Artigo Geracao Glass o Impacto Das Telas No Desenvolvimento Infantil Pronto
Artigo Geracao Glass o Impacto Das Telas No Desenvolvimento Infantil Pronto
Artigo Geracao Glass o Impacto Das Telas No Desenvolvimento Infantil Pronto
desenvolvimento infantil
Glass Generation: the impact of screens on child development
RESUMO
A relação entre tecnologia e sociedade transformou-se radicalmente com o surgimento dos
aparelhos eletrônicos. Por conseguinte, as crianças nascem em um mundo onde as telas são
indispensáveis desde os primeiros meses de vida. À luz de teorias do comportamento
humano, buscou-se compreender o impacto ocasionado pelo uso de tecnologias no
desenvolvimento de crianças com até 12 anos de idade. Por meio de uma pesquisa online
com pais e cuidadores, evidenciou-se o uso precoce e excessivo de telas, com interferências
nos hábitos de sono, rotina, aprendizagem e conteúdos acessados. De tal forma, conclui-se
a importância da orientação e mediação parental, bem como o aprofundamento do tema, a
fim de assegurar a saúde psicoafetiva e o desenvolvimento infantil.
Palavras-chave: Ciência, Tecnologia e Sociedade; Desenvolvimento Infantil; Psicologia do
Desenvolvimento.
ABSTRACT
The relationship between technology and society has changed radically with the emergence
of electronic devices. As a consequence, children are born into a world where screens are
indispensable from the very first months of life. In the light of theories of human behavior,
it was sought to understand the impact caused by the use of technologies on the
development of children up to 12 years of age. Through an online survey with parents and
caregivers, early and excessive use of screens was evidenced, with interference in sleep
habits, routine, learning and contents accessed. Therefore, the importance of parental
guidance and mediation is concluded, as well as the deepening of the theme, in order to
ensure psycho-affective health and child development.
Keywords: Child development; Developmental Psychology; Science, Technology and
Society.
Introdução
O termo Geração Glass é usado para definir as crianças nascidas a partir de
2010, ano de lançamento do iPad pela multinacional Apple. Glass significa “vidro”
em inglês, numa evidente referência às telas dos aparelhos eletrônicos. De acordo
com Santana, Ruas e Queiroz (2021), as crianças desta geração nascem para um
mundo em que a tecnologia é o alicerce fundamental na construção das novas
1 Acadêmica do 9° termo do curso de Psicologia no Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSalesiano Campus
Araçatuba
2 Acadêmica do 9° termo do curso de Psicologia no Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSalesiano Campus
Araçatuba
3 Acadêmica do 9° termo do curso de Psicologia no Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSalesiano Campus
Araçatuba
4 Psicóloga, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem (UNESP Bauru), Docente do Centro Universitário
Metodologia
Trata-se de uma pesquisa descritiva sobre o impacto do uso de telas – celular,
tablet, televisão, computador e outros – no desenvolvimento infantil. Buscou-se
entender quais aspectos, sejam estes cognitivos, sociais, motores ou emocionais, são
mais expressivamente afetados em crianças da primeira à terceira infância (0 a 12
anos) de ambos os sexos. Obteve-se a resposta de 126 pais que preencheram os
critérios de inclusão da pesquisa: a) idade das crianças entre 0 a 12 anos; b)
preenchimento correto do formulário pelos pais.
A coleta de dados ocorreu online, por meio de um formulário desenvolvido
pelas pesquisadoras na plataforma Google Forms. O questionário foi compartilhado
pelas mídias sociais (WhatsApp, Instagram, Facebook) e incluiu perguntas de
múltipla escolha envolvendo aspectos como rotina, hábitos de sono, alimentação,
nível de linguagem e aprendizagem, tempo de uso de telas e entretenimento
consumido.
Após a aprovação do Comitê de Ética sob parecer nº 5.233.602, o
instrumento de pesquisa foi disponibilizado aos participantes com o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Ademais, a fim de minimizar quaisquer
questionamentos ou desconfortos ocasionados, as pesquisadoras disponibilizaram
um arquivo digital aos participantes com orientações práticas e informações sobre
o assunto abordado.
A análise das informações foi realizada com o software IBM SPSS Statistics
28.0, utilizando estatística descritiva: frequências, porcentagens e medidas de
tendência central, compreendidas à luz de teorias do desenvolvimento infantil e
comportamento humano.
Resultados e Discussão
O estudo foi realizado com 126 participantes considerados válidos, dos quais
122 foram respondidos por mães (96,8%), 3 por pais (2,4%) e 1 por tio (0,8%). Os
dados apresentados a seguir referem-se às informações obtidas sobre as crianças
cuidadas pelos responsáveis.
Percebeu-se pouca discrepância em relação ao sexo da amostragem,
composta por 59 meninas (46,8%) e 67 meninos (53,2%). A faixa etária analisada
variou de 1 a 12 anos, com a média de idade 7,02 (DP=3,12). Para a compreensão
dos dados, adotou-se a divisão das três fases da infância de acordo o
desenvolvimento infantil (Tabela 1), explicadas por Papalia; Feldman (2013): a)
crianças de 1 a 3 anos foram classificadas dentro da Primeira Infância (19,8%); b)
dos 3 aos 6 anos dentro da Segunda Infância (23,1%) e; c) dos 6 aos 12 anos como
Terceira Infância (57,1%).
1ª Infância 25 19,8
2ª Infância 29 23,1
3ª Infância 72 57,1
Total 126 100,0
Fonte: elaborado pelas autoras.
