Mas tem sido muito chato, e não é um lugar que
você queira ficar.
Eu nem sequer tenho uma mesa de jantar. Apenas algumas
banquetas na ilha da cozinha. Dois dos quartos não têm
móveis. O que eu estava pensando, comprando uma casa? E
por que estou me dedicando tanto no meu trabalho se o que
realmente quero é construir esta vida, aquela dentro dessas
paredes?
Pouco antes de ter a mulher que você realmente gosta para
jantar não é o momento para uma crise existencial. É nisso que
estou pensando enquanto prego um prego para pendurar a
moldura de uma foto minha com Zoey e minha mãe. Está na
mesa da minha entrada há meses, precisando apenas de um
prego.
Demorou cinco minutos para realmente perdura-la, mas
meses para eu ter tempo. Talvez agora não seja a hora de surtar,
mas é a hora de pensar nas prioridades da minha vida. Porque
se eu quero namorar Abby de verdade (o que eu quero), tem
que ter tempo.
Não pequenos momentos ou uma hora aqui ou ali. Tempo
de qualidade, marcado como prioridade, mesmo durante um
lançamento. O momento para isso não poderia ser pior. Ou
talvez seja exatamente nesse momento que preciso considerar
minhas prioridades e o que quero para o meu futuro.
Eu olho para a foto. O sorriso da mamãe, do qual me lembro
toda vez que Zoey sorri, é largo e brilhante, como se ela não
conseguisse se conter. Zoey e eu tínhamos uns dez anos na foto,
que foi tirada pelo papai em nosso quintal. Não me lembro do
momento, mas lembro-me de ter essa idade. Eu gostava de
videogame e basquete e ficava implorando por um cachorro,
embora mamãe fosse alérgica.
Naquela época, Zoey e eu travamos uma guerra secreta, uma
em que dávamos socos no braço ou na perna o mais forte que
podíamos quando nossos pais não estavam olhando. O
objetivo era não reagir ao levar um soco, para não alertar nossa
mãe e nosso pai. Isso, e conseguir o maior hematoma.
Eu meio que sinto falta daqueles dias. Não que eu queira
bater na minha irmã agora, mas a simplicidade do jogo, a
camaradagem de fazer algo por nossa própria conta – disso, eu
sinto falta.
Eu volto para o modo de limpeza para que a dor da saudade
da mamãe não cresça, me empurrando para um humor
estranho e sombrio antes que Abby chegue aqui. Mesmo o
pensamento de ver Abby leva a preocupação e a tristeza. De
uma coisa eu tenho certeza: mamãe a teria amado.
Meu telefone toca enquanto estou olhando os menus para
viagem. Eu hesito porque é Zoey, mas então eu acho que ela
pode ser a melhor pessoa para conversar antes do meu primeiro
encontro com sua melhor amiga. Abby já contou a ela? Baseado
em quão próximas elas são, eu tenho que assumir que é um sim.
— Oi, Zo.
— Ei, irmão. O que está cozinhando? — ela pergunta.
— Você sabe que eu não cozinho. Mas convidei a Abby para
jantar. Chinês, tailandês ou pizza? Ou mexicano? Indiano?
Italiano? Ah, e a propósito, não ouvi seu conselho sobre manter
as coisas profissionais com Abby. Espero que esteja tudo bem.
— Meu tom é casual, mas estou prendendo a respiração
esperando sua resposta.
Zoey ri.
— Nunca pensei que veria o dia.
— Que dia?
— O dia em que você se apaixonou irremediavelmente por
alguém. E esse alguém é a Abby.
Sou grato por ela não ter usado a palavra menor com A,
porque acho que isso poderia ter me feito entrar em parafuso,
mesmo que uma pequena parte de mim suspeite que a força e
a profundidade dos meus sentimentos por Abby estão indo
nessa direção, se não estiver bem no meio do caminho.
— Nem eu. Se vanglorie ou o que você quiser fazer mais
tarde. Dê-me uma dica sobre a comida agora.
— Por que você não pergunta a ela?
Eu poderia. Mas quero impressionar Abby. Eu tenho essa
ideia na minha cabeça que ela vai aparecer e eu vou ter a refeição
perfeita à luz de velas. Vamos desfrutar de um jantar
descontraído e cheio de risadas, e depois talvez desfrutar de uma
repetição daquele beijo épico que tivemos no armário do resort.
Minha casa – ou talvez o balanço do quintal – é
definitivamente uma opção melhor para o romance do que em
um armário escuro ao lado de garrafas de água sanitária e
toalhas de hotel.
Pensar em beijar me ajuda a me acalmar.
— Esqueça o mexicano e o tailandês. Talvez algo
americano?
É importante considerar quais alimentos não nos deixarão
com bafo de dragão. Talvez eu devesse ter pedido a ela para
comer iogurte congelado em vez de jantar.
— Abby adora aquela hamburgueria perto da sua casa.
Abacate e queijo muenster com batata-doce frita.
Zoey parece tão divertida com isso, e em qualquer outro
momento, eu poderia me incomodar ou tentar me defender,
mas simplesmente não me importo. Estou tentando escrever
isso em um bloco de notas que mantenho na cozinha, só para
ter certeza de não estragar o pedido.
— Você realmente gosta dela, não é? — Zoey pergunta.
Largo a caneta e limpo a garganta.
— Eu gosto. Tudo bem?
— Estou surpresa, mas feliz. Eu não teria imaginado vocês
dois juntos. Quer dizer, eu acho que faz sentido. Ela é meu
oposto também, e ela é minha melhor amiga. Eu nunca ouvi
você falar assim sobre ninguém.
Isso é porque eu nunca me senti assim por ninguém. É como
se eu tivesse atravessado um buraco negro e saído do outro lado
para encontrar um sistema inteiramente novo de planetas e
estrelas. Ainda estou mapeando-os.
— Você é um cara legal, Z. Geralmente.
— Obrigado?
— A qualquer momento. — Zoey faz uma pausa. —
Apenas saiba que se você machucar Abby, serei eu quem levará
uma chave de roda para visitar o seu carro.
Eu não posso deixar de sorrir.
— Anotado.
Algumas horas depois, eu percebo que estou exagerando.
Exagerando muito.
Olho ao redor da sala e passo as mãos pelo cabelo, olhando
para todas as sacolas do World Market.
O que eu fiz?
A única coisa que eu precisava comprar eram velas. Eu
planejava entrar no World Market, pegar algumas velas e depois
pegar nossos hambúrgueres e ir para casa. Em vez disso,
imaginei minha casa vazia, imaginando o que Abby pensaria, e
continuei colocando itens no carrinho.
Algumas centenas de dólares depois e agora tenho
almofadas, arte para as paredes e uma girafa de madeira de um
metro de altura que não consigo explicar. Sabe o que eu
esqueci? Velas. Também não tive tempo de guardar nada.
Há uma batida na porta, e eu entro em pânico. Devo
esconder as sacolas em um dos quartos vagos? E se Abby quiser
um tour?
Respiro fundo e dou outra olhada na minha foto com
mamãe e Zoey. Estou sendo idiota e pensando demais em tudo.
O sorriso nos olhos da minha mãe me diz para deixar acontecer
– algo que nunca foi fácil para mim – e aproveitar.
Abro a porta, minha pulsação acelerando com a visão de
Abby em jeans e um top azul elétrico que realmente destaca o
rosa em seu cabelo. Eu a vi maquiada, de pijama e em trajes
casuais. Ela é linda em todos eles.
A testa de Abby franze.
— Quem chutou seu cachorrinho? — ela pergunta.
Eu suspiro.
— Entre. Eu vou te mostrar.
Quando Abby vê as sacolas na sala, ela me dá um olhar
confuso.
— Você... foi fazer compras? É um caso de culpa pós-
compras ou algo assim?
— Algo assim. — Sento-me no sofá, satisfeito quando ela se
senta ao meu lado. Eu não a puxo para o meu colo, mesmo que
eu queira.
— Ninguém nunca vem, e eu nunca estou aqui. Minha casa
estava vazia e... eu queria impressionar você.
— Eu divido uma casa com outras quatro mulheres. É como
um dormitório glorificado, ou uma pequena comunidade.
Estou impressionado que você tenha uma casa. E que você
gosta do World Market. Posso dar uma olhada? — ela
pergunta.
Eu aceno, e Abby começa a vasculhar as sacolas.
— Eu adoro o seu gosto — diz ela depois de um momento,
sentando-se sobre os calcanhares e olhando para mim com um
sorriso.
— Você gosta?
— Eu gosto. E eu tenho uma ideia. Sinto cheiro de algo
gorduroso e delicioso. Que tal você me alimentar e eu te ajudar
a encontrar lugares para colocar todas essas coisas?
A ideia de Abby me ajudar a decorar minha casa me enche
de algo que não consigo nomear. Uma emoção que parece
sólida e também tem coisas no meu estômago pulando.
— Eu adoraria isso — digo a ela, levantando e estendendo
minha mão para a dela.
Eu ajudo-a a ficar de pé, não a deixando ir imediatamente.
Por alguns instantes, simplesmente fazemos contato visual,
estudando um ao outro, até que ela sorria. Isso me faz sorrir de
volta.
— Vamos — eu digo, finalmente puxando-a para a cozinha,
amando a sensação de sua mão pequena e fria na minha. — Eu
sei que preciso alimentar a Abby se eu quiser que ela funcione
corretamente.
— Ha ha — ela diz, então funga. — Isso é o cheiro de um
hambúrguer que eu sinto?
CARA DRA. LOVE
De: [email protected]
Para: [email protected]

Querida Dra. Love,


Eu realmente amo meu namorado. Tipo, absolutamente. O
único problema? Eu sou uma garota Mac e ele usa Windows.
Cada vez que damos um passo à frente, damos um duplo
clique para trás. Estou cansada de suas mãos em toda a minha
tela sensível ao toque, e não comecei com o problema do
dongle14.
Acho que nosso software precisa ser atualizado e podemos
estar programados para falhar.
Algum conselho?
Sinceramente,
Adaptador de Detroit

De: [email protected]
Para: [email protected]

Querida Abby,

14
É um adaptador Wi-Fi, que era comumente utilizado em equipamentos
mais antigos que não possuíam Wi-Fi integrado.
Agradável. Você me deve um jantar desde que eu encontrei
outro de seus e-mails falsos.
-S

De: [email protected]
Para: [email protected]

Ah! Ótimo e-mail. Mas não foi eu.


-Abs

De: [email protected]
Para: [email protected]

Querida Dra. Love,


Ah! Era Zoey, fingindo ser Abby. Você me deve um jantar.
Eu nem sei o que é um dongle.
-Zoey

De: [email protected]
Para: [email protected]

Certo. Mas eu não vou para aquele lugar de crepes novamente.


Crepes não são uma refeição.
-S
CAPÍTULO DEZESSETE

Abby

EU TENHO um caso mau-humor das segundas-feiras enquanto


entro no meu odiado emprego fixo. Grande momento.
— Fim de semana prolongado? — pergunta Mica.
Eu gemo e coloco minha cabeça em minha mesa.
— Ótimo fim de semana. Estar aqui? Não muito.
Fiquei na casa de Zane até quase onze horas da noite
anterior. Comemos hambúrgueres do meu lugar favorito
(obrigada, Zoey), e então eu o ajudei a decorar a casa dele. Tudo
menos a girafa de madeira, da qual eu não conseguia parar de
rir, e ele concordou em devolver. Ele nem parecia ter certeza de
por que tinha comprado-a.
E depois disso, nos beijamos como se fôssemos adolescentes,
prestes a ser pegos por nossos pais a qualquer minuto. Cada
beijo era tão bom ou melhor que o primeiro. Eu continuei
pensando que Zane poderia empurrar para mais do jeito que
tantos caras fazem, mesmo nos primeiros encontros, mas em
vez disso, ele parecia perfeitamente contente em simplesmente
explorar o beijo. O homem era como um cartógrafo de beijos,
com a intenção de mapear e reivindicar tudo – pelo menos tudo
acima da minha clavícula.
Quando cheguei em casa, não conseguia dormir porque
ficava repetindo tudo em minha mente.
Micah me arrasta para o presente antes de eu pensar sobre
isso novamente.
— Você está se sentindo bem? Você está corada.
— Estou bem.
— Como está indo o trabalho paralelo na Eck0? Descobriu
o problema deles?
Não falei muito com Micah sobre isso, considerando todo
o acordo de confidencialidade que assinei.
— Trabalhando nisso.
— Alguma chance de uma posição em tempo integral?
Talvez para duas pessoas? — Micah me dá mãos de oração.
— Eu queria.
Honestamente, eu queria. Eu quero. Eu adoraria trabalhar
com Zane. Vê-lo diariamente tem sido ótimo, e já sei que vou
sentir falta quando terminar.
Mas a vida de startup? Depois da última semana, eu não
tenho certeza. Zane é o último a sair do escritório, muitas noites
depois das dez. Não estou lá de manhã, mas aposto que ele é o
primeiro a chegar. Reuniões, ligações, emergências – tudo é de
grande prioridade, o tempo todo. E eu sei que isso não vai
desacelerar com o lançamento, pelo menos não por alguns
meses.
Este fim de semana foi uma anomalia. Passar um tempo com
ele no resort e depois jantar tranquilamente – eu sei que isso
não será realidade com ele. Não por um tempo. As startups são
brutais. Ele parece adorar, porém, e como eu sei o que é odiar
seu trabalho, eu nunca pediria para ele mudar.
Nosso chefe aparece de repente na nossa porta, me
lembrando tanto do chefe do filme Como Enlouquecer Seu
Chefe que eu tenho que abafar uma risadinha.
— Ei, meus dois profissionais de TI favoritos.
— Seus únicos dois funcionários de TI — digo.
Ele me ignora.
— Nós temos algo divertido para vocês esta manhã.
— Defina divertido — diz Micah.
— Alguém abriu um arquivo — Micah e eu gememos — e
agora há um vídeo sendo reproduzido, uh, digamos apenas que
o conteúdo é impróprio. Não podemos nem desligar o
computador. Vocês dois podem brigar para ver quem vai
consertar isso.
— Nada disso! — Micah e eu dizemos ao mesmo tempo
assim que nosso chefe sai.
Acabamos tendo que usar pedra-papel-tesoura para decidir,
e enquanto o papel dele cobre minha pedra, Micah diz:
— Que a sorte esteja sempre ao seu favor.
Acho que isso já aconteceu.
Eu praticamente voo para o escritório de Zane naquela noite.
Em parte porque eu realmente odeio meu trabalho. E anexos.
E vírus.
Mas principalmente porque eu quero ver Zane.
Como se ele soubesse exatamente quando eu cheguei, Zane
sai de seu escritório para me cumprimentar, parecendo
praticamente comestível em seu terno azul escuro.
Abby, lembra-se do que falámos. Esse é Gibbs de novo.
Normalmente isso funciona, mas mesmo Gibbs não pode
forçar o ar em meus pulmões e o não pode forçar meu fluxo
sanguíneo a não diminuir.
Quando Zane sorri, eu congelo, bem ali no meio do
escritório, ainda cheio, como se eu fosse uma borboleta, presa
no lugar por seus olhos azuis.
— Abs — diz ele. — Por que parece que faz tanto tempo
que não te vejo?
— Talvez eu seja muito viciante — eu digo. Espero que eu
seja tão viciante. Para ele, de qualquer maneira.
O sorriso de Zane se alarga.
— Sim, você é — ele murmura. — Agora me siga. Eu tenho
algumas perguntas para você. E um novo saco de Twizzlers.
Quando chego ao espaço de trabalho que estou usando, ele
não só tem um novo pacote do meu doce favorito, mas um flat
white bem quente, uma pequena foto emoldurada do pôster da
primeira temporada de Stranger Things e um pequeno vaso de
suculentas.
Meus olhos se concentram nisso. Ele me deu uma planta.
Uma coisa viva. Em um pequeno pote de cerâmica pintado de
turquesa e prata, duas das minhas cores favoritas.
— Eu vou matar isso — eu digo, apontando. — Eu sei que
suculentas são as plantas mais fáceis de se ter, mas eu tive um
cacto uma vez e...
Seus dedos quentes pousam no meu ombro, apertando para
que minha voz se transforme em um guincho baixo.
Gentilmente, ele me encoraja a sentar.
— É de plástico — Zane sussurra, inclinando-se tão perto
do meu ouvido que sua respiração patina sobre minha pele.
O que é de plástico? Minha cabeça é um carrossel, girando
loucamente fora de controle. Certo. A suculenta.
— Perfeito — eu digo, tentando fazer com que os vários
sistemas do meu corpo se comportem.
Ei, sistema circulatório: desacelere!
Sistema respiratório: dentro e fora, agradável e estável. É isso.
Aqui vamos nós. Respirando.
Sistema reprodutivo: você não foi chamado para a ativa.
Abaixem-se, soldado. Estou falando com você, ovários.
Sistema nervoso: deixe de ser tão... nervoso.
Sistema esquelético: Fique firme. Continue
Percebo que Zane ainda está de pé perto da minha cadeira -
muito perto da minha cadeira. E ele aparentemente me fez uma
pergunta que eu não ouvi enquanto tentava me colocar sob
alguma fachada de controle. Eu inclino minha cabeça para trás,
olhando para ele de cabeça para baixo.
— O que? Me desculpe, eu me distraí um pouco.
Zane de uma semana atrás – tanta coisa realmente mudou
em uma semana? – teria ficado com aquela sobrancelha
franzida e olhado com a boca apertada. O novo e melhorado
Zane apenas ri.
— Acabei de dizer que tenho algumas reuniões hoje à noite,
então estarei na sala de conferências. Sinta-se à vontade para
usar meu escritório se precisar de mais espaço.
— Depois que você fez meu espaço tão feng shui? Sem
chance. Só preciso regar minha suculenta.
Zane toca meu ombro novamente, em algum lugar entre um
aperto e um tapinha. Isso me deixa toda nervosa de novo. Os
ombros nunca foram uma parte do meu corpo que eu
considerava. Eles estão lá, como todos os ombros, mantendo as
alças do meu sutiã no lugar. Eu acho que eles foram muito
subestimados.
— É de plástico — Zane fala enquanto caminha para a sala
de conferências.
Eu o observo ir, corando quando ele se vira para olhar para
mim, como se soubesse que eu o estaria observando. E então ele
pisca – pisca !
Eu tenho que abanar as minhas bochechas quentes com um
pedaço de papel cartão antes de pegar meu computador e
começar a trabalhar.
— Você é uma planta bonita — eu digo, arrastando o vaso
de suculentas. Eu sei que é falsa, mas se conversar com plantas
reais as ajuda a crescer, certamente não pode prejudicar uma
planta de plástico. — Boa suculenta. Senta. Fica.
A energia frenética no escritório me deixa empolgada, o que
é bom. O lançamento está chegando, mas não poderá acontecer
se eu não descobrir o que está acontecendo e quem está
tentando invadir o sistema.
Algumas horas depois, instalei uma armadilha. Uma
armadilha adorável, tão adorável que é praticamente invisível e
definitivamente inevitável. Só espero que não seja Jack. Ele
pode não ser minha pessoa favorita, mas é amigo e parceiro de
Zane. Não conheço pessoas suficientes por aqui para ter outros
palpites. Nos próximos dois dias, devo saber quem é.
Estou com meus fones de ouvido, ouvindo DJ Marshmello
e admirando meu trabalho quando um toque no meu braço me
faz pular.
Eu imediatamente minimizo minhas janelas, girando para
encarar Josh, a única pessoa além de Jack ou Zane que conheço
pelo nome. Todo mundo está muito ocupado para fazer mais
do que sorrir ou acenar, mas Josh geralmente para uma vez por
noite para dizer oi. E para oferecer sua ajuda, como se eu
precisasse. Eu acho que ele pode ter uma quedinha por mim,
então eu fiz o meu melhor para não encorajá-lo. Amigável, não
sedutora.
— Você me assustou!
Ele puxa uma cadeira e a coloca de trás para frente, sorrindo.
— Desculpe — diz ele com um sorriso tímido. — Eu tendo
a mergulhar no meu trabalho também. Como tá indo?
— Muito bem, o que significa que eu provavelmente não
vou ver você depois desta semana. Emoji de rosto triste — eu
digo.
Ele ri.
— Bem, parabéns e me desculpe. Eu sei que vou sentir falta
de ter você por perto. — Ele inclina o queixo em direção à sala
de conferências. — E eu não sou o único. Sabe, não tenho
certeza se vi o chefe sorrir antes de você aparecer. Não tenho
certeza se você não o substituiu por um gêmeo.
Isso me faz rir. Muito.
— Zane realmente tem um gêmeo. — As sobrancelhas de
Josh se erguem. — Uma irmã gêmea.
— Oh. Certo. Então, nada de gémeos trocados?
— Sem armadilha para os pais também.
Jack sai da sala de conferências, fechando a porta atrás de si.
Ele me dá um pequeno aceno, e o mesmo olhar conhecedor que
ele está me dando desde que ele e Charla me pegaram com Zane
no armário.
— Ei, o que você acha do Jack? — Eu pergunto a Josh.
Josh faz uma careta.
— Ele não é minha pessoa favorita.
— Você gosta dele menos do que Zane?
— Eu nunca disse que não gostava de Zane. Ele é apenas
intenso. Jack é tão liso. Tipo, ele pode entrar ou sair de
qualquer coisa. Não gosto e não confio nele. De qualquer
forma, é melhor voltar para a rotina.
Josh volta para sua estação, e eu tento reprimir a sensação de
enjoo que tenho. Descobrir que alguém está sabotando a
empresa vai surpreender Zane. Ainda mais se for o Jack.
Tento me lembrar de como Jack era cativante com os
investidores, de como ele tinha sido sério sobre conseguir o
financiamento. Não sei como as coisas estão estruturadas aqui,
mas me pergunto se há alguma outra maneira de ele acessar esse
dinheiro, mesmo que o aplicativo falhe. Ou antes de lançar.
Caso contrário, eu simplesmente não consigo entender. Não
importa o quão certo Josh esteja sobre ele ser muito liso.
São quase onze horas, e não há mais nada que eu possa fazer
esta noite. Exceto observar e esperar. Um alarme soará no meu
telefone no momento em que alguém cair na minha armadilha.
Estou animada e nervosa por finalmente descobrir isso.
Eu fico do lado de fora da sala de conferências por um
momento, ouvindo vozes, então mando uma mensagem para
Zane dizendo que estou indo embora. Estou quase na porta
quando Zane chama meu nome. Eu me viro para vê-lo
correndo em minha direção. Ele está sem paletó e sem a gravata
também. Os primeiros botões de sua camisa branca estão
desabotoados, e seu sorriso é largo.
— Deixe-me acompanhá-la até a saída — diz ele.
Tenho spray de pimenta e um taser na bolsa, mas não vou
discutir com o homem.
— Você está de bom humor — eu digo enquanto ele abre a
porta da frente, segurando-a para mim.
— Acabamos de ter uma reunião muito produtiva. E na
verdade tenho um favor a lhe pedir.
Ele provavelmente poderia me pedir um rim, e eu diria que
sim.
— Nós teremos outro jantar amanhã à noite. Investidores
diferentes. Jack e eu estávamos pensando se você poderia vir.
Talvez cuspir um pouco dessa linguagem tech mumbo jumbo
e os impressione como você fez neste fim de semana.
Alcançamos a porta do lado do motorista do meu carro e eu
me inclino contra ela, de frente para Zane.
— Você realmente chamou isso de mumbo jumbo? Estou
um pouco ofendida em nome dos geeks da tecnologia de todo
o mundo.
— Eu fiz. Isso é a extensão do meu conhecimento sobre o
que você faz. É muito impressionante. Só não sei as palavras.
Eu finjo pensar sobre isso.
— Que tal isso: você me dá três palavras que se relacionam
com o que eu faço, e eu vou.
— Três palavras?
Zane esfrega a mão no queixo. Parece que ele esqueceu de se
barbear esta manhã, e o som áspero que sua mão faz ao roçar a
pele áspera me causa um pequeno arrepio.
— Três pequenas palavras — eu digo.
— Código — diz ele com confiança, contando nos dedos.
— PHP.
— Já foram duas. Bom menino. Mais um e eu sou sua.
Seus olhos se estreitam em mim, e suas narinas se dilatam
ligeiramente. Eu não queria que isso soasse tão sedutor, mas
não me importo com a resposta dele. Ainda é uma maravilha
que eu seja a única que possa obter uma reação dele.
Zane dá um passo em minha direção. O olhar sombrio em
seus olhos me faz querer recuar, mas o carro está nas minhas
costas. Eu inclino minha cabeça para cima para segurar seu
olhar enquanto ele se aproxima ainda mais.
Quando ele coloca uma mão no carro ao lado da minha
cabeça, eu esqueço de respirar.
Ele se inclina para mais perto, mais perto, então mais perto
ainda. Minhas pálpebras tremem, querendo fechar, mas não
consigo tirar os olhos desse homem. Estamos de rosto colado, a
milímetros de distância. Eu quero esfregar contra ele como um
gato, sentindo sua barba arranhar minha bochecha.
Sinto sua respiração no meu ouvido pouco antes de ele
sussurrar:
— Algoritmo.
A palavra nunca soou sexy antes. Eu não sabia que poderia.
Mas Zane a arrasta para fora, de modo que as quatro sílabas
pareçam mais de dez, a palavra rolando de sua língua como se
estivesse em uma língua destinada apenas a ser falada por ele,
para mim.
Tudo o que posso fazer é não agarrá-lo pela gola da camisa e
arrastar seus lábios para os meus. Em vez disso, eu espero,
contando meus batimentos cardíacos, ansiosa para ver o que
Zane fará a seguir. Não é como se eu não pudesse beijá-lo se eu
quisesse. Mas eu não me importo com este jogo que estamos
jogando. O vai e vem. O desconhecido e a emoção disso. Se eu
tivesse que imaginar, eu teria pensado em Zane me entregando
algum tipo de termo de confidencialidade para assinar ou talvez
um contrato de namoro.
Para minha decepção, ele me dá um beijo rápido, então se
afasta antes que as coisas fiquem interessantes. Ele enfia as mãos
nos bolsos, parecendo satisfeito consigo mesmo.
— Você ganhou — digo a ele, fazendo o meu melhor para
que o volume da minha voz pareça imperturbável.
Eu sou um pepino. Uma geladeira. Uma mulher no controle
total.
— Eu vou para o seu jantar chique — digo a ele. — Vou
impressionar seus investidores e salvar o dia. Novamente. Mas
estou colocando isso como horas extras.
Zane apenas sorri.
— Envie-me a conta.
CAPÍTULO DEZOITO

