Avulsa-Direito Civil - Coisas-Apostila Aprenda A Advogar-Modulo Unico
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INTRODUÇÃO
O direito das coisas consiste no complexo de normas reguladoras das relações jurídicas
referente aos bens suscetíveis de apropriação pelo homem.
a) os direitos reais são absolutos, oponíveis erga omnes, sendo providos de ação real que
possibilita a recuperação da coisa, esteja ela em poder de quem quer que seja, ao passo que os
direitos pessoais são relativos, podendo a ação ser movida apenas em face da pessoa com quem se
celebrou o negócio jurídico. Alguns civilistas criticam essa distinção entre direitos absolutos e
relativos, salientando que nenhum direito é absoluto, pois todos sofrem limitações sociais que os
conduzem à relatividade. Por outro lado, se se aceitar a existência de direitos absolutos, força
convir a existência de outros direitos absolutos fora dos direitos reais, como o status das pessoas,
seu nome, sua vida e integridade física (direitos da personalidade);
b) os direitos reais são regidos pelo princípio da taxatividade. O rol dos direitos reais é
numerus clausus, não podendo ser ampliado pelas partes e nem pela analogia. Somente a lei pode
criar novos direitos reais, além daqueles previstos no art. 1.225 do CC. Em contrapartida, os direitos
pessoais são numerus apertus, pois a lei os elenca de maneira meramente exemplificativa, podendo
outros ser criados livremente pelas partes, de modo que os direitos pessoais são ilimitados;
c) os direitos reais são regidos pelo princípio da legalidade ou tipicidade. É a chamada
imposição de tipos. Somente a lei pode criar direito real. Não existe direito real criado pelas partes.
No direito contratual existem os contratos típicos (criados pela lei) e os atípicos (criados pelas
partes). Os direitos reais são sempre típicos (criados pela lei). Washington de Barros, porém,
entende que o rol dos direitos reais não é taxativo, podendo as partes criar outros direitos reais,
desde que não contrariem os princípios de ordem pública;
d) os direitos pessoais são regidos pelo princípio da autonomia da vontade, podendo ser
criados livremente pelas partes;
e) os direitos reais são regidos pelo princípio da publicidade, consistente no registro, quando
se tratar de bens imóveis, e na posse em relação aos bens móveis. Antes da posse ou do registro
não há direito real. Alguns direitos reais sobre bens móveis também exigem registro, como o
penhor. Alguns direitos reais sobre imóveis dispensam o registro, como o direito real de habitação
previsto em favor do cônjuge sobrevivente. Nos direitos pessoais, a publicidade é facultativa;
f) os direitos reais são regidos por normas de ordem pública; os direitos pessoais, em regra,
por normas de ordem privada;
g) as ações reais sobre imóveis dependem da autorização do cônjuge do autor e da citação do
cônjuge do réu e são movidas no local da situação do bem. As ações pessoais dispensam a
participação dos respectivos cônjuges e são movidas no domicílio do réu. As ações reais podem ser
movidas contra qualquer pessoa que viole o direito real, ao passo que as ações pessoais só são
cabíveis contra quem figura como sujeito passivo na relação jurídica;
h) o titular do direito real tem a faculdade de abandoná-lo se não suportar mais seus
encargos. No direito pessoal, não é possível o abandono, salvo na servidão em que o dono do
prédio serviente tem a opção de abandonar o imóvel caso não queira realizar as obras de
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conservação a que estava obrigado por força do contrato (art. 1382 do CC);
i) admite-se usucapião de direito real, mas é controvertida a usucapião de direito pessoal;
j) o direito real é dotado de seqüela, que é o direito de perseguir a coisa, reavendo-a, esteja
ela em poder de quem quer que seja. O direito pessoal só pode ser invocado em face do outro
contratante;
k) os direitos reais podem ser perpétuos e temporários, ao passo que os direitos pessoais são
sempre temporários, extinguindo-se instantaneamente com o cumprimento da prestação devida.
Os direitos reais perpétuos são a propriedade, a enfiteuse e a servidão, pois os demais direitos reais
são temporários. Registre-se, ainda, que os direitos pessoais são instantâneos, salvo a obrigação de
não fazer, que se reveste da característica de permanência;
l) os direitos reais têm por objeto uma coisa corpórea, isto é, tangível, ao passo que os direitos
pessoais têm por objeto uma prestação do devedor. Em algumas hipóteses é possível direito real
incidir sobre direito pessoal, refiro-me ao usufruto e ao penhor, que podem recair sobre créditos e
direitos;
a) direito de sequela;
b) direito de preferência: o direito real, em regra, prefere ao pessoal, salvo se houver lei em
contrário, v.g., na falência, o crédito trabalhista (direito pessoal) tem preferência sobre o contrato
garantido por hipoteca (direito real);
c) aderência ou inerência: adere imediatamente à coisa, independentemente do seu titular, e
se prendendo a ela não sofre mutação com a modificação da respectiva titularidade. É o caso da
servidão ou usufruto que não se vê prejudicado com a alienação da propriedade, pois o adquirente
deverá respeitar o direito real sobre coisa alheia constituído;
d) tipicidade;
e) taxatividade;
f) elasticidade: é característica dos direitos reais limitados. Corresponde ao movimento que o
direito real pode ter quando desmembrados os poderes sobre a propriedade. É o que ocorre no
usufruto ou na servidão, quando parte dos poderes é transferida ao usufrutuário ou serviente e,
com a extinção do usufruto ou servidão, voltam ao titular, consolidando a propriedade, em um
movimento que é exclusivo dos direitos reais;
g) especialidade: os direitos reais só podem ser constituídos sobre coisa certa e determinada,
individualizada de modo a não admitir confusão. Só pode ser objeto de direitos reais coisa
corpórea, segundo o critério da tangibilidade, encontrado no direito romano e que tem
fundamento na idéia de apropriação material da coisa;
h) exclusivo: não é possível instituir-se direito real de igual conteúdo onde outro já exista. É
possível recaírem sobre a mesma coisa dois direitos reais de espécies diferentes, como, por
exemplo, “no caso de usufruto ou de enfiteuse os direitos são de conteúdo variado, pois enquanto
o usufrutuário tem direito aos frutos e o enfiteuta, às utilidades da coisa, o nu-proprietário e o
titular do domínio direto só guardam o direito à substância da coisa” (Silvio Rodrigues). Também
poderá o direito real ser dividido em partes ideais, como no condomínio, mas nesse caso cada um
dos condôminos tem exclusividade sobre a sua parte;
i) absoluto.
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CONTEÚDO
O direito das coisas abarca o estudo da posse, propriedade e direitos reais sobre coisas
alheias.
POSSE
CONCEITO
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AQUISIÇÃO DA POSSE
O Código Civil revogado fazia, no art. 493, uma disposição analítica dos meios de aquisição da
posse, enumerando-os. Afirmava que a posse era adquirida: I – pela apreensão da coisa, ou pelo
exercício do direito; II – pelo fato de se dispor da coisa ou do direito; III – por qualquer dos modos
de aquisição em geral.
Referido dispositivo, reminiscência das ideias savignyanas, era inútil e tecnicamente
impreciso. Ademais, elenca a apreensão como um dos modos de aquisição da posse, quando, na
verdade, nem toda apreensão constitui posse, assim como pode haver posse sem apreensão.
Como foi adotada a teoria objetiva de Ihering, bastaria o dispositivo enunciar que se adquire a
posse pelo exercício de alguns dos poderes inerentes ao domínio, pois a aquisição da posse é ato
jurídico de forma livre. Foi o que fez o Código Civil de 2002 ao dispor, no art. 1.204: “Adquire-se a
posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos
poderes inerentes à propriedade”. Acrescente-se ainda que a posse pode ser adquirida pela
própria pessoa que a pretende ou por seu representante, outrossim, por terceiro sem mandato,
desde que seu ato seja ratificado pelo beneficiário (art. 1.205 do CC).
O Código Civil, ao contrário do anterior que proibia expressamente, é omisso sobre o fato do
incapaz poder ou não adquirir posse, sem representação ou assistência do representante legal. Uma
primeira corrente nega a possibilidade, invocando, para tanto, os arts. 166, I, e 171, I, do CC. Uma
segunda corrente trata a posse como ato-fato jurídico, dispensando em relação a ela o requisito da
capacidade, nos moldes do art. 185 do CC, admitindo-se, destarte, a aquisição pessoal da posse pelo
incapaz. Filiamo-nos a essa última corrente, porque a posse é uma relação entre pessoa e coisa, isto é,
analisada isoladamente, deve ser considerada como sendo um fato, desvinculando-se dos requisitos
inerentes aos negócios jurídicos. Ademais, o Código Civil adotou a teoria objetiva, afastando-se de
qualquer requisito subjetivo, isto é, relacionada à intenção do agente.
O constituto possessório ou cláusula constituti é o ato pelo qual, segundo a clássica lição de
Clóvis, aquele que possuía em nome próprio passa a possuir em nome alheio. Por exemplo, o
proprietário aliena a casa, mas nela permanece como inquilino. Note-se que antes o proprietário
tinha a posse como dono, agora tem a posse como locatário. Verifica-se, no constituto possessório,
o fenômeno da bifurcação da posse em direta e indireta. O constituto não se presume, deve
constar expressamente do ato de alienação, sendo um modo de aquisição da posse. Com efeito,
dispõe o parágrafo único do art. 1.267 do CC: “Subentende-se a tradição quando o transmitente
continua a possuir pelo constituto possessório”. Conquanto o Código Civil preveja o constituto
possessório apenas para os bens móveis, a doutrina também o admite para os imóveis, aplicando
por analogia o artigo 1267 do CC. O enunciado 77 do CJF dispõe: “a posse das coisas móveis e
imóveis também podem ser transmitida pelo constituto possessório”.
Por outro lado, dispõe o art. 1.209 do CC que a posse do imóvel faz presumir, até prova em
contrário, a das coisas móveis que nele estiverem. Trata-se de mera aplicação da regra antiga no
sentido de que o acessório segue o principal. A presunção, porém, é relativa, juris tantum, cedendo
diante de prova em contrário.
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posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas, bem como aquele que
pratica os atos por mera permissão ou tolerância.
O detentor tem o contato físico com a coisa em situação de dependência para com outrem,
ou por mera permissão ou tolerância (arts. 1.198 e 1.208 do CC). Aquele que começou a comportar-
se como detentor, isto é, em situação de dependência ou por mera permissão ou tolerância, em
relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o contrário, consoante
determina o parágrafo único do art. 1.198 do CC.
Situações de dependência como a do caseiro encarregado de zelar pela chácara do patrão e
do soldado, em relação às armas do quartel, caracterizam mera detenção.
Atos de permissão ou tolerância também não induzem posse. Trata-se da detenção física
momentânea do bem que o possuidor entrega a terceiro, mas mantém sobre a coisa o controle e a
vigilância.
Permissão é a concessão expressa, como por exemplo a visita de um amigo na casa;
tolerância, a concessão tácita, é a omissão a certos fatos sem que isso implique em cessão de
direitos, como na hipótese de se tolerar que o vizinho passe por um atalho ou jardim.
A pessoa que tolerou ou consentiu, a qualquer tempo, pode revogar unilateralmente a ordem,
pois se trata de mero favor. Por exemplo, tolero por gentileza a passagem do vizinho pelo meu
quintal.
Posse é assim, a exteriorização do domínio, excepcionando-se, porém, a hipótese de
detenção.
Só a posse produz efeitos jurídicos, sendo os principais o direito à proteção possessória e à
usucapião.
A proteção possessória, como veremos, compreende a defesa direta da posse e a
possibilidade de ajuizar os interditos possessórios.
A detenção não gera efeitos jurídicos. O detentor jamais poderá ser autor ou réu de uma ação
possessória. Jamais obterá a usucapião. Falta-lhe a posse. Se, por engano, alguém propor ação
possessória contra o detentor, este deverá, na contestação, alegar a sua ilegitimidade e indicar
quem é o verdadeiro possuidor sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas
processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação (art. 339 do
CPC). Se o autor aceitar a indicação, haverá a substituição do detentor pelo possuidor, esta
substituição se chama extromissão processual, consistente na saída do processo do réu nomeante
(detentor) para a entrada do réu nomeado (proprietário ou possuidor). Observe-se que, conquanto
ilegítima a parte (detentor), o processo não é extinto sem resolução do mérito.
O único efeito jurídico atribuído ao detentor é a possibilidade de fazer uso da defesa direta
para proteger a posse. Assim, por exemplo, o caseiro tem o direito de expulsar com as próprias
mãos os intrusos que pretendem invadir o imóvel do seu patrão.
ESPÉCIES DE POSSE
➢ direta e indireta;
➢ justa e injusta;
➢ de boa-fé e de má-fé;
➢ jurídica e natural;
➢ nova e velha.
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jurídica (ex.: contrato de locação), se recusa a restituir a coisa ao possuidor indireto. Está
relacionada com a bifurcação da posse em direta e indireta. O possuidor direto é o que recebe a
coisa para restituí-la no momento devido. Não a restituindo, a sua posse que era justa passa a ser
injusta (precária).
Enquanto os vícios da violência e clandestinidade se manifestam no momento da aquisição da
posse, o vício da precariedade surge no final da posse.
Os vícios da violência e clandestinidade desaparecem com a cessação da violência e
clandestinidade (art. 1.208 do CC), ao passo que o vício da precariedade nunca se convalesce.
Modernamente, porém, tem-se sustentado a possibilidade de se convalescer o vício da
precariedade, desde que o possuidor direto, por meio de atos exteriores, altere o animus da posse.
Assim, por exemplo, o comodatário que se recusa a devolver o bem não poderá, futuramente,
argüir usucapião, diante da precariedade da sua posse, salvo se esta for alterada por atos visíveis,
como na hipótese de demolição do imóvel nele se construindo um estabelecimento comercial.
Cessa o vício da violência com o decurso do prazo de ano e dia, a contar do término da
violência. A partir de então, a posse passa a ser justa.
Cessa o vício da clandestinidade com o decurso do prazo de ano e dia, a contar da publicidade
da posse pelo proprietário ou possuidor. Anote-se, porém, que, conquanto conhecida pelos
vizinhos, persiste o vício da clandestinidade enquanto o proprietário ou possuidor não tomar
conhecimento da posse.
