Tayar Et Al 2007-Med Vet Comerciais - Saude Do Consumidor
Tayar Et Al 2007-Med Vet Comerciais - Saude Do Consumidor
Tayar Et Al 2007-Med Vet Comerciais - Saude Do Consumidor
DE TOXICOLOGIA
BRAZILIAN JOURNAL
OFTOXICOLOGY
@SOCIEDADE Revista Brasileira de Toxicologia 20, n.1 e 2 (2007) 13-19
BRASn..EIRA DE
TOXICOLOGIA
Gustavo Tayar Peres, Flavia Pereira da Silva Airoldi, Felix Guillermo Reyes Reyes*
Abstract
Veterinary drugs on the apiculture: commercial, regulatory and consumer health aspects
Apiculture is subject to attacks by plagues, which impair productivity of the apiary and, consequently, the revenue of the
producer. To control these diseases veterinarian management techniques and the application of veterinary drugs such as
oxytetracycline, chloramphenicol, streptomycin and sulfathiazole are employed. Nevertheless, residues of these antimicrobial
agents can be present in honey, exposing the consumer to health risks in consequenceoftheir ingestion. The aim ofthis work
is to discuss the consequencesof the use of veterinary drugs in the apiculture, considering the aspects related to consumers
health, regulation and intemational trade of honey.
I Dlmportação I
lEiExportaçãO I
Figura 1: Quantidade (em toneladas) de mel importado e exportado pelo Brasil entre os anos
de 1995 e 2005 (1).
aparecimento de infecções (profilático) e melhorar a taxa de destes produtos possuem indicação de uso na apicultura.
crescimento e/ou conversfu) alimentar (promotores de cres- Não existem produtos registrados que utilizam o
cimento) (WHO, 2003). cloranfenicol (SINDAN, 2005).
Até meadosda década de 1940, a forma maisutiliza- Os resíduos destes medicamentos podem estar pre-
da para controlar a dispersão de doenças na apicultura era sentes no mel, expondo os consumidores e a população
queimar as colméias e utensílios de madeira e ferver outros aos riscos conseqlientes da ingestão e uso indiscriminado
materiais utilizados nos apiários e entrepostos. Apesar de de antimicrobianos. O comércio internacional do mel tam-
sua eficácia, esta técnica causa sérios prejuízos financeiros bém é prejudicado devido às barreiras não alfandegárias
ao apicultor, pois exige a aquisição de novos equipamentos impostas pelos importadores. Por estes motivos, este arti-
e implica em redução da capacidade de produção. go tem como objetivo apresentar as conseqliências do
Após a segunda guerra mundial, o combate às do- uso de medicamentos veterinários na apicultura, conside-
enças utilizando-se medicamentos do tipo "sulfas" ganhou rando os aspectos relacionados à saúde do consumidor, à
repercussão entre produtores e pesquisadores da apicul- legislação vigente e a'ocomércio internacional de mel.
tura. Um dos antimicrobianos mais utilizados desde essa
época é o sulfatiazol. No final dos anos 1950, introduziu-
se a oxitetraciclina, a qual se revelou um potente agente CONSIDERAÇÕES SOBREASEGURANÇA DE USO
no controle de ambas enfermidades, enquanto o sulfatiazol DOS PRINCIPAIS ANTIMICROBIANOS UTILIZA-
é eficaz somente no controle da EFB (CLA Y, 2000). Em DOS NA APICULTURA
alguns países utiliza-se uma combinação destas substân-
cias (DIAZetal.,1990; SALINAS etal.,1991). Cloranfenicol
Mesmo tendo seu uso veterinário proibido para pro-
dução de alimentos na maioria dos países, o cloranfenicol, o cloranfenicol, inicialmente denominado
antibiótico da classe dos anfenicóis, também tem sido ob- cloromicetina, obtido a partir de culturas do Streptomyces
jeto de investigações desde que resíduos desta substân- Ilene;::uelae,foi Oprimeiro antibiótico a ser produzido sinte-
cia foram detectados em méis e outros produtos destina- ticamente emrescalaindustrial, logo após a sua estrutura ser
dos à alimentação humana (HORMAZÁBAL e estabelecida(KA1ZUNG, 1998).
YNDESTAD, 2001; MARTIN, 2003; VERZEGNASSI et al., Em seres humanos, 90% do cloranfenicol adminis-
2003). O seu uso não foi descontinuado devido, provavel- trado é biotransformado no fígado como glucoronídeo e
mente, ao baixo custo do produto e seu amplo espectro de excretado pelos rins. Em torno de 100/cJ é eliminado na for-
ação antimicrobiana. ma ativa pela urina (WHO, 1994).
