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DIMENSIONAMENTO E VIABILIDADE ECONÔMICA DE UM SISTEMA

FOTOVOLTAICO: UM ESTUDO DE CASO NA UFRA/PARAUAPEBAS

SIZING AND ECONOMIC FEASIBILITY OF A PHOTOVOLTAIC SYSTEM: A


CASE STUDY IN UFRA / PARAUAPEBAS

Beatriz Lorrane Farias Silva* E-mail: [email protected]


Iamara dos Santos Neto* E-mail: [email protected]
Rafael da Silva Fernandes* E-mail: [email protected]
Najmat Celene Branco* E-mail: [email protected]
Gabriella Vitorino Guimarães*E-mail: [email protected]
*Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Belém, PA

Resumo: A adoção do uso de fontes de energia renováveis é um tema comumente debatido, visto os
problemas ambientais vivenciados pela sociedade em todo o mundo. No entanto, apesar do potencial
brasileiro de geração de energia solar, a sua participação na matriz energética nacional ainda é
incipiente, correspondendo a apenas 1% do total. Além disso, a maioria do seu uso se concentra em
edificações residenciais e comerciais, havendo pouco incentivo para a implementação em prédios
públicos. Neste contexto, o objetivo deste artigo é, através de uma metodologia estruturada de
dimensionamento de um sistema fotovoltaico (SFV), analisar a demanda contratada vigente e verificar
a viabilidade econômica de implementação desse sistema na Universidade Federal Rural da Amazônia
– Campus Parauapebas, localizada no sudeste do Pará. Os resultados indicam que a potência de
geração fotovoltaica total necessária para atender o Campus é de 240 kW; no entanto, a demanda
contratada é de apenas 130 kW. Desta forma, o cálculo de viabilidade econômica da implementação
de um SFV com uma demanda inferior indica que, apesar do elevado investimento inicial e dado uma
economia mensal média de R$ 9.674,04, obteve-se um VPL satisfatório, payback de 44 meses e uma
TMA de 1,6074% a.m.

Palavras-chave: Sistema fotovoltaico. Viabilidade econômica. Dimensionamento fotovoltaico.

Abstract: The use of renewable energy sources is a commonly debated topic, given the environmental
problems experienced by society. In addition, most of its use is concentrated in residential and
commercial buildings, with little incentive for implementation in public buildings. In this context, the
objective of this article is, through a structured methodology for sizing an PVS, to analyze the current
contracted demand and verify the economic feasibility of implementing this system at UFRA - Campus
Parauapebas. The results indicate that the total photovoltaic generation power required to serve the
Campus is 240 kW, higher than the contracted demand of 130 kW. Thus, the economic feasibility
calculation for the implementation of an PVS below 130 kW indicates that, despite the high initial
investment and given an average monthly savings of R $ 9,674.04, a satisfactory NPV was obtained, a
payback of 44 months and a TMA of 1.6074% per month.

Keywords: Photovoltaic system. Economic viability. Photovoltaic design.

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1 INTRODUÇÃO

O setor energético possui grande influência na sociedade, e sua fonte


predominante ainda é derivada da utilização de combustíveis fósseis ou minerais
(NICHOLLS, 2020). Mudanças constantes induzem o mundo a transformar seu modo
de gerar e consumir energia, utilizando fontes renováveis e investindo em tecnologias
que tornem a geração e o consumo cada vez mais sustentáveis. Assim, torna-se
necessária a busca por soluções ótimas que integram aspectos sociais, econômicos
e ambientais (SANTOS; RODRIGUES; CARNIELLO, 2021) apontam que para a
adoção de práticas sustentáveis de gestão energética, é necessário compreender a
organização da Matriz Energética Brasileira (MEB) e do local de estudo.
O Balanço Energético Nacional (BEN) indica que, em 2018, a participação de
renováveis na MEB foi de 45,5%, enquanto em 2019 foi de 46,1% (EPE, 2020). Esse
percentual mantém-se entre os mais elevados do mundo, sendo o Brasil um dos
líderes mundiais em geração de eletricidade a partir dessas fontes, conforme ilustra a
Figura 1a, com destaque para a oferta interna de energia a partir de fontes renováveis
(Figura 1b). Somente as energias eólicas e solar fotovoltaica (FV) juntas, receberam
um total de 202,8 milhões de dólares em investimento no ano de 2019.

Figura 1 – Matriz Energética Brasileira (a) e Oferta interna de energia a partir de


fontes renováveis (b)

(a) (b)
Fonte: EPE (2020).

Os sistemas fotovoltaicos (SFV) funcionam captando a radiação emitida pelo


sol por meio de painéis solares, convertendo-a em energia elétrica. O uso dessa fonte
de energia diversifica a matriz energética e minimiza impactos ambientais negativos

