Boas Práticas em Enfermagem

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Boas Prticas

de Enfermagem

Boas Prticas
de Enfermagem
Dirce Laplaca Viana (org.)

Copyright 2010 Yendis Editora Ltda. Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo, mesmo parcial, por qualquer processo, sem a autorizao escrita da Editora. Editora: Dirce Laplaca Viana Gerente editorial: Anna Yue Coordenadora de projeto: Renata Alves Assistente editorial: Gabriela Hengles Assistentes de produo grfica: Aline Gongora e Cristiane Viana Estagiria: Brbara Lorente Secretria editorial: Priscilla Garcia Preparao de originais: Beatriz Berllucci, Clauco Santana, Maya Indra Souarthes Oliveira e Viviane Rodrigues Zeppelini Projeto grfico: Cristiane Viana Ilustraes: Eduardo Borges e R2 Criaes/Claudio Ripinskas Capa: Felipe Hideki As informaes e as imagens so de responsabilidade dos autores. A Editora no se responsabiliza por eventuais danos causados pelo mau uso das informaes contidas neste livro. O texto deste livro segue as novas regras do Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa. Impresso no Brasil Printed in Brazil ISBN 978-85-7728-200-5

Yendis Editora Ltda. R. Major Carlos Del Prete, 510 So Caetano do Sul SP 09530-000 Tel./Fax: (11) 4224-9400 [email protected] www.yendis.com.br

Organizadora

Dirce Laplaca Viana


Doutoranda pela Faculdade de Sade Pblica da Universidade de So Paulo (USP). Mestre em Cincias da Sade pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Especialista em Gesto de Recursos Humanos na Sade e em Administrao dos Servios de Sade pela Faculdade de Sade Pblica da USP. Especialista em Enfermagem Peditrica pelo Instituto da Criana do Hospital das Clnicas da Faculdade de Medicina da Universidade de So Paulo (ICr/HC-FMUSP). Docente do Curso de Especializao em Enfermagem em Terapia Intensiva Peditrica e Enfermagem em Neonatologia pelo Centro Universitrio So Camilo. Diretora de Assuntos Profissionais da Associao Brasileira de Enfermagem, Seo So Paulo (ABEn-So Paulo).

boas prticas de enfermagem

Colaboradores

Aline Santa Cruz Belela


Enfermeira. Doutoranda do Programa de Ps-graduao em Enfermagem da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Mestre em Cincias da Sade pela Unifesp. Especialista em Enfermagem em Cuidados Intensivos Peditricos pela Unifesp. Membro do Grupo de Pesquisa de Enfermagem em Segurana do Paciente, Cuidados Intensivos e Terapia Intravenosa em Pediatria do CNPq (SEGTEC).

Cibele Grothe
Doutora em Sade do Adulto pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo (EEUSP). Enfermeira pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp).Coordenadora de Enfermagem do Laboratrio Fleury. Professora do Curso de Especializao em Nefrologia da Escola da Enfermagem de So Paulo. Professora convidada da Universidade Nove de Julho (Uninove).

Claudia Satiko Takemura Matsuba


Mestre em Enfermagem na rea de Sade do Adulto pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). MBA Executivo em Sade pela Fundao Getulio Vargas (FGV). Ps-graduada em Enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva pela Unifesp. Ps-graduada em Metodologia da Ao. Docente pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Especialista em Nutrio Parenteral e Enteral pela Sociedade Brasileira de Nutrio Parenteral (SBNPE). Coordenadora tcnico-administrativa da Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional do Hospital do Corao Associao do Sanatrio Srio-So Paulo.

Elena Bohomol
Enfermeira. Doutora em Cincias pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Consultora em Avaliao em Servios de Sade e de Enfermagem. Docente do Centro Universitrio So Camilo.

Eliseth Ribeiro Leo


Ps-doutora pela Universidade Marc Bloch (Frana). Doutora pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo (EEUSP). Mestre em Sade do Adulto. Graduada em Letras e em Enfermagem. Especialista em Sade Pblica e em Educao a Distncia. Vice-lder do Grupo de Estudos de Terapias Complementares em Sade do CNPq. Coordenadora de Ensino e Pesquisa do Hospital Samaritano, So Paulo.

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Eva Maria Costa


Enfermeira. Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Professora adjunta do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/Unirio).

