Trabalho GA - Direito Da Personalidade

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Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Fundamentos do Direito Privado

Diego Luciano Duarte


Gabriel Nikititz Angelim
Ketlyn Victoria da Silva Silveira
Luiza Trelha dos Santos
Pietro Camargo dos Reis

Tarefa Coletiva

Grupo 4

São Leopoldo
2024
Sumário

1. História da implementação dos Direitos da Personalidade no Brasil........................... 3


2. Explorando os Fundamentos e Aplicações do Direito da Personalidade.....................4
3. Implementação dos Direitos da Personalidade na Sociedade....................................... 6
3.1 Explorando os Direitos da Personalidade no Contexto do Novo Código Civil.......... 6
3.2 Integridade Psicofísica como Direito da Personalidade............................................... 6
4. A Incorporação da LGPD na Sociedade e os Direitos da Personalidade......................7
5. Da Limitação dos Direitos da Personalidade................................................................... 9
6. Questões Emergentes Complexas....................................................................................9
7. Bibliografia........................................................................................................................ 10
1. História da implementação dos Direitos da Personalidade no
Brasil
Os Direitos da Personalidade foram inspirados por doutrinas germânicas e
francesas do século XIX. Eles foram muito contestados na época de sua concepção,
pois iam contra a tradição patrimonialista do Direito Civil. Segundo os críticos
opositores, a personalidade não poderia ser considerada titular de direitos e objeto
de direitos ao mesmo tempo, sendo uma contradição lógica.
Para juristas como Friedrich Carl von Savigny, defensor da teoria de que a
posse é o dolo e o objeto, a aceitação dos direitos da personalidade levaria a
legitimação do suicidio ou da auto-mutilação. Para Georg Jellinek, que se opôs à
validação dos direitos da personalidade, alegando que a vida, a saúde e a honra não
podem ser tratados como propriedade, o ter, e sim o ser como parte do ser humano,
tornando-os incompatíveis com a noção de direitos subjetivos. Ambos concordavam
que a definição seria conflituosa com os direitos subjetivos, tendo em vista que
vários aspectos englobados na personalidade seriam questão de “ser” e não de “ter”.
Apesar das discussões e controvérsias, chegou-se à conclusão de que o
direitos da personalidade são aqueles que afirmam a existência da pessoa e cujos
quais os direitos subjetivos atuam sobre, isto é, sem eles, os direitos subjetivos não
poderiam ser aplicados, pois a pessoa essencialmente não existiria no meio jurídico.
Na história Jurídica brasileira, de certa forma, a legislação sempre protegeu
os direitos da personalidade de maneira indireta, através da proteção à integridade
humana e aos direitos fundamentais (ambos conceitos que englobam grande parte
dos direitos da personalidade), no entanto, não se havia uma distinção explícita e
clara deles dentro dos textos normativos. A Constituição Federal de 1988
estabeleceu a dignidade da pessoa como fundamento da república e os direitos da
personalidade foram tomados como fundamentais e o Código Civil disciplina esses
direitos nos artigos 11 a 21 do capítulo 2 da Parte Geral, consolidando de vez a
existência deles nos textos jurídicos oficiais.
Anteriormente, na política e filosofia clássica, o conceito de “dignidade” era
muito discutido pelo termo “dignitas” que tinha um sentido muito mais hierárquico,
sendo usado para descrever a posição social na qual o indivíduo se localizava e seu
grau de reconhecimento pela sociedade. Muitos governos antigos acabavam por
indiretamente proteger os direitos de personalidade em algumas de suas normas,
mas a dignidade em si nunca era levada em conta diretamente.
2. Explorando os Fundamentos e Aplicações do Direito da
Personalidade

Ao explicar os Direitos da Personalidade, comprova-se que reconhecer que


esses direitos não podem ser considerados questões separadas dos direitos
humanos, isso necessita de uma análise segura da base da dignidade humana e
dos direitos da personalidade. Argumenta-se que os direitos humanos e os direitos
da personalidade só podem ser compreendidos quando se supera a limitada visão
que prevaleceu por muitas gerações de juristas, contudo, as questões referentes a
dignidade humana sejam mais antigas, foi somente após a Segunda Guerra Mundial
que a ideia da inviolabilidade da dignidade humana se consolidou.
Durante os séculos XVII e XVIII, o pensamento Jusnaturalista estava em
ascensão. Nesta época já se reconhecia “dignidade” como algo mais racionalizado e
laico, baseando-se no princípio da igualdade de todos os homens quanto à liberdade
e à dignidade.
O pensamento Kantiano também foi de grande importância para a
compreensão filosófica da dignidade, visto que reconhecia o homem como um ser
autônomo com liberdade de optar e agir conforme seu entendimento e opção.
Seguindo essa ideia de Immanuel Kant (1994, p. 429): “aja de forma a que sempre
vejas a humanidade, em tua pessoa e em todos as pessoas, como a finalidade da
ação, nunca como simples meio”, ou seja, a dignidade humana tem como base a
autonomia ética do ser humano, englobando a liberdade de que dispõe a pessoa
humana de optar de acordo com a razão e agir conforme seus entendimentos.
O reconhecimento da dignidade humana perante a lei coincide com o
momento histórico no qual o movimento constitucionalista europeu tomou força,
pode-se observar isso na Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789: “Toda sociedade, em que a garantia dos direitos não é
assegurada, nem a separação dos poderes determinada, não tem Constituição”. No
entanto, foi apenas séculos após esta frase ser proferida que seu espírito começou a
ser concretizado nas constituições pós-guerra e pós-declaração universal dos
direitos humanos de 1948.
Além do fundamento da República (artigo 1°, inciso III) na Carta Magna de
1988, o texto constitucional brasileiro aborda a dignidade humana em outras três
ocasiões: (1) Estado quanto pelos particulares (artigo 170, caput); (2) como princípio
essencial da família (artigo 226, 7°) e (3) como direito fundamental da criança e do
adolescênte (artigo 227, caput).
Sobre a dignidade da pessoa humana, pode-se afirmar que não foi
estabelecida como valor fundamental desde os primórdios da história. Isto é, não
nasceu de um direito ideal estabelecido anteriormente ao ordenamento jurídico, pelo
contrário, sua validade e eficácia derivam da necessidade de sua integração e
proteção nos sintomas normativos. essa ideia de dignidade humana influencia as
leis, sendo a base para outros direitos que não envolvam bens patrimoniais, como
os direitos da personalidade, resultando no descarte das ideias de direito que vem
da natureza.
Se é preciso analisar o caso concreto para confirmar de fato se “houve ou não
agressão à dignidade humana”, isto se deve pela dificuldade de quantificar a
dignidade sem reduzi-la a uma fórmula abstrata e genérica. Contudo, Ingo Wolfgang
Sarlet identificou certos aspectos como pilares fundantes do conceito da dignidade
humana, são eles: a integridade física, a isonomia, a proteção da vida e o resguardo
da intimidade. Com estes pilares em mente, os ordenamentos jurídicos passam de
atuar como protetores de interesses patrimoniais para protetores diretos da pessoa
humana. Estes mesmos pilares são pilares da noção de direitos da personalidade.
Seguindo esse pensamento, a vida deixa de ser apenas o primeiro e mais
fundamental direito tutelado para se tornar condição essencial de possibilidade de
outros direitos. Com isso, se desenvolve a ideia de supremacia da vida humana e
que para ser entendida como vida, deve necessariamente ser digna. Essa questão
impõe pensar que a existência, a vida sob um aspecto material, em outras palavras,
a base deste modelo é a vida como conteúdo material já que a vida é também
biológica.
As críticas sobre a dignidade humana, além da concepção abstrata, se
baseiam no ideário cartesiano, já que esteve sempre sugestionado com uma índole
racionalista, própria do iluminismo: “penso, logo existo”. Nessa visão, o modelo
filosófico mostra que a dignidade humana tem uma base concreta, deixando de lado
as críticas de que seria algo abstrato e intangível.
3. Implementação dos Direitos da Personalidade na Sociedade

Apesar dos direitos de personalidade terem sido inseridos diretamente a partir


do código civil de 2002, eles já existiam na lei através da “dignidade humana”
exigida na constituição de 1988. Mesmo assim, não é correto afirmar que a
dignidade foi uma criação constitucional, a constituição meramente adotou o
conceito, que já existia, e utilizou como princípio fundamental e atribuiu valor
supremo a ela.
Desta forma o estado tem como meta suprema e constante a garantia de uma
vida digna a todos. Ele realiza isso através de proteção, implementação e
concretização da dignidade. Mas, além disso, ele deve criar um ambiente propício à
dignidade para todas as pessoas que de sua soberania dependem.

3.1 Explorando os Direitos da Personalidade no Contexto do Novo


Código Civil

A cidadania e a dignidade da pessoa humana são fundamentos da República,


juntamente com as garantias de igualdade material e formal, esses princípios
influenciam as leis que são feitas, garantindo que as pessoas sejam protegidas em
todas as situações. A diversidade de tratamento reflete a singularidade de cada
situação, mas o referencial jurídico é único: a proteção da personalidade como valor
máximo do ornamento e a atuação da cláusula geral que a protege.

3.2 Integridade Psicofísica como Direito da Personalidade


Por muitos anos, acreditava-se que a base da dignidade da pessoa humana
significava exclusivamente a compreensão da integridade psicofísica de uma
pessoa. Os direitos da personalidade, restringiam-se a tutelar apenas os interesses
e direitos relacionados à integridade psicofísica, excluindo os direitos referentes à
tutela do cadáver, por exemplo.
Nos últimos anos, com um amadurecimento dos conceitos, tivemos outros
direitos como os da vida, do nome, da imagem, da honra, da privacidade, do corpo e
da identidade. A nova interpretação do direito é mais racional e entende a
individualidade e autonomia do indivíduo, garantindo para ele a proteção de sua
dignidade por completo (tanto física e mental quanto a conceitos mais abstratos
como “imagem”), dignidade essa que é essencial e pré-requisitada para outros
direitos (como, por exemplo, o econômico).
Deste modo os direitos da personalidade, em primeiro lugar, restringem o estado e
seus órgãos de violar a dignidade de qualquer indivíduo e, em segundo lugar,
prescrevem que o estado e seus órgãos efetivem a prerrogativa de garantir a
dignidade de qualquer indivíduo (mediante sanções contra violadores, por exemplo).
Apesar da noção de que a proteção à integridade psicofísica do ser humano
tenha se desenvolvido demais nos últimos anos, a ideia de que a Dignidade da
Pessoa Humana afeta a integridade psicofísica não deve ser levada em conta. O
princípio da dignidade humana estabelece limites para a atuação do Estado,
impedindo que qualquer poder estatal viole a dignidade de um indivíduo. Além disso,
esse princípio obriga também as autoridades públicas a garantirem sua efetivação,
não só em termos de planos e programas, mas também de forma prática e real.

4. A Incorporação da LGPD na Sociedade e os Direitos da


Personalidade
O art. 1° da LGPD, Lei Geral de Proteção de Dados, estabelece proteção dos
dados pessoais tanto no âmbito físico quanto digital, garantindo direitos apenas às
pessoas identificadas ou identificáveis. O objetivo do artigo é proteger os direitos
fundamentais de liberdade, privacidade e desenvolvimento da personalidade, a lei se
aplica para pessoas físicas e jurídicas que lidam com dados pessoais, não incluindo
dados de pessoa jurídica ou documentos confidenciais, mas sim protegendo
informações pessoais contidas nesses documentos.
Ainda que a LGPD tenha sido criada para preencher lacunas no ordenamento
jurídico em termos de proteção de dados pessoais, outras regras crianças
anteriormente a esta podem ser citadas como precursoras desse propósito, um
exemplo seria o Código de Defesa do Consumidor. A sociedade está cada vez mais
conectada na internet e é de suma importância que as relações online respeitem os
direitos humanos e a LGPD está baseada nesses direitos, o que mostra que o Brasil
está seguindo a tendência global.
A busca de dados pessoais feita por empresas e governos está além de uma
simples invasão de privacidade ou intimidade como o ingênuo objetivo de bisbilhotar,
o fim maior é traçar o perfil da personalidade do indivíduo e em seguida do grupo
para que a tomada de decisões seja certeira para aquele mercado que se pretende
alcançar. Essa situação nos remete ao pensamento Foucault sobre biopolítica da
seguinte forma:

“forma na qual o poder tende a se modificar no final do século XIX e


início do século XX. As práticas disciplinares utilizadas antes visavam
governar o indivíduo. A biopolítica tem como alvo o conjunto dos indivíduos,
a população. A biopolítica é a prática de biopoderes locais.” (MOTA, TENA,
2019, p.20)

É exatamente o que está acontecendo no século 21 e que tende a se


fortalecer cada vez mais até se estruturar pelas próximas décadas. A avaliação das
pessoas por meio de algoritmos tende a ser prejudicial, já que pode criar uma
imagem da pessoa que não é verdadeira ou que não desenvolveria naturalmente,
sem a influência do mercado de consumo e a personalidade passa a ser moldada e
manipulada para atender aos interesses de quem possui acesso aos dados.
Se a personalidade de alguém corresponde ao conjunto de características
que distinguem uma pessoa da outra, então quando se controla os dados que
formam essas características, o que se tem é o domínio sob a pessoa.
Na sociedade de hoje, que é única e sempre mudando, está se descobrindo
um novo direito de personalidade, um que visa lidar com a proteção de dados, seja
na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) ou em outras leis que protegem dados
pessoais, em ambientes reais ou virtuais. Este direito da personalidade se aplica
tanto no setor público quanto no privado.
5. Da Limitação dos Direitos da Personalidade

Dispõe o artigo 11 do Código Civil que “com exceções dos casos previstos em
lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo
o seu exercício sofrer limitação voluntária”. O que significa que os direitos da
personalidade não são passíveis de limitação, de transmissibilidade e de renúncia.
Com isso se entende que os direitos são entrelaçados do indivíduo e seria
fisicamente impossível desassociar deles.
A doutrina acredita que os direitos da personalidade são inerentes à pessoa
humana e não podem ser separados dela, por isso, são considerados
intransmissíveis. Qualquer tentativa de transferir esses direitos seria considerada
nula pelo direito, já que vai contra a ordem natural das coisas e é fisicamente
impossível. Embora essa impossibilidade de transferência, o STJ, em uma Jornada
de Estudos sobre Direito Civil, trouxe o seguinte enunciado: ‘O exercício dos direitos
da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente
nem geral”.
Sustenta-se, portanto, o artigo 12 do Código, segundo o qual, os direitos da
personalidade, apesar de intransmissíveis, para efeitos patrimoniais, são
transmissíveis. Para exemplificar, uma “quebra” do Art. 11 é que apesar do direito
em si ser intransmissível, os efeitos patrimoniais são, como a autoria de obras
literárias e seu lucro. Estes casos servem para mostrar que o direito da
personalidade é muito mais complexo e menos estrito a uma única interpretação.

6. Questões Emergentes Complexas

A Constituição brasileira tem como uma das principais bases, a dignidade da


pessoa humana, com isso, a sociedade brasileira deve honrar o compromisso de
construir o seu direito sob essa perspectiva, com essa aplicação prática da norma
constitucional diretamente nas relações privadas, levanta questões complexas.
Um ponto de divergência é a questão da Eutanásia. No caso de uma pessoa
em estado vegetativo, até que ponto seria continuar com aquela vida, algo que
garantiria a dignidade da pessoa? Se todos temos direito à vida, temos direito à
morte também? Ou seja, a questão da eutanásia não deve ser limitada apenas para
a tradicional questão de legitimidade da morte concentida, justificada por razões
humanas. A medicina moderna tem feito muito em prol da dignidade humana e o
que o homem está fazendo em relação à sua dignidade.

7. Bibliografia

DONEDA, Danilo - Os direitos da Personalidade no Código Civil (2005) - Artigo.


Disponível em:

https://egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/os_direitos_de_personalidade_no_codigo
_civil.pdf

MOTA, Ivan Dias Da, TENA, Lucimara Plaza - Fundamentos da LGPD: Círculos
concêntricos e Sociedade de Informação no Contexto de Direitos da
Personalidade (2020) - Revista Jurídica Unicuritiba. Disponível em:
http://revista.unicuritiba.edu.br/index.php/RevJur/article/view/4330/371372603

SARLET, Ingo Wolfgang - Dignidade da Pessoa Humana e Direitos


Fundamentais: Na Constituição Federal de 1988 (2015) - Disponível em:

https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=rf1QDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=P
T5&dq=dignidade+da+pessoa+humana+&ots=IhJAb_Swyz&sig=2Wgjafplq8x0HZ7Lv
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