Estudos Literários
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Tema do trabalho:
1i
Tete 2022
Tema do trabalho:
2ii
Índice
1. Introdução. ....................................................................................................................................... 4
1.1. Objetivos geral ............................................................................................................................. 4
1.1.1. Objetivos específicos ............................................................................................................... 4
1.1.2. Metodologias ............................................................................................................................ 4
2. Contextualização. ............................................................................................................................ 5
2.1. DIALOGISMO E INTERTEXTUALIDADE ............................................................................. 5
2.1.2. ANÁLISE DOS TEXTOS: ............................................................................................................ 6
2.1.3. PRÁTICAS INTERTEXTUAIS .................................................................................................... 6
3. Conclusão. ....................................................................................................................................... 9
4. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 10
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1. Introdução.
4
2. Contextualização.
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2.1.2. Análise dos textos:
2.1.3. Práticas intertextuais
Iniciaremos esta seção apresentando os textos A um poeta e Surge et ambula, para
depois discutirmos a intertextualidade do ponto de vista de forma e de conteúdo.
A um poeta Surge et ambula Tu, que dormes, esse espírito sereno, Posto à sombra dos
cedros seculares, Como um levita à sombra dos altares, Longe da luta e do fragor terreno,
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno, Afugentou as larvas tumulares Para surgir do seio
desses mares, Um mundo novo espera um só aceno Escuta! é a grande voz das multidões! São
teus irmãos, que se erguem! são canções Mas de guerra e são vozes de rebate! Ergue-te pois,
soldado do futuro. E dos raios de luz, do sonho puro, Sonhador, faze a espada de combate!
Antero de Quental (Sonetos completos, ) Surge et ambula Dormes! e o mundo marcha, ó pátria
do mistério. Dormes! e o mundo rola, o mundo vai seguindo O progresso caminha ao alto de um
hemisfério E tu dormes no outro o sono teu infindo A selva faz de ti sinistro ermitério, onde
sozinha à noite, anda rugindo Lança-te o Tempo ao rosto estranho vitupério E tu, ao Tempo
alheia, ó África, dormindo Desperta. Já no alto adejam negros corvos Ansiosos de cair e de
beber aos sorvos Teu sangue ainda quente, em carne de sonâmbula Desperta.
O teu dormir já foi mais do que terreno Ouve a voz do Progresso, este outro nazareno
Que a mão te estende e diz: - África surge et ambuala! Rui de Noronha (África nº 1 Lourenço
Marques 8/12/36) Os textos apresentados são da autoria de Antero de Quental e de Rui de
Noronha, poetas português e moçambicano, respectivamente. Antero de Quental e toda a
geração de 70, em Portugal, persistiram na estética do considerado terceiro romantismo cuja
essência girava em torno do apelo social que mais tarde abriu o caminho para o culto do
sentimento de inquietação intelectual. Rui de Noronha
assume, na Literatura Moçambicana, o papel de precursor, ou seja, o poeta da transição
entre as fases iniciais da literatura em que grande parte das poesias produzidas eram feitas sem
vinculação ao universo cultural moçambicano.
A partir dele, os textos literários começam a incluir o universo cultural nacional
(MENDONÇA, 1988). No que concerne aos textos, como ponto de partida, incidiríamos sobre
os aspectos formais. Em Surge et ambula, Rui de Noronha copia o modelo típico de Antero de
Quental como se pode ver no texto A um poeta, ambos adoptam o gênero soneto cuja
característica central é apresentar duas quadras e dois tercetos. Essa prática revela o carácter
heterogêneo do texto de Rui de Noronha. Do ponto de vista rimático, ambos os textos
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apresentam concordância no final dos versos, como ilustram os esquemas das duas primeiras
estrofes de cada texto: abab, abab e abba, abba. No que tange aos títulos, podemos dizer que o
texto surge et ambula serve se do subtítulo do texto A um poeta. Por outras palavras, houve
citação do intertexto surge et ambula. Esta retomada do subtítulo reforça a legitimidade daquele
poeta emergente, pois a imitação de um clássico da literatura portuguesa revelaria prestígio na
sua época.
Diante do que constatamos até agora, fica claro que existe uma relação intertextual entre
os dois textos em análise. Essa relação está voltada para a paráfrase ou intertextualidade por
semelhança como refere Santʼanna (2003). Assim, o modelo em voga seria o segundo que
concebe a paráfrase como desvio mínimo, afinal o parafraseador faz uma imitação dos aspectos
formais do texto. Sobre a imitação, podemos referir que é uma das técnicas da poesia clássica
que garantia a dialogicidade dos textos.
