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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Embrapa Suínos e Aves


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Sociedade Catarinense de Medicina Veterinária


Somevesc Núcleo Regional Oeste

ANAIS DO 24º SIMPÓSIO BRASIL SUL DE


AVICULTURA E
15º BRASIL SUL POULTRY FAIR

Embrapa Suínos e Aves


Concórdia, SC
2024
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:

Embrapa Suínos e Aves Sociedade Catarinense de Medicina Veterinária -


BR 153, Km 110 Somevesc Núcleo Regional Oeste
Distrito de Tamanduá Estrada Municipal Barra Rio dos Índios
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CEP 89.700-991 Caixa Postal 343
Concórdia, SC CEP 89.815-899
Fone: (49) 3441 0400 Chapecó, SC
Fax: (49) 3441 0497 Fone: (49) 99929 3420
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Unidade responsável pela edição Unidade responsável pelo conteúdo


Embrapa Suínos e Aves Sociedade Catarinense de Medicina Veterinária -
Somevesc Núcleo Regional Oeste

Comitê de Publicações da
Embrapa Suínos e Aves
Presidente: Franco Muller Martins Coordenação editorial: Tânia Maria Biavatti Celant
Secretária: Tânia Maria Biavatti Celant Editoração eletrônica: Vivian Fracasso
Membros: Cátia Selene Klein Normalização bibliográfica: Claudia Antunes
Clarissa Silveira Luiz Vaz Arrieche
Gerson Neudi Scheuermann Arte da capa: Vox Brasil
Jane de Oliveira Peixoto
Joel Antonio Boff
Suplentes: Estela de Oliveira Nunes
Fernando de Castro Tavernari

1ª edição
Versão eletrônica (2024)

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Embrapa Suínos e Aves

Simpósio Brasil Sul de Avicultura (24.: 2024, Chapecó, SC).


Anais do 24º Simpósio Brasil Sul de Avicultura e 15º Brasil Sul
Poultry Fair. - Concórdia, SC : Embrapa Suínos e Aves, 2024.
58 p.; 14,8 cm x 21 cm.

1. Avicultura - congressos. I. Título. II. Título: 15º Brasil Sul Poultry Fair.

CDD 636.50063

Claudia Antunes Arrieche - CRB 14/880 2024 Embrapa

*As palestras e os artigos foram formatados diretamente dos originais enviados eletronicamente pelos autores.
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COMISSÃO ORGANIZADORA

Aiane Aparecida da Silva Catalan Joao Batista Lancini


Aleteia Britto da Silveira Balestrin João Eduardo Schneider
Ana Claudia Moretti Joel Schwertz
Bruno Giacomelli Joelson Marcolino Ramos
Camila Saremba Larissa Spricigo
Celita Andreia Matiello Lawrence Luvisa
Claudia dos Santos Leandro Bianchet
Cristiano Todero Lucas Piroca
Daiane Carla Kottwitz Lucca Canal
Albuquerque Luciane de Cássia Surdi
Daniela Gonzatti Luis Carlos Farias
Denis Cristiano Rech Marcelo Rocha
Diego de Bona Mateus y Castro da Silva
Eduardo Loewen Mauro Renan Felin
Elis Frigotto Mauro Polenz
Emersson Augusto Pocai Nilson Sabino da Silva
Evandro Gandini Pedro Roberto Silva Flores
Fabio Momoli Rafael Baggio
Gersson Antonio Schimidt Rafael Ferreiro Groba
Gilmara Adada Roberto Luiz Curzel
Guilherme Lando Bernardo Tiago Goulart Petroli
Ivan Ulsenheimer Tiago Jose Mores
Jair Alberto De Toni Vanessa Basquerotte

Colaboradores Nucleovet
Bruna Glória Bueno
Crisley Schwabe Klickow
Solange Fatima Kirschner (Xyka)

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PROGRAMAÇÃO CIENTÍFICA

09 de abril de 2024

13h30 - Abertura

13h45 - Desafios do Brasil na competição global por produção animal mais


sustentável
Roberto Ignacio Betancourt

14h40 - Cenários e perspectivas para o mercado de carnes


Bruno Barcelos Lucchi

15h40 - Intervalo

16h - Exigências internacionais para manutenção das exportações brasileiras,


tendências e abertura de novos mercados
Juliana Martins Bressan

17h - Abertura oficial

17h40 - Cenário econômico


Paulo Guedes

19h15 - Coquetel de abertura na 15ª Brasil Sul Poultry Fair

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10 de abril de 2024

08h - Antioxidantes e qualidade de carne


Vivian Aparecida Rios de Castilho Heiss

09h - Prevalência de dermatose em frangos de corte e sua relação com o


manejo pré-abate
Luiza Fernanda da Silva Sabino

10h - Intervalo

10h30 - Imunocompetência nas fases iniciais e sua relação com a nutrição


Breno Castello Branco Beirão

11h30 - Desafios relacionados à integridade estrutural em aves


Mercedez Vázquez-Añón

12h30 - Intervalo almoço

14h - Enfrentamento do foco de IAAP em aves de subsistência em


Maracajá/SC pelo serviço veterinário oficial - CIDASC
Diego Rodrigo Torres Severo e José Henrique de Oliveira

15h - Fatores de risco a campo para controle de salmonelas


Fernando Ferreira

16h - Intervalo

16h30 - Enterite necrótica em frangos de corte


Dino Garcez

17h30 - Vacinas autógenas na avicultura: uma visão regulatória


Bruno Pessamilio

18h30 - Eventos paralelos

19h30 - Happy hour na 15ª Brasil Sul Poultry Fair

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11 de abril de 2024

08h - Manejo de cama de frangos de corte


Connie Mou

09h - Artrites e problemas locomotores em frangos de corte: uma


abordagem multifatorial
Jovanir Ines Müeller Fernandes

10h - Intervalo

10h30 - Implementação de indicadores de bem-estar animal como


ferramenta de gestão da avicultura
Victor Abreu de Lima

11h30 - Biosseguridade e desempenho zootécnico estão associados?


Isabella Lourenço dos Santos

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SUMÁRIO

ANTIOXIDANTES E QUALIDADE DA CARNE ....................................................... 10


VIVIAN APARECIDA RIOS DE CASTILHO HEISS

PREVALÊNCIA DE DERMATOSE EM FRANGOS DE CORTE E SUA RELAÇÃO


COM MANEJO PRÉ-ABATE ................................................................................... 20
LUIZA FERNANDA DA SILVA SABINO E CÂNDIDA POLLYANNA FRANCISCO AZEVEDO

ENFRENTAMENTO DO FOCO DE IAAP EM AVES DE SUBSISTÊNCIA EM


MARACAJÁ/SC PELO SERVIÇO VETERINÁRIO OFICIAL - CIDASC .................. 28
DIEGO RODRIGO TORRES SEVERO E JOSÉ HENRIQUE DE OLIVEIRA

ENTERITE NECRÓTICA EM FRANGOS DE CORTE ............................................ 30


DINO GARCEZ

ARTRITES E PROBLEMAS LOCOMOTORES EM FRANGOS DE CORTE: UMA


ABORDAGEM MULTIFATORIAL ............................................................................ 40
JOVANIR INÊS MÜLLER FERNANDES

BIOSSEGURIDADE E DESEMPENHO TÉCNICO ESTÃO ASSOCIADOS? ......... 53


ISABELLA LOURENÇO DOS SANTOS

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ANTIOXIDANTES E QUALIDADE DA CARNE

Vivian Aparecida Rios de Castilho Heiss


Doutora em Produção Animal
Universidade Federal da Grande Dourados

Embora programas eficazes de seleção genética e nutrição tenham


melhorado drasticamente a produtividade e a eficiência da indústria de
frangos de corte, os frangos de crescimento rápido apresentam com mais
frequência qualidade de carne desfavorável em comparação com os frangos
de crescimento lento (Petracci et al., 2015). A produção avícola ainda enfrenta
uma ampla gama de desafios, incluindo questões de custo de alimentação,
infecções bacterianas e parasitárias, estresse térmico, micotoxinas, etc., que
podem resultar em alteração da composição corporal, aumento de
preocupações com segurança alimentar e redução do rendimento e qualidade
da carne (Choi et al., 2020). Parâmetros de qualidade da carne afetados
negativamente, incluindo capacidade de retenção de água (CRA), miopatias
peitorais, textura e sabor podem influenciar a aceitação do consumidor
(Bosque et al., 2022). Sabe-se que a nutrição tem uma influência substancial
na qualidade da carne e na composição corporal dos frangos de corte (Mir et
al., 2017).
Para obter carne de qualidade que atenda às exigências dos
consumidores, a melhor estratégia é a utilização de suplementos
antioxidantes como aditivos nas dietas de frangos de corte. Antioxidantes
sintéticos são incluídos nas dietas de aves para evitar ou limitar a peroxidação
lipídica nos produtos cárneos (Salami et al., 2015). Devido à conscientização
dos consumidores sobre o consumo de ingredientes naturais para rações, os
nutricionistas estão buscando antioxidantes naturais para substituir os
sintéticos. Estes antioxidantes naturais têm inúmeras vantagens, por exemplo,
reduzir a incidência de doenças metabólicas e melhorar shelf life, otimizando
assim a segurança alimentar (Selim et al., 2021).

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Desafios na produção e implicações na qualidade da carne


Seleção para crescimento rápido
Programas de seleção genética e programas nutricionais foram
projetados para produzir frangos de corte com maior rendimento de carne de
peito e peso corporal sem considerar o acúmulo de gordura, resultando no
aumento dos níveis de gordura nos frangos de corte modernos (Zuhang et al.,
2019; Bordignon et al., 2022). Os frangos modernos contêm aproximadamente
15 a 20% de gordura, e a maior parte (> 85%) da gordura não é necessária para
o funcionamento corporal dos frangos (Fouad et al. 2013). No crescimento
rápido, a proporção desequilibrada entre oxidantes e antioxidantes no corpo e
o fornecimento limitado de oxigênio em comparação com a demanda
necessária para o desenvolvimento do corpo podem levar ao estresse
oxidativo e à hipóxia, respectivamente, resultando em peroxidação lipídica e
peito amadeirado (Wooden breast) em frangos de corte modernos (Panda et
al., 2014; Choi et al., 2020; Enami et al., 2021). Foram observadas diferenças
na qualidade da carne entre frangos de corte de crescimento lento e rápido, no
geral, os frangos de crescimento rápido apresentaram menor teor de proteína
e maior teor de gordura em comparação com os frangos de crescimento lento.
Embora não tenha havido pesquisas que comparassem a incidência de
miopatias peitorais entre frangos de crescimento rápido e de crescimento
lento, a prevalência de miopatias seria maior em frangos modernos de
crescimento rápido, o que pode ser devido ao maior rendimento de carne de
peito e ao maior estresse oxidativo em comparação com frangos de
crescimento lento (Caldas-Cueva et al., 2020).