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causados por fontes não renováveis. Além disso, Pereira et al. (2017) ressalta que a
alta dependência por recurso hídrico impacta de forma negativa na segurança
energética do país, visto que há um grande percentual de perdas nas fases de
transmissão e distribuição.
De modo geral, a implementação de um SFV contribui positivamente ao se
considerar aspectos sustentáveis, como: a) ambiental – minimização dos impactos
negativos ao meio ambiente, pois não emite poluentes ou sons durante a geração de
energia, é uma fonte limpa e renovável; b) social – fonte de energia que pode ser
utilizada em áreas remotas, onde outras fontes convencionais não chegam; e c)
econômico – os custos de implementação vem decrescendo ao longo dos anos com
o avanço tecnológico (NARUTO, 2017). O preço dos módulos solares fotovoltaicos
reduziu mais de dez vezes em dez anos, de cerca de US$ 3,90/Wp em 2006 para
menos de US$ 0,39 em 2016 (PEREIRA, et al., 2017).
A demanda por esse tipo de energia está em expansão, tornando-se uma
alternativa mais competitiva para gerar eletricidade em vários locais: residências,
comércio, serviço público etc. No ano de 2019, o Brasil obteve 1.659 GWh de geração
fotovoltaica, com potência instalada de 1.992 MW, considerando micro e mini geração
distribuída e apresentando crescimento da área, em comparação com o ano de 2018
(EPE, 2020).
A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica – ABSOLAR (2021)
informa uma combinação de políticas governamentais iniciais para a expansão do
setor: isenções fiscais e tributárias, apoios financeiros para a aquisição dos
equipamentos e criação de demanda para atrair investimentos. Santos (2018) ainda
destaca dois aspectos que provocam entrave nesse desenvolvimento em âmbito
nacional: a) ausência de uma política pública de incentivo consolidada; e b)
complexidade de aplicação de subsídios governamentais. Desta forma, o Estado deve
atuar como indutor na pesquisa e desenvolvimento da tecnologia e regulador do setor.
Neste contexto, a implantação de um SFV provoca diminuição no valor final da
fatura de pagamento de energia, mudança nas demandas registradas e na curva de
carga diária do consumidor. Diante das vantagens de implementação e os benefícios
consequentes, este trabalho realizou um estudo de dimensionamento de um sistema
fotovoltaico na Universidade Federal Rural da Amazônia, no município de

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Parauapebas (UFRA – Campus Parauapebas), no Estado do Pará. A Instituição é um
consumidor do grupo tarifário de energia denominado Grupo A.
Dois pontos foram considerados e corroboram com a necessidade deste
estudo, a saber:
1. Frequentemente o campus extrapola a demanda contratada de 130 kW,
provocando um aumento financeiro na fatura de energia elétrica mensal,
decorrente do excedente gerado. Assim, o dimensionamento visa fornecer
informações sólidas sobre a necessidade de alteração da demanda
contratada pela UFRA com a concessionária de energia conveniada.
2. Diante desta constante extrapolação, pode-se requerer um
dimensionamento do SFV maior que 130 kW, porém as normas da Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) não permitem que haja uma
implementação superior à demanda contratada. Neste sentindo, também
será realizado um estudo de impacto econômico, referente à implementação
de um SFV menor que 130 kW.
Por meio das faturas de energia elétrica da Instituição de Ensino Superior (IES)
foi possível analisar a demanda contratada, verificando se o valor está condizente com
a demanda utilizada pelo consumidor, no caso a IES. Em resposta a esta
problemática, o objetivo deste artigo é, através de uma metodologia estruturada de
dimensionamento de um sistema fotovoltaico, analisar a demanda contratada e
verificar a viabilidade econômica da implementação de um sistema fotovoltaico na
Universidade Federal Rural da Amazônia – Campus Parauapebas, localizada no
sudeste do Pará. Desta forma, busca-se auxiliar os gestores públicos no processo de
tomada de decisão, com base em aspectos técnicos e científicos.

2 ENERGIA FOTOVOLTAICA E GERAÇÃO DISTRIBUÍDA NO BRASIL

A geração de energia elétrica, a partir de fontes renováveis, próxima ou no local


de consumo, é definida como geração distribuída (GD). O Artigo 14 do Decreto 5.163
de 30 de julho de 2004 estabelece o conceito de geração distribuída como a produção
de energia elétrica proveniente de empreendimentos de agentes conectados
diretamente ao sistema elétrico de distribuição do comprador (BRASIL, 2004).

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No Brasil, a GD é baseada no sistema net metering, e trata-se de um
mecanismo para estimular a produção localizada de eletricidade a partir de fontes de
energia renováveis. Assim, a política net metering permite que o cliente da
concessionária de energia use a geração distribuída de eletricidade para compensar
seu consumo de eletricidade. Em essência, permite que os clientes vendam o excesso
de eletricidade gerada no local a partir de fontes de energia renováveis, como o SFV
residenciais e públicos, de volta para as concessionárias a uma taxa de compensação
especifica (SMITH; KOSKI; SIDDIKI, 2021). No Brasil, o saldo referente à energia
injetada na rede da concessionária de energia é transformado em créditos que podem
ser utilizados em até 60 meses (ANEEL, 2010).
Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica (SFCR) ou sistemas ON
GRID são compostos por painéis solares que captam a radiação solar e geram energia
em forma de corrente contínua (CC). Esta passa por um inversor, responsável por
converter essa corrente em corrente elétrica alternada (CA) que, por sua vez, passa
pelo quadro de distribuição de energia e pelo medidor bidirecional, responsável por
contabilizar tanto a energia gerada pelo sistema quanto à energia consumida da
concessionária. A Figura 2 ilustra um SFCR instalado em uma edificação.

Figura 2 – Esquema de uma instalação fotovoltaica conectada à rede

Fonte: Adaptado de (MINHA CASA SOLAR, 2019).

