Colonos Colonias e Colonizadoras-eBook PDF
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UPF Editora
Editora
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Revisão
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Programação visual
Rubia Bedin Rizzi
Conselho Editorial
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2023
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sabilidade dos autores.
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Modo de acesso gratuito: <www.upf.br/editora>.
ISBN 978-65-5607-038-4. (E-book)
CDU: 325.14(816.5)
_______________________________________________________________
Bibliotecária responsável Jucelei Rodrigues Domingues - CRB 10/1569
Associação Brasileira
das Editoras Universitárias
Sumário
Introdução................................................................................................................... 7
Empresas colonizadoras e empresários: a colonização particular no Rio
Grande do Sul (séc. XIX e XX)..............................................................................13
Rosane Marcia Neumann
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João Carlos Tedesco | Rosane Marcia Neumann (Org.)
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Colonos, colônias e colonizadoras: aspectos da territorialização agrária no Sul do Brasil
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João Carlos Tedesco | Rosane Marcia Neumann (Org.)
Os organizadores
1
Reforçamos que a exatidão das informações e dos conceitos e opiniões emitidas, as imagens, as
tabelas, os quadros e as figuras são de exclusiva responsabilidade do(s) autor(es), bem como a
revisão gramatical.
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Empresas colonizadoras e
empresários: a colonização particular
no Rio Grande do Sul (séc. XIX e XX)
Introdução
A
imigração e colonização promovida e subsidiada pela iniciativa
privada de meados do século XIX a meados do século XX, ainda é
um campo a ser explorado pelas Ciências Humanas e as Ciências
Sociais, articulando os dados coletados em nível transnacional. No Bra-
sil, a pesquisa historiográfica está concentrada na região sul e sudeste,
mas com pouco diálogo inter-regional e, a quase ausência de estudos de
história comparada com projetos de imigração e colonização implementa-
dos no mesmo período em outros países latino-americanos.1 Os congres-
1
No Brasil, há uma produção historiográfica recente empenhada em discutir as políticas de imi-
gração e colonização, tanto pública quanto privada, no âmbito da América Latina. Destaque-se as
coletâneas Imigração nas Américas: estudos de história comparada (2018); Imigração na Améri-
ca Latina: histórias de fracassos (2014) e Migrações, territorialidades e ambiente (2023). Sobre a
colonização e as colônias privadas na Argentina, há o trabalho de Juan Luís Martirén (2016).
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Sobre trajetórias migrantes, há o artigo de Chiara Vangelista; e as coletâneas Micro-história,
trajetórias e imigração, com artigos de Giovanni Levi.
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Entende-se por empresário o sujeito que investiu capital de forma individual ou associado a
outros sujeitos em um empreendimento de colonização. Por colonizadora ou companhia de
colonização as empresas formadas por um ou mais sujeitos, tendo por fim a colonização. Como
empreendimento de colonização, o conjunto empresário mais empresa/colonizadora e seu es-
paço de atuação, ou seja, a colônia. Logo, a imigração e colonização são vistos na perspectiva
capitalista, assentada na compra e venda de terras, auferindo de uma margem de lucro. Como
consumidor, estavam os interessados em adquirir um lote de terras, independentemente da
posição social, nacionalidade, etnia ou religião, uma vez que o valor de troca era o capital. Os
empreendimentos privados, embora tenham assumido um discurso por vezes mais social, não
escapavam do jogo de mercado.
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O termo imigração alemã aqui é entendido de forma ampla como povos de origem germânica
ou de línguas germânicas, extrapolando o território do Estado-Nação Alemanha, unificado em
1871. É importante essa observação, uma vez que parcela dos imigrantes que ingressou na
colônia de São Leopoldo pertenciam a outras nacionalidades, mas apresentavam passaporte
alemão.
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Por exemplo, tal modelo de produção, substituindo gradualmente a mão de obra escrava pela
livre, foi adotado no final da década de 1840, na fazenda de café do Senador Vergueiro, em
Limeira, São Paulo. A família Vergueiro, então, já era proprietária de várias sesmarias, e a sua
iniciativa corroborava com a sua posição política liberal e antiescravagista. O fazendeiro ante-
cipava o capital da viagem aos imigrantes, os quais deveriam ressarci-lo posteriormente, com o
seu trabalho, no formato de contrato de parceria. O endividamento do imigrante iniciava com a
passagem, agregando as compras cotidianas realizadas no armazém da fazenda, empréstimos,
frustração de safra, gerando uma bola de neve de dívidas, atrelando-o à fazenda em um regime
servil. O agravamento da situação implicou na Revolta de Ibicaba ou Revolta dos Parceiros,
em 1856. Em consequência, os fazendeiros que adotaram a mão de obra imigrante passaram a
pagar uma remuneração fixa, assalariando seus trabalhadores. Já externamente, as denúncias
da exploração e péssimas condições de trabalho dos imigrantes foram levadas às autoridades
europeias, como o escrito do imigrante suíço Thomas Davatz (1850), resultando em medidas
restritivas, como o Reskript von der Heydt, emitido em 3 de novembro de 1859, na Prússia,
limitando a emigração de alemães ao sudeste do Brasil.
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Fonte: Rio Grande do Sul. Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão. Atlas Socioeconômico Rio Grande do Sul.
7ª ed. Disponível em: https://atlassocioeconomico.rs.gov.br/midia/imagem/map-2020-processo-historico-rs-corri-
gido. Acesso em 30 nov. 2022.
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Leo Waibel (1958, p. 214) lembra que no Brasil não houve coloniza-
ção espontânea, mas
[...] tem sido sempre organizada, planejada, subvencionada e dirigida por
alguém: pelo governo federal, das províncias ou estados, e dos municípios,
companhias particulares ou proprietários de terras individualmente. Por con-
seguinte, os métodos aplicados e os resultados alcançados diferem muito, de
acordo com o tipo de colonização.
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Por exemplo, a colônia Dona Francisca (Joinville), fundada em 1851 pela "Hamburger Koloni-
sations Verein von 1849" (Sociedade Colonizadora Hamburguesa); colonizadora pertencente ao
Senador Schroeder; Colônia Belga (1845); Colônia Azambuja (1877), a primeira colônia italia-
na; a Colônia Hansa-Humboldt (1897), fundada pela Companhia Hanseática de Colonização,
que encampou a Sociedade Colonizadora Hamburguesa. Sobre as empresas de colonização e
as colônias particulares em Santa Catarina, ver Werlang (2006); Vicenzi (2003); Zilles (1992);
Koelln (1980); Magro (2020).
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(continua...)
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(conclusão)
alemã;
1915 Barro Luce & Rosa 13.811 2.500
italiana
alemã;
1915 Medorema italiana;
nacionais
1916 Sarandi Selig & Cia.; Kreiser & Cia.
1916 Emílio Calo Emílio Calo 6.000 300 alemã
alemã;
1916 15 de Novembro Albert Schmitt ¿ 800
italiana
1917 Sturm Sturm
alemã;
1917 Dourado 24.228 1500
italiana
alemã;
1917 Rio Novo
italiana
1919 Rondão Sedrin
1922 Pessegueiro Zenzen
Augusta Achilles Couto
Chapada Sudbrack
alemã;
Venâncio Aires vários pequenos núcleos 43.466 7.680
nacionais
Diversos pequenos núcleos e co-
Diversos municípios 250.000 15.800 intrusos
lonos disseminados
Fonte: Pellanda (1925, p. 44-51); Roche (2022, p. 152-155); Quadro 11 – Secretaria de Estado dos Negócios das Obras
Públicas – Diretoria de Terras e Colonização – Organização do quadro das colônias no estado. Relatório da Dire-
tora de Terras e Colonização, 1919).
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des áreas, sem qualquer outro investimento. Ao analisar dessa ótica, cada
projeto de colonização particular apresentava as suas especificidades, além
de variações internas quanto à forma de execução. Isso significa que dentro
do plano geral de colonização da colonizadora Meyer havia microplanos,
aplicados de acordo com a área, o período e a conjuntura histórica.
A Bauernverein (Associação de Agricultores), na pessoa de Pe. Max
von Lassberg, SJ, juntamente com Karl Culmey, fundou em 4 de outu-
bro de 1902 a extensa colônia de Serro Azul (hoje Cerro Largo), com
área de 100.000 hectares, na região das Missões próxima as colônias es-
taduais de Guarani e Ijuí, povoando-a com colonos católicos de origem
alemã. A partir dessa experiência, o mesmo religioso fundou ainda, ao
lado, Santo Cristo e na província de Missiones, Argentina, as colônias
Puerto Rico e San Alberto. Na continuidade, e a partir da experiência
de Serro Azul, a Sociedade União Popular Católica ou Volksverein fun-
dou, na pessoa de Pe. João Evangelista Rick, SJ, a colônia Porto Novo,
hoje Itapiranga, em Santa Catarina, na margem norte do rio Uruguai,
em 31 de julho de 1926, terras essas adquiridas da Empresa Chapecó-
-Pepery. A Volksverein tinha como finalidade
[...] promover os interesses materiais e ideais do povo católico de fala alemã.
Seu programa, sobretudo na sua concepção ideal, avançou muito mais do que
a antiga Associação de Agricultores. Este era interconfessional e tinha a me-
lhoria material como objetivo principal. No breve tempo de sua existência rea-
lizou muito com a fundação de caixas de poupança, melhoria dos métodos de
trabalho, introdução de novas raças de gado e de modo especial pela fundação
da esplêndida colônia de Cerro Largo. A mistura confessional, porém, conti-
nha o gérmen de sua dissolução (Rick apud Rambo; Rabuske, 2004, p. 44).
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e a outra parte, pelo sistema privado, por meio da Gesellschaft Luce Rosa
& Cia. Ltda – empresa criada em 1883, com sede em Porto Alegre –, cujos
compradores, na maioria, eram de origem italiana, alemã e alguns espa-
nhóis. O processo de ocupação teve início com a demarcação e construção
da ferrovia, somente mais tarde consolidado por formas planejadas de colo-
nização. Conforme Gladis H. Wolff (2005), os trilhos de trem foram a linha
divisória entre duas formas de colonização distintas na colônia Barro.
O Quadro 2 assinala ainda a posse de uma extensa área de terras,
calculada em 250.000 hectares, em mãos de cerca de 15.800 intrusos,
parcela composta por nacionais, imigrantes e seus descendentes. Trata-
-se de terras ocupadas por particulares, cuja posse ainda não foi regulari-
zada. A regularização dos intrusos e a legitimação das posses de terras se
arrastou por toda Primeira República e adentrou as décadas seguintes.
Enfim, o impacto do avanço das empresas colonizadoras e dos colonos
sob o Planalto Rio-grandense no decorrer da Primeira República, ao estabe-
lecer as “colônias novas”, fica mais evidente ao ler, comparar e interpretar os
mapas produzidos pela Diretoria de Terras e Colonização do Estado, atrelan-
do colonização e construção de estradas. O primeiro mapa (Figura 4), datado
de 1915, situa nas margens do rio Uruguai colônia pública de Erechim, que
encampou parte do projeto da colônia particular de Quatro Irmãos, e nas
proximidades de Passo Fundo, a colônia Não-Me-Toque, Guaporé e Alfredo
Chaves, onde a colonização pública e privada se altercavam.
Fonte: Relatório da Diretoria de Terras e Colonização, 1915. Memorial do Legislativo, Porto Alegre, RS.
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Quer isso dizer que são de duas naturezas essencialmente, as medidas gerais
a tomar em relação ao serviço de colonização: medidas relativas à instalação
dos agricultores; medidas relativas à nacionalização gradual dos de origem
estrangeira. (Relatório OP, 1915, p. 83).
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timadas adquiridas para esse fim, bem como em terras entregues pelo
Estado como indenização por outras de que se houvera utilizado” (Rela-
tório OP, 1928, p. 59). O diferencial entre a colonização pública e privada
residia na finalidade:
[...] tendo a colonização particular, como preocupação exclusiva, somente fins
utilitários de lucro imediato acarretando posteriormente aos poderes públicos
pesados ônus mormente com trabalhos de viação, o Estado não tem feito mais,
desde alguns anos, concessão de grandes áreas a particulares, para esse fim
(Relatório OP, 1928, p. 59).
Considerações finais
Portanto, parafraseando Carlo Ginzburg, ao investigar as empresas
colonizadoras e os empresários envolvidos na colonização particular no
Rio Grande do Sul nos séculos XIX e XX, há mais perguntas do que res-
postas. Os projetos de colonização privados, que fogem à regra, fornecem
pistas sobre esse universo colonial, sua complexidade, suas dificuldades.
Ao analisar as colonizadoras, seus sujeitos e espaços, de forma indivi-
dualizada e em escala reduzida, é possível visualizar o mosaico dos dife-
rentes projetos de colonização, seus interesses e finalidades, seus pontos
de contato e afastamento. Há ainda muitas lacunas a serem preenchidas
em relação às empresas e as colônias particulares fundadas no Estado,
tendo em vista a carência de arquivos delegados por esses empreendi-
mentos.7 É comum perseguir suas pegadas na documentação burocrática
produzida pelos órgãos públicos, mas que falam pouco sobre os sujeitos
envolvidos e suas trajetórias. Acrescenta-se ainda o emaranhado de em-
7
A coletânea Colonos, colônias e colonizadoras, em seus seis volumes, aborda em vários capítu-
los empreendimentos de colonização públicos e privados situados no sul do país, e os desdobra-
mentos dessas colônias. Parte dos estudos são resultado de monografias, dissertações e teses,
produzidas dentro dos limites da documentação, contemplando diferentes recortes teórico-me-
todológicos e enfoques.
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A colonização privada sob intervenção:
conflitos de terra, reivindicações dos
colonos e mediação estatal no sul do
Rio Grande do Sul
Patrícia Bosenbecker
N
os arredores da Colônia São Lourenço, em meados de abril de
1868, três homens armados atiraram contra Jacob Rheingantz,
diretor e empresário da colônia, que escapou sem arranhões de
mais uma tentativa de assassinato. Em 19 de abril, contudo, as notícias
de que o empresário teria sido assassinado chegaram a Rio Grande.1 Por-
que alguém tentava assassinar o empresário não é uma pergunta difícil
de responder. Rheingantz tinha muitas inimizades com proprietários de
terras na região e, nesta época, também com colonos. Expulso de São
Lourenço pelos imigrantes em dezembro de 1867, após uma grande re-
volta (veja entre outros Bosenbecker, 2020; Iepsen, 2008; Kolling, 2008),
Rheingantz, segundo o jornal que consultamos, teria decidido voltar para
a casa da família na colônia. A pergunta mais instigadora talvez seja: o
que Rheingantz estava bisbilhotando ao caminhar escondido pelos matos
nos arredores da própria colônia? Esta resposta não é simples e requer
um esforço para entender as novas posições que a família ocupava, o que
perpassa a análise da sua relação com os imigrantes e com o Estado.
1
Biblioteca Rio-Grandense. O Commercial, Rio Grande, ano XII, nº 89, p. 1, 20/21, abr. 1868.
Patrícia Bosenbecker
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A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
3
Sobre essas lideranças, veja Bosenbecker (2018)
61
Patrícia Bosenbecker
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A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
8
Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul, doravante APERS. Município de Pelotas.
Tabelionato do 4º distrito (Boqueirão). Livro Notarial de Notas, n. 2.
9
Relatório de Lothar de la Rue, Agente Interprete da Colonização em Porto Alegre enviado ao
Presidente da Província Dr. João Antônio, 14 ago. 1869. AHRS. Fundo: Imigração, Terras e
Colonização. São Lourenço/empresário/diretor/diversos, mç. 72, cx. 37.
10
Relatório de Lothar de la Rue, Agente Interprete da Colonização em Porto Alegre enviado ao
Presidente da Província Dr. João Antônio, 14 ago. 1869. AHRS. Fundo: Imigração, Terras e
Colonização. São Lourenço/empresário/diretor/diversos, mç. 72, cx. 37, p. 1 e 1v.
63
Patrícia Bosenbecker
11
Foram presos como lideranças da revolta os colonos José Pons, Carlos Rheinbrecht, Felipe Sch-
neid, Guilherme Könsgen e o irmão Pedro Könzgen, Jacob Vogt, Jacob Deker, Chistiano Luis Thu-
row, Jeremias Ostenberg e André Paulsen. As informações são do processo que investigou o con-
flito: APERS. Comarca de Pelotas. Tribunal do Júri. Processo Crime n. 520, 1868, cx. 006.0311.
64
A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
12
Veja: Relatorio com que o excellentissimo sr. dr. João Sertorio, presidente d'esta provincia, pas-
sou a administração da mesma ao ex.mo sr. dr. João Capistrano de Miranda e Castro, 1.o vice-
-presidente, no dia 29 de agosto de 1870. Porto Alegre, Typ. do Rio Grandense, 1870, p. 68-69;
Relatorio com que o excellentissimo senhor conselheiro Francisco Xavier Pinto Lima abrio a
1.a sessão da 14.a legislatura da Assembléa Legislativa Provincial em 14 de março de 1871.
Porto-Alegre, Typ. do Rio-Grandense, 1871, p. 30-31.
65
Patrícia Bosenbecker
com 64, Travessão Feliz com 10, Harmonia com 62, Pomerânia com 20 e
Cerrito ou Serrito, dependendo do documento, também com 20.
Ao todo, as duas comissões de 1869 e 1879 contaram, portanto, com
163 colonos reclamantes, mas em pelo menos duas ocasiões um mesmo
colono com propriedade de lotes em picadas diferentes encaminhou recla-
mações específicas para cada um deles, contabilizando um total de 312
reclamações, sendo que a maioria dos colonos tinha duas reclamações e
a minoria uma, constando ainda alguns colonos com três reclamações.
Do total de reclamações, cerca de 84% requeriam a medição ou a verifi-
cação da medição do lote, que é chamado nos dois quadros de prazo (aqui
como simples sinônimo), e pouco mais de 50% exigiam a regularização
das estradas das picadas, incluindo desde a simples ligação com a estrada
geral até a definição da estrada da picada. Ao todo eram 69 reclamações
que envolviam transações financeiras, com pedidos de indenização por
prejuízos de natureza variada, irregularidades nas cobranças de juros e
confusões entre valores indevidamente creditados ou excluídos das con-
tas, além de acerto de contas por valores de subsídios não contabilizados
em Hamburgo (22 reclamações) e de viagens de Rio Grande à colônia (14
reclamações).
Havia ainda dez reclamações diversas e cinco colonos que reclama-
vam de trocas de lote, entre as quais estavam colonos que acusavam o
empresário de ter vendido o lote colonial durante a ausência dos referi-
dos colonos de São Lourenço (dois deles compraram o lote, desmataram e
foram a Rio Grande buscar a família, mas ao retornar encontraram o lote
ocupado por outra família), além da troca por prejuízos ou insatisfação
com a terra e litígios processuais. Sete colonos reclamavam sobre a en-
trega do título definitivo do lote ou correção dos documentos. Problemas
dessa ordem acompanharam o processo de colonização em meados do
século XIX, como mostrou Seyferth (1999, p. 297): “ao contrário do que
pretendiam o governo imperial e os idealizadores da política de coloni-
zação, o estabelecimento de colônias não foi um processo tranquilo de
66
A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
67
Patrícia Bosenbecker
Christian Bohrer 14
Georg May 15 Medição do seu prazo. Faça-se. -
Frantz Pritsch 16
Georg Born 17
Peter Hermann 18
Idem e mais o pagm.to de 180 Thalers prussianos que Não estando provada a alegação propôs-se conci-
diz ter entregue ao empresário em Hamburgo e não lhe liação que não verificou, nega-se o Emp.º o facto e
Phillipp Neutzling 19 -
haviam sido creditados em sua conta que por isso ainda ambos, porém, concordam com [ilegível] a julgam.to
não liquidou. arbitral em Pelotas, sem recurso.
É improcedente a reclamação a vista da informação
Indenização de diversas quantias que diz não lhe terem
do diretor e dos documentos que apresentam e que
Ludwig Schröder 20 sido creditadas, das quais tem, entretanto, recibos e cuja
provão justamente o contrário do que alega o recla-
Moinho
13
No rascunho: “Reclama mais que seu prazo tem menos [rasurado] largura no fundo que na frente/Seja verificado pelo agrimensor quanto a esta parte”.
14
No rascunho: “Em dúvida se pertence a esta [picada] ou á do Moinho”.
68
A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
(continua...)
Medição das linhas laterais do seu prazo e indenização Não sendo aceitáveis as 2 testemunhas apresentadas
da quantia de 50$ que diz ter pago em 1861 ao empre- pelo reclamante por serem inimigas do reclamado, não
Valentin Arnold 22 sário e não lhe haver sido creditada, o que pode provar pode ser atendida sua reclamação. Acresce que o re-
com testemunhas e finalmente da de 15:500, que des- clamante já liquidou suas contas e que o reclamado
pendeu com seu transporte do Rio Grande a Colônia. nega tal dívida. Quanto a 1ª p.e faça-se a medição.
Indenização de diferentes quantias no valor de 353$200,
Proceda-se a conciliação. [a outra reconheço o que
Friderich Kuhn 23 que não lhe foram creditadas; e a entrega do título de Verificou-se (Termo nº)
verificou se como se vê do respectivo termo nº 1.]15
seu prazo, que já pagou.
Verificação da medição de seu prazo e indenização de
differ.es quantias que entende ter pago indevidamente ao
Quanto a 1ª, verifique-se. Quanto ao mais, proceda-
empresário, procedentes de despesa com seu transpor- Verificou a conciliação – dest Temo
Jacob Scholl 2416 -se a conciliação, que se verificou não obst. o empre-
te do Rio Grande a Colônia e de frete de um carro de nº ...).
sário não lhe reconhecer razão e não.
Moinho
15
Parte riscada no manuscrito, contudo o significado parece ser de que foi feita verificação e se provou no termo conciliatório.
16
No rascunho: “Reclama o pagam.to das desp. feitas p.r elle com o transporte seu e de sua fam.ª do Rio Gr.e á col., sendo 22$ do R. Gr.e á praia de S.
Lour. e 32$ de alli á colônia. Reclama igualm.te contra o Empr.º p.r negar-se a vender-lhe um prazo colônial, sendo que p.ª a colônia se contractou com
Ag.te d’aquelle em Hamburgo. Outrossim que o prazo colônial que possue, comprado a outro colono, não tem nos fundos a largura e compr.º devidos.
Reclama m.s pela indenização da quantia de 75$ que lhe foi indevidam.te cobrada pelo empr.º do [ilegível] de um carro do reclam.te que em seu embar-
que deixara em Hamburgo p.r não ter m.s lugar no navio e que o Ag.te do Empr. Se comprometeo a mandar, bem assim das div.os pertences do carro ao
prejuiso avalia em 75$. Já deu queixa ao Dir.or./Tem queixa processada na Presid.e a cujo julgam.to appellão ambos, reclam.te e reclamado.”
17
No rascunho: “Não se conciliou, sujeitão-se á decisão do proc.º em andam.to pelo Dir.or.”
18
No rascunho: O valor de 15$500, que reivindica ser indenizado, corresponde a transporte até a colônia, “que pago de frete á João Klump na occasião
em que veio à esta Colônia e cuja quantia lhe devia ser restituida em virtude do convenio. Tem a sua conta [ilegível] 28/Informa o Dir.or não lhe ter
creditado os 15$500 p.r não estarem nos livros e reclam.te não apresentar docum.to de os ter pago. Q.to ao prazo, sabe pelo Empr.º estar a questão sujeita
ao V. Consul da Prussia/A vista das informações nada pode resolver a Comm.ª”
69
Patrícia Bosenbecker
(continua...)
Indenização de juros por ter pago pelo valor de seu pra- Improcedente a reclamação a vista da informação do
Oscar Preisler 2819
zo antes de medido e demarcado. Diretor, que o julga infundada por diversas razões.
Indenização da diferença para mais, obtida pelo em-
presário na venda de um prazo colonial que antes lhe Não se verificou apelando ambos
Proceda-se a conciliação que não se verificou, ape-
pertencera e que durante uma viagem sua foi vendido para a decisão da Presidência a que
Johann Rosskopf 29 20
lando ambos para decisão da Presidência G.ª já foi
a outro por dito empresário, que prometera tal indeniza- já foi remetido o processo organizado
remetido processo [ilegível] pelo diretor.
ção, mediante a que aceitara o reclamante outro prazo pelo diretor.
por aquele.
Medição do seu prazo e indenização das despesas fei- Quanto a 1ª faça-se a medição, quanto a 2ª, não tem
Valentin Hollerbach 30
tas com seu transporte do Rio Grande a Colônia. direito visto não ter vindo como colono.
Moinho
Indenização das despesas feitas com seu transporte de Quanto a 1ª não tem direito p. que não veio como
Rio Grande a Colônia com sua família (20$000), e das colono; quanto a 2ª é infundada, por quanto os 25$
Daniel Fach 31
de 25$ e 11$500 que diz terem lhe sido indevidamente são a importância da sisa e os 11:500 os custos de
cobradas por seu título. seu proc.º em que foi condenado.21
Adolph Stahlbach 32 Medição de seu prazo. Faça-se a medição.
Verificação da medição de seu prazo e indenização de
Verifique-se. Quanto a 2ª, proceda-se a conciliação,
Johann Peil 3322 pequenas quantias que diz não lhe terem sido credita-
se verificou-se. (T. nº 4).
das.
Medição de seu prazo e indenização da importância de
Joachim Heiden 3423 10 s. de feijão vendidos ao empresário e que não lhe Faça a medição. Quanto a 2ª não provou a alegação.
está creditada.
19
No rascunho: “Informa o Dir.or que nunca, nem na sua liquid. reclamou tal cousa e que não sabe nem q se funda tal reclamação; [ilegível] que seu prazo
foi medido e demarcado pela Comm.ª do Gov.º (B. de Calden) em 1868.”
20
No rascunho: “Reclama ter em 1859 comprado o prazo nº 28, que como elle se ausentasse da Col.ª p.r um anno, com combinação do empresario, a
fim de ganhar alg.m dinr.º, foi pelo m.mo empres.º vendido a outro. Voltando á Colônia, recebeu outro prazo com a promessa do Empr.º de pagar-lhe a
differença com que sobre o 1º preço, foi vendido dito prazo. Proteste haver a diff.ª. Tem já a queixa em poder do Dir.or. /Informa o Dir.or que a queixa
processada se acha em poder da Presid.e p.ª cujo julgam.to appelarão ambos, reclam.te e reclamado/Não se conciliarão, appellão p. a decisão do Presid.ª
no proc.º supra.”
21
No rascunho, consta na lateral: “É de lei pagar as custas o que perde a causa.” Consta ainda tanto para Fach quanto para Hollerbach: “Informa o Dir.
or
p. p.r falta de tempo ainda não lhes liquidou as contas.”
22
No rascunho: “Reclama a parte do premio do trigo, que não recebeu.”
23
No rascunho: “Informa o Dir.or que o reclam.te obrigou-se a provar o facto mas que até hoje não o fes/Trata da questão q.do liquidar a sua conta.”
70
A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
(continua...)
Verificação da medição dos seus prazos por julgar-se Concordarão o Empr.º, o reclamante
prejudicado pela 2ª medição, que lhe tirou mais ou o seu vizinho C. Hübner, que a [divisa]
Heinrich Gehling 3524 Ao empresário para atender ao reclamante.
menos 30 braças que lhe haviam sido concedidas com entre as ditas [ilegível] por br.º [longo
Antas
24
No rascunho: “O empresario concede desde que o visinho annua/Verifiq. pelo Agrimensor.”
25
No rascunho: “Medição de seu prazo e seos juros na m.ma rasao dos p. pagou ao Empr.º nos 1º tres mezes, no fim dos que lhe prometteo esta medir-lho.
(desde que effectuou o pagmto esta data)/Tem conta liquid., sem eff.o a reclam.”
26
No rascunho: “O prazo da Boa Vista foi era propried. de outro colono, a troca foi feita p.r Rheingantz. Tem sua queixa em poder do Dir.or/Verif. Pelo
Agrim. Ouça-se o Dir.or e Empr. Conciliarão-se recebendo Link do Empresario como indenização a metade das terras (Chale) 100$000 em dinheiro e
quitação de sua [divida] de 91$000.”
27
No rascunho: “Informa o Dir,or q. é injusta tal queixa que nunca lhe foi dada e q se o fosse não aceitaria, p.r que se assim acontece, é p.r necessid.e/
Verifique-se pelo Agrim.”
28
No rascunho: “Informa o Dir.or que não aceitou o recibo d’aquella quantia, p.r ter-lhe o [ilegível] o Empr.º haver-lhe sido o m.mo extorquido á força.”
29
No rascunho: “Dá o Empr. o Título e m.s 50$ p.ª a estrada.”
71
Patrícia Bosenbecker
(continua...)
Idem e, quanto a 2ª, ao empresário para atender ao
Quevedos
Wilhelm Heller 43 Idem; e indicação definitiva da estrada.
reclamante.
Heinrich Dummer 44 Idem Idem
Johann Lemke 45 Idem Idem
Não sendo colono, não se lhe tomou
Johann Adam Kuns30 - - -
a reclamação.
Boa vista
30
No rascunho: “[Provou] ter pago 200$ pelo prazo col.ª que possuio, antes de ter sido este vendido p.r elle a Schneid a favor de q.m cede os 200$ (Vide
questão Link e Schneid) Dis ter m.s de [duas] ves querido liquidar suas contas antes da venda e o Empr.º [ilegível – negar-se] a isso/Violencia – [Deci-
são] vem de queixa na autoridade policial.”
31
No rascunho: “Tem queixa em poder do Dir.or/ Medição do prazo/Meça-se/Restituição das despesas feitas com seu transporte do R. Gr.e a qui/ Concord.
O Empr.º /Pagam.to de uma factura de fej.ª que vendeu ao Empr.º feitas as com a vantagem de 25% sobre o respectivo preço, devendo as contas ser
feitas á vista do original da m.ma factura pelo liquidador; p.r isso que nos livros do Empr.º lhe está creditada quantia inf.or ao verdadr.º preço/Ind. o
Empr.º com 25$./Diz que a factura importou em 186 [ilegível] 10 [ilegível], aos livros do Empr.º a conta é de 170 [ilegível] 29 ¼ [ilegível], mais 25% 42
[ilegível] 22 ¼ [ilegível] á 10 [ilegível] 2 cobertores. 25 [ilegível], 21 [ilegível]/O importe de 57 sacos de batatas que o Empr.º deixou de acceitar dep.s de
haver comprado, resultando perderem-se as suas batatas. Indenização de diversas quantias que não lhe forão devidam.te creditadas, result.es de generos
producto p.r elle vendidos ao Empr.º, como deve constar das contas exist.es em poder do Dir.º/Liquidarão suas contas, passando o Empr.º ao reclam..te o
título de seu prazo col.ª, e este áquelle docum.to de dever-lhe 50$ pagaveis no 1º de julho d’este anno.”
72
A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
(continua...)
August Becker 50 queire de trigo (!!!)33 que, a convite do empresário man- Satisfeito em tudo.
dou a Exposição nac.al.
Hermann Vahl 51 Verificação da medição do prazo. Verifique-se
Carl Neugebauer 52 Idem, e liquidação de sua conta. Proceda-se a conciliação. que se verificou (T. nº 1) Verificou-se (T. nº ).
Indenização em dinheiro da porção de terreno que falta Não tem lugar, visto informar o diretor que é iniqua e
Ferdinand Müller 533 no seu prazo, calculado há razão do valor que hoje tem de má fé semelhante reclamação por diversas razões
de prazos como o seu. [ilegível]
Heinrich Tuchte-
54 Verificação da medição do prazo. Verifique-se.
nhagen
Idem quanto a 1ª, quanto a 2ª, improcedente pela
Friderich Hertzberg Idem e seu ajuste de conta, a que se nega o diretor por
554 razão dada pelo diretor, porquanto [nada costa após
ou Herzberg já estarem elas liquidadas antes do convenio.
Bom Jesus
a palavra porquanto].
Ludwig Kröning 56 Verificação do prazo. Verifique-se.
Não lhe ter sido creditada a quantia de 300$ que diz ter
É infundada a reclamação, como se verifica da infor-
Heinrich Reichow 575 ganho em trabalhos de estrada na picada dos Queve-
mação e conta apresentada pelo diretor.
dos.
Friederich Janke 58 Verificação da medição do prazo. Verifique-se.
Johann Neitzke 59 Demarcação da linha que o divide com o vizinho. Demarque-se.
32
No rascunho: “(Já liquidou suas contas. Está aqui à 8 annos). Seg.do informa o Dir.or é infundada e injusta tal reclamação, visto que o Empr.º ainda lhe
fez espontaneas concessões na liquidação de sua conta/Outra reclamação do mesmo colono: Quer uma conta p.r extenso desde 1861 até 64, porq. duvida
de sua liquid./Reclama m.s terem-lhe sido contadas em sua liquid. Pelo Dir.or 6 vezes os juros indevidam.te.”
33
Ressaltado no original.
3
No rascunho: “Seg.do a informação do Dir.or é iniqua e de má fé a reclamação de F. Müller, porq.to comprou redim.to 15.000 br.ª p.r 500$ e não 100br.ª,
com p.r engano [escreveu] o Escrivão, de cujo engano perfidam.te se quer [apasitor] Müller fora [ilegível].”
4
No rascunho: O Diretor informou que suas contas estavam há anos liquidadas. O colono também reclamava indenização por passagens de Rio Grande
a colônia.
5
No rascunho: “Informa o Dir.or que é apenas desconfiança que o reclam.te tem de não lhe haver sido creditada tal quantia; como se pode ver da conta
que remethe sob nº [ilegível].”
73
Patrícia Bosenbecker
(continua...)
1º estabelecimento na linha do Cerrito, donde foi obriga- como outros compreendido nas terras que comprou
Gottfried Lerm 68
do a retirar-se por pertencem tais terras ao D.r Chaves, e do Governo; além disso o reclamante já liquidou suas
verificação da medição do novo prazo. contas e recebeu a indenização igual a qual outros
deu o mesmo empresário. Quanto a 2ª, verifique-se.
6
No rascunho: “Reclama que tendo comprado ao empresario em 25 de Agosto de 1862 os seus prazos col. de nº 27 a e 2[8] na linha dos Quevedos pela
quantia de 1:000$000 pagavel á 2 annos pago o transporte na mesma occasião, sendo-lhe descontado o [ilegível] de 120$000, assim em pagou de facto
440$000 por cada um dos 2 prazos, obrigando-se o empresario a mandar medir os ditos prazos 8 dias depois da desta compra e pagar-lhe o resp. título
de propriedade como tudo prova por um documento firmado pelo empresario. Dias depois vendeu o empresario os mencionados prazos entregando ao
reclamante o prazo [ilegível] 36 da mesma linha indicando-lhe mais outro, sem porem nem medir nem um até hoje. Declara Requer então o reclamante
que vem ficar com o prazo nº 36 que occupa pelo preço, e suas condições estabelecidas, mas que não asseita outro senão que dos comprados e se não
reclama restituição da quantia paga de 440$00 com os competentes juros./Não concilia, só retira o reclame a sua proposta não obstante o empresario
offerecendo á pagar o valor do prazo e os juros competentes até hoje, em [ilegível] a importância da divida do reclam.te liq.do pelo Diretor de 312$000.
Outro sim [ilegível – propõe] o empresario com o reclam.te (querendo) fica com o segundo prazo e pega para liquidação das custas a metade da impor-
tância de seu cento [ou conto].”
7
No rascunho consta que este colono tem as contas liquidadas.
74
A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
(continua...)
8
No rascunho: “Comprou o prazo n. 33 que, como não lhe agradasse, propoz ao Empr.º trocar p.r outro, ou então ficar com elle indo o reclam.te comprar
outro sem ou outra colônia, o que fez, pelo que q.do hoje entregar aquelle./Informa o Dir.or que nada sabe á resp.to e que sem duvida tal pretensão tem
p.r objeto pagar o que deve ao Empr.º. Tem conta liquid.ª até Maio do anno p.”
9
No rascunho: “Recebeu; [prova-se] como a recebeu em forma ajustada pelo Empr.º A informação do Dir.or é concorde.” Seguindo no rascunho, consta
o nome de Ferdinand Gehrmann, número 76, como último nesta página, apenas pedindo medição do prazo e entrega do título e despesas de viagem.
3
No rascunho: do colono número 77 até o número 82, incluindo o nome de Gehrmann, que está duplicado, consta a reclamação da abertura da estrada
e da medição dos lotes, além de indenização para alguns. A reclamação da estrada está colocada da seguinte forma: “Reclamão caminho p.r de seus
prazos chega a estrada geral, sendo aquella na extensão de 250 braças m.s ou menos; entrando elles com a metade do [q.] p.r isso for necess.º.”
75
Patrícia Bosenbecker
(continua...)
Wilhelm Bartz 83
Ferdinand Schlatz 84
Friderich Becker 85
Ludwig Ehlert 86
Friederich Timm 87
Gustav Krummreich 88 Medição de seus prazos e indicação do lugar por onde
Faça-se a medição; quanto a mais a empresário para
Quevedos
Franz Roschild 89
deve passar a estrada que os comunique com a estrada
Heinrich Becker 90 atender a reclamação.
Heinrich Hepp 91 geral.
Wilhelm Bund 92
Carl Döring 93
Johann Radatz 94
Carl Blank 95
Johann Peter Berg
96
ou Berger
Pomera- Providências para ser inutilizado um caminho que os Dê queixa contra os vizinhos a autoridade compe-
Carl Krüger 97
nia vizinhos abrirão em suas terras. tente.
Indenização de uma diferença no valor de 6 sacos de
feijão que diz ter vendido por um preço ao empresário e Quanto a 1ª, não tem lugar, a visa das informações,
O empresário entregara logo que vá a
Johann Loch 98 por este pago por outro [informado] importando aquela quanto a 2ª ao empresário para atender ao recla-
Colônia o Escr.º competente.
diferença 21$000. A entrega de seu título por já ter pago mante.
sua dívida.
Providencias acerca de uma estrada que passa pelo seu
Quevedos
76
A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
(continua...)
Albert Pärten
4
106
Wilhelm Lütke 107
Carl August Knoll 108 Faça-se a medição, quanto a estrada, ao empresário Todos liquidarão já suas contas por
Friederich Schmiele 109 Medição dos prazos e designação definitiva da estrada.
Feliz
4
Poderia ser Albert Fanton conforme Coaracy (1957).
5
No rascunho, consta que todos os colonos de Picada Feliz reclamam da cobrança dos 20 thalers em Hamburgo e da cotação de câmbio. Apenas Hilzin-
ger, Zimmer, August e Wilhelm Barz e Vollbrecht reclamam das medições e da estrada. Nesse documento, os nomes dos colonos estão em outra ordem.
77
Patrícia Bosenbecker
(conclusão)
Augusto Zibell 144 6
Medição dos prazos e designação definitiva da estrada.
August Schulz 145 Indenização7 da quantia de 20 thalers que a cada um
Ernest Schulz 146 deles foram adiantadas por ordem do empresário e com
Carl Doring 147
Feliz
mann moradores da linha Feliz desta Colônia, e tendo sido de- Levar ao conhecimento da presidência.
Albert Griep 154 cidido a mesma queixa por este ao Presidente da Prov.
Friederich Knuth 155 foi por ele remetido ao Delegado de Polícia Pelotas, sem
Johann Thürmer 156 que até agora [ilegível] produzido efeito algum.
Wilhelm Borck 157
Reclama mais que lhe tendo o empresário vendido um meio prazo colonial, começava ele a fazer derrubada e caminho e voltava depois para buscar
Johann Thürmer - a sua família com consentimento do empresário; quando, porém, voltara achou o mesmo meio prazo vendido, sem que lhe vendesse outro prazo
senão a dinheiro a vista. Não tendo o dinheiro pronto sofreu muitos prejuízos e protesta ser indenizado por estes. (Fora queixa na mão do Diretor).
Quevedos Carl Stücker 158 Verificação de seu prazo nº 34.
Promete o empresário levar em conta a quantia re-
Reclama 5$000 que lhe não foram descontados, nas
Cerrito Viuva Luisa Ehlert 159 clamada na ocasião de pagar-se as despesas da
despesas de sua passagem do Rio Grande para cá.
escritura de venda.
August Gottlieb
Bom Jesus
6
A partir de Augusto Zibell, os nomes constam apenas no rascunho. Nesse documento os colonos não estão numerados, contudo, continuei a contagem
conforme o documento de 1869.
7
Aparentemente, os 6 colonos aqui reclamantes também questionavam os valores passados em Hamburgo. O quadro está bastante confuso nessa parte,
dificultando a leitura.
78
A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
Considerações finais
Mostramos nesse trabalho uma continuação das pesquisas rea-
lizadas sobre a condição dos imigrantes em uma das maiores colônias
privadas do sul do país. Administrada e de propriedade de um grande
comerciante alemão e empresário da colonização do Rio Grande do Sul,
Jacob Rheingantz, que trouxe como agenciador mais de 600 famílias
de imigrantes para serem assentadas em São Lourenço (Bosenbecker,
2017). Como vários problemas de ordem administrativa ou oriundos de
políticas migratórias inapropriadas nas colônias estatais, como mostrou
Seyferth (1999), os conflitos agrários nas colônias particulares estiveram
presentes de várias formas, tanto com relação a regularização das áreas
coloniais por seus diretores e proprietários em disputa com fazendeiros
ou posseiros quanto com relação aos lotes ou prazos coloniais e a regula-
rização necessária aos colonos, nem sempre efetivamente representados
nesse processo conflituoso.
Elaboramos nossa análise a partir de dois quadros de reclamações,
produzidos entre 1869 e 1871, a partir de diversas queixas dos colonos a
uma comissão estatal nomeada para intermediar os conflitos. Os quadros
são extremamente importantes para entender a dinâmica de colonização
privada implementada no sul do Rio Grande do Sul. As reclamações mos-
tram não apenas a localização e especificidade dos problemas fundiários
da referida colônia, mas também quem são os reclamantes e o que cada
colono alegava. Infelizmente, os documentos não apontam todas as solu-
ções ou encaminhamentos realizados, mas, mesmo assim, os dados possi-
bilitam entender a dimensão dos problemas ocorridos na colônia.
Nesse sentido, além de buscar preencher algumas lacunas na his-
tória da imigração da região sul do Rio Grande do Sul, bem como sobre
a empreitada da colonização privada, também esperamos contribuir ao
oportunizamos aos pesquisadores e pesquisadoras o acesso a uma versão
dos documentos aqui trabalhados, difíceis de ler e confusos em relação a
outros papéis rascunhados do acervo, que parecem exibir a urgência dos
79
Patrícia Bosenbecker
Referências
BOSENBECKER, Patrícia. Narrativas imigrantes: repensando os -turbulentos-
e amotinados nas regiões de colonização alemã. Revista Latino-Americana de
História, v. 8, n. 20, p. 22-44, 2018.
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Brasil e Alemanha a partir do estudo de caso da família Rheingantz. Tese (Dou-
torado em Sociologia). Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul
- UFRGS, 2017.
______. Uma colônia cercada de estâncias: a inserção de imigrantes alemães
na colônia São Lourenço/RS (1857- 1877). Pelotas: Ed. UFPel, 2020.
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HAMMES, Edilberto L. São Lourenço do Sul: radiografia de um município –
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IEPSEN, Eduardo. Jacob Rheingantz e a colônia São Lourenço: da des-
construção de um mito à reconstrução de uma história. Dissertação (Mestrado
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______. O agrimensor que media de menos: os conflitos agrários na Colônia de
São Lourenço. In: TEDESCO, João Carlos; NEUMANN, Rosane Márcia. Colo-
nos, colônias e colonizadores: aspectos da territorialização agrária do Sul do
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KLIEMANN, Luiza Helena Schmitz. RS: terra e poder. História da questão
agrária. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.
KOLLING, Nilo Bidone. A presença teuta a partir de São Lourenço do Sul/RS.
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Teuto-brasileiras (2006). Entre vales e serras: fronteiras. São Leopoldo: Casa
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80
A colonização privada sob intervenção: conflitos de terra, reivindicações dos colonos e mediação estatal no sul do Rio Grande do Sul
81
A atividade empresarial de Antônio
Fialho de Vargas na colonização
privada do Vale do Taquari
(século XIX)1
Introdução
E
ntre o início do século XIX e as primeiras décadas do XX, esti-
ma-se que a América recebeu entre 42 e 60 milhões de imigran-
tes europeus (Lanza; Lamounier, 2015). Esse processo provocou
diversas transformações no território americano, tanto em termos es-
paciais como sociais e econômicos. No Brasil, a imigração foi entendida
como solução para resolver questões que impediam o Império de ser mo-
derno e capitalista, como a Europa. O latifúndio, a escravidão (que es-
tava com os dias contados), a baixa produção de alimentos para abaste-
cer a população e o despovoamento de algumas regiões eram problemas
sempre presentes nas discussões parlamentares ao longo do oitocentos
(Zarth, 2002). Embora sofresse críticas, o projeto de imigração e coloni-
zação de europeus foi representado como processo civilizatório e uma
forma mais racional de ocupação das terras devolutas. O pressuposto de
1
O presente texto é uma versão adaptada do artigo originalmente publicado sob o título “Uma
história de fracasso ou sucesso? A participação de Antônio Fialho de Vargas e sua empresa no
processo de colonização privada (Vale do Taquari/RS, segunda metade do século XIX).”
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
2
Alguns exemplos são: Gregory (2019), Bosenbecker (2011), Neumann (2009), Martirén (2017),
Schaeffer (2020).
83
Júlia Leite Gregory
Antecedentes
Antônio Fialho de Vargas nasceu em 1818, na Freguesia de Nossa
Senhora da Aldeia dos Anjos4, município de Porto Alegre, e faleceu em
1895, na cidade de Taquari5. Seu pai, Manoel, era imigrante açoriano,
da Ilha do Faial, assim como os avós paternos e maternos. A mãe, Maria
Inácia, já nasceu no Brasil. Antônio teve oito irmãos6, os quais exerceram
diversas profissões e residiram em lugares diferentes, como Porto Ale-
3
O baixo número de pesquisas sobre colônias privadas provavelmente está relacionado ao fato
de que é mais difícil encontrar informações sobre elas nas fontes. As colônias públicas, adminis-
tradas pelo Império ou província, produziram uma maior quantidade de documentos e também
de uma maneira mais regular, tendo em vista que os governos procuravam estar atentos ao que
ocorria nos espaços coloniais e aos rendimentos de cada um. Além disso, a documentação gera-
da pelos administradores públicos tinha mais probabilidade de ficar armazenada nos arquivos
centralizados, uma vez que a salvaguarda dos documentos produzidos por empresas privadas
ficava à mercê do interesse dos indivíduos vinculados a estas.
4
Livro de Batismos nº 4 (1811-1823). Gravataí, Freguesia Nossa Senhora dos Anjos, Comarca de
Porto Alegre, p. 171.
5
Livro de Óbitos nº 6. Taquary, Paróquia São José de Taquary, p. 37v.
6
Inventário post-mortem. 1866. Inventariado: Manoel Fialho de Vargas. Acervo do Poder Judi-
ciário, Comarca de Porto Alegre, Cartório de Órfãos e Ausentes, nº 330. Arquivo Público do
Estado do Rio Grande do Sul (APERS).
84
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
7
Livro de Batismos nº 5 (1823-1832). Gravataí, Freguesia Nossa Senhora dos Anjos, Comarca de
Porto Alegre, p. 50v.
8
Inventário post-mortem. 1875. Inventariado: Manoel Fialho de Vargas Filho. Acervo do Poder
Judiciário, Comarca de Porto Alegre, Cartório de Órfãos e Ausentes, nº 289. APERS.
9
Processo judicial de embargo. 1862. Suplicantes: Manoel Fialho de Vargas Filho e João Bap-
tista Soares da Silveira e Souza. Suplicada: Associação Theatral Rio Grandense. Acervo do
Poder Judiciário, Comarca de Porto Alegre, nº 2829, m. 116, e. 1. APERS. BELLO, Luiz Alves
Leite de Oliveira. Relatorio do vice-presidente da província de S. Pedro do Rio Grande do Sul,
Luiz Alves Leite de Oliveira Bello, na abertura da Assembléa Legislativa Provincial. 1º de ou-
tubro de 1852. Porto Alegre, Typ. Do Mercantil, p. 25. Disponível em: <www-apps.crl.edu>.
Acesso em: 02/01/2019. BUENO, José Antonio Pimenta. Relatório do presidente da província
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receita e despeza para o anno de 1851. 1850. Porto Alegre: Typographia de F. Pomatelli, p. 38.
Disponível em: <www-apps.crl.edu>. Acesso em: 02/01/2019. MURITIBA, Barão de. Relatorio
do presidente da província de S. Pedro do Rio Grande do Sul, barão de Muritiba, na abertura
da Assembléa Legislativa Provincial. 1º de outubro de 1855. Porto Alegre, Typ. Do Mercantil,
p. 26. Disponível em: <www-apps.crl.edu>. Acesso em: 02/01/2019.
85
Júlia Leite Gregory
10
Habilitação matrimonial. 1844. João Batista Soares da Silveira e Souza e Ana Joaquina de
Jesus. Nº 32, caixa 228. Arquivo Histórico da Cúria Metropolitana de Porto Alegre (AHCMPA).
11
NOTICIAS do interior. Correio Mercantil. Rio de Janeiro, n. 73, 15 mar. 1862. Hemeroteca
Digital da Biblioteca Nacional.
12
Em 1867, João Batista pôs à disposição do governo todos os prédios urbanos que possuía na
capital para auxiliar na epidemia de cólera. MELLO, Francisco Ignacio Marcondes Homem de
Mello. Falla dirigida a Assembléa Legislativa da província de S. Pedro do Rio Grande do Sul
pelo presidente, dr. Francisco Ignacio Marcondes Homem de Mello, em a segunda sessão da 12ª
legislatura. 1867. Porto Alegre, Typ. do Rio-Grandense, p. 31. Disponível em: <www-apps.crl.
edu>. Acesso em: 02/01/2019.
86
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
13
João Batista doou um conto de réis para ajudar nas despesas com a guerra. INTERIOR, No-
ticias do Sul. Correio Mercantil, Rio de Janeiro, ano 24, n. 205, p. 2, 26 jul. 1867. Hemeroteca
Digital.
14
João Batista recebeu o título de Comendador da Ordem da Rosa. CAMPANHA do Paraguay.
Almanak, Rio de Janeiro, ano 26, p. 1324, 1869. Hemeroteca Digital.
15
Para um exemplo brasileiro, ver: Fragoso; Rios (1995). A diversificação de investimentos tam-
bém foi uma estratégia utilizada por empresários que atuaram na colonização privada da pro-
víncia de Santa Fé (Argentina): Martirén (2012).
87
Júlia Leite Gregory
Investir na colonização
A colônia Conventos foi fundada em 1855, no município de Taquari,
freguesia de Santo Amaro, distante cerca de cem quilômetros de Porto
Alegre. A empresa responsável por ela era a Batista Fialho & Cia., for-
mada por Manoel, João Batista e Antônio. Os sócios adquiriram duas
fazendas17, localizadas na margem direita do rio Taquari, e as transfor-
maram em inúmeros lotes coloniais. A escolha do lugar pode estar rela-
cionada com a informação transmitida pela Câmara de Vereadores de
Taquari ao governo da província, que indicava as fazendas Conventos
e Carneiros como um bom local para instalar uma colônia18. Tendo em
vista a proximidade de João Batista e Manoel com o governo provincial,
é provável que eles também tivessem acesso a essas notícias.
Além disso, na década de 1850, o excedente populacional das regiões
coloniais mais antigas, como as do Vale do Rio Caí e Vale do Rio dos Si-
nos, estavam se direcionando para o Vale do Rio Taquari. As migrações
internas ocorriam por vários motivos, sendo os principais deles o esgo-
tamento do solo provocado pela agricultura intensiva dos imigrantes e o
aumento populacional. Conforme as famílias cresciam e os filhos conti-
nuavam com a profissão agrícola dos pais, era necessário comprar áreas
maiores, que não estavam mais disponíveis nas colônias antigas. Assim,
a família vendia a propriedade e migrava para novas frentes de ocupação
ou somente alguns filhos se deslocavam (Roche, 1969). Isso garantia a
16
Esta afirmação será desenvolvida mais adiante.
17
As fazendas foram adquiridas da empresa Claussen e Companhia. Auto de Medição. 1872.
Antonio Fialho de Vargas. Nº 390. Taquari. Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS).
18
O governo provincial estava interessado em instalar uma colônia em Taquari, por isso solicitou
à câmara municipal que informasse onde havia terras devolutas. Estas, comunicaram os vere-
adores, eram de difícil acesso, recomendando ao governo a compra das referidas fazendas, algo
que não ocorreu. Correspondência da Câmara Municipal. 13 de junho de 1852. Autoridades
Municipais. Taquari, Maço 277, caixa 151. AHRS.
88
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
reprodução social do grupo, uma vez que, garantindo mais terras, pode-
riam continuar desenvolvendo as atividades de costume.
Fonte: Adaptado pela autora a partir de: JACQUES, João Candido. Carta geographica do estado federal do Rio Grande do
Sul. Porto Alegre, RS: Joaquim Alves Leite, 1891. 1 mapa, 70 x 80cm. Escala 1:1.545.925. Disponível em: <http://
objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_cartografia/cart530286/cart530286.jpg>. Acesso em: 04 nov. 2018.
89
Júlia Leite Gregory
21
Por esse ocorrido, a Batista Fialho & Cia foi acusada de fraudar o prêmio garantido pela pro-
víncia aos particulares que trouxessem colonos europeus. FERRAZ, Angelo Moniz da Silva.
Relatorio com que o Exm. Sr. conselheiro Angelo Moniz da Silva Ferraz, entregou a presidencia
da provincia de S. Pedro do Rio Grande do Sul, ao 2º vice-presidente o Exm. Sr. commendador
Patricio Corrêa da Camara, no dia 22 de abril e este ao Exm. Sr. conselheiro Joaquim Antão
Fernandes Leão. 4 de maio de 1859. Typ. do Correio do Sul, Porto Alegre. Disponível em:
<www-apps.crl.edu>. Acesso em: 02/01/2019. Para mais informações sobre as tensões ocorri-
das entre governo provincial e empresas de colonização, ver Gregory (2019, pp. 86-97).
22
Correspondência enviada ao presidente da província em 27 de setembro de 1859, Porto Alegre.
Observações feitas no mapa geral da colônia dos Conventos em 15 de maio de 1862, Porto Ale-
gre. Colônias. Colônia dos Conventos, caixa 31, maço 57. AHRS.
90
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
91
Júlia Leite Gregory
dinheiro (60 mil réis para cada pessoa maior de 10 anos e 30 mil réis para
cada menor de 1 a 10 anos). A família ficava obrigada a quitar a dívida
(adiantamentos, fornecimentos e terreno) dentro de cinco anos27. Deste
modo, o prazo se encerrava em 1863. Contudo, até este ano, os imigran-
tes somente haviam pago cerca de 10% do total da dívida, ou seja, a em-
presa ainda devia receber 21:726$000 réis (vinte e um contos, setecentos
e vinte e seis mil réis)28.
A Batista Fialho & Cia. era proprietária de 157 colônias em Con-
ventos. Destas, 9 e meia foram adquiridas pelas 18 famílias oriundas da
Europa e 61 por colonos espontâneos. Das últimas, 23 ainda precisavam
ser pagas. Tanto as terras que ainda não haviam sido vendidas como
as dívidas que precisavam ser cobradas foram divididas entre os sócios
quando da dissolução da sociedade. Embora os empresários tivessem se
equivocado em relação ao prazo que ofereceram aos imigrantes europeus,
não significa que o investimento tenha sido perdido, pois os colonos pa-
garam as dívidas a longo prazo e com juros. É possível confirmar essa
afirmação a partir da leitura dos livros de Tabelionato da região, onde
encontramos diversas escrituras de compra e venda de terras em que
aparecem os pagamentos dos débitos29. Um exemplo é a escritura de Phi-
lipp Carl Immich e Philipp Peter Eckhard, que saldaram a dívida após
10 anos30. Mesmo com dificuldade, os imigrantes realizavam o reembol-
so, até porque acabavam ficando dependentes dos empresários que ad-
ministravam as colônias privadas e, portanto, obrigados a pagar o débito
de alguma forma.
Indivíduos como Fialho de Vargas podiam oferecer algo que imigran-
tes agricultores necessitavam: crédito. Por possuir uma casa de negócios
na colônia, o empresário dispunha de produtos importantes para o coti-
27
Cópia xerocada do contrato provisório do imigrante Johann Kaspar Richter. 1858. Arquivos
Particulares. Arquivo Histórico de Lajeado.
28
Escritura de dissolução de sociedade de Baptista, Fialho & Cia. 13/04/1863. Tabelionato de
Porto Alegre. 2º Tabelionato. Transmissões/Notas, Livro 77, p. 35v. APERS.
29
A escritura só era registrada quando ocorria a quitação da dívida.
30
Tabelionato de Taquari. Freguesia de Santo Amaro, Transmissões/Notas, Livro 09, p. 68.
APERS.
92
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
31
De acordo com Witold Kula, são características de um mercado pré-industrial, em que não há
livre concorrência e os preços não são regulados pelo mercado, mas resultados de transações
isoladas (Kula, 1977, p. 459-466).
32
Processo judicial de Libelo Cível do Cartório Cível e Crime de Taquari nº 2771, m. 50, e. 102,
1874. Autor: Fellippe Arend. Réu: Antonio Fialho de Vargas. APERS.
33
Livro de Batismos nº 9, Paróquia São José, Taquari, p. 219-222.
93
Júlia Leite Gregory
34
Esta informação foi obtida a partir do estudo genealógico realizado por Richter e Schmidt, que
a partir do mapa estatístico da Colônia Conventos de 1861 investigaram a origem das famílias
que moravam na colônia naquele ano (Richter; Schmidt, 2018).
35
As características da condição econômica dos moradores de Conventos foram discutidas em
Gregory (2019, pp. 112-122).
36
Utilizaram essa expressão em uma correspondência. Correspondência ao Presidente da Pro-
víncia João Marcellino de Souza Gonzaga, enviada por João Baptista Soares da Silveira e Sou-
za. 27 de dezembro de 1864. Colônias. Colônia dos Conventos. Caixa 31, Maço 57. AHRS.
94
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
mília Fialho de Vargas não tinha ligação alguma com a região. Além disso,
Antônio não era o único comerciante de terras de Taquari. Havia algumas
famílias que já estavam fragmentando suas fazendas quando da chegada
do empresário, como os Ribeiro e Azambuja. Faziam parte de uma elite
local que compunha o aparelho burocrático imperial e utilizava as redes de
relações pessoais para beneficiar os negócios. O embate entre as famílias
locais e os empresários recém-chegados é perceptível nas fontes.
No mesmo ano da fundação de Conventos, a Batista Fialho & Cia.
solicitou à Câmara Municipal de Taquari37 a abertura de duas servidões
públicas38, uma no porto particular das terras de Vitorino José Ribeiro e
a outra na margem oposta do rio Taquari. Vitorino era Tenente Coronel
da Guarda Nacional e proprietário da fazenda Estrela. Sua família tinha
“[...] um grande poder nas esferas políticas e públicas, mostrando-se ser a
mais bem relacionada no Vale do Taquari [...]” nas décadas de 1850 e 1860
(Christillino, 2004, p. 225). Além disso, Vitorino também fundou uma co-
lônia particular em suas terras no final da década de 1850, a colônia Es-
trela, sendo um grande comerciante de terras local. O pedido feito pela
empresa foi negado com veemência pelos vereadores, que o interpretaram
como uma atitude muito prejudicial ao Tenente Coronel. O objetivo da
Batista Fialho & Cia. era melhorar o transporte fluvial de produtos e pes-
soas entre as duas margens do rio Taquari, tendo em vista que Conventos
estava na margem direita e a fazenda Estrela na esquerda.
Alguns anos depois, a conexão entre os espaços foi estabelecida por
iniciativa da própria câmara, que passou a ver a comunicação entre as colô-
nias como necessária39. Ambos os proprietários concordaram com o projeto.
Naquele período, Vitorino Ribeiro já havia morrido e quem administrava a
37
Correspondência da Câmara Municipal. 30 de novembro de 1855. Autoridades Municipais. Ta-
quari. Maço 277A, caixa 152. AHRS.
38
A servidão pública é um mecanismo jurídico que converte uma propriedade privada em imóvel
de utilidade pública, mediante indenização ao proprietário. A ideia da empresa era poder utili-
zar o porto particular de Vitorino livremente.
39
Correspondência da Câmara Municipal. 07 de julho de 1866. Autoridades Municipais. Taquari.
Maço 278, caixa 152. AHRS. Correspondência da Câmara Municipal. 12 de junho de 1872. Au-
toridades Municipais. Taquari. Maço 279, caixa 150. AHRS.
95
Júlia Leite Gregory
96
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
41
Só para dar um exemplo, os bens de João Xavier de Azambuja, sogro de Antônio Fialho de
Vargas Filho, foram avaliados em sete mil libras. Inventário post-mortem. 1861. Inventariado:
João Xavier de Azambuja. Acervo do Poder Judiciário, Comarca de Lajeado, Cartório de Órfãos
e Ausentes, nº 1. APERS.
42
Correspondência da Câmara Municipal. 13 de outubro de 1879. Autoridades Municipais. Ta-
quari. Maço 280, caixa 150. AHRS.
43
Na segunda metade do século XIX, os códigos que organizavam a estrutura fundiária do Império
eram a Lei de Terras de 1850 e o Regulamento de 1854. Nesta conjuntura, o sucesso na afirmação
da propriedade estava condicionado ao estabelecimento de sólidas redes de relações sociais em tor-
no das estruturas políticas do Império. Quem julgava os processos de legitimação era o presidente
da província, beneficiando assim os indivíduos que possuíam maior proximidade e ligação com as
autoridades provinciais. O processo provocou grilagens de terra por parte dos grupos de elite, em
detrimento dos pequenos lavradores que também tinham direito à terra, mas que enfrentavam
mais dificuldade para garanti-lo (Christillino, 2010). Antônio Fialho de Vargas requereu o direito
ou procedeu demarcação sobre terras já ocupadas mais de uma vez (Gregory, 2019).
97
Júlia Leite Gregory
44
Correspondência da Câmara Municipal. 24 de setembro de 1858. Autoridades Municipais. Ta-
quari, maço 277A, caixa 152. AHRS.
45
Só foi possível localizar duas escrituras, mas isso não significa que Antônio não tivesse organi-
zado outras empreitadas como essas, até mesmo através de acordos privados. Os documentos
são apenas indícios de ações mais corriqueiras.
46
Escritura de contrato de sociedade que Antonio Fialho de Vargas faz com Jacob Feltens. 1º de
julho de 1881. Tabelionato de Taquari, 1º Tabelionato, Transmissões/Notas, Livro 36, p. 45.
APERS.
47
Escritura de sociedade entre Antonio Fialho de Vargas e seu filho Joaquim Fialho de Vargas, 03
de novembro de 1886. Tabelionato de Estrela, 1º Tabelionato, Transmissões/Notas, Livro 14,
p. 59. APERS.
48
Inventário post-mortem. 1881. Inventariado: Maria Inácia da Conceição Fialho de Vargas. Acer-
vo do Poder Judiciário. Comarca de Taquari. Cartório de Órfãos e Ausentes, nº 329. APERS.
98
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
99
Júlia Leite Gregory
Gráfico 1 – Volume de escrituras de compra e venda de terras realizadas por Antônio Fialho de Vargas
Fonte: Escrituras em que Antônio Fialho de Vargas aparece como vendedor e comprador. Tabelionato de Taquari, 1º
Tabelionato, Transmissões/Notas, Livros 2-52 (1855-1895). 2º Tabelionato, Transmissões/Notas, Livros 2-35
(1878-1895). Freguesia de Santo Amaro, Transmissões/Notas, Livros 3-18 (1855-1883). Tabelionato de Estrela,
1º Tabelionato, Transmissões/Notas, Livros 1-28 (1882-1895). 2º Distrito, Transmissões/Notas, Livros 1-9 (1882-
1891). Tabelionato de Lajeado, 1º Tabelionato, Transmissões/Notas, Livros 1-21 (1891-1895). APERS.
100
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
52
Inventário post-mortem. 1895. Inventariado: Antonio Fialho de Vargas. Acervo do Poder Judi-
ciário, Comarca de Taquari, Cartório de Órfãos e Ausentes, nº 475. APERS.
101
Júlia Leite Gregory
Considerações finais
Com o objetivo de lançar novas questões ao processo de coloniza-
ção privada, buscou-se realizar uma análise relacional (Grendi, 2009) da
trajetória de Antônio Fialho de Vargas. Fazendo uso de uma variedade
de fontes e, sem excluir dados e relações, foi possível enxergar Antônio
imerso em redes sociais capazes de promover sua inserção e manutenção
no comércio de terras. Partindo dos próprios atores sociais que tinham
envolvimento com Antônio, como os sócios da Batista Fialho & Cia., por
exemplo, procurou-se desenvolver um estudo indutivo (Imízcoz, 2004).
Sem a análise da atuação de Manoel e João Batista na capital, não con-
seguiríamos entender a formação da empresa de colonização e o quanto
estavam imbricadas as relações familiares e econômicas.
O negócio efetuado pelos parceiros em Taquari pode não ter ocor-
rido da maneira como esperavam, mas observando os acontecimentos a
longo prazo, percebe-se que foi uma transação acertada. Na década de
1850, período em que a emigração europeia ainda estava em fase inicial,
promover o estabelecimento de uma colônia era necessário para atrair
outros fluxos, que se deslocavam internamente, ou seja, a aplicação de
capital efetuada pela Batista Fialho & Cia. era essencial para que ocor-
resse a inserção no mercado da terra. O investimento era seguro, embora
fosse necessário possuir um leque variado de investimentos, que propor-
cionassem retornos dinâmicos, na medida em que o comércio de terras só
era lucrativo a longo prazo.
Além disso, foi possível verificar que não bastava ter capital e fazer
uso de estratégias econômicas para dar continuidade aos negócios. Estar
amparado por uma rede social que garantisse apoio político e legitimida-
102
A atividade empresarial de Antônio Fialho de Vargas na colonização privada do Vale do Taquari (século XIX)
de nas ações era imprescindível, ainda mais em uma região com a qual
não havia familiaridade. Antônio Fialho de Vargas foi um negociante
que diversificava as aplicações para potencializar os rendimentos. Como
trabalhava com um sistema de pagamentos a prazo e nem sempre em
dinheiro, não podia depender somente de uma fonte de renda. Foi a com-
binação de diferentes investimentos, aliada ao estabelecimento de novas
redes de relações pessoais, que fizeram com que o indivíduo garantisse
sucesso econômico durante 40 anos de atuação no mercado da terra.
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SCHIERHOLT, José Alfredo. Lajeado I. Lajeado: Prefeitura Municipal, 1992.
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ZARTH, Paulo Afonso. Do arcaico ao moderno: o Rio Grande do Sul agrário do
século XIX. Ijuí: Ed. Unijuí, 2002.
104
Nova Berlim: o hinterland no vale do
rio Taquari (1882-1900)
Introdução
N
a segunda metade do século XIX, a colonização alemã no Rio
Grande do Sul avançou em direção ao vale do rio Taquari, ca-
pitaneada pela atuação de companhias colonizadoras privadas.
Nesse contexto, formou-se a colônia Nova Berlim, foco e recorte do pre-
sente estudo, realizado a partir da revisão bibliográfica e a análise de
fontes primárias. Uma pesquisa mais ampla e detalhada da temática
encontra-se na monografia intitulada “Entre Colônias e Redes Sociais:
viúvas neerlandesas e o avanço da fronteira agrária em direção aos ar-
roios Sampaio e Forquetinha – Rio Grande do Sul (1882-1900)”, realiza-
da entre os anos de 2016 e 2020.
1
Colônia fundada no ano de 1862 em terras dos irmãos Pereira situadas junto ao arroio Sampaio,
hoje correspondentes aos municípios de Venâncio Aires e Mato Leitão. Ver Fröhlich (2005) e
Flores (2015).
106
Nova Berlim: o hinterland no vale do rio Taquari (1882-1900)
2
Terras situadas no atual município de Lajeado/RS.
107
Jéferson Luís Schaeffer
Fonte: Adaptado pelo autor da “Planta dos municípios de Estrella e Lageado”. Acervo do Arquivo Histórico Municipal de
Lajeado, Lajeado.
3
Termo germânico que neste caso designava as extensões territoriais localizadas atrás da Colô-
nia Conventos e que representavam um espaço de fronteira agrária aberta.
108
Nova Berlim: o hinterland no vale do rio Taquari (1882-1900)
4
Título passado a favor de Manoel Fialho de Vargas, Joaquim Francisco Dutra Júnior, Francisco
Baptista da Silva Pereira e Baptista Fialho & Cia em 18/05/1862. Registro das Cartas de Compra
das Terras Devolutas. Fundo Imigração, Terras e Colonização, Códice 356. AHRS, Porto Alegre.
5
Mapa geral da colônia dos Conventos de 15 de maio de 1862. Fundo Imigração, Terras e Colo-
nização, maço 57, caixa 31. AHRS, Porto Alegre.
109
Jéferson Luís Schaeffer
6
Sobre a atuação de companhias colonizadoras entre o final do século XIX e início do século XX
no vale do rio Taquari, ver Trombini, Laroque e Castoldi (2017).
110
Nova Berlim: o hinterland no vale do rio Taquari (1882-1900)
7
Além da designação “linha”, Roche (1969) e Dreher (2014) também mencionam o termo “pica-
da”, que correspondiam à forma básica de penetração em áreas florestais.
8
Inventário post-mortem do Cartório de Orphãos e Ausentes de Porto Alegre nº 289, de 1875.
APERS, Porto Alegre.
111
Jéferson Luís Schaeffer
de Manoel, Maria Rita de Andrade Fialho, atestou que o prazo não fora
cumprido e que as terras estavam lhe sendo “[...] ultimamente tomadas
pelo Governo [...]”.
O contexto de crise fez-se sentir também na Colônia vizinha de San-
ta Emília, cuja decadência se deu no início da década de 1880 com a mor-
te de seus sócios e a impossibilidade financeira dos herdeiros em realizar
investimentos no empreendimento colonizador (Fröhlich, 2005). Nessa
conjuntura surgiram novos personagens na história da colonização do
território Nova Berlim e, por consequência, de Santa Emília.
Entre estes estava o comerciante luso-brasileiro Manoel Py, que se
juntou à empresa Baptista, Fialho, Pereira & Cia em 1872 por meio da
aquisição da terça parte que Joaquim Francisco Dutra Júnior possuía
na referida sociedade.9 Manoel Py foi um próspero comerciante esta-
belecido em Porto Alegre que investiu no ramo têxtil (Reichel, 1993),
além de ter ocupado outros diversos cargos no setor privado da capital
(Strohaecker, 2005).
As terras que Manoel Py havia comprado em 1872 situavam-se na
margem esquerda do arroio Alegre, no território Nova Berlim, e foram
revendidas10 em 1877 para a companhia colonizadora Huch & Cia11. A
partir de então, além da empresa Baptista, Fialho, Pereira & Cia, o ter-
ritório Nova Berlim contaria com a atuação de uma segunda companhia
colonizadora: a Huch & Cia. A existência de revendas e da atuação de
outros comerciantes no território de Nova Berlim, já havia sido atestada
pelo pastor Rudolfo Saenger ([1934] 1998, p. 35, grifo do autor) nas crô-
nicas da Paróquia Evangélica de Marques de Souza:
9
Escritura de venda que fazem o Major José Alves Valença e sua mulher a Manoel Py. Tabe-
lionato de Porto Alegre, 1º Tabelionato, Transmissões/Notas, Livro 87, p. 167. APERS, Porto
Alegre.
10
Escritura de venda que fazem Manoel Py e sua mulher a Huch & Cia. Tabelionato de Porto
Alegre, 2º Tabelionato, Transmissões/Notas, Livro 91, p. 107. APERS, Porto Alegre.