Patógenos
As infecções bacterianas que podem ser causadas por condições de
criação desfavoráveis e alta densidade populacional são críticas na produção
de frangos. As bactérias patogênicas comuns na produção avícola incluem
Staphylococcus aureus, Campylobacter jejuni, Salmonella spp., Clostridium
perfringens, Escherichia coli, Eimeria spp. etc. Esses patógrnos podem afetar
negativamente a produção e a qualidade da carne de frangos de corte,
potencialmente através da diminuição da utilização de nutrientes, induzindo
inflamação, prejuízos à saúde intestinal e influenciando a segurança alimentar
(Yadav et al., 2019; Choi et al., 2022). Sadeghi et al. (2012) demonstraram que
a infecção por S. Enteritidis aumentou a concentração de malondialdeído
plasmático (MDA), um indicador de peroxidação lipídica, e reduziu a

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capacidade antioxidante total do plasma, resultando potencialmente em


aumento da peroxidação lipídica na carne de frango devido ao estresse
oxidativo. Da mesma forma, muitos estudos demonstraram que a infecção por
Campylobacter pode induzir estresse oxidativo sistêmico, levando ao aumento
de peroxidação lipídica dos produtos cárneos (Liaw et al., 2019). Ademais, a
inflamação induzida e o estresse oxidativo causado pela infecção por Eimeria
podem afetar negativamente a qualidade da carne em frangos de corte
também atribuídos a esse fator (Teng et al., 2021).

Estresse térmico
O estresse térmico, referido como um desequilíbrio entre a produção e
perda de calor corporal, induz perturbações metabólicas e estresse oxidativo,
o que leva a alterações fisiológicas e comportamentais em frangos de corte
(Khan et al., 2023). Frangos estressados pelo calor possuem desempenho
prejudicado juntamente com a má qualidade da carne, resultando em menor
eficiência de produção e aceitação do consumidor (Zaboli et al., 2019). Além
disso, a temperatura corporal elevada aumenta a reação do oxigênio,
possivelmente interrompendo os conjuntos de transporte de elétrons da
membrana (Ando et al., 1997). As espécies reativas de oxigênio podem alterar
as funções dos componentes musculares, como enzimas, causar
envelhecimento e perda de funções proteicas e inativar proteínas, ácido
desoxirribonucleico e ácido ribonucleico (Zabłocka; Janusz, 2008). Wang et al.
(2009) relataram que o estresse térmico agudo aumentou significativamente
as quantidades de malondialdeído e carbonilas no músculo. Indicaram ainda
que o aumento da oxidação lipídica e proteica estava intimamente associado
ao aumento das perdas por cozimento e gotejamento e à diminuição do pH e
da capacidade de retenção de água.

Micotoxinas
As micotoxinas, os metabólitos secundários de fungos, como os gêneros
Fusarium e Aspergillus são freqüentemente encontradas na alimentação de
aves (Peng et al., 2018; Ochieng et al., 2021). As micotoxinas induzem estresse
oxidativo, que pode levar à peroxidação lipídica e modular negativamente a
composição de ácidos graxos e a cor da carne além de possuir altas taxas de
absorção a nível intestinal e acumulação podendo permanecer em tecidos
comestíveis, como carne e fígado (Liu et al., 2020). Iqbal et al. (2014)
relataram que 35%, 41% e 52% das amostras de carne de frangos de corte

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estavam contaminadas com aflatoxinas, ocratoxina A e zearalenona,


respectivamente. As micotoxinas em produtos cárneos podem induzir câncer
e suprimir o sistema imunológico em humanos (Sorensen et al., 2010).

Inclusão de óleo na dieta


Os óleos vegetais são comumente usados em dietas de aves para
aumentar a densidade energética da ração. Contudo, podem apresentar baixa
estabilidade e prejudicar o desempenho dos animais e a estabilidade oxidativa
da carne. Estes óleos são ricos em ácidos graxos poliinsaturados, que são
mais suscetíveis à deterioração pela oxidação lipídica do que os ácidos graxos
saturados. Os produtos de oxidação diminuem o conteúdo de nutrientes da
dieta ao reagir com proteínas, lipídios e vitaminas lipossolúveis presentes na
dieta (Tavares et al., 2011). Fontes de óleo e gordura de qualidade são
importantes na alimentação de aves porque o óleo e a gordura oxidados
podem induzir peroxidação lipídica e estresse oxidativo em animais (Koo et
al., 2019). Dong et al. (2020) mostraram que a inclusão de óleos oxidados
induziu estresse oxidativo e aumentou o MDA em frangos de corte. Zhang et
al. (2011) demonstraram que frangos alimentados com óleo oxidado
apresentaram níveis mais elevados de oxidação de proteínas e lipídios,
diminuição de capacidade de retenção de água e diminuição do pH na carne
de peito post mortem.

Antioxidantes na alimentação de frangos de corte


Conforme descrito anteriormente, a produção comercial de aves está
associada a uma série de agentes estressores, incluindo ambientais,
tecnológicos, nutricionais e internos/biológicos. De fato, é praticamente
impossível evitar o estresse, a superprodução de radicais livres e o estresse
oxidativo que são problemas muito comuns na produção avícola. Devido a
isso, houve o aumento no interesse das indústrias no uso de antioxidantes
naturais em vez de equivalentes sintéticos, seja por baixo impacto ambiental
ou por razões econômicas (Jiang et al., 2016). Os antioxidantes naturais são
extremamente interessantes neste aspecto por serem bem aceitos pelos
consumidores, uma vez que são considerados seguros. Por estas razões, os
apelos à utilização de aditivos alimentares de origem vegetal, devido à sua
atividade antioxidante e aos efeitos benéficos no desempenho dos animais de
produção e na qualidade dos produtos de origem animal são crescentes.

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Os compostos polifenóis estão entre os substratos mais extensos


produzidos pelas plantas, já que cerca de 8 mil desses compostos foram
identificados (Surai, 2014; Tufarelli et al., 2017). Os polifenóis estão presentes
em grãos, vegetais, frutas, chá preto e verde em diversas partes da planta,
incluindo flores, folhas, raízes, sementes e frutos. São considerados parte do
sistema imunológico da planta para proteção contra pragas e radiação UV
(Petti; Scully, 2009). Eles podem ser divididos em duas classes principais: não
flavonóides (lignanas, estilbenóides e ácidos fenólicos) e flavonóides. Podem
regular os receptores celulares e as atividades enzimáticas, bem como exercer
efeitos inespecíficos nos organismos vivos (D'Archivio et al., 2007). Além
disso, os polifenóis possuem atividades imunomoduladoras, antiinflamaórias,
antioxidantes, antimicrobianas, antimutagênicas, antialérgicas e desintoxi-
cantes (Petti; Scully, 2009; Surai, 2014; Lipiński et al., 2017).

Propriedades antioxidantes dos polifenóis


Sob condições de estresse oxidativo, os organismos das aves não
conseguem neutralizar eficazmente os radicais livres produzidos em excesso,
as espécies reativas de oxigênio (ROS), que causam danos fatais nos
cromossomos e, consequentemente, modificam os aminoácidos codificados
e, portanto, muitos processos biológicos associados (Durand et al., 2013;
Zhong & Zhou, 2013; Lipiński et al., 2017). Há vários outros problemas graves
causados pelas ROS, por exemplo, a intensificação da peroxidação lipídica
celular e da necrose e apoptose celular (Landete, 2013). Normalmente, na
homeostase, duas formas principais são utilizadas para desativar ROS, sendo
a primeira os antioxidantes enzimáticos principalmente pela tríade catalase,
superóxido dismutase e glutationa peroxidase e a segunda são os
antioxidantes não enzimáticos principalmente aqueles de baixo peso
molecular (vitamina E e C; Durand et al., 2013; Landete, 2013). Os
antioxidantes exógenos, incluindo os polifenóis, representam a primeira linha
de defesa das células contra a produção excessiva de radicais livres,
protegendo os seus componentes do dano oxidativo (Lipiński et al., 2017;
Zhong; Zhou, 2013). Os flavonóides são os mais eficazes entre todos os
polifenóis na remoção dos radicais livres gerados e na prevenção de lesões
por eles causadas (Procházková et al., 2011). Em geral, os polifenóis protegem
as células dos radicais livres gerados pelos seguintes mecanismos:

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• Inibição das atividades de enzimas pró-oxidantes, como xantina


oxidase, proteína quinase C e dinucleotídeo β-nicotin-amida adenina
associado à membrana (NAD(P)H) oxidase (Procházková et al.,
2011).
• Ativação de enzimas antioxidantes (Procházková et al., 2011).
• Eliminação direta de ROS participando como um doador de elétrons
(Procházková et al., 2011).
• Quelação de metais de transição, restringindo assim a formação de
radicais hidroxila reativos (HO∙) (Halliwell, 2008; Lipiński et al., 2017).
• Redução de radicais α-tocoferol (Procházková et al., 2011; Surai,
2014).
• Alívio do estresse oxidativo do óxido nítrico (NO∙) (Surai, 2014).
• Aumentando as atividades antioxidantes de antioxidantes de baixo
peso molecular, como ascorbato e tocoferóis, evitando sua oxidação
(Lipiński et al., 2017; Paszkiewicz et al., 2012).

Qualidade da carne de frangos de corte


Soldado et al. (2021) sugeriram que os compostos polifenólicos de alto
peso molecular têm o potencial de exibir efeitos antioxidantes sistêmicos,
melhorando o status antioxidante no trato gastrointestinal e interagindo com
outros antioxidantes em animais. Os efeitos antioxidantes dos polifenóis
seriam responsáveis por seus efeitos benéficos na melhoria da qualidade da
carne e na diminuição da peroxidação lipídica na carne de frango (Shen et al.,
2019). Fontes apropriadas de polifenóis (por exemplo, peso molecular) devem
ser determinadas dependendo das condições de criação dos frangos.
Sabe-se que os compostos de polifenóis vegetais afetam o acúmulo de
gordura em frangos de corte. Park e Kim (2018) relataram que a
suplementação de Achyranthes asper (0,025% a 0,1% na ração) reduziu a
gordura abdominal e aumentou o rendimento de peito em frangos de corte, e
isso pode ser devido ao seu componente, a saponina, que pode reduzir os
lipídios absorção no trato gastrointestinal. Huang et al. (2013) demonstraram
que a administração oral (50 mg/kg ou 100 mg/kg de peso corporal) de
polifenóis do chá verde diminuiu o acúmulo de gordura por meio da regulação
negativa de genes relacionados ao acúmulo de gordura e da regulação positiva
de genes relacionados ao metabolismo e transporte de gordura. Choi et al.
(2022) mostrou que a suplementação de ácido tânico (0,5 g/kg a 2,5 g/kg de
ração) reduziu o acúmulo de gordura em frangos de corte, reduzindo a
produção de SCFA (ácidos graxos cecais de cadeia curta). Portanto, a

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suplementação de compostos polifenólicos pode afetar positivamente a


qualidade da carne e a composição corporal de frangos de corte.

