GT 1 - Infecções Respiratórias Agudas

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

Thais Alves Fagundes

INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS AGUDAS (IRAs)


Infecções respiratórias agudas (IRAs):

 Infecções das vias aéreas superiores (IVAS): compreendida como a região anatômica do aparelho
respiratório acima da laringe, incluindo esta.
 Infecções do trato respiratório inferior
o Laringe demarca esses dois segmentos.

Diagnóstico de IVAS é indefinido: denominação diagnóstica deve se referir à área ou a regiões anatômicas
acometidas. Exemplo: infecção causada pelo rinovírus, que pode acometer desde a conjuntiva até a laringe, porém,
se houver maior agressão à mucosa nasal e faríngea, a síndrome clínica será referida como rinofaringite.

Etiologia: 90% das infecções respiratórias agudas são não bacterianas, causadas por agentes virais.

Questões fundamentais – criança com doença respiratória aguda:

 Afecção é localizada ou envolve mais de uma região?


 Acomete, principalmente, vias superiores ou inferiores?
 Acompanha-se de manifestações sistêmicas?
 Etiologia provável é não infecciosa, viral ou bacteriana?
 Se bacteriana, qual o agente mais provável?
 Há evidência de alergia respiratória?
 Exames complementares são necessários?
 Existe indicação de tratamento hospitalar?
 Há risco de morte para o paciente?

Anamnese:

 Evolução das manifestações clínicas respiratórias.


 Início dos sintomas, se súbito ou insidioso.
 Padrão da febre.
 Acometimento do estado geral, se ocorre somente nos picos febris ou se é contínuo.
 Estado de saúde das pessoas que convivem com a criança.
 Condições ambientais.
 Estado vacinal.

Exame clínico:

 Compreender todo o trato respiratório: narinas, mucosa nasal, cornetos nasais, mucosa oral, gengivas,
palato, amígdalas, faringe, ouvidos.
 Realizar inspeção, palpação, percussão e ausculta torácicas.
 Exame das conjuntivas e dos linfonodos (diagnóstico diferencial).
Thais Alves Fagundes

RINOFARINGITE AGUDA OU RESFRIADO COMUM


 Doença viral (rino = nariz; faringite = faringe).
 Rinorreia e obstrução nasal proeminentes.
 Sinais e sintomas sistêmicos, como mialgia ou febre, estão ausentes ou são leves.

EPIDEMIOLOGIA
 Incidência da doença diminui com a idade.
 Crianças apresentam, em média, seis a oito resfriados por ano, durante os primeiros cinco anos de vida.
Podendo chegar a apresentar 12 infecções por ano.
 Crianças que frequentam creches durante o primeiro ano de vida têm 50% mais resfriados do que as que
permanecem em seus domicílios.
 Sazonal: incidência é maior do início do outono até o final da primavera.

ETIOLOGIA
 Principal agente etiológico: rinovírus

 Transmissão ocorre por meio de gotículas produzidas pela tosse e espirros ou pelo contato de mãos
contaminadas coma via aérea e cavidade oral.
 Período de incubação varia de dois a cinco dias.
 Resfriado comum dura sete dias em média, mas em alguns casos persiste por duas semanas.

PATOGÊNESE
 Vírus que causam o resfriado comum são disseminados por meio de aerossóis (perdigotos) de pequenas
partículas, grandes partículas e contato direto.
 Vírus respiratórios desenvolveram diferentes mecanismos para evitar as defesas do hospedeiro.
 Infecção viral do epitélio nasal pode se associar à destruição do revestimento epitelial, ou pode não haver
dano histológico aparente.
o Infecção do epitélio nasal está associada a uma resposta inflamatória aguda caracterizada pela
liberação de uma variedade de citocinas inflamatórias e infiltração da mucosa por células
inflamatórias.
o Essa resposta inflamatória aguda parece ser responsável, em parte, por vários sintomas associados
ao resfriado comum.
o Inflamação pode obstruir o óstio dos seios paranasais ou a tuba auditiva e predispor a sinusite ou
otite média bacterianas.
Thais Alves Fagundes

