Teoria Psicanalítica TOP4

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Tópico 04

Psicologia e Aprendizagem

Teoria Psicanalítica

1. Introdução
Para estudar e compreender a teoria da psicanálise, é preciso também saber um
pouco de seu criador.

Sigmund Freud nasceu em 1856, em Freiberg, atualmente região da República


Tcheca, mas viveu em Viena desde os 3 anos de idade. Judeu, formou-se médico em
1881, especializou-se em neurologia e psiquiatria. Por questões financeiras, não pode
se dedicar integralmente à atividade de pesquisa como gostaria e logo começou a
clinicar. Em sua vida profissional, encontrou frequentemente pacientes acometidos
por “problemas nervosos”. Em 1895, ganhou uma bolsa de estudos para estudar com
o famoso psiquiatra Jean Martin Charcot em Paris. Teve contato com a técnica da
hipnose, rechaçada como charlatanismo pelos cientistas da época. Fez uso da hipnose
e do método catártico, mas os abandonou sob duras críticas e estabeleceu o método
da associação livre de ideias como a técnica privilegiada da psicanálise. Interessava-
se particularmente pela clínica da histeria, uma doença nervosa que desafiava a
ciência da época, por apresentar sintomas sem causa orgânica.

É largamente conhecido por ser o revolucionário criador de uma nova forma de ver o
aparelho psíquico. Grande parte do desenvolvimento de sua obra foi baseada nas suas
experiências pessoais, nas experiências clínicas. Freud se mostrava particularmente
intrigado com o fato de que os pacientes pareciam se esquecer de momentos
importantes na vida, principalmente da infância, mesmo havendo condições
neurológicas para tal. Na verdade, ele percebe que os indivíduos resistiam a lembrar

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de momentos psiquicamente relevantes (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2011, p.95).

A esta força psíquica que fazia oposição à rememoração de fatos e torná-los


conscientes, ou seja, a revelar um pensamento, Freud denominou resistência. E
chamou de recalque o processo psíquico que visa fazer desaparecer da consciência
uma ideia ou representação insuportável e dolorosa, carregada de vergonha, nojo,
ansiedade. Estes “esquecimentos” estariam na origem dos sintomas e ele desenvolveu
a ideia de que estes conteúdos psíquicos retirados da consciência estariam no
Inconsciente.

S. Freud em 1920.

A Psicanálise seria, assim, um método de investigação, bem como uma prática clínica,
que parte da perspectiva do humano como sujeito do Inconsciente. Além disso,
também se refere a um método interpretativo, que busca os significados latentes ou
ocultos daquilo que é revelado pelo sujeito por meio de suas narrativas, suas ações,
fantasias, sonhos, atos falhos, etc.

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Você já ouviu a expressão “Freud explica”? Será que explica mesmo?

2. Alguns Conceitos Básicos


Para entendermos a psicanálise e suas relações com a educação e o aprendizado, é
muito importante que possamos nos debruçarsobre alguns conceitos básicos.

Como nos mostra Ana BOCK (e autores), em seu livro “Psicologias: um estudo para o
estudo da Psicologia” (2011), os mecanismos de defesa são processos
inconscientes, isto é, ocorrem independentemente da vontade consciente do
indivíduo. Realizados pelo ego, para Freud, as defesas seriam operações pelas quais o
ego exclui da consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo, desta forma, o
aparelho psíquico. O ego — uma instância psíquica que funciona a serviço da
realidade externa (da educação, da moralidade, das normas sociais) — mobiliza estes
mecanismos, que suprimem ou dissimulam a percepção do perigo interno, daqueles
impulsos incompatíveis com as exigências do mundo externo.

Às vezes, a percepção de um evento, advindo tanto do mundo externo como do


mundo interno, uma experiência, um acontecimento, pode ser algo muito aflitivo,
constrangedor, doloroso, desorganizador. Para evitar este desprazer, a pessoa
“deforma”, censura ou suprime a realidade, isto é, deixa de registrar percepções
externas, afasta determinados conteúdos psíquicos, interfere no pensamento
(BARATTO, 2009, p. 83).

Percebendo isso, Freud desenvolve uma concepção fundamental em sua teoria, que é
o conceito de recalque (também traduzido, equivocadamente, como repressão). O
recalque foi definido como um mecanismo de defesa específico, por meio do qual o

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sujeito expulsava do campo da consciência as ideias que lhe pareciam incompatíveis
com as representações que fazia de si mesmo e foi situado como o mecanismo
responsável pela dissociação psíquica. O inconsciente freudiano se define
inteiramente pelo recalque. Para Freud, as ideias de caráter aflitivo que passam por
esse processo defensivo formam um grupo associativo separado da consciência.

O Inconsciente freudiano é o recalcado.

“[…] organizando-se de acordo com leis associativas diferentes daquelas que


regem o eu consciente, condenando-o a uma luta permanente contra o retorno
do recalcado em derivados substitutos do inconsciente, sob a forma de uma tenaz
resistência”.

BARATTO, 2009, p. 83

Para Freud, a teoria do recalque é considerada a “pedra angular” sobre a qual se


edifica toda a estrutura da psicanálise, já que o Inconsciente freudiano se define
justamente nas consequências desse mecanismo, que torna determinados conteúdos
psíquicos (lembranças, experiências, ideias) inacessíveis à consciência, mesmo que
exercendo seu poder.

Um outro conceito fundamental para a teoria freudiana é o de pulsão, conceito que


está na base dos processos que determinam os modos como amamos, desejamos,
sofremos. Pulsão remete ao que impulsiona, à força motora, à pulsação. Um conceito
fronteiriço, situado entre o psíquico e o somático, o representante psíquico dos
estímulos que se originam dentro do organismo e alcançam a mente.


Documentário: “O jovem Dr. Freud”

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Se quiser saber um pouco mais a respeito do criador da Psicanálise, assista
ao documentário “O jovem Dr. Freud”, que mostra a história e os primórdios
do desenvolvimento desse saber. Clique aqui

3. Afinal de contas, o que seria o sujeito do


inconsciente?
Na obra freudiana, podemos perceber que o sistema Inconsciente é formado muito
precocemente, nas primeiras experiências infantis. Mais ainda, Freud percebe que
mesmo os acontecimentos mais remotos eram movimentados por uma energia
psíquica, que ele vai chamar de libido. Percebe ainda que a vida infantil também é
permeada pela sexualidade. Este pensamento foi recebido como um escândalo
quando foi desenvolvido, na era vitoriana, um período de intenso puritanismo na
Europa. Atualmente, essas ideias são muito mais amplamente aceitas e divulgadas,
além de facilmente observadas na clínica.

Em 1900, no livro “A interpretação dos sonhos”, considerado a obra inaugural da


psicanálise, Freud apresenta a primeira concepção sobre a estrutura e o
funcionamento da personalidade. Essa teoria refere-se à existência de três sistemas
ou instâncias psíquicas: Inconsciente, Pré-consciente e Consciente. O Inconsciente
exprime o conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da consciência. É
constituído por conteúdos que podem ter sido conscientes em algum momento e
foram recalcados, que não têm acesso aos sistemas pré-consciente/consciente, pela
ação de censuras internas. O inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido
por leis próprias.

Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade: a psicanálise


e a infância

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No final do século XIX, a criança era uma preocupação das psicologias e de outras
disciplinas. Havia uma valorização da infância no contexto da vida privada ocidental.

Como trabalhamos anteriormente, o Inconsciente é formado especialmente por


nossas primeiras experiências, nossas vivências infantis. Por isso, podemos perceber
o valor que Freud dá à infância no desenvolvimento de sua teoria. A ousada e
pioneira obra “Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (FREUD, 1905) é
importantíssima para entendermos essa significância.

É nesta obra que Freud formaliza a ideia de que a sexualidade no humano está
presente desde cedo, é fundamental no desenvolvimento psíquico, define nossas
formas de estar no mundo, nossos modos de satisfação, que definitivamente não
estão restritos à reprodução da espécie.

Os “três ensaios” comumente são assimilados como uma formulação teórica sobre a
criança, mas a questão freudiana, na verdade, propõe uma investigação e teorização
sobre o infantil. Nestas formulações, ele dizia que o Inconsciente é formado a partir
da vida sexual infantil. A maioria de pensamentos e desejos recalcados referiam-se a
conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos. O
período de desenvolvimento da sexualidade é longo e complexo até chegar à
sexualidade adulta.

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Mesmo que seja diferente da sexualidade na vida adulta, e que cause muitos embaraços na
educação, as investigações das crianças a respeito das diferenças sexuais, de onde vem os
bebês, transformam-se na curiosidade a respeito da vida.

