Como Colocar Limites - Melissa Urban
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Título original: The Book of Boundaries
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada
ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito
dos editores.
CDD: 158.2
23-82952 CDU: 17.021.1
Gabriela Faray Ferreira Lopes - Bibliotecária - CRB-7/6643
Nota da autora
Introdução: Como me tornei a “Moça dos Limites”
PRIMEIRA PARTE
INICIAÇÃO AOS LIMITES
SEGUNDA PARTE
COLOCANDO OS LIMITES EM PRÁTICA
TERCEIRA PARTE
OS BENEFÍCIOS DOS LIMITES
11. Presentes para o mundo
Como manter seus limites e os de todas as outras pessoas
12. A magia dos limites
Agradecimentos
Notas / Referências
Sobre a autora
Nota da autora
N
a última década conversei com milhares de pessoas sobre seus
limites. As histórias que você lerá neste livro surgiram dessas
conversas. Algumas foram contadas sem alteração nenhuma, e
mantive os nomes reais sempre que permitido. Na maioria dos casos,
mudei nomes e outros detalhes para proteger a privacidade das pessoas.
Houve ainda situações em que mesclei várias conversas em uma única
história coesa. Em todos os casos, meu objetivo foi capturar a
profundidade e a amplitude dos muitos problemas – e oportunidades –
que surgem quando estabelecemos limites.
Quanto aos termos que indicam gênero, preservei seu uso original.
Sempre que vir palavras como “esposa” ou “dela”, saiba que a história me
foi contada desse jeito, com esses termos ou pronomes. Nos casos em
que fundi várias narrativas, optei por palavras neutras, como “o cônjuge”
ou “a pessoa”.
Por fim, devo reconhecer e declarar de antemão: estabelecer limites é
uma expressão de poder e privilégio. (E se você nunca pensou desse
modo, provavelmente é porque tem, assim como eu, um monte de
privilégios adquiridos sem merecimento.) Branca, heterossexual,
saudável, financeiramente segura e magra, desfruto de certo grau de
poder na nossa sociedade. Esses privilégios e esse poder significam que
posso estabelecer limites com relativa confiança e geralmente esperar
que os outros respeitem meus desejos. Quem pertence a grupos
historicamente marginalizados – pessoas não brancas, com deficiência,
acima do peso ou LGBTQIA+, por exemplo – não tem o mesmo
privilégio, o mesmo poder ou a mesma relação com limites. Sem esse
privilégio, é provável que você sinta mais medo de ditar as próprias
regras, e a verdade é que os outros estarão menos inclinados a respeitá-
las. (É assim que funcionam os sistemas de opressão.)
Preciso ficar atenta a essa disparidade de poder no meu trabalho,
mas isso só terá valor se me levar à ação e suscitar mudanças de
comportamento. É apenas um pequeno passo, o reconhecimento de que
sou incapaz de capturar de modo exato as experiências vividas por todo
mundo.
Agradeço a cada pessoa que compartilhou comigo, com tanta
generosidade, detalhes íntimos de sua vida. E, mesmo que jamais nos
encontremos, espero que você veja suas histórias refletidas nas que eu
conto aqui, e que elas lhe deem confiança para estabelecer os limites
necessários para assegurar a sua liberdade.
INTRODUÇÃO
Como me tornei a
“Moça dos Limites”
E
m determinados círculos sou conhecida como a “Moça dos
Limites”.
Para ser justa, sou conhecida por muitas coisas. Sou CEO,
esposa e mãe. Autora de livros que entraram para as listas de mais
vendidos, fanática por caminhadas e leitora voraz. Mas quando se trata
de limites, especificamente, muitos me conhecem apenas como “aquela
moça dos limites no Instagram”.
Se você me conhecesse hoje, esse rótulo faria todo o sentido. Em
termos de personalidade, não faço o tipo boazinha, por assim dizer. Aos
olhos de qualquer pessoa, pareço assertiva, independente e confiante;
lido bem com conflitos e expresso minhas necessidades sem rodeios.
Essa atitude, em especial vinda de uma mulher, às vezes provoca
acusações de egoísmo e outras que não vou mencionar, mas que você
provavelmente imagina.
Mas não sou egoísta nem nada disso que você pensou. Apenas levo a
sério minha saúde mental, minha capacidade emocional e meus valores,
e faço o necessário para proteger tudo isso. Por exemplo:
Não usamos os limites para dizer aos outros o que eles podem fazer
ou não. Isso, sim, seria controle. Eles são estabelecidos para ajudar você
a planejar e comunicar sua reação ao que os outros dizem ou fazem.
Numa prática de limites saudável, você perceberá o impacto do
comportamento das pessoas sobre você, comunicará seu limite em
relação a esse comportamento e em seguida avaliará o que se dispõe a
fazer para impor esse limite. Você não pode mandar o tio Joe parar de
fumar – isso seria controle. Mas pode dizer que a fumaça do cigarro,
além de cheirar mal, leva você a tossir. Pode comunicar a ele: “Não
permitimos que fumem dentro da nossa casa”, e pode deixar de convidá-
lo se ele não respeitar esse limite. Não se trata de envergonhar o tio Joe,
mudar o estilo de vida ou a saúde dele, mas de proteger a sua.
Está vendo a diferença?
Existem muitos motivos para você querer impor limites, o que
significa que o processo parecerá diferente em cada situação. Às vezes
você consegue se impor com gentileza em relação a situações frustrantes,
mas pouco significativas, como uma vizinha que vive se convidando
para caminhar com você de manhã. Em outras ocasiões você estabelece
limites mais firmes quanto a comportamentos que provocam dano real,
como quando sua mãe critica seu peso durante o almoço, ou seus pais
dizem que já compraram a passagem de avião para visitar seu bebê
recém-nascido sem perguntar antes se você deseja companhia nessa fase.
Os limites podem ser do tipo “Posso caminhar com você no sábado, mas
durante a semana preciso desse tempo só para mim”, ou “Ainda não
estamos prontos para receber visitas, mas vamos avisar assim que vocês
puderem vir”.
Existem muitas ideias equivocadas em relação a limites, mas
ninguém nos ensina sobre isso. Esse tema raramente é enfatizado em
casa, não se aprende na escola e provavelmente não faz parte do seu
desenvolvimento profissional no trabalho. A maior parte do que você
sabe sobre limites provavelmente veio de um terapeuta ou das redes
sociais, se por acaso você curte o TikTok. A verdade é que estabelecer
limites é uma habilidade essencial, da mesma forma que administrar o
tempo e controlar os gastos. Infelizmente, em geral só descobrimos que
não temos essa habilidade em tempos de crise, quando precisamos dela e
somos obrigados a adquiri-la em circunstâncias nada ideais.
Essas notícias são terríveis e excelentes ao mesmo tempo.
Terríveis porque essa ferramenta realmente mágica, capaz de
transformar cada área da sua vida, esteve à sua disposição por todo esse
tempo e você nem sabia. Excelentes porque você está prestes a começar
um curso intensivo sobre limites que vai mudar tudo.
Iniciação
aos limites
CAPÍTULO 1
Um curso intensivo
sobre limites
N
ão faz muito tempo, recebi uma mensagem de Charley, que me
segue no Instagram. Ela estava morrendo de medo de uma
visita que faria à mãe e me mandou um pedido de socorro na
véspera da viagem. “Amanhã vou encontrar minha mãe pela primeira
vez desde que ganhei 10 quilos”, escreveu. “Meu peso (e o dela) sempre
foi um dos seus assuntos prediletos, mas odeio falar sobre isso. Embora
ache que a intenção é boa, os comentários que ela faz ferem muito
minha autoestima e não ajudam em nada. Por causa disso nosso
relacionamento ficou estremecido, mas senti falta dela no último ano. Eu
adoraria que essa visita fosse agradável, divertida, em vez de
intimidadora.”
Esse tipo de receio deveria disparar um alerta no seu cérebro: Plim,
plim, plim – limite necessário! Se um limite é uma linha que demarca
uma área – neste caso, a sua área de conforto, segurança e saúde mental
–, sentir ansiedade, nervosismo ou vontade de evitar determinada
pessoa ou assunto é um sinal claro de que seus limites estão sendo
ultrapassados e de que é preciso estabelecê-los com firmeza.
Infelizmente, a maioria de nós ignora esses alertas e parte para
reações menos saudáveis. Você faz a visita como se estivesse indo para a
batalha e explode de raiva ao primeiro comentário casual. Cancela no
último minuto sem dar explicação, deixando o ente querido confuso e
magoado. Ou se sacrifica, tomando a iniciativa de fazer piada com o
próprio peso antes que a outra pessoa possa lhe causar sofrimento.
Você deixou que a ansiedade, os sentimentos negativos e o
ressentimento invadissem suas relações porque não soube fazer com que
funcionassem melhor. Mas agora você sabe que a solução é colocar
limites – e o primeiro passo é saber quando precisa de um.
“Nossa!”
“Hein?”
“Uau.”
“É, bem...”
Levantar as mãos.
Fazer cara de desagrado.
Levantar uma sobrancelha.
“Ah, não.”
“Puxa...”
“É sério isso?”
Na prática, por exemplo, você poderia dizer “Nossa, não vou nem responder”
depois de uma pergunta especialmente insensível. Ou “É, bem... na verdade,
não planejo olhar meus e-mails durante as férias” após o pedido de um
colega de trabalho. Ou sinalizar com as mãos e dizer “Agradeço, mas fico
aflita quando tocam meu bebê” para interromper o carinho inesperado de um
estranho na sua barriga de grávida. É importante notar que um alerta de
limite não substitui sua verbalização clara – apenas preenche o espaço entre
a violação desse limite e a sua reação.
Algo importante que você deve ter em mente para adequar sua
linguagem é que um limite saudável sempre vem do eu. Lembre-se: você
não vai dizer ao tio Joe que ele não pode fumar; vai dizer que você não
permite que fumem na sua casa. Os limites não têm a ver com controlar
a outra pessoa, mas com as linhas que você traça à sua volta para
permanecer saudável e em segurança. No caso dos meus pais, eles
podem conversar entre si sobre o meu ex-marido quanto quiserem, mas
agora sabem que não devem puxar esse assunto comigo. A vizinha de
Nancy pode continuar a fazer sua caminhada de sempre, mas sabe que
Nancy prefere caminhar sozinha, a não ser aos sábados. Você não está
tentando controlar o que os outros fazem; está expressando quais são os
seus limites.
Pode parecer confuso, porque neste livro você vai encontrar roteiros
com um bocado de pedidos: “Por favor, você poderia fumar lá fora?”,
“Confirme se estará mesmo livre neste fim de semana, por favor, antes
que eu compre os ingressos”, “Podemos adiar aquela conversa? Preciso
de tempo para pensar”. Mas lembre-se: cada um desses pedidos estará
centrado no seu limite saudável. Tenha em mente o seguinte:
Quando o tio Joe acende um cigarro na sua casa, o seu limite é: “Não
permito que fumem dentro da minha casa porque quero proteger minha
saúde e não gosto do cheiro.” Mas o tio Joe pode não saber disso,
portanto você precisa deixar isso claro. Você pode dizer: “Ah, por favor,
acenda esse cigarro lá na varanda. Nós não fumamos dentro de casa.”
Você não está tentando convencer o tio Joe a parar de fumar – isso seria
controle, não limite. Você não está dizendo para ele não fumar na casa
dele, ou na de qualquer outra pessoa – não é você quem deve estabelecer
esse limite. Você só está usando seu pedido para traçar uma linha em
volta da sua casa e da sua saúde.
Se o tio Joe se recusar a sair, você pode reforçar o limite dizendo:
“Então, por favor, apague o cigarro. Eu disse que não permito que
fumem dentro de casa.” Sim, isso exige a cooperação do tio Joe, mas o
foco ainda está em reforçar o seu limite. Se o tio Joe se recusar a fazer as
duas coisas (o que é uma grosseria), você pode decidir que não o
convidará novamente: uma ação sua para fazer valer as consequências
do seu limite.
Um limite claro e gentil não exige que você fique se explicando ou peça
desculpas por suas necessidades. Para suavizar o golpe, talvez Nancy
tenha pensado em dizer: “O único tempo que tenho sozinha de manhã é
durante a caminhada, e minha vida está caótica, ando ocupada demais, o
trabalho está uma confusão só e meus filhos estão numa idade difícil. Eu
me sinto mal em pedir, mas...” No entanto, essa abordagem pode ser
problemática. Em primeiro lugar, e o mais importante, não é necessário
compartilhar todo o contexto – o seu limite é o seu limite. Repita
comigo:
A primeira regra que aprendi como mãe foi jamais determinar uma
consequência que eu não esteja disposta a impor. (Dizer “Nada de tablet
durante uma semana” dói tanto em mim quanto no meu filho de 9 anos,
e ele sabe disso.) O mesmo acontece com um limite; para que seja eficaz,
ele precisa ser imposto, e você precisa ter a disposição de impô-lo. Isso
significa que, mesmo depois de ter passado pela experiência assustadora
e desconfortável de estabelecer um limite, você ainda não chegou lá.
Agora precisa manter esse limite.
Geralmente o limite ideal inclui um componente que nós apenas
mencionamos de leve: a consequência. Seu objetivo é manter o limite,
caso a outra pessoa não possa ou não queira respeitá-lo. Em geral, na
primeira vez que estabeleço um limite, não menciono a consequência
logo de cara. Isso evita que eu pareça rígida demais. (Não seria nada
gentil, por exemplo, se Nancy dissesse à vizinha idosa: “Agora vou
caminhar sozinha no meio da semana. E se você tentar me acompanhar,
eu vou CORRER na direção contrária até você me perder de vista.”)
Talvez eu não mencione a consequência nem mesmo na segunda vez,
presumindo de boa-fé que a pessoa simplesmente se esqueceu do que
havíamos combinado.
Se, no entanto, o meu limite continuar sendo desconsiderado ou
desrespeitado, aí será a hora de reafirmá-lo e acrescentar uma
consequência clara. No caso da vizinha, Nancy poderia reafirmar o
limite dizendo “Eu avisei que não caminharia com você nos dias de
semana”, e em seguida determinar uma consequência se a vizinha
continuasse se convidando para ir junto. Ela poderia dizer: “Se não
chegarmos a um acordo sobre isso, vou começar a fazer minhas
caminhadas em outro lugar”, ou “Vou parar de cumprimentá-la quando
sair de manhã cedo. Por favor, não leve isso para o lado pessoal”.
Na verdade, tecnicamente a consequência é o limite: a atitude que
você toma para se manter em segurança e saudável. No caso de Nancy,
ela poderia ir de carro até o parque, poderia sair de casa todo dia num
horário diferente ou correr até o fim do quarteirão antes de começar a
caminhada. Mas pular direto para a consequência não deixa muito
espaço para a conexão, o que não é bom para o relacionamento, e não dá
à outra pessoa a oportunidade de ajudar você a satisfazer suas
necessidades. É por isso que, em geral, é melhor começar expondo seu
limite na forma de um pedido. É como se estivesse dizendo: “Aqui está
meu limite. Adoraria que você me ajudasse a respeitá-lo. Você aceita?”
Essa é uma abordagem muito mais gentil do que não dizer nada e depois
se esgueirar pela porta dos fundos para não ser vista pela vizinha.
Aqui vão algumas estratégias que você pode usar para manter um limite
que estabeleceu com outra pessoa:
Já falamos bastante sobre por que os limites são tão fundamentais para
sua saúde mental, sua felicidade e seus relacionamentos. Mas se neste
momento eu pedisse aos leitores que associassem qualquer palavra a
“limite”, aposto que muitos ainda responderiam: “Eca!” Os limites
simplesmente fazem com que a gente se sinta... mal. Com medo,
ansiedade, culpa. É quase certo que esses sentimentos surgirão (em você
ou nos outros) quando você começar a pôr seus limites em prática,
portanto vamos analisá-los.
Em primeiro lugar, pode ser que esses sentimentos desagradáveis já
sejam... de casa. É comum sentirmos ansiedade ou culpa ao estabelecer
um limite, às vezes antes mesmo que as palavras sejam ditas. Podemos
não nos sentir confortáveis defendendo nossos interesses, ou ter uma
crença arraigada em que não somos dignos de escolher como queremos
ser tratados. Se nunca tivemos exemplos de limites, provavelmente
crescemos passivos e agradando aos outros a todo custo. Nós, mulheres,
fomos especialmente condicionadas a colocar nosso bem-estar em
último plano e a nos apequenar para não incomodar os outros. (É só
lembrar minha relação com a palavra “legal”, quando eu deveria dizer:
“Na verdade, eu me incomodo, sim.”)
T MAIÚSCULO E T MINÚSCULO
O trauma pode influenciar bastante seus sentimentos ao estabelecer limites
saudáveis. Quando alguém carrega um trauma do passado, pode levar essa
experiência para uma conversa atual. Se a outra pessoa sentia que não tinha
direito ou capacidade de defender os próprios interesses (ou achava muito
perigoso fazer isso), ela pode ter dificuldade para aceitar que você esteja se
defendendo. E se você tem uma história de trauma, estabelecer um limite
pode parecer especialmente aterrorizante e desencadear culpa ou medo.
Talvez você descubra, como eu, que falar com um terapeuta ou com outro
profissional da área de saúde mental pode ajudar a processar esse trauma e
reivindicar seu poder. Estabelecer limites também ajuda a reforçar seu amor-
próprio e manter você em segurança enquanto realiza seu trabalho de cura.
A esta altura você já deve ter se animado para criar alguns limites
saudáveis na sua vida (ou pelo menos não está sentindo um pavor
enorme só de pensar nisso). Mas falta uma peça importante... O que,
especificamente, você deve dizer? Como Charley, provavelmente você
sabe aonde quer chegar, mas tem dificuldade para elaborar uma
linguagem clara e gentil – que não seja curta e grossa, mas também não
seja frágil a ponto de não se sustentar. No próximo capítulo você vai
aprender mais sobre meu jeito particular de caracterizar os limites. Vai
conhecer meu sistema “Verde, Amarelo e Vermelho” e vai aprender a
conduzir suas conversas de um jeito natural e descontraído. Depois você
passará à Segunda Parte, que fornece os roteiros necessários para impor
quantos limites quiser em cada área da sua vida.
CAPÍTULO 2
A
ntes de mergulharmos na linguagem que você pode usar para
dizer ao seu chefe que não vai responder a e-mails quando
estiver de férias (coragem!), vamos falar sobre como estruturei
este livro.
Muitos especialistas classificam os limites de acordo com a área da
sua vida: físicos, emocionais, financeiros, etc. Para ser sincera, isso
nunca funcionou muito bem para mim. Por exemplo, recentemente uma
mulher chamada Paige me mandou uma mensagem perguntando como
falar com o marido sobre a recente compra “surpresa” que ele fizera:
diversos aparelhos de ginástica que ocupavam bastante espaço na casa
pequena dos dois. A princípio pareceu que ela precisava de um limite
físico (por favor, não monopolize esse espaço que também é meu), mas
percebi que ela também estava falando sobre estabelecer um limite
emocional (por favor, respeite minha importância nesta relação) e
também financeiro (por favor, não gaste nosso dinheiro sem antes
conversar comigo).
Na minha abordagem, prefiro separar os limites em categorias de
relacionamentos. Nesse caso, Paige precisava estabelecer um limite com
seu parceiro romântico. As decisões do marido não estavam afetando
apenas as finanças do casal ou o espaço livre de um cômodo. Estavam
tendo um impacto negativo no relacionamento. Ela precisava estabelecer
um limite em relação a quando gostaria de ser consultada sobre decisões
que tinham impacto sobre os dois. Comunicar esse limite (e vê-lo ser
respeitado) fortaleceria o casamento, não somente a conta bancária ou o
espaço de cada um na casa.
Neste livro identifiquei oito categorias específicas de relacionamento
nas quais é mais provável que você precise impor limites. Elas abrangem
todos os relacionamentos que você provavelmente terá em sua vida: pais
e sogros, amigos e vizinhos, chefes e pares românticos. Mas não se
restringem a relacionamentos com outras pessoas. Às vezes precisamos
cultivar nossa relação com nós mesmos, garantindo que nosso bem-estar
físico e nossa saúde mental estejam em segurança e protegidos.
Estabelecer limites é um modo de você defender os seus interesses, de se
cuidar e se proteger, quando se trata de temas como o que comemos e
bebemos (ou não bebemos); o modo como falam de nosso corpo, nossa
saúde ou nossa aparência; e como nos orientamos em questões
profundamente pessoais, como ter um filho ou lamentar a morte de um
ente querido.
Mesmo na minha estrutura baseada em relacionamentos, haverá
casos que se misturam, como quando você precisa estabelecer um limite
para sua mãe a respeito do tema “dieta” durante o jantar, ou para um
colega de trabalho que fica o tempo todo lhe dando conselhos não
solicitados sobre saúde. Em cada capítulo você encontrará uma
linguagem que se aplica a uma infinidade de situações, e talvez descubra
em alguma página inesperada as palavras necessárias para sua próxima
conversa. À medida que você percorrer os capítulos, meu método
ajudará a identificar rapidamente onde um limite é necessário, a
comunicar seu limite com eficácia e a fortalecer todos os seus
relacionamentos.
No início da minha pesquisa, uma das coisas que me frustravam era que
poucos especialistas falavam sobre como, exatamente, estabelecer limites.
Eu lia páginas e mais páginas de informações valiosas, depois chegava ao
final e me perguntava: “Mas como DIZER ISSO?” Quando minha
comunidade do Whole30 começou a me perguntar qual seria a melhor
maneira de dizer “não” ao álcool, à sogra insistente ou àquele projeto de
trabalho extra, eu escrevia de volta: “Tente dizer ‘Agradeço, mas no
momento não estou bebendo’”, ou “Adoramos receber sua visita, mas se
não telefonar antes talvez não possamos recebê-la”, ou “Se eu aceitar esse
encargo, o Projeto A não será feito a tempo. Posso entregá-lo só na
semana que vem então?”. Muitas pessoas vieram me dizer que tinham
usado meu roteiro com grande sucesso.
No decorrer dos anos também comecei a compartilhar mais os meus
próprios limites, palavra por palavra. As pessoas adoravam ter exemplos
de linguagem clara e gentil adequada a qualquer situação ou ambiente, e
catalogavam uma lista cada vez maior de respostas. Esses roteiros
simples se transformaram na estrutura para os capítulos deste livro. Você
não somente lerá roteiros, estratégias e orientações para ter conversas
bem-sucedidas: explicarei exatamente o que dizer. Os roteiros abordam
situações propostas pela minha comunidade e reunidas a partir da
minha experiência, com respostas que você pode simplesmente copiar e
colar. Com o tempo, você vai desenvolver naturalmente sua própria
linguagem e não precisará mais de roteiros específicos para a maioria
das situações, mas até lá eu ajudo você.
O melhor limite usa a dose mínima para obter o efeito máximo. Esse é
um princípio da física creditado ao cientista e matemático grego
Arquimedes e popularizado hoje em dia no mundo fitness. Trata-se da
seguinte questão:
Colocando
os limites
em prática
CAPÍTULO 3
O verdadeiro equilíbrio
entre trabalho e vida pessoal
Como estabelecer limites no local de trabalho
M
inha irmã, Kelly, estava aproveitando férias de verdade pela
primeira vez em mais de um ano. Praticava stand-up paddle
contemplando as pacíficas águas azul-turquesa no litoral de
Barbados quando alguém gritou seu nome. Ela se virou e viu sua
cunhada, Kara, correndo pela praia, balançando os braços e chamando-
a. Kelly começou a remar de volta freneticamente – será que alguém
havia se machucado? Notícias ruins de casa? Finalmente chegou à areia e
disse, ofegante: “O QUE HOUVE?!” E Kara respondeu: “O Matthew está
ao telefone e quer falar com você.”
Matthew, o chefe de Kelly. Ele tinha conseguido o nome do hotel com
uma relutante colega de trabalho. Então ligou para o quarto de Kelly e
convenceu Kara a ir chamá-la. Durante as férias. No oceano. Para uma
coisa que não era absolutamente nenhuma emergência.
Eu também ficaria boquiaberta, incrédula, se já não tivesse ouvido
tantas histórias igualmente espantosas narradas por muitas pessoas que
me pediram ajuda para estabelecer limites no trabalho. No fim das
contas, gestores tenebrosos não são invenção do filme Quero matar meu
chefe.
Os limites no trabalho têm sido um tema recorrente desde março de
2020, quando a covid-19 embaralhou o emprego, a casa, os filhos, a
escola e o lazer. Faz doze anos que eu trabalho em casa, e aprendi há
uma década que se não estabelecesse limites quanto ao “horário de
trabalho” e ao “horário de descanso”, literalmente jamais sairia do
“escritório” (em 2010 eu respondia a e-mails na cama às onze da noite).
Mesmo assim, durante a pandemia, quando eu fazia reuniões pelo Zoom
no canto mais limpo do meu quarto ao mesmo tempo que
supervisionava as aulas do meu filho também pelo Zoom na sala de
jantar, além de cozinhar, fazer faxina, lavar roupa e entreter um
entediado garoto de 7 anos, minhas habilidades de especialista em
limites foram postas à prova.
Sempre que existe uma dinâmica de poder, seja do tipo pai e filho,
professor e aluno ou chefe e funcionário, fica cada vez mais difícil
estabelecer e manter limites. Se você é filho ou filha, aluno ou aluna,
funcionário ou funcionária, a hierarquia determina que você deve
receber ordens. Se sua chefe pede que você trabalhe depois do horário
ou no fim de semana, ou que a substitua enquanto ela sai para almoçar e
só volta horas depois, ela pode considerar sua recusa um ato de
insubordinação. Essas dinâmicas de poder transformam em campo
minado perguntas como “Você poderia vir trabalhar no seu dia de
folga?”, “Sei que combinamos para a semana que vem, mas será que você
consegue me entregar o projeto amanhã?” e “Topa sair comigo?”. (Sim,
chefes ainda chamam funcionárias para sair e, sim, isso é tão
problemático e desagradável quanto parece.) Ainda que essas dinâmicas
de poder não deem a ninguém a autoridade para se aproveitar de você, a
fronteira fica turva quando a pessoa do outro lado ocupa um posto
acima do seu e você realmente precisa do emprego.