Zane

TERÇA-FEIRA DE MANHÃ, me pego cantarolando no chuveiro.


Eu corto meu maxilar ao fazer a barba porque estou sorrindo.
Quando entro no trabalho, algumas pessoas param para olhar.
Percebo que estou assobiando uma melodia alegre.
É realmente tão incomum para mim ser feliz?
Sim. Sim, é sim.
Sempre fui mais sério, mas depois que mamãe morreu, só
restava papai com seu pensamento regimentado e sua
influência voltada para os negócios. Zoey e eu perdemos a
suavidade, o lado humano que mamãe oferecia, mais até do que
percebemos na época.
Há apenas uma pessoa responsável por isso. Por me sacudir
do meu sono, me fazendo perceber que tenho vivido minha
vida meio adormecida. A mulher que me lembra cada vez mais
mamãe. Não na aparência ou pelo estilo, porque mamãe
definitivamente combinava com papai nesse quesito – clássica,
conservadora e elegante. Mas Abby é como mamãe em seu
humor, sua honestidade e seu prazer pela vida.
Isso é tudo novo, e eu não tenho ideia do que estou fazendo.
Normalmente isso me assustaria. Eu sou o cara que usa o GPS
em seu carro e seu telefone, só por precaução. Eu costumava
imprimir instruções também e só parei porque minha
impressora quebrou.
Com Abby, é como se eu tivesse atingido uma daquelas
áreas desconhecidas no mapa, onde o ponto azul mostrando
sua localização paira sobre um espaço verde em branco em vez
de mostrar a estrada em que você está. Isso me faria entrar em
pânico em qualquer outra situação, mas sinto apenas uma
certeza crescente sobre ela. Sobre nós.
Especialmente depois de vê-la em minha casa na outra noite.
As fotos na parede e as almofadas não eram o que faltava no
espaço espartano. Era Abby. Ela é o que estava faltando.
Minha última namorada de verdade foi no primeiro ano do
ensino médio. Eu não conheço as regras de relacionamentos
sérios quando se é adulto. Também não sei como terei tempo
para isso, me fazendo questionar novamente a sanidade da vida
que construí para mim. Não é a primeira vez desde o ano
passado, que eu me pergunto se realmente quero continuar
correndo nessa roda de hamster.
Não. Eu não quero.
A resposta é tão clara que é chocante. Eu não quero
continuar nisso. Não quero ficar com a Eck0, essa coisa que
ajudei a construir. Tenho orgulho disso, mas não quero esta
vida. Eu me pego abrindo o contrato que Jack e eu
estabelecemos, olhando para a cláusula que estabelecemos no
caso de qualquer um de nós queira sair da sociedade. Eu
poderia fazer isto.
A ideia, que eu casualmente lancei ao redor, se plantou
solidamente no meu cérebro. Parece esperança. Um alívio.
Eu só preciso passar por este lançamento com Jack. O
homem em questão me encurrala no meu escritório, um sorriso
malicioso no rosto enquanto ele se inclina contra a porta
fechada.
— Vejo que não sou o único que teve sorte neste fim de
semana. A “Mantenha Austin Estranha” é tão esquisita nos
lençóis quanto fora deles?
E assim, meu humor alegre se foi, substituído por uma raiva
crescente que me deixa de pé, com as palmas das mãos sobre a
mesa, pronto para atacar. Mas se alguma coisa, isso apenas
confirma minha determinação. Eu vou sair. Assim que eu
puder.
Jack levanta as duas mãos e rapidamente muda de tática.
— Ei. Desculpe! Estou apenas tentando puxar assunto. Eu
gosto da Abby. Ela é uma boa menina.
Certo. É por isso que ele continua se referindo a Abby como
Mantenha Austin Estranha, o slogan da cidade que eu tenho
certeza que Austin roubou de Portland. E por que ele acha que
não há problema em falar comigo sobre como ela foi na cama.
Eu nunca fui de contar detalhes, não que houvesse muitos para
contar.
Eu me sinto doente olhando para Jack. De repente, eu não
quero nada mais do que lançar este aplicativo e ir embora.
Afaste-me do meu sócio, com quem mal suporto estar por
perto. Quero deixar essa vida de startup que me mantém aqui
até meia-noite na maioria dos dias. O trabalho que torna uma
vida típica improvável, um relacionamento real impossível. Eu
venho dizendo há meses que vai se acalmar no lançamento, mas
isso não é verdade. Teremos que gerenciar o lançamento com
firmeza, nos mantendo a par de cada detalhe por meses.
Podemos até ficar mais ocupados depois. Mais trabalho. Mais
Jack.
— Eu gosto de Abby — eu digo, minha voz baixa e perigosa.
— Eu a respeito. E se você a respeitasse, você não a chamaria
assim ou a degradaria dessa maneira. Não quero ouvir isso de
novo.
Jack parece querer discutir, mas em vez disso, fecha a boca e
me dá um breve aceno de cabeça. Eu afundo no meu assento,
afrouxando um pouco minha gravata. Jack se senta na cadeira
em frente à minha mesa, alisando a frente de sua camisa de
colarinho.
— Então, o jantar hoje à noite. Abby vai ir?
— Sim.
— Bom. — Jack esfrega a mão no queixo. — Olha, eu sinto
muito pelo que eu disse. Eu realmente não quis ser
desrespeitoso. Abby é ótima. Ela realmente ganhou os
investidores neste fim de semana. Você acha que ela pode fazer
o mesmo esta noite?
Apesar de seu pedido de desculpas, cada palavra que Jack diz
sobre Abby me faz querer colar meu punho com sua boca. De
alguma forma, eu consigo me manter no lugar, com as mãos
apertadas no meu colo.
— Eu não vejo por que ela não faria isso. Ela é brilhante. E
sabe muito mais sobre o lado da tecnologia do que você ou eu.
Ele se levanta, sorrindo de novo, embora seja mais tenso e
mais forçado do que quando ele entrou. Ele conseguiu arruinar
nossos humores. Muito bem, amigo.
— Só mais uma coisa — Jack diz, virando-se para mim
enquanto abre a porta. — À luz do constrangimento agora,
estou receoso em dizer qualquer coisa.
— Desembucha. — E então saia.
Jack se mexe um pouco, passando a mão pelo cabelo.
— É só que os caras hoje à noite são... mais velhos. Não
apenas na idade. Eles são antiquados. De famílias ricas.
Tradicionais do Texas.
— Okaaay. Eu li os arquivos sobre eles também. E?
Ele encontra meu olhar por um momento, como se
esperasse que o que quer que estivesse insinuando ficasse claro
para mim.
Soltando um suspiro, Jack finalmente diz:
— É só que Abby não tem exatamente o tipo de aparência
que vai tranquilizar os investidores.
É como se ele tivesse jogado água fria na minha cabeça.
Estou congelado em meu assento, atordoado por algo tão óbvio
que eu mesmo poderia ter pensado nisso algumas semanas
atrás.
— Eu não acho… — Eu paro, sem saber como terminar essa
frase. Porque eu não sei o que pensar.
De certa forma, Jack está certo. Eu sei o tipo de caras com
quem vamos nos encontrar esta noite. Caras como meu pai.
Mentes fechadas. Pensamentos rígidos. Eles vão dar uma
olhada no cabelo com pontas rosadas de Abby ou qualquer
roupa descolada que ela escolher, e será uma batalha difícil para
eles ouvirem qualquer outra coisa. Claro, isso não foi um
problema neste fim de semana. Ela tinha os investidores
totalmente envolvidos em seu dedo.
— Não. — Eu balanço minha cabeça, me convencendo
enquanto falo. — Abby é brilhante. Tudo o que ela precisa
fazer é falar. Você a ouviu, é convincente. O que ela veste ou a
cor de seu cabelo não importa.
Jack acena com a cabeça enquanto eu falo, então acena com
a mão.
— Certo. Não, você está certo. Desculpe por trazer isso à
tona.
E com um sorriso final, ele se foi. Mas suas palavras me
consomem o resto do dia.
Abby não precisa mudar quem ela é, e sua aparência não
afeta sua experiência em seu campo. Mas eu conheço caras
como os investidores que vamos encontrar hoje à noite.
Lembro-me da primeira vez que papai conheceu Abby, e como
ele levantou uma sobrancelha, com desdém, dando-lhe uma
olhada não tão sutil em sua meia arrastão rasgada, botas e cabelo
roxo que ela tinha na época. Ele teve anos para se adaptar e
agora ama Abby.
Mas os investidores desta noite... não temos o luxo do
tempo para mostrar a eles como Abby é incrível, como nosso
aplicativo é ótimo. Temos um jantar. Duas horas no máximo.
Uma má impressão desde o início pode atrapalhar toda a
conversa. A preocupação abre caminho por baixo da minha
pele, prendendo-se aos meus pensamentos como um vírus.
Ando de um lado para o outro no escritório, brincando com
a ponta da gravata. É realmente tão importante pedir a Abby
que se vista um pouco diferente ou prenda o cabelo em um
coque? É um jantar. É só cabelo. Não é porque eu não gosto.
Este é apenas um negócio.
Ela vai entender.
Não, isso é estúpido. Não peça para ela fazer concessões.
São apenas roupas e cabelos. E isso não significa que eu não
goste deles.
Pelo resto da tarde, eu debato. De um lado para o outro,
para trás e para frente. Eu sinto que a parte de negócios da
minha vida está se unindo à parte pessoal da minha vida, se
emaranhando em um nó que eu vou ter que cortar de alguma
forma.
O que realmente acontece é que não quero nenhuma razão,
não importa quão pequena ou superficial, impeça esses
investidores de investir. Afastar-se da Eck0 seria muito mais
fácil com esse dinheiro garantido, com nosso lançamento
acontecendo sem problemas, totalmente financiado.
Então terei mais tempo para passar com Abby. Eu não vou
ficar atrelado com Jack. Então, na verdade, tudo isso se resume
a pedir a ela para fazer algo pequeno agora que será enorme para
nós dois no futuro. É uma pequena coisa que tornará nosso
futuro melhor.
Com a impressão de resolvido, pego meu telefone do bolso
para enviar uma mensagem a Abby. Ela está planejando nos
encontrar no restaurante ao invés de vir ao escritório. Levo
quatro tentativas para escrever o texto corretamente.

Zane: Abby, para o jantar de hoje à noite, seria


possível você ser um pouco mais conservadora?
Talvez prenda o cabelo e peça emprestado uma
roupa social? Zoey provavelmente poderia
ajudar com isso. Só precisamos causar a
impressão certa aos investidores. Obrigado, Z.

Espero, com o telefone na palma da mão, até ver os pontos


indicando que ela está digitando. Eles vêm e vão. Vem e vão.
— Vamos, Abs — murmuro, sem saber por que me sinto
tão nervoso com isso.
Não é grande coisa, eu me lembro. Colocando o telefone na
minha mesa, limpo as palmas das mãos nas coxas.
Um momento depois, uma mensagem aparece.

Abby: SP.
Eu não gosto de linguagem de texto, então eu tenho que
pesquisar no Google a resposta dela. Recuso-me a ficar
envergonhado por encontrar a resposta em um artigo
intitulado “Códigos de texto secretos que todos os pais devem
conhecer para entender seus adolescentes”. Agora sei mais do
que nunca sobre como os adolescentes estão usando emojis e
quero esfregar os olhos e excluir a maioria dos emojis de frutas
ou comida do meu telefone. Mas eu encontro a resposta.
Sem problema. A pedra no meu peito se levanta, e eu jogo
minha gravata por cima do ombro antes de responder com
algum jargão próprio, tirado do mesmo artigo.

Zane: OBG. SMG

Abby: Uau. Eu realmente abri uma porta, não foi?

Zane: VGAVPO.

Abby: Eu não sei o que isso significa.

Zane: Você ganha alguns, você perde outros.

Abby: Ok, Tigre. Afaste-se do computador. Você


teve que pesquisar no google isso, não é? E você
ainda está com o navegador aberto?

Fechei meu laptop, sorrindo e me sentindo muito mais leve


sobre, bem... tudo. O jantar, meu dia e o futuro.

Zane: Eu não sei do que você está falando. Vejo


você no jantar hoje à noite. Atenciosamente,
Zane Abramson o Primeiro
Abby responde com um emoji de rosto rindo. Eu nunca
gostei de mensagens de texto antes. Sempre pareceu a forma
mais barata de comunicação. Mas com Abby, mensagens de
texto são divertidas. Provocantes. Viciantes.
Apesar da minha tarde ocupada, apagando incêndios e
arrumando as coisas antes do jantar, eu me pego olhando várias
vezes para o meu telefone, sorrindo enquanto penso em Abby.
CAPÍTULO DEZENOVE

Abby

NÃO É GRANDE COISA. É só cabelo. Uma muda de roupa.