No primeiro ensaio, a formulação principal é a seguinte: há sexualidade na infância.


Há forças psíquicas humanas que não são comparáveis aos instintos animais que,
desde muito precocemente (no desenvolvimento humano), exercem seu poder. Essas
forças são também chamadas de pulsões.

A pulsão distingue-se de instinto e define-se por ser um conceito que engloba a

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relação do indivíduo com seu corpo. É um conceito limite entre o psíquico e o físico.
Para ele, as crianças estabelecem formas de satisfação, diferentes dos adultos,
associadas ao desenvolvimento físico, mas não dependentes deste. Ou seja, ao
contrário de teorias inatistas, que indicam as disposições constitucionais, ele valoriza
enormemente as experiências do indivíduo nos primeiros anos.

Você já deve ter ouvido falar nas diferentes teorias do desenvolvimento, sobre a
organização sexual nas fases oral, anal e fálica, certo? Essas ideias foram justamente
desenvolvidas neste trabalho sobre a sexualidade infantil e a sua importância nas
experiências de satisfação na adolescência e na vida adulta. É importante observar,
entretanto, que não se trata de uma descrição evolutiva. Cada criança tem seu tempo
e seus modos de lidar com a sexualidade.

De forma bastante resumida, a primeira atividade sexual seria a oral, nas


experiências de sucção da criança ao ser alimentada. Ou seja, mamar não é apenas da
ordem da satisfação da necessidade de comer. Este ato também está associado à
necessidade de aconchego, carinho, cheiro, voz, isto é, uma presença de um outro.
Isso é essencial no desenvolvimento do bebê.

A segunda fase, anal, estaria ligada ao controle dos esfíncteres, mas mais do que isso,
aquilo que o sujeito é capaz de oferecer ou não ao outro, de controlar na sua
experiência com o mundo. Percebe como o desenvolvimento da sexualidade é amplo?
Ele é ligado não apenas a formas de obtenção de prazer e evitação de desprazer, mas
também ao modo como o sujeito se coloca no mundo e se relaciona com o outro.

No segundo ensaio, Freud (1905) vai se perguntar por que haveria um período de
amnésia entre 7 e 8 anos, se as crianças possuem capacidade até então de recobrarem
suas experiências. Ele percebe que, antes do período da adolescência (e da maturação
dos órgãos sexuais, da satisfação genital propriamente dita), há um período de
latência, caracterizado por um certo declínio da sexualidade até a puberdade. Uma
fase importantíssima, em que a criança dirige suas pulsões a outros objetivos, por
exemplo, ao impulso por conhecer. Uma maior curiosidade e disposição para a

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pesquisa, que o Freud chamará justamente de pulsão de saber. Essa atividade
investigatória da infância está ligada também às perguntas de como são feitos os
bebês e sobre as diferenças sexuais entre meninas e meninos, mas justamente a
incidência dos mecanismos de defesa em ação na formação do Inconsciente fará com
que as perguntas a respeito do mundo e da vida sejam ampliadas.


Um dos casos mais conhecidos e mais importantes de Freud é o caso clínico
do “Pequeno Hans”. Hans era um menino de 5 anos, muito perspicaz, que
desenvolveu um medo muito intenso de cavalos. Além disso, muitas
mudanças acontecem em sua vida depois do nascimento de sua irmãzinha. É
uma análise feita a partir de informações trazidas pelo pai da criança.
Fundamental para entendermos o que é uma fobia, a sexualidade infantil e as
elaborações de Freud sobre o complexo de Édipo.

FREUD, Sigmund. Duas histórias clínicas (O “Pequeno Hans” e o


“Homem dos Ratos) [1909] Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1999. Vol.
X.

4. Psicanálise e escola: a inibição intelectual


para além do déficit
Em seu livro “Inibição intelectual em Psicanálise” (2005), Ana Lydia Santiago discute
as relações do ser falante com o saber, diferentes manifestações da inibição
intelectual sob a ótica da psicanálise, especialmente no tocante aos impasses do

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sujeito com a aprendizagem escolar. Para isso, é preciso enxergar as dificuldades de
aprendizagem para além do discurso científico contemporâneo, baseado na ideia de
déficit e marcado pelos atos diagnósticos para, de fato, escutarmos o sujeito que
aprende.

Lembrando as ideias de Freud nos “Três ensaios”, ele situa o início da atividade
sexual não na puberdade, mas nos primeiros anos de vida, rompendo com uma visão
evolutivo-naturalista da sexualidade (com fins reprodutivos). Para ele, a “pulsão de
saber” seria uma modalidade da força pulsional que, trabalhando a serviço dos
interesses sexuais, aciona a atividade intelectual, por despertar na criança uma “ânsia
de saber”, ou seja, um impulso a investigar seu mundo.

Sendo assim, é possível dizer que há uma relação íntima entre a vida pulsional e a
capacidade intelectual: a criança começa a interessar-se por seu corpo, pelo órgão
genital, pela diferença no corpo dos irmãos, dos pais. Esses interesses não se
reduzirão à manipulação, mas assinalam o desencadeamento de uma atividade
intelectual propriamente dita. Para Freud, a vontade de conhecer parece inseparável
da curiosidade sexual. Inicia-se pelo ímpeto de conhecimento sobre a origem da vida.

Ao mesmo tempo, situava o mecanismo da inibição como modo de defesa intrínseco


ao funcionamento do aparelho psíquico.

Em um caso clínico exemplar da análise de um menino de 5 anos, conhecido como o


caso do “Pequeno Hans” (FREUD, 1909), Freud vai mostrar que é a partir desse
interesse por seu órgão sexual que Hans começa a ordenar certos aspectos de sua
realidade. Toma esse elemento como referencial para investigar o mundo.

O início da atividade intelectual, que coincide com o início de construção do campo


da realidade, é promovido pelo encontro do sujeito com o real da sexualidade. Isso
acaba exigindo de cada sujeito uma resposta frente a esses questionamentos, que
definitivamente não podem ser respondidos unicamente pela biologia. Para todo ser
dotado de linguagem inexiste uma representação inconsciente capaz de determinar o

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que é ser um homem e uma mulher. Isso é uma construção, cada sujeito constrói sua
resposta ao real do sexo. Em outras palavras, a realidade se organiza para cada
sujeito à sua maneira.

A inibição de alguns processos relativos à sexualidade permitiria ao sujeito desse


lugar, então, uma reorientação das suas pulsões para que as redirecionasse para o
conhecimento da realidade, do mundo externo. A inibição teria como uma de suas
funções a renúncia à satisfação através da reorientação da finalidade da pulsão
sexual. Sendo assim, o desenvolvimento intelectual serve de indicativo do curso da
vida libidinal.

No curso da constituição do próprio corpo (que, para Freud, como já vimos, não se
restringe ao corpo biológico), a criança realiza uma série de investigações intelectuais
sobre a vida sexual. A criança elabora teorias e constrói uma ficção para responder ao
desejo que deu origem à sua própria vida, pois, para essa questão, não há uma
verdade universal.


Podemos dizer, em outras palavras, que a atividade do pensamento não está
separada da atividade pulsional.

A puberdade seria (para Freud) o despertar das moções pulsionais adormecidas e da


fantasia construída após um período de latência. É no período de latência que se
constroem forças psíquicas que, mais tarde, se erguerão como obstáculos sobre a via
da pulsão sexual e estreitarão seu fluxo (repugnância, pudor, aspirações ideais e
morais). Período em que as aquisições da sexualidade infantil sucumbem ao recalque
para esperar o período de maturação genital. A contenção sexual favorece o
desenvolvimento cognitivo da criança – criação de um espaço não sexual no qual o

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pensamento pode se exercer.

Para sermos mais claros, a inibição é um mecanismo importante e necessário ao


desenvolvimento intelectual do sujeito. Lembrando bem que essa força psíquica não
necessariamente está ligada à moralidade, a uma educação repressora, a dogmatismo
religioso ou atitudes autoritárias dos pais para com a criança. Trata-se de um
mecanismo inconsciente, um processo psíquico pelo qual a criança tem que consentir
em passar, que se desenvolve sob a influência dos resultados alcançados por ela nas
suas pesquisas sobre a vida sexual.

É possível perceber que os problemas de aprendizagem no período de latência fazem


supor um fracasso na ação da inibição e uma consequente sexualização do
pensamento. É a partir do momento em que a criança abandona seus modos de
satisfação consigo mesma que ela passa a se dirigir ao seu redor, ao mundo:
questiona os adultos, observa, organiza as informações. A curiosidade veicula o
desenvolvimento cognitivo e a atividade intelectual da criança.