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Em 1954 foi apresentada a primeira célula solar moderna, com uma eficiência
de apenas 6%, gerando 5 megawatts (MW) de potência elétrica. Em 2004, foram
produzidos cerca de mil milhões de células, com eficiências da ordem dos 16%,
ultrapassando pela primeira vez a barreira de 1 gigawatts (GW) de potência elétrica
anual instalada (VALLÊRA; BRITO, 2006).
No Brasil, desde 17 de abril de 2012, quando entrou em vigor a Resolução
Normativa ANEEL nº 482/2012, o consumidor pode gerar sua própria energia elétrica
a partir de fontes renováveis ou cogeração qualificada, tendo a possibilidade de
fornecer o excedente gerado para a rede de distribuição de sua localidade (ANEEL,
2010). A partir disso, foram surgindo alternativas às formas tradicionais de produção
de energia elétrica, criando assim oportunidade de oferecer um custo de produção
mais baixo e qualidade de energia mais elevada do que um consumidor poderia obter
da rede convencional (SANTOS; SANTOS, 2016). O consumidor que instalar micro
ou minigeração distribuída será responsável pelos custos de instalação do sistema, e
pela manutenção ao longo do tempo.
Os estímulos à GD justificam-se pelos benefícios que tal modalidade pode
proporcionar ao sistema elétrico. Alguns exemplos são: o adiamento de investimentos
em expansão dos sistemas de transmissão e distribuição, o baixo impacto ambiental,
a redução no carregamento das redes, a minimização das perdas com as linhas de
distribuição e a diversificação da matriz energética (ANEEL, 2018).
De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética – EPE (2020), cerca de
46,2% da oferta interna de energia no Brasil, em 2019, foram provenientes de fontes
renováveis. Este índice é um dos mais altos do mundo, considerando uma média
mundial de 14%, cuja comparação pode ser visualizada na Figura 3. Países que
geram eletricidade a partir de fontes principais renováveis têm menor nível de emissão
de gases de efeito estufa (GEE) que países cuja energia principal é proveniente da
queima de combustíveis fósseis. No caso brasileiro, a rede elétrica possui baixa
intensidade de carbono, devido sua matriz energética ser dominada por fontes
renováveis.

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Figura 3 – Comparação de fontes de energia - Brasil e Mundo

Fonte: EPE (2020).

Ainda assim, o Brasil possui grande potencial de expansão das fontes


renováveis, já que dispõe de clima favorável, grandes extensões litorâneas e amplo
espaço territorial. É importante ressaltar o potencial brasileiro quanto à geração de
energia solar FV, que não se dá somente pelo elevado índice de incidência solar em
seu território, como também pelas reservas de quartzo para a produção do silício, que
é a principal matéria-prima na fabricação de células solares (DAVIES; FRISSO;
BRANDÃO, 2018).
Os benefícios para o sistema elétrico advindos da geração distribuída são
vários, tais como, baixo impacto ambiental, redução das cargas na rede, diversificação
da matriz energética e diminuição das perdas (DANTAS; POMPERMAYER, 2018).
Naruto (2017) divide essas vantagens em aspectos econômicos, sociais e técnicos:
• Com referência aos aspectos econômicos, percebe-se a redução parcial
dos custos com energia para o consumidor, incentivos fiscais do governo,
redução da sobrecarga do sistema, diminuição dos períodos de conexão
do consumidor com a rede e a possibilidade de instalação em áreas
urbanas já utilizadas.
• As vantagens sociais encontradas referem-se a não necessidade de
construção de grandes usinas, que causam malefícios para a população do
entorno, como no caso das hidrelétricas. Desta forma, há minimização das

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desapropriações, aumento na qualidade da saúde e alcance de energia em
áreas remotas.
• Em relação ao aspecto técnico observa-se redução do fornecimento de
energia da rede durante os picos de carga, diminuição de perdas no
sistema elétrico, diminuição de faltas do sistema de transmissão,
compensação de reativo e maior controle da rede.
Apesar dos vários benefícios resultantes da geração fotovoltaica, uma das
grandes desvantagens desse sistema é o custo elevado de implementação, cujo custo
varia de acordo com o consumo que deve ser suprido. De acordo com Freitas e Pinto
(2019), mesmo para residências com baixo consumo, considerando equipamentos
eletrônicos básicos, o valor médio é R$ 15.620,00. Para médios a altos consumos, os
valores médios ficam em torno de R$ 26.340,00 e 46.400,00, respectivamente. Porém,
quanto mais alto o custo do quilowatt-hora, mais vantajoso o sistema se torna para o
consumidor.
De acordo com Dantas e Pompermayer (2018), o tamanho e a complexidade
da instalação influenciam diretamente no custo de um sistema de energia solar FV.
Os custos unitários médios, no Brasil, são menores onde a radiação solar é maior,
como é o caso dos estados do Nordeste. No estado do Pará são de R$ 0,52, R$ 0,46
e R$ 0,41 para 6, 10 e 18 placas, respectivamente. As maiores tarifas médias de
energia cobradas pelas distribuidoras estão nos Estados do Pará, Rio de Janeiro e
Minas Gerais. Referente aos estados em que a utilização de energia fotovoltaica é
mais economicamente viável, o Pará se encontra em primeiro lugar, pois a
distribuidora de energia elétrica local é a quarta mais cara do país, além de apresentar
uma incidência solar razoavelmente alta.
Estudos recentes vêm sendo desenvolvidos no país para verificar a viabilidade
econômica da implantação de um sistema de energia solar fotovoltaica em prédios
públicos, como universidades (SOARES; BARBOSA; BERNARDINO; PAULA;
FONSECA, 2019; GOBBO, 2018; LIMA, 2019), hospital universitário (DUAIK,
FERRAZ; SILVEIRA; POLLONI; REBELATTO, 2020), escolas municipais
(BERALDO; CAMPOS; MUSSOLINI, 2020; BERALDO; CAMPOS; MUSSOLINI,
2020; PAULA; FONSECA, VALÉRIO; BELCHIOR; RABELO, 2020) e câmara

