E-Book Justica Climatica

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futuro

ancestral
na escola
Reflexões e dicas para trabalhar justiça
climática e racismo ambiental com turmas
da educação infantil ao ensino médio
Apresentação
Professores,

A crise climática nos coloca diante de um desafio sem


precedentes. Não há futuro possível, e muito menos
educação com equidade, sem se preocupar com os rumos
do planeta. Para que os estudantes consigam lidar com os
efeitos do aumento da temperatura global e sejam capazes
de transformar suas ações, temos que aprender com os
saberes ancestrais a cuidar, preservar, respeitar e conviver.

Durante os seus 11 anos de trajetória, o Porvir tem


acompanhado os principais debates sobre inovações
educacionais e tem convicção de que a escola não pode se
afastar das emergências globais. Como parte integrante da
sociedade, ela também precisa estar comprometida com essa
causa e ciente de que as discussões ambientais também são
sociais.

A crise não atinge a todos da mesma forma. Portanto, não é


possível tratar do aumento da temperatura global sem levar
os conceitos de justiça climática e racismo ambiental para a
sala de aula.

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É por isso que elaboramos o material de apoio “Futuro
ancestral na escola: reflexões e dicas para trabalhar justiça
climática e racismo ambiental com turmas da educação
infantil ao ensino médio”. Aqui você encontra conceitos
essenciais, recomendações de leitura, artigos e vídeos para
aprofundamento e orientações práticas.

Esperamos que esse material, inspirado na riqueza dos


conhecimentos ancestrais das comunidades indígenas,
quilombolas e ribeirinhas, possa apoiar boas conversas
e projetos comprometidos com a promoção da justiça
climática e do combate ao racismo ambiental.

Bom trabalho! Seguimos juntos!

Equipe Porvir

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Sumário

Por que
falar sobre
justiça Como os
climática saberes
e racismo ancestrais
ambiental nos ajudam
na escola? a construir
um futuro
pg. 6 possível?

pg. 11

Dicas para
educadores

pg. 14

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Por que falar sobre
justiça climática e racismo
ambiental na escola?

Por muito tempo, o aquecimento global ocupou o centro do


debate sobre crise climática na escola. Embora essa perspectiva
seja fundamental para a formação dos estudantes, também é
preciso ampliar a conversa para entender que os impactos do
aumento da temperatura no planeta não atingem todas as
pessoas da mesma forma.

De acordo com um relatório do Banco Mundial, mais de 200


milhões de pessoas serão obrigadas a migrar devido ao clima
até 2050. Ao redor do mundo, cerca de 3,3 bilhões de pessoas
estão muito vulneráveis aos impactos do aquecimento global,
registra o 6º Relatório de Avaliação do IPCC, painel do clima das
Nações Unidas.

Em outras palavras, estamos todos diante da mesma tempestade,


mas em barcos diferentes. Principalmente, quando considerados
marcadores sociais de classe, raça e gênero.

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Por que falar sobre justiça climática e racismo ambiental na escola?

Mas o que é justiça climática


e racismo ambiental?
Justiça climática::

É um termo que tem sido utilizado pelos movimentos


socioambientais em busca de uma divisão mais justa,
tanto de investimentos, quanto de responsabilidades,
no enfrentamento da crise climática. Por entender que
pessoas e países mais vulneráveis tendem a sofrer mais
os impactos das mudanças climáticas do que pessoas
e países ricos, ganha força o chamado global para a
responsabilização de diferentes atores sociais. Afinal,
o meio ambiente saudável é um direito humano.

A justiça climática não é apenas ambiental, é também


social. É a justiça das comunidades periféricas e das
comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas e
ribeirinhas. Não existe justiça climática enquanto não
tivermos as outras justiças.

Jahzara Ona, jovem ativista socioambiental

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Por que falar sobre justiça climática e racismo ambiental na escola?

Racismo ambiental:

É uma terminologia cunhada em 1981, pelo líder negro


e ativista pelos direitos civis Benjamin Franklin Chavis
Jr., para descrever que as populações étnico-raciais
mais vulnerabilizadas são as que mais sofrem com
os impactos ambientais negativos. Trata-se de uma
discriminação racial causada pela distribuição injusta
de recursos e riscos ambientais, assim como a exclusão
dessa população na elaboração de políticas públicas
que remediem a situação.