Joanir Pereira Passos


Doutora em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo (EEUSP).

Leila Blanes
Enfermeira Estomaterapeuta. Doutora em Cincias pelo Programa de Ps-graduao em Cirurgia Plstica da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Coordenadora do setor de Feridas da Disciplina de Cirurgia Plstica da Unifesp.

Lisabelle Mariano Rossato


Doutora pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo (EEUSP). Mestre em Enfermagem Peditrica pela EEUSP. Graduada em Enfermagem pela EEUSP. Professora em todos os nveis (graduao, especializao, mestrado e doutorado). Autora dos Cartes das Qualidades da Dor, instrumento de avaliao multidimensional da dor em crianas e adolescentes, composto por 18 cartes com o personagem Cebolinha, desenhado pelo cartunista Maurcio de Souza. Pesquisadora e membro do Ncleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Perdas e Luto (Nippel), registrado no CNPq, o qual est ligado a projetos nacionais e internacionais.

Lcia Marta Giunta da Silva


Enfermeira. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo (EEUSP). Especialista em Gerenciamento em Enfermagem e Enfermagem em Oncologia pela Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein (FEHIAE). Gerente de Enfermagem do Hospital do Rim e Hipertenso da Fundao Oswaldo Ramos. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Enfermagem Oncolgica (SBEO). Membro da Oncology Nursing Society (ONS).

Marcia Morete
Enfermeira pela Universidade Gama Filho (UGF). Mestre em Distrbios do Desenvolvimento pela Universidade Mackenzie e Analista de Treinamento do Hospital Israelita Albert Einstein.

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Maria Cristina Pauli da Rocha


Enfermeira. Mestre em Cincias pela Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo (EEUSP). Especialista em Enfermagem Hospitalar Criana e ao Adolescente pelo Hospital das Clnicas/FMUSP. Professora da Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) e da Faculdade Integrao Tiet (FIT).

Maria da Penha Schwartz


Mestranda em Enfermagem Profissional pela Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense (EEAAC/UFF). Especializao de Enfermagem em Estomaterapia na Escola de Enfermagem da Universidade de So Paulo (EEUSP). Especializanda em Enfermagem Gerontolgica pela EEAAC/UFF. Residncia de Enfermagem em Oncologia Cirrgica no Intituto Nacional do Cncer do Rio de Janeiro (INCA-RJ). Enfermeira pela Pontifcia Universidade Catlica do Paran (PUC/ Paran).

Mnica de Almeida Carreiro


Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEAN/UFRJ). Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Especialista em Ateno Terciria Sade: CTI. Especialista em Gesto em Sade e tutora em Educao Permanentena Escola Nacional de Sade Pblica (ENSP/MS). Atua como enfermeira no Programa de Extenso Fbrica de Cuidados Escola de Enfermagem Alfredo Pinto na Unirio. Professora adjunta da Universidade Severino Sombra, Rio de Janeiro.

Nbia Maria Almeida de Figueiredo


Enfermeira. Livre-docente em Administrao de Enfermagem pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora titular de Fundamentos de Enfermagem da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (EEAP/Unirio). Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq). Coordenadora do Programa de Ps-graduao em Enfermagem da Unirio, gesto 2006-2008. Membro do Grupo de Pesquisa Cuidado de Enfermagem da Unirio CNPq.

Oranice Ferreira
Mestre e especialista em Sade Pblica e Sade da Comunidade pela Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto da USP (FMRP/USP). Enfermeira e especialista em Enfermagem Hematolgica pela Escola de Enfermagem de Ribeiro Preto da Universidade de So Paulo (EERP/USP). Gerente de Enfermagem no Centro Regional de Hemoterapia de Ribeiro Preto.

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Patrcia Vendramim
Enfermeira. Mestre em Enfermagem Peditrica pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Encarregada do Hospital Samaritano, So Paulo. Docente do Centro Universitrio So Camilo e Diretora de Educao da INS Brasil.

Quele Cristina S. de O. Garcia


Ps-graduada em Licenciatura pela Faculdade do Piau (FAPI). Enfermeira pela Universidade Nove de Julho (Uninove). Supervisora de estgio da Uninove. Enfermeira assistencial do Hospital do Rim e Hipertenso da Fundao Oswaldo Ramos.

Rita Simone Lopes Moreira


Enfermeira. Doutoranda da disciplina de Cardiologia da Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Instrutora de Suporte Bsico e Avanado de Vida pela American Heart Association.

Selma Petra Chaves S


Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora titular do Departamento de Fundamentos e Administrao da Escola de Enfermagem Aurora Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense (EEAAC/UFF).

Teresa Tonini
Enfermeira. Doutora em Sade Coletiva. Mestre em Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem Fundamental da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Valria Silva de Carvalho


Especializanda em Pediatria pela Universidade de So Paulo (USP). Cursando MBA Executivo em Sade pela Fundao Getulio Vargas (FGV). Enfermeira pela Universidade Bandeirante de So Paulo (Uniban). Ps-graduada em Nefrologia pela Universidade Federal de So Paulo (Unifesp). Enfermeira Supervisora do Hospital do Rim e Hipertenso da Fundao Oswaldo Ramos.

Valesca da Silva
Ps-graduada em Licenciatura pela Faculdade do Piau (FAPI). Enfermeira pela Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). Supervisora de Estgio do Centro de Formao e Aperfeioamento em Cincias da Sade do Instituto do Corao do Hospital das Clnicas (Cefacs/Incor/HC). Enfermeira do Servio de Educao Continuada do Hospital do Rim e Hipertenso da Fundao Oswaldo Ramos.

boas prticas de enfermagem

Sumrio

Prefcio de comunicao em enfermagem 01 Boas prticas Leo Eliseth Ribeiro

XIII 1

02 Boas prticas de enfermagem na promoo da higiene Nbia Maria Almeida de Figueiredo


Mnica de Almeida Carreiro Joanir Pereira Passos

19

de enfermagem na mecnica corporal, 03 Boas prticaspaciente e na preveno de quedas na restrio do


Dirce Laplaca Viana Teresa Tonini Eva Maria Costa

41

manejo 04 Boas prticas deRossato da dor Lisabelle Mariano


Marcia Morete Maria Cristina Pauli da Rocha

61

prticas de enfermagem no controle dos sinais vitais 05 Boas Santa Cruz Belela Aline

87

prticas 06 BoasBlanes de enfermagem no cuidado com a pele Leila

121

07 Boas prticas de enfermagem em nutrio e terapia nutricional enteral


Claudia Satiko Takemura Matsuba
boas prticas de enfermagem

145

Xi

08 Boas prticas de enfermagem na administrao de medicamentos


Valria Silva de Carvalho Valesca da Silva Quele Cristina S. de O. Garcia Lcia Marta Giunta da Silva

177

09 Boas prticas de enfermagem na administrao de hemocomponentes


Oranice Ferreira Dirce Laplaca Viana

201

10 Boas prticas de enfermagem no controle de eliminao urinria


Cibele Grothe

215

11

Boas prticas de enfermagem no controle da eliminao intestinal


Maria da Penha Schwartz Selma Petra Chaves S

237

12 13 14

Boas prticas para promoo de segurana em centro cirrgico


Elena Bohomol

257

Boas prticas de enfermagem na puno venosa perifrica


Patrcia Vendramim

275

Boas prticas de enfermagem na instituio de Suporte Bsico de Vida


Rita Simone Lopes Moreira

293

Boas prticas de enfermagem em seu dia a dia

307

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boas prticas de enfermagem

Prefcio

A despeito da quantidade de pesquisas e prticas baseadas em evidncias presentes em peridicos e apresentados em eventos cientficos, ainda existem, em nosso pas, dificuldades de obteno destas informaes, seja por falta de tempo ou de acesso aos recursos adequados. O livro Boas Prticas de Enfermagem possibilita o acesso s informaes atualizadas sobre as melhores prticas de enfermagem, incluindo cuidados sobre comunicao; promoo da higiene do paciente e do ambiente; mecnica corporal, restrio e preveno de quedas; manejo da dor; controle dos sinais vitais; cuidados com a pele; nutrio e terapia nutricional enteral; administrao de medicamentos e hemocomponentes; controle da eliminao urinria e intestinal; promoo de segurana em centro cirrgico; puno venosa perifrica; e Suporte Bsico de Vida. Cada captulo deste livro traz, quando pertinente, os materiais necessrios, as descries das tcnicas e as recomendaes para boas prticas, escritos em uma linguagem clara e objetiva, facilitando o entendimento do contedo abordado. De maneira inovadora, o livro Boas Prticas de Enfermagem apresenta alguns de seus contedos em multimdia (DVD) e em um site (www.boaspraticasenfermagem.com.br) com informaes relacionadas obra e ao seu contedo. Estas ferramentas acompanham a evoluo tecnolgica da informao, permitindo que o leitor utilize vrios recursos para um melhor aprendizado. Os colaboradores desta obra, que se destacam na pesquisa, docncia e prtica assistencial, validam a qualidade das informaes apresentadas, possibilitando uma imbricao dos contedos num contexto prtico. Este livro uma ferramenta de consulta para os profissionais de enfermagem que, cada vez mais, tornam-se participantes ativos no desenvolvimento e realizao de cuidados na prtica clnica. A excelncia dos cuidados em sade exige atualizao permanente das prticas e, assim, espera-se que o contedo apresentado contribua para gerar conhecimentos que conduzam a uma prtica segura. Tenha uma boa leitura.

Mriam Rodrigues de Medeiros


Presidente da Associao Brasileira de Enfermagem Seo So Paulo (ABEn-SP) Enfermeira Especialista em Gerenciamento de Enfermagem Gerente de Enfermagem do Hospital Municipal do Campo Limpo Enfermeira da Unidade de Primeiro Atendimento do Hospital Albert Einstein

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captulo

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Boas prticas de comunicao em enfermagem
Eliseth Ribeiro Leo

Neste captulo voc vai encontrar: k Comunicao verbal escrita k Comunicao verbal (oral) k Comunicao no verbal

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Introduo
A comunicao constitui um aspecto essencial para a prtica da enfermagem, uma vez que a maioria de suas aes ocorre no contexto das relaes interpessoais. Pode ser verbal, subdividindo-se em linguagem escrita e falada (oral), e no verbal, composta por gestos, sons, expresses faciais, postura corporal, toque e distncia entre as pessoas.1,2 A comunicao o processo de compreender e de compartilhar mensagens enviadas e recebidas, considerando-se que as prprias mensagens e o modo por que ocorre seu intercmbio exercem influncia sobre o comportamento das pessoas envolvidas.3 Pela comunicao possvel transmitir informaes, expressar sentimentos, emoes e atitudes e transmitir ordens e pedidos.4 Por seu intermdio, portanto, criam-se e compartilham-se experincias, significados e sentidos do existir, dos quais uma parcela significativa de situaes vivenciada no campo profissional. Essas modalidades mesclam-se nas atividades administrativas e de gesto, nas assistenciais e nas aes relacionadas ao ensino e pesquisa em enfermagem tratadas neste captulo.

Figura 1.1 Por meio da comunicao possvel transmitir informaes, expressar sentimentos, emoes e atitudes.

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Comunicao verbal escrita


Registrar a atividade dos seres humanos sempre foi uma necessidade, desde pocas remotas. Isso demonstrado pelo cotidiano representado por meio de desenhos rupestres, que permitiram estudar a histria da humanidade at o aparecimento da escrita h milhares de anos. A escrita, em substituio aos desenhos, passou ento a descrever e a registrar o mundo real possibilitando a elaborao de mundos imaginrios, bem como a propagao de ideias, que subsidiam no s as aes humanas, mas as transformaes que elas propiciam. A comunicao escrita no processo de enfermagem apresenta-se em dois eixos fundamentais: o primeiro diz respeito aos aspectos ticos e legais de que se revestem os registros da assistncia, e o segundo relaciona-se qualidade assistencial. Por meio dos registros efetuados pela equipe de enfermagem possvel obter informaes sobre a assistncia prestada de forma a assegurar a comunicao entre os membros da equipe de sade e garantir a continuidade do cuidado (Figura 1.2). Os registros no pronturio do paciente, da assistncia a ele prestada, abrangem diversos aspectos e respaldam tica e legalmente o profissional responsvel pelo cuidado. Todavia, falhas no que se refere a adequaes gramaticais da linguagem formal, a exatido, a brevidade, a legibilidade, a identificao e a terminologia tcnica so comumente observados.5 Registros efetuados de forma incompleta e fragmentada impossibilitam a identificao de aspectos mnimos de condutas de enfermagem que visem segurana e continuidade da assistncia ao paciente e comprometem os aspectos ticos e legais dessa documentao. Ampla legislao a respeito desse tema pode ser encontrada no mbito da enfermagem, com destaque para o Cdigo de tica dos Profissionais de Enfermagem (Resoluo COFEN n. 311/07) que apresenta no seu art. 72:6 Registrar as informaes inerentes e indispensveis ao processo de cuidar de forma clara, objetiva e completa. As informaes do pronturio, portanto, devem ser corretas, organizadas, seguras, completas e disponveis.6 Todavia, a literatura apresenta estudos, por meio das auditorias de cuidado, que indicam a clara violao do Cdigo de tica pelos profissionais de enfermagem. A auditoria de cuidado uma ferramenta importante, que possibilita evidenciar deficincias nas atividades desenvolvidas no processo de enfermagem, mediante uma avaliao sistemtica e formal.7 A anlise de pronturios tem possibilitado identificar que as atividades relacionadas execuo da prescrio mdica como a teraputica medicamentosa, o controle de sinais vitais e outros controles so registradas com maior frequncia e de forma mais completa. Por outro lado, as anotaes dos procedimentos de enfermagem que exigem observao e detalhamento das aes que indepenCOMUNICAO EM ENFERMAGEM

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Figura 1.2

Anotao de enfermagem.

dem da prescrio mdica encontram-se mais comprometidas.8 De modo geral, os problemas encontrados nos pronturios referem-se semelhana quanto ao contedo das anotaes e s evolues de enfermagem, ou ainda, semelhana com a evoluo mdica. Frequentemente, observa-se falta de clareza ou falhas relativas no realizao de algum item da prescrio mdica, como a administrao de um medicamento, por exemplo, seja apenas por circular o horrio aprazado sem a respectiva justificativa como tambm pela no checagem da mesma. Alm disso, falhas como letra ilegvel, erros de ortografia, utilizao de terminologia incorreta, siglas no padronizadas (e sem referncia em algum local do pronturio), bem como falhas na identificao do profissional, seja por falta de carimbo ou nome ilegvel, tambm tm sido observadas.5 Essas inadequaes comprometem a autenticidade e a validade da documentao de enfermagem como instrumento legal. Para ser considerado um
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documento autntico e vlido necessrio que o mesmo possua assinatura do autor do registro (art. 368 do Cdigo de Processo Civil) sem rasura, entrelinhas, emenda, borro ou cancelamento, caractersticas essas que podem gerar a desconsiderao jurdica do documento produzido como prova documental.6 Isso de particular importncia quando h intercorrncia que origina ao legal em que os registros de pronturio so submetidos a anlise judicial. A ao incorreta do profissional de enfermagem poder ter implicaes ticas, cveis e/ou criminais. Pela legislao vigente, todo profissional de enfermagem que causar dano ao paciente responder por suas aes, tendo inclusive o dever de indeniz-lo. Para que possa defender-se de possveis acusaes, o profissional poder utilizar os registros como meio de prova. Em casos que gerem uma queixa formal, alm das medidas legais que podem ser impetradas pelo paciente e/ou por sua famlia, duas medidas administrativas so comuns e concomitantemente adotadas nas instituies hospitalares: a submisso ao Comit de tica de Enfermagem e a instalao de sindicncia administrativa. A primeira para anlise das infraes ticas e a segunda para apurao de responsabilidade individual e para identificao das inadequaes do procedimento, com vistas a aes de melhoria. Se a ao no estiver registrada, poder ser interpretada legalmente como ao no realizada e indicar m qualidade da assistncia de enfermagem.9 Nesse caso, no cabe ao profissional a transferncia de sua responsabilidade para a falta de tempo ou para a inflexibilidade do sistema, fatores extrnsecos que sabidamente interferem na rotina hospitalar e contribuem para a no realizao dos registros.10 Da a necessidade da prtica reflexiva, registrada, vlida e no automatizada dos cuidados. As linhas gerais que descrevem aspectos fundamentais relacionados forma e ao contedo das anotaes de enfermagem so indicadas a seguir:

k Redao objetiva, sem preconceitos, valores, julgamentos ou opinies


pessoais. Informaes subjetivas devem ser includas mediante a utilizao de aspas. k Descries/interpretaes de dados objetivos apoiados em observaes especficas. k Descarte de generalizaes e de termos vagos como bom, regular, comum, normal. Tais descries tornam-se abertas a mltiplas interpretaes, conforme o ponto de vista do leitor. k Descrio de dados do modo mais completo possvel, o que inclui a definio de caractersticas como tamanho e forma e demais especificaes. k Documentao clara e concisa para evitar informaes suprfluas, frases longas e vagas. k Redao de modo legvel, com tinta indelvel. Os erros na documentao devem ser corrigidos de modo a no ocultar o registro inicial, o que pode ser feito mediante o traado de uma linha sobre o item incorreto, acompanhado
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da frase registro incorreto e a retificao do registro. O uso de corretivos, borrachas ou linhas cruzadas para obliterar o registro no aceito. k Redao com correo gramatical e ortogrfica. O enfermeiro s deve incorporar as abreviaes acordadas institucionalmente. Grias, clichs e rtulos devem ser evitados. k Abolio de espaos em branco em uma anotao. k Realizao dos registros imediatamente aps a ocorrncia dos fatos e a execuo dos procedimentos.11,12 Seguindo as linhas gerais o profissional de enfermagem estar em conformidade com a legislao vigente, de maneira a garantir a continuidade da assistncia, a segurana do paciente e dos profissionais, alm de favorecer o ensino, a pesquisa e a realizao das auditorias de qualidade.6 Para alm da assistncia propriamente dita, a comunicao escrita est presente na atividade administrativa do enfermeiro. O pronturio do paciente alm de se firmar legalmente, a cada dia, como ferramenta importante na avaliao da qualidade da assistncia prestada aos pacientes, fornece informaes vitais para processos judiciais e para os convnios de sade. No mbito das glosas (cancelamento ou recusa, total ou parcial, de valores considerados ilegais ou indevidos) das contas hospitalares, as anotaes de enfermagem so de extrema importncia para as instituies de sade uma vez que, a partir delas, possvel reaver parcela significativa dos custos totais habitualmente glosados pelos planos de sade.13 A gesto de enfermagem pressupe ainda a emisso de memorandos, de e-mails, de solicitaes e de relatrios, que requerem linguagem formal, clareza e preciso de fatos e dados, lgica, anlise crtica e argumentao, prtica que necessita de exerccio cotidiano. O enfermeiro tambm responsvel pela elaborao de manuais de normas e rotinas diversos, alm daqueles de cunho educativo para profissionais e pacientes, que requerem linguagem apropriada, a ser definida em considerao ao seu pblico-alvo. Cada texto requer um estilo prprio, razo pela qual a linguagem rica em termos tcnicos encontrada nos pronturios dos pacientes difere da utilizada nos manuais educativos para os pacientes e seus familiares, livre de jarges e de termos profissionais; da mesma forma, difere da utilizada para divulgao de pesquisas cientficas em enfermagem, que requer o estilo acadmico, uma vez que busca atingir a comunidade cientfica. Na era digital, alguns requisitos de etiqueta nas mensagens eletrnicas tambm precisam ser observados. No se deve utilizar nos e-mails organizacionais o estilo informal adotado para as redes sociais nem empregar letras maisculas (o que, no ambiente virtual, significa gritar com o interlocutor); ao contrrio, deve-se enviar apenas mensagens com contedo profissional, de forma objetiva e concisa, certificando-se do destinatrio da mensagem para evitar seu envio equivocado a outros profissionais.
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Quadro 1.1

Imprescindvel para uma boa prtica da comunicao escrita

Ler muito e sempre Ter domnio da lngua portuguesa Adequar a linguagem ao pblico-alvo Ter clareza de ideias Ter conciso e preciso Exercitar a capacidade de crtica e de argumentao Exercitar a capacidade de sntese

A campanha de 100 anos da Associao Brasileira de Imprensa teve como tema a utilizao da vrgula, que auxilia na reflexo sobre a importncia da comunicao escrita. O texto segue transcrito:
Vrgula pode ser uma pausa... ou no. No, espere. No espere. Ela pode sumir com seu dinheiro. 23,4. 2,34. Pode criar heris. Isso s, ele resolve. Isso s ele resolve. Ela pode ser a soluo. Vamos perder, nada foi resolvido. Vamos perder nada, foi resolvido. A vrgula muda uma opinio. No queremos saber. No, queremos saber. A vrgula pode condenar ou salvar. No tenha clemncia! No, tenha clemncia! Uma vrgula muda tudo. Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria de quatro sua procura. * Se voc for mulher, certamente colocou a vrgula depois de mulher... * Se voc for homem, colocou a vrgula depois de tem....14

O texto bem-humorado indica que se uma vrgula pode causar tanta confuso possvel depreender o que uma frase, uma orao, um pargrafo ou um texto
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mal redigido pode ocasionar na comunicao escrita tambm nas instituies de sade.