11
Companhia colonizadora estabelecida em Porto Alegre, representa por Ricardo Huch, a qual foi
a principal acionista da sociedade Carlos Schilling, Lothar de La Rue, Jacob Rech, Guilherme
Koop & Cia, responsável pela colonização da Colônia privada Teutônia (Schaeffer, 2020).
112
Nova Berlim: o hinterland no vale do rio Taquari (1882-1900)
113
Jéferson Luís Schaeffer
12
A companhia colonizadora foi regida por um contrato social datado de 10/09/1882, o qual não
foi localizado em sua integridade durante o percurso da pesquisa (Schaeffer, 2020).
114
Nova Berlim: o hinterland no vale do rio Taquari (1882-1900)
Manoel Py, que chegou a ser sócio gerente da empresa Baptista, Fia-
lho, Pereira & Cia, também atuou como sócio gerente da companhia colo-
nizadora Schiött, Py & Cia. Schaeffer (2020) encontrou referência a oito
partes sociais referentes à companhia colonizadora Schiött, Py & Cia,
embora não tenha conseguido elucidar todas. Entre um dos principais
acionistas estava o empresário alemão Hans Adolf Zacharias Schiött, es-
tabelecido em Porto Alegre.
Também eram acionistas da companhia colonizadora Schiött, Py &
Cia os alemães Friedrich Wilhelm Bartholomay e Carl Trein Filho, im-
portantes figuras políticas da vila de Santa Cruz, com vínculo na Guarda
Nacional e que possuíam experiência no âmbito imigratório. Bartholo-
may e Trein, que eram cunhados, adquiriram de Manoel Py, ainda em
1882, partes sociais da referida companhia.13
Bartholomay era engenheiro de formação e foi diretor da Colônia
Nova Petrópolis (Schröder, [1931] 2019), tendo posteriormente se esta-
belecido na Colônia Santa Cruz, onde foi considerado por Noronha (2012)
um dos principais empresários e investidores. Trein exerceu o cargo de
diretor da Colônia Santa Cruz entre os anos de 1869 e 1872 (Cunha,
1988) e, além de ter dirigido a Colônia provincial Monte Alverne, foi de-
signado no ano de 1882 para ser o diretor dos núcleos coloniais Nova
Berlim e Santa Emília (Dilleburg, 1980).
Carl Trein Filho tornou-se referência para a companhia coloniza-
dora Schiött, Py & Cia por tê-la representado em inúmeras negociações,
da qual é mencionado como sócio-diretor. Essa afirmação justifica o fato
de autores como Amstad ([1924] 1999) e Roche (1969) terem atribuído a
fundação da Colônia Nova Berlim a Carl Trein Filho. Além da atuação de
Trein, Schaeffer (2020, p. 185-186) também destacou a importância dos
procuradores locais no comércio das terras no território Nova Berlim, a
exemplo de Peter Blauth:
13
Escritura de hypoteca que fazem Frederico Guilherme Bartholomay e sua mulher, Carlos
Trein Filho e sua mulher a Manoel Py. Tabelionato de Porto Alegre, 3º Tabelionato, Contratos,
Livro nº 03, p. 69, APERS, Porto Alegre.
115
Jéferson Luís Schaeffer
Considerações finais
Longe de apresentar conclusões definitivas, espera-se que os apon-
tamentos realizados ao longo do texto tenham contribuído na elucidação
do processo de constituição da Colônia Nova Berlim e sua inserção no
contexto da atuação de companhias colonizadoras no vale do rio Taquari.
Sem ter a pretensão de esgotar a temática, entende-se que o estudo for-
nece elementos para futuras pesquisas.
Nesta pesquisa foram analisadas bibliografias que divergiram a
respeito da Colônia Nova Berlim e, por meio do cruzamento de fontes
diversas, ressaltou-se a importância de estudos pontuais que elucidem o
obscuro processo de constituição da primitiva Nova Berlim.
Tendo em vista que as sociedades Schiött, Py & Cia e Huch & Cia
se tratava de empresas de colonização privadas, não foram localizados
documentos relativos à contabilidade delas, tampouco relações de com-
116
Nova Berlim: o hinterland no vale do rio Taquari (1882-1900)
Referências
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2012, 371f. Tese de Doutorado (Programa de Pós-Graduação em História) – Pon-
tifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2012.
117
Jéferson Luís Schaeffer
118
Imigrantes europeus no sul de
Santa Catarina: o caso da Colônia
Grão-Pará (1882)
Introdução
A
colonização não indígena do território que conhecemos como Brasil
teve início há cinco séculos, com a chegada dos portugueses. A par-
tir de então, a povoação é ditada pelos grandes ciclos econômicos e
pelas diretrizes estabelecidas pela coroa. Inicialmente, o foco foi o litoral,
para a defesa do território e a exploração do pau-brasil, e o nordeste, onde
se desenvolveu e prosperou a lavoura açucareira. Mais tarde, ocorreu uma
interiorização para a exploração do ouro na região de Minas Gerais e para
a criação de gado, que supria as necessidades do trabalho nas minas. Poste-
riormente, em São Paulo e no Rio de Janeiro, prosperou a lavoura cafeeira.
Considerando que nenhum dos grandes ciclos econômicos se desenvol-
veu em Santa Catarina, com exceção da criação de gado, que se deu no sécu-
lo XVII, no planalto, boa parte do território que hoje compreende o Estado
permaneceu longe dos interesses colonizadores até o século XIX. Até mesmo
as áreas do litoral e extremo sul do território português, na época Laguna,
não contavam com uma colonização efetiva e uma população numerosa.
Segundo Osório (2020), a Coroa portuguesa cuidou de proteger
seus limites com a Espanha, estabelecidos pelo Tratado de Tordesilhas,
mas seu interesse, de fato, estava no nordeste açucareiro. Dessa forma,
o litoral catarinense recebeu um significativo contingente populacional
Tatiane Soethe Szlachta
120
Imigrantes europeus no sul de Santa Catarina: o caso da Colônia Grão-Pará (1882)
A Colônia Grão-Pará
Com a mudança na legislação brasileira no que se refere à imigra-
ção, em especial após a promulgação da Lei de Terras (1850), foram in-
tensificados os trabalhos de medições de terras para a implantação de co-
lônias em Santa Catarina. No sul da província, onde seria posteriormen-
te instalada a Colônia Grão-Pará, as medições tiveram início em 1867,
com a expedição do engenheiro Manoel da Cunha Sampaio.
Segundo Tonetto, Ghizzo e Pirola (2015), as medições tinham o obje-
tivo de determinar a posição de terras devolutas dos vales do Rio Tubarão
e do Rio Araranguá em relação à cidade de Laguna. Naquele momento,
a comissão considerou a navegabilidade do Rio Braço do Norte, afluente
do Rio Tubarão, perigosa, e a quantidade de terras devolutas na área, pe-
quena. Tais argumentos foram utilizados como justificativa para carac-
terizar a região como imprópria para o estabelecimento de colônias. Dois
anos depois, a comissão foi dissolvida. No entanto, até aquele momento,
já haviam sido discriminadas as terras devolutas do Vale do Tubarão até
o Rio Mampituba, oportunizando a criação de colônias em seu território.
Novas medições voltaram a ser realizadas em 1870, visando ao cum-
primento da Lei no 1904, promulgada em 17 de outubro de 1870, que es-
tabeleceu um patrimônio em terras para a princesa Isabel e seu esposo, o
Conde d’Eu, por ocasião de seu casamento. Esse patrimônio seria composto
121
Tatiane Soethe Szlachta
122
Imigrantes europeus no sul de Santa Catarina: o caso da Colônia Grão-Pará (1882)
123
Tatiane Soethe Szlachta
[...] convém para o estabelecimento da colônia que a Sede Central esteja pró-
xima aos caminhos e comunicações abertos naquele lugar, que assim dão ani-
mação ao colono que procura estabelecer-se na dita colônia e mesmo não há
outro lugar mais conveniente para a Sede Central, sendo no centro das terras
do Patrimônio, e para dali desenvolver-se os estabelecimentos da colônia, sen-
do assim o lugar central de onde devem seguir as vias de comunicação para
todos os pontos dos estabelecimentos de colonos e outros lugares comerciais na
proximidade (Lottin, 2002, p. 42).
124
Imigrantes europeus no sul de Santa Catarina: o caso da Colônia Grão-Pará (1882)
Fonte: Centro de Documentação Histórica Plínio Benício – CEDOHI, Museu ao Ar Livre Princesa Isabel, Orleans/SC.
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Tatiane Soethe Szlachta
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Imigrantes europeus no sul de Santa Catarina: o caso da Colônia Grão-Pará (1882)
127
Tatiane Soethe Szlachta
Da Europa ao Brasil
A viagem da Europa para o Brasil era longa e cansativa, um grande
desafio a ser vencido por aqueles que buscavam uma vida melhor. A Europa
do século XIX passava por inúmeras transformações e instabilidade. Em
parâmetros gerais, a população crescia, e faltavam terras para a continui-
dade da atividade agrícola, que estava cada vez mais voltada para suprir
a matéria-prima da crescente indústria. A população sofria com a falta de
terras cultiváveis, a fome e o desemprego, resultantes de uma profunda
mudança econômica e social. Na Alemanha e na Itália, somavam-se a essas
questões o fator político, representado pelas guerras de unificação.
Inseridas nesse cenário conturbado, muitas pessoas foram atraídas
pelos editais, que prometiam uma vida nova nas colônias brasileiras. A
promessa foi suficiente para muitas famílias abandonarem sua vida na
Europa, levando apenas pertences pessoais; aquelas que detinham algu-
ma propriedade, geralmente as vendiam, com a finalidade de utilizar o
dinheiro na aquisição de terras no Brasil. A respeito disso, Lottin (2002)
afirma que a orientação dada aos imigrantes era a de que trouxessem
instrumentos para o trabalho na lavoura, pois os que eram vendidos na
Europa possuíam qualidade superior àqueles vendidos no Brasil. Além
disso, segundo o mesmo autor, pertences pessoais de vestuário, louças,
móveis em quantidade indispensável e instrumentos de trabalho eram
isentos de direitos de importação quando transportados junto aos seus
respectivos donos.
O primeiro navio de imigrantes vindos diretamente para a colônia
foi o Scrivia, que partiu do porto de Gênova em 22 de novembro de 1883,
chegando à colônia em 9 de janeiro de 1884. O grupo de passageiros des-
se navio era composto por 117 pessoas vindas do Tirol Italiano, perten-
128
Imigrantes europeus no sul de Santa Catarina: o caso da Colônia Grão-Pará (1882)
Fonte: Centro de Documentação Histórica Plínio Benício – CEDOHI, Museu ao Ar Livre Princesa Isabel, Orleans/SC.
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Imigrantes europeus no sul de Santa Catarina: o caso da Colônia Grão-Pará (1882)
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Tatiane Soethe Szlachta
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Imigrantes europeus no sul de Santa Catarina: o caso da Colônia Grão-Pará (1882)
Nos relatos acima, vemos que o autor atribui ao ataque dos indíge-
nas a emigração de dezenas de famílias. Ele fala também que os indíge-
nas foram “castigados”, sem especificar quais foram as medidas tomadas
em relação aos ocorridos. Apesar da falta de detalhes, e considerando o
contexto da época, é possível presumir que a resposta foi violenta. Isso,
porque a presença dos indígenas era considerada pelos poderosos da épo-
ca um empecilho à colonização. Com o objetivo de resolver a situação,
os colonos e a própria Empresa Colonizadora contratavam colonos espe-
cializados em caçar e matar os indígenas, os chamados bugreiros. Como
resultado, menos de um século após a criação da Colônia Grão-Pará os
indígenas foram exterminados.
133
Tatiane Soethe Szlachta
134
Imigrantes europeus no sul de Santa Catarina: o caso da Colônia Grão-Pará (1882)
Fonte: Centro de Documentação Histórica Plínio Benício – CEDOHI, Museu ao Ar Livre Princesa Isabel, Orleans/SC.
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Tatiane Soethe Szlachta
Considerações finais
A Colônia Grão-Pará foi um dentre tantos empreendimentos que
fizeram parte de uma política brasileira de colonização do país durante o
século XIX. Como visto, um dos principais objetivos era povoar as áreas
consideradas vazias, o que correspondia à grande parte das terras do sul
do Brasil. Dessa forma, desprezando a existência de povos indígenas,
como os Laklãnõ/Xokleng, o governo e as empresas colonizadoras inves-
tiram na imigração europeia como alternativa para a colonização.
Desde o planejamento até seu funcionamento, a Colônia Grão-Pará
foi pensada de acordo com os interesses de certos grupos sociais, a co-
meçar pela escolha das terras que iriam compor o patrimônio dotal da
Princesa Isabel, que favoreceu a elite tubaronense e o desenvolvimento
daquela cidade. Ademais, para que o empreendimento não fosse inviabi-
lizado, a existência dos indígenas Laklãnõ/Xokleng na encosta da Serra
Geral foi omitida. Os imigrantes ficaram cientes da presença indígena
apenas quando já haviam se estabelecido na colônia.
Não bastasse essa omissão, ao chegarem à colônia, os imigrantes
percebiam que a maior parte das promessas que lhes haviam sido feitas
ainda na Europa eram ilusórias. Não havia um comércio desenvolvido
para a venda do que produzissem, nem vias para o escoamento de sua
produção. Ao contrário, havia mata fechada, perigos e ausência de qual-
quer infraestrutura. Mesmo com o auxílio prestado pela empresa coloni-
zadora nos primeiros anos, a dificuldade era expressiva.
Com o sentimento de que haviam sido enganados e sem uma pers-
pectiva de quitar os lotes que haviam adquirido de forma parcelada, não
foram raros os casos em que as famílias abandonaram a Colônia Grão-
-Pará, seguindo para outras regiões de Santa Catarina ou até mesmo
outros estados. Somadas a essas condições havia o conflito com os indí-
genas, que causou mortes de ambos os lados, assim como a emigração de
muitas famílias.
136
Imigrantes europeus no sul de Santa Catarina: o caso da Colônia Grão-Pará (1882)
Referências
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pio e os causos reunidos nos 74 anos do ex-prefeito de Grão-Pará. Grão-Pará: O
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repressão do tráfico de africanos neste Império. [S. l.], [1850]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lim/lim581.htm. Acesso em: 29 ago.
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volutas do Império. [S. l.], [1850]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/LEIS/L0601-1850.htm. Acesso em: 29 ago. 2022.
BRASIL. Decreto nº 1.904, de 17 de outubro de 1870. Estabelece para Sua
Alteza Imperial a Senhora D. Izabel Christina e seu Augusto Esposo, nos termos
do respectivo contracto matrimonial, um patrimonio em terras nas Provincias de
Santa Catharina e Sergipe. [S. l.], [1850]. Disponível em: https://www2.camara.
leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1904-17-outubro-1870-552796-publi-
cacaooriginal-70287-pl.html. Acesso em: 29 ago. 2022.
DALL’ALBA, João. Leonir. Colonos e Mineiros no Grande Orleans. Floria-
nópolis: Edição do Autor, 1986.
137
Tatiane Soethe Szlachta
138
A atuação da Empresa Colonizadora
Serafim Fagundes & Cia, na região do
Planalto Rio-Grandense, 1898-19041
João Sand
Considerações iniciais
A
o final do século XIX houve o processo descrito por Jean Roche
(2022) como enxamagem, respectivamente a sua terceira fase:
o salto para o Planalto. Este processo se deu por fatores que
favoreceram o empreendimento colonizatório na região, destacam-se: a
fundação da Colônia Ijuí, em 1890, uma colônia mista de investimento
público e a construção do trecho da ferrovia São Paulo – Rio Grande, en-
tre Santa Maria e Cruz Alta, em 1894, integrando a região antes isolada,
ao Rio Grande do Sul, e consequentemente do Brasil.
O Planalto recebeu olhares de sujeitos que, sozinhos ou em sociedade,
viam a oportunidade de lucrar através da fundação de Colônias2, que se
valorizou cada vez mais. Estes investimentos de colonização particulares
poderiam ser de capital nacional, como é o caso deste estudo, a Empresa
Colonizadora Serafim Fagundes & CIA, onde três sujeitos constituíram
1
Este capítulo é resultado da pesquisa desenvolvida no trabalho de conclusão de curso, intitula-
do “Uma Colônia com um futuro extraordinário”: a atuação da Empresa Colonizadora Serafim
Fagundes & CIA, na região do planalto rio-grandense (1898-1904) defendido na Universidade
de Passo Fundo, em 2021.
2
O termo “Colônia” quando escrito em maiúsculo se refere ao empreendimento agrícola onde os
(i)migrantes adquiriram terras e foram assentados, já “colônia” com a escrita em minúsculo,
se refere ao lote adquirido pelo colono, a sua propriedade onde criou raízes. Sendo que em uma
Colônia havia muitas colônias.
João Sand
3
Sobre a Empresa de Colonização Dr. Herrmann Meyer, ver os estudos de Rosane M. Neumann,
principalmente sua obra Uma Alemanha em miniatura: o projeto de imigração e colonização
étnico particular da Colonizadora Meyer no Noroeste do Rio Grande do Sul (1897-1932) (2016).
140
A atuação da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & Cia, na região do Planalto Rio-Grandense, 1898-1904
4
Contrato de Sociedade da Colonizadora Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA, em
01/10/1898. Documento do Registro Torrens da Comarca de Cruz Alta. Requerente: Empresa
Colonizadora Serafim Fagundes & CIA. Cruz Alta, Cartório do Civil e Crime, 1905, N 3749,
M 120, E 63. APERS.
141
João Sand
142
A atuação da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & Cia, na região do Planalto Rio-Grandense, 1898-1904
5
Sobre o Registro Torrens, ver Costa (2021).
143
João Sand
Figura 1 – Trajetória das terras de particulares adquiridas pela Empresa Colonizadora Serafim Fagundes e
CIA
Fonte: Dados compilados pelo autor, a partir das escrituras de compra e venda de terras anexadas ao Registro Torrens
da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA.6
6
Pública Forma de translado de escritura de compra e venda. Documento do Registro Torrens
da Comarca de Cruz Alta. Requerente: Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA. Cruz
Alta, Cartório do Civil e Crime, 1905, N 3749, M 120, E 63. APERS.
144
A atuação da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & Cia, na região do Planalto Rio-Grandense, 1898-1904
145
João Sand
Tabela 1 – Compra das terras e registro da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA
Vendedor (Particular) Data escritura Data registro Valor Pago (Rs.)
Manoel Joaquim de Oliveira 25/08/1898 17/02/1899 250$000
Emilio Ferraz de Campos 25/10/1898 17/02/1899 250$000
Polycarpo José de Oliveira 25/10/1898 17/02/1899 1:000:000
Geraldo Nunes Vieira 24/12/1898 17/02/1899 350$000
Santiago José Duarte 26/01/1899 20/02/1899 250$000
Dona Conceição Maria de Oliveira 06/02/1899 20/02/1899 150$000
Domingo Faustino Correa 11/02/1899 11/02/1899 8:000$000
Cesário Portes Pimentel 09/05/1899 24/05/1899 30:000$000
Fonte: Dados compilados pelo autor, a partir das escrituras de compra e venda de terras anexadas ao Registro Torrens
da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA.7
7
Pública Forma de translado de escritura de compra e venda. Documento do Registro Torrens
da Comarca de Cruz Alta. Requerente: Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA. Cruz
Alta, Cartório do Civil e Crime, 1905, N 3749, M 120, E 63. APERS.
146
A atuação da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & Cia, na região do Planalto Rio-Grandense, 1898-1904
8
Escritura pública de venda de um sítio – Primeiro Cartório do Notariado da cidade de Cruz Alta,
livro n° 41, folhas 77 a 89. 02/05/1899. Escritura de compra e venda; título de legitimação. Docu-
mento do Registro Torrens da Comarca de Cruz Alta. Requerente: Empresa Colonizadora Sera-
fim Fagundes & CIA. Cruz Alta, Cartório do Civil e Crime, 1905, N 3749, M 120, E 63. APERS.
147
João Sand
9
Escritura de venda de terras de cultura que faz o Governo do Estado a Empresa Colonizadora
Serafim Fagundes & CIA. Cartório do Notariado de Porto Alegre, livro nº114, folhas 37 a 38.
19/03/1904. Documento do Registro Torrens da Comarca de Cruz Alta. Requerente: Empresa
Colonizadora Serafim Fagundes & CIA. Cruz Alta, Cartório do Civil e Crime, 1905, N 3749,
M 120, E 63. APERS.
10
Pública Forma de translado de escritura de compra e venda. Documento do Registro Torrens
da Comarca de Cruz Alta. Requerente: Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA. Cruz
Alta, Cartório do Civil e Crime, 1905, N 3749, M 120, E 63. APERS.
148
A atuação da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & Cia, na região do Planalto Rio-Grandense, 1898-1904
Tabela 2 – Balanço ativo e passivo da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA
ATIVO: TOTAL
Em dívidas ativas Rs.106:612$350
Em Semoventes Rs.1:200$000
Em imóveis Rs.52:500$000 Rs.160:312$350
PASSIVO:
A credores Rs.38:952$680
A Capital Rs.39:817$965
Lucros sujeitos a liquidação Rs.81:541$705 Rs.160:312$350
CARTA DE CAPITAL TOTAL
Ao sócio Diniz Dias
Capital realizado Rs.17:778$775
Sua quota de lucros a liquidar Rs.27:180$568 Rs.44:959$343
Ao sócio José Annes Dias
Capital realizado Rs.13:369$190
Sua quota de lucros a liquidar Rs.27:180$568 Rs.40:549$758
Ao sócio Serafim Fagundes da Fonseca
Capital realizado Rs.8:670$000
Sua quota de lucros a liquidar Rs.27:180$568 Rs.35:850$568
Fonte: Tabela de balanço ativo e passivo da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA, em liquidação, anexada ao
Inventário post-mortem do sócio Serafim Fagundes da Fonseca, Cruz Alta, 31 de outubro de 1904.12
11
Relatório de agrimensura. Antonio Pimentel, agrimensor, Cruz Alta, 30/7/1899. Certidão for-
necida em Cruz Alta, em 11/02/1905. Documento do Registro Torrens da Comarca de Cruz
Alta. Requerente: Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA. Cruz Alta, Cartório do
Civil e Crime, 1905, N 3749, M 120, E 63. APERS.
12
Balanço Ativo e Passivo da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA. 31/10/1904. In-
ventário post-mortem de Serafim Fagundes da Fonseca. Inventariante: Serafim Fagundes da
Fonseca; Inventariados: Maria Annes da Fonseca, Diniz Dias. Entrada do processo: 16/11/1904.
Cruz Alta. Cartório da Provedoria de Cruz Alta. N 46, M 3, E 64. APERS.
149
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Tabela 3 – Capital investido pelos sócios da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA a serem pagos
Capital TOTAL
Pelo capital do sócio Diniz Dias Rs.17:778$775
Idem do sócio José Annes Dias Rs.13:369$190 Rs.39:817$965
Idem do sócio Serafim Fagundes da Fonseca Rs.8:670$000
Fonte: Tabela de balanço ativo e passivo da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA, em liquidação,
anexada ao Inventário post-mortem do sócio Serafim Fagundes da Fonseca, Cruz Alta, 31 de outubro de 1904.13
Por fim a sobra dos valores após quitação das dívidas deveria ser di-
vidida entre os três sócios da Colonizadora, os lucros a serem repartidos
entre os sócios seria Rs.27:180$568 a cada um. Não se possui dados do mo-
mento em que estes investimentos dos sócios foram feitos, crê-se que du-
rante os anos a empresa recebeu o capital dos sócios, para pagamentos de
dívidas ou aquisição de novas propriedades ou na manutenção da Colônia.
Com a Colônia General Osório já fundada e já recebendo algumas
famílias de migrantes vindos de Santa Cruz, Estrela, Cachoeira, Rio
Pardo etc., a Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA negociou,
em 1904, com o governo do estado para adquirir 12.421 hectares, de ter-
ras públicas próximas à Colônia. Sobre a venda de terras públicas, era
previsto pelo Decreto nº 313, de 4 de julho de 1900,
13
Balanço Ativo e Passivo da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA. 31/10/1904. In-
ventário post-mortem de Serafim Fagundes da Fonseca. Inventariante: Serafim Fagundes da
Fonseca; Inventariados: Maria Annes da Fonseca, Diniz Dias. Entrada do processo: 16/11/1904.
Cruz Alta. Cartório da Provedoria de Cruz Alta. N 46, M 3, E 64. APERS.
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Pública Forma de translado de escritura de compra e venda. Documento do Registro Torrens
da Comarca de Cruz Alta. Requerente: Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA. Cruz
Alta, Cartório do Civil e Crime, 1905, N 3749, M 120, E 63. APERS.
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15
Juízo Distrital de Cruz Alta. N 53, M 3, E 64. Autos de Inventário. Inventariante José Annes
Dias, Inventariado Adelaide Dias. 1909. APERS.
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A atuação da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & Cia, na região do Planalto Rio-Grandense, 1898-1904
Motta Dias e seu filho Diniz Dias16. No inventário de Diniz Dias Filho
havia o capital da Empresa Colonizadora Dias & Dias, a qual entrou
em liquidação após a morte do sócio, sendo o valor total da sociedade
Rs.90:087$800, que deveria ser dividido após a liquidação da empresa.
O inventário total (excluindo o capital da Colonizadora em liquidação)
a ser dividido entre ambas as partes era de Rs.125.689$786, ficando
Rs.62:844$893 para cada um. O capital e lucros da liquidação da Empre-
sa Colonizadora Dias & Dias dividido ficou: para Elvina da Motta Dias,
Rs.32:155$306; e para seu filho Diniz Dias, Rs.48:794$896. Totalizando o
valor de Rs.80:950$202, sendo então repassado ao sócio José Annes Dias,
do valor total da liquidação, o valor de Rs.9.137.598.17
O Almanak Litterario e Estatístico de 1913 ao falar sobre a Colônia
General Osório, menciona a morte do sócio Serafim Fagundes, e a conti-
nuidade nos negócios de colonização dos irmãos Dias, e com a morte de
Diniz Dias, a Colônia ficou sob a direção de José Annes Dias. Diniz Dias
é visto como o verdadeiro fundador da Colônia, o que reforça a ideia de
que carregava o nome de Serafim Fagundes para conseguir facilidades
por conta de sua posição social e política em Cruz Alta.
General Osorio. – Colônia particular, a Leste da cidade, fundada em 1898, nas
matas do Jacuhy, pela firma social Serafim Fagundes & Companhia. Com o
falecimento do socio Fagundes, ficaram os sobreviventes, irmãos Diniz e José
Annes Dias com a sociedade, sob a razão social de Dias & Dias, atualmente em
liquidação pela morte do capitão Diniz Dias, que, aliás, pode ser considerado
como o verdadeiro fundador da colônia, onde sua falta é assaz sentida e seu
nome acatado com veneração. Hoje em dia esse importante núcleo acha-se
sobre a direção exclusiva do Sr. José Annes Dias, abastado capitalista desta
praça [Cruz Alta] (Almanak Litterario E Estatistico, 1913, p. 86).
16
A família Dias possui em cada geração um Diniz Dias, nessa pesquisa o primeiro a aparecer foi
Diniz Dias, o Barão de São Jacob, seu filho Diniz Dias Filho, sócio da Empresa Colonizadora
Serafim Fagundes & CIA e da Dias & Dias, e seu filho Diniz Dias, sócio da Dias & Sobrinho, até
onde se conseguiu apurar, este último também possui um filho chamado Diniz Dias.
17
Juízo Distrital de Civil e Crime de Cruz Alta. N 462, M 10, E 62. Devolução de Herança. Inven-
tariante Diniz Dias, Inventariado Elvina V. da Motta Dias. Autos de Inventário. Inventariante
Diniz Dias, Inventariado Diniz Dias. 1921. APERS.
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Também vale destacar que José Annes Dias possuía sete lotes na
Linha 7 da Colônia General Osório, no valor de Rs.4:500$000 cada um,
um lote na Linha Jacuhy no valor de Rs.4:500$000, dois lotes no Polígo-
no 7, no valor de Rs.2:500$000, no perímetro urbano da Colônia possuía
três terrenos no valor total de Rs.546$430. Possui também na Colônia 24
alqueires de terra em litígio, sob valor total de Rs.2:000$005. Esses lotes
foram divididos entre seus herdeiros.
Portanto, pode-se perceber que após a morte do sócio Serafim Fa-
gundes da Fonseca, a Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA
entrou em liquidação e em seu lugar surge a Empresa Colonizadora Dias
& Dias, com os dois sócios os irmãos Diniz Dias Filho e José Annes Dias.
Após a morte de Diniz Dias Filho, surge a Empresa Colonizadora Dias
& Sobrinho, agora composta por José Annes Dias e seu sobrinho Diniz
Dias. Nesse meio tempo a Empresa Colonizadora Alberto Schmitt & CIA
começou a vender terras no núcleo 15 de Novembro da Colônia General
Osório. Após a morte de José Annes Dias, a Empresa Colonizadora Dias
& Sobrinho entra em liquidação, não sendo possível saber se seu sobri-
nho Diniz Dias continuou com o negócio de companhias de colonização.
157
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21
Memorial de agrimensura apresentado por Hjalmar Tufvesson, 11/01/1905. Documento do Re-
gistro Torrens da Comarca de Cruz Alta. Requerente: Empresa Colonizadora Serafim Fagun-
des & CIA. Cruz Alta, Cartório do Civil e Crime, 1905, N 3749, M 120, E 63. APERS.
22
Memorial de agrimensura apresentado por Hjalmar Tufvesson, 11/01/1905. Documento do Re-
gistro Torrens da Comarca de Cruz Alta. Requerente: Empresa Colonizadora Serafim Fagun-
des & CIA. Cruz Alta, Cartório do Civil e Crime, 1905, N 3749, M 120, E 63. APERS.
158
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25
Esse número corresponde apenas às famílias de membros da comunidade evangélica de Ibiru-
bá/RS, em 1926.
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Considerações finais
A região do Planalto Rio-grandense foi palco de diversos empreen-
dimentos de sociedades de colonização particulares, no final do século
XIX, que atendiam à demanda e aos interesses da municipalidade de
Cruz Alta. Contribuindo para regularização da posse da terra, formação
do minifúndio e produção de subsistência para abastecer a sede do mu-
nicípio. Dentre os complexos coloniais formados por essas empresas de
colonização, uma delas foi, a Colônia General Osório, obra da Empresa
Colonizadora Serafim Fagundes & CIA. Essa Colonizadora adquiriu ter-
ras particulares e públicas, as dividiu em lotes que variavam de 25 hec-
tares e 50 hectares, e os vendeu para colonos vindos principalmente das
antigas zonas de colonização alemã e italiana. Tratava-se de um negócio
de compra e venda de terras, auferindo lucros.
O desmonte do latifúndio transparece nessa transação. As terras
particulares adquiridas pela Colonizadora faziam parte de duas gran-
des propriedades pertencentes a Athanásio José de Oliveira e Manoel
Faustino Corrêa, após a morte destes sujeitos suas terras foram dividi-
das entre seus herdeiros e credores. A Colonizadora reuniu estas terras
em uma grande propriedade novamente, fragmentando-a e revendendo
em pequenas colônias, multiplicando assim o valor da terra e dos seus
lucros. Para evitar incômodos com reivindicações e conflitos envolvendo
terras, a Colonizadora realizou o Registro Torrens, o qual asseguraria a
propriedade da terra em suas mãos, em um momento ainda de proprie-
dade precária da terra.
Com a morte do sócio Serafim Fagundes da Fonseca, em 1904, e a
extinção da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & CIA, os sócios
restantes, José Annes Dias e Diniz Dias, formaram a Dias & Dias, a qual
possuía o mesmo objetivo da antiga empresa. E após a morte de Diniz
162
A atuação da Empresa Colonizadora Serafim Fagundes & Cia, na região do Planalto Rio-Grandense, 1898-1904
Referências
COSTA, Caio Gomes da. O Registro Torrens pelo trópico de capricórnio:
a importação de um ideal econômico australiano para o Brasil. São Paulo. 2021.
Dissertação [Mestrado em Direito] - Fundação Getulio Vargas, Escola de Direito
de São Paulo. 2021.
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras,
1987.
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: GINZBURG,
Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais. Morfologia e História. São Paulo: Compa-
nhia das Letras, 1989.
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Reflexões sobre pequenos núcleos
coloniais particulares no Planalto
Rio-grandense (1897-1938)
Introdução
A
colonização no Rio Grande do Sul ocorreu de diferentes formas
desde seu início. Inicia-se com os projetos públicos1 de São Leo-
poldo (1824), Três Forquilhas e São Pedro de Alcântara (1826),
ou alguns anos depois com os projetos particulares2 como Mundo Novo
(1846) – criada por Tristão Monteiro –, Nossa Senhora da Soledade
(1855) – criada pela empresa Montravel & Cia –, ou a Colônia São Lou-
renço (1858) – criada por Jacob Rheingantz. A partir de tais exemplos, é
possível observar que a colonização de iniciativa particular, seja por em-
presa ou por indivíduos, teve seu início após algumas décadas do início
desse processo no Estado.
Tal descompasso entre o início da colonização pública e da inserção
da iniciativa privada pode ter contribuído para a maneira como os em-
preendedores particulares desenvolveram seus projetos, visto que esta-
1
Sobre esses primeiros projetos públicos de colonização, destacamos as obras de Marcos Justo
Tramontini (2000) sobre São Leopoldo, e de Marcos Antônio Witt (2015) sobre a colonização no
mega espaço São Leopoldo – Litoral Norte do Rio Grande do Sul.
2
Quanto à estudos sobre colonização particular desse período, apontamos para consulta as obras
de Patrícia Bosenbecker (2017) envolvendo a família Rheingantz que abarca a criação da Colô-
nia São Lourenço e o livro de Júlia Leite Gregory (2021) sobre a colonização privada no Vale do
Taquari.
Kalinka de Oliveira Schmitz
166
Reflexões sobre pequenos núcleos coloniais particulares no Planalto Rio-grandense (1897-1938)
3
A utilização do termo Colônia, em maiúsculo, faz referência aos projetos de colonização. Por
seu turno, quando estiver em minúsculo – colônia –, estaremos nos referindo aos lotes coloniais
que compunham o todo maior que era a Colônia.
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Reflexões sobre pequenos núcleos coloniais particulares no Planalto Rio-grandense (1897-1938)
a partir de duas outras Colônias, para além de seu objeto de estudo, a Co-
lônia General Osório, Sand (2021) realiza uma revisão sobre os interes-
ses políticos na Colônia Saldanha Marinho5, tal como havia na Colônia
General Osório, embora esta última possuísse uma grande preocupação
com os interesses lucrativos dos envolvidos na companhia de colonização
responsável. Por seu turno, o outro empreendimento colonial citado pelo
autor, Neu-Württemberg, um projeto étnico alemão, possuía o intento de
ser um espaço de preservação do Deutschtum6. Embora os três projetos
fossem empreendimento particulares, se faz interessante destacar que
apenas o último possuía capital financeiro estrangeiro.
Essas diferentes preocupações que podem ter movido os envolvidos
na colonização, acaba por impactar na produção ou preservação de ma-
teriais a serem acessados e utilizados por historiadores interessados em
pesquisar pequenos projetos de colonização particular. Assim, ao passo
que há projetos com grande variedade de documentos como os que Neu-
mann utiliza (2016), há aqueles empreendimentos com uma ausência de
fontes detalhadas, como no caso de Sand (2021); para driblar tal falta de
documentações, Sand fez uso de testamentos e inventários dos sócios da
empresa de colonização. Utilizar registros de transações de proprieda-
des, encontrados em registros de imóveis (Schmitz, 2019), é outra possi-
bilidade, ainda que o acesso a tais possa ser dificultado, a depender do
posicionamento do local sobre acesso aos seus registros.
Para a discussão reflexiva aqui realizada, partiu-se de informações
presentes em livros de memorialistas locais, que, à parte do discurso
ufanista, realizaram pesquisa documental de forma a embasar seus es-
critos. Buscou-se menções às Colônias estudadas em vários locais, como
os Relatórios de Presidente da Província ou ainda em jornais através
do uso da Hemeroteca Digital; no primeiro local de busca, não houve
5
Sobre a Colônia Saldanha Marinho, ver Streit (2003).
6
O deutschtum pode ser compreendido como a procura pela manutenção da germanidade das
populações de origem alemã (Neumann, 2016).
173
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Reflexões sobre pequenos núcleos coloniais particulares no Planalto Rio-grandense (1897-1938)
Colônias objetos deste artigo se encontram. Tais Colônias ainda, são cita-
das na relação de Colônias particulares realizada por Amstad (2005), ao
final de seu livro, principal menção que existe sobre a existência desses
pequenos projetos de venda de terras. Inclusive, pela falta de um projeto
mais bem definido de colonização ou de oferta para determinado tipo
de colono – por caráter étnico ou religioso –, possibilita considerar que
esses empreendimentos são muito mais projetos de venda de terras que
acabam se aproveitando do fluxo de população colonial que passa a se
deslocar pelo interior do Estado em busca de novas terras.
Ou seja, por mais que integrem o espaço das colônias novas8, são
empreendimentos que não visam uma colonização propriamente – ou
uma colonização considerando apenas a transação capitalista da venda
da terra ao interessado –, apenas se aproveitando da população exce-
dente oriundas de projetos coloniais mais antigos. Logo, os casos aqui
utilizados para reflexão, se encaixam na ideia de que o mais importante
era a venda de terras, até pela extensão de terras indicarem para a possi-
bilidade de uma ação pontual de proprietários de terras que pretendiam
angariar lucros num mercado em crescimento. A única Colônia que pode
destoar de tal consideração é a Colônia Tamandaré, que tem por trás
uma empresa de colonização que possuiu outros projetos de colonização
na região, e que é citada por Rückert (1997) como uma das principais
colonizadoras em Passo Fundo. A Colônia Tamandaré e a Colônia Co-
queiros, acabam se tornando sedes de municípios que se emancipariam
de Carazinho na década de 1990; a saber, Almirante Tamandaré do Sul e
Coqueiros do Sul, respectivamente.
De qualquer maneira, a colonização/venda de terras para colonos
ou nacionais, fosse pública ou particular, teve papel importante para um
8
Esse termo se refere aos núcleos coloniais criados a partir do final do século XIX na região do
Planalto rio-grandense, com a chegada de imigrantes, mas principalmente com o excedente
populacional oriundo das primeiras zonas de colonização do Rio Grande do Sul, identificadas
como colônias velhas. As colônias novas localizavam-se nas áreas de matas não utilizadas para
a criação de gado; contudo, eram espaços já ocupados por nacionais e indígenas, o que acarre-
tou diferentes problemas conforme a colonização se expandia (Neumann, 2017).
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12
Membro da família à frente da criação da Colônia Coqueiros e idealizador da Colônia Xadrez,
Homero Guerra também pode ter tido interesses políticos – para além dos econômicos – na
criação de núcleos coloniais e no consequente aumento populacional do distrito/município de
Carazinho. Figura importante da política carazinhense, participou da comitiva que pleiteou a
emancipação do então distrito de Passo Fundo, e após, se tornou o 1º prefeito do novo municí-
pio, no ano de 1931 (VARGAS, 1981).
179
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13
Um estudo mais detalhado sobre esses núcleos coloniais pode ser encontrado no artigo de
minha autoria, denominado A relação entre a alteração da propriedade no norte rio-grandense
com a colonização a partir das Colônias dos Coqueiros (1928) e Xadrez (1938), publicado na
Revista Semina no ano de 2019.
180
Reflexões sobre pequenos núcleos coloniais particulares no Planalto Rio-grandense (1897-1938)
Considerações finais
Este artigo, antes de tudo, pretendeu propor reflexões gerais acerca
de empreendimentos colonizatórios que, embora possam ter tido impor-
tância local para a ocupação do espaço e inserção deste de maneira mais
incisiva na economia regional, não tenham sido de grande expressão se
observados em um nível mais amplo no Estado. Não que por isso não se-
jam úteis para refletir sobre o processo colonizatório que ocorreu em toda
a região do Planalto rio-grandense. Embora de extensão ou importância
regional menor do que outros projetos colonizatórios de maior fôlego, são
partes das bases da ocupação atual na região, e por isso, adentrar o es-
paço de reflexões sobre a colonização e a reorganização agrária do início
do século XX.
Foram ainda, empreendimentos que contribuíram com enxertos
multiétnicos na região até então formada predominantemente por nacio-
nais e indígenas, gerando, como não poderia deixar de ocorrer, processos
de alteridades nem sempre cordiais. Convém destacar, que, devido ao
caráter introdutório das reflexões apresentadas, há espaço para estudos
de maior fôlego sobre estes projetos, destarte a pouca disponibilidade de
fontes ou a sua dispersão em diferentes locais de guarda.
Nas quatro Colônias objetos da reflexão neste estudo, é possível
observar como os indivíduos que chefiavam tais negócios estavam di-
retamente ligados ao negócio, uma vez que eram vendidos os lotes por
eles próprios em sua maioria. A existência de empresas de colonização se
demonstra variada, sendo um caso o de reunião de pessoas diretamente
envolvidas no negócio – Colônia Tamandaré –, ou muito provavelmente
apenas para a realização de propaganda junto ao público-alvo da coloni-
zação – Colônias Coqueiros e Xadrez. A política foi outro aspecto obser-
vado em tais empreendimentos que, por conta de seus fundadores, eram
181
Kalinka de Oliveira Schmitz
Referências
BARROS, José D’Assunção. História Comparada. Petrópolis: Vozes, 2014.
BOSENBECKER, Patrícia. Três gerações de empreendedorismo: capital
e laços sociais entre Brasil e Alemanha a partir do estudo de caso da família
Rheingantz. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade Federal do Rio Gran-
de do Sul. 2017. 248 p.
CEM ANOS de germanidade no Rio Grande do Sul, São Leopoldo: Ed. Uni-
sinos, 2005.
ECKER, Adari. A trilha dos pioneiros. Passo Fundo: Berthier. 2007.
GREGORY, Julia Leite. Uma história social da colonização privada: Em-
presários, imigrantes e o negócio da terra (Vale do Taquari/RS, segunda metade
do século XIX). Porto Alegre: Editora Fi, 2021.
GRITTI, Isabel Rosa. As Companhias Colonizadoras e a intrusão de terras no
Norte do Rio Grande do Sul: o caso da Fazenda Quatro Irmãos 1948-1950. Anais
do XXVII Simpósio Nacional de História – conhecimento histórico e diálogo so-
cial. 2013. p. 1-14.
KOCKA, Jürgen. Para além da comparação. Revista Esboços, Florianópolis, v.
21, n. 31, p. 279-286. Agosto 2014.
NEUMANN, Rosane Marcia. Colonização e exclusão: lavradores nacionais e
colonos no complexo colônia da Colonizadora Meyer (Planalto Rio-Grandense,
1897-1932). Tempos Históricos, Marechal Cândido Rondon, v.16, 2º semestre.
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NEUMANN, Rosane Marcia. Uma Alemanha em miniatura: o projeto de imi-
gração e colonização étnico particular da Colonizadora Meyer no Noroeste do Rio
Grande do Sul (1897-1932). São Leopoldo: Oikos; Editora Unisinos, 2016.
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Reflexões sobre pequenos núcleos coloniais particulares no Planalto Rio-grandense (1897-1938)
Fontes
Jornal A Federação – Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.
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Empresas colonizadoras e
colonização do antigo Cruzeiro
Introdução
O
processo de colonização do Sul do Brasil, sobretudo do contexto
da emancipação política (1822) até meados do século passado, é
repleto de experiências nas quais vários grupos de imigrantes e
de descendentes protagonizaram uma nova territorialização da região.
Tendo isso presente, nesse capítulo, objetiva-se caracterizar a experiên-
cia de colonização ocorrida em parte do “território contestado”, que for-
mou o município de Cruzeiro – SC (1917, atual Joaçaba), condicionada
por uma série de fatores, como a disputa de limites entre Paraná e Santa
Catarina, a construção da ferrovia São Paulo-Rio Grande, a Guerra do
Contestado e, em especial, a intensa atuação de empresas particulares
de colonização, bem como do interesse do poder público em fazer avan-
çar tal projeto. Assim, ao longo da primeira metade do século XX, essas
empresas se aproveitaram de facilidades viabilizadas pelo poder público,
além da difusão de representações favoráveis aos colonizadores e con-
trárias aos grupos estabelecidos, impulsionando a reocupação de parte
significativa do território. Os principais protagonistas dessa movimen-
tação foram agricultores brancos, em geral provenientes das primeiras
colônias sulinas.
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Marilize Radin Fratini, José Carlos Radin
Sociedade Territorial Sul Brasileira H. Hacker & Cruzeiro: Colônia Bom Retiro
Santa Catarina
Cia. (Luzerna).
Estação de Rio Bonito (Tan-
Colônia Petry, José Petry. Santa Catarina
gará).
Videira, Estação Rio das Pe-
Colônia Piccoli: Augusto e Reynaldo Piccoli. Santa Catarina
dras/ Campos Novos.
Cruzeiro: Catanduvas, Ponte
São Paulo/ Rio Grande Serrada, Irani, Vargem Boni-
Mosele, Eberle, Ghilardi & Cia.
do Sul ta, Ouro, Capinzal, Piratuba e
Concórdia.
Sociedade Territorial Mosele, Eberle, Ahrons & Cruzeiro: Concórdia, Arabu-
Rio Grande do Sul
Cia. tã, Ipumirim e Lindoia do Sul.
Cruzeiro: Concórdia, Seara,
Luce, Rosa & Cia. Rio Grande do Sul
Itá e Paial
Empresa Povoadora e Pastoril Theodore Capelle Cruzeiro: Rio das Antas, Pira-
São Paulo
& Irmão – Jean Leon Capelle tuba e Concórdia
Cruzeiro: Ponte Serrada, Var-
Angelo De Carli, Irmão & Cia. – Colônia Irany Rio Grande do Sul gem Bonita, Irani e Passos
Maia
Empresa Colonizadora Nardi, Rizzo, Simon & Cruzeiro: Seara – Colônia
Rio Grande do Sul
Cia. Rio Branco
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de anúncios do jornal Staffetta Riograndense e Nodari (2002).
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1
Acerca dessas disputas judiciais impetradas por posseiros contra a Companhia EFSPRG no
município de Cruzeiro, na década de 1920, ver, Frattini; Radin (2022, p. 187-206).
203
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Considerações finais
O período que compreende o final do Império e o início da República
foi de grandes transformações no país, que também se fizeram sentir no
antigo território Contestado. A intensificação da demarcação de terras
favoreceu o avanço da apropriação privada de imensas áreas e a reocu-
pação desses “sertões”, sobretudo pela fixação do elemento branco. Nesse
cenário, o território de Cruzeiro, e do Oeste catarinense, constituiu-se em
base de uma significativa fronteira agrícola.
Diversas empresas de colonização exerceram um papel decisivo no
processo de reocupação do território, sobretudo após a construção da Fer-
rovia São Paul-Rio Grande. A Southern Brazil Railway Company e suas
subsidiárias, bem como diversas outras empresas privadas, atraíram,
para Cruzeiro, milhares de agricultores, em sua maioria descendentes
de imigrantes das primeiras colônias do Rio Grande do Sul, vistos como
ideais para promover o progresso almejado pelas autoridades, em espe-
cial quando comparados às populações já estabelecidas, que foram alija-
das do processo.
A estratégia de mercantilização das terras adotadas pelas referidas
empresas foi a de dividi-las em lotes destinados à agricultura familiar.
