Resposta À Acusação

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 15ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE GOIÂNIA

Autos nº XXX

ASTOLFO RODRIGUES, estado civil, Policial Federal, portador da


cédula de identidade nº xxx, expedida pela xxx, inscrito no CPF/MF sob o nº xxx, residente e
domiciliado na Rua Bonito, 150, apartamento 401, na cidade de xxx, por seu advogado abaixo
assinado, conforme procuração anexa, vem, mui respeitosamente, à presença de v. exa.,
apresentar a sua RESPOSTA À ACUSAÇÃO, com fundamento nos arts. 396 e 396-a do
código de processo penal, pelos motivos de fato e de direito que a seguir passa a expor.

1. DOS FATOS

O Ministério Público denunciou o acusado Astolfo Rodrigues, alegando que este, na


condição de agente da Polícia Federal, teria auxiliado a corré Ana Lúcia a expedir passaportes
para crianças e adolescentes sem observância das formalidades legais. Na denúncia foi ainda
dito que Astolfo recebeu vantagem indevida para efetuar a liberação dos passaportes.

Ao fim, o órgão acusatório imputou ao acusado Astolfo Rodrigues os crimes previstos


nos artigos 239, parágrafo único, da Lei 8.069/90 e 317, § 1o, do Código Penal, na forma do
artigo 69 do Código Penal. O acusado foi citado pessoalmente em 15/03/2021.

Ocorre que os fatos não se passaram da forma descrita na denúncia. Vejamos.

2. DO DIREITO

2.1 DA INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL

O crime é de competência federal, nos termos do que prevê o artigo 109, V,


da Constituição Federal que dispõe:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
V — os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;

No caso dos autos há claro interesse da União no feito, já que os crimes estão sendo
imputados ao funcionário público federal no exercício das funções e com estas relacionados.
Ademais, quando alega que o crime do Estatuto da Criança e do Adolescente “tinha a
finalidade de viabilizar a saída dos menores do país”, o Ministério Público traz a regra da
transnacionalidade, prevista no inciso V do artigo 109 da Carta Magna, o que, como dito,
também atrai a competência da Justiça Federal.

2.2 DA NULIDADE DA INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA

Conforme o artigo 5o da Lei 9.296/96, a decisão judicial que decreta a interceptação


telefônica será “fundamentada, sob pena de nulidade”. É, também, o que determina a
Constituição Federal no artigo 93, inciso IX, quando afirma que todos os julgamentos dos
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de
nulidade.
No caso em exame o Juízo limitou-se a adotar, como razão de decidir, “os fundamentos
explicitados na representação policial”.
Não é só. Verifica-se que, durante a investigação, a decretação da interceptação
telefônica foi à primeira medida investigativa, em claro desrespeito ao princípio da
excepcionalidade e com violação do disposto no artigo 2º, inciso II, da Lei 9.296/96, segundo o
qual não será admitida a interceptação de comunicações telefônicas quando a prova puder
ser feita por outros meios disponíveis.
Assim, seja pela ausência de fundamentação, seja por violação do princípio da
excepcionalidade, há nulidade insuperável a ser decretada no feito.

2.3. DA NULIDADE DA DECISÃO QUE DEFERIU A BUSCA E APREENSÃO

O Juízo, ao deferir a busca e apreensão, limitou-se a decidir da seguinte forma: “diante


da gravidade dos fatos e da real possibilidade de serem encontrados objetos relevantes para
investigação, defiro requerimento de busca e apreensão nos endereços de Ana Lúcia (Rua dos
Pessegueiros, 213) e de Antônio (Rua Bonito, 150, apartamento 401)”.
Além de genérica, a decisão não é fundamentada, contrariando a determinação
constitucional (artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal) e, uma vez mais, ensejando a
anulação do feito.

