População Indígena Um Primeiro Olhar Sobre o Fenômeno Do Índio Urbano Na Área Metropolitana de Brasília

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 19

População indígena

Um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na


Área Metropolitana de Brasília

SEPLAG
Secretaria de Estado de
Planejamento, Orçamento e Gestão
População indígena
Um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na
Área Metropolitana de Brasília

Diretoria de Estudos e Políticas Sociais

Brasília-DF, abril de 2015


GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL
Rodrigo Rollemberg
Governador

Renato Santana
Vice-Governador

SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E ORÇAMENTO


DO DISTRITO FEDERAL - SEPLAG
Leany Barreiro de Sousa Lemos
Secretária

COMPANHIA DE PLANEJAMENTO DO DISTRITO FEDERAL - CODEPLAN


Lucio Remuzat Rennó Júnior
Presidente

Antônio Fúcio de Mendonça Neto


Diretor Administrativo e Financeiro

Bruno de Oliveira Cruz


Diretor de Estudos e Pesquisas Socioeconômicas

Flávio de Oliveira Gonçalves


Diretor de Estudos e Políticas Sociais

Aldo Paviani
Diretor de Estudos Urbanos e Ambientais
DIRETORIA DE ESTUDOS E POLÍTICAS SOCIAIS
Flávio de Oliveira Gonçalves – Diretor

Gerência de Estudos e Análises Transversais


Jamila Zgiet

Equipe Técnica
Maria Lúcia Marques Batista
Shirley de Fátima Rodrigues de Andrade

Revisão
Nilva Rios
Sumário

Introdução .................................................................................................................... 06

1. Características da população ............................................................................... 09

2. Migração ................................................................................................................. 12

3. Cultura e escolarização ......................................................................................... 14

4. Moradia ................................................................................................................... 15

5. Rendimento ............................................................................................................ 16

Considerações finais .................................................................................................... 18

Referências bibliográficas ........................................................................................... 19


População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

Introdução

À guisa de introdução, desenvolvem-se reflexões sobre a questão indígena no Brasil na


atualidade e sobre a forma de inserção dessa população no Distrito Federal e na Periferia
Metropolitana de Brasília.

A questão indígena no Brasil

Falar do povo indígena hoje é buscar na história do Brasil, desde a descoberta e colonização,
a saga vivenciada por essa comunidade. A historicidade é recheada de fatos que podem
causar perplexidade aos mais sensíveis.
O povo‐nação não surge no Brasil da evolução de formas anteriores de
sociabilidade, em que grupos humanos se estruturam em classes opostas,
mas se conjugam para atender às suas necessidades de sobrevivência e
progresso. Surge, isto sim, da concentração de uma força de trabalho
escrava, recrutada para servir a propósitos mercantis alheios a ela, através
de processos tão violentos de ordenação e repressão que constituíram, de
fato, um continuado genocídio e um etnocídio implacável (RIBEIRO, 1995, p.
23).

O Brasil é um país multicultural, graças ao patrimônio cultural dos diversos grupos sociais
formadores da sociedade nacional, dos quais se destacam os negros africanos e os indígenas
nativos das terras brasileiras.
Assim como os negros, a população indígena foi tratada de forma desrespeitosa, sem
preocupação com o atendimento de suas necessidades e com ações discriminatórias e
desumanas, conforme descrito por Darcy Ribeiro:
Mais tarde, com a destruição das bases da vida social indígena, a negação
de todos os seus valores, o despojo, o cativeiro, muitíssimos índios deitavam
em suas redes e se deixavam morrer, como só eles têm o poder de fazer.
Morriam de tristeza, certos de que todo o futuro possível seria a negação mais
horrível do passado, uma vida indigna de ser vivida por gente verdadeira. [...]
Os povos que ainda o puderam fazer fugiram mata adentro, horrorizados com
o destino que lhes era oferecido no convívio dos brancos, seja na cristandade
missionária, seja na pecaminosidade colonial. Muitos deles levando nos
corpos contaminados as enfermidades que os iriam dizimando a eles e aos
povos indenes de que se aproximassem (RIBEIRO, 1995, p. 43).