O prazo para a usucapião extraordinária na posse violenta ou clandestina é de quinze anos e um
dia, pois é preciso transcorrer ano e dia da cessação da vis ou clam para que a posse se torne justa.
Anote-se, contudo, que essa questão do decurso do prazo de ano e dia para a posse injusta
transmudar-se em justa não é pacífica. Diversos autores dispensam esse lapso temporal,
considerando a posse justa desde o momento de sua aquisição. Discordamos dessa exegese,
porquanto não se pode atribuir efeitos imediatos a uma posse conquistada à base da violência,
clandestinidade ou precariedade. Sobremais, os artigos 558, c/c 560 e 562, todos do CPC/2015,
preceituam que o possuidor só tem direito a ser mantido na posse em caso de turbação e
reintegrado no caso de esbulho, se a turbação ou esbulho for inferior a ano e dia. Antes deste
prazo, portanto, a posse ainda se revela injusta, tanto é que o novo possuidor a perderá
liminarmente.
Para ter direito à usucapião e às ações possessórias, basta que a posse seja justa; não se exige
a boa-fé, salvo na usucapião ordinária.
A posse precária será sempre injusta, pois este vício é insanável. Jamais, portanto, o possuidor
precário, v.g., arrendatário que se recusa a devolver o imóvel, obterá a usucapião.
Não se pode perder de vista que a noção de posse justa e injusta é relativa. A justiça ou
injustiça é aferida em função do adversário. Para ter direito às ações possessórias basta que a posse
seja justa em relação ao adversário. Costuma-se dizer que até mesmo o ladrão da coisa tem direito
de intentar os interditos contra terceiro que pretende apoderar-se da res furtiva, desde,
evidentemente, que não se apresente em juízo como ladrão.
Verifica-se, pois, que o possuidor injusto não tem ação possessória contra aquele de quem a
coisa foi tirada pela violência, clandestinidade ou precariedade. Mas, em relação a terceiros
molestadores ou esbulhadores, a sua posse é justa, ou melhor, podendo, assim, intentar a ação
possessória competente.
Preceitua o Código, no art. 1.201, que a posse é de boa-fé se o possuidor ignora o vício ou o
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Estabelece o art. 1.203 do CC que “salvo disposição em contrário, entende-se manter a posse
o mesmo caráter com que foi adquirida”. É o princípio geral sobre a continuidade do caráter da
posse, que, salvo prova em contrário, mantém as mesmas características com que foi adquirida.
Provada a cessação da violência ou clandestinidade há mais de ano e dia a posse injusta
transforma-se em justa, de modo que admite-se a modificação do caráter da posse através de atos
exteriores, salvo quanto à posse precária, pois esta não se convalida.
É também perfeitamente admissível a posse de boa-fé injusta. O adquirente daquele que a
obteve pela violência, clandestinidade ou precariedade, ignorando, porém, esses vícios, terá uma
posse injusta e de boa-fé. Igualmente, admissível a posse justa de má-fé, como, por exemplo, a
daquele que adquire o bem de menor púbere desassistido do representante legal, com
conhecimento da idade do alienante. Note-se que, nesse último caso, a posse é justa, pois não
contém os vícios da violência, clandestinidade ou precariedade, porém, de má-fé, pois o adquirente
conhecia o obstáculo impeditivo da aquisição.
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Posse natural é a mera detenção. Na verdade, o detentor não é possuidor (art. 1.198 do CC).
Posse jurídica ou civil é a posse no sentido legal, isto é, a exteriorização da propriedade.
Posse ad interdicta é a que pode ser defendida pelas ações (interditos) possessórias. Basta
que seja justa, não se exigindo, como já dito, a boa-fé. Pode ser com animus domini ou nomine
alieno.
Posse ad usucapionem é a exercida com animus domini, mansa, pacífica, ininterrupta e justa,
durante o lapso de tempo necessário à aquisição da propriedade. É a que possibilita a aquisição da
propriedade pela usucapião, sendo, por isso, exigível o animus domini.
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Composse simples ou romana é aquela em que cada um dos compossuidores pode exercer
sozinho o poder de fato sobre a coisa. Pode ser: direta (ex.: vários inquilinos) e indireta (ex.: vários
locadores).
Composse de mão comum é aquela em que o poder de fato sobre a coisa só pode ser
exercido em conjunto por todos os compossuidores. Exemplo: posse de um armário que só abre
com duas chaves, sendo que cada uma se encontra em poder de um possuidor.
Atos de mera permissão ou tolerância, ainda que prolongados, não induzem posse (art. 1.208
do CC). Trata-se, como já visto, de mera detenção.
Atos violentos, clandestinos e precários também não induzem posse. Entretanto, cessada a
violência ou clandestinidade, convalida-se o vício que impedia a aquisição da posse.
ACESSÃO DA POSSE
É a soma do tempo de posse do atual possuidor com o de seus antecessores. É, pois, o direito
de somar as posses.
São duas as espécies de acessão:
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A acessão por sucessão ocorre na sucessão a título universal. Nesse caso, opera-se
obrigatoriamente a soma das posses, isto é, o sucessor universal continua a posse de seu
antecessor; se esta era injusta, a dele também será, não havendo como se desvincular do vício que
a inquina. É o que dispõe o art. 1.207, 1.ª parte, do CC: “o sucessor universal continua de direito a
posse de seu antecessor”.
Sucessor a título universal, ensina Washington de Barros Monteiro, “é aquele que substitui o
titular primitivo na totalidade dos bens, ou numa quota ideal deles, como no caso do herdeiro”.
A acessão por união ocorre na sucessão a título singular. Nesse caso, a soma do tempo de
posse é facultativa. É o que dispõe a segunda parte do art. 1.207 do CC: “ao sucessor singular é
facultado unir a sua posse à do antecessor, para os efeitos legais”.
Sucessor a título singular é o que adquire direitos ou coisas determinadas, como o comprador,
o donatário e o legatário. Evidentemente, só irá somar a sua posse à do antecessor se lhe convier.
Se fizer a soma, permanecerá a sua posse com as mesmas características da do possuidor
antecessor. Se, por exemplo, esta era injusta e de má-fé, continuará a posse com essas mesmas
vicissitudes. Se optar em não somar a sua posse à precedente, desligar-se-á desta, purgando o vício,
iniciando, pois, nova contagem do tempo de posse.
Existe divergência doutrinária acerca da posse adquirida pelo legatário. Alguns, com base no
art. 1.207, 1.ª parte, do CC, entendem que se trata de acessão por sucessão, enquanto outros, com
fulcro no art. 1.207, 2.ª parte, a enquadram na acessão por união. É que o legado é uma forma de
aquisição que se dá a título singular e não a título universal. Mas o Código Civil tratou, para efeito
da aquisição da posse, de forma igual a aquisição pelos herdeiros e legatários, como se vê do art.
1.206, visto que entende haver para o legatário também a continuidade da posse do antecessor.
EFEITOS DA POSSE
➢ defesa direta;
➢ direito ao uso dos interditos;
➢ percepção dos frutos;
➢ indenizações por benfeitorias;
➢ direito de retenção por benfeitorias;
➢ responsabilidade pelas deteriorações;
➢ usucapião.
A detenção, à exceção da defesa direta, não gera nenhum dos efeitos acima elencados.
DEFESA DIRETA
Dispõe o art. 1.210, § 1º, do CC: “o possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se, ou
restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo”.
Admite o legislador no aludido dispositivo a defesa direta como meio hábil à proteção
possessória.
Trata-se de reminiscência do período da vingança privada. A lei civil permite que o possuidor
esbulhado ou turbado faça justiça com as próprias mãos, sem precisar recorrer ao Poder Judiciário,
estando, assim, excluída a antijuridicidade do delito de exercício arbitrário das próprias razões,
previsto no art. 345 do CP.
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As duas espécies de defesa direta, no âmbito do direito possessório, são: a legítima defesa e o
desforço imediato.
Legítima defesa é a reação imediata e moderada à turbação da posse.
Desforço imediato é a reação imediata e moderada ao esbulho possessório.
Turbação é a molestação da posse, ao passo que esbulho é a perda da posse.
Mister a moderação dos meios empregados para legítima defesa ou desforço imediato, que
não podem ir além da violência necessária à manutenção ou restituição da posse.
Admite-se, inclusive, o emprego de armas, desde que necessário à manutenção ou restituição
da posse.
Na legítima defesa, a violência é empregada para impedir a perda da posse, ao passo que no
desforço imediato é empregada para recuperar a posse esbulhada.
Num e noutro caso a reação deve ser in continenti, isto é, imediata, em ato sucessivo, ou
então logo que lhe seja possível agir. Este é o verdadeiro significado da expressão “contanto que o
faça logo”, prevista na primeira parte do § 1.º do art. 1.210 do Código. O legislador facultou ao
possuidor esbulhado ou turbado maior espaço de tempo para reagir. Carvalho Santos cita o
seguinte exemplo: “alguém se encontra com o ladrão de sua capa, dias depois do furto. Em tal
hipótese, apesar do lapso de tempo decorrido, assiste-lhe o direito de fazer justiça por suas
próprias mãos, se presente não estiver a polícia”.
Observe-se, porém, que a reação tardia ao esbulho ou turbação constitui delito de exercício
arbitrário das próprias razões (art. 345 do CP).
Washington de Barros Monteiro ensina que “só o possuidor, direto ou indireto, tem direito de
lançar mão dessa defesa excepcional, excluindo, pois, o mero detentor, como o preposto. Por outro
lado, não importa que a posse seja justa ou injusta, de boa ou má-fé”. E adiante acrescenta que “é
preciso, porém, que o próprio possuidor, em pessoa, se coloque à testa da reação, assumindo-lhe a
responsabilidade”.
A melhor orientação, porém, entende que o detentor também pode fazer uso da defesa
direta, nos moldes do art. 25 do CP, amparado pela legítima defesa criminal.
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Dispõe o art. 1.210, caput, do CC que “o possuidor tem direito a ser mantido na posse, em
caso de turbação, e restituído, no de esbulho”.
Turbação é a molestação da posse. O possuidor, malgrado a turbação, continua na posse; não
chega a perdê-la.
Esbulho é a perda da posse pela prática de atos violentos, clandestinos ou precários.
Esbulho não é apenas sinônimo de violência. Aquele que se apossa da coisa clandestina ou
precariamente também pratica esbulho. Assim, por exemplo, o comodatário que, findo o prazo
contratual, deixa de entregar a coisa, comete esbulho, por ter a sua posse se tornado precária.
Ocorrendo a mera turbação, o possuidor pode intentar ação de manutenção de posse. Agora,
no caso de perda da posse (esbulho), a ação cabível é a de reintegração de posse.
Nas ações de manutenção e reintegração de posse, incumbe ao autor provar (art. 561 do
CPC/2015):
a) a sua posse;
b) a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
c) a data da turbação ou do esbulho;
d) a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção; a perda da posse, na
ação de reintegração.
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cada um deles posso pedir manutenção. Suposto que decorrido haja o prazo de ano e dia a contar
do primeiro ato turbativo, nem por isso perderei o direito de recorrer ao interdito, para me opor às
turbações subsequentes, verificadas dentro do prazo legal”.
Admite-se, também, a turbação de direito, embora haja opiniões em contrário (RT 115/65,
176/620 e 274/594).
O escopo da ação de manutenção é garantir o possuidor na posse do bem turbado, ao passo
que a ação de reintegração tem a finalidade de recuperar a posse perdida.
INTERDITO PROIBITÓRIO
➢ fungibilidade;
➢ natureza dúplice;
➢ proibição da exceptio proprietatis.
PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE
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pedido é de proteção possessória, variando apenas a situação fática. Se, por exemplo, o autor
ajuizar ação de manutenção de posse, quando o correto seria a de reintegração, o juiz dará a
proteção jurisdicional que a situação fática reclama, mandando, pois, expedir o mandado de
reintegração de posse.
Entretanto, somente as ações tipicamente possessórias (manutenção de posse, reintegração de
posse e interdito proibitório) são fungíveis entre si (art. 554 do CPC). Se o possuidor ingressar
equivocadamente com a ação de despejo ou ação reivindicatória, o juiz não poderá aproveitá-las como
interdito possessório, devendo extinguir o processo sem resolução do mérito (art. 485, VI, do CPC).
NATUREZA DÚPLICE
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por conta do que constava na segunda parte do art. 505 do CC/1916 (“Não se deve, entretanto,
julgar a posse em favor daquele a quem evidentemente não pertencer o domínio”). Efetivamente, a
exceptio proprietatis, isto é, a defesa da posse com base na propriedade da coisa, era aceita em
duas hipóteses:
A parte final do art. 505 do CC/1916 não foi reproduzida no Código Civil de 2002, mas ainda é
sustentável o posicionamento de se julgar a ação possessória em favor do proprietário nas duas
hipóteses acima.
Por outro lado, dispõe o art. 557 do CPC que: “Na pendência de ação possessória é vedado,
tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão
for deduzida em face de terceira pessoa”.
À primeira vista o dispositivo induziria a entender que no curso de processo possessório não
se poderia ingressar com ação dominial paralela para pleitear o reconhecimento da propriedade.
Vale lembrar que até mesmo o grande Frederico Marques defendeu essa interpretação literal.
Entretanto, a tese sufragada, corretamente, pelo Simpósio de Processualistas reunidos em Curitiba,
em outubro de 1975, na Universidade Federal do Paraná, foi no sentido de que a vedação do art.
923 do CPC anterior (atual artigo 557 do CPC/2015) só é aplicável quando a posse estiver sendo
disputada na ação possessória, com base no domínio, isto é, naquele caso em que se admite a
exceptio proprietatis. Fora dessa hipótese não tem sentido vetar o ajuizamento de ação petitória no
curso do processo possessório.
As ações possessórias são de força nova e de força velha. A primeira é a intentada dentro do
prazo de ano e dia, a contar do esbulho ou turbação. A segunda, após o decurso de ano e dia.
A ação possessória de força nova confere direito à liminar, tutela antecipada não verificada na
ação possessória de força velha, mas valiosas opiniões sustentam a possibilidade de se conceder às
ações possessórias de força velha a tutela antecipada prevista no art. 303 do CPC/2015. Discordo,
pois o citado art. 303 é uma norma geral, que não se aplica às ações possessórias, cuja liminar
encontra na lei um regramento específico.
