Dissertacao - Christian Santos Final
Dissertacao - Christian Santos Final
Dissertacao - Christian Santos Final
À grande matriarca de minha família, Maria Dináh Resende, mulher de uma história dura,
mas que leva a vida em torno da leveza de seus cuidados. Sou grato por me inspirar na busca
pelo conhecimento sobre vivências e histórias. Agradeço por me espelhar, por ser abrigo em
tantas tempestades, e por apoiar meus propósitos.
Ao meu núcleo familiar, minha mãe, meu pai e meu irmão, que diante das circunstâncias de
suas vidas, sobretudo por vivenciarem a paternidade ainda na adolescência, nunca puderam
ingressar em um curso superior. Por me mostrarem que a realização de um projeto de vida,
independente de qual seja, dependeria de muito esforço, e que estudar, mesmo não sendo fá-
cil, ainda seria um privilégio, devendo eu mesmo ser o responsável por lutar minhas próprias
batalhas. E mesmo não tendo clareza sobre o que é uma pós-graduação, um projeto de pesqui-
sa ou uma titulação de mestrado, apoiam minhas decisões e me auxiliam quando preciso. A-
gradeço também meus demais familiares por valorizarem o estudo.
À minha prima e companheira de uma juventude, Jhéssica, que me mostrou os primeiros pas-
sos rumo à busca pelos estudos, em um cenário de poucos incentivos a essa trajetória. Ela que
sempre esteve comigo nos momentos mais difíceis de minha infância, nunca desistindo de me
auxiliar em meu ensino, que foi marcado por muitas dificuldades de aprendizagem e desmoti-
vação. O brincar de “escolinha” rendeu frutos, o lúdico que virou inspiração e história de vi-
da.
Às minhas grandes amigas e amigos que se tornaram minha família ao longo de meu percurso
formativo, sendo uma das minhas principais redes de apoio frente às adversidades desse ciclo.
Em especial ao grupo de amigas, que chamamos de forma cômica de “Divã dos friends”, fa-
zendo jus ao nome que recebe diante dos conflitos vivenciados no período da pós-graduação.
Sou grato, também, a tantas outras pessoas incríveis que conheci na universidade e que pelas
circunstâncias da vida tornaram-se distantes.
À Luma Moraes, Aline Tais e Júlia Brand, pela participação voluntária na pesquisa, desempe-
nhando um papel fundamental na realização desse estudo. Agradeço pelas contribuições em
todas as etapas do trabalho de campo, desde as discussões na elaboração do roteiro, até a rea-
lização propriamente dita dos grupos focais e aplicação dos demais instrumentos, propiciando
uma rica interlocução de saberes sob diferentes olhares. Agradeço também ao estagiário Mar-
cos Lacerda, pela participação no trabalho de revisão sistemática, contribuindo para a amplia-
ção e aprofundamento da realidade estudada.
A minha coorientadora, Cássia, por muitas vezes me encorajar a prosseguir em meus projetos,
me dando força e me lembrando do autocuidado em momentos de esgotamento e estagnação,
sobretudo na fase final de minha graduação. Pelas diversas atividades formativas no campo da
saúde mental na universidade e por suas considerações, que me propiciaram grande amadure-
cimento e crescimento.
Ao meu orientador Marcelo, que ocupou um lugar primordial em minha formação, me possi-
bilitando o encontro a projetos de extensão, estágio, ensino, pesquisa e tantas outras experiên-
cias que não caberiam em poucas palavras e que certamente são pilares de minha identidade
profissional. Por ocupar um papel de identificação, admiração e inspiração. Por confiar em
meu trabalho e possibilitar a realização desta pesquisa.
À UFSJ, o PPGPSI e todos os grandes professores, que me possibilitaram construir uma nova
visão de mundo e crer na possibilidade de transformação da realidade que nos cerca. Y
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 10
OBJETIVOS ........................................................................................................................... 31
METODOLOGIA................................................................................................................... 32
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neração em muitos cargos, questões mercadológicas e sua desvalorização, a Universidade
seria um espaço que me promoveria ascensão social e para tal eu precisaria adquirir o máximo
de experiências possíveis, de modo a contornar todos esses impasses, sobretudo minhas difi-
culdades financeiras. Isso gerou ainda mais descrença, sobrecarga, insônia e crises de irritabi-
lidade durante e após esse processo. Portanto, o objeto o que me proponho a investigar se vin-
cula a parte de minhas vivências com o curso, o que de certa forma me aproxima do tema,
mas ao mesmo tempo requer certas medidas para contornar possíveis comprometimentos, tais
como projeções de minhas vivências ou demais formas de se influenciar o relato dos partici-
pantes.
Ao realizar atividades de estágio, pesquisa e extensão no campo de álcool e outras
drogas, tive a oportunidade de me aproximar do campo da Saúde Coletiva e da Saúde Mental,
mesmo que de forma tangencial. Assim, no estágio ‘Eiras e Beiras: Atenção Psicossocial aos
Usuários de Álcool e Outras Drogas’, realizei o acompanhamento de um usuário de álcool e
outras drogas no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS); estando imerso à rotina daquele
serviço duas ou três vezes por semana, também pude participar de reuniões de equipe e reali-
zar visitas domiciliares a outros casos atendidos por minha supervisora de campo. Para além
de todas as dificuldades do serviço público, este estágio me instigou a prosseguir no campo da
saúde, ao verificar como a prática do cuidado é multifacetada.
Considerando o uso problemático de álcool e outras drogas como uma grave questão
de saúde pública, prossegui nessa temática no Centro Regional de Referência para a Forma-
ção em Políticas sobre Drogas (CRR-UFSJ), ao atuar como monitor de ensino e bolsista de
extensão. No curso oferecido para profissionais da saúde, assistência social, segurança pública
e também da rede complementar de atendimento, pude, sobretudo, conhecer um pouco mais
sobre as práticas de cuidado e promoção de saúde. Concomitantemente a esta experiência,
meu primeiro contato com a pesquisa se deu com um projeto de pesquisa que se propôs a es-
tudar a rede de atenção em saúde e assistência social aos usuários de álcool e outras drogas no
município em que realizava minha graduação. O relatório final da pesquisa foi submetido para
publicação em formato de artigo. Assim, ao trabalhar com um grupo focal com os profissio-
nais dos dispositivos do Sistema Único de Saúde (SUS) e Sistema Único de Assistência Soci-
al (SUAS) pude conhecer melhor o cotidiano dos serviços sob a perspectiva dos próprios ser-
vidores, desvelando as limitações e potencialidades dos serviços na promoção do cuidado
integral aos usuários.
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Dessa forma, meu percurso pelo campo de álcool e outras drogas foi fundamental para
a chegada ao tema desta pesquisa, considerando que o uso problemático de substâncias psico-
ativas é altamente presente na realidade do estudante universitário e se apresenta como a ma-
nifestação de questões profundamente relacionadas aos determinantes de saúde dessa popula-
ção. Assim, ao estudar o fenômeno das drogas é também preciso considerar os diversos atra-
vessamentos que atuam na configuração de um uso problemático, tais como as formas de cui-
dado, atenção, promoção de saúde, melhoria das condições de vida e autonomia dos sujeitos.
Tais questões que se dão de maneira análoga ou similar quando se trata do cuidado em saúde
mental.
Por conseguinte, ao fazer parte do grupo de estudos ‘Análise Institucional e Saúde Co-
letiva’ do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva (NESC), mantive contato com as discussões
sobre saúde mental nas instituições de ensino superior, o que me possibilitou repensar a Uni-
versidade e as formas de produção engendradas neste espaço. Ao longo dos encontros, os es-
tudantes de Medicina frequentemente relatavam suas experiências com o curso, explicitando
suas angústias acadêmicas, tais como as dificuldades de adaptação no curso, a relação profes-
sor-aluno, a competição entre os discentes e a constante cobrança por altos desempenhos. Foi
possível também partilhar as dificuldades vivenciadas no curso de Psicologia, dados os ele-
mentos comuns aos cursos da saúde e seus estressores específicos, em se tratando da alta car-
ga horária e da dificuldade de se aprofundar em algumas das várias abordagens ofertadas pelo
curso.
Paralelamente, realizei outra iniciação científica, intitulada ‘Cenários de aprendizagem
em saúde na Psicologia da UFSJ’, que me auxiliou a compreender um pouco mais sobre a
Universidade e a Saúde Coletiva. Neste trabalho, pude me aprofundar na discussão sobre pro-
cessos de formação, analisando o papel dos currículos e atividades de estágio, pesquisa e ex-
tensão como cenários elementares para uma formação crítica e libertadora na trajetória dos
alunos.
O Projeto ‘Promoção de Saúde e suas Interfaces Físicas e Psicológicas: programa de
intervenção e pesquisa com idosos, pessoas com deficiência, adultos com diabetes e hiperten-
sos’ foi o último estágio que realizei em minha graduação, no momento em que estava me
debruçando para a escrita deste projeto. Tal trabalho com grupos operativos na saúde corrobo-
rou para que eu desenvolvesse um tema relacionado à promoção de saúde, tendo em vista a
transformação na vida das pessoas que tais intervenções podem desempenhar. Assim sendo,
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meu interesse pela temática da Saúde Mental na Universidade não se deu de imediato, cada
uma das experiências acima descritas acrescentaram uma pequena peça neste “quebra cabe-
ça”.
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INTRODUÇÃO
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repetindo, memorizando e fixando de maneira mecânica os conteúdos depositados pelo edu-
cador, que por sua vez, possui uma relação rígida e horizontalizada com o estudante. Tal pro-
cesso impede os processos criativos, a consciência crítica, a autonomia e a possibilidade de
transformação do mundo que o circunda, repercutindo na manutenção das estruturas opresso-
ras que hegemonicamente regem a educação brasileira. À vista disso, ainda que se observem
avanços pontuais, tanto a universidade necessária de Darcy Ribeiro, quanto a educação bancá-
ria de Freire, ainda se fazem altamente presentes e atuais no cenário brasileiro.
Por conseguinte, a consolidação do princípio da equidade ainda é um desafio para as
universidades, ao se considerar as dificuldades de permanência e acesso a essa modalidade de
ensino para muitos cidadãos, especialmente para aqueles em situação de exclusão e vulnerabi-
lidades. A expansão das matrículas no ensino superior propicia grandes mudanças no cenário
de perpetuação da desigualdade social no Brasil, no entanto, entre a população universitária,
essa realidade ainda se faz bastante presente, requerendo ações transformadoras no enfrenta-
mento dessa disparidade. Em face da presente questão, uma forma de se buscar a equidade
entre a população universitária se dá pelo fortalecimento das políticas governamentais e pro-
gramas que lhes dizem respeito, tais como as políticas afirmativas e o Programa de Apoio aos
Planos de Reestruturação e Expansão para as Universidades Federais – Reuni (Neves, 2012),
entre outros.
Enquanto política pública voltada ao ensino superior, o Reuni foi implementado em
2007, visando a ampliação das vagas nas universidades públicas. Para tal, foi realizada a rees-
truturação de muitas instituições, além de maiores investimentos e criação de outras universi-
dades. As diretrizes do Reuni propunham uma universidade pública com maior acesso, com
melhor qualidade e infraestrutura. Assim, as políticas de inclusão social no ensino superior
são voltadas para a ampliação do acesso a candidatos estigmatizados por renda, raça ou sexo
(Neves, 2012).
A despeito do quadro em tela, as ações afirmativas se configuram como uma política
compensatória diante das iniquidades e injustiças sociais. A política de cotas compõe o siste-
ma de ações afirmativas, e possui o propósito de promover a inclusão de grupos minoritários e
excluídos socialmente das oportunidades laborais ou educacionais. A Lei de cotas, nº
12.711/2012, foi sancionada reservando metade das vagas para estudantes cotistas em univer-
sidades federais e institutos federais de educação, ciência e tecnologia (Cohen, Exner, & Gan-
dolfi, 2018). Dessas vagas reservadas, subdivide-se 50% para alunos de escolas públicas com
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baixa renda e, também, se considera a proporção de negros, pardos e indígenas existentes no
país. Tal disposição se constitui como uma via de correção das desigualdades sociais e raciais
brasileiras, repercutindo em diversas mudanças no âmbito da educação superior (Cohen, et al.,
2018).
Para além dos desdobramentos das conquistas do maior acesso e democratização do
ensino superior, outra questão fundamental emerge como uma lacuna diante da atual situação
das instituições de ensino superior: as dificuldades enfrentadas pelos alunos em concluir o
curso. Assim, a permanência do estudante de graduação perpassa pelas condições que lhe são
ofertadas pela realidade social em que estão inseridos, sendo muitas vezes desfavoráveis às
suas necessidades tais como alimentação, habitação, transporte e rendimento acadêmico (Sou-
za & Brandalise, 2017). Nesse estudo, consideraremos a evasão como um dos fatores trans-
versais a temática da saúde mental na universidade, tendo em vista que ela está diretamente
ligada aos casos de sofrimento psíquico vivenciados no ambiente acadêmico. Portanto, a eva-
são pode ser considerada uma das manifestações de adoecimento dos acadêmicos, sendo um
indicador que esta realidade necessita de maiores estudos e intervenções.
Dentre as diversas conceituações existentes para o fenômeno em pauta, pode-se consi-
derar que a evasão envolve o abandono do curso e ocorre quando o aluno interrompe seus
estudos antes mesmo de se obter o diploma. Vale ressaltar que, de acordo com as determina-
ções do Ministério da Educação (MEC), as transferências internas ou externas e trancamentos
também se configuram como tipos de evasão no ensino superior. A evasão pode gerar prejuí-
zos para todos os atores envolvidos, tanto para a instituição de ensino, para as famílias que
realizaram investimentos, quanto para os próprios estudantes. Todavia, se constitui como um
objeto multifacetado, envolvendo diversas questões em sua ocorrência e manutenção, tais
como fatores acadêmicos, econômicos, institucionais, organizacionais e até mesmo fatores
internos às vicissitudes da vida universitária (dos Santos, Davoglio, da Conceição Lettnin,
Spagnolo, & do Nascimento, 2017).
Em se tratando da vivência universitária, o ingresso no ensino superior se vincula a um
processo de transição da juventude para a vida adulta e, também, do ambiente escolar para o
ambiente acadêmico, um período de importantes transformações para os seres humanos, mui-
tas delas no âmbito psicossocial. Tal ciclo se manifesta e se expressa de modos distintos em
relação à cultura e sociedade na qual o jovem está inserido (Cerchiari, 2014). Esta etapa é
constituída por momentos singulares na vida dos estudantes, tais como o distanciamento do
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ambiente familiar, promovido por muitos jovens em busca de uma formação superior, além
dos diversos conflitos, dúvidas, tomadas de decisões e posicionamentos que terão desdobra-
mentos importantes ao longo da trajetória de vida desses sujeitos. Tal período, que habitual-
mente decorre entre quatro e seis anos é marcado por um modo de vida que demanda rigorosa
responsabilidade e sociabilidade para quem se insere no espaço acadêmico, além de ser um
ambiente desconhecido para grande parte dos discentes (Assis & de Oliveira, 2010).
Ao se considerar a distribuição do curso superior em três fases, o início, meio e fim,
pode-se verificar diferentes fatores relacionados à saúde desse público ao longo de seu percur-
so, não havendo consenso na literatura sobre qual período é mais adoecedor. As especificida-
des perpassam pelo tipo de curso e os tipos de estratégias para contornarem os desafios de
cada uma desses ciclos. O período inicial é marcado pela adaptação e transição; enquanto no
segundo momento ocorrem os primeiros contatos com a prática do curso, daí emergem muitos
conflitos e angústias; já o fim do curso usualmente é marcado pela inserção no mercado de
trabalho e novamente uma fase de transição diante do encerramento da vida universitária.
Cada uma dessas fases possui demandas acadêmicas características, como a alta carga horária,
grau de exigência de rendimento, diferentes rotinas de sono e organização de tempo de estu-
do. As demandas acadêmicas se tornam estressores quando os estudantes não conseguem rea-
lizar ou lidar com tais tarefas, repercutindo em crenças negativas sobre si, o que por sua vez
dificulta a socialização do indivíduo no meio acadêmico. As relações consolidadas ao longo
da formação atuam como redes de apoio para o estudante; quando isso não ocorre, o enfren-
tamento das questões da vida universitária pode ser vivenciado de maneira mais negativa e
com mais dificuldades (Ariño & Bardagi, 2018).
Outra questão recorrente no ambiente universitário é o chamado ‘produtivismo aca-
dêmico’. Como a própria expressão já sugere, se refere a uma necessidade de produção exa-
cerbada no meio acadêmico, exprimindo acúmulo de atividades não prioritárias, sobrecarga,
pouco tempo ocioso, e abstenção de atividades de lazer e esporte. O estudo de Marendino,
Lisbôa e Lima (2018) indica que o ‘produtivismo’ tem se intensificado no ambiente universi-
tário, culminando em quadros patológicos e em prejuízos na formação dos discentes. De acor-
do com o trabalho das autoras, essa questão se inter-relaciona com o individualismo e o mer-
cantilismo que perpassam a cultura da universidade, sendo fundamental um debate crítico,
considerando os determinantes históricos que encabeçam certos valores da universidade nos
dias de hoje.
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Assim, a universidade nos dias atuais se configura de modo distinto em muitos aspec-
tos, se comparada à universidade em tempos passados, principalmente ao se considerar a di-
versidade de perfis de seus acadêmicos. A existência de uma pluralidade de pessoas nesses
espaços também repercute no desvelamento de preconceitos, assédios, intolerância e desi-
gualdades que permeiam a sociedade brasileira. Sendo assim, os universitários convivem com
diversos impasses em seu cotidiano acadêmico, o que influencia em sua saúde mental e em
sua permanência nessas instituições.
Em se tratando de experiências discriminatórias nas universidades, o estudo de Souza,
Lemkuhl e Bastos (2015) investigou a relação entre experiências discriminatórias e sofrimen-
to psíquico entre estudantes de ensino superior no Sul do Brasil. Tal realidade se fez presente,
demonstrando que a prevalência de sofrimento psíquico aumentava conforme a intensidade e
a frequência de discriminação vivenciada pelos discentes. Todavia, a pesquisa indicou que o
fenômeno em questão decorre com especificidades em relação aos cursos analisados. Diante
disso, a questão discriminatória repercute nos quadros de saúde da população universitária,
sendo um tipo de estressor que atua na reprodução e manutenção das desigualdades sociais
(Souza, et al., 2015), sobretudo de grupos minoritários.
As primeiras preocupações sobre a temática da saúde mental de estudantes do ensino
superior foram inicialmente discutidas nos Estados Unidos, em meados do século XX. Este
interesse, embora tenha emergido de forma paulatina, ocorreu também de modo ininterrupto
ao longo do tempo, reconhecendo-se a assistência a este público como um dever da instituição
a que estão vinculados. Foram criados não apenas cursos que promoviam a ‘higiene mental’,
mas também programas voltados às demandas psicológicas e psiquiátricas dos estudantes. Na
década de 1950, os problemas emocionais dos estudantes universitários foram alvo de estudos
e debates em conferências, em um período marcado pela divulgação dos altos números de
suicídio dos estudantes de Oxford. No Brasil, as primeiras formas de assistência psicológica e
psiquiátrica criadas para o atendimento aos estudantes universitários foram realizadas na Fa-
culdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, em 1957 (Loreto, 1985 apud
Cerchiari, 2004).
Historicamente, a assistência prestada aos estudantes universitários no Brasil aponta
para uma dinâmica de atuação de caráter demasiadamente pontual, ao se voltar estritamente
para ações ligadas ao direito à educação e participação nos espaços acadêmicos, em detrimen-
to a benefícios que repercutissem na permanência desses jovens na universidade, lacuna esta
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que perdurou por muitos anos na educação superior no país. A autora diz ainda sobre o papel
da assistência estudantil em garantir recursos e estratégias para a manutenção dos estudantes
nas universidades ao longo de sua formação, não se voltando apenas para auxílios de caráter
econômico e estrutural, mas também à promoção de ações voltadas ao suporte pedagógico e
apoio psicológico (Costa, 2011).
Ademais, a assistência estudantil pode ser compreendida como um mecanismo de di-
reito social, que perpassa por todos os campos dos direitos humanos, tendo como função atuar
no enfrentamento dos entraves e desafios a uma formação de qualidade, com bom desempe-
nho e aproveitamento acadêmico, de forma a encurtar os índices de abandono e trancamento
de matrícula no ensino superior. Para tal, é necessário partir do acesso aos recursos básicos
para a vida do estudante, tais como à alimentação e moradia; ao acompanhamento de necessi-
dades especiais; às ferramentas de ensino necessárias; até ao acesso a condições dignas de
saúde, atuando na contramão das desigualdades sociais manifestadas também na universidade
(Vasconcelos, 2010).
Por conseguinte, ao considerarmos a desigualdade social como um fator presente entre
a população universitária, tal como na sociedade brasileira, é fundamental se ater as implica-
ções desta questão para a saúde dos estudantes de graduação. Barata (2009) discute os impac-
tos da desigualdade social na saúde, se atendo às características de determinados grupos, que
estruturalmente possuem menores condições e oportunidades de se manter uma vida saudável.
Logo, as injustiças sociais e as formas de organização das políticas públicas remetem ao qua-
dro de maior precariedade de saúde a determinados grupos desfavorecidos economicamente.
Portanto, existem sistemas que maximizam as desigualdades sociais em saúde, enquanto ou-
tros procuram enfrentar o problema, ao ofertar subsídios e promover políticas compensatórias,
tendo sempre como finalidade a concretização da equidade.
