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All content following this page was uploaded by Itélio Joana Muchisse on 01 January 2024.
Resumo: O presente artigo remete para dois conceitos fulcrais mobilizados para a análise
do devir socio-histórico do Sistema Nacional de Educação (SNE) no tempo e espaço
territorial moçambicano. Trata-se dos conceitos de “historiografia” e “ideologia”. Numa
primeira fase, discute-se o conceito de historiografia, no sentido de se aferir o seu papel
no processo de aparecimento, evolução e apropriação do SNE pela sociedade
moçambicana, pois a sua discussão na esfera da educação contribui para conhecer em
profundidade os sucessos, fracassos e adversidades ocorridas nos di ferentes momentos
da história. Entretanto, na última fase, debate-se sobre o conceito de ideologia. Ao fazer-
se tal pretendeu-se associar a educação à ideologia, esta última enquanto mecanismo de
legitimação social, política e cultural. Assim, foi discutido o processo educativo em
diferentes épocas da história de Moçambique, no esforço de demonstrar que em qualquer
uma dessas épocas o processo educativo esteve imbuído de uma forte componente
ideológica. A principal conclusão a que chegámos é que a historiografia é um campo do
saber que pode contribuir, através do currículo escolar, para a orientação político -
ideológica dos moçambicanos.
Abstract: This article refers to two key concepts used to analyse the socio-historical
development of the National Education System in the Mozambican time and territorial
context. These concepts are “historiography” and “ideology.” In the first phase, the
concept of historiography is discussed to assess its role in the emergence, evolution, and
appropriation of the National Education System by Mozambican society. Discussing
historiography in the realm of education contributes to a deep understanding of the
1 Licenciado em Ensino de História com Habilitações em Ensino de Filosofia pela Universidade Save.
Universidade Católica de Moçambique (Mestrando em Direitos Humanos, Justiça e Paz) / Universidade Federal
do Recôncavo da Bahia (Mestrando em Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia para a Inovação),
Maxixe, Inhambane, Moçambique. E-mail: [email protected]; Lattes:
https://lattes.cnpq.br/3733105275801702; ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2356-7267.
2 Mestre em Intervenção Psicológica no Desenvolvimento e na Educação pela Uneantlantico. Mestrando em
successes, failures, and challenges that have occurred at different moments in history.
However, in the final phase, the concept of ideology is debated. This discussion aims to
link education to ideology, with ideology serving as a mechanism for social, political, and
cultural legitimization. Thus, the educational process in different periods of
Mozambique's history is examined to demonstrate that ideology has consistently played
a significant role in education during each of these periods. The main conclusion archived
is that historiography is a field of knowledge that, through the school curriculum, can
contribute to the political and ideological orientation of Mozambicans.
Resumen: Este artículo se refiere a dos conceptos clave utilizados para analizar el
devenir socio histórico del Sistema Nacional de Educación en el contexto temporal y
territorial mozambiqueño. Estos conceptos son “historiografía” e “ideología”. En la
primera fase, se discute el concepto de historiografía para evaluar su papel en el proceso
de surgimiento, evolución y apropiación del Sistema Nacional de Educación por parte de
la sociedad mozambiqueña. La discusión en el ámbito de la educación contribuye a
comprender en profundidad los éxitos, fracasos y desafíos ocurridos en diferentes
momentos de la historia. Sin embargo, en la última fase, se debate el concepto de
ideología. Esta discusión tiene como objetivo vincular la educación con la ideología,
siendo esta última un mecanismo de legitimación social, política y cultural. Así, se
examina el proceso educativo en diferentes épocas de la historia de Mozambique para
demostrar que en cada una de estas etapas el proceso educativo estuvo impregnado de
una fuerte componente ideológica. La principal conclusión es que la historiografía es un
campo de conocimiento que, a través del currículo escolar, puede contribuir a la
orientación político-ideológica de los mozambiqueños.
Introdução
Brazão Mazula defende que se deveria criar uma lei que obrigue os filhos dos dirigentes
moçambicanos a frequentarem a escola pública nacional. Tal posição foi defendida em defesa
da restruturação do Sistema Nacional de Educação (SNE) que tem uma dimensão histórica já
neste espaço. E, pelo lado da história da educação moçambicana, há marcas de perspectivas
político-ideológicas diferentes. Após várias vicissitudes e adversidades técnico-pedagógicos, o
sistema educativo moçambicano foi substituindo os seus dispositivos normativo-jurídicos por
outros com vista à regulação e melhor articulação das falhas e contingências ocorridas no
decurso do devir histórico.
