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INSTITUTO POLITÉCNICO DE SANTARÉM

ESCOLA SUPERIOR DE DESPORTO DE RIO MAIOR


MESTRADO EM PSICOLOGIA DO DESPORTO E EXERCÍCIO

RELAÇÃO ENTRE A COESÃO DE GRUPO E A ANSIEDADE


PRÉ-COMPETITIVA

Pedro Miguel Teixeira de Jesus e Silva

Orientadora:
Professora Doutora Carla Chicau Borrego

Rio Maior, 20 de Outubro de 2015


Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

RESUMO

O objetivo deste estudo centra-se na compreensão da relação e influência da


Coesão de Grupo na Ansiedade pré-competitiva, bem como na análise destas
variáveis em função do género e nível competitivo. Este é um estudo quantitativo,
descritivo e correlacional. Os instrumentos utilizados para a análise das variáveis
em estudo foram o QAG - Questionário do Ambiente de Grupo (versão portuguesa
do GEQ - Group Environment Questionnaire) e o IEAC - Inventário do Estado de
Ansiedade Competitiva (versão portuguesa do CSAI-2 - Competitive State Anxiety
Inventory). A amostra é composta por 272 atletas, sendo 83 do género feminino
(30,5%) e 189 do sexo masculino (69,5%), com idades compreendidas entre 17 e
os 46 anos (M=24; DP=5.27). Os resultados apurados indicam que as mulheres
apresentam valores superiores no que concerne à Atração Individual para o Grupo
em relação à Tarefa (AIG-T), bem como níveis mais elevados de Ansiedade
Somática e Ansiedade Cognitiva. Pelo contrário, os homens apresentam resultados
mais elevados de Auto-confiança. Verificou-se, ainda, que os atletas de competição
de elite apresentam resultados superiores ao nível da Atração Individual para o
Grupo em relação à Tarefa (AIG-T), Integração no Grupo em relação aos aspetos
sociais (IG-S) e Integração no grupo em relação à Tarefa (IG-T), mas apresentam
também resultados mais elevados ao nível da Ansiedade Cognitiva. Por fim, não se
verificou a existência de relação entre a Coesão do Grupo e a Ansiedade Pré-
Competitiva.

Palavras-chave: Coesão de Grupo, Ansiedade Pré-Competitiva, Ansiedade


Somática, Ansiedade Cognitiva, Auto-confiança.

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

ABSTRACT

This study focuses on understanding the relationship and influence of group


cohesion in the pre-competitive anxiety as well as in the analysis of these variables
by gender and competitive level. This is a quantitative study, descriptive and
correlational. The instruments used for the analysis of the study variables were the
GEQ - Group Environment Questionnaire and the CSAI-2 - Competitive State
Anxiety Inventory. The sample consists in 272 athletes, of which 83 were female
(30.5%) and 189 male (69.5%), aged between 17 and 46 years (M = 24, SD = 5.27).
The results obtained indicate that women have higher values in relation to Individual
Attraction to Group-Task, as well as higher levels of Somatic Anxiety and Cognitive
Anxiety. Contrariwise, men have higher Self-Confidence results. It was also found
that elite competitive athletes showed better results than for each Individual
Attraction to the Group-Task, Group Integration in relation to Social Aspects and
Integration in the Group-Task, but also present results higher level of Cognitive
Anxiety. Lastly, there was no relation founded between Group Cohesion and Pre-
Competitive Anxiety.

Key-words: Group Cohesion, Pre-Competitive Anxiety, Somatic Anxiety, Cognitive


Anxiety and Self-Confidence.

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

ÍNDICE GERAL

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................1
1.1. Revisão de Literatura .............................................................................. 1
1.2. Apresentação do problema...................................................................... 4
1.3. Objetivos.................................................................................................. 5
1.4. Variáveis .................................................................................................. 5
1.5. Hipóteses de Estudo ............................................................................... 5
2. MÉTODO ..........................................................................................................6
2.1. Participantes ............................................................................................ 6
2.2. Instrumentos ............................................................................................ 6
2.3. Procedimentos......................................................................................... 8
3. RESULTADOS ............................................................................................... 11
3.1 Caracterização da amostra ............................................................................. 11
Estudo 1 – Comparação da coesão e ansiedade pré-competitiva em função das
variáveis nível competitivo e género. .................................................................... 14
3.2. Resultados Descritivos .......................................................................... 14
3.3. Coesão de Grupo e Ansiedade Pré-Competitiva em função do Género 16
3.4. Coesão de Grupo e Ansiedade Pré-Competitiva em função do Nível
Competitivo .................................................................................................... 17
3.5. Discussão dos Resultados .................................................................... 18
Estudo 2 – Correlação entre as variáveis Coesão de grupo e Ansiedade Pré-
Competitiva em função das variáveis Nível Competitivo e Género. ...................... 21
3.6. Resultados da correlação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-
Competitiva .................................................................................................... 21
3.7. Preditores da Ansiedade Pré-Competitiva ............................................. 21
3.8. Discussão dos Resultados .................................................................... 22
4. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 25

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ÍNDICE DE GRÁFICOS E QUADROS

Gráfico 1 – Caracterização da amostra por modalidade 11


Gráfico 2 – Caracterização da amostra por modalidade e género 11
Quadro 1 - Teste do qui-quadrado (Modalidade * Género) 12
Quadro 2 - Mediana das dimensões do QAG - Questionário do Ambiente de Grupo por
12
modalidade, e valor de p do Teste Kruskal-Wallis.
Quadro 3 - Mediana do (CSAI) - Inventário do Estado de Ansiedade Competitiva
13
e respetivas dimensões por modalidade, e valor de p do Teste Kruskal-Wallis
Quadro 4 - Teste de Mann-Whitney para diferença de
14
médias entre o Género nas dimensões em estudo.
Quadro 5. Resultados descritivos da Coesão de Grupo (N=272) 15
Quadro 6. Resultados descritivos da Ansiedade Pré-Competitiva (N=272) 15
Quadro 7. Resultados descritivos da Direção da Ansiedade Pré-Competitiva (N=272) 16
Quadro 8. Resultados do teste de U Mann Whitney na comparação por género em
relação à coesão de grupo e ansiedade pré-competitiva (N=272) 17
Quadro 9. Resultados do teste de U Mann Whitney na comparação por nível de
competição em relação à coesão de grupo e ansiedade pré-competitiva (N=272) 18
Quadro 10. Coeficientes de correlação de Spearman´s Rho entre as subescalas da
coesão de grupo e da ansiedade pré-competitiva na amostra total (N=272) 21