O direito à saúde é abordado na Constituição Federal de 1988 e sua garantia norteou
um dos princípios que fundamentam o Sistema Único de Saúde - SUS (Scliar, 2007). No Bra-
sil, a universalidade, a integralidade e a equidade foram definidas como princípios que o sis-
tema de saúde deveria adotar (Barata, 2009). Assim, a Carta Magna é tida como um marco
nas conquistas dos direitos sociais dos cidadãos brasileiros, mediante a luta e influência dos
diversos movimentos populares da época (Vasconcelos, 2010). A esse respeito, dentro dos
princípios e regras relacionadas à Ordem Social, estabelece o art. 196 da Constituição brasilei-
ra:
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A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação
(Constituição da República Federativa Brasileira, 1988, artigo 196).
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rem em âmbito coletivo. Assim, como uma das formas de se compreender a natureza social
das enfermidades é necessário considerar a frequência, o tipo e a distribuição das enfermida-
des nas diferentes classes sociais de uma sociedade. Ocorre, assim, uma inter-relação entre o
processo social e a dinâmica de interação entre ‘saúde’ e ‘doença’, o que se expressa de ma-
neira distinta em cada parcela da sociedade, com enfermidades mais características em deter-
minados grupos do que em outros. O perfil de enfermidades de cada grupo está diretamente
ligado à forma como as classes sociais se inserem no modo de produção, na relação com o
trabalho e nas relações sociais das forças produtivas, se expressando de maneira mais evidente
em âmbito coletivo do que individualmente (Laurrell, 1976).
Na sociedade capitalista, o adoecimento é hegemonicamente explicado pelo modelo
biologicista, o qual compreende a enfermidade como um fator individual, abstraindo o seu
caráter social. O que se entende como ‘doença’ muitas vezes aparece relacionado à improdu-
tividade, ou como prejuízos na capacidade do sujeito produzir, manifestando, assim, o interes-
se das classes dominantes. Há, portanto, um fator ideológico na determinação das enfermida-
des nas sociedades capitalistas. Todavia, isso não significa que o adoecimento não exista,
sendo preciso, porém, adotar modelos explicativos mais abrangentes do que os paradigmas
monocausais para a explicação do processo saúde e doença (Laurell, 1976).
Em consonância com essa abordagem, o filósofo e médico francês Georges Cangui-
lhem, em sua clássica obra O normal e o patológico (1990), critica o pensamento hegemônico
das ciências físicas de sua época, ao dizer sobre o equívoco de se reduzir o homem e sua vida
a processos bioquímicos, sustentando a necessidade de considerar o contexto de vida do ho-
mem e seu ambiente ao discutir o que seria de fato patológico. Outra crítica à medicina tradi-
cional, realizada pelo autor, diz respeito às constantes fisiológicas, aos conceitos descritivos e
aos ideais biológicos que são baseados em médias, em termos estatísticos, o que suscita o de-
bate ético acerca de ‘saudáveis’ versus ‘doentes’, tendo em vista o grande número de pessoas
que estão fora deste padrão. Portanto, o conceito de saudável e de patológico é normativo e
faz-se necessário partir das idiossincrasias de cada sujeito no contexto de qualquer enfermida-
de delimitada e diagnosticada, na direção da compreensão do ser humano concreto existente.
A tendência de se transformar a Medicina em um discurso que considera apenas o apa-
rato biológico é descrito pela Antropologia da Saúde como um dos principais desafios para o
trabalho compartilhado entre profissionais da saúde e das ciências sociais. Por outro lado,
considerar os processos de saúde e doença apenas como fatos sociais, não levando em conta o
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aparato biológico também seria uma forma reducionista de se encarar tal fenômeno. Assim, ao
se ater ao aspecto psíquico do ser humano, deve-se considerar que este não é constituído pu-
ramente pelo seu aparato biológico, ao perpassar pelos determinantes sociais de cada cultura e
se desdobrando no âmbito biológico dos corpos físicos sociodemograficamente localizados
(Minayo, 2006).
Lévi-Strauss, nesse sentido, ocupou-se do estudo dos processos de interação entre os
âmbitos físico e psíquico da existência humana em seus estudos empíricos acerca de diferen-
tes culturas. Em O Feiticeiro e Sua Magia (1963), o antropólogo busca elucidar a forma como
as crenças, rituais e tradições de uma comunidade podem exprimir efeitos complexos nos pla-
nos psíquicos e fisiológicos. Esse estudo contribuiu com desvelar a eficácia de outros meca-
nismos terapêuticos para além dos utilizados tradicionalmente por métodos consagrados pela
medicina dita ‘científica’ na sociedade ocidental.
Os processos de saúde e doença, assim, não são aqui apreendidos como um fenômeno
biologicamente determinado, fragmentado e reduzido ao paradigma médico tradicional. É
preciso considerar a contribuição de outros campos do saber para se discutir estas interações.
Assim, a produção de enfermidades em uma sociedade perpassa por sua formação histórico-
cultural, pelas categorias de gênero, idade e etnia, considerando o modo de vida de seus inte-
grantes, as desigualdades sociais enfrentadas, o tipo de suporte aos sujeitos existentes (acesso
a bens e serviços essenciais) e as relações sociais entre os grupos que a constituem. As ques-
tões de saúde são, portanto, multideterminadas e se inter-relacionam com os aspectos físicos,
psicológicos, sociais e ambientais de cada população (Minayo, 2006). É imprescindível con-
siderar a questão social ao se tratar das discussões sobre saúde; o contrário acarretaria em uma
visão fragmentada e divergente das políticas públicas, comprometendo o princípio da integra-
lidade presente nas diretrizes do SUS (Garbois, Sodré, & Dalbello-Araujo, 2017).
O conceito ampliado de saúde adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS)
permitiu grandes avanços ao considerar as dimensões sociais, biológicas e mentais dos sujei-
tos, em detrimento da visão de saúde estritamente ligada à ausência de doenças (Amarante,
2008). Esta conceituação, adotada pela OMS, diz respeito à necessidade da promoção da qua-
lidade de vida para as pessoas, que esperam desse campo de intervenções o cuidado em âmbi-
to tanto individual quanto coletivo (Paim, 2009). Todavia, definir o ‘pleno bem-estar bio-
psico-social’ de uma população é um conceito de difícil enunciação. Logo, delimitar o que é
doença consolida outro impasse, o que faz do paradigma fragmentário e tradicional deste tema
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um arcabouço teórico insuficiente para a discussão da problemática em questão (Amarante,
2008). Assim, a determinação do processo saúde-doença não se sustenta no paradigma positi-
vista de se verificar causa e efeito, mas sim de se reconhecer os fatores de natureza social,
econômica e política que atuam sobre a saúde dos indivíduos e seus grupos. Tal compreensão
promove análises mais profundas sobre as formas de se intervir nas desigualdades e descom-
passos em saúde (Buss & Pellegrini Filho, 2007). O entendimento por determinação social na
saúde possui suas bases na medicina social latino-americana, proporcionando um debate con-
catenado com a realidade social desses países (Garbois et al., 2017).
Ademais, a Psicologia Social é uma abordagem crucial para a compreensão da cons-
trução dos saberes sobre os processos de saúde e adoecimento na sociedade. Tal contribuição
se dá por seu caráter interdisciplinar, contemplando em suas fronteiras diversas disciplinas
que dialogam para a compreensão dos aspectos psicossociais que permeiam o adoecer. Ao
considerar que este processo ocorre de modo multicausal, considera-se a relação entre os as-
pectos da vida social e o adoecer em si, articulando os sentidos e significados que se expres-
sam em experiências de vida com desdobramentos no âmbito pessoal e coletivo. Tal perspec-
tiva está diretamente ligada às discussões sobre promoção de saúde e prevenção de doenças
(Spink, 2017).
Outra perspectiva que também contribui para o debate em questão é a Psicologia Esco-
lar, ao possibilitar uma ampla compreensão dos processos educativos, tanto no âmbito da prá-
tica educativa quanto em níveis de gestão. Embora sua atuação no contexto do ensino superior
seja ainda marcada por demandas da clínica tradicional, como os atendimentos individuais, a
busca por diagnósticos e as intervenções voltadas aos quadros psicopatológicos, é um campo
do saber capaz de reformular e construir novas saídas diante das dificuldades enfrentadas no
processo formativo (Santana, Pereira, & Rodrigues, 2014). Logo, os desafios decorrentes a
formação no curso superior perpassa o campo da saúde mental, demandando um olhar ampli-
ado para a compreensão dessa realidade.
Em se tratando deste contexto, falar sobre saúde mental consiste em considerar um
campo de atuação amplo, intersetorial, multidisciplinar e que envolve diferentes atores soci-
ais, sendo muitas vezes um desafio determinar seus limites. Nessa perspectiva, conceituações
enrijecidas podem acarretar em riscos de se reduzir ou se apreender de maneira simplificada
as condições humanas, perdendo de vista as reais dimensões e significados do objeto de estu-
do ou da realidade investigada Desse modo, pode-se dizer que a saúde mental se ocupa do
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estado mental dos sujeitos e das coletividades, conjunturas demasiadamente complexas, polis-
sêmicas e plurais (Amarante, 2008).
No contexto do debate entre o limiar saúde/doença, muitas queixas somáticas inespecí-
ficas, tais como dores corporais, mal-estar, dores de cabeça, irritabilidade e dificuldades para
dormir nem sempre são passíveis de classificação formal nas psicopatologias ou na nosologia
médica, mas inspiram cuidados. Os denominados Transtornos Mentais Comuns (TMCs) re-
presentam modos de se compreender as manifestações do sofrimento psíquico e se constituem
como um eixo de investigação dos diversos fatores envolvidos nesse tipo de queixa. O concei-
to de TMC está diretamente relacionado aos aspectos psicossociais envolvidos no sofrimento
mental, tais como as redes de apoio social, condições de vida, relações interpessoais e com o
mundo que o sujeito está inserido (Fonseca, Guimarães, & Vasconcelos, 2008).
O termo TMC foi cunhado por Goldberg e Huxley em 1992 com o intuito de descrever
o conjunto de manifestações, de estrutura não psicótica, que designam um quadro de sofri-
mento psíquico, tais como desatenção, impaciência constante, somatizações, fadiga e esque-
cimentos. Em termos globais, pode-se considerar que os TMCs se localizam em quadros de
estresse, ansiedade e depressão, sem perfazer os critérios que satisfazem a ocorrência destas
enfermidades, mas que afetam a qualidade de vida destes sujeitos (Murcho, Pacheco & Jesus,
2016). A manifestação prévia de TMCs pode ser identificada pelo Self-Report Questionnaire-
20 (SRQ-20), conforme indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ao dizer sobre
os cuidados necessários em saúde mental (Tavares et al., 2011).
Devido à não codificação dos TMCs na Classificação Internacional das Doenças
(CID), é preciso se ater à existência de outras terminologias similares utilizadas para se referir
a essa condição, coexistindo também os termos Morbidade Psiquiátrica Menor (MPM),
Transtornos Mentais Menores (TMM), Problemas Psiquiátricos Menores (PPM) e Distúrbios
Psíquicos Menores (DPM). Esta multiplicidade de descritores sobre o mesmo assunto, em
certa medida, dificulta os estudos e a caracterização deste objeto, gerando complicações no
acesso e a classificação das publicações (Tavares et. al., 2011). Este tipo de queixa engendra-
se nas relações sociais, de trabalho e econômicas, se elencando como uma forte demanda das
classes populares nos serviços de saúde. Assim, tal fenômeno requer análises para além de
uma perspectiva individualizante, considerando o indivíduo em seu contexto social, o modo
como se configuram suas relações e suas condições de vida (Fonseca et al., 2008). Na presen-
24
te investigação optamos pelo termo TMC, por ser o mais utilizado nos estudos similares iden-
tificados.
Os TMCs podem ser utilizados para se referir a uma condição que encontra-se além do
paradigma de psiquiatrização e medicalização da vida, ao possibilitar a investigação das mani-
festações de sofrimento psíquico e sua relação com as esferas psicossociais destes sujeitos,
sem que para tal seja necessário preencher algum critério diagnóstico prescrito nas classifica-
ções dos manuais de Psiquiatria, tais como os transtornos depressivos, transtornos ansiosos ou
transtornos somatoformes. A demanda de TMCs é alta nos serviços de atenção básica, sendo
um desafio para estes dispositivos de atendimento acolher as necessidades desses sujeitos
diante do estereótipo de serem pessoas ‘poliqueixosas’. Tais usuários precisam ser devida-
mente tratados, sendo necessário um aprimoramento nas metodologias de acolhimento e dis-
ponibilização de mecanismos de atenção aos casos tidos como de menor agravo, de modo a
responsabilizar a rede básica de atendimento e as políticas de saúde mental (Fonseca et al.,
2008). Por sua vez, o uso de psicofármacos se faz altamente presente na população universitá-
ria, sendo utilizado para outros fins que não sejam as reais necessidades de um medicamento,
mas para se obter um melhor desempenho ou outros ganhos relacionados a impulsionar à pro-
dutividade. Sendo assim, a medicalização aparece como uma das formas de lidar com as de-
mandas acadêmicas (Corrêa & Baierle, 2011), as quais também repercutem nos TMCs.
As manifestações de sofrimento psíquico estão associadas diretamente aos trancamen-
tos de matrículas e interrupção do curso superior, conforme indicado no estudo de Ribeiro,
Cunha e Alvim (2015), realizado com estudantes de Medicina na Universidade Federal de
Minas Gerais. As dificuldades de enfrentamento das questões cotidianas da vida universitária
atravessam também as relações familiares e pessoais dos alunos, logo, o mal-estar psíquico,
ansiedade, estresse, desesperança e dificuldades emocionais necessitam de maiores cuidados e
acolhida institucional. Lima, Domingues e Cerqueira (2006), por sua vez, em estudo sobre
TMC em estudantes universitários do curso de Medicina, indicam a elevada prevalência deste
sofrimento neste público e elenca fatores a ele associados, tais como estresse, uso dependente
de substâncias psicoativas, sobrecarga de trabalho e fragilidade nas redes de relações pessoais.
Dessa forma, esta reflexão sobre a ocorrência de TMC em estudantes universitários
exprime o debate sobre um tipo de sofrimento psíquico que é muitas vezes invisível e insufi-
cientemente discutido nas instituições de ensino superior. Ao se buscar compreender os pro-
cessos envolvidos na saúde mental de estudantes universitários é preciso levar em conta que
25
os TMCs atuam, muitas vezes, de modo incapacitante e comprometedor do rendimento aca-
dêmico de muitos discentes, afetando também sua permanência no ensino superior.
Os desafios enfrentados no curso superior constituem uma fase crítica no desenvolvi-
mento do estudante, fazendo emergir várias expressões de mal-estar. Ao considerar tais cir-
cunstâncias, esta parcela da população constitui um grupo de risco, apresentando comprome-
timentos na qualidade de vida e na saúde mental, se comparado a população em geral. Embora
a população universitária seja alvo de estudos, requer ainda uma maior atenção pela comuni-
dade universitária (Pereira, 2013). Nesse sentido, Figueiredo, Ávila Canals, Dell’Áglio Júnior,
Souza Rusch, e Lima Argimon (2010), em um estudo de revisão de literatura sobre os sinto-
mas de humor em populações universitárias, apontam a prevalência de depressão, abuso sexu-
al e dificuldades decorrentes da orientação sexual como outros fatores de risco para ideação
suicida nesse grupo. O caráter de transição dessa fase da vida, tais como alternância de pares
nos relacionamentos, períodos de sono irregulares, demandas acadêmicas e a própria rotina de
atividades curriculares ou extracurriculares distribuídas em semestres são fatores influentes.
O uso problemático de drogas lícitas e ilícitas também se apresenta como fator de risco
para ideação suicida em universitários conforme descrito na revisão de literatura realizada por
Miranda et. al (2018). Foram elencados no estudo em questão outros aspectos que influenciam
neste quadro, tais como a pressão da universidade, dificuldades de adaptação, fragilidades nas
relações familiares e prejuízos na saúde mental. Dentre as causas para compreensão da idea-
ção suicida entre jovens adultos inseridos no ambiente universitário, destacam-se as condutas
de risco, manifestadas por comportamentos impulsivos, que se firmam ao ingressarem na vida
acadêmica e também pela ampla liberdade para a tomada de decisões e escolhas. Tais fatores
se inter-relacionam aos problemas financeiros, instabilidades das profissões, mercado de tra-
balho, insuficiência de apoio social e demais influências de ordem sociocultural. Os meca-
nismos de apoio e prevenção a universitários com ideação suicida ainda se configuram como
insuficientes nos sistemas públicos de saúde, não efetivando estratégias de tratamento e pro-
moção de saúde a esse público. A depressão também aparece como um fator relevante, porém
não se constitui como fator único e determinante para a efetivação do suicídio.
A depressão e o suicídio estão, em muitos casos, inter-relacionados e acometem uma
grande parcela da população, sendo considerados graves problemas de saúde pública. O so-
frimento psíquico gerado pela depressão acarreta em prejuízos nas relações interpessoais, na
produtividade e na qualidade de vida (Vieira & Coutinho, 2008), impactando o sujeito em
26
diversas esferas de sua vida. Mesquita et. al (2016) identificaram a prevalência de depressão
entre estudantes do sexo feminino, nos cursos da área da saúde. As principais manifestações
de sofrimento foram os sentimentos de inferioridade, tristeza, irritabilidade, dúvidas em suas
tomadas de decisões e sinais de fadiga. Os universitários participantes deste estudo também
sentiam dificuldades em descansar e demandavam um maior esforço para desempenhar suas
atividades diárias. Em jovens adultos, a depressão é mais comum nos sujeitos que não possu-
em um relacionamento amoroso ou que se encontram em isolamento, pois os sentimentos de
vazio e solidão são agravantes dos prejuízos à saúde mental vivenciados na universidade
(Mesquita et. al, 2016).
O uso problemático de álcool e outras drogas é apontado como fator de risco para a
saúde mental dos estudantes universitários, principalmente ao estarem associados aos quadros
de ideação suicida e depressão. A população universitária brasileira apresenta maior prevalên-
cia de uso de álcool, tabaco e outras drogas se comparada às demais parcelas da população,
sendo o uso de álcool mais recorrente que as demais drogas. Este grupo é composto majorita-
riamente por jovens adultos e se encontram em maior vulnerabilidade ao se considerar os ris-
cos decorrentes do uso abusivo, tais como envolvimento em acidentes, violência, prejuízos em
sua saúde (Damasceno et al., 2016), fazer sexo sem uso de preservativos, comprometimento
do desempenho acadêmico e de seu desenvolvimento físico e emocional (Peuker, Fogaça, &
Araújo, 2006).
Ao se inserirem no ensino superior, os estudantes encontram um ambiente com acesso
mais irrestrito às bebidas alcoólicas, com custos mais baixos e uma forte influência de seus
pares, favorecendo o uso prejudicial de tais substâncias. O consumo de álcool aparece muitas
vezes como uma via para a interação, aceitabilidade e pertença ao grupo de convivência, au-
mentando a autoconfiança, desinibição e sociabilidade. Isso se contrapõe aos sentimentos vi-
venciados pela rotina do ambiente universitário, permeada por dificuldades de adaptação, a-
fastamento da família e baixo rendimento acadêmico (Peuker et. al., 2006). O uso de drogas
na perspectiva de estudantes universitárias aparece como uma forma de enfrentamento de seus
problemas (Damasceno et al., 2016), sendo possível verificar o uso problemático de drogas
como uma possível saída para as angústias vivenciadas no meio acadêmico, refletindo a ne-
cessidade de ações de cuidado mais detidas.
O mal-estar no meio acadêmico também se manifesta ao se ater às altas taxas da sín-
drome de burnout em universitários, que pode ser descrito como a manifestação de sofrimen-
27
to, esgotamento e despersonalização, perpassando pela interação de categorias específicas que
compõem este tipo de adoecimento (Carlotto & Gonçalves, 2010). No estudo de Carlotto e
Gonçalves (2010), esta síndrome emergiu em três dimensões específicas na população univer-
sitária: exaustão emocional, descrença e eficácia profissional. O principal preditor para a o-
corrência das dimensões em questão que compõem a síndrome de burnout perpassou, neste
estudo, por um fator de caráter psicossocial: o desejo de abandonar o curso. A insatisfação
com o curso ocasiona a sensação de descrença; ao se eximir do sentido e gratificação de seu
desempenho, a rotina de estudos se torna algo desgastante, repleta de dúvidas e dificuldades.
O estudo em questão se ocupou de universitários da área da saúde, que se apresentam
como um público exposto a estressores para além dos vivenciados nos demais cursos, tais
como a relação com pacientes, as frustrações e despreparos diante das atividades práticas,
bem como os conflitos emergentes das relações de competição e estresse. Outros preditores
para exaustão foram o volume de disciplinas cursadas pelo estudante e o tempo de curso; a
primeira diz respeito ao aumento da carga horária e da dedicação a leituras e avaliações, en-
quanto o segundo expressa à proximidade do fim do curso e suas implicações, tais como as
preocupações com o mercado de trabalho, formatura, maiores exigências e aprofundamento
das atividades acadêmicas. A indisponibilidade de tempo para realizar atividades de lazer
também se constituiu como um fator relacionado aos sentimentos de exaustão, ao centrar o
estudante em suas atividades de estudo (Carlotto & Gonçalves, 2010).