A relação de domínio e espoliação dos índios pelas classes dominantes perpetrou por
décadas e, apesar do extermínio sofrido, muitas dessas populações resistiram e, atualmente,
seus descendentes são reconhecidos como sujeitos de direitos, que devem ser promovidos e
protegidos pela ordem jurídica nacional. Há, assim, o reconhecimento dos seus direitos sobre
suas terras como direitos “originários”, pelo fato de terem sido os primeiros ocupantes do
Brasil. A legislação marca também o abandono da perspectiva assimilacionista, que entendia
os índios como uma categoria transitória destinada a desaparecer, com sua adequação a um
modelo de sociedade imposto, a partir da negação de suas identidades em nome de sua
inserção ao grupo dito civilizado.
A comunidade indígena passou por três momentos significativos: o do extermínio, o da
integração ou assimilacionista e, só depois da promulgação da Constituição Federal de 1988,
o de reconhecimento de direitos originários e ampliação de garantias. A última fase deu-se
após amplas discussões e atividades políticas entre entidades dedicadas à causa indígena
(SOUZA e BARBOSA, s.d.).

6
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

Com os novos preceitos constitucionais, assegurou-se aos povos indígenas o respeito à sua
organização social, costumes, línguas, crenças e tradições. É o que reza o caput do artigo
231 da Constituição Federal (1988): “São reconhecidos aos índios sua organização social,
costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que
tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos
os seus bens."

A Fundação Nacional do Índio (Funai) é o principal órgão executor da política indigenista no


Brasil. Vinculada ao Ministério da Justiça, tem o papel de promover políticas de
desenvolvimento sustentável da população indígena e as articulações necessárias para a
garantia de acesso diferenciado a direitos sociais e de cidadania. Cabe à Funai o
monitoramento das políticas voltadas a essa população. (FUNAI, s.d.)

A existência de leis nacionais e resoluções internacionais de proteção aos direitos humanos


dos povos indígenas, tais como Declaração da ONU sobre direitos indígenas (2007),
Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre Povos Indígenas (1989),
Constituição Federal Brasileira (1988) e o Estatuto do Índio (Lei 6.001/73), não tem garantido
a implementação de seus direitos. Cabe aos índios e aos movimentos indigenistas a difícil
tarefa de defender seus direitos, diante dos mais diversos interesses econômicos, evidentes
nos conflitos com traficantes, grileiros, madeireiros, posseiros, mineradores, garimpeiros,
caçadores e pescadores.

Além disso, grandes empreendimentos, como estradas, ferrovias, linhas de transmissão e


usinas hidrelétricas, têm sido desenvolvidos em terras indígenas, deixando resultados
perversos para esses povos. Os indígenas ainda sofrem as consequências da poluição de
rios por agrotóxicos e de desmatamentos que acontecem fora de suas terras. Com a
urbanização de terras próximas, há também a especulação imobiliária, que passa a ameaçar
a posse de seu território.

Indígenas no DF? O fenômeno do índio urbano

Segundo a publicação “Distrito Federal em síntese” (CODEPLAN, 2013), a presença indígena


no Planalto Central remonta a 8 ou 10 mil anos, muito antes da chegada dos primeiros
Bandeirantes, que adentraram o interior do país na busca de metais preciosos e índios para
o aprisionamento.
Para Paulo Bertran, a primeira expedição “moderna” a chegar à região do Planalto
Central foi a do descobridor das minas dos Goyazes, Bartolomeu Bueno da Silva, o
Anhanguera II, que quer dizer “diabo que foi” ou “diabólico”. “Anhanguera II ao entrar
em Goiás, em 1722, sabia aproximadamente o que encontrar: índios Caiapó,
Carapitanguá, Araxá, Quirixá, Goiás, Bareri e Carajaúna [...] E ouro, prata e pedras
preciosas”. A área hoje pertencente ao DF era ponto de encontro da tribo Jê, os
caiapós, procedentes do sul do país e Xavante, Xerente e Xacriabá, do norte
(CODEPLAN, 2013).

