Alanadnp,+13386 Texto+do+artigo 50217 1 15 20220829+ Corrigido
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Fabíola Andrade 1
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ)
https://orcid.org/0000-0003-4355-1366
Teo Bueno de Abreu 2
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ)
https://orcid.org/0000-0002-8120-9986
Pedro Hollanda Carvalho 3
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ)
https://orcid.org/0000-0002-0051-9932
1
Doutoranda em Ciências Ambientais e Conservação (UFRJ). Possui graduação em Ciências
Biológicas pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Especialização em
Educação de Jovens e adultos pelo IFF e é Mestra em Ciências Ambientais pela UFRJ.
Atualmente é professor de ciências físicas e biológicas da Prefeitura Municipal de Conceição de
Macabu e Agente de desenvolvimento rural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural
do Estado do Rio de Janeiro.
2
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro fazendo parte do corpo docente da
UFRJ/Campus Macaé e ministrando disciplinas do núcleo pedagógico das licenciaturas em
Ciências Biológicas dessa instituição. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em
Educação em Ciências. Mestrado e Doutorado em Educação em Ciências e Saúde pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
3
Professor adjunto no NUPEM-UFRJ (Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade - UFRJ).
Bacharel em Zoologia-Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Mestre
em Ciências Biológicas pela Universidade de Genebra. Doutor em Genética e Evolução pela
Universidade de São Paulo.
1
Revista Ambiente & Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental – PPGEA/FURG
v. 27, n. 2; dezembro de 2022.
Recebido em: 07/08/2021
Aceito em: 06/10/2022
Resumo: Os Temas Contemporâneos Transversais (TCT) têm como objetivo articular os
diferentes componentes curriculares de forma integrada, bem como conectá-los às situações
vivenciadas pelos estudantes em suas realidades. Este trabalho se ocupa em identificar se o
TCT “Meio Ambiente” está sendo abordado de forma transversal nos livros didáticos PNLD- EJA
2014-2016, que compreendem todas as disciplinas do currículo do ensino fundamental II, do 6º
ao 9º ano de escolaridade. E ainda, se tal TCT está sendo abordada sob o viés crítico, à luz da
Educação Ambiental Crítica e transformadora. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, onde foi
feita uma análise de conteúdo do material (livro didático) em categorias temáticas. De acordo
com os dados obtidos neste estudo, pôde-se concluir que em geral o material apresenta
conteúdos ligados ao meio ambiente, porém de maneira conservadora e pouco articulada às
questões sociais, econômicas e políticas.
Palavras-chave: EJA. Transversalidade. Educação Ambiental.
Abstract: The Transversal Contemporary Themes (TCT) aim to articulate the different curricular
components in an integrated manner, as well as connect them to the situations experienced by
students in their realities. This work is concerned with identifying whether the TCT “Environment”
is being addressed in a transversal way in the textbooks PNLD-EJA 2014-2016, which cover all
the subjects of the curriculum of elementary school II, from the 6th to the 9th grade. And yet, if
such TCT is being approached from a critical perspective, in the light of Critical and transformative
Environmental Education. This is a qualitative research, where a content analysis of the material
(textbook) was carried out in thematic categories. According to the data obtained in this study, it
could be concluded that, in general, the material presents contents related to the environment,
but in a conservative way and poorly articulated to social, economic and political issues.
Keywords: Youth and adult education. Transversality. Environmental Education.
NOTAS INTRODUTÓRIAS
A Educação no Brasil em seus vários contextos históricos não apresenta,
necessariamente, uma proposta democrática, libertadora, transformadora,
especialmente a ofertada para as massas. De maneira geral, os sistemas
educacionais sempre estiveram submetidos aos interesses econômicos de cada
época, constituindo um modelo predominantemente mercadológico, e
assimilando algumas características próprias de países em desenvolvimento,
que a partir de uma enorme desigualdade na distribuição da renda, geram
imensas deficiências no sistema educacional.
Segundo a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA)
(BRASIL,1999), a educação se propõe, em sua forma mais abrangente,
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favorecer ao indivíduo a análise crítica sobre seu lugar no mundo e considerar o
significado de desenvolvimento sustentável e as formas de manejá-lo,
construindo assim, uma população informada, ativa e preocupada não somente
com a geração atual, mas também com as gerações futuras.
Ainda nesse contexto, a Educação Ambiental crítica se faz urgente, tendo
em vista a evolução das demandas ambientais que surgem com o passar do
tempo e o crescente esgotamento de recursos naturais em razão do modelo de
desenvolvimento exploratório adotado especialmente no último século, em uma
sociedade que se baseia na expansão econômica pela produção e consumo de
mercadorias (Loureiro, 2015). A inserção crítica se dá na reflexão de que as
relações sociais e a superação de formas de dominação (típicas do capitalismo)
propicia aos indivíduos a compreensão das inúmeras possibilidades e
potencialidades individuais (LOUREIRO, 2015). E assim como defende
Layrargues & Lima (2011):
A educação, ao não problematizar os padrões societários
ambientais, adota uma postura conservadora, centrada no
indivíduo, no alcançar a condição de ser humano integral e
harmônico, pressupondo a existência de finalidades
previamente estabelecidas na natureza e de relações ideais. As
práticas pedagógicas, ao se eximirem da crítica aos processos
em desenvolvimento na sociedade, atenuam as raízes dos
problemas ambientais e deixam de lado seu compromisso de
transformação social (LAYRARGUES & LIMA, 2011).
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se e como a EA está sendo abordada nesta modalidade de ensino através do
LD.
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A PNEA é regida pela lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Os
conteúdoenglobam: conceito, objetivos, princípios, atuação e sua relação com a
educação.
Art. 1º. Entendem-se por educação ambiental os processos por meio
dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial
à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (PNEA, 1999, p. 1).
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Em meio a esse cenário, o livro didático se revela como uma boa
oportunidade de inserção da transversalidade necessária para tratar uma
temática complexa como é a questão ambiental na atualidade, sobretudo na
abordagem de uma educação ambiental problematizadora, crítica e
transformadora, isto é, que encara a questão ambiental sem dissocia-la das
questões sociais, culturais, éticas e políticas, dada a sua importância e urgência,
tal como descrevem Carvalho (2004); Guimarães (2004); Loureiro (2006);
Sorrentino, Ferraro Júnior & Portugal (2005); Tozoni-Reis (2004) e outros, já que
é o instrumento didático mais comumente utilizado pelos docentes (MARPICA &
LOGAREZZI, 2010). A transversalidade, nesse contexto, vem como uma forma
de inserir a problemática ambiental em momentos diferentes do dia a dia escolar,
permeando todas as disciplinas/áreas de conhecimento, tornando-a presente e,
evidentemente, necessária tanto para os discentes como para os docentes e
gestores, pois o engajamento deve ser de todos, se estendendo para além dos
muros da escola.
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mesmo da Unidade Educacional o de instigar para que essa bagagem de vida
seja ampliada e até mesmo melhor entendidos em um contexto amplo.
Uma leitura dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL,
1997) a respeito dessa questão mostra que os motivos que levam jovens e
adultos ao retorno à escola referem-se predominantemente às suas expectativas
de conseguir um emprego melhor. Mas suas motivações, porém, não se limitam
a esse aspecto, pois muitos referem-se também à vontade mais ampla de
“entender melhor as coisas”, e “se expressar melhor” (BRASIL, 1997, p. 42).
Ampliando o nosso campo de visão e indo para além dos motivos
imediatistas do retorno desse alunado às salas de aulas da EJA, encontramos a
concepção de Rummert, Ventura (2007, p. 13) que ilustram bem essa realidade:
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Segundo o Ministério da Educação, os Temas Contemporâneos
Transversais (TCT) têm como objetivo articular os diferentes componentes
curriculares de forma integrada, bem como conectá-los às situações vivenciadas
pelos estudantes em suas realidades, “contribuindo para trazer contexto e
contemporaneidade aos objetos do conhecimento descritos na Base Nacional
Comum Curricular - BNCC” (BRASIL, 2019).
Nessa linha, os TCTs na BNCC demonstram como objetivo cumprir a
legislação que versa sobre a Educação Básica, garantindo aos estudantes os
direitos de aprendizagem, do acesso ao conhecimento e “a formação para o
trabalho, para a cidadania e para a democracia e que sejam respeitadas as
características regionais e locais, da cultura, da economia e da população que
frequentam a escola” (BRASIL, 2019).
Os Temas Contemporâneos Transversais então se estruturam em seis
macro áreas temáticas, conforme a figura abaixo e são articulados pela
Coordenação-Geral de Educação Ambiental e Temas Transversais da Educação
Básica, no Ministério da Educação:
Figura 1: Os Temas Contemporâneos Transversais.
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Fonte: BNCC (BRASIL, 2019, pag. 7)4.
PERCURSO METODOLÓGICO
CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Este estudo é de caráter qualitativo e trata-se de uma análise documental
baseada na análise de livros didáticos da EJA sobre a transversalidade da
abordagem de temas em EA. Optamos por analisar a transversalidade da EA em
4
Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/guia_pratico_
temas_contemporaneos.pdf
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todas as áreas do conhecimento, nos apoiando na metodologia da Análise do
Conteúdo (BARDIN, 2011) explorando aspectos textuais e discursivos dos livros
didáticos.
MATERIAL ANALISADO
Fonte: https://www.moderna.com.br/pnldeja2014/ejamodernaanosfinaisensinofundamental/
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Quadro 1: estrutura dos livros didáticos quanto aos temas abordados nas
unidades.
Ano I II Quantidade de
Unidade páginas
6º ano Identidade e Alimentação 448
Pluralidade
7º ano Moradia Saúde e qualidade de vida 422
8º ano O país A sociedade Brasileira 424
9º ano Trabalho Desenvolvimento e 432
Sustentabilidade
Fonte: Elaborado pela autora.
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Quadro 2: categorias temáticas utilizadas na análise dos livros.
Categorias de análise Foco da análise
1- solo usos, preservação
2- água usos, preservação
3- ar impactos na sua qualidade
4- Fauna e flora usos da cobertura vegetal, sua preservação e seus
impactos no equilíbrio ambiental; extinção de espécies
5- Desenvolvimento com economia/ equilíbrio de uso dos recursos naturais
base sustentável
Fonte: Elaborado pela autora.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
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DADOS QUANTITATIVOS
Ao analisar os 4 livros de forma quantitativa, identificamos quantas vezes
algum tema em Meio Ambiente aparecia nos conteúdos das disciplinas. Com
base nessa amostragem construímos o seguinte quadro (Quadro 4):
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Gráfico 1: distribuição da ocorrência das categorias temáticas em cada
disciplina no livro do 6º ano.
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identificada no livro, em cada disciplina
9
8
7
6
5
4 4
4
3 3
3
2 2 2
2
1 1 1 1 1
1
000 000 0 000 00000000 0 0 000 0 0 00 0
0
solo água ar Fauna e flora Desenv.
Sustentável
categorias temáticas
9
8
7
6
5
4
3 2 22 2 2
2 1 1 1 1 1
1 0000 000 0 000 000 0000 0 00 000 0 0000 0
0
solo água ar Fauna e flora Desenv.
Sustentável
categorias temáticas
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Fonte: Elaborado pela autora.
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é identificada no livro, em cada
9
8
7
6
5
disciplina
4
3 2 2
2 11 1 1 1 1
1 00 000 000 000 00000000 000 000 000000 0
0
solo água ar Fauna e flora Desenv.