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Revisão de Literatura


Ao longo dos anos de crescimento e desenvolvimento das ciências aplicadas
ao desporto, são muitos os temas que suscitaram interesse nos investigadores,
treinadores, professores, atletas etc., e entre eles está a Ansiedade, que parece ser
um tema transversal ao longo dos anos de desenvolvimento destas ciências,
nomeadamente da Psicologia do Desporto.
Desde muito cedo se percebeu que a Ansiedade influenciava o rendimento
dos desportistas, nomeadamente através de aspectos físicas como a tensão
muscular ou a dificuldade de coordenação, e aspectos psicológicas como a
diminuição do foco atencional ou abandono precoce da prática desportiva. Por
exemplo, Griffith (1934) identificou atletas que dispondo de boas técnicas na prática
desportiva, eram fracos no rendimento desportivo, na expressão original “poor
game performers”, que falhavam completamente nas competições.
O contínuo estudo desta área permitiu o seu desenvolvimento e um
aprofundar dos conhecimentos sobre uma área de interesse que se tornou cada
vez mais especializada e que permitiu mais tarde concluir que tem raízes em dois
elementos, entre outros, que resultam da situação competitiva que podem induzir
perceção de ameaça e casusar estados de ansiedade: a incerteza dos
acontecimentos e a importância do resultado (Martens, Burton, Vealey, Bump &
Smith, 1990).
A própria definição de Ansiedade merece alguma atenção, uma vez que não
deve ser confundida com conceitos como Stress ou Arousal, apesar de estes lhe
estarem intimemente associados. De forma genérica, a Ansiedade consiste numa
resposta à percepção de ameaças que podem ocorrer quer nos momentos de
aprendizagem quer nos momentos de avaliação da prática desportiva (Cruz, 1996).
A investigação sobre a relação entre Ansiedade e Rendimento foi inicialmente
baseada na Teoria do U-invertido (Yerkes & Dodson, 1908, como cit. por Craft e
col., 2003). Assim, níveis moderados de ansiedade estavam geralmente
associados com melhor rendimento, enquanto que níveis muito altos ou muito

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baixos enfraqueciam o rendimento (Gould & Krane, 1992, Spielberger, 1989, como
cit. Craft, e col., 2003).
Actualmente, uma das abordagens mais consensuais sobre o tema identifica
a Ansiedade como um constructo multidimensional que, além da distinção
ansiedade-estado e ansiedade-traço, é também composta pelas suas dimensões
cognitiva e somática (Jones, 1995; Martens, Burton, Vealey, Bump, & Smith, 1990;
Woodman & Hardy, 2001; Craft, e col., 2003) além ainda da Auto-confiança que
Martens e colaboradores (1990) associam positivamente ao rendimento desportivo
no estudo da Ansiedade e que é considerada como factor de crescimento linear do
rendimento desportivo. Para os mesmos autores a Ansiedade Cognitiva é descrita
como estando intimamente relacionada com preocupação e inclui expectativas
negativas sobre o rendimento e uma auto-avaliação negativa; a Ansiedade
somática é referida como a parte fisiológica e afectiva da resposta dos sujeitos,
decorrente da activação (Arousal) autonómica.
Este contínuo trabalho de estudo sobre o tema e em particular sobre o binómio
estado-traço, foi acompanhado pelo desenvolvimento de ferramentas específicas
para desporto que permitissem aferir os níveis de Anseidade estado e traço. É
assim que surge o CSAI e posteriormente o CSAI-2 – Competitive State Anxiety
Inventory (Martens, Burton, Vealey, Bump, & Smith, 1983), em português Inventário
do Estado de Ansiedade Competitiva, traduzido e adaptado para a população
portuguesa por Serpa e Santos (1991), que pretende medir o estado de ansiedade
dos atletas antes das competições, a chamada ansiedade pré-competitiva, nas três
dimensões acima referidas: Ansiedade Cognitiva, Ansiedade Somática e Auto-
Confiança. Também surgiu o SCAT – Sport Competition Anxiety Test, em português
Teste de Ansiedade no Desporto de Competição, que pretende medir o traço de
ansiedade dos atletas através da distinção de percepção de situações competitivas
possivelmente ameaçadoras (Martens, 1977; Martens, Burton, Vealey, Bump &
Smith, 1990).
Um novo e importante factor a ponderar no estudo da Ansiedade, introduzido
por Jones e Swain (1992; 1995) e reforçado por Jones e Harnton (1996), é a
necessidade de distinguir a intensidade da Ansiedade manifestada da direcção, ou
seja, se a Ansiedade reconhecida pelo atleta é percebida por si como facilitadora
ou debilitadora do seu rendimento, dando origem ao CSAI-2D (, Eys, Hardy, Carron

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& Beauchamp, 2003) pela inclusão de uma escala de Likert de 7 pontos, num
contínuo de -3 a 3 incluindo 0, para recolher o carácter debilitativo (extremo
negativo -3) ou facilitativo (extremo positivo 3) com que os atletas percepcionavam
a intensidade da Ansiedade manifestada. Deste modo, o estudo deste tema e do
seu impacto no rendimento desportivo evoluiu bastante e permitiu o
desenvolvimento de novas abordagens orientadas com este factor, tais como a
necessidade de se entender que entre alguns atletas a ansiedade pode funcionar
como factor perturbador e prejudicar o seu rendimento, enquanto que, com outros
atletas que a consigam gerir bem, pode até funcionar como factor facilitador e
potenciar o seu rendimento (Ludqvist, 2006).
Outro tema de bastante e duradouro interesse em Psicologia do Desporto
remete-nos para os processos de formação e coesão dos grupos e equipas
desportivas. A definição de Coesão de grupo foi evoluindo ao longo dos anos e
Carron, Widmeyer & Brawley (1985) desenvolvem uma definição operacional de
coesão que incluia dimensões individual e colectiva para a coesão social e para a
tarefa. Assim, surgem quatro dimensões que conceptualizam a abordagem ao
tema: Atração Individual para o Grupo em relação à Tarefa (AIG-T), Atração
Individual para o Grupo em relação aos Aspectos Sociais (AIG-S), Integração no
Grupo em relação à Tarefa (IG-T) e Integração no Grupo em relação a Aspectos
Sociais (IG-S).
Desta forma, a coesão de gupo passou de unidimensional a multidimensional
(Carron, 1981, como cit. por Cruz & Antunes, 1996) podendo ser definida como o
processo dinâmico que se reflecte na tendência para o grupo se manter unido na
perseguição das suas metas e objectivos e/ou da satisfação das necessidades
afectivas dos seus membros (Carron, Brawley & Widmeyer, 1998).
Foi precisamente o estudo de Carron, Widmeyer & Brawley (1985) que criou
o Group Environment Questionnaire (GEQ), em português Questionário de
Ambiente de Grupo (QAG), traduzido e adaptado para a população portuguesa por
Serpa, Mendes e Bártolo (1993), que se aplica neste estudo.
Este tema da coesão dos grupos revela-se particularmente importante nas
modalidades colectivas, embora possa funcionar também como catalisador
sistémico nas modalidades individuais mas em que os atletas treinam em equipa
podendo ser nas provas avaliados individualmente, como por exemplo no ciclismo.