Para tal, realizaram intensa campanha publicitária, dirigida especial-
mente à população das áreas dos primeiros assentamentos de imigran-
tes. Em seus anúncios exploravam vários elementos como a proximidade
com a ferrovia, além da fertilidade do solo, da produtividade e da possi-
bilidade de comércio, dos preços atrativos das terras, da abundância de
madeira e, consequentemente, das grandes possibilidades de ascensão
social e econômica. Nesse cenário, até meados do século XX, tais empre-
sas atraíram para Cruzeiro dezenas de milhares de migrantes agricul-
206
Empresas colonizadoras e colonização do antigo Cruzeiro
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208
Empresas colonizadoras e colonização do antigo Cruzeiro
209
Volksverein: associação com ares de
colonizadora (1912-1956)
Carlise Schneiders
Introdução
N
a edição número 09 do ano de 1920 da revista St. Paulus-Blatt,
ocupa lugar a partir da página 04 o estatuto atualizado da
Volksvereins für die deutschen Katholischen in Rio Grande do
Sul (Sociedade União Popular para alemães católicos do Rio Grande do
Sul)1. O estatuto determina a atuação da entidade:
O motivo da associação é a promoção da ordem escrita, em especial o acompa-
nhamento dos católicos alemães sobre o desenvolvimento das novas funções
sociais e religiosas em crescimento e a escolarização para trabalhos práticos
em relação ao desenvolvimento intelectual e econômico de todas as profissões.
A associação ao mesmo tempo dá atenção especial às questões religiosas bá-
sicas da sociedade. A língua oficial da associação é alemã. É de se citar que a
Volksverein é orientada pela autoridade dos bispos e o principal bispo respon-
sável é o bispo metropolitano (Traduzido pela autora)2.
1
Neste trabalho, ambos os nomes podem ser utilizados para designar a associação, tanto
Volksverein, quanto União Popular.
2
ST. PAULLUS-BLATT. Estatuto da Sociedade União Popular. Nº 9, 1920, p. 04. Arquivo da
Associação Antônio Vieira, Porto Alegre – RS.
Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
3
Em síntese, a Germanidade (Deutschum) objetiva que os imigrantes alemães e seus descen-
dentes sejam cidadãos brasileiros, preservando, no entanto, características culturais e de iden-
tidade étnica alemães a partir da conservação da língua alemã, das características raciais e
culturais dos imigrantes. Essa ideologia era defendida pincipalmente por membros das elites
dos núcleos coloniais, principalmente aqueles ligados às igrejas, às escolas, aos centros de co-
mércio ou profissionais liberais, uma das principais formas de divulgar e preservar a ideologia
era a partir da imprensa (Arendt, 2006).
211
Carlise Schneiders
212
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Carlise Schneiders
4
Em tradução literal, Kulturkampf significa “luta pela cultura”, foi um movimento de disputa
na Alemanha promovido por Otto Von Bismarck no século XIX que defendia a laicização do
Estado. Esse movimento tira forças da Igreja Católica que retruca com o movimento de restau-
ração católica.
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Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
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Carlise Schneiders
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Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
Bauernverein
Grande parte das associações que estavam ligadas ao lazer e a cul-
tura, e até mesmo os de ajuda mútua tinham como público-alvo os mo-
radores de determinada localidade dentro do grupo étnico. Outro tipo de
associação eram as que tinham como público-alvo todos os membros de
determinada categoria dentro do estado ou até mesmo, do sul do país,
exemplo disso é a Federação do Cantores do Rio Grande do Sul ou a So-
ciedade Alemã de Amparo Mútuo (Cem anos de germanidade..., 2005).
No final do século XIX, quando um número considerável de associações
já estavam consolidadas e atendiam as mais diversas demandas locais,
formou-se a Associação Riograndense de Agricultores ou Bauernverein,
por sugestão e pioneirismo do Padre Theodor Amstad SJ.
O padre Amstad, pequeno no porte, mas grande no coração e no seu ideal, era
amigo, conselheiro e defensor dos colonos, e através dos contatos com os diver-
sos núcleos na sua visitação periódica aos mesmos, conhecia bem as necessi-
dades e os problemas desses pioneiros da pequena agricultura no Estado. De-
pois de diversos anos de preparação e doutrinação dos agricultores imigrados,
fundou o Bauernverein (Sociedade dos Colonos), organização de caráter inter-
confessional, congregando, indistintamente, colonos católicos e protestantes
com o objetivo de arregimenta-los, paraque, fortalecidos pela união, pudessem
solucionar com mais facilidade, os muitos e graves problemas que se afligiam
nos primórdios da colonização no estado (Requerimento da Sociedade União
Popular do Rio Grande do Sul ao Exmo. Snr. Dr. João Gonçalves, Porto Alegre,
22 jun. 1955, fl. 1).
217
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5
O tema é amplamente discutido na tese de Márcio José Werle (2014).
218
Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
Volksverein
Sob clara inspiração alemã, no Congresso Católicos de 1912, em Ve-
nâncio Aires-RS, os padres jesuítas, ainda sob a liderança de Theodor
Amstad, criam a Volksvereins für die deutschen Katolichen in Rio Grande
do Sul, que em 1934 foi registrada com o nome Sociedade União Popular
do Rio Grande do Sul. A associação objetivava formar (ou manter) co-
munidades católicas e alemães em perfeita harmonia, de acordo com os
preceitos religiosos e com progresso econômico. Dessa forma, a Volksve-
rein organizou diversos instrumentos de multiplicação da sua doutrina.
Werle ressalta a atuação da companhia com a publicação de periódicos
(jornais e almanaques); fundação de hospitais e asilos, escolas e seminá-
rios; realização dos Katholikentage (Congressos Católicos), cujos temas
estavam relacionados com a situação e problemas econômicos, sociais,
espirituais e culturais dos colonos; e a organização do Sparkass (O Siste-
ma de Crédito “Caixa Rural União Popular”) (Werle, 2000, p. 19).
Dentre os mecanismos de difusão de uma ideia de sociedade, a
Volksverein iniciou ainda em 1912 a edição de uma revista que difundia
os preceitos da associação, a St. Paulus-Blatt, inteiramente escrita em
alemão. Klauck (2009, p. 93) diz que a imprensa foi utilizada de forma
massiva para “manter os católicos, católicos”. A revista era organizada
em seções, e abarcava as mais diversas esferas da vida social dos colonos,
desde a vida espiritual e religiosa, seções sobre educação e catequese,
seções práticas sobre a vida laboral na colônia, seção de classificados e
uma categoria voltada para as mulheres.
Essa revista é fundamental para a efetivação do projeto da Volksve-
rein, pois segundo informações levantadas por Klauck (2009), em 1914
existiam cerca 9000 sócios assíduos e todos estes recebiam interferência
direta ou indireta da St. Paulus-Blatt, pois a maioria dos sócios tinha aces-
so à revista e lia as matérias contidas nela. É importante lembrar que os
meios de comunicação ainda eram extremamente raros nas casas brasilei-
ras desse período, ainda mais nas regiões remotas que este estudo abarca,
219
Carlise Schneiders
6
Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul (1835-1845) e Abdicação de Dom Pedro I (1831).
220
Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
Esse processo migratório foi batizado por Jean Roche (1969) de “en-
xamagem dos pioneiros”, que é caracterizada pelas migrações rurais de
imigrantes e seus descendentes para novas zonas de colonização. Quatro
fases desse processo são descritas pelo autor: a Primeira fase: até 1850,
a ocupação da periferia de São Leopoldo; a Segunda fase: entre 1850 e
1890, a marcha para o oeste; a Terceira fase: a partir de 1890, o salto
para o planalto; e a Quarta fase: desde 1914, êxodo do Rio Grande do
Sul. É importante frisar, nesse sentido, que, para Roche, as migrações
internas dos colonos “dadas sua amplitude e duração, tiveram mais im-
portância do que o próprio movimento imigratório” (p. 319).
As primeiras fases da enxamagem deixavam mais claro que o esgo-
tamento da terra e a grande natalidade das famílias não permitia a per-
manência de todos os familiares nos antigos lotes, no entanto, os processos
migratórios pós 1914, direcionados para Santa Catarina, Paraná e até mes-
mo, os países vizinhos Argentina e Paraguai, levantam outras hipóteses,
Ao analisarmos a saída de colonos rio-grandenses para o Estado vizinho, não
podemos deixar de considerar como sendo reflexo de algumas políticas pú-
blicas criadas pelo governo positivista que estava no poder. Principalmente,
a partir de 1908, com a criação da colônia Erechim, o governo passou a in-
centivar uma colonização mista, isto é, abarcando tanto colonos/imigrantes
quanto caboclos, além de não restringir a uma única confessionalidade em
seus núcleos coloniais. Essa formação heterogênea da colonização pública nem
sempre agradava aos colonos, que tinham sua preferência por colônias onde
pudessem se agrupar com seus pares – étnicos e confessionais (Schmitz, 2021,
p. 824).
221
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Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
7
RAMBO SJ, Balduíno. [Correspondência]. Destinatário: D. Antonio Zattera, Bispo de Pelotas.
Porto Alegre, 28 ago. 1946. Caixa 1.4.1.6 - SUP 1-16 - Pasta SUP-14 - Doc. 1. Coleção de Obras
Raras e Especiais do Memorial Jesuíta Unisinos.
223
Carlise Schneiders
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Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
Fonte: Criado pela autora, a partir das Bases Cartográficas do IBGE 2019 e 2020. Software utilizado: QGis
225
Carlise Schneiders
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Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
Último núcleo agrícola fundado, o de Porto novo, o maior e mais bem projeta-
do, com uma área de 23000 alqueires, constitue hoje a área de um novo muni-
cípio denominado Itapiranga, sede daquela colônia. E possuía uma população
superior de 15000 almas. Dentro da gleba colonisada existem 800 km de es-
tradas de rodagem, construídos pela União Popular, possuindo ainda telefone
“automático”, que liga a sede a todas as sub-sedes, como particulares entre si.8
8
Sociedade União Popular do Rio Grande do Sul. [Requerimento]. Destinatário: Exmo. Snr. Dr.
João Gonçalves, Porto Alegre, 22 jun. 1955. Caixa 1.4.1.6 SUP 17-42 Pasta SUP 25 - Doc. 9,
fl 03. Coleção de Obras Raras e Especiais do Memorial Jesuíta Unisinos.
9
Sociedade União Popular do Rio Grande do Sul. [Requerimento]. Destinatário: Exmo. Snr. Dr.
João Gonçalves, Porto Alegre, 22 jun. 1955. Caixa 1.4.1.6 SUP 17-42 Pasta SUP 25 - Doc. 9,
fl 03. Coleção de Obras Raras e Especiais do Memorial Jesuíta Unisinos.
10
Sociedade União Popular do Rio Grande do Sul. [Requerimento]. Destinatário: Exmo. Snr. Dr.
João Gonçalves, Porto Alegre, 22 jun. 1955. Caixa 1.4.1.6 SUP 17-42 Pasta SUP 25 - Doc. 9,
fl 03. Coleção de Obras Raras e Especiais do Memorial Jesuíta Unisinos.
227
Carlise Schneiders
11
Cabe apontar que segundo dados do IBGE de 1960, havia em Itapiranga 688 pessoas acima de
10 anos que não sabiam ler nem escrever, o que equivalia a 4,58% da população total do muni-
cípio, que em 1960 estava em 15011 pessoas (IBGE, 1960).
228
Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
12
RAMBO SJ, Balduíno. [Correspondência]. Destinatário: D. Antonio Zattera, Bispo de Pelotas.
Porto Alegre, 28 ago. 1946. Caixa 1.4.1.6 - SUP 1-16 - Pasta SUP-14 - Doc. 1. Coleção de Obras
Raras e Especiais do Memorial Jesuíta Unisinos.
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Carlise Schneiders
13
RAMBO SJ, Balduíno. [Correspondência]. Destinatário: D. Antonio Zattera, Bispo de Pelotas.
Porto Alegre, 28 ago. 1946. Caixa 1.4.1.6 - SUP 1-16 - Pasta SUP-14 - Doc. 1. Coleção de Obras
Raras e Especiais do Memorial Jesuíta Unisinos.
230
Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
14
RAMBO, Balduíno. [Correspondência]. Destinatário: Gabriel Arns, Porto Alegre, 25 de dezem-
bro de 1946. Caixa 1.4.1.6 - SUP 1-16 - Pasta SUP-14 - Doc. 4. Coleção de Obras Raras e Espe-
ciais do Memorial Jesuíta Unisinos.
231
Carlise Schneiders
Prezado P. Balduíno
15
BERWANGER SJ, Albano. [Correspondência]. Destinatário: Pe. Balduíno Rambo, Campinas,
29 de setembro de 1951. Caixa 1.4.1.6 - SUP 1-16 - Pasta SUP-14 - Doc. 7. Coleção de Obras
Raras e Especiais do Memorial Jesuíta Unisinos.
232
Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
16
BERWANGER SJ, Albano. [Correspondência]. Destinatário: Pe. Balduíno Rambo, Porto Novo,
04 de dezembro de 1952. Caixa 1.4.1.6 - SUP 1-16 - Pasta SUP-15. Coleção de Obras Raras e
Especiais do Memorial Jesuíta Unisinos.
233
Carlise Schneiders
17
Sociedade União Popular do Rio Grande do Sul. [Requerimento]. Destinatário: Exmo. Snr. Dr.
João Gonçalves, Porto Alegre, 22 jun. 1955. Caixa 1.4.1.6 SUP 17-42 Pasta SUP 25 - Doc. 9,
fl 04-05. Coleção de Obras Raras e Especiais do Memorial Jesuíta Unisinos.
18
Durante a década de 1950 a CITLA se envolveu em uma série de problemas envolvendo as
terras do oeste do Paraná, nas cartas, Arno Vier diz que o Governador do Estado é o maior
acionista da Empresa, mas que para fins políticos não é revelado esse detalhe. Os eventos que
envolvem a empresa e a ocupação de terras resultam na Revolta dos Posseiros, em 1957. Para
saber mais sobre a Revolta dos Posseiros, ver: Pegoraro (2008).
234
Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
Tive uma audiência especial com o governador atual eleito, o senhor Moises
Lupion, onde fora muito bem recebido. Fui sozinho falar com sua Excia; lar-
gando os deputados e acionistas da CITLA, o que os desagradou muito, pois
elas insistiam em Ir junto na audiência com o governador (são um salafras).
O governador me falara o seguinte: Conheço muito bem a vossa organização, e
estou muito interessado na vinda de vossa gente para cá. Mas o caso da CITLA
está muito encrencado. Esperem nos organizarmos os ministérios, até o dia
2(2) depois dessa data poderemos atender-vos melhor, e farei todo o possível a
fim de termos tudo na base legal19.
19
VIER, Arno. [Correspondência]. Destinatário: Pe. Balduíno Rambo, Maringá, 03 de janeiro de
1956. Caixa 1.4.1.6 SUP 17-42 Pasta SUP 25 - Doc. 11. Coleção de Obras Raras e Especiais do
Memorial Jesuíta Unisinos.
20
RAMBO SJ, Balduíno. [Correspondência]. Destinatário: Mons. A.S. de Mello SJ, Porto Alegre,
21 de julho de 1952. Caixa 1.4.1.6 SUP 17-42 Pasta SUP 25 - Doc. 2. Coleção de Obras Raras e
Especiais do Memorial Jesuíta Unisinos.
235
Carlise Schneiders
Considerações finais
A expansão da fronteira agrícola do Rio Grande do Sul, ao final do
século XIX, joga à luz uma grande quantidade empresas colonizadoras
privadas. Essas empresas objetivam a compra de um grande territó-
rio, sua divisão e demarcação e posterior venda aos colonos. Majorita-
riamente, companhias colonizadoras particulares preveem lucro (Neu-
mann, 2016; Sand, 2021; Caron, 2009; Schallenberger; Schneider, 2009).
A maioria das colonizadoras particulares, além disso, não tinha grande
preocupação com a infraestrutura e com o amparo dos colonos após a sua
instalação no território, se retirando da Colônia após a venda de todos os
lotes (Schmitz, 2019).
Nesse cenário, há algumas exceções, como colonizadoras que pos-
suíam um projeto de colonização étnica e/ou confessional, o que acarre-
tava no interesse específico nos elementos que comporiam a colônia, e
na presença, a longo prazo, da companhia no território. Esse é o caso da
Colonizadora Meyer e a colônia Neu-Württemberg (1897) e a Empresa
Chapecó-Pepery Ltda. e a Colônia Porto Feliz (1922) (Neumann, 2016).
No caso de projetos de colonização particulares com objetivos ideológicos,
religiosos e étnicos, existe uma preocupação mais intensa em relação à
infraestrutura e ao amparo espiritual e material dos colonos, no entanto,
a lógica do lucro ainda prevalece.
Diferentemente de companhias privadas que, mesmo com projetos
variantes, sempre almejavam o lucro, a Volksverein für die deuscthen
236
Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
Referências
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237
Carlise Schneiders
238
Volksverein: associação com ares de colonizadora (1912-1956)
239
Angelo de Carli, Irmão & Cia:
colonização da Fazenda Ressaca em
Ponte Serrada (1920-1940)
Introdução
O
presente capítulo tem por objetivo analisar a atuação da Com-
panhia Colonizadora Ângelo de Carli Irmão & Cia no território
que compreendia parte da Colônia Militar do Xapecó. A Colônia
foi instalada na então Província do Paraná em março de 1882 e manteve
seu funcionamento sob administração do Ministério da Guerra até mea-
dos do ano de 1908 quando passou para o regime civil. A Colônia Militar
foi uma tentativa de proteger e ao mesmo tempo estimular a ocupação da
região que estava sendo disputada diplomaticamente com a Argentina,
na chamada “Questão de Palmas”.
Em 1908 o território da Colônia passou a ser responsabilidade ex-
clusiva do Estado do Paraná, que tinha como obrigação legalizar os tí-
tulos expedidos pelos militares a favor dos colonos que viviam na re-
gião, porém com a Guerra do Contestado e o acordo de limites de 1916
a responsabilidade de gerir esse território passou ao Governo de Santa
Catarina, que como estratégia de ocupação investiu na colonização via
empresas colonizadoras, sendo uma delas a Colonizadora Ângelo de Car-
li, Irmão & Cia.
Angelo de Carli, Irmão & Cia: colonização da Fazenda Ressaca em Ponte Serrada (1920-1940)
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Quadro 1 – Títulos requeridos pela Colonizadora Ângelo De Carli, Irmão & Cia.
Nome Tipo de Título Área (hectare) Local
Antônio Rebalho Nunes Provisório 303, 71 Fazenda Ressaca
Antônio Ribeiro dos Santos Provisório 21,07 Três Lagoas
Francisco Antônio Ayres Provisório 272,25 Três Lagoas
João Alves de Siqueira Provisório 21,00 Três Lagoas
João Francisco de Sousa Provisório 21,07 Três Lagoas
Joaquim da Andrada Costa Provisório 272,25 Lajeado do Tigre
Ramiro Gomes dos Santos Provisório 272,25 Fazenda Ressaca
Fonte: FREITAS,1903.
248
Angelo de Carli, Irmão & Cia: colonização da Fazenda Ressaca em Ponte Serrada (1920-1940)
250
Angelo de Carli, Irmão & Cia: colonização da Fazenda Ressaca em Ponte Serrada (1920-1940)
sada a prática de pedir a troca do local do lote era algo bem comum e em
sua maioria atendido pelos militares.
Devido a distância da Colônia dos centros comerciais, muitos co-
lonos optavam por não permanecer no estabelecimento e desistiam dos
títulos provisórios, sendo assim, ao invés de expedirem novos títulos,
os militares escreviam na margem dos documentos e distribuíam o lote
para outro colono interessado e em outros casos o colono vendia o lote
como vimos no subtítulo anterior.
251
Leticia Maria Venson
1908). A Colônia Irany foi fundada pela lei n. 1169 de 30 de março de 1913
e no momento de sua criação contava com 46 processos de aforamento de
nacionais que mantinham há anos cultura efetiva e habitação, sendo to-
dos aprovados em outubro do mesmo ano (A Viagem, 1913).
Como estratégia para atrair colonos italianos publicaram vários
anúncios em jornais do estado do Rio Grande do Sul, entre eles destaca-
mos a publicação no jornal O Regional, da cidade de Caxias, em 1927. Na
propaganda a companhia anunciou a venda de 2.000 colônias de “ubér-
rimas” terras, no munícipio de Cruzeiro (Colônia, 1927a). Ao utilizar o
termo “ubérrimas”, superlativo absoluto sintético da palavra úbere enfa-
tizam a ótima fecundidade do solo, demonstrando que na terra seria pos-
sível plantar diversos gêneros alimentícios com uma boa produtividade.
Outra questão que foi levantada na propaganda era a proximidade
da Colônia Irany da vila de Cruzeiro e da Estação Herval sendo “essas
duas localidades dois centros comerciais muito importantes”, ou seja, ha-
via a possibilidade de venda das produções para demais centros comer-
ciais do restante do país, pois “existem importados os produtos para as
praças do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Gran-
de do Sul, e outros Estados” (Colônia, 1927a). Portanto, além da terra ser
muito fértil havia a possibilidade de exportar os produtos para fora da
colônia, gerando retorno financeiro.
252
Angelo de Carli, Irmão & Cia: colonização da Fazenda Ressaca em Ponte Serrada (1920-1940)
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Angelo de Carli, Irmão & Cia: colonização da Fazenda Ressaca em Ponte Serrada (1920-1940)
255
Leticia Maria Venson
Considerações finais
No desenvolvimento do capítulo constatamos que os colonos milita-
res da Colônia Militar do Xapecó (1882-1908) ao assinarem o contrato do
colono, passavam a ter direito a um título provisório de terras, que após
dois anos de cultivo ou criação tornar-se-ia um título definitivo válido,
porém poucos títulos definitivos foram expedidos, e com a emancipação
da Colônia a gerência dessas terras passou ao Estado do Paraná, e poste-
riormente ao Estado de Santa Cataria após a Guerra do Contestado. Por
meio de várias leis e resoluções o Estado de Santa Catarina autorizou a
validação dos títulos desde que mediante aos documentos de medição,
porém poucos títulos foram validados, e os que foram validados já não
pertenciam aos colonos militares, mas sim a terceiros.
Com o presente trabalho percebe-se que mesmo com a documenta-
ção provisória das terras a prática da venda era algo comum, pois a maio-
ria dos lotes comprados pela Companhia Ângelo De Carli já pertenciam
256
Angelo de Carli, Irmão & Cia: colonização da Fazenda Ressaca em Ponte Serrada (1920-1940)
Referências
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Paulo, 2015.
257
Leticia Maria Venson
Fontes
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FONSECA, Hermes. Relatório apresentado ao Presidente da República
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258
Angelo de Carli, Irmão & Cia: colonização da Fazenda Ressaca em Ponte Serrada (1920-1940)
259
A história de uma companhia
suíço-brasileira de colonização:
projetos, imigrações e refúgios
Nathan Lermen
A
história das ações humanitárias, por vezes intitulada “história do
humanitarismo”, parte do estudo de princípios de solidariedade,
altruísmo, filantropia e/ou caridade compreendidos sob o escopo
das ações governamentais. Estes princípios são caracterizados pela im-
parcialidade, neutralidade, independência e universalidade, cuja ajuda
é ofertada a indivíduos ou grupos em situação de vulnerabilidade. Con-
forme a historiadora espanhola Alicia Alted (2019), a ajuda humanitária
assume três fases distintas: a primeira abrange a assistência às necessi-
dades imediatas, a segunda diz respeito às ações de reabilitação social e
de reconstrução econômica, e a última é responsável pelo estabelecimento
de ações políticas de médio e longo prazo de amparo aos envolvidos.
Nesse sentido, a concepção moderna de ajuda humanitária está ligada
ao filantropo suíço Henri Dunant quando, em 1863, participou da fundação
do Comitê Internacional para Ajuda aos Militares Feridos (posteriormente
Comitê Internacional da Cruz Vermelha) após seu contato com a batalha de
Solferino. Com o fim da I Guerra Mundial, assim como o término da Guerra
Civil Russa (1921), as sequelas políticas, econômicas e humanas enfrenta-
das pelos países envolvidos demandaram o surgimento de novas entidades
especializadas na mediação de ações para as comunidades afetadas.1
1
O presente capítulo é fruto da pesquisa de dissertação desenvolvida pelo autor. O trabalho,
intitulado “Como se estrangula um lavrador?”, conta com financiamento CAPES.
A história de uma companhia suíço-brasileira de colonização: projetos, imigrações e refúgios
261
Nathan Lermen
2
KÄGI-FUCHSMANN, Regina. Declaração. Ata de reunião do conselho da SEH de 27 de ou-
tubro de 1949. Sobre a ajuda europeia e o programa de refugiados (Arquivo Federal Suíço).
