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Fulvio Lorefice2
RESUMO: Este artigo discute alguns aspectos da ascensão global dos Estados Unidos. O período
que compreende o final da primeira guerra mundial até o ano da grande depressão, o de 1929, foi
descrito como uma era de vasta prosperidade para este país. No que diz respeito aos trágicos
acontecimentos precedentes e aqueles sucessivos, esse momento histórico aparece até mesmo como
um oásis de paz e bem-estar.
Introdução
O período que compreende o final da primeira guerra mundial até o ano da grande depressão,
o de 1929, foi descrito como uma era de vasta prosperidade para os Estados Unidos da América. No
que diz respeito aos trágicos acontecimentos precedentes e aqueles sucessivos, esse momento
histórico aparece até mesmo como um oásis de paz e bem-estar. Para se ter uma idéia do progresso
econômico extraordinário ocorrido nesses anos, basta fazer referência a dois importantes
indicativos: o PIB que cresceu em 40%, entre os anos de 1922 e 1928, e houve uma diminuição de
número de desempregados de 2 milhões em 1927. A riqueza foi, no entanto, concentrada nas mãos
de poucos, «um décimo de 1% da população mais rica tinham renda igual a 42% das famílias de
faixas inferior»3. Uma idéia desses anos, lúcida e implacável, foi vislumbrada por F. Scott Fitzgerald
em seu romance mais famoso: «O grande Gatsby».
https://doi.org/10.36311/0102-5864.2015.v52n2.8268
1
Tradução de Tatiana Fonseca Oliveira, doutora em sociologia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da
Universidade Estadual de Campinas-SP / Brasil.
2
Doutor pela Universidade de Bolonha.
3
Howard Zinn, Storia del popolo americano, Milano, Il Saggiatore, 2007, p. 263. Historicamente, a questão social,
como observa Toninelli, pode ser rastreada em três aspectos principais: «a crescente desigualdade na distribuição de
renda e riqueza, a ausência continuada do estado na legislação social e a atitude anti-sindical óbvia e prolongada. Entre o
final do século XVIII e o New Deal foi, no outro lado do Atlântico, um processo de concentração de riqueza que
transformou o mito de democracia na fronteira americana, igualitária e generosa, veiculado por muitos visitantes
europeus que a percorreu nas primeiras décadas do século XIX, na imagem de uma sociedade dominada por uma
aristocracia do dinheiro, na qual existia uma emulação financeira e de atrativa riqueza que estava substituindo cada vez
XX. O colapso da ordem mundial em que as relações internacionais eram governadas não
correspondia a uma emergência imediata e a afirmação de uma nova ordem hegemônica. A transição
da hegemonia britânica à hegemonia americana foi, de facto, um processo complexo e não-linear,
que terminou apenas após a segunda guerra mundial. A guerra foi, neste sentido, um sinal de
mudança e, ao mesmo tempo, a resistência a essa transformação, que foi revelada pela incapacidade
dos Estados Unidos de «traduzir a própria força e sua influência política e diplomática de liderança
econômica eficaz ».4
Os Estados Unidos, desde de 1910, passam a controlar 31% da reserva mundial do ouro, e
estabeleceram-se como potência econômica: o dólar tornou-se, desse modo, a nova moeda forte.7 A
expansão de sua influência política internacional não conrresponde, todavia, a um servero controle
territorial, "muito mais complexo e caro do que aquele sobre os oceanos»: os Estados Unidos, a este
respeito, preferiram "deixar a Grã-Bretanha a responsabilidade de truncar no momento do
nascimento a crescente onda de nacionalismo nos países não-europeus».8 A pressão estadunidense
era canalizada, naquela fase, em duas direções: para a América Latina, em deferência da "Doutrina
Monroe" e a função de "polícia internacional" teorizada por Theodore Roosevelt no assim chamado
"corolário da doutrina Monroe" (1904) e para o extremo oriente asiático, em concordância com a
mais a postura de diligência e ética de trabalho». Cf. Pier Angelo Toninelli, Nascita di una nazione: lo sviluppo
economico degli Stati Uniti (1780-1914), Bologna, Il Mulino, 1993, p. 228.
4
Mario Del Pero, Libertà e impero. Gli Stati Uniti e il mondo 1776-2006, Roma-Bari, Laterza, 2008, p. 196.
5
Giovanni Arrighi, Beverly J. Silver, Chaos and governance in the modern world system, Minneapolis-London,
University of Minnesota, 1999, p. 75. Cf. a edição brasileira: Giovanni Arrighi e Beverly J. Silver, Caos e
governabilidade: no moderno sistema mundial; Rio de Janeiro: Contraponto: Ed. UFRJ, 2001.