Considerações finais
Uma variedade de diferentes condições desafiadoras na produção
avícola reduziu o rendimento e a qualidade da carne, reduzindo a utilização e
o metabolismo de nutrientes e induzindo estresse oxidativo em frangos de
corte. A suplementação de compostos bioativos, melhora os parâmetros de
qualidade da carne, como capacidade de retenção de água, capacidade
antioxidante e composição corporal de frangos de corte. Potencialmente, os
compostos polifenólicos vegetais que possuem efeitos antioxidantes,
antimicrobianos e antiinflamatórios podem ser uma estratégia nutricional
eficaz para melhorar a qualidade e o rendimento da carne, melhorando a
utilização de nutrientes e reduzindo a peroxidação lipídica e promovendo a
tempo de prateleira dos produtos.

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PREVALÊNCIA DE DERMATOSE EM FRANGOS DE CORTE E


SUA RELAÇÃO COM MANEJO PRÉ-ABATE

Luiza Fernanda da Silva Sabino¹ e Cândida Pollyanna Francisco


Azevedo²
¹Médica Veterinária, MBA em Agronegócios – USP/ESALQ
²Zootecnista, Doutora em Ciência Animal e Pastagens

Resumo
Em 2022, o Brasil produziu 14,524 milhões de toneladas de carne de
frango, ocupando o segundo lugar como maior produtor mundial e o primeiro
nas exportações, já que 33,20% de toda sua produção é exportada. Com
informações mais recentes, temos um total de 5,1 milhões de toneladas
exportadas de janeiro a dezembro de 2023, e já iniciando 2024 com 404,9 mil
toneladas exportadas. A produção nacional atinge altos níveis de desempenho
relacionados ao ganho de peso, conversão alimentar e baixos índices de
mortalidade. Resultados esses que são reflexo de boa genética,
biosseguridade, sanidade, ambiência adequada, nutrição de boa qualidade e
um manejo correto desde a chegada dos pintinhos no aviário até a retirada do
lote, o chamado período pré-abate.
O frango moderno avança seu potencial genético por meio da seleção de
programas de melhoramento animal, o que exige cada vez mais animais que
apresentem maior eficiência produtiva. No Brasil, tem-se diferentes tipos de
linhagens de frangos de corte como Hubbard- Isa, Arbor, Acres, Cobb, Ross,
Shaver. É desejável, para a produção de carne, que a ave apresente algumas
características, como rápido crescimento uniforme, boa conversão alimentar,
empenamento precoce, boa pigmentação da pele, peito largo e pernas curtas,
e ser resistente a doenças. Toda a produção de frangos é destinada para os
abatedouros onde é avaliada pelo Serviço de Inspeção Sanitária. O resultado
dessa avaliação determina o grau de aproveitamento das carcaças. Nessa
etapa, entre a produção até a comercialização, a resposta esperada pode ser
drasticamente reduzida, de acordo com o grau de alterações encontradas nas
aves durante a inspeção.

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A presença sugestiva de doenças infectocontagiosas ou parasitárias,


incluindo zoonoses ou lesões indicativas de deficiências no manejo pré-abate
dos animais e durante o abate podem ocorrer nas aves. Diversos trabalhos
destacam como principais causas de condenação a celulite, dermatoses,
contaminação, contusão/fratura e má sangria, dentre outras. Estas lesões
apresentam grande importância na indústria avícola devido às modificações
nas tecnologias de criação e manejo, assim como no processamento industrial
das aves ao longo do tempo.
A dermatose trata-se de uma classificação estabelecida de enfermida-
des que englobam diversas lesões cutâneas, como calo de peito e dermatites.
As principais dermatites são de contato, gangrenosa e micótica e traumática.
As de contato, ocorrem nas áreas de contato da pele com a cama e aparecem
como lesões erosivas e superficiais com manchas marrom-avermelhadas. A
dermatite gangrenosa está relacionada há um comprometimento do sistema
imunológico da ave o que facilita a contaminação por Clostridium septicum e
Staphylococcus coagulase positivo, levando à uma infecção com aspecto é
fibrinoso ou caseoso, entre a pele e a musculatura. Já a dermatite micótica
torna a pele com coloração amarelo acastanhado acompanhada de
espessamento da pele. Por último, a scabby-hip ou dermatite traumática está
associada a densidade populacional, empenamento lento e o comportamento
agressivo dos machos, que causam arranhões na pele.
Em geral, as lesões de pele são caracterizadas de acordo com a
aparência visual, associando o aspecto macroscópico das lesões e a sua
localização no corpo das aves, que permitam definir uma determinada doença.
As dermatoses são lesões que abrangem grande parte do corpo da ave, sendo
ulcerações de cor escura ou avermelhada (Figura 1). Dessa forma, as carcaças
que apresentarem evidência de lesão na pele, e/ou carne das mesmas, deverá
ser rejeitada a parte atingida, ou quando a condição geral da ave foi
comprometida pelo tamanho, posição ou natureza da lesão, as carcaças e
vísceras serão condenadas.

Figura 1. Carcaças retiradas na linha de inspeção.

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Objetivo
O estudo teve o objetivo de avaliar a prevalência de casos de dermatose
no período de janeiro de 2015 a junho de 2023 e como a relação com manejo
pré-abate pode interferir no resultado do produto final na cadeia produtiva da
carne.
O projeto foi realizado, em um abatedouro frigorífico situado na região
Centro Oeste de Minas Gerais, com o consentimento da administração. O
abate nesse estabelecimento ocorre em cinco dias da semana em dois turnos,
abatendo cerca de 180 mil aves por dia. O estabelecimento possui permissão
para exportar, sendo os seus produtos destinados ao mercado interno e
externo. Trata-se de um estudo retrospectivo, onde foram utilizadas planilhas
de condenações parciais e totais do DIF (Departamento de Inspeção Final) dos
anos de 2015 a 2021 e planilhas de monitoramento interno do frigorífico (2019-
2023). O estudo de prevalência é feito através do número de casos de uma
doença em uma população, durante um período específico de tempo, além do
impacto que isso tem na produção, levando em consideração casos antigos e
novos (Mathias, 2014). A fórmula utilizada para os cálculos foi: Taxa de
prevalência igual ao número de casos existentes dividido pelo número de aves
estudadas na população.
P = Número de casos existentes x 100 (1)
Número de aves estudadas

Além disso, foi utilizado como exemplo o cálculo para demonstrar em


peso (kg) o prejuízo que a empresa teve no período de 2015 a 2023, utilizando
como exemplo o peso médio (0,0225 kg) encontrado por corte condenado que
varia de 0,015k g a 0,030 kg, segundo dados da empresa, demonstrando como
o manejo pré-abate interfere no resultado do processo.
X = Quantidades de animais (ano) x peso médio (0,0225 kg)

Resultados
Pode-se observar nos resultados que das 285.272.021 milhões de aves
abatidas, 2.290.040 foram condenadas por dermatose, com uma prevalência
de 0,8%, tendo relação com vários fatores, dentre eles a utilização da linhagem
Ross. A Tabela 1 mostra a quantidade de aves condenadas parcialmente e a
prevalência dos últimos oito anos expressa na Figura 2, onde o ano de 2015
apresentou maior resultado, de 1,88%.

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Tabela 1. Quantidade de aves e abatidas e número de casos registrados de dermatose


Ano Total de aves abatidas Total de condenações
2015 31.301.217 589.324
2016 29.844.261 402.030
2017 28.029.687 91.560
2018 27.735.487 18.311
2019 26.500.021 56.632
2020 45.997.556 310.614
2021 44.541.755 605.070
2022 47.475.717 205.391
2023 23.964.019 103.487
Fonte: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-animal/sif e planilhas de monitoramento interno.

Figura 2. Prevalência dos casos de dermatose (%).


Fonte: Resultados originais da pesquisa.

A partir de 2019, a empresa em estudo, aderiu ao monitoramento intenso


de todas as granjas, a fim de diminuir o prejuízo das condenações por
dermatose e outras doenças. As planilhas de monitoramento são desde o
incubatório, ao rendimento final do abate. Dessa forma, são avaliados,
conversão alimentar, custo de produção, comportamento dos machos e
fêmeas alojados, linhagem, dentre outras características. Nesse
monitoramento a linhagem Ross foi a que apresentou maiores índices de
dermatose com 1,30%, 1,16%, 1,81% e 2,11% nos meses de junho, julho, agosto
e setembro, respectivamente, compreendendo um total de 605.070 aves no
ano de 2021. Quando transformado esses valores em peso (kg) do período de
2015 a 2023 (Tabela 2), pode-se obter um resultado relativamente alto, sendo,

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os maiores valores em 2015 e 2021, com 13.259,79 kg e 13.614,07 kg,


respectivamente.

Tabela 2. Demonstração das quantidades de aves condenadas por peso (kg).


Ano Nº de casos Quantidade em kg
2015 589.324 13.259,79
2016 402.030 9.045,67
2017 91.560 2.060,1
2018 18.311 411,99
2019 56.632 1.274,22
2020 310.614 6.988,81
2021 605.070 13.614,07
2022 205.391 4.621,29
2023 103.487 2.328,45
Fonte: Resultados originais da pesquisa.

O manejo inadequado como reutilização da cama, alta densidade nas


granjas, distribuição sazonal e a nutrição inadequada das aves, são as
possíveis causas para registros de tantos casos. Já fatores que afetam o
processo no frigorífico no momento do abate, que pode-se quantificar são: o
momento da redução de velocidade da linha, removendo as partes de pele
afetadas, além de acarretar problemas na escaldagem, escalda excessiva, no
ponto de insensibilização, resultando na má sangria e sendo condenados
também por retardamento na evisceração, aumentando os custos operacio-
nais de modo intenso. Além disso, atrasos nos processos e o reprocesso, as
perdas das partes afetadas e condenadas e a quantidade de carcaças que
perdem a integridade da pele, deixando de agregar valor às carcaças
comercializadas e aos cortes causando impacto diretamente no rendimento
de carcaça e industrial. Sendo assim, o monitoramento constante, treinamento
dos colaboradores nas granjas para melhor manejo, são cruciais para melhorar
os resultados na linha de produção, desde a granja até a expedição do produto
no frigorífico.

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ENFRENTAMENTO DO FOCO DE IAAP EM AVES DE


SUBSISTÊNCIA EM MARACAJÁ/SC PELO SERVIÇO
VETERINÁRIO OFICIAL - CIDASC

Diego Rodrigo Torres Severo e José Henrique de Oliveira


Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc)

Será feito um relato das ações da Cidasc frente ao foco de influenza


aviária de alta patogenicidade - IAAP em propriedade rural no município de
Maracajá/SC.
A notificação inicial foi realizada pelo filho do proprietário, no dia
12/07/2023, de que as aves do seu pai estavam doentes e morrendo há
aproximadamente uma semana. Segundo ele, seu pai tinha várias espécies de
aves como, galinhas, patos, marrecos, perus, galinhas d’angola, faisões e o
fato que chamou a atenção foi a mortalidade das galinhas d’angola. É
importante salientar que há um açude na propriedade e próximo do recinto das
aves.
No mesmo dia, os médicos veterinários oficiais da unidade veterinária
local de Araranguá fizeram o atendimento. O histórico, segundo o produtor, era
que tudo havia começado por volta do dia 04/07, momento que teve
tempestades na região, que aumentou o número de aves de vida livre em sua
propriedade e açude. Após isso as aves ficaram doentes e começaram a
morrer. Tentou fazer tratamentos, mas sem sucesso.
No atendimento, foi evidenciado que as aves tinham sinais respiratórios
e neurológicos, além de achados de necropsia compatíveis com síndrome
respiratória e nervosa das aves. Foi realizada a coleta oficial preconizada em
casos suspeitos: suabes de cloaca, traqueia e órgãos.
No dia 15/07 veio a confirmação laboratorial pelo LFDA-SP. Reuniões de
emergência entre MAPA, SAR, CIDASC e setor privado foram realizadas, assim
como acionado o Grupo de Ações Coordenadas - GRAC, publicada nota técnica
SAR nº 004/2023 e levantamento de propriedades no raio de 10 km. Foi
definido o dia 16/07 para depopulação do foco.