Ao longo dos anos, falava-se em mudanças climáticas,


e não sobre racismo ambiental. Era uma preservação
ambiental sem povo, sem rosto, sem raízes. Agora se
fala em racismo ambiental, mas sempre foi racismo.
Só foram dadas novas nomenclaturas às coisas.

Kátia Penha, coordenadora da Conaq


(Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos)

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Por que falar sobre justiça climática e racismo ambiental na escola?

Saiba mais sobre justiça climática


e racismo ambiental

Artigos

Justiça climática no Brasil: a importância de falar o óbvio


e a retomada da força ancestral

Justiça climática e o papel da universidade

O que é racismo ambiental?

Livros

Meio ambiente em foco – racismo ambiental: conflitos,


territórios e resistências

A Floresta: Educação, Cultura e Justiça Ambiental

Vídeos

Amanda Costa - Precisamos falar sobre racismo


ambiental

Racismo ambiental: periferias sofrem mais com


a degradação da terra

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Por que falar sobre justiça climática e racismo ambiental na escola?

Na luta para alcançar a justiça climática e combater o racismo


ambiental, a escola assume um papel fundamental que é o de
formar novas gerações comprometidas com o meio ambiente e
conscientes dos impactos desiguais dessa crise. À medida que as
alterações no clima se intensificam, o ambiente escolar também
deve preparar os estudantes para serem capazes de se adaptar
ao futuro, mitigar efeitos e lidar com a ansiedade climática,
que já atinge 45% dos jovens no mundo, conforme pesquisa
periódico Science Direct.

Apesar de ser um problema de todos diante das preocupações


com o futuro do planeta, as juventudes têm liderado diversas
ações em defesa do clima. A Global Climate Strike, por exemplo,
é uma iniciativa de jovens de todo o mundo que exigem uma
mudança significativa no uso de combustíveis fósseis no mundo.
Na COP (Conferência das Partes da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima), eles também têm
ocupado espaços de fala para alertar a população mundial sobre
o problema enfrentado nas suas comunidades.

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Como os saberes ancestrais
nos ajudam a construir um
futuro possível?

Os dicionários definem a palavra ancestralidade como “legado


de antepassados”, “liga das gerações anteriores de um
indivíduo ou uma família”, “proveniência de um povo”. Para
os povos tradicionais, indígenas, quilombolas e ribeirinhos,
buscar e respeitar a sabedoria dos mais velhos é valorizar a
floresta e quem dela vive. Ao entender que a natureza não é
um produto e não está meramente à nossa disposição, e sim
que é parte de nós mesmos, a relação de respeito e cuidado
com o meio ambiente se torna fundamental.

Não há vida fora da natureza. Precisamos nos


olhar no espelho e enxergar que somos natureza.
A natureza é nossa mãe, é tudo o que está em nós.

Yaguarê Yamã, professor, escritor e líder indígena

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Como os saberes ancestrais nos ajudam a construir um futuro possível?

Se por um lado as comunidades tradicionais são as que mais


nos ensinam a cuidar das florestas, elas também são as que
mais sofrem com os impactos da crise climática. O aumento da
temperatura, as alterações nos períodos de chuvas, o garimpo
ilegal e o desmatamento causado pelo agronegócio afetam o
cultivo dos alimentos, a pesca nos rios, a caça e a maneira de
viver dos povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas.

Saiba mais sobre os impactos da crise


climática nas comunidades tradicionais

Livro

Mudanças climáticas e a percepção indígena,


da Opan (Operação Amazônia Nativa)

Publicação

Quem precisa de justiça climática no Brasil?,


do Observatório do Clima

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Como os saberes ancestrais nos ajudam a construir um futuro possível?

Eu sempre falo que a gente sofre tanto com as


causas quanto com as consequências do clima.
Quais são as causas? O desmatamento, as
queimadas, o garimpo ilegal. E onde essas coisas
acontecem? Elas acontecem em muitos dos nossos
territórios. Isso afeta diretamente as nossas vidas.