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municipal (SIQUEIRA; SANTOS, 2016).Todos confirmam a viabilidade econômica do
projeto.
O Estado do Pará ocupa, atualmente, a décima terceira posição no ranking
estadual de geração distribuída fotovoltaica, o que ultrapassa a marca de 100 MW
operacionais instalados em telhados e pequenos terrenos, esse número é o
equivalente a 9.004 sistemas em operação, distribuídos por 129 cidades,
correspondendo a um percentual de 86,6% dos munícipios paraenses (ABSOLAR,
2021).

3 ANÁLISE DE SISTEMA FOTOVOLTAICO

3.1 Caracterização do Campus e da demanda

O sistema estudado refere-se ao Campus da Universidade Federal Rural da


Amazônia do município de Parauapebas (UFRA – Campus Parauapebas). O Campus
se localiza na Zona Rural da cidade e possui 5 prédios administrativos e acadêmicos,
além de garagem, guarita e galpões, em uma área construída possui cerca de
4.955,31 m2, conforme pode ser visualizado na Figura 4.

Figura 4 – Foto do Campus da UFRA Parauapebas

Fonte: UFRA (2019).

A UFRA Parauapebas possui demanda contratada de 130 kW com a


fornecedora de energia e potência instalada de 825 kVA. Enquadra-se na modalidade

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tarifária verde, Grupo A, Sub-grupo A4 (tensão de fornecimento de 2,3 a 25 kV) e
possui valores diferenciados para horários fora ponta e horários de ponta. Unidades
consumidoras classificadas no Grupo A firmam um contrato de demanda com a
distribuidora de energia elétrica, com a intenção de manter os consumidores dentro
dos limites contratados e evitar sobrecarga no sistema elétrico, devido excessos do
consumidor. Além disso, a modalidade tarifária a qual esse Grupo pertence indica uma
tarifa binômia para pagamento, ou seja, há o pagamento do consumo de energia
elétrica e da demanda de potência ativa (ANEEL, 2010).
Neste estudo, a curva de carga do Campus foi obtida através de faturas
mensais de energia, referentes aos anos de 2018 a 2020, que informam os valores de
medições da demanda exigida e do consumo de 2017 a 2020. Ressalta-se que o ano
de 2020 não foi considerado para dimensionamento, devido cenário atípico de
pandemia, e, consequentemente, condições anormais de funcionamento da IES. Além
disso, dados adicionais foram retirados do contrato de energia firmado entre a IES e
a concessionária. Os termos técnicos utilizados neste estudo constam no Apêndice A
para melhor entendimento.
A Figura 5 ilustra a demanda fora de ponta mensal registrada nos três anos. A
partir da análise desses dados, observou-se que a demanda contratada foi
ultrapassada em média em 12,48% ao longo dos meses.

Figura 5 - Demanda mensal, em kW, da UFRA Parauapebas nos anos de 2017 a 2019

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Paralelamente ao aumento na demanda ao longo dos anos, houve aumento do
consumo de energia elétrica (Figura 6), proporcional à oferta de novos cursos, entrada
de novos alunos, uso de tecnologias na Universidade (notebooks, projetores,
equipamentos elétricos etc.) e crescimento da Instituição. Desse modo, o ano de 2019
foi o ano de maior consumo e demanda de energia elétrica, como mostra a Tabela 1,
sendo também o ano base para o dimensionamento do sistema fotovoltaico.

Tabela 1 – Médias anuais de consumo e demanda da UFRA Parauapebas


Ano 2017 2018 2019
Demanda de Ponta (kW) 70,8 86,45 87,17
Demanda Fora de Ponta (kW) 127,39 132,05 142,18
Demanda Total (kW) 198,41 219,32 230,52
Consumo de Ponta (kWh) 2709,83 3296,98 3735,91
Consumo Fora de Ponta (kWh) 24487,03 26397,13 29970,69
Consumo Total (kWh) 32061,35 37333,35 41608,59

Figura 6 – Consumo mensal faturado, em kWh, da UFRA Parauapebas nos anos de 2017 a 2019

A avaliação da necessidade de aumentar a demanda contratada requer uma


análise a longo prazo. Com acréscimo de carga, os prédios se adaptam a um novo
perfil de consumo de energia. Assim, a previsão de contratação de demanda por parte
da concessionária de energia necessita de um mapeamento na curva de carga, com
o intuito de traçar um perfil da demanda diária de energia das unidades consumidoras.
O conhecimento sobre a modalidade tarifária também requer atenção, pois possibilita

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reduções nos custos de energia elétrica. Logo, com a análise de ambos, pode-se
migrar para outra modalidade e contratar uma demanda que atenda de modo mais
eficiente o consumidor, baseado em seu consumo.

