@perigosasnacionais Doce Tentacao - L R Spector

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PERIGOSAS NACIONAIS

Doce Tentação
1º edição

L. R. Spector

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Copyright © 2019

Esta é uma obra de ficção. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos
são produtos da imaginação do autor.

Qualquer semelhança com nomes, datas, e


acontecimentos reais é mera coincidência.

Qualquer outra obra semelhante, como essa será


considerado plágio, como previsto em lei.

Grafia atualizada segundo o Acordo


Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que
entrou em vigor no Brasil em 2009

Todos os direitos reservados. É proibido


armazenamento e/ou reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios – tangível
ou intangível – sem o consentimento do autor.

A violação dos direitos autorais é crime


estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo
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184 do Código Penal.

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Sumário
Prólogo

Capítulo Um

Capitulo Dois

Capítulo Três

Capítulo Quatro

Capítulo Cinco

Capítulo Seis

Capítulo Sete

Capítulo Oito

Capitulo Nove

Capítulo Dez

Capítulo Onze.

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Capítulo Doze

Capítulo Treze

Capítulo Catorze

Capítulo Quinze

Capítulo Dezesseis

Capítulo Dezessete

Capítulo Dezoito

Capítulo Dezenove.

Capítulo Vinte

Capítulo Vinte e Um

Capítulo Vinte e Dois

Capítulo Vinte e Três

Capítulo Vinte e Quatro.

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Capítulo Vinte e Cinco

Capítulo Vinte e Seis

Capítulo Vinte e Sete

Capítulo Vinte e Oito

Capítulo Vinte e Nove

Capítulo Trinta

Capítulo Trinta e Um

Capítulo Trinta e Dois

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Então nós deitamos no escuro


Pois não temos nada a dizer
Apenas as batidas de nossos corações
Como dois tambores vazios
Eu não sei o que estamos fazendo
Eu não sei o que fizemos
Mas o fogo está vindo
Então eu acho que devemos correr
Eu acho que devemos correr

(Run, DAUGHTER)

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Prólogo
Ela nunca gostara da escuridão. Havia algo na
ausência completa da luz que sempre a deixara com
os nervos a flor da pele. Mesmo em sua infância,
ela se lembrava de implorar para a mãe com olhos
marejados para deixar a pequena lâmpada com sua
suave luz dourada acesa ao lado de sua cama. Com
um sorriso imenso nos lábios a mãe lhe acariciava
os cabelos que lhe caiam sobre a testa dizendo que
ela não precisava temer o escuro, os monstros de
seus sonhos não passavam da imaginação fértil que
existia em sua cabeça. Nada de mais poderia lhe
acontecer.

Será que sua mãe um dia havia percebido o


quanto estava enganada?

Em seu peito o coração retumbava como um


tambor ecoando em seus ouvidos, diante dela a
escuridão era um poço profundo pronto para
engoli-la. Ela realmente iria fazer aquilo? Havia
chegado até ali, mas agora a coragem que apenas
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alguns minutos atrás estivera percorrendo cada


centímetro de seu corpo parecia ter desaparecido.
Não sabia como seria capaz de dar o próximo
passo, e mesmo assim qual outra alternativa ela
tinha? Se não enfrentasse aquele medo primordial,
sabia que talvez nunca mais pudesse ter uma
oportunidade igual aquela. Sua vida dependia
daquilo, e acima de tudo sua liberdade...

Os passos dela ressoaram no longo corredor ao


seu redor, as paredes de pedra se estendiam sem
fim, por fim ela alcançou os degraus que desciam
ainda mais a levando para dentro da escuridão.

“Nina nunca desça até o porão você está me


ouvindo? Escute o que estou te dizendo, isso é para
sua própria segurança. Me prometa que você nunca
irá ate lá.”

As palavras de seu tio ecoaram em suas


lembranças, tão nítidas como se ela estivesse mais
uma vez diante dele ouvindo-o com atenção. Ele
havia lhe dito aquilo no primeiro dia quando ela
havia chegado aquela casa. Oito anos haviam se
passado deste então, e ela não conseguia sentir o
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peso do tempo sobre seus ombros.

O escuro a seu redor deixou mais fácil para que


as lembranças de sua vida anterior brilhassem
diante de seus olhos, como se ela estivesse
observando um filme, onde ela era a personagem
principal.

Nele havia uma garota feliz que vivia com sua


mãe de maneira tranquila e despreocupada, um pai
ausente, mas carinhoso, tudo entre aquela família
parecia ser bom pacífico e perfeito, até o momento
onde tudo deixou de ser.

Os dedos dela tocaram a parede fria, o toque da


pedra gelada se infiltrou por sua pele quase como
um bálsamo. Uma gota de suor escorreu por sua
nuca, deslizando de maneira incômoda por suas
costas. O ar ali dentro era abafado e estático,
mesmo assim sentia os pés gelados como se ela
tivesse acabado de pisar sobre a neve. Um sorriso
sem nenhum divertimento tingiu seus lábios.
Sentia-se dilacerada como se tivesse suspensa em
duas direções opostas. Certo e errado. Calor e frio.

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Suas unhas rasparam contra a parede, a


sensação desagradável percorrendo todo seu braço.
Não podia de se dar o luxo de se perder em
pensamentos ou divagações naquele momento. O
tempo era um inimigo, e embora ela pudesse estar
cometendo o maior erro de sua vida, o medo
agitou-se em suas entranhas, quando ela pensou as
consequências que poderiam se tornar reais caso ela
não fizesse nada.

O primeiro passo que deu em direção ao abismo


negro do porão foi o mais difícil. Movimentar sua
perna custou toda sua força de vontade. Em sua
mente o instinto de sobrevivência lhe ordenava para
que ela saísse daquele lugar o mais rápido possível.
Lançou um olhar angustiado por sobre seu ombro,
buscando sombras ou silhuetas atrás de suas costas.
Não queria nem ao menos imaginar no que o tio
poderia fazer caso a encontrasse naquele lugar.
Aquela simples ideia deixou um gosto amargo em
sua língua e suas pernas ainda mais tremulas.

Forçou seu corpo a se mover, a escuridão a


envolveu como um abraço apertado, a respiração
ficou fraca em sua garganta enquanto a
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claustrofobia deixava seus olhos ainda mais


arregalados em seu rosto.

Usou a palma de suas mãos para se guiar


embora o caminho fosse sempre o mesmo, para
baixo como se ela estivesse caminhando para
dentro das entranhas da terra.

Os gemidos chegaram até seus ouvidos no


primeiro momento ela imaginou se aquele som
lamentoso e quase baixo demais para ser percebido
não seria apenas algo produzido por sua mente
estimulada.

Os sons se repetiram agora com mais clareza,


ecoando a sua volta de forma tenebrosa. Havia algo
naquele som que deixou os pelos de sua nuca
arrepiados, aqueles murmúrios estavam repletos de
dor e fúria.

Todas as historias horrorosas que ela já havia


algum dia ouvido sobre o mundo que seu tio e seu
pai habitavam encheram sua mente, provocando
imagens grotescas que fizeram com que o medo
que havia cravado as garras em seu estômago se

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transformasse numa onda de pânico, mesmo assim


contra todos seus instintos e a parte racional de seu
cérebro ela ordenou seu corpo a se mexer, em
frente um passo de cada vez.

Para distrair sua mente pensou nas histórias


bonitas e repletas de magia e finais felizes que
haviam povoado sua infância. Imaginou-as com
força, tentando afastar os pensamentos ruins para o
canto mais afastado de sua mente onde ali eles não
poderiam perturbá-la. Ela precisava seguir em
frente, porque sabia que aquela era sua única
chance.

Naquelas histórias, as heroínas eram princesas,


plebéias, garotas de coração puro que lutavam da
forma como podiam recebiam ajuda de seus
amigos, e algumas delas até mesmo tinham a sorte
de serem salvas por um herói.

No mundo real as coisas eram completamente


diferentes. Embora precisasse ser salva, ela sabia
que não era uma princesa muito menos uma garota
de coração puro. Não haveria nenhum herói para
salva-la, e mesmo assim ela se recusava a não fazer
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nada.

Se um herói não podia salva-la, então ela iria


encontrar um vilão que fizesse isso.

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Capítulo Um
Os dedos dela se agarraram nas bordas dos
livros, as páginas brancas se curvando para dentro.
Depois que terminasse a leitura iria detestar o fato
de que praticamente havia rasgado o livro em sua
ânsia para chegar até o final, mas naquele
momento, sentia como se não fosse capaz de parar
de ler.

- Nina? Você está me ouvindo? Balance a


cabeça em caso afirmativo.

A voz chegou até seus ouvidos de maneira


distante, cerrando os olhos, ela deixou que eles
percorressem as linhas com avidez praticamente
engolindo as palavras uma após a outra enquanto
diante de seus olhos sua imaginação conjurava
imagens vividas da cena que se desenrolava
naquela história.

- Nina, você pode largar esse livro por pelo


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menos dois minutos e me dar uma opinião? Nina!

O travesseiro acertou seu rosto em cheio, os


óculos em seu rosto escorregaram por seu nariz
caindo em seu colo, assustada a garota levantou a
cabeça, focando sua visão embaçada no rosto da
prima que lhe olhava de maneira nada agradável.

- Você não precisava ter jogado o travesseiro,


eu ia te responder, só estava terminando a página.

- Eu estava te chamando fazia pelo menos dois


minutos. Você estava me ignorando por completo.
Agora cala a boca e me dá sua opinião. Verde ou
azul.

A contragosto Nina se agachou recuperando o


livro que havia derrubado no chão graças ao
temperamento explosivo de sua prima.
Recuperando seu marca-páginas que
definitivamente já havia visto dias melhores, a
garota deixou-o em cima da cama, tentando
controlar a curiosidade que parecia uma bola de
gude quicando por todo seu estômago.

Diante dela Olga admirava em frente ao espelho


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de corpo inteiro dois vestidos longos. As peças


eram elegantes, exibindo um caimento perfeito e
tecido grossos e encorpados. Sem sentir nenhum
um pingo de interesse, Nina limpou os óculos
constantemente sujos na barra de camiseta dizendo:

- Esse verde-esmeralda fica melhor em você.


Combina com seu cabelo.

- Tem certeza? Você não acha que o tom escuro


pode acabar me deixando mais pálida como um
fantasma?

- Olga você pediu minha opinião. Se não está


contente com esse use o azul então.

A prima lhe lançou um olhar mordaz sobre os


ombros, enquanto jogava sobre sua cama as peças
de roupas que estavam em suas mãos. O som dos
cabides de madeira ressoou enquanto mais vestidos
se acumulavam sobre a cama que já estava uma
bagunça completa.

- Ekaterina Serov você é uma estraga prazeres


sabia disso? – respondeu sua prima, enquanto
caminhava de um jeito imponente para dentro do
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seu closet, indo buscar algo que pudesse se adequar


a seu gosto requintado – E não ouse pegar essa
droga de livro, enquanto eu estiver aqui dentro.

Os cantos dos lábios de Nina subiram num


sorriso divertido, ela conhecia sua prima bem
demais para saber que naquele momento não valia
a pena tentar contraria-la.

- Você não acha que está exagerando? É apenas


uma festa de aniversário.

- Eu não vou discutir isso novamente com você


– respondeu Olga, sua voz chegando abafada por
trás das paredes de seu closet – Toda garota precisa
comemorar sua maioridade, agora venha aqui me
ajudar.

Sabendo que não conseguiria contrariar a prima


por muito tempo, Nina levantou-se da cama e
caminhou até o closet, seus passos foram abafados
pelo espesso tapete de pelos de cor clara. Ali dentro
daquele espaço decorado com cores claras e
femininas, Olga desfilava entre as prateleiras,
enquanto seus olhos avaliadores percorriam pares

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de sapatos com várias cores diferentes e bolsas de


mão delicadas, diferentes e algumas até mesmo
exóticas.

Sem prestar muita atenção nela, Olga despejou


sobre seus braços mais cabides com roupas, ela
podia enxergar até mesmo um casaco de peles no
meio daquela coleção, o que não fazia sentido
algum, porque lá fora o verão exibia suas altas
temperaturas sem nenhum pudor.

- Você já escolheu o que vai usar? – perguntou


a prima parando um minuto enquanto segurava um
par desparelhados de sandálias em suas mãos, e
olhar realmente em sua direção.

- Ainda não, mas isso não faz diferença. Aposto


que sua mãe provavelmente deve ter deixado algo
preparado. Eu não preciso me preocupar.

Os olhos azuis e sagazes de Olga ficaram


presos em seu rosto, incapaz de suportar aquele
olhar, Nina virou-se de costas deixando que sua
atenção fosse completamente absorvida por todas
as coisas ao seu redor. Ela não queria que suas

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palavras tivessem soado de forma tão amarga, mas


apenas não havia sido capaz de se conter. Ao
menos com Olga ela poderia ser sincera, e não
precisar se preocupar com nenhum tipo de
julgamento. Ao menos ali dentro do quarto da
prima, ela estava segura.

- Sei que é difícil Nina, mas é seu aniversário


você deveria estar feliz.

Sem saber o que responder, a garota andou ao


redor, deixando que seus dedos inquietos
brincassem com os paetês de um dos vestidos de
Olga. A luz sobre sua cabeça incidiu sobre eles
deixando que brilhassem como ônix.

- Sei que você não vai acreditar em mim –


respondeu a garota – Eu estou feliz, de verdade... é
que eu apenas não queria uma festa. Ainda mais
uma desse tamanho, e com tanta gente da má...

Máfia

A palavra ficou presa em seus dentes,


pendurada por uma linha fina e invisível. Os olhos
de Olga haviam se tornado mais brilhante em seu
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rosto pálido. Aquela era a palavra proibida, a que


nunca deveria ser dita sobre aquele teto embora
todos ali soubessem exatamente o que se escondia
por trás das sombras daquela família.

O silêncio entre elas pareceu expandir, Olga se


aproximou dela tirando os vestidos que ela tivera
segurando, deixando que todas as peças caíssem no
chão com um baque leve. Definitivamente sua
prima nunca seria reconhecida por ser uma pessoa
organizada.

Nina sentiu os dedos da prima se apertar em sua


mão, enquanto elas entrelaçavam suas palmas. Um
gesto de carinho que elas sempre trocavam quando
uma precisava do apoio da outra. A convivência
entre elas nem sempre havia sido as mil maravilhas.
Nina chegara aquela casa quase uma adolescente, e
no começo fizera de tudo o que estava a seu
alcance para escapar dali. Suas tentativas de fuga
sempre acabaram frustradas, o que apenas servira
para deixa-la ainda mais arredia e revoltada. De
todas as pessoas ao seu redor Olga havia sido a
única que apesar de tudo continuará a seu jeito
buscando se aproximar. E no final a teimosia e
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persistência da prima haviam rendido frutos, e Nina


só podia ser grata por isso.

- Venha aqui, vamos conversar você está


precisando.

Nina não queria conversar. As palavras


pareciam como um novelo embaralhado dentro de
sua cabeça. Sentia seu coração pesado, como se o
músculo tivesse sido substituído por uma pedra que
parecia ocupar boa parte de seu peito.

Com delicadeza Olga puxou-a até que ambas


estavam sentadas, debaixo das prateleiras de seu
closet, o aroma de baunilha a essência predileta de
sua prima pinicou seu nariz, enquanto Nina
sentava-se no chão cruzando as pernas para ficar
numa posição mais confortável.

- Nina – começou Olga, lentamente como se


estivesse procurando por palavras que fossem mais
macias em sua língua – Você não deveria se
importar com isso. É só uma festa. Não é como se
tivesse um motivo oculto por trás dos negócios do
meu pai.

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A garota precisou morder os lábios para não


responder de maneira enviesada para ela. Inquieta
seus dedos acharam uma linha solta na barra de sua
calça jeans que ela começou a cutucar de forma
quase inconsciente.

- Você quer dizer que não acha isso estranho? –


perguntou Nina – Você viu a lista de convidados. A
maioria são homens e eu não conheço nem a
metade deles.

O olhar de Olga, se distanciou de seu rosto,


enquanto suas bochechas se tornavam mais
pálidas.

- Mesmo assim Nina, ainda é a sua festa de


aniversário. Eles sabem o lugar deles.

- Eu disse para o seu pai que não queria festa


alguma – respondeu a garota focando agora seu
olhar sobre a prima – Mas, aparentemente o que eu
realmente quero não faz muita diferença pra ele.

- Você sabe que ele pode ser um pouco


teimoso, mas ele realmente se importa com você.

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As unhas dela se cravaram sobre o tecido jeans,


mesmo debaixo daquela proteção ela pode sentir a
picada, dolorida e incômoda assim como as
palavras de Olga. Ela sabia que elas eram
verdadeiras, e talvez esse fosse exatamente o
motivo que mais a incomodava.

Erguendo as pernas, a garota descansou o


queixo sobre os joelhos, seus olhos estavam fixos
na parede a sua frente, ela não precisava olhar para
Olga para saber que toda sua atenção estava focada
nela.

- Eu pedi para que ele deixasse que eu fosse


procurar minha mãe – disse Nina num sussurro de
voz que parecia muito frágil até mesmo para seus
ouvidos – Pensei que ele iria permitir, agora que
vou me tornar maior de idade.

A mão de Olga pousou sobre seu ombro,


pequena e quente como um passarinho, o gesto lhe
confortou embora em seu coração ainda estivesse
pesado.

- O que ele respondeu?

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- O que você acha que ele respondeu? Ele não


deixou , como sempre Apenas disse que não havia
nada para ser encontrado, e que eu deveria me
concentrar em aproveitar minha festa de
aniversário, que até aquele momento eu nem ao
menos tinha ideia que estava sendo organizada.

- Nina você acredita que ainda tenha algo para


ser encontrado... Mesmo depois de tantos anos?

A franqueza nas palavras de sua prima apenas a


deixou ainda mais desanimada. Aquele pensamento
havia percorrido milhares de vezes sua cabeça.
Como um fantasma assombrando os cantos de sua
mente. A parte racional em seu cérebro dizia que
ela estava sendo teimosa e inconsequente de
continuar tão fixa com aquela ideia, mesmo tantos
anos depois. Mas a incerteza o fato de não saber o
que realmente havia acontecido, era algo que ainda
continuava a atormentá-la.

- Ela é minha mãe Olga... Eu preciso saber se


alguma coisa aconteceu com ela...

As palavras não pareciam ter nenhum tipo de

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convicção em sua garganta. Se ela nem ao menos


era capaz de se convencer daquilo, então como
conseguiria fazer o tio concordar com aquela idéia?
Ele nunca havia escondido o fato de que preferia
que ela deixasse todo o passado para trás assim
como as lembranças de sua mãe.

- Eu gostaria de poder dizer algo que pudesse


ajuda-la – respondeu Olga, se aproximando dela,
segurando sua mão com suas palmas macias – Eu
sei que mesmo depois de tanto tempo você ainda
sente falta dela. Eu acho que entendo, eu me
sentiria da mesma forma se estivesse em seu lugar.

- Então você não acha que estou errada?


Acredita mesmo que eu devo tentar encontrá-la.?

- Não sei como você poderia fazer isso Nina.


Meu pai contratou os melhores homens para
procurarem sua mãe, e eles voltaram de mãos
vazias.

- Talvez por que ela não quisesse ser


encontrada por eles – respondeu a garota de
maneira teimosa – Talvez ela não quisesse ser

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encontrada pela máfia.

Olga lhe lançou um olhar suplicante, ela


detestava ouvir aquela palavra, como se a
ignorando de seu vocabulário o verdadeiro
significado do dinheiro de sua família não pudesse
atingi-la. Aquilo também era apenas mais uma
coisa que ela simplesmente não era capaz de
ignorar.

- Se pelo menos eu pudesse ir atrás dela –


continuou Nina deixando que a frustração tingisse
suas palavras - Então ao menos eu poderia
realmente ter uma chance de saber o que aconteceu.
Mas, seu pai simplesmente não me deixa sair
daqui.

- Você sabe muito bem Nina que ele não faz


isso por mal, é para nossa proteção. Você sabe
exatamente os motivos, acabou de citá-los agora
mesmo.

Nina engoliu as palavras que borbulharam em


sua língua para tentar argumentar com sua prima.
Durante todos os anos que ela havia permanecido

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sob a tutela de seu tio, ele lhe dissera que iria


protegê-la das ameaças do mundo exterior. Com
palavras firmes e carinhosas, ele havia a acolhido
em sua casa, e protegido a até que para ela sua
proteção acabou se tornando grilhões pesados e
restritivos que pareciam impossíveis de serem
removidos de seus tornozelos.

Ela não queria parecer uma ingrata, afinal de


contas havia sido o tio que lhe acolhera dentro de
sua própria família. Ali ela havia sido criada como
uma filha, e com o passar dos anos passara a
enxergar todos ali, como pessoas queridas e
importantes para ela Olga era como uma irmã, e
ninguém poderia lhe convencer do contrário, mas a
cada aniversário ela sentia à vontade de tomar suas
próprias decisões crescer dentro de seu peito.
Queria procurar sua mãe, encontrar respostas sobre
seu passado... Queria ser uma garota normal, entrar
numa universidade namorar um garoto sem se
preocupar se ele tinha uma ficha imensa na polícia.
Mas, aparentemente o tio tinha outros planos para
ela. E não estava nem um pouco disposto a ser
contrariado.

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- Eu sei que ele quer me proteger Olga... Sei de


verdade. Mas, talvez eu não queira passar o resto da
minha vida sendo protegida. Você consegue me
entender?

Erguendo os olhos Nina deixou que seu olhar se


focasse no rosto da prima, ela podia dizer pelo
brilho contido em suas íris azuladas que ela não
compreendia, mas também não iria criticá-la. Em
seu peito seu coração rangeu dolorosamente,
enquanto ela se esticava toda e abraçava Olga de
maneira apertada. Se não fosse por ela, Nina não
tinha a mínima ideia de como sua vida teria sido
suportável nos últimos dez anos.

- Ei o que você está fazendo? Sei que está toda


emotiva porque é a aniversariante, mas, por favor,
essa blusa é de seda.

- Fique quieta! Hoje é meu dia eu tenho direito


de fazer o que quiser com você.

A risada de Olga explodiu levemente contra sua


orelha, levantando um pouco seu astral. A sensação
incômoda de toda aquela situação ainda pesava

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sobre seus ombros, mas de certa forma, após


desabafar com sua prima sentia como seu ânimo
tivesse melhorado ao menos ligeiramente.

- Façamos o seguinte – disse Olga, enquanto se


desvencilhava de seus braços, e a segurava de
maneira firme pelos ombros – Vamos nos divertir
nessa festa, é seu aniversário você merece
comemorar, e quando tudo isso tiver acabado,
vamos nós duas conversar com meu pai. Pedir para
ele deixe que nós façamos uma nova tentativa em
procurar sua mãe.

- Olga, você realmente faria isso?

Nina pode observar o vislumbre momentâneo


do medo cruzar o rosto de Olga, na maior parte do
tempo ela tentava evitar o pai distante e autoritário
que parecia não demonstrar interesse nenhum numa
vida familiar, principalmente quando o assunto era
sua filha e esposa. Por isso mesmo ela sabia o
quanto lhe custava dizer aquilo. A simples ideia de
estar diante de seu pai e confronta-lo iria lhe exigir
toda sua força de vontade.

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- Você é minha irmã Nina. Faria qualquer coisa


por você. Depois de tanto tempo achei que você já
teria entendido essa parte.

O coração de Nina retumbou dolorosamente em


seu peito. Ela não merecia uma amiga como Olga, a
emoção pinicou em seus olhos, mas ela sorriu
tentando afastar as lágrimas. Ela sabia que aquele
tipo de demonstração emotiva apenas serviria para
deixar sua prima encabulada.

- Ótimo –continuou Olga se levantando,


enquanto deixava seu olhar percorrer as roupas que
ela mesma havia derrubado no chão de qualquer
jeito – Agora que terminamos por aqui, você pode
me dar sua opinião a respeito do meu sapato antes
de ir para seu quarto se arrumar. Pelo amor de Deus
você é a aniversariante, não pode aparecer na sua
própria festa de aniversário vestida desse jeito.

Um sorriso sincero e divertido brincou nos


lábios de Nina enquanto ela se levantava e ajudava
sua prima a carregar o resto das bolsas e sapatos de
volta para seu quarto.

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-Não se preocupe, eu não farei você passar


nenhuma vergonha aparecendo de calça jeans hoje
na festa.

Como se elas ainda fossem crianças Olga,


conseguiu agarrar um dos travesseiros que ainda
estavam debaixo da pilha de roupa e jogar em sua
direção. Rindo Nina desviou enquanto o projétil de
penas de ganso acertava de forma nenhum um
pouco perigosa a parede atrás de suas costas.

Com o coração mais leve, a garota deixou que


seus dedos se fechassem sobre a capa do livro que
ela estivera lendo. O desfecho daquela história teria
de esperar um pouco mais para ser lido e concluído.
Deixando para trás uma atarefada prima rodeada de
peças de roupas sapatos e bolsas, Nina caminhou a
passos lentos até a porta do quarto, mas antes de
sair Olga chamou novamente sua atenção.

- Ei Nina espera.

Virando o rosto, e olhando por sobre o ombro, o


olhar da garota recaiu sobre a prima que lhe
lançava um sorriso de orelha a orelha dizendo:

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- Antes que eu me esqueça... Feliz


Aniversário!

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Capitulo Dois
Os pés de Nina refizeram o mesmo caminho tão
conhecido em direção a seu quarto. As portas
duplas que davam acesso ao balcão no segundo
andar estavam abertas, deixando que uma brisa
morna percorresse o ambiente. A casa estava
levemente movimentada, enquanto a noite descia
sobre o local. Parando para observar àquelaquela
movimentação a garota se debruçou de maneira
preguiçosa sobre o corrimão da escada, no andar de
baixo ela conseguia enxergar os empregados
atarefados carregando objetos de decoração, e
afastando móveis da sala de jantar.

Como se fosse um maestro sua tia Irina estava


em pé no hall central organizando cada pequeno
detalhe. Havia um tablet em uma de suas mãos,
enquanto ela falava em russo rapidamente no
celular. Nina não era capaz de compreender como
ela conseguia suportar tomar conta de tudo isso,
mas havia poucas coisas no mundo do que sua tia
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gostasse mais do que organizar uma festa.

Se fosse completamente honesta consigo


mesma Nina não sentia que estava em clima de
comemorações. Embora fosse seu aniversário, a
verdade era que ela considerava que tinha poucos
motivos para comemorar. Se pudesse realmente
escolher, gostaria de ir a algum restaurante
intimista com Olga, algo simples e casual. As duas
comeriam algo gostoso, e dividiram uma sobremesa
qualquer, depois então elas estariam de volta em
casa onde poderiam assistir algum filme
extremamente bobo de comédia, e acabariam
dormindo juntas, exatamente como faziam quando
eram crianças. Não era nada glamouroso e nem ao
menos chegava a se comparar ao esforço colossal
que sua tia Irina estava tendo para organizar sua
festa de aniversário, mas pelo menos aquilo seria
algo que teria realmente sua personalidade.

Não era como se ela detestasse festas, apenas


não sentia que um evento organizado daquela
forma era o melhor jeito para comemorar seu
aniversário. Mas, aparentemente seus tios
discordavam completamente de sua opinião.
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Frustrada Nina observou uma das garotas que


haviam sido contratadas, subir numa cadeira para
trocar as cortinas da sala de jantar. Ao seu lado
metros e metros de cortina num tom adamascado
esperavam pacientemente para serem penduradas
na parede. Tudo havia sido pensado na melhor
forma de deixar aquele local belo e elegante. E
nada daquilo refletia em nada a aniversariante.

Seu aniversário não passava de uma desculpa,


um motivo para ser usado por seus tios levando em
considerações seus próprios objetivos. O
pensamento era amargo até mesmo entre as
dimensões de sua mente, mas o pior de tudo era
saber que aquilo era a mais simples e pura verdade.

Pensar naquilo deixou seu estômago levemente


enjoado, em algum canto da sala o som do relógio
de corda, marcava o fim da tarde. As badaladas do
sino ecoaram pelo ambiente, cada uma delas
ressoando em suas orelhas de forma agourenta.

Pela milésima vez aquele dia Nina tentou


imaginar uma maneira de escapar daquela festa.
Mas, as desculpas que percorreram seu cérebro
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pareciam infantis. Ela poderia dizer a seus tios que


estava passando mal, e mesmo assim eles
chamariam um médico de qualquer forma, ela seria
levada escada a baixo, usando um vestido elegante
e permaneceria na frente de todos aqueles, tentando
evitar em cada um deles.

Lá embaixo sua tia terminou sua ligação, e saiu


em direção à cozinha, seus saltos altos ecoando no
chão de mármore, o fluxo de trabalhos dos
empregados aumentou e Nina soube que
simplesmente não poderia mais continuar adiando
aquela situação. Sem nenhuma vontade, ela
continuou seu caminho em direção a seu quarto.

No corredor ela cruzou com alguns garotos que


estavam fazendo arranjos de flores que seriam
exibidos próximos à escada. O cheiro de grama
fresca, e rosas permeavam o ambiente. O calor
escaldante do dia, ainda estava no ar, às flores não
suportariam aquelas temperaturas excessivas, mas
ela sabia que isso não passava de um pequeno
detalhe para sua tia. Ela tinha o dinheiro necessário
para encher toda aquela mansão de flores, mesmo
que todas elas morressem apenas algumas horas
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depois, somente para realizar um desejo de ter todo


aquele lugar decorado com ostentação.

Os pés dela pararam diante da porta de seu


quarto, a maçaneta redonda e dourada estava fria
sob seus dedos. Ela entrou ali dentro apreciando o
silêncio do lugar e a ausência da presença de outras
pessoas. Em suas mãos o livro que havia escolhido
no começo daquela manhã, pesava de forma
confortante. Se fosse sincera consigo mesmo, a
única coisa que desejava naquele momento era
deitar em sua cama, depois de tomar um banho
longo e prolongado e continuar aquela leitura.

Pousando a cabeça contra a rigidez da porta


Nina deixou que seus olhos percorressem todo o
ambiente. Seu quarto se encontrava exatamente da
mesma forma que ela havia deixado àquela manhã,
com exceção do extravagante vestido de festa
pendurado num cabide em frente à porta do eu
guarda-roupa.

A contragosto a garota caminhou em sua


direção, deixando o livro sobre sua cama. Com
cuidado ela deixou que as pontas de seus dedos
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percorressem o material do tecido daquele vestido.

Num tom claro de champanhe o material


delicado caia em camadas que chegavam até o
chão. O corpete era estruturado, embora as mangas
não passassem de pequenas fitas que cruzariam
seus braços na altura dos ombros. O tecido da saia
era bordado, com flores feitas em cores mais suaves
de creme. A peça era linda e Nina tinha certeza que
teria suas medidas. Ela havia procrastinado o
máximo que podia em relação a escolher a roupa
para festa, numa vã tentativa de que aquilo iria
impedi-la de comparecer. Um sorriso sem nenhum
tipo de humor surgiu em seus lábios. Ela não
deveria estar surpresa pelo fato de que sua tia havia
tomado aquela providencia.

Durante toda a semana, ela havia lhe dito o


quanto àquela festa era importante para toda a
família. Irina não deixaria que ela não
comparecesse a festa apenas porque não possuía
um vestido.

Desanimada Nina sentou-se na cama, olhando


para o vestido a sua frente. Em qualquer outra
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ocasião ela teria adorado usar uma peça como


aquela. Podia se imaginar facilmente ao lado de
Olga, ambas juntas curtindo uma noite enquanto
bebiam vinho riam e dançavam em qualquer uma
das milhares de festas e recepções que a família
delas recebia convites para participar. Mas, naquele
momento sentia-se miserável. Não queria que seu
aniversário fosse comemorado daquela forma, sem
que sua opinião fosse levada em consideração.
Tudo aquilo parecia... Errado.

Um suspiro pesaroso escapou de seus lábios,


enquanto ela se deitava de costas fuzilando o teto
impecavelmente branco sobre sua cabeça. Houvera
uma época em sua vida, antes daquela casa antes da
família Serov, antes da máfia... Que tudo havia sido
mais simples.

As lembranças inundaram sua mente, como


uma avalanche que não podia ser controlada.
Imagens de sua mãe, da infância tão diferente que
havia ficado para trás. Naquela época o mundo de
esplendor, riqueza e luxo que a rodeava naquele
momento lhe parecia completamente distante e
impossível.
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Ela e sua mãe viviam uma rotina pacata de uma


vida interiorana. A casa onde moravam era
pequena, a tinta em suas paredes estava descascada,
o quarto dela era dividido com sua mãe, e na maior
parte do tempo também servia como sala. Embora
ainda muito nova Nina conseguia compreender que
financeiramente sua família não estava na melhor
das condições, mas a verdade era que não sentia
falta de dinheiro, quando seus dias eram repletos de
amor e felicidade ao lado de sua mãe.

A figura de seu pai era um mistério. O


imponente homem que costumava lhe visitar com
pouca frequência era distante e frio. A mãe havia
lhe dito que aquele era seu pai, mas em silêncio a
garota as vezes duvidava daquela informação. Ela
não se parecia em nada com aquele homem alto e
pálido com olhos frios e longínquos que seguiam
sua mãe por todo lugar. Mas, naquela época Nina
nunca lhe dera muita atenção. O pai Yuri Serov era
um visitante raro em suas vidas. Aparecendo sem
ser convidado, ele surgia como uma sombra
silenciosa na noite. A mãe nunca perguntava onde
ele estivera, ou mesmo quando ele iria partir, as
vezes suas visitas duravam alguns dias, outras
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vezes apenas algumas horas esparsas. Nina se


lembrava de escutar a voz da mãe conversando com
alguém de maneira baixa no celular quando era
criança. Ela imaginava que sua mãe estava falando
com seu pai, mas nunca tivera certeza.

O homem que ela conhecia como o pai, na


melhor das hipóteses era um estranho que poucas
vezes parecia ter demonstrado algum tipo de
interesse nela. Quando criança a garota não sabia
que tipo de sentimentos havia em seu coração em
relação aquele homem. Seu coração assim como
todo seu amor parecia ser direcionado
completamente a sua mãe. Exatamente por esse
motivo que mesmo após tantos anos, as cicatrizes
ali dentro ainda pareciam tão sensíveis.

Embora fosse muito nova e ainda não tivesse


mais do que onze anos, Nina se lembrava
exatamente o momento que sua vida havia se
modificado para sempre. Na primavera daquele
ano, os telefonemas que sua mãe fazia começaram
a se tornar mais frequentes. O tom de sua voz se
tornou mais rápido, mais urgente, olheiras haviam
surgido sob seus olhos, e seus cabelos antes
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lustrosos e cumpridos pareciam terem perdido o


brilho. Sem compreender direito o que estava
acontecendo Nina observou sua mãe entrar numa
espiral de preocupação. Ela costumava passar
várias horas do dia olhos fixos na janela de sua
casa, como se estivesse esperando que uma figura
despontasse no horizonte.

As brincadeiras, assim como os risos tão


frequentes entre elas se tornaram mais esparsas.
Ainda hoje Nina se perguntava se naquela época a
mãe estaria esperando por seu pai. O que teria
passado por seus pensamentos, enquanto ela
permanecera como uma estátua diante da janela?

A pergunta mais uma vez rodeou sua mente,


como milhares de vezes antes e mais uma vez a
resposta permanecia longe de seu alcance. Sentia-se
completamente frustrada por ter presenciado toda
aquela situação, e nunca realmente ter sido capaz
de compreendê-la. Não muito mais tarde naquele
ano, um carro preto e lustroso havia parado diante
das portas de sua casa. Nina ainda conseguia se
lembrar completamente daquela cena. Ela estivera
no quintal jogando bola sozinha, a rua estava
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tranquila e silenciosa, era uma quarta-feira a tarde e


não havia ninguém ao redor para observar o que
acontecera. Dois homens vestidos de terno saltaram
do veículo, a bola havia escorregado em suas mãos
indo bater nos pés do homem que mais tarde
naquele mesmo dia ela iria descobrir que era seu
tio.

“Nina venha para cá, entre aqui dentro agora”

A voz da mãe soou em suas memórias de


maneira alta e cristalina, como se ela estivesse
chamando-a naquele mesmo instante. Ela se
lembrava de ter tentado responder a mãe, mas a
mão firme de um daqueles desconhecidos havia
impedido seus movimentos. Sem poder se mover e
com a voz presa dentro de sua garganta, ela havia
sido colocada naquele carro desconhecido,
enquanto seus olhos permaneciam fixos em sua
mãe. A figura dela muito pequena e distante
recortada de frente ao batente da porta, os olhos
muito fundos em seu rosto pálido, enquanto ela era
arrastada para longe.

Chorando e berrando durante todo o caminho,


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Nina havia sido trazida aquela casa, o homem de


terno escuro que a segurara durante todo o trajeto
em nenhum momento havia se compadecido das
lágrimas salgadas que molhavam seu rosto ou
mesmo diminuído o aperto dolorido sobre seu
ombro. Contra sua vontade ela havia sido trazida
até aquela casa, trancada num quarto qualquer até
que o tio viera lhe encontrar.

Com voz controlada e olhar impassível o


homem diante dela que se apresentara como
Serguei Serov e lhe dissera que o pai que ela mal
conhecia estava morto. Com lábios trêmulos Nina
não podia se importar menos com aquelas palavras.
Ignorando por completo o que ela dissera Nina
perguntara sobre sua mãe, mas Serguei nunca havia
lhe respondido diretamente.

Ele dissera que ela iria viver ali naquela casa


como alguém de sua própria família. Dissera que
ela poderia chamá-lo de tio se quisesse e que ela
era seu tutor legal até sua maioridade. Naquela
época Nina não havia se importado nem um pouco
com todo aquele discurso do qual ela era capaz de
compreender tão pouco. Assustada a única coisa
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que ela se lembrava de fazer era pedir por sua mãe.

O homem que ela havia acabado de conhecer,


tinha os mesmos olhos distantes que seu pai,
embora houvesse uma rigidez ainda maior sobre
sua face. Como se seu próprio rosto tivesse sido
esculpido de uma pedra. Sem nenhuma emoção em
sua voz, ele dissera que sua mãe estava ocupada,
mas que logo elas poderiam se reencontrar
novamente. As palavras dele não acalmaram a
garota que permaneceu naquele quarto
desconhecido e sozinha sendo embalada por suas
próprias lágrimas até cair num sono exausto.

Tentando conter as lembranças que teimavam


em desfilar diante de seus olhos Nina deixou que
seu antebraço repousasse sobre seu rosto. No dia
seguinte Serguei havia voltado para seu quarto, mas
dessa vez ele não estava sozinho. Parada a seu lado
estava Irina que ele apresentará como sua tia,
sorrindo de maneira desconfortável. Nina ainda
conseguia se lembrar de como naquele momento a
raiva parecia ter fervido em seu sangue. Ela gritara
e chorara usando toda a força em seus pulmões,
enquanto pedia por sua mãe e embora o rosto de
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Irina tivesse empalecido com aquela sua


demonstração de revolta, a face de Serguei
continuará da mesma forma inalterada.

Com o passar lento dos dias Nina aprendera da


forma mais difícil que ninguém ali dentro
realmente se importava com ela. Suas lágrimas seus
gritos não chegavam nem mesmo a incomodar
nenhum daqueles desconhecidos que simplesmente
eram capazes de ignorá-la por completo. A tristeza
e a solidão invadiram seu coração, cravando suas
garras profundamente dentro de seus pensamentos.
Ela passou a recusar comida, e a sair de sua cama.
Foi nesse momento que ela conheceu Olga.

Usando um vestido branco e o cabelo


perfeitamente trançado, ela havia sido trazida até
seu quarto. Nina lembrava-se de como odiou
profundamente a imagem perfeita daquela garota
parada diante dela, enquanto ela permanecia suja,
com o rosto vermelho e manchado por suas
lágrimas incessantes.

Dominada por sua raiva ela havia puxado o


cabelo de Olga, mas jamais teria imaginado que
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uma garota que mais parecia uma boneca iria


revidar. Ambas acabaram se arranhando
completamente enquanto caiam no chão brigando,
enquanto as empregadas confusas e assustadas
tentavam separar uma da outra.

Quando Olga foi levada embora com uma das


tranças desfeitas e a barra de seu vestido rasgado
por um momento Nina sentiu que finalmente havia
trinfado de alguma forma naquele lugar. Mas, o
quarto a seu redor pareceu ainda maior e silencioso,
e ela odiou isso ainda mais.

Naquela mesma noite, quando a casa estava


rodeada pela escuridão, Nina havia sido acordada
por passos leves diante de seu quarto. Deitada em
sua cama estranha, usando um coberto como
proteção, ela havia permanecido com olhos muito
aberto enquanto observava a pequena figura da
garota deslizar para dentro de seu quarto. O pijama
estampado com ursinhos parecia um pouco
desbotado e lembrava um que Nina também
costumava adorar usar para dormir. Com todo
cuidado Nina observara com curiosidade enquanto
Olga, chegava até ela lhe perguntando aos
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sussurros se ela estava acordada.

Nina havia lhe sussurrado uma resposta


abafada, dizendo que sim. Por algum motivo ela
conseguia quase gostar daquela garota com cachos
rebeldes vestida de pijama que invadia seu quarto
no meio da noite. Para sua surpresa Olga dissera
que não estava ali para brigar, e estendera em sua
pequena mão um curativo amassado. Nina se
lembrava de ter pegado a pequena oferta de paz
oferecida enquanto deixava um espaço em sua
cama para aquela garota que instantemente havia se
transformado em sua amiga.

Afastando o braço de seu rosto Nina levantou o


corpo dolorido em sua cama, tentando organizar os
pensamentos que pareciam se acumular entre as
barreiras internas do seu cérebro. Tantas coisas
haviam acontecido em sua vida após aquela noite, e
tantas mudanças das quais ela não havia sido capaz
de controlar... E mesmo assim as mesmas perguntas
que a deixavam acordada durante aquele primeiro
momento continuavam sem respostas.

Embora continuasse naquela casa, Nina nunca


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mais havia sido capaz de se encontrar com sua mãe.


Quando os dias se transformaram em semanas, e
essas em meses, Nina havia continuado insistindo
em sua pergunta para Serguei desejando saber o
que havia acontecido com sua mãe. Mas ela não
podia acreditar nas respostas que ele havia lhe
oferecido.

Depois de muita insistência, finalmente Serguei


lhe respondeu algo que para Nina só podia ser
considerado como impossível. O tio lhe dissera que
após saber da notícia da morte de seu pai, a mãe
por motivos próprios e desconhecidos havia
preferido ir embora, deixando a única filha em seus
cuidados.

Nina ainda era capaz de sentir o peso daquelas


palavras, e a descrença que se apoderou de cada
pequena parte de seu corpo enquanto sua mente
tentava processa-las. Como ela poderia acreditar
que a mãe simplesmente teria partido assim? Sem
nenhum adeus, sem abraço uma palavra de
carinho?

A imagem de sua mãe parada na porta estática


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com o rosto repleto de aflição ainda era algo


constante em suas lembranças. Dez anos haviam se
passado desde aquele dia, aquele momento onde
tudo havia mudado entre elas. Durante todo aquele
tempo ela não podia negar as boas intenções de
Serguei. O homem que havia a acolhido em sua
casa cuidara dela como uma filha, exatamente
como ele havia prometido. Sua figura imponente
distante e autoritária havia permeado cada pequeno
passo que ela dera naquele lugar desde o momento
que havia sido acolhida pela família Serov. Embora
não quisesse admitir no fundo aquele homem
taciturno e de poucas palavras lembrava-lhe
exatamente a figura do pai que ela havia conhecido
em sua infância.

O tempo havia transcorrido de maneira


implacável, e agora Nina finalmente estava
completando sua maioridade, e mais do que nunca
o desejo de encontrar sua mãe e finalmente
compreender o mistério que envolvia toda aquela
história crescia de forma urgente em seu coração.

Ela não queria ter de descer e comemorar seu


aniversário naquela festa, mas havia aprendido
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durante todos aqueles anos naquela casa que sua


teimosia não lhe serviria de nada. Precisaria ser
astuta e mais maleável do que o tronco de um
carvalho se realmente quisesse conseguir algumas
respostas de Serguei.

Levantando-se a garota fitou o elegante vestido


diante dela. Cumpriria a parte que esperavam dela
aquela noite, e faria isso de forma perfeita, e na
manhã do dia seguinte sendo uma adulta por
completo perante a lei, mais uma vez ela iria
confrontar seu tio a respeito do paradeiro de sua
mãe, e se dessa vez ele se recusasse a ajudá-la
então Nina havia tomado a decisão de que faria isso
por conta própria.

Ela não era mais a garotinha amedrontada de


anos atrás, agora finalmente ela podia tomar suas
próprias decisões e arcar com as consequências,
mesmo que isso não agradasse algumas pessoas.
Tudo o que ela precisava fazer era continuar a ter
paciência e ser persistente.

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Capítulo Três
Nina prendeu as últimas mechas de seu cabelo
num coque frouxo perto de sua nuca, enquanto
observava no espelho seu reflexo. A maquiagem
em seu rosto era leve, mas não discreta o suficiente
para que as pessoas não notassem os tons quentes e
dourados sobre suas pálpebras. Os lábios exibiam
uma coloração rosada muito próximo do vermelho,
e suas bochechas mostravam o tom delicado certo
de blush que lhe dava uma aparência saudável e
jovem.

Em seu dia-a-dia ela não costumava passar


muito tempo diante do espelho. Havia se
acostumado com o passar do tempo a aceitar a
imagem cheia de imperfeiçoes que encontrava
todas às vezes quando olhava sobre aquela
superfície lisa. Embora tivesse aprendido a arte de
se maquiar e deixar seu rosto muito mais
apresentável numa beleza padrão, o esforço que
precisava empreender nisso nunca valia a pena
quando sua preguiça falava mais alto.
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Piscando algumas vezes Nina tentou se


acostumar com o incômodo persistentes de suas
lentes de contato. A miopia que descobrira possuir
alguns anos atrás havia deixado sua visão
desfocada quando ela precisava enxergar o mundo
a distância. Na maior parte do tempo era um
incômodo pequeno, já que realmente só precisava
usar óculos apenas para longe. Os objetos haviam
se tornado itens indispensáveis a sua rotina, embora
ela sempre tivesse esquecendo onde os havia
deixado, ainda os considerava mais confortáveis do
que as lentes que sua tia parecia preferir.

Se pudesse optar ela desceria para festa, usando


seus óculos sobre seus olhos, mas duvidava que
Irina fosse aceitar aquela sua escolha que
definitivamente não combinaria em nada com seu
visual.

Dando um passo para trás, a garota observou


com mais atenção suas roupas, os dedos alisaram a
saia sem nenhum vinco que cobria seu corpo. Nos
pés sandálias prateadas com tiras pequenas
completavam o visual. Os saltos finos
provavelmente deixariam suas panturrilhas
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doloridas durante todo o dia seguinte, mas se ela


não os usasse então seria obrigada a ficar
segurando suas saias que se arrastariam no chão,
como se ela estivesse usando uma roupa muito
maior do que seu tamanho.

Um suspiro resignado deixou seus lábios. O


nervosismo pareceu brotar em seu estômago como
se uma flor tivesse se desabrochando em direção ao
sol, as palmas de suas mãos ficaram frias e úmidas,
e Nina tentou seca-las friccionando ambas por
sobre seus braços.

Ela estava pronta, embora não sentisse como se


estivesse preparada, e sabia que não poderia
continuar por muito mais tempo ali dentro da
segurança de seu quarto. Dando as costas para seu
próprio reflexo, a garota voltou em direção a seu
quarto silencioso. As luzes principais estavam
apagadas, e a escuridão era apenas amenizada pela
luz dourada e aconchegante que provinha do abajur
sobre seu criado-mudo.

As portas duplas de seu quarto, que davam


acesso a sua pequena sacada, estavam abertas
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deixando que a brisa noturna acariciasse seu rosto.


A temperatura era amena, lá fora a noite estava
estrelada, e a lua não passava de um rasgo pálido
no céu que lembrava um sorriso.

Atraída por aquela imagem, Nina deixou que


seus passos a levassem até a janela. Alguns fios de
seu cabelo mais curtos se soltaram se coque,
enquanto cachos simples caiam de forma
bagunçada em frente a sua testa. Os olhos dela
percorreram toda a extensão do jardim que estava
iluminado por fachos de luz, e lanternas
estrategicamente posicionadas que davam a todo o
ambiente um ar etéreo e encantador.

Os primeiros convidados já haviam começado a


chegar e observar os carros luxuosos e imponentes,
percorrendo a entrada passando pelo jardim
decorado e parando em frente às portas abertas da
mansão, apenas serviu para lhe deixar ainda mais
aflita.

Dali de cima protegida pelas sombras da noite e


das paredes da mansão, ela podia observar os
visitantes sem que eles pudessem notar sua
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presença. Em silêncio Nina observou enquanto a


porta de um carro era aberta por um dos
funcionários contratado por seu tio. Um homem
usando um elegante terno cinza escuro saltou do
veículo sendo seguido por uma mulher jovem e
muito bonita que usava uma versão mínima de um
vestido preto.

Nina tentou recordar de seu rosto ou mesmo seu


nome, mas havia um buraco em branco em sua
mente. Ela não conhecia aquele homem, ou mesmo
sua acompanhante, e mesmo assim eles haviam
sido chamados para sua festa de aniversário. A
ironia daquilo deixava o sangue fervilhando em
suas veias.

Incapaz de se afastar da janela, Nina


permaneceu ali em silêncio observando o
movimento de pessoas que aumentava. O som de
violinos chegou até seus ouvidos carregados pela
brisa, um som de frustração de lembrava um chiado
escapou de sua garganta ao ouvir aquilo. É claro
que Irina, não iria perder a oportunidade de
contratar uma mini orquestra para sua festa.

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Nina afastou-se da janela lentamente o som de


seus saltos batendo no assoalho era o único ruído
ao redor. Suas coxas se encostaram-se à cama, e ela
sentou-se de uma vez sem se preocupar se iria
amassar o vestido elaborado que estava usando.

A festa mal havia começado e ela já se sentia


cansada e sem nenhum animo de participar. Seus
olhos recaíram sobre o livro que ela havia deixado
sobre seu criado-mudo. Um lembrete para mais
tarde quando ele tivesse confortavelmente deitada
em sua cama, apreciando aquele momento apenas
seu após uma festa que ela tinha certeza que seria
entediante e cansativa.

Os dedos de Nina percorreram a capa do livro,


abrindo exatamente na parte onde ela havia parado
sua leitura. O marcador de páginas que fizera em
um dos projetos nas aulas de artes plásticas no
colegial, escorregou entre seus dedos. As imagens
de folhagens e flores em tons de roxo e lavanda que
ela havia escolhido já estavam completamente
desbotadas. Em alguns pontos ela podia enxergar
arranhões e alguns rabiscos de caneta. Aquele
marcador era um fiel companheiro e havia
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suportado mais do que algumas dezenas de vezes a


bagunça monumental que havia dentro de sua
bolsa.

Os olhos dela recaíram sobre as palavras


destacadas em negrito sobre a superfície branca.
Era tão fácil para ela se perder naquela imensidão
feita apenas de branco e preto. Antes de chegar até
aquela casa, livros haviam sido objetos que não
faziam parte do seu cotidiano. Na pequena casa de
suas lembranças que ela havia dividido com sua
mãe, não havia nenhum deles para que ela tivesse
aprendido a se interessar pela leitura, mas isso
havia sido algo que mudara quando ela entrara
naquele novo mundo, onde havia descoberto as
verdadeiras origens de seu nome, assim como o
passado sobre seu pai e tudo que lhe cercava.

Nina ainda se lembrava com clareza daqueles


primeiros dias onde ela e Olga haviam passado boa
parte de seu tempo explorando a mansão, seus
jardins e seus arredores. Naquela época aquele era
o tipo de diversão que lhe mantinha ocupada, e
curiosa enquanto elas se embrenhavam por entre
aqueles corredores imensos, silencioso que mais
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pareciam um labirinto. A exploração havia


começado como um passatempo, e depois Nina
havia tentado usar aquele momento para formar um
mapa daquela nova casa em sua mente. Prestava
atenção às portas que na maior parte do tempo
estavam fechadas, e nas janelas buscando em
qualquer canto um ponto de fuga, uma rota que ela
pudesse usar para escapar dali e conseguir ir atrás
de mãe. Naquela época ela ainda era inocente o
suficiente para não conseguir perceber quão fortes
as amarras daquele mundo eram presas em seus
tornozelos.

Naquele dia, ela e Olga havia passado toda a


manhã brincando no jardim, o verão havia
esquentado a grama sobre seus pés, e logo os
cabelos de ambos estavam grudados em suas nucas
e atrás de seus pescoços. Nina não conseguia se
lembrar onde estava sua tia, mas em algum
momento daquela tarde, elas haviam entrado na
cozinha buscando algo para lhes refrescar a
garganta, enquanto aproveitavam a sombra fresca
da casa.

Os dedos de Nina percorreram a capa do livro,


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abrindo exatamente na parte onde ela havia parado


sua leitura. O marcador de páginas que fizera em
um dos projetos nas aulas de artes plásticas no
colegial, escorregou entre seus dedos. As imagens
de folhagens e flores em tons de roxo e lavanda que
ela havia escolhido já estavam completamente
desbotadas. Em alguns pontos ela podia enxergar
arranhões e alguns rabiscos de caneta. Aquele
marcador era um fiel companheiro e havia
suportado mais do que algumas dezenas de vezes a
bagunça monumental que havia dentro de sua
bolsa.

Os olhos dela recaíram sobre as palavras


destacadas em negrito sobre a superfície branca.
Era tão fácil para ela se perder naquela imensidão
feita apenas de branco e preto. Antes de chegar até
aquela casa, livros haviam sido objetos que não
faziam parte do seu cotidiano. Na pequena casa de
suas lembranças que ela havia dividido com sua
mãe, não havia nenhum deles para que ela tivesse
aprendido a se interessar pela leitura, mas isso
havia sido algo que mudara quando ela entrara
naquele novo mundo, onde havia descoberto as
verdadeiras origens de seu nome, assim como o
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passado sobre seu pai e tudo que lhe cercava.

Nina ainda se lembrava com clareza daqueles


primeiro dias onde ela e Olga haviam passado boa
parte de seu tempo explorando a mansão, seus
jardins e seus arredores. Naquela época aquele era
o tipo de diversão que lhe mantinha ocupada, e
curiosa enquanto elas se embrenhavam por entre
aqueles corredores imensos, silencioso que mais
pareciam um labirinto. A exploração havia
começado como um passatempo, e depois Nina
havia tentado usar aquele momento para formar um
mapa daquela nova casa em sua mente. Prestava
atenção às portas que na maior parte do tempo
estavam fechadas, e nas janelas buscando em
qualquer canto um ponto de fuga, uma rota que ela
pudesse usar para escapar dali e conseguir ir atrás
de mãe. Naquela época ela ainda era inocente o
suficiente para não conseguir perceber quão fortes
as amarras daquele mundo eram presas em seus
tornozelos.

Naquele dia, ela e Olga havia passado toda a


manhã brincando no jardim, o verão havia
esquentado a grama sobre seus pés, e logo os
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cabelos de ambos estavam grudados em suas nucas


e atrás de seus pescoços. Nina não conseguia se
lembrar onde estava sua tia, mas em algum
momento daquela tarde, elas haviam entrado na
cozinha buscando algo para lhes refrescar a
garganta, enquanto aproveitavam a sombra fresca
da casa.

O lugar estava silencioso, como se elas fossem


às duas únicas pessoas ali dentro. Convencer sua
prima a segui-la pelos corredores gelados, foi muito
mais fácil do que ela havia previsto, e antes mesmo
de que se desse conta, ambas haviam chegado até a
porta dupla de metal que dava acesso ao porão e
estava aberta.

Em suas lembranças, ela se recordava de como


o rosto de Olga havia perdido completamente a cor,
os olhos azuis se tornando quase translúcidos em
seu rosto infantil. Suas pequenas mãozinhas haviam
tentando impedir os passos de Nina de descerem
aquelas escadas de pedra, mas a teimosia havia
tomado completamente conta de suas decisões
naquele momento, e ela ignorara completamente os
apelos de Olga enquanto descia para a escuridão
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daquele porão desconhecido disposta a descobrir os


segredos que aquela família escondia.

As unhas de Nina rasparam a capa do livro em


suas mãos, a sensação desagradável viajando por
seu braço, tirando-o por um momento das
lembranças que naquele momento perturbavam sua
mente. Mesmo, após tantos anos ela ainda não
havia conseguido se esquecer daquilo que
encontrara aquele dia naquele porão. Um calafrio
desagradável viajou por suas costas parcialmente
desnuadas por causa de seu vestido de festa. As
imagens que mais pareciam saídas de um pesadelo
surreal pareciam ter se grudados em suas retinas,
como se alguém tivesse pintado aquelas
monstruosidades embaixo de suas pálpebras.

Parada em seu quarto Nina cruzou os braços


como se com aquele pequeno gesto ela pudesse se
proteger daquela memória. Os passos dela cobertos
por seus tênis surrados haviam soado de maneira
quase imperceptível naquele corredor, o silêncio a
seu redor era tão intenso, que até mesmo o som de
sua própria respiração havia soado muito alto em
seus ouvidos. Tentando abafa-lo ela cobrira os
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próprios lábios tentando se tornar alguém


completamente imperceptível enquanto avançava
sempre em frente, em direção a única fonte de luz
que havia naquele lugar que ficava no final
daquelas escadas.

Agora Nina sabia que deveria ter recuado, mas


naquela época seu corpo parecia ter adquirido uma
vontade própria, suas pernas levando-a sempre em
frente. Não conseguia se lembrar o que havia a
instigado com tamanha força. Será que ela
imaginava que no meio daquela escuridão iria
encontrar sua mãe? Nina não sabia a resposta, mas
não fora a mãe que encontrara naquele lugar. Em
vez disso ela se deparara pela primeira vez com a
morte.

Parado no meio do porão, sobre uma poça de


sangue. Serguei erguia-se como um monstro das
histórias infantis. As pálidas mãos estavam
manchadas num tom forte de rubi, um alicate de
ponta rombuda prendia frouxamente de entre seus
dedos.

Horror havia tomado conta de seu corpo,


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deixando seus membros flácidos e mais lentos, ela


tentara caminhar, mas havia tropeçado em seus
próprios pés, e seu corpo caíra com um forte
impacto no chão. Havia usado as palmas de suas
mãos para amparar sua queda, a pedra fria do
calabouço deixou pequenos arranhões em sua pele,
mas ela nem ao menos chegou a sentir a dor. Seus
olhos e toda sua atenção estavam voltados para
Serguei, o homem que havia a acolhido em sua
casa, que dissera que lhe protegeria de todos os
perigos, mas quem iria protege-la do homem
parado diante dela naquele momento?

Seus olhos claros eram inexpressivos num tom


límpido que lembravam a luz refletida sobre o
vidro de uma garrafa transparente. Não havia
nenhum tipo de preocupação, raiva, dor ou angustia
percorrendo seu rosto, e a ausência de qualquer
uma daquelas emoções deixou um gosto amargo e
nojento na língua de Nina, que sabia que nunca
mais poderia esquecer aquelas imagens que
pareciam terem se gravado atrás de suas retinas.

Sem dizer uma única palavra, Serguei


caminhou em sua direção, os luxuosos sapatos de
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couro ressoaram por todo o ambiente, até que ele


estivesse apenas alguns centímetros de distancia, os
olhos fixos em seu rosto.

“Você não deveria estar aqui Nina. O porão


não é um lugar para você”.

A voz dele ressoou como um trovão baixa e


poderosa chacoalhando seus ossos. Incapaz de
articular uma única palavra que fosse Nina apenas
concordou com um aceno de cabeça.

“Lembre-se nunca mais venha até aqui. Estou


dizendo isso para sua própria segurança”.

O gosto de sal invadiu sua língua, e ela


percebeu que as lágrimas escorriam por seu rosto,
quentes e abundantes. A sua frente Serguei não
pareceu se importar nem um pouco, um murmúrio
que mais parecia um lamento reverberou pelo
lugar, crescendo enquanto as entranhas da garota se
contorciam com sentimentos de puro terror e
angustia.

Os dedos dela se cravaram na pedra lisa do


chão, suas unhas se lascando de forma dolorosa a
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figura que estava sentada atrás de Serguei numa


cadeira recoberta pela escuridão, se mexeu de
forma patética, e por um instante Nina se
convenceu de que tudo aquilo que estava
acontecendo ao seu redor não passava de um
pesadelo.

A figura de Serguei assomou sobre ela, o


contorno de seu corpo desviando seu olhar daquilo
que estava escondido atrás de suas costas pela
escuridão. Nina sentiu o lábio inferior tremer, o
medo era uma bola apertada em sua garganta,
impedindo que suas palavras chegassem até seus
lábios.

“Levem-na daqui, e se certifiquem de que não


teremos mais interrupções”.

Um homem desconhecido surgiu a seu lado, a


mão que tocou seu ombro fazendo com que ela se
levantasse era eficiente e nem um pouco gentil. Em
silêncio Nina sentiu seu corpo ser erguido do chão,
enquanto era arrastada para fora daquele lugar.
Enquanto eles avançavam escada acima, o silêncio
que permeava aquele lugar foi substituído por
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lamurio incoerentes, até que eles se transformaram


em gritos lancinantes.

Nina abriu os olhos com força, e tentou


controlar as batidas descompassadas de seu
coração, mesmo após tantos anos aquela memória
era o suficiente para deixar um sentimento opressor
pairando sobre sua cabeça, e um gosto metálico e
grotesco em sua boca.

Trêmula ela se levantou, deslizando as mãos


que estavam frias sobre as amplas saias do seu
vestido. Estava nervosa, e ficar mergulhada naquele
tipo de lembrança apenas faria com que aquela
noite fosse um sacrifício ainda maior a ser
realizado.

Sabia muito bem que seus pensamentos


estavam seguindo em direção a um beco sem saída.
Ela aprendera aquela lição muitos anos atrás. Como
nas histórias dos livros que aprendera tanto a
gostar, toda a beleza luxo e riqueza que a
circundavam era conseguido por um preço.
Enquanto estivera debaixo daquele teto, Nina havia
aprendido a respeito da herança de sua família. O
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sobrenome de seu pai trazia consigo um peso do


qual ela jamais poderia ter imaginado, uma herança
marcada com sangue, morte e destruição.

Seu pai assim como Serguei eram membros da


Bratva, e faziam parte da divisão da máfia russa
que governava uma parte do território em Nova
York. Sanguinários violentos, e territorialista a
máfia reinava no submundo daquela cidade, onde
as leis não podiam alcançá-la, espalhando suas
próprias regras enquanto geravam caos e terror.

Rodeada por beleza, criada dentro de paredes


repletas de elegância, Nina havia sido como uma
rosa cultivada numa estufa protegida das
intempéries do tempo, mas ela sabia qual era o solo
onde se deitavam suas raízes e como ele era
contaminado.

O olhar de Nina vagou por seu quarto


silencioso, as pequenas luzes cintilantes sobre a
cabeceira de ferro de sua cama, davam uma
aparência etérea ao lugar. Uma decoração que
deveria ser infantil para uma garota próxima a
completar a maioridade, mas a luz dourada e
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cintilante lhe trazia uma sensação gostosa e quente


perto de seu coração. Aquele quarto havia sido o
seu santuário nos últimos anos, aquelas paredes
haviam testemunhado seus risos assim como suas
lágrimas. Agora as lembranças da infância com sua
mãe mais pareciam imagens desfocadas de um
sonho que ela mal tinha certeza se um dia
realmente fora real, e mesmo assim Nina não podia
aceitar aquela realidade, que estava diante dela.

Sabia que talvez estivesse agindo como uma


ingrata, mas aquele era exatamente o tipo de
situação que ela não tinha como deixar que
continuasse a se arriscar indefinidamente. Era
verdade que sua vida havia sido salva por Serguei,
por mais que amasse a mãe, hoje ela compreendia
que a mulher que estivera ao seu lado não era um
exemplo de responsabilidade. O que teria
acontecido com ambas se seu tio nunca tivesse
aparecido para buscá-la?

A pergunta rodeou sua mente exatamente como


sempre acontecia, deixando em seu rastro um
silêncio incômodo. Serguei havia lhe protegido, e
lhe dado um lar mesmo após sua mãe te-la deixado
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para trás, mas dentro da parte mais profunda de seu


coração Nina não podia ignorar que não queria
mais continuar vivendo daquela maneira.

Protegida dentro daquela redoma, ignorando as


armas sempre trazidas sobre os paletós dos homens
mesmo enquanto todos estavam jantando no Natal.
Nas festas regadas a álcool, drogas e joias onde
todos ali se comportavam como se fossem donos do
mundo. A cada ano que passava Nina sentia que
pertencia menos aquele lugar, e precisava deixar
aquela casa para encontrar seu caminho no mundo
lá fora.

O simples pensamento lhe enchia de


entusiasmo embora ela soubesse que Serguei seria
absolutamente contra o fato dela deixar aquela
casa, mas Nina simplesmente havia se cansado de
esperar. Quando o relógio tocasse meia-noite ela
oficialmente seria uma adulta e poderia tomar o
controle de sua própria vida, e trilhar o próprio
caminho. Ela iria receber a herança que seu pai lhe
deixara, e iria para o mais longe dali, deixando para
trás aquela casa aquela família, a máfia e Nova
York, iria atrás de sua mãe e quem sabe talvez com
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muita sorte ambas pudessem recomeçar em algum


outro lugar.

Uma batida na porta tirou a garota de seus


pensamentos, virando-se Nina sentiu sua expressão
se congelar por um milésimo de segundo em seu
rosto antes de se abrir num sorriso singelo para o
homem parado na soleira de seu quarto.

- Posso entrar? - perguntou Serguei de maneira


muito educada, seu sotaque russo característico
esticando um pouco a mais cada uma de suas
palavras.

- Claro que sim, como pode ver eu já estou


pronta. - respondeu Nina enquanto dava uma
pequena rodava no mesmo lugar, deixando que ele
apreciasse seu vestido.

A figura alta de Serguei adentrou o quarto


deixando o ambiente menor. Ele era um homem
corpulento, os músculos visíveis mal pareciam
controlados sobre o tecido esticado de seu
impecável terno de festas. O rosto exibia sempre
uma expressão controlada o cabelo cortado muito

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rente a seu crânio lhe dava uma aparência ainda


mais severa. Havia rugas ao redor de seus olhos e
de sua boca, mas eram os olhos que sempre haviam
deixado Nina desconfortável, claros demais num
tom muito vítreo às vezes eles lhe lembravam o
olhar desprovido de qualquer sentimento. Ele nunca
havia sido nada mais do que gentil com ela, era o
pai de sua amiga, irmão de seu pai e mesmo assim
nada daquilo podia diminuir o desconforto
desconhecido que ela sentia em suas entranhas toda
vez que ele se aproximava.

- Você está muito bela está noite Ekaterina, seu


pai teria orgulho de você.

O sorriso genuíno diminuiu um pouco nos


lábios da garota, Serguei era o único que a chamava
usando seu nome completo, e ela detestava ainda
mais ouvi-lo de seus lábios. Sentia-se como se uma
impostora toda vez que alguém se referia a ela
usando o nome que um dia havia sido de uma das
mais importantes imperatrizes da Rússia.

- Dificilmente acho que teria permissão de Irina


para estragar sua festa aparecendo lá embaixo
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completamente desarrumada. – Nina não pode


conter a ironia em sua voz, e se arrependeu de
imediato, a expressão de Serguei continuou
impassível. O homem não poderia entender uma
piada mesmo que ela tivesse lhe chutando entre as
pernas.

Caminhando ao redor, seu tio passou por ela


indo em direção a pequena sacada que ficava em
seu quarto. O manto noturno havia caído por
completo, estrelas cintilavam no céu, mas seu
brilho era ofuscado completamente pelas luzes ao
redor agora de toda a mansão que brilhavam
intensamente despejando um facho de luz dourada
que alcançava até mesmo os jardins.

Ainda de costas para ela Serguei observou seu


reinado, a música produzida por violinos e outros
instrumentos de cordas elevou-se na noite, ele
parecia um rei de frente para Nina naquele
momento, contemplando seu reinado, ou quem sabe
talvez um mestre titeriteiro esticando as cordas de
seus bonecos.

- Seu pai teria adorado estar presente conosco


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essa noite.

Nina não soube o que responder, de repente as


palavras haviam pesado em sua língua, deixando
seus lábios firmemente presos numa linha fina um
contra o outro. Erguendo seus olhos ela percebeu
que Serguei a observava com atenção, ele não
estava esperando nenhuma resposta dela. Era um
homem acostumado a ter a última palavra, e sempre
ser respeitado e obedecido, talvez fosse exatamente
por esse motivo que ela deixou que os pensamentos
que habitavam seus pensamentos fossem
verbalizados.

- Minha mãe também estaria orgulhosa, se ela


pudesse estar aqui e me ver nesse momento.

Assim que as palavras deixaram seus lábios ela


percebeu que elas não haviam agradado nada o
homem diante dele. Embora seu rosto tivesse
permanecido inexpressivo seus olhos se tornaram
mais aguçados se franzindo em seus cantos. O
desconforto brincou no centro de seu estômago,
mas ela o ignorou, ela estava se tornando uma
adulta aquela noite, portanto estava na hora de
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deixar para trás seus medos infantis. Ela precisava


expressar seus pensamentos se quisesse defendê-los
para conquistar aquilo o que desejava.

- Hoje é uma noite para comemoração, vamos


deixar todas as nossas preocupações para trás –
disse Serguei se aproximando dela. A sombra que
havia percorrido seu rosto apenas um segundo atrás
desaparecera completamente como se tudo aquilo
não tivesse sido nada mais do que um truque de luz
provocado por seu cérebro.

Retirando uma pequena caixa aveludada de


dentro do bolso de sua calça, Serguei abriu-a
revelando um belíssimo colar cravejado de
diamantes. A corrente brilhava contra o fundo de
veludo negro, as pequenas pedras recortadas com
perfeição exibiam sua luz efervescente como se de
alguma forma elas tivessem captado um pouco o
brilho lá de fora.

Era belo de um jeito quase intimidante e Nina


deu um passo para trás, incapaz de tocar naquele
colar que sabendo que o valor dele seria
astronômico.
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Serguei não pareceu se preocupar nem um


pouco com sua hesitação. Com tranquilidade ele
retirou a joia da caixa, descartando a mesma sobre
sua cama. Os dedos dele eram gélidos e calosos
sobre sua pele, deixando que um calafrio agourento
percorresse suas costas. Com uma habilidade ela
jamais imaginara que ele possuía, Serguei
depositou o colar sobre sua clavícula, a joia pesou
sobre seu pescoço de forma fria, as pedras se
destacaram contra sua pele, e ela notou que o
vestido que usava possuía um decote perfeito para
ornar com aquela peça.

O desconforto agitou-se nas entranhas da


garota, quase como se ela tivesse tendo um
pressentimento ruim. Tentou afastar aquele tipo de
pensamentos, empurrando todos eles para a parte
mais afastada de sua mente, enquanto deixava um
sorriso polido brincar em seus lábios.

- Eu não posso aceitar – disse Nina enquanto os


dedos grandes de seu tio, prendiam o colar atrás de
seu pescoço. – É muito caro...

- Bobagem, você é minha sobrinha, além disso,


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não é todo dia que uma mulher completa a


maioridade não é mesmo? Você deveria estar feliz.

As mãos de Serguei pesaram sobre seus


ombros, uma brisa gelada entrou pela janela
balançando alguns fios de seu cabelo que haviam se
soltado de seu penteado improvisado. Havia algo
no olhar de seu tio que ela não era capaz de
compreender, mas lhe incomodava profundamente.
Ele dissera que ela deveria estar feliz, como se
aquilo fosse uma ordem, como se o único propósito
que ela pudesse almejar em sua vida fosse servi-lo.

Nina deixou que seus olhos recaíssem sobre as


janelas duplas de seu quarto, o colar em seu
pescoço brilhava de maneira tão ofuscante que ela
conseguia enxerga-lo refletindo a luz de tudo ao
redor. Era seu aniversário, ela estava com sua
família, deveria estar feliz não é mesmo? Mas a
única coisa que sentia naquele momento, era uma
ausência de sentimentos que transformava seu
coração num campo árido como um deserto
inabitado.

Os dedos dela percorreram o presente em seu


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pescoço. Detestou aquela joia com toda sua fúria,


engolindo ela de tal forma que sentiu que seu
sangue poderia naquele momento estar ardendo em
suas veias. Ela não queria presentes caros,
elegância ou ostentação, mesmo após tantos anos
vivendo debaixo daquele teto, seu tio ainda não
havia sido capaz de compreendê-la, ou então
simplesmente havia decidido que não havia
necessidade de se importar com seus sentimentos.

A saudade de sua mãe gravou as garras em seu


coração, a ausência dela deixou como sempre uma
parte dolorida dentro de seu peito. Tentando
controlar suas emoções Nina agradeceu o tio,
deixando que um sorriso falso brincasse em seus
lábios.

- Obrigada pelo presente. O colar é realmente


lindo.

Pela primeira vez desde que ele entrara em seu


quarto Nina percebeu que havia finalmente
acertado uma das respostas. Os olhos dele se
tornaram mais amenos enquanto lhe estendia o
braço, um perfeito cavaleiro embora Nina soubesse
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que as sombras que pairavam ao redor de sua figura


eram mais densas e escondiam perigos sem conta.

Ela controlou o tremor em sua mão quando


estendeu ela, deixando que Serguei a levasse dali o
som da festa a engolfou no momento que ela pôs
seu pé para fora de seu quarto, mas Nina colocou
um sorriso em seus lábios que ninguém seria capaz
de descobrir que era falso, todos eles acreditariam
que a felicidade estampada em seu rosto era
verdadeira, assim como a joia que ela exibia em seu
pescoço.

Rangendo os dentes a garota sorriu enquanto


abaixava a cabeça, dentro de sua mente sua decisão
se tornava firme como aço. Apenas mais uma noite
disse a garota a si mesma em silêncio, e depois
disso, ela deixaria todo aquele mundo para trás.

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Capítulo Quatro
A música em seus ouvidos era intensa
dificultando os pensamentos de se formarem de
maneira sensata em sua mente. Em suas mãos Nina
segurava uma taça de champanhe, o líquido
espumante e gelado brincou em seus lábios, suas
bolhas efervescentes dançando em sua língua.
Rindo ela rodopiou pelo salão ao lado de Olga, suas
mãos estavam juntas enquanto elas tentavam se
equilibrar exatamente como faziam quando
crianças brincando no quintal.

Era seu aniversário mais ninguém havia se


apresentado até ela para lhe dar os parabéns. Uma
vez ou outra a garota havia enxergado um pacote
sendo discretamente levado por um dos
funcionários para o fundo da casa. Tinha certeza
que na manhã seguinte ela acordaria para desfazer
uma montanha de presentes sem significado algum
com cartões que estariam repletos de palavras
bonitas e estrategicamente escolhidas, mas para ela
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eram completamente vazias.

Nina tentou afastar isso de sua cabeça,


enquanto bebia mais um gole de seu champagne, do
outro lado do salão ela podia sentir o olhar de sua
tia sobre ela, penetrante e repleto de julgamentos,
mas a garota resolveu ignora-la. Abraçando Olga
ainda mais apertado, ela levou a prima para o
centro do salão, que estava quase vazio enquanto
ambas dançavam e riam uma da outra.

Olga estava lindíssima, o vestido apertado num


profundo tom de verde-esmeralda se moldava ao
seu corpo, deixando seus ombros a mostra, o cabelo
loiro dourado como trigo havia sido erguido
formando um elegante nó acima de suas orelhas
que exibiam brincos de esmeraldas para combinar
com sua roupa.

No ano que vem seria a vez de sua prima


completar a maioridade, Nina imaginou se ela
também teria uma festa como aquela onde as
pessoas não pareciam se importar nem um pouco
pelo motivo que estavam ali reunidas, mas ao
menos ela prometeu a si mesma que estaria ao lado
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de Olga exatamente como ela estava naquele


momento.

- Eu disse que você ia aproveitar a festa! –


comentou Olga enquanto seus dedos se fechavam
sobre mais uma taça de champagne da bandeja
sendo servida por um dos garçons – Tudo fica
melhor com champagne!

- Claro que eu estou adorando! Ter uma festa de


gala para comemorar meu aniversário com metade
de desconhecidos era exatamente tudo o que eu
sempre quis!

Olga riu abertamente da sua resposta irônica,


mas sua risada ficou abafada pelo som dos violinos.

Os lábios de Nina se abriram num sorriso


verdadeiro até que ele também se transformou
numa risada que transbordou de sua garganta. Ao
seu redor alguns olhares lançados na direção de
ambas não eram nenhum um pouco amigável, mas
a garota decidiu que ao menos por aquela noite ela
simplesmente não iria se importar nenhum um
pouco com a opinião alheia de nenhuma daquelas

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pessoas. Ela não havia desejado aquela festa, mas


pelo menos poderia ter algumas horas de diversão
ao lado de Olga enquanto pudesse esquecer que
estava nadando desprotegida em meio aos
tubarões.

A música fluiu por todo o ambiente, a comida


servida era requintada carregada em bandejas
prateadas, com o passar das horas o tom das vozes
ao redor tornou-se mais animado e agitado. Nina
perambulou pela festa arrastando Olga consigo
mesma, enquanto ambas riam e reclamavam do
desconforto que elas já começavam a sentir devido
aos sapatos de salto.

Os olhos da garota percorreram todo o ambiente


tentando encontrar ali um rosto conhecido, mas
todas aquelas pessoas lhe pareciam completos
estranhos. Nem mesmo conseguiu reconhecer
Serguei no meio da multidão, e imaginou o que ele
poderia estar fazendo escondido naquele momento.

Quando a noite se transformou em madrugada


Nina percebeu que o voluma da música tornou-se
mais ameno, o quarteto de cordas que estivera
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posicionado de maneira estratégica num canto do


salão, foi discretamente dispensado, enquanto as
pessoas começavam a se reunirem ali dentro, como
se estivessem na expectativa de algo que estava
prestes a acontecer.

O nervosismo nadou em seu sistema assim


como o champagne que ela havia bebido. A cabeça
estava aérea, sua visão estava ainda mais borrada
do que de costume devido à ausência de seus
óculos e o exagero da bebida, exatamente por esse
motivo ela se assustou quando a figura de Irina
surgiu diante dela, com uma expressão
extremamente severa e irritada.

- Comporte-se – ordenou sua tia enquanto


retirava de suas mãos a taça de champagne
parcialmente cheia - Você ainda é uma dama, e não
precisa estar completamente bêbada para
comemorar sua maioridade.

Nina sentiu como se ela tivesse estourado o


pequeno balão de felicidade que havia até aquele
momento em seu peito. Atrás de suas costas ela
sentiu Olga se enrijecer, a mão que ela segurava
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apertando seus dedos com mais vigor. Ela tentou


não se importar com os olhares na direção de
ambas que se tornavam cada vez mais intensos.
Como se ela fosse o espetáculo que todos estavam
pacientemente esperando para começar a se
desenrolar.

- Venha comigo – pediu Irina com voz baixa e


controlada, a ordem soando de maneira muito clara
em seu timbre de voz – Seu tio quer lhe dar os
parabéns pessoalmente.

Os dedos compridos e delgados de sua tia se


cravaram na carne exposta de seu braço. O puxão
que ela recebeu foi tão intenso que ela foi obrigada
a se separar de Olga. Virando seu pescoço Nina
deixou que seu olhar caísse sobre a prima que a
observava com uma expressão preocupada em seu
rosto. A garota se obrigou a sorrir para ela
buscando com aquele simples gesto tentar
tranquiliza-la. Ela não tinha certeza do que estava
acontecendo, mas se fosse algo negativo preferia
que Olga estivesse o mais distante possível.

Irina atravessou todo o salão arrastando-a


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consigo, o aperto em seu braço a cada passo se


tornando mais doloroso, as unhas dela se cravaram
em sua pele deixando uma marca vermelha
exposta. Os olhares de todos ali seguiam ambas
com evidente interesse e expectativa e Nina sentiu
como se um mau pressentimento estivesse brotando
em seu coração.

Erguendo seus olhos a garota divisou a figura


do tio que parecia estar parado no centro do salão
ao lado de um homem que ela não era capaz de
reconhecer. Ao redor deles as pessoas haviam
formado um pequeno círculo como se estivessem
esperando ansiosamente por aquele momento.

Nina sentiu seus pés se tornarem mais pesados,


os pensamentos aéreos em sua cabeça ficaram mais
rápidos, seus olhos dardejaram em ambas as
direções, enquanto todos os alarmes de perigo
soavam em sua cabeça.

Irina parou diante de seu marido um olhar de


compreensão sem nenhuma palavra entre ambos foi
trocado, sem olhar uma segunda vez ela largou o
braço da garota que até aquele momento estivera
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segurando de maneira extremamente agressiva, e


também se juntou a pequena multidão ali reunida
que esperava o que estava prestes a acontecer.

- Meus amigos! Bem –vindos!

O som poderoso da voz de Sergei se elevou


pelo local, o silêncio se espalhando em camadas,
toda a atenção da festa de repente ficou
concentrada ali naquele pequeno círculo onde Nina
estava parada sem entender completamente o que
estava acontecendo ao seu redor.

- Hoje é uma noite muito especial, para mim e


minha família – continuou Serguei enquanto
ligeiramente girava seu corpo para que todas as
pessoas ali pudessem ter uma boa visão de sua
figura – Minha afilhada, a garota que eu criei como
se fosse do meu sangue Ekaterina Yurievna Serov
está completando sua maioridade e dessa forma se
tornara uma de nós completamente.

As palavras de seu tio acertaram-na com a força


de um impacto físico. O fôlego que ela estava
segurando ficou preso em sua garganta dificultando

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sua respiração. Sentiu as unhas se afundarem nas


palmas de sua mão, enquanto suas pernas
começavam a tremer sobre os saltos altos de sua
sandália.

Uma onda de palmas educadas retumbou em


seus ouvidos, abafando o som das batidas
descompassadas de seu coração. Assustada com
tudo o que estava acontecendo Nina olhou ao redor,
enquanto uma multidão de rostos desconhecidos
olhava em sua direção, sorrindo de maneira
predatória.

- Hoje é o aniversário de Ekaterina – continuou


Serguei assim que as palmas morreram
completamente – Mas, esse não é apenas o único
motivo pelo qual estamos reunidos aqui! Hoje
teremos um motivo ainda mais para comemorar!
Ivan Petrov pediu a mão de Ekaterina em
casamento e eu alegremente concedi!

A rodada de palmas agora foi mais intensa,


Nina sentiu por um momento seu coração tivesse
parado dentro de seu peito. As palavras de Serguei
ainda ecoavam em seus ouvidos, mas ela não podia
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acreditar no que acabara de ouvir. Aquilo


simplesmente não podia ser verdade!

Diante de seus olhos, o homem ao lado de seu


tio cumprimentou-o alegremente. Eles se deram as
mãos como se tivessem selando um contrato, como
se ela não estivesse presente, como se eles
simplesmente não se importassem com sua opinião.
Naquele momento ela não passava de um objeto a
ser vendido.

A raiva deixou seus pensamentos confusos, ao


seu redor o circulo de pessoas formava uma gaiola,
impedindo que ela saísse dali. Os olhos de Nina
correram freneticamente por todos os lados,
recaindo sobre Olga que estava na parte mais
afastada do salão um olhar incrédulo e espanto em
seus olhos azuis, enquanto Irina parecia tentar
conte-la para que ela não se aproximasse.

O medo enrolou-se em seu estômago, agitando


seu conteúdo deixando um gosto ácido na parte de
trás de sua garganta. Ela se arrependeu
imediatamente de ter bebido tantas taças de
champagne.
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Sem saber o que fazer, como reagir ela sentia-se


como uma corça paralisada diante das luzes fortes
de um veículo vindo em alta velocidade em sua
direção. O homem que seu tio acabara de dizer que
havia a pedido em casamento aproximou-se dela,
pegando suas mãos como se eles fossem velhos
conhecidos e estivessem extremamente
apaixonados.

A onda de náusea viajou por todo seu corpo,


fazendo com que gotas de suor pontilhassem sua
nuca. Ela sabia que as pessoas estavam
conversando, mas não era capaz de ouvir nenhuma
palavra, sentia-se como se estivesse dentro de um
aquário gigantesco e ela não fosse capaz de ouvir
som algum.

Ivan tomou sua mão esquerda erguendo diante


do público expectante. Ele teria percebido como ela
estava tremula e pegajosa de suor? Ela
simplesmente não podia se casar com aquele
homem, ela nem ao menos o conhecia a cinco
minutos atrás. Alguém que tinha a mesma idade
que seu tio!

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Um anel foi deslizado por seu dedo, pesado


como uma pedra e frio como gelo. Nina sentiu
como se aquilo fosse uma algema. O homem diante
dela com seus cabelos prateados rosto severo, e
olhos escuros não lhe disse nenhuma palavra. Ele
não precisava de seu consentimento, ele não se
importava com sua opinião. Ele tinha acabado de
comprá-la de seu tio.

O horror de toda aquela situação tomou conta


dela completamente, o sangue pulsando de forma
constante em seus ouvidos, em algum canto de sua
mente ela ouviu palavras de felicitações e algumas
risadas, mas tudo o que ela conseguia reparar
enquanto olhava ao redor era nos homens vestidos
em seus ternos elegantes e negros seus olhares
avaliadores e frios. Mafiosos. Aquilo não era uma
festa de aniversário. Era uma transação de
negócios.

Nina sentiu que o horror tomava conta de suas


faces quando o tio se aproximou para abraçá-la,
havia um brilho em seus olhos que ela não
conseguia distinguir, e embora ele estivesse
exibindo um sorriso em seus lábios, sua expressão
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não era de felicidade, mas de triunfo.

Os braços de Serguei a rodearam, o rosto dele


pairando sobre seus ombros, uma distância
controlada entre seus corpos. Aquilo não parecia
real, mas algo ensaiado e fingido. Um espetáculo
para as pessoas ao redor.

- O que você está fazendo? – sussurrou Nina de


forma indignada nos ouvidos de seu tio de forma
que apenas ele pudesse lhe ouvir.

Serguei separou-se dela de forma quase


mecânica, o sorriso discreto em seus lábios havia
desaparecido. Seus olhos claros agora eram gélidos,
mas não raivosos calculistas. Mais uma vez parecia
que ela dissera algo que ele não havia apreciado
nenhum um pouco escutar.

Ele não lhe ofereceu nenhuma resposta, o anel


em sua mão esquerda pesava como se alguém
tivesse lhe amarrado uma rocha que a puxava
constantemente para baixo. Desviando seus olhos
dela, Nina ele voltou sua atenção para Ivan e ambos
continuaram a conversa em russo. Ao redor

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ninguém parecia se preocupar com sua expressão


de choque. Como se nenhuma única pessoa naquele
lugar se importasse com ela.

Nina sentiu o tremor percorrer suas pernas, os


lábios estavam partidos e sua respiração acelerada,
seus dedos cavaram a saia volumosa de seu vestido,
mas dessa vez ela não se importou nenhum um
pouco se com aquilo poderia estragar a peça.

Recuperando o mínimo de controle sobre seu


corpo, a garota girou nos próprios pés caminhando
rapidamente para o centro da multidão. Ninguém se
colocou em seu caminho, enquanto ela apressava
seu passo o mais rápido que suas pernas
conseguiam suportar para sair dali.

A música mais uma vez ressoou pelo ambiente,


alta e clara enchendo seus ouvidos, o som das
cordas do violino eram agudos lembrando-lhe o
grito angustiado que ela guardava em sua garganta.

Nina não era capaz de enxergar nada com


exatidão em sua frente, focou seus olhos para que
eles prestassem atenção na ponta de seus pés,

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torcendo para que ela estivesse se afastando


daquele lugar, deixando todo aquele pesado
horrendo atrás de suas costas.

Seu corpo esbarrou numa superfície dura, o


impacto tirando o ar de seus pulmões o som
estridente de uma bandeja caindo no chão e copo de
quebrando por um momento pairou acima da
música assim como o murmúrio surrado de vozes
ao redor.

Nina ergueu os olhos, a sua frente as portas que


davam acesso a parte interna da mansão
permaneciam fechadas, em sua mente o único
desejo que possuía era de escapar daquele lugar.

Suas pernas tremeram violentamente quando


ela impulsionou seu corpo adiante agora correndo
com todas suas forças. Sentiu uma fisgada dolorosa
em seu tornozelo quando percebeu que havia dado
um passo em falso torcendo seu pé no salto alto de
sua sandália, mesmo assim ela não diminuiu o
ritmo de seus passos, o coração batendo como um
martelo enlouquecido dentro de seu peito. Ouviu
seu nome ser chamado de forma distante, a música
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quase encobrindo a voz que ela acreditava ser de


Olga, mas não parou de correr nem mesmo para
lançar um segundo olhar para trás. Se ela parasse
naquele momento, tinha a sensação de que nunca
mais conseguiria sair daquela prisão.

Suas mãos bateram com força nas maçanetas


abrindo as portas duplas com um estrondo enquanto
elas se chocavam contra a parede.

Nina correu sem se importar com seu destino, o


folego ficou preso em sua garganta, a dor em seu
tornozelo aumentou como uma picada viajando por
toda sua panturrilha. A respiração ficou
entrecortada em sua garganta, enquanto ela tentava
buscar oxigênio suficiente para seus pulmões,
tentando controlar as pontadas em suas costelas.

Em sua mente a cena que acabara de presenciar


se desenrolava novamente diante de seus olhos, as
palavras de seu tio ecoando em seus ouvidos. Como
ele poderia ter feito algo como aquilo? Como ele
poderia achar que ela simplesmente iria se casar
com um homem que ela nem ao menos conhecia?

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O horror e a incredulidade impediam que as


lágrimas escorressem por seu rosto, os passos dela
ecoaram a sua volta, o mundo era apenas um borrão
repleto de cores indistintas a sua frente. Agora os
sons da festa haviam ficado completamente
distantes, a música engolida pelas paredes da casa
enquanto o silêncio se espalhava por todas as
paredes, sendo interrompida apenas por sua
respiração acelerada.

Nina não conseguia se lembrar de como


chegara até ali, na parte mais afastada e profunda
da mansão. Seus pés pareciam terem criado vida
própria, buscando uma maneira de saírem daquele
lugar de horror. Corria com desespero como se
dessa forma ela pudesse deixar para trás sua
realidade.

Figuras surgiram diante de seus olhos, fazendo


com sua corrida fosse interrompida. O fôlego
acelerado dela chiou nas paredes ao redor muito
alto em seus ouvidos.

Diante delas dois homens carregavam o corpo


desacordado de um terceiro, o rastro de sangue que
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eles deixaram brilhou na pouca luminosidade do


lugar. O coração acelerado da garota latejava em
seu peito, por um instante ela imaginou se
realmente não teria perdido completamente o resto
de sanidade que lhe restava diante daquela cena. Os
homens que ela sabia muito bem serem capangas
de seu tio, não se importaram com sua presença.
Em silêncio eles carregaram o corpo do homem que
estava se esvaindo em sangue, arrastando-o ainda
mais para baixo, para as entranhas da mansão. Um
gosto acre inundou sua boca, e garota percebeu que
em seu nervosismo havia machucado a parte
interna de suas bochechas. O horror daquela
situação mais uma vez lhe atingiu. Sua vida era
como um pesadelo do qual ela não era capaz de
escapar, onde sua liberdade era apenas um objeto a
ser vendido, e enquanto as pessoas comemoraram
uma festa sem significado algum nas salas acima
daquele corredor escuro ali embaixo, a maldade
estendia suas garras para todos os lados, a
escuridão se entrelaçando em cada pequeno
centímetro exposto de sua pele.

Nina sabia que não deveria lançar um segundo


olhar em direção ao homem que eles estavam
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carregando, mas algo dentro de seu interior que ela


não era capaz de controlar ignorou seu desejo. Seus
olhos pousaram sobre ele mais uma vez enquanto
suas pernas pareciam que tinham criado raízes
naquele solo pedregoso. Ele parecia estar
desacordado, o pensamento de que ele poderia estar
morto cruzou sua mente rápido como raio, e talvez
fosse por esse motivo que sentiu que seu coração
falhava uma batida em seu peito, quando seus olhos
se encontraram.

Um par de olhos num tom profundamente de


verde lançou um olhar inominado, ela esperou que
de alguma forma ele lhe pedisse ajuda, mas esse
momento nunca chegou. Em silêncio o
desconhecido foi arrastado para a escuridão, sem
que ela fizesse nada mais além de permanecer ali
parada como uma estatua observando a macabra
cena que se desenrolava a sua frente.

O corpo de Nina foi virado bruscamente, e ela


sentiu a dor atingir seu rosto com um estalo que
ecoou por todo o corredor. Seus olhos se
arregalaram em seu rosto, enquanto sua mão cobria
a face ardida, e ela encarava o rosto contorcido de
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sua tia em fúria.

- Garota ingrata! Desumana! Pirralha tenebrosa!

A voz de Irina explodiu em seus ouvidos,


enquanto Nina sentia-se petrificada para fazer
qualquer coisa que pudesse se defender. A mão da
tia mais uma vez voou em direção a seu braço,
dessa vez sem nenhuma delicadeza, enquanto ela
tentava arrasta-la novamente escadas acima
novamente para a festa.

- Você sabe o que fez? – perguntou Irina ainda


com voz alterada, suas palavras se tingindo com
seu sotaque russo – Queria fazer seu tio passar esse
tipo de vergonha? Você não passa de uma
vadiazinha ingrata. Igualzinha a sua mãe!

O horror daquelas palavras quase não


conseguiu penetrar no estupor que parecia cobrir
sua mente. Os pés dela se atrapalharam em suas
sandálias, a dor em seu tornozelo quase que
completamente esquecida. Nina deixou que a mão
que cobria sua face caísse de seu rosto, enquanto
uma onda esmagadora de frustração parecia cobrir

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todo seu corpo.

Os passos da tia eram rápidos, as unhas


cumpridas haviam perfurado sua carne, mas ela
quase não era capaz de sentir aquele toque. O
desespero nadou em seu estômago como um peixe
pegajoso. Dentro das paredes de sua mente, a
imagem do prisioneiro sendo arrastado para o porão
da casa de seu tio inundou sua mente. O quão
diferente ela era daquele homem?

Os saltos de sua tia bateram de maneira muito


alta contra o chão de madeira enquanto ela era
arrastada de volta à festa. A música agora parecia
ter aumentado, inundando todos os corredores da
casa, Nina pensou que ela seria levada novamente
até a festa onde seria obrigada a fingir que nada
acontecesse, enquanto precisava manter um sorriso
educado e polido em seu rosto. O simples
pensamento enviou uma onda de náusea que deixou
seu corpo completamente tenso. Ela não suportaria
olhar para nenhuma daquelas pessoas novamente,
principalmente se entre eles tivesse o homem seu
tio havia dito que ela deveria se casar.

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- Eu disse para Serguei que você era uma


ingrata – continuou Irina enquanto a arrastava sem
olhar uma segunda vez em sua direção – Eu sempre
soube que você era encrenca. Com seu queixo
erguido achando que era alguma coisa. Mas, agora
ele viu do que você é feita. Espero que ele faça
alguma coisa a seu respeito ou eu mesmo farei!

Nina deixou que seu olhar pousasse sobre as


costas de sua tia. De alguma forma ela sempre
havia desconfiado que aquele mulher a detestava
profundamente, embora aquela fosse a primeira vez
que ela estivesse verbalizando aquele tipo de
sentimento.

O som da música agora era tão alto que parecia


ecoar dentro de seu peito ressoando até mesmo em
sua garganta. Os funcionários contratados
circulavam pelo local quase correndo enquanto
traziam bandejas vazias e cheias em seus braços.
Ninguém lhes lançou um único olhar em sua
direção. Como se a comoção que eles haviam
acabado de presenciar nunca tivesse acontecido.

Nina se espantou, quando os passos da tia


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viraram em direção ao corredor mais afastado da


casa, seguindo em direção a biblioteca. Ela sabia
que aquilo não podia significar algo bom, depois do
que fizera a ultima coisa que ela gostaria era de
ficar em algum lugar daquela casa sozinha, mas
naquele momento seu cérebro era simplesmente
incapaz de encontrar uma rota de fuga.

A tia abriu as portas da biblioteca com


brusquidão, empurrando seu corpo para dentro.
Nina trincou os dentes enquanto a dor mais uma
vez viajava por suas pernas, mas qualquer
pensamento foi esvaziado de sua cabeça, quando
seus olhos pousaram sobre a figura de seu tio
parado diante da janela de costas olhando para o
jardim.

- Ela está aqui Serguei. A piranhazinha estava


buscando uma maneira de escapar Encontrei-a no
porão. Você precisa puni-la depois da vergonha que
ela nos fez passar essa noite!

A voz de Irina era como um guincho


percorrendo as paredes repletas de livro do chão até
o teto. Com toda calma do mundo Serguei virou-se
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para as duas, seu rosto sem nenhuma expressão


ficando parcialmente iluminado pela luz dourada
do abajur tiffany sobre sua escrivaninha.

- Obrigada Irina, agora, por favor, você já pode


se retirar.

De alguma forma a voz controlada de seu tio


causou mais temor na garota do que a fúria mal
contida de sua tia. Ela tentou controlar os tremores
que fizeram com que ela oscilasse precariamente
sobre seus sapatos de saltos altos, para manter uma
postura que não passava naquele momento de uma
fachada ensaiada.

- Serguei você ouviu o que eu disse? Essa


garota estava...

- Já chega Irina! Eu quero falar com Ekaterina a


sós!

A voz de seu tio mal de elevou naquele


cômodo, ao seu lado Nina observou o rosto bonito
de sua tia se contorcer, numa careta furiosa. Os
lábios finos pintados de vermelhos se apertaram
numa linha, enquanto seus olhos faiscaram
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perigosamente em sua direção antes que ela se


retirasse em silêncio, deixando ambos para trás
sozinhos.

Quando a porta foi fechada em suas costas,


Nina percebeu qualquer som ser completamente
deixado para fora daquele lugar. Quando criança
aquele havia sido seu cômodo predileto naquela
mansão suntuosa que muitas vezes lhe dava um ar
de distanciamento e frieza.

Ali rodeada por todas as paredes por livros em


vários idiomas, capas, gêneros e títulos diferentes a
garota sentira-se quase confortada, enquanto
deixava que uma história após a outra um pouco da
estranha realidade que a cercava lhe fosse
esquecida ao menos que momentaneamente.

Naquele momento a ultima coisa que Nina


poderia sentir era aconchego naquele lugar. Seus
pensamentos tornaram-se uma massa caótica em
sua mente, enquanto ela imaginava que ali dentro
seus gritos seriam abafados completamente pelas
paredes grossas a prova de som, e mesmo se eles
chegassem até alguma pessoa que estivesse de fora
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daquele lugar, talvez nenhum deles realmente se


importasse com sua agonia.

Os olhos dela se desviaram em direção a seu


tio, Serguei movimentou-se com cautela. As mãos
pousadas de forma displicente nos bolso de sua
calça. A gravata em torno de seu pescoço
musculoso estava levemente desfeita, enquanto seu
cabelo prateado caia de maneira desorganizada ao
redor de suas orelhas.

Desesperada Nina imaginou se de alguma


forma ela seria capaz de escapar daquele homem. A
janela a única rota de fuga estava às costas dele, e
ela sabia que com sua perna machucada
dificilmente conseguiria ganhar nele no quesito
mobilidade. Ela poderia tentar escapar pelas portas
da biblioteca que estavam atrás de suas costas, mas
duvidava de fosse capaz de chegar muito longe.
Tinha a nítida impressão de que sua tia estaria ali
fora esperando que Serguei a punisse de maneira
mais adequada.

O medo acendeu uma chama de raiva em seu


interior, cravou as unhas nas palmas de sua mão,
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buscando uma coragem que ela sabia não possuir


naquele momento, enquanto seu tio pairava diante
dela. Intransponível como uma montanha.

Com olhos translúcidos ele deixou que seu


olhar vagasse por seu rosto, quase com
desinteresse, enquanto erguia sua mão diante de
seus olhos.

O instinto fez com que Nina se protegesse


desviando seu rosto, as mãos se apertando contra
seu peito, sentindo o ressoar estrondoso de seu
coração.

Os dedos gelados de Serguei tocaram sua


bochecha, exatamente no ponto onde Irina havia
lhe atingido, o toque era impessoal e gelado, quase
como se ele estivesse manuseando um objeto e não
outro ser humano.

- Ela não deveria ter tocado em você. Ivan não


vai gostar de saber que alguém andou tocando sua
esposa sem permissão.

As palavras ditas de maneira tão natural,


fizeram com que Nina se encolhesse ainda mais
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diante daquele homem, enquanto horror, fúria e


confusão digladiavam-se em seu interior.

- Por que? – perguntou a garota quase num


sussurro para o homem parado diante dela – Por
que você fez isso?

O olhar de seu tio se tornou mais distante, de


forma tranqüila ele abaixou sua mão guardando
ambas novamente nos bolsos de suas calças,
parecendo levemente entediado com aquela
conversa.

- O motivo? Ora Ekaterina, minhas razões são


simples, pensei que você seria capaz de
compreendê-las. Porque você é filha de seu pai. Por
que Ivan, é um homem que deseja se aproximar de
mim nos negócios, e seu casamento com ele é uma
forma de se fazer isso onde ambas as partes saem
ganhando.

- E você acha que eu concordaria com isso?

- Você não foi consultada – respondeu Serguei


enquanto um sorriso ferino brincava em seu rosto –
Porque sua opinião não tinha o menor valor.
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As palavras dele lhe atingiram duramente, Nina


sentiu o peso de seu corpo vacilar sobre seu
tornozelo machucado, enquanto ela dava um passo
para trás. O homem diante dela era quase
irreconhecível, embora tivesse usando a face de seu
tio, a pessoa que havia lhe abrigado nos últimos dez
anos.

- Eu não farei isso... Não irei me casar contra


minha vontade, com um homem que você escolheu
para se beneficiar.

- Você irá. Isso nunca foi sobre escolhas. Você


fará exatamente o que eu preciso que você faça,
porque é para isso que sua existência me serve.

- Você só pode estar louco se acredita que eu


irei...

As palavras de Nina ficaram presas dentro de


seus lábios quando a mão do tio voou para sua
garganta, a espremendo com força descomunal. O
ar foi expelido de uma única vez de seus pulmões,
enquanto lágrimas indesejadas se acumularam do
canto de seus olhos. As unhas dela se cravaram na
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palma da mão dele, mas parecia que ele nem ao


menos era capaz de sentir.

- Eu aturei sua presença nessa casa, porque


você me era útil. Mas, constantemente você
esquece do seu lugar. Você faz parte dessa família,
e fará o que eu estou mandando, porque você não
tem opção.

A mão se Serguei deixou seu pescoço e Nina


curvou-se aspirando ruidosamente. O tremor antes
que era apenas uma sensação que ela tentava
controlar agora viajava por seu corpo, deixando até
mesmo sua voz estremecida.

- Você fala como se tivesse feito uma grande


caridade, me trazendo para dentro da sua casa. Eu
nunca pedi isso... Meu pai jamais...

- Seu pai teria feito a mesma coisa se estivesse


vivo – respondeu Serguei – Yuri era meu irmão de
arma, ele era um mafioso. Não tenha dúvidas que
ele casaria a filha com qualquer homem que
pudesse aumentar seu poder, exatamente como eu
estou fazendo.

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Nina queria rebater o que aquele homem


acabara de dizer, jogar em sua face de volta suas
palavras o acusando de ser um mentiroso, mas ela
sabia que se fizesse isso não passaria de uma garota
tola e ingênua. Ela não havia conhecido seu pai o
suficiente para saber que tipo de homem que ele
era. Tudo o que se lembrava era de uma imagem
borrada e difusa em suas memórias infantis, que
nada lhe servia.

- Você não pode me prender aqui... Eu acabei


de me tornar maior de idade, você não é mais meu
responsável legal...

- Talvez você ainda não tenha compreendido


sua situação completamente Ekaterina. Mas, a lei
significa muito pouco para mim.

- Eu não irei me casar contra minha vontade.

Nina queria que suas palavras fossem decididas


e firmes, mas a voz havia se tornado baixa e áspera,
em sua garganta dolorida. Pela primeira vez desde
que entrara naquele lugar, ela observou o rosto de
Serguei assumir algum tipo de expressão. Seus

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olhos muito claros assumiram uma luz gélida,


enquanto se estreitavam nos cantos. Ela podia dizer
que ele estava se contendo, e aquilo fez com que o
medo se agita-se em seu estômago. A sensação era
desagradável, e a parte racional em seu cérebro lhe
gritava, sem entender por que ela estava o
provocando deliberadamente daquela forma,
embora nem mesmo ela tivesse uma resposta
concreta que explicasse aquela atitude.

Se aquilo era algum tipo de coragem, então


Nina não tinha certeza de onde ela estava saindo.

- Daqui a três dias, você estará num vestido


branco, entrando numa igreja comigo ao seu lado,
exatamente como eu planejei. – disse Serguei numa
voz controlada, que não permitia nenhum tipo de
desobediência – Você estará lá de qualquer forma,
mesmo que eu precise suportar seu corpo ferido, e
tortura-la até que você responda sim.

A náusea invadiu sua garganta, enquanto


imagens do homem espancado que ela encontrara
momentos atrás pipocavam por trás de suas retinas.

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- Ah Ekaterina, não me olhe dessa forma –


continuou seu tio muito tranquilamente – Nada
disso, ira acontecer se você abaixar sua cabeça, e
fazer exatamente como eu estou lhe dizendo.

Nina sentiu como se sua língua estivesse presa


ao céu de sua boca, as palavras não ditas pesando
ali dentro. A revolta borbulhou em seu sangue,
deixando sua visão vermelha, enquanto a frustração
fazia com que ela afundasse ainda mais as pontas
de suas unhas contra as palmas de sua mão.

- Você voltara para seu quarto hoje a noite, e


ficará lá. Creio que você não possui mais nenhum
interesse pela festa. Mas, por favor, não tente nada
imprudente, eu detestaria ter que acorrenta-la em
sua cama.

- Eu odeio você! – respondeu Nina, deixando


pela primeira vez que os sentimentos horríveis que
habitavam em seu coração fossem verbalizados.

Ela esperou que Serguei lhe atacasse, que suas


palavras fizessem ele ultrapassar a linha civilizada
que ele mesmo havia traçado na frente de ambos.

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Mas, o homem diante dela simplesmente


permaneceu estático em silêncio, como se ela não
tivesse nenhum tipo de impacto sobre ele.

O silêncio se estendeu entre ambos, pesado e


contundente. Sem dizer uma única palavra, Serguei
passou por ela abrindo a pesada porta da biblioteca,
Mostrando-lhe o corredor, simplesmente como se
ela tivesse sido dispensada de sua presença.

As mãos de Nina tornaram-se flácidas ao lado


de seu corpo, enquanto ela ordenava a si mesma a
dar um passo, e mais outro em seguida até que ela
tivesse deixado aquele lugar para trás.

Em seu peito o coração pesava como uma rocha


estéril. Nunca sentia-se tão sozinha quanto naquele
momento, sabendo que nem mesmo o ódio que
ardia em sua alma seria capaz de ferir o homem que
tinha seu destino em suas mãos.

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Capítulo Cinco
O tornozelo dela doía terrivelmente enquanto
ela forçava suas pernas a subir as escadas em
direção a seu quarto. A descarga de adrenalina que
havia feito com que ela corresse violentamente,
buscando uma rota de fuga havia se extinguido
completamente de seu corpo. Os sons da música
continuavam a percorrem as paredes da mansão,
mas agora Nina não conseguia se importar com
eles. Tudo ao seu redor parecia cinzento e
desfocado, enquanto ela revia em sua mente uma
vez após a outra o momento em que seu tio partia
seu mundo ao meio.

A dor em sua garganta era apenas um lembrete


de que embora tudo aquilo que estava acontecendo
parecia completamente irreal, ela precisava aceitar
que sua vida estava prestes a ser completamente
destruída.

As pernas dela falharam no último lance de


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escadas, e a garota precisou se apoiar no corrimão,


usando seus braços para que seu corpo não
desabasse ali mesmo. Tinha a sensação de que ela
caísse naquele momento talvez nunca mais fosse
capaz de se erguer.

- Nina!

O grito de Olga pairou sobre a música,


estridente e desesperado, imediatamente ela virou o
rosto encontrando sua prima aos pés da escada, o
rosto contorcido em confusão, enquanto um dos
seguranças de Serguei segurava seu corpo
impedindo-a de subir as escadas ao seu encontro.

O coração dela disparou em seu peito, o medo


enviando calafrios por todo seu corpo. Estivera tão
concentrada em seus próprios problemas, que havia
se esquecido de sua prima. Um pensamento
desagradável cruzou sua mente como um raio,
enquanto ela tentava imaginar se Olga saberia dos
planos de seu pai. A prima estivera tão animada
para aquela festa, exigindo sua presença. Será que
ela também havia a traído?

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- Nina! Por favor, me diga o que aconteceu! Me


solta!

Os gritos de Olga tornaram-se mais agudos,


seus esforços para se libertar do homem que a
prendia mais intensos, rimel havia escorrido por
seu rosto deixando seus olhos azuis destacados com
insegurança e medo em seu rosto. O olhar de Nina
recaiu sobre a sisuda figura de Irina que surgiu
como uma sombra atrás de sua prima. Ela tentou
conte-la, pousando as mãos de forma delicada
sobre seus ombros, mas Olga ignorou-a por
completo.

Aquilo foi o suficiente para convencer Nina da


inocência de sua prima, preocupada com sua
segurança, a garota balançou a cabeça
negativamente, uma mensagem muito clara que ela
tinha certeza de que Olga seria capaz de entender.

As duas se observaram brevemente por um


instante, antes de Nina voltar a subir as escadas,
atrás de suas costas o esforço de Olga havia
cessado. Ela sabia que sua prima não iria desistir de
maneira tão fácil, mas por agora a melhor coisa que
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ambas poderiam fazer era permanecer quietas.

Os passos dela soaram de forma vacilante no


silencioso corredor, cansada e sentindo como se
estivesse destruída. Nina alcançou a porta de seu
quarto, trancando-se ali dentro. O coração
lentamente voltava a um ritmo calmo em seu peito,
enquanto ela deixava que seu olhar vagasse pelo
comodo ao redor.

Por um momento ela desejou destruir


completamente a imagem que tinha diante de si. O
aconchego de seu quarto, era como uma
provocação depois de tudo o que ela havia passado
aquela noite. Desejou quebrar todas as coisas ali
dentro, destruir a cama e seus travesseiros de
pluma, rasgar o tecido diáfano que pendia de suas
cortinas, mas sabia que não tinha mais nenhuma
força restando em seu corpo naquele instante.

Exausta ela deslizou o vestido que usava para


fora de seu corpo, sem se importar em deixa-lo
caído no chão ali mesmo. Ela nunca mais chegaria
perto daquela peça. Como uma sonâmbula, a garota
caminhou ao redor, até encontrar sobre a poltrona
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ao lado de sua cama, a camisola que ela havia


deixado ali mais cedo. O tecido de algodão era
gentil contra sua pele dolorida. Sentando-se na
cama, a garota retirou de forma mecânica as
sandálias de seus pés. O tornozelo direito estava
extremamente inchado, a pele ao redor se tingindo
num tom de roxo púrpura. Havia uma parte da
mente dela que se preocupou diante daquela visão,
mas naquele momento nem mesmo a dor e o
incômodo eram capazes de superar o estupor que
parecia ter se apoderado de seu corpo.

Deslizando os dedos pela garganta dolorida,


Nina tocou o colar de diamante que havia recebido
de seu tio aquela noite como presente de
aniversário. As bordas frias das pedras preciosas
pressionaram seus dedos, enquanto memórias de
como ele havia colocado o calor em torno de seu
pescoço brilhavam em sua mente. Aquilo não era
um presente, mas uma coleira, um objeto que
demonstrava claramente o quanto seu tio não se
importava nem um pouco com ela. De como
durante todo aquele tempo ela apenas havia sido
um peão em seu tabuleiro buscando de alguma
forma lucrar com isso.
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A raiva brilhou como uma pequena chama


enquanto seus dedos se fechavam sobre o colar, ela
o arrancou de seu pescoço, jogando a jóia com toda
a força que podia contra a parede. Sabia que aquilo
era um ato fútil e infantil, seu ataque de raiva em
nada iria ajudá-la a sair daquela situação, mas
naquele momento era tudo o que ela poderia fazer.

Cansada a garota deitou-se em sua cama,


encolhida como se dessa forma ela pudesse afastar
o dia terrível que ela havia tido. Fechou os olhos
buscando algum consolo no sono, mas esse se
manteve distante dela, enquanto seu cérebro lhe
atormentava revivendo tudo o que havia acabado de
lhe acontecer.

Deitada no silêncio do seu quarto, Nina


permaneceu incapaz de dormir até que todos os
sons da festa no andar de baixo finalmente
cessaram. A noite transformou-se em madrugada,
enquanto uma brisa gélida substituía as altas
temperaturas do verão. A ausência de sons
ribombou em seus ouvidos, fazendo com que ela se
concentrasse no compasso rítmico de seu coração.
Desejou poder levantar-se dali e escapulir para o
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quarto de Olga, mas o medo e a incerteza


deslizaram por sua pele como se fossem uma
segunda camada. Ela já estava encrencada o
suficiente com seu tio, e definitivamente não
precisava arrastar Olga para aquela situação.

As horas se arrastaram ao seu redor, sentia as


pálpebras pesadas mas sua mente era um turbilhão
gigantesco que não lhe permitia descansar.

Cansada de permanecer na mesma posição por


mais tempo, Nina levantou-se se apoiando em seus
cotovelos e contornou a cama. As janelas de seu
quarto continuavam abertas, a brisa fresca acariciou
seus braços expostos, mas ela não se preocupou em
buscar algo mais quente. Uma dor de cabeça
persistente havia se instalado na parte de trás de seu
crânio, deixando seu pescoço tenso, mas ela
simplesmente resolveu ignora-la por mais um
tempo exatamente, como todas as outras dores que
agora pontilhavam seu corpo. Seus dedos se
fecharam sobre os óculos que ela havia esquecido
sobre o parapeito de sua janela. Sua visão estava
mais embaçada do que costume pelo excesso de
horas que ela havia permanecido sem eles. O
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mundo por trás de suas lentes de vidro entrou em


foco mostrando-lhe um jardim iluminado e
silencioso. A maioria dos convidados já havia ido
embora, e provavelmente naquele momento as
únicas pessoas acordadas na mansão eram os
funcionários que estariam fazendo a ultima limpeza
no salão de jantar.

Os olhos de Nina tentaram buscar ali adiante a


entrada e o portão de ferro que circundava todo o
terreno. Por um momento ela imaginou-se saindo
daquele lugar na calada da noite e fugindo de
Serguei para um lugar tão distante que ele nunca
seria capaz de encontrá-la.

A idéia era tão perfeita quanto ingênua. Se


fosse assim tão fácil então ela não precisaria temer
a ameaça que seu tio havia lhe feito dizendo que ele
a obrigaria a se casar. Mesmo que ela fosse capaz
de fugir daquela casa, Nina não sabia como iria
conseguir para permanecer daquela forma. Seu tio
não iria desistir de persegui-la, portanto ela sabia
que estava num beco sem saídas. Quem iria
protegê-la de Serguei? Quem em sã consciência iria
comprar briga com um dos mafiosos mais cruéis de
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Nova York?

A pergunta pairou na mente da garota como


uma nuvem carregada. Desanimada Nina encostou
a testa no vidro de sua janela, deixando que a baixa
temperatura esfriasse um pouco de sua pele
aquecida.

Ninguém seria insano o suficiente para fazer


algo assim, e ela sabia que nenhum homem da
Bratva ou fiel a ela iria ajudá-la, pois isso seria
estar contra seu tio. Os únicos audaciosos o
suficiente para fazer algo assim seriam inimigos, e
Nina sabia que podia confiar neles menos ainda.

O suspiro que partiu de seus lábios entreabertos


era uma demonstração do quão frustrada ela se
sentia. Durante todos aqueles anos ela havia
tentando se manter afastada daquele mundo,
empurrando tudo o que dizia respeito a máfia para
longe de sua vista, e agora ela era obrigada a
confrontar aquela situação, sem ter uma noção clara
de como lidar com ela.

Sabia que as chances de escapar dos planos de

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seu tio eram mínimas, mas a alternativa de


simplesmente permanecer ali naquele quarto,
esperando destino lhe bater na porta era inaceitável.

De alguma forma ela precisava tentar fazer


alguma coisa, qualquer coisa, mesmo que isso
tivesse de colocá-la numa situação ainda mais
perigosa...

Nina lembrou-se do homem ferido que ela


encontrara nos porões da mansão. Definitivamente
ele deveria ser algum tipo de inimigo de seu tio.
Tentou se apegar a qualquer detalhe daquela figura
misteriosa, buscando reconhecê-lo, mas tudo o que
ela era capaz de se lembrar era de um par de
sobrenaturais olhos verdes lhe observando em
silêncio. Se o seu desejo de escapar era imenso, ela
imaginava que o daquele desconhecido era ainda
maior, se ao menos ele continuasse vivo.

Uma idéia perigosa brilhou em sua mente,


fazendo com que com a letargia que pairava sobre
seu corpo fosse esquecida. O nervosismo afiou suas
garras em seu estômago enquanto seu cérebro
desesperado desenrolava milhares de possibilidades
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em sua mente, tão rápido que Nina acreditava que


não seria capaz de acompanhar todas.

Ela precisava escapar daquela casa, do destino


que seu tio havia lhe traçado, exatamente como o
homem que ela encontrara mais cedo. Ela era
apenas uma garota, e sabia que pouca coisa poderia
fazer para se proteger nas ruas naquela cidade caso
ela tivesse sucesso em escapar daquele lugar, mas
talvez se ela ajudasse aquele homem a escapar
então talvez, e essa era uma possibilidade muito
remota e perigosa ele pudesse ajudá-la.

O pensamento deslizou por sua mente veloz


como um rio enquanto ela caminhava por seu
quarto, refazendo varias vezes o mesmo trajeto
buscando uma forma de organizar seus
pensamentos alvoroçados.

Aquele era um plano extremamente arriscado, a


parte racional em seu cérebro lhe dizia que confiar
em qualquer outro mafioso que ela não conhecia,
era como pular de uma frigideira direto para o fogo,
mas o tempo era um inimigo implacável contra ela,
e definitivamente ela não poderia continuar ali
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parada, de mãos atadas esperando que alguém


viesse salva-la, porque definitivamente isso era
algo que não iria acontecer.

As dúvidas se amontoaram em sua cabeça


fazendo com que a dor que sentia em seu crânio se
transformasse em algo quase insuportável. Sentiu-
se uma tola por estar ali dentro remoendo um plano
que tinha todas as possibilidades do mundo de
falhar sem nem ao menos saber se o homem em
questão que hipoteticamente poderia ajudá-la
estava realmente vivo.

Os olhos de Nina se desviaram em direção a


porta de seu quarto. A última coisa que ela queria
naquele momento era descer até o porão da
mansão. Ela evitava aquele lugar com todas suas
forças, e depois de hoje a noite e sua corrida sem
destino, aquele era o último lugar do qual ela
gostaria de visitar. Seu corpo se moveu num
impulso, enquanto sua mente ocupada demais com
os milhares de pensamentos que se acumulavam
dentro dela simplesmente pareceu não notar.

Os dedos de Nina se fecharam sobre a dourada


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fechadura enquanto ela abria apenas uma pequena


fresta de sua porta espiando o corredor silencioso
fora de seu quarto. Lá fora o mundo estava
encoberto em sombras e escuridão. O silêncio era
tão intenso que ela podia ouvir o tique taque
compassado do relógio de parede que ficava
debaixo das escadas. O mundo parecia
completamente adormecido, e Nina soube que
poderia chegar até o porão sem ser perturbada,
porque naquele momento ninguém acreditava que
ela teria coragem para desobedecer as ordens de
Serguei.

Em silêncio a garota se perguntou se realmente


teria toda aquela ousadia, mas a única coisa que
conseguiu encontrar dentro de si foi um coração
que pulsava repleto de incertezas e de forma
acelerada. O medo deslizou por suas costas como
se fosse um cubo de gelo. Ela não queria descer até
aquele lugar amaldiçoado. Tinha receio do que
poderia encontrar ali embaixo, mas toda vez que
pensava que talvez aquela fosse sua única
oportunidade de tentar fazer algo para poder
escapar daquela situação, alguma coisa parecia lhe
incentivar a seguir em frente, por mais insano e
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perigoso que aquele plano fosse.

O primeiro passo que ela deu em direção ao


corredor pareceu lhe custar toda sua força de
vontade, a dor em seu tornozelo havia voltado
deixando seu corpo lento, ela sabia que teria
dificuldade em fazer todo o trajeto escadas abaixo,
mas naquele momento tinha outras preocupações
que ocupavam em sua mente.

Os passos dela eram apenas um eco abafado


pelo corredor, deslizando uma das mãos pelo
corrimão, Nina deixou que sua mente se focasse na
tarefa diante dela empurrando ao menos por
enquanto todas suas dúvidas para a parte mais
afastada de sua mente.

Há muito tempo atrás ela havia lido num livro,


que o inimigo de seu inimigo é um amigo seu.
Naquela época a frase lhe parecera confusa e um
pouco dramática demais. Hoje, enquanto ela fazia
seu caminho silenciosamente até o porão rezou para
que aquilo fosse uma verdade.

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Capítulo Seis
Carrick estava sonhando. Isso ou
definitivamente o golpe que ele recebera em sua
cabeça havia sido muito mais forte do que ele
poderia ter imaginado. Talvez estivesse com uma
concussão, porque apenas isso poderia explicar a
imagem da garota parada diante dele iluminada
precariamente pela luz da tela de um celular.

Ele piscou repetidamente tentando desanuviar


seu cérebro, esperando que aquela imagem diante
dele fosse apagada de suas retinas. O sangue que
havia escorrido sobre sua sobrancelha secara em
sua pálpebra dificultando o processo, mas mesmo
assim a garota continuava ali, olhando em sua
direção uma mistura de curiosidade e medo
estampado em seu rosto.

Sua cabeça pendeu de maneira desleixada sobre


seus ombros, as dores viajaram por seus músculos
como uma chama de fogo lambendo cada pequeno
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pedaço. Ele não era estranho a dor, mas precisava


admitir que os homens da Bratva definitivamente
não brincavam em serviço.

A risada engasgada que saiu de seus lábios


trouxe um gosto metálico em sua língua. Sentiu
uma pontada aguda do lado direito de seu peito,
enquanto o fôlego ficava preso em sua garganta.
Talvez eles tivessem que quebrado uma das
costelas, tentou mexer os braços, mas nada
aconteceu até ele perceber que seu corpo havia sido
preso por cordas firmes sentado numa cadeira de
metal extremamente desconfortável.

Cansado Carrick ergueu seu rosto, e um pouco


da névoa que parecia pairar sobre sua cabeça
desapareceu. A garota que ele julgara ser apenas
uma miragem continuava parada diante dele, mas
dessa vez ela lhe perguntando alguma coisa.

- Qual seu nome?

A voz dela era melodiosa, apenas um sussurro


na escuridão. O sorriso que ele exibia em seu rosto
tornou-se mais aberto. Definitivamente seu cérebro

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estava conjurando uma péssima ilusão. Ele não


deveria interagir com frutos de sua mente
machucada, mas que mal havia em fazer isso?
Provavelmente ele estaria morto pela manhã de
qualquer jeito.

- Você também quer saber meu número de


telefone? – perguntou ele de maneira divertida,
sorrindo da própria piada sem graça – Eu estou um
pouco encrencado no momento, mas assim que eu
sair daqui podemos conversar melhor.

A ilusão da garota diante dele não pareceu


entender completamente seu sarcasmo. Ele pode
ver com clareza o jeito como a testa dela se franziu
em confusão. A garota ergueu ainda mais a luz,
fazendo com que ele fosse obrigado a piscar várias
vezes, enquanto pontos escuros pipocavam diante
dele.

Carrick observou ela se aproximar, um passo


após o outro com extrema cautela. Quase como se
ele não tivesse completamente amarrado a uma
maldita cadeira e pronto para atacar. Os olhos dele
se fixaram novamente naquela figura, e a confusão
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voltou a seus pensamentos. Se seu cérebro ia


começar a fazer com ele alucinasse com garotas, ao
menos ele poderia fazer uma que fosse mais
atraente.

A figura diante dele era simples demais, o tipo


de mulher que ele não olharia uma segunda vez
caso tivesse andando na rua. Cabelos num tom de
castanho caramelo dourado, que desciam de
maneira bagunçada ao redor de seu rosto fino e
simples, o nariz era um pouco arrebitado, pequenas
sardas douradas pontilhavam suas bochechas, isso
ou realmente a pancada em sua cabeça também
tinha mexido com sua visão, fazendo com que
pintinhas dançassem em seu rosto. Ele não
conseguia distinguir completamente a cor de seus
olhos que estavam por trás das lentes de um óculos
antiquado que lhe davam um ar brega.

A garota ilusão pairou diante dele como um


fantasma, sua camisola branca combinava de
maneira macabra com o lugar onde ele estava. A
dor invadiu novamente suas entranhas, deixando
que um chiado saísse de seus lábios. Talvez fosse
tarde demais para ele começar a se arrepender de
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ter tentando invadir a casa de Serguei para


conseguir informações. A cabeça dele pendeu sobre
seu pescoço, o esforço que ele precisava fazer
agora para se manter consciente era imenso.

Alguma coisa tocou a ferida ao lado de sua


cabeça. Assustado Carrick ergueu seu rosto
novamente em alerta e deparou-se com a estranha
ilusão muito próxima a seu rosto. O toque dela
deslizou até sua testa, os dedos percorrendo sua
ferida de maneira muito real. Pela primeira vez, ele
começou a se perguntar se a mulher que tinha
diante dele não era tão real quanto seus
machucados.

- Quem é você? – perguntou o rapaz, os lábios


ressequidos tornavam sua voz mais inarticulada.

- Sou eu quem faz as perguntas aqui –


respondeu a garota diante dele de forma ríspida –
Você consegue me entender? Parece que tem uma
ferida muito feia na cabeça.

- Consigo entende-la o suficiente para saber,


que você não deveria estar aqui. Então vai me dizer

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o que você está fazendo?

Os dedos dela deixaram sua pele, e Carrick


imediatamente sentiu falta do contato. Ela recuou
de forma instintiva, seu olhar se voltando por cima
de seus ombros como se ela tivesse esperando que
alguém lhe encontrasse ali embaixo onde não
deveria. Foi exatamente isso que fez com que ele
percebesse que aquela garota não era uma ilusão.
Nenhum devaneio de sua cabeça estaria
preocupado com sua própria segurança.

- Você pode me soltar? – As palavras dele


deixaram seus lábios com ansiedade, usando o que
havia sobrado de suas forças, ele forçou as cordas
em seus pulsos a dor se infiltrando por suas costelas
como ácido. Se ela era realmente uma pessoa de
verdade, então ele deveria tentar convence-la a
libertá-lo.

- Talvez... – respondeu a garota sem muita


convicção puxando os óculos para cima de seu
nariz arrebitado. O típico gesto de alguém que
tentava esconder seu nervosismo – Mas, primeiro
eu preciso que você me responda alguma
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perguntas.

- Seja breve se possível. Eu realmente gostaria


de escapar daqui, antes de um dos capangas de
Serguei resolva voltar e enfiar uma bala na minha
cabeça.

- Qual seu nome? – perguntou a garota incapaz


de esconder a curiosidade em seu timbre de voz.

Carrick não conseguiu esconder o sorriso


sarcástico que brincou em seus lábios. Por que ela
estava tão preocupada assim com sua identidade?
Seus olhos percorreram sua figura novamente,
definitivamente ela não era uma pessoa conhecida.
Aquela garota deveria ser extremamente ingênua,
ou burra. Talvez uma combinação de ambas as
coisas. Convence-la a solta-lo não deveria ser algo
difícil para alguém como ele.

- Sullivan – respondeu ele simplesmente –


Carrick Sullivan. Agora será que você pode fazer o
favor de me soltar?

- Por que você está aqui?

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- Digamos que eu estava no lugar errado, na


hora errada. Mais alguma informação que eu
precise fornecer, ou esse é apenas um procedimento
burocrático padrão antes de você resolver cortar
essas cordas?

- Eu não trouxe nada para poder cortar as


cordas.

- Então qual é seu problema garota? O que você


está fazendo aqui? Isso é algum tipo de modo de
tortura novo inventado pelos russos?

A voz dele soou ríspida e irritadiça contra as


paredes, seu sotaque tornado mais acentuado. Os
olhos da garota se arregalaram em espanto,
enquanto ela olhava ao redor completamente
assustada. Esperando que ninguém tivesse os
ouvidos.

O silêncio ao redor dele era pesado, Carrick


sentia o coração bombeando sangue com muita
força dentro de seu peito, a ferida em sua cabeça
lateja no mesmo ritmo acelerado. A raiva deixando
seus pensamentos mais coesos.

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A garota diante dele se ajoelhou a sua frente,


seu rosto pairando abaixo do seu, a luz branca de
seu celular iluminava sua expressão que parecia um
misto de pânico e determinação.

- Você quer calar a boca? Se continuar gritando


desse jeito eles vão ouvir.

- Isso é problema seu. Eles já me pegaram e me


deram uma surra de qualquer forma.

- Se eles me pegarem – respondeu a garota seu


sussurro se tornando mais rápido e irritado – Então
você não terá chance alguma de sair desse lugar. Eu
preciso saber se posso ou não confiar em você antes
de solta-lo.

- Confiar em mim?- Perguntou Carrick


completamente confuso. Talvez no final das contas
ele estivesse muito pior do que havia suposto e
realmente estivesse delirando tudo aquilo.

- Você quer escapar daqui. Eu também. Mas,


você está bastante ferido duvido que consiga
caminhar mais do que alguns metros sem ajuda,
sem contar em como poderia escapar das
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seguranças lá fora. Além do mais eu preciso saber


que você não é o totalmente um perigo pra mim.

Carrick tentou se concentrar nas palavras


daquela garota ordenando sua mente a funcionar.
Ele não conseguia entender o motivo pelo qual ela
falava que gostaria de escapar dali. Ela parecia ter
bastante liberdade dentro daquela casa, se havia
conseguido chegar incólume até onde ele estava.
Mesmo, assim resolveu que a melhor hipótese
naquele momento, era convencê-la de que ele não
era uma ameaça.

- Se você é minha única rota de fuga. Seria um


suicídio da minha parte tentar machuca-la de
alguma maneira.

Ele podia perceber que a garota diante dele não


parecia convencida com sua resposta. Ela o olhava
atentamente como se estivesse o avaliando. O ritmo
de sua pulsação se acelerou deixando suas dores
ainda mais incômodas.

- Se me tirar daqui, eu posso levá-la para


qualquer lugar. Você precisa apenas me libertar.

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Ele esperou uma resposta positiva, a tensão em


seus músculos deixando sua posição ainda mais
desconfortável naquela cadeira. A luz do celular
que a garota usara para iluminá-los foi engolida
pela escuridão. Ele sentiu que ela se movimentava
diante dele embora, não conseguisse visualizar com
clareza exatamente onde ela estava. Seus olhos
tentaram se acostumar novamente a ausência
completa de luz, enquanto sua voz soava de forma
muito alta até mesmo para seus ouvidos.

- Ei, não faça isso! Não me deixe preso aqui.

- Não podemos sair agora – respondeu a garota


não muito longe dele, sua voz soando apreensiva –
Você está ferido, e eu simplesmente não posso sair
daqui dessa maneira. Mas, eu vou voltar. Mantenha
sua palavra e vou tirá-lo daqui.

- Ei espera!

Os passos dela soaram de maneira abafada


contra as pedras ao redor, ele não podia enxergá-la
com clareza, mas ao seu redor podia sentir a
movimentação do ar. Teve que se conter para não

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grita-la chamando, a misteriosa garota de volta.

Sentiu os dentes doerem em suas mandíbulas de


tanto quanto estava os apertando. Os punhos em
suas mãos estavam tensos, e ele se obrigou a solta-
los, dizendo a si mesmo que precisava economizar
cada pequena grama de energia que ainda possuía
em seu corpo.

Sua mente foi inundada com milhares de


perguntas sem respostas. Ele reviu novamente todo
o dialogo que acabara de ter com a estranha garota,
mas não foi capaz de encontrar ali nada que
pudesse lhe dizer se aquilo era uma armadilha, ou
mesmo apenas um produto de sua mente deturpada
pela surra que ele havia levado mais cedo.

O tempo se arrastou ao seu redor implacável


servindo apenas para deixá-lo mais nervoso, até um
ponto que sua mente era um campo branco repleto
de vazio. Em silêncio ele continuou esperando que
a misteriosa garota aparecesse para libertá-lo, antes
dos homens de Serguei.

Se aquela era sua única escolha, ele iria se

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agarrar a ela com todas as forças que ainda não lhe


restavam.

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Capítulo Sete
- Não Nina definitivamente não isso é um
péssimo plano!

A voz de Olga se elevou pelo quarto, o medo


deixando sua voz mais aguda, exatamente como
acontecia quando ambas eram crianças. Nina
ignorou-a por completo dando-lhe as costas
enquanto continuava seu trabalho sistemático de
preparar as coisas para sua fuga. Ela não podia dar
atenção a Olga agora nesse momento. Se fizesse
isso, então ela também não seria capaz de lidar com
o medo que parecia devorar suas entranhas.

- Nina você está me ouvindo? Por favor, não


faça isso! Nina.

Ela não havia percebido sua prima se


aproximar, a mão dela puxou seu ombro, fazendo
com que ela fosse obrigada a encará-la de frente. O
rosto de Olga estava pálido, a pele em volto de seu
rosto estava esticada, seus olhos pareciam menos
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brilhantes. Definitivamente nenhuma das duas


havia conseguido descansar aquela noite.

- Olga, por favor, não me peça para ficar. De


todas as pessoas eu não suportaria isso de você.

- Mas, você não entende o perigo que você está


correndo? Como pode confiar num homem desses?

- Eu não confio nele – rebateu Nina, tentando


controlar a acidez em seu timbre de voz. Parecia
que ambas estavam tendo aquela discussão já há
varias horas – Mas, ele tem seu ponto. Ele precisa
escapar tanto quanto eu, até mais. Ele não pode me
ferir.

- Você não sabe quem ele é. O que ele fez. Pode


ser algum traficante, um assassino. Uma vez que
você estiver fora daqui, sabe lá Deus o que ele pode
fazer com você.

As mãos frenéticas de Nina pausaram por um


momento, o conteúdo de sua velha mochila do
colegial era uma confusa caótica. Um reflexo muito
similar de como estavam seus pensamentos naquele
momento. Ela nem ao menos era capaz de se
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lembrar do que havia colocado ali dentro. Não tinha


idéia de como preparar uma mala para fugas as
pressas. Esse não era o tipo de tutorial que você
encontrava facilmente enquanto usava a internet.

As perguntas de Olga eram apenas reflexos das


próprias duvidas que haviam sido semeadas noite
passada em sua mente, após o encontro com o
prisioneiro de seu tio.

- O que você quer que eu faça então –


perguntou Nina, erguendo seu rosto para encontrar
o olhar azulado de sua prima – Continuar aqui?
Sem fazer nada? Seu pai disse que eu vou me casar
no final dessa semana.

- Me deixe ao menos tentar conversar com ele,


convence-lo de alguma forma...

Olga não foi capaz de terminar sua frase os


lábios dela tremeram, uma reação que Nina sabia
muito bem que só acontecia quando ela estava
tremendamente nervosa.

Nina agarrou as mãos de sua prima juntas,


trazendo-a para mais perto dela. Ela estava proibida
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de sair de seu quarto. Mas, de alguma forma Olga


havia conseguido fazer com que Irina deixasse que
ela entrasse ali. A essa altura toda a Bratva, já
estava ciente dos planos de Serguei para o
casamento de sua sobrinha, e todas aquelas famílias
consideravam isso algo normal. Naquela manhã
Nina havia escutado sua tia falando ao telefone,
enquanto ela estava no corredor, providenciando
todos os arranjos para festa. O café da manhã que
ela havia tomado mais cedo, havia se agitado em
seu estômago de tal forma que ela foi obrigada a
correr para o banheiro em seu quarto, o corpo
trêmulo como capim ao vento. Definitivamente
aquela mulher não via a hora de vê-la longe
daquela casa.

- Olga, você conhece seu pai, sabe que ele não


vai desistir dessa idéia. Eu estava lá ontem a noite
quando ele me disse que me obrigaria a casar com
um homem que ele escolheu pra mim. Eu não
posso aceitar isso.

- Eu sei que o que ele está fazendo é errado


Nina, mas me preocupo com você. Você pode estar
colocando sua vida em risco. Além do mais, seria
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assim algo tão terrível se casar. Meu pai conhece


Ivan metade de sua vida. Ele talvez acabe sendo um
bom marido meus pais se conheceram dessa
forma...

Nina tentou controlar a expressão de horror e


mágoa que tomou conta de sua expressão. Ela
conhecia Olga quase que sua vida inteira, e sabia
que sua prima não estava dizendo aquilo por mal.
Tudo o que ela conhecera durante todo aquele
tempo, era um palácio dourado rodeado de
riquezas, e pessoas que a protegiam, dizendo que
aquilo era para seu melhor. Mas, Nina sabia que
suas origens eram de um mundo diferente daquele,
e ela simplesmente não poderia aceitar alguém
escolhendo o caminho que ela deveria trilhar,
mesmo que isso fosse para seu próprio bem.

- Me desculpe, eu não quis magoá-la... –


continuou Olga enlaçando seus braços sobre seus
ombros tensos - Eu te conheço o suficiente para
saber que você nunca aceitaria isso... Mas, eu estou
preocupada. Esse seu plano tem muitas falhas.

- Eu sei que ele não está perfeito. Mas, não


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tenho tempo para conseguir nada melhor... Olga se


você não me ajudar. Então realmente eu não vou
conseguir escapar.

Naquele momento Nina odiou-se a última


pessoa que ela queria envolver naquela situação era
sua prima, mas presa dentro daquele quarto, havia
poucas coisas que ela pudesse fazer. O rosto de
Olga ficou ainda mais pálido, seus olhos se
arregalando, enquanto o espanto tomava conta de
suas feições. Ela sabia que estava pedindo muito de
sua amiga. Muito mais talvez do que uma amiga
tinha o direito de pedir. Mas, o desespero havia
cravado as garras em suas alma, e cada minuto que
se passava ela sentia como se estivesse mais
próxima de sua sentença. Algo lhe dizia que Ivan
não estava nem um pouco disposto a se casar com
uma mulher como ela repleta de idéias e
convicções. E depois da conversa que tivera com o
tio na noite passada, ela duvidava que ele levantaria
um dedo que fosse para ajuda-la, desde que isso
prejudicasse seus negócios. Pedir o auxilio de Olga
era colocá-la numa situação delicada, mas ela
precisava acreditar que Irina iria protegê-la a todo
custo, ou então o remorso iria comê-la viva.
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- O que eu preciso fazer – perguntou sua prima


num sussurro quase inaudível.

Nina nunca amara tanto Olga quanto naquele


exato momento. As lágrimas subiram até seus olhos
embaralhando sua visão. Ela engoliu o choro que
por um momento pareceu como se estivesse preso
em sua garganta. Tinha a sensação de que se
começasse a chorar naquele momento então, nunca
mais ela seria capaz de parar.

- Preciso que você pegue as chaves do carro da


sua mãe para mim. Seu pai não aumentou o numero
de capangas ao redor da casa, mesmo com
prisioneiro lá embaixo. Ele costuma chegar por
volta das sete da noite quando, junto com seus
outros, homens. Preciso que as seis e meia, você
avise todo mundo de que me viu fugindo, que pulei
a janela e corri para os fundos da mansão, perto do
rio.

- Se eu avisá-los, eles podem te achar mais


rápido – rebateu Olga, a preocupação e a duvida
estampadas em cada um dos seus traços – Além do
mais o que vai fazer com o carro, você não sabe
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dirigir.

- Há guardas no porão, que só vão sair dali, se


alguma coisa mais importante precisar da atenção
deles. Por isso que você precisa avisá-los que fugi.
Tudo não vai passar de uma distração, enquanto eu
e o prisioneiro do seu tio saiamos pela frente da
casa.

- Isso é tão perigoso Nina, e se você chegar lá e


ele já estiver morto? – perguntou Olga agarrando-
lhe a mão – Você me disse ontem que ele estava
muito machucado. E se ele não conseguir dirigir...

O caroço em sua garganta pressionou sua


respiração, o nervosismo que ela sentia havia feito
com que a parte de trás de sua camisa grudasse em
suas costas. Ela já havia se feito exatamente
aquelas mesmas perguntas, o medo deslizando
sobre sua pele como uma segunda camada. Mas,
ela não podia se dar ao luxo agora de duvidar de
seu plano desesperado. Precisa acreditar que
quando chegasse novamente até o calabouço ele
estaria vivo.

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- Carrick estará bem – respondeu Nina incapaz


de acreditar plenamente em suas palavras, enquanto
estranhava completamente o nome daquele
desconhecido em sua língua.

As mãos dela tremiam tanto que ela foi


obrigada a fechá-las em punhos sobre a mochila
que estava em seu colo. Tudo o que tinha de mais
importante estava ali dentro. Documentos, a única
foto que possuía de sua mãe, o colar que ganhara na
noite anterior de seu tio, que ela decidira que assim
que tivera uma oportunidade iria vender, e algumas
roupas que ela desejava que fossem o suficiente
para uma fuga.

Para ela era estranho aceitar que da noite para o


dia, o mundo estava literalmente desabando sobre
sua cabeça. Sentia-se como se ela estivesse vivendo
dentro de um pesadelo interminável, e a todo
instante precisava se lembrar de que aquilo era o
mundo real, portanto ela precisava suportar toda
aquela situação até finalmente ser capaz de deixá-la
para trás.

- O que você vai fazer depois? – perguntou


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Olga, a preocupação vincando sua testa – Caso,


você consiga fugir daqui?

- Eu não sei... De verdade – respondeu Nina


sendo completamente sincera. Naquele momento
tudo era tão confuso que ela não havia se dado ao
luxo de pensar sequer nas próximas horas, ou onde
estaria no dia seguinte – Talvez eu vá atrás da
minha mãe. Mas, provavelmente vou passar um
tempo fugindo dos homens do seu tio. Talvez eu
precise sair do estado ir para algum lugar...

As palavras morreram em sua língua. Erguendo


seu rosto, ela encarou sua prima, a única amiga e
companheira que tivera durante todos aqueles anos.
Não conseguia suportar a idéia de aquela talvez
fosse a ultima vez que elas estariam juntas, por isso
empurrou aqueles pensamentos para o fundo de sua
cabeça, tentando se concentrar apenas no presente.

- Olga se alguma coisa der errado, se qualquer


coisa der errado, diga a Serguei, e a sua mãe que eu
te obriguei a fazer isso.

- Nina não...

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- Sim – respondeu a garota cortando a prima de


maneira muito firme – Eu já estou numa péssima
situação. Duvido muito que uma tentativa de fuga
vai piorar meu quadro, mas você... Eu não quero
que nada aconteça com você.

- Você não deveria estar preocupada comigo


nesse momento – respondeu Olga contrariada,
embora um sorriso fraco tivesse brincado em seus
lábios.

- Por favor, me prometa...

Nina pode perceber a hesitação no olhar da


prima, nenhuma das duas tinha muitas certezas
sobre aquele plano e suas conseqüências, mas
quando Olga segurou sua mão novamente, soube
que poderia confiar nela com sua vida.

Uma batida forte na porta soou, as duas viraram


de maneira brusca, o coração de Nina trovejando
em seu peito.

- Olga – venha para fora chamou Irina, sua voz


irritada sendo abafada pela porta fechada do quarto
– Você já passou tempo demais ai dentro.
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- Não se preocupe – murmurou a prima


enquanto se levantava – Eu vou conseguir dar um
jeito de voltar e trazer as coisas que precisa.

Sem dizer uma única palavra Nina observou, a


prima se afastar, enquanto seus dedos cavaram
ainda mais fundo na mochila em seu colo. O único
caminho que ela tinha agora era em frente, mesmo
que tivesse a impressão que estava caminhando em
direção a um abismo, a garota ordenou a si mesmo
a não olhara para trás. Agora era tarde demais para
se arrepender de sua decisão.

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Capítulo Oito
O olhar de Nina percorreu ao redor com calma.
A luz dourada do fim da tarde havia tingido as
paredes de seu quarto num tom aconchegante de
dourado. Lá fora a tarde caia sobre o jardim de um
jeito quase preguiçoso. Tudo parecia calmo e
tranqüilo ao redor, embora Nina sentisse como se
dentro de seu peito rugisse uma tempestade.

A mochila que ela havia preparado para sua


fuga estava a seus pés. A garota precisou se usar
toda sua força se vontade para conter a ânsia de
abri-la pela milésima vez, fazendo uma última
avaliação se não havia esquecido nada. Aquele era
exatamente o tipo de nervosismo inútil que servia
apenas para atrapalhar sua concentração.

Os olhos dela se desviaram para o relógio de


pulso, o ponteiro do relógio não havia se mexido
desde a última vez que ela havia olhado, o que
provavelmente deveria ter sido a dois segundos
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atrás.

Esfregando as palmas das mãos suadas contra o


tecido áspero de sua calça jeans, Nina sentou-se na
beirada de sua cama. A tranqüilidade ao seu redor
assim como a sensação de normalidade serviam
apenas para deixar seus nervos a flor da pele.

Desde a noite anterior ela não havia visto seu


tio, ou mesmo Irina, ao que tudo indicava eles
realmente acreditavam que ela havia cedido a
pressão deles, e permanecera em seu quarto
pacientemente como a boa e obediente garota que
eles queriam para que pudessem manipular mais
facilmente.

A raiva de toda aquela situação mais uma vez


deixou seu corpo tenso, a dor em seu tornozelo
havia diminuído quase que para um incomodo
latente que ela conseguia esquecer na maior parte
do tempo porque sua mente estava simplesmente
concentrada em todas as milhares de outras coisas
que envolviam seu desesperado plano de fuga.

Se aquilo não desse certo então o que ela iria

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fazer?

A pergunta ricocheteou entre as paredes de seu


cérebro, a dúvida pura e simples cavando suas
garras em sua determinação. Estivera durante todo
o dia tão nervosa, que mal havia sido capaz de
comer alguma coisa, sem que seu estômago
rejeitasse metade daquilo tudo.

Os olhos dela recaíram sobre o esquecido livro


que ela deixara na noite anterior em seu criado
mudo. Ela não havia colocado um único livro em
sua mochila. Imaginou qual seria a próxima vez
que teria um exemplar entre seus dedos para poder
apreciar uma leitura tranquilamente. Sentia-se
naquele momento como se estivesse vivendo uma
vida que não era sua. Uma realidade alternativa que
mais parecia um pesadelo.

Incapaz de continuar sentada a garota levantou-


se e caminhou novamente até a pequena sacada de
seu quarto. Consultando o relógio percebeu que
logo Olga estaria ali. O dia havia se passado
lentamente, como se fosse um caramujo, mas por
fim os ponteiros do relógio se encaminhavam para
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a hora onde ela decidira colocar seu plano em


pratica. Sabia que acima de tudo ela poderia confiar
em Olga. A prima não iria decepcioná-la. Mas, é
claro que o mesmo já não poderia ser dito sobre
Carrick.

Durante todo o dia Nina havia tentando não


pensar no homem preso no porão de seu tio, muito
menos no acordo que fizera com ele. Tempos
desesperados, pediam medidas desesperadas, e era
isso ao menos que ela havia dito a si mesma para
justificar aquela loucura.

Ela precisava acreditar que aquele homem ao


menos poderia ajudá-la quando ambos estivesse
fora dali. Sabia muito bem que escapar da casa de
seu tio era apenas o primeiro passo, mas lá fora no
mundo onde tudo lhe era desconhecido, precisaria
de alguém que poderia estar ao seu lado.

Nina tentara não pensar que tipo de homem


Carrick poderia ser, a única coisa que poderia ter
certeza ter a seu respeito, era que assim como seu
tio ele também fazia parte do submundo do crime.
Ela não queria possuir nenhum tipo de vinculo com
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alguém dessa forma, mas sabia que sozinha as


chances de escapar das garras de seu tio lá fora
eram quase nulas. Naquele momento ela precisava
acreditar que assim que eles tivessem conseguido
escapar daquele lugar, então de alguma forma
Carrick iria honrar a promessa que lhe fizera e
protege-la, então depois cada um seguiria seu
caminho e ela nunca mais precisaria se preocupar
com ele.

Olhando ao redor Nina percebeu que embora


estivesse extremamente nervosa, havia uma
determinação firme guiando seus pensamentos.
Embora e o medo deixasse seu corpo pesado, ela
estava o combatendo a cada instante, enquanto
mantinha sua resolução firme de escapar daquele
lugar.

A batida suave na porta tirou a garota de seus


devaneios, o coração assustado no peito batia
enlouquecidamente. Cerrando o maxilar e tentando
focar seus pensamentos Nina caminhou até a porta,
jogando sua mochila de qualquer forma por sobre
um de seus ombros. Abriu uma fresta apenas o
suficiente, para conferir quem estava do lado de
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fora, e quando reconheceu os olhos azulados de


Olga, ela saiu para fora do corredor, apreensiva que
alguém pudesse ouvi-las.

- Coloque isso na bolsa – disse a prima com


mãos tremulas, colocando vários objetos em suas
mãos – Consegui pegar algumas coisas de
primeiros-socorros. Você disse que ele estava
ferido... E você talvez pode acabar precisando.

Nina concordou com um aceno de cabeça


incapaz de confiar em sua voz naquele momento.
Abriu apenas uma parte da sua bolsa, jogando tudo
o que Olga lhe dera ali de qualquer jeito. Quando
finalmente seus dedos fecharam sua mochila,
percebeu que o momento de se despedir realmente
havia chegado.

- Eu ainda não sei para onde vou – disse a


garota sua voz soando fraca num sussurro que
apenas sua prima conseguia ouvir – Mas, prometo
que assim que tiver conseguido me estabilizar eu
irei conseguir uma maneira de falar com você.

- Não me ligue – respondeu Olga muito séria –

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Provavelmente meu pai vai usar isso como uma


forma de rastrear sua localização...

Nina concordou e lançando seus braços sobre a


prima, apertou-a fortemente sentindo seu cheiro tão
característico de frutas vermelhas invadir seu nariz.
O nó em sua garganta tornou-se quase insuportável,
enquanto as lágrimas pinicavam seus olhos.

- Tome cuidado Nina por favor...

As unhas de sua prima se apertaram contra suas


costas, ela tremia visivelmente, e Nina prometeu a
si mesma que elas voltariam a se encontrar. Mesmo
que demorasse muito tempo. Aquela não seria uma
separação eterna.

- Assim que você sair daqui vou esperar dez


minutos para atrair a atenção dos guardas dizendo
que você fugiu, você não vai ter muito tempo lá
embaixo para soltar o prisioneiro portanto vai
precisar ser rápida.

Nina concordou com um aceno de cabeça, se


soltando do abraço de Olga e lançando um olhar
para seu relógio de pulso. Agora o tempo seria seu
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inimigo. Seus olhos se focaram na prima diante


dela, a garota que estivera ao seu lado nos últimos
dez anos. Uma companheira, amiga uma irmã que
ela amava profundamente. Tentou lhe dizer algo
reconfortante. Assegurar de que no final tudo
estaria bem, mas as palavras pesaram como pedras
em sua língua. Nada do que ela poderia dizer
naquele momento chegaria perto de expressar o que
ela realmente sentia, portanto preferiu ficar em
silêncio, dando um ultimo abraço apressado em
Olga, ela correu da forma mais silenciosa que pode
escadas abaixo. O coração batendo em seu peito
como um tambor descontrolado.

Não se atreveu nem mesmo a lançar um único


olhar por sobre seus ombros, correndo com todas
suas forças, ela desceu as escadas de dois em dois
degraus, sentindo o conteúdo de sua mochila bater
em suas costas. O hall estava deserto aquela hora,
mas Nina não parou ali nem mesmo por um
segundo que fosse, virando a direita no corredor
que levava até a biblioteca ela correu, tentando
fazer com seus passos não soassem muito altos
naquele lugar. Abrindo a ultima porta ali, se enfiou
dentro da pequena saleta girando ao redor tentando
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organizar os pensamentos em sua cabeça.

Para qualquer pessoa aquele lugar iria parecer


apenas um armário de bagunça que guardava os
casacos velhos, e todo o tipo de tranqueira que
simplesmente não se encontrava em outro lugar da
mansão. Mas, Nina sabia muito bem que aquilo era
apenas um disfarce.

Nenhum dos casacos ali pendurados, jamais


havia sido usado por sua tia. Aquele pequeno
vestíbulo era apenas uma fachada, que escondia um
dos milhares de segredos de seu tio. Havia uma
porta ali, que a maioria das pessoas que olhassem
não se importaria em dar uma segunda olhada, mas
Nina sabia que aquela era uma das entradas para o
porão nos fundos da mansão.

Na noite anterior ela não conseguia se lembrar


com clareza de ter feito aquele caminho, enquanto
corria atravessara as portas sem mesmo se importar
onde seus passos desesperados a estavam levando.
Sabia que deveria haver outras entradas para o
imenso porão que ficava sob aquela casa. Tinha
plena certeza de que aquele lugar havia sido
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construído para ser como uma fortaleza pessoal.


Desconfiava que deveria haver uma entrada na
garagem da mansão, pois isso facilitaria e muito os
serviços que seu tio costumava praticar ali, se
soubesse exatamente sua localização, aquele seria o
melhor lugar para que ela usasse como rota de fuga,
mas naquele momento ela não tinha como descobrir
exatamente onde ele ficava.

Com as pernas bambas Nina, se abaixou sobre


as prateleiras, usando os casacos ao seu redor para
camuflar sua presença. Com as costas muito
encostadas contra a parede, a garota puxou suas
pernas para cima, pousando o queixo sobre seus
joelhos, tentando controlar a respiração acelerada
que saia como um chiado de seus pulmões.

O silêncio ao redor retumbava em seus ouvidos.


Ela não precisava contar os minutos que se
arrastavam no relógio, pois sabia que assim que os
movimentos começassem ao redor da casa, aquele
seria o sinal que ela precisava para sair de seu
esconderijo.

Uma gota de suor escorreu por sua têmpora, as


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unhas dela se cravaram na parte interna de suas


mãos. Depois do que pareceu ser uma eternidade,
ela conseguiu ouvir passos acelerados no corredor.
Parada como uma estátua Nina, ouviu passos que se
aproximavam do pequeno vestíbulo. Sugando seu
fôlego para dentro, ela observou em silêncio
enquanto um dos capangas de seu tio, entrava
naquele lugar vindo do porão. Ele estava ao
telefone, falando russo de maneira irritada. Não
parou para lançar um único olhar ao redor, mesmo
que ela estivesse a dois metros de distancia de sua
presença. Sem perder tempo o homem abriu a porta
que dava acesso ao corredor e foi embora dali, seus
passos soando apressados no corredor.

Sem perder tempo a garota colocou-se em pé.


Aproveitou a oportunidade para girar a tranca que
dava acesso ao vestíbulo, mantendo ele trancado.
Sabia que aquilo não seria o suficiente para segurar
os homens de seu tio, mas qualquer contratempo
que eles tivessem era algo positivo ela.

Conferindo o relógio, Nina percebeu que os dez


minutos de distração que Olga havia conseguido
para ela fugir, logo teriam terminado. Sem pensar
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direito no que estava fazendo a garota voou escadas


abaixo, tentando controlar os ritmo acelerado de
seu coração.

Ali embaixo assim como na noite anterior o ar


parecia viciado. Um odor de musgo e terra se
impregnou em suas narinas, fazendo com que ela
respirasse apenas pela boca. A mochila que ela
usava em suas costas começa a pesar de forma
incômoda seu peso deixando seu passo mais lento.
Na noite anterior, ela havia encontrado-o num dos
cubículos mais afastados do porão, mas Nina não
tinha certeza se ele continuar no mesmo lugar, ou
se os capangas de seu tio teriam feito algo com ele,
tirando-o dali.

Rezando em silêncio para que o pior não tivesse


acontecido, Nina puxou o celular que estava no
bolso de sua calça, usando sua luz para iluminar o
caminho. Seu pé escorreu numa mancha escura que
havia no chão, e a garota não precisava se
aproximar para ter certeza de que aquilo era
sangue.

Engolindo a náusea que havia embrulhado seu


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estômago e apertando o celular muito firme entre


seus dedos, ela refez o mesmo caminho que fizera
na madrugada anterior. Embora lá fora a noite
ainda não tivesse caído, ali dentro o escuro era
interminável estendendo-se por todas as paredes. A
ausência de janelas deixava o lugar abafado, um
cheiro acre e metálico pareceu se grudar em sua
pele, fazendo com que seu cabelo ficasse preso
junto ao suor próximo ao seu pescoço.

Ignorando a dor em seu tornozelo que agora


havia aumentado porque ela havia exigido em sua
corrida, Nina encontrou o último cubículo onde
havia deixado Carrick. O horror tomou conta de sua
expressão quando ela observou seu corpo parado
muito imóvel sobre a cadeira. Sua cabeça pendendo
diante de seu tórax de maneira débil, o cabelo
escondendo suas faces.

Por um momento, que poderia lhe custar caro


demais, a garota temeu seu aproximar dele. Se
aquele homem estivesse morto então todas as suas
esperanças de conseguir sair daquele lugar estavam
perdidas.

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Dar o próximo passo em direção a ele custou


toda sua força de vontade. O tremor agora que ela
sentia chacoalhava todo seu corpo, a luz do celular
em sua mão oscilava precariamente fazendo com
que um jogo de luz e sombra se mexesse de forma
agourenta nas paredes.

Nina se aproximou da cadeira de Carrick,


horrorizada com a cena diante dela, havia sangue
fresco no chão, brilhando como uma pequena poça
de rubi. As roupas dele estavam rasgadas e
manchadas, seu corpo parecia flácido mesmo
estando sentado, como se apenas as cordas que
envolviam seus braços segurassem-no naquela
posição.

Nina temeu toca-lo, por um momento ela


cogitou a possibilidade de deixá-lo ali daquela
maneira, e tentar escapar sozinha. Talvez se ela
corresse para a estrada fora da propriedade de seu
tio, poderia encontrar alguém que lhe daria uma
carona até a cidade.

Mesmo com esses pensamentos correndo de


forma desenfreada em sua cabeça, Nina sentiu que
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os dedos dela se mexiam por conta própria, até que


sentiu eles tocarem a textura de seu cabelo.

Não houve nenhum movimento, como se o


homem sentado diante dela, nem ao menos
percebesse que ela estava o tocando. As batidas de
seu coração agora ressoavam diretamente em sua
garganta, como se seu órgão não tivesse mais
conseguido suportar a pressão que havia em seu
peito naquele momento.

- Carrick – chamou a garota num sussurro de


voz, que mal chegou a seus ouvidos.

Ela esperou que ele a respondesse, seus olhos se


cravaram na figura daquele desconhecido,
esperando o menor dos movimentos, mas ele
continuou estático sob seu toque.

O frio do medo cravou as garras em seu


estômago, o sangue ecoava em seus ouvidos, sem
saber mais o que fazer, a garota ergueu o rosto dele.
Em seu interior ela teve a certeza de que teria para
sempre aquela imagem gravada em sua mente. Os
dedos dela se infiltraram por seu cabelo, seu rosto

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ficou completamente visível pela luz do celular.


Seu coração ficou estático dentro de seu peito.

Olhos verdes como as folhas de uma floresta a


observaram repletos de significados ocultos.
Exatamente como na primeira vez que eles tinham
se encontrado.

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Capitulo Nove
- Então você está de volta. Acredito que esteja
um pouco atrasada.

O ar que estivera contido em seus pulmões foi


expelido de uma única vez, fazendo que suas
pernas ficassem ainda mais bambas. Jogando a
mochila no chão Nina ajoelhou-se em frente a
Carrick, suas mãos percorrendo o corpo dele,
tentando encontrar suas feridas.

- Você está bem? Eu pensei que estivesse...

- Morto? Pois é digamos, que não foi por falta


de tentativas dos homens de Serguei.

Ele parecia ligeiramente confuso, piscando


repetidamente como se precisasse fazer isso para
focar seus pensamentos. Tentando manter seus
pensamentos controlados, Nina abriu a mochila que
estava a seus pés, buscando algo que pudesse usar
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para estancar o sangue da ferida que ele tinha em


sua cabeça. O tempo era um inimigo implacável,
mas se ele continuasse sangrando daquela forma
então a chances dele simplesmente desmaiar
quando eles tivessem fugindo eram maiores.

Os dedos dela se atrapalharam com o conteúdo


que Olga havia lhe entregado, um rolo de
esparadrapo saiu rolando pelo porão atraindo a
atenção de Carrick.

- Pensei que você era apenas um produto da


minha imaginação. – disse ele muito baixo, sua voz
formando as palavras num sotaque que ela ainda
não havia sido capaz de reconhecer – Mas, fico
contente em saber que você não é uma alucinação
no final das contas. Nosso trato ainda está em pé
certo?

Nina empurrou de qualquer forma uma de suas


camisetas contra sua cabeça. O tecido amarelo
claro logo tornou-se carmesim. O sangue havia
escorrido por sua testa, manchando suas pálpebras,
borrando seus olhos de uma maneira macabra. A
pele debaixo daquela mancha estava pálida, não
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tinha dúvidas de que ele havia perdido muito


sangue, mas havia uma inteligência feroz em seus
olhos de esmeralda.

- Não temos muito tempo – informou Nina num


sussurro apressado, enquanto embrulhava
novamente a camiseta usando-a como uma forma
de estancar seu ferimento – Os guardas não irão
demorar pra perceber que foram enganados. Você
acha que consegue andar?

O homem diante dele lhe deu um aceno muito


fraco com a cabeça. Embora seus olhos brilhassem
fortemente, ele parecia extremamente fraco. Nina
se perguntou em silêncio se precisaria arrastá-lo
dali para fora daquele lugar. Eles não tinham mais
muito tempo sobrando...

Ela largou a camiseta que usava para estancar a


ferida em sua cabeça, no chão, recusando a se olhar
para o pano que rapidamente havia se tingindo de
vermelho intenso.

Seus dedos alcançaram o pequeno estilete que


ela havia enfiado de qualquer forma no bolso de

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sua calça. O tremor em seu corpo deixava seus


movimentos mais lentos e descontrolados. Olhando
as cordas que prendiam o corpo de Carrick a
cadeira, ela percebeu que o material era
extremamente resistente, para libertá-lo dali
precisaria fazer um esforço tremendo. O suor
escorreu para a ponta do seu nariz, fazendo com
que seus óculos se equilibrassem precariamente
diante de seu rosto. Tentou conter o nervosismo
que parecia convulsionar em seu estômago e
ordenou a si mesma a não olhar pela milésima vez
para os ponteiros do relógio em seu pulso.

Contornando a cadeira, Nina deslizou a lâmina


do pequeno estilete para e cima e para baixo usando
toda sua força, mas a corda embora tivesse uma
aparência fina resistiu enquanto ela continuava sua
árdua tarefa avançando dolorosamente de forma
lenta.

Os sons de passos e portas batendo chegaram


até o ouvido de ambos. Ela percebeu Carrick
sentar-se de maneira muito reta, suas costas
esticadas muito firmes contra o encosto da cadeira.
Os dedos dela ficaram estáticos sobre as cordas,
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apenas o primeiro laço havia se rompido, e ela


precisaria destruir mais três para conseguir solta-lo.

- Será que você por ir mais rápido? – perguntou


o estranho homem, olhando por cima de seu
pescoço, o sarcasmo tingindo sua voz – Eu não
gostaria de estar aqui quando eles voltarem.

Nina engoliu com força a resposta brusca que


pendeu na ponta da sua língua. Naquele momento
ela não podia se dar ao luxo perder um minuto que
fosse de sua atenção da tarefa que estava fazendo.

Forçou os dedos sobre o canivete até sentir suas


juntas protestarem pelo aperto grave. A lamina
deslizava pela corda cada vez de mais lenta, como
se o próprio fio tivesse se perdendo ao seu usado
contra um material tão rígido.

- Você poderia ao menos ter trazido a porra de


um canivete – reclamou Carrick mal humorado
enquanto tentava ajuda-la forçando seus braços na
cadeira para que as cordas se tornassem mais
frouxas.

A atenção de Nina se desviou para as mãos de


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Carrick, o fôlego preso em sua garganta, deixando


sua respiração sair em um chiado baixo. Elas
estavam cobertas de sangue, as pontas de seus
dedos destruídas exibiam carne viva num tom
sangrento de vermelho e roxo.

- O que eles fizeram com você? – perguntou a


garota num sussurro o horror tingindo cada uma de
suas palavras.

- Por favor, me diga que você não é uma


daquelas pessoas que desmaia quando vê sangue.
Você se saiu muito bem com a ferida da minha
cabeça.

Nina não conseguia compreender como ele


poderia estar fazendo piada, ferido daquela forma.
Os homens de seu tio haviam arrancado às unhas de
seus polegares, indicadores e anelar de ambas as
mãos. O horror daquela ferida era como uma
mancha negra, anestesiando uma parte de seu
cérebro. A verdade a atingiu com a força de um
golpe avassalador. Aquele era o tipo de homem que
ela estava desafiando. Alguém capaz de amarrar
outro ser humano, numa cadeira, enquanto o
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surrava e o torturava sem nenhum tipo de remorso.

- Garota, eu não sei o que você está fazendo,


mas seria de bastante ajuda, se você continuasse a
tentar me libertar.

As palavras apressadas de Carrick trouxeram


Nina de volta de seu devaneio, o medo deixou seus
movimentos mais rápidos, ela sentiu o ardor em
suas juntas, quando cortou a si mesma tentando
vencer a barreira das cordas que o aprisionavam. A
dor foi empurrada para a parte mais afastada de sua
mente, enquanto ela conseguia romper a ultima
corda que o segurava por seu tronco.

O material se espalhou de qualquer forma


destruído pelo chão. Sangue sujava a cadeira assim
como os restos que haviam sobrado da corda.
Numa agilidade espantosa para alguém que estava
tão ferido Carrick colocou-se em pé.

Temerosa Nina deu um passo para trás, assim


que conseguiu se levantar. O instinto fez com que
ela agarrasse o pequeno canivete entre seus dedos
de maneira mais firme. Até aquele momento ela

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realmente não havia temido o homem diante dela.


Amarrado numa cadeira coberta de sangue, ele
pouco parecia com uma ameaça, mas agora diante
dela pela primeira vez desde que chegara até ali
tentando executar seu plano enlouquecido, pensou
que talvez ela tivesse cometido um grande erro.

Carrick era alto ela notou. Em comparação com


ela que alcançava apenas seus ombros, Nina tinha
certeza de que pouca coisa poderia fazer para se
defender caso ele realmente tivesse intenção de
machucá-la. O sangue havia grudado em seu corpo
delineando os músculos delgados de tórax.
Erguendo o olhar, tentando não demonstrar nenhum
tipo de fraqueza, ela focou toda sua atenção em
seus olhos verdes que brilhavam de maneira
sobrenatural, como se uma luz desconhecida os
iluminasse por dentro. O cabelo era uma massa
comprida e de cor indefinida que lhe dava uma
aparência selvagem.

- Espero que você não esteja se arrependendo


de ter me soltado garota. Ainda vou precisar da sua
ajuda para sair daqui.

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Nina engoliu em seco tentando limpar o


desconforto em sua garganta. Guardou o canivete
no bolso de sua calça novamente, torcendo para que
ela não tivesse nenhuma necessidade de usá-lo
novamente.

- Eu conheço o lugar – disse ela tentando soar


como uma pessoa que estava no controle da
situação e falhando miseravelmente – Se irmos por
aqui, vamos encontrar o melhor caminho para
chegar até a saída.

Carrick concordou com um aceno de cabeça,


enquanto estendia-lhe uma das mãos destruídas
enquanto sua voz ressoava nas paredes ao redor.

- Certo. Agora me passe a arma. Não precisa se


preocupar eu não vou feri-la nesse momento.

Por um momento Nina sentiu-se confusa com


as palavras de Carrick, como se de repente ele
tivesse começado a falar numa língua
completamente diferente. Sabia que naquele
momento a expressão em sua face deveria ser de
pura confusão e incredulidade.

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- Me diga que você trouxe uma arma, como


você quer escapar de um lugar assim, sem termos
como nos defender?

- Não vamos machucar ninguém no caminho –


rebateu Nina sentindo extremamente ofendida. Ela
estava tentando fugir de seu tio, e embora os
homens dele tivessem ordens para impedi-la, ela
não tinha nenhuma intenção de feri-los.

O olhar de Carrick sobre ela tornou-se gélidos,


o tom de verde brilhando de forma mais intensa.
Algum instinto dentro dela, lhe disse que embora
estivesse ferido o homem diante dela ainda é
perigoso.

- Não precisaremos de uma arma – disse Nina


passando por Carrick, esperando que ele acreditasse
na postura firme e decidida que ela exibia naquele
momento, embora tudo não passasse de uma
fachada – Os homens estão dispersos. Vai demorar
alguns minutos até que eles percebam que você
conseguiu escapar. Agora venha comigo.

Ela não esperou por uma resposta de Carrick, o

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coração batendo acelerado no peito, fazia com que


o sangue ecoasse em seus ouvidos. Sem perder
tempo, sua mão agarrou a alça da mochila que ela
deixara no chão, seus dedos se fecharam sobre a
camiseta destruída que ela usara para estancar a
ferida de Carrick. Sabia que não iria demorar para
que seu tio percebesse que havia sido ela quem o
ajudara a fugir, mas ela não tinha nenhuma
pretensão em facilitar aquela descoberta.

Os passos dela soaram abafados no chão de


pedra, ali embaixo qualquer ruído por menor que
fosse se ampliava pelas paredes, como se a própria
estrutura do porão ecoasse tudo ao seu redor.

Não precisava olhar para trás para saber que


Carrick estava a seguindo muito de perto. A
proximidade entre eles, fazia com que calafrios
desconfortáveis percorressem suas costas. O suor
havia grudado sua camiseta em seu corpo, enquanto
ela tentava ignorar a sensação pegajosa em seus
dedos manchados de vermelho.

Ela empurrou para a parte mais distante de seu


cérebro todas as duvidas que pareciam crescer em
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sua mente, a respeito de Carrick, mas sabia que


naquele momento ela não tinha outra alternativa a
não ser escapar daquele lugar, e nada naquele
momento poderia fazer com que ela perdesse seu
foco.

Os olhos de Nina corriam freneticamente pelas


paredes de pedra, enquanto eles cada vez mais se
embrenhavam no porão. Ela sabia que aquele lugar
era enorme, mas realmente nunca havia tido tempo
ou desejo de explorar-lo, desde que em sua infância
havia descoberto o que seu tio tramava ali embaixo.

O ar pesado era uma mistura de cheiros nada


agradáveis, que ela tentava ignorar enquanto
respirava pela boca. Sabia que a porta que dava
acesso ao jardim, que ela e Olga haviam usado a
primeira vez que descobriram aquele lugar era na
parte mais afastada do porão. Deixou que seus
dedos tocassem a parede fria ao seu redor. O lodo
roçou a ponta de seus dedos, enquanto ela tentava
ignorar o que mais poderia estar grudado naquelas
paredes.

- Você disse que sabia como sair daqui – sibilou


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Carrick atrás de suas costas, muito mais próximo de


seus ouvidos do que ela julgava seguro.

- E, eu sei! Mas, está escuro e provavelmente


devemos ter virado no corredor errado, então seja
paciente. Eu também não pretendo ser pega.

Ela sabia que o silêncio atrás de suas costas era


completamente de desconforto, mas naquele
momento ela simplesmente não tinha como se
importar com isso.

Uma porta de metal surgiu no meio da parede


de pedra. Não havia nenhuma luz saindo da mínima
fresta que ficava embaixo dela, e isso animou a
garota. Lá fora a noite já deveria ter caído, portanto
era natural que não houvesse nenhum tipo de
iluminação. Seus dedos tocaram a fechadura gélida,
enquanto ela os girava lentamente, esperando que
nenhum barulho denunciasse sua presença.
Precisou usar quase que toda a força de seu corpo
empurrando para que uma pequena fresta ficasse a
sua vista. O vento gélido acariciou suas bochechas
embora ela não conseguisse enxergar totalmente o
que havia diante dela por causa da escuridão.
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A respiração de Carrick atrás de suas costas


tornou-se mais acentuada. Nina abriu a porta e
sentiu seu coração bater descompassado pela
primeira vez de entusiasmo quando percebeu que as
formas cobertas na escuridão diante dela, eram os
carros de seu tio que ficavam na garagem.

Abrindo a porta num rompante, ela correu em


direção ao carro de sua tia. O vermelho vibrante de
um potente carro de luxo podia facilmente ser
visualizado no canto mais afastado da garagem. Os
dedos dela bateram com força na maçaneta, que se
abriu num clique suave. Olga havia prometido que
o carro que ela precisava para fuga, estaria pronto
quando ela chegasse ali. O coração em seu peito
encheu-se de um misto de gratidão e nervosismo.

- Eu espero que você saiba dirigir – disse Nina


virando-se pela primeira vez na direção de Carrick.
O rosto dele estava ainda mais pálido, agora até
mesmo a cor havia desaparecido de seus lábios. Ele
parecia extremamente frágil, e por um instante ela
se perguntou se ele realmente seria capaz de
suportar uma fuga daquelas.

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- Posso dirigir qualquer coisa – respondeu o


homem a sua frente, e ela percebeu que suas
palavras continham um ar ofendido.

Pela primeira vez desde que saíra de seu quarto


aquela noite, Nina sentiu os cantos de seus lábios se
remexerem para cima, num sorriso sincero embora
ainda nervoso. Seus dedos escavaram um dos
bolsos externos de sua mochila, e de lá ela puxou as
chaves que Olga havia conseguido roubar para ela,
fazendo com que elas chacoalhassem alegremente
diante de seu rosto.

Os olhos de Carrick se estreitaram, a mão


machucada dele voou como um borrão diante dela
agarrando as chaves. O sorriso morreu no rosto de
Nina. Por um momento ela havia esquecido que
não poderia confiar naquele homem.

Contornando o carro rapidamente Carrick


lançou-se de qualquer forma no banco do
motorista, sem perder tempo, Nina também pulou
dentro do veiculo, enquanto afivelava o cinto diante
de seu corpo.

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Carrick lançou-lhe um olhar cheio de crítica


para seu cinto de segurança, como se ela
simplesmente tivesse passando por um excesso de
zelo desnecessário.

Em silêncio Nina observou os dedos destruídos


dele se apertarem contra o volante, manchas de
sangue ficando presas ao couro do veículo.

Sem perder tempo Carrick ligou o carro,


acertando a marcha e pisando no acelerador
simplesmente dirigiu o carro contra a porta da
garagem que continuava fechada.

O estômago de Nina sentiu o solavanco do


movimento enquanto suas costas ficavam
extremamente retas em seu assento. A velocidade
assobiou em seus ouvidos, transformando o mundo
num borrão cinzento. A porta da garagem assomou-
se diante deles, mas isso apenas fez com que
Carrick aumentasse ainda mais a velocidade. O
impacto atingiu primeiro seus ouvidos, o som de
metal rasgando metal. O medo não permitiu que ela
fechasse os olhos, naquele momento ela tinha plena
certeza que nenhuma parte de seu corpo estava a
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obedecendo.

A porta da garagem voou aberta, a carcaça de


um monstro destruído, enquanto o motor do carro
onde eles estavam urrava para a noite. Eles
derraparam na parte de trás do jardim, mas nem
isso fez com que Carrick desacelerasse, Os dedos
dela se cravaram no banco ao lado de suas coxas,
um gosto metálico pinicou sua língua e ela
percebeu que seu nervosismo havia feito com que
ela mordesse seus lábios.

O carro rodou pelo gramado impecável de sua


tia, antes de se estabilizar. Sem perder um único
segundo que fosse, Carrick rodou o volante em suas
mãos, com uma habilidade precisa, e fez o carro
contornar o canteiro do jardim, passando pela fonte,
até que a única coisa que estava entre eles e a
liberdade, eram as imensas grades do portão. O
coração de Nina rugia em seu peito, o som dos
pneus cantando preenchia a noite ao redor. Um
carro surgiu diante dos portões negro e lustroso, e
mesmo aquela distância soube que dentro dele
estava seu tio. Ele havia voltado mais cedo para
casa.
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O desespero se enrolou em sua garganta, seus


olhos se cravaram em Carrick a seu lado, mas tudo
o que ela pode perceber que havia em seu rosto era
uma determinação de ferro.

Ele não desacelerou o carro, ao ver que a sua


frente a entrada estava bloqueada. Ao contrario, seu
pé pressionou ainda mais o acelerador e Nina sentiu
como se o ar fosse explodir seus pulmões.

Eles passaram como uma flecha em plena


velocidade, destruindo a grade do portão que estava
entreaberta, o som dos metais dos carros se
chocando vibrando na noite.

O impacto embora fosse apenas de raspão foi o


suficiente para chacoalhar seu corpo, e tirar o carro
deles para fora da estrada, e mesmo assim Carrick
não parou. Girando o volante, ele andou alguns
metros em ré, os olhos de Nina ficaram fixos diante
da destruição que ela provocado na casa de seu tio.
O carro dele havia sido jogado para longe pelo
impacto, a porta do passageiro completamente
amassada. Os homens de seu tio pularam para fora,
armas em punho enquanto o mundo girava a seu
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redor, e uma mão empurrava sua cabeça para baixo


sem nenhuma gentileza.

- Abaixe-se – ordenou Carrick a seu lado.

Os tiros soaram muito fortes enquanto atingiam


a lataria do veículo, num instinto bobo, Nina
fechou os olhos, mas aquilo apenas intensificou
todos os sons ao seu redor que a bombardeavam.

Os tiros continuaram acertando todo o veículo,


até que finalmente cessaram bruscamente, enquanto
o silêncio da estrada era apenas interrompido pelo
rugido do motor do carro embaixo dela.

A pressão dos dedos de Carrick por um


momento pareceu diminuir em sua cabeça.
Lentamente Nina ergueu-se novamente no banco,
tentando esticar o corpo enrijecido. Diante dela a
estrada vazia, exibia apenas um campo aberto de
ambos os lados. Ao longe nuvens de tempestade se
contorciam atrás dos prédios da cidade que brilhava
como uma jóia na escuridão.

Demorou um longo momento, enquanto toda a


descarga de adrenalina varria seu corpo escorrendo
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por seus membros deixando-a extremamente


cansada.

- Consegui – murmurou Nina para a escuridão –


Eu não acredito que consegui fugir...

- Não, ainda não diga isso. – respondeu Carrick


a seu lado, sua voz soando firme enquanto seus
olhos brilhavam como os raios que cortavam as
nuvens de tempestade – Você apenas começou a
fugir.

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Capítulo Dez
Nina perdeu a noção do tempo. O silêncio
parecia uma parede física entre ela e Carrick
ressoando em seus ouvidos. Sentia sua cabeça
muito leve sobre seu pescoço, como se alguém
tivesse enfiado chumaços de algodão dentro de seu
cérebro. As pálpebras pesavam, mas ela se recusava
a dormir. O nervosismo era como um ácido
corroendo seu estômago, enquanto ela tentava se
concentrar em qualquer coisa ao seu redor, para não
enlouquecer naquele momento.

As dúvidas mais uma vez assaltavam sua


mente, e embora ela tivesse tido sucesso em fugir
da casa de seu tio, não sentia-se como uma
vitoriosa. As palavras de Carrick, pesavam em suas
lembranças, afundando seu animo já tão
desgastado. Aquela noite ela apenas dera início a
uma longa jornada. Sabia que não podia se tornar
confiante naquele momento. Ela ainda não era
totalmente livre.
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Na estrada o carro continuava seu trajeto sem


maiores problemas. Após a fuga Carrick havia se
recolhido a um silêncio completo, deixando-a de
lado, quase como se tivesse ignorando sua
presença. Nina imaginou se deveria questionar a
ele, para onde eles estavam indo, mas sempre que
tentava começar a frase, as palavras pareciam
ficarem presas em sua garganta. Ao longe ela
percebia que as silhuetas dos prédios e arranha-céus
se tornava cada vez mais próxima, e por enquanto
isso era o suficiente para mantê-la mais calma. Ele
havia dito que a levaria até a cidade, e isso era
exatamente o que Nina precisava então por
enquanto, ela simplesmente iria aceitar aquela
situação.

Numa freqüência enervante para si mesma, seus


olhos continuavam se deslocando até a figura do
homem ao seu lado. O rosto dele era estava pálido
como giz. A ferida em sua cabeça voltara a sangrar,
um pingo de sangue havia secado sobre sua
pálpebra, mas ele parecia não se importar com isso.
Os dedos machucados estavam fixos no volante
com um aperto. Durante todo o tempo desde o
momento em que eles haviam entrado naquele
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carro, Nina não ouvira ele reclamar uma vez que


fosse. Ela nem ao menos conseguia imaginar o
quanto de dor ele estava suportando naquele
momento.

Tentou mais uma vez sem sucesso empurrar


para o fundo de sua mente as perguntas que
começavam a se acumular sobre Carrick. Precisava
ser sincera consigo mesma e admitir que sabia
quase nada a respeito do homem que estava ao seu
lado. Sabia seu nome, mas até mesmo isso poderia
ter sido uma informação inventada que ele havia
lhe dado, com o interesse de que ela apenas o
ajudasse a escapar.

Sabia que não deveria compará-lo a seu tio, ou


mesmo os capangas e outros mafiosos que
trabalhavam para ele, mas isso era praticamente
impossível. Ela estava fugindo exatamente porque
queria evitar o máximo possível qualquer tipo de
relação com o submundo do crime, mas não podia
negar que sem ajuda dele, muito provavelmente ela
não conseguiria ir muito longe.

Tentou não dar asas as sua imaginação, criando


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cenários e outros crimes que ele poderia ter


cometido. Tinha plena certeza de que ele não era
nenhum santo, mas se continuasse simplesmente
imaginando o pior cenário possível, ela não tinha
muita certeza de como seria capaz de continuar ao
seu lado, enquanto o bicinho na insegurança
parecia cada vez mais se aprofundar sob sua pele.

Se acomodando melhor no banco, Nina


deslizou seu corpo até que ele estivesse escorado
pela porta do carro. O vidro frio pareceu conter um
pouco a temperatura de seu corpo. O suor havia
secado em sua pele, deixando uma sensação
grudenta sobre seus braços. Embora o céu estivesse
carregado, o clima era abafado e úmido, fazendo
com que seu cabelo ficasse grudado em sua nuca.

Ao longe as luzes da cidade eram cada vez mais


brilhantes, e quando finalmente eles cruzaram a
ponte que dava acesso a parte mais central de Nova
York, pela primeira vez ela sentiu o pouco do
aperto em seu estômago se afrouxar. Virou o corpo
para trás deixando que seus olhos se focassem nos
veículos que cruzavam a ponte em suas costas.
Nenhum daqueles carro parecia estar os
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perseguindo, mas Nina teve a estranha sensação


que a partir dali ela estaria constantemente
checando suas costas.

- Eles não estão no seguindo, por enquanto –


disse Carrick ele parecia extremamente atento a
qualquer um de seus movimentos, e isso disparou o
nervosismo mais uma vez por sua corrente
sanguínea. – Mas, isso provavelmente logo vai
mudar quando chegarmos a cidade.

- Por que você diz isso?

- A Bratva não seria louca de nos perseguir no


meio de todo mundo. Eles pretendem chamar o
mínimo de atenção possível. De qualquer forma
eles tem outras maneiras de nos encontrar.

- Como? – perguntou a garota embora ela não


tivesse muita certeza se gostaria de ouvir uma
resposta.

- Eu aposto que esse carro que roubamos tem


um rastreador, isso significa que vamos precisar
descartar ele o mais rápido possível. Além disso, se
eles tem dinheiro o suficiente para comprar
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qualquer um, que possa oferecer a informação que


eles precisam.

O medo mais uma vez cravou as garras em suas


entranhas. Os olhos dela estavam muito fixos no
rosto machucado de Carrick, enquanto ela tentava
compreender porque ele estava lhe dizendo tudo
aquilo. Ela não precisava que ele lembrasse a ela
quais os riscos que ela estava correndo.

- De qualquer forma – continuou o rapaz,


voltando seu olhar para frente focando no transito
diante dele – Você vai me contar porque resolveu
fugir daquela casa em algum momento, ou isso é
segredo?

- Por que isso faz diferença? – perguntou a


garota desconfiada.

- Não faz diferença nenhuma, só perguntei


porque estou morrendo de sono e conversar ia me
ajudar a manter os olhos abertos mais facilmente,
mas ei se não quiser me contar está tudo bem.

Nina sentiu-se mal, e o incômodo fez com que


ela se remexesse em seu assento, buscando algo
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para ocupar suas mãos. Ela sabia que não deveria


continuar aquela conversa, mas parecia que seu
bom senso não estava presente no momento, e seus
lábios haviam criado vida própria.

- Você vai me dizer então, por que estava sendo


torturado no porão do meu tio, ou isso também é
um segredo?

O riso de Carrick varreu o pequeno espaço


entre eles, fazendo com que os pelos de seus braços
ficassem completamente eriçados. Não havia
nenhum tipo de humor em sua voz.

- Eu disse pra você que estava no lugar errado,


na hora errada.

- Isso não explica muita coisa – rebateu a


garota.

- Realmente não explica, mas essa é a verdade.


Eu achei que seria uma boa idéia invadir a casa de
Serguei em busca de informações. Fiquei sabendo
que haveria uma grande festa e achei que poderia
ter uma chance maior caso, todos os homens dele
estivessem ocupados. Aparentemente eu estava
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enganado.

- Que tipo de informações? – perguntou Nina


agora que ela havia começado, sabia que
simplesmente não conseguiria deixar para lá, e
precisava tentar descobrir algo a respeito do
homem a seu lado.

- Informações genéricas.

- Você está mentindo – respondeu a garota


incapaz de esconder o descontentamento em sua
voz.

- Existe uma diferença entre mentira e omissão.

- Isso não responde nenhuma das minhas


perguntas!

O sorriso que Carrick lhe deu era ferino, e o


sangue que manchava seu rosto serviu apenas para
lhe dar uma aparência macabra. Ele estava fazendo
aquilo de propósito, desviando o foco da discussão
de ambos. Por um momento enquanto lhe
observava a imagem do gato risonho do livro Alice
no País das Maravilhas pipocou em sua mente. O
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sorriso de Carrick para ela era exatamente como


aquele, amplo, aberto, mas sem humor algum e de
alguma maneira ameaçador.

Irritada a garota cruzou os braços diante de seu


peito, um gesto extremamente infantil que ela não
foi capaz de conter.

O silêncio entre eles se tornou mais pesado,


como se as palavras não ditas entre eles
preenchessem o espaço ao redor de ambos.

- Se estiver me perguntando essas coisas por


que quer saber mais a meu respeito, para saber se
pode confiar em mim, então apenas não faça isso.
Vai ser melhor para nós dois quando nos
separarmos se soubermos o mínimo possível do
outro.

Os olhos de Nina mais uma vez se desviaram


para o homem a seu lado, dessa vez a atenção dele
estava completamente voltada para a estrada, havia
uma ruga de preocupação funda em sua testa, e
seus olhos tinham um brilho quase vitrificado. Nina
sabia que havia certa lógica por trás das palavras de

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Carrick mesmo assim ela não conseguiu evitar em


perguntar.

- Você está dizendo isso, porque eu não deveria


confiar em você?

A pergunta dela pairou muito tempo no ar,


suspensa assim como as nuvens de tempestade que
haviam se formado ao redor deles, mas se
recusavam a cair. O tempo se passou se arrastando
que ela desistiu de esperar que ele lhe respondesse
quando a voz de Carrick quebrou o silêncio.

- Acho que nesse momento, você deveria fazer


como eu e não confiar em ninguém.

As palavras dele agitaram a desconfiança e o


nervosismo que havia em seu estômago, mas ela
sabia muito bem que havia buscado por aquilo.
Desviou seu olhar para fora do carro, deixando que
sua vista cansada se focasse ao redor enquanto ela
observava o brilho das luzes dos prédios ao redor.
O cansaço pesou sobre seu corpo, e ela nem ao
menos conseguiu notar quando suas pálpebras não
se levantaram mais.

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***l

Nina acordou assustada o solavanco duro


fazendo com que ela pulasse no banco do carro. As
imagens do pesadelo que rodeavam seu cérebro
ainda eram muito vividas em suas retinas. Ao seu
lado Carrick havia acabado de estacionar o carro de
sua tia, no que parecia ser um terreno baldio
completamente vazio.

A luz amarelada dos faróis iluminava apenas


alguns metros diante do veiculo, e tudo o que podia
ser encontrado ali era o mato que crescia num
desalinho irregular, pedras placas de carro
destruídas, e uma linha de ferro que parecia
completamente abandonada.

A desconfiança fez com os cabelos em sua nuca


ficassem completamente eriçados. Ela pensou em
alcançar o pequeno estilete que havia esquecido no
bolso de sua calça, mas imaginou que isso iria
parecer algo completamente suspeito, por isso
preferiu perguntar.

- Onde estamos? O que vamos fazer aqui?

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Carrick não lhe respondeu, sem olhar uma


segunda vez em sua direção, ele saiu do carro com
cautela, seus olhos claros vasculhando todo o lugar,
como se ele estivesse procurando algo que ela não
era capaz de enxergar.

Os dedos de Nina se afundaram na alça da sua


mochila que continuava jogada a seu pés. Por um
momento ela imaginou o que poderia fazer se ele a
atacasse naquele momento. Não havia uma única
pessoa por perto a quem ela poderia pedir ajuda,
tentou se lembrar das poucas aulas de defesa
pessoal que havia feito, quando sua prima havia se
interessado pelo assunto, mas todas as informações
pareciam ser uma bagunça completa em sua mente.

- Parece que está tudo tranqüilo – disse Carrick,


assustando-a profundamente abaixando-se para
falar com ela que ainda continuava dentro do carro
– Pegue logo suas coisas e vamos sair daqui.

Nina pensou em um momento em retrucar,


enquanto o enchia de perguntas, mas sabia que
talvez aquele não fosse o melhor momento. Os
dedos dela se fecharam contra sua mochila,
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enquanto ela saltava do carro tentando conter seu


estado de nervos.

Lançando olhares assustadiços por sobre seu


ombro, pela primeira vez ela conseguiu ver o
estrago que sua fuga havia feito no carro de sua tia.
A lataria outrora vermelha e lustrosa agora estava
completamente arranhada e retorcida. A frente mal
sustentava o pára-choque, que pendia
precariamente. Os olhos dela se focaram ao lado do
veiculo onde ela podia enxergar os buracos de bala
feitos pelos capangas de seu tio. Um deles estava
especialmente feito perto da porta onde ficava o
passageiro. Com certeza a bala não havia perfurado
a lataria porque o carro de sua tia, assim como
todos os outros veículos de seu tio, eram a prova de
bala, mas mesmo esse conhecimento, não impediu
que a náusea se agitasse em seu corpo.

A sua frente Carrick já havia atravessado quase


todo o terreno baldio, o andar dele era meio
vacilante, mas suas pernas longas faziam com que
Nina tivesse precisado fazer uma pequena corrida
para alcançá-lo.

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- Onde estamos indo? – perguntou a garota, o


fôlego preso em sua garganta enquanto tentava
manter o ritmo dos passos dele ao seu lado.

- Precisamos abandonar o carro – explicou


Carrick – Se continuáramos dirigindo pela cidade,
provavelmente alguém da máfia, vai acabar nos
encontrando. Um carro todo destruído desse jeito
chama muita atenção, e eu também não estou nem
um pouco a fim de ser parado pela policia. Isso
também seria um problema pra mim.

- Vamos deixar o carro aqui? Assim no meio do


nada?

- Você não precisa se preocupar com o carro.


Se tivermos sorte, em menos de uma hora ele já
estará desmontado, o que vai dificultar para a
Bratva conseguir informações para onde fomos.

Nina não soube o que responder, lançando um


último olhar para suas costas ela, imaginou o que
sua tia iria dizer quando ficasse sabendo que o
carro que ela havia roubado para sua fuga, havia
sido desmanchado e suas peças vendidas. Com

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certeza aquilo seria o suficiente para deixar Irina de


péssimo humor, e aquilo ao menos foi o suficiente
para fazer com que um pouco de seu nervosismo se
tornasse mais ameno.

Eles se afastaram com passos apressados do


terreno baldio, se embrenhando por ruas estreitas e
prédios com fachadas pichadas e janelas destruídas.
Nina não tinha nenhuma idéia do lugar onde estava,
e por um momento ficou em dúvida se ela ainda
estaria em Nova York.

Ao seu redor, as ruas mostravam um sinal claro


de abandono, lixo se empilhava em latas mal
cheirosas feitas de metal que ficavam ao relento.
Havia pouquíssimo trafego de carros ao redor, os
sinais de transito pendurados em cabos de ferro que
contornavam as ruas estavam precariamente
funcionando, e nenhum dos carros ao redor parecia
se importar com eles.

As calçadas por onde ela e Carrick andavam


eram estreitas, e se encontravam num péssimo
estado. Na maior parte do tempo eles precisavam
dividir espaço com alguns sem-teto que dormiam a
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céu aberto, usando apenas uma fina camada de


papelão como cama.

A seu lado Carrick não parecia nem um pouco


incomodo com aquela visão, assim como as
pessoas que cruzavam com eles não se importavam
em lançar um segundo olhar em sua direção,
mesmo ele estando com uma parte da face coberta
em sangue.

Nina sentiu mais uma vez o medo e a ansiedade


brigarem dentro de seu estômago, apertou as mãos
em volta das alças de suas mochilas até que ambas
tivessem se transformado em dois punhos fechados.

O peso de todos os pertences que ela havia


conseguido juntar pesava em suas costas, fazendo
com que ela tivesse de se curvar ligeiramente.
Tentou manter o olhar fixo na ponta de seus tênis,
mas alguma coisa sempre fazia com que ela
erguesse seu olhar como se estivesse esperando que
algum dos capangas de seu tio pulasse das sombras
que aumentavam ao seu redor, e leva-la de volta até
ele.

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Os olhos dela se desviavam em toda direção.


Ela sentia como se tivesse muito longe de casa, ou
mesmo de qualquer coisa que ela conhecia. Ao
longe as luzes da grande metrópole brilhavam
contra o céu escuro e tempestuoso, mas as ruas por
onde ela estava circulando era muito diferente dos
lugares que ela estava habituada. Os bairros que
circundavam o Central Park, ou mesmo as agitadas
ruas de Manhattan, eram muito diferente daquele
lugar escuro, e úmido que mais parecia ser um tipo
de cidade abandonada.

Nina havia perdido um pouco a noção do


tempo, mas olhando ao redor percebeu que todas as
fachadas de lojas pareciam estar fechadas.
Imaginou se realmente o tempo havia corrido tão
rápido, ou se naquele lugar nenhum comerciante
realmente se arriscava a permanecer com as portas
abertas depois de terminada hora da noite.

Um grupo de garotos estava diante deles,


enquanto caminhavam fazendo uma pequena
algazarra pela calçada. Eles não pareciam muito
mais velhos do que ela e Carrick, mas claramente
estavam todos bêbados. Um dos garotos que usava
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um surrado boné vermelho carregava numa das


mãos uma garrafa que estava embrulhada em papel
pardo. A sua frente, os passos de Carrick por um
minuto pareceram diminuir até que ele estivesse a
seu lado, seu braço roçando ao lado de seu corpo.

- Apenas não grite – murmurou Carrick,


enquanto seu braço pousava sobre seus ombros,
atraindo seu corpo em sua direção.

A surpresa fez com que a língua de Nina


grudasse no céu de sua boca, ela poderia tentar
gritar naquele momento, mas tinha a estranha
sensação de que nenhum som sairia de seus lábios.

O corpo de Carrick a envolveu num abraço


apertado, embora ele ainda estivesse extremamente
ferido Nina podia sentir a força debaixo de sua
camisa sob seus músculos. Imaginou que se ela
tentasse correr naquele momento, mas seria capaz
de dar dois passos devido aquele aperto.

Eles passaram rapidamente diante do grupo de


garotos que faziam sua algazarra na rua. Os olhos
de todos eles, logo se focaram nos dois, de maneira

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predatória, como se eles estivessem apenas à


espreita.

Por um momento ela acreditou que os garotos


iriam mexer com eles, impedindo que eles
continuassem seu caminho, mas fosse o que eles
enxergaram no rosto machucado de Carrick,
simplesmente deixaram que eles continuassem em
frente, sem olhar novamente na direção deles
novamente.

Quando eles finalmente atravessaram a rua,


Carrick os guiou para uma parte mais afastada da
iluminação dos postes ao redor. O telhado de um
imenso galpão assomou no canto de olhos de Nina,
enquanto prédios com fachadas depredadas, e
aparência de abandonados surgiam diante dela.

- Pra onde estamos indo? – perguntou Nina


odiando o tremor em sua voz. O braço de Carrick
continuava firme sobre seus ombros, fazendo com
que ela continuasse a se mover.

Os passos dele não diminuíram um único


momento e Nina sentiu o tremor cada pequena

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partícula de seu corpo. Ela estava tão próxima dele,


que podia sentir o calor de seu corpo onde eles
estavam se tocando. O sangue havia secado em
suas roupas deixando-as com uma aparência de
sujeira e rígidas. Ela havia imaginado que não
poderia suportar por muito tempo aquela
proximidade com ele, mas mesmo estando naquele
estado deplorável o aroma que sentia de seu corpo
era extremamente agradável e convidativo.
Debaixo do toque de ferrugem, ela podia sentir
claramente o cheiro de chuva.

- Não vou dar mais um passo se você não me


disser onde estamos indo – disse Nina forçando seu
corpo a parar, embora isso custasse toda sua força
de vontade, além de uma parte física que ela não
possuía.

Se recusando a dar mais um único passo, ela


sentiu o braço de Carrick ser erguido de seus
ombros. Ele tomou uma pequena distância, olhando
em seu rosto, enquanto flexionava as mãos várias
vezes. O estado de seus dedos mesmo debaixo da
precária luz do poste era terrível, em carne viva que
se transformava rapidamente num tom de negro
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roxo escuro.

- Por que é tão importante assim descobrir pra


onde estamos indo? Você quer minha proteção
não? Esse é o melhor lugar pra encontramos isso.

Desconfiada Nina deixou que seus olhos


vasculhassem o lugar. Eles haviam contornado as
ruas, e agora estavam parados do lado do galpão
abandonado. Ali a rua onde eles estavam terminava
num beco sem saída onde havia um muro de tijolos
vermelhos. O cheiro de lixo estragado, era como
uma névoa que parecia ter se agarrado a parte
interna de seu nariz.

As luzes dos postes mais próximos não


conseguiam chegar até aquele lugar totalmente, que
parecia algo saído diretamente de um filme de
terror dos anos oitenta. O medo deslizou por suas
costas como uma pedra de cubo de gelo fazendo
com que calafrios percorressem todo seu corpo.

- Se você não me der uma resposta direta –


disse Nina, forçando sua voz a permanecer firme –
Então eu não vou dar mais nenhum passo.

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As sombras encobriam o rosto de Carrick, por


um momento ele ficou em silêncio os olhos
completamente focados nela, embora ela não
conseguisse decifrar o que se escondia por trás
dele.

Por um momento ela pensou em correr, os


dedos de sua mão pareciam duros embora seu
cérebro estivesse lhe dizendo que ela deveria
alcançar o pequeno canivete que havia em seu
bolso, mas seu corpo parecia não ser capaz de se
mover.

E ela soube que isso havia sido um erro


gigantesco, porque Carrick se moveu tão rápido
que ela não pode conseguir enxerga-lo com
clareza.

Os pés de Nina foram arrastados pelo chão,


enquanto ele a empurrava sem nenhuma delicadeza
contra a parede do galpão. O ar em seus pulmões
sendo expelido de uma única vez.

O pânico deixou que corpo completamente


flácido como se alguém tivesse retirado um cabo de

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força da tomada. As mãos dela voaram em direção


a seu braço, tentando empurra-lo, mas todo o
esforço que ela fazia parecia ser inútil.

Os dedos dele fizeram uma pressão firme sobre


sua clavícula, deixando cativa entre o espaço de
seus braços. O rosto dele pairou sobre o dela tão
próximo que era tudo o que ela podia enxergar em
seu campo de visão, embora suas feições
estivessem escondidas pelas sombras ao redor
deles.

A pressão dos dedos de Carrick sobre seu corpo


era firme embora não fosse dolorosa, o grito de
medo havia subido até sua garganta estrangulado
sua voz. Ela não conseguia pensar em nada, não
conseguia força seu corpo a ter uma reação.
Imaginou se todo o esforço que fizera para sair das
garras de seu tio, simplesmente iriam terminar
daquela forma.

- Você está com medo de mim? – perguntou


Carrick, muito baixo sua voz não passando de um
sussurro rouco. Ele havia se aproximado dela, seu
rosto pairando sobre seu ombro, seu hálito
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atingindo suas orelhas. O coração dela martelava


em seu peito de forma dolorida.

As unhas se cravaram na palma de suas mãos


enquanto ela fechava os olhos com firmeza, como
se aquilo de alguma forma pudesse protege-la da
realidade que a cercava.

Os dedos de Carrick roçaram a parte alta de seu


queixo, deslizando lentamente enquanto
contornavam a pulsação agitada em seu pescoço. O
toque entre eles foi como um choque que percorreu
seu sangue, fazendo com que ela abrisse seus
olhos.

- Você está com medo?

O sussurro de suas palavras atingiu seu rosto,


ela podia sentir o toque de seus dedos destruído em
sua pele, e embora aquilo a incomodasse
profundamente sabia que estava presa e não poderia
fazer nada para escapar.

As palavras pareciam pesadas demais em sua


boca, impedindo que sua língua se movesse, Nina
balançou a cabeça numa negativa trêmula que lhe
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custou toda sua força de vontade.

- Se não está com medo de mim, então você é


uma idiota.

Afastando-se dela de repente Carrick deu


alguns passos para trás aumentando a distância
entre eles, o que ajudou a trazer novamente o
oxigênio para seus pulmões.

Os dedos dela voaram para a parte de frente de


seu pescoço, como se ela pudesse apagar daquela
forma o fantasma que o toque dele havia deixado
sobre sua pele.

- Ter medo é um instinto essencial se você


quiser continuar fugindo – disse Carrick de maneira
despreocupada diante dele, correndo os dedos por
sobre seus cabelos bagunçados – Eu te trouxe para
um lugar escuro que você não conhece sem saber
muitas coisas ao meu respeito. È lógico que você
deveria estar com medo. Esse é o natural, mas de
qualquer forma sua mentira não foi ruim.

A raiva brilhou como uma pequena chama em


seu estômago, destravando a língua presa dentro de
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seus lábios:

- Foi pra isso que você me trouxe aqui? Para


simplesmente provocar uma reação em mim?

Ela percebeu que ele não havia gostado do que


ela havia dito, mas a raiva borbulhando em seu
sangue fazia com que ela não se arrependesse..

- Para sua informação eu te trouxe aqui, porque


esse é o único lugar onde teremos alguma chance
de realmente nos escondermos essa noite. Não
podemos continuar fugindo noite a dentro sem ter
um plano mais elaborado.

- E no meio disso você resolveu que valia a


pena simplesmente provocar um pouco de medo em
mi?.

- Fiz isso pra que você perceba todos os perigos


ao seu redor – rebateu Carrick – Não, estamos num
lugar seguro, provavelmente vai demorar um longo
tempo até você estar segura completamente, por
isso eu te pressionei. Sentir medo deixa as pessoas
em alerta.

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Nina sentiu os dentes rangendo dentro de sua


boca de forma quase dolorida. Ordenou a si mesma
a soltar os punhos fechados de sua mão, naquele
momento ela não era capaz de sentir nada, além de
uma pressão que parecia se acumular entre seus
dedos, e da imensa vontade de socar o rosto de
Carrick, apenas para conseguir tirar aquele olhar
presunçoso de seu rosto.

Ela continuaria de pé ali diante dele, discutindo


até o amanhecer se o céu não tivesse escolhido
aquele momento, para abrir as nuvens por completo
e deixar que a chuva caísse sobre ambos.

Os raios cortaram as nuvens iluminando o beco


escuro, a expressão do rosto de Carrick era
indecifrável no segundo que ficou exposta pela luz
produzida por um raio. A chuva rapidamente
molhou suas roupas, colando-as ao redor do seu
corpo, as gotas escorrendo por seu rosto, deixando
um gosto salgado em sua boca.

Ele parecia não se importar com a chuva, que


escorria por todo seu rosto, lavando a primeira
camada de sujeira e sangue que havia em sua face.
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A noite estava quente, mas a água gelada havia


acalmado seus nervos ao menos um pouco,
esfriando a raiva que havia sentido apenas alguns
minutos antes.

O cansaço, a fome e o desespero abateram-se


sobre seu corpo como um cobertor pesado. Sentia-
se perdida e completamente desnorteada, desejando
ardentemente ir para casa, mas não sabia mais onde
esse lugar estava.

- Venha por aqui, ao menos vamos sair da


chuva.

Uma parte dela não queria segui-lo, mas


naquele momento sabia que estava cansada demais
para pensar com clareza, ou decidir um plano
alternativo. Carrick virou de costas para ela, indo
em direção a parte mais afastada do beco. Como se
conhecesse o lugar, ele abriu uma pesada porta de
ferro, o som do rangido soou alto e estridente
mesmo com a chuva tamborilando em seu ouvido.

Ele não a esperou, seguindo em direção a


escuridão. O medo se contorceu em seu estômago

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como uma cobra, enquanto ela colocava sua


cabeça, olhando por uma fresta o interior daquele
lugar.

A chuva forte batendo em suas costas forçou-a


a buscar abrigo ali dentro. Ao seu redor o lugar
parecia completamente abandonado. As grandes
janelas que contornavam toda a extensão daquele
lugar, possuíam alguns vidros quebrados, a chuva
escorria por eles, assim como pelos furos nas telhas
muito acima de sua cabeça. Forçando seu pescoço
para trás, Nina conseguiu divisar entre os caibros
de ferro, ninhos de pombos feitos com pedaços de
folha, gravetos e penas. Um dos animais dormia
tranquilamente ali dentro, a cabeça encolhida
contra o próprio peito emplumado.

Ela observou a silhueta de Carrick sumir


enquanto virava num corredor. Não sentindo-se
confortável naquele lugar, a garota o seguiu
ouvindo seus passos ressoar no ambiente vazio.

Ele estava subindo o primeiro lance de escadas,


que davam acesso ao andar superior. Passando as
mãos pelos cabelos Nina tentou retirar ao menos
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um pouco a água que havia se acumulado em seus


fios. Em silêncio, ela refez os passos de Carrick, até
alcançar o primeiro andar.

Ali o ambiente era dividido em imensas salas


vazias, com paredes descascando e portas
arrombadas, ou faltando. A garota não conseguia
imaginar o que aquele lugar poderia um dia ter
sido, mas acredito que há muito tempo talvez ali
existisse uma espécie de fábrica.

Carrick andava apenas alguns metros a sua


frente, olhando para dentro das espaçosas salas,
como se estivesse buscando algo em específico,
quando ela o alcançou, percebeu que ele olhava em
direção a uma figura caída no canto mais afastado
de uma daquelas salas. O corpo do desconhecido
estava coberto por um puído cobertor marrom
encardido, uma garrafa vazia de bebida alcoólica
jazia esquecida a seu lado.

- Acho que não vamos precisar nos preocupar


com aquele ali.

Sem lançar um segundo olhar para o estranho

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Carrick, caminhou até o fim do corredor,


escolhendo a sala mais afastada para entrar. Nina
estava próxima a ele, deixou que seu olhar
percorresse todo o ambiente.

A sala era pequena se fosse comparada com as


outros, o chão de piso frio possuía uma grossa
camada de sujeira que o deixava completamente
negro. Uma mesa havia sido abandonada no canto,
assim como antigos pedaços de papelão que
Carrick estava juntando e colocando no chão na
parede mais afastada em direção a porta.

- Não é o Palace, mas ao menos vai servir para


passarmos a noite.

Nina precisou morder a ponta de sua língua


para não deixar que os protestos escapassem de
seus lábios. Ela sabia que eles eram procurados,
mas ao menos acreditava que eles conseguiriam
encontrar um lugar melhor do que aquele para
passar a noite.

- Sei o que você está pensando, mas acredite em


mim esse lugar é muito melhor do que parece

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estaremos seguros aqui. Ao menos por essa noite.

- Como pode dizer isso: Não tem nada aqui.

- Exatamente. Num primeiro momento a Bratva


vai nos procurar no centro da cidade, ou nos bairros
onde eles têm mais controle, principalmente nos
portos. Eles vão achar que estamos tentando fugir
da cidade, escapar de Nova York, enquanto nós
vamos permanecer escondido debaixo do nariz
deles.

- Não podíamos ao menos nos esconder num


lugar que tivesse uma cama? – perguntou Nina
tentando controlar seu sarcasmo. Sentia-se como se
estivesse se comportando como uma garota
mimada naquele momento.

- Você preferia mais conforto mesmo que isso


te colocasse em perigo – perguntou Carrick, a voz
escorrendo sarcasmo, enquanto sentava-se no chão
de qualquer maneira, suas costas deslizando pela
parede, sem se importar nem um pouco com a
sujeira do local – A Bratva não possuía quase
nenhum acesso a essa área da cidade O lugar é

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completamente controlada pelas gangues latinas.


Dificilmente se eles souberam sobre nós vão vender
a informação pros russos, já que eles se detestam,
mas eu prefiro não arriscar nesse momento.

Embora a contragosto, Nina precisava


reconhecer que havia uma lógica por trás do
pensamento de Carrick, ela não queria passar a
noite naquele lugar tinha certeza de que não seria
capaz de descansar ali, mas pelo visto naquele
momento com a chuva que havia aumentado do
lado de fora ela não teria muitas opções.

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Capítulo Onze.
A dor era uma constante. A água escorrendo
por seus dedos, mais parecia fogo ardendo sobre a
pele mutilada. Os olhos de Carrick se focaram mais
uma vez sobre sua mão esquerda, as duas unhas
que faltavam deixavam as pontas vermelhas a
mostra. A região estava inchada e hipersensível. Os
desgraçados da Bratva definitivamente não haviam
tido piedade com ele. Ele não estava nem um pouco
surpreso.

Erguendo a barra de sua blusa, buscou no


espelho quebrado diante dele, uma visão melhor
para enxergar a lateral de seu corpo. Ele tinha sido
surrado como um cão sem dono pego roubando
comida. Num primeiro momento havia sido tão
difícil respirar que ele acreditara que havia
quebrado uma das malditas costelas, mas agora ao
menos sua respiração havia voltado ao normal e a
região acima de seu tórax, apenas mostrava uma
contusão roxo esverdeada que iria demorar dias
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para desaparecer.

Exausto o rapaz baixou a camisa, molhando


mais uma vez as mãos, enquanto jogava sobre o
rosto cansado água o suficiente para espantar a
dormência e o sono que pareciam cobrir seu corpo.
Deixou a água escorrer pela gola de sua camisa, até
alcançar o cós de suas calças jeans. Suas roupas
haviam secado, mas o frio que a chuva havia
deixado sobre seu corpo permanecia, mas aquilo
era algo que não lhe incomodava. Incapaz de
dormir, ele havia vagado por aquele galpão que
detestava até encontrar a pequena pia que sabia que
ainda funcionava num dos banheiros daquele lugar.
Havia lavado suas mãos, assim como seu rosto
inúmeras vezes até que o cheiro de sangue e
ferrugem tivesse diminuído um pouco, e mesmo
assim estando o mais limpo que poderia conseguir
naquelas situações, parecia que nunca mais iria
conseguir se livrar daquele cheiro.

Erguendo os olhos Carrick deixou que eles


focassem em seu reflexo diante dele. Agora que a
mancha de sangue havia desaparecido, ele podia
perceber quão pálido ele estava. A sombra da barba
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por fazer cobria levemente seu maxilar, lhe dando


uma aparência de desleixo e mal cuidado. Ao
menos se precisava, ele poderia usar aquilo como
um disfarce. Daquele jeito ele claramente poderia
ser confundido com um sem-teto sem destino.

Um sorriso sem nenhuma alegria, brincou em


seus lábios enquanto ele olhava para si mesmo no
pequeno espelho diante dele. Estava
completamente dolorido e machucado,
provavelmente com a cabeça colocada a prêmio, e
mesmo assim sentia-se como se fosse o bastardo
mais sortudo do mundo. Ele estava vivo. Havia
conseguido fugir da Bratva, e por enquanto aquilo
teria de ser o suficiente.

A mente ainda era um mar caótico, que aos


poucos ele tentava organizar. As lembranças
embaralhadas como peças de um imenso quebra-
cabeça jogado sobre uma mesa.

Tudo havia começado na semana anterior. As


poderosas famílias mafiosas estavam em alerta. O
grande líder da Bratva estava morto, e os mais
corajosos diziam que ele seu próprio filho era o
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assassino. Carrick nunca conhecera Dmitri Volkov


pessoalmente, mas se metade das historias que ele
havia ouvido sobre aquele homem fossem
verdadeiras, então ele precisava se lembrar de
manter a distância.

A frágil estrutura que segurava todo o


submundo do crime lentamente estava erodindo.
Italianos, japoneses, chineses e russos arquitetavam
seus planos, buscando aumentarem seus territórios,
expandido o controle, formando alianças das mais
variadas formas, enquanto engoliam uns aos outros
até que apenas um tivesse sobrado em pé. Aquele
que iria reinar sobre Nova York.

Carrick sabia muito bem que sua família não


tinha chance alguma na briga de cachorros grandes.
A máfia irlandesa da qual hoje ele fazia parte, mal
era capaz de conseguir seu próprio sustento.
Exilados para as piores partes da cidade, obrigados
a conviverem com as gangues de outras facções
que os detestavam, todos eram seus inimigos, e sua
rotina era muito diferente do poder opulência e
ostentação que outras famílias mafiosas na cidade
exibiam com frequência. E mesmo assim eles não
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tinham muitas alternativas, a não ser fazerem os


serviços desagradáveis para outros membros da
máfia, que os consideravam apenas como peões
que podiam serem sacrificados sem nenhum tipo de
remorso.

Exatamente por esse motivo que Carrick havia


se infiltrado na casa de Serguei Serov. Os boatos
diziam que ele parecia estar tramando algo
particularmente grande, mas ninguém parecia ter
qualquer tipo de pista. Quando soubera que ele iria
dar uma festa grandiosa em sua casa, Carrick havia
acreditado que poderia usar aquele momento como
uma oportunidade para descobrir alguma
informação valiosa. Qualquer coisa que mais tarde
ele pudesse usar como moeda de troca ou
chantagem, como o jogo do submundo tivesse
colocado todas suas peças sobre o tabuleiro. No
novo cenário que estava sendo desenhado na
cidade, logo uma pessoa iria assumir o controle
sobre todos os outros, e dessa vez Carrick tinha a
intenção de estar do lado certo, e conseguir ao
menos algum benefício para ele e sua família. Tudo
aquilo não passava de uma questão simples; quanto
maior o risco, maior a recompensa.
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Ele já havia perdido a conta de quantos lugares


havia invadido. A agilidade em seus passos, a
língua rápida e afiada, haviam sido as qualidades
que o mantiveram vivo nas ruas, e com a barriga
parcialmente cheia, antes que Liam tivesse o
acolhido, e mesmo assim toda sua experiência não
haviam sido o suficiente para salva-lo daquela
vez.

Baixando os olhos seu foco caiu sobre as pontas


de seus dedos destruídos. Iria demorar uma
eternidade até que suas unhas crescessem de volta.
E mesmo assim ele sabia que aquele havia sido um
preço muito barato que ele pagara para escapar
daquele lugar com vida. Afinal eles não chamavam
o porão da casa de Serguei de “O Matadouro” à
toa.

O silêncio ecoou em seus ouvidos enquanto ele


fechava a enferrujada torneira diante dele. Sua
atenção se desviou para a garota dormindo
tranquilamente como se tivesse numa cama de
plumas no andar de cima.

Até aquele momento ele não estivera muito


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preocupado com a garota. Toda sua concentração


estava em fugir enquanto colocava uma distância
razoável entre ele mesmo e os capangas da Bratva.
Quando a misteriosa garota aparecera diante dele,
havia pensando que ela não passava de uma
miragem. Uma ilusão promovida por um cérebro
danificado. Ela dissera que iria ajudá-lo a fugir,
desde que ele conseguisse mantê-la em segurança
ao menos um tempo quando estivessem fora
daquele lugar. Carrick havia concordado, porque
naquele momento achara que estava morto de
qualquer forma, e suas palavras não teriam nenhum
significado. Ele teria concordado em perder uma
das próprias mãos, se ela tivesse tido que iria
libertá-lo dali. E mesmo assim indo contra todos
seus maiores devaneios, ela havia retornado e de
alguma forma contra todas as expectativas, eles
haviam sido capazes de fugir.

Os passos dele ecoaram nas escadas enquanto


ele forçava seu corpo a dar o próximo passo. A
fome corroía seu estômago, fazendo com que ele
sentisse um vazio incômodo dentro de si, que
deixava um gosto ácido em sua boca. Não se
lembrava qual havia sido sua ultima refeição, e as
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poucas horas de sono que ele havia tido logo que


chegaram até aquele galpão, não haviam sido o
suficiente para apagar o cansaço persistente que
parecia pesar sobre seu corpo.

Enquanto dobrava o corredor, Carrick acabou


esbarrando no sem teto, que havia passado a noite
dormindo na sala ao lado. Usando um surrado
cobertor sobre os ombros caído, ele desceu as
escadas sem nem ao menos lançar um segundo
olhar em sua direção. O cabelo era uma confusão
grotesca, as faces cobertas de sujeira e outros
dejetos. Havia um olhar vidrado em seu rosto, e
olhos opacos, o tipo de olhar que ele já vira muitas
vezes em pessoas, que viviam nas ruas as margens
da sociedade. Um olhar que lembrava a completa
ausência de sentindo, como se eles simplesmente
continuassem em frente, embora suas almas há
muito tempo tivessem ficado para trás.

Numa época antiga de seu passado, ele também


perambulara pelas ruas meio morto de fome, arisco
como um animal a humanidade enterrada na parte
mais distante de seu corpo. Vivendo uma sucessão
infinita de dias até que tudo o mais ao seu redor
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havia perdido o sentido. Se não fosse por Liam o


encontra-lo talvez naquele momento ele não fosse
muito diferente do homem que cruzara seu
caminho, mais zumbi do que humano, ou mesmo
não tivesse nem ao menos vivo.

Os passos dele cautelosos o levaram até


pararam diante da sala, que ele escolhera como
abrigo. A misteriosa garota que ele salvara
continuava perdida num sono tranqüilo. Lá fora a
chuva havia cessado, deixando que uma névoa
densa permeasse o ambiente. As gotículas se
prendiam no vidro, fazendo com que ele reluzisse
como prata na primeira luz clara da madrugada que
já havia começado a tingir o céu.

Carrick aproximou-se sem muito cuidado, e


mesmo assim ela não pareceu perceber ou se
importar com sua presença. Deitada no chão,
encolhida com as pernas em direção a seu tronco e
usando um dos braços como travesseiro, ela parecia
muito alheia e distante, perdida num sono agitado.

Seu rosto estava franzido, a testa enrugada os


óculos que não combinavam nem um pouco com
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suas feições haviam escorregado por seu rosto,


ficando presos de forma precária na ponta de seu
nariz.

A curiosidade brotou em seu interior. Quem


seria aquela garota de verdade? Sua mente encheu-
se de perguntas sem respostas, enquanto ele se
agachava observando a figura dormindo a seu
lado.

Ela era jovem, apenas alguns anos mais nova do


que ele. O rosto simples, era ornamentado por
cabelos compridos e lisos. A cor uma mistura entre
o castanho e o dourado refletia de maneira brilhante
contra a luz. Desafiando qualquer bom senso, ele
estendeu os dedos, tocando uma de suas mechas
levando-a em direção a seu nariz. Cheirava
estupidamente bem. O aroma limpo fresco era e ao
mesmo tempo exótico. Lembrava-se de uma vez ter
invadido uma festa para roubar os convidados,
onde todo o lugar havia sido decorado com
orquídeas brancas. As flores com formato de
estrelas enfeitavam o salão enquanto permeavam o
ar com um aroma diferente e encantador que havia
se impregnado em seu nariz, e se grudado em suas
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lembranças.

O cabelo daquela garota cheirava exatamente


da mesma forma, a textura dos fios era agradável e
suave até mesmo entre seus dedos destruídos. Ele
imaginou que ela deveria estar acostumada apenas
com o melhor que a vida poderia proporcionar.
Xampus, sabonetes finos e elegantes, roupas com
cortes perfeitos e tecidos confortáveis. A pele de
seu rosto era suave, delicada do tipo que parecia
nunca ter sofrido nenhum tipo de arranhão.

A curiosidade se agitou dentro dele, enquanto


deixava o cabelo dela deslizar como água entre
seus dedos. Quando ela havia aparecido para salva-
lo a dor embotara seus pensamentos. De alguma
forma sentia como se seu corpo tivesse se movendo
num piloto automático, ou mesmo agindo num
sonho estranhíssimo do qual ele possuía pouco
controle.

Ele não havia acreditado que poderia realmente


fugir daquele lugar. E quando finalmente se dera
conta, estava dirigindo um carro roubado e
completamente destruído pela cidade, sem nem ao
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menos a mínima ideia para onde estava indo.

Quando finalmente sua mente havia ao menos


clareado um pouco, todos os alarmes dentro de sua
cabeça soaram a respeito da garota sentada
silenciosamente a seu lado. O instinto lhe gritou
que não poderia confiar nela.

Tudo a seu respeito era estranho demais,


misterioso demais, e Carrick sabia que essas eram
coisas que sempre vinham acompanhadas de
problemas, e no momento ele já tinha suas próprias
preocupações.

Ele havia a atraído até aquele lugar, num intuito


de se livrar dela o mais rápido possível. Embora
não fizesse nenhum sentindo imaginou que ela
poderia ser algum tipo de espia trabalhando para a
Bratva. Talvez tudo aquilo não passasse de um
plano maligno de Serguei, um esquema onde
aquela garota havia sido enviada para ajudá-lo a
fugir e confiando nela ele a levara até seus amigos,
Liam e a máfia irlandesa, para que dessa forma
Serguei pudesse atacá-los de uma única vez.

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Carrick sabia que estava sendo paranoico, e


mesmo assim não conseguiu conter a onda de
pensamentos se amontoando dentro das paredes de
seu crânio. Ele não sabia o que Serguei teria a
ganhar com isso, mas a cidade estava prestes a
explodir num caos, que poderia desencadear uma
guerra entre todas as facções mafiosas e ele sabia
que os homens e os monstros quando encurralados
não costumavam agir com racionalidade.

Durante todo o tempo, ela havia o seguido com


um olhar inocente em seu rosto, o medo estampado
com muita clareza em seus olhos. Se ela era uma
agente de Serguei então ele precisava admitir que o
cinema estava perdendo uma grande atriz.

Havia sido fácil atrai-la para um local ermo, e


longe da atenção de outras pessoas. Ela apenas
havia sido capaz de questioná-lo para onde eles
estavam indo, quando já era tarde demais. Ali
mesmo, debaixo das sombras daquele galpão que a
maioria das pessoas costumava a evitar, sabendo
que o lugar era infestado de drogados e bandido ele
havia decidido que iria se livrar dela. A ideia lhe
causou apenas um leve desconforto. O tipo de
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tarefa que ele não gostaria de realizar, mas sabia


que não tinha outra alternativa.

Ele havia olhado em seu rosto, deixando que ela


pudesse enxergar em seu olhar qual era exatamente
sua intenção. Imaginou que se ela fosse alguém que
trabalhava para a Bratva iria entender, e ao menos
tentar escapar. Nenhum mafioso pagaria o
suficiente para uma garota como aquela, para que
ela colocasse sua vida em risco. Ela havia salvado
ele de alguma maneira, ele devia a ela ao menos a
chance de escapar. E mesmo assim ela havia
permanecido parada diante dele, a confusão
estampada em seu rosto, como se fosse nada mais
do que alguém inocente.

Ele havia perdido a cabeça por um momento.


Depois de ter sido espancado e torturado, a raiva o
cegara e por um instante. Ele imaginou que iria
machucá-la de forma irreparável, mas por algum
motivo do qual ele não era capaz de compreender,
não havia sido capaz de seguir em frente.

A garota diante dele, ressonou audivelmente,


seu corpo diminuto se remexendo contra o papelão
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enquanto seu braço deslizava pairando próximo a


seu rosto.

Para Carrick, ela era uma incógnita, e havia


poucas coisas que ele odiava menos do que não ser
capaz de possuir todas as respostas.

Ele havia revisto a mesma cena milhares de


vezes em suas lembranças, fazendo com que ela se
repetisse uma vez atrás da outra, buscando ali
alguma explicação, qualquer coisa que fizesse com
que ele compreendesse porque não havia seguido
em frente, porque não fora capaz de acabar com a
ameaça que era aquela garota.

Ele não encontrara sua resposta, e isso servira


apenas para deixá-lo ainda mais irritado. Imaginou
que talvez pudesse ser algo por trás de seus olhos.
Ele os observara muito de perto, cativado pela cor
bonita escondida por detrás daquelas lentes. A
única coisa que encontrara ali havia sido medo, e
uma coragem silenciosa que havia sido capaz de
aplacar sua ira. Ele não conseguia entender aquela
garota, mas talvez tudo o que ele havia suposto
sobre ela pudesse estar errado, e no final das coisas
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ela realmente desejasse escapar daquele lugar tanto


ou até mesmo mais do que ele.

Os olhos dele se desviaram por um momento


para a mochila a seu lado. Antes de dormir
profundamente os dedos dela estiveram todo o
tempo presos de maneira fixa sobre as alças
daquela mochila, como se ela tivesse tentando
proteger a todo custo seu conteúdo.

Aquela altura Carrick sabia que ela não iria


acordar, por isso não se preocupar em ser
silencioso, enquanto deslizava para seu lado,
pegando a mochila em suas mãos, depositando-a
em sua frente. O peso o surpreendeu por um
momento, ela havia corrido a seu lado durante todo
o tempo, sem soltar nenhum um único murmúrio de
incomodo. Talvez ele precisasse dar mais credito
aquela garota, que cada vez mais se mostrava ser
uma caixinha de surpresa.

Não se sentiu nenhum pouco incomodado


enquanto deslizava o zíper aberto daquela mochila,
adentrando em sua privacidade. Definitivamente
ele não era um homem que tinha escrúpulos, e se
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esse fosse o caso, havia ali algo muito mais


importante do que sua honra para que ele precisasse
se preocupar.

O conteúdo da mochila da misteriosa garota se


mostrou muito mais simples do que ele realmente
havia imaginado. As roupas jogadas ali dentro e
emboladas de qualquer forma, lembravam a
clássica de tentativa de um adolescente em fugir de
casa. Além de camisetas de algodão e um par extra
de calça jeans, ele achou pares de meias de
bichinho, muito mais do que alguém precisaria em
sua opinião caso estivesse fugindo da máfia, e
algumas roupas intimas. Não havia nada ali dentro
de suspeito, assim também como nada que poderia
ajudá-lo a desvendar o mistério daquela garota.

Ele continuou a remexer o conteúdo,


insatisfeito com toda aquela situação, seus dedos
por fim se fecharam numa foto antiga de uma
mulher de cabelos castanhos e olhos claros, havia
pouca semelhança com ela e a garota, mas Carrick
teve certeza de que ela deveria ser alguém especial
para ela, que a foto estivesse guardada ali dentro.
Devolvendo-a novamente para seu lugar, os dedos
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dele roçaram sobre uma superfície fria e cheia de


arestas, deslizando o objeto para fora ele deu de
cara com um colar de diamantes que brilhava de
forma fulgurante na primeira luz da manhã.

Sentiu os lábios se partindo numa expressão de


espanto incrédulo, até que um sorriso
verdadeiramente maníaco brincou em seus lábios.
Durante todo aquele tempo ele estivera a menos de
alguns metros de uma fortuna imensa, e nem ao
menos tinha se dado conta.

Os diamantes brilhavam como pequenas


estrelas em suas mãos machucadas. As pedras
pequeninas formavam um elegante cordão que
deveria se fixar com elegância no pescoço, atraindo
toda a atenção para a jóia. Torcendo levemente a
cabeça Carrick examinou o objeto entre seus dedos,
espantado pela luz esbranquiçada e brilhante que
parecia vibrar de dentro de cada uma daquelas
pedras. Ele já havia chegado perto de coisas
valiosas antes, mas era a primeira vez que ele
tocara algo como aquilo.

Seus olhos se desviaram par a garota ainda


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adormecida em seus pés. Como ela havia


conseguido colocar suas mãos num colar como
aquele? Por algum motivo ele conseguia imaginar
com perfeição aquela jóia pousada sobre seu
delicado pescoço a pele cremosa servindo de pano
de fundo perfeito. O pensamento provocou uma
sensação estranha em seu corpo, que ele
simplesmente ignorou por completo. Ele não tinha
tempo para perder com bobagens.

As dúvidas apenas se avolumaram em sua


cabeça, enquanto ele deslizava o inestimável colar
novamente para dentro das coisas da garota. A
mochila estiava tão bagunçada, que ele sabia que
não precisaria se preocupar em deixar nada em
ordem. Dificilmente ela teria notado caso ele não
lhe contasse que havia mexido em suas coisas.

A curiosidade mais uma vez se inflamou diante


dele. Quem seria aquela garota? A amante de
alguém chefão da Bratva? Isso explicaria a joia em
suas coisas, mas então por que motivo ela havia
decidido que precisava fugir?

Olhando mais atentamente para ela Carrick,


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sentiu a confusão tomar conta de seus pensamentos.


Ele havia frequentado o submundo tempo o
suficiente para saber, que ela não fazia muito o
estilo da maioria dos homens que costumavam ali
habitar. Definitivamente ela não era nenhuma
beldade, e ele queria acreditar que qualquer garota
que se envolvia com um senhor da guerra era mais
esperta, do que acreditar que fugir seria a solução
definitivamente para os seus problemas.

Lá fora a luz cinzenta da madrugada estava se


transformando num tom dourado ainda pálido
demais. O céu estava nublado, mas a chuva que
caíra na noite anterior parecia ter lavado o mundo,
descortinando novas cores. Tudo parecia novo,
arejado e fresco.

Os olhos dele mais uma vez se desviaram para a


garota deitada a seus pés. As pálpebras dela se
remexiam agora com mais velocidade, talvez ela
estivesse sonhando naquele exato momento, mas de
qualquer forma logo ela iria acordar.

Sentando-se a seus pés Carrick decidiu que


seria paciente o suficiente e iria esperar ela acordar
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sozinha. Até lá então ele poderia trabalhar um


pouco melhor no plano que começava a se
desenrolar em sua mente. Talvez no fim das contas
ele não precisasse acabar com a garota.

As incertezas dentro de sua mente disputaram


lugar com sua curiosidade. Sentia-se como se
estivesse caminhando sobre uma corda bamba
extremamente estreita que ficava pendurada sobre
um precipício abaixo dele. Havia sido sua ousadia e
imprudência que o fizera se arriscar invadindo a
casa de Serguei para descobrir algo de valor, seu
plano dera errado e mesmo agora parecia que ele
ainda não havia aprendido ainda sua lição. A garota
diante dele poderia muito bem ser uma armadilha,
ou então uma oportunidade... Tudo o que ele
precisava fazer era decidir se iria se arriscar ou não
a descobrir seus segredos e usa-los em seu
benefício.

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Capítulo Doze
Ela acordou de repente. As pálpebras se abrindo
num rompante, o sono deslizando para longe de seu
alcance. Não houve a confusão que ela imaginou
que sentiria ao olhar a seu redor. As lembranças da
noite anterior ainda estavam muito vividas em sua
mente, fazendo com que ela reconhecesse os
contornos sujos das paredes do galpão ao seu redor,
assim como as janelas embaçadas com anos de
poeira que ficava sobre sua cabeça.

Erguendo-se lentamente usando os braços como


apoio Nina se levantou da sua improvisada cama de
papelão. Na noite anterior ela havia duvidado que
seria capaz de dormir ali, mas aparentemente estava
muito mais cansada do que havia imaginado.

O corpo protestou enquanto ela se remexia


movimentando as pernas que formigavam
levemente. O sono havia sido repleto de pesadelos
de perseguição do qual ela não conseguia se
lembrar completamente. Não conseguia sentir
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como se tivesse descansado, mas naquele momento


tentou empurrar seu desconforto para a parte mais
distante de seus pensamentos. Sabia que naquele
instante ela tinha problemas maiores e mais
urgentes com o que se preocupar.

Os óculos haviam escorregado por seu rosto


enquanto dormia, olhando para ele esquecidos a seu
lado sobre o papelão Nina sentiu-se tão deslocada
naquele lugar quanto o objeto. Colocando-os
novamente sobre seu rosto, o mundo desfocado
tornou-se nítido mais uma vez e ela desejou embora
soubesse que aquilo não passava de uma
infantilidade que seus problemas pudessem ser
resolvidos de maneira simples como aquela.

Olhando a seu redor, seu olhar recaiu sobre


Carrick que estava sentado de qualquer forma no
chão completamente confortável naquele lugar,
como se eles estivessem em casa.

Algo se agitou dentro dela enquanto absorvia a


imagem dele pela primeira vez banhando pela luz
da manhã.

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O rosto dele era delgado, o queixo levemente


pontudo, o nariz aristocrático com certeza havia
sido quebrado, mas em nada diminuía sua beleza. A
boca era bem-feita, num formato de arco perfeito.
Os cabelos que ela não havia conseguido distinguir
a cor na escuridão do porão, eram uma explosão de
castanho avermelhado, que a encheu de uma inveja
sombria. Ele havia de alguma forma conseguido,
retirar toda a camada de sujeira e sangue que havia
grudado em seu rosto, lavando-se fazendo com que
as mechas de seu cabelo secassem ao redor de suas
bochechas altas e orelhas, indo em direção ao
colarinho destruído de sua camisa. E como se tudo
isso ainda não fosse o suficiente um par estonteante
de olhos verdes como as folhas de uma floresta
rodeados por cílios quase ruivos estavam fixos em
sua direção.

Um ardor desagradável subiu por seu pescoço


enquanto ela baixava seu olhar muito consciente de
sua situação naquele momento. Deitada no chão, a
poeira terrosa daquele lugar parecia ter coberto
cada centímetro exposto de sua pele. O cheiro de
suas roupas também não era nem um pouco
agradável. A camiseta branca que ela usava havia
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adquirido um tom horrendo de cinza e estava


manchada em vários lugares. A vergonha a
recobriu como um coberto desconfortável,
enquanto ela tentava imaginar o que Carrick estaria
pensando a seu respeito naquele momento, embora
a parte racional de seu cérebro estivesse lhe
dizendo que estava sendo uma tola por perder seu
tempo pensando em tamanha futilidade.

- Bom dia pra você também. Seu sono é pesado


como uma pedra.

As palavras dele não soaram de forma irônica,


como ela poderia ter esperado. Havia curiosidade
ali, como um estranho pedindo permissão para se
aproximar. Nina não soube como pensar em uma
resposta, sua cabeça naquele momento era apenas
um campo vazio, rodeado por dúvidas e
inseguranças que ela não conseguia externalisar.
Seu estômago se contorceu com um grunhido surdo
em seu corpo. Ela podia sentir o protesto de seu
corpo por comida, embora realmente naquele
momento não sentisse como se estivesse com muita
fome.

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- Parece que você está precisando de comida


tanto quanto eu – comentou Carrick de maneira
simples – Vamos descobrir um jeito de arranjar
algum café da manhã.

- É seguro sairmos daqui? – perguntou Nina,


detestando a fragilidade em sua voz.

Seus olhos se desviaram para as altas janelas


sobre sua cabeça. Lá fora a manhã parecia se
descortinar com seu céu parcialmente nublado. O ar
ainda estava um pouco úmido, devido à chuva da
noite anterior, mas provavelmente logo o sol sairia
por trás das nuvens secando as poças de chuva que
ela tinha certeza estarem lá fora.

Ontem à noite ela havia se sentindo apreensiva


em entrar naquele lugar, mesmo que estivesse
precisando de um abrigo, agora a sensação era
parecida, embora estivesse acontecendo exatamente
o oposto. Sabia que não estava protegida naquele
lugar, mas de alguma forma não sentia que tivesse
coragem o suficiente ainda para enfrentar as ruas lá
fora sabendo que seu tio estaria a caçando.

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- Seguro o suficiente – respondeu Carrick,


aproximando-se dela, e sentando-se a seu lado – É
claro que de qualquer forma precisaremos tomar
cuidado.

- Você tem algum plano?

- Talvez – respondeu o rapaz com um sorriso


divertido em seus lábios.

- Você não consegue responder nenhuma


pergunta de forma objetiva?

- Provavelmente não, mas é claro que posso


estar enganado.

Nina sentiu seu rosto se contorcer numa


expressão desgostosa. Sua vida naquele momento
era uma bagunça completa e a última coisa que ela
precisava naquela situação era de alguém com um
senso de humor questionável que parecia não se
importar com sua própria segurança.

- Para alguém que foi torturado, você não me


parece uma pessoa particularmente preocupado
com a nossa segurança.
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Ela percebeu que ele não gostou nem um pouco


de suas palavras, embora seu rosto mantivesse a
expressão tranquila e o sorriso nos lábios um
musculo saltou em sua têmpora. Aqueles eram os
tipos de detalhes que ela estava acostumada em
prestar atenção nas pessoas. As nuances que ela
sempre era capaz de perceber por nunca estar no
centro das atenções e que acabavam revelando
muito mais sobre as pessoas.

- Acho que começos com o pé esquerdo –


comentou Carrick, desviando do assunto enquanto
seus dedos machucados remexiam num buraco no
jeans de suas calças – Você não deve ser uma
pessoa matutina.

- Você pode continuar mudando de assunto


quantas vezes quiser, isso não muda nada. Se você
tem um plano, então quero saber qual ele é. Não
quero correr o risco de ser capturada.

- Você não confia em mim? – perguntou


Carrick olhando firmemente em seus olhos de
maneira provocativa – Isso não lhe pareceu muito
um problema quando eu estava amarrado a uma
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cadeira e prometi que a levaria para qualquer lugar


enquanto a mantinha em segurança.

- Você me disse ontem a noite para não confiar


em você...

As palavras dela não passaram de um sussurro,


por um momento ela nem ao menos conseguiu
acreditar que havia sido capaz de fazer com que
elas pulassem para fora de seus lábios. O sorriso no
rosto de Carrick, morreu, deixando para trás uma
expressão velada que ela não era capaz de
interpretar.

- Você aprende rápido – disse ele por fim


desviando o olhar.

O silêncio entre eles se estendeu por um


momento, servido apenas para evidenciar a
estranheza daquele momento entre eles. Dois
desconhecidos que de alguma forma haviam se
entrelaçado e que embora precisassem da ajuda um
do outro, sabiam que aquilo não passava de um
arranjo que beneficiaria ambos mutuamente e a
confiança era apenas uma palavra que nunca sairia

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do dicionário.

Os pensamentos de Nina se desviaram para


Olga, tentou imaginar o que sua amiga estaria
fazendo naquele momento, enquanto as garras da
preocupação e saudade se cravavam em seu peito.
Desejou em silêncio que ela pudesse estar ali
naquele momento a seu lado, pois sabia que dessa
maneira teria a coragem necessária para seguir em
frente.

Ao seu lado Carrick levantou-se de repente,


espanando com as palmas de sua mão, um pouco da
sujeira que havia se grudado em suas roupas. Não
foi o suficiente mas ao menos Nina conseguiu notar
que ela não era a única ali dentro que estava se
sentindo incomodada.

- Você estava certa – disse o rapaz diante dela


rompendo o silêncio – Eu não tenho nenhum plano
nesse momento, mas isso não significa que eu não
esteja trabalhando nisso.

A contragosto Nina desviou seu olhar erguendo


seu queixo e deixando que ele se fixasse nos olhos

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de Carrick, os raios de sol agora haviam


conseguido furar as nuvens e um deles conseguiu
penetrar a janela coberta de sujeira fazendo com
que seu cabelo brilhasse como uma folha de
outono. Engolindo todas as palavras que surgiram
em seus lábios fruto de sua insegurança, ela deixou
que ele continuar.

- Eu não esperava conseguir fugir de Serguei,


muito menos da maneira que isso aconteceu. De
qualquer forma, eu conheço a Bratva o suficiente
para saber que nesse momento eles estão nos
procurando, por isso nossa melhor chance é
continuarmos em movimento, até que as pistas
deles tenham ficado mais fracas.

- Isso não me parece um bom plano –


respondeu Nina, tentando não soar de maneira
muito defensiva – Se continuarmos andando nas
ruas, as chances deles nos encontrarem ou de
alguém acabar nos delatando é maior. Não
podemos ir para a casa da sua família? Eles não
iriam protege-lo?

- Minha família? – perguntou Carrick, pela


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primeira vez soando de forma confusa – De que


família você está falando?

- Você não é da máfia? – perguntou Nina,


tentando ignorar o ardor que formou em suas
bochechas, enquanto aquelas palavras escapavam
de seus lábios. – Pensei que você fosse...

O riso dele explodiu como sinos retumbando


dentro do galpão vazio. O calor em suas bochechas
apenas se intensificou, enquanto ela tentava conter
sua expressão mortificada.

- Espere eu sou o que? – perguntou o rapaz


ainda rindo audivelmente – Agora eu realmente eu
quero saber quem você achou que eu era.

- Esqueça – rebateu a garota irritada, desviando


seu olhar, mas ele foi mais insistente agachando-se
diante dela, impedindo que ela se levantasse, ou
saísse de seu caminho.

- Vamos, ao menos você precisa me dizer isso –


continuou ele um sorriso genuíno brilhando em
seus lábios. Ela o detestou um pouco por ele ser
capaz de sorrir daquela maneira tão genuína mesmo
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com os dedos completamente destruídos, e sua vida


em risco.

- Eu pensei que você fizesse parte de alguma


família mafiosa, italiana, japonesa tanto faz –
respondeu Nina simplesmente com um aceno dos
ombros, como se aquilo não fosse nada demais
embora sentisse que seu rosto naquele momento era
de um intenso tom de vermelho – O que mais eu
poderia pensar depois que encontrei você amarrado
e torturado naquele porão?

- Você pensou que eu fosse um dos senhores de


guerra? Algum tipo de líder assassino e violento?
Não sei se me sinto ofendido ou extremamente
lisonjeado.

- Se você não é nenhuma dessas coisas, por que


então eles fizeram isso com você? – perguntou ela
indicando com um aceno de cabeça os machucados
em sua mão, embora o serviço de seu tio também
tivesse muito aparente em seu rosto.

Os olhos de Carrick se desviaram


momentaneamente para as pontas de seus dedos

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machucados. Ela percebeu que ele havia feito o


melhor para limpar a área lavando-a, mas mesmo
assim aquilo apenas havia evidenciado a carne
exposta onde deveria existir suas unhas.

- Eu te disse que estava no lugar errado na hora


errada – a voz dele agora era controlada, quase
ausente como se ele tivesse falando sobre algo que
tivesse acontecido com outra pessoa – Mas,
aparentemente isso não é algo que faz muita
diferença para a Bratva.

- Por que você estava lá? – perguntou Nina


incapaz de conter sua curiosidade.

- Informações. Uma festa daquele tamanho


costuma ter um motivo importante para acontecer
no mundo do crime, e seu eu soubesse disso
poderia então conseguir algum dinheiro.

- Apenas isso? – perguntou a garota incrédula,


aquele parecia ser um motivo simples demais,
quase ingênuo.

- Você não precisar acreditar em mim se não


quiser, mas a verdade era que eu estava preso
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aquela cadeira, porque fui pego invadindo uma


festa. Eu não era um convidado como você.

O coração dela por um momento disparou em


seu peito, o nervosismo deixando seus lábios
ressequidos. Ela esperou que naquele momento, sua
expressão estivesse neutra e que ele não pudesse
enxergar o medo por tras de seus olhos.

- Por que você diz isso? – perguntou ela de


maneira ingênua, arrependendo-se na mesma hora.

- Nos encontramos no corredor você se lembra?


Você estava vestida como se estivesse indo para
uma festa...

As palavras dele ficaram suspensas no ar,


rodeando a ambos, ela podia perceber que aquilo
havia sido um truque. Carrick esperava que ela
continuasse o que ele havia dito, revelando assim o
motivo pelo qual estava na festa mas Nina não
conseguiu deixar que aquela explicação pulasse
para fora do seus lábios. Depois da traição de seu
tio, sentia como se não pudesse realmente entregar
sua confiança a ninguém.

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Ela precisou desviar os olhos porque sentiu


como se não fosse mais de suportar a intensidade
do olhar dele sobre ela. Não sabia o motivo, mas
sentia como se houvesse uma atração nele,
forçando a ela a manter sempre sua atenção sobre o
homem diante dela. Como uma mariposa
hipnotizada por uma forte luz, incapaz de se conter
enquanto caminhava em direção a sua própria
destruição.

- De qualquer forma agora você sabe qual meu


verdadeiro motivo de estar naquela festa.- disse
Carrick de maneira muito simples – Talvez dessa
forma, agora você não tenha mais tanto receio de
mim.

Nina não sabia dizer se realmente acreditava


naquelas palavras, mas era inegável que existia
uma parte dela que realmente queria acreditar. Se
ao menos ela não precisasse se preocupar com o
fato de que a única pessoa naquele momento que a
ajudava fosse um potencial assassino ou mesmo
algo pior, então talvez ela pudesse controlar um
pouco a ansiedade que cada vez mais parecia
corroer um buraco vazio em seu corpo.
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- Acho que já perdemos tempo demais


conversando – disse o rapaz, se espreguiçando,
como se a conversa que eles tivessem acabado de
ter naquele momento, fosse apenas algo do
cotidiano, esquecendo completamente que aquela
era a primeira vez que realmente tinham tido a
oportunidade de conversar realmente – Vamos atrás
de alguma coisa pra comer. Estou morrendo de
fome.

De forma confiante ele estendeu a mão para ela,


como uma forma de ajudá-la a se levantar. Nina
sentiu a hesitação marcar o compasso de seu
coração. Todas as dúvidas ecoaram em sua mente,
mas ela resolveu aceitar aquela chance para se
arriscar, dizendo a si mesma que o mais difícil ela
já havia sido capaz de superar. Agora ela só
precisava seguir em frente. Esse era o único
caminho diante dela.

Os dedos dela se ergueram embora vacilantes


para aceitar a mão que Carrick lhe oferecia, ela
tentou evitar a parte machucada de suas mãos,
tentando poupa-lo de todas as formas de qualquer
tipo de incômodo. O toque dele sobre sua pele era
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firme e quente, fazendo com que ela se desse conta


de como até aquele momento o chão do galpão
havia estado gélido. O silêncio entre eles apenas
serviu para deixar o momento entre eles mais
intimo. Os olhos verde dele estavam fixos em seu
rosto, como se ele pudesse ler algo em sua
expressão que nem mesmo ela sabia que estava ali.
O coração disparou em seu peito, assim como a
faísca que pareceu percorrer todo seu sangue,
partindo exatamente de onde eles se tocavam.

Tentando manter um pouco de controle sobre


sua mente hiperativa, Nina espalmou a mão vazia
sobre as alças de sua mochila, tentando carrega-la,
enquanto se colocava em pé. Nesse momento a dor
explodiu por todo seu corpo.

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Capítulo Treze
A dor viajou por seu corpo como fogo deixando
um rastro que pareceu permear todo seu sangue. Os
dedos dela que haviam se fechado sobre as alças de
sua mochila, caíram abertos e inúteis enquanto ela
mordia o lábio tentando conter o gemido doloroso
enquanto trincava os dentes.

O passo em falso que ela dera havia feito seu


corpo se desequilibrar, mas ela continuava em pé,
seu corpo sendo sustentando pelos braços firmes de
Carrick.

Os dedos dela haviam se cravado em sua


camisa, segurando de maneira tão firme como se
fosse apenas aquele pequeno contato que a
sustentava em pé. Mortificada e envergonhada ao
mesmo tempo, Nina ergueu seu rosto esperando
que os braços dele deixassem de apoiá-la, mas para
sua surpresa ele fez exatamente o contrário.
Trazendo-a ainda mais para perto, enquanto suas
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mãos se apoiavam de maneira gentil em seus


ombros, e uma expressão genuinamente
preocupada surgia em seu rosto ele perguntou:

- Você está bem? Por que não me disse que se


feriu ontem à noite?

Nina não conseguiu encontrar as palavras que


pareciam dançar na ponta de sua língua, dando um
passo para trás tentando buscar um pouco de
espaço entre eles para que sua cabeça pudesse
voltar ao lugar. Seus pensamentos naquele
momento eram frenéticos, e ela sabia que toda
aquela agitação que sentia naquele instante
simplesmente precisava ser contida.

- Não é nada – respondeu Nina dando um passo


para trás, tentando conter a careta de dor enquanto
mexia seu tornozelo. – Acho que devo de alguma
coisa ter machucado meu pé ontem, mas tenho
certeza que não é nada sério.

Carrick não pareceu nem um pouco satisfeito


com sua resposta, lançando lhe um olhar irritadiço,
as mãos dele escorregaram sobre seus braços,

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enquanto ele a forçava novamente a se sentar. Sem


dizer nenhuma palavra, com uma expressão de
extrema concentração em seu rosto, ela sentiu os
dedos de Carrick pousarem sobre a barra de sua
calça erguendo cuidado o tecido sujo sobre sua
perna direita.

A parte racional de seu cérebro queria puxar de


volta, impedindo que o contato entre eles se
prolongasse. O coração saltitando em seu peito, era
um incômodo que servia apenas para desconcentrá-
la. Aquele tipo de sentimento numa situação como
aquela precisava ser evitado a todo custo, e mesmo
assim ela não conseguiu conter a onda de prazer,
quando sentiu a mão dele tocar seu tornozelo
dolorido.

- Você consegue mexer seu pé, para frente e


para trás?

Nina concordou com um aceno de cabeça,


enquanto repetia o movimento, a dor novamente
subiu por sua panturrilha enquanto ela forçava a si
mesma a continuar movimentando seu corpo.

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Ela desviou sua atenção da expressão


preocupada que vincava a testa de Carrick,
deixando que seu olhar caísse sobre seu tornozelo
machucado.

Na noite anterior enquanto eles estavam


fugindo ela havia completamente se esquecido da
dor, deixando-a na parte mais afastada de seu
cérebro. Mesmo durante a noite, a pontada que
sentira em sua perna, não passara de um incômodo
leve que ela havia colocado na interminável lista de
coisas ruins que naquele momento, ela havia dito a
si mesma que precisava se acostumar.

A pele ao redor de seu tornozelo estava colorida


num tom horrível de roxo, o inchaço no local,
mostrava que realmente ela havia de alguma forma
machucado seu pé, embora a dor desaparecesse por
completo quando ela não o mexia.

- Não me parece estar quebrado – disse Carrick,


enquanto seus dedos deslizavam sobre seu
tornozelo, contornando quase que completamente
sua panturrilha – Mas, definitivamente isso é uma
bela torção. Você vai sentir um pouco de dor para
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andar, mas acredito que se fizermos um torniquete


isso possa ficar mais suportável.

Os olhos dele novamente se encontraram com


os seus e Nina, sentiu o rosto novamente se aquecer
quando percebeu que ele estava esperando uma
resposta sua. Acenando positivamente com a
cabeça, ela esperou pacientemente que Carrick
terminasse seus cuidados.

- Por que não me disse que estava machucada?


– perguntou o rapaz, enquanto alcançava sua
mochila que havia caído de qualquer maneira entre
eles.

- Eu realmente tinha me esquecido disso. Não é


como se tivesse pensado muito a respeito na dor
enquanto estávamos fugindo.

Por um momento as ações dele a hipnotizaram.


Ele parecia no controle, como se soubesse
exatamente o que estava fazendo e o que precisava
se preocupar. Abrindo a mochila dela, seus dedos
se fecharam sobre uma de suas camisetas de
algodão. Sem nenhuma cerimônia ou mesmo lhe

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pedir permissão Carrick rasgou o tecido em tiras


longas e largas, enquanto os amarrava fortemente
pelas ponta com um nó apertando,
transformando tudo aquilo em um improvisado
quite de primeiros socorros.

- Espero que eu não tenha destruído sua


camiseta predileta – comentou o rapaz, enquanto
enrolava em seu tornozelo, a tira de pano com
firmeza até que Nina sentiu que a circulação do
sangue naquela área estava menos frequente.

Um sorriso a contragosto brincou nos lábios


dela. Era fácil demais se deixar levar por suas
palavras, e seu jeito tranquilo e espontâneo. Se
continuasse dessa forma então em pouco tempo ela
sabia que acabaria se aproximando dele, mesmo
que isso colocasse em risco sua própria segurança.

Quando o toque de Carrick deixou sua pele,


assim que ele terminou de enfaixar seu tornozelo,
Nina sentiu a falta de seu toque imediatamente. A
sensação de vazio pegou-a completamente
desprevenida, mas ela simplesmente resolveu
empurrar aqueles pensamentos para a parte mais
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afastada de seu cérebro, enquanto a parte racional


em sua mente lhe assegurava que embora
inadequado aquele seria um comportamento normal
diante daquela situação.

Era natural que depois de tudo o que eles


haviam passado juntos, ela se sentisse conectada a
ele de uma forma profunda. Carrick havia sido a
única pessoa que estivera a seu lado, alguém que
havia corrido os mesmos riscos que ela, portanto
disse a si mesma que era natural sentir-se atraída
por ele, principalmente agora enquanto ele
demonstrava aquela preocupação quando havia
percebido que ela estava machucada.

- Tente mexer seu pé agora – pediu o rapaz,


ainda agachado a sua frente, sua atenção fixa em
seus pés.

Nina obedeceu em silêncio, e sentiu uma onda


de alivio correr por seu corpo quando notou que o
movimento de seu pé havia se tornando mais fácil.
As tiras dificultavam um pouco sua mobilidade,
mas quando ela forçava seu pé para cima e para
baixo, aquele simples movimento não era mais uma
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agonia dolorosa, mas apenas um incômodo


suportável.

- Está bem melhor – respondeu ela a


sinceridade estampada em sua voz.

- O ideal seria não forçar o pé, e tentar evitar


andar, mas infelizmente por enquanto essa não é
uma opção para nós. De qualquer forma, acredito
que o inchaço vai desaparecer com o passar dos
dias naturalmente.

Carrick havia encontrado dentro da bagunça de


sua mochila, os remédios esparadrapos e gases que
Olga havia lhe dado minutos antes de sua fuga.
Com atenção ele virava as cartelas de remédios,
lendo os nomes escritos atrás como se ele estivesse
acostumado a lidar com aquele tipo de informação.

- Achei tylenol na mochila – comentou o rapaz,


mostrando-lhe a cartela usada de remédio que
estava entre seus dedos – Não vai adiantar nada
contra o inchaço, mas pode ao menos reduzir um
pouco a dor que você está sentindo. Há uma
torneira funcionando no andar de baixo, você pode

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beber o remédio lá.

- Isso seria bom, além disso, também estou


precisando lavar meu rosto.

Nina apoiou ambas as mãos no chão, tentando


não forçar o peso de seu corpo sobre seu pé
machucado, mas Carrick foi mais rápido.
Erguendo-a por debaixo de seus braços como se ela
não pesasse absolutamente nada, ele a segurou em
pé, mantendo seu corpo junto ao dele.

De perto seus olhos eram ainda mais verdes.


Únicos, numa cor estonteante de verde. Parecia
haver uma luz que brilhava por detrás dele, como
se ela estivesse observando a folha de uma árvore
exposta diante do sol.

O nervosismo que se agitou agora em seu


estômago era diferente, como se um pássaro tivesse
ficado preso de seu corpo, enquanto agitava as asas
em um frenesi quase alegre. O calor mais uma vez
rodeou sua face, e ela foi obrigada a desviar seu
olhar, incapaz de continuar observando-o tão de
perto. Cada vez mais que ele se aproximava dela,

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sentia que podia confiar ainda menos em suas


reações.

Ela esperou que ele a soltasse embora não


quisesse admitir que havia uma parte dela que
realmente desejava que eles continuassem
exatamente daquela maneira por mais tempo.

O calor do toque das mãos dele sobre seus


braços expostos era um conforto melhor do que
qualquer sensação que ela sentira usando uma blusa
de frio.

A diferença entre as alturas dele, era acentuada


quando eles estavam um ao lado do outro, mas
dessa maneira ela parecia se encaixar exatamente
onde deveria o queixo dele sobre sua cabeça, seu
rosto próximo de seu pescoço. Ela estava tão
próxima que quase podia sentir a umidade em seu
cabelo, notar em como as mechas gradativamente
adquiriam um tom mais escuro enquanto iam
secando. Ninguém poderia chamá-lo de ruivo, mas
havia um tom exótico em seus fios, e daquela
proximidade Nina notou mais cores ainda,
vermelhos, laranjas e dourados, que fizeram com
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que ela sentisse as pontas de seus dedos coçarem de


desejo de tocá-lo.

Ela queria se afastar, ao menos a parte racional


em seu cérebro lhe dizia que era isso o que ela
deveria fazer. Mas seu corpo parecia confortável
demais ali, no silêncio matutino que os envolvia,
ela desviou o rosto, mas isso foi um erro também,
se remexendo nos braços dele, ela apenas
conseguiu se aproximar ainda mais dele, até que
seu nariz captasse a fragrância de sua pele. O
cheiro metálico do sangue havia desaparecido
completamente deixando para trás apenas o cheiro
da chuva que ela havia notado na noite anterior, tão
delicioso e convidativo que ela imaginou por um
instante fugaz e ensandecido o que ele faria, se ela
cruzasse a pequena distância que os separava
enquanto mergulhava as mãos em seus cabelos
repousando seu nariz exatamente ali na curva de
seu pescoço. Será que Carrick iria afastá-la? Qual
seria sua reação? Será que ali exatamente onde a
pulsação de seu pescoço era visível, ele teria o
aroma da terra molhada após uma chuva de verão?
Como se fosse um ser completamente diferente que
não feito de sangue e ossos, mas de folhas galhos e
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seiva?

Aquelas perguntas dispararam um alarme na


parte afastada de sua mente. Erguendo os olhos
Nina sentiu a respiração ficar presa entre seus
lábios. O olhar esmeraldino de Carrick estava fixo
em seu rosto, com uma expectativa feroz que a
encheu de sentimentos inominados.

Nina deu um passo para trás, e depois mais


outro, até que finalmente pudesse aspirar
profundamente o oxigênio que naquele momento
parecia não chegar o suficiente a seus pulmões. Um
sorriso discreto brincou nos cantos dos lábios de
Carrick, e ela desejou poder arrancá-lo dali embora
não tivesse nenhuma ideia de como realmente
poderia fazer isso.

Num silêncio constrangedor, enquanto tentava


ignorar o ardor em seu rosto, ela o seguiu para fora
da sala onde eles haviam passado a noite.

A luz da manhã invadia o galpão transformando


completamente o lugar em algo diferente das
lembranças que povoavam sua mente na noite

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anterior. Mesmo com janelas embaçadas por sujeira


e varias camadas de pó, a luz do sol se infiltrava
pelo vidro se derramando num piso de madeira
corrido pelo tempo e as péssimas condições, mas
para Nina ao menos um pouco ta aura ameaçadora
e perigosa que ela tinha sentindo naquele lugar
quando pisara ali pela primeira vez parecia ter
desaparecido.

Não tinha certeza se isso era simplesmente a


nova visão que ela estava tendo daquele lugar
diante da luz do dia, ou mesmo a gradativa
mudança gradativa de seu humor que estava se
tornando mais estável. Ela sabia muito bem que
naquele momento não possuía bons motivos para
sentir-se daquela forma, mas continuar se
preocupando simplesmente com todas as coisas,
num eterno estado de apreensão a longo prazo
simplesmente iria desgastá-la ainda mais.

Seguindo atrás de Carrick com uma distância


segura, Nina empurrou para o fundo de sua mente,
as perguntas que até aquele momento não havia
sido capaz de encontrar uma resposta. Não sabia
para onde iria depois dali, não tinha nenhuma
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certeza onde estaria quando precisasse descansar


assim que aquele dia acabasse, mas ela decidiu que
a partir daquele momento iria apenas lidar com o
presente. Não perderia tempo se preocupando onde
poderia dormir sendo que sua primeira tarefa do dia
seria encontrar um lugar para tomar café da
manhã.

A resolução em sua mente, lhe deu um novo


ânimo para continuar em frente. Embora aquilo não
fosse um plano estratégico e habilmente planejado,
ao menos lhe daria um pouco mais da sensação de
controle sobre sua vida, que tanto lhe fazia falta
naquele momento.