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Na data prevista, foram realizadas reuniões prévias com a equipe de


trabalho e GRAC. À tarde, foi executada a ação de depopulação do foco e início
do processo de limpeza e desinfecção.
No dia 17/07, reunião com as equipes locais e início da vigilância de 10
km do foco, sendo inicialmente nas propriedades no raio de 3 km, avançando
para 7 km nos dias seguintes.
As propriedades que seriam vistoriadas eram atualizadas diariamente
por meio de painéis digitais da distribuição geográfica e o número de pessoas
e equipes disponíveis em cada dia. O trabalho consistia em visitar comércios,
granjas comerciais e propriedades, cadastradas ou não, para realizar
educação sanitária, verificar se tinham ou não aves, se elas apresentavam
sinais clínicos, se tinham ou não histórico e verificação in loco das mesmas.
Durante estes trabalhos, foram encontradas duas suspeitas, uma em ave
marinha silvestre e outra em propriedade rural com aves domésticas de
subsistência. Ambas foram coletadas e com resultado negativo para IAAP e
Newcastle.
No dia 21/07, uma equipe de técnicos da Cidasc realizou uma completa
limpeza e desinfecção do local, que consistiu na destruição e enterrio de
materiais orgânicos, limpeza e aplicação de desinfetantes.
Toda ação foi apoiada pelo setor privado, que antecipou o abate de
granjas comerciais, previamente vistoriadas pela Cidasc, deixando-as em
vazio sanitário durante algum tempo, além da disponibilização de ajuda de
custo a um produtor independente de postura comercial para sua
despovoação e vazio.
Após 10 dias de trabalho, com 1.516 propriedades visitadas dentro dos
10 km de raio previstos, foram encerradas as ações do entorno do foco.

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ENTERITE NECRÓTICA EM FRANGOS DE CORTE

Dino Garcez
M.V. M.Sc.
Consultor técnico/DGbioss, [email protected]

A enterite necrótica (EN) é a uma doença entérica de distribuição global


causada por Clostridium perfringens (CP), que pode apresentar-se tanto na
forma clínica como subclínica e que historicamente gera perdas econômicas
significativas para a avicultura comercial. Embora percebida como menos
relevante atualmente, a EN ainda é considerada uma ameaça global e seu
ressurgimento é previsto em sistemas de produção avícola de crescimento
lento e livres de antibióticos melhoradores de desempenho (AMDs) pois
apresentam um maior risco de ocorrência desta enfermidade.
Em frangos de corte, os surtos de EN em frangos de corte são mais
frequentes ao redor da quarta semana de idade, na sua forma clínica a
mortalidade aumenta subitamente podendo chegar a 5%-15%, sem que haja
sinais prévios evidentes. A forma subclínica de CP é mais prevalente que a
clínica, gerando as maiores perdas econômicas à indústria avícola. Nesta
forma, ocorrem danos crônicos à mucosa intestinal que levam à diminuição
da digestão e absorção de nutrientes, e, portanto, afetam o desempenho
zootécnico, o rendimento no abatedouro e o bem-estar animal. Estima-se que
a EN gere prejuízos econômicos da ordem de U$ 6 bilhões a nível mundial (E.
Dierick, et al., 2023).

Desempenho
zootécnico

Perdas de U$
6 bilhões/ano

Bem-estar Condenações

Figura 1. Impacto econômico das clostridioses em frangos de corte.

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Neste manuscrito serão abordados aspectos relacionados à


caracterização do CP, os fatores predisponentes à sua ocorrência bem como
as principais formas de prevenção e controle empregadas no Brasil.

O Clostridium perfringens
O CP é um bastonete, GRAM positivo (G+), anaeróbio estrito e formador
de esporos. É ubíquo na natureza, podendo ser encontrado na água, no solo,
na poeira, no ar e trato intestinal de seres humanos e animais sadios. Além
disso, é termo resistente sendo que seus esporos podem resistir a uma
temperatura de até 100 °C durante mais de uma hora.
Aves acometidas por EN apresentam contagem de CP entre 106 e 108
UFC/g (Unidades Formadores de Colônia por grama) de conteúdo intestinal,
mas isso por si não é capaz de gerar doença, uma vez que nem todas as cepas
são patogênicas. Assim, para que ocorram lesões intestinais são necessários
a presença de cepas virulentas geralmente clonais bem como de fatores
predisponentes simultaneamente.
Entre os fatores de virulência de maior importância podemos citar as
toxinas, bacteriocinas, enzimas e adesão à matriz extracelular. A presença de
aminoácidos, fatores de crescimento e vitaminas são essenciais para seu
desenvolvimento.

Toxinas
Historicamente os isolados de CP foram classificados em cinco tipos (A,
B, C, D e E) dependendo da toxina produzida que pode ser alfa, beta, épsilon ou
iota. Isolados do tipo A (produzem toxina alfa – lecitinase) são os mais
comumente encontrados em casos de EN. Esta toxina causa hemólise,
contração dos vasos sanguíneos, agregação plaquetária e disfunção
miocárdica, o que pode levar à morte aguda. Já a toxina beta induz necrose
hemorrágica da mucosa intestinal. Mais recentemente, outros tipos foram
introduzidos (F e G), sendo o tipo F produtor de enterotoxina e o tipo G produtor
da toxina NetB, a qual representa um fator de virulência crítico na
patogenicidade de EN em aves. Esta toxina causa arredondamento e lise
celular in vitro sendo que o seu gene foi identificado em 95% dos casos (39/41)
em um surto de EN em frangos de corte no Canadá.

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Bacteriocinas
São compostos tóxicos proteicos produzidos por bactérias que
geralmente inibem o desenvolvimento de cepas relacionadas. A produção de
bacteriocinas por cepas virulentas de CP no intestino reduz a população de
cepas da mesma espécie e que competem por nutrientes.

Enzimas
Foi demonstrado que isolados de CP de casos clínicos de campo
secretam potentes enzimas colagenolíticas que causam lesões as vilosidades
na membrana basal e nas laterais dos enterócitos (tigh junctions) as quais se
estendem até a lamina própria e por fim, até o epitélio. Além disso, pesquisas
recentes demonstraram o importante papel das quitinases (ChiA e ChiB)
durante a colonização precoce por cepas de CP virulentas, as quais se
relacionam com a sua nutrição e a adesão ao epitélio intestinal
respectivamente.

Adesão
Tem sido reportado que o CP é capaz de se aderir a moléculas da matriz
extracelular no intestino (colágenos tipo III, IV e fibrinogênio), que
normalmente são expostas em situações em que há danos teciduais como os
causados por Eimeria spp.
Em resumo, a necrose de coagulação ocorre frequentemente no topo dos
vilos, estendendo-se da superfície do epitélio à lâmina própria. Junto das
lesões é possível encontrar uma quantidade abundante de CP aderidos à
superfície das regiões lesionadas. A destruição parcial da mucosa intestinal
contribui não apenas para uma maior adesão como, também, para um maior
extravasamento de proteínas, este maior fornecimento de substrato favorece
a sua multiplicação, e uma maior produção de toxinas e seu acesso aos sítios
de ação.

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Fatores predisponentes da EN
Sanidade
Danos nas microvilosidades causados por coccídeas (E. maxima, E.
acervulina), liberam proteínas plasmáticas no lúmen do trato intestinal que
servem como substrato para CP. Além disso, a ativação da imunidade celular
mediada por linfócitos T aumenta a produção de muco cujo componente a
mucina também se apresenta como substrato. De maneira similar, lesões
causadas por micotoxinas (fumonisina e deoxinivalenol - DON) aumentam a
permeabilidade intestinal. Além disso, agentes imunossupressores como o
vírus da anemia aviária, o vírus de Gumboro e o vírus de Marek podem
aumentar a severidade da doença.

Nutrição
• Dietas com alta concentração de proteínas de baixa digestibilidade.
• Ração com baixa granulometria (DGM<700 micras).
• Pellets com tamanho de partículas desuniformes (grossas e/ou finas
>25%).
• Dietas à base de trigo, centeio e cevada o que aumenta a viscosidade
do conteúdo intestinal.
• Matérias-primas da ração contaminadas, principalmente farinhas de
penas, de carne, de vísceras e de peixe.
• A retirada AMDs e/ou dos anticoccidianos da ração sem os devidos
ajustes na nutrição, manejo e sanidade.

Manejo
• Falhas de ambiência (má ventilação, cama úmida).
• Aumento da densidade populacional (> 42 kg/m²) sem que haja
melhorias de ambiência.
• Cama contaminada (ex. carcaças não recolhidas).

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Sinais clínicos em frangos de corte


A evolução da doença é rápida e aguda, com alta mortalidade (5% e 15%)
sem apresentar sinais específicos podendo persistir por cerca de 10 a 14 dias
se o lote não for medicado. Causa severa apatia, diminuição de apetite, penas
arrepiadas, fezes líquidas com coloração escura podendo aparecer manchas
de sangue. Além disso, verifica-se desidratação intensa e escurecimento da
musculatura peitoral. As aves afetadas cronicamente apresentam edema,
hemorragias e necrose de membros posteriores.

Lesões macroscópicas no intestino


A principal característica da EN é o desenvolvimento de fibronecrose
multifocal com desprendimento da mucosa intestinal que forma uma
pseudomembrana de coloração verde amarelada, denominada de “toalha
turca”. Além disso, pode estar acompanhada de outros achados tais como
distensão das alças intestinais por gás, fibrina, petéquias e placas de Peyer
hemorrágicas. Já os quadros subclínicos apresentam úlceras focais na
mucosa intestinal com presença de material opaco e amorfo.

Lesões em outros órgãos


• Congestão dos vasos sanguíneos do fígado, baço, coração e rins,
especialmente em animais moribundos.
• Petéquias e equimoses nos músculos das coxas e peito.
• Sufusões no pró-ventrículo e moela.
• Necrose na mucosa da moela.
• Colangiohepatite.