Sustentável
categorias temáticas
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vezes em que temas em Meio Ambiente /Ecologia aparecem nos 4 livros, exceto
no livro do 8º ano, onde é a disciplina de Língua Portuguesa quem aborda mais
o tema, quantitativamente, o que comprova que há possibilidade de se abordar
tais temas, independente da disciplina. Provavelmente isso se dá por causa do
conteúdo curricular da disciplina de ciências neste ano de escolaridade, que se
refere principalmente à anatomia e fisiologia do corpo humano. A categoria “ar”
mais uma vez não foi citada em nenhuma das disciplinas do livro da 8ª fase,
evidenciando que é um tema muito pouco trabalhado.
Gráfico 4: distribuição da ocorrência das categorias temáticas em cada
disciplina no livro do 9º ano.
9
8
7 6 6
6 5 5
5
4 3 3 3 33 3 3
3 2 2 2 2
2 1 1 11 1 1 1 1 1
1 0 0 0 0 0 00 0 0 0 0000 0
0
solo água ar Fauna e flora Desenv.
Sustentável
categorias temáticas
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A seguir, tentamos ir mais a fundo e compreender melhor o que esses
dados quantitativos nos dizem, o que os números podem revelar, sob o ponto de
vista qualitativo, para uma visão mais abrangente deste cenário.
DADOS QUALITATIVOS
A partir da análise dos quatro livros disponibilizados oficialmente através
do PNLD 2014-2016, identificamos dados que relacionavam conteúdos
identificados com caráter ambiental/ecológico ao TCT Meio Ambiente/EA da
BNCC. Buscamos nessa sessão dialogar com este documento e reconhecer
traços da transversalidade do Tema EA nas disciplinas do currículo da EJA. A
partir dessas análises desenvolvemos uma discussão sobre as diferentes formas
que essa transversalidade é realizada nos Livros didáticos da EJA.
LIVRO DO 6º ANO
Ao analisar o livro do 6º ano , observa-se que na primeira disciplina Língua
Portuguesa (LP), na primeira unidade nada é mencionado e na segunda unidade,
cujo tema é “Alimentação”, são citados rapidamente os alimentos orgânicos,
restringindo à questão da saúde individual, como o consumo de alimentos mais
saudáveis e com menos agrotóxicos, sem problematizar ou relacionar a
produção os impactos no solo, lençol freático, coletividade, e portanto não
consideramos aqui como menção ao Meio Ambiente (Figura 3).
Figura 3: trecho do livro onde o assunto “alimentos orgânicos” é tratado.
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A segunda disciplina Matemática (M), curiosamente, faz algumas
abordagens em temas ambientais já na primeira unidade, quanto ao consumo e
descarte de lixo, reciclagem ao explorar o uso de tabelas (Figura 4).
Figura 4: trecho do livro sobre reciclagem de lixo, expondo o tema através do
uso de tabela.
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atuais (p. 172). Já na segunda unidade, o livro trata de produção e consumo
sustentáveis de alimentos (p. 198) de maneira muito rápida, sem problematizar.
A disciplina de Geografia (G) traz uma caracterização do território brasileiros nas
suas 12 primeiras páginas. Na página 223 é falado rapidamente sobre a
“Amazônia Legal” e a proteção da Amazônia e seu desenvolvimento. Na página
230 é retomado o assunto “Amazônia” e aí sim relaciona problemas ambientais
deste Bioma e seus impactos em outras regiões do país, especialmente no
regime de chuvas. Na página 245 (unidade 2) o livro aborda a questão dos
recursos naturais na produção de alimentos/agricultura tradicional. Nas
atividades propostas para os alunos das páginas 250 e 251 é proposta uma
reflexão com palavras-chave: agricultura familiar, sustentabilidade, mercado
interno e sobre os impactos ambientais causados pelas novas tecnologias nas
atividades rurais e uso de transgênicos.
A partir da página 253 o livro trata diretamente sobre a produção de
alimentos e os impactos ambientais, relacionando-os. Até aqui podemos
considerar que a problemática ambiental tomou a tendência politicamente
conservadora, ao exemplo do que discute Loureiro (2003, p. 37) em seu trabalho,
onde podemos identificar no livro essas tendências politicamente conservadoras
“que dissociam o social do ambiental, sob bases conceituais idealizadas e
dualistas entre sociedade e natureza”.
Figura 5: trecho em que trata sobre a produção de alimentos e seus
impactos ambientais.
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Fonte: Coleção EJA Moderna PNLD 2014 – 6º, p. 253.
Nas três últimas disciplinas do livro Artes (A), Inglês (I) e Espanhol (E)
nada é mencionado a respeito de MA e sociedade. Amorim (2019) cita em seu
estudo de caso que professores de Inglês de uma rede municipal de ensino
também deixam de abordar TCT durante a sua observação em sala.
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De maneira geral, observa-se que a categoria “fauna e flora” é a que
possui maior frequência de menções no livro por inteiro, porém a abordagem,
em geral é feita de maneira mais conservadora, tal como identifica Matos et al
(2017) em seu trabalho em análises de livros sobre o tema transversal MA, e
apontam também que o material evidencia uma concepção de ação e reação,
onde a natureza é destruída pelo homem e, em consequência, causa problemas
para a sociedade. Concepções de natureza intocada e intervenção artificial se
entrelaçam para obter soluções aos problemas apontados.
LIVRO DO 7º ANO
Em nenhum momento na disciplina de Língua Portuguesa o tema de MA
é tratado. Portanto, não foi identificada nenhuma categoria temática nessa
disciplina. O mesmo ocorre com a segunda disciplina (M). na disciplina de
História, fala-se rapidamente sobre saneamento básico ao longo dos séculos no
país (o que consideramos a categoria “água” como mais pertinente). Seguindo
para a disciplina seguinte (G), identificamos a abordagem de questões
ambientais referentes a qualidade e poluição da água e ar no processo de
urbanização e aglomeração populacional, especialmente nas páginas 208 e 233,
onde trata dos custos dos danos ambientais e outros fatores que afetam a
qualidade de vida das pessoas, relacionando com a desigualdade social,
abordagem que se aproxima um pouco da criticidade esperada na introdução da
EA nos conteúdos didáticos.
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Figura 7: trecho do livro onde é discutido o assunto poluição atmosférica e da
água.
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Para finalizar, na segunda unidade, cujo tema central é saúde e
“Qualidade de vida”, o livro nesta disciplina fala de saúde humana sem relacioná-
la ao ambiente em geral como fator de bem-estar social e humano.
Seguindo nas próximas disciplinas (A, I e E), na primeira nada foi
identificado como tema ambiental. Na segunda, Inglês, na página 354 fala-se de
meio ambiente e economia de maneira bastante superficial, quando trata de
sistemas de energia solar e moradias sustentáveis. Na última disciplina do livro,
Espanhol, nada é mencionado.
Figura 9: trecho do livro em que é apresentado um exemplo de “moradia
sustentável”, com o uso de fontes alternativas de energia.
LIVRO DO 8º ANO
Conforme identificado, na primeira disciplina (LP) há 5 menções sobre
assuntos relacionados a temas ambientais, entre eles a questão do
desmatamento para beneficiamento de madeira, esgoto doméstico e sobre
ativismo ecológico, especialmente na segunda unidade (“A sociedade
brasileira”). Mais uma vez, de maneira pouco aprofundada e sem relacionar tais
assuntos com a sociedade e a política, a abordagem é limitada e de forma mais
conservadora, tal como sugere REIGOTA (2001, p.112), “sem uma
transformação das consciências e dos comportamentos das pessoas” não
haverá quebra de paradigma social que leve a transformações de ordem
econômica, política e cultural. Tais concepções são indissociáveis.
A segunda disciplina (M) não traz nenhuma abordagem sobre temas
ambientais, e o mesmo ocorre com a próxima disciplina (H). A disciplina de
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Geografia fala de desigualdade social, porém sem mencionar a questão
ambiental atrelada a ela. A disciplina de Ciências, na qual normalmente fica
incumbida a tarefa de introduzir tais temas em MA, é a que de fato, mais uma
vez, apresenta algum conteúdo sobre poluição atmosférica, saneamento básico,
e biopirataria, porém, mais uma vez, sem problematizar. As três últimas
disciplinas (A, I, E) não possuem qualquer conteúdo relacionado a temas
ambientais.