Desviando sua atenção pelas salas vazias


enquanto eles caminhavam pelo longo corredor ela
percebeu que seus olhos buscavam o desconhecido
deitado num canto daquele galpão que ela havia
avistado quando entrara ali. A figura dele não podia
ser encontrada em nenhum lugar, embora a garrafa
vazia de sua bebida, tivesse rolado até ficar
encostada na parede mais afastada, abandonada
como um objetivo que já não tinha mais serventia.

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Na noite anterior, o medo que se enrodilhava


em seu interior assim como a escuridão haviam
impedido ela de identificar o estranho que dormia
ao lado. Naquele momento tudo o que havia
passado por sua cabeça, era um desejo egoísta de
que ele não os perturbasse durante a noite, e nem
fosse uma pessoa perigosa.

Agora diante da luz da manhã, ela se


perguntava aonde ele poderia ter ido, ou mesmo
qual seria a história que teria o trazido até ali
buscando abrigo num galpão abandonado? Talvez
aquela fosse uma pergunta da qual ela jamais teria
uma resposta.

Os olhos dela se desviaram para as costas de


Carrick enquanto eles desciam as escadas
rapidamente de volta até o primeiro andar. Por um
momento ela imaginou qual seria a história
escondida por trás de suas palavras. Era verdade
que ele havia lhe contado algumas coisas a seu
respeito, mas se fosse honesta consigo mesma,
sabia que o que ele havia lhe dito não era nada
muito revelador sobre si mesmo. Nina tentou conter
as suspeitas que se remexeram de forma inquieta no
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fundo de sua mente. Até aquele momento ela


também não havia sido um exemplo de
honestidade, portanto não estava numa posição
onde poderia exigir isso de outra pessoa, mas de
alguma forma agora ela já não mais conseguia
conter a curiosidade a respeito do homem que ela
seguia naquele momento.

Desejou saber como ele havia ficado sabendo a


respeito de sua festa de aniversário, e que tipo de
informação ele estava procurando ali que julgava
pudesse valer alguma coisa.

Por um momento ela realmente se questionou


se deveria fazer essas perguntas para Carrick, até
conseguir uma resposta realmente direta, mas no
final das contas descartou ela possibilidade com um
simples aceno de cabeça.

Mesmo que ela conseguisse aquelas respostas, a


verdade era que não teria nenhuma serventia para
elas. Aquelas informações pertenciam ao mundo da
máfia e do submundo, um lugar do qual ela havia
dito a si mesma que não tinha mais nenhuma
intenção de voltar. Nunca mais.
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Naquele momento enquanto seus passos


soavam abafados pelas escadas de cimento, tentou
se lembrar que sua parceria com Carrick, se é que
realmente poderia chamar dessa forma, era algo
temporário. Ela ainda tinha muitas dúvidas a
respeito dele, perguntas que simplesmente haviam
ficado sem resposta continuavam circulando em
sua cabeça, mas quanto mais tempo passava ao lado
dele, percebia que talvez ela realmente pudesse ao
menos baixar um pouco a guarda e confiar nele.
Afinal de contas, até aquele momento Carrick havia
cumprido exatamente o que eles combinaram.

A poeira foi levantada como uma espécie de


nuvem que pairou diante dela se impregnando em
suas roupas, em seus sapatos, e cabelos. O gosto de
terra ficou impregnado em seus lábios, enquanto
ela usava a língua para umidifica-los ao menos um
pouco sentido a pele ressequida e quebradiça. Por
um momento imaginou qual seria sua aparência em
toda aquela situação, e se perguntou se a próxima
vez que se olhasse num espelho seria capaz de
reconhecer a imagem do outro lado. Uma única
noite dormindo ao relento, e ela sentia-se quase
como uma especialista.
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A porta que ela e Carrick haviam ultrapassado


permanecia presa de forma precária apenas por um
dos lados ao batente, havia sido abri-la que
espalhara a nuvem de poeira que agora dançava
tranquilamente em frente as janelas mais baixas do
galpão, enquanto as pequenas partículas atingiam
um tom dourado diante da luz que entrava pelas
janelas.

- O banheiro fica ali no fundo – disse Carrick


indicando uma porta semiaberta, próxima a
esquerda. – A pia está funcionando, assim como a
privada, e isso é o máximo de mordomia que você
vai conseguir aqui.

Um sorriso torto brinco nos cantos dos lábios


dele, e Nina sentiu que cada vez mais estava se
acostumando a sua presença. Ele depositou o
pequeno comprimido branco no centro da palma de
sua mão, enquanto dizia:

- Use o banheiro pelo tempo que precisar, vou


andar ao redor e tentar ver como anda nossa
vizinhança. Quero ter certeza que a área está segura
para sairmos daqui.
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Nina sentiu as palavras de protesto borbulharem


em sua língua, mas por fim resolveu que seria
melhor engoli-las. Ela não queria parecer o tipo de
garota que tremia a menor possibilidade de ser
deixada sozinha.

Com um aceno de cabeça, ela observou Carrick


se afastar, os passos pesados ressoando no corredor
até desaparecerem completamente. Ele parecia
conhecer aquele lugar muito bem, como se já
tivesse estado muitas vezes ali, mas aquele
pensamento apenas despertou seu lado paranoico e
Nina resolveu que não tinha tempo para ficar
perdida em pensamentos desconexos.

Ela entrou no pequeno banheiro que Carrick


havia lhe indicado, fechando a porta atrás de si. A
maçaneta pendia para o lado de dentro quebrada e
frouxa e sem nenhum uso. Com certeza aquela
porta havia sido arrombada um dia. Um olhar
rápido ao redor, deixou claro para Nina que ela não
encontraria nada ali dentro para usar como barreira
para manter a porta fechada, portanto a única
solução que tinha para aquele problema era fazer
tudo o que precisava do jeito mais rápido possível.
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Não havia assento na privada por isso Nina


usou a pequena pia diante dela como apoio
enquanto abria sua mochila, caçando ali dentro uma
de suas camisetas. Necessitava urgentemente de um
banho, mas sentia que ao menos poderia melhorar
aquela situação se trocasse de roupa. Pendurando a
blusa sobre o ombro, jogou sua mochila contra a
porta embora soubesse que ela não serviria de
forma alguma como um apoio caso alguém
quisesse abri-la. A bexiga estava cheia demais para
que ela pudesse se importar com a sujeira ao seu
redor. Tirou a camiseta suada e ainda levemente
úmida da noite anterior, vestindo uma nova que
ainda cheirava ao amaciante de rosas que era o
aroma predileto de sua tia. Por um momento seus
dedos tocaram o tecido sujo e desgastado da
camiseta que ela usara na noite anterior. Tinha um
desejo bruto e estúpido de se livrar dela, como se
dessa forma pudesse simplesmente deixar a noite
passada para trás. Um passo esquecido e apagado,
mas teve que conter aquele sentimento, enquanto
forçava seu olhar a se fixar sobre a mochila, parada
de forma inútil contra a porta. Naquele momento
ela precisava se lembrar de que todo seu mundo
cabia ali dentro, portanto ela não estava em
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condições de ficar desperdiçando roupas. Não tinha


a menor ideia de quanto tempo aquela sua vida de
viagens e fuga iria durar.

Com a velha blusa sobre o ombro, Nina parou


diante da pequena pia, abrindo a torneira que soou
de forma enferrujada antes de deixar a água correr
livremente encanamento abaixo.

Para sua surpresa a água parecia muito mais


limpa do que ela poderia ter imaginado. Usando
uma das mãos como concha Nina bebeu um longo
gole que desceu de forma rascante sobre sua
garganta ressequida. Ela não havia percebido como
estava sedenta, até deixar a água jorrar por sua
língua. Bebeu com avidez, os lábios ressequidos
perdendo um pouco da sensibilidade, e apenas
depois de estar completamente saciada, então ela
tomou o comprimido de tylenol que Carrick achara
em seu kit improvisado de primeiros socorros.

Com a mão ainda molhada Nina limpou o


pequeno espelho pendurado na parede diante dela.
Alguém havia tentado quebra-lo, mas o resultado
havia sido apenas um corte vertical que o cortava
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de cima abaixo, que refletia o mundo


completamente em dobro.

A garota que a observava por trás de seus


óculos refletida duplamente naquela imagem, era
completamente irreconhecível, e Nina soube
enquanto se observava em silêncio que jamais nem
mesmo sua imaginação selvagem poderia ter
chegado aquele resultado.

Seu rosto era uma mistura caótica de sujeira em


vários tons terrosos, o cabelo era um emaranhado
embaraçado descendo por seus ombros, atingindo
suas costas. A poeira havia se impregnado nele,
deixando sua cor ainda mais apática.

Deixando os óculos sobre a pia, Nina lavou as


mãos vigorosamente, até que a primeira camada de
sujeira tivesse saído por completo de seus dedos,
deixando para trás apenas a tonalidade corada de
sua pele. O esforço lhe trouxe uma sensação
prazerosa, lavou os braços, e depois com vigor
esfregou o rosto, sentindo as gotículas ficarem
presas em seus cílios, molhou-se o máximo que lhe
era permitido usando a pequena pia, para tomar um
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banho de gato. Quando terminou usando a parte


interna de sua camiseta Nina secou-se da melhor
forma que pode, aproveitando o frescor que a água
gelada havia deixado sobre sua pele.

Não tinha nenhuma noção a respeito das horas,


mas imaginou que a manhã já estava avançada. O
ar quente dentro do banheiro havia aumentado,
assim como a luminosidade ela imaginava que fora
daquelas paredes, haveria um imenso sol que
estaria presente num belo dia de verão.

Recolocando os óculos sobre seu rosto, Nina


notou que agora sua imagem lembrava-lhe um
pouco mais da garota que ela estava acostumada a
observar enquanto se olhava no espelho. Usando as
pontas dos dedos ela deslizou sobre seu cabelo,
para que eles perdessem ao menos um pouco a
textura de uma completa bagunça, por fim
desistindo sabendo que não teria como melhorar a
situação, Nina prende as mechas num coque
bagunçado na base de seu pescoço, ao menos
aquele penteado iria impedir que ela sentisse como
se estivesse cozinhando enquanto caminhava pelas
ruas da cidade.
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Quando seus dedos se fecharam sobre as alças


de sua mochila, Nina não sentia-se pronta para sair
daquele banheiro. Nunca imaginara que um dia em
sua vida sentiria falta de coisas tão simples como o
a fragrância gostosa de um sabonete, e sua espuma
cremosa, ou a sensação refrescante de uma pasta de
dente em sua língua. Mas, por enquanto naquele
momento aqueles eram luxos que ela simplesmente
teria que aprender a viver sem.

Abrindo a porta diante dela Nina, encontrou


Carrick parado em frente a parede oposta, o rosto
virado em direção ao sol como se ele fosse uma
arvore absorvendo toda aquela claridade.

Por um momento sentiu como se não houvesse


oxigênio ali dentro daquele imenso galpão o
suficiente que pudesse encher completamente seu
cérebro. A primeira vez que colocara seus olhos
sobre Carrick, ele estava rodeado pela escuridão,
seus contornos quase se fundindo ao lugar onde
eles se encontravam. As lembranças de seu
encontro haviam deixado um gosto quase agridoce
em sua língua, como se ela tivesse se lembrando de
um sonho, talvez um pesadelo algo onírico demais
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para que ela pudesse considerar como real. Naquele


momento ela sentia que havia algo que a atraia até
aquele homem, dissera a si mesma que era seu
desespero, a vontade de escapar daquele lugar, das
garras do seu tio, mas agora enquanto seus olhos
estavam presos em Carrick naquele momento
banhando pela luz do sol, a atração que sentia por
ele era quase irresistível.

O olhar dele se desviou para ela, e Nina sentiu


como se um bando de pássaros selvagens estivesse
levantando vôo em seu estômago.

- Você está pronta? – perguntou Carrick se


aproximando, cruzando a distancia que os
separava.

- Sim – respondeu Nina, tentando manter sua


expressão o mais neutra possível, - Não foi um
banho completo, mas me sinto melhor depois de ao
menos lavar o rosto.

O sorriso torto de Carrick estava de volta em


seu rosto. Mesmo com os hematomas sobre sua
pele, ele parecia estar cheio de energia, os olhos

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verdes brilhando profundamente, ele parecia mil


vezes melhor do que ela em sua aparência.

- Alguma novidade? – perguntou a garota por


fim tentando focar seus pensamentos. Embora sua
cabeça fosse ainda uma fabrica caótica de
pensamentos, ela precisava encontrar uma forma de
colocá-los em ordem, e finalmente começar a
arquitetar um plano.

- Não acredite que fomos seguidos. Voltei ao


lugar onde havíamos deixado o carro. Como
esperado a maioria das partes dele já haviam sido
roubados, e alguém foi bondoso com a gente o
suficiente para colocar fogo na fuselagem. –
respondeu Carrick - Isso pode nos dar pelo menos
um dia de vantagem em relação a Bratva. Mas, de
qualquer forma logo eles vão saber que viemos
para cá, portanto é melhor sairmos daqui.

Nina concordou com um aceno de cabeça,


enquanto tentava imaginar num primeiro momento
qualquer lugar onde ela pudesse ir. A fome tinha se
transformado num vazio constante em seu
estômago, deixando seus pensamentos mais lentos.
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Ela conhecia milhares de lugares na cidade, mas


todos eles também costumavam ser freqüentados
por seu tio e seus amigos, além do fato é claro que
se ela aparecesse em qualquer um deles com sua
aparência atual, provavelmente seria impedida de
dar dois passos ali dentro por um dos seguranças.

- Você tem alguma idéia de onde podemos ir? –


perguntou Nina tentando fazer com que sua voz
não soasse tão frágil.

- Ainda não – respondeu Carrick, suas mãos


batendo na porta de ferro da qual eles haviam
aberto ontem a noite e dava acesso ao galpão –
Mas, acredito que por enquanto qualquer lugar
muito movimentado vai servir.

O sol bateu diretamente em suas pálpebras


obrigando ela a fechá-los por um momento. As
poças de água que haviam se acumulado na noite
anterior estavam praticamente quase todas
evaporadas. A lixeira imensa de metal que ficava
no início da rua, parecia brilhar e um pouco do
cheiro de coisa podre havia desaparecido do ar ao
redor.
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Por um momento a ansiedade de agitou em seu


interior, fazendo com as palmas de suas mãos
ficassem gélidas. Sabia que era extremamente
necessário sair daquele lugar, para que seu tio não
pudesse encontrá-la, mas sentia como se seus pés
tivessem criado raízes ali naquele solo estéril. Para
onde ela poderia ir?

- Ei – A voz de Carrick perfurou seus


pensamentos tumultuosos trazendo-a de volta para
realidade – Não faça essa cara, eles ainda não te
pegaram, a única coisa que precisamos fazer é
continuar a despistá-los..

Nina queria acreditar nas palavras dele,


pareciam tão simples, um pensamento bastante
possível, mas a falta de confiança que sentia em si
própria fazia com que ela duvidasse de qualquer
uma de suas decisões.

- Além do mais - continuou o rapaz de maneira


muito seria – No momento, temos outra
preocupação em mente.

- O que? – perguntou a garota assustada,

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incapaz de imaginar que tipo de problema eles


precisariam resolver exatamente naquele instante.

- Você vai me dizer seu nome, ou simplesmente


posso escolher qualquer um que me vier a cabeça?

A pergunta completamente fora de contexto


pegou Nina desprevenida. Podia sentir a expressão
surpresa que tingia suas faces enquanto ela tentava
entender a pergunta de Carrick. Seria possível que
ela realmente não havia lhe dito seu nome em
nenhum momento?

Tentou puxar em sua memória, mas não havia


nenhuma lembrança dela lhe dizendo seu nome. A
noite anterior havia se transformado num borrão
quase difuso em sua mente, enquanto ela percebia
que durante aquele tempo, estivera desconfiando de
Carrick, embora ele nem ao menos soubesse seu
nome.

- Eu me chamo Nina – respondeu a garota, o


toque do sol aquecendo seu rosto – Ekaterina
Yureevna Serov.

- Serov? – perguntou Carrick e por um


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momento Nina podia jurar que havia uma fagulha


de reconhecimento em seus olhos verdes – Você
conhece Yuri Serov?

Um calafrio gelado escorreu pelas costas de


Nina, mesmo estando debaixo do sol. Havia algo
no tom de voz de Carrick que ela não sabia
reconhecer por completo, mas a incomodava
profundamente. Quase como se a pergunta fosse
um julgamento velado. Por um momento ela
pensou em mentir para ele, mas até mesmo em sua
mente aquela idéia soava ridícula. O que ele
poderia fazer com aquela informação? No final ela
decidiu que iria confiar em Carrick lhe entregando
a verdade sobre seu passado.

- Yuri Serov é meu pai – respondeu ela num


tom de voz controlado – Você o conhecia?

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Capítulo Catorze
- Você tem certeza que essa é realmente nossa
melhor opção?

A voz dela foi abafada entre pela imensa


confusão de sons diferentes ao seu redor. Por um
momento a buzina de um carro, gritou no ambiente,
mas ninguém ao redor pareceu realmente se
preocupar. O olhar de Nina por um momento se
desviou para o transito da rua que estava atrás de
suas costas. Os nervos a flor da pele exigiam que
ela continuasse constantemente prestando atenção a
todos os momentos a seu redor.

- Não posso garantir que eles vão nos ajudar –


respondeu Carrick girando o que havia sobrado do
seu café no pequeno copo de papel – Mas, ao
menos acredito que vale a pena corrermos o risco,
caso eles estejam do nosso lado, a Bratva não será
capaz de nos encontrar de jeito nenhum.

Nina podia compreender a lógica por trás do


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pensamento de Carrick, mesmo assim não se sentia


completamente convencida. Haviam muitas
possibilidades que não poderiam dar certo naquele
plano, e o fato de que ela até agora não havia
conseguido pensar em nada diferente para indicar
uma segunda alternativa simplesmente não estava
ajudando.

Desviando seus olhos, Nina observou a


paisagem ao seu redor. Depois de deixarem para
trás o galpão, ela e Carrick concordaram que a
melhor opção para eles naquele momento seria
desaparecer na multidão que habitava aquela
cidade, e não haveria um lugar melhor para se fazer
isso do que o Central Park.

Eles haviam caminhado por algumas quadras


durante algum tempo até encontrarem uma estação
de metrô. Nina não havia sido capaz de juntar
muito dinheiro para fuga. A quantia em sua carteira
naquele momento era o bastante apenas para suprir
suas necessidades mais básicas, e logo chegaria ao
fim. Sua única chance de aumentá-la seria vender o
colar que ganhara de presente de seu tio, mas a
ideia que antes de sua fuga parecia ser tão eficaz
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agora simplesmente se mostrara ser uma


complicação a mais. Onde ela encontraria um lugar
disposto a comprar um colar de diamantes? Nina
não tinha ideia, e por esse motivo continuava
carregando algumas centenas de milhares de
dólares em sua mochila, enquanto era obrigada a
dormir ao relento.

Com os trocados em sua carteira, ela havia sido


capaz de comprar um bilhete para ela e Carrick no
metro. Durante algum tempo eles simplesmente
andaram sem destino aparente pela imensa rede
subterrânea de linhas do metrô da cidade, descendo
em algumas estações, apenas para trocar novamente
de linha de maneira sucessiva até que eles
pudessem ter a certeza de que não estavam sendo
seguidos.

Eles não falaram muito durante aquele tempo, a


atenção de Carrick parecia constantemente fixa nos
passos que eles faziam, e depois da quinta parada
Nina, decidiu que simplesmente a melhor coisa que
poderia fazer seria segui-lo. Ela havia andando
algumas vezes de metro com Olga na época em que
as duas frequentavam a escola feminina onde
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haviam cursado o ensino médio, mas nunca daquela


maneira. Havia varias estações que ela não era
capaz de reconhecer, e todas as vezes que tentava
se localizar usando o mapa que ficava dentro de
algum dos vagões simplesmente se perdia, incapaz
de relembrar o nome de todas as estações em que
eles haviam percorrido aquela manhã.

Enquanto a manhã avançava rapidamente, o


fluxo de pessoas que usava as estações começou a
se tornar mais difuso, e quanto mais eles se
aproximavam do centro da cidade, mais olhares ela
e Carrick atraiam dos passageiros.

Embora soubesse que não possuía nenhum


motivo para sentir-se envergonhada, Nina abaixou
a cabeça encarando as pontas sujas de seu tênis,
como se eles fossem a visão mais interessante do
mundo, quando uma mãe havia entrado no vagão, e
automaticamente segurado com mais firmeza a mão
de sua filha indo para o fundo do vagão, mantendo
uma distância segura deles.

Ao seu lado Carrick parecia mergulhado em


pensamentos, o rosto erguido, os braços estirados
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de qualquer maneira sobre o encosto, como se ele


tivesse sentado na poltrona de sua casa. Durante
todo aquele tempo, ela tentara olha-lo o mínimo
possível, mas sua atenção era constantemente
desviada para ele, como se de alguma forma ela
tivesse que estar constantemente vigiando com
medo de que num piscar de olhos ele pudesse
desaparecer a qualquer momento.

Ela havia notado que ele parecia não se


incomodar nenhum um pouco em chamar atenção.
Com o rosto machucado, e roupas sujas os olhares
sempre se convergiam pra cima de sua figura, mas
em nenhum momento ele parecia realmente se
importar com isso ou mesmo se dar conta. Havia
uma confiança ao seu redor que ela passara a
invejar. O jeito que sua cabeça estava sempre
erguida, a forma como ele andava pelo lugar como
sempre tivesse uma direção fixa sem se desviar do
caminho. Embora estivessem correndo o mesmo
perigo parecia que Carrick tinha o controle
completo da situação.

Em contrapartida sentada ao seu lado Nina


sentia como se estivesse desmoronando em
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silêncio. A cada nova estação, a cada nova onda de


multidão que entrava no vagão onde eles estavam
seus olhos buscavam ávidos pelos rostos
conhecidos dos capangas de seu tio. Sentia como se
seu corpo fosse a corda tensa de um arco, sempre
em prontidão, os músculos retesados simplesmente
esperando o momento certo para fugir dali.

O nervosismo havia criado um nó dolorido em


sua nuca. Quando Carrick havia lhe dito que eles
iriam descer na próxima parada ela ficou feliz em
esticar as pernas enquanto tentava manter o ritmo
acelerado do andar de Carrick.

Eles subiram as escadas que davam acesso às


ruas da cidade, e quando o vento balançou algumas
mechas de seu cabelo ao redor do seu rosto, pela
primeira vez ela pode respirar um pouco mais
aliviada.

Ao redor deles as ruas agitadas da cidade


exibiam pessoas andando com pressa, e um tráfego
constante de veículos. Ali logo eles foram
engolidos pela multidão, enquanto caminhavam em
direção ao Central Park, sem chamarem muita
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atenção a ninguém. No meio do caos de Nova


York, eles apenas eram duas pessoas aleatórias.

Quando alcançaram a entrada norte do parque o


estomago de Nina protestava de forma veemente
exigindo qualquer tipo de substancia. Ela nunca
havia sentido nada como aquilo, um vazio que
parecia consumi-la por dentro. Avistando um
pequeno trailer estacionado perto dali, Nina pegou
mais alguns trocados em sua carteira, enquanto
comprava dois copos pequenos de café, e dois
croissants.

Ela não se lembrava da última vez que tomara


um café da manhã tão escasso quanto aquele, nem
mesmo tão delicioso. Nunca havia sido uma grande
fã de cafeína, mas aquela manhã o líquido preto
descera como um bálsamo por sua garganta,
adoçando seus lábios ressequidos. A casca do pão
estalara em sua língua, o queijo derretido parecia
uma iguaria. Havia devorado a croissant, e embora
aquilo tivesse ao menos um pouco apaziguado sua
fome, sabia que comeria mais alguns daqueles
pãezinhos antes de sentir-se realmente satisfeita,
mas resolveu que o melhor que poderia fazer por
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enquanto seria economizar seu dinheiro.

O sol era uma bola dourada resplandecente no


céu, as nuvens que haviam trazido chuva na noite
anterior haviam desaparecido completamente
deixando para trás, um céu azul brilhante. Eles
encontraram um banco para se sentarem embaixo
de uma árvore, os galhos pendiam com folhas finas
que caiam até quase encostarem-se ao chão num
tom de verde claro, brilhante. Próximo dali a fonte
de pedra jorrava água e algumas crianças
brincavam enquanto seus risos eram carregados
pelo vento. O verão seguia seu curso
tranquilamente.

Havia sido nesse momento, que Carrick havia


lhe dito sobre o plano que havia esquematizado em
sua mente, e embora ele tivesse parecido bastante
convencido que de ele daria certo; Nina não
conseguia se convencer a confiar na Tríade.

- Você conhece alguém da Tríadet, que estaria


disposto a nos ajudar? – perguntou Nina, tentando
organizar os pensamentos em sua mente.

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- Se está me perguntando se conheço os lideres


a resposta seria não. Mas, conheço alguém que
trabalha pra eles, fornecendo informações e outros
suprimentos. Ele pode muito bem falar em nosso
beneficio, e assim poderíamos conseguir a proteção
deles.

- E o que eles ganhariam nos protegendo?

As palavras que ela mais temia pularam para


fora de seus lábios. O medo agitando o conteúdo de
seu estomago. Enquanto vivera na casa de seu tio,
havia tentando evitar ao máximo os assuntos a
respeito da máfia. As conversas sérias sempre eram
feitas as portas fechadas, sussurradas muitas vezes
em russo, para que ela e Olga não compreendessem
o que se estava sendo dito, mas mesmo assim
algumas histórias haviam conseguido romper essas
barreiras e chegar até seus ouvidos, e todas elas
falavam com um horror quase indescritível sobre a
Tríade A máfia chinesa que era inimiga mortal da
Bratva.

O olhar dela recaiu sobre Carrick, o rosto dele


estava impassível, concentrado, embora ela achasse
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que houvesse uma frieza em seu olhar, que antes


não estivera ali. Desde que eles haviam deixado o
galpão a atitude dele havia se modificado um
pouco, embora Nina não tivesse certeza de que
aquilo não fosse apenas mais uma paranoia de sua
cabeça. Ela o conhecia apenas a vinte e quatro
horas, portanto sabia que não podia afirmar
absolutamente nada a respeito da personalidade de
Carrick.

- Por que eles não iriam nos proteger? –


perguntou o rapaz jogando seu próprio pensamento
contra ela – Não é como se os chineses precisassem
de algum motivo em especifico para se oporem aos
russos.

- Eles não vão nos proteger, sem que isso exija


algo em troca, e talvez o preço que eles cobrem seja
alto demais para pagarmos.

Um suspiro cansado deixou os lábios dele, já


fazia algum tempo que eles estavam tendo aquela
discussão sem realmente chegarem a lugar algum.

- Você realmente acredita que não temos

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nenhuma outra alternativa – perguntou Nina,


desviando seu olhar, deixando que ele se focasse na
cena típica de uma tarde de verão no Central Park.
Havia ali uma rotina que ao menos naquele
momento, servia para controlar a ansiedade que
parecia roer seu estômago.

- Podemos continuar da mesma maneira que


estamos agora – respondeu Carrick, sua voz
controlada desprovida de qualquer sentimento –
Enquanto estivermos nos movendo as chances
deles nos encontrarem será menor, mas cada vez
mais o cerco na cidade vai se tornar menor. Sem
uma proteção externa, é só uma questão de tempo
até eles nos encontrarem.

Nina sabia que ele estava dizendo a verdade.


Ela não seria ingênua de acreditar que o tio iria
simplesmente desistir de encontrá-la, não depois de
que ele fizera um acordo com Ivan, para um
casamento que não passava de uma transação de
negócios.

- Existe também a possibilidade nos separamos


– continuou Carrick, sem saber da confusão que
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naquele momento embaralhava seus pensamentos –


Se seguirmos caminhos separados, eles serão
obrigados a dividir as equipes de busca, nos dando
dessa forma mais chances para escaparmos.

Os batimentos de seu coração eram tão


intensos, que por um momento sentiu como se ele
tivesse escalado sua garganta se alojando ali
mesmo. Estivera tão preocupada em fugir da casa
de seu tio, que realmente não havia imaginado o
que fazer depois disso. Até aquele momento, ela
havia pensando em Carrick, apenas como uma
desculpa, um meio a ser usado para chegar até seu
objetivo, mas agora que ambos estavam na mesma
situação, ela não conseguia simplesmente não se
importar com sua segurança. Como ela poderia
simplesmente seguir em frente, sem saber se o tio
teria novamente posto suas mãos nele?

Os olhos dela se desviaram para os dedos


machucados dele, o estrago feito por seu tio,
enquanto ele tranquilamente jogava fora na lixeira
ao lado do banco o que sobrara de seu café, em seu
copo de papel. Quando o encontrara amarrado
aquela cadeira, ela não havia realmente se
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importado com seus ferimentos, sua primeira


reação havia sido de questiona-lo, se certificar de
que ele não era uma ameaça, naquela noite ela
havia voltado para seu quarto enquanto a única
preocupação que existia em sua cabeça, era de
como ela iria conseguir para escapar dali. Não
poderia ter sido mais egoísta nem mesmo se ela
tivesse se esforçado.

- Não gostaria de nos separarmos... Ao menos


não agora.

Assim que as palavras deixaram seus lábios


Nina percebeu que estava dizendo a verdade. Por
um instante os olhos verdes de Carrick pousaram
sobre seu rosto, de maneira tão firme e repletos de
sentimentos ocultos. Ela imaginou que ele iria lhe
dizer algo importante, mas por fim ele
simplesmente balançou a cabeça como se tivesse
pensado melhor e preferido permanecer em
silêncio, e ela sentiu que precisava ao menos se
explicar de uma outra melhor.

- Preferia que por enquanto pudéssemos


continuar juntos – continuou Nina, tentando conter
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o nervosismo em seu timbre de voz – Mas, também


não consigo confiar plenamente na Tríade, mas se
você acha que essa é nossa melhor alternativa,
então estou disposta a tentar.

O olhar de Carrick recaiu sobre ela, por um


momento a cena a seu redor tornou-se distante,
como se até mesmo o tempo tivesse parado
deixando apenas eles dois ali, num canto
escondidos do mundo. Nina não sabia dizer quais
eram os sentimentos que ondulavam por trás dos
olhos dele, tão verdes quanto as folhas das árvores,
mas naquele momento aquilo não importava. Havia
decidido que iria confiar nele, então empurrando
todas as preocupações e dúvidas que ocupavam sua
mente naquele momento, ela observou ele lhe dar
um sorriso repleto de cumplicidade.

Quando ele se levantou, e começou a caminhar


para fora do Central Park, Nina o seguiu sem pedir
a direção para onde eles estavam indo. Pela
primeira vez desde a noite anterior debaixo de toda
uma camada de ansiedade e incerteza, sentia que
havia ali num cantinho escondido de seu coração
brotado um pequeno ramo de esperança; verde
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como o olhar de Carrick, segurando esse


sentimento extremamente cálido em seu peito, ela
se deixou levar acreditando que talvez no final de
tudo talvez ela e Carrick realmente pudessem ser
livres.

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Capítulo Quinze
O sol quente do meio-dia estava a pino quando
Nina e Carrick, subiram as escadas de concreto da
estação Canal Street, em direção a Chinatown.

O movimento na plataforma do metro, era


intenso para um dia da semana, mas embora para as
crianças e adolescente as férias de verão fossem um
sinônimo de dias tranqüilos e idílicos para o resto
da cidade a vida continuava em seu ritmo
acelerado.

Ali no meio da multidão ela e Carrick eram


apenas mais dois desconhecidos genéricos que
ninguém perdia muito tempo prestando atenção.
Por um momento, o nervosismo que agitava o
interior de Nina durante todo o trajeto até ali,
colocou suas garras pra fora, quando as portas do
vagão se abriram fazendo que seus corpos fossem
empurrados por uma massa compacta de humanos
em todas as direções. Assustada a garota olhou em
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todas as direções erguendo o rosto, procurando em


todos os lugares por capangas de seu tio,
imaginando que aquele seria o momento propicio
para que eles fossem pego numa emboscada, mas
assim que ela e Carrick conseguiram se
desvencilhar da multidão, enquanto subiam às
escadas em direção às ruas lá de cima e o céu
aberto, ela percebeu que tudo não havia passado do
estresse absurdo que estava tentando conter dentro
de sua cabeça a todo custo.

A brisa morna do vento balançou algumas


mechas de seu cabelo que haviam se soltado de seu
coque frouxo, se enroscando próximo a seu rosto.
O suor escorreu por suas costas, enquanto ela
balançava a base de sua camiseta, desejando que
aquela leve brisa pudesse acalmar um pouco do
calor que sentia.

Ao seu redor o bairro de Chinatow era uma


confusão de barulhos de trânsito, vozes de pessoas
e os mais variados tipos de cheiro. Espantada com a
multidão que parecia convergir em todas as
direções ocupando ruas e calçadas, Nina deu um
passo para trás, buscando as sombras da entrada do
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metro, mas os dedos machucados de Carrick se


fecharam sobre sua mão, lhe oferecendo uma
segurança que foi extremante bem-vinda naquele
momento.

Como se conhecesse aquelas ruas com bastante


familiaridade, Carrick a levou para longe dali, seu
passo apressado enquanto ela o acompanhava e eles
iam cada vez mais em direção ao centro do bairro.

Por um momento a curiosidade venceu seu


nervosismo e Nina deixou que seus olhos
observassem com bastante atenção todas as coisas
ao seu redor. Aquele era um dos lugares que ela
nunca tinha tido permissão de conhecer, embora
tivesse vivido a maior parte da sua vida naquela
cidade. Uma parte dela sentiu-se uma tola por olhar
aquelas construções e todas as pessoas e barracas
que se apinhavam de maneira desorganizada nas
calçadas, com uma expressão que qualquer pessoa
poderia acreditar que ela não passava de uma
turista, mas naquele momento sabia que não seria
capaz de esconder o espanto que havia tomado
conta de suas expressões.

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Chinatow era barulhenta, caótica e


extremamente agitada, e embora Nina soubesse que
essas palavras podiam ser utilizadas para descrever
toda a cidade como um todo havia ali coisas, que
ela tinha plena certeza de que não encontraria em
mais nenhum lugar de Nova York.

As ruas largas eram movimentadas, e ladeadas


por prédios de tamanhos médios construídos com
os típicos tijolos vermelhos que haviam sido moda
por volta dos anos cinquenta. Escadas de incêndio
feitas de metal, nos mais variados estados de
conservações, estavam penduradas como adornos
desajeitados em todos eles, e por um momento
Nina ficou intrigada deixando que seu olhar
pousasse de uma após a outra enquanto ela e
Carrick continuavam descendo a rua.

O cheiro delicioso de comida chegou até suas


narinas embora ela não soubesse distinguir metade
deles. O lugar era repleto de pequenas portinholas
que exibiam antiquados letreiros escritos e línguas
asiáticas que Nina não conseguia distinguir uma
única palavra. Ali as fachadas das lojas, dos
restaurantes, e de outros estabelecimentos, exibiam
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apenas letras contra um fundo branco que muitas


vezes já começava a exibir sinais do amarelo do
tempo. Tudo muito diferente da quinta avenida,
onde as imensas telas de projeção escalavam as
paredes de arranheis imensos, exibindo seus
produtos com cores e movimentos, numa explosão
de tecnologia.

Enquanto andava pelo lugar, os olhos dela


tentaram absorver a maior quantidade possível de
informações, mas eram tantas coisas que logo ela
percebeu que muitos detalhes ficariam perdidos em
sua mente. Sentiu um pequeno desapontamento
desabrochar em seu peito, e em silencio prometo a
si mesma que quando sua vida estivesse mais
tranquila, e todos seus problemas tivessem sido
resolvidos, iria voltar ali, para desempenhar o papel
de turista, embora fosse uma moradora da cidade.
O pensamento ingênuo, deixou que um sorriso
quase imperceptível nascesse em seus lábios,
fazendo com que o nó de ansiedade que estava
amarrado em seu peito se tornasse um pouco mais
tolerável.

Os passos de Carrick diminuíram quando eles


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viraram numa esquina entrando numa rua paralela e


cumprida que parecia ir em direção a parte mais
afastada do bairro. Ali não havia tantas barracas nas
ruas, e as portas dos restaurantes que ela conseguiu
reconhecer estavam cobertas com um vapor branco
tão intenso que pouco estava visível lá dentro.

Olhando por cima dos ombros, ela observou a


atenção de Carrick se voltar para a esquina. Nina
seguiu seu olhar, mas, não conseguiu encontrar
nada de suspeito na rua. Sem lhe dizer uma única
palavra eles subiram alguns lances de degraus até
estarem diante de uma porta de madeira pintada de
vermelho com o batente lascado.

Os olhos de Nina foram atraídos para o letreiro


antiquado acima de sua cabeça, mas ela não
conseguiu ler absolutamente nada seu olhar então
recaiu sobre a placa que dizia “aberto” pendurada
na parte de dentro com o vidro da porta. A mão de
Carrick pousou sobre a maçaneta dourada e eles
entraram na loja enquanto o tilintar de sino ecoava
sobre suas cabeças.

Atrás dela Carrick trancou a porta como se


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fosse dono do lugar enquanto mudava a pequena


placa para informar a qualquer pessoa lá fora que o
lugar estava fechado.

- Me espere aqui – disse o rapaz interrompendo


a enxurrada de perguntas que enchia sua cabeça –
Vai ser melhor se eu falar com Han a sós.

Nina não queria ser deixada para trás num lugar


completamente desconhecido mas Carrick, não lhe
deu nenhum momento para que ela conseguisse
formular uma recusa. Sem lançar um segundo olhar
em sua direção, ele caminhou a passos largos para
dentro da loja, passando pelo balcão e cruzando
uma cortina de contas vermelhas, que balançou
durante algum tempo mesmo depois que sua figura
tivesse se afastado completamente dali.

Nina deu um passo para trás de repente como se


desse completamente conta de todo o lugar que a
cercava. Os olhos percorreram as paredes repletas
de objetos, um mais diferente do o outro, expostos
de forma quase desorganizada, enchendo todo o
cômodo a seu redor.

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As paredes do lugar estavam pintadas numa cor


forte de cobre que parecia levemente desbotado.
Armários de madeira, e ferro se enfileiravam um ao
lado do outro repleto dos mais diferentes tipos de
objetos, livros e uma infinidade de coisas que Nina
não era capaz de reconhecer.

A curiosidade se esgueirou em seu estomago


enquanto a garota, caminhava ao redor. Seus olhos
se demoraram nas belíssimas espadas com laminas
resplandecentes presas na parede, e nos leques
delicadamente bordados, expostos sobre um
aparador com portas de vidro. Sentiu os dedos dela
se coçarem de curiosidade, para tocar cada um
daquele objeto e entender ao menos um pouco que
tipo de lugar seria aquele.

O balcão que separava metade da loja era


antigo, a madeira entalhada exibia joias, relógios
antigos e outras bugigangas expostas detrás de um
vidro empoeirado. Os olhos de Nina foram atraídos
por uma pilha de pequenos cartões ali ao lado, que
exibiam os mesmos dizeres que ela havia sido
incapaz de incapaz de ler e que estavam na vitrine
da loja, mas embaixo daqueles dizeres havia uma
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frase em inglês que lhe chamou a atenção. Nina


deixou que seus dedos tocassem as pontas do
cartão, desviando apenas um que estava de ponta
cabeça. O papel texturizado contra seus dedos
parecia elegante, num tom bonito de vermelho
escuro, as letras cursivas e os caracteres chineses
brilhavam em destaque e ela leu em silencio
enquanto a ansiedade borbulhando em seu
estomago que o nome daquele lugar era “Loja de
Penhores Lótus Dourado”.

Os olhos da garota percorreram o ambiente


agora com mais cuidado, como se de repente ela
tivesse tentando encaixar as peças de um quebra-
cabeça. Não conseguia imaginar que todos os
objetos que estavam ali, eram peças que um dia
haviam sido penhoradas, mas pela pouca
informação que havia sido capaz de reunir aquela
realmente deveria ser uma verdade. A atenção dela
ficou presa por um momento, novamente na espada
com cabo dourado que lembrava um dragão
pendurada na parede, enquanto ela se perguntava
quem teria a penhorado num lugar daqueles,
quando uma mão pousou sobre seu ombro de
maneira displicente.
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O grito ficou preso em sua garganta, enquanto


Nina girava em seus próprios pés, para encontrar o
rosto assustado de uma adolescente olhando em sua
direção.

Por um instante que pareceu durar muito tempo


as duas se entreolharam com ansiedade e
animosidade velada, até que Nina sentiu os
batimentos de seu coração lentamente voltarem ao
ritmo normal.

- Você não precisava ter me assustado. Eu não


estava mexendo em nada.

Nina não queria que suas palavras tivessem


soado de forma tão duras, mas o susto havia
deixado um gosto amargo em seus lábios como se
seu humor tivesse acabado de azedar
instantaneamente. Durante todo aquele dia, ela
havia jurado a si mesma estar sempre em alerta,
mas aparentemente no momento onde sua atenção
era desviada por causa de sua curiosidade, ela
simplesmente havia sido surpreendida por uma
completa desconhecida. Deveria sentir-se aliviada
que a garota diante dela não era um dos capangas
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do seu tio.

- Você precisa de alguma coisa? – perguntou


Nina,para a adolescente diante dela, que continuava
parada em silencio, uma expressão desinteressada
em seu rosto bonito – Eu não quero comprar nada,
estou esperando Carrick ele...

- Me siga. Por aqui.

A garota adolescente não lhe deu tempo para


que fosse contrariada, contornando o balcão e
passando pela cortina de contas, ela desapareceu
corredor adentro deixando uma confusa Nina para
trás.

Por um momento ela se perguntou se realmente


deveria seguir a desconhecida, lançando um olhar
de esguelha para a porta da loja, notou que o
movimento na rua continuava monótono quase
parado. Eles já haviam chegado ali algum tempo, e
mesmo assim nenhuma única pessoa havia entrado
na loja. O que ela iria fazer? Continuar ali
simplesmente parada, alheia a tudo a seu redor
enquanto esperava passivamente Carrick voltar? O

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momento de hesitação passou quando ela deu um


passo adiante cruzando o balcão, as contas das
cortinas tilintaram sobre sua cabeça, enquanto ela
as atravessava, ordenando a si mesma a não olhar
para trás.

O corredor a sua frente, era muito maior do que


ela havia imaginado, a adolescente que havia a
chamado, estava parada ali, com as costas
encostadas na parede, um moderno celular entre os
dedos enquanto ela digitava rapidamente pela tela.
Quando Nina parou diante dela, a garota não
pareceu se importar. Com cabelos curtos cortados
na altura do queixo, ela vestia uma simples calça
jeans e uma blusa de seda vermelha de gola alta, e
um delicado bordado em varias tonalidades de
dourado. Seu rosto redondo era bonito, seus olhos
amendoados possuíam um tom profundo de
chocolate, Nina desejou lhe perguntar alguma
coisa, mas assim que seus dedos terminaram a
mensagem, ela deslizou novamente o aparelho para
o bolso de trás de sua calça, e continuou pelo
corredor, sem lançar um único olhar em sua
direção.

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O lugar era muito maior do que ela poderia ter


imaginado, embora ali as paredes ao seu redor
fossem estreitas. O cheiro de incenso impregnou
suas narinas, o aroma forte e pungente pairou
sobre ela, aderindo a suas roupas e cabelos.

A frente delas o comprido corredor seguia numa


única direção, embora Nina tivesse notado outros
caminhos que o cruzavam, como se todo aquele
lugar fosse um imenso labirinto, cercado por portas
fechadas.

Os passos dela mal eram audíveis sobre o tapete


ricamente decorado, detrás das portas um murmúrio
de vozes baixas podia ser ouvido, mas ela não era
capaz de distinguir nada do que era dito ali.

O nervosismo arranhou as paredes de seu


estômago, fazendo com que ela deslizasse os dedos
de maneira quase protetora sobre o pequeno
canivete escondido no bolso de sua calça. As alças
de sua mochila pesavam sobre seus ombros, mas
ela acreditava que aquilo não seria nenhum
empecilho caso tivesse de sair daquele lugar
correndo. O único problema seria encontrar uma
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saída, quanto mais elas se aprofundavam dentro


daquela misteriosa loja, mas Nina tinha certeza de
que não seria capaz de encontrar seu caminho de
volta.

Estava a ponto de simplesmente dar meia volta


e sair dali, quando a adolescente parou diante de
uma porta com pintura verde-jade que ficava no
centro do corredor, retirando uma pequena chave
dourada de seu bolso, ela a destranco indicando que
Nina entrasse.

A porta se abriu revelando um quarto ricamente


decorado, e muito confortável. Os olhos dela se
fixaram na adolescente parada ao seu lado,
tentando entender o que aquilo significava.

- Eu não entendo... Por que você me trouxe


aqui?

- Esperar. Han vira logo.- respondeu ela.

A voz da garota era bonita, embora suas


palavras tivessem um forte acento estrangeiro. Nina
pensou em tentar lhe explicar sua situação, ou
perguntar a respeito de Carrick, mas algo lhe dizia
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pelo olhar que a garota lhe lançava repleto de


impaciência que ela não seria capaz de
compreende-la, e no fundo talvez ela nem ao menos
se importasse.

- Escute eu vim aqui com um amigo, preciso


saber...

- Esperar. Aqui. Sem perguntas.

As mãos da garota se fecharam sobre os ombros


de Nina de maneira muito firme para alguém de sua
idade, sem nenhuma delicadeza ela teve seu corpo
arrastado para dentro do quarto. O som da porta se
fechando atrás dela soou de maneira muito alta no
quarto silencioso, assim como a chave acionando a
fechadura.

O calafrio que escorreu pelas costas de Nina,


deixou seus movimentos lentos, por um momento a
única coisa que ela pode fazer, foi olhar em
completo descrédito a porta fechada diante dela.
Quando seu corpo finalmente se moveu, ela
alcançou a porta a sua frente, batendo as palmas
contra a madeira, embora a parte racional em seu

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cérebro lhe dissesse que aquilo era inútil.

- Ei me deixe sair daqui! Carrick! Carrick!

A voz dela se ergueu ao seu redor, seus gritos


desafinados arranhando sua garganta. Chutou a
porta com seus tênis sentindo ela se balançar contra
o batente, mas nem isso foi o suficiente para que
alguém viesse até ali.

O fôlego acelerado ecoou em seus ouvidos. De


repente o quarto que apenas alguns segundos atrás
ela julgara como sendo grande, parecia ter se
transformado numa jaula diminuta. Andou de um
lado para o outro, sem conseguir conter os
pensamentos eriçados em sua cabeça. Carrick
estaria bem? Onde ele estava?

A mochila pesava em seus ombros, então Nina


simplesmente decidiu deixa-la num canto qualquer,
a tensão havia transformado suas costas num
pedaço rígido de músculos que a todo momento
estava reclamando. O tempo se arrastou
lentamente, ou talvez estivesse passando de
maneira rápida, Nina simplesmente não tinha como

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saber, presa dentro daquele quarto, sentia-se


exposta e completamente vulnerável.

O arrependimento de ter vindo até ali deixou


um gosto acre em sua boca, cansada, e com as
pernas tremulas, ela sentou-se na imensa cama de
casal, que havia naquele lugar, retirando o pequeno
canivete de seu bolso. A lamina prateada era o
único conforto naquele lugar completamente
desconhecido, por isso Nina decidiu que preferia
continuar com ela bem próxima a seu alcance
esperando a próxima pessoa que iria entrar naquele
quarto. Afinal havia algo de certo naquela situação.
Ela não seria deixada ali sozinha por muito tempo.

Os dedos dela se apertaram contra o pequeno


cabo do estilete, até que ela tivesse decorado com
exatidão as pequenas reentrâncias no plástico perto
da lamina.

Não soube dizer quanto tempo permaneceu ali


sentada, tendo o silêncio como sua única
companhia, em nenhum momento as garras do
nervosismo aliviaram o aperto em seu coração, mas
depois de um tempo a tensão em seus ombros
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tornou-se quase insuportável, e as pálpebras


custavam um esforço gigantesco para continuarem
abertas. Lutando contra o sono que se aproximava
Nina escorregou para a escuridão que a envolvia
segurando firmemente o estilete em suas mãos,
enquanto seus pensamentos preocupados se
fixavam mais uma vez em Carrick.

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Capítulo Dezesseis
Ela acordou assustada. O pesadelo ainda
vibrando em suas lembranças, embora suas
imagens horrendas já tivessem desaparecendo de
sua mente. Abriu os olhos de uma única vez fitando
o teto desconhecido acima de sua cabeça. Sua
respiração acelerada enchia seus ouvidos, não
conseguia se lembrar de como havia adormecido,
se remexeu com dificuldade na cama se levantando
enquanto se apoiava em seus cotovelos. O corpo
levemente dolorido era um reflexo da posição
incômoda em que ela se encontrava. Não tinha
ideia de que estava tão cansada daquela maneira,
mas agora ao menos um pouco da sonolência que
sentira durante toda a manhã havia finalmente
deixado seus olhos.

Seus olhos percorreram novamente o quarto


onde ela estava não havia nenhuma mudança ali. O
nervosismo voltou a agitar seu estômago, deixando
novamente as palmas de suas mãos suadas e
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escorregadias, colocou os dedos sobre os óculos em


seu rosto, então percebeu que eles não estavam
sobre seus olhos.

Olhando ao redor percebeu que alguém deveria


ter tirado ele de seu rosto enquanto dormia. O medo
deslizou por seu corpo, enchendo-a de um calafrio
gélido. Não gostava nem um pouco de pensar que
alguém desconhecido havia estado ali dentro
enquanto ela dormia; completamente indefesa.

Levantando-se Nina caminhou até a pequena


mesa que ficava na sala adjunta a cama. Sua
mochila estava ali aparentemente intocada, ao lado
de uma mesinha de centro, seus óculos estavam
sobre ela guardados com cuidado assim como seu
pequeno estilete que servia como peso de papel
sobre um bilhete.

A pressa deixou seus dedos agitados enquanto


ela devorava as palavras escritas no pequeno
rascunho. As letras era elegante e cursiva e o final
da nota estava assinado com o nome de Carrick. O
alívio a inundou como uma onda quebrando na
praia. Suas palavras eram curtas e apressadas, ele
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apenas dizia que estivera ali para que eles


pudessem conversar, mas como a havia encontrado
dormindo preferiu deixar que ela descansasse,
dizendo que voltaria mais tarde, ainda pedia que ela
aproveitasse o quarto tomando um banho e
trocando de roupas, e mais tarde alguém lhe traria
comida.

Nina rodeou o pequeno bilhete buscando mais


alguma coisa, qualquer tipo de informação que
pudesse encontrar, mas era apenas aquilo. Frases
escritas de forma apressadas, e que não respondiam
nenhuma das dúvidas que se acumulavam entre as
paredes de seu crânio.

Sentindo-se frustrada e irritada ao mesmo


tempo ela amassou o pequeno papel entre seus
dedos; estava começando a se arrepender de ter
seguido Carrick até aquele lugar, se soubesse que
na primeira oportunidade que ele tivesse o rapaz
simplesmente iria desaparecer daquela maneira
então teria simplesmente preferido continuar se
escondendo nas ruas de Nova York.

Os olhos dela percorreram as paredes daquele


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lugar. Apenas algumas horas atrás a ausência de


paredes e a multidão da cidade que a cercavam
haviam deixado completamente nervosa, olhando
constantemente por cima de seu ombro buscando
encontrar uma ameaça a perseguindo. Agora ela se
encontrava rodeada por paredes decoradas com
elegância, deveria estar sentindo-se segura
protegida, mas enquanto seus olhos se cravavam na
porta a sua frente que ela sabia continuava trancada
sabia que tudo aquilo não passava de uma ilusão.
Aquele quarto era uma gaiola dourada.

Os pensamentos continuaram colidindo dentro


de sua cabeça, as perguntas e as ideias crescendo
ali dentro como se buscassem qualquer canto para
existirem fazendo com que ela se sentisse
completamente perdida. O nervosismo mais uma
vez cravou as garras em seu coração, a essa altura
do campeonato ela já devia estar acostumada com
aquela sensação, mas o incômodo continuava a
perturbando profundamente.

Por fim decidiu que enquanto estivesse ali ao


menos ela poderia tomar um banho, manter-se
ocupada naquele momento talvez fosse a única
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coisa que ela pudesse fazer para não deixar que o


medo e a insegurança a paralisasse completamente.

Pela primeira vez desde que entrara ali Nina


deixou que sua atenção corresse pelo lugar. As
paredes ao redor eram altas decoradas com cenas
de pássaros e árvores e folhas que caiam ao vento,
como se tudo aquilo fosse uma gigantesca tela, e o
quarto tivesse sido construído no meio do quadro.
A cama encostada na parede possuía um dossel
alto, com travesseiros e almofadas num tom de
creme suave. Os objetos que decoravam o ambiente
tinham um toque asiático, no canto mais afastado
um bimbo de bambu dividia o resto do ambiente.

Os passos dela a levaram naquela direção, ali


Nina encontrou um banheiro ricamente decorado.
Toalhas felpudas e brancas, pendiam de ganchos
dourados na parede, o piso era de mármore assim
como a pia, ali uma orquídea num tom profundo de
roxo completava a decoração.

Não havia janelas em lugar algum, nada que


pudesse fazer com que ela observasse o que estava
acontecendo do lado de fora daquelas paredes. A
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suspeita dela fez com que sua atenção recaísse


sobre a maçaneta, não havia trancas ou fechaduras,
e o medo que sentia em seu coração tornou-se mais
firme deixando seus batimentos acelerados.

Todo aquele lugar não fazia sentido algum, não


conseguia compreender o que um quarto ricamente
decorado como aquele fazia na parte interna de
uma loja de penhores, e as suspeitas que
espreitavam na parte mais afastada de sua mente
não eram nem um pouco positivas.

Nina tentou controlar seus pensamentos


enquanto seus dedos giravam o registro do
chuveiro, a água escaldante caindo sobre seu corpo
foi como um bálsamo enquanto ela observava a
sujeira do dia anterior, deixar sua pele rodopiando
num tom acinzentado em direção ao ralo. Menos de
vinte e quatro horas haviam se passado desde sua
fuga, e tudo havia acontecido de forma tão caótica
que ela não ainda conseguia realmente colocar sua
cabeça em ordem.

Esfregou o corpo aproveitando o aroma cítrico


do sabonete que ela encontrara ali, enquanto seus
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pensamentos se desviavam em direção a seu tio, e


sua prima. A preocupação em relação a Olga era
como uma ferida, dolorida em seu coração, a
saudade constante um aperto em seu peito
lembrando-lhe sempre o quão longe de casa ela
estava. Se ao menos ela pudesse ouvir o som de sua
voz por cinco minutos então talvez um pouco do
imenso nó que havia se formado em seu interior
pudesse se afrouxar ao menos um pouco.

Lavou a cabeça, desembaraçando os fios


molhados com as pontas dos dedos, sentia-se como
se não pudesse mais conter a onda de ansiedade e
nervosismo que vinha acumulando desde o dia
anterior. Sabia que não estava preparada para
enfrentar tudo aquilo, e de certa forma agora sentia-
se como como uma tola que desafiara algo que
estava muito além de suas forças.

Os dedos dela se fecharam sobre o registro, o


pingar contínuo da água sobre seu corpo ressoando
no banheiro silencioso. Sabia que estava se
enveredando por um caminho perigoso, de auto-
piedade, mas naquele momento não conseguia
evitar. Tentou por um momento limpar todos os
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pensamentos em sua cabeça, e tentar se focar


naquele momento. Agora a coisa mais importante
que precisava a fazer era encontrar Carrick, e então
depois eles finalmente decidiriam se aceitariam a
ajuda da Tríade ou não.

Com pressa Nina secou-se de qualquer jeito, os


dedos dela deslizaram sobre a superfície do espelho
revelando seu reflexo. A garota que a encarava de
volta agora era mais parecida com suas
recordações. A noite mal dormida ainda podia ser
observada embaixo de seus olhos como olheiras
levemente arroxeadas, e o sol quente do verão
havia deixado algumas sardas douradas e
indesejáveis sobre seu nariz e o alto de suas
bochechas, mas definitivamente depois daquele
banho, ela quase sentia-se completamente
recuperada.

Usando um dos roupões felpudos que ela


encontrara no banheiro Nina voltou para o quarto,
ela havia retirado a tala que Carrick fizera mais
cedo, e embora o tornozelo ainda estivesse
levemente inchado, a dor aguda que sentira nele
havia se transformado num incomodo apenas
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quando ela caminhava.

Ao lado do biombo ela notou que havia mais


uma porta, a curiosidade a levou a girar a maçaneta
encontrando ali um closet repleto dos mais finos
vestidos e roupas elegantes. Mais uma vez ela
imaginou a quem aquele quarto poderia pertencer,
mas a pergunta simplesmente continuou
perdurando em sua cabeça sem resposta, enquanto
ela fechava a porta diante de si, enquanto voltava
até o lugar onde havia deixado sua mochila.

Preferia mil vezes usar suas próprias roupas


enquanto estivesse naquele lugar desconhecido e
sem informação, alguma até ela finalmente poder
entender o que estava acontecendo.

Ela não havia tomado as decisões mais logicas


quando fizera sua mochila de fuga e agora podia
claramente perceber isso em suas escolhas de
roupas. Pelo visto ela não trouxera muitas calças
jeans, e precisaria torcer para que o tempo não
esfriasse de repente por que ela havia esquecido
completamente de trazer uma única blusa de frio
que fosse. Seu mal humor ficou apenas mais
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acentuado quando ela percebeu que também não


trouxera tantas camisetas quanto havia imaginado.
Na correria ela simplesmente abrira as portas de
seu guarda roupa jogando coisas aleatórias em sua
mochila, achando que aquilo seria o suficiente.
Deveria ter sido mais cuidadosa, usada a cabeça na
hora de montar sua mochila, mas estivera tão
nervosa que até mesmo as lembranças daquele
momento pareciam enevoadas em sua mente.

Por fim Nina decidiu usar um dos vestidos que


trouxera sem ter nenhuma intenção. A peça era uma
das mais confortáveis que ela possuía com mangas
finas e de algodão, o tipo de roupa que ela estava
acostumada a usar em casa, enquanto ela e Olga
simplesmente matavam o tempo assistindo um
filme qualquer até tarde da noite. Não era nem de
perto sua primeira opção de roupa, mas ao menos
ela poderia usá-la sem precisar gastar uma das
outras que seriam mais úteis em outros momentos,
aproveitando aquele momento de relativa
segurança.

Ela havia acabado de se trocar e estava


terminando de secar seu cabelo, quando a porta do
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seu quarto se abriu sem nenhum aviso. O coração


saltou de forma estrondosa em seu peito numa
batida alta, depois disparou como um tambor
enlouquecido quando ela percebeu que a figura que
havia entrado no quarto naquele momento era
Carrick.

Ela notou que ele tomara um banho assim como


ela, os cabelos mais uma vez estavam úmidos, as
ondas castanhas avermelhadas, secando ao redor de
suas orelhas alcançando o colarinho de camiseta.
As roupas sujas e ensanguentadas que ele usava
haviam sido substituídas. A calça jeans em seu
corpo encobria perfeitamente seus músculos,
deixando pouco para sua imaginação, a camiseta de
mangas cumpridas que ele usava era de um tom
cinzento que combinava com o tom pálido de sua
pele. Carrick não tinha o físico clássico de um
homem que costumava passar horas na academia,
mas sua alta estatura e seus músculos delgados
destacavam sua presença. Havia graça e força ali, e
embora Nina soubesse que precisava desviar sua
atenção por um momento sentiu-se incapaz de fazer
isso, enquanto o observava silenciosamente.

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Ele parecia um novo homem, um completo


estranho que ela acabara de conhecer, e ela notou
que essa sensação era porque aquela era a primeira
vez que ela podia enxergar o rosto dele
completamente sem o sangue de seus ferimentos.
Antes ela havia o achado bonito, de um jeito quase
rustico, mas agora ela percebia quão ingênua havia
sido. Carrick era estonteante, de um jeito quase
intimidador.

Os hematomas no rosto dele ainda continuavam


ali, sombreando seus olhos verdes, mas isso não lhe
prejudicava em nada. Em silêncio ela observou
como ele fechou a porta atrás dele, o ruído da
madeira ecoando no quarto silencioso. Enquanto
caminhava em sua direção Nina sentiu-se de
repente muito consciente de si mesma, detestou a
escolha que fizera de usar aquele vestido, enquanto
desejava ao menos ter encontrado uma escova de
cabelos no quarto. Todos esses pensamentos
passaram como raios em sua mente, enquanto o
fôlego ficava preso em sua garganta, dificultando
sua respiração.

Os dedos dela se prenderam ainda mais no


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roupão que ela segurava, os olhos de Carrick presos


em seu rosto, pareciam desafiá-la a não desviar o
olhar. Ele caminhou em sua direção
tranquilamente, uma graciosidade ferina marcando
cada um de seus movimentos. Ele parou diante
dela, tão próximo que se ela desse apenas mais um
passo adiante seus pés descalços tocariam as pontas
das botas surradas dele. Ela estava sem óculos, mas
de perto ela podia enxergar a figura dele com
perfeição a forma como sua camisa parecia aderir a
seus ombros, o jeito que seu cabelo brilhava contra
a luz que iluminava o quarto, os dedos agarrados
em seu roupão formigaram de desejo para toca-lo, e
aquilo foi o suficiente para assusta-la
completamente. Ela não sabia o nome do
sentimento que naquele instante parecia borbulhar
em seu coração, enquanto seus olhos estavam
presos em Carrick, mas tinha plena certeza de que a
atração que sentia em relação a ele, era perigosa.

Nina tentou encontrar algo inteligente para lhe


dizer, sarcástico na medida certa apara aliviar o
clima de tensão e expectativa que parecia ter se
instaurado entre eles, mais seus lábios continuavam
selados de maneira firme numa linha rígida, as
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palavras ausentes de sua língua.

- Você parece estar descansada – disse Carrick


de maneira simples para ela seus olhos percorrendo
lentamente sua figura.

Nina sentiu a vergonha se concentrar no alto de


suas bochechas, por algum motivo ela de repente
sentia-se completamente deslocada naquele lugar,
como se não soubesse exatamente o que fazer com
suas mãos. Forçando um sorriso em seus lábios ela
sorriu para ele, enquanto buscava acalmar o ritmo
frenético de seu coração.

- Um banho decente e algumas horas de sono


costumam fazer isso pelas pessoas – Havia um
nervosismo nítido em sua voz, mas ela tentara soar
da maneira mais descontraída possível, esperou
encontrar algum humor, até mesmo um sorriso no
rosto de Carrick, mas ele continuou impassível
quase distante – Você está bem?

- Você deve estar com fome. Acho que logo


eles irão entregar alguma comida para nós.

Nina não deixou de notar que ele não


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respondera sua pergunta, o incômodo em seu


estômago tornou-se mais intenso. Carrick deu um
passo para trás se afastando enquanto deixava que
sua atenção percorresse todo o quarto a seu redor.
Ela teve vontade de lhe perguntar exatamente o que
havia acontecido desde que eles se separaram no
final da manhã, mas sua língua parecia ter ficada
presa ao céu de sua boca, e de repente percebeu que
temia escutar qualquer uma das respostas que ele
estivesse ali para lhe dar.

- Estamos seguros aqui? – A pergunta escapou


com seus lábios com dificuldade, como se
pesassem em sua língua.

Carrick não lhe respondeu de imediato,


contornando a pequena mesa de centro, ele sentou-
se esticando suas pernas sobre ela no sofá vazio
diante dele. Ele parecia relaxado, quase tranqüilo,
mas para Nina de alguma forma aquela atitude lhe
parecia estranha, quase fingida. Havia algo que ela
não conseguia reconhecer por detrás de seus olhos
verdes, que deixava um pressentimento ruim pesar
em seu coração.

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- Por enquanto, o lugar é seguro – respondeu


Carrick por fim, sem olhar em sua direção. – Eu
conversei com Han mais cedo, ele disse que está
disposto a colaborar.

- Quem é Han? – perguntou a garota sentando-


se diante dele, no sofá oposto deixando de seu lado
o esquecido roupão.

- Han Zhou é um contrabandista. Ele trabalha


para a Tríade, embora quando tenha algum
interesse pessoal também coopere com os italianos,
e os albaneses.

- Você acredita que ele pode convencer a


Tríade e nos dar proteção? Ao menos
temporariamente?

Os olhos de Carrick se desviaram em sua


direção, havia sombras por detrás de seus olhos
esmeraldinos, ele parecia concentrado como se
houvesse milhares de coisas pesando em seu
pensamento, Nina sentiu a empatia brotar em seu
peito, ela também tinha a sensação de que a
qualquer momento sua cabeça poderia explodir

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repleta de informações e perguntas.

- Han me garantiu que ira falar com a Tríade a


respeito de nosso pedido. Enquanto isso podemos
esperá-lo aqui.

- Esse lugar... – perguntou Nina tentando


montar o quebra cabeça de informações que se
colocava diante dela – Pertence a ele?

- Han possui um bom pedaço de lojas em


Chinatown, mais da metade delas ele usa como
disfarce para suas operações de contrabando. O
lugar onde estamos é um desses.

- Então os russos não podem nos encontrar


aqui...

As palavras deixaram os lábios de Nina como


se fossem um reflexo de seus pensamentos mais
íntimos. Em sua mente a imagem de seu tio brilhou
com uma nitidez assustadora. Ela conhecera aquele
homem durante mais da metade de sua vida, e
agora do dia para noite apenas uma lembrança sua
era capaz de lhe despertar um terror gélido que
deixava todo seu corpo paralisado de medo.
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- Os russos não podem tocá-la aqui dentro. –


disse Carrick de maneira categórica, como se ele
também precisasse dizer aquelas palavras em voz
alta, para transformá-las em realidade.

- Mesmo assim o que faremos caso a Tríade não


esteja disposta a nos proteger? – perguntou Nina
tentando controlar o nervosismo que havia deixado
suas mãos trêmulas mais uma vez – Não temos
nenhum plano... Nada... – As palavras dela
morreram em seus lábios enquanto ela se dava de
conta de como soavam de maneira ridícula. Ela não
podia continuar com aquele discurso. Agora que
ambos estavam livres não fazia sentido algum
Carrick continuar protegendo-a. Ele cumprira sua
parte no trato que eles haviam feito. Se a Tríade
realmente não tivesse nenhum interesse em
protegê-la, então ela simplesmente deveria
encontrar uma maneira de fazer isso sozinha.

O silêncio entre eles pairou pesado, tão denso


que poderia ser cortado por uma faca. Por um
instante ela desejou que ele respondesse, que
continuariam juntos mesmo que a Tríade lhes
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negasse proteção, embora soubesse que esse


simples pensamento não passava de seu egoísmo e
ingenuidade.

Um toque leve na porta interrompeu, os


pensamentos da garota, imediatamente Carrick
colocou-se de pé como se estivesse esperando por
alguém. Em silêncio ela observou enquanto ele
caminhava até a porta abrindo-a tranquilamente.
Parada no batente estava a mesma adolescente que
havia a trazido até ali. Ela usava um curto vestido
tomara que caia, e seus lábios exibiam um tom
forte de vermelho. O estômago de Nina se
contorceu diante daquilo, embora ela não soubesse
muito bem o motivo, nas mãos ela carregava uma
bandeja de prata que Carrick tomou dela, fechando
a porta em seguida sem nenhum agradecimento.

O cheiro de comida, atingiu suas narinas com


força, e embora ela não pudesse negar a náusea que
deixava um gosto acido em sua boca, sentiu a fome
agitar suas entranhas. A última coisa que havia
comido, tinha sido seu parco café da manhã e desde
então sentia como se toda uma eternidade tivesse se
passado.
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Carrick depositou com cuidado a bandeja sobre


a mesa, Nina deixou que sua atenção se focasse
diante dos pratos a sua frente. Ela reconheceu
alguns deles como gyozas, tempuras e um macarrão
cozido branco a base de arroz, mas havia outros
que ela não era capaz de reconhecer.

- Coma – disse Carrick simplesmente


empurrando em sua direção, a bandeja com a ponta
dos dedos – Você deve estar com fome.

Nina obedeceu guiada realmente por um


instinto, ela serviu-se de uma porção de arroz,
gyoza e rolinho primavera. Diante dela Carrick
simplesmente cutucava a porção que havia
colocado para si mesmo num prato, os olhos
encarando sua comida pareciam distante como se
sua atenção não tivesse ali de forma alguma.

O gosto delicioso da comida explodiu em sua


boca, a massa do rolinho primavera estalando em
sua língua, ela comeu uma porção, e depois se
serviu de mais uma, embora seu estômago estivesse
agitado como um mar raivoso.

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- Você não vai comer? – perguntou Nina,


enquanto olhava para Carrick, tentando entender
seu humor completamente alterado.

Os olhos dele se fixaram em seu rosto, ele não


parecia o rapaz alegre e bem disposto daquela
manhã. O gosto da comida, logo perdeu o sabor em
sua boca, enquanto ela largava o resto de seu prato
sobre a mesinha ao lado da comida intocada de
Carrick,

- Aconteceu alguma coisa? – disse Nina,


sabendo que suas palavras não eram uma pergunta,
apenas a constatação de um fato.

Um suspiro frustrado deixou os lábios de


Carrick, quase como se ele tivesse tentando conter
algo que ela não sabia identificar, Os dedos longos
dele passaram pelas mechas de seu cabelo ainda
úmido, deixando-os ainda mais bagunçados. Nina
deixou que sua atenção fosse atraída para seus
machucados. Alguém havia tratado suas feridas,
enfaixando as pontas de seus dedos destruídos. De
alguma forma aquela visão trouxe um alívio quase
doloroso para seu coração.
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- Han, estará aqui num minuto – comentou o


rapaz, desviando mais uma vez do assunto – E eu
preciso de uma bebida.

Carrick levantou-se mais uma vez caminhando


para o fundo do quarto em direção a cama, como se
conhecesse bem o lugar Nina observou ele abrir o
pequeno armário que estava ali como um criado-
mudo, dentro dela havia uma quantidade razoável
de refrigerantes, cervejas e outros destilados., Nina
jamais teria imaginado que aquele móvel estaria
servindo como um frigobar, mas a cada momento
que passava naquele lugar começava a perceber que
tudo o que havia ali dentro não era o que parecia, e
muito provavelmente servia a um propósito
completamente diferente.

Os dedos de Carrick se fecharam sobre a ponta


de uma pequena garrafa de vidro, usando um
abridor que ele encontrou ali dentro de uma
pequena cesta, ele abriu a garrafa do destilado
tomando um longo gole, como se estivesse sedento
e aquilo fosse a única coisa do mundo capaz de
aplacar sua sede.

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Nina levantou-se embora não soubesse muito


bem porque havia feito isso. Algo na postura de
Carrick, na ausência de suas resposta havia lhe
assustado, embora ela soubesse que aquilo não
fazia sentindo algum.

- Carrick – perguntou ela de maneira quase


tímida – Você está bem? Aconteceu alguma coisa.

- Você nunca me disse – respondeu o rapaz a


interrompendo, enquanto deixava a bebida em suas
mãos pairar a meros centímetros de seus lábios –
Por que queria fugir daquele lugar?

A pergunta direta pego-a completamente


desprevenida. Ela tentou controlar o espanto que
havia tomado conta de suas feições mas tudo o que
pode fazer foi desviar seu rosto, cravando ele nas
imagens de pássaros nas paredes que os cercavam.

- Isso faz alguma diferença? Depois de termos


escapado?

- Acho que não – respondeu Carrick dando de


ombros tranquilamente, enquanto tomava mais um
gole – Mesmo assim eu ainda estou curioso.
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Com cuidado ela observou ele deixar a bebida,


inacabada sobre a cama, a garrafa pela metade
permaneceu em pé equilibrada precariamente, mas
Nina não podia se preocupar com ela, toda sua
atenção estava focada em Carrick o jeito que ele
caminhava em sua direção. Cada movimento lento,
como se ele estivesse tentando deliberadamente não
assustá-la.

- Eu pensei muito a respeito, criei várias teorias


em minha cabeça, mas nenhuma delas fazia o
menor sentido.

A voz dele era tranquila, os olhos fixos em seu


rosto repleto de dúvidas. Por um momento as
respostas pareceram borbulhar em sua língua.
Talvez ela devesse contar a ele dizer a verdade, ela
estava livre então o que temia? Mesmo assim seus
lábios permaneceram fechados, com o rosto virado
para a parede, ela respondeu da forma mais sincera
que podia naquele momento.

- Eu não podia continuar ali...

- Por que? Qual era o seu medo?


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As palavras dele ecoaram em sua mente


trazendo imagens dolorosas da noite de seu
aniversário.

O homem que eu acreditava ser minha família


me traiu, pretendia me vender como se eu fosse
uma mercadoria. O mundo em que eu vivia era
apenas uma ilusão bonita. Não quero mais
continuar vivendo dessa forma, não suporto mais
fugir, mas não sei para onde ir. Sinto saudades de
minha mãe, mas não sei o que fazer para encontrá-
la.

Os pensamentos ricochetaram em sua mente


uma após o outro numa sucessão infinita trazendo
lágrimas a seus olhos que ela se recusava a
derramar. Estava cansada de sempre estar naquela
posição indefesa, incapaz de fazer algo por si
mesma. Com medo da própria sombra, ela queria
confiar em Carrick, ele havia sido o único que
estivera a seu lado, mas como fazer isso? Estava
petrificada naquele lugar, apenas o coração se
movia dentro de seu peito de maneira
enlouquecida.
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Os dedos dele se ergueram tocando uma mecha


do seu cabelo que havia caído por seu ombro, ela
mal podia sentir o toque e mesmo assim seu corpo
vibrou por sua proximidade. Os sentimentos que
ele despertava em seu corpo a assustavam, a parte
racional em seu cérebro lhe dizia o quanto aquilo
era inútil e perigoso, mesmo assim ela não sentia
que era capaz de evitar.

- Você não vai me dizer – disse Carrick por fim,


sua voz soando não mais alto do que um sussurro
no quarto silencioso. – É realmente uma pena.

A decepção em seu olhar lhe acertou o peito


como uma fisgada, por um momento ela imaginou
despejar toda a verdade diante dele, como se
vomitasse tudo o que havia lhe acontecido,
esperando que mesmo depois de tudo ele pudesse
continuar a seu lado, ou mesmo lhe perdoar quando
descobrisse que ela havia o usado. Que tudo o que
havia feito até aquele momento tinha sido pensando
em si mesma e sua segurança. Que ele não passara
de um joguete para que ela pudesse se livrar das
garras do seu tio, e que talvez no final das contas
ela mesma não fosse tão diferente assim de Serguei.
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Mas, no fim das contas ela permaneceu com os


lábios fechados e o coração pesado no peito. Era
uma covarde que não tinha a coragem suficiente de
lhe dizer a verdade, porque naquele momento
embora soubesse que aquilo não poderia ter
nenhum futuro, desejava que pudesse permanecer
ao lado dele, pelo menos por mais algum tempo...

Uma leve batida na porta ressoou pelo ambiente


chamando a atenção de Nina, ela olhou por cima
dos ombros, esperando que ela se abrisse, mas
Carrick não parecia nenhum um pouco preocupado
pela interrupção.

- Deveríamos abrir a porta.

- Han, pode esperar ao menos mais cinco


minutos, ele vai ter bastante tempo depois disso.

Nina não entendeu as palavras de Carrick, mas


quando deu um passo em direção a porta, o braço
dele segurou seu pulso impedindo-a que ela
seguisse em frente.

- Eu acabei de me lembrar Ekaterina, que nunca


tive chance de agradecê-la, por ter me tirado
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daquele porão. Por favor, me deixe concertar isso.

Nina não teve chance de se recuperar do


espanto de ouvir seu nome sendo dito por Carrick,
a mão dele que segurava seu pulso, puxou-a em sua
direção, suas pernas trêmulas perderam o equilíbrio
e então os lábios dele estavam sobre os seus.

A surpresa fez com que ela deixasse seus lábios


abertos, assim como seus olhos. O toque de sua
boca era macio mais possessivo, o braço ao redor
de sua cintura se fechou como um aperto de ferro.
Ela não lutou e mesmo que quisesse não seria capaz
de resistir a sua força.

O rosto dele estava contraído, as sobrancelhas


franzidas, com a mão livre ela sentiu os dedos dele
pressionando sua nuca, enquanto rodeavam sua
cabeça inclinando-a para que ele pudesse ter um
acesso melhor para seu beijo.

A parte racional em seu cérebro lhe pediu para


resistir, mas as batidas descontroladas do seu
coração, não deixavam seus pensamentos claros o
suficiente. As mãos dela estavam sobre seu peito,

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as unhas cravadas em sua camisa, a língua dele


deslizou por seu lábio inferior, uma caricia tão
intima que acendeu o desejo em seu corpo, e o
momento deles se separarem se perdeu pra sempre.

Nina ficou na ponta de seus pés para alcançar


seu beijo com mais facilidade, a dor em seu
tornozelo esquecida por completo, o corpo colado
ao dele, sentindo o contorno de seus músculos. O
gemido que ele deu do fundo de sua garganta
ressoou em seus lábios abertos, uma vibração que
deixou os cabelos de sua nuca arrepiados. Ela já
havia sido beijada antes, mas nada era como aquilo.
Os beijos roubados que ela recebera dos
adolescentes que conhecera pareciam agora
tentativas erradas e mal executadas. Carrick a
beijava com sofreguidão, quase dolorosamente,
como se ele realmente precisasse daquilo, como se
não pudesse ter o suficiente daquele beijo.

Foi extremamente fácil se entregar, pular


precipício adiante, erguendo seus braços enquanto
rodeava seu pescoço, seus dedos traçando os
contornos de seu cabelo, eles eram macios
exatamente como ela havia imaginado talvez até
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mais, o aroma de chuva invadiu suas narinas, o


cheiro dele como terra molhada, e soube que jamais
poderia se esquecer daquilo.

Carrick interrompeu o beijo puxando seu corpo


para trás, enquanto soltava de maneira brusca seu
braço de sua cintura. Por um minuto que pareceu
durar muito mais tempo eles apenas se
entreolharam, a respiração acelerada de ambos
enchendo o ambiente.

Os toques da porta se repetiram dessa vez mais


altos, dando um passo para trás Carrick desviou
dela caminhando até lá, abrindo-a sem nenhuma
cerimônia.

Com o coração ainda acelerado, Nina deixou


que sua atenção caísse sobre o homem
desconhecido parado do lado de fora do quarto. O
cabelo grisalho estava cortado de forma elegante
rente a cabeça, um bigode bem aparado contornava
seus lábios finos, ele sorriu em sua direção embora
seus olhos castanhos tivessem permanecido
distantes.

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- Espero não ter interrompido nada – disse o


desconhecido, enquanto rugas surgiam ao redor de
seus olhos amendoados, e um sorriso de deboche
brilhava em seu rosto.

- Eu já acabei por aqui. Ela é toda sua.

- Procure Lin quando tiver saído daqui ela irá


entregar sua parte no acordo.

Por um momento Nina não conseguiu


compreender totalmente aquelas palavras, como se
seus ouvidos tivessem escutado algo diferente do
que seu cérebro poderia interpretar.

- Carrick...? O que está acontecendo?

Ele não lhe respondeu, nem mesmo chegou a


olhar em sua direção, ultrapassando o homem
diante dele ela observou ele se afastar porta afora, o
pânico e a incredulidade fizeram com que seu
corpo se movesse.

- Carrick!

A voz dela viajou pelo corredor, o nome dele


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ecoando nas paredes, mas ele não olhou para trás,


Nina desejou segui-lo, correr atrás dele chacoalhar
seus ombros se fosse necessário, qualquer coisa que
fizesse com que ele lhe desse uma explicação.
Qualquer explicação, além da terrível suspeita que
havia se infiltrado por seu cérebro, mas seu
caminho foi barrado pelo homem que havia
interrompido ambos.

- Saia da minha frente! – disse a garota sem


reconhecer por completo o tom ferino em sua voz.

- Acho que não, eu e você temos assuntos para


tratar. – disse o homem diante dela tranquilamente.

- Eu não tenho nada a dizer para você, eu nem


ao menos te conheço, eu preciso saber o que
Carrick pensa que está...

- Fazendo? – completou o desconhecido por


ela, enquanto terminava sua frase. Eu imaginava
que a essa altura você já teria compreendido.
Sullivan a traiu, mas é claro que tudo isso é culpa
sua, afinal você nunca deveria ter confiado no
Duende.

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Capítulo Dezessete
Carrick havia a traído.

A frase rodeou os pensamentos dela, se


repetindo uma vez após a outra, se transformando
num murmúrio infinito. Ela não podia acreditar
naquilo, e mesmo assim a verdade era esfregada em
seu rosto, ardendo dolorosamente como se alguém
tivesse jogado sal em suas feridas.

- De qualquer forma, eu e você temos assuntos


pendentes!

A atenção de Nina foi atraída para o homem a


sua frente, havia um brilho malicioso em seus olhos
castanhos que fez com quem calafrio agourento
escorresse por suas costas. Ela tentou contorna-lo,
ignorando-o por completo. Ainda não conseguia
compreender exatamente o que estava acontecendo,
seus olhos ainda estavam fixos no corredor, no
espaço vazio deixado por Carrick. Como se uma
parte de seu cérebro ainda acreditasse que ele
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pudesse voltar até ali, com uma explicação


coerente.

As mãos do desconhecido pousaram de maneira


dolorosa sobre seus ombros, ela tentou lutar contra
ele, mas seu corpo foi arrastado, de volta para
dentro do quarto. Ela se debateu usando toda sua
força, as pernas balançando no ar enquanto tentava
chuta-lo, mas todos seus esforços pareceram apenas
diverti-lo.

Segurando-a contra seu corpo, o desconhecido


bateu a porta atrás de suas costas, trancando-os ali
dentro. O desespero apenas fez com que Nina se
debatesse ainda mais, ela tentou jogar a cabeça para
trás na esperança de acertá-lo, machuca-lo de
algum jeito, mas ele apenas se desviou. O gosto de
acre invadiu sua boca, ela havia mordido sua língua
tentando se defender. Gritou usando toda a força
em seus pulmões, mas aquilo apenas serviu para
deixá-lo irritado.

Ele carregou seu corpo, jogando-a de qualquer


forma contra o sofá, o tecido de seu vestido se
entrelaçando contra suas pernas. O medo fez com
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que a bile arranhasse sua garganta. Suas mãos


foram puxadas para frente, enquanto seus pulsos
eram atados juntos por um laço de plástico. Ela
tentou resistir, mas o homem diante dela lhe atingiu
um tapa com toda a força em seu rosto.

Sua cabeça foi empurrada para trás, a dor


explodindo como estrelas por trás de suas pálpebras
fechadas, ela tentou usar suas mãos para amparar
sua queda no sofá, mas o plástico apenas cortou a
pele ao redor de seu punho.

- Eu não queria ter de recorrer a violência, mas


você não me deixou outra opção.

Os olhos de Nina se focaram no homem diante


dela, o zumbido em seu ouvido era incomodo,
como se uma abelha tivesse ficado presa dentro de
sua cabeça. A dor em seu rosto era dolorosa, mas
ela empurrou todas aquelas sensações, para o fundo
de sua mente naquele instante, buscando uma
maneira de resistir.

- Permita que eu me apresente – disse o homem


diante dela, um sorriso educado em seu rosto, como

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se eles tivessem acabado de ter um encontro


educado – Meu nome, é Han Zhou, eu faço parte da
Tríade.

- Vai para o inferno!

- É claro que você não precisa se apresentar


para mim, eu a conheço muito bem Ekaterina
Yurievna Serov, mas devo dizer que de certa forma
estou surpreso, eu imaginava que sua personalidade
fosse mais parecida com a de seu pai. Fria e
distante.

- Meu pai? – perguntou a garota, o espanto


tomando conta de suas feições. – O que tudo isso
tem a ver com meu pai?

- Vejo que agora finalmente consegui chamar


sua atenção, talvez possamos conversar agora como
duas pessoas civilizadas.

- Me solte, e eu vou pensar se realmente tenho


interesse em qualquer coisa que você possa me
dizer.

- Ah, mas eu sei que você está interessada –


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respondeu Han Zhou – Pelo menos deseja saber por


que o Duende lhe traiu. – Os olhos dele se fixaram
em seu rosto, castanhos e brilhantes de um jeito
ameaçador, ele estava gostando daquela situação,
do fato de possuir todas as respostas, e ela nenhuma
como se ele fosse o predador brincando com sua
refeição – Não imaginei que você seria tão ingênua
em confiar em alguém como ele – continuou Han -
Quando Sullivan chegou aqui hoje de manhã
dizendo que estava com a filha de Serov, eu não
acreditei em suas palavras. Achei que pudesse ser
mais um de seus truques, mas estava enganado, e
agora vejo em seus olhos que você não sabia nada
sobre ele. Quanta ingenuidade da sua parte.

Han Zhou desfilou diante dela, como se eles


tivessem todo o tempo do mundo. Nina tentou
sentar-se equilibrando precariamente seu corpo
sobre o sofá onde ele havia lhe empurrado, a dor ao
lado de seu rosto tornou-se ardente, a pele acima de
seus olhos e têmpora quente, o zumbido havia
diminuído, mas as palavres daquele homem ainda
chegavam até ela de uma maneira muito clara.

Ele sentou-se no mesmo lugar que Carrick


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havia ocupado e ela se obrigou a olhar realmente


para aquele homem, compreender cada detalhe,
enfrentar sua figura, pois naquele momento sua
única opção era essa ou simplesmente se entregar
ao desespero.

O contrabandista aparentava ter a idade de seu


tio, as roupas que ele usavam pareciam serem
elegantes embora simples. A camisa social azul
escura combina com perfeição com a calça em
estilo tradicional. Sentado diante dela, com os
dedos cruzados sobre seu colo ele era a imagem de
um homem educado, civilizado, mas Nina havia
convivido tempo demais no meio de homens como
aquele, para saber que tudo o que ela enxergava ali
era uma fachada. A mão que havia atingido seu
rosto era pesada, sua palma endurecida, Han Zhou
era um homem que estava acostumado a violência,
pois era ele quem a executava.

- Estou curioso a respeito de algo – começou


ele, elevando o queixo, seus olhos se focando por
um momento no teto acima deles. - Carrick me
disse que vocês se encontraram por acaso, embora
não tivesse me dito exatamente onde. Me pergunto
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o que ele disse para conseguir tira-la debaixo da


proteção de Serguei. Foram os olhos verdes? Ou o
jeito que ele lhe contou meias verdades. O Duende
é conhecido por sua língua doce e venenosa.

A vergonha esquentou as bochechas de Nina


fazendo com a área onde Han havia acertado
doesse de forma ainda mais incômoda. Naquele
momento a única coisa que ela desejava era reviver
qualquer lembrança a respeito de Carrick. A traição
dele ainda estava fresca demais, ela ainda não podia
acreditar que ele havia feito isso.

- O que você quer comigo? – perguntou Nina,


deixando suas palavras escaparem para fora de seus
lábios contraídos. A raiva que ela sentia deixava
seu tom de voz mais abafado.

- Infelizmente para ser honesto, eu não tenho


nenhum assunto a tratar com você pessoalmente.
Você senhorita Serov, não passa de um efeito
colateral.

Nina deixou que sua atenção se voltasse para


seu colo onde suas mãos repousavam de maneira

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dolorida, as pontas de seus dedos já haviam


começado a ficarem dormentes. Ela esfregou
ambos os pulsos, mas aquilo apenas deixou que a
pele machucada naquela região ficasse ainda mais
fragmentada, o sangue escorreu como um pequeno
filete sujando a barra do seu vestido.

- Isso não passa de uma perda de tempo –


rebateu a garota – Eu não entendo nada do que
você está falando.

- É exatamente por isso que estamos


conversando. Antes de resolver meus negócios
pendentes, eu gostaria que você entendesse
completamente sua situação. Você sabe por que
esta aqui Ekaterina Serov? Sabe por que foi
traída?

As palavras de Han flutuaram até seus ouvidos,


ferindo-a como se ela tivesse pisando sobre cacos
de vidro.

- Aparentemente estou aqui, porque fui idiota o


suficiente para confiar na pessoa errada. Acredite
em mim não vai acontecer novamente.

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A risada de Zhou encheu os ouvidos de Nina,


deixando o zumbido em seu ouvido mais estridente.
Rangendo os dentes em sua boca, ela tentou de
todas as formas encontrar uma maneira de ter
alguma idéia para conseguir escapar daquela
situação.

- Há verdade em sua resposta, mas esse não é o


único motivo pelo qual está aqui. – respondeu Han,
seus olhos castanhos escuros fixos em seu rosto –
Não, de forma alguma essa é a única razão pelo
qual eu paguei uma pequena fortuna para colocar
minhas mãos sobre a filha de Yuri Serov.

O nome do pai atraiu sua atenção, exatamente


porque ela não costumava ouvi-lo com muita
freqüência, mesmo na casa de seu tio o nome de
seu pai era na maioria das vezes evitado, quase
como um segredo compartilhado entre todos que
era simplesmente evitado, esquecido como a poeira
que se acumulava sob o tapete.

- Você realmente não sabe o que eu estou


dizendo – continuou Han, as pontas de seus longos
dedos batendo contra seu queixo pontudo – Eu
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havia ouvido historias, sobre a alienação das


princesas russas, as filhas dos mafiosos russos. De
como a Bratva gostava de manter suas mulheres
longe de seus problemas, seu ‘serviço’. Dessa
forma eles gostam de dizer a si mesmo que vocês
continuam puras e limpas, exclusivamente para que
eles possam desfrutá-las dessa forma – sorrindo
Han concluiu – Se quer saber minha opinião acho
tudo isso trabalhoso e desnecessário, mas quem
entende os russos?

A descrição de tudo o que aquele homem lhe


dizia explodiu em sua mente. Ela queria contradizer
suas palavras, erguer a voz enquanto respondia o
quanto ele estava errado, mas as palavras não
chegavam até sua língua porque se ela deixasse que
elas escapassem de seus lábios então estaria
mentindo.

Ela havia crescido dentro daquele mundo, e


embora tivesse vislumbrado o mundo de seu tio por
uma fresta muito pequena, sempre houvera uma
parte dela que sabia que tudo a seu redor estava
errado. Ela nunca havia passado de nada além de
um pássaro raro numa gaiola de ouro.
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- Você está aqui por causa de seu pai – disse


Han, agora de maneira muito seria, enquanto seus
dedos desabotoavam com calma o punho de suas
mangas – Eu o conheci alguns anos atrás, veja bem
nós tivemos um pequeno desentendimento. Seu pai
era famoso, e eu achei que de alguma forma
poderia enfrentá-lo. Um erro que me custou muito
caro como você pode ver.

Diante dela Han ergueu as mangas de sua


camisa, enrolando ambas ao redor de seus
cotovelos, erguendo seus braços contra a luz para
que ela pudesse observar com clareza. As
horrendas cicatrizes cortavam sua pele, de maneira
muito visível pálidas contra sua pele bronzeada,
pareciam antigas e lembraram a Nina por um
momento raízes retorcidas que haviam se
entrelaçado por seu corpo.

- Não é um espetáculo bonito devo admitir, mas


depois daquela noite sei que tive sorte de sair do
encontro com seu pai com vida. Eles o chamavam
de “Retalhador” você sabia? Yuri gostava de
marcar suas vitimas, arrancar alguns pedaços
diziam que ele os guardava consigo.
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As palmas das mãos de Nina começara a suar


profusamente, seus lábios de repente estavam muito
secos, a saliva mais parecia areia em sua boca.

- Pelo olhar em seu rosto você não parece que


sabia nada disso a respeito do passado do velho
Yuri – continuou Han – Eu era apenas um jovem
inexperiente quando o encontrei, entusiasmado
porque acabara de ser aceito pela Tríade, mas nada
disso significava coisa alguma para ele. Eua havia
ultrapassado o território russo nos portos, e ele me
queria morto. Fui salvo por alguns homens de
minha família, mas seu pai fez questão de não me
deixar esquecer aquela noite. Ele cortou os
músculos em meus braços de tal forma que eu
nunca mais consegui mexe-los corretamente. Meu
desejo de me tornar um soldado da Tríade morreu
aquela noite, e eu tive de me contentar com o fato
de ser apenas um contrabandista, responsável pelas
sobras de minha organização.

A voz dele havia se tornado mais gélida, seu


olhar mais vazio enquanto a observava, e Nina
sentiu o tremor do pânico tomar conta de seu
corpo.
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Han Zhou levantou-se caminhando em sua


direção, os braços estendidos para cima virando-os
contra luz enquanto observava suas próprias
cicatrizes sem olhar em sua direção.

- Eu nunca mais fui capaz de usar meus dedos


corretamente – disse ele de maneira muito simples,
sua voz sem qualquer tipo entonação – Pequenas
tarefas como segurar um garfo para comer, amarrar
os sapatos tudo transformou-se em algo
extremamente difícil. Eu nunca mais pude segurar
uma arma para me defender, e tudo isso graças ao
seu pai.

Nina ergueu seus olhos encarando o homem


diante dela, o esforço que ela fizera para tentar se
soltar apenas havia deixado seus pulsos mais
machucados, por um momento ela desviou sua
atenção para o canivete que estava sobre a mesinha
entre eles, exatamente onde ela havia deixado. Sua
única chance era de conseguir pega-lo para cortar
as amarras que a prendiam ou então ela estaria
realmente perdida.

- Você quer que eu sinta pena de você –


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respondeu Nina, focando novamente seu olhar no


homem a sua frente. Ela precisava de alguma forma
engana-lo, encontrar uma abertura que fosse para
conseguir chegar até seu estilete – Não me sinto
muito compreensiva no momento enquanto minhas
mãos continuam amarradas dessa forma.

- Ah não senhorita Serov, você não está aqui


por que desejo um pedido de desculpas, o que eu
faria com isso? Você está aqui porque eu pretendo
conseguir meu acerto de contas.

- Você sabe, seu pai está morto, e isso é algo


extremamente desagradável pra mim, afinal eu
nunca poderei me vingar dele pessoalmente. Um
verdadeiro mistério a morte de seu pai, eu me
considero um homem bastante informado, mas nem
mesmo eu posso dizer o que realmente aconteceu
com o Retalhador, talvez você pudesse me
explicar.

- O que você quer que eu explique – respondeu


Nina sem um pingo de paciência – Ele está morto e
enterrado, fim de historia.

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Os olhos de Han brilharam de maneira gélida


por um momento, ele estava fazendo um grande
espetáculo enquanto continuava seu ridículo
discurso, enquanto isso Nina sentia como se suas
entranhas tivessem sendo devoradas pela
ansiedade. Por mais que ela tentasse usar seu
cérebro, não conseguia encontrar de forma alguma
uma maneira de conseguir escapar daquela
situação.

- É realmente uma pena que você não seja uma


filha devota para seu pai – continuou Han
tranquilamente, enquanto voltava a se sentar diante
dela, usando a mesa de centro – Consigo ver isso
em seus olhos, como você não se afeta de forma
alguma quando digo o nome de Yuri. Quase como
se ambos fossem completos estranhos um para o
outro.

Eles estavam mais próximos agora, e Nina


sentiu como se o horror tivesse congelado os
membros de seu corpo. A dor em seu pulso se
infiltrou por sua pele como pequenas picadas de
agulha, quando finalmente ela deixou de tentar se
libertar esfregando um contra o outro. Em sua
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frente, Han, deslizou os dedos sobre o pequeno


estilete que jazia ali em cima esquecido. Ela
observou com um nó apertado em sua garganta
como ele teve dificuldade em segurar o pequeno
cabo de plástico, seus dedos pareciam não obedece-
los fechando-se de maneira desengonçada, mesmo
assim ele conseguiu abrir a lâmina, pequena e
afiada não maior do que seu dedo médio.

- Parece inofensiva não é mesmo? – perguntou


o homem diante dela, enquanto girava a lâmina
lentamente, a luz artificial sobre sua cabeça
refletindo sobre sua superfície – Mesmo algo tão
pequeno quanto isso, pode fazer um belo estrago se
usado de maneira habilidosa. Não se preocupe, eu
não irei matá-la aqui, você é preciosa demais, tenho
certeza que meus chefes na Tríade ficaram felizes
em pagar um alto preço por você, mas acredito que
eles não se importaram se eu lhe deixar ao menos
uma marca. Algo que você possa se lembrar de
mim, assim como eu me lembro até hoje de seu
pai.

- Não se aproxime de mim seu desgraçado – a


voz dela não passava de um chiado rouco em sua
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garganta. O medo deslizando como uma cobra por


seu intestino, ela tentou ir para trás, seus pés
subindo no sofá, o encosto dolorosamente
pressionado contra suas costas. Os olhos dela se
desviaram em pânico em direção a porta, o coração
martelando descontroladamente em seu peito.

- Pra onde você está olhando heim? – os dedos


retorcidos de Han apertaram seu queixo com força,
obrigando-a a encarar seus olhos. O zumbindo em
seu ouvido piorou enquanto ele balançava sua
cabeça, o toque dele sobre sua pele deixando um
gosto asqueroso em sua boca – Você ainda acha
que pode escapar daqui? De mim? Quem iria salva-
la? Carrick o Duende? Aquele em quem você
confiava e lhe trouxe exatamente pra este lugar?

As palavras dele doeram, como se de alguma


forma ele tivesse usado o estilete que tinha em suas
mãos, para machucá-la fisicamente. Pela primeira
vez, sentiu as lágrimas arderem em seus olhos, e
precisou morder o interior de sua bochecha para
tentar conter-las de alguma forma. Sentia-se uma
completa idiota por ainda pensar em Carrick num
momento como aquele, mesmo depois de sua
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traição descarada.

- Ah sim... Você ainda acreditava nele –


continuou Han, apertando seu queixo com mais
intensidade, fazendo com que ela precisasse ranger
os dentes para que um gemido de dor não escapasse
de seus lábios – Eu sei muito bem o que vocês dois
estavam fazendo aqui quando eu cheguei, a
resposta estampada em seu rosto. Foi assim que
você caiu em seus truques? Seduzidas por meia
dúzia de palavras e um par de olhos bonitos? Mais
patético do que eu teria imaginado.

Nina tentou se defender, empurrando-o com


suas pernas, mas ele foi mais rápido erguendo a
lamina de seu estilete e pousando-a abaixo do seu
olho direito. O fôlego dela ficou preso em sua
garganta, seu corpo estático, cada músculo de seu
corpo tenso como pedra.

- Se você fizer isso novamente eu juro que irei


deixá-la cega – disse Han, a saliva espirrando de
seus lábios finos e descorados – Eu farei o que
quiser com você sabe por quê? Porque eu te
comprei! Porque você foi enganada e traída!
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Sullivan a usou e quando satisfeito a jogou fora,


porque ele sabia que você não passava da filha
vagabunda de um mafioso odioso, então é melhor
você parar de tentar escapar, e prestar atenção em
mim, porque eu e você vamos terminar de resolver
nossos assuntos sozinhos...

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Capítulo Dezoito
O nome dele ecoou em seus ouvidos enquanto
ele se afastava pelo corredor. A voz dela se
erguendo, a dúvida e a descrença vibrando em cada
chamado, repetido uma vez e mais outra. Carrick
ordenou a si mesmo a não olhara para trás, uma
única vez que fosse e ficou surpreso ao perceber o
quanto de determinação precisou para não ceder
aquele desejo.

Os lábios dele ainda estavam pulsando do beijo


que ele havia roubado os pensamentos
embaralhados em sua cabeça. Aquilo não deveria
ter acontecido, era algo que não nunca estivera em
seus planos e mesmo assim ele não tinha
conseguido se conter.

A porta de um quarto foi fechada com violência


atrás de suas costas, a voz dela desapareceu sendo
engolida por um silêncio que retumbou em seus
ouvidos, ele precisou aumentar o ritmo de seus
passos enquanto continuava em frente, os olhos
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focados no final do corredor, ignorando o peso que


parecia aumentar cada vez mais dentro de seu peito.
Tudo estava saindo exatamente conforme ele havia
planejado, ele deveria estar sentindo-se vitorioso, e
o fato que não conseguir livrar-se do sentimento de
culpa que se infiltrou por seus pensamentos
encheu-o de uma raiva escura.

Não havia espaço para misericórdia em seu


mundo. Se ele deixasse que a culpa que sentia
naquele instante aumentasse então podia ver que
elas se tornariam algemas pesadas que o
impossibilitariam de agir. Certo e errado, eram
conceitos que funcionavam para pessoas que
viviam num mundo diferente do dele. Ele sabia
muito bem que sentir-se incomodado por ter traído
Ekaterina Serov, era uma perda de tempo sem
limites.

Ele não a conhecia, ela não significava nada


para ele, além da estranha garota que havia o
ajudado a fugir. As memórias dela invadiram sua
mente, como flashes que ele não era capaz de
controlar... Ainda era capaz de se recordar dela
parada em sua frente, o rosto pálido de medo olhos
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grandes e assustados, havia imaginado que estivera


simplesmente alucinando naquele momento,
conversara com ela enquanto acreditava que tudo
aquilo não passava de um produto de sua mente.

Ela havia dito que voltaria que iria libertá-lo,


ele não acreditara a dor em seus dedos era real
demais, intensa demais para que ele pudesse
acreditar naquelas palavras, mas a garota havia
voltado... Contra todas as expectativas ela havia
voltado... Como ele poderia ter imaginado que ela
era a filha de Yuri Serov?

Carrick sentiu que rangia os dentes de


frustração, os pensamentos pareciam colidir um
contra o outro dentro de sua cabeça. Por que a filha
de Serov teria fugido da casa de Serguei? Por que
ela simplesmente não tinha continuado protegida e
segura dentro dos domínios da Bratva?

A curiosidade mais uma vez o deixou irritado,


pela milésima vez ele precisou se lembrar que
aquele não era um problema seu, não fazia
diferença alguma descobrir aquelas respostas. Ele
viera até ali tratar de negócios, e no final havia
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conseguido concretiza-lo. Isso era tudo o que


importava. Aquela garota não passara de um meio
para que conseguisse alcançar um objetivo. Nada
mais, bastava que ele continuasse seguindo por
aquele corredor e não olhara para trás que tudo
terminaria bem.

Então por que era tão difícil continuar em


frente? Dar o próximo passo? Irritado consigo
mesmo Carrick percorreu as mãos pelo cabelo
sentindo a frustação correr por seu sangue como
uma droga. O cheiro dela havia ficado preso em sua
blusa, confundindo suas ideias, o escritório de Han
ainda estava longe demais, perdido naquele maldito
buraco que ele costumava chamar de “Casulo” e
usava para orquestrar seus negócios de contrabando
e tráfico.

Tentou se convencer mais uma vez de que não


havia feito nada de errado. Ele apenas havia
enxergado uma oportunidade e a usado. Havia sido
assim durante toda sua vida, essa era a forma que
ele encontrara para sobreviver naquele mundo onde
a violência sempre ganhava no final.

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Ele havia traçado aquele plano na noite


anterior, quando ela lhe dissera o nome de seu pai.
Por um momento ele quase não havia acreditado
em seus ouvidos, a dúvida se instalou dentro de sua
mente, mas ele simplesmente guardou-as na parte
mais afastada de sua mente.

Carrick sabia que aquela garota era um


mistério, ela poderia ter ajudado a fugir da casa de
Serguei mas isso não significava que eles
estivessem do mesmo lado, ou que ele pudesse
confiar nela. Quando ela dissera que era filha de
Yuri Serov, uma parte dele não acreditara
totalmente, mas olhando em seus olhos ele havia
percebido que ela realmente acreditava naquilo.
Não parecia haver dúvidas em seus olhos, e Carrick
acreditava que ele seria capaz de encontra-las,
afinal no fim do dia ele ainda era Carrick o Duende,
e fizera sua fama, vendendo informações para todas
as famílias mafiosas daquela cidade. Acima de tudo
ele precisava saber, quando alguém estava
mentindo para ele ou não, quando alguém pretendia
engana-lo, e aquela garota parecia muito confiante
de sua resposta.

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Ele tinha algumas informações a respeito de


Serguei, o milionário russo, tinha uma fachada
bastante conhecida na cidade, como um empresário
do ramo imobiliário, embora tudo isso não passasse
de uma fachada bem elaborada. Dentro da Bratva
Serguei era influente, com a fama no submundo de
ser um homem destemperado e que não perdoava
seus inimigos. Ele e Yuri haviam dominado a
cidade, anos atrás antes da chegada de Volkov, que
viera da Rússia e havia conseguido a proeza de
juntar toda a máfia sobre a mesma maneira,
enquanto mantinha uma relação extremamente
proveitosa com a Bratva na Rússia, fazendo assim
com que ele fosse o homem que realmente reinava
sobre a cidade e o crime organizado.

Carrick sabia que Serguei havia no final


apoiado Volkov, e se tornado um de seus homens,
Yuri desaparecera e com o passar dos anos,
rumores sobre sua morte se tornaram mais intensos.
No final os homens de Serov, leais a ele haviam
transferido sua lealdade para Serguei, fato que
todos acharam estranhos, e não foram capazes de
entender completamente, mas Se Yuri tivesse
deixado uma filha e Serguei estivesse com a tutela
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dela, então a garota era uma peça vital naquele


jogo, e várias pessoas adorariam ter a oportunidade
de colocar suas mãos sobre ela.

Mais uma vez a lembrança dela se infiltrou por


sua mente, tão forte que parecia pairar em frente as
suas retinas. Ele não deveria ter encontrado ela
aquela noite, agora percebia que aquela decisão
fora um erro. Quando a deixara mais cedo aquela
manhã em frente a loja Carrick ainda não tinha
plena certeza de que poderia acreditar em suas
palavras. Ele viera até Han, porque sabia que se
houvesse alguém em Nova York que seria capaz de
reconhecê-la, essa pessoa seria Han Zhou. Ele sabia
ao menos um pouco do passado que ele
compartilhava com Yuri, todos sabiam de alguma
forma, ele crescera ouvindo historias a respeito do
Retalhador, o nome dele ainda era sussurrado nos
becos, um medo se prendendo as letras e uma
pitada de admiração. Muitos o consideravam um
gênio, outros acreditavam que ele ainda estava
vivo, apenas se cansara daquela vida e decidira
viver em outro lugar longe dali. Para Carrick aquilo
não fazia diferença alguma, ele acreditava nas
historias que ouvira, mas o mundo do qual fazia
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parte era repleto de monstros e horrores como


aquele, portanto ele precisava se tornar em algo
ainda maior, e mais monstruoso, usando a única
coisa que possuía. Sua sagacidade. E embora ele
confiasse plenamente em seus instintos e sua
inteligência, jamais teria imaginado que a garota
que havia o salvado e andara com ele pelo metro da
cidade, era a filha de Yuri Serov. Ele não conseguia
associar a imagem daquela garota, que ele
conhecera usando uma camisola e óculos grandes
demais para seu rosto como a filha de um assassino
reconhecido por sua crueldade. Ele havia esperado
qualquer outra coisa menos aquilo que encontrara
no calabouço de Serguei, havia uma parte dele que
permanecera descrente mesmo quando Han voltara
aquela tarde, confirmando junto da Tríade que a
garota dissera a verdade. Ekaterina Serov, era
realmente a filha de Yuri.

Havia sido mais fácil do que ele imaginara


fechar negócio com Han. Assim que ele averiguara
a verdadeira identidade da garota, ele quisera
colocar suas mãos nela. O preço que Carrick havia
pedido tinha sido alto, e mesmo assim Zhou não
havia piscado, ou reclamado em lhe pagar. Carrick
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sairia daquele prédio mais rico do que jamais


imaginara conseguir ganhar numa única vez. Nunca
ele havia sido capaz de lucrar tanto. Aquele
dinheiro seria o suficiente para custear anos da vida
de Liam, ele poderia finalmente investir na rede de
informações que sempre pensara em possuir, dessa
forma galgando seus primeiros passos dentro
daquele mundo. Ele cresceria engolindo seus
adversários, até que seu sobrenome fosse tão
temido e admirado quanto qualquer outra família
mafiosa na cidade. Ele havia nascido para aquilo, e
nunca houvera nada que ele havia mais desejado
em sua vida do que aquela realidade que pela
primeira vez em anos estava diante dos olhos dele.
Então por que ele se sentia como se tivesse feito a
pior coisa de sua vida?

Os passos dele haviam o levado até o escritório


de Han, a porta envernizada possuía um tom
vermelho, um caractere chinês que ele não era
capaz de ler estava pintado na porta, havia sido ali
que ele fechara o contrata com Han, enquanto
vendia para o contrabandista da Tríade a filha de
Serov. Fazia apenas algumas horas realmente?
Tinha a sensação de que semanas tivessem se
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passado, porra sentia como se ele tivesse


caminhando a dias naquele maldito corredor.

A respiração ficou presa entre seus dentes, um


chiado rascante deixando seu peito, a dor se
infiltrou por seu braço, enquanto ele percebeu que
estivera cerrando o punho, as bandagens que uma
das empregadas de Han havia feito sobre seus
machucados haviam se tingido de vermelho, um
lembrete do quanto ele se fodera nas mãos de
Serguei. Ele não precisava se sentir como um lixo
daquela forma, a traição que fizera com aquela
garota era um preço justo a ser pago depois do que
a Bratva havia feito com ele.

A mão dele que sangrava pousou sobre a


maçaneta, não se importou em bater a porta, sua
cabeça naquele momento estava repleta de coisas
desnecessárias para que ele se importasse com
isso.

O escritório de Han estava exatamente da


mesma forma que ele encontrara aquela manhã.
Papeis desorganizados pela mesa, paredes que
exibiam um papel pardo com flores de cerejeiras, o
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cheiro de incenso ali era almiscarado e forte


impregnando na parte interna de seu nariz. Os olhos
de Carrick caíram sobre a mulher em pé em frente a
janela, os cabelos negros dela como azeviche caiam
até debaixo de sua cintura, ela usava uma saia
apertada também escura reta que torneava suas
pernas muito finas, a blusa vermelha era fechada
com um laço no pescoço, quando ela se virou ele
observou o olhar gelado e distante que Lin lhe deu,
o rosto era inexpressivo quase como se ela
estivesse usando uma máscara extremamente
elaborada, os olhos amendoados estavam
delineados de uma forma perfeita, e os lábios
cheios pintados de vermelho intenso exibiram um
sorriso mecânico. Carrick ganhava sua vida
vendendo informações, contrabandeando qualquer
minúcia que ele julgasse interessante ou alguém
estivesse disposto a comprar, portanto saber das
coisas para ele era algo fundamental, e por mais
que ele tivesse tentado mais de uma vez descobrir
algo a respeito da mulher diante dele, nunca havia
sido capaz de conseguir qualquer informação de
Lin, o braço direito de Han na Tríade.

Ele fechou a porta atrás dele com um gesto


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mecânico, enquanto caminhava até estar diante


dela, o sorriso no rosto de Lin aumentou enquanto
ela o observava, como sempre ela se curvou
graciosamente diante dele, aquilo deveria ser um
gesto educado, cortes, mas havia algo nos gestos
daquela mulher que sempre haviam o incomodado,
como se houvesse um desprezo latente em cada um
de seus movimentos por todos a seu redor.

- Aqui está o pagamento como pedido – disse


Lin num tom de voz profissional, num gesto amplo
ela estendeu a palma de sua mão, para uma
pequena maleta de couro sobre a mesa – Você pode
conferir a quantia se quiser.

Os olhos de Carrick se focaram sobre a mala,


ele não precisava conferir absolutamente nada, a
Tríade gostava de manter sua reputação intacta no
que dizia respeito a honra. Ele sabia que a exata
quantia em dinheiro que ele havia pedido estava
naquela mala, a única coisa que precisava fazer era
pega-la e sair dali o mais rápido possível. Liam a
essa altura provavelmente já estaria ficando
preocupado com seu silêncio durante tanto tempo.
Aquele dinheiro iria resolver grande parte de seus
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problemas, havia sido por isso que ele invadira a


festa de Serguei, queria a oportunidade de descobrir
para vender a informação para quem estivesse
disposto a pagar mais caro. Seu plano não havia
dado certo, mas acreditara que o risco teria valido a
pena, no final apesar de tudo ele havia conseguido
exatamente o que precisava. Então por que
simplesmente ele não era capaz de pegar a maldita
maleta e dar o fora dali?

- O que ele pretende fazer com a garota? –


perguntou Carrick a contragosto, odiando-se por
um momento, enquanto seus dedos percorriam as
ondas bagunçadas de seu cabelo.

- Com quem? – perguntou Lin tranquilamente e


de maneira inocente.

Carrick sentiu sua mandíbula travara enquanto


focava seu olhar diante da mulher a sua frente. O
sorriso de Lin tornou-se mais aberto, ele percebeu
que havia cometido um erro mostrando um
interesse desnecessário, mas agora o deslize já
estava feito, portanto a melhor coisa que poderia
fazer era suportar as conseqüências.
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- Você diz a princesa russa? Ah claro, imagino


que você esteja interessado nela ou ao menos em
seu destino. Afinal de contas qualquer coisa que
aconteça com ela será sua responsabilidade.

- Se você não quiser me contar – respondeu


Carrick entre dentes – então basta me dizer.

O sorriso de Lin se tornou mais intensos, os


olhos dela brilharam enquanto ela caminhava em
sua direção o som de seus saltos altos batucando
contra o chão.

- Você parece bastante interessado na garota,


mesmo após ter se livrado dela. – disse Lin de
maneira quase casual, embora Carrick soubesse que
tudo aquilo não passava de uma fachada. A ponta
de sua longa unha deslizou pelo lado de seu rosto,
suavemente. Pa conseguir as respostas que desejava
ele precisava ser astuto, enquanto arquitetava uma
resposta que ficaria exatamente na tênue linha entre
verdade e mentira.

- A família dela me torturou. Você pode dizer


que acabei levando a ofensa para o lado pessoal.

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- Justo, mesmo assim você tem uma quantia de


dinheiro razoável naquela mala o esperando, acho
que no final das contas sua tortura acabou se
mostrando um proveitoso negócio pra você.

- Como eu disse – respondeu Carrick entre


dentes afastando a mulher de seu corpo – Acabou
se tornando pessoal.

A risada dela preencheu o ar, leve como o


badalar de um sino, embora nenhuma diversão
pudesse ter chegado em seus olhos cor de avelã.
Lin olhou-o com atenção, sua cabeça levemente
inclinada como se dessa forma ela pudesse
compreender o homem diante dela, com mais
facilidade. Carrick precisou conter o sorriso de
escárnio que ameaçava brotar em seu rosto.
Naquele momento nem mesmo ele era capaz de
compreender porque estava agindo daquela forma.

- Você provavelmente não ira acreditar em mim


– disse Lin enquanto jogava a cascata de cabelos
negros por suas costas com um aceno de mão –
Mas, eu não sei o que vai acontecer com sua
princesa russa.
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- Você está mentindo. Han deve ter dito algo,


não há nada que aquele homem consiga esconder
de você.

- Gostaria que suas palavras fossem verdades


Duende, mas nesse caso você está enganado. Han
não me contou o que fará com a garota porque nem
mesmo ele tem uma resposta pra isso.

- O que você quer dizer...?

- Han tem uma historia com o pai dela. Uma


divida pessoal você pode chamar dessa forma, e
pretende cobrar da garota afinal, o velho Yuri não
está mais entre nós.

- A Tríade não vai ficar contente se ele acabar


danificando uma peça importante para eles.

- Han não seria idiota de danificá-la


completamente – respondeu Lin, enquanto dava de
ombros de maneira sutil – Ela pode continuar sendo
útil, mesmo que ganhe uma cicatriz ou perca alguns
dedos da mão. Se a Tríade tiver interesse em usá-la,
eles farão isso da forma mais proveitosa possível.

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Algo se agitou dentro dele, um sentimento que


ele não soube identificar, algo completamente novo
e desconhecido. As palavras de Lin ressoaram em
seus ouvidos, ela havia chamado a garota de ‘sua
princesa russa’ e a parte egoísta de sua mente havia
gostado do som daquilo.

De repente os pensamentos em sua cabeça se


tornaram mais altos, o incômodo que ele sentira
agora era quase insuportável. A dor se infiltrou por
debaixo de toda a confusão em sua cabeça, seus
olhos se desviaram para as mãos fechadas em
punhos ao lado de seu corpo, ele havia mais uma
vez as ferido, as pontas de seus dedos vermelhas.
Os olhos de Carrick se desviaram para a mala de
dinheiro sobre a mesa de Han. Seu futuro estava ali
dentro, seguro garantido, erguendo os olhos ele
deixou que sua atenção se focasse sobre Lin. O
sorriso dela era diabólico quase insano, como se ela
estivesse lendo seus pensamentos.

Carrick amaldiçoou a garota que o salvara em


seus pensamentos em todas as línguas que
conhecia, enquanto tomava uma decisão e mudaria
completamente seus destinos.
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Capítulo Dezenove.
Nina sentiu o toque frio da lâmina do estilete
deslizar por sua pele. O asco fez com que a bile
arranhasse o fundo de sua garganta. O olhar de Han
estava vidrado sobre seu rosto, como se ele
estivesse decidindo exatamente onde iria machuca-
la. O horror daquela situação se abateu sobre ela
quase como um impacto físico, o desespero
fazendo com que seus pensamentos corressem de
forma acelerada em sua cabeça. Ela precisava fazer
alguma coisa para escapar daquele, homem
qualquer coisa!

A dor se lastrou como uma corrente de fogo por


seu rosto, quando a ponta do estilete perfurou a
pele sensível debaixo de seu rosto, a risada de Han
ecoou em seus ouvidos abafando por um momento
os batimentos descompassados de seu coração.

Agindo pelo total impulso do desespero, Nina


chutou-o com sua perna direita, tentando usar toda
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a força de seu corpo. O impulso que ela conseguiu


foi o suficiente para afastá-lo dela por um
momento, desequilibrado o corpo do mafioso que
caiu para trás, a descrença e a raiva estampada em
suas feições.

Nina se colocou de pé, as mãos amarradas


diante de seu corpo dificultavam seus movimentos,
seus cotovelos pareciam perfurar o interior de seu
estômago. Ela tentou correr em direção a porta do
banheiro, ou para qualquer lugar onde pudesse
colocar o máximo de espaço entre ela e aquele
maníaco. Sentiu um aperto de aço em volta de seu
tornozelo, o corpo dela perdeu o equilíbrio
enquanto caia para frente. Ela tentou amparar o
impacto colocando as mãos diante de seu corpo, a
dor irradiou-se por elas enquanto se chocava contra
o chão, mas não teve tempo de registrá-la usando
sua força, Han levantou-se enquanto a pressionava
contra o chão, desesperada Nina chutou as pernas, e
empurrou suas mãos para frente tentando acerta-lo
no rosto. O mafioso foi capaz de desviar de seus
ataques, mas para continuar segurando seu corpo
ali precisou usar ambas as mãos e acabou perdendo
seu agarre sobre o estilete.
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O grito estrangulado dela ecoou em seus


ouvidos, as lágrimas que até aquele momento
estivera detendo escorreram por suas bochechas
ardidas. Ela tentou se erguer usando toda a força
em seu corpo, mas as mãos dele se fecharam sobre
sua garganta. O homem diante dela parecia
enlouquecido de alguma maneira, seu cabelo antes
meticulosamente penteado havia caído em frente a
seus olhos, os lábios eriçados sobre seus dentes,
como se ele tivesse rosnando. Ele não mais lhe
lembrava um ser humano, mas um animal raivoso
disposto a tudo para matar sua presa.

Ela de debateu, os calcanhares se chocando no


chão as batidas de seu coração soavam em seu peito
de forma quase dolorosa. Os dedos dele se
afundaram em seu pescoço, o ar sendo expelido de
seus pulmões, a dor em sua garganta tornou-se
quase insuportável, enquanto ela tentava sacudir a
cabeça para se livrar de seu agarre.

- Sua maldita!- resmungou Han o rosto


contraído de raiva acima do seu – Eu vou acabar
com você!

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Os gritos dela foram engolidos pelo aperto dele,


até se transformarem em soluços quase inaudíveis.
Com horror ela percebeu que seus movimentos
estavam mais lentos, não era mais capaz de usar
suas pernas para chutar, ou se mover. Seu corpo
parecia ter desistido os pensamentos em seu
cérebro lentos pela falta de oxigênio. Ela abriu a
boca buscando ar, uma vez e mais outra e sentiu o
peito doer a queimação se espalhando por todo seu
pescoço. Por um momento ela se viu como um
peixe fora d’água e teve o horrível pressentimento
que logo tudo estaria acabado.

Pontos negros brilharam em sua visão, sua


cabeça rodou, ela tentou respirar com mais força
piscando os olhos repetidamente, quando os abriu
novamente notou que havia mais uma figura no
quarto. Conhecidos olhos verdes a observavam com
ódio deixando-os ainda mais brilhantes e ela teve
certeza que estava alucinando.

O peito dela encheu-se de ar de uma única vez


quando o peso de Han foi retirado de cima de seu
corpo. Ela convulsionou enquanto buscava ar,
tossindo ruidosamente enquanto usava o que havia
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restado de suas forças para rastejar seu corpo para


longe dali.

Sem saber o que havia acontecido Nina ergueu


sua cabeça com dificuldade olhando ao redor.
Descrença cobriu suas feições, enquanto seu olhar
pousava sobre Carrick. Ele havia voltado e
segurava Han com um laço ao redor de seu pescoço
forçando-o contra seu corpo.

Tudo aconteceu rápido demais para que ela


pudesse compreender com clareza. O mafioso que
apenas alguns segundos estava sobre ela agora
lutava com todas suas forças, tendo seu corpo
completamente dominado por Carrick. Tudo
aconteceu rápido demais diante dela, embora uma
parte de seu cérebro tivesse observando tudo aquilo
como se a cena ocorresse em câmera lenta.

O corpo de Han se debatia contra Carrick, seus


braços e pernas em movimentos esporádicos, mas
Carrick quase não parecia fazer nenhum esforço
para conte-lo enquanto apertava um fio fino
enrolado em seu pescoço. Os olhos dela estavam
fixos na cena, incapazes de se desviarem. Os olhos
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de Han estavam abertos, saltados para fora, quase


esbugalhados, num ultimo e desesperado
movimento, ela percebeu que ele havia tentado
alcançar o aperto de ferro em seu pescoço, o sangue
escorreu em filetes por sua camisa, enquanto ele
arranhava sua garganta. Os movimentos ficaram
mais lentos, o rosto dele extremamente vermelho,
uma veia pareceu se romper perto de seus olhos,
enchendo o branco ao redor de suas íris de
vermelho, e então assim tão rápido quanto havia
começado, ele cessou de se mexer, os braços e
pernas caindo inertes, a boca aberta de maneira
assustadora, os olhos castanhos vidrados fitando o
infinito.

O horror tomou conta de seu corpo, como se ela


não pudesse acreditar em seus próprios olhos. A
parte racional em seu cérebro, aquela que ainda era
capaz de pensar, ordenou para que ela se
levantasse, as mãos dela ainda estavam presas de
maneira firme uma perto da outra, mas ela
precisaria superar isso e correr em direção a porta
aberta. Se Carrick estava ali, então isso significava
que ele havia aberto uma rota de fuga.

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‘Levante-se! Vamos... corra. CORRA!

As palavras ecoaram em sua mente, uma após a


outra sendo repetidas milhares de vezes, mas seu
corpo parecia ter desistido, travado no lugar como
se tivesse se congelado. Os olhos dela estavam
fixos sobre a figura de Han, havia algo na completa
inabilidade dele que a assustava profundamente.
Ela sabia que ele estava morto, podia perceber isso
na ausência de movimentos de seu peito e em sua
postura completamente estática. Ela havia visto um
homem ser sufocado até sua morte. Tomar
consciência disso, revirou o conteúdo vazio em seu
estômago, ela pensou que iria vomitar ali mesmo
naquele momento, mas as ânsias que sacudiram seu
corpo apenas deixaram sua garganta mais
dolorida.

Havia uma imobilidade no quarto aterrorizante,


o silêncio era opressor em seus ouvidos, ecoando
em todo ambiente, por um momento Nina quase
sentiu-se como se estivesse embaixo da água.
Lentamente os olhos dela se desviaram em direção
a figura de Carrick. Ele continuava parado no meio
do quarto, erguendo-se sobre o corpo de Han, nas
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mãos o fio que ele usara para estrangulá-lo


permanecia como um lembrete macabro do que
acabara de acontecer.

Incrédula e em silêncio ela observou-o rodear o


garrote em suas mãos, guardando-o no bolso de trás
de suas costas, ele percorreu as mechas de seu
cabelo com as pontas dos dedos, um suspiro
cansado deixando seus lábios.

Os olhos dele se desviaram do corpo a seus pés


pousando sobre Nina, o medo revirou suas
entranhas despertando seu corpo de seu estupor.
Ela tentou se levantar, mas suas pernas se
recusaram a lhe obedecer, ela arrastou seu corpo
para trás, tentando fugir do homem diante dela, de
alguma forma a figura de Carrick ali lhe provocou
um medo mais feroz do que Han havia lhe
despertado.

O corpo dela parecia pesar uma tonelada


enquanto ela se arrastava pelo chão, usando as
pernas e as mãos amarradas. Carrick parecia saber
que ela não teria como fugir , ele caminhou em sua
direção com toda tranqüilidade do mundo, como se
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tivesse todo o tempo disponível.

Os olhos verdes dele, estavam fixos em seu


rosto, o grito que ela trazia preso em sua garganta
se transformou num lamento dolorido e quase
inaudível. As costas dela se chocaram contra a
parede, os olhos dela se deslocaram em direção a
porta, que estava atrás das costas de Carrick,
apenas três metros que mais pareciam quilômetros,
e ela não tinha nenhuma idéia de como escapar do
homem diante dela.

Seu momento de distração, lhe custou caro as


mãos dele pousaram com força sobre seus ombros,
seu corpo foi erguido sem dificuldade nenhuma do
chão, embora suas pernas tremessem como folhas
ao vento ela conseguiu ela conseguiu permanecer
de pé encarando-o o medo estampado em seu
olhar.

Ela mal era capaz de reconhecê-lo, não havia


expressão alguma em seu rosto, os brilhantes olhos
verdes como folhas de árvores no verão agora
pareciam vazios, vitrificados. Um instinto em seu
interior lhe disse que ela estava observando a
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verdadeira face dele, que o homem simpático e de


olhar doce que ela havia conhecido, não havia
passado de uma máscara que ele usara para lhe
enganar.

A percepção daquele fato correu por seus


pensamentos, acendendo a chama da raiva. Ela
tentou empurra-lo mesmo com o corpo tremulo,
usando tudo o que sobrara de suas forças, mas as
mãos de Carrick apenas cavaram mais fundo na
pele de seus ombros, imobilizando-a por completo.
O grito que Nina guardava em sua garganta
escapou de seus lábios, assim como as lágrimas que
escorreram contra sua vontade sobre seu rosto.

- Pare com isso! –ordenou Carrick trazendo seu


corpo para próximo de si, seus braços, se fechando
sobre ela como uma prisão. – Eu não vou machucá-
la!

Nina não conseguia acreditar em suas palavras,


o horror de mais uma vez estar perto dele, deixou
que o desespero tomasse conta de seus sentidos.
Chutando, empurrando, chorando, ela tentava
escapar, enquanto o rosto de Carrick permaneceu
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completamente inexpressivo, suas tentativas de se


soltar para ele eram apenas um incômodo e nada
mais.

O coração dela martelava em seu peito de tal


forma que ela ficou com medo que ele pudesse se
romper, a tristeza e a revolta deixaram um gosto
acre em sua boca. Ela nunca se sentira tão sozinha
quanto naquele momento, a impotência estampada
em cada uma de suas tentativas. Ela sabia que não
conseguiria se libertar, a força dele era muito
superior. Os pensamentos se tornaram erráticos em
sua cabeça, como se ela não pudesse mais usar seu
cérebro corretamente. Ela sentiria alguma dor
quanto ele finalmente a matasse? As palavras
ecoaram dentro de seu crânio, o olhar dela se focou
em Carrick, ela observou algo cruzar seus olhos, a
sombra de algo indistinto enquanto ela era cativa
em seus braços. Por um momento o aperto ao redor
de seu corpo pareceu diminuir e ela quase acreditou
que ele estivesse a libertando. Houve um minuto
inteiro de incredulidade que pareceu deixar todo
seu corpo estático, e então a escuridão tomou conta
de seus sentidos.

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Capítulo Vinte
A consciência lhe retornou lentamente embora
suas pálpebras estivessem pesadas demais. A luz se
infiltrava por ela, enquanto manchas laranja e
escuras recobriam seus olhos. O corpo parecia
pesar muito mais do que ela estava acostumada, os
braços rígidos, assim como suas pernas faziam com
que ela tivesse a sensação de ter adormecido numa
posição extremamente desconfortável.

Lentamente o sono escorreu de sua mente,


embora seus pensamentos ainda continuassem
enevoados. Havia uma confusão ali, de imagens e
sons que ela não era capaz de compreender
totalmente.

Virando-se no mesmo lugar Nina teve a

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desagradável sensação de enjoo percorrer seu


estômago, piscando várias vezes lentamente a
imagem de um quarto completamente estranho e
mergulhado na penumbra lentamente entrou em
foco diante dela.

Nina não foi capaz de reconhecer o quarto


diante dela. Seus olhos percorreram o cômodo,
buscando ali todos os pequenos detalhes, como se
daquela forma ela pudesse se localizar de alguma
maneira.

O lugar parecia antigo, o papel de parede era


delicado num tom antigo de cinza com pequenos
dentes de leão voando pela brisa. Acima de sua
cabeça uma cúpula de cristal jazia sobre a lâmpada
apagada, a única luz ao seu redor vinha de
pequenas velas em vários tamanhos espalhados por
todo o ambiente colocadas em copos de vidros e
outros vasilhames.

Com dificuldade a garota girou no mesmo


lugar, notando que estava sobre uma cama antiga, o
colchão embaixo dela com certeza já tinha
presenciado dias melhores, mas de alguma forma
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tudo a seu redor dentro daquele quarto pareciam


objetos que o tempo já havia deitado seus dedos.

Os pulsos dela ainda estavam amarrados, mas


alguém substituíra as incômodas, amarras de
plásticos por tecido. Ela remexeu delicadamente os
braços percebendo que tinha o mínimo possível de
mobilidade, mas mesmo assim aquilo não era o
suficiente para que ela conseguisse se libertar.

Seus olhos se desviaram para as janelas de


espaldar alto diante dela, pesadas cortinas
escorriam até o chão num tom profundo de azul
escuro que parecia bastante desgastado. Atrás delas
a luz era difusa e quase inexistente e ela percebeu
que a madrugada estava para terminar.

O cheiro de pó antigo e mofo acumulado


impregnou em seu nariz enquanto ela se levantava
apoiando-se na cama em seus próprios cotovelos.
Sua cabeça estava estranhamente leve e dolorida ao
mesmo tempo.

Os pés dela tocaram o piso descoberto de


madeira, ficou surpresa ao notar que embora muito

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desgastado ele estava limpo como se alguém


tivesse de alguma forma limpado aquele quarto o
mínimo possível esperando que ela o usasse. Nina
caminhou ao redor, apurando seus ouvidos como se
pudesse dessa forma descobrir onde ela estava.
Seus passos a guiaram em direção a janela, os
dedos dela erguendo a pesada cortina o tecido tão
puído entre seus dedos que quase se esfarelou.

Nina não era capaz de reconhecer a paisagem


diante dela. Ela parecia estar no segundo andar de
alguma casa na cidade, embora as luzes do centro e
os arranhásseis estivessem brilhando ao longe
como joias, suas silhuetas recortadas contra o
lusco-fusco das primeiras horas da manhã. Perceber
que ela ainda estava na cidade trouxe uma
tranquilidade frágil, como um floco de neve em
pleno verão que pareceu derreter atrás de seu
pescoço se transformando num calafrio agourento.

Ainda de mãos amarradas, ela voltou até a


cama, enquanto as lembranças da noite anterior
ardiam em sua mente. A dor em seu rosto, e seu
corpo se tornou mais intensa enquanto ela revia por
trás de sua íris as imagens de Han lhe agredindo. O
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coração saltou em seu peito desgovernado como se


ela estivesse revivendo o completo horror da noite
passada. Sentiu por um momento que sua mente lhe
traia, enquanto ela tentava afastar aqueles
pensamentos, guardar as terríveis imagens na parte
mais distante de seu cérebro, elas simplesmente lhe
desobedeciam, enquanto desfilavam na sua frente,
num ciclo ininterrupto que começava com a
descoberta da traição de Carrick, e terminava com
ele assassinando um homem diante dela.

O horror que ela havia presenciado ainda


deixava um gosto amargo em sua boca, tinha
certeza que durante muito tempo ainda seria capaz
de se lembrar do jeito que os olhos de Han, o
mafioso que apenas alguns minutos atrás estivera
disposto a matá-la se tornaram pálidos e distante, a
luz desaparecendo completamente de suas pupilas.
Quão ingênua ela havia sido por julgar que Carrick,
não seria capaz de uma coisa como aquela... Por
acreditar que ele era uma pessoa diferente do seu
tio.

O coração dela rangeu em seu peito, a tristeza


parecia pesar em seus ombros deixando suas costas
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doloridas. Agora que a adrenalina e o desespero da


noite anterior haviam a deixado, tudo o que sobrara
eram seus sentimentos destroçados. Sentia-se
completamente derrotada e sem nenhuma saída
daquela situação. As últimas lembranças que ainda
restavam em sua memória mostravam Carrick
pairando sobre ela, o medo inundou seu estômago
fazendo com que as palmas de suas mãos ficassem
gélidas. Provavelmente ele havia encontrado uma
maneira de nocauteá-la até aquele lugar, isso se não
tivesse encontrado uma forma de vendê-la
novamente...

O pensamento sarcástico que antes lhe traria um


pouco de alivio por causa seu humor ácido, não
surgiu em seu interior, olhando ao redor aquilo
serviu apenas para que ela se sentisse mais
solitária.... Ela havia confiado em Carrick, embora
soubesse que ao fazer aquilo estaria se colocando
em perigo, e pagara caro por seu erro.

Sons de passos pesados rangeram na porta do


lado de fora de seu quarto. Os instintos de Nina
deixaram-na completamente alerta, seu olhar
percorreu todo o quarto com rapidez buscando
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qualquer que lugar que ela pudesse usar como


esconderijo, mas tudo o que havia ali era a antiga
cama onde estava sentada, uma poltrona quase sem
estofado, e estantes que se sustentavam em pé
usando apenas sua força de vontade enquanto
desafiavam a lei da gravidade.

- Não costumo me envolver em seus


problemas... isso não é uma boa idéia acho que...

As vozes chegaram até ela de forma abafada, as


palavras engolidas no meio da frase, o coração dela
disparou em seu peito quando ela não reconheceu a
quem pertencia aquela voz. As palavras se
tornaram mais abafadas, os passos parando
exatamente diante de sua porta, tinha certeza de
quem quer que fosse aquelas pessoas eles estavam
ali em frente enquanto sussurravam seus planos.

O desespero por um momento ameaçou tomar


conta dela, depois da noite anterior a última coisa
que ela desejava era passar novamente por qualquer
situação desesperadora. Os olhos dela se desviaram
para a janela a seu lado, talvez ela conseguisse
fugir a tempo, estava no segundo andar e com as
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mãos atadas juntas, mas naquele momento aquela


parecia ser sua melhor alternativa.

Seu corpo tomou a decisão antes de que seu


cérebro tivesse tempo de julgar completamente
todas as opções, os passos dela a levaram depressa
de volta até a janela, mas naquele exato momento a
porta de seu quarto se abriu de repente.

Os olhos dela se fixaram em Carrick, e Nina


não soube direito quais eram os sentimentos que
naquele instante caíram sobre ela como uma onda
avassaladora. Havia surpresa, raiva, incredulidade,
e embora ela soubesse que aquilo era apenas uma
perda de tempo e tolice de sua parte, não conseguiu
conter os sentimentos de saudade e alivio.

Parado exatamente debaixo do batente da porta


com uma bandeja em mãos, ele estava exatamente
como ela se lembrara dele na noite anterior. Dessa
vez as roupas que ele usava pareciam lhe cair
perfeitamente, a calça jeans escura ressaltava suas
pernas longas e musculosas, a simples blusa de
moletom em recorte vertical destacava o alto de
seus ombros, o cabelo era uma massa revolta de
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mechas brilhantes, que ornava perfeitamente com


seu rosto. Os olhos verdes dele estavam brilhantes,
como duas gemas, as olheiras que ela havia se
acostumado a notar no rosto dele haviam
desaparecido, os hematomas em seu rosto também
exibiam uma coloração mais leve, e logo teriam
desaparecido completamente.

Ele parecia extremamente bem e saudável, os


curativos em seus dedos eram novos e limpos,
como se ele tivesse tido todo o tempo do mundo
que precisava para tomar um banho se trocar com
calma trocar suas bandagens depois de uma noite
de descanso merecida. Nina o odiou ainda um
pouco mais por isso.

- Se pretendia fugir pela janela, é melhor


poupar seu fôlego. – disse ele de maneira simples,
entrando no quarto como se ele fosse seu – Ela está
trancada pelo lado de fora, e mesmo se conseguisse
quebrar o vidro seria mais provável você se
machucar do que conseguir sair daqui.

- Isso significa que eu apenas preciso encontrar


uma outra forma de escapar então.
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Ela pode perceber na forma em que seus olhos


se estreitaram que ele não havia gostado de sua
resposta. Aquele era o mesmo Carrick que ela
ajudara a escapar da masmorra de seu tio, mas
agora que sabia que sua máscara havia caído sentia
como se não o conhecesse. Havia uma frieza que
não estivera ali antes, até mesmo sua expressão se
endurecera se tornando mais gélida e distante. Ela
lembrou a si mesma que precisava mais do nunca
se proteger do homem diante dela.

Carrick deu um passo em sua direção, e Nina


recuou para trás, até que sentisse a parede tocando
suas costas, o fôlego ficou preso em sua garganta,
enquanto ela fechava suas mãos em punhos,
sentindo as pontas de suas unhas na palma de sua
mão para tentar conter o tremor que viajava por
todo seu corpo.

- Eu não vou machuca-la – disse ele de maneira


muito clara, embora tivesse parado onde estava,
mantendo a distancia entre eles.

- Você não vai se importar se eu não acreditar


na sua palavra não é mesmo?
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A voz dela saiu rascante, a raiva deixando seu


timbre alterado naquele momento ao menos aquele
sentimento lhe dava força o suficiente para manter-
se em pé com a cabeça erguida, o medo esquecido
na parte de trás de seus pensamentos.

Por outro lado Carrick não parecia se importar


nenhum um pouco com aquilo, ignorando
completamente o que ela havia dito. Ele carregava
uma bandeja em suas mãos, com tranqüilidade ele a
depositou sobre a cama, havia alguns paezinhos
num pequeno prato ali, e uma maça com a casca
machucada, o cheiro de café atingiu seu nariz
deixando água em sua boca, o aroma terroso
pairando sobre o ambiente.

- Eu trouxe o café. Você deve estar com fome.


– disse Carrick, sem olhar em sua direção.

- Você me traiu!

- Também trouxe uma bolsa de gelo para seus


hematomas. Devem estar doendo.

Nina sentiu os dentes rangerem em sua boca, a


raiva borbulhando em seu sangue intensamente. Ela
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queria confrontá-lo, ouvir de sua boca que era


exatamente aquilo que ele havia feito embora
soubesse que nada iria mudar.

- Me solte – exigiu a garota tentando controlar


sua raiva. Sua situação naquele momento era
delicada demais para que ela simplesmente
deixasse que a raiva a controlar. Ela precisava focar
seus pensamentos e descobrir uma forma de
escapar daquele lugar.

- Não acho que isso seja uma boa idéia.

- Você trouxe o café da manhã, e a bolsa de


gelo, como espera que eu os use?

- Posso te ajudar...

- Eu não quero sua ajuda! – a voz dela se


elevou, seu grito ecoando pelo quarto. Seu coração
era como um tambor, o sangue rugindo em seus
ouvidos.

A expressão de Carrick tornou-se densa, seus


olhos se estreitaram, e mesmo aquela àquela
distância conseguiu perceber a veia que pulsava em
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seu maxilar. Bom, finalmente ela conseguira irrita-


lo.

Ele caminhou em sua rápido em sua direção, e


Nina esperou a dor viajar por seu corpo, tinha
certeza de que iria machucá-la. Seu corpo foi
empurrado contra a parede atrás dela, mas a dor
nunca chegou. Ela tentou detê-lo usando suas mãos
amarradas, mas ele simplesmente segurou-as
usando sua mão esquerda, enquanto a direita
pousava leve como uma pluma sobre sua têmpora
dolorida com a bolsa de gelo

O frescor parecia um bálsamo contra sua pele


fazendo com que a dor reduzisse rapidamente, ela
precisou usar toda sua força de vontade para não
fechar os olhos de prazer. A dor em seus
machucados naquele momento estava quase
esquecida, como se de alguma forma seu corpo já
tivesse se acostumado aquele inferno dolorido.

- Não me toque...

- Não seja teimosa – sussurrou Carrick sobre


ela, seu hálito quente atingindo o alto de suas

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bochechas. Ele continuava cheirando extremamente


bem, e ela o detestou ainda mais por isso, havia
uma parte dela, que não desejava nada mais além
de se enroscar em seu calor, trazendo-o para mais
perto.

- Se você me soltasse eu poderia fazer isso


sozinha – respondeu Nina entre dentes.

- Tenho certeza disso, mas também tentaria


encontrar uma forma de escapar daqui. Se
continuar dessa forma, vai se tornar uma perita em
fugas.

- Você matou um homem – sussurrou Nina em


resposta, suas palavras mal continham a raiva que
ela sentia naquele momento.

Os dedos de Carrick se tornaram mais leves


sobre sua têmpora, enquanto ele afastava a bolsa de
gelo de seu rosto. Nina sustentou seu olhar,
desafiando abertamente embora a parte racional de
sua mente estivesse lhe dizendo que ela precisava
se conter. Pela primeira vez desde entrara naquele
quarto, ela percebeu a pequena rachadura em sua

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fachada. Finalmente algo do que ela dissera havia


lhe atingido.

- Eu salvei sua vida – respondeu Carrick,


deixando que o braço que segurava a bolsa de gelo
caísse ao lado de seu corpo.

- Não! Você me traiu, me vendendo para aquele


homem, o que quer tenha feito, foi exclusivamente
para aplacar sua consciência.

- Eu salvei sua vida – repetiu ele muito


lentamente, pontuando cada palavra sua voz era
controlada, mas havia uma fúria gélida em seus
olhos.

- Não... Você me colocou em perigo... E agora


o que pretende fazer comigo? Me matar também? –
As perguntas dela deixaram seus lábios numa
torrente sem fim, o fôlego acelerado, fazia com que
seu peito subisse e descesse num ritmo acelerado.

- É isso o que acha que eu estou fazendo? Eu


tive todo o trabalho de traze-la até aqui,
simplesmente para dar um fim a você?

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- Eu não sei... Eu não conheço você.

O gelo havia derretido o som do pingo


atingindo a madeira a seu lado pareceu ressoar em
seus ouvidos. Sem dizer uma única palavra Carrick
se afastou dela, até estar novamente em frente a
cama, parado onde ele deixara a intocada bandeja.
Nina respirou profundamente tentando controlar os
milhares de sentimentos que pareciam se acumular
em sua cabeça naquele instante. Ela precisava
daquela pequena distancia para ser capaz de pensar
com coerência.

- O que você quer Carrick? – perguntou Nina


embora uma parte dela não tivesse nenhuma
vontade de saber uma resposta como aquela – Por
que me trouxe até aqui?

- Você está segura aqui. Eu não vou machucá-


la.

- Você já disse isso, mas eu não acredito. Se


estiver sendo realmente sincero ao menos deveria
desamarrar minhas mãos.

Ela percebeu a dúvida pairar em seus olhos, o


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jeito que eles desviaram de seu rosto até seus


pulsos amarrados, por um instante ela quase jurou
ter visto a sombra do remorso deixando sua face
tensa, mas quando ele voltou a encará-la de frente
seus olhos verdes estavam completamente livres de
qualquer outro sentimento que não fosse
determinação.

As primeiras luzes da manhã começaram a se


infiltrar por trás da cortina, iluminando o quarto em
sua meia penumbra. Em silêncio ela observou
Carrick se aproximar dela, seus passos agora mais
lentos como se ele tivesse lhe dizendo que não iria
machucá-la. Nina precisou usar toda sua força de
vontade para permanecer em seu lugar parada,
quando os dedos dele de maneira habilidosa
tocaram as faixas que prendiam seu pulso. Ele
desatou suas mãos com habilidade, desfazendo o
laço apertando, enquanto ela ignorava-o de
propósito focando seus olhos na parede atrás de
suas costas.

O sangue correu para suas extremidades de


maneira dolorosa, as pontas de seus dedos haviam
ficado inchadas, e agora ela sentia elas pulsarem no
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mesmo ritmo acelerado que seu coração. A parte


interna de seus pulsos estavam em carne viva, os
machucados que ela mesma havia se infligido eram
uma lembrança de sua impotência, de como ela
simplesmente não havia sido capaz de salvar-se na
ultima vez em que estivera presa numa situação
igual aquela.

Carrick deu lhe as costas voltando até estar


diante dela com uma caneca de café nas mãos. A
borda estava levemente trincada e a alça partida,
mas o cheiro da bebida agitou seu estômago vazio.
Nina bebericou o liquido sentindo o calor espalhar
por sua boca, aliviando o gosto azedo em sua
língua. O açúcar estava quase perfeito, e foi o
suficiente para sentir novamente a energia percorrer
seu corpo.

- Coma alguma das coisas que eu trouxe, você


deve estar com fome...

- Pare com isso – respondeu Nina


interrompendo-o seu olhar fixo na caneca de café
em suas mãos.

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- Com isso o que?

- Essa preocupação fingida. Você não precisa


mais continuar com sua atuação.

- Como pode saber que é fingimento? –


perguntou Carrick muito tranquilamente.

Nina se forçou a erguer seu olhar, encarando-o


de frente, bebeu mais um gole de seu café, para
tentar se acalmar se eles realmente iam ter aquele
tipo de discussão então ela precisava descobrir tudo
o que podia e usar qualquer vantagem que estivesse
a seu favor.

- Por que ontem mesmo você me traiu –


respondeu a garota tentando controlar a amargura
em seu tom de voz – Depois matou um homem na
minha frente, me nocauteou e agora está me
mantendo refém.

- Você esqueceu de dizer a parte onde estava


correndo perigo, e além do mais eu só te nocauteie
porque você não parava de gritar e se mexer com
uma louca, foi bem mais fácil tirar você de lá
desacordada.
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- Imagino que sim! – mordeu ela sentindo os


dedos se apertarem com força ao redor da caneca –
Você conseguiu! E agora o que pretende fazer
comigo?

A pergunta ficou pendurada no silêncio entre


eles, os olhos esmeraldinos dele se desviaram de
seu rosto pousando na parede acima de sua cabeça,
pela primeira vez desde que entrara no quarto ele
parecia desconfortável, sua pose confiante abalada
de alguma forma.

- Se realmente está sendo honesto sobre não me


machucar então apenas me deixe ir embora –
pressionou Nina – Posso esquecer o que você me
fez, se me deixar sair daqui.

- Você não sabe do que está falando. Metade da


cidade está a sua procura. Se sair por aquela porta
em horas a Bratva vai colocar as mãos em você.

- Isso não é um problema seu!

- Bem tecnicamente é sim, já que você pode


contar a eles a respeito desse lugar, ou do fato de
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que eu sou o responsável pela morte de Han. De


qualquer forma apenas fique aqui até a poeira
baixar. Não é como você tivesse realmente um
lugar aonde ir.

- Você não sabe disso...

- Se não fosse por minha ajuda você ainda


estaria na rua – rebateu Carrick, pela primeira vez a
voz se elevando – Sem ter a mínima idéia de onde
ir com um alvo imenso nas costas!

- Eu salvei sua vida!

- Eu fiz a mesma coisa por você então acho que


isso significa que estamos quites.

Nina sentiu sua mandíbula travar enquanto


tentava conter a raiva do homem diante dela, o café
em sua caneca havia esfriado o aroma terroso
desaparecera de suas narinas sendo substituído pelo
mofo que parecia onipresente naquele quarto. Uma
dor de cabeça incomoda havia se instalado em seu
crânio fazendo com que seus pensamentos se
tornassem cada vez mais difíceis e caóticos em seu
cérebro.
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- Você não pode me manter presa aqui dentro –


murmurou a garota mais para si mesma sem esperar
que alguém pudesse ouvi-la.

O olhar de Carrick não desviou de seu rosto em


nenhum momento, e embora ele se mantivesse
calado, Nina percebeu a determinação por trás
daquele gesto. A raiva fez seu sangue borbulhar
enquanto corria por suas veias, os dedos se
apertando de forma quase dolorosa na caneca em
suas mãos. Tudo o que ela desejava era uma forma
de finalmente ser livre para tomar suas próprias
decisões e recomeçar sua vida longe dali, daquele
lugar daquelas pessoas, mas por mais que se
esforçasse sempre um novo obstáculo estava diante
dela.

Carrick era o mais novo problema que surgira


em seu caminho, ela não se importava se metade
dos homens de seu tio estavam, a sua procura ela
preferia passar mais uma noite na rua do que
continuar trancafiada naquele quarto, com a
desculpa de que ele simplesmente estava lhe
protegendo. Ela iria encontrar uma forma de
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escapar dali. De qualquer jeito.

Concentrado toda sua força em seu braço Nina


atirou a caneca que estava em suas mãos
diretamente em Carrick. Ela não estava mirando
realmente em seu rosto, mas quando a expressão
dele se tingiu de um assombro verdadeiro quando o
som de porcelana explodiu pelo quarto e ele notou
que ela havia o errado por centímetros algo que lhe
lembrava levemente a orgulho aqueceu seu
coração.

Sem esperar que ele reagisse Nina correu até a


porta usando todo seu impulso, com as mãos agora
desamarradas ela pulou a cama com agilidade,
havia notado que Carrrick não trancara a porta do
quarto quando entrara, dessa forma ela poderia
escapar dali, sairia daquela casa correndo e se fosse
preciso faria um escândalo a pleno pulmões na rua
que ela enxergara da janela naquele lugar, se essa
fosse a única alternativa que ela tinha para escapar
dali.

As mãos dela tocaram o metal frio da maçaneta,


e nesse momento seu corpo foi erguido do chão
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sem nenhum esforço. Nina se debateu usando seus


braços livres, sabia que gritar seria uma perda de
tempo ali em cima naquele lugar afastado ela
duvidava que alguém pudesse ouvi-la em vir seu
socorro. Com o coração batendo em saltos
dolorosos dentro de seu peito, ela decidiu que iria
poupar suas forças, embora tentasse combater o
agarre de Carrick com tudo o que havia lhe
restado.

Nina sentiu suas costas atingirem o colchão o


impacto foi tão rápido que ela não conseguiu
empurrar o corpo de Carrick sobre o seu quando ele
usou sua força para pressiona-la quieta na cama.

- Isso já está ficando chato. Se você me quer


tanto assim em cima de você é só pedir...

- Me solta... Agora.

- Não, muito obrigada. Realmente não estou no


clima de brincar de pega-pega.

- Você não pode simplesmente me deixar presa


aqui.

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- Eu posso, é você que não pode fazer nada para


me impedir.

Os corpos deles estavam colados um ao outro,


seu hálito fresco atingindo seus lábios, o vestido
surrado dela havia se enroscado em sua barriga
deixando suas coxas de fora.

As pernas de Carrick haviam se entrelaçado


com as suas, ela podia sentir os contornos de seu
jeans raspando em sua pele sensível. As mãos dele
eram como algemas em seus punhos mantendo-os
presos sobre seu corpo. Ela suspendeu seus
movimentos, quando percebeu que aquilo apenas
servia para deixar o corpo deles mais colados um
ao outro.

Os olhos dela se prenderam a Carrick, e seu


coração cambaleou uma batida. O aroma dele de
chuva estava impregnando seus sentidos, enquanto
suas lembranças eram invadidas pelo beijo que ele
lhe roubara antes de traí-la. Até mesmo aquele
momento agora parecia manchado e vergonhoso.

A respiração dele estava descompassada assim

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como sua, com uma das mãos livres ela sentiu os


dedos de Carrick trilharem de maneira preguiçosa a
trilha em seu pescoço contornando sua clavícula.
Sentiu a confusão tomar conta de suas feições,
enquanto uma onda de prazer escorreu por seu
corpo. O toque dele era caloroso, delicado deixando
que calafrios percorressem a área sensível de sua
pele.

Nina tentou encontrar as palavras para


protestar, mas a língua parecia muito pesada em sua
boca. A cabeça uma confusão de pensamentos que
não pareciam ter coerência nenhuma. Ela o
detestava. Ela desejava que ele continuasse a
tocando. Seu olhar se fixou em Carrick, ele parecia
perdido, alheio ao fato de que estava lhe tocando,
os olhos dele se fixaram em seu rosto, como se ele
tivesse tentando compreender o que estava
acontecendo tanto quanto ela. O silêncio no quarto
inundou seus ouvidos lá fora ela conseguiu escutar
o piar agudo de uma andorinha, enquanto
observava o jeito que os olhos esmeraldinos dele se
fixavam em seus lábios.

Ela soube que ele a beijaria antes mesmo de


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perceber sua cabeça pender em sua direção. Sentiu


uma onda de antecipação percorrer seu corpo, o
coração se acelerando em seu peito até que o
sangue parecia rugir como uma cachoeira em seus
sentidos. Havia uma parte dela que estava disposta
a esquecer tudo o que ele fizera apenas para sentir
os lábios dele mais uma vez sobre os seus. E aquilo
era algo que ela não podia permitir.

- Eu detesto você... – sua voz sussurrada não


passava de um murmúrio quase inaudível, os lábios
dele estavam tão próximos que ela quase podia
sentir sua textura suave.

As palavras dela pareceram desperta-lo por um


instante. Ele se afastou novamente erguendo seu
rosto até que ele estivesse ocupando todo seu
campo de visão.

- Ekaterina...

- Você quer saber por que eu detesto você? Por


que eu fugi daquela casa? Você é só mais um igual
a todos eles...

Agora que as palavras haviam deixado seus


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lábios ela não sentia se seria mais capaz de conte-


las. A fúria de sentimentos que parecia ter se
represado em seu coração nos últimos dias havia se
rompido, enchendo-a por completo até que ela mal
fosse capaz de distinguir o que sentia naquele
instante.

- Espera... Você está chorando? – perguntou


Carrick enquanto se afastava dela ligeiramente, a
preocupação borrando sua expressão controlada por
um momento.

Ela estava embora aquela não fosse sua


intenção, e ela odiasse o nariz entupido e as
estúpidas lágrimas que escorriam por sua
bochecha.

- Sai de cima de mim! – ordenou Nina,


enquanto balançava sua cabeça os cabelos
desalinhados ricocheteando em seu rosto.

O soluço ficou preso em sua garganta, ela não


era capaz de controlar as lágrimas que escorriam
livremente por seu rosto. Havia uma parte dela que
detestava o fato de que ele estivesse vendo-a num

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momento tão frágil quanto aquele, mas ela


simplesmente não se importava mais. Em seu
coração sentia uma revolta sufocante, que o
deixava pesado como se ela tivesse uma pedra em
seu peito ao invés de um músculo pulsante.

- Eu nunca deveria ter soltado você daquele


porão! Deveria ter te deixado apodrecendo naquele
lugar! – As palavras dela eram mordazes, e ferinas
e uma parte dele ficou feliz ao perceber que havia
um brilho magoado nos olhos verdes de Carrick.

Ele se afastou dela apoiando o peso em seus


joelhos, erguendo-se sobre seu corpo, mas as mãos
dele permaneceram ao redor de seus pulsos, o
aperto forte o suficiente para restringir seus
movimentos sem machucá-la.

- Você queria saber não? – perguntou Nina


incapaz de conter o tremor em sua voz – Quando
foi me visitar antes me trair... Queria saber por que
eu tinha fugido da casa do meu tio? Eu posso te
dizer agora! Ele me traiu me vendeu exatamente
como você!

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Nina forçou suas mãos para frente usando toda


sua força, numa tentativa patética de acertar
Carrick. Ela sempre havia se considerado uma
pessoa completamente contra a violência, mas
naquele momento a raiva havia deixado seus
pensamentos bagunçados, enquanto uma nevoa
vermelha parecia se infiltrar sobre seus olhos. Ela
queria magoá-lo desesperadamente da mesma
forma que ela se sentia.

- Ele me enganou, convidou a todos pra minha


festa de aniversário – continuou ela, contendo os
soluços das lágrimas em sua garganta – E sem que
eu soubesse de nada anunciou meu noivado com
Ivan um dos seus sócios. Ele não queria saber
minha opinião, ele estava me usando como moeda
de troca para alcançar seus objetivos. Exatamente
como você fez!

- Karazov? – perguntou Carrick confuso –


Serguei queria casá-la com Ivan Karazov?

- Sim, qual a importância disso? Eu não o


conhecia, mas isso não fazia a mínima diferença
porque eles só queria me usar de alguma forma.
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Exatamente como você fez!

- Me escute eu...

- Não queria me usar? – rebateu Nina – Você


me levou até Han, sabendo exatamente o que faria
comigo. Quando você descobriu quem era meu pai,
a única coisa que passou por sua cabeça era usar
essa informação de alguma maneira.

O aperto em suas mãos se tornou mais intenso,


mas não doloroso, os olhos dele dardejavam em sua
direção repletos de sentimentos que ela não era
capaz de compreender.

- Eu salvei sua vida – continuou ela agora


diminuindo o tom de sua voz, deixando que as
palavras repletas de mágoas pesassem no pequeno
espaço entre eles – Achei que essa seria uma troca
justa, pra mim que queria sair daquele lugar... Mas
isso foi só mais um erro meu... Já que você
pretende me manter presa aqui igual meu tio...

A pressão em seus pulsos diminuiu, mas a luta


que existia dentro dela parecia finalmente ter se
arrefecido. Agora que tudo o que estivera dentro de
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seu peito parecia ter escorrido para fora de si, Nina


sentia-se cansada e abatida, seus olhos fixos em
Carrick incapaz de compreender sua expressão.

- Você não estará presa aqui... Vai estar


segura.

- Mentira – respondeu a garota sentindo a voz


estranha em sua garganta, os lábios ressequidos
como areia – Você ainda pretende usar a
informação sobre meu pai em seu proveito
próprio.

Os olhos dele cor de esmeralda não desviaram


de seu rosto, uma sombra pareceu cobri-los por um
instante, enquanto um calafrio desagradável
escorria por suas costas. Ela poderia não conhecer
por completo o homem diante dela, mas ao menos
havia uma parte de Carrick que agora não podia
mais permanecer escondida dentro dele. Havia ali
um desejo de sempre estar em vantagem, de
conseguir algo valioso embora ela não soubesse o
real objetivo por trás de todas suas ações.

- Viu? Você nem ao menos consegue dizer que

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estou errada.- continuou Nina, erguendo seu rosto,


forçando-o a encara-la de frente.

- Você vai estar segura aqui. Será que não


consegue compreender isso?

- Estarei segura até você decidir me usar


novamente em benefício próprio Carrick! Por
favor! Se você me soltar agora você nunca mais ira
me encontrar, não direi a ninguém sobre o que
aconteceu aquela noite com Han na loja de
penhores... A única coisa que eu quero é sair daqui
e encontrar minha mãe...

O silêncio entre eles se tornou mais a pesado, a


tensão crescendo até que tudo o que parecia existir
ao redor era a presença deles naquele quarto. As
mãos dele se soltaram de seus pulsos, e por um
momento que pareceu algo fugaz e brilhante, ela
acredito que teria vencido. O bom-senso parecia ter
despertado em Carrick, mas logo ela percebeu que
tudo aquilo não passava de uma forma positiva de
encarar os acontecimentos diante dela.

Sem dizer uma única palavra Nina sentiu o peso

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dele ser retirado de sobre seu corpo, a distância


entre eles deixou um vazio nada bem-vindo em seu
coração, como se até mesmo seu corpo sentisse a
ausência do calor dele.

- Sei que você acredita que essa é a pior decisão


possível no momento, mas eu simplesmente não
posso deixá-la sair por aquela porta.

A voz dele soou firme e quase ressentida, ele


poderia realmente sentir-se incomodado pelo fato
de precisar ter de trancafiá-la ali naquele quarto,
mas ela não poderia se importar menos com sua
crise de consciência tardia.

- Eu vou encontrar uma forma de sair daqui


Carrick.

Os olhos dele se focaram sobre sua figura,


enquanto ela sentia as pontas de suas unhas se
cravarem sobre a parte interna de suas mãos.
Naquele momento ela ainda não sabia como, mas
encontraria uma maneira de sair daquele lugar.

O olhar que ele lhe lançou estava repleto de


desafio e incredulidade, e ela o odiou ainda mais
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por isso, ela o faria pagar caro por aquela atitude,


prometeu a si mesma enquanto observava suas
costas no momento que ele caminhava até a porta
do quarto.

Ela já conseguira fugir uma vez de um lugar


muito mais perigoso do que aquele, a única coisa
que precisava naquele momento, era de paciência,
para encontrar um plano que funcionasse, e ela
tinha todo o tempo de mundo para isso.

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Capítulo Vinte e Um
Carrick fechou a porta atrás de suas costas,
tentando conter a vontade insana de de socá-la com
todas suas forças. Aparentemente a garota que ele
deixara ali dentro tinha a estranha habilidade de
tirá-lo fora do sério.

Cansado, ele encostou suas costas por um


instante na parede do corredor ao lado, enquanto
deixava que as pontas de seus dedos percorressem
seu cabelo. Ele não era do tipo que costumava fazer
caridade ou coisas do tipo, mas ao menos esperava
algum agradecimento quando ele se esforçava de
maneira tão ativa para salvar a vida de alguém.

Seus olhos mais uma vez se focaram na porta a


seu lado. Tentou fazer um lembrete mental de
reforçar a segurança daquele quarto, depois do que
ela acabara de dizer ele não tinha nenhuma dúvida
que aquela garota tentaria encontrar uma maneira
de escapar dali de algum jeito. Nesse caso, sua
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única alternativa era encontrar uma forma de ser


mais esperto do que ela. Como se ele não tivesse
problemas o suficiente.

Cansado e irritado porque ainda era muito cedo


para sentir sua cabeça coberta de problemas
daquele jeito, ele resolveu voltar a cozinha para
buscar uma nova xicara de café. Ao seu redor a
antiga mansão Sullivan continuava exatamente
como na noite anterior. Os longos corredores
sombrios e repletos de sombras pareciam ainda
mais desabitados e empoeirados como ruinas
antigas e completamente esquecidas por todos.

O fornecimento de energia elétrica havia sido


interrompido a muito tempo, mas Carrick conhecia
bem demais cada um daqueles corredores e quartos
silenciosos para não precisar de nenhum tipo de
iluminação para se locomover ali dentro, embora
ele não pudesse negar que ao menos seria legal
poder enxergar uma vez que fosse o imenso lustre
sobre o hall com todas suas luzes ligadas.

A atenção dele por um momento ficou presa na


imensa peça de decoração completamente fora de
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moda que ficava pendurada bem acima de sua


cabeça, próximo as escadas duplas que davam
acesso a porta principal. Aquela mansão havia sido
um dos lugares mais bonitos e badalados da década
de vinte. No auge da Lei Seca americana, aquele
lugar e suas paredes haviam testemunhado festas
imponentes e jantares elegantes, numa época onde
a máfia e a alta sociedade daquela cidade
conviviam em relações extremamente estritas, mas
de lá pra cá muita coisa havia mudado.

O tempo dos gangsters que usavam chapéus e


ternos feitos sob medida, enquanto ganhavam
dinheiro através do contrabando de bebidas
alcoólicas havia ficado para trás. Hoje o mundo do
crime organizado, era mais competitivo do que
nunca, e todos os tipos de serviços eram oferecidos.
Tráfico de drogas, de humanos, órgãos. Qualquer
coisa poderia ser oferecida e comprada naquele
mundo, e o poder daquelas relações eram
acumulados por famílias, que disputavam o topo
enquanto se relacionavam numa teia complicada
repleta de sangue e violência.

Os passos dele ecoaram como sempre com


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rangidos lamuriosos da madeira, enquanto ela


descia as escadas, um rato correu por debaixo da
mobília, atravessando um buraco na parede até
estar completamente longe de seu alcance, mas ele
não se importou. Os ratos já estavam ali antes
mesmo dele chegar a ocupar aquele lugar.

De certa forma Carrick era um pouco como


aqueles animais, aproveitando os escombros
daquela mansão, ele também um dia havia se
esgueirado por ali, fugindo das ruas onde ele
costumava viver, e do buraco produzido pela fome
em suas entranhas. Ele não esperava encontrar nada
ali, a não ser um lugar mais seco e discreto para
passar a noite, mas ele encontrara Liam, ou quem
sabe fosse exatamente o contrário, e desde então ele
nunca mais havia sido capaz de abandonar aquele
lugar.

Os pés dele o levaram em direção a cozinha,


que ficava na parte mais afastada da casa, a porta
por onde ele entrou rangeu de maneira dolorosa,
enquanto lascas de madeira ficavam soltas pelo
caminho, os cupins estavam determinados a
destruir aquele lugar de cima abaixo.
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Ali dentro o cheiro de vela era quase


insuportável para seu nariz, Carrick não costumava
se importar com a escuridão, mas a visão de Liam
já não era mais a mesma por isso ele ao menos
tentava deixar o lugar onde ele passava a maior
parte de seu tempo iluminado do jeito que
conseguia.

- Parece que sua convidada não está com o


melhor dos humores – disse Liam, assim que
percebeu ele entrar na cozinha.

- Ela quebrou a única caneca da casa, portanto


acho melhor você tirar esse sorrisinho de canto no
rosto.

- Mesmo? É uma pena eu gostava daquela


caneca azul – disse o velho enquanto servia-se de
uma fatia de pão adormecido e café num copo de
vidro – Acho que ela não gostou do fato de ser
trazida para cá, desacordada no meio da noite.

- Ela quase acertou minha cabeça, com a minha


própria caneca. Além do mais não vamos ter essa
conversa de novo, eu já disse Liam, isso será

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provisório aquela garota precisa de um lugar para


passar uns dias.

- Eu andei ouvindo coisas bastante interessante


na cidade dessa vez – respondeu Liam, enquanto
virava seu corpo contra a pia deixando que sua
atenção se focasse completamente nele – Parece
que essa garota está sendo procurada pela Bratva.

- E dai? – respondeu Carrick, servindo-se de


mais um copo de café. Amaldiçoou-se em silêncio
lembrando que havia esquecido a bandeja no
quarto, com certeza mais um objeto que mais tarde
seria usado como projetil em sua direção.

- Você voltou para casa apenas ontem à noite,


carregando uma garota a tiracolo, e com uma
aparência de quem levou uma bela de uma surra.
Talvez eu devesse começar a me intrometer em
seus serviços.

O gosto do café em sua boca alíviou um pouco


a tensão que ele sentia pesar em seus ombros. Ele
mal dormira aquela noite e mesmo assim antes da
madrugada estar completamente terminada ele

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estava de pé naquela cozinha, preparando café algo


que ele nunca fazia para a princesa russa que
naquele momento ele mantinha presa em seu
quarto. Havia sido idiota o suficiente de levar as
coisas numa bandeja até ela, como se uma velha
travessa pudesse se comparar ao tipo de luxo que
ela deveria estar acostumada.

- Duende, você não deveria estar se


intrometendo com a Bratva. – disse Liam sua voz
agora assumindo um tom preocupado - Tem sorte
deles, ainda terem deixado os dedos em sua mão.

Carrick não conseguiu conter o sorriso que


brincou em seus lábios. Liam o conhecia bem
demais para que ele conseguisse esconder qualquer
coisa daquele velho, mas naquele momento a
melhor coisa que poderia fazer para protege-lo era
mantê-lo longe de seus planos para sua própria
proteção.

- Não se preocupe velho, eles não são tão


espertos quanto se acham. – respondeu Carrick com
um simples mexer de ombros.

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Os olhos de Liam se fixaram nele, exatamente


do jeito que ele costumava o encarar quando fazia
algo errado quando era mais jovem. Carrick tentou
ignorar o desconforto que se instalou em seu
estômago, ele não queria mentir ou preocupar
Liam, mas agora já tinha ido longe demais para
voltar atrás em suas ambições.

- Você está com aquele olhar de novo no rosto


– comentou o velho, sentando-se na única cadeira
disponível na mesa com pernas bambas. – Um
olhar que me dizer que está prestes a enfiar os pés
pelas mãos.

- Desde quando você ficou tão pessimista


velho?

- Carrick.

Seu nome pareceu vibrar na velha cozinha, a


voz de Liam ressoando em seus ouvidos. Ele não
conseguia se lembrar com clareza a última vez que
ele havia lhe chamado daquela forma.

Os olhos dele se focaram sobre o homem


sentado a sua frente. A imagem dele tão bem
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conhecida quanto seu reflexo no espelho. Liam


ainda se parecia muito com o homem que havia o
retirado das ruas tantos anos atrás. Ele não gostava
de pensar em seu passado, sem raízes sem família
sua infância havia sido passada nas instituições do
estado, lugares muitas vezes piores do que a própria
rua, onde ele ao menos aprendera a encontrar uma
forma de sobreviver, enquanto batia algumas
carteiras ou vigiava algum lugar para qualquer
traficante disposto a paga-lo com alguns trocados.

Naquela época Carrick não pensava em seu


futuro, tudo o que havia diante dele era o próximo
dia, a próxima refeição, essa era toda sua
realidade... Até ele encontram Liam.

O homem diante dele havia lhe dado uma


oportunidade. Uma razão. Havia sido o único que
lhe enxergara como outro ser humano e por fim até
compartilhara com ele seu próprio sobrenome e
família.

Desde então o tempo parecia pesar sobre Liam


Sullivan notou Carrick. Os cabelos negros haviam
se tornado mais ralo, enquanto fios prateados
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abundantes nasciam de suas têmporas. O rosto


quadrado parecia mais magro, e as rugas ao redor
dos lábios agora eram mais visíveis, mas os
brilhantes olhos azuis escuros permaneciam os
mesmos. Inteligentes e perspicazes exatamente
iguais como em suas memórias.

Carrick sabia que tinha uma dívida com aquele


homem. Liam havia o acolhido debaixo de suas
asas, e lhe mostrado uma maneira de sobreviver
aquele mundo, que em toda oportunidade que
encontrara havia tentando derrota-lo.

Liam era o único que havia sobrado de uma


famosa família da máfia irlandesa que caíra em
desgraça. Anos de guerras entre facções,
perseguições com a polícia e disputa territoriais
haviam minado suas forças, obrigando eles a
viveram escondidos no submundo aceitando
qualquer serviço para que dessa forma pudessem
sobreviver.

A máfia irlandesa já havia dominado aquela


cidade, suas vontades eram como leis, a própria
casa ao redor deles era uma testemunha silenciosa
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daquela época, e tudo o que Carrick mais desejava


no mundo, era trazer um pouco daquela glória do
passado de volta.

Ele não havia nascido um Sullivan, mas Liam


havia lhe dado aquele nome, e ele estava mais do
que disposto a carrega-lo nas costas enquanto
dobrava o destino a sua própria vontade. A máfia
irlandesa hoje não passava de um punhado de
famílias separadas, que na maior parte viviam
escondidas, aceitando pequenos serviços de outras
máfias que mal lhes rendiam lucro suficiente. Ele
estava disposto a mudar isso. Mas, para que esse
desejo se tornasse realidade ele sabia que uma das
famílias que estavam no topo precisava cair.
Ninguém aceitaria de bom grado a volta dos
irlandeses dentro dos esquemas da máfia em Nova
York. No atual momento ele sabia que o poder mal
era sustentado devido a aliança entre russos e
italianos, mas pelas informações que ele havia sido
capaz de reunir isso estava prestes a mudar, e com
isso seu próprio futuro.

- O que você pretende fazer com aquela garota?


– a pergunta de Liam ecoou pela cozinha ao seu
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redor, quase como um eco de seus próprios


pensamentos. Ele ainda não era capaz de encontrar
um motivo razoável que o fizera salva-la na noite
passada, além do seu egoísmo puro e simples.

Até agora ele não havia sido capaz de explicar


pra si mesmo o que havia acontecido. Ele não
planejara nada aquilo, e de uma hora pra hora todas
as coisas pareciam estar completamente fora de seu
controle. Ele não fora capaz de entrega-la para Han,
e por causa disso havia o matado. Tudo teria sido
um completo desastre se ele ele não tivesse obtido
ajuda de Lin. Aparentemente a própria assistente de
Han, não estava contente com o rumo financeiro
dos negócios. Carrick sabia muito bem que aquele
homem tinha vários inimigos, e enquanto Lin
decidisse manter seu silêncio ele estaria protegido
da Tríade. Ele havia pago muito caro, com o acordo
do dinheiro que Han havia lhe dado pelo silêncio
dela, ele precisava acreditar que no final das contas
Lin seria fiel a sua palavra. No momento aquela era
uma preocupação que precisaria esperar, enquanto
sua mente se focava em assuntos mais urgentes.

- Eu ainda não sei o que fazer com ela para ser


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sincero – respondeu Carrick, enquanto observava o


líquido marrom do café no fundo de seu copo. Sua
mente naquele momento era um lugar insuportável
repleto de pensamentos inacabados que cruzavam
uns aos outros no mais repleto caos.

- Você é um mentiroso de marca maior


duende...

A risada de Liam era um chiado rouco que ele


conhecia bem demais. Carrick desviou o olhar
deixando que ele se focasse na cozinha ao seu
redor. Ele sabia muito bem que Liam seria
completamente contra seu plano de fazer qualquer
coisa para retomar um lugar de destaque para a
máfia irlandesa. Embora estivesse completamente
infiltrado dentro do submundo do crime, ele sabia
que Liam preferia continuar vivendo as margens,
executando os serviços que pudesse lhe oferecer
uma maior liberdade.

Esse tipo de filosofia podia ser o suficiente para


ele, mas Carrick não era capaz de concordar.
Durante toda sua vida, ele havia observado como as
famílias mafiosas, russas, italianas, chinesas e
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tantas outras ostentavam seu poder e sua riqueza


pela cidade. Eles não se importavam com as regras
e contra as leis porque eram eles mesmo que as
criavam, e era exatamente esse tipo de poder que
ele desejava alcançar.