Zane não sabe. Isso não é como antes.
Esses são o mantra que ainda estou repetindo para mim
mesma quando volto para casa. Saí do meu escritório um
pouco mais cedo. Preciso me preparar para o jantar, mas meu
estômago está embrulhado. O tipo causado por uma em
escalada ou velejar, muito forte para eu reverter.
— Ei, Abs! — Delilah me cumprimenta com um abraço
enquanto coloco minha bolsa de laptop na mesa da cozinha. —
Ah, por que está tão triste, docinho?
Eu balanço minha cabeça, conseguindo um pequeno
sorriso.
— Apenas coisas de trabalho. Ei, hum. — Eu limpo minha
garganta, que de repente parece apertada. — Zoey está aqui?
— Não. Ela está em alguma coisa de trabalho com seu chefe.
Só tem você e eu. Por quê? Você precisa dela?
Zoey é a última pessoa que eu preciso agora.
— Não. Eu preciso de você, na verdade. Você poderia me
fazer um grande favor? Se você estiver ocupada, não é grande
coisa.
Ela gesticula para seu cabelo loiro, empilhado em um coque
bagunçado, então para seu rosto que está desprovido de
maquiagem.
— Parece que estou ocupada?
Delilah nunca vai a lugar nenhum sem um rosto cheio de
maquiagem e cabelo totalmente feito. Ela diz que é um
subproduto de seus dias de miss, e que deveríamos tê-la visto
naquela época. É exatamente por isso que eu preciso dela.
— Eu tenho que ir a um jantar hoje à noite. Eu deveria ser
um pouco mais… — Procuro a palavra certa. O que Zane disse
em sua mensagem? — Conservadora.
Delilah inclina a cabeça, seu nariz de botão enrugando de
uma forma que só poderia ficar bonito nela.
— Tipo, de que forma?
Eu engulo.
Não é grande coisa.
— Em todos os sentidos. Cabelo, maquiagem, roupas.
Tudo.
— Por que?
Repito alguma versão do que Zane disse sobre os
investidores da velha guarda e sobre causar uma boa impressão.
— Acho que isso faz sentido. Você está me dando rédea
solta?
Delilah parece muito animada. Como um gato raivoso e
com muita fome. Eu sou a fonte de alimento fácil nesta
situação. Um pássaro. Ou um esquilo. Totalmente prestes a ser
devorada. Mas preciso da ajuda dela. E eu confio nela.
— Com alguns limites. Acho que precisa ser elegante. Não
quero sentir que a maquiagem está obstruindo os meus poros
ou que meus cílios estão muito pesados. Nada com cola que eu
tenha que arrancar no final da noite.
— Eu posso fazer algo elegante — ela jura, levantando os
dedos no que eu acho que é algum tipo de promessa de
escoteira. Não que qualquer um de nós tenha sido uma. Ela
estava ocupada ganhando concursos e eu estava com o nariz
enfiado em um livro ou computador.
Com um suspiro, eu me resigno a esse destino. É para uma
noite. É apenas a minha aparência.
É para Zane.
Esse último é o mais difícil de engolir. Porque não tão no
fundo, uma parte de mim se pergunta se isso não é realmente
para ele. Eu sou o suficiente para Zane?
— Eu sou toda sua.
Delilah grita e bate palmas, pulando na ponta dos pés.
— Você não vai se arrepender disso.
O problema é que eu já me arrependo.
Quase duas horas depois, está feito. Eu fui transformada em
uma versão alternativa de mim mesma, e não está horrível. Pelo
menos, não parece horrível.
— O que você acha? — Delilah está de pé atrás de mim,
segurando meus ombros e sorrindo como uma mãe enviando
sua filhinha para o primeiro dia do jardim de infância.
Eu olho para o espelho de corpo inteiro pendurado na parte
de trás de sua porta, tentando reunir palavras para uma
resposta. Estou com uma saia preta na altura do joelho e um
blazer preto com uma camisa rosa claro por baixo. Saltos pretos
que roubamos do armário de Sam. Minha maquiagem é
discreta – natural, mas o que quer que ela tenha feito com o
delineador e todos aqueles pincéis realmente destaca minhas
maçãs do rosto e meus olhos. E meu cabelo está em um
penteado elegante, todo a parte rosa escondida em segurança,
assim como Zane pediu.
— Você fez um ótimo trabalho — eu finalmente digo. Isso
é verdade. — Eu pareço... perfeita.
A sensação de torção e nó no meu estômago continua. Eu
pisco para conter as lágrimas, as mesmas que ameaçaram o
tempo todo que eu sentei na cadeira, me lembrando que eu
confio em Delilah, que ela está apenas fazendo o que eu pedi.
Ela não vai me machucar.
— Então, por que você parece tão triste? — Delilah
sussurra. Ela envolve os braços em volta da minha cintura e me
dá um abraço por trás, sem me soltar. Eu considero lutar com
ela, mas em vez disso coloco meus braços sobre os dela.
— Eu estou bem.
Ela me aperta mais forte.
— Você está? Eu posso mudar o cabelo, ou podemos olhar
no meu armário de novo.
— Não. Como eu disse, é perfeito.
— Você sabe que parecia perfeita antes de tudo isso
também, certo?
Eu sabia? E perfeito para quem?
— Certo. Obrigada. É melhor eu ir jantar.
Com cuidado para não encontrar seus olhos no espelho, eu
me liberto de seu aperto, pegando a bolsa preta Kate Spade que
ela está me emprestando. Já coloquei meu telefone, chaves e
carteira dentro. Na minha pressa, bato de frente na última
pessoa que quero ver no corredor.
— Abs? — Zoey me agarra pelos braços, parecendo
chocada. — O que você está vestindo? E onde você está indo?
— Apenas um jantar. Delilah me ajudou a me preparar. —
Eu tento passar por ela, usando a bolsa grande de Delilah como
um mini aríete. Infelizmente, Harper está logo atrás de Zoey.
Estamos espremidas no corredor estreito e não vou a lugar
nenhum.
Harper espia ao lado de Zoey. Sua reação é uma mistura de
choque e confusão.
— O que aconteceu com você?
Eu gemo, olhando para os meus pés. Com uma última
explosão de energia, eu me livro do aperto de Zoey e tento
passar de novo.
— Vou me atrasar.
— Harper, um pequeno reforço — Zoey diz, e Harper se
espreme ao lado de Zoey. Agora elas são literalmente uma
parede feminina, bloqueando minha passagem.
— Não tão rápido, baixinha. — Zoey olha por cima do meu
ombro para Delilah. — Você fez isso?
— Sim? — Delilah parece insegura.
— E você. — Zoey tem seu olhar feroz travado em mim, tão
parecido com o de Zane que faz meu estômago afundar um
pouco mais. — Você pediu isso?
Eu concordo.
— É para um jantar de negócios. Eu tenho que impressionar
os investidores.
— Meu irmão idiota pediu para você fazer isso?
Concordo com a cabeça novamente, e Zoey murmura algo
baixinho, o tipo de palavras que raramente ouço saindo de seus
lábios. Ela, como Zane, geralmente é o auge do controle. Agora,
porém, ela parece um vagão de trem que se desequilibrou e está
saindo dos trilhos.
Ela me gira e me empurra de volta para o quarto de Delilah.
— Estamos consertando isso — diz ela, enquanto me
empurra para baixo na cadeira da transformação que eu
mantive quente nas últimas horas. — Agora. Você!
Ela aponta um dedo na direção de Delilah.
— Pegue o ferro de alisamento. E há um vestido azul meia-
noite no armário de Sam. Pegue.
— Sim, senhora.
— É melhor você consertá-la — diz Harper, balançando a
cabeça. — Eu te amo, Abs.
Seu sentimento inesperado e incomum me aquece.
— Obrigada, Harpy. — Ela bufa com meu apelido favorito
e desaparece em seu quarto.
Delilah sai correndo, me deixando encarando Zoey no
espelho. O que é uma coisa boa. Tenho a nítida sensação de
que, se olhasse diretamente nos olhos dela, poderia desaparecer
em uma nuvem de fumaça.
— Zane disse que eu preciso parecer profissional — eu
protesto. — Conservadora.
— Pare de falar sobre ele. Eu vou lidar com isso mais tarde.
Você vai ficar bem.
— Eu vou me atrasar — eu digo.
— Você está sempre atrasada.
— São apenas roupas. E cabelo — eu lamento.
Mas esta é a coisa errada a dizer à minha melhor amiga,
aquela que sabe o porque essa situação em particular é muito
importante. Porque eu evito transformações, e a razão pela qual
a mera ideia abala todas as inseguranças que normalmente
tenho sob controle.
Zoey se aproxima, sua bochecha próxima à minha, nossos
olhos fixos no espelho.
— Sim. É. Mas é mais do que isso, e você sabe disso. Você
vai mudar pelo meu irmão. Ou seus investidores. Você vai ficar
ótima quando terminarmos com você. Mas você vai se parecer
com você. Você não precisa fingir ser outra pessoa apenas para
impressionar alguns sacos de dinheiro. Entendido?
— Ok.
Eu não devo ter soado convincente, porque Zoey agarra
meu queixo e me vira para que fiquemos olho no olho.
— Nunca. Mais. Tente. Isso. Entendeu?
Delilah entra, olha para nós duas e começa a recuar
lentamente. É um plano sólido.
— Não, você não — Zoey diz, apontando para Delilah sem
quebrar o contato visual comigo. — Entre aqui para que
possamos consertar isso.
Rindo nervosamente, Delilah diz:
— Vocês querem resolver isso?
Zoey me prende com seu olhar.
— Você quer resolver isso?
Eu considero. Como Zane, ela é mais alta que eu em pelo
menos quinze centímetros. Embora ela não tenha músculos.
Seus músculos, mmm…
Eu fico.
— Sim. Vamos lá.
Zoey joga seus braços em volta de mim.
— Aí está você. Aí está minha garota.
— Saia de cima de mim! Luta livre no quintal. Agora.
Rindo, ela me aperta com mais força. Eu percebo que é
inútil. Especialmente quando Delilah me abraça por trás, me
espremendo entre elas.
— Eu me sinto como um sanduíche em uma prensa panini
— eu consigo gemer. — Um pouco de ar, por favor?
Ambas riem, relaxando, mas apenas ligeiramente. Zoey se
afasta, me estudando.
— O que? — Eu pergunto.
— Como você se sente vestida assim?
Eu me inquieto, puxando a parte inferior do blazer.
— Como se eu estivesse indo para uma festa de Halloween
vestida como você. E eu não quero ir. Sem ofensa.
Ela sorri.
— Não fiquei ofendida. Você disse que deveria
impressionar os investidores. Você se sente impressionante?
— Não — eu digo com uma voz suave. — Desculpe,
Delilah. Você fez um ótimo trabalho.
— Obrigada. Mas você parece estranha. Como quando as
pessoas vestem animais com roupas de pessoas ou como outros
animais. — Ela estremece, e já que ela ainda está me segurando,
isso me sacode também. — Às vezes tenho pesadelos com o
buldogue vestido de abelha.
As duas me puxam de volta para a cadeira e Zoey começa a
desfazer meu cabelo.
— Olha, Abs. Foi muito atencioso da sua parte querer
impressionar meu irmão mudando seu estilo.
— Eu estava tentando impressionar os investidores! — Eu
protesto.
— Certo. Foi uma boa impressão. Mas seu grande e lindo
cérebro vai fazer isso. Sua confiança. E você parecia totalmente
derrotada quando estava saindo daqui. Não como a princesa
guerreira que você é.
— São apenas roupas. Ainda sou eu por baixo — eu digo,
me sentindo mais exposta do que há muito tempo.
— Você já contou ao Zane?
— Não especificamente. Ele sabe que eu sofri bullying.
Delilah faz um pequeno som, mas não diz nada. Eu
realmente deveria sentar todas as minhas colegas de quarto e
contar tudo a elas. Eu realmente deveria ter superado isso. Já faz
anos.
— Talvez você devesse — Zoey diz suavemente.
— Eu acho que você está certa — eu digo. — Mas não esta
noite. Ok?
Zoey acena com a cabeça, finalmente soltando meu cabelo
do penteado apertado. Ela o penteia com os dedos, então se
inclina para mostrar a Delilah algo em seu telefone.
— Assim, mas um pouco mais suave.
— Certo, chefe. — Delilah começa a trabalhar no meu
cabelo. — Eu pulverizei muito laquê, então vamos ter algum
trabalho.
— Eu sou altamente inflamável agora — eu digo,
lembrando a quantidade de spray de cabelo que Delilah usou.
— Só vai piorar — Delilah murmura, pegando um tubo de
algo que cheira a menta e passando no meu cabelo. — Apenas
fique longe de chamas descontroladas
Eu espero que ela ria, mas quando ela não o faz, eu aceno.
— Certo. Nada de Baked Alaska para mim.
Zoey entra na minha frente, recostando-se na penteadeira,
tomando cuidado para não derramar nada da cara – e extensa –
variedade de pós, cremes e pincéis de Delilah.
— O que vestimos é apenas isso: algo superficial, por fora.
Uma máscara, em alguns casos. — Ela olha incisivamente para
mim. — Ou às vezes um escudo.
Levanto um dedo, inclinando minha cabeça.
— Espere?
— O que? — Zoey parece irritada por eu ter interrompido
seu monólogo.
— Estou apenas ouvindo a música que me diz que este é um
momento emocional importante no especial pós-escola.
Ela vai bater no meu ombro, mas eu a bloqueio, sentindo o
calor da chapinha na minha orelha.
— Ei! Mantenham a civilidade, vocês duas. A menos que
você queira arrasar com um visual de Van Gogh hoje à noite.
— Tentador — eu digo.
— Como eu estava dizendo — Zoey diz, revirando os olhos
dramaticamente. — As roupas são superficiais. Mas elas
também podem ser uma expressão de quem somos. Não
devemos usá-las como muleta ou algo para nos escondermos.
Mas deve ser a nossa escolha. Você parecia incrível assim. Mas
você também parecia triste. Zane tirou a sua escolha. Ele tirou
sua característica. Ele estava pedindo para você usar roupas
como máscara. E tirou você a sua personalidade. Sua confiança.
Eu não posso chorar, porque eu vou estragar totalmente a
maquiagem. Definitivamente não era à prova d'água. Como se
percebesse isso, Delilah abaixa a chapinha e começa a abanar
meus olhos com as mãos, até que nós três estamos rindo.
Um calor está se expandindo em meu peito, como um
pequeno sol que está nascendo no horizonte do meu coração.
— Zane nunca deveria ter pedido para você mudar. Eu não
me importo quem são os investidores.
— E se eu estragar tudo?
— Será que Zane ou Jack sabem tanto sobre programação e
desenvolvimento quanto você?
— Não.
— Você vai entrar naquele restaurante como se soubesse
mais do que todo mundo na sala?
— Sim!
— Exatamente. E você também vai mostrar ao meu tolo
gêmeo que você pode fazer isso sem mudar nada em você.
Eu quero defender Zane, e eu sei que ele não quis dizer nada
com isso. Pelo menos, eu não acho que ele quisesse. Espero que
tenha sido para os investidores. Ele parece gostar de mim como
eu sou. E se ele não gostar, então ele não é o homem que eu
pensei que ele era, e definitivamente não é o homem que eu
quero.
CAPÍTULO VINTE

Zane

ABBY ESTÁ ATRASADA. Estou fazendo o meu melhor para não


me preocupar, mas o meu melhor não é muito bom.
Estou tamborilando os meus dedos na mesa, observando a
porta a cada trinta segundos esperando que ela entre com as
duas toneladas de confiança que ela sempre consegue enfiar
dentro de seu corpo minúsculo.
— Estamos a caminho de um lançamento em meados de
abril — Jack está dizendo. Ele dá um aperto esmagador no meu
ombro, sua maneira de me dizer para entrar na conversa. Mas
eu sempre odiei esse jogo. Especialmente agora que minha
mente está em outro lugar.
E os dois investidores já terminaram uma garrafa de vinho
entre eles de alguma forma, o que é ruim, considerando que os
aperitivos ainda nem chegaram. Jack me dá um olhar menos
sutil, e eu limpo minha garganta, voltando minha atenção para
a mesa.
— Isso mesmo. Estamos na fase final agora.
Davis, aquele com a infeliz peruca que parece uma pele de
castor empoleirada em sua cabeça redonda, bate a mão na mesa
e começa a cantarolar notas que soam vagamente familiares.
Quando ninguém se junta, ele diz:
— Vamos! The Final Countdown?
Ele está cantarolando de novo, só que mais alto.
Christopher, o de chapéu de cowboy, junta-se a ele desta vez, e
então os dois estão olhando para nós. Jack me olha, dando de
ombros, antes de se juntar.
Então, vai ser esse tipo de jantar.
A música é vagamente familiar, mas não consigo me juntar
a eles. Não estamos nesse tipo de restaurante, do tipo em que a
conversa alta – que rapidamente se transforma em canto –
passa despercebido. É uma churrascaria. Luzes baixas, risadas
silenciosas e comida muito bem avaliada. Honestamente,
podemos ser expulsos antes de ter qualquer conversa séria.
Quem estou enganando? Conversas sérias? Esses caras estão
começando sua segunda garrafa de vinho.
Estou prestes a usar o banheiro como desculpa para pedir
desculpas a nossa garçonete quando a vir.
— Abby — eu digo, mesmo que ela ainda esteja do outro
lado da sala.
Jack e os investidores se viram para ver o que estou olhando.
Um deles faz um assobio baixo que tem o lado territorial de
mim ficando todo quente e incomodado.
Jack se inclina para mim.
— Eu não sei o que você disse a ela, mas uau.
— Cala a boca — eu digo a ele, meus olhos colados na
mulher que não sabe que segura meu coração na palma de sua
pequena mão.
Abby não amenizou nada. Pelo contrário, é como se ela
tivesse virado um botão para cima que a deixasse mais incrível.
Seu cabelo loiro e rosa é brilhante sob a iluminação ambiente,
caindo em cachos macios que eu só quero tocar.
Seu vestido azul escuro está pendurado em um ombro,
expondo a tatuagem que eu tinha imaginado, um camaleão que
vai do preto simples a uma variedade de cores, começando em
torno de sua clavícula e enrolando em torno de seu ombro. Os
saltos que ela está usando são saltos altos, do tipo que eu podia
vê-la brincando sobre usá-los como armas.
E o sorriso em seu rosto... é confiante, mas cheio de desafio,
como se ela estivesse desafiando alguém a impedi-la. Ela ignora
a anfitriã, que está zumbindo ao seu redor como um mosquito,
e atravessa a sala, os olhos fixos nos meus. Estou
instantaneamente envergonhado por ter deixado as
preocupações de Jack me afetarem. Eu nunca teria pedido a
Abby para mudar nada. Essa autoconfiança é tudo o que ela
precisa. Ela poderia estar usando um saco de lixo e me
convenceria a entregar todas as minhas senhas.
Todos nós nos levantamos, e estou tão impressionado com
ela que Dan é quem puxa a cadeira.
— Olá, rapazes —diz ela. — Desculpe, estou atrasada.
Sorrindo para Dan e Christopher, ela estende a mão,
mostrando uma pulseira preta cravejada em volta do pulso.
Ambos praticamente pulam para balança-lá.
— Sou Abby e falo fluentemente geek. Por favor,
encaminhe qualquer dúvida sobre o lado técnico das coisas
para mim. Já pedimos?
— Apenas os aperitivos — digo a ela, e ela vira seu olhar para
mim enquanto Christopher estala os dedos para nossa
garçonete. Normalmente, eu estaria me encolhendo de
vergonha, mas não consigo me concentrar em nada além das
manchas verdes nos olhos castanhos de Abby.
— Desculpe pelo atraso — diz ela baixinho. — E me
desculpe, eu não ouvi você sobre o código de vestimenta.
Já estou balançando a cabeça.
— Desculpe ter pedido. De verdade. Você parece... não há
palavras. Honestamente.
Abby acena com a cabeça, então se volta para a mesa onde a
garçonete está anotando os aperitivos adicionais. Esta vai ser
uma refeição longa e cara.
Mas quando Abby me deixa pegar sua mão debaixo da mesa
alguns minutos depois, eu não me importo.
Que investidores? Que erro? Qual aplicativo?
Tudo o que importa é a mulher ao meu lado, cuja mão eu
não vou soltar.

Normalmente, o jantar teria se arrastado. Os investidores estão


mais para lá do que para cá, como diria meu pai, e Jack não está
muito melhor. Nem Abby nem eu bebemos, mas é quase como
tomar conta de uma mesa cheia de crianças grandes que
comeram uma cesta inteira de doces no Halloween.
Estou terrivelmente envergonhado, mas tudo o que posso
fazer é cerrar os dentes, secretamente dizer à garçonete para
ignorar qualquer pedido a mais de álcool. Espero que possamos
ir embora em vez de sermos expulsos. Não é por acaso que as
mesas ao redor da nossa ficaram vazias. Eu não perdi os olhares
sendo lançados em nossa direção, especialmente de um grupo
próximo comemorando o octogésimo aniversário de sua
matriarca.
Jack, Dan e Christopher cantaram juntos, tão alto quanto
sua família, batendo palmas e levantando suas taças de vinho
vazias em um brinde quando a canção de parabéns termina.
Jack puxa a garçonete de lado, sussurrando em seu ouvido. Ela
assente e volta para a cozinha.
— Espero que ele tenha pedido a conta — Abby murmura.
— Caso contrário, podemos tirar esses caras daqui.
— É como se você lesse minha mente.
Apesar de sermos os únicos sóbrios na mesa, Abby e eu não
conseguimos conversar. Os investidores fizeram pergunta após
pergunta, Dan fingindo entender a fala de Abby, enquanto
Christopher apenas parecia impressionado. Eu arquivei mais
palavras de vocabulário que posso sussurrar em seu ouvido
mais tarde, já que ela pareceu gostar muito disso ontem.
Durante todo o jantar, eu segurei a mão dela como se fosse a
única coisa que me impedia de cair da beira de um penhasco.
Exceto, eu acho que enquanto aperto seus dedos, Abby é o
penhasco. E eu estou caindo, forte e rápido.
Eu me inclino mais perto dela, cheirando algo mentolado
enquanto meus lábios roçam seu cabelo.
— Abs, me desculpe novamente por pedir para você
prender o cabelo e usar outras roupas. Jack me deu a ideia, mas
eu não deveria ter concordado. Você é impressionante por
conta própria. Ponto final.
— Obrigada — diz ela. Puxando sua mão da minha, ela pega
seu guardanapo, enrolando-o em sua mão antes de enxugar seus
lábios, que parecem carnudos e rosados e muito tentadores
para nossa localização atual.
— Eu preciso te dizer uma coisa — Abby diz, se
aproximando, ainda segurando o guardanapo.
— Fale.
— Quando eu estava no ensino médio…
Ouve-se um grito em nossa mesa, e de repente a garçonete
está lá com um grupo de outros funcionários, cantando e
segurando uma fatia de bolo com o que parecem ser vinte
estrelinhas para Abby. Jack se junta à música de feliz
aniversário, mas por algum motivo Dan e Christopher estão
cantando, “Ele é um bom companheiro”, abraçados um ao
outro, balançando para frente e para trás. A qualquer minuto,
um deles vai cair.
— Não é meu aniversário — diz Abby, estendendo as mãos
como se fosse empurrar o bolo em chamas para trás.
A garçonete apenas balança a cabeça, empurrando-o para
Abby novamente, parecendo desesperada, como se sua vida – e
gorjetas – dependessem de Abby levar este bolo.
Três coisas acontecem quase ao mesmo tempo. Abby pula
de volta no meu colo, murmurando algo sobre ser inflamável.
Dan perde o equilíbrio e tomba em câmera lenta, agarrando-se
à garçonete como se ela fosse um corrimão, não uma mulher de
50 quilos.
E a pele de castor que cobre sua cabeça pega fogo.
Há gritos, mas tudo o que posso ver são as chamas subindo
da peruca de Dan. Todo mundo está congelado, olhando como
se ele fosse a fogueira para qual nos reunimos e estamos apenas
esperando alguém distribuir os marshmallows.
Até que Abby pula do meu colo, pega a jarra de água gelada
e joga tudo na cabeça dele.
Há um chiado e um silvo alto quando o vapor sobe dos
restos pretos chamuscados em sua cabeça. Todo o restaurante
ficou em silêncio. Enquanto eu ainda estou de queixo caído em
choque, Abby lhe dá uma mão, enquanto a equipe de serviço
resgata a garçonete de onde ela estava presa embaixo dele.
De alguma forma, o bolo acabou esmagado na lateral do
rosto de Dan. Enquanto ele ainda está olhando em estado de
choque, Abby arrasta um dedo pela mancha mais grossa de
glacê, então enfia o dedo na boca.
— Mm — diz ela. — Creme de manteiga.
E então, com um tapinha no que sobrou de sua peruca ainda
fumegante, Abby diz:
— Graças a Deus é só cabelo.
CAPÍTULO VINTE E UM

Abby

— E ENTÃO ZANE aparece e diz: “A conta, por favor!”


Minhas colegas de quarto (menos Harper, que está
desaparecida ultimamente) estão todas morrendo de rir
quando eu coloquei minha cabeça embaixo da pia do banheiro
para que Delilah pudesse lavar todo o produto do meu cabelo.
Depois daquele lance com o bolo flamejante, não vou correr
nenhum risco.
— E os investidores?— Zoey pergunta.
— Tudo certo — eu digo. — Eles assumiram o
compromisso antes de ficarem tão encharcados de álcool. E fiz
minha parte muito bem. Obrigada.
Zoey me dá um sorriso secreto que eu sei que significa que
ela vai me ver mais tarde para perguntar mais detalhes, então sai
do banheiro apertado.
— Pronto! — Delilah diz, envolvendo meu cabelo em uma
toalha.
Eu dou um abraço nela.
— Obrigada! E obrigada pelas minhas duas transformações
hoje. Você deveria começar um canal no YouTube ou algo
assim.
Delilah franze o nariz.
— Sério? Você acha que as pessoas iriam querer ver eu me
maquiando?
— Você está de brincadeira? — Sam pergunta. — Você seria
um sucesso instantâneo. Faça isso.
— Pense sobre isso — eu digo a ela. — Posso ajudar com um
site e o que mais você precisar.
— Falando em sites — Sam pergunta quando saímos do
banheiro. — Eu sugeri aos meus editores que nós
contratássemos você para ajudar com o meu. Antes de você
dizer não, eles estão pagando a conta. O que significa um bom
dinheiro.
— Talvez esse trabalho e aquele com Zane, você possa
finalmente largar seu emprego e ficar por conta própria — diz
Delilah.
— Veremos — digo a elas, não querendo falar sobre o fato
de que meu trabalho com Zane vai acabar em um piscar de
olhos. Até encontrar uma maneira estável de conseguir um
trabalho freelancer ou encontrar um novo emprego, estou
presa com Micah no quarto círculo do purgatório de TI.
Não estou surpresa de ver Zoey na minha cama quando
chego ao meu quarto. Ela dá um tapinha no espaço à sua frente.
— Devo fazer uma trança francesa no seu cabelo?
Este é o código para Conversa de Garota. Em algum lugar
no outono do segundo ano, Zoey decifrou o código que eu
nem sabia que existia para me fazer contar todos os meus
segredos: trança francesa. Algo sobre a sensação reconfortante
de suas mãos no meu cabelo, juntamente com o fato de que eu
posso falar sem fazer contato visual, cria o ambiente perfeito
para me fazer contar tudo.
— Você conversou com Zane?
Fecho os olhos enquanto suas mãos começam a trabalhar no
cabelo do meu couro cabeludo, dividindo-o em mechas.
— Não. Mas ele se desculpou.
— Aposto que sim.
— Zo, não foi grande coisa. Eu entendo. Esses caras, álcool
à parte, eram típicos grandes petroleiros. De qualquer forma,
ele disse que foi o Jack sugeriu.
Zoey faz um som irritado.
— Não é surpreendente. Mas você vai falar com ele?
— Eu odeio falar sobre isso.
Ela fica em silêncio por um momento, e eu quase poderia
adormecer com suas mãos fazendo sua mágica. Quase. Sempre
que tenho que me lembrar, fico ansiosa. Eu adoraria pensar que
um dia, eu vou olhar para trás nos meus dias de colegial sem
sentir a dor. Ou sentir qualquer coisa. Fiz progressos, mas não
estou lá. Ainda.
— Eu sei. Acho que ajudaria Zane a entender. Se você
realmente vai fazer isso com ele, você precisa se abrir. Confiar.
Eu sei que Zoey está certa. Zane não podia saber porque me
incomodou tanto que ele me pediu para mudar meu visual.
Não sem eu contar a ele sobre a última coisa que aconteceu
antes de eu sair da escola pública para terminar o ensino médio
em casa por meio de aulas online.
Eu me sinto tão estúpida falando sobre isso. Tipo, eu deveria
saber que quando duas garotas populares de repente
começaram a ser legais comigo e se ofereceram para me fazer
uma transformação, era uma armadilha. Acho que estava
pensando mais em filmes clássicos como Ela é Demais e não em
Meninas Malvadas. Eles balançaram a promessa de Jacob
Taylor na minha frente.
“ Ele acha você muito bonita” disse Becky. “Nós vamos ajudá-
la a se tornar irresistível.”
Que idiota compra essa frase tosca?
Essa aqui. Essa bem aqui.
Embora eu goste de pensar em mim naquela época quase
como uma Abby diferente. A ingênua, aquela que não
percebeu que você nunca deveria mudar por um cara.
A humilhação de voltar para casa naquele dia para explicar
aos meus pais o que aconteceu doeu mais do que as
queimaduras químicas no meu couro cabeludo por causa do
descolorante e qualquer outra coisa que elas derramaram em
mim.
Eu nem voltei para a escola para limpar meu armário.
Mamãe e papai se recusaram a me deixar fazer isso, em vez disso,
foram para criticar o diretor, que não tinha feito nada nos
meses anteriores sobre as provocações e bullying, e se recusou a
fazer qualquer coisa porque aconteceu fora da escola. Eu não
queria voltar, mas estou percebendo agora que uma parte de
mim sempre se sentiu covarde. Eu nunca enfrentei meus
valentões. Eu apenas... fui embora.
De repente, movido pela memória, eu alcanço uma das
mãos de Zoey. Ela faz uma pausa no meio da trança.
— Obrigada — eu digo a ela.
— Não é nada — diz ela.
— Não, quero dizer por me ajudar a ser corajosa esta noite.
Eu precisava disso. De uma forma estranha, entrar naquele
restaurante parecia quase como enfrentar as pessoas que eu não
conseguia voltar e enfrentar no ensino médio. Eu precisava
disso e nem sabia o quanto.
— Xiu. Eu não fiz quase nada. Você é a corajosa — Zoey
diz.
Eu solto sua mão enquanto ela continua a trançar, desta vez
em um silêncio confortável. Ela está amarrando um elástico na
ponta da minha trança quando um alarme interrompeu o
silêncio.
— Esse é o seu telefone? — Zoey pergunta. — Eu pensei que
seu toque era aquela música pop idiota.
— Call Me Maybe. E é irônico, já que as pessoas
definitivamente estão ligando quando toca. Oh! Esse é o meu
alerta!
Eu saio da cama e pego meu telefone da bolsa que peguei
emprestado de Delilah. Eu o abro.
— Eu finalmente peguei o rato — eu digo.
— O quê? Temos ratos?
Eu dispenso o pânico de Zoey enquanto espero o aplicativo
carregar no meu telefone.
— A pessoa invadindo o código na empresa de Zane. Eu
montei uma armadilha. Posso rastrear tudo no meu laptop,
mas isso deve ser suficiente para me mostrar... hum.
Eu desligo o telefone e vou para o meu laptop. A armadilha
funcionou, mas os dados são confusos. Ou, pelo menos, não é
o que eu esperava.
— É Jack? Por favor, diga que é Jack.
— Acho que não, mas não posso dizer até entrar no
programa real e seguir a trilha digital.
Zoey me dá um tapinha na cabeça e então fala da porta.
— Vou fazer uma entrega de café e Twizzler antes de ir para
a cama se a luz ainda estiver acesa, ok?
— Sim. — Mal percebo quando a porta se fecha atrás dela.
Estou totalmente imersa nas informações na minha tela.
Embora eu esperasse poder executar um rastreamento simples,
terminando em um login de usuário ou IP, adoro um desafio.
Esse cara – ou garota? – é bom.
Mas não é bom o suficiente. Pela manhã, eu poderei entrar
no escritório de Zane com um nome.
CARA DRA. LOVE
De: [email protected]
Para: [email protected]

