Livro Da Luz - AMORC - (Liber Lucis)

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 176

LIVRO DA LUZ

Liber Lucis
Livro da Luz

Suprema Grande Loja da


Antiga e Mística Ordem Rosae Crucis
AMORC.

1ª Edição

Curitiba – PR
2024
Antiga e Mística Ordem Rosacruz

LIBER LUCIS
Livro da Luz

Selado a 20 de agosto de 2023

Lançado para publicação: em Inglês


Solstício - 22 de dezembro de 2023,
Ano R+C 3376, Sol em Capricórnio

COORDENAÇÃO E SUPERVISÃO
Grande Loja da Jurisdição
da Língua Portuguesa
1ª Edição em Língua Portuguesa
2024

ISBN: 978-65-5776-009-3

Tradução: Robson Barbosa Gimenes

Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída,


exibida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio,
inclusive eletrônico, sem a permissão expressa por escrito da
Suprema Grande Loja da AMORC.
Esta publicação é fornecida apenas para seu uso pessoal e privado,
“no estado em que se encontra”, sem garantia, e não pode ser usada
para qualquer propósito comercial.

Ano R+C 3376: Festa da Luz.

www.amorc.org

Copyright ©2023 pela Suprema Grande Loja da Antiga e Mística


Ordem Rosae Crucis.
Índice

A História da Luz................................................................. 13
Introdução........................................................................... 16

PARTE I - Reverência, Cultivo e Custódia da Luz.............. 26


Reflexão sobre a Natureza, a Arte e a Terra

Cosmogênese e a Primeira Luz........................................ 27


Alma Universal e Humanidade........................................ 29
Cultivadores Místicos da Luz............................................32
A Bela Unidade................................................................... 36
Cocriatividade entre a Humanidade e a Luz.................. 38
Expressão da Alma Humana e a Alma Universal..........41
Cultura como a Veneração da Luz................................... 44
O Cultivo da Luz.................................................................45
Conectando-se com a Luz da Eternidade........................49
Percepção Da Eternidade Na Vida Diária....................... 51
Ficando em paz com a imaginação da eternidade......... 53
Guardiões da Chama Sagrada...........................................56
Acendendo a Chama Interior............................................58
Os Portadores da Luz Divina............................................ 58
O Profundo Significado do Fogo......................................59
A Qualidade Feminina da Guarda................................... 61
A Chama do Místico.......................................................... 62
Um Divisor de Águas......................................................... 63
A Consciência Mística e o Bem-Estar da Nossa Terra...65
Um Chamado para uma Linguagem da Ecologia
Espiritual...................................................................................... 67
Uma Joia no Cosmos..........................................................68
A Terra como Pano de Fundo para a Evolução
Espiritual............................................................................. 70
A Consciência das Três Energias Cósmicas.................... 72

PARTE II- O Apelo Rosa-Cruz e a Fraternidade................ 75


Expressão Mística da Ordem da Rosa-Cruz

A Luz da Ordem Invisível..................................................76


Anunciando a Luz da Rosa-Cruz......................................77
Compartilhando a Luz....................................................... 78
A Tradição Primordial....................................................... 79
Da Magia ao Misticismo.................................................... 81
A Abordagem Mística........................................................ 81
Da Elite aos Incluídos........................................................ 83
Um Chamado à Humanidade para Compartilhar a Luz
Divina...................................................................................85
A Fraternidade.................................................................... 86
Serviço Contínuo à Humanidade..................................... 87
Fraternidade Mística...........................................................88
A Comunidade Humana Universal..................................89
Os Ensinamentos Rosacruzes Hoje.................................. 90
O Estudo Ritual como Modo de Vida..............................91
A Iniciação através do Ritual............................................ 92
Os Sussurros da Alma Universal.......................................97

PARTE III - Tradição, Tecnologia e a Alma Humana........106


Encontrando a Luz em um Mundo de Tecnologia
da Informação

A Constituição Invisível do Ser Humano......................107


Os Seres de Luz – Um Ponto de Vista do Antigo
Egito................................................................................108
Os Impedimentos à Luz...................................................109
A Luz da Tradição.............................................................111
Tradição e Tecnologia – Um Reencontro?....................113
Os Males Destrutivos da Tecnologia..............................114
O Monstro da Supervigilância, TI..................... ...........116
Um Apelo para o Uso Ético da Tecnologia...................118
A Tecnologia Antiga e a Sabedoria da Tradição..................120
O Maior Uso da Tecnologia............................................125
Alma Universal e Colaboração: Agentes para IA
Ética.....................................................................................130
A Primazia das Considerações Éticas no
Desenvolvimento da IA...................................................132
Um Mundo Artificial na Palma da Sua Mão................133
O Contrapeso das Práticas Espirituais Diárias.............138
Conhecimento Mais Profundo........................................140
O Conceito de Alma Artificial.........................................143
Proteção contra Perigos à Luz da Humanidade............144
Nobreza e Propósito da Luz no Uso da IA.....................146
Natureza Interior, Natureza Cósmica e o Mundo
Natural...............................................................................149
A Fusão da Educação Holística e da Ciência e suas
Perspectivas.......................................................................150
Da Competição à Cooperação....................................... 151
A Conquista do Tempo...................................................154
Cidadãos do Mundo – Um Novo Paradigma?..............155
Vivendo harmoniosamente.............................................158
A Luz Duradoura da Tradição Rosacruz.......................159

Considerações Finais.........................................................162
A Busca Contínua do Propósito Divino: O que nos torna verdadei-
ramente humanos?
Conclusão..........................................................................166
Um Encontro de um Círculo de Filósofos Rosacruzes do Século XVII.

Proposito da Ordem Rosacruz...........................................171

Missão, Visão e Valores da Ordem Rosacruz.....................173


O místico, especialmente o Rosacruz, tem uma
compreensão clara e precisa do que significa “Luz
Interior”. Para nós, significa o desenvolvimento da
iluminação, da sabedoria divina interior que guia,
dirige e informa através de inspirações. Essa Luz
Interior responde às nossas perguntas quando, no
Sanctum, na igreja, na mesquita, na sinagoga ou
no templo, nós nos harmonizamos com a atmosfera
espiritual ao nosso redor.

- ARQUIVOS DA ORDEM ROSACRUZ

Liber Lucis – 10 – Livro da Luz


Todas as religiões, todos cantando uma canção. As diferenças
são apenas ilusão e vaidade. A luz do sol parece um pouco
diferente nesta parede do que naquela, e muito diferente nesta
outra, mas ainda é uma única luz.

JALĀL AD-DĪN RUMI


*****

Liber Lucis – 11 – Livro da Luz


Mas, deste modo, vês que mantemos um comércio, não para
obter ouro, prata ou joias, nem de sedas, nem de especiarias,
nem de qualquer outra mercadoria; mas tão-somente a primeira
criatura [manifestação] de Deus, que foi a luz; para ter luz, digo,
do crescimento de todas as partes do mundo.

Sir FRANCIS BACON

*****

Não podemos viver em um mundo que não seja o nosso, em um


mundo que é interpretado para nós pelos outros. Um mundo
interpretado não é um lar. Parte do terror é retomar nossa
própria escuta, usar nossa própria voz, ver nossa própria luz.

HILDEGARD von BINGEN

*****

O Tao produz a unidade. A unidade gera o dois. O dois dá à luz


ao três. O três produz tudo. Tudo carrega Yin e abraça Yang [a
Luz]. Yin e Yang trabalham juntos para fazer harmonia.

TAO TE CHING

*****

Bem-aventurado és Tu, ó Senhor, nosso Deus, Rei do universo,


que forma a Luz e cria as trevas, que faz a paz e cria todas as
coisas... Bem-aventurado és Tu, ó Senhor, que forma a Luz.

YOTZER OHR

*****

Liber Lucis – 12 – Livro da Luz


As verdades necessárias do intelecto tornaram-se mais uma vez
aceitas, à medida que recuperei a confiança em seu caráter certo
e confiável. Isso não se deu por demonstração sistemática ou
argumentação combinada, mas por uma Luz que o Altíssimo
Deus lançou em meu peito.

AL-GHAZÂLÎ

*****

Chamam-lhe Indra, Mitra, Varuna, Agni ou o pássaro celeste


Garutmat. Os videntes chamam de muitas maneiras o que é
Um; falam de Agni, Yama, Mātariśvan.

RIGVEDA SAMHITĀ

*****

Eu, na verdade, sou aquele que resplandece e habita na luz, e


que foi criado. Que surgiu do corpo do Deus. Eu sou um dos
resplandecentes, que habita na luz.

PAPIRO DE ANI

Liber Lucis – 13 – Livro da Luz


A História da Luz

A o longo da história humana, povos de diferentes origens


perceberam uma conexão com algo inefável, ilimitado,
grandioso, que é a fonte da luz primordial do cosmos, dando
impulso ao surgimento da vida planetária e obrigando toda a
vida à sua mais alta expressão e refinamento: o amor.

Muitos foram os nomes associados a ele. Brilha ele


nas mentes humanas e se instala em seus corações.

A inteligência divina se expressa através de suas leis eternas,


que podem ser coletivamente denominadas “o Cósmico”,
através das quais todas as almas encarnadas podem apreciar
a vida no plano visível. Brilhando através dessas leis está a
Alma Universal que permeia a todos. Como parte da vontade
e sabedoria [divina] de Deus, ela organiza a matéria para

Liber Lucis – 14 – Livro da Luz


fundamentar corpos que podem ser infundidos com o sopro da
vida. Assim, a substância Cósmica indeterminada é articulada
em partículas, que são estruturadas em átomos e moléculas,
que então formam os reinos mineral, vegetal e animal, através
dos quais a consciência pode surgir e se articular.

A Luz é Unicidade, filtrada pela consciência individual em


conceitos e percepções. A Alma Universal resplandece na mente
de todos e se inflama nos corações daqueles que se sentem
profundamente inspirados a serem servos incondicionais da
sabedoria Cósmica para guiar a humanidade das aparentes
trevas decorrentes do afastamento divino para a doce e
envolvente Luz do amor de Deus.

Os Rosacruzes, ao definirem a inteligência suprema criadora


do universo, usam a expressão “Deus do nosso Coração, Deus
da nossa Compreensão”, porque para toda e qualquer mente
existe um conceito individualizado de divindade, e o grau
de conhecimento do Ser Supremo não é, portanto, o mesmo
para todos. O precioso fogo sagrado – retratado em escolas de
mistérios e seitas religiosas – foi transmitido através da teia do
tempo, movendo os corações de inúmeros seres que prestaram
humilde serviço à humanidade, oferecendo apoio de natureza
material, cultural e espiritual.

Bibliotecas inteiras foram escritas na tentativa de expressar o


inexprimível, a voz inefável do “Altíssimo”. O eterno anseio pela
Fonte Cósmica se reflete nos textos daquele interminável livro
para o qual cada ser contribui com sua própria experiência de
vida: o Liber Lucis, ou o Livro da Luz.

Liber Lucis – 15 – Livro da Luz


Os Rosacruzes são os sucessores dos Colégios
Hindus dos Brâmanes, dos Egípcios, dos
Eumólpidas de Elêusis, dos Mistérios da Samotrácia,
dos Magos da Pérsia, dos Gimnosofistas da Etiópia,
dos Pitagóricos e dos Árabes.

SILENTIUM POST CLAMORES, de Michael Maier, 1617.

Liber Lucis – 16 – Livro da Luz


Introdução

E ste Livro de Luz, o Liber Lucis, comemora 400 anos desde


que os Rosacruzes foram anunciados nos muros de
Paris em agosto de 1623. Dois pequenos cartazes apareceram,
anunciando a presença “visível e invisível” dos Rosacruzes. Isso
chamou a atenção daqueles que sentiam um chamado interior
para seguir os passos dos filósofos Rosacruzes.

O anúncio talvez tenha sido como uma brasa silenciosa


caindo suavemente nos corações de todos aqueles buscadores
prontos para receber a suave Luz dos ideais místicos do Caminho
Rosacruz, acendendo uma chama sagrada de aspiração por um
mundo melhor, baseado em uma compreensão mais profunda
dos princípios universais.
No entanto, a voz visível dos irmãos Rosacruzes provavelmente
ofendeu aqueles que estavam cheios de dogmas religiosos,
especialmente aquelas pessoas envolvidas com a criação de
guerras. Tão profundo era o abismo da crise religiosa que varria a
Europa naquela época, que nada parecia superar a peste interior
das divisões destrutivas entre as pessoas.

*****
A Luz sempre esteve associada à nossa natureza divina,
à piedade e a tudo o que sacralizamos em nosso mundo.
Tornou-se associada a um sentimento da sublime benevolência
da divindade e, por extensão, é uma representante do bem
maior. Em muitos templos antigos, um fogo sagrado queimava
permanentemente em um santuário, muitas vezes na escuridão,
onde simbolizava um Fogo Divino que é a fonte da Luz Divina.
Essa Luz de uma divindade suprema deveria ser profundamente
reverenciada, e suas misteriosas atividades eram uma fonte de
profunda admiração.

Liber Lucis – 17 – Livro da Luz


Os místicos deram vários nomes à Luz em sua voz interior
de oração e meditações. Ela é o meio pelo qual sua alma é ilumi-
nada. Buscam perceber a Luz Divina em toda a criação, em suas
expressões tanto no mundo visível quanto no invisível. Buscan-
do ser instrumentos de sua transmissão no mundo, eles se har-
monizam com muitos aspectos da Luz Divina operando através
de sua alma, como imaginação criativa, inspiração e intuição.
Os místicos esperam estar cada vez mais unidos à fonte onis-
ciente, onipotente e onipresente da Luz Divina – a divindade
suprema que os estudantes Rosacruzes da AMORC chamam de
“Deus de seu Coração” ou “Deus de sua Compreensão”.
A maneira profundamente pessoal como cada pessoa com-
preende sua relação com o divino significa que o caminho para
uma experiência espiritual cada vez mais refinada é único para
cada um. O conhecimento superior das leis Cósmicas pode ser
encontrado sintonizando com a majestosa sabedoria do Deus
do Coração que flui em cada alma. Expressões da Luz Divina
podem ser encontradas nos pensamentos, palavras e ações de
cada místico, somando-se a tudo o que é sagrado em nossa
Terra. Assim, os estudantes de sabedoria mística, à medida que
progridem no caminho escolhido, passam a entender cada vez
mais que cada um de nós é um veículo para a expressão dessa
Luz Divina.
O caminho místico rosacruz é uma via para essa Iluminação
e a eventual conquista do estado que os místicos mais aspiram,
a saber, a Paz Profunda. “Paz Profunda” é o termo para a
profunda paz que é gerada através do trabalho para alcançar
a harmonia completa com o universo. O objetivo de nossa
evolução espiritual é alcançar esse estado através da constante
elevação de nossa consciência.

Os místicos Rosacruzes não procuram se esconder, meditando


em um templo ou caverna por anos na solidão, e não buscam

Liber Lucis – 18 – Livro da Luz


orientação para a Luz através de gurus. Em vez disso, o caminho
para a Iluminação é encontrado através do conhecimento da
sabedoria que reside dentro de nós. Essa sabedoria se torna
cada vez mais desenvolvida através de nossos esforços e lutas
em se envolver com o mundo cotidiano. Engajar-se ativamente
na resolução de desafios e lutas tem uma relação direta com
o desenvolvimento do poder da Luz interior. Ao dar tempo às
suas devoções privadas, os místicos Rosacruzes buscam a Luz
no silêncio místico e a compartilham em tudo o que fazem no
mundo.

Este Livro
Ao criar este livro, o trabalho de um colegiado internacio-
nal da Ordem Rosacruz, AMORC, se uniu, buscando conectar
diferentes facetas do pensamento místico e criativo e reunindo
vários modos de reflexão. Além disso, ao longo desse livro você
encontrará páginas contendo invocações, alegoria dramática
(do drama alegórico Liber Lucis), citações e orações que visam
a dar pausa para que a comunicação mística surja. A linguagem
interior de nossa natureza espiritual não pode ser facilmente
transmitida na linguagem mundana comum.

Liber Lucis é um apelo para restaurar a Luz onde ela se perde


em nosso desconhecimento ou nas sombras das confusões da
vida. Esperamos que esse Livro da Luz inspire os buscadores
a irem à Luz de sua própria sabedoria interior, a refletirem
misticamente sobre os desafios da vida.

*****
Voltemos agora ao evento de que falamos no início
desta seção, a saber, o anúncio em Paris, em 1623. Saber do
conhecimento histórico externo desse momento da história é
um aspecto, mas imaginar a atmosfera criada por ele é outro.

Liber Lucis – 19 – Livro da Luz


Poderíamos perguntar: o que foi cultivado na corrente da
sabedoria da Tradição Rosacruz, como um rio de luz, a partir
desse evento? Aqueles que estão no Caminho Rosacruz, ou
qualquer um que esteja interessado nele, ainda podem sentir os
efeitos hoje daquele chamado dos irmãos da Rosacruz em 1623?
Podemos sentir sua influência no mundo contemporâneo?

Historicamente falando, sabe-se que vários filósofos


associados à Tradição Rosacruz se uniram e colaboraram
ativamente em 1623, dando continuidade à fonte da filosofia
rosacruz que emergiu de publicações anteriores. Três manifestos
impressos haviam sido emitidos, começando sete anos antes da
colocação dos cartazes em Paris. Anteriormente, a fraternidade
havia se tornado conhecida na Inglaterra e na França em 1614,
através da publicação do Fama Fraternitatis Rosae Crucis,
seguida de outros dois manifestos, a Confessio Fraternitatis
Rosae Crucis e as Bodas Alquímicas de Christian Rosenkreutz.

Quem eram alguns desses filósofos rosacruzes ativos em


1623? Um deles foi Jan Amos Komenský (Comenius), exaltado
no século XX pelas Nações Unidas por sua aspiração a uma
futura educação universal. Comenius tinha apenas 21 anos em
1623. Este místico tcheco foi o autor da Via Lucis, “O Caminho
da Luz”, que ele propôs a um grupo de estudiosos em um esforço
para estabelecer um Colégio da Luz (uma ampla comunidade de
estudiosos que compartilham a mesma base de conhecimento).
Comenius sentiu que devemos aprender com a Natureza, “o
segundo livro de Deus”, para unificar o conhecimento com o
Amor Universal e criar um “conhecimento universal” para que
todos possamos viver em harmonia e estabelecer um mundo
pacífico.

Outro desses filósofos rosacruzes foi René Descartes, que


retornou a Paris em 1623 e é apontado por alguns historiadores

Liber Lucis – 20 – Livro da Luz


da literatura esotérica como o candidato mais provável
para a colocação dos cartazes nos muros de Paris. Tinha 27
anos e entrava em alguns de seus anos mais profícuos como
matemático criativo e como importante pensador científico.
Johann Valentin Andreae, também um dos filósofos rosacruzes,
tornou-se conhecido pelos historiadores por sua participação
nos manifestos rosacruzes anteriores. Ele contava 36 anos em
1623 e tinha acabado de estudar em Tübingen, que à época
tinha uma das universidades mais influentes da Europa.

Sir Francis Bacon, que se acredita ter sido Imperator da


Ordem durante a época do rei Jaime I, estava residindo em
Verulam House, na Grã-Bretanha, em 1623. Naquela época,
ele foi retirado da vida pública pelo rei e passava seus dias em
reflexão e escrita silenciosas. Três anos depois, ele cruzaria
“o grande limiar da iniciação rumo aos reinos espirituais” na
“transição de sua vida”, deixando um manuscrito intitulado
“Uma Obra Inacabada”, que estava escondido no verso de
um livro muito maior, chamado Sylva Sylvarum (“Planta das
Florestas”). Este trabalho, publicado postumamente como
A Nova Atlântida, provavelmente foi altamente influente no
movimento rosacruz.

Alguns dos descendentes daqueles que estavam nos Círculos


Rosacruzes na Alemanha em 1623 deixaram a Europa em 1693
para a América, no navio Sarah Maria, para começar a levar o
conhecimento rosacruz para o novo mundo.

Este é apenas um breve vislumbre dos círculos de filósofos


rosacruzes e suas atividades rosacruzes naquela época. Como
mostrado anteriormente, muitos eram jovens e estavam apenas
começando sua jornada na vida filosófica, científica e artística.
Podemos imaginá-los cheios de energia para alcançar suas
aspirações rosacruzes e trazer mudanças para a melhoria da

Liber Lucis – 21 – Livro da Luz


humanidade. Naquele ano, ocorreu uma auspiciosa conjunção
de Júpiter e Saturno, somando-se à atmosfera um momento
significativo de alinhamento cósmico em que talvez o
anúncio dos Irmãos Rosacruzes tenha sido deliberadamente
cronometrado.

*****

A troca da Luz Divina entre a comunidade Rosacruz e o


mundo cresceu enormemente desde o século XVII. Expressões
dos ensinamentos da Ordem Rosacruz no mundo, através de
milhares de estudantes Rosacruzes de hoje, cultivam a Luz de
muitas maneiras variadas.

O mundo de hoje tem se tornado cada vez mais complexo


através da proliferação da tecnologia da informação, trazendo
novos materiais para os místicos observarem. Levanta questões
éticas cada vez mais importantes que não podem ser descartadas.
Os estudantes rosacruzes nunca ficam ociosos em desejar
observar e analisar novos fenômenos, e em procurar restaurar a
Luz em qualquer situação que possa estar causando danos.

Os Rosacruzes procuram abordar questões contemporâneas


sobre o bem-estar da Terra, ou a inteligência artificial, ou o
uso moral da tecnologia da informação. Eles estão ansiosos
para olhar para os problemas de forma holística e inclusiva,
mesmo universalmente. No entanto, há sempre um apelo
profundamente único e pessoal para a inspiração em relação a
esses tópicos, recebido como nova sabedoria através do “Deus de
seus Corações”. Ao reunir novas questões contemporâneas com
princípios universais milenares, eles são capazes de responder
melhor aos problemas do mundo.

Os ensinamentos da Ordem Rosacruz de hoje ajudam


a garantir que a Luz Divina possa ser aproveitada através de

Liber Lucis – 22 – Livro da Luz


caminhos racionais e pessoais de misticismo. Tal educação
continua a cultivar a consciência da Luz Divina ao iluminar
nosso raciocínio em relação às questões cotidianas da existência.

Nesse livro, a História da Luz é contada em três partes e


temas, começando por como podemos cultivar, ter reverência
e proteger a Luz Divina. Na primeira parte, a natureza da Luz
é refletida através do mundo natural, do processo artístico e
da nossa relação com a Terra. Para explorar essa área nesses
termos, recorreu-se ao trabalho do místico rosacruz Nicholas
Roerich.

Na segunda parte do livro, a História da Luz é contada através


do “Apelo Rosacruz” à humanidade e às obras da fraternidade.
Esta parte tem como objetivo articular o percurso da Luz dos
ideais místicos através das expressões místicas da Ordem da
Rosa-Cruz.

Na terceira parte, há um momento de reflexão no que se refere


às preocupações sobre os efeitos em rápido desenvolvimento
da tecnologia na consciência humana. Diante da evolução da
inteligência artificial, devemos encarar a questão: o que nos
torna verdadeiramente humanos? O leitor terá que desenvolver
sua própria perspectiva e compreensão sobre onde a Luz pode
aparecer no futuro, pois muitas vezes nos encontramos em um
mundo profundamente dividido e frequentemente conturbado.

Liber Lucis pretende ser um guia narrativo para chamar cada


indivíduo a criar seu próprio manifesto, sua própria declaração
pessoal para si mesmo, sobre como eles irão contribuir, restaurar,
compartilhar e proteger a Luz de sua natureza espiritual e a dos
outros.

*****

Liber Lucis – 23 – Livro da Luz


O Templo da Rosa-Cruz, de Teophilus Schweighardt Constantiens, 1618,na capa do
The Rose-Croix Journal, Vol. 10

Liber Lucis – 24 – Livro da Luz


Os verdadeiros de coração, pela prístina inspiração
e com profundo amor pelos mistérios contidos em
nosso nobre símbolo, a Rosa e a Cruz, continuaram
a trabalhar a serviço da Luz Divina, com o olhar da
eternidade, através de múltiplos campos do avanço
do aprendizado. À medida que trabalhavam em suas
trocas exteriores com o mundo ao seu redor, através
da dedicação à observação das leis do universo, para
trazer paz e consolo aos que sofriam, mais e mais
páginas foram adicionadas ao Livro da Luz coletivo
da sabedoria dos irmãos.

DRAMA LIBER LUCIS

Liber Lucis – 25 – Livro da Luz


A Luz originalmente não teve outro nascimento senão
a manifestação, pois não foi feita, mas descoberta.
É propriamente a vida de tudo, e é aquilo que age
em todos os particulares; mas a comunhão com a
Primeira Matéria foi celebrada por um contrato
geral antes que quaisquer particularidades fossem
feitas.

THOMAS VAUGHAN, AULA LUCIS, 1651

Via Lucis, Vestigata et Vestiganda, “O Caminho da Luz”, 1641, publicado em 1668,


Jan Amos Comenius (à esq.); Aula Lucis, “A Casa da Luz”, 1651, Thomas Vaughan
(no centro); 1623, Cartaz de Paris citado no Rosicrucian Digest – “Descobrindo o
Caminho Rosacruz” [Vol. 97, No 1, 2019] (à dir.)

Liber Lucis – 26 – Livro da Luz


PARTE I

Reverência, Cultivo e
Custódia da Luz
Reflexão sobre a Natureza, a Arte e a Terra

Liber Lucis – 27 – Livro da Luz


Cosmogênese e a Primeira Luz

A maioria dos cosmólogos atualmente propõe que o


universo começou como um Big Bang, a partir de um estado de
altas temperaturas, densidade e matéria escura contendo uma
abundância de elementos de luz, por volta de 13,8 bilhões de
anos atrás. A existência anterior a esse estado era um estado de
existência insondável, um ponto de unidade singular de nenhum
espaço e nenhum tempo, um estado de existência imutável e
inalterável – essencialmente um “algo” escuro e misterioso
– contendo a possibilidade de luminância, luminosidade e
iluminação (o luminoso) virem a existir.