Sujeitos em formação no campo da saúde recorrentemente vivenciam fatores similares
de sofrimento psíquico. No caso dos estudantes em questão, ao aprenderem sobre os proces-
sos de doença versus cura e os ideais de reabilitação e se depararem com a prática de estágio,
vivenciam as limitações de sua profissão e os impasses em relação ao campo teórico. Nas
intervenções práticas frequentemente o discente vivencia momentos de dúvida, estresse, inse-
gurança, ansiedade, frustração e sentimento de fracasso (Rudnicki & Carlotto, 2007).
Dentre os estudantes da área da saúde, este estudo priorizará os acadêmicos do curso
de Psicologia que, segundo Lopes e Guimarães (2016), é um grupo prevalente em exaustão
emocional e descrença profissional. Muitos cursos de Psicologia demandam uma alta carga
horária de aulas e exigem que o estudante cumpra atividades práticas de sua área de atuação,
de modo que se depara com diversos fenômenos estressores ao longo de sua formação, geran-
do muitas vezes sobrecarga emocional e cognitiva, o que pode acarretar na síndrome de bur-
nout e em riscos à saúde mental. Para as autoras, a idealização da profissão e as expectativas
28
sobre a mesma já se iniciam antes mesmo do contato com a prática, podendo, assim, criar
sentimentos de frustração e fracasso diante de uma perspectiva de cura plena do sofrimento
mental, que é inatingível ou que se dá em um processo paulatino e em longo prazo.
Ademais, os estudantes de Psicologia estão frequentemente em contato com o sofri-
mento humano em suas mais variadas formas, lidando com realidades muitas vezes violentas,
desiguais e até mesmo de violação de direitos. O mal-estar proveniente das experiências práti-
cas vivenciadas pelo estagiário de Psicologia e seus prejuízos em sua saúde mental são trata-
dos, de certo modo, em segundo plano. Em muitos casos é sugerido que o discente busque
uma psicoterapia individual para si, o que nem sempre está disponível gratuitamente sendo,
portanto, inacessível a uma grande parcela dos estudantes. Ademais, a busca por enfrentamen-
tos de caráter individual não são respostas suficientes quando se consideram as estruturas oca-
sionam e mantém o mal-estar dos estudantes, que se apresentam em âmbito coletivo. No en-
tanto, é comum que, diante de tais desafios, os estudantes encontrem formas alternativas para
lidar com seus desconfortos, muitas vezes pelo apoio de seus pares, de coletivos de ativistas e
militantes presentes no contexto universitário e demais formas de acolhimento e enfrentamen-
to não institucionalizados.
Outra questão que atravessa a presente discussão são os currículos e as perspectivas
pedagógicas que os perpassam, que muitas vezes não se atentam para a maneira como os dis-
centes vivenciam seu processo de formação, sendo preciso considerar os aspectos biopsicos-
sociais deste cenário. Logo, é fundamental que as instituições de ensino superior sejam capa-
zes de oferecer serviços de apoio psicológico aos seus alunos de modo mais articulado aos
planos de ensino, não abdicando do reconhecimento dos componentes estressores dos conteú-
dos, equilibrando o impacto na forma de organização das disciplinas, incentivando atividades
extracurriculares concatenadas com o propósito da formação, sem que ocupem o necessário
tempo de descanso e lazer. É fundamental também que não sejam desconsiderados os confli-
tos familiares, as dificuldades de adaptação às mudanças surgidas neste período da vida e as
atividades de lazer (Andrade et. al 2014). Os aspectos psicossociais descritos acima, ao serem
negligenciados e não cuidados da maneira adequada podem acarretar em evasões, trancamen-
tos, desistências e demais comprometimentos, tais como ansiedade, depressão, preocupações
excessivas com as atividades acadêmicas e conflitos em suas relações interpessoais (Cerchia-
ri, 2014).
29
Em face ao exposto, a saúde mental dos estudantes universitários, considerada em uma
perspectiva ampliada, pode ser comprometida pelos sintomas de sofrimento psíquico decor-
rentes das dificuldades vivenciadas no ambiente acadêmico. Esta realidade, além de compro-
meter os acadêmicos em seus diversos aspectos psicossociais, é também capaz de gerar inú-
meros prejuízos em sua formação, acarretando até mesmo em abandono do curso, casos de
adoecimento, suicídios e uso problemático de drogas. Todavia, a abordagem do sofrimento
psíquico em universitários é tratada, muitas vezes, em segundo plano, ao se considerar a au-
sência e insuficiência de debates nas instituições de ensino superior sobre o assunto, do mes-
mo modo em relação aos escassos estudos sobre esta questão. O conflito aqui descrito perpas-
sa pela forma como a educação superior é pensada e instituída, bem como pelas lacunas na
oferta de programas de saúde e assistência a este público.
30
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Objetivos Específicos
31
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de caso, que recorreu a uma abordagem multimetodológica,
considerado o mais adequado ao problema e objetivos desta investigação. O estudo de caso se
estabelece como uma modalidade de pesquisa ou uma metodologia estratégica para se siste-
matizar os dados de uma pesquisa, mantendo as características importantes e o caráter funda-
mentalmente unitário do objeto em estudo, devendo ser analisado no contexto, tempo e lugar
em que está inserido. Trata-se de um estudo empírico, composto por um método abrangente,
possuindo interesses distintos e singulares de outras investigações; embora seja delimitado,
seus componentes são analisados de maneira articulada (Ventura, 2007).
Silvia Lane em Psicologia Social: O Homem em Movimento (1984), ao dizer sobre a
necessidade de uma Psicologia Social Crítica voltada para a realidade latino-americana e suas
mazelas sociais, aponta a atividade de pesquisa como uma possibilidade de transformação
destas condições presentes nas comunidades brasileiras. Para tal, seria preciso romper com
paradigmas hegemonicamente construídos ao longo da história da ciência, tais como a dico-
tomia teoria e prática, bem como os ideais positivistas de neutralidade do pesquisador, tendo
em vista que ele também está inserido em um contexto de relações sociais e institucionais, e
que de alguma maneira a pesquisa irá se posicionar, ou pela manutenção das ideologias domi-
nantes ou pela transformação do que está posto. No que tange a dicotomia entre teoria e empi-
ria, o materialismo histórico-dialético enquanto referencial teórico-metodológico permite uma
compreensão do indivíduo em sua totalidade, em suas relações, partindo-se assim do empírico
para se chegar ao concreto, ao analisar em profundidade as categorias que compõem estes
sujeitos e seu contexto. Dessa maneira teoria e prática ocorrem de maneira indissociável, cor-
roborando por um processo de produção de conhecimento científico alicerçado em suas bases
cumulativas e, portanto, históricas.
A pesquisa enquanto prática social deve considerar a natureza histórico-social do ho-
mem, que precede seu nascimento, e se faz presente desde seus primeiros anos de vida, até
sua vida adulta ou até mesmo no desenvolvimento de alguma patologia. A visão de mundo
aqui descrita considera o homem não apenas em seu aspecto biológico, mas como um ser i-
merso em relações grupais, sociais e institucionais, sendo não apenas fruto da cultura e co-
nhecimento historicamente produzido, mas também como sujeito produtor de história, cultura
e conhecimento (Lane, 1984).
32
Em consonância a esta práxis de pesquisa, Flick (2009) reafirma uma característica
marcante da pesquisa social como uma forma de possibilitar o entendimento do mundo e ge-
rar novos conhecimentos sobre ele. Nesta investigação, o sofrimento psíquico na população
universitária selecionada foi analisado nos pressupostos da Saúde Coletiva, considerando os
processos de saúde e doença como oriundos das condições de vida, da sua localização no pro-
cesso de produção e reprodução social, dos modos de vida e formas de organização da popu-
lação investigada. Em razão disso, não partiremos de uma perspectiva individual, ancorada na
psicopatologia clássica, de compreensão do fenômeno em questão. Buscou-se um enfoque
ampliado, considerado os atravessamentos institucionais, sociais e grupais analisados pela
perspectiva dos participantes (Minayo, 2010a).
Para tal, foi realizado um estudo de caso do tipo descritivo e exploratório visando
compreender os processos determinantes do sofrimento psíquico dos universitários do curso
de Psicologia em uma universidade pública em Minas Gerais, de modo a analisar mais deta-
lhadamente os aspectos psicossociais envolvidos em sua saúde mental, bem como suas carac-
terísticas e processos. Assim, autores como Gil (2008) afirmam que os estudos descritivos
dizem respeito a pesquisas que visam caracterizar determinado grupo ou fenômeno, incluindo
investigações que buscam levantar atitudes e significações constituídas por uma determinada
população. Paralelamente, a pesquisa exploratória busca desenvolver, clarificar e transformar
conceituações e ideias, diante da elaboração de questões de pesquisa que poderão ser analisa-
das em estudos posteriores, proporcionando uma visão geral sobre um determinado objeto,
que até então seria pouco explorado. As pesquisas descritivas e exploratórias são, majoritari-
amente, utilizadas de maneira conjunta entre os pesquisadores sociais na busca da elucidação
de questões de ordem prática de atuação.
33
vas, enquanto estratégia de pesquisa, ele pode ser empregados tanto em estudos quantitativos,
quanto em pesquisas qualitativas, sendo a quantificação um elemento importante para se veri-
ficar um fenômeno na magnitude de sua manifestação, o que possibilita maior profundidade
ao se aliar aos instrumentos de ordem qualitativa, em certos campos do conhecimento (Peres
& Santos, 2005).
Um caso pode ser descrito como um sistema composto por diversas esferas, mas deli-
mitado, articulado, um sistema específico e, portanto, multifacetado. É fundamental que obje-
to de caráter unitário seja passível de investigação científica, considerando que nem todos
objetos de estudo podem se configurar como um caso. Ou seja, pode ser considerado um caso
uma pessoa, uma instituição, uma comunidade, uma organização, um coletivo, entre outros
elementos de análise similares. O conceito de estudo de caso pode se dar de maneiras distintas
em função da estratégia metodológica e referencial teórico do estudo, todavia, a busca por
profundidade do objeto investigado e seu caráter unitário são elementos indispensáveis para
tal tipo de pesquisa (Peres & Santos, 2005).
Considerando que os estudos de caso são classificados em vários tipos, esta investiga-
ção se trata de um estudo de caso do tipo descritivo e exploratório. O primeiro se refere a um
tipo de análise de caráter indutivo, buscando compreender uma instância determinada (Peres
& Santos, 2005); ao considerarmos as diversas questões que acometem a saúde do estudante
nas Universidades, optamos por um recorte acerca do sofrimento psíquico entre estudantes do
curso de Psicologia. Em se tratando do estudo de caso exploratório, ele pode ser caracterizado
pelo aprofundamento sobre um fenômeno insuficientemente investigado, com poucas produ-
ções e reflexões acerca de um tema, possibilitando a elaboração de hipóteses e observações
para estudos subsequentes (Alves-Mazzotti, 2006). Tal tipo de estudo de caso contempla o
perfil desta pesquisa, tendo em vista a escassez de produções a despeito do sofrimento psíqui-
co de estudantes de Psicologia, tanto na literatura brasileira, quanto internacional.
Ademais, no estudo de caso, é imprescindível que a pergunta de pesquisa seja bem e-
laborada, que as convicções e preconceitos do pesquisador não se confundam ou se sobrepo-
nham aos dados coletados em campo, saber articular dados que se distanciam e lidar com im-
previstos que fogem ao planejamento de trabalho. Assim, o referencial teórico utilizado pelo
pesquisador deve ser empregado como um ponto de partida para a investigação e não de for-
ma enrijecida e inflexível, tendo em vista que novos elementos poderão surgir ao longo da
34
realização da pesquisa, e que, portanto, podem ser incorporados na proposição e no desenvol-
vimento de novos conhecimentos sobre o objeto de estudo.
Na etapa de coletar os dados o pesquisador deve tomar algumas precauções básicas,
considerando a necessidade de se integrar informações de diferentes classes e tipos. Assim, é
fundamental levantar informações variadas e em profundidade sobre o tema, sem perder de
vista a compreensão do objeto de pesquisa em suas diversas dimensões. Uma via para atender
tal necessidade é a triangulação dos diversos instrumentos de coleta de dados, fontes, teorias e
demais estratégias presentes na metodologia de uma investigação (Peres & Santos, 2005),
enriquecendo e ampliando os olhares sobre um mesmo fenômeno.
Local da pesquisa
A pesquisa foi realizada em uma universidade pública federal, localizada em uma ci-
dade de médio porte no interior de Minas Gerais. A instituição contempla diferentes públicos
de alunos, sendo muitos deles também trabalhadores, ou que residem nos municípios de pe-
queno porte localizados próximos à cidade em questão. O curso de Psicologia alvo deste estu-
do teve seu projeto pedagógico atualizado conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais da
Psicologia (Resolução no08, 2004). O curso contempla a formação nas habilidades e compe-
tências específicas a serem desenvolvidos em diversas áreas da Psicologia, dentre elas a Psi-
cologia Clínica e Saúde Mental, Psicologia Escolar/Educacional, Psicologia Social, Psicologia
Organizacional e do Trabalho, Psicologia Experimental e Psicologia do Desenvolvimento.
A graduação em Psicologia é oferecida nos turnos integral e noturno, envolvendo a
formação do discente em 10 períodos letivos e 11 períodos letivos, respectivamente. As uni-
dades curriculares possuem carga horária de 36 ou 72 horas, sendo o curso estruturado por
períodos semestrais. A formação deve ser concluída entre cinco e sete anos e meio, no caso
das turmas de período integral e para as turmas do período noturno, entre cinco anos e meio e
oito anos. Em alguns casos é possível recorrer ao Colegiado do Curso para solicitar prorroga-
ção do prazo, sendo avaliado de acordo com a legislação em vigência.
Ocorreu ainda a redistribuição das unidades curriculares em duas ênfases, possibili-
tando ao graduando optar por aprofundar o conhecimento a partir de estágios, disciplinas ele-
tivas e atividades complementares em uma ênfase específica de seu interesse. Amparados
pelas exigências das Diretrizes Curriculares, o curso contempla, portanto, dois componentes:
a formação básica do aluno em um Núcleo Comum e a Formação Específica.
35
Participantes
Tabela 1
36
8 3º masculino branco Hetero sim Não não Sim
Fonte: Autor.
Tabela 2
Fonte: Autor.
Tabela 3
Fonte: Autor.
37
olhares sobre o fenômeno e evitar possíveis sugestionamentos ou direcionamentos divergentes
da realidade dos participantes. Esta questão sobre a viabilidade de se realizar uma pesquisa
em uma temática na qual o pesquisador esteve inserido é discutida no estudo de Lerner
(2008). O autor relata sobre a necessidade de um afastamento do pesquisador no momento
das análises dos dados coletados, de modo a permitir um estranhamento da realidade já reco-
nhecida e muitas vezes antecipada pelo pesquisador. Para tal é importante a constante discus-
são com os orientadores e demais pessoas envolvidas na pesquisa. Por outro lado, a vivência
no ambiente pesquisado pode potencializar o detalhamento da investigação, tendo em vista o
conhecimento prévio do funcionamento da instituição, que se relaciona a muitas das questões
relatadas pelos participantes.
Instrumentos e Técnicas
38
boa consistência interna. Ademais, na pesquisa de Guirado e Pereira (2016), ele também apre-
sentou um desempenho satisfatório ao avaliar TMCs, tendo sido capaz de identificar os fato-
res que em interação proporcionam sofrimento psíquico em um ambiente laboral.
O SRQ-20 é autoaplicável e é composto por perguntas a respeito de sintomas, dificul-
dades, dores e problemas que possam ter acometido o respondente em um período anteceden-
te de 30 dias à aplicação (Tavares et. al, 2011). Das 20 questões, quatro se referem a sintomas
físicos e 16 a respeito de desordens psicoemocionais. Todas as questões são dicotômicas, ou
seja, apresentam como resposta ‘sim’ ou ‘não’; as respostas marcadas como ‘sim’ perfazem
um ponto, ao indicar que o sintoma esteve presente naquele mês, havendo, portanto, escores
de zero a 20 pontos (Fiorotti, Rossoni, Borges, & Miranda). A pontuação mínima para a sus-
peita de ocorrência de TMCs é de seis ou mais para homens e oito para mulheres; em alguns
casos considera-se sete como ponto de corte para o sexo feminino (Tavares et. al, 2011).
O Self-Reporting Questionnaire possui como finalidade a indicação de sintomas, de-
tectando graus de possibilidades de acometimentos na saúde mental, sem determinar um diag-
nóstico específico. Portanto, verifica-se a ocorrência de sofrimento psíquico, mas não fornece
um diagnóstico descrevendo algum tipo de transtorno presente. O instrumento em questão, ao
possuir um aspecto de triagem, torna-se pertinente para o uso em estudos de Saúde Coletiva,
como uma primeira classificação para a ocorrência de enfermidades em um determinado gru-
po populacional. Ademais, os sintomas verificados no instrumento são capazes de se asseme-
lhar aos sintomas de TMCs, sendo amplamente utilizados em estudos como esse. Por fim,
embora apresente limitações em seu uso em intervenções clínicas, uma das vantagens da utili-
zação do SRQ-20 é sua rápida aplicação, de simples entendimento para o público e o pesqui-
sador, baixos custos e padronização internacional, ao ser utilizado em diversos tipos de inves-
tigação (Santos, Araújo, Pinho & Silva, 2010).
Grupo Focal
Os grupos focais podem ser considerados como um tipo de entrevista em grupo (Gil,
2008) ou como entrevistas em profundidade, sendo amplamente utilizada em pesquisas quali-
tativas. Trata-se de uma técnica de coleta de dados que, ao reunir um grupo pequeno e homo-
gêneo em termos de suas características, são incitados por um moderador a discutir sobre um
determinado tema, explicitando suas concepções, vivências, valores e crenças sobre o assunto
em pauta (Michel, 2009). Os primeiros relatos sobre essa forma de coleta de dados surgiram
39
na década de 1950 em programas de entrevistas de rádio, ao verificar que os entrevistados
possuíam maior facilidade em explorar suas opiniões em interação grupal, se comparado a
entrevistas individuais. Tal procedimento foi também incorporado por militares em avaliações
de filmes e posteriormente em pesquisas de mercado. Após a publicação de livros sobre o
assunto, os pesquisadores de grupos incorporaram parte da técnica, adaptando à Psicologia e à
Sociologia Crítica (Kind, 2008).
A formulação de opiniões, reflexões e insights na interação com outros indivíduos se
constitui como uma das principais vantagens de utilização dos grupos focais (Minayo, 2010b).
Logo, os dados produzidos consideram a dimensão do processo de grupo, considerados como
de maior aprofundamento, se comparado a soma das percepções de cada indivíduo que o
compõe, sendo adequado às investigações que buscam opiniões e sentimentos das pessoas que
compõem determinados públicos (Kind, 2008).
Nas pesquisas do tipo exploratórias, como no caso da presente investigação, o propósi-
to do grupo focal é proporcionar novas reflexões ou estimular o próprio pensamento científico
de produção de conhecimento a um assunto ainda não vastamente explorado, se diversifican-
do e se adequando em função dos objetivos do estudo (Dias, 2000). A escolha pela utilização
do grupo focal como técnica de coleta de dados se adéqua ao presente estudo ao considerar-
mos que os estudantes de Psicologia estão sujeitos a estressores comuns à sua saúde mental.
Logo, o grupo focal pode fomentar novas respostas e ideias sobre tal fenômeno com base em
um grupo homogêneo ao favorecer identificações e discordâncias entre os estudantes acerca
da realidade que vivenciam (Kind, 2008).
Os grupos focais podem ser utilizados de maneira exclusiva ou combinada com outras
técnicas de coleta de dados, tais como observação, entrevistas individuais, questionários, his-
tória de vida e demais ferramentas de aquisição de informações, podendo operar como moda-
lidade principal ou complementar (Minayo, 2010b). Na presente investigação, optamos pela
utilização dos grupos focais acompanhados da aplicação do instrumento Self-Reporting Ques-
tionnaire (SRQ-20) como uma forma de triangular a ótica sobre o fenômeno aqui investigado.
Os grupos focais recorreram a um roteiro elaborado previamente (Apêndice I), sendo
explorados tópicos tais como: entrada na universidade, rotina, cobranças e produtividade, re-
lações com seus pares, vida pessoal, qualidade de vida, lazer, esportes, cultura, cuidados, cur-
so de Psicologia, escolha do curso, particularidades do curso, impactos na saúde, apoios e
suporte, medidas de cuidado e atenção, enfrentamentos e como lidam com suas dificuldades.
40
Os tópicos foram estruturados em forma de aspectos norteadores, em conformidade com a
ordem com que o grupo foi contemplando tais questões, podendo ser retirado caso os assuntos
já tenham sido discutidos pelos participantes em algum tema inicial ou em algum dos momen-
tos do encontro.
41
tos mínimos para sua execução, não sendo necessário o custeio por parte de alguma agência
de fomento.
A análise de conteúdo é recorrentemente utilizada para tratar dos aspectos teórico, prá-
tico e de coleta de dados em pesquisas sociais, indo para além de um procedimento técnico no
campo das investigações qualitativas. Os primeiros procedimentos operando a análise de con-
teúdo ocorreram nos Estados Unidos no contexto da Primeira Guerra Mundial, em estudos no
campo do Jornalismo. O pioneiro em tal prática foi Lasswell, que desde 1915 analisava arqui-
vos de imprensa e propaganda. Suas análises foram amplamente marcadas pelo rigor matemá-
tico como forma de alcançar a objetividade dos parâmetros científicos da época. Todavia, este
modelo de análise pautado na precisão e exatidão matemática entrou em declínio a partir da
década de 1940, visto que não davam conta de explicitar os conteúdos latentes presentes em
jornais e periódicos acusados de propagandas de caráter nazista. No contexto da Segunda
Guerra Mundial, os departamentos de Ciência Política das universidades estadunidenses se
reuniram com pesquisadores de diversas áreas, tais como sociólogos e psicólogos, a fim de
desenvolver técnicas de análise de conteúdo (Minayo, 2010a).