Cara Dra. Love,


Meu ex-noivo me traiu e agora ele me quer de volta. Todos
os meus amigos dizem que se traiu uma vez, vai trair para
sempre, mas é esse o caso?
O problema é... eu ainda o amo. Eu não quero seguir em
frente. Eu quero perdoá-lo e acreditar nele. Estou sendo
ingênua em pensar que poderíamos resolver isso?
Sinceramente,
Desprezada

De: [email protected]
Para: [email protected]

Cara Desprezada,
Sinto muito pelo que você passou. Ninguém merece ter sua
confiança traída e seu coração partido assim.
Na superfície, eu tendo a concordar com seus amigos. A
traição é uma grande bandeira vermelha e um indicador de
comportamento futuro. Mas nem sempre é tão simples. Meus
próprios pais passaram pela infidelidade. Eu tinha idade
suficiente para saber o que estava acontecendo, e foi difícil para
toda a família, mas consegui um lugar na primeira fila para ver
como a reconciliação pode ser maravilhosa.
Se fosse eu, gostaria de ver evidências maciças de seu
remorso. Eu gostaria de ver mudanças reais. Eu absolutamente
iria a terapia, talvez antes mesmo de decidir o que fazer.
As circunstâncias também podem pesar. Ele estava
totalmente em um relacionamento com outra pessoa? Foi uma
coisa de uma vez? Ele terminou tudo? Você o pegou, ou ele
confessou?
Prefiro pensar que você é esperançosa, não ingênua para
querer passar por isso. Mas há muito poucos casos em que eu
recomendaria fazer isso. Amá-lo não é motivo suficiente para
lhe dar outra chance. Se você está tentada a voltar com ele, não
comprometa os termos.
E então vem a parte difícil – se você diz que o perdoa, você
tem que realmente fazer isso. Nada de trazer isso à tona toda vez
que estiver chateada. Sem comentários passivo-agressivos. Você
acha que VOCÊ pode perdoá-lo? Você pode confiar nele
novamente?
Boa sorte nesta difícil escolha,
Dra. Love
CAPÍTULO VINTE E DOIS

Zane

QUANDO atendo a ligação de Zoey na manhã seguinte ao jantar


flamejante dos investidores (que é como vou pensar a partir de
agora), estou entrando no escritório. Já é tarde para mim, é o
que significa chegar às oito horas. Tudo parecia um pouco
estranho desde ontem à noite. Eu tive que ficar por perto para
levar os investidores para casa, o que significou não ter tempo
sozinho com Abby. Não tive notícias dela ontem à noite ou esta
manhã.
— Oi, Zo.
— Zane.
Ela soa irritada, e meus alarmes começam a tocar. A voz dela
tem esse frio quando ela está com raiva que é decididamente
ártica. Acho que não fiz nada, então escolho meu método
padrão quando se trata da raiva de Zoey. Ignorância.
— E aí?
— Alguma coisa que você queira compartilhar?
É uma armadilha. Uma que eu conheço bem. Zoey
inventou isto. Aquela em que você abre uma porta e vê o que
está acontecendo. E não importa a resposta, ela está esperando
com um taco de beisebol.
— Existe alguma coisa que você queira perguntar? —
Finalmente cheguei ao meu escritório e fechei a porta com
força demais, afundando na cadeira.
— Oh, eu tenho um monte de perguntas — Zoey diz. —
Começando com por que você pediu a Abby para se vestir de
forma diferente na noite passada.
Eu gemo, passando a mão pelo meu cabelo antes de me
segurar e agarrar a borda da mesa.
— Isso foi estúpido.
— Você não tem ideia. Você realmente não tem.
— Honestamente, foi sugestão de Jack, e eu nunca deveria
tê-lo ouvido. Pedi desculpas a ela ontem à noite.
— Fiquei sabendo.
Eu franzo a testa, me perguntando porque ela ainda parece
tão brava.
— Ok, então o que há com todo o interrogatório?
Zoey dá um suspiro pesado.
— Olha, você precisa falar com Abby. Mas você deveria
saber que ela…
O que quer que ela esteja prestes a me dizer é interrompido
quando Jack invade meu escritório, parecendo mais mal que eu
já o vi, o que está dizendo algo, considerando todas as festas que
ele foi na faculdade.
— Precisamos conversar — diz Jack. Ele começa a andar.
— Zo, eu vou ter que ligar de volta.
— Zane, isso é importante.
— Eu sei. Mas há uma situação aqui. Eu te ligo assim que
puder. — Eu desligo mesmo quando ela começa a dizer outra
coisa. Não posso me preocupar com isso agora, embora suas
palavras me deixem com uma sensação desconfortável. Eu
coloquei meu telefone virado para baixo, juntando meus dedos
sobre a mesa. — Então?
Jack se joga na cadeira à minha frente e passa a mão pelo
cabelo.
— Então — ele diz com um suspiro profundo — sobre a
noite passada.
Eu aguardo, esperando que ele diga mais. Afinal, há muitas
coisas a dizer sobre a noite anterior. Os investidores bêbados,
Abby explodindo completamente minhas expectativas em sua
glória natural, a peruca flamejante.
Os cantos dos meus lábios se contraem só de pensar em
Abby despejando água na coisa. Tenho certeza de que ficou
melhor depois do incêndio do que era antes.
— Foi bastante…
— Terrível — diz ele.
— Hilário — eu termino. Eu pisco para ele. — O que?
Como foi terrível? Conseguimos que eles assinassem antes que
tudo pegasse fogo. Literalmente.
Jack se inclina para frente, cotovelos nos joelhos, deixando
cair a cabeça entre as mãos.
— Eu não tenho tanta certeza de que é um negócio feito.
O pânico é imediato, uma daquelas emoções que te afligem.
Zero a sessenta em exatamente nenhum segundo. Eu queria
isso. Não apenas para Eck0.
— O que você quer dizer?
— Dan me deixou uma mensagem esta manhã. Eu tenho
que ligar para ele de volta, mas não soou bem.
Meu cérebro já está processando os números, com e sem o
apoio de Dan e Christopher. Eu realmente não gosto da opção
sem. De jeito nenhum.
Eu puxo meu colarinho, sentindo um aperto que não está
lá.
— Por que? Quer dizer, a parte final com o fogo não foi a
melhor. Mas também não tem nada a ver conosco, e tudo a ver
com o vinho.
Jack começa a andar pela sala novamente.
— Eu pensei que você ia falar com Abby sobre um código
de vestimenta.
— Não coloque a culpa disso em Abby. Ela fez um ótimo
trabalho ontem à noite e provavelmente salvou Dan de sofrer
queimaduras de segundo grau.
Jack parece que está prestes a discutir, o que significa que
realmente vamos ter uma briga, quando alguém bate na minha
porta.
— Entre — Jack e eu dizemos ao mesmo tempo.
Josh enfia a cabeça na porta, olha entre mim e Jack e tenta se
esquivar. Jack abre a porta e gesticula para ele entrar e se sentar.
— Está tudo bem. Entre.
Josh se empoleirou na beirada da cadeira.
— Tem certeza? Eu posso voltar depois.
— Está realmente tudo bem — eu digo a ele. — O que você
precisa?
Josh é uma das poucas pessoas da área de tecnologia em
tempo integral. Obviamente, ele não é bom o suficiente para
fazer o que Abby tem feito, mas é a pessoa mais competente
que temos. Ele e Jack não parecem se dar bem, embora Jack
tenha sugerido que contratássemos Josh.
Agora, Josh parece inquieto. E o desconforto que começou
com o telefonema de Zoey está crescendo.
— Fale logo — Jack retruca quando Josh ainda não disse
nada.
— Certo — diz Josh. — Então, eu não queria dizer nada até
ter certeza. E eu não tinha certeza. Não até ontem à noite.
Jack gesticula para que ele se apresse.
— Resuma. O que aconteceu?
— Alguém está intencionalmente mexendo com o
programa. Hackearam e plantaram bugs e armadilhas. Coisas
para nos fechar completamente.
Jack estreita os olhos para mim.
— O que Abby disse sobre isso?
Eu dou de ombros.
— Ela ainda está trabalhando nisso. Não peço atualizações
porque não sei do que ela está falando na maioria das vezes.
O olhar que Jack está me dando me faz sentir como um
elástico esticado até o limite.
— Você não deveria saber de alguma coisa agora? — ele
pergunta. — Algo mais específico?
Eu realmente não gosto que Abby tenha sido criticada esta
manhã. Duas vezes. Abro a boca para disparar uma resposta,
mas me perguntei a mesma coisa. Por que ela não me deu algo?
Por que está demorando tanto tempo?
— Ela disse que eu saberia assim que ela consertasse.
— Esse é o problema — diz Josh, puxando o relógio em seu
pulso. — Acho que ela não consertou nada.
— Ela ainda está trabalhando nisso. — E agora eu estouro.
— Podemos todos dar um tempo para Abby?
— Talvez você esteja apenas cego por seus sentimentos por
ela, então você não percebeu que ela está nos sabotando — Jack
diz.
Eu fico de pé.
— Não. Não é isso que está acontecendo aqui.
Jack olha para Josh.
— Explique. O que está acontecendo?
Se ele parecia nervoso antes, Josh está suando agora.
— Eu gosto de Abby. Sim, mas não acho que ela esteja
tentando consertar as coisas. Ela introduziu intencionalmente
um novo código. Loops. Armadilhas. E a informação vai para
uma fonte externa.
Não. Eu não acredito. Nem por um segundo. Mesmo que
Jack balance para trás em seus calcanhares antes de me encarar.
Eu preciso fazê-lo entender antes que ele faça algo estúpido.
Lembro-me do laptop que ela usava no resort.
— Ela está trabalhando em seu laptop. Eu disse a ela que
estava tudo bem.
Josh balança a cabeça.
— O endereço IP leva ao escritório dela. Não seu laptop. Ela
está canalizando dados para lá.
Jack se inclina contra a parede, uma mão enterrada em seu
cabelo e a outra em sua mandíbula. Seus olhos encontram os
meus. Eu conheço esse olhar.
As dúvidas surgem como uma nuvem de tinta, impossíveis
de ignorar ou dissipar. Eu conheço e acredito em Abby. Eu
confio nela. E não apenas por causa dos meus sentimentos. Eu
confiei nela antes, porque Zoey confia nela.
Mas não entendo o que Josh descobriu, ou como conciliar
isso com a Abby que conheço. Ou como explicar nada disso.
Não sei nada de tecnologia.
— Eu confio nela — eu digo, mas as palavras soam como se
eu estivesse tentando me convencer.
Jack tira o telefone do bolso.
— Estou ligando para o chefe dela.
— O que? Por que? — Isso saiu do controle, muito rápido.
Abby odeia seu trabalho, mas não tenho certeza se ela gostaria
de ter problemas. Por outro lado, eu não acredito que algo
possa estar no computador dela.
Olho para Josh. Ele está olhando para o chão, como se
estivesse desapontado com Abby. Ou talvez comigo. Tenho
certeza que todo o escritório sabe que estamos juntos.
Não estamos? Eu não oficializei nada. O que acontece
agora? Ela realmente poderia ter feito isso? E se ela fez,
podemos passar por isso?
Tudo parece estar girando fora de controle. Eu quero pará-
lo, mas não tenho certeza de como ou o que fazer.
— Tem que haver uma razão — eu digo, não tenho certeza
se alguém está me ouvindo. Jack está falando em voz baixa ao
telefone.
— Talvez ela odeie seu chefe — diz Josh.
Eu franzo a testa, sem saber se ele quer dizer eu ou Jack.
Nenhum de nós é realmente o chefe dela. Não tecnicamente.
Seu chefe no outro trabalho? Isso não faz sentido. Josh observa
Jack com os olhos semicerrados.
Jack termina a ligação e se vira para mim. Eu odeio o olhar
em seu rosto. Eu quero removê-lo com o meu punho.
— Abby não foi trabalhar esta manhã. Seu colega de
trabalho está conectado ao seu computador. Ela tem todo o
nosso programa lá. Ela roubou tudo. Isso é espionagem
corporativa, Zane. Estamos falando de prisão. Não apenas
multas e perda de emprego.
— Prisão? — Josh parece estar pronto para fugir. Nós dois
o ignoramos.
— Você sabe onde Abby está? — Jack pergunta.
— Não. Mas vou descobrir isso.
Minha mão treme quando pego meu telefone. Há uma
mensagem que devo ter perdido quando estava falando com
Zoey.

Abby: Eu descobri seu problema de bug.

Eu me sentiria aliviado, mas agora que Jack ligou para o


chefe dela e disse coisas como “espionagem corporativa”, o
alívio não é possível. Não até que todas as informações estejam
alinhadas na minha frente e Abby ser totalmente clara. Até que
haja uma explicação de por que ela tem alguma informação
nossa em seu computador de trabalho.

Zane: Onde você está?

Abby: Chegando.

— Ela está quase aqui— eu digo. — Nós vamos descobrir


isso.
— Acho que já descobrimos. Mas, claro, vamos esperar pela
sua namorada. — Jack bufa e cobre os olhos com as palmas das
mãos.
— Tem que haver uma razão — eu digo, me sentindo como
um CD arranhado. — Não faça suposições até deixarmos
Abby explicar.
Jack tira as mãos do rosto e me encara. Há um olhar de
tubarão nele, um que eu não gosto nada.
— Você ainda acha que ela não fez isso? Depois do que Josh
e seu chefe encontraram em seu computador? Que outra
explicação poderia haver?
— Parece ruim. Mas eu conheço Abby.
Eu a amo. Mas esse pensamento parece confuso, um pouco
inseguro.
Jack inclina a cabeça.
— Você? Ela trabalhou aqui por pouco mais de uma
semana.
— Eu a conheço há anos através da minha irmã.
Balançando a cabeça, Jack cruza os braços sobre o peito.
— Você não está pensando com a cabeça — diz ele. — Seu
julgamento está nublado.
Josh, que estava sentado em silêncio com a cabeça baixa o
tempo todo, olha para mim. Ele parece... traído.
— Gostei muito de Abby também.
Gostei. Pretérito. Por alguma razão, é esta palavra que
realmente me enche de pavor sobre toda a situação. Se estou
sendo totalmente honesto, há uma pequena ponta de dúvida.
Eu odeio aquela ponta.
Com as mãos que parecem instáveis, viro as costas para os
dois e mando uma mensagem para minha irmã. Meu escritório
parece de repente uma câmara de pressão. Eu sinto a
necessidade de desentupir meus ouvidos, e uma dor de cabeça
está se formando nas minhas têmporas e na parte de trás da
minha cabeça.

Zane: Você confia em Abby, certo?

Zoey: Com a minha vida.

Zoey: Por quê?

Zane: Esta é uma informação confidencial. Por


favor, mantenha isso entre nós.

Zoey: Ok...

Zoey: Estou preocupado.

Zoey: Digite mais rápido.

Zane: Um de nossos técnicos encontrou


evidências de que Abby estava mexendo com
nosso código. Parece que ela também vazou
para o computador do seu escritório, o que é um
grande problema. Um tipo de negócio criminoso.
Ela disse alguma coisa para você sobre algo?

Zoey: Abby? Não. Isso é ridículo. Você sabe disso.

Zoey: Ela encontrou evidências de que alguém


de dentro da empresa estava mexendo
intencionalmente. Eu disse a ela para esperar
para contar até que ela tivesse provas. Ontem à
noite, acho que ela descobriu. Ela ficou
acordada a noite toda.
Minha respiração fica presa na garganta. Isso. Essa é a
verdade. Não o que Jack parece convencido ou Josh acha que
encontrou. Há uma razão para não colocarmos Josh nessa
tarefa. Ele simplesmente não é bom o suficiente. Abby
descobriu, e alguém está tentando encobrir seus rastros,
culpando-a.
Mas como convencer Jack?
Por um momento, todo o sangue parece correr direto para
minha cabeça e minha dor de cabeça aumenta um pouco.
Se não é Abby, e alguém está mexendo com nosso sistema,
quem é? E como nossas informações chegaram ao computador
de trabalho dela?
Eu não tenho tempo para realmente considerar esse
pensamento porque Abby entra direto no meu escritório sem
bater. Seus olhos estão cansados, a maquiagem borrada.
Reconheço o trabalho manual de Zoey, uma trança francesa
em seu cabelo. Zoey teria trançado meu cabelo se fosse mais
comprido. Algo está errado, e eu posso dizer, mesmo só de
olhar, que Abby não está bem.
Resisto ao desejo de envolvê-la em meus braços, de protegê-
la de tudo isso. Acho que ela poderia me afastar.
Ela não olha para mim. Por que ela não olhou para mim?
Abby para de repente, olhando rapidamente para Jack. Seu
olhar pousa em Josh.
— Você — diz ela, praticamente um sorriso de escárnio.
— Sinto muito, Abby. Eu tive que contar a eles — Josh diz,
estendendo as mãos. — Não é pessoal.
— Por favor — ela zomba. — Guarde isso para a juíza Judy.
— Abby, precisamos conversar — Jack diz a ela com uma
voz cuidadosa, dando um passo para mais perto dela. Percebo
que ele se posiciona entre ela e a porta.
Seu olhar congela Jack no lugar. Ela aponta um dedo para o
centro do peito dele, sem tocá-lo, mas ele se contorce como se
ela o fizesse.
— Eu esperava isso de você.
Então ela se vira para mim, e sua raiva é uma flecha
flamejante, atirando direto em mim. Eu engulo em seco,
tentando encontrar palavras, tentando alcançá-las. Toda essa
situação se intensificou tão rapidamente. Está fora do meu
alcance, e eu sei que não estou fazendo o que preciso para
proteger Abby.
Eu posso ver através da raiva piscando em seus olhos, a
sensação de traição e de que eu a decepcionei. Novamente. Eu
estraguei tudo por não fazer mais, não fazer o suficiente. Mas o
que eu poderia ter feito?
Lágrimas enchem seus olhos, e eu juro que meu coração se
transformou em algo duro e quebradiço, porque se despedaça
com a visão.
Abby aponta para Jack, mas seus olhos não deixam os meus.
— Não estou surpresa que ele tenha pensado o pior de mim.
Mas eu esperava mais de você. Eu merecia mais.
— Eu acredito em você, Abby. — Mas minha voz não tem
a convicção necessária e, no mínimo, sua decepção se
aprofunda. — Apenas nos diga por que nossas coisas estão em
seu computador de trabalho. Explique o que Josh diz que
encontrou.
Abby segura um pendrive.
— Isso tem tudo que você precisa para mostrar que esse
idiota — ela aponta para Josh — está trabalhando com meu
colega de trabalho traidor para estragar seu lançamento. Não
sei porque, mas posso fazer algumas suposições. Você pode
pedir a outra pessoa para verificar as informações do drive, pois
claramente você não confia em mim. Está tudo aí.
Abby joga o drive para mim, e eu consigo pegá-lo. E então
ela sai correndo, mas não antes de chutar a perna de trás da
cadeira de Josh, fazendo-o cair no chão.
É uma Saída.
Uma que eu apreciaria e talvez até aplaudisse se ela também
não me abandonasse. Eu passo o pendrive para Jack.
— Não deixe Josh ir a lugar nenhum até que vejamos o que
está lá.
Aquele olhar predatório ainda está no rosto de Jack.
— Eu não pretendo — diz ele.
Josh se levanta.
— Gente, olha…
Eu bato a porta, não interessado no resto. Eu preciso de
Abby. Eu tenho que fazer isso direito. Eu não fiz nada, mas esse
é o ponto. Eu não fiz nada. Eu acreditei nela, mas duvidei.
Deixei Jack ligar para o chefe dela antes de perguntar
diretamente a Abby.
Eu corro pelo prédio. Ela está quase na porta.
— Abs, espere!
Ela passa pelas portas da frente, uma fatia brilhante de sol
me cegando antes que o vidro escuro a bloqueie novamente
quando a porta se fecha. Eu empurro as portas, seguindo-a até
seu carro.
— Abby!
Finalmente, ela para. Eu desacelero para uma caminhada. A
tensão em seus ombros e costas me impede de tocá-la. Eu ando
para encará-la. Ela está brincando com suas chaves, recusando-
se a olhar para mim.
— Abby, me desculpe. Tudo aconteceu tão rápido. Eu
estava tentando…
— Fui demitida. Você sabia disso? — Ela olha para cima,
provavelmente vendo o choque e a tristeza no meu rosto.
— O que? Não. Você disse que foi seu colega de trabalho.
— Sim. Eles vão demitir Micah também, assim que
descobrirem que eu não estava mentindo. Até lá? — Ela
encolhe os ombros. — Ele me ligou há cinco minutos, logo
depois de receber uma ligação da Eck0.
— Foi o Jack.
— Sim. Seu sócio. E se você tivesse pedido a ele para esperar
alguns minutos, eu ainda teria um emprego.
Parece que acabei de engolir uma colher de canela. Minha
língua está muito grossa, minha boca muito seca.
— Eu pensei que você odiasse seu trabalho?
Seus olhos se estreitam.
— Eu odeio. Ou... odiava. Mas pagava as contas. Eu estava
tentando conseguir empregos suficientes para sair, mas ainda
não cheguei lá. Agora? Eu não tenho escolha. E nenhum
trabalho. Obrigada por isso.
— Eu sinto muito. Josh veio com essa história, e eu não tive
nenhuma atualização sua. Eu não acreditei que você poderia ter
feito isso. Jack ligou para seu chefe para confirmar. Eu deveria
tê-lo impedido.
Sua raiva se dissipa como neblina enquanto ela envolve os
braços em volta de si mesma.
— Parte disso é minha culpa. Eu sei que te mantive no
escuro. Em retrospectiva, isso foi realmente estúpido. Eu
queria vir a você com uma grande revelação. Ser a Velma do seu
Fred, resolvendo o grande mistério com todas as respostas.
Leva-me um minuto para que eu entenda. Ela está falando
sobre Scooby Doo agora?
— Mas Fred sempre acaba com Daphne — ela diz. — Há
uma razão para isso.
— Espere, Abby. O que você está falando? Isso não é um
desenho animado. Esta é a vida real. Eu não sou um Fred. Você
é Abby. E eu...
A palavra fica presa na minha garganta. Os olhos de Abby se
abrem, parecendo claros e verdes, com apenas um leve toque de
marrom. Ela é tão bonita. Tão incrível. Isso devia tornar mais
fácil completar essa frase, mas em vez disso, eu recuo como o
grande covarde que sou.
— Eu gosto mesmo de você. Eu confio em você. E eu sinto
muito como as coisas aconteceram hoje. Josh acabou de entrar,
vomitando alguma história, e então Jack…
Abby está balançando a cabeça, e quando ela levanta as duas
mãos, eu paro de falar. Meus ombros caem. Já sei o que está por
vir, mas não quero acreditar que a perdi.
— Tenho certeza de que Josh foi convincente. Você não
teve nenhuma explicação minha. E eu sei que Jack é... Jack. Mas
você.
A dor em sua voz é como uma serra, triturando através de
mim.
— Você deveria ter confiado em mim, Zane. Se tivesse me
respeitado, você poderia ter aguentado por alguns minutos.
Escutar a minha versão antes de ligar para o meu chefe. Você
não pode colocar a culpa disso em Jack. Quando se trata disso,
você tem que assumir a responsabilidade. Eu mereço pelo
menos isso.
Eu não posso nem discutir quando ela entra em seu carro e
vai embora.
Porque ela está completamente certa. Ela merece muito
mais do que minha falta de ação e confiança passiva. Ela merece
um homem melhor do que eu.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

Abby

EU NÃO VOLTEI para Katy desde o Natal. Muitos meses. São


apenas duas horas e meia de carro, mais porque paro para
comer kolaches em uma das padarias dentro de um posto de
gasolina na pequena cidade de La Grange. Hoje comprei uma
dúzia inteira com sabor de frutas e alguns enroladinhos de
salsichas. Como se voltar com bolos fosse distrair minha família
do motivo pelo qual estou voltando para casa, com o rabo entre
as pernas.
O cheiro de pão doce e salsicha apimentada enche o carro
pela última hora de viagem. As colinas ondulantes dão lugar às
pradarias planas. Cenário chato, dando-me muito tempo para
pensar em tudo. Ou, em uma única coisa. Zane. Eu sei que
exagerei. Eu poderia ter dito a ele as minhas suspeitas a qualquer
momento. E foi Jack quem ligou para o meu chefe.
O que Zane poderia ter feito, de verdade? Ainda assim, tudo
parecia tão grande no momento, como uma traição.
Quando eu finalmente saio da auto estrada e entro em Katy,
me pergunto se talvez eu não tivesse ficado tão magoada se Zane
não tivesse me pedido para usar roupas diferentes para o jantar.
É como se isso destrancasse a porta para minhas inseguranças e
as deixasse brincar. Não deixo elas me governarem há tanto
tempo que quase esqueci como é e quão poderosas elas podem
ser.
Agora elas precisam ser banidas de volta para a masmorra a
que pertencem. O lar parece ser o melhor lugar para isso, onde
posso contar com a força da minha família.
Eu já mandei uma mensagem para o Jason, e ele está vindo
para a casa da mamãe e do papai com meus sobrinhos. Jessa está
ficando em casa para descansar. Estou realmente esperando que
ela entre em trabalho de parto enquanto estou aqui e me poupe
outra viagem para Katy. Assim que ela tiver a Bebê Addie, eu
disse a ela que ajudaria a cansar um pouco os meninos. Gosto
de pensar em Addie. E em meus sobrinhos.
Até isso me lembra Zane e nossa conversa sobre ter filhos
quando estávamos no resort. A noite em que nós dois fingimos
que não estávamos chorando por causa do filme Up - Altas
Aventuras, e o homem prendendo balões em sua casa, voando
para o local da lua de mel que ele nunca viu com sua esposa.
Como se eu estivesse fingindo nos últimos dois dias que Zane
não estava explodindo meu telefone com ligações e mensagens.
Acho que quando eu conseguir trancar minhas
inseguranças no calabouço, os meus sentimentos por Zane
devem ir para lá também.
As palavras de Sam continuam aparecendo, me fazendo
pensar se acabei de sabotar o meu relacionamento com Zane.
Eu não posso pensar sobre isso. Mesmo que eu suspeite que
talvez, apenas talvez, eu exagerei e fiz exatamente isso.
Desta vez, porém, eu quebrei e explodi um relacionamento
que eu realmente queria.
Entro no caminho de cascalho da casa da mamãe e do papai,
balançando a cabeça com toda a urbanização. Crescendo, havia
fazendas por todos os lados. Nossa casa é apenas uma pequena
casa de fazenda em meio acre, vagamente incorporada à
comunidade planejada construída ao nosso redor. Um cara
cavalga em um grande cavalo preto ao longo da cerca de nossa
propriedade. Ele tira o chapéu para mim, e é uma coisa tão
estereotipada do Texas que eu sorrio.
Ele é um dos gêmeos que mora na propriedade atrás da
nossa, a única outra resistência contra o empreendimento. Não
tenho certeza se é Elton ou Easton – não consigo me lembrar
qual era o quieto que adorava cavalos e qual deles foi preso
recentemente por organizar noites de luta em seu celeiro. Eles
sempre foram legais comigo, mesmo quando eu saía da escola
para terminar o ensino médio em casa.
Ah, gêmeos. Parece que os lembretes de Zane estão por toda
parte. É mais uma razão que eu tive que sair de casa. Eu não
suportava olhar para Zoey, e eu definitivamente não queria
falar com ela sobre Zane.
— Ei, batata-doce — papai diz, contornando o capô do meu
carro. Ele está de botas, como sempre, mas seu jeans quase
parece novo.
Ele me dá um abraço que eu sinto até os ossos.
— Papai.
Quando ele me puxa de volta para me examinar, eu aceno
para ele.
— Azul desta vez?
Eu puxo uma mecha do meu cabelo para minha frente,
ainda surpresa ao ver a cor quase azul-petróleo.
— Eu precisava de uma mudança.
Muitas mudanças.
— E você! Olha esses jeans. Muito chique.
Papai sacode as pernas, fazendo uma careta.
— Sua mãe queimou os velhos.
Eu não posso deixar de rir disso.
— Espero que não enquanto você estava os usando.
— Não — diz ele. — Ela esperou até que eu estivesse no
chuveiro. Sai quando os alarmes de incêndio começaram a
disparar.
— Ela queimou eles dentro da casa? Estou surpresa, mas não
chocada.
— Claro que sim. Quando você vir as marcas de carvão em
sua bela pia de fazenda, você saberá de onde elas foram.
Eu estremeço.
— Oooh. Ela está chateada?
Mamãe e papai esperaram até que eu saísse da faculdade para
refazer a cozinha deles, e ela tem apenas alguns anos. Tenho
certeza que ela gosta mais da cozinha do que de mim na maioria
dos dias.
Papai revira os olhos, coloca um braço em volta de mim e
me direciona para a varanda dos fundos.
— Ela não pode ficar chateada com ninguém além de si
mesma. Achei que poderia lhe ensinar uma lição. Aqueles
bombeiros deram-lhe um grande sermão. Mas você conhece
sua mãe. Ela está procurando uma nova pia.
— Eu aposto que ela está. E, para que conste, os jeans são
bonitos.
— Eles pinicam, mas existe óleo de coco para isso. Aprendi
esse truque em algo chamado Pin-Interest.
Eu bufo.
— Pinterest, pai.
— Foi o que eu disse. E de qualquer maneira — diz ele,
inclinando-se e rindo perto do meu ouvido. — Sua mãe diz que
isso realmente mostra minha bunda.
Eu o empurro, subindo os degraus até a varanda.
— Bruto! Muita informação, pai!
Ele está rindo e acena para mim.
— Vou pegar sua bolsa no carro e trocar o óleo. Não deixe
ninguém te dizer que os anos do ninho vazio não são cheios de
diversão!— ele chama, ainda rindo.
Eca.
Antes de passar pela porta de tela, ela se abre e meus
sobrinhos fazem o possível para me atacar.
— Ei, feras! Calma com sua tia.
— Por que você está se referindo a si mesmo na terceira
pessoa? — Jace pergunta. Eu baguncei seu cabelo loiro,
percebendo que ele cresceu.
— Quando você aprendeu o que é a terceira pessoa? —
Pergunto-lhe.
— No Tiktok — diz ele.
Uma coisa é meu pai estar no Pinterest, mas meu sobrinho
de oito anos no Tiktok? Não.
— Eu vou ter que falar com seu pai sobre isso. É um risco de
segurança.
Também é um risco para ele aprender sobre coisas como
dancinhas.
Ele dá de ombros, correndo na direção em que meu pai
desapareceu. Ambos os meus sobrinhos têm o cérebro grande
do meu irmão, mas os interesses de Jace vão para o lado
mecânico das coisas. Se papai não o vigiar, ele provavelmente
vai religar meu carro, trocando o controle de velocidade pelos
piscas alertas ou algo assim.
Enquanto isso, Joey, o mais novo, mais doce, mais quieto,
ainda está agarrado aos meus joelhos. Eu me curvo até que eu
possa olhar para suas bochechas doces, ainda gordas, embora
ele agora tenha seis anos.
— Ei, camarada! O que está acontecendo?
Ele pisca para mim com cílios que a maioria das mulheres
esfaquearia alguém com um estilete para ter.
— Minha nova irmã está chegando em breve.
— Eu sei. A Bebê Addie. — A única criança sortuda que
escapou da maldição dos nomes J. — Você vai cuidar bem da
sua irmã?
Ele balança a cabeça, todo sério.
— Já prometi ao papai que taparia o nariz dele quando ele
trocasse o cocô dela. —
Eu ri.
— Quer saber? Seu pai provavelmente precisa se acostumar
com o cheiro, desenvolver uma tolerância. Talvez quando ele
estiver trocando o cocô, você possa ajudar trazendo um balde
de vômito para ele?
— Muito engraçado, esguicho. — Jason olha enquanto se
junta a nós na varanda. — Eu não posso evitar meu reflexo de
vômito. É uma resposta fisiológica.
— E eu não posso deixar de achar isso divertido. — Eu dou
a Joey outro olhar. — Você vai se lembrar do que eu disse?
— Balde de vômito.
Eu pisco.
— Bom menino. Agora, certifique-se de que seu irmão mais
velho não esteja fazendo uma ligação direta no meu carro.
Quando me levanto novamente, Jason me envolve em um
abraço, me levantando do chão. Eu poderia me acostumar com
todos esses abraços. Eu não tinha percebido o quanto eu sentia
falta da minha família. Talvez seja hora de pensar em mudar de
casa. Meu coração se aperta com o pensamento de deixar
Austin, deixar as minhas amigas.
Eu tento não pensar em Zane, mas meu cérebro continua
voltando para ele como uma daquelas janelas pop-up irritantes
que você não pode fechar. Espero que esta viagem para casa
possa ser minha formatação. Eu preciso de algum apoio
incondicional e algum espaço para pensar.
Ah, e um emprego. Eu preciso de um desses também.
— O que é isso que eu ouvi sobre você se apaixonar por um
cara que fez você ser demitida?
— Mamãe tem uma boca grande. Isso não é... — começo a
dizer, então paro. — Na verdade, isso é bastante preciso. E, para
constar, é uma merda. Eu não recomendaria.
Jason me coloca suavemente de volta para baixo e me
conduz para dentro da casa.
— Eu poderia ter dito isso a você.
— Eu poderia ter dito isso a mim mesma — murmuro.
— Isso significa que você está se mudando para Katy e vindo
trabalhar para mim?
A oferta parece mais tentadora agora do que nunca. E, no
entanto, ainda não parece certo. Não é aqui que eu deveria
estar.
Eu deveria estar com Zane.
Abby. Felizmente, meu agente interno Gibbs aparece com
um tom de aviso. Já passamos por isso. Nada de Zane.
— Abs?— Jason me dá uma pequena sacudida.
— Desculpe. Uh... ainda estou considerando as minhas
opções.
Mamãe vem correndo da direção da lavanderia com os
braços estendidos, me envolvendo em seu conforto e calor.
— Bebezinha!
— Mamãe! Vá com calma nas costelas. Eu gostaria de
manter todas intactas, por favor.
Ela relaxa, então se afasta para me inspecionar, assim como
papai fez.
— Cabelo azul, hein? Eu prefiro rosa.
— Você deveria tentar rosa. Acho que ficaria ótimo em
você.
Mamãe zomba.
— Eu perdi o momento. O cabelo colorido precisa vir com
a juventude ou a velhice.
— Apenas certifique-se de me avisar quando eu estiver perto
da idade de corte. Eu tenho que seguir todas essas convenções
da sociedade e tudo isso.
Jason ri e nós dois nos sentamos em bancos ao longo da ilha
da cozinha. Ele pega seu laptop, provavelmente trabalhando
em um de seus novos jogos. Tento verificar se há marcas de
queimado na pia, mas não consigo vê-las desse ângulo. Quando
ela me vê olhando e sorrindo, mamãe me dá o que ela gosta de
chamar de globo ocular peludo.
— Eu gosto do novo jeans do papai — eu digo. — Ouvi uma
história engraçada sobre como você o convenceu a usá-los.
— Isso faz parte do casamento. Aprendendo a fazer as coisas
— Ela pisca. — Agora, venha me ajudar a descascar esse milho.
Há algo em ficar lado a lado com minha mãe na cozinha
onde eu cresci, tirando as cascas do milho que me aquece de
dentro para fora. Mas então me aquece muito mais quando me
lembro da noite que passei com Zane em sua casa, ajudando-o
a decorar.
Imaginei noites como esta, um futuro onde ele e eu
cozinharíamos o jantar, talvez tendo uma ou duas guerras de
comida. Anos depois, talvez eu estivesse incendiando o terno
dele na pia da cozinha.
Exceto que eu não vou ter essa chance.
Quando os braços da mamãe vêm ao meu redor, os soluços
realmente saem. Eu mal registro o som da porta se fechando
quando Jason nos deixa.
— Aquele menino tem aversão às lágrimas — diz mamãe.
— E fraldas sujas.
Mamãe ri, me apertando com mais força e descansando a
cabeça no meu ombro.
— Você realmente se apaixonou desta vez, não é?
— Sim. Não consigo parar de pensar nele.
Coloco minhas mãos na beirada da pia, olhando para todas
as palhas de milho e os fios sedosos que estão presos sob minhas
unhas.
— Talvez você não devesse estar tentando parar.
Estou ponderando suas palavras, ainda olhando para as
palhas de milho e finalmente vendo algumas das marcas de
queimaduras quando papai se junta a nós na cozinha.
— Desculpe interromper seu momento Hallmark15 — diz
ele, me fazendo rir.
Dou um tapinha nas mãos da mamãe e ela me solta com um
sorriso.
— Está tudo bem — eu digo. Não é verdade, mas pela
primeira vez desde ontem de manhã, não quero dar um soco na
garganta de alguém ou me enterrar em uma caixa de sorvete
Blue Bell.
Papai segura um saco de papel branco amassado.
— Espero que ninguém queria comer aquelas kolaches que
você trouxe — ele diz. — Esses meninos são como piranhas.

15
O Hallmark é um canal de televisão dos Estados Unidos, com transmissão
para mais de 100 países, focado em séries e filmes apropriados para a família.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

