Simone-Weil - Fernando Rey Puente

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Simone Weil

Fernando Puente

Edição eletrônica
URL : https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/simone-weil/
ISSN: 2526-6187
Blogs de Ciência da Universidade Estadual de Campinas: Mulheres na Filosofia, V. 6 N. 3,
2020, p. 55-69.
https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia

Simone Weil
Fernando Puente
Professor do Departamento de Filosofia
da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Vida
Simone Adolphine Weil, nascida em Paris no dia 3 de fevereiro de 1909 é uma
das mais importantes filósofas do século XX. Em sua breve vida, vivenciou as duas
Grandes Guerras. Ela faleceu aos 34 anos, no dia 24 de agosto de 1943 na cidade de
Ashford (Reino Unido), sem ter podido presenciar a derrocada do nazismo e a
libertação da França do jugo da Alemanha hitlerista.
Os pais de Simone Weil, Bernard e Selma Weil, eram ambos judeus não
praticantes e tiveram dois filhos. O primeiro, um dos mais importantes matemáticos
do século XX, foi André Weil (1906-1998), membro fundador do Grupo Bourbaki, que
revolucionou a matemática no século XX. A segunda foi Simone Weil que
compartilhou com seu irmão uma infância diferenciada, pois estudaram em casa
com diversos professores particulares e sob os auspícios zelosos de sua mãe em
função de mudanças constantes que tiveram de fazer devido aos sucessivos
empregos do pai. Dado que André e Simone não tiveram nenhuma formação
religiosa, eles cresceram adotando uma posição agnóstica que se reflete
claramente nos textos iniciais de Simone Weil. Os irmãos foram muito próximos
intelectualmente e a correspondência entre eles é uma verdadeira mina de
informações sobre questões matemáticas, filosóficas e científicas sempre eivadas
de muito humor e ironia.
Simone Weil viveu em uma época marcada não somente pelas duas Grandes
Guerras, mas também por intensos movimentos político-sociais de luta por
melhores condições de trabalho para os operários, bem como por um engajamento
dos intelectuais na formação educacional dos trabalhadores. Tudo isso se
manifesta fortemente em sua produção filosófica.
Tendo tido uma formação clássica (latim e grego) rigorosa, Simone Weil
tornou-se leitora arguta da tradição grega (sobretudo de Homero, dos pitagóricos,

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Fernando Puente. Simone Weil.

de Platão e dos Evangelhos) e dos filósofos modernos mais estudados


tradicionalmente na França daquelas décadas, a saber, Descartes e Kant; por fim,
mas não menos importante, empreendeu uma leitura atenta e profunda de Marx.
Antes de ingressar na École Normale Supérieure, estudou com Alain no Liceu Henry
IV, no qual ingressou com 16 anos nas classes preparatórias para as grandes
Escolas da França. Alain é o pseudônimo de Émile-Auguste Chartier (1868-1951),
professor de filosofia que marcou indelevelmente diversos intelectuais franceses
que foram seus alunos antes de ingressarem nas grandes Escolas ou na Sorbonne.
Simone Weil foi, portanto, uma das primeiras mulheres a entrar na
prestigiosa École Normale Supérieure em Paris, tendo concluído sua formação
acadêmica com um trabalho intitulado Science et Perception dans Descartes (Weil,
1988, pp.159-221), orientado por L. Brunschvicq e defendido por ela em 1930 aos
21 anos. Notável a independência intelectual da jovem pensadora que se percebe
pela inversão, em sua tese, da interpretação filosófica de seu orientador em relação
a Descartes, defendendo a presença neste de “uma teoria das sensações como
signos” (idem, p.182).
Além de seus estudos teóricos nos quais ressalta a importância fundamental
de Marx de quem, contudo, foi igualmente uma crítica contumaz, Weil participou
das lutas sindicais de sua época enquanto ministrava cursos de Filosofia para as
filhas de operários nos Liceus de Puy (1931-32), Auxerre (1932-33), Roanne (1933-
34), Bourges (1935-1936) e Saint-Quentin (1937-38).
Paralelamente à atividade como professora de ensino médio ela
empreenderá outras atividades decisivas em sua formação pessoal e intelectual.
Assim, viaja para a Alemanha em 1931, pois compreendia que lá que estavam
ocorrendo transformações efetivas na vida política que necessitavam ser mais bem
entendidas. Em 1934, antes de ter sua experiência como operária, publica o que ela
considerava então ser a sua grande obra: Reflexões sobre as causas da liberdade e
da opressão social (Weil, 1979, pp. 235-307). Torna-se operária por um curto
intervalo de tempo entre 1934 a 1935, pois havia intuído que necessitava dessa
experiência concreta para pensar a questão operária, e será precisamente dessa
experiência que surgirá o texto “Diário de fábrica” escrito em 1936 (Weil, 1991b,
pp.171-282). A seguir, em agosto de 1936, sentiu a obrigação de se engajar na
Guerra Civil Espanhola. Lutou ao lado dos republicanos na coluna comandada por

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Durruti, que dirigia a formação mais importante das milícias da Central Sindical
Anarquista. Essa brevíssima experiência em uma guerra servirá para Weil conceber
de modo claro a barbárie que domina o coração dos seres humanos
independentemente de partidos ou posições políticas, bem como a idolatria da
força e do poder que subjaz no âmago de quase todas as pessoas. Alguns textos
weilianos produzidos nessa época o exprimem com clareza, tais como: “Reflexões
sobre a barbárie” (Weil, 1989, pp. 222-225) e o célebre “Ilíada ou o poema da força”
(Weil, 1979, pp.319-344). Tampouco a questão colonial passou despercebida a Weil
enquanto escrevia textos críticos em relação à França e às demais nações
colonialistas seja nos textos de 1930-31 (em que analisava a situação na
Indochina) ou de 1937 (em que refletia sobre os problemas que acometiam o
Marrocos) (idem, pp. 121-155).
De 1932 a 1938 Weil será uma adepta convicta do pacifismo, provavelmente
devido ao excesso de violência que vivenciava ao seu redor, seja na experiência de
fábrica, na guerra espanhola ou nas colônias ocupadas pelos franceses. Em função
disso, ela chega até mesmo a defender uma política de não intervenção quando da
anexação de parte do território da Tchecoslováquia pela Alemanha, pensando
naquele momento que ante a possibilidade iminente de uma guerra europeia, essa
apropriação territorial ilegítima seria um mal menor a se assumir. Assim, é somente
com a entrada dos soldados nazistas em Praga em março de 1939, que ela
começará a despertar desse sonho pacifista. Com habitual dureza, seja em relação
aos demais, seja em relação a si própria, ela se recriminará veementemente nos
próximos anos de sua breve existência por sua adesão temporária ao pacifismo.
Uma passagem de seu “caderno de Londres” redigido ao final de sua vida fala do
“erro criminoso” (Weil, 2006, p. 374) que ela julgava ter cometido ao ter aderido a
essa posição política.
Todas essas experiências que ela quis vivenciar e outras a que ela ainda se
exporá nos seus derradeiros anos de vida remetem ao profundo desejo weiliano de
“ter um contato direto com a vida”, como ela escreve em uma anotação de seu
“Diário de fábrica” (Weil, 1991b, p.253). Entendendo este contato direto como uma
experiência que ultrapassaria a mera especulação filosófica, mas que constituiria a
base de uma reflexão autêntica nascida a partir de uma situação concreta, buscava
assim reunir teoria (ciência) e prática (trabalho), ou pensamento e ação, de modo

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singular na filosofia do século XX. Raramente se encontra numa única pessoa,


como é o caso de Weil, um discernimento político extremamente apurado e uma
singular capacidade de pensar os problemas mais essenciais de modo profundo e
original nas mais diversas áreas da filosofia. A biografia e a obra de Weil estão
essencial e intimamente conectadas.
Tudo na vida de Simone Weil é intenso e parece ocorrer simultaneamente. O
mesmo se dará com o seu aprofundamento espiritual que acontecerá primeiro em
Viana do Castelo (Portugal), para onde viaja com os pais logo após sua estafante
estadia na fábrica. Novas experiências espirituais continuarão a se manifestar nos
anos seguintes à a sua participação na Guerra Espanhola, tanto na capela de Assis
em 1937, quanto finalmente no mosteiro beneditino de Solesmes em 1938, e
permanecerão ocultas de quase todos até a sua morte, quando certos textos e
cartas de sua autoria foram finalmente publicados.
Não devemos, de modo algum, dividir a vida de Weil como se ela tivesse
ocorrido em etapas sucessivas completamente distintas. A sua existência foi
marcada especialmente pela necessidade de mediar posições teóricas
aparentemente distantes e até mesmo supostamente incompatíveis, de modo que
as reflexões sobre espiritualidade cristã e grega têm de ser analisadas no contexto
mesmo de suas reflexões sociais e políticas.
Nos últimos seis ou sete anos de sua vida se processará uma integração -
difícil de ser concebida sem preconceitos pelas partes envolvidas (isto é: o
preconceito dos estudiosos de Platão e de Marx) - entre Marx e Platão, tendo como
horizonte espiritual a figura, para ela central, do Cristo. A isso se associa
igualmente uma abertura inconteste em relação a outras espiritualidades, em um
claro diálogo inter-religioso, especialmente para aquelas vertentes espirituais
oriundas da Índia, antecipando o diálogo entre as religiões defendido pelo Concílio
Vaticano II. Por essa razão, Weil começou a aprender o sânscrito e foi uma leitora
atenta de algumas obras fundadoras da tradição filosófico-religiosa da Índia, tal
como o Bhagavad Gîta, além de estudar com muito interesse o Livro Egípcio
dos Mortos e o Tao te King. Para não mencionar suas pesquisas acerca dos contos
e dos relatos do folclore das mais diversas culturas, incluindo os místicos cristãos,
particularmente São João da Cruz.

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Superada a posição pacifista, Weil engajou-se ativamente no movimento de


resistência. Na França, mais precisamente em Marselha aonde chegou com os pais
em setembro de 1940, até o embarque dos Weil para Nova Iorque em maio de 1942,
Simone Weil contribuiu para a resistência distribuindo uma das mais importantes
revistas clandestinas da zona livre, os Cahiers du Témoignage Chrétien.
Paralelamente, conheceu duas pessoas fundamentais para a sua vida: o padre
dominicano Joseph-Marie Perrin e, por meio dele, Gustave Thibon, agricultor e
escritor. Com o primeiro, entreteve importantes conversações sobre o cristianismo
e a tradição grega, e graças ao segundo conseguiu vivenciar a experiência que
julgava lhe faltar, a de campesina, ainda que por poucos meses. Ambos foram os
amigos com os quais Weil deixou seus inúmeros escritos antes de partir para Nova
Iorque. Vários textos como “Intuições Pré-cristãs”, “A fonte grega” e “A espera de
Deus”, bem como seus célebres “Cadernos” foram entregues a eles. Weil sabia que
seus pais somente teriam aceitado partir para os Estados Unidos se ela os
acompanhasse e por isso consentiu em fazer a travessia do Atlântico, mas na
esperança de poder viajar rapidamente para Londres, onde ela compreendia que se
encontrava o polo mais importante da resistência aliada contra Hitler e ao qual
queria se unir.
A estadia em Nova Iorque lhe foi muito tempestuosa interiormente. Devido
aos grandes obstáculos que ali encontrou para viajar para Londres, ela se sentia
como uma desertora. Todavia, apesar disso, ela não deixava de continuar
aproveitando seu tempo visando conhecer outras realidades, como fica claro, de um
lado, por suas pesquisas teóricas nas bibliotecas de Nova Iorque e, de outro, por
suas visitas ao Harlem e às suas igrejas.
Por fim, após muitos percalços e muita pertinácia da parte dela, Weil
consegue juntar-se à resistência francesa em Londres: no final de novembro de
1942 ela consegue chegar a Liverpool. Restarão para ela apenas mais nove meses
de vida. Meses de intensa produção teórica e de engajamento prático na
resistência. Ela sente-se fracassada por não conseguir a autorização do General De
Gaulle, chefe da resistência francesa em Londres, para poder realizar o projeto
relacionado às enfermeiras de fronteira, por ela idealizado. O plano consistiria em
lançar de paraquedas, nos campos de batalha, um grupo de jovens mulheres com
algum conhecimento em enfermagem (a própria Weil capacitou-se rapidamente

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para poder ser enviada) a fim de socorrer os aliados, mas também seus inimigos, o
que deveria ocorrer no próprio campo de batalha. O objetivo, como o texto “Projeto
de uma formação de enfermeiras de primeira linha” (Weil, 2008, pp.401-411) deixa
claro, não é o de ingenuamente supor que esse grupo poderia salvar muitas vidas,
mas sim o de opor ao comando SS (a “tropa de proteção” (Schutzstaffel),
organização paramilitar ligada ao partido nazista) um grupo pequeno de jovens
mulheres que serviriam como símbolo contrário àquele representado pela
abominável tropa de elite hitlerista. Isso porque ela logo compreendeu a
importância da propaganda no nazismo e queria contrapor-se a essa veiculação do
ódio e da indiferença por meio de uma propaganda que enaltecesse um amor
desinteressado. Obviamente De Gaulle recusou-se a adotar tal plano, o que causou
uma imensa tristeza em Simone.
Escrevendo o relatório sobre como seria a vida da França livre, texto que viria
a constituir o que se passou a intitular o seu último livro, o Enraizamento, bem
como outros textos sobre questões espirituais e políticas, ela que já se alimentava
parcamente e fumava desenfreadamente, deixando de comer, pois se recusava a
ingerir mais do que um francês na França dominada pela Alemanha nazista poderia
fazer. É interessante notar que essa atitude remete à decisão tomada durante a
Primeira Guerra Mundial, com apenas seis anos de idade, de recusar-se a comer
açúcar porque os soldados que lutavam nas trincheiras estavam privados de
consumir açúcar. Por fim, já enfraquecida, ela acaba adoecendo em Londres, sendo
transferida em seguida para um hospital na cidade de Ashford e vindo a falecer em
agosto do ano de 1943, aos 34 anos de idade. Lá se encontra a sua sepultura.
Em sua breve vida, tão plena de experiências não acadêmicas, Simone Weil
escreveu abundante e quase compulsivamente o conjunto de seus textos
filosóficos - pouquíssimos dos quais foram publicados em vida - que compõem os
16 volumes de suas Obras Completas, ainda em curso de publicação pela editora
francesa Gallimard. Uma visão geral do plano da edição das Obras Completas, que
apresentamos, abaixo, nos dá uma ideia bastante razoável da amplitude temática e
da quantidade de textos que ela escreveu, extraordinária para alguém que viveu tão
pouco e teve uma vida tão intensa e profundamente comprometida com questões
sociais e políticas.

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Plano da edição das Obras Completas


A edição realizada pelas Éditions Gallimard (Paris) está organizada em sete
tomos subdivididos, por sua vez, em 16 volumes dos quais já temos publicados 13
volumes, faltando ser publicados o volume único do Tomo III - contendo a produção
poética e dramatúrgica de Simone Weil – e os dois volumes do Tomo VII relativos à
correspondência mantida por Simone Weil com interlocutores em geral, excetuando
aquela que manteve com a sua família, pois estas (volume 1 do Tomo VII) já foram
publicadas.
Tome I: Primeiros escritos filosóficos.
Tome II: Escritos históricos e políticos.
Volume 1: O engajamento sindical (1927-1934).
Volume 2: A condição operária (1934-1937).
Volume 3: Rumo à guerra (1937-1940).
Tome III: Poemas e Veneza salva.
Tome IV: Escritos de Marseille.
Volume 1: Filosofia, ciência, religião.
Volume 2: Grécia – Índia – Ocitânia.
Tome V: Escritos de New York e de Londres.
Volume 1: Questões políticas e religiosas.
Volume 2: O Enraizamento. Prelúdio a uma declaração aos deveres relativos
ao ser humano.
Tome VI: Cadernos – volumes 1-4.
Tome VII: Correspondência.
Volume 1: Correspondência familiar.
Volume 2 et 3: Correspondência geral.

Obra: temas e conceitos


Tendo em vista a estreitíssima conexão entre a breve vida e a extensa obra
de Simone Weil acima assinalada, mostraremos a seguir que os temas e conceitos
mais importantes de sua filosofia estão profundamente conectados com as
diferentes etapas de sua biografia, ainda que, devido à desproporção entre uma vida
tão curta e uma produção intelectual tão ampla, inúmeros temas e autores se
sobrepõem sendo tratados em diversos períodos sucessivos.

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Um primeiro núcleo temático está ligado ao problema da percepção e a um


consequente diálogo e reinterpretação de Descartes e Espinosa, feito sempre no
interior do horizonte de apropriação que ela empreende dos pensadores gregos (em
especial, de Platão), bem como da leitura atenta que começa a fazer de Marx e do
problema operário tendo como conceito fundamental a noção de trabalho. A
atividade estruturante dessa época e que estimula a sua reflexão é a sua
experiência como operária.
O segundo núcleo conceitual dá-se em torno ao problema da opressão e da
liberdade, no qual além de Marx, comparecem Rousseau, Tucídides, Homero e
Maquiavel, enfatizando a formulação do conceito de força. Sem dúvida a atividade
que marca mais profundamente a vida de Weil nesta época é a sua participação na
guerra civil espanhola.
Um terceiro núcleo de questões tem como conceitos-chave as noções de
leitura e de decreação, que reúnem uma dimensão antropológica e outra teológica.
São textos nos quais Weil se esforça para estabelecer a mediação entre temas e
problemas aparentemente dissonantes ao pensá-los em planos distintos, mas
relacionados entre si. Aqui a leitura que ela faz do Novo Testamento em direta
conexão com a tradição grega se manifesta de modo decisivo. A experiência
estruturante deste núcleo é a inesperada experiência mística que ela teve que a
levou a ter de repensar o cristianismo e a sua relação com as demais tradições
religiosas e espirituais.
O último núcleo se manifesta nos anos finais de Weil quando ela deseja
ardentemente contribuir com os aliados na luta contra a Alemanha nazista. Ela
declara estar dilacerada entre as questões relativas à miséria humana e ao amor de
Deus. Nenhum desses polos pode ser pensado sem o outro, mas como pensá-los
simultaneamente tampouco é evidente. A noção capital aqui é a de enraizamento. A
tentativa frustrada de participar na ofensiva dos aliados sediados em Londres
contra a Alemanha constitui a atividade mais marcante dos últimos anos de sua
vida.
É preciso advertir que não se pode acreditar ingenuamente que os temas e
problemas mencionados nessas fases estejam plenamente superados em suas
fases posteriores e que possam ser tratados como se fossem totalmente
desvencilhados uns dos outros. Ao contrário, todos estão intimamente conectados

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e isso torna a leitura da obra weiliana bastante difícil. Ocorre com ela o que ocorre
quer com Platão, quer com Kierkegaard: não podemos considerar as suas obras
como tendo sido escritas em meras etapas sucessivas, seu pensamento é mais
complexo.
Na obra de Simone Weil ocorre que cada conceito requer para a sua plena
compreensibilidade outros ainda não plenamente formulados. Todavia, esses
conceitos já estão de certo modo intuídos pela autora, comparecendo assim
apenas implicitamente. Por conseguinte, necessitamos de um conhecimento vasto
e aprofundado da totalidade da produção weiliana para podermos pensar
adequadamente a complexa articulação entre os conceitos fundamentais presentes
em sua filosofia.
Seria um grande equívoco julgar que ela é uma pensadora de fragmentos
filosóficos ou de meros textos isolados de grande impacto devido a sua perfeição
estilística. Há, ao contrário, uma sólida doutrina filosófica em Simone Weil que não
pode, contudo, ser reduzida a um sistema, mas que possui uma lógica inerente que
perpassa e aproxima textos aparentemente desconexos e circunstanciais para
apresentar um painel complexo e sutil acerca do mundo, do ser humano, da
sociedade, da guerra, da justiça e de Deus.

Bibliografia citada
WEIL, S. (1979). A condição operária e outros escritos sobre a opressão. Tradução
de Therezinha Langlada. Org. Ecléa Bosi. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra.
WEIL, S. (1988). Tome II: Écrits historiques et politiques. Volume 1: L' engagement
syndical (1927- juillet1934).
WEIL, S. (1991b). Tome II: Écrits historiques et politiques. Volume 2: L’expérience
ouvrière et l’adieu à la révolution (juillet 1934 - juin 1937).
WEIL, S. (1989). Tome II: Écrits historiques et politiques. Volume 3: Vers la guerre
(1937-1940).
WEIL, S. (2006). A fonte grega. Tradução de Filipe Jarro. Lisboa: Edições Cotovia.
WEIL, S. (2008). Tome IV : Écrits de Marseille. Volume 1: (1940 – 1942) Philosophie,
science, religion, questions politiques et sociales.
Fontes, literatura secundária e outros materiais
Obras de Simone Weil em português

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Fernando Puente. Simone Weil.

WEIL, S. (1979). A condição operária e outros escritos sobre a opressão. Tradução


de Therezinha Langlada. Org. Ecléa Bosi. Rio de Janeiro, RJ: Paz e Terra.
WEIL, S. (1986). A gravidade e a graça. Tradução feita pela equipe da ECE. São
Paulo, SP: ECE.
WEIL, S. (1993). A gravidade e a graça. Tradução de Paulo Neves. São Paulo, SP:
Martins Fontes.
WEIL, S. (1991a). Aulas de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas,
SP: Papirus.
WEIL, S. (2016). Carta a um religioso. Tradução de Monica Stahel. Petrópolis, RJ:
Vozes.
WEIL, S. (2019). Contra o colonialismo. Tradução de Carolina Selvatici. Rio de
Janeiro, RJ: Bazar do Tempo.
WEIL, S. (1987). Espera de Deus. Tradução feita pela equipe da ECE. São Paulo: ECE,
1987.
WEIL, S (2005). Espera de Deus. Tradução de Manuel Maria Barreiros. Lisboa:
Assírio & Alvim.
WEIL, S. (1990). Lições de Filosofia. Tradução de Paulo Neves. São Paulo, SP:
Martins Fontes.
WEIL, S. (2017). Nota sobre a supressão geral dos partidos políticos. Tradução de
Manuel de Freitas. Lisboa: Antígona.
WEIL, S. (2001). O Enraizamento. Tradução de Maria Leonor Loureiro. São Paulo, SP:
EDUSC.
WEIL, S. (1964). Opressão e Liberdade. Tradução de Maria de Fátima Sedas Nunes.
Lisboa: Livraria Morais Editora
WEIL, S. (2001). Opressão e Liberdade. Tradução de Ilka Stern Cohen. São Paulo, SP:
EDUSC.
WEIL, S. (2006). A fonte grega. Tradução de Filipe Jarro. Lisboa: Edições Cotovia.
WEIL, S. (2016). Pela supressão dos partidos políticos. Tradução de Lucas Neves.
Belo Horizonte, MG: Âyiné.
WEIL, S. (1991a). Pensamentos desordenados acerca do amor de Deus. Tradução
feita pela equipe da ECE. São Paulo, SP: ECE.
WEIL, S. (2017). Reflexões sobre as causas da liberdade e da opressão social.
Tradução de Maria de Fátima Sedas Nunes. Lisboa: Antígona.

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Obras de Simone Weil em francês

Obras publicadas pela editora Gallimard, Paris


WEIL, S. (1950). La connaissance surnaturelle.
WEIL, S. (1951). Lettre à un religieux.
WEIL, S. (1951). La condition ouvrière.
WEIL, S. (1953). La source grecque.
WEIL, S. (1955). Oppression et liberté.
WEIL, S. (1957). Écrits de Londres et dernières lettres.
WEIL, S. (1960). Écrits historiques et politiques.
WEIL, S. (1962). Pensées sans ordre concernant l′amour de Dieu.
WEIL, S. (1968). Poèmes, suivis de Venise sauvée.
WEIL, S. (1966). Sur la Science.

Obras publicadas na editora Plon, Paris


WEIL, S. (1949). La pesanteur et la grâce. Ed. por Gustave Thibon.
WEIL, S. (1951). Cahiers, Tome I
WEIL, S. (1953). Cahiers. Tome II
WEIL, S. (1956). Cahiers. Tome III.
WEIL, S. (1959). Leçons de Philosophie.

Obras publicadas pela editora La Colombe, Paris


WEIL, S. (1951). Intuitions pré-chrétiennes.
WEIL, S. (1949). Attente de Dieu.

Reedições pela editora Gallimard, Paris, no âmbito das Obras Completas


WEIL, S. Oeuvres Complètes. Edição sob a direção de A. Devaux e F. de Lussy:
WEIL, S. (1988) Tome I: Premiers écrits philosophiques.
WEIL, S. (1988). Tome II: Écrits historiques et politiques. Volume 1: L' engagement
syndical (1927- juillet 1934).
WEIL, S. (1991b). Tome II: Écrits historiques et politiques. Volume 2: L’expérience
ouvrière et l’adieu à la révolution (juillet 1934 - juin 1937).

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Fernando Puente. Simone Weil.

WEIL, S. (1989). Tome II: Écrits historiques et politiques. Volume 3: Vers la guerre
(1937-1940).
WEIL, S. (2008). Tome IV : Écrits de Marseille. Volume 1: (1940 – 1942) Philosophie,
science, religion, questions politiques et sociales.
WEIL, S. (2009). Tome IV : Écrits de Marseille. Volume 2: Grèce - Inde - Occitanie.
WEIL, S. (2019).Tome V: Écrits de New York et de Londres (1942-1943). Volume 1:
Questions politiques et religieuses.
WEIL, S. (2013).Tome V: Écrits de New York et de Londres. Volume 2: L'
Enracinement. Prélude à une déclaration des devoirs envers l’être humain.
WEIL, S. (1994). Tome VI : Cahiers. Volume 1 (1933 – septembre 1941).
WEIL, S. (1997). Tome VI : Cahiers. Volume 2 (septembre 1941 – février 1942).
WEIL, S. (2002).Tome VI : Cahiers. Volume 3 (février 1942 – juin 1942) La porte du
transcendant.
WEIL, S. (2006). Tome VI : Cahiers. Volume 4 : (juillet 1942 – juillet 1943) La
connaissance surnaturelle (Cahiers de New York et de Londres)
WEIL, S. (2012).Tome VII : Correspondance. Volume 1: Correspondance familiale.
WEIL, S. (1999). Simone Weil. Oeuvres. Ed. de F. de Lussy. Paris: Quarto Gallimard.

Literatura secundária
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Janeiro / São Paulo: Editora PUC Rio / Edições Loyola.
BINGEMER, M. C. L. (ed.). (2009) Simone Weil e o encontro entre as culturas. Rio de
Janeiro / São Paulo: Editora PUC-Rio / Paulinas.
BOSI, E. (2003). O tempo vivo da memória. Cotia: Ateliê Editoraial. (Parte III: quatro
estudos sobre Simone Weil).
CALLE, M. / GRUBER, E. (eds.) (2003). Simone Weil. La passion de la raison. Paris :
l’Harmattan.
CANCIANI, D. (1996). Simone Weil. Il coraggio di pensare. Impegno e riflessione
politica tra le due guerre. Roma : Edizioni Lavoro.
CANCIANI, D. (1998). Tra Sventura e belezza. Riflessione religiosa e esperienze
mistica in Simone Weil. Roma : Edizioni Lavoro.

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CHENAVIER, R. (2001). Simone Weil. Une philosophie du travail, Paris, Èdition du


Cerf.
DELSOL, C. (2009) (ed.). Simone Weil. Les Cahiers d’Histoire de la Philosophie.
Paris : Cerf.
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GÉRARD, V. (ed.) (2011). Simone Weil, lectures politiques. Paris : Éditions Rue d’Ulm
/ Presses de l’École Normale Supérieure.
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https://www.cairn.info/resultats_recherche.php?send_search_field=Chercher&searc
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http://www.americanweilsociety.org/
https://plato.stanford.edu/entries/simone-weil/

Vídeos e áudios sobre Simone Weil – ver o site www.simoneweil.com.br para


consultar as diversas indicações ali mencionadas.
Artigos e teses sobre Simone Weil – ver o site www.simoneweil.com.br para
consultar as diversas indicações ali mencionadas.

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