6
Ibidem, p. 85.
7
«A guerra determinou uma grande redistribuição de poder de compra do resto do mundo aos Estados Unidos, a ponto
que permanecia muito menos que poderia ser transportado para a economia estadunidense» Ibidem, p. 155.
8
Ibidem, p. 91.
doutrina da «porta aberta» desenvolvida pelo Secretário de estado John Hay (1899).9 Para além da
guerra hispano-americana (1898), foi acentuada a vocação dos Estados Unidos para o Pacífico e
consolidada a guarnição estratégica no seu continente. Veio assim à luz o império americano.10
9
A «doutrina Monroe» trazia aspectos da mensagem que o Presidente Monroe tinha enviado ao Congresso, em 1823,
enunciava uma série de princípios para os Estados Unidos, como por exemplo, a da não tolerância de interventos dos
países europeus nos assuntos do continente americano, a da não permissão dos países europeus em adquirir novas
colônias e, em contrapartida, garantiam uma não interferência dos EUA nos assuntos da Europa. Esta doutrina, portanto,
poderia ser interpretada como um forma de protetorado dos EUA, sancionando um tipo de direito exclusivo de
intervenção para os Estados Unidos. O assim chamado «corolário da doutrina Monroe» atribuída a esse país o direito de
intervir na América Central, para garantir a paz, a ordem e o respeito aos direitos dos investidores estrangeiros. Essa
doutrina serviu então como uma base teórica para instituições posteriores de alguns protetorados no Caribe. Com a «
doutrina da porta aberta» Hay pediu as potências européias para salvaguardar a integridade territorial e independência
política da China e ao mesmo tempo a garantia da abertura do seu mercado na livre penetração comerncial. Sobre o
tema, ler: Marco Mariano, L’America nell’Occidente. Storia della dottrina Monroe (1823-1963), Roma, Carocci, 2013.
10
Com a guerra de 1898 a parte restante do velho Império espanhol - Filipinas, Guam e Porto Rico – acabaram na órbita
dos EUA. A isso foi adicionado: o quase-protetorado de Cuba (1901), e sua sucessiva extensão em Santo Domingo,
Haiti e Nicarágua, foram também anexadas o as Ilhas do Havaí e de Samoa durante este período.
11
Para uma visão do conjunto sobre as matrizes ideológicas da política externa americana, ver: Michael Hunt, Ideology
and US Foreign Policy, New Haven, Yale University Press, 1987.
12
Anders Stephanson, Destino manifesto. L'espansionismo americano e l'Impero del Bene, Milano, Feltrinelli, 2004, p.
117.
A política exterior
Já durante a Primeira Guerra Mundial, na qual os Estados Unidos tomaram parte em abril de
1917, surgiu a necessidade de atualizar as diretrizes da política externa estadunidente. No final da
guerra veio à luz a «New Diplomacy» Wilsoniana. Este processo, que rejeitou o frágil equilíbrio do
sistema europeu, preocupa-se em construir uma base sólida para um futuro de paz. Através da
criação de «Peace Inquiry Bureau», geralmente conhecidos como Inquiry, foram preparados estudos
e hipótese sobre uma possível solução aos problemas políticos-geográficos não resolvidos. Na noite
de 4 de janeiro de 1918, foi apresentada a lista dos objetivos da guerra que Wilson teria exposto em
uma mensagem ao Congresso em 9 de Janeiro. As propostas foram divididas em 14 pontos. Os
primeiros quatro enunciavam os princípios fundamentais da «New Diplomacy»: diplomacia aberta,
liberdade dos mares, redução das barreiras econômicas e desarmamento. A décima quarta previa a
criação da organização internacional das "Liga das Nações", e os outros pontos resguardavam, em
vez disso, as assim chamadas questões «geográficos» irresolutas.
O plano, sujeito a algumas adições formais efetuadas pelo próprio Wilson, fez surgir, como
novo, a disponibilidade dos americanos de se colocar internacionalmente como os árbitros entre as
nações: papel que poderia ter sido exercido, em deferência aos 14 pontos, através da criação da
"Liga das Nações". O pacto fundador deste último seria assim incorporado no interior do Tratado de
paz. A então balance of power da Europa iria ser contraposta pela proteção da integridade territorial
das nações através a aplicação de sanções aos eventuais agressores. 14
13
Sobre a influência do pensamento wilsoniano, ver: Frank Ninkovich, The Wilsonian Century, Chicago, University of
Chicago Press, 1999; Federico Romero, Il wilsonismo, in «Parolechiave», n. 29 (2003), pp. 177-188.
14
Observa Romero: «A segurança coletiva consubstanciada na Liga das Nações não teve como primeiro objetivo aquele
de excluir os impérios e o colonialismo – na qual de fato em Versalhes Wilson concorda repetidamente – mas,
sobretudo, tem como meta criar as oportunidades para um paternalismo branco, compartilhando assim as raças
'inferiores', através de um equilíbrio de poder sob o lema do conceito global de segurança». Ver Federico Romero, Il più
problematico di tutti gli imperi: l'esperienza degli Stati uniti, in «Ricerche di storia politica», vol. IX, n 3 (2006), p.
361.
fracasso político de Wilson foi seguido da esmagadora derrota nas eleições democráticas de 1920 de
Cox: quem ganhou foi de fato o candidato republicano Harding que teve como sucessores os
republicanos Coolidge e Hoover.
Com a decisão de não aderir à “Liga das Nações”, os Estados Unidos não escolheram o
chamado «isolacionismo», como um perfil diplomático internacional baseado na autonomia e na
independência. Operaram, de fato, em vários âmbitos das relações internacionais. Em primeiro
lugar, naquele econômico fornecendo ajudas, inclusive financeira, aos países europeus, e assessoria
às empresas sobre as quais investiam. Em alternativa, o esforço das administrações republicanas em
matéria de cultura e do armamento, este último tema, juntamente com o mais geral da grande guerra,
era particularmente caro as, muito em voga na época, organizações pacifistas americanas. A
filosofia dessas iniciativas, como observa Del Pero, «foi sintetizada com várias fórmulas:
"internacionalismo independente", "internacionalismo normal" e "otimista", "internacionalismo
conservador”».15 Tratava-se de “promover a estabilização de uma Europa capitalista próspera e
democrática que resistisse às tentações do fascismo e do comunismo" no âmbito de um mais amplo
esforço para "edificar e consolidar uma ordem internacional liberal, congruente com os valores, os
interesses e a identidade dos Estados Unidos».16
Por um lado, eram, na verdade, uma resposta aos pedidos de Lenin para que os povos
insurgissem contra a guerra e os seus próprios governos, e fosse proclamado o direito universal à
autodeterminação. A Revolução soviética e seus dirigentes bolchevique tinham oferecido aos povos
oprimidos pelo domínio colonial uma eficaz mensagem universalista: «um messianismo
revolucionário e anti-capitalista e anti-imperialista, cuja capacidade de sedução estava ligada
15
M. Del Pero, Libertà e impero, cit., p. 233.
16
Arnaldo Testi, Il secolo degli Stati Uniti, Bologna, Il Mulino, 2008, p. 153; M. Del Pero, Libertà e impero, cit., p.
indissoluvelmente ao drama da guerra».17
Em julho de 1918 Wilson tinha, portanto, decidido participar de uma intervenção militar
conjuntamente com o Japão para apoiar os contra-revolucionários russos. Ao Internacionalismo
revolucionário, Wilson escolheu assim de responder com um manifesto programático com base em
princípios liberal-democrático e voltado para opinião pública mundial. Surgia então o grande desafio
ideal entre os dois modelos de desenvolvimento da sociedade antitéticas, que se apoiavam nas suas
duas opostas concepções dos direitos dos povos e das Nações. O universalismo wilsoniano tinha
limitações precisas e se tratava de limites raciais: "como para muitos de seus contemporâneos,
incluindo Wilson, civilização e raça eram quase sinônimos." A comunidade internacional
«prospectava inicialmente por Wilson na idéia de que havia uma hierarquia de civilizações, na qual
o vértice estava no mundo euro-norte-americano».18
No julgamento de Wilson "as grandes barreiras que dividem o mundo de hoje não são uma
233.
17
M. Del Pero, Libertà e impero, cit., p. 210.
18
Ibidem, p. 203. Lenin, ciente desses limites, tentou várias vezes insistir nessa questão nas suas cartas dirigidas aos
trabalhadores americanos. Em julho de 1919, respondendo a uma pergunta da agency United Press, disse: "a tarefa da
nossa República Soviética no Afeganistão, na Índia e em outros países muçulmanos fora da Rússia é igual à nossa
atividade entre os muitos muçulmanos e de outras nacionalidades não russas dentro Rússia. Por exemplo, dissemos as
massas afamadas extenuada a possibilidade de construir uma república autônoma dentro da Rússia, e incentivamos de
todo modo o desenvolvimento autônomo, livre, de todas as nacionalidades, o desenvolvimento e difusão da literatura
nas línguas nacionais, traduzimos e divulgamos a nossa Constituição Soviética, que tem a infelicidade de agradar aos
homens de mais de 1 bilhão pertencentes as nacionalidades coloniais, escravizadas, oprimidas, privadas de direitos,
mais que a Constituições "Europa-ocidental" e americana dos Estados democráticos burgueses que consacraram a
propriedade privada de terras e do capital, ou seja, a opressão por um pequeno número de capitalistas "civis" sobre os
trabalhadores nos seus próprios países e sobre centenas de milhões de habitantes das colônias na Ásia, África, etc».