A atual funcionalidade das técnicas de análise de conteúdo orienta-se por um debate
amplo e diversificado junto a Antropologia, Sociologia, Psicologia, Jornalismo e a Psicanáli-
se, ao se verificar problemáticas no plano epistemológico das concepções de comunicação.
Sobretudo, busca-se que o esforço teórico seja alicerçado pelas lógicas quantitativas ou quali-
tativas, de modo a superar as dimensões do senso comum e do subjetivismo nas leituras, al-
mejando-se uma interpretação crítica diante dos conteúdos de documentos, obras literárias,
entrevistas e demais materiais produzidos em uma investigação. Estes pressupostos analíticos
almejam proporcionar consistência interna ao procedimento, assegurando a validade destas
pesquisas. Para tal, é imprescindível que a análise de conteúdo seja realizada de modo objeti-
vo, com regras e diretrizes previamente esquematizadas, e que também seja desenvolvida de
modo sistemático, ordenando o material e sistematizando o conteúdo nas categorias definidas
(Minayo, 2010a).
Diante disso, a análise de conteúdo, enquanto técnica de pesquisa, possibilita, por
meio de procedimentos sistematizados e científicos, a inferência de conteúdos subjacentes ou
explícitos em um material qualitativo. A análise de conteúdo existe em diversos subtipos, tais
42
como: análise lexical, análise de expressão, análise de enunciação, análise de relação e análise
temática. Dentre elas, esta última se caracteriza por ser a mais abrangente, versátil e apropria-
da para as pesquisas qualitativas no campo da saúde (Minayo, 2010a).
Para a análise dos dados coletados nesta pesquisa, será utilizada a análise de conteúdo
temática, em que as informações obtidas foram transcritas e sistematizadas percorrendo as
seguintes etapas: pré-análise, exploração do material e, por fim, a interpretação dos dados
obtidos. De acordo com Gomes e Minayo (2007), a análise de conteúdo envolve tais fases em
uma ordem cronológica, sendo que na primeira fase o pesquisador faz uma leitura geral dos
conteúdos manifestos, destacando as impressões gerais e ordenando o material, estabelecendo
uma primeira aproximação às unidades de registro, tais como trechos significativos e catego-
rias. Na segunda fase, há releituras a fim de confirmar as unidades de registro identificadas,
estabelecendo-se uma ordenação final do material por meio da consolidação dos procedimen-
tos da pré-análise. Por fim, na terceira fase, o material ordenado é submetido a uma interpre-
tação que terá por base as categorias delimitadas, realizando-se um diálogo entre a literatura
existente e as temáticas emergentes no processo de análise qualitativa.
Braun e Clarke (2006) apresentam a análise temática como um método analítico apro-
priado para elencar padrões de respostas no conjunto de dados coletados em uma investigação
qualitativa, sendo capaz de identificá-los e analisá-los. Esta técnica possibilita ir além da or-
ganização e descrição do material analisado, ao ser capaz também de interpretar diversos as-
pectos dos temas ou significados presentes ou implícitos no conteúdo da pesquisa. Tal ferra-
menta de análise é utilizada amiúde nas pesquisas em Psicologia e áreas afins; em razão disso,
deve ser visto como um método relevante para análises em investigações qualitativas. As au-
toras demarcam, ainda, em defesa da análise temática, a necessidade de maior clareza sobre o
modo como os psicólogos realizam suas análises em seus relatórios, explicitando os motivos,
quais os objetos e a forma como estão desempenhando tais produções.
Por conseguinte, a análise temática apresenta diversas vantagens, tais como a flexibili-
dade; a tendência a apresentar resultados de fácil reconhecimento aos leigos; ser adequado as
pesquisas participativas tais como pesquisa-ação e pesquisa participante; e apresentar de ma-
neira sucinta e objetiva o conjunto de dados, apontando divergências e proximidades. Outro
benefício deste método qualitativo de análise é seu caráter de não complexidade, sendo de
fácil compreensão e acessível aos pesquisadores iniciantes no método de pesquisa qualitativa.
43
Embora a Análise Temática seja uma perspectiva flexível, é preciso que ela esteja alinhada à
questão de pesquisa, seu método e seus pressupostos teóricos (Braun & Clarke, 2006).
Posteriormente à realização da análise temática do conteúdo dos grupos focais, tais re-
sultados foram comparados com os escores obtidos no SRQ-20 em cada grupo. O instrumento
foi utilizado com a finalidade de se verificar a magnitude da ocorrência de TMCs no grupo,
utilizando-se do score e das médias dos grupos, não sendo realizados testes de estatística ana-
lítica em relação às características sociodemográficas dos participantes. A aplicação do ins-
trumento em questão auxiliou na compreensão do sofrimento psíquico em cada um dos gru-
pos, tendo em vista que se trata de um instrumento de triagem, que foi utilizado em caráter
complementar nesta pesquisa. Dessa forma, ambos os instrumentos contribuíram para as aná-
lises do fenômeno investigado, possibilitando a triangulação dos dados deste estudo.
A triangulação se constitui como uma estratégia de pesquisa, que se utiliza de diferen-
tes arranjos de métodos e técnicas, validadas, testadas e consagradas no meio científico. Tais
combinações possuem um caráter interdisciplinar e visam proporcionar uma melhor leitura da
realidade investigada, ao analisá-la em suas diversas facetas, proporcionando uma maior inte-
ração e aproximação ao objeto pesquisado. Portanto, ela pode ser considerada como uma a-
bordagem teórica, e não como um método propriamente dito, devendo se aliar a busca de no-
vos conhecimentos, em função dos objetivos do tema pesquisado (Minayo, Souza & Santos,
2005).
É imprescindível que o pesquisador leve em consideração a precisão científica de cada
um dos diferentes instrumentos de coleta de dados utilizados, visto seus limites, especificida-
des e adequação ao objeto observado, possibilitando análises combinadas e distintas. Ao se
buscar o rigor do método e reduzir a interferência de fatores externos e internos para se buscar
a validade da pesquisa, é preciso levar em conta que a investigação não pode ser resumida
apenas pelos procedimentos metodológicos: eles devem ser considerados como componentes
das teorias e como uma forma de se construir os dados provenientes da investigação realizada
(Minayo, Souza, & Santos, 2005).
Ademais, as técnicas e instrumentos devem estar concatenados com o problema de
pesquisa e seus propósitos investigativos, requerendo treinamento e formação do pesquisador
para sua aplicação. Dessa forma, as abordagens qualitativas ou quantitativas podem assumir
diferentes configurações a depender do propósito do pesquisador e do objeto que se pretende
investigar, embora sejam articuladas, podendo ser usadas de maneira complementar ou privi-
44
legiada, dependendo do nível de análise requerida. Apesar de possuírem naturezas diferentes,
tais paradigmas não são opostos e inversos, eles se complementam em diversos aspectos. A
triangulação de métodos qualitativos e quantitativos enquanto estratégia de investigação per-
mite analisar os processos da realidade social em sua magnitude e profundidade (Minayo,
Souza & Santos, 2005).
Considerações Éticas
45
uma investigação dessa ordem. Sobretudo, no âmbito da Saúde Coletiva, o entendimento pela
ética está intrinsecamente ligado a perspectiva de autonomia do sujeito, considerando suas
idiossincrasias, seu contexto social e cultural. Ademais, requer do pesquisador uma postura de
pleno respeito na relação com o pesquisado, exigindo negociações, aproximação e distancia-
mento em certos aspectos, de modo a respeitar o saber dos sujeitos enquanto condição própria
de si, possibilitando a manutenção de sua subjetividade e da singularidade de suas representa-
ções.
46
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir dos dados coletados, os resultados foram elencados em quatro principais eixos
temáticos: “Entre Rupturas e Recomeços: os Desafios do Ingresso Universitário”; “as Vicissi-
tudes da Vida Universitária e seus Determinantes Psicossociais no Processo Saúde-
Adoecimento”; “A Grande Escuta: a Voz do Estudante de Psicologia” e “o (Des)Amparo Ins-
titucional e as Formas de lidar com o Sofrimento Psíquico”.
Foi meio essa sensação de incerteza, e quando eu passei foi ‘ufa’, passei por mais
uma coisa. Mas será que é isso, mesmo? Até hoje eu tenho um pouco disso. Mas sem-
pre foi isso que representou pra mim a entrada na universidade, mas o mesmo tam-
bém foi uma superação porque eu fiquei muito tempo parada, entãofoi um avanço.
Entrei na faculdade e tive essas sensações de incerteza e alívio (Participante, grupo 1).
47
encontra em um contexto de cobranças e pressões diante da busca pela aprovação no processo
seletivo para ingressar na Universidade. Esse momento representa um marco na vida do ado-
lescente, tanto em questões voltadas a sua transição para a vida a adulta, quanto pela entrada
em um curso superior. Assim, o cenário de alta concorrência, altas notas de corte e cobranças
de si mesmos, repercutem no medo de insucesso, quebra de expectativas e reprovação social,
havendo muitos estressores para o aluno antes mesmo de sua entrada na universidade.
O cenário de escolhas realizadas pelo estudante nesse ciclo engloba não apenas a defi-
nição de qual curso irá se vincular, mas também a decisão de sair de casa e os desdobramen-
tos concernentes das mudanças para a vida universitária. Os participantes relataram muitas
expectativas sobre as vicissitudes universitárias, sobretudo pelo desejo de autonomia. Tal an-
seio, somado às dificuldades de ingresso no curso, permeiam certa idealização da universida-
de, o que gera muitas vezes o sentimento de frustração e medo ao se depararem com as res-
ponsabilidades de suas decisões e de uma vida com maior autonomia, tal como exemplificado
a seguir:
o começo foi um pouco mais difícil porque eu vim com um sentimento muito grande de
que ‘eu posso tudo no mundo’, e ‘nossa não tenho limites’, mas esse sentimento foi
meio podado. Tive a experiência de sair de casa, estar com as coisas sozinha e não ter
muito apoio financeiro da família, eu já cheguei tendo que trabalhar, eu trabalhei
com a música, então eu continuei a atividade na música, e foi o que me atrasou bas-
tante para formar (Participante, grupo 3).
Oliveira, Santos e Dias (2016) em seu estudo a respeito das expectativas de estudantes
sobre a universidade, apontam que muitos desses anseios não se concretizam ao longo de sua
vivencia na instituição de ensino, impactando em seu desempenho acadêmico e psicossocial.
Nessa pesquisa foram levantadas expectativas sobre a qualidade do ensino, boas relações com
os colegas e professores, bem como uma maior integração com o curso e a universidade.
As dificuldades financeiras descritas pelos estudantes são marcantes nos momentos de
experimentação de um novo estilo de vida, sendo parte dos pilares que sustentam os desafios
da adaptação às vicissitudes da vida universitária. Assim, o início do curso superior acompa-
nha a alteração da rotina, das relações e dos hábitos comuns a vida precedida à universidade.
O rompimento ou fragilização dos vínculos de antigas amizades comumente ocorrem nesse
período, bem como a relação com os familiares engendram uma nova configuração, diante do
afastamento e da mudança de seus lares, e de sua cidade de origem. Assim, o estudante se
depara com um momento de construção de novos vínculos pessoais e comunitários, e habitua-
48
ção a um novo ambiente, uma nova rotina, o que repercute em suas angústias nesse momento
do curso. Pode-se dizer que os estudantes vivenciam um momento de luto, pela perda de al-
gumas relações, de seu espaço habitual de convívio e em alguns casos de seus empregos, co-
mo vivenciado a seguir:
em minha vida, eu acabei desconectando de algumas pessoas. É complicado você con-
seguir manter tudo, tem uma vida na cidade onde você esta, ter que estudar e ainda
assim e ainda ter manter todas relações em outros lugar. Algumas coisas ficam meio
perdidas (Participante, grupo 1).
minha vida já tava super adaptada lá, eu tinha vários amigos, a minha vida tinha um
ritmo já. Eu já vim pra cá com uma resistência assim, eu acho eu me fechei porque eu
tive que despedir de muita gente que eu amava, assim, foi um período difícil (Partici-
pante, grupo 3).
49
Ainda se tratando dessa problemática, os universitários que entraram por transferência
ou nas ultimas chamadas1 relataram maior dificuldade de adaptação, pois deixaram de viven-
ciar desde o início as experiências comuns aos demais membros da turma. Nesse momento as
disciplinas já iniciaram os conteúdos e até mesmo certas atividades avaliativas, tais como tra-
balhos e provas, o que influencia também em sua socialização, na logística de sua mudança,
sendo o processo mais ansiogênico e conturbado para esse público, conforme demonstrado
nas falas a seguir.
eu passei na chamada presencial, então minha entrada na universidade foi meio i-
nesperada porque sou do interior de São Paulo, eu viajei muito tempo pra não ter cer-
teza sobre entrar. E aí já tinham passado umas três semanas de aula as pessoas já es-
tavam integradas, eu não conhecia nada e ninguém, eu nunca tinha vindo para esta
região (Participante, grupo 2).
Eu entrei na terceira chamada. Eu já entrei com uma certa carga de ansiedade. A sala
já estava mais socializada, já tinha atividades desde o começo e já perdi muita coisa.
Mas a Psicologia em si eu achei bem conturbada, por não ter começado no início e
ter que correr atrás do tempo perdido, sem ter estabilizado na cidade (Participante,
grupo 2).
1
Na universidade em questão, a última chamada é realizada presencialmente, com data, local e hora definidas
previamente. Os candidatos da lista de espera devem comparecer ao local já portando seus documentos em caso
de serem selecionados, de acordo com sua classificação. Usualmente, quando essa convocação ocorre, o período
letivo já está em curso.
50
Às vezes você tem uma dúvida e fica pensando que todo mundo já deve saber então,
pra que eu vou perguntar? Essa sensação de tá menor, de ‘o que eu tô fazendo?!’ Dá
muito desespero. Quando é prova também… ‘será que eu consegui aprender alguma
coisa?’, ‘será que eu não ter falado me afetou muito?’ (Participante, grupo 1).
E, às vezes, eu tenho uma dúvida e eu penso tanto nela que eu acho que ela vira idio-
ta, e aí eu não consigo perguntar. E essa sensação é muito frequente dentro da sala,
durante prova, antes de prova, quando eu quero falar. Então, eu acho que eu me sinto
muito nervosa dentro da sala durante muito tempo (Participante, grupo 1).
51
As Vicissitudes da Vida Universitária e seus Determinantes Psicossociais no Processo
Saúde-Adoecimento
Os estudantes, ao passarem pelos períodos iniciais de adaptação do curso e ao novo es-
tilo de vida no ambiente universitário, se deparam com outros desafios, que os acompanham
ao longo de toda sua formação e que repercutem em seu bem-estar psicológico, e nos demais
condicionantes de sua saúde mental. Este público, ao passar por um ingresso na universidade
marcado pela perda de muitas de suas relações de origem e de seu lar, comumente constituem
seus novos vínculos em torno da instituição, com seus colegas de sala de aula ou demais estu-
dantes de outros cursos. Ao longo desse processo, o estudante se volta para a universidade,
muitas vezes de forma integral, constituindo uma relação de certa forma compensatória ao
estarem afastados de seus laços e atividades tradicionais.
Por conseguinte, o estudante vivencia a universidade nos diversos âmbitos de sua vida,
sobretudo pelas grandes demandas da instituição, que requerem o alto investimento de tempo
e disposição para cumprir tais atividades. A sobrecarga formativa se apresenta de modo mais
acentuado, para os estudantes entrevistados, a partir do terceiro período do curso, podendo ser
considerado um marco nos percursos de desenvolvimento do estudante em seu contexto uni-
versitário. Ao internalizarem o modo de funcionamento da dinâmica do curso, o estudante
sente-se convocado a procurar atividades extracurriculares, tais como estágios, monitorias,
projetos de pesquisa e extensão. Muitas vezes o estudante se depara com excessivas ofertas de
atividades e sentem-se ansiosos diante dos conflitos decorrentes das escolhas desse período,
tal como se verifica a seguir:
Eu tava no meio do terceiro período quando eu percebi que eu não tinha feito nada
assim de estágio. Eu não tinha procurado essas coisas de IC, extensão, ai eu percebi
que se eu não fizesse por mim não tinha outra pessoa também que ia fazer (Participan-
te, grupo 3).
A universidade é como de fosse uma imagem, como se fosse uma coisa que atravessa a
gente por inteiro, e isso por um lado positivamente te transforma como pessoa, quem
a gente é, aquilo que a gente acredita, as experiências de vida, a forma de ver o mun-
do, mas ao mesmo tempo também o sentimento que eu tenho sobre tarefa e obrigações
é como se fosse um grande peso. Não é uma coisa que 90% das vezes eu to ali que é
52
gostoso de fazer, eu tenho que fazer isso como se fosse um grande peso e isso incomo-
da muito porque eu amo Psicologia, mas era pra ser mais leve, sabe? (Participante,
grupo 2).
Uma das características mais marcantes dessa fase é que a universidade passa a ocupar
um lugar central na vida dos estudantes, muitas vezes sendo colocada como prioridade em
relação quaisquer outras atividades de suas vidas. Nesse sentido, os participantes relatam cer-
to estranhamento diante da exacerbada carga de atividades exigidas na instituição em questão,
tanto em relação aos alunos que vieram de transferências de outros cursos, quanto pelos alu-
nos que vieram do curso de Psicologia de outras universidades. No entanto, relatam também
algumas vantagens da instituição, por se situar em uma cidade de médio porte e das facilida-
des decorrentes disso, como se observa a seguir:
Eu acho que na outra instituição que eu tava, algumas coisas eram próximas, mas eu
acho que por ser uma instituição particular não tinha uma cobrança que tem aqui. Eu
acho que aqui a carga é muito maior... Lá parecia muito superficial, tipo ‘ah vamos
fazer um slide e aí você faz a prova como slide e você sabe sobre isso’. Aqui você tem
que aprender mesmo. (Participante, grupo 3)
Quando eu converso com outras pessoas de outras faculdades, até mesmo federais e
tal, quando eu conto da experiência é muito diferente da deles e eu vejo que, por e-
xemplo, o curso numa universidade menor o contato com os outros professores, as
oportunidades… É muito diferente e isso é vantagem. (...) Então é melhor aqui por ser
uma universidade pequena que você consegue aproveitar mais a coisas, eu moro per-
tinho então eu posso fazer várias coisas ainda e voltar então, por isso ajuda. Por cau-
sa dessas características da universidade daqui a nossa experiência é bem diferente
(Participante, grupo 3).
53
Então, universidade... amo! Não quero sair dela porque é um lugar muito instigante,
um lugar de muita ideia sobre muita coisa, mas um lugar muito contraditório porque
quase que desperta muita ansiedade, uma carga horária de produção que é exigida
da gente muita grande e um nível de exigência... Eu lembro das noites sem dormir pra
apresentar trabalho final com prazo apertado, uma produção elaborada ali, vou con-
seguir? Não vou? (Participante, grupo 3).
nos finais de semana que eu vou pra casa, eu brinco com minha mãe, que no domingo
de noite eu fico muito na ‘bad’, e ‘eu não quero voltar, eu quero ficar aqui’ e é muito
louco isso porque eu sou apaixonada pela Psicologia, sou apaixonada assim, mesmo,
eu tenho certeza e sempre tive que é isso que eu quero. A relação com a faculdade é
tão boa, tem tanta oportunidade que eu quero agarrar com vontade de fazer tudo e
não dar conta, mas ao mesmo tempo é um sofrimento muito grande, você fica muito
dividido (Participante, grupo 3).
54
Quando eu cheguei eu senti muito esse ‘baque’ da carga teórica, e eu não lia frequen-
temente como eu leio hoje, ai eu criei cronograma direitinho, arrumadinho, pra dar
conta. Antes eu só estudava antes da prova e aí chegou num semestre antes da prova e
eu tinha um milhão de coisas pra ler, eu não tinha lido nada e eu fiquei em pânico
(Participante, grupo 3).
Eu sinto que sempre tem algo pra fazer mesmo nas férias, no primeiro mês eu acordo
com a sensação que eu estou atrasada ou passo tempo todo com a sensação que eu
devia ta fazendo alguma coisa. Pra mim, ter um tempo livre, que eu devia ta fazendo
alguma coisa pra mim, não é uma coisa que existe, quando eu não to fazendo uma
coisa da faculdade, é porque estou procrastinando e por que eu to deixando de fazer
algo. (...) Mas por um lado eu sinto que eu perdi um lado de mim porque não tenho
tempo pra mim (Participante, grupo 2).
Dá pra ser mais leve, a gente sabe que dá, varias vezes eu já tive crise de pânico e
crise de ansiedade, me senti insuficiente, coisas que outros anos de estudo da minha
vida eu nunca tive, é como se daqui pra frente a universidade ocupasse o tempo da
minha vida, tem muitas coisas para fazer, quando eu olho pra trás é como se tivesse
um caminhão de coisas que ta ficando para trás e eu to só andando (Participante,
grupo 2).