Diagnóstico
O diagnóstico é realizado através da análise do histórico da mortalidade
do lote, dos sinais clínicos e achados de necropsia associados com a
histopatologia onde se verificam as lesões microscópicas características.
Também pode ser realizada sorologia (ELISA) para detecção da toxina bem
como isolamento do agente que é feito a partir do conteúdo intestinal (raspado
da mucosa ou Placas de Peyer hemorrágicas). Mais recentemente, foi
introduzido o PCR para detecção de genes que codificam toxinas, e que pode
ser realizado a partir de amostras de conteúdo intestinal e/ou excretas.

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Lesões microscópicas
Nos casos de enterites verifica-se fusão das vilosidades intestinais e
hiperplasia das células caliciformes, que são as células produtoras de mucina,
principal componente do muco. O processo inflamatório é caracterizado pela
migração massiva de heterófilos para as regiões em que ocorre a necrose e
intenso infiltrado de leucócitos na lâmina basal, concomitantemente com
edema, hiperemia, congestão e hemorragia da lâmina própria, submucosa e
serosa.

Controle e prevenção
Antibióticos terapêuticos
O controle da mortalidade durante surtos é realizado através da
administração de antibióticos via água de bebida ou ração, dentre os principais
antibióticos com ação contra G+ podemos citar as tetraciclinas, a tilosina e a
amoxicilina.

AMDs
Os AMDs controlam a microbiota patogênica e diminuem a disputa por
nutrientes, além de reduzirem a produção de metabólitos depressores do
crescimento das aves, assim, melhoram os índices zootécnicos (ganho de
peso, conversão alimentar e mortalidade).
Desde o banimento dos AMDs na União Europeia em 2006, o seu uso vem
sendo reduzido gradativamente a nível mundial, esta iniciativa é apoiada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa a redução da resistência
antimicrobiana (RAM). No Brasil, diversos antimicrobianos foram desconti-
nuados na última década, sendo que apenas um número reduzido de AMDs
estão permitidos pelo Ministério de Agricultura e Pecuária (MAPA) para uso
em rações. Os principais AMDs utilizados em frangos de corte bem como as
suas respectivas doses estão listados abaixo:

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• Avilamicina (2,5 a 10 ppm)


• Bacitracina (4 a 55 ppm)
• Enramicina (5 a 10 ppm – fases pré-inicial/inicial/crescimento, 3 a 5
ppm final)
• Flavomicina (1 a 2 ppm)
• Virginiamicina (5,5 a 16,5 ppm)

Anticoccidianos ionóforos
Embora sejam empregados com o objetivo de controlar as Eimerias, vale
ressaltar que os ionóforos apresentam ação antimicrobiana com baixa
probabilidade de geração de resistência antimicrobiana, portanto, auxiliam no
controle de CP de maneira direta. Assim, uma estratégia interessante é lançar
mão do uso de anticoccidianos inclusive nas fases finais de produção
observando-se as doses e períodos de carência permitidos pelo MAPA.

Probióticos
São aditivos à base de bactérias, leveduras ou fungos que alteram a
microbiota intestinal promovendo um balanço entre as diferentes populações
bacterianas benéficas que inibem o desenvolvimento de bactérias
patogênicas. Em consequência disto, aumentam a integridade intestinal,
modulam a imunidade o que se traduz em melhoria da performance zootécnica
e contribuem para uma maior inocuidade dos produtos avícolas.
Dentre os gêneros bacterianos mais utilizados como probióticos se
destacam os Bacillus spp., Lactobacillus spp. e Enteroccoccus spp. Além disso,
leveduras da espécie Saccharomyces cerevisae são utilizadas de maneira
concentrada.
Sua utilização está voltada principalmente para formar a proteção
sanitária da ave através da exclusão competitiva, do incremento da resposta
imune celular e humoral bem como da redução da permeabilidade intestinal.
Além disso, podem melhorar o desempenho zootécnico através da produção
de bacteriocinas, ácidos orgânicos que atuam diretamente sobre CP reduzindo
a sua população bem como de enzimas que aumentam a digestibilidade dos
ingredientes da ração.

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Fitogênicos
São aditivos compostos por óleos essenciais (OEs) e/ou extratos
vegetais (EVs) que apresentam efeitos antimicrobiano (bactérias, vírus e
fungos), antioxidante, anti-inflamatório e digestivo pelo estímulo à produção
de enzimas endógenas (ex. amilase). Os OEs constituem-se em complexas
misturas de substâncias voláteis, geralmente lipofílicas, cujos componentes
incluem terpenos, álcoois simples, aldeídos, cetonas, fenóis e ésteres. Quando
utilizados em rações, melhoram o desempenho animal, mas não apresentam
efeito medicamentoso, quer seja pelo princípio ativo ou por sua dosificação.
Os efeitos antimicrobianos dos óleos essenciais tais como o timol e
eugenol, ocorrem devido à danos diretos à membrana bacteriana, inibição
enzimática do seu metabolismo energético e desnaturação de certas
proteínas. O efeito digestivo verificado com o seu uso (ex. piperina) ocorre
devido ao estímulo à produção de enzimas endógenas (ex. amilase).

Controle de micotoxinas
Para que haja melhorias no controle de micotoxinas, primeiramente é
necessário um melhor entendimento dos seus mecanismos de ação, dos seus
efeitos nas aves, bem de técnicas de diagnóstico mais precisas e sensíveis.
Adicionalmente, recomenda-se o emprego de aditivos que, além de adsorvê-
las, bloqueiem os seus efeitos e que sejam capazes de biotransformá-las (ex.
inativador a base de enzimas) em compostos inócuos às aves.

Ingredientes, fatores anti-nutricionais e enzimas


Dietas baseadas em trigo, centeio, aveia e cevada podem aumentar a
incidência e a gravidade de EN, pois estes cereais apresentam altos níveis de
polissacarídeos não amiláceos (PNAs) que aumentam a viscosidade e a
produção de muco intestinal. Assim, o uso de enzimas nutricionais (ex.
xilanase), melhoram a digestibilidade destes ingredientes. Além disso,
ingredientes com altas concentrações de proteínas tais como o farelo de soja
(que contém inibidores de protease e lectinas), farinhas de peixe, carne e
farelo de ossos podem conter altos níveis de contaminação por CP.

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ARTRITES E PROBLEMAS LOCOMOTORES EM FRANGOS DE


CORTE: UMA ABORDAGEM MULTIFATORIAL

Jovanir Inês Müller Fernandes


Universidade Federal do Paraná

Introdução
“Na construção de uma casa, a fundação é a parte mais crítica. Se a
estrutura do concreto for comprometida, as paredes não ficarão estáveis,
causando rachaduras”. Da mesma forma, o esqueleto representa a base do
corpo, e os ossos devem ser fortes para sustentar todo o corpo, especialmente
os músculos. O osso é um tecido ativo que sofre remodelação contínua. A
fisiologia do osso e o seu processo de renovação são complexos e envolvem
vários mecanismos funcionando de forma coordenada. Qualquer alteração em
sua renovação fisiológica pode levar a doenças esqueléticas caracterizadas
por perda óssea, dor, dificuldade locomotora e condenações no abatedouro
por lesões secundárias.
O constante melhoramento genético tem resultado em mudanças no
crescimento e na deposição de tecido muscular, alterando a conformação da
carcaça pela maior deposição de carne de peito, movendo o centro de
gravidade dos frangos de corte para frente. Isso tem contribuído para que a
ave adapte sua postura com modificação das propriedades morfológicas,
biofísicas e mecânicas da estrutura óssea, o que afeta diretamente as regiões
proximais da tíbia e fêmur e a 4ª vertebra, ponto de sustentação do peso da
ave. Além disso, ossos crescem acompanhando a taxa de crescimento
muscular em função da gravidade que o peso vivo exerce, entretanto, não
mineralizam o suficiente até a idade de abate.
A integridade da cartilagem articular e das cartilagens da placa de
crescimento são cruciais porque o desenvolvimento desproporcional das
pernas ao corpo predispõe a lesões sob condições desfavoráveis.
Fisiologicamente, os ossos longos se desenvolvem por via de ossificação
endocondral onde as células-tronco mesenquimais formam o modelo
condrogênico e através da diferenciação dos condrócitos seguida de
diferenciação hipertrófica, resulta em suprimento sanguíneo e remodelamento
do modelo condrogênico no osso através da liberação de fatores
angiogênicos. Esse processo é dependente do aumento do gradiente nos

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níveis de oxigênio durante o processo de modulação a ossificação


endocondral, principalmente pela intensidade de crescimento das atuais
linhagens genéticas.
Dessa forma, é importante compreender que a rápida taxa de
crescimento das atuais linhagens de frangos de corte não é causa das artrites
e dos problemas locomotores, mas sim se constitui num fator de
predisposição. Isso é confirmado pela variação na ocorrência e na gravidade
dos problemas locomotores e artrites independentemente das linhagens
genéticas, regiões, clima e até de aviários de uma mesma companhia avícola.
As artrites sépticas ou assépticas e os problemas locomotores causam
dor, comprometimento do bem-estar, dificuldade locomotora, restrição de
acesso a água e ração, prostração sobre a cama, ingestão de cama e inalação
de amônia, aumento de mortalidade (eliminados), pior desempenho produtivo,
aumento das condenações no abatedouro por fragilidade óssea, dermatites/
celulites e aerossaculite. No abatedouro ainda são registradas perdas
operacionais em decorrência da redução da velocidade no abate dos frangos
devido ao aumento das condenações, além dos riscos microbiológicos
agregados ao aumento da presença de patógenos durante o processamento
dessas carcaças.
Importante considerar ainda, que os problemas locomotores
correspondem atualmente às causas mais impactantes do comprometimento
do bem-estar animal. O Brasil é o maior exportador global de carne de frango
e essa questão pode afetar a competitividade comercial para países com
normas rígidas de cumprimento do bem-estar animal.

