TCC ESTÁCIO FINAL 3a. Versão

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CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE RIBEIRÃO PRETO

DANIELA CABRAL CRUZ STEMPFLE

ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA(LE)


OS DESAFIOS DE APRENDER A LÍNGUA INGLESA (LE) NO
BRASIL: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA EM
SALA DE AULA EM ESCOLAS DE IDIOMAS E ESCOLAS
REGULARES

ITUPEVA
2023
CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTÁCIO DE RIBEIRÃO PRETO

DANIELA CABRAL CRUZ STEMPFLE

ENSINO E APRENDIZAGEM DA LÍNGUA INGLESA(LE)


OS DESAFIOS DE APRENDER A LÍNGUA INGLESA(LE) NO BRASIL:
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRÁTICA EM SALA DE
AULA EM ESCOLAS DE IDIOMAS E ESCOLAS REGULARES

Trabalho apresentado como


requisito obrigatório para
conclusão do curso de LETRAS
– FORMAÇÃO PEDAGÓGICA
- INGLÊS, no formato de artigo
científico, resultante da
pesquisa desenvolvida no ano
de 2023, sob a orientação da
professora Maria da Conceição
Guerra de Moraes

ITUPEVA
2023

RESUMO
Neste artigo, apresentam-se casos de interação professor/aluno em sala de aula de
escolas de idiomas e escolas regulares. Por meio destes casos, são investigados os
motivos pelos quais os alunos brasileiros têm dificuldades na aquisição da Língua
Inglesa (LE) como segunda língua – ESL – English as a Second Language. Para
isso, usamos como referencial teórico a obra Second Language Aquisition, do
linguista britânico Rod Ellis e alguns artigos científicos e pesquisas listados no fim do
trabalho. As diferenças sistêmicas entre a Língua Portuguesa e a Língua Inglesa
(LE) tornam o aprendizado de uma segunda língua uma dificuldade que se
apresenta especialmente entre os adultos que necessitam da Língua Inglesa (LE)
para fins profissionais. O contexto histórico do ensino-aprendizagem da Língua
Inglesa (LE) no Brasil também é abordado neste texto.
Palavras-chave: Língua Inglesa. Ensino-aprendizagem. Dificuldades. Inglês.

INTRODUÇÃO
Usamos como referencial teórico para a composição deste artigo, o livro do linguista
britânico Rod Ellis Second Language Acquisition (1997). Segundo Ellis (1997), “a
aquisição da segunda língua (L2), portanto, pode ser definida como uma maneira de
como a pessoa aprende outra língua que não seja a língua nativa, dentro ou fora de
uma sala de aula” 1. Isso é bastante abrangente. Significa que é possível aprender
uma língua fora dos bancos das salas de aula de escolas regulares.

No caso da Língua Inglesa (LE), seu ensino-aprendizagem passa por mudanças a


partir dos anos 1960, intensificando-se mais durante a década de 1990.Nesta época,
surgiram escolas de idiomas no Brasil com o único propósito de ensinarem a Língua
Inglesa (LE) a partir de outros métodos diferentes dos utilizados no currículo
tradicional de uma escola regular. O público-alvo eram as crianças, os adolescentes
e os adultos que precisavam do idioma para fins profissionais. Desde então,
ouvimos a famosa frase ‘The book is on the table’ de maneira jocosa referindo-se a
um “possível único conteúdo” aprendido nessas escolas. E então inicia-se o
problema e a dificuldade do brasileiro com a Língua Inglesa (LE). De acordo com
levantamento do British Council, apenas 5% da população brasileira fala a Língua
Inglesa (LE) sendo que 1% fala o idioma de maneira fluente. Sobre isso, há uma fala
importante do professor da USP, Daniel Cara, em reportagem apresentada no Jornal
Nacional, da TV Globo, em 14 de março de 2022, com dados do EF Education First
(2021):

“Verdade seja dita, o Brasil nunca lecionou bem a segunda língua,


porque nós não temos professores em número suficiente, e nós
também não desenvolvemos metodologias que estruturem a política
pública de ensino de língua estrangeira. Estamos muito atrasados,
mas a boa notícia é que isso dá para ser revertido. Existem várias
alternativas, metodologias novas, muitas ideias que surgiram no
ensino de idiomas que podem ser aproveitadas pelo país”

Isso não seria um problema se o mundo não fosse globalizado, e se os brasileiros


não estivessem inseridos em um mercado composto por empresas multinacionais de
todos os segmentos e que necessitam de colaboradores que se comuniquem na
Língua Inglesa (LE)