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São vários os benefícios do desenvolvimento da coesão dos grupos e que permitem


identificar benefícios a vários níveis. Por exemplo, Prapavessis e Carron (1996)
indicam que as melhorias na dinâmica de grupo podem melhorar o estado
psicológico individual dos atletas.
Apesar de dois temas bastante comuns neste domínio do conhecimento,
poucos estudos se debruçaram sobre a relação entre Ansiedade e Coesão de
grupos. Ainda assim, Prapavessis e Carron (1996) indicam que atletas com um
maior nível de Coesão manifestado na Atracção Individual para o Grupo em relação
à tarefa (AIG-T), apresentavam níveis menores na Ansiedade Pré-competitiva. Eys
e colaboradores (2003), concluem dois aspectos importantes de realçar na
abordagem a esta investigação: primeiro, que os atletas que percebem a Ansiedade
Cognitiva como facilitadora do seu rendimento, tem melhores resultados na
Atracção Individual para o Grupo em relação à tarefa (AIG-T) e na Integração no
Grupo para a Tarefa do que os atletas que percepcionam a Ansiedade Cognitiva
como debilitadora; segundo, que os atletas que percebem a Ansiedade Somática
como facilitadora do seu rendimento apresentam maiores percepções na
Integração no Grupo para a Tarefa (IG-T).
Deste modo, surge o interesse em conhecer mais sobre a relação entre estes
dois temas (Coesão de Grupo e Ansiedade Pré-Competitiva), acreditando-se que é
pertinente e importante a realização desta investigação, como forma de promover
alguns avanços nomeadamente no aprofundamento do carácter facilitador ou
debilitativo que os atletas referem sobre os seus níveis de Ansiedade pré-
competitivo.

1.2. Apresentação do problema


A presente investigação refere-se a dois temas de interesse que são a Coesão
de grupo e a Ansiedade Pré-competitiva. O seu interesse consiste em procurar
particularmente a influência que a Coesão de Grupo poderá ter na Ansiedade Pré-
Competitiva. Pretendemos ainda observar o comportamento da Coesão de Grupo
e Ansiedade Pré-competitiva em função do género e nível competitivo.

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1.3. Objetivos
À partida para esta investigação foram definidos objectivos que irão orientar
todo o processo, sendo alguns mais específicos e outros mais gerais, com a
finalidade de melhor se conhecerem estes conceitos tão presentes nos contextos
desportivos a estudar. Assim, são estes os objectivos:
 Caracterizar e analisar a Coesão de grupo consoante as variáveis Nível
Competitivo e Género;
 Caracterizar e analisar a Ansiedade Pré-Competitiva consoante as
variáveis Nível Competitivo e Género;
 Analisar a relação e influência da Coesão de grupo na Ansiedade Pré-
Competitiva.

1.4. Variáveis
 Variáveis Dependentes: Coesão de grupo; Ansiedade Pré-Competitiva;
 Variáveis Independentes: Nível Competitivo e Género.

1.5. Hipóteses de Estudo

Estudo 1
Hipótese 1: Esperam-se diferenças estatisticamente significativas ao nível da
coesão de grupo e ansiedade pré-competitiva em função do género.
Hipótese 2: Esperam-se diferenças estatisticamente significativas ao nível da
coesão de grupo e ansiedade pré-competitiva em função do nível competitivo.

Estudo 2
Hipótese 1: Esperam-se uma associação negativa entre a coesão de grupo e
a ansiedade pré-competitiva.
Hipótese 2: Prevê-se que a coesão de grupo influencie negativamente a
ansiedade pré-competitiva, tendo em conta o género e o nível competitivo.

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2. MÉTODO

Estes estudos assentam numa abordagem quantitativa, de carácter descritivo


e correlacional. É um estudo transversal de comparação de grupos, dado que a
avaliação foi feita num único momento.
O tipo de amostragem é não aleatório por conveniência, uma vez que a
amostra não é representativa da população em estudo.

2.1. Participantes
A amostra deste estudo é composta por 272 atletas, de 18 equipas
desportivas de modalidades desportivas colectivas e de carácter aberto. Estas 18
equipas distribuem-se equitativamente por 3 grupos: Séniores Masculinos,
Séniores Femininas e Formação Masculinos.
Considera-se neste estudo que corresponde a um Nível Competitivo de Elite
de uma modalidade a competição de escalão sénior na sua divisão ou categoria
mais alta. O Nível Competitivo de Formação é composto pelos escalões etários
Sub-17, Sub-18 e Sub-19.
Dos 272 participantes, 83 são do género feminino (30,5%) e 189 do género
masculino (69,5%), com idades compreendidas entre 17 e os 46 anos (M=24;
DP=5.27). Além disto, 160 pertencem ao Nível Competitivo de Elite (58,8%) e 112
ao Nível Competitivo de Formação (41,2%).
Entre as posições que ocupam nas diferentes modalidades, 20 são guarda-
redes (7,4%), 74 são defensivos (27,2%), 104 são centro-campistas ou ocupam a
posição intermédia (38,2%) e 74 são ofensivos (27,2%). Apenas 34 são capitães
(12,5%).
Os participantes têm uma experiência de prática desportiva entre 1 a 34 anos
(M=9,87; DP=5.37). Para além disso, por semana dedicam 2 a 20 horas de
treino/prática (M=8,17; DP=3.19) e têm em média quatro treinos por semana (Min.
1, Max. 8; DP=1,18).

2.2. Instrumentos

Para avaliar a Coesão de Grupo será utilizado o GEQ - Group Environment


Questionnaire, em português QAG - Questionário do Ambiente de Grupo (Serpa,

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Mendes & Bártolo, 1993). Este instrumento desenvolvido para avaliar a Coesão e
ambiente de grupo, é constituído por duas grandes dimensões, a Atracção
Individual para o Grupo (AIG) e a Integração no Grupo (IG) que posteriormente se
dividem em Atracção Individual para o Grupo em aspetos Sociais (AIG-S),
(exemplo de item: “Não gosto de participar nas atividades sociais desta equipa”) e
Atracção Individual para o Grupo em relação à Tarefa (AIG-T), (exemplo de item:
“Não estou satisfeito com o tempo que tenho para treinar”); e igualmente
Integração no Grupo relativamente a aspetos Sociais (IG-S), (exemplo de item: “Os
membros da nossa equipa raramente se vão divertir juntos”) e Integração no Grupo
relativamente à Tarefa (IG-T), (exemplo de item: “A nossa equipa é unida na
tentativa de atingir os seus objetivos desportivos”). O questionário tem 18 itens e
uma escala de resposta do tipo Likert de 9 pontos que varia entre o 1 (Discordo
absolutamente) e o 9 (Concordo absolutamente). Para os itens existem cotações
diretas e inversas das respostas. Nos itens de cotação direta a cotação atribuída
corresponde ao valor da escala (1=1, 2=2, …9=9) e nos itens de cotação inversa
a cotação é atribuída invertendo os valores da escala (1=9, 2=8, …9=1).
Da análise dos resultados da fidelidade neste estudo, verificamos que as
dimensões apresentam uma consistência interna razoável, que varia entre .56
(Atração Individual para o Grupo em relação aos Aspetos Sociais) e .66 (Atração
Individual para o grupo em relação à Tarefa). As restantes dimensões apresentam
um Alfa de Cronbach de .66 (Integração no Grupo em relação aos Aspetos Sociais)
e .65 (Integração no grupo em relação à tarefa). O total do questionário apresentou
um alfa de .82, o que indica uma boa consistência interna (Anexo III). Os resultados
apresentam-se semelhantes aos do estudo de validação de Serpa, Mendes e
Bártolo (1993), que variam entre .62 e .67, e dos valores obtidos na análise factorial
confirmatória realizada por Borrego, Leitão, Silva, Alves e Palmi (2010), na qual os
valores variaram entre .55 e .82.
A Ansiedade Pré-Competitiva foi avaliada com recurso ao CSAI-2 -
Competitive Anxiety State Inventory-2 (Martens, Burton, Vealey, Bump, & Smith,
1983), em português Inventário do Estado de Ansiedade Competitiva, traduzido e
adaptado para a população portuguesa por Serpa e Santos (1991). O questionário
é constituído por 27 itens que avaliam a intensidade da Ansiedade e integram 3
dimensões com 9 itens cada, a saber: Ansiedade Somática (exemplo de item:

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“Sinto-me agitado”), Ansiedade Cognitiva (exemplo de item: “Estou preocupado


com esta competição”) e Auto-confiança (exemplo de item: “Tenho confiança em
mim mesmo”). A escala de resposta tem uma sensibilidade do tipo Likert de 1
(Nada) a 4 (Muito), e a cotação das respostas é dada de acordo com a soma
directa dos pontos obtidos em cada uma das questões, onde valores elevados nas
dimensões correspondem a valores elevados de Ansiedade Somática, Cognitiva e
Auto-confiança. Além disto, de acordo com as indicações tidas em conta após a
revisão de literatura, decidiu-se medir também a direcção da Ansiedade Pré-
competitiva, isto é, se esta é considerada pelos atletas como facilitadora ou
debilitadora do seu rendimento. Assim, será avaliada pela presença de uma coluna
adicional à direita da coluna da intensidade, onde para cada uma dos itens, após
responderem à parte relativa à intensidade da Ansiedade, respondem à direção da
Ansiedade, ou seja, a forma como percepcionam essa Ansiedade, numa escala
tipo Likert de 7 pontos, com extremo negativo em -3 (Debilitador - Muito negativo)
e extremo positivo em 3 (Facilitador - Muito positivo).
Da análise da fidelidade deste instrumento na amostra em estudo, verificamos
que os valores de Alfa de Cronbach variam entre .67 .(Ansiedade somática) .88
(autoconfiança). Para além disso, o valor de Alfa da Ansiedade cognitiva é de .77
(Anexo IV). Estes resultados indicam uma consistência interna no geral boa,
apesar de um pouco abaixo dos valores apurados no estudo de validação,
nomeadamente de .89 (Auto-confiança), .87 (Ansiedade Cognitiva) e .81
(Ansiedade Somática).

2.3. Procedimentos

2.3.1 Procedimentos de Recolha de Dados


Inicialmente procedeu-se ao contacto com os clubes para conhecer a sua
disponibilidade em participarem no estudo. Posteriormente foi realizada uma breve
reunião com os responsáveis das equipas a fim de explicar todos os passos do
processo e a acordar a sua participação.
Confirmada a participação das equipas, com os devidos consentimentos
informados dos responsáveis e assegurando o anonimato dos participantes, assim
como outras questões éticas de carácter confidencial, foi definido o dia de treino
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em que seria aplicado o QAG, que se pretendeu que fosse a meio da semana para
que o resultado desta avaliação não seja influenciado quer pelo jogo anterior quer
pelo próximo. Também foi definido o dia de competição em que foi aplicado o
CSAI-2, assim como as condições de participação e preenchimento dos
instrumentos. Segundo a literatura, Craft e col. (2003), o protocolo de aplicação do
CSAI-2 deverá ser entre 31 e 59 minutos antes do início da competição pois foi o
período em que o teste teve o valor preditivo mais forte.
Nos momentos de recolha dos dados o investigador deslocou-se às
instalações dos clubes de forma a cumprir com o protocolo de aplicação dos
instrumentos e das condições devidas, salvaguardando deste modo a qualidade da
investigação e a veracidade dos dados.

2.3.2 Procedimentos de análise dos dados


Para a apresentação adequada dos dados, recorreu-se ao uso de tabelas e
dados estatísticos antecedidos da respetiva análise. Obteve-se a análise dos dados
por estatística descritiva e inferencial, através da utilização do software SPSS-22.0
(Statistical Package for the Social Sciences).
Tendo em consideração o cumprimento dos critérios necessários para a
realização de testes de hipóteses paramétricos, conclui-se que a amostra não
segue uma distribuição normal para as variáveis em estudo. Desta forma, foram
utilizados testes não-paramétricos de Qui-Quadrado, Teste de Correlação de
Spearman, Teste de Mann-Withney e Teste de Kruskall-Wallis.
O teste do Qui-Quadrado (x2) serve para testar se duas ou mais populações
(ou grupos) independentes diferem relativamente a uma determinada
característica, isto é, se a frequência com que os elementos da amostra se
repartem pelas classes de uma variável qualitativa é ou não aleatória. O coeficiente
de Correlação de Spearman é uma medida de associação não paramétrica entre
duas variáveis pelo menos ordinais. Este coeficiente é obtido através da
substituição dos valores das observações pelas respetivas ordens. As medidas de
associação quantificam a intensidade e a direção da associação entre duas
variáveis. O Teste de Mann-Withney é o teste não-paramétrico adequado para
comparar as funções de distribuição de uma variável pelo menos ordinal medida
em duas amostras independentes. O Teste de Kruskall-Wallis é o teste não-

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paramétrico apropriado para comparar as distribuições de duas ou mais variáveis


pelo menos ordinais observadas em duas ou mais amostras independentes
(Marôco, 2014).

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3. RESULTADOS

3.1 Caracterização da amostra


Relativamente à modalidade dos participantes podemos observar no Gráfico
1 que a modalidade que apresenta maior distribuição é o Futebol (32,35%),
seguindo-se o Rugby (21,69%), o Voleibol (17,38%), o Andebol (16,18%), Futsal
(8,82%) e por fim o Hóquei em Patins (3,68%).

Gráfico 1

Através do Gráfico 2 é possível perceber, além da distribuição por


modalidade, também a distribuição por género dentro dos participantes no estudo
afectos a cada modalidade. Distinguem-se claramente: o Futebol, em que se
apresenta o maior nº de participantes femininas (N=36) e que no Hóquei apenas se
obteve a participação de atletas masculinos.

Gráfico 2
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Para efeitos de cruzamento das variáveis modalidade e género recorreu-se


ao Teste do Qui-Quadrado, apresentado no Quadro 1, onde podemos verificar que
existem associações estatisticamente significativas (p=0,003), o que nos leva a
concluir acerca da dependência das variáveis.