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livro traz uma reflexão mais crítica sobre o atual modelo de desenvolvimento,
provocando os estudantes a pensarem mais sobre seus impactos no meio
ambiente.
A segunda disciplina (M) traz um texto curto sobre energia solar em sua
segunda unidade, para apresentar o conceito de funções. A próxima disciplina
(H) discute o modelo desenvolvimentista e seus impactos ambientais, com um
total de 7 menções.
A disciplina de Geografia fala de consciência ambiental, separação de
lixo, porém não problematiza, por exemplo, a coleta e destinação seletiva dos
resíduos não só domésticos, mas também industriais e agrícolas.
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Figura 11: trecho do livro em que discute “consumo consciente”
doméstico/individual.
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Fonte: Coleção EJA Moderna PNLD 2014 – 9º, p. 294.
A próxima disciplina, Artes, mais uma vez não aborda temas em Meio
ambiente. A disciplina de Inglês aborda a questão dos padrões de consumo e a
última disciplina (E) traz textos que falam sobre consumo doméstico de água,
separação de lixo e outras abordagens conservadoras e desarticuladas das
questões ambientais, se aproximando com o que questiona Loureiro (2003, p.
38) sobre a abordagem do tema “lixo” nas escolas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tomamos como direção, neste estudo, destacar a Educação Ambiental
no seu viés transformador e crítico, de acordo com os pressupostos teóricos que
nos deram o embasamento para tal, de modo a identificá-la no material didático
lançado no último PNLD-EJA, através do TCT “Meio Ambiente”, sob uma análise
atenta que dialoga com os documentos oficiais que tratam do assunto, bem
como com as questões ambientais contemporâneas intrínsecas no dia a dia não
somente dos alunos da EJA, mas também de todos os integrantes da
comunidade escolar. Em um momento em que procuramos trazer a discussão
toda a urgência da problemática ambiental numa perspectiva muito mais
abrangente do que se costuma fazer, entendemos que a Educação Ambiental é
o meio pelo qual podemos instigar e multiplicar informações e desconstruções
acerca de uma visão conservadora que não tem mais espaço atualmente.
Por fim, através dos apontamentos feitos neste estudo, identificando neste
material analisado a transversalidade, quando identificada, ocorre numa
abordagem conservadora do tema central (Meio Ambiente), majoritariamente
dentro da disciplina de Ciências, nos quatro livros analisados, o que já era de se
esperar. Porém, algo que nos chamou muito a atenção foi a disciplina de Arte
não ter abordado em nenhum dos seus conteúdos algum tema em MA, além das
línguas estrangeiras terem pouquíssimas abordagens de tais temas. Esperamos
aqui contribuir, dentro das limitações deste texto, para o interesse e para a
reflexão daqueles que, de alguma forma, identificam na sua trajetória profissional
e acadêmica o quão necessário é sempre trazer à tona tal discussão,
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Revista Ambiente & Educação
Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental – PPGEA/FURG
v. 27, n. 2; dezembro de 2022.
Recebido em: 07/08/2021
Aceito em: 06/10/2022
especialmente na conjuntura econômica, ambiental e social atual em que
vivemos, a nível global, considerando o processo educativo indispensável para
a sua superação.
REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2001.
MATOS, Daniel C.; REIS, Wellington D.; BOMFIM, Alexandre Maia do. O tema
transversal “Meio Ambiente” em livros de Ciências do ensino fundamental. In:
XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências – Anais do XI
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v. 27, n. 2; dezembro de 2022.
Recebido em: 07/08/2021
Aceito em: 06/10/2022
ENPEC da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis/SC, 11 p.
2017.
SOUZA, Deusa Maria de. Livro Didático: Arma Pedagógica? In: CORACINI,
Maria José R. F. (org.). Interpretação, autoria e legitimação do livro didático.2
ed. Campinas: Pontes Editora, 2011. p.57-64.
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