Teoria Psicanalítica TOP4
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Psicologia e Aprendizagem
Teoria Psicanalítica
1. Introdução
Para estudar e compreender a teoria da psicanálise, é preciso também saber um
pouco de seu criador.
É largamente conhecido por ser o revolucionário criador de uma nova forma de ver o
aparelho psíquico. Grande parte do desenvolvimento de sua obra foi baseada nas suas
experiências pessoais, nas experiências clínicas. Freud se mostrava particularmente
intrigado com o fato de que os pacientes pareciam se esquecer de momentos
importantes na vida, principalmente da infância, mesmo havendo condições
neurológicas para tal. Na verdade, ele percebe que os indivíduos resistiam a lembrar
S. Freud em 1920.
A Psicanálise seria, assim, um método de investigação, bem como uma prática clínica,
que parte da perspectiva do humano como sujeito do Inconsciente. Além disso,
também se refere a um método interpretativo, que busca os significados latentes ou
ocultos daquilo que é revelado pelo sujeito por meio de suas narrativas, suas ações,
fantasias, sonhos, atos falhos, etc.
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https://ceadsaladeaula.uvv.br/conteudo.php?aula=teoria-psi p=psicologia-do-desenvolvimento-e-aprendizagem&topic=4 06/02/2024, 18 41
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Você já ouviu a expressão “Freud explica”? Será que explica mesmo?
Como nos mostra Ana BOCK (e autores), em seu livro “Psicologias: um estudo para o
estudo da Psicologia” (2011), os mecanismos de defesa são processos
inconscientes, isto é, ocorrem independentemente da vontade consciente do
indivíduo. Realizados pelo ego, para Freud, as defesas seriam operações pelas quais o
ego exclui da consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo, desta forma, o
aparelho psíquico. O ego — uma instância psíquica que funciona a serviço da
realidade externa (da educação, da moralidade, das normas sociais) — mobiliza estes
mecanismos, que suprimem ou dissimulam a percepção do perigo interno, daqueles
impulsos incompatíveis com as exigências do mundo externo.
Percebendo isso, Freud desenvolve uma concepção fundamental em sua teoria, que é
o conceito de recalque (também traduzido, equivocadamente, como repressão). O
recalque foi definido como um mecanismo de defesa específico, por meio do qual o
BARATTO, 2009, p. 83
Documentário: “O jovem Dr. Freud”
É nesta obra que Freud formaliza a ideia de que a sexualidade no humano está
presente desde cedo, é fundamental no desenvolvimento psíquico, define nossas
formas de estar no mundo, nossos modos de satisfação, que definitivamente não
estão restritos à reprodução da espécie.
Os “três ensaios” comumente são assimilados como uma formulação teórica sobre a
criança, mas a questão freudiana, na verdade, propõe uma investigação e teorização
sobre o infantil. Nestas formulações, ele dizia que o Inconsciente é formado a partir
da vida sexual infantil. A maioria de pensamentos e desejos recalcados referiam-se a
conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos indivíduos. O
período de desenvolvimento da sexualidade é longo e complexo até chegar à
sexualidade adulta.
Você já deve ter ouvido falar nas diferentes teorias do desenvolvimento, sobre a
organização sexual nas fases oral, anal e fálica, certo? Essas ideias foram justamente
desenvolvidas neste trabalho sobre a sexualidade infantil e a sua importância nas
experiências de satisfação na adolescência e na vida adulta. É importante observar,
entretanto, que não se trata de uma descrição evolutiva. Cada criança tem seu tempo
e seus modos de lidar com a sexualidade.
A segunda fase, anal, estaria ligada ao controle dos esfíncteres, mas mais do que isso,
aquilo que o sujeito é capaz de oferecer ou não ao outro, de controlar na sua
experiência com o mundo. Percebe como o desenvolvimento da sexualidade é amplo?
Ele é ligado não apenas a formas de obtenção de prazer e evitação de desprazer, mas
também ao modo como o sujeito se coloca no mundo e se relaciona com o outro.