Em termos sociais, uma parcela da população brasileira, vê a língua bretã como


uma maneira de demonstrar o que poderíamos chamar de “superioridade
intelectual”, como se o simples fato de uma pessoa ser bilíngue, a transforme em
uma ‘aristocrata’ ou ‘elitista’, desprezando, portanto, os que não são bilíngues. Para
chancelar esse pensamento, a mesma reportagem do Jornal Nacional citada acima
diz que “o inglês é a língua dos ricos ou muito ricos no Brasil, o que, segundo
educadores, é resultado de uma história de erros de política pública”. Essa
reportagem ainda apresenta outro dado no que se refere à empregabilidade e
salários. Os profissionais graduados e que falam inglês, ganham em média 65% a
mais do que um profissional com diploma mas que não fala a LE. Essa realidade
motiva as pessoas a procurarem cursos de inglês em escolas de idiomas para
melhorarem o desempenho na carreira e as possibilidades de promoção ou troca de
emprego.
A população brasileira, de modo geral, está mais acostumada a outras línguas
devido à presença de imigrantes japoneses, alemães e italianos, especialmente no
Sul e Sudeste do país. A Língua Inglesa (LE) é apresentada aos brasileiros de
classe média em meados dos anos 1940, com a chegada de filmes e músicas - mais
precisamente de origem estadunidense. Dos anos 1990 para cá, essa percepção foi
alterada de modo que nos anos 2020, a Língua Inglesa (LE) é de vital importância
na comunicação entre os falantes de línguas variadas, sendo usada como a língua
principal no mundo corporativo. Neste trabalho, são apresentados alguns cenários
de situações reais vividas em salas de aula em escolas de idiomas e escolas. Tais
situações exemplificam e pretendem investigar os motivos pelos quais há uma
dificuldade quase latente do aprendizado da Língua Inglesa (LE) no Brasil.

BREVE HISTÓRIA DA ORIGEM DA LÍNGUA INGLESA (LE)

Originária de uma espécie de fusão entre os dialetos dos povos germânicos que
colonizaram a Bretanha no século V d.C. - como os saxões, jutos, frísios e anglos - a
Língua Inglesa (LE) como a conhecemos hoje, é muito diferente da língua falada
antes do nascimento do bastião da literatura mundial, William Shakespeare. Por
conta dessa origem misturada de tribos do Norte da Europa, nos tempos do bardo, o
Inglês falado parecia-se mais com a Língua Alemã (LE). A
palavra English (Englisc em Inglês arcaico) veio da tribo germânica dos anglos
e England (de Engla land “Land of the Angles”, em Português “Terra dos Anglos”).

Em livro de 1975 intitulado “Origins of the English Language”, sobre a história e


origem da Língua Inglesa (LE):

“Um historiador do Inglês descreveria não como um único indivíduo


usou a língua em determinado momento do passado, mas como os
padrões abstratos da língua mudaram gradualmente desde o século
V d.C., quando as tribos Germânicas do Norte da Europa invadiram a
ilha da Bretanha e, pelo mero fato político da invasão em si, nós não
mais chamávamos a língua de Germânico Ocidental, ou Frísia, ou
Juta ou qualquer outra que fosse, mas chamávamos agora de Inglês
Arcaico (o qual chamaremos de IA daqui pra frente)” (WILLIAMS,
Joseph M, p. 5-6 - tradução nossa) 2

Podemos dividir em três épocas as fases do desenvolvimento da Língua Inglesa


(LE):
Old English (Inglês Arcaico) - séculos V a XI;
Middle English (Inglês Médio) - do séculos XI ao XVI
Modern English - (Inglês Moderno) do século XVI até os dias de hoje.

Até mesmo a religião interferiu na construção da língua. Com o advento do


Cristianismo são incorporadas as primeira palavras oriundas do Latim e do Grego.

Situamos o estágio seguinte da língua, o Middle English com a batalha de Hastings,


em 1066 d.C. O duque Guilherme da Normandia (William, the Conqueror) derrotou o
exército Anglo-Saxão sob o comado do conde Haroldo Godwinson. O novo rei
Guilherme era normando, portanto, sua língua era a francesa. Assim, novas palavras
são incorporadas à língua falada pelas pessoas comuns - servos e escravos. The
Canterbury Tales, de Geoffrey Chaucer, é a obra mais famosa escrita usando o
Middle English.

Em comparação ao Inglês Moderno, o Old English é uma língua quase


irreconhecível. De maneira sucinta, Shakespeare é como um ‘divisor de águas’ da
Língua Inglesa (LE) em termos de vocabulário, desenvolvimento e estrutura da
língua, culminando em 1550 com o início do Inglês Moderno (Modern English). Antes
dele, o que se via era uma mistura de dialetos que não poderíamos sequer
reconhecer nos dias atuais. Para exemplificar, vemos abaixo trecho do poema épico
Beowulf (de autoria anônima) escrito em West Saxon dialect of Old English, cuja
primeira estrofe diz:

Hwæt. We Gardena in gear-dagum,


þeodcyninga, þrym gefrunon,
hu ða æþelingas ellen fremedon.

Ouçam-me! Nós que ouvimos dos heróis dinamarqueses


Antigos reis e a glória que conquistaram,
Para si, brandindo poderosas espadas!

Dando um grande salto no tempo para o ano de 1909, o mesmo poema foi traduzido
por Francis B. Grummere (The Harvard Classics, Vol. 49. P.F. Collier & Son.,
1910) e a primeira estrofe fica assim:

Look! See! (LO), praise of the prowess of people-kings


of spear-armed Danes, in days long sped,
we have heard, and what honor the athelings won!

Em suma, não é possível determinar a origem exata da Língua Inglesa (LE), mas é
possível datar alguns acontecimentos que, juntos, indicam uma linha de tempo
histórico para que possamos situar o desenvolvimento e a disseminação da língua.
São eles:

“450 d.C. as tribos Germânicas do Norte invadem e ocupam a


Bretanha
850 d.C os Dinamarqueses invadem e ocupam o leste da Inglaterra
1066 d.C. os Franco-Normandos invadem e conquistam a Inglaterra
1204 d.C. os Normandos na Inglaterra são forçados a escolher
Inglaterra ou Normandia como sua terra natal
1348 d.C. a Peste Negra extermina um terço da população Inglesa
1476 d.C. a imprensa é introduzida na Inglaterra
1607 d.C. a América (Estados Unidos da América) é colonizada por
falantes da Língua Inglesa (LE)
1945 d.C. o domínio político e cultural dos Estados Unidos da
América fazem da Língua Inglesa (LE) - adaptada aos EUA, portanto,
Inglês Americano - candidata à língua padrão global.” (WILLIAMS,
Joseph M, p. 6 – tradução nossa)

De fato, a Língua Inglesa (LE) tornou-se a língua global do mundo dos negócios e do
turismo. É atualmente o segundo idioma mais falado do mundo, só perdendo para o
Mandarim em termos de quantidade de falantes da língua. O Inglês é a L2 (segunda
língua) oficial mais falada do mundo. Entendemos como segunda língua oficial,
aquela que o falante nativo aprende depois, não importa se criança ou adulto. A
primeira é sua língua nativa. No meu caso, português é minha língua nativa e inglês
é a minha segunda língua.

O ENSINO DA LÍNGUA INGLESA (LE) NO BRASIL


No Brasil, a Língua Inglesa (LE) foi oficializada como cadeira escolar por um decreto
de Dom João VI de 22 de junho de 1809. De acordo com OLIVEIRA (1999, p.165)
“era uma disciplina complementar aos estudos primários, ou de ‘primeiras letras’, já
que seu conhecimento, ao contrário do francês, ainda não era exigido para o
ingresso nas academias do Império”. Havia a questão do comércio com os ingleses,
que poderia justificar seu uso mais abrangente, mas o idioma era pouco
disseminado e não interessava às pessoas aprendê-lo.

A elite do Império – os nobres e aristocratas da época - contratava tutores para


ensinar línguas variadas às crianças. O francês, na época, era a segunda língua
mais utilizada no Brasil em virtude de a corte Portuguesa ser uma cópia das cortes
europeias, em especial, a corte francesa. Ainda nos tempos de hoje, o francês é a
língua oficial da diplomacia mundial. No exame de ingresso de diplomatas nos
quadros do Itamaraty, no Instituto Rio Branco, é exigido o domínio da língua
francesa.

Quando houve a fuga da corte portuguesa para o Brasil em 1808, Dom João VI
instituiu vários costumes e sancionou decretos relacionados à educação que foram
importantes para o ensino de línguas estrangeiras na então colônia de Portugal nas
Américas. Segundo BOAVENTURA (2009, p.136) “dessa maneira, para aumento da
prosperidade da instrução pública, criou-se na corte uma cadeira de língua francesa
e outra da língua inglesa, em 1809.”

O primeiro professor de inglês no Brasil foi o padre irlandