Material Didático 1 - Tópico 5
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Material Didático 1 - Tópico 5
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS
CAMPUS URUAÇU
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATU SENSU EM EDUCAÇÃO,
MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
TÓPICO 5
CIDADES INTELIGENTES, CIDADES RESILIENTES E CIDADES
SAUDÁVEIS
URUAÇU 2023
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INTRODUÇÃO
Olá, acadêmico!
Bom estudo!
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 03
1.1 Cidades Inteligentes ............................................................................................................................. 03
1.2 Cidades Resilientes .............................................................................................................................. 04
1.3 Cidades Saudáveis ............................................................................................................................... 05
TÓPICO 5
1. INTRODUÇÃO.
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Urbe é uma palavra em latim, que significa cidade. Vem do radical urbs, o mesmo que encontramos em todas as palavras
relacionadas, como urbano, urbanizado, subúrbio.
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Como visto, pela perspectiva atual depreende-se que a cidade é o local do urbano,
ainda que, nem toda área urbanizada possa ser uma cidade. Essa visão atualizada das
cidades, como nós às conhecemos, iniciou-se a partir da Revolução Industrial, no século
XVIII, a princípio na Inglaterra e depois se espalhando por outras localidades da Europa e
nos Estados Unidos, tendo por princípio um amplo agrupamento de pessoas conectadas a
intricadas relações sócio econômicas, referentes, entre outros fatores, à industrialização, ao
movimento de pessoas e mercadorias e aos fluxos de capitais (Figura 28).
Figura 1: Fábricas químicas na cidade de Ludwigshafen, Alemanha em pintura de Robert F. Stieler de 1881
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A cidade de Melbourne, na Austrália, foi eleita pelo sétimo ano consecutivo a melhor cidade do mundo para se viver pela
revista The Economist. O ranking da publicação é feito com 140 cidades e leva em consideração fatores como segurança,
sistema de saúde, infraestrutura, meio ambiente e educação. Segundo BRANCO (2017), “o passatempo do fim de semana
para boa parte dos 4,5 milhões de moradores de Melbourne, a segunda maior metrópole da Austrália, é flanar nos arredores
da Federation Square, uma praça de 32.000 metros quadrados em frente à maior estação de trens e bondes da cidade. A
inauguração da Federation Square, em 2002, marcou uma guinada na história de Melbourne. Após décadas de decadência
urbana, a cidade investiu em espaços públicos e flexibilizou as regras para incentivar a vinda de moradores para a área
central. As pessoas passaram a ocupar novamente as ruas, aumentando a sensação de segurança, gerando negócios e
aproveitando melhor as escolas e os hospitais que a região já tinha”.
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Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNDUD (2017), o “Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) é uma medida resumida do progresso em longo prazo, em três dimensões básicas do desenvolvimento
humano: renda, educação e saúde. O objetivo da criação do IDH foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito
utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do desenvolvimento.
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NAÇÕES UNIDAS - ONU, 2015), ambas possuem dos níveis de vida mais altos do
mundo. Corroborando com o supracitado, segundo o “Global Liveability Report 2017”,
estudo publicado pela revista inglesa The Economist (2017)4 que listou as melhores cidades
do mundo para se morar, essas urbes estão entre as de melhor qualidade de vida (Figura
30).
Criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de
Economia de 1998, o IDH pretende ser uma medida geral e sintética que, apesar de ampliar a perspectiva sobre o
desenvolvimento humano, não abrange nem esgota todos os aspectos de desenvolvimento”.
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De acordo com a revista inglesa The Economist, em seu estudo anual intitulado “The Global Liveability Report 2017”, ou
“relatório global de habitabilidade”, em livre tradução, foram ponderados 30 critérios de averiguação fracionados em cinco
classes: educação, infraestrutura, estabilidade, meio ambiente e cultura.
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“A Barragem da Marina é uma barragem de 350m de largura construída na confluência de cinco rios, através do Canal da
Marina para criar o primeiro reservatório urbano de Cingapura. O reservatório aumenta o abastecimento de água de
Cingapura, alivia as inundações em áreas baixas e proporciona uma nova atração de estilo de vida e local para atividades
recreativas. “Com uma área de captação de 10.000 hectares, ou um sexto do tamanho de Cingapura, a Marina é a maior e
mais urbanizada bacia da ilha”. Juntamente com outros dois reservatórios, a Marina Reservoir aumentou a captação de
Cingapura de metade para dois terços da área terrestre do país (THE INTERNATIONAL GREENROOF & GREENWALL
PROJECTS, 2018).
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cultural; serviços de saúde acessíveis a todos e; alto nível de saúde (OMS, 1995). Uma
cidade saudável é aquela que continuamente cria e melhora os ambientes físicos e sociais e
expande os recursos da comunidade permitindo às pessoas apoiarem-se mutuamente na
realização de todas as funções da vida e no desenvolvimento de seu potencial máximo. O
programa da OMS para cidades saudáveis
Segundo o site da OMS (2018), uma cidade saudável tem por objetivos
primordiais: criar um ambiente de apoio à saúde; alcançar uma boa qualidade de vida de
seus habitantes; fornecer saneamento básico e necessidades de higiene; e fornecer acesso a
cuidados de saúde (OMS, 2018).
Assim, a partir de 1986, os primeiros programas de Cidades Saudáveis foram
lançados em países desenvolvidos (Canadá, E.U.A., Austrália, muitos países europeus) e,
por volta de 1994, os países periféricos passaram a utilizar os recursos e as estratégias
implantados pelos países centrais para iniciar seus próprios programas. As estratégias de
implantação são bem singulares por cidade, embora sigam a ideia fundamental de envolver
muitos membros da sociedade, diversas partes interessadas e compromissos das
governanças municipais, visando alcançar mobilização e eficácia generalizadas. Hoje,
centenas de urbes por todo o planeta fazem parte da rede de Cidades Saudáveis, existindo
em todas as regiões da OMS (OMS, 2018).
As avaliações dos programas de Cidades Saudáveis “provaram que elas são bem-
sucedidas em aumentar a compreensão dos vínculos entre a saúde e o meio ambiente e na
criação de parcerias intersetoriais para garantir um programa sustentável e generalizado”
(OMS, 2018). Foram constatados que os programas mais bem sucedidos eram aqueles que
cultivavam o comprometimento dos membros da comunidade local, um diálogo objetivo e
claro, uma ampla gama de partes interessadas e um método de institucionalização desses
programas. A OMS (2018) verificou, também, que a falta de permanência no programa de
Cidades Saudáveis, bem como outras questões relacionadas a resultados abaixo do
esperado, se desenvolveram pelo insuficiente comprometimento de agentes públicos ou
instabilidade dos coordenadores locais. Além disso, muitos estudos identificaram que as
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cidades,
Gráfico 1: Evolução comparativa da taxa de urbanização na América Latina, Brasil, E.U.A. e Europa
Ocidental; no período de 1800 a 2020
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Elaborado pelo autor, Fábio de Souza, a partir de: BAIROCH, 1985, p.551; BRETAGNOLLE, 2006, p.48;
MENDONÇA, 2011; SIMÕES, 2016, p.27; ONU, 2018
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Elaborado pelo autor, Fábio de Souza, a partir de: IBGE, 2010.
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Figura 5: Ocupação irregular e degradação ambiental na Área I do Jardim Goiás, em Goiânia – GO,
contrastando com elegantes arranha-céus no mesmo bairro, ao fundo
(CEPEDOC Cidades Saudáveis), organização não governamental que atua como centro
colaborador da OMS na área da promoção e conhecimento da saúde e cidades saudáveis8
ou da “Rede de Municípios Potencialmente Saudáveis” 9, entre outros.
De acordo com Adriano et al (2000), “a maior dificuldade encontrada no
enquadramento de municípios em uma experiência de Municípios/Cidades Saudáveis, no
Brasil, é a falta de critérios ou parâmetros para a aplicabilidade do termo”.
De forma ocasionalmente populista, as governanças municipais têm se declarado
alusivas ao movimento conforme apresentam iniciativas de execução de políticas públicas
que congregam determinadas pressuposições implícitas no movimento, tais como
“participação popular e intersetorialidade” (ADRIANO et al, 2000, p.57).
Dentro do contexto apresentado, as cidades latino-americanas, incluindo as
brasileiras, se esforçam para fomentar projetos mais coerentes com o âmbito local e suas
necessidades imediatas, suscetíveis ao desaparecimento “em função da descontinuidade
administrativa e da frágil participação da sociedade civil” (ADRIANO et al, 2000, p.57).
Considerando o conceito abordado de cidade saudável, mais amplo e que envolve
não só a capacidade de proporcionar as necessidades básicas de seus habitantes, mas
também pressupostos como mobilidade, segurança pública, biossistema estável e
sustentável e, especialmente, considerando o exercício de um poder coletivo para remodelar
os processos de urbanização, visando qualidade de vida pela inclusão, um exemplo
revolucionário na América Latina é a cidade de Medellín10, na Colômbia.
8 Um exemplo disso é a parceria do CEPEDOC com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
(FSP/USP), ao desenvolver uma base de dados – CIDSAÚDE – especializada em promover a saúde, onde mais de dois mil
documentos, entre revistas, livros, artigos e outras publicações, foram catalogados com o objetivo de “contribuir, com
ferramentas conceituais, para o trabalho de promoção da saúde empreendido por pesquisadores, estudantes, gestores
públicos e outros atores sociais” (CEPEDOC, 2018). Um dos projetos finalizados pela CEPEDOC promoveu a articulação
entre setores que ocorreu na esfera do Programa de Saúde da Família (PSF) em todo o território de São Paulo, durante o
período de 2005 a 2008, e que resultou no “Projeto Ambientes Verdes e Saudáveis – PVAS”. Através do PVAS se
observou que a integração das agendas da saúde e meio ambiente provoca desafios à política pública da cidade, bem como
a necessidade de fortalecer práticas comprometidas com os processos de desenvolvimento humano e urbano. Segundo o
CEDOC “a experiência proporcionou diversas oportunidades de aprendizagem e seu registro e sistematização poderão
permitir a disseminação e replicabilidade em outros contextos, como o desenho da formação, e a aquisição de um repertório
teórico e prático” (CEPEDOC, 2018).
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Criada em 2003, a Rede já realizou 53 encontros e oito seminários; propiciou o intercâmbio com três missões
internacionais (Equador e Japão) e viabilizou a publicação de cinco livros, com o registro do conhecimento de diversos
especialistas colaboradores, assim como o registro de ações de Municípios participantes na construção de políticas públicas
saudáveis. É formada por 40 Municípios membros, em cinco Estados (SP, MG, RJ, AM e PR) e conta com o apoio técnico
da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/ Faculdade
de Ciências Médicas/ Departamento de Medicina Preventiva e Social), do Instituto de Pesquisas Especiais para a Sociedade
(IPES). (Rede, 2018).
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Medellín é a segunda maior cidade da Colômbia e a capital do departamento de Antioquia. Está localizada no Vale do
Aburrá, uma região central da Cordilheira dos Andes na América do Sul. De acordo com o Departamento Administrativo
Nacional de Estatística da Colômbia, a cidade tinha uma população estimada em 2,5 milhões em 2017. Com sua área
circundante que inclui nove outras cidades, a área metropolitana de Medellín é a segunda maior aglomeração urbana da
Colômbia em termos de população e economia, com mais de 3,7 milhões de habitantes.
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[...] são o único espaço em que mesmo aqueles que não têm poder social são
capazes de construir uma história, uma cultura e uma economia. Por isso, são
também os espaços mais críticos (SASSEN, 2016).
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De acordo com Rosa (2016), em 2004 foi implantado o primeiro metrocable - uma espécie de teleférico, como os
sistemas de gôndolas usados em parques de esqui - com 1,8 km de extensão. Ele ligou um bairro do leste da cidade à rede
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Figura 6: Metrocable com panorâmica de Medellin, desde o bairro Santo Domingo, na região nordeste da
cidade
de metrô municipal. Quatro anos depois, foi a vez de uma instalação assim na área da Comuna 13. A etapa seguinte do
projeto foi ainda mais criativa: escadas rolantes urbanas. As escaleras electricas da Comuna 13 ajudam os mais de 130 mil
moradores do local a subir o equivalente a um prédio de 30 andares. Mas elas têm um papel ainda mais importante quando
se trata da autoestima da população. Os seis lances de escada substituíram os degraus irregulares e íngremes
autoconstruídos e permitiram a acessibilidade, principalmente das crianças, idosos e pessoas com deficiência física.
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nos últimos cinquenta anos, a migração massiva do campo para a área urbana de Medellín
incorreu na ocupação irregular das montanhas, em torno da cidade, por bairros carentes e
deficientes de infraestrutura que contrastam com a região central da cidade, a cidade
formal.