Fatores de risco associados ao desenvolvimento de


artrites e problemas locomotores em frangos de corte
Os fatores mais relevantes que estão relacionados com os problemas
locomotores são fatores traumáticos ou mecânicos, infeciosos, nutricionais,
ambientais e relacionados ao manejo. Esses fatores podem ainda estar
associados ou ocorrer de forma isolada.
A cama de má qualidade, que não foi adequadamente manejada no
intervalo entre lotes, pode levar à instabilidade na locomoção do pintainho pela
presença de cascões e desnivelamentos e resultar em microfraturas e fendas
em áreas de crescimento ósseo nas extremidades dos ossos longos como
tíbia e fêmur. Por outro lado, camas úmidas, podem predispor às lesões de

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coxim plantar, as pododermatites, que além de provocar dor, são portas de


entrada para bactérias e virus presentes na cama. O aumento na umidade nas
camas pode ser resultado da baixa digestibilidade da dieta (granulometria
inadequada, micotoxinas, fatores antinutricionais, agentes patogênicos), da
ambiência inadequada (manejo de placas evaporativas, ventilação, estresse
térmico) e das disbacterioses, que alteram a estabilidade da microbiota
intestinal, comprometendo a funcionalidade da mucosa intestinal. Bactérias
oportunistas podem atravessar a barreira epitelial intestinal través das
junções firmes entre as células e por meio da via hematogênica chegam até
às microfraturas e fissuras osteocondróticas na extremidade proximal do
fêmur e da tíbia, contribuindo com o quadro de necrose e degeneração das
áreas de metáfise dos ossos longos. Devido a dor e a dificuldade locomotora,
as aves passam a ficar mais tempo sentadas, em decúbito, o que compromete
ainda mais a circulação sanguínea nas áreas de crescimento ósseo,
contribuindo com a isquemia e necrose.
Importante destacar, que esses distúrbios podem resultar em alterações
da angulação dos ossos longos e contribuir para o rompimento de ligamentos
e tendões e a ocorrência de artrites assépticas.
Além desses fatores, a identificação de cepas bacterianas e virais mais
patogênicas e virulentas que eram consideradas comensais, podem estar
envolvidas na ocorrência e agravamento dos problemas locomotores e
artrites. O surgimento dessas cepas pode estar relacionado com a pressão de
seleção de microorganismos resistentes pelo uso sem critérios de antibióticos
terapêuticos e o manejo inadequado. Nessa situação, a troca de genes de
resistência entre bactérias do ambiente por meio de elementos genéticos
móveis contribui para a manutenção dessas bactérias portadoras de genes de
patogenicidade, de alta virulência e de resistência aos antibióticos de um lote
para outro. Além disso, o curto período de intervalo entre lotes, o aumento da
densidade de alojamento e os erros de manejo, mantém essas cepas mais
resistentes e mais patogênicas que podem acometer as aves e resultarem em
diferentes manifestações de lesões e comprometimento do sistema
locomotor.
Outro fator relevante, é o aumento da taxa metabólica das atuais
linhagens de frangos de corte, que pode levar a variações fisiológicas
significativas e ao estresse imunológico e consequentemente quadros de
imunodepressão podem contribuir no aumento da multiplicação e
disseminação de vírus e bactérias e a ocorrência de surtos das mais diversas
doenças infecciosas nas aves de produção.

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Estudos recentes têm demonstrando uma ocorrência crescente de


reovirus em aves de produção em diferentes locais do mundo. Os reovírus têm
sido isolados de diferentes tecidos de aves afetadas por várias doenças,
incluindo artrite/tenossinovite viral, síndrome da má absorção, doenças
respiratórias e entéricas e imunossupressoras. Nos frangos de corte, a
tenossinovite/artrite viral é a forma mais reconhecida de doença associada
aos reovírus, e também uma causa significativa de dificuldade locomotora,
que leva a perda econômica nas granjas e ao aumento das condenações nos
abatedouros. Tenossinovite/artrite, é predominantemente um problema em
frangos de corte, e é caracterizada por claudicação e inchaço da articulação
do jarrete. Estudos de inoculação in vivo descreveram que as primeiras
alterações observadas após a inoculação do vírus pelo coxin plantar são na
articulação tibiotársica com presença de infiltrado inflamatório mononuclear
e heterofílico na bainha tendinosa do flexor digital, iniciando uma semana após
a exposição. O que novamente demonstra o impacto negativo da umidade da
cama e as lesões plantares como porta de entrada de vírus e bactérias.

Eixo intestino – tecido ósseo: nutrição, diálogo


imunológico e translocação
A saúde intestinal e a saúde óssea estão em conexão por mecanismos
principalmente que envolvem a microbioma intestinal e a comunicação com
as células ósseas. O equilíbrio e estabilidade da microbiota intestinal
influencia diretamente a homeostase óssea. Um dos mecanismos que vem
sendo estudado, é o papel da microbiota sobre a regulação da homeostase do
sistema imune intestinal. Alterações na composição da microbiota intestinal
podem ativar o sistema imunológico da mucosa, resultando em inflamação
crônica e lesões na mucosa intestinal. A ativação do sistema imunológico
pode levar a produção de citocinas pró-inflamatórias e alteração na população
de células imunes que são importantes para manter a homeostase orgânica e
controlar os processos inflamatórios decorrentes, mas simultaneamente
podem reduzir os processos anabólicos como a formação óssea. Isso porque
os precursores osteoclásticos derivam da linhagem monócito/macrófago,
células de origem imunitária. Consequentemente, o sistema imunológico
medeia efeitos poderosos na renovação óssea. As células T ativadas e as
células B secretam fatores pró-osteoclastogênicos, incluindo o ativador do
receptor de fator nuclear kappa B (NF-kB), o ligante do receptor ativador do
fator nuclear kappa B (RANKL), interleucina (IL) -17A e fator de necrose
tumoral (TNF-α), promovendo perda óssea em estados inflamatórios.

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Um dos problemas locomotores emergentes na avicultura é a


degeneração e necrose da área da metáfise dos ossos longos, com perda de
trabéculas ósseas e em alguns casos são isoladas bactérias que podem ter
origem intestinal, por translocação da barreira epitelial intestinal, se
instalando nas áreas lesionadas. Qualquer desvio da manutenção de um
ambiente homeostático no intestino pode levar à translocação bacteriana
através do sangue seguido pela proliferação de bactérias patogênicas nos
respectivos órgãos, incluindo ossos.
A osteocondrose é um defeito na ossificação endocondral em cartilagem
epifisária que resulta em focos de necrose da cartilagem; retenção de
cartilagem na a metáfise, ou fenda e formação de bordas na cartilagem que
poder resultar em condronecrose e osteomielite. A BCO (condronecrose
bacteriana com osteomielite) é comumente observada na extremidade
proximal do fêmur e tíbia e nas vértebras torácicas. Inicialmente, é observada
a formação de microfraturas e fendas que pode estar relacionada ao rápido
crescimento e deposição muscular sobre ossos ainda imaturos e, portanto,
com mineralização incompleta. Alterações histológicas na região epifisária da
placa de crescimento devido a BCO levam à transecção de capilares e vasos
sanguíneos dentro da região epifisária altamente vascularizada, que leva a
diminuição do fluxo sanguíneo para as áreas ao redor dessa região. Essa
condição permite que as bactérias circulantes entrem e proliferem, juntamente
com a as células de resposta imunológica levando a danos nos tecidos como
a formação de abscessos necróticos e a perda de trabéculas ósseas pelo
aumento da reabsorção óssea.
Além disso, a BCO está frequentemente associada a dificuldade
locomotora que resulta no decúbito do frango sobre a cama, cuja posição
afeta a circulação sanguínea dos ossos longos, levando à isquemia focal e
áreas de necrose, proporcionando um ambiente propício para a colonização
bacteriana. Outro fator associado ao eixo intestino-osso, é a alteração das
condições da cama do aviário pela maior liberação de substrato, muco e
umidade quando a integridade intestinal é comprometida. Camas úmidas e
com aumento de substrato podem contribuir no desenvolvimento de
microbiota patogênica, além de afetar a saúde dos pés, pele e trato
respiratório, e impactar a saúde óssea.
A infecção por Eimeria spp. intensifica os problemas de saúde óssea,
devido a severidade das lesões na mucosa intestinal, a ativação do sistema
imune a produção de citocinas inflamatórias, perturbação no microbioma
intestinal e piora nos processos digestórios e absortivos, o que reduz a o

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fornecimento de nutrientes como cálcio, fósforo, vitamina D e outros


microelementos para o desenvolvimento ósseo, além do desvio energético e
proteico para os processos de regeneração da mucosa intestinal e a
proliferação celular.
As perdas económicas associadas às doenças ósseas resultantes das
doenças gastrointestinais e o possível mecanismo, além da redução da
ingestão de alimentos que leva a perda óssea nessas condições não foi
totalmente compreendido. A resposta ao estresse oxidativo e inflamação no
ambiente intestinal, causados pela perturbação da microbiota e perda da
funcionalidade da mucosa intestinal pode levar à inibição da mineralização e
osteogênese e ativação do processo de reabsorção óssea, causando
subsequentemente perda óssea e mudanças nas propriedades biomecânicas
do osso.
Portanto, é crucial compreender a complexa relação entre doenças
gastrointestinais, resposta imunológica, e distúrbios esqueléticos em aves
para desenvolver estratégias de intervenção eficazes para controlar e prevenir
estas condições, promovendo, em última análise, a saúde e o bem-estar dos
frangos de corte.

Enterococcus: um velho inimigo, um novo desafio


Enterococcus são bactérias comumente encontradas no meio ambiente
e fazem parte da microbiota normal do trato intestinal de humanos e animais,
incluindo aves. O gênero Enterococcus foi inicialmente descrito em 1983 como
um membro comensal da microbiota intestinal de aves adultas (Gallus gallus
domesticus). No entanto, nos últimos 15 anos, cepas patogênicas de
Enterococcus emergiram como uma causa importante de doenças
esqueléticas em frangos de corte e matrizes. Surtos de Enterococcus
patogênicos em aves comerciais foram inicialmente descritos em 2002 na
Escócia e na Holanda, seguidos de relatos de surtos patogênicos em outros
países ao redor do mundo. No Basil, recentemente, os pesquisadores da
Universidade Estadual de Londrina isolaram cepas patogênicas de E. faecalis
e reproduziram a osteomielite vertebral e a necrose em cabeça do fêmur
através da inoculação oral e pelos sacos aéreos das aves de cepas isolados
de lotes comerciais de frangos de corte.

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Embora as espécies Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium


dominem amplamente a microbiota intestinal enterocócica de pintinhos de um
dia de idade, Enterococcus cecorum é mais frequente em frangos de corte e
poedeiras adultas e os distúrbios locomotores e septicemia em frangos de
corte são atribuídos principalmente a E. cecorum. Já as cepas de E. faecalis e
E. faecium causam onfalite em pintos jovens devido à contaminação fecal dos
ovos ou à transmissão por aerossol ou oral e podem estar envolvidos em
lesões de pele.
A característica mais marcante da infecção por E. cecorum patogênico é
a paralisia devido a uma massa inflamatória que se desenvolve na coluna
vertebral ao nível da vértebra torácica livre, a espondilite enterocócica.
A dificuldade locomotora associada às cepas patogênicas de E. cecorum
pode estar associada também a condronecrose com osteomielite da região
proximal do fêmur e tíbia (epífise e metáfise). E. cecorum patogênico pode ser
isolado em cultura de lesões nesses locais, assim como pode estar associado
ás lesões de sinovite e artrite nas articulações coxofemorais, do joelho e do
jarrete, que são caracterizadas pela presença de exsudato amarelo-opaco e
distensão do espaço articular e aglomerados de fibrina.
Entretanto, as lesões de condronecrose, osteomielite em fêmur e tíbia,
sinovite e artrite devido à infecção por E. cecorum são semelhantes a lesões
causadas por outros agentes infecciosos. É necessária investigação
laboratorial para reconhecer essas lesões em decorrência de um surto de E.
cecorum.
O papel da imunossupressão, bem como de outros potenciais
comorbidades, ainda não foi descrita na patogênese das infecções por E.
cecorum. Apesar de não haver comprovação de uma correlação direta entre
lesões na barreira intestinal e lesões ósseas por E. cecorum, danos na barreira
intestinal, devido a outras bactérias patogênicas, como E. coli ou parasitas
como Eimeria spp., aumenta a prevalência e a gravidade de surtos de
ocorrência das patologias ósseas associadas ao E. cecorum.
Apesar da rápida emergência global deste patógeno, e vários trabalhos
sobre o assunto, o mecanismo pelo qual E. cecorum patogênico se espalha
dentro da cadeia avícola de frangos de corte, não é completamente elucidado.
A transmissão horizontal de cepas patogênicas dentro do lote é rápida, tanto
fecal-oral quanto por inalação. Bactérias do gênero Enterococcus são
especialmente resistentes à secagem e dessa forma é possível uma infecção
através de partículas de poeira inaladas provenientes da cama contmainada.

