O Contrato de Namoro No Ordenamento Juri
O Contrato de Namoro No Ordenamento Juri
O Contrato de Namoro No Ordenamento Juri
Revista SÍNTESE
Direito De Família
ano XiX – nº 109 – ago-Set 2018
Diretor eXecutivo
Elton José Donato
gerente eDitorial
Milena Sanches Tayano dos Santos
coorDenaDor eDitorial
Cristiano Basaglia
eDitora
Simone Costa Saletti Oliveira
conSelho eDitorial
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Priscila M. P. Correa da Fonseca, Sergio Matheus Garcez, Sergio Resende de Barros
ISSN 2179-1635
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Assunto Especial
Contrato de namoro
doutrinas
1. Contrato de Namoro: Efeitos?
Felipe Cunha de Almeida ...........................................................................9
2. O Contrato de Namoro no Ordenamento Jurídico Brasileiro
Angélica Aparecida Ortolan e Lívia Copelli Copatti .................................34
3. “Namorar com Contrato?” A Validade Jurídica dos Contratos de
Namoro
Raphael Fernando Pinheiro ......................................................................46
em PouCas Palavras
1. Para Que Serve um Contrato de Namoro? Pode Ser Feito em um
Cartório de Notas?
Isaque Soares Ribeiro ...............................................................................62
aConteCe
1. Para Advogado, Contrato de Namoro Pode Ser Facilmente Contestado
Paulo Lins e Silva .....................................................................................65
Parte Geral
doutrinas
1. A Interdição e a Curatela Sob a Nova Ótica do Estatuto da Pessoa
com Deficiência
Marcela Maria Furst Signori Prado............................................................67
2. O Novo Código de Processo Civil e os Impactos no Direito da
Criança e do Adolescente
Claudio Gomes ........................................................................................71
3. O Instituto da Adoção à Luz da Legislação Brasileira
Caroline Ribas Sérgio ...............................................................................97
4. Efeitos Sucessórios Decorrentes da União Estável, após o
Julgamento do RE 878.694 no STF
Raissa Nacer Oliveira de Andrade ..........................................................109
JurisPrudênCia
Acórdãos nA ÍntegrA
1. Superior Tribunal de Justiça....................................................................134
2. Superior Tribunal de Justiça....................................................................140
3. Superior Tribunal de Justiça....................................................................146
4. Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios..........................154
5. Tribunal de Justiça do Estado de Goiás ...................................................159
6. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais .......................................165
7. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro......................................168
8. Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul ...............................186
9. Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina .....................................191
10.Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo ............................................200
ementário
1. Ementário de Jurisprudência ...................................................................204
Seção Especial
Com a Palavra, o ProCurador
1. Mudança de Sobrenome
Rogério Tadeu Romano ..........................................................................224
Clipping Jurídico..............................................................................................227
Bibliografia Complementar .................................................................................236
Índice Alfabético e Remissivo .............................................................................237
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Assunto Especial – Doutrina
Contrato de Namoro
RESUMO: Este artigo analisou o denominado contrato de namoro e as suas eventuais implicações
para as relações afetivas.
ABSTRACT: This article analyzed the so-called dating contract and its possible implications for affec-
tive relationships.
SUMÁRIO: Introdução; 1 Contratos; 1.1 Requisitos de validade; 1.2 Vontade; 1.3 Autonomia privada;
1.4 Pacta sunt servanda; 2 Contrato de namoro; Conclusão; Referências.
INTRODUÇÃO
As relações afetivas entre as pessoas são dotadas de peculiaridades
e de características inerentes aos envolvidos na relação. Os problemas
de ordem moral, psicológica, por exemplo, são inerentes aos seres hu-
manos. Por exemplo: pode ocorrer que, em determinada relação, uma
das partes tenha em mente um compromisso sério, atrelado à união es-
tável; a outra, por sua vez, pode ver a união apenas como um namoro,
mesmo que com as melhores intenções, mas que atinentes ao momento,
sem um projeto futuro.
Temos relações que, embora muitas vezes longas, duradouras, não
são regidas pelo casamento civil, são, sim, relações de fato. Muitas des-
sas relações podem configurar a união estável ou um simples namoro.
Já, em relação ao casamento civil, este, para entrar no plano da exis-
10 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
1 “Art. 1.640. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, vigorará, quanto aos bens entre os
cônjuges, o regime da comunhão parcial.”
2 “Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais,
no que couber, o regime da comunhão parcial de bens.”
3 “EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO – AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE
UNIÃO ESTÁVEL CUMULADA COM PARTILHA DE BENS E DÍVIDAS – REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL
– PRESUNÇÃO DE ESFORÇO COMUM – DÍVIDAS – ÔNUS DA PROVA (ART. 333, I e II, DO CPC/1973)
– INTELIGÊNCIA DOS ARTS. 1.658, 1.664 E 1.666 DO CC – 1. Às uniões estáveis, salvo documento
escrito entre as partes, aplica-se o regime da comunhão parcial de bens, pelo qual se comunicam todos
os bens adquiridos onerosamente na constância da convivência, independentemente da comprovação
da efetiva participação de cada um dos companheiros, presumindo-se o esforço comum, nos termos das
disposições contidas nos arts. 1.658 e 1660, I, do CCB. As causas de exclusão de bens da partilha,
elencadas no art. 1.659 do CCB, devem ser comprovadas por quem alegar. 2. As dívidas contraídas na
constância da união estável devem ser partilhadas desde que, além da comprovação da sua existência, seja
demonstrado que reverteram em benefício do casal, a teor do disposto no art. 1.664 do mesmo diploma
legal. O ônus da prova acerca da existência de dívidas a partilhar, contraídas na constância da convivência
e em prol do casal, é da parte que formula a alegação e o correspondente pedido. Apelação e recurso
adesivo desprovidos.” (BRASIL. TJRS, Apelação Cível nº 70075022053, 7ª Câmara Cível, Relª Desª Sandra
Brisolara Medeiros, J. 22.11.2017. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=cache:www1.
tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%
25E7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_
processo_mask%3D70075022053%26num_processo%3D70075022053%26codEmenta%3D7548507
+%22a%C3%A7%C3%A3o+de+reconhecimento+e+dissolu%C3%A7%C3%A3o+de+uni%C3%A3o+e
st%C3%A1vel%22+e+regime+de+bens++++&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&ie=UTF-
8&site=ementario&access=p&oe=UTF-8&numProcesso=70075022053&comarca=Comarca%20de%20
Torres&dtJulg=22/11/2017&relator=Sandra%20Brisolara%20Medeiros&aba=juris>. Acesso em: 8 dez.
2017)
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 11
o efetivo convívio proposto?”4 Em analogia ao contrato de namoro, per-
guntamos: Teria aquele o efeito de afastar futura união estável que viesse
a se concretizar?
Portanto, o objeto deste artigo é analisar esse contrato aos olhos
da doutrina e da jurisprudência, no sentido de verificação de sua pratici-
dade e aceitação, ou não, no cenário jurídico e a incidência, ou não, de
seus efeitos. Como se trata de um contrato, vamos analisar, em sequên-
cia e de forma breve, os contratos em sua teoria geral, a vontade, a
autonomia privada e o pacta sunt servanda, para, então, enfrentarmos o
chamado contrato de namoro.
1 CONTRATOS
4 NERY, Rosa Maria de Andrade. Manual de direito civil: direito de família. 1. ed. Coord. Rosa Maria de
Andrade Nery e Nelson Nery Junior. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013. p. 181.
12 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
5 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 10. ed. São Paulo, v. 3,
2013. p. 21.
6 FIUZA, César. Direito civil: curso completo. 13. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 391.
7 Idem, ibidem.
8 TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil. 3. ed. São Paulo: Método, volume único, 2013. p. 521-523.
9 FIUZA, César. Direito civil: curso completo. 13. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 391.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 13
moro), também é verdade que, para que emane os devidos efeitos, deve
preencher certos requisitos. Para tanto, buscamos amparo na doutrina de
Caio Mário da Silva Pereira.
O ilustre jurista supracitado apresenta três requisitos de validade
do contrato: subjetivos, objetivos e formais. Para o primeiro (subjetivo),
vem a capacidade das partes, ou seja, devem os interessados estar aptos
a emitir vontade e de forma válida. Melhor dizendo, significa que “[...] o
requisito subjetivo pode ser enunciado como aptidão para consentir”10.
E mais:
O consentimento gerador do contrato, há de abranger seus três aspectos:
a) Acordo sobre a existência e natureza do contrato; se um dos contratan-
tes quer aceitar uma doação e o outro quer vender, contrato não há.
b) Acordo sobre o objeto do contrato; se as partes divergem a seu respei-
to, não pode haver contrato válido [...].
c) Acordo sobre as cláusulas que o compõem; se a divergência campeia
em ponto substancial, não poderá ter eficácia o contrato.11
De forma objetiva, Caio Mário da Silva Pereira, trazendo a dou-
trina francesa, explica que “[...] os requisitos do contrato envolvem a
possibilidade, liceidade, determinação e economicidade”. Define-se
como impossível a contratação cujo objeto é insuscetível de ser realiza-
do, dividindo-se em impossibilidade material e jurídica. Para a primeira
(material), a impossibilidade é no campo da execução da prestação, po-
dendo, ainda, ser absoluta, que por ninguém é suscetível de realização,
ou relativa12:
[...] relativa, quando o agente em determinado momento não consegue
superar o obstáculo à sua realização, mas outra pessoa, ou a mesma, em
momento diverso, teria meios de obtê-la. Somente a primeira tem como
efeito a nulidade do contrato (Código Civil, art. 106), já que a impossibi-
lidade relativa da prestação não chega a constituir óbice irremovível. Ao
revés, situa-se na dependência de circunstâncias pessoais do devedor,
e, conseguintemente, ao invés de liberá-lo, sujeita-o a perdas e danos.13
10 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: contratos: declaração unilateral de vontade:
responsabilidade civil. 19. ed. Atual. Caitilin Mulholland. Rio de Janeiro: Forense, v. III, 2015. p. 28.
11 Ibidem, p. 29.
12 Idem, ibidem.
13 Ibidem, p. 30.
14 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
14 Idem, ibidem.
15 “EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO – RECUPERAÇÃO JUDICIAL E FALÊNCIA – CONTRATAÇÃO
DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO DE SEGURANÇA DE FORMA IRREGULAR – PACTO QUE ONEROU
EXCESSIVAMENTE A MASSA FALIDA – CONTRAPRESTAÇÃO INDEVIDA – IMPOSSIBILIDADE MATERIAL
DE CUMPRIMENTO – PERÍODO DE PRESTAÇÃO SIMULTÂNEA EM LOCAIS DIVERSOS – 1. Verifica-se no
presente feito que Ernestino e Lúcio foram contratados pela parte agravante, na condição de administrador
judicial das Massas Falidas do Hospital Maia Filho e a de Radiadores Zago, para que exercessem a atividade
de vigia e resguardassem a propriedade daquelas. Entretanto, os referidos vigias foram contratados para que
prestassem serviço no mesmo horário nas duas empresas falidas, situadas em locais diversos. 2. Assim,
a toda evidência, mostra-se impossível que os trabalhadores estivessem prestando serviço em dois locais
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 15
Em termos de impossibilidade jurídica, mesmo sendo a prestação
materialmente realizável, tal impossibilidade dá-se quando a norma é
o obstáculo, não podendo o devedor prestar o que foi combinado. Por-
tanto: “O cumprimento da obrigação importará em afronta ao ordena-
mento jurídico”. A iliceidade referida por Caio Mário Pereira da Silva
tem relação com a impossibilidade, mas que vedada pela lei, gerando a
ineficácia do contrato, atentando, inclusive, a prestação contra a ordem
pública e os bons costumes16.
A título de caso prático no sentido de exemplificar a teoria, a Corte
gaúcha entendeu pela ilicitude do seguinte contrato:
Aqui, para o que importa, foi declarado nulo o contrato, por ilicitude do
seu objeto, com fundamento no art. 166, II, do Código Civil.
[...].
No que diz respeito à aplicação do art. 1.147 do Código Civil e a proi-
bição da concorrência por cinco anos, afigura-se adequada e pertinente
ao administrador que se desliga da companhia, em razão do seu dever
de lealdade. No caso concreto, há o reforço da posição de acionistas
e o dever de não concorrência insculpido do código de conduta que
restou reconhecido, o que aqui ratifico pelos próprios fundamentos do
Juízo postos na fundamentação da sentença, aplicando-se o disposto no
art. 107 do Código Civil, embora não tenha sido o documento assinado.17
distintos ao mesmo tempo, de sorte a cumprir com os contratos firmados com as Massas. É evidente que
os referidos vigias não deviam desempenhar adequadamente as funções para as quais foram contratados,
ante o claro conflito de horários constatado. Portanto, resta incontroverso que a contratação de Ernestino
e Lúcio onerou injustificadamente a massa falida. 3. Por outro lado, somente é possível considerar como
irregulares os pagamentos aos vigias durante o período em que houve a contratação simultânea na qual
havia conflito de horário e local diverso para prestação do serviço, isto é, não todo o lapso temporal no qual
prestaram os referidos serviços de vigilância à massa falida do Hospital Maia Filho. 4. Por conseguinte,
deve ser dado parcial provimento ao agravo de instrumento, a fim de declarar a irregularidade das
contratações e pagamentos realizados pela parte agravada aos vigias Ernestino e Lúcio, durante o interregno
de tempo de 1º de abril de 2009 a outubro de 2010, podendo obter a remuneração devida no período
que não está compreendido neste lapso temporal. Dado parcial provimento ao agravo de instrumento.”
(BRASIL. TJRS, Agravo de Instrumento nº 70070996350, 5ª Câmara Cível, Rel. Des. Jorge Luiz Lopes
do Canto, J. 19.12.2016. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=cache:www1.tjrs.jus.
br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E7a
%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_processo_
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8&site=ementario&access=p&oe=UTF-8&numProcesso=70070996350&comarca=Comarca%20de%20
Porto%20Alegre&dtJulg=19/12/2016&relator=Jorge%20Luiz%20Lopes%20do%20Canto&aba=juris>.
Acesso em: 5 jan. 2018)
16 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: contratos: declaração unilateral de vontade:
responsabilidade civil. 19. ed. Atual. Caitilin Mulholland. Rio de Janeiro: Forense, v. III, 2015. p. 30-31.
17 “Ementa: Apelação cível. Ação declaratória de nulidade de contrato. Caso concreto. Matéria de fato. Análise das
provas. Contrato de licenciamento de marcas declarado nulo. Prática de atos de concorrência desleal. Dever
16 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
de lealdade e de boa-fé do acionista em não concorrer contra a própria companhia da qual era o administrador.
Objeto ilícito do contrato reconhecido, na forma do art. 166, II, do Código Civil. Sentença confirmada por seus
fundamentos. Apelo não provido.” (BRASIL. TJRS, Apelação Cível nº 70071190532, 6ª Câmara Cível, Rel. Des.
Ney Wiedemann Neto, J. 09.03.2017. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.br/busca/search?q=cache:www1.
tjrs.jus.br/site_php/consulta/consulta_processo.php%3Fnome_comarca%3DTribunal%2Bde%2BJusti%25E
7a%26versao%3D%26versao_fonetica%3D1%26tipo%3D1%26id_comarca%3D700%26num_processo_
mask%3D70071190532%26num_processo%3D70071190532%26codEmenta%3D7174700+contra
tos+e+%22objeto+il%C3%ADcito%22++++&proxystylesheet=tjrs_index&client=tjrs_index&ie=UTF-
8&site=ementario&access=p&oe=UTF-8&numProcesso=70071190532&comarca=Comarca%20de%20
Nova%20Prata&dtJulg=09/03/2017&relator=Ney%20Wiedemann%20Neto&aba=juris>. Acesso em: 5
jan. 2018)
18 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: contratos: declaração unilateral de vontade:
responsabilidade civil. 19. ed. Atual. Caitilin Mulholland. Rio de Janeiro: Forense, v. III, 2015. p. 31.