Os olhos azulados de Liam estavam fixos sobre


ele, as rugas ao redor de seu rosto lhe davam uma
aparência cansada, mas ele sabia que aquilo era
apenas uma fachada, aquele homem era mais do
que capaz de se cuidar completamente sozinho.
Fazia anos que ele não o escutava usar o apelido
que ele lhe dera quando criança. Duende era o jeito
que ele havia encontrado de lhe chamar quando o
encontrara por causa de seus olhos verdes. Durante
mais de uma semana Carrick ficara o seguindo para
cima e para baixo, entrando e saindo daquela casa
velha, tentando encontrar ali algo de valor para que
pudesse vender, mas todas suas tentativas acabaram
sendo frustradas. No final Liam havia ficado com
ele, tratando-o com cuidado como se fosse algum
tipo de animal de rua. E aquela havia sido o único
tipo de bondade que ele conhecera em toda sua
vida.

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- Você tem razão, eu tenho um plano, mas para


que ele funciona completamente, talvez eu precise
da ajuda da garota presa lá em cima.

- Pelo o que você disse garoto, não acredito que


ela esteja muito disposta e te ajudar...

- Tudo é uma questão de perspectiva não é


mesmo? – respondeu o rapaz enquanto revia em
sua mente a última conversa que tivera com
Ekaterina. O motivo pelo qual ela lhe contara que
havia fugido da casa de Serguei ainda rodeava sua
mente, como uma espécie de fantasma agourento.
Quando mais ele descobria a respeito daquela
garota, mais fatos pareciam se misturar para que ele
não fosse capaz de compreendê-la por completo.

- Há algo que eu diga para você que irá fazê-lo


mudar de ideia – perguntou Liam o azedume
tomando conta de suas palavras deixando seu
sotaque irlandês mais pronunciado – Não estou
nem um pouco interessado de no final dessa
história, ir reconhecer seu corpo no necrotério.

- Tão pouca fé em mim Sullivan, você me

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ofende...

- Conheço você o suficiente para saber que está


prestes a enfiar os pés pelas mãos garoto.

- Você ainda nem ouviu meu plano, e está ai


todo cheio de criticas...

- Qualquer plano que envolva a garota lá em


cima será um fiasco total Duende...

Os olhos de Liam pousaram sobre ele, afiados


como uma navalha, e Carrick precisou usar toda
sua força de vontade, para sustentar seu olhar.
Sentiu os dedos de suas mãos se fecharem em
punhos apertados, enquanto ele ordenava a si
mesmo a permanecer calmo.

- Você não sabe o que está dizendo Sullivan –


respondeu ele, soando da forma mais tranquila
possível naquele momento, embora o que estivesse
sentindo fosse exatamente o oposto.

- Aquela garota deve significar alguma coisa


para você. Ao menos para que você esteja disposto
a arriscar tanto para protegê-la.
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- Sim – respondeu Carrick mal humorado – Ela


significa o meu passe, para darmos o fora daqui, e
finalmente começarmos a sermos respeitados como
família.

A risada chiada de Liam encheu seus ouvidos e


ele tentou não se sentir completamente ofendido,
ele sabia muito bem que era impossível manter uma
conversa civilizada com aquele desgraçado, sem
que ele passasse metade do tempo rindo da sua
cara.

- Você pode continuar dizendo isso para si


mesmo Duende, até estar completamente ferrado, e
perceba que não vai conseguir desfazer todas as
merdas pelo caminho.

Carrick sentiu os cantos de seu rosto se


repuxarem num sorriso ferino, sem humor algum.
As palavras de Liam pesaram sobre ele, mas nem
isso foi o suficiente para que ele mudasse de
opinião. Nunca o objetivo de sua vida estivera tão
claro diante dele. Tão perto que ele poderia
simplesmente estender seus dedos e pega-lo. Poder,
dinheiro, controle, tudo estaria a seu alcance se ele
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soubesse usar as cartas que a vida havia lhe dado.

- Você se preocupa demais velho – respondeu


Carrick, enquanto seus passos o levavam para fora
da cozinha. Lá fora o sol já começava a despontar
por entre as nuvens mais baixas, ele conseguia
observar tudo isso enquanto olha pelas imensas
janelas que ficam no salão que costumava ser o
lugar dos jantares requintados na mansão.

O cansaço pesava em seus ombros assim como


a dor em suas costelas, e nas pontas dos dedos, mas
tudo isso serve para manter o sono afastado de sua
mente. Dentro das paredes de ossos de seu crânio,
ele sentiu um plano sendo trilhado com agilidade,
como se ele estivesse montando um imenso quebra-
cabeça, peças ainda estavam faltando e informações
pareciam voar avulsas por sua mente, mas pela
primeira vez ele conseguia ver o esqueleto de algo
concreto se formando ao fundo, algo pelo qual ele
ansiara por toda sua vida, e não seria a atração, ou
tentação que ele sentira por uma garota se colocar
em seu caminho.

Ele usaria mais uma vez Ekaterina, a princesa


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russa que havia o salvado, e finalmente colocaria as


mãos em todo o poder que desejara possuir em sua
vida. Pela primeira vez desde que era apenas um
garoto Carrick, enquanto caminhava para fora da
mansão, indo em direção a cidade, para conseguir
colocar a primeira parte de seu plano em
andamento, ele se deu ao luxo de imaginar, um
futuro que não seria apenas o dia de amanhã.

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Capítulo Vinte e Dois


Nina correu os dedos pela água pela centésima
vez, enquanto adiava o momento de sair da
banheira. Á agua que chegava apenas até a sua
cintura, já estava quase se tornando gélida demais,
mas o calor de pleno verão a impedia de sentir-se
com frio por completo.

Ao seu redor o cenário, era uma mistura de


filme de terror de baixo orçamento e museu
abandonado. O antigo banheiro que Carrick havia
dito que ela poderia usar, era um lugar amplo que
estava urgentemente precisando de uma reforma,
assim como ela havia notado todo aquele lugar.
Com paredes lisas a tinta num tom claro de verde
havia quase que completamente desaparecido o
bolor disputava espaço com as teias de aranhas,
pelo ambiente, mas ela havia tentado desviar seu
foco daquilo, deixando que seus olhos se
concentrassem nas suaves chamas amarelas das
velas, que serviam como única iluminação naquela
casa.
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Lá fora o sol já havia se posto, seus raios


dourados escondidos por detrás das nuvens
deixando as sombras naquele banheiro mais longas
e escuras. A primeira vez que seus olhos haviam
caído sobre aquele lugar ela simplesmente se
recusara que aquele era o único lugar limpo o
suficiente para que ela pudesse tomar um banho.
Com um desgosto evidente em seu rosto ela havia
deixado Carrick muito ciente da sua insatisfação,
mas tudo o que ele havia lhe respondido era que a
banheira estava limpa, e podia ser usada
normalmente.

No final das contas aquela havia sido uma das


únicas verdades que ele dissera. Embora todo o
resto do cômodo, fosse uma confusão de poeira,
teias de aranha, e piso quebrado, a banheira de
porcelana com seus delicados pés de metal em
formato de patas de gato ainda continuava limpa, e
podia ser usada. Com algumas viagens carregando
baldes pesados, Carrick havia a ajudado a enchê-la
o suficiente para que Nina, tivesse o luxo de um
banho após a complicada conversa que eles haviam
tido.

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Não era o ideal nem de longe, mas o calor


morno da água sobre sua pele suarenta havia sido o
suficiente ao menos naquele momento para aplacar
seu ânimo desgastado. Por um tempo tudo o que ela
se permitirá, é ficar ali dentro cercado pelo silêncio,
a água sobre sua pele mesmo que escassa na
banheira havia sido o suficiente para aplacar um
pouco do calor que ela havia sentido durante todo o
dia.

A janela do quarto onde ela continuava presa,


mesmo após todas suas tentativas continuava
fechada, assim como a porta, trancada pelo lado de
fora. Atrás do vidro ela observara o céu azulado
sem nenhum fiapo de nuvem enquanto aquelas
paredes decadentes haviam se tornado cada vez
mais quentes, e o suor tivesse escorrendo atrás de
seu cabelo.

O vestido preferido dela havia se transformado


numa peça de roupa que não poderia ser salva. O
tom branco dele há muito tempo se perdera
enquanto a poeira e a sujeira haviam impregnado
no tecido. Os dela por um instante se desviaram
para a peça esquecida sobre uma pia a muito tempo
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inutilizada. Um suspiro que era uma mistura de


cansaço e tristeza deixou seus lábios. Naquele
momento a única coisa que ela podia desejar era ter
sua mochila de volta. Até mesmo o conforto de
uma troca de roupas limpas havia sido lhe tirado.

As gotas de água escorreram por seus dedos,


enquanto ela os levantava preguiçosamente diante
de seu rosto, eles já estavam se tornando
enrugados, e mesmo assim Nina não sentia
nenhuma vontade de deixar aquele lugar. Ao redor
de suas coxas a água se tornara quase fria, mas ela
estivera tanto tempo ali que simplesmente se
acostumara com a temperatura. Em sua cabeça os
pensamentos eram uma massa confusa e caótica,
enquanto ela tentava afastar as lembranças de sua
última conversa com Carrick.

Agora que sua decisão estava tomada, o peso


daquilo parecia pesar como algo imensurável em
seus ombros. A dúvida era uma constante em sua
mente. Deixando-a inquieta enquanto a água secava
sobre sua pele.

Nina levantou-se da banheira enquanto seus


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dedos se fechavam sobre a toalha que Carrick havia


lhe emprestado. O tecido era rustico, de aparência
áspera as cores estavam completamente desbotadas
pelas diversas lavagem, mas ao menos ela se
encontrava limpa, o tipo de conforto que naquele
momento era quase um luxo.

Os dedos dela correram pela superfície lisa do


espelho o reflexo dela do outro lado lhe lançou um
olhar cansado. O rosto parecia mais fino, as
bochechas saltadas ou talvez aquilo não passasse de
uma ilusão promovida pela luz das velas ao seu
redor. Não era daquela maneira que ela imaginara
que seria sua fuga. De alguma forma sentia como
se pudesse ter mais controle sobre suas decisões ou
mesmo onde seus caminhos iriam leva-la.

Pela centésima vez perguntou-se em silêncio se


estava fazendo a coisa certa, aceitando trabalhar
junto com Carrick. O vazio e a insegurança em seu
cérebro apenas deixaram um gosto amargo em sua
boca. Tentou se apegar no ultimo fiapo que havia
de racionalidade em seu cérebro naquele momento.
Se não fizesse isso, então quais eram suas outras
opções?
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Na noite passada Carrick aparecera em seu


quarto, o rosto inexpressivo não deixava
transparecer nenhum dos pensamentos que
habitavam sua mente, mas seus olhos estavam
brilhantes e determinados, e ela percebeu que ele
havia tomado uma decisão.

O plano era simples, direto e por um momento


Nina acreditou que ele estivesse sendo apenas
sarcástico. O sorriso morreu em seus lábios quando
ela percebeu que ele falava a sério. Por um
momento os pensamentos se embaralharam em sua
cabeça, o som das batidas de seu coração soando
muito alto.

Carrick queria derrubar seu tio, usando a notícia


de seu noivado com Ivan, mas para isso ela
precisaria ajudá-lo de alguma maneira a conseguir
uma confissão para que pudesse mostrar aos
italianos.

- Serguei está brincando com fogo – disse ele,


as palavras ressoando em suas lembranças clara
como o dia – A Bratva tem um acordo com os
italianos, onde nenhuma família russa deve se
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fortalecer através de casamentos, sem que eles


saibam, e eu tenho certeza que ninguém nessa
cidade sabe do que você me contou a respeito do
seu noivado.

- E o que você pretende fazer com essa


informação – perguntou Nina, a desconfiança
pingando de cada uma de suas palavras.

- Vende-la aos italianos – respondeu ele de


maneira muito direta – É isso o que eu faço. Vendo
informações em troca de dinheiro, para qualquer
um que tiver o montante certo para me pagar.

O desconfortou se apertou como um nó na boca


de seu estômago, ela não queria se envolver ainda
mais com nenhum tipo de assunto da máfia; mas
naquele momento sentia como se suas mãos
estivessem completamente atadas.

- Você pode iniciar uma guerra desse jeito –


disse ela, sua voz soando repleta de incertezas –
Isso pode prejudicar meu tio de todas as formas
possíveis.

- E por que você deveria se preocupar com


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isso? Não foi ele quem te vendeu como se você não


passasse de um mero objeto?

As palavras dele eram verdadeiras demais para


que ela pudesse simplesmente ignora-las. A ferida
em seu coração ainda estava dolorida demais, para
não sentir-se magoada enquanto pensava no
Serguei havia feito com ela.

- Me ajude a conseguir uma confissão de Ivan,


e eu irei ajudá-la a achar sua mãe. E quanto toda
essa porcaria atingir o ventilador, você vai poder
estar bem longe com ela daqui.

A água havia quase secado sobre seu corpo, e


mesmo assim Nina sentia o nervosismo deixar seu
corpo gélido. Ela havia aceitado participar daquele
plano, embora não tivesse completamente certa de
que essa havia sido sua melhor escolha. Mas, ela
não confiava cegamente mais em Carrick para
acreditar em suas palavras. Ela queria uma prova,
algo concreto que lhe mostrasse que ele realmente
era capaz de encontrar sua mãe.

Aquele era um medo do qual ela nem ao menos

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tinha sido capaz de admitir pra si mesma em voz


alta. Tudo o que ela tinha de sua mãe além das
esparsas lembranças, era as notícias que Serguei lhe
dissera com o passar dos anos.

- Você quer minha ajuda? Será sua, mas


primeiro eu preciso ter provas de que você é
realmente capaz de encontrar minha mãe. – dissera
Nina para Carrick.

Ela pode perceber que ele não ficara nem um


pouco feliz com sua exigência, mas ela
simplesmente não era mais capaz de confiar apenas
em suas palavras. Após uma discussão acalorada de
ambos os lados, ficou decidido que juntos eles
iriam encontrar alguma pista que levasse até o
paradeiro de sua mãe.

O olhar dela recaiu sobre as roupas emprestas


que Carrick lhe arranjara que estavam largadas de
qualquer forma sobre a tampa da privada. Ele lhe
dissera que eles poderiam encontrar um de seus
contatos numa boate aquela noite. Carrick não
estava nem um pouco satisfeito com o fato dela ter
dito que eles precisariam irem juntos. A Bratva
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continuava procurando ambos, o que deixaria toda


a locomoção deles mais perigosa, mas Nina não
estava nem um pouco disposta de simplesmente
continuar sentada naquele quarto, enquanto
esperava Carrick trazer notícias sobre sua mãe.

Com pressa Nina deslizou as roupas por sobre


seu corpo, a saia de couro era apenas m retângulo
quadrado que mal cobria suas pernas. As roupas
intimas eram peças feitas de seda e muita
transparência, sentiu o calor tomar conta de suas
bochechas quando imaginou onde Carrick poderia
ter encontrado aquele tipo de roupa para ela.

A regata branca que ela usava terminava logo


abaixo de seus seios, mostrando as alças de seu
sutiã preto, por um momento ela pensou em deixar
ali mesmo as meias arrastão que completariam seu
visual, mas no final desistiu sabendo que nada
daquilo poderia mudar muito sua imagem.

Ela mal conseguiu reconhecer seu reflexo no


espelho. Sentiu o ardor tomar conta de seu rosto,
enquanto olhava seu próprio reflexo. Por um
momento os olhos dela, se fixaram na porta fechada
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atrás de suas costas, saber que Carrick estava ali do


outro lado lhe esperando, apenas deixou que o nó
que ela sentia dentro de seu estômago se tornar-se
mais apertado.

Com as pontas dos dedos Nina percorreu as


mechas enquanto as separava, os cabelos úmidos
deslizaram por seus ombros, molhando a parte de
trás sua blusa, quando secassem lhe dariam um
aspecto rebelde ao redor de seu rosto, mas talvez
isso ao menos combinasse com o resto do seu
visual.

A parte racional de sua mente lhe dizia que ela


estava prestes a cometer uma loucura, mas ela
simplesmente resolveu abafar esses pensamentos
repreensivos enquanto os deixava na parte de trás
de sua mente. Se realmente existia a menor
possibilidade que fosse dela encontrar ali naquela
boate onde estava o informante de Carrick qualquer
pista que levava ao paradeiro de sua mãe, então ela
ao menos sentia-se na obrigação de tentar.

Lançando um último olhar para seu reflexo,


Nina ordenou a si mesma a se concentrar na tarefa
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que tinha diante dela. Erguendo o queixo a garota


caminhou para fora do banheiro. As botas em seus
pés dançaram dois números maiores do que ela
calçava, mas o fato de estarem presas as suas
panturrilhas deixava o simples ato de caminhar
mais fácil.

Quando deixou o banheiro ela encontrou


Carrick deitado na cama, de qualquer maneira
usando o quarto onde ela havia a trancafiado como
se fosse seu. A mesma medida de raiva de
contemplação pareceram crescer dentro dela,
enquanto seus olhos devoravam sua figura.

Ele também havia se arrumado para a ocasião,


os jeans num tom escuro combinavam
perfeitamente com ele delineando a silhueta de seu
corpo. A regata cinza deixava pouca coisa para a
imaginação de qualquer pessoa, e todo seu visual
era completado por uma jaqueta de couro
desgastada, o tipo de peça que ficaria
estranhamente bizarra em outras pessoas, mas,
combinava perfeitamente com ele.

A saliva ficou presa em sua garganta, a atração


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que sentia por ele cresceu de tal maneira que Nina


por um momento achou que seria incapaz de
resistir. Alheio a sua presença, ela observou
enquanto ele virava o rosto, no colchão como se
estivesse buscando uma melhor posição para se
acomodar na cama. Os últimos resquícios de sol
brilharam na janela, fazendo com que seu cabelo
castanho brilhasse num tom profundo de vermelho
escuro. Havia nele uma beleza perigosa, quase
contida agora ela podia perceber pela constante
atuação dele. Carrick era um camaleão, alguém
capaz de interpretar uma miríade quase infinita de
sentimentos que seriam capazes de enganar
qualquer desavisado. Exatamente como ela... Por
isso que ele era alguém tão perigoso. Nina lembrou
novamente a si mesma que não poderia confiar
nele. O coração dela bateu de forma dolorida em
seu peito como se detestasse o fato de que estivesse
sendo ignorado. Havia um desejo crescente dentro
de seu peito de se aproximar dele, aspirando seu
refrescante aroma de chuva, enquanto ela deixava
que seus dedos trilhassem a linha de seu maxilar
afastando o cacho rebelde que havia caído sobre
seus olhos.

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A cena brilhou com uma intensidade


assustadora em sua mente, sua imaginação estava
descontrolada. A raiva e desgosto deixaram um
gosto ácido em sua língua. Usando toda sua força
Nina fechou a porta do banheiro atrás de si com um
baque surdo que reverberou por todo o quarto,
fazendo com que Carrick pulasse na cama.

- Mas que merda....

Os olhos dele ficaram presos em sua figura, as


palavras esquecidas em sua boca. Um milhão de
sentimentos desconhecidos brilharam em seus
olhos esmeraldinos. Nina sentiu o ardor conhecido
da vergonha aquecer suas bochechas, uma parte
dela queria cobrir-se com os braços fazendo com
que ele desviasse seu olhar, mas a outra parte dela,
uma que ela não conseguia compreender totalmente
até aquele instante, ficou feliz ao notar como
Carrick parecia hipnotizado por sua figura, os olhos
correndo livremente por seu corpo, percorrendo a
extensão de suas pernas, pairando sobre seus seios
empinados, até atingirem seu rosto, como se
quisesse devora-la por completo.

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- Definitivamente isto está muito melhor do que


eu tinha imaginado – disse ele com voz abafada, as
palavras deslizavam por sua coluna como um
calafrio de antecipação.

Carrick levantou-se da cama, seus passos


soando profundamente no silêncio do quarto ao
redor deles. Ele caminhou em sua direção até estar
parado diante dela, uma pequena distancia os
separando.

Nina ergueu o rosto, deixando que seu olhar


pesasse sobre ele, sabia que a intenção dele era
intimidá-la enquanto invadia seu espaço pessoal,
mas ela ordenou a si mesma a enfrentá-lo de frente.
Carrick acreditava que como havia a enganado uma
vez, poderia fazer isso de novo, agora ainda com o
acréscimo de importuná-la. Rangendo os dentes, a
garota prometeu a si mesma que iria mostrar a ele,
o quanto estava enganado.

- O disfarce está bom o suficiente? – perguntou


a garota erguendo uma sobrancelha de forma
inquisidora.

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- Está excelente. Vai ter uma noite ocupada


tentando afastar as mãos de cima de você.

Ele estava a provocando, e ela sentiu-se


completamente dividida entre lhe dar um tapa na
cara, ou atrair seu rosto em sua direção devorando
seus lábios vermelhos.

- O que foi? Não me olhe desse jeito eu estou


fazendo um elogio.

- Dispenso seus comentários, vamos logo,


quero encontrar seu contato o mais rápido possível
para podermos acabar logo com isso.

Nina tentou contorna-lo, indo em direção a


porta mas a mão de Carrick caiu sobre seu braço
impedindo seu avanço. Confusa a garota virou seu
rosto encarando sem entender o que estava
acontecendo. Os saltos altos de suas botas
deixavam quase que ela o encarasse com mais
facilidade, embora ele continuasse sendo mais alto,
tudo o que ele precisaria fazer naquele momento
para beijá-la seria abaixar seu rosto levemente,
enquanto ela erguia o seu. Um esforço ínfimo de

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ambas as partes, para saciar o desejo que rugia em


seu interior.

Os olhos verdes dele brilhavam de forma


incandescente fixos em seus lábios e Nina precisou
se controlar para não deixar que sua língua
percorresse a extensão deles, um convite mais do
que óbvio.

- O que você quer? – perguntou a garota entre


dentes, incapaz de confiar na tentação que era o
homem a sua frente – Não quero continuar
perdendo tempo.

- Antes de irmos, acho que seria bom se nós


dois repassássemos o plano mais uma vez. Um
cuidado extra nunca fez mal a ninguém.

Nina forçou seu braço para baixo afastando-se


de Carrick, o calor dos dedos dele sobre sua pele
era uma lembrança constante dos motivos pelo
quais era precisava manter a distância entre eles
muito clara.

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- Você não precisa se preocupar, eu sei


exatamente o que está em risco aqui?

- Sabe mesmo princesa? – perguntou Carrick,


um sorriso torto e irônico brincando em seus
lábios?

Nina sentiu as pontas de suas unhas se


afundarem na parte interna de suas mãos, ela
precisaria controlar seu gênio irritado ou logo
acabaria se machucando além de deixar que todos
pensamentos revoltados que corriam sua mente
escapassem por seus lábios.

Ela detestava que Carrick tivesse lhe chamando


daquela forma em seus últimos encontros, uma
forma que ele havia encontrado para esnobá-la,
agora que simplesmente não precisava mais
continuar com sua ilusão para mantê-la ao seu lado.

- Encontrar respostas sobre a minha mãe, é a


única coisa pela qual eu estou interessada agora –
disse Nina, sua voz saindo controlada, enquanto ela
rangia seus dentes.

- Exatamente por isso que eu espero que você


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se comporte. Portanto vamos novamente repassar


as regras – respondeu Carrick, de forma irritadiça,
enquanto ela não conseguia conter o desejo de
revirar seus olhos – Regra número um, não falar
com meu contato sem minha permissão, você está
ali apenas como uma testemunha, por causa da
minha tremenda bondade.

- Como se isso fosse verdade...

- Regra número dois, faça exatamente aquilo


que eu mandar sem perguntas. O lugar pode estar
sendo vigiado, portanto olhos atentos a todo
instante. E por fim não coma, ou beba nada daquele
lugar acredite em mim você não vai querer saber o
que acontece depois.

Os olhos verdes dele pousaram de maneira


pesada sobre sua figura, e ela pode ver que ele
estava sendo sincero. Tentando esconder seu
desconforto a garota engoliu em seco, beliscando a
parte interna do meu braço.

- Você está dizendo isso tudo, porque pretende


me assustar, prefere....

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- Estou dizendo isso, porque essa é a verdade


princesa – respondeu Carrick a interrompendo –
Esse é o tipo de lugar para onde estamos indo
conseguir as respostas que você tanto precisa, então
espero que saiba exatamente o que está fazendo.

Carrick não esperou que ela lhe respondesse,


contornando sua figura, ele se afastou em direção a
porta, os coturnos em seus pés soando como batidas
muito altas em seus ouvidos.

Nina sentiu um calafrio escorrer por sua coluna,


as pernas estavam bambas, e ela precisou respirar
fundo algumas vezes para conseguir conter o
nervosismo que cada vez mais parecia crescer
dentro de seu coração.

Afastando todos os pensamentos caóticos de


sua cabeça, usando apenas sua força de vontade, a
garota seguiu Carrick pelo corredor afora. Ela
precisava acreditar que havia feito uma boa
escolha. Aquela era uma oportunidade para
conseguir informações a respeito de sua mãe,
portanto qualquer risco se no final tivesse um
resultado, teria valido a pena.
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Capítulo Vinte e Três


Carrick os levou de carro até uma parte da
cidade perto dos portos. A noite havia caído
completamente ao redor, deixando as ruas próximas
daquele bairro, com sombras densas, onde a luz dos
postes mal era capaz de alcançar.

O ar estava abafado, no céu as estrelas eram


quase invisíveis por causa da luzes da cidade, mas a
luz era um recorte prateado no céu, como uma linha
fina que lembrou a Nina o sorriso do gato no País
das Maravilhas.

A boate para onde se dirigiram nada mais era


do que uma porta de metal com um letreiro de néon
em tons de rosa e vermelho, que já havia visto dias
melhores. Localizada numa rua sem saída,
claramente aquele era o tipo de lugar que a maioria
das pessoas normais tinham o costume de ignorar.

Ao seu lado, Carrick parecia conhecer muito


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bem as redondezas, seus olhos claros estavam


alertas, e aquilo foi o suficiente para que ela
também ficasse de sobreaviso.

A mão dele pousou sobre sua cintura, trazendo


seu corpo próximo ao dele. Nina sentiu as palavras
de protesto encheram sua língua, mas calou-se
quando notou o olhar impiedoso de Carrick sobre
ela.

- Exatamente – sussurrou ele aproximando-se


dela, seu hálito quente roçando em sua orelha – É
melhor você se comportar e entrar no papel.

Seguindo o olhar de Carrick, a garota notou o


grupo de homens parado em frente a porta da boate.
De aparência feroz, todos usavam jaquetas de couro
e estavam ao lado de motos enquanto bebiam
cerveja e conversavam ruidosamente.

Rangendo os dentes, a garota aproximou-se


ainda mais seu corpo de Carrick, gingando seus
quadris. Vestida como uma prostituta, ela esperava
que ninguém ali dentro passasse muito tempo
prestando atenção em seu rosto, para que dessa

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forma pudesse reconhecê-la.

A gangue interrompeu abruptamente a


conversa, quando eles se aproximaram, mas
simplesmente cederam o espaço para Carrick
dando-lhe passagem até a porta da boate. Um dos
homens ali presente, acenou com a cabeça em
direção a Carrick, que o cumprimentou com um
sorriso gélido.

Lá dentro o lugar era um caos barulhento e


colorido. Os dedos dela se agarraram na jaqueta de
couro de Carrick, enquanto ele os conduzia no meio
de um labirinto de pessoas e luzes que piscavam
acompanhando uma musica agitada.

Olhando ao redor, Nina tentou localizar no


meio daquelas pessoas algum dos homens de seu
tio. Com o coração batendo ruidosamente em seu
peito, ela se apertou contra o corpo de Carrick
fingindo que dançava enquanto olhava ao redor por
trás de seus cabelos.

- Onde está seu contato? – perguntou ela


erguendo-se na ponta dos pés para falar aos

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ouvidos de Carrick. Ela poderia estar disfarçada,


mas qualquer pessoa ali poderia reconhecê-lo,
assim como os homens haviam feito lá fora. Eles
não tinham muito tempo para tentar descobrir algo
sobre sua mãe.

Ele não lhe respondeu, mas ela conseguiu


observar como seus olhos esmeraldinos percorriam
o salão ao redor deles. As luzes multicoloridas que
piscavam acima da cabeça deles deixavam seus
olhos com um brilho quase sobrenatural, como se
um fogo esverdeado estivesse brilhando no centro
deles.

Ali dentro o ambiente era abafado, o som alto


da música incomodava seus tímpanos. Haviam
pequenas mesas espalhadas ao redor da pista de
dança, um palco mais ao centro se elevava onde
uma garota exibia seu corpo fazendo um show de
strip tease. A maioria das pessoas ali eram homens,
enquanto garotas vestidas como Nina andavam ao
redor, algumas delas estavam na pista de dança,
seus corpos se remexendo ao ritmo da música,
enquanto outras carregavam bandejas em suas
mãos enquanto transitavam entre as mesas.
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A mão de Carrick pousou de maneira brusca


sobre seu braço, enquanto ele caminhava com ela
até a parte mais afastada daquele lugar. Ali a
maioria das mesas estavam vazias, e Nina tentou
afastar os olhos o mais rápido possível quando
notou silhuetas de pessoas que se movimentavam
atrás de algumas colunas de maneira que se deixava
muito pouco para a imaginação.

Carrick puxou uma das cadeiras vazias


sentando-se com as costas escoradas na parede, e
puxando-a em direção a seu colo. Os saltos altos de
suas botas a atrapalharam a manter o equilíbrio
enquanto ela caia a contragosto sentada em seu
colo.

- O que você pensa que está fazendo? –


perguntou a garota, os dentes trincados em sua
boca. Ali na parte mais afastada da boate, o barulho
da música era incômodo e persistente em seus
tímpanos, mas ao menos ela podia ouvir o som de
sua própria voz.

- Tentando ser o mais natural possível –


respondeu ele de maneira despreocupada, enquanto
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as palmas de sua mão deslizavam por suas coxas,


abrindo-as de uma forma que ela pudesse sentar
completamente sobre seu colo – Você está
interpretando um papel, lembra?

Nina sentiu o ardor se espalhar por suas


bochechas, e sentiu-se grata por aquele lugar ser
escuro demais para que Carrick notasse o rubor
tingindo suas faces.

A respiração ficou presa em sua garganta, a


proximidade do corpo dela, fazendo com que uma
corrente elétrica percorresse seu corpo, deixando-a
extremamente consciente de cada centímetro de sua
pele exposta.

A sua frente Carrick não parecia estar nenhum


um pouco incomodado com aquela situação.
Deslizando as palmas das mãos sobre seus braços
ele guiou seus movimentos, fazendo com que ela se
apoiasse em seus ombros. Do lado de fora para
qualquer observador, eles iriam parecer como um
casal, entretido demais na presença um do outro.

O coração dela saltou como uma corça

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assustada dentro de seu peito, o sangue correndo


muito rápido em suas veias. Mordendo o interior de
sua bochecha, Nina sentiu o gosto acre de sangue
em sua língua, enquanto tentava controlar as
reações nada bem-vindas de seu corpo traidor
naquele momento.

- Não vejo ele em lugar algum – respondeu


Carrick, sua mão direita deslizando por sua coluna,
seus dedos enfaixados traçando círculos
preguiçosos na parte debaixo de suas costas – Acho
que teremos que esperar mais um pouco.

- Você tem certeza que ele vai aparecer? –


perguntou Nina, num suspiro de voz entrecortada
tentando se concentrar no som da voz de Carrick,
enquanto seus dedos apertavam de forma
involuntária o tecido de couro em suas mãos.

- Ele vai aparecer, não se preocupe...

Os olhos de Carrick pousaram sobre ela pela


primeira vez, verdes e intensos. O rosto dele ficou
banhado pelo jogo de luz e sombras ao redor,
deixando sua beleza ainda mais evidente. Nina

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sentiu mais uma vez o calafrio da antecipação


escorrer por suas costas, enquanto tentava controlar
o tremor sobre seu corpo.

- Você está incomodada – disse Carrick um


sorriso ferino brincando em suas feições – O que
foi não gosta da nossa proximidade?

- Não me importo com isso, - respondeu Nina


revirando os olhos torcendo para que sua resposta
soasse convincente o suficiente – Eu só quero
encontrar seu informante e sair desse lugar o mais
rápido possível.

As mãos dele pousaram com força sobre sua


cintura, atraindo seu corpo ainda mais para perto.
Sem pedir permissão Carrick trouxe seu corpo até
ele, fazendo com que seus corpos se encostassem.
O coração de Nina disparou em seu peito, os braços
firmemente agarrados em seu ombro como se
aquele fosse o único apoio impedindo que ela
caísse no chão. O aroma dele de chuva invadiu suas
narinas, fazendo com que ela desejasse se
aproximar ainda mais, encostando seu nariz na
curva de seu pescoço aspirando seu calor, até que
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finalmente ela pudesse se sentir saciada.

- Mentirosa – respondeu ele num sussurro, sua


voz trilhando um caminho de suspiro perto de seu
ouvido.

Carrick se afastou dela, recostando seu corpo


contra a cadeira, os dedos dela cavaram ainda mais
fundo em sua jaqueta. Os olhos dele estavam fixos
em seu rosto, seu olhar deslizando por seus lábios.
Nina tentou encontrar força de vontade para se
afastar, mas seu corpo parecia que não tinha
nenhuma vontade em lhe obedece-la.

- Você pode negar o quanto quiser, mas sei que


gostou da forma como eu te beijei...

A lembrança do beijo que ele havia lhe roubado


estourou em sua mente, roubando seu fôlego. Havia
realmente algo como aquilo acontecido apenas
alguns dias atrás? Sentia-se como se toda uma vida
tivesse se passado desde então, e mesmo assim as
sensações ainda estavam frescas em suas memórias.
A forma como os lábios de Carrick haviam se
grudado aos seus, o gosto de sua língua sobre a

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sua.

O coração dela saltitou em seu peito, enquanto


os olhos dela se fixaram sobre os lábios dele que
estavam diante dela. Se inclinasse seu corpo com o
menor esforço possível, poderia sentir o hálito dele
contra seu rosto, toca-lo seria tão fácil quanto
respirar. Os sentimentos dela se reviraram em seu
peito, confusos e caóticos, e Nina precisou
concentrar seus pensamentos na traição que sofrera
de Carrick, lembrar a si mesma o quanto ele não era
confiável de forma alguma, embora houvesse uma
parte dela naquele momento que parecia não se
importar com aquilo, e somente desejava se
aproximar de seu calor, até que seu corpo estivesse
completamente aninhado ao dele.

- Eu sei o que você está fazendo – respondeu


Nina, encarando-o demoradamente, feliz porque
sua voz soava muito mais firme do que ela se sentia
naquele momento – Você está me provocando.
Tudo isso é jogo pra você não é mesmo? Me tocar,
me beijar, você quer que eu me sinta
desconfortável...

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- Você está desconfortável? – perguntou ele de


moro irônico, as pontas de seus dedos trilhando o
contorno de sua cintura.

A mentira chegou fácil até sua língua, mas pelo


brilho nos olhos de Carrick logo ela percebeu que
ele não seria enganado. A mão dele subiu por sua
coluna, numa carícia tão intima que Nina precisou
conter o desejo de recostar seu corpo contra seu
toque exigindo mais daquilo.

Ele estava jogando com ela, provocando-a


exatamente porque sentia-se no controle, porque
aquilo era algo que ele podia fazer. Ela sentiu o
incômodo pesar em seu estômago como uma pedra
afundando no lago. Continuar negando suas
próprias reações seria infantil, algo que ele
claramente esperava dela. Portanto sua única saída
naquele momento, era fazer exatamente o oposto
do que ele estava prevendo.

Nina deslocou seu corpo para frente abrindo


mais as pernas, sentando-se de maneira completa
agora contra o colo de Carrick. Com o coração
acelerado em seu peito e tentando conter a
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respiração ofegante, ela inclinou-se para frente, até


que estivesse completamente apoiada sobre ele. O
calor dele se deslocou sobre sua pele, fazendo com
que o ardor em seu rosto ficasse mais forte. Os
dedos dela realizaram um desejo que ela havia
tentando conter desde o primeiro momento que
seus olhos haviam pousado sobre ele, deslizando
seu toque sobre seus cabelos, sentindo a maciez dos
fios, a textura de seus cachos contra as palmas de
sua mãos.

O olhar de Carrick tornou-se menos confiante,


o sorriso em seu rosto perdendo um pouco do
brilho. Debaixo dela, seu corpo estava muito
quieto, quase rígido, como se ele também não
pudesse confiar em si próprio.

O orgulho pareceu rugir em seu peito, enquanto


ela se aproximou ainda mais dele, a respiração de
ambos soando entrecortada tão alta que por um
momento abafou até mesmo o caos ao redor de
ambos, como se eles tivessem de propósito se
trancado ali dentro de uma bolha particular onde
ninguém seria capaz de incomodá-los.

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O aroma dele era inebriante enquanto ela


aproximou seu rosto do dele, deslizando suas
bochechas juntas. A boca dele estava tão próxima,
se ela inclinasse seu rosto apenas um centímetro
para o lado então poderia provar mais uma vez seu
sabor. Seu instinto desejava aquele beijo mais do
que tudo, mas o medo nada em seu estômago, a
atração que sentia por ele era forte demais para que
ela pudesse se controlar se cruzasse essa linha.

- Dois podem brincar esse jogo – sussurrou


Nina aos ouvidos dele, as pontas de suas unhas
correndo por seu pescoço – Você também gosta da
forma como eu te toco...

- Gosto mesmo? – perguntou Carrick, a voz


dele soando quase como um grunhido rouco em sua
garganta, o estranho acento que não existia
deixando suas palavras mais arrastadas. – Ou isso
também não será mais um dos meus fingimentos?

Nina afastou-se dele sentindo um calafrio


percorrer seu corpo, as palavras dela foram como
uma balde de água fria. Ela havia desenlaçado suas
mãos dos cabelos de Carrick pousando-as sobre seu
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peito. O rosto dele havia retornado a não ter


expressões, e ela odiou o fato de que não
conseguira tirar dele nenhum tipo de reação.
Irritada consigo mesmo, e tentando conter a mágoa
em seu peito ela tentou se levantar mas a mão
direita dele pousou firme sobre sua cintura,
mantendo-a firmemente presa naquele lugar.

- Me solta... Você claramente conseguiu provar


seu ponto de vista.

- O que? Já acabaram suas tentativas... Achei


que você fosse ser mais persistente.

- É tão gostoso assim pra você me provocar? –


perguntou Nina entre dentes, tendo dificuldades em
conter a raiva que fervia em seu sangue naquele
momento.

Ela esperou sua resposta mordaz e sarcástica,


mas os lábios dele permaneceram selados. O olhar
dele devorando seu rosto, enquanto brilhava de
maneira gélida.

Os dedos dele se cavaram mais profundamente


em sua cintura, afundando em sua carne de uma
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maneira quase dolorosa. Ele trouxe o corpo dela


mais próximo do seu, sua saia deslizando
perigosamente para cima de sua coxa, deixando
pouca coisa para a imaginação.

Algo brilhou dentro de seu cérebro como um


alerta, mas seu corpo não quis escutá-la. Carrick
aproximou de seu rosto, até que tudo o que ela
pudesse observar era sua figura tomando conta
completamente de sua visão.

- Lembre-se que foi você quem pediu por isso...

A boca dele se apoderou de seus lábios, num


beijo quase violento. Entre o espanto e o desejo
Nina sentiu a língua dele deslizar até a sua,
enroscando-se de um jeito sensual, que deixou suas
pernas ainda mais tremulas.

A mão direita dele subiu para sua nuca,


prendendo ali enquanto ele devorava seus lábios.
Os dedos dela arranharam sua camiseta, dividida
entre a deliciosa sensação que tomava conta de seu
corpo, e a culpa.

O que havia sobrado de sua sanidade, deu-lhe


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força para interromper o beijo virando seu rosto.


Carrick tentou beija-la novamente, mas ela forçou
seu corpo para trás, tentando escapar do seu abraço
antes que fosse incapaz de resistir a tentação que
ele era.

- Por favor... Não...

A voz dela abafada mal pode ser ouvida acima


do barulho frenético da música, a confusão ficou
estampada em seu rosto, assim como incredulidade
e escondido no fundo dos seus olhos uma pontada
de algo dolorido.

- Não tente negar... Você quer isso também


princesa.

- Mas é isso o que você quer? – perguntou ela


detestando como ele simplesmente escolhera aquele
momento para lembra-lhe exatamente qual era a
posição de cada um deles.

Um suspiro pesaroso escapou dos lábios dele, o


peso em sua nuca tornou-se mais denso fazendo
com que ela se aproximasse novamente de seu
corpo até que suas testas estivessem se tocando; a
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respiração deles era entrecortada, misturada no


pequeno espaço que eles dividiam. Algo dentro
dela lhe dizia para se afastar daquele homem,
enquanto ainda havia tempo. Ela viera até ali por
um motivo importante demais para ter sua atenção
roubada daquela forma, mas aquele pensamento era
quase um eco dentro de sua mente, e tudo o que ela
podia sentir naquele instante era o rastro de fogo
que o toque dele havia deixado sobre sua pele.

- Você não entende – respondeu ele de maneira


deliberadamente lenta, a voz rouca ecoando na
escuridão, as pálpebras fechadas firmemente quase
como se ele tivesse sentindo dor – Eu não consigo
desejar nada mais...

Nina soube que estava perdida antes mesmo


dele tomar novamente seus lábios. Dessa vez seu
corpo não lutou contra seu abraço, derretendo em
seu corpo, tentando eliminar qualquer espaço entre
eles.

A língua dele era quente em sua boca, os lábios


dominantes o beijo sôfrego como se nem mesmo
aquilo fosse o suficiente para aplacar o desejo entre
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eles. Erguendo os braços ela enlaçou seu pescoço,


seus dedos puxando as mechas de seu cabelo. O
gemido de prazer dele ecoou em seu peito,
aquecendo seu sangue, e tudo mais foi
completamente esquecido.

O abraço dele se tornou mais intenso, o corpo


dela se chocou contra o dele. As mãos de Carrick
viajaram por seu corpo, deslizando por suas costas,
tocando a pele sensível debaixo de sua camisa
próximo a sua cintura. A alça fina de sua blusa
deslizou por seu ombro, revelando seu colo, a boca
dele escorreu de seus lábios descendo por seu
pescoço, mordiscando lambendo incendiando seu
corpo.

Nina jogou a cabeça para trás, perdida em


desejo, as luzes da boate eram como um
caleidoscópio sobre sua cabeça de todas as cores.

A textura da pele dele sobre a sua era quente


como brasa, a língua dele deslizou por seu colo,
enquanto seus dedos se entrelaçavam ainda mais
em suas mechas. O corpo dela se remexeu sobre
seu colo, e ela pode sentir a ereção dele entre suas
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pernas. Aquilo deveria ter sido o suficiente para


assustá-la, ou ao menos trazer um pouco de
sanidade para sua mente. Embora estivessem em
um canto afastado do salão, ainda haviam pessoas
ao redor, que poderiam enxergar claramente o que
eles estavam fazendo.

Os dedos dele deslizaram sobre o tecido fino do


seu top, subindo até alcançar a parte baixa dos seus
seios. O toque foi lento e deliberado assim como a
língua dele que percorria os contornos do seu
pescoço.

Ela pode sentir o toque dele sobre seus seios


mesmo por cima do tecido fino da renda. A ponta
de seus dedos contra seus mamilos doloridos por
causa de suas bandagens, a fricção do toque
deixou-a completamente enlouquecida, enquanto
suas coxas se abriram ainda mais sobre o colo dele.

- Diga que você quer isso tanto quanto eu


Ekaterina...

A voz dele era rouca contra seus ouvidos, suas


palavras densas seu sotaque pronunciado. Ela

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desejava que ele lhe chamasse de Nina daquela


maneira, enquanto as mãos dele se apossavam de
cada parte de seu corpo.

Ela não conseguiu conter seu corpo de se


remexer sobre ele, esfregando-se contra sua ereção.
O ritmo de seus quadris pareceu excita-lo ainda
mais, com a mão livre Carrick a espalmou sobre
suas nádegas, aumentando a fricção entre eles, até
que sua ereção estivesse tocando sua intimidade,
sua excitação molhando o tecido fino de sua
calcinha.

Os lábios dele desceram mais uma vez para sua


boca, sua língua se enroscando a sua numa dança
sensual, sentia sua cabeça leve, os pensamentos
emaranhados e esquecidos num canto qualquer. Seu
corpo parecia ter criado vida própria, enquanto suas
mãos escorregaram para o peito dele, debaixo de
sua jaqueta, sentindo os contornos de seus
músculos, ela desejava tocar sua pele ali
exatamente onde podia sentir as batidas rítmicas de
seu coração, saborear o gosto dele em sua língua,
até finalmente conseguir sentir-se saciada.

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A mão de Carrick apertou com força suas


nádegas, pressionando ainda mais seu centro contra
sua ereção pulsante. Os lábios dele subiram
novamente para seu pescoço, enquanto buscavam
sua boca. A cabeça dela era um redemoinho agitado
de pensamentos turbulentos. Na parte mais afastada
de seus pensamentos, havia a voz de sua
racionalidade criticando-a por aquele
comportamento, lhe dizendo o quanto errado era
tudo aquilo, mas então por que sentia como se algo
maravilhoso estivesse acontecendo? A língua dele
deslizando por sua boca, era a melhor sensação que
ela já havia experimentado, o gosto dele era suave
quase doce viciante de uma forma que ela sabia que
não era capaz de resistir.

Os dedos dela se infiltraram pela barra de sua


camisa, sentindo a pele quente de seu abdômem,
ela desejava tirar aquela jaqueta de seus braço, e
sentir sua pele exposta sobre sua, finalmente livre
carne contra carne.

O desejo dentro dela era como um frenesi


constante, aumentando uma insatisfação, que
parecia se acumular no centro do seu corpo. Aquilo
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era muito mais do que um simples querer, era uma


necessidade.

A mão dele livre correu livre por sua coxa, até o


topo de suas pernas, afastando a última barreira que
era sua saia, os dedos dele encontraram sua
feminilidade escondida entre suas pernas.

- Carrick – murmurou ela num gemido


apertando seu pescoço com os braços enquanto
jogava sua cabeça para trás – Não posso mais...

- Shhh – pediu ele com voz rouca, seu hálito


atingindo seu pescoço fazendo com que calafrios
escorressem por seus braços – Não me negue isso...
Eu preciso senti-la assim...

A ponta do polegar dele deslizou por seu sexo


molhado, o toque íntimo varreu o que havia
sobrado de sanidade em sua cabeça. Ela podia
senti-lo por cima da seda de sua calcinha, tocando-a
sem nenhum pudor. O clitóris dela parecia pulsar,
exigindo sua atenção. Balançando os quadris Nina
deslizou seu corpo novamente até senti-lo tocando-
a num ritmo lento e delicioso.

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- Isso mesmo, você gosta que eu te toque aqui


não é mesmo?

A voz dele era um estimulante, fazendo com


que as labaredas de desejo queimassem ainda mais
ardente em seu sangue. Debaixo de suas pálpebras
entreabertas Nina pode observar Carrick, o rosto
dele estava levemente ruborizado, os lábios
partidos, a respiração acelerada era um reflexo da
sua e os olhos verdes não eram nada mais do que
um simples arco colorido engolido pelo negro de
suas pupilas.

Havia um sentimento de posse escrito em suas


feições que deveria ter despertado o medo em suas
entranhas, mas tudo o que ela podia ver enquanto o
observava em silêncio era sua beleza, e a
necessidade dele que parecia tão idêntica a sua.

Ela continuou remexendo seus quadris,


esfregando-se nele com luxuria, com as costas dos
dedos ele deslizou sobre seu sexo necessitado, ela
estava tão molhada que tinha certeza que aquela
altura seus dedos estariam pegajosos, mas nada
daquilo importava naquele momento, a não ser a
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necessidade de atravessar aquela barreira, e atingir


a onda de libertação que havia crescido em seu
interior... Ela estava tão perto, se ele a beijasse
novamente enquanto a tocava então...

A música ao redor deles parou bruscamente, as


luzes se acendendo ao redor de maneira
sistemática. O silêncio retumbando em seus
ouvidos enquanto o mundo rapidamente parecia
entrar em foco ao seu redor.

Estática como uma pedra, Nina sentiu como se


alguém tivesse lhe acertado um balde de água fria.
Os olhos de Carrick se alargaram em seu rosto, o
sangue rapidamente sendo drenado de seu rosto.

As mãos dela ainda estavam agarradas em seu


pescoço, sustentando precariamente seu corpo,
embora da cintura para baixo ela estivessem
sentada completamente sobre seu colo. Antes
mesmo que pudesse entender o que estava
acontecendo, e desenlaçar seus dedos de suas
mechas, Carrick levantou-se como um raio
colocando-se em pé junto com ela. As pernas dela
se recusaram no primeiro momento a lhe obedecer,
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seus joelhos falhando em sustentar o peso de seu


corpo.

Carrick apoiou seu corpo tremulo, como se ela


não pesasse nada, mas quando Nina tentou buscar
alguma resposta, sentiu o coração gelar em seu
peito quando os olhos dele, se recusaram a se
encontrar com os seus.

- Acabo de ver Jerry, não vá a lugar alguém, e


não chame atenção.

Sem dizer mais nenhuma palavra, ele se


desvencilhou de seu corpo, deixando-a para trás
enquanto se embrenhava na pequena multidão de
pessoas, que rodeavam o salão.

Agora que seus sentidos haviam desacelerado e


voltados a funcionarem mais tranquilamente, Nina
absorveu o que estava acontecendo a seu redor. A
música que ela havia julgada ter simplesmente
desligado, na verdade continuava tocando, mas
agora num tom muito mais baixo. As luzes que
haviam se acendido eram douradas e iluminavam
apenas o palco mais adiante como se o show ali

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estivesse prestes a começar.

Lentamente o cérebro dela começou a processar


tudo o que tinha acontecido. Seu corpo parecia
ainda anestesiado, a superfície de sua pele muito
quente, e o toque de Carrick era como um fantasma
lhe assombrando.

O desejo bruto que ela havia enxergado


refletido em seus olhos apenas alguns segundos
atrás invadiu sua mente, enquanto uma onda de
calor desconfortável escorria por suas bochechas.

Por que fiz isso? O pensamento rodeou sua


mente, enquanto ela tentava afastar as lembranças
do beijo dele. De maneira inconsciente as pontas de
seus dedos deslizaram por seu lábio inferior. Ela
ainda podia sentir o sabor dele bem ali na ponta de
sua língua.

Os olhos dela vasculharam o salão buscando


Carrick, a figura dele deslizou por entre as mesas
suas costas encobertas pela jaqueta de couro
facilmente identificável. Ele se aproximou de um
homem de cabelos castanhos na parte mais afastada

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do salão. Mesmo daquela distancia Nina conseguiu


enxergar a surpresa no rosto do sujeito ao seu
encontrar com Carrick. Se aquele era seu
informante definitivamente ele não parecia nem um
pouco feliz em encontrá-lo ali.

Ela estava chamando muita atenção, parada


daquele jeito exatamente onde Carrick havia lhe
deixado. Recuperando um pouco de bom senso, a
garota contornou algumas das mesas que estavam
mais próxima dali, enquanto fazia o caminho mais
próximo até alcançar o balcão do bar não muito
longe dali.

As pernas dela ainda continuavam bambas, os


pés dançando dentro das botas emprestadas. O
cabelo úmido do banho havia secado como uma
juba ao redor de seu rosto, e Nina usou aquilo para
esconder seu rosto ardido atrás das mechas, embora
a maioria das garotas ali não estivessem lançado
um segundo olhar em sua direção.

O corpo dela parecia protestar pela ausência de


Carrick, quase como uma dor física. Eles haviam
perdido completamente o controle, e ela nem ao
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menos podia culpá-lo. Quisera sentir o toque dele


tanto que depois de sentir seu beijo simplesmente
havia permitido que ele fizesse com ela o que bem
lhe entendesse.

A culpa e a vergonha deixaram seus ombros


caídos, enquanto ela deslizava seu corpo para
sentar-se num dos bancos altos e desconfortáveis
que ficavam dispostos ao redor do balcão do bar.
Havia algumas pessoas ali, de costas para ela, em
sua maioria homens ao lado de garotas vestidas de
forma muito parecida como ela. Uma delas beijava
um desconhecido, enquanto as mãos dele viajavam
por debaixo de seu vestido. A imagem trouxe de
volta a sensação de Carrick tocando seu corpo, e
ela foi obrigada a desviar seu olhar. Pelo menos, ali
o espetáculo que eles haviam dado para o publico,
não havia chamado tanta atenção.

Os olhos dela mais uma vez desviaram em sua


direção. Do outro lado do salão, o homem que ele
chamara de Jerry, e afirmara ser um dos seus
informantes parecia negar-lhe uma resposta com
um aceno de cabeça. A ponta de suas unhas se
infiltraram na carne macia das palmas de sua mão,
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a agulhada incomoda trazendo sua atenção


completamente para o presente.

Ela não devia ter se deixado levar por Carrick,


mas agora era tarde demais para continuar ali se
lamentando ela viera até ali com um propósito e se
recusava a deixar aquele lugar sem obter uma
resposta a respeito de sua mãe.

Carrick havia lhe dito mais de uma vez que ela


não deveria se aproximar enquanto ele estivesse
conversando com seu informante, mas mesmo
aquela distancia Nina podia perceber que a
conversa não estava sendo das mais agradáveis. As
garras do medo deslizaram por seu corpo, enquanto
apertavam seu estômago num laço apertado.
Descendo ainda com passos cambaleantes a garota
resolveu simplesmente ignorar os conselhos de
Carrick, ela não iria continuar ali uma simples
observadora enquanto a oportunidade de descobrir
alguma informação a respeito do paradeiro de sua
mãe escapava por seus dedos. Talvez ela pudesse
convencer Jerry a contar o que ele sabia.... Talvez
ele pudesse ser convencido com uma certa quantia
de dinheiro. Ela não se importava de pagar o preço
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que for desde que conseguisse obter uma notícia


real sobre sua mãe. Entregaria o colar que ganhara
de aniversario de seu tio de bom grado, se isso
pudesse solucionar seus problemas.

A batida forte da música voltou a tocar no


salão, as luzes piscando ao redor, deixaram seus
olhos ainda mais embaçados, ela estava sem óculos
a sua frente o rosto de todas as pessoas eram como
borrões vistos debaixo da água. Ficando na ponta
dos pés enquanto atravessava a pista de dança,
esbarrando em corpos aleatórios ao seu redor, Nina
tentou encontrar as costas de Carrick, olhando no
lugar onde havia o enxergado pela ultima vez. A
figura dele havia sido engolida de alguma maneira
e ela simplesmente não foi capaz de localizá-lo.

O medo disparou os batimentos de seu coração,


o pânico deixando seu corpo trêmulo. Alguém
esbarrou em suas costas desequilibrando seu corpo.
A mão pesada de um desconhecido pousou em seu
braço direito, enquanto seu corpo era erguido e
virado na direção de alguém.

- Ekaterina Serov?
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Nina não conseguiu conter o espanto em suas


faces, sentindo os olhos se arregalarem em seu
rosto. Forçando o braço para baixo, tentou se soltar
do homem parado diante dela impedindo sua
passagem.

- Não. Você está me confundindo com outra


pessoa – respondeu ela, evitando encara-lo de
frente desviando seu rosto, enquanto seus olhos
vasculhavam por todos os lados procurando
Carrick.

- Acho que não estou enganado...

O aperto em seu braço tornou-se mais doloroso


e intenso. Ela tentou soltar-se com mais
intensidade mas todos seus esforços pareciam
completamente inúteis.

- Você vem comigo. Ivan também está


procurando por você.

O nome de Karazov fez com que um calafrio


horrendo escorresse por suas costas, enquanto a sua
frente o homem a arrastava junto consigo,
empurrando as pessoas em seu caminho saindo da
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pista de dança.

O grito de medo ficou preso em sua garganta,


ao seu redor ninguém parecia se importar muito
pelo fato de que ela estava praticamente sendo
arrastada dali, como se aquela fosse exatamente o
tipo de cena comum que costumava se repetir
naquele lugar.

Ela não conhecia o homem que havia a


reconhecido, mas sentia-se uma idiota por durante
todo aquele tempo ficar tentando encontrar na
multidão de rostos ao redor, apenas os capangas
que trabalhavam para seu tio. Era claro que Ivan
também teria colocado seus homens em prontidão
procurando por ela, e esses eram os desconhecidos
que ela não seria capaz de reconhecer, exatamente
como aquele que a havia capturado naquele
instante.

A placa da saída emergência brilhou poucos


metros de distância deles, se aquele homem fosse
realmente capaz de tira-la daquele lugar então ela
tinha certeza que estaria completamente perdida.

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Desesperada olhou por sobre seus ombros


tentando encontrar a figura de Carrick em algum
lugar, mas tudo o que havia diante dela eram
contornos de desconhecidos embaçados. Pensou em
gritar alto chamando por ele, mas a música voltara
a tocar numa altura tão intensa que ela tinha certeza
de que ele não seria capaz de ouvi-la.

- Ei vamos me solta! Eu não sou quem você


pensa – repetiu Nina tentando se soltar cravando a
ponta de suas unhas nos pulsos daquele homem.

O capanga de Ivan nem ao menos pareceu


sentir seus ataques, como se ela não passasse de um
mosquito chato, mas completamente inofensivo. O
aperto em seu braço havia se tornado agora
completamente dolorido, e quanto mais ela se
esforçava para se soltar, mais seu corpo era
arrastado dali contra sua vontade.

Eles alcançaram a saída de emergência, as


lágrimas de desespero haviam chegado até seus
olhos. Ele abriu a porta, enquanto ela tentava se
debater, quando uma voz controlada chamou a
atenção de ambos.
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- Você deveria solta-la.

O alívio a inundou com a força de uma onda


batendo na praia, quando ela olhou para trás e
encontrou Carrick parado a suas costas, os olhos
verdes esmeraldinos gélidos fixos no homem que a
segurava.

O aperto em seu braço tornou-se quase


insuportável, e Nina conteve o gemido doloroso
que parecia borbulhar em sua garganta.

- Você não deveria se intrometer em assuntos


onde não é chamado – respondeu de forma ríspida
o capanga de Ivan.

- A garota está comigo – disse Carrick sua voz


soando extremamente controlada e fria.

O homem que a segurava não pareceu se


importar nem um pouco, com as palavras de
Carrick, ignorando-o ele simples puxou seu corpo
com força abrindo a porta a sua frente puxando
junto com ele.

Tudo então aconteceu rápido demais para que


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ela pudesse distinguir com clareza o que realmente


acabara de acontecer. Sentiu o impacto de seu
corpo ser puxado incapaz de controlar, enquanto
observava Carrick se mover quase como um vulto
atacando o homem que a segurava. Emaranhados
de tal maneira que não era possível saber quem
havia se mexido primeiro, eles caíram para dentro
da porta aberta, o choque de seus corpos sendo
abafados apenas pela musica alta ribombando como
trovões em seus ouvidos.

Sangue brilhou diante dos olhos dela vermelho


como tinta, enquanto Nina usava as palmas de suas
mãos para se colocar em pé. Os punhos de Carrick
estavam fixamente presos, no cabo de uma fina
lamina que lembrava uma adaga embora o corte
fosse mais fino, a arma estava enfiada quase que
completamente no ombro do capanga de Ivan, que
com o rosto contorcido tentava empurra-lo para
longe dela.

Gelo pareceu escorrer por seus membros,


deixando seu corpo pesado como uma pedra.
Aporta por onde eles haviam atravessado estava
fechada, e Nina sabia muito bem que em nada
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adiantaria tentar buscar ajuda ali. Assustada, com o


fôlego preso em sua garganta, os olhos dela
pairaram sobre as caixas empilhadas num canto ali,
repletas de garrafas de vidro vazias. Os dedos dela
se fecharam sobre uma daquelas, embora seu corpo
estivesse se movendo quase como se estivesse
automático. Ao seu redor, sentia-se como se ela
estivesse mergulhada num sonho, ou num pesadelo
horripilante do qual ela não era capaz de acordar.

Não foi capaz de medir sua força, erguendo o


braço e sem mirar em absolutamente nada, ela
acertou o golpe na cabeça do capanga de Ivan,
fazendo com que o sangue espirasse de seu nariz
como uma fonte.

Um gemido rouco e palavras desconhecidas


saíram de seus lábios como xingamentos e Carrick
aproveitou aquele momento para soltar uma de suas
mãos de suas adagas socando-o repetidas vezes no
rosto.

O som de carne se chocando contra carne, fez


com que a bile chegasse até sua garganta, a garrafa
rolou de suas mãos, caindo sem se partir contra o
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chão, rolando para longe de seus pés. No quarto


golpe, os nós dos dedos de Carrick já haviam se
tingindo de vermelho, quando o homem debaixo
dele deixou de se mexer.

Nina não teve tempo para compreender o que


acabara de acontecer, com o coração disparado em
seu peito Carrick ergueu-se enquanto agarrava sua
mão, levando-a para longe dali.

Eles dispararam para dentro do corredor escuro


que havia atrás de suas costas como se estivessem
sendo perseguidos. A cada passo que eles se
afastavam o som da música se tornavam mais
distante, até que tudo o que podia ser ouvido ao
redor deles, era apenas suas respirações aceleradas,
e seus passos apressados ressoando contra as
paredes daquele lugar.

Nina não sabia para onde eles estavam indo, e


nem ao menos era capaz de se importar. Medo,
raiva e angustia haviam se transformado num único
pensamento sem fim nem começo que parecia
oprimir todo seu peito afastando qualquer
pensamento coerente de sua mente.
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A sua frente Carrick era apenas um borrão, uma


silhueta recortada contra as sombras enquanto eles
corriam passando por corredores e salas, até
finalmente abrirem portas duplas de metais,
alcançando a maresia noturna que os engolfou
como uma nuvem compacta.

Mesmo depois de terem conseguido escapar


daquele lugar Carrick não diminuiu o ritmo da fuga
deles. Os saltos delas ressoavam contra seus
ouvidos, enquanto seus pés pareciam dançar de
forma precária dentro das botas. Com o cabelo
chicoteando ao redor de seu rosto Nina lançou um
olhar para trás com medo de que eles estivessem
sendo seguidos, mas tudo o que seus olhos
puderam observar atrás de suas costas, era uma rua
vazia, enquanto as luzes esbranquiçadas dos postes
iluminavam calçadas completamente desertas.

Eles correram pela zona portuária, até que ela


tivesse perdido completamente a noção de onde
estavam. A dor se infiltrou por debaixo de suas
costelas, e quando ela achava que não poderia mais

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continuar com aquele ritmo alucinado, sentiu os


passos de Carrick diminuírem, até que ele estivesse
andando de maneira apressada, seu olhar correndo
em todas as direções, possíveis.

Não muito longe dali, ela podia ouvir o som do


mar, e a buzina de um navio cortou a noite atraindo
sua atenção, ela se perguntava como eles iriam
conseguir escapar daquele lugar, quando observou
espantada, Carrick parar ao lado de um carro
parado no meio fio da rua, e começar a mexer na
porta do motorista.

Habilmente ele enfiou a ponta do canivete sobre


a trava, destrancando-a, o som do alarme explodiu
ao redor deles, fazendo com que ela tentasse abafa-
los usando as mãos. Sem se incomodar com aquilo,
ela observou enquanto ele se abaixava perto dos
pedais, cortando alguns fios, e fazendo uma ligação
direta trazendo o carro de volta a vida.

- Entre – ordenou ele, sua voz completamente


inalterada que não dava o menor espaço para ser
contrariado.

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Nina empurrou todas as preocupações que se


chocavam em sua mente naquele momento para
longe, contornando o carro enquanto abria a porta
se jogando no banco do passageiro ao lado de
Carrick, naquele momento sua única preocupação
era conseguir sair daquela situação.

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Capítulo Vinte e Quatro.


Havia um zumbido em seu ouvido, persistente
que dificultava os outros sons a penetrarem na
cortina diante de seus olhos. Seus pensamentos
pareciam mais lentos, e esparsos, enquanto seus
olhos se fixaram no retrovisor do carro que Carrick
havia roubado para a fuga deles.

Ela não conseguia acreditar totalmente que eles


haviam sido capazes de escapar daquela situação. O
nervosismo havia deixado todos os músculos de seu
corpo tensos, como se ela estivesse preparada para
a qualquer momento continuar sua corrida
acelerada, fugindo dali o mais rápido possível.

Ao seu lado num silêncio tumultuoso Carrick


dirigia em violentamente, cruzando o limite de
velocidade permitido dentro da cidade, os dedos
fixos sobre os volantes estavam pálidos assim como
seu rosto concentrado que se focava nas ruas diante
deles. As perguntas em sua cabeça se focavam com
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as dúvidas, deixando sua cabeça pesada, enquanto


uma dor incômoda parecia se infiltrar na base de
seu crânio. O medo cravou suas garras em seu
coração deixando seus batimentos acelerados e seu
estômago agitado.

Ainda podia sentir com uma clareza assustadora


o aperto do capanga de Ivan sobre seu braço,
enquanto ela era arrastada dali. A sensação de
impotência era pesada contra seus ombros, fazendo
com que ela afundasse seu corpo ainda mais no
banco daquele carro completamente desconhecido.
Havia jurado para si mesma nunca estar novamente
numa posição frágil como aquela. Onde suas
escolhas mais uma vez seriam tiradas dela. Dissera
a si mesma que estaria preparada e saberia como
agir, com a vergonha esquentava suas bochechas
enquanto as lembranças de sua incompetência em
escapar de uma situação perigosa como aquela
desfilavam como um filme diante de seus olhos.

Nina não soubera como agir, nem o que dizer


ou fazer para despistar o homem que a havia
reconhecido. A surpresa e o medo travaram suas
atitudes deixando-a mais uma vez a mercê do
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destino... Os dedos dela pousaram sobre a marca


que o homem deixara em sua pele, um lembrete de
como todo o plano que ela traçara aquela noite
poderia ter dado muito mais errado. Os olhos dela
se deslocaram para Carrick sentado ao seu lado se
ela não tivesse aparecido, então naquele momento
muito provavelmente ela estaria sendo levada até
Ivan, e depois para seu tio... Até mesmo ela sabia
que aquele era o tipo de destino que ela deveria
evitar a todo custo.

Desviou seus olhos focando sua atenção no


trafego das ruas ao seu redor. Lá fora o mundo
parecia continuar seguindo seu fluxo constante
completamente alheio a tempestade que acontecia
dentro de sua cabeça naquele momento.

A mente dela disparou mais uma vez em


direção a Serguei... Ele ainda estava a procurando,
e por mais absurdo que isso pudesse parecer,
aparentemente ele estava mais do nunca decidido a
encontrá-la.... Assim como Ivan.

Um calafrio desagradável deslizou por suas


costas enquanto ela se lembrava do que precisara
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fazer para escapar daquele homem. O cheiro de


sangue por um momento pareceu estar impregnado
em seu nariz, assim como em suas mãos. A
sensação da garrafa de vidro em suas mãos ainda
eram muito nítida, assim como da força que ela
usara para acertar o rosto daquele homem, até que
ele tivesse finalmente largado Carrick. Fechando os
olhos bem apertados, ela esperou que o ritmo de
seu coração diminuísse os batimentos, até que o
remorso inundasse completamente seu peito, e
todas as censuras de sua mente racional, mas para
sua surpresa nada aconteceu. Naquele momento
havia um único sentimento que parecia preencher
todos os seus sentidos, e ele era um alivio
avassalador e desmedido.

- Para quem aquele homem trabalhava? –


perguntou Carrick, a pergunta dele dita numa voz
carregada trouxe a de volta de seus pensamentos
conturbados.

- Ivan... Eu não o reconheci, tenho certeza que


ele não trabalhava para meu tio mas...

- Karazov não ia desistir do acordo com Serguei


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assim tão fácil. Agora que ele sabe que você


continua na cidade, as coisas podem ficar mais
complicadas.

- Aquele homem... Você acredita que ele esteja


vivo ainda?

- Isso não faz a mínima diferença pra mim -


respondeu ele, sua voz baixa e indiferente ecoando
pelo carro.

Nina sentiu como seu coração tivesse pulado


uma batida, caindo depois para um ritmo quase
doloroso. Ela queria desviar seus olhos, mas de
alguma forma não conseguia obrigar seu rosto a
fazer isso, como se estivesse cativada demais pela
imagem dele a sua frente. As luzes das cidades,
cobriam seu rosto numa dança constante entre luz e
sombras iluminando seus olhos verdes como duas
joias. Ela tinha certeza que nunca tinha visto nada
tão bonito quanto ele naquele momento, ou
perigoso... A fachada que ele usara parecia
finalmente ter se espatifado por completo. Ela
conhecia bem o olhar que agora dominava o rosto
de Carrick, a convicção fria e quase inumana que
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brilhava em seu olhar. Era quase a mesma


expressão que ele usara quando suas mãos
apertavam a garganta de Han, até que lentamente a
vida tivesse escorrida de seu corpo.

As lembranças trouxeram um enjoo que deixou-


a desconfortável, seus olhos recaíram sobre as
mãos tremulas em seu colo. Agora que a adrenalina
da fuga desaparecera de seu corpo, sentia um frio
desagradável que parecia rastejar sob sua pele. Os
pensamentos eram uma colcha de retalho sem
sentindo em sua cabeça, enquanto que sentia como
se houvesse um pedaço faltando de algo vital
dentro de seu peito.

Repetiu pela milésima vez para si mesma que


havia agido em legitima defesa, acertando o
capanga de Ivan repetidas vezes, esperava que a
onda de vergonha e arrependimento a
tranquilizassem lembrando-a que ela era apenas
mais um ser humano qualquer, mas nenhum desses
sentimentos parecia estar presente em seu coração.

A única coisa que era capaz de sentir naquele


momento era alivio, pelo fato de que naquele
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momento ela ainda continuava livre e longe do


alcance do seu tio. Mas até quando?

A incerteza de sua situação permitiu que o


medo rastejasse por suas costas aumentando o frio
que ela sentia. Parecia que tudo havia simplesmente
saído de seu controle desde sua fuga, e quanto mais
tempo se passava, mais distante ela ficava de
conseguir sair daquela situação.

A única coisa que havia desejado, era poder


encontrar sua mãe ir embora com ela para algum
lugar distante, deixando para trás, toda aquela vida
da qual ela sentia não se encaixar. Esquecendo
completamente tudo o que dizia respeito a Serguei,
seu noivado forçado, e principalmente a máfia ...
Mas, de alguma forma sentia como se tivesse caído
num atoleiro de areia movediça, e quanto mais ela
se esforçava para sair dali, mais presa ela se
encontrava.

Nina fechou os olhos por um momento,


descansando a testa sobre o vidro gelado do carro.
A baixa temperatura era como um bálsamo para sua
pele, uma camada fina de suor havia se grudado em
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seus membros, e suas mãos ainda continuavam a


tremer. Imaginou que aquilo devia ser reflexo do
alto nível de estresse que enfrentava naquele
momento.

Sentia-se exausta, e por um momento deixou


que o movimento contínuo do veículo embalasse
seus pensamentos desconexos, enquanto o silêncio
entre ela e Carrick servia como uma cortina,
separando-os cada um em seus mundos
particulares.

Quando voltou a abrir os olhos novamente sua


atenção foi desviada em direção a pacata rua ao seu
redor, extensos jardins malcuidados, e casas com
luzes apagadas escondidas por trás das sombras das
árvores espiavam-na na noite calorenta.

Mesmo a distância ela conseguiu reconhecer os


andares superiores da casa abandonada que ela e
Carrick estavam usando naquele momento como
esconderijo. Um desanimo pesado como uma pedra
pareceu se afundar dentro de seu estomago, quando
o carro parou diante da antiga garagem
abandonada, as luzes da frente do veículo
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iluminando uma parede que há muito tempo havia


perdido suas camadas de tintas.

O silêncio tornou-se mais intenso ecoando em


seus ouvidos, lá fora ela conseguia ouvir o barulho
estridente de um grilo cantando escondido nas
moitas próximas ao jardim. Não conseguia
compreender como o mundo ao seu redor parecia
tão pacifico, embora dentro de sua mente ela
tivesse a sensação de que tudo estava
desmoronando.

- Desça do carro... Eu ainda preciso me livrar


dele.

A voz de Carrick soou gélida, uma ordem em


forma de pedido, Nina sentiu a raiva borbulhar em
seu sangue enquanto focava toda sua atenção na
figura a seu lado.

- O que você descobriu a respeito de minha


mãe?

Os olhos esmeraldinos focaram em sua


expressão e por um momento ela sentiu o coração
saltar em seu peito se alojando em sua garganta. O
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olhar no rosto abatido de Carrick era terrível, e


completamente desumano, por um momento ela
quase foi incapaz de reconhecê-lo.

- Acredite em mim, você não quer discutir isso


agora...

- Não ouse me enganar de novo Carrick, você


sabe muito bem que eu só estou te ajudando porque
me prometeu respostas. Esse foi nosso acordo!

- E eu vou cumprir minha parte! – respondeu o


rapaz, elevando sua voz, suas palavras soando
agora com um sotaque extremamente cadenciado –
Mas, nesse momento estou mais preocupado em
conseguir mais algum tempo para nós dois, antes
que os homens de Ivan, ou mesmo seu tio saibam
onde nós estamos!

As palavras borbulharam sobre sua língua como


bolhas, querendo escapar como respostas, mas ela
simplesmente se obrigou a permanecer com os
lábios selados numa linha muito fina, contendo
toda a raiva que parecia arder como um eterno fogo
no centro do seu peito.

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Nenhum dos planos que ela havia traçado até


aquele momento haviam funcionado, e o desespero
de toda aquela situação pesava sobre suas costas,
um lembrete constante de como a liberdade que ela
possuía naquele momento estava constantemente
sendo ameaçada.

Ela precisava encontrar sua mãe para


finalmente poder deixar Nova York para trás. O
encontro que tivera aquela noite com um dos
capangas de Ivan apenas servira para lhe mostrar
que ela nunca estaria realmente segura naquele
lugar.

Sentiu as pontas de suas unhas se cravarem na


parte expostas de suas coxas, enquanto ela baixava
seu rosto incapaz de encarar Carrick por mais um
único segundo que fosse. Todas suas últimas
esperanças estavam depositadas nele, embora a
parte racional de sua mente lhe dissesse de maneira
bem clara e com todas as letras que ela estava
sendo enganada... Ela havia visto ele conversar
com um homem no bar aquela noite, mas quem
poderia lhe garantir que ele realmente havia
perguntando algo a respeito de sua mãe?
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A desconfiança deslizou por sua pele, como


uma cobra rastejando por seus sentidos. As
perguntas sem respostas se acumulando na parte
mais distante de sua mente, enquanto o medo do
futuro parecia deixá-la completamente paralisada e
indefesa.

Com dedos trêmulos Nina conseguiu encontrar


a maçaneta para abrir a porta do carro. Lá fora o ar
noturno era abafado e pungente, o cheiro de mato
invadindo todos seus sentidos.

O som do motor do carro, quebrou a sinfonia


dos grilos enquanto sem lançar um único olhar em
sua direção Carrick engatava a marcha e saia de ré
da garagem. Ela foi deixada ali fora completamente
sozinha, ao lado daquela casa abandonada sem
saber com certeza o que se passava em seu coração
naquele instante.

Embora fosse uma noite quente, cruzou os


braços ao redor de seu torso, tentando de alguma
forma preservar o calor de seu corpo. Durante todo
aquele dia, ela tentara afastar aqueles pensamentos,
mas agora parada do lado de fora daquela casa
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abandonada, ela simplesmente não era mais capaz


de conte-los. Como teias de aranhas, eles pareciam
terem se espalhados por todos os lados de sua
mente, até que ela não era mais capaz de ignorá-los.

Talvez ela tivesse cometido um grande erro ao


soltar Carrick, e contar com sua ajuda, para ajudá-
la a fugir de seu tio.

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Capítulo Vinte e Cinco


Caos. Era assim que a mente de Carrick
trabalhava naquele instante. Uma espiral de
pensamentos desconexos e milhares de perguntas
sem respostas, enquanto ele observava o plano que
havia traçado de forma tão precisa descarrilhar bem
diante de seus olhos. O cansaço era como um
manto sobre seus ombros quando ele finalmente foi
capaz de retornar para casa. A madrugada avançava
rápido, o mormaço da noite de verão dera espaço
para uma brisa noturna escassa, que bagunçava os
cabelos úmidos de suor ao redor de suas orelhas.

Os passos dele soaram alto em seus ouvidos,


enquanto ele se arrastava escada acima até seu
quarto. Sabia que cada minuto agora era precioso,
ele precisava encontrar uma maneira de
desaparecer por algum tempo antes de conseguir
concretizar seu golpe contra Serguei, ou então tudo
estaria perdido. Não podia correr o risco de ser
mais uma vez capturado por ele, tinha plena certeza
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se caso isso acontecesse então dessa vez seu


destino seria o fundo do rio Hudson com uma bala
alojada de maneira muito firme no meio do seu
crânio.

A dor era completamente conhecida se infiltrou


por seus dedos, enquanto ele fechava sua mão num
punho apertado. Precisava conter a raiva que
parecia borbulhar bem debaixo da superfície de sua
pele, esquentando seu sangue, e embaralhando seus
pensamentos. Ele era melhor do que aquilo, e sabia
muito bem que perder a cabeça agora seria apenas
mais um passo em direção a catástrofe.

Empurrando a pesada porta que dava acesso ao


sótão, Carrick deixou que a escuridão tão
conhecida daquele lugar o envolvesse. Aquela
mansão era o lugar mais próximo que ele chegara a
poder chamar de casa, mas mesmo assim ele nunca
sentira-se confortável o suficiente para ocupar um
dos inúmeros quartos abandonados dali chamando-
o de seu. Havia preferido no final das contas ficar
com o sótão. Espaçoso e com teto mais baixo, uma
janela redonda de vidro estava virada em direção a
rua, deixando que a luz prateada da lua iluminasse
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parcialmente o lugar.

O cheiro constante de poeira permeava todo ao


ambiente, assim como a umidade que se alastrava
pelas paredes deixando manchas esverdeadas que
subiam até o teto. Carrick não se importava nem
um pouco com isso, embora de certa forma a
imagem destruída pelo tempo daquela casa, sempre
fosse um lembrete constante de mais um dos
motivos pelo qual ele desejava conseguir o poder
necessário para mudar aquela realidade.

Deslizando pelo cômodo silenciosamente como


um fantasma, retirou a jaqueta de couro de suas
costas jogando-a sobre a poltrona que ficava ao
lado de sua cama. O tecido manchado e desgastado
possuía uma cor indefinida, e ele precisava sempre
tomar cuidado para evitar a ponta da mola que se
sobrepunha acima do estofado. Liam havia o
ajudado a mover alguns moveis até ali alguns anos
atrás, quando ele finalmente aceitara o fato de que
aquele era o lugar que o acolhera.

Os olhos dele recaíram sobre as sombras que se


moviam pelas paredes, seus dedos percorreram a
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superfície do antigo baú que ele usava como criado


mudo encontrando o isqueiro que ele sempre
mantinha ali. A luz amarelada da vela tremeluziu
diante de seus olhos, deixando que as sombras se
alongassem a seus pés. A claridade era incomoda,
aumentando a dor de cabeça que havia se alastrado
por sua nuca. Sentia-se cansado, e embora seu
corpo exigisse ao menos algumas horas de
descanso para continuar funcionando,
aparentemente sua mente tinha outros planos.

Refez mais uma vez dentro de sua cabeça a lista


de coisas que precisava executar. Sua atenção
estava dispersa a mente um turbilhão barulhento
que dificultava sua concentração.

Um suspiro cansado escapou de seus lábios


enchendo seus ouvidos, ao menos ele havia
conseguido se livrar do carro que roubara aquela
noite para que pudesse fugir em segurança até ali.
A última coisa que ele precisava naquele momento
era da polícia em sua cola. Podia sentir o cerco se
fechando a seu redor, um sorriso sarcástico brincou
em seus lábios enquanto ele sentava-se na beirada
de sua cama deixando que os dedos agitados
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corressem por seu cabelo. Já passara por situações


perigosas como aquela, a corda de alguma forma
sempre estivera pendurada em volta de seu
pescoço, então por que naquele momento sentia o
medo deslizar por suas costas? Desde sempre ele
havia aprendido a aceitar a sua realidade, o mundo
do qual ele habitava não possuía clemencia, se não
fosse forte o suficiente para se defender então seria
devorado e seus restos jogados fora. Ele não tinha
medo da morte... Então por que naquele momento
sua cabeça continuava numa completa desordem?

Como se respondessem a sua silenciosa


pergunta seus olhos se desviaram para a mochila
dela parada ao lado de sua cama apoiada contra as
paredes do sótão. Ele não queria admitir para si
mesmo, mas cada vez mais estava ficando difícil
ignorar como ela havia deslizado para dentro de sua
mente, lentamente levando-o até a loucura.

Pensar nela deixou o ritmo de seu coração


acelerado como sempre acontecia, os dedos
fechando-se num reflexo silencioso como se ela
estivesse ali naquele lugar sentada a seu lado, e
estivesse ao alcance de suas mãos...
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Nunca deveria ter tocado nela. O pensamento


lógico era um lembrete constante de como ele não
fora capaz de resistir a tentação da princesa russa.
Ekaterina deveria ter sido apenas mais uma peça
em seus esquemas, um meio para que ele pudesse
alcançar seus objetivos uma rota de fuga, sabia que
quanto mais tempo permanecesse ao lado dela
estaria colocando ambos em riscos.

Encontrar um dos capangas de Ivan hoje a noite


havia sido um lembrete mais do que claro para ele
mostrando como ele continuava brincando com
fogo. Logo não haveria lugar seguro para ele se
esconder na cidade, e se estivesse fugindo então
alguém em seu encalço iria servir exclusivamente
para atrapalhá-lo.

Mais uma vez ele reviu as milhares de


alternativas escorrendo por sua mente, uma após a
outra, pesou cada uma de suas alternativas sabendo
que precisava ser cauteloso em cada passo dali em
diante. A parte racional de sua mente lhe dizia para
não se preocupar com Ekaterina, na pior das
situações ele poderia usar como uma isca atraindo
Serguei, enquanto ele encontrava uma maneira de
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escapar. Estava tão próximo de atingir seu


objetivo... Tão malditamente perto. Nunca possuíra
uma informação tão importante quanto a traição de
Serguei a máfia italiana, se ele conseguisse fazer
essa notícia chegasse até as pessoas certas, então
ele sabia muito bem que poderia pedir qualquer
coisa como recompensa.

Ainda haviam muitas dúvidas pairando sobre


sua cabeça, mas ele não podia negar o preço por
trás de tudo isso. Repetiu para si mais uma vez que
no final tudo aquilo valeria o preço que ele estava
pagando. Estava cansado de se esconder, abaixar a
cabeça e continuar recebendo ordens. Finalmente
havia chegado a vez dele de participar daquele
cenário de crimes, ele daria as ordens dessa vez, e
se no meio desse caminho ele precisasse sacrificar
algumas coisas que assim fosse...

Os olhos dele continuaram sobre a mochila


esquecida ali a seus pés. Ele trouxera como
precaução quando escapara da loja de Han. Havia
passado um tempo completamente desperdiçado
revirando em suas coisas. Nada do que estivesse ali
lhe ajudara a encontrar respostas. A bolsa era uma
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completa bagunça de roupas disfuncionais, fotos


inúteis e um colar cravejado de diamantes
escondidos no fundo de um dos bolsos. Por um
momento enquanto revirava as coisas da princesa
russa ele havia se perguntado como, ela imaginara
que poderia fugir, tendo apenas aquelas coisas
como auxilio?

A curiosidade se infiltrou por ele, como sempre


acontecia quando ele pensava sobre ela, algo que
estava se tornando cada vez mais corriqueiro. Os
dedos dele escorreram quase contra sua vontade
para o vestido dela, enfiado de qualquer forma
contra suas coisas, ele havia deixado ali esquecido
completamente quando lhe trouxera as roupas que
ela usara como disfarce aquela noite no clube.

O algodão era suave contra a ponta de seus


dedos, leve como uma pluma, a cor
imaculadamente branca estava manchada na barra e
perto das alças, sangue e outras sujeiras, e mesmo
assim debaixo disso tudo ele ainda podia sentir seu
cheiro.

Como se estivesse possuído por algo que nem


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mesmo ele capaz de controlar, deslizou o vestido


dela contra seu rosto, aspirando seu perfume. Tinha
que ao menos admitir para si mesmo que a maldita
cheirava encantadoramente bem. Os dedos dele se
apertaram ainda mais contra aquela peça de roupa,
avivando as lembranças de como havia sido tocar
sua pele, sentir o gosto dela em sua língua. O
desejo queimou em suas veias como ácido. Aquela
garota iria deixa-lo louco.

Carrick afastou o vestido levantando-se, seus


olhos se focaram na luz quase arroxeada que se
infiltrava pela janela naquele momento, a
madrugada deslizava ao redor da casa tão
silenciosa, que ele podia ouvir os pequenos estalos
dos grilos lá fora no jardim, e o eterno andar
ritmado dos ratos que se escondiam pela parede.

Fechou os olhos com força sentindo as


pálpebras doloridas, ele precisava dormir,
descansar ao menos um pouco que fosse. Tinha
sobrevivido a uma surra brutal, e ainda não tivera
tempo o suficiente para curar seu corpo. Tudo
estaria melhor depois de uma noite de sono, mas
sua cabeça se recusava a obedece-lo, a ereção entre
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suas pernas pulsando no mesmo ritmo acelerado


que o sangue em suas veias.

Os olhos dele se desviaram em direção a porta


entreaberta de seu quarto, os dedos se fechando ao
redor do vestido dela, o aroma exótico pairando ao
seu redor como um fantasma para assombrá-lo.
Precisou usar toda sua força de vontade para conter
suas pernas, evitando descer as escadas e arrombar
a porta do quarto onde ela dormia. Se ela tivesse
diante dele num momento como aquele ele não
sabia do que seria capaz de fazer.

O pensamento piscou em sua mente


aumentando ainda mais o sorriso em seus lábios.
Era realmente um desgraçado se achava que de
alguma forma um pensamento como aquele iria
convencer seu inconsciente. Ele sabia exatamente o
que gostaria de fazer com Ekaterina, e todas as
cenas desfilando em sua cabeça naquele momento,
terminavam com eles grudados em cima de uma
cama, o pau dele profundamente enfiado entre suas
pernas.

Ele não precisava de mais preocupações em sua


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vida, mas aparentemente havia uma parte dele, que


estava completamente ignorando tudo isso. Havia
uma parte dele, e Carrick ainda não era capaz de
saber completamente seu tamanho que desejava
aquela garota. Uma tentação da qual ele
simplesmente não tinha forças para resistir.

Precisou forçar todo seu corpo a continuar


parado ali, ordenando-o a não se mover, se
descesse aquelas escadas ele sabia exatamente
como sua noite iria terminar, e naquele momento
ele ainda não estava completamente disposto a
arcar com aquelas consequências.

Precisava encarar Ekaterina apenas como um


degrau a seu usado para alcançar seus objetivos,
embora uma parte dele ansiasse por muito mais do
que isso. Ainda podia sentir o gosto dela em sua
boca, o leve roçar de seu cabelo em seu rosto, a
forma como seu corpo havia tremido debaixo de
seus dedos.