55
das por eles. Ao estarem aliadas a uma realidade de quebras de expectativas, típicas ao imagi-
nário do universitário recém-chegado a instituição, tais fatores corroboram para o seu baixo
rendimento acadêmico. Logo, o estudante passa por dificuldades em encontrar uma maneira
de como aliar suas habilidades, suas experiências escolares, e sua relação com o ensino, nos
moldes universitários de se propagar o conhecimento, ou seja, o aluno busca a melhor manei-
ra de estudar.
Por outro lado, a universidade pressupõe que o aluno tenha um conjunto de habilida-
des, que muitas vezes ainda não foram adquiridas em função das diferentes trajetórias escola-
res que cada estudante vivenciou, considerando a grande diversidade e heterogeneidade do
público estudantil nas instituições de ensino superior nos dias de hoje. Sendo necessário por
parte da universidade desenvolver tais habilidades e realizar essa passagem da escola para a
habituação ao ritmo de estudos necessários a vida acadêmica (Kafrouni, Domingues, & Antu-
nes, 2020)
Outro fator ansiogênico do cotidiano universitário, conforme os estudantes entrevista-
dos é a relação com os professores, os quais ocupam um papel primordial nas diversas ques-
tões que envolvem o bem estar dos estudantes e sua vinculação com a universidade. De acor-
do com os participantes, uma das dificuldades é lidar com os diferentes perfis de docentes,
havendo uma discrepância em suas diferentes formas de portar-se frente aos alunos, sendo
alguns professores mais acolhedores e outros mais autoritários. Os estudantes relatam grande
instabilidade nessas relações, despertando inseguranças, medos e dúvidas, principalmente em
relação aos professores que ainda irão lecionar novas disciplinas dos semestres posteriores.
No entanto, quando o professor realiza algum tipo de apoio ao discente, torna o processo de
adaptação ao curso e as disciplinas mais facilitado e menos desgastante, gerando efetivos im-
pactos na vivência do aluno, tal como se observa a seguir:
quanto aos professores, é como eles colocaram, têm professores que vão ser muito
abertos, vão te acolher mesmo, ainda mais quando você chega no primeiro período e
isso faz muita diferença, esses professores abertos a te ajudar. Em contrapartida, vão
ter professores muito fechados e muito vaidosos (Participante, grupo 1).
a sensação que eu tenho é isso mesmo, que é uma caixinha de surpresas e cada pro-
fessor vai ter a sua dinâmica e que a gente vai ter que entrar na dinâmica dele. Inclu-
sive, esse semestre tem um professor que, tipo, meio perdido ali e a gente meio que só
tá entrando no furacão junto com ele. É essa coisa mesmo, a sensação que eu tenho é
que a gente se adapta a cada professor (Participante, grupo 2).
56
O professor torna-se de fato um agente de transformação na realidade acadêmica do
aluno, tanto para seu bem-estar, quanto para o seu sofrimento psíquico. A figura do docente
também perpassa pelas identificações dos alunos com determinadas áreas e disciplinas. Nota-
se que as abordagens teóricas cujos professores têm uma relação mais hostil com os discentes,
são as áreas de menor interesse, muitas vezes não se tratando do próprio conteúdo do campo,
mas pelas dificuldades corriqueiras relacionadas ao docente, tais como sua didática, formas de
avaliação e disponibilidade.
eu percebi durante a graduação que o professor faz muito diferença na área em si [...]
independente se você gosta da área, você apaixona, a forma que é dada mesmo, você
vê que a pessoa tá lá pra te mostrar, não é pra te fazer gostar, não é pra te fazer que-
rer, sabe? É pra você entender mesmo como que funciona e a partir disso você ver se
vai ou não seguir (Participante, grupo 3).
Eu, particularmente, tenho bem dificuldade, assim e tô no 9° período e vou ter que li-
dar com certos professores. E aquela coisa de ter que decorar, nossa, me dá até cala-
frio. E às vezes tem professor nessa área que... geralmente são dessas áreas, que nem
querem escutar a gente. E isso é uma coisa que não deveria ter na universidade. Se a
gente tá aqui repensando nossas atitudes, os professores também deveriam tá repen-
sando a didática deles. E muitas vezes esse pessoal assim não pensa (Participante,
grupo 3).
Chegou um momento da minha vida que eu gostava muito [de uma abordagem teóri-
ca], busquei e ele [professor] me podava. Falava ‘ah, isso é muito difícil pra você, não
faz isso não’, ‘eu vou te dar esse livro aqui, mas depois a gente comenta sobre’. Eu ia
atrás até que eu percebi que cara, ele não tá nem um pouco interessado em me ajudar
nessa área. E eu fui perceber que era algo quase pessoal e aí eu falei ‘cara, quer sa-
ber? Eu não quero mais saber disso’ (Participante, grupo 3).
57
Ontem também ele marcou da gente rever prova, desde segunda, eu fiquei lá desde às
19h esperando ele e ele não foi. Aí ontem ele tinha marcado de novo também e não
deu tempo e aí a gente tinha aula com ele, aí ele falou ‘depois da aula você fica pra eu
ver sua prova’ aí tinha mais duas duplas e eu tive que ficar esperando, mas tudo bem
(Participante, grupo 3).
Para além da insatisfação dos alunos sobre parte dos docentes em relação a revisão de
suas notas e das diversas contradições desse contexto, os estudantes relataram diversos episó-
dios de violência vivenciadas com seus professores. Em alguns casos, os excessos de cobran-
ças repercutem na crença de serem incapazes de cumprir com as atividades propostas, reper-
cutindo em sua autoestima e motivação nos estudos. Ademais, foram descritas situações em
que os professores subjugaram uma turma pelo baixo desempenho em sua disciplina ou até
mesmo pela conduta dos alunos em sala de aula. Em tais ocasiões de conflitos, muitos alunos
afirmam que passaram por situações vexatórias e repressivas, havendo diversas formas de
expressão dessa violência: “são muito recorrentes essas situações de abusos, muitos casos
com esses professores” (Participante, grupo 3); “E teve também ‘Desse jeito vocês não vão
virar nem gari!’ ‘vocês vão ter que fazer concurso pra gari’” (Participante, grupo 3); “Eu já
tive experiência de ver aluno sair de sala chorando de tá apresentando um seminário, largar
na metade e sair de sala chorando, gente que largou o curso por causa de coisas que os pro-
fessores falam” (Participante, grupo 2).
Eu me lembro bem daquele cartaz “vocês são tão burros que não servem pra estudar
nem na APAE” foi uma coisa que marcou muito (...) Ele [professor] falou isso e a ga-
lera fez um cartaz e pregou na porta de uma sala e ficou pregada um tempo, aí tira-
ram foto e repercutiu bastante... (Participante, grupo 3).
58
prendizagem torna-se conflituosa quando o professor se mostra rude, desrespeitoso e com
aspecto de superioridade em relação ao discente (Ribeiro et. al, 2016).
Já os achados de Nuto, Noro, Cavalsina, Costa e Oliveira (2006), abordam a relação
professor-aluno em um curso da área da saúde, apontando o excesso de autoridade do docente
como algo que repercute na relação do estudante com os pacientes atendidos e também com
seus colegas. No campo da saúde, o modelo biomédico tradicional, de certo modo, corrobora
para o lugar do professor como a figura detentora de um saber sem muitos questionamentos,
isso se faz presente tanto em sua formação, quanto na formação de sua identidade. Por con-
seguinte, os estudantes acabam reproduzindo tais valores autoritários na relação com os cole-
gas, com os pacientes e consigo mesmos, gerando baixa autoestima e dificuldades de vincula-
ção com os conteúdos lecionados.
Em vista disso e da realidade apresentada nos relatos acima apresentados dos estudan-
tes do curso de Psicologia, o trabalho de Andrade, Barros e Leite (2019) demonstra a dificul-
dade dos estudantes em lidar com os diferentes perfis dos docentes do curso, que também se
encontra no campo da saúde. As frequentes queixas em relação a situações de assédios e auto-
ritarismo repercutem em sua saúde mental. No entanto, existem os professores que se preocu-
pam com o cuidado dos estudantes, quando isso ocorre verifica-se bons efeitos para o público
em questão. Diante dessa realidade, os pesquisadores apontam a necessidade de se criar proje-
tos capazes de aproximar professores e alunos, de modo a ampliar os diálogos e proporcionar
um ambiente mais saudável, rompendo também com certo estigma em relação a busca por
ajuda em relação a questões de saúde mental.
Outra forma de violação relatada pelos alunos em sua relação com alguns professores
é a ocorrência de assédios, na maior parte das vezes de forma velada ou naturalizada. Apesar
da também ocorrência com homens, as mulheres mencionaram maior agravo para essa ques-
tão, citando situações em que docentes, de certa forma, as intimidaram e algumas vezes senti-
ram-se desconfortáveis com certos tipos de contatos físicos, tais como relatado a seguir: Mas
a gente sabe que teve caso de assédio moral aqui do [professor] com os primeiros períodos.
Nesses últimos tempos, antes dele aposentar, de fazer coisas mais pesadas. De expor aluna,
só mulheres. De encostar de forma estranha dentro da sala de aula” (Participante, mulher,
grupo 03); “Eu lembro. Eu passei, inclusive, uma coisa assim. Na matéria dele, ele falava que
eu ia passar, porque eu era muito bonita. Me colocava lá na frente pra dar exemplo” (Parti-
cipante, mulher, grupo 03); “ele fala muito perto. O contato é perto demais, não sei se é só
59
com as meninas, mas ele fica assim (...) toca demais, pega demais, aquilo é muito desconfor-
tável” (Participante, mulher, grupo 03).
No primeiro período, o [professor] me chamou um dia na frente da sala e deu uns ta-
pas na minha bunda, e brincando e não sei o que... me expondo ali, uma coisa que,
pra mim, era só um professor dando a aula dele. Mas coisas assim que me incomodam
Mas, ao longo da formação isso foi ganhando uma outra dimensão, da gente falar as-
sim ‘olha, aquela situação que eu vivi ali atrás não é uma coisa normal de se viver
dentro desse espaço’ (Participante, homem, grupo 03).
Teve uma matéria que eu fiz, uma vez, com um professor que, constantemente, fazia
umas piadas machistas horrorosas, a gente ficava ‘meu Deus, o que eu tô fazendo a-
qui?’ (...) não sei, era meio velado. ‘Porque mulher é assim…’, aí olhava pra gente
(Participante, mulher, grupo 03).
60
por parte dos docentes que receberam denúncias ou reclamações, ocorrendo muitas vezes per-
seguições e agravamento do conflito.
Nossa turma fez um abaixo assinado na época. E aí, tipo assim... tinha muito medo,
tipo ‘se eu assino ele vai marcar a gente pra sempre’ porque era [disciplina] I e a
gente ainda tinha a III com ele. Aí foi aquela coisa, só que tipo assim, deu em nada e a
gente soube que já tinha histórico de ter tido outros abaixo assinados dele e ficou por
isso (Participante, grupo 3).
Mas uma coisa que eu vi quando eu tava no colegiado era o colegiado colocando pa-
no quente em cima disso que chegava lá. Eu sempre via que chegava uma denúncia,
chegava uma situação e falava assim ‘ah eu vou conversar com o [professor], mas vo-
cês sabem como é que é, vocês sabem como é que funciona, e é assim, o [professor]
não tem jeito mesmo, né?’. E ficava nisso (Participante, grupo 3).
Todavia, os estudantes ao mesmo tempo em que se queixam das cobranças pelas ex-
pectativas das pessoas em relação a uma conduta diferenciada por serem da área da Psicologi-
a, eles de certo modo esperam uma postura diferenciada dos professores por serem também
psicólogos, tais como a de maior compreensão, de saberem lidar com os conflitos e de mante-
rem o autocontrole de suas emoções nessas situações. Ademais, o curso de Psicologia ao pos-
sibilitar uma visão crítica sobre a educação e as instituições de ensino, desvela certas falhas
presentes no ensino universitário na visão dos próprios discentes, tais como métodos de ensi-
no ‘mecânicos’, pautados na memorização e reprodução de um determinado conteúdo técnico,
sem a devida contextualização e reflexão sobre o assunto: “como assim professor de Psicolo-
gia trata os próprios alunos de uma forma tão agressiva e tão... sei lá... insensível, mesmo?”
(Participante, grupo 2).
O que eu sinto é como se o professor fosse um grande técnico que vem trazer conteúdo
e ele joga ali do jeito que você tá e você tem que se virar com aquela coisa ali. Se en-
tendeu, se não entendeu... se vira, você tá na federal e você tem que dar conta! (Parti-
cipante, grupo 2).
61
Os universitários atribuem a questões institucionais a realidade de cobranças do meio
acadêmico, apesar de haver questões pessoais no manejo de cada professor, não havendo ape-
nas um determinante para tal questão, conforme especificado a seguir: “E também têm alguns
professores que são mais, assim, ‘velho de casa’ na faculdade e que aí a sua opinião, ela nem
existe. Sei lá, é uma espécie de hierarquia que eu percebo com os professores” (Participante,
grupo 1); “O professor nasce bom, a universidade que o corrompe” (Participante, grupo 2);
“Final de semestre, professor começa a pirar também. Ficar meio doido, surtar dentro de
sala. A gente tá tentando negociar alguma coisa, porque é fim de semestre, e eles ficam ‘é fim
de semestre pra mim também, também tá difícil…’” (Participante, grupo 2).
Eu acho que é uma violência meio que estrutural, se a gente for reparar, os nossos
professores são muito cobrados também, eles têm uma cobrança de produção muito
grande. Então, na verdade, eles vivem a mesma lógica que a gente, de ter que produ-
zir tantos artigos por ano e tal. Eu acho que é difícil uma pessoa que também está
passando pela mesma coisa, talvez em outros níveis, saber como tratar a gente nesse
sentido de nos entender. Porque eles também estão na correria. Eu não sei se eles pa-
ram pra pensar nisso. Eu não sei se rola uma transformação depois também. No sen-
tido de, “eu passei por isso, então vocês tem que dar conta também”. “Se eu morri fa-
zendo isso, vocês tem que morrer também”. Tem alguns professores que eu sinto que
talvez não, mas eu não sei como eles fazem pra não saírem tão atordoados. Mas mui-
tos eu vejo que estão igual a gente, morrendo, muita coisa pra fazer, não tem final de
semana também (Participante, grupo 2).
Os conflitos nas relações interpessoais também geram prejuízos aos docentes, sendo
indubitáveis as dificuldades decorrentes da profissão, os impactos em sua saúde e em seu de-
sempenho. Nesse aspecto, a educação brasileira tem passado por diversos embates diante das
reivindicações por condições mais dignas de trabalho e valorização da profissão desde o ensi-
no básico ao superior. No ensino superior, o professor vivencia um ritmo de trabalho capaz de
proporcionar um quadro de sobrecarga, ao apresentar desgaste em âmbito cognitivo, emocio-
nal e físico. Ao estar com sua saúde emocional comprometida e se abster do autocuidado,
compromete-se o prazer em lecionar e em se envolver com uma prática mediadora pautada na
transformação, deixando de ver os estudantes como sujeitos ativos nesse processo (Faria &
Camargo, 2020).
Em vista disso, ao negligenciar e perder de vista as mudanças necessárias a classe do-
cente, ocorre a manutenção de condições adoecedoras de trabalho e de seus problemas decor-
rentes desse cenário. Algumas mudanças como procurar apoio e se negar a atender demandas
para além da possibilidade de sua carga horária são fundamentais. No entanto, fazem-se ne-
62
cessárias mudanças não apenas em âmbito estrutural, financeiro e de sua formação, mas in-
vestir também em sua qualidade de vida, em projetos que promovam melhorias em sua saúde
mental (Faria & Camargo, 2020).
Concomitantemente, o cenário de tal produtividade exacerbada no meio acadêmico
propicia consequências ainda mais danosas para o aluno que trabalha, tendo em vista que. O
estilo de vida universitário e suas mudanças no contexto de vida do estudante demandam mui-
tas vezes que ele tenha que se sustentar ou complementar sua renda para sanar suas despesas
morando em outra cidade, diante dos custos decorrentes de seus estudos. A dupla jornada re-
presenta um desafio para o universitário, que precisa conciliar as diversas demandas do curso,
com uma rotina de trabalho, que também possui suas exigências. Os participantes afirmam
que ambas as responsabilidades competem por seu tempo e dedicação, logo, o aluno trabalha-
dor se vê em um contexto desproporcional de rendimento em relação aos demais, tanto em
seu desempenho nas atividades rotineiras, quanto na vinculação às atividades práticas do cur-
so. A participação dos alunos trabalhadores nessa pesquisa foi identificada tanto no questioná-
rio sociodemográfico, quanto nos relatos dos grupos focais:
Então, agora eu tenho a carga da Universidade, de manter tudo aqui dentro e de man-
ter minha vida fora da Universidade, e aí é pesado! É pesado porque você tem que a-
trelar a independência econômica e social às questões da Universidade. E aí, outro
problema… Por exemplo, de segunda à sexta, todo mundo junto dentro da sala de au-
la, somos alunos do curso superior de Psicologia. O que acontece na sexta, no sábado
e no domingo? Tem os corres da vida pra gente conseguir se manter aqui. E aí, acaba
sendo uma vida dupla nos finais de semana. Eu não lamento ter que correr pra me
manter, porque é a escolha que eu fiz, mas, ao mesmo tempo, eu lamento porque é um
tempo que gostaria de dedicar aos assuntos da Universidade, mas eu não posso, por-
que eu preciso fazer isso. Não é porque eu quero, não é luxo, é necessidade. E aí eu
volto na segunda-feira e tenho que ter contato com muitas pessoas que não precisam
disso, que não precisam fazer esse corre. E aí absorver isso... lidar com as diferenças
é pesadíssimo (Participante, grupo 1).
É porque eu trabalho, nos finais de semanas e nos feriados, em uma cozinha. (...) En-
tão, o tempo que eu acho que teria pra descansar, eu trabalho, porque eu preciso de
dinheiro pra me manter aqui. Eu tenho uma família que paga minha comida, eu tenho
casa, só que pra eu me manter aqui na faculdade, os gasto da faculdade são todos
meus. E, se eu quero ter algum lazer, tem que ser por minha conta. Então, por mais
que eu sei que tenho muitos privilégios, que tenho a minha casa, só eu sinto muito es-
sa questão de olhar para os outros e pensar que, se eu não trabalhar, eu não tenho is-
so. Porque, tem trabalho na faculdade, mas de que adianta se você não consegue ler
texto nenhum? Você não conseguir pagar o ônibus pra chegar aqui? E, no final de
semana, trabalho. Então, eu tô sempre correndo pra conseguir estar aqui igual os ou-
tros, sabe? Conseguir fazer tudo, conseguir estudar pras provas, conseguir ler os tex-
63
tos pra chegar aqui e conseguir fazer algum comentário na sala. Porque eu sinto
sempre que eu estou muito atrasada com os outros. E mesmo tentando muito, sabe?
(Participante, grupo 1).
Para além dos prejuízos em seu desempenho, o abismo em relação aos demais alunos
se apresenta também sob a forma da socialização, ao estarem de fora de muitas das atividades
acadêmicas e muitas vezes abrirem mão de lazer e do descanso nos finais de semana. No en-
tanto, embora todos os tipos de trabalho quando aliados à jornada universitária sejam explici-
tados como adoecedores, há sempre um grande peso em ambos os lados da balança. Ou seja,
os trabalhos informais e precarizados apresentaram maior fonte de sofrimento para os estu-
dantes, do que os trabalhos com vínculos formalizados, pois esse se mostra mais flexível em
relação a trocas de horários, não havendo tantos prejuízos na remuneração ou na estabilidade
do funcionário:
Eu trabalhei toda graduação durante o primeiro até hoje, com vínculo formal foi só
três meses que não trabalhei, que foram meus primeiros três meses aqui, no meio do
meu primeiro período aqui, eu arrumei um emprego, então eu sempre tive que dividir
minha dedicação para o trabalho e a universidade, e isso foi marcado durante o cur-
so, como se fosse um balança. O investimento no trabalho, na graduação, durante um
tempo meu investimento no trabalho tava pesado... e eu deixei de aproveitar muita
coisa aqui no curso, me envolvi muito no trabalho, participei de muita coisa no traba-
lho. Mas sempre foi muito complicado, nunca foi tranquilo conciliar as duas coisas,
porque eu sempre tive uma jornada muito extensa. Comecei meu dia 8h da manhã e
terminei lá pelas 23h, com uma agenda muito restrita para encaixar as coisas, então
assim nunca não fiz uma iniciação científica, eu nunca participei de uma extensão
(Participante, grupo 3).
E tem esse fator... Eu sou concursado e aí as coisas são outras. Em relação a quando
eu comecei, eu comecei numa iniciativa privada, e aí trabalhando numa escola parti-
cular… E aí também tive essa situação de ter que fazer disciplinas no meio do horário
de trabalho e lá foi bem mais complicado. Lá teve que ter uma negociação… É… Mais
refinada, assim, sobre a sair nesse horário e aí repor as horas, às vezes trabalhar sá-
bado, né? Eu compensei muita hora no sábado quando eu tive lá. E aí depois que eu
passei em concurso e trabalhei no serviço público aí as coisas são diferentes (Partici-
pante, grupo 3).
Eu acho que minha experiência de trabalho foi um pouco diferente porque ela foi
sempre muito autônoma. Ela foi sempre muito precária, inclusive. Era sempre traba-
lhando como garçonete nos bares, que é uma coisa que muitos estudantes de todos os
tipos de curso têm que fazer pra poder se virar. Eu tinha pouca ajuda financeira de
casa, então eu não tinha, por exemplo, tanta estabilidade... Não é fácil nunca pra
ninguém que trabalha, mas não ter uma estabilidade financeira e nem de emprego é
mais complicado porque aí a sua energia fica muito dividida, muito desgastada e a
64
carga da faculdade ela é muito grande, então quando você pode se dedicar a isso é
maravilhoso (Participante, grupo 3).
