Falling For Your Best Friend's Twin - Emma St. Clair
Falling For Your Best Friend's Twin - Emma St. Clair
Falling For Your Best Friend's Twin - Emma St. Clair
Abby
1
Ela fez um trocadilho com um backdoor. É um tipo de malware que nega
procedimentos normais de autenticação para acessar um sistema.
agora, graças à minha ajuda involuntária, ela nos atraiu para um
almoço com uma pauta de trabalho. Fantástico.
Sam levanta a voz e continua.
— Como eu estava dizendo, chamei todas vocês aqui hoje
porque tenho uma grande oportunidade e...
— Você precisa da nossa ajuda — Delilah, Harper e eu
dissemos em coro. Conhecemos esse roteiro de cor.
— Pessoal, se vocês apenas ouvissem! — Sam começa a falar
mais rápido agora, como se soubesse que estamos prestes a nos
amotinar. — Consegui um contrato para um livro. O que
significa que o almoço é por minha conta!
A mesa explode em aplausos, abraços e basicamente o caos.
Por enquanto, a irritação com Sam está esquecida. Nós
atormentamos uma à outra, mas nós cinco sempre nos
protegeremos. Este negócio do livro tem sido o sonho de Sam
desde que eu a conheci.
Nossa garçonete aparece, acenando com as mãos como se
quisesse nos calar. Zoey, que está em pé toda sua altura de
amazonas2 para abraçar Sam, a encara. A garçonete corre de
volta para a cozinha como se estivesse sendo perseguida por um
bando de dementadores de Harry Potter. Espero que ela não
esteja com muito medo para voltar e trazer a minha manteiga.
2
Referência as Guerreiras Amazonas, da mitologia grega, que possuíam
1,70m de altura e eram consideradas mulheres altas para a sua época.
Quando finalmente estamos todas sentadas e um pouco
mais calmas, Harper lança um olhar para Sam.
— Estamos todas super felizes por você. Mas a pergunta é: o
que você precisa de nós?
Sam mexe com seus talheres.
— Preciso reforçar minha presença online antes do
lançamento. Posts mais longos com conselhos sobre
relacionamento. Além disso, histórias que posso usar para
escrever o livro de verdade.
— Então, você precisa que nós escrevamos mais e-mails
falsos pedindo conselhos para você-sabe-quem? — Zoey
pergunta.
Sam recebe toneladas de e-mails como a Dra. Love, mas nem
todos são um bom entretenimento, que é o que diferencia sua
coluna: bons conselhos com uma pitada de sarcasmo. Há anos,
ela nos pede para enviar e-mails com nomes de usuários
anônimos com problemas de relacionamento falsos. Ela não
sabe quais são reais e quais são os nossos – embora, se ela
adivinhar, temos que pagar um jantar a ela.
— Fale baixo — diz Sam, olhando ao redor do restaurante.
Abby começou o Querida Dra. Love como uma coluna
local em um site de notícias de Austin, mas ficou tão popular
que é distribuído em grandes cidades em todos os Estados
Unidos. Quanto mais bem-sucedida ela se torna, com mais
medo Sam fica de sua identidade ser revelada. Ela diz que a Dra.
Love recebe tanto e-mails de ódio quanto pedidos de
conselhos, provavelmente por causa de todas as separações que
ela instigou.
— Definitivamente, continuem enviando e-mails, embora
algumas de vocês estejam ficando descuidadas em esconder suas
identidades. — Sam me dá um olhar aguçado.
Eu dou de ombros.
— A rivalidade DC versus Marvel é um problema
potencialmente real em um relacionamento.
Isso me faz ganhar vários revirar os olhos da mesa.
— Para o livro, precisarei de histórias maiores e mais
substanciais, não apenas perguntas. De preferência histórias de
amor reais. — Sam brinca com a ponta de sua trança escura.
Harper levanta uma sobrancelha.
— E você está nos perguntando?
Sam é a única em um relacionamento, então eu entendo
totalmente o ceticismo de Harper. No geral, parecemos
bastante mal sucedidas no que diz respeito ao amor.
Amaldiçoadas, se estou sendo honesta. Especialmente
considerando o fato de que somos todas atraentes à nossa
maneira e ninguém tem bigode, rabo ou algum tipo de hábito
estranho como coletar fiapos da máquina de secar roupa.
Zoey é totalmente focada em sua carreira e jura que não tem
tempo para namorar. Harper é linda, mas aterrorizante. Eu não
passo do segundo encontro com um cara há anos. E não tenho
certeza sobre Delilah. A ex-rainha da beleza não sente falta de
caras perseguindo-a. Eu vi dois tentando chamar sua atenção
apenas neste almoço. Mas além de um relacionamento a
distância enquanto estávamos na faculdade, ela não namorou a
sério.
Se Sam está contando conosco, ela pode estar com
problemas.
A garçonete chega com nossa comida, tomando cuidado
para evitar contato visual com Zoey. Ela ganha pontos comigo
trazendo dois recipientes de manteiga e café com um cheiro
incrível.
— Qual é a jogada? — Zoey diz, enquanto começamos a
comer. Eu meio que espero que ela pegue o telefone e comece
a fazer anotações detalhadas. — Existe um tema para o livro?
— Eu amo clichês. Você sabe, como as tropes comuns.
Eu levanto minha mão.
— Parei de entender na parte das tropes.
Eu posso falar código de computador fluente, mas a única
maneira que eu passei nas minhas aulas de inglês na faculdade
foi com as aulas intensas de Sam. Que envolvia madrugadas e
trufas de chocolate como recompensa por respostas corretas,
como se eu fosse um cachorro. Eu nem ligava, porque:
chocolate. E passei raspando com um C.
— As tropes são como a história central em uma comédia
romântica ou em um filme da Hallmark.
— Como o de Natal que vocês me forçaram a assistir? — Eu
pergunto. — Aquele em que a garota não sabe que o cara que
ela conhece online também é o Papai Noel no shopping onde
ela trabalha?
— E um bilionário — destaca Delilah. — Lindo de morrer.
Quem diria que o Papai Noel poderia ser gostoso?
— Sim! — Quando Sam ri, sinto que ganhei uma trufa de
chocolate. — Aquele filme tinha uma trope de identidade
secreta. Misturado com as tropes de namoro online e do
bilionário, que pode ser muito parecido com uma história de
gente rica com gente pobre.
— Esses enredos são todos tão falsos — diz Zoey. — Você
espera que nós namoremos Papais Noéis secretos ou
encontremos bilionários?
Sam levanta um dedo.
— As tropes são exageradas, com certeza. Mas há uma razão
pela qual elas são populares. Eles são comuns. Quase universais.
Pense nisso. Quantas de vocês conhecem alguém que se
apaixonou pelo melhor amigo?
Todos nós olhamos para Harper. Sua pele cor de oliva fica
vermelha, mas ela finge não notar que todos nós estamos
olhando. Estamos tentando dizer a ela há anos que seu melhor
amigo, Chase, está apaixonado por ela, mas ela não quer saber
disso. Eu acho que ela está apaixonada por ele também, mas ela
definitivamente não está pronta para enfrentar essa verdade.
— Ou pelo chefe deles? — Sam pergunta.
Todos nós tentamos não olhar para Zoey, que com certeza
vai nos matar com seus olhos de laser se falarmos sobre seu
chefe gostoso, mas muito mais velho e muito fora dos limites,
Gavin.
— Há toneladas dessas coisas. — Sam começa a contar em
uma mão. — Relacionamento falso, romances com segunda
chance, cowboy, inimigos para amantes... você entendeu.
Harper revira os olhos.
— Sim, mas que tal um relacionamento falso? Isso é
ridículo. Assim como a maioria dessas histórias. Elas são
previsíveis e totalmente irreais.
— Eu tive um relacionamento falso — diz Delilah,
mordendo o lábio para conter um sorriso.
— Poderia ter sido — diz Harper com uma risada.
— Na verdade — eu digo. — Eu também.
Agora todas estão rindo. Se não fossem minhas amigas,
todas estariam mortas para mim. Mortas.
— Você teve? Precisamos de detalhes — Zoey diz.
— Foi no acampamento de codificação no verão antes da
sétima série. Havia uma grande briga entre as duas equipes
sobre nosso código-fonte e, assim, para distrair o melhor
programador da outra equipe...
Zoey levanta a mão.
— Você já disse o suficiente. Eu deveria saber que isso teria
a ver com computadores.
— A maior parte da minha vida tem a ver com
computadores. Não se esqueça de quem consertou seu laptop
quando você pegou um vírus ao abrir aquele anexo com…
— De qualquer forma! De volta às grandes novidades do
livro de Sam! — Zoey grita.
Eu sorrio, amando esse pequeno trunfo sobre Zoey.
Ninguém pensaria menos dela por tentar abrir um anexo
mostrando fotos secretas de um certo irmão Hemsworth de
sunga em uma praia particular. Se eu ganhasse um centavo para
cada pessoa que pegou um vírus, me aposentaria e compraria
minha própria ilha.
Não é nada para se envergonhar, mas Zoey não quer admitir
que por baixo de sua fachada de negócios, ela tem um outro
lado. Ela é como uma tainha, negócios na frente, mas muita
diversão escondida atrás. Bem lá atrás, atrás de uma cerca de
arame farpado. Eu vi o outro lado de Zoey apenas um punhado
de vezes, e é como um avistamento de unicórnio. Muitas vezes
me pergunto se Zane, igualmente tenso e todo profissional, tem
o mesmo lado divertido escondido em algum lugar. Eu pagaria
um bom dinheiro para ver isso.
— Por que você não usa seu próprio relacionamento? —
Harper sugere.
— Seria perfeito! — Delilah diz. — Vocês são adoráveis.
— Eles são perfeitos demais — Zoey resmunga.
Ela não está errada. Matt, o namorado de Sam, está a cerca
de três segundos de ser seu noivo, e eles têm um desses
relacionamentos perfeitos. Enquanto estamos todas felizes por
sua inevitável proposta, a primeira de nós a se casar será como
o primeiro dominó a cair. Vai atrapalhar o delicado equilíbrio
entre colegas de quarto e amigas que mantemos há anos.
Mais importante, por causa do mercado imobiliário de
Austin, sem nós cinco, não podemos pagar o aluguel da casa em
que moramos há dois anos desde a formatura. É uma
localização incrível na moderna área de South Congress. A casa
histórica em estilo de artesão foi atualizada e renovada, então
cada uma de nós tem seu próprio quarto, mesmo que seja
pequeno. Até que nossas circunstâncias mudem, ou a menos
que a dona, que é uma senhora mais velha, morra e seus filhos
aumentem o aluguel, é a casa perfeita.
— Eu sei que estou pedindo muito — diz Sam, recostando-
se na cadeira. — Eu não estou tentando forçar vocês a fazer isso.
Apenas continuem o que já estão fazendo, e se acontecer de você
se depararem com um desses clichês ou tropes de amor, deixem-
me escrever sobre isso. Seus nomes serão alterados, obviamente.
Não vou compartilhar coisas que deixem vocês
desconfortáveis.