Portanto, Freud concebe o trabalho intelectual como um modo de obtenção de


satisfação, que contrasta com outras atividades, como a inibição do pensamento. A
psicanálise trata a questão da debilidade e do chamado ‘fracasso escolar’ a partir do
caso a caso da relação do sujeito com a linguagem e seus modos de satisfação.
Afastando-se das ideias pré-concebidas das dificuldades escolares vistas como
déficits, a partir dos atuais diagnósticos psiquiátricos e do afã medicamentoso para os
comportamentos ‘fora da ordem’, a psicanálise vai buscar entender o lugar da criança
na família, seu modo de conceber o mundo e suas relações com o saber.


A “pulsão de saber”: o impulso das crianças em conhecer o mundo

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A curiosidade em direção ao mundo está intimamente ligada às influências da
sexualidade infantil, para a psicanálise.

5. Como a psicanálise pode contribuir para


com o campo da Educação e a
Aprendizagem?

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A representação social da Psicanálise ainda é bastante estereotipada em nosso meio.
Geralmente, ela está associada ao consultório, a um divâ, a um analista que fica
calado o tempo todo, a um trabalho somente acessível a pessoas de alto poder
aquisitivo. Longe de corresponder a esse imaginário preconceituoso, a Psicanálise
também pode ser uma ferramenta importante para a análise e compreensão de
fenômenos sociais relevantes, entre eles, as diferentes formas de sofrimento psíquico,
as atuais exigências de desempenho, o fracasso escolar, etc.


Algumas obras nos ajudam a entender a aplicação da psicanálise no campo
da educação a partir das particularidades de cada caso. Duas boas indicações
seriam: o livro “O que esse menino tem?”, organizado por Ana Lydia
Santiago e Raquel Martins de Assis, que discute problemas de aprendizagem
e a intervenção da psicanálise na escola a partir de um projeto de
pesquisa/intervenção e da discussão dos casos. Outra referência é o livro da
afamada psicanalista infantil Françoise Dolto, “Quando os filhos precisam
dos pais”, que é a transcrição de comentários feitos sobre problemas dos pais
com seus filhos. Indicações preciosas!

Ref: DOLTO, Françoise. Quando os filhos precisam dos pais. Respostas


a consultas de pais com dificuldades na educação de seus filhos. São Paulo:
Martins Fontes, 2008.

SANTIAGO, Ana Lydia e ASSIS, Raquel Martins de. O que esse menino
tem? Sobre alunos que não aprendem e a intervenção da psicanálise na
escola.

O autor João Batista de Mendonça Filho, no livro “A psicanálise escuta a educação”

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(TEIXEIRA, 2001, p. 71), aponta para a diferença entre o transmitir e o informar. Se
podemos perceber que a educação no desenvolvimento histórico e cultural da
humanidade é muito mais do que um processo informativo, o que é que o aluno
verdadeiramente aprende? Será que o processo educativo se resume na acumulação
de dados?

Mesmo que a adaptação seja um efeito inevitável do educar, mesmo que a pedagogia
busque fazer com que o aluno se adeque a determinado parâmetro, a adaptação não
resume em si o objetivo da Educação. Educar também pode ser concebido como a
atividade de produzir uma relação com o saber.

Como a psicanálise nos mostra, a relação com o saber é singular. Concebendo o


sujeito do Inconsciente, o saber não se localiza na relação da consciência com o
mundo. Ele difere radicalmente da racionalidade concebida no cartesianismo. Dito de
outro modo, para a psicanálise, o saber está localizado no inconsciente, e as relações
com a produção intelectual partem daí. Sendo assim, transmitir é mais do que
veicular informação. A transmissão ocorre por uma vertente que escapa ao saber
consciente – o saber que sabe de si (FILHO, 2001, p.74).

No que diz respeito às interlocuções entre a psicanálise e a educação, há a


necessidade de que o sujeito venha a ser pensado como um sujeito dividido, um
sujeito que não corresponde ao que é estabelecido pelo cogito cartesiano. O
Inconsciente freudiano é, acima de tudo, inassimilável ao “Eu”. O Inconsciente é o
que o “Eu” censura e essa condição determina a impossibilidade de apreender, em
totalidade, o que na realidade o outro (do mundo, da cultura, da escola) quer dizer.