65
sobretudo ao se verificar as questões em torno da inclusão do aluno trabalhador, proporcio-
nando condições dignas e não prejudiciais a sua qualidade de vida.
Vale salientar a pluralidade de perfis dos participantes desse estudo, conforme indica-
do nos dados do questionário sociodemográfico, grande parte dos alunos entrevistados vieram
de escolas públicas, a maioria se autodeclarou negro (preto ou pardo). Dessa forma pode-se
contemplar também o relato de alunos trabalhadores e os que recebem auxílio da Assistência
Estudantil.
Diante disso, a universidade também reflete a desigualdade social e os desafios do tra-
balhador brasileiro. No entanto, em outras questões sociais, a instituição atua de modo trans-
formador, sobretudo em questões ligadas ao preconceito em relação a minorias. Portanto, há
uma confluência de tais elementos, ora reproduzindo por alguns atores a discriminação, ora
atuando na desconstrução dessas crenças.
Em se tratando de experiências discriminatórias, a universidade se mostrou um ambi-
ente de acolhimento e respeito à diversidade, em detrimento da população local, conforme os
estudantes que participaram dos grupos focais explicitaram. No entanto, as depoentes do sexo
feminino relataram menor espaço de fala em relação aos alunos do sexo masculino, havendo
certa sobreposição de seus lugares. Elas relatam a ocorrência de diversas interrupções de suas
falas, e a desvalorização de seus saberes:
Eu me sinto muito à vontade aqui. É o lugar em que eu mais me senti à vontade em re-
lação a minha sexualidade. Era diferente, na escola, eu nem falava nada, eu nem a-
bria, porque a galera era muito preconceituosa. Aqui converso normalmente com as
pessoas. Eu acho muito bom isso, um lugar onde eu sou como todo mundo, que é o
que deveria ser em todos os lugares (Participante, grupo 2).
Pelo menos, uma coisa que eu percebo na nossa sala assim é… os caras que nunca
deixam as meninas falarem. A gente sempre conversa sobre isso. A gente tá falando
uma coisa e o cara interrompe para falar a mesma coisa que a gente tá falando. Aí dá
vontade de dar um soco na cara, mas não pode, porque a gente tem que ser a fada
sensata. É mais isso, pelo menos o que eu percebo, meio que essa desvalorização do
nosso intelecto (Participante, grupo 2).
Por conseguinte, a relação com a população local se mostrou altamente hostil. Os par-
ticipantes relatam que diversas vezes foram hostilizados pelo lugar de estudantes que ocupam
na cidade, havendo certa segregação entre o público estudantil que vem de outras cidades e os
nativos. Logo, há uma vivencia muitas vezes paradoxal e contraditória em relação ao espaço
da universidade e da cidade. A imagem do estudante no município em questão é atrelada a
66
violação das regras, do sossego e vinculada ao uso problemático de drogas, conforme mostra
o relato dos participantes. Foram relatadas também situações de homofobia, agressividade e
intolerância:
Teve uma situação em um bar, onde a gente foi violentado fisicamente mesmo, no sen-
tido da galera chegar e empurrar e falar coisas sobre a questão da orientação sexual.
E eu já tive uma situação no ônibus que foi muito desagradável, o cobrador gritando
comigo e com o meu companheiro, pela questão da orientação sexual (Participante,
grupo 3).
É, tipo, ‘que que você tá fazendo com sua vida? No que você acha que isso acrescen-
ta? Vocês vêm aqui pra fazer bagunça…’. E isso é uma coisa que acontece frequente
lá em casa. A minha caloura também passou por isso de ser parada no ônibus e tipo
assim, ter sentido um constrangimento gigante porque uma senhora começou a gritar
com ela, com todo mundo no ônibus (Participante, grupo 2).
É muito ambíguo. Ao passo que uma cidade muito conservadora, com muitos proble-
mas, é uma cidade universitária. Então, ao mesmo tempo que eu passei por esse con-
forto, de me sentir tranquilo de estar aqui e me manifestar publicamente com relação
à minha orientação sexual, também já passei por situações de violência (Participante,
grupo 3).
Em alguns casos, os estudantes conseguem manter uma boa relação com seus vizinhos
e locadores dos imóveis que residem, sendo relatadas formas de apoio e acolhimento por parte
dessas pessoas. No entanto, a distância entre os dois públicos manifesta a desintegração e uma
relação preconceituosa diante da criação de estereótipos sobre um público desconhecido. A
hostilidade maior ocorre em relação aos estudantes que residem nas ditas ‘repúblicas tradicio-
nais’, que realizam eventos e possuem seus costumes próprios, tais como trotes, uniforme e
uso de plaquinhas pelos estudantes recém-chegados:
Eu passei por algo fora da faculdade, por moradores. Por ser estudante, já me via
como vândala na república onde eu morava. Aí, já teve vezes que a gente estava vol-
tando de algum lugar e os vizinhos vieram chamando a gente de vagabunda. ‘Olha lá
as vagabundas’. E eu achei isso um desrespeito total (Participante, grupo 3).
Eu sou de república tradicional e… Então, tipo… A sociedade olha pra gente tipo...
‘ah, seus maconheiros que vão destruir patrimônio público e quebrar nossas igrejas’.
Por ser de república tradicional eu sinto mais esse fato de que eu não sou bem recebi-
da aqui pelas pessoas da cidade, sabe? (Participante, grupo 2).
Tem esse tipo de conservadorismo aqui, eu percebo muito isso. E é muito frequente
mesmo, não por ser universitário, mas tem essa coisa de ‘essa república vai fazer ba-
derna, vai fazer bagunça e não é legal, não estuda, não faz nada’. Tem muito esse
preconceito e essa generalização, ao passo que tem pessoas que acolhem, mas que
nem eu disse, eu acho também que é conhecendo (Participante, grupo 2).
67
As universidades brasileiras vêm sendo alvo de diversos ataques a desqualificando,
sendo acusada de ser um espaço de ‘balbúrdia’ e de pouca produção de tecnologias. Os repre-
sentantes do atual governo, sobretudo o Presidente da República, tem realizado diversas for-
mas de perseguição às universidades, tanto em seu discurso, quanto em sua política neolibe-
ral, efetivando diversos cortes de verbas às instituições públicas (Thiengo, Bianchetti & Pinto,
2019; Alvim, 2019). A ascensão da extrema direita vem ocorrendo no Brasil e no mundo nos
últimos anos, mediante a veiculação de um discurso anticorrupção, pautas conservadoras são
instauradas legitimando os interesses das oligarquias tradicionais e grupos religiosos. No Bra-
sil ocorre também a exaltação de regimes autoritários, como os golpes militares, explicitando
valores racistas, tradicionalistas e xenófobos. Grupos neofascistas, antes marginalizados, vêm
ganhando força e legitimidade para determinados setores da sociedade (Löwy, 2015).
O ressurgimento da extrema direita na política repercute os valores tradicionais do a-
tual momento da sociedade brasileira e a universidade, ao se apresentar como um espaço de
pensamento crítico, de questionamento da realidade, das formas de poder e dominação pode
ser vista como uma ameaça à ordem social que se pretende implementar. Tal concepção ganha
força ao ser legitimado pelos representantes políticos. Por sua vez o universitário, que muitas
vezes foge dos padrões de conduta tradicionais de um município tradicional também pode se
mostrar deslocado daquela cultura e daqueles valores, podendo ser visto como um intruso e
como alguém que pode ameaçar tais valores.
Outro comprometimento na saúde da população estudada se trata da qualidade do so-
no, que muitas vezes é prejudicada em função de seus compromissos rotineiros e a constante
necessidade de dispor de algumas de suas necessidades e desejos. Usualmente os estudantes
administram seu tempo de tal modo que abrem mão de horas de sono para se dedicarem a
alguma demanda do curso, sobretudo para estudarem para as avaliações. Comumente relatam
a substituição do momento de dormir pelas ocasiões de socialização, sendo muitas vezes um
desafio conciliar suas atividades acadêmicas com seus compromissos sociais, de modo a não
prejudicar o tempo de descanso. Eles descreveram também que passam por diversas crises de
insônia, sentindo-se incapazes de descansar diante das cobranças da academia e de seu des-
gaste: “às vezes, em uma semana, você dormir 10h no total, pra poder entregar as coisas que
você tem que fazer” (Participante, grupo 2).
68
Eu tenho zero ânimo pra sair de casa porque eu sei que no outro dia eu vou ter que
acordar cedo, então eu vou dormir poucas horas e vou passar o dia inteiro cansada.
Com meu namorado também, eu fico muito menos tempo com ele do que eu gostaria
por causa disso. Às vezes, eu tô ali com ele, mas pensando ‘nossa, eu não devia tá a-
qui, porque eu tenho que entregar alguma coisa’, ‘eu tô aqui hoje, então eu vou ter
que virar a noite pra entregar o que eu preciso que entregar’. É o tempo inteiro, eu
sinto que eu tô abrindo mão (Participante, grupo 2).
Eu me sinto muito estressada quando eu chego em um limite que eu não consigo dor-
mir. E eu já tenho costume de dormir pouco, eu não me sinto cansada, mas já me vi
chegando a vários limites aqui, pra poder fazer as duas coisas ao mesmo tempo (Par-
ticipante, grupo 2).
É uma coisa que eu sinto muito falta. Eu sinto que eu fico muito mal quando eu não
durmo direito. E, quando isso acontece vários dias seguidos, acaba virando uma bola
de neve. Tem uma hora que você tá assim ‘Chega! Eu não quero falar com mais nin-
guém, não quero fazer mais nada, só quero dormir, pelo amor de Deus!’ (Participante,
grupo 2).
69
as coisas que eu gosto e as coisas da faculdade, e fico em um limbo assim. Meus horá-
rios livres são um limbo de nada. Por exemplo, eu amo música, eu toco violão há mui-
tos anos, mas desde que eu entrei na faculdade eu não evoluí mais nada… Eu olho e
falo assim ‘ah, não posso porque eu tenho que fazer tal e tal coisa’, mas não quer di-
zer que eu fiquei estudando esse tempo todo. No tempo livre eu fiquei pensando em fa-
zer, mas não fiz (Participante, grupo 2).
70
po, dormindo três horas da manhã, tomando café com coca pra estudar (Participante,
grupo 3).
Pra mim foi bem tenso, assim. Ano passado e no começo desse ano, com relação aos
sintomas físicos porque eu sempre fui ansiosa, só que depois que eu vim pra faculda-
de, isso aumentou demais. E eu não tinha tempo para fazer terapia e eu ia nos médi-
cos com vários sintomas, com várias dores, fazia vários exames que nunca apontavam
uma causa biológica. E tudo o que me indicavam era fazer terapia, controlar a ansie-
dade, fazer exercício físico, só que eu não tenho tempo pra isso (Participante, grupo
2).
O auge foi quando eu desenvolvi uma dor de cabeça crônica, claro que uma dor de
cabeça tensional, que nenhum medicamento dava conta. E eu tive que começar a to-
mar medicamentos muitos pesados por causa disso. E mesmo tomando medicamento,
ainda ia no médico e ‘ah, você tem que comer direito, você tem que fazer exercício fí-
sico’, mas eu não tinha tempo de comer direito nem de fazer exercício físico (Partici-
pante, grupo 2).
71
Fiorotti et al (2010) se preocuparam em investigar a prevalência de TMCs entre estu-
dantes do curso de Medicina em uma universidade pública do Espírito Santo e analisou as
possíveis correlações entre TMC e os fatores de risco. Este estudo transversal foi realizado
com 229 estudantes universitários, indicando que a elevada prevalência de TMC estava asso-
ciada à ausência de suporte emocional quando necessário e às dificuldades de esclarecerem
dúvidas em sala de aula, muitas vezes por timidez. Esta pesquisa aponta também para a neces-
sidade de intervenções e atuações preventivas no cuidado à saúde mental e na qualidade de
vida dos discentes.
O contexto de sofrimento psíquico no ambiente acadêmico também foi analisado no
estudo de Andrade et. al (2014), a partir do acompanhamento de estudantes universitários do
curso de Medicina do segundo ao sexto ano em escolas médicas do Ceará, que buscaram des-
crever os distintos processos vinculados ao sofrimento psíquico destes discentes. A pesquisa
indicou como os principais fatores que interferem no sofrimento psíquico a ocorrência de de-
pressão, insônia, problemas pessoais, privação de lazer e insegurança entre estes sujeitos. Os
autores ressaltam que os estudantes em sofrimento psíquico, de maneira majoritária, não bus-
cam formas de suporte ou ajuda e quando o fazem dão ênfase a questões externas, desconside-
rando os fatores acadêmicos envolvidos em seu sofrimento.
Os fatores protetivos associados à ocorrência de TMCs são a prática rotineira de exer-
cícios físicos, alimentação saudável e estratégias de enfrentamento psicológicas, tais como
autoestima e resiliência (Graner, & Cerqueira, 2019). Outras estratégias individuais de enfren-
tamento são a vinculação a demais ocupações que não estejam estritamente ligadas a acade-
mia, tais como as atividades artísticas ou outras ocupações de interesse do sujeito, bem como
a busca pela psicoterapia e manter a qualidade do sono (Cruz, Silva, Chagas, Tortola, & Cal-
deira, 2019). Em âmbito coletivo devem-se buscar mudanças nas estruturas pedagógicas, nos
currículos e considerar os diversos fatores que geram sofrimento no meio acadêmico, buscan-
do propor novas intervenções voltadas ao bem-estar dos estudantes (Graner, & Cerqueira,
2019).
Diante disso, cabe salientar que o sofrimento psíquico na universidade se manifestou
de formas distintas ao longo dos períodos do curso. Tal como se evidencia ao se considerar as
médias obtidas pelo score do Self-Report Questionnaire-20 (SRQ-20). Assim, as médias dos
três grupos foram de 10,12 para o Grupo 1, enquanto o Grupo 2 foi de 13,16 e o valor de 7,25
para o Grupo 3, conforme se explicita na Tabela 4:
72
Tabela 4
Fonte: autor.
Assim, conforme mencionado acima, o Grupo 2, composto por estudantes dos perío-
dos intermediários do curso pontuou mais alto na média dos escores do SRQ-20, que os de-
mais grupos. Os relatos presentes no grupo focal explicitaram a alta carga horária, os primei-
ros contatos com as atividades práticas e a sobrecarga como fatores para a ocorrência do mal-
estar nesse momento do curso, perpassando pelas dificuldades em administrar o tempo e os
métodos de estudos adequados para lidar com tais demandas.
O Grupo 1, formado por discentes dos períodos iniciais do curso, pontuou a segunda
maior média, sendo também possível recorrer à entrevista em grupo como uma forma de es-
clarecer as dimensões apresentadas pelo instrumento. A fala dos participantes em torno das
angústias acometidas nesse período se deve, sobretudo, aos conflitos decorrentes de seu perí-
odo de adaptação à universidade e seus desdobramentos, tais como o medo de se expressar em
sala de aula, poucas redes de apoio e o senso de responsabilidade diante de suas escolhas.
Por fim, o Grupo 3, representado por estudantes dos períodos finais do curso, apresen-
tou a menor média dos escores em relação aos demais períodos. No entanto, isso não significa
afirmar que não há sofrimento psíquico nessa parcela dos participantes, tendo em vista seu
score e as questões relatadas no grupo focal. Nesse momento, o amadurecimento e adaptação
parecem se consolidar como fatores de enfrentamento das dificuldades vivenciadas no cotidi-
ano universitário.
Diante disso, as contradições e desafios relatados pelos estudantes no meio acadêmico
perpassam ainda por outras questões que se integram em seu quadro de sofrimento psíquico.
O público-alvo desse estudo manifestou suas tensões para além da relação com a universida-
de, sua rotina, suas demandas e suas mudanças, mas principalmente com o curso de Psicolo-
gia. Os alunos relatam angústias especificas diante de sua formação nessa área do conheci-
73
mento, adicionando outros agravantes aos determinantes psicossociais de sua saúde mental,
conforme será descrito no eixo temático a seguir.
O curso te propicia muito a autorreflexão. E o curso traz muito uma crise na gente,
em todos os sentidos, tanto de pares, de familiares, de como você vê a sociedade. E, se
você tem esse momento de autorreflexão, dá pra avançar no sentido de se autoconhe-
cer, mas, ao mesmo tempo, você regride muito no sentido de sofrer mais também. A
partir do momento que você entende o lado do outro, entender o porquê do outro fazer
o que faz. Eu acho que quando você tem esse movimento, você vê que o outro vê de
uma forma diferente da sua, e isso não é uma coisa que a gente aprendeu de pequeno.
O curso faz a gente ter esse movimento. Entender que o outro vê de outra visão, en-
tende outra visão, tem outra visão é um movimento bem difícil. E, se você faz isso, vo-
cê sofre também. Então, eu acho que o curso propicia isso, essa crise da gente, de ver
que o mundo não é do jeito que a gente tá vendo (Participante, grupo 3).
Assim, ao ampliarem seu olhar sobre as diversas questões que atravessam o homem na
vida em coletividade e ao entrarem em contato com as atividades práticas no campo da Psico-
logia, os estudantes em questão se deparam com situações de alta vulnerabilidade e complexi-
dade. Os alunos, recorrentemente, atuam em uma tentativa de resolução de tais problemas,
esperando transformações para além das possibilidades que lhe cabem na condição de estagiá-
rios. Nesse momento, torna-se evidente a quebra de expectativas em relação a uma visão ro-
74
mantizada e de certo modo idealizada da profissão quando chegam ao curso, especialmente ao
compreenderem o funcionamento das políticas publicas e as raízes dos problemas sociais.
Eu penso assim, o primeiro de todos, é que o curso é muito difícil de fazer, no sentido
de, o nosso objeto de estudo é o ser humano, e a gente é ser humano. Mesmo quando a
gente vai estudar as teorias clínicas não tem como ignorar isso. Então, isso, por si só
já é muito difícil, já causa ansiedade. A gente começa a ter uma visão sobre o mundo
que é mais sofrida. Quando a gente vai nos estágios das políticas públicas, a gente vê
há falta de investimento público, o quanto tudo é muito precário. Então, tudo isso vai
acarretando na gente uma ansiedade muito grande, além da carga teórica em si (Par-
ticipante, grupo 3).
Isso que falaram sobre antes ser uma pessoa mais positiva, que achava que as coisas
tinham uma solução, e isso depois da Psicologia é algo que eu não consigo fazer. É
muito pelo próprio conteúdo que a gente estuda, pelos textos que a gente lê pelos os
estágios e tudo mais. A gente entra em contato muito intimo com o sofrimento do ou-
tro. E a gente percebe que em grande parte das situações o que a gente pode fazer re-
almente é muito pouco e são sempre mudanças muito específicas, a gente não conse-
gue trabalhar na estrutura do sofrimento (Participante, grupo 2).
75
acaba sendo afetado psicologicamente. E isso acabou me deixando com medo do que
pode vir, de que eu vou ter que administrar muita coisa daqui em diante (Participante,
grupo 1).
76
de habilidades e competências para atuarem em seu campo profissional (Herrera, & Opazo,
2015).
Para além da complexidade da carga teórica, os desdobramentos da formação em Psi-
cologia reverberam uma mudança de conduta dos alunos, gerando questionamento e proble-
matização nas diversas esferas de sua vida e daquilo que se presencia em seu dia-a-dia. O lu-
gar do psicólogo começa a ser construído sem muitas distinções de tempo e espaço para exer-
cer o ofício, demonstrando também a profunda transformação dos estudantes nesse processo
formativo. Comumente nessa fase, o estudante sente-se intimado a se posicionar diante das
situações de violência e opressão, que são muitas vezes naturalizadas e veladas na sociedade.
A necessidade de assumir uma postura diante de algum conflito ou alguma injustiça social se
postula para o grupo como uma questão ética da profissão, tal como se pode verificar a seguir:
“Você tá assistindo uma série da Netflix pra ficar de boa, aí, de repente, liga o raio
crítico, o raio problematizador. ‘Aff! Me dá um descanso!’” (Participante, grupo 3);
“A gente passa a enxergar muito violência. Coisas que a gente achava ‘ok, a vida é
linda’, e, de repente, você tá vendo violência em tudo. E eu fico muito ferida com es-
sas coisas. Tenho até que trabalhar isso” (Participante, grupo 3).
A gente é convidado a responder desse lugar em vários contextos. Enfim, tem a di-
mensão ética mesmo, a gente é chamado por essa dimensão ética. E é difícil mesmo,
em muitas situações, você vê coisas acontecendo e falar assim ‘como eu não vou fazer
nada?’ (Participante, grupo 3).
77
Comigo aconteceu uma coisa que foi o extremo e eu vi que não dava mais. Porque
uma menina da minha cidade, eu nem conhecia ela, nem sabia quem ela era e ela me
mandou mensagem com o braço todo cortado sangrando e disse ‘olha, se você não
conversar comigo hoje eu vou morrer, eu vou me matar’. E a gente foi conversando e
eu assumi essa responsabilidade depois disso, por não saber, e aí descobri que ela ta-
va sendo abusada pelo tio, fui na casa dela, conversei com ela. E ela me mandava fo-
to, de vez em quando toda sangrando, mandava vídeo, mandava áudio e foi uma situ-
ação que eu percebi assim ‘não, eu preciso colocar um limite nisso daí’ (Participante,
grupo 2).
quando eu volto pra minha cidade, por ser uma cidade pequena e todo mundo se co-
nhecer, todo mundo vem conversar comigo esperando alguma coisa, me conta um
problema e fica esperando, só que tipo, não tem o que dizer sobre aquilo. E tipo ‘“ah,
você pode conversar com meu filho? Ele tá passando por uma fase’. Quando acontece
esses casos de família de alguém que tem depressão e falam ‘ah, vai lá, conversa um
pouco com ele’ (Participante, grupo 2).