19 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, AREsp 1084432, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, decisão
monocrática, J. 01.08.2017. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/decisoes/toc.jsp?livre=contrato
s+e+%22objeto+indetermin%E1vel%22&&b=DTXT&thesaurus=JURIDICO&p=true>. Acesso em: 5 jan.
2018.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 17
entende e se alinha à corrente que defende o requisito da patrimoniali-
dade quanto ao objeto da obrigação20.
O terceiro e último requisito de validade é quanto à forma:
[...] em princípio, os contratos celebram-se pelo livre consentimento das
partes, salvo quando a lei impõe, como essencial, a obediência ao requi-
sito de forma (Código Civil, art. 107). Certos contratos têm de ser vazados
de forma escrita, como, por exemplo, a doação, salvo se de pequeno va-
lor (Código Civil, art. 541), e outros devem revestir a forma pública. Esta
pode ser adotada pela convenção, quando as partes ajustam-na em cláu-
sula expressa (Código Civil, art. 220), ou é determinada pela lei, como
se dá nos contratos constitutivos ou translativos de direitos reais sobre
imóveis de valor determinado em lei.21
1.2 vontade
Em termos de interpretação contratual, o Código Civil é econômi-
co no tocante a tais regras, contendo, assim, um princípio geral estam-
pado nesses termos: “Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá
mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da lin-
guagem”. Vejamos as lições nesse sentido:
Aproximou-se do Código Civil alemão, e propendeu para a busca da
vontade, sem o feitichismo da expressão vocabular. Mas não quer, tam-
bém dizer, que o intérprete desprezará a linguagem para sair à cata da
vontade, nos meandros cerebrinos de sua elaboração. Cabe-lhe buscar
a intenção dos contratantes, percorrendo o caminho da linguagem em
que vazaram a declaração, mas sem se prender demasiadamente a esta.22
20 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: contratos: declaração unilateral de vontade:
responsabilidade civil. 19. ed. Atual Caitilin Mulholland. Rio de Janeiro: Forense, v. III, 2015. p. 31.
21 Ibidem, p. 32.
22 Ibidem, p. 46.
18 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
23 VENOSA, Sílvio de Salvo. Código Civil interpretado. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 122.
24 Ibidem, p. 123.
25 TEPEDINO, Gustavo; BARBOZA, Heloisa Helena; MORAES, Maria Celina Bodin de. Código Civil interpretado
conforme a Constituição da República: parte geral e obrigações (artigos 1º a 420). 3. ed. São Paulo: Renovar,
v. I, 2014. p. 229.
26 BENHAME, Mário. Comentários ao Código Civil: artigo por artigo. 3. ed. Coord. Jorge Shiguemitsu Fujita,
Luiz Antonio Scavone Jr., Carlos Eduardo Nicoletti Camillo e Glauber Moreno Talavera. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2014.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 19
são os contratantes e, a partir do julgado, com o resultado da ação, ex-
-companheiros?
Entendendo o magistrado pela primeira hipótese (força total do
contrato), a questão é resolvida tendo em vista o princípio da autonomia
privada e do pacta sunt servanda, mesmo com a caracterização da união
estável. Contudo, também caso venha a se configurar a união estável,
cujo ônus da prova é encargo de quem a alegar, a situação vai ter con-
tornos e consequências diferentes se o juiz entender que a realidade fá-
tica do casal tem status de família, circunstância essa que neutralizará os
efeitos do contrato. Vamos aos princípios mencionados neste parágrafo.
27 AMARAL NETO, Francisco dos Santos. Autonomia privada. Revista CEJ: Conselho da Justiça Federal, Centro
de Estudos Judiciários, Brasília: CJF, n. 1, p. 26, 1997.
28 Idem, ibidem.
20 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
29 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 91.
30 AMARAL, Francisco. Introdução ao direito civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2005. p. 121.
31 WALD, Arnoldo; FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Direito civil: direito de família. 18. ed. São Paulo:
Saraiva, v. 5, 2013. p. 164.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 21
conveniências, desde que não sejam violadas normas imperativas refe-
rentes ao casamento e à estrutura da família.
32 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. p. 91.
33 SANTOS, Luis Felipe Brasil. Autonomia de vontade e os regimes matrimoniais de bens. Disponível em:
<http://direitodefamiliars.blogspot.com.br/2011/06/doutrina-autonomia-de-vontade-e-os.html>. Acesso em:
21 out. 2012.
22 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
34 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
v. 3, 2013. p. 48-49.
35 Idem, ibidem.
36 Ibidem, p. 49.
37 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: obrigações e responsabilidade civil. 17. ed. São Paulo: Atlas, v. 2,
2017. p. 360.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 23
2 CONTRATO DE NAMORO
Os estudos de Rolf Madaleno elucidam bem a questão sobre o
significado do namoro. Na verdade, tal condição revela, sim, o envolvi-
mento de determinado casal, mas de forma recente, além de “[...] basea-
do em pouco ou nenhum conhecimento um do outro, tratando-se, de
realidade, de um período experimental, que, posteriormente, nas gera-
ções que ficaram para trás, era substituído pelo noivado [...]”38.
Em tempos atuais, as uniões constituídas informalmente são ab-
solutamente aceitas e reconhecidas em nossa sociedade, sendo marca
presente de nosso tempo. Contudo, nem sempre foi assim. Para melhor
ilustrar essa premissa, trazemos as lições de Rolf Madaleno.
O ilustre jurista referenciado ensina que os relacionamentos, es-
pecialmente anteriores à Constituição de 1988, eram vinculados a clás-
sicos estágios inerentes ao seu desenvolvimento, ou seja: tinham início
com o namoro, passando ao noivado e, após, ao casamento. E mais: o
dito casamento era a forma única e legítima para fins de constituição de
família39. Portanto:
Para aqueles que estavam impedidos ou não queriam assumir compro-
missos afetivos formais e com efeitos jurídicos existia o antigo concubi-
nato, cuja instituição não era reconhecida e vivia à margem da lei, e se
dividia entre o concubinato puro ou impuro, conforme a ausência ou a
presença de impedimentos matrimoniais dos concubinos.40
38 MADALENO, Rolf. Curso de direito de família. 6. ed. Rio de Janeiro, Forense, 2015. p. 1222.
39 Ibidem, p. 1221.
40 Idem, ibidem.
41 Idem, ibidem.
24 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
42 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: famílias. 7. ed. São Paulo: Atlas,
v. 6, 2015. p. 485.
43 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 186.
44 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 27. ed. São Paulo: Saraiva, v. 5,
2012. p. 404.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 25
jurídico firmado com o nítido propósito de afastarem o regramento do
Direito de Família.
Mas, conforme já observado [...], a união estável é um fato da vida e,
como tal, se configurada, não será uma simples declaração negocial de
vontade instrumento hábil para afastar o regramento de ordem pública
que rege este tipo de entidade familiar.45
45 PAMPLONA FILHO, Rodolfo; GAGLIANO, Pablo Stolze. Direito de família: as famílias em perspectiva
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 435.
46 Idem, ibidem.
47 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 27. ed. São Paulo: Saraiva, v. 5,
2012. p. 404-405.
48 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e sucessões. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
v. 5, 2012. p. 200.
26 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
49 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça, AREsp 1149402, Rel. Min. Og Fernandes, decisão monocrática,
J. 12.09.2017. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/decisoes/toc.jsp?livre=%22contrato+de+nam
oro%22&&b=DTXT&thesaurus=JURIDICO&p=true>. Acesso em: 8 dez. 2017.
50 ALMEIDA, Felipe Cunha de. O Superior Tribunal de Justiça e a tese do namoro qualificado: afastando a
hipótese de união estável. Revista SíntESE Direito de Família, v. 98, p. 9-25, 2016.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 27
juntado aos autos, parecendo se tratar de contrato verbal [...] A preocu-
pação dos requerentes, notadamente a do autor, no sentido de encerrar a
relação havida de modo a prevenir outras demandas, o que o requerente
não quer que ocorra ‘em hipótese nenhuma’ [sic] (último parágrafo de
fl. 2) não basta para pedir provimento jurisdicional, desnecessário para o
fim colimado”.51
52 “EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL – UNIÃO ESTÁVEL E SUA DISSOLUÇÃO – PROVA.” (BRASIL. TJMT, Apelação
Cível nº 0033037-35.2005.8.12.0001, 3ª Câmara Cível, Rel. Des. Oswaldo Rodrigues de Melo, J. 26.01.2009.
Disponível em: <https://www.tjms.jus.br/cjsg/getArquivo.do?conversationId=&cdAcordao=137970&cdForo
=0&uuidCaptcha=sajcaptcha_96df3609a47740a0872366ff07f5ec9a&vlCaptcha=ycz&
novoVlCaptcha=>. Acesso em: 8 dez. 2017)
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 29
fatos em determinada relação vierem a configurar união estável, tal ne-
gócio jurídico não tem o condão de afastar os efeitos jurídicos daquela
união. Em que pese seja válido o contrato (eis que o ordenamento não
exige forma prescrita e por ser lícito o objeto), não é idôneo53.
No mesmo sentido a posição de Maria Berenice Dias, ou seja,
“não há como previamente afirmar a incomunicabilidade quando, por
exemplo, segue-se longo período de vida em comum, no qual são amea-
lhados bens pelo esforço comum”. A autora ressalta, inclusive, a hipó-
tese de enriquecimento sem causa caso os efeitos em contrato firmado
no início do namoro sejam preservados mesmo que desconsiderados os
fatos que caracterizam a união estável54.
Paulo Lôbo, com o brilhantismo que lhe é peculiar, aduz sobre
a necessidade de se identificar se determinada relação é caracterizada
pelo namoro ou, então, pela união estável, eis que as consequências
para a vida do casal dependerão de uma ou outra forma. Inclusive, res-
salta o mestre que a hipótese de namoro não se enquadra como entidade
familiar. Portanto, o namoro permanece apenas no mundo dos fatos, não
criando deveres e direitos, tal e qual ocorre para a hipótese de união
estável55.
As lições do mestre em referência são de suma importância para
este estudo. Ora, mesmo que o casal se apresente, declare-se como na-
morados em determinado contrato de namoro, mas se as circunstâncias
fáticas concluírem pela configuração de união estável, a manifestação
de vontade declarada não surtirá efeitos, eis que tanto o Código Civil
quanto a doutrina e a jurisprudência são unânimes acerca dos pressu-
postos caracterizadores da união estável, prevalecendo esta sobre qual-
quer manifestação de vontade em sentido diverso.
CONCLUSÃO
É verdade que, além do casamento, a Constituição Federal de
1988 reconhece a união estável como forma de família, nos termos do
53 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: famílias. 7. ed. São Paulo: Atlas,
v. 6, 2015. p. 485.
54 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 186.
55 LÔBO, Paulo. Direito civil: famílias. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 157.
30 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Felipe Cunha de. O Superior Tribunal de Justiça e a tese do namoro
qualificado: afastando a hipótese de união estável. Revista SínteSe Direito de
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AZEVEDO, Álvaro Villaça. Direito de família: curso de direito civil. 1. ed.
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BENHAME, Mário. Comentários ao Código Civil: artigo por artigo. 3. ed.
Coord. Jorge Shiguemitsu Fujita, Luiz Antonio Scavone Jr., Carlos Eduardo
Nicoletti Camillo e Glauber Moreno Talavera.São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 2014.
32 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
ABSTRACT: This paper analyzes the problem about the Dating Agreement in Brazilian law. For development
work, deductive and bibliographical method is used. The main objective of this work is to clarify
what is Dating Agreement and pointing their points of discussion: the validity of the Relationship
Agreement and the Legal invalidity of the particular instrument. To achieve this goal, this paper first
characterizes the family entity called Stable Union, presenting their concepts, the requirements for
your configuration, and the effects of its dissolution. The understanding of this institute is essential for
the optimal development of the approach to dating contract. Search up somehow with the Contract
Dating avoid division of property and the rights to food, among others concerning the Stable Union,
since such couples as having no intention of starting a family. Finally, we conclude, based on the lite-
rature review that there are two divergent doctrinal positions on the issue. Thus, given the absence
of a regulatory law and various legal positions, the present work is justified by the need to find a basis
for determining the validity or invalidity of legal dating contract.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 35
KEYWORDS: Dating contract; stable union; sharing of goods.
SUMÁRIO: Introdução; 1 Contextualização da união estável; 1.1 Histórico do concubinato; 1.2 Con-
ceito e requisitos para a configuração da união estável; 1.3 Direitos decorrentes da união estável;
2 Contrato de namoro; Considerações finais; Referências.
INTRODUÇÃO
O contrato de namoro é um tema que, atualmente, vem sendo
discutido, no âmbito jurídico, pela sua validade ou não. O mesmo en-
contra-se desprovido de alguma legislação regulamentadora, sendo visto
por alguns órgãos, juristas e profissionais como válido e, para outros,
como inválido.
Atualmente, os namoros são muito diferentes do que eram há al-
guns anos. Os casais dormem juntos, viajam, compartilham muito tem-
po em atividades conjuntas desde um simples almoço. Isso faz com
que o namoro, em alguns casos, muito se aproxime da união estável,
entendida conforme o art. 1.723 do Código Civil (Brasil, 2002) como
o relacionamento caracterizado pela “convivência pública, contínua e
duradoura, estabelecida com o objetivo de constituição de família” e
que possui consequências para as partes envolvidas, como o direito a
alimentos, partilha de bens, entre outros.
Por esse motivo, muitas pessoas, preocupadas com o fato de, no
futuro, poder ter um namoro confundido com uma união estável, estão
namorando “de papel passado”.
Por fim, serão apresentadas as considerações finais do trabalho,
levando em conta todos os aspectos desenvolvidos e deixando abertos
dois posicionamentos jurídicos diversos para o contrato de namoro.
2 CONTRATO DE NAMORO
Após a regulamentação da união estável como entidade familiar,
e seus efeitos patrimoniais advindos de sua dissolução, houve o estabe-
lecimento de situações de insegurança e temor em casais de namorados,
principalmente no que diz respeito a um futuro rompimento de seus
relacionamentos. Vislumbram, assim, a necessidade de regulamentar o
mesmo por meio de um contrato, para que não sofram problemas e dis-
cussões especialmente patrimoniais.
Contextualizando a questão do namoro, Maluf e Maluf referem o
seguinte:
Diferentemente, dos companheiros, cujos direitos pessoais e patrimo-
niais são resguardados pela lei, os namorados não têm direito a herança
nem a alimentos. Assim, com o fim do namoro, não há qualquer direito
na meação dos bens do ex-namorado. Aliás, nem há de se falar em regi-
me de bens ou em partilha de bens entre namorados. Os namorados não
têm nenhum direito, pois o namoro não é uma entidade familiar. (2013,
p. 376-377)
42 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta do presente trabalho foi analisar e compreender o con-
trato de namoro enquanto instrumento hábil para regulamentar o re-
lacionamento entre os namorados e quais seus efeitos e sua validade
perante o ordenamento jurídico nacional.
Para tanto, foi analisada a união estável, onde se observa que se
trata de um contexto social que, até a entrada em vigor do Código Ci-
vil de 2002, era rechaçada pela sociedade, apesar do reconhecimento
constitucional, sendo chamada de concubinato. Foram apresentados a
sua estrutura e os seus caracterizadores, bem como os direitos e deveres
dos companheiros.
Os efeitos patrimoniais da união estável foram analisados, assim,
como os efeitos sucessórios, a qual foi possível notar o tratamento dife-
renciado dado à união estável pelo Código Civil, o qual acaba por lesar
o companheiro sobrevivente no que diz respeito à sucessão.
Foi possível verificar que se busca com o contrato de namoro evi-
tar partilha de bens, direitos relativos a alimentos, entre outros concer-
nentes à união estável, uma vez que o casal de namorados não possuiria
intenção de constituição de família. Assim, diante da inexistência de
uma legislação regulamentadora e de diversos posicionamentos jurídi-
cos, o presente trabalho justifica-se pela necessidade de encontrar um
44 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
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______. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 380. Comprovada a existência
de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível sua dissolução judicial
com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum. Disponível em:
<http://www.dji.com.br/normas_inferiores/regimento_interno_e_sumula_stf/
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______. Supremo Tribunal Federal. Súmula nº 382. A vida em comum sobre o
mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização do concu-
binato. Disponível em: <http://www.dji.com.br/normas_inferiores/regimen-
to_interno_e_sumula_stf/stf_0382.htm>. Acesso em: 4 ago. 2014.
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WALD, Arnold; FONSECA, Priscila M. P. Corrêa da. Direito civil: direito de
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Assunto Especial – Doutrina
Contrato de Namoro
RESUMO: Cada vez mais casais tem procurado avençar entre si uma espécie de contrato que mol-
dure sua relação de namoro com intuito de impedir o reconhecimento da união estável. Quem con-
fecciona um “contrato de namoro” objetiva afastar a comunicabilidade do patrimônio – efeito jurídico
inerente à união estável – visando à proteção de sua órbita patrimonial da possível meação com o
outro. Assim, questionamentos têm surgido sobre a validade desses contratos no âmbito do Direito
de Família. Destarte, o objeto deste artigo científico é o contrato de namoro. O seu objetivo é verificar,
com base na legislação e doutrina pátrias, a validade jurídica do contrato de namoro. Foi utilizado
o método indutivo, operacionalizado, principalmente, pelas técnicas da pesquisa bibliográfica e do
referente.
INTRODUÇÃO
Em regra, o namoro é costume cultural em que o casal estabelece
um vínculo de afeto com base no respeito e amor, e que, caso se fortale-
ça, resulta no entrelaçamento total de vidas pela posse marital.
Não se confunde com a união estável, tendo em vista que não
apresenta os seus requisitos caracterizadores, disciplinados por excelên-
cia do Código Civil, sendo relação mais singela, onde prevalece o amor
impulsionado pela paixão da conquista.
Diante do fato de a união estável, na legislação atual, dispensar
prazo para a sua configuração, muitos namorados têm confeccionado
“contratos de namoro” para dar definição a sua relação, objetivando
evitar que se confunda com uma entidade familiar.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 47
Desse modo, faz-se necessário discorrer sobre a validade de tais
contratos no ordenamento jurídico pátrio.
Assim, para a confecção deste trabalho se partiu da análise concei-
tual e histórica do namoro, para seguidamente diferenciá-lo do instituto
da união estável.
Abordou-se também a figura do contrato de convivência, para
que, ao final, se discorrer sobre o “contrato de namoro”, sua validade
jurídica e demais caracteres.
Foi utilizado o método indutivo, operacionalizado, principalmen-
te, pelas técnicas da pesquisa bibliográfica e do referente.
1 PORTUGUESA, Instituto de Língua (Org.). Dicionário Housaiss. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. p. 1993.
2 DINIZ, Maria Helena. Dicionário jurídico. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 359.
3 GIKOVATE, Flávio. namoro: relação de amor e sexo. São Paulo: Moderna, 1993.
48 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
4 Idem.
5 Idem.
6 Bíblia Sagrada. Gênesis, Capítulo 24.
7 VILLA, Marco Antonio. O namoro ao longo do tempo, uma lição apaixonante. Disponível em: <http://
revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/namoro-ao-longo-tempo-licao-apaixonante-431289.shtml>. Acesso
em: 15 mar. 2011.
8 Idem.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 49
fator importante para a manutenção de um relacionamento, embora não
seja o fator preponderante. Havia toda uma série de regras e normas de
boa conduta que fazia com que o casal apenas revelasse algumas facetas
de si mesmo, até pela falta de intimidade e de tempo entre eles, porque
havia horários e dias restritos para o namoro.9
9 TESSARI, Olga Inês. Existem diferenças no namoro atual? Disponível em: <http://www.olgatessari.com/
id230.htm>. Acesso em: 15 mar. 2011.
10 VILLA, Marco Antonio. O namoro ao longo do tempo, uma lição apaixonante.
11 Idem.
12 UOL. Namoro tem prazo de validade. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vyaestelar//namoro_ficar.
htm>. Acesso em: 14 mar. 2012.
50 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
29 Ibidem, p. 63.
30 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, p. 370.
31 AZEVEDO, Álvaro Villaça de. Estatuto da família de fato, p. 286.
32 CAHALI, Francisco José. Contrato de convivência na união estável, p. 59.
33 Ibidem, p. 60.
54 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
34 Ibidem, p. 62-63.
35 OLIVEIRA, Euclides de. União estável do concubinato ao casamento antes e depois do novo Código Civil,
p. 159.
36 Ibidem, p. 163.
37 COL, Helder Martinez da. Contrato de namoro. Revista Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre: IBDFam,
p. 126-156, 1º abr. 2004, p. 141.
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delas já haviam ouvido falar, só passaram a prestar maior importância ás
suas disposições quando souberam que essas previsões agora estavam
“no Código”, o que denota quão pouco se conhece a legislação em meio
à grande massa da população brasileira.38
38 Idem, ibidem.
39 MENDONÇA, Camila Ribeiro de. Contrato de namoro previne risco de casamento. Disponível em: <http://
www.conjur.com.br/2011-jun-12/casais-fazem-contrato-poder-namorar-risco-casamento>. Acesso em: 15
mar. 2012.
40 Idem.
41 COL, Helder Martinez da. Contrato de namoro, p. 142.
56 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
42 DIAS, Maria Berenice. Manual de direitos das famílias. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 186.
43 Idem, ibidem.
44 Idem, ibidem.
45 GAGLIANO, Pablo Stolze. Contrato de namoro. Disponível em: <http://jus.com.br/revista/texto/8319/contrato-
de-namoro>. Acesso em: 5 abr. 2012.
46 SILVA, Regina Beatriz Tavares da. O mal falado contrato de namoro. Disponível em: <http://www.reginabeatriz.
com.br/academico/artigos/artigo.aspx?id=130>. Acesso em: 15 mar. 2012.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 57
feitamente válido perante nosso ordenamento jurídico, desde que seja
firmada com a finalidade de refletir em documento escrito a realidade,
já que não viola diretos, que não existem nessa relação, não podendo,
portanto, causar qualquer dano”47.
Para Tavares, não há ilicitude no pacto, configurando uma decla-
ração de namoro, que pode ser feita por meio de documento público ou
particular, só possuindo caráter de ilícito quando for usado para afastar
regras de Direito de Família48.
Por sua vez, Zeno Veloso não vê impedimento na lei para o reco-
nhecimento dos “contratos de namoro”, sendo forma de o casal atestar
em documento escrito que está tendo um envolvimento amoroso, um
relacionamento afetivo, que se esgota nisso, não havendo o interesse
ou a vontade de constituir uma entidade familiar, com consequências
pessoais e patrimoniais inerente à união estável49.
Antônio dos Santos Damasceno aborda o referido contrato por
uma perspectiva comportamental, observando que as emoções, os so-
nhos e a beleza da convivência perdem a importância, pois, para iniciar
uma relação afetiva mais duradoura, caso o contrato de namoro entre
“na moda”, deve-se sentar e contratar as condições desse negócio. Se-
gundo Damasceno, o surgimento desses contratos é um indicativo de
mercantilização da vida e da diminuição da espontaneidade dos sen-
timentos dos sentimentos diante dos riscos da vida moderna, na qual
predomina o receio de ser enganado50.
Desafiam a jurisprudência as relações em que o casal vive sob o
mesmo teto, dorme na mesma cama, compartilha a convivência fami-
liar, sendo para um dos integrantes da relação um sinônimo de com-
promisso sério próximo à do estado de casado, mas que, para o outro,
é apenas um mero namoro, tendo em vista que seu estilo de viver, sem
hipocrisias, é desfrutando da máxima liberdade. Para isso, o contrato de
47 Idem.
48 Idem.
49 VELOSO, Zeno. Contrato de namoro. Disponível em: <http://www.soleis.adv.br/artigocontratodenamorozeno.
htm>. Acesso em: 15 mar. 2012.
50 DAMASCENO, Antônio dos Santos. É possível fazer um “contrato de namoro”? Disponível em: <http://
www.advocaciadamasceno.com.br/new/index.php/leitura-recreativa/112-e-possivel-fazer-um-contrato-de-
-namoro->. Acesso em: 15 mar. 2012.
58 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
55 Idem.
60 �������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para a configuração da união estável, na legislação atual, não é
necessário o requisito de prazo certo, razão que seu reconhecimento se
faz com base nos elementos ensejadores disciplinados no Código Civil
e na CRFB.
Assim, muitos namorados, com receio que sua relação, em uma
possível discussão judicial, seja reconhecida como união estável, estão
confeccionando “contratos de namoro” para afastar a comunicabilidade
de patrimônios.
Porém, quando confrontados com preceitos de ordem pública de
Direito de Família, esses contratos perdem qualquer fragmento de vali-
dade jurídica, pois, uma vez evidenciados os requisitos caracterizadores
da união estável, nenhuma avença entre os particulares consegue afastar
os efeitos patrimoniais dessa entidade familiar.
Desse modo, apesar de ser forma de exteriorizar o pensamento do
casal sobre sua relação afetiva, o contrato, como qualquer outro, não
tem o condão de afastar o império da vontade da lei.
REFERÊNCIAS
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RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������� 61
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TESSARI, Olga Inês. Existem diferenças no namoro atual? Disponível em:
<http://www.olgatessari.com/id230.htm>. Acesso em: 15 mar. 2011.
VELOSO, Zeno. Contrato de namoro. Disponível em: <http://www.soleis.adv.
br/artigocontratodenamorozeno.htm>. Acesso em: 15 mar. 2012.
VILLA, Marco Antonio. O namoro ao longo do tempo, uma lição apaixonante.
Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/namoro-ao-
-longo-tempo-licao-apaixonante-431289.shtml>. Acesso em: 15 mar. 2011.
Assunto Especial – Em Poucas Palavras
Contrato de Namoro
1 VELOSO, Zeno. É namoro ou união estável, 2016. Acesso em: 29 maio 2017.
64 ������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ASSUNTO ESPECIAL – EM POUCAS PALAVRAS
alerta que tal declaração deve retratar a realidade, não podendo ser um
instrumento para encobrir uma união estável:
Há quem diga que a celebração do equivocadamente chamado “contrato
de namoro” configura ato ilícito. Porém, quem faz esse tipo de afirmação
esquece de que a declaração de namoro serve para provar o que efetiva-
mente existe, ou seja, relação de afeto sem consequências jurídicas. Essa
declaração somente pode ser tida como ilícita se falsear a verdadeira
relação que existe entre aquelas duas pessoas, ou seja, declararem que
há namoro quando, na verdade, o que existe é união estável.2
2 SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Contrato de namoro, 2016. Acesso em: 29 maio 2016.
Assunto Especial – Acontece
Contrato de Namoro
Dessa forma, por ser uma medida extraordinária, existe uma outra
via assistencial de que pode se valer a pessoa com deficiência para que
possa atuar na vida civil, que é tomada de decisão apoiada.
Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercí-
cio de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais
pessoas.
[...]
§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de toma-
da de decisão apoiada.
INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como escopo a análise sistemática do Es-
tatuto da Criança e do Adolescente à luz do novo Código de Processo
Civil, mas, notadamente, no que tange aos recursos. Apresentando duas
partes, onde a primeira parte discorre sobre os recursos no novo Código
de Processo Civil, elencando as espécies de recursos previstos na vigente
legislação processual, bem como os pressupostos e o cabimento de cada
espécie de recurso. Já a segunda parte consiste na apresentação dos pro-
cedimentos processuais dispostos no Estatuto, principalmente em sede
recursal, e, após, adequação das normas do novo diploma processual
ao Estatuto, levando-se sempre em conta a subsidiariedade da aplicação
das normas do processo civil em relação aos procedimentos previstos na
legislação protetiva da criança e do adolescente.
No mesmo diapasão, cabe ressaltar que a referida subsidiariedade
das normas do processo civil na legislação da criança e do adolescente
é decorrente dos princípios da especialidade da legislação da criança e
do adolescente, da prioridade absoluta e do melhor interesse da criança
e do adolescente.
72 ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – DOUTRINA
I – CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O novo CPC inovou dispondo algumas mudanças, como proces-
sos mais céleres, desburocratizados, prestigiando-se a autonomia de
vontade das partes, com permissão para negócios processuais e a hu-
manização do processo civil. Implantou, ainda, um sistema multiportas,
onde a controvérsia apresentada ao Judiciário possa ser solucionada por
meio da conciliação, mediação e arbitragem, e aí só no caso do fracasso
das tentativas de acordo o juiz julgará a causa, através de um processo
justo, com o efetivo contraditório e a ampla defesa, sendo vedada, tam-
bém, a decisão surpresa para as partes, terminando o procedimento em
uma sentença justa e bem fundamentada, com a análise do mérito da
questão, aproveitando, o quanto possível, todos os atos processuais –
pas de nullité sans grief –, corolário do princípio da instrumentalidade
das formas, preocupando-se mais com a resolução do mérito do que
com formalidades, muitas vezes irrelevantes.
O novo CPC, quando dispõe sobre um contraditório efetivo, nos
termos do art. 10 do CPC/2015, refere-se ao fato de que, no processo,
as partes tenham condições de efetivamente manifestarem-se e ao mes-
mo tempo serem ouvidas. Assim sendo, o legislador preocupou-se em
melhor disciplinar o acesso à justiça por meio de assistência judiciária,
bem como o rigor no que tange à igualdade de condições dos litigantes
no processo, ou seja, a paridade de armas, tendo como pano de fundo
o princípio da isonomia. E, nessa toada, o novo CPC disciplinou a distri-
buição do ônus da prova, ou seja, o ônus da prova é daquele que melhor
tenha condições de produzi-la, levando-se em conta a hipossuficiência
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – DOUTRINA �������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 75
da parte contrária na produção de determinada prova, sendo conhecido
como o princípio da carga dinâmica da prova.
O novo CPC também consagrou a obrigatoriedade imposta aos
magistrados de motivarem suas decisões, vedando argumentos genéri-
cos e citações jurisprudenciais sem demonstração de sua pertinência ao
caso concreto, conforme o art. 11 c/c o art. 489, ambos do CPC 2015.
Assim sendo, os procedimentos disciplinados pelo ECA, à luz do
novo CPC, asseguram uma maior efetividade no que tange aos direitos e
às garantias fundamentais da criança e do adolescente.
II – O SISTEMA MULTIPORTAS
O CPC vigente, em seu art. 3º, adota o modelo multiportas, ou
seja, dispõe, além da solução jurisdicional tradicional, os meios alterna-
tivos de solução de controvérsias. Assim sendo, a conciliação e a me-
diação, que antes eram meios alternativos de solução de litígios, passam
a condição de soluções previstas no CPC, proporcionando à parte a es-
colha do caminho mais adequado de acordo com as peculiaridades de
cada conflito.
O conciliador, em regra, atuará nas causas onde não haja um vín-
culo anterior entre as partes, podendo, então, sugerir soluções para so-
lução do conflito. Por outro lado, o mediador atuará nas situações onde
houver um vínculo anterior entre as partes, promovendo o entendimento
entre as partes, restaurando, quando possível, os vínculos anteriores, de
forma que os próprios litigantes cheguem, por eles mesmos, a uma solu-
ção satisfatória à ambos.
O sistema multiportas é totalmente adaptável aos processos que
tramitam nas Varas da Infância e Juventude, sendo aplicável em algumas
situações, como:
a) Na apuração de ato infracional, é possível a utilização dos mé-
todos inerentes à Justiça Restaurativa, com o incentivo à com-
posição do conflito entre o adolescente infrator, a vítima do ato
infracional e a sociedade, sendo as tratativas conduzidas por
um mediador. O mesmo ocorrendo no que tange à execução
das medidas socioeducativas.
76 ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – DOUTRINA
a) legitimidade ativa
b) cuRadoR especial
a) destituição da tutela
b) sistema RecuRsal
a) caRacteRísticas específicas
d) pRioRidade no Julgamento
REFERÊNCIAS
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil. 2. ed. Ed. Gen./Atlas,
2016.
96 ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – DOUTRINA
INTRODUÇÃO
O presente estudo versará sobre o instituto da adoção, o qual pro-
põe-se, em um primeiro momento, a realizar uma análise sobre o tema,
a partir do seu surgimento, seu caráter conceitual, a constituição do seu
vínculo segundo a lei, seus efeitos e seus princípios.
Passada a análise da evolução histórica, será realizada uma análi-
se sobre as regras procedimentais que regulam a adoção, de acordo com
a legislação brasileira que regula a matéria. Nesse ponto, procura-se en-
fatizar os pontos principais e as regras básicas, muitas vezes desconhe-
cidas, as quais são válidas tanto para os adotantes quanto aos adotados.
Por último, após a análise procedimental, procura-se, então, trazer
ao conhecimento alguns pontos reflexivos sobre a realidade brasileira da
adoção. Neste tópico, que tem como base estudos e pesquisas realiza-
dos em diversos campos, procura-se, então, trazer a discussão o porquê,
muitas vezes, o procedimento de adoção, na prática, torna-se moroso.
1 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família. 11. ed. São Paulo: Saraiva, v. 5,
1996.
98 ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – DOUTRINA
3 BRASIL. Lei nº 4.665, de 2 junho de 1965. Dispõe sobre a legitimidade adotiva. Diário Oficial da União,
Poder Legislativo, Brasília/DF, 3 jun. 1965, p. 5258.
4 BRASIL. Lei nº 8069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá
outras providências. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília/DF, 16 jul. 1990, p. 13563.
100 �������������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – DOUTRINA
CONCLUSÃO
De acordo com o estudo realizado, percebe-se, com o passar do
tempo, uma grande evolução histórica e também procedimental em re-
lação à adoção.
Todavia, a realidade mostra-se diferente. Isso porque muitas pes-
soas podem até ter o sonho de adotar uma criança, mas enfrentam obs-
táculos que vão muito além das próprias capacidades de superá-los. Por
exemplo, os encargos financeiros referentes à criação de um filho. A
situação econômica dos pretendentes à adoção é um dos itens cuidado-
samente avaliados pelas equipes das Varas de Infância e Adolescência
antes de incluí-los no cadastro nacional.
Ainda, verifica-se que as expectativas criadas pelos candidatos à
adoção, muitas vezes, afastam as chances de o procedimento tornar-se
mais ágil. Isso porque, ao listarem as suas preferências quanto à criança
a ser adotada, muitos são os critérios que, por muitas vezes, destoam da
verdadeira realidade dos abrigos.
Deve-se pensar neste ponto, se, afinal, não deveria sempre pre-
valecer o amor, a vontade maior de constituir uma família as questões
raciais, de faixa etária, de crianças portadoras de doenças crônicas, entre
outras que aguardam anos em uma fila sem fim. Fica o questionamento
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – DOUTRINA ����������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 107
nesse ponto, se, hipoteticamente, o preconceito e as preferências dos
candidatos fossem deixados de lado nesse momento, todo o procedi-
mento não se tornaria mais célere.
Devemos ter em mente, por meio dos estudos realizados, pesqui-
sas e, principalmente, diante da realidade vivenciada que a concepção
de adoção é uma questão humanitária acima de tudo e deve ser tratada
em qualquer situação com muito respeito e seriedade. O ato de uma
pessoa se dispor a adotar não pode ser exigido, pois essa ação deve par-
tir do coração. A educação de um filho, legítimo ou não, nunca será uma
tarefa fácil, pois exige muita paciência, perseverança, firmeza e amor,
sendo necessária, principalmente, a mudança na mentalidade daquele
que pretende adotar.
REFERÊNCIAS
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reito à convivência familiar e comunitária. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
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Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União,
Poder Legislativo, Brasília/DF, 16 jul. 1990, p. 13563.
______. Lei nº 4.665, de 2 junho de 1965. Dispõe sobre a legitimidade adoti-
va. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília/DF, 3 jun. 1965,
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DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito de família.
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<http://reporterbrasil.org.br/2013/07/lentidao-da-justica-e-exigencias-dos-pais-
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-cao-que-so-querem-criancas-brancas>.
Parte Geral – Doutrina
Efeitos Sucessórios Decorrentes da União Estável, após o
Julgamento do RE 878�694 no STF
RAISSA NACER OLIVEIRA DE ANDRADE
Advogada (devidamente inscrita na OAB/SE), Especialista em Direito Material e Processual do
Trabalho pela UNIT/SE, Pós-Graduanda em Direito Civil e Processual Civil pela Estácio – Fase.
RESUMO: O presente artigo tem o objetivo de analisar os efeitos sucessórios entre os companheiros,
decorrentes da existência de uma união estável, principalmente no tocante à concorrência suces-
sória com os descendentes, ascendentes e colaterais, após o julgamento do Recurso Extraordinário
nº 878.694, onde o STF reconheceu e declarou a inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil
de 2002, equiparando a união estável com o casamento no que concerne aos direitos sucessórios.
Com isto, o companheiro(a) passa a ter os mesmos direitos do cônjuge na sucessão legítima, o
que aproxima a família matrimonial, ou seja, a proveniente do casamento, das demais modalidades
familiares existentes, em observância aos princípios da dignidade da pessoa humana e da liberdade
de constituir família. Também será discutida no presente artigo a omissão do STF em declarar se o
companheiro(a) sobrevivente passa a ser incluído no rol de herdeiros necessários e o descumprimen-
to ao art. 1.787 do CC/2002.
SUMÁRIO: Introdução; 1 Considerações acerca do conceito da união estável no Direito Civil brasilei-
ro; 2 A sucessão do companheiro, de acordo com o artigo 1.790 do CC/2002; 3 O reconhecimento
da inconstitucionalidade do artigo 1.790 do CC/2002, com o julgamento do Recurso Extraordinário
nº 878.694 do Supremo Tribunal Federal; 4 A atual sucessão do companheiro e a inaplicabilidade do
artigo 1.790 do CC/2002; Conclusão; Referências.
INTRODUÇÃO
Todos os ramos do Direito devem ser norteados por segurança ju-
rídica, principalmente o direito das sucessões, vez que trata da transmis-
são patrimonial do autor da herança para os seus sucessores, após a sua
morte; e do reconhecimento de herdeiros e legatários, ou seja, das pes-
soas que receberão esse patrimônio, com a finalidade de evitar longas
batalhas judiciais e, com isso, perecimento do patrimônio do de cujus.
Daí a importância de que o direito das sucessões não seja envol-
vido por normas de difícil compreensão, e sim por regras claras, objeti-
vas e protetivas. Qualquer dúvida na interpretação da norma dá entrada
110 �������������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – DOUTRINA
CONCLUSÃO
Diante do exposto, pode-se verificar que a recente decisão do STF
igualou cônjuges e companheiros para fins de recebimento de herança
ou legado (fins sucessórios), sendo aplicadas aos companheiros as mes-
mas regras aplicadas aos cônjuges, ou seja, tanto para a união estável
quanto para o casamento, no tocante à divisão de herança, serão apli-
cadas as regras do art. 1.829 do CC/2002, devido ao reconhecimento
da inconstitucionalidade do art. 1.970 do CC/2002, que regia o efeito
sucessório entre os companheiros.
Diante do julgamento do Recurso Extraordinário nº 876.894 do
Supremo Tribunal Federal, o art. 1.970 do CC/2002 perdeu a aplicabi-
lidade e, tanto para os processos judiciais de inventário em andamento
quanto para os inventários administrativos que ainda não tenham a es-
critura de partilha, as novas regras deverão ser aplicadas de imediato.
Para os processos com trânsito em julgado e para os inventários admi-
nistrativos, já com escritura de partilha, respeitar-se-á a coisa julgada. A
nova regra também vale para as uniões homoafetivas, vez que o mesmo
tribunal, em 2011, já havia reconhecido a sua proteção legal.
O STF reconheceu a inconstitucionalidade da referida norma cí-
vel, baseando-se no princípio da dignidade da pessoa humana, da liber-
dade e da igualdade, alegando que a CF/1988 não fez distinção entre
as modalidades familiares, devendo todas as formas de constituição de
132 �������������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – DOUTRINA
REFERÊNCIAS
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Parte Geral – Acórdão na Íntegra
8333
ementa
AGRAVO INTERNO – RECURSO ESPECIAL – CIVIL E PROCESSO CIVIL – INVESTIGAÇÃO
DE PATERNIDADE – AÇÃO ANTERIORMENTE AJUIZADA – EXAME DE DNA NÃO REALIZADO
– COISA JULGADA – RELATIVIZAÇÃO – AÇÃO DE ESTADO – PREVALÊNCIA DA VERDADE
REAL – JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA – AGRAVO NÃO PROVIDO
1. Deve-se dar prevalência ao princípio da verdade real, nas ações
de estado, como as de filiação, admitindo-se a relativização da coisa
julgada, quando na demanda anterior não foi possível a realização do
exame de DNA.
2. O Poder Judiciário não pode, sob a justificativa de impedir ofensa
à coisa julgada, desconsiderar os avanços técnico-científicos ineren-
tes à sociedade moderna, os quais possibilitam, por meio de exame
genético, o conhecimento da verdade real, delineando, praticamen-
te sem margem de erro, o estado de filiação ou parentesco de uma
pessoa.
3. Agravo interno não provido.
acóRdão
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indi-
cadas, decide a Quarta Turma, por unanimidade, negar provimento ao
agravo interno, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Minis-
tros Luis Felipe Salomão, Maria Isabel Gallotti, Antonio Carlos Ferreira
(Presidente) e Marco Buzzi votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 21 de junho de 2018 (data do Julgamento).
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 135
Ministro Lázaro Guimarães
(Desembargador Convocado do TRF 5ª Região)
Relator
RelatóRio
O Exmo. Sr. Ministro Lázaro Guimarães (Desembargador Convo-
cado do TRF 5ª Região) (Relator):
Trata-se de agravo interno interposto contra decisão de fls. 130/133
e-STJ que negou provimento ao recurso da parte recorrente, em razão
da incidência da Súmula nº 83 deste Sodalício, ante a possibilidade de
relativização da coisa julgada em ação de investigação de paternidade.
Nas razões recursais, a agravante sustenta ser “inaplicável, a nosso
sentir, o óbice da Súmula nº 83 do STJ, pois o acórdão prolatado pela
Câmara Especial Regional de Chapecó do TJSC não se encontra em con-
formidade com o posicionamento do STJ a respeito da matéria” (e-STJ,
fl. 146).
Não foi apresentada impugnação ao agravo interno.
É o relatório.
voto
O Exmo. Sr. Ministro Lázaro Guimarães (Desembargador Convo-
cado do TRF 5ª Região) (Relator):
O recurso será examinado à luz do Enunciado 2 do Plenário do
STJ, nos seguintes termos: “Aos recursos interpostos com fundamento no
CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de março de 2016) de-
vem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na forma nele prevista,
com as interpretações dadas, até então, pela jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça”.
Conforme salientado na decisão agravada, a Corte de origem ad-
mitiu a relativização da coisa julgada, expressamente consignando o se-
guinte, in verbis:
“No caso em tela, como na ação de investigação de paternidade pretérita
correu à revelia do réu e pautada tão somente em provas fictícias e ou
136 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
ceRtidão de Julgamento
quaRta tuRma
Número Registro: 2013/0352142-4
Processo Eletrônico AgInt-REsp 1.414.222/SC
Números Origem: 00458935420128240000 017100007356
017100007356001 17100007356 17100007356001 20110289693
20110289693000100 20110289693000200 458935420128240000
Pauta: 21.06.2018 Julgado: 21.06.2018
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 139
Segredo de Justiça
Relator: Exmo. Sr. Ministro Lázaro Guimarães (Desembargador Convoca-
do do TRF 5ª Região)
Presidente da Sessão: Exmo. Sr. Min. Antonio Carlos Ferreira
Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Solange Mendes
de Souza
Secretária: Dra. Teresa Helena da Rocha Basevi
autuação
Recorrente: Ministério Público do Estado de Santa Catarina
Recorrido: J. V. W. S.
Advogado: Luiz Fernando Guareschi – SC014714
Interes.: W. C. (menor)
Repr. por: S. A. da S. C.
Assunto: Direito civil – Família – Relações de parentesco – Investigação
de paternidade
agRavo inteRno
Agravante: Ministério Público do Estado de Santa Catarina
Agravado: J. V. W. S.
Advogado: Luiz Fernando Guareschi – SC014714
Interes.: W. C. (menor)
Repr. por: S. A. da S. C.
ceRtidão
Certifico que a egrégia Quarta Turma, ao apreciar o processo em
epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Quarta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno,
nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
ementa
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL – PENSÃO POR MORTE – SOBRINHO
– CONTROVÉRSIA RESOLVIDA COM BASE EM LEGISLAÇÃO LOCAL – IMPOSSIBILIDADE
DE EXAME EM RECURSO ESPECIAL – INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 280/STF – DISSÍDIO
PREJUDICADO
1. O exame da controvérsia, tal como enfrentada pelas instâncias or-
dinárias, exigiria a análise de dispositivos de lei local, pretensão in-
suscetível de ser apreciada em recurso especial, conforme a Súmula
nº 280/STF (“Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordi-
nário.”).
2. Ademais, “a desconformidade da legislação local com o disposto
na Lei nº 9.717/1998 e na Lei nº 8.213/1991 converge à existência
de conflito entre lei local e lei federal, questão que só pode ser resol-
vida pelo Supremo Tribunal Federal, pois trata-se, em última análise,
de matéria constitucional relacionada ao pacto federativo (art. 102,
III, alínea d, da CF)” (AgRg-REsp 1.366.339/MS, Rel. Min. Humberto
Martins, 2ª T., J. 04.06.2013, DJe 10.06.2013).
3. Pelos mesmos motivos, segue obstado o recurso especial pela alí-
nea c do permissivo constitucional, sendo certo que não foram aten-
didas as exigências dos arts. 541, parágrafo único, do CPC e 255,
§§ 1º e 2º, do RISTJ.
4. Agravo interno a que se nega provimento.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 141
acóRdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros
da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
negar provimento ao agravo interno, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator. Os Srs. Ministros Regina Helena Costa (Presidente), Gurgel de
Faria, Napoleão Nunes Maia Filho e Benedito Gonçalves votaram com
o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 21 de junho de 2018 (data do Julgamento).
RelatóRio
Exmo. Sr. Ministro Sérgio Kukina (Relator): Trata-se de agravo in-
terno manejado por G. D. L. M. desafiando decisão de fls. 537/540, que
negou provimento ao agravo em recurso especial, com base nos seguin-
tes fundamentos: (I) incidência da Súmula nº 280/STF; (II) “a desconfor-
midade da legislação local com o disposto na Lei nº 9.717/1998 e na Lei
nº 8.213/1991 converge à existência de conflito entre lei local e lei fe-
deral, questão que só pode ser resolvida pelo Supremo Tribunal Federal,
pois trata-se, em última análise, de matéria constitucional relacionada
ao pacto federativo”; e (III) o dissídio jurisprudencial restar prejudicado.
Em suas razões, a parte agravante sustenta que “o recurso interpos-
to, no entanto, não pretende o reexame da legislação estadual ou muni-
cipal. Nota-se da peça interposta pela a divergência está interpretativa
está no art. 5º da Lei nº 9.717/1998 e no art. 16, inciso I e § 2º, da Lei
nº 8.213/1991. São duas leis federais. Ora, a violação de lei federal, que
é o que se alega no recurso, deve ser examinada pelo Superior Tribunal
de Justiça, que é o defensor da lei federal” (fl. 549). Afirma, ainda, que
restou demonstrado o dissídio jurisprudencial.
É o relatório.
voto
Exmo. Sr. Ministro Sérgio Kukina (Relator): A irresignação não me-
rece acolhimento, tendo em conta que a parte agravante não logrou de-
142 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
ceRtidão de Julgamento
pRimeiRa tuRma
Número Registro: 2018/0060954-8 AgInt-AREsp 1.263.805/SP
Números Origem: 00476359520128260053 2906/2012 29062012
476359520128260053
Pauta: 21.06.2018 Julgado: 21.06.2018
Relator: Exmo. Sr. Ministro Sérgio Kukina
Presidente da Sessão: Exma. Sra. Min. Regina Helena Costa
Subprocurador-Geral da República: Exmo. Sr. Dr. Aurélio Virgílio Veiga
Rios
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 145
Secretária: Belª Bárbara Amorim Sousa Camuña
autuação
Agravante: G. D. L. M.
Advogados: Marta Maria Ruffini Penteado Gueller – SP097980
Vanessa Carla Vidutto Berman – SP156854
Agravado: Instituto de Previdência Municipal de São Paulo – Iprem
Procurador: Marco Antonio Sales Stivanin e outro(s) – SP371279
Assunto: Direito administrativo e outras matérias de direito público – Ser-
vidor público civil – Pensão
agRavo inteRno
Agravante: G. D. L. M.
Advogados: Marta Maria Ruffini Penteado Gueller – SP097980
Vanessa Carla Vidutto Berman – SP156854
Agravado: Instituto de Previdência Municipal de São Paulo – Iprem
Procurador: Marco Antonio Sales Stivanin e outro(s) – SP371279
ceRtidão
Certifico que a egrégia Primeira Turma, ao apreciar o processo em
epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo interno, nos
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
ementa
ADMINISTRATIVO – HABEAS CORPUS CÍVEL – EXPULSÃO DE ESTRANGEIRO VISITANTE –
PACIENTE GENITOR DE FILHA BRASILEIRA DE TENRA IDADE – DEPENDÊNCIA SOCIOAFETIVA
COMPROVADA – INVIABILIDADE DA EXPULSÃO – APLICAÇÃO DO ART. 55, II, A, DA NOVA
LEI DE MIGRAÇÃO (LEI Nº 13.445/2017) – PRINCÍPIO DA PRIORIDADE ABSOLUTA NO
ATENDIMENTO DOS DIREITOS E INTERESSES DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ART.
227 DA CF) – DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL (ART. 1º DO ECA) – CONCESSÃO DO
REMÉDIO HERÓICO
1. Não se viabiliza a expulsão de estrangeiro visitante ou migrante
do território nacional quando comprovado tratar-se de pai de criança
brasileira, que se encontre sob sua dependência socioafetiva (art. 55,
II, a, da Lei nº 13.445/2017).
2. O princípio da prioridade absoluta no atendimento dos direitos e
interesses da criança e do adolescente, em cujo rol se inscreve o di-
reito à convivência familiar (art. 227 da CF), direciona, in casu, para
solução que privilegie a permanência do genitor em território bra-
sileiro, em harmonia, também, com a doutrina da proteção integral
(art. 1º do ECA).
3. Habeas corpus concedido, com a consequente revogação da por-
taria de expulsão.
acóRdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros
da Primeira Seção do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade,
conceder a ordem de habeas corpus, com a consequente revogação da
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 147
portaria de expulsão, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. A Sra.
Min. Regina Helena Costa e os Srs. Ministros Gurgel de Faria, Herman
Benjamin, Napoleão Nunes Maia Filho, Benedito Gonçalves e Assusete
Magalhães votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausentes, justificadamente, o Sr. Ministro Francisco Falcão e, oca-
sionalmente, o Sr. Ministro Og Fernandes.
Brasília (DF), 20 de junho de 2018 (data do Julgamento).
RelatóRio
O Senhor Ministro Sérgio Kukina: Cuida-se de habeas corpus, com
pedido de medida liminar, impetrado por D. S., em favor do paciente I.
C. S., contra ato atribuído ao Ministro de Estado da Justiça.
A impetrante alega que o paciente, natural da Guiné-Bissau, foi
condenado, pelo Juízo Federal da 5ª Vara de Guarulhos – Seção Judiciá-
ria de São Paulo, pela prática de tráfico internacional de entorpecentes,
à pena de 06 (seis) anos, 05 (cinco) meses e 23 (vinte e três) dias de re-
clusão, cuja sentença foi mantida pelo Tribunal Regional Federal da 3ª
Região e seu cumprimento integral se deu em 2015.
Ainda de acordo com a exordial, no ano de 2010, após procedi-
mento administrativo, foi editada, pela autoridade apontada como coa-
tora, a Portaria Ministerial nº 3.619, de 17.11.2010 (fl. 374), por meio da
qual foi determinada a expulsão do ora paciente do território nacional.
Ocorre que, em 18.06.2013 (ou seja, após a edição da portaria de
expulsão), nasceu a filha brasileira do paciente, de nome K. T. S. (certi-
dão à fl. 26), fruto de relacionamento com a também brasileira C. T. dos
S. Desde então, o paciente “está sempre presente em passeios e viagens”
e “contribui mensalmente com as despesas da prole e ainda ajuda na
compra de roupas, sapatos e inclusive remédios quando necessário”.
Por isso, no entender da impetrante, “resta comprovada a dependência
econômica e socioafetiva da prole” (fls. 4/5).
148 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
voto
O Senhor Ministro Sérgio Kukina (Relator): Inicialmente, convém
registrar que o ato apontado como coator (Portaria Ministerial nº 3.619,
de 17.11.2010 – fl. 374) foi editado sob a égide da Lei nº 6.815/1980 (Es-
tatuto do Estrangeiro), a qual veio de ser revogada pela Lei nº 13.445/2017
(Lei de Migração), cujo novo diploma entrou em vigor no semestre pas-
sado, mais precisamente em 24 de novembro de 2017.
Pois bem, no que importa especificamente ao equacionamen-
to jurídico do presente caso, vale destacar que a mencionada Lei
nº 6.815/1980 dispunha, no seu art. 75, que: (I) não se procederia à
expulsão se o estrangeiro tivesse filho brasileiro sob sua guarda e de-
pendência econômica (caput); e (II) o reconhecimento de filho brasileiro
posterior ao fato motivador da expulsão não impedia a medida de retira-
da compulsória (§ 1º).
Ocorre que, ainda na vigência do agora revogado Estatuto do Es-
trangeiro, era firme nesta Corte o entendimento segundo o qual não se
fazia possível a expulsão de estrangeiro que possuísse filho brasileiro,
quando evidenciada a dependência econômica ou afetiva, sendo irrele-
vante que o nascimento de filhos tivesse ocorrido em momento posterior
à data da prática do crime ou do ato expulsório. Confiram-se, a propósi-
to, as seguintes ementas:
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – HABeAS CORPUS – EXPUL-
SÃO DE ESTRANGEIRO DO TERRITÓRIO NACIONAL – CONDENA-
ÇÕES CRIMINAIS – FILHA NASCIDA NO BRASIL APÓS A CONDENA-
150 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
ceRtidão de Julgamento
pRimeiRa seção
Número Registro: 2017/0262538-2
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 153
Processo Eletrônico HC 420.022/SP
Em Mesa Julgado: 20.06.2018
Relator: Exmo. Sr. Ministro Sérgio Kukina
Presidente da sessão: Exmo. Sr. Ministro Mauro Campbell Marques
Subprocuradora-Geral da República: Exma. Sra. Dra. Sandra Verônica
Cureau
Secretária: Belª Carolina Véras
autuação
Impetrante: D. S.
Advogado: Danielle Sales – SP0354352
Impetrado: Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública
Paciente: I. C. S.
Interes.: União
Assunto: Direito Internacional – Estrangeiro – Admissão/entrada/perma-
nência/saída
ceRtidão
Certifico que a egrégia Primeira Seção, ao apreciar o processo em
epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Seção, por unanimidade, concedeu a ordem de habeas corpus, com a
consequente revogação da portaria de expulsão, nos termos do voto do
Sr. Ministro Relator.
ementa
AGRAVO DE INSTRUMENTO – PROCESSO CIVIL – ACORDO – ALIMENTOS – CUMPRIMENTO
PARCIAL – PROSSEGUIMENTO EM RELAÇÃO AO DÉBITO REMANESCENTE – PRESTAÇÕES
PRETÉRITAS – INEXISTÊNCIA DE URGÊNCIA – RITO DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA
1. Se houve descumprimento apenas parcial do acordo firmado entre
as partes, a execução de alimentos deve ser retomada apenas quanto
ao débito remanescente.
2. A execução deve prosseguir pelo rito do cumprimento de sentença
e não pelo rito da prisão, uma vez inexistente o caráter de urgência
de que são revestidas as verbas alimentares, por se tratar de cobrança
de prestações alimentícias pretéritas.
3. Deu-se parcial provimento ao agravo.
acóRdão
Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 4ª Turma Cível do
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, Sérgio Rocha
– Relator, James Eduardo Oliveira – 1º Vogal e Luís Gustavo B. de
Oliveira – 2º Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador
Fernando Habibe, em proferir a seguinte decisão: dar parcial provimento
ao recurso, unânime, de acordo com a ata do julgamento e notas taqui-
gráficas.
Brasília (DF), 25 de julho de 2018.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 155
Desembargador Sérgio Rocha
Relator
RelatóRio
Trata-se de agravo de instrumento interposto pela exequente
contra a r. decisão que, em execução de alimentos pelo rito da prisão,
suspensa por acordo entre as partes, determinou que, em razão do seu
descumprimento, o feito fosse retomado pelo rito do cumprimento de
sentença, in verbis:
“[...] Considerando que para o cumprimento de obrigação de fazer é ne-
cessária a intimação pessoal da outra parte, sendo que no caso, não hou-
ve tal intimação, tampouco houve qualquer pedido do réu para intimar
a autora para cumprir a sua obrigação de fazer, entendo que a discussão
sobre quem descumpriu em primeiro lugar torna-se inócua, na medida
em que ambas as partes não promoveram os meios necessários para que
fosse dado início à fase de cumprimento de sentença homologatória de
acordo.
Portanto, indefiro o pedido de ‘explicações’ formulado pelo réu; indefiro
o pedido de cobrança de multa formulado pela autora. Expeça-se alvará
em nome da autora para que esta possa registrar o imóvel dado no acor-
do em seu nome, no cartório de registro de imóveis respectivo. [...]
Na forma do art. 513, § 2º, I, do NCPC, intime-se o executado para que,
no prazo de 15 (quinze) dias, pague o valor indicado no demonstrativo
discriminado e atualizado do crédito, acrescido de custas, se houver.
Transcorrido o prazo previsto no art. 523 do NCPC, sem o pagamento
voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que, independen-
temente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos,
sua impugnação.
Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do art. 523, o débito será
acrescido de multa de dez por cento e de honorários de advogado de
10% (dez por cento). [...]”
do, que foi descumprido, ensejando a sua prisão; 3) novo acordo foi
firmado com o executado, em que este reconheceu uma dívida de
R$ 750.000,00, comprometendo-se a pagá-la mediante a entrega das
chaves de um imóvel avaliado em R$ 650.000,00, no prazo de 10 dias,
sob pena de multa de 30% e honorários de 20%, além de R$ 100.000,00
em dinheiro, em três parcelas; 3) descumprido o acordo pelo executado/
agravado, a execução de alimentos deveria ter sido retomada pelo rito
original da prisão, com a cobrança da multa e dos honorários pactuados,
e não pelo rito do cumprimento de sentença; 3) deve ser deferida ante-
cipação da tutela recursal, a fim de dar prosseguimento à execução de
alimentos pelo rito da prisão, nos termos do acordo celebrado.
Deferi o pedido de antecipação da tutela recursal (ID 2465969).
Contrarrazões (ID 2648382).
votos
O Senhor Desembargador Sérgio Rocha – Relator:
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do agravo
de instrumento interposto por Helena Barbosa dos Santos.
Com razão, em parte, a exequente/agravante.
Compulsando os autos, verifico que a entrega do imóvel no va-
lor de R$ 650.000,00 e o pagamento de R$ 100.000,00, constantes da
cláusula terceira do acordo de ID 2411096, referem-se à quitação dos
débitos existentes (R$ 473.000,00 – cláusula segunda, parágrafo primei-
ra – sic), com “moratória” de 24 meses quanto à pensão alimentícia, nos
termos da cláusula nona.
Tendo a agravante recebido o imóvel, conforme termo de ID
2411513 e, considerando que o bem está localizado em comarca diver-
sa (Vila Velha/ES), que ele estava disponível para a Canal Imóveis rea-
lizar a transferência em 17.07.2017, data acordada (ID 2411457, p. 3),
mesmo que ainda ocupado neste dia (17.07.2017 – ID 2411532, p. 3), e
que não há qualquer informação da exequente/agravante quanto à razão
de ela ter recebido o bem somente em 03.08.2017 (ID 2411463, p. 1),
reputo tempestivamente cumprido o acordo quanto à entrega do imóvel,
não devendo incidir qualquer penalidade quanto ao alegado atraso.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 157
Assim, a execução deve prosseguir apenas quanto à cláusula oita-
va do acordo de ID 2411096 (pagamento de R$ 100.000,00), em razão
da não comprovação de sua quitação pelo executado/agravado, com
incidência de juros, correção monetária, multa de 30% e honorários de
20% somente sobre este valor, estando quitados os débitos até agosto
de 2017, conforme cláusula décima primeira, parágrafo primeiro, do
acordo mencionado.
De outra parte, deve-se seguir o rito do cumprimento de sentença,
conforme decidido na r. decisão agravada, pois a verba remanescente
do acordo perdeu seu caráter urgente, por se tratar de prestações preté-
ritas, tendo natureza indenizatória.
Nesse sentido:
“[...] 1. A execução de dívida alimentar pelo rito da prisão exige a atua-
lidade da dívida, a urgência e a necessidade na percepção do valor pelo
credor e que o inadimplemento do devedor seja voluntário e inescusável.
2. Na hipótese, a alimentanda, ex-cônjuge do paciente, é maior e eco-
nomicamente independente, inexistindo situação emergencial a justificar
a medida extrema da restrição da liberdade sob o regime fechado de
prisão.
3. A obrigação, porquanto pretérita, poderá ser cobrada pelo rito me-
nos gravoso da expropriação. [...].” (RHC 95.204/MS, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, 3ª T., J. 24.04.2018, DJe 30.04.2018) – Grifei.
“1. A jurisprudência entende ser possível o pagamento de verbas alimen-
tícias em atraso, excluído, apenas, o caráter de urgência de que se reves-
tem em situação de normalidade, haja vista que passam a ter cunho in-
denizatório. [...].” (Acórdão nº 347302, 20080020117287AGI, Rel. João
Mariosi, Rel. Desig. Mario-Zam Belmiro, 3ª T.Cív., Data de Julgamento:
10.12.2008, Publicado no DJe 30.03.2009, p. 81) – Grifei.
DISPOSITIVO
Ante o exposto, dou parcial provimento ao agravo de instrumento
interposto por H. B. dos S., para, revogando a antecipação de tutela re-
cursal inicialmente concedida, determinar o prosseguimento da execu-
ção de alimentos apenas quanto ao débito remanescente do acordo, de
R$ 100.000,00 (cem mil reais), mais multa de 30% e honorários advoca-
158 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
DECISÃO
Dar parcial provimento ao recurso, unânime.