Txai Suruí, guerreira indígena do povo Paiter Suruí,


coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental -
Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

Na iminência de um colapso global, é urgente repensar as ações e


aprender com as comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas
para manter a floresta em pé. Como bem destaca o líder indígena e
escritor Ailton Krenak: “se há futuro a ser cogitado, esse futuro é
ancestral, porque já estava aqui”. Precisamos nos reconectar com
nossas raízes e nossas memórias para alcançar o amanhã.

Os rios, esses seres que sempre habitaram


os mundos em diferentes formas, são quem
me sugerem que, se há futuro a ser cogitado,
esse futuro é ancestral, porque já estava aqui.

Ailton Krenak, líder indígena e escritor

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Dicas para
educadores
Os saberes ancestrais podem nos ensinar a cultivar muitos valores,
como o cuidado, o convívio e o respeito. Por meio dos conhecimentos
transmitidos de geração em geração, temos a oportunidade de
fortalecer o compromisso de crianças, adolescentes e jovens na luta
pelo clima. Para auxiliá-lo na tarefa de integrar esses saberes ao
currículo, preparamos algumas dicas:

A escola tem os conhecimentos teóricos que são


transmitidos para os alunos, mas também existem
os conhecimentos tradicionais dos povos indígenas.
Os professores deveriam tentar se aproximar disso.

Almir Suruí, líder indígena

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Busque referências sobre
conhecimentos ancestrais

Explore com mais profundidade os saberes tradicionais


dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos. Dedique
tempo à pesquisa, leitura especializada, visitas a museus
e participação em formações pertinentes. Por meio desses
ensinamentos, busque identificar pontos de conexão com
o currículo escolar.

Olhe para o território para mapear


possibilidades de diálogo

Realize uma exploração do entorno escolar para identificar


desafios ambientais e oportunidades de diálogo com
os moradores. Se houver presença de comunidades
indígenas, quilombolas ou ribeirinhas na região, considere
a possibilidade de convidar líderes ou educadores para dar
palestras na escola ou até mesmo organize visitas para os
estudantes conhecerem de perto.
Repense as práticas
cotidianas da escola

Conduza uma análise cuidadosa das práticas


diárias da escola, identificando maneiras de
contribuir ativamente para a preservação
do planeta. Estimule a elaboração de ações
coletivas que promovam a redução do uso
de plástico, fomentem hábitos alimentares
saudáveis, incentivem a correta destinação do
lixo e promovam a reutilização de materiais,
por exemplo garrafas PET ou caixas.

Crie conexões a partir da


realidade dos estudantes

Relacione a discussão sobre justiça climática


e racismo ambiental com a realidade dos
estudantes. Desperte reflexões sobre como as
mudanças climáticas afetam diretamente suas
vidas e as das comunidades tradicionais.
Mostre para os estudantes que
somos parte da natureza

Incentive os estudantes a internalizar a conexão


intrínseca entre a humanidade e a natureza.
Proporcione experiências em ambientes ao ar livre
e em áreas verdes, onde possam vivenciar essa
ligação de forma prática e emocional.

Mobilize a comunidade escolar


em torno da causa

Organize eventos e atividades para engajar não


apenas os alunos, mas toda a comunidade escolar.
Promova rodas de conversa, palestras, debates e
outras iniciativas que sensibilizem professores de
diferentes áreas, funcionários e famílias, reforçando
a importância da conscientização coletiva.
Expediente

Textos:
Ana Luísa D’Maschio
Marina Lopes
Ruam Oliveira

Edição:
Marina Lopes

Revisão:
Ana Luísa D’Maschio

Projeto gráfico
e editoração eletrônica:
Regiany Silva
Ronaldo Abreu

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Este material complementar foi construído em conjunto
com a reportagem “Diante da crise climática, diálogo entre
diferentes gerações mostra por que o tema deve estar na
escola”, publicada no Porvir.

Ela foi contemplada pelo edital “Bolsas de Reportagem Justiça


Climática - AJOR e iCS: Justiça Climática e o Enfrentamento
ao Racismo Ambiental no Brasil”, promovido pela Ajor,
Associação de Jornalismo Digital e o iCS, Instituto Clima e
Sociedade, no âmbito do The Climate Justice Pilot Project.

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