— O que ganhamos? — Zoey pergunta.
Eu cutuco seu ombro.
— Além de ajudar nossa boa amiga, você quer dizer.
Zoey assente.
— Certo.
Sam se inclina sobre a mesa e abaixa a voz.
— Meu adiantamento foi bem alto. Tipo, seis dígitos.
Leva um minuto para processarmos isso. Além de Delilah,
que já tentou de tudo, desde passear com cães até ser modelo,
estamos todas indo muito bem. Mas nada com um
adiantamento de seis dígitos.
— Eu preciso que isso funcione — diz Sam. — Preciso
vender meu livro para recuperar o adiantamento e garantir
outro negócio. Então, tenho uma ideia para agradecer as
minhas incríveis colegas de quarto que me ajudaram a chegar
aqui. Se Matt propor...
— Quando Matt propor — interrompe Harper.
Sam sorri e cruza os dedos.
— Quando Matt me pedir em casamento, continuarei
contribuindo com o aluguel pelo primeiro ano após o nosso
casamento.
Estamos todas atordoadas em silêncio. Isso é um grande
presente. Chocante, especialmente vindo de Sam. Não que ela
seja exatamente egoísta, mas ela não é a primeira das minhas
amigas que eu pediria ajuda. Este é um mau negócio para ela,
mas é ótimo para nós. Eu, por exemplo, não estou prestes a dizer
não.
— Fechado — eu digo. — Precisamos agitar as mãos ou
assinar algo com sangue?
Zoey toca minha mão.
— Isso é um grande negócio. Talvez devêssemos ir com
calma e pensar sobre isso.
Sam balança a cabeça.
— Já pensei nisso. Eu não teria tido tanto sucesso sem o
apoio de vocês. Eu quero fazer isso.
— Sam quer fazer isso — eu digo.
Harper sorri para mim.
— Você tem certeza disso? Pode significar que você tem que
ir a mais de um encontro com um cara, Abs.
— Ha-ha.
Eu tento abafar a dor. Porque isso me incomoda. Eu
simplesmente não me interessei por nenhum dos caras com
quem sai. Ainda assim, o que eu chamo de minha maldição do
primeiro encontro (na verdade, uma maldição do primeiro e do
segundo encontro) parece minha culpa de alguma forma. Eu
sou como a garota que é mandada para casa na primeira noite
do Bachelor3, que nem sequer recebe um artigo de
recapitulação em um blog.
Debaixo da mesa, Zoey agarra minha mão. Ela sabe o
quanto isso me incomoda secretamente. E como, desde que
meu irmão mais velho começou a ter filhos, sonhei em ter
minha própria família. De alguma forma, as pessoas têm a ideia
de que porque eu sou sarcástica, uma nerd total por
computador, e pinto meu cabelo (atualmente é loiro com a
metade inferior de rosa), que eu não ouço meu relógio
biológico tiquetaqueando como uma bomba-relógio. Mesmo
3
The Bachelor é um reality show de encontros amorosos, produzido pela
rede de televisão norte-americana ABC desde 2002.
em uma cidade como Austin, que tem uma vibe muito mais
artística, as pessoas carregam uma ideia subconsciente de como
uma mãe deve se parecer ou agir. E essa ideia definitivamente
não sou eu.
Delilah franze o nariz de botão perfeito.
— Isso parece um negócio muito maior do que escrever e-
mails falsos para receber conselhos.
Zoey pega sua mão de volta e acena.
— Estou hesitante também. Deixando você compartilhar
nossas histórias pessoais? Não tenho certeza. Não que eu não
ame nossa casa ou sua oferta. É muito generoso.
Sam junta os dedos sobre a mesa, encontrando cada um de
nossos olhos.
— Senhoritas, vocês estão dentro ou estão fora? Eu preciso
de vocês. Eu realmente preciso. Isso é importante. É caso de
vida ou morte. Não posso estragar este livro. E todas vocês
sabem que eu não poderia ter feito nenhuma das coisas da Dra.
Love sem vocês.
— Oh, estamos bem cientes — diz Harper. — Duvido que
você vai receber uma história minha, mas vou concordar com
isso.
— Você já sabe que estou dentro — eu digo.
— Eu também. Supondo que eu possa encontrar um
homem — Delilah diz.
— Encontrar homens não é problema para você — digo a
ela. — Há dois deles olhando para você do bar agora.
Eu aponto, e Delilah ri quando dois caras de terno levantam
suas bebidas na direção dela. Suas bochechas ficam rosadas,
deixando-a ainda mais parecida com uma princesa da Disney.
A qualquer momento, um pássaro vai pousar em seu ombro e
começar a amarrar fitas em seu cabelo.
— Ok, tudo bem — diz Delilah.
Zoey é a única que ainda está em silêncio.
— Tudo bem — ela finalmente diz. — Mas só estou fazendo
isso porque gosto da nossa casa. E de vocês. Eu não vou
inventar nada, no entanto.
Sam acena com a mão.
— Sem histórias inventadas para o livro.
— Mas e se nenhum de nós puder ajudar? E se ficarmos
solteiras? — E amaldiçoadas, eu acho.
Sam sorri.
— Mesmo que eu não consiga nenhum material para o
livro, o acordo permanece. Mas tenho esperança em todas
vocês.
Pelo menos uma de nós tem.
CAPÍTULO DOIS
Abby
4
O termo “Bug” é um jargão usado no ambiente de desenvolvimento para
identificar uma falha no sistema, mas pode ser relacionado a insetos também.
anexos e fazendo outros trabalhos mundanos que me fazem
querer enfiar um pendrive no meu olho. Quando meu telefone
finalmente toca com uma mensagem de Zane, eu praticamente
caio da minha cadeira.
— Argh!
Micah me cala, apontando para o telefone que ele ainda tem
no ouvido. Quando verifico minha caixa de entrada
novamente, há outro e-mail com os mesmos formulários. Ok,
então o tiro saiu pela culatra.
Não aguento fazer isso de novo, então fecho meu e-mail e
começo a trabalhar no meu trabalho real. Se Zane quer ter
certeza de que eu os li, eu vou dar a ele bastante tempo para
5
CRV é o Certificado de Registro de Veículos, documento que comprova a
propriedade do bem.
achar que eu li. Eu coloco meu telefone no silencioso e enfio na
minha bolsa.
Quase uma hora depois, quando finalmente paro para
verificar, há nada menos que cinco mensagens de Zane,
perguntando sobre a papelada. Cada uma parece mais irritada
que a anterior. Uma mensagem aparece enquanto estou lendo.
Ai.
Como de costume, eu fui um pouco longe demais. Eu gosto
de mexer com ele. Acho que ele não sente o mesmo.
Aparentemente, eu sou apenas irritante. Estou mais magoada
do que deveria.
— Você está bem? — Micah de repente está de pé sobre
minha mesa, franzindo a testa para mim. — Você parece
chateada.
— Tudo bem — eu digo.
— Se isso é sobre o trabalho, estou ficaria feliz fazer no seu
lugar
— Eu cuido disso — eu digo. — Obrigada.
Micah se afasta, provavelmente em busca do café que é a
única parte decente deste escritório. E nem é um bom café.
Eu digito um texto simples e chato para Zane com dedos
rígidos. Então eu apago e coloco uma mensagem em algum
lugar entre chato e exagerado.
6
"Signed, Sealed, Delivered (I'm Yours)” é uma canção soul do músico norte-
americano Stevie Wonder, lançada em junho de 1970 como single da gravadora
Tamla da Motown.
piada! Quanto à ideia de ser dele... tenho que abanar o rosto
com uma das pastas da minha mesa.
Eu quase envio uma mensagem para Zoey para perguntar se
ela sabia que seu irmão realmente tinha senso de humor por
baixo de sua concha impenetrável. E se ela disse a ele o nome do
meu restaurante asiático favorito. Em última análise, é estranho
falar com ela sobre Zane.
Em vez disso, eu mando para Zane um gif do Tom Cruise
em Top Gun dando um sinal de positivo, junto com um pedido
de frango com laranja, extra picante e arroz frito.
Durante o resto do meu dia, eu me pego cantarolando
Temptations baixinho. Cinco horas parece não chegar rápido
o suficiente.
CAPÍTULO TRÊS
Zane
7
Referência ao escritor italiano Giacomo Casanova, que era considerado um
sedutor por conta de sua agitada vida amorosa.
— Ai.
Realmente dói, embora eu tenha certeza que Zoey não
acreditaria em mim. Eu não sei por que ela tem uma opinião
tão ruim sobre mim. Claro, eu vou em muitos encontros. Mas
o que eu disse era verdade: não estou dormindo com ninguém.
Nem mesmo perto disso.
Fazer parte de uma startup significa que não tenho tempo
para um relacionamento. Nos últimos dois anos, mal tive
tempo para comer. Namorar casualmente é legitimamente uma
maneira de desfrutar da companhia de outra pessoa, de
desabafar. Sou um perfeito cavalheiro, abrindo portas,
pagando a conta, sendo aberto com minhas expectativas.
Mantém as coisas leves.
E sim, talvez também seja uma maneira de manter meu
coração guardado. Depois de perder minha mãe, não tenho
certeza se consigo pensar em me aproximar de alguém
novamente. Por isso, não me aproximo.
— Desculpe, irmãozinho. Nem toda mulher se apaixona
por seu charme especial.
— Ainda não conheci uma que não se apaixonou. — Eu
sorrio, sabendo que ela vai ouvi-lo na minha voz.
— Você é nojento. Eu tenho que ir. Apenas lembre-se do
que eu disse… seja bom para Abby. Mesmo que ela não esteja
afim de você, tenho certeza de que pode deixá-la infeliz de
outras maneiras. Não faça isso.
— Qualquer coisa para você, Zoey.
Ela faz outro som de nojo.
— Ah, e tomei a liberdade de enviar o cardápio do The Wall.
É o favorito dela. O caminho para o coração de Abby é através
da comida.
The Wall é meu lugar favorito de fusão asiática. Abby tem
bom gosto.
— Eu pensei que você não queria que eu chegasse perto do
coração dela.
— Eu não quero. Uma Abby bem alimentada é uma Abby
que trabalha melhor. Confie em mim. Dê café e comida e ela
fará com que todos os seus problemas tecnológicos
desapareçam. Oh! E chocolate. Ou Twizzlers. Se você puder
instalar um gotejamento constante de cafeína e açúcar, ela
estará pronta. Eu tenho que ir, mano.
— Você só falou comigo por dois minutos! — Eu grito, mas
ela já desligou.
Enquanto isso, a única coisa que passa pela minha cabeça
agora é o que ela disse sobre Abby não estar interessada em
mim. Isso me incomoda. Não que eu ache que sou tudo isso,
não importa o que eu disse para Zoey. Eu só não gosto da ideia
de que minha irmã pode ser a melhor amiga de Abby, mas não
acha que eu seja um cara bom o suficiente para merecê-la.
Veremos.
CARA DRA. LOVE
De: [email protected]
Para: [email protected]
De: [email protected]
Para: [email protected]
Querida Tristeza,
Papo reto: seu cara não está nervoso. Ele não está
interessado.
E, porque você está me escrevendo, sei que você é uma
mulher inteligente que merece coisa melhor. Muito melhor.
Ele está se escondendo atrás da desculpa do local de
trabalho, e se você não acredita em mim, pressione-o sobre o
assunto. Normalmente não sou de ultimatos, mas em casos
como este, às vezes você precisa de uma postura rígida para
descobrir onde ambos estão.
Eu sinto muito. Você merece o melhor. Solidariedade, irmã.
Triste por você,
Dra. Love
De: [email protected]
Para: [email protected]
Abby
8
É um café da América Latina com um sabor suave e aveludado e notas
sutilmente doces e vibrantes com um tom de caramelo profundo.
Meu cérebro está tentando processar suas palavras, mas
continua retornando uma mensagem de erro.
— Huh? Quem está trocando o que agora? — Eu pergunto.
O homem ri, mas o som não tem o mesmo efeito em mim
que a voz profunda de Zane tem. Na verdade, quanto mais
tempo esse cara novo fica aqui, mais ele destaca o quanto eu
prefiro o homem do outro lado da mesa. Aquele que é todo
errado para mim. E quem, segundo sua irmã, nunca se
interessaria.
— Eu nunca pensei que Zane namoraria alguém tão
inteligente e atrevida. Eu vi você entrar e ela sair correndo e
somei dois mais dois.
Tantas palavras.
Tantas palavras lisonjeiras.
Eu só queria que eles estivessem saindo da boca de Zane.
— Você entendeu mal — Zane diz, assim que eu deixo
escapar — Sua matemática está errada.
— O que? — o cara pergunta.
Agora os dois homens estão olhando para mim e, santa
mamãe, é difícil formular frases completas.
Eu limpo minha garganta e sento, tirando meus pés da mesa
de Zane.
— Sua matemática. Você disse que somou dois mais dois,
mas obteve um cinco. Ou talvez algo como cinco mil. Zane e
eu? Não somos um casal. — Eu rio, pensando novamente na
mulher insípida, mas linda, que acabei de espantar. Eu não
posso nem competir com isso. — Definitivamente não somos
um casal.
Zane parece ofendido. Provavelmente porque estou
insultando sua escolha de mulheres.
— Abby é nossa especialista em tecnologia — ele
praticamente rosna. — Nós a contratamos para consertar a
falha.
— Oh. — O outro cara aponta entre nós. — Então, vocês
dois não estão... juntos?
Espero que Zane diga algo sobre o quão ridícula é a ideia.
Ou rir como estou fazendo agora, embora seja mais uma
risadinha. Porque mesmo que a imagem mental de Zane como
Batman pareça presa no meu cérebro, não há como ele me ver
como sua Vicky Vale. Ou Mulher-Gato. Ou Rachel Dawes.
Faça a sua escolha de franquias, e eu não chego aos pés de
nenhuma.
Mas Zane não diz nada. Surpreendente.
— Zane é o irmão da minha melhor amiga — eu explico,
como se isso colocasse um ponto final.
— Excelente. Eu sou Jack, já que meu sócio aqui é muito
rude para me apresentar.
Jack se aproxima para apertar minha mão. Uma lufada de
colônia me atinge. Bonito, mas um pouco demais. Eu puxo
minha mão bem a tempo de espirrar.
— Saúde — Jack diz, voltando para sua posição na parede.
— De volta à pauta principal — diz Zane, sua voz
claramente irritada. Seus olhos azuis me prendem no lugar. —
Temos bugs ou não?
— Oh, você tem bugs. Enormes. Muito pior do que você
pensava.
Sua irritação dá lugar a um olhar de pânico. Ele e Jack
trocam um olhar. Jack se desprende da parede e se empoleira na
beirada da mesa.
— Isso vai atrasar nosso lançamento? É em um mês. Quão
grande é o escopo do problema?
— Vai ficar tudo bem — eu digo. — Mas vocês vão me ver
muito mais. Vão me pagar muito mais também.
Jack se vira para olhar para Zane.
— Devemos cancelar a viagem?
— Não — diz Zane. — Precisamos ainda mais de novos
investidores agora. Vai ficar tudo bem. Abby vai cuidar de nós.
Certo?
Ele parece um pouco desesperado, e é o máximo que já vi
sua casca dura quebrar. Isso me suaviza ainda mais em relação a
ele.
Eu sorrio.
— Eu te ajudo. Zoey não te disse o quão incrível eu sou? —
Eu agito meus cílios para ele, feliz em vê-lo se contorcer em seu
assento.
— Ela disse — diz Zane.
— Excelente.
Jack me olha com um olhar que não sei interpretar, como se
ele estivesse me avaliando. Isso faz meus dedos começarem a se
contorcer.
Jack olha para Zane.
— Se você acabou de se livrar de Charlotte…
— Chelsea.
— Certo. Charlotte era a do mês passado, eu acho? — Jack
pergunta. Zane não responde.
Eu bufo, e Jack me dá um sorriso largo.
— Se você se livrou da Chelsea, vai precisar de um encontro
para o fim de semana. E o meu simplesmente foi por água
abaixo.
As sobrancelhas de Zane se erguem.
— O que aconteceu com a Anna?
Jack acena com a mão.
— Não se preocupe com isso. De qualquer forma. Você está
levando Abby?
Tenho certeza que o olhar de choque no meu rosto reflete o
de Zane.
— Lendo-me para onde? — Eu pergunto.
— Não. — Zane balança a cabeça com firmeza.
Jack e Zane me ignoram. Seus olhos estão travados, como se
fossem dois touros prestes a lutar.
Eu aceno minha mão entre eles.
— Ei pessoal. Onde estamos indo?
— Estamos levando alguns de nossos investidores de risco,
nosso potencial capital de risco, em uma viagem — respondeu
Zane, embora não tivesse tirado os olhos de Jack.
— Então, Abby não é seu par? — Jack pergunta.
— Abby ainda está aqui, pessoal — eu digo.
Ainda assim, os dois machos lutadores me ignoram. As
narinas de Zane se dilatam. Eu acharia cômico, exceto que eu
sinto que de alguma forma, eu me tornei a bandeira vermelha.
Estou engasgando com a testosterona aqui.
— Abby não é meu par — Zane diz.
— Então, você não vai se importar se eu perguntar a ela. —
A declaração de Jack é um desafio.
Os últimos minutos são como olhar para uma criptografia
sem a chave. Estou seguindo, mas por pouco. Eu entendo que
há uma viagem de trabalho com investidores e esses dois
querem ou não querem que eu vá.
O que eu não descobri é o contexto aqui. Dê-me o código
de qualquer dia da semana. Tem padrões discerníveis. As peças
se encaixam em um todo. Pessoas? Muito imprevisível.
— Tudo bem — diz Zane, não olhando para mim, embora
eu saiba que ele tem que sentir meus olhos nele.
Com um sorriso largo no qual de alguma forma não confio,
Jack se vira para mim. Estranhamente, quanto mais tempo ele
fica nesse escritório e quanto mais palavras saem de sua boca,
menos atraente ele se torna.
— Você gostaria de ser meu par em um retiro corporativo?
Puramente profissional, é claro.
Acho que ele acrescentou essa última parte porque eu estava
tão ocupada descascando meu queixo do chão.
— Você quer que eu faça o que agora?
— Temos um fim de semana com alguns investidores em
potencial. Eles estão trazendo suas esposas e nós estamos
levando encontros para equilibrar as coisas. — Sem aviso, Jack
entra no meu espaço e pega minha mão. Eu luto contra o desejo
de puxá-la de volta. — Você estaria disposta a ser meu par neste
fim de semana com os investidores?
Estou olhando nos olhos de Jack. Mas continuo lançando
olhares furtivos para Zane. Tem essa coisa que Zoey faz quando
está muito chateada, e Zane está fazendo agora. Parece que ele
respirou fundo e está segurando. Suas bochechas estão
vermelhas, e seus olhos estão praticamente saltando de sua
cabeça.
Eu estreito meus olhos para Jack.
— Eu não vou dormir com você.
Por que essa é a primeira coisa que sai da minha boca, eu não
sei. Eu quero ser capaz de retroceder os últimos segundos e
dizer alguma coisa, qualquer coisa, além disso.
Os olhos de Jack se arregalam, e então ele aperta minha mão,
soltando uma risada.
— Anotado. Eu gosto de uma mulher que fala o que pensa.
Então, o que você acha?
Acho que quero cair de cara no chão. Especialmente
quando eu olho para cima e vejo Zane olhando para mim com
o tipo de olhos que você costuma ver em filmes com raios laser
saindo deles. Eu espero ver vapor saindo de seus ouvidos.
O que eu não entendo é por que ele está chateado. Ele não
me quer, então não sei por que se importa se Jack me pediu para
ser seu par. Mas Zane definitivamente se importa.
Aqui está a coisa: esta não é a minha vida.
Eu nunca sou a garota no centro das atenções masculinas.
Especialmente entre dois homens que se parecem com Jack e
Zane. Eu sou a garota nerd no começo do filme, antes da
reforma. A diferença é que eu não quero a reforma. Tentei ser
outra pessoa, deixando que outras pessoas me dissessem como
eu deveria parecer. Essa única vez foi suficiente para provar que
mudar por outra pessoa nunca é o movimento certo. Eu sou eu.
E embora eu ainda lute contra as inseguranças de vez em
quando, no geral, já percorri um longo caminho.
Jack ainda está segurando minha mão, rindo um pouco,
provavelmente ainda com meu comentário idiota sobre sexo.
— Vamos, Abby — Jack diz. — Seja meu par. Isso
significará um fim de semana livre em um resort, boa comida e
provavelmente uma conversa chata com estranhos.
— Abby precisa consertar a falha. Ela vai estar muito
ocupada — Zane diz.
Eu levanto uma sobrancelha para Zane. Sua falta de fé em
minhas habilidades está realmente me irritando.
— Não tão ocupada que eu não possa tirar alguns dias de
folga.
— Você me prometeu que poderíamos lançar a tempo —
diz Zane.
— E vocês vão. Posso trabalhar de qualquer lugar. Mesmo
de um resort.
Zane e eu ainda estamos nos encarando quando Jack solta
minha mão, parecendo desapontado. Mas é o olhar satisfeito
no rosto de Zane que me faz falar.
— Eu vou — digo a Jack.
Um sorriso se abre em seu rosto.
— Você irá?
— Sim.
Eu vou me arrepender disso. Eu sei. Porque a tensão e a
testosterona nesta sala estão em níveis inseguros, como um
reator nuclear com um núcleo instável. Eu também tenho zero
desejo de passar o tempo conhecendo e conversando com as
esposas dos investidores em algum resort. Eu já posso imaginar
o rosto de Zoey quando eu contar a ela. Ela não vai acreditar.
E realmente tenho muito trabalho a fazer se quiser resolver
o problema com o código deles. Provavelmente passarei o
tempo todo pedindo serviço de quarto enquanto meu rosto
está enterrado em um laptop.
Mas algo sobre o rosto irritado de Zane apenas aperta esses
botões em mim. Aqueles que me fazem sentir como se eu
tivesse que provar a mim mesma. Eu tenho que provar. E eu
vou.
— Então, estamos bem? — Jack pergunta. — Abby, você
vem comigo, e Zane, você pode conseguir outro encontro?
— Oh, Zane nunca tem problemas em conseguir encontros
— eu digo.
Quando minha boca tem um vazamento? Posso ser um
pouco honesta demais, um pouco franca demais. Mas não
costumo transmitir todos os pensamentos assim que me vêm à
cabeça.
— Não é problema — Zane praticamente rosna.
O som baixo envia um pequeno arrepio através de mim.
— Estou ansioso pelo nosso fim de semana, Abby, — Jack
diz, piscando para mim antes de sair pela porta.
Percebo no segundo que ele se foi que estou sozinha com
uma versão de Zane que se parece com Zoey quando ela
descobriu que seu namorado estava traindo-a no primeiro ano.
Essencialmente, seus olhos gritam assassinato. E não sei
exatamente por quê. Ele está chateado comigo ou com Jack?
— Então, hum. Eu vou voltar ao trabalho, — eu digo,
pegando meu recipiente de comida. — Obrigada novamente
pelo jantar.
Zane apenas resmunga, fazendo algo em seu telefone.
Na porta, eu me viro.
— Então, quando é essa viagem?
— Este fim de semana. Eu já te mandei uma mensagem com
um itinerário.
Claro, ele fez isso. Sentindo uma mistura de confusão,
decepção e irritação, deixo Zane e volto para o meu espaço de
trabalho. Posso não entender o que aconteceu no escritório ou
em que tipo de problema estarei neste fim de semana, mas, por
enquanto, posso me perder no que entendo: código.
CAPÍTULO CINCO
Zane
De: [email protected]
Para: [email protected]
Querida Decepcionada,
Diminua suas expectativas.
Ou pegue um cachorro. Eles são mais fáceis de treinar e
geralmente peidam por baixo da mesa.
A melhor opção, e a que menos pessoas parecem usar, é
sentar juntos, conversar sobre suas expectativas e tentar ver
onde cada um pode ceder um pouco.
Boa sorte!
Dra. Love
CAPÍTULO SEIS
Abby
9
Uma bebida à base de café espresso e leite vaporizado.
atencioso. Agora que vamos sair do escritório por dois dias...
não sei o que esperar dele. Estou muito nervosa com isso. Zoey
não está melhorando as coisas falando sobre Jack.
Zoey vira para mim e, vendo a expressão no meu rosto, se
senta ao meu lado na cama.
— Você vai ficar bem. Eu disse a Zane para cuidar de você.
Eu pisco para ela por meio segundo.
— Você disse a Zane para cuidar de mim? Da mesma forma
que disse a ele para me manter abastecido com comida e cafeína
esta semana?
Seu olhar culpado diz tudo. O café, os Twizzlers, a cadeira –
ele fez tudo como um favor a Zoey. Claro, ele fez. Por que mais
Zane seria tão bom comigo? A decepção na minha barriga
eclipsa a preocupação que eu tinha antes de passar o fim de
semana com Jack.
— Eu dei algumas dicas ao Zane — diz Zoey.
— Ugh. Você sabe como isso é constrangedor? É como os
pais deixando notas específicas para a babá sobre como lidar
com seu filho problemático.
— Você não é uma criança problemática. Você está fazendo
um grande favor a Zane, Zoey.
— Obrigada, eu acho?
Eu repreendo qualquer parte rebelde de mim que ficou toda
agitada com o gêmeo da minha melhor amiga.
Quieta, garota! Abby Má! Nenhuma paixão por Zane.
NÃO.
Mas qualquer parte do meu subconsciente precisa ir para a
escola de obediência, já que eu começo a ficar toda agitada
quando ouço sua voz ou vejo seu rosto. Meu subconsciente não
está ouvindo, e ainda quer pular nos móveis e perseguir carros.
Espero conseguir evitar que Zoey perceba. Eu nunca
poderei admitir meus sentimentos para ela. Ela iria ficar
lembrando disso pelo o resto de nossas vidas. Pior, ela sentiria
pena de mim. Quero dizer, ela já riu da ideia de eu e Zane
namorarmos. Isso deveria ter sido suficiente para me avisar.
Zoey faz uma careta.
— Eu também posso ter pedido a Zane para não deixar Jack
deflorar você.
Eu paro de respirar completamente. Eu posso sentir o rubor
começando no meio do meu peito, aumentando até minhas
bochechas e orelhas.
— Zoey. Você disse ao seu irmão, aquele com quem estou
prestes a passar o fim de semana, aquele que namora qualquer
coisa com um sutiã número 36 e pernas, para não deixar seu
parceiro de negócios me deflorar ?
— Não com essas palavras exatas. Mas basicamente.
Eu caio de volta na cama, gemendo. Algo me apunhala na
têmpora, e eu jogo um sutiã com aro pelo quarto.
— Diga-me novamente por que eu não deveria me sentir
como uma criança que você pediu ao seu irmão para tomar
conta?
Zoey se levanta e começa a vasculhar minhas roupas
novamente.
— Pare de chafurdar. Você está sendo dramática. Agora,
estou escolhendo suas roupas, passando e ajudando você a fazer
as malas.
— Passar roupa? — Acho que não olhei para um ferro nos
últimos, ah, não sei... dez anos? — Isso é algo que as pessoas
ainda fazem?
— Sim. Muitos de nós passamos as roupas.
Sento-me, observando Zoey mover os cabides no meu
armário.
— Eu nem tenho o tipo de roupa que precisa ser passada a
ferro.
Embora eu não me oponha a saias e vestidos, costumo usar
roupas mais divertidas e descontraídas. Nada como a camisa
branca de colarinho que Zoey vestiu depois de trocar o terninho
de hoje. Esta é a versão casual de Zoey: calça cáqui e camisa
branca passada. Meu casual é um um par de jeans desbotados
que eu mesma cortei com e uma regata canelada preta.
— Podemos misturar e combinar do armário de Sam, se
necessário.
Sam é a única na casa que é pequena como eu e próxima ao
meu tamanho. O estilo dela está alguns passos abaixo do estilo
formal e casual chique de Zoey, mas ainda mais Ann Taylor10,
do que Forever 21, onde é mais provável que eu faça compras.
Sinto que a eternidade no nome me dá luz verde para fazer
compras lá. Posso fingir para sempre que ainda tenho 21 anos,
mesmo que todos os outros na loja sejam adolescentes. Ou a
mãe de um adolescente.
— Você sabe alguma coisa sobre esses investidores ou suas
esposas?
A pergunta de Zoey me arrasta de volta ao meu dilema atual
e ao meu pavor. Porque não só estou passando o fim de semana
com minha paixão flamejante e seu sócio nojento, mas dois
estranhos e suas esposas. Em um spa resort. Não há nada sobre
este fim de semana que seja confortável para mim.
Eu balanço minha cabeça.
— Mas suponho que eles tenham dinheiro, já que Jack e
Zane estão cortejando-os em um resort cinco estrelas. O que
significa que eles provavelmente são mais velhos e alguns graus
mais chiques do que eu.
Zoey murmura uma resposta, puxa uma camisa azul do
armário, jogando-a ao meu lado. Eu brinco com os botões,
aquela sensação nervosa se contorcendo no meu estômago
novamente.
10
Ann Tyalor é uma rede de lojas femininas com um estilo mais clássico e
formal.
— Você não vai me fazer fingir ser alguém mais... normal,
não é?
Zoey para o que está fazendo e gira para me encarar. Seus
olhos piscam, e eu sei que ela sabe exatamente no que estou
pensando. Ela é a única, além de meus pais ou irmão, que sabe
exatamente por que essa pergunta é importante para mim.
Depois de tantos anos, gostaria que meu passado não viesse à
tona de vez em quando, trazendo toda a minha autoconsciência
das profundezas com ele.
Tocando minha mão, Zoey diz:
— Normal não é uma coisa. Você é você. Não mude seu
estilo por ninguém, Abs. Você é perfeita do jeito que é.
Eu sei isso. Eu entendo.
Normalmente, sou autoconfiante, cheia de arrogância, não
insegura e carente. Mas este fim de semana está tão fora da
minha zona de conforto que me joga de volta um pouco, de
volta a Abby do Passado que não tinha certeza de nada. Acima
de tudo, de ela mesma.
Eu aceno, dando a Zoey um sorriso torto, e nós duas
fingimos que meus olhos não estão molhados.
O primeiro sinal de que este fim de semana vai ser pior do que
eu esperava é a acompanhante de Zane. E isso quer dizer alguma
coisa, considerando que eu tinha expectativas muito baixas
para começar.
— Eu fico enjoada no carro — a morena de pernas
compridas diz, empinando seu quadril e agitando suas
extensões de cílios para Zane.
A única coisa que me impede de agir como doente é que
Zane não parece impressionado com todo o seu truque. Ele
nem deu uma espiada na impressionante metade superior dela,
o que é chocante, já que ela está apontando essas coisas para ele
desde que saiu do carro com botas de caubói, uma saia curta e
um pedaço de material que finge ser um top. Até mesmo Jack
teve dificuldade em manter os olhos afastados. Não é
surpreendente. Também não é legal.
Dois pontos para Zane.
O gêmeo da minha melhor amiga (sempre é bom me
lembrar desse fato) parece totalmente irritado enquanto olha
para mim.
Oh. Ah! Não é que ele não esteja encantado com o ato de
Charla. Ele está irritado porque isso significa que ele tem que se
sentar comigo. Não com seu encontro de fim de semana.
Fantástico.
— Excelente. Pule para frente, Charla — Jack diz com um
sorriso, abrindo a porta do passageiro para ela. Ele claramente
não se importa com a troca de assento.
Se eu estivesse esperando que qualquer um dos caras abrisse
minha porta, eles poderiam ter me deixado no estacionamento.
Todo mundo já está com os cintos de segurança quando eu
entro no pequeno banco traseiro do carro de Jack. Não
conheço carros, mas o motor ronrona e é todo brilhante por
fora, com couro macio por dentro.
— Tantos botões! — Charla ri, e eu engasgo um pouco
quando Jack a ajuda com o cinto de segurança.
Que tipo de mulher adulta precisa de ajuda para se afivelar?
Meu sobrinho mais novo pode se afivelar na cadeirinha, e ele
tem seis anos.
Eu olho para Zane, para ver como ele está levando o flerte
descarado na frente, mas ele está tão virado em direção à janela
que eu só posso ver a parte de trás de sua cabeça. Olho para a
pequena cicatriz branca ao longo da linha do cabelo. Zoey me
disse uma vez que era de um acidente de carro, mas nunca me
deu os detalhes. Eu sou uma daquelas pessoas que acha que as
cicatrizes nos dão caráter. Eles contam nossas histórias. Talvez
eu possa quebrar a tensão estranha aqui com a troca de
histórias.
Sem realmente pensar nisso, traço meu dedo ao longo da
linha da cicatriz de Zane. Ele praticamente pula da cadeira,
batendo na minha mão.
— O que? — ele estala.
— Uau. Desculpe. Eu só estava me perguntando sobre sua
cicatriz. Zoey disse que foi de um acidente de carro?
Os olhos de Zane se arregalam, mas um momento depois,
ele está totalmente sob controle novamente. Quase. Ainda há
uma selvageria em seu olhar que me diz que essa cicatriz tem a
ver com algo muito grande. Eu gostaria que Zoey tivesse me
avisado. Eu gosto de irritar ele, mas isso não é aborrecimento. É
dor. Eu reconheço bem.
— Sim. Foi um acidente de carro.
Ele se volta para a janela novamente, e eu observo os tendões
e músculos flexionando em seu pescoço. Eu não deveria estar
pensando em como o pescoço de Zane é quente quando ele está
chateado, mas qualquer coisa é melhor do que pensar no fato
de que acabei de trazer algo doloroso de seu passado. As pessoas
podem pensar que eu só olho para meu umbigo sem me
importar com o que as pessoas pensam, mas a verdade é que eu
me importo. Muito.
— Que tipo de música devemos ouvir? — Jack pergunta
alegremente, alheio à nuvem de constrangimento pairando
sobre o banco de trás. — Qualquer coisa menos…
— Country! — Charla diz, e eu juro que ouço três gemidos
iguais. Charla parece não ouvi-los, ou talvez ela não se importe,
porque momentos depois, o carro está cheio de alguém
cantando sobre o amor perdido em um campo e algo sobre
garrafas de Bud.
Zane ainda tem a cabeça colada à vista do lado de fora da
janela enquanto fazemos nosso caminho lentamente para fora
de Austin no tráfego da tarde de sexta-feira. Não posso suportar
a ideia de que o aborreci ao trazer casualmente à tona algo
doloroso em seu passado. Eu tenho uma masmorra inteira
cheia dessas memórias, e eu odeio quando uma consegue
escapar.
— Zane? — Eu sussurro. Há um leve movimento em seus
ombros, mas ele não se vira nem responde.
Como se estivesse tentando domar um animal selvagem,
estendo cautelosamente meu braço e roço meus dedos ao longo
de seu ombro. Ele endurece, mas não se afasta. Dou um
pequeno aperto em seu ombro, tentando não pensar em como
seus músculos são bons e firmes.
Quando eu não o deixo ir depois de alguns segundos, Zane
se vira levemente. Apenas o suficiente para eu notar como o
azul em seus olhos é a mesma cor brilhante do céu sem fim lá
fora.
— Sinto muito — eu sussurro. Ele balança a cabeça, então
eu lambo meus lábios e continuo. — Eu não queria me
intrometer. Eu não sabia.
Zane engole, e eu nunca o vi tão vulnerável. Eu nunca o vi
vulnerável, ponto final. Acontece algo no meu coração.
Minha mão ainda está em seu ombro, e eu afrouxo meu
aperto um pouco. A música – e o canto de Charla – está alto,
então inclino minha cabeça em direção a Zane.
— Você vê isto? — Aponto para uma cicatriz na minha
bochecha, observando seus olhos rastrearem o movimento. Eu
sei que meu rosto cora. Não posso evitar, eu odeio a cicatriz
redonda e branca.
Respirando fundo, continuo, baixando um pouco a voz.
— Tive uma acne terrível na adolescência. Meu rosto
parecia ter passado por um moedor de carne. Isso foi de uma
espinha que infeccionou. Então se transformou em
estafilococo. Acabei no hospital por dois dias.
Os olhos de Zane estão presos nos meus, aquele olhar azul
profundo hipnotizante. Eles são uma piscina infinita, e eu
quero mergulhar.
— Você sabe como é embaraçoso quando alguém pergunta
sobre minha cicatriz e eu tenho que dizer a eles que é de uma
espinha? — Eu engulo. Às vezes, dizer a verdade é um trabalho
árduo. — Eu costumava usar maquiagem pesada para cobrir a
acne, para cobrir essa cicatriz. Não estou mais me escondendo.
Com isso, eu deixei minha mão cair. Eu não quero que Zane
sinta o jeito que está tremendo. Já me expus o suficiente.
Eu não esperava que Zane dissesse nada. Eu não estava
pedindo isso. Quando seus lábios se abrem para falar, a
respiração para em meus pulmões.
Antes que ele possa dizer uma palavra, Charla vira a cabeça
entre os dois bancos da frente.
— Não se preocupe. A cicatriz é quase imperceptível.
A mulher tem orelhas de morcego para acompanhar seus
seios que desafiam a gravidade? Eu estava sussurrando aqui
atrás. Sussurrando.
— Eu tenho um corretivo incrível que vou deixar você
experimentar quando chegarmos ao resort — diz Charla.
— Uh-hum. — Não. De jeito nenhum estamos virando
conhecidas que trocam corretivo. A piada será dela quando
perceber que não tenho corretivo para trocar. Hidratante,
rímel e brilho labial, baby. Essa é a minha rotina de beleza.
Mas ela continua.
— É feito de medula óssea de elefante bebê. Totalmente
mágico. Contanto que você não pense nos pobres elefantes
bebês.
Charla ri, e eu honestamente me pergunto se ela tem alma.
Como não pensar nos elefantes bebês? Bebês elefantes vão
assombrar meus sonhos.
O rosto assustador de Hannibal Lecter invade minha
mente.
Você pode ouvir os bebês elefantes gritando, Clarice?
É Abby. Mas sim. Sim, eu posso.
Charla deve estar brincando.
Dumbo.
Ela quer esfregar a medula óssea de Dumbo no meu rosto.
Ela definitivamente não tem alma. Quando ela se vira para
pegar minha mão, eu considero abrir minha porta e fazer um
rolo de barril direto para a estrada.
— Nós vamos ser melhores amigas até o final deste fim de
semana. Eu tenho certeza. Estou tão feliz que estamos
compartilhando um quarto!
Dividir um quarto?
Charla dá um gritinho, depois volta a massacrar as músicas
country, como se ela não tivesse acabado de confessar ter
matado bebês elefantes por causa da beleza e depois jogado uma
bomba muito desagradável no meu colo. Um que espero
difundir o mais rápido possível.
Lentamente, para não puxar o fio errado, volto para Zane.
Antes mesmo de falar, eu sei a resposta para minha pergunta.
— Estou dividindo um quarto com ela? — Eu assobio.
Zane tem um olhar miserável em seu rosto. Esqueça o ato de
pobre-Zane, todo o Zane de eu-tenho-memórias dolorosas. Ele
vai morrer.
— Era isso ou ficar com Jack. Reservamos apenas dois
quartos.
E lá vem a bomba.
CAPÍTULO SETE
Abby
De: [email protected]
Para: [email protected]
Zane
Abby
11
É um procedimento estéstico que envolve tirar sangue do seu braço, separar
plaquetas e aplicá-las de volta em seu rosto.
— Não se preocupe — Jack diz. Porque, claramente, tem
emoção suficiente está vazando pelo meu rosto inchado para
transmitir meu pânico. — Nós nos encontraremos com vocês
mais tarde para uma massagem para casais.
Só assim, estou totalmente e terrivelmente acordada, e
quando Jack dá primeiro a Charla e depois a mim um sorriso
predatório, eu penso em como soa adorável uma luta livre de
um jacaré.
CAPÍTULO DEZ
Abby
De: [email protected]
Para: [email protected]
Caro Papagaio,
Honestamente, sinto muito que você esteja tendo esse
problema embaraçoso e esteja causando conflito, bom para
você! Eu espero ainda estar fazendo barulho no quarto depois
de cinquenta anos de casada. Parabéns por um relacionamento
feliz, saudável (e barulhento)!
Sobre o papagaio... sugiro deixá-lo em uma sala com a
televisão em um desses canais da igreja. Talvez ele repita alguns
hinos ou versículos da Bíblia.
Ou vá na direção oposta. Deixe-o assistir a um filme +18
repetidamente por um tempo. Então você pode colocar a culpa
no que quer que saia da boca dele nos donos anteriores,
incluindo os sons do quarto.
Boa sorte!
Dra. Love
CAPÍTULO ONZE
Zane
MEDUSA.
Sodoma e Gomorra.
Meu pai quando ele está decepcionado comigo ou com Zoey.
Pensar em coisas que poderiam me transformar em pedra ou
uma estátua de sal ou simplesmente me vaporizar em contato
foi a única maneira que eu mantive meus olhos colados nos de
Abby quando ela rolou debaixo da minha mesa de massagem
alguns minutos atrás. Nua.
Foi um pensamento desesperado. Não é meu melhor plano.
Mas funcionou. Enquanto a pequena mulher crava suas
mãos habilidosas em minhas costas, eu me parabenizo por uma
demonstração bem-sucedida de disciplina e autocontrole sob
imensa pressão.
Eu não espiei, nem um pouco, apesar de toda a pele cremosa
visível à minha volta. Eu poderia não ter sido transformado em
pedra se eu apenas olhasse por um segundo, mas eu não poderia
fazer isso com Abby. De jeito nenhum eu iria tirar vantagem do
momento. Eu podia ver o quão em pânico, quão assustada,
quão vulnerável ela estava quando eu fixei meu olhar em seus
olhos.
Seus lindos olhos castanhos, em constante mudança, eram
mais castanhos do que verdes naquele momento, com um
pequeno anel de ouro ao redor da pupila. Era nisso que eu
estava pensando quando ela começou a gritar.
Agora, as coisas se acalmaram e estamos adequadamente
cobertos enquanto nossos massagistas estão começando.
Exceto que não há como eu relaxar e descontrair. Meu
coração ainda está batendo na garganta pensando em Abby.
Eu sabia que a troca era uma má ideia quando Jack a propôs.
Eu particularmente não queria um encontro de casais com
Charla, mas não havia nada tentador para mim sobre ela, então
fazer uma massagem para casais ou qualquer outro número de
atividades seminuas não teria sido tão difícil. Abby é uma
história diferente.
Enquanto penso nisso e tento manter o resto dos meus
pensamentos em um lugar respeitoso e cavalheiresco, Abby ri.
— Desculpe — ela diz imediatamente, ainda meio rindo.
— Você sente cócegas? — pergunta o grande desmiolado
com as mãos nas costas dela.
Eu não sou ciumento. Eu não sou ciumento.
— Não — ela diz e então ri novamente. — Desculpe.
Eu me encontro sorrindo. Suas risadinhas são como abrir
uma garrafa cheia de felicidade. Uma que foi mexida e agora
está borbulhando e saindo pelo gargalo. São pequenas coisas
como essa, coisas que nunca entrariam em uma lista do que
você procura em um relacionamento, que me prendem tanto a
Abby.
Muitas outras coisas sobre ela preencheria uma lista mais
tradicional. Ela é linda, e não do jeito retocado e maquiado. Ela
é inteligente, definitivamente mais inteligente do que eu. Sobre
algumas coisas, de qualquer maneira. Ela é engraçada. Não me
lembro da última vez que ri com alguém como ri com ela esta
semana. Depois daquela primeira noite no Eck0, ela não
parecia mais estar tentando me irritar. Em vez disso, caímos em
uma companhia fácil. Uma que eu realmente poderia me
acostumar.
Abby também é corajosa. Não um covarde como eu, que se
esconde atrás do trabalho e das ocupações. Ela coloca todas as
cartas na mesa, desafiando as pessoas a levá-la ou deixá-la.
Eu sei qual a escolha eu quero fazer.
Agora ela ri, uma explosão alta de som, e eu ouço a
massagista suspirar.
— Você está bem aí? — Eu pergunto, ainda sorrindo.
— É só… — Ela para, rindo novamente. — Eu não posso…
Mais risadinhas.
Seu massagista está começando a parecer irritado.
— Quais áreas são delicadas? Eu posso tentar evitá-las.
Não pense em áreas. Não pense em áreas.
— Hum, tipo tudo.
— Você sente cócegas em todos os lugares?
Ela limpa a garganta.
— Normalmente não. Só agora com você.
— Eu vou tentar suas pernas.
Não pense nas pernas dela. Não pense nas pernas dela.
Minha mãe ficaria orgulhosa de quão duro eu estou
trabalhando para ser o cavalheiro que ela sempre me convenceu
a ser. Ainda me lembro de uma conversa em particular, pouco
antes de ela morrer, quando ela disse:
— As mulheres são um tesouro. Um presente. O que você faz
com o tesouro?
— Acumula? — Eu perguntei, sendo um garoto de quinze
anos sarcástico.
Mamãe me deu um tapa no braço, mas ela estava sorrindo.
— Não, Smaug12. Você o protege. Você o guarda. Você sempre
se lembra de seu valor.
Não sei se Zoey teve conversas semelhantes, mas voltada
para meninas. Talvez mamãe a tenha ensinado a se valorizar ou
a tomar cuidado com dragões gananciosos tentando acumular
mulheres.
Abby é um tesouro, e ela se torna mais valiosa aos meus
olhos a cada momento que estou com ela.
A sala fica mais quente enquanto eu faço o meu melhor para
não pensar em como nós dois estamos nus agora. Isso é tortura.
12
Smaug, o Dourado, ou apenas Smaug, é um dragão fictício criado por J. R.
R. Tolkien na obra O Hobbit.
— Você está tenso — murmura minha massagista, cravando
os cotovelos nas minhas costas.
Você não tem ideia.
Abby ri novamente, e o massagista geme.
— Suas panturrilhas também? — ele pergunta.
Ela está rindo tanto que mal consegue falar.
— Eu sinto muito. — Risada. — Ai. — Suspiro. — E meus
joelhos doem. Isso não é engraçado. Não é engraçado — ela diz,
e então perde completamente o controle em uma risada que
não para.
Eu não posso deixar de rir também, e eu inclino minha
cabeça para a mulher fazendo o seu melhor para soltar meus
músculos rígidos.
— Talvez nós devêssemos encerrar o dia — eu digo a minha
massagista. — Parece bom, Abby?
— Sim! — ela praticamente grita.
— O próximo é o seu spa privado — diz a mulher. — Para
ir para a banheira de hidromassagem e o chuveiro é só passar
por aquela porta.
Banheira de hidromassagem, ok. Banho? Não.
— Meu maiô está no vestiário — diz Abby, ainda respirando
pesado depois de todas as risadas.
— É uma sala privada — diz seu massagista. —
Normalmente os trajes de banho não são necessários.
E depois de soltar aquela bomba, a porta se fecha atrás dos
dois. Quero olhar para Abby, ler seu rosto, mas estou tão
paranóico depois do incidente anterior que enfiei minha
cabeça no buraco da mesa de massagem.
— Abs? Você está decente?
— O suficiente — ela diz.
Nós nos sentamos ao mesmo tempo, e eu sorrio quando
vejo como ela está segurando o lençol em seu corpo.
— E agora? Claramente, a parte do dia da banheira de
hidromassagem e do chuveiro no estilo Adão e Eva não está na
mesa.
— Concordo. — Eu paro. — O que está na mesa?
Ela morde o lábio por um momento.
— Eu poderia ir buscar nossos trajes de banho? Eu nunca
digo não a uma banheira de hidromassagem.
Eu aceno, arquivando o comentário da banheira de
hidromassagem para mais tarde.
— Excelente. Exceto que eu vim direto do golfe. Sem roupa
de banho.
— Tenho certeza que suas boxers ou qualquer outra coisa
cobrem o bastante, certo? A menos que você seja um tipo de
cara que usa aquelas cuequinhas brancas apertadas.
— Não desde que eu tinha sete anos.
— Bom saber.
Abby me faz fechar os olhos enquanto ela coloca seu
roupão, então ela desaparece para encontrar suas coisas. Eu
coloco minha cueca boxer quando ela sai, que é
definitivamente muito mais curta e apertada do que minha
sunga usual, mas eu pulo na banheira de hidromassagem que
fica no quarto ao lado. A água borbulhante faz um ótimo
trabalho cobrindo as coisas.
Enquanto espero Abby voltar, penso no quanto mamãe a
teria amado. Não há uma mulher que eu gostaria de namorar
seriamente desde que mamãe morreu, nenhuma que teria
levado para casa se mamãe ainda estivesse por perto. Eu
realmente não tinha pensado nisso.
Mas estou pensando nisso agora. Com Abby.
Eu continuo sentado no meio da água morna borbulhante,
percebendo que a razão pela qual estou pensando nisso agora é
porque, pela primeira vez, finalmente, eu realmente quero algo
mais.
E eu quero isso com Abby.
CAPÍTULO DOZE
Abby
Zane
De: [email protected]
Para: [email protected]
Caro Enrolado,
Se sua principal preocupação não é machucá-las, acho que
eu posso ajudá-lo. Junte as duas e diga a verdade. Então sua
principal preocupação pode mudar para as duas machucando
você.
Dica: eu usaria caneleiras.
Esperando que você consiga o que merece,
Dra. Love
PS: Se você me passar os telefones delas, ficarei feliz em dar a
notícia e deixá-las quebrar seu nariz.
De: [email protected]
Para: [email protected]
Dra. Love,
Você é uma merda. Eu reclamei com seu gerente e espero
que você seja demitida.
CAPÍTULO QUATORZE
Abby
Estou mais acordada, mas não menos confusa uma hora depois,
caminhando ao lado de Zane enquanto nos dirigimos para o
elevador e, esperançosamente, para um café melhor e um
grande e fofo waffle belga.
Os tapetes são tão macios que todo o corredor tem essa
sensação de silêncio, e estou tentada a tirar meus chinelos e
andar descalça sobre eles. Então eu faço.
— O que você está fazendo? — Zane pergunta. Seu tom de
voz é divertido, não irritado como poderia ter sido algumas
semanas atrás.
— Esse tapete é incrível. Você deveria tentar.
— Você quer que eu tire meus sapatos e meias e ande
descalço pelo hotel?
Eu faço uma careta para ele.
— Quando você coloca assim, parece loucura.
— Certo.
Paramos para que Zane possa tirar as meias e os sapatos. Ele
ainda está com sua roupa de golfe de ontem, já que todas as suas
roupas estavam presas no quarto com Charla e Jack. Eu iria
provocá-lo sobre a caminhada da vergonha, mas desde que ele
dormiu no meu quarto, não tem a mesma graça.
Quando suas meias estão bem enfiadas em seus sapatos e ele
está descalço no tapete, ele abre os braços.
— Feliz agora?
— Não, idiota. Você tem que andar por aí. Arraste os pés
um pouco. Isso é como o Taj Mahal para os dedos dos pés.
Eu me movo em um pequeno círculo, arrastando meus pés
para que as fibras de pelúcia estejam praticamente massageando
meus dedos. Zane apenas olha, e por um momento, acho que é
tudo o que ele vai fazer: olhar como se eu fosse uma maluca.
Mas então ele se junta a mim, e me deixa ridiculamente feliz
em ver esse homem alto e devastadoramente bonito andando
descalço em círculos em um hotel chique. Eu começo a rir.
— Agora você está feliz?
Mais do que eu poderia dizer.
— Sim.
Mas então, vozes familiares soam ao virar da esquina do
corredor onde estão os elevadores. Os olhos de Zane encontram
os meus, e a próxima coisa que eu sei, ele está abrindo uma
porta ao nosso lado que eu nem tinha notado e me empurrando
para dentro.
Agora estamos de pé, minhas costas pressionadas contra seu
peito, em um pequeno armário de limpeza que cheira a
desinfetante e alvejante.
— O que estamos fazendo? — Eu assobio, ciente de cada
respiração que ele dá, e como seu peito empurra mais
firmemente contra o meu.
— Se escondendo.
— Por que estamos nos escondendo?
— Não sei! Eu entrei em pânico!
Eu rio, e Zane me cala, o que me faz rir mais. Suas grandes
mãos pousam em meus quadris e, de repente, não há ar neste
armário. Eu sou um fogo, e eu queimei tudo.
As vozes do lado de fora ficam mais altas, mesmo que o
armário pareça ficar mais quente, menor. Eu sou Alice, e bebi
qualquer poção que me fizesse crescer dez vezes o meu
tamanho. É assim que me sinto quando estou cada vez mais
consciente de cada centímetro do corpo de Zane, cada lugar
que está tocando o meu.
— Zane. — Minha voz soa embargada. É um aviso. Mas
para que? Não sei. Só que este momento parece muito
combustível. Muito grande.
Suas mãos apertam meus quadris, e eu estremeço quando ele
se aproxima, seus lábios roçando minha orelha.
— Silêncio, Abs. Eles vão embora em um minuto.
Talvez eu não queira que eles desapareçam. Talvez eu queira
ficar neste armário pelo resto da minha vida.
E como esse momento é tão intenso, como um sistema
sobrecarregado, meu servidor trava.
— Este armário realmente deveria ter sido trancado — eu
digo. — Ter acesso a todos esses produtos químicos é perigoso.
— É? — A voz de Zane é baixa, fazendo meus dedos dos pés
enrolarem. Ele parece... divertido. Mas não há nada de
engraçado nisso.
— Você sabe quantas crianças morrem por ano ao ingerir
produtos de limpeza simples?
— Não posso dizer que sim.
Zane levanta uma mão do meu quadril, e estou desapontada
até que ele escova meu cabelo para trás, colocando-o sobre um
ombro. Seus dedos acariciam a pele sensível lá, mal roçando
minha clavícula antes de enrolar ao redor do lado nu do meu
pescoço.
— Mais de cem mil crianças por ano são hospitalizadas.
Pare de falar, Abby.
Isso é Gibbs na minha cabeça, e é apenas o lembrete de que
preciso fechar minha boca.
Estou tremendo, espero que apenas por dentro, enquanto
duas pontas dos dedos de Zane encontram o pulso no meu
pescoço.
— Você está nervosa, Abs?
Caramba, sim, estou nervosa. Você está desestruturando meu
mundo.
Estou vivendo no Mundo Invertido de Stranger Things, um
mundo que se parece muito com o meu, exceto pelo homem
atrás de mim. Aquele que se parece com o irmão gêmeo da
minha melhor amiga.
Mas neste mundo, Zane é doce e gentil e até engraçado. Ele
faz minhas entranhas derreterem e me enrola em um nó
complicado que temo que nunca se desfaça.
Sem aviso, seus lábios substituem as pontas dos dedos no
meu pescoço no beijo mais terno e elétrico de toda a minha
vida.
Suave, mas firme, sua boca faz uma pausa no meu pulso,
como se estivesse testando minha reação, e quando eu não me
movo – porque não posso me mover – ele pressiona outro
pequeno beijo no lado da minha garganta. Então outro.
Ele está seguindo a veia do meu pescoço para baixo, abrindo
um caminho de calor que posso sentir em todos os lugares. Em
todos os lugares. Mesmo aquele lugar no meu cotovelo onde o
corpo não tem muitas terminações nervosas, mesmo aquele
lugar se levanta e diz: OIIE.
Minhas pálpebras se fecham, e eu ainda sou Alice, mas estou
caindo direto na toca do coelho, caindo de cabeça no País das
Maravilhas.
Em um movimento que eu não esperava, Zane me gira, e
então seus lábios estão nos meus. Eu congelo completamente.
Meus joelhos travam. Meus cotovelos se endireitam. Minha
coluna é como uma haste de metal, me mantendo
perfeitamente imóvel.
Então, os lábios de Zane começam a se mover, me
persuadindo a fazer o mesmo. Não é preciso ser muito
convincente. Minhas mãos deslizam em volta de seu pescoço.
Eu inclino minha cabeça, convidando-o a ir mais fundo, e Zane
obedece.
O beijo é uma dança lindamente coreografada, uma que eu
não sei, mas tudo bem, porque Zane está completamente na
liderança. Ele tem controle sobre cada parte de mim. Se ele
dissesse ao meu dedo mindinho para mexer agora, ele
obedeceria.
Ele me beija e me beija, até que o perigo dos produtos
químicos parece bobo comparado ao perigo da boca de Zane
na minha.
Uma voz familiar soa do lado de fora da porta.
— Por que tem sapatos no meio do corredor?
A aterrissagem é abrupta quando Zane se afasta, nossos
lábios fazendo um pequeno barulho enquanto se separam.
Ficamos ali, ouvindo.
Charla, a assessora econômica, deve estar do lado de fora
deste armário, olhando os nossos sapatos. A boca de Zane não
vai muito longe, pairando, sua respiração rápida e ofegante
soprando sobre minha pele.
— Eu acho que esses são os sapatos de Zane — Jack diz.
Há uma pausa. E então a porta do armário se abre. Zane e
eu piscamos para Charla e Jack, que estão do lado de fora da
porta.
Eu não sei o que dizer, ou como me mover. Devemos sair,
certo?
Zane ainda tem as duas mãos nos meus quadris. Não tenho
certeza se pareço tão completamente beijada quanto me sinto,
mas com base em suas expressões, suspeito que sim.
Zane limpa a garganta, dá um tapinha no meu quadril e me
empurra para a porta.
— Bom dia — diz ele, passando por mim para pegar nossos
sapatos.
— Por que vocês estão em um armário? — Charla pergunta,
sua cabeça balançando entre nós.
— Sim, por que? — Jack pergunta, parecendo tão
presunçoso, tão divertido, que eu quero enfiá-lo no armário e
deixá-lo lá. Em vez disso, vou para o corredor, fechando a porta.
Zane se abaixa na minha frente, cutucando meu pé. Percebo
que ele está tentando colocar meus chinelos de volta. Eu nunca
tive um homem colocando um sapato no meu pé antes. Isso
parece uma coisa estranha de se querer.
E, no entanto, enquanto Zane desliza cuidadosamente um
chinelo no lugar e depois o outro, acho que esse é um gesto
subestimado, do tipo que poderia fazer uma mulher se
apaixonar. Ele dá um tapinha no topo do meu pé antes de calçar
seus próprios sapatos. Eu mal resisto ao desejo de correr meus
dedos por seu cabelo, apertando minhas mãos em vez disso.
— Estávamos testando todas as comodidades — diz Zane.
— Certo, Abs?
— Sim — eu digo. — O que ele falou.
Jack balança para trás nos calcanhares, com as mãos nos
bolsos.
— Oh? E como estavam as comodidades?
Zane olha para mim, seus olhos azuis praticamente me
perfurando.
— Incrível. Perfeito. Mas ainda há muitos testes a serem
feitos. Muitos cômodos para explorar.
Apenas quando eu penso que ele me hipnotizou, me
arrastando para o azul de seus olhos, Zane pisca, e é como se
alguém tivesse ligado cabos jumper13 no meu coração.
13
Cabos Jumper são normalmente utilizados em distribuidores de
equipamentos telefônicos de comutação, interligação de blocos, terminais em
armários de distribuição e em quadros de indústrias e edifícios.
CAPÍTULO QUINZE
Abby
Abby: Dois...
Zane: Abby.
Abby: Zane.
Abby: Estarei aí às 7.
Zane
De: [email protected]
Para: [email protected]
Querida Abby,
14
É um adaptador Wi-Fi, que era comumente utilizado em equipamentos
mais antigos que não possuíam Wi-Fi integrado.
Agradável. Você me deve um jantar desde que eu encontrei
outro de seus e-mails falsos.
-S
De: [email protected]
Para: [email protected]
De: [email protected]
Para: [email protected]
De: [email protected]
Para: [email protected]
Abby
Zane
Abby: SP.
Eu não gosto de linguagem de texto, então eu tenho que
pesquisar no Google a resposta dela. Recuso-me a ficar
envergonhado por encontrar a resposta em um artigo
intitulado “Códigos de texto secretos que todos os pais devem
conhecer para entender seus adolescentes”. Agora sei mais do
que nunca sobre como os adolescentes estão usando emojis e
quero esfregar os olhos e excluir a maioria dos emojis de frutas
ou comida do meu telefone. Mas eu encontro a resposta.
Sem problema. A pedra no meu peito se levanta, e eu jogo
minha gravata por cima do ombro antes de responder com
algum jargão próprio, tirado do mesmo artigo.
Zane: VGAVPO.
Abby
Zane
Abby
De: [email protected]
Para: [email protected]
Cara Desprezada,
Sinto muito pelo que você passou. Ninguém merece ter sua
confiança traída e seu coração partido assim.
Na superfície, eu tendo a concordar com seus amigos. A
traição é uma grande bandeira vermelha e um indicador de
comportamento futuro. Mas nem sempre é tão simples. Meus
próprios pais passaram pela infidelidade. Eu tinha idade
suficiente para saber o que estava acontecendo, e foi difícil para
toda a família, mas consegui um lugar na primeira fila para ver
como a reconciliação pode ser maravilhosa.
Se fosse eu, gostaria de ver evidências maciças de seu
remorso. Eu gostaria de ver mudanças reais. Eu absolutamente
iria a terapia, talvez antes mesmo de decidir o que fazer.
As circunstâncias também podem pesar. Ele estava
totalmente em um relacionamento com outra pessoa? Foi uma
coisa de uma vez? Ele terminou tudo? Você o pegou, ou ele
confessou?
Prefiro pensar que você é esperançosa, não ingênua para
querer passar por isso. Mas há muito poucos casos em que eu
recomendaria fazer isso. Amá-lo não é motivo suficiente para
lhe dar outra chance. Se você está tentada a voltar com ele, não
comprometa os termos.
E então vem a parte difícil – se você diz que o perdoa, você
tem que realmente fazer isso. Nada de trazer isso à tona toda vez
que estiver chateada. Sem comentários passivo-agressivos. Você
acha que VOCÊ pode perdoá-lo? Você pode confiar nele
novamente?
Boa sorte nesta difícil escolha,
Dra. Love
CAPÍTULO VINTE E DOIS
Zane
Abby: Chegando.
Zoey: Ok...
Abby
15
O Hallmark é um canal de televisão dos Estados Unidos, com transmissão
para mais de 100 países, focado em séries e filmes apropriados para a família.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
Zane
Abby
Abby: Não.
Zane
NO QUE DIZ RESPEITO AOS grandes gestos, acho que o meu foi
um pouco grandioso demais. Talvez se eu tivesse quatro balões,
não quarenta e sete. Ou se eu tivesse esperado até que eu tivesse
a pulseira de segurança certa para a ala da maternidade e ala dos
partos. As minhas ações eram suspeitas. Essa é a impressão que
tive do joelho do segurança nas minhas costas. E enquanto eu
estava sendo detido no que tenho certeza que era sua sala de
descanso, quando gritaram comigo por não seguir a política do
hospital e causando pandemônio e pânico.
Depois de falar com vários administradores do hospital e
um policial de verdade, explicando que os balões eram um
presente, e não uma maneira de bloquear as câmeras de
segurança para sequestrar um bebê, eles me liberaram com
vários avisos.
Abby está esperando do lado de fora da sala, e todo o meu
corpo reage. Minha boca já está sorrindo, meu coração batendo
em um ritmo rápido, e minhas mãos coçam para tocá-la. Sem
esperar por permissão, eu a envolvo em meus braços,
levantando seus pés do chão e segurando-a no meu peito. Ela
tem o tamanho perfeito.
— Você está bem? — Abby murmura, aconchegando-se
ainda mais, seus lábios roçando meu pescoço. — Alguma
violência policial para relatar?
— Vou ter hematomas nos pulsos e nas costas, mas, no geral,
acho que me safei com facilidade pelo meu crime.
— Que foi?
— Não ter vindo atrás de você para me desculpar mais cedo.
Abby se vira e pressiona seus lábios nos meus. Sou pego de
surpresa, mas só leva um minuto para acompanhá-la. Talvez
um pouco rápido demais, mas estou me sentindo desesperado
por qualquer garantia de que isso é real. Depois de um
momento, Abby ri e se afasta. Nós dois estamos respirando
pesado demais para um corredor de hospital. Eu a solto um
pouco relutantemente, mas mantenho sua mão na minha.
— Zane, eu errei também. Talvez mais do que você.
Provavelmente mais do que você. — Ela suspira, e antes que eu
possa argumentar, ela continua. — Sam me disse que eu saboto
as coisas, e acho que ela está certa. Fiquei com medo e atribuí
muita culpa a você. Eu reagi impulsivamente e corri assustada.
Você pode me perdoar?
Eu me inclino para mais perto, até nossas testas se tocarem.
— Eu perdoo. Ambos cometemos erros. Você ainda quer
fugir? — Ela balança a cabeça, e eu pressiono um beijo rápido
em seus lábios. — Que tal perdoarmos e seguirmos em frente?
Confiança total. Chega de ter medo. Ou, se estivermos,
conversamos sobre isso.