2.4. DA NULIDADE DA APREENSÃO DO VALOR NO IMÓVEL DO RÉU ANTÔNIO

Verifica-se que, no endereço indicado no mandado judicial como sendo a casa de


Astolfo (Rua Bonito, 150, apartamento 401), nada foi encontrado. Não satisfeitos, os policiais
ingressaram no apartamento 402, apreendendo a quantia de setenta mil dólares em espécie.
Como o apartamento 402 não estava autorizado judicialmente, trata-se de
inadmissível prova ilícita (artigo 5ª, inciso LVI, da Constituição Federal), devendo o dinheiro
apreendido ser desentranhado do processo (artigo 157, “caput”, do Código de Processo Penal) e
devolvido ao acusado.

2.5. DA INÉPCIA DA DENÚNCIA

De acordo com o Pacto de São José da Costa Rica, promulgado pelo Decreto 678/92,
durante o processo todos têm direito à comunicação prévia e pormenorizada da acusação
formulada (artigo 8º, item 2, alínea “b”).
É por isso que o Código de Processo Penal, no artigo 41, estabelece os requisitos
mínimos da denúncia ou queixa, quais sejam: a exposição do fato criminoso com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo,
a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.

2.6. DA FALTA DE JUSTA CAUSA PARA O CRIME DE CORRUPÇÃO PASSIVA

Compulsando os autos, verifica-se que a acusação não trouxe qualquer elemento de


prova de que o réu recebeu vantagem indevida para a emissão de passaportes de forma
irregular, registrando-se que nenhum passaporte foi apreendido ou periciado. Aliás, não
há prova de que os passaportes supostamente requeridos pela corré Ana Lúcia tenham sido,
efetivamente, emitidos.
Também não há nada nos autos que indique o exaurimento do crime, nos termos do que
dispõe o § 1º do artigo 317 do Código Penal, ou seja, no sentido de que o réu Astolfo tenha
efetivamente praticado ato infringindo dever funcional.
Verifica-se, portanto, que não há justa causa para o exercício da ação penal em relação
ao delito de corrupção passiva descrito na denúncia.
2.7. DA AUSÊNCIA DE DOLO QUANTO AO CRIME PREVISTO NA LEI 8.069/90

Os autos não trazem qualquer indício de que Astolfo tivesse ciência da intenção de Ana
Lúcia. De acordo com o artigo 18, parágrafo único, do Código Penal, salvo os casos expressos
em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica
dolosamente.
Não havendo prova de que o acusado Antônio tenha agido com dolo em relação ao
delito previsto no artigo 239, parágrafo único, do Estatuto da Criança e do Adolescente, o fato é
absolutamente atípico.
Assim, o réu deve ser absolvido sumariamente, com fundamento no artigo 397, inciso
III, do Código de Processo Penal, já que o fato narrado evidentemente não constitui crime.

3. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a) O recebimento da presente resposta à acusação;

b) O acolhimento das preliminares suscitadas, a fim de que seja declarada: b.1) a incompetência
da Justiça Estadual para a análise do presente feito; b.2) a nulidade da interceptação telefônica;
b.3) a nulidade da decisão que deferiu a busca e apreensão; b.4) a nulidade da apreensão do
valor no imóvel do acusado; e b.5) a inépcia da denúncia, com base nos argumentos e
fundamentos acima citados;

c) A sua absolvição sumária, já que (c.1) não há justa causa para o exercício da ação penal em
relação ao crime de corrupção passiva, previsto no artigo 317, § 1º, do Código Penal, e (c.2) o
delito disposto no artigo 239, parágrafo único, do Estatuto da Criança e do Adolescente é
atípico por falta de dolo;

d) Alternativamente, em caso de não acolhimento dos requerimentos anteriores, pugna pela


instrução do feito com a produção de todas as provas em direito admitidas, especialmente a
testemunhal, conforme rol de testemunhas abaixo apresentado;

e) A restituição do valor apreendido no imóvel localizado na Rua Bonito, 150, apartamento


402, uma vez que se está diante de prova ilícita, a qual deve ser desentranhada do processo.

Nesses termos, pede deferimento.


Local/ Data
Advogado
OAB

Rol de testemunha:

1) Marcos Asdrúbal, , residente na Rua Labaredas, n. 10, nesta capital;


2) João de Talião, residente na Rua Pé Quente, n. 310, nesta capital;
3) Antonela Marcondes, residente na Rua das Chamas, n. 450, nesta capital.

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