Quadro 1. Teste do qui-quadrado (Modalidade * Género)

Género
Feminino Masculino Total
Modalidade Futebol Count 36 52 88
% within Modalidade 40,9% 59,1% 100,0%
Voleibol Count 11 36 47
% within Modalidade 23,4% 76,6% 100,0%
Futsal Count 12 12 24
% within Modalidade 50,0% 50,0% 100,0%
Andebol Count 13 31 44
% within Modalidade 29,5% 70,5% 100,0%
Rugby Count 11 48 59
% within Modalidade 18,6% 81,4% 100,0%
Hóquei Count 0 10 10
% within Modalidade 0,0% 100,0% 100,0%
Total Count 83 189 272
% within Modalidade 30,5% 69,5% 100,0%
p=0,003

No Quadro 2, apresentado em baixo, está a mediana do QAG - Questionário


do Ambiente de Grupo e respetivas dimensões por modalidade e valor de p do
Teste Kruskal-Wallis (Grouping Variable: Modalidade), onde podemos verificar
diferenças estatisticamente significativas entre as modalidades no QAG (p=0,004),
as dimensões AIG_T (p=0,000), no IG_S (p=0,034) e no IG_T (p=0,000).

Quadro 2. Mediana das dimensões do QAG - Questionário do Ambiente


de Grupo por modalidade, e valor de p do Teste Kruskal-Wallis
Modalidade QAG AIG_S AIG_T IG_S IG_T
Futebol 6,77 7,20 7,25 5,88 6,50
Voleibol 6,38 7,40 6,25 6,75 5,75
Futsal 7,22 7,40 7,38 6,25 7,25
Andebol 7,18 7,70 8,00 6,75 6,88
Rugby 6,81 7,40 6,75 6,75 6,25
Hóquei 7,45 8,00 8,50 6,00 8,00

Chi-Square 17,546 5,272 22,331 12,084 24,293


df 5 5 5 5 5
Asymp. Sig. ,004 ,384 ,000 ,034 ,000
a. Kruskal Wallis Test
b. Grouping Variable: Modalidade

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

No Quadro 3 está apresentada a mediana do (CSAI) - Inventário do Estado de


Ansiedade Competitiva e respetivas dimensões por modalidade e valor de p do
Teste Kruskal-Wallis (Grouping Variable: Modalidade), onde podemos verificar
diferenças estatisticamente significativas entre as modalidades no CSAI (p=0,009),
na Ansiedade Somática (p=0,000) e na Ansiedade Cognitiva (p=0,005).

Quadro 3. Mediana do (CSAI) - Inventário do Estado de Ansiedade Competitiva


e respetivas dimensões por modalidade, e valor de p do Teste Kruskal-Wallis
Intensidade Direcção
Ansiedade Ansiedade Auto Ansiedade Ansiedade Auto
Modalidade CSAI Somática Cognitiva confiança Somática Cognitiva confiança
Futebol 2,30 1,56 2,22 3,11 4,56 4,50 6,00
Voleibol 2,19 1,56 1,89 3,00 4,56 4,33 5,89
Futsal 2,37 1,78 2,33 2,89 4,94 4,44 5,33
Andebol 2,17 1,44 2,11 3,00 4,56 4,67 5,72
Rugby 2,30 1,72 2,22 3,00 4,33 4,28 5,67
Hóquei 2,35 1,72 2,11 3,22 4,72 5,50 6,33

Chi-Square 15,421 25,320 16,931 6,117 4,308 7,455 7,122


df 5 5 5 5 5 5 5
Asymp. Sig. ,009 ,000 ,005 ,295 ,506 ,189 ,212

a. Kruskal Wallis Test


b. Grouping Variable: Modalidade

Recorreu-se ao Teste de Mann-Whitney para amostras independentes com o


objetivo de avaliar se existem diferenças estatisticamente significativas entre o
Género nas dimensões em estudo. Os resultados são apresentados no Quadro 4,
onde podemos verificar a existência de diferenças estatisticamente significativas no
AIG_T (p=0,001), na Ansiedade Cognitiva (p=0,000), na Autoconfiança (p=0,000) e
nas dimensões da Direcção da Ansiedade Somática (p=0,003), na Ansiedade
Cognitiva (p=0,011) e na Autoconfiança (p=0,001).

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

Quadro 4. Teste de Mann-Whitney para diferença de


médias entre o Género nas dimensões em estudo
Feminino Masculino
Mediana Mediana p

QAG 7,08 6,76 0,069


AIG_S 7,40 7,40 0,530
AIG_T 7,75 7,00 0,001
IG_S 6,25 6,25 0,623
IG_T 6,75 6,50 0,172

CSAI 2,26 2,26 0,815


Intensidade
Ansiedade Somática 1,67 1,56 0,080
Ansiedade Cognitiva 2,33 2,11 0,000
Autoconfiança 2,78 3,11 0,000
Direcção
Ansiedade Somática 4,33 4,56 0,003
Ansiedade Cognitiva 4,28 4,56 0,011
Autoconfiança 5,56 6,00 0,001

Estudo 1 – Comparação da coesão e ansiedade pré-competitiva em função


das variáveis nível competitivo e género.

3.2. Resultados Descritivos

Coesão de Grupo
Da análise ao Quadro 5 verifica-se que entre as dimensões de avaliação da
Coesão de Grupo a que se apresenta mais elevada é a AIG-S - Atração Individual
para o Grupo em Relação aos aspetos Sociais (M=7,27; DP=1.25) e a AIG-T -
Atração Individual para o Grupo em Relação à Tarefa (M=7.02; DP=1.57). Além
disso, a média de todas as dimensões apresenta-se superior à média da escala
(4,5 em 9), o que indica que os inquiridos apresentam uma elevada coesão de
grupo quer ao nível da Atração Individual quer da Integração no grupo, nos aspetos
sociais e para a tarefa.

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

Quadro 5. Resultados descritivos da Coesão de Grupo (N=272)


Média Desvio Padrão Min. Max.
AIG-S 7,27 1.25 2,60 9
AIG-T 7,02 1.57 2,00 9
IG-S 6,34 1.43 1,75 9
IG-T 6,47 1.46 2,25 9
QAG Total 6,80 1.05 3,89 8,83

Ansiedade Pré-Competitiva
No que se refere à análise da Ansiedade Pré-Competitiva, com a análise do
Quadro 6 constata-se que a dimensão que apresenta resultados mais elevados é
a Auto-confiança (M=2.98; DP=.25), superiores à média da escala, que indica que
de um modo geral os atletas estão convictos de que conseguem realizar a tarefa a
que se propõe. Porém, a dimensão Ansiedade Cognitiva também apresenta
resultados médios ligeiramente superiores à média da escala (M=2,17; DP=.50), o
que pode indicar ansiedade mental moderada devido a expectativas negativas
relativas ao sucesso ou a uma autoavaliação negativa.

Quadro 6. Resultados descritivos da Intensidade da Ansiedade Pré-Competitiva (N=272)


Média Desvio Padrão Min. Max.
Ansiedade somática 1,69 .39 1 3,33
Ansiedade cognitiva 2,17 .50 1 3,67
Autoconfiança 2,98 .57 1 4
CSAI Total 2,28 .25 1,74 3,07

Ainda relativamente à análise da variável Ansiedade, no que concerne à


direção da Ansiedade Pré-Competitiva, como se constata da análise do Quadro 7,
a dimensão que apresenta resultados mais elevados, indicando que se apresenta
como um facilitador ao nível do rendimento é a Auto-confiança (M=5.66; DP=.95),
como seria de esperar pelo facto de esta ser um factor positivo na análise da
Ansiedade. Apesar disso, as restantes dimensões são vistas pelos atletas como um
facilitador para o seu rendimento.

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

Quadro 7. Resultados descritivos da Direção da Ansiedade Pré-Competitiva (N=272)


Média Desvio Padrão Min. Max.
Ansiedade somática 4,55 .98 1,44 7
Ansiedade cognitiva 4,48 1.02 1,44 7
Autoconfiança 5,66 .95 2,33 7
CSAI Total 4,90 .81 2,48 7

3.3. Coesão de Grupo e Ansiedade Pré-Competitiva em função do Género

Hipótese 1: Esperam-se diferenças estatisticamente significativas ao nível


da Coesão de Grupo e Ansiedade Pré-Competitiva em função do género.

No que se refere à primeira hipótese deste estudo, verifica-se, pela análise


do Quadro 8, que, relativamente à Coesão de Grupo, apenas se encontram
diferenças estatisticamente significativas ao nível do género na dimensão AIG-T -
Atração Individual para o Grupo em relação à Tarefa (Z=-3.34; p=.00), sendo que
os resultados se apresentam mais elevados nas Mulheres, o que indica que as
mulheres apresentam maior atração para a realização das tarefas desportivas nas
suas equipas.
Relativamente aos resultados da Ansiedade Pré-Competitiva, verificamos
que existem diferenças significativas em todas as dimensões: Ansiedade Somática
(Z=-1.96; p=.05), Ansiedade Cognitiva (Z=-3.38; p=.00) e Auto-confiança (Z=-4.04;
p=.00), sendo as duas primeiras mais elevadas na Mulheres e a última mais
elevada nos Homens.
Ainda em relação à Direção da Ansiedade, apuraram-se diferenças
significativas também em todas as dimensões avaliadas: Ansiedade Somática (Z=-
3.29; p=.00), Ansiedade Cognitiva (Z=-2.69; p=.01) e Auto-confiança (Z=-3.45;
p=.00), sendo todas mais elevadas nos Homens, o que indica que estes avaliam
mais a Ansiedade nas suas dimensões como um facilitador no seu rendimento.

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

Quadro 8. Resultados do teste de U Mann Whitney na comparação por género em relação à


coesão de grupo e ansiedade pré-competitiva (N=272)
Feminino Masculino
(n=83) (n=189)
Mean Rank Mean Rank Z p
AIG-S 141.01 134.52 -.63 .53
AIG-T 160.45 125.98 -3.34 .00
IG-S 133.49 137.82 -.42 .68
IG-T 146.33 132.19 -1.37 .17
Ansiedade somática 135.56 116.80 -1.96 .05
Ansiedade cognitiva 145.16 112.67 -3.38 .00
Autoconfiança 98.22 137.05 -4.04 .00
Ansiedade somática – direção 100.65 132.29 -3.29 .00
Ansiedade cognitiva – direção 106.27 132.11 -2.69 .01
Autoconfiança – direção 101.42 134.54 -3.45 .00

Constatamos, assim, que a primeira hipótese deste estudo foi comprovada


parcialmente, tendo-se verificado efetivamente diferenças ao nível da Ansiedade
Pré-Competitiva e em uma das dimensões da Coesão de Grupo, a AIG-T -Atração
Individual para o Grupo em relação à Tarefa.

3.4. Coesão de Grupo e Ansiedade Pré-Competitiva em função do Nível


Competitivo

Hipótese 2: Esperam-se diferenças estatisticamente significativas ao nível


da Coesão de Grupo e Ansiedade Pré-Competitiva em função do nível competitivo.

Relativamente à comparação de grupos em função do Nível Competitivo,


como se verifica da análise do Quadro 9, existem diferenças estatisticamente
significativas nas seguintes dimensões da Coesão de Grupo: AIG-T - Atração
Individual para o Grupo em relação à Tarefa (Z=-4.12; p=.00), IG-S - Integração do
Grupo em relação aos aspetos Sociais (Z=-2.53; p=.01) e IG-T - Integração no
grupo em relação à Tarefa (Z=-2.10; p=.04), sendo em todas elas o resultado mais
elevado no Nível competitivo de Elite.
No que concerne à Ansiedade Pré-Competitiva, apuraram-se diferenças
estatisticamente significativas apenas na dimensão Ansiedade Cognitiva (Z=-1.99;
p=.05). No que respeita à Direção da Ansiedade Pré-Competitiva, não foram
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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

apuradas diferenças significativas entre o Nível Competitivo de Elite e o de


Formação.

Quadro 9. Resultados do teste de U Mann Whitney na comparação por nível de competição em


relação à Coesão de Grupo e Ansiedade Pré-Competitiva (N=272)
Nível Competitivo Nível Competitivo de
de Elite (n=160) Formação (n=112)
Mean Rank Mean Rank Z p
AIG-S 141.13 129.88 -1.16 .25
AIG-T 152.90 113.07 -4.12 .00
IG-S 146.57 122.12 -2.53 .01
IG-T 144.86 124.56 -2.10 .04
Ansiedade somática 128.71 112.64 -1.71 .09
Ansiedade cognitiva 130.16 111.32 -1.99 .05
Autoconfiança 121.10 129.33 -.87 .39
Ansiedade somática – direção 117.51 130.05 -1.33 .18
Ansiedade cognitiva – direção 125.41 120.01 -.57 .57
Autoconfiança – direção 121.16 127.77 -.70 .49

Assim, constata-se que a segunda hipótese também é parcialmente


comprovada, tendo-se apurado diferenças significativas em função do Nível
Competitivo em três das quatro dimensões da Coesão de Grupo (AIG-T, IG-S e IG-
T) e numa dimensão da Ansiedade Pré-Competitiva (Ansiedade Cognitiva).

3.5. Discussão dos Resultados


No que concerne à Coesão de Grupo, através dos resultados obtidos
verificamos que as Mulheres apresentam maiores níveis de coesão na segunda
dimensão do questionário (Atração Individual), quando comparadas com os seus
colegas de sexo masculino. Em termos de diferenças estatisticamente
significativas, podemos ainda mencionar as variáveis inerentes à tarefa,
nomeadamente no que respeita à AIG-T - Atração Individual e para a Tarefa ao
nível do género nos atletas de Nível Competitivo de Elite.
Por outro lado, verificamos também que as atletas do género feminino
quando comparadas com os atletas do género masculino percecionam mais
necessidade de integração social entre os elementos do grupo, sentindo-se assim
mais atraídas pelas atividades sociais, o que vai de encontro à revisão da literatura,
Gomes, Pereira e Pinheiro (2008) num estudo realizado com atletas, de várias
modalidades, constatarem diferenças semelhantes no que concerne aos aspetos
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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

sociais e de interação para o género feminino. Os atletas do sexo masculino


parecem estar mais distantes da atração individual e dos aspetos sociais, no que
concerne às tarefas e atividades realizada em equipa. Nesta linha de pensamento,
Santos (2004) menciona que no estudo efetuado também encontrou diferenças
estatisticamente significativas na AIG-T Atração Individual para o Grupo em relação
à Tarefa, quando procedeu à avaliação das diferenças de género, tendo o
masculino demonstrado uma atitude mais favorável em relação à dimensão
mencionada o que não se verifica neste estudo.
Martens e Peterson (1971) levam a cabo uma investigação com 1.200
sujeitos com o intuito de compreender a Coesão de Grupo e o rendimento
desportivo. Os resultados obtidos neste estudo demonstram que a relação entre a
Coesão de Grupo e o rendimento desportivo tanto pode ser positiva como negativa.
Nos aspetos negativos, os autores verificam que os atletas não se empenham tanto
como poderiam, com o objetivo de evitar conflitos com os colegas de equipa. Por
outro lado, no que concerne aos aspetos positivos destaca-se o fato da equipa ser
coesa, o que permite maior obtenção de sucesso. Em relação aos fatores de
coesão inerentes à própria equipa, Cruz e Antunes (1996) mencionam que fatores
como a experiência partilhada (partilha de sucessos ou insucessos) bem como a
participação dos elementos na formulação dos objetivos e na natureza da tarefa
emergem como fatores que estão positivamente relacionados com a Coesão de
Grupo. Ainda dentro desta análise e tendo em consideração os resultados obtidos
no nosso estudo, Gomes (2005) num estudo realizado com atletas portugueses de
várias modalidades, menciona que os resultados que mais se evidenciam estão
relacionados com o envolvimento pessoal, tanto a nível da realização da tarefa
como a nível social. Deste modo, os participantes que integraram o estudo
demonstram um maior bem-estar, no que concerne à coesão e ao ambiente da
equipa. Os aspetos mencionados e o facto de os atletas praticarem várias
modalidades e estarem em diferentes níveis competitivos pode ajudar a explicar o
bom relacionamento entre os elementos da equipa e o bom clima que se vivencia
dentro da mesma.
Observando agora as diferenças ao nível da Ansiedade em função do
género, há que destacar que as três dimensões do questionário aplicado foram
significativas, sendo os resultados mais elevados na dimensão Ansiedade

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

Somática e Cognitiva no género feminino, enquanto no género masculino foi na


dimensão da Auto-confiança. Os resultados do nosso estudo vão de encontro á
revisão da literatura. Nos últimos anos, Martens e colaboradores (1990) após um
estudo levado a cabo sobre a complexa relação entre Ansiedade e rendimento
competitivo, evidenciam que a Ansiedade Cognitiva se manifesta, por norma,
através das expectativas negativas no que concerne ao rendimento e a auto-
avaliação negativa. Por outro lado, a Ansiedade Somática parece estar relacionada
com um processo desencadeado por respostas de cariz negativo em que se
destacam sintomas a nível fisiológico como rápido batimento cardíaco, respiração
“curta”, mãos húmidas, músculos tensos e “borboletas na barriga”. Neste sentido,
para alguns autores, a distinção entre Ansiedade Competitiva como facilitadora ou
debilitativa, parece refletir um artefacto metodológico. Deste modo, e partindo da
abordagem mencionada, Burton e Naylor (1996) mencionam que a Ansiedade
Cognitiva nem sempre prejudica o rendimento competitivo, visto que desencadeia
emoções positivas, como o desafio e Auto-Confiança.
Para Carron (2002) os níveis satisfatórios de perceção de Coesão de Grupo
favorecem o melhor desempenho e a possibilidade de sucesso na equipa. Portanto,
segundo o autor supracitado é imprescindível desenvolver a Coesão de Grupo,
principalmente em atletas de Nível Competitivo de Elite, uma vez que estes tentam
continuadamente melhorar o seu desempenho. Além do mencionado, a Coesão de
Grupo constitui um fator de extrema importância, visto que permite melhorar o
estado psicológico dos jogadores (Prapavessis & Carron, 1996). Segundo as
conclusões destes últimos autores num estudo com desportistas de alto
rendimento, bons níveis de coesão, principalmente na AIG-T - Atração individual
para o Grupo em relação à Tarefa, contribuem para a diminuição da Ansiedade dos
atletas. Os resultados do nosso estudo demonstraram que os atletas participantes
apresentaram bons níveis de perceção de Coesão de Grupo, existindo uma
diferença significativa na Coesão entre a AIG-T e a AIG-S, ou seja, entre a Atração
Individual para o Grupo em relação a aspectos de Tarefa ou Sociais.
Assim, podemos concluir que embora o desporto esteja envolto pelo
contexto competitivo (relativo a tarefas), o relacionamento interpessoal (vertente
social) entre os atletas também é importante para a conquista de objetivos.

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

Estudo 2 – Correlação entre as variáveis Coesão de grupo e Ansiedade Pré-


Competitiva em função das variáveis Nível Competitivo e Género.

3.6. Resultados da correlação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-


Competitiva

Hipótese 1: Espera-se uma correlação negativa entre a Coesão de Grupo e


a Ansiedade Pré-Competitiva.

Quadro 10. Coeficientes de correlação de Spearman´s Rho entre as subescalas da Coesão de


Grupo e da Ansiedade Pré-Competitiva na amostra total (N=272)
AIG-S AIG-T IG-S IG-T
Ansiedade somática -.08 (.20) -.01 (.90) .01 (.83) -.02 (.79)
Ansiedade cognitiva -.03 (.60) -.06 (.39) .07 (.25) -.03 (.66)
Autoconfiança .00 (.96) .03 (.62) .09 (.18) -.02 (.77)
Ansiedade somática – direção .01 (.93) -.05 (.43) .07 (.30) -.10 (.12)
Ansiedade cognitiva – direção .07 (.25) .03 (.68) .07 (.28) -.06 (.33)
Autoconfiança – direção .10 (.13) .05 (.44) .01 (.88) -.04 (.55)

Analisando-se os dados da correlação apresentados no Quadro 10,


constata-se que não se verifica nenhuma associação entre as dimensões de ambas
as variáveis. Do mesmo modo, não foi apurada nenhuma correlação entre a
Coesão de Grupo e a Direção da Ansiedade Pré-Competitiva.

3.7. Preditores da Ansiedade Pré-Competitiva


Hipótese 2: Prevê-se que a Coesão de Grupo influencie negativamente a
Ansiedade Pré-Competitiva, tendo em conta o género e o nível competitivo.

Tendo em conta que não foi verificada correlação entre a Coesão de Grupo
e a Ansiedade Pré-Competitiva e uma vez que não podem ser utilizados testes de
regressão, não foi possível apurar quais as variáveis que influenciam a Ansiedade
Pré-Competitiva.