3.2 Modelo Fotovoltaico

A geração fotovoltaica encontra-se em expansão, apesar disso seu uso ainda


se concentra em edificações residenciais e comerciais. O investimento no uso de SFV
em universidades também traz benefícios econômicos e ambientais, pois há economia
nas contas de energia elétrica e diminuição de liberação de gás poluente para a
atmosfera. Desta forma, há maior autonomia financeira para a instituição de ensino
superior, que pode redirecionar recursos para melhorar o ensino, a pesquisa e
reestruturar ou expandir o Campus (SILVA et al., 2019)
A determinação da potência de saída de um SFV considera variáveis como:
irradiância, temperatura e quantidade de módulos utilizados. A Figura 7 apresenta os
dados de Irradiação Global Horizontal (GHI) em Parauapebas e foram retirados do
LABREN – Laboratório de Modelagem e Estudos de Recursos Renováveis de
Energia. (LABREN, 2017). A região onde se localiza a UFRA apresenta valor médio
de irradiância solar, de 5,254 kWh/m2/dia, sendo o horário de incidência solar
predominante entre 10h e 14h (GLOBAL SOLAR ATLAS, 2021).

Figura 7 – Média diária da Irradiação Global Horizontal no Município de Parauapebas

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4 DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA FOTOVOLTAICO

4.1 Metodologia de Dimensionamento

A metodologia de dimensionamento de SFV para consumidores do Grupo A é


mais complexa se comparada com o Grupo B (tensão inferior a 2,3 kV, caracterizado
pela tarifa monômia). Deste modo, a ANEEL (2010) indica atenção ao consumo, pois
os consumidores do Grupo A possuem consumo medido em horários de ponta e fora
de ponta, o mesmo ocorre com a demanda registrada. Por isso, a análise da demanda
contratada e da modalidade tarifária contribuem para que o sistema instalado seja
mais eficiente financeiramente. A Figura 8 ilustra a metodologia utilizada neste estudo
e, posteriormente, são descritas as etapas referentes.

Figura 8 – Procedimentos desenvolvidos no estudo de caso

Fonte: adaptado de Sylvestrin; Junior; Ledesma (2018).

• Etapa 1: analisa-se o local de estudo, onde são levantadas informações


sobre a localização geográfica, recurso solar, área de telhados disponível,
consumo e contrato com a concessionária. O objetivo é obter as
informações necessárias para o cálculo do dimensionamento do gerador
fotovoltaico.

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• Etapa 2: realiza-se o dimensionamento do SFV baseado em uma análise
de pré-seleção de módulos. Os cálculos para o dimensionamento
fundamentam-se em (Pinho & Galdino, 2014).
• Etapa 3: realiza-se o dimensionamento do inversor baseado em uma
análise de pré-seleção de inversores, fundamentando-se em (Pinho &
Galdino, 2014).
• Etapa 4: estudo do impacto econômico da implementação de um SFV na
Universidade, considerando a demanda contratada.

4.2 Caso 1

O Caso 1 dimensiona o sistema fotovoltaico pelo consumo. Os dados foram


retirados das faturas mensais de energia da Universidade em conjunto com o contrato
de energia firmado com a concessionária. Inicialmente, é necessário calcular a
geração de energia solar fotovoltaica, vista na equação (1), que representa o consumo
médio mensal, abrangendo o fator de correção para compensação no horário de
ponta.

𝐸 = [𝐸𝐹𝑃 + (𝐸𝑃 ∗ FC)]/30 (1)

Onde,
• 𝐸 é o consumo diário médio anual da edificação;
• 𝐸𝐹𝑃 é o consumo médio fora ponta (média anual);
• 𝐸𝑃 é o consumo médio de ponta (média anual);
• FC é o fator de correção;
Para o cálculo do fator de correção, realiza-se a razão apresentada equação
(2), sendo necessária para equalizar o consumo no horário de ponta. A potência
gerada neste período pode ser usada para abater o valor do consumo no horário de
ponta, assim, um fator de ajuste é aplicado. O cálculo da potência necessária para o
atendimento do consumo total apresenta-se na equação (3).

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TEP
FC = (2)
TEFP

𝐸 (3)
PFV =
I x TD

Onde,
• TEP : Tarifa de Energia de ponta.
• TEFP : Tarifa de Energia fora de ponta.
• PFV: Potência do SFV na entrada dos inversores (kW), em corrente contínua
(CC) produzida pelo gerador fotovoltaico.
• TD: é a relação entre o desempenho real do sistema sobre o desempenho
máximo teórico possível. Leva em consideração as perdas, como perdas
no cabeamento, perdas de sombreamento ou por sujeira nos painéis,
perdas de temperatura, perdas de conversão (efeito fotovoltaico), entre
outras (MOREIRA; OLIVEIRA, 2018). Normalmente varia entre 70 e 80%
(PINHO; GALDINO, 2014).
• Irradiância (I): é a densidade de energia solar que incide em uma superfície,
por unidade de tempo, dada em Wh/m² ou kWh/m².
Após obter a potência do sistema fotovoltaico (PFV ), pode-se calcular a potência
de saída do inversor, denominada como Potência nominal em corrente alternada
(PNca ), que é a potência total nas saídas dos inversores utilizados no sistema. Calcula-
se utilizando-se um Fator de Dimensionamento de Inversores (FDI), o qual situa-se
na faixa de 0,75 a 0,85 na equação 4 (PINHO; GALDINO, 2014).

PFV
PNca = (4)
(1 − FDI) + 1

Para dimensionar a quantidade de inversores necessária, divide-se a Potência


nominal em corrente alternada (PNca ) pela potência do inversor (exemplo 60 kW). Ao
multiplicarmos a quantidade de inversores necessária pela potência de saída do
inversor, encontramos a potência total de geração do sistema.