Não é somente a estrutura hierárquica que atua na dinâmica de
poder no trabalho. E se você precisasse estabelecer limites com o seu
colega de trabalho que, por acaso, também é parceiro de golfe do seu
chefe? Ou com a colega com quem seu chefe (não muito secretamente)
está dormindo? Mesmo que você não preste contas diretamente a essas
pessoas, mesmo que elas tenham menos experiência e menos tempo de
serviço que você, se seu chefe simplesmente gosta mais delas, você
precisa agir com cuidado. (Essa empresa está começando a parecer o Big
Brother, não é mesmo?)
Além de toda essa dinâmica de poder, os sistemas de opressão
disseminados na sociedade – machismo, racismo, homofobia e
capacitismo, por exemplo – também estão presentes no ambiente de
trabalho. Se você é mulher, pessoa não branca, LGBTQIA+ ou portador
de deficiência, existe mais uma dinâmica de poder a ser rompida para
além da estrutura básica da sua equipe. Por exemplo, recentemente tive
contato com uma mulher negra chamada Victoria, que trabalhava numa
empresa de tecnologia e precisou se integrar no que chamou de “cultura
dos manos”. Victoria começou no atendimento ao cliente e chegou a
gerente de produto, sempre se esforçando para atender às expectativas
de gênero. Sentia que precisava rir das piadas machistas, escrever
sozinha as atas das reuniões e desconsiderar os próprios feitos, mesmo
quando atingia uma meta importante. Quando tentava estabelecer
limites saudáveis, costumava ser rotulada de “raivosa” ou “agressiva”,
estereótipos comuns para mulheres negras nos Estados Unidos.
Victoria me contou: “O pior foi que eu comecei a internalizar a
misoginia e o racismo no ambiente de trabalho. Desencorajava minhas
colegas de equipe a denunciar maus comportamentos, a ser incisivas
demais ou a estabelecer limites saudáveis em relação ao tempo, enquanto
os homens da empresa podiam ser ofensivos, petulantes ou exigentes à
vontade, sem que ninguém achasse aquilo minimamente estranho.”
Depois de aprender mais sobre limites, usar alguns dos meus roteiros e
dirigir aos colegas de trabalho perguntas difíceis, como “Mas é mesmo
agressivo pedir que você não me interrompa nas reuniões?”, Victoria
disse que o clima melhorou. Os colegas começaram a respeitar suas
opiniões e até mesmo a brincar com ela: “Vamos perguntar isso à
Victoria, ela manda logo a real.” Além disso, ela passou a encorajar seus
subordinados diretos a discutir com ela os limites necessários; assim, ela
poderia ajudá-los quando precisassem estabelecer limites para outras
pessoas. “Nem sempre é fácil, e a mudança pode ser lenta”, contou ela.
“Mas minha relação com a equipe está muito melhor, e isso renovou
minha confiança no trabalho.”
Como alguém que tem praticamente o máximo de privilégio possível
sem ser um homem hétero, cis e branco, ainda estou aprendendo a ser
uma boa aliada para os outros, em especial no mundo corporativo.
Posso fazer isso compartilhando minhas ferramentas para estabelecer
limites, e ter consciência desses fatores que se interconectam é um
primeiro passo necessário para todos aqueles que quiserem criar um
ambiente de trabalho positivo e recompensador para todo mundo.
IDENTIFIQUE OS ALERTAS VERMELHOS
PROCURANDO EMPREGO?
Se Kelly soubesse naquela época o que sabe agora, teria pesquisado mais a
fundo a cultura da empresa antes de aceitar o cargo. Quando estiver
procurando emprego, uma pergunta que você pode fazer em relação à
cultura (e que pode revelar como eles lidam com limites) é a seguinte: “A
empresa considera seus funcionários uma ‘família’? Por quê?” Ainda que
possa parecer promissor ouvir “Sim”, a Harvard Business Review considera
isso um enorme alerta vermelho.2 Quando uma empresa usa a metáfora da
família, cria uma dinâmica de poder ainda mais desequilibrada, em que o seu
chefe não é apenas seu chefe: também é seu pai, exigindo lealdade, respeito
e obediência em vez de trabalho em equipe, confiança e permuta justa de
valores. Frequentemente os empregados se sentem obrigados a proteger a
“família” a qualquer custo – inclusive trabalhando em horários pouco
razoáveis, comportando-se de modo pouco ético e não denunciando “irmãos
e irmãs” por desvios de conduta. A narrativa da “família” enfraquece os
empregados, que acabam se sentindo exaustos e incapazes de estabelecer
limites saudáveis. Por outro lado, a resposta “Não, não nos vemos como uma
família” não é garantia de uma cultura profissional saudável. O que o
empregador precisa é ser capaz de demonstrar uma cultura de respeito,
camaradagem e cooperação sem falar em “família”.
DILEMAS ÉTICOS: São tarefas, pedidos ou pressões que fazem com que
você se sinta mal e comprometem sua integridade: precisar contar
“mentirinhas inofensivas” aos clientes; sentir que precisa rir quando seu
chefe conta uma piada machista; ou ter que beber com clientes durante
um almoço profissional.
Ouvi esta última frase depois de pedir mais quinze minutos no meu
horário de almoço uma vez por semana para fazer terapia. Meu chefe na
época era mesmo um doce.
Além de recorrerem à manipulação e a comentários passivo-
agressivos, seu chefe, seus colegas ou seus clientes também podem partir
para a hostilidade pura e simples. No caso de Kelly, mesmo depois de ela
voltar de Barbados e ter uma conversa franca e profissional com o chefe
sobre respeitar suas férias no futuro, ele continuou a mandar mensagens
enquanto ela estava acampando, de licença médica e até em lua de mel
(ALERTA VERMELHO). Além disso, sempre que ela tentava estabelecer
qualquer tipo de limite razoável, era apresentada como mau exemplo
para os colegas e rotulada como pouco profissional por não colocar a
“empresa em primeiro lugar”.
Felizmente, para a maioria de nós, o ambiente de trabalho não é tão
tóxico assim. De todo modo, é comum os gestores acharem que você
está sendo rebelde ao tentar estabelecer limites saudáveis, por isso
acabam oferecendo um pouquinho de resistência para preservar o status
quo. Lembre-se: as pessoas pegarão tudo o que você se dispuser a dar, e se
você vem dando mais do que é devido, essas pessoas podem achar que
você está tirando alguma coisa delas ao simplesmente defender um
direito seu.
Não é necessário entrar nesse jogo. É sua responsabilidade garantir
que sua relação com o emprego seja saudável e sustentável. Você quer
trabalhar num “lugar” (remoto ou presencial) onde seu desempenho seja
o melhor possível, onde você deseje buscar o sucesso, mantenha o moral
elevado e sinta que lhe dão valor e respeito. E o melhor modo de
providenciar isso é a partir dos limites.
Agora vem a parte mais difícil: mesmo que você estabeleça limites
saudáveis no trabalho, como Kelly tentou fazer com afinco, mantê-los é
um desafio ainda maior, e às vezes levanta a questão: você pode se dar ao
luxo de perder esse emprego? Mesmo que você estabeleça limites claros e
profissionais, se você e a gestão continuarem a discordar sobre o
pagamento de horas extras, o horário de trabalho, o excesso de tarefas
ou cuidados básicos de saúde física e mental, suas únicas opções podem
ser apelar ao RH, mudar de departamento ou de filial, mobilizar-se com
colegas de trabalho para pressionar a empresa ou começar discretamente
a procurar um novo emprego.
Sim, eu poderia dizer que nenhum salário vale o sacrifício da sua
saúde, mas isso remete a privilégio, e não vou fazer isso. Para muitas
pessoas, largar o emprego não é uma opção, o que significa que talvez
você precise se perguntar: “Até que ponto posso comprometer meus
limites só para manter meu salário?” Nem sempre existem respostas
fáceis a essa pergunta.
A boa notícia (finalmente, Melissa, uma boa notícia), na verdade, são
duas. Primeira: quando você advoga a seu favor tentando estabelecer
limites no trabalho, aprende um bocado sobre o que realmente importa
para você e o que está procurando numa cultura corporativa. Depois de
anos brigando contra a cultura da empresa e adoecendo de tanta tensão,
Kelly decidiu que finalmente bastava – e se demitiu. (Espero que você
esteja aplaudindo junto comigo!) Ela não demorou a encontrar um novo
emprego, e o que convenceu o novo chefe a contratá-la na mesma hora
foi que todos os limites que ela vinha defendendo na antiga empresa
(equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, linguagem respeitosa, conduta
profissional e valorização da saúde) faziam parte da cultura daquela
organização. Ela está trabalhando lá, feliz, há oito anos. Mas, por incrível
que pareça, o antigo chefe continua a lhe pedir favores até hoje. Não
tenho palavras para definir isso.
A segunda boa notícia é que eu tenho muitas dicas e roteiros para
ajudar você a estabelecer agora mesmo limites claros, gentis e
profissionais. E se precisar de uma dose extra de motivação e
encorajamento, aqui vai seu novo mantra para o escritório:
Como posso dizer “não” a um chefe que fica colocando coisas na minha mesa
quando já estou com excesso de trabalho? Odeio negar serviço, mas se eu
aceitar mais uma tarefa, nada será feito a tempo ou com a qualidade habitual, e
já estou me aproximando do esgotamento.
VERDE: “Só posso assumir mais essa atribuição se você permitir que
outras tarefas não sejam feitas ou sejam adiadas.” Compartilhe uma
lista de tarefas com informações sobre quem está supervisionando,
qual o percentual realizado e quais são os prazos, se aplicável.
AMARELO: “Normalmente eu ajudaria, mas no momento não tenho
nenhuma brecha. X, Y e Z ocupam toda a minha capacidade.”
VERMELHO: (por escrito) “Estou praticamente no limite com minha
carga de trabalho atual. Não posso pegar mais nada no momento sob
pena de prejudicar meu desempenho e meus resultados, além da
minha saúde mental. Vamos marcar uma hora para discutir soluções
possíveis?”
Lembre-se: os limites devem ser flexíveis quando isso for bom para
você. Se for importante manter esse relacionamento e se você tem
condições de dedicar algum tempo a ele, determine até onde você pode
ajudar. Se der uma dica grátis, preste atenção aos futuros pedidos desse
cliente e saiba quando dar um basta.
Minha chefe impõe prazos absurdos a toda a minha equipe. Quando dizemos a
ela que precisamos de pelo menos uma semana para concluir o projeto, ela
exige que terminemos em dois dias. Isso estressa meus funcionários, mas se eu
tento defendê-los, minha chefe fica com raiva de mim. Pode me ajudar a
encontrar uma saída?
VERDE: “Se você quer que esse trabalho seja feito em dois dias, minha
equipe terá que se concentrar apenas nele e interromper todas as
outras tarefas durante algum tempo. Temos sua autorização para isso
e a garantia de que receberemos pelas horas extras?” Ou: “Podemos
concluir em dois dias, se você reduzir o escopo pela metade. Faremos
o que você achar melhor.”
AMARELO: “Isso não pode ser feito em dois dias com o escopo que
você definiu. Para garantir a qualidade do projeto, minha equipe
precisa de uma semana inteira.”
VERMELHO: “Não podemos concluir esse projeto em dois dias, e eu
adoraria explicar o motivo à alta administração.”
Trabalho num escritório com espaço aberto, e parece que as pessoas vivem
parando para bater papo quando estou atolado até o pescoço numa planilha e
realmente preciso me concentrar. Não quero ser grosseiro, mas como posso
dizer com gentileza “Por favor, não me distraia agora”?
VERDE: “Ah, estou no meio de uma tarefa... Será que posso dar uma
passada na sua mesa depois / encontrar você para um café às três da
tarde / almoçar com você hoje?”
AMARELO: (tirando os fones de ouvido depois de alguns segundos)
“Ah, eu coloco fones de ouvido quando preciso realmente me
concentrar. Depois falo com você.”
VERMELHO: Faça um cartaz de “Não Perturbe” e prenda no encosto
da sua cadeira ou na divisória da sua mesa e diga à chefia e aos
colegas que seu objetivo com isso é manter sua concentração durante
os momentos mais atarefados do dia. (Só não deixe o cartaz preso o
dia inteiro, pois não seria razoável.)
VERDE: “Não posso ficar esta noite, mas ajudo vocês amanhã de
manhã.”
AMARELO: “Não posso, estou de saída. O Brad vai ficar aqui até a hora
do fechamento, por que não pede a ele?”
VERMELHO: “Esta noite não posso!”, e saia pela porta.
Hoje não fui trabalhar porque estou doente, mas as pessoas ficam telefonando
e mandando mensagens de texto. Tecnicamente posso responder às
mensagens, mas não fui trabalhar por um bom motivo, e eu me recuperaria
muito melhor se pudesse apenas descansar. Como devo agir quando isso
acontece?
A gerência vive nos pressionando a trabalhar nos dias de folga (já tão
escassos), cobrir o horário de um colega doente, ajudar em outras tarefas
durante uma promoção ou comparecer a uma reunião importante. Quando digo
que preciso dos meus dias de descanso, ouço o seguinte: “Tenha espírito de
equipe e venha de qualquer modo.” Às vezes eu vou, mas não posso ficar
cedendo assim! O que devo dizer?
Se isso acontece com frequência, reúna-se com seus colegas e sua chefia
para discutir como vocês podem ajustar as necessidades de contingente
e de horários de modo que todos tenham o descanso (ou o pagamento
extra) de que precisam.
NÃO diga que você terá “acesso limitado a e-mails”.Em primeiro lugar,
isso é mentira: provavelmente seu telefone estará a menos de dois
metros de você o tempo todo. O mais importante: isso abre a porta
para “Talvez eu possa verificar de vez em quando”. Não olhe seus e-
mails quando estiver de folga. Simplesmente não faça isso.
NÃO diga “Respondo quando voltar ao escritório na segunda-feira”. Sua
caixa de entrada provavelmente estará transbordando, e se as
pessoas esperarem uma resposta imediata, você vai receber mais
uma tonelada de e-mails dizendo “Recebeu meu e-mail?”, além de
todas as outras mensagens não lidas.
Comunique-se com clareza. “Estarei fora do escritório entre [tal data]
e [tal data] e não vou checar e-mails ou mensagens de texto ou voz.”
Bum! Isso é que é dizer a verdade.
Use sua voz. Se quiser injetar algum humor ou personalidade, faça
isso! Só cuide para que a mensagem “Não me procurem” ainda seja
cristalina.
Mostre às pessoas como realizar as tarefas sem você. Forneça uma lista
de pessoas que elas podem contatar no seu lugar, disponibilize um
formulário que os clientes em potencial possam preencher ou
divulgue o canal de atendimento ao cliente.
Deixe claro que você responderá aos e-mails de acordo com sua
possibilidade.
“Agradeço desde já por sua paciência” é um bom
modo de regular essa expectativa.
Meu chefe me manda mensagens à noite (para o meu telefone pessoal) falando
sobre trabalho. Sei que ele poderia mandar e-mails tarde da noite em
emergências, mas mensagens sobre assuntos normais de trabalho parecem
invasivas. Como dizer isso a ele com gentileza?
VERDE: Presumindo que a situação não seja urgente, responda à
mensagem, mas acrescente: “Só mais uma coisa: se for tarde da noite,
será que você poderia não mandar mensagens de texto, a menos que
seja uma emergência? Agradeço se, depois das 18h, você
preferencialmente mandar e-mail. Assim posso olhar na manhã
seguinte.”
AMARELO: Não responda à mensagem. Na manhã seguinte diga
pessoalmente: “Ei, recebi sua mensagem ontem à noite, enquanto
estava com minha família. Da próxima vez, por favor, mande um e-
mail para não interromper o meu tempo de descanso. Vamos
conversar sobre aqueles pedidos de compras...”
VERMELHO: Não responda a nenhuma mensagem de texto que não
seja emergencial. Responda por e-mail no próximo dia útil,
repetindo o pedido para seu chefe não mandar mensagens sobre
questões de trabalho tarde da noite. Encaminhe cópia para o RH se o
seu tempo de folga não estiver sendo respeitado.
Trabalho com vendas e meu chefe diz que preciso beber quando saímos com
clientes, porque isso os deixaria mais confortáveis. Às vezes eu não quero
beber, mas não sei como reagir à pressão, por isso acabo cedendo. O que eu
poderia dizer?
VERDE: (antes de vocês saírem) “Olha, esta noite não vou beber. Vou
pedir um refrigerante discretamente e pronto – só para avisar.”
AMARELO: “Não gosto de sentir que preciso beber com os clientes.
Sou um ótimo vendedor, até mais convincente quando estou sóbrio.
Esta noite não vou beber.”
VERMELHO: “Acho que você está sugerindo que meu desempenho
depende do consumo de bebida alcoólica, e isso viola pelo menos
três políticas de RH. Espero que você nunca mais pressione ninguém
da equipe a beber.”
Torço muito para que a situação não chegue ao Vermelho, porque esse
ambiente de trabalho é bastante problemático. A abstinência está em
alta, e as pessoas estão expondo cada vez mais seus motivos para evitar
o álcool. Talvez seu posicionamento ajude um cliente a se sentir mais
confortável fazendo a mesma coisa – e isso acabe se convertendo numa
venda bem-sucedida.
Uma pessoa da minha equipe vive voltando tarde do almoço ou saindo ao meio-
dia e pedindo que eu acoberte sua ausência. Isso me coloca numa situação
incômoda e, francamente, sinto que ela está se aproveitando de mim. Como
posso recusar com educação sem me meter em encrenca?
VERDE: “Se alguém perguntar, posso avisar que você vai se atrasar um
pouco, mas isso é tudo o que me sinto confortável em dizer.”
AMARELO: “Não vou continuar acobertando sua ausência, e é injusto
que você continue me pedindo isso.”
VERMELHO: “Não vou mais mentir para proteger você.”
Prepare-se para uma forte reação, especialmente se essa pessoa for pega
descumprindo horários – mas lembre-se: isso não é da sua conta nem é
problema seu; estamos falando de uma pessoa adulta que deve saber
administrar o próprio tempo. Você não pode impedir que alguém se
demore durante o almoço – o que pode fazer é parar de acobertar essa
pessoa ou de mentir quando alguém perguntar por ela.
Às vezes minha chefe pede que eu faça coisas questionáveis (como mentir para
os clientes). Isso parece muito errado e eu odeio que me coloquem nessa
situação, mas também não sei como dizer “não” a ela.
VERDE: “Nossa, Roger! Acho que você não percebeu como isso soou
mal. Vou lhe dar mais uma chance.”
AMARELO: “Não, não, o que você disse não é legal, e não posso deixar
passar batido.”
VERMELHO: “Poxa, Roger! Isso é totalmente
inadequado/ofensivo/machista/racista, e viola umas doze políticas da
empresa. Não posso ficar em silêncio enquanto escuto esse tipo de
coisa.”
Note o uso de alertas de limite, que lhe dão um tempinho para mudar
de tom e reforçar sua autoconfiança. O Verde dá ao seu colega o
benefício da dúvida, acreditando que ele quer melhorar. É possível que
ele tenha iniciado a carreira numa época ou num local de trabalho que
era mais tolerante a esse tipo de comportamento, e ele precise ser
lembrado de vez em quando da necessidade de se ajustar ao aqui e
agora. Mencionar a política da empresa no Vermelho mostra que seu
próximo passo é dizer à chefia ou ao RH que Roger está ofendendo as
pessoas de propósito e se recusa a se corrigir.
Meu chefe vive assumindo o crédito pelas minhas ideias. [Essa foi a mensagem
mais curta que já recebi solicitando ajuda. Achei ótima.]
VERDE: (em particular) “Que bom que você achou inteligente meu
plano de tornar o evento virtual. Mas eu agradeceria se você tivesse
me dado o crédito naquela reunião. Não me senti bem com isso.”
AMARELO: Comece a documentar tudo por escrito. Se você
compartilhar uma ideia com alguém, envie um e-mail depois:
“Conforme nossa conversa mais cedo, eu lhe apresentei meu plano
de tornar o evento virtual e... [liste todas as suas ideias em tópicos].
Avise se quiser que eu compartilhe este plano com mais alguém.”
VERMELHO: (durante uma reunião com outras pessoas) “Fico feliz por
ter tocado no assunto, Chuck. Como o conceito do plano é
originalmente meu, será que posso falar do orçamento e dos prazos
que já comecei a esboçar?”
Este último limite pode parecer excessivo, mas o fato de seu chefe
continuar a se intrometer no seu papel e nas suas tarefas não beneficia
ninguém. Antes disso você poderia acrescentar um limite Laranja, do
tipo: “Você está insatisfeito com o andamento do projeto? Você vem me
dando opiniões em todos os estágios, apesar de eu não ter pedido
ajuda, o que me leva a pensar que talvez você não tenha certeza se eu
consigo realizá-lo sozinho.”
Meu gerente vive me tocando. Não é nada sexual – apenas a mão no ombro
quando quer minha atenção ou um soquinho no braço depois de uma piada –,
mas eu não gosto. Ele não faz por mal, por isso não sei como abordar o assunto.
VERDE: “Sei
que você só está tentando ser amigável, mas gostaria que
não me tocasse para chamar minha atenção ou indicar que estou
fazendo um bom trabalho. Pode usar só palavras mesmo.”
AMARELO: (levantando uma das mãos) “Ah, por favor, não faça isso.
Não gosto de contato físico no trabalho.”
VERMELHO: “Pare de me tocar desse jeito. É uma intimidade
inadequada, e eu não gosto.”
É provável que seu gerente fique desconfortável quando você puxar esse
assunto. (QUE BOM. Ele deve ter consciência de que seus atos
impactam outras pessoas.) Além disso, você pode se sentir culpada com
a reação dele. Por favor, não deixe que a reação de alguém ao seu
desconforto neutralize seu limite. Nós duas sabemos como isso é crucial
para a sua segurança no trabalho. Se necessário, para se resguardar,
fale com o chefe dele ou com o RH sobre essa conduta – que é
inaceitável em qualquer situação profissional.
As pessoas no meu trabalho são muito amistosas, mas eu prefiro não me abrir
sobre minha vida particular. Como posso responder a perguntas do tipo “Você
está namorando?”?
Meu chefe vive me chamando de “menina”. Sim, sou uma das pessoas mais
jovens do escritório, mas sou uma mulher adulta num ambiente profissional. Ele
diz isso com carinho, mas fico preocupada, achando que pode impactar a
maneira como os outros me enxergam, por isso quero encontrar um modo gentil
de dizer “Por favor, pare”.
VERDE: “Ei, eu posso ser nova, mas não sou uma menina. Por favor,
me chame de Jane.”
AMARELO: “Não é adequado me chamar de ‘menina’ no trabalho,
ainda mais na frente dos outros. Peço que você tente parar com isso,
por favor.”
VERMELHO: (interrompendo) “Menina não. É Jane.”
Se ele chama você assim há algum tempo e você deixou passar, nunca é
tarde demais para falar com franqueza. Experimente: “Sei que faz
tempo que você me chama de ‘menina’ e eu nunca disse nada. Mas,
para ser franca, isso me incomoda. Será que você poderia parar, por
favor?” Exponha o limite Amarelo num momento de calma, quando
você tiver toda a atenção dele – e deixe registrado, só para garantir.
N
o outono passado recebi um e-mail de um homem chamado
Caleb me pedindo ajuda para estabelecer limites nas festas de
fim de ano. Fazia mais de oito anos que os pais de Caleb
estavam divorciados, mas eles ainda brigavam sempre que interagiam.
Telefonemas, comemorações e jantares eram consumidos por
reclamações, e Caleb se via no meio do fogo cruzado. “Eles vivem
fazendo fofoca e comentários sarcásticos um sobre o outro, tipo ‘Dá para
acreditar que sua mãe fez isso?’ e ‘Claro que o seu pai está ocupado
demais para ajudar’. Minha esposa e eu aceitamos passar as datas festivas
com cada um deles, separadamente, mas não queremos nos envolver em
nenhuma briga nem ouvi-los falar mal um do outro. Eu os amo, mas já
cansei disso tudo. Pode me ajudar a estabelecer um limite?”
Se eu ganhasse um dólar por cada mensagem do tipo “Me ajude com
meus pais/sogros” que recebo dos meus leitores, estaria digitando isso
do meu iate particular nas Bahamas. Estabelecer limites com pessoas da
família é complicado por diversos fatores, inclusive por certas dinâmicas
de poder discutidas no Capítulo 3. Você passa os primeiros anos de vida
deixando seus pais dizerem o que você deve fazer – e há um bom motivo
para isso. Quando era criança, você precisava de ajuda, e seus pais eram
responsáveis (espero) pelo seu bem-estar, seu desenvolvimento e sua
segurança. À medida que você foi crescendo, provavelmente seu desejo
de independência foi aumentando e entrou em conflito com o fato de
você ainda precisar do apoio e da contribuição dos seus pais para se
manter seguro, bem alimentado e satisfeito em suas necessidades
básicas. Agora que chegou à vida adulta, você percebe como é difícil
romper esses padrões. Você não deseja nem precisa mais dos
comentários ou da ajuda dos seus pais, mas eles continuarão agindo
como responsáveis por você, e esse desejo geralmente bem-intencionado
de “ajudar” pode parecer uma intromissão, como se eles estivessem
passando do ponto.
Não há nada que me leve tão rapidamente de volta aos padrões
negativos de comunicação, de autodefesa e de comportamento do que
estar perto dos meus pais. (Bom, talvez meu ex-marido, mas falaremos
disso no Capítulo 7.) Os padrões que você cria na infância ficam
armazenados no corpo; portanto, ainda que racionalmente você saiba
que eles eram disfuncionais ou pouco saudáveis, é quase automático
voltar a eles quando a família está reunida. Para os pais também pode
ser difícil enxergar os filhos como adultos totalmente funcionais, com as
próprias opiniões, experiências e objetivos, capazes de tomar decisões e
cuidar da própria vida. Meu pai ainda me aconselha sobre tudo, desde a
criação de filhos até as obrigações com a casa e a manutenção do carro, e
às vezes finge que está emburrado quando não aceito esses conselhos.
Alguns de seus comentários são bem-vindos e saudáveis, mas outros
(como os que atropelam meu papel de mãe) exigem um limite.
O mesmo pode se aplicar a irmãos e outros parentes. Se vocês
conviveram durante a infância, os padrões estabelecidos naquela época
podem continuar presentes na vida adulta – mesmo se todos estiverem
fazendo terapia. Se os seus pais tinham “favoritos”, se um de vocês
sempre conseguia o que desejava, se você costumava ser quem
pacificava, ou se sua família era tão grande que você se sentia invisível,
essas dinâmicas da infância ainda podem encontrar um lugar à mesa
num jantar em família, mesmo quando todos já são adultos.
BONS LIMITES CRIAM FAMÍLIAS MAIS FORTES
AVÓS: Os limites para os avós dos seus filhos ajudam você a manter um
senso de segurança, consistência e autonomia em relação à sua casa e à
sua família. Avós podem querer opinar sobre a criação dos netos, e às
vezes essas opiniões vão de encontro às suas regras, ao seu estilo de
criação ou às suas instruções. Não importa se eles acham que você tem
excesso de rigor (“Um pouquinho de sorvete não vai fazer mal”) ou
excesso de permissividade (“Tablet no carro, é isso mesmo que estou
vendo?”), estabelecer limites saudáveis com seus pais e sogros em nome
dos seus filhos fará com que as visitas sejam mais descontraídas e
agradáveis.
OUTROS PARENTES: Esteja você pedindo à tia Mary que pare de falar de
política durante o almoço ou dizendo ao seu irmão mais novo para tirar
o pé do seu sofá, estabelecer limites para outros parentes pode ter efeitos
positivos que reverberam em toda a família – mas que no início podem
provocar algumas ondas de choque. Lembre que “clareza é gentileza” e, o
mais importante, que os limites não são egoístas, uma vez que melhoram
toda a dinâmica da sua família. Além disso, é fundamental ter paciência
sempre que você quiser mudar padrões passados de geração em geração.
Isso pode não acontecer da noite para o dia. Mas, com persistência, as
coisas vão mudar, sim.
Mesmo que a ideia tenha partido de você, o limite será mais bem
implementado se o casal estiver de acordo sobre isso. Portanto é trabalho
do seu par conversar com os próprios pais em nome de vocês dois. Não é
preciso revelar que a ideia foi sua. Falar “Bom, Taylor gostaria...” é tirar o
corpo fora e enfraquecer imediatamente o argumento coletivo. Seu par
precisa apresentar esse limite aos pais de modo a mostrar que essas
preferências são do casal. Se os dois não estiverem de acordo, você não
terá chance nenhuma de estabelecer um limite eficaz para sogros
intrometidos.
De preferência, seu par deve falar assim: “Nós estamos pedindo
(inserir o limite). Nós entramos em acordo e gostaríamos que isso fosse
respeitado. Nós vamos impor as seguintes consequências se vocês não
respeitarem nosso limite.” Mas prepare-se para que isso pareça tão
desconfortável para seu par a ponto de você acabar precisando assumir o
controle. Se for o caso, certifique-se de primeiro fazer duas coisas. Um:
confirme o total apoio do seu par em relação a esse limite, mesmo que
seja você a pessoa que vai comunicá-lo. Dois: pergunte até que ponto seu
par vai apoiar você durante a conversa. Se ele ou ela não quiser estar
presente para confirmar que está ao seu lado, ou para dar apoio moral
em silêncio, você pode ficar numa situação complicada. Nesse caso,
haverá mesmo uma batalha e seu par terá que escolher um dos lados, o
que pode lhe parecer um gesto de abandono e traição.
O NÚMERO MÁGICO
Durante anos usei esse truque para tomar decisões. Pergunte a si mesmo:
“Numa escala de 1 a 10, quanto eu me incomodo quando minha sogra
aparece sem avisar? O incômodo é 10, tipo irritação máxima; ou é 3, uma
revirada de olhos, mas tudo bem?” Em seguida pergunte a seu par: “Até que
ponto é importante para você que sua mãe tenha a liberdade de aparecer
quando quiser, sem aviso?” Não contem um ao outro a nota que cada um deu
para não serem influenciados. Em seguida, comparem os números. Se o
incômodo para você é 7, mas para seu par é apenas 3, isso ajuda a
estabelecer o limite: sua sogra precisa telefonar avisando, mesmo que seja
com dez minutos de antecedência. Se sua esposa muito grávida quer a
presença da mãe num nível 8 ou 10 quando o bebê nascer, e você quer
apenas um 5 sem ter certeza se isso vai ser útil ou irritante, dê à sua esposa
o que ela necessita para se sentir segura e cuidada. Desde que vocês estejam
comprometidos com a racionalidade, com a franqueza e com o bem-estar do
casal (e não somente com “vencer a discussão”), essa simples ferramenta
pode facilitar muito as conversas sobre limites.
“Como posso pedir que meus pais não forcem meus filhos a abraçá-
los?”
“O que posso dizer quando minha mãe tenta disciplinar meus filhos
passando por cima de mim?”
“Meus pais acham que imponho rotinas rígidas demais – mas eu
sou a mãe das crianças.”
“Odeio quando meus pais dão doces para os meus filhos, mesmo
depois de eu pedir que não façam isso.”
No fim das contas, talvez você só precise lembrar aos seus pais que,
apesar de eles discordarem do seu modo de criação, das suas regras ou
das suas práticas, a vida é sua e do seu filho, e agora é hora do rito de
passagem de todos os avós: parar de se envolver e cuidar da própria vida.
Você pode dizer isso de um modo mais gentil, mas só se quiser.
SAIBA O QUE VOCÊ QUER. Vou enfatizar de novo: a não ser que dedique
algum tempo a determinar onde estão seus limites e o que realmente
deseja, você não poderá estabelecer um limite eficaz. Você sabe que
visitar quatro casas diferentes nas datas festivas deixa qualquer um
louco... mas o que você se dispõe a fazer e como realmente quer que seja
o seu feriado? Primeiro tenha clareza disso (com seu companheiro ou
companheira e com seus filhos, se for o caso) antes de tentar estabelecer
um limite para outras pessoas.
COMECE DEVAGAR. Você não precisa começar com o maior limite, o mais
complicado, o que tem mais chances de mudar a dinâmica da família.
Treine com algo menos intimidante, obtenha uma pequena vitória e vá
ganhando confiança para finalmente ter aquela conversa do tipo: “Por
favor, não atravesse o país inteiro de avião sem antes avisar que está
vindo.”
SAIBA QUE LOGO FICARÁ MAIS FÁCIL. Na maioria dos casos, estabelecer os
primeiros limites parece incômodo ou desconfortável. Porém, mais cedo
do que você imagina, isso simplesmente se torna algo natural para todos
os envolvidos. Se você conseguir superar o desconforto inicial, pode
descobrir que daí em diante tudo fica muito mais fácil.
Meus pais são divorciados há muito tempo, mas continuam a fofocar e falar mal
um do outro quando estou perto. Até me arrastam para isso, tentando me
obrigar a escolher um lado. Eu amo os dois e não quero participar dessas
brigas. Como posso estabelecer um limite para isso?
VERDE:“Mãe, por favor, não fale mal do meu pai na minha frente. Eu
amo vocês dois e não quero ouvir isso.” E mude de assunto.
AMARELO: “Olha, mãe, eu pedi que você não fale mal do meu pai na
minha frente. Por favor, pare.” Repita, se necessário.
VERMELHO: “Para, mãe. Não vou escutar isso. Depois nos falamos.” E
vá dar uma volta ou saia do cômodo.
Esses são roteiros simples que passei para Caleb durante nossas
conversas sobre limites. Lembre-se: você não pode obrigar seus pais a
sentir ou fazer alguma coisa. Digo isso para o caso de você já ter feito
pedidos centrados na mudança de comportamento deles, como “Mãe,
supere isso”, ou “Pai, você precisa parar de sentir raiva”. Seu limite tem
que ser centrado em você: neste caso, no seu desejo de não fazer parte
das intrigas. Digo isso com amor, como filha que sou de pais
divorciados.
Meus sogros aparecem o tempo todo na nossa casa sem avisar. Pedi que eles
ligassem primeiro, mas eles continuam dando “um pulinho” aqui porque já
estavam “na vizinhança”. Isso pode atrapalhar, especialmente num fim de
semana movimentado, mas não sei como deixar claro que realmente queremos
que eles telefonem primeiro.
Talvez vocês precisem ser ainda mais claros no Verde, tipo: “Telefonem
primeiro para saber se estamos livres – não quando já estiverem na
porta.” Além disso, vocês podem ter que usar a consequência uma ou
duas vezes antes de eles entenderem. Não atender à porta pode parecer
rude demais; no entanto, se vocês estão assistindo a um filme em
família, fazendo algum trabalho ou dever de casa ou se preparando
para sair, as exigências dos seus sogros não são mais importantes do
que os planos da sua família. Pegar o telefone e ligar não é difícil.
Meus pais vão à igreja todo domingo. Eu parei de ir quando era adolescente, e
meu marido não é religioso. Quando nós os visitamos, somos sempre
pressionados para ir com eles. Como posso recusar esse convite de um modo
respeitoso?
Meus sogros vivem se convidando para nossas férias de família. Há dois anos
deixamos eles irem conosco num cruzeiro, e isso complicou tanto as coisas que
o passeio não foi divertido para nenhum de nós. Estamos planejando nossa
próxima viagem e eu gostaria de me antecipar a esse problema. Como posso
dizer com gentileza “Vocês não foram convidados”?
Meus pais e meus sogros são divorciados, e as quatro famílias esperam que a
gente esteja presente no Natal. É uma correria tremenda, e acabamos sem
tempo para nós mesmos. É demais, mas não queremos desapontar ninguém.
Meu pai nos emprestou dinheiro para comprarmos nossa casa. Estamos
quitando o empréstimo aos poucos, mas até lá ele parece achar que tem o
direito de visitar a gente sem avisar. Eu e minha esposa fizemos uma cópia da
chave para ele, para usar numa emergência, mas ele entra e fica por horas e
horas, muitas vezes se convidando para o jantar. Eu me sinto culpado, mas o
acordo não foi esse. Será que posso dizer alguma coisa?
VERDE: (entre uma visita e outra) “Pai, agradeço muito o favor que
você nos fez, mas precisamos estabelecer algum limite para as suas
visitas. Se quiser dar uma passada aqui, deve ligar antes. Se
estivermos trabalhando ou quisermos sair sozinhos, você precisa
respeitar nosso tempo. E, se quiser ficar para o jantar, deve perguntar
primeiro. Se pudermos recebê-lo, tudo bem, mas nem sempre isso
será possível, e gostaríamos que entendesse.”
AMARELO: “Pai, queremos nossa chave de volta, por favor. Pedimos
que você ligasse antes de vir, e você não está respeitando isso.”
VERMELHO: Avise a ele que vocês trocaram a fechadura para
preservar a privacidade do casal, e lembre a ele de novo que se ele
não telefonar antes de aparecer, vocês se reservam o direito de não
atender à porta.
É importante estabelecer limites para os avós dos seus filhos sobre como
você quer criá-los. Você provavelmente tem expectativas sobre como
quer que seus pais se relacionem com as crianças (especialmente quando
você não estiver por perto), e tudo bem. Passar por cima de você,
contradizer suas regras, compartilhar valores que não estejam alinhados
com os seus e permitir ou reprimir comportamentos que você não
permitiria ou reprimiria podem deixar seus filhos confusos, além de
criar um ambiente estressante e tenso para todos.
Limites saudáveis para o vovô e a vovó não visam controlar ou
restringir – são um presente! Com esses limites você está permitindo
que seus pais vivam o melhor da condição de avós. Eles podem visitar os
netos sem a responsabilidade de criá-los ou discipliná-los, e terão a
oportunidade de estar com eles na melhor situação possível: felizes,
relaxados e apreciando o tempo especial que passam juntos. Seus filhos
gostarão de uma visita descontraída, sabendo que ainda poderão contar
com a estabilidade das rotinas e das regras. E você ficará mais feliz e
mais à vontade sabendo que seus filhos estão sendo cuidados de um
modo que combina com seus valores e seu jeito de criar. Imagine quão
leve você se sentiria se pudesse mandar seus filhos para a casa dos avós
sem esperar nenhum conflito. Os limites são o caminho.
Meus pais tentam estabelecer regras na minha casa, mesmo quando estou lá.
Dizem aos meus filhos que eles precisam lavar a louça quando eu já os liberei,
ou pedem que desliguem o tablet no momento em que eles têm permissão para
usá-lo. Como posso pedir que eles não passem por cima de mim?
VERDE: (longe das crianças) “Se meus filhos estiverem com vocês e eu
não estiver perto, eles obviamente devem seguir suas regras. Mas
quando eu estiver aqui, por favor, deixem que eu tome as decisões. É
confuso quando vocês me contradizem.”
AMARELO: “Mãe, eu disse que as crianças podem ficar uma hora com
o tablet. Por favor, não contradiga minhas decisões.”
VERMELHO: “Não, vovó, eu já disse que ele não precisa fazer isso.
Casey, pode ir brincar, querido.”
Meu filho tem eczema provocado por laticínios e glúten. Eu disse várias vezes
aos meus pais para não dar esse tipo de alimento a ele, mas sempre que vou
pegá-lo ele diz que o vovô lhe deu sorvete ou biscoitos. Como posso explicar
que esse pedido precisa ser levado a sério?
O VILÃO DA HISTÓRIA
E quando a outra pessoa faz de você o vilão da história aos olhos dos seus
filhos? “O vovô queria te dar sorvete, mas a mamãe não deixa” é um modo
imaturo e manipulativo de reagir a um limite – mas isso acontece. Nesse caso,
reaja rapidamente na frente das crianças: “Vovô, pare de implicar com a
gente, isso não é legal. Sabemos que sorvete provoca coceira no Hunter; a
culpa não é dele.” E então, longe das crianças, estabeleça imediatamente
mais um limite para o vovô: “Não é legal você manipular o Hunter assim. Se
continuar reagindo aos meus pedidos desse jeito infantil, vou pedir que você
volte para sua casa / vamos embora agora mesmo.”
Minha filha de 4 anos não gosta de abraços, mas a avó dela insiste em ganhar
um abraço e um beijo sempre que nos visita, muitas vezes obrigando a menina
a obedecer. Estou ensinando aos meus filhos sobre consentimento, e quero que
as pessoas respeitem quando minha filha disser “não”. Alguma dica?
Meu filho adolescente acaba de se assumir trans para nossa família. A maior
parte das pessoas tem demonstrado apoio, mas meus pais ainda usam o nome
e os pronomes antigos. Quando os corrijo, eles dizem que vão demorar para “se
acostumar com isso”. Como posso ajudar meu garoto?
Se for necessário proteger seu filho de outros familiares, faça isso, por
favor, não importa quem sejam essas pessoas. Diga que só poderão se
comunicar com ele por e-mail (que você vai filtrar), ou não permita
nenhum contato até que eles se comprometam a demonstrar respeito
pela identidade do seu filho.
RESPONDENDO A ACUSAÇÕES
Ainda que esse limite se destine a manter sua bebê saudável, prepare-se
para uma reação contrária dos seus pais: “Você sempre quis que a gente se
vacinasse, e agora está usando a bebê para nos forçar a isso.” Eles até
podem pensar assim, mas explique que esse limite tem a ver com a saúde da
sua bebê, e que você não está forçando ninguém a nada – a escolha é deles.
Eles podem se vacinar e fazer carinho na bebê ou podem continuar sem
vacina e descobrir outras maneiras de contato, como videochamadas ou
encontros ao ar livre. Garanta aos seus pais que você respeitará a decisão
deles, assim como eles precisam respeitar as decisões que você está
tomando para sua neném.
Decidimos não colocar nenhuma foto da nossa bebê na internet. Pedimos que
as pessoas da família fizessem o mesmo, mas minha mãe ainda posta fotos na
página dela no Facebook. Ela diz: “Quase ninguém me segue e preciso mostrar
minha netinha.” O que podemos fazer?
VERDE: “Mãe, quando você posta coisas que eu pedi que não
postasse, é uma tremenda violação de confiança. Preciso que você
entenda que isso é grave e nos deixa muito inseguros. Você tem duas
opções: ou torna sua página privada e limitada aos parentes e amigos
mais próximos ou para totalmente de postar fotos no Facebook e
passa a enviá-las para os amigos por WhatsApp ou e-mail.”
AMARELO: “Você continuou a postar fotos depois de eu pedir que não
fizesse mais isso. Isso não é legal. Se não consegue respeitar um
pedido tão simples, não vamos mais mandar fotos para você e vamos
excluí-la das nossas redes sociais.” (Lembre a ela as opções do limite
Verde, usando outras palavras.)
VERMELHO: “Não vou mais mandar fotos da neném para você. E você
pode vir visitá-la, mas por favor não tire fotos. Nós somos
responsáveis pela segurança e pela privacidade da nossa filha, e já
deu para perceber que, no seu caso, precisamos ser rigorosos com
isso.” Você pode até mesmo restringir as visitas da sua mãe – se
chegar a esse ponto, é porque o desrespeito ao seu pedido foi mesmo
gigantesco.
Esse foi um limite que estabelecemos assim que nosso filho nasceu, e
felizmente nossos familiares e amigos o respeitaram na mesma hora.
Não consigo imaginar como isso evoluiria para um limite Vermelho,
mas vovôs e vovós nunca deixam de me surpreender. Para aumentar as
chances de sucesso do limite Verde, você pode se oferecer para ajudar
sua mãe a mexer com tecnologia, criando para ela uma página
privada no Facebook, abrindo um grupo no WhatsApp ou instalando
um porta-retratos digital na casa dela, por exemplo.
Não concordo com alguns parentes quando o tema é política e justiça social.
Quando estamos juntos, eles fazem questão de expressar seus pontos de vista.
Eles têm direito à própria opinião, acho, mas para mim alguns comentários são
inaceitáveis. Será que consigo estabelecer um limite quanto a isso?
Sim, você pode estabelecer um limite quanto a isso. Se para você for
importante manter um bom relacionamento com seus parentes e/ou se
for inevitável encontrá-los de vez em quando, estabelecer e manter um
limite saudável é o único modo de evitar que os eventos em família se
transformem em bate-boca.
Minha irmã insiste em levar o cachorro dela a todo lugar, inclusive à nossa casa,
todos os domingos, para o jantar da família. Meu filho é um pouco alérgico e
não queremos ter pelos de cachorro por toda a casa, mas ela teima em afirmar
que o cachorro não pode ficar sozinho. Preciso estabelecer um limite.
VERDE: (antes da visita) “Andie, o cachorro não pode vir com você
esta noite. Você pode deixá-lo na sua casa ou numa área cercada no
nosso quintal, mas não podemos permitir que ele entre em casa. Só
para ficar claro.”
AMARELO: “Puxa, eu pedi que você não trouxesse o cachorro. Você
prefere levá-lo de volta para casa ou deixá-lo ali no quintal?”
VERMELHO: “Se você não quiser deixar o cachorro lá fora, vamos
marcar o jantar para outro dia. Ligo para você amanhã.”
MUDANDO AS REGRAS
Nesse ponto é comum alguém dizer: “Mas antes você não via problema
nisso!” Você deixava o cachorro entrar em casa, deixava que movessem seu
sofá, deixava que visitassem você sem avisar... Estão tentando pintar você
como uma pessoa instável ou hiper-reativa por ter mudado de ideia de
repente. Mas adivinhe só: você pode mudar de ideia! Você pode decidir falar
em vez de guardar rancor! Pode começar a pôr suas necessidades em
primeiro plano! Eis uma boa resposta: “É, eu costumava deixar, mas também
achava ruim. Estou falando agora porque não gosto de me chatear com você,
e aposto que você também não quer que eu me sinta assim. Isso só vai
melhorar nossa relação, e sei que vamos nos entender.”
Minha cunhada tem um antigo hábito de me criticar quando ninguém está por
perto. Ela fala baixinho: “Você parece cansada”, ou “Você tem comido o
suficiente?”. Quando reclamo disso, ela diz que não tenho motivo para ficar na
defensiva, que ela só está “preocupada” comigo. Parece que não consigo me
defender.
É aqui que manter uma postura fria, calma e contida faz uma enorme
diferença. Estabeleça o seu limite (de preferência, com testemunhas) e
não permita que sua cunhada manipule você. Se ela protestar ou
bancar a vítima, tente um simples “Amanda, não preciso ouvir mais
isso – muda o disco.” E você pode discutir isso com seu par e lhe pedir
apoio. É provável que o comportamento da irmã não lhe cause
nenhuma surpresa.
Meu irmão mais novo vive me pedindo dinheiro emprestado – 20 dólares aqui,
50 dólares ali. Às vezes ele me paga, mas geralmente não. Eu odeio vê-lo em
dificuldades, mas não sou um caixa eletrônico... Como posso estabelecer limites
sem parecer uma pessoa horrível?
VERDE: “Posso arranjar 50 dólares hoje, mas só isso. Este mês não
vou poder ajudar mais.”
AMARELO: “Não posso lhe dar mais nenhum dinheiro, Rob. Posso
ajudar de outro modo?”
VERMELHO: “Não posso lhe emprestar dinheiro, Rob. Sinto que você
está me usando, e isso não é saudável.”
Para evitar esse tipo de conflito, você pode criar com antecedência uma
política de “não emprestar dinheiro a parentes e amigos”
(automatização). Se já estiver fazendo isso, lembre-se de que sua
condição financeira não determina o seu limite. Você pode estar numa
situação suficientemente confortável para dar 20 dólares a alguém e
mesmo assim não precisa fazer isso. Você é quem decide qual é o seu
limite.
Sou mãe de uma criança de 4 anos e não trabalho fora. Minha irmã tem um filho
um ano mais novo e presume que posso servir de babá sempre que ela precisa.
Ela simplesmente aparece com ele e pergunta: “Você se incomoda?”, e no
momento é difícil negar ajuda... mas só porque eu fico em casa, isso não
significa que estou livre! Socorro.
VERDE: (antes da visita) “Que bom que você vem. Aqui estão alguns
hotéis e Airbnbs em áreas incríveis da cidade, e eu adoraria me
encontrar com você para almoçar ou jantar um dia – diga o que acha
melhor para você.”
AMARELO: “Meu apartamento é muito pequeno e não tenho espaço
para hóspedes. Quer que eu ajude você a encontrar um hotel ou
Airbnb?”
VERMELHO: “Ficar aqui não é uma opção. Avise se quiser que eu
ajude você a encontrar um local adequado.”
Vamos falar do elefante na sala: sim, você pode estabelecer limites para
seus filhos. Mesmo se eles forem pequenos. Especialmente se eles forem
pequenos! Trate isso como algo natural e os ensine a respeitar os limites
dos outros, e eles não crescerão com os mesmos desafios que você e eu
enfrentamos. Os limites dão segurança às crianças, ensinam que elas
devem ser pacientes e aceitar as consequências, e proporcionam uma
estrutura de autonomia – adequada a cada idade.
Para isso eu convidaria você a trabalhar com um ludoterapeuta,
psicólogo especializado na infância ou educador, porque você precisará
de diferentes estratégias, abordagens e linguagens para diferentes faixas
etárias. (Você não pode racionalizar com seu filhinho de 3 anos do
mesmo modo como faria com sua sogra – ainda que às vezes os dois
falem do mesmo modo.) Aqui vão algumas dicas gerais para trabalhar
com limites em todas as idades.
IDADE ESCOLAR (6-12 ANOS): Agora meu filho está no quinto ano, e entre
os limites para ele estão não assistir à TV de manhã antes de ir para a
escola (porque isso torna a saída de casa estressante para todo mundo);
não entrar no nosso escritório se não tiver permissão (porque isso
invade nossa privacidade); não usar meu telefone sem pedir (idem); e se
eu quiser quinze minutos sozinha para recarregar minhas energias antes
de brincarmos, ele precisa respeitar isso. Por outro lado, ele ficou tão
confortável com os limites que não é incomum que ele próprio estabeleça
um limite para nós. Não temos permissão de ler o diário pessoal dele; ele
se sente confortável em dizer “Não quero um abraço” se não estiver a
fim; pede meia hora para uma chamada de vídeo com amigos antes de
começarmos o dever de casa; e não quer mais que eu lhe diga o que
vestir. Minha condição: desde que esteja limpo e se encaixe no código de
vestimenta da escola, ele pode usar o que quiser. (Algumas escolhas dele
são... digamos, criativas.)
O primeiro contato que tive com Lucy foi no inverno. Ela estava
perdendo a paciência com sua amiga Olivia e me escreveu uma série de
mensagens pedindo conselhos. Quando Lucy e Olivia se tornaram
amigas, Olivia estava passando por maus bocados com seu namorado,
com quem tinha um relacionamento ioiô. Lucy era boa ouvinte e
costumava passar horas ao telefone com Olivia, dando conselhos,
oferecendo apoio e um ocasional “Larga esse cara, você consegue coisa
muito melhor”. Mas com o tempo começou a notar certas coisas. Uma
era que Olivia nunca seguia os seus conselhos. Jamais. Por isso as
conversas viviam se repetindo, como no filme Feitiço do tempo, apesar de
Lucy fazer um monte de recomendações (solicitadas) sobre como a
amiga deveria agir. Outra era que toda aquela “amizade” parecia se
basear na disposição de Lucy de continuar ouvindo enquanto Olivia
reclamava. E ela reclamava sobre o trabalho, sobre o relacionamento,
sobre a família – a lamúria não tinha fim. E, para Olivia, a culpa nunca
era dela.
A princípio Lucy presumiu que Olivia estava perturbada e distraída
demais para perguntar sobre o seu dia ou a sua vida. Lucy chegou a
tentar se incluir mais na conversa, dizendo coisas como “Agora vamos
falar de notícia boa”, ou “Adivinha só, acabei de marcar uma viagem com
meus pais!”. Mas Olivia jamais pegava a deixa e às vezes acusava Lucy de
ser insensível por falar de coisas boas enquanto ela, sua amiga, estava
claramente em dificuldades.
Quando li essa parte da história, mandei um único emoji para Lucy:
uma vampirinha. Expliquei: “Você está convivendo com uma vampira
emocional, e se tiver alguma chance de salvar essa amizade – se é que
deseja isso –, precisa estabelecer alguns limites. Imediatamente.”
Neste capítulo vou abordar situações que se encaixam em duas
categorias: amigos e vizinhos. Juntei-as aqui porque pode haver
sobreposição entre elas. Existe um elemento de escolha mútua nos
relacionamentos que você tem com amigos e vizinhos, já que você tem
algum controle sobre como eles aparecem na sua vida. E a diferença
entre eles pode ser tênue se você for morar com amigos ou se fizer
amizade com seus novos vizinhos.
Limites desse tipo podem ser um pouco complicados também.
Relacionamentos costumam mudar com o tempo, e muitas vezes é
preciso ajustar os limites existentes ou estabelecer novos. E nem sempre
é fácil fazer valer as consequências com alguém com quem você assinou
um contrato de aluguel, ou com um vizinho que se comporta mal no
quintal dele. Neste capítulo você vai encontrar roteiros que ajudarão a
construir cercas metafóricas para manter cada um desses
relacionamentos prosperando.
É FÃ OU HATER?
Se você descobrir que precisa encerrar uma amizade, pode seguir estas
boas práticas para se comunicar com clareza e diminuir as chances de
drama, dando a cada parte a oportunidade de se afastar com elegância.
OLÁ, VIZINHOS!
(AGORA SAIAM DO MEU QUINTAL, POR FAVOR.)
Grande parte dos limites para sua vizinhança começa muito antes de
você experimentar algum conflito. Quando eu era pequena, meus pais
conheciam bem todos os vizinhos. Eu entrava na casa de todos eles e
frequentemente tínhamos festas de quarteirão e confraternizávamos.
Várias vezes fui mandada à casa de Cindy, uma vizinha, para pedir um
ovo ou uma xícara de leite. Hoje parece que estamos todos isolados em
bolhas, e, a não ser que nos esforcemos para nos apresentar aos vizinhos,
é provável que jamais falemos com eles... até que surja um problema.
Esse nunca será um bom modo de estabelecer relações, portanto aqui
vão algumas dicas saídas diretamente da década de 1980 para ajudar
você a pavimentar o caminho para cercas simples, cercas baixas ou até
cerca nenhuma (para o caso de sua vizinhança ter evoluído ao nível Vila
Sésamo).
Fiz uma nova amiga na academia e ela parece ser uma ótima pessoa – mas
percebi que ela fala demais sobre si mesma e não pergunta muito sobre minha
vida. Se vou investir numa nova amizade, que seja uma via de mão dupla. Como
posso dizer “Pare de falar tanto sobre si mesma”?
Você pode usar o limite Verde para ver se a pessoa se toca e percebe que
não está sendo boa ouvinte. Se nada mudar, por mais que pareça
incômodo, você tem todo o direito de se afastar. As amizades dão
trabalho, e essa pessoa não parece tão empenhada quanto você.
Tenho uma amiga que some durante meses, depois reaparece quando precisa
de alguma coisa. Isso não é legal. Como posso dizer isso a ela?
VERDE: “Já faz um tempo que a gente não se vê, e parece que você só
me procura quando precisa de alguma coisa. Não acho isso bacana e
queria primeiro conversar com você sobre isso.”
AMARELO: “Não é legal você sumir durante meses e aparecer quando
precisa de um favor. Agora não posso ajudar, mas pode me ligar
amanhã se quiser continuar a conversa.”
VERMELHO: “Entendo que você precise de ajuda, mas você sumiu
completamente da minha vida e isso me deixou muito triste. Procuro
você de novo quando – e se – eu quiser conversar.”
VERDE: “Por favor, pare de me mandar esse tipo de e-mail. Você sabe
que a gente pensa diferente e não quero que você me force a ver
conteúdos como esses.”
AMARELO: “Não abri seus dois últimos e-mails porque você continua
a enviar conteúdos que eu pedi especificamente que não mandasse.
Se você não respeitar isso, nossa amizade vai terminar.”
VERMELHO: Bloqueie seu amigo e seja feliz.
A BELEZA DO BLOQUEIO
Bloquear ou deixar de seguir um amigo de verdade numa rede social jamais
deveria ser o seu primeiro passo, já que esse comportamento não é claro nem
gentil. No entanto, se você já estabeleceu vários limites e vê que a pessoa
simplesmente não consegue ou não quer respeitá-los, cortar o acesso que ela
tem a você é a consequência natural desse desrespeito. (Lembre-se: um
limite é o seu limite. Assim, se a pessoa o ultrapassar, você terá que tomar
uma atitude.) Nesse ponto, silenciar, bloquear ou deixar de seguir é um último
esforço para preservar sua saúde emocional e mental – e posso dizer por
experiência própria: isso funciona. Ao bloquear a pessoa, você também está
bloqueando a ansiedade, a irritação, o ressentimento e a raiva que sente
toda vez que o nome dela aparece no seu feed ou na caixa de entrada, e o
tempo que você passa nas redes sociais será muito mais agradável e
divertido.
Tenho uma amiga que fica furiosa quando me manda uma mensagem e eu não
respondo na mesma hora. Ela chega ao ponto de ficar olhando as minhas redes
sociais e depois dizer: “Então você pode postar no Instagram, mas não pode me
responder?” Preciso explicar (gentilmente) que não estou à disposição dela.
Tenho uma amiga que me dá um bolo após outro. Entendo que imprevistos
acontecem, mas ela vive cancelando nossos planos no último minuto, sempre
com uma desculpa esfarrapada. O que devo fazer?
Tenho uma amiga que vive fazendo fofoca de todo mundo – às vezes de
pessoas que eu conheço. Pedi que ela parasse porque não gosto de me meter
na vida alheia e porque fofocar não é uma coisa gentil a se fazer, especialmente
quando ela está falando de nossos amigos. Como posso deixar isso claro?
VERDE: “Ah, espera. Falar da Mia desse jeito não é legal, e não me
sinto confortável com isso.” E mude de assunto.
AMARELO: “Não quero falar de outras pessoas pelas costas, e até
pergunto a mim mesma se você não fala de mim quando não estou
por perto. Não gosto disso.”
VERMELHO: “Uma amizade que envolve fofoca não funciona para
mim. Desejo tudo de bom a você.”
Se sua amiga está falando dos outros com você, garanto que ela está
falando de você com os outros. E você não vai querer manter por perto
uma amiga em quem não possa confiar.
VERDE: (depois que tiver acontecido) “Aquele elogio que você me fez
foi muito estranho e pareceu bem sacana. Eu jamais faria isso com
você, então por que fez comigo?”
AMARELO: (enquanto estiver acontecendo) “Nossa. Achei que a gente
tinha conversado sobre piadas maldosas assim. Isso não foi legal.
Com licença.” E se afaste.
VERMELHO: “Eu não deixo meus amigos dizerem coisas assim a meu
respeito. Acho que, para mim, chega.”
Se é isso que sua amiga está dizendo na sua cara, nem consigo
imaginar o que ela diz pelas suas costas. Se não for suficiente
estabelecer um limite e ter uma conversa franca sobre o que está por
trás desses comentários, talvez não valha a pena salvar a amizade.
ELOGIOS DUVIDOSOS
“Você parece tão cansada! Não sei como consegue dar conta de tudo.” Todos
nós já recebemos algum elogio duvidoso que nos deixou perplexos. Como
você reage quando isso acontece? Agradece, diz para a pessoa ir se catar, ou
as duas coisas? Responder a comentários assim não implica
necessariamente estabelecer um limite (se bem que talvez você queira fazer
isso se o problema for muito recorrente), mas aqui vão três maneiras de
abordar um elogio do tipo: “Nossa, sua apresentação foi surpreendentemente
boa!”
Faça com que a pessoa se explique: “Puxa, que comentário estranho. O
que você quis dizer com ‘surpreendentemente’?”
Ignore o insulto: “É! Foi incrível, não foi? Fico feliz por saber que a
apresentação foi tão bem recebida.”
Escancare o problema: “Se seus elogios são assim, não quero nem
imaginar seus insultos. Na próxima vez basta dizer ‘Bom trabalho’.”
Um amigo meu quer estar sempre por cima. Se eu contar uma história
engraçada da minha família, ele interrompe com outra mais engraçada ainda.
Se eu tirei licença médica na semana passada, ele fala de quando esteve mais
doente ainda. Isso é exaustivo. Parece que ele não me ouve de verdade, só fica
esperando o momento de encaixar as próprias histórias. Como posso
interromper esse processo?
Você não precisa ser amigo ou amiga dos seus vizinhos, mas a vida fica
muito melhor (e mais conveniente e segura) se todos cuidarem uns dos
outros. O ideal, no mínimo, é que você não queira correr para dentro de
casa e se esconder sempre que a porta da garagem do Jerry se abrir do
outro lado da rua. Construir relações com os vizinhos é o primeiro passo
para estabelecer limites saudáveis; você não quer que sua primeira
conversa com eles seja “Seu poodle acabou de soltar um barro no meu
gramado”. Comece estabelecendo o alicerce para suas cercas antes de
precisar delas, e você descobrirá que o processo de construção fica muito
mais fácil.
Meu vizinho sempre deixa o cachorro dele fazer cocô no meu gramado e na
maioria das vezes não limpa. Já conversei com ele sobre isso educadamente,
mas nada mudou. O que devo fazer?
VERDE: “Sei que cachorro faz cocô em qualquer lugar, mas se for no
meu quintal, seja um bom vizinho e recolha, por favor.”
AMARELO: “Seu cachorro acaba de fazer cocô no meu quintal. Será
que você pode voltar lá e limpar?”
VERMELHO: (enquanto estiver acontecendo) “Ei, tome aqui um
saquinho higiênico para você recolher.”
Você não pode obrigar seu vizinho a recolher o cocô do cachorro dele,
só pode estabelecer o seu limite, que é: “Não quero cocô de cachorro no
meu gramado.” Isso quer dizer que às vezes você precisará recolhê-lo, a
não ser que flagre o momento e aborde seu vizinho na mesma hora.
Você também pode tentar automatizar o limite colocando uma placa
com a frase “Por favor, recolha o cocô do seu cachorro”, instalando
uma câmera de vigilância bem à vista de todos para inibir esse tipo de
conduta, colocando um cesto com saquinhos higiênicos ao lado da
caixa de correio, instalando aspersores de água acionados por
movimento para manter os cachorros (e os donos) fora do seu
gramado, ou construindo uma cerca.
Será que você poderia automatizar esse limite? Certa vez li o relato de
uma família que comprou uma grande bandeira laranja para pôr no
quintal dos fundos. Se a bandeira estivesse no mastro, era o sinal de
que a piscina estava aberta! Você também pode estabelecer horários
específicos (sábado à tarde, por exemplo) para convidar seus vizinhos,
deixando claro que nos outros dias a piscina só estará aberta para a
família e os amigos.
Meu vizinho sempre aparece quando vê a gente do lado de fora e fica durante
uma eternidade. Fala o tempo todo, se a gente deixar, e só conseguimos
escapar entrando em casa. Estamos começando a evitar nosso próprio quintal
por causa disso! Como posso falar com ele sem partir para a grosseria?
VERDE: “Walter, vamos liberar você e voltar ao que estávamos
fazendo. Vejo você mais tarde!”
AMARELO: (sem parar o que você está fazendo) “Oi, Walter, não
podemos bater papo agora, mas na próxima vez que pudermos
vamos dar um oi, e aí você vem conversar com a gente.”
VERMELHO: “Não é uma boa hora, Walter.” Dê tchau e continue o que
estiver fazendo.
Meus vizinhos do lado têm horários diferentes dos nossos e costumam ouvir
música alta até tarde da noite. Temos uma recém-nascida em casa e
adoraríamos combinar umas “horas de silêncio” com eles, mas não temos
síndico nem associação de moradores. Como podemos abordar isso?
VERDE: “Eu trouxe uns biscoitinhos que acabei de assar. E além disso
queria apresentar a Emma [aponte para o bebê no seu colo], ela vai
fazer um mês. Será que vocês poderiam diminuir o volume da
música depois das dez da noite? Isso tornaria a nossa rotina com a
bebê muito melhor.”
AMARELO: “O volume da música de vocês continua alto nos fins de
semana e muitos vizinhos aqui têm crianças pequenas. Será que
podemos pedir de novo que vocês diminuam depois das dez da
noite, por favor?”
VERMELHO: “A legislação proíbe música alta entre dez da noite e sete
da manhã. Tome aqui uma cópia. Alguns vizinhos assinaram esta
carta pedindo que vocês obedeçam às regras, por favor. Não quero
levar isso mais longe, então peço que colaborem com a gente.”
Minha vizinha vive mandando os filhos para a minha casa. Apesar de nossos
filhos brincarem bem juntos, não quero ser sempre responsável por vigiar as
crianças dela, mesmo que fiquem comportadas no quintal. Além disso, ela
nunca convida meus filhos para a casa dela. Como posso falar sobre isso?
VERDE: “Oi, Jessica, parece que as crianças vêm sempre brincar aqui
em casa. Não me incomodo se elas ficarem no quintal brincando,
quietinhas, mas será que você pode me ligar antes de mandá-las, só
para saber se não causaria nenhum problema?”
AMARELO: (levando as crianças de volta para a casa delas) “Desculpe,
Jessica, não posso ficar com elas hoje. Da próxima vez ligue, por
favor.”
VERMELHO: “Desculpem, crianças, não podemos brincar hoje.” E
mande-as de volta para casa.
Uma vez emprestei uma ferramenta ao meu vizinho e quando ele entrou na
minha garagem e viu minha oficina, os olhos dele brilharam. Desde então ele
vive aparecendo para pegar equipamentos emprestados e pedir conselho sobre
projetos. Não me importo em dar uma mãozinha, mas não posso servir como
fornecedor de ferramentas para ele. O que devo dizer?
VERDE: “Agradeço por você estar cuidando das minhas coisas, mas eu
preferiria que minhas encomendas fossem deixadas onde estão,
mesmo se eu não estiver em casa.”
AMARELO: “Por favor, não se preocupe com as minhas encomendas.
Pode deixá-las onde estão.”
VERMELHO: “Pare de pegar minhas encomendas, senão vou
denunciá-lo à associação de moradores.”
Q
uando eu e meu marido, Brandon, compramos uma casa em
2019, descobrimos rapidamente que eu precisava de muito
mais tempo sozinha do que ele. Quando estávamos
namorando, ele passava uma ou duas noites na minha casa no centro da
cidade, depois ficava uma ou duas noites no apartamento dele para
podermos cuidar do trabalho, da minha programação com meu filho e
de nossas responsabilidades domésticas. Eu presumia que ele gostava do
tempo que passava sozinho tanto quanto eu.
Estava errada.
Quando decidimos morar juntos e compramos a casa, eu pedi para
me mudar primeiro, de modo que meu filho pudesse se adaptar antes
que Brandon viesse morar conosco. Porém, à medida que a data da
mudança de Brandon se aproximava, percebi que estava me sentindo
claustrofóbica... e que eu era a única a me sentir assim. (Eram os
primórdios da pandemia, o que certamente contribuiu para isso.) Tentei
enfrentar a situação porque não queria mantê-lo afastado da casa que
em breve seria dele. Resolvi guardar para mim o que eu sentia, mas fui
ficando cada vez mais ressentida e grosseira. Eu me tornei uma péssima
companhia – e ele obviamente percebeu. Depois de um dia inteiro
carregando caixas de mudança e pisando em ovos perto de mim,
Brandon voltou, frustrado, para o próprio apartamento e eu me senti ao
mesmo tempo aliviada e cheia de culpa.
Ele sabia que eu recarregava as energias quando passava algum
tempo sozinha – tínhamos conversado inúmeras vezes sobre isso. Mas
nenhum de nós tinha um plano sobre como isso funcionaria quando
estivéssemos morando juntos, e obviamente evitar o assunto não era
uma estratégia viável. Precisávamos de uma comunicação clara, de um
conjunto de expectativas compartilhadas e, claro... de limites.
Brandon e eu estávamos juntos desde 2017, com um término no
meio do caminho. Namoramos por cinco meses antes de ele romper
comigo, um detalhe que gosto de comentar nas festas, agora que estamos
casados. Ele estava inseguro e num período de transição na vida, e eu
ainda carregava bagagens do meu último relacionamento. Por acaso esse
tempo separados (e terapia) era exatamente do que precisávamos.
Quando trombamos de novo, oito meses depois, éramos pessoas
bastante diferentes, por isso decidimos dar outra chance ao
relacionamento.
Dessa vez a coisa funcionou desde o primeiro momento, e a maior
diferença (afora a terapia) foram os limites que nós dois estávamos
dispostos a estabelecer e respeitar. Minha comunicação sobre o sexo,
sobre como lidávamos com os conflitos, sobre como eu precisava que
defendêssemos nosso relacionamento e sobre o ritmo em que as coisas
deveriam acontecer nunca havia sido tão clara e direta. Brandon
combinou essa energia com períodos de introspecção profunda, fazendo
declarações igualmente vulneráveis e claras sobre as coisas de que
precisava da minha parte e os modos pelos quais planejava contribuir
para nossa família e nosso lar. Entre nossos limites mais bem-sucedidos
estavam:
Não curto isso na cama, mas topo isso, isso e isso (nós dois).
Quando eu disser que preciso de uma pausa durante uma
discussão, por favor me dê esse tempo (eu).
Por favor, não poste fotos do menino nas redes sociais (eu).
Não quero ter conta conjunta no banco (nós dois).
Casar mas morar em casas separadas não funciona para mim (ele).
Durante uma conversa que, afora isso, foi bastante normal, Brandon
perguntou se algo que ele havia feito me incomodara. Pensei durante um
minuto e respondi: “Não.” Ele continuou, sondando um pouco mais:
“Tem certeza? Eu me senti mal, e...” Eu o interrompi: “Você pode sempre
ter certeza de uma coisa: se eu estiver chateada, vou dizer. Se isso tivesse
me incomodado, eu diria. Mas se eu disser que não incomodou, pode
acreditar que estou dizendo a verdade e não precisa continuar
perguntando.”
Ele demorou um pouquinho para confiar nisso, é claro. Não são
muitas as pessoas que dizem o que querem dizer. Às vezes ainda preciso
tranquilizá-lo: “Ei, eu disse que não seria um problema se você fizesse
aquela viagem no fim de semana. Estou falando sério, eu juro.” Mas
acredito de coração que esse é o principal presente que você pode dar a
alguém na sua vida, em especial ao seu par romântico. Porque o oposto
disso é uma bosta, e suspeito que todos já estivemos de ambos os lados
dessa história.
DIGA O QUE VOCÊ QUER DIZER. Isso exige introspecção, alguns minutos
(ou mais) para checar como você se sente de verdade e um compromisso
com a comunicação clara e gentil. No exemplo anterior, se o fato de seu
cônjuge sair à noite lhe parecer uma espécie de abandono ou sobrecarga,
diga isso. Em vez de “Claro, meu amor”, experimente: “Não gosto da
ideia porque precisamos preparar uma festa para amanhã e muita coisa
ainda precisa ser feita. Se você sair, vou ter que me virar sozinha e dar
conta de tudo.”
ACREDITE QUE A PESSOA FARÁ O MESMO. Se o seu par disser: “Eu quero
mesmo sair esta noite. Minha saúde mental não está lá essas coisas e
preciso muito desse tempo com meus amigos”, aceite que isso é verdade
e avalie se você pode abrir mão da sua preferência em favor da pessoa
amada e do relacionamento. Se a pessoa disser: “Certo, entendo, não vou
sair esta noite”, acredite que ela está fazendo a escolha certa para si
mesma, não cedendo com ressentimento, raiva ou amargura. Confie em
que vocês compartilham o mesmo padrão de comunicação clara e gentil,
e de repente sua noite parecerá muito melhor, quer a pessoa saia ou não.
INFRATORES REINCIDENTES
Essa abordagem exige um nível básico de confiança. Se você comunica com
clareza e gentileza que precisa da pessoa amada em casa esta noite e ela sai
mesmo assim, veja se essa é uma situação atípica em que você subestimou
as necessidades do seu par, ou se esse é um padrão de comportamento de
alguém que desrespeita suas necessidades, não demonstra reciprocidade
nem se comunica com tanta franqueza quanto você. Se for isso, um
terapeuta poderia ajudar o casal a enfrentar essas questões fundamentais.
Neste capítulo, mais do que em qualquer outro, você me verá dizer: “Isso
não é realmente um problema de limite.” Sim, existem muitas situações
em que estabelecer um limite é adequado e útil. Se o seu par compra algo
caro sem falar primeiro com você, propõe algo no quarto que deixa você
desconfortável, ou envolve a própria mãe com muita frequência no
relacionamento, sim, vocês precisam de limites, e vamos abordá-los nos
roteiros. No entanto, muitas das questões mais comuns que surgem nas
relações românticas devem começar com comunicação e esclarecimento
de expectativa, não com limites.
Será que você pode estabelecer um limite que diz: “Não tenho
capacidade emocional ou energia para lavar a louça de novo esta
semana”? Claro que pode. Mas o que você fará se a louça continuar suja
e você quiser fazer uma refeição e não houver um prato, um garfo ou
uma faca limpos em casa? (Se você me respondesse “Comprarei
secretamente um bocado de pratos descartáveis”, parte de mim adoraria
isso em silêncio, mas em voz alta eu diria que não é uma solução a longo
prazo.) E um limite do tipo “O máximo que admito ficar sem sexo são
cinco dias” não costuma ser viável, porque isso depende da outra pessoa
– e o limite dela pode entrar em conflito com o seu. (Por exemplo: “Não
vou fazer sexo sob pressão.”)
Nas conversas com os membros da minha comunidade ouvi
praticamente todos os problemas de relacionamento que existem e,
tendo sido casada, divorciada e estando casada de novo, eu mesma
experimentei muitos deles. Gostaria que houvesse roteiros simples de
limites capazes de abordar de modo adequado as questões realmente
difíceis, mas essas situações não podem ser resolvidas com o
estabelecimento de um limite por uma das partes – elas precisam da
comunicação clara de todos os envolvidos e do esclarecimento de
expectativas compartilhadas, talvez facilitadas por um terapeuta.
Vou abordar essas questões neste capítulo de alguns modos
diferentes. Primeiro, se houver um limite claro e gentil que possa ser
estabelecido, vou delineá-lo nos roteiros. Segundo, se o problema não
puder ser resolvido com um limite saudável, vou compartilhar minhas
melhores estratégias para iniciar o tipo de conversa que ajudará você a
chegar mais perto do objetivo. Finalmente, para temas mais pesados
(especificamente a divisão justa do trabalho doméstico, o
estabelecimento de “regras de interação” nos conflitos e a intimidade
sexual), vou indicar livros sobre esses temas, de modo que você possa
dar um mergulho mais profundo com seu companheiro ou sua
companheira para melhorar o aspecto específico do relacionamento que
está provocando estresse ou drenando sua energia.
Dividi em cinco categorias as conversas, as sugestões e os roteiros de
limites relacionados a problemas que surgem com mais frequência:
administração do lar, conflito interpessoal, estilos de socialização,
privacidade e confiança, e sexo e conexão física.
FAÇA ISSO POR VOCÊ. Ainda que a terapia de casais possa ser uma
ferramenta incrível para ajudar duas pessoas a se comunicarem de
modo mais eficaz, você não precisa esperar que seu companheiro
ou sua companheira concorde em buscar ajuda. Existem benefícios
tremendos em fazer terapia por conta própria, mesmo que sua
intenção seja melhorar o relacionamento.
SEJA A MUDANÇA. Uma pessoa pode mudar uma dinâmica. Fazer
terapia pode ajudar você a perceber padrões no modo como reage a
problemas no seu relacionamento. É possível mudar uma relação
mudando o seu comportamento. Trabalhando suas atitudes, você
aparecerá de modo diferente para a outra pessoa, e isso significa
que as coisas vão mudar.
ASSUMA A RESPONSABILIDADE. Buscar terapia mostra à outra pessoa
que você assume a responsabilidade pelos próprios sentimentos.
Isso pode servir de exemplo para o tipo de comportamento que
você espera ver por parte dela. Também pode ajudar a garantir a ela
que você está fazendo a sua parte; no mínimo, ajudará você a
recuperar seu poder numa situação em que provavelmente se sente
impotente.
BUSQUE CONSELHOS ESPECIALIZADOS. Algumas situações parecem
tão sufocantes ou pesadas que é difícil saber o que fazer ou mesmo
o que pode ser feito. Um terapeuta provavelmente já viu os
problemas que você está confrontando e pode oferecer as
estratégias mais eficazes para você se orientar em situações
desafiadoras.
RECEBA APOIO. Se as coisas ainda assim não mudarem para melhor,
seu terapeuta pode apoiar você em qualquer decisão que precise ser
tomada, oferecer conselhos para os próximos passos e compartilhar
recursos alternativos.
Para todas as mulheres que estão lendo agora: levante a mão quem
gostaria de ter mais tempo para si mesma. Ah, olha, são literalmente
TODAS, inclusive as mães que estão lendo isto no vaso sanitário porque
é o único lugar onde podem realmente ficar sozinhas em sua própria
casa. (E nem isso é garantido.) As mulheres com quem eu falo todo dia
estão constantemente cansadas, e, a julgar pelas mensagens que leio, o
que mais cansa é quanto os outros esperam que elas façam e como seu
tempo é pouco valorizado – especialmente pelo próprio marido. Vamos
falar sobre como nossa divisão do trabalho doméstico ainda é
desequilibrada, pelo menos entre os casais héteros.
Graças ao patriarcado, ao machismo e às suposições estereotipadas
sobre os papéis de gênero, as mulheres são avassaladoramente
responsáveis por lavar roupa, fazer faxina, cozinhar, cuidar dos filhos,
fazer compras e lavar louça. De fato, um relatório feito em 2020 pela
Oxfam e pelo Institute for Women’s Policy Research avalia que nos
Estados Unidos as mulheres gastam duas horas a mais do que os homens
absolutamente todos os dias fazendo esse trabalho não remunerado – e
isso era antes da pandemia.3 Esse número não desaparece quando as
mulheres têm um emprego em horário integral – as mulheres que têm
emprego ainda passam 1,1 hora por dia, todo dia, fazendo serviços
domésticos.
Isso representa 401 a 730 horas de trabalho extra não remunerado
todos os anos. Será de espantar que o tema do trabalho doméstico surja
com tanta frequência nos relacionamentos héteros? (Nota: pesquisas
mostram que os casais do mesmo sexo administram essa divisão de
modo muito mais eficaz e justo.4 É quase como se a remoção dos papéis
tradicionais de gênero permitisse que cada parceiro ou parceira trabalhe
para uma solução que beneficia a família como um todo, delegando
tarefas com base no interesse ou na capacidade, não em estereótipos
sexistas. Interessante.)
Sempre que falo sobre o estabelecimento de limites numa relação
amorosa, recebo uma infinidade de mensagens de mulheres, todas
perguntando a mesma coisa: “Como eu e meu marido podemos dividir
as tarefas de modo igualitário?”, “Como posso fazer com que meu
marido me ajude mais com as crianças?”, “Preciso que ele esteja mais em
casa – isso ao menos é um limite?”. A principal reclamação que ouço das
esposas nos relacionamentos héteros tem a ver com a divisão injusta do
trabalho doméstico. E a verdade é que essa não é de fato uma questão de
limites; é uma questão de comunicação e esclarecimento de expectativas.
(Outra nota interessante: parece que os homens nos relacionamentos
heterossexuais também querem ter mais tempo para si mesmos, e a coisa
que dizem que mais ajudaria seria a esposa importuná-los com menos
frequência. Claro, essa importunação costuma vir na forma de... pedido
de ajuda com as tarefas domésticas. Esta seção vai ser tudo.)
Meu par diz que vai ajudar com as tarefas, como lavar a louça ou dobrar a
roupa lavada, mas depois só faz a metade – lava a louça, mas não guarda; ou
dobra a roupa, mas deixa tudo na sala. Isso não atende às minhas
expectativas. Como posso comunicar isso?
Tivemos um bebê e vou voltar a trabalhar. Preciso que meu cônjuge acorde mais
cedo para dividir as responsabilidades de tudo o que deve ser feito de manhã.
Como posso abordar isso?
Comece com o Verde e delineie tudo o que precisa ser feito de manhã
para que vocês possam sair de casa – desde tomar banho e fazer o café
da manhã até colocar as mamadeiras na bolsa e deixar a bebê na
creche. Envolva a outra pessoa no processo de decidir quem faz o que e
quando, de modo que ela perceba a verdadeira parceria nesse
momento tão importante e enxergue todo o trabalho invisível que
implica cuidar de um bebê quando os dois responsáveis trabalham
fora.
ESCREVA NO CALENDÁRIO
Lembro-me de ter reclamado com meu terapeuta que eu estava com
dificuldade para cumprir as tarefas matinais e levar meu filho para a escola a
tempo, mas me sentia muito mal em pedir que Brandon o levasse. Meu novo
marido perguntava o tempo todo “Como posso ajudar?”, mas eu estava
acostumada demais a fazer tudo sozinha e ainda não tinha assimilado a
ideia de que meu filho era agora nosso filho, e que portanto ele era nossa
responsabilidade compartilhada. “Por que você não cria um calendário de
tarefas?”, perguntou meu terapeuta, e as nuvens se abriram e os anjos
cantaram. Agora, às terças e quintas meu marido cuida do menino, desde
que acorda até a hora de tomar café da manhã, vestir-se e ir para a escola.
Mesmo se eu estiver em casa, não é o meu dia, o que me deixa livre para
malhar, começar a trabalhar mais cedo, levar o cachorro para um passeio
mais longo – qualquer coisa que eu queira. Foi o melhor conselho que já
recebi sobre a divisão de responsabilidades domésticas, e agora eu pergunto
a todo mundo: “Que tal criar um calendário de tarefas?”
Meu companheiro não me consulta quando faz compras muito caras. Ele
comprou um segundo carro sem ao menos falar comigo! Mas ele é o provedor
da família (eu fico em casa com as crianças) e diz que o dinheiro é dele. O que
posso dizer nessa situação?
VERDE: “Eu gostaria que decorássemos nosso novo lar juntos, para
nós dois nos sentirmos confortáveis e à vontade nele. Que tal
falarmos sobre quais peças são importantes para nós e onde
poderiam ficar?”
AMARELO: “Essas três peças são muito importantes para mim, então
vamos arranjar um lugar para elas.”
VERMELHO: “Minha cadeira de balanço predileta vai ficar, e essa obra
de arte também.”
VERDE: “Ei, meu bem. Claro que quero ouvir como foi seu dia, mas
será que você pode me dar uns vinte minutos para eu esfriar a cabeça
antes de entrarmos nesse assunto?”
AMARELO: “Ah, será que a gente pode conversar mais tarde? Eu
também acabei de chegar em casa e primeiro vou tomar um banho
rápido para relaxar.”
VERMELHO: “Estou uma pilha e não vou conseguir lidar com seus
desabafos agora. Será que podemos passar esta noite sem falar de
trabalho?”
Melhor ainda, será que vocês podem automatizar esse limite? Num fim
de semana tranquilo, conversem sobre como gostariam que fossem seus
primeiros trinta minutos juntos em casa. “Odeio começar a noite
falando de trabalho assim que pisamos em casa. Será que podemos
criar uma regra de não falarmos de trabalho até depois do jantar, para
conseguirmos relaxar um pouco?” Talvez seu par descubra que depois
de meia hora lendo, malhando ou preparando o jantar, não sinta tanta
necessidade de desabafar sobre o trabalho.
Meu marido costuma concordar com algumas coisas, mas depois fica com raiva
de mim. Na semana passada, por exemplo, ele concordou que deveríamos
cancelar o almoço com amigos para terminar o trabalho no jardim, mas depois
de uma hora de jardinagem ele explodiu comigo porque eu tinha “decidido” que
não poderíamos nos divertir. Como posso dizer com gentileza “Não sei ler
mentes, e essa é uma postura passivo-agressiva”?
Lembre ao seu companheiro que você não sabe ler mentes e que esperar
que você adivinhe como ele está se sentindo de verdade, ou que se
esforce para extrair essa informação dele, é um padrão de comunicação
pouco saudável. Estabeleça a Regra de Ouro e expresse suas opiniões
com clareza. Se ele ficar furioso, demonstre empatia (“Pois é, o almoço
seria bem mais divertido”) em vez de levar para o lado pessoal.
Minha companheira vive criticando minha aparência, tipo o que estou vestindo
ou como me maquiei. Ora diz que não estou bem-vestida, ora que estou bem-
vestida demais. Já não tenho muita confiança no meu estilo, e isso só me deixa
mais insegura ainda. Como posso explicar isso?
Isso tem a ver com duas grandes questões: sua falta de confiança no
próprio estilo e as tentativas não muito sutis da sua companheira de
controlar seu corpo e sua aparência. (Posso sugerir que busquem
terapia?) Eu também tive um companheiro que fazia isso – uma vez
comprei uma calça de couro e fiquei empolgada em usá-la num jantar,
até que ele disse: “Você não vai sair comigo usando isso.” Eu o olhei
direto nos olhos e falei: “Vou, sim, a não ser que você fique em casa.”
Ele nunca mais tocou no assunto.
Adoro eventos sociais porque isso estimula minha energia. Meu companheiro é
o contrário: não gosta de socializar e prefere ficar em casa. É por isso que
muitas vezes não o incluo nos meus planos, mas depois ele fica chateado e
ressentido. Como posso equilibrar nossas necessidades?
Essa não é realmente uma questão de limite, a não ser que o seu
limite seja “Só posso ficar com você em casa quatro noites seguidas
antes de surtar” (o que pode precisar ser dito em voz alta). Em vez de
Verde/Amarelo/Vermelho, vamos falar de opções para os casais que
têm preferências sociais diferentes.
Peça a opinião do seu par.Existe algo nas suas atividades sociais que
esteja incomodando a outra pessoa? Talvez ela se preocupe quando
você fica fora até tarde bebendo, ou se frustre porque você sempre
paga a conta – veja se há qualquer coisa que você possa abordar (ou
simplesmente ouvir).
Procure entender. A outra pessoa teme que você possa gostar mais
dos amigos do que dela? Ou que você está se cansando do
relacionamento? Pode ser útil ter uma conversa aberta sobre os
sentimentos mais profundos da pessoa, especialmente sobre a
insegurança dela.
Encontre maneiras de melhorar a dinâmica. Pergunte se há outra coisa
que você possa fazer para que vocês se divirtam mais juntos. Talvez
a pessoa não goste de ser deixada de lado assim que você chega à
festa e vê seus amigos, ou talvez ela adorasse jantar com você, mas
não numa boate. Ou talvez ela prefira socializar no conforto de
casa, e receber convidados deixaria todo mundo feliz.
Seja flexível. Convide a pessoa para sair e diga que ela pode voltar
para casa mais cedo, se quiser. Talvez ela goste de sair com você,
mas não queira ficar fora de casa até tão tarde. (Foi por isso que
Deus inventou o aplicativo de carona.)
Seja consciente. Pergunte à pessoa se ela gostaria mesmo que você
ficasse em casa durante a semana, ou se ofereça para passar metade
do fim de semana com ela, de modo que você sempre esteja em casa
ou na sexta-feira ou no sábado para um programa de casal.
Aceite um meio-termo. Diga que você só pedirá que a pessoa o/a
acompanhe a eventos que sejam realmente importantes para você.
E que se um dia ela quiser muito que você fique em casa, você vai
ficar. (Isso funciona, desde que nenhum dos dois abuse da
proposta.)
VERDE: “Eu gostaria de ter uma noite para mim, então ligo para você
amanhã. Tenha uma ótima noite.”
AMARELO: “Não, obrigado, acho que gostaria de algum tempo de
silêncio, me recarregando.”
VERMELHO: “Sempre achei importante passar algum tempo sozinho
para a minha saúde mental. Se vamos continuar namorando,
precisamos descobrir um modo de encaixar isso na nossa rotina.”
Meu namorado não gosta de ficar parado. O passatempo dele é esquiar, andar
de moto e fazer crossfit. Encorajada por ele, experimentei tudo isso, mas não é
para mim – tenho pouca tolerância a riscos e prefiro caminhar ou ler. Adoro o
fato de ele ter os próprios hobbies, mas ele fica com raiva quando não participo.
VERDE: “Não gosto das mesmas coisas que você e gostaria que
respeitasse isso. É bom cada um ter seus próprios interesses, e nunca
vou obrigar você a fazer caminhadas comigo.”
AMARELO: “Você sabe que eu não gosto de esquiar, então, por favor,
não me pressione. Vá se divertir.”
VERMELHO: “Não gosto de como você reage quando eu recuso
alguma coisa.”
Peguei meu par olhando minhas mensagens e fotos algumas vezes, quando
deixei meu celular desbloqueado. Isso é uma violação de confiança e não é
assim que quero que a gente se trate no relacionamento. Como posso falar
sobre isso sem parecer que estou escondendo alguma coisa? Porque não estou!
VERDE: “Por favor, não mexa no meu telefone sem permissão. Isso é
quebra de confiança e não quero que a gente se comporte desse jeito.”
AMARELO: “Ficar bisbilhotando não é saudável para o nosso
relacionamento. Por favor, não faça isso de novo.”
VERMELHO: “Não posso continuar num relacionamento em que não
haja confiança e respeito. Marquei uma consulta na terapia de casal.
Você pode ir comigo ou então vou sem você.”
Meu marido conta aos pais dele muitos detalhes sobre a nossa vida particular
(em especial sobre as nossas discussões), e isso vem abalando nosso
relacionamento. Sinto que meus sogros adoram julgar e já se envolviam demais
na vida do filho; agora que sabem detalhes do nosso relacionamento, passaram
a me tratar diferente. Como devo lidar com isso?
Seu limite é que você não quer que seu marido discuta determinadas
coisas com os pais dele ou que você não quer que os pais dele falem
dessas coisas com você? Tenha clareza do que deseja antes de conversar
com ele. Vou presumir que é a primeira hipótese, já que o segundo
limite deveria ser estabelecido diretamente para seus sogros.
VERDE: “Vou esclarecer uma coisa: não quero compartilhar essa
discussão/situação com seus pais. O que você conta a eles influencia
o modo como eles me tratam, e muito depois de resolvermos um
problema eles continuam tocando no assunto. Isso prejudica minha
relação com eles e com você também.”
AMARELO: “Só vou ter essa conversa se você concordar em não contar
tudo depois aos seus pais. Isso não é da conta deles, e as opiniões que
eles dão só pioram as coisas.”
VERMELHO: “Vou discutir na terapia como devo reagir à sua falta de
respeito pela minha privacidade e pelo nosso casamento.”
Estou saindo com uma pessoa, mas a gente não quer compromisso sério agora.
Acontece que se essa pessoa sair com alguém, eu gostaria de saber. É justo
perguntar isso?
VERDE: “Você disse que não está saindo com mais ninguém no
momento. Se isso mudar, ou se você decidir reativar a conta no
Tinder, poderia me avisar? Eu vou fazer o mesmo. Gostaria que
fôssemos transparentes quanto a isso.”
AMARELO: “Eu tenho uma regra: quero que você me avise se começar
a sair com outra pessoa. Se você não concordar com isso, não
poderemos continuar nos vendo.”
VERMELHO: “Eu pedi sua honestidade e você não respeitou isso.
Acabou entre a gente.”
Esse é um exemplo de limite que você não pode impor; você precisa
acreditar que a outra pessoa concorda com ele e vai respeitá-lo.
Infelizmente, o limite Vermelho significa que já é tarde demais, e tudo
o que você pode fazer é impor as consequências do desrespeito.
Minha esposa não tem nenhuma noção de espaço pessoal – ela faz xixi com a
porta aberta, entra no banheiro sem bater quando estou tomando banho e fica
do lado de fora do toalete falando comigo. Ela não tem muito filtro, mas eu
preciso de alguns limites.
Essa conversa pode até aprofundar a conexão entre vocês. Uma boa
estratégia para que ninguém se magoe é discutir as diferenças no modo
como vocês foram criados; a timidez que você possa ter com relação ao
próprio corpo; ou os rituais que você prefere manter privados.
No quarto eu faço muitas coisas que não quero fazer porque meu companheiro
se magoa facilmente quando se trata de sexo. Como posso comunicar o que
quero e o que não quero?
VERDE: “Ah, não estou a fim disso / não estou pronta para isso / não
gosto disso / não quero experimentar isso agora. Que tal [ofereça
uma alternativa]?”
AMARELO: (interrompa a ação) “Não, não quero fazer isso. Está claro?
Não faça isso de novo.”
VERMELHO: “Não.” Afaste-se fisicamente, já que agora isso é agressão.
Pode ser desconfortável começar uma conversa com “E então, o que você
acha de sexo anal?”, mas a alternativa é o incômodo de descobrir, no calor do
momento, que a pessoa realmente não curte determinada coisa. Meu marido
e eu tivemos nossas melhores conversas sobre sexo durante momentos
relaxados nas férias, quando não nos sentíamos pressionados ou
estressados e podíamos abordar o assunto com curiosidade e num tom de
brincadeira.
Quero que meus parceiros sexuais usem camisinha, mas você não acreditaria
nas desculpas que ouço e na pressão que me fazem quando toco no assunto. Já
cedi mais de uma vez. Como posso me manter firme?
Resolva isso cedo, bem antes de tirar a roupa. “Podemos fazer se você
usar camisinha e se a camisinha permanecer no lugar. Isso é um
problema?” Se ele começar de papo furado, interrompa: “É pegar ou
largar, meu querido.” Qualquer pressão contrária depois de um limite
Amarelo é uma quebra de acordo permanente – se o seu parceiro não
respeitar seus limites aqui, ele não vale a pena, e estabelecer seu limite
cedo e ver como a pessoa reage é um teste decisivo para o
relacionamento.
VERDE: (na noite anterior) “Se você acordar cedo amanhã e eu ainda
estiver dormindo, por favor, não me abrace. Vamos ficar de
conchinha agora, vendo um filme.”
AMARELO: “Não quero aconchego de manhã antes de acordar.”
VERMELHO: “Se você continuar me abraçando de manhã, depois de
eu ter pedido que não faça isso, vou dormir no quarto de hóspedes.”
No meu corpo existe uma área que eu não gosto que seja tocada: a barriga.
Como posso deixar claro a qualquer pessoa que saia comigo que essa região é
proibida?
VERDE: “Ah, pode fazer carinho, menos na barriga. Não gosto disso.”
AMARELO: “Não gosto que toquem na minha barriga. Por favor, não
faça isso.”
VERMELHO: Afaste-se da situação.
Minha parceira faz avanços sexuais nos momentos mais inoportunos, como
quando acabo de sair do banho e estou me vestindo para trabalhar. Nos filmes
isso parece sensual, mas na vida real é diferente. Não posso me atrasar. Como
fazer com que ela perceba isso?
Alguns dos limites mais importantes que você estabelece nos seus
relacionamentos românticos podem ser dirigidos apenas a você. Por
causa do meu histórico de trauma sexual e vício, e por já ter sido traída
no passado, nem sempre me comportei da melhor maneira possível nos
relacionamentos. Quando Brandon e eu começamos a namorar sério, eu
sabia que precisava estabelecer alguns limites para mim mesma para ser
minha melhor versão e não trazer nenhuma bagagem para nosso
namoro. Eu prometi a mim mesma, silenciosamente, que no meu
relacionamento:
E
mily me escreveu depois de ouvir um episódio sobre divórcio no
meu podcast. Ela havia se divorciado recentemente e estava com
dificuldade para estabelecer um novo tipo de relacionamento
com sua ex-esposa, Shannon. Elas tinham duas crianças pequenas que
dividiam o tempo entre a casa de Shannon e a de Emily, e, apesar de o
divórcio ter acontecido de modo relativamente amistoso, ainda havia
mágoas e emoções intensas abaixo da superfície. “Às vezes eu me pego
falando com Shannon como se ela fosse minha melhor amiga. Às vezes
brigamos como inimigas mortais. Estamos tentando pensar nas crianças,
mas nem sempre sinto orgulho de como estou agindo.”
Eu venho compartilhando a criação do meu filho com meu ex-
marido há oito anos – desde que a criança tinha apenas 1 ano – e o e-
mail de Emily me levou a relembrar tudo o que passamos. Quando eu
era mais nova, ao terminar um relacionamento de longo prazo, quase
sempre a outra pessoa e eu tomávamos rumos diferentes. Eu não
precisava mais falar com meu ex se não quisesse, e em geral era menos
doloroso simplesmente seguir adiante. Quando me divorciei, no entanto,
não tive essa opção. Tive que manter meu ex na minha vida em nome do
nosso filho, e precisávamos encontrar um meio de trabalhar juntos do
modo mais saudável possível.
Apesar de ter bons limites em outras áreas da minha vida, eu tinha
pouquíssimos limites em relação ao meu ex – pelo menos a princípio.
No meio do nosso divórcio fiquei tão abalada emocionalmente e tão
estressada que oscilava entre conversar com ele como se ainda fôssemos
um casal e só permitir que ele falasse com minha advogada. Nenhum
dos dois estilos de comunicação era útil, mas eu não sabia como
estabelecer os limites necessários para ter um divórcio bem-sucedido,
manter nosso filho em segurança e preservar minha saúde mental.
LIMITES COM EX
“Meu ex diz coisas terríveis sobre mim aos nossos filhos. Como
posso impedir que ele continue fazendo isso?”
“Minha ex dá aos meus filhos todo tipo de comida que ela sabe que
eu não permito. Como posso estabelecer um limite quanto à
alimentação das crianças?”
“Minha ex sempre chega atrasada quando é o dia dela de ficar com
as crianças. O que posso fazer nesse caso?”
“Meu filho joga muito videogame na casa do pai, mas aqui o tempo
em frente à tela é controlado com rigor. Será que posso fazer com
que o pai dele aja como eu?”
“Meu ex sai muito e costuma deixar as crianças com a mãe dele. Eu
gostaria que ele passasse mais tempo com os filhos durante a
semana ou, do contrário, que deixasse as crianças comigo.”
MUDE O FOCO
FALE COM CLAREZA SOBRE SUAS EXPECTATIVAS. Ainda que eu não pudesse
controlar se ele apresentaria ou não nosso filho às suas novas
namoradas, pedi claramente (e por escrito) que se uma pessoa fosse
fazer parte da vida do meu filho, eu queria conhecê-la. Defini o que
significava “fazer parte da vida” (alguém que meu ex estivesse levando a
sério e que tivesse um contato constante e significativo com nosso filho),
expliquei que esperava que ele me avisasse quando isso acontecesse e
disse que faria o mesmo. Eu não podia controlar se ele respeitaria isso,
mas preparei o terreno para nossa colaboração e dei o exemplo, agindo
com ele como eu gostaria que ele agisse comigo.
SER GENEROSA COM ESSES LIMITES. Meus limites para meu ex incluíam só
falar com ele sobre meu filho – mas dentro desse limite decidi ser
generosa quando se tratava de trocar informações. Nas semanas em que
meu filho estava comigo eu mandava fotos, relatos divertidos sobre o
que ele havia dito e feito, e atualizava meu ex sobre acontecimentos
importantes, novas comidas preferidas ou jogos que nosso filho estava
curtindo. Meu ex captou isso e reagiu do mesmo modo, o que significava
que mantínhamos uma conexão forte com a criança mesmo quando ela
não estava conosco.
TER CUIDADO COM O QUE DIZER. Teria sido fácil demais falar mal do meu
ex-marido com minha família, com nossos amigos e até mesmo com as
pessoas em geral, já que eu tinha um grande número de seguidores nas
redes sociais e nosso relacionamento tinha sido bastante público. Mas
desde o início decidi que não faria isso. Eu tinha algumas pessoas de
confiança – minha irmã, meu terapeuta e uma boa amiga – e me permiti
falar livremente com cada uma delas, para desabafar de verdade. Afora
essas pessoas (que de qualquer modo não tinham contato com meu ex),
eu me comprometi a não dizer nada que não fosse gentil sobre ele,
especialmente em relação aos motivos do divórcio. Além disso, eu sabia
que cair num padrão de falar mal dele magoaria meu filho assim que ele
tivesse idade para entender. Simplesmente por esse motivo decidi que
jamais falaria coisas desagradáveis sobre o meu ex.
VPF
O princípio do “Vocês Podem Fazer Como Quiserem”, apresentado no
Capítulo 6, aplica-se muitíssimo bem aqui. Não existe um modo certo de
fazer a guarda compartilhada. Abrir mão das expectativas em relação a
como ela “deveria” ser e não fazer comparações com outros relacionamentos
pode ajudar muito a estabelecer o tipo de arranjo que funcione para a sua
família. Além disso, é provável que a dinâmica de guarda compartilhada
mude à medida que vocês evoluem. Nós comemorávamos os aniversários
separados (nosso filho tinha duas festas), mas há alguns anos começamos a
convidar um ao outro (e aos nossos companheiros) para as comemorações, e,
ao percebermos que nosso filho gostava de ver todos nós no mesmo lugar,
isso se tornou o padrão. Abra espaço para a gentileza, a flexibilidade e o
crescimento; lembre-se de que você pode mapear seu caminho, desde que
haja um acordo entre as partes; e sempre se baseie no que for melhor para a
criança.
Minha ex-esposa fica sondando detalhes sobre o meu trabalho ou meus planos
para o fim de semana quando falamos sobre as crianças. Não quero
compartilhar detalhes assim e parece invasivo ela ficar perguntando. Como
posso dizer com gentileza “Por favor, não faça isso”?
VERDE: “Prefiro não falar sobre isso, mas que bom que as crianças se
divertiram no cinema. Gostei muito de ter recebido aquelas fotos.”
AMARELO: “Não me sinto confortável falando da minha vida e prefiro
que você não pergunte.”
VERMELHO: “No momento, só quero falar sobre as crianças.”
Vou lhe dar dois roteiros de limites: um para usar na mesma hora, se
achar que a conversa não está indo bem; e outro para usar depois do
ocorrido, para impedir que aconteça de novo.
VERDE: (enquanto estiver acontecendo) “Pode parar. Não foi sobre
isso que viemos conversar. Já abordamos tudo o que você queria falar
sobre o nosso filho? Se abordamos, já vou indo.”
AMARELO: “Não vou conversar sobre isso com você aqui. Por favor,
fale com seu advogado.”
VERMELHO: Saia dali.
VERDE: (depois do fato, por escrito) “De agora em diante, por favor
use e-mail ou mensagem de texto para tratar dos assuntos sobre
nosso filho. Quero garantir que tudo o que a gente discuta ou
combine fique registrado.”
AMARELO: “Não vou mais me encontrar pessoalmente com você. Por
favor, quando necessário, mande um e-mail ou uma mensagem de
texto ou áudio.”
VERMELHO: “Quando você me enviar suas solicitações por escrito,
terei prazer em responder.”
Minha ex-esposa me liga tarde da noite para falar sobre questões não urgentes.
Acho que é para verificar o que estou fazendo. Já tentei simplesmente não
atender, mas aí ela fica ligando várias vezes ou deixa um recado raivoso.
Preciso de ajuda.
VERDE: “A não ser que seja uma emergência, por favor não me ligue
depois das oito da noite. Se você quer falar alguma coisa na mesma
hora para não correr o risco de esquecer, mande uma mensagem de
texto ou um e-mail, e eu responderei na manhã seguinte.”
AMARELO: (ao telefone) “Isso não parece uma emergência. Ligo para
você amanhã. Tchau.”
VERMELHO: (por escrito) “Não vou mais atender suas ligações nem
ouvir seus áudios depois das oito da noite. Se acontecer alguma
emergência, por favor mande uma mensagem de texto. E se eu não
responder, ligue para minha irmã ou minha mãe.”
Meu ex exige saber detalhes da minha vida agora que estou num
relacionamento novo, tipo se as crianças conheceram meu novo companheiro,
ou se planejamos levar o relacionamento mais longe. Como posso continuar
cooperando pelo bem das crianças sem ter que contar muitas coisas?
Nesse caso, trate seu ex como você gostaria que ele tratasse você. Se seu
ex estivesse namorando, quando você gostaria de saber? Minha regra
básica era: “Se essa pessoa vai fazer parte da vida do meu filho, eu
quero conhecê-la.” E então deixava que meu ex-marido indicasse
quando isso acontecesse.
Minha ex usa o momento de pegar ou deixar nossa filha comigo para discutir
mudanças que ela gostaria de fazer no nosso modelo de guarda compartilhada
(regras sobre horários e férias, por exemplo). Apesar de minha filha ser
pequena, ela capta nosso tom de voz e não gosto de conversar sobre isso
quando ela está por perto. Como posso dizer “Esta não é a hora”?
Meu ex-marido ainda entra na minha casa sem bater, ou sobe para entrar no
quarto das crianças sem pedir. Já reforcei que a casa não é mais dele, mas esse
comportamento continua. Me ajude a me impor sem iniciar uma briga.
VERDE: (por escrito, antes da visita) “Por favor, quando chegar, espere
ser convidado a entrar, não fique andando pela casa sem me pedir
antes, mesmo se as crianças chamarem. É importante que eu
mantenha alguns limites quanto ao meu espaço.”
AMARELO: Mantenha a porta trancada, de modo que seu ex seja
obrigado a bater, e o acompanhe caso opte por deixar que ele visite o
quarto das crianças.
VERMELHO: Receba-o do lado de fora, com as crianças prontas para
sair.
Se você prefere que seu ex não entre na sua casa, comunique isso por
escrito e, caso ele seja chamado para subir ao quarto, peça que ele
simplesmente diga às crianças: “Não, meus amores, agora a casa é só
da mamãe, por isso vou ficar aqui embaixo.” Se não incomoda você
que seu ex suba um pouquinho para brincar com os filhos, mantenha
as outras portas da casa fechadas, para sua privacidade, e limite o
tempo que ele pode passar ali, dizendo: “Brinquem só um minuto com
o papai, crianças. Depois é hora de dar tchau.”
B
renna, que faz parte da minha comunidade na internet, pediu
ajuda para estabelecer um limite quanto ao almoço de domingo
com as amigas. O restaurante predileto do grupo tinha um
cardápio variado, mas era conhecido pela enorme diversidade de
panquecas, cada uma do tamanho de um prato. Em geral, Brenna e as
amigas pediam uma ou duas panquecas para dividir como sobremesa
após a refeição. No entanto, depois de participar do Whole30, Brenna
aprendeu que o consumo excessivo de açúcar, glúten e carboidratos a
deixava com dor de cabeça, cansada e irritada pelo resto do dia. No
domingo seguinte, ela tentou quebrar a tradição – e foi tão pressionada e
zombada pelas amigas que desistiu e acabou comendo sua porção de
panqueca.
Ela me escreveu: “Socorro. Eu recusei numa boa e foi surreal o
sarcasmo que recebi de volta! Quero continuar participando desses
encontros, mas também preciso que elas larguem do meu pé se eu não
quiser a porcaria da panqueca.”
Como eu já disse, comecei minha carreira ajudando os outros a
estabelecer limites em relação ao consumo de álcool, açúcar e
guloseimas enquanto os guiava pelo programa alimentar Whole30.
Quando pedi a Brenna mais detalhes sobre seu problema com as
panquecas, ela disse que enquanto estava fazendo o Whole30, suas
amigas aceitavam a recusa com muito mais facilidade. Expressar o prazo
e as regras do programa serviu como uma rede de segurança por um
tempo. Ainda que recebesse alguma reação contrária por parte das
amigas, ela podia dizer: “Ei, regras são regras, e eu vou segui-las por
trinta dias.”
No decorrer dos anos, vi que o verdadeiro desafio acontecia durante
os outros 335 dias do ano. Seus amigos ficam loucos para ter de volta a
pessoa que os acompanha bebendo vinho, comendo pizza e adorando
panquecas – e se você tiver chegado à conclusão de que vinho, pizza e
panquecas não servem mais para você? A pressão dos amigos, os
comentários irônicos, as hostilidades e as tentativas de sabotagem se
juntam para dar um novo significado à expressão “guerra de comida”.
Aqui vai a verdade nua e crua, nascida de mais de doze anos ajudando as
pessoas a identificar e criar suas dietas personalizadas e sustentáveis: as
pessoas mais próximas de você costumam ser as que mais desrespeitam
seus limites quanto a comida e bebida. Veja o grupo de amigas de
Brenna: “Minhas amigas tinham me encorajado a fazer o programa”,
disse ela. “Elas sabiam que eu andava sem disposição, dormindo mal e
me sentindo inchada o tempo todo. Mas assim que meu programa
Whole30 terminou, elas começaram a dizer: ‘Você não vai morrer por
causa de uma panqueca’, ou ‘Queremos a velha Brenna de volta’. Não
consigo entender.”
Eu entendo muito bem e quero que você também entenda, porque a
orientação sobre limites neste capítulo é importante não somente para
quem faz o Whole30 ou segue uma dieta sem glúten, cetogênica ou
vegana. É para qualquer pessoa que tenha preferências quanto a
alimentação, hábitos saudáveis, necessidades médicas, sensibilidades
dietéticas ou crenças pessoais sobre comida ou álcool. É para qualquer
pessoa que tente fazer as pazes com o próprio corpo e o próprio peso e
queira descartar a má influência da cultura das dietas. É para qualquer
pessoa que esteja trabalhando para melhorar sua relação com a comida,
o álcool e o próprio corpo, e que saiba que essas dinâmicas melhorariam
com um pouco de limites.
Ou seja, todos nós.
No meu trabalho vi que os limites nessa área se encaixam em três
categorias: comida, álcool e conversas à mesa. As três têm algumas
características em comum, e incluem o mesmo tipo de apego emocional,
a influência da cultura das dietas, da mídia e da família, e o
comportamento defensivo que pode surgir com qualquer um desses
temas. Apesar disso, cada categoria tem gatilhos e desafios próprios,
especialmente dentro dos nossos relacionamentos.
AMIGOS E COMIDA
Você pode estar se perguntando por que a situação das panquecas de
Brenna não foi apresentada no capítulo sobre amigos e vizinhos. Certo, há
uma sobreposição aqui, mas na minha experiência a comida e a bebida ficam
numa categoria própria quando se trata de limites. Se seus novos amigos vão
esquiar e você diz “Não, agradeço o convite, mas não esquio”, é improvável
que eles pressionem, ridicularizem ou julguem você por recusar. Mas quando
você diz “Eu não bebo”, ou “Eu não como glúten”, isso pode provocar uma
reação muito diferente. Comer e consumir bebida alcoólica têm o potencial de
deixar as pessoas na defensiva mais do que a maioria das atividades sociais,
por isso temos aqui esta categoria especial.
A LINGUAGEM DA COMIDA
Aqui vão algumas dicas para você quebrar a maldição da cultura das
dietas.
Estou limitando meu consumo de açúcar e me sentindo muito melhor com isso.
Mas em breve será o aniversário de 85 anos da minha mãe, uma ocasião
marcante, e sei que vou ser pressionada para comer bolo. (E eu nem gosto do
tipo de bolo que encomendaram.) Como posso explicar isso?
Sempre que nos convidam para o jantar, meus sogros servem massa, mesmo
sabendo que tenho intolerância a glúten. Todas as vezes acabo comendo um
pouco, por educação, e depois pago o preço.
Se seu par não está disposto a ter essa conversa com os próprios pais,
assuma a responsabilidade e adapte um pouco as respostas. Nesse caso,
o limite Vermelho é a consequência. Em vez de comparecer ao jantar e
descobrir que mais uma vez você ou seu par não podem comer, deixe
claro que, até que seus pais/sogros se disponham a fazer as concessões
necessárias, o jantar na casa deles não vai acontecer.
Minha família é adepta ferrenha do “raspe o prato”. Se eu me sinto cheia para
comer tudo ou acho que a refeição vai me fazer mal, minha mãe faz com que
me sinta culpada, falando das crianças pobres que passam fome ou de quanto
dinheiro ela gasta comprando os ingredientes. Você tem alguma estratégia para
mim?
Passo maus bocados com minha família porque não como carne vermelha.
Comer apenas peixe não é uma coisa bem recebida na nossa cultura
dominicana, porque nossas refeições comemorativas envolvem preparar carne
de porco de quatro maneiras diferentes! Em geral apenas ignoro os
comentários, mas gostaria de abordar isso diretamente, porque minha dieta
quase sem carne não vai mudar.
VERDE: “Ah, obrigada, mas não como mais carne de porco. Passe os
guandules, por favor.”
AMARELO: “Não, obrigada, ultimamente a carne de porco não tem me
feito bem, e ainda quero reservar espaço para as outras comidas.”
VERMELHO: “Não. Vou ficar com o arroz com feijão e berinjela.”
Converse com outras pessoas, saia por um momento ou sente-se à
mesa das crianças.
Eu me certifiquei de que essas respostas fossem adequadas à pessoa que
fez a pergunta, e ela disse que foram perfeitas. Nenhuma delas é muito
Vermelha porque é importante honrar sua herança cultural e ao
mesmo tempo sustentar suas escolhas baseadas na saúde. Se houver
pratos tradicionais com peixe ou vegetais (como paella, sopa de
lentilhas ou cozido de quiabo), leve-os ou peça que eles sejam servidos
na festa, mas deixe evidente que está comendo e elogie todos os pratos
prediletos da família dos quais você também goste.
Minha filha de 22 anos se tornou vegana recentemente. Quando ela vem jantar,
eu faço para ela uma comida com proteína vegana, mas o restante da família
continua comendo carne ou frango. Ela vive fazendo observações sarcásticas
sobre o que comemos. Sei que ela leva isso muito a sério e eu apoio suas
escolhas, mas esse não é o melhor modo de influenciar os outros. Como posso
dizer isso com gentileza?
Se uma pessoa vegana, seja da família ou não, quiser falar sobre suas
escolhas ou sobre o que aprendeu, você pode decidir se quer discutir
esse assunto em outro momento. Se não quiser, diga simplesmente:
“Que bom que você descobriu o que funciona para você. Comer carne
funciona para mim e não quero mais tocar nesse assunto.”
Faz alguns meses que venho evitando glúten e laticínios, já que eles tumultuam
minha digestão. Mas nos jantares de família, quando dispenso pão ou sorvete,
minha mãe me chama de “ortoréxica” e diz que está preocupada com minha
saúde. É frustrante, porque minhas restrições têm a ver com a minha saúde.
Como posso dizer isso a ela?
VERDE: “Mãe, sei que você se preocupa comigo, e essas comidas não
me fazem bem. Estou abrindo mão delas porque é o melhor para a
minha saúde, e eu adoraria receber seu apoio.”
AMARELO: “Estou cuidando mais da minha alimentação, e minha
saúde mental e física nunca esteve melhor. Pare com esses
comentários, por favor, porque eles não ajudam, e você não é minha
médica.”
VERMELHO: “Mãe, acredito que estou tomando as decisões certas para
a minha saúde. Se você não consegue respeitar isso, vou ter que
parar de jantar aqui.”
Tenho 20 e poucos anos e adoro sair com amigos, mas não bebo. Meus amigos
me apoiam, mas como posso reagir à pressão de outras pessoas no bar, que
ficam insistindo em me pagar uma dose ou me convencer a tomar “só uma
cervejinha” com elas?
VERDE:
“Não, obrigado, vou ficar só na água mesmo.”
AMARELO: “Não. No momento não estou bebendo.”
VERMELHO: “Já recusei três vezes seguidas. Acho que está bem claro.”
E se afaste.
Não sou muito de beber – nunca fui. Quando saímos com amigos, meu novo
namorado me provoca dizendo que sou a “motorista da rodada” e sempre
arruma um jeito de comentar que não estou bebendo. Recusar bebida não me
deixa desconfortável, mas o comportamento dele me incomoda!
VERDE: (em casa, antes de sair) “Ei, querido, será que dá para não
fazer piada sobre eu ser a motorista da rodada hoje? É mais fácil para
mim quando você não chama atenção para a minha sobriedade.”
AMARELO: (discretamente, durante o evento) “Ei, será que dá para
parar com os comentários sobre eu não beber? Estou me sentindo
bem tomando água, mas você transforma isso numa grande
questão.”
VERMELHO: (na bucha) “Ben, pare com isso, senão eu vou para casa e
a gente se vê depois.” E vá conversar com outra pessoa.
Não vejo problema em tomar uma cerveja com colegas de trabalho, mas eles
sempre me pressionam a beber mais, e às vezes simplesmente me entregam
outra garrafa. Será que devo ir até o balcão, pedir água com gás e limão e fingir
que é uma vodca com soda?
Por favor, não finja que sua água é vodca. Um: isso não é claro nem
gentil; dois: não parece autêntico, o que vai deixar você inseguro; e três:
esconder-se assim não reforça sua prática de estabelecer limites. Se for
mais confortável ter outra bebida nas mãos, simplesmente seja claro
em relação ao que ela é: “Vou curtir água com gás pelo resto da noite.”
SEM DESCULPAS
Pense duas vezes antes de se desculpar explicando por que você não quer
mais uma bebida, mesmo que a desculpa seja verdadeira. Dizer “Não posso,
preciso malhar amanhã”, ou “Não posso, preciso cuidar do jardim logo cedo”,
pode parecer um convite para os outros “resolverem” seu problema, de modo
que você possa encher a cara por uma noite. Seu interlocutor poderia dizer
“Eu vou com você à academia amanhã; vamos curtir esta noite”, ou “Eu ajudo
você com o jardim; a gente acaba na metade do tempo. Você pode ficar aqui
até mais tarde”. É muito mais eficaz demonstrar clareza e deixar evidente seu
“Não, obrigado”. E esse é um ótimo exercício para você se manter firme em
outras áreas que necessitem de limites.
Adoro sair para beber com meus amigos, mas eles curtem as baladas como se a
gente ainda estivesse na faculdade. Para ser sincera, isso não é mais divertido
para mim, mas ainda quero me encontrar com eles. Como posso estabelecer um
meio-termo?
VERDE: “Fico umas horinhas com vocês, mas vou voltar para casa
cedo.” E saia quando estiver a fim.
AMARELO: “Mal posso esperar para ver vocês hoje à noite, mas assim
que vocês começarem a dançar em cima da mesa, eu me retiro.”
VERMELHO: “Hoje à noite vocês vão tomar uns drinques ou encher a
cara? Se for para encher a cara, a gente se vê outro dia.”
RAPIDINHAS
Uma coisa que ninguém pode questionar são suas preferências pessoais.
(Quero dizer, a pessoa pode tentar, mas ela não pode entrar na sua mente
para confirmar se é verdade.) Aqui vão algumas frases curtas e simples que
você pode usar quando sentir que estão pressionando você a comer ou beber
algo contra sua vontade. (Além disso, elas são úteis quando você não está a
fim de explicar que os laticínios causam uma revolta no seu sistema
digestivo.)
“Não, obrigado(a).”
“Estou numa boa, obrigado(a).”
“Não, obrigado(a), estou bem.”
“Não, obrigado(a), no momento não estou com fome.”
“Parece delicioso, mas esta noite não.”
“Não curto muito pizza/doces/cerveja/sorvete/bolo.”
“Talvez eu seja a única pessoa no mundo que não curte sorvete.”
“Não sou muito de comer brigadeiro.”
“Neste momento estou cortando o açúcar/álcool/glúten da dieta.”
“Decidi ficar algum tempo sem consumir pão/álcool/laticínios.”
“Glúten/álcool/leite simplesmente não me cai bem.”
“Hoje não estou a fim.”
“Eu não bebo.”
VERDE: “Sei que vocês têm boa intenção, mas prefiro não falar sobre
o meu peso. Vocês não acham esta blusa linda? / Souberam da minha
promoção? / Acabei de fazer minha primeira corrida de 5
quilômetros!” (Redirecione os elogios para outra área.)
AMARELO: “Por favor, não falem do meu corpo ou do meu peso na
minha frente. Esse tipo de comentário me deixa desconfortável.”
VERMELHO: “Já pedi que vocês não comentem sobre o meu corpo. Se
não respeitarem isso, vou sair.” E, se necessário, saia do recinto ou vá
embora.
Odeio a ceia de Natal. Minha mãe e minhas tias vivem fazendo dieta e quando
eu preparo um prato saudável e equilibrado, elas fazem comentários “úteis”
sobre quanto ou o que estou comendo. Isso arruína a festa, então o que posso
dizer?
VERDE: “Não quero falar sobre o que está no meu prato hoje. Estou
muito feliz com minha refeição.” E mude de assunto.
AMARELO: “Por favor, não comentem sobre o que estou comendo, do
contrário vou levar meu prato para outro lugar.”
VERMELHO: “Se vocês continuarem se metendo no que eu como, vou
começar a comemorar o Natal com meus amigos, porque a ceia em
família não está sendo divertida para mim.”
Meu colega de quarto é muito preocupado com a saúde. Sempre que eu preparo
ou peço uma refeição, ele faz algum comentário supostamente “útil”: diz que na
verdade minha salada não é saudável por causa da gordura, ou que o arroz
branco vai aumentar minha insulina. Ele fica inspecionando e julgando minha
alimentação e estou cansado disso, ainda mais porque não pedi nenhum
conselho. Como posso falar sobre isso?
VERDE: “Na verdade, estou satisfeito com o meu prato e prefiro não
falar sobre isso.” E mude de assunto.
AMARELO: “Ah, preciso interromper você aqui: só quero comer sem
ouvir nenhum comentário, está bem? Obrigado.”
VERMELHO: “Blake, o que eu como não é da sua conta e não estou
pedindo sua opinião. Por favor, pare com isso.”
Outro limite Vermelho poderia ser: “Talvez você ache que está
ajudando, mas dar conselhos não solicitados sobre a comida dos outros
parece um julgamento, e atrapalha um bocado nossa relação.” Garanto
que você não é a única pessoa com quem ele está fazendo isso, de modo
que ao falar assim você faz um favor a todo mundo que convive com
seu colega.
Sempre que levo marmita para o trabalho meus colegas ficam falando da minha
“comida de dieta esquisita” e dizem que eu devo estar julgando o refrigerante
zero açúcar que eles tomam. Me ajude a almoçar em paz.
VERDE: “Por que meu almoço é sempre tema de conversa? Desse jeito
vou acabar comendo no carro.”
AMARELO: “Será que podemos parar de falar da comida do outro e
comer em paz?”
VERMELHO: “Vou terminar de almoçar na minha mesa. Almoço com
vocês amanhã, se acharem que conseguem segurar esses
comentários.”
Em outro momento que não seja à mesa, talvez você precise deixar seu
limite ainda mais claro. Diga algo do tipo: “Falar mal do nosso corpo
ou do nosso peso prejudica a saúde mental das crianças. Talvez vocês
nem percebam que estão fazendo isso, então eu vou avisar se acontecer
de novo.”
U
ma mulher chamada Heather me mandou uma mensagem no
verão pedindo ajuda urgente para estabelecer um limite. Ela
escreveu: “Meu pai morreu de uma hora para outra na semana
passada. Ele era extremamente sociável e tinha inúmeros amigos com
quem mantinha contato regular. Agora que ele se foi, todo mundo fica
telefonando e mandando mensagens perguntando como eu estou,
querendo dar os pêsames ou contar alguma lembrança do meu pai.
Estou arrasada e preciso de algum tempo sozinha – mas sinto que
deveria responder a essas mensagens sinceras, por isso preciso de ajuda
para impor certos limites. Em geral não peço ajuda a pessoas
desconhecidas na internet, mas estou muito abalada emocionalmente
para pensar no que dizer aos amigos do meu pai, a não ser POR FAVOR,
PAREM.”
Querida Heather (e todo mundo): sim, você pode e deve estabelecer
limites em relação ao seu luto. E à sua condição de saúde. E ao seu
divórcio, seu status de relacionamento, sua vida sexual, seu
planejamento familiar, sua identidade, suas convicções religiosas, seus
traumas e qualquer outra coisa em que as outras pessoas queiram se
intrometer – mesmo com a melhor das intenções. Este capítulo fala
sobre limites quanto a temas difíceis que, por acaso, são como aquelas
bonecas russas: desafios dentro de desafios que têm a ver com temas que
já são (você adivinhou) desafiadores.
Ainda que os temas sensíveis possam surgir entre familiares, amigos,
vizinhos ou colegas de trabalho, eles merecem um capítulo próprio –
não somente por causa de sua natureza delicada, mas porque essas
violações de limites podem acontecer em qualquer lugar. Trata-se da
mulher que está atrás de você na fila do supermercado e põe a mão no
seu cabelo; da mãe do coleguinha do seu filho que está tentando puxar
papo com você na festa da escola e pergunta “Você não quer ter mais um
filho?”; ou do cara sentado ao seu lado no avião agradecendo pelo seu
serviço militar e em seguida perguntando baixinho: “Você já matou
alguém?”
Algumas pessoas que fazem perguntas assim – pessoas que parecem
ter uma capacidade especial de pisar os calos mais sensíveis e nos deixar
bastante desconfortáveis – sentem-se totalmente inocentes, até que
alguém (talvez você) mostre quão problemáticas são essas perguntas ou
ações. Mas essas pessoas também podem ser propositalmente passivo-
agressivas, revelando influências e comportamentos adquiridos do
patriarcado, da misoginia, da supremacia branca e de outros sistemas de
opressão. E às vezes são simplesmente agressivas – como se quisessem
lembrar a você que elas podem e vão colocar as preferências delas acima
das suas quando quiserem, mesmo que você esteja em seu momento
mais vulnerável.
Os limites Vermelhos neste capítulo foram pensados especialmente
para elas.
Existem alguns assuntos que sempre parecem seguros, não importa com
quem conversemos. O clima, por exemplo: é um tema muito pouco
controverso, uma experiência comum (desde que você não mencione o
aquecimento global para as pessoas erradas) e geralmente fácil de ser
abordada. Existem, porém, outros assuntos que estão entrelaçados tão
intensamente no nosso tecido moral que podem parecer que não são
problemáticos, mas não é bem assim.
Por exemplo: “Você tem filhos?” Essa é uma pergunta comum nas
reuniões sociais, nos eventos profissionais e até em entrevistas de
emprego. Para muitas pessoas a resposta é um simples “Sim” ou “Não” e
a conversa segue em frente.
Para algumas pessoas, no entanto, problemas de infertilidade,
abortos espontâneos, condições de saúde, questões de relacionamento
ou restrições financeiras tornam essa pergunta pesada e dolorosa.
Imagine perguntar a uma pessoa que acaba de ter seu terceiro aborto
espontâneo: “E aí, quando você vai ter um filho?” Você jamais faria isso
se soubesse que a pessoa estava passando por uma dor física ou
emocional. Mas este é o ponto: a gente nunca sabe. Existe uma dezena de
perguntas desse tipo, desde “Você vai se casar ou não?” até “Você
emagreceu?”, ou “Por que você ainda está solteira?”, e cada uma delas
pode ser um gatilho de sofrimento imenso, ainda que invisível.
Agora vou dizer o que você pode estar pensando: “Qualquer coisa é
um possível gatilho, Melissa.” Sim, é verdade. Você pode perguntar a
uma pessoa sobre o companheiro ou a companheira de longa data e
descobrir que acabaram de se separar, ou convidar um vizinho para se
encontrar com você no parque dos cachorros e descobrir que o cão dele
morreu na semana anterior, ou dizer quanto você adora frutos do mar e
descobrir que o melhor amigo da pessoa morreu num acidente terrível
envolvendo alergia a camarão. Não é possível evitar todos os temas
sensíveis, porque você não lê mentes. Mas aqui vão alguns assuntos
gerais que é melhor evitar a menos que a outra pessoa toque neles
primeiro (você encontrará roteiros para cada um desses assuntos
adiante, neste capítulo):
FILHOS:Você tem filhos? Você quer ter filhos? Você pode ter filhos?
Quantos filhos você tem? Você vai ter mais filhos?
STATUS DE RELACIONAMENTO: Por que você está solteiro? Você tem
namorado? Quando vocês vão se casar? Qual é a diferença de idade
entre vocês?
SAÚDE OU NECESSIDADES ESPECIAIS: Você emagreceu? Você tentou
tal tratamento para seu problema? O que aconteceu com você?
Qual é a sua deficiência? Você ainda pode fazer tal coisa?
RECUPERAÇÃO DE UM VÍCIO: Você sente falta do álcool (ou das
drogas, ou do jogo)? Quando você percebeu que estava no fundo
do poço? Me conta a história mais louca que já aconteceu com você.
Você acha que um dia vai ter uma recaída?
Não são apenas perguntas sobre temas sensíveis que podem causar
mal sem intenção; relatos não solicitados também podem perturbar ou
provocar outras pessoas. Recentemente postei nas redes sociais que
estava pensando em vender minha adorada motocicleta. Quanto mais
velha fui ficando, mais desconfortável me sentia com o risco, mas ainda
não tinha certeza se estava pronta para abrir mão dela. Você não
acreditaria (ou talvez acredite) na quantidade de histórias não solicitadas
que recebi sobre acidentes horríveis de moto. “Essa pessoa morreu, meu
irmão perdeu a perna, minha amiga nunca mais andou...” Desculpe, mas
eu não pedi a ninguém que compartilhasse relatos tenebrosos, e se andar
de moto não me deixava nervosa antes, agora estou literalmente pirada
de medo e ansiedade. ISSO NÃO AJUDA.
E é pior ainda se a pessoa estiver grávida. Existe um cantinho
especial no inferno para alguém que conta a uma grávida uma história
de parto horripilante. Estou só avisando.
SEJA GENTIL
Este capítulo tem dois objetivos. Primeiro, quero ajudar as pessoas que estão
enfrentando momentos ou situações difíceis a aprender onde e como
estabelecer limites para se manterem em segurança e saudáveis. Segundo, a
partir desses exemplos espero deixar claro que algumas coisas que você diz
ou pergunta podem ser mais problemáticas do que você imagina. Quanto
mais sabemos, melhor agimos, e depois de ler este capítulo espero que você
pense duas vezes antes de fazer alguma dessas perguntas ou contar
histórias sem que a outra pessoa peça. Você nunca sabe quais são as
dificuldades pelas quais os outros estão passando, e presumo que a última
coisa que você deseja é aumentar o sofrimento de alguém num momento que
já é difícil – mesmo que a pessoa seja totalmente desconhecida.
Isso não se aplica apenas ao luto; essa teoria pode ser aplicada a
qualquer crise, seja morte, trauma, doença, ferimento, parto ou divórcio
– temas que você encontrará nos roteiros de limites deste capítulo. Se
sua irmã tem câncer, você (e os filhos dela, o marido e os pais) estão no
centro do anel e não têm nenhuma responsabilidade de reconfortar os
amigos ou colegas dela. Se você está se divorciando, seus pais não podem
ficar lamentando com você sobre como eles estão arrasados. E, como eu
disse a Heather, ela não tem obrigação de responder a uma mensagem,
ouvir um relato ou oferecer consolo a qualquer pessoa que esteja fora do
seu minúsculo círculo central – nem agora nem no futuro.