Consequentemente, essa imitação de aspectos formais é responsável por conferir ao
texto o seu carácter heterogéneo (a voz de Antero de Quental marcada/ecoando na produção
textual de Rui de Noronha). Quanto aos aspectos de conteúdo, podemos dizer que o texto de Rui
de Noronha vai buscar em Antero de Quental uma espécie de conflito interior do eu, gerado, no
contexto europeu, pelo fato de os jovens não querem se envolver na guerra colonial que se
intensificava nas colónias, como se pode ler nos seguintes versos: Tu que dormes, espírito
sereno,/ Ergue-te pois, soldado do Futuro,
Sonhador, faze a espada de combate!. Esses versos ocorrem no texto de Rui de Noronha
sob a forma de um intertexto mais acessível a variante linguística moçambicana e ajustados
àquele universo sócio-cultural, nos seguintes termos: Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do
mistério / Desperta. O teu dormir já foi mais do que terreno / Ouve a voz do Progresso, este
outro Nazareno. Lendo minuciosamente os versos, compreende-se que tanto em Portugal,
quanto em África havia gente dormindo, pelo que era necessário acordar essas pessoas para a
guerra e o progresso daí resultante. Para os africanos havia que tomar consciência do seu
subdesenvolvimento e lutar pelo progresso e autonomia a vários níveis. Em suma, há uma
relação intrínseca entre os dois textos.
Do ponto de vista estilístico e lexical, o texto Surge et ambula também resgata
elementos do texto A um poeta. Ambos os textos retomam intertextualmente os verbos no
subjuntivo e imperativo: Dormes, Lança-te, Desperta, Ouve e dormes, Acorda, Escuta, Ergue-te.
Há uma relação de paralelismo típico da paráfrase na seleção vocabular que vai da constatação
da sonolência nos dois textos, passando pelo apelo para que se escute a voz do progresso e
culminando com a exortação para se levantar e agir. Este uso parafraseado de verbos funciona
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como elemento de ordem para quem está dormindo demais. Aliás, é nessa paráfrase que reside o
carácter heterogêneo dos textos. Em suma, os elementos aqui arrolados são suficientemente
esclarecedores da intertextualidade entre estes dois textos. Se tivermos que olhar para os
modelos sugeridos por Santʼanna (2003), diríamos que estamos diante do segundo modelo que
nos sugere uma paráfrase enquanto desvio mínimo pois, o texto se conforma com o seu
intertexto. Por outras palavras, no texto Surge et ambula há uma continuidade da ideologia
dominante, fundando-se a manutenção do idêntico e repetindo as informações como se de
espelho se tratasse, como se pode ilustrar na relação entre o título um texto e o subtítulo de
outro.
A um poeta Surge et ambula
A um poeta Dormes! e o mundo marcha, ó pátria do
Surge et ambula
mistério.
Tu, que dormes, esse espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares, Dormes! e
Como um levita à sombra dos altares,
o mundo rola, o mundo vai
Longe da luta e
do fragor terreno, seguindo...
Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno,
O progresso caminha ao alto de um hemisfério
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares, E tu dormes no outro o sono teu infindo...
Um mundo novo espera um só aceno...
A selva faz de ti sinistro ermitério,
Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! são onde sozinha à noite, anda rugindo...
canções...
Lança
Mas de gue
rra... e são vozes de rebate! -
Ergue
te o Tempo ao rosto estranho vitupério
-
te pois, soldado do futuro. E
E dos raios de luz, do sonho puro,
tu, ao Te
Sonhador, faze a espada de combate!
mpo alheia, ó África, dormindo...
Desperta. Já no alto adejam negros corvos
Ansiosos de cair e de beber aos sorvos
Teu sangue ainda quente, em carne de
sonâmbula...
Desperta. O teu dormir já foi mais do que
terreno...
Ouve a voz do Progresso, este outro nazar
eno
Que a mão te estende e diz:
-
África surge et
ambuala
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3. Conclusão.
Em função das discussões feitas ao longo deste trabalho, bem como as análises aqui
desenvolvidas, conseguimos mostrar que o dialogismo, a intertextualidade e a paráfrase são
elementos que garantem a heterogeneidade do texto. Afinal de contas, qualquer texto para se
constituir busca fragmentos de outros textos previamente apresentados. Vimos também que o
intertexto é uma característica ligada à produção verbal dos seres humanos sendo gerados a
partir do dialogismo e da polifonia. Assim, o dialogismo é inerente à linguagem humana, assim,
a linguagem é responsável pelo diálogo entre indivíduos numa determinada situação
comunicativa. Nos textos analisados, constatamos que há uma relação entre si, baseada na
intertextualidade por semelhança porque, do ponto de vista, formal, por exemplo, o texto Surge
et ambula retoma intertextualmente o género soneto e o subtítulo do texto A um poeta. Essa
retomada parafrástica garante que parafraseador se mantenha fiel ao intertexto. Do ponto de
vista de conteúdo, concluímos também que o texto Surge et ambula retoma intertextualmente a
temática voltada para despertar consciências adormecidas do texto A um poeta. É certo que do
lado português, os adormecidos são os jovens que não se querem envolver na guerra e do lado
africano, o povo se faz pouco esforço para que o continente alcance o progresso..
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4. REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 6ª ed. São Paulo: Hucitec,
BARROS, D. L. P. Dialogismo, polifonia e enunciação. In:
BARROS, D. L. P.; FIORIN, J. L.(Ogs.).Dialogismo, polifonia, intertextualidade em
torno de Bakhtin. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, BENTES, A. C. Lingüística
Textual. In:
MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (Orgs.).Introdução à Lingüística: domínios e
fronteiras. 5ª ed. São Paulo: Cortez Editora,
FÁVERO, L. L.; KOCH, I. G. V. Linguística textual: Introdução. 5ª ed. São Paulo:
Cortez Editora, 2000
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