A liminar é concedida de plano, sem ouvir o réu. Mas não estando a inicial devidamente
instruída com os documentos necessários, o juiz designará audiência de justificação, citando-se o
réu para comparecer à audiência, apreciando então a liminar. Nesta audiência de justificação
somente o autor tem direito a arrolar testemunhas, restando ao réu a faculdade de juntar
documentos e fazer reperguntas por intermédio de seu advogado. Se, contudo, o réu arrolar
testemunhas, ao juiz é facultado ouvi-las como testemunhas do juízo.
É, também, admissível a liminar em ação possessória de força nova movida contra o Poder
Público, desde que haja prévia audiência de seus representantes judiciais, sendo, no entanto,
terminantemente proibida a concessão de liminar inaudita altera pars (art. 562, parágrafo único, do
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O réu da ação possessória é o responsável pelo ato de molestação da posse. Se for invasão de
terras feita por multidão de pessoas, no polo passivo não é preciso identificar os intrusos, figurando
como réus as pessoas incertas e desconhecidas. Assim, dispõe o § 1o do art. 554 do CPC/2015 que,
no caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas, serão feitas
a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por edital dos demais,
determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver pessoas em situação de
hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública. Para fim da citação pessoal prevista no § 1o, o
oficial de justiça procurará os ocupantes no local por uma vez, citando-se por edital os que não
forem encontrados (§ 2o do art. 554 do CPC/2015). O juiz deverá determinar que se dê ampla
publicidade da existência da ação prevista no § 1o e dos respectivos prazos processuais, podendo,
para tanto, valer-se de anúncios em jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do
conflito e de outros meios (§ 3o do art. 554 do CPC/2015).
O foro competente para a ação possessória sobre bem imóvel é o da situação da coisa (art.
47, § 2o, do CPC/2015); versando, porém, sobre bem móvel é o domicílio do réu (art. 46 do
CPC/2015). Se o imóvel estender-se em mais de uma comarca, qualquer delas é competente.
No litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a turbação afirmado na petição
inicial houver ocorrido há mais de ano e dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de concessão da
medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 (trinta) dias, que
observará o disposto nos §§ 2o e 4o. (art. 565 do CPC/2015).
Concedida a liminar, se essa não for executada no prazo de 1 (um) ano, a contar da data de
distribuição, caberá ao juiz designar audiência de mediação, nos termos dos §§ 2o a 4o deste artigo
(§ 1o do art. 565 do CPC/2015).
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O Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a Defensoria Pública será
intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça (§2 o do art. 565 do
CPC/2015).
O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à
efetivação da tutela jurisdicional ( § 3o do art. 565 do CPC/2015).
Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou do
Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados para a
audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência de
possibilidade de solução para o conflito possessório (§ 4o do art. 565 do CPC/2015).
Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio sobre propriedade de imóvel (§ 5 o do art. 565 do
CPC/2015).
AÇÕES DOMINIAIS
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importa é a existência do direito no campo do direito material. Não fosse assim poder-se-ia dizer
que não mais existe a ação de investigação de paternidade, já que não existe no Código de Processo
uma previsão legal para ela.
Na verdade, o que inexiste é um rito especial à ação de imissão de posse, de modo que deverá
seguir o rito comum.
Questão que tem suscitado polêmica é saber se adjudicatários e arrematantes dos bens
adquiridos em hasta pública ou leilão, para adquirir-lhes a posse, teriam que ingressar com ação de
imissão de posse ou poderiam simplesmente requerer ao juiz da execução a expedição do mandado
de imissão de posse (se imóvel o bem), ou busca e apreensão (se móvel o bem).
A solução mais correta é a seguinte:
a) é desnecessário o ajuizamento da ação quando a posse estiver em poder do depositário ou
executado, competindo ao arrematante ou adjudicatário requerer nos próprios autos do processo
de execução a expedição de mandado judicial de entrega do bem;
b) é necessária a ação de imissão de posse quando o bem estiver em poder de terceiro, pois,
não sendo este parte na execução, torna-se inviável a expedição de mandado judicial de entrega do
bem.
Por outro lado, cumpre ainda tecer algumas considerações sobre a ação reivindicatória.
Trata-se de ação assegurada especificamente ao proprietário, tendo por finalidade recuperar
a posse da coisa de quem injustamente a possua ou a detenha. Somente o proprietário pode mover
a ação, devendo juntar na inicial, se imóvel o bem, a prova do registro do título aquisitivo do
domínio. O proprietário, se preferir, poderá ajuizar ação de reintegração de posse. Vencido nesta
ação, resta-lhe ainda a ação reivindicatória.
Assim, enquanto a ação de imissão de posse é movida pelo proprietário que nunca teve
posse, a ação reivindicatória é proposta pelo proprietário que perdeu a posse. O Código de
Processo Civil não prevê rito especial para nenhuma dessas duas ações. Por isso, a expressão ação
reivindicatória deve ser tomada em sentido amplo para abranger também a ação de imissão de
posse. Em outras palavras, a troca de nome de uma ação por outra não deve inviabilizar o
prosseguimento do processo.
Por outro lado, a ação publiciana é movida pelo proprietário que, após completar o prazo de
usucapião, acabou perdendo a posse. A aludida ação visa à recuperação da posse. É movida pelo
proprietário, que não dispõe de título dominial. De fato, sendo a sentença de usucapião
meramente declaratória é forçoso convir que o domínio é adquirido pelo decurso da prescrição
aquisitiva, habilitando o usucapiente a mover a ação dominial denominada publiciana antes mesmo
de ver concretizada a usucapião em sentença específica.
A ação negatória, por sua vez, é movida pelo proprietário quando este sofrer atos de turbação
da posse. Visa à cessação da turbação, à semelhança do que ocorre com a ação de manutenção de
posse.
Finalmente, a ação declaratória positiva ou negativa tem por objetivo obter uma sentença que
torne incontroverso o direito de propriedade. É cabível quando paira dúvida sobre a autenticidade
do título de propriedade.
EMBARGOS DE TERCEIRO
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bem é apreendido por ato do juiz em penhora, arresto, sequestro, imissão na posse, etc.
A finalidade desta ação é suspender a construção de obra nova realizada no imóvel vizinho,
evitando a sua conclusão, propiciando-se, destarte, a preservação dos direitos de vizinhança.
A nunciação pressupõe a existência de dois prédios contíguos, sendo o primeiro prejudicado
por obra realizada no segundo. Inadmissível a ação se a obra nova vem a ser executada não no
prédio do nunciado, mas na rua ou num logradouro público, cabendo, em tal hipótese, mera
reclamação administrativa.
O objeto da presente ação é paralisar a obra que se encontra em andamento. Mister, pois, se
trate de obra nova, isto é, em construção. Estando a obra concluída ou já na fase de acabamento,
inviabiliza-se o exercício da ação em estudo, restando ao prejudicado a ação demolitória cumulada
com perdas e danos.
Obra nova não é apenas edificação, abrange também reforma, escavações, terraplanagens,
colheita ou qualquer outra atividade realizada em imóvel urbano ou rural violadora das normas de
direito de vizinhança e posturas municipais. Assim, por exemplo, admite-se a ação para impedir a
obra que pretende desviar um córrego. É cabível a ação antes mesmo do início da obra, desde que
hajam indícios de que a obra seja realizada.
Enquanto a ação possessória pressupõe esbulho ou turbação, como, por exemplo, construção
em terreno alheio, na ação de nunciação, a obra é realizada no imóvel vizinho, inocorrendo atos de
turbação ou esbulho. Acontecendo, porém, de uma parte da obra vizinha invadir terreno alheio,
cabível será tanto a ação de nunciação de obra nova como a ação de reintegração de posse,
facultando-se ao possuidor prejudicado o ajuizamento de uma ou outra ação.
É cabível a ação ao proprietário ou possuidor que tiver justo receio de sofrer algum dano
proveniente de ruína de casa vizinha ou do vício de obras.
Nítido o seu caráter preventivo, pois o dano ainda não ocorreu. Baseia-se o pedido no justo
receio de que possa ocorrer no futuro.
Trata-se de ação cominatória, pedindo o autor na inicial que o réu faça ou deixe de fazer
alguma coisa, sob pena de multa diária.
Frutos são as produções normais e periódicas da coisa, sem detrimento de sua essência.
Diferem dos produtos. Estes diminuem o valor da coisa à medida que vão sendo extraídos, como,
por exemplo, o carvão retirado da mina, ao passo que os frutos deixam-na intacta.
Os frutos podem ser naturais, industriais e civis. Naturais são os que se reproduzem
periodicamente pela própria força orgânica da natureza, como as colheitas e crias dos animais.
Industriais são os que se reproduzem periodicamente devido ao trabalho do homem, como a
produção de uma fábrica. Civis são os rendimentos produzidos por um determinado bem, como os
aluguéis e juros.
Quanto ao estado em que se encontram, os frutos podem ser: pendentes, percebidos,
estantes, percipiendos e consumidos.
Pendentes são os que ainda estão unidos à árvore que os produziu. Percebidos, os já colhidos.
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Benfeitorias, na definição de Clóvis, são obras ou despesas efetuadas numa coisa para
conservá-la, melhorá-la ou, simplesmente, embelezá-la.
Cumpre então distinguir as três modalidades de benfeitorias: necessárias, úteis e
voluptuárias.
As necessárias são feitas para conservar a coisa, impedindo-lhe a deterioração, como a
construção de um muro de arrimo para evitar a queda da casa.
As úteis têm por fim aumentar ou facilitar o uso da coisa, como a construção de uma
garagem.
As voluptuárias ou suntuárias visam proporcionar mero recreio ou deleite, tornando a coisa
mais agradável ou luxuosa, como a construção de uma sauna.
Em relação às benfeitorias necessárias, têm direito à indenização os possuidores de boa-fé e
de má-fé (arts. 1.219 e 1.220 do CC). Cumpre, porém, observar que eles não têm direito à
benfeitoria, mas sim ao valor dela.
No tocante às benfeitorias úteis, apenas o possuidor de boa-fé tem direito à indenização do
seu valor.
No concernente às benfeitorias voluptuárias, o possuidor de boa-fé tem o direito de levantá-
las (jus tollendi), quando puder fazê-lo sem detrimento da coisa. O proprietário, porém, se quiser,
pode ficar com a benfeitoria, pagando o seu valor ao possuidor de boa-fé, que, nesse caso, não terá
o direito de levantá-la. Note-se que o proprietário desfruta da mera faculdade de pagar o valor da
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benfeitoria voluptuária. Se preferir não pagá-la, surge para o possuidor de boa-fé o jus tollendi,
desde que possa retirá-la sem danificar a coisa. Em suma, o possuidor de boa-fé só tem direito de
levantá-la se não for indenizado, e desde que não danifique a coisa. Se não der para levantá-la, ele
a perde sem direito à indenização.
O possuidor de má-fé não tem direito à indenização das benfeitorias úteis e nem o direito de
levantar as voluptuárias. Ele as perde. O proprietário as recebe gratuitamente.
Finalmente, dispõe o art. 1.222 do CC “que o reivindicante, obrigado a indenizar as
benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao
possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual”. Mais uma vez o Código trata o possuidor de má-fé
de forma diferente, facultando que o reivindicante possa escolher entre o custo e o valor atual da
benfeitoria, obviamente aquele de menor valor, escolha que ele não tem quando o possuidor é de
boa-fé.
Finalmente, as benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se
ao tempo da evicção ainda existirem (art. 1.221 do CC).
DIREITO DE RETENÇÃO
O possuidor de boa-fé tem o direito de retenção das benfeitorias necessárias e úteis até o
recebimento do valor das mesmas.
O direito de retenção consiste na faculdade de conservar a coisa em seu poder, até receber o
valor da indenização devida.
É uma forma de compelir aquele que pretende receber a coisa de volta a pagar o valor do
débito.
O direito de retenção por benfeitorias é assegurado apenas ao possuidor de boa-fé, quanto às
benfeitorias necessárias e úteis (art. 1.219 do CC). Não lhe assiste este direito em relação às
benfeitorias voluptuárias.
O possuidor de má-fé, conquanto tenha direito à indenização das benfeitorias necessárias,
não tem direito de retenção (art. 1.220 do CC).
Nas possessórias, não invocando o direito de retenção na contestação, o réu perde o direito
de invocá-lo, não podendo depois, na fase de execução, ingressar com os embargos de retenção
por benfeitorias. Estes pressupõem título executivo judicial reconhecendo o direito à indenização
pelas benfeitorias. Mas, não exercendo oportunamente o direito de retenção, poderá o possuidor
intentar ação de indenização para cobrar a importância das benfeitorias necessárias e úteis.
Os embargos de retenção por benfeitorias só têm cabimento se o direito de retenção foi
postulado na contestação e fixado na sentença do processo de conhecimento. Estes embargos
devem descrever as benfeitorias realizadas, não se admitindo simples menção genérica à sua
existência, sob pena de violação ao princípio da ampla defesa, ademais, o pedido deve ser certo e
determinado. Há, porém, julgados admitindo a invocação do direito de retenção somente em
execução, condicionando-se o recebimento dos embargos de retenção ao depósito da coisa (RT
501/123 e 541/79).
As acessões industriais (v.g., edificações) se equiparam às benfeitorias para efeito de direito
de retenção. Seria realmente ilógico admitir direito de retenção às benfeitorias e negá-lo às
acessões.
Por fim, dispõe o art. 1.221 do CC que o valor das benfeitorias pode ser compensado com o
dos danos causados pelo possuidor.
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O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da coisa, a que não der causa (art.
1.217 do CC.). A lei civil o isenta da responsabilidade pela deterioração e perda da coisa proveniente de
caso fortuito ou força maior, devendo, porém, arcar com a indenização na hipótese de ter dado causa
(por dolo ou culpa) ao perecimento ou deterioração.
O possuidor de má-fé responde pela perda e deterioração da coisa, ainda que acidentais,
salvo se provar que do mesmo modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante (art.
1.219 do CC). Trata-se de uma das raras hipóteses em que o Código não isenta de responsabilidade
o dano causado por caso fortuito ou força maior. Todavia, provando-se que a coisa se teria
danificado ainda que em poder do reivindicante (aquele que tem direito à restituição da posse),
isento de responsabilidade estará o possuidor de má-fé pelos prejuízos provenientes do caso
fortuito ou força maior. Por exemplo, a coisa é destruída por uma enchente, que também inundou
a casa do reivindicante, de modo que teria sido destruída de qualquer forma, ainda que estivesse
em seu poder.
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pessoalmente o possuidor atual do bem, sob pena de nulidade do processo (Súmula 263 do STF).
Alguns autores exigiam que o usucapiente, antes do ajuizamento da ação de usucapião,
recuperasse a posse, por via da ação de reintegração de posse, reivindicatória ou publiciana. Na
ação publiciana, oriunda do direito romano, o autor visa obter a restituição da coisa e assim chegar
à usucapião, sendo praticamente idêntica à ação de reintegração de posse.
A posse ad usucapionem é interrompida da mesma forma como se interrompe a prescrição,
basicamente a notificação judicial e a citação. Enquanto a posse mansa e pacífica é a que se
estabelece e se exerce sem uma interrupção fática, a posse ininterrupta é ausência de interrupção
civil ou jurídica. A interrupção civil da posse do prescribente é relativa, pois só aproveita ao que a
promoveu. A interrupção feita por terceiro não beneficia o proprietário. Com efeito, a prescrição
interrompida por uma pessoa não beneficia a outra, salvo quando se tratar de direitos e obrigações
indivisíveis (art. 204 do CC). Assim, se a usucapião for interrompida por condômino ou
compossuidor pro indiviso todos os demais condôminos ou compossuidores se beneficiarão diante
da indivisibilidade.
A sentença de reconhecimento da usucapião tem natureza declaratória, pois o domínio é
conferido pela posse prolongada sem oposição e não pela sentença. Esta se limita a declarar uma
situação jurídica já existente, tanto é assim que a usucapião pode ser alegada em matéria de defesa
(Súmula 237 do STF). Se, por exemplo, o proprietário ingressar com a ação reivindicatória do bem, o
possuidor, que tenha consumado o tempo de posse necessário, pode, na contestação, argüir a
usucapião, gerando, destarte, a improcedência da ação. A exceção de usucapião não gera título de
propriedade, não dispensa assim a ação específica de usucapião, salvo no usucapião especial (art.
7º da lei 6969/81). Depois da contestação, ainda é possível alegar usucapião em defesa, pois é
matéria de ordem pública, passível de argüição a qualquer tempo à semelhança da prescrição, mas
o tema não é pacífico, porquanto valiosas opiniões sustentam que o momento máximo para
argüição de usucapião é a contestação, sob pena de renúncia abdicativa tácita, restaurando-se o
direito do proprietário. Em recurso especial ou extraordinário, contudo, não é possível argüir
usucapião se a matéria não foi prequestionada anteriormente.
Transitada em julgado a sentença prolatada na ação de usucapião, o próximo passo é registrá-la no
Registro Imobiliário (arts. 167, I, n. 28, da Lei 6.015/1973). Observe-se que o domínio é adquirido
independentemente da sentença ou do registro, servindo este apenas para regularizar a situação do imóvel
e permitir, assim, a eventual alienação, ou hipoteca.
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houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada
posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado
investimentos de interesse social e econômico” (art. 1.242, parágrafo único, do CC). Essa hipótese é
conhecida como usucapião ordinária abreviada ou social.
Enquanto a boa-fé relaciona-se com a aquisição da posse, que consiste na crença do
possuidor na legitimidade de sua posse, por ignorar o vício ou obstáculo que impede a aquisição, o
animus domini relaciona-se com o exercício da posse e consiste na posse da coisa com a intenção
de dono. Nítida, portanto, a distinção entre boa-fé e animus domini. Observe-se que na usucapião
extraordinária há presunção absoluta de boa-fé, ao passo que na usucapião ordinária, o justo título
já é uma presunção relativa de boa-fé. Na verdade, usucapião extraordinário dispensa a boa-fé.
Na usucapião ordinária, não há necessidade de a boa-fé existir durante todo o decurso do
lapso prescricional, como preconiza o sistema canônico, pois o Brasil filiou-se ao sistema romano,
que exige a boa-fé apenas no início da prescrição (art. 1.202 do CC). Anote-se, ainda, que a posse
pode começar de má-fé e depois se tornar de boa-fé, cabendo ao possuidor, como esclarece Pontes
de Miranda, provar a boa-fé superveniente, mas, nesse caso, não se aproveita o tempo anterior.
Justo título é o documento que seria capaz de transferir o domínio, se proviesse do
verdadeiro dono do bem, ou estivesse isento de defeitos ou vícios. É, pois, o documento
formalmente adequado para transferir o domínio, mas que deixa de produzir tal efeito em virtude
de não ser o transmitente o dono da coisa ou lhe faltar o poder de alienar. Exemplos: aquisição a
non domino; cônjuge que aliena imóvel sem autorização do outro; procurador com procuração
falsa; alienante relativamente incapaz etc. Em princípio, o justo título compreende os atos
anuláveis. Modernamente, está superada a corrente que só considerava justo título aquele que
estivesse registrado. Todavia, para a usucapião ordinária, com o prazo reduzido a cinco anos, como
foi visto, o Código Civil exige um documento que tenha sido efetivamente registrado, embora
cancelado depois o registro, e decorrente de uma aquisição onerosa. O título inexistente ou que
contém nulidade absoluta impede a usucapião ordinária, pois não se trata de justo título, devendo
o usucapiente optar pela via extraordinária.
A usucapião especial urbana ou pro moradia, prevista no art. 183 da CF, é para aquele que
possuir como sua área urbana de até 250 metros quadrados, utilizando-a para sua moradia ou de
sua família. O tempo de posse necessária à usucapião é de cinco anos. Não se exige justo título e
nem boa-fé. O usucapiente não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Mister que
o imóvel usucapiendo se destine à residência do usucapiente ou de sua família. O imóvel objeto da
usucapião deve estar localizado em área urbana e não exceder a 250 metros quadrados. Se exceder
essa metragem, só caberá usucapião extraordinário ou ordinário, não se pode cindir o imóvel para
usufruir da usucapião especial. O usucapiente não pode ter sido beneficiado antes com esta
modalidade de usucapião. Portanto, aludida usucapião não será reconhecida ao mesmo possuidor
mais de uma vez (art. 1.240, § 2º, do CC). O novo Código Civil reproduziu, no art. 1.240, as
disposições constitucionais para esta espécie de usucapião. O título de domínio e a concessão de
uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil (art.
1.240, § 1.º, do CC).
O Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de 10.07.2001) também regulou a usucapião urbana
especial (art. 9.º), para a qual exige os mesmos requisitos. Acrescentou a possibilidade de o
herdeiro legítimo continuar a posse do de cujus, para efeito de usucapião, “desde que já resida no
imóvel por ocasião da abertura da sucessão” (§ 3.º), seguindo o que já preconizava a doutrina e
reconhecia a jurisprudência. Salvo nesta hipótese, não se admite a soma de posses na usucapião
urbana, porquanto a lei exige que a posse seja pessoal. Também admitiu a alegação de usucapião
como matéria de defesa, valendo a sentença que o reconhecer como título para registro no
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Cartório de Registro de Imóveis (art. 13) e determinou a observância do rito sumário na ação de
usucapião (art. 14). O art. 11 do Estatuto da Cidade ainda determina que “na pendência de ação de
usucapião especial urbana, ficarão sobrestadas quaisquer outras ações, petitórias ou possessórias,
que venham a ser propostas relativamente ao imóvel usucapiendo”.
A usucapião especial ou pro labore ou rural, prevista no art. 191 do CF, é para aquele que possuir
como sua área de terra, em zona rural, não superior a 50 hectares, tornando-a produtiva por seu
trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia. O tempo de posse necessário à usucapião é de
cinco anos. É preciso que torne a terra produtiva com o seu trabalho (função social de propriedade) e a
utilize como moradia habitual, propiciando-se, destarte, a fixação do homem no campo. O usucapiente
não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural, mas não impede a usucapião que já tenha
sido beneficiado em outra oportunidade por esta modalidade de aquisição. O estrangeiro pode
requerer também esta modalidade de usucapião. O novo Código Civil reproduziu, no seu art. 1.239, as
disposições constitucionais para esta espécie de usucapião. Na usucapião pro labore, torna-se
inadmissível a soma de posses, pois a lei exige a posse pessoal do possuidor, e não de meros prepostos,
consistente no ato de tornar produtiva a terra e nela fazer a sua moradia. Portanto, o lapso de tempo
necessário à usucapião só se inicia quando o possuidor instala sua moradia e passa a cultivar a terra,
tornando-a por qualquer modo produtiva. Assim, o art. 1.243 do CC, que prevê a soma de posses às
usucapiões, deve ser interpretado restritivamente, excluindo-se do âmbito de sua incidência as duas
modalidades de usucapião especial (urbana e rural), pois, para essas espécies, a Magna Carta exige uma
posse pessoal. Não se pode reconhecer a usucapião pro labore quando a ocupação incide sobre área
superior ao limite de 50 hectares estabelecido na Constituição Federal. A usucapião especial rural
poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para
transcrição no Registro de Imóveis (art. 7.º da Lei 6.969/1981). O rito é o sumário (art. 5.º da sobredita
Lei).
A usucapião de aeronave exige justo título, boa-fé e cinco anos de posse (art. 116, III, da Lei
7.565/1986).
Conceito
Usucapião coletiva é a que recai sobre uma área ocupada por possuidores em núcleo urbano
informal.
A propósito, dispõe o art. 10 do Estatuto da Cidade, com redação dada pela lei 13.465/2017:
“Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais de cinco anos e cuja área
total dividida pelo número de possuidores seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados
por possuidor são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não
sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural”.
Natureza jurídica
Requisitos
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O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse
à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas (§1o do art. 10).
Sentença
A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante sentença, a
qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis (§2º do art. 10).
Vias administrativas
É também possível a usucapião coletiva extrajudicial através das vias administrativas, pois não
há qualquer vedação no Estatuto da Cidade.
Condomínio especial
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São partes legítimas para a propositura da ação de usucapião especial urbana (art. 12):
I – o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente;
II – os possuidores, em estado de composse;
III – como substituto processual, a associação de moradores da comunidade, regularmente
constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente autorizada pelos representados.
O autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive perante o
cartório de registro de imóveis (§ 2º).
A defensoria pública também tem legitimidade para propor ação civil pública como
substitutivo da usucapião coletiva, pois a hipótese se enquadra na lei 7.347/85.
Igualmente o Ministério Público. É uma ação civil pública onde se requer a declaração de
usucapião coletiva em favor dos substituídos.
É obrigatória a participação do MP, em razão do interesse social coletivo (§1º do art. 10).
Arguição em defesa
A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo
a sentença que a reconhecer como título para registro no cartório de registro de imóveis (art. 13).
Outras situações
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“Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com
exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja
propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural. § 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo
possuidor mais de uma vez”. Trata-se de uma modalidade especial de usucapião que recai sobre a
meação do cônjuge ou companheiro que abandonou o lar, restrito a imóvel urbano de 250m²
(duzentos e cinquenta metros quadrados). É, pois, uma punição ao cônjuge ou companheiro que
abandonou o lar.
USUCAPIÃO JUDICIAL
O CPC/2015 não prevê procedimento especial para a ação de usucapião que, diante disso,
seguirá o rito comum.
O foro competente para a ação de usucapião é o do local onde está situado o imóvel (art.47
do CPC/2015).
O juízo competente é a Vara de Registros Públicos, se não houver essa vara especializada,
distribuir-se-á ação a uma das varas cíveis da comarca.
Caso a União, justificadamente, ingresse no processo, a competência passará a ser da Justiça
Federal. Ingressando nos autos o Estado-membro ou Município, a ação será processada na Vara da
Fazenda Pública Estadual ou Municipal, se houver. Se na mesma ação ingressar a União, Estado-
membro e Município, a competência será da Justiça Federal. Se o imóvel confrontar com terra da
marinha, a competência é da justiça federal. Na usucapião constitucional especial urbana ou rural,
caso haja intervenção da União, mas no local do imóvel não houver justiça federal, a competência
será da justiça estadual de primeiro grau, por delegação dos §§ 3º e 4º do art. 129 da Constituição
Federal, todavia,quando se tratar de usucapião extraordinário e ordinário de interesse da União a
competência não se desloca para a justiça estadual, a ação tramitará na seção judiciária da justiça
federal que abranger o imóvel usucapiendo.
O usucapiente exporá na petição inicial o fundamento do pedido. E, juntando a planta do
imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel usucapiendo, bem
como os confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e não sabido e dos eventuais
interessados (art. 259, I, do CPC/2015). É essencial a juntada da planta do imóvel, pois não podem
ser usucapidos os bens que não possam ser perfeitamente individualizados. De fato, não é possível
posse sobre coisa indeterminada, incerta, vaga, em que se desconhece até onde se estendem os
atos processuais. Urge, portanto, se descrevam as características e as confrontações do imóvel,
juntando-se ainda a respectiva planta.
Proprietário do imóvel, réus certos, incertos e seus confinantes são litisconsortes passivos
necessários.
Por aplicação analógica do §3º do art. 216-A da lei 6.015/73, serão intimados (e não citados)
por via postal, para que manifestem interesse na causa, os representantes da Fazenda Pública da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios onde se situe o imóvel.
Aos réus certos, mas ausentes, citados por edital, caso não ofereçam contestação, o juiz
nomeará curador especial, função exercida por advogado e não mais pelo Promotor de Justiça. Não
se nomeia curador especial aos réus incertos, que foram citados por edital.
Por outro lado, cumpre frisar que as causas que obstam, suspendem ou interrompem a
prescrição também se aplicam à usucapião (art. 1.244 do CC). Assim, não corre o prazo de
usucapião contra os absolutamente incapazes (art. 198, I, do CC).
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Finalmente, não há previsão legal para a intervenção do Ministério Público nas ações de
usucapião, salvo quando configurada uma das hipóteses do art. 178 do CPC.
USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL
Conceito
Previsão legal
É disciplinado pelo art. 216-A da lei 6.015/73 (Lei de Registros Públicos), que foi
introduzido pelo art. 1.071 do CPC/2015.
Facultatividade
Procedimento
O requerente, que deverá estar representado por advogado, instruirá o requerimento com os
seguintes documentos:
I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e seus
antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias;
II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de
anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos
titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel
usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes;
III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do
requerente;
IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a
natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre
o imóvel.
O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da prenotação até o
acolhimento ou a rejeição do pedido (§1o do art. 216-A).
Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos reais e de
outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos
imóveis confinantes, esse será notificado pelo registrador competente, pessoalmente ou pelo
correio com aviso de recebimento, para manifestar seu consentimento expresso em 15 (quinze)
dias, interpretado o seu silêncio como discordância (§ 2o do art. 216-A).
O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao
Município, pessoalmente, por intermédio do oficial de registro de títulos e documentos, ou pelo
correio com aviso de recebimento, para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido (§
3o do art. 216-A).
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PROPRIEDADE
O direito de propriedade é complexo, pois confere os poderes de usar, gozar, dispor e reaver
a coisa de quem injustamente a possua:
a) direito de usar (jus utendi): é o direito de exigir os serviços que a coisa pode prestar, sem
alterar-lhe a substância. Exemplos: habitar a casa, montar no cavalo, guardar a coisa etc.;
b) direito de gozar (jus fruendi): é o direito de extrair os benefícios da coisa. Exemplos:
aquisição dos frutos e produtos; alugar a casa etc. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem,
ainda quando separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial, couberem a
outrem (artigo 1232 do CC);
c) direito de dispor (jus abutendi ou disponendi): é o direito de consumir a coisa (destruição
material), aliená-la ou gravá-la de ônus real (v.g., hipoteca). A inalienabilidade pode ser legal, isto é,
imposta pela lei (v.g., dote), e voluntária;
• Obs.: Inalienabilidade voluntária. A cláusula de inalienabilidade retira a disponibilidade do
bem, que não poderá mais ser alienado (vendido, doado etc.) e nem penhorado. Ocorre quando o
proprietário aliena a propriedade, mas ao mesmo tempo proíbe que o adquirente torne a aliená-la.
Só é possível nas transmissões gratuitas (testamento e doações puras), devendo estar estipulada a
inalienabilidade no título que transferiu a propriedade e constar no Registro Público. Essa cláusula
não é perpétua, só vale por certo tempo. Pode ser: temporária (quando fixa o termo ou condição
para sua extinção) ou vitalícia (cessa com a morte). Se vitalícia, é possível a alienação do bem, em
vida, mediante ordem judicial e desde que haja motivo justo, ocorrendo, nesse caso, a sub-rogação
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Quando todos esses poderes (usar, gozar, dispor e reaver) se acham reunidos nas mãos de um
único titular fala-se em propriedade plena ou perfeita ou alodial. A propriedade presume plena e
exclusiva até prova em contrário (artigo 1231 do CC). Havendo desmembramento de um ou de
alguns desses atributos a favor de outra pessoa, conservando o proprietário os demais atributos,
fala-se em propriedade limitada ou restrita, tal como ocorre no usufruto. Propriedade limitada é a
que tem ônus real ou é resolúvel. Essa classificação decorre da elasticidade do direito de
propriedade (possibilidade de se desmembrar da propriedade um ou alguns dos seus atributos e de
retornar automaticamente esses atributos tão logo venha a cessar a causa do desmembramento).
Assim, morto o usufrutuário, os poderes de usar e gozar retornam ao nu-proprietário,
consolidando-se a propriedade, que de limitada passa a ser plena.
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etc. Modernamente, a propriedade tem função socioambiental. O direito de propriedade deve ser
exercido em consonância com suas finalidades econômicas e sociais e de modo que seja
preservados conforme lei especial o meio ambiente (flora, fauna, patrimônio histórico e artístico,
águas, etc.). O STJ já decidiu que o novo proprietário é obrigado a fazer a recuperação ambiental
mesmo não sendo o causador do dano, pois a reserva florestal é uma obrigação propter rem. O
Código Civil, ao contrário do direito romano, limita o direito de propriedade do solo à altura ou
profundidade úteis ao proprietário, não podendo este se opor a trabalhos ou empreendimentos de
terceiros a uma altura ou profundidade que não lhe prejudique (art. 1.229 do CC). A propriedade do
solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais e potenciais de energia hidráulica, os
monumentos arqueológicos e outros bens referidos em lei especial. As jazidas e demais recursos
minerais constituem propriedade distinta do solo para efeito de exploração ou aproveitamento;
não pertencem ao proprietário, mas sim à União (art. 176 da CF/1988). A avaliação da indenização
devida ao proprietário do solo em razão de alvará de pesquisa mineral é no juízo estadual da
situação do imóvel, conforme 238 do STJ. O proprietário do solo tem o direito de explorar os
recursos minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não se submeta a
transformações industriais. Exemplo: venda de areia, desde que não prejudique o meio ambiente.
O § 2º do artigo 1228 do CC proíbe os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade
ou utilidade e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem.
b) exclusivo porque o proprietário é o único que pode exercer os poderes de propriedade
sobre a coisa, podendo impedir a interferência de terceiros. A mesma coisa não pode pertencer
com exclusividade e simultaneamente a duas ou mais pessoas. No condomínio, essa exclusividade
sobre o todo é exercida em conjunto pelos condôminos; o direito de propriedade é um só, tendo
cada um dos consortes uma parte ideal da coisa indivisível (divisão abstrata). No tocante a essa
parte ideal, o direito do condômino é absoluto, exclusivo e perpétuo. É possível, porém, o
desmembramento da propriedade quando se transfere a terceiros alguns dos seus atributos (v.g.,
usufruto);
c) irrevogável ou perpétuo porque tem duração ilimitada; é transmissível com a morte e não cessa
pelo não-uso. Os únicos direitos reais perpétuos (transmissíveis post mortem) são: o direito de
propriedade (salvo a propriedade resolúvel, que é temporária) e a enfiteuse. A servidão também é
perpétua no sentido de ser transmissível post mortem, porém cessa com o não-uso durante 10 anos
consecutivos. Já a propriedade intelectual (direito autoral) é temporária no que tange à sua exploração
econômica exclusiva, e perpétua no concernente aos direitos morais (paternidade da obra).
Pode a propriedade ser adquirida pelos seguintes modos: registro do título, acessão,
usucapião, direito hereditário (sucessão causa mortis, regulada pelo direito das sucessões).
Mas, além desses quatro modos, há ainda outros: casamento sob o regime de comunhão
universal, sentença em ação de reivindicação e desapropriação.
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A Lei 6.015/1973 usa indistintamente a palavra registro para abranger os casos de transcrição
e inscrição. Transcrição é o registro do título aquisitivo da propriedade. Inscrição é o registro de
certos atos como a hipoteca e outros direitos reais limitados. Averbação é a anotação no registro
de certos dados ou alterações. Matrícula é o ato realizado por ocasião do primeiro registro de cada
imóvel.
A transcrição do título é a tradição solene. No Brasil, o simples contrato não transfere o
domínio; é preciso a transcrição do título no Cartório de Registro de Imóveis da situação do imóvel
para que se adquira a propriedade, entre vivos. Enquanto não se registrar o título translativo, o
alienante continua a ser havido como dono do imóvel. Em contrapartida, enquanto não se
promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro e o respectivo
cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel. Acrescente-se, ainda, que
o registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do registro, e este o
prenotar no protocolo. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar
que se retifique ou anule. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel,
independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente (parágrafo único do art. 1.247 do
CC).
Em regra, só o registro do título gera transmissão da propriedade imóvel; sem ele a pessoa
não é proprietária. Há, porém, certos casos em que o registro do título não funciona como ato
transmissor da propriedade, mas sim como ato declaratório de sua disponibilidade, v.g., o formal
de partilha e usucapião. Efetivamente, com a morte já existe o direito de propriedade dos
herdeiros, mas sem o registro do formal de partilha os herdeiros não podem alienar os bens, em
razão do princípio da continuidade dos Registros Públicos.
O registro é ato unilateral, sem prazo certo para sua realização. Com o contrato, o adquirente está
implicitamente autorizado a fazer o registro em seu nome. Assim, o adquirente pode registrar o título
após a morte do alienante. Qualquer interessado (v.g., o credor) pode promover o registro.
Se houver dois registros do mesmo imóvel, prevalecerá o que foi protocolado primeiro (art.
1.246 do CC). O registro deve ser feito no Cartório da situação do imóvel; se o imóvel se situar em
várias comarcas o registro deve ser feito em todas elas.
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A acessão contínua ocorre quando uma coisa se une à outra por força externa. A acessão
discreta ocorre quando a união se dá por força interna da própria coisa, v.g., os frutos. O Código
Civil refere-se à acessão contínua.
Na acessão, a coisa acessória (acedente) se une à principal (coisa acedida). O proprietário da
coisa principal adquire a propriedade da coisa acessória.
A acessão pode ser:
a) por obra da natureza: a união provém da força da natureza, sem a intervenção do homem.
São as seguintes: aluvião, avulsã, álveo abandonado e formação de ilhas;
b) industrial ou artificial: a união é produzida pelo homem. São as construções de obras;
c) mistas: a união provém da conjugação da força da natureza e da intervenção do homem.
São as plantações.
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FORMAÇÃO DE ILHAS
Só pertencem aos particulares as ilhas que emergirem em rios particulares, isto é, não
navegáveis (arts. 1.249 do CC e 23 do Código de Águas). No mar territorial, a ilha pertencerá à
União. Em alto-mar, pertencerá ao primeiro país ocupante. Em rios navegáveis ou que banhem
mais de um Estado pertencerá ao Poder Público a quem tais correntes pertencerem.
As ilhas que se formam no meio do rio pertencem aos proprietários ribeirinhos de ambas as
margens na proporção de suas testadas. As que se formam entre a referida linha e uma das
margens pertencem aos proprietários ribeirinhos desse lado. As ilhas que se formam pelo
desdobramento de um novo braço do rio pertencem aos proprietários dos terrenos às custas dos
quais se constituíram.
As ilhas previstas no artigo 20, IV, da CF são da União, outras ilhas pertencem ao Município.
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Por outro lado, se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em
proporção não superior HJ adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido,
se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente,
também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente (art. 1.258 do CC).
Quanto ao construtor de má-fé, poderá também adquirir a propriedade da parte do solo invadido
em proporção não superior à vigésima parte, desde que: a) efetue o pagamento em décuplo das
perdas e danos; b) o valor da construção exceda consideravelmente o da parte invadida; c)
impossibilidade de se demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção. Esses
requisitos, que são cumulativos, encontram-se no parágrafo único do art. 1.258 do CC. Alguns
civilistas acrescentam mais um requisito, que é a necessidade de proteger terceiro de boa-fé.
Acrescente-se, ainda, que se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo exceder à
vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido e responde por perdas e
danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da
desvalorização da área remanescente (art. 1.259, 1.ª parte, do CC). Denota-se que a construção
passa a ser o principal e o solo o acessório. Se, porém, o construtor estiver de má-fé, será obrigado
a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro
(art. 1.259, 2.ª parte, do CC).
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Dispõe o § 4.º do art. 1.228 do CC: “O proprietário também pode ser privado da coisa se o
imóvel urbano ou rural reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé,
por mais de 5 (cinco) anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado,
em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo juiz de interesse social e
econômico relevante”. Acrescenta o § 5º que “O juiz fixará a justa indenização devida ao
proprietário; pago o preço valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos
possuidores”. A indenização não abrange juros compensatórios, pois esta desapropriação não é
feita pelo poder público. Trata-se de uma hipótese de desapropriação privada judicial, baseada no
princípio da função social da propriedade. Logo não há qualquer inconstitucionalidade em razão da
violação da propriedade, que não é um direito absoluto. O registro da sentença só é feito após o
pagamento no prazo fixado pelo juiz. Sem o pagamento não se registra a sentença, salvo se
prescrever a ação de cobrança. Distingue-se do usucapião, pois este não é indenizável. O Código é
omisso sobre quem tem a obrigação de indenizar o proprietário. Cremos que a indenização deva
ser paga pelos reivindicantes. Não tem cabimento atribuir esta obrigação ao Município da situação
do bem, por força do princípio da indisponibilidade dos bens públicos. Todavia, há quem entenda
que o Estado deve indenizar quando se tratar de ocupantes de baixa renda. Preceitua o art. 2.030
das Disposições Transitórias do Código Civil que o prazo de cinco anos deve sofrer o acréscimo de
mais dois anos, após a entrada em vigor do novo Código, se a situação que lhe deu origem teve
início antes da vigência do novo Código ou durante a vacatio legis.
É necessária a intervenção do Ministério Público no processo, tendo em vista a presença de
interesse coletivo. A ação reivindicatória movida pelo proprietário deve ser julgada improcedente
quando os réus alegarem e comprovarem os requisitos da desapropriação privada judicial. Vê-se
assim que a desapropriação judicial é matéria de defesa em ações reivindicatórias ou possessórias.