Parte Geral – Acórdão na Íntegra
8337
ementa
AGRAVO DE INSTRUMENTO – AÇÃO DE DIVÓRCIO LITIGIOSO C/C GUARDA, ALIMENTOS
E REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS – ALIMENTOS PROVISÓRIOS DEVIDOS AO FILHO
MENOR – 30% (TRINTA POR CENTO) DO SALÁRIO-MÍNIMO – PEDIDO DE ACRÉSCIMO –
OBSERVÂNCIA DO TRINÔMIO NECESSIDADE – POSSIBILIDADE – PROPORCIONALIDADE
1. Para a fixação dos alimentos provisórios, mister considerar a ne-
cessidade da pessoa alimentanda e a possibilidade econômica do
alimentante, à luz do princípio da proporcionalidade (art. 1.694,
§ 1º, do Código Civil). 2. Na espécie, não evidenciada a incapacida-
de do agravado em arcar com os alimentos provisórios em valores
mais expressivos ao filho menor em idade escolar, mister a majoração
do quantum fixado, para acrescentar-lhe o importe correspondente a
50% (cinquenta por cento) das despesas com saúde, medicamentos,
materiais escolares e uniforme do filho do casal. Agravo de instru-
mento conhecido e provido. Decisão reformada.
acóRdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento
nº 5408691.31.2017.8.09.0000, acordam os componentes da Primeira
Turma Julgadora da Sexta Câmara Cível do egrégio Tribunal de Justiça
do Estado de Goiás, à unanimidade dos votos, em conhecer do agravo
de instrumento e dar-lhe provimento nos termos do voto do relator.
Votaram com o relator o Desembargador Fausto Moreira Diniz e o
Desembargador Norival Santomé.
Presidiu a sessão a Desembargadora Sandra Regina Teodoro Reis.
160 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
voto
Presentes os pressupostos de admissibilidade da insurgência em
apreço, dela conheço.
Conforme relatado, cuida-se de Agravo de Instrumento, com pedi-
do de antecipação dos efeitos da tutela recursal, interposto por J. L. F. N.
contra decisão proferida pelo MM. Juiz de Direito da 5ª Vara de Família
e Sucessões da Comarca de Goiânia/GO, Dr. Mábio Antônio Macedo,
nos autos da ação de divórcio litigioso c/c guarda, alimentos e regula-
mentação de visitas ajuizada em desfavor de S. F. N. de P.
Na espécie, o magistrado a quo indeferiu o pedido de fixação,
no âmbito dos alimentos provisórios, do pagamento de 50% (cinquenta
por cento) das despesas com saúde, medicamentos, materiais escolares
e uniformes, consoante reclamado na exordial, ante a ausência de de-
monstração, de plano, do binômio necessidade/possibilidade – evento
19.
Sabe-se que, com relação aos filhos, compete aos pais o dever
de criá-los e educá-los, dando-lhes uma formação moral e intelectual
digna, adequada à realidade familiar, sendo certo que o dever alimentar
deriva dessas obrigações, porquanto a criação e educação dos filhos
implicam em gastos necessários à sua subsistência, como alimentação,
vestuário, saúde, lazer, educação, dentre outros.
Segundo a lição doutrinária de Rolf Madaleno é “ilimitado o dever
dos pais de prestarem alimentos ou sustentarem os filhos, assim como
seriam infindos e imensuráveis os esforços e sacrifícios dos pais em favor
da prole, [...] sobrepondo-se aos interesses pessoais, quando em con-
fronto com as necessidades de seus descendentes menores, ou incapa-
zes de por si buscarem o seu efetivo sustento” (in Curso de Direito de
Família. 4. ed., Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 907).
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 161
A verba alimentar, ainda que provisória, resulta de cognição su-
mária no que diz respeito à possibilidade do alimentante e à necessidade
do alimentando, assegurando-se a fixação de importe adequado às par-
tes, conforme preceituam os arts. 1.694, § 1º, e 1.695, do Código Civil:
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns
aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compa-
tível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades
de sua educação.
§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada?.
Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem
bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria manten-
ça, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do
necessário ao seu sustento.
valor dos alimentos provisórios fixados pelo juiz de 1º grau (30% do sa-
lário-mínimo) mostra-se ínfimo, irrisório, não sendo suficiente nem para
a metade das despesas mensais do infante, muito menos para cobrir as
extraordinárias (saúde, medicamentos, materiais escolares e uniforme).
Importante ressaltar, por oportuno, que embora devidamente in-
timado a apresentar contrarrazões – evento 11, o recorrido quedou-se
inerte, ou seja, sequer refutou o pedido da agravante ou demonstrou
impossibilidade financeira de arcar com o pagamento pleiteado.
Com efeito, não há dúvidas de que o menor exige dispêndios fi-
nanceiros indispensáveis à sua educação e alimentação, além de outras
atenções que os pais devem dedicar aos filhos, sendo certo que os ali-
mentos provisórios devem compreender tudo o que for indispensável à
garantia de sua sobrevivência.
Sobre o assunto, veja-se a orientação jurisprudencial do Superior
Tribunal de Justiça:
“[...]. Os alimentos decorrem da solidariedade que deve haver entre os
membros da família ou parentes, visando garantir a subsistência do ali-
mentando, observadas sua necessidade e a possibilidade do alimentante.
Com efeito, durante a menoridade, quando os filhos estão sujeitos ao
poder familiar – na verdade, conjunto de deveres dos pais, inclusive o de
sustento – há presunção de dependência dos filhos, que subsiste caso o
alimentando, por ocasião da extinção do poder familiar, esteja frequen-
tando regularmente curso superior ou técnico, todavia passa a ter funda-
mento na relação de parentesco, nos moldes do art. 1.694 e seguintes do
Código Civil. Precedentes do STJ (STJ, 4ª T., REsp 1312706/AL, Rel. Min.
Luís Felipe Salomão, DJe 12.04.2013).
ementa
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA – VARA DE REGISTROS E VARA DE FAMÍLIA –
AÇÃO DE ALTERAÇÃO DE REGIME DE BENS DE CASAMENTO – COMPETÊNCIA DA VARA DE
FAMÍLIA
A competência é o critério para distribuição entre os órgãos judiciá-
rios das atribuições relativas ao desempenho da jurisdição.
A competência para processar a ação de modificação do regime de
bens do casamento, prevista no Código Civil, art. 1.639, § 2º, é da
vara de família e, na sua ausência, será competente a vara cível.
O pedido de alteração do regime de casamento não está afeto à vara
especializada em registros públicos, uma vez que a procedência da
pretensão irá gerar, apenas como consequência, a averbação do re-
gime na certidão de casamento, mas não a retificação do registro pú-
blico.
acóRdão
Vistos etc., acorda, em Turma, a 7ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julga-
mentos, em acolher o conflito e dar pela competência do juízo suscitado.
voto
Cuida-se de conflito negativo de competência suscitado pelo Juiz
de Direito da 2ª Vara Fazenda Pública, Falências/Concordatas, Reg. Pú-
blico de Contagem em razão da decisão prolatada pelo Juiz de Direito
da 2ª Vara de Família e Sucessões de Contagem, o qual alegou que em
razão da ação versar apenas sobre mudança do registro de casamento
declinou da competência para o julgamento da ação de retificação de
registro com alteração de regime de bens.
Aduz o Suscitante, em síntese, que a pretensão deduzida pelos
requerentes não se trata apenas da retificação do registro, mas sim a alte-
ração do regime de casamento constante na certidão de Id 3538608 qual
seja, separação de bens, conforme art. 1.641, I, do CC/2002, de forma
que a competência é do Juízo Suscitado.
voto
Entendo que a competência para julgar a presente ação ordinária é
de ser atribuída ao digno Juízo suscitado, qual seja, a 2ª Vara de Família
e Sucessões da Comarca de Contagem.
O pedido dos interessados encontra respaldo legal no ordenamen-
to material civil.
Vejamos o dispositivo:
“Art. 1.639 [...] § 2º – É admissível alteração do regime de bens entre os
cônjuges, mediante autorização judicial em pedido motivado de ambos
os cônjuges, apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados
os direitos de terceiros.”
RelatóRio
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro propôs ação em
face de M. A. da C., objetivando a destituição da Requerida do poder
familiar em relação às crianças F. da C., nascida em 25.10.1999, R. da
C., nascida em 08.05.2011 e F. da C., nascida em 28.02.2007.
Ocorre que, após um incêndio na residência familiar, a Requerida
solicitou o abrigamento de suas três filhas em instituição de assistência e
as crianças lá permanecem, desde 02.10.2015, sem serem visitadas pela
mãe e sem qualquer outra assistência familiar, em estado de abandono,
conforme relatado pela equipe técnica da instituição de acolhimento.
Aduziu que a Requerida, segundo relatos de familiares, é usuária
de entorpecentes e álcool e, apesar de lhe ter sido oferecido auxílio para
reorganizar a sua vida, não houve alteração na situação de vulnerabili-
dade vivenciada pela família.
Acrescentou o Ministério Público que o grupo de trabalho de as-
sistência social e psicologia do juízo concluiu pela impossibilidade de
reintegração familiar das crianças, seja porque sua mãe, a ora Requeri-
da, não atendeu às convocações da equipe técnica do juízo e não visitou
170 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
face da notória mudança em sua vida (fls. 180/185 dos autos originários
em índex 217).
Cópia da audiência de reavaliação da medida de acolhimen-
to às menores, realizada em 12.04.2018, nos autos dos Processos
nºs 0044537-51.2015.8.19.0002, 0047934-21.2015.8.19.0002 e
0047935-06.2015.8.19.0002 (fl. 186 dos autos originários em índex
224).
Certificada a intempestividade da apelação interposta pela Ré
(fl. 189 dos autos originários em índex 227).
Contrarrazões pugnando pelo não conhecimento do recurso, dada
a sua intempestividade e, no mérito, pugnou pela manutenção da sen-
tença proferida (fls. 192/205 dos autos originários em índex 231).
Decisão declarou a intempestividade do apelo e manteve a sen-
tença, em juízo de retratação (fls. 209/210 dos autos originários em ín-
dex 252).
Manifestação da Demandada, insurgindo-se contra a decretação
da intempestividade da apelação, já que a admissibilidade recursal é rea-
lizada pela segunda instância, a partir do advento da Lei nº 13.105/2015
(fls. 212/219 dos autos originários em índex 255).
É o relatório.
voto
1 DO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
Entendeu a ilustre magistrada prolatora da sentença ser intempes-
tiva a apelação, exercendo o juízo de admissibilidade do recurso conco-
mitantemente com o juízo de retratação do julgado, consoante previsão
do inciso VII do art. 198 da Lei nº 8.069/1990, que preconiza: “VII – an-
tes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no caso de
apelação, ou do instrumento, no caso de agravo, a autoridade judiciária
proferirá despacho fundamentado, mantendo ou reformando a decisão,
no prazo de cinco dias”.
Considerando-se que a sentença foi proferida já sob a égide do
CPC/2015, e que o Estatuto da Criança e do Adolescente não tem norma
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 173
específica a respeito do juízo de admissibilidade de recurso, adota-se
a determinação contida no CPC/2015 de remessa dos autos à segunda
instância para que, então, seja esse exercido pelo Relator (art. 1.010, § 3º
do CPC). Tal dispositivo afirma que não é mais responsabilidade do Juiz
de 1º grau analisar os requisitos de admissibilidade do recurso.
Assim, deveria ter a ilustre magistrada se resignado e não te ser
manifestado acerca da intempestividade do recurso, haja vista ser in-
compatível a declaração de intempestividade com o juízo de retratação,
segundo lição de Fredie Didier: “Diante de apelação intempestiva, o
juiz deve limitar-se a não retratar-se (a intempestividade da apelação
pode ser o único fundamento da decisão de não retratação) e remeter a
apelação ao tribunal, a quem compete decidir pelo não conhecimento
do recurso, se for o caso. O juiz não tem competência para inadmitir
a apelação, frise-se” (in Curso de Direito Processual Civil. Introdução
ao Direito Processual Civil, Parte Geral e Processo de Conhecimento.
17. ed. Bahia: JusPodivm. 2015, p. 709) (g.n.)
Passo então à análise do juízo de admissibilidade recursal.
O juízo de admissibilidade exige o preenchimento dos requisi-
tos intrínsecos (cabimento, interesse processual, legitimidade recursal e
inexistência de fato extintivo, impeditivo ou modificativo do direito de
recorrer) e dos requisitos extrínsecos (tempestividade, preparo e regula-
ridade formal).
Há controvérsia nos autos acerca da eventual intempestividade do
apelo e a esse respeito passo a discorrer.
A Defensoria Pública recebeu o processo, em remessa no dia
02.04.2018, e interpôs a apelação em 18.04.2018. Por sua vez, o car-
tório da serventia de primeira instância certificou a intempestividade do
recurso.
O presente apelo refere-se à ação de destituição de poder fami-
liar, procedimento afeto à Justiça da Infância e Juventude, na forma dos
arts. 155 a 163, de natureza especial, imediatamente anterior à regra do
prazo decenal susomencionada, estando consolidada a orientação do
E. Superior Tribunal de Justiça de que: “[...] Os procedimentos especiais
expressamente enumerados pelo eCA submetem-se ao prazo recursal
decenal do art. 198 daquele diploma. Por outro lado, os reclamos inter-
174 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
tar nº 80/1994 e pela Lei nº 1.060/1950, pois não trata de matéria que
guarde relação temática com as prerrogativas trazidas nos mencionados
diplomas legais. 3. A Defensoria Pública é instituição essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a assistência jurídica integral
dos necessitados. Portanto, mostra-se patente que as prerrogativas que
lhe são asseguradas visam, precipuamente, concretizar o direito consti-
tucional de acesso à Justiça, principalmente em virtude da desigualdade
social do país e da deficiência estrutural das Defensorias Públicas...”
(HC 265.780/RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 5ª T., J. 14.05.2013,
DJe 21.05.2013) (g.n.).
Assim sendo, infere-se que a apelação é tempestiva, já que in-
terposta em 18.04.2018, considerando como termo de início do prazo
de 20 dias corridos para apelar a data de remessa ao Defensor Público
(02.04.2018), encerrando-se referido prazo no primeiro dia útil seguinte
à data de 21.04.2018, dia de feriado nacional de Tiradentes, uma vez
que os autos do processo em questão eram processos físicos até a data
em que foram remetidos a esse instância recursal.
Logo, estando presentes os requisitos extrínsecos e intrínsecos do
recurso de apelação, deve ser ele analisado à luz do Estatuto da Criança
e Adolescente, lei de natureza extravagante em comparação ao Código
de Processo Civil (Lei nº 13.105/2015), aplicando- se esse diploma legal
de maneira supletiva, uma vez que a sentença foi proferida após a data
de sua vigência.
3 MÉRITO
Da leitura detida dos autos, não é possível o provimento do apelo
da Requerida.
A sentença combatida decretou a destituição do poder familiar
da Demandada em relação a suas três filhas por entender que esta não
apresenta condições de atender às demandas emocional, psicológica,
material e intelectual das meninas. O procedimento de destituição do
poder familiar se encontra regulado pelos artigos 155 a 163 do Estatuto
da Criança e do Adolescente.
A criança e o adolescente passaram a ser sujeitos de direitos com o
advento da Carta Constitucional de 1988 que, em seu art. 227, prevê “É
dever da família, da sociedade e do estado assegurar à criança, ao ado-
lescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dig-
nidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão”.
Essa norma constitucional introduziu a doutrina da Proteção Inte-
gral em nosso ordenamento jurídico e, com fundamento nesta, foi regu-
lamentado o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Nesse contexto da Doutrina da Proteção Integral prevalece o in-
teresse das crianças e adolescentes sobre o de seus pais que, se estão
180 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
acóRdão
Vistos, relatados e discutidos os autos.