E isso que ela falou pra mim também é muito real, vim pra gente buscando um diag-
nóstico ou reafirmar um diagnóstico. Tipo, a quantidade de gente da minha família
que veio me perguntar se o filho era autista… É autista e hiperativo. E eles sempre
vêm ‘ah, olha o que ele faz ele é autista né?’ (Participante, grupo 2).
Quando eu volto pra casa, quando você vai conversar com alguém, alguma coisa as-
sim mais sentimental, mais emocional, mais séria, eu sinto muita responsabilidade na
fala, eu sinto que eu tô meio que mostrando esse lado que eu vou ser meio que julgada
por esse lado, tipo, eu vou ser vista como a psicóloga (Participante, grupo 2).
78
me deu vontade de virar pessoa e falar que psicólogo também é gente. E eu não sou
nem psicóloga ainda, eu tô só no sétimo período e eu não tenho responsabilidade so-
bre todos os sofrimentos. Às vezes a pessoa vem conversar com você, você só dá um
conselho de boas e a pessoa acha que é um grande conselho terapêutico baseado em
várias teorias e aí dá merda porque você deu um conselho baseado na sua experiência
e a pessoa vem te cobrar como se ela tivesse feito uma consulta com um profissional
ou algo do tipo (Participante, grupo 2).
79
úde passa a contemplar diferentes formas de se viver e de se portar, respeitando as diferenças
individuais de cada sujeito, de modo a encontrar a medida das formas de autocuidado que lhe
faça sentido, sem que isso retorno sob forma de juízos de valor ou na impossibilidade de de-
sempenhar uma profissão.
Outro tipo de cobrança que os estudantes de Psicologia relatam se dá pelo ideal de
conduta do psicólogo no imaginário social, que as pessoas exigem deles, sobretudo seus fami-
liares e amigos. Desde o estudante em formação é esperado uma conduta que atenda a padrões
normativos de estabilidade emocional e consequentemente ao autocontrole de suas emoções e
sentimentos, muitas vezes reprimindo seus anseios. Os universitários, por sua vez, de certa
forma incorporam tais valores e muitas vezes vivenciam conflitos em torno da questão de sua
saúde mental. Dessa forma, as cobranças em torno de uma vida social regrada e moralizante
também recaem sobre os discentes, o que muitas vezes repercute em sua vida social, ao abri-
rem mão de certas atividades pelo receio de julgamento de outrem, sendo para além de uma
imagem exemplar, alguém que esteja sempre apto e disposto a ouvir a dor do outro, conforme
explicitado a seguir: “Dentro da minha casa mesmo, eu me estressar com minha irmã e mi-
nha mãe ficava ‘mas, ah, você tá fazendo Psicologia, como que você não entende ela?’. Co-
mo se eu não pudesse sentir, sabe?” (Participante, grupo 2); “Você é psicólogo, você não
pode ficar nervoso” (Participante, grupo 3).
Acho péssimo porque a família, você acha que vai te acolher. Mas eles falam ‘Não!
Engole a sua dor porque você tem que tá plena, porque você é psicóloga’. Então, é
muito difícil. E eu tenho resistência de admitir fraquezas, então eu pago de forte o
tempo inteiro. E aí, quando eu vou me abrir e falar, é ‘não, paga de forte, porque vo-
cê tem que ser a psicóloga imaculada’ (Participante, grupo 2).
constantemente, quando eu estou com essas crises, eu sinto ‘Meu Deus, eu acho que
eu nunca conseguirei entrar nesse papel real de ser uma boa psicóloga’. Pelas minhas
questões, porque eu também me cobro. Parece que eu nunca vou incorporar bem esse
papel, eu nunca vou ser boa o suficiente, pelas minhas questões. Isso já tá tão interna-
lizado que dói. Eu, constantemente, me pergunto ‘gente, o que eu tô fazendo? eu tô
formando, e aí? vou ser um fracasso porque eu não consigo lidar com as minhas pró-
prias questões?’. Aí, volta e meia, eu tenho que dizer ‘não, você é humana, você mere-
ce sentir, você é uma pessoa’. E isso vai sendo conflituoso o tempo inteiro, e dói! Por-
que você não consegue achar resolução rápida sobre isso, é um processo. É difícil,
real (Participante, grupo 3).
Tem muito uma coisa de que ‘você que é da Psicologia e não pode adoecer’. ‘Como
assim você tem ansiedade? Mas você não faz Psicologia? Se você não dá conta de vo-
cê mesma, como você vai dar conta de alguém?’ É uma cobrança muito grande. Em
80
casa, eu vejo isso direto ‘Nossa, mãe, tô mal, mas esse curso seu não tá adiantando de
nada então!’ (Participante, grupo 2).
E se a gente foge dessa idealização que essas pessoas têm da profissão, aí já estra-
nham. Essa questão do comportamento, se alguém me ver numa festa ‘olha lá a psicó-
loga na festa’. Então assim, a gente não vive, entendeu? É muito difícil isso, tem que
tá bem o tempo todo também e mal sabem eles que na maioria do tempo a gente tá
mal (Participante, grupo 2).
Nesse sentido, as demandas para se ocupar o lugar da escuta é onipresente na vida dos
futuros psicólogos, em suas relações interpessoais, sobretudo familiares e amigos. Logo, ser
estudante de Psicologia é ocupar, muitas vezes, um lugar de servidão às queixas e demandas
de sofrimento de outrem. Esse processo muitas vezes gera desconfortos e violações à sua pri-
vacidade, acarretando em um grande peso e desgaste em sua relação com o outro, tal como se
verifica nos relatos:
O curso de Psicologia me assusta muito também, é que as pessoas ficam muito invasi-
vas com a gente, sabe? Você começa Psicologia é como se você fosse um grande ou-
vido, isso incomoda muito, você tem que tá sempre bem disposto a ouvir todo mundo
(Participante, grupo 2).
Então é difícil de separar. E todo lugar que você vai, todo assunto que você escuta,
cabe Psicologia. Então, se você tá na sua casa conversando sobre política, você é es-
tudante de Psicologia. Se você tá conversando sobre gravidez, você é estudante de
Psicologia ali. Então, pra mim, foi o maior impacto, porque eu nunca separo disso.
Mesmo na férias, eu sou estudante de Psicologia. Até porque também chega a família
e fala ‘ah, ela é psicóloga, ela faz Psicologia, ela sabe disso!’. Um conselho aqui, uma
coisa ali. Então, o maior impacto foi esse, de não conseguir separar, não só por causa
de carga horária, pelo tanto que você tem que estudar, mas pelo curso em si e do que
se estuda (Participante, grupo 3).
81
cológico em algum momento de suas vidas, conforme demonstra o estudo de Lahm e Boeckel
(2008). Tais estudos reafirmam a Psicologia enquanto uma área ainda desconhecida por diver-
sos segmentos da população brasileira, corroborando para interpretações equivocadas sobre
sua forma de atuação. Ademais, essa discussão explicita também a realidade vivenciada pelos
participantes desse estudo, ao se considerar parte dos problemas vivenciados em suas rela-
ções, ao serem atravessados por demandas em torno de aconselhamentos e da prestação de
uma escuta. No entanto, verificam-se também limitações dos estudantes no enfrentamento
dessa realidade.
Trata-se de uma sobreposição de papéis, imperando o lugar pressuposto para o psicó-
logo, que se encontra na posição de um saber sobre o outro, sua realidade e suas angústias,
estando frequentemente à disposição para aconselhamentos e de certa maneira para solucionar
as dificuldades e complexidades da vida. No entanto, os próprios estudantes demonstram pou-
ca clareza sobre a diferenciação de tais lugares. Logo, tal arranjo proporciona a fragilização
dos vínculos dos discentes, ao se perder o lugar de amigo, de filho ou de parentesco pelo lugar
de psicólogo, repercutindo no isolamento, prejuízo social e em menor apoio de seus pares:
Às vezes eu sinto em relação a família, por exemplo. Às vezes eu queria ser só filho,
sabe? E aí tem que cuidar do problema do relacionamento dos pais. Às vezes eu que-
ria ser só primo, aí eu tenho que cuidar do problema do meu primo. Às vezes eu que-
ria ser só uma pessoa da minha cidade que tá lá numa posição de estudante de Psico-
logia, aí eu evito de sair na rua por causa disso. Eu não sei se isso é culpa minha, aí
eu não sei delimitar isso, se eu que me pus nesse lugar ou se é culpa das expectativas
que as pessoas têm sobre mim (Participante, grupo 2).
Eu acho que tem muito a ver da forma como a gente se coloca, mas ao mesmo tempo
eu não acho que seja uma coisa fácil, igual é essa questão da família, você voltar lá e
voltar nessa posição de filho e tal, uma coisa que te protege disso, mas ao mesmo
tempo é meio confuso, né? Porque você fica meio que, tipo, ‘qual que é a minha vi-
da?’ Eu não sei, sabe? Porque você tá aqui e tá lá e ser pessoas diferentes. Então eu
não sei, eu consigo me descolar dessa personalidade de psicóloga, assim, mas ao
mesmo tempo isso não é uma coisa fácil, eu acho que talvez deveria manejar isso me-
lhor (Participante, grupo 2).
82
ao campo profissional da Psicologia, chegam no curso com expectativas de autocompreensão,
que são potencializadas pelas oportunidades de autoanálise e reflexão sobre a sociedade por
meio dos próprios conteúdos estudados. Ocorrem também expectativas de ajudar as pessoas,
sobretudo seus familiares em seu sofrimento, tornando fértil a chegada da Psicologia como
um campo romantizado e onipresente em suas vidas. Os alunos do meio do curso, por sua vez,
se posicionam de forma mais intensa diante da realidade de cobranças e ideais de postura,
demonstrando estranhamento e preocupações diante das inseguranças em seu processo forma-
tivo, algo que se modifica nos períodos finais. Nesse momento, os estudantes de certa forma
ocupam o lugar pressuposto ao psicólogo como algo que é parte de si, vivenciando as conse-
quências dessa relação simbiótica, ao encararem a psicologia como um elemento transversal
em suas vivencias.
Diante disso, o lugar do estudante de Psicologia, suas responsabilidades e desdobra-
mentos, torna-se uma fonte de prejuízos à saúde mental desse público, de acordo com os seus
próprios relatos. Eles afirmam que vivenciam diariamente uma sensação de desgaste, exaustão
emocional, angústia e estresse, repercutindo em somatizações, prejuízos na qualidade do sono
e muitas vezes na necessidade de isolamento. Para além das diversas cargas provenientes de
sua relação com a universidade e com o processo de adaptação ao ensino superior, descritos
no eixo temático anterior, o estudante passa por diversos prejuízos em suas relações interpes-
soais diante da realidade vivida no curso de Psicologia, tais como conflitos familiares, a fragi-
lização de seus vínculos com seus pares e as restrições de convívio social diante da sensação
de cobrança por uma postura exemplar nos espaços que frequenta.
Os prejuízos nas relações familiares e a falta de apoio emocional estão associados à
ocorrência de TMCs, sendo os estudantes de Psicologia um grupo prevalente nesse estado de
saúde (Ansolin, Rocha, Santos, & Dal Pozzo, 2015). O estudo de Feldman et. al. (2008) reali-
zado com estudantes de Psicologia da Venezuela indicam o apoio social como um fator prote-
tivo para a saúde mental, ao favorecer o enfrentamento do estresse acadêmico, além de reper-
cutir em seu desempenho. Logo, o estudante de Psicologia está propenso a apresentar exaus-
tão emocional e descrença diante dos diversos estressores vivenciados nesse ciclo de sua vida,
sendo necessária a criação de projetos de intervenção específicos a esse público, a fim de pro-
porcionar melhorias em sua qualidade de vida e de prepará-los para sua futura profissão (Fo-
gaça et. al, 2012). No entanto, o amparo institucional para os estudantes de Psicologia na ins-
83
tituição pesquisada ainda é frágil, o que corrobora para o agravo dos acometimentos à sua
saúde mental.
A gente tem que se cuidar também, e a gente não tem um apoio. Eu sinto isso muitas
vezes com os nossos professores que esquecem que nós somos pessoas e tão importan-
te quanto as pessoas que a gente tem que cuidar sabe? (Participante, grupo 2).
O conteúdo além de despertar esse sofrimento social, e muitas aulas levantam ques-
tões nossas que a gente não consegue trabalhar sozinho, e assim, a gente tem que vi-
ver com isso, tentando encontrar nossas próprias saídas, sem suporte pra isso, e por
fazer o curso de Psicologia as pessoas acham que a gente não pode ter problema co-
mo se fosse um curso que a gente aprende a ser feliz (Participante, grupo 2).
84
para outros serviços de atendimento da assistência estudantil ou para serviços comunitários de
baixo custo. No entanto, os estudantes relataram pouca efetividade do serviço por não possibi-
litar um trabalho a longo prazo e com maiores aprofundamentos, tal como relatado a seguir:
Eu fui nesse plantão porque eu precisei, e aí eu cheguei lá e foi uma conversa, nem
senti muito em uma terapia. Eu cheguei mais pra entender como funcionava, mas tem
essa questão de que é muita gente, o horário, você não sabe se vai ter um atendimento
contínuo. Eu não sei se é interessante eu chegar e ter uma conversa de 20 minutos,
soa mais como desabafo do que uma terapia emergencial (Participante, grupo 1).
Eu acho isso muito difícil. Porque eu mesma passei de uma experiência com a minha
amiga, que ela precisava muito, isso me deixou muito mal. Ela precisava muito e ela
conseguiu pela assistência estudantil, porque em outro serviço ela também não conse-
guiu. Só que, aí, ela veio me contar que ela tava precisava ainda pra psiquiatra e psi-
cólogo, e, aí, quando foi na última sessão, a moça falou que era a última guia. Ela me
falou que nem sabia que tinha isso. É uma coisa do sujeito, depende da demanda.
Como você limita assim o número de sessões? E não faz sentido, pra mim, começar
um tratamento assim, pra deixar a pessoa na mão. Eu falei pra ela conversar na assis-
tência estudantil, mas é uma coisa muito burocrática. Eles nem tem condição de fazer
isso. É outra coisa também que eu vejo e penso que a universidade não está prepara-
da para esse acolhimento (Participante, grupo 3).
85
depender da abordagem do estágio. Logo, os estudantes relataram a inviabilidade de se recor-
rer a tais atendimentos, tendo em vista a proximidade com os psicoterapeutas e professores.
Ademais, os participantes relataram longas filas de espera e que uma pequena porcentagem é
destinada aos estudantes, envolvendo recorrentemente alto tempo de espera, como se observa
a seguir:
Então, às vezes, o estagiário vai levar o caso do colega pra supervisão? Sobre o pró-
prio professor que tá ali. Eu acho que é mais essa coisa mais pessoal, mesmo. Das
pessoas não se sentirem a vontade pra ir lá porque é uma coisa que vai cair dentro do
círculo da Psicologia (Participante, grupo 2).
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na minimização dos desconfortos do aluno em sua rotina universitária, favorecendo um bom
desempenho do estudante e sua permanência no curso. No entanto, os autores ressaltam a im-
portância dos serviços de atendimentos individuais e das estratégias coletivas de apoio ao es-
tudante, sendo iniciativas complementares e que, portanto, maximizam o apoio educacional
(Toti, Oliveira & Ribeiro, 2017).
Diante da lacuna nas ofertas de efetivos programas e serviços de acolhimento e pro-
moção de saúde ao público estudantil pela instituição, os universitários entrevistados ressalta-
ram a psicoterapia como uma estratégia fundamental para lidar com o sofrimento psíquico
decorrente das vicissitudes acadêmicas. No entanto, as dificuldades financeiras dificultam o
acesso aos serviços. Mesmo sendo considerada indispensável para os participantes, ao não
conseguirem vaga nos serviços comunitários de atendimento psicológico ou na instituição, os
estudantes recorrem a outras saídas para lidar com seu sofrimento, tal como exemplificado a
seguir:
Minha estratégia é comer. Eu engordei 15kg depois que eu vim pra [cidade do curso].
Mas agora tá controlado. E eu procurei apoio psicológico por causa disso também. Aí
tive que sair porque perdi a bolsa (Participante, grupo 3).
Terapia é caro, não é barato. E mesmo que você ache uma que é mais acessível, sei
lá, R$30 é o que tem ali no comunitário. Eu fui lá e é um pouco difícil. E eu já fui em
uma que eu pagava R$50, em 2017, e ano passado eu paguei R$60. Que era o padrão
mínimo que dava, pelo que ela comentou. E mesmo que a gente tente estabelecer como
prioridade, a gente tentar ir no psicólogo. Às vezes pagar aluguel e comer é mais viá-
vel [risos]. É bem esse movimento mesmo. Se você não tem dinheiro, você tenta achar
outras estratégias pra ficar bem (Participante, grupo 3).
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nos períodos iniciais do curso, no momento em que o estudante vivencia novos ambientes,
muitas vezes acompanhando momentos de socialização e o desejo de extravasar suas angús-
tias:
Eu sou de uma república muito antiga aqui na cidade. Então, é uma coisa muito típica
a gente se reunir e tá sempre bebendo. Quinta-feira, já tamo tomando uma cerveja lá
na república. Então, eu não bebia até os meus 18 anos, eu era muito chata com isso,
meus pais sempre foram muito reguladores em relação a isso. Então, desde que eu en-
trei na Universidade, aumentou exponencialmente. Eu só não faço com frequência
porque ultimamente tô tendo umas ressacas horrorosas, então isso tem me impedido.
Eu tenho passado muito mal. Mas, antes, eu já fiz maratona mesmo, de quarta até
domingo com a galera. Hoje, eu não dou conta mais, isso é quando eu era caloura
(Participante, grupo 3).
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e desacelera o alto ritmo de cobranças dos alunos, atuando na percepção de maior relaxamen-
to, bem-estar e auxílio na concentração e na qualidade do sono, de acordo com a experiência
dos entrevistados: “Ajuda demais a baixar a ansiedade, sem maconha eu não teria consegui-
do voltar pra Universidade” (Participante, grupo 3).
Eu tenho um extintor de incêndio no meu quarto. Todo dia, no final do dia, eu já deixo
um fino bolado. Aí, deixo no meu quarto, quando eu chego, já tem um baseado. Um
extintor é só pra fazer analogia. Eu boto fé das complicações que a vida de fumante
pode acarretar. Mas, em compensação, eu acho que me ajudou muito a equilibrar a
minha ansiedade e a minha concentração. E o álcool, por exemplo, eu bebo desde 13,
14. E, quando eu cheguei aqui, eu fiquei um puta fã de cerveja. Hoje eu bebo menos,
eu fumo mais que bebo. Mas eu acho que, no começo, eu perdi muito a mão aqui (Par-
ticipante, grupo 3).
O consumo de cannabis aparece como a terceira maior droga utilizada no mundo, sen-
do o álcool e o tabaco os mais presentes na vida das pessoas (Pereira, Veloso, Shigaki e Lara,
2018). Em conformidade a tais achados, o estudo de Dambrowski, Sakae e Remor (2017) in-
dicam tais substâncias como as mais consumidas entre a população universitária da área da
saúde. O uso abusivo de tais substâncias está associado ao comprometimento social, sendo
maior no sexo masculino. Segundo Oliveira et. al (2018) a aquisição de conhecimento sobre
os psicoativos e seus efeitos não repercute na relação de uso de tais drogas pelos estudantes
do campo da saúde, tendo em vista a sensação de maior domínio sobre suas implicações. Já a
89
pesquisa de Dambrowski, Sakae e Remor (2017) aponta que a distância do aluno de sua cida-
de anterior se relaciona ao maior uso de maconha, sendo a migração acadêmica uma das vul-
nerabilidades vivenciadas pelos estudantes ao se distanciarem de seus familiares e amigos. No
entanto, outros fatores como o uso de tabaco, vida amorosa e redes de apoio atuam no padrão
de uso da substância.
Em se tratando da socialização, verifica-se que a relação com os colegas é a principal
forma de enfrentamento encontrada pelos universitários para lidar com seu sofrimento psíqui-
co. O sentimento de pertença ao grupo social se constitui como uma forma de suporte às difi-
culdades do cotidiano universitário, na medida em que se identificam com a realidade do ou-
tro e proporcionam um espaço de fala e de escuta. Trata-se de uma forma de acolhimento que
vai se consolidando ao longo do curso, pois o estudante ao chegar à universidade muitas vezes
se encontra com poucas amizades e um círculo social mais restrito, logo, a vinculação aos
amigos fortalece seu modo de encarar as demandas e desafios da universidade: “o apoio que a
gente tem aqui, a gente vem sozinho, não conhece nada nem ninguém e é o suporte que a gen-
te tem, os amigos” (Participante, grupo 3);
Eu acho que essa atenção dos colegas é algo que dá muita força pra gente. A gente
tem um grupo bom que sempre se reúne. É tipo a roda do desabafo e é um ajudando o
outro e isso é muito bom. Eu acho que faz toda diferença (Participante, grupo 2).
Você xinga com os amigos em comum. ‘Vamos falar mal sobre o professor? Vamos!’.