Zane

É a minha sorte que o jantar mensal com papai e Zoey caia em


uma semana em que eu gostaria de me esconder e evitar minha
irmã. Ela provavelmente já tem um plano para bater em mim.
Especialmente porque tenho evitado suas ligações e não lido
suas mensagens. Ela está esperando por mim quando eu paro
na casa do papai, as mãos já na posição de sermão em seus
quadris.
— Então, você não está morto? — Zoey pergunta com uma
voz malcriada.
— Claramente não.
— Apenas me ignorando.
— Eu gostaria de pensar nisso como evitar você — digo a
ela, indo direto para dentro.
— Existe alguma diferença?
— Na verdade, não. Evitar soa um pouco mais maduro do
que ignorar.
— Ambos não apenas parecem, mas também são imaturos.
Eu não me incomodo em tocar a campainha, mas uso minha
chave para entrar. Eu posso sentir o cheiro de alho e cebola.
Papai se tornou um grande cozinheiro recentemente, tendo
aulas e assistindo vídeos no YouTube. Tenho certeza de que
nos poucos anos após a morte da mamãe, ele se alimentava de
carne seca e castanhas.
— Olá pai. — Dou-lhe um tapinha no ombro, porque ele
não é grande fã de abraços.
Ele acena com a cabeça, encontrando meus olhos com suas
íris azuis combinando com as minhas.
— Zane. Que bom que você conseguiu vir.
Essa é sua saudação padrão, embora eu sempre venha. Não
perco um jantar em família desde que começamos a tê-los,
mesmo com toda a loucura das startups.
Zoey fica na ponta dos pés para beijar sua bochecha.
— Ei, papai. Cheira bem.
— Eu ou o refogado? — ele é inexpressivo.
— Você está fazendo piadas agora? — Eu pergunto. —
Cozinhar e fazer piadas pode indicar uma crise de meia-idade.
— O que vai acontecer agora?— Zoey pergunta, tirando um
cogumelo da panela. — Cabelo comprido e uma tatuagem?
Papai a enxota com a colher.
— Você vai queimar seus dedos. Já passei da meia-idade,
caso vocês não tenham notado.
Imaginar papai com qualquer coisa, menos cabelo castanho
cortado rente é risível. Ele parece pronto para voltar ao serviço
a qualquer momento, exceto os tons de cinzas assumindo. Eu
pego os pratos e Zoey pega os talheres. Nós não mudamos
nossas tarefas desde que éramos crianças, e há um conforto
nisso.
Até Zoey ter que abrir a boca, claro.
— Você falou com Abby?
— Eu deixei mensagens de voz. Eu mandei mensagens. Ela
está me ignorando.
Zoey olha para mim com as pálpebras semicerradas.
— Isso é tudo? Eu esperava que você aparecesse na casa dela.
— Se ela não quer atender o telefone, por que eu acharia que
ela quer me ver? Ela claramente não quer falar comigo.
— O que você fez com Abby? — Papai pergunta, franzindo
a testa.
Eu jogo minhas mãos para cima.
— É assim que vai ser? Vocês dois estão se juntando contra
mim?
— Geralmente são vocês dois se juntando contra mim —
Zoey diz. — Você está muito atrasado, irmãozinho.
Eu me viro para papai, considerando a minha resposta. O
que eu fiz para Abby? No papel, não muito. Eu não a traí ou a
insultei ou a manipulei. Mas de muitas maneiras, o que eu fiz
foi pior.
Eu não confiava nela o suficiente. Eu não a respeitava o
suficiente. Eu não mostrei a ela o quanto eu a valorizo.
Eu falhei com ela.
— Eu vou contar, já que Zane escolheu o direito de ficar
calado — Zoey diz, levantando a mão quando eu começo a
protestar. — Primeiro, ele tentou fazer com que ela mudasse
sua aparência para impressionar os clientes. Então, ele a acusou
de algum tipo de prática ilícita que eu não entendo e a fez ser
demitida.
— Eu não… — eu começo a dizer, mas Zoey me corta
novamente.
— Ah, e tudo isso enquanto ele também estava namorando
ela.
As sobrancelhas do papai se erguem.
— Você e Abby?
Suspiro, sentando-me à mesa.
— Não mais, eu acho. É um ponto discutível, já que ela não
fala comigo.
Zoey me dá um tapa na nuca.
— Idiota — ela murmura. Afasto a mão dela e, de repente,
temos dez anos, discutindo sobre o controle remoto ou quem
se senta na cadeira mais confortável.
— Eu não criei você para desistir tão facilmente — papai diz.
— Vá buscar sua garota.
Agora é minha vez de me surpreender.
— Você aprovaria eu e Abby?
— O que há para não aprovar?— ele pergunta, uma
sobrancelha levantada. Muito antes de The Rock, papai nos
dava esse olhar. — Ela é a melhor amiga de sua irmã e uma
ótima garota. Inteligente. Impetuosa.
— Como eu disse — Zoey diz, me cutucando — você é um
idiota.
Consigo desviar a conversa de mim ou de Abby durante o
jantar, mas meus pensamentos estão definitivamente
distraídos, pensando nela. Querendo saber onde ela está, se ela
encontrou um emprego, como ela está se sentindo. Se ela
alguma vez considerou me perdoar.
Enquanto Zoey e eu lavamos a louça, papai se retira para a
sala de TV com suas palavras cruzadas e qualquer
documentário de true crime que esteja assistindo agora. O
silêncio incomum de Zoey é como o oceano recuando antes de
um tsunami. Não é natural e deve servir como um aviso para
correr para um terreno alto.
Talvez eu seja um otário, ou talvez eu ache que eu mereço o
que quer que ela vá fazer, porque não estou correndo ou
tentando escalar um dos carvalhos dos fundos. Quando só
temos uma panela para lavar e secar, eu cutuco seu ombro com
o meu.
— Então?
— Bem, o que?
— Quando vou receber a palestra ou algo assim?
Zoey pega a panela de mim e seca. Eu quase posso ouvir seus
pensamentos martelando em sua cabeça. Ela abaixa a panela e
olha para a sala de TV.
— Vamos para os fundos — diz ela em uma voz mais baixa.
Eu a sigo até o quintal, onde Zoey instalou fios de luzes
sobre o pequeno pátio do papai no natal do ano passado.
Sentamos nas duas cadeiras Adirondack, que foram os meu
presente.
— Acha que ele já se sentou aqui?— Zoey pergunta.
— Duvido.
É uma noite agradável, de alguma forma sem mosquitos.
Depois de alguns minutos apenas conosco e com os sons da
noite, Zoey diz:
— Eu sei que Abby mencionou que ela sofreu bullying no
ensino médio.
— Sim. — O pensamento disso me deixa tão quente quanto
quando ela me contou. Eu me sinto como uma panela de água
fervente com a tampa, todo o vapor preso dentro sem ter para
onde ir.
— Esta é uma história que ela tem que contar e,
normalmente, eu não estaria me intrometendo. Mas há
algumas coisas que você precisa saber, e tenho certeza que ela
não conseguiu contar a você.
— Bem, cuspa isso, então.
— Calma, vaqueiro.
Zoey se mexe, balançando as pernas para o lado da cadeira
para que ela possa me encarar. Eu inclino minha cadeira em
direção a ela, desejando que ela se apresse.
— Abby foi intimidada durante todo o ensino fundamental
e médio. Coisas típicas do tipo atleta versus nerd. Seus pais
reclamaram, mas a escola não fez nada. No ensino médio,
algumas garotas populares disseram a Abby que um cara estava
interessado nela. Elas disseram que queriam fazer uma
transformação para ajudá-la a conquistar ele, prometendo que
ela só precisava fazer algumas mudanças.
Eu não gosto de onde isso está indo, e não apenas porque há
outro cara sendo mencionado. O pavor se enrola no meu
estômago.
— Como eu tenho certeza que você imaginou, elas não
fizeram uma transformação nela. O que lhe deram foram
queimaduras químicas no couro cabeludo. Elas arrancaram
suas sobrancelhas completamente.
Eu aperto meus olhos fechados. Só de ouvir isso, imaginar
isso, me dá vontade de socar alguma coisa. Ou alguém.
Zoey toca meu braço brevemente, então continua.
— Ela foi humilhada. Felizmente, não ficaram cicatrizes,
embora eles tivessem que cortar a maior parte de seu cabelo
porque estava muito danificado. Ela terminou o ensino médio
virtualmente, fazendo aulas online.
— Isso é horrível.
— É. — Zoey faz uma pausa. — Caso você não tenha ligado
os pontos, gênio, Abby tende a ser um pouco sensível com a
ideia de mudanças. E de pessoas que não a aceitam como é. Foi
exatamente o que você fez quando pediu a ela para mudar pelos
investidores.
Eu não tinha ligado os pontos. Mas eu entendi agora, e a
percepção é rápida e dolorosa. Eu me inclino para frente em
minha cadeira, deixando minha cabeça pendurada entre meus
joelhos. Sinto que estou tentando respirar debaixo d'água.
Meus pulmões queimam e não há ar.
Estou repassando minhas mensagens de texto para Abby,
meu pedido de desculpas no restaurante, que parece tão
pequeno agora. Se eu achava que tinha errado antes, a
gravidade disso me atinge totalmente. Estou envergonhado e
magoado por Abby.
— Caso você não tenha certeza do quanto você estragou
tudo, eu queria que você soubesse. Estamos falando de algo
grande, irmão. Se isso não bastasse, então você vai e faz
suposições com base no que Jack e algum cara aleatório que
trabalha para você, em vez de confiar em Abby, alguém que
conhecemos e confiamos há anos.
— Eu não queria que isso acontecesse — eu digo,
levantando minha cabeça para olhar para minha irmã. Ela
parece completamente impressionada com a minha desculpa.
Que é exatamente o que é. Quero voltar no tempo e me chutar.
Então chutar Jack e Josh. Mas a mim primeiro.
— Boas intenções realmente não valem muito, não é?
Elas não valem. É exatamente por isso que parei de ligar para
Abby há dois dias. Isso foi antes de eu saber exatamente o
quanto eu estraguei tudo.
Zoey me chuta na canela.
— Ai. — Eu olho para ela. — Mire mais alto. Eu mereço.
— Oh, coitadinho. — Zoey revira os olhos e me chuta de
novo, mais forte, no mesmo lugar. — Esse é o seu plano?
Chafurdar e punir a si mesmo?
Outro chute.
Eu dou de ombros.
— Não há plano. Acabou. Eu estraguei tudo.
Zoey geme e se levanta, me chutando uma última vez.
— Eu costumo dizer isso como um termo carinhoso, mas
desta vez eu realmente quero dizer isso, irmãozinho. Você é um
idiota.
— Eu sei. Você acha que eu não sei disso? — Eu jogo minhas
mãos para cima.
Zoey garra-as, apertando minhas mãos com força.
— Você está perdendo o ponto. Você é um idiota por não ir
atrás dela. Ela foi para casa para ficar com sua família em Katy,
a propósito. Você é um idiota por não ir atrás dela. Por pensar
que algumas mensagens e ligações não atendidas é onde você
deve parar. Sonhe mais alto.
As palavras levam um momento para me atingir, e quando
a fazem, sinto como se tivesse sido pego em uma chuva
repentina do tipo emocional.
Sonhe mais alto é o que mamãe costumava nos dizer, seu
encorajamento, sua frase de efeito. Era uma espécie de mantra
para a vida. Quando falávamos sobre o que queríamos ser
quando crescemos, ou o que estávamos ansiosos para ver no
verão.
Depois de comemorar qualquer um de nossos sucessos, ela
sempre nos abraçava e nos dizia que fizemos um ótimo
trabalho, e agora era hora de sonhar mais alto.
— Eu sou uma idiota — digo à minha irmã, apertando suas
mãos até que ela esteja se contorcendo para escapar do meu
alcance.
— Ai! Solte.
Eu faço, mas depois me levanto e bagunço o cabelo dela do
jeito que eu sei que ela odeia.
— Eu sou um idiota, e você é a idiota que compartilha meu
DNA.
— Apenas cinquenta por cento — Zoey diz, alisando o
cabelo para trás e me dando uma cotovelada no processo.
— Sim, mas você tem cinquenta por cento de idiotice.
— Cale-se. Esqueça o que eu disse. Abby merece algo
melhor.
Eu aceno, pegando seu olhar.
— Ela merece. O que significa que tenho muito trabalho a
fazer e preciso de muitos balões.
— Espere... balões? Nada de flores? Chocolates?
Eu sorrio, começando a me sentir melhor só de pensar em
pedir desculpas, rastejar e reconquistar Abby.
— Sim. Balões. — Faço uma pausa, considerando. — E
talvez um pouco de café também.
CAPÍTULO VINTE E CINCO

Abby

DOIS DIAS. É a quantidade de tempo que aguento ficar em casa


antes de precisar dar o fora daqui e voltar para Austin.
Meus pais parecem ter esquecido como se comportar com
uma criança em casa. Ou isso, ou eles estão sugerindo não tão
sutilmente que eu preciso desaparecer.
Pegar a mamãe lavando pratos de calcinha era uma coisa.
Entrar e pegar a mamãe e papai seminus e se beijando no sofá
era outra coisa. Quero dizer, bom para eles, certo?
Eu só posso esperar que eu ainda queira ficar no sofá com
meu marido depois de trinta anos de casamento.
Mas não com plateia!
— Você está fazendo as malas, menina? Partindo tão cedo?
— Mama pergunta, de pé na porta do meu quarto de infância,
que agora é uma sala de artesanato com um sofá-cama sem
cerimônia enfiado em um canto.
Eu faço o meu melhor para jogar seu olhar característico de
volta para ela. Ela apenas ri.
— Eu acho que vocês deixaram claro que vocês gostam de
sua privacidade.
Ela ri mais forte.
— Eu não posso evitar. O jeans novo do seu pai deu uma
nova vida ao nosso relacionamento.
— La, la, la, la, la! Eu não consigo te ouvir! — Eu cubro
meus ouvidos com as mãos. Papai passa, nos dando um olhar
estranho antes de balançar a cabeça e continuar pelo corredor.
— Foi uma ótima visita, além de coisas sobre as quais não
falaremos — eu digo à mamãe, fechando minha bolsa e rolando
em direção à porta.
Em vez de me deixar passar, mamãe me envolve em um
grande abraço, do tipo que me lembro de quando era criança
quando esfolei o joelho ou cheguei em casa chorando por causa
de um comentário que algum garoto fez sobre mim.
— Você é uma lutadora, Abby. Uma lutadora com um belo
coração. Lamento que tenha se machucado. Por favor, não
deixe que isso a impeça de tentar novamente. Ou dar a ele outra
chance.
Não foi até suas palavras que eu percebi que era exatamente
o que eu estava fazendo enquanto estava em casa. Fortalecendo
minhas defesas. Reconstruindo as paredes que derrubei para
Zane, as que não estava disposta a remover por ninguém. Não
até ele.
— Dói — eu digo a ela, fungando em seu cabelo.
— O amor sempre dói.
Eu me aconchego mais fundo em seu abraço, porque se é
amor ou não, o que eu sinto por Zane definitivamente dói.
— Pensei que o amor fosse o sol e as criaturas da floresta
ajudando nas tarefas domésticas.
Ela bufa.
— Eu sei que te ensinamos mais que isso. Você sabe que o
amor não é fácil.
— Isso definitivamente não é fácil — digo a ela.
— Isso também não faz que seja amor. As coisas erradas
também podem ser difíceis.
— Então como você sabe quando é?
Mamãe se afasta e segura meus ombros, seus olhos fixos nos
meus.
— Quando dói, mas você quer lutar de qualquer maneira. É
assim que você sabe que é amor. Quando você quer lutar. —
Ela me dá um tapinha no traseiro e, assim, nossa conversa
profunda acabou.
Eu considero suas palavras enquanto desço minha bagagem
pelas escadas. Zane se desculpou por me pedir para trocar de
roupa para o jantar com os investidores. Ele não sabia sobre
toda a transformação infernal do ensino médio, e eu aposto que
se soubesse, ele nunca teria pedido. Além disso, ele gostava de
mim antes disso. Ele me viu bagunçada, logo pela manhã e
ainda me beijou em um armário.
Se fosse apenas isso, poderíamos resolver as coisas com uma
conversa. Estou magoada, mas ele não sabia o quão magoada eu
ficaria. Ou por que aquele pedido em particular foi tão difícil
para mim. Mas a coisa do trabalho...
Acredito quando Zane disse que Jack foi o instigador. Mas
é isso: Jack é seu sócio nos negócios. Zane precisa ser homem e
não usar Jack como desculpa para suas próprias escolhas.
Mamãe disse que o amor era real se valesse a pena lutar por
ele. E Zane não lutou por mim.
Eu tento engolir a queimação dessa percepção, mas ela fica
comigo, como indigestão depois de tacos ruins.
Papai me intercepta na cozinha e pega minhas malas.
— Seu óleo foi trocado e seus pneus foram calibrados. Vou
colocar isso no porta-malas.
— Obrigada, papai. — Conhecendo-o, ele também
abasteceu com gasolina e lavou o carro enquanto estava lá.
Mamãe me entrega um saco de papel, dobrado em cima
como uma lancheira gigante, depois me dá uma caneca de
viagem cheia de café.
— Petiscos para a viagem e cafeína. Guarde a caneca.
Comprei pensando em você.
Eu verifico o lado da caneca, revirando os olhos quando vejo
a imagem nela. Tem as palavras “Pé na” ao lado de uma foto da
bunda de um burro.
— Puxa, obrigada, mãe.
Ela me dá um beijo na bochecha e me enxota porta afora.
Papai está esperando no carro por mim, e eu lhe dou um grande
abraço.
— Bom te ver, batata doce. Não suma.
— Você sabe que poderia ir a Austin e me ver.
Papai estremece.
— Aquela cidade é muito estranha para mim. Todos os
homens em jeans skinny em bicicletas.
Eu rio, porque ele não está totalmente errado. Embora os
jeans skinny pareçam estar em alta para os homens.
Pouquíssimos homens realmente conseguem usá-los, o resto
parece que enfiaram metade do corpo em uma embalagem de
salsicha, apenas para que o resto explodisse para fora da
embalagem.
— Eu sou estranha, papai. — Dou um aperto no braço dele
enquanto me afasto. Sacudo meu cabelo recém-azulado como
se quisesse provar meu ponto de vista.
Ele dá um tapinha na minha cabeça, sorrindo de uma forma
que é como envolver um cobertor aconchegante em volta do
meu coração.
— Não. Você é simplesmente perfeita.
Dificilmente, eu acho.
— Está acontecendo!
O grito de mamãe nos faz girar. Ela está debruçada sobre o
parapeito da varanda, balançando os braços como se estivesse
tentando chamar um táxi em Nova York. Papai parece saber
exatamente o que é, enquanto eu sou lenta na compreensão.
— O que está acontecendo? — Eu grito para o papai recuar.
— O bebê! Minha primeira neta! — Os guinchos da mamãe
rivalizavam com qualquer porco na feira do condado, mas a
excitação é contagiante.
— Qual hospital? — Eu pergunto, já subindo ao volante.
— Apenas nos siga!— Mamãe diz, correndo em direção à
caminhonete do papai.
Droga, a mulher pode correr. Pelo menos, quando há uma
neta nascendo.
Sigo a caminhonete do papai até um dos hospitais mais
novos que fica a apenas dez minutos de distância. Obrigada
Senhor. O Centro Médico de Houston é famoso, mas o de
Katy também é, e leva um bom tempo mesmo sem trânsito.
Meu telefone vibra quando passamos pelas portas. Eu
verifico para ver uma mensagem de Zoey, perguntando onde
estou.

Abby: No hospital. Minha cunhada vai ter seu


bebê.

Zoey: Qual hospital?

Eu mando uma mensagem para ela com o nome, então


pergunto porquê.

Zoey: Eu vim para uma visita.

Eu franzo a testa para o meu telefone. É uma segunda-feira.


Zoey não sai do trabalho. Isso é uma coisa que ela e Zane têm
em comum, eles são como o Exterminador do Futuro, pelo
menos quando se trata de trabalho. Aparentemente não
quando se trata de mim, penso, imaginando Zane em seu
escritório. Parecendo tão tentador em um terno escuro.
Não. Não estou pensando em Zane.
Embora eu esteja preocupada com Zoey. Não tenho certeza
se Zoey perdeu uma aula na faculdade. Qualquer aula. Nunca.
Enquanto isso, faltei o máximo que pude sem estragar as notas
que queria. Ela não faltou às aulas. Ela não falta ao trabalho.
A questão é que ela não deveria estar em Katy em uma
segunda-feira. Eu fico imediatamente desconfiada.

Abby: Por que você não está no trabalho?

Zoey: Você pode, por favor, parar de fazer


perguntas?

Abby: Não.

Abby: O que realmente está acontecendo?

Zoey: Te vejo daqui a pouco. Me manda uma


mensagem de onde te encontrar.

Zoey: Além disso, escolha um número, de um a


cem.

Abby: Número da sorte: quarenta e sete.

Zoey: Você é tão esquisita.

Abby: É um número primo.

Zoey: Veja minha mensagem acima.

Eu tento empurrar minha preocupação para o fundo dos


meus pensamentos quando chegamos na área de espera em
algum andar. Eu estava muito ocupada mandando mensagens
de texto e deixando papai me guiar pelo elevador e pelas portas
para prestar atenção.
Quando chegamos, é como se tivéssemos saído do hospital
e de repente estivéssemos em um daqueles grandes casamentos
familiares. Eu não tinha notado mamãe carregando uma bolsa,
mas ela é como Mary Poppins, tirando coisas que deveriam ser
banidas dos hospitais, como serpentinas rosa (que ela joga) e
confete rosa (que a mãe de Jessa joga) e champanhe rosa, que
papai desarrolla e começa a servir em copos de plástico rosa. Até
meus sobrinhos estão vestindo camisas cor-de-rosa onde se lê
Irmãzão. Eles parecem tão envergonhados quanto eu.
Acho que todo mundo está muito animado em ter uma
menina?
Nota para si mesmo: tenha meninos. Ou não dê à minha
família o nome do hospital onde estou parindo.
Exceto que eu não vou ter filhos porque o cara que eu
quero, o cara que eu acho que eu poderia amar, não lutou por
mim. O que significa que ele provavelmente não me ama de
volta.
É justo supor isso, quando eu não atendi suas ligações e
apaguei todas as mensagens de voz e textos sem ouvir ou ler?
Provavelmente não. Mas estou fazendo isso de qualquer
maneira.
Uma enfermeira corre com um segurança, tentando
diminuir o tom da festa rosa gigante da minha família. Mas é
mais como jogar um copo de água em um incêndio florestal,
especialmente porque mamãe e a mãe de Jessa trouxeram
champanhe, cidra e bolo suficientes para todo o saguão. Papai
tem até um charuto rosa apagado entre os dentes.
Estou igualmente envergonhada e orgulhosa quando o
segurança leva o champanhe, mas aceita um charuto e um
tapinha nas costas do meu pai. Nós somos essa família. Grande
e tão longe do limite que você não se lembra que há um limite.
Tenho vergonha, mas também adoro. E mais do que tudo,
eu quero ter isso para mim. A questão é que me concentrei no
trabalho, porque não achava que isso fosse possível para mim.
Eu contei com as minhas amizades, porque minhas quatro
melhores amigas são incríveis. Ficaremos juntas até ficarmos
velhas e grisalhas.
Era muito assustador arriscar meu coração por um cara que
poderia querer alguém diferente, alguém que parecia ou agia de
maneira diferente. Uma Charla, não uma Abby.
Mas Zane queria você, não Charla, uma parte teimosa do
meu cérebro está tentando me dizer.
Então por que ele não está aqui? Eu argumento de volta. Por
que ele desistiu de mim tão rápido? Sim, foi o que pensei.
Apesar do meu desejo pelo tipo de amor que vejo em meus
pais, em Jason e Jessa, e até na família de Jessa, não sei se posso
me abrir novamente. Eu não posso imaginar voltar à estaca zero
onde eu vou em um ou dois encontros, então estrago as coisas
e corro antes que eles tenham a chance de me deixar.
Porque é isso que acontece quando eu não puxo a escotilha
de escape. Acabo com o coração partido no saguão do hospital,
vendo a festa continuar sem mim.
— Bem, você não é uma desiludida? Você não deveria estar
comemorando?
Eu me assusto com a voz de Zoey, então pulo e agarro ela
como se eu não a tivesse visto alguns dias atrás.
— Uau, tudo bem. — Ela dá um tapinha nas minhas costas,
seus braços presos em um ângulo estranho pelo meu ataque de
abraço.
— É tão bom ver você.
— Você está bem? — ela pergunta quando eu não a deixo
ir.
— Não muito.
Eu amo Zoey. Estou visceralmente feliz por ela estar aqui,
seja qual for o motivo. Mas no momento em que me lembro
que ela é gêmea de Zane, meu estômago afunda como um navio
virado, indo de barriga para cima antes de desaparecer sob a
água escura.
— Abby…
O que quer que ela ia dizer é interrompido por um aplauso.
Jason emerge de um conjunto de portas duplas, seu rosto
iluminado por dentro. É um olhar que eu já vi nele duas vezes
antes. Estou pulando na ponta dos pés de excitação.
— Addie está aqui — ele anuncia, bombeando os dois
punhos no ar.
Zoey e eu nos juntamos à confusão, já que todos os
estranhos que dividiram o bolo e o estoque secreto de
champanhe que a segurança não confiscou se reuniram para
dar os parabéns. Costas são esbofeteadas. Abraços são dados.
Outra garrafa secreta de champanhe é estourada. Esta, o
segurança finge que não vê.
Percebo que Zoey está apertando minha mão, e eu aperto de
volta, dando-lhe um sorriso.
— Ei — ela começa de novo, inclinando-se para ser ouvida
sobre o barulho.
Mas a voz de Jason se eleva acima de todos os outros sons.
— Onde está minha irmã? Abby?
Eu aceno minha mão livre, e os olhos de Jason travam nos
meus. Algo passa entre nós, uma corrente de entendimento.
— Vamos, esguicha. Você é a primeira. Ordens de Jessa.
Zoey parece em conflito, abrindo e fechando a boca, e então
ela solta minha mão.
— Eu volto já — eu prometo. Ela acena com a cabeça, seus
lábios pressionados juntos. Quando eu não estiver tão focada
na minha primeira sobrinha, preciso descobrir o que está
acontecendo com ela.
Por enquanto, meu foco é singular: ver aquela nova bebê e
segurá-la em meus braços.
O segurança tenta nos parar, já que Jessa ainda está em
trabalho de parto, ainda não em um quarto normal, mas Jason
insiste. Eles têm que colocar uma faixa especial no meu pulso
que o guarda examina. Lembro-me dos nascimentos dos meus
sobrinhos onde a segurança é sempre mais apertada quando se
trata dos bebês. Eu quero perguntar a Jason por que a pressa, e
por que eu, mas na verdade não me importo. Eu só quero
conhecer Addie.
Eu nunca pensei muito em ter filhos até que Jason começou
a procriar. A primeira vez que vi Jace, foi como uma fechadura
destravada em algum lugar profundo do meu coração.
Olhando para suas bochechas macias e olhos inchados, senti
uma onda de amor tão feroz que arrancaria o rosto de qualquer
um que o machucasse. Claramente sentindo o mesmo, Jace fez
um pequeno som e então cuspiu em cima de mim.
Foi amor.
Jason coloca o braço em volta de mim enquanto me conduz
pelo corredor, respondendo à pergunta que não fiz.
— Tecnicamente, você não deveria entrar ainda, mas Jessa
insistiu. Ela ainda está terminando.
Não tenho ideia do que isso significa, nem mesmo quando
entro na sala e vejo uma onda de atividade acontecendo entre
as pernas de Jessa, ainda nos apoios. Esta não é a cena que eu
esperava, e estou devidamente escandalizada.
Eu empaco na porta, mas é tarde demais. Jessa me vê e
inclina a cabeça, me convidando para entrar, desafiando o
médico entre suas pernas a dizer uma palavra com seu olhar
assustador. Jessa é incrível, e definitivamente não é o tipo de
mulher com quem você discute, mas principalmente não
quando ela acaba de empurrar um pequeno humano para fora
de seu corpo. O médico parece concordar e volta para o que
quer que esteja fazendo.
— Não se preocupe com eles — Jessa diz, acenando com a
mão para o médico e as enfermeiras. — Eles são apenas...
Jessa para e grunhe, respirando pesadamente. Um pequeno
grito estridente me distrai, e percebo que perdi Jason. Perto da
porta do banheiro, há um carrinho com uma cesto de plástico
em cima. Uma luz brilhante sobre a criatura mais linda que eu
já vi.
Não no padrão típico de beleza. Mesmo com o pequeno
gorro de tricô, sua cabeça tem aquela coisa de cone, e seus olhos
estão bem fechados, brilhando com uma pomada que a
enfermeira está aplicando. Mas esse bebê ainda é lindo.
Quando a enfermeira termina, ela sorri e cuidadosamente
entrega Addie para Jason.
Meu coração incha quando ele enrola minha nova sobrinha
em seu peito. Meu irmão, que era um nerd ainda maior do que
eu e que me provocava impiedosamente do jeito de irmão mais
velho, tem o sorriso mais suave imaginável em seu rosto.
Para me distrair dos ruídos um pouco horríveis que Jessa
está fazendo na cama, lavo minhas mãos na pia por pelo menos
dois minutos em água fervente, esperando minha vez de segurar
Addie.
Como se sentisse minha urgência, Jason me entrega minha
pequena sobrinha enfaixada quando me viro. É instalove, eu e
este pequenino pacote de uma nova pessoa.
— Oi, Addie — eu sussurro. — Ame seu nome. Somos
quase iguais.
— Esse foi o motivo — diz Jason, sua mão pousando no
meu ombro.
Eu pisco para ele.
— Sério?
Ele sorri, balançando a cabeça e parecendo que está prestes
a dizer outra coisa quando Jessa chama sua atenção.
— Jase. Eu preciso de você — ela resmunga, parecendo mais
o Incrível Hulk do que humana. Jason corre para a cabeceira
dela, enxugando o suor da testa de Jessa e apertando sua mão.
Eu olho para Addie, emoções conflitantes subindo e se
entrelaçando para formar um nó na minha garganta. Lágrimas
ardem em meus olhos, e eu balanço, segurando-a perto,
absorvendo aquele cheiro de bebê novo.
Atrás de mim, há um gemido de alívio e depois mais
atividade da equipe do hospital. Pensando que provavelmente
não quero saber o que está acontecendo, concentro-me nas
bochechas rosadas perfeitas e na pequena curva de uma boca
que está imitando os movimentos da amamentação. Se bem me
lembro, a qualquer minuto ela vai começar a procurar leite que
não estou produzindo no momento.
Eu me viro para Jessa, mantendo meus olhos fixos na
metade superior dela, e não no que está acontecendo lá
embaixo. Posso querer filhos, mas não estou pronta para os
detalhes sangrentos de trazê-los ao mundo.
— Eu gostaria de manter isso e plantar uma árvore sobre ela
— Jessa está dizendo, travada em uma intensa batalha gritante
com o médico. Meu irmão faz um barulho estrangulado.
Manter o que?
Não pergunte. Não pergunte. Não pergunte.
— É contra a política do hospital. Sinto muito — diz o
médico. — Você pode plantar todas as árvores que quiser, mas
não com sua placenta.
Sim. Eu não queria saber.
Jessa parece pronta para discutir, mas então, ela vê Addie e
suaviza. Ela estende a mão para ela, e eu me aproximo, passando
Addie como o mais precioso dos tesouros. Que ela é. Meus
braços se sentem instantaneamente desolados.
— Tudo bem — Jessa diz, em uma voz pegajosa de conversa
de bebê que é tão diferente de seu sarcasmo habitual. — O
velho médico malvado pode manter minha placenta. Eu posso
ficar com você. Sim, eu posso!
Jason faz outro barulho de asfixia, e eu luto contra uma
onda de náusea. Trocamos olhares horrorizados. São duas vezes
mais do que eu precisava ouvir a palavra placenta.
Especialmente porque eu suspeito que é exatamente isso que a
enfermeira acabou de embrulhar ao pé da cama em um saco de
lixo hospitalar.
Bebês? Incrível.
Nascimento? Um milagre nojento.
Duas enfermeiras começam a cuidar da área do estômago de
Jessa. Ela estremece um pouco, mas é distraída por Addie, que
definitivamente está fuçando por aí agora, fazendo pequenos
sons engraçados enquanto sua cabeça se move para frente e
para trás. Ela perdeu o gorro, e Jason o coloca ternamente de
volta sobre seu cabelo loiro claro enquanto ela mama.
— Ei, cuidado aí embaixo — Jessa diz, mordendo o lábio.
Não tenho certeza se ela está falando com Addie ou com as
enfermeiras. Provavelmente ambas.
Eu dou uma olhada para Jason.
— Embora eu aprecie ser a primeira a conhecer a senhorita
Addie, acho que seria melhor vocês terem um pouco de
privacidade.
Não que eles estejam sozinhos. Várias enfermeiras estão
limpando as coisas lá embaixo, enquanto uma continua
atacando o abdômen de Jessa.
— Espere — Jessa diz, trocando um olhar com Jason. —
Nós a convidamos primeiro porque queremos que você seja a
madrinha de Addie.
Sou imediatamente uma poça de lágrimas.
— Sério?
Jessa acena com a cabeça, também chorando, e eu envolvo
meus braços em volta do meu irmão, apertando-o o mais forte
que posso.
— Obrigada! Não sei o que faz uma madrinha, mas vou
pesquisar no Google. Ou você pode simplesmente me avisar.
Existe um manual?
Jason afasta meus dedos de sua cintura quando eu não o
solto.
— Não pense demais, esguicho. Conversamos depois. Volte
e diga ao resto deles que vamos chamá-los quando eles nos
mudarem para uma sala de verdade.
— Sim. Ninguém deveria ver isso — eu digo, e Jessa bufa.
— Achei que seria educativo para você — diz ela.
— Estou com medo agora — eu digo inexpressivamente.
Exceto que eu não estou Ver e segurar Addie – minha
afilhada – só faz a dolorosa perda de Zane doer mais.
Felizmente, Jason e Jessa assumem que minhas lágrimas são de
felicidade enquanto tento seguir uma enfermeira pelo
corredor.
Pelo menos, tentamos sair pela porta.
Há uma comoção no corredor. O que parecem ser dezenas
de balões de hélio preenchem o espaço, tornando o salão um
caleidoscópio enquanto as luzes do teto filtram através do arco-
íris de balões.
Há um homem que eu nem esperava ver parado do lado de
fora da porta, segurando um punho cheio de cordas de balão.
Seus olhos estão cheios de saudade, de desculpas, de amor.
— Zane?
— Eu sinto muito, Abby. Eu amo…
— Senhor — diz a enfermeira. — Você não pode vir aqui
com isso. Você tem uma pulseira?
A confusão nubla seu rosto.
— Não, eu apenas segui alguém pelas portas. Eu não…
— Segurança! — Outra enfermeira grita.
— Espere — eu digo. — Ele está comigo. Estamos saindo.
Eu vou pegar a mão de Zane para que eu possa tirá-lo daqui,
quando há um estrondo alto. Então outro.
Eu sei que são os balões estourando. Não tiros. Mas meu
instinto é mergulhar no chão. Estaria em boa companhia.
Várias pessoas estão no chão, com as mãos sobre a cabeça. De
uma sala próxima, uma mulher grita.
Os olhos arregalados de Zane encontram os meus.
— Abby…
E é aí que o segurança o aborda.
Estou tão atordoada que não me mexo por um segundo.
Zane perde o controle sobre os balões, e todos eles balançam até
o teto, vários outros estourando. Há mais gritos e um alarme
está soando em algum lugar. Os bebês estão chorando.
A cabeça de Zane salta por baixo do guarda, os olhos
arregalados e em pânico.
— Abby! Ai! — O segurança empurra o joelho nas costas de
Zane, prendendo-o no chão. Zane se mexe sob o homem,
tentando encontrar meu olhar. — Eu preciso te contar uma
coisa!
— Senhor! Pare de lutar comigo. Você não está autorizado
a voltar aqui. Estou levando você sob custódia.
— Você pode me deixar terminar essa conversa? Então me
leve para onde você precisar.
— Não. Fique quieto e parado — diz o segurança. Eu tenho
um desejo repentino de chutá-lo nas canelas.
— Eu te amo! — Zane grita, e eu juro que ouço alguém
dizer: — Awww!
— Você me ama? — Eu pergunto, sorrindo como a tola
doente de amor que eu sou.
— Eu te amo, e sinto muito por não ter te mostrado isso. Eu
sei que te decepcionei. Não posso prometer que não vou
decepcioná-la novamente. Mas eu quero tentar. Eu te amo,
Abby.
— Senhor, pare de se mexer!
Os olhos de Zane encontram os meus, e ele tem aquele
sorriso que eu amo. O que eu não tinha visto até recentemente,
e agora sinto que não poderia viver sem. A inquietação que vive
na minha barriga há dias se foi, e o mundo parece certo
novamente. Exceto que Zane está prestes a ser algemado, e toda
a sala está estranhamente colorida por causa dos balões, dando
uma sensação alucinógena.
— Por que os balões?
— Você é minha Ellie — Zane diz, referenciando o filme Up
- Altas Aventuras que assistimos juntos no resort.
E de repente, essa cena faz muito mais sentido. É pensativo
e adorável. E seria romântico se não fosse por toda a questão da
segurança do hospital.
— Pelo menos, eu quero que você seja minha Ellie. Sem a
coisa toda de morrer cedo demais. E talvez sem a casa voando
para a América do Sul.
— Eu também te amo — digo a ele, e então me encolho
quando o segurança empurra o rosto de Zane para o chão.
Meu irmão sai do quarto atrás de mim.
— O que está acontecendo?
O guarda finalmente prende os pulsos de Zane com
braçadeiras brancas.
— Meu namorado está sendo preso — digo a Jason,
sorrindo. — Este é o Zane. Zane, conheça meu irmão Jason.
— Ei — Zane resmunga.
Jason olha para Zane, para os balões, então acena para mim.
— Bem, acho que os parabéns servem para nós dois.
CAPÍTULO VINTE E SEIS

Zane

NO QUE DIZ RESPEITO AOS grandes gestos, acho que o meu foi
um pouco grandioso demais. Talvez se eu tivesse quatro balões,
não quarenta e sete. Ou se eu tivesse esperado até que eu tivesse
a pulseira de segurança certa para a ala da maternidade e ala dos
partos. As minhas ações eram suspeitas. Essa é a impressão que
tive do joelho do segurança nas minhas costas. E enquanto eu
estava sendo detido no que tenho certeza que era sua sala de
descanso, quando gritaram comigo por não seguir a política do
hospital e causando pandemônio e pânico.
Depois de falar com vários administradores do hospital e
um policial de verdade, explicando que os balões eram um
presente, e não uma maneira de bloquear as câmeras de
segurança para sequestrar um bebê, eles me liberaram com
vários avisos.
Abby está esperando do lado de fora da sala, e todo o meu
corpo reage. Minha boca já está sorrindo, meu coração batendo
em um ritmo rápido, e minhas mãos coçam para tocá-la. Sem
esperar por permissão, eu a envolvo em meus braços,
levantando seus pés do chão e segurando-a no meu peito. Ela
tem o tamanho perfeito.
— Você está bem? — Abby murmura, aconchegando-se
ainda mais, seus lábios roçando meu pescoço. — Alguma
violência policial para relatar?
— Vou ter hematomas nos pulsos e nas costas, mas, no geral,
acho que me safei com facilidade pelo meu crime.
— Que foi?
— Não ter vindo atrás de você para me desculpar mais cedo.
Abby se vira e pressiona seus lábios nos meus. Sou pego de
surpresa, mas só leva um minuto para acompanhá-la. Talvez
um pouco rápido demais, mas estou me sentindo desesperado
por qualquer garantia de que isso é real. Depois de um
momento, Abby ri e se afasta. Nós dois estamos respirando
pesado demais para um corredor de hospital. Eu a solto um
pouco relutantemente, mas mantenho sua mão na minha.
— Zane, eu errei também. Talvez mais do que você.
Provavelmente mais do que você. — Ela suspira, e antes que eu
possa argumentar, ela continua. — Sam me disse que eu saboto
as coisas, e acho que ela está certa. Fiquei com medo e atribuí
muita culpa a você. Eu reagi impulsivamente e corri assustada.
Você pode me perdoar?
Eu me inclino para mais perto, até nossas testas se tocarem.
— Eu perdoo. Ambos cometemos erros. Você ainda quer
fugir? — Ela balança a cabeça, e eu pressiono um beijo rápido
em seus lábios. — Que tal perdoarmos e seguirmos em frente?
Confiança total. Chega de ter medo. Ou, se estivermos,
conversamos sobre isso.
— Acho que posso lidar com isso — diz ela. — Agora, a
grande questão. Quer ir conhecer a minha afilhada? — ela
pergunta.
Eu me afasto apenas o suficiente para que eu possa olhar
para ela.
— Sua afilhada? Isso é incrível. Sim. Talvez eu... tenha
permissão?
Abby cutuca meu ombro.
— Vamos deixar os balões na sala de espera e conseguir uma
pulseira oficial para você. — Ela segura a faixa de plástico
branca em seu braço.
Eu deveria estar nervoso em conhecer a família dela – não
estou contando o momento em que seu irmão me viu sendo
maltratado pela segurança – mas estou apenas animado. E dez
minutos depois, as apresentações foram feitas, e estou sentada
em um sofá de plástico desconfortável com Abby aninhada ao
meu lado. Onde ela pertence.
Um pequeno barulho me faz olhar para o bebê nos braços
de Abby. Não consigo ver a cor do cabelo dela sob a touca, mas
suas bochechas estão coradas e cheias. Seus dedinhos escapam
do cobertor em que ela está enrolada. Eu nunca vi uma unha
tão pequena antes. Isso me enche de admiração e algo mais
profundo, uma sensação de amor e conexão com Abby. Um
desejo de mais.
Minha experiência com recém-nascidos até hoje foi nula,
mas estou chocado com a naturalidade disso. Eu. Abby. Um
bebê.
Compre um anel para ela primeiro, idiota.
Essa é a voz de Zoey na minha cabeça, e eu não discordo. Na
verdade, já estou pensando em perguntar à minha irmã o que
Abby gostaria. Porque eu suspeito que Abby não é uma garota
do tipo platina e diamante. Talvez algo azul, como sua cor de
cabelo atual, que eu poderia amar mais do que o rosa.
Os lábios de Addie começam a trabalhar e ela grunhe, sua
cabeça começando a balançar para frente e para trás.
— Ela está com fome — diz Abby. — Eu odeio acordar
Jessa.
— Mas ela pediu — eu a lembro. — Ela queria alimentar sob
demanda, certo?
Estou muito orgulhoso do novo vocabulário no qual me
adaptei nas poucas horas que passei no hospital. Coisas como
alimentação sob demanda, amamentação e alojamento
conjunto. Quando for a hora, prometo conhecer todos os
termos e ser o melhor apoio que puder ser. Muito parecido com
Jason, que aparece na porta com um café para Abby e comida
chinesa para Jessa.
Eu ajudo Abby a se levantar e observo enquanto ela
gentilmente acorda Jessa, que parece exausta, mas mais do que
feliz por ter Addie de volta em seus braços. Ela também está
animada com a comida chinesa. Mas comparado a lascas de gelo
e comida de hospital, quem pode culpá-la?
Jason passa o café para Abby como um bastão antes de ficar
imerso em seu novo membro da família, e então estamos no
corredor, acho que indo para a casa dos pais de Abby para
ajudar a cuidar de seus sobrinhos. Zoey já está lá.
Meu braço está em torno de Abby, onde esteve nas últimas
horas. Seria necessário um guindaste para me tirar daqui agora.
Eu estraguei tudo na primeira vez que a deixei ir, e não estou
planejando fazer isso de novo.
— Que horas são? — Abby pergunta, bocejando.
— Eu não sei.
Abby pega minha camisa e me puxa para uma pequena
alcova com máquinas de refrigerante e salgadinhos. Minha
mente imediatamente começa a pensar em beijos, mas ela tem
um olhar preocupado em seu rosto.
— Por que você não sabe que horas são? Por que você não
está no trabalho? Você e Zoey faltarem é algo de nível
apocalíptico.
Eu rio, sentindo uma liberdade que eu não sabia que estava
perdendo até agora, ouvindo sua preocupação. Apesar de estar
no hospital com Abby por horas, não tive a chance de explicar
muito a ela. Fomos direto da sala de segurança para o beijo, para
conhecer Addie.
Levanto minhas mãos, segurando o rosto de Abby, amando
a suavidade de sua pele contra as minhas palmas. Suas mãos
encontram o caminho para as minhas, me segurando no lugar.
— Eu estou saindo da Eck0.
Seus olhos se arregalam e ela tenta balançar a cabeça. Eu a
seguro no lugar.
— Mas você não pode! Isso é sua coisa!
— Não — eu digo a ela, acariciando meus polegares sobre as
maçãs de seu rosto. — Não foi difícil sair. Eu não quero essa
vida. Não quero trabalhar com Jack. Nós escrevemos em uma
cláusula apenas para o caso desse tipo de coisa acontecer. Vou
ajudar no lançamento, mas mais como um contratado.
Horários mais flexíveis.
— Mas o dinheiro... todo o tempo você gastou!
— Eu não vou embora de mãos vazias. Eu vou ficar bem. E
meu tempo não foi desperdiçado. Eu aprendi muito. Eu ganhei
dinheiro. Talvez não tanto quanto eu ganharia se ficasse a
longo prazo. Mas aprendi especialmente o que é mais
importante para mim e o que não é.
Abby pisca seus grandes olhos castanhos para mim. Eu me
pego estudando-os, notando as cores e a forma como eles
mudam. Hoje, eles são mais castanhos claros com um pouco de
verde ao redor de suas pupilas. Ela é tão bonita, e tenho a
sensação de que ela nunca vai entender o quanto. Mesmo que
eu diga a ela muitas vezes. O que pretendo fazer.
— Você é tão linda — eu digo a ela. — E eu gosto do azul.
— Melhor que o rosa?
Eu balanço minha cabeça.
— Eu amo todas as suas cores, Abby.
Embora eu odeie desperdiçar o sorriso se espalhando em seu
rosto, mal posso esperar para beijá-la mais. Usando meu corpo
para colocá-la mais fundo na alcova e fora de vista, pressiono
meus lábios nos dela, precisando da conexão. Precisando dela.
Eu planejava ser doce e suave, querendo que Abby soubesse
e sentisse o quanto eu a valorizo, o quanto eu senti falta dela
mesmo nesses poucos dias separados. Mas ela parece
compartilhar a mesma fome que eu sinto, e a pressão e o roçar
de nossas bocas tornam-se desesperados, como se tivéssemos
acabado de atravessar um deserto e encontrado o oásis depois
de passar miragem após miragem.
Minhas mãos deslizam para emaranhar em seu cabelo macio
e seus punhos agarram a frente da minha camiseta, me
mantendo no lugar.
Como se houvesse algum lugar que eu preferisse estar.
Quando nos separamos, nós dois ficamos sem fôlego. Não
me sinto menos desesperado por essa proximidade com Abby,
mas ainda há tantas palavras que precisam ser ditas.
— Já te disse que te amo hoje? — Eu pergunto.
Abby sorri.
— Eu não consigo me lembrar. Talvez você precise me dizer
novamente. Apenas no caso de não ter dito.
Deixei minhas mãos caírem em sua cintura, segurando-a
perto, sentindo-me possessivo e carente e também de alguma
forma completamente satisfeito. Como se estar com Abby
fosse o certo.
— Eu te amo — eu digo a ela, dobrando para que nossas
testas se toquem. — E eu pretendo dizer isso a você todos os
dias.
— Eu também te amo. Eu nunca teria planejado isso. Mas
foi a melhor surpresa.
Realmente foi. Fechando a distância entre nós, beijo a ponta
de seu nariz, levemente, provocando. Meus olhos examinam
seu pescoço. A borda de sua tatuagem de camaleão aparece
perto de sua clavícula. Eu tenho tantos lugares para beijar e
reivindicar. Tanta coisa para explorar.
Não se apresse. Lentamente e constante se ganha a corrida.
Estou grato por não estar ouvindo isso na voz de Zoey, porque
beijar Abby é o último lugar em que quero estar pensando na
minha irmã.
— Eu tenho uma ideia — Abby diz. — Você está dentro?
Quase peço para ela me dizer o quê é antes de concordar,
mas esta é Abby. Provavelmente é algo que eu nunca teria
pensado, algo que vai me tirar da minha zona de conforto e que
mais tarde eu vou amar.
— Contigo? Estou sempre dentro.
Seus olhos se iluminam.
— Você pode se arrepender disso mais tarde.
— Eu não pretendo ter mais arrependimentos quando se
trata de você.
Ela beija o canto da minha boca, afastando-se antes que eu
possa capturar seus lábios. Eu gemo, e ela ri.
— Não foi essa a minha ideia. Embora vamos guardar isso
para mais tarde. Por enquanto, pensei que poderíamos pegar
quantos balões restarem na área de espera e iluminar a ala
infantil deste lugar. O que você acha?
— Eu digo que você está cheia de boas ideias — digo a ela,
roubando mais um beijo antes de pegar sua mão e puxá-la para
fora da alcova. Receio que possamos ficar tentados a ficar a
tarde toda se não o fizermos.
Eu entrelacei nossos dedos, então trago sua mão até minha
boca.
— Me desculpe por continuar beijando você em lugares
públicos estranhos.
— Não se desculpe — Abby diz. — Acho que talvez seja
algo que devemos manter na lista.
— Temos uma lista?
— Estou fazendo uma agora, à medida que seguimos.
Primeiro da lista: dizer eu te amo todos os dias.
— E o segundo é beijar em lugares públicos?
O elevador abre naquele momento, e de repente Abby está
me puxando para dentro. Está vazio, e ela me dá um sorriso que
faz uma parte profunda do meu corpo parecer que mergulhou
de um penhasco. As portas se fecham atrás de nós.
— Que tal lugares públicos, mas com um pouco de
privacidade? — ela pergunta.
Mas antes que eu possa responder, Abby está na ponta dos
pés com as mãos trançadas atrás do meu pescoço, puxando
minha boca sorridente para a dela. Eu poderia ficar aqui o dia
todo.
Quando o elevador para, eu quebro o beijo apenas para
colocar meus lábios perto de sua orelha para que eu possa
sussurrar na minha voz mais sexy algo que só Abby vai
entender.
— Linguagem HTML.
Rindo, ela me aperta com força.
— Ah, Zane. Você sempre sabe exatamente o que dizer.
EPÍLOGO

APAIXONADA PELO GÊMEO DA SUA MELHOR


AMIGA

Zoey

… PARA RESUMIR, eles dizem que você não pode deixar de se


apaixonar. Simplesmente acontece. Como cabelo frisado em
clima úmido ou derramar molho em seu colo quando você está
vestindo calças brancas.
Mas quando se trata do gêmeo da sua melhor amiga, você
deve proceder com cautela.
Como acontece com a situação de irmão de qualquer melhor
amiga, você precisa entender que um relacionamento romântico
pode afetar a amizade. Talvez acabe com ela.
Namorar um gêmeo leva as coisas para o próximo nível. É
como pedir um hambúrguer, mas receber o combo inteiro como
um upgrade grátis. Há algo especial sobre o relacionamento de
gêmeos. Claro, pode ser um estereótipo, mas na minha
experiência, o sexto sentido gemelar é uma coisa real. Apenas
perceba no que você está se metendo. Olhe antes de pular.