Mais adiante acrescenta: «a burguesia americana engana o povo, ostentando liberdade, igualdade, democracia que existe
em seu país. Mas, nem essa burguesia, nem qualquer outro governo do mundo se atreverá a aceitar a concorrência com
nosso governo sobre a questão da liberdade efetiva, da igualdade e da democracia».
19
G. Arrighi, B. J. Silver, Chaos and governance in the modern world system, cit., p. 233.
20
Victoria De Grazia, L'impero irresistibile, Torino, Einaudi, 2006, p. XVII.
questão de princípios, mas de gostos" : "certas classes sociais – encontram-se – desagradadas ou
adotam um ponto de vista cético". A distância social entre essas classes, de acordo com o presidente
americano, não deixou espaço para a interpretação de suas exigências. Na opinião De Grazia,
Wilson, com ênfase no conceito do estadista e de vendedor, «intimamente ligados por uma visão
comum e um propósito comum», «desenhando assim um conceito moderno de bom governo [...],
mas também a uma não menos moderna atenção ao consumidor»; ele identificava assim na
comunidade dos "vendedores" o leitmoitv com o qual se poderia colocar em marcha a resolução dos
problemas ligados aos mal-entendidos gerados pelos estilos de vida muito diferentes e assegurar a
coesão e coerência também. A idéia de que os bens materiais eram para ser considerados o corolário
indispensável de direitos como a liberdade, o direito à vida e à felicidade tornou-se a partir desse
momento em diante, uma característica distintiva do sistema sócio-econômico que deveria cada vez
mais se impor. Wilson então entendia “que a causa do bom governo teria beneficiado o
entendimento das necessidades materiais, do sofrimento psicológico e agitação social decorrentes
inexoravelmente do consumo em massa”, mas ao mesmo tempo, com a exortação aos seus
compatriotas no espaço com sua criatividade em todo o mundo, para ir para o estrangeiro para
vender seus produtos, para fazer o trabalho de converter os princípios sobre os quais a América foi
fundada, ele tinha dado o seu aval para um intercâmbio global não só de mercadorias, mas também
dos princípios.21
21
V. De Grazia, L'impero irresistibile, cit., p. XIV.
22
G. Arrighi, B. J. Silver, Chaos and governance in the modern world system, cit., p. 225.
23
Última batalha vencida pelos índios era de junho de 1886: a Little Bighorn os Sioux e os Cheyenne conseguiram
argumentava que
27
Jeremy Brecher, Sciopero!, Roma, Derive Approdi, 1997, p. 114.
28
Sobre as intervenções estatais na relação de produção entre os anos de 1912 e 1918, ver: Federico Romero, Il
sindacato come istituzione: la regolamentazione del conflitto industriale negli Stati Uniti, Torino, Rosenberg & Sellier,
1981. Sobre a AFL, verificar: Maria Rosaria Stabili, America verso una società corporata: la AFL di Gompers, Bari,
Edizioni Dedalo, 1984.
29
F. Romero, Il sindacato come istituzione, cit., p. 230.
30
Sem dúvida o setor que mais se beneficiou da grande guerra foi o da grande indústria: em 1916, a US Steel obteve um
lucro de 348 milhões de dólares. Cfr. H. Zinn, Storia del popolo americano, cit., p. 251. Com o fim da guerra o governo
federal estendeu o sufrágio universal as mulheres e introduziu o probibicionismo, com a qual se tornou ilegal a
produção, o comércio e o consumo de bebidas alcólicas.
31
Ibidem, p. 117.