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
 Sintomas ocorrem 1-3 dias após a infecção viral e duram aproximadamente uma semana, embora 10% dos
casos durem duas semanas.
 Observam-se sintomas (limitados ao trato respiratório superior):
o Rinorreia serosa
o Dor de garganta
o Obstrução nasal
o Espirros
o Tosse
 Primeiro sintoma observado frequentemente é garganta irritada ou “arranhando”,
acompanhado por obstrução nasal e rinorreia.
 Irritação da garganta geralmente melhora rapidamente e, por volta do segundo ou terceiro
dia de doença, os sintomas nasais predominam.
 Tosse está geralmente tem início logo após o início dos sintomas nasais.
 Sintomatologia é quase sempre leve. Paciente mostra-se:
o Afebril
o Sem acometimento do estado geral
 Manifestações mais acentuadas:
o Febre alta
o Cefaleia
o Mal-estar
o Inapetência
 Rinorreia serosa e a obstrução nasal apresentam-se precocemente e caracterizam o resfriado comum.
o Aspecto da secreção nasal (rinorreia) pode se modificar até tornar-se purulento, sem,
necessariamente, indicar infecção bacteriana secundária.
o Persistência da rinorreia mucopurulenta por mais de 10 a 14 dias sugere infecção bacteriana
secundária, rinite bacteriana ou rinossinusite aguda.
 Nesses casos, antibioticoterapia está indicada.
o Tosse por até duas semanas não significa, inquestionavelmente, infecção bacteriana secundária.
 Exame da cavidade nasal pode revelar cornetos edemaciados e eritematosos.
o Achado não é específico e tem utilidade diagnóstica limitada.

DIAGNÓSTICO
 Diagnóstico essencialmente clínico.
 Não sendo necessários exames complementares.

DETERMINAR A ETIOLOGIA
 Principal função do pediatra ao atender uma criança ou adolescente com resfriado é excluir infecção
bacteriana associada, evitando a prescrição desnecessária de antibióticos.
 Ausência de prostração significativa e limitada aos períodos febris sugere infecção virótica.
o Trata-se de uma definição sujeira a erros, requerendo acompanhamento clínico.
 Aspecto da secreção nasal, muitas vezes, sugere a etiologia:
o Rinorreia serosa: alergia, fase inicial das viroses, rinites bacterianas e efeito medicamentoso.
o Rinorreia seromucosa ou mucosa: fase intermediária e final das rinites virais, resposta alérgica.
o Rinorreia mucopurulenta ou purulenta: fase final das rinites virais, rinites bacterianas e
rinossinusites.
o Rinorreia serosanguinolente: traumatismo da mucosa, corpo estranho – em geral, associado a odor
fétido -, sífilis congênita precoce, rinite bacteriana.
Thais Alves Fagundes

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
 Distinguir o resfriado comum da gripe.
o Gripe: causada pelo Influenza, caracterizada por início súbito dos sintomas como febre alta, fadiga e
mialgia.
 Doenças que apresentam rinorreia como manifestação importante fazem parte do diagnóstico diferencial.
o Sarampo, na fase inicial, pode ser indistinguível de um resfriado comum.

Condições que podem imitar o resfriado comum:

EXAMES DE IMAGEM
 Não são necessários para confirmar o diagnóstico.
 Radiografia simples dos seios da face, usualmente, não é recomendada.
o Baixa sensibilidade
o Elevado número de falso-positivos
o Alta taxa de falso-negativos
 Tomografia computadorizada é o método de escolha para avaliar os seios paranasais, mas não é necessária
para definir o diagnóstico.

TRATAMENTO
 Tratamento deve ser sintomático, uma vez que o resfriado comum tem curta duração e evolução
autolimitada.
 Ingestão hídrica aumentada para fluidificação das secreções.
 Não há terapia antiviral específica disponível para infecções por rinovírus.
 Terapia antibacteriana não é benéfica no tratamento do resfriado comum.

TRATAMENTO SINTOMÁTICO
Febre:

 Tratamento antipirético/antitérmicos em geral não é necessário (febre é incomum no resfriado comum não
complicado).
o Aspirina/Ácido acetilsalicílico não deve ser administrado em crianças com infecções do trato
respiratório em virtude do risco de síndrome de Reye em crianças com influenza.

Obstrução nasal:

 Soro fisiológico 0,9% - nas narinas: alívio da obstrução nasal.


 Vasoconstritores tópicos (adrenérgicos tópicos): descongestionantes nasais / aliviam a obstrução nasal.
o Utilizados com cautela em crianças maiores de dois anos e no máximo por cinco dias.
o Contraindicados em lactentes (bradicardia, hipotensão e coma).
o Uso prolongado deve ser evitado.
 Para impedir o desenvolvimento da rinite medicamentosa.
 Efeito rebote que causa a sensação de obstrução quando o uso da droga é interrompido.
Thais Alves Fagundes

 Vasoconstritores sistêmicos: menos eficazes do que os tópicos e associados a efeitos sistêmicos


(hipertensão, excitação e palpitações).

Rinorreia:

 Anti-histamínicos de 1ª geração: reduzem a rinorreia.


o Ação dos anti-histamínicos está associada às propriedades anticolinérgicas, e não às propriedades
anti-histamínicas (anti-histamínicos de segunda geração ou “não sedativos” não têm esse efeito).
o Efeitos adversos: sedação.
 Brometo de ipratrópio (anticolinérgico tópico): reduzem a rinorreia.
o Efeito semelhante ao dos anti-histamínicos e não está associada à sedação.
o Efeitos adversos: irritação e sangramento nasal.

Tosse:

 Supressão da tosse geralmente não é necessária em pacientes com resfriado.


 Expectorantes, antitussígenos e mucolíticos não têm ação comprovada, não estando rotineiramente
indicados.
 Broncodilatadores (beta-2-agonista de curta duração): prescrição em caso de broncoespasmo.
 Uso profilático de antibióticos é contraindicado.
o Não previne a superposição de infecções secundárias.
o Favorece o desenvolvimento de resistência bacteriana.

Dor de garganta:

 Analgésicos leves: ocasionalmente pode estar indicado.


o Irritação da garganta associada aos resfriados em geral não é intensa.
o Indicada, em particular, se houver associação de mialgia ou cefaleia.

COMPLICAÇÕES
Complicações bacterianas: surgimento de dificuldade respiratória, piora da prostração e persistência da febre por
mais de 72 horas indica a possibilidade de complicações bacterianas.

Otite média aguda; Sinusite; Pneumonia; Faringoamigdalite bacteriana.

PREVENÇÃO
 Lavagem das mãos.
 Evitar a manipulação manual do nariz, olhos e bocas.
 Evitar lugares fechados com aglomerações de pessoas.
o Uso de vitamina C não evita o resfriado comum e não existem evidências que justifiquem indicação
de tratamento profilático com a mesma.
o Uso de vitamina D não evita o resfriado comum nem a gripe e a superdosagem pode levar a
complicações.
o Imunização ou quimioprofilaxia contra influenza pode ser útil para a prevenção de resfriados
causados por esse patógeno; entretanto, o vírus influenza é responsável apenas por pequena
proporção desses resfriados.
Thais Alves Fagundes

OTITE MÉDIA AGUDA (OM)

EPIDEMIOLOGIA
 Otite média (OM), depois do resfriado comum, é a afecção mais frequente na infância.
 Quase todas as crianças apresentarão pelo menos um episódio de otite média aguda (OMA) por ano nos três
primeiros anos de vida.
 Maior prevalência da OMA encontra-se entre os seis meses e três anos, sobretudo no primeiro ano de vida.

CLASSIFICAÇÃO
 OM é um processo de natureza inflamatória, infecciosa ou não.
 Anatomicamente ocupa focal ou generalizadamente a fenda auditiva.
o Osso temporal apresenta espaços pneumatizados contíguos que podem ser envolvidos nesse
processo.

OM espectro de uma doença:

 Otite média com efusão (OME) pode evoluir para 


o Otite média aguda sem perfuração (OMAsP) ou 
o Otite média aguda com perfuração (OMAcP) 
 Otite média supurativa crônica (OMSC): otorreia através da membrana timpânica perfurada,
por mais de duas a seis semanas.
 OMA recorrente (OMAR): três episódios de OMA em seis meses, ou quatro episódios em um ano.

OME
 Presença de secreção do tipo seroso ou mucoso na orelha média, sem perfuração da membrana timpânica.
 Sem sinais e sintomas de infecção aguda.

OMA
 Diagnóstico de OMA requer:
1. Histórico de início agudo de sinais e sintomas
2. Presença de efusão da orelha média (EOM)
3. Sinais e sintomas de inflamação da orelha média.
 Traduz efusão no ouvido médio, indicada por:
o Saliência da membrana timpânica.
o Mobilidade limitada ou ausência de mobilidade da membrana timpânica.
o Nível ar-fluido atrás da membrana timpânica.
o Otorreia.
 Associada a sintomas e sinais inflamatórios:
o Dor / Otalgia: desconforto nas orelhas.
o Abaulamento da membrana timpânica com hiperemia e/ou otorreia (nos casos de perfuração
timpânica).
Thais Alves Fagundes

FATORES DE RISCO
 Disfunção da tuba auditiva:
o Função de proteção, drenagem e ventilação do ouvido médio exercidos por ela são menos eficientes
na criança quando comparado com o adulto, o que explica a grande prevalência dessa doença na
infância.
 Fatores de risco:
o Predisposição genética; História familiar de OMA recorrente; Prematuridade; Gemelaridade; Doença
do refluxo gastroesofágico; Aleitamento artificial; Tabagismo passivo.
 Fatores predisponentes:
o Tomar mamadeira em decúbito dorsal; Usar chupeta; Frequentar creche ou berçário; Baixo nível
socioeconômico; Aglomerados populacionais; Assistência de saúde ineficaz.
 Indivíduos susceptíveis:
o Portadores de imunodeficiências; Portadores de hiper-reatividade das vias aéreas; Portadores de
doenças adenotonsilares; Portadores de alterações nasossinusais obstrutivas (IVAS, rinites, desvios
septais).

ETIOLOGIA
 Patógenos podem ser virais ou bacterianos.

 Sazonal: ocorrem nos meses do outono e inverno, predominantemente.


 Infecção pneumocócica: otalgia importante, febre e perfuração timpânica espontânea.
o Uso de antibioticoterapia recente indica a presença de pneumococo resistente.
o Persistência de OMA após a terapia com altas doses de amoxicilina, torna a etiologia pneumocócica
menos provável.
 Infecção do H influenzae: associação de otite e conjuntivite é sugestiva do H. influenzae.

PATOGÊNESE
 Sob circunstâncias normais, a tuba auditiva (três funções principais: ventilação, proteção e limpeza) fica
passivamente fechada e se abre pela contração do músculo.
 Mucosa da orelha média depende do suprimento constante de ar da nasofaringe, fornecido por meio da
tuba auditiva.
 Interrupção desse processo de ventilação pela obstrução da tuba dá início a uma resposta inflamatória que
inclui a metaplasia secretora, o comprometimento do sistema de transporte mucociliar e a efusão de líquido
para o interior da cavidade timpânica.

QUADRO CLÍNICO
 Sinais e sintomas de inflamação da orelha média.
o Otalgia: dor no ouvido.
 Crianças pequenas, a evidência de dor pode ser manifestada por irritabilidade, mudança nos
hábitos alimentares e de sono, e, ocasionalmente, a criança segura ou puxa a orelha
Thais Alves Fagundes

o Irritabilidade
o Febre
o Com ou sem otorreia
 Sintomas de IVAS (tosse, obstrução nasal ou rinorreia) podem preceder ou acompanhar a OMA.
 Otoscopia:
o Abaulamento da membrana timpânica.
 Achado de alto valor preditivo.
 Indica presença de efusão no ouvido médio.
o Opacificação provocada pelo edema da membrana.
o Hiperemia decorrente do processo inflamatório.
 Diferente da gerada pelo choro e febre alta, que é menos intensa e melhora com a criança
em repouso.
o Bolhas: secreção da orelha média mistura-se com ar e formam bolhas visíveis à otoscopia.
o Nível líquido em linha horizontal mesmo com a mudança de posição da cabeça (aumento da
viscosidade do fluido).
o Retração da membrana timpânica (causada por disfunção tubária prolongada).
 Otoscopia pneumática:
o Estimar o grau de mobilidade da membrana timpânica em resposta às pressões positiva e negativa
geradas ao se apertar e soltar o bulbo.
o Fornece dados acerca da presença de líquido na orelha média, sinal de OMA e OME.
 Orofaringoscopia: palato ogival, protrusão da arcada dentária superior, hipertrofia das amígdalas.
 Rinoscopia: conchas nasais edemaciadas.

DIAGNÓSTICO
Diagnóstico de OMA:

 Histórico de início agudo de sinais e sintomas


 Presença de efusão da orelha média (EOM): cor anormal, mobilidade reduzida, opacificação da membrana
timpânica; bolhas atrás da membrana (raro).
 Sinais e sintomas de inflamação da orelha média:
o Dor / otalgia;
o Abaulamento da membrana timpânica com hiperemia e/ou otorreia (nos casos de perfuração
timpânica).

Otoscopia pneumática / PneumotoOscopia:

 Permite a visualização da membrana em movimento.


 Em caso de líquido no ouvido médio há perda dessa característica.
Thais Alves Fagundes

TRATAMENTO
Conduta expectante:

 Dor: primeira medida deve visar o alívio da dor, principalmente nas primeiras 24 horas do episódio agudo.
o Nesse período, o antibiótico não influencia na dor mais que o placebo.
o Após o segundo dia da antibioticoterapia, há diminuição da dor.
 Opção pela conduta expectante deve garantir analgesia adequada e monitoramento cuidadoso pelos pais.
 Medicação para dor deve ser prescrita independente da antibioticoterapia.
 Não está indicado o uso de rotina de anti-inflamatórios hormonais.

Antibióticos:

 Definir quais pacientes necessitarão de antibiótico e quais poderão ser tratados de modo expectante.
o Não iniciar a antibioticoterapia tão logo seja feito o diagnóstico, baseia-se na alta taxa de cura
espontânea da OMA e na preocupação com a emergência de cepas multirresistentes, provocada
pelo uso indiscriminado de antibióticos.
o Antibioticoterapia pode ser atrasada por 48 a 72 horas, especialmente em crianças com mais de dois
anos que apresentam OMA leve. Resolução espontânea em 80% dos casos, sobretudo se a OMA não
é grave.
 Três fatores argumentam a favor da prescrição rotineira de terapia antimicrobiana para crianças com OMA:
o Bactérias patogênicas são responsáveis pela maioria dos casos.
o Melhora dos sintomas e a resolução da infecção ocorrem mais rapidamente e de forma mais
constante com tratamento antimicrobiano do que sem ele, apesar de a maioria dos casos não
tratados finalmente se resolver.
o Tratamento antimicrobiano rápido e adequado pode prevenir o desenvolvimento de complicações
supurativas.

Decisão de iniciar ou não o antibiótico deve considerar:

 Idade
o Pacientes < 2 anos: tratar todos os diagnósticos confirmados de OMA.
o Pacientes < 6 meses: episódios presumidos de OMA devem ser tratados com antibióticos (maior
potencial de morbidade das complicações infecciosas).
 Gravidade da doença
o Crianças entre 6 e 24 meses: episódios presumidos de OMA, mas graves (temperatura maior que 39
°C, otalgia significativa ou aparência toxemiada) devem ser tratados com antibióticos.
o Crianças nessa faixa etária, cujo diagnóstico seja questionável e a doença não seja grave, podem ser
observadas por um período de 2 a 3 dias com acompanhamento cuidadoso.
 Certeza diagnóstica: tratamento antibiótico.

*Observação é uma opção apropriada apenas se o acompanhamento puder ser garantido e os agentes
antibacterianos iniciados, se os sintomas persistirem ou piorarem. Doença não grave é definida como otalgia leve e
febre < 39 ºC nas últimas 24 horas. Doença grave é otalgia moderada a severa ou febre ≥ 39 ºC.
Thais Alves Fagundes

Tratamento cirúrgico:

 Indicações para a miringotomia em crianças com OMAincluem dor intensa e refratária; hiperpirexia;
complicações da OMA, como paralisia facial, mastoidite, labirintite ou infecção do sistema nervoso central; e
comprometimento imunológico de qualquer origem.
 Miringotomia deve ser considerada como terceira conduta de tratamento nos pacientes em que houve falha
nos dois primeiros cursos de antibiótico para um episódio de OMA. M
 Miringotomia com aspiração da efusão do ouvido médio é o procedimento mais utilizado quando o
tratamento clínico não surte efeito satisfatório.
 Após a cirurgia, devem-se colocar tubos de ventilação para evitar a cicatrização e manter aeração do ouvido
médio.

COMPLICAÇÕES
 Mastoidite
 Perdas auditivas: extremamente prejudiciais, pela importância na aquisição da linguagem, na socialização e
no desenvolvimento intelectual.
 Formação de pré-colesteatoma e colesteatoma.

PREVENÇÃO
 Vacina contra Influenza
 Vacina pneumocócica conjugada
 Fatores predisponentes devem ser combatidos e erradicados.
 Uso de xilitol, derivado da d-xilose (açúcar da madeira), com propriedades de impedir a invasão das mucosas
pelos patógenos, é controverso. Prática clínica observa bons resultados com o uso de xilitol.
Thais Alves Fagundes

RINOSSINUSITE AGUDA (RSA)


Rinossinusite: doenças em continuidade e indica processo inflamatório da mucosa de revestimento do nariz e seios
paranasais.

 Termo rinossinusite é mais apropriado do que sinusite.


 Rinite pode ser encontrada isoladamente, a sinusite geralmente não.
 Em 80% dos casos, a rinossinusite ocorre após IVAS de etiologia viral ou em consequência de anomalias
anatômicas ou alergia.

ANATOMIA DOS SEIOS PARANASAIS


 Seios etmoidal e maxilar estão presentes no momento do nascimento.
o Somente os seios etmoidais estão pneumatizados.
o Seios maxilares não estão pneumatizados até os 4 anos de idade.
 Seios esfenoidais surgem por volta dos 5 anos de idade.
 Seios frontais começam a se desenvolver entre os 7 e 8 anos, e não estão completamente desenvolvidos até
a adolescência.
 Óstios que drenam os seios são estreitos (1-3 mm) e drenam para o complexo óstio-meatal no meato nasal
médio.
 Seios paranasais normalmente são mantidos estéreis pelo sistema de limpeza mucociliar.

CLASSIFICAÇÃO
Rinossinusite aguda: processo inflamatório sinusal que dura até 12 semanas, com resolução completa dos sintomas.

 Rinossinusite aguda (RSA) é uma doença muitas vezes malconduzida, com exposição desnecessária à
radiação para fins diagnósticos e ao uso excessivo de antibióticos.

Rinossinusite recorrente: três episódios em 6 meses ou quatro em 12 meses, com intervalo assintomático, ou seja,
com remissão completa de no mínimo 10 dias. Cada episódio deve apresentar duração inferior a 30 dias.

Rinossinusite crônica: sintomas como tosse, rinorreia e obstrução nasal apresentam duração superior a 3 meses.

OBS.: deficiência de subclasses de IgG pode levar à sinusite de repetição ou crônica.

OBS.: doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) tem sido observada em crianças com rinossinusite e otite de grave
resolução, podendo levar à doença crônica das vias aéreas superiores. O pediatra deve suspeitar de DRGE na criança
com rinorreia crônica, obstrução nasal associada à tosse, rouquidão e respiração estridulosa.

EPIDEMIOLOGIA
 Decréscimo na prevalência da rinossinusite após seis anos de idade (maturação do sistema imune).
 Sazonal: aumento da incidência durante o outono e inverno em climas temperados.
 Crianças que frequentam creches têm significativo aumento na prevalência de rinossinusites.

FATORES PREDISPONENTES
Locorregionais:

 Provocados por obstrução do complexo osteomeatal, região onde drenam os seios etmoidais ateriores,
maxilares e frontal (Edema de mucosa secundário a IVAS; Rinite alérgica; Barotrauma; Desvio de septo;
Polipose nasal; Corpo estranho; Tumores).
Thais Alves Fagundes

 Qualidade do ar inspirado, frio ou seco, o uso de drogas como cocaína, de medicamentos como os
descongestionantes tópicos ou o tabagismo, ativo e passivo, podem acometer a função ciliar.
 Atresia de coanas interfere na drenagem nasal, favorecendo a infecção.
 Infecções dentárias também podem provocar rinossinusite maxilar.
 Infecção viral é o principal desencadeante das rinossinusites.
 Resfriado comum produz uma rinossinusite viral autolimitada.

Sistêmicos:

 Desnutrição; Diabetes mellitus; Quimioterapia; Pacientes transplantados com imunossupressão e uso


prolongado de esteroides.
 Imunodeficiências como deficiência de IgG ou IgA e os portadores de AIDS são susceptíveis.
 Doenças crônicas como fibrose cística e doença dos cílios imóveis são importantes causas de rinossinusites
crônicas.

ETIOLOGIA BACTERIANA
 Mais comum: gram positivo.
 Streptococcus pneumoniae; Haemophilus influenzae; Moraxella catarrhalis: comumente encontradas nos
seios maxilares de pacientes com RSA.
 Bactérias anaeróbias (Bacteroides, Fusobacterium e Peptostreptococcu): acometem adolescentes e estão
associadas a infecções dentárias.
 Staphylococcus aureus: pouco comum na RSA; importante pela sua virulência e resistência a terapêutica
usual (penicilina); identificado em pacientes imunodeprimidos.
 Bactérias gram-negativas (Pseudomonas aeruginosa, Klebisiella pneumoniae, Enterobacter species, Proteus
mirabillis, Escherichia coli): mais frequentes em pacientes hospitalizados.

PATOGÊNESE
 Sinusite bacteriana aguda, tipicamente, se segue a uma infecção viral do trato respiratório superior.
 Inicialmente, a infecção viral produz uma rinossinusite viral.
 Bactérias da nasofaringe que penetram nos seios em situação normal são prontamente eliminadas.
 Durante uma rinossinusite viral, a inflamação e o edema podem bloquear a drenagem do seio e prejudicar a
eliminação das bactérias através do mecanismo mucociliar.
 Condições são favoráveis ao crescimento, e grandes quantidades de bactérias são produzidas.

QUADRO CLÍNICO
 Rinorreia (71 a 80% dos casos).
o Variável em aspecto, não necessariamente purulenta,
 Tosse
 Febre (50 a 80% dos casos).
 Obstrução nasal (principal sintoma no pré-escolar).
 Pode ocorrer halitose, cefaleia, dor facial (as últimas mais frequentes em maiores de cinco anos de idade).
 Rinoscopia:
o Mucosa hiperemiada
o Rinorreia amarelada até fracamente purulenta e com viscosidade variável
 Rinoscopia anterior:
o Drenagem pós-nasal
o Pus no meato médio
o Edema da mucosa dos cornetos
Thais Alves Fagundes

 Hiperplasia das amígdalas e de toda cadeira linfática da parede faríngea pode ser constatada.
 Linfonodos cervicais podem estar hipertrofiados e dolorosos.

Etiologia viral / bacteriana é difícil distinguir. Apresentações clínicas que remetem a suspeita de RSA bacteriana:

1. Sinais e sintomas de resfriado por mais de 10 dias com qualquer tipo de rinorreia e tosse que piora à noite
(sintomas se prolongam).
2. Resfriado mais grave que o usual (febre alta, rinorreia purulenta copiosa, edema periorbitário e dor).
3. Resfriado que após cinco dias piora, com ou sem febre.
o Sendo que, febre e secreção purulenta podem acontecer nas RSAs virais, não indicando inicialmente
a prescrição de antibióticos.

DIAGNÓSTICO
 Diagnóstico essencialmente clínico.
 Sintomas persistentes de infecção do trato respiratório superior, incluindo secreções nasais e tosse por mais
de 10-14 dias sem melhora ou graves sintomas respiratórios, com temperatura de pelo menos 39 graus e
secreção nasal purulenta por 3-4 dias consecutivos, são sugestivos de sinusite bacteriana aguda.
 Crianças com sinusite crônica apresentam uma história de sintomas respiratórios persistentes, incluindo
tosse, secreções nasais ou congestões nasais, durando mais de 90 dias.

EXAMES DE IMAGEM
 Não são necessários para confirmar o diagnóstico de RSA na infância.
 Radiografia simples dos seios da face, usualmente, não é recomendada.
o Baixa sensibilidade
o Elevado número de falso-positivos
o Alta taxa de falso-negativos
 Achados sugestivos de sinusite aguda:
 Espessamento da mucosa maior que 4 mm
 Nível hidroaéreo
 Opacificação total do seio
 Tomografia computadorizada é o método de escolha para avaliar os seios paranasais, mas não é necessária
para definir o diagnóstico das rinossinusites agudas.
o Indicada nas rinossinusites agudas de repetição, crônicas, casos graves de rinossinusite aguda.
o Casos acompanhados de toxemia (prostração), imunossupressão, complicações supurativas
intraorbitárias e intracranianas e quando procedimento cirúrgico está sendo considerado após falha
do tratamento clínico.
 Nenhum estudo de imagem está indicado se os sintomas permanecem por menos de 10 dias, salvo nas
situações mencionadas.

TRATAMENTO
Higiene nasal com solução salina: reduz a congestão da mucosa, o que melhora a drenagem e patência dos
ostiossinusais.

 Facilita o transporte das secreções menos viscosas, favorecendo sua eliminação.


 Elimina mediadores inflamatórios como prostaglandinas, leucotrienos e interleucinas, que causam dano à
mucosa nasal.
 Favorece a frequência dos batimentos ciliares e o clearance mucociliar.
 Reduz a produção de interleucina-8 pelas células respiratórias ativadas, sendo útil para diminuir a resposta
inflamatória das mucosas das vias aéreas.
Thais Alves Fagundes

Analgésicos / Antitérmicos: devem ser usados de acordo com a necessidade.

OBS.: alívio dos sintomas das rinossinusites diminui a possibilidade de infecção bacteriana (hipótese de infecção
bacteriana: sintomas pioram em cinco dias ou persistem por mais de dez dias).

Antibióticos:

 Indicados para resolução mais rápida dos sintomas e na prevenção de complicações orbitárias e
intracranianas.
 Amoxicilina 45 mg/kg/dia
o Pacientes alérgicos à penicilina devem receber azitromicina ou claritromicina.
 Duração do tratamento deve ser de 10 a 14 dias.
 Se a criança não melhora em 72 horas, o antibiótico deve ser trocado, tendo em vista a possibilidade de
organismos resistentes.

Corticoides tópicos: terapia adjuvante eficaz.

Anti-histamínicos: não apresentam eficácia documentada, sendo prescritos em quadro alérgico importante.

Descongestionantes tópicos ou orais: uso deve ser desencorajado, pelo risco de manifestações tóxicas.

COMPLICAÇÕES
 Complicações orbitais e/ou intracranianas graves podem resultar de uma sinusite bacteriana aguda e
progredir rapidamente.
 Complicações orbitais: celulite periorbital e celulite orbital.
 Complicações intracranianas: abscesso epidural, meningite, trombose do seio cavernoso, empiema subdural
e abscesso cerebral.

PREVENÇÃO
 Limpeza frequente das mãos.
 Evitar contato com pessoas resfriadas.
 Vacinação anual para influenza.
Thais Alves Fagundes

FARINGOTONSILITE AGUDA
 Dor de garganta é a terceira maior queixa nas consultas de emergência.
 Termo amigdalite/tonsilite sempre foi amplamente empregado. Entretanto, como o anel linfático da faringe
é formado pelas tonsilas, dificilmente o paciente terá tonsilite isolada. Consequentemente, faringotonsilite
aguda (FTA) ou faringoamigdalite aguda (FAA) são denominações mais apropriadas.
 Grande desafio no atendimento da FTA é diferenciar etiologia viral da bacteriana.

FARINGOAMIGDALITE AGUDA VIRAL


 FAA viral é mais frequente (superior a 50% dos casos) e predomina em crianças menores de três anos.
 Agentes etiológicos: coxsakie, pólio, echovírus, influenza, parainfluenza, vírus sincicial respiratório e vírus do
sarampo, adenovírus, vírus do herpes simples, rinovírus, citomegalovírus, Epstein-Barr, etc.
 Não requer antibioticoterapia.

QUADRO CLÍNICO
 Sinais e sintomas sugestivos de etiologia viral:
o Febre
o Rinorreia serosa
o Tosse
o Rouquidão
o Hiperemia difusa da orofaringe com ou sem exsudato
o Conjuntivite
o Vômitos
o Diarreia
 Curso, em geral, é rápido. Limitado a três a quatro dias.

FARINGOAMIGDALITES AGUDAS BACTERIANAS


 FAA bacteriana corresponde a 20 a 40% dos casos.
 Streptococo beta-hemolítico do grupo A – S. pyogenes (agente mais comum na pediatria).
o Alta frequência
o Possibilidade de complicações como a febre reumática, glomerulonefrite difusa aguda, etc.
 Agentes etiológicos: S. pneumoniae, Haemophilus influenzae, H. parainfluenzae, Corynebacterium
diphteriae, C. hemolyticum, Salmonella typhi, Treponema pallidum, etc.
 Acomete crianças acima de 3 anos de idade, mais comum entre 5 e 15 anos.
 Transmissão se dá pela disseminação de gotículas de saliva, facilitando pelo contato próximo nas escolas e
aglomerados populacionais.

QUADRO CLÍNICO
 Quadro clínico não permite distinguir as estreptocócicas das de etiologia bacteriana.
 Quadro clínico por vezes se superpõe ao das infecções viróticas.
 Sinais e sintomas sugestivos de etiologia bacteriana:
o Início agudo de dor de garganta
o Odinofabia
o Febre elevada
o Cefaleia
o Náuseas
o Vômitos
o Dor abdominal
Thais Alves Fagundes

o Mal-estar
o Eritema
o Exsudato amigdaliano
 Nas estreptocócicas o exsudato amigdaliano está presente em 50 a 90% dos casos.
 Há adenopatia cervical anterior dolorosa em 30 a 60% dos casos
 Paciente pode apresentar petéquias no palato, edema, hiperemia de úvula, febre acima de
38,5°C, ausência de tosse ou sinais gripais.
o Exantema escarlatiniforme: bastante indicativo de infecção bacteriana.
 Período de incubação varia de um a quatro dias.
 Período contagioso abrange desde a fase aguda até uma semana após a remissão dos sintomas.
o Antibioticoterapia reduz o período de transmissão para 24 horas.

DIANÓSTICO

 Dificuldade diagnóstica nos casos leves, que podem simular uma doença viral, sendo importante realizar
testes diagnósticos.
 Doenças muitas vezes é superdiagnosticada, induzindo ao uso indiscriminado de antibióticos e predisponto à
resistência bacteriana.
 Tratamento incorreto pode induzir as complicações (febre reumática).
 Para o diagnóstico etiológico definitivo de faringoamigdalite estreptocócica, a cultura das tonsilas, criptas
tonsilares ou faringe, é o teste padrão-ouro, com 95% de especificidade na identificação.

TRATAMENTO
 Antibioticoterapia suprime os sintomas, reduz o período de transmissão para 24 horas e diminui as
complicações.
 Penicilina.
 Não é necessário iniciar o antibiótico precocemente, se o estado clínico do paciente permitir. Essa conduta
não acarreta aumento no risco das complicações.
 Em contrapartida, entre as vantagens do antibiótico, quando corretamente indicado, está a curta duração
dos sintomas.
 Duração do tratamento com penicilina V deve completar 10 dias mesmo que o paciente se mostre
assintomático já nos primeiros dias.
 A infecção tende a se resolver até sem tratamento, entretanto, se o tratamento for interrompido a infecção
pode reaparecer em poucos dias e o risco de febre reumática permanece.

Você também pode gostar