Quanto aos bens públicos, não podem ser objetos de usucapião e por isso não se submetem à
desapropriação privada judicial, mas uma corrente admite tanto o usucapião quanto essa
desapropriação em relação às terras devolutas.
a) ocupação propriamente dita: é a apropriação de res nullius (coisa que jamais teve dono,
v.g., caça, pesca) ou res derelictae (coisa abandonada ou renunciada pelo dono). Quem se
assenhorear de coisas sem dono para logo lhe adquire a propriedade, não sendo essa ocupação
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defesa por lei (artigo 1263 do CC). Coisas públicas de uso comum podem ser apropriadas em parte,
mas não no todo. Exemplo: quem recolhe água do rio torna-se dono. Não existe ocupação de
imóvel porque todas as terras têm dono; o imóvel abandonado pertence ao Poder Público; inexiste
imóvel que seja res nullius. O único caso de aquisição de imóvel por ocupação ocorre no
loteamento, quando, desde a data do registro do loteamento, o Município adquire, mediante
ocupação, o domínio das ruas e praças abertas para servirem a lotes vendidos (art. 22 da Lei
6.766/1979). Dá-se o nome de res hostilis à ocupação bélica, matéria relacionada ao direito
internacional público.
b) descoberta (ou invenção, conforme denominava o Código Civil de 1916): é o achado de
coisa perdida (art. 1.233 do CC). O descobridor (aquele que acha a coisa) não adquire a
propriedade; ele deve devolver a coisa ao dono ou legítimo possuidor e não o conhecendo deverá
tentar encontrá-lo e se não conseguir deverá entregar para a autoridade competente (arts. 1.233,
parágrafo único, do CC, e 169, parágrafo único, II, do CP); tem direito à recompensa pelos gastos
que fez para devolver e conservar a coisa; esta recompensa é denominada achádego; se passados
sessenta dias não aparecer o dono, a coisa passa a pertencer ao Estado e será vendida em hasta
pública. É importante destacar que “Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo
antecedente, terá direito a uma recompensa não inferior a 5% (cinco por cento) do seu valor, e à
indenização pelas despesas que houver feito com a conservação e transporte da coisa, se o dono
não preferir abandoná-la” (art. 1.234, caput, do CC). Outrossim, “Na determinação do montante da
recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido pelo descobridor para encontrar o dono, ou o
legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de encontrar a coisa e a situação econômica de
ambos” (parágrafo único do art. 1.234 do CC). “O descobridor responde pelos prejuízos causados ao
proprietário ou possuidor legítimo, quando tiver procedido com dolo” (art. 1.235 do CC). “A
autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da imprensa e outros meios de
informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar” (art. 1.236 do CC).
“Decorridos 60 (sessenta) dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se
apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e,
deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao
Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido” (art. 1.237, caput, do CC). “Sendo de
diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a achou” (parágrafo único
do art. 1.237 do CC).
c) tesouro: é o depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não se guarde
memória. O tesouro será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o inventor que o
encontrou casualmente (art. 1.264 do CC). Todavia, o tesouro pertencerá por inteiro ao
proprietário do prédio, se for achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não
autorizado (art. 1.265 do CC). Achando-se em enfiteuse, o tesouro será dividido por igual entre o
descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o descobridor (art.
1.266 do CC). O usufrutuário tem direito à metade do tesouro quando se tratar de usufruto
universal, a outra metade pertence ao inventor, mas no usufruto particular metade do tesouro
pertence ao nu- proprietário a outra ao inventor, conforme §3º do artigo 1392 do CC.
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especificador só será o dono da espécie nova, se esta não puder voltar à forma primitiva, caso
contrário, o objeto novo pertencerá ao dono da matéria-prima. Se o especificador agiu de má-fé o
objeto novo pertencerá ao dono da matéria-prima, quer seja ou não passível a redução à forma
primitiva. Em qualquer caso, haja ou não boa-fé, se o preço da mão-de-obra exceder
consideravelmente o valor da matéria-prima, o objeto novo será do especificador (art. 1.270, § 2.º,
do CC), que apenas terá que indenizar o valor do material que empregou (Washington de Barros
Monteiro).
Sobre a confusão, comistão e adjunção, dispõe o art. 1.272 e parágrafos do CC que “as coisas
pertencentes a diversos donos, confundidas, misturadas ou adjuntadas sem o consentimento deles,
continuam a pertencer-lhes, sendo possível separá-las sem deterioração”. O § 1.º dispõe que “Não
sendo possível a separação das coisas, ou exigindo dispêndio excessivo, subsiste indiviso o todo,
cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou para a
mistura ou agregado”. O § 2.º, por sua vez, determina que “Se uma das coisas puder considerar-se
principal, o dono sê-lo-á do todo, indenizando os outros”.
De acordo com o art. 1.273 do CC, “Se a confusão, comistão ou adjunção se operou de má-fé, à
outra parte caberá escolher entre adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu, abatida a
indenização que lhe for devida, ou renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado”.
Se da mistura surgir espécie nova, como na hipótese de surgir um novo mineral pela mistura de
minerais, aplica-se as normas da especificação (artigos 1269 a 1271 do CC). O artigo 1274 se equivoca
ao mandar aplicar os artigos 1272 e 1273, que nada tem a ver com a especificação.
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Exceções:
1. alienação fiduciária (Dec.-lei 911/1969). Há, porém, quem sustente a ocorrência da tradição
ficta;
2. na compra e venda de títulos da dívida pública, a celebração do contrato transfere
imediatamente ao comprador a propriedade do título (art. 8.º do Dec.-lei 3.545/1941);
3. na compra da coisa de que já tinha a posse;
4. no matrimônio realizado sob o regime de comunhão universal, onde a transferência do
domínio efetua-se independentemente da tradição; decorre do próprio casamento (art. 1.667 do
CC);
PROPRIEDADE AD TEMPUS
Propriedade ad tempus (art. 1.360 do CC) é aquela que se extingue em virtude de causas
supervenientes não previstas no título. Exemplo: revogação da doação por ingratidão. É espécie de
propriedade resolúvel. Todavia, o possuidor que a adquirir antes da causa de extinção será
considerado proprietário perfeito, não perderá o bem.
Enquanto na propriedade resolutiva a causa extintiva consta no próprio título aquisitivo da
propriedade, na propriedade ad tempus a causa extintiva é estranha ao título. Na propriedade
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INTRODUÇÃO
Enquanto o direito de propriedade ou domínio incide sobre coisa própria (jus in re propria), os
demais direitos reais incidem sobre coisa alheia (jus in re aliena).
Os direitos reais sobre coisas alheias nascem do desmembramento do direito de propriedade.
São três as espécies:
a) direitos reais limitados de gozo ou fruição: enfiteuse, superfície, servidão, usufruto, uso,
habitação, concessão de uso especial para fins de moradia e concessão de direito real de uso.
b) direitos reais de garantia: penhor, hipoteca, anticrese, alienação fiduciária em garantia e
cessão fiduciária de direitos creditórios oriundos do contrato de alienação de imóveis, previsto na
lei 9.514/97. Na verdade, a alienação fiduciária é um direito real sobre coisa própria, pois o titular é
o proprietário do bem.
c) direito real de aquisição: compromisso irretratável de compra e venda.
Os direitos reais sobre imóveis, por ato inter vivos, só se constituem com o registro (art.
1.227). O usufruto legal (decorrente do direito de família), o usufruto sobre coisas móveis, o uso
sobre coisas móveis e a habitação legal (decorrente do direito de família) dispensam, porém, o
registro. Os direitos reais sobre bens móveis, por ato inter vivos, dispensam o registro, eles se
constituem com a tradição (art. 1.227).
Os direitos reais, por ato causa mortis ou herança, se constituem a partir da morte, antes,
portanto, do registro. O formal de partilha deve ser registrado para eventual alienação do direito.
CONCEITO
É o direito real pelo qual o proprietário do imóvel atribui a outrem o poder de construir ou de
plantar em seu terreno urbano ou rural.
O superficiário não é dono, mas tem sobre a coisa alheia o direito de construir ou plantar. O
Código Civil não prevê a superfície por cisão, que é a atribuída para o terceiro conservar, reformar
ou ampliar a construção já existente, mas o estatuto da cidade não limita o direito real de superfície
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à construção ou plantação, ao contrário do Código Civil, e por isso uma corrente admite a superfície
por cisão, com base no princípio da taxatividade elástica dos direitos reais, outra nega a
possibilidade, por força do princípio da taxatividade dos direitos reais, que só pode ser instituído
nas hipóteses que a lei autoriza.
OBJETO
O direito de superfície pode recair sobre imóvel urbano ou rural. Impossível a sua constituição
sobre bem móvel.
O direito de superfície não autoriza obra no subsolo, salvo se for inerente ao objeto da
concessão (parágrafo único do art. 1.369 do CC), como, por exemplo, uma concessão para
construir. A utilização do subsolo ou espaço aéreo, além dos limites do objeto da concessão, só é
possível mediante cláusula expressa. Quanto ao espaço aéreo, o parágrafo único é omisso, mas a
sua utilização é possível, como salienta Joel Dias Figueira Júnior, dentro dos limites definidos no
contrato para as plantações ou construções, ou seja, é possível desde que em sintonia com o objeto
da concessão.
SERVIDÃO
CONCEITO
PRINCÍPIOS
a) não há servidão sobre coisa própria (neminem res sua servit). De fato, pertencendo os dois
prédios ao mesmo proprietário, este poderá utilizar a coisa como bem quiser, tornando-se inócua a
idéia jurídica de servidão. O que pode ocorrer é uma mera serventia entre os prédios.
b) a servidão é uma relação entre dois prédios. Evidentemente, toda relação jurídica se
estabelece entre pessoas, e não entre coisas, que são meros objetos de direito. O que se quer dizer
com a assertiva “servidão é relação entre dois prédios” é que a servidão se transmite a quem quer
que seja o titular do prédio dominante e onera a quem quer que seja o proprietário do prédio
serviente. Com a alienação dos prédios persiste a servidão, pois se trata de direito real (adere à
coisa e a acompanha). O proprietário do prédio dominante é automaticamente o titular da
servidão. Aliás, como observa Silvio Rodrigues, “as obrigações do proprietário do prédio serviente
são propter rem, isto é, decorrem da relação da pessoa com a coisa, seguem esta última vinculando
seu dono, seja ele quem for”.
c) a servidão envolve uma obrigação negativa. Assim, o proprietário do prédio serviente fica
obrigado a tolerar o uso de seu prédio pelo dono do prédio dominante. É nítida, porém, a distinção
entre servidão e obrigação de não fazer. Servidão só se constitui se inscrita no Registro Imobiliário.
E, tratando-se de direito real que grava o imóvel, em face do direito de sequela, subsiste, ainda que
haja alienação da propriedade. Já a obrigação de não fazer é vínculo pessoal entre credor e
devedor, extinguindo-se a obrigação na hipótese de alienação do imóvel sobre o qual incidia a
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abstenção. Assim, por exemplo, a estipulação por via da qual o proprietário se obriga a não edificar
além de certa altura para não interceptar a vista do vizinho, pode constituir servidão (se houver
intenção de criá-la seguida de inscrição no Registro Imobiliário) ou mera obrigação de não-fazer.
d) a servidão não se presume (art. 1.378, 2ª parte, do CC). Quem alega servidão tem o ônus da
prova. Na dúvida, o juiz decide contra a servidão. A servidão só se constitui pelos modos previstos
na lei, seguida da inscrição no Registro Imobiliário. Os atos de mera tolerância são precários,
podendo ser revogados a qualquer tempo, pois não geram servidão. Assim, não há servidão se um
vizinho por mera cortesia permite que o outro transite pelo seu quintal; a servidão é interpretada
restritivamente, pois se trata de uma limitação ao direito de propriedade.
e) não se pode de uma servidão constituir outra. O dono do prédio dominante não pode
estender ou transferir a servidão para outras propriedades. Assim, por exemplo, concedida a
servidão para tirada de água não pode ampliá-la para irrigamento. Porém, dispõe o § 2.º do art.
1.385 do CC que nas servidões de trânsito ou de passagem a de maior inclui a de menor ônus, e a
menor exclui a mais onerosa. Por exemplo, se pode passar de veículo é porque também poderá
passar a pé, mas se a servidão é para passar a pé não poderá fazê-lo de veículo. Observe-se, porém,
que o dono do prédio serviente pode conceder novas servidões em favor de outros prédios, desde
que não prejudique as antigas servidões. Vale ressaltar que o § 3.º do art. 1.385 do CC, visando
estimular a produção, possibilita ao dono do prédio dominante exigir a ampliação da servidão,
mesmo contra a vontade do dono do prédio serviente, se o reclamarem as necessidades de cultura
ou de indústria daquele. Todavia, terá direito à indenização pelo excesso de encargo que suportará.
f) a servidão envolve, em regra, prédios vizinhos. Há porém, certos casos em que os prédios
não são vizinhos, embora um necessite do outro. Por exemplo, servidão de aqueduto, em que o
proprietário do prédio dominante tem o direito de passar a água por diversos prédios, dos quais só
um deles lhe é vizinho contíguo; assim a contiguidade entre os prédios não é requisito essencial da
servidão.
g) a servidão é indivisível, pois não se adquire nem se perde por partes. Não se pode instituir
servidão em favor da parte ideal do prédio dominante nem sobre parte ideal do prédio serviente. A
servidão é um todo único (direito indivisível), subsistindo integralmente, no caso de partilha, a favor
de cada um dos quinhões do prédio dominante, continuando, também, a gravar cada um dos
quinhões do prédio serviente. A ação proposta por um dos condôminos do prédio dominante
aproveita aos demais.
NATUREZA JURÍDICA
a) direito real imobiliário: só há servidão sobre bens imóveis. Sua natureza e finalidade são
incompatíveis com as coisas móveis;
b) direito acessório: porque a existência da servidão depende da existência do direito de
propriedade. Servidão não tem existência autônoma;
c) direito indivisível;
d) direito inalienável: a servidão não pode ser alienada separadamente do prédio principal;
não pode ser objeto de transferência e nem de outros direitos reais. Por consequência, não pode
ser hipotecada e nem penhorada;
e) direito perpétuo: no sentido de durar indefinidamente, sendo, pois, transmissível post
mortem. Os direitos de propriedade e de enfiteuse também são perpétuos, não se extinguindo pelo
não uso, ao passo que o não uso durante 10 anos consecutivos é causa de extinção da servidão. É
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possível, também, constituição de servidão por tempo limitado, mediante convenção entre as
partes. É a chamada servidão ad tempus, que é a instituída sob termo ou condição, trata-se de
exceção à perpetuidade da servidão.
CLASSIFICAÇÃO
a) servidões contínuas: são aquelas que, uma vez estabelecidas, podem ser exercidas
independentemente de ato humano. Exemplo: servidão de passagem de água ou de energia
elétrica. Como se vê, as servidões contínuas são exercidas ininterruptamente;
b) servidões descontínuas: são aquelas cujo exercício depende de algum ato do proprietário
ou possuidor do prédio dominante. Exemplos: servidões de trânsito e de tirada de água;
c) servidões aparentes: são as que se revelam por obras exteriores. Essas servidões são
visíveis. Exemplo: servidão de aqueduto;
d) servidões não-aparentes: não são visíveis, pois não se revelam por obras exteriores.