Apesar de várias tribos terem habitado a região antes da fundação de Brasília, hoje no Distrito
Federal não existem terras indígenas demarcadas e a sua população é composta por pequena
parcela desse segmento (0,24%), segundo o Censo Demográfico (IBGE, 2010).
O acesso às informações é dificultado pelo fato de o DF não contar com terras indígenas
delimitadas. O Censo Demográfico e outras pesquisas sobre a população indígena não
aprofundam as especificidades desse público quando fora de territórios demarcados. Além
disso, os serviços urbanos não são preparados para lidar com a questão indígena, muitas

7
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

vezes deixando de coletar e de fornecer informações sobre o seu atendimento nas áreas de
saúde, educação, assistência social e outras.
Essa dificuldade ora identificada no âmbito da pesquisa reflete a forma como o índio urbano
vem sendo invisibilizado na sociedade. Pouco se discute sobre as necessidades dos
indígenas egressos de suas terras, bem como de seus descendentes. A cultura indígena,
diretamente vinculada à sua relação com a natureza, na cidade vê-se reduzida a um conjunto
de crenças consideradas estranhas, sendo ignorados os seus hábitos alimentares, de
convivência, de moradia, de educação, de lazer e de esporte.
Este estudo apresenta o primeiro olhar sobre o índio urbano no Distrito Federal, demonstrando
a realidade dessa população que se declara indígena e vive sob a ameaça da perda da sua
identidade cultural. São analisados alguns aspectos demográficos da população indígena do
Distrito Federal, ora comparando-o à Periferia Metropolitana de Brasília, ora a outras unidades
da federação da Região Centro-Oeste e à realidade nacional.

8
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

1. Características da população

Em 2010, segundo o Censo Demográfico (IBGE), o Brasil possuía uma população de mais de
800 mil indígenas. O censo revelou ainda que o Centro-Oeste era a terceira região com maior
concentração de indígenas, estando o Distrito Federal colocado na terceira posição em
número de indígenas por mil habitantes, na frente do estado de Goiás.

Tabela 1 - Razão de pessoas indígenas por mil habitantes – Região Centro-Oeste - 2010
Unidade Indígena Total 1.000X1
Mato Grosso do Sul 77.025 2.449.024 31,5
Mato Grosso 51.696 3.035.122 17,0
Goiás 8.583 6.003.788 1,4
Distrito Federal 6.128 2.570.160 2,4
Centro-Oeste 143.432 14.058.094 10,2
Fonte: IBGE, Censo Demográfico - 2010

A população autodeclarada indígena do Distrito Federal concentra-se principalmente na área


urbana (97%), assim como os demais estratos da população (96,5%). Sua distribuição nas
regiões administrativas (RA) não apresenta padrão evidente, exceto por sua maior aparição
em Ceilândia, onde estão 13% do povo indígena do DF. Destacam-se também os percentuais
presentes em Planaltina (8,6%), Samambaia (8,5%), Brasília (7,3%) e Recanto das Emas
(6,7%).

Figura 1 - Distribuição da população indígena – Distrito Federal - 2013

Fonte: PDAD, Codeplan – 2013

9
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

Na Área Metropolitana de Brasília (AMB) verifica-se que a maior população indígena está
localizada no município de Cidade Ocidental, com três indígenas por mil habitantes. Em
segundo lugar está o Distrito Federal (2,38) seguido dos municípios de Luziânia (1,82) e
Planaltina (1,78). Por outro lado, os municípios com menos residentes indígenas são:
Cocalzinho de Goiás (0,86), Cristalina (1,18) e Padre Bernardo (1,37).

Tabela 2 – Quantidade de indígenas total e por mil habitantes, segundo localidade –


Periferia Metropolitana de Brasília e Distrito Federal - 2010
Localidades População total População indígena 1.000x1
Águas Lindas de Goiás 159.378 260 1,63
Alexânia 23.814 39 1,64
Cidade Ocidental 55.915 168 3,00
Cocalzinho de Goiás 17.407 15 0,86
Cristalina 46.580 55 1,18
Formosa 100.085 163 1,63
Luziânia 174.531 318 1,82
Novo Gama 95.018 161 1,69
Padre Bernardo 27.671 38 1,37
Planaltina 81.649 145 1,78
Santo Antônio do Descoberto 63.248 95 1,50
Valparaíso de Goiás 132.982 205 1,54
PMB 978.278 1.662 1,70
Distrito Federal 2.570.160 6.128 2,38
Fonte: IBGE, Censo Demográfico - 2010

Quando se verifica a distribuição da população indígena de cada município da PMB conforme


a variável sexo, nota-se que há maior participação de homens nos municípios de Cocalzinho
de Goiás (60%), Planaltina (52,4%) e Alexânia (51,3%). As maiores proporções de indígenas
do sexo feminino estão em Santo Antônio do Descoberto, Valparaíso de Goiás e Cidade
Ocidental com 59%, 58,5% e 57,1%, respectivamente.
A população indígena do Distrito Federal é composta majoritariamente por mulheres, 55,3%,
percentual superior ao da população total do DF, cuja participação feminina é de 52,5% (IBGE,
2010).
Gráfico 1 – Distribuição da população indígena segundo o sexo – Área Metropolitana de
Brasília - 2010

Águas Lindas de Goiás 49,2 50,8


Alexânia 51,3 48,7
Cidade Ocidental 42,9 57,1
Cocalzinho de Goiás 60,0 40,0
Cristalina 43,6 56,4
Formosa 47,9 52,2
Luziânia 48,4 51,6
Novo Gama 43,5 56,5
Padre Bernardo 44,7 55,3
Planaltina 52,4 47,6
Santo Antônio do Descoberto 41,1 59,0
Valparaíso de Goiás 41,5 58,5
Distrito Federal 44,7 55,3
0% 20% 40% 60% 80% 100%

Masculino Feminino

Fonte: IBGE, Censo Demográfico - 2010

10
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

Observa-se que a pirâmide etária indígena do Distrito Federal tem as maiores proporções nas
faixas intermediárias, de 25 a 39 anos (29,3%) e de 40 a 59 anos (27,8%) e as menores nas
extremidades, que correspondem à faixa de crianças de 0 a 9 anos (8,4%) e à de idosos de
60 anos e mais (10%). No caso do Distrito Federal como um todo, a proporção incluída na
faixa etária de 0 a 9 anos é quase o dobro da apurada entre os indígenas na mesma faixa,
15,2%.
O baixo percentual de crianças indígenas pode indicar baixa fecundidade ou sub-registro, por
parte dos familiares ou responsáveis que não classificam as suas crianças como sendo
indígenas. Trata-se de uma questão que requer maior aprofundamento e novos estudos.
Na faixa de 60 anos e mais, os dados revelam haver, proporcionalmente, mais idosos entre
os indígenas (10,1%) do que no DF como um todo (7,7%).
Embora haja semelhança entre as pirâmides etárias da Periferia Metropolitana de Brasília e
do Distrito Federal, nota-se que, nas faixas de 0 a 9 anos e de 60 anos e mais, os dados se
opõem: na PMB há mais crianças entre 0 e 9 anos (10,4%) e menos idosos (9,2%) do que no
Distrito Federal.
Na Periferia Metropolitana de Brasília, os municípios com as maiores proporções de crianças
de 0 a 9 anos são Luziânia (13,8%), Padre Bernardo (13,2%) e Cristalina (12,7%). Já
Cocalzinho de Goiás, Alexânia e Santo Antônio do Descoberto contabilizam menores
percentuais (0%, 5,1% e 6,3%, respectivamente).
As localidades que apresentam as maiores populações indígenas com 60 anos e mais são
Alexânia (28,2%), Padre Bernardo (13,2%) e Novo Gama (12,4%). Nota-se que Alexânia é a
localidade cuja população indígena é a mais envelhecida, com mais da metade de pessoas
nas faixas acima de 40 anos.