Desde logo, algumas dessas contingências estiveram associadas a problemas
estruturais, como a mudança do regime colonial, eminentemente discriminatório e excludente
por um regime social e político marcado por uma forte presença de uma democracia de massas,
de orientação marxista.
Posteriormente, a adesão de Moçambique às instituições de Bretton Woods, como
o FMI e o BM esteve igualmente na origem de mudanças jurídicas profundas
concernentes à legislação do sector da educação. De qualquer forma, ao fenómeno acima
acrescenta-se a guerra civil, que entre 1976 e 1992 que assolou o território moçambicano,
forçando milhares de populações a se transformarem em refugiadas internas, cujos
destinos seriam as cidades. Ora, as cidades então superpovoadas, começaram a carecer de
todo o tipo de infra-estrutura, incluindo infantários, hospitais e escolas, pois as poucas
infra-estruturas existentes não conseguiam dar cobro à crescente demanda da população.
Já nos últimos anos, assiste-se também a uma acentuada explosão demográfica em
Moçambique, que, num sentido mais restrito, tem afectado a demografia escolar, gerando uma
superlotação das escolas e das salas de aula e, em última análise, deteriorando a qualidade de ensino.
Assim, o conjunto destes factores tem levado os decisores políticos de moçambique a
optarem por alterar as leis, no sentido de as ajustar às condições sócio-histórico-antropológicas
do país, e tornando instáveis as leis respeitantes ao sector da educação.
O objectivo deste artigo é levantar um debate teórico sobre as nuances, que daí
advêm, esperando contribuir para o desabrochar de uma maior consciência cívica sobre
os problemas que hoje se colocam ao sector da educação. Para esse efeito, apropriámo-
nos da historiografia e dos recursos que ciência histórica nos pode fornecer, pois como
refere BURKE (1980, p. 102) “os historiadores têm um contributo a dar para um futuro
modelo da mudança social que tenha mais em conta a diversidade e as tendências do longo
prazo do que os modelos anteriores e que especifique as vias alternativas e os obstáculos
de forma mais clara”. Assim, ao recorremos a esta perspectiva, tencionámos suportar
teoricamente os discursos histórico-ideológicos ancorados na historicidade e evolução do
sistema educativo moçambicano.
Em suma, este percurso teórico permitiu-nos referir, então, que a historiografia pode
ser fonte de substratos relevantes para a formulação de políticas educativas apropriadas, na
medida em que questiona os diversos contextos temporais para uma melhor racionalização do
presente e uma projecção ao devir.
Metodologia
A reflexão sobre a educação tem movido pensadores e teóricos dos mais diversos
campos. Em Moçambique, são exemplares os estudos de MONDLANE (1976), CASTIANO
& NGOENHA (2013), MUHACHE (2014), BASÍLIO (2015), entre outros.
Na obra “Lutar por Moçambique,” MONDLANE (1976) aponta a missão da educação.
De entre várias passagens que o autor consagra ao tema da educação, é notória a ideia de
igualdade universal do estatuto de cidadão que depois daquela luta seria necessário. Ali, o autor
equaciona a alfabetização como um instrumento necessário para a conquista da independência
efectiva do povo moçambicano então mergulhado nas malhas do jugo colonial português. Já
de cariz nacional a favor de directrizes politicamente determinadas e impostas pelo FMI e BM,
bem como o consequente levantamento de questões sobre a qualidade do ensino, a falta de
motivação pela aprendizagem, a falta de correspondência entre os diplomas adquiridos e os
níveis de conhecimento, altas taxas de reprovações, que são compensadas por aprovações semi-
automáticas, entre outros efeitos.
O SNE na resolução de 8/95, de 27 de Agosto operacionalizou o sistema de educação
destacando a educação básica, o ensino até à 7ª classe como prioridade do Governo. Deste
ponto de vista, compreende-se que o objectivo da educação era de massificar o acesso ao ensino
pela população. Por conseguinte, isto significa que esta abordagem constitui um aspecto
ideológico da educação neste período, na medida em que, ela própria, emergiu da necessidade
de ajustar a educação à nova dinâmica social, económica e política.
Em 2003, o Ministério de Educação introduziu um o novo currículo de ensino em
Moçambique apoiado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Sociedade e Cultura
(UNESCO) e supervisionado pelo Instituto Nacional para o Desenvolvimento da Educação
(INDE), que melhorasse os reajustes anteriores de 1983 e 1992, no que diz respeito à qualidade
de ensino e ao aproveitamento. Esse projecto, no entanto, incluiu a introdução do currículo
local de modo a formar cidadãos que contribuíssem para a melhoria das suas vidas, famílias,
comunidades e país, a partir dos saberes locais. De qualquer forma, importa reconhecer que a
maior limitação desse currículo foi o facto de ter assentado em bases puramente teórica se ter
negligenciado a componente prático, tendo acabado por fracassar, baixando assim a qualidade
de ensino.
Por último, a Lei 18/2018, de 28 de dezembro consistiu em alargar o ensino básico da
7ª para a 9ª classe. Esta lei reafirma o objectivo da anterior que é a massificação do ensino.
Todavia, tanto ali como aqui subsistem os mesmos problemas, predominante, à ausência de
qualidade do ensino, contra qual ainda se luta.
4. Um contributo historiográfico
Por seu turno, RÜSSEN (2000) advoga que os estudos históricos são de capital
importância para construção da racionalidade sobre os diferentes processos, incluindo o
processo educativo, ipso facto. O esboço de uma possível história da educação em Moçambique
tem em vista perspectivar uma linha orientadora, isto é, um perfil analítico da orientação
ideológica do SNE. A partir de uma abordagem estritamente histórica, o autor supracitado faz
reflexões que são orientadoras da problemática em voga neste texto, a possibilidade de a
ciência histórica explicar as bases de certos fundamentos dos problemas educativos, o que
permite explicar o presente na base do passado.
Neste âmbito, para o contexto educativo, a pertinência da ciência histórica radica no
facto de, ela própria delimitar as racionalidades assumidas de modo particular pelas diferentes
culturas moçambicanas, alistando as possíveis falhas de orientação genérica, assim como os
ganhos daí advindos, e, podendo facilitar a identificação das dificuldades do cenário educativo
actual.
Desde logo, a historiografia seria fundamental no uso da hermenêutica das culturas, na
medida em que esta área histórica se valeria do tempo e da memória como órgãos do presente
para explicar os contextos culturais nos quais a educação deve actuar de modo a gerar o bem-
estar e garantir melhores condições de vida. Assim, o tempo e a memória como factores
determinantes da construção de uma consciência histórica impactariam positivamente na
delimitação de uma consciência pedagógica dos diferentes grupos sociais, etnolinguísticos ou
culturais. Por sua vez, a consciência pedagógica ditaria quais são os desafios a que a educação
estaria sujeita, tanto a nível particular dos diferentes grupos étnicos, assim como ao nível do
Estado-Nação.
Em suma, a historiografia é também um paradigma do sistema educativo moçambicano,
pois a partir dela é possível compreender o desenrolar da educação desde o período colonial
até ao momento actual, o que passa por capitalizar os desafios que foram superados, bem como
os contextos em que determinadas decisões foram tomadas e as repercussões que as mesmas
tiveram, tendo em mente os contextos estruturais do país e as necessidades do presente.
Portanto, compreender esse exercício permitirá aos fazedores de políticas, conceber políticas
e ideologias que sejam eficazes e que respondam aos desafios económicos, culturais, sociais e
políticos das comunidades moçambicanas, ao nível local e nacional.
Conclusões
sistematizam as práticas educativas que foram evoluindo até aos nossos dias. Assim, após o
desenrolar das discussões levantadas, chegámos a duas principais conclusões.
A primeira refere que a historiografia pode fornecer substratos relevantes para a
formulação de políticas educativas eficazes, uma vez que a partir dela se pode viajar para os
diversos horizontes temporais que marcaram a ideologia educativa num processo marcado pela
presença de limitações, sucessos e desafios.
A outra conclusão é que Moçambique vivenciou uma sucessiva implementação e
alteração de dispositivos normativo-jurídicos para regular a educação, o que significa que isso
tem ocorrido como consequência de falhas e contingências observadas ao longo do percurso
histórico, incluindo inconsistências entre os conteúdos desses dispositivos normativo-jurídicos
e as culturas locais.
Por último, impõe-se a pertinência do reconhecimento da historiografia como um
agente que melhor ajudaria o sistema educativo a fincar os pés no chão e ensaiar uma
filodramática das políticas educativas de modo a espelhar os interesses nacionais em primeiro
lugar (LOPES, 2018).
Referências
ROUSSEAU, J-J. Discurso sobre as artes e as ciências. Textos Marginais: Porto, 1972.