— O que você está lendo?


Eu praticamente caio da minha cadeira ao som da voz de
Gavin atrás de mim. Eu estava tão absorta lendo o rascunho do
capítulo de Sam que não ouvi meu chefe entrar. Fecho meu
laptop antes que Gavin possa ver que não estou lendo
memorandos do escritório ou respondendo e-mails de clientes.
Eu mantenho minha voz fria, minha expressão em branco.
É minha armadura, minha única linha de defesa contra meus
sentimentos por meu chefe. Sobrecompensação total.
— Nada. Por quê? Você precisa de algo?
Como eu?
Eu cerro os dentes, desejando que minha vida mental
pudesse ser tão fácil de controlar quanto o resto da minha vida.
Sou a rainha da programação, a COO da produtividade e a
presidente da organização. Mas meu eu interior? Tem outras
ideias. Como aquela em que eu deveria ter uma queda pelo meu
chefe.
— Não. Pela primeira vez, estou apenas verificando você.
Gavin sorri com suas covinhas à mostra e coloca a mão no
meu ombro para um aperto rápido. Meu corpo inteiro acorda
com o contato. É como o disparo de partida dos meus dias de
corrida no ensino médio, e todos os meus hormônios decolam.
Partida falsa! Volte! A corrida acabou!
Mas meu pulso lidera a carga e já está na metade da pista em
um ritmo recorde. Devo ter endurecido sob seu toque, porque
as sobrancelhas escuras de Gavin se unem, e ele deixa cair a mão.
Ele dá meio passo para trás e eu estou agradecida, mas também
quero segui-lo com a minha cadeira giratória do escritório.
— Desculpe. Você está bem?
Defina bem. Porque se o fato de meu corpo ter decidido
abandonar todas as boas razões e pensamentos racionais, então
sim. Eu estou bem.
— Estou bem. Desculpe. Acho que estou um pouco
distraída.
Pelo seu maxilar forte e bem barbeado e seu cabelo escuro e
grosso que eu quero passar meus dedos. E pelas linhas de expressão
em seus olhos que me dizem que você pode ter dez ou mais anos
mais que eu, mas você os passou sorrindo.
— Vou deixar você voltar ao trabalho. Mas eu tenho um
projeto que acho que seria perfeito para você.
Perfeito para mim, como você é perfeito para mim?
Oh, meu Deus, eu vou matar meu subconsciente. Faço uma
nota mental para procurar cursos online que ensinem você a
manter sua vida mental sob controle. Eu preciso enfiar a minha
na prisão. Melhor ainda, confinar em uma solitária.
Gavin olha para o relógio, e eu olho para o pequeno
antebraço musculoso revelado quando ele empurra a manga
para o lado.
— Que tal você parar depois do almoço? O que acha de uma
hora?
Eu aceno, não confiando nas minhas palavras. Nos podcasts
sobre true crime em que papai me viciou, eles falam sobre algo
chamado vazamento, onde um culpado involuntariamente fala
sobre a sua culpa. Se eu falar demais agora, vou vazar por todo
o lugar.
— Eu tenho uma ideia melhor. Vou pedir o almoço.
Podemos conversar durante uma refeição. Como isso soa?
Como um encontro. Parece um encontro.
Exceto para toda a parte do trabalho.
— Claro.
Por fora, estou composta. Alguém observando pode até
dizer que pareço entediada. Dentro, há uma banda inteira agora
no centro da pista.
Eu provavelmente deveria ir para casa depois de ficar
doente. Ou desenvolver uma doença incurável. Talvez seja hora
de sair e mudar de empresa. Posso atualizar meu currículo antes
do almoço. Não é como se trabalhar em pesquisa de mercado
fosse meu objetivo final. Sou um pouco mais do que uma
assistente executiva de Gavin. Ele tem um desses, e então ele
tem a mim. Nancy cuida de sua agenda, e eu trabalho ao lado
de Gavin com projetos e participo de reuniões, o que me
permite aprender e fazer mais do que qualquer assistente faria.
Eu queria trabalhar em marketing ou empresa de
publicidade, mas este é o trabalho que encontrei depois da
escola. O salário é bom, e eu tenho uma tonelada de experiência
prática. Mas também... Gavin. Eu fico por Gavin, algo que
suspeito que todos na minha vida sabem, mas nunca vou
admitir.
— É um encontro — diz Gavin, e é como se todos os
hormônios correndo pelo meu corpo desmaiassem ao mesmo
tempo.
Juro que meu coração dá um pequeno pulo e a respiração
sai dos meus pulmões.
— Quero dizer, um encontro de trabalho — diz ele
rapidamente. — Um almoço de trabalho. Você sabe o que eu
quero dizer.
Rindo, ele passa a mão pelo cabelo.
Eu quero que seja minha mão, tocando as mechas macias,
sentindo seu couro cabeludo sob meus dedos.
Eu quero ele.
— Eu entendi.
Meu tom é muito curto, as palavras cortadas. Se eu der um
gelo em Gavin, ele não pode ver meus sentimentos. Estou
convencida de que é por isso que ele me escolheu para trabalhar
ao lado dele em vez das outras mulheres com quem trabalho.
Elas são óbvias em suas paixões, irritantemente. Vozes de
xarope. Flertes. Indiretas. Cílios batendo, botões desfeitos nas
blusas. Não posso contar o número de vezes que tive que lidar
com pensamentos homicidas em relação aos minhas colegas de
trabalho.
Eu sou a única que parece não ser afetada pela boa aparência
de Gavin e pela confiança que emana dele como uma espécie de
feromônio. Parece ser a palavra certa. Não é simplesmente sua
aparência, embora isso seja suficiente. Nos últimos anos, Gavin
estava no topo das listas como um dos solteiros mais cobiçados
de Austin e um dos homens mais ricos com menos de
cinquenta anos no estado do Texas.
Não que eu me importe com essas listas. Quero dizer, elas
não são nada para se levar em consideração. Mas meus
sentimentos pelo meu chefe não se desenvolveram com base em
sua riqueza (embora não seja exatamente um
desencorajamento), seu sucesso (embora eu o respeite) ou sua
boa aparência (que eu definitivamente admiro).
Meu crush por Gavin cresceu lentamente ao longo dos
últimos dois anos que trabalhei aqui. Quanto mais tempo
passo com ele, mais meus sentimentos se enraízam, como uma
daquelas trepadeiras invasivas e rastejantes das quais são tão
difíceis de se livrar. Papai tem uma que é recorrente, crescendo
na lateral da nossa casa e soltando a argamassa dos tijolos.
Gavin foi afrouxando o meu controle apertado pouco a
pouco, embora eu tenha certeza de que ele não tinha intenção
de fazê-lo. É apenas quem ele é.
Ele é um bom homem. Engraçado. Atencioso. Gentil. Mas
não de uma forma sentimental. Ele ainda arrasa totalmente
com essa coisa de macho alfa quando se trata de fechar
negócios. Ver seus olhos brilharem e sua mandíbula endurecer
enquanto ele assume o comando me fez querer me abanar com
uma pasta de arquivo em uma reunião.
— Você quer que eu peça para você, ou você gostaria de
escolher? — ele pergunta.
— Surpreenda-me — digo a ele, embora não tenha certeza
do porquê. Eu detesto surpresas. Dê-me normal, o esperado, o
certo todos os dias da semana.
Gavin esfrega a mão sobre o queixo em consideração
fingida.
— Hum. O que Zoey iria querer?
Você. Quero você.
Eu sinto que ele está piorando toda essa coisa de paixão com
cada palavra que ele fala. Eu realmente estou falando sério sobre
atualizar meu currículo. Talvez Zane conheça alguns lugares
que estão contratando. Eu sei que ele está procurando por um
emprego das nove às cinco desde que se apaixonou por Abby e
decidiu deixar não apenas sua startup, Eck0, mas toda a vida de
startup.
— Boa sorte — digo a Gavin. Imediatamente eu quero
colocar a mão na minha boca. Eu sei que minhas bochechas
ficam rosadas. Por um pequeno segundo, eu não mantive as
coisas sob controle e veja o que escapou: um flerte.
Gavin parece surpreso com o meu comentário, então me dá
um sorriso largo que parece uma deliciosa tortura.
— Ah, acho que consigo entender você, Zoey. E tenho
certeza que vou te fazer feliz.
De verdade! O homem poderia dizer mais coisas que eu
possa entender de outra maneira? Este almoço vai ser uma doce,
doce tortura.
Eu me afasto, sem me preocupar em dizer adeus quando
Gavin sai do meu pequeno escritório. Se ele acha que eu sou
rude, tudo bem. Melhor ele pensar que eu o odeio do que saber
a verdade: eu me apaixonei pelo meu chefe.
CENA BÔNUS: ABBY + ZANE PARA
SEMPRE

Zane

Estou olhando para o anel na palma da minha mão, virando-o


várias vezes, observando a jóia em estilo princesa lapidada em
ônix preto pegar a luz da manhã que vem através das árvores
altas na beira da propriedade de sua família.
Só consigo pensar no concurso de soletrar da terceira série.
Como finalista, eu tive que ficar em um palco no refeitório,
as luzes quentes fazendo um brilho de suor se formar no meu
rosto, enquanto a Sra. Mulch gritava palavra após palavra. Eu
era o último da fila e honestamente temia que eu pudesse
desmaiar. Ou suar em uma poça que pingaria da beirada do
palco.
Soletrei avental errado de propósito, só para acabar com a
tortura. O nervosismo desapareceu instantaneamente, mas
pelo resto do dia, minha camisa ficou um pouco úmida de suor.
Isso não é nada comparado aos meus nervos agora. E é
lamentável, porque eu não quero propor a Abby encharcado
de suor e cheirando como um vestiário masculino do ensino
médio.
Não é que eu espere que ela diga não... mas, então, quem
propõe realmente acha que vai ser recusado? Não. Mas de
acordo com a internet, na qual sempre podemos confiar para
obter dados precisos, um quarto das mulheres recusa
propostas.
Pense positivo, diz a voz de Zoey na minha cabeça. Isso
significa que três quartos dizem sim.
Fácil para ela dizer. Primeiro, ela é meu subconsciente, então
ela não conta. Segundo, a verdadeira Zoey provavelmente não
estará na minha posição, a menos que ela mude o roteiro e peça
seu namorado em casamento. Duvido que isso aconteça.
— Eu quase desmaiei quando pedi Jessa em casamento —
Jason sibila dos arbustos onde ele está escondido. Também nos
arbustos estão Jessa, Jace, Joey, Addie e a mãe de Abby. Eles são
muito bons, especialmente porque está muito frio nesta manhã
de Natal. Ontem, fez vinte e dois graus. Hoje está fazendo
quatro graus. Isso é o Texas, meu amigo. O pai de Abby está lá
dentro, pronto para seu papel, que é tirar Abby da cama e trazê-
la para cá. Não é um trabalho que eu invejo. Exceto que é mais
quente.
— É verdade — Jessa diz. — E ele desmaiou no nascimento
dos dois meninos. Ele desmaia com qualquer coisa.
— Ei! — diz Jason.
— É verdade. E eu te amo mesmo assim. Não se preocupe,
Zane. Ela vai dizer sim.
— Tudo bem — eu digo, mas eu tenho que limpar minha
testa com as costas da minha mão.
É quando ouço a voz sonolenta de Abby lá de dentro e o
som pesado das botas de seu pai.
— Por que estamos… — um bocejo interrompe a pergunta
— indo lá fora? E por que tão cedo? Posso pelo menos tomar
café primeiro?
— Calma, batata doce. Apenas saia de casa.
O gemido e o guincho da porta de tela fazem meu coração
bater forte no meu peito. O pai de Abby sai para a varanda, sua
respiração formando uma nuvem que se dissipa quase
imediatamente quando ele sorri para mim.
— Uau! — Abby grita, ainda fora de vista. — É um
cachorrinho de Natal? Um cabrito! Você finalmente me deu
um cabrito?
Droga. O anel de platina e ônix é incrível. Mas um anel com
um cabrito…
É tarde demais para pensar nessa proposta sem cabrito
porque Abby está no topo da escada, olhando para mim onde
estou ajoelhado.
Ela pisca os olhos sonolentos, uma mão indo para o cabelo,
que está meio caído de uma longa trança, os reflexos roxos
vibrantes ao sol da manhã. Seu pijama é felpudo e rosa com
linhas de código de computador neles, um presente de
aniversário meu há alguns meses. É a primeira vez que a vejo
neles. De repente, o anel parece tão pesado na minha mão. Eu
quero muito acordar todas as manhãs para ver Abby adorável e
meio acordada.
— Abby — eu digo, minha voz firme.
Encontrei minha determinação. Não estou mais nervoso.
Quero que Abby seja a primeira e a última coisa que vejo todos
os dias, pelo resto dos meus dias.
— Não — ela sussurra, e alguém nos arbustos, talvez Jessa,
suspira.
— Não? — Um buraco negro se abre no meu estômago, mas
antes que eu deixe isso me sugar em um vórtice de decepção, eu
me lembro que esta é Abby. Ela me ama. Ontem à noite, nós
demos uns amassos no sofá dos pais dela sob um ramo de visco
que ela prendeu no teto com fita adesiva. Eu espero que ela
explique.
Abby leva a mão ao cabelo e cruza os braços sobre o peito.
— Zane. Você não pode me pedir em casamento quando
estou assim! Não de manhã! Não antes do café! Apenas... espere
e deixe-me trocar!
Antes que eu possa me mover, ela sai correndo como um
bezerro nervoso, correndo de volta para a casa, deixando um
silêncio constrangedor em seu rastro.
O não, não foi uma recusa à proposta.
O não era por ser pedida em casamento de pijama.
Seu pai está na varanda, parecendo meio pasmo e meio
divertido. Quando ele vê a determinação nos meus olhos, ele
abre a porta de tela para abrir caminho para mim.
Eu subo as escadas da varanda em dois grandes passos.
— Abby! Volte aqui! Estou tentando propor!
Do andar de cima, eu a ouço chamar.
— Eu sei! E eu não vou receber um pedido de casamento
assim! Minha resposta é não, até que eu tenha pelo menos
escovado os dentes e colocado calças apropriadas!
Eu a no corredor do andar de cima, pouco antes de ela entrar
no banheiro. Ela grita quando me vê, deixando cair as roupas
em seus braços e cobrindo a boca.
— Mau hálito matinal! — ela grita através de sua mão. —
Eu não posso te beijar com bafo matinal!
Eu a agarro firmemente pelos quadris, mantendo o anel
enfiado na palma da minha mão com dois dedos.
— Eu não me importo com o mau hálito matinal — eu digo,
meus olhos ferozes encontrando os dela, que ainda estão
inchados. Assim como naquela manhã no resort, quando meus
sentimentos passaram de uma paixão para algo muito maior.
— Zane, por favor.
É o por favor que me pega.
— Certo. — Eu a solto, e ela corre para o banheiro, batendo
a porta. Eu inclino minha testa contra ela. — Mas apenas
escovando os dentes! Um minuto!
— Os dentistas recomendam dois minutos completos!
— Eu não sou dentista! Um minuto ou eu vou arrebentar a
porta!
Abby grita novamente e ouço a água correndo. Uma
garganta limpa ao pé da escada. Seu pai levanta uma
sobrancelha para mim, um olhar assustadoramente parecido
com o que meu pai dá. O resto de sua família está amontoada
na base da escada, observando. Seus sobrinhos parecem um
pouco horrorizados, e Addie voltou a dormir enrolada em um
cobertor felpudo com um gorro puxado sobre a cabeça. A mãe
de Abby está com as mãos no peito como se uma proposta de
casamento depois de uma discussão sobre pijama fosse a coisa
mais romântica que ela já viu.
— Eu vou pagar para consertá-la, é claro — eu explico ao pai
dela. — Mas eu vou quebrar isso se ela não sair em trinta
segundos.
Seu pai assente.
— Tudo bem.
A porta se abre, me assustando.
Abby conseguiu escovar os dentes, mas também ajeitou o
cabelo em um rabo de cavalo, lavou o rosto e aplicou brilho
labial.
Estreito meus olhos, mesmo quando sinto um sorriso
tentando se soltar.
— Eu disse apenas escovar os dentes.
Abby dá de ombros.
— Estou de pijama. Agora. Você não deveria estar de
joelhos?
A mulher tem razão. Eu caio de joelhos, feliz pelo tapete
macio que percorre todo o corredor. O cascalho do lado de fora
deixará hematomas.
Eu pego a mão de Abby.
— Abs. Eu sei que você não é uma pessoa matinal. Mas há
uma razão pela qual estou fazendo isso agora.
— Por que é a manhã de Natal?
Eu balanço minha cabeça.
— Não. É porque eu preciso que você entenda que eu quero
me casar com essa sua versão. Aquele recém-saída do sono com
cabelo bagunçado e olhos cansados e mal-humorada antes do
café. Eu amo Abby natural. E eu amo Abby, a brilhante hacker
e programadora. Abby sendo muito competitiva na noite do
jogo.
— Eu não sou…
— Você é — várias vozes do andar de baixo ecoam.
— Você trapaceia — Jace diz, e as bochechas de Abby ficam
rosadas.
— Eu não... tudo bem. Às vezes eu trapaceio. Certo.
Jace acena com a cabeça, como se tivesse feito sua parte.
— Eu amo a Abby que tem que vencer a todo custo. Que
decorou minha casa para torná-la um lar. Que cuida da minha
irmã e lutaria até a morte com qualquer um que pudesse
ameaçar seus amigos ou familiares. Eu amo todas as cores do
seu cabelo e eu amo o seu coração. Seu rosto é o que eu quero
dormir ao lado e acordar vendo.
Grandes lágrimas se acumulam em seus olhos, que são de
um verde brilhante esta manhã, com apenas um toque de
marrom dourado.
— Mesmo antes do café? — ela sussurra.
— Mesmo antes do café. Abby, você vai me fazer o homem
mais feliz do mundo e se casar comigo?
Eu levanto minha outra mão, segurando o anel entre dois
dedos. Seus olhos caem por meio segundo, então voltam para
os meus. As lágrimas ainda estão em seus olhos, prontas para
derramar a qualquer momento. Ainda assim, ela segura meu
olhar.
Eu franzo a testa.
— Você não gosta do anel?
— Tenho certeza que é lindo. Mas estou olhando para a
única coisa que importa agora.
Eu engulo em seco, a emoção apertando minha garganta.
— Sim, Zane. Sim! Eu adoraria me casar com você. —
Lágrimas gêmeas finalmente caem, pulando direto sobre suas
bochechas e caindo na minha mão.
E então eu estou de pé e a envolvo em meus braços,
pegando-a e balançando, o som de sua risada e os aplausos de
sua família no andar de baixo fazendo o momento parecer
maior, mais festivo.
— Eu te amo, Abby — eu digo, puxando seus lábios nos
meus. Ela é quente e tem gosto de sua pasta de dente de menta,
nova e fresca.
— Eu também te amo — diz ela contra meus lábios. Nós
nos beijamos até que há ruídos de engasgos de seus sobrinhos e
um assobio de lobo de Jason.
Quando eu me afasto, é para deslizar o anel em seu dedo.
Um encaixe perfeito, graças a Zoey me dando informações
privilegiadas.
— É lindo — Abby sussurra, olhando para o anel. Ela olha
para mim, e o amor em seus olhos é como uma chama
ignorando algo em mim. Nunca fica velho.
— Eu te amo — digo a ela novamente. Eu não consigo parar
de dizer isso.
Ela aperta meu braço.
— Eu também te amo, Zane. Mas por favor. Por favor.
Traga-me um café.
Eu sorrio, porque eu tinha pensado nisso. E acordei cedo,
fui no único café que encontrei aberto a esta hora da manhã de
Natal.
— Seu flat white está lá embaixo.
Abby sorri, me beija rapidamente e desce as escadas.
— Você realmente é o homem perfeito, noivo.
UMA NOTA DE EMMA
Você chegou à nota do autor! Dê a si mesmo um bom high five.

Estou planejando este livro e esta série há mais de um ano,


esperando até terminar (ou chegar perto de terminar) outras
séries que precisavam vir primeiro.

Foi TÃO bom finalmente começar a escrever! O resto dos


livros seguirá Zoey, Delilah, Harper e Sam enquanto lidam com
mais tropes de amor. Eu não posso esperar!

Comédia é uma coisa assustadora de se escrever.

Eu sinto que você realmente tem que se expor de uma maneira


ainda mais vulnerável do que apenas contar histórias para
começar. Eu sei que nem todo mundo acha as mesmas coisas
engraçadas. Eu também sei que nem todo livro é para todo
leitor.

Meus outros livros têm um tom um pouco mais doce, mas a


maioria tem elementos humorísticos, mesmo meus livros mais
sérios. Isso não será para todos, mas espero que você tenha
amado. Como estou escrevendo em 2020, acho que todos nós
poderíamos usar um pouco de alívio cômico.

Eu adoraria que você se juntasse ao meu grupo de leitores do


Facebook:

https://www.oFacebook.com/groups/emmastclair/
Se você não deixou uma resenha sobre este livro (ou meus
outros livros), isso significaria o mundo para mim! Muito
obrigado por ser um leitor!!

-e
OBRIGADA!
Um enorme obrigada a todas as pessoas nos bastidores por
fazerem este livro acontecer.
Para Rob, por sempre me dizer quando piadas sobre
placenta NÃO precisam estar nos meus livros.
Para Sarah Adams, uma autora incrível que me fez sentir
que isso poderia funcionar.
Para Stephanie, por sua honestidade. Você não tem ideia do
quanto eu aprecio isso!
A Judy & Devon, por detectar meus erros.
Para Jillian, Lori, Leslie, Rita, Judy, Lisa, Anna, Amberly,
Marsha, Lissa, Sandy e qualquer outra pessoa que eu perdi
nesta lista que leu cedo para mim! Vocês são realmente
incríveis.

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