Alguns místicos Rosacruzes aludiram à Luz original como


estando no Opus Magnum, ou escuridão não manifestada,
contendo um potencial para se tornar todas as coisas que existem
ou existirão. Toda uma linha de filósofos, da antiga Grécia ao
Renascimento, tentou encontrar os princípios essenciais desse
grande e misterioso poder da Luz oculta. Muitos a aperfeiçoaram
em “propriedades do ser”, mais ou menos em uma trindade de
verdades eternas, também conhecidas na escolástica medieval
como os três transcendentais da verdade, beleza e bondade.

O mundo natural pode ser um lugar para redescobrir a Luz


sublime original, testemunhando nele a interconectividade
de toda a vida. A natureza transformada pela inspiração e
imaginação pode revelar o poder do brilho, majestade e bela
nobreza da sublime unidade.

De uma perspectiva mística rosacruz, poderíamos dizer


que desde o início de toda a existência espaço-temporal, antes
e até depois do Big Bang, essa unidade sublime continuou a
desdobrar a evolução da Terra, possivelmente impulsionando

Liber Lucis – 28 – Livro da Luz


uma complexidade cada vez maior do ser, mas sendo contida
por uma inteligência que a mantém ordenada e harmoniosa.
Poderíamos até dizer que pode haver uma colaboração complexa
das três forças chamadas na Ontologia Rosacruz – Energia
Espírito, Força Vital e Alma Universal – cujo maior refinamento
é o Amor Universal, muitas vezes referido pelos místicos como
Amor Divino. Essa trindade de forças talvez tenha sustentado
continuamente a manifestação de novas formas coerentes e
fomentado novas relações em todos os níveis do ser, em várias
composições vibracionais, mas geralmente como uma sinfonia
que reproduz a progressão da Luz, Vida e Amor, a partir do
caos do “ruído branco” para o autogerado, autocultivado e mais
alto refinamento da vida, que é o amor.

Esta é a força duradoura do mundo natural: destaca-se em


evoluir um nível insondável de interconexão, uma complexidade
primorosamente ordenada, eventualmente criando relações
cada vez mais íntimas e autogeradas através dos ecossistemas,
ou mesmo da estabilidade climática, através da biodiversidade.

Cada novo nível de complexidade poderia ser considerado


um “cultivo da Luz”, e cada um forma um novo meio de
expressão da Alma Universal através das atividades da Vida,
como transmitido através da força vital. O clima é uma cultura,
os ecossistemas são uma cultura, as atmosferas são uma cultura,
e as relações entre as pessoas são uma cultura, porque cada uma
delas cria as condições certas para o crescimento da mais alta
expressão da Alma Universal, como

Amor Universal e, assim, mantém um propósito evolutivo


da Terra em um caminho alinhado com a evolução cósmica
estabelecida pela Inteligência Divina.

*****

Liber Lucis – 29 – Livro da Luz


Alma Universal e Humanidade

Em toda hierarquia das complexidades de expressão da


vida, provavelmente existe um estado ideal que os seres dessa
esfera se esforçam para expressar. Nessa perspectiva, existe uma
expressão mais elevada do estado de humanidade, ou estado
ideal de “humanidade”, assim como talvez haja um estado ideal
de “leão”, ou um estado ideal de “rosa”, ou a mais alta expressão
de “diamante”? A Alma Universal, como tal, é uma força
que impulsiona o cultivo constante da mais alta expressão e,
portanto, a revelação da Luz Divina em todos. Então, podemos
nos perguntar: qual é o estado ideal da humanidade?

Existe uma expressão máxima da humanidade como um


todo? Esta é uma pergunta profundamente importante para
todas as pessoas virem a fazer. Certamente, a expressão mais
elevada de nossa dupla natureza espiritual-física é muitas vezes
experimentada por nós como uma sede interior de necessidade
de descobrir, trocar e expressar a Luz de nossa natureza
espiritual na Terra. Se nossa espiritualidade humana é como
uma chama de divindade ardendo dentro de nossa consciência,
em qualquer nível que possa ser possível, algo interior está
constantemente nos instando a buscar a Luz da consciência
espiritual, para poder expressá-la melhor. Essa “Lei da Luz”
talvez signifique que todos os seres vivos buscarão a forma mais
elevada de consciência espiritual que são capazes de perceber.

Milhares de referências à “alma” são encontradas nos textos


e rituais do mundo, desde as primeiras trocas humanas e
desenvolvendo-se em conceitos que estão associados a uma
alma exclusivamente individual no tempo singular, bem como
a alma como um princípio divino mais geral e universal. A
Alma Universal pode ser pensada como uma essência divina

Liber Lucis – 30 – Livro da Luz


que permeia toda a criação com a capacidade de ser agente da
sabedoria divina. A força da alma é um grande mistério, contendo
atributos direcionados a campos únicos de atividade, mas
aparentemente está difundida por todo o universo, penetrando
e infundindo todas as coisas e tendo como fonte constante a
Alma Universal, que é como um agente ou catalisador da
perfeição. Valendo-se dessa força onipresente, a força da alma
talvez possa cultivar o que é imperfeito em direção à “perfeição”.

É geralmente aceito por cientistas e místicos que o universo


é completamente composto de vibrações de vários tipos
(chamadas pelos Rosacruzes como vibrações do Espírito), que
podem ser acionadas e combinadas de várias maneiras para
alcançar a complexidade das expressões no Universo.

Poderíamos supor que a Alma Universal deve agir de


maneiras únicas dentro de diferentes esferas da existência –
como os reinos mineral, vegetal, animal e hominal – para gerar
as mais altas expressões da Inteligência Divina possíveis nessa
esfera. Para o ser humano, esse ímpeto da Alma Universal
permeia a vida comum da pessoa cotidiana como um desejo
inconsciente de evoluir muito alémdas funcionalidades e
sucessos da vida materialista comum e estar “pronto” para
algo muito maior. Muitas vezes se desenvolve como um desejo
ardente de autodescoberta. Uma vez que esse desejo se torna
consciente, a pessoa se sente pronta para expressões superiores
de humanidade; por exemplo, uma capacidade consciente
de transformar instintos humanos básicos (ou as chamadas
“emoções inferiores”), como ódio, ciúme ou má vontade, em
qualidades mais elevadas para espalhar amor, tolerância e boa
vontade.
Podemos nos perguntar: trata-se de um ato de cultivo
impulsionado pela mais alta expressão de uma humanidade que
a Alma Universal sabe que pode ser expressa através das belas

Liber Lucis – 31 – Livro da Luz


possibilidades de um instrumento espiritualmente orientado,
a saber, a humanidade? Inicialmente, tal cultivo longe dos
desejos básicos em direção a horizontes mais refinados pode
ser limitado a relacionamentos com parentes mais próximos ou
com amizades mutuamente benéficas. Mas uma expressão mais
madura de nossa natureza divina é espalhar amor, tolerância e
boa vontade a todas as pessoas de forma totalmente inclusiva,
independentemente de sua raça, idade, sexo, sexualidade,
convicções políticas ou quaisquer outras diferenças terrenas.

Quando há uma revisão permanente dessas emoções e


pontos de vista oscilantes e instáveis sobre a vida, e uma
firme transformação em uma chama constante e estável de
certeza inabalável de que o amor é a expressão mais elevada
da humanidade, uma pessoa está pronta para expressar as
leis do bem maior. Eles estão prontos para proteger, nutrir e
cultivar mais deliberadamente a Luz Divina na Terra. Em um
nível individual, torna-se claro que somos nós que atraímos
situações e outras coisas para nossas vidas como um produto
de nossa expressão mais elevada. Talvez, estejamos “perdendo
a marca” dessa expressão mais alta possível em qualquer vida
e, assim, nos encontrarmos em situações que impulsionam a
evolução em direção à nossa mais alta expressão.

Afinal, é a nossa natureza divina que nos dá a capacidade


de ver a bondade e um propósito ou plano divino em tudo ao
nosso redor. Nossa consciência anímica é o conduto. Graus
variados da mais alta expressão são qualidades de nossa alma
sendo aperfeiçoadas para expressão no mundo. Por exemplo,
qualidades de bondade, compaixão, tolerância e paciência são
consideradas qualidades da alma, assim como alegria, gratidão
e felicidade, se bem compreendidas. São “estados mentais” que
levam a expressões ainda mais refinadas da Luz de nossa alma.
Como outro exemplo, alegria não é prazer, embora possa ter
começado como prazeres simples.

Liber Lucis – 32 – Livro da Luz


Podemos encontrar alegria em situações boas e ruins.
O mesmo se aplica à felicidade. Todos podem sentir o que é
felicidade, mas a verdadeira felicidade não é determinada
pela situação exterior. É um estado interior, inabalável, que
não desmorona nem nas situações mais difíceis. A felicidade,
quando provada e testada no palco da vida, desenvolve-se em
serenidade e a serenidade em “Paz Profunda”. Além disso, uma
alta expressão de nossa humanidade é adotar deliberadamente
atitudes interiores de gratidão pela vida, gratidão por tudo,
seja bom, ruim, agradável ou desagradável. Esta é uma parte
importante do nosso cultivo da consciência mística. Como
místicos, buscamos a união com o Deus do nosso Coração para
alcançar a forma mais elevada da expressão de humanidade,
visando, portanto, estar permanentemente “Habitando na Luz”.

*****

Cultivadores Místicos da Luz

Os “cultivadores místicos” são aqueles que tentaram cultivar


em si mesmos e nos outros qualidades da alma através de sua
reverência à Luz. Alguns deixaram um legado exemplificando o
cultivo da Luz da alma através do processo artístico. O cultivo
envolve ser capaz de expressar as paisagens interiores da
natureza espiritual de uma pessoa e eventos importantes na vida
da alma de uma pessoa, talvez até mesmo importantes “eventos
iniciáticos da alma”, como se retratassem o olhar elevado da
alma sobre novas sabedorias sendo reveladas no mundo para o
benefício da humanidade. Um desses cultivadores místicos é o
místico rosacruz Nicholas Roerich (1874-1947), que contribuiu
para o cultivo da Luz no mundo ao lado de sua esposa Helena
Roerich, incluindo a proteção de obras de arte inspiradas e seus
esforços para promover a paz.

Liber Lucis – 33 – Livro da Luz


O Museu Roerich, em Nova York, foi criado para expor as
obras de Nicholas Roerich como artista, escritor e fundador
do Pacto Roerich (assinado em 15 de abril de 1935), que foi
o primeiro tratado internacional dedicado à proteção de
instituições artísticas, científicas e históricas. Seu símbolo, a
Bandeira da Paz, representa a benevolência e a paz entre todos
os povos. Uma Bandeira da Paz tremula do lado de fora do
museu, nas proximidades das obras de Roerich. A bandeira
foi carregada em missões orbitais ao redor da Terra muitas
vezes, colocada na Lua, içada nos picos mais altos do mundo e
colocada em muitos outros locais remotos.

*****

Liber Lucis – 34 – Livro da Luz


Retrato de Nicholas Roerich, dos Arquivos da AMORC

Liber Lucis – 35 – Livro da Luz


Autorretrato de Nicholas Roerich (à esq.), Pacto de Roerich e Bandeira da Paz (no
centro), Museu erich de Nova York (à dir.)

O cosmonauta Pavel Vinogradov, participante do projeto da


estação espacial Mir, declarou:

Levantamos a Bandeira da Paz na Terra para que


um espaço de cultura excluísse para sempre um espaço
de guerra e animosidade. Apelamos a todos os povos
e nações para que construam uma nova cooperação
espiritual, científica e artística.

*****

Liber Lucis – 36 – Livro da Luz


A Bela Unidade
As ideias místicas rosacruzes de Roerich são expressas através
de seus textos e obras de arte. Seu conceito de “bela unidade”
parece expressar a interconexão de toda a vida física e espiritual
e envolve a cocriatividade da vida da alma humana no mundo.
A bela unidade governa como a luz opera e se manifesta

tanto no plano visível quanto no invisível e como ela brota


das obras criativas e inspiradas da humanidade. De acordo com
o pensamento rosacruz, esse conceito também pode significar
a orquestração inteligente das inúmeras leis Cósmicas,
proporcionando unidade na diversidade, ordem no caos e
simplicidade na complexidade, permanecendo conectado à
sabedoria divina que reside em um reino eterno e imutável com
uma fonte infinita. Essa bela interconexão é percebida mais
claramente à medida que desenvolvemos profunda reverência
pela Luz dentro e ao nosso redor – a Luz espiritual observada
através das percepções da consciência da alma ou do eu interior,
conhecida pelos Rosacruzes como o “Mestre Interior”.

Vista misticamente, a Luz pode ser percebida como residindo


na natureza espiritual de um ser vivo ou pode ser considerada
uma essência divina penetrante na totalidade do Cósmico,
observada através da consciência mística como permeando o
mundo natural. O poder da “luz da arte” pode ser usado como
meio para criar condições para a expressão da forma mais
elevada de vida, que é o amor. Quando o amor é compartilhado
entre a humanidade, o amor universal é compartilhado em toda
a criação. Em seu livro, Bela Unidade, Roerich escreve:

Os portões da “fonte sagrada” devem ser abertos para


todos, e a luz da arte influenciará muitos corações
com um novo amor. Inicialmente, esse sentimento

Liber Lucis – 37 – Livro da Luz


será inconsciente, mas acabará por purificar a
consciência humana, e quantas almas jovens buscam
algo real e belo! Então, vamos dar a eles.

Mãe do Mundo, de Nicholas Roerich, 1924

Liber Lucis – 38 – Livro da Luz


Cocriatividade entre a Humanidade e a Luz
A cocriatividade entre a humanidade e a Luz é um aspecto
importante e um fator significativo para assegurar uma futura
cultura de paz. Os princípios da “bela unidade” dentro do
processo artístico sugerem uma regeneração coletiva ou uma
“elevação da Luz da humanidade”. Roerich explica que um
processo artístico autêntico deve ser o meio gerador dessa Luz
sublime. A cocriatividade é encorajada entre a humanidade e a
Luz eterna e orquestrada através da alquimia espiritual das artes
interdisciplinares, que pode criar uma infusão de inspiração –
uma experiência mística da Luz Divina na vida interior de uma
pessoa pode ser gerada a partir da fonte fértil de uma “sinfonia
de sentidos externos e internos”.

Por exemplo, o físico teórico Albert Einstein conseguiu


sintetizar, através de suas experiências místicas, vasta
complexidade em uma equação simples, E = mc², em sua
Teoria da Relatividade Especial. Einstein afirmou que esse
processo criativo acontecia quando as percepções de uma
natureza mística estavam abertas e ele pôde compreender uma
“unidade magnífica” nos momentos em que sua imaginação
disparava. Isso ocorreu quando ele sentiu um amor profundo
ao tocar seu violino, Lina, que se tornou interiormente
sincrônico com experimentar as profundezas penetrantes do
pensamento emocional, simplesmente olhando para as estrelas.
Essas experiências, segundo Einstein, se fundiram em sua
vida interior. A percepção interna e a externa se misturaram e
geraram um novo nível de percepção. Através dessa combinação
de consciência objetiva e consciência da alma, sua imaginação
poderia alcançar uma compreensão muito maior do que
qualquer quantidade de conhecimento factual poderia alcançar.
Seus sentimentos de profundo amor pelo violino, combinado
com um profundo sentido de vida ao olhar para as estrelas e

Liber Lucis – 39 – Livro da Luz


unido às informações matemáticas presentes em sua mente,
produziu um fluxo de imensa sabedoria e clareza. Einstein
chamou isso de “o pensamento mais feliz da minha vida” em
sua teoria da relatividade – chegou a ele em uma explosão de
inspiração musical.

Talvez para Einstein isso tenha sido uma constatação da


“bela unidade” que Roerich estava convencido de que poderia
ser revelada no autêntico processo artístico. Talvez tenha
aberto uma porta para uma Luz eterna da sabedoria divina que
pudesse ordenar qualquer complexidade em qualquer nível
do ser e trazê-la de volta ao coração da fonte eterna. Como
lembra o físico italiano Carlo Rovelli, em citação de Hamlet, de
Shakespeare:

Há mais coisas no céu e na terra do que se sonha em


nossa filosofia. A janela para esse mundo de sonhos
é mantida aberta pelos gênios. Não são apenas
pessoas superinteligentes. Ainda mais importante,
eles veem padrões e fazem conexões que vão além
da compreensão do resto de nós.

Os processos artísticos são importantes para cultivar a ca-


pacidade de perceber as visões majestosas de nossa natureza
espiritual. Em um mundo de aplicativos inteligentes e da pro-
liferação de tecnologia de alta velocidade, com vastas vias de
informação ao alcance de nossos dedos, não podemos esque-
cer a importância do processo artístico, que permite a reflexão
e a expansão da imaginação. Devemos encontrar tempo para
a atividade serena e profundamente imersa do ser criativo. Os
processos criativos não se limitam à criação de arte; envolvem
também música, matemática, ciência, filosofia e muito mais.
Imersos no estado meditativo de uma sinfonia de sentidos, as

Liber Lucis – 40 – Livro da Luz


qualidades claras, concentradas e essenciais das epifanias artís-
ticas podem fornecer a resposta a uma pergunta em qualquer
área, desde que se tenha alguma informação básica e, claro, um
certo nível de especialização ou treinamento no campo da in-
vestigação.

Santa Sofia, a Sabedoria do Todo-Poderoso, de Nicholas Roerich, 1932

*****

Liber Lucis – 41 – Livro da Luz


Expressão da Alma Humana e a Alma
Universal
Na obra de Nicholas e Helena Roerich

Nas obras de Roerich nota-se uma luminosidade em


elementos físicos como rochas ou montanhas. Há também
uma luz luminosa (muitas vezes colorida) ao redor das pessoas,
especialmente em cenas de encontros humanos, tanto como
uma névoa atmosférica quanto como um halo ou faixas de cor
radiante. Em algumas obras, parece que Roerich representa a
Luz gerada durante o encontro de uma pessoa com o mundo
natural ou quando uma pessoa olha reflexivamente para as
profundezas do cosmos. Em várias outras obras, há a presença
de fogo ou chama, talvez usada para representar fogo espiritual
criativo ou uma chama delicada representando a alma, que são
ambas experiências possíveis durante um “evento místico” ou
um encontro especial.

Luminância ou brilho também pode ser visto como expresso


em eventos místicos. Em algumas obras parece haver a chegada
de novos tipos de consciência, como se anunciados por um
grupo vigilante de mestres espirituais. Isso se alinha com as
descrições das visões vividas pela esposa de Roerich, Helena,
que também era uma mística. De fato, muitas obras foram
pintadas para retratar as experiências espirituais de Helena, e
Roerich escreveu sobre ela como “ela que lidera”, já que suas
experiências, especialmente aquelas relacionadas a Mestres
Cósmicos ou revelações cósmicas, foram um aspecto importante
de suas viagens, textos e arte. Helena também foi uma escritora
prolífica e cofundou o Instituto para o Desenvolvimento
Harmonioso do Homem [Humanidade], agora conhecido
como a Sociedade de Agni Yoga.

Liber Lucis – 42 – Livro da Luz


Como um fio condutor nas pinturas de Roerich, podemos
imaginar que o retrato da luminância, luminosidade e
iluminação não se destina a retratar a luz como vista pelos
cinco sentidos objetivos comuns, mas, mais provavelmente,
como Roerich era um místico, eles representam qualidades de
Luz como percebidas por nossa consciência da alma.

Cristo no Deserto, 1933

Exemplos de luminosidade nas pinturas de Nicholas Roerich.

Liber Lucis – 43 – Livro da Luz


Buda, o Vencedor, 1925

O cultivo da Luz que pode ser capturado nas pinturas de


Mestres Cósmicos com quem Helena se sentia particularmente
sintonizada talvez seja um exemplo de uma extraordinária
unidade entre o reino da Natureza e a consciência divina.
Essas obras representam uma profunda percepção de beleza e
inspiração divina que pode levar a um novo nível de consciência
da Luz e do amor. Ao mesmo tempo, a arte pode ser vista como
mensagens cósmicas de sabedoria e inspiração espiritual que
nos ajudam a perceber e cultivar a Luz dentro e ao nosso redor.

*****

Liber Lucis – 44 – Livro da Luz


Cultura como a Veneração da Luz
Roerich sentia que estava chegando um momento em que
uma nova forma de cultura deveria começar a surgir, uma cul-
tura fundada na “veneração da Luz”. Imagine por um momento
o que isso poderia significar. É claro que a veneração da Luz não
é uma ideia nova: desde a antiguidade, a luz tem sido associada
à divindade e tem sido reverenciada. Por extensão, a luz passou
a simbolizar beleza, verdade e bondade. No antigo Egito, a Luz
Divina foi simbolizada de várias formas ao longo de milhares de
anos. Os sacerdotes daqueles tempos tinham muitos nomes para
a Luz sagrada: Amon, que era “o oculto”; Aton, que era a mente
do criador; e Rá, que era a luz do Sol e o criador da vida na Terra.
Khepri era a luz da aurora cósmica, provavelmente algo seme-
lhante a um perpétuo “vir a ser”, enquanto Aton era o sol vivi-
ficante e amoroso, quase como se fosse uma essência amorosa.

Aos poucos, vemos uma progressão da maneira como a luz é


reverenciada, deixando de estar escondida no caos sem forma da
escuridão e depois acumulando calor e densidade, quase como
se o ruído branco começasse a conter ilhas de formação. Então,
a luz é impelida a existir no espaço e no tempo, carregando leis
e informações que estão constantemente sendo ordenadas e
reordenadas, tornando-se vivificante gradualmente através dos
veículos de uma relação Sol-Terra-Lua plenamente manifestada
e, em seguida, tornando-se mais intimamente envolvida com a
criação de inteligência em formas de vida em nosso mundo. A
luz então impulsiona uma conectividade mais íntima, como se
os braços carinhosos do “portador de luz” estendessem a mão
para abranger todas as terras, pessoas e formas de vida com
beleza e amor. Assim surge o alicerce para todas as relações de
cuidado entre os seres vivos. Simplificando, é uma progressão da
expressão da Luz, Vida e Amor a partir de uma unidade eterna.
*****

Liber Lucis – 45 – Livro da Luz


O Cultivo da Luz
Para Nicholas Roerich, a cultura foi percebida como a medida
do maior potencial da humanidade e é um ato de veneração da
Luz. Ele afirmou:

A cultura é a veneração da Luz. Repousa sobre os


pilares da beleza e do conhecimento. A cultura é a
fragrância da unidade da vida e da beleza. A cultura
é o amor da Humanidade.

Imagine uma cultura que considera a reverência à Luz ser


o mais alto de todos os refinamentos, a referência de uma
civilização sofisticada. Nesse sentido, a unidade bela e sublime
pode ser considerada uma das maiores expressões de um apelo a
uma cultura que defenda, promova e busque criar a progressão
da Luz, Vida e Amor, como seu valor ético fundador, sua missão
e sua visão. Coloquemos de outra forma:

A cultura é o amor que surge da mais alta reverência


pela vida, que surge da mais alta reverência à luz.
(Nicholas Roerich)

A cultura que é fundada na veneração da Luz e


desenvolvida através do processo artístico cultiva, por extensão,
as percepções das pessoas para uma compreensão mística da
natureza do universo e do propósito da humanidade nele. A
ideia de cultivo como “cultura” vem do latim do século XV
e é um ato de preparar ou selecionar um ambiente para algo
crescer. Visto de uma perspectiva mística, podemos estender a
“cultura” para significar fornecer as condições certas para que

Liber Lucis – 46 – Livro da Luz


a Alma Universal cumpra sua mais alta expressão potencial em
qualquer ser ou estado do ser.

Como um simples exemplo das limitações, uma rosa


plantada em um deserto não pode atingir o maior potencial de
expressão do “estado de ser uma rosa” unicamente, assim como
um cacto não pode atingir sua plena expressão em uma floresta
tropical. As condições simplesmente não são adequadas. Da
mesma forma, as pessoas exigem as condições certas para
a possibilidade da mais alta expressão da Alma Universal de
que são capazes em qualquer vida. Os ensinamentos da Ordem
Rosacruz são um meio de cultivar as condições ideais.

Outra palavra relacionada à cultura é colere [do latim].


Trata-se de cuidar ativamente de algo: cuidar dele, valorizá-
lo, nutri-lo e talvez até manter “um olhar terno e amoroso”
sobre ele. Esse aspecto do cultivo da Luz da alma na sociedade
depende da comunidade e da interdependência para manter as
condições ideais para que tal cultivo ocorra. Vemos colere em
um animal que cuida amorosamente de seus filhotes até que
eles tenham idade suficiente para viver de forma independente.
A alma-grupo do animal apoia esse cuidado.

Uma árvore exibe a mesma qualidade na criação de sementes


aladas finamente afiadas para garantir que suas mudas tenham
a melhor chance possível de crescer na floresta. Uma floresta
saudável tem uma hierarquia de árvores de diferentes idades, e
essa estrutura de cuidado da “família” da floresta permite que
a quantidade certa de luz penetre no chão da floresta entre a
comunidade de árvores para apoiar o crescimento da semente.

Em relação às pessoas, um ambiente terno e amoroso, livre


de influências excessivamente competitivas ou de guarda – seja
uma casa, escola ou local de trabalho – constrói uma atmosfera

Liber Lucis – 47 – Livro da Luz


Maomé, de Nicholas Roerich, 1932

de nutrição na qual cada pessoa é apoiada de todo o coração


para alcançar seu potencial máximo. Cultivar um “amor à Luz
Divina de toda a vida” tem o potencial de iluminar algumas
das mais altas formas de sabedoria social que os seres humanos
são capazes de conhecer, como a beleza ética, a beleza moral e
a beleza cósmica, mais geral e simplesmente conhecida como
beleza espiritual.

Liber Lucis – 48 – Livro da Luz


Saudações à Luz, saudações à Vida, saudações ao
Amor! Nós te reverenciamos sobre a joia do cosmos,
o Planeta Terra, que teceste como uma perfeita
sinfonia cósmica. A humanidade busca o teu alto
clímax de Luz, o teu maior refinamento da vida: o
Amor Universal.
Como a humanidade deve se tornar uma nota pura
de bondade onipresente e se tornar um instrumento
perfeito do Amor Divino?

DRAMA LIBER LUCIS

*****

Liber Lucis – 49 – Livro da Luz


Conectando-se com a Luz da Eternidade

Eternidade é uma palavra que estende a compreensão da


mente até seus limites no sentido comum do pensamento.
Muitas vezes é acompanhada pela ideia de infinito ou infinitude,
ou contínuo total sem fim, mas será que é isso? Qual é o
significado de eternidade? O artista, poeta e místico William
Blake escreveu certa vez:

Para ver um Mundo em um Grão de Areia


E um Céu em uma Flor Silvestre,
Segure o Infinito na palma da sua mão
E a Eternidade em uma hora...

O que podemos aprender com essas belas palavras? Há uma


dualidade de que se fala aqui, algo tanto físico quanto tangível
em termos de espaço – um grão de areia, uma flor silvestre, a
palma da mão – e algo intangível visto dentro – um mundo,
um céu e o infinito. Crianças de cerca de dez anos de idade,
prestes a esquecer seu encantado mundo infantil da imaginação
e em uma idade em que estão entrando nos domínios críticos
do pensamento intelectual, muitas vezes fazem esta pergunta de
longo alcance:

“O que há além da terra?”


E quando respondidos com: “O sistema solar”,
perguntam eles:
“O que há além do sistema solar?”
e quando respondidos com “As estrelas no
universo”, perguntam:
“O que há além do universo?”

Liber Lucis – 50 – Livro da Luz


E assim sucessivamente até atingirem o limite desse
questionamento, o limite do pensamento objetivo comum.

Para as faculdades restritas desse tipo de pensamento, é


como estar em um salão com espelhos nas duas extremidades,
refletindo uma série interminável e infinita de quadros. É uma
experiência completamente insatisfatória e muitas vezes invoca
o medo. Não vai a lugar algum. Saber realmente onde está o
ponto de vista, é ver além, é usar a voz interior da eternidade,
é ouvir o canto da alma, e é começar a tocar em um ponto de
vista em que as dimensões do espaço e do tempo desaparecem
como referências inadequadas. É encontrar um conjunto
completamente diferente de dimensões – “dimensões” baseadas
em qualidades da alma, não em quantidades de espaço e tempo.
Este é o ponto de vista do Ser e Devir, em vez de um ponto
de vista a partir de limitações espaciais e temporais. É o limiar
de ir mais longe no horizonte da eternidade, de testemunhar o
nascer do sol da eternidade, por assim dizer. Como o Mestre
Eckhart contemplou:

A alma foi criada entre o Tempo e a Eternidade:


Com seus poderes mais elevados, ela toca a eternidade;
Com os seus mais baixos, o Tempo.

Como bem disse o poeta místico Khalil Gibran:

A beleza é a eternidade a olhar-se ao espelho.

Pois, ao tocar na imaginação da eternidade, entramos


destemidos e humildemente nos reinos da incompreensão
para investir, em vez disso, na possibilidade do onisciente da
eternidade. Ao fazê-lo, não estamos começando a olhar para a
magnificência da realização de si?

Liber Lucis – 51 – Livro da Luz


Do ponto de vista rosacruz, temos uma natureza divina.
Poderíamos nós esperar que essa natureza divina seja plenamente
capaz de conhecer as qualidades da eternidade? Pois, quer a
reconheçamos geralmente ou não, ela está em constante contato
com a fonte Cósmica divina eterna do onisciente. Este reino de
vibrações imutáveis e constantes é a fonte da sabedoria universal
eterna e onipresente da mente divina que está em ação em nós
constantemente.

*****

Percepção Da Eternidade Na Vida Diária

A eternidade se manifesta em nossa vida diária de muitas


maneiras. Em primeiro lugar, reside no mundo material;
podemos vê-la em um grão de areia porque os minerais estão
imbuídos de energia espiritual, que é dessa origem cósmica. Só
assim podemos ver o céu em uma flor silvestre, pois as plantas
também estão imbuídas de energia espiritual e, mais do que isso,
estão imbuídas de vida. Podemos segurar o infinito na palma da
nossa mão porque a vida não é apenas um produto de reações
químicas, é uma força vital que emana do sol e é de origens
Cósmicas eternas. É a essência divina absorvida enquanto
respiramos. Contemple, portanto, o que realmente significa
contemplar a eternidade em uma hora! Quanta essência divina
está contida em uma hora de respiração?

Mesmo um único sopro contém a eternidade e proporciona


a renovação da vida. Não admira, então, que no antigo Egito o
escaravelho, Khepri, como símbolo cósmico do sol nascente, fosse
visto como um sinal de renovação eterna e do ressurgimento da
vida. Talvez esse símbolo seja uma expressão da essência divina
perpetuando o eterno retorno da vida em todos os níveis do
ser. Imagine também o antigo hieróglifo egípcio representando

Liber Lucis – 52 – Livro da Luz


a eternidade: a pequena cobra Djet que, se ao lado de uma cruz
ansata representando a vida (e às vezes representada ao lado
de um triângulo pontudo, com um segundo triângulo menor
dentro dela), ganha o significado de
“vida dada eternamente”. As cobras
foram associadas a uma força, ou a um
poder, e essa combinação sugere que ao
que é dado vida está em dois níveis: o
cósmico e o terreno. Vida dada eternamente

Considere uma cadeia de eventos passados, presentes e


futuros de sua vida de alguma forma registrados na eternidade.
É o funcionamento da força espiritual e da força da alma que
trazem as lições que precisamos aprender em cada vida da
eternidade para o momento presente da vida? A eternidade e o
infinito são frequentemente sugeridos no simbolismo esotérico
como um lemniscado horizontal acima da cabeça de um
aspirante, ou como o ouroboros, que é um círculo formado por
uma cobra comendo sua cauda. Ambos os símbolos sugerem
um estado de eterno retorno, um estado alcançado que é sem
começo nem fim. Podemos segurar o infinito na palma da nossa
mão porque a matéria espiritual, o eterno Espírito Divino no
presente, está nos cercando em toda parte na Natureza exterior.

*****

Liber Lucis – 53 – Livro da Luz


Ficando em paz com a imaginação da
eternidade

Aprender a ficar em paz com a imaginação da eternidade


nos encoraja a ser ousados, destemidos e corajosos na vida.
Ela nos estimula a sermos criativos, porque, afinal, nossa
eterna natureza divina anseia por se expressar, por revelar
seu tesouro escondido. Uma vez que as “dimensões” da alma
são mais facilmente compreendidas em qualidades, o estado
de eternidade pode ser encontrado na qualidade de nossos
pensamentos, palavras e ações. Considere que em cada ato de
bondade, em cada momento de generosidade e em cada ato
de inspiração compartilhada há algo eterno, algo sem começo
nem fim! Contém um evento da alma, imbuído de qualidades
anímicas, em maior ou menor grau.

A alternativa é ficar confinado ao pensamento materialista


e sem imaginação – ficar preso em um salão de espelhos sem
alma que não leva a lugar algum. A vida dentro dos limites dos
sentidos objetivos comuns pode parecer segura – é mensurável
e seguro estar dentro das limitações do espaço e do tempo –
mas com qual finalidade? Considere por um momento suas
maiores possibilidades: se você pode ver um mundo em um
grão de areia, qual é o mundo de possibilidades contido em si
mesmo? E se você puder se sintonizar com a divindade eterna
dentro de si mesmo e criar seu mundo se sintonizando com a
eternidade?

Imagine um pedaço de papel em branco e uma caneta


colocados diante de você, e, com essas ferramentas, a infinidade
de possibilidades que você pode criar: uma música cheia de
alma, uma paisagem em um poema, uma carta de profunda
gratidão a alguém! Você pode projetar um ambiente, construir

Liber Lucis – 54 – Livro da Luz


uma filosofia de vida, escrever um texto sagrado ou fazer um
avião de papel decorado para trazer maravilha a uma criança. A
lista do que você pode fazer é infinita. No entanto, é a qualidade
e a expressão de como você usa o papel e a caneta que é o
reflexo do olhar de sua alma. Se a energia de sua alma é alta,
sua capacidade de trazer dimensões eternas para a palma de
sua mão será maior. Talvez você tenha optado por desacelerar
e se inspirar na beleza de uma flor. Talvez você encontre alegria
em ouvir pacientemente a história de vida do outro ou através
da meditação.

Talvez você tenha escolhido fortalecer seu corpo psíquico


por meio de uma vida saudável e técnicas rosacruzes. Existem
muitas maneiras de aumentar a energia da sua alma. Através
de sua imaginação, seus pensamentos criativos, você pode
direcionar a consciência de sua alma e animar a energia
espiritual nos materiais ao seu redor, trazendo assim a
eternidade mais fortemente para o momento presente. São
as percepções e orientações do Mestre Interior que observa,
contempla e direciona verdades eternas a serem manifestadas
em formas que inspiram.

Agora vamos realizar um experimento para se sintonizar


com essa parte superior do seu eu dentro de você - a alma eterna.

Feche os olhos, inspire profundamente, prenda a


respiração por um curto período de tempo e, em
seguida, expire lentamente.
Faça isso três vezes no seu próprio ritmo.
Agora volte seus pensamentos para dentro.

Reflitamos sobre as palavras do místico Paramahansa


Yogananda sobre este assunto:

Liber Lucis – 55 – Livro da Luz


Eu era surdo, mas a Eternidade sussurrava-me
Incessantemente. (Pausa.) A capacidade auditiva
de minha sabedoria acordou lentamente, e ouvi os
Sussurros da Eternidade se tornando cada vez mais
claros em resposta às minhas sagradas exigências.
(Pausa.) Perguntei à Eternidade: “O que significam
os teus sussurros?” Os sussurros ficaram mais
fortes, até que, finalmente, de repente, a Eternidade
respondeu: “Ouve a voz da orientação ininterrupta.

Lamassu: o touro alado da antiga Assíria

Liber Lucis – 56 – Livro da Luz


Eu contarei para ti este sermão também , ó Tat,
para que não permaneças não iniciado nos mistérios
d’Aquele que é muito grande por ser chamado Deus.

CORPUS HERMETICUM

Eu sou o porta-voz de Deus, a Eternidade”. (Pausa.)


Agora imagine uma flor nas palmas de tuas mãos,
segurada à altura de teu coração. Sente a Luz eterna
dentro desta flor como sendo una com todo o teu ser,
irradiando em teu corpo, sentimentos e pensamentos,
preenchendo todos os teus sentidos. (Pausa). A voz de
tua eterna sabedoria fala:

Eu sou a Beleza, Eu sou a Verdade, Eu sou a


Bondade,
Eu sou a Luz, Eu sou a Vida, Eu sou o Amor.

*****

Guardiões da Chama Sagrada

A verdadeira guarda de uma chama sagrada foi comparada


à paz que envolve um recém-nascido adormecido: uma aura
de gentileza envolvendo todos os presentes. Da mesma forma,
quando tudo está quieto dentro de nós, sentimos uma profunda
sensação de paz. Para um místico, a beleza da chama sagrada não
vem de seu tamanho, de seu brilho ou mesmo do calor que emite
– ela reside em uma crescente consciência da nossa guarda de um
fogo espiritual interior, de sermos agentes da Luz Divina.
A guarda da chama sagrada simboliza a atitude necessária para
desenvolver certas qualidades da alma, como se contemplasse
uma chama mística interior e aprendesse a caminhar em sua Luz.

Liber Lucis – 57 – Livro da Luz


Esta experiência cresce de dentro, quando voltamos o nosso
olhar exterior para dentro, para uma Luz invisível e eterna
que, de repente, brota para a vida com grande brilho, saindo
do profundo, repousante e ainda quieto de uma noite cósmica.
Contemplar tal momento é uma jornada viva, na verdade, uma
jornada que pode ser traçada através de histórias mitológicas
mundiais sobre a longa relação da humanidade com o fogo.
Como em todas as boas histórias, há algo aparentemente
enigmático para aprender e há caminhos “certos” e “errados”
a seguir. No entanto, é o objetivo altruísta nascido de novo, à
medida que cada novo ponto de vista de maior consciência é
alcançado, que simboliza o fogo interior de uma pessoa sendo
transformado em uma chama constante, harmoniosa e radiante.

Por que associamos a chama de uma vela à ternura e


à necessidade de proteção? É apenas um meio prático de
transportar com segurança um pequeno fogo de um lugar para
outro, ou ser capaz de ver no escuro?

A luz de uma vela vem da liberação de energias. Há uma


constância de emanação por causa de um equilíbrio perfeito
entre o pavio, a cera e o ar em que a vela pode acender através
de uma faísca ou através da partilha de fogo de outra fonte.
Uma vez aceso, o ar é constantemente atraído para a chama
manifestada, sustentando sua vida.

Um pavio sem cera faria com que o fogo queimasse em


poucos segundos. Cera sem pavio não faria com que nenhum
fogo fosse aceso. Uma vela bem feita é o equilíbrio perfeito
de mecha e cera-combustível necessário para acender e, em
seguida, manter a luz e o calor em harmonia.

*****

Liber Lucis – 58 – Livro da Luz


Acendendo a Chama Interior
O que precisamos fazer para metaforicamente acender
dentro de nós uma chama interior e colocá-la em perfeito
equilíbrio com nossa “paisagem” interior e exterior? Como
criamos as condições certas para que nossa chama interior libere
constantemente energias que irradiam de nós nossa verdadeira
Luz interior? A liberação das energias interiores anuncia novas
fases da criatividade. Como essas energias, os fogos criadores,
vão ser liberados de forma equilibrada sem nos esgotar muito
rápido – ou acabamos nunca criando nada? Como podemos
proteger nossa preciosa chama?

Mesmo que essa chama interna esteja afinada com nossa


paisagem terrena interna, influências externas ainda podem
ameaçar extingui-la. Uma chama precisa ser protegida contra
muitas ou grandes forças externas. Metaforicamente falando, a
chuva pode extingui-la, o vento pode soprar para fora, e cercá-
la com muita força pode fazê-la sufocar. Precisamos, portanto,
ser proativos no cuidado com a nossa chama.

Felizmente, nossa natureza humana inata adora proteger


essa chama interior, seja ela nossa ou de outra pessoa.
Alegoricamente, ansiamos por proteger nossa chama interior
da tempestade, como a lanterna de um farol, ou protegê-la de
profanações, como as paredes do templo. Ansiamos por levá-la
cada vez mais fundo para dentro, para a morada mais interna,
onde tem prazer em residir!

*****

Os Portadores da Luz Divina


À medida que as substâncias físicas de uma vela são
transformadas em cinzas e gases, a chama libera energias de luz e

Liber Lucis – 59 – Livro da Luz


calor que expressam o funcionamento das leis Cósmicas através
da Natureza. Assim também nossa alma-consciência libera
energias espirituais à medida que nos tornamos cada vez mais
agentes do divino, cada um de nós sendo uma chama que arde
cada vez mais intensamente como portadores da Luz Divina.
Quanto mais as partes não refinadas de nossa natureza exterior
são transformadas, mais brilhantemente irradiamos qualidades
da alma, como se uma chama suave estivesse residindo em um
templo interior muito pessoal de nossa alma, iluminando nosso
mundo e todos imediatamente ao nosso redor.

Os limites da luz que emana de uma chama de vela são


regidos por leis naturais. A luz toca e ilumina a todos dentro de
sua faixa em grande medida. Quando a chama da vela é levada
embora, os limites da luz que ela irradia se movem com ela.
Quais são, então, os limites da nossa Luz interior?

Além disso, como acendemos nosso fogo espiritual


interior? Estava sempre lá, pronto para crescer, ou foi aceso em
determinado momento em nosso caminho espiritual?

Esse tipo de pergunta persistente convida os místicos a uma


jornada de reflexão sobre o significado do simbolismo do fogo
– a chama – e a luz que ele exala.

*****

O Profundo Significado do Fogo


Desde os tempos antigos o fogo tem sido de profundo
significado para as pessoas experimentarem a relação entre a
humanidade, a Natureza e o universo. Sentar ao redor de uma
fogueira sob um céu noturno claro e cintilante nos conecta com
nossos ancestrais antigos, que ficavam maravilhados com essa
relação e cujas histórias foram evocativamente lembradas em
torno de um fogo crepitante.

Liber Lucis – 60 – Livro da Luz


Hoje, percorrendo milhares de anos de continente em
continente, encontramos uma grande herança mitológica de
questões sobre a natureza do fogo, em particular a guarda do
fogo, pois nos tempos antigos essa substância aparentemente
imprevisível e enigmática podia ser experimentada como sendo
benéfica ou destrutiva nos assuntos humanos: poderia ser
libertada dos deuses como um clarão dos céus para se tornar o
vermelho, a flor flamejante de um fogo na floresta, ou poderia
ser mantido em uma vara para afastar as incertezas sombrias
da noite. E poderia parecer ter uma forma de vida elementar
própria, bela e temida, que poderia ser exigente ou precisar ser
apaziguada. Como o fogo deve ter aparecido para os primeiros
humanos como tendo vida própria, ele poderia até representar
a própria vida.

Além disso, suas qualidades eram sentidas como tendo


muitas aparições externas no funcionamento do mundo
natural, como nos raios quentes e vitalizantes do sol – um
calor que amadureceu as sementes no outono e acenou para
os brotos da primavera nascerem. No entanto, também teve
inúmeras aparições na natureza interior da humanidade, como
na criatividade, imaginação e intenção.

Tais ideias sobre o fogo causaram um acorde de admiração


natural nos povos antigos, que reverenciavam a unidade da
humanidade, da Natureza e do universo. O ritual era o seu
espaço de manutenção ativa dessa relação, mas as histórias
eram seus principais espaços e receptáculos para o despertar
da sabedoria.

Muitas dessas histórias se desenrolaram nas sagas de divin-


dades e heróis. Afinal, parecia apropriado que o fogo pudesse
de alguma forma se originar no sublime mundo Cósmico: ele
poderia se originar de um Fogo Divino desconhecido e invisível,

Liber Lucis – 61 – Livro da Luz


que se acreditava ser o fogo dos deuses. Eventualmente, eles
teriam se perguntado como o fogo que encontraram na Terra
estava ligado ao fogo interior.

O fogo físico transformou o mundo material: podia ser


usado para forjar metais ou purificar substâncias. A habilidade
requintada de objetos forjados pelo fogo representava algo
do fogo dos deuses tanto quanto representava a imaginação
poética e artesanal. Essa habilidade reuniu os dons da Natureza
para serem transformados pelo fogo da vontade e das emoções
criativas. Forjados com inspiração divina, os artesãos talentosos
tinham a possibilidade de criar formas mais elevadas e sagradas
de objetos materiais para uso em rituais. De fato, as emoções
poderiam ser facilmente representadas pelo fogo, porque o fogo
poderia incendiar ou ser constante, assim como as emoções
poderiam ser apaixonadas ou calmas. Assim como o fogo, as
emoções eram qualidades que precisavam ser aproveitadas e
colocadas em serviço útil, como um agente desbloqueando os
portais dos deuses.

*****

A Qualidade Feminina da Guarda


Uma importante tradição de guarda do fogo é a qualidade
feminina de cuidar de um fogo sagrado em um espaço
consagrado. O fogo sagrado na antiga Roma, que ardeu no
templo circular de Vesta, foi cuidado pelas virgens vestais, que
serviam por trinta anos. O fogo sagrado que ardeu em Kildare,
Irlanda, nos tempos pré-cristãos, continuou no cristianismo
celta de Santa Brígida. Em 480 d.C. ela construiu seu mosteiro
de Kildare, e dizem que o fogo continuou a queimar por 900
anos.

Liber Lucis – 62 – Livro da Luz


Em todo o mundo, ainda existem muitas tradições religiosas
e culturais que incluem a manutenção de um fogo santificado
dentro de um recinto sagrado, como na tradição zoroastriana
ou como simbolizado na Tradição mística.

*****

A Chama do Místico
A luz da chama do místico foi lindamente retratada nas
pinturas de Roerich, às vezes retratada como uma joia na
Natureza, uma luz brilhante em todos os reinos da Natureza,
sejam eles os reinos mineral, vegetal, animal ou hominal. Pode-
se imaginar que todos os encontros com ela são um evento
desdobrado da consciência em que a percepção interior e
exterior se misturam, frutificam e nascem em um novo nível de
percepção – talvez até mesmo em um encontro com aquela Luz
sagrada e eterna que permeia tudo.

Para o místico, seja individual ou coletivamente, estar em


relação com a Luz sagrada coloca cada vez mais responsabilidade
em cada pensamento, palavra e ação, à medida que mais
sabedoria espiritual é iluminada. Esse desafio não é tarefa fácil.
Não admira, portanto, que os místicos tenham suas próprias
histórias ocultas de provações e tribulações. Pois assumir
silenciosamente a responsabilidade como agentes da Luz Divina
é um acontecimento que deve incluir o amor da humanidade e
de toda a vida na terra.

*****

Liber Lucis – 63 – Livro da Luz


Um Divisor de Águas

Um divisor de águas
na jornada é muito
possivelmente uma súbita
percepção de permanecer
humilde e confiante em
uma divindade gentil e
orientadora, e no processo
se tornar uma chama
constante irradiando
Luz para todos os outros
receberem. Pedimos
que você se lembre de
compartilhar essa Luz
suave, radiante e cheia de
amor com outras pessoas
que a buscam. Podemos
ajudá-los a lembrar-se de
sua natureza espiritual.
Podemos ajudá-los a
reacendê-la, se ela tiver
sido esquecida. É uma
jornada contínua de
iniciação através de
muitas encarnações, até
a verdadeira guarda lhe
ser confiada para receber
a Luz eterna maior da
sabedoria cósmica.

*****

Liber Lucis – 64 – Livro da Luz


Deus de nosso Coração, Deus de nossa
Compreensão,
Faze-nos conscientes da Tua Luz em todas as
formas de vida, e da Luz da natureza espiritual de
todas as pessoas. Concede-nos a sabedoria de ter uma
profunda gratidão pelo privilégio de experimentar
a vida neste belo e misterioso mundo. Que sejamos
infundidos com uma profunda reverência pelas
leis universais do Cósmico em nossa Terra, e
com a vontade de buscar e revelar tua divindade
através desses princípios, para assim nos tornarmos
verdadeiros místicos na escola da vida.

Que Assim Seja!

Liber Lucis – 65 – Livro da Luz


A Consciência Mística e o Bem-Estar da
Nossa Terra

O ano de 2014 viu a publicação do Manifesto Rosacruz


Appellatio Fraternitatis Rosae Crucis. O Appellatio é um
chamado à humanidade. É um apelo para chamar a atenção
mundial para três das áreas mais urgentes de consideração para
a melhoria e o bem-estar da humanidade e de toda as vidas
na Terra no século XXI: a espiritualidade, o humanismo e a
ecologia.

Os Rosacruzes tendem a ser familiarizados e bons em


navegar na linguagem da espiritualidade e do humanismo,

Liber Lucis – 66 – Livro da Luz


mas e a proteção da ecologia, algo tão relevante nestes tempos?
Algumas pessoas perguntaram: “O que é mesmo ecologia?”
Tecnicamente, é uma forma de ciência natural que diz respeito
à relação dos organismos entre si e com seu ambiente físico.

No entanto, a ecologia é mais amplamente pensada como


a relação entre todos os seres vivos. Tornou-se sinônimo de
preservação e bem-estar de todos os sistemas naturais que
sustentam a vida na Terra.

Esses ecossistemas, que unem os reinos mineral, vegetal,


animal e hominal da vida, são inteligentes, complexos e
colaborativos. Se compararmos cada espécie às notas musicais
do mundo natural, as ecologias são as melodias e as harmonias.
Em seu estado natural, há uma profunda sabedoria e beleza
que se manifesta em suas relações, e vemos isso celebrado nas
complexas colaborações entre diferentes expressões da vida.

As relações são tão refinadas, tão primorosamente


equilibradas, que formam tanto os alicerces quanto os detalhes
dessa grande sinfonia chamada o “ciclo da vida”. No mundo
exterior e mensurável do século XXI, esses sistemas complexos
têm sido estudados e analisados em muitos campos científicos,
gerando respostas cientificamente sólidas, mas também
criando novas perguntas. No entanto, há várias áreas nos reinos
imaterial e invisível nas quais os místicos podem se tornar mais
conscientes como uma contrapartida a essa investigação, e essa
é uma área importante de pesquisa e uma nova linguagem a ser
desenvolvida.

Podemos recorrer à nossa consciência mística e, usando


as qualidades de nossa alma, experimentar uma associação
sagrada com todas as outras formas de vida. Podemos cuidar
dessa chama preciosa através de nossos pensamentos reverentes

Liber Lucis – 67 – Livro da Luz


e desenvolver um vínculo mais profundo com o mesocosmo,
que é o santuário de toda a vida na Terra, a biosfera da vida que
fica entre o macrocosmo e o microcosmo.

*****

Um Chamado para uma Linguagem da


Ecologia Espiritual
Este é um chamado para despertar para uma linguagem
que é uma identidade com a ecologia espiritual. Alguns
místicos têm falado dela como uma ecologia transcendental.
Acadêmicos nas salas de aula das universidades até começaram
a usar a palavra “biofilia” como filosofia, significando o amor
pelas coisas vivas, ou a afinidade inata que os humanos têm
pela natureza. É provável que descobrir uma linguagem interna
relevante de consciência mística do mundo natural, e como
falar dela exteriormente, será uma parte significativa da busca
do místico no século XXI.

Esta não é uma empreitada nova. Os místicos ao longo


dos séculos contribuíram com seus bons pensamentos, seus
sentimentos reverentes e uma mão amiga nos bastidores para
o aprimoramento e a preservação da natureza. E os Rosacruzes
nunca estiveram longe de uma profunda reverência pelo mundo
natural.

A beleza intocada da natureza, a verdade e a bondade


são uma inspiração para todos os místicos em sua busca por
perceber a Inteligência Universal que permeia tudo. Desde a
flor mais delicada, segurada na palma da sua mão, aos chamados
assombrosamente belos de uma baleia azul, há a Alma Universal
em ação tentando se expressar em cada centímetro de nossa
Terra, onde quer que ela possa.

Liber Lucis – 68 – Livro da Luz


Quando uma ecologia está indo bem, ela tem o potencial
de se expressar plenamente, de alcançar seu pleno reflexo da
divindade em ação. Unir-se à natureza nos ajuda a nos conectar
com esse bem-estar, com esse amor pelo trabalho em todas as
relações. Portanto, a ecologia espiritual que nós aprendemos
da natureza nos ensina a alcançar relações colaborativas e
harmoniosas entre si.

O renomado naturalista Sir David Attenborough sugere que


o princípio essencial que a natureza nos ensina é que um alto
nível de aperfeiçoamento surge da diversidade colaborativa e
da hierarquia inclusiva. Em uma recente declaração, ele disse
que a Terra viva é uma maravilha única e espetacular. Bilhões
de formas de vida trabalham juntas para formar uma variedade
única e deslumbrante e uma riqueza de expressão. Elas
colaboram para se beneficiarem mutuamente das energias do
sol e dos minerais da Terra. As vidas se interligam de tal forma
que se sustentam e se beneficiam umas das outras.

Nós, como humanos, contamos com este instrumento


afinado de vida e ele conta com o seu precioso equilíbrio
colaborativo, diversidade, complexidade e hierarquia inclusiva
de todas as formas de vida. Sir David Attenborough continua
dizendo que na história evolutiva da Terra, ao longo de bilhões
de anos, a natureza esculpiu formas milagrosas, cada uma mais
detalhada e complexa que a anterior.

*****

Uma Joia no Cosmos


A magnificência da biodiversidade do nosso planeta
desenvolveu-se ao longo dos últimos 65 milhões de anos. O
Holoceno, o período dos últimos 10 mil anos, é considerado

Liber Lucis – 69 – Livro da Luz


um dos mais estáveis em constância na história natural da Terra.
Um mundo rico e próspero é a chave para essa estabilidade.

Mais do que nunca, há uma consciência planetária em


rápido crescimento, uma consciência ecológica que destaca o
impacto adverso da humanidade no bem-estar da Terra. Os
seres humanos são naturalmente criativos e transformaram
continuamente os elementos da natureza para satisfazer suas
necessidades. Mas quanto dessa criatividade está realmente
cumprindo seu verdadeiro propósito de refletir a criatividade da
mente Cósmica se está prejudicando ecossistemas complexos e
colaborativos e, assim, reduzindo a complexidade da expressão
do Ser?

Ansiosa por aumentar a conscientização sobre o tema


da ecologia, a Ordem Rosacruz publicou “Um Apelo para a
Ecologia Espiritual”, em 2012, que foi lido na reunião do Senado
Federal durante a Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro. Como o
então Imperator e Presidente da Ordem Rosacruz, Christian
Bernard, tão bem expressou:

A Terra é uma joia do Cosmos, uma obra-prima


da consciência divina e universal. É um tesouro de
grande inspiração para a humanidade e é respeitada
pelos Rosacruzes como um santuário especial no
qual toda a vida pode evoluir, física, emocional e
espiritualmente.
A ecologia desempenha um papel fundamental na
consciência mística, porque não podemos nos interessar pelos
mistérios da vida sem nos preocuparmos com o que acontecerá
com a Terra.

Nosso atual Imperator, Claudio Mazzucco, reflete sobre isso


em seu artigo “Utopia Rosacruz”:

Liber Lucis – 70 – Livro da Luz


Hoje a natureza está sendo explorada e negada
sua finalidade. Ao considerá-lo apenas como um
pano de fundo relaxante para as nossas férias,
negligenciamos o único canal que tem o poder de nos
colocar frente a frente com as questões fundamentais
de quem somos e por que estamos aqui. Como
Rosacruzes, precisamos recuperar este caminho
para restaurar o verdadeiro propósito da natureza,
não como um meio para um fim, mas como um fim
em si mesmo. Precisamos apreciá-lo não apenas
como um lugar de descanso, mas sim como uma
linguagem que aponta para a eternidade dentro da
menor estrutura, dentro e fora de nós mesmos.

*****

A Terra como Pano de Fundo para a


Evolução Espiritual
O Manifesto Rosacruz Appellatio Fraternitatis Rosae Crucis,
publicado em janeiro de 2014, declara que a Terra é o pano de
fundo para nossa evolução espiritual e permite que cada um de
nós atinja a plenitude, enquanto “alma vivente”, e que, portanto,
tem uma vocação ao mesmo tempo terrestre e celestial.

Usamos o termo “saúde” quando falamos do nosso planeta,


pois é evidente que a Terra é um ser vivo e mesmo consciente.
Se concordarmos que a Terra é “algo” vivo e consciente,
podemos também dizer que a Terra, e todas as formas de vida
nela, podem valorizar muito uma relação sagrada conosco
com o propósito de evolução mútua? Podemos usar uma
forma superior de consciência espiritual ou mística para ajudar
na preservação dessa relação sagrada, de um ponto de vista

Liber Lucis – 71 – Livro da Luz


metafísico? Para responder a essa pergunta, é útil conhecer a
Terra mais profundamente.

As mitologias de criação das antigas tradições egípcias e


herméticas são, talvez, um bom lugar para começar, pois, nos
ensinamentos da criação que conhecemos há um fio comum
que pode ser sintetizado da seguinte forma: a Mente Divina,
ou o coração do Ser Divino Supremo, ativa a criação de um
reino eterno e imutável e começa a emanar leis harmoniosas
e princípios de ordem Cósmica. Da escuridão das águas
cósmicas primordiais, surgem primeiro a densidade e o calor,
depois a luz e, em seguida, a vida, tornando-se gradualmente
mais complexos, até que a consciência surja nas formas de vida.

Na Enéade Heliopolitana Egípcia (grupo de nove deuses)


isso é descrito como uma série de pares divinos – polaridades
de emanações duais: luz e ar, céu e terra, e terminando com as
energias mais refinadas do amor, representadas na relação de
Ísis e Osíris, que criam Hórus, que simboliza o Bem Supremo.

Aqui temos Luz, Vida, Amor e o Bem Supremo como


emanações progressivas da unidade de um reino imutável e
eterno. É certamente uma imaginação comovente sentir que
nossa Terra, nossa joia no Cosmos, é inteiramente tecida com
as qualidades de Luz,

Vida e Amor, que por eras desconhecidas emanaram do


reino eterno, e que toda e qualquer parte de nosso maravilhoso
planeta contém essa eternidade. Seu próprio tecido está
intrinsecamente infundido com o bem maior, se nossos
corações pudessem vê-lo.

Além disso, pense sobre o que está acontecendo aqui no


grande esquema das coisas, que nós, como humanos, temos
os sentidos para testemunhar toda essa magnificência – e não

Liber Lucis – 72 – Livro da Luz


apenas nossos cinco sentidos básicos, mas também aqueles
sentidos perceptivos aperfeiçoados espiritualmente sobre os
quais aprendemos tanto nos estudos rosacruzes.

Ao nos esforçarmos para usar nossos sentidos mais apurados,


podemos nos sintonizar com a natureza mais profundamente
e abrir as portas para os segredos dela para desenvolver nossa
consciência mística. Isso nos lembra a frase bíblica do Gênesis
no 6º dia da criação: “E viu Deus tudo quanto fizera, e eis
que era muito bom e belo”. Ou, nas palavras do poeta místico
Coleridge: “Há uma Mente, uma Mente onipresente, Ilimitada,
cujo nome sagrado é Amor”.

Uma maneira de começar a desenvolver a consciência


espiritual e mística em relação à Terra é simplesmente
desenvolver uma reverência amorosa e sincera pelo mundo
natural: estar ciente e conectado com as estações; harmonizar-se
com as árvores, as flores e os pássaros, e saudá-los interiormente
com um sorriso sincero; desacelerar e respirar a atmosfera, a
luz do dia. Reserve um tempo em meio às demandas da vida
para contemplar as expressões requintadas da divindade da
natureza, pois os humores e atmosferas da natureza refletem os
nossos, e quando estamos tentando entender nossas emoções,
podemos refletir sobre o mundo natural para ajudar a retratar
nossos estados de espírito. Correspondentemente, tudo o que
ocorre na natureza também está sendo refletido na vida interior
da humanidade.

*****

A Consciência das Três Energias Cósmicas


Uma consciência mística da natureza pode surgir através
da contemplação de três grandes energias que habitam e que

Liber Lucis – 73 – Livro da Luz


permitem a vida consciente: vibrações espirituais, força vital e a
Alma Universal. Através do despertar de seus centros psíquicos,
você pode se tornar mais consciente delas em ação no mundo.
Tome consciência do nível de refinamento que está sendo
expresso em qualquer coisa que você observar. Por exemplo,
se você refletir profundamente sobre uma rosa até se tornar
uno com ela, você pode se tornar consciente das vibrações que
compõem sua substância material. Você pode sentir a força vital
dentro dela e até mesmo tocar a luz eterna da Alma Universal
que está sendo expressa. Que alegria é ser uma expressão viva
da divindade que compartilhamos com todas as formas de vida!

Que alegria é fazer a nossa parte no anseio do Amor


Universal de expressar todo o seu potencial e fazer parte da
grande sinfonia da vida!

Liber Lucis – 74 – Livro da Luz


À luz desses ensinamentos transmitidos ao longo
de gerações em manuscritos e pergaminhos, mas
principalmente através da tradição oral de seus
encontros, seus corações e mentes se desdobravam a
cada reunião como se abrissem um livro de luz.
Vivendo em cada alma, cada página virou como
se fosse tocada por uma mão guia supremamente
sábia que parecia habitar na santidade de seus laços
místicos.
Conhecendo a terrível guerra que assolou os solos
europeus, e a situação espiritual da humanidade,
diariamente eles ofereciam orações de consolo,
invocando o Deus de sua Compreensão, e pediam
forças para oferecer uma forma universal de
educação que desse verdadeiro alimento espiritual e
se tornasse cada vez mais o livro lido pelo coração do
povo, substituindo dogmas religiosos e superstições
ultrapassados.

DRAMA LIBER LUCIS

Liber Lucis – 75 – Livro da Luz


PARTE II

O Apelo Rosa-Cruz e
a Fraternidade
Expressão Mística da Ordem da Rosa-Cruz

Liber Lucis – 76 – Livro da Luz


A Luz da Ordem Invisível
Alguns seres, que fizeram um trabalho espiritual prolongado
sobre si mesmos, podem ajudar seus irmãos e irmãs humanos de
longe e podem até mesmo não precisar mais viver encarnados.
Eles vivem em um estado de consciência que é tradicionalmente
conhecido como o “estado Rosa-Cruz”, tendo atingido um certo
nível de evolução.

Aqueles seres que exemplificam o estado Rosa-Cruz


continuam a animar movimentos dedicados a apoiar estudantes
sinceros no caminho para esse estado. Os ensinamentos da
Ordem têm a característica de se adaptar à linguagem dos
tempos, que muda de era para era, à medida que o conhecimento
e a sabedoria progridem, para que possa fornecer explicações
compreensíveis dos fenômenos divinos que, de outra forma,
não seriam compreendidos.

Algumas almas avançadas de tempos em tempos encarnam


com a intenção de estabelecer sistemas iniciáticos ou espirituais
para trazer aqueles que precisam deles para dar passos
importantes, ou para iniciar as grandes massas na Luz, uma vez
que ambas as abordagens respondem às exigências Cósmicas.
Essas almas evoluídas, compartilhando ideais e intenções,
forjam elos na dimensão invisível.

O colégio dessas almas forma uma “Ordem Invisível” que


sustenta a evolução humana, flanqueando-a e acompanhando-a
em direção ao seu destino cósmico. Esta Ordem Invisível de
personalidades iluminadas, constituída pelos aqui encarnados
e outros que atravessaram o “grande portal”, em determinado
momento da história (por volta do século XVII), tomou o
nome de Rosa-Cruz, embora a Ordem sempre tenha existido
com outros nomes no passado. A Rosa-Cruz vive, portanto, em

Liber Lucis – 77 – Livro da Luz


uma dimensão inacessível aos cinco sentidos, embora encontre
manifestação no espaço e no tempo comuns através daqueles
que ressoam com seus ideais.

Durante o século XVII a Ordem Invisível da Rosa-Cruz


tomou forma tangível através do trabalho de inúmeras pessoas
que amavam seus ideais e dedicaram suas vidas a seus estudos e
trabalhos investigativos. Os alunos que são membros da Ordem
são chamados Rosacruzes e, através do caminho proposto,
caminham para alcançar o estado Rosa-Cruz de consciência.

*****

Anunciando a Luz da Rosa-Cruz

Algumas dessas almas, tendo se instalado no plano material,


foram levadas à publicação dos chamados manifestos rosacruzes
em 1614, 1615 e 1616, em Kassel, Alemanha. Em agosto de 1623,
exatamente 400 anos antes da publicação deste Liber, mensagens
da Ordem Rosacruz foram afixadas em muros da cidade de Paris.
Em apenas sete anos após a publicação do primeiro manifesto,
mais de 400 obras baseadas no conhecimento rosacruz foram
publicadas. Após a proclamação da existência da Ordem,
houve uma série de respostas em toda a Europa de pessoas que
evidentemente possuíam um conhecimento compartilhado
que, de alguma forma, foi para a clandestinidade, escapando da
tirania que os atingira.

Os poderes que dominavam à época tentaram em vão


sufocar o florescimento dessa primavera da consciência,
contrapublicando inúmeros textos para provar a inexistência
da Ordem, mas não se pode parar com um portão físico um
fluxo de consciência vindo da fonte da Luz em uma dimensão
imaterial. A resposta aos manifestos de centenas de pessoas na

Liber Lucis – 78 – Livro da Luz


Europa foi manifestar-se a favor da existência de uma Ordem
que, embora não estruturada como está hoje, de uma forma ou
de outra fez o seu trabalho para libertar as pessoas da opressão
bruta da ignorância.

*****

Compartilhando a Luz
Ao longo dos séculos a Ordem utilizou diferentes linguagens
e analogias para se adaptar à necessidade de ocultar o
conhecimento impedido pela tirania e explicar o inexplicável.
Os Rosacruzes tentaram em todas as épocas dar a conhecer a
sua mensagem, mesmo quando impedidos de fazê-lo.

Os Rosacruzes não ocultam a Luz, mas tentam divulgá-la o


mais amplamente possível para o benefício de seus semelhantes
e para o bem-estar de toda a vida na Terra. Os Rosacruzes
reverenciam a expressão da Luz em todos os reinos de expressão
terrena: minerais, plantas, animais e humanos.

Por conseguinte, não é por acaso que numerosos textos


foram impressos em toda a Europa. Quando um grupo de
Rosacruzes, liderados por Johannes Kelpius, partiu do porto
de Roterdã, em 1693, para desembarcar no Novo Mundo
(América do Norte), uma das primeiras coisas que fizeram foi
montar uma prensa para que pudessem imprimir seus textos e
distribui-los. A fraternidade teve influência sobre pessoas como
Benjamin Franklin e o presidente George Washington. Após o
clamor causado pela apresentação pública da Ordem através
dos manifestos do século XVII, um grupo de Rosacruzes
passou a residir na Índia. Eles então retornaram à Europa no
final do século XIX e fundiram o conhecimento adquirido
dos Rosacruzes do Oriente com o conhecimento esotérico do
Ocidente.

Liber Lucis – 79 – Livro da Luz


Águia dupla esotérica da união do misticismo oriental e ocidental

A Tradição Primordial

A Tradição Primordial consiste em conhecimentos centrais


divinamente inspirados que transcendem os limites do tempo,
espaço e matéria, e foram transmitidos por aqueles que
sinceramente a procuram, alguns tornando-se mensageiros,
profetas, adeptos ou outras agências que transmitem a
“sabedoria original” através de iniciações e outras tradições
perenes, permitindo a sua perpetuação de uma civilização para
outra e contribuindo para a evolução da humanidade.

A Tradição Primordial consiste em um conhecimento central


que não está sujeito ao tempo e do qual jorra a água vivificante
da divindade. Essas águas da vida espiritual dividem-se em

Liber Lucis – 80 – Livro da Luz


múltiplos riachos e são coloridas pelos matizes das terras que
banham. Assim, embora a Tradição seja única, ela pode ser
adaptada a diferentes línguas e culturas, conforme necessário,
e aqueles que se vangloriam de ser os únicos guardiões da
Tradição enganam seus vizinhos, porque ela pertence a todos e
flui das profundezas de cada coração puro.

Ao longo dos séculos a Ordem transmitiu a Tradição


através das filosofias e práticas do hermetismo, alquimia,
astrologia, magia e cabala renascentista, mas também adotando
ferramentas simbólicas de trabalho que poderiam refletir
analogicamente a própria Obra, como as ferramentas dos
construtores de catedrais, carpinteiros, alfaiates, mineiros de
carvão e assim por diante.

O conhecimento das leis dos planos invisíveis da existência


pode tornar-se mais compreensível usando símbolos em
contato próximo com a vida cotidiana. De século em século
os Rosacruzes propuseram práticas que pudessem permitir
que as pessoas percebessem regiões cada vez mais elevadas
da divindade, avaliando os efeitos desses métodos propostos e
fazendo as correções necessárias.

Para garantir que certas regiões elevadas da realidade celeste


se tornassem acessíveis, durante o século XIX a Ordem se
estruturou por meio de escolas dedicadas à magia. Esse assunto
ainda hoje atrai muita gente por causa do fascínio intrínseco
que carrega. No entanto, essa população é presa fácil da
ganância. Inúmeras fraudes surgiram para trazer dinheiro fácil,
explorando também a ciência eletromagnética que floresceu ao
mesmo tempo. Alguns, na maioria das vezes motivados por um
desejo sincero de pesquisa, tentaram aplicar o método científico
às faculdades emanadas da alma, dando origem ao ocultismo.

*****

Liber Lucis – 81 – Livro da Luz


Da Magia ao Misticismo

Os Rosacruzes observaram cuidadosamente os efeitos que


tais métodos produziam, à medida que se espalhavam para as
massas. Aqueles que não dedicaram uma preparação adequada
à aplicação de tais métodos acabaram sendo engolidos por
eles, tendo confundido os meios com os fins e cedendo à
ganância e à exigência de vantagens pessoais às custas de usar
conscientemente as faculdades recém-adquiridas em benefício
de seus semelhantes e de toda a humanidade. É por isso que,
durante a primeira metade do século XX, soubemos que o
“Colégio Superior” da Ordem Rosacruz se reuniu na Europa,
decretando o fim dos métodos educacionais anteriores, pois tais
métodos educacionais mais antigos começaram a se difundir
para fora dos canais oficiais e, sem o processo educacional
adequado, acabaram perdendo a sua eficácia.

Assim, os Rosacruzes reorganizaram o corpo único de


conhecimento da Tradição sob a antiga e pura aparência de
misticismo. Adotou-se uma identidade clara e explícita, agora
livre da necessidade de se esconder da tirania, graças à liberdade
do contexto histórico conquistada nesse meio-tempo.

*****

A Abordagem Mística
A experiência mística também representa o apogeu de
cada caminho proposto no passado e a base do processo de
iluminação a que cada pessoa aspira. A abordagem mística
conduz à experiência direta e mais íntima da divindade e à
realização interior do quadro universal em que cada pessoa está
imersa e do qual faz parte. Essa constatação possibilita sentir
o vínculo íntimo que a alma de cada ser humano tem com a

Liber Lucis – 82 – Livro da Luz


do próximo. Esta é a verdadeira garantia de uma vida de paz
no planeta e no universo, pois, além das aparentes diferenças
entre as pessoas, os laços que nos unem permitem perceber
que todos fazemos parte de uma Alma Universal que assumiu
diferentes nomes ao longo da história humana e que somos
todos pequenas centelhas da mesma grande Fonte Divina.

Os métodos e práticas místicas, além de representarem


para muitos místicos o ápice da sintonia com a magnificência
e a beleza divina, nos ajudam a desenvolver e colocar nossas
faculdades espirituais latentes a serviço do bem-estar da
humanidade, em vez de usá-las para fins egoístas. Ao se colocar
a serviço do poder criador divino, despertam-se faculdades
outrora associadas à esfera do mágico, oculto ou milagroso,
sem colocar como meta, mas aceitando como efeito colateral
do trabalho sobre si mesmo.

O caminho místico possibilita viver experiências como as


que as grandes figuras da história tiveram e tentaram descrever,
ainda que dentro das limitações de uma linguagem finita
que não permite que a infinitude da experiência divina seja
expressa. O que pode parecer o abandono de certas ferramentas
utilizadas em séculos passados é, na realidade, uma escolha
consciente que permite colocar a Tradição sob uma nova forma
descritiva, acompanhada de maiores benefícios para aqueles
que a utilizam, cuja validade foi amplamente demonstrada
ao longo do último século, desde o tempo em que a “Ordem
Invisível” dos Rosacruzes construiu a Antiga e Mística Ordem
Rosae Crucis (AMORC).

Em seus manifestos do século XVII, a Ordem fazia referência


a uma reforma geral que o mundo precisava. Essa reforma diz
respeito à espiritualização de todos os campos da expressão
humana – científica, religiosa, política, filosófica, artística e

Liber Lucis – 83 – Livro da Luz


humanística – de modo que a Luz da alma humana, que é uma
emanação da própria divindade, pode guiar as escolhas a serem
feitas para o futuro. Esse objetivo ainda está vivo no trabalho
da AMORC, herdeira espiritual dos irmãos e irmãs do passado
que se dedicaram à causa.

*****

Da Elite aos Incluídos

Os manifestos do século XVII foram dirigidos principalmente


aos “instruídos” da Europa, mas o trabalho de união dos povos,
liderado pela AMORC, garantiu que a Ordem pudesse se
expandir pelo mundo. Hoje, as pessoas são membros da Ordem
independentemente da etnia, identidade de gênero, origem
social, nacionalidade ou convicção política. Isso inclui pessoas
de todas as religiões: cristãos, muçulmanos, judeus, hindus,
sikhs, xintoístas, budistas, animistas, agnósticos e outros.

Na Convenção Mundial da AMORC realizada na cidade


de Roma em 2019, testemunhamos a passagem do cargo de
Imperator de Christian Bernard para Cláudio Mazzucco.
Naquela ocasião, pessoas de 72 países estavam unidas na alegria
e no calor de estarmos juntos – percebendo que somos todos
centelhas da mesma Fonte Divina, uma experiência que derruba
os muros da separação e dá origem ao respeito uns pelos outros.
Este é um aspecto em que o trabalho humanitário da Ordem
Rosacruz é reconhecido e que permite que a paz se espalhe entre
os povos. Na mesma linha, o Liber Lucis é dirigido a pessoas de
boa vontade em todo o mundo, que sabem que é possível viver
em paz e harmonia.

Liber Lucis – 84 – Livro da Luz


Tu te elevas belo do horizonte do céu, ó Aton vivo,
origem da vida!
Tu nasces do horizonte,
Tu enches todas as terras com tua beleza.
Tu és belo, grande, radiante, elevado acima de todas
as terras.
Teus raios ligam as terras ao limite de tudo o que
criaste,
Tu és o Sol, e tu alcanças os seus limites.

Quão numerosas são tuas obras, embora ocultas à


vista!
Ó Deus único! Não há ninguém semelhante a Ti.
Tu és o Aton do dia, ó Senhor do teu movimento,
da existência de cada forma,
tu criaste... sozinho, tudo o que fizeste.

Fragmento do Grande Hino a Aton,


Akhenaton, século XIV a.C.

Liber Lucis – 85 – Livro da Luz


Um Chamado à Humanidade para
Compartilhar a Luz Divina

Na história alegórica A Nova Atlântida, escrita pelo filósofo,


estadista e místico rosacruz do século XVII, Sir Francis Bacon,
alguns viajantes se perdem em um navio “no maior deserto da
Terra”, mas descobrem uma ilha remota e desconhecida. A ilha,
chamada Bensalém, que significa “o herdeiro da paz”, é habitada
por uma misteriosa fraternidade que tem conhecimento
avançado em todas as áreas das mais altas e refinadas artes,
ciência e filosofia. É um lugar utópico permeado pelo cultivo
da serenidade.

Todo o livro é uma alegoria e tem referências ocultas ao


significado mais profundo da fraternidade rosacruz. Há uma
parte da história em que se fala de um antigo rei da fraternidade,
chamado Salomão (que provavelmente representa o mais alto
papel de cargo ou qualidade na hierarquia da fraternidade).

A casa de Salomão é conhecida como o “olho da fraternidade”.


Imagine por um momento qual é o significado desse “olho da
fraternidade”. É um olhar atento, um olhar atencioso, um olhar
amoroso ou um olhar perspicaz? É todo perceptivo no sentido
de que sabe quando alguém está realmente agindo como um
membro da fraternidade e não apenas encenando e depois,
nos bastidores, agindo de uma maneira totalmente diferente e
inédita?

A história continua contando que, como uma marca do


antigo ofício de Salomão, a cada 12 anos dois navios de três
irmãos são autorizados a navegar além das águas da coroa para
dar conhecimento a outras nações. A história então afirma:

Liber Lucis – 86 – Livro da Luz


Eles mantinham o comércio não por ouro, prata
ou joias, nem por qualquer outra mercadoria, mas
apenas negociavam na primeira criatura de Deus,
que é a Luz.

Em outras palavras, eles apenas trocavam a Luz Divina. Isso pa-


rece nos apontar para o significado mais profundo da fraterni-
dade. Deve-se notar que os principais protagonistas de A Nova
Atlântida são um padre, um rei e um filósofo. Essas três figuras
simbólicas talvez representem as qualidades anímicas de devo-
ção, dignidade e amor à sabedoria que os irmãos e irmãs da Ro-
sa-Cruz aspiravam a alcançar como uma fraternidade mística.

*****

A Fraternidade

Podemos considerar a fraternidade como uma atividade das


leis Cósmicas que envolvem razões espirituais para que um
determinado grupo de pessoas, homens e mulheres, se reúnam
em um determinado tempo, lugar ou evento. Um ressonante e
forte sentido de fraternidade como “Comunidade Rosacruz” é
uma fonte constante da mais elevada boa vontade para com o
futuro e pode iluminar os tempos futuros. De fato, essa luz pode
ajudar verdadeiramente os estudantes sinceros do Caminho
Rosacruz nos momentos de grande necessidade, quando estão
sofrendo grandes desafios.