32
Observa Zinn: «Os Estados Unidos correspondem à ideia de Du Bois. O capitalismo americano precisava de
rivalidades internacionais e guerras periódicas para criar uma comunidade de interesses artificiais entre ricos e pobres,
que iria ofuscar o interesse genuíno dos pobres, que se manifestou em movimentos esporádicos. Era necessário um
consenso nacional para a guerra e o governo agiu então rapidamente para construí-lo ». Ibidem, p. 252.
tinha sido impedida e impo-la era o objetivo lógico das greves.33
A repressão, operada pelo Ministro da justiça A. Mitchell Palmer, foi brutal: quem pagou a
conta foi principalmente os comunistas, os socialistas e os anarquistas. O Red Scare, estimulado e
alimentado para justificar a onda repressiva, contegiou o clima político da época, golpeando –
indistintamente – os sindicatos: tanto a AFL, protagonista dos acordos do tempo de guerra, que os
Industrial Workers of the World (IWW), o sindicato de classe que orgulhosamente havia se oposto
ao conflito mundial.34
Durante a Primeira Guerra o Governo Federal havia lançado, a este respeito, duas
fulminantes ferramentas repressivas: o "Espionage Act" (1917), com a qual foram presos aqueles
que alegaram a alta voz ou por escrito a sua oposição à guerra, cerca novecentos pessoas foram
afetadas por essa medida, e a "Sedition Act" (1918) que estabeleceu o crime de desacato à nação, à
Constituição, as forças armadas, a bandeira e ao uniforme. O IWW em questão de poucos meses foi
dizimado: o julgamento de cento e um de seus líderes, em abril de 1918, terminou com a
condenação de todos os acusados.35 Em 1919, observa Brecher, «assiste-se ao espetáculo de
determinados grupos de trabalhadores que, depois de sacrifícios duríssimos, encontram-se separados
e diante da derrotar». 36
33
J. Brecher, Sciopero!, cit., p. 149. Racconta Brecher: «A raiva, a esperança e a combatividade afloraram rapidamente
montagem, e em nenhum outro lugar foi tão pronunciada e radicalizada que em Seattle, onde no Outono de 1919 os
estivadores se recusou a carregar armas e munições destinadas ao Almirante Kolchak, líder da contra-revolução na
Sibéria, os fura-greves açoitaram inclusive os outros trabalhadores que tentaram efetuar o carregamento». Ibidem, p.
117.
34
Cf. Bruno Cartosio, Stati Uniti contemporanei, Firenze, Giunti, 2010, p. 62. Na véspera da declaração da guerra o
«Industrial Worker», editado pelo IWW, escreveu: «Capitalistas da América, combateremos contra vocês, não para
vocês!».
35
Foi nesse contexto que adveio a prisão e a sucessiva condenação e morte dos anarquista italianos Nicola Sacco e
Bartolomeo Vanzetti.
36
J. Brecher, Sciopero!, cit., p. 150. O Partido socialista, que no congresso di St. Louis, em abril de 1917, tinha
escolhido a oposição a guerra, no primeiro momento do pós-geurra, conheceu uma momentânea popularidade. Em
setembro de 1919 nasce o Partito comunista.
37
F. Romero, Il sindacato come istituzione, cit., p. 228. Para um olhar sobre o conjunto do mundo do trabalho nos
Estados Unidos na década de 1920, ver: Irving Bernstein, The Lean Years: A History of the American Worker, 1920-
1933, Chicago, Haymarket Books, 2010, pp. 45-243.
A introdução de novas técnicas de organização da produção, no período pós-guerra, o
crescimento industrial norte-americano, particularmente nos setores de automóveis, dos produtos
elétricos e eletrônicos. Algumas importantes inovações, no campo científico e tecnológico, tinha
contribuído, desde a década de 1910, para a afirmação de «métodos de produção mecanizada e de
organização científica do trabalho».38 Pensamos aqui particularmente no 'Taylorismo', que se
baseava na racionalização do ciclo de produção e através de uma organização eficiente e científica
do trabalho, e no 'Fordismo', baseado nos princípios do 'Taylorismo', que previa a utilização da linha
de montagem e otimização do trabalho, incluindo o aumento dos salários, com os quais as empresas
americanas levaram uma estrutura organizativa e multidivisional, ou seja, com divisões operacionais
e um escritório Central para o controle e o planejamento dos trabalhos.
Começou desse modo a dar valor científico e acadêmico ao trabalho dos publicitários, cuja
capacidade de cultivar sonhos e desejos foi considerada "um elemento basilar do sucesso da
sociedade moderna" e, nas visões mais entusiastas, "um elemento civilizador".42
38
Observa Thomas: « O maciço afluxo para os EUA de mão de obra barata da Europa meridional e Oriental coincidiu
com um período de inovações técnicas que estimulou um alargamento da estrutura de capital»; Brinley Thomas,
Migration and Economic Growth; a Study of Great Britain and the Atlantic Economy, Cambridge, Cambridge
University Press, 1973, pp. 152-153. Citato in: P. A. Toninelli, Nascita di una nazione, cit., p. 292.