Tempo de uso de tela e suas repercussões
A partir das respostas sobre tempo de uso diário de dispositivos eletrônicos,
constatou-se que 14,3% das crianças utilizam menos de 1 hora de tela por dia,
42,9% usam de 1 a 2 horas, 38,9% de 3 a 6 horas por dia, 1,6% mais de 6 horas e
2,4% da amostra não faz uso de telas. Além disso, pelo Teste de Correlação de
Spearman, verificou-se que existe uma correlação positiva estatisticamente
significativa entre idade e tempo de uso de tela (rs=0,36; p<0,01), indicando que
quanto maior a idade, maior o tempo de uso dos aparelhos eletrônicos.
A American Academy of Pediatrics (2013) recomenda que o tempo total de
uso de telas deve ser limitado a no máximo 2 horas diárias, além de desencorajar a
exposição de crianças menores de dois anos de idade aos aparelhos eletrônicos. De
modo consonante, a Sociedade Brasileira de Pediatria (2016) alerta que o tempo de
tela deve ser restringido e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento
cerebral, mental, cognitivo e psicossocial das crianças e adolescentes. Considera-se,
portanto, que ao menos 40,5% da amostra analisada excede o tempo de uso
recomendado e que todos os participantes caracterizados dentro da Primeira
Infância (0 a 3 anos) utilizam telas em alguma medida.
A exposição precoce aos dispositivos digitais torna-se um fator de risco à
medida em que o desenvolvimento de estruturas e circuitos cerebrais ocorrem nos
primeiros anos de vida, bem como a aquisição de capacidades fundamentais e
necessárias para o aprimoramento de habilidades futuras mais complexas. A
aprendizagem inicia-se muito antes da criança entrar na escola, especialmente na
Primeira Infância, e é fortemente influenciada pelo meio em que a criança se
encontra e com o qual interage, que por sua vez afetam todos os aspectos do seu
desenvolvimento (NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2014).
A análise também apontou que 82,5% da amostra apresenta
comportamentos inadequados quando ficam sem aparelhos eletrônicos, como
agitação, impaciência, tédio, choro, teimosia e agressividade. Tais dados entram em
acordo com aqueles sugeridos pela American Academy of Pediatrics (2016), segundo
os quais as características da personalidade também podem ser influenciadas pela
quantidade de mídia consumida, resultando em um aumento da probabilidade de o
bebê/criança desenvolver um temperamento considerado difícil ou de ter
dificuldades de autocontrole e atrasos socioemocionais.
As alterações de comportamento observadas podem se relacionar ao alto
risco de vício em dispositivos eletrônicos, como aponta um recente estudo realizado
na Alemanha. Os efeitos da dependência em celular no corpo humano foram muito
parecidos com a pesquisa acerca do abuso de drogas desenvolvida pela Biblioteca
Nacional de Medicina dos Estados Unidos. A pesquisa observou que o uso
compulsivo de smartphones diminui a porcentagem de massa cinzenta do cérebro e
libera dopamina da mesma maneira que acontece com indivíduos que usam cocaína
(HOVARTH et al., 2020).
Tabela 2 – Quantidade de crianças que fazem uso de telas em cada período do dia
Conclusão
A partir das informações coletadas, verificou-se os impactos associados ao
excesso do uso de telas quanto aos hábitos de sono, rotina, aprendizagem, tempo de
uso e supervisão dos responsáveis. A pesquisa evidenciou o uso precoce e excessivo
dos aparelhos eletrônicos durante a infância – agravado, aparentemente, pela falta
de uma constante supervisão e mediação dos cuidadores, suscitando prováveis
prejuízos ao desenvolvimento cognitivo, neuropsicológico e comportamental
infantil.
Diante das recomendações de organizações internacionalmente
reconhecidas e da literatura analisada, compreendeu-se que uma exposição
imoderada às mídias pode ser nociva ao amadurecimento adequado de funções
como atenção, memória, linguagem, habilidades sociais e competências emocionais.
Outro ponto observado refere-se à possibilidade de riscos emocionais causados pelo
acesso a conteúdo inapropriados, sobretudo a longo prazo.
Considera-se, no entanto, que a pesquisa atendeu apenas parcialmente aos
objetivos propostos. Por ter sido realizada em um contexto online, sem contato
direto com os cuidadores, entende-se que detalhes e informações relevantes para
uma análise mais precisa de alguns indicadores podem ter se perdido.
De tal forma, a fim de melhor investigar o tema e a extensão de suas
consequências, sugere-se que sejam realizadas pesquisas futuras, as quais se
utilizem de entrevistas presenciais com os responsáveis e observações diretas das
crianças. Ademais, com base nos resultados encontrados, ressalta-se a importância
de orientar pais, professores e profissionais, de forma que o uso das tecnologias seja
mediado e adequado aos níveis de desenvolvimento da criança.
Referência Bibliográficas
AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Children, Adolescents, and the Media.
2013. Disponível em: https://publications.aap.org/pediatrics/article/132/5/
958/31699/Children-Adolescents-a nd-the-Media. Acesso em 18 abr. 2022.
LONDON GRID FOR LEARNING. Hopes and Streams: LGfL DigiSafe Report on
the 2018 Pupil Online Safety Survey. 2018. Disponível em:
https://www.internetmatters.org/wp-content/uploads/2019/06/LGfL-DigiSafe-
Report-Hopes-and-Streams-2018.pdf . Acesso em 08 abr. 2022.