No segundo ensaio, Freud (1905) vai se perguntar por que haveria um período de
amnésia entre 7 e 8 anos, se as crianças possuem capacidade até então de recobrarem
suas experiências. Ele percebe que, antes do período da adolescência (e da maturação
dos órgãos sexuais, da satisfação genital propriamente dita), há um período de
latência, caracterizado por um certo declínio da sexualidade até a puberdade. Uma
fase importantíssima, em que a criança dirige suas pulsões a outros objetivos, por
exemplo, ao impulso por conhecer. Uma maior curiosidade e disposição para a
Um dos casos mais conhecidos e mais importantes de Freud é o caso clínico
do “Pequeno Hans”. Hans era um menino de 5 anos, muito perspicaz, que
desenvolveu um medo muito intenso de cavalos. Além disso, muitas
mudanças acontecem em sua vida depois do nascimento de sua irmãzinha. É
uma análise feita a partir de informações trazidas pelo pai da criança.
Fundamental para entendermos o que é uma fobia, a sexualidade infantil e as
elaborações de Freud sobre o complexo de Édipo.
Lembrando as ideias de Freud nos “Três ensaios”, ele situa o início da atividade
sexual não na puberdade, mas nos primeiros anos de vida, rompendo com uma visão
evolutivo-naturalista da sexualidade (com fins reprodutivos). Para ele, a “pulsão de
saber” seria uma modalidade da força pulsional que, trabalhando a serviço dos
interesses sexuais, aciona a atividade intelectual, por despertar na criança uma “ânsia
de saber”, ou seja, um impulso a investigar seu mundo.
Sendo assim, é possível dizer que há uma relação íntima entre a vida pulsional e a
capacidade intelectual: a criança começa a interessar-se por seu corpo, pelo órgão
genital, pela diferença no corpo dos irmãos, dos pais. Esses interesses não se
reduzirão à manipulação, mas assinalam o desencadeamento de uma atividade
intelectual propriamente dita. Para Freud, a vontade de conhecer parece inseparável
da curiosidade sexual. Inicia-se pelo ímpeto de conhecimento sobre a origem da vida.
No curso da constituição do próprio corpo (que, para Freud, como já vimos, não se
restringe ao corpo biológico), a criança realiza uma série de investigações intelectuais
sobre a vida sexual. A criança elabora teorias e constrói uma ficção para responder ao
desejo que deu origem à sua própria vida, pois, para essa questão, não há uma
verdade universal.
Podemos dizer, em outras palavras, que a atividade do pensamento não está
separada da atividade pulsional.
A “pulsão de saber”: o impulso das crianças em conhecer o mundo
Algumas obras nos ajudam a entender a aplicação da psicanálise no campo
da educação a partir das particularidades de cada caso. Duas boas indicações
seriam: o livro “O que esse menino tem?”, organizado por Ana Lydia
Santiago e Raquel Martins de Assis, que discute problemas de aprendizagem
e a intervenção da psicanálise na escola a partir de um projeto de
pesquisa/intervenção e da discussão dos casos. Outra referência é o livro da
afamada psicanalista infantil Françoise Dolto, “Quando os filhos precisam
dos pais”, que é a transcrição de comentários feitos sobre problemas dos pais
com seus filhos. Indicações preciosas!
SANTIAGO, Ana Lydia e ASSIS, Raquel Martins de. O que esse menino
tem? Sobre alunos que não aprendem e a intervenção da psicanálise na
escola.
Mesmo que a adaptação seja um efeito inevitável do educar, mesmo que a pedagogia
busque fazer com que o aluno se adeque a determinado parâmetro, a adaptação não
resume em si o objetivo da Educação. Educar também pode ser concebido como a
atividade de produzir uma relação com o saber.
A transmissão está além do que podemos definir como o que é aprendido, da mesma
forma que ver, escutar, degustar e tocar estão além do que podemos enunciar no
discurso como visto, ouvido, saboreado e tocado. As palavras marcam
simultaneamente o modo de expressão do que desejamos e queremos transmitir ao
outro, e a impossibilidade de nos tornarmos absolutamente inteligíveis para ele.
Psicanálise, Educação e Transmissão – Rinaldo Voltolini.
7. Referências
BARATTO, Geselda. A Descoberta do Inconsciente e o Percurso Histórico de
sua Elaboração. IN: PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2009, 29 (1), 74-87.
SANTIAGO, Ana Lydia e ASSIS, Raquel Martins de. O que esse menino
tem? Sobre alunos que não aprendem e a intervenção da psicanálise na escola.
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