Aí a gente fala muito. E depois alivia um pouco, porque você vê que tá todo mundo
sentindo a mesma coisa. Por mais que você não possa mudar a realidade, pelo menos
você se sente acolhido. Tá todo mundo no mesmo barco (Participante, grupo 2).
As tensões e angústias que a vivência universitária ocupa na vida dos alunos entrevis-
tados também gera como resposta os trancamentos do curso. A evasão aparece como uma
forma de se retirar momentaneamente do curso, com o propósito de se repensar a relação com
a instituição, suas escolhas e a superação das dificuldades encontradas nesse processo. Muitas
vezes o estudante necessita de uma pausa na rotina de muitas cobranças para conseguir pros-
seguir no curso, tendo em vista que muitas vezes eles prescindem de seus cuidados básicos,
levando um estilo de vida pouco saudável:
Eu adoecia fisicamente mas tem um fundo psíquico claro, eu até hoje não consegui e-
laborar muito bem, eu fiquei meio doente do rins, mas como eu falei, eu segui estraté-
gias meio equivocada para lidar com essa coisa de sair de casa, e não ter muito apoio
financeiro. Então eu adoeci e minha mãe me chamou de volta e falou: ‘olha, fica aqui
seis meses, volta pra você dar um tempo pra tentar se curar’. (...) Então quando eu
90
voltei, eu voltei mais fortalecida tanto na saúde mental tanto na física, apesar de que
depois de um tempo ‘ferrou’ tudo de novo, mas é isso (Participante, grupo 3).
Por fim, nota-se que os estudantes do final do curso apresentam maiores estratégias de
enfrentamento dos estressores e das dificuldades vivenciadas no meio acadêmico que os alu-
nos do início e meio do curso. Nos discentes dos três primeiros períodos é comum a sensação
de se sentirem ‘perdidos’ no novo ambiente que se encontram, estando ainda reconhecendo o
modo de funcionamento da instituição e ainda se vinculando à instituição. Já os estudantes
dos períodos intermediários se deparam com as dificuldades do lugar do estudante de Psico-
logia, as demandas da universidade e os desafios da alta carga horária do curso, se ocupando
demasiadamente dessas questões, não restando espaço para outras atividades que poderiam
auxiliar na promoção de uma vida mais saudável. Por conseguinte, os estudantes do fim do
curso adquirem um manejo mais adequado de seu tempo, reconhecem melhores métodos de
estudos voltados para sua realidade, ressignificam as cobranças e o valor das notas das avalia-
ções: “agora tá melhor assim, eu consegui acho que criar estratégias de enfrentamento, e até
ficar mais relaxada. De não ceder tanto, de não me cobrar tanto. Eu fui me adaptando nesse
sentido” (Participante, grupo 3).
Tem uma coisa que eu falo muito da universidade é que ela possibilita a gente fazer
muito a autoreflexão, repensar as coisas na vida assim. Na Psicologia até o terceiro,
quarto período, eu fui meio que em um embalo assim ai eu fui percebendo que eu não
dou conta de pegar mais que 5 ou 6 disciplinas. Eu conversei com os meus pais o se-
guinte: ‘ou eu pego umas quatro ou cinco no máximo, ou então eu vou acabar fazer o
curso na barriga de qualquer jeito’. E desde então, parece que cada ano que passa
91
assim eu repenso mais o que eu passei, o que eu estudei, e eu acho que dessa forma
que eu to fazendo assim depois do quarto período de Psicologia ser mais seletivo,
pensar mais nas minhas aulas durante a semana e melhorou muito a minha qualidade
do meu ensino (Participante, grupo 3).
formatura... Ai que medo! Tô no 8º, mas faltam só 7 matérias, então eu formo no meio
do ano que vem. Medo de formar, medo de não conseguir, de não dar conta... Enfim,
muito medo de entrar no mercado de trabalho no atual momento político. Nossa, acho
que a autocobrança nossa é muito grande também. A gente se preocupa com o outro,
a gente tem cuidado com o outro. E a gente tem medo de qualquer coisinha a gente
pode atrapalhar a vida de outra pessoa. É muito grave. Muita insegurança (Partici-
pante, grupo 3).
Agora que faltam 3 semanas e eu tô indo embora, é que é diferente, porque, quando
eu saí de casa pra poder fazer a universidade, tinha um script pra seguir, eu vou mo-
rar em uma república e tem aula hora tal e não sei o que. Mas, agora que a gente se
forma, a gente tem que inventar, né? Agora não tem um script. O que que vai ser da-
qui em diante? Como é que vai ser meu cotidiano? Como é que vai ser a minha roti-
na? Como é que vai ser a minha inserção nos espaços? (Participante, grupo 3
Eu estou passando por um processo de ir pro mestrado, acho que vou manter o víncu-
lo aqui, mas muda a posição, porque eu vou deixar de ser estudante de Psicologia.
Vou subir um degrauzinho aí. Mas, mesmo assim, eu acho que, nas atuais circunstân-
cias, principalmente políticas da questão da pós-graduação, é muito medo assim. É
insegurança, medo e mais um monte de sentimentos que acho que só lá na frente pra
gente descobrir como vai lidar. E sempre inventando, criando estratégias (Participan-
te, grupo 3).
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Diante disso, os estudantes ao não receberem o apoio psicológico necessário para o en-
frentamento dos desafios do ensino superior podem encontrar saídas pouco saudáveis e muitas
vezes danosas para sua saúde, tais como o uso problemático de drogas, a medicalização e até
mesmo desenvolver uma relação compensatória com a alimentação ou outros objetos. Ade-
mais, as formas de lidar com o sofrimento psíquico verificadas no grupo são iniciativas mui-
tas vezes individuais e não institucionalizadas, e a partir da pouca efetividade de suas ações
poderão desencadear prejuízos maiores, tais como a evasão e o desenvolvimento de transtor-
nos mentais graves, tais como depressão, burnout, síndrome do pânico, entre outras formas de
adoecimento. Portanto, é fundamental que a universidade proporcione ações coletivas de pre-
venção e enfrentamento dos desafios vivenciados pelo estudante na instituição.
As estratégias de prevenção e promoção de saúde poderão propiciar o enfrentamento
de diversos problemas vivenciados pelo aluno em seu processo de adaptação ao ensino supe-
rior e minimizar o adoecimento desse público, além de proporcionar maior autonomia e a-
prendizado. Logo, a apoio institucional é capaz de proporcionar a diminuição dos índices de
evasão, sobretudo quando se trata de prejuízos psicossociais do estudante em sua relação com
a Universidade (Ramos et. al, 2018).
O papel da instituição na viabilização dos serviços de atenção psicossocial perpassa
não apenas o âmbito de sua implementação, mas, sobretudo deve se ocupar em níveis de ges-
tão educacional de tais demandas. Trata-se do desenvolvimento de políticas especificas para
essa questão, ao possibilitar um trabalho integrado com a assistência estudantil e os demais
setores da universidade. Para além das ações de fomento, tais como a alocação de recursos
materiais, o incentivo de bolsas e infraestrutura, é indispensável a mobilização de toda a co-
munidade acadêmica (Ramos et. al, 2018). Logo, por meio de tais parcerias, a universidade
pode institucionalizar projetos e ações contínuas, acompanhando sua manutenção, seus pro-
cessos e seus resultados.
Oliveira e Silva (2018) em seu estudo sobre as práticas do psicólogo em universidades
públicas em Minas Gerais discutem a necessidade de ações efetivas no que tange a promoção
de saúde do estudante universitário. Destaca-se a atuação interdisciplinar como forma de am-
pliação da compreensão desse objeto, contando com o olhar de profissionais das áreas de nu-
trição, médica, odontológica, pedagógica, dentre outros. Logo, o trabalho intersetorial é tam-
bém fundamental para proporcionar um debate ampliado e articulado com os diversos atores
envolvidos nas questões de saúde na universidade. A garantia de um espaço promotor de sa-
93
úde e comprometido com a qualidade da educação se mostra como um compromisso ético e
político, devendo estar concatenado com as atividades de pesquisa, extensão e ensino, a fim
de sua constante busca pela melhoria das condições de vida do estudante, na integralidade de
sua dimensão enquanto de sujeito.
94
CONSIDERAÇÕES FINAIS
95
Por conseguinte, o prejuízo psicossocial ao atuar nos condicionantes da saúde mental
desse público, diante da fragilização de suas redes de apoio, torna-se mais danoso diante de
certo desamparo institucional descrito pelos participantes. É fundamental a instrumentalização
de ações especificas a esse público, formulando novas políticas de assistência. Para tal, indi-
ca-se a necessidade de estratégias de apoio pedagógico, ações de acolhida, novas modalidades
de atendimento psicológico, ações voltadas à promoção de saúde e redução dos fatores de
risco a esse público, considerando que lidam com um objeto de estudo de alta sensibilidade e
complexidade. Articular ao currículo e à sua formação as questões em torno da saúde mental
de si próprios também poderia auxiliar no enfrentamento de suas adversidades.
Destaca-se que a relação professor x aluno se apresenta como fator primordial para a
experiência de aprendizagem do estudante, repercutindo no âmbito de seu desempenho e de
sua vinculação com a aquele campo do conhecimento. Logo, trabalhar conflitos, questões em
torno da convivência, os diferentes papéis e as diversas barreiras para uma relação favorável
entre esses dois atores se apresenta como demanda diante das dificuldades relatada nesse es-
tudo, de modo a proporcionar um cenário acadêmico mais harmonioso e participativo. Assim,
é fundamental considerar tais dimensões ao se propor estratégias de intervenção no campo da
saúde mental do estudante universitário.
A presente pesquisa respondeu a seus objetivos propostos, ao compreender o sofri-
mento psíquico dos estudantes de Psicologia em uma universidade pública do interior de Mi-
nas Gerais, identificando suas fontes e seus tipos, de modo a considerar também os aspectos
psicossociais enquanto condicionantes de sua saúde mental em seu contexto de vivência uni-
versitária. Não houve a pretensão em nomear transtornos mentais ou em diagnosticá-los nesse
estudo, tendo em vista a busca por uma discussão voltada as questões psicossociais e forma
como os próprios estudantes significam sua experiência acadêmica.
Enquanto limitações dessa pesquisa destacam-se a não realização de análises mais pro-
fundas e complexas em relação ao SRQ-20 e o questionário sociodemográfico, como em rela-
ção a questões raciais, de gênero e classe social. O recorte utilizado na abordagem do tema
também não oportunizou uma maior aproximação de outros assuntos tangenciais e que de-
mandariam maior profundidade ou uma investigação específica. A utilização de um levanta-
mento documental também poderia enriquecer a triangulação dos dados coletados.
No entanto, uma das contribuições desse estudo é a investigação por meio dos relatos
dos próprios estudantes sobre seu sofrimento psíquico, possibilitando compreendê-lo por
96
meio de suas elaborações, sentidos e significados atrelados à suas vivências no ensino superi-
or. Esse percurso investigativo possibilitou outro olhar sobre essa realidade, tendo em vista
que a maior parte das publicações sobre a saúde mental de universitários são de ordem quanti-
tativa, não possibilitando muitas vezes vislumbrar questões que extrapolam os instrumentos
utilizados. Reitera-se as vantagens do pesquisador ser também um nativo da realidade investi-
gada, como também esteve imerso nas vicissitudes relatadas pelos depoentes, há maior sensi-
bilidade e competências para o aprofundamento analítico, mediante também maior abertura
dos participantes ao tratar o pesquisador como um par. Este estudo aponta ainda caminhos
para o enfrentamento do adoecimento do universitário na realidade brasileira, considerando os
relatos dos estudantes e o diálogo com a literatura.
Ademais, tal interlocução deve estar constantemente concatenada ao horizonte das po-
líticas públicas no ensino superior, tendo em vista seus desafios e constantes necessidades de
aprimoramento. Assim, o apoio psicológico aos estudantes deve ser pauta prioritária nas polí-
ticas de assistência estudantil, indo para além dos auxílios de caráter financeiro e estruturais,
considerando as implicações do sofrimento psicológico do aluno em sua permanência e em
seu aspecto formativo. Essa pesquisa contribui para um debate ampliado e participativo em
torno de novas políticas públicas estudantis na universidade, possibilitando um enfoque de-
mocrático desse cenário. Todavia, cabe salientar que o avanço da política neoliberal dos últi-
mos anos vai à contramão de tais pressupostos: os cortes nos orçamentos das universidades,
sobretudo da assistência estudantil, criam obstáculos à concretização de políticas e programas
de acolhimento e cuidado ao universitário, tornando o cenário de adoecimento ainda mais
grave.
Os estudos que abordam a qualidade de vida e saúde mental de estudante de Psicologia
ainda são escassos, sendo um tema pouco investigado no Brasil e no mundo. Portanto, verifi-
ca-se a necessidade de se buscar maiores reflexões em torno do processo formativo em Psico-
logia e seus impactos para os estudantes, considerando as questões em torno da identidade da
profissão, suas dificuldades, contradições e possibilidades de transformação na comunidade
acadêmica.
97
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107
ANEXOS
1. Idade: ________
2. Sexo:
a) Feminino
b) Masculino
108
a) 1
b) 2
c) 3
d) 4
e) 5 ou mais
14. Qual a renda de sua família? (define-se renda o somatório do salário líquido de
todos os que compõem o seu núcleo familiar)
R$_________________
109
a) Sim b) Não
a) Sim b) Não
17.1 Se você toma café, quantas vezes, em MÉDIA, você toma por dia?
_____________
110
18.1 Se você fuma, quantos cigarros, em MÉDIA, você fuma por dia?
_______________
a) Sim b) Não
25. Excetuando a medicação das questões 22 e 23, você usa algum remédio do tipo
controlado ou psicoativo?
a) Sim
b) Não
111
d) Suficiente.
28. Quais motivos abaixo você considera que dificulta sua prática de atividades fí-
sica ou de lazer?
a) Falta de tempo
b) Falta de dinheiro
c) Distância
d) Falta de vontade
e) Não se aplica
29. Em relação à sua adaptação em São João del-Rei, você diria que:
a) Não está adaptado
b) Está pouco adaptado
c) Está razoavelmente adaptado
d) Está totalmente adaptado
33. Você se sente pressionado pela exigência de uma postura diferenciada como
futuro psicólogo?
a) Sim, muita;
b) Sim, às vezes;
c) Quase nunca;
d) Não.
34. Depois que você entrou na faculdade, você sentiu necessidade alguma vez de
procurar um atendimento psicológico ou psiquiátrico?
a) Não.
b) Sim, psicológico.
c) Sim, psiquiátrico.
112
d) Sim, ambos.
34.1. Se SIM, você chegou a marcar uma consulta?
a) Sim b) Não
Em uma situação de necessidade, excluindo sua família (pai, mãe e irmãos), com que
frequência você pode contar com alguém:
113
Anexo II - Parecer Consubstanciado do Conselho de Ética em Pesquisa
114
115
116
117
APÊNDICE
Atividade “Fale Sobre”: Será explicado aos participantes que serão descritos no qua-
dro negro algumas palavras e que eles deverão falar o que o termo em questão representa para
eles, considerando suas vivências, aspirações e sentimentos em relação ao assunto. Os demais
participantes poderão concordar, discordar, complementar ou discutir sobre o assunto. Quan-
do um tópico não for esgotado, os coordenadores deverão questionar os participantes, con-
forme explicitado a seguir:
118
vivência universitária?
6) “Apoios e Suporte” Instituição oferece medidas de
cuidado e atenção a esse público?
Quais?
A quem recorrem?
7) “Saídas” (enfretamentos, como lidam?)
119
Apêndice II -TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Prezado participante, você está sendo convidado a participar como voluntário a pes-
quisa “o sofrimento psíquico do estudante de Psicologia em uma universidade pública do
interior do estado de Minas Gerais”. Esta pesquisa está sendo desenvolvida por Christian
Eduardo Andrade Resende Santos, mestrando em Psicologia pela Universidade Federal de
São João del-Rei (UFSJ), sob orientação do Professor Dr. Marcelo Dalla Vecchia.
A sua participação contribui para a realização de estudos como este e possibilita avan-
ços nesta área de conhecimento. Trata-se de uma investigação que, como o título sugere, pos-
sui como objetivo compreender o sofrimento psíquico do estudante de Psicologia em uma
universidade pública do interior do estado de Minas Gerais, de modo a identificar os princi-
pais aspectos psicossociais envolvidos na saúde mental desse público, esclarecendo a relação
entre as vicissitudes da vida universitária e os tipos de sofrimento psíquico que podem surgir
ao longo do curso. A proposta desta pesquisa se justifica ao provocar uma discussão impor-
tante sobre a forma como a saúde mental dos estudantes universitários vem sendo discutida
nas instituições de ensino superior, haja vista a necessidade de se propor estratégias de enfren-
tamento do adoecimento deste público e de maiores aprofundamentos nos estudos deste cam-
po.
O convite a sua participação se deve ao fato de você ser estudante do curso de Psico-
logia em uma Universidade Pública. Caso concorde em participar, será realizado a aplicação
do Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20)e um grupo focal, com duração aproximada de du-
as horas, que será gravado para fins de análise. O SRQ-20 é um U autoaplicável, composto
por perguntas a respeito de sintomas, dificuldades e problemas que possam ter acometido o
participante em um período antecedente de 30 dias à aplicação. O grupo focal pode ser consi-
derados como um tipo de entrevista em grupo e tem como finalidade informações acerca de
um tema específico mediante a participação de um grupo selecionado previamente. Trata-se
de uma técnica de pesquisa fundamentada na comunicação e interações grupais, sendo bastan-
te difundida no âmbito das ciências sociais. O grupo focal gravado será transcrito e armazena-
do em arquivos digitais, assim como os resultados, mas somente terão acesso às mesmas o
pesquisador e seu orientador. Ao final da pesquisa, todo material será mantido em arquivo,
por pelo menos 5 anos, conforme Resolução 466/12 e orientações do CEPSJ.
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A sua participação é voluntária e não acarreta riscos de vida, mas pode haver um des-
conforto em responder ou compartilhar informações de cunho pessoal. Caso isso ocorra você
terá o direito de interrompê-la a qualquer momento ou se recusar a responder qualquer per-
gunta, não sendo penalizado de nenhuma maneira. Além disso, durante o grupo focal, conta-
remos com o auxílio de um estagiário em pesquisa que estará disponível para acompanhar
qualquer participante que venha a deixar a sala, de modo a acolhê-lo em caso de qualquer
intercorrência que possa vir a acontecer durante a realização do grupo.
Porém, ressaltamos que sua participação é muito importante, pois as informações
construídas a partir desta pesquisa podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias e
reformulação de práticas neste campo de saberes, o que pode beneficiar tanto os próprios es-
tudantes, seus pares e a comunidade acadêmica em geral, pois se trata de uma questão de saú-
de mental com desdobramentos nos diversos setores das instituições de ensino. Para minimi-
zar esse desconforto, ressaltamos que todas as informações serão utilizadas apenas para fins
acadêmicos e relatórios decorrentes da pesquisa, não haverá a divulgação do seu nome nem
do serviço, garantindo a confidencialidade e privacidade das informações prestadas por você.
No presente projeto você será identificado pelas iniciais de seu nome.
Os resultados gerais poderão ser divulgados em palestras dirigidas ao público partici-
pante, artigos científicos e na dissertação/tese. Os resultados de forma individual serão repas-
sados aos participantes estando a pesquisadora à disposição para eventuais esclarecimentos.
Após a participação na pesquisa, você poderá ter todas as informações que quiser e
poderá não participar da pesquisa ou retirar seu consentimento a qualquer momento, e não
será penalizado de nenhuma maneira caso decida não consentir a sua participação. Pela sua
participação no estudo, você não receberá qualquer valor em dinheiro, mas terá a garantia de
que todas as despesas necessárias para a realização da pesquisa não serão de sua responsabili-
dade. Caso ocorra alguma despesa (como por exemplo, transporte ou alimentação) para a par-
ticipação da pesquisa você e/ou seus acompanhantes serão ressarcidos pelo pesquisador. Em
caso de dano decorrente da pesquisa tem o direito de ser indenizado pela pesquisadora, por
meio de uma cobertura material para a reparação do dano.
Por favor, sinta-se à vontade para fazer qualquer pergunta sobre este estudo ou sobre
os seus direitos como participante o estudo. Se outras perguntas surgirem mais tarde, poderá
entrar em contato com a pesquisadora.
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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO
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_________________________________ _________________________
“Em caso de dúvida quanto à condução ética do estudo, entre em contato com o Comi-
tê de Ética em Pesquisa da CEPSJ. O Comitê de Ética é a instância que tem por objetivo de-
fender os interesses dos participantes da pesquisa em sua integridade e dignidade e para con-
tribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. Dessa forma o comitê tem o
papel de avaliar e monitorar o andamento do projeto de modo que a pesquisa respeite os prin-
cípios éticos de proteção aos direitos humanos, da dignidade, da autonomia, da não malefi-
cência, da confidencialidade e da privacidade”.
Tel e Fax - (32) 3379- 5598 E-mail: [email protected]
Endereço: Praça Dom Helvécio, 74, Bairro, Dom Bosco, São João del-Rei, Minas Ge-
rais. CEP: 36301-160, Campus Dom Bosco
Se desejar, consulte ainda a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Co-
nep): Tel: (61) 3315-5878 / (61) 3315-5879 e-mail: [email protected]
Contato com o pesquisador a responsável: Christian Eduardo Andrade Resende San-
tos
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Rua Dom Silvério, 295/407. Dom Bosco, São João del-Rei, Minas Gerais. CEP:
36301-166
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