É uma urbe em que as casas são impelidas sobre as áreas montanhosas, como
ocorre no Rio de Janeiro. E também como na capital fluminense nos dias atuais, ela
também já foi considerada uma das mais perigosas cidades do mundo, nas décadas de 1980
e 1990. Existem, lá, “comunas, termo pelo qual os moradores se referem às suas 16 favelas,
que estão a mais de 1.800 metros acima do mar” (ROSA, 2016).
A Comuna 13, por exemplo, é a maior favela da cidade e a região que mais sofreu
com a guerra entre o narcotráfico e o poder militar. Hoje, ela chega a ser um
ponto turístico por sua vista, mas também por ter sido o cenário e guardar as
histórias de uma série de crimes que depois se tornaram narrativas de Hollywood
sobre a vida de Pablo Escobar (ROSA, 2016).
Mas, ainda de acordo com Rosa (2016), na cidade também reside um diferente
homônimo, Pablo Maturana. Ex-diretor da área de relações locais e internacionais da
agência de cooperação da cidade, a ACI, Maturana esteve presente quando do
estabelecimento dos planos de mobilidade urbana que converteram a capital do narcotráfico
em cidade modelo da ONU.
Em 2011, influenciado pelo modelo de Medellín, a cidade do Rio de Janeiro
implantou um sistema teleférico no Complexo do Alemão. A rede, de 3,5 km, se tornou
uma das grandes atrações turísticas do Rio e também foi muito utilizada pelos moradores da
comunidade, que evitavam assim as ruas tortuosas e íngremes do Alemão. Quase nove mil
pessoas circulavam pelo teleférico todos os dias (ISTOÉ, 2017).
Projetado como um símbolo de esperança, assim como as Unidades de Polícia
Pacificadora - UPPs12, o serviço passa por um período de abandono e seu fechamento, em
2017, foi atribuído, segundo a revista Istoé (2017) a danos inesperados que requeriam
grandes trabalhos de manutenção e reparos.
Porém os responsáveis ainda não explicitaram em que momento tais reparos serão
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A Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) foi um dos mais importantes programas de Segurança Pública realizado no
Brasil nas últimas décadas. Implantado pela Secretaria de Estado de Segurança do Rio de Janeiro, no fim de 2008, o
Programa das UPPs - planejado e coordenado pela Subsecretaria de Planejamento e Integração Operacional - foi elaborado
com os princípios da Polícia de Proximidade, um conceito que vai além da polícia comunitária e tem sua estratégia
fundamentada na parceria entre a população e as instituições da área de Segurança Pública.O Programa engloba parcerias
entre os governos – municipal, estadual e federal – e diferentes atores da sociedade civil organizada e tem como objetivo a
retomada permanente de comunidades dominadas pelo tráfico, assim como a garantia da proximidade do Estado com a
população (RIO DE JANEIRO, 2018).
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da comunidade do Alemão, “que considerava não ter suas necessidades atendidas com o
projeto” (ISTOÉ, 2017).
Ademais, aparentemente essa implantação foi apropriada mais como uma
promoção política dos gestores públicos, que pretendiam projetar uma imagem, durante os
eventos da Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos de Verão 2016, de um Rio de Janeiro
inovador e livre do palco de lutas entre narcotraficantes e policiais, a despeito da finalidade
de inclusão socioeconômica observada no caso de Medellín.
Com relação ao programa de UPPs, em 2018 o Ministro da Segurança Raul
Jungman confirmou que quase a metade das 38 unidades será suprimida, a fim de reforçar o
policiamento de outras regiões do estado do Rio de Janeiro e das unidades que
permaneceram em funcionamento. Declarou, ainda, que parte das UPPs já não cumpriam
suas funções originais (NOGUEIRA, 2018). Essa situação denota a omissão dos gestores
públicos no Brasil e demonstra, também, sua inoperância, considerando que iniciativas
inovadoras e saudáveis carecem de suporte político para se perpetuarem ao longo do tempo,
uma vez que o movimento se propõe permanente.
É certo que a América Latina e os países em desenvolvimento em geral têm muito
a aprender com o exemplo bem-sucedido de Medellín, assim como com os infortúnios
ocorridos no Rio de Janeiro. Depreende-se, das ações ocorridas nessas metrópoles latino-
americanas, que uma cidade saudável é igualmente uma cidade com justiça social, pois as
desigualdades se destacam entre as causas de degradação da saúde. As iniciativas citadas
aqui são só algumas, mas não há dúvidas: o trabalho de construção de cidades saudáveis,
justas e inovadoras está só começando.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.