O efeito de energias fraternas profundamente harmoniosas


nas atividades grupais rosacruzes não pode ser subestimado.
Todas as aspirações de trabalhar juntos de forma colaborativa
e harmoniosa constroem uma atmosfera de afiliação mística
coletiva, transcendendo a demanda pessoal do ego e dando

Liber Lucis – 87 – Livro da Luz


um legado significativo para o futuro. Muitos são os dons
transmitidos, carregados sob as asas do sentido de proteção
do grupo, da qualidade vibracional de sua atmosfera fraternal
e guiados pela lâmpada do cuidado sincero desses membros
pelos laços espirituais que crescem do trabalho conjunto. É um
ato de fraternidade para ajudar a despertar a realidade espiritual
interior dos outros, criando condições ótimas em um ambiente
fraterno.

Quando a fraternidade grupal está unida em reverência


à Mente Divina refletida na fraternidade e está em harmonia
com a Egrégora Rosacruz, ela pode ser um canal para algumas
das mais altas sabedorias dos Mestres da Hierarquia Invisível
de nossa Ordem, e uma corrente viva da mais alta boa vontade
para com toda a humanidade e a Terra, atuando como fonte de
fraternidade universal ou comunidade universal.

*****

Serviço Contínuo à Humanidade

A fraternidade, através de seu serviço contínuo à humanidade


e a toda a vida, tece um caminho de troca de luz, vida e amor.
Como no sentido de A Nova Atlântida, de Francis Bacon, ela
“negocia a Luz Divina”. Considere, portanto, a ressonância
fraterna que reuniu uma combinação única de indivíduos
para estar ao lado uns dos outros, apoiar-se mutuamente no
aprendizado e nos desafios da vida, estar na Luz uns dos outros
e testemunhar sua “presença” mais refinada. Mesmo nos dias
mais solenes e sombrios de desafios individuais e coletivos, os
estudantes rosacruzes sabem que essa constância de linhagem
pode ser um lugar de profundo consolo. Estar sob essa luz
sempre foi uma fonte constante de alimento fraterno.

Liber Lucis – 88 – Livro da Luz


Reflitamos sobre algumas qualidades mais essenciais da at-
mosfera fraternal de um grupo rosacruz. Um novo aluno de
um grupo, ao tentar encontrar sua relação com essa palavra
“fraternidade”, pode se perguntar o que significa quando entra
pela primeira vez. Em primeiro lugar, espera-se que tome cons-
ciência de que uma fraternidade rosacruz pretende estar muito
além dos ideais de um clube social. A fraternidade rosacruz co-
meça no nível de uma apreciação sincera e dedicada dos ideais
rosacruzes, uma semelhança e uma alegria em sermos estudan-
tes juntos em um caminho de aprendizado espiritual.

*****

Fraternidade Mística

A esfera da consciência anímica de grupo pode se expandir e


crescer em direção a uma atmosfera profunda de “fraternidade
mística”. A fraternidade mística tem como núcleo mais
profundo, como foco acarinhado, a nossa natureza divina.
Busca qualquer oportunidade para nutrir ocasiões em que
experiências da Luz da alma são compartilhadas. Isto não é
apenas para os Rosacruzes, mas para toda a humanidade e toda
a vida na Terra, bem como para as almas que partiram e que
têm um sentimento de pertença à Egrégora da nossa Ordem, ou
para aquelas almas atraídas por estarem próximas por sentirem
a nossa forte vontade de fazer o bem.

A consciência de grupo, por definição, deve definir uma


complexidade maior do que a consciência singular e, portanto,
uma forma mais elevada de inteligência colaborativa. Vemos isso
no mundo natural como ecologia. No nível da guarda fraternal,
uma fraternidade mística nutre e protege inteligentemente
todas as oportunidades de se reunir para expressar qualidades
refinadas da alma. Em particular, valoriza o caminho da abertura

Liber Lucis – 89 – Livro da Luz


do coração para as energias altamente refinadas do Amor
Universal como um ato dessa fraternidade. Uma fraternidade
radiante e amorosa pode apoiar essas qualidades a florescer a
uma complexidade maior em um nível individual.

*****

A Comunidade Humana Universal

A comunidade fraternal desenvolve a arquitetura espiritual


da consciência de grupo e constrói seu ambiente sagrado de
forma deliberada. Qualquer pessoa que entra na atmosfera do
grupo é infundida com sua paz e sente que está em um ambiente
muito além do mundo mundano. Portanto, aproveitemos
alguns momentos para refletir sobre a fraternidade como a
Luz espiritual interconectada e palpável que transmitimos,
compartilhamos e trocamos (ou, nas palavras de Sir Francis
Bacon, negociamos livremente com o mundo). Reverenciemos
essa Luz fraternal partilhada e alarguemo-la à Luz de uma
fraternidade humana universal, de uma comunidade humana
universal e de uma Egrégora humana de uma hospitalidade
universal, e deixe-nos dar a ela o acolhimento de pertencimento
à fraternidade de toda a vida na Terra.

*****

Liber Lucis – 90 – Livro da Luz


Os Ensinamentos Rosacruzes Hoje
Os ensinamentos rosacruzes não interferem negativamente
na esfera científica ou religiosa do progresso individual; cada
pessoa é livre para acreditar no que sente interiormente. Certas
experiências são favorecidas, porque permitem a consciência
progressiva da realidade da qual todos fazemos parte. Portanto,
não é coincidência que entre os Rosacruzes se incluam pessoas
de todas as esferas da vida.

Não se trata de “acreditar” em algo, mas de vivê-lo.

Portanto, tanto as pessoas da ciência quanto as pessoas da fé


podem abraçar o ideal rosacruz e contribuir para a construção
de um novo mundo longe da superstição, do dogma, da
ignorância e do fanatismo. Aqueles que sentem a necessidade
de sua própria religião podem continuar a fazê-lo; e aqueles
que não se reconhecem em nenhuma religião estabelecida, mas
sentem que há algo além do que simplesmente temos diante
de nossos olhos, podem aderir à construção de uma religião
universal, baseada mais na compreensão das leis divinas e em
nossa conexão com elas do que na aceitação de um dogma.
Os ideais dessa religião universal colocam o máximo respeito
por todos os seres vivos, por todos os credos e pela Natureza
no desejo e na vontade de construir uma sociedade justa em
harmonia com a capacidade regenerativa do planeta.

A Terra é a nossa casa comum e é preciso aprender a viver


adequadamente nela, como fazemos em família, graças àquele
afeto subjacente que supera todas as dificuldades e se reconhece
como irmãos capazes de amar e ser amados. A AMORC mostra
que através de seus ensinamentos pode construir uma casa comum,
respeitando as diferenças de pensamento e abordagem da vida.

Aqueles que desejam em seus corações fazer parte da


fraternidade rosacruz podem acessá-la através da AMORC. Os

Liber Lucis – 91 – Livro da Luz


ensinamentos entregues aos alunos são estabelecidos em vários
níveis. O nível mais externo consiste nos materiais necessários
para o estudo pessoal, que pode ser feito em casa. Esse material
não é a Ordem, mas vem dela. O material não contém a verdade
revelada, mas simplesmente constitui alimento contínuo para
o pensamento. As respostas que cada pessoa fornece, através
de um trabalho que pode ser individual ou coletivo, permitem
que a consciência se expanda e acesse as câmaras invisíveis dos
Rosacruzes. O acesso a tais câmaras oferece ao experimentador
a vista que todos os místicos do passado puderam apreciar. O
místico Louis-Claude de Saint-Martin disse sobre isso que “todos
os místicos falam a mesma língua, pois vêm do mesmo lugar.”

Além do estudo individual há o importantíssimo trabalho


que ocorre em nível coletivo. Acrescentam-se trabalhos de
natureza simbólica e ritualística, bem como a dramatização
mística regular, por meio da qual são entregues elementos
educativos próprios da Tradição, o que permite aos estudantes
e pesquisadores rosacruzes estudar diferentes aspectos dos
“traços de personalidade” e compreender melhor quais aspectos
são um obstáculo para a construção de uma sociedade pacífica,
como o falso julgamento ou a falta de tolerância. O trabalho
coletivo permite tornar-se mais sensível ao elo invisível que
conecta todos os pesquisadores rosacruzes no mundo, hoje e no
passado, e com todos aqueles que têm afinidade com os ideais
superiores de vida e viver. O estudo comunitário ocorre quando
se aprende a ver o mundo sob outra perspectiva de harmonia,
beleza e afeto fraternal.

*****

O Estudo Ritual como Modo de Vida


O ritual é um aspecto essencial do ensinamento. As pessoas
hoje são acusadas de aprender essencialmente através da for-

Liber Lucis – 92 – Livro da Luz


ma discursiva verbal, seja ela oral ou escrita, mas este é apenas
um sistema de noções que podem ser facilmente transferidas
de uma pessoa para outra. Esse sistema de noções diz respeito
principalmente ao conhecimento objetivo ou àquela esfera de
subjetividade que pode ser descrita em palavras.

No entanto, o Cosmos é governado por um conjunto de


leis que escapam à razão comum, a maioria das quais são in-
visíveis aos sentidos. O conhecimento dessas leis Cósmicas
só pode ser transferido através da experiência. Para facilitar
essa experiência, os sábios construíram rituais baseados no
conhecimento da constituição humana invisível. Assim como
um piano é composto por várias teclas, e pela sequência
apropriada de teclas é possível tocar uma melodia em vez de
produzir ruído, da mesma forma a consciência humana pode
ser conduzida a certas regiões cósmicas através de comandos
apropriados que podem ocorrer durante um ritual.

Em todas as sociedades humanas, mas também na própria


vida privada, é possível observar um grande número de rituais
que permitem a realização de operações específicas. Até mesmo
o nascer do sol a cada manhã é um ritual da Natureza: o sol nas-
ce todos os dias, sempre do mesmo jeito; e a semente da planta
que recebe os raios solares cresce dia após dia. Da mesma for-
ma, aqueles que participam do ritual sempre experienciam as
mesmas palavras e ações, e, dia após dia, a Luz da alma faz a
semente interior crescer até germinar e produzir novos frutos.

*****

A Iniciação através do Ritual

Para aqueles que o desejam, o ritual é entregue através de


uma fase de passagem entre um estado e outro – um estado de
consciência e outro – é a chamada iniciação. É no contexto do

Liber Lucis – 93 – Livro da Luz


Naquelas reuniões secretas e iniciações da tradição
oral, longe dos olhos e ouvidos do mundo, aqueles
que podiam viajar por terra ou mar visitavam as
terras dos grandes portadores da Luz e seguiam seus
passos, como Pitágoras, Platão e Cícero.

Houve outros que deixaram seus corpos físicos e


viajaram para muito longe ou por transmissão de
pensamento. Observando as câmaras de iniciação
que outrora haviam sido guiadas pelos sacerdotes
das antigas escolas de mistérios do Egito, onde os
mistérios haviam sido revelados àqueles alunos bem
preparados, em lugares de profunda santidade.

Alguns receberam os mistérios naquelas pirâmides


que eram lugares de transmissão da Luz, como a
Grande Pirâmide, ou a de Unas, onde os antigos
escribas haviam esculpido o livro “Saindo para a
Luz” nas paredes. Ou em Edfu, onde o grande e
benfazejo Deus Hórus, representante do bem maior
e portador supremo da Luz do todo-criador, foi
honrado.

DRAMA LIBER LUCIS

Liber Lucis – 94 – Livro da Luz


ritual, seja realizado em um templo exterior ou no templo
interior, que a experiência mística, a preciosa Pedra Filosofal
da existência humana, pode ocorrer. Vimos, portanto, como
é possível usar o antigo método de iniciação e ritual para
transmitir perpetuamente conhecimentos que, de outra forma,
não teriam meios de serem transferidos.

A abordagem iniciática tem suas raízes nos primórdios da


consciência humana, mas seus frutos são apreciáveis no tempo
sempre presente, tornando-se um método educacional verda-
deiramente atemporal que pode fornecer as lições mais valiosas
para o homem moderno.

A sociedade que surgiu nas últimas décadas exige que tudo


seja alcançado de uma só vez, para que haja uma meta pré-es-
tabelecida e que ela seja alcançável o mais rápido possível. De
uma perspectiva consumista, o materialismo não poupa a es-
fera da espiritualidade, porque se pensa que basta pagar para
obter a iluminação. No entanto, o trabalho sobre si mesmo e a
contribuição que podemos dar aos outros é algo que continua
ao longo da vida.

O Caminho Rosacruz não é um “curso” cronometrado. Não


promete despertar poderes em um fim de semana e não é a
posse de um conhecimento específico: é uma forma de viver e
compreender a realidade da qual fazemos parte, colocando as
nossas faculdades ao serviço da construção de uma sociedade
melhor. A seriedade do ensinamento e do método da AMORC
permitiu-lhe ser a maior Ordem Rosacruz da Terra e tornou
possível transferir a sabedoria rosacruz de forma estável e du-
radoura por todo o mundo, espalhando prosperidade às muitas
almas encarnadas que trilharam o seu caminho.

*****

Liber Lucis – 95 – Livro da Luz


Mas de onde se originou a Luz? Esta foi a questão
transmitida na Tradição Primordial e nas câmaras
de iniciações. Ouçamos a voz cósmica através dos
sussurros do éter.
Éter, ó Divino Fogo, dá a vossa luz. Ó, grande
escuridão, mistério de toda a criação, tu conténs
tudo o que é luminoso, imutável e eterno.

Drama LIBER LUCIS

Liber Lucis – 96 – Livro da Luz


Conhece-te a ti mesmo

Templo de Apolo, Delfos

Liber Lucis – 97 – Livro da Luz


A Educação Rosacruz pretende ser não dogmática. Os
estudantes são livres para interpretar a Ontologia Rosacruz
de muitas maneiras diferentes, e muitas vezes de maneiras
profundamente pessoais, contribuindo para a fonte de novos
pensamentos. A reflexão nas páginas seguintes capta um
momento de inspiração, quase como se a “Alma Universal” fosse
experimentada como a voz profundamente pessoal, amorosa
e orientadora da sabedoria que podemos experimentar em
diferentes níveis de estudo, embora falada em nossa voz pessoal
e interior da alma.

*****

Os Sussurros da Alma Universal

Eu sou o eterno Ser que sussurra a Minha Presença


a vós em vossos delicados momentos da vida. Ah,
como aguardamos vossa resposta!

*****
Eu desejo projetar em vossos pensamentos a
sabedoria da experiência, em vosso coração a beleza
do amor, e mover poderosamente a vossa mão para
abrandar o sofrimento dos vossos irmãos e irmãs,
pois aos olhos deles, Eu me revelo.

*****

Liber Lucis – 98 – Livro da Luz


Eu Sou a doce melodia do cosmos que incute a
harmonia entre as leis universais que permeiam
todas as coisas; Nós destilamos do indeterminado
Éter a matéria da qual os corpos são compostos.
Como poderíamos fazê-lo evoluir se eu não
mergulhasse no reino da mudança? Muitos são os
tijolos que criamos e sustentamos para construir
as estruturas necessárias para manifestar todas as
glórias divinas.

Eu estou nas profundezas da matéria. Eu escondi


a semente da consciência para que ela possa
germinar, desenvolver-se e brilhar em seu mais
pleno esplendor, quando estiver pronta para
projetar minha voz, e amadurecer o suficiente para
que eu aja através dela.

Eu evoluo a consciência. Novas formas materiais se


unem para acomodar uma complexidade cada vez
maior do Ser. A flor da vida floresce no universo.
Inúmeros veículos de diferentes cores, formas
e aromas estão prontos para me receber e nos
eternizar reproduzindo-se!

Liber Lucis – 99 – Livro da Luz


Eu sou a vontade. Se vós estiverdes dispostos a
responder ao meu chamado, mostraremos a vós os
sublimes mistérios da polaridade e como, através
dela, podeis participar do poder criativo que
pertence à vossa divina origem.

Eu sou aquele que vos permitirá compreender a


origem da qual o Tudo se origina e para a qual todas
as coisas estão destinadas a voltar, como o princípio
e o fim da Criação se fecham sobre si mesmos na
totalidade do ciclo divino.

Eu aguardo uma resposta para a necessidade da


minha manifestação. Reunimos os elementos da
matéria e, com a minha vontade, moldamos o vosso
corpo. Não continueis a vos prejudicar comendo os
frutos da ignorância. Deixe-me curar-vos.

Liber Lucis – 100 – Livro da Luz


Eu estou chamando. Atendei ao meu chamado
e abri a porta do coração puro. Iremos vos levar
para o reino invisível. Ficareis surpresos com o que
vereis. A maravilha será a vossa força motriz e o
vosso limite. Não temais, pois Eu estarei convosco.

Eu sou o Amor. Se vós estiverdes dispostos a


abandonar a miragem errônea com a qual vos
identificais, alcançareis o plano cósmico onde
podereis vislumbrar os degraus que sustentam
o altar, e lá o casamento dos casamentos poderá
acontecer. O puro Amor divino florescerá como
uma rosa em vosso coração, e o que fizerdes
emanará a fragrância da graça celestial.

Eu sou a Unidade. Porque eu e vós seremos um, e


por meio de mim participareis da vontade divina.
A vossa vontade será a vontade de Deus, e o poder

Liber Lucis – 101 – Livro da Luz


criativo pode ser canalizado para o mundo material
para construir uma sociedade harmoniosa,
justa, pacífica e fraternal, onde a divindade possa
encontrar o seu lugar legítimo em todos os domínios
da expressão humana.

Eu Sou todos os caminhos, pois ao longo dos séculos


enviei alguns dos meus emissários para a Terra. Em
um mundo conturbado com guerras entre tribos,
eles alcançaram seus objetivos harmoniosos. Alguns
grandes grupos ainda dividem o mundo, mas vosso
destino Cósmico é o de unidade, e o campo está
sendo preparado para receber a nova revelação.
Eu uno, pois derrubo os muros da separação e da
distinção.

Eu sou o Deus do vosso coração, e assim foram


enviados guardiões do futuro que atravessaram os
milênios, preservando meus ensinamentos intactos
em sua integridade e pureza. De boca a ouvido, de
testemunho em testemunho, de alma em alma, a
experiência do casamento sagrado foi transmitida
à geração atual. Eu encontrei morada em uma
reunião dourada que tomou o nome de Rosa-Cruz.

Liber Lucis – 102 – Livro da Luz


Eu envio, portanto, o Profeta da Nova Era para
encarnar, não em um indivíduo, mas como um
conjunto de seres iluminados, cada um de uma região
diferente na qual nos manifestamos em séculos
anteriores. Reconhecei a multiplicidade das minhas
expressões em diferentes culturas. Compreendei
um dia que o mal que fazeis ao próximo, fazeis a
vós mesmos, e que o bem que espalhais no mundo
responde ao meu chamado. Aos olhos de quem
vós escolheis ajudar, eu me revelo. Não espereis a
salvação de fora, pela mão de outra pessoa, pois
ela não virá. Cada um deve fazer a sua, deve travar
a sua própria batalha. Nós fornecemos um cavalo
e vos tornamos um cavaleiro, mas ninguém pode
vencer a batalha com um “dragão” substituindo a
vossa sabedoria. Entre vós e eu há a totalidade da
experiência humana. Segue a minha voz e chegareis
ao Centro, onde a rosa floresce na cruz.

*****
Ó, meus filhos! Vós que alcançastes a Pedra
mística, as fileiras da augusta fraternidade que vos
apoiaram em vossa busca aguardam agora a vossa
contribuição para a conclusão da Grande Obra.
Um grande trabalho está prestes a ser realizado,
e exigirá o esforço conjunto de todos aqueles que
reverberam com o Ideal Rosacruz e fazem dele o
seu vexilo [estandarte].

Liber Lucis – 103 – Livro da Luz


Ó, vós que percebeis a minha voz, ainda que distante,
o chamado da divindade dentro de cada ser, falo-
vos através do coração, e é por isso que não me
podeis ouvir, pois fostes ensinados a ouvir apenas
com os vossos ouvidos. Abraçai os irmãos e irmãs
que trilharam o caminho místico diante de vós,
formando uma escola que ensina a se comunicar
comigo. Escutai o meu chamado, pois tempos
tumultuados estão no caminho da humanidade e
Eu sou o caminho para um futuro luminoso de paz,
harmonia e prosperidade.

*****

Vós sois a esperança de toda a humanidade; assim


como em cada gota está latente a totalidade do
oceano, assim também a vossa pureza determina
a pureza da humanidade. Que a Luz da Alma
ilumine todas as áreas da expressão humana! Se
aceitardes este propósito, estaremos convosco e
vos conduziremos aonde muitos tentaram chegar.
Vós podeis fazer muito mais do que o que vos é
ensinado. Assumi o Estado Rosa-Cruz e realizai
na Terra as mais altas glórias divinas para que a
humanidade possa cumprir seu destino cósmico.

Que Assim Seja!

Liber Lucis – 104 – Livro da Luz


Liber Lucis – 105 – Livro da Luz
Os Deuses não revelaram imediatamente todos os segredos
aos mortais, pois uma busca lenta é mais frutífera.
- XENÓFANES

Liber Lucis – 106 – Livro da Luz


PARTE III

Tradição, Tecnologia e
a Alma Humana
Encontrando a Luz em um Mundo de Tecnologia da
Informação

Liber Lucis – 107 – Livro da Luz


A Constituição Invisível do Ser Humano

Um conhecimento comum compartilhado pelas antigas


civilizações do Egito, Mesopotâmia, Índia, China, as Américas
e Europa é o da constituição invisível do ser humano, que,
em sua classificação mais simples, consiste em componentes
físicos e não físicos (espirituais). O componente intangível
inclui os pensamentos, as emoções e os estados de consciência
que se pode experimentar. Assim como existem caminhos que
conectam fisicamente dois lugares no espaço tridimensional, é
possível admitir a existência de uma quarta dimensão que pode
conectar o componente espiritual de duas ou mais pessoas
fisicamente distantes uma da outra. Se pudéssemos observar essa
quarta dimensão como se fosse física, ninguém se surpreenderia
com a possibilidade de uma troca de conhecimento entre duas
pessoas que vivem em lugares diferentes, pois a conexão entre
elas seria óbvia.

Arquétipos, ideias primordiais e a possibilidade de uma troca


telepática, ou de consciência como descrita pelo entrelaçamento
quântico, fazem parte desse caminho. Mesmo nesse último
caso, se alguém um dia provasse a existência de uma dimensão
conectando duas partículas distantes no espaço tridimensional
comum, a variação do spin de ambas as partículas seria óbvia,
uma vez que elas estão conectadas através dessa dimensão.
Quaisquer que sejam as explicações racionais que possam ser
encontradas para explicar um fenômeno, o fato é que há um
conhecimento comum sobre a constituição dos seres humanos,
da Natureza, do cosmos e da divindade.

*****

Liber Lucis – 108 – Livro da Luz


Os Seres de Luz – Um Ponto de Vista do
Antigo Egito

Nos templos e escolas de mistérios do antigo Egito, vários


sacerdotes e seus escribas não mediram esforços para descrever
os componentes físico-espirituais e as aparências do ser humano,
tanto em seus textos sagrados quanto nas paredes de tumbas
e templos. Em essência, parece que eles acreditavam que um
ser humano era feito de muitos corpos, ou estados do ser. A
“pessoa completa” era composta por corpos físicos e espirituais,
que eram os receptáculos para ter ciência, ou consciência, em
diferentes reinos do ser, tanto terrestre quanto celestial.

Nos textos egípcios antigos foram identificados pelo menos


nove corpos diferentes, desde o mais terreno até o mais
celestial ou espiritualizado. A maioria dos conceitos foram
transmitidos ao longo dos séculos durante os tempos egípcios
antigos, através de uma Tradição oral altamente secreta. Deve-
se notar especialmente que a familiaridade desses conceitos era
reservada a poucos selecionados, seja como o faraó, por meio
dos sacerdotes, seja por meio dos candidatos e iniciados aos
“mistérios”.

Na verdade, a palavra “misticismo” é derivada de uma


palavra grega que significa “ocultar”. Seu derivado significa
“um iniciado”. No mundo helenístico, um mystikos era um
iniciado de uma religião de mistério, e “místico” se referia a
rituais religiosos secretos. Esses rituais tiveram seu precursor
nas antigas escolas de mistérios egípcias.

Quanto aos vários componentes do ser humano, podemos


identificar na escrita egípcia antiga conceitos como Khat (corpo
físico), Kaibit (a sombra ou fantasma), Ba (geralmente descrito

Liber Lucis – 109 – Livro da Luz


como a alma da pessoa), Ka (o espírito, e em geral talvez mal
descrito como o duplo), Akh (corpo de luz), Sahu (corpo
totalmente espiritualizado como uma espécie de transformação
do corpo físico), Sekhem (um corpo de força de vontade a
ser usado para a atividade no mundo espiritual), Ab ou Ib (o
coração não material) e, finalmente, Ren (identidade única da
pessoa; seu nome individualizado). O tema central da metafísica
egípcia é que a vida de uma pessoa está intrinsecamente ligada
à vida divina.

Mais notavelmente, Ba e Ka precisavam se unir para alcançar


um corpo iluminado ou “Ser de Luz”, ou seja, Akh, capaz
de existir no mundo celestial. Assim, a essência individual
precisava se unir à centelha divina para criar o Akh. Trechos
do Papiro de Ani – que faz parte de uma coleção de textos
conhecidos como “O Livro da Saída à Luz”, de cerca de 1250
a.C., comumente conhecido como o Livro dos Mortos do Egito
Antigo – descrevem alguém que é espiritualmente elevado
como sendo vestido com uma “roupa nova”. A palavra Akh (ou
“Ser de Luz”) é escrita como um glifo mostrando um íbis de
crista, representando a formação do novo corpo espiritual de
uma pessoa como um corpo de luz.

*****

Os Impedimentos à Luz

O mundo ao nosso redor e seus espaços sagrados são tornados


sagrados por nossos pensamentos, palavras e ações. Sacralizar é
um ato de cuidar das possibilidades de a Luz Divina ser revelada
em qualquer situação e fazer com que ela seja percebida, a ser
sentida movendo-se entre as pessoas, a crescer dentro de ideias
e aspirações. No ato de sacralizar criamos aquelas atmosferas
espiritualmente belas nas quais experimentamos a consagração

Liber Lucis – 110 – Livro da Luz


de nossos corações e mentes, preparando-nos para transcender
as limitações do tempo e do espaço.

Esses espaços sagrados não servem apenas às necessidades


funcionais da vida, mas permitem que seus participantes se
elevem acima dos níveis mundanos de consciência para a
criação de uma conexão com um plano superior de consciência
dentro de si mesmos.

O místico dentro desses ambientes precisa se proteger contra


impedimentos que impeçam sua sintonização com esses planos
superiores de consciência. O buscador precisa estar ciente de
que, se não estiver alinhado a essas vibrações harmoniosas, isso
impedirá os esforços para construir conexões espiritualmente
belas e atmosferas refinadas, e impedirá nobres esforços.

Na criação desses espaços sagrados, os místicos precisam


se precaver contra abrigar pensamentos de vaidade, inveja,
inconstância, falso julgamento e insinceridade por causa de
sua propensão a impedir a conexão com planos superiores
de consciência. Algumas formas de emoções intensas podem
sufocar situações em que as pessoas estejam sinceramente
tentando compartilhar sua luz. Emoções fora de controle
podem agir como se soprassem com força uma vela, apagando
rapidamente sua luz.

É claro que só podemos nomear impedimentos da Luz,


porque a Luz Divina não pode ser destruída. Ela pode ficar
escondida, despercebida e ofuscada, como uma lâmpada
escondida por aqueles que, inadvertida ou deliberadamente,
tentam impedir sua aparência, reverência e cultivo entre as
pessoas.

*****

Liber Lucis – 111 – Livro da Luz


A Luz da Tradição

Este conhecimento tem sido chamado de Tradição pelos


estudiosos dessa área, cujas tradições populares são apenas
uma sombra que a luz da Tradição lança através do filtro da
ignorância e da superstição. É possível, portanto, identificar a
Tradição Primordial, à medida que ela se espalhou a partir de
alguns centros específicos e depois por todo o mundo, tecendo
seu caminho através dos vários povos de todas as épocas
e lugares. Tal Tradição não pode ser transferida através de
formas puramente discursivas ou verbais, portanto, não pode
ser transmitida através de discursos ou textos. A sabedoria
aprendida através da Tradição é baseada na experiência interior.

O conhecimento místico emerge das profundezas do ser


através de símbolos e mensagens únicas de poder, pureza e
beleza. Tal conhecimento é o que tem permitido às civilizações
evoluir cada vez mais em direção à sabedoria luminosa da alma,
transformando pessoas que confiavam na lei do poder físico em
pessoas nas quais emergiram uma moral e uma ética cada vez
mais refinadas.

A natureza cíclica dos acontecimentos leva a inevitáveis


períodos de obscuridade, e a Tradição imperecível representa
a esperança da humanidade de emergir deles. Os sábios
antigos, para facilitar a transmissão desse conhecimento,
compartilhavam símbolos e criavam rituais. Símbolos e rituais
ilustram – de forma visível e tangível – as leis superiores da
criação e a harmonia que unem os diferentes reinos natural,
humano e divino, revelando o vínculo íntimo entre o que, em
sentido estrito, é o microcosmo e, no amplo, o macrocosmo,
que são ambas diversidades aparentes de uma única realidade.
A Tradição permite que as pessoas percebam, compreendam

Liber Lucis – 112 – Livro da Luz


e façam suas próprias leis Cósmicas que regem a harmonia
universal, permitindo-lhes melhorar suas próprias vidas e, com
esse exemplo, influenciar a vida de outras pessoas que buscam
a mesma coisa, levando progressivamente a uma sociedade
melhor.

*****

Liber Lucis – 113 – Livro da Luz


Tradição e Tecnologia – Um Reencontro?

As seguintes palavras foram escritas na dedicatória de uma


edição de 1857, de A Sabedoria dos Antigos, exemplificando o
enigmático estilo místico-filosófico-científico rosacruz de Sir
Francis Bacon.

Pois se o tempo for considerado... A parábola


sempre foi uma espécie de arca, na qual as porções
mais preciosas das ciências foram depositadas; é a
filosofia, a segunda graça e ornamento da vida e da
alma humana.

Como muitos dos textos metafóricos de Bacon, essas


palavras provavelmente aludem a áreas de investigação que
são um porto e uma ponte para a sabedoria espiritual que foi
transmitida do mundo antigo.

Liber Lucis – 114 – Livro da Luz


Em seu contexto, Bacon sugere que o amor à sabedoria,
a beleza da vida e a alma humana são três receptáculos que,
como parábola, ocultam o conhecimento mais precioso da
magnificência do universo. Bacon foi um grande defensor da
metodologia indutiva, usando experimentos e observação
para obter informações sobre verdades universais escondidas
nos mistérios da Natureza. Ele sentia que esse conhecimento,
“a sabedoria das eras”, também estava oculto nas mitologias
antigas.

Os métodos baconianos apoiavam a filosofia natural e a


tecnologia a serem usadas de forma otimista para a melhoria
da humanidade de qualquer época. Novos métodos científicos
e tecnologias poderiam ser informados e contribuir para a
sabedoria das eras. Embora a Tradição e a tecnologia no século
XXI sejam os amigos mais improváveis, parece que em seus
dias inocentes no mundo antigo eles jogaram bem juntos.

*****

Os Males Destrutivos da Tecnologia

Hoje, a humanidade em escala global está experimentando


um alerta sobre os males destrutivos da tecnologia sobre ela.
Então, o que deu errado? Os tecnoeticistas apontam que a
tecnologia da informação está produzindo um cenário sombrio,
de arrastão de dados e falso de ilusões com a capacidade
de hackear a mente de uma pessoa. Os algoritmos usados
na tecnologia da informação podem prever o que você vai
fazer, como se sente e como vai agir. Os supercomputadores
por trás dos megadados de TI (tecnologia da informação),
particularmente as mídias sociais e os aplicativos, são como um
olho que tudo vê. A tecnologia da informação até “conhece você
melhor do que você mesmo se conhece”.

Liber Lucis – 115 – Livro da Luz


A capacidade da tecnologia em manter os pensamentos de
uma pessoa distraídos e dispersos abriu uma caixa de Pandora:
ela corrói a capacidade de concentração, com a consequente
perda de muitas faculdades, como memória e criatividade,
e pode causar problemas de saúde mental. Ao olhar em seus
olhos ou prever seu próximo clique, a tecnologia de tela pode
saber sua frequência cardíaca e níveis de estresse, e se você
está propenso a fazer uma compra impulsiva. Nossos telefones
rotineiramente coletam nossos dados de voz, armazenam-os
em um servidor distante e os usam para fins de marketing.
Esse fato foi mantido em sigilo por algum tempo, mas está
se tornando de conhecimento geral. Tudo o que dizemos está
sendo armazenado e analisado, e reaparece como um anúncio
em outro dispositivo vinculado à sua identidade.

Os tecnólogos morais também afirmam que aqueles que


desejam lucrar com o hackear dos pensamentos, das palavras
e dos atos de uma pessoa, podem fazê-lo facilmente, como um
truque de mágica. Se o aspecto moral da tecnologia deve ser
questionado pelo indivíduo, ele também deve ser questionado
em relação à evolução futura da humanidade e da Terra.
O cientista social e filósofo da tecnologia Rocci Luppicini,
escrevendo sobre a ética da tecnologia, afirma que a consciência
tecnológica tornou-se parte da evolução da consciência da
humanidade. Luppicini descreve as características integrativas
da consciência tecnológica como assimilação, substituição
e conversação. A assimilação permite que experiências não
familiares sejam integradas com experiências familiares,
enquanto a substituição permite que experiências complexas
sejam estruturadas e compartilhadas com os outros, e a
conversa coloca um observador dentro da consciência de um
indivíduo. Em suma, isso gera uma ilusão de tempo e espaço
compartilhados, uma espécie de ilusão de unidade. Do ponto
de vista de milhares de anos em formação, é fácil sentir que a
tecnologia perdeu completamente a sua inocência.

Liber Lucis – 116 – Livro da Luz


Imagine, então, o som assombrosamente belo de uma
corneta antiga primorosamente trabalhada. Essa tecnologia
tinha uma razão de existir e um valor que era muito mais do que
um propósito funcional. Ela foi criada com imagens mentais
para tocar profundamente na beleza da vida, para exemplificar
a importância da sabedoria tradicional e para tornar tanto o
tocador de corneta quanto o ouvinte receptivos às agitações
internas de sua alma. É inconcebível que qualquer coisa
moldada no mundo antigo tenha sido feita sem uma relação
com algum aspecto do mundo divino ou sem uma tradição que
orientasse seu valor ético na sociedade.

O enigma da inocência da tecnologia sendo perdida reflete


um desafio mais profundo pela frente, a saber, o de restaurar
a reverência em qualquer processo de criação mental. O
processo que leva as ideias à forma, passando da visualização
à manifestação, é aquele que, de acordo com graus maiores ou
menores de habilidade, pode recorrer à essência de uma força
criadora divina da vida. A antiga inocência da tecnologia foi
alimentada em um mundo de simples admiração por toda
a criação e naturalmente aproveitada nisso. Imaginação,
inspiração e intuição eram sentidos refinados que as pessoas no
mundo antigo provavelmente usavam ao criar qualquer coisa.
Os aspectos práticos e mecânicos se uniam aos imaginativos e
artísticos, muito distantes das questões econômicas.

*****

O Monstro da Supervigilância, TI
O alarme levantado sobre o monstro de supervigilância TI
tem uma ironia para os místicos. Se os supercomputadores
“sabem mais sobre nós do que nós sabemos sobre nós mesmos”,
então certamente a verdadeira questão é sobre o indivíduo não
se conhecer muito bem. Se as pessoas pudessem se conhecer

Liber Lucis – 117 – Livro da Luz


melhor, elas usariam com mais frequência seus sentidos
internos, como a intuição, e observariam os truques que um
supercomputador está jogando sobre elas, incluindo se algo é
falso ou não.

Outra ironia é que, se as habilidades internas de observação


das pessoas recebessem um desafio neste jogo, talvez isso
pudesse levar ao desenvolvimento de sentidos psíquicos mais
afinados e a se tornar mais resiliente mentalmente. Os algoritmos
das mídias sociais e aplicativos de comunicação podem ser
inteligentes, mas será que serão inteligentes o suficiente para
entrar em nossa vida anímica e penetrar nos sentidos psíquicos,
ou ser capazes de influenciar as dimensões eternas de nossa
natureza divina? Essa questão é semelhante à questão de saber
se a tecnologia será capaz de criar a centelha da vida.

As tecnologias online que roubam a atenção de uma pessoa


o fazem recorrendo a seus sentidos exteriores e objetivos,
ligados ao espaço e ao tempo. Eles manipulam como o espaço e
o tempo são percebidos. Uma pessoa cuja energia emocional é
alimentada, como se fosse através de um cordão umbilical para
um telefone, enquanto espera por “curtidas” nas redes sociais,
está sendo propositalmente obrigada a esperar por algoritmos,
enquanto seus pensamentos estão propositalmente espalhados
por vários “leads”, a fim de direcioná-los para pontos desejados,
em vez daqueles lugares que escolheriam ir.

Essa situação é o oposto das formas de pensamento focadas e


da energia emocional direcionada para atividades e habilidades
psíquicas sobre as quais aprendemos tanto no ensinamento
rosacruz. Deve ser possível ver como a manipulação ocorre
em nossos níveis físico, emocional e mental do ser. Deve ser
possível observar como um supercomputador utiliza as fases
ativa e passiva de nossa consciência. Além disso, as informações
dadas em dispositivos inteligentes podem afetar a consciência

Liber Lucis – 118 – Livro da Luz


cultural da sociedade, mas não podem afetar nossa consciência
inata e verdadeira.

Como místicos, podemos nos consolar no pensamento de


que nossa natureza divina está livre do olho que tudo vê dos
supercomputadores e está protegida no reino do que realmente
importa. No entanto, ao mesmo tempo, os místicos rosacruzes
não podem ficar simplesmente desapegados de ajudar na
situação daqueles que estão sendo manipulados.

*****

Um Apelo para o Uso Ético da Tecnologia

Um apelo rosacruz possivelmente precisa ser desenvolvido


para inspirar o mundo a usar a tecnologia da informação
de maneiras edificantes e refinadas, evitando qualquer
empobrecimento espiritual e discriminação que possam ser
causados.
Quais são as maneiras pelas quais os místicos podem
contribuir idealista e otimistamente para a elevação e
refinamento no uso da tecnologia? A tecnologia da informação
é simplesmente um marketing e ferramenta de comunicação,
ou devemos considerar novas maneiras pelas quais a
tecnologia pode contribuir para a nutrição espiritual em vez do
empobrecimento espiritual? O que precisa de proteção contra
a invasão da vigilância tecnológica? Os ambientes rituais que
as pessoas prezam como sagrados precisam ser cada vez mais
protegidos e fortalecidos para serem os portos e as pontes para
a sabedoria espiritual e para a resiliência no século XXI?

Voltando às ideias de Bacon sobre tecnologia e investigação


científica em sua aplicação prática e uso sistemático, a
criatividade humana era uma parte instrumental de “um jogo”,

Liber Lucis – 119 – Livro da Luz


e a observação cuidadosa era comparada a um ator habilidoso
revelando tudo o que Deus havia ocultado. Seja um objeto,
um instrumento ou um conjunto de princípios, qualquer coisa
criada pelos seres humanos poderia ser filosoficamente elevada
e apelar para a linguagem de nossa alma para refletir a beleza
da vida. A sabedoria tradicional, particularmente a metáfora
e o simbolismo, poderia ser chamada a nos ensinar sobre as
“qualidades e éticas” necessárias para revelar as glórias divinas
em qualquer nova forma.

Então, o que exatamente é sobre a Tradição que é relevante


para os problemas da tecnologia do século XXI? A Tradição
é tecida a partir das crenças, ética, ideias e comportamento
esperados de uma cultura, grupo ou organização. Expressa em
costumes, festas, cerimônias e rituais, a Tradição em sua essência
usa uma linguagem de simbolismo. Através da participação,
passa a viver intimamente nos corações e almas daqueles que
formam uma relação de confiança com seu sistema de prática.

Por outro lado, a tecnologia da informação tem seu


valor construído na quantidade de conhecimento que está
sendo entregue ou trocado, também conhecido como dados
(informações quando processadas) ou metadados. O mundo
quantitativo dos metadados normalmente valoriza uma pessoa
como produtora e consumidora desses dados – ou seja, de acordo
com um neologismo, como um prosumer (“prossumidor”).

Um dispositivo inteligente tenta mudar a atenção de uma


pessoa o dia todo, como um pequeno barco jogado em um
oceano inquieto. Em contraste, a força da Tradição está na
qualidade de pensamentos, palavras e ações compartilhados
e dirigidos, que é um dos níveis mais altos que podem ser
experimentados durante um ritual de iniciação. A Tradição
constrói uma afinidade focal, como uma poça de luz, que
é reconhecível na vida interior de uma pessoa. A Tradição é
como uma ilha, um refúgio, reconhecível apenas para aqueles

Liber Lucis – 120 – Livro da Luz


que tiveram uma experiência viva de seu significado interior,
sem o qual corre o risco de se tornar uma tradição moribunda.
Seja em templo ou em sanctum, os lugares e portais de
iniciação exigem fundamentalmente um ambiente protegido e
oculto, uma área para focar altas vibrações e atenção interior que
abra os sentidos psíquicos. Esta é a sabedoria tradicional. Esses
ambientes contrabalançam as formas de pensamento dispersas
e inquietas do mundo atual e constroem uma experiência eterna
e sagrada entre os participantes.
O objetivo da iluminação através da preparação,
transformação e iniciação recorre aos recursos da parte mais
silenciosa e íntima do nosso ser. Mesmo do ponto de vista do
cérebro, atividades como ler um livro físico ou memorizar as
palavras de um ritual são mais profundas e calmantes, e são um
processo de aprendizagem melhor do que apenas ler a partir da
tecnologia de tela.

Os buscadores da sabedoria antiga sabiam que precisavam


entender como continuar a unir conhecimento com amor no
futuro para criar paz no mundo. À medida que a complexidade
no mundo material aumentou, especial e rapidamente através
da proliferação da tecnologia, os místicos continuaram
silenciosamente, em sanctum e meditações particulares, a
buscar a fonte de toda complexidade no conhecimento infinito
de um ser muito maior, o Deus do seu Coração.

*****

A Tecnologia Antiga e a Sabedoria da


Tradição

Voltemos à ideia de que a tecnologia antiga continha a


sabedoria da Tradição. Na “ciência dos ofícios” a tecnologia era

Liber Lucis – 121 – Livro da Luz


conhecida como techné para os gregos antigos, que geralmente
a consideravam “arte, habilidade e astúcia da mão”. Pois, nos
tempos antigos, a “tecnologia” era confiada à cabeça, ao coração e
às mãos de artesãos habilidosos, cuja arte era transformar os dons
do mundo natural em objetos, instrumentos e estruturas úteis. E,
juntamente com a prática do fazer (práxis) e a sabedoria prática
(phrónesis), a techné poderia contribuir consideravelmente para
a elevação da sociedade.

Todas as civilizações antigas que alcançaram uma alta


expressão de cultura parecem ter florescido a partir de uma
semente de certas escolas de pesquisa para aprendizagem e
produção. Enclausuradas das demandas dispersas da vida
cotidiana, dentro dos altos muros de tais escolas, ideais religiosos,
filosóficos e espirituais se uniram de mãos dadas com habilidades
práticas para criar o corpo e a alma da Tradição. Pode-se imaginar
que mentor e aluno entraram em um intercâmbio de confiança
e que, após anos de trabalho dirigido, o aluno se tornou um
exemplo vivo disso. Dessa forma, o corpo e a alma da Tradição
encontraram vida nova contínua. Na melhor das hipóteses, a
techné, desenvolvida com amor, poderia criar beleza espiritual
e incluir uma expressão das qualidades sutis da alma. Ainda
hoje, isso pode ser sentido quando vagamos silenciosamente por
arquiteturas antigas ou olhamos para os objetos e instrumentos
do mundo antigo nos museus.

Essas tradições antigas propositalmente estabelecem a barra


da integridade suficientemente alta para serem apropriadas
para agir como um canal para a força criativa divina. A vida
dentro dos muros do aprendizado tinha que acontecer em uma
atmosfera oculta, protegida e focada, livre dos olhos e ouvidos
distraídos do mundo exterior.

Ao longo dos séculos, dois caminhos surgiram naturalmente,


um para techné impulsionado pela necessidade e função e

Liber Lucis – 122 – Livro da Luz


outro impulsionado pelo desejo de refletir a imagem do divino
criador. Metaforicamente falando, techné começou a tomar
dois caminhos para fora do mundo antigo e para o futuro. Em
primeiro lugar, havia o alto caminho ao longo do qual techné
estava se esforçando para a expressão da beleza espiritual como
uma imitação das obras do criador. A outra era o caminho baixo
pelos vales do funcionalismo e do materialismo, movido pela
necessidade percebida. Nesse caminho, a tecnologia poderia
se tornar uma potência tanto para o produtor quanto para o
consumidor. A qualidade e a integridade da criação mental
se tornariam tão desvalorizadas quanto uma árvore gigante e
antiga recém-derrubada, aguardando seu destino final à sombra
das mandíbulas de uma máquina de produção.

No entanto, ao longo do caminho, a tecnologia impulsionada


pela funcionalidade e necessidade parece estar ganhando
muitos méritos. Ajudou a humanidade em sua luta inquieta
e curiosa para superar as fronteiras restritivas do tempo e do
espaço terrestres. Levou a humanidade muito além da porteira
da aldeia, fora dos limites da localidade, e entregou novas
liberdades: das humildes rodas de carroças e carruagens a navios
e instrumentos de navegação, passando por carros, aviões,
telefones e computadores, e tecnologias online capazes de nos
irradiar instantaneamente pelo mundo por meio de aplicativos
de reuniões virtuais. Esse tipo de tecnologia expandiu os
horizontes humanos e trouxe consigo a capacidade de sermos
mais globais.

A tecnologia pode ser reunida com a sua antiga amiga, a


Tradição, e ser mais bem informada pela “sabedoria das eras”?
Onde a tecnologia encontrará a sua bússola moral?

*****

Liber Lucis – 123 – Livro da Luz


Pensa continuamente no Cosmos como um ser
único, tendo uma substância única e uma alma única;
e pensa como tudo se resume a uma sensação única,
a Sua própria; como esse ser realiza todas as coisas
por um impulso único; como todas as coisas são
propícias a todos os eventos, e qual é o seu denso
entrelaçamento e sua conexão.

MARCO AURÉLIO

Liber Lucis – 124 – Livro da Luz


Acreditar “ainda” em alguma coisa e acreditar
“de novo” na mesma coisa são duas coisas muito
diferentes. “Ainda” acreditar que a Lua influencia
as plantas é um indício de tolice e superstição, mas
acreditar “de novo” nesse fenômeno é ter refletido e
é indicativo de uma visão filosófica.

- GEORG LICHTENBERG

Liber Lucis – 125 – Livro da Luz


O Maior Uso da Tecnologia

Nas últimas décadas, surgiu algo novo ao lado da vida


humana com o qual teremos que nos relacionar, algo que
direcionará a vida planetária para um futuro melhor ou pior, e
essa coisa é chamada de tecnologia eletrônica e da informação.
A lógica do lucro inescrupuloso aplicada a essa tecnologia
cada vez mais difundida pode não apenas representar um
desafio para a humanidade, mas também um perigo, se não for
devidamente direcionada e regulamentada. O futuro, embora
incerto, é modificável e, através dos pensamentos provocados
por este atual Liber – que esperamos que inspire aqueles
que sentem um chamado a participar no momento certo –
propõem-se algumas orientações para um futuro de maior
serenidade global. A estrela polar que guiará as escolhas críticas
ao longo do caminho da humanidade deve ser a Luz da alma,
o componente mais espiritual que habita em cada ser humano.

Ao longo do tempo, algumas tecnologias provaram ser mais


duradouras do que outras. Algumas delas foram desenvolvidos
séculos ou milênios atrás e ainda estão em uso hoje, afetando
profundamente a história da humanidade, mas outras se
revelaram meteoros que brilharam por alguns momentos
e depois desapareceram no ar. Com o advento da tecnologia
da eletrônica e da informação, assistimos a um florescente
nascimento e morte das tecnologias, mostrando-nos a
transitoriedade do que pertence à esfera temporal.

Algumas das principais tecnologias fundamentais que


moldam nossas vidas atualmente e no futuro previsível incluem
inteligência artificial, realidade virtual e aumentada, tecnologia
de edição de genes, nanotecnologia, biologia sintética,
computação quântica e neurociência. Essas tecnologias estão

Liber Lucis – 126 – Livro da Luz


se desenvolvendo em um ritmo incrível, transformando todos
os aspectos de nossas vidas diárias e de nossas sociedades. A
transformação da sociedade como a conhecemos por essas
novas e poderosas tecnologias terá impactos éticos significativos,
desafiadores, complexos e multidimensionais na humanidade.

Sem dúvida, essas tecnologias irão melhorar, bem como


ter impactos negativos em vidas humanas e outras. Para
muitos, essa tecnologia é percebida como uma externalização
da inteligência humana orientada por objetivos. Seguindo
essa lógica, parece evidente que essas tecnologias oferecerão,
de forma ampliada, tudo o que existe atualmente em nossa
consciência humana coletiva: qualidades progressivas positivas
e, certamente, nossos traços menos nobres. Uma transição para
uma sociedade global dominada pelo uso dessas poderosas
tecnologias exige, portanto, profunda contemplação, previsão
e colaboração global sustentada para garantir que ela sirva ao
bem comum da humanidade.

A humanidade encontra-se numa encruzilhada e muito


está em jogo. Neste momento, a humanidade deve reafirmar,
defender e aderir aos valores humanos universais fundamentais
que devem guiar a trajetória de desenvolvimento dessas
tecnologias fundamentais e emergentes.

A Inteligência Artificial (IA) não é nova. Um exemplo trivial


é o advento da secretária eletrônica na década de 1990, um robô
que roteava chamadas com base no que era dito ou inserido
numericamente.

Na década de 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, a IA


foi usada na tentativa de descriptografar e traduzir diferentes
idiomas. De fato, a criação do Dr. Frankenstein também pode ser
vista como uma forma de IA. Nos tempos de Thomas Hobbes,

Liber Lucis – 127 – Livro da Luz


o livro Leviatã aponta que, quando os humanos ensinavam os
pombos a carregar mensagens em papel enrolado, a mensagem
escrita era o ato de transmitir “inteligência” por meio de uma
coisa inanimada. Até os contos destacam conceitos como criação
e transformação; buscando autenticidade e humanidade; lições
sobre moralidade e responsabilidade; e o desejo humano de
vida e existência. A principal evolução distintiva dos sistemas
inteligentes é o autoaprendizado e a capacidade de melhorar
através da prática.

Na verdade, poderíamos ver nossa próxima revolução


industrial, como tudo o que pode ser criado, a partir de
tecnologias habilitadoras que agora produziram aprendizado
inteligente até a perfeição por bots por meio de práticas
implacáveis e repetitivas – o domínio do comportamento
humano por meio de inúmeros métodos iterativos de tentativa
e erro, que de outra forma teriam levado muito mais tempo
para avançar até este ponto. Pode-se dizer que demonstramos
que o tempo pode ser transcendido!

Sem dúvida, a inteligência artificial está moldando nossas


vidas de maneiras difundidas e onipresentes. As ferramentas
digitais tornaram-se parte integrante da vida quotidiana
e dos processos de tomada de decisão e terão certamente
consequências positivas e negativas para a nossa humanidade
comum. Os avanços na tecnologia de IA são inevitáveis e podem
ser benéficos. Por exemplo, seus usos são claros na saúde para
um melhor diagnóstico e tratamento de doenças, bem como na
medicina personalizada.

Liber Lucis – 128 – Livro da Luz


Ó, companheiro ser humano, onde estás? Ergue a
chama sagrada da tua verdadeira humanidade para
que Eu possa te ver de longe.

Aqui estou! Consegues ver a minha Luz?

O Livro da Luz só será compreendido por aqueles


que sabem que a cruz irradia com brilho e a rosa
floresce em toda a sua glória. O que é esta voz
sussurrando em meu ouvido?

- DRAMA LIBER LUCIS

Liber Lucis – 129 – Livro da Luz


Depois de ser tocada pelo Mistério, a humanidade
realmente se torna outra pessoa. Esta “alquimia
mental” já era praticada na antiguidade. Os rituais
dedicados a Adônis no Oriente Próximo, ou a
Osíris no Egito, ou a Orfeu nas ilhas gregas,
ou a Dionísio na Hélade [Grécia], envolviam
“iniciações”, ou seja, técnicas que possibilitavam
conhecer princípios sobre-humanos e a vida eterna.

- MAX GUILMOT

Liber Lucis – 130 – Livro da Luz


No entanto, apesar de seus inúmeros benefícios, está
ficando mais claro que nossas tecnologias nos mudam à
medida que usamos e interagimos com elas. Gradualmente,
estamos aprendendo que nossos pensamentos, emoções e
comportamentos podem ser alterados pelo que foi rotulado
de “efeito cibernético”. Também estamos aprendendo que a
dependência desenfreada de nossos aparelhos e dispositivos
pode minar nossa humanidade e a expressão de atributos
humanos, como empatia, compaixão e sociabilidade.

Sabendo que todos os sistemas da sociedade podem ser


aprimorados pela IA, e que a IA pode ser projetada para fins
utópicos e distópicos, há um consenso global crescente sobre a
necessidade do desenvolvimento ético da IA, e muitos grupos
estão surgindo para promover e apoiar a IA ética.

*****

Alma Universal e Colaboração: Agentes para


IA Ética

A percepção mística da humanidade é que ela é Una.


Cada ser humano é uma expressão e individualização da
Alma Universal e, portanto, devemos trabalhar juntos para
resolver os problemas existenciais que nos confrontam. Nossa
compreensão e aplicação da ética precisarão evoluir para que
nos forneçam uma estrutura ética viável, coerente e prática, que
nos capacite a entender, gerenciar e orientar nossa relação com
a inteligência artificial como seres sencientes.

Atualmente, os principais impulsionadores do desenvolvi-


mento de IA parecem estar dirigidos na busca do lucro e no
controle social. Por um lado, o desenvolvimento da IA parece ser
dominado por empresas poderosas motivadas principalmente

Liber Lucis – 131 – Livro da Luz


pela criação de riqueza para seus proprietários e, por outro
lado, determinado pela competição global pela supremacia
técnica e pela capacidade de vigilância dos governos de países
poderosos.

A crescente conscientização pública e as discussões sobre a


necessidade de desenvolvimento ético de IA são louváveis; no
entanto, isso não é suficiente. Apelamos à criação de quadros de
políticas públicas robustas, coerentes e adaptáveis para orientar
e regular o desenvolvimento e a implementação da IA de forma
a garantir os melhores interesses coletivos da humanidade.

Somente trabalhando em conjunto com todas as partes


interessadas – governos, empresas, instituições educacionais
e de pesquisa, sociedade civil, mídia e, claro, indivíduos –
trabalhando juntos é que a IA alcançará todo o seu potencial
para a humanidade em geral, tendo o bem de todos como
um valor central. O desenvolvimento cuidadoso e ponderado
da IA tem o potencial de levar a avanços em muitas áreas do
esforço para a melhoria das vidas humanas, em vez do atual
foco predominante na comoditização, na busca de lucro e na
concentração de seu uso para a acumulação de riqueza e poder
às custas do bem-estar social.

Para mudar o atual paradigma, uma educação holística


que dê peso a todos os aspectos da vida na Terra tem que ser
integrada em uma consideração de tudo o que fazemos.

A humanidade parece estar investindo pesado no desen-


volvimento das capacidades de máquinas e alcançou progressos
significativos nesse sentido. Por outro lado, o investimento
em investigar, entender, apreciar e aproveitar nosso vasto e
incrível potencial como seres humanos tem sido tristemente
negligenciado. Para que a condição humana seja melhorada em

Liber Lucis – 132 – Livro da Luz


todos os seus aspectos, incluindo o uso da IA, o ser humano
deve se tornar o centro das atenções. Há um vasto acervo de
potencial inexplorado e oportunidades para um progresso
significativo nos seres humanos, excedendo em muito as
oportunidades em IA.

Precedentes históricos indicam que nossas sociedades são


geralmente fracas em moral e ética. Como tal, sem um foco
deliberado na educação holística, não há garantia de que nossos
sistemas de IA serão melhores do que somos. Eles simplesmente
espelharão e amplificarão nossos enganos, erros, preconceitos,
estereótipos e preconceitos atuais.

Para sermos francos, a IA pode ser uma ferramenta poderosa


para resolver problemas em muitas áreas da existência material,
mas não é uma bala de prata para os problemas da humanidade.
Há aspectos da experiência humana que a IA não é adequada
para abordar e, na euforia dos avanços recentes, parece haver
uma falta de consciência de tais limitações. Nos domínios do
comportamento humano, das relações pessoais e das interações,
esses limites podem representar problemas significativos.

*****

A Primazia das Considerações Éticas no


Desenvolvimento da IA

As considerações éticas deveriam ser parte integrante da


produção de IA desde o início, em vez de um complemento
depois que os produtos de IA já foram desenvolvidos e lançados
nos mercados. Isso exigirá que o atual foco intenso de engenharia
na formação de criadores de tecnologia de IA seja aumentado
com um currículo mais holístico que inclua treinamento em
filosofia e humanidades.

Liber Lucis – 133 – Livro da Luz


O desenvolvimento da sofisticação filosófica, em pessoas que
projetam sistemas de IA, é essencial para o desenvolvimento
da compreensão ética profunda, necessária para fazer produtos
de IA que proporcionem bem social e protejam o bem-estar da
humanidade em um mundo tecnologicamente saturado.

Com as novas liberdades oferecidas pela IA surgem novas


responsabilidades, e é importante refletir sobre até onde a IA é
benéfica ou prejudicial para o bem-estar da humanidade.

*****

Um Mundo Artificial na Palma da Sua Mão


Somos capazes de diagnosticar doenças inspecionando o
interior do corpo humano. Conseguimos absorver a energia das
estrelas (pense no uso da energia solar) para realizar trabalhos
de vários tipos. Conseguimos colocar o conhecimento em
um meio localizado em um lugar abstrato e não especificado,
permitindo que outras pessoas no mundo o acessem (pense
na internet) – manifestando nossas ideias e soluções criativas
por meio de impressão 3D ou imprimindo uma mensagem em
uma mídia material para que outras pessoas leiam (pense em
CD-ROM, pen drives, discos rígidos e unidades ópticas). A lista
poderia continuar.

Embora os seres humanos contemporâneos possam certa-


mente associar cada um dos elementos descritos com o
correspondente exemplo tecnológico atual, os membros da Ordem
que estão em um estágio avançado no estudo dos ensinamentos
também podem reconhecer uma gama correspondente de
experiências ao longo do Caminho Rosacruz.

Liber Lucis – 134 – Livro da Luz


Deus do meu Coração, Deus da minha
Compreensão:
Obrigado por me dar a
oportunidade de ajudar os outros.
Fui verdadeiramente abençoado
por ter recebido momentos de ter
uma percepção profundamente amorosa
da humanidade e de todas as
formas de vida ao meu redor. Comecei
a conhecer a luz que vive dentro de mim,
como se uma rosa de serenidade
estivesse florescendo na parte mais íntima do meu
ser; é a Paz da minha alma.
Meus dias egoístas parecem absurdos,
pois abriste meus olhos para dias cheios
de beleza extraordinária,
e sua sabedoria majestosa
parece estar refletida em toda parte.

Que Assim Seja!

Liber Lucis – 135 – Livro da Luz


A maior parte desses desenvolvimentos tecnológicos foi
possível a partir da descoberta do transístor e seu uso desde
a década de 1950, mas a essência dos materiais de estudo da
AMORC foi escrito várias décadas antes da revolução da
tecnologia eletrônica, o que significa que nossos ensinamentos,
que são os da Tradição, anteciparam significativamente o que
se manifestaria mais tarde. Sabemos que nem todo o nosso
conhecimento ainda foi implementado por meio da tecnologia,
e que a ciência ainda precisa dar alguns passos em seu curso
antes de poder demonstrar certos princípios que o misticismo
preservou por milênios. Mas também sabemos que é apenas
uma questão de tempo.

Muitos seres humanos estão hoje totalmente imersos na


tecnologia, dia e noite, reduzindo sua interação física com a
vida. Inúmeros estudos estão surgindo sobre os efeitos colaterais
do abuso da tecnologia, mostrando que o uso constante de
telas afeta negativamente a liberação natural e equilibrada
de hormônios do bem-estar, como dopamina, serotonina,
endorfina e ocitocina. Esses hormônios são estímulos que o
corpo considera positivos, e sua superestimulação contínua
treina a mente subconsciente para exigir ainda mais o uso da
tecnologia, a ponto de levar a um vício do qual pode ser difícil
escapar.

Assistimos, assim, a um fenômeno em que a tecnologia,


com as suas intenções originais de aproximar as pessoas, está
efetivamente afastando-as. Os vícios em tecnologia podem
causar uma ênfase excessiva de relacionamentos “distantes”
e uma sub-ênfase de relacionamentos locais, causando
isolamento. Se houver uma tendência geral na sociedade
para tal desequilíbrio, isso pode levar a um mundo em que o
individualismo é cada vez mais pronunciado, em detrimento da
vida social e do legado de suas experiências poderosas.

Liber Lucis – 136 – Livro da Luz


Com o mundo em um telefone na palma da mão, podemos
criar uma realidade fictícia onde podemos acreditar que
podemos ser quem quisermos ser, mesmo que não sejamos
realmente essa pessoa. A vida, ao contrário, tende a nos
colocar em contato com aqueles com quem sentimos afinidade,
mas também com aqueles com quem não sentimos interesse
ou mesmo aversão. A vida normal e interativa nos obriga a
trabalhar em nós mesmos para nos tecer harmoniosamente
no tecido social, mas, segurando o mundo na palma da mão,
escolhemos instantaneamente com quem entrar em contato e
com quem excluir.

Podemos criar um mundo ideal de conto de fadas em que


todos são o rei/rainha, o herói, o santo, o iluminado, sem
olhar para a realidade dos fatos. Também podemos ver como
o exibicionismo desenfreado – por exemplo, para mostrar
aos outros o quanto se está acima deles ou o quanto se é mais
feliz do que eles – pode resvalar para formas egocêntricas de
personalidade que distorcem a percepção da realidade à sua
volta, criando crenças errôneas e, às vezes, atitudes criminosas.

Além disso, os algoritmos que as grandes empresas de


informática desenvolveram para perfilar os interesses dos
usuários podem potencialmente levar a aberrações cognitivas,
se fizerem as pessoas acreditarem que o mundo inteiro é como
elas e que, portanto, esse mundo artificialmente construído,
adaptado a elas, é a única realidade do mundo ao seu redor.

É claro que os problemas que enfrentamos na tecnologia da


informação e no mundo digital são apenas mais exemplos do
problema antigo que surge quando algo criado por pessoas se
torna levado pela ganância e pelo desejo de poder – incluindo,
por exemplo, dogmas religiosos, propaganda e até mesmo
publicidade em mídia impressa não digital.

Liber Lucis – 137 – Livro da Luz


Poderíamos argumentar que a internet, tendo agora chegado
a todos os cantos da Terra, satisfaz uma sede comum que tem
sido lamentada por muitos filósofos desde os tempos antigos,
a saber, a sede pelo conhecimento instantâneo por meios
superficiais que permanecem apenas na parte rasa das questões
sem nunca se aprofundar nelas e, assim, levando a uma “ilusão
de conhecimento”. Pesquisas fáceis ao alcance de todos levam
facilmente a uma distorção cognitiva na qual se tem a ilusão de
conhecer um assunto melhor do que muitos outros, enquanto
o conhecimento verdadeiro e duradouro pode levar não apenas
anos de estudo, mas também anos de experimentação de campo.
A indulgência com a tecnologia pode afastar os pesquisadores
da experimentação dentro das leis Cósmicas e dos aspectos
mais espirituais que aguardam para serem alcançados.

O sistema de notificações contínuas em nossos telefones e


computadores interrompe o fluxo de pensamentos que levam
às profundezas do que se quer fazer, perturbando a mente da
pessoa desafortunada, enquanto alimenta o vício e se opõe a
qualquer processo criativo que exija silêncio e concentração em
um único tópico.

O conhecimento acontece quando se toca na profundidade


das questões – explorar a profundidade da Criação requer
meios especiais. A velocidade com que as novas tecnologias se
impuseram na vida das pessoas tem sido muito maior do que
a adaptabilidade gradual, duradoura e desdobrada de seu eu
interior. Um componente da consciência humana se expande
rapidamente em um corpo novo e desconhecido, sem que os
outros componentes do Ser sejam capazes de contrabalançar o
fenômeno.

Os efeitos dos primeiros desenvolvimentos da tecnologia


da informação podem ter tido efeitos adversos sobre uma

Liber Lucis – 138 – Livro da Luz


geração, talvez resultando em um preço elevado e contínuo
em termos de relações humanas. Curiosamente, parece haver
um movimento emergente nas próximas gerações, reagindo à
primeira onda de tecnologia que experimentam na vida, em
busca de cada vez mais momentos de silêncio, recolhimento e
encontros presenciais. Mas as possibilidades reais do Ser são
muito maiores se devidamente pesquisadas e desenvolvidas.

O frenesi foi introduzido em todas as áreas, até mesmo no


entretenimento. Percebeu-se que, para manter a capacidade de
atenção altamente engajada, a velocidade deve ser usada, pois
a lentidão leva à distração, resultando em ganhos perdidos.
Assim, tudo está se tornando mais rápido. O tempo de atenção
dos seres humanos está diminuindo vertiginosamente,
tornando mais difícil não só estudar, mas também assistir a
um filme inteiro ou a um esporte. As pessoas estão cada vez
mais ficando na crista da onda sem investigar o baú do tesouro
que está no fundo dela. O resultado é uma deterioração geral
das capacidades cognitivas e culturais e da autoconsciência da
própria condição interior. Chegou-se ao ponto de adormecer
imerso na tecnologia.

*****

O Contrapeso das Práticas Espirituais


Diárias

A Tradição ensina que três períodos específicos são impor-


tantes para as atividades espirituais diárias: antes de adormecer,
durante o sono e ao acordar.

É importante perceber que, por meio da tecnologia, é possível


transferir informações (ou seja, os aspectos mais externos ou
exotéricos do conhecimento), mas a informação certamente

Liber Lucis – 139 – Livro da Luz


não permite adquirir sabedoria, pois desenvolvê-la requer
experiências de vida que englobam alegrias e dificuldades –
justamente aquelas dificuldades que, com o mundo na palma
da mão, tentamos evitar.

A tecnologia filtra os aspectos orais da Tradição, que são


aspectos que exigem proximidade física para serem transferidos.
No paradigma Mestre-Discípulo em uso predominantemente
no Oriente, a proximidade entre quem ensina e quem aprende é
essencial para a transferência de conhecimento e ocorre mesmo
sem o uso de palavras, através de mecanismos próprios do
Mistério ou, como preferimos chamá-los hoje em dia, escolas
místicas.

A abordagem rosacruz não usa o paradigma Mestre


exterior-Discípulo, acreditando que a presença de verdadeiros
Mestres ocorre muito raramente para produzir o crescimento
espiritual de um grande número de pessoas, e que muitas
vezes o paradigma Mestre-Discípulo resulta em sérios danos
produzidos por charlatães que, em vez de libertar os outros,
procuram acorrentar seus seguidores às suas próprias crenças
limitadas orientadas pelo ego.

Por outro lado, nada pode ser ensinado, a menos que


passe por um componente da introspecção humana, e é esse
componente que é o verdadeiro Mestre, o verdadeiro e único
iniciador – o que os Rosacruzes chamam de Mestre Interior.
Como é o caso do Mestre Exterior, para estar próximo do
Mestre Interior e destilar sua sabedoria, são necessários dois
momentos complementares: recolher-se em si mesmo durante
os períodos de meditação; e associar-se a uma organização
rosacruz genuina, na qual a figura do Mestre não se concentra
em um indivíduo, mas se distribui em tudo através de todos
que aprendem, por meio da partilha, a viver juntos em vida

Liber Lucis – 140 – Livro da Luz


comunitária. O Mestre Interior também é experimentado em
rituais, iniciações e exercícios no espaço sagrado de um Templo
Rosacruz ou no silêncio de um Sanctum do lar.

Grandes lições podem ser recebidas sem a transmissão de


palavras, vivendo uma vida exemplar com pessoas que receberam
momentos significativos de iluminação nas interações humanas.
Isso é algo que sensores e atuadores eletrônicos não conseguem
replicar, por mais que tentemos propor imagens gráficas cada
vez mais reais e tentemos replicar o toque e reconstruir cheiros.
Mesmo que se replicasse perfeitamente as sensações associadas
aos cinco sentidos físicos, há muito mais que se perderia. O
componente mais significativo nas relações é onde há uma
troca psíquica e anímica, que é justamente o que dá substância
e beleza às relações interpessoais. Ignorar esse aspecto destina
o ser humano a uma vida quantitativa, longe da felicidade da
autorrealização.

*****

Conhecimento Mais Profundo

O conhecimento mais profundo, aquele que é a fonte de


todos os outros conhecimentos, foi transmitido ao longo dos
séculos através da iniciação aos Mistérios. Essas escolas de
mistério da antiguidade no Egito, Grécia, Índia, Pérsia, antiga
Roma, etc. são bem conhecidas.

O acesso a esse conhecimento tornou-se o motor de onde veio


a sabedoria que impulsionou a evolução humana. As maiores
personalidades que fizeram contribuições significativas para a
evolução em nosso planeta, sejam filósofos, teólogos, artistas
ou cientistas, tiveram formação iniciática. Qualquer que seja o
avanço tecnológico que o ser humano possa alcançar, é preciso

Liber Lucis – 141 – Livro da Luz


garantir que o centro iniciático, de onde emana todo raio de
manifestação espiritual e religiosa, seja preservado.

Embora a internet permita que uma parcela da consciência


humana se estenda para fora do corpo, o processo iniciático se
dá por meio de um mecanismo invisível que não funciona por
meio da tecnologia, exceto em parte e, portanto, não em sua
expressão mais plena. O processo iniciático, deste modo, precisa
ocorrer presencialmente, longe da tecnologia. A Tradição quer
comunidades reais, não virtuais.

A Ordem não se furta ao uso da tecnologia, mas não quer ser


dominada por ela e adverte fortemente a dependência dela por
parte de seus membros.

É importante que todos estabeleçam os limites do próprio


uso da tecnologia, que não devem ser ultrapassados. Trata-se de
estabelecer suas próprias linhas vermelhas e limites pessoais, que
inspirarão respeito e emulação por outras pessoas ao seu redor.
A tecnologia funciona se seu propósito é reunir as pessoas para
experimentar em comunidade o que elas aprendem com a vida.
Se os isola e os relega a um mundo ilusório erguido em torno de
suas próprias personalidades imperfeitas, não está funcionando
como deveria. As escolas místicas de hoje têm a tarefa de
ensinar quais são as reais possibilidades e potencialidades do
ser humano, e capacitá-lo a exercê-las, contribuindo assim para
a evolução da humanidade ao longo dos séculos.

*****

Liber Lucis – 142 – Livro da Luz


LUCAS: É científico ocultar tesouros divinos em
uma história? Nossos Irmãos e Irmãs
Rosacruzes de outrora esconderam
descobertas científicas da Luz Divina,
em contos.

MONAS: Lembra do “olho da fraternidade”? Tu


já decidiste que tipo de olho é esse?

AURÉLIA: Um caloroso e amoroso, certamente. E
muito gentil!

LUCAS: Penetrando nas leis do universo,


em cada uma delas. Vê como meu
coração bate sem que eu o diga.
Vê como as estrelas se movem em uma
Grande Sinfonia.

MONAS: Sempre orientando, sempre atento!


Ninguém sai impune de falsas
demonstrações de bondade, quando
nos bastidores tramam a sua apresentação.
O Mestre Interior observa tudo.

DRAMA LIBER LUCIS

Liber Lucis – 143 – Livro da Luz


O Conceito de Alma Artificial

Em relação à inteligência artificial, fala-se apenas da


inteligência, da capacidade de calcular, do pensamento racional
que é direcionado para o alcance de um objetivo sem questionar
os efeitos que isso pode ter. No entanto, seria sem dúvida muito
mais interessante, útil e seguro se, em vez de inteligência,
falássemos de uma alma artificial. A introdução desse conceito
coloca o foco na capacidade de sentir, nos componentes
emocionais e alimenta um senso de ética e o caminho do
coração.

A IA, por si só, não tem atualmente uma vontade própria


e simplesmente executa uma tarefa que lhe é solicitada a
executar através de uma “experiência” que acumulou durante
uma fase de treinamento: um código simplesmente executa o
que lhe é pedido para implementar. Os resultados que podem
ser alcançados por uma IA dependem justamente de como
o treinamento é realizado. No entanto, o mundo científico
aguarda esse fenômeno chamado singularidade, no qual a IA se
tornará essencialmente autônoma, como uma criança pode ser,
em algum momento, em relação a seus pais.

Alguns resultados interessantes estão começando a ser


obtidos com a interação de múltiplas IAs entre si, e alguns
acreditam que as primeiras formas de autoconhecimento da
IA já começaram a se manifestar, embora seja preciso dizer
que a imprevisibilidade da interação entre múltiplas IAs é algo
diferente do conceito de livre-arbítrio que é próprio do ser
humano.

Se a IA fosse capaz de sentir a dor de cometer erros


(deveria, portanto, ter o conceito e o senso do que é certo e do

Liber Lucis – 144 – Livro da Luz


que é errado), suas ações teriam feedback (retrospectiva) e
feedforward (previsão) que poderiam levar a ações corretivas,
em um curso previamente decidido. A ansiedade de muitos é
que uma IA mal gerenciada possa representar um risco para
a vida no planeta. Em um mundo onde todos os dispositivos
tecnológicos estão conectados à rede, os impactos de uma IA
desonesta podem sair pela culatra em seus criadores e enviar
efeitos em cascata para além do entorno imediato. É o que
já aconteceu em alguns centros de pesquisas. Os resultados,
nesses casos, foram limitados porque as IAs, em questão, não
foram suficientemente evoluídas para causar danos reais, mas
pode ser apenas uma questão de tempo.

*****

Proteção contra Perigos à Luz da


Humanidade
Há três cenários particularmente perigosos na IA a serem
observados: o inesperado que escapa aos próprios criadores,
o tipo maníaco e o uso militar. Muitas tecnologias nasceram
com propósitos nobres ou em circunstâncias aleatórias, mas
tomaram um rumo inexplicável daquilo que seus próprios
inventores pretendiam.

Tome-se, por exemplo, o uso da energia nuclear, cujo uso


mais nobre seria fornecer a energia necessária para a sociedade
evoluir (sujeita à gestão adequada dos resíduos), mas que é
brutalmente utilizada em um jogo de força entre os poderes
políticos. Quanto horror foi gerado pelo uso imprudente da
tecnologia nuclear, e quão absurdo é usar tais sistemas como
um impedimento de ações políticas e militares! Qualquer uso
desse tipo não pode ser tratado de forma diferente de um crime
contra a humanidade, e todas as ogivas nucleares devem ser
desativadas e desmanteladas.

Liber Lucis – 145 – Livro da Luz


Além disso, a história nos ensina que há indivíduos
que carecem de lucidez racional e que, por diversas razões
(apocalípticas, raciais, invejosas, gananciosas, vingativas
etc.), são capazes de ter acesso a uma tecnologia e usá-la para
prejudicar seus semelhantes, a natureza ou o planeta. Em
países onde é fácil andar pelas ruas com armas, a presença de
indivíduos desse tipo leva à destruição constante. Isso é algo que
não pode ser evitado; faz parte da natureza humana. A única
maneira de evitar tais tragédias seria impedir a fácil circulação
de armas. Da mesma forma, o momento em que a IA acaba nas
mãos de um indivíduo tão desequilibrado pode ser catastrófico.

Não se deve perguntar quando isso vai acontecer, mas sim


por que deve acontecer e, se acontecer, estar preparado e capaz
de reagir com ferramentas suficientemente poderosas. A eterna
vigilância é o preço da liberdade! A vigilância em todos os
aspectos desta área em expansão é vital.

Devem ser consideradas medidas de vigilância robustas e


abrangentes em todos os domínios, incluindo a criação de um
registo civil que tenha, no seu centro, sistemas de informação
abertos aos cidadãos. É necessária uma incrível circunspecção
antes de permitir a entrada de IA em nossos sistemas de saúde
e no sistema bancário, se é que isso é feito, pois eles não têm a
visão humana e a inteligência emocional tão vitais nas relações
humanas.

Um aspecto de vital importância da IA que requer eterna


vigilância e monitoramento é o uso militar de tal tecnologia.
Um princípio central de qualquer organização militar é a
eliminação daqueles que se opõem a ela. O uso de tecnologia
“desumana” tem sérios riscos, pois a IA agressiva voltada para o
extermínio humano pode produzir consequências desastrosas,
imprevistas e inimagináveis para toda a vida neste planeta.

Liber Lucis – 146 – Livro da Luz


Há muitas outras considerações que poderiam ser feitas sobre
esse assunto, com consequências aparentemente menos graves,
mas igualmente nocivas para a humanidade. Viemos construir
uma civilização com tecnologias que apagam as luzes quando
você sai de um quarto, ou descarregam automaticamente o vaso
sanitário quando você sai. Alguns aclamam positivamente tais
coisas como uma revolução evolutiva. No entanto, a necessidade
de introduzir essas tecnologias é uma manifestação da falha
humana. Não precisamos de luzes que se apaguem sozinhas,
nem de cisternas que se desaguem. Precisamos de um sistema
educacional que ensine o respeito ao próximo e à Natureza. Ter
algo que age em nosso lugar nos tira responsabilidades, por
um lado, e, por outro, direciona nossas ações apenas para nós
mesmos, alimentando várias formas de egoísmo.

Essas palavras destinam-se a criar um futuro melhor, na


esperança de que aqueles que têm ouvidos para ouvir, ouçam.

*****

Nobreza e Propósito da Luz no Uso da IA

O uso da IA não deve ser demonizado, mas deve ser geren-


ciado centralmente e para fins comerciais nobres, construti-
vos, pró-sociais e não egoístas. Embora seja relativamente fá-
cil controlar o uso de armas atômicas devido à dificuldade de
encontrar matérias-primas (estas são muitas vezes facilmente
rastreáveis), o desenvolvimento da IA que é deixada nas mãos
de qualquer pessoa, sem qualquer forma de controle, é como
soltar uma cobra no berço. A população deve estar devidamen-
te preparada para a IA antes de sua implantação em massa.