Tabela 3 - População Indígena segundo a faixa etária - Periferia Metropolitana de Brasília e


Distrito Federal - 2010
Faixas Etárias
Localidades 10 a 17 18 a 24 25 a 39 40 a 59 60 anos e
0 a 9 anos Total
anos anos anos anos mais
Águas Lindas de Goiás 10,0 13,5 10,8 30,4 30,0 5,4 100,0
Alexânia 5,1 10,3 5,1 28,2 23,1 28,2 100,0
Cidade Ocidental 10,1 12,5 11,9 26,2 31,6 7,7 100,0
Cocalzinho de Goiás 0,0 20,0 20,0 20,0 33,3 6,7 100,0
Cristalina 12,7 21,8 5,5 32,7 20,0 7,3 100,0
Formosa 10,4 16,0 14,7 27,0 23,9 8,0 100,0
Luziânia 13,8 13,2 9,4 25,8 28,3 9,4 100,0
Novo Gama 8,7 14,3 10,6 31,7 22,4 12,4 100,0
Padre Bernardo 13,2 10,5 13,2 13,2 36,8 13,2 100,0
Planaltina 12,4 13,8 9,0 31,0 25,5 8,3 100,0
Santo Antônio do Descoberto 6,3 13,7 14,7 28,4 25,3 11,6 100,0
Valparaíso de Goiás 8,3 8,8 15,6 26,3 31,7 9,3 100,0
PMB 10,4 13,3 11,5 27,9 27,7 9,2 100,0
Distrito Federal 8,4 11,7 12,7 29,3 27,8 10,1 100,0
Fonte: IBGE, Censo Demográfico - 2010

11
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

Gráfico 2 – Distribuição da população segundo a faixa etária - Distrito Federal e Periferia


Metropolitana de Brasília - 2010
29,3
30,0 27,9 27,8 27,7

25,0

20,0

15,0 13,3 12,7


11,7 11,5
10,4 10,1
8,4 9,2
10,0

5,0

0,0
0 a 9 anos 10 a 17 anos 18 a 24 anos 25 a 39 anos 40 a 59 anos 60 anos e mais
Faixas Etárias
Distrito Federal PMB

Fonte: IBGE, Censo Demográfico - 2010

2. Migração

Na investigação sobre a origem da população indígena residente no Distrito Federal, a


Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) em 2013 apurou que a maior parte
advém da região Nordeste (40,2%), seguida da região Centro Oeste (28,2%), da região Norte
(17,3%) e da região Sudeste (14,2%). Não há registro de migrantes indígenas oriundos da
região Sul. Daqueles provenientes da região Centro-Oeste, 78% nasceram no próprio Distrito
Federal (o que corresponde a 22% dos índios habitantes do DF), 12,7% vêm do Mato Grosso
e 9,3% do estado de Goiás.

Gráfico 3 - População Indígena, segundo a região de origem - Distrito


Federal - 2013

14,2
28,2

17,3

40,2

Centro Oeste Nordeste Norte Sudeste

Fonte: PDAD, Codeplan - 2013

12
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

Gráfico 4 – Distribuição da população indígena moradora do Distrito


Federal oriunda da região Centro-Oeste, segundo Unidade da Federação
de origem – Distrito Federal - 2013

12,7

9,3

78,0

Distrito Federal Goiás Mato Grosso

Fonte: PDAD, Codeplan – 2013

Verifica-se que, entre indígenas advindos de outras localidades, o percentual mais expressivo
chegou ao Distrito Federal na década de 1990 (30,2%), seguido dos que migraram na década
de 1970 (19,6%) e 1980 (18,6%). A década de 1960, marcada pela implantação da capital do
país em Brasília, foi o período de menor imigração de indígenas.

Gráfico 5 - Distribuição da população indígena migrante por década de


chegada ao Distrito Federal – Distrito Federal - 2013

13,5 6,7

19,6
11,3

18,6
30,2

1960 1970 1980 1990 2000 2010

Fonte: PDAD, Codeplan – 2013

13
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

3. Cultura e escolarização

Os dados sobre a língua usada por pessoas indígenas maiores de 5 anos no Distrito Federal
revelam que a quase totalidade, 96,9% não falavam língua indígena no domicílio. Em todo o
país, os indígenas residentes fora de terra demarcada utilizam menos a língua de seu povo,
12,7%, enquanto nos territórios reconhecidos pela União 63,7% falam a língua materna em
sua residência.
Gráfico 6 - Percentual de indígenas de 5 anos ou mais de idade que falam
língua indígena no domicílio – Distrito Federal - 2010