Acordam os Desembargadores integrantes da Sétima Câmara Cí-
vel do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, dar provimento ao
recurso.
Custas na forma da lei.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 187
Participaram do julgamento, além do signatário, as eminentes Se-
nhoras Desª Liselena Schifino Robles Ribeiro e Desª Sandra Brisolara
Medeiros.
Porto Alegre, 25 de julho de 2018.
RelatóRio
Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves (Relator):
Trata-se da irresignação de H. F. W. com a r. decisão que afastou a
alegação de coisa julgada, por já ter sido feito o inventário, e determinou
a restituição de todos os bens da herança para readequação da partilha
do inventário anteriormente realizado, nos autos da nova ação de inven-
tário dos bens deixados por morte de H. W.
Sustenta o recorrente que A. e É. tiveram a sua paternidade reco-
nhecida em ação de investigação de paternidade, e, tendo vista o faleci-
mento pretérito de seu genitor, ajuizaram o processo de inventário dos
bens deixados por este, mas desconsideraram que já havia sido reali-
zado inventário dos bens deixados pelo seu genitor, havendo homolo-
gação da partilha, que transitou em julgado em 18.09.2015, conforme
documentos acostados aos autos. Alega que, após os recorridos terem
sua paternidade reconhecida, a sua cota parte, referente a um bem par-
tilhado e vendido após o trânsito em julgado da ação de investigação
de paternidade, já lhe foi repassada, sendo impossível abrir novo in-
ventário sem a anulação da partilha de inventário já realizada, diante
da ocorrência da coisa julgada. Aduz que, para ser declarada nula a
partilha, se faz necessária sentença judicial que declare a nulidade, não
podendo ser anulada por simples despacho nos autos do segundo in-
ventário ajuizado. Aponta que os termos da sentença do processo de
investigação de paternidade cumulado com petição de herança, que foi
julgado procedente, declarando Heitor como genitor dos recorridos, se-
quer menciona a anulação da partilha. Conclui que a decisão do Magis-
trado singular deve ser reformada, diante da inadequação de via eleita
para a declaração de nulidade da sentença que homologou a partilha
dos bens, onde os recorridos não foram contemplados em razão de que
188 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
ainda não tinham sido reconhecidos como filhos do falecido, haja vista
que inventário já foi realizado e as partilhas devidamente registradas,
sendo necessária a declaração de nulidade da sentença em procedimen-
to próprio. Pretende seja extinto o processo de inventário atuado sob o
nº 061/1.17.0000364-3, tendo em vista que a partilha dos bens deixa-
dos por H. foi anteriormente realizada através do processo de inventário
tombado sob o nº 061/1.15.0000549-9, devendo a nulidade ser arguida
em procedimento próprio. Pede o provimento do recurso.
O recurso foi recebido em seu efeito meramente devolutivo.
Intimadas, as partes deixaram transcorrer in albis o prazo legal
para apresentar contrarrazões.
Com vista dos autos, a douta Procuradoria de Justiça declinou da
intervenção.
É o relatório.
votos
Des. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves (Relator):
Estou dando provimento ao recurso.
Com efeito, uma vez comprovada a condição dos recorridos de
herdeiros necessários, que foram excluídos da partilha no inventário dos
bens deixados pelo seu genitor, com sentença já transitada em julgado,
torna-se imperiosa a desconstituição da partilha, a fim de que recebam
os quinhões legitimários que lhes cabem.
É que a sentença lançada na ação de investigação de paternidade
proposta limitou-se a declarar os recorridos filhos do investigado e, em
consequência, herdeiros necessários, fazendo jus ao quinhão hereditá-
rio, mas nada referiu acerca da partilha, pois os autores nada informaram
a respeito do processo de inventário. Ou seja, não houve pronunciamen-
to judicial acerca da petição de herança.
Por oportuno, penso ser pertinente tecer algumas considerações
acerca da ação de petição de herança, que veio cumulada com a ação
de investigação de paternidade, mas o pleito não foi devidamente exa-
minado.
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 189
Lembro, pois, que é perfeitamente viável a cumulação da ação de
investigação de paternidade com a petição de herança, pois é através
desta ação que o herdeiro omitido ou preterido deve reclamar não ape-
nas o reconhecimento judicial da sua condição sucessória, mas também
a restituição dos bens da herança que lhe cabem. A petição de herança
é uma ação real com finalidade condenatória, enquanto a ação investi-
gatória de paternidade é ação de estado, pois a qualidade sucessória é
pressuposto da petitio hereditatis.
A ação de petição de herança é exclusiva do herdeiro real – ou
seja, aquele que tem a capacidade sucessória e precede (ou, como no
caso, concorre) na ordem de vocação hereditária aquele que recebeu
efetivamente a herança – contra o herdeiro aparente, que possui indevi-
damente a herança ou parte dela.
No caso em exame, os outros sete filhos do investigado assumem
a condição de herdeiros aparentes relativamente à parte da herança que
não lhes cabia e que foi por eles recebida.
Considera-se, pois, herdeiro aparente aquele que é considerado
por todos como genuíno herdeiro, por força de erro comum, ainda quan-
do esteja de má-fé. E existe essa condição de herdeiro aparente quando:
(a) o herdeiro detentor da herança é declarado indigno; (b) o testamento
que o institui herdeiro é anulado; (c) é encontrado testamento que o ex-
clui; (d) quando houver sido reconhecido o título de herdeiro a alguém
que o pretere (ex.: filho reconhecido através de ação investigatória frente
a outros descendentes, aos ascendentes, ao cônjuge ou aos colaterais).
No caso, os outros sete herdeiros filhos receberam a parte que tocava
aos recorridos e é, precisamente, essa parte que está sendo reclamada
neste processo inventário.
No entanto, como a sentença que julgou a ação de investiga-
ção de paternidade, onde foi formulada petição de herança, não anu-
lou a partilha já realizada no inventário dos bens deixados por H. W.
(fls. 20/21), deve tal pedido ser deduzido em ação de nulidade de par-
tilha com petição de herança, pois na ação investigatória houve apenas
o reconhecimento da condição de herdeiros necessários, não havendo
exame acerca do processo, pois nada foi informado a respeito.
Assim, a questão deve ser resolvida em ação própria declarando
nula a sentença que homologou a partilha, e não em novo processo de
190 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
RelatóRio
De pronto, tenho por bem adotar o relatório da sentença, pois
além de refletir fielmente a narrativa fática em apreço, garante celeri-
dade ao trâmite processual (art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal), in
verbis:
S. S. M. propôs ação de separação litigiosa em face de V. M., alegando,
em síntese, as partes são casadas pelo regime de comunhão universal
de bens desde 07.08.1996; que desta união resultou uma filha, H. S.
M., nascida em 16.04.1996; que durante a constância do casamento
adquiriram dois veículos, sobre os quais incidem financiamentos; que
além dos financiamentos possuem outras dívidas contraídas durante a
união. Sustentou que o réu abandonou o lar conjugal em 14.12.2008,
usufruindo sozinho dos caminhões pertencentes ao casal e deixando de
auxiliar a autora e a filha. Requereu a concessão de tutela antecipada
para determinar o bloqueio de metade de valores percebidos pelo réu
em serviços prestados à pessoa jurídica Grupo Cortês Transportadora e
Armazéns Gerais. Ao final, requereu a decretação da separação judicial
do casal, retornando a autora a usar o seu nome de solteira; a fixação de
alimentos em favor da filha; a regulamentação da guarda da filha do casal
em favor da autora e do direito de visitas do réu à infante; a partilha dos
bens e dívidas. Valorou a causa e juntou documentos.
Foi deferida à autora a tutela antecipada requerida, a guarda provisória
da filha do casal, fixados alimentos provisórios à infante e determinada a
citação do réu (fls. 58/60).
Devidamente citado, o réu apresentou contestação (fls. 92/97), alegando,
preliminarmente, inépcia da inicial. No mérito suscitou que vem cum-
prindo com suas obrigações para com a filha; que os valores auferidos
nos fretes realizados pelo réu eram depositados na conta do cunhado da
autora, sendo que se tais valores não foram gastos com despesas do casal
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA ������������������������������������������������������������������������������������������������������ 193
não foi por culpa do réu; que um dos caminhões pertencente ao casal,
o caminhão Mercedez Bens, foi pego pela autora em fevereiro de 2009,
o qual foi vendido sem a anuência do réu. A seu turno, arrolou bens a
serem partilhados, assim como dívidas, confirmando as dívidas apresen-
tadas pela autora na exordial e arrolando outras. Por fim, afirmou não se
opor à decretação do divórcio do casal, à concessão da guarda da filha à
autora, bem como ao pagamento de alimentos à menor, contudo não na
proporção pleiteada pela autora.
Manifestação da autora às fls. 119/125.
Foi designada audiência de conciliação (fl. 141), na qual foi determinada
a conversão da ação de separação em ação de divórcio (fl. 156).
Em seguida, foi proferida decisão rejeitando a preliminar defensiva e de-
signando audiência de instrução e julgamento (fls. 181/182), sendo que
na data aprazada o réu não compareceu ao ato, assim como a autora
dispensou a oitiva das testemunhas por si arroladas (fl. 236).
Finalmente, as partes apresentaram alegações finais às fls. 261/263 e
266/268.
Instado, o Ministério Público se manifestou às 269/270 pela decretação
do divórcio, atribuindo a guarda da filha do casal à autora, estabelecen-
do o direito de visitas do réu à menor de forma livre e fixando a verba
alimentar em um salário mínimo (fls. 269/270).
voto
Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.
Trata-se de recurso de apelação cível interposto por S. S. M. pug-
nou pela reforma parcial da sentença proferida na ação de separação
judicial litigiosa, no que se refere ao valor fixado a título de alimentos
à filha do casal, pleiteando pela sua majoração para 4 (quatro) salários
mínimos.
Para tanto, destacou de início a revelia do apelado, a qual afirma
que, por si só, presume a concordância com os fatos.
Sustentou que “está fartamente comprovado nos autos que o
Apelado é proprietário e motorista de carretas, auferindo uma renda de
aproximadamente R$ 10.000,00 (dez mil reais), e que, muito antes da
própria separação de fato do casal até os dias atuais continua a usufruir
sozinho de todo o patrimônio amealhado pelo casal, tendo mesmo, sim-
plesmente abandonado a Apelante e sua filha, sem quaisquer auxílio,
vez que o mesmo nem ao menos vem pagando os alimentos devidos à
filha, que estão desde 2009 sendo executados judicialmente, sem lograr
êxito a Apelante”.
Disse que “a situação financeira da Apelante e sua filha, só piorou,
considerando a exemplo a idade da menor que exige gastos cada vez
maiores, bem como, que ambas não mais residem na casa da avó mater-
196 ��������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – PARTE GERAL – JURISPRUDÊNCIA
na, tendo as mesmas obrigadas a alugar uma casa, estando pois a passar
por graves necessidades [...] (fl. 286).
Pois bem.
Prima facie, cumpre ressaltar que não obstante o réu tenha dei-
xado transcorrer in albis o prazo para a apresentação da contestação,
sabe-se que a presunção dos efeitos da revelia é relativa, pois não induz,
necessariamente, a procedência da pretensão inaugural.
Retira-se da doutrina:
A presunção de veracidade decorrente da revelia não é absoluta. Se
há elementos nos autos que levem a conclusão contrária não está o
juiz obrigado a decidir em favor do pedido do autor. (GRECO FILHO,
Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. São Paulo: Saraiva, v. 2,
2003. p.144).
ementa
INVENTÁRIO – DECISÃO QUE DEFERIU O PROCESSAMENTO DOS LEGADOS AOS HERDEIROS
SOBRINHOS E CONFERIU O DIREITO REAL DE HABITAÇÃO A UM DOS SOBRINHOS –
FALECIDA DEIXOU TESTAMENTO – IRRESIGNAÇÃO DE PARTE DOS HERDEIROS – AÇÃO
ANULATÓRIA DE TESTAMENTO EM CURSO QUESTIONANDO A HIGIDEZ MENTAL DA
TESTADORA – INVALIDADE DA CLÁUSULA TESTAMENTÁRIA QUE NÃO PODE SER DECRETADA
DE OFÍCIO – EFEITOS PRODUZIDOS ATÉ A DECLARAÇÃO DE ANULABILIDADE (CC,
ART. 177) – DECISÃO MANTIDA – RECURSO DESPROVIDO.
Theodureto Camargo
Relator
Assinatura Eletrônica
acóRdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento
nº 2061879-47.2018.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que são
agravantes S. B. D. L. e R. B. D. L., são agravados M. C. D. L., R. S. L.
(inventariante), J. O. O. de A., M. M. F., C. A. D. L., R. B. D. L., M. M.,
R. V. Z. D. L., M. F. D. A., A. C. D. L., M. M. M. S., J. S. M. e G. M. N.
Acordam, em sessão permanente e virtual da 8ª Câmara de Direito
Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do
Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores
Silvério da Silva (Presidente sem voto), Alexandre Coelho e Clara Maria
Araújo Xavier.
São Paulo, 31 de julho de 2018.
Theodureto Camargo
Relator
Assinatura Eletrônica
Parte Geral – Ementário de Jurisprudência
8343 – Abandono afetivo – conhecimento prévio da paternidade – prescrição – ter-
mo inicial – maioridade
“Agravo interno no agravo em recurso especial. Ação reparatória. Abandono afetivo. Co-
nhecimento prévio da paternidade. Prescrição. Termo inicial. Maioridade. 1. A eg. Quar-
ta Turma desta Corte já decidiu que, sendo a paternidade biológica do conhecimento do
autor desde sempre, o prazo prescricional da pretensão reparatória de abandono afeti-
vo começa a fluir a partir da maioridade do autor (REsp 1298576/RJ, DJe 06.09.2012).
2. Agravo interno não provido.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 1.270.784 – (2018/0072605-1) –
4ª T. – Rel. Min. Luis Felipe Salomão – DJe 15.06.2018 – p. 1769)
8357 – Comunhão parcial de bens – bem adquirido exclusivamente pelo autor antes
do casamento – ex-cônjuge
“Reintegração de posse. Ex-cônjuge. Bem adquirido exclusivamente pelo autor antes
do casamento. Regime da comunhão parcial de bens. Posse precária exercida pela ex-
-cônjuge do autor, pois se originou em ato de mera liberalidade dele, que permitiu que
ela usufruísse o bem sem, contudo, renunciar à condição de titular dos direitos sobre
o imóvel. Recurso provido.” (TJSP – Ap 1040993-90.2014.8.26.0224 – Guarulhos –
17ª CDPriv. – Rel. Afonso Bráz – DJe 10.07.2018)
8359 – Divórcio consensual – acordo sobre partilha dos bens – homologação por
sentença – posterior ajuste consensual acerca da destinação dos bens – viola-
ção à coisa julgada – inocorrência
“Civil. Processual civil. Divórcio consensual. Acordo sobre partilha dos bens. Homologa-
ção por sentença. Posterior ajuste consensual acerca da destinação dos bens. Violação à
coisa julgada. Inocorrência. Partes maiores e capazes que podem convencionar sobre a
partilha de seus bens privados e disponíveis. Existência, ademais, de dificuldade em cum-
prir a avença inicial. Aplicação do princípio da autonomia da vontade. Ação anulatória.