Comunicao verbal (oral)


A comunicao oral na assistncia de enfermagem representada principalmente pelo compartilhamento de informaes. Durante a admisso do paciente a um servio ou a uma unidade por meio da entrevista e da obteno de dados para o histrico de enfermagem o enfermeiro questiona o paciente e/ou seus familiares sobre diversos aspectos que direcionaro o plano de cuidados. Diariamente, toda a equipe multiprofissional encaminha questionamentos que possibilitam avaliar as condies clnicas e a efetividade da proposta teraputica para a continuidade do cuidado. Alm disso, h a necessidade expressa de informaes pelos pacientes/famlias. H que se ter em mente que as motivaes de ambos os lados dessa comunicao diferem em sua natureza. Os profissionais buscam as informaes de forma a lhes fazer sentido na busca da melhor forma de atendimento, de cuidado e de estabelecimento de proposta teraputica; o foco tanto do discurso quanto da escuta reveste-se de carter profissional. Para quem necessita de cuidados, tudo o que dito ou ouvido tem carter pessoal, uma vez que se trata da vida do paciente, ameaada em maior ou menor grau, da incerteza do futuro, do que representa o diagnstico recebido e cada procedimento a que ele se submete etc.

Figura 1.3 Na comunicao oral os profissionais buscam informaes para o melhor atendimento ao paciente.

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Esse o grande desafio na comunicao na assistncia de enfermagem. A compreenso dessa diferena o que definir (e o que o paciente perceber) se a doena que recebe cuidados ou a pessoa. Isso expresso no que comunicado verbalmente, mas principalmente de forma no verbal, tema que ser abordado posteriormente. A comunicao oral, alm de atender a funo de investigao e de obteno de informaes, pode tambm ser desenvolvida de forma teraputica, ou seja, ela pode ajudar as pessoas a enfrentar seus problemas, a relacionarem-se melhor e a ajustarem o que no pode ser mudado de forma a enfrentarem os bloqueios autorrealizao.2 Para tanto, algumas tcnicas de comunicao teraputica so propostas, dividindo-se em trs grupos: expresso: descrio de experincia e expresso de sentimentos; clarificao: esclarecimento do contedo do que for expresso pelo paciente; validao: verificao da existncia de significao comum entre quem emitiu a mensagem e quem a recebeu. Para cada um desses trs grupos so recomendadas distintas tcnicas de comunicao: Expresso: usar terapeuticamente o silncio, ouvir reflexivamente, verbalizar aceitao e interesse, usar frases incompletas, repetir as ltimas palavras ditas pelo paciente, fazer perguntas, desenvolver a pergunta feita, usar frases descritivas, manter o paciente no mesmo assunto, permitir que o paciente escolha o assunto, colocar em foco a ideia principal, verbalizar dvidas, estimular expresso de sentimentos subjacentes e o uso teraputico do humor. Clarificao: estimular comparaes, solicitar o esclarecimento de termos, solicitar ao paciente que precise o agente de ao e descrever os eventos em sequncia lgica. Validao: repetir a mensagem, pedir para o paciente repetir o que foi dito e sumarizar o contedo da interao.15 So tcnicas simples que favorecem uma melhor comunicao. Vale ressaltar outro aspecto considerado crtico na comunicao oral no contexto da sade e que diz respeito comunicao de ms notcias. Comunicar ms notcias uma das tarefas mais difceis que os profissionais de sade tm que enfrentar, pois implica em forte impacto psicolgico sobre o paciente e sobre sua rede de apoio quem recebe m notcia dificilmente esquece onde, como e quando ela foi comunicada.16 Quando uma doena progride e o profissional no encontra mais amparo nos recursos tecnolgicos, a falta de preparo dos profissionais para a comunicao e para o suporte emocional aos pacientes torna-se evidente, o que gera silenciamentos, falsas promessas ou comunicaes abruptas de prognsticos adversos, com srios prejuzos relao teraputica.17
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