A transmissão está além do que podemos definir como o que é aprendido, da mesma
forma que ver, escutar, degustar e tocar estão além do que podemos enunciar no
discurso como visto, ouvido, saboreado e tocado. As palavras marcam
simultaneamente o modo de expressão do que desejamos e queremos transmitir ao
outro, e a impossibilidade de nos tornarmos absolutamente inteligíveis para ele.

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Os métodos de transmissão dos conhecimentos não são suficientes frente ao desejo
de aprender da criança. A maioria dos conteúdos do ensino formal (o que ensinar)
provém do domínio do conhecimento científico. Essa vinculação, iniciada a partir do
século XVII, foi cristalizada de tal modo que chega a soar estranho o fato de a
Educação poder ensinar algo que não seja científico. O que se esquece em larga
medida no que diz respeito à educação é que o seu papel talvez seja o de propiciar que
cada aluno, a seu modo, possa construir suas próprias formas de acesso ao
pensamento intelectual.

Educar é da ordem da arte, da estética, do redimensionamento de dados espaços no


universo educacional, de criar outras possibilidades para pensar, outras inserções
além da racionalidade cartesiana e da adequação do indivíduo na busca por
resultados.


Psicanálise, Educação e Transmissão – Rinaldo Voltolini.

O vídeo a seguir discute algumas interlocuções possíveis entre a Psicanálise e


a Educação.

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6. Conclusão
Este tópico procurou apresentar a você alguns conceitos básicos da teoria
psicanalítica, com o intuito de instrumentalizá-lo para sua aplicação no campo da
educação. Para isso, conhecemos um pouco a história do criador da Psicanálise, S.
Freud, e alguns conceitos básicos de sua extensa teoria para entendermos a
perspectiva do sujeito do Inconsciente. Com isso, percebemos a importância das
primeiras experiências infantis no desenvolvimento. Estudamos um pouco de como a
sexualidade é um conceito amplo, que inclui em seu bojo os próprios impulsos de
conhecimento do mundo. Percebemos como algumas das dificuldades do humano
com a aprendizagem também são influenciadas por isso. Por fim, permitimo-nos
discutir e pensar criticamente a relação da psicanálise e das atuais formas de
conceber a educação. Numa modernidade guiada pelas realidades virtuais, pelos
recursos de disseminação de informação a velocidades antes inimagináveis, a
exigências de resultados e desempenho, onde ficam as crianças e os jovens
conhecedores? Onde se situam as possibilidades de aprender, bem como as de
ensinar?

7. Referências
BARATTO, Geselda. A Descoberta do Inconsciente e o Percurso Histórico de
sua Elaboração. IN: PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2009, 29 (1), 74-87.

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes


T. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 14. ed. São Paulo,

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SP: Saraiva, 2011 e edições anteriores. 368 p. (28 ex).

DOLTO, Françoise. Quando os filhos precisam dos pais. Respostas a consultas


de pais com dificuldades na educação de seus filhos. São Paulo: Martins Fontes,
2008.

FREUD, Sigmund. A interpretação dos sonhos [1900] Edição Standard


Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro:
Imago, 1999. Vol. IV e V.

______. Duas histórias clínicas (O “Pequeno Hans” e o “Homem dos


Ratos) [1909] Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de
Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1999. Vol. X.

______. O interesse científico da psicanálise [1913]. IN: Totem e tabu e outros


trabalhos (1913-1914). Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas
Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1999. Vol. XIII.

______. Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade [1905]. Edição


Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de
Janeiro: Imago, 1999. Vol. VII.

LOPES, Elisa Marta Teixeira (org.). A psicanálise escuta a educação. Belo


Horizonte, Autêntica, 1988.

PEREIRA, Marcelo Ricardo (org.). A psicanálise escuta a educação 10 anos


depois. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012.

SANTIAGO, Ana Lydia. A inibição intelectual na psicanálise. Rio de Janeiro,


Jorge Zahar Ed., 2005.

SANTIAGO, Ana Lydia e ASSIS, Raquel Martins de. O que esse menino
tem? Sobre alunos que não aprendem e a intervenção da psicanálise na escola.

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VOLTOLINI, Rinaldo. Educação e Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

YouTube. (2017). Canal Liliana Allo. O jovem Dr. Freud. 1h35min31.

YouTube. (2017). Canal: Os psicanalistas e suas análises. Mal-estar


contemporâneo e educação (Rinaldo Voltolini). 22min45. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=JGjUkB9tVj0

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