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No entanto, como as cepas comensais de E. cecorum fazem parte da


microbiota fisiológica das aves, o trato intestinal é a rota mais provável de
infecção para E. cecorum patogênico. Assim, é relevante entender os
mecanismos que E. cecorum emprega para escapar do intestino e translocar
para a via hematogênica e alcançar outros tecidos e provocar as lesões.
O papel da vertical transmissão na disseminação de E. cecorum
patogênico não tem ainda comprovação e aparentemente, as matrizes não
transferem a bactéria para os ovos ou embriões. Apesar disso, cepas de E.
cecorum foram isolados de sacos vitelinos de aves assintomáticas, e somente
às 4 semanas de idade apresentaram lesões esqueléticas compatíveis com as
observadas com a ocorrência de E. cecorum.
Outro fator relevante é que foram isoladas cepas de E. cecorum em lotes
de frangos de corte com histórico de mortalidade por sepse por volta de 2 a 3
semanas de idade. As lesões macroscópicas observadas incluíam pericardite,
perihepatite e esplenomegalia. Uma vez que as lesões macroscópicas de
septicemia patogênica por E. cecorum são quase idênticas às observadas em
outras infecções bacterianas sistêmicas, como a colibacilose, é necessário
um isolamento laboratorial para um diagnóstico preciso.
Vale ressaltar que a incidência de bacteremia em um lote de frangos
aumenta durante todo o período de crescimento, com E. cecorum patogênico
presente no baço de mais de 80% das aves com 6 semanas, indicando que as
aves mesmo tratadas não eliminam prontamente a infecção.
No trato intestinal dos frangos de corte, cepas comensais de E. cecorum
estão ausentes nos pintinhos de 1 dia de idade. Em contraste, cepas
patogênicas de E. cecorum são micoorganismos pioneiros que colonizam os
intestinos de pintinhos, diminuindo então a prevalência à medida que E.
cecorum comensal se estabelece.
Dessa forma, é importante um diagnóstico diferencial, já que E. cecorum
comensal e patogênico podem ocupar o nicho intestinal simultaneamente, a
contaminação das culturas das lesões por E. cecorum é possível. Assim, a
triagem da virulência é necessária para a categorização precisa de E. cecorum
como comensal ou patogênico.
A identificação dos genes de virulência através de técnicas de PCR é
importante considerando que além do E. cecorum estar envolvido com os
problemas locomotores das aves, essa bactéria tem sido associada a
patologias em humanos como endocardite, septicemia, peritonite e infecções
locais ou do trato urinário em pessoas com comorbidades.

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Dessa forma, a resistência antimicrobiana em E. cecorum tem


implicações importantes para a saúde humana e animal. Apesar de não ter
sido ainda demonstrada, uma ligação direta entre infecção humana e de frango
por E. cecorum patogênico, cepas multirresistentes de E. cecorum patogênico
já foram recuperadas de lesões em frangos inteiros comercializados nos
supermercados. É importante considerar o papel na propagação e dissemi-
nação de resistência antimicrobiana. Enterococcus spp. são conhecidos pelo
compartilhamento frequente de genes de resistência antimicrobiana e de
virulência via plasmídeos conjugativos e transposons, não apenas entre
diferentes espécies de Enterococcus, mas também entre diferentes gêneros.
Portanto, cepas de E. cecorum patogênicas, que também são multirresis-
tentes, podem ser um importante reservatório de resistência antimicrobiana,
com potencial impacto para saúde humana e animal.

Medidas de controle e prevenção para reduzir a ocorrência


de artrites e problemas locomotores em frangos de corte
O maior desafio atual da avicultura é a manutenção de um ambiente
adequado e saudável que permite a expressão do comportamento das aves,
atenda o bem-estar, a saúde e a produtividade das aves. As aves respiram,
comem (ração e cama) e bebem, portanto, diminuir a carga de microorga-
nismos patogênicos e antígenos que possam perturbar a homeostase do
sistema imune de mucosas contribui não só para a redução de problemas
locomotores e artrite, como também para a redução de outras condições que
afetam o bem-estar das aves, a produtividade e a rentabilidade da cadeia
avícola.
Desta forma, as medidas de controle e prevenção para reduzir a
ocorrência de artrites e problemas locomotores são basicamente as mesmas
previstas nos programas sanitários que as empresas e agroindústrias aplicam
para reduzir a ocorrência de qualquer enfermidade ou distúrbio. É importante
que os programas sanitários sejam pautados em dados históricos de cada
cooperativa ou agroindústria da ocorrência desses problemas para que seja
possível a interpretação e entendimento dos fatores envolvidos e traçadas
estratégias mais especificas e assertivas no controle.

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É extremamente importante a definição de um programa preventivo no


controle da coccidiose, associado às estratégias de modulação do micróbio-
ma intestinal, visando a manutenção da integridade e saúde do epitélio
intestinal e, consequentemente, maximizar a digestão e absorção de
nutrientes, buscando obter melhores resultados zootécnico e financeiros
Além da adoção de estratégias sanitárias, nutricionais e ambientais, deve
haver um comprometimento coletivo de todos os envolvidos com a cadeia
avícola.
Na fábrica de ração devem ser implantados e acompanhados programas
de qualidade em todas as etapas de fabricação e de processamento. A
nutrição tem papel fundamental em prover nutrientes para o crescimento
ósseo. É importante que os níveis nutricionais sejam ajustados à necessidade
das aves e aos processos de fabricação de ração. Um desafio é fazer com que
esses nutrientes cheguem até o osso. A baixa digestibilidade dos ingredientes,
granulometria inadequada, ocorrência de micotoxinas, fatores antinutricionais
e agentes patogênicos presentes nos ingredientes podem levar às falhas nos
processos de digestão e absorção e em agressão à mucosa intestinal,
resultando em sobras de substratos que podem desestabilizar e romper a
homeostase do microbioma intestinal, contribuindo com a proliferação das
bactérias patogênicas. O aumento, principalmente de proteína não digerida e
resultante do aumento do turnover celular da mucosa intestinal, leva a
putrefação e a produção de substâncias e moléculas (aminas biogênicas,
ácidos graxos de cadeia ramificada, amônia, indol, escatol) que afetam a
funcionalidade da mucosa intestinal. Além da redução da absorção de
nutrientes, ocorre aumento da permeabilidade intestinal, ativação do sistema
imunológico do hospedeiro, translocação bacteriana e liberação de citocinas
pró-inflamatórias como TNF-α, IL-6, IL-11 e IL-17, que podem ativar a
osteoclastogênese e aumentar a reabsorção óssea, principalmente das
trabéculas, localizadas nas regiões proximais dos ossos longos.
As estratégias de controle devem ser aplicadas ainda nos matrizeiros,
visando a qualidade da casca do ovo, a transferência de nutrientes para o
embrião e o controle sanitário. A abordagem mais crítica que pode controlar a
tenossinovite/artrite viral associada a infecções por reovirus é a vacinação
das matrizes, reduzindo assim o potencial de transmissão e pode fornecer à
progênie proteção materna por meio dos anticorpos que protegem contra as
atuais cepas de campo.

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No incubatório, estudos precisam ser desenvolvidos buscando


oportunidades de melhoria no desenvolvimento do tecido ósseo, além de
melhorias nos processos que o pintainho recém eclodido é submetido. Na
eclosão, os pintainhos apresentam placas de crescimento ósseo espessas e
frágeis e ossos fino e porosos. O período logo após a eclosão é um estágio
crítico para o desenvolvimento ósseo e por isso as práticas realizadas no
incubatório devem prevenir lesões mecânicas e amenizar estressores e
contaminações que possam impactar o crescimento e a mineralização óssea.
Somado a isso, o tempo e a qualidade do transporte dos pintainhos até as
granjas podem ser fatores primários da ocorrência de problemas locomotores
em frangos de corte.
No alojamento, é necessário adotar estratégias que minimizem os
impactos sobre essas estruturas ósseas frágeis e oferecer um ambiente
adequado que permite o estabelecimento de uma microbiota simbiótica, uma
vez que o pintainho não é colonizado pela transferência da microbiota
materna, a exemplo de outras espécies.
Nos aviários, os pintainhos devem ter acesso a ração e água, temperatura
de conforto e camas secas, trituradas e aquecidas. A presença de cascões
causa instabilidade nas articulações de ossos longos, ainda com grande
quantidade tecido cartilaginoso. O manejo da cama e do ambiente das aves se
constituem no maior desafio que precisa ser enfrentado. Com as constantes
melhorias genéticas, o aumento da taxa de crescimento e da taxa metabólica
das aves vêm acompanhado do aumento do consumo de ração, da produção
de gases e da excreção de água. A cama retém esses substratos, os quais são
metabolizados pela microbiota, alterando o perfil e a diversidade, gerando
ainda mais umidade e amônia. A umidade excessiva contribui com a ocorrên-
cia direta dos problemas locomotores e artrites, enquanto que a amônia é o
principal agressor da mucosa respiratória, predispondo a ocorrência de
aerossaculite e outros problemas respiratórios. Importante considerar que os
sistemas de mucosa, respiratório e gastrointestinal, se comunicam, com
trocas de moléculas, citocinas inflamatórias e agentes patogênicos, que
podem afetar o crescimento e mineralização óssea.
A altura das linhas dos bebedouros nipple, assim como a pressão e
vasão, são fatores que podem comprometer a saúde das placas de
crescimento dos ossos, devido ao esforço para beber água. O manejo do
ambiente das aves, a qualidade do ar e água são fatores fundamentais para
controlar a diversidade e a carga microbiológica e eliminar organismos

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competitivos e promover a manutenção da estabilidade do microbioma


simbiótico no ambiente intestinal da ave.
O maior número de aves por metro quadrado implica em maior volume
de excretas, maior umidade na cama e pior qualidade do ar, fatores fortemente
associada á ocorrência dos problemas locomotores e artrite. A avaliação da
ocorrência de pododermatite no abatedouro pode ser um indicativo da decisão
de redução da densidade de alojamento. Portanto, a densidade populacional
de um aviário deve ser muito bem calculada e dimensionada levando em conta
a capacidade de manter o ambiente em torno da ave adequado para o seu bem-
estar, comportamento natural, produtividade e saúde.
As medidas de avaliação e controle a serem adotadas pelas empresas
devem iniciar primeiramente com a avaliação do nível de comprometimento
do andar das aves e em seguida, essas informações em combinação com o
monitoramento de patologias e a coleta de informações dos fatores de risco
e pontos de controle devem ser copiladas, para que sejam tomadas as
decisões sobre o manejo, programas de biossegurança, higiene, nutrição e
tratamento terapêutico, caso necessário.

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BIOSSEGURIDADE E DESEMPENHO TÉCNICO ESTÃO


ASSOCIADOS?

Isabella Lourenço dos Santos


Médica veterinária, gerente executivo saúde animal BRF

A avicultura brasileira é reconhecida hoje como uma das atividades mais


desenvolvidas e com índices de produtividade competitivos quando
comparamos com as demais produções agropecuárias. E esse destaque só foi
possível, dentre vários motivos, pelos programas de qualidade implementados
em todos os elos da cadeia produtiva.
As Boas Práticas de Produção para a cadeia produtiva de Aves são uma
das formas de garantir o padrão de qualidade exigido pelo mercado interno e
externo e o setor tem uma preocupação genuína que vai desde a escolha da
genética, nutrição, manejo, biosseguridade, rastreabilidade, até os programas
de bem-estar animal e de preservação do meio ambiente. Somente com a
junção de vários procedimentos implementados e definidos obtém-se
produtos seguros para consumo.
Inserido nas boas práticas de produção temos os programas de
biosseguridade. Podemos definir o conceito de biosseguridade como um
conjunto de práticas de manejo que são adotadas para impedir ou minimizar
a entrada e transmissão de agentes patogênicos e seus vetores nas granjas
de aves.
Para manutenção da produtividade e desempenho zootécnico dos lotes
os padrões de biosseguridade são uma das principais ferramentas para
garantirmos o status sanitário dos plantéis. E esse programa engloba não
somente os conceitos conhecidos por todos com relação aos elos da
biosseguridade, mas também, a garantia de um ambiente adequado, água e
ração de qualidade, cama seca e sem incrustações e instalações capazes de
promover o conforto térmico e formas de dissipação de calor adequadas para
as aves.

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Figura 1. Componentes básicos para manutenção de um bom programa de biosseguridade.

Por isso é sempre importante aplicar os conceitos de biosseguridade e


garantirmos que sejam cumpridos todos os padrões necessários, como por
exemplo:
• Controle de pessoas, veículos e materiais e equipamentos em geral
que adentram o sistema de produção.
• Barreiras físicas e artificiais de isolamento (cordão perimetral de
árvores ou arbustos plantados ao redor do sistema de produção).
• Monitoramento da saúde do lote e administração de medicamentos
quando necessário conforme orientação veterinária e com os
registros sempre atualizados.
• Controle de vetores: moscas, ratos, cascudinho, insetos em geral.
• Limpeza, desinfecção e procedimentos de intervalo e vazio sanitário,
etc...
Importante salientar que as ferramentas de biosseguridade quando
implantadas e cumpridas de forma efetiva, vão além de um bom resultado ou
de animais saudáveis, elas também são capazes de impedir riscos de
contaminação e assegurar a qualidade e segurança alimentar de todos os
consumidores. Com consumidores cada vez mais exigentes e mercados
altamente disputados, a qualidade e a segurança alimentar se tornaram itens
fundamentais para a competitividade e produtividade Brasileira.

Homeostase e produtividade
Homeostasia [Homeo, igual; stasia, estado] é o termo empregado para
significar a tendência de os sistemas biológicos resistirem a mudanças e
permanecerem em estado de equilíbrio, ou seja, atender os padrões
fisiológicos é permitir que o potencial genético seja expresso, gerando

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produtividade e altos índices de desempenho zootécnico. Nesse sentido,


evitar gastos de energia desnecessários durante o processo de criação é
fundamental para o melhor desenvolvimento dos lotes.
De forma conectada os conceitos de manejo e biosseguridade, tem total
influência no desenvolvimento adequado dos animais. E esse desenvolvi-
mento consiste no correto desenvolvimento do trato digestório, sistema de
termorregulação, sistema imune, sistema locomotor dentre outros, que
permitem que o animal possa obter uma vida saudável até o final do seu ciclo
produtivo.
Os sistemas mais intensivos, embora tragam vantagens importantes sob
o ponto de vista produtivo e maior controle das variáveis ambientais, exigem
dos produtores e técnicos da área, maior conhecimento das variáveis da
produção e maior atenção sobretudo ao tema ambiência. Ambiência é um
conceito que tem como objetivo a busca do equilíbrio das diferentes variáveis
ambientais e suas interações com os animais. Dentre os aspectos de manejo,
sem sobras de dúvidas, é a principal fronteira de alavancagem de performance
dentre os aspectos de manejo em geral, porém, por outro lado, as falhas
associadas a não execução do programa de biosseguridade são suficientes
para desencadear uma série de respostas que comprometem significativa-
mente o resultado dos lotes.

O conceito da Rríade Epidemiológica na avicultura


Levando em consideração o sistema produtivo como todo, é importante
o entendimento com relação ao conceito da Tríade Epidemiológica, este é o
modelo tradicional de causalidade das doenças transmissíveis; nesse, a
doença é o resultado da interação entre o agente, o hospedeiro suscetível e o
ambiente.
Os agentes podem ser infecciosos ou não infecciosos e são necessários,
mas nem sempre suficientes, para causar a doença. Os agentes não
infecciosos podem ser químicos ou físicos. Os fatores do hospedeiro são os
que determinam a exposição de um indivíduo, sua suscetibilidade e
capacidade de resposta e suas características. Por último, os fatores
ambientais englobam características do ambiente. Sendo assim, para que
ocorra o equilíbrio entre todos esses elos, mais uma vez os componentes do
programa de biosseguridade e o manejo produtivo são fundamentais para
melhores índices produtivos.

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Figura 2. Componentes da Tríade Epidemiológica.

Qualquer fator que desencadeia um desequilíbrio, seja do ambiente, do


agente ou do hospedeiro irá propiciar respostas e gastos energéticos, como
tentativas para o restabelecimento da homeostase. Mas há que custo?

Pontos críticos no programa de biosseguridade e a


correlação com desempenho
Sabendo que o ambiente, o hospedeiro, e os agentes estão inseridos em
um mesmo processo e a modulação e interferência entre os sistemas irão
caracterizar a perda de desempenho, e os processos infecciosos ou não. É
importante compreender alguns dos fatores que irão comprometer o
desempenho dos lotes, aumentar a pressão de contaminação do ambiente, e
a predisposição de alguns agentes patogênicos as aves, sejam elas por falha
dos procedimentos de manejo ou de biosseguridade, e podemos citar:
• Controle de umidade das camas no intervalo: As rotinas de
revolvimento e tratamento de cama devem ser observadas de forma
a reduzir ao máximo possível a presença de umidade. Para isso
recomenda-se além de um tempo adequado entre lotes (mínimo 12
dias), retirada de cascões, o revolvimento e distribuição da cama em
leiras, acionamento do sistema de ventilação durante o período de
intervalo entre lotes.

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• Controle no adequado tratamento da cama: Escolha adequada do


tratamento, depende da realidade de cada empresa. Entretanto o
adequado tratamento de cama auxilia na redução da pressão de
contaminação do ambiente, para isso, é importante executar todas as
tarefas elencadas na ordem e no tempo correto.
• Controle de umidade durante o lote: Atenção a regulagem de
equipamentos, sobretudo bebedouros (vazão, altura dos
equipamentos, conservação), revolvimento da cama durante o lote
antes da formação de cascões, correta regulagem da ventilação
(taxas de renovação de ar, e regulagem de inlets quando presentes),
e espaçamento ao longo do processo de produção.
• Controle de poeira nas instalações: O processo de reaproveitamento
de cama possui diversos benefícios para a produção de aves,
entretanto o exagero no tempo de reuso de cama (acima de 3 anos),
os métodos recomendados para tratamento (quantidade de cal ou
outros produtos em pós), sazonalidade, escolha do substrato a ser
utilizado como cama podem intensificar os desafios de poeira nos
aviários. O entendimento de cada realidade e a adoção de medidas de
controle podem mitigar consideravelmente o problema.
• Controle de roedores e demais vetores: Para controlar os roedores e
outros vetores, é necessário muita atenção e conhecimento dos
hábitos de cada espécie e, principalmente, dos sinais de sua presença
nas instalações. Para o controle integrado de vetores, é necessário
envolver os conceitos de prevenção, monitoramento e controle para
avaliação e mapeamento do grau de infestação em cada propriedade.
Por fim, biosseguridade e desempenho técnico estão associados? Sim,
entretanto é importante salientar que todas as interações irão influenciar nos
índices de produtividade e no desempenho zootécnico, visto que as
ocorrências são determinadas pela interação entre agente, hospedeiro e
ambiente.
Devemos ter em mente que o estabelecimento de um programa de
biosseguridade na prática, é um investimento para proteção e sustentabilidade
do negócio a longo prazo, isso permite um trabalho contínuo de prevenção,
controle e contingência para evitar a transmissão de agentes patogênicos no
sistema produtivo, visando não só a melhoria dos resultados zootécnicos, mas
menores índices de condenação, menores mortalidades e menos pressão
sanitária no sistema como um todo.

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No entanto para o sucesso e aplicabilidade dessas medidas o


engajamento das pessoas é fator primordial, treinamentos contínuos,
monitoramento do processo e efetividade das ações que envolvem o programa
de biosseguridade que determinam o sucesso do mesmo.

Referências
ABPA. Associação Brasileira de Proteína Animal. Manual de Procedimentos de
Biosseguridade ABPA. Disponível em: http://abpa-
br.com.br/files/publicacoes/754e271259709eda82e5f4d37aa5d39f.pdf, 2017. Acesso
em: 25/03/2024
BRASIL. Ministério da Agricultura e Abastecimento. Instrução Normativa, nº 56, de 04
de dezembro de 2007. Disponível em:
http://sistemasweb.agricultura.gov.br/sislegis/action/detalhaAto.do?method=visualiz
arAtoPortalMapa&chave=1152449158. Acesso em: 25/03/2024
BRASIL. Ministério da Agricultura e Abastecimento. Legislação de Defesa Sanitária
Animal Avicultura – Programa Nacional de Sanidade Avícola. Disponível em:
https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/programa_nacional_sanidade_av
icola_000fyh51e9y02wx5ok0pvo4k3xecpyt9.pdf, 2002. Acesso em: 25/03/2024
JAENISCH, F. R. F. Aspectos de biosseguridade para plantéis de matrizes de corte.
Instrução Técnica para o Avicultor. Concórdia: Embrapa Suínos e Aves, 1991
JÚNIOR, A.; MACARI, M. Doenças das aves. Campinas: FACTA. p.283-300,2000.
SESTI, L. Biosseguridade em granjas de frangos de corte: conceitos e princípios gerais.
In: SIMPÓSIO BRASIL SUL DE AVICULTURA, 5. Chapecó. Anais...Concórdia: Embrapa
Suínos e Aves, p.55-72, 2020.
SWAYNE, D.E.; KING, D.J. Avian influenza and Newcastle disease. Journal of american
veterinary medicine association, v.222, n.11, p.1534-1540, 2019.

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