262
A história de uma companhia suíço-brasileira de colonização: projetos, imigrações e refúgios
3
Sobre a história da Colônia Entre Rios e a imigração suábia-danubiana, cf. Stein (2011).
4
Departamento de Polícia de Basileia (Polizeidepartement Basel-Stadt). Relatório do Inspe-
tor Suter (Bericht von Det. Kpl. Suter). Basileia, 13 jul. 1954 (Arquivo Federal Suíço).
263
Nathan Lermen
5
“Zweck der Gesellschaft ist die Förderung der landwirtschaftlichen und industriellen Entwi-
cklung von Brasilien, insbesondere durch die Ausarbeitung von Kolonisation Planen, Bescha-
ffung von lokalen und internationalen Krediten, Finanzierung der Ansiedlung von europäis-
chen Arbeitskräften, Errichtung bzw. Überführung von europäischen Industrie-Unternehmen,
sowie die Durchführung aller Geschäfte, insbesondere auch von Handelsgeschäften, die mit der
Verwirklichung der erwähnten Gesellschaftszwecke im Zusammenhang stehen» Die Gesells-
chaft kann Zweigniederlassungen im Ausland errichten und sich an anderen Gesellschaften
beteiligen oder solche finanzieren”. In: BERTHOLET, René; VAYDA, János. [Memorando].
1f., Basileia: 27 out. 1952. Informa a criação da Progrebrás S.A.
6
“Wie wir wissen, sind Sie an der Intensivierung Ihrer Exporte nach Brasilien sehr interessiert,
jedoch sind Ihnen und uns auch die allgemeinen Schwierigkeiten, welchen die Schweizer-Ex-
porte infolge der Devisenlage in Brasilien begegnen, bekannt. Diese schwierige Lage ist nicht
erst kürzlich entstanden, sondern existiert schon seit Jahren. Ohne die wirtschaftlichen Gründe
dieser Situation zu untersuchen, möchten wir auf die Tatsache hinweisen, dass es uns anfangs
1951 in Zusammenarbeit mit der Schweizer Europahilfe trotzdem gelungen ist, mit dem Banco
do Brasil ein Abkommen zu treffen, wonach im Werte von 31 Millionen Schweizerfranken Wa-
ren schweizerischer Provenienz ausnahmsweise zur Einfuhr zugelassen worden ist. Sie haben
sich auch an den Lieferungen im Rahmen dieses Abkommens beteiligt und soweit wir orientiert
sind, sind Sie mit der Abwicklung zufrieden und die Zahlungen des Banco do Brasil laufen
termingemäss ein”. In: BERTHOLET, René; VAYDA, Janos. [Correspondência]. 3 nov. 1952,
Basiléia [para] potenciais acionistas, Suíça, 2f. Informa sobre a criação da Progrebras e convida
empresas a participarem do plano de colonização no Brasil.
264
A história de uma companhia suíço-brasileira de colonização: projetos, imigrações e refúgios
7
Criado em 1951, por iniciativa dos Estados Unidos e da Bélgica, o Comité intergouvernemental
provisoire pour les mouvements migratoires d’Europe (PICMME) organizou o atendimento e a
realocação de mais de 400.000 refugiados, deslocados e migrantes da Europa para outros conti-
nentes, cf. ONU Migration. Disponível em: https://www.iom.int/. Acesso em 04 de set., 2022.
8
BERTHOLET, René; VAYDA, János, op. cit.
9
Os interessados em constituir o rol de acionistas, deveriam enviar 50% das ações para uma conta
de pagamento vinculada ao Banco Suíço. “Wir glauben nicht fehl zu gehen, dass Sie ein grosses
Interesse am Zustandekommen derartiger Abkommen haben und erlauben uns, Ihnen hier beilie-
gend einen Entwurf der Statuten zu überreichen und Sie einzuladen, durch die Zeichnung von ei-
nigen wenigen Aktien dieser Gesellschaft beizutreten. Die Mehrheit des Aktienkapitals werden wir
selbst zeichnen und tragen so die Hauptlast des Risikos, während Ihr Beitritt nur eine bescheidene
Risikoteilung bedeutet. [...] Zu Ihrer Orientierung teilen wir noch mit, dass über die Gründung der
Gesellschaft, sowie den von uns verfolgten Zweck die Brasilianische Gesandtschaft Bern, insbeson-
dere S.Ex. Minister Francisco D’Alamo Lousada bestens informiert ist.” In: Ibid.
265
Nathan Lermen
10
BERTHOLET, René; VAYDA, Janos. [Correspondência]. 19 nov. 1952, Basiléia [para] acio-
nistas da Progrebras, Suíça, 2f. Informa sobre os integrantes do Conselho e as empresas que
participarão das exportações.
11
A superintendência, criada a partir do Decreto-Lei n° 7.293 de 2 de fevereiro de 1945, possuía
como objetivo coordenar políticas monetárias e creditícias. A instituição esteve envolvida com a
concessão de licenças para a importação de mercadorias suíças e, portanto, participou dos trâ-
mites financeiros de instauração das colônias agrícolas coordenadas pela Cia. Progresso Rural.
Por sua vez, a Instrução n.° 70 instituiu o regime de leilões de divisas para importação e criou
categorias de bens importados conforme essencialidade. Sobre a fundação da superintendência
e a política econômica durante o segundo governo Vargas, cf. Vianna (1987).
12
Companhia Progresso Rural (Rio de Janeiro). Instrução nº 01, de 14 de dezembro de
1953. Determina instruções sobre a participação nas importações da Suíça, relacionadas com o
financiamento de colônias agrícolas no Brasil. Rio de Janeiro, p. 01-05, 14 dez. 1953.
266
A história de uma companhia suíço-brasileira de colonização: projetos, imigrações e refúgios
Os projetos
Os leilões possibilitaram a criação de duas colônias: a Colônia Pindora-
ma (Coruripe - AL) e a Colônia Santo Antônio (Barra Mansa - RJ). Pindora-
ma passou a ser construída em 1954 pela Cia. Progresso Rural em uma área
correspondente a 34.133 hectares com grande parte coberta por uma flores-
ta secundária e pouco habitada.13 À época o território integrava a Fazenda
Santa Cândida, um espaço pertencente a um latifundiário da mesma região
que arrendava porções de terras para pequenos proprietários dependentes
socialmente e economicamente dele. Entre 1962 e 1974, o desenvolvimen-
to de Pindorama esteve ancorado pela assistência técnica e financeira de
quatro países, conforme trâmites e negociações estabelecidos entre Estados
Unidos, Alemanha Ocidental, Holanda e Suíça (Schacht, 1980).
Pindorama era constituída por 14 vilas e um núcleo (“centro urbano”).
A colônia contava com um prédio administrativo da cooperativa, uma pe-
quena agência dos correios e uma fábrica de sucos, esta última responsável
pelo mais importante produto da região: o suco de maracujá. Entre outras
instalações, havia uma serraria, uma oficina, uma fábrica de casca de arroz
e uma fábrica de rações que completavam as alas comerciais de Pindorama.
Com o passar dos anos, a localidade contou com um hotel simples, uma en-
fermaria (com um médico, auxiliares de enfermagem e um dentista), uma
escola para crianças, igreja, além de um centro de treinamento agrícola
com 16 professores (Schacht, 1980). Na década de 1960, Pindorama contou
13
O Decreto n° 39.291, de 01 de junho de 1956, dispôs sobre a instalação de famílias na Colônia
Pindorama.
267
Nathan Lermen
268
A história de uma companhia suíço-brasileira de colonização: projetos, imigrações e refúgios
Figura 2 – A enfermeira alemã Rotraut Recklies atendendo na enfermaria de Pindorama (c. 1960).
14
Trata-se de uma iniciativa do governo brasileiro para expandir a produção de etanol como
substituto à gasolina. O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) ofertou incentivos fiscais e
financiamentos para produtores de cana-de-açúcar no período.
269
Nathan Lermen
15
ROCHA, Allan. A Colônia Santo Antônio: Apontamentos históricos e formadores do núcleo
de habitação. Relatório Técnico. Barra Mansa: 1991.
270
A história de uma companhia suíço-brasileira de colonização: projetos, imigrações e refúgios
16
Companhia Progresso Rural. O que é a Colônia Santo Antônio? Relatório Técnico. Rio de
Janeiro: 18 nov. 1957, 6f.
17
Ibid.
271
Nathan Lermen
18
O que é a Colônia Santo Antônio, op. cit.
19
A área total da Colônia Santo Antônio equivalia a 1.412 hectares, com 343 hectares destinados
a pastos/invernadas e 400 hectares de reservas florestais.
272
A história de uma companhia suíço-brasileira de colonização: projetos, imigrações e refúgios
20
Sobre a criação da Cia. Progresso Rural, a história dos envolvidos, a fundação das colônias agrí-
colas e as trajetórias dos estrangeiros e nacionais, cf. LERMEN (Em elaboração). Cada lote era
numerado e contava com uma família, no início da colonização os grupos japoneses se destaca-
ram frente às demais nacionalidades: eram sete, representados por Tsunehiko Shiokawa (lote
7), Hiromichi Oikawa (lote 8), Sueki Maeda (lote 11), Toshio Hirata (lote 18), Tsuneo Sawano
(lote 19), Kikuo Oide (lote 20) e Takeshiro Sasaki (lote 40).
21
Capofamiglia selezionati per il 1952. Museo storico in Trento - Fondo emigrati in Cile.
22
O desemprego trentino era um fenômeno estrutural, agravado pela conjuntura da baixa dispo-
nibilidade de terra, já que nem 3% das propriedades eram superiores a 10 hectares, cf. Miche-
letti (2021).
273
Nathan Lermen
Considerações finais
As colônias de Santo Antônio e Pindorama foram projetos concebi-
dos pela companhia de colonização Cia. Progresso Rural. Por sua vez, a
fundação desta última esteve atrelada aos funcionários de uma impor-
tante associação suíça fundada após o fim da II Guerra Mundial, a Sch-
weizer Europahilfe, que esteve envolvida com a realocação de refugiados
europeus para territórios diversos. As colônias foram projetadas no Bra-
sil dos anos 1950, amparadas por um acordo Brasil-Suíça de importação
e promoção de leilões de produtos, sob justificativa de modernização dos
campos agrícolas brasileiros e desenvolvimento econômico das respecti-
vas localidades.
O estudo de colônias agrícolas, como estas apresentadas, são meios
importantes para a apreensão das dinâmicas agrárias, dos deslocamen-
tos humanos e dos mundos do trabalho. Ainda que pequenos em relação
23
Angelo Bello. Ficha consular - Imigração ao Brasil, 1956.
24
Os trâmites para o recrutamento de imigrantes foram organizados pelo Instituto Nacional de
Imigração e Colonização (INIC) ou pelo Comitê Intergovernamental Provisório para a Migra-
ção Europeia (PICMME).
274
A história de uma companhia suíço-brasileira de colonização: projetos, imigrações e refúgios
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275
Nathan Lermen
276
Colônias militares interioranas:
antessalas para o processo
colonizador no Sul do Brasil
Introdução
A
s colônias militares foram uma estratégia de ação do estado so-
bre o território brasileiro com múltiplos fins entre meados do
século XIX até início do XX. Denominavam-se militares em ra-
zão de uma de suas funções mais pragmáticas, que era de proteção do
território nacional, principalmente as localizadas em espaços de frontei-
ra nacional num período em que as guarnições eram importantes para
as questões geo-fronteiriças e de controle social. Porém, suas dimensões,
orientações e sentidos transcendiam esse processo.
De qualquer forma, independente de seus interesses e formatos,
elas expressaram a ação do estado imperial e, posteriormente, nas pri-
meiras décadas do período republicano, sobre o território nacional. Não
esquecendo que as colônias militares foram constituídas, em sua maior
parte, num contexto político em que se estava definindo a nação, e que,
na concomitância, havia lutas sociais por independência de províncias,
conflitos pela terra em razão de novas legislações agrárias, (i)migra-
ções, reocupação territorial em correspondência com a forma nascente
João Carlos Tedesco, Alex Antônio Vanin
1
Ver João Carlos Tedesco e Alex A. Vanin, Entre a espada, a cruz e a enxada: a Colônia Militar
de Caseros no norte do Rio Grande do Sul (1858-1878) (2018).
278
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
279
João Carlos Tedesco, Alex Antônio Vanin
280
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
281
João Carlos Tedesco, Alex Antônio Vanin
Reprodução da Planta da Colônia Militar de Caseros, elaborada pelo agrimensor Antonio Augusto de Arruda,
Capitão de Engenheiros, em 1862. Na planta, vê-se os primeiros noventa lotes demarcados na colônia militar no período
entre 1858 e 1862, bem como as vias de acesso, a sede da colônia e a área ocupada pelos indígenas Kaingang do Pa’í
mbang Yu-toahê, o Cacique Doble. Reprodução de Frederico Helmuth, 1932. Acervo da Divisão de Terras Públicas do
Estado do Rio Grande do Sul.
282
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
rial, bem como um país de tamanho continental para ser gerenciado sem
as mínimas condições de vias de mobilidade geográfica.
Ambas as modalidades de colônias militares revelavam uma ação
do estado sobre o espaço agrário para transformá-lo política e econo-
micamente em território controlado sob novos interesses, anulando os
sujeitos que nele viviam (indígenas, em especial), principalmente o seu
modus vivendi, suas relacionalidades inter e intra grupais e geográficas,
em seu ambiente construído de longa data, atraindo, com isso, novos su-
jeitos e novos horizontes sociais e relacionais-mercantis. É o que diz um
Ministro do Império em 1859:
Com o fim de proteger a população de certas localidades do interior contra cor-
rerias dos índios selvagens e facilitar as comunicações e o comércio, tem sido
criadas estas colônias, mas podem tais estabelecimentos prestar ainda outros
serviços importantes; o de auxiliar os núcleos coloniais civis que se fundarem
em suas colônias.2
2
Relatório de João de Almeida Pereira Filho, Ministro do Império, em 1859, apud XAVIER, M.
O Coronel Freitas e a Colônia Militar do Chapecó – os primórdios de Xanxerê e a colonização
do Oeste Catarinense. Florianópolis: Editora Insular, 2016, p. 33.
283
João Carlos Tedesco, Alex Antônio Vanin
dade no país) e da ação dos homens na esfera produtiva da terra e/ou dos
bens que ela oferecia e que eram passíveis de se tornarem mercadorias.
Imaginava-se, com isso, atrair população no interior e num amplo
raio do entorno das colônias militares com esse novo (para o Brasil) espíri-
to do tempo; projetava-se a constituição de povoados e atores econômicos
(produtores, coletores, madeireiros, comerciantes, ferreiros, carpinteiros,
lavradores, carroceiros, tropeiros, criadores de gado, dentre uma ampla
variedade de tarefas e de domínios de saber), agentes de colonização que
fatiariam a terra e a transformariam em mercadoria para abastecer os
cofres públicos, bem como a transformariam em recurso produtivo de
excedentes, rotas e vias de acesso, interligação de todos territórios com a
sede da província e, dessa, com a sede do Império.
A escolha do local para a instalação da colônia militar de fronteira,
por questões óbvias, era fundamental. Porém, para as interioranas, esse
fator também era muito importante. Possibilidades de vias de acesso, pes-
soal que conhecesse a região (para isso, as várias experiências de colônias
militares do sul do Brasil, serviram-se de indígenas que já habitavam
no seu entorno), a possibilidade de existência e de atração de populações
migrantes, da presença de representantes da Igreja Católica, para dimen-
sionar a ordem moral, formação educacional e civilizar os gentios que
porventura estivessem pelo entorno do empreendimento militar, a exis-
tência de rios navegáveis próximos, dentre outros aspectos, tornavam-se
fundamentais para o bom andamento e para atingir os seus objetivos.
Não podemos deixar de dar ênfase ao fato de que as colônias milita-
res revelaram a dimensão política, dinâmica e móvel dos espaços e sua
transformação e/ou criação social e política em territórios dominados,
controlados e induzidos a uma lógica econômica e seletiva de sujeitos e
relações com a terra, portanto, espaços que, pelas ações desenvolvidas
pelo estado, tornaram-se territórios militarizados e/ou sob uma lógica
produtiva e mercantil com feição capitalista. Para isso, havia necessida-
de de uma série de medidas administrativas em sinergias com a questão
da colonização, na intenção de atrair pessoas para o interior do país,
284
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
3
Sobre os objetivos das colônias militares na segunda metade do século XIX e sua ligação com
a imigração e os indígenas, ver, MAGALHÃES, José Vieira Couto. Memória sobre as colônias
militares, nacionais e indígenas. Rio de Janeiro: Tipografia da Reforma, 1875.
4
BRASIL. Ministério do Império. Relatório do ano de 1850 apresentado a Assembleia Geral Le-
gislativa, pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império, Visconde de Mont'Ale-
gre. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1851, p. 26.
285
João Carlos Tedesco, Alex Antônio Vanin
5
BRASIL. Coleção de Leis do Império do Brasil de 1858. Rio de Janeiro: Typographia Nacional,
1858. Artigos 7 e 56, decreto n. 2.125, p. 153 e 160.
6
BRASIL. Coleção de Leis do Império do Brasil de 1850. Rio de Janeiro: Typographia Nacional,
1851. Artigo 19, decreto n. 729,
286
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
287
João Carlos Tedesco, Alex Antônio Vanin
Fonte: http://www.zuccaratto.jor.br/blogs/historia-do-municipio-de-foz-do-iguacu-comeca-como-colonia-militar-em-1889/.
Acesso em 20/06/2022.
288
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290
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
experiência das colônias militares, uma das formas para atrair soldados
e colonos, principalmente as localizadas no interior do país, em regiões
de difícil acesso, era a promessa de que, a partir de uma quantidade
de anos de serviços prestados, poderiam tornar-se proprietários de um
pedaço de terra para plantar e viver independente (Brüggemann, 2013;
Barros, 1980).
Os oficiais do Exército sob a jurisdição de um presidente de província pode-
riam ser provisoriamente alocados nas colônias. De acordo com o regulamento
colonial editado pela coroa, depois de um colono requerer o título de terras ao
governo, o presidente de província tinha o poder de conceder o título das terras
que o colono ocupava.7
7
BRASIL. Coleção das Leis do Império do Brasil de 1851. Rio de Janeiro: Typographia Nacional,
1852. Artigo 17, decreto n. 820, p. 248, apud Brüggemann (2013, p. 61).
291
João Carlos Tedesco, Alex Antônio Vanin
292
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
Asilo de mendigos”, essa foi a frase que Domingos Nascimento utilizou para
definir a colônia militar de Foz do Iguaçu, mesmo antes de conhecê-la. Refe-
ria-se ele à migração dos peões, ervateiros que encontrou pelo caminho e que
muitos peões que havia conversado lhe disseram que iriam “à colônia pedir
um lote para recomeçar a sua vida com seus filhos.
293
João Carlos Tedesco, Alex Antônio Vanin
8
Ver Barros (1980) e Oliveira (1966).
294
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
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9
Uma análise com amplos detalhes sobre as questões que envolveram os indígenas dessa par-
cialidade com os demais grupos da região e sua correlação com a Colônia Militar de Caseros
encontra-se em Tedesco e Vanin (2018).
296
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
[...], sei que nessa capital, existe um padre que tem as necessárias habili-
tações; ora ele se quisesse occupar o lugar do Capellão, Mestre de Obras, e
director das lavouras no que é tambem pratico. Seria isto de uma importância
incalculável: [...], e me parecendo que, com um ordenado de dusentos mil reis,
por mez, elle entraria em ajuste com V. Ex [...].10
Diz o diretor, reclamando dos altos custos dos índios e o pouco resul-
tado obtido até então, e em resposta a uma carta enviada pelo diretor dos
índios acusando ações de maus tratos de militares junto aos índios, que,
[...], tenho pois a informar a V. Ex, que nada sei respeito ao expendido pelo
Sem. Director Geral dos Indios, a não ser que o governo gastou com elles no
aldeamento de Santa Isabel, muito dinheiro sem fructo, porque isso é de todos
sabido e consta das contas, que parecem fabulozas, do seu do Director [...].12
(Grifo nosso).
10
Relatório enviado pelo diretor da Colônia Militar de Caseros, Hortencio M. da Gama Souza
Mello, à Presidência da Província. Colônia Militar de Caseros, em 31/07/1861. AHRS. Fundo
Colonização. Maço 48.
11
Correspondência Expedida pelo Presidente da Província ao Ministério da Guerra, em
13/03/1861. AHRS - Fundo Correspondências Expedidas.
12
Relatório enviado pelo diretor da Colônia Militar de Caseros, Hortencio M. da Gama Souza
Mello, à Presidência da Província. Colônia Militar de Caseros, em 28/07/1862. AHRS. Fundo
Colonização. Maço 48.
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300
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
tão tenha sido cumprido conforme suas intenções. Muitos indígenas não
foram aldeados, ficaram sim na região e formaram parcialidades coman-
dadas por várias lideranças por todo o restante do século XIX; descen-
dentes seus hoje reivindicam terras e ampliam os atuais conflitos. Diz
Branco (1993, p. 71) que, em 1875, a “Comissão nomeada para avaliar a
situação da Colônia Militar de Caseros informou, em seu relatório, que,
se aquela Colônia fora criada para conter os índios do Cacique Doble, não
havia razão para continuar existindo, pois, os índios estavam mansos e
trabalhando na agricultura”. Difícil é concluir isso, pois a historiografia
regional aponta e analisa vários conflitos entre indígenas, pecuaristas
e colonos em anos posteriores ao fim da referida colônia militar (1878).
Porém, não há dúvida que o empreendimento colonial, no que tange
à questão dos indígenas, reduziu seus conflitos e impedimentos e, com
isso, permitiu o acesso e a apropriação das terras, algo impossível antes
da implantação da Colônia em razão das correrias e outras formas de
ataque13 como contraposição à intrusão em seus territórios. Não há dúvi-
da de que a referida colônia impediu a possibilidade livre e autônoma da
circulação indígena pelos seus territórios na medida em que auxiliou a
apropriação privada das terras em correspondência com as políticas pú-
blicas do momento. Sua extinção fragilizou o controle, ainda que parcial,
dos indígenas. Muitos deles aceitaram ser aldeados em terras indígenas
demarcadas na região norte do estado, inclusive, um de seus líderes, o
cacique Doble, havia manifestado interesse de assim o fazer como forma
de proteção e resguardo de sua parcialidade; outros acabaram se inse-
rindo em fazendas pastoris e em propriedades de colonos que se apro-
priaram de terras no norte do estado; mas, a grande maioria, formou
pequenas parcialidades sob lideranças de descendentes de antigos caci-
ques e viviam de uma forma sedentária em algumas porções de terra de
colonização mais tardia, em geral, muito próximas do rio Uruguai.
13
Isso é muito evidenciado pela ampla literatura existente que aborda o povoamento da região
de Passo Fundo, inclusive com episódios envolvendo parcialidades indígenas ocorridos durante
a Revolução Farroupilha pela passagem de tropas, de ambas as partes envolvidas, nos matos
Castelhano e Português.
301
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Figura 2 – Índios e colonizadores na Barra da Paloma - Rio Novo (município de Aratiba), Norte do Rio
Grande do Sul, em 1926
Enfim...
Vimos, de uma forma sintética e superficial que as colônias milita-
res do século XIX tinham objetivo de cumprir algumas funções necessá-
rias ao controle do estado sobre o território, redefinir espaços e transfor-
má-los sob o comando político e econômico com outra lógica. Elas foram
múltiplas e diversas. Por várias razões não cumpriram a contento suas
funções; as que atingiram melhor seus objetivos foram as que estavam
localizadas em regiões limítrofes, em áreas de fronteiras. Outras colônias
não foram além de resolução de pequenos conflitos com indígenas, pos-
seiros e quilombolas, além dos seus próprios, em seu interior, na esfera
administrativa, de hierarquia militar, de controle e regramento interno,
dentre outros aspectos. Porém, é interessante enfatizar que o empreen-
dimento colonizador se constituiu e realizou seu intento; a experiência de
colônias militares auxiliou nesse processo.
