Boas Práticas em Enfermagem
Boas Práticas em Enfermagem
Boas Práticas em Enfermagem
de Enfermagem
Boas Prticas
de Enfermagem
Dirce Laplaca Viana (org.)
Copyright 2010 Yendis Editora Ltda. Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem a autorizao escrita da Editora. Editora: Dirce Laplaca Viana Gerente editorial: Anna Yue Coordenadora de projeto: Renata Alves Assistente editorial: Gabriela Hengles Assistentes de produo grfica: Aline Gongora e Cristiane Viana Estagiria: Brbara Lorente Secretria editorial: Priscilla Garcia Preparao de originais: Beatriz Berllucci, Clauco Santana, Maya Indra Souarthes Oliveira e Viviane Rodrigues Zeppelini Projeto grfico: Cristiane Viana Ilustraes: Eduardo Borges e R2 Criaes/Claudio Ripinskas Capa: Felipe Hideki As informaes e as imagens so de responsabilidade dos autores. A Editora no se responsabiliza por eventuais danos causados pelo mau uso das informaes contidas neste livro. O texto deste livro segue as novas regras do Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa. Impresso no Brasil Printed in Brazil ISBN 978-85-7728-200-5
Yendis Editora Ltda. R. Major Carlos Del Prete, 510 So Caetano do Sul SP 09530-000 Tel./Fax: (11) 4224-9400 [email protected] www.yendis.com.br
Organizadora
Colaboradores
Cibele Grothe
Doutora em Sade do Adulto pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo (EEUSP). Enfermeira pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp).Coordenadora de Enfermagem do Laboratrio Fleury. Professora do Curso de Especializao em Nefrologia da Escola da Enfermagem de So Paulo. Professora convidada da Universidade Nove de Julho (Uninove).
Elena Bohomol
Enfermeira. Doutora em Cincias pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Consultora em Avaliao em Servios de Sade e de Enfermagem. Docente do Centro Universitrio So Camilo.
Vii
Leila Blanes
Enfermeira Estomaterapeuta. Doutora em Cincias pelo Programa de Ps-graduao em Cirurgia Plstica da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Coordenadora do setor de Feridas da Disciplina de Cirurgia Plstica da Unifesp.
Marcia Morete
Enfermeira pela Universidade Gama Filho (UGF). Mestre em Distrbios do Desenvolvimento pela Universidade Mackenzie e Analista de Treinamento do Hospital Israelita Albert Einstein.
Viii
Oranice Ferreira
Mestre e especialista em Sade Pblica e Sade da Comunidade pela Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da USP (FMRP/USP). Enfermeira e especialista em Enfermagem Hematolgica pela Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo (EERP/USP). Gerente de Enfermagem no Centro Regional de Hemoterapia de Ribeiro Preto.
iX
Patrcia Vendramim
Enfermeira. Mestre em Enfermagem Peditrica pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Encarregada do Hospital Samaritano, So Paulo. Docente do Centro Universitrio So Camilo e Diretora de Educao da INS Brasil.
Teresa Tonini
Enfermeira. Doutora em Sade Coletiva. Mestre em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem Fundamental da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
Valesca da Silva
Ps-graduada em Licenciatura pela Faculdade do Piau (FAPI). Enfermeira pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Supervisora de Estgio do Centro de Formao e Aperfeioamento em Cincias da Sade do Instituto do Corao do Hospital das Clnicas (Cefacs/Incor/HC). Enfermeira do Servio de Educao Continuada do Hospital do Rim e Hipertenso da Fundao Oswaldo Ramos.
Sumrio
XIII 1
19
41
61
prticas de enfermagem no controle dos sinais vitais 05 Boas Santa Cruz Belela Aline
87
121
145
Xi
177
201
215
11
237
12 13 14
257
275
293
307
Xii
Prefcio
A despeito da quantidade de pesquisas e prticas baseadas em evidncias presentes em peridicos e apresentados em eventos cientficos, ainda existem, em nosso pas, dificuldades de obteno destas informaes, seja por falta de tempo ou de acesso aos recursos adequados. O livro Boas Prticas de Enfermagem possibilita o acesso s informaes atualizadas sobre as melhores prticas de enfermagem, incluindo cuidados sobre comunicao; promoo da higiene do paciente e do ambiente; mecnica corporal, restrio e preveno de quedas; manejo da dor; controle dos sinais vitais; cuidados com a pele; nutrio e terapia nutricional enteral; administrao de medicamentos e hemocomponentes; controle da eliminao urinria e intestinal; promoo de segurana em centro cirrgico; puno venosa perifrica; e Suporte Bsico de Vida. Cada captulo deste livro traz, quando pertinente, os materiais necessrios, as descries das tcnicas e as recomendaes para boas prticas, escritos em uma linguagem clara e objetiva, facilitando o entendimento do contedo abordado. De maneira inovadora, o livro Boas Prticas de Enfermagem apresenta alguns de seus contedos em multimdia (DVD) e em um site (www.boaspraticasenfermagem.com.br) com informaes relacionadas obra e ao seu contedo. Estas ferramentas acompanham a evoluo tecnolgica da informao, permitindo que o leitor utilize vrios recursos para um melhor aprendizado. Os colaboradores desta obra, que se destacam na pesquisa, docncia e prtica assistencial, validam a qualidade das informaes apresentadas, possibilitando uma imbricao dos contedos num contexto prtico. Este livro uma ferramenta de consulta para os profissionais de enfermagem que, cada vez mais, tornam-se participantes ativos no desenvolvimento e realizao de cuidados na prtica clnica. A excelncia dos cuidados em sade exige atualizao permanente das prticas e, assim, espera-se que o contedo apresentado contribua para gerar conhecimentos que conduzam a uma prtica segura. Tenha uma boa leitura.
Xiii
captulo
1
Boas prticas de comunicao em enfermagem
Eliseth Ribeiro Leo
Neste captulo voc vai encontrar: k Comunicao verbal escrita k Comunicao verbal (oral) k Comunicao no verbal
cap 01.indd 1
12/6/10 11:55 AM
Introduo
A comunicao constitui um aspecto essencial para a prtica da enfermagem, uma vez que a maioria de suas aes ocorre no contexto das relaes interpessoais. Pode ser verbal, subdividindo-se em linguagem escrita e falada (oral), e no verbal, composta por gestos, sons, expresses faciais, postura corporal, toque e distncia entre as pessoas.1,2 A comunicao o processo de compreender e de compartilhar mensagens enviadas e recebidas, considerando-se que as prprias mensagens e o modo por que ocorre seu intercmbio exercem influncia sobre o comportamento das pessoas envolvidas.3 Pela comunicao possvel transmitir informaes, expressar sentimentos, emoes e atitudes e transmitir ordens e pedidos.4 Por seu intermdio, portanto, criam-se e compartilham-se experincias, significados e sentidos do existir, dos quais uma parcela significativa de situaes vivenciada no campo profissional. Essas modalidades mesclam-se nas atividades administrativas e de gesto, nas assistenciais e nas aes relacionadas ao ensino e pesquisa em enfermagem tratadas neste captulo.
Figura 1.1 Por meio da comunicao possvel transmitir informaes, expressar sentimentos, emoes e atitudes.
cap 01.indd 2
12/6/10 11:55 AM
cap 01.indd 3
12/6/10 11:55 AM
Figura 1.2
Anotao de enfermagem.
dem da prescrio mdica encontram-se mais comprometidas.8 De modo geral, os problemas encontrados nos pronturios referem-se semelhana quanto ao contedo das anotaes e s evolues de enfermagem, ou ainda, semelhana com a evoluo mdica. Frequentemente, observa-se falta de clareza ou falhas relativas no realizao de algum item da prescrio mdica, como a administrao de um medicamento, por exemplo, seja apenas por circular o horrio aprazado sem a respectiva justificativa como tambm pela no checagem da mesma. Alm disso, falhas como letra ilegvel, erros de ortografia, utilizao de terminologia incorreta, siglas no padronizadas (e sem referncia em algum local do pronturio), bem como falhas na identificao do profissional, seja por falta de carimbo ou nome ilegvel, tambm tm sido observadas.5 Essas inadequaes comprometem a autenticidade e a validade da documentao de enfermagem como instrumento legal. Para ser considerado um
4
BOAS PRTICAS DE ENFERMAGEM
cap 01.indd 4
12/6/10 11:55 AM
documento autntico e vlido necessrio que o mesmo possua assinatura do autor do registro (art. 368 do Cdigo de Processo Civil) sem rasura, entrelinhas, emenda, borro ou cancelamento, caractersticas essas que podem gerar a desconsiderao jurdica do documento produzido como prova documental.6 Isso de particular importncia quando h intercorrncia que origina ao legal em que os registros de pronturio so submetidos a anlise judicial. A ao incorreta do profissional de enfermagem poder ter implicaes ticas, cveis e/ou criminais. Pela legislao vigente, todo profissional de enfermagem que causar dano ao paciente responder por suas aes, tendo inclusive o dever de indeniz-lo. Para que possa defender-se de possveis acusaes, o profissional poder utilizar os registros como meio de prova. Em casos que gerem uma queixa formal, alm das medidas legais que podem ser impetradas pelo paciente e/ou por sua famlia, duas medidas administrativas so comuns e concomitantemente adotadas nas instituies hospitalares: a submisso ao Comit de tica de Enfermagem e a instalao de sindicncia administrativa. A primeira para anlise das infraes ticas e a segunda para apurao de responsabilidade individual e para identificao das inadequaes do procedimento, com vistas a aes de melhoria. Se a ao no estiver registrada, poder ser interpretada legalmente como ao no realizada e indicar m qualidade da assistncia de enfermagem.9 Nesse caso, no cabe ao profissional a transferncia de sua responsabilidade para a falta de tempo ou para a inflexibilidade do sistema, fatores extrnsecos que sabidamente interferem na rotina hospitalar e contribuem para a no realizao dos registros.10 Da a necessidade da prtica reflexiva, registrada, vlida e no automatizada dos cuidados. As linhas gerais que descrevem aspectos fundamentais relacionados forma e ao contedo das anotaes de enfermagem so indicadas a seguir:
cap 01.indd 5
12/6/10 11:55 AM
da frase registro incorreto e a retificao do registro. O uso de corretivos, borrachas ou linhas cruzadas para obliterar o registro no aceito. k Redao com correo gramatical e ortogrfica. O enfermeiro s deve incorporar as abreviaes acordadas institucionalmente. Grias, clichs e rtulos devem ser evitados. k Abolio de espaos em branco em uma anotao. k Realizao dos registros imediatamente aps a ocorrncia dos fatos e a execuo dos procedimentos.11,12 Seguindo as linhas gerais o profissional de enfermagem estar em conformidade com a legislao vigente, de maneira a garantir a continuidade da assistncia, a segurana do paciente e dos profissionais, alm de favorecer o ensino, a pesquisa e a realizao das auditorias de qualidade.6 Para alm da assistncia propriamente dita, a comunicao escrita est presente na atividade administrativa do enfermeiro. O pronturio do paciente alm de se firmar legalmente, a cada dia, como ferramenta importante na avaliao da qualidade da assistncia prestada aos pacientes, fornece informaes vitais para processos judiciais e para os convnios de sade. No mbito das glosas (cancelamento ou recusa, total ou parcial, de valores considerados ilegais ou indevidos) das contas hospitalares, as anotaes de enfermagem so de extrema importncia para as instituies de sade uma vez que, a partir delas, possvel reaver parcela significativa dos custos totais habitualmente glosados pelos planos de sade.13 A gesto de enfermagem pressupe ainda a emisso de memorandos, de e-mails, de solicitaes e de relatrios, que requerem linguagem formal, clareza e preciso de fatos e dados, lgica, anlise crtica e argumentao, prtica que necessita de exerccio cotidiano. O enfermeiro tambm responsvel pela elaborao de manuais de normas e rotinas diversos, alm daqueles de cunho educativo para profissionais e pacientes, que requerem linguagem apropriada, a ser definida em considerao ao seu pblico-alvo. Cada texto requer um estilo prprio, razo pela qual a linguagem rica em termos tcnicos encontrada nos pronturios dos pacientes difere da utilizada nos manuais educativos para os pacientes e seus familiares, livre de jarges e de termos profissionais; da mesma forma, difere da utilizada para divulgao de pesquisas cientficas em enfermagem, que requer o estilo acadmico, uma vez que busca atingir a comunidade cientfica. Na era digital, alguns requisitos de etiqueta nas mensagens eletrnicas tambm precisam ser observados. No se deve utilizar nos e-mails organizacionais o estilo informal adotado para as redes sociais nem empregar letras maisculas (o que, no ambiente virtual, significa gritar com o interlocutor); ao contrrio, deve-se enviar apenas mensagens com contedo profissional, de forma objetiva e concisa, certificando-se do destinatrio da mensagem para evitar seu envio equivocado a outros profissionais.
6
BOAS PRTICAS DE ENFERMAGEM
cap 01.indd 6
12/6/10 11:55 AM
Quadro 1.1
Ler muito e sempre Ter domnio da lngua portuguesa Adequar a linguagem ao pblico-alvo Ter clareza de ideias Ter conciso e preciso Exercitar a capacidade de crtica e de argumentao Exercitar a capacidade de sntese
A campanha de 100 anos da Associao Brasileira de Imprensa teve como tema a utilizao da vrgula, que auxilia na reflexo sobre a importncia da comunicao escrita. O texto segue transcrito:
Vrgula pode ser uma pausa... ou no. No, espere. No espere. Ela pode sumir com seu dinheiro. 23,4. 2,34. Pode criar heris. Isso s, ele resolve. Isso s ele resolve. Ela pode ser a soluo. Vamos perder, nada foi resolvido. Vamos perder nada, foi resolvido. A vrgula muda uma opinio. No queremos saber. No, queremos saber. A vrgula pode condenar ou salvar. No tenha clemncia! No, tenha clemncia! Uma vrgula muda tudo. Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro sua procura. * Se voc for mulher, certamente colocou a vrgula depois de mulher... * Se voc for homem, colocou a vrgula depois de tem....14
O texto bem-humorado indica que se uma vrgula pode causar tanta confuso possvel depreender o que uma frase, uma orao, um pargrafo ou um texto
COMUNICAO EM ENFERMAGEM
cap 01.indd 7
12/6/10 11:55 AM
mal redigido pode ocasionar na comunicao escrita tambm nas instituies de sade.
Figura 1.3 Na comunicao oral os profissionais buscam informaes para o melhor atendimento ao paciente.
cap 01.indd 8
12/6/10 11:55 AM
Esse o grande desafio na comunicao na assistncia de enfermagem. A compreenso dessa diferena o que definir (e o que o paciente perceber) se a doena que recebe cuidados ou a pessoa. Isso expresso no que comunicado verbalmente, mas principalmente de forma no verbal, tema que ser abordado posteriormente. A comunicao oral, alm de atender a funo de investigao e de obteno de informaes, pode tambm ser desenvolvida de forma teraputica, ou seja, ela pode ajudar as pessoas a enfrentar seus problemas, a relacionarem-se melhor e a ajustarem o que no pode ser mudado de forma a enfrentarem os bloqueios autorrealizao.2 Para tanto, algumas tcnicas de comunicao teraputica so propostas, dividindo-se em trs grupos: expresso: descrio de experincia e expresso de sentimentos; clarificao: esclarecimento do contedo do que for expresso pelo paciente; validao: verificao da existncia de significao comum entre quem emitiu a mensagem e quem a recebeu. Para cada um desses trs grupos so recomendadas distintas tcnicas de comunicao: Expresso: usar terapeuticamente o silncio, ouvir reflexivamente, verbalizar aceitao e interesse, usar frases incompletas, repetir as ltimas palavras ditas pelo paciente, fazer perguntas, desenvolver a pergunta feita, usar frases descritivas, manter o paciente no mesmo assunto, permitir que o paciente escolha o assunto, colocar em foco a ideia principal, verbalizar dvidas, estimular expresso de sentimentos subjacentes e o uso teraputico do humor. Clarificao: estimular comparaes, solicitar o esclarecimento de termos, solicitar ao paciente que precise o agente de ao e descrever os eventos em sequncia lgica. Validao: repetir a mensagem, pedir para o paciente repetir o que foi dito e sumarizar o contedo da interao.15 So tcnicas simples que favorecem uma melhor comunicao. Vale ressaltar outro aspecto considerado crtico na comunicao oral no contexto da sade e que diz respeito comunicao de ms notcias. Comunicar ms notcias uma das tarefas mais difceis que os profissionais de sade tm que enfrentar, pois implica em forte impacto psicolgico sobre o paciente e sobre sua rede de apoio quem recebe m notcia dificilmente esquece onde, como e quando ela foi comunicada.16 Quando uma doena progride e o profissional no encontra mais amparo nos recursos tecnolgicos, a falta de preparo dos profissionais para a comunicao e para o suporte emocional aos pacientes torna-se evidente, o que gera silenciamentos, falsas promessas ou comunicaes abruptas de prognsticos adversos, com srios prejuzos relao teraputica.17
COMUNICAO EM ENFERMAGEM
cap 01.indd 9
12/6/10 11:55 AM