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

3.8. Discussão dos Resultados


O objetivo deste estudo foi analisar a correlação entre as dimensões da
Coesão e Ansiedade Pré-Competitiva. Os resultados do nosso estudo indicam que
as variáveis não se encontram positivamente correlacionadas, no que concerne ao
género. No entanto, para os atletas no Nível Competitivo de Elite existe uma
associação entre Integração dos aspetos Socias e Ansiedade Somática.
Moraes (1990) afirma que existe uma relação entre Ansiedade e
desempenho e que este parece variar de acordo com vários outros fatores, como
tipo de desporto, dificuldade da tarefa, traço de personalidade do atleta, e ambiente.
Em relação às variáveis situacionais (Coesão de Grupo e Ansiedade Pré-
Competitiva) os estudos do impacto dos fatores da equipa na Ansiedade são mais
escassos. Neste estudo verifica-se que não existe correlação entre Coesão de
Grupo e Ansiedade Pré-Competitiva. Uma possível explicação suportada por
Martens, Vealey e Burton (1990) é que a Ansiedade é menos saliente em equipas
desportivas, uma vez que a responsabilidade pelos resultados negativos é mais
diluída entre colegas, reduzindo assim a ameaça avaliativa individual sobre os
membros da equipa quando comparando com atletas que fazem participações
individualizadas onde estão muito mais responsabilizados. No entanto, embora a
responsabilidade seja diluída, os atletas continuam a experienciar sentimentos e
pensamentos de Ansiedade Pré-Competitiva associados com fatores de integração
na equipa.
Prapavessis e Carron (1996) verificaram um efeito da Coesão de Grupo na
Ansiedade Pré-Competitiva, referindo que a coesão estava relacionada com as
respostas de Ansiedade Pré-Competitiva, mais especificamente, atletas com
perceções mais altas de coesão de tarefa tiveram o fator cognitivo de Ansiedade
Pré-Competitiva mais baixo, e nenhuma relação foi encontrada entre a vertente
social da Coesão e a Ansiedade Pré-Competitiva.
Os resultados obtidos no estudo de Prapavessis e Carron (1996)
apresentaram uma correlação estatística significativamente inversa para as
seguintes variáveis: Ansiedade Cognitiva e Integração no Grupo-Tarefa. Desta
forma, observa-se que quando a Ansiedade Cognitiva aumenta, os fatores
Integração Grupo-Tarefa e Atração individual para o Grupo-Tarefa da Coesão
tendem a diminuir e vice-versa. Mais especificamente, nos atletas com perceções

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

mais altas de coesão de tarefa tiveram o fator cognitivo de Ansiedade Pré-


Competitiva mais baixo (Prapavessis & Carron, 1996).
Pode-se entender que esses sujeitos, à medida que estão mais apreensivos
e preocupados, sentindo tensão, medo e apresentando comportamentos
desorganizados, obtiveram diminuição de sua aproximação e Coesão de Grupo, da
sua intimidade com os colegas, da sua atração por estes em torno dos objetivos da
tarefa (Carron, Widmeyer, Brawley, 1985; Balaguer, 1994). Prapavessis e Carron
(1996) não encontraram nenhuma relação entre Coesão na vertente social e a
Ansiedade Pré-Competitiva. Entretanto, quanto a isso, os resultados desta
pesquisa apresentaram discordância, pois se demonstrou que quando a ansiedade
cognitiva aumentou, a Atração Individual para o Grupo-Social diminuiu e vice-versa,
o que sugeriu a existência de uma relação inversa entre essas duas variáveis.
Em relação ao género existem neste estudo diferenças estatisticamente
significativas no género feminino entre a dimensão individual nos aspetos socias d
a Coesão de Grupo e Auto-Confiança e entre a Ansiedade Cognitiva e Auto-
Confiança. Relativamente ao género masculino não existe associação entre as
variáveis em estudo. Este resultado corrobora com um estudo realizado por White
e Zellner (1996), em que as atletas femininas assumiam uma maior Ansiedade
Somática que os atletas masculinos. Estes resultados vão de encontro ao estudo
realizado por Cox e Liu (1993) que concluíram que os atletas do género masculino
em comparação com os do género feminino apresentaram superioridade nas
habilidades. Mahoney, Gabriel e Perkins (1987) realizaram um estudo que vai
parcialmente ao encontro dos resultados obtidos, concluindo que as atletas do
género feminino são menos confiantes e tendem a ter mais problemas ao nível da
Ansiedade. Por seu lado Cruz (1997) no seu estudo com atletas nacionais de
competição, concluiu que os atletas do género masculino manifestaram níveis mais
baixos na perceção de ameaças gerada pela competição desportiva.
Com efeito, diversos estudos têm demonstrado que independentemente do
nível de sucesso ou competição, os atletas do género masculino, quando
comparados com atletas do género feminino, exibem níveis de mais baixos de
ansiedade (Cruz & Caseiro, 1997). O resultado do nível de Auto-Confiança dos
atletas do género masculino apresentou-se elevado, o nível de Auto-Confiança tem

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Relação entre a Coesão de Grupo e a Ansiedade Pré-Competitiva Pedro Silva

relação com a motivação, assim o atleta ao estar motivado tem maior probabilidade
de sair vencedor.
Quando comparamos a coesão do grupo com a ansiedade verificamos que
os nos atletas de alta competição existe uma correlação positiva entre a integração
dos aspetos sociais e a ansiedade somática. Ao contrário do que é apontado pela
literatura, Carron (2005) e Nascimento e colaboradores (2011) referem uma
característica recorrente em atletas de alta competição: a constante procura pelo
melhor desempenho não se constitui como principal foco, sendo de extrema
importância a coesão social.
Segundo Bocchini (2008) ter um elevado nível de ativação através da
Ansiedade Somática é muito importante para as atividades que requerem rapidez,
resistência física e força, como o futebol, mas no Nível Competitivo de Elite, o
elevado nível de Ansiedade Somática é prejudicial para as habilidades complexas
que utilizam movimentos musculares finos, coordenação, concentração e equilíbrio.
Para Lawther (1974) o grau de Ansiedade e a forma como este prejudica a
performance do atleta, está dependente de inúmeras variáveis, destacando a
exigência da tarefa a que o atleta está sujeito. Melo (2004) acrescenta que a
ansiedade pode aumentar ou diminuir em função consoante as características
individuais e consoante a tarefa. Rubio (2001) corrobora com a ideia apresentada
e acrescenta que é comum ouvirem-se relatos de atletas que mencionam sentir
Ansiedade antes ou durante a competição, sendo a performance afetada pela
Ansiedade.
Com os resultados deste estudo, podemos concluir que as atletas femininas
apresentam Ansiedade Pré-Competitiva, tendo níveis mais elevados de Ansiedade
Somática, sem, no entanto, existir uma correlação entre a Coesão de Grupo e
Ansiedade Pré-Competitiva.

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