Resenha Capitalismo e Colapso Ambiental (Cap. 11 e 15)

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MARQUES, Luiz. Salto qualitativo das crises ao Colapso. In: MARQUES, Luiz.

Capitalismo e Colapso Ambiental. 3ª ed. revista e ampliada. Campinas: Editora Unicamp,


2018. p. 525-545

MARQUES, Luiz. Salto qualitativo das crises ao Colapso. In: MARQUES, Luiz.
Capitalismo e Colapso Ambiental. 3ª ed. revista e ampliada. Campinas: Editora Unicamp,
2018. p. 675-695

DO SALTO QUALITATIVO DAS CRISES AO CONTRATO NATURAL:


Como reverter o colapso ambiental e evitar o fim da espécie humana?

Cláudia Vanessa Bandiera1


Daniel Felipe Dill2
Lusineide Silva Mata 3
Vanusa Vieira da Silva 4
Vittoria Gallon 5
UFFS – Universidade Federal da Fronteira Sul

O livro Capitalismo e Colapso Ambiental foi escrito por Luiz Marques, historiador de
arte e professor do Departamento de História da IFCH-Unicamp. Publicou diversas obras e
ensaios sobre a Tradição Clássica e recentemente, sobre a degradação antropogênica dos
ecossistemas. Constituído por 15 capítulos, o livro aborda sobre o sistema capitalista e sua
influência no comportamento humano relacionando com a degradação da biosfera e sistema
climático do planeta. A resenha refere-se à leitura e análise dos capítulos 11 e 15.
No capítulo 11, “Salto qualitativo das crises ao colapso ambiental” mostra que os
dados divulgados sobre o assunto são quantitativos e conservadores e por isso, incapazes de
interconectar os fatos, o que implica na compreensão real de sua gravidade e torna a reação da
sociedade insuficiente e ineficaz. Marques aborda sobre o tema de forma contundente
trazendo conceitos físicos, químicos e biológicos, citando grandes estudiosos e trazendo
relatórios de instituições especializadas no assunto e a partir daí explica e relaciona dados e
falas evidenciando que o colapso ambiental é factível e tem previsão que ocorra já no
próximos decênio ou até mesmo no atual. No capítulo 15, “Do Contrato Social ao Natural”,
ele cita sobre o documento “Consenso Científico” de 2013, que afirma que por volta de 2050

1
Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS. Campus Erechim. E-mail: [email protected]
2
Acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS. Campus Erechim. E-mail: [email protected]
3
Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS. Campus Erechim. E-mail: [email protected]
4
Acadêmica do curso de Agronomia. Campus Erechim. E-mail: [email protected]
5
Acadêmica do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFFS. Campus Erechim. E-mail: [email protected]
haverá degradação da vida humana no planeta ao atingirmos o limite do aquecimento global. e
ponto crítico do degelo (devido descontrole na emissão de gases de efeito estufa), causando a
elevação do nível do mar e com ela desaparecimento de cidades, migrações em massa,
escassez de água e alimentos, mais poluição. Também a devastação de milhões de espécies
devido ao desmatamento, queimadas, sobrecaça e sobrepesca, entre outros, afetando o
equilíbrio natural e desencadeando desastres naturais muito intensos e frequentes. Ao chegar
no derretimento do pergelissolo se torna irreversível, pois ele reforça o que provoca a
liberação do metano e de bactérias e vírus na qual nunca lidamos.
Na conclusão da obra, o autor associa ao conteúdo do capítulo 11, complementando
com outros e também critica o capitalismo e inclusive o capitalismo sustentável, que seria
uma ilusão, pois sua essência ainda consiste na acumulação de riquezas, consumismo,
expansionismo e militarismo. No âmbito do capitalismo é impossível reverter tendência ao
colapso ambiental, pois ele é incapaz de preservar o equilíbrio dos ecossistemas e considera a
natureza como matéria-prima e que está a servir, isto é, como um subconjunto da economia, o
que não faz sentido na realidade. Existe algo muito maior que a economia ou espécie humana.
O capitalismo já está dando sinais de seu declínio devido ao esgotamento dos recursos
naturais e também a população que está começando a perceber que há piora constante no seu
modo de viver com diminuição de seu poder de compra e de seu trabalho. O que só aumenta
a desigualdade social, a fortuna dos mais ricos e a devastação ambiental. E a tecnologia por
mais avançada que seja será incapaz de permitir crescimento econômico sem impactar uma
biosfera que já está em queda livre.
Como intervenção, Marques explana sobre algumas propostas possíveis de se realizar,
desafiadoras, porém são necessárias, dentre elas seria a implantação de uma política de
decrescimento organizado, evitando o caos e amenizando o estresse causado na biosfera
devido a inúmeras e insistentes perturbações antropogênicas que afetam sua resiliência.
Segundo o autor, o descrescimento é fato que ocorrerá pois a curva do custo ambiental vs.
benefício econômico já está irreversivelmente na fase negativa e essa conta está se tornando
impagável pelas nossas crianças e jovens dessa mesma era.
Para que as medidas citadas se realizem, Marques dá alguns passos iniciais, como a
descentralização e compartilhamento do poder. Os interesses entre Estados e corporações se
concentram nas mãos da alta tecnocracia dos Estados e a descentralização significa
justamente a quebra dessa extrema concentração em prol de uma efetiva governança global,
que possa intervir nas políticas de desenvolvimento, afrontando pacificamente e
racionalmente problemas na esfera global (como o colapso ambiental que está em curso),
fortalecendo a gestão ambiental de modo a fiscalizar e monitorar os recursos naturais. A ONU
é um exemplo de governança global, única estrutura que se dispõe a avançar nesse sentido, e,
portanto, deve ser apoiada.
A proposta é reforçada no trecho “Nem Nação, Nem Império”, onde Sir. Nicholas
Stern afirma ser uma necessidade se ter uma instituição a nível global assim como temos para
o comércio e para as finanças, porém Marques afirma que é preciso cautela para esse órgão
não ser limitado pelo Estado-Nação podendo vir a se tornar Estado-Corporação com poderes a
nível global. O autor cita os casos da exploração de petróleo onde países que não teriam o
direito de lucrar enquanto o planeta se encaminha para o colapso, da mesma forma acontece
com as florestas, países não têm direito de destruí-las para saciar a ganância dos empresários e
fazendeiros, permitir isso seria trocar nossa sobrevivência por valor comercial. Estado-Nação
e Estado-Corporação devem desaparecer assim como o capitalismo. Nacionalismo e
imperialismo é uma história narrada pelo capitalismo, manifestada em ideologia que
impulsiona a globalização radical do mercantilismo unida à rede internacional. Portanto, é
preciso avançar para uma administração global e compartilhada, onde o estado-nação garanta
as tradições e culturas apesar das decisões que visam benefícios e interesses planetários.
O autor explica no tópico “Um poder de arbitragem e de veto emanado da sociedade”,
qual seria um importante passo para superar o capitalismo, eliminando os principais
aceleradores da insustentabilidade e tendência ao colapso ambiental que seriam a minoria da
humanidade correspondente a 8,6% que detém 87% da riqueza mundial. Uma política
progressista e confiscatória poderia acabar com esse absurdo que se reforça com o sistema
capitalista atual e hábitos de vida com insaciáveis necessidades de consumo de energia, bens e
serviços. A solução é criar um sistema arbitrário e de vetos que impeça o aumento da poluição
e desperdício de recursos, controle a engrenagem de acumulação e impactos da atividade
humana que causam desequilíbrios ecossistêmicos e climáticos. Essa política poderá ser
operada por representantes das sociedades civis, ONGs, cientistas, biólogos, botânicos e
instituições protetoras dos animais, defendendo interesses de espécies não-humanas e com
isso incentivar e exigir a participação coletiva global e punir irresponsáveis.

De acordo com Marques, o cidadão deve evocar a ciência para entender o seu interesse
público. Afirma que anteriormente a ciência e a política eram instâncias diversas, separadas,
mas com a presente situação tem se alterado. A ciência tem o papel de alertar e aprofundar o
conhecimento sobre os perigos que pairam hoje sobre a biosfera, visando equilíbrio
ecossistêmico e a política tem o dever de tomar decisões pensando no bem coletivo da
sociedade e sua continuidade, pelo menos na teoria. É um agente que tem poder de gerar
transformações em larga escala, e por esse motivo cabe ao cidadão para seu próprio bem e
proteção de interesses e bem-estar unir ambos em suas decisões conscientes.

Do princípio negativo a caminho positivo significa a passagem do contrato social para


o contrato natural, ou seja, instaurar um contrato entre homens e não homens, que não foi bem
aceita pois o segundo não poderia falar por si. O homem tem a ideia de que a natureza é o
ponto de partida para a produção e que ela foi feita para ele, o que sabemos que é
extremamente insensato se pensar, pois os homens dependem muito dela para sua
sobrevivência. E o contrato natural emana a urgência da conservação do que resta da biosfera,
não apenas para futuras gerações mas para a atual também. Com a desordem socioambiental,
as questões surgem e suas respostas estão inseridas na construção de uma nova mentalidade,
uma mudança, a qual a natureza passaria a ter seus direitos e passaria a ser vista como sujeito.
Uma nova ordem de convivência no planeta precisa ser desenvolvida e que seja capaz de
acrescentar ao já desenvolvido Contrato social. O novo contrato deveria ser desenvolvido com
base em pensamentos ecologistas, capaz de preservar o meio ambiente das ambições
humanas, capaz de estabelecer limites, tirando o homem do poder sobre a natureza. Sendo
assim, pensando além do social, mas também na dimensão ecológica, pensa-se no Contrato
Natural. Em conformidade com o texto, esse contrato natural deverá reconhecer o meio
ambiente não só como campo de exploração econômica, mas de relações sociais e biológicas
que o caracterizam como sujeito. Trata-se de perceber dentro do contrato social a desordem
que estamos vivenciando, buscando criar um novo pacto que vise os interesses em nome da
sobrevivência da espécie, um novo contrato incorporando o mundo natural.

No tópico “Nosso novo programa é a sobrevivência”, mostra que o século XX ensinou


que não devemos aceitar a arrogância de quem se julga no direito de impor o que é “melhor”
para a sociedade, até porque esse discurso local já está defasado. O que está em pauta é como
sobreviver ao colapso ambiental que põe em risco qualquer sociedade no contexto planetário..
Para deter a tendência ao colapso, precisaremos instituir um novo contrato natural. O que
esse contrato natural supõe é difícil, porque precisamos nos reconciliarmos com a biosfera, de
maneira a nos concebermos e nos comportarmos como espécies entre as espécies. Castoriadis
escreveu que ‘necessitamos, não de um domínio, mas de um controle sobre esse desejo de
domínio, eliminar essa loucura de expansão sem limites”. No entanto, as sociedades não têm
se mostrado capazes de puxar tal freio e reivindicar tal autonomia. Mas é justamente por não
restar mais opção e nem tempo que tal autossuperação é imaginável. Para o homem
contemporâneo não resta outra opção além de tentar superar o capitalismo. Ou caso contrário
irá reivindicar o título de Homo sapiens e passará a adotar o título de Homo extinguens.

Diante do exposto, é perceptível a necessidade de mudança de paradigma das


sociedades como um todo, pois a só a ação coletiva que cause uma transformação em escala
poderá ter o efeito desejado, porém precisa ser rápida, pois o tempo não está a nosso favor. O
principal problema é seguir praticando o capitalismo ou qualquer sistema que tenha
semelhança com ele, visto que sua essência não tem relação com a sustentabilidade e leva a
práticas devastadoras ao ambiente e todos os seres (em nome do ego, ganância ou
imediatismo), inclusive aos humanos independente de classe social, raça, religião. A espécie
humana se considera esperta, racional, inteligente, porém não demonstra com suas atitudes,
pois conforme diz Paul Watson, co-fundador da Greenpeace, “inteligência é a habilidade das
espécies viver em harmonia com o meio ambiente”. Para que isso aconteça é necessário uma
revolucionária tomada do poder pelo povo, extinção do capitalismo, criação de uma
instituição universal e firmar o Contrato Natural na direção de submeter a economia à
ecologia com objetivo de garantir direitos e defender interesses da natureza e todas as
espécies dessa e das próximas gerações e tentar consertar nossa natureza humana, nos
devolvendo a nossa verdadeira posição (uma espécie entre muitas que devem conviver de
forma equilibrada, dividindo o espaço) e contudo respeitar e proteger nosso planeta na qual
dependemos intrinsecamente para existir, e não pode haver algo de maior importância. Caso
contrário, podemos ver e sofrer consequências catastróficas afetando não só nosso padrão de
vida, mas qualquer chance de sobrevivência ou de ter futuro menos pior. As mudanças
precisam ser radicais e agora e não em um futuro distante como pensam muitas pessoas.
A obra traz contribuições importantíssimas para a humanidade e no campo ambiental e
é recomendada a todas as pessoas. Apresenta conteúdo muito esclarecedor sobre o assunto,
apesar de exigir conhecimento em termos e conceitos na qual não conhecíamos, mas com
esforço é possível compreender todo o conteúdo vindo trazer a debate, como modo de
despertar a nossa consciência e de outras pessoas na qual convivemos. O autor abordou o
tema de forma excelente e alcançou seu objetivo de perturbar sem desanimar. Não tem caráter
alarmista, pois sua pesquisa tem extraordinário embasamento teórico, relação entre literaturas
e citações com as explicações de Marques.
Enfrentar esse desafio envolve a crença do que a sociedade humana é capaz de realizar
e que é devido a mudanças não lineares que podemos superar essa situação e viver
harmonicamente com todo o meio que nos circunda e nos permite existir.

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