3,1

96,9

Falavam Não falavam

Fonte: IBGE, Censo Demográfico – 2010

Um fator determinante da situação socioeconômica é a escolarização, evidenciada, entre


outros indicadores, na taxa de analfabetismo. Entre os indígenas do Distrito Federal, a
proporção de pessoas de 15 anos ou mais não alfabetizadas é superior ao de quaisquer outros
grupos étnicos, ficando em 5,3%. A população negra soma 4,3% de analfabetos, enquanto a
não negra tem a menor taxa, de 2,4%.
Observando a situação nacional, nota-se clara vantagem do Distrito Federal quando se trata
de alfabetização, o que não exclui ou justifica a desigualdade entre os povos considerados.
No Brasil, a taxa de analfabetismo traz uma excelente demonstração da questão racial e
étnica nacional: 6% entre não negros, 13,2% entre negros e 23,3% entre indígenas. Não se
pode ignorar, no entanto, o fato de que grande parte da população indígena brasileira reside
em terras indígenas, algumas isoladas, e com tradições educacionais próprias, nem sempre
havendo alfabetização em português, nos critérios urbanos e da população não indígena.

14
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

Gráfico 9 - Taxa de analfabetismo das populações negra, não negra e


indígena de 15 anos ou mais – Distrito Federal e Brasil - 2010

23,3
25,0

20,0

13,2
15,0

10,0
6,0 5,3
4,3
5,0 2,4

0,0
Não negros Negros Indígenas

DF Brasil

Fonte: IBGE, Censo Demográfico – 2010

4. Moradia

Verificando a forma como a população indígena se estabelece no Distrito Federal, nota-se


que há pouca diferença quanto à condição de ocupação dos domicílios comparada à da
população em geral. Dos domicílios particulares com pelo menos um morador indígena, o
maior percentual refere-se aos imóveis próprios, 56,8%, seguido dos alugados, 33,8%. Os
imóveis cedidos somam 8,2%, enquanto outras formas de ocupação contabilizam 1,2% dos
domicílios.

Gráfico 7 – Percentual de domicílios particulares permanentes com pelo


menos um morador indígena, por condição de ocupação do domicílio -
Distrito Federal - 2010

1,2
8,2

33,8
56,8

Próprio Alugado Cedido Outras

Fonte: IBGE, Censo Demográfico - 2010

15
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

5. Rendimento
Outro aspecto do perfil da população indígena no Distrito Federal diz respeito à renda
individual. Mais da metade dessa população, 55%, declarou perceber, individualmente, mais
de um a três salários mínimos mensais. 24,8% estão na faixa que compreende renda de até
um salário mínimo. Apenas 4,7% desse grupo têm rendimento superior a cinco salários
mínimos.
Na população total do Distrito Federal, verificam-se proporções bastante diferentes, em
especial na faixa de rendimento mais alta, na qual estão 23,8% das pessoas. 9,7% da
população total do DF apresentam rendimento superior a 10 salários mínimos, faixa em que
não se encontra qualquer percentual de indígenas.

Gráfico 8 - Percentual das populações indígena e total com rendimento


positivo por renda total individual mensal – Distrito Federal - 2013

55,0 57,1
60

50

40

30 24,8 23,8

15,5
20
10,4
8,7
10 4,7

0
Até 1 SM Mais de 1 a 3 SM Mais de 3 a 5 SM Mais de 5 SM

Indígenas População total

Fonte: PDAD, Codeplan – 2013

Ainda no âmbito da renda, investigou-se o vínculo da população indígena com benefícios


socioassistenciais. Constatou-se que, entre os benefícios investigados pela PDAD, somente
o Programa Bolsa Família conta com beneficiários indígenas.
No Distrito Federal, observa-se que a população indígena é proporcionalmente a maior
beneficiária do Bolsa Família, programa de transferência de renda do Governo Federal, com
15,2% de sua população coberta, superando a negra, da qual 12,6% usufruem dos benefícios.
Esse dado demonstra que o povo indígena é o mais fragilizado na sociedade, considerando
tratar-se de um programa de transferência direta de renda, que beneficia famílias em situação
de pobreza e de extrema pobreza.