302
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
303
João Carlos Tedesco, Alex Antônio Vanin
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304
Colônias militares interioranas: antessalas para o processo colonizador no Sul do Brasil
305
Colonização e intrusão no oeste
catarinense: o caso da Fazenda
Faxinal do Tigre (1922)
Introdução
O
presente capítulo analisa de forma breve e exploratória o pro-
cesso de colonização da Fazenda Faxinal do Tigre, atual muníci-
pio de Guatambu, por meio da empresa colonizadora Isaac Pan
& Vargas e uma “intrusão” envolvendo cerca de 200 pessoas oriundas em
sua maioria do Estado do Rio Grande do Sul, identificadas como “intru-
sos” e foragidos da Justiça por parte dos representantes do Estado.
A intrusão deve ser entendida como uma forma ilegal de ocupação
da terra. O termo intruso passou a ser usual na documentação após a Lei
de Terras de 1850, que bloqueou o livre acesso à terra, exigindo dos la-
vradores a compra das áreas destinadas aos seus roçados, ou legitimação
das que já ocupavam antes de 1850, o que gerou uma série de conflitos
(Nascimento; Zarth, 2020, p. 461).
O atual Oeste Catarinense no início do século XX era conhecido
como “[...] uma região onde se mata um homem por simples divertimen-
to” (Breves, 1985) e a população cabocla era estigmatizada devido aos
seus costumes e modos de vida. O imigrante ou migrante descendente
de europeu advindos do Rio Grande do Sul, eram vistos como mais “ci-
vilizados”, considerados como figuras centrais para a colonização, pois
Colonização e intrusão no oeste catarinense: o caso da Fazenda Faxinal do Tigre (1922)
História e Região
O território que atualmente compreende a região de Chapecó per-
tencia ao Estado do Paraná, foi somente após a Guerra do Contestado
(1912-1916) que o território passou a ser parte do Estado de Santa Cata-
rina, que em 1917 criou o munícipio de Chapecó, com uma área de apro-
ximadamente 14 mil km², também conhecido como a região do “Velho
Munícipio de Chapecó”. Sendo habitada no início do século XX em sua
maioria por populações indígenas e caboclas e em menor número por co-
lonizadores europeus ou seus descendentes (Radin; Vicenzi, 2017, p. 60).
Com a Proclamação da República em 1889, os estados passaram a
ter maior autonomia, principalmente com relação as terras devolutas, a
partir de então poderiam comercializar as terras e cobrar impostos, po-
1
Disponível em: <memoriapolitica.alesc.sc.gov.br/biografia/925-Wenceslau_Breves>. Acesso
em: 04 abr. 2019.
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2
Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sc/guatambu/historico>. Acesso em: 04 abr.
2019.
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Considerações finais
Breves afirma que a questão da intrusão na Fazenda Faxinal do Ti-
gre foi resolvida pacificamente, porém sabe-se que os caboclos e posseiros
continuaram tentando a posse dessas terras por meio de requerimentos,
porém todos tiveram seus pedidos recusados em favor de Isaac Pan e
Rodolfo Fin, protegidos pelo Governo Estadual na figura do Agente do
Distrito de Terras. Os conflitos territoriais passaram para o âmbito legal,
onde os posseiros tinham pouco ou nenhum amparo, pois eram estigma-
tizados de diversas maneiras pelo Estado e pelos migrantes descenden-
tes de europeus que começaram a se instalar na região a partir de 1917.
Podemos concluir que as intrusões ocorridas na Fazenda Faxinal do
Tigre no ano de 1922 foram intensas, pois cerca de 200 indivíduos, vindos
do Rio Grande do Sul se instalaram no território contestado, e devem ser
entendidas dentro do contexto no qual aconteceram. Este contexto está
diretamente ligado ao processo de colonização da Fazenda Faxinal do
Tigre. A falta de políticas públicas com relação aos posseiros, demonstra
quem eram os indivíduos que o governo estadual queria para colonizar
essa região, o que fica bem claro com o posicionamento de Wenceslau
Breves no decorrer do artigo.
322
Colonização e intrusão no oeste catarinense: o caso da Fazenda Faxinal do Tigre (1922)
Referências
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324
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WERLANG, Alceu A. Disputas e ocupação do espaço no Oeste Catarinen-
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325
A compasso e taquara: o domínio
da vida e a ruína do progresso no
Parque Florestal Manoel Enrique da
Silva (Irati-PR): 1950-19601
Ancelmo Schörner
Introdução
A
partir do conceito de colonialidade (a parte invisível e constitu-
tiva da modernidade), tal como discutido desde o final dos anos
1980 e início dos anos 1990, por Aníbal Quijano e, posteriormen-
te por Walter Mignolo, Nelson Maldonado-Torres, Catherine Walsh e
Héctor Alimonda, este texto procura discutir como se deu a colonialidade
do poder, saber, do ser e da natureza no processo de constituição do Par-
que Florestal Manoel Enrique da Silva, atual Floresta Nacional de Irati.
Como fontes, temos os relatórios produzidos pelo seu silvicultor Ernesto
da Silva Araújo, e enviados à Delegacia Regional do Instituto Nacional
do Pinho (INP) em Curitiba entre 1950 e 1960. Além desses documentos,
estudamos 34 formulários impressos pelo INP, aqui denominados FINPI,
para preenchimento de informações a respeito dos talhões plantados no
Parque entre 1950 e 1957 com Araucária angustifólia (pinheiro-brasilei-
1
Texto apresentando como requisito para ascensão de nível, de Professor Adjunto D para Professor
Associado, na Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), em agosto de 2020. Os do-
cumentos pesquisados estão arquivados no Centro de Documentação da UNICENTRO (CEDOC),
Campus Universitário de Irati, a quem agradecemos na pessoa da Arquivista Márcia Doré.
A compasso e taquara: o domínio da vida e a ruína do progresso no Parque Florestal Manoel Enrique da Silva (Irati-PR): 1950-1960
Colonialidade
No artigo Colonialidade e modernidade-racionalidade, de 1989, Aní-
bal Quijano vincula a colonialidade do poder nas esferas política e eco-
nômica à colonialidade do conhecimento. Segundo ele, a colonialidade é
um dos elementos constitutivos e específicos do padrão mundial do poder
capitalista,
[...] e baseia-se na imposição de uma classificação racial/étnica da população
mundial como a pedra angular desse padrão de poder e opera em cada um dos
planos, âmbitos e dimensões materiais e subjetivos, da existência cotidiana e
em escala social (Quijano, 2014, p. 285).
327
Ancelmo Schörner
328
A compasso e taquara: o domínio da vida e a ruína do progresso no Parque Florestal Manoel Enrique da Silva (Irati-PR): 1950-1960
329
Ancelmo Schörner
3
O nome foi uma homenagem ao ex-presidente do INP, e foi sugerida por Luiz Alberto Langer,
Diretor Regional do INP no Paraná, em abril de 1946.
4
Em 1713 nasceu a primeira escola de florestas do mundo, na Alemanha, que iniciou o período
de mudanças nos sistemas silviculturais, focados na seleção de indivíduos, coleta de sementes,
produção de mudas, melhoramento genético de usos de interesse, plantios planejados com fer-
tilização e irrigação, com produtividade e estoques aumentados no final da intervenção (Zanet-
ti, 2014).
5
O rótulo de ‘científico’ atribui uma espécie de sacralidade ou imunidade social ao sistema oci-
dental. Enquanto metáfora, a monocultura mental talvez seja bem exemplificada no saber e na
prática da silvicultura e da agricultura. A silvicultura “científica” e a agricultura “científica”
dividem artificialmente a planta em domínios separados sem partes em comum, com base nos
mercados isolados de bens aos quais fornecem matéria-prima e recursos (Shiva, 2003, p. 24ss).
330
A compasso e taquara: o domínio da vida e a ruína do progresso no Parque Florestal Manoel Enrique da Silva (Irati-PR): 1950-1960
6
Anweisung zur Holzzucht für Förster [Instruções para a criação de madeira para silvicultores].
Marburg, 1791.
7
Anweisung zum Waldbau [Directions for Silviculture), Dresden, 1817 e Verbindung des Feld-
baues mit dem Waldbau oder die Baumfeldwirtschaft [The Connection of Agriculture with Sil-
viculture or Economic Tree Cultivation], Dresden 1819-1822.
331
Ancelmo Schörner
INP foi criado8 pelo Governo Federal9 em 1941 como Serviço do Pinho, e
estava subordinado à Comissão de Defesa da Economia Nacional.
Logo após sua criação, o INP passou a funcionar em 5 escritórios re-
gionais (São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas
Gerais), além da sede no Rio de Janeiro. Na prática, porém, ele atendia
aos interesses dos produtores, industriais e exportadores10 de pinho de
São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde a econo-
mia industrial do setor florestal estava em operação.
Em 1949, a sua Junta Deliberativa do INP determinou que metade
de sua renda fosse aplicada nos programas de silvicultura, o que o levou
a implantar, ao longo de cinco anos, nove estações florestais.
Inicialmente o INP tinha requerido áreas de terras dos Estados
para a implantação dessas estações florestais, porém, a maioria das que
conseguiu adquirir foi comprada, como no caso da primeira Estação Flo-
restal, implantada em Capão Bonito, em São Paulo. Assim, diante do
desenvolvimento das atividades e o correspondente aumento da receita,
o INP instituiu uma política de aquisição de terras, a partir de 1943, e de
organização de planos de reflorestamento para cada Estado11.
A aquisição das terras para a formação do Parque, em uma região de
ocorrência natural da araucária, se deu em 1946. A Unidade12 foi desti-
nada à implementação de estudos e ensaios com a Araucária angustifólia
com o objetivo inicial de avaliar e testar os métodos de plantio, espaça-
8
Ele foi criado a partir do Decreto-lei nº 3.124, de 19 de março de 1941 e reorganizado com o
Decreto-lei nº 4.813, de 8 de outubro de 1942.
9
“(...) durante o período do colonialismo histórico, a exploração de bens primários foi levada
a cabo através da mão visível da dominação política; agora está organizada por mecanismos
de poder operados pela aparente mão invisível do mercado em associação com a destacada e
necessária presença do Estado” (Coronil, 2000, p. 61).
10
Isso estava explícito no Art. 1° do Decreto-lei nº 3.124-1941 e no Art. 2º Decreto-lei nº 4.813-
1942.
11
No caso do Paraná, o 1º parque a ser criado foi o Parque Florestal do Assungui, em 1942. Ele
está localizado em Campo Largo e sua criação se deu a partir da doação, pelo Estado do Paraná,
de uma área de 490,48 hectares.
12
As primeiras atividades no Parque Florestal tiveram início em 26 de setembro de 1946, sob a
coordenação do agrônomo Fernão de Lignac Paes Leme e do silvicultor Erwin Gröger e, a partir
de 1949, de Ernesto da Silva Araújo, que foi o diretor da Unidade até o ano de 1978 (Munhoz;
Brandalise; Ulhoa, 2013, p. 26).
332
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Nas terras, contudo, já existia um pedaço de terra, depois denominado talhão 1, plantado com
25 mil covas pelo antigo proprietário, Alberico Xavier de Miranda.
14
Para Pierre Bourdieu, “o regere fines, o ato que consiste em ‘traçar as fronteiras em linhas
retas’, em separar ‘o interior do exterior, o reino do sagrado do reino do profano, o território
nacional do território estrangeiro’, é um ato religioso realizado pela personagem investida da
mais alta autoridade, o rex, encarregado de regere sacra, de fixar as regras que trazem à exis-
tência aquilo por elas prescrito, de falar com autoridade [...]. (Bourdieu, 2000, p. 114. Grifos no
original)
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15
A relação dos FINPIs analisados estão abaixo, no item Fontes Orais.
16
Família: Asteraceae, Espécie: Baccharis semiserrata DC, Nome popular: vassoura-tupichava.
17
A ilusão de iluminar o mundo, de representá-lo como fidelidade e exatidão, de modelá-lo e
ordená-lo matematicamente até alcançar a verdade, tem reproduzido simultaneamente uma
realidade deslocada que desnaturaliza a natureza, transformando-a artificialmente (...) (Giral-
do, 2018, p. 34-35).
18
O levantamento das diversas áreas requer tempo: abertura de picadas e medição da superfície,
medições e marcações das árvores etc. devendo ser realizado paulatinamente, por talhões de 20
a 25 hectares. (Araújo, 1950, p. 9)
19
Coivara: do tupi koybara, ‘cata-paus de roça’ (kó, ‘roça’ + yba, ‘pau’ + ar, ‘cair’ + a). (Navarro,
2013).
20
Alinhar: pôr(-se) ou dispor(-se) em linha reta, em fileira; enfileirar(-se). Como sinônimos de
alinhar temos: tornar reto (ordenar, regrar, dispor, retificar, perfilar, endireitar, enfileirar, for-
mar, arrumar e compor); embelezar (polir, adornar, embelezar, enfeitar, apurar, aperfeiçoar,
arrumar e esmerar).
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A limpeza se dava com a utilização do fogo, no caso de árvores, galhos, tocos e raizame, e de venenos
(formicida bi-sulfureto de carbono, Brometo de Metila Blemco e o Cianogás), no caso das formigas.
24
“Na linguagem de hoje, nós chamamos este novo tipo de sistema agroecológico de monocultu-
ra, significando uma parte da natureza que vem sendo reconstituída a ponto de produzir uma
única espécie, que está sendo plantada na terra apenas porque em algum lugar há uma forte
demanda de mercado por ela” (Worster, 2003, p. 35. Grifo no original).
25
Essas plantações homogêneas formadas por árvores de uma única espécie não têm as caracte-
rísticas das verdadeiras formações florestais, uma vez que a “introdução de florestas cultivadas
significa que muitas das funções ecológicas das matas e suas produções que servem para a vida
humana e seus sustentos se perdem”. (Alier, 2018, p. 161).
26
“A partir de Descartes, a dúvida sobre a humanidade dos outros se torna uma certeza, com
base na alegada falta de razão ou pensamento nos colonizados/racializados. Descartes fornece
à modernidade os dualismos mente/corpo e mente/matéria, que servem de base para: 1) trans-
formar a natureza e o corpo em objetos de conhecimento e controle; 2) conceber a busca pelo
conhecimento como uma tarefa ascética que busca distanciar-se do subjetivo/corporal; e 3) ele-
var o ceticismo misantrópico e as evidências racistas, justificadas por um certo senso comum,
ao nível da primeira e fundamental filosofia das ciências” (Maldonado-Torres, 2007, p. 145).
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“A silvicultura ‘científica’ reduziu o valor da diversidade da vida nas florestas ao valor de umas
poucas espécies que têm valor comercial e depois reduziu o valor dessas espécies ao valor de seu
produto morto – a madeira. (Shiva, 2003, p. 32).
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No ano de 1954 foram empregados o Brometo de Metila Blemco e o Cianogás.
30
Uma contagem realizada em1960 indicou 30.270 pés existentes.
31
Em maio de 1952 foi realizada contagem dos pés, que indicou a presença de 78.600 indivíduos.
Em janeiro de 1959, outra contagem indicou a existência de 25.304 pés.
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14, podemos ler que “Nas manchas de represamento da água32 das chu-
vas e vertentes houve perda total dos pinheiros nascidos. As insistências
do replantio nestas manchas foram negativas”.
A partir do FINPI do talhão 16 sabemos que entre abril de 1952 e
julho de 1959 foram realizados 3 desbastes nas zonas onde a densidade
da chuva era forte. O talhão apresentava, porém, zonas em que as falhas
são quase totais em decorrência do excesso de umidade por ocasião de
chuvas abundantes33.
O erro na redação de uma frase encontrada no FINPI do talhão 14
poderia, eventualmente, ser creditado a um problema simples de concor-
dância verbal. Contudo, ao analisar melhor a situação, somos levados a
crer que não se tratava apenas disso. A frase é: “A insistência do replan-
tio nestas manchas [de represamento de água] foram negativas”. A ex-
pressão “A insistência” indica que foi uma vez que se tentou replantar os
pinheiros. Contudo, o final da frase (“foram negativas”) nos leva a pensar
que foram mais do que uma tentativa. Assim, “insistência” e “replantio”
caracterizam aquilo que Worster (2003, p. 38) chama de “tendência em
apostar alto contra a natureza”.
Diante disso, nos perguntamos: que racionalidade é essa, quanto
de científico existe na ideia de se plantar em áreas de represamento de
água? E mais. Replantar na mesma área quando a primeira plantação
morre? O que o Silvicultor estava tentando fazer? Seria a insistência no
replantio, como nos chama a atenção Worster (2003, p. 38), uma constan-
te aposta contra a natureza, “num esforço febril para evitar o insucesso”?
Outro exemplo desse “esforço fabril” é o talhão 18, plantado em ju-
nho de 1950 com 90 mil covas. Igual muitos outros terrenos, este também
era de campo sujo, com parte de capoeira alta e uma parte baixa sujeita
a estagnação de água em época de chuvas abundantes. De acordo com o
32
O talhão 14 teve, ainda, “Grandes prejuízos causados por perdizes”.
33
Em 1951 foram as secas que prejudicaram as plantações. O talhão 29, plantado em julho de
1951 com 140 mil covas de Araucária angustifólia, “teve grande perda após a 1ª limpeza, em
dezembro de 1951, por conta da insolação forte, seguida de seca prolongada’.
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Informação constante no relatório de 1961 nos diz que em 1960 foi realizada uma contagem
neste talhão, que indicou 46 mil pés (Paes Leme, 1961, p. 2).
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“[...] a colonialidade poderia ser considerada um discurso e uma prática que prega simulta-
neamente a inferioridade natural dos sujeitos e a colonização da natureza, que marca certos
sujeitos como dispensáveis e a natureza como pura matéria-prima para a produção de bens no
mercado internacional” (Maldonado-Torres, 2007, p. 135).
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36
A racionalidade da silvicultura científica que se pretende aplicada às terras e aos plantios era
também aplicada nos registros de Ernesto da Silva Araújo, que são extremamente detalhados.
A quantidade de vezes que as palavras controlar e ordenar aparecem nos relatórios indica a
vontade do silvicultor em dar uma nova formatação às terras.
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“Desde 1955 temos nos referido a necessidade do INP adquirir áreas mais favoráveis a um
plantio maior. (...) Na reunião de Silvicultores realizada em dezembro do ano transato, no Rio
de Janeiro, foi aprovada a seguinte orientação: “Aquisição de terras suplementares, contíguas
ao Parque, com o fim de lhes aumentar as áreas de plantio sem a necessidade de novas instala-
ções, o que viria a onerar por demais o custo de plantio” (Araújo, 1958, p. 2).
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Segundo Foucault (1989, p. 131), pelo princípio da localização imediata ou quadriculamento,
deve haver “em cada lugar um indivíduo e cada indivíduo em seu lugar”. Ou seja, “É preciso
anular os efeitos das repartições indecisas, o desaparecimento descontrolado dos indivíduos,
sua circulação difusa [...] e perigosa”.
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Estaria Ernesto da Silva Araújo se referindo aos faxinais?
40
A colonialidade sustenta-se, então, na imposição de uma classificação racial/étnica da popu-
lação do mundo realizada pelo padrão mundial do poder capitalista. Foi a racialização das
relações de poder entre as novas identidades sociais e geoculturais que legitimou o caráter
eurocentrado do padrão de poder (Quijano, 2010, p. 107).
41
“O ser representa, para a história e a tradição, o mesmo que a colonialidade do ser representa
para a colonialidade do poder e para a diferença colonial. Assim, a colonialidade do ser refere-se
ao processo pelo qual o senso comum e a tradição são marcados por dinâmicas de poder de cará-
ter preferencial: discriminam pessoas e tomam por alvo determinadas comunidades. A relação
entre poder e conhecimento conduziu ao conceito de ser, e se colocou a questão do que seria a
colonialidade do ser” (Maldonado-Torres, 2008, p. 89).
42
“A colonialidade do ser, é aquela que é exercida através da inferiorização, subalternização e
desumanização. Ela aponta a relação entre razão/racionalidade e humanidade, isto é, os mais
humanos são aqueles que fazem parte da racionalidade formal, a racionalidade modernidade
concebida a partir do indivíduo ‘civilizado’” (Walsh, 2008, p. 138).
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O trabalho de preparação do terreno do talhão1, de 44,54 hectares, teve os seguintes custos:
desbravamento com trator (destoca e limpeza): CR$ 6.011,10, desbravamento manual (roçada
e queimada) custou CR$ 22.462,70. (Araújo, 1953, p. 4) O desbravamento com tratores (desto-
ca, derrubada e limpeza) do talhão 8 custou CR$ 7.157,50, e o desbravamento manual (roçada
e queimada) custou CR$ 16.310, 60 (Araújo, 1953, p. 6).
44
Qual a racionalidade, qual a expertise que derruba pinheiro para plantar ... pinheiro?
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Por exemplo: em 1954, para preparar o plantio em 24 hectares, foram gastos CR$ 490.967,00.
Em 1956, para o plantio de outra área de 24 hectares, foram gastos CR$ 2.092.721,90 (Araújo,
1958, p. 1).
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Dos 34 talhões plantados com Araucária angustifólia entre 1946 e 1959, seis indicam expressa-
mente que o plantio foi feito “no toco”. Outros talhões indicam que ele foi realizado “sob capo-
eira alta”, “em campo sujo”, “sob cobertura de mata fina”, “com capoeira grossa e presença de
taquara”, “com vegetação arbustiva e capim barba de bode”.
47
O problema de assegurar a continuidade do trabalho em empresas florestais, existe desde os
começos da silvicultura científica. Isto em vista da necessidade da produção florestal em com-
paração com a produção agrícola e industrial, é tão difícil quanto essencial. O método adotado
[...] consiste na organização de um plano florestal como base para a futura gerência (Araújo,
1950, p. 1).
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Em 1950 o Parque possuía “dois arados de aiveca reversível, um arado de pá, uma grade de 12
discos Internacional, dois cultivadores ‘bico de pato’ tipo ‘Empire’ com riscador e uma enxada
de 14 polegadas, dois cultivadores ‘Mac-Cormick’ de 3 enxadas, sendo todas essas máquinas
de tração animal. Em 1949 foi comprado pela DRF, uma enxada rotativa (Rotary-hoe), a qual,
porém, foi enviada para a Estação dos Pardos (SC); essa máquina foi devolvida em fins de 1950
sem funcionar” (Araújo, 1950, p. 4).
49
O trator “Allis Chalmers” é destinado para os trabalhos mais pesados de desbravamento e
movimento de terra; o “caterpilar” D-4 para aração e o trator “John Deere” “R” serve para
aração, quando o terreno permite, mas principalmente é usado na gradagem de terreno. Os
dois últimos, porém, auxiliam na limpeza dos terrenos onde existem toras e troncos pesados,
transportando-os para fora da área a ser preparada (Araújo, 1952, 6).
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Considerações finais
Sustentamos ao longo do texto que processo de transformação da
fazenda em Parque foi mediado pela colonialidade. Ocorreu não apenas
a colonização da natureza, mas também do saber e do ser. O processo não
foi apenas econômico, mas foi também do imaginário. Assim, mesmo que
50
O trator HD-5 trabalhou 858 horas entre janeiro de 1960 e abril de 1961; o trator D-4 tra-
balhou, no mesmo período, 393 horas; o trator “R” trabalhou 264 horas. Já os tratores GH e
Hoeard Twelve não trabalharam nenhuma hora sequer (Paes Leme, 1961, p. 5).
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“[...] o capitalismo introduziu uma inovação que mudaria profundamente a forma como as
pessoas se relacionavam com a natureza em geral: ele criou, pela primeira vez na história, um
mercado geral de terras. Todas as forças e interações complexas, seres e processos que designa-
mos como ‘natureza’ (às vezes até elevada ao status honorífico de uma ‘Natureza’ capitalizada),
foram reduzidas a uma simplificada abstração, ‘terra’ (Worster, 2003, p. 34. Grifo no original).
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Sobre os autores
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Colonos, colônias e colonizadoras: aspectos da territorialização agrária no Sul do Brasil
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COLONOS, COLÔNIAS
E COLONIZADORAS
aspectos da territorialização
agrária no sul do Brasil