— Acho que posso lidar com isso — diz ela. — Agora, a
grande questão. Quer ir conhecer a minha afilhada? — ela
pergunta.
Eu me afasto apenas o suficiente para que eu possa olhar
para ela.
— Sua afilhada? Isso é incrível. Sim. Talvez eu... tenha
permissão?
Abby cutuca meu ombro.
— Vamos deixar os balões na sala de espera e conseguir uma
pulseira oficial para você. — Ela segura a faixa de plástico
branca em seu braço.
Eu deveria estar nervoso em conhecer a família dela – não
estou contando o momento em que seu irmão me viu sendo
maltratado pela segurança – mas estou apenas animado. E dez
minutos depois, as apresentações foram feitas, e estou sentada
em um sofá de plástico desconfortável com Abby aninhada ao
meu lado. Onde ela pertence.
Um pequeno barulho me faz olhar para o bebê nos braços
de Abby. Não consigo ver a cor do cabelo dela sob a touca, mas
suas bochechas estão coradas e cheias. Seus dedinhos escapam
do cobertor em que ela está enrolada. Eu nunca vi uma unha
tão pequena antes. Isso me enche de admiração e algo mais
profundo, uma sensação de amor e conexão com Abby. Um
desejo de mais.
Minha experiência com recém-nascidos até hoje foi nula,
mas estou chocado com a naturalidade disso. Eu. Abby. Um
bebê.
Compre um anel para ela primeiro, idiota.
Essa é a voz de Zoey na minha cabeça, e eu não discordo. Na
verdade, já estou pensando em perguntar à minha irmã o que
Abby gostaria. Porque eu suspeito que Abby não é uma garota
do tipo platina e diamante. Talvez algo azul, como sua cor de
cabelo atual, que eu poderia amar mais do que o rosa.
Os lábios de Addie começam a trabalhar e ela grunhe, sua
cabeça começando a balançar para frente e para trás.
— Ela está com fome — diz Abby. — Eu odeio acordar
Jessa.
— Mas ela pediu — eu a lembro. — Ela queria alimentar sob
demanda, certo?
Estou muito orgulhoso do novo vocabulário no qual me
adaptei nas poucas horas que passei no hospital. Coisas como
alimentação sob demanda, amamentação e alojamento
conjunto. Quando for a hora, prometo conhecer todos os
termos e ser o melhor apoio que puder ser. Muito parecido com
Jason, que aparece na porta com um café para Abby e comida
chinesa para Jessa.
Eu ajudo Abby a se levantar e observo enquanto ela
gentilmente acorda Jessa, que parece exausta, mas mais do que
feliz por ter Addie de volta em seus braços. Ela também está
animada com a comida chinesa. Mas comparado a lascas de gelo
e comida de hospital, quem pode culpá-la?
Jason passa o café para Abby como um bastão antes de ficar
imerso em seu novo membro da família, e então estamos no
corredor, acho que indo para a casa dos pais de Abby para
ajudar a cuidar de seus sobrinhos. Zoey já está lá.
Meu braço está em torno de Abby, onde esteve nas últimas
horas. Seria necessário um guindaste para me tirar daqui agora.
Eu estraguei tudo na primeira vez que a deixei ir, e não estou
planejando fazer isso de novo.
— Que horas são? — Abby pergunta, bocejando.
— Eu não sei.
Abby pega minha camisa e me puxa para uma pequena
alcova com máquinas de refrigerante e salgadinhos. Minha
mente imediatamente começa a pensar em beijos, mas ela tem
um olhar preocupado em seu rosto.
— Por que você não sabe que horas são? Por que você não
está no trabalho? Você e Zoey faltarem é algo de nível
apocalíptico.
Eu rio, sentindo uma liberdade que eu não sabia que estava
perdendo até agora, ouvindo sua preocupação. Apesar de estar
no hospital com Abby por horas, não tive a chance de explicar
muito a ela. Fomos direto da sala de segurança para o beijo, para
conhecer Addie.
Levanto minhas mãos, segurando o rosto de Abby, amando
a suavidade de sua pele contra as minhas palmas. Suas mãos
encontram o caminho para as minhas, me segurando no lugar.
— Eu estou saindo da Eck0.
Seus olhos se arregalam e ela tenta balançar a cabeça. Eu a
seguro no lugar.
— Mas você não pode! Isso é sua coisa!
— Não — eu digo a ela, acariciando meus polegares sobre as
maçãs de seu rosto. — Não foi difícil sair. Eu não quero essa
vida. Não quero trabalhar com Jack. Nós escrevemos em uma
cláusula apenas para o caso desse tipo de coisa acontecer. Vou
ajudar no lançamento, mas mais como um contratado.
Horários mais flexíveis.
— Mas o dinheiro... todo o tempo você gastou!
— Eu não vou embora de mãos vazias. Eu vou ficar bem. E
meu tempo não foi desperdiçado. Eu aprendi muito. Eu ganhei
dinheiro. Talvez não tanto quanto eu ganharia se ficasse a
longo prazo. Mas aprendi especialmente o que é mais
importante para mim e o que não é.
Abby pisca seus grandes olhos castanhos para mim. Eu me
pego estudando-os, notando as cores e a forma como eles
mudam. Hoje, eles são mais castanhos claros com um pouco de
verde ao redor de suas pupilas. Ela é tão bonita, e tenho a
sensação de que ela nunca vai entender o quanto. Mesmo que
eu diga a ela muitas vezes. O que pretendo fazer.
— Você é tão linda — eu digo a ela. — E eu gosto do azul.
— Melhor que o rosa?
Eu balanço minha cabeça.
— Eu amo todas as suas cores, Abby.
Embora eu odeie desperdiçar o sorriso se espalhando em seu
rosto, mal posso esperar para beijá-la mais. Usando meu corpo
para colocá-la mais fundo na alcova e fora de vista, pressiono
meus lábios nos dela, precisando da conexão. Precisando dela.
Eu planejava ser doce e suave, querendo que Abby soubesse
e sentisse o quanto eu a valorizo, o quanto eu senti falta dela
mesmo nesses poucos dias separados. Mas ela parece
compartilhar a mesma fome que eu sinto, e a pressão e o roçar
de nossas bocas tornam-se desesperados, como se tivéssemos
acabado de atravessar um deserto e encontrado o oásis depois
de passar miragem após miragem.
Minhas mãos deslizam para emaranhar em seu cabelo macio
e seus punhos agarram a frente da minha camiseta, me
mantendo no lugar.
Como se houvesse algum lugar que eu preferisse estar.
Quando nos separamos, nós dois ficamos sem fôlego. Não
me sinto menos desesperado por essa proximidade com Abby,
mas ainda há tantas palavras que precisam ser ditas.
— Já te disse que te amo hoje? — Eu pergunto.
Abby sorri.
— Eu não consigo me lembrar. Talvez você precise me dizer
novamente. Apenas no caso de não ter dito.
Deixei minhas mãos caírem em sua cintura, segurando-a
perto, sentindo-me possessivo e carente e também de alguma
forma completamente satisfeito. Como se estar com Abby
fosse o certo.
— Eu te amo — eu digo a ela, dobrando para que nossas
testas se toquem. — E eu pretendo dizer isso a você todos os
dias.
— Eu também te amo. Eu nunca teria planejado isso. Mas
foi a melhor surpresa.
Realmente foi. Fechando a distância entre nós, beijo a ponta
de seu nariz, levemente, provocando. Meus olhos examinam
seu pescoço. A borda de sua tatuagem de camaleão aparece
perto de sua clavícula. Eu tenho tantos lugares para beijar e
reivindicar. Tanta coisa para explorar.
Não se apresse. Lentamente e constante se ganha a corrida.
Estou grato por não estar ouvindo isso na voz de Zoey, porque
beijar Abby é o último lugar em que quero estar pensando na
minha irmã.
— Eu tenho uma ideia — Abby diz. — Você está dentro?
Quase peço para ela me dizer o quê é antes de concordar,
mas esta é Abby. Provavelmente é algo que eu nunca teria
pensado, algo que vai me tirar da minha zona de conforto e que
mais tarde eu vou amar.
— Contigo? Estou sempre dentro.
Seus olhos se iluminam.
— Você pode se arrepender disso mais tarde.
— Eu não pretendo ter mais arrependimentos quando se
trata de você.
Ela beija o canto da minha boca, afastando-se antes que eu
possa capturar seus lábios. Eu gemo, e ela ri.
— Não foi essa a minha ideia. Embora vamos guardar isso
para mais tarde. Por enquanto, pensei que poderíamos pegar
quantos balões restarem na área de espera e iluminar a ala
infantil deste lugar. O que você acha?
— Eu digo que você está cheia de boas ideias — digo a ela,
roubando mais um beijo antes de pegar sua mão e puxá-la para
fora da alcova. Receio que possamos ficar tentados a ficar a
tarde toda se não o fizermos.
Eu entrelacei nossos dedos, então trago sua mão até minha
boca.
— Me desculpe por continuar beijando você em lugares
públicos estranhos.
— Não se desculpe — Abby diz. — Acho que talvez seja
algo que devemos manter na lista.
— Temos uma lista?
— Estou fazendo uma agora, à medida que seguimos.
Primeiro da lista: dizer eu te amo todos os dias.
— E o segundo é beijar em lugares públicos?
O elevador abre naquele momento, e de repente Abby está
me puxando para dentro. Está vazio, e ela me dá um sorriso que
faz uma parte profunda do meu corpo parecer que mergulhou
de um penhasco. As portas se fecham atrás de nós.
— Que tal lugares públicos, mas com um pouco de
privacidade? — ela pergunta.
Mas antes que eu possa responder, Abby está na ponta dos
pés com as mãos trançadas atrás do meu pescoço, puxando
minha boca sorridente para a dela. Eu poderia ficar aqui o dia
todo.
Quando o elevador para, eu quebro o beijo apenas para
colocar meus lábios perto de sua orelha para que eu possa
sussurrar na minha voz mais sexy algo que só Abby vai
entender.
— Linguagem HTML.
Rindo, ela me aperta com força.
— Ah, Zane. Você sempre sabe exatamente o que dizer.
EPÍLOGO
Zoey
Zane
https://www.oFacebook.com/groups/emmastclair/
Se você não deixou uma resenha sobre este livro (ou meus
outros livros), isso significaria o mundo para mim! Muito
obrigado por ser um leitor!!
-e
OBRIGADA!
Um enorme obrigada a todas as pessoas nos bastidores por
fazerem este livro acontecer.
Para Rob, por sempre me dizer quando piadas sobre
placenta NÃO precisam estar nos meus livros.
Para Sarah Adams, uma autora incrível que me fez sentir
que isso poderia funcionar.
Para Stephanie, por sua honestidade. Você não tem ideia do
quanto eu aprecio isso!
A Judy & Devon, por detectar meus erros.
Para Jillian, Lori, Leslie, Rita, Judy, Lisa, Anna, Amberly,
Marsha, Lissa, Sandy e qualquer outra pessoa que eu perdi
nesta lista que leu cedo para mim! Vocês são realmente
incríveis.