Descabimento quando ausente litígio, erro ou vício de consentimento. Estímulo às solu-
ções consensuais dos litígios. Necessidade. 1. Ação distribuída em 14.09.2012. Recurso
especial interposto em 20.10.2015 e atribuído à relatora em 15.09.2016. 2. Os propósitos
recursais consistem em definir se houve negativa de prestação jurisdicional e se é possível
a homologação de acordo celebrado pelas partes, maiores e capazes, que envolve uma
forma de partilha de bens diversa daquela que havia sido inicialmente acordada e que fora
objeto de sentença homologatória transitada em julgado. 3. Ausentes os vícios do art. 535,
II, do CPC/1973, não há que se falar em negativa de prestação jurisdicional. 4. A coisa
julgada material formada em virtude de acordo celebrado por partes maiores e capazes,
versando sobre a partilha de bens imóveis privados e disponíveis e que fora homologado
judicialmente por ocasião de divórcio consensual, não impede que haja um novo ajuste
consensual sobre o destino dos referidos bens, assentado no princípio da autonomia da
vontade e na possibilidade de dissolução do casamento até mesmo na esfera extrajudicial,
especialmente diante da demonstrada dificuldade do cumprimento do acordo na forma
inicialmente pactuada. 5. É desnecessária a remessa das partes à uma ação anulatória
quando o requerimento de alteração do acordo não decorre de vício, de erro de con-
sentimento ou quando não há litígio entre elas sobre o objeto da avença, sob pena de
injustificável violação aos princípios da economia processual, da celeridade e da razoável
duração do processo. 6. A desjudicialização dos conflitos e a promoção do sistema Multi-
portas de acesso à justiça deve ser francamente incentivada, estimulando-se a adoção da
solução consensual, dos métodos autocompositivos e do uso dos mecanismos adequados
de solução das controvérsias, tendo como base a capacidade que possuem as partes de
livremente convencionar e dispor sobre os seus bens, direitos e destinos. 7. Recurso espe-
cial conhecido e provido.” (STJ – REsp 1.623.475 – (2016/0230901-2) – 3ª T. – Relª Min.
Nancy Andrighi – DJe 20.04.2018 – p. 2009)
8365 – Locação de imóvel – fiança – garantia prestada sem a outorga uxória – inefi-
cácia total
“Agravo interno no agravo em recurso especial. Locação de imóvel. Negativa de pres-
tação jurisdicional. Não ocorrência. Fiança. Garantia prestada sem a outorga uxória.
Ineficácia total. Súmula nº 332/STJ. Recurso não provido. 1. Não se viabiliza o recurso
especial pela indicada violação do art. 1.022 do Código de Processo Civil de 2015. Isso
porque, embora rejeitados os embargos de declaração, a matéria em exame foi devida-
mente enfrentada pelo Tribunal de origem, que emitiu pronunciamento de forma funda-
mentada, ainda que em sentido contrário à pretensão da parte recorrente. 2. ‘A fiança
prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia’
(Súmula nº 332/STJ). 3. Agravo interno não provido.” (STJ – AgInt-Ag-REsp 1.252.047 –
(2018/0036913-7) – 4ª T. – Rel. Min. Luis Felipe Salomão – DJe 23.05.2018 – p. 2543)
“Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem auto-
rização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I – alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II – pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III – prestar fiança ou aval;
IV – fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar
futura meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou
estabelecerem economia separada.”
Washington de Barros Monteiro ensina:
“Não basta que a mulher tenha tido ciência da fiança prestada pelo marido; exige a lei,
para a respectiva validade, haja ela dado sua outorga.
Poderá a mulher casada alegar nulidade da fiança, prestada sem seu consentimento,
quer como defesa direta, na própria ação movida pelo credor, quer em recurso de ape-
lação, quer, ainda, através de embargos de terceiro, não sendo necessário ajuizamento
de ação especial, visando a tal objetivo.” (Curso de direito civil – Direito das obrigações.
São Paulo: Saraiva, v. 5, 1997-1999. p. 358-359.)
Denúncia por atraso no pagamento de pensão deve ser motivada, diz TJSC
É preciso apresentar os motivos pelos quais um réu deixou de pagar pensão ali-
mentícia antes de criminalizar o atraso ou a inadimplência. Com esse entendi-
mento, a 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Santa Catarina manteve
decisão que rejeitou denúncia contra um homem por abandono material. O
Ministério Público afirmou que o denunciado não honrou com o pagamento da
pensão alimentícia, mas não indicou as razões que motivaram o réu a faltar com
sua obrigação temporariamente. O argumento do juiz de primeira instância,
mantido pelo colegiado, é o de que os fatos criminosos imputados não foram
descritos suficientemente na peça acusatória. Para o desembargador Alexan-
dre D’Ivanenko, relator do caso, não é possível reconhecer a denúncia sem
ferir princípios como o da ampla defesa. “Assim, forçoso reconhecer a inépcia
da denúncia, porque não foram descritos suficientemente os fatos criminosos
imputados ao denunciado, violando, por conseguinte, os princípios do devido
processo legal, da ampla defesa e da dignidade da pessoa humana, já que o
réu se defende dos fatos especificamente narrados”, afirmou. Seguido de forma
unânime pelos demais membros da câmara, o relator ainda ressaltou que não
basta dizer que o inadimplemento se deu sem justa causa, se tal circunstância
não está demonstrada nos autos com elementos concretos. “Do contrário, toda
e qualquer inadimplência alimentícia será crime e não é essa a intenção da Lei
Penal”, concluiu (Recurso em Sentido Estrito nº 0002159-40.2014.8.24.0014).
(Conteúdo extraído do site do Tribunal de Justiça de Santa Catarina)
Mulher que não sabia de união anterior do marido deve ser indenizada
Sem o divórcio na união anterior, uma pessoa não pode se casar novamente.
Isso porque a separação judicial provoca apenas o fim da sociedade, permane-
cendo o vínculo. Com esse entendimento, a juíza Tricia Navarro Xavier Cabral,
da 1ª Vara Cível de Vitória/ES, concedeu indenização de 10 mil reais a uma
mulher que descobriu que seu ex-marido era casado quando a relação termi-
nou. A mulher ajuizou ação de indenização por danos morais e patrimoniais
contra o ex-marido sob a alegação da prática do crime de bigamia. Ela pediu
o pagamento de 30 mil reais, afirmando ter sido enganada pelo réu durante os
doze anos que o casamento durou, já que só soube que ele era casado no Brasil
quando entrou com o pedido de divórcio da união firmada nos Estados Unidos.
O ex-marido negou ter mantido dois casamentos ao mesmo tempo. Sua defesa
alegou incompetência da Justiça brasileira em julgar a demanda, uma vez que
o casamento com a autora aconteceu em Boston. Também afirmou que a ação
230 ������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – CLIPPING JURÍDICO
Judiciário deve ouvir as duas partes para definir data de divórcio, decide
TJSP
Para definir a data de um divórcio, é necessário ouvir as duas partes envolvi-
das no processo. Assim entendeu a 5ª Câmara de Direito Privado do Tribunal
de Justiça de São Paulo, ao anular uma sentença, que havia alterado a data de
separação de um casal ouvindo apenas um lado da história. A sentença con-
siderou apenas uma parte e fixou a data do divórcio entre o final de 2016 e
início de 2017. O agravo foi interposto contra a sentença do juízo de Birigui,
que fixou o período do divórcio entre o final do ano de 2016 e início de 2017,
o que causaria reflexos na divisão de uma série de bens. Os advogados Ricardo
Amim Abrahão Nacle e Renato Montans de Sá sustentaram que a sentença é
nula, já que acolheu os embargos de declaração sem prévia intimação da outra
parte. Os advogados alegaram, também, que houve violação do contraditório e
do princípio da cooperação processual. Ao analisar o caso, o relator, desembar-
gador Fábio Podestá, seguiu o entendimento previsto no art. 1.023 do Código
de Processo Civil, que prevê a intimação da parte embargada para se manifestar
nesses casos. “A falta de intimação do agravante, para manifestação em relação
aos embargos, implica na violação dos princípios do contraditório/ampla defe-
sa”, afirma o magistrado. Citando como precedente o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, no sentido que deve haver prazo para que a parte embar-
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – CLIPPING JURÍDICO ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������� 233
gada possa se manifestar sobre os embargos de declaração, o desembargador
acolheu o agravo e anulou a sentença. (Conteúdo extraído do site do Tribunal
de Justiça de São Paulo)
ARTIGOS DOUTRINÁRIOS
Contrato de namoro
• “Namorar com Contrato?” A Validade Jurídica Índice Geral
dos Contratos de Namoro (Raphael Fernando
Pinheiro) ..............................................................46 DOUTRINAS
• Contrato de Namoro: Efeitos? (Felipe Cunha de
Almeida) ................................................................9 Assunto
• O Contrato de Namoro no Ordenamento Jurí-
dico Brasileiro (Angélica Aparecida Ortolan e adoção
Lívia Copelli Copatti) ...........................................34 • O Instituto da Adoção à Luz da Legislação Bra-
sileira (Caroline Ribas Sérgio) ..............................97
Autor
direito da Criança e do adolesCente
angéliCa aPareCida ortolan e • O Novo Código de Processo Civil e os Impac-
lívia CoPelli CoPatti tos no Direito da Criança e do Adolescente
• O Contrato de Namoro no Ordenamento Jurí- (Claudio Gomes)..................................................71
dico Brasileiro .....................................................34
interdição
FeliPe Cunha de almeida • A Interdição e a Curatela Sob a Nova Ótica do
• Contrato de Namoro: Efeitos? ................................9 Estatuto da Pessoa com Deficiência (Marcela
Maria Furst Signori Prado)....................................67
lívia CoPelli CoPatti e
angéliCa aPareCida ortolan união estável
• O Contrato de Namoro no Ordenamento Jurí- • Efeitos Sucessórios Decorrentes da União Es-
dico Brasileiro .....................................................34 tável, após o Julgamento do RE 878.694 no
STF (Raissa Nacer Oliveira de Andrade).............109
raPhael Fernando Pinheiro
• “Namorar com Contrato?” A Validade Jurídica Autor
dos Contratos de Namoro ....................................46
Caroline ribas sérgio
• O Instituto da Adoção à Luz da Legislação Bra-
EM POUCAS PALAVRAS
sileira ...................................................................97
Assunto
Claudio gomes
Contrato • O Novo Código de Processo Civil e os Impac-
tos no Direito da Criança e do Adolescente .........71
• Para Que Serve um Contrato de Namoro? Pode
Ser Feito em um Cartório de Notas? (Isaque marCela maria Furst signori Prado
Soares Ribeiro).....................................................62
• A Interdição e a Curatela Sob a Nova Ótica do
Autor Estatuto da Pessoa com Deficiência .....................67
• Para Que Serve um Contrato de Namoro? Pode • Efeitos Sucessórios Decorrentes da União Está-
Ser Feito em um Cartório de Notas? .....................62 vel, após o Julgamento do RE 878.694 no STF ...109
Assunto Assunto
Contrato sobrenome
• Para Advogado, Contrato de Namoro Pode • Mudança de Sobrenome (Rogério Tadeu Romano)
Ser Facilmente Contestado (Paulo Lins e Silva) ....65 ..........................................................................224
238��������������������������������������������������������������������������������������������������������RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO
Autor regime de bens de casamento – Competência
da Vara de Família (TJMG).......................8338, 165
rogério tadeu romano
• Mudança de Sobrenome ....................................224 seParação
• Apelação cível – Família – Ação de separação
judicial litigiosa – Sentença de parcial proce-
ACÓRDÃOS NA ÍNTEGRA dência – Recurso da autora – Pleito único de
majoração da prestação alimentícia da filha
Assunto do ex-casal fundado na revelia e capacidade
econômica do genitor – Teses afastadas – Pre-
sunção relativa de veracidade dos fatos narra-
alimentos
dos na peça exordial – Livre convencimento do
• Agravo de instrumento – Processo civil – Acor- magistrado – Carência de prova da capacidade
do – Alimentos – Cumprimento parcial – Pros- econômica financeira do alimentante que reve-
seguimento em relação ao débito remanes- le condições de arcar com alimentos em valor
cente – Prestações pretéritas – Inexistência de superior – Binômio possibilidade x necessidade
urgência – Rito do cumprimento de sentença atendido – Sentença mantida (TJSC).........8341, 191
(TJDFT) ....................................................8336, 154
soCioaFetividade
divórCio
• Administrativo – Habeas corpus cível – Expul-
• Agravo de instrumento – Ação de divórcio liti- são de estrangeiro visitante – Paciente genitor
gioso c/c guarda, alimentos e regulamentação de filha brasileira de tenra idade – Dependên-
de visitas – Alimentos provisórios devidos ao cia socioafetiva comprovada – Inviabilidade da
filho menor – 30% (trinta por cento) do salário- expulsão – Aplicação do art. 55, II, a, da Nova
-mínimo – Pedido de acréscimo – Observân- Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017) – Prin-
cia do trinômio necessidade – Possibilidade cípio da prioridade absoluta no atendimento
– Proporcionalidade (TJGO).....................8337, 159 dos direitos e interesses da criança e do ado-
lescente (art. 227 da CF) – Doutrina da prote-
inventário ção integral (art. 1º do ECA) – Concessão do
• Inventário – Investigação de paternidade – In- remédio heróico (STJ) ..............................8335, 146
vestigado falecido – Petição de herança – Aber-
tura de novo inventário – Descabimento – testamento
Extinção do processo (TJRS) .....................8340, 186
• Inventário – Decisão que deferiu o processa-
mento dos legados aos herdeiros sobrinhos e
investigação de Paternidade
conferiu o direito real de habitação a um dos so-
• Agravo interno – Recurso especial – Civil e brinhos – Falecida deixou testamento – Irresig-
processo civil – Investigação de paternidade – nação de parte dos herdeiros – Ação anulatória
Ação anteriormente ajuizada – Exame de DNA de testamento em curso questionando a higidez
não realizado – Coisa julgada – Relativiza- mental da testadora – Invalidade da cláusula
ção – Ação de Estado – Prevalência da verda- testamentária que não pode ser decretada de
de real – Jurisprudência consolidada – Agravo ofício – Efeitos produzidos até a declaração de
não provido (STJ) .....................................8333, 134 anulabilidade (CC, art. 177) – Decisão mantida
– Recurso desprovido (TJSP).....................8342, 200
Pensão Por morte
• Agravo interno no agravo em recurso especial EMENTÁRIO
– Pensão por morte – Sobrinho – Controvérsia
resolvida com base em legislação local – Im- Assunto
possibilidade de exame em recurso especial
– Incidência da Súmula nº 280/STF – Dissídio abandono aFetivo
prejudicado (STJ) .....................................8334, 140 • Abandono afetivo – conhecimento prévio da
paternidade – prescrição – termo inicial – maio-
Poder Familiar ridade ......................................................8343, 204
• Apelação cível – Estatuto da Criança e do
Adolescente – Ação de destituição do poder ação de alimentos
familiar – Sentença proferida sob a égide do • Ação de alimentos – redução...................8344, 204
CPC/2015 (TJRJ) .......................................8339, 168
ação de investigação de Paternidade
regime de bens • Ação de investigação de paternidade – alimen-
• Conflito negativo de competência – Vara de re- tos – exame de DNA realizado com a genitora
gistros e vara de família – Ação de alteração de – comprovação de vínculo genético ........8345, 204
239
RDF Nº 109 – Ago-Set/2018 – ÍNDICE ALFABÉTICO E REMISSIVO ���������������������������������������������������������������������������������������������������������������
alimentos itCd
• Alimentos – alteração de guarda ..............8348, 205 • ITCD – Lei nº 3.804/2006 – regime de casa-
mento – comunhão parcial de bens – doação
• Alimentos – extinção do processo – abandono entre cônjuges .........................................8364, 211
de causa ..................................................8349, 205
• Alimentos – maioridade – curso técnico – tér- loCação
mino – exoneração ..................................8350, 205 • Locação de imóvel – fiança – garantia pres-
• Alimentos provisórios – execução............8351, 206 tada sem a outorga uxória – ineficácia total
................................................................8365, 211
• Alimentos provisórios – obrigação avoenga
................................................................8352, 206 maternidade soCioaFetiva
• Maternidade socioafetiva – não comprovação
Casamento – tese do recurso especial ........................8366, 212
• Casamento – ação de anulação – danos morais
................................................................8353, 206 Paternidade