O uso de estreptomicina para prevenção de AFB e O cloranfenicol apresentou genotoxicidade em al-
EFB não é autorizado nos Estados Unidos e na União Eu- guns sistemas de testes in vivo e in vitro. Mas, apesar da
ropéia. Entretanto, a presençadeste antimicrobiano em méis dificuldade de avaliação da menor concentração capaz de
comercializados nesses países foi relatada por alguns au- causar lesões genéticas em humanos, acredita-se que esta
tores (MARTIN, 2003; MUTlNELLI, 2003). Na China, o concentração é três ou quatro ciclos logaritmos superiores
maior exportador de mel do mundo, a estreptomicina e o às concentrações sanguíneas que poderiam resultar da
cloranfenicol são os antimicrobianos preferenciais para ingestão de alimentos com resíduos do antimicrobiano. Os
utilização na apicultura (ORTELLI et al. ,2004). efeitos adversos mais graves provocados pelo cloranfenicol
Pesquisadores têm testado outros antimicrobianos em seres humanos estão relacionados com sua capacidade
para controle das doenças de origem bacteriana que ocor- de causar diminuição na ati vidade da medula óssea,a qual é
rem nas abelhas, sendo a tilosina e o cloreto de lincomicina reversível e está relacionada à dose, e aplasia (anemia
as substâncias apontadas como alternativas eficientes aplástica), a qual é irreversível e não apresentarelação dose-
no tratamento das variedades resistentes aos medica- resposta (WHO, 1994). A Agência Internacional para Pes-
mentos veterinários tradicionais (PENO et al., 1996; quisa em Câncer (IARC) avaliou que as evidências sobre a
FELDLAUFER etal., 2001). carcinogenicidade em sereshumanos relacionadas à expo-
Não há, até o momento, dados sobre a utilização de sição ao cloranfenicol são limitadas. Entr.etanto. a agência
antimicrobianos pelos produtores de mel brasileiros. Exis- reportou que esta substânciapode induzir a anemia aplástica
tem no Brasil, atualmente, diversos medicamentos veteri- e que esta condição, em alguns casos relatados, foi sucedi-
nários que utilizam como princípios ativos os da por leucemia. A IARC concluiu que o antimicrobiano é,
antimicrobianos estudados neste trabalho. Segundo o Sin- provavelmente,carcinogênicoem humanos(IARC, 1990).Na
dicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Ani- última avaliação toxicológica do cloranfenicol realizada pelo
mal (SINDAN), estão registrados no Ministério da Agri- Comitê FAO/OMS de PeritosemAditivos Alimentares(JECFA)
cultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) 31 medicamen- não foi possível estabelecerum valor de ingestão diária acei-
tos de uso veterinário com estreptomicina, 13 com tável (IDA) devido à falta de dados para avaliar a
diidroestreptomicina, 20 com sulfametazina, 2 com carcinogenicidadee efeitos na reprodução.Conseqilentemen-
sulfatiazol. I com sulfadimetoxina. 45 com oxitetraciclina, te, o comitê também não estabeleceulimites máximos de resí-
12 com tetraciclina e 8 com clortetraciclina. Apenas dois duns (LMR) oaracloranfenicol em alimentos (WHO. 2004).
Re.,.'esF.GR./Re,.i.5taBra.'iileira de To.l:ic(}[ogia20. II.1 e 2 ( 2007) 15
O.\.itetrllcicl i II(/
E.\1rcptolllici/1ll
Figura 2: Rotas de transmissão dos antimicrobianos e de microrganismos resistentes na cadeia alimentar e no meio ambiente.
Tabela I: Valores de limites máximos de resíduos (LMR) e limites de quantificação (LQ) para os
antimicrobianos inclusos no PCRM/2006 (30).
Oxitetraciclina
Tetraciclina 25 200
Clortetraciclina
Sulfatiazol
Sulfametazina 25 10n
Sulfadimetoxina
ao LMR se refere à soma dos resíduos de todos os antimicrobianos presentes na amostra analisada.
o programa não faz referência aos outros medica- relacionada ao desenvolvimento de resistência das bacté-
mentos veterinários que possuem relevância na apicultura, rias à ação dos agentes antimicrobianos e a presença de
como relatado anteriormente neste trabalho. Comf) um resíduos desses compostos no mel. O primeiro aspecto é
parâmetro para comparação, a Tabela 2 dispõe os valores de de fundamental importância para a saúde pública, pois as
LMR estabelecidospelo MERCOSUL para o cloranfenicol, bactérias patogênicas aos homens, animais, insetos e plan-
a estreptomicina e a diidrostreptomicina em diferentes ma- tas têm adquirido resistência às substâncias que eram efi-
trizes de origem animal. cazes para seu controle. Com isso, para haver eficácia nos
Tabela 2: Valores de limite máximo de resíduos (LMR) para antimicrobianos em diferentes matrizes
de origem animal estabelecidos para o MERCOSUL (35). .
Hormazábal V. Y nde$tad M. Simultaneous determination of Verzegnassi L., R()yer D. Mottier P. Stadler RH. Analysis ()f
chloramphenico] and ketoprofen in milk and choramphenicol in h()neys of difterent geographical origin
chloramphenicol in egg, honey, and urine using liquid by liquid chr()matography coupled to electrospray
chromatography-mass spectrometry. J Liq Chromatogr ionizati()n tandem mass spectrometry. Fo()d Addit. Con-
ReITechnoI2001; 24 (16): 2477-2486. tam 2003; 20(4): 335-342.