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Se a demanda contratada for maior que a potência total de geração do sistema,
pode-se instalar o SFV; caso contrário, é preciso solicitar o aumento de demanda junto
à concessionaria, ou reduzir a potência de geração do SFV. No caso de aumento,
estudos são necessários para verificar a viabilidade da transação. A Tabela 2
apresenta as informações base para o dimensionamento, cujo ano de referência é
2019.

Tabela 2 – Informações das faturas de energia da UFRA Parauapebas, em 2019


Dados Abreviação Valores Unidades
Tarifa TE Ponta TEp 381,48 R$/MWh
Tarifa TE Fora Ponta TEFP 217,90 R$/MWh
Demanda Contratada DC 130 kW
Consumo Médio Ponta 𝐸𝑃 3.736 kWh
Consumo Médio Fora Ponta 𝐸𝐹𝑃 29.971 kWh

4.3 Caso 2

Para dimensionar o SFV é necessário verificar a demanda contratada. Neste


caso, é importante considerar que a potência de saída fotovoltaica não deve ser maior
que a demanda contratada. Caso ocorra, pode haver uma nova contratação com
aumento da demanda, porém deve-se comprovar a viabilidade econômica da
transação, já que representará um custo adicional, além de ser necessário realizar um
estudo para definir qual a melhor demanda contratada baseado em seu histórico.
Outros fatores limitantes é a disponibilidade física para a instalação dos painéis
fotovoltaicos, seja em solo ou em telhados, pois variam em quantidade e dimensão, e
o fato de que o aumento dessa demanda pode ser negado pela concessionária, devido
razões técnicas do sistema elétrico.
Outra forma de atender a essa demanda excedente é definir uma potência para
o gerador fotovoltaico e analisar o impacto no sistema, podendo inclusive diminuir a
demanda contratada. Portanto, deve-se verificar qual a melhor opção. Neste sentido,
estão sendo discutidos neste trabalho dois casos de dimensionamento, baseados em
Pinho e Galdino (2014).
Diversas marcas de módulos fotovoltaicos foram avaliadas, porém selecionou-
se o modelo BYD 335PHK-36, policristalino, com potência nominal de 335 Wp

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(também chamada potência de pico, sendo o valor máximo de potência a ser entregue
a uma carga). A seleção do inversor também foi diversificada, sendo escolhido o Fimer
ABB PVS-120-TL-SX2-FULL, com potência nominal de 120kW, modelo trifásico 380v.
Destaca-se que além dos critérios técnicos, a cotação do modelo obtida diretamente
com o distribuidor no Brasil foi fundamental para a escolha dos itens para o
dimensionamento.
A compra dos módulos fotovoltaicos é realizada através de kits, onde consta a
quantidade de módulos fotovoltaicos suficientes para atender determinado tamanho
de geração, a quantidade de inversores a serem utilizados, que varia conforme o
tamanho do gerador fotovoltaico e a própria potência nominal do inversor, além de
acompanhar as estruturas de montagem e possível transformador, caso necessário.
Como cada kit possui um dimensionamento diferente (tamanho de geração
fotovoltaica diferente) e foram analisadas 3 marcas de inversores, variando a potência
nominal do painel BYD (por ser compatível com todos os inversores) de 335 Wp para
400 Wp, além da potência dos inversores de 20 kW a 120 kW (Tabela 3).

Tabela 3 – Kits geradores de energia solar


Fabricante FRONIUS FIMER ABB FIMER ABB SMA
Potência de Geração Fotovoltaica 127,3 kW 128,64 kW 129,6 kW 129,38 kW
Potência do painel 335 W 335 W 400 W 375 W
Potência Inversor 25 kW 120 kW 120 kW 110 kW
Valor Kit R$ 394.749,00 R$ 411.019,00 R$ 426.289,00 R$ 394.489,00
Total R$ 587.079,80 R$ 575.426,60 R$ 596.804,60 R$ 586.715,80
Fonte: adaptado de Aldo (2021).

A linha total refere-se ao custo total do sistema fotovoltaico que inclui kit do
gerador fotovoltaico, o valor do projeto, instalação e outros materiais elétricos, de
acordo com a Figura 9 (SOLENERG, 2012; SEBRAE, 2019). E nos kits da Fronius e
SMA adicionou-se R$ 24.593,70, referente ao valor do transformador presente nos
kits da ABB, para fins de equalização. Todos os kits respeitam o limite de geração
fotovoltaica imposto pela demanda contratada da UFRA de 130 kW.

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Figura 9 – Investimento percentual por equipamento

7% Módulos Fotovoltaicos

20% 40% Inversores Interativos

Estruturas de fixação
13%
Engenharia, Instalação,
material elétrico
20%

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Análise do Caso 1

No primeiro momento, tem-se o interesse no dimensionamento do SFV


baseado no consumo faturado pela concessionária no período de 2017 a 2019,
expresso nas contas mensais de energia disponibilizados pela UFRA. As informações
analisadas visam fornecer subsídios sólidos sobre a necessidade de alteração da
demanda contratada pela UFRA com a concessionária de energia conveniada.
Desta forma, dado o aumento do consumo fora de ponta médio anual, o
dimensionamento foi realizado levando em consideração o ano de 2019. Vale
ressaltar que também foram realizados os cálculos para os anos anteriores e
verificado o dimensionamento menor.
No primeiro momento, tem-se o interesse no dimensionamento do SFV
baseado no consumo faturado pela concessionária no período de 2017 a 2019,
expresso nas contas mensais de energia disponibilizados pela UFRA. As informações
analisadas visam fornecer subsídios sólidos sobre a necessidade de alteração da
demanda contratada pela UFRA com a concessionária de energia conveniada.
Desta forma, dado o aumento do consumo fora de ponta médio anual, o
dimensionamento foi realizado levando em consideração o ano de 2019. Vale
ressaltar que também foram realizados os cálculos para os anos anteriores e
verificado o dimensionamento menor.

