Resenha Critica Laura Carvalho Vfinal Gerson Ferreira

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
CURSO DE DOUTORADO EM ADMINISTRAÇÃO
RESENHA CRÍTICA
Gerson Ferreira Junior1
CARVALHO, Laura Barbosa de. Quais os caminhos para o desenvolvimento

brasileiro?. Opera Mundi: Programa 20 Minutos, [s. l.], 18 mar. 2024. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=GUFJFrkCS9Q. Acesso em: 18 mar. 2024.
Esta resenha crítica versa sobre a entrevista, intitulada “Quais os caminhos para o
desenvolvimento brasileiro?”, concedida por Laura Carvalho à Breno Altman do programa “20
Minutos” do site de notícias Opera Mundi de Bresser-Pereira (2009).
Laura é brasileira, economista, com mestrado e doutorado na área, professora da
Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo
e autora do livro “Valsa brasileira: do boom ao caos econômico”, lançado em 2018, no qual
analisa o crescimento e a subsequente crise da economia brasileira a partir de 2014. E em 2020
lançou o livro “Curto-circuito: o vírus e a volta do Estado” que analisa o impacto na economia
da pandemia da Covid-19 no Brasil.
A entrevista aborda as possibilidades do Brasil, após uma década perdida, para retomar o
desenvolvimento econômico. A entrevista é dividida em 21 capítulos. O vídeo inicia com o
entrevistador fazendo uma ponderação relevante entre os dois perfis de economistas em relação
ao assunto: liberais e desenvolvimentistas. Em seguida ele tece comentários sobre os dois perfis
associando-os às possíveis estratégias para o desenvolvimento de um Estado. Por conseguinte,
apresenta o currículo acadêmico e profissional da entrevistada.
1
Possui graduação em Administração (IFBA) e em Ciências Contábeis (UFBA), especialista em Contabilidade
Gerencial (UFBA), mestrado em Contabilidade (UFBA), doutorando em Administração (UFBA) e docente efetivo
da graduação em Administração da UFOB.
A entrevista foca no conflito entre o Estado e o mercado, tendo como pano de fundo o
neoliberalismo e a teoria econômica, pautados na macroeconomia neoclássica e a teoria da
escolha pública, que também foram abordadas por Bresser-Pereira (2008; 2009), que as
considera como metaideologias baseadas no apelo “científico” e matemático.
Logo no início da sua fala, Carvalho deixa bem nítido seu posicionamento pela corrente
desenvolvimentista, apesar de confessar que tem interesse na pesquisa macroeconômica, uma
vez que destacou que a política macroeconômica é dominante, porém não gera o
desenvolvimento econômico necessário. Inclusive foi taxativa em afirmar que “o capital
privado em nenhum lugar promoveu e garantiu o desenvolvimento econômico”.
Laura teceu uma crítica em relação à atual regra fiscal do governo Lula. Para ela a atual
regra fiscal não ajuda no desenvolvimento do país. Na opinião da entrevistada, a atual regra
fiscal permite que o Estado invista mais, pois tem um teto de gasto flutuante em relação à
variação da arrecadação, porém o teto atual de 2,5% é mais baixo do que o teto do governo
Dilma, que era de 3,5% e dos governos anteriores do próprio Lula, que foi de 5,0%. Neste ponto
pode-se destaca a posição de Laura com relação à política econômica de Haddad: “é
conservadora”. E defendeu de forma assertiva que o país precisa discutir regulação financeira,
controle de capital, volatilidade cambial, redução da taxa de juros, controle da inflação, reforma
tributária, estabilização da dívida pública, manutenção do crescimento do PIB e aumento do
investimento público.
Além disso, na visão de Laura, é necessário que o Brasil explore estrategicamente a crise
mundial entre os países para barganhar economicamente, inserindo as indústrias brasileiras para
alinhar a política interna com a política externa. A entrevistada defende também que é preciso
diversificar a indústria brasileira, fomentando o surgimento de cadeias estratégicas a nível
internacional a) na área ambiental e de bioeconomia, como energia eólica, combustível verde;
b) na área de serviços, como educação e saúde, infraestrutura, serviço social, ciência, tecnologia
e inovação (CT&I), dentre outras.
Porém, faltou ela considerar o investimento em novos arranjos produtivos locais (APLs),
formados por complexos industriais e clusters regionais, pautados no cooperativismo,
associativismo, inovação, flexibilidade, tecnologia e popularização da ciência, através da
interface com a hélice da educação (Furtado, 2005). É necessário o Estado ampliar as políticas
públicas voltadas para o desenvolvimento territorial local, em função da complexidade cultural
e geográfica do Brasil. Portanto, na fala de Laura faltou a defesa da ideia do desenvolvimento
territorial local respeitando as particularidades culturais de cada região, inserindo as
comunidades locais dentro do processo produtivo de forma a gerar, não só emprego e renda,
mas valor agregado, sustentabilidade ambiental, desenvolvimento do capital humano, redução
de desigualdades sociais, dentre outros. Precisamos deixar de ser um país exportador de
commodities para sermos um país exportador de conhecimento, tecnologia e inovação (Leme,
Aguiar e Rezende, 2019).
No final da entrevista, Laura Carvalho indicou o livro “Como a China escapou da teoria
do choque”, de Isabela Weber, que evidencia o modelo econômico chinês e mostra como a
China adotou estrategicamente uma posição de concorrente frente aos EUAs, posicionando-se
mais liberal. E indica um livro de ficção de José Bortolutti “O que é meu” que trata como o país
se desenvolveu na década de 60/70 através da construção da Transamazônica.
Em suma, analisando detalhadamente a entrevista, nota-se que Laura tem uma visão
semelhante ao pensamento de Bresser-Pereira (2008; 2009) com relação ao papel do Estado na
sociedade brasileira: promover o desenvolvimento de forma sólida, através do estabelecimento
de uma agenda econômica para o crescimento. Laura não acredita que apenas o capital privado
conseguirá promover o desenvolvimento econômico e a sustentação do mesmo. Ela defende
que o Estado deve exercer um papel central nessa pauta. O investimento privado será utilizado
como um complemento. Portanto, ela acaba ratificando a ideia de Bresser-Pereira (2009) de
que o Estado é uma instituição que está hierarquicamente acima do mercado.
Tanto a entrevista de Laura quanto os artigos de Bresser-Pereira (2008; 2009) guardam
relação com o objeto de estudo do meu projeto de pesquisa da tese, transparência da gestão
pública municipal, no tocante à regulação do Estado, uma vez que também é responsabilidade
do Estado promover a regulação da transparência da gestão pública de forma a permitir a
redução da assimetria informacional entre o Estado e a sociedade, além de possibilitar à
sociedade o acompanhamento das ações dos gestores públicos.
REFERÊNCIAS
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A crise global de 2008 e a metaideologia

neoclássica. Revista de Economia da PUC, São Paulo, n. 3, ed. 2, p. 51-68, 2009.
Disponível em:
https://www.bresserpereira.org.br/papers/2009/2009.A_crise_global_de_2008_e_a_Metaideol
ogia_neoclassic.pdf. Acesso em: 24 mar. 2024.
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Assalto ao Estado e ao mercado, neoliberalismo e teoria

econômica. Estudos Avançados, São Paulo, v. 23, ed. 66, 2009. Disponível em:
https://www.bresserpereira.org.br/papers/2009/2009.A_crise_global_de_2008_e_a_Metaideol
ogia_neoclassic.pdf. Acesso em: 24 mar. 2024.
FURTADO, André Tosi. Novos arranjos produtivos, estado e gestão da pesquisa

pública. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 57, ed. 1, 2005. Disponível em:
http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252005000100020.
Acesso em: 24 mar. 2024.
LEME, Paulo Henrique Montagnana Vicente; AGUIAR, Bruno Henrique; REZENDE, Daniel
Carvalho de. A convergência estratégica em Arranjos Produtivos Locais: uma análise sobre a
cooperação entre atores em rede em duas regiões cafeeiras. Rev. Econ. Sociol. Rural,
Piracicaba-SP, v. 57, ed. 1, p. 145-160, 2019. DOI https://doi.org/10.1590/1234-56781806-
94790570109. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/resr/a/kQGDYhfQXrJk9dnmzkq5BsP/#. Acesso em: 24 mar. 2024.

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