39
Cfr A. Testi, Il secolo degli Stati Uniti, cit., p. 130; I. Bernstein, The Lean Years, cit., p. 54. Recentes estudos colocam
a década de 1920 entre a «fase mais aguda de crescimento e concentração de riqueza »; P. A. Toninelli, Nascita di una
nazione, cit., p. 288.
40
Ewen Stuart, I padroni della coscienza. La pubblicità e le origini sociali del consumismo, Bari, De Donato, 1988, p.
57, Citado por: G. Arrighi, B. J. Silver, Chaos and governance in the modern world system, cit., p. 156.
41
Paolo Capuzzo, Le teorie sul consumo, in Emanuela Scarpellini, Stefano Cavazza (a cura di), Il secolo dei consumi:
dinamiche sociali nell'Europa del Novecento, Roma, Carocci, 2006, p. 74. Sobre o tema ver também: Ferdinando Fasce,
Le anime del commercio: pubblicità e consumi nel secolo americano, Roma, Carocci, 2012. O tema, do pós-segunda
buerra, catalizou atenção de alguns importantes cientistas sociais ocidentais: pedra angular da reflexão em questão foi a
do volume, publicado em 1958, «The Affluent Society» do economista canadense John Kenneth Galbraith. 40 Ibidem, p.
74.
42
Ibidem, p. 74.
persistente distribuição desigual da riqueza: o fornecimento de mercadorias foi significativamente
maior do que o mercado pode absorver. Os sintomas de uma iminente recessão começaram a ser
registrada logo em 1927: o setor automobilístico conheceu, de fato, uma afiada contratação inicial.
Gradualmente, o boom especulativo começou a refletir-se sobre a produção em espiral, e em um
círculo vicioso, que ao longo se revelará fatal. As origens da crise de 1929 podem ser encontradas na
complexa teia de fenômenos econômicos e políticos e decisões políticas, nacionais e internacionais,
seguida do fim da primeira grande guerra. Já em 1919 o economista britânico John Maynard Keynes
tinha identificado, com grande visão, alguns dos pesos da ordem internacional resultantes da
conferência da paz de Versalhes. Em "As consequências econômicas da paz» estava ja colocado a
questão da desorganização do sistema econômico internacional no peso –concebido como excessivo
– das reparações de guerras impostas a Alemanha e as implicações econômicas desta escolha. Em
um contexto comercial e financeiro marcado - já nessa época - dos complexos mecanismos de
interdependência, uma escolha desse gênero não poderia que revelar-se clamorosamente míope. Na
dialética das relações internacionais desse momento também pesou a falta de liderança global, como
observado por Charles P. Kindleberger, a crise foi não só econômica, mas também política.
A Grã-Bretanha, que tinha jogado este papel na crise no final do século XIX, não dispunha
mais dos recursos necessários; os Estados Unidos, de sua parte, preferiam, imprudentemente, cuidar
exclusivamente de seus próprios interesses, provocando uma espiral de represálias econômicas que
iriam intensificar os efeitos da crise.
A Integração sindical
43
Charles P. Kindleberger, La grande depressione nel mondo, 1929-1939, Milano, ETAS, 1982, p. 15.
44
Durante a década revoltas esporádicas eclodiram, especialmente em fábricas têxteis no sul. Sobre a condição dos
movimentos dos trabalhadores americanos na década de 1920 ver: I. Bernstein, The Lean Years, cit., pp. 83-143. Em
1922, William Z. Foster, expoente comunista do IWW, observava: «A fraqueza do movimento operário americano, a sua
falta de uma visão social e seu geral atraso, sob o plano político e sob aquele industrial, em comparação ao movimento
operário de outros países, tem sido bem conhecida de todos. Isso não pode ser negado ou contestado, e nem qualquer
estudioso sério do movimento operário procura fazê-lo»; citato in: Renato Musto, Gli IWW e il movimento operaio
Mellon»: apresentado ao Congresso em 1923 que previa a redução da alíquota de 50 a 25% para o
aumento das contribuições e de quatro para três por cento para as faixas inferiores.