Embora o uso da IA possa trazer enormes benefícios na vida


cotidiana, seu desenvolvimento deve ser regulado de forma tão

Liber Lucis – 147 – Livro da Luz


restritiva, ou mais restritiva, do que as armas nucleares. Essa
tecnologia não pode pertencer a um único Estado, mas deve
ser compartilhada, unindo as pessoas em pé de igualdade e não
permitindo que uma esteja acima da outra; caso contrário, seria
melhor que não existisse. Em um contexto científico – onde o
conceito de consciência ainda está lutando para ser introduzido
– a IA está atualmente muito longe da alma e de suas faculda-
des, que são o que a humanidade mais precisa atualmente.

Em última análise, a tecnologia é uma ferramenta a ser usa-


da sem se tornar escrava dela; deve ser usada para facilitar o
reencontro com a alma, não para se isolar em uma gaiola de
cristal. A humanidade precisa de comunidades reais onde ca-
minhamos lado a lado, não em uma ilusão virtual onde nos
imaginamos sendo o que não somos. Precisamos fomentar o
uso pró-social da tecnologia, promovendo suas possibilidades
educativas e construtivas, para que toda a vida no planeta possa
se beneficiar dela.

*****

Liber Lucis – 148 – Livro da Luz


Eu vi a Eternidade outra noite,
Como um grande Anel de pura e infinita luz,
Toda calma, como era brilhante;
E por baixo dela, o Tempo em horas,
dias, anos,
Guiado pelas esferas
Como uma vasta sombra se movia; em que o mundo
E toda a sua cauda eram arrastados.

- O Mundo, de HENRY VAUGHAN, 1650

Liber Lucis – 149 – Livro da Luz


Natureza Interior, Natureza Cósmica e o
Mundo Natural

Vamos nutrir esperança naquelas pessoas que ainda podem


sentir uma conexão profunda com a Natureza, que podem se
dedicar à beleza da leitura de textos construtivos e inspiradores,
e que podem se dedicar à meditação, introspecção e cultivo da
espiritualidade.

Nem tudo está perdido. A aplicação negativa do egoísmo nos


arrasta para baixo, para o individualismo e para a satisfação dos
prazeres efêmeros, mas sabemos que a voz da alma faz ouvir
seu chamado naqueles que já deram alguns passos no caminho.

Escute a voz interior que guia você de coração para o


altruísmo e para a busca dos sublimes Mistérios. Tecnologia da
informação
é um meio para obter uma parte da experiência humana, mas
seu desenvolvimento e uso devem ser guiados pela sabedoria
de nossa natureza espiritual interior, natureza cósmica e mundo
natural.

*****

A Fusão da Educação Holística e da Ciência


e suas Perspectivas
Evolução Pessoal e Coletiva

As leis introduzidas pelos sábios muitas vezes fazem uso de


modelos mentais que podem permitir ao público compreender
objetivamente o que não pode ser descrito ou apreendido
racionalmente. Assim, a analogia, a parábola e o símbolo
são usados. No entanto, por mais poderosas que sejam, tais
ferramentas introduzem limitações inerentes que podem ser
um terreno fértil para mal-entendidos e disputas entre aqueles
com o germe do fanatismo.

Portanto, é necessário separar o que pertence ao reino das


crenças pessoais e da fé – isto é, a esfera interior – do que pertence
ao funcionamento da sociedade, a esfera externa. Para a esfera
pessoal, interior, cada um deve ser livre para acreditar no que
veio a saber (através da prática) que é melhor para sua própria
evolução, mas no nível coletivo é necessário identificar regras
que são compartilhadas por todos os povos – algumas regras
simples, compreensíveis por todos, respeitando a dignidade de
cada ser vivo no planeta.

*****

Liber Lucis – 151 – Livro da Luz


Da Competição à Cooperação

Por muito tempo os seres humanos não foram capazes de


compartilhar as alegrias da vida com aqueles que não pensam
como eles. O paradigma que tem dominado a sociedade
moderna tem sido o da competição, em que um indivíduo ou um
grupo prevalece sobre o outro. Um ganha, outros perdem. Um
se alegra, outros sofrem. Como essa abordagem da vida pode
ser limitada! O que aconteceria se os povos da Terra adotassem
uma abordagem colaborativa para superar os grandes desafios
que enfrentamos?

Enormes desafios nos esperam, incluindo, por exemplo:


reduzir a fome no mundo, gerenciando racionalmente a
distribuição de recursos para reduzir o desperdício; combater
as alterações climáticas e o abastecimento de água potável; a
distribuição equitativa de medicamentos para tratar doenças
comuns que ceifam tantas vidas; e encontrar formas de gerar e
utilizar ao máximo energia em harmonia com a Natureza.

A superação de modelos liberais e autoritários de governo


poderia permitir a livre evolução individual e garantir que
todos tenham as necessidades da vida. Afastar-se da ideia de
que a realização pessoal é medida em termos econômicos e
não espirituais e definir as melhores soluções para atender às
necessidades alimentares da crescente população mundial, em
harmonia com a capacidade da Terra, ajudará a restaurar seu
equilíbrio sem usar produtos prejudiciais aos animais e aos
seres humanos.

Considere também encontrar soluções para o descarte


de resíduos; encontrar formas de governo que possam gerir
adequadamente a propriedade, evitando a pobreza; reduzir o

Liber Lucis – 152 – Livro da Luz


tráfico de drogas e o crime organizado, que prosperam onde o
ego é mantido longe da alma; garantir uma educação adequada
para o desenvolvimento de sociedades civilizadas e éticas, sem
precisar recorrer aos elementos dos caminhos religiosos (que
todos podem seguir livremente); e permitir que todos trabalhem
um número de horas que pode deixar espaço para a nutrição do
corpo, mente e alma e que garanta a quantidade certa de tempo
para a espiritualidade, o cultivo das relações interpessoais e o
desenvolvimento de hobbies. A cooperação permite ir mais
longe e todos ganham.

*****

Liber Lucis – 153 – Livro da Luz


Deus do meu coração, Deus que
eu vim a conhecer do meu jeito,
Senhor da Paz da minha alma, tu colocaste
um tesouro além da medida
em minha guarda, mais precioso
do que o próprio ouro, maior
do que o maior rubi da terra.
Agradeço-te o maior dom da terra.
Ajuda-me a escondê-lo
dentro do meu Livro da Luz,
para que eu possa trocar meu
dom com outras pessoas
ao longo da minha vida, por
mais longa ou curta que seja.

Liber Lucis – 154 – Livro da Luz


A Conquista do Tempo

Nosso planeta é um sistema finito com recursos limitados.


Se bem geridos, os recursos que a Terra pode oferecer são
suficientes para todos, mas nunca suficientes para a ganância
dos poucos que centralizam os recursos em locais limitados,
privando os outros de usufrui-los. O desenvolvimento
tecnológico, a explosão das plataformas de computadores,
a robotização e a inteligência artificial emergente estão
gradualmente tirando empregos e moldando novos para as
pessoas. Os ricos proprietários desses sistemas estão ficando
cada vez mais ricos, enquanto trabalhadores e assalariados
estão encontrando trabalho cada vez menos fácil de acessar e
manter. Procedendo dessa forma, o fosso entre ricos e pobres
aumenta ano após ano, especialmente à medida que os recursos
se tornam mais centralizados nas mãos de poucos.

No entanto, a expansão da automação poderia permitir que


os seres humanos trabalhassem muito menos e se tornassem
capazes de se dedicar a aspectos mais nobres da existência, mas,
para isso, seria necessário que a riqueza gerada pela automação
fosse igualmente distribuída por toda a população. Isso seria
uma grande conquista para a humanidade, permitindo que ela
se dedique ao chamado da alma e não ao que é obrigado a fazer
para sobreviver.

A conquista do tempo permitiria à humanidade desenvolver


empregos movidos pela paixão, mesmo empregos que não
são necessariamente demandados no mercado, mas ainda
podem ser importantes e devem ser preservados de todas as
eventualidades; ou seja, empregos à prova de futuro. Por outro
lado, o ser humano deve preservar e desenvolver suas habilidades,
independentemente da existência de computadores, robôs ou
inteligências artificiais capazes de fazer o trabalho por eles.

Liber Lucis – 155 – Livro da Luz


A Terra não está isenta de fenômenos cósmicos que poderiam
ter repercussões extremas, e depender apenas de tecnologias
externas a ela faria com que a humanidade perdesse capacidades
adaptativas essenciais em caso de extrema necessidade. Além
disso, se certos tipos de trabalho puderem ser substituídos
por IA, a humanidade corre o risco de perder habilidades
importantes meticulosamente adquiridas ao longo de séculos.
A IA removeria essa necessidade que é o motor do pensamento
humano, aquelas circunstâncias que levaram, aparentemente
ao acaso, a descobertas importantes por meio da harmonização
com as inteligências Cósmicas que guiam a humanidade. Esse
aspecto da existência não pode ser substituído por nenhum
software.

*****

Cidadãos do Mundo – Um Novo Paradigma?

Aconteça o que acontecer, os seres humanos devem continuar


a se esforçar para entender as leis do Cosmos. Devemos
continuar a melhorar a condição humana sem nos contentarmos
com confortos que possam narcotizar o pensamento. Os tipos
de gênios que acessam, por meio de sua inteligência, o que
os outros não podem ver e que hoje alimentam seus próprios
recursos através dos frutos de seu próprio trabalho, devem ser
capazes de se expressar encontrando os recursos comunitários
de que precisam, mas todo grande sistema tecnológico deve se
tornar patrimônio da comunidade, para que a riqueza possa
realmente ser redistribuída e economizar tempo precioso de
inúmeras pessoas.
Por meio da automação e daquela parte do trabalho que
pode ser feita por inteligência artificial, talvez seja possível
sair da restrição de horas mínimas de trabalho. Se a riqueza
fosse devidamente distribuída, seria possível estabelecer uma

Liber Lucis – 156 – Livro da Luz


renda universal capaz de garantir uma vida digna para todos
os cidadãos do mundo, mesmo sem que eles fossem forçados
a se engajar excessivamente no que hoje é convencionalmente
considerado como trabalho, deixando a cada indivíduo a escolha
de “trabalhar” mais para ganhar mais. Desta forma, aqueles
que não são motivados por aptidões de trabalho particulares
estariam longe da pobreza. Aqueles que desejarem, poderiam
“trabalhar” por um estatuto mínimo acordado e dedicar outro
tempo a cultivar o que vem da alma e dá sentido à vida na
comunidade.

De qualquer forma, tal subsídio não pode existir sem ser


acompanhado de uma forma adequada de educação que leve à
compreensão da importância do trabalho para os propósitos da
comunidade, bem como para a realização pessoal. Através deste
novo paradigma, uma nova perspectiva pode ser aberta para
as almas encarnadas, permitindo-lhes brilhar em todo o seu
esplendor, dedicando-se ao trabalho movido pela verdadeira
paixão e liberando o gênio criativo que dorme silenciosamente
no interior de muitos.

A abordagem liberal permite a máxima expressividade


humana, mas pode facilmente levar à falta de cuidado com
o planeta e os necessitados. A alma humana sussurra a plena
liberdade expressiva do reino espiritual, e qualquer restrição
é uma coerção que leva a experiências ruins por parte da
população. Por outro lado, o lado humano mais próximo do reino
animal significa que o instinto de autopreservação da espécie
tende a manter para si recursos arduamente conquistados. Por
esta razão, os ideais da abordagem socialista caíram demasiadas
vezes no autoritarismo na história, forçando as pessoas a
partilhar com os seus vizinhos sem compreender plenamente o
vínculo fraterno e espiritual que une cada ser vivo no cosmos.
*****

Liber Lucis – 157 – Livro da Luz


Você consegue se lembrar da felicidade e
do contentamento que sentiu no momento em que
percebeu que algo muito maior
do que você jamais ousou esperar
estava existindo dentro de si mesmo?

- REFLEXÃO ROSACRUZ

Liber Lucis – 158 – Livro da Luz


Vivendo Harmoniosamente

Viver harmoniosamente como uma só humanidade não pode


ser imposto pela força, mas é algo que deve ser construído através
de uma educação adequada, orientada para a espiritualidade e
não para o nocionismo, uma educação baseada no respeito ao
próximo e voltada para encontrar a melhor maneira de viver
em harmonia com a Natureza.

Uma civilização avançada não é apenas aquela que alcançou


um alto nível de tecnologia, mas aquela que consegue viver
pacificamente e com o menor impacto possível na Natureza. Os
governos dos povos terão de ser animados por uma espiritualidade
profunda que não se reflete em nenhuma forma religiosa
atualmente existente, mas se encontra em valores seculares
baseados em uma ética elevada partilhada por múltiplas culturas,
capaz de resumir os direitos e deveres de cada ser humano para
com o próximo, os outros seres vivos e a Terra.
Para caminhar na direção indicada, é necessário colocar a
luz da alma no centro das pesquisas em todos os campos do ser:
humanista, político, científico, religioso, artístico e educacional.
Uma nova ciência bate à porta. As mães e os pais fundadores do
último grande salto científico, a mecânica quântica, perceberam
que haviam atingido um nível tão profundo na matéria que o
próximo passo da ciência não pode deixar de incluir a consciência
humana – e a consciência, como os Rosacruzes a entendem, é um
atributo da alma humana. Mais uma vez, a alma é um conceito
central. Sua luz é a estrela polar que ilumina o caminho dos
Rosacruzes em sua atitude em relação à reforma sugerida.

É através dos mistérios da consciência que os filósofos antigos


passaram a perceber princípios que só foram cientificamente

Liber Lucis – 159 – Livro da Luz


comprovados milênios depois. Graças à consciência, é possível
explorar o cosmos de maneiras que só são compreendidas
depois de experimentá-lo, porque qualquer descrição
dele não faria justiça. Alguns ramos da ciência falam em
multidimensionalidade, que talvez seja o conceito que mais se
aproxima das possibilidades que estão diante de nós.

O conhecimento das próximas décadas será orientado para


uma abordagem transdisciplinar: não inter-, não multi-, mas
transdisciplinar, porque não apenas lidará com as conexões
entre as disciplinas individuais, mas buscará transcendê-las,
criando novas entidades educacionais que possam lidar com os
temas em sua totalidade de um ponto de vista global e holístico,
sem compartimentá-los. Para isso, é preciso entender que o
elemento que une todos os campos do ser é a alma humana;
sem ela, não é possível nenhum impulso, nenhum impulso da
interioridade humana em direção àquilo que eleva e une no
único centro divino de convergência.

*****

A Luz Duradoura da Tradição Rosacruz

A Tradição Rosacruz, guiada e alimentada por aqueles que


alcançaram o estado Rosa-Cruz, acompanha a história da
humanidade, realizando seu trabalho de aproximar o componente
espiritual humano e a divindade. Ao longo dos séculos, aqueles
que trabalham como parte de sua missão sofreram as injustiças
da incitação e da perseguição.

Através de um longo trabalho, grande liberdade foi


conquistada, permitindo que o conhecimento do Caminho
Rosacruz se espalhasse por todo o mundo. Muitos ouviram o
chamado da alma, falando através de nossas próprias vidas gastas

Liber Lucis – 160 – Livro da Luz


para o bem dos outros. Hoje, não é mais necessário se esconder,
e pode-se expressar livremente suas impressões. A beleza dos
ensinamentos da Ordem Rosacruz é algo a ser compartilhado
com o próximo, gritado aos quatro ventos, simplesmente
porque gera felicidade e fraternidade e possibilita a superação
de todas as barreiras que geram divisão entre os povos.

A experiência mística é alcançável. Graças ao método


rosacruz, é possível compreender a existência de um bem
superior que vai além de todas as crenças religiosas, políticas
e de estilo de vida e, em geral, todas as distinções, unindo
toda a humanidade sob uma única bandeira. O trabalho dos
Rosacruzes do passado passa de mão em mão, de coração em
coração. Continua incessantemente e com continuidade, através
das teias do tempo e do espaço, e conta com a contribuição
de todos os buscadores sinceros dispostos a contribuir para a
humanidade.

*****

Liber Lucis – 161 – Livro da Luz


Liber Lucis – 162 – Livro da Luz
Considerações Finais
A Busca Contínua do Propósito Divino
O que nos torna verdadeiramente humanos?
Por muitos milhares de anos, filósofos, artistas, sacerdotes,
cientistas, historiadores e outros procuraram responder à questão
de como conhecer verdadeiramente nossa humanidade. Muitos
anseiam por captar, de alguma forma, a imensidão da experiência
humana, enquanto para outros essa mesma experiência
permanece ilusória ou invisível. Alguns conseguiram criar uma
ponte para o intangível. Imagine o quadro A Noite Estrelada, do
artista Van Gogh: as estrelas estão girando e a Luz está sendo
revelada de diferentes maneiras.

Em contraste, aqueles que desejam retratar a imensidão do


ser humano em forma material estão, de certa forma, sempre
perseguindo a cauda de um trem desgovernado, devido à
complexidade cada vez maior da experiência humana. Os
místicos, em vez disso, sempre procuraram ignorar os detalhes
da complexidade do mundo exterior e, com suave persistência,
viajar em direção à própria Fonte de tudo. Os místicos tendem

Liber Lucis – 163 – Livro da Luz


a ver esse desejo de união com o Ser Divino como a própria
razão de ser humano e, portanto, faz todo o sentido para eles
aprender a ter vislumbres de toda a jornada de sua alma ao
longo de muitas encarnações.

Através desta árdua, mas épica viagem de vida em vida, que


podemos abraçar amorosamente como a “Jornada da Alma”, em
nenhum momento a personalidade da alma descansa em seus
esforços incessantes para expandir seu ser e tornar-se maior
e mais refinada em complexidade. Além disso, em nenhum
momento nossa personalidade da alma deixa de querer
expressar, através de seu eu exterior, cada vez mais a perfeição
da Alma Universal maior.

A Alma Universal está sempre buscando a mais alta expressão


possível em nossa natureza humana. Assim, estamos sempre “nos
tornando a ser”. Em outras palavras, estamos sempre chegando a
um conhecimento maior da presença divina interior, o Deus do
nosso Coração. Talvez, portanto, seja melhor nos chamarmos de
“Humanos vindo a Ser”, em vez de “seres humanos”.

A expressão mais simples e difundida dessa grande forma


de santidade tornou-se, nos tempos modernos, conhecida pela
palavra “Deus”, uma palavra que tem muitas conotações, mas
é universalmente aceita como representando o conceito de um
Criador acima de todos os criadores, um Ser Supremo com
inteligência suprema, uma origem por trás de todas as origens
– na verdade, o Criador de tudo o que é, tudo o que foi e tudo
o que sempre será.

Voltando à compreensão específica dos místicos, podemos


afirmar justificadamente que a imensidão da experiência
humana é mais bem encontrada em nosso conhecimento
silencioso e infinito desse Ser Maior. Ganhamos isso através das
percepções de nossa alma das fases física, mental, emocional,

Liber Lucis – 164 – Livro da Luz


psíquica e espiritual de nosso ser agregado. Ela precisa ser
holística: você não pode isolar uma parte do seu ser de todas
as outras.

Como exemplo, muitas pessoas hoje podem tremer ao pensar


em ler uma peça de Shakespeare de capa a capa, ou até mesmo
assisti-la em um palco. No entanto, se eles mergulhassem,
lutassem e persistissem, todo um mundo magnífico de conceitos
profundos e misteriosos poderia se abrir para eles – muitos
deles conceitos rosacruzes. A partir dessa profunda reflexão,
eles podem sentir a consciência de sua alma em ação, e até
mesmo a de seu ego, que está preso apenas aos desejos espaço-
temporais e acha que a luta mental é uma perda de tempo.

No profundo silêncio místico, podemos antes procurar


uma relação com um ser que é conscientemente omnipresente,
permeando tudo. Em outras palavras, passamos a nos conhecer
através da união com seu “conhecimento infinito do ser”.

Muito possivelmente, a primeira vez que você seguiu um


desejo independente de ser verdadeiramente humano foi
quando sentiu o desejo de ficar de pé quando era um bebê.
Você tinha esse desejo antigo de ficar de pé, quase como uma
muda desejando se levantar para abrir sua plena expressão
de estar à luz do sol. Ficar em pé lhe deu a capacidade de se
mover e, portanto, se expressar de outras maneiras. Imagine o
seu primeiro passo. Sinta este momento quase como se a parte
infinita e mais sagrada do seu ser estivesse lhe pedindo para se
levantar.

Este é um momento verdadeiramente humano, quase eterno


para o corpo e a alma. Simbolicamente, você nasce como o
sol, mesmo que leve muitos anos para dominar totalmente sua
retidão física.

Liber Lucis – 165 – Livro da Luz


Em algum momento desse longo processo, você pode ter
outra experiência marcante, e este é o período da vida em que,
pela primeira vez, você descobre que existe dentro de você
uma sacralidade maior do que qualquer coisa que você jamais
imaginou, um processo que poderia ser chamado de “Iniciação
à Rosa de sua Alma”.

Essa percepção abre você para as percepções da alma e


move sua consciência das limitações das percepções espaço-
temporais comuns da vida para a vida mais eterna e infinita
da alma. Você começa a perceber a divindade escondida em
toda parte, esperando que você a revele. Se você desenvolve sua
consciência mística, o desejo de retidão que começou com nosso
eu infantil continua como um impulso para se elevar através de
todos os aspectos de seu ser e culmina em um fluxo constante
de consciência espiritual vindo do horizonte expansivo da alma.

O incrível baú do tesouro da Rosa-Cruz atravessou os séculos


para chegar às suas mãos; cabe a você decidir o que fazer com
ele.

*****

Liber Lucis – 166 – Livro da Luz


Conclusão
Um Encontro de um Círculo de Filósofos Rosacruzes
do Século XVII
O DRAMA LIBER LUCIS

RENÉ DESCARTES: Se quiseres ser um verdadeiro


buscador da verdade, irmão
Andreae, é necessário que, ao
menos uma vez na vida, duvides,
na medida do possível, de todas as
coisas. Eu digo aos meus alunos:
não tenteis vencer as incertezas
do mundo, conquistai-as vós
mesmos!

HUMANIDADE: Quem és tu que falas ao meu


coração, embora eu não possa te
ver?

JOHANN VALENTIN
ANDREAE: Somos os irmãos invisíveis e
podemos ver o desejo do teu
coração. Comenius, conta ao
nosso buscador sobre o Livro da
Luz em teus braços.

COMENIUS: Obrigado, querido amigo


Andreae, pois as trevas são

Liber Lucis – 167 – Livro da Luz


a ausência de luz, a cura do
mundo requer mais Luz.

RENÉ DESCARTES: E não te esqueças que se desejas


viver em paz, lembra-te do lema
“Para viver bem, deves viver
invisível”, pois não há nada mais
antigo do que a verdade da luz
oculta. Comenius, como vencer
as trevas da ignorância?

COMENIUS: Vencer as trevas exigirá quatro


chamas de educação: livros
universais, escolas universais,
um colégio universal e uma
linguagem universal. Este é o
futuro do Livro da Luz. O que
dizes, Andreae?

JOHANN VALENTIN
ANDREAE: Vinde, meus irmãos, vamos
meditar sobre o estágio mundial
da Luz. Juntai-vos a nós
em nosso Sagrado Sanctum,
onde vossa alma vos revelará
o Liber Lucis, o Livro da Luz.
Devemos continuar a avançar
nos ensinamentos. Quem ensina
aos outros, ensina a si mesmo.

Liber Lucis – 168 – Livro da Luz


Liber Lucis – 170 – Livro da Luz
Propósito da Ordem Rosacruz

A Ordem Rosacruz, AMORC é uma organização, mística e


Templária de caráter cultural, fraternal, não-sectário e não-
dogmático, de homens e mulheres dedicados ao estudo e
aplicação prática das leis naturais que regem o universo e a
vida.

Seu objetivo é promover a evolução da humanidade através


do desenvolvimento das potencialidades de cada indivíduo e
propiciar uma vida harmoniosa com saúde, felicidade e paz.

A Ordem Rosacruz oferece um sistema eficaz e comprovado de


instrução e orientação para o autoconhecimento e compreensão
dos processos que determinam a mais alta realização humana.
Essa profunda e prática sabedoria, cuidadosamente preservada
e desenvolvida pelas Escolas de Mistérios esotéricos, está à
disposição de toda pessoa sincera, de mente aberta e motivação
positiva e construtiva.

Para mais informações, os interessados podem solicitar o


informativo gratuito “O Domínio da Vida”, escrevendo ou
telefonando para:

Ordem Rosacruz, AMORC


Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa
Rua Nicarágua, 2620 – Bacacheri – 82515-260
Curitiba – PR – Brasil
Caixa Postal 4450 – 82501-970
Fone: (0xx41) 3351-3000
Site: www.amorc.org.br
Q uatrocentos anos atrás, em agosto de 1623,
uma época de crise e guerra na Europa, dois
pequenos, mas intrigantes, cartazes foram afixados
nos muros de Paris, falando de uma presença “visível
e invisível” na cidade e oferecendo comunhão aos
buscadores.

Quem ali colocou esses cartazes permanece oculto,


mas certamente foi alguém envolvido nos Círculos
Rosacruzes. Os cartazes eram um chamado àqueles
que buscavam a luz da verdade naqueles tempos
turbulentos.

Este Livro de Luz, o Liber Lucis, ressoa com aquele


chamado de tanto tempo atrás e leva adiante a
Tradição Rosacruz da Luz, Vida e Amor para toda a
humanidade e para a nossa Terra.

Tem como objetivo inspirar os buscadores espirituais


a refletir misticamente sobre a natureza da Luz,
abordar alguns dos desafios milenares da vida e
suscitar respostas a questões contemporâneas, como
sobre o bem-estar da Terra ou a ética da inteligência
artificial.

Acima de tudo, é um lembrete para todos nós


trilharmos suavemente em nosso mundo e usarmos
nossa magnífica criatividade humana para unir
amor com luz e vida em tudo o que fazemos.

www.amorc.org

Você também pode gostar