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Levando em consideração uma estimativa de taxa de desempenho (TD) de
80%, de fator de dimensionamento de inversor (FDI) de 75% - valores são
corroborados pelo trabalho de Pinho e Galdino (2014) e da irradiação global horizontal
diária em Parauapebas de 5,254 kWh/m² (Global Solar Atlas, 2021), tem-se os dados
mostrados na Tabela 4.

Tabela 4 – Dimensionamento painéis solares fotovoltaicos para a UFRA


Variáveis Valores
Fator de correção (FC) 1,75
Consumo diário médio anual da edificação ( E) 1.217 kWh/dias
Potência do SFV na entrada dos inversores (PFV ) 289,55 kW
Potência nominal em corrente alternada (PNca ) 231,64 kW

Portanto, a potência de entrada do SFV é 289,55 kW, trata-se da potência


produzida pelo gerador fotovoltaico diariamente necessária para suprir a média de
consumo da Universidade. Considerando a utilização de painéis fotovoltaicos de 335
Wp de potência máxima seriam necessários 865 painéis solares fotovoltaicos.
Em relação ao inversor, considerando um Fator de Dimensionamento de
Inversores (FDI) de 75%, e levando em conta inversores de 60 kW de potência serão
necessários aproximadamente 4 inversores para suportar os 231,64 kW. Logo, a
potência de geração fotovoltaica total necessária para atender o campus da UFRA é
240 kW. Nota-se que a demanda contratada (130 kW) é menor que a potência CA
total do sistema, portanto não é possível instalar o sistema dimensionado. Neste caso,
seria necessário solicitar para a concessionária esse aumento de demanda.

5.2 Análise do Caso 2

Os métodos utilizados para analisar a viabilidade econômica são amplamente


discutidos na literatura. Porém, para esta parte do trabalho, todos os métodos
utilizados foram retirados de (Hirschefeld, 2018). Diante da constante extrapolação da
demanda (ver Figura 5) e dado o dimensionamento necessário de 240 kW que é maior
que o valor de demanda contratada de 130 kW, tem-se como norma da ANEEL a não
permissão de implementação superior à demanda contratada. Neste sentindo, torna-

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881
se necessário avaliar o impacto econômico referente à implementação de um SFV
menor que 130 kW, sendo uma alternativa para não haver alteração no contrato.
Nesse sentido, pode-se observar na Figura 10 que haveria uma estimativa
média de economia monetária de R$ 9.674,04 mensal, considerando o valor de
investimento inicial de R$ 596.804,60, e representa o maior orçamento descrito na
Tabela 3. Cabe ressaltar que essa média considerou o ano de 2020 e representa a
soma dos valores de consumo fora de ponta e demanda ultrapassada.

Figura 10 - Estimativa de valor economizado e média mensal

O impacto da economia esperada é considerado caso houvesse a


implementação do SFV de 130kW em jan/2018. Deste modo, dado um investimento
inicial considerando o maior valor orçado na Tabela 3 de R$ 596.804,60 e uma vida
útil estimada dos Kits geradores de energia solar de 25 anos, podemos calcular uma
série de valores uniformes, a uma taxa de 2% a.m. e obter uma equivalência
econômica de investimento mensal em R$ 11.967,57. Assim, ao comparar com a
estimativa média mensal de economia de implementação do SFV, tem-se uma
diferença de R$ 2.293,57 nos 3 anos de análise. Desconsiderando o ano 2020 e sua
particularidade advinda da pandemia, tem-se uma economia média nas faturas de
energia próxima do valor equivalente uniforme do investimento inicial.
Além disso, utilizou-se o método do valor presente líquido (VPL) que tem por
finalidade determinar um valor economicamente equivalente no instante inicial a partir

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de uma série de valores. Logo, utilizando-se da série valores apresentados na Figura
10, cujo total é de R$ 348.265,60, tem seu VPL = R$ 258.858,54 a uma taxa de juros
de 2% a.m.
Quando se deseja investir uma determinada quantia, é de interesse comparar
as prováveis economias que serão proporcionadas e que se referem à implementação
do SFV em janeiro/2018. Além do mais, em um contexto de prédios públicos e da
UFRA, não se tem um conhecimento prévio da taxa de juros de retorno caso este valor
fosse investido em outra alternativa. Calculou-se a taxa mínima de atratividade do
investimento que, conforme apresentado na Figura 11, representa um valor de TMA
= 1,6074% a.m.

Figura 11 – Estimativa da taxa mínima de atratividade

Similarmente, pode-se estimar o tempo médio de retorno do investimento


considerando que mantivesse uma mesma economia média mensal por todo o
período. Cabe ressaltar que é razoável pensar que o valor de economia tende a
aumentar com o tempo devido a uma tendência de aumento da demanda conforme
apontado na Figura 5. Desta forma, tem-se um payback de aproximadamente 44
meses a uma TMA = 1,6074% a.m., além do que, é possível observar na Figura 12
como o payback varia em relação ao crescimento da taxa de juros ao mês.