A cabeça girava lentamente sobre seu pescoço,


o desejo deslizando por sua mente ofuscando
qualquer pensamento coeso. Com a mão livre ele
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deslizou fora de sua cintura o cinto que usava,


desabotoando suas calças jeans. Foi fácil deixa-las
escorrer por suas pernas formando uma poça em
seus calcanhares. Sua ereção pulou firme,
apreciando o ar gelado da noite. O toque de sua
mão sobre seu pênis era forte, sua pele machucada
áspera ao toque, mas em sua mente, ele podia
visualizar os pálidos dedos dela ali, o tocando, tão
suave que poderiam fazer com que seus joelhos
cedessem.

Fechou o punho com mais força bombeando


seus quadris contra o aperto de sua mão. Deslizou
novamente o vestido dela para perto de seu rosto
aspirando seu perfume perfeito e inebriante.

Os olhos rolaram sob suas pálpebras, e ele mais


uma vez podia reviver as lembranças de ter tocado
seu corpo. Ela era perfeita, a forma como seu corpo
se ondulara junto ao seu, se encaixando como se
ambos fossem peças de um quebra-cabeça.

O gosto dela estava língua, seu perfume em seu


nariz, se fechasse seus olhos com firmeza ele quase
podia sentir o toque de suas mãos sobre seus
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ombros deslizando sob sua camisa, percorrendo seu


torso, o fantasma de um toque que deixou uma
trilha de pelos arrepiados em suas costas.

O desejo aquecia seu sangue, a brisa da noite


entrou pela janela acariciando a parte de trás de
suas costas, uma gota de suor escorreu entre suas
omoplatas fazendo o caminho por seu torso
enquanto ela fantasiava em sua imaginação que
aquela era a língua dela.

Ele aumentou o ritmo até que sua respiração


rascante encheu o pequeno sótão ao seu redor,
como um adolescente completamente perdido pelo
frenesi sexual, ele aumento o aperto sobre sua
ereção deixando que a palma de sua mão correndo
com mais força sobre seu membro pulsante,
dolorosamente duro. Abafou os pensamentos
recriminatórios em sua cabeça, deixando que a
imagem dela permeasse debaixo de suas pálpebras.
Ele não podia mais resistir à tentação era quase
insuportável.

O fôlego ficou preso em sua garganta, os


pulmões se expandindo em seu peito, a mão dele
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aumentou o ritmo seguido por seus quadris,


enquanto ele fantasiava com o corpo de Ekaterina,
e os doces lábios escondidos entre suas pernas.

A cabeça pendeu mole entre seus ombros, as


pontas de seu cabelo roçando sua clavícula, a dor
em suas unhas ausentes completamente esquecidas.

- Ekaterina.. Nina... – o nome dela rolou em sua


língua o cheiro dela em seu vestido, a lembrança de
seu corpo em sua mente.

O prazer explodiu em sua mente, cegando-o por


completo, ele ordenhou sua excitação contra as
palmas de sua mão rudemente até que não houvesse
mais sobrado nenhum vestígio da loucura sexual
que o consumia em seu corpo.

Havia um clarão branco debaixo de suas


pálpebras fechadas, os dedos dele tremiam ao redor
de seu corpo, mesclados com seu prazer .A
respiração dele lentamente voltou ao normal o
ritmo de seu coração desacelerando entre suas
costelas, o silêncio noturno pesou sobre isso, e
talvez fosse esse o motivo que tivesse feito ele

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notar o pequeno estalo na madeira próximo a porta


do sótão.

Girando a cabeça em seu pescoço, Carrick


focou seu olhar para o corredor, entre a pequena
fresta da porta e a parede ele conseguiu enxergar
um par de olhos que ele reconheceu de imediato.

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Capítulo Vinte e Seis


Nina não conseguia dormir, embora estivesse
cansado e com o corpo dolorido, rolou na cama
pelo que parecia ser a milésima vez sentido cada
pequena nervura dos lençóis desgastados debaixo
de seu corpo.

Deitada de barriga para cima, deixou que sua


atenção focasse no teto de madeira sobre sua
cabeça, ela já havia contado as teias de aranhas, e
os pequenos buracos que ela tinha certeza serem a
toca de algum animal que naquele momento ela
tentava ignorar de todas as formas. Ao seu redor, a
luz da lua invadia todo o ambiente mergulhando o
quarto num tom profundo de azul arroxeado,
enquanto as sombras mais densas nas paredes
pareciam se alongar.

Ela estava deitada naquela cama desde que


voltara algumas horas atrás da boate com Carrick,
os pensamentos se acumulando em sua cabeça, até
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que ela simplesmente não fosse mais capaz de


conte-los entre as paredes de seu crânio.

Aquela altura ela de alguma forma já havia se


acostumado com os pequenos barulhos, e rangidos
que habitavam toda aquela casa, e embora seus
nervos tivessem estados extremamente tensos nos
primeiros momentos, agora ela simplesmente
ignorava isso, deixando que toda sua atenção fosse
concentrada em problemas mais urgentes.

Embora ela tivesse tentando com todas suas


forças não pensar no que acontecera aquela noite,
seu cérebro continuava reprisando de maneira
constante as imagens de Carrick atacando um dos
capangas de Ivan para salva-la. Ela ainda não era
capaz de sentir nenhum pingo de remorso, mas
agora se perguntava o que teria acontecido caso, ele
tivesse escapado e avisado, seu tio e Ivan.

O medo deslizou entre suas costelas, apertando


em suas garras o coração que se acelerou em seu
peito, trazendo o edredom emprestado até seu rosto,
ela aspirou o cheiro de poeira e guardando,
tentando conter seus pensamentos descontrolados,
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lembrando a si mesma que ela ainda continuava


livre, e, portanto ainda era capaz de continuar
fugindo de seu tio, ela apenas precisava continuar
arquitetando um plano para que isso acontecesse.

Deslizando o antebraço sobre seu rosto, Nina


descansou seus olhos que estavam pesados
deixando que a escuridão embalasse seus
pensamentos. Tentou sufocar a crescente onda de
pânico e descrença que parecia estar se avolumando
dentro dela. Cada dia que se passava ela se tornava
mais paranóica, o medo parecendo se infiltrar
enquanto espalhava suas raízes em todas suas
ações. Ela jamais poderia ter imaginado que os
acontecimentos de sua fuga teriam se desenrolado
daquela forma, e agora chegava a pensar que talvez
tivesse sido um pouco ingênua, de achar que
realmente seria capaz de escapar de seu tio...

A luz prateada da lua, feriu seus olhos


novamente enquanto ela os focava na parede ao
lado de sua cama. Lá fora tudo parecia plácido e
extremamente tranqüilo algo totalmente oposto de
como ela se sentia naquele momento. Não tinha
certeza absoluta de nada, e parecia que o caminho
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que estava traçando se encontrava completamente


errado diante dela.

Havia dito a si mesma que precisava apenas


focar em encontrar sua mãe, e que todas as coisas
se resolveriam após isso, mas depois de tudo o que
acontecera, havia começado a duvidar realmente se
aquele era o tipo de tarefa que ela seria capaz.
Sentia-se mais sozinha do que nunca, e
completamente desamparada. A saudade de Olga
rangeu em seu peito, enquanto ela tentava não
pensar em sua prima. Não podia olhar para trás
enquanto se lembrava de tudo o que havia perdido,
senão não seria capaz de continuar em frente.

Se ao menos ela tivesse alguma resposta, a menor


das pistas naquele momento seria o suficiente para
aplacar um pouco de suas duvidas, mas continuava
completamente no escuro exatamente como havia
sido desde que deixara a casa de seu tio. Ao menos
se ela pudesse confiar em Carrick...

Pensar nela, deixou o ritmo de seu coração


descompassado e mais dolorido. Depois de ter sido
enganada por ele, não conseguia acreditar
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totalmente em suas promessas embora soubesse


que no final das contas ele havia arquitetado um
plano que iria se beneficiar de sua ajuda, mas Nina
ordenara a si mesma a não pensar naquilo ou em
suas consequências.

Não estava numa posição que podia


simplesmente escolher seus aliados, e naquele
momento ele era o único que estivera disposto a
ajudá-la, mesmo que essa ajuda tivesse um preço.
No final das contas ela dissera a si mesma mais de
uma vez tentando se convencer de que aquilo era
algo que não importava. Faria qualquer coisa para
encontrar sua mãe, isso era a única coisa que
deveria importar naquele momento.

O som de passos ritmados soou nas escadas os


leves baques, percorrendo o corredor até finalmente
desaparecerem no silencio noturno. Carrick teria
voltado? Ou aquele seria o homem que também
habitava aquela casa e o conhecia Liam?

A curiosidade cresceu em seu interior como um


balão inflável afastando toda a preguiça que ela
estava sentindo. Sabia que o mais sensato era
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continuar deitada naquela cama, esperando que o


sono chegasse, para que dessa forma ela estivesse
mais preparada para lidar com seus problemas na
primeira luz da manhã do dia seguinte, mas quando
sentiu a mão retirando de cima de seu corpo seu
edredom, e as pontas de seus pés tocarem o
assoalho liso ao lado de sua cama, ela soube que
simplesmente não seria capaz de seguir seu
pensamento racional.

Desde que havia concordado participar dos


planos de Carrick, ele passara a deixar a porta de
seu quarto destrancada. Um voto de confiança ele
dissera, para a lembrar o quanto ambos estavam
numa posição que dependiam um do outro.

Mais de uma vez Nina imaginara, abrindo


aquela porta durante a noite, descendo os degraus
que rangiam com seu peso, atravessando a imensa
porta do hall que dava acesso ao descuidado jardim
lá fora enquanto simplesmente desaparecia nas ruas
sem um destino.

A ideia era extremante tentadora, e embora ela


tivesse fantasiado esse resultado mais de uma vez,
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havia permanecido no mesmo lugar, sabendo que


estaria em maior perigo lá fora do que ali dentro
daquela mansão abandonada, e no final das contas,
ela continuava sem possuir um destino para onde
pudesse partir.

Sentiu a vibração da porta ranger sob seus


dedos, enquanto ela saia em direção ao corredor. A
noite a casa parecia ainda mais abandonada, os
sinais do tempo e degradação mais acentuados
pelas sombras que se estendiam pela parede.

Ali o ar parecia abafado, a poeira pinicando a


ponta de seu nariz. Parada em completo silêncio
Nina sentiu-se uma tola por estar fora da cama,
num momento daqueles. Tinha quase que certeza
absoluta que Carrick não estaria nem um pouco
disposto em encontrá-la num momento daqueles
para responder suas perguntas, afinal de contas
havia sido exatamente isso o que ele fizera quando
desconversara retendo as respostas pedindo que ela
esperasse o momento ideal.

Nina estava farta de esperar, ela precisava saber


de alguma coisa, qualquer coisa para acalmar o
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feixe de nervos que parecia completamente


descontrolado sobre seu coração. Deixando que
seus passos ecoassem com o arrastar de seus pés
pelo corredor, ela simplesmente continuou em
frente, tentando refazer o mesmo caminho que
escutara alguém percorrer mais cedo.

Aquele lugar era imenso algo que ela pudera


notar claramente, mas a seu favor não pareciam
haver muitos lugares por ali onde Carrick pudesse
se esconder. A maioria das portas ao seu redor,
estavam trancadas, portanto a única coisa que ela
precisava fazer era caminhar naquele labirinto
abandonado, até encontra-lo. Não importava se
dessa vez ele continuava sem vontade de responder
suas perguntas, ela simplesmente iria continuar
tentando até conseguir uma resposta.

Nina ordenou as perguntas em sua cabeça,


enquanto subia os degraus da imensa escadaria que
ficava no centro da casa, indo para os andares
superiores. Talvez no final das contas ela não
precisaria confronta-lo de frente... Podia usar uma
desculpa, para fazer com que ele baixasse sua
guarda. Poderia dizer até ele que estava
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preocupada, com ele depois da perseguição que


ocorrera a eles dois, e viera até ali para ver como
ele estava. A desculpa era extremamente
convincente, e Nina precisou conter realmente as
batidas deslocadas de seu coração, que realmente
lhe lembravam um sentindo incômodo de
preocupação.

Virando no corredor do último andar, Nina


deixou que sua visão se ajustasse a escuridão mais
intensa ali, as janelas estavam distantes
posicionadas em suas costas, mas quando seus
olhos focaram num pequeno ponto brilhante e
dourado ela soube que finalmente havia encontrado
o lugar onde ele estava se escondendo.

Os passos dela não passavam de pequenos


sussurros ao seu redor, os corredores da mansão
aquela hora pareciam mais compridos suas paredes
estendendo-se quase que infinitamente diante dela.

Deixou que a ponta dos dedos tocasse a parede


próxima a seu lado, a textura áspera era um
lembrete de que ela não estava dormindo perdida
num sonho que se transformara em pesadelo.
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Havia uma parte dela que duvidava da sua


decisão de encontrar Carrick num momento como
aquele. A parte sensata em seu cérebro lhe dizia
que depois do que acontecera entre eles dois na
boate, o melhor que ela poderia fazer era
simplesmente esperar o dia amanhecer, e confronta-
lo quando sua mente estivesse mais alerta, e
embora ela admitisse para si mesma que aquela no
final das contas seria realmente a melhor escolha, a
mais razoável não conseguia convencer suas pernas
a fazer o caminho oposto, e voltar para seu quarto.

Uma inquietação parecia ter nascido dentro de


seu peito, desabrochando enquanto se espalhava
debaixo de sua pele, embaralhando seus
pensamentos. Embora soubesse que aquele não era
o momento, queria confrontar Carrick. Estava
cansada de se comportar apenas como mais um
joguete em suas mãos, enquanto continuava na
escuridão temendo o momento que mais uma vez
poderia sentir a traição dele se esgueirando por suas
costas. Queria as respostas que ele prometera sobre
sua mãe, e embora ela nem ao menos fosse capaz
de admitir para si mesma queria estar mais uma vez
a seu lado, porque mesmo sem entender, quando
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isso acontecia ela podia sentir as garras do medo e


da incerteza menos dolorosas em seu coração.

Ela parou diante da porta entreaberta, a luz


dourada se derramava pela escuridão, fazendo com
que as sombras ondulassem nas paredes quase
como se tivessem dançando. Imaginou se ela
deveria bater a porta, ou simplesmente empurra-la
enquanto chamava seu nome, tinha quase certeza
que ele não estava dormindo mas...

Os olhos dela deslizaram pela abertura na porta,


o espaço não era muito grande, mas parada ali
exatamente onde ela estava podia enxergar o quarto
diante dela assim como Carrick recortado contra
uma janela sobre sua cabeça.

Um gemido escapou dos lábios dele pairando


como um sussurro na escuridão, os olhos dela se
abriram ainda mais em seu rosto, absorvendo toda a
cena a sua frente, enquanto ela era incapaz de
desviar sua atenção.

Ele havia despido a jaqueta de couro que estava


usando mais cedo, a regata branca parecia grudar a

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sua pele, e mesmo aquela distancia ela podia


observar a fina camada de suor que cobria seus
membros. Os olhos dela viajaram por seu corpo
famintos diante daquela visão, e quando ela
percebeu que ele estava se tocando de maneira
intima e sexual sentir um ardor quase insuportável
de concentrar no alto de suas bochechas.

A parte racional de sua mente lhe ordenou a


desviar o olhar, enquanto se afastava dali o mais
rápido possível, mas essa voz parecia muito
distante, e uma parte dela não estava nem um
pouco disposto a desviar sua atenção.

O gemido rouco de Carrick pairou mais uma


vez no ar entre elas, chegando até ela que
continuava escondida do outro lado da porta. A voz
dele tinha atingindo um tom rouco, quase
animalesco um murmúrio que era uma mistura de
prazer e agonia.

Calafrios escorreram por seus braços, calor


líquido se concentrando entre suas pernas. A sua
frente de olhos fechados a cabeça de Carrick estava
quase jogada para trás as pontas de seus cachos
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tocando sua nuca.

Os olhos dela percorreram suas costas,


enquanto ela sentia o coração disparar em seu peito,
os batimentos tão fortes que ela sentia eles ecoando
em sua garganta. Ela sempre o achara bonito, e
muitas vezes se vira a obrigada a resistir a atração
de sua beleza, mas naquele momento, ele lhe
parecia estonteante, mesmo com seus machucados,
e dedos parcialmente enfaixados, o jeito que seu
corpo se movia, os membros delgados, os músculos
contraídos, tudo nele era absolutamente atraente.

Havia uma tatuagem no alto de suas omoplatas


que ela nunca havia reparado, desenhado sobre sua
pele, com um trabalho quase que perfeito
repousava um singelo trevo de quatro folhas. A
coloração verde era um pouco mais fraca que seus
olhos, mas enquanto a observava Nina sentiu seu
corpo reagir, a língua pesada em sua boca,
enquanto o desejo de sentir a pele dele em seus
lábios se tornava quase que insuportável.

A mão de Carrick cobriu sua ereção o membro


ereto tocava o alto de seu umbigo, mesmo aquela
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distância ela podia enxergar a ponta vermelha e


úmida. As entranhas dela se reviraram de excitação
naquele momento, suas coxas se contraindo
enquanto sentia os bicos de seus seios ficarem
rígidos sob seu sutiã. Ela observou ele se tocar,
quase como se tivesse hipnotizada. Nada em toda
sua vida nunca lhe parecera tão sexy quanto aquela
cena.

Os movimentos dele se tornaram mais intensos,


a mão acompanhava o ritmo de seus quadris, as
coxas torneadas empurravam diante as calças
completamente esquecidas em poças a seus pés,
enquanto o gemido dele e sua respiração
entrecortada enchia seus ouvidos.

A voz dele ecoou na escuridão, acordando o


desejo em seu corpo, lembranças do beijo que ele
havia lhe roubado mais cedo aquela noite
invadiram sua mente, a língua dele deslizando por
sua boca, os dedos dele tocando a carne escondida
debaixo de sua saia, o desejo por seu toque
consumindo toda a racionalidade de seu cérebro.

- Ekaterina... Nina...
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A voz dele entrecortada a libertou de certa


forma de seu estado de estupor, espantada os olhos
dela deslizaram até o vestido dela que Carrick
segurava com força entre os dedos de sua mão
enquanto continuava a se dar prazer.

A confusão assim como a ânsia sexual


deixaram suas pernas trêmulas como se fossem
macarrão atirado em água quente.

Jogando a cabeça para trás, as veias em seu


pescoço esticado Carrick gemeu para o teto, de
forma visceral, os dedos dele trabalhando sua
ereção quase com violência, enquanto suas palmas
se cobriam com seu gozo.

O coração dele pareceu pulsar visivelmente em


sua garganta como se o espaço dentro de suas
caixas torácicas não fosse mais o bastante, calor se
espalhou entre suas pernas, enquanto ela sentia
fisgadas quase dolorosas em seu sexo. Nina sabia
que precisava se mover, enquanto ele ainda não
havia percebido sua presença, mas naquele
momento seu corpo simplesmente não era capaz de
obedece-la. Sentia-se como se fosse uma mariposa
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encantada por uma luz brilhante demais para ser


ignorada.

Os gemidos de prazer dele foram diminuindo


até a escuridão noturna os engoli-los
completamente, as batidas de seu coração soavam
tão altas que por um momento ela temeu que
mesmo do outro lado da porta ele pudesse ouvi-la.
Como se tivesse se transformado numa estatua
Carrick permaneceu ali, em sua nudez parcial quase
que estonteante, recortado pela luz da lua. Com o
folego preso em sua garganta, Nina sentiu seu
corpo lentamente se mover enquanto dava um
passo para trás. A velha mansão inteira ao seu redor
pareceu protestar as tábuas sob suas solas dos pés
rangendo de maneira muito audível.

Petrificada onde estava ela observou os olhos


de Carrick se focarem em sua figura, a luz do
reconhecimento brilhando em seu rosto. Vergonha
escaldou sua pele, deixando seu rosto ardido, sem
pensar completamente no que estava fazendo, a
garota lançou-se corredor a dentro, os passos de sua
corrida ressoando ao seu redor.

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Ela não conseguiu chegar muito longe, seus


olhos se focaram nos degraus das escadas
parcialmente cobertos pelas sombras, se ela
descesse o primeiro lance estaria de volta ao andar
onde ficava seu quarto, de onde ela tinha certeza
que nunca deveria ter saído aquela noite.

Seus pés nunca chegaram a tocar a escada,


incapaz de se defender ela sentiu seu corpo ser
içado como se aquilo não lhe custasse esforço
nenhum. Suas costas foram empurradas quase com
violência sobre a superfície lisa e rígida da parede,
a friagem noturna espreitando pelo tecido leve de
sua blusa. A vergonha a impediu de olha-lo nos
olhos, deixando que seu olhar recaísse sobre seu
ombro, usando seu próprio cabelo como cortina,
enquanto as mãos de Carrick, a prendiam no lugar
segurando ambos seus braços próximos a seu
cotovelo.

Por um longo momento o silêncio entre eles se


estendeu quase que indefinidamente sendo
perturbado apenas pelo som de suas respirações
entrecortadas na escuridão, e Carrick foi o primeiro
a quebrar aquela barreira.
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- Espero que tenha gostado do espetáculo... – a


voz dele era quase severa carregada com um tipo de
sentimento que ela não era capaz de entender
completamente. A vergonha mais uma vez viajou
por seu rosto, esquentando suas bochechas. Ficou
aliviada porque ao menos naquela completa
escuridão, ele não poderia enxergar seu
desconforto.

- Me desculpe – respondeu ela esforçando-se


para que as palavras deslizassem para fora de sua
língua. – Eu não queria... não queria...

- Acho que você está mentindo – disse Carrick,


o aperto em seus braços amentando, enquanto ele
aproximava seu corpo dela, até que as roupas em
seu corpo fossem a única barreira que os separava.
– E que acabou gostando muito do que viu...

Erguendo seu rosto Nina deixou que seu olhar


se focasse no rosto dele, as palavras para rebatê-lo
morreram em sua língua, enquanto seu cérebro
escolhia exatamente aquele momento para reavivar
a memória do corpo dele. Os dedos delgados e
pálidos tocando sua ereção.
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O fôlego dela ficou entrecortado, o coração


voltando a disparar em seu peito, e tudo o que ela
podia fazer naquele momento era torcer para que
ele não pudesse notar seu embaraço e desejo.

O rosto dele se aproximou do seu, encoberto


pela escuridão e com aquela proximidade ela não
conseguia distinguir sua expressão. O hálito dele
era apenas uma leve brisa tocando sua pele,
deixando que calafrios prazerosos escorressem em
sua nuca.

- Você sabe o que acabou de ver? – perguntou


Carrick, quase docemente, a ponta de seu nariz
percorrendo o arco esticado de seu pescoço,
deslizando por sua pele, seus lábios tão próximos
que as palavras dele pareciam ecoar em sua pele –
Sabe que era em você que eu estava pensando
enquanto me tocava? Gemendo seu nome enquanto
imaginava tocar seu corpo de todas as formas
possíveis?

As mãos dela subiram até os braços dele, se


apoiando sem seu corpo porquê de repente parecia
que suas pernas não poderiam sozinhas sustentar o
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peso de seu corpo. Ela ouvira ele chamar seu nome


em meio ao seu frenesi sexual, e aquela imagem
parecia estar gravada debaixo de suas pálpebras,
mas de certa forma aquilo ainda não parecia ter
sido o suficiente para convence-la. Como se ela só
pudesse explicar aquilo como um sonho molhado,
ou um delírio produzido por sua mente hiperativa.

- Carrick... – respondeu ela incapaz de colocar


em palavras, seus pensamentos ou desejos, o nome
dele soando na escuridão enquanto seus dedos
tocavam seus antebraços sentindo o calor em sua
pele.

- Você não deveria ter vindo aqui essa noite. –


disse ele os lábios pairando agora muito perto da
pulsação acelerada em seu pescoço. A parte
racional em seu cérebro que naquele momento
parecia muito distante lhe disse que se ele a
beijasse então ela estaria completamente perdida.

Ele não a beijou, e seu hálito deslizou por seu


corpo eriçando cada pequena parte exposta de sua
pele. O aperto dele se intensificou, os dedos
cavando fundo em sua pele, mas não de forma
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dolorida. Ela sentiu ele roçar seu corpo ao dela, até


que seu calor abrasador era tudo o que ela podia
sentir em seu corpo sensível.

Erguendo a cabeça de seu pescoço, ele a


encarou, deixando que seu olhar recaísse sobre ela.
A vergonha ainda deixava o alto de suas bochechas
ardidos, mas agora que ele havia a encontrado ali, e
a impedido de fugir ela sabia que uma linha entre
eles havia sido ultrapassada, e isso era algo que já
não mais podia ser desfeito.

Os olhos dele brilhavam num tom de verde


escuro de maneira quase sobrenatural na escuridão.
Ali a luz da vela dourada em seu quarto, não
passava de um ponto longínquo no corredor
incapaz de iluminar qualquer coisa. Os contornos
de seu rosto, assim como sua pele pálida eram
tocados pela luz da luz, que se infiltrava pelas
janelas distantes e os arcos do outro lado da escada.

Havia uma rigidez raivosa em sua expressão, na


forma pressionada de seus lábios no brilho
faiscante em seu olhar. Uma parte dela lhe dizia
que aquilo deveria ser o suficiente para assustá-la e
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fazer com que ela se afastasse dali, mas o desejo de


toca-lo e sentir novamente o gosto de seus lábios
apenas pareceu se intensificar ainda mais, o medo
completamente afastado de seus pensamentos.

Ela não soube direito como seu corpo se


moveu, o desejo de toca-lo mais forte do qualquer
raciocínio que cruzava seu cérebro. O passo que
deu em sua direção foi quase inseguro, tão pequeno
e mesmo assim, o suficiente para quebrar qualquer
mínima distancia que ainda houvesse entre eles.

Mantendo os olhos abertos durante todo o


tempo, foi fácil achar o caminho até sua boca, seus
lábios pousando sobre os de Carrick com cautela,
uma parte dela ainda esperando que ele a
rechaçasse, sabia que a força dele era muito maior
do que a sua, ele poderia facilmente empurra-la,
fazendo com que ela se afastasse dele, mas tudo o
que ele fez foi encará-la os olhos muito abertos em
seu rosto pálido iluminado pela lua.

O gosto dele explodiu em sua boca, exatamente


como ela se lembrava, e ainda mais inebriante, sua
língua deslizou por seu lábio inferior, o calor entre
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eles se tornando quase que insuportável.

Carrick fechou os olhos com força, como se


dessa forma ele pudesse controlar o resto de
controle que ainda pairava sobre ele. As palmas de
sua mão se apertaram ainda mais em seus braços,
enquanto seu rosto assumia uma expressão
torturada como se ele não soubesse se deveria
traze-lo ainda mais perto ou simplesmente afasta-la
de vez.

- Não faça isso – murmurou ele, a voz rouca


dele apenas acendendo a necessidade em seu
sangue – Se continuarmos isso, eu não vou
conseguir me controlar...

Nina não sabia se desejava controle naquele


momento, a dúvida pairou sobre sua mente, mas a
atração que sentia por ele era mais forte abafando
qualquer pensamento racional de seu cérebro. Ela
havia esquecido o que viera fazer ali em seu quarto,
as perguntas que dissera a si mesma que iria obrigá-
lo a lhe responder. De repente tudo o que ela podia
sentir era o desejo crescente por ele, um sentimento
do qual ela não era mais capaz de controlar.
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- Eu quero isso – disse ela incapaz de


reconhecer sua própria voz – E você também...

Dessa vez ela não lhe deu tempo para pensar,


agindo por instinto simplesmente deslizou seus
lábios sobre os dele, abrindo espaço deixando que
sua língua explorasse sua boca. O gemido dele foi
como um prêmio delicioso em seus ouvidos. O
aperto dele afrouxou de seus braços, as mãos
deslizando por seu tronco subindo em suas costas.
Nina ergueu seu próprio corpo, seus braços
enlaçando seu pescoço, os dedos de sua mão livre
correndo por seu cabelo. O arome dele viajou até
seu nariz suave como a chuva, e exatamente como
ela se lembrava. A língua dele dançou em sua boca,
aprofundando o beijo, os dedos dele emaranhando
em seu cabelo, enquanto viravam sua cabeça,
deixando que o beijo entre eles se aprofundassem.

O corpo de Nina foi pressionando contra a


parede, mas ela quase não podia sentir a rigidez
atrás de suas costas, o joelho de Carrick estava
entre suas pernas, a mini saia que ela usava não
oferecia nenhum tipo de barreira contra o toque
rígido dele contra aquela área sensível de seu
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corpo.

As mãos dele caíram até sua cintura, os dedos


apertando sua carne, deixando uma trilha de fogo
em sua pele, as mãos dele espalmaram suas
nádegas, e então seu corpo foi erguido, enquanto
suas coxas, rodeavam seus quadris.

O beijo se tornou mais frenético, ardente, os


dentes dele capturando seus lábios de maneira
quase dolorida, ele deslizou seus lábios sua língua
sobre se pescoço mordiscando aquela área sensível,
enquanto ela podia sentir a ereção dele crescer
novamente entre suas pernas, e pressiona-la, tendo
apenas sua calcinha como barreira.

Ele a beijou enquanto investia contra seu corpo


a pélvis dele roçando contra seu centro. Prazer
inundou seu sangue, enquanto ela forçava seu
quadril pra frente tentando toca-lo, trazendo seu
corpo mais próximo do dele, as pontas de suas
unhas cravando-se em suas costas.

De alguma parte distante em seu cérebro ela


percebeu que eles estavam se movendo, os passos

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dele carregando seu corpo como se ela não pesasse


absolutamente nada. Os lábios dele deixaram os
seus, enquanto beijos molhados deslizavam por seu
pescoço seu colo, uma das mãos dele apalpava suas
nádegas, as pontas de seus dedos firmes contra a
renda delicada de sua calcinha.

A mão direita dele subiu pela lateral de seu


corpo, até alcançarem seus seios, os dedos dele
esmagaram sua carne, puxando a parte exposta de
sua blusa, alcançando o alto de sua carne, Carrick
deslizou beijos em sua pele mordiscando-a
entregue aquelas sensações Nina jogou sua cabeça
para trás, seus olhos se abriram de forma intensa,
enquanto ela observava o teto do quarto que ela
estava ocupando.

Não tinha certeza de como eles haviam chegado


até ali tão rápido e nem ao menos era capaz de se
importar, os passos de Carrick cruzaram o cômodo
com rapidez, enquanto seus braços a depositavam
com extremo cuidado pela cama. O toque fresco do
lençol apenas deixou claro a diferença de
temperatura, acentuando as sensações que ela
sentia. Deitando-se na cama, ela deixou que ele
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subisse em cima de seu corpo, enchendo


completamente sua visão, pairando sobre ela como
uma promessa de prazer.

Sua respiração estava descompassada, embora


ela tivesse sido carregada até ali. Ela deitou-se na
cama sentindo a maciez do colchão contra suas
costas, uma sensação completamente diferente
substituindo a parede. Os olhos dela estavam fixos
sobre Carrick, a janela de seu quarto estava aberta,
dali a luz da lua era ainda mais intensa, refletindo
nas paredes desbotadas. Nina deixou que seu olhar
caísse sobre seu corpo, devorando seus
movimentos, quando ele deslizou a regata branca
que usava os dedos dela sentiram formigaram para
que ela o tocasse.

Foi fácil esticar sua mão, embora o tremor de


excitação que percorria seu corpo, deixasse seus
movimentos desajeitados. Ela deslizou a ponta de
seus dedos pela clavícula, dele descendo por seu
tórax, contornando seu mamilo rosado, a respiração
dele se transformou num chiado baixo entre seus
lábios, e ela sentiu o toque de sua mão segurar seu
pulso.
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- Não... não dessa vez me deixa aproveita-la eu


quero senti-la.

Ela não teve tempo para protestar as palavras


morreram em sua boca, enquanto ele voltava a
beijá-la com paixão

A garota conseguiu observar seu corpo inteiro


ainda mais pálido recortado contra a luz da lua. Os
músculos dele se retesaram ao seu toque, a
respiração ficando mais apressada, enquanto seus
olhos não deixavam os seus. O beijo entre eles se
tornou mais frenético e intenso. Os dedos dele
deslizaram debaixo do tecido suave de sua blusa, a
caricia deixando um rastro quente em sua pele.
Logo ela estava sem blusa, e o sutiã emprestado
que usava caiu em algum lugar perto da beirada de
sua cama, os olhos de Carrick pousaram sobre seu
corpo, deslizando lentamente sobre sua figura como
se ele simplesmente não fosse capaz de desviar seu
olhar. Uma parte dela queria sentir-se
envergonhada diante dele, enquanto ela imaginava
o que ele estaria achando de sua forma. Mas
naquele momento, enquanto apenas eles dois
estavam naquele quarto, ela simplesmente não
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conseguia se importar com isso. O desejo se


acumulou ainda mais entre suas pernas quando ele
deslizou seu toque suave contra seu pescoço. Os
lábios pairando a centímetros de sua pele, ele
contornou sua clavícula e a parte mais afastada de
seu ombros, até que seu rosto pairava na curva
acentuada de seus seios. Nina nunca estivera diante
de um homem semi-nua daquele jeito, o coração
em seu peito estava acelerado e embora uma parte
dela não soubesse direito o que a motivava a
continuar aquele jogo de sedução, quando o corpo
desnudo de Carrick tocou o seu, algo dentro dela
sentiu-se como se estivesse finalmente completo.

A pele do tórax dele era suave contra a sua, as


pontas de seus dedos enfaixados raspavam
delicadamente um caminho sinuoso sobre seus
seios, os lábios dele pararam sobre os bicos rígidos
os olhos dele se ergueram se focando nos seus,
como se ele estivesse lhe pedindo sua permissão.
Esperou encontrar a resposta, mas sua voz parecia
distante demais em sua garganta, ela simplesmente
concordou com um aceno de cabeça, desejando
sentir o toque dele sobre ela, em todos os lugares
possíveis.
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A boca dele a atormentou, exatamente como em


seu beijo ele a torturou deslizando a língua sobre
seu mamilo rígido, chupando-o com desejo,
mordiscando-o até que os gemidos em sua garganta
tivessem enchendo seus ouvidos assim como o
quarto ao seu redor.

Carrick não parecia ter pressa alguma, ele


beijou seu colo depois trocou sua atenção para seu
outro seio, fazendo com que a tortura sexual que
ela experimentava ultrapasse todos os limites do
desejo.

Ela sentiu os dedos dele trabalhando em sua


cintura, um botão foi aberto e logo a saia que ela
usava foi deslizada por suas coxas, deitada apenas
de calcinha na cama, ela nunca sentira-se tão frágil
e ao mesmo tempo tão forte debaixo de seu olhar.
Havia uma ferocidade em seus olhos verdes que ela
nunca havia sido capaz de observar antes, ela
queria toca-lo os dedos quase doloridos para sentir
a firmeza de seus músculos a suavidade de sua
pele.

Nina tentou alcançar o cós de sua calça fazendo


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com que ela também se despisse do resto de suas


roupas, queria senti-lo com mais intensidade, a
ereção em sua calça era contida apenas pelo zíper,
o botão aberto revelava um abdômen plano e o
indicio de pelos escuros, seu desejo era de seguir
aquele caminho com as palmas de suas mão senti-
lo contra sua língua, mas Carrick afastou-se dela
segurando seus pulsos, fazendo com que ela ficasse
deitada na cama, o coração pulsando com força em
seu peito.

Sentado sobre seus próprios calcanhares as


caricias dele subiram por suas coxas, as mãos
deslizando por suas pernas nuas. O toque dele
trouxe tremores a seu corpo, calafrios eriçaram os
cabelos mais finos na parte de trás de sua nuca.

Os dedos dele tocaram o alto de suas coxas,


onde suas pernas se uniam, deslizando pelo
triangulo minúsculo de seda. O fôlego dela ficou
contido em sua garganta, enquanto ele a explorava
mesmo por cima daquela única barreira, o prazer
nublando seus sentidos.

O toque dele era lento e delicado, as pontas


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pressionando toda a extensão de sua carne sensível.


Calor acumulou-se ali, e quando Carrick deslizou
sua calcinha lentamente para baixo de suas pernas,
o ar gelado da noite tocou a umidade em suas
pernas.

- Abra mais suas pernas pra mim – ordenou


Carrick.

A voz dele estava carregada, seu sotaque mais


pronunciado, um fiapo de insegurança deslizou por
seu corpo, deixando-a de repente muito ciente de
sua posição. O aperto dele em suas panturrilhas
pareceu se intensificar enquanto o olhar dele
deslizava por seu corpo até pousar exatamente na
parte mais sensível de seu corpo.

- Deixe-me vela, deixe-me olhar pra você...

Até mesmo o som de sua voz a inebriava, a


expressão dele tornou-se dolorosa os olhos mais
brilhantes, seu peito subindo e descendo
descompassada mente.

- Eu queria poder toca-la – disse ele sua voz


soando completamente repleta de desejos –
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Exatamente aqui, onde você está completamente


molhada pra mim.

Os dedos dele deslizaram por suas coxas agora


mais ousado, e Nina notou aqueles que ainda
continuavam enfaixados por causa dos ferimentos
que seu tio havia lhe infligido. Ela esperava que ele
a tocasse também e não se importava com aquilo,
mas as mãos de Carrick simplesmente continuava
se afastando do centro de seu corpo.

- Carrick por favor – pediu ela embora não


tivesse muita certeza sobre o que estava pedindo.
Havia uma ânsia crescendo dentro dela, um desejo
que parecia incontrolável.

- Shhh Nina... – respondeu ele, beijando-lhe os


lábios com carinho – Eu vou cuidar de você...

As palavras dela tão carinhosas fizeram com


que seu coração pesasse dentro de seu peito, as
mãos dele voltaram a deslizar sobre sua coxa,
enquanto ela abria ambas ainda mais se
posicionando no meio delas. Por um momento os
olhos dele se encontraram com os seus, duas gemas

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esmeraldas brilhando na escuridão, um sorrido torto


brincou em seus lábios vermelhos, e então eles
estavam no meio de suas coxas.

Ele beijou seu sexo com volúpia a língua


deslizando por sua fenda molhada, o grito dela
ficou preso em sua garganta, se transformando num
gemido sem palavras. Arqueando as costas Nina
sentiu espasmos percorrerem seu corpo, as pernas
tremulas estavam seguras pelo aperto de Carrick a
língua dele deslizando com frenesi em sua fenda.

- Tão molhada – disse ele, erguendo-se para


olhar em seu rosto os lábios brilhando com sua
umidade – Apertada, completamente perfeita.

Ele voltou a chupa-la, seus lábios segurando o


pequeno feixe de nervos atormentado que era seu
clitóris, incapaz de conter o prazer que se construía
dentro dela, Nina deslizou seus dedos pelo cabelo
rebelde dele, que fazia cócegas em sua pélvis,
enquanto seu quadril acompanhava o ritmo
frenético de sua língua.

Carrick chupou-a deslizando a língua quente e

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molhada contra sua carne sensível, o calor se


acumulou em suas bochechas, o desejo correndo
como fogo liquido em suas veias, quando ela sentiu
ele rodear seu clitóris estimulando-a até a loucura.
A língua frenética dele deslizou ainda mais para
baixo, a ponta penetrando-a em sua entrada então
novamente ele repetiu o processo, até que os
gemidos dela se tornaram abafados as pernas
tremulas, e uma camada fina de suor cobrir seu
corpo.

- Carrick – gemeu ela incapaz de continuar a


pensar com clareza, ela queria senti-lo dentro dela,
seu sexo pulsava com uma ausência estranha que
ela nunca havia sentido, a língua dele deslizou por
sua fenda, então seus lábios rodearam seu clitóris
chupando agora mais força, e então ela deslizou
para fora do abismo do prazer.

Calor espalhou-se por seu corpo, as ondas


atingindo seu cérebro uma após a outra, o orgasmo
explodiu em seu cérebro forçando-a a fechar os
olhos, o quadril dela se movimentava contra os
lábios dele, que continuaram atormentando seu
corpo uma lambida após a outra.
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Nina sentiu o corpo dela cair contra o colchão


com exaustão, os batimentos em seu coração eram
como um tambor, podia sentir a pulsação forte em
sua garganta, enquanto lentamente a sua frente o
mundo entrava em foco.

Em silêncio ela esperou que a onda de


arrependimento e vergonha a envolvesse, mas
quando os olhos dela recaíram sobre Carrick tudo o
que ela sentia era uma proximidade, assustadora
que deixava um nó gigante em sua garganta.

Ela ainda podia sentir o toque dele sobre sua


pele, uma lembrança que tinha certeza que nunca
seria capaz de esquecer, quando ele levantou seu
rosto, com cachos desarrumados lábios inchados e
molhados do seu próprio prazer, ela teve certeza
que nunca ele estivera mais bonito.

Queria encontrar palavras para lhe dizer


naquele momento, qualquer coisa que pudesse
quebrar o silêncio que se estendia entre eles, agora
que os gemidos dela lentamente haviam
desaparecido de sua garganta, tudo parecia
extremamente silencioso.
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Olhando ainda em seus olhos, Carrick


depositou um beijo no alto de sua coxas, nada mais
do que simples encostar de sua boca tão leve
quanto as asas de um pássaro, o gesto deixou-a
emocionada e quando ele se preparou para partir
algo pareceu se quebrar dentro dela, erguendo o
braço segurou-o pelo cós de sua calça, fazendo com
que a atenção dele voltasse para ela.

- Fique aqui, só essa noite.

Mesmo com a escuridão ao redor conseguiu


enxergar a dúvida pairar sobre sua expressão, mas
logo aquilo pareceu desapareceu como se apenas
uma sombra tivesse encoberto sua mente.

Em silêncio ela deslizou para o outro lado da


cama, dando-lhe espaço com cuidado ele deitou-se
ao lado dele, encaixando suas costas contra seu
tórax. A respiração dele era tranquila contra sua
nuca, e se ela se concentrasse o suficiente quase
podia sentir contra suas costas o ritmo suave de seu
coração.

Ele não a abraçou, mas sua proximidade foi o

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suficiente para que ela logo se acalmasse, havia


uma tranquilidade estranha em sua mente como se
por algum motivo que ela não era capaz de
compreender todos seus medos e ansiedades
tivessem sidos afastados. Dessa forma ela nem ao
menos percebeu quando deslizou para um sono
tranquilo.

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Capítulo Vinte e Sete


A luz se infiltrou sobre suas pálpebras tingindo
seu mundo de laranja, mesmo com olhos fechados
ela conseguiu distinguir a luz quase ofuscante da
manhã lá fora. Nina acordou sentindo-se pela
primeira vez em muito tempo completamente
descansada. Suas pernas estavam levemente
doloridas, como se ela tivesse pratico algum tipo de
exercício, mas sua mente parecia mais centrada
seus pensamentos não eram mais um mar caótico.

A mão de Carrick repousava tranquilamente


contra seu tronco, os dedos próximos a seu seio, a
respiração dele era compassada contra sua nuca as
pernas deles emaranhadas uma na outra numa
confusão gostosa na cama.

Uma parte dela queria continuar ali


simplesmente deitada ignorando todos seus
problemas e simplesmente aproveitar apenas por
mais uma hora que fosse aquele momento de
tranquilidade, mas ela sabia que aquele pequeno
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momento roubado não iria ser o suficiente para


resolver seus problemas, e embora tudo tivesse
parecido mágico e delicioso na noite passada eles
ainda continuavam ali, espreitando-a como se
fossem um predador preparando seu bote.

Com cuidado ela deslizou a mão de Carrick


sobre seu corpo, perdido em seu sono agitado ele
simplesmente virou-se encontrando uma melhor
posição enterrando seu rosto ainda mais contra a
bagunça que eles fizeram na noite anterior nos
travesseiros.

Os olhos dela percorreram as roupas espalhadas


que estavam aos pés da cama, Nina vestiu-se com
tranquilidade deslizando suas roupas intimas de
volta para seu corpo, assim como a confortável
regata por sobre seus ombros.

O sol se infiltrava pela janela, caminhando


naquela direção ela deixou que a luz matinal
esquentasse seu corpo, lá fora no quintal
abandonado os pássaros faziam uma algazarra
audível, o trinado deles enchendo o céu. Não tinha
muita noção a respeito do tempo, mas julgava pelo
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silêncio que talvez a manhã ainda estivesse em seu


início.

O estômago dela reclamou, mas enquanto


sentava-se no velho banco ao lado da janela, ela
decidiu que estava com preguiça demais para
descer até a cozinha em busca de algo para comer.

De certa forma ela ainda esperava que a culpa


ou mesmo o remorso a invadissem, mas quando sua
mente lhe mostrou as lembranças da noite anterior,
seu corpo tremeu com um misto de desejo e
antecipação, como se não pudesse esperar para que
algo como aquilo voltasse a acontecer.

Deitado na cama, dormindo a sono solto


Carrick parecia totalmente diferente agora. A luz
do sol banhava seu tronco, deixando a mostra sua
pele pálida os hematomas que se tornavam
esverdeados desaparecendo no alto de suas
costelas. Os olhos dele estavam fechados os longos
cílios negros fazendo sombra contra o alto de suas
bochechas, os cachos eram uma mistura
avermelhada contra os lençóis desgastados.

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Ele parecia inofensivo daquela forma, mais


jovem, completamente do homem que havia a
levado ao ápice sexual naquela cama, ou o
assassino que matara Han com as próprias mãos.

Haviam muitas camadas nele, fachadas


cuidadosamente trabalhadas, uma após a outra
como se ele fosse um camaleão mudando sempre
suas cores para desaparecer no ambiente ao seu
redor.

Ela não o conhecia. E havia uma parte dela que


sempre estaria desconfiada dele após sua traição,
mas a atração que sentia por ele simplesmente não
se importava com isso, e depois da noite passada
Nina sabia que aquele era o tipo de sentimento que
ela não podia mais continuar a ignorar.

Nada do que ela planejara quando havia fugido


da casa de seu tio, se concretizara, agora enquanto
olhava para trás sentia-se como uma garota tola e
ingênua que realmente acreditara que poderia
decidir seu próprio futuro. Ela jamais imaginara
que de alguma forma acabaria desenvolvendo
sentimentos por Carrick, Ainda não era capaz de
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compreender a extensão completa deles, mas sabia


que eles estavam ali espreitando um canto de seu
coração.

Os pensamentos foram afastados para o fundo


de sua mente, quando ela notou os movimentos de
Carrick sobre a cama, lentamente ele se remexeu
piscando os olhos, enquanto sentava-se exatamente
onde estava, o cabelo bagunçado caindo em volta
de seus ombros.

O coração de Nina rangeu em seu peito, e ela


precisou conter o desejo de deslizar novamente ao
lado dele, aspirando seu aroma de chuva, beijando
o arco pálido de seu pescoço. A primeira vez que
colocara seus olhos sobre ele a única coisa que
havia sido capaz de desejar era que ele fosse um
meio para que ela pudesse alcançar seus objetivos.
Agora havia uma parte dela que não conseguia
imaginar afastando-se dele, e aquilo a assustava
profundamente.

- Faz tempo que você acordou?

- Na verdade não – respondeu ela com um

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simples aceno de cabeça – Eu apenas precisava de


um tempo para pensar.

Os olhos verdes dele deslizaram sobre ela de


maneira quase carinhosa, não houve comentários
sobre a noite anterior e ela sentiu-se grata por isso,
de certa forma agora que o sol brilhava no céu tudo
parecia tudo o que acontecera entre eles parecia ter
sido há muito tempo atrás, e no momento eles
precisavam se preocupar com o presente.

Ainda com movimentos mais lentos, Carrick


deslizou para fora da cama, parado aos pés da cama
ele vestiu novamente sua regata sobre seu corpo, a
blusa escondendo a tatuagem de trevo de quatro
folhas. Aquilo mais do que tudo mostrou a ela o
quão próximo eles estavam. Uma cumplicidade
silenciosa que ela nunca fora capaz de dividir com
ninguém.

- Você me disse que encontraria resposta sobre


minha mãe... – disse Nina tentando focar sua linha
de raciocínio enquanto com seus braços ela
abraçava uma de suas pernas levantadas
descansando o queixo em seu joelho.
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- Não tenho certeza se realmente as respostas


que encontrei são as corretas... Ainda preciso me
certificar...

- Você disse a mesma coisa ontem à noite


Carrick, por favor, não me faça me arrepender
novamente de ter confiado em você.

Os olhos verdes dele pousaram sobre ela a


sombra de algo que ela não conseguia reconhecer
em seu olhar, talvez fosse preocupação mesclada
com algo mais, mas logo ele simplesmente afastou
esse sentimento deixando que ela enxergasse
apenas seu brilho racional.

- Você conseguiu conversar com Jerry ontem à


noite, antes que o capanga de Ivan tivesse me
encontrado, o que foi que ele descobriu?

- Jerry não tinha certeza das informações que


conseguiu – respondeu Carrick sentando-se na
cama, os dedos delgados cruzando os cabelos
revoltos, uma mania que ela já notara que ele fazia
quando estava nervoso – Na maior parte do tempo,
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ele queria saber por que eu estava pesquisando


sobre algo tão antigo.

- Você acha que ele pode...

- Não, ele é de confiança, na maior parte do


tempo tenta se manter longe de problemas com o
pessoal mais alto da máfia. Está mais preocupado
em sobreviver...

- E você não está? – perguntou Nina incapaz de


conter sua curiosidade.

- De qualquer jeito – respondeu Carrick,


desviando o olhar a ignorando – Ele disse que a
mulher que eu estava procurando batia com a
descrição de uma tal de Abigail Todd, ela
costumava trabalhar numa das casas noturnas da
Bratva.

- O nome da minha mãe não era Abigail, era


Lara... – respondeu Nina embora um sentimento
estranho estivesse rastejando no fundo de sua
mente.

- Eu sei, mas por mais que eu procurasse


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simplesmente não consegui encontrar ninguém com


o nome que você me deu. Legalmente falando é
como se sua mãe não existisse.

Um calafrio agourento deslizou pelo pescoço de


Nina, enquanto ela tentava puxar em suas
memórias as lembranças mais antigas de sua mãe.
Tudo ainda estava lá exatamente como sempre, o
mesmo aroma de café ao redor do pequeno cômodo
da cozinha, os cabelos cheirosos e cacheados ao
redor de seu rosto, enquanto ela lhe abraçava, mas
nada daquilo poderia ajudá-la a descobrir o
paradeiro dela.

- Você acha que pode existir uma possibilidade


dessa mulher, dessa tal Abigail ser minha mãe? –
perguntou ela incapaz de esconder a incredulidade
em sua voz.

- Abigail Todd era uma das mulheres que


costumavam atender Yuri. É por isso que Jerry
sabia a seu respeito, quando um dos homens mais
influentes se afeiçoam a alguém de fora da família,
a notícia costuma se espalhar rápido.

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A imagem de Yuri, seu pai piscou em sua


mente, seus olhos claros num azul quase
translúcidos. Nas poucas vezes em que viera visitá-
las o olhar dele estava sempre pousado em sua mãe,
seguindo-a em todo momento como se ele
simplesmente não fosse capaz de desviar sua
atenção. Na maior parte do tempo, a garota ficava
feliz quando ele ia embora.

- O que mais você não está me contando


Carrick?

A voz dela soou controlada, embora ela não se


sentisse dessa maneira os olhos dele voltaram a se
concentrar em seu rosto, quase pesarosos. Ao
menos dessa vez ele não tentou dissuadi-la ou
mesmo inventar alguma desculpa, quando ele
respondeu sua voz não passava de um murmúrio
quase inaudível no quarto:

- Abigail Todd desapareceu, simples assim.


Tentei procurar qualquer informação que pudesse
encontrar a seu respeito, mas tudo o que as pessoas
repetiam eram um boato...

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- Qual boato?

- Dizem que a Bratva a matou, logo depois da


morte de Yuri. Parece que eles não estavam nem
um pouco satisfeitos com o envolvimento dos dois.

- Você acha que essa mulher Abigail, pode ser


minha mãe? – perguntou ela novamente, uma dor
incômoda parecendo oprimir os movimentos em
seu peito.

- Acho que existe uma possibilidade, mas eu


realmente não posso afirmar nada, é por isso que eu
não queria lhe contar.

O silêncio entre eles pareceu aumentar, agora


foi a vez dela desviar seu olhar incapaz de sustentar
a expressão de Carrick, deixou que seus olhos
vagassem pelo quintal, as folhas nas copas das
árvores brilhando num tom de verde lustroso como
o fundo de uma garrafa.

- Existe uma maneira, caso você realmente


queira descobrir algo sobre Abigail Todd, um
último lugar que eu ainda não verifiquei. – disse
Carrick, sua voz controlada atraindo sua atenção
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novamente

Antes mesmo que ele respondesse Nina soube


que de alguma forma ela não iria gostar daquela
resposta, um desejo de simplesmente não continuar
e fingir que aquela conversa nunca existira cruzou
sua mente, com esforço ela afastou esses
pensamentos. Chegara muito longe para
simplesmente desistir agora por causa de sua
covardia.

- A cidade guarda uma lista de todas as pessoas


mortas que passaram pelo IML. Os atestados de
óbitos são arquivados na delegacia, quando suas
mortes estão relacionadas a algum tipo de crime.

- Você acredita que foi isso o que aconteceu? –


perguntou Nina um gosto estranho e desagradável
se espalhando pelo céu de sua boca – Acredita que
ela possa estar morta?

- Ela estava envolvida com a máfia, de alguma


maneira isso sempre é possível. De qualquer forma
você pode descobrir dessa maneira se Abigail e sua
mãe são a mesma pessoa.

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Nina não queria descobrir aquilo, uma parte


dela desejava simplesmente continuar ali sentada
naquele quarto, apreciando uma manhã simples de
verão. De repente seu coração pareceu se expandir
com uma saudade avassaladora, queria voltar para
casa mas não tinha mais certeza de onde esse lugar
ficava.

- Se você quiser, posso levá-la até lá.

Os olhos verdes de Carrick pousaram sobre ela,


havia uma ternura e uma compreensão neles que
deixou sua garganta apertada. Concordou com um
simples aceno de cabeça, porque naquele momento
não conseguia confiar em si mesma para responder,
se deixasse que as palavras escapassem de seus
lábios naquele momento, tinha certeza que cairia
num pranto longo e doloroso.

***

Como prometido Carrick a levou até uma das


delegacias mais próximas, onde ela poderia
verificar a lista de óbitos do necrotério, e antigos
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arquivos. Agarrada em suas costas em cima de uma


moto, ela mal conseguiu prestar atenção ao mundo
ao seu redor. O capacete abafava todos os sons,
deixando seus pensamentos mais estridentes dentro
de sua cabeça. As perguntas e as dúvidas haviam
retornado agora com força total, deixando com que
a ansiedade deslizasse por seu corpo como uma
segunda pele.

A viagem passou rápido demais, e antes mesmo


que ela pudesse sentir-se preparada eles estavam
diante das portas da delegacia. O antigo prédio
havia sido completamente reformado os tijolos a
vista pintados numa cor enfadonha de cinza escuro.
Do outro lado da rua Nina, tentou controlar a
respiração que parecia escassa em seus pulmões, as
palmas de suas mãos suando copiosamente.

- Vá até a entrada – disse Carrick, depois de


deslizar seu capacete para fora de sua cabeça, os
cabelos castanhos emaranhados sobre suas orelhas
– Diga a um dos guardas que você quer acessar os
arquivos dos antigos atestados de óbitos. A
consulta é pública, portanto ele não irá criar muito
caso. Tente não parecer muito assustada, você não
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está fazendo nada de mais. Eu iria com você, mas


no momento, já estou correndo certo risco de ficar
tão próximo assim de policiais no geral.

Nina concordou em silêncio, as palavras


pareciam simplesmente terem desaparecido de sua
boca. Sentia-se patética por temer aquele momento,
enquanto desejava que Carrick pudesse estar ao seu
lado. Ela mesma que havia iniciado tudo aquilo,
dizendo a si mesma que precisava de respostas,
agora que estava tão próxima de obtê-las
simplesmente não podia se dar ao luxo de se
acovardar.

- Isso não deve demorar, estarei aqui te


esperando. E um último conselho, as chances são
pequenas, mas cuidado lá dentro com alguns
policiais, principalmente detetives, alguns deles
costumam estar na lista de pagamento da máfia.

O coração dela ribombou em seu peito, com


pernas trêmulas, ela atravessou a rua, ao chegar do
outro lado lançou um olhar sobre os ombros
encontrando a figura de Carrick. Ao seu redor o
centro da cidade, era dominado pelo constante
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movimento de um dia da semana, na calçada às


pessoas transitavam com passos apressados
indiferentes a sua presença. Ela deixou que seu
olhar se prolongasse um pouco mais sobre ele,
absorvendo em sua imagem a única coisa constante
e real em seu mundo naquele momento.

Os passos dela eram curtos enquanto ela subia,


o pequeno lance de escadas, em direção a
delegacia. Lá dentro o ambiente escuro e gelado
graças ao barulhento ar-condicionado, as paredes
pintadas também num tom de cinza mais claro
pareciam quase mórbidas, ali longe do alcance do
sol. O lugar era simples, e parecia muito limpo, o
cheiro de desinfetante fazendo com que seu nariz
coçasse.

Nina caminhou até o antiquado balcão de


madeira, o toque estridente de um telefone tocou
em algum lugar assustando-a deixando os
batimentos de seu coração mais acentuados.
Desejou em silêncio que o guarda sentado a cadeira
a sua frente não notasse esse detalhe.

O homem do outro lado do balcão mal pareceu


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notar sua presença. O uniforme desbotado azul


escuro, parecia um pouco apertado em sua figura
roliça. O rosto dele era comum, testa alta nariz
largo, uma pele pálida avermelhada que parecia
estar sofrendo com as altas temperaturas do verão,
o cabelo grisalho já começava a faltar próximo das
têmporas. Ele parecia entretido enquanto mexia em
seu celular, e ao ver aquilo, Nina apenas sentiu a
ansiedade crescer em seu peito. Agora que estava lá
dentro não tinha mais tanta certeza de que vir até
aquele lugar tivesse sido uma boa ideia.

- Com licença – disse ela tentando atrair sua


atenção, detestando como sua voz soava frágil até
mesmo para seus ouvidos – Eu gostaria de
consultar os arquivos de óbitos.

- Qual seu nome? – perguntou o guarda sem


nem mesmo erguer os olhos em sua direção.

- Todd. Joane – a mentira veio fácil em sua


língua, o nome aleatório escolhido em sua mente.
Torceu para que o homem do outro lado não lhe
exigisse nenhum tipo de documento para
comprovar realmente sua identidade.
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O guarda anotou seu nome, teclando


pausadamente sobre um teclado de computador que
parecia já ter visto dias melhores. Levantando-se da
cadeira, ele saiu de trás do balcão, abrindo uma
porta que ficava ao lado do corredor enquanto lhe
dizia.

- Pode fazer a consulta pública aqui – informou


ele, enquanto pela primeira vez olhava em sua
direção. – Se precisar anotar alguma informação
faça manualmente, nossa impressora está quebrada.

Nina concordou com um aceno de cabeça,


enquanto suas mãos cavavam mais fundo nas alças
de sua mochila. O guarda com um olhar entediado
em seu rosto, voltou para trás do balcão, sua
atenção novamente direcionada para o celular sobre
sua mesa.

A pequena sala onde ela entrou era mais estreita


e abafada, as altas janelas do outro lado da parede
estavam fechadas, parecia que ali dentro o ar
condicionado não estava funcionando. As paredes
ali ao contrário do resto da delegacia não tinham
sido pintadas, e ainda exibiam um tom pálido de
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branco encardido. Caixas de papelão estavam


jogadas num canto mais afastado, uma pilha de
papeis entulhados ali dentro já começavam a exibir
suas bordas amareladas, o cheiro de pó quase
impregnava todo o cômodo.

Havia uma pequena mesa do tipo escolar,


encostada na parede, um velho computador ligado
exibia uma tela de iniciação padrão. Com dedos
trêmulos Nina puxou a cadeira sentando-se
enquanto colocava sua mochila próxima a seus pés.

A sua frente não havia muitos ícones na antiga


tela de tubo, ela clicou no único disponível, o
antigo computador trabalhando audivelmente
enquanto a ampulheta pequenina ocupava toda sua
visão.

Um simples arquivo se abriu, mostrando um


campo para ser preenchido com um nome. Os olhos
dela se desviaram para a porta que ela esquecera
deixando aberta. Embora estivesse sozinha ali
dentro, não queria que ninguém pudesse
interrompê-la num momento como aquele.

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Desejava que Carrick estivesse ali a seu lado.


Talvez dessa forma o desespero que ela sentia
devorar seu coração pudesse ao menos ser um
pouco contido.

Os dedos dela estavam gélidos quando os


deslizou sobre as teclas digitando o nome de sua
mãe, e o sobrenome de seu pai, enquanto torcia
profundamente para que tudo aquilo não passasse
de um tremendo mal-entendido, uma história antiga
e mal contada, um boato infundado.

O coração dela era um tambor ressoante em sua


caixa torácica enquanto ela esperava o antigo
computador processar a informação que ela
precisava. O resultado de sua busca, não encontrou
nada no sistema. Ali não havia nenhuma
informação a respeito de Lara Serov.

O alívio foi tão intenso, que por um momento


ela sentiu como se seu corpo estivesse ainda mais
mole, embora a estranha sensação ruim de
presságio ainda estivesse pairando sobre sua
consciência. Com pressa digitou o nome de Abigail
Todd no sistema, e esperou que ele lhe entregasse a
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resposta que ela desejava, quando informações


apareceram no alto da tela Nina sentiu como se o
mundo tivesse simplesmente parado ao seu redor.

Ela clicou sobre o nome daquela mulher


estranha, mas o rosto fotografado numa foto
policial antiga de uma ficha criminal era um que ela
conhecia muito bem e amava profundamente.

Havia uma parte dela que simplesmente queria


fechar tudo aquilo, e sair daquele lugar correndo
esquecendo todas aquelas respostas que um dia, ela
desejara tanto encontrar. Na tela o rosto de sua
mãe, mais jovem que o dela, era fotografado
enquanto a descrição do boletim de ocorrência
corria a sua frente. As palavras ‘importunação de
vias públicas’ e ‘prostituição’ se gravaram diante
de seus olhos. A informação que Carrick lhe dissera
que sua mãe havia sido uma das garotas de
programa da Bratva estava realmente certa.

Bile arranhou sua garganta deixando um gosto


amargo em sua língua, os dedos dela continuaram
pressionando o cursor do mouse, enquanto seus
olhos constantemente se desviavam para a foto de
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sua mãe na tela. Era tão difícil associar aquela


imagem, a mulher de suas lembranças, que
costumava lhe cozinhar bolos de baunilha. Como
ela podia não saber sobre aquilo? O que mais
poderia estar escondido atrás do passado de sua
mãe?

A próxima informação era um documento


fotocopiado, um atestado de óbito de oito anos trás,
com o nome de Abigail Todd. Embora estivesse
diante dela, Nina não conseguia acreditar naquelas
palavras diante de seus olhos, como se ela tivesse
lendo sobre outra pessoa. Dez anos atrás ....
Exatamente dois anos após seu tio aparecer na
frente de sua casa para buscá-la. O ano em que as
notícias a respeito de sua mãe começaram a ficar
cada vez mais escassas.

As mãos dela estavam tremendo sobre o mouse,


a seta na tela acompanhando seu tremor, os cantos
de sua visão estavam ligeiramente borrados, a
saliva havia se acumulado em sua boca, o coração
pesado como uma pedra em seu peito.

A verdade estava diante dela, em preto e


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branco, ela leu todo o documento do atestado de


óbito embora de verdade não tivesse conseguindo
manter aquelas informações por completo em sua
mente. O dia de sua morte, assim como o mês
escaparam de sua atenção, sendo deixados em
algum canto de sua mente. Toda vez que seus olhos
se cruzavam com o nome ‘Abigail’, ela tinha
dificuldade em associá-lo com sua mãe. Parecia
que estava lendo sobre uma estranha, um parente
distante. Mas, um detalhe não passou despercebido
por ela, enquanto lentamente a compreensão
parecia se infiltrar por seu cérebro.

O corpo de sua mãe havia sido encontrado perto


das docas, a causa de sua morte era evidente, um
talho simples na garganta. Ler aquilo deixou que
calafrios escorreram por suas costas, e ela foi
obrigada a fechar os olhos com força, tentando
manter o último fiapo de compostura que lhe
restava.

Os dedos dela subiram pela tela deixando para


trás o mouse, tocando na imagem impressa ali da
fotografia da juventude de sua mãe. Havia tantas
coisas que ela ainda não sabia a respeito daquela
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mulher, tantas perguntas sem respostas, tantas


dúvidas pairando em sua cabeça, mas naquele
momento nada daquilo parecia ser importante. A
verdade diante dela era mais pesada e brutal,
esmagando todos os outros sentimentos em seu
peito, deixando para trás apenas uma ausência que
parecia quase dolorosa.

Uma solitária lágrima escorreu por seu rosto,


caindo de seu queixo, Nina a limpou por reflexo
enquanto fechava o programa, o antiquado arquivo
demorando a ser encerrado. Viera até ali encontrar
respostas e agora que as tinha sentia-se como se no
final das contas não tivesse conseguido nada.

O mundo inteiro parecia por um momento ter


perdido completamente o sentido.

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Capítulo Vinte e Oito


Quando Nina saiu da delegacia, o sol havia
deslizado mais para o centro do céu, os raios
dourados haviam esquentado o ar, fazendo com que
as ruas brilhassem num tom claro demais,
obrigando-a a semicerrar seus olhos.

Seu corpo pareceu protestar enquanto ela


deixaria para trás o ar gélido do ar-condicionado,
atrás do balcão o guarda que a atendera continuava
muito entretido com seu próprio celular. Com
passos quase mecânicos ela desceu as escadas, sua
mochila pesando em suas costas fazendo com que o
suor grudasse em suas camisetas. Os olhos dela
focalizaram Carrick do outro lado da rua,
exatamente onde ele prometera que a estaria
esperando.

Ao seu redor tudo parecia o mesmo, mas de


alguma ela sentia-se deslocada de tudo a cabeça
distante os pensamentos eram silenciosos quase
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ausentes. Concentrou-se na figura de Carrick e


quando parou a sua frente as palavras simplesmente
pareceram formar um bolo em sua língua,
pressionando-a para baixo.

- Nina... Você está bem? – perguntou ele, o


timbre de sua voz sem esconder sua preocupação –
Está pálida.

Ela estava bem? Não sabia dizer, pensou no que


acabara de descobrir dentro das portas fechadas
daquela delegacia, a imagem do atestado de óbito
de sua mãe impressa de maneira muito intensa sob
suas pálpebras. Havia uma parte dela que não
queria acreditar naquilo, um lugar em seus
pensamentos que buscava encontrar uma outra
resposta, outro resultado para sua busca. Qualquer
outra coisa, que tirasse naquele momento o
entorpecimento que ela sentia em seu peito.

- Nina?

Os olhos de Carrick estavam presos em seu


rosto, ela nem ao menos havia sentido os dedos
dele deslizarem por seu braço, firmando-a contra o

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chão. A cabeça estava muito leve sobre seu


pescoço, o foco dele completamente desligado.
Sabia que ele estava esperando uma resposta
coerente dela, e preciso se esforçar muito para
organizar seus pensamentos em concreto.

- Estou bem eu... só. Você cumpriu sua parte no


nosso acordo, eu encontrei as respostas sobre
minha mãe, posso cumprir minha parte agora.

- O que você descobriu sobre sua mãe?

Ela sabia que ele não estava perguntando aquilo


de maneira leviana, a preocupação ainda estava
estampada em seus olhos verdes, mesmo assim
doeu da mesma maneira. A raiva sem nenhum
sentindo percorreu seu sangue, deixando com o
coração acelerado em seu peito. Se ela nunca
tivesse o libertado, nunca saído da casa de seu tio
então ela nunca teria de lidar com algo como aquilo
que descobrira.

A parte racional dela sabia que aquilo não fazia


sentindo algum, mas naquele momento ela não
conseguia se importar em ser racional, ou coerente,

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a tristeza parecia ter se infiltrado sobre sua pele,


paralisando-a por dentro, como se lentamente ela
estivesse se transformando em pedra.

- Não quero, falar sobre isso. Não agora, não


com você.

Carrick não conseguiu esconder o espanto em


seus olhos, o rosto sempre aberto parecendo
confuso quase incrédulo. Os dedos dele deslizaram
para fora de seu braço, como se ele tivesse de
repente se queimado.

Ela imediatamente sentiu falta do toque dele, do


silencioso apoio que nem ao menos havia se dado
conta do quanto precisara até aquele momento. Mas
não conseguia se aproximar dele, naquele instante
nem ao menos era capaz de verbalizar a verdade
que ela tanto havia procurado para fora de sua
língua. Como se o simples fato de conte-la dentro
dela pudesse fazer com que aquilo não fosse real.

- Você disse que precisava de minha ajuda, para


vender a informação a respeito do meu noivado
com Ivan. Podemos fazer isso agora.

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- Não precisamos fazer isso. Você parece.

- Eu quero acabar o mais rápido com isso –


disse ela, o som de sua própria voz tornando-se
duro até mesmo a seus ouvidos.

Ela desviou seus olhos, incapaz de continuar a


suportar a expressão confusa de Carrick. Sabia que
estava sendo completamente incoerente, e até
mesmo infantil, mas agora ele era a única pessoa
próxima dela, e ela sentia-se machucada demais sua
própria dor impossível de ser controlada.

Sem dizer uma única palavra Carrick lhe


entregou o capacete. O objeto abafando as cores e o
som do mundo lá de fora, subindo em cima da moto
ela deixou que seus dedos se agarrassem as costas
da blusa dele com mais força que o necessário, o
som do ronco da moto preencheu seus ouvidos o
mundo vibrando embaixo dela

Eles deslizaram pelo transito da cidade em alta


velocidade, os carros movimentando o ar ao redor
deles, mas Nina sentia-se alheia aquilo tudo.
Continuou de olhos abertos, mas se fosse

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plenamente sincera consigo mesma não era capaz


de enxergar nada diante dela naquele momento.

Não sabia dizer quanto tempo eles haviam


passado dirigindo, mas para ela a impressão que
tinha era de que num piscar de olhos eles haviam
chegado em seu destino. Sem nenhuma pressa,
Carrick estacionou a moto próximo à esquina, perto
de um hidrante. Deslizando para fora de sua
cabeça, o vento acariciou seu cabelo bagunçado
quando Nina reconheceu as charmosas e estreitas
ruas do bairro italiano.

Haviam um acumulo maior de pessoas ali ao


redor agora nas calçadas, as portas dos restaurantes
estavam abertas, o vozerio das conversas e o cheiro
delicioso de comida alcançando seu estômago.
Embora ela não sentisse fome.

Sem dizer uma única palavra, Carrick


atravessou a rua com ela a seu encalço, eles
caminharam até a imensa e requintada fachada de
um restaurante italiano. Carros importados estavam
parados em frente a ele, e um homem de terno se
postava próximo das escadas. Um calafrio escorreu
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por suas costas. Nina não queria entrar ali dentro,


ou mesmo conversar com mais ninguém que tivesse
assuntos com a máfia, mas havia dado sua palavra a
Carrick, e depois de tudo o que havia acontecido
aquilo era o mínimo que ela podia fazer.

Tentou conter a surpresa, quando Carrick


passou em frente ao restaurante, virando ao lado
dele, entrando num corredor estreito e mal
iluminado. Ali a entrada dos fundos do restaurante
era visível, o vapor de fumaça saindo pelas
chaminés, enquanto um homem de terno cinza
fumando um cigarro estava parada em frente a uma
porta de ferro.

- Ora vejam só – disse ele, quando seus olhos


amendoados pousaram sobre Carrick – o gato
trouxe um duende até nós.

- Preciso falar com Tiziano, Enrico.

- O chefe está ocupado. Tem sido uma semana


bem agitada se quer saber minha opinião –
respondeu o homem, deixando que uma lufada de
fumaça agridoce escapasse de seus lábios – Quem é

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sua amiga?

- Ninguém com quem você precise se preocupar


– respondeu Carrick, o tom de sua voz tornando-se
mais gélido.

- Acho que acertei um ponto sensível –


respondeu o homem de terno cinza, os olhos dele
pousando sobre Nina um brilho divertido
permeando eles – Seu namorado é sensível.

Nina não respondeu, cruzando os braços em


frente a seu corpo, ela desviou o rosto do homem
diante dela, permanecendo em silêncio. Enrico era
alto, a pele morena bronzeada de um jeito saudável.
Os abundantes cabelos castanhos possuíam
entremeados aos fios prateados. As pequenas rugas
ao redor de seus olhos eram mais acentuadas
enquanto ela sorria abertamente. Ele parecia
receptivo com seu sotaque italiano carregado e voz
de barítono. Quase inofensivo, e isso foi o
suficiente para que ela soubesse que precisava
tomar cuidado com ele.

- Ligue para Tiziano – insistiu Carrick - Eu

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tenho uma informação que quero vender, e acredite


em mim ele vai se interessa por isso.

- Quero ajudá-lo Duende a ganhar a vida, mas


como eu disse o chefe está ocupado. Vai precisar
mais do que isso pra fazer com que eu me arrisque
a ligar para ele nesse momento.

- Diga pro seu chefe que tenho notícias sobre a


Bratva. E ele vai querer saber disso em primeira
mão.

Nina reparou que aquilo havia atraído a atenção


sobre Enrico, na forma em que uma de suas
sobrancelhas se ergueram em questionamento. O
cigarro para ter sido esquecido entre a ponte de
seus dedos. Ele pareceu ponderar por um momento
o que Carrick lhe dissera, os pensamentos correndo
de maneira selvagem de trás de seus olhos
amendoados. Por fim com um suspiro cansado, ele
jogou o que sobrara do cigarro no chão, esmagando
a ponta com seu sapato de marca, enquanto se
afastava celular em punho dizendo:

- Espere por mim aqui.

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Nina observou as costas de Enrico se afastar,


enquanto ele caminhava a passos apressados até o
final daquele pequeno corredor, parando próximo
ao muro. Sua voa soou abafada e distante, enquanto
ele falava num rápido italiano com alguém sem que
ela pudesse compreender uma única palavra que
fosse.

- Acha que estamos seguros? – perguntou ela


para Carrick, os olhos desviando de maneira
preocupada em sua direção – Podemos confiar nos
italianos?

- Não confio em nenhum deles – respondeu


Carrick num sussurro baixo – Mas, os italianos são
os mais interessados a respeito dos assuntos da
Bratva nesse momento, e entre eles Tiziano é
aquele que paga de qualquer forma pelas
informações.

As palavras dele não lhe trouxeram nem um


pouco de tranquilidade. Em sua cabeça as palavras
de seu tio a respeito da covardia da máfia italiana
ecoavam em seus ouvidos, fazendo com que a
ansiedade voltasse a se abater sobre ela. Naquele
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mundo, nem mesmo a sombra debaixo de seus pés


podia ser confiável.

Enrico voltou até eles, uma sombra cobrindo


seu rosto antes amistoso, o sorriso tinha
desaparecido de seus lábios, mas Carrick ao seu
lado não parecia estar nem um pouco preocupado.

- Você conseguiu atrair a atenção do chefe


Duende – disse Enrico – Ele no momento não está
aqui, mas você pode me contar a informação que
tem a vender, e podemos acertar o pagamento.

Embora quisesse sair dali o mais rápido


possível Nina seguiu Carrick enquanto eles eram
acompanhados pela porta do fundo do restaurante.
O passo de Enrico na frente deles era apressado, na
mão direita o moderno celular, constantemente
mostrava mensagens que chegavam.

Eles atravessaram uma cozinha completamente


enfumaçada e caótica, o cheiro delicioso de comida
permeando todo ar. As pessoas gritavam umas com
as outras em italiano, e em nenhum momento
lançaram um segundo olhar na direção deles, como

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se tivesse acostumado com o fato de que pessoas


estranhas cruzassem aquele lugar constantemente.

Os corredores por onde eles caminharam eram


iluminados e limpos, quadros elegantes pendiam
sobre a parede, de algum lugar Nina podia escutar o
som de acordes musicais, um piano fazendo
companhia a um violino.

Eles seguiram Enrico, até entrarem num


pequeno elevador, que quase passara despercebido
por sua atenção, espremendo-se naquele pequeno
recinto ela tentou não deixar com que a ansiedade
levasse a melhor sobre seus pensamentos, embora
algo na parte mais distante de seu cérebro lhe
dissesse que da última vez que entrara em um lugar
controlado pela máfia as coisas não haviam saído
da forma que ela imaginara.

Nina se surpreendeu quando as portas do


elevador se fecharam, e percebeu que ele se
movimentava indo para baixo, ao contrário de subir
os andares para cima. Os olhos dela deslizaram
para Carrick, tentando encontrar em sua expressão
algo que pudesse de alguma forma acalma-la. Ele
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estava silencioso, o rosto inexpressivo os olhos


verdes distantes. Definitivamente não parecia que
ele estava se preocupando com qualquer coisa, por
isso ela preferiu tentar se acalmar.

As portas do elevador se abriram para um


corredor silencioso, as paredes pintadas num
profundo tom de caramelo. Arandelas penduradas
ao redor da arquitetura próximo ao teto davam uma
aparência ao local de antigo e rebuscado. Um
desconforto pressionou seu estômago para baixo.
Aparentemente o restaurante acima de sua cabeça,
era apenas uma fachada.

Os passos deles quase não ressoavam sobre o


pesado carpete, Enrico abriu uma pesada porta de
mogno que dava acesso a um pequeno, mas
elegante escritório, uma mesa simples estava
posicionada no meio da sala, havia um cofre a suas
costas, e armários escuros, onde vários cadernos e
livros estavam organizados com apresso.

Enrico contornou a mesa, sentando-se,


enquanto ela e Carrick paravam próximos a porta
fechada atrás de suas costas. O terno cinza dele era
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o único ponto mais claro naquele lugar, como se


tivesse todo o tempo do mundo, os olhos dele
pousaram sobre Carrick, enquanto ele retirava um
maço de cigarros de seu bolso, acendendo-o com
um isqueiro dourado.

- Vamos aos negócios Duende – disse Enrico de


maneira simples, exalando uma fina fumaça branca
de seus lábios – Qual a informação que você tem
para vender.

- Serguei Serov pretendia casar sua sobrinha com


Ivan Karazov. – disse Carrick deforma direta – A
ideia é que apenas a Bratva tivesse ciente disso,
enquanto eles se fortaleciam sem que vocês
ficassem sabendo do motivo.

As palavras dele ressoaram na pequena sala ao


redor, quase impessoais, se não tivesse
completamente concentrada Nina podia jurar que
naquele momento eles poderiam estar falando de
qualquer outra pessoa. E não dos assuntos sobre sua
família.

Ela podia perceber que Enrico parecia surpreso,

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embora não quisesse admitir isso uma de suas


sobrancelhas negras estava parcialmente levantada,
os músculos ao redor de sua boca tensos.

- É uma informação e tanto Duende não posso


negar – respondeu o italiano – O que você me diz
faz completo sentido. Serguei tem se comportado
de maneira muito estranha ultimamente, seus
homens vasculhando toda a cidade. Estávamos
dispostos a ajudá-lo, mas ele simplesmente disse
que poderia resolver isso sozinho. Tem alguma
idéia do que ele poderia estar procurando?

- Você precisaria me pagar duas vezes se quiser


duas respostas.

- Imaginei que você diria isso, mas não pode


me culpar por tentar – respondeu ele inclinando os
ombros de maneira despreocupada.

- Serguei pretende controlar toda a Bratva


americana – continuou Carrick dando um passo em
frente, os olhos fixos em Enrico – Os boatos sobre
eles é que algo de muito sério aconteceu ao Tsar,
mas nesse ponto acredito que vocês tenham uma

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informação melhor do que eu...

- Talvez vez sim talvez não. Assim como você


eu sou apenas um garoto de recados.

Perto de Carrick como ela estava Nina, pode


observar sua expressão endurecer, ele não havia
gostado do que aquele homem dissera, mas era
esperto o suficiente para manter seu autocontrole.

- De qualquer forma Duende, a informação que


está me vendendo é extremamente valiosa. Como
você a conseguiu? Tenho minhas dúvidas se os
russos, iriam discutir esse tipo de coisa enquanto te
espancavam.

- Você nunca se preocupou antes Enrico, de


onde eu conseguia minhas informações, por que
está tão interessado agora?

Os olhos amendoados do mafioso se estreitaram


nos cantos, o sorriso dele se tornando mais amplo e
gélido. Por um momento ele lembrou a Nina de um
gato acostumado a brincar com a refeição.

- São tempos difíceis para todas as famiglias –


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respondeu Enrico tranquilamente enquanto


continuava a fumar seu cigarro, a fumaça azulada
pairando de maneira agridoce ao redor de seu rosto
– Há muita agitação se é que me entende, muita
coisa em jogo...

- Você fala de uma maneira como se nem


sempre fosse assim...

- Dessa vez é diferente. Acredite em mim...


Nesse caso, eu posso te oferecer essa informação de
graça, um lembrete pelos velhos tempos.

Nina podia ver que ele não estava sendo


completamente sincero, embora suas palavras não
fossem mentirosas também. Deliberadamente ele
escondia a verdade, e aquilo era algo que havia
desconcertado Carrick a seu lado.

- O que você quer dizer Enrico?

- Apenas que você precisa ser um pouco mais


compreensivo Duende – respondeu o italiano muito
tranquilamente enquanto apagava seu cigarro,
juntando as pontas de seus dedos debaixo de seu
queixo – A última vez que alguém teve noticias
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suas, disseram que os russos tinham te pegado


bisbilhotando onde não havia sido chamado.
Alguns disseram que era capaz de que pedaços de
suas costas pudessem ser encontrados perto do
porto.

O estômago de Nina se embrulhou, a ausência


de comida deixando sua cabeça ainda mais leve, a
bile pinicou a parte detrás de sua garganta, e ela
torceu para que nenhum daqueles homens notasse o
tom pálido que ela tinha certeza que tomara conta
de seu rosto.

- E daí? Eles se enganaram – respondeu Carrick


incapaz de conter o tom raivoso de sua voz.

- Mesmo...? Isso me parece ainda assim tão


estranho. Você some capturado pelos russos, depois
aparece aqui querendo vender informações que
muito bem podem ocasionar uma briga entre
facções se caíssem em mãos erradas.

- Isso não é problema meu Enrico, eu apenas


vendo o que eu sei. É assim que eu ganho meu
dinheiro, faço meu nome, e você sabe disso.

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- Sim... Eu sei disso – respondeu o italiano, seus


olhos castanhos brilhando de maneira perspicazes –
Você é esperto o suficiente para conseguir transitar
entre todas as famílias, vendendo suas informações.
Sem possuir realmente lealdade com nenhuma
delas...

- O que você está querendo dizer...?

- Ei por favor, não veja isso como uma


acusação. Estou apenas pensando em voz alta,
tentando compreender o que você teria a ganhar
vendendo uma informação teria a ganhar vendendo
uma informação compreender o que você teria a
ganhar vendendo uma informação dessas para Cosa
Nostra...

- Dinheiro. O que mais poderia ser?

- Não sei talvez, haja mais coisas em jogo.


Talvez os russos tenham feito um acordo com você
do tipo que você poderia vir aqui, vender algumas
informações, plantar umas sementes e nos atrair
para uma armadilha

- Você acha que ele está mentindo? - perguntou


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Nina incrédula.

- Eu não ficaria surpreso se ele estivesse –


respondeu Enrico parecendo completamente
despreocupado – Muita coisa está em jogo aqui e o
Duende sabe disso.

Algo nas palavras dele fizeram com que um


sentimento desconhecido se retorcesse dentro dela.
Havia uma pressão crescente em seus ouvidos, um
zumbido irritado. Depois do que ela havia
descoberto na delegacia era como se tudo o que
estivesse se desenrolando diante dela fosse um
sonho confuso e sem sentido. Os olhos dela se
desviaram para Carrick, ela podia observar a linha
tensa em sua mandíbula, os olhos verdes brilhantes.
Passara tão pouco tempo com ele, mas agora já
conseguia reconhecer os sinais por debaixo de sua
máscara sempre composta. Ele estava irritado, ela
não sabia o motivo mas para ele conseguir aquele
dinheiro era extremamente importante... Havia tão
pouco que ela sabia a seu respeito e mesmo assim.

Os dedos dela se mexeram antes mesmo que ela


pudesse se dar conta do que estava fazendo,
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cavando fundo em sua mochila, ao seu lado ela


podia escutar o burburinho das vozes dele
discutindo, mas não era capaz de realmente
reconhecer suas palavras. Ela encontrou o que
procurava as pedras frias pinicando nas palmas de
sua mão. O colar de diamantes que ganhara como
presente de aniversário, caiu com estrépito sobre a
mesa, diante de Enrico, mesmo naquela parca
luminosidade as pedras brilhavam francamente,
como se possuíssem uma luz interior.

- Carrick não está mentindo – disse ela, a voz


controlada e distante, praticamente irreconhecível
em seus ouvidos – Meu tio me deu esse colar no dia
do meu aniversário. Tenho certeza que se você
perder um pouco do seu tempo, vai descobrir que
ele foi comprado por Ivan. Um presente de
casamento.

- Nina o que você está....

- Você é a sobrinha de Serguei? – perguntou o


mafioso italiano desconfiado, seus olhos
controladores agora voltados completamente em
sua direção.
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Ela não precisou respondê-la, a verdade estava


completamente explicita em seu silêncio, os dedos
de Enrico se desviaram para o colar diante dela,
rodeando-o com cuidado, como se ele não tivesse
também certeza se estava diante da realidade ou se
aquilo tudo seria um sonho repleto de fantasias.

- Eu gostaria muito de saber a história por trás


da sobrinha de Serguei estar vendendo informações
contra seu próprio tio, mas acho que isso seria o
tipo de coisa que você não iria me contar...

Nina sentiu as palavras travarem dentro de sua


boca, a mandíbula tensa. As palavras de Enrico
foram um lembrete do motivo pelo qual ela tanto
desejara escapar daquele mundo. Um lugar onde
todas as pessoas sempre pareciam dispostas a
alcançar seus objetivos, procurando fraquezas
ocultas.

O riso sem humor do mafioso perdurou no ar


atrás em frente a eles, ela podia sentir o olhar
quente de Carrick em seu rosto e aquilo mais do
que tudo a incomodava. Queria que ele olhasse em
outra direção. Queria estar o mais longe possível
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dali, daquele lugar da sua própria existência.

Enrico pareceu finalmente se decidir. Retirando


uma chave que ficava em volta do seu pescoço, ele
levantou-se da cadeira, abrindo o pesado cofre
negro no final do escritório. O pequeno depósito
estava repleto de dinheiro, algumas cédulas que ela
nem ao menos era capaz de reconhecer, havia
passaportes empilhados ali dentro, armas e outros
papeis que Nina tinha certeza absoluta que eram
valiosos. Sem perder tempo ela observou o italiano
colocar num pequeno envelope pardo pacotes de
dinheiro. Ao menos Carrick conseguira alcançar
seu objetivo.

- Sempre um prazer fazer negócios com você


Duende – disse Enrico, enquanto depositava o
pacote nas mãos dele, um sorriso sarcástico
brincando em seus lábios – Acredito que a proposta
de Tiziano ainda continue em pé.

- Ele sabe que eu prefiro continuar trabalhando


sozinho, e ainda ter uma alma.