Exemplo: não construir além de certa altura;
USUFRUTO
CONCEITO
INALIENABILIDADE DO USUFRUTO
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O usufruto é inalienável (art. 1.393 do CC). Há, porém, dois casos em que se admite a
alienação: a) o usufrutuário pode alienar o usufruto ao nu-proprietário (art. 1.410, VI, do CC); b)
usufruto impróprio (incide sobre coisa fungível e consumível). Em consequência da inalienabilidade
resulta a impenhorabilidade do usufruto. Aliás, nem por herança o usufruto é transmissível.
Conquanto inalienável, o usufrutuário pode ceder, a título oneroso ou gratuito, o exercício do
usufruto, isto é, o usufrutuário pode celebrar contrato de locação, comodato, arrendamento, etc,
mas lhe é vedado alterar a destinação econômica do bem sem anuência expressa do nu-
proprietário, sendo assim o usufrutuário não pode unilateralmente permitir que uma fazenda de
criação de gado se transforme em plantação. O exercício do usufruto pode ainda ser objeto de
penhora. O direito real de usufruto é impenhorável, mas o exercício do direito do usufruto é
penhorável, salvo quando se tratar de usufruto legal.
OBJETO
O usufruto pode recair sobre bens móveis, imóveis, patrimônio e direitos. Quando incide sobre
bens imóveis é necessário o registro no Cartório de Registro de Imóveis, salvo o usufruto legal. O
usufruto de bens móveis é adquirido com a mera tradição, sendo desnecessário o registro. O usufruto
que recai sobre o patrimônio ou parte alíquota de um patrimônio é chamado universal. O usufruto
pode, também, recair sobre direitos, como, por exemplo, usufruto sobre títulos de crédito, ações de
sociedades anônimas, direitos autorais, etc. o usufruto que recai sobre títulos de crédito confere ao
usufrutuário o direito de perceber os frutos e a cobrar as respectivas dívidas (art. 1.395 do CC). O
dinheiro dessa cobrança deverá ser aplicada em títulos da mesma natureza ou em títulos da dívida
pública federal.
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alheia. Para a constituição do direito real de habitação é necessário o registro do título no Registro
Imobiliário. É espécie de direito de uso restrito à casa de moradia. O imóvel não precisa servir
necessariamente de domicílio, isto é, residência com ânimo definitivo, basta que sirva como
moradia, que é a mera habitação.
Só recai sobre bens imóveis, ao passo que o usufruto e o uso também podem recair sobre
bens móveis. A casa alheia não pode servir para fins de comércio ou indústria. Deve ser utilizada
como moradia própria e de sua família, sob pena de extinção do direito real. Sendo vários os
titulares do direito de habitação, quem morar no imóvel não precisa pagar aluguel, todavia, não
poderá impedir que os outros também o habitem. Trata-se de um direito indivisível.
Tem por características:
a) é um direito real sobre coisa alheia. Os frutos do imóvel pertencem na íntegra ao
proprietário.
b) direito personalíssimo;
c) direito temporário ou vitalício;
d) direito indivisível;
e) direito intransmissível ou incessível (não pode alugar e nem emprestar a casa). Inexiste
também o direito de acrescer.
f) direito gratuito. É possível hospedar na casa, parentes, amigos, desde que gratuitamente.
Todavia, o titular do direito real de uso é o responsável pelo pagamento dos tributos que recaem
sobre o imóvel.
Enquanto o direito real de habitação incide só sobre bem imóvel, o usufruto e uso são direitos
reais que podem incidir sobre bens móveis ou imóveis. O usufruto ou uso pode ser instituído de
forma gratuita ou onerosa, o direito real de habitação só pode ser instituído gratuitamente. Quanto
aos frutos produzidos pelo imóvel, no direito real de habitação pertencem ao proprietário, o titular
do direito real de habitação limita-se a ter o direito de moradia. No usufruto, todos os frutos
pertencem ao usufrutuário, salvo se houver alguma limitação no ato de instituição. No direito real
de uso, ao usuário pertence os frutos necessários à satisfação de suas necessidades pessoais ou de
sua família.
Existe, ainda, o direito real de habitação legal, que se constitui independentemente de
registro, atribuído ao cônjuge sobrevivente, casado em qualquer regime, sobre o imóvel destinado
à residência da família, desde que seja o único bem daquela natureza a inventariar (art. 1.830 do
CC). O aludido direito é vitalício, extinguindo-se apenas com a morte do cônjuge beneficiado. Não
haverá direito de habitação se ao tempo da morte os cônjuges estavam separados judicialmente ou
separados de fato há mais de 2 anos, salvo prova, neste caso, de que esta convivência se tornara
impossível sem culpa do sobrevivente. O cônjuge, no divórcio, não tem direito real de habitação.
Na união estável, no caso de morte do companheiro, o sobrevivente tem direito real de
habitação por força da lei 9.278/96, que alguns autores consideram revogada pelo Código Civil, que
disciplinou totalmente a matéria de união estável e é omisso sobre o direito real de habitação.
Ainda que se considere revogada a lei citada, persiste o direito real de habitação, por isonomia
entre a união estável e o casamento.
CONCEITO
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grau, consiste no fato de o proprietário de uma construção permitir que um terceiro edifique uma
nova unidade imobiliária autônoma sobre a superfície superior ou abaixo da superfície inferior
daquela construção.
Esta prática surgiu nas favelas do Rio de Janeiro, onde é comum os moradores alienarem a
terceiros, a título oneroso ou gratuito, o direito de construir sobre a sua laje.
Com a medida provisória 759, de 22 de dezembro de 2.016, que cuida da regularização
fundiária rural e urbana, foi instituído legalmente o direito real de laje, acrescentando-se ao Código
Civil o art. 1.510-A.
Antes disso, uma parcela da doutrina negava a existência do referido direito real de laje,
enquanto outra aceitava com base nos arts. 21 do Estatuto da Cidade e 1.369 do CC, considerando-
o como um desdobramento do direito real de superfície. Este último ponto de vista foi consagrado
no Enunciado 568 da IV Jornada de Direito Civil.
Com a medida provisória 759/2016, o direito real de laje revela-se autônomo e distinto do
direito real de superfície.
OBJETO
O direito real de laje tem por objeto uma construção que é realizada acima ou abaixo de outra
construção. Abrange, portanto, tanto o espaço aéreo quanto o subsolo de terrenos públicos ou
privados (§2º do art. 1.510-A do CC).
Só pode ser instituído quando se constatar a impossibilidade de individualização de lotes, isto
é, sobre núcleos urbanos informais.
Entende-se por núcleos urbanos informais:
a) os clandestinos: assentamentos de moradias criados sem autorização do
poder público;
b) os irregulares: assentamentos de moradias que não atenderam às exigências
legais;
c) assentamentos de moradia que atenderam à legislação vigente à época da
implantação ou regularização, mas que não foi possível realizar a titulação de seus
ocupantes, sob a forma de parcelamentos do solo, de conjuntos habitacionais ou
condomínios, horizontais, verticais ou mistos;
d) assentamentos de moradia situados em áreas qualificadas como rurais, desde
que a unidade imobiliária tenha área inferior à fração mínima de parcelamento, prevista
na lei 5868/1.972.
NATUREZA JURÍDICA
O direito real de laje, em relação ao solo e à construção originária, revela-se como sendo um
direito real de fruição sobre coisa alheia, mas no tocante à construção erguida por seu titular
enquadra-se como um direito real de propriedade, tanto é que a aludida construção é dotada de
matrícula própria.
REQUISITOS
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O direito real de laje, consoante §1º do art. 1.510-A, só pode ser constituído quando se
constatar os seguintes requisitos:
a) a impossibilidade de individualização de lotes. Verifica-se esta impossibilidade
quando se tratar de núcleos urbanos informais. O direito real de laje é um dos
instrumentos de regularização fundiária. A regularização fundiária é o conjunto de
medidas destinadas a resolver a situação dos assentamentos urbanos informais,
conferindo-se titulação aos seus ocupantes. Não poderá ser instituído sobre os
assentamentos de moradia em que seja possível a individualização dos lotes, através da
abertura de matrículas autônomas. Trata-se de um direito real cuja finalidade é servir de
instrumento de regularização fundiária.
b) a sobreposição ou a solidariedade de edificações ou terrenos. A sobreposição
é o fato de uma construção ser erguida sobre a outra. A solidariedade de edificações é o
fato de uma construção se sustentar na estrutura de outra. A solidariedade de terrenos é
o fato de a construção se estender sobre mais de um terreno.
c) projeção vertical das construções. A construção deve ser feita acima ou
abaixo de outra construção, sempre na linha vertical.
d) que a construção, objeto do direito real de laje, constitua uma unidade
imobiliária autônoma, isto é, seja dotada de isolamento funcional e acesso independente,
em relação à outra construção. Assemelha-se, neste aspecto, ao condomínio edilício.
INSTITUIDOR
LEGITIMAÇÃO FUNDIÁRIA
Como o direito real de laje só pode ser instituído quando se constatar a impossibilidade de
individualização de lotes, força convir que o proprietário da primeira construção, que é o
concedente do direito real de laje, também não possui título de propriedade, isto é, a matrícula.
Diante disso, a medida provisória 759/2016 criou também o instituto de legitimação fundiária,
que é uma forma originária de aquisição do direito real de propriedade, conferido por ato
discricionário do poder público àquele que detiver área pública ou possuir área privada, como sua,
unidade imobiliária com destinação urbana, integrante de núcleo informal consolidado (art. 21).
Assim, o proprietário da primeira construção obtém o direito real de propriedade através da
legitimação fundiária, ao passo que o terceiro, a quem se deferiu o direito de construir acima ou
abaixo da construção, obtém o direito real de laje.
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FORMA DE CONSTITUIÇÃO
A medida provisória 759/2016 é omissa sobre a forma de constituição do direito real de laje e,
diante disso, aplica-se o art. 108 do CC, que exige escritura pública para a constituição de direitos
reais sobre imóveis de valor superior a 30 (trinta) salários mínimos. Abaixo desse valor, admite-se a
escritura particular.
A instituição pode ser a título oneroso ou gratuito.
Deve ser aberta uma matrícula própria para a construção que é objeto do direito real de laje,
separando-a, destarte, da matrícula que abarca a outra construção.
Dessa forma, as unidades autônomas constituídas em matrícula própria poderão ser alienadas
e gravadas livremente por seus titulares (§5º do art. 1.510-A do CC). É, pois, possível tanto a
hipoteca quanto a penhora do direito real de laje, mas caso constitua bem de família não poderá
ser penhorado.
O titular do direito real de laje responderá pelos encargos e tributos que incidirem sobre a sua
unidade (§4º do art. 1.510-A do CC).
Quanto ao usucapião do direito de laje, creio seja perfeitamente possível, malgrado o silêncio
da lei. De fato, usucapião é módulo originário de aquisição da propriedade e de outros direitos
reais, de modo que a posse prolongada de uma construção feita sobre ou sob a laje, com animus
domini, ensejará a aquisição deste direito real, quer pela via da usucapião extraordinária ou pela via
da usucapião ordinária.
DIREITO DE PREFERÊNCIA
Em caso de alienação do imóvel, o titular do direito real de laje não tem preferência para
adquiri-lo. Igualmente, na hipótese de alienação do direito real de laje, o proprietário ou
superficiário também não tem direito de preferência.
Em suma, o direito de preferência não foi contemplado pelo legislador.
SOBRELEVAÇÕES SUCESSIVAS
O titular do direito real de laje não pode instituir sobrelevações sucessivas, isto é, conceder a
um terceiro um outro direito real de laje (§5º do art. 1.510-A do CC).
Entretanto, a construção feita sobre ou sob a laje pode até ter mais de um pavimento, posto
que o limite de altura será aquele previsto nas normas de posturas municipais.
Com efeito, dispõe o §8º do art. 1.510-A do CC:
“Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor sobre posturas edilícias e urbanísticas
associadas ao direito real de laje”.
Vê-se assim que a construção realizada com base no direito real de laje deve observar as
normas de posturas municipais ou distritais.
Em ambos, uma construção é erguida acima ou abaixo de outra, com matrículas próprias,
isolamento funcional e acesso independente. No condomínio edilício, entretanto, o condômino é
proprietário da área comum e de uma fração ideal do terreno, ao passo que o direito real de laje
não implica atribuição de fração ideal de terreno nem participação proporcional em áreas já
edificadas.
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Não se pode instituir o direito real de laje em condomínio ordinário ou edilício (§7º do art.
1.510-A do CC).
INTRODUÇÃO
O patrimônio do devedor responde por suas dívidas, constituindo, pois, a garantia do credor
no recebimento do crédito.
ESPÉCIES DE GARANTIA
CONCEITO E FUNÇÃO
Direito real de garantia é o que confere ao credor a pretensão de obter o pagamento de uma
dívida com o valor do bem aplicado exclusivamente à sua satisfação (Orlando Gomes).
Tem a função de garantir o recebimento da dívida, colocando o credor a salvo da insolvência
do devedor, pois a coisa dada em garantia fica vinculada ao cumprimento da obrigação.
Qualquer dívida, seja obrigação de dar, fazer ou não fazer, pode ser objeto de garantia real.
CARACTERÍSTICAS
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a) direito de sequela: é o vínculo de natureza real que confere ao credor o direito de seguir
coisa, esteja ela em poder de quem quer que seja. Por exemplo: alienando o devedor a coisa
hipotecada, persiste a hipoteca em favor do credor, seja quem for o adquirente. A súmula 308 do
STJ prevê uma exceção ao direito de sequela, ao dispor que: “A hipoteca firmada entre a
construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e
venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel”.
b) direito de excussão: é o direito de promover pela via judicial, após o vencimento da dívida,
a venda (jus vendendi) do bem dado em garantia, para com o preço obter o pagamento do crédito.