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Figura 12 – Estimativa de payback variando a taxa de juros a.m.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo apresentou uma análise de dimensionamento de implementação


de sistema fotovoltaico na Universidade Federal Rural da Amazônia – Campus
Parauapebas, levando em consideração as faturas de energia do período de 2017 a
2020. Consequentemente, buscou-se analisar a demanda contratada, verificando se
o valor está condizente com a demanda utilizada pelo consumidor, no caso a IES.
Em resposta a esta problemática, o objetivo deste artigo foi atendido, por meio
de uma metodologia estruturada de dimensionamento de um sistema fotovoltaico e
de métodos de análise de viabilidade econômica aplicados ao contexto da
Universidade Federal Rural da Amazônia – Campus Parauapebas, localizada no
sudeste do Pará.
Os resultados mostram, para o Caso 1, que o dimensionamento realizado
resulta em uma potência de geração fotovoltaica de 240 kW e que é superior ao atual
valor contratado de 130 kW. Desta forma, recomenda-se a alteração contratual e
também a implementação de sistema fotovoltaico no valor do novo contrato, caso esse
não seja 240 kW, devido ao entendimento de que é viável economicamente a
implementação. Cabe ressaltar ainda que os prédios que compõe o campus possuem
área de construção disponível para tal implementação.
Para o Caso 2, na impossibilidade de alteração do contrato, a partir dos
resultados deste trabalho, recomenda-se que é economicamente viável uma
implementação de um SFV dimensionado em até 130 kW, com base em uma análise

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de uma economia somada de R$ 348.265,60 nos 3 anos considerados no estudo e
economicamente equivalente em janeiro de 2018 no valor de R$ 258.858,54. Tal valor
representaria 43,37% do valor inicial investido.
Em síntese, a implementação de sistema fotovoltaico é economicamente viável
e aplicável no contexto analisado, além de atender às demandas ambientais para o
uso de fontes energias renováveis. Reitera-se que este trabalho fornece informações
sólidas e objetivas que podem subsidiar os tomadores de decisão referente a
investimentos em sistemas fotovoltaicos nesse campus.
Como sugestões para trabalhos futuros destaca-se a necessidade de projeção
futura referente ao crescimento da IES até que se obtenha certa estabilidade quanto
à estrutura física e quantidade de alunos. A partir disso, pode-se prever um novo
dimensionamento e investimento para que o sistema continue atendendo toda a
demanda de energia da Instituição. Esse experimento pode ser reproduzido para
outros campi da Instituição promovendo maior sustentabilidade. Finalmente, outro
estudo refere-se à utilização de técnicas determinísticas e/ou heurísticas para otimizar
a melhor localidade do sistema fotovoltaico, considerando espaço da Universidade e
maior captação solar.
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Artigo recebido em: 31/05/2021 e aceito para publicação em: 21/07/2021


DOI: https://doi.org/10.14488/1676-1901.v21i3.4342

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APÊNDICE A

Definições retiradas do contrato da Instituição de Ensino Superior com a


concessionária de energia e de (ANEEL, 2010).
Carga: elemento que absorve potência, por exemplo: equipamentos elétricos,
lâmpadas etc.
Concessionária: agente titular de concessão federal para prestar o serviço
público de distribuição de energia elétrica, doravante denominado “distribuidora”.
Consumo: quantidade de energia utilizada em uma unidade consumidora, em
kWh (quilowatt-hora). Acumulado conforme os dias de uso.
Curva de carga: Registro horário, em um período diário, das demandas de
capacidade, podendo ser, excepcionalmente para período semanal, mensal ou anual.
Demanda: média das potências elétricas ativas ou reativas, solicitadas ao
sistema elétrico pela parcela da carga instalada em operação na unidade
consumidora, durante um intervalo de tempo especificado, expressa em quilowatts
(kW) e quilovolt-ampère-reativo (kVAr), respectivamente.
Demanda contratada: demanda de potência ativa a ser obrigatória e
continuamente disponibilizada pela distribuidora, no ponto de entrega, conforme valor
e período de vigência fixados em contrato, e que deve ser integralmente paga, seja
ou não utilizada durante o período de faturamento, expressa em quilowatts (kW).
Tarifa horo-sazonal verde: aplicada às unidades consumidoras do grupo A,
caracterizada por tarifas diferenciadas de consumo de energia elétrica, de acordo com
as horas de utilização do dia, assim como de uma única tarifa de demanda de
potência.
Potência instalada ou carga instalada: soma das potências nominais dos
equipamentos elétricos instalados na unidade consumidora, em condições de entrar
em funcionamento, expressa em quilowatts (kW).
Posto tarifário fora ponta: período composto pelo conjunto das horas diárias
consecutivas e complementares àquelas definidas no horário de ponta.
Posto tarifário ponta: período de três horas consecutivas, definidas pela
distribuidora, considerando a curva de carga de seu sistema elétrico. Exclui sábados,
domingos e feriados.

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Unidade consumidora: conjunto composto por instalações, ramal de entrada,
equipamentos elétricos, condutores e acessórios, incluída a subestação, quando do
fornecimento em tensão primária, caracterizado pelo recebimento de energia elétrica
em apenas um ponto de entrega, com medição individualizada, correspondente a um
único consumidor e localizado em uma mesma propriedade ou em propriedades
contíguas.

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