IARC. (International Agency for Research on Cancer). WHO (World Health Organization). Evaluation of certain
Chloramphenicol.Summaries&Evaluations 1990;50: 169. veterinary drug residues in food. Thirty-fouJ1h Re~)rt of
Jorgensen SE, Halling-Sorensen B. Drugs in the the Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives.
environment. Chemosphere 2000; 40: 691-9. WHO Technical Report Series ~ 788, Geneve, 1989.
Katzung, B.G.. Farmacologia Básica e Clínica. 6a ed., WHO (World Health Organization). Toxicologicol Evaluation
Guanabara Koogan, RJ, 1998. p. 528. ofCertain FoodAdditives. Forty-forth Report ofthe Joint
Kochansky J, Pettis J. Screening additional antibiotics for FAO/WHO Committee on Food Additives. Food
efficacy against American foulbrood. J Apic Res 2005; Additives Series,N° 33, Geneve, 1994.
44(1):24-8. WHO (World Health Organization). Evaluation of certain
Martin P. Veterinary drug residues in honey. APIACTA2003; veterinary drug residues in food. Forty-second report of
38: 31-3. the Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives.
Mutinelli F. Pratical application of antibacterial drugs for WHOTechnical ReportSeriesN°851, Geneve. 1995.
the control of honeybee diseases. APIACTA 2003; WHO (World Health Organization). Toxicologicol
38: 149-155. evaluation of certain veterinary drug residues in food.
Myagy T, Peng CYS, Chuang RY, Mussen EC, Spivak, MS, Forty-eigh meeting of the Joint FAO/WHO CQmmittee
Doi RH. Verification of oxytetracycline-resistant on Food Additives. Food Additives Series N° 39,
American foulbrood pathogen Pae1libacillus lan,'ae in Geneve, 1997.
the United States. J Invertebr Pathol 2000; 75: 95-6. WHO (World Health Organization). Toxicologicol evaluation
Nelson D, Melathopoulos A. Managing AFB: Developing of certain veterinary drug residues in food. Fiftieth meeting
new tools to manage American foulbrood in an era of of the Joint FAO/WHO Committee on Food Additives.
oxytetracycline resistance. Hivelights 2002; 15 (1). FoodAdditives Series N° 41, Geneve, 1998.
Disponivel em: <http://www.honeycouncil.ca/users/ WHO (World Health Organization). Evaluation of certain
folder.asp?FolderID=4920>. Acessado em: 10/fev/2008. veterinary drug residues in food. Fifty-eighth report of
Oka H, Ito Y, Matsumoto H. Chromatographic analysis of the Joint FAO/WHO Expert Committee on Food
tetracycline antibiotics in foods. J Chromatogr A 2000; Additives. WHO Technical Report Series n° 911.
882: 109-133. Geneve,2002.
Ortelli D, Edder P, Corvi C. Analysis of chloramphenicol WHO (World Health Organization). Report ofthe Joint FAO/
residues in honey by liquid chromatography-tandem OIE/WHO Expert Workshop on Non-human
mass spectrometry. Chromatographia 2004; 59: 61-4. Antimicrobial Usage and Antimicrobial Resistance:
Peng CY, Mussen E, Fong A., Cheng P, Wong G, Montague Scientific assessment, Geneve, 2003. Disponível em:
MA. Laboratory and field studies on the effects of the http:/ /www. who. int/foodsafety/publ ications/m icro/
antibiotic tylosin on honeybee Apis mellifera I. nov2003/en/. Acessado em 14/nov/2005.
(Hymenoptera: Apidae). Development and prevention WHO (World Health Organization). Evaluation of certain
of american foulbrood disease. J Invertbr Pathol 1996; veterinary drug residues in food. Sixty-second report of
67:65-71. the Joint FAO/WHO Expert Committee on Fo()d
Piccini C. Zunino P. American foulbrood in Uruguay: Addjtives. WHO Technical Report Series N° 925,
Isolation ofPaenibacillus larvae larvae from larvae with Geneve, 2004.
clinical symptoms and adult honeybees and susceptibility Wilson B. 45 Years ofFoulbrood. Bee Culture 2000; 128
to oxytetracycline. J Invertebr Pathol 2001; 78: 176- 7. ( 10). Disponível em: http://bee.airo()t.c()m/st()rycms/
Salinas F, Mansilla AE, Nevado JJB. Simultaneous
index.cfm'?cat=Story&recordID=92. Acessado em
determination of sulfathiazole and oxytetracycline in 11/fev/2008.
honey by derivative spectrophotometry. Microchemical
J 1991; 43 (2): 244-252.
SINDAN{Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para
Saúde Animal). Compêndio de produtos veterinários. Dis-
ponível em: <http://www.cpvs.com.br/cpvs/index.html>.
Acessado em 17/nov/ 2005.