Assim, vencida a dívida, operando-se o inadimplemento, o credor pode ajuizar ação de execução,
com base no contrato de penhor e hipoteca, que são títulos executivos extrajudiciais. Quando,
excutido o penhor, ou executada a hipoteca, o produto não bastar para o pagamento da dívida e
das despesas judiciais, continuará o devedor obrigado pessoalmente pelo restante (art. 1.430 do
CC). O credor anticrético (titular do direito real de anticrese) não tem o direito à excussão, não
podendo vender o bem em juízo. Em contrapartida, titulariza, durante o prazo de 15 anos, o direito
de retenção da coisa dada em garantia, isto é, enquanto a dívida não for paga ele pode reter a
coisa.
c) direito de preferência ou prelação ou preempção: consiste no privilégio de obter o
pagamento de uma dívida com o valor do bem aplicado exclusivamente à sua satisfação (Orlando
Gomes). O credor com garantia real tem preferência sobre o valor da coisa, em relação aos demais
credores. O crédito real prefere o pessoal, ainda que privilegiado. Assim, com o preço da venda
judicial do bem, paga-se primeiro o credor com garantia real; o que sobrar é rateado entre os
demais credores. Observe-se, porém, que a preferência real existe somente em relação ao valor da
coisa dada em garantia; sendo esta insuficiente o credor pode executar, nos próprios autos, os
demais bens do devedor, mas em relação a estes bens será mero credor quirografário. A prioridade
do registro marca a preferência do direito real. Na anticrese, não há direito de preferência. O
credor anticrético pode reter o bem e retirar os frutos até que a dívida seja paga, mas se não for
paga em quinze anos extingue-se a anticrese.
d) Em regra, o crédito real prefere ao pessoal, salvo se houver lei no sentido contrário. De
fato, há certos credores privilegiados que, por força da lei, têm preferência sobre os credores com
garantia real. Por exemplo: créditos trabalhistas de até 150 salários mínimos e os créditos de
acidentes de trabalho (art. 83, I, da Lei 11.101/2005 – nova Lei de Falências). Observe-se que, de
acordo com a nova Lei de Falências, os créditos com garantia real têm preferência sobre os créditos
tributários. Qual a diferença entre credor privilegiado e credor com garantia real? O primeiro tem
privilégio sobre todo o patrimônio do devedor e não apenas sobre uma coisa específica, mas não
tem o direito de sequela, ao passo que o segundo tem privilégio apenas sobre o valor da coisa dada
em garantia (coisa específica), desfrutando, também, do direito de sequela. Assim, a morte do
proprietário do bem não extingue a garantia real.
e) indivisibilidade do direito real de garantia: significa que o pagamento de uma ou mais
prestações da dívida não importa exoneração correspondente da garantia, ainda que esta
compreenda vários bens, salvo disposição expressa no título, ou na quitação. Assim, caso haja
pagamento parcial, a garantia real sobrevive por inteiro. Por exemplo, alguém dá em hipoteca dois
imóveis para garantia de uma dívida parcelada em duas vezes; pagando uma parcela, mesmo assim
os dois imóveis continuam inteiramente hipotecados. Outro exemplo: morto o devedor, o bem
hipotecado é partilhado entre os herdeiros, persistindo, porém, a hipoteca sobre todo o imóvel. A
indivisibilidade vigora até mesmo no silêncio das partes, pois decorre da lei (art. 1.421 do CC), só
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podendo ser excluída por acordo expresso. A indivisibilidade dos direitos reais apresenta três
exceções. Primeira, quando há cláusula expressa prevendo que o pagamento parcial gera a
liberação dos bens gravados. Segunda, perecimento ou desapropriação de um ou mais bens dados
em hipoteca, conforme §2º do art. 525, nesse caso, remanescendo intactos outros bens
hipotecados, que sejam insuficientes para garantir a dívida, ocorrerá o vencimento antecipado
apenas em relação aos bens que pereceram, mas o vencimento continuará sendo o normal, quanto
aos bens que permaneceram intactos, persistindo a hipoteca sobre eles; se os bens que sobraram
foram suficientes para garantir toda a dívida, não há falar-se em vencimento antecipado. Terceira,
se o imóvel hipotecado vier a ser loteado ou nele se constituir condomínio em edifício de
apartamentos, é possível com autorização do juiz constituir várias hipotecas sobre a parte ideal de
cada um, conforme art. 1.488 do CC, nesse caso, o promissário comprador que paga a sua dívida
libera o bem da excussão; cada proprietário pode isoladamente requerer o desmembramento da
hipoteca e o credor terá que se submeter ao exercício desse direito potestativo; o legislador utilizou
a expressão loteamento equivocadamente, na verdade quis referir-se a parcelamento, que é a
divisão de lotes destinados à edificação, que se desdobra em duas espécies: loteamento e
desmembramento, na primeira espécie há a abertura de novas vias de circulação pública, na
segunda não.
f) acessoriedade: os direitos reais de garantia visam assegurar o cumprimento de uma
obrigação. Extinta a obrigação pela prescrição, pagamento ou outra causa qualquer, desaparece o
direito real de garantia. É, pois, acessório no sentido de que não tem existência autônoma, só
podendo existir e sobreviver se houver uma obrigação principal.
É a que confere ao credor o direito de apropriar-se da coisa dada em garantia em caso de não
ser cumprida a obrigação. Esta cláusula é nula, mas a nulidade atinge apenas a cláusula e não todo
o contrato (art. 1.428 do CC). É nula a cláusula que autoriza os credores pignoratícios, hipotecários
e anticréticos a ficarem com o bem objeto da garantia, se a dívida não for paga no vencimento (art.
1.429 do CC). Todavia, após o vencimento, poderá o devedor dar a coisa em pagamento da dívida,
conforme preceitua o parágrafo único do art. 1.428 do CC. Assim, o pacto comissório não pode ser
previsto previamente no contrato, mas pode emanar de um ato unilateral do devedor, após o
vencimento da dívida, desde que, é claro, haja também a concordância do credor. Trata-se de uma
dação em pagamento.
É, ainda, possível ao credor com garantia real a adjudicação judicial do objeto empenhado,
por preço igual ao do maior lance, ou se não houver licitante, pelo valor da avaliação (art. 1.436, V,
do CC).
Pode o credor hipotecário, para pagamento de seu crédito, requerer a adjudicação do imóvel
avaliado em quantia inferior àquele, desde que dê quitação pela sua totalidade (parágrafo único do
art. 1.482 do CC).
Só o proprietário da coisa pode dá-la em garantia real, pois só ele pode aliená-la. Se quem não era
dono der coisa alheia em garantia, vindo a adquirir o domínio da mesma, convalidar-se-á o vício (art.
1.420, § 1º, do CC).
SITUAÇÕES ESPECIAIS
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Em alguns casos, a oneração do bem por algumas pessoas está sujeita a certas restrições, a
saber:
a) menores sob o poder familiar, isto é, não emancipados: os seus bens só podem ser dados
em garantia mediante alvará judicial, ouvindo-se sempre o promotor de justiça. Tratando-se de
menor de 16 anos, o pedido de alvará judicial é formulado pelo representante legal; tratando-se de
menor entre 16 a 18 anos, o pedido é formulado pelo próprio menor assistido pelo representante
legal. É válida, embora não precedida de licença judicial, a hipoteca instituída como pacto adjeto
em contrato de compra e venda pelo adquirente menor (RT 101/127).
b) menores sob tutela e interditos: o Código Civil é omisso. Todavia, mediante autorização
judicial, o tutor ou curador pode vender os bens móveis e imóveis do incapaz (arts. 1.748, IV, e
1.781 do CC). Se pode o mais, que é vender, pode o menos, isto é, hipotecar, empenhar e dar em
anticrese bens do incapaz, desde que haja autorização judicial. Tratando-se de pródigo, não há
necessidade de autorização judicial, mas de mera assistência do curador (art. 1.782 do CC).
c) cônjuge: em relação à hipoteca e à anticrese é necessário o consentimento do outro
cônjuge, qualquer que seja o regime de bens, salvo no regime da separação absoluta de bens (art.
1.647, I, do CC). O penhor, em regra, incide sobre bens móveis, podendo o cônjuge empenhar sem
o consentimento do outro.
d) ascendente em favor do descendente: o art. 496 do CC prevê que o ascendente não pode
alienar ao descendente, sem que os outros descendentes expressamente consintam. Com base
nesse dispositivo legal, parte da doutrina sustenta que o ascendente não pode constituir garantia
real em favor de um descendente, sem o consentimento dos demais. Há, porém, uma outra tese no
sentido de que a vedação do art. 496 do CC não se aplica ao penhor, à hipoteca e à anticrese, pois,
tratando-se de norma restritiva de direitos, deve ser interpretada restritivamente.
e) condômino: o condômino pode constituir direito real de garantia sobre toda a coisa
comum, desde que haja o consentimento de todos os demais. Sem o consentimento destes, só
poderá o condômino dar em garantia real a parte ideal que possui na coisa comum, pouco
importando que a coisa seja divisível ou indivisível (§ 2º do art. 1.420 do CC). Entretanto, de acordo
com Maria Helena Diniz, o condômino de bem divisível pode dar em hipoteca a sua parte, sem a
autorização dos demais, mas se o bem for indivisível é vedada a hipoteca da sua quota-parte, salvo
mediante anuência dos outros condôminos. Esta interpretação colide com a redação do §2º do art.
1.420.
Somente as coisas alienáveis podem ser dadas em penhor, hipoteca ou anticrese. As coisas
fora do comércio, tais como o bem de família, previsto pelo Código Civil, e os bens gravados com
cláusula de inalienabilidade, não podem ser dadas em garantia. O bem de família legal, previsto na
Lei 8.009/1990, pode ser dado em hipoteca (art. 3º, V), perdendo, nesse caso, o atributo da
impenhorabilidade em relação à dívida garantida. Há julgados no sentido que somente se a dívida
for em benefício da família, o bem hipotecado voluntariamente poderia ser penhorado, mantendo-
se a impenhorabilidade nas dívidas que nada tem a ver com a família. Ora, a lei não distingue e por
isso o intérprete não pode distinguir.
PRINCÍPIO DA ESPECIALIZAÇÃO
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a coisa dada em garantia, com as suas especificações, deve conter ainda o total da dívida, sua
estimação, ou o valor máximo, o prazo fixado para pagamento e a taxa de juros, se houver (art.
1.424 do CC).
A falta de um desses requisitos descaracteriza o direito real, que não mais valerá contra
terceiros, persistindo, porém, o direito em relação às partes contratantes.
A necessidade de individualização da coisa torna inadmissível dar em garantia bens futuros,
isto é, ainda não existentes. Entretanto, o penhor agrícola pode recair sobre colheitas ainda não
existentes ou em formação, sendo, pois, exceção à regra de que o direito real não incide sobre
coisas futuras.
RESERVA PRELATÍCIA
Reserva prelatícia é o fato de o registro do direito real retroagir à data da prenotação. Se dois
títulos são apresentados sobre o mesmo bem, prevalece o que foi prenotado primeiro.
O terceiro pode prestar garantia real em favor do devedor. Este terceiro, porém, não é fiador,
pois somente a coisa dada em garantia fica vinculada ao pagamento da dívida, permanecendo ileso
o restante do seu patrimônio, caso a coisa dada em garantia seja insuficiente para saldar o débito,
ao passo que, na fiança, todo patrimônio do fiador se vincula ao cumprimento da obrigação. Em
contrapartida, o terceiro, ao contrário do fiador, não tem direito ao benefício de ordem.
Por fim, salvo cláusula expressa, o terceiro que presta garantia real por dívida alheia não fica
obrigado a substituí-la, ou reforçá-la, quando, sem culpa sua, se perca, deteriore, ou desvalorize
(art. 1.427 do CC).
A dívida considera-se vencida antes do termo normal, nos seguintes casos (art. 1.425 do CC):
1) pela depreciação ou deterioração da coisa dada em garantia, se o devedor intimado não a
reforçar ou substituir. Exemplo: desvalorizando-se o imóvel hipotecado, tornando-se o seu valor
inferior ao do débito, o devedor deve ser intimado a reforçar a garantia, dando outros bens em
hipoteca, sob pena de vencimento antecipado da dívida. Pouco importa a origem da desvalorização
do bem, ainda que decorrente de caso fortuito ou força maior, o devedor deverá reforçar a
garantia, ao ser intimado, sob pena de vencimento antecipado. A simples desvalorização não
provoca o vencimento antecipado; é preciso que o devedor seja intimado e se recuse a reforçar ou
substituir a garantia. Se, contudo, no momento da constituição da garantia real, o bem já era
insuficiente para garantir a totalidade do débito, não há falar-se em vencimento antecipado;
2) falência ou insolvência do devedor. É preciso sentença declaratória de falência ou
insolvência para que se opere o vencimento antecipado (art. 77 da Lei 11.101/2005 – nova Lei de
Falências). Também há vencimento antecipado quando se decreta a liquidação de instituições
financeiras e companhias seguradoras;
3) se a obrigação se satisfizer em prestações, a mora do devedor no cumprimento de uma
delas, provoca o vencimento antecipado da dívida toda. O recebimento posterior da prestação
atrasada importa renúncia ao credor ao seu direito de execução imediata. O atraso no pagamento
mensal dos juros provoca também o vencimento antecipado de toda a obrigação (cf. jurisprudência
pacífica);
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O § 2º do art. 1.425 dispõe que nos casos dos incisos IV e V, só se vencerá a hipoteca antes do
prazo estipulado, se o perecimento ou a desapropriação recair sobre o bem dado em garantia, e
esta não abranger outras; subsistindo, no caso contrário, a dívida reduzida, com a respectiva
garantia sobre os demais bens, não desapropriados ou destruídos. Assim, se houver mais de um
bem hipotecado e a destruição não recair sobre todos, não há falar-se em vencimento antecipado
quando as demais garantias forem suficientes para o pagamento da dívida. Se elas forem
insuficientes, vence-se antecipadamente a dívida em relação aos bens destruídos, mas não quanto
aos que sobraram. Referida norma aplica-se apenas à hipoteca, e não ao penhor e anticrese.
Além desses casos legais de vencimento antecipado, as partes podem, no contrato,
convencionar outros, como, por exemplo, vencimento antecipado pela alienação do imóvel
hipotecado ou pela constituição de nova hipoteca sobre o imóvel.
Finalmente, nas hipóteses de vencimento antecipado da dívida, não se compreendem os juros
correspondentes ao tempo ainda não decorrido (art. 1.426 do CC).
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