Como foi observado por Irwin Bernstein e o grupo de pesquisadores do Instituto de relações
industriais de Los Angeles, a condição de fraqueza dos trabalhadores americanos estava ligada a
dois maiores fenômenos socioeconômico: a aceleração do processo de 'urbanização' e da
'flixibilização da imigração' para os Estados Unidos.45 A heterogeneidade do movimento operário da
época se somava, além do mais, em um clima de forte individualismo social - «one got ahead by
himself and not by collective action», a um crescimento de uma atitude anti-sindical da parte das
novas indústrias de alta tecnologia.46 Prevalecia assim a perspectiva «integracionista», cujo o
corolário foi o repúdio ao conflito de classe e a aceitação da própria condição de vida: a melhoria,
relativa mas tangível no que diz respeito aquele da origem, vinha sendo cimentada pela ideologia
'individualista dominante do sucesso', «difundida largamente pelos meios de comunicação de
massa».47 Tentava-se, enfim, de congelar o domínio do capital e, assim a ligação do trabalhador com
a empresa, através das primeiras técnicas de «welfare capitalism».48 Apesar da brutal ofensiva do
pós-primeira guerra mundial, permanecia, com efeito, nos empregadores a obsessão pelo controle
social. A necessidade de racionalização do trabalho para promover o círculo virtuoso da «economia
de escala – consumo de massa», como já observado por Antonio Gramsci, obrigava os industriais
americanos a vigiar sobre a eficiência física (psico-muscular) dos trabalhadores a fim de assegurar a
estabilidade e continuidade da produção. O álcool, como qualquer comportamento sexual, nos
trabalhos monótonos, repetitivos e obsessivos próprios da organização do trabalho das indústrias
fordistas, representavam em tal sentido, de acordo com o estudioso Ales, os agentes mais perigosos
da destruição da força de trabalho; normalizar o estilo de vida da classe operária na nova divisão do
trabalho que o "Taylorismo" estava criando, tornou-se assim um dos objetivos principais das forças
industriais da época.
Conclusão
50
Bruno Cartosio, Note e documenti sugli Industrial Workers of the World, in «Primo Maggio», n. 1 (1973), p. 43.
51
Cfr Philip S. Foner, History of the Labor Movement in the United States, Vol. 4, The Industrial Workers of the World,
New York, International Publishers, 1965. Ferdinando Fasce, Gli I.W.W. e il movimento operaio americano
(presentazione), in «Altronovecento», n. 15 (2010); Peppino Ortoleva, Industrial Workers of the World, in Storia del
Nord America, cit., pp. 147-156.
52
M. Del Pero, Libertà e impero, cit., p. 244.
Uma vez estabelecida a hegemonia americana, após a primeira guerra mundial, se assistiu na
na Europa um processo sociocultural semelhante aquele realizado nos Estados Unidos na década de
1920: as transformações que jorravam destacam, no entanto, a originalidade do meio americano.
Nos processos migratórios em direção aos Estados Unidos que se seguiram no século XX e XIX
encontram-se uma explicação dessa circunstância. Se é verdade que o domínio produtivo, e assim
tecnológico, é uma prévia condição da extraordinária penetração socio-econômica americana é
igualmente verdade, e vai certamente salientada, que foi a combinação e a síntese de uma incrível
quantidade de estilos culturais nacionais, próprias dos países de origem dos migrantes, a tornar-se a
ofensiva de 'Americanismo' mais eficaz e mais penetrante. Na fatura do produto, na sua
comunicação, pôde ser encontrado, na verdade, diversas singulares manifestações das culturas
nacionais que compõem o mosaico social americano, resultando assim, em uma medida mínima,
familiar aos povos, e assim aos consumidores, que são abordados. O destinatário do produto
americano percebe um trato de familiaridade (ao lado de um item da alteridade), decorrentes do fato
de que a mesma cultura americana já tinha nascido e já era conformada a um originária contribuição
das diversas culturas nacionais, incluindo, na maioria dos casos, o atual destinatário do produto. Eis
que assim o produto 'novo' representava, ao mesmo tempo, um retorno ao passado. A recepção do
produto econômico-cultural americano não foi, imediatamente de maniera passiva, mas reformulada,
e assim inserida e contextualizada, no contexto econômico-cultural nacional. Uma interação cultural
que pode se fazer 'original', mas ao mesmo tempo «familiar», o artigo comercializado.
Outro aspecto importante da história dos Estados Unidos é o da dialética de classe decorrida
da prodigiosa expansão econômica na década de 1920. Apesar da extensa resposta factual, cuja as
linhas gerais foram brevemente mencionadas anteriormente, por muito tempo esse aspecto não foi,
praticamente, considerado.53 Grande destaque, reciprocamente, foi dado para a transformação dos
costumes e a uma alegada «indiferença» dos anos em questão: a prevalecer era uma imagem
estereotipada do pós-primeira Guerra americano, congruente com aquela da 'sociedade afluente', que
fechava os olhos durante esse tempo. Esse parecer, contribuiu, por exemplo, na Itália, para uma
historiografia “em cativeiro”, dotada de uma abordagem fortemente esquemática e determinista da
história dos Estados Unidos.54 Por muito tempo, considerou-se a história do movimento trabalhista
53
F. Romero, Il sindacato come istituzione, cit., p. 14.
54
Faz-se primeiramente referência a historiografia comunista, incapaz de fazer suas os elementos homologados mais
avançados. Nos faz refletir, a esse respeito, o fato de que nenhum dos mais de cem volumes por Philip S. Foner,
principal expoente da historiografia marxista americano, foi traduzido para o italiano. Alguma atenção foi reserv ada a
historiografia da Nova Esquerda, com a qual o marxismo não era uma presença significativa, no entanto, o quadro geral
destaca a incapacidade de desenvolver uma reflexão aprofundada sobre a dinâmica histórico-político dos Estados
Unidos. A respeito, de fato, dops consolidadas relações pessoais – se pense aqueles entre Vittorio Vidali e William Z.
Foster sobre o versante político e a excepcional experiência amadurecida por Ambrogio Donini ligada a Jefferson
School of Social Science de New York no versante acadêmico – e das solicitações a comição cultural dos PCI, no fim
de novembro de 1956, por parte de estudiosos brilhantes como Gianfranco Corsini, mão se pode sublinhar um
substancial desinteresse a ter em conta estáveis relações culturais com o variado universo intelectual da esquerda
americana.
na Europa, a mediação e a pedra de toque de toda a experiência desse movimento.55 A ausência nos
Estados Unidos de um movimento operário tradicional, ou seja, compatível com práticas políticas e
formas de organização sindical desenvolvidas no velho continente, por causa de um complexo
entrelaçamento de elementos histórico-político no qual a grande literatura internacional
disponibiliza, levou em parte a história nacional (italiana) a ignorar, conscientemente, o tema: com
isso se contribuiu para a construção também na Itália daquele famoso mito, difundido amplamente
pelos divulgadores acríticos da hegemonia estadunidense, segundo a qual a paz social tinha
incontestavelmente reinado nos Estados Unidos desde o século XVIII.56 Um mito com a qual se
sancionou a vitória completa, de um lado, e decretou a eliminação de todo imaginário coletivo, do
outro. É fácil ver, portanto, como são pobres, até mesmo no nosso país, o conhecimento sobre a
história social dos Estados Unidos e como é superficial a leitura e interpretação que é feita.
55
Em observações do mesmo porte, citamos aquela de Pier Angelo Toninelli sobre a historiografia econômica italiana
sobre os Estados Unidos. Cfr P. A. Toninelli, Nascita di una nazione, cit., p. 8. No parecer de Musto a história do
movimento operário daquele período foi riduzida «a história do bolchevismo na Rússia»; R. Musto, Gli IWW e il
movimento operaio americano, cit., pp. XV-XVI.
56
Para um breve resumo dos elementos histórico-político que tinha dado a ausência de um movimento operário
tradicional nos Estados Unidos, consultar: Malcolm Sylvers, Sulla storia del movimento operaio americano, in «Studi
Storici», vol. XVIII, N 4 (1977), pp. 154-156.
57
Bruno Cartosio, Prefazione, in William D. Haywood, Big Bill: L'autobiografia di un rivoluzionario americano
fondatore degli IWW, Roma, Manifestolibri, 2004, p. 7; gli stessi scritti di Eugene Debs e Daniel De Leon, duas das
figuras mais proeminentes do movimento operário americano do início do século XX, não são comparáveis, observa,
com razão, Cartosio, aos «os escritos teóricos de intelectuais marxistas e os anarquistas contemporâneos europeus (ou
para aqueles, que tem a dizer, o fundador do movimento dos trabalhadores dos trabalhadores durante o século XIX dos
Estados Unidos comoThomas Skidmore o Orestes Brownson)». Ibidem, p. 7.
58
Uma análise das principais tendências historiográficos sobre a história do movimento trabalhista americano está
presente in: B. Cartosio, Movimento operaio, cit., pp. 204-206; M. Sylvers, Sulla storia del movimento operaio
A faltosa afirmação, da década de 1920 e das décadas seguintes, de organizações políticas e
sindicais que, através de um consolidamento social e sobre a base de um desenho estratégico
autônomo, tivesse em grau, fossem capazes de desafiar, de modo constante, o domínio político das
forças representativas do capital, resultando na 'integração' operária, sanciou a sua subordinação
cultural e ideológica. Em conclusão, nssa complexa dinâmica, a respeito desigual de distribuição da
riqueza, pesou a mobilidade social para a outra originada "das mudanças de emprego de uma
geração para a próxima, favorecido pela alteração da estrutura da força de trabalho em uma
economia cada vez mais centrada no setor dos serviços».59
RECEBIDO EM 03-03-2015
APROVADO EM 13-10-2015