16
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

Gráfico 9 - Percentual das populações que recebem benefícios do


Programa Bolsa Família, segundo a raça/cor - Distrito Federal – 2013

15,2
16,00
12,6
14,00

12,00

10,00

8,00 5,5

6,00

4,00

2,00
Não Negra Indígena Negra

Fonte: PDAD, Codeplan - 2013

Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS, MTE), o mercado de trabalho tem
acolhido a população indígena no Distrito Federal. Enquanto na população eles aparecem em
proporções inferiores a 1%, no mercado de trabalho sua participação variou entre 2% e 2,7%
no setor público e entre 3,1% e 4,8% no setor privado entre 2008 e 2012. A área privada, em
todos os anos considerados, foi responsável por cerca de 95% do emprego dos indígenas,
acompanhando a proporção das demais designações de raça/cor.

Gráfico 10 - Percentual de trabalhadores formais indígenas por setor,


segundo o ano – Distrito Federal – 2008 a 2012
5,0 4,8 4,8

4,1
4,0
3,5
3,1
3,0 2,7
2,5 2,6
2,1
2,0
2,0

1,0

0,0
2008 2009 2010 2011 2012

Público Privado

Fonte: RAIS, MTE - 2012

17
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

Considerações finais

Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados.
Como descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre
marcados pelo exercício da brutalidade sobre aqueles homens, mulheres e crianças.
Esta é a mais terrível de nossas heranças. Mas nossa crescente indignação contra
esta herança maldita nos dará forças para, amanhã, conter os possessos e criar aqui,
neste país, uma sociedade solidária.

Darcy Ribeiro

Não há, no Distrito Federal, terras indígenas demarcadas oficialmente. Por essa razão, a
população indígena que reside na capital do país é, muitas vezes, ignorada pela sociedade e
pelo poder público. O fenômeno do índio na cidade é um tema a ser discutido na academia e
na política, configurando um aspecto da questão social relevante para a cultura nacional. O
Brasil deve muito àqueles que compuseram originalmente sua população.
As informações existentes sobre os indígenas no Distrito Federal revelam uma situação de
desvantagem desse grupo em relação ao restante da população no que se refere à
alfabetização e à renda. Nesses indicadores, os indígenas apresentam números piores que
os da população negra, conhecida por raramente superar os indicadores da população
autodeclarada branca ou amarela.
O maior desafio identificado quanto a esse público é o de obter informações a fim, até mesmo,
de conhecer a relação que as pessoas que se declaram indígenas têm com a cultura indígena.
Para isso, é necessário organizar esforços no sentido de melhorar o registro de informações
e o atendimento das especificidades dos povos indígenas nos serviços públicos e privados do
Distrito Federal.
É preciso também criar espaços de acolhimento de demandas da comunidade indígena,
compreendendo que, ainda que seja inevitável a perda de alguns aspectos de sua cultura
quando da migração para a cidade, esta seja capaz de dar respostas àquilo de que os
indígenas necessitem pelo fato de o serem.
Espera-se com este trabalho contribuir com a reflexão sobre os indígenas que residem no
meio urbano, provocando uma sensibilização das diversas instâncias que abordam
transversalmente o tema para a causa de um povo cuja única exigência explícita é a de ser.

18
População indígena: um primeiro olhar sobre o fenômeno do índio urbano na Área Metropolitana de Brasília

Referências bibliográficas

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.

CODEPLAN, Companhia de Planejamento do Distrito Federal. Distrito Federal em Síntese -


Informações. junho de 2013. http://tinyurl.com/okar2xr (acesso em 13 de abril de 2015).

FUNAI, Fundação Nacional do Índio. Funai. s.d. http://www.funai.gov.br/index.php/quem-somos


(acesso em 13 de abril de 2015).

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. s.d. http://www.ibge.gov.br/home/ (acesso em


13 de abril de 2015).

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro - A formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.

SOUZA, Manuel Nascimento de, e Erivaldo. BARBOSA. Direitos indígenas fundamentais e sua tutela
na ordem jurídica brasileira. s.d. http://tinyurl.com/lev93gg (acesso em 13 de abril de 2015).

19

Você também pode gostar