Dessa vez a risada do italiano pareceu

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realmente soar com diversão, eles se prepararam


para sair daquele lugar, quando os olhos
amendoados pousaram sobre ela.

- Se você é realmente quem diz ser, então sabe


que seu tio não irá ficar nem um pouco feliz
quando descobrir que você esteve aqui.

As palavras dele continham um alerta que


provavelmente deveria ter a deixado amedrontada,
mas naquele momento tudo o que Nina podia sentir
era um entorpecimento, que deslizava como uma
capa sobre seu corpo.

- Tenho certeza que isso não é nenhum tipo de


preocupação, mas obrigada de qualquer jeito.

Incapaz de permanecer ali dentro por mais um


minuto que fosse, ela girou em seus calcanhares,
abrindo a porta daquele lugar, seus passos soando
abafados no corredor. Em suas costas ela conseguiu
ouvir Carrick chamando seu nome, mas agora ela
simplesmente não conseguia parar de se mover.
Continuou em frente, a mochila batendo na parte
baixa de suas costas, até que por fim sem saber

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muito bem como conseguiu alcançar a saída


daquele lugar.

O sol inundou seus olhos, obrigando-a a fecha-


los ali fora tudo parecia mais real e concreto do que
a conversa que tivera naquela sala, os olhos de
Enrico sobre ela, analisando cada pequeno
movimento seu.

Os italianos agora sabiam dos planos de seu tio,


ela mesma havia contado seus segredos. Esperou
pela culpa, ou mesmo remorso, mas tudo o que
conseguia pensar era nas fotos da juventude de sua
mãe a notícia de sua morte, enquanto um
entorpecimento pesava sobre ela como uma
mortalha.

Andou pelo pequeno beco sem realmente


prestar atenção aonde estava indo, os pés se
movendo quase com vontade própria. Assim como
não houvera remorso, também não conseguia sentir
alivio. Agora que tudo estava terminado,
simplesmente não sabia o que fazer.

O corpo dela foi girado com brusquidão, o rosto

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de Carrick pairando sobre o seu, o peso da mão


dele muito firme e quente contra seu braço.

- Por que fez isso? – perguntou ele, sua


expressão uma careta mal contida de raiva, as
palavras baixas praticamente arranhando em sua
garganta – Você tem ideia do que Serguei pode
fazer caso descubra que foi você quem contou os
planos dele para os italianos?

- Você realmente acha que eu não conheço meu


tio? O que ele pode fazer comigo?

- Então por que se colocar em perigo dessa


forma?

- Esse era nosso acordo não? – rebateu ela


odiando como sua voz parecia frágil naquele
momento – Você conseguia informações a respeito
da minha mãe, e eu vendia o que sabia sobre minha
família. Enrico não iria acreditar em você se eu não
tivesse feito isso. Foi o único jeito.

- Não... Eu não queria que você tivesse feito


isso.

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Os olhos dele estavam sobre ele mais verdes do


que ela era capaz de se lembrar, ele diminuiu a
distância entre eles, as pontas de suas botas tocando
seus tênis, o aroma dele viajou até ela, enquanto
uma brisa morna balançava seus cabelos, por um
momento que passou rápido demais seu coração
quase não bateu num compasso doloroso.

- Você não precisa mais se preocupar comigo.


Você cumpriu sua parte no acordo Carrick. Vou
sair da cidade, e tenho certeza que meu tio vai estar
ocupado com os italianos para perder seu tempo me
procurando.

- Você já tem algum lugar para onde ir?–


perguntou ele, enquanto algo que ela não sabia
completamente identificar brilhava em seu olhar.

As palavras pareceram engasgar em sua


garganta. O dia mal chegara em sua metade e ela já
se sentia cansada, e exausta. Queria poder ao
menos responder uma simples pergunta como
aquela, ter o começo de um plano em sua mente, e
não um emaranhado de pensamentos confusos.

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A mão dele que estava em seu braço, desceu


sobre seus dedos, ele passou por ela, caminhando
apressadamente, arrastando-a em sua direção.

- Se não tem ainda algum lugar em mente nesse


momento, vamos voltar para a mansão. Não é bom
que nós dois continuemos em território italiano.

Nina queria argumentar com ele, discutir de


uma maneira racional, mas naquele momento era
como se seu cérebro tivesse simplesmente decidido
não funcionar. Era mais fácil ser levada naquele
momento disse a si mesma, embora soubesse que
aquela proximidade com Carrick não podia
continuar. Mais do que nunca havia ficado claro
para ela, que o caminho de ambos finalmente havia
se separado.

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Capítulo Vinte e Nove


Nina mal conseguiu notar o caminho de volta
enquanto eles percorriam as ruas da cidade na moto
de Carrick. Os dedos dela se prenderam na parte de
trás de sua jaqueta, seu próprio corpo lhe parecendo
estranho. Havia uma sensação estranha e opressora
em seu peito, sabia que aquilo era um termino, mas
não era capaz de se sentir aliviada.

Alguns dias atrás quando começara sua fuga


havia imaginado um desfecho completamente
diferente daquele. Em sua mente ela podia ainda
visualizar os sonhos que construirá acordada. Ela
estaria com sua mãe, juntas em algum lugar
distante dali exatamente como eram em sua
infância, havia sido com isso em mente que ela
fugira da casa de seu tio, e agora ao saber que
nunca mais poderia encontra-la sentia coo se
houvesse um buraco exatamente no centro de seu
peito que nunca seria preenchido novamente.

Não sabia para onde ir, nem mesmo o que fazer,


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de repente a saudade de sua casa de sua prima se


tornou quase insuportável. Havia uma parte dela
que queria apagar os últimos dias, esquece-los por
completo, mas ela sabia que aquele também era
apenas mais um dos seus desejos infantis e tolos.

Eles chegaram a casa abandonada, um pouco


antes do fim da tarde. Os raios dourados do sol de
verão ainda iluminavam completamente o jardim,
deixando que a grama alta e parcialmente selvagem
brilhasse como uma joia, mas seu calor já era mais
tão onipresente.

As sombras da mansão eram frescas, e o


silêncio ao redor daquele lugar pela primeira vez
lhe trouxe uma sensação de calmaria. O cheiro de
pó agora tão conhecido não incomodou seu nariz
enquanto ela refazia seu caminho até o quarto que
ela estava usando. Ela chegara até ali contra sua
vontade, traída o primeiro pensamento que tivera
havia sido de fugir daquele lugar, agora a porta
atrás de suas costas estavam abertas, e mesmo
assim ela caminhou cada vez mais para dentro
daquela mansão. Sem saber o que fazer, ou para
onde ir.
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O quarto estava exatamente como ela havia


deixado, a cama desarrumada, o travesseiro
esquecido sobre ela mostrando ainda as dobras de
seu rosto. De repente sentiu como se um cansaço
quase insuportável pesasse sobre suas costas,
desejou poder deitar ali por algumas horas,
enquanto o sono levasse embora sua mente
atormentada, mas sabia que os pensamentos
frenéticos em sua cabeça não a deixariam descansar
naquele momento.

Erguendo os olhos ela encontrou a figura de


Carrick parada em frente a porta aberta. O cabelo
dele caindo de forma bagunçada contra sua testa,
brilhando como um aureola escura recortada contra
a luz que entrava pela janela.

A lembrança do toque dele agora assim como


seus beijos, quase parecia um sonho deixando o
ritmo de seu coração descompassado.

- Você quer me contar sobre o que descobriu na


delegacia?- perguntou ele, sua voz soando
tranquilamente.

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- Não.

- Nina...

- Eu preciso descobrir um lugar para ficar –


disse ela interrompendo-o os olhos fixos em seu
rosto – Meu tio...Eu não quero que ele me
encontre.

Os olhos dele se tornaram mais afiados, a cor


esverdeada brilhando como a grama lá fora
iluminada pelo sol. Por um momento Nina notou
que mesmo que tudo estivesse acabado entre eles, e
ela nunca mais pudesse vê-lo novamente seria
incapaz de esquecer dele, e de sua imagem naquele
momento.

- Você não deveria ter dito quem era aos


italianos – respondeu ele, o timbre de sua voz se
tornando mais frio – Já tinha problemas o suficiente
para lidar.

- Isso não faz diferença nenhuma agora. Ao


menos você conseguiu o que queria. Pelo menos
um de nós conseguiu.

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O silêncio entre eles caiu pesado, uma cortina


que tornava o pequeno espaço que os separava em
quilômetros de distância.

Ela não conseguia desviar sua atenção dele,


observando sua expressão impassível, uma parte
dela queria que ele dissesse alguma coisa, qualquer
coisa embora ela soubesse que nada do que ele lhe
dissesse poderia melhorar a situação deles naquele
momento.

- Por que você nunca me perguntou por que eu


te tirei da prisão do meu tio Carrick?

-Isso faz alguma diferença, agora?

-Pra mim faz – respondeu a garota.

Um suspiro pesaroso escapou dos lábios dele,


como se ele não tivesse nem um pouco confortável
com o tópico daquela conversa, a atenção dele foi
desviada para a janela, o sol lentamente havia
caminhado pelo céu, as sombras próximas da
parede se alongando.

- Eu sabia que de alguma forma, você precisava


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de mim para escapar – respondeu ele sem olhar em


sua direção - Pra mim isso não era importante, eu
só agarrei a oportunidade que estava na minha
frente.

A resposta parecia simples, direta, mas Nina


sabia muito bem que o que existia entre eles estava
longe de ser definidos por essas palavras.

- Eu só queria poder fugir do meu tio – disse ela


simplesmente se sentindo patética porque nem
mesmo havia sido capaz de tomar as rédeas de sua
vida – Eu só queria poder ficar o mais longe
possível desse mundo horroroso. Você também não
deseja isso? Conseguiu o dinheiro que tanto
precisava Carrick, por que simplesmente não vai
embora, para um lugar bem longe de tudo isso,
onde esteja seguro...?

- Por que você deveria se importar com minha


segurança? Você já me salvou uma vez, não precisa
fazer isso de novo.

- Eu não sei... - respondeu ela abaixando seu


olhar, deixando que ele se focasse nas pontas dos

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seus tênis surrados – Eu só queria que toda essa


história terminasse bem para um de nós dois.

Os olhos dele eram como duas jóias iluminadas


pelos últimos raios de sol. Ele estava parado diante
dele, não mais distante do que alguns passos, mas
Nina sentiu como se houvesse quilômetros os
separando, e mesmo assim as palavras escaparam
dos lábios dela antes mesmo que ela estivesse
ciente por completo do que estava dizendo:

- Venha comigo podemos...

- Nina...

- Não! Me escute Carrick ao menos uma vez,


podemos sair de nova York deixar tudo isso para
trás. Escapar de uma vez por todas da máfia.

O silêncio entre eles se prolongou, as palavras


dela perdendo o efeito e caindo num vazio
constrangedor. A resposta estava estampada em seu
rosto, e ela sentiu o desconforto pesar em seu
coração. De repente sentiu vontade de engolir suas
próprias palavras, enquanto abaixava seu rosto,
sentindo o ardor se espalhar por suas bochechas. Os
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passos dele ressoaram pelo quarto enquanto ela se


aproximava da cama onde ela estava sentada, Nina
se forçou a erguer seu rosto, encarando-o de frente,
os pensamentos uma confusão desordenada em sua
mente.

- Nina eu não poderia... Eu não quero deixar


esse mundo para trás.

- Por que? – perguntou ela num fio de voz,


embora não tivesse certeza se realmente estava
disposta a ouvir sua resposta.

Os dedos dele pousaram levemente sobre sua


bochecha, contornando seu rosto, deslizando por
seu queixo, um toque tão leve e mesmo assim
incendiou seu corpo, disparando a pulsação em seu
pulso.

- Eu nunca desejei nada mais nessa vida, além


de possuir poder o suficiente para conseguir
controlar minha parte da máfia nessa cidade. Desde
que eu sou um garoto, esse é meu único desejo e
objetivo... E eu teria feito qualquer coisa para
conseguir isso, até conhece-la...

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- Carrick...

- Se eu fosse mais forte – disse ele entre dentes,


sua voz soando de maneira mais agressiva – Se eu
tivesse mais poder, então eu poderia protege-la...

- A que custo você faria isso?

- Eu pagaria o preço que fosse – respondeu ele,


e Nina notou que não havia nenhum espaço para
arrependimentos em sua sentença.

- Eu fugi do meu tio exatamente porque não


queria me casar com um homem que fosse como
ele... Exatamente o tipo de homem que você deseja
se tornar.

Pela primeira vez ela pode enxergar a sombra


de algum sentimento passando em seu olhar, ela
percebeu que suas palavras haviam atingido algo
em seu íntimo, que de alguma forma ele tentava de
todas as maneiras proteger, mas ela simplesmente
não era capaz de compreender-lo.

- Eu jamais a obrigaria ficar ao meu lado Nina –


responde ele, sua voz soando com dificuldade –
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Mesmo que uma parte de mim desejasse isso com


todas as forças. Mas, se você deseja ficar longe de
mim então eu vou embora.

O coração dela explodiu em seu peito, o medo


impulsionando seus movimentos para frente, ele
mal havia chegado a porta quando ela abraçou suas
costas, seu rosto pressionando perto de seus
ombros, os braços dela o rodearam de forma
tremula, suas pernas mal sustentando seu corpo.

-Não é isso o que eu quero Carrick... Eu...

Ele se desvencilhou dela com delicadeza,


usando o indicador de sua mão direita para ergueu
seu queixo, os olhos verdes devorando sua
expressão, enquanto ela lhe perguntava:

- Então o que você deseja?

- Eu não sei... Você...

A boca dele pousou sobre a sua com violência


fazendo com que os pensamentos fugissem de sua
cabeça, ela sentiu seus lábios se entreabrirem
enquanto sua língua aveludada escorregava
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dançando de encontro com a sua. O coração


galopou em seu peito, a euforia assim como o
desejo correndo livremente por suas veias.

Ela empurrou para o fundo de sua mente, todas


as dúvidas, e perguntas que continuavam sem
respostas, assim como o medo, deixando que
apenas o desejo que ela sentia por Carrick tomasse
conta de suas atitudes.

As mãos dela deslizaram para cima, enquanto


ela sentia os contornos de seu corpo por debaixo de
sua roupa, ela o enlaçou pelo pescoço, erguendo-se
nas pontas dos pés enquanto deitava seu pescoço,
dando-lhe livre acesso para beija-la com mais
voracidade.

Os lábios dele eram de uma maciez infinita, os


beijos molhados fizeram com que uma trilha de
calafrios deliciosos escorressem por sua coluna. Os
dedos dele se infiltraram por seu cabelo, o toque
suave deixando completamente entorpecida.

Ela mal percebeu que eles haviam se


aproximado da cama, quando sentiu seu corpo ser

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pressionado contra a maciez do colchão, e naquele


momento nada lhe pareceu tão certo quando
aquilo.

A palma de sua mão deslizou por debaixo da


camiseta de Carrick, sentindo a rigidez de seus
músculos, enquanto os lábios dele se separavam
dela por um momento, a respiração entrecortada
deles, enchendo seus ouvidos.

Os olhos dele estavam brilhantes, os lábios


vermelhos e inchados como um reflexos do seus,
por um momento eles apenas se entreolhara, presos
no fio da paixão que queimava entre eles, até que o
momento de se separem se perdeu por completo, e
eles se entregaram ao desejo que parecia consumi-
los.

***

Carrick sentia como se sua cabeça estivesse


muito leve sobre seus ombros, o cheiro dela, o
aroma indescritível de sua pele havia bagunçado
completamente sua mente, apagando qualquer coisa
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que não fosse sua presença. Ele trouxe o corpo de


Nina mais próximo do seu apreciando suas formas,
seu calor. Ela era perfeita, única e embora ele
soubesse que nada daquilo poderia acabar de uma
maneira positiva, desejava que ela fosse sua.

Os lábios dele deslizaram por seu pescoço, a


pele suave era tentadora demais para que ele
pudesse saborear apenas com beijos. Ela deslizou a
língua sobre sua pulsação sentindo o ritmo
acelerado de seu coração, o calor dela era quente
contra sua língua, e quando um gemido escapou de
seus lábios entre abertos, ele soube que
simplesmente não seria mais capaz de resistir.

Ele nunca antes até aquele momento havia


cedido em sua vida. Nada havia sido capaz de
quebrá-lo, nem mesmo a tortura, a dor excrucitante
que ele sofrera nas mãos do seu tio, ou a fome que
corroera sua barriga em sua infância, ou a solidão
absoluta que quase despedaçara sua sanidade. Ele
havia sido capaz de superar tudo aquilo, sem se
quebrar ou desviar seu foco, mas a tentação que era
a mulher em seus braços, não era algo que ele
pudesse ser capaz de superar.
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Os dedos dele encontraram a bainha de sua


blusa, erguendo-a com habilidade sobre sua cabeça,
fazendo com que seus cabelos se espalhassem em
ondas pelo travesseiro. A imagem dela apenas em
roupa intima, com olhos brilhantes e lábios
vermelhos de seus beijos, foi o suficiente para
empurrá-lo sobre a borda. A ereção em suas calças
se esticou por completo de maneira quase dolorosa,
como se estivesse buscando uma maneira de
escapar dali.

- Carrick...

Ele desejava ouvir ela chama-lo assim


novamente, e de novo, até que de alguma forma ele
pudesse saciar o anseio que sentia por ela, uma
necessidade física que chegava a assustá-lo. Os
dedos dele encontraram as alças de seu sutiã,
deslizando-o por seu ombros, um rubor bonito
escorreu por suas faces, tingindo sua pele, ele
seguiu a trilha, beijando seu pescoço, distribuindo
pequenas mordiscadas por sua clavícula, até que ela
estivesse quente e mole contra seu toque.

Ele retirou a peça de roupa, jogando-a de


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qualquer forma em algum canto do quarto,


deixando que uma de suas mãos moldasse seus
seios, os lábios dela se abrirem em espanto
enquanto seus olhos se fechavam levemente, os
bicos num tom de rosa mais forte se tornaram
empinados assim que ele os tocou, a pele ali era
ainda mais suave ele acariciou-a, apertando-os
contra suas mãos calosas, enquanto seus lábios
desciam sobre seus bicos intumescidos, beijando-os
com fervor, deslizando a língua sobre eles, até que
eles estivessem inchados.

Os dedos dela deslizaram por entre seus


cabelos, uma de suas mãos escorrendo por suas
costas, sem perder tempo Carrick, despiu-se
rapidamente, deixando que suas peles se tocassem
sem nenhuma barreira, o ofego de prazer que
escapou de sua garganta foi sua recompensa.

Logo os dedos dele encontraram o fecho de sua


calça, ela o ajudou a retira-la, os tênis escaparam de
seus pés também com alguma agilidade, até que ela
estava sob ele, usando apenas uma calcinha simples
de algodão.

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A visão o encheu de luxuria, enquanto imagens


dela com roupas provocantes sentadas sobre seu
colo na boate preencheram sua mente. Ela era
linda, e deliciosamente estonteante, ele desejava
saboreá-la com lentidão, aproveitando cada
segundo estendendo-o até que o gosto dela, o toque
de sua pele estivesse gravado em sua mente.

Ele a beijou novamente diminuindo o ritmo,


deixando que sua língua se entrelaçasse a dela, os
dedos de Nina deslizaram por suas costas, o contato
com sua pele quente eletrizou seu sangue, a
respiração ofegante dela enchendo seus ouvidos.
Suas mãos escorreram por seu corpo, saboreando
suas curvas, o delgado pescoço o caminho sinuoso
entre sua cintura, ela tremeu quando sua mão
encontrou o alto de sua coxa, ele a provocou
apertando sua carne macia, deslizando seus lábios
numa caricia lenta e provocante sobre a barra de
sua calcinha.

Os olhos dele se prenderam ao dela, havia uma


vulnerabilidade ali, mas ela não o impediu de
retirar aquela última peça de roupa, deixando
deitada sobre a cama, uma visão da qual ela não era
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capaz de ignorar.

As mãos dele pousaram sobre seu joelho,


abrindo-a expondo-a completamente e todos os
pensamentos foram expulsos de sua mente de uma
vez. Delicada como uma rosa, as dobras dela
estavam úmidas, o cheiro almiscarado uma tortura
que despertara seu corpo. Ele nunca havia desejado
uma mulher como aquela.

Carrick a tocou bem em seu centro, deixando


que a ponta de seu polegar que não estava
machucado a abrisse, a caricia era intima, um
murmúrio desconexo escapou de seus lábios,
palavras que ele não era capaz de compreender
naquele momento.

- Você é tão linda Nina... – disse ele sua


atenção focada em seu sexo molhado.

O rubor cruzou suas bochechas, enquanto um


tremor involuntário percorria suas pernas, sem
pensar nas consequências, Carrick deitou-se na
cama, seus lábios pairando sobre sua fenda, em
algum canto de sua mente ele conseguiu ouvir o

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espanto dela, mas quando sua língua escapou de


seus lábios provando seu gosto, tudo o mais foi
deixado de lado.

Ele a lambeu com lentidão, saboreando seu


gosto, deixando que ele escorresse por seu queixo.
Os murmúrios dela se transformaram em gemido,
usando o dedo médio que não estava ferido, ele a
abriu encontrando a pequena perola escondida no
alto de seu sexo. Lambendo-a e chupando entre
seus lábios, ele a levou a loucura estimulando seu
clitóris, até que as pernas dela estivessem apertadas
contra seu rosto.

Os dedos dela se infiltraram por seu cabelo,


fazendo com que um sorriso brotasse em seus
lábios. Sua princesa gostava de seu beijada, então
ele iria possui-la completamente com sua língua até
que ela tivesse completamente esquecido seu nome.

Pensar nela como sendo sua, deixou a luxuria


ardendo em seu sangue, deslizando sua língua ele
encontrou sua pequena entrada apertada forçando-a
brevemente enquanto o quadril dela começava a
acompanhar seus movimentos.
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- Carrick... Eu não posso...

Ele deslizou novamente seus lábios para cima


chupando-a com sofreguidão, até que os gemidos
dela estivessem ecoando pelo quarto.

Os pensamentos dele estavam embaralhados,


ele acompanhou os movimentos de sua língua com
seus próprios movimentos, com o quadril, deixando
que sua ereção roçasse contra o tecido áspero de
suas calças. Estava tão próximo de gozar, como um
adolescente tendo sua primeira experiência sexual.

Usando seu dedo ele a penetrou lentamente, as


paredes molhadas de sua fenda, aceitando-o com
sofreguidão, na terceira junta ele sentiu a barreira
de sua virgindade pressionando-o tentando se livrar
daquele intrusão.

- Nina você...

- Não pare – pediu ela num lamento, os olhos se


prendendo aos seus – por favor...

Por um breve momento, ele sentiu a dúvida


pairar sobre sua mente, havia uma parte dele que
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sabia que ela não era o tipo de garota para estar


naquele lugar, deitada numa cama caindo aos
pedaços numa cama completamente abandonada.
Ela vinha de um mundo rodeada de riquezas, e
deveria receber apenas o melhor, e ele queria ser o
homem a lhe dar isso, entregar o mundo a seus pés.
Se ele fosse um homem decente ele sabia que
aquele era o momento para dar um fim naquela
loucura, mas ele nunca havia sido nem mesmo
tinha o desejo de possuir qualquer tipo de decência.

Ele a desejava. Simples assim, com uma ânsia


que seria capaz de assustá-la se ela soubesse
verdadeiramente o tamanho. Ele a queria por
completo, e uma parte dele que era completamente
vil e desprezível se regozijava ao saber que ele
seria o primeiro a reivindicá-la.

- Você precisa relaxar – pediu ele deslizando


seu dedo ainda mais para dentro dela, tentando
vencer a barreira que o pressionava para fora.

As paredes de sua fenda se apertaram ao redor,


os lábios dele se fecharam logo acima de sua
entrada molhada deslizando a ponta de sua língua
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num continuo vai e vem sobre seu clitóris, fazendo


com que ela se acostumasse com aquela invasão.

Lentamente os quadris dela voltaram a se mexer


no mesmo ritmo que ele a preenchia, a umidade
deslizou por seu dedo, e ele conseguiu deslizar
mais um para seu calor, ele aumentou seu ritmo,
fustigando-a com sua língua, aumentando a pressão
dentro dela até que por fim ele sentiu a barreira se
rompendo enquanto ele deslizava com facilidade
para seu interior num ritmo acelerado.

As unhas dela rasparam a parte exposta de seu


ombro, mas ele nem mesmo se importou, ele queria
saboreá-la enquanto devorava seu corpo, levando-a
sobre a borda exatamente como ele se sentia.

- Goze pra mim Nina, eu quero senti-la gozar


contra minha língua.

Ele não deu tempo para que ela pudesse pensar


no que estava fazendo com seu corpo, chupando
seu feixe de nervos, ele aumentou seu ritmo
deslizando para seu interior um terceiro dedo,
abrindo-a até que os quadris dela estivessem

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acompanhando o ritmo de sua intrusão.

As paredes dela se apertaram ao seu redor,


ordenhando seus dedos enquanto o gosto dela
invadia sua língua deslizando por seus lábios. Os
gemidos dela se elevaram para o teto enquanto suas
costas esticadas caiam com lentidão sobre a cama.

O corpo dele estava aquecido, os lábios ainda


podiam sentir o gosto dela, sob si o corpo dela
parecia como uma obra de arte, enquanto
lentamente a luz do sol deixava o quarto pintando
as paredes daquele lugar em tons de azul escuro e
negro.

O corpo dele ansiava pelo dela, como se algum


instinto primitivo o atraísse adiante, algo que ele
simplesmente não era capaz de controlar.

Quando a respiração dela se desacelerou por


completo, os olhos dela se prenderam aos dele,
brilhantes e repletos de algo que ele não sabia o que
era. O desejo por ela era quase uma dor constante
no centro do seu peito, e em suas calças.

Ele observou em silêncio enquanto ela


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levantava sua mão direita, chamando-o em sua


direção, e naquele momento ele soube que faria
qualquer coisa que ela o pedisse. Estava
completamente dominado por aquela mulher.

Levou os dedos aos lábios, apreciando seu


gosto almiscarado e o leve sabor de ferrugem, e
soube que não poderia mais voltar atrás.

***

Quando Carrick finalmente livrou-se de sua


calça, Nina pode observar os contornos do corpo
dele sob a luz difusa dos últimos raios do sol, a cor
do céu era uma mistura de cores como borgonha,
azul profundo e um tom quase lavanda e difuso,
mesmo sem conseguir enxergar de onde estava,
Nina sabia que naquele momento a lua já deveria
ter despontado no céu erguendo por um momento
solitária brilhando num tom prateado, e aquilo
apenas aumentava a sensação de algo único estava
acontecendo naquele momento.

Seus pensamentos eram silenciosos, e ela não


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podia sentir nada naquele momento além da


sensação de proximidade com Carrick, a paixão
que ele desencadeara em seu corpo apenas alguns
instantes atrás ainda deixara o sangue correndo em
suas veias de forma acelerada, sua pele sensível
como se uma corrente elétrica tivesse tocado cada
centímetro do seu corpo.

Os olhos dela estavam fixos sobre o corpo dele,


a maneira graciosa como ele se movia, o jeito que
seus músculos ondulavam enquanto ele se inclinava
sobre ela seus braços pousando ao lado de seu
rosto, a sensação foi bem-vinda o toque da pele
dele sobre a sua deixando-a muito alerta
novamente, ela abriu as pernas deixando que ele se
acomodasse contra suas coxas, a posição intima
acendeu mais uma vez a chama do desejo em seu
baixo ventre, embora ela ainda não soubesse muito
bem como demonstrar isso.

Os lábios dele pairaram sobre os seus, uma


caricia sensual que ela já conhecia e adorava, a
língua dele contornou sua boca com beijos
delicados e demorados, as mãos dela se agarraram a
seus ombros, os membros trêmulos sob seu corpo.
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- Me toque Nina – pediu ele numa suplica


dolorida sua voz vibrando em seus ouvidos – Eu
preciso sentir o seu toque.

Foi extremamente fácil para ela atender seu


pedido, deslizando as palmas de suas mãos, ela
contornou os músculos lisos de sua costas,
apreciando o toque aveludado de sua pele, seus
dedos contornaram a base de suas omoplatas, onde
ela sabia que ficava sua tatuagem, embora em outro
momento ela desejasse ter a oportunidade de
observa-ala com mais atenção.

A ereção dele era um peso quente e sedutor


contra suas coxas, os quadris dele se moveram
contra o seu criando uma fricção, dolorosamente
gostosa, ela o desejava de um jeito instintivo, uma
necessidade que parecia crescer dentro dela, algo
que somente ele poderia saciar.

Ela o beijou com voracidade, a respiração presa


em sua garganta, o cheiro de chuva dele pairava
sobre eles, o som dos grilos lá fora embalando a
noite abafando os gemidos de ambos.

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Usando um dos braços Carrick levantou-se


olhando em seus olhos, apoiando-se contra ela,
Nina não perdeu tempo e continuou a exploração
de seu corpo, a vergonha completamente e timidez
completamente esquecida em sua mente. As pontas
dos dedos dela deslizaram por seu tronco,
apreciando os contornos de seu corpo, o molde de
seus músculos, ela tentou evitar as áreas que ainda
pareciam estarem machucadas e as cicatrizes,
embora nenhum daqueles machucados pudesse
roubar nenhum centímetro de sua beleza.

O desejo a deixou ousada, enquanto seus dedos


deslizavam por sua cintura seguindo o caminho de
pelos avermelhados em torno de seu sexo, com
cuidado ela deixou que sua mão se fechasse sobre
seu membro sentindo o pulsar e a rigidez de sua
ereção contra seu toque.

Carrick deixou que um chiado escapasse entre


seus dentes quase como se estivesse com dor, e
Nina aliviou seu aperto com medo que pudesse ter
feito algo de errado.

- Me desculpe... Eu te machuquei...
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- Não machucou...

- Mas você...

- Acredite em mim Nina nesse momento


minhas dores são por outro motivo, nem sei como
estou conseguindo formular sentenças tão
cumpridas quanto essa.

Um sorriso de insinuou em seus lábios,


enquanto ela deixava que seu olhar se prendesse em
seu rosto, havia um desejo crescente em seus olhos
esverdeados, um tipo de fome que ela apenas estava
começando a compreender.

Ela deslizou a palma de sua mão sobre o corpo


dele, envolvendo sua ereção contra seus dedos, para
cima e para baixo, até que ela estivesse
completamente confortável com o ritmo. A
respiração de Carrick tornou-se mais difusa e
ruidosa, o quadril dele lentamente se arremessando
contra sua mão.

Ele parecia perdido o rosto exibia uma


expressão prazerosa, um brilho de orgulho se
esgueirou por seu coração, deixando seus
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batimentos acelerados, a percepção de que apenas


com seu toque ele havia feito aquilo como um
homem como ele, deixando ele a sua mercê,
fazendo com que ele a desejasse.

A excitação aqueceu seu sangue novamente,


calor se concentrando entre suas pernas, o desejo
por ele se tornou-se quase insuportável. Ela
precisava dele.

Nina deitou-se de costas na cama, atraindo mais


uma vez o corpo dele sobre o seu, o peso de seus
músculos, a rigidez de seu corpo era reconfortante,
e muito bem-vinda.

Ela sentiu o toque aveludado de sua ereção


sobre a parte interna de suas coxas, os lábios dele
alcançaram os seus o beijo tão suave

Um sorriso se insinuou por seus lábios, as mãos


dela deslizaram por seus ombros sentindo a forma
como seus músculos ondulavam embaixo de seu
toque. Não parecia o suficiente ainda tê-lo daquela
maneira, como se ela fosse precisar de horas, dias
talvez até mesmo anos para suprir a ausência de

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Carrick, um tipo de ausência que até aquele


momento ela nem ao menos havia sido capaz de
compreender que sentia.

Os lábios dele desceram mais uma vez sobre


seus, o beijo assumindo um ritmo que agora ela já
conhecia, suave cálido, a língua dele deslizando
sobre sua explorando seus contornos, como se
apreciasse seu gostoso. Calor se concentrou entre
suas pernas, o desejo nublando seus pensamentos
mais uma vez.

Ela podia sentir a ereção dele contra a parte


interna de sua coxa, o contato intimo deixando-a
com o fôlego acelerado, Carrick levantou-se
apoiando o peso de seu corpo em seus braços, um
olhar quase incerto em seus olhos, enquanto
observava atentamente sua reação.

Havia uma parte dela que queria assegurá-lo de


que aquilo, aquele momento entre eles era
exatamente o que ela havia queria. A escolha que
ela havia feito e tanto desejara, mas sua língua
parecia esquecida em sua boca, as palavras muito
distantes em seu cérebro pra que ela pudesse
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alcançá-las.

A mão dele escorre por entre seus corpos, o


contato deixando um rastro de arrepios em sua pele,
ela sente a ponta de sua rigidez tocar sua entrada. A
primeira pressão é suave, a segunda mais intensa,
da forma como ele projeta seus quadris para frente.
A dor surge como uma brasa vermelha por trás de
seus olhos, obrigando-a a aumentar a pressão em
suas mãos sobre seus ombros.

Os beijos dele voltam a tocar seu rosto, seu


queixo delicadamente o alto de suas bochechas,
suas pálpebras, ela sente ele se movimentar entre
suas pernas, dentro dela enquanto a dor se alastra,
seu corpo se recusando a aceita-lo.

- Me desculpe – ele sussurra, a voz carregada


uma pontada de desespero que ela nunca ouviu –
Eu não quero machucá-la, mas não acho que
consigo me parar agora...

Uma lágrima escorre por seu rosto, se perdendo


abaixo de seu queixo, ela o beija deslizando sua
língua para dentro de sua boca, o coração batendo

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descontroladamente em sua caixa torácica.

- Não faça isso Nina – pede ele de maneira


torturada, o negro de sua íris engolindo o verde em
seus olhos, o desejo se cravando em cada pequena
nuance de sua expressão – Eu preciso me
controlar... Como vou conseguir me controlar com
você...

Carrick encosta, sua testa contra a dela, sua


respiração entrecortada alcança a sua se
misturando, como se ambos compartilhassem o
mesmo oxigênio. Ela pode sentir o tremor tomar
conta de seus braços, o suor recobrindo sua pele
que brilha suave e pálida agora ao luz do luar. A
dor foi empurrada para longe, se tornando quase
suportável, Nina mexeu seu próprio quadril,
sentindo o corpo dele invadir completamente o
seu.

O suspiro que escapa entre seus lábios é quase


doloroso, como se de alguma forma ele também
pudesse compartilhar seu próprio desconforto,
como se estivesse tentando sobreviver aquele
momento.
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Prazer e pressão se acumulam dentro dela, os


olhos dele estão fixos nos seus quando Carrick
começa a movimentar seu quadril, Nina sente seu
corpo se balançar junto ao dele, num vai e vem
constante, suas pernas entrelaçadas, braços
apertados um ao outro, o calor crescendo entre eles
numa fricção infinita.

Ele aumenta o movimenta, até que o som de


seus corpos se chocando chega até seus ouvidos
junto com os gemidos dele.

O frenesi aumenta novamente dentro dela, o


prazer substituindo qualquer dor que ela pudesse ter
sentindo, os lábios dela escorrem por seus ombros
seu pescoço, tentando devorar seu corpo,
memorizar seu gosto exatamente como ele fizera
com ela.

Os movimentos dele se tornam mais rápidos,


apressados, ela sente seus dentes se cravando em
seu ombro, enquanto o orgasmo a atinge
novamente prazer estourando atrás de seus olhos
fechados.

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Os braços dele se fecham sobre seu corpo,


enquanto Carrick afunda sua cabeça entre seu
pescoço, abafando seu grito enquanto ela sente seu
corpo se derramar dentro dela.

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Capítulo Trinta

Os olhos dela se abrem parcialmente contra a


escuridão, pesados e ainda sonolentos, a janela
ainda está aberta por isso Nina consegue sentir o ar
frio da madrugada entrar no quarto, embora aquilo
não a incomode, aconchegado ao seu lado está
Carrick, dormindo tranquilamente, uma de suas
mãos repousa sobre seu braço, enquanto a outra
permanece voltada em sua direção, o rosto está
próximo ao seu como se ele tivesse adormecido
enquanto a observava.

O pio de uma coruja soa de maneira muito clara


lá fora, o barulho da cidade distante demais para
que ela possa distingui-lo com clareza, o tempo
transcorre lentamente enquanto ela espera o
arrependimento inundar seu coração, mas nada
acontece, não há porque se arrepender de algo que
ela mesma tanto havia desejado.
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Lentamente o sono desaparece de sua mente,


deixando-a acordada e muito atenta na madrugada.
As lembranças do dia anterior deixam um gosto
acido atrás de sua língua, algo que ela
simplesmente não consegue ignorar. Há uma parte
dela que deseja simplesmente esquecer tudo aquilo,
enquanto se aconchega mais ao corpo de Carrick,
aproveitando seu calor e conforto, e deslizar
novamente em direção a um sono pacífico
esquecendo todas as coisas que a atormentam
naquele momento, mas ela não consegue fazer isso.
Seria fácil permanecer ali, fingindo que eles dois
são apenas um casal de namorados qualquer,
aproveitando a companhia um do outro, mais uma
noite juntos, exatamente como em tantos livros que
ela já havia lido, mas a realidade entre eles parece
mais pesada e mais urgente, até mesmo dentro
daquele quarto, depois do momento que eles
compartilharam ela não consegue afugentar
completamente as incertezas que pairam ao redor
de seu coração, que parecem se aproximar cada vez
mais assim como a luz do sol.

Nina mexe seu corpo na cama, voltando-se


completamente na direção de Carrick, o cabelo dele
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é um halo escuro contra o travesseiro os cílios em


formato de meia lua formam sombras embaixo de
suas bochechas. Ele parece tranqüilo, e
despreocupado enquanto dorme a ruga entre suas
sobrancelhas desfeita, parece mais jovem quase
inocente, e notar aquilo faz com que seu coração
doa dentro de seu peito, porque ela sabe que o
homem ao seu lado não é inocente, e nem mesmo
deseja ser.

Os olhos dela se fecham com força, enquanto


um suspiro pesaroso escapou entre seus lábios, as
lágrimas estão ausentes assim como seu
arrependimento. Nina sente os dedos se cavarem na
fronha de seu travesseiro, enquanto um incômodo
parece se instalar em sua garganta, como se
houvesse algo ali dentro impedindo-a de respirar.

Abrindo os olhos, ela deixou que sua atenção


mais uma vez recaísse sobre Carrick, ele
continuava dormindo totalmente alheio a sua
presença, e ela percebe que aquela deve ser a
primeira vez que ele realmente pode descansar
desde que conseguiu escapar das garras de seu tio.

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Os dedos dela o alcançam as pontas


contornando seu maxilar numa caricia suave, ela
pode sentir o toque áspero de sua barba por fazer na
ponta de seu queixo, em contraste com a maciez de
seus lábios, a vontade de beijá-lo é um aperto
constante em seu peito que ela se esforça para
ignorar.

O cheiro dele parece de alguma forma ter se


impregnado também em seu corpo, o aroma suave
de chuva exalando de seus cabelos e ela sorri ao
notar isso, o coração dela é uma mistura caótica de
sentimentos que ela não consegue compreender, e
no centro de todos eles Carrick parece orbitar como
um sol resplandecente.

Por um momento ela se deixa levar por sua


imaginação, enquanto em sua mente ela cria uma
nova visão um novo mundo, algo completamente
daquela realidade que a envolve. Nesse novo
mundo, nesse novo lugar ela é apenas uma garota
simples comum, com uma família que a ama, que
acaba de entrar na faculdade e conhece o garoto
pelo qual seu coração bate mais acelerado. Um
rapaz de olhos verdes igual as folhas das árvores no
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verão.

A imagem brilha em sua mente, como um


sonho perfeito e é exatamente por esse motivo que
ela sabe que tudo aquilo não passa de uma ilusão,
algo que ela nunca pode ter. E saber disso lhe da
forças o suficiente para deslizar para fora da cama.

Mesmo no escuro Nina consegue encontrar suas


roupas que haviam sido espalhadas pelo quarto, se
veste com rapidez e em silêncio sabendo que não
tem muito tempo. Na cama a respiração de Carrick
é tranqüila e por um momento enquanto está
vestindo sua camiseta ela quase desiste desejando
poder simplesmente voltar a deitar a seu lado e
adormecer.

Lá fora o céu começa a assumir um tom


acinzentado, as estrelas perdendo ligeiramente seu
brilho, em algum canto do jardim um pássaro solta
uma nota mais longa que parece balançar na brisa
como um sino repicando ao vento.

Os pés dela pesam uma tonelada, como se


milhares de raízes tivessem nascido no chão,

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fazendo com que ela permanece ali dentro como


uma estátua. Algo dentro dela lhe diz que é melhor
partir daquela maneira, não existe nada entre eles e
nem mesmo nunca existiu, ela sabe muito bem que
não há nada que ela possa dizer a Carrick... E
mesmo assim cada passo para fora daquele lugar
lhe custam um esforço monumental, olhando sobre
seus ombros ela o observa dormindo na cama, os
membros espalhados pelo colchão completamente
relaxado, e uma parte dela quase deseja que ele a
acorde e a impeça.

Ela desce o corredor rapidamente seus passos


silenciosos da casa adormecida., as teias de aranha
brilhando como fios prateados ao redor decorando
os cantos mais escuros e afastados daquele lugar.

A mente dela a levou para o momento quando


acordara naquela casa, o desespero que havia
sentido a vontade de sair dali o mais rápido
possível após a traição de Carrick. Realmente fazia
apenas alguns dias que tudo aquilo acontecera?
Sentia como se toda uma vida houvesse se passado
desde então, e uma eternidade desde que resolvera
fugir da casa de seu tio.
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As coisas haviam mudado, mas muito mais do


que isso ela se transformará, de uma forma que ela
apenas havia começado a compreender, e de certa
forma ter consciência disso apenas a deixava
perturbada.

A grama orvalhado raspou levemente na barra


de sua calça, seus passos farfalhando como um
fantasma na brisa, ninguém a impediu sair daquele
lugar, a porta que ela atravessara estava apenas
parcialmente encostada, enquanto ela caminhava
pela rua acima de sua cabeça o céu atingiu uma
tonalidade mais clara, as nuvens se movimentando
enquanto o primeiro tom vermelho da aurora tingia
o dia.

Nina lançou apenas um único ultimo relance


para casa adormecida que ficara a suas costas, a
velha mansão agora não mais lhe parecia possuir
uma aparência assustadora, e certa tristeza quase
saudosa invadiu seu peito enquanto ela observava
aquele lugar, imaginando como um dia ele deveria
ter sido bonito e opulento.

Com esforço manteve os olhos afastados do


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último andar, e da janela em formato oval, ordenou


a si mesma a não pensar em Carrick enquanto
descia a rua, os passos apressados embora não
houvesse um destino fixo ainda em sua mente.

Os dedos de suas mãos logo ficaram gelados


assim como suas bochechas enquanto ela
caminhava, ao seu redor as casas pareciam
adormecidas, a maioria das luzes apagadas. Os
latidos de um cachorro mais a frente, espantaram
um bando de passarinhos que cruzou o céu numa
nuvem agitada. Naquele momento ela muito bem
poderia ser uma das últimas pessoas vivas no
mundo.

Sentia o coração pesado em seu peito como


uma pedra, em sua cabeça seus pensamentos eram
lentos e desconexos, era difícil prestar atenção
neles, ou mesmo compreende-los, por isso ela
continuou em frente forçando seu passo. Até
alcançar uma rua mais movimentada que deu
acesso a uma avenida.

Ali o movimento dos carros era mais agitado, as


luzes dos veículos brilhando agora de maneira
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menos luminosas, ao longe os primeiros raios de


sol tocavam os picos dos arranha-céus da cidade,
enquanto um novo dia se descortinava diante dela.
A noite passada agora mais do que nunca parecia
um sonho, distante e impossível uma lembrança de
um verão que logo ficaria esquecida num canto em
sua mente.

O táxi amarelo com uma das luzes do farol


apagada atendeu ao pedido de seu braço estendido
deslizando pelo transito e estacionando no meio-fio
esperando por ela. Nina deslizou pelo banco em
silêncio, deixando que o cheiro de couro e colônia
pós-barba invadisse seus sentidos. Quando o
motorista perguntou seu destino, ela respondeu
num murmúrio quase inaudível, que queria gostaria
de ir para casa.

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Capítulo Trinta e Um
Ela podia sentir o olhar enviesado que o taxista
lhe lançava pelo retrovisor, mas preferiu ignora-lo
enquanto sua atenção ficava focada no trânsito ao
seu redor. Ela imaginou que no final das contas
provavelmente ele já devia ter se acostumado a
lidar com pessoas excêntricas exercendo aquele
tipo de serviço, por outro lado a casa de seu tio
localizada quase na saída da cidade lhe dava uma
rota grande o suficiente para que ele pudesse lucrar
bastante com apenas uma única corrida, e aquela
pequena escolha guiada pela ganância o fizera
aceitar ela como primeira passageira do dia.

Do lado de fora Nina conseguia observar agora


os raios de sol, que se derramavam placidamente
sobre o concreto dos prédios, tingindo-os por um
momento de branco. As ruas estavam
movimentadas, com o fluxo matinal de pessoas
indo em direções distintas em seus serviços. Por
todos os lados ela conseguia perceber o passo
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acelerado, o ritmo quase frenético daquela cidade,


que ela agora conhecia tão bem, embora naquele
momento se sentisse muito mais como uma
expectadora do que uma participante de sua própria
vida.

Guardou as lembranças sobre Carrick na parte


mais distante de sua mente, recusando-se a lidar
com a enxurrada de sentimentos que pareciam ter
se amontoado num canto de seu coração. Talvez
esse fosse o motivo pelo qual ela sentia que ele
pesava dentro de seu peito.

Tentou sufocar mesmo sem muito sucesso o


nervosismo e o medo que borbulhavam em seu
estômago enquanto cada vez mais o táxi se
aproximava da casa em sua infância, e embora ela
continuasse apertando as mãos uma contra as
outras, o silêncio ali dentro só piorava a ansiedade
que crescia formando um bolo no centro de sua
garganta.

A manhã mal havia se descortinado por


completo quando o táxi finalmente virou na rua
particular que dava acesso a mansão de seu tio. Os
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olhos do taxista se estreitaram ainda mais, quando


ele notou a pequena guarita onde dois homens
usando ternos negros os encaravam com expressões
nem um pouco amistosas.

Pela primeira vez ela pode notar, a expressão de


medo no rosto do taxista, quando a guarita se abriu
e de lá de dentro um dos capangas de seu tio, saiu
tranquilamente uma das mãos pousadas embaixo de
seu terno.

Pedindo para que o taxista parasse ali mesmo,


Nina saiu do carro usando um semblante calmo,
tentando de todas as maneiras ocultas o medo que
naquele momento parecia devorar suas entranhas.

Os olhos do capanga de seu tio pousaram sobre


ela com desprezo seu olhar observando-a dos pés a
cabeça. Ela não o conhecia, mas isso não fazia
diferença alguma. Naquela mansão todos sabiam
exatamente quem ela era.

- Estou aqui para ver meu tio – disse a garota,


feliz que sua voz não tivesse vacilado por um único
momento.

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Os olhos do capanga se estreitaram, cavando as


pontas de suas unhas nas palmas de suas mãos Nina
suportou o olhar lembrando a si mesma que havia
sido ela quem tomara a decisão de voltar até aquele
lugar, ela se recusava a ser intimidada por um
estranho.

- Pague o taxista e me leve até meu tio –


ordenou ela, deixando o capanga a sua frente
visivelmente desconfortável.

Palavras em russo foram trocadas entre ele e


outro homem que havia ficado na guarita, o
capanga diante dela se aproximou, retirando um
nota alta de sua carteira e entregando a um taxista,
que rapidamente saiu dali com velocidade, sem
nem mesmo lançar um segundo olhar em sua
direção.

Nina optou por manter sua cabeça erguida


enquanto foi levada para dentro da mansão de seu
tio, o portão que ela e Carrick haviam parcialmente
destruído em sua fuga estava concertado reluzindo
com sua nova pintura, como se nunca nada de ruim
tivesse acontecido ali.
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Os jardins estavam limpos a fonte na parte mais


afastada borbulhava num tom alegre, qualquer
indicio sobre sua festa de aniversario havia
desaparecido. A casa estava exatamente igual em
suas lembranças com suas janelas altas e
imponentes viradas em direção a estrada, mas havia
um silêncio opressor ali pairando todo o ambiente
que fazia com que os pelos em seus braços
ficassem eriçados. Havia uma expectativa
carregada no ar, como se uma tempestade estivesse
se formando no horizonte.

Eles fizeram ela andar todo o caminho até a


casa, seus tênis escorregando no cascalho de pedras
amarelas, ela não se importou com aquilo e tentou
ignorar agora o olhar fixo que o capanga que a
recebera lançava por sobre seu ombro. Ela podia
imaginar os castigos que seu tio havia infligido
àqueles homens, os culpando por sua fuga, uma
parte de seu coração desejava sentir pena deles,
sabendo que eles haviam pagado por suas escolhas,
mas ela não era capaz de se arrepender de ter
fugido daquele lugar.

Ele a levou para o interior da casa que estava


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tão silencioso e deserto quanto os jardins, os olhos


dela arderam quando ela observou o lugar que
chamara de lar nos últimos dez anos. Apenas
alguns dias haviam se passado, mas Nina sentia-se
como se toda uma vida tivesse passado diante dela
desde então. Com pressa seus olhos buscaram o
alto das escadas, por um momento ela imaginou
que poderia encontrar Olga ali esperando por ela,
um sorriso aberto em seus lábios e olhos marejados
de saudade, mas não havia ninguém ali para recebê-
la, e a preocupação pela prima cavou mais fundo
em seu peito assim como o desconforto.

Um empurrão brusco trouxe-a de volta a


realidade, o capanga de seu tio arrastou seu corpo
para dentro da casa, enquanto os passos de ambos
soavam muito alto contra o piso de madeira. Eles
percorreram o longo e sinuoso corredor, até que ela
estivesse mais uma vez diante das enormes portas
da biblioteca. Um sentimento de deja-vú pairou
sobre suas lembranças. Na noite de seu aniversario
que ela fugira do anuncio que seu tio fizera sobre
seu noivado, sua tia havia lhe arrastado até ali.
Naquele lugar ela começara a descobrir os segredos
escondidos durante aqueles anos por aqueles que
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ela pensavam que eram sua família.

Os toques na porta pelo capanga foram lentos,


quase baixos demais, eles entraram ali dentro com
passos lentos e calculados como se estivessem com
medo de se aproximarem da jaula de uma fera sem
controle.

Os olhos de Serguei se fixaram nela assim que ele


notou sua presença, fixos e translúcidos quase
como se fossem feitos de vidro. Os olhos de seu tio
sempre tiveram aquele brilho obliquo?

O silêncio entre eles pareceu preencher a


biblioteca ecoando em seus ouvidos, o capanga ao
seu lado, deixou ambos sozinhos, como se soubesse
que aquele era um assunto que seu chefe iria
preferir tratar em particular.

Ela esperou parada diante dele, alguma reação,


sentado do outro lado da mesa com um copo de
cristal vazio entre seus dedos, e a gravata cinza
frouxa em seu pescoço, ele parecia o tipo de
homem que não havia tido uma boa noite de sono.
Havia rugas ao redor de seus olhos, e nos contornos

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de sua boca, ela sempre o achara um homem


severo, que tentava impor suas decisões através de
sua postura rígida. Ela nunca havia o considerado
uma pessoa fria, mas todas as certezas que um dia
ela havia possuído em sua vida haviam
simplesmente se partido de maneira irrecuperável.

- Onde está Olga? – perguntou Nina. Não era


aquilo o que ela havia planejado lhe perguntar, mas
agora que finalmente encontrara sua voz havia
percebido que realmente precisava descobrir o
paradeiro da única pessoa que ela ainda se
importava naquela família.

- Eu sabia que você voltaria – respondeu


Serguei, seus dedos parcialmente trêmulos
encontrando a garrafa de whisky semi-aberta ao
lado de sua mesa – Você é igualzinho ao seu pai,
completamente alheio a suas próprias
responsabilidades. Uma inconseqüente.

As palavras dele não deveriam te-la atingido,


depois de tudo o que ela passara, de certa forma ela
havia acreditado que se tornara mais forte, imune
mas seu coração ainda batia de forma dolorida em
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seu peito. Durante todo o tempo em que estivera


longe de seu tio ela acreditara que havia fugido de
seu lar, mas sabia que estava mais do que disposta a
construir outro, recomeçar novamente distante dali,
fazendo suas próprias escolhas, construindo sua
própria família. Agora ela começava a perceber que
aquele lugar nunca havia de verdade sido seu lar, e
aquele homem diante dela nunca a enxergara como
família. O vazio que ela sentiu em seu peito ao
notar isso, quase foi o suficiente para fazer com que
suas pernas fraquejassem.

- Ela está bem? Eu nunca quis que Olga se


machucasse... Ela não queria que eu fugisse.

- E mesmo assim te ajudou de qualquer forma


atraindo meus homens para que você conseguisse
escapar. Parece que eu subestimei sua influência
sobre ela.

- Olga não precisa pagar pelas minhas ações.

- E ela não ira pagar Ekaterina, - respondeu


Serguei entre dentes – Eu sei exatamente quem é a
culpada de tudo isso o que está acontecendo.

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- Eu só quero saber se ela está bem....

As palavras dela morreram em seus lábios


quando ela observou seu tio se levantar, sem olhar
em sua direção, ele levou o copo de bebida aos
lábios bebendo o liquido âmbar de uma única vez.
Mesmo aquela distância ela podia perceber como
seus dedos apertavam o vidro até que suas
extremidades estivessem completamente pálidas.

- Diga-me o que você veio fazer aqui? Depois


de todo o esforço que teve para fugir... – perguntou
ele enquanto contornava a mesa, apoiando seu
pesado corpo contra a cadeira de espaldar alto atrás
de sua escrivaninha. – Tenho certeza que deve ter
sido um motivo muito importante que a trouxe
aqui.

A língua dela estava seca em sua boca, sua


saliva parecendo areia entre seus lábios. Desde que
ela descobrira a verdade sobre sua mãe aquela
pergunta havia rondado seu cérebro como uma
cobra deslizando silenciosamente pelas sombras de
sua mente, enquanto milhares de suspeitas se
acumulavam ali até que nada mais em sua cabeça
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parecia ter nenhuma coerência.

Ela precisava saber, mesmo que isso a


dilacerasse. Nina sabia com o resto de força que
havia lhe restado que ela precisava descobrir a
verdade.

- Foi você quem matou minha mãe?

Um peso pareceu se deslocar de seu coração


quando ela deixou a pergunta escapar de sua
garganta, a frase pairou entre eles quase como se
fosse algo visível. O coração dela batia forte contra
suas costelas, enquanto ela esperava encontrar
algum tipo de reação no rosto do tio, qualquer uma
que fosse, por menor ou mais insignificante.

- Esse é o motivo pelo qual você voltou aqui? –


perguntou seu tio, e Nina odiou escutar o desprezo
em sua voz. – Eu devia tê-la acorrentado em seu
quarto, depois do que você me fez passar em sua
festa de aniversário. Dessa forma quem sabe você
teria aprendido qual era seu lugar.

- Como você fez com Carrick no porão?

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- Carrick? Esse era o nome do garoto que você


conseguiu que ajudasse em sua fuga.? Um mero
ladrãozinho qualquer que passava seus dias,
vivendo das migalhas das informações que
conseguia reunir da máfia. Mais um dos meus
erros, aparentemente. Eu devia ter colocado uma
bala no meio dos olhos dele quando meus homens o
encontraram bisbilhotando na minha casa.

As palavras de seu tio eram controladas, sua


voz soava quase tranqüila, embora houvesse um
brilho claramente raivoso em seus olhos. Como ela
pudera se enganar durante todos aqueles anos com
o homem diante dela. Sem sombra de dúvidas ela
estava diante de um monstro.

- Eu nunca me casaria contra minha vontade.


Você deveria saber disso tio.

- É mesmo? – perguntou Serguei enquanto um


sorriso dissimulado se formava em seus lábios –
Parece que eu realmente falhei em lhe mostrar qual
o seu lugar dentro dessa família.

- Você ainda não respondeu minha pergunta.

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- Ah Ekaterina... Acredito que eu tenha


respondido com bastante clareza.

As palavras a atingiram como se fossem um


golpe físico, por um momento ela esperou que tudo
o que estava acontecendo diante dela não pudesse
ser verdade, mas as batidas ritmadas de seu
coração, assim como sua dor deixavam bem claro o
peso de sua realidade.

- Por quê? – perguntou a garota tentando


ignorar o bolo que se formara em sua garganta, e as
lágrimas que ardiam em seus olhos – Por que você
precisava matar minha mãe?

- Eu precisava dar um nó em todas as pontas


soltas que seu pai havia deixado – explicou Serguei
com um encolher de seus ombros – Eu finalmente
havia conseguido colocar minhas mãos sobre você,
mas você continuava perguntando por ela,
querendo saber onde ela estava a longo prazo isso
seria prejudicial aos meus planos.

- Você queria me usar. Esse sempre foi seu


plano.

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Pela primeira vez desde que chegara ali Nina


conseguiu notar alguma expressão cruzar o rosto de
seu tio, os olhos dele se estreitaram enquanto seu
rosto parecia uma máscara de repulsa.

- Eu lhe dei uma casa, meu nome, minha


proteção. Se dependesse de seu pai você e a
prostituta de sua mãe teriam continuado
escondidas, vivendo num lugar que mais parecia
um chiqueiro.

- Isso é mentira!

- Acha que estou mentindo? – perguntou


Serguei enquanto seu sorriso se tornava ainda
maior quase insano – E por que eu faria isso? Você
veio até aqui Ekaterina então espero que esteja
preparada, pra escutar toda a verdade que exigiu.

A língua dela havia se tornado pesado em sua


boca, as palavras de seu tio doíam em seu peito,
nada do que ele estava dizendo fazia sentido. As
lembranças de sua infância, e de sua mãe eram as
melhores coisas que ela possuía no mundo. Em
silêncio ela observou ele se aproximar em sua

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direção, seu corpo reagiu num instinto claro,


adrenalina percorrendo todo seu corpo preparando-
a para fugir a qualquer momento.

- Seu pai Yuri, nunca se importou com a família


– disse seu tio num fio de voz, o sotaque russo
carregando suas palavras, o cheiro da bebida
alcoólica impregnando em seu nariz – Ele estava
feliz em andar pela cidade, fazendo seu nome, mas
não estava disposto a se sacrificar para unir a
Bratva lidera-la. Nosso pai queria casá-lo com
Irina, ela era de uma família antiga que sempre nos
apoiara, mas ele se recusou, dizendo que não tinha
nenhum interesse em ser um chefe. Pode imaginar a
vergonha que ele nos fez passar? Realmente a maçã
não cai muito longe da árvore.

- Por que ele precisava ceder? Por que não tinha


o direito de fazer suas próprias escolhas?

- Porque ele era da máfia Ekaterina! –


respondeu seu tio erguendo sua voz pela primeira
vez – Porque existiam coisas mais importantes do
que seu estúpido egoísmo infantil!

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As palavras dele ecoaram em seus ouvidos, os


olhos de seu tio brilhando de maneira quase
translúcidas fixos em seu rosto.

- Yuri não estava disposto a ceder – continuou


ele – E logo descobrimos o motivo. Ele havia se
envolvido com uma prostituta, uma mulher
qualquer uma desconhecida. Eles tiveram uma
família, e ela com medo havia decidido cria-la
afastada da máfia. Longe de seu próprio sangue.
Naquela época seu pai já se tornara um notório
assassino dentro do submundo, o nome dele era
muito bem conhecido entre todos os clãs. Logo um
prêmio havia sido colocado sobre sua cabeça, no
final daquele ano nós o encontramos seu corpo
boiando no rio.

- Você não...

- Eu não matei meu próprio irmão, se é isso que


está querendo insinuar sobrinha, embora eu não
negue que não tivesse me faltado vontade. Nos
últimos anos, seu pai havia se tornado um
imprudente e descuidado, que com suas ações
trouxera apenas problemas para a Bratva.
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- Mas por que...? – perguntou a garota confusa,


as palavras agora escapando de seus lábios
enquanto seus pensamentos se chocavam dentro de
sua mente, mais confusos que os anteriores – Se
você desprezava tanto assim a mim e minha mãe,
por que foi atrás de nós duas?

- Você acha que isso era algo que eu desejava?


– perguntou seu tio num sibilo de voz quase
inaudível – Por mim, tanto você quanto ela teriam
permanecido o mais longe possível, sem que
pudesse atrapalhar meus planos, mas não foi isso o
que aconteceu.

Os olhos de Serguei desviaram de seu rosto,


pousando sobre sua cabeça, por um momento eles
perderam o foco como se tivessem relembrando
uma cena que acontecera a muitos anos atrás, uma
lembrança ainda vivida embora existisse apenas em
suas memórias.

- Quando nossa família, descobriu a respeito da


descendência de Yuri, muito quiseram trazê-la
sobre nossa proteção, mesmo sabendo a respeito de
sua mãe – respondeu seu tio – Seu pai podia ter
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sido um péssimo líder, mas mesmo assim a maioria


o respeitava e sua força, e muitos queriam
continuar de alguma forma seguindo alguém de sua
linhagem.

- O que você está dizendo... – perguntou Nina


sentindo-se completamente atônita.

- Não me olhe com essa expressão tão surpresa


Ekaterina, você sabe tão bem quanto eu, que
algumas mulheres foram treinadas para serem
chefes em nossa cultura. E esse era o destino que
eles queriam para você, como filha do seu pai.

- Mas você... você não queria isso não é mesmo


tio?

- Você está certa. Eu não conseguia


compreender porque todas aquelas pessoas, ainda
se importavam tanto com a descendência de Yuri.
Na maior parte do tempo, era eu quem cuidava de
nossa família, que nos defendia dentro da Bratva,
mas quando meu irmão morreu, todos estavam
dispostos a esperar por uma criança mestiça crescer
para receber as honras de liderar nossa família.

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- Foi por isso que você foi procurar a mim e


minha mãe...

- Você era jovem, inexperiente – continuou ela,


agora seus olhos claros mais uma vez se focando
em seu rosto – Precisava de um tutor até estar
completamente preparada, e eu como seu tio, como
sua família mais próxima me ofereci para isso.

- Mas, você não se importava nem um pouco


comigo. Você só esperava me usar, para se tornar
chefe de nossa família.

- Eu fui o líder dessa família, desde o dia da


morte de seu pai. Fui eu quem dei um teto sobre
sua cabeça, uma educação descente, um
sobrenome. Você deveria ser grata a mim.

- Grata por que, teve a oportunidade de me usar


durante todos esses anos? – perguntou Nina
deixando que toda a raiva que sentia manchasse
suas palavras, e ele pudesse perceber o quanto ela o
desprezava – Grata, por que você mandou matar
minha mãe, para que dessa forma pudesse me
controlar melhor? Grata por que pretendia me

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vender, como um objeto para que pudesse me tirar


de seu caminho e atingir seus objetivos?...

O silêncio na biblioteca soou ainda mais alto


quando finalmente as palavras dela se perderam
entre aquelas paredes, até aquele momento ela não
havia percebido que estivera gritando a plenos
pulmões.

- Eu devia ter feito você casar, no dia que


completou sua maioridade. Com certeza isso teria
me poupado inúmeros problemas – respondeu
Serguei, enquanto a olhava dos pés a cabeça a
sombra do desprezo cobrindo suas feições. – Mas
isso não importa agora já que você está aqui...

Nina sentiu o espanto tomar conta de suas


feições o horror se retorcendo em seu estômago.
Quando viera até ali em busca de verdades, uma
parte dela ainda acreditava que todas as coisas
horríveis que ela havia descoberto não passavam de
um engano, de certa forma ela queria acreditar que
tudo poderia ser esquecido, enquanto seu passado
era empurrado para longe dela, e o futuro ainda não
estava perdido.
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Ela queria acreditar que seu tio não era um


monstro, que sua vida até aquele momento não
havia sido uma farsa. Sentia-se tão perdida que no
final de tudo a o único caminho que ele sabia
percorrer havia sido feito em direção ao homem
que destruíra sua vida.

- Eu não vou me casar contra minha vontade –


disse Nina, embora não houvesse nenhuma firmeza
em sua voz.

Serguei deu as costas para ela, como se suas


palavras ou sua vontade não significassem
absolutamente nada. Em silêncio com o coração
acelerado ela observou ele abrir, a primeira gaveta
de sua escrivaninha retirando uma folha de papel
ali dentro enquanto colocava junto a uma caneta em
sua frente, e antes mesmo que ela pudesse
compreender o que aquilo significava, ela percebeu
a mão de seu tio escorregar para dentro de seu
terno, retirando uma arma que naquele momento
ele apontava diretamente em seu rosto.

- Você fará exatamente o que eu mando


Ekaterina – disse seu tio muito simplesmente – Se
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não quiser que sua vida termine agora mesmo.

- Você não teria coragem....

- Se você realmente acredita nisso, então é


porque mesmo após todos esses anos você não me
conhece – respondeu ele, a ponta de seu polegar
engatilhando a arma em suas mãos, o som
agourento ecoando em seus ouvidos. – Assine o
contrato de casamento que eu preparei para você, e
então eu te garanto que você poderá sair daqui com
vida.

Por um momento Nina não pode acreditar


completamente no que estava acontecendo diante
dela, uma parte de seu cérebro simplesmente não
queria acreditar que seu tio, o homem que havia a
criado nos últimos dez anos fosse capaz de
machuca-la daquela maneira, mas a mão dele
parecia muito firme no gatilho enquanto segurava a
arma apontada em sua direção, e o olhar calculista
em seus olhos lhe dizia que ele não estava
blefando.

- Não vou assinar nenhum contrato, isso não vai

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fazer diferença alguma, você nunca me deixaria


sair daqui tranquilamente.

- Parece que você aprendeu algumas coisas


enquanto esteve fora – respondeu Serguei, um
sorriso torto esticando os cantos de sua boca.

A saliva parece ter secado em sua boca, o medo


deixara um gosto ácido em sua garganta, e as
palmas de suas mãos estavam gélidas. Nina tentou
manter-se calma, controlando sua expressão, mas
naquele momento ela percebera o gigantesco erro
que cometera ao voltar para sua casa.

Uma parte dela ainda guardara uma esperança


de que no final tudo pudesse ser resolvido, que seu
tio sua família e todo seu mundo não eram os
monstros que ela estava descobrindo, mas naquele
momento ela percebia que estivera enganada
durante todo aquele tempo.

- Assine o documento Ekaterina! Não tenho


paciência para suportar sua indecisão nesse
momento!

As palavras de Serguei cortaram fundo dentro


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dela, o pânico deixando seus pensamentos mais


lentos, ela tentou buscar alguma coisa em sua
mente para conseguir ganhar algum tempo, mas
simplesmente não era capaz de desviar o olhar da
arma apontada em frente ao seu rosto.

Sons altos de disparo chegaram até seu ouvido,


assustada a garota olhou em direção a pesada porta
da biblioteca que continuava fechada. Do outro
lado ela ouviu um homem gritar algo que ela não
foi capaz de compreender, mais tiros de seguiram
enquanto uma confusão de barulhos indistinguíveis
começava a se aproximar cada vez mais da
biblioteca.

- O que foi que você fez sua...

A voz rasgada de seu tio ficou presa em sua


garganta quando uma porta que ela nunca notara
estar ali sob as prateleiras da biblioteca se moveu,
sem compreender direito o que estava acontecendo
e como tudo aquilo podia ser possível, ela observou
Carrick emergir daquele lugar, uma arma também
empunhada em mãos. Os olhos dele verdes como as
folhas do verão não estavam fixos nela, mas em seu
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tio atrás de suas costas, e antes mesmo que ela


tivesse a chance de pedir-lhe qualquer coisa, ela
observou ele atirar contra Serguei, o tiro ressoando
como uma bomba em seus ouvidos depois mais
outro e mais outro, até que houvesse um apito
infernal em sua cabeça. O corpo de seu tio caiu
para trás num grande estardalhaço, se chocando
contra sua escrivaninha, e depois disso o silêncio
pareceu engolir seu mundo.

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Capítulo Trinta e Dois


O sol era escaldante sobre sua cabeça,
queimando a pele exposta de seus braços, debaixo
de seu vestido preto de velório, ela podia sentir
uma gota de suor escorrendo por suas costas, mas
não se importou com isso.

O grupo reunido ali, naquele dia de verão


vestidos completamente de negro faziam um
contraste gritante com o belo dia ao redor. Parecia
simplesmente errado para Nina participar de um
funeral num dia tão bonito quanto aquele.

A ladainha em russo e as preces do padre diante


do caixão de seu tio, eram ignoradas por seus
ouvidos. Ela tentou não focar novamente seu olhar
sobre Olga que estava do outro lado do caixão, o
rosto encoberto por pesados óculos escuros. Ela
desejava desesperadamente poder falar com sua
prima, mas simplesmente não era capaz de escolher
o momento ideal.
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Ela quase não era capaz de acreditar que apenas


dois dias haviam se passado desde a morte de seu
tio. A memória era como se estivesse gravada em
sua mente, na parte mais profunda de seu cérebro,
uma imagem que ela era capaz de enxergar mesmo
de olhos fechados. A todo instante.

Apenas ela sabia o que acontecera realmente


naquela biblioteca, o jeito como Carrick entrara ali
dentro, empunhando uma arma, e sem nem mesmo
hesitar matara Serguei a sangue frio. Para a Bratva
seu tio havia sido morto por uma emboscada da
máfia italiana, após informações terem chegado até
eles de que os russos pretendiam formar uma única
aliança., quebrando o pacto de não agressão que
existia na cidade.

A morte de seu tio foi inesperada, mas quando


seus planos vieram à tona a Bratva preferiu não se
posicionar contra os italianos, muitos dos próprios
russos não apoiavam a pretensão de se tornar um
líder mais forte na família, exatamente por esse
motivo poucos compareceram em seu funeral.

No fim de sua vida, seu tio se tornara um líder


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facilmente esquecível que rapidamente seria


substituído por outra pessoa disposta a alcançar seu
lugar. E ela sabia muito bem que isso era a pior
coisa que poderia ter acontecido. Ele jamais
alcançaria a glória que tanto almejara.

Fechando os olhos por um momento a garota


tentou se concentrar nas batidas rítmicas de seu
coração. Havia um vazio ali dentro que a assustava,
mesmo diante do caixão de seu tio, o homem que a
criara durante dez anos, ela não era capaz de sentir
nada. Remorso, tristeza raiva, todos esses
sentimentos estavam ausentes de seu corpo, que
parecia sustentar-se por uma força mecânica. Nos
últimos dias ela se forçara a agir com naturalidade,
comendo quando era preciso, dormindo quando seu
corpo sentia sono, mas na maior parte do tempo ela
simplesmente andava por sua antiga casa,
ignorando completamente a biblioteca tentando
ocupar sua mente com qualquer coisa que não fosse
seu presente.

Ela não encontrara Carrick desde o dia em que


ele salvara, e havia uma parte dela que não tinha
muita certeza se desejava reencontra-lo. Pensar
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nele, era como cutucar uma ferida dolorosa que


ainda estava muito sensível.

No momento ela não era capaz de planejar ou


mesmo pensar em seu futuro, e embora no final
tudo tivesse terminado de uma maneira caótica e
imprevisível, ao menos toda aquela confusão
servira para que as pessoas esquecessem por
completo o contrato de noivado que seu tio lhe
arranjara. Ela não havia perguntado por que no
final das contas não se importava nem um pouco
com o que acontecia com os planos, ou arranjos
feitos por Serguei, mas de alguma forma ela ouvira
que Igor estava desaparecido. A Bratva havia
tentando encontra-lo, mas parecia que ele
simplesmente sumira da cidade, e ela com toda
certeza não se lamentava por isso.

As palavras lamuriosas do padre foram


carregadas pela brisa, suas mãos velhas enrugadas
abençoaram uma última vez o caixão de seu tio,
que lentamente começou seu caminho para o centro
da cova. Sentindo-se desconfortável, ela observou
Olga se aproximar, carregando um botão de rosa
entre as pálidas mãos. Ela parecia abatida embora
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sua imagem fosse elegante e refinada. Nina desejou


poder quebrar os poucos metros que a separavam e
abraça-la, mas não tinha idéia de como seria
recebida.

As pessoas começaram a se afastar lentamente,


os rostos baixos sussurros que permeavam o ar,
parecia haver uma tensão crescente entre as
famílias, e Nina podia perceber que a morte de seu
tio ainda iria impactar aquela cidade de uma forma
que as pessoas ainda não eram capazes de
compreender.

Os olhos de Irina recaíram sobre ela, antes que


a mulher se virasse e fosse embora sem nem ocultar
o ressentimento e o desprezo que ela sentia. Ela
observou Olga virar-se depois de depositar a rosa
contra o caixão de seu pai, e também começar a
deixar o cemitério. Naquele momento Nina decidiu
que não poderia mais continuar a esperar o
momento ideal.

- Olga espere! – chamou a garota, sua voz


soando de maneira insegura naquele lugar
descampado.
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Por um momento ela imaginou que sua prima


não iria esperá-la, para conseguir alcança-la ela
teve que aumentar seu passo, os saltos finos de seus
sapatos se enterrando na grama verde-clara ao seu
redor.

Os ombros dela estavam caídos, quando Olga


finalmente virou-se para confrontá-lo, ela podia
enxergar as pontas pálidas de seus dedos ao redor
das alças de sua bolsa.

As palavras fugiram de sua língua, correndo


como baratas surpreendidas pela luz em seu
cérebro. O silêncio entre elas cresceu até se tornar
constrangedor, enquanto sua prima retirava com
cuidado os óculos escuros de seu rosto, deixando
que ela pudesse observar seu semblante abatido, os
olhos azuis idênticos ao de seu tio, riscados de
vermelho como se ela tivesse passado toda a noite
chorando.

- Você está bem? – perguntou Nina, detestando


como aquilo soou simplório e estúpido.

- Eu acabo de enterrar meu pai, acho que essa é

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uma pergunta bastante desnecessária.

- Eu sinto muito Olga...

- Sente mesmo Nina? – perguntou sua prima, os


olhos claros faiscando em sua direção. A voz
soando repleta de uma raiva que ela nunca ouvira.
De repente era como se ela simplesmente não
pudesse reconhecer a garota diante dela. Como se
elas fossem duas estranhas.

- É claro que sim. Eu não queria que nada disso


tivesse acontecido...

- Mesmo assim você não impediu não é


mesmo? Você estava lá Nina...

- Olga...

- Eu sei que não foi você quem puxou o gatilho


– respondeu sua prima a interrompendo – Mas, sei
que alguém invadiu minha casa e deu um tiro na
cabeça do meu pai. Eles disseram que foram os
italianos, parece que um dos negócios do meu pai
não os agradou, mas como eles poderiam saber
disso? Precisava que alguém tivesse contado a
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eles.

Nina sentiu a língua em sua boca muito pesada,


como se pedras estivessem sobre ela. Havia tantas
coisas que ela queria dizer a Olga, a saudade que
sentira por ela era como a ausência de braço. Ela
havia imaginado aquele reencontro milhares de
vezes em sua cabeça, e em nenhuma delas pudera
ter criado uma cena como aquela que acontecia
naquele momento, a irmã de seu coração lançando-
lhe um olhar repleto de ódio.

- Pelo menos você não vai ter a audácia de


negar, ou mesmo tentar inventar algum tipo de
história qualquer pra me enganar. Eu já me sinto
melhor com isso.

- Olga eu não sei o que dizer...

- Não há nada que você possa dizer, ou fazer


para concertar essa situação Nina. Indiretamente ou
não você é a responsável pela morte do meu pai e
isso é o tipo de coisa que eu não posso esquecer, ou
mesmo perdoar...

As palavras dela a dilaceram por dentro, como


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se seu peito tivesse sido exposto e seu coração


rasgado ao meio. Ela mordeu o lábio tentando
conter o soluço que brotara em sua garganta. Tinha
certeza de que se chorasse naquele momento aquilo
apenas serviria para irritar sua prima ainda mais. E
ela não desejava lhe causar mais nenhum mal.

Ela observou os olhos de Olga repousar sobre o


caixão, agora alguns funcionários do cemitério
começavam a tampar a cova aberta, ao final do dia
não haveria nada ali além de um montículo
remexido de terra, e uma placa de pedra indicando
a memória da existência da vida de um ser
humano.

Uma lágrima escorreu por seu rosto silenciosa,


e ela recolocou os óculos como se tivessem
envergonhada de chorar em sua frente. Mais do que
tudo aquele gesto indicou o quanto elas haviam se
afastado. No passo Nina sabia que sua prima iria
atirar os braços ao redor de seu pescoço, chorando
ali livremente até que ela estivesse satisfeita e
ambas iriam dormir no mesmo quarto depois de
terem devorado um pote de sorvete. Todas aquelas
lembranças pareciam agora memórias de uma vida
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passada.

- Eu não pretendo encontra-la novamente


Ekaterina – disse Olga de maneira muito fria,
virando as costas em sua direção – Mas, caso isso
aconteça em memória a nossa história, eu quero te
avisar que não haverá nenhum tipo de confiança
entre nós.

O frio deslizou por suas costas, e embora o sol


estivesse alto no céu devorando o mundo com seus
raios dourados, ela sentiu os pelos de seu braço se
eriçarem, como se um mau agouro corresse por seu
corpo.

As palavras de sua prima eram mais um aviso


do que uma despedida, e o significado por trás
delas era muito claro. Confiança era a coisa mais
importante que havia dentro da máfia, e se você
não pudesse ter isso de uma pessoa então
claramente esse alguém era seu inimigo.

Sem conseguir pensar numa resposta, ela


observou Olga se afastar, sua figura delgada logo
sumiu atrás da borda de árvores que rodeavam o

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cemitério e por um momento Nina se perguntou se


aquela realmente havia sido a última vez que ela
encontrara com sua prima.

Ela sabia que deveria ir embora, o suor havia se


acumulado em sua roupa molhando a parte de trás
de seu vestido, mas não havia nenhum lugar
naquele momento no mundo que ela desejasse
estar, por isso ela permaneceu ali observando os
funcionários do cemitério que misericordiosamente
ignoraram sua presença. Eles trabalharam com
rapidez cobrindo a cova de seu tio, depois
colocando a pedra de concreto trabalhado que seria
sua lápide, e logo depois ela foi deixada ali sozinha,
apenas com seus pensamentos e os fantasmas
daqueles que deveriam habitar aquele lugar.

Por um longo momento ela observou a lápide


ali a seus pés, esperando uma um sentimento
qualquer que fosse surgisse em seu coração. Ódio,
ressentimento remorso. Aquele homem havia
matado sua mãe, usado apenas como um peão em
busca de seus objetivos, talvez no final das contas
ela deveria se sentir aliviada, mas não havia nada
ali. Apenas um vazio que parecia preencher cada
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batida de seu coração.

Ela não soube realmente dizer quanto tempo


permaneceu ali aos pés da cova recém-aberta de
seu tio, poderiam ter sido apenas alguns minutos,
ou mesmo horas, mas por fim o sol começou a
deixar sua visão embaraçada e muito clara e sua
cabeça parecia muito leve sobre seus ombro, foi
nesse momento que ela virou-se para sair daquele
lugar que ela o avistou.

Ele estava parado debaixo da cobertura das


árvores, enquanto se apoiava no tronco de uma,
cruzando os braços sobre o peito, e Nina teve
certeza que ele já estava ali há algum tempo apenas
a observando.

Caminhando em sua direção lentamente ela


absorveu sua figura, deveria estar brava com ele
enraivecida, parte de tudo aquilo que ela estava
tendo de suportar era sua culpa. Ela nunca
imaginara que ele teria ido até sua casa ou mesmo
mataria seu tio, mas tudo o que podia sentir ao
notar a figura de Carrick, era um alívio quase
obsceno como se alguém tivesse esfregando um
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bálsamo gentil sobre suas feridas.

Parado debaixo das árvores usando apenas uma


camiseta verde musgo e calça jeans, ele parecia
quase um ser místico saído das profundezas da
floresta, exatamente como o codinome que usava
no submundo. Os olhos verdes dele, não desviaram
de sua figura em nenhum momento, e havia ali uma
imensidão de coisas que ela mal era capaz de
compreender por completo. Ele era uma incógnita,
algo imenso, sombrio demais para que ela pudesse
decifrar, mas quando estava com ele embora
soubesse que talvez não fosse certo o peso em seu
coração parecia diminuir um pouco.

Uma parte dela queria se atirar em seus braços


assim que parou em sua frente, percorrer a ponta de
seu nariz sobre seu queixo escondendo seu rosto na
dobra de seu pescoço, exatamente no lugar onde ele
se encontrava com seus ombros e aspirar seu cheiro
limpo de chuva, mas ela conteve seus impulsos,
incapaz de confiar em si mesma ou em seus
próprios pensamentos.

- Você não devia estar aqui – disse Nina depois


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de algum tempo quando o silêncio entre eles se


tornou muito denso.

- Eu imaginei que você fosse precisar de


companhia.

- Você o matou Carrick... Atirou neles três


vezes. – A voz dela travou em sua garganta
desafinando. De repente ela estava enraivecida e
extremamente triste embora não soubesse
exatamente o motivo daquilo.

- Você quer que eu me desculpe? – perguntou


ele simplesmente os olhos esmeraldinos fixos e
infinitos em seu rosto – Quer que eu me
arrependa?

- Eu... eu não sei...

- Porque eu não me arrependo Nina... Aquele


homem ordenou a morte de sua mãe, mais cedo ou
mais tarde teria sido você, e eu não poderia deixar
isso acontecer.

- Você fez um acordo com os italianos – disse a


garota enquanto as memórias daquele dia voltavam
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a sua mente. Os gritos que ela ouvira, as vozes e os


tiros atrás das portas da biblioteca eram da máfia
italiana que havia emboscado seu tio em sua
própria casa. – O que eles pediram em troca dessa
ajuda?

- Você não precisa se preocupar com isso...

- Ao menos você me deve essa resposta


Carrick.

Nina percebeu que pela primeira vez ele


pareceu incomodado, e embora não soubesse o
motivo temeu pelo tipo de acordado que ele poderia
ter aceitado para ter conseguido matar seu tio.

- Assinei um contrato com Tiziano. No


momento eu estou trabalhando diretamente sobre
suas ordens embora ninguém deva saber disso.

- Você aceitou se tornar o espião dele... Ele


quer informações sobre os todas as famílias da
cidade, e quer exclusividade por elas.

- Ele quer essas informações, mas não tem


coragem de enviar um homem de sua própria
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família para consegui-las – disse Nina sentindo-se


mordaz – O que significa que você vai correr
perigo para pagar sua dívida.

- Viver é perigoso Nina – respondeu dando de


ombros simplesmente – Além do mais eu não
pretendo trabalhar muito tempo para Tiziano, eu
tenho meus próprios planos e conseguir
informações no futuro pode me ser bastante
proveitoso.

Nina sabia qual eram os planos de Carrick, ele


desejava reconstruir sua família, trazer de volta a
gloria da máfia irlandesa. Ela podia enxergar em
seus olhos sua obstinação quase insana, e tinha
certeza que nada no mundo iria dissuadi-lo disso.
Ele estava disposto a caminhar numa corda bamba
arriscando sua própria vida, e parecia não se
importar nem um pouco com isso. Ele almejava
mais do que tudo fazer parte do mundo que ela
sempre havia desejado nunca fazer parte. Mais do
que tudo, foi reconhecer aquilo, que ela sentiu suas
barreiras se quebrando por completo, enquanto as
lágrimas escorriam por seu rosto como um rio
caudaloso.
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- Você não deveria estar chorando –disse


Carrick, e através de sua visão borrada, ela podia
dizer o quão desconfortável ele estava descruzando
os braços dando um passo em sua direção, o rosto
estampando toda sua insegurança, como se ele não
soubesse se deveria se aproximar ou manter
distância. Você finalmente está livre... Não precisa
mais se preocupar com ninguém obrigando-a a
nada.

Aquelas palavras apenas trouxeram mais


lágrimas a seus olhos, enquanto em seu coração as
batidas se tornaram mais rápidas e doloridas. A
liberdade não era como nos livros que ela havia
lido em tantas histórias diferente. O peso dela real
era mais opressivo e tangível quase insuportável
sobre seus ombros. Ela podia estar livre, mas nunca
se sentira mais solitária do que naquele momento.

- Livre e sozinha...

- Você não está sozinha Nina...

As palavras dele a surpreenderam, o suficiente


para que seu coração errasse uma batida, erguendo

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seus olhos ela observou ele se aproximar, incapaz


de desviar sua atenção. Agora ela conhecia cada
centímetro de seu rosto, cada expressão velada,
Carrick era o homem que ela salvara, que a traíra, o
homem que salvara sua vida, machucara seu
coração, e lhe dera por uma noite uma felicidade
indescritível...

- Eu preciso perguntar Nina... Você me odeia?

Os olhos dele estavam torturados, grandes e


muito verdes, exatamente como as folhas acima da
cabeça deles, uma cor que ela tinha plena certeza
que nunca seria capaz de se esquecer.

Ela sabia que ele desejava ouvir uma resposta


sua, mas naquele momento ela não era capaz de
encontrar sua fala. Dando um passo em sua direção,
ela o abraçou pela cintura, seu rosto pairando
exatamente sobre seu peito, seu ouvido exatamente
no ponto onde ela podia escutar as batidas rítmicas
e fortes de seu coração. Ela não o odiava, muito
pelo contrário, mas naquele momento não seria
capaz de dizer o que sentia, na confusão de seu
coração naquele instante talvez não fosse capaz de
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admitir nem mesmo para si mesma.

- Não sei o que fazer Carrick – disse ela num


sussurro angustiado contra seu peito, deixando que
seu medo e sua tristeza brotasse em sua voz – Não
sei para onde devo ir...

Erguendo o rosto ela o observou em silêncio, os


dentes mordendo seu lábio inferior para suportar o
choro que parecia estar represado atrás de seus
olhos, sentia como se a qualquer momento fosse se
quebrar como um copo de vidro que rapidamente
caíra de uma grande altura e logo estaria espatifado
completamente contra o chão.

Ela sentiu o toque dele como uma gentileza


infinita sobre seu rosto, enquanto ela limpava uma
de suas lágrimas, depois com todo cuidado do
mundo, as pontas de seus dedos ainda machucados
arrumaram uma de suas mechas atrás de sua orelha.
O toque era íntimo, e delicioso e trouxe um pouco
de conforto, o suficiente para que seu peito se
tornasse menos oprimido.

- Agora se você quiser nós podemos ficar juntos

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– respondeu ele sem uma única vez desviar os


olhos do seu, uma promessa que ela sabia que ele
iria cumprir.

Nina abraçou Carrick apertado, deixando que a


simples presença dele equilibrasse seu mundo que
naquele momento parecia estar completamente
estilhaçado, sem nenhuma pessoa que ela pudesse
culpar além de si mesma. A tristeza que ela sentia
assim como a solidão era quase absoluta, mas ela
não pensava nelas naquele momento.

Ali debaixo de uma árvore com folhas


esmeraldas, numa tarde de verão escaldante ela
tinha Carrick em seus braços, e no momento aquilo
parecia ser o suficiente.

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