A Teoria dos Anéis ajudou Heather a se sentir muito melhor e lhe
deu confiança para estabelecer limites adicionais para preservar seu
tempo sozinha e reivindicar o espaço necessário para processar seus
sentimentos. Isso nos leva ao segundo motivo para eu estar falando da
Teoria dos Anéis: entender seu papel em qualquer crise tornará mais
confortável estabelecer os limites necessários para você se manter em
segurança e saudável, e deve lhe trazer mais compreensão quando
alguém no centro do anel estabelecer um limite e você estiver num
círculo mais externo. Como veremos no Capítulo 11, um dos maiores
benefícios de se sentir confortável ao estabelecer limites é que você
reconhecerá melhor quando um limite estiver sendo estabelecido para
você, e terá as ferramentas e a perspectiva necessárias para respeitar esse
limite com mais compreensão e elegância.
SAÚDE MENTAL E FÍSICA: São limites que você estabelecerá para preservar
sua saúde mental, proteger sua privacidade e garantir que as conversas
não sigam numa direção que provocaria dor, ansiedade ou lembranças
desagradáveis. Nessa seção você encontrará limites relacionados ao vício
e à recuperação, a doenças ou ferimentos, à identidade de gênero e ao
trauma.
INSTRUA COM SABEDORIA. Se você optar por usar seu limite como uma
ferramenta de ensino, pense no contexto. Se está estabelecendo um
limite para sua chefe, talvez queira separar o limite (“Prefiro não falar
sobre isso”) da instrução e falar com ela em outro momento, quando os
colegas de trabalho não estiverem presentes. Se você quiser emprestar
sua voz para defender alguém que foi ofendido, certifique-se de que essa
pessoa se sente bem com isso – você não quer piorar a situação. Na
dúvida, simplesmente estabeleça seu limite e mude de assunto ou se
afaste.
DEIXE A PESSOA “SE SENTIR MAL”. Assim que entende que a pergunta
bem-intencionada que ela fez foi na verdade ofensiva, a pessoa pode
esperar que você – a parte prejudicada – a console porque ela se sente
muito mal. Você não precisa fazer isso. Na verdade, tentar “remediar” o
desconforto só atrapalha o crescimento dela e pode impedir que ela
receba uma importante lição de vida.
Fingir que o que a pessoa fez não foi doloroso, dizer “Tudo bem”
quando não estava tudo bem, ou desconsiderar o impacto negativo
falando “Sei que você teve boa intenção” não são atitudes claras nem
gentis. A pessoa pode ser bem-intencionada e ainda assim provocar um
dano. Você pode reconhecer isso, aceitar o pedido de desculpas e seguir
em frente.
Tenho um problema de saúde crônico, e com isso vivo recebendo conselhos não
solicitados sobre experimentar algum tratamento, alguma dieta ou me curar
com “pensamentos positivos”. As pessoas são bem-intencionadas, mas só me
estressam ainda mais. Preciso ter respostas na ponta da língua para a próxima
vez que isso acontecer.
VERDE: “Ah, eu não sou ‘senhor’ nem ‘senhora’. Pode usar ‘você’
mesmo.”
AMARELO: “Eu uso pronomes neutros. Por favor, lembre-se disso
quando estiver falando sobre mim.”
VERMELHO: “Você continua confundindo meu gênero, e está
começando a parecer que é de propósito. Isso é desrespeitoso e
pouco gentil, e se continuar assim vou passar a comprar em outro
lugar / vou falar com o RH / vou embora.”
ETIQUETA DE PRONOMES
Pedi ao educador e ativista queer Josh Jenkins (elu/delu, ele/dele) que me
ajudasse a compartilhar o básico sobre a etiqueta de pronomes. Aqui vão
algumas dicas para evitar que as pessoas precisem estabelecer esses limites
para você:
Posso imaginar a quantidade de “Como ela está?” que você tem ouvido
ultimamente, então pense em si mesma como uma representante de
limites da sua irmã. Primeiro converse com ela e pergunte como ela
gostaria que você respondesse a algo como “A químio foi difícil?”. Sua
irmã quer que você mantenha um tom positivo e genérico, do tipo “Ela
está bem”, ou prefere que você seja mais específica e sincera sobre a
situação atual? Quão confortável ela se sente em revelar, e a quem? (O
limite Vermelho aqui é para qualquer pessoa que se sinta com mais
direito a informações do que sua irmã esteja disposta a dar.)
Sou uma mulher jovem, de aparência saudável, mas tenho esclerose múltipla.
Quando estaciono numa vaga reservada ou uso meu andador, costumo ouvir
perguntas e comentários invasivos feitos por estranhos, do tipo “Você não
parece deficiente”, ou “O que aconteceu com você?”. Meu diagnóstico não é da
conta deles. Então o que devo dizer?
Talvez você tenha notado que nesse caso a instrução vem com o limite
Verde, não com o Amarelo ou o Vermelho. Mas, como membro de um
grupo que costuma ser marginalizado, nem sempre é responsabilidade
sua instruir os outros. Sinta-se livre para dizer “Posso não parecer, mas
sou” e deixe outra pessoa (um amigo, por exemplo) explicar em seu
lugar que as pessoas com deficiência não têm uma “aparência”
específica e que é grosseria questionar a experiência de vida de alguém.
Meu marido é militar e já serviu várias vezes no exterior. Com frequência ele
ouve (até mesmo de estranhos) perguntas do tipo “Você já precisou matar
alguém?”, ou “O que realmente aconteceu por lá?”. Essas perguntas são muito
invasivas, ainda mais porque ele já está lidando com o estresse pós-traumático.
Ele nunca sabe o que dizer, e às vezes reage com raiva (compreensivelmente) e
acaba se sentindo mal depois. O que ele deveria dizer nessas situações?
VERDE: “Por favor, não me peça para reviver o tempo que passei lá.
Estou feliz em casa com minha família e estou me concentrando
nisso.”
AMARELO: “Sabe quantos veteranos voltam para casa com estresse
pós-traumático? Muitos de nós. Talvez a maioria. Por favor, não faça
esse tipo de pergunta.”
VERMELHO: “Vou fingir que você não perguntou isso.”
VERDE: “Que bom que você e seus familiares são chegados. Prefiro
não falar sobre os meus.”
AMARELO: “Com todo o respeito, discordo de você. Prosseguindo...”
VERMELHO: “Você não conhece minha família, e esse comentário não
é bem-vindo.”
Nessas respostas você não precisa contar nada sobre a história da sua
família, mas eu tenho uma amiga que responde: “Ah. Então, apesar de
ela ter me espancado durante toda a infância, você acha que vou me
arrepender por não ter me esforçado mais?” Às vezes é válido causar
esse tipo de impacto, mas nem sempre é eficaz e pode não ser gentil.
Mesmo assim, depois de seu limite ter sido ultrapassado duas ou três
vezes, pode ser satisfatório fazer uma declaração forte como essa.
Essa não é de fato uma situação de limites, porque o cliente não vai
lhe fazer essa pergunta de novo e você provavelmente não vai vê-lo
outra vez. Mas aqui vão algumas frases que você poderia ter dito na
hora além de “Tudo bem”. Porque, nesse caso, não é nem um pouco
legal ouvir essa pergunta.
Às vezes, no dia a dia, ouço pessoas aleatórias dizendo algo levemente racista,
homofóbico ou capacitista (em geral precedido por “Não estou sendo racista,
mas...”). Sinto vontade de chamar a atenção para isso, mas não sei o que dizer
sem deixar a pessoa constrangida ou com raiva.
INTERVENÇÃO DO ESPECTADOR
E se você (uma pessoa privilegiada) testemunhar o assédio de alguém com
base em raça, cor, identidade de gênero, orientação sexual, religião, peso ou
necessidades especiais? Cogite emprestar sua voz. Para ser realmente eficaz,
você precisa agir (como discutimos no Capítulo 3). Aqui vão os “5Ds” da Right
to Be, uma organização sem fins lucrativos que oferece Treinamentos de
Intervenção do Espectador para ensinar as pessoas a interromper situações
de assédio.13
VERDE:“Ah, não entendi a piada. Que parte era para ser engraçada?”
AMARELO: “Não achei engraçado e acho que você sabe por quê.”
VERMELHO: “Não é engraçado, é só machista. Com licença, por favor.”
Esse é o tipo mais comum de pergunta que recebi ao longo dos anos, e
por isso esta seção é um pouco maior do que as outras. Parece que em
toda fase da vida algum estranho, conhecido ou mesmo uma pessoa
amada perguntará por que, quando ou como você vai agir. Com muita
frequência as pessoas exigem saber detalhes profundamente pessoais
sobre em que pé estamos na vida. Não devemos respostas a ninguém, em
especial se estivermos tendo dificuldade com algumas dessas questões.
Aqui você verá muitas oportunidades para dar alguns toques nessas
pessoas, se estiver num espaço suficientemente seguro para explicar
direitinho por que a pergunta é inconveniente e ofensiva. Ou pode
apenas se afastar, estabelecendo o limite de que não quer falar sobre o
assunto.
Meu namorado e eu acabamos de largar nosso emprego para viajar de van pelo
país durante um ano. Economizamos o suficiente para isso dar certo e
esperamos encontrar patrocinadores para estender ainda mais a viagem. Mas
as pessoas da minha família têm muitas opiniões sobre isso, nenhuma positiva.
Como posso pedir a elas (gentilmente) que não encham o saco?
VERDE: “Entendo que não faça sentido para vocês, mas estamos
empolgados demais com essa nova fase. Não queremos nada além de
apoio moral – ou pelo menos que guardem suas opiniões se não
estiverem tão empolgados quanto a gente.”
AMARELO: “Opa, pode ir parando, por favor. A gente não pediu
nenhuma opinião e não quer ouvir esses comentários negativos
pouco antes da viagem.”
VERMELHO: “Que tal me mandar uma mensagem quando a gente
puder conversar numa boa, sem que você reclame das escolhas que
eu faço na minha vida? Até lá, prefiro não falar mais nada.”
Queremos ter filhos mais que tudo neste mundo, mas sofri dois abortos
espontâneos e os tratamentos de fertilidade não ajudaram. A pergunta
“Quando vocês vão ter filhos?” me dá vontade de chorar. Sei que as pessoas
têm boa intenção, mas elas não entendem como essa pergunta pode ser difícil.
Como posso responder sem cair no choro?
VERDE: “Se você soubesse como a gente reza por isso! Prefiro não
comentar mais, obrigada.” E mude de assunto. Ou: “Sei que sua
intenção é boa, mas prefiro não falar sobre isso.” E mude de assunto.
AMARELO: “Esse é um tema delicado. Por favor, não pergunte de
novo.” E mude de assunto. Ou: “A gente não se sente confortável
falando sobre isso.” E mude de assunto.
VERMELHO: “Quero que você saiba que essa pergunta pode ser
incrivelmente dolorosa. Você não faz ideia do que as pessoas podem
estar passando, e se soubesse não perguntaria. Não vamos mais falar
sobre isso.” Ou: “Essa é uma pergunta que você não deveria fazer a
ninguém. Com licença, por favor.”
Estou mostrando opções aqui porque talvez você não queira dar a
entender qual é a sua situação, ou talvez não esteja preparada para as
perguntas invasivas que podem vir em seguida (“Por quê? O que está
acontecendo?”). Sinta-se livre para responder a qualquer pergunta
posterior com “Como eu disse, no momento não estamos falando sobre
isso”.
Minha esposa e eu decidimos que não queremos ter filhos. A gente se sente
confortável dizendo isso às pessoas, mas elas sempre reagem com “Vocês vão
lamentar essa escolha no futuro”, ou “Vocês vão se arrepender, e aí já será
tarde demais para fazer qualquer coisa a respeito”. Isso é grosseria, não é? O
que podemos dizer que não seja sarcástico demais?
VERDE: “Ah, agradeço, mas não estamos pedindo opiniões sobre isso.”
E mude de assunto.
AMARELO: “Opa, pode ir parando: não estamos pedindo sua opinião.
A decisão é nossa.”
VERMELHO: “Por favor, não.” E peça licença e saia ou mude de
assunto.
Estou grávida de oito meses e todo mundo vive me dando conselhos não
solicitados sobre como cuidar do bebê. Estão me sufocando num momento que
já é naturalmente tenso. As pessoas são bem-intencionadas, mas como posso
dizer com jeitinho “Me deixe em paz”?
VERDE: “Ah, vou pedir que você pare por aí! Agradeço a intenção,
mas no momento não estou procurando conselhos sobre o bebê.”
AMARELO: “Ah, não! Nada de conselhos sobre o bebê nem histórias
de parto, por favor. Não estou aceitando opiniões que não sejam da
minha médica ou do meu companheiro.”
VERMELHO: “Opa, pode ir parando. Não vou escutar sua história.”
Peça licença e se afaste.
P.S.: Vocês também podem dizer: “Com todo o respeito, isso não é da
sua conta.” Não entendo por que as pessoas acham que fazer bullying,
assediar ou condenar alguém é um modo eficaz de trazer a pessoa de
volta para o rebanho. Tendo conversado com muitos amigos sobre suas
crises de fé, sei que vocês provavelmente passaram por um inferno
particular enquanto avaliavam essa decisão. Deem todos os passos
necessários para se proteger das opiniões dos outros – até mesmo da
família – enquanto avaliam o que essa fase significa para a fé que vocês
têm.
Estou passando por um divórcio e meus pais não escondem como estão
chateados. Dizem que estou cometendo um erro gigantesco e que o divórcio vai
arruinar a vida dos meus filhos. (Como se eu já não estivesse suficientemente
estressada e preocupada.) Quero que eles parem de pegar no meu pé, porque
não estão ajudando. Socorro.
VERDE: “Sei que vocês se preocupam comigo e com meus filhos, mas
essa decisão é minha e peço seu apoio, não seu conselho.”
AMARELO: “Essas opiniões não ajudam nem são bem-vindas. Se não
podem simplesmente me apoiar neste momento difícil, vou parar de
conversar com vocês sobre o divórcio.”
VERMELHO: “Não vou discutir isso com vocês.” E mude de assunto,
desligue o telefone ou se afaste, de acordo com a necessidade.
Depois de ter batido com a cabeça, passei três anos com sintomas pós-
concussão. (Ainda vejo clarões em momentos de muito estresse, em
viagens longas ou quando faço um esforço muito grande.) Eu não sabia
nada sobre lesões na cabeça antes de sofrer uma, e já contei um bocado
nas redes sociais sobre minha experiência, esperando ajudar pessoas a
lidar melhor com lesões semelhantes ou com entes queridos que tenham
sofrido concussão.
Assim que comecei a contar minha história, as pessoas sempre
vinham com a mesma pergunta: “Como isso aconteceu?” Por um tempo
contei a verdade: estava jogando laser tag com meu filho num centro de
diversões e durante o jogo fui acertada na cabeça pela arma de outro
jogador ou bati numa coluna de concreto – não sei bem o que aconteceu.
Mas logo percebi que os comentários que as pessoas faziam estavam
prejudicando minha saúde mental, por mais bem-intencionadas que elas
fossem.
“Ah, então não foi tão ruim assim!” (Só que foi, porque já fazia três
meses e eu ainda não podia viajar, fazer caminhadas ou falar em
público.) “Nossa, e você ainda está com sintomas?” (Estou, mas agora
fico indagando se você acha que estou fingindo, exagerando ou sendo
dramática.) “Imagine só o que pilotos de corrida ou jogadores de futebol
americano não passam!” (É, os ferimentos deles são muito piores, e
imagino que sofram mais que eu, mas ainda sinto dor constante, então
será que podemos não fazer comparações?)
Esses comentários eram bem-intencionados, mas eu ainda estava
processando o dano sofrido e o impacto dele na minha vida, e depois de
uma sessão de terapia reconheci que precisava estabelecer algum limite.
Assim, adotei uma estratégia “pré-Verde”, dizendo às pessoas: “Sofri um
acidente.” Não estava estabelecendo um limite verdadeiro, pois não
estava estipulando claramente o que eu contaria ou não, mas era meio
caminho andado, já que isso me ajudava a contar como eu me sentia
sem suscitar perguntas adicionais.
Nesses temas muito delicados você pode descobrir que uma resposta
“pré-Verde” é uma ponte útil para estabelecer um limite de verdade, ao
mesmo tempo que você controla melhor até onde podem ir suas
interações. Por exemplo, você pode responder à pergunta “Como seu
parente morreu?” com um limite pré-Verde do tipo “Foi súbito demais e
todos ainda estamos em choque”, ou “Tivemos sorte porque pudemos
nos despedir, e ele partiu em paz”. (É improvável que alguém seja sem
noção a ponto de continuar insistindo: “Não, mas de que ele morreu?”)
Ao treinar a ideia de “dose mínima, efeito máximo” (como visto no
Capítulo 2) com relação aos limites, você pode ser capaz de gastar
menos energia ainda com uma meia resposta bem pensada. Se ela
funcionar e for menos estressante para você num momento difícil, essa
estratégia terá todo o meu apoio.
CAPÍTULO 10
E
m outubro de 2020 os Estados Unidos estavam se preparando
para uma eleição complicada, a pandemia grassava e eu estava
profundamente envolvida na luta por justiça social que
dominava o noticiário. Estava penando para manter um relacionamento
saudável com as redes sociais, já que parecia que o mundo inteiro era
feito de pessoas discutindo, compartilhando desinformação, adoecendo
e morrendo. Ia dormir toda noite ultrajada com alguma coisa,
desabafando com meu marido sobre como a vida era injusta e desigual.
Depois da terceira noite seguida me sentindo esmagada a ponto de
chorar, ele interveio: “Querida, acho que você precisa sair do Twitter.”
Contra-ataquei imediatamente: “Como vou saber o que está
acontecendo? Eu tenho obrigação de me envolver.” Ele respondeu com
calma: “Até que ponto você precisa se atualizar às dez da noite?” Estava
certo. Meu hábito de checar as redes sociais “uma última vez” antes de ir
para cama estava me deixando ansiosa, furiosa e incomodada, o que
abalava meu relacionamento com meu marido, minha saúde mental e
meu sono. Imediatamente estabeleci um limite para mim mesma: “Nada
de checar as redes sociais uma hora antes de dormir.”
Os limites são programados, em parte, para ajudar você a criar,
manter e preservar relacionamentos saudáveis. Às vezes o
relacionamento que esse limite preserva é o que temos com nós mesmos.
Os limites pessoais fazem parte de uma categoria própria por dois
motivos. Primeiro, como não envolvem mais ninguém, o respeito a esses
limites só depende de uma pessoa. Isso pode ser uma bênção e uma
maldição. Sem dúvida, é mais fácil manter um limite saudável se você
decidir que ele é do seu interesse, mas nem todo mundo reage do mesmo
modo às próprias expectativas.
LIBERDADE!
Um lembrete: tenha em mente o maior benefício de todos. A capa deste livro
diz: “Melhore seus relacionamentos e conquiste sua liberdade”, e é disso que
tratam os limites autoestabelecidos: liberdade! Liberdade em relação ao
estresse, à ansiedade e à raiva, e liberdade para se sentir feliz, saudável, em
paz e em equilíbrio. Autoestabelecer limites é mais um caminho para esse
sentimento de liberdade – no meu caso, quebrei as correntes que me
mantinham presa ao meu telefone num momento do dia que deveria ser
pacífico. Se você já sentiu dificuldade ao tentar estabelecer um limite assim,
pergunte: “De que eu preciso me libertar (ou o que eu preciso fazer com mais
liberdade) e quais são os limites que posso estabelecer para me tornar e me
manter livre?”
REPROGRAME SEU REBELDE INTERIOR. Pode ser que você comece a achar
(especialmente vocês, Rebeldes da Teoria das Quatro Tendências) que os
limites autoestabelecidos estão sendo muito restritivos ou punitivos em
vez de empoderadores e libertadores, o que seria o desejado. Se você se
sentir assim, relembre como reformulou as consequências de não
respeitar seu limite. Não beber vinho na quarta-feira não é um castigo, é
um ato de cuidado pessoal: um presente para seu Eu Futuro, para
garantir que você tenha um fim de dia reparador e relaxante, uma boa
noite de sono, e que acorde se sentindo leve, com energia e positividade.
Na verdade, estabelecer esse limite liberta você das grandes limitações
impostas por beber numa quarta à noite. Lembrar que os limites são um
ato de resistência contra sistemas ou ritos sociais opressores também
pode ajudar – se a mídia, a sociedade, a cultura e o marketing estão
empurrando você na direção de um comportamento que não lhe faz
bem, defender-se e dizer “não” é um ato radical (ouso dizer rebelde) de
cuidado pessoal.
LIMITE: Não vou ligar a TV depois do jantar, a não ser nos fins de
semana.
LIMITE: Vou ajustar um alarme de modo que após uma hora a TV seja
desligada.
LIMITE: Vou assistir a apenas um episódio de alguma série nas noites
de segunda a sexta.
LIMITE: Vou programar a TV para ser desligada às nove da noite
durante a semana.
LIBERDADE: Se eu respeitar esse limite:
Não vou me criticar depois (“Sou preguiçosa demais, tudo o que eu
fiz foi ficar vendo TV de novo”).
Vou ter mais tempo livre antes de dormir.
Vou ter uma noite de sono melhor.
Vou começar o dia com mais disposição e energia.
CONSEQUÊNCIA: Se eu não respeitar esse limite:
Vou me atrasar pela manhã (ou não vou fazer tudo o que quero
durante a noite).
Vou para cama estressada.
Não vou dormir muitas horas.
Vou acordar cansada e de mau humor.
LIMITE: Durante a semana não vou olhar minhas redes sociais antes
do meio-dia.
LIMITE: Vou passar os últimos dez minutos de toda sexta-feira
preparando uma lista de coisas a fazer na segunda de manhã.
LIMITE: Vou chegar ao trabalho uma hora mais cedo às segundas-
feiras para me instalar antes de todo mundo.
LIMITE: Vou reservar uma hora na minha agenda nas manhãs de
segunda-feira para colocar os e-mails em dia.
LIBERDADE: Se eu respeitar esse limite:
Estarei livre da ansiedade que acompanha as manhãs de segunda.
Não vou me distrair olhando as redes sociais.
Manterei o foco e, portanto, serei mais produtivo, o que me
garantirá a liberdade de estabelecer e administrar minhas
prioridades.
CONSEQUÊNCIA: Se eu não respeitar esse limite:
Vou começar minha semana ansioso e irritadiço.
Vou ficar com raiva de mim mesmo por não ter me preparado
melhor.
Vou me sentir menos produtivo no trabalho.
Não vou poder reagir de modo tão eficaz às prioridades e talvez
perceba que, com isso, meu desempenho no trabalho está
declinando.
LIMITE: Vou passar dez minutos toda noite arrumando o quarto antes
de dormir.
LIMITE: Vou treinar o princípio do “Um Toque” para tudo no meu
quarto. (Veja na página a seguir.)
LIMITE: Vou passar uma hora limpando meu quarto no domingo à
noite enquanto assisto à Netflix.
LIMITE: Vou arrumar uma gaveta ou uma prateleira do armário por
semana até meu quarto estar totalmente organizado.
LIBERDADE: Se eu respeitar esse limite:
Estarei livre do estresse de dormir num quarto bagunçado.
Saberei onde estão meus pertences e se eles estão limpos ou não.
Poderei me mover com facilidade no meu quarto.
Não sentirei mais necessidade de parar tudo e fazer faxina.
Acordarei de manhã em paz, num ambiente relaxante.
CONSEQUÊNCIA: Se eu não respeitar esse limite:
Minhas noites serão estressantes e agitadas.
Não saberei onde encontrar a roupa que quero vestir.
Minhas coisas podem ficar sujas e amarrotadas ou se perder.
Não vou sentir paz no meu próprio espaço.
LIMITE: Não vou faltar à academia por motivo nenhum durante trinta
dias seguidos.
LIMITE: Vou à academia fazer só cinco minutos de exercício, cinco
dias por semana.
LIMITE: Vou dormir e acordar 45 minutos mais cedo para começar a
malhar de manhã.
LIMITE: Vou me inscrever numa aula regular na academia e não vou
perder nenhuma.
LIBERDADE: Se eu respeitar esse limite:
Estarei livre da culpa e da frustração que sinto quando não vou à
academia.
Vou poder exercitar meu corpo de um jeito que me faz bem.
Vou me sentir incrível e com orgulho de mim por ter cumprido a
tarefa.
Vou curtir mais meu corpo.
CONSEQUÊNCIA: Se eu não respeitar esse limite:
Continuarei sentindo culpa por não ir malhar.
Continuarei sentindo pouca energia, cansaço e fraqueza.
Vou ficar pensando que deveria ter ido à academia e me sentir mal
por não ser capaz de honrar esse compromisso.
Saberei que estou desperdiçando dinheiro com uma academia que
não frequento.
Estou empreendendo com minha nova empresa e quero alcançar uma meta de
vendas, mas estou à beira do esgotamento. Como quero muito alcançar minha
meta, acabo aceitando mais clientes do que consigo atender, mas sei que isso é
contraproducente. Como posso estabelecer um limite?
LIMITE: Não vou aceitar nenhum cliente novo este mês.
LIMITE: Nos próximos seis meses só vou aceitar dois clientes novos
por mês.
LIMITE: Não vou me permitir marcar mais que quatro compromissos
por dia.
LIMITE: Não vou trabalhar mais de oito horas por dia nem vou
trabalhar aos domingos.
LIBERDADE: Se eu respeitar esse limite:
Estarei livre para dedicar mais tempo a cada cliente.
Terei mais tempo livre para recarregar as energias e descansar.
Estarei livre do estresse de perder prazos ou trabalhar horas extras.
Estarei livre para avaliar meus objetivos diante de uma carga de
trabalho realista.
Estarei livre para estruturar a empresa como eu quiser e ao mesmo
tempo cuidar da minha saúde.
CONSEQUÊNCIA: Se eu não respeitar esse limite:
Continuarei trabalhando demais.
Vou me estressar por perder prazos e entregas.
Vou encerrar cada dia sentindo que não fiz o suficiente.
Vou sentir que não tenho sucesso porque não estou alcançando
minhas metas nem cuidando de mim.
Minha saúde física e mental vai se deteriorar a ponto de talvez
impedir o sucesso da minha empresa.
Esse é um limite que você também deve estabelecer com seus futuros
clientes. Depois de se comprometer a não aceitar mais nenhuma
demanda este mês, você deve comunicar sua decisão com clareza e
gentileza: “Minha agenda está totalmente ocupada pelo restante do
mês. Será que poderíamos começar o novo trabalho em abril?” Aqui o
limite autoestabelecido é o primeiro passo para reconhecer que você
também precisa estabelecer um limite para seus clientes, pelo bem da
parceria futura.
Os benefícios
dos limites
CAPÍTULO 11
N
o início de janeiro uma mulher chamada Cheryl me escreveu
pedindo ajuda com um limite que deu errado. Nos feriados de
fim de ano, seu filho Jason estabeleceu para ela um limite sobre
como os dois passariam o Natal. Cheryl escreveu: “Nossa família
costuma se reunir várias vezes em dezembro. Fazemos planos para a
noite de Natal, abrimos os presentes juntos na manhã do dia 25,
convidamos os parentes para o jantar e todo mundo volta no dia
seguinte para o café da manhã e o almoço. Este ano meu filho e o
companheiro decidiram que queriam passar a maior parte do período
com o bebê deles, só os três.” Ele disse a Cheryl que iriam na noite de
Natal e a convidaram para a casa deles na manhã do dia 25, para abrir os
presentes, mas avisou que planejavam passar o restante da semana
sozinhos em casa.
Cheryl não recebeu isso bem. “Eu levei bastante para o lado pessoal”,
escreveu ela. “Senti que ele estava me negando o meu neto e falei com
todas as letras que aquilo era egoísmo.” Apesar da pressão da mãe, Jason
manteve seu limite com muita calma, explicando que era importante que
ele e seu companheiro criassem as próprias tradições de família agora
que tinham um filho. Ele falou gentilmente que em breve conversariam
de novo – e desligou o telefone. Cheryl contou: “Encerramos o
telefonema com aquele assunto entalado na minha garganta e eu fiquei
furiosa pelo resto da manhã.”
Assim que você identifica a necessidade de um limite e encontra as
palavras certas para estabelecê-lo, pode ser que a parte mais difícil ainda
esteja por vir. Manter seu limite e lidar com a reação contrária, a raiva ou
a manipulação que às vezes vêm em seguida podem desafiar a decisão de
qualquer pessoa, especialmente se os limites forem uma prática nova
para você. Aprender a manter o limite exige um conjunto próprio de
roteiros. E, como Jason, talvez você precise aceitar que nem todo mundo
vai aprovar ou entender sua decisão. Este capítulo vai preparar você para
essas situações e fornecer as palavras e estratégias necessárias para você
preservar de modo eficaz os limites que estabeleceu tão cuidadosamente.
Se você determina um limite e ele não cai bem, não tire conclusões
precipitadas. Muitas vezes as pessoas reagem mal no calor do momento.
A melhor coisa a fazer diante de um limite mal recebido é oferecer três
pequenas cortesias: espaço, elegância e conversa.
Esta última é a minha predileta: você não está pedindo desculpas por
ter estabelecido um limite, mas está triste porque a pessoa optou por
enxergá-lo como um castigo ou uma maldade. (E isso certamente é mais
gentil do que dizer “Só lamento”.)
Um dia depois de Jason expor pela primeira vez seu limite quanto ao
Natal, ele e Cheryl conversaram de novo – e ela me contou que essa
conversa foi muito melhor. Ela me disse: “Fiquei remoendo o
comentário que fiz sobre ‘egoísmo’ e me senti muito mal. Sabia que
aquilo não tinha a ver comigo, e reconheci que não podia projetar nele
meus sentimentos e minhas inseguranças. Foi uma verdadeira lição, e se
eu não tivesse recebido os seus conselhos sobre limites, não teria
enxergado a situação como realmente é.”
Este é outro benefício de continuar praticando os limites de maneira
saudável: você será muito melhor em preservar uma relação quando
alguém estabelecer um limite para você.
PEDE E RECEBERÁS: ACEITANDO OS LIMITES COM
ELEGÂNCIA
O seu limite faz todo o sentido, mas o da outra pessoa parece pouco
razoável.
O seu limite se concentra nas suas necessidades, mas o da outra
pessoa parece uma crítica pessoal a você.
O seu limite vai acabar melhorando o relacionamento, mas o da
outra pessoa parece meio egoísta.
O seu limite foi pensado cuidadosamente, mas o da outra pessoa
parece repentino e impulsivo.
É normal e natural ter dois pesos e duas medidas quando ainda não
se tem muita prática com os limites, mas aqui vão duas verdades.
Primeira: quanto mais você estabelecer limites para as pessoas, mais elas
se sentirão em condições de fazer o mesmo na vida delas. (Pois é, você
provoca mudanças!) É provável que, à medida que praticar seus limites,
você se pegue ouvindo mais limites também, o que é bom – significa que
as relações em todas as áreas da sua vida estão chegando a um lugar
mais sincero e saudável. Segunda verdade: quanto mais você conseguir
identificar a necessidade de estabelecer, comunicar e manter seus
próprios limites saudáveis, mais facilmente conseguirá reconhecer
quando alguém estiver fazendo a mesma coisa. Isso significa que à
medida que sua prática de limites se desenvolve, você consegue
abandonar mais rapidamente uma postura defensiva, de mágoa ou raiva,
para demonstrar mais empatia e boa vontade.
Mesmo frustrada, respeitei o pedido da minha irmã e a deixei
dormir. Não agi de modo passivo-agressivo fazendo barulho para ela
acordar mais cedo nem entrei no quarto dela às dez horas dizendo: “Já é
tarde.” No tempo e no espaço que tive para processar o que estava
sentindo, reconheci que o “egoísmo” dela era provavelmente um limite.
Eu sabia que o trabalho dela era estressante e que ela havia trabalhado
até tarde em muitas noites naquela semana. Fizemos a visita num
momento especialmente agitado para ela, mas ela insistiu em que
fôssemos de qualquer modo porque realmente queria nos ver. Ela não
estava dizendo que eu não era importante ou que não gostava da gente;
estava dizendo: “Quero recarregar as energias e passar o fim de semana
me sentindo revigorada. Se eu puder ter uma ótima noite de sono, vou
estar totalmente disponível para vocês.” (Ou pelo menos foi o que eu
disse a mim mesma numa ida matinal a uma loja de departamentos para
tentar manter meu filho entretido enquanto esperávamos.)
Como eu tinha muita prática com limites, foi mais fácil presumir que
minha irmã não estava sendo egoísta ou insensível; estava apenas
comunicando suas necessidades para otimizar o tempo que passaríamos
juntas e, em última instância, para melhorar nosso relacionamento. Mas
nem sempre é fácil discernir o que motivou outra pessoa a estabelecer
um limite.
Se você ainda não tiver muita prática, preste atenção a essas reações
bruscas quando alguém estabelece um limite para você. Seguindo a
Regra de Ouro do Relacionamento, eu gosto de esperar o melhor dos
outros: se algo me parece um limite, presumo que seja, sim, um limite
saudável, por isso não vou levar para o lado pessoal e vou respeitá-lo
pelo bem da relação. Em nove a cada dez vezes, presumir o melhor
cenário leva a resultados mais positivos, relacionamentos mais fortes e
conversas mais francas. Mas se você está lutando contra a ânsia de saber
por que a pessoa precisa estabelecer um limite, repita comigo:
A pessoa evita você sem dar explicação: Uma coisa é dizer: “Preciso de
um tempo para processar isso. Ligo para você na semana que vem.”
Outra é dar gelo sem qualquer aviso ou não responder quando você
pede para conversar.
A pessoa impõe a você uma “regra” que não tem nada a ver com ela: Se
minha irmã tivesse dito “Provavelmente vou dormir até o meio-dia,
mas, por favor, não vá a lugar nenhum até eu acordar”, isso não
teria sido um limite saudável. Ela só estaria determinando como eu
deveria passar minha manhã.
A pessoa só impõe “limites” em retaliação aos seus: Se a única situação
em que a pessoa tenta estabelecer um “limite” para você é depois de
você estabelecer os seus ou chamar a atenção para o mau
comportamento dela, isso pode indicar que ela não quer assumir a
responsabilidade ou prefere transferir a culpa para você.
A pessoa dissimula em vez de falar com clareza: Se o “limite” da pessoa
inclui falar mal de você pelas costas, fazer fofoca sobre sua vida ou
ter qualquer outro comportamento ofensivo disfarçado de
“carinho” ou “preocupação”, isso é um alerta vermelho.
A pessoa responsabiliza você pelos sentimentos dela: Se o “limite” da
pessoa implica você fazer ou deixar de fazer alguma coisa para
preservar a estabilidade emocional dela, esse é um comportamento
controlador, não um limite saudável.
Foi exatamente isso que fiz quando minha irmã acordou: perguntei
se ela havia dormido bem e como se sentia, expressei meus sentimentos
de tristeza bastante verdadeiros porque não teríamos muito tempo
juntas, depois assumi a responsabilidade pelos meus sentimentos,
comprometendo-me a aproveitar ao máximo o que restava do dia.
ROTEIROS PARA REAGIR AOS LIMITES ESTABELECIDOS
PELOS OUTROS
Tivemos um bebê e vou voltar a trabalhar. Preciso que meu cônjuge (você)
acorde mais cedo para dividir as responsabilidades de tudo o que deve ser feito
de manhã. Como posso abordar isso? (Ver o Capítulo 6.)
Primeiro garanta à pessoa que, para você, está tudo realmente bem.
Depois diga como está se sentindo – melhor ainda se você perguntar
como a pessoa se sente também. Bônus: continue administrando a
situação com “Vamos conversar melhor no sábado para estabelecer um
padrão de rotina, assim você pode acrescentar qualquer coisa que eu
esteja esquecendo. Quero que sua primeira semana de volta ao
trabalho seja o menos estressante possível.”
Meus sogros (entre eles, você) vivem se convidando para nossas férias de
família. Estamos planejando nossa próxima viagem e eu gostaria de resolver
logo isso. Como posso dizer com gentileza “Vocês não foram convidados”? (Ver
o Capítulo 4.)
Tenho um problema de saúde crônico, e com isso vivo recebendo conselhos não
solicitados sobre experimentar algum tratamento, alguma dieta ou me curar
com “pensamentos positivos”. As pessoas (entre elas, você) são bem-
intencionadas, mas só me estressam ainda mais. Preciso ter respostas na ponta
da língua para a próxima vez que isso acontecer. (Ver o Capítulo 9.)
ABORDAGENS PREVENTIVAS
À medida que você ficar mais confortável estabelecendo limites, pode ir
tomando a iniciativa e indagando preventivamente sobre a disponibilidade, o
tempo ou as necessidades da outra pessoa, de modo que ela não precise
estabelecer limites para você. Pode ser assim:
C
ontei muitas histórias minhas neste livro e achei adequado
terminar com mais uma. Quero contar algo que não foi
empolgante ou incomum – na verdade, foi a coisa mais normal
do mundo, e é aí que está a magia.
Nossa semana com meu filho começou na segunda-feira, depois da
escola. Eu sabia que tinha pela frente uma semana de trabalho bastante
cheia, por isso decidi ir para cama ainda mais cedo naquela noite. Meu
marido e eu adoramos Top chef e eu estava empolgada para ver o que
aconteceria na Guerra de Restaurantes, mas também queria malhar no
dia seguinte bem cedo, por isso fui para cama logo depois que meu filho
dormiu, às oito da noite. Você deveria experimentar isso de vez em
quando: é glorioso.
Na terça-feira fui para a academia cedinho e comecei o dia me
sentindo energizada. No fim daquela tarde uma amiga me mandou um
e-mail perguntando se eu poderia divulgar o Kickstarter do seu novo
projeto no meu perfil do Instagram. Respondi, muito empolgada, que
fazia anos que ouvia falar daquele projeto, que estava doida para vê-lo
sair do papel e, claro, disse que ajudaria. Expliquei que não divulgo
angariações de fundos nas redes sociais, mas me ofereci para marcar
uma live no Instagram com ela para promover o empreendimento e fiz
uma contribuição pessoal. Marcamos a live para a semana seguinte, para
que eu tivesse tempo de preparar tudo confortavelmente.
Na quarta-feira recebi um convite inesperado para fazer uma
palestra no curso de Alimentação, Saúde e Tecnologia de uma
universidade importante. (Era Stanford; falo mesmo.) Eu conhecia a
professora do curso e fiquei lisonjeada porque ela queria que eu fizesse a
apresentação, mas eu já estava com a agenda lotada no trabalho e não
poderia preparar uma palestra e um PowerPoint a tempo. Disse a ela que
adoraria aceitar, expliquei que meus compromissos profissionais
estavam no limite e ofereci alternativas para poder encaixar a palestra na
minha agenda. Combinamos que faríamos uma discussão livre, com os
alunos mandando as perguntas com antecedência e sem necessidade de
slides – um formato que eles já haviam usado com sucesso no curso.
(Spoiler: tudo correu tão bem que eu mal resisti à tentação de
acrescentar “professora em Stanford” na minha biografia no LinkedIn.)
Na quinta-feira minha manicure (com quem faço unha há anos) me
mandou uma mensagem dizendo que estava com uma folga na agenda e
perguntando se eu poderia ir meia hora mais cedo (eu tinha marcado
para o meio-dia). Ela sabe que eu tenho um horário flexível, mas aquela
meia hora estava reservada para o almoço, já que o restante do meu dia
estava lotado com reuniões pelo Zoom. Respondi rapidamente que não
podia, mas confirmei que estaria lá ao meio-dia já com o esmalte
escolhido, para não perdermos tempo.
Naquele fim de semana meu filho teve sua primeira competição de
escalada. Fomos torcer por ele, mas durante um intervalo eu saí para
postar um conteúdo patrocinado no Instagram, que já estava
programado. Uma hora depois recebi uma mensagem do patrocinador
fazendo algumas perguntas sobre a audiência daquele conteúdo.
Respondi imediatamente: “Neste fim de semana estou com minha
família, mas podemos nos falar na segunda-feira.” Ele me respondeu
com um rápido “Tenha um bom fim de semana” e eu retornei ao evento,
e lá esperamos quatro horas para assistir a quatro minutos de escalada –
essa é a vida de uma mãe de atleta.
Na manhã de domingo meu ex-marido me mandou uma mensagem
pedindo que conversássemos sobre uma questão específica do dia a dia
do nosso filho na minha casa. Para ser sincera, eu não sabia se aquela
conversa seria razoável; a gente não fica controlando o que acontece na
casa do outro, e aquilo me parecia um pouco excessivo. Depois de
pensar durante algumas horas, digitei de volta: “Quero ser uma boa mãe
e ouvir suas preocupações, mas também quero lembrar que a gente não
fica microgerenciando o que acontece na casa do outro. Por que você
não manda suas ideias por e-mail? Prometo refletir a respeito.” Isso me
pareceu um meio-termo razoável.
Ainda no domingo, no fim da tarde, me peguei olhando
distraidamente os e-mails e verificando as DMs no Instagram, o que já
estava me estressando, então decidi largar o celular e curtir nossa última
noite com meu filho. Terminamos a semana de modo fantástico com um
passeio com nosso cachorro, Henry, uma pizza sem glúten com
pepperoni extra e um filme de Guerra nas estrelas.
Na segunda-feira de manhã deixei meu filho na escola e voltei para
casa para começar logo as atividades, sabendo que tinha a semana de
“folga” dos meus deveres de mãe para ficar em dia com o trabalho, o
sono, a escrita e, claro, a Guerra de Restaurantes.
Fico até tarde assistindo a Top chef com meu marido e na manhã
seguinte falto à academia porque estou cansada demais para me
levantar cedo. Minha semana começa com o pé esquerdo e estou
muito irritada por causa disso.
Passo três dias ignorando o pedido da minha amiga porque não
quero dizer “não”, mas sei que se eu divulgar o Kickstarter dela, vou
receber uma enxurrada de pedidos de outras pessoas. Ela me
manda outro e-mail e eu sinto tanta culpa que no fim das contas
acabo divulgando o Kickstarter, mas em segredo fico com raiva dela
por ter me colocado nessa situação. E não acompanho as postagens
para ver o que aconteceu, o que também me deixa péssima.
Digo “sim” a Stanford (“Tudo o que você quiser eu providencio!”) e
me enrolo toda para acrescentar uma palestra com slides à minha
semana já atolada, o que leva a mais esgotamento, menos sono e
muito mais irritação. A palestra é boa, mas eu sei que poderia ter
sido melhor.
Deixo de almoçar para me ajustar à agenda da minha manicure e
passo o resto do dia com raiva dela, com raiva de mim mesma e
faminta porque minha tarde está completamente lotada de
compromissos. Por que faço isso comigo?
Perco os dois melhores percursos de escalada do meu filho porque
fico pesquisando as estatísticas do Instagram para responder às
perguntas do meu patrocinador num sábado; afinal, talvez ele não
queira trabalhar comigo de novo se eu não responder
imediatamente. (Não paro para refletir se esse é o tipo de empresa
com a qual eu quero trabalhar.) Me sinto uma mãe terrível e estou
frustrada porque o trabalho sempre parece se infiltrar na minha
vida pessoal.
Fico remoendo o dia inteiro o pedido do meu ex. Como estou tão
cansada e irritada, respondo com alguma frase arrogante, o que, é
claro, o deixa confuso e chateado. Passo o resto da noite
desabafando com qualquer pessoa que queira ouvir como estou
cansada, esgotada e irritada nesta semana. A pizza chega fria.
Fico acordada até tarde lendo e-mails, olhando o Instagram e
assistindo à Netflix, e começo a semana faltando (de novo) à
academia porque estou simplesmente exausta.
A pizza é só uma coincidência ou os limites melhoram tudo? Deixo
que você tire as próprias conclusões. Não vou supor que você esteja
passando por uma situação parecida, mas se isso lhe parecer familiar,
fico feliz por você ter encontrado este livro e agora poder praticar
melhor seus limites. Você não precisa viver assim! A esta altura, já sabe
que alguns limites expressados com clareza e gentileza podem ajudar a
preservar sua energia, seu tempo e sua saúde mental, além de reduzir ou
eliminar todas essas fontes de frustração, raiva, mágoa e esgotamento.
Quer ver como pode ser o seu futuro? Eis como foi minha semana
depois de eu ter aplicado, confiante, esses limites claros e gentis de um
modo que atendeu à minha saúde, à minha felicidade e às minhas
necessidades:
Você também pode ser assim! Você vai ser assim, se pegar todas as
coisas que aprendeu sobre limites e começar a aplicá-las no mundo real.
Não precisa fazer tudo de uma vez. Não precisa começar com perfeição.
Nem precisa começar com os limites mais difíceis – mas parabéns para
quem se jogar de cabeça agora mesmo. Você só precisa reconhecer a
necessidade de um limite, respirar fundo e usar as palavras claras e
gentis que estivemos treinando.
Ajudei milhares de pessoas a fazer exatamente isso ao longo dos anos
e ouvi como a prática de limites mudou a vida delas de maneiras
inesperadas. Quando você estabelece um limite com sucesso numa área
da sua vida, isso lhe dá confiança para estabelecer limites em outras
áreas também. Quando você vê os seus relacionamentos melhorarem,
isso reafirma que os limites não são egoístas – são atos de gentileza,
projetados com o amor que você sente pelas pessoas e por você. Quando
você passa seus dias sentindo uma conexão mais íntima com quem você
é e com suas necessidades, começa a acreditar que tem, sim, o direito de
se colocar em primeiro plano. E quando você começa a se apresentar em
todos os lugares com mais confiança, energia, habilidade e elegância...
tudo na sua vida muda para melhor.
Porque você mudou sua vida para melhor usando limites.
Agradecimentos
H
á dois anos acordei no meio da noite com uma proposta de
livro totalmente formada na cabeça. Na manhã seguinte
mandei uma mensagem para minha agente: “Escuta, tive uma
ideia louca no meio da noite e pensei em mandá-la para você: quero
escrever um livro sobre limites.” Hoje preciso agradecer a um monte de
pessoas.
À minha agente, Christy Fletcher. Você sempre esteve do meu lado. E
seu apoio a este projeto, enquanto ele ia ganhando forma e crescendo,
fez toda a diferença. Dizer “Muito obrigada” não é o bastante.
A Sarah Fuentes, Melissa Chinchillo e Yona Levin, da Fletcher & Co.
Agradeço demais a todas vocês e estou empolgada com todos os projetos
que temos pela frente.
À minha editora na Dial Press, Whitney Frick. Você entendeu com
muita clareza a visão deste livro, e eu não o teria produzido sem sua
motivação e seus conselhos. Escrevê-lo foi mais difícil do que eu
imaginava, mas eu sabia que chegaríamos lá porque você me disse que
chegaríamos. Foi um prazer e uma alegria, e agradeço às minhas estrelas
da sorte por você ter me escolhido.
À minha editora associada na Dial Press, Rose Fox. Conheci você
através de suas edições no texto e soube imediatamente que você me
ajudaria. Você é uma pessoa incrível, dona de uma inteligência absurda
– que bom tê-la na minha equipe!
À equipe da Dial Press: Avideh Bashirrad, Brianne Sperber, Debbie
Aroff, Sarah Breivogel, Maria Braeckel, Loren Noveck, Debbie
Glasserman, Chris Brand e Donna Cheng. É uma honra e uma alegria
ser escritora desse selo. Obrigada por acreditarem em mim e por terem
trabalhado tão arduamente para trazer este livro à vida de modo tão
lindo.
A Andrea Magyar e Suzanne Dunbar, da Penguin Canada. Obrigada
pelo apoio constante e pela fé em mim. Sinto um orgulho enorme de
publicar este livro no Canadá com a ajuda de vocês.
A Victoria Hobbs, da A. M. Heath, e Susanna Abbott, da Ebury
Press. Estou muito animada por ter iniciado esta nossa parceria.
Obrigada por acreditarem em mim.
A Leslie Goldman. Adoro trabalhar com você. Você corrigiu minhas
besteiras, injetou humor exatamente nos lugares certos e deu um
polimento geral com elegância e precisão. Seja abençoada para sempre.
A Allyson Bird, Nora McInerny, Josh Jenkins, Olivia Myers e
Romaissaa Benzizoune. Obrigada por me emprestarem seu talento e seu
conhecimento para este livro. Estas páginas são mais fortes graças à
colaboração de vocês, e sou grata por isso.
A Brené Brown. Você me inspira em todos os sentidos, e seu impacto
na minha vida e no meu trabalho é imensurável. Obrigada por suas
palavras e seus presentes.
A Gretchen Rubin. Você era uma das poucas pessoas que eu
idolatrava há uma década – e agora somos amigas, razão pela qual me
belisco de vez em quando. Obrigada por seu apoio, sua generosidade e
sua gentileza.
A toda a minha equipe do Whole30. Obrigada por assumirem as
rédeas do projeto e me darem o tempo e o espaço de que eu precisava
para escrever este livro. Sou abençoada por trabalhar com um grupo tão
talentoso, empenhado e apaixonado.
A Erica, especialmente. Você tem sido minha maior torcedora em
todo esse processo, e criou o cenário perfeito para que pudéssemos
realizar nosso potencial e nossos sonhos. Obrigada por estar comigo.
Ao meu marido, que com tanta generosidade me deixa contar
qualquer história que eu queira, desde que seja para ajudar as pessoas.
Tiramos a sorte grande, e estarei sempre no time dele.
À minha irmã, que riu comigo de tantas histórias compartilhadas e
me ajudou a praticar meus limites por mais tempo do que qualquer
outra pessoa. Eu te amo.
A Nate, que sempre será meu ex-namorado predileto.
A James. Você ainda tem um lugar especial no meu coração, ainda
que eu seja péssima com mensagens de texto.
Ao meu filho. Tudo é para você, sempre.
A cada pessoa que compartilhou seus relatos sobre limites ou que me
mandou perguntas pelas redes sociais e por e-mail: este livro é para
vocês. Em toda a minha vida nunca tive uma ideia que não começasse
com minha comunidade, e este livro só existe graças à sua generosidade,
ao seu apoio e ao seu encorajamento. Serei eternamente grata e jamais
deixarei de apoiar vocês de todas as maneiras que eu puder. Obrigada.
Notas / Referências
15. FOGG, BJ. Micro-hábitos: pequenas mudanças que mudam tudo. Rio
de Janeiro: Harper Collins, 2020.
Sobre a autora
melissau.com
Instagram: @melissau
Twitter: @melissa_urban
TikTok: @melissa_u
Augusto Cury: Você é insubstituível (2,8 milhões de livros vendidos), Nunca desista de
seus sonhos (2,7 milhões de livros vendidos) e O médico da emoção
Dale Carnegie: Como fazer amigos e influenciar pessoas (16 milhões de livros
vendidos) e Como evitar preocupações e começar a viver
Brené Brown: A coragem de ser imperfeito – Como aceitar a própria vulnerabilidade e
vencer a vergonha (600 mil livros vendidos)
T. Harv Eker: Os segredos da mente milionária (2 milhões de livros vendidos)
Gustavo Cerbasi: Casais inteligentes enriquecem juntos (1,2 milhão de livros vendidos)
e Como organizar sua vida financeira
Greg McKeown: Essencialismo – A disciplinada busca por menos (400 mil livros
vendidos) e Sem esforço – Torne mais fácil o que é mais importante
Haemin Sunim: As coisas que você só vê quando desacelera (450 mil livros vendidos) e
Amor pelas coisas imperfeitas
Ana Claudia Quintana Arantes: A morte é um dia que vale a pena viver (400 mil livros
vendidos) e Pra vida toda valer a pena viver
Ichiro Kishimi e Fumitake Koga: A coragem de não agradar – Como se libertar da
opinião dos outros (200 mil livros vendidos)
Simon Sinek: Comece pelo porquê (200 mil livros vendidos) e O jogo infinito
Robert B. Cialdini: As armas da persuasão (350 mil livros vendidos)
Eckhart Tolle: O poder do agora (1,2 milhão de livros vendidos)
Edith Eva Eger: A bailarina de Auschwitz (600 mil livros vendidos)
Cristina Núñez Pereira e Rafael R. Valcárcel: Emocionário – Um guia lúdico para lidar
com as emoções (800 mil livros vendidos)
Nizan Guanaes e Arthur Guerra: Você aguenta ser feliz? – Como cuidar da saúde
mental e física para ter qualidade de vida
Suhas Kshirsagar: Mude seus horários, mude sua vida – Como usar o relógio biológico
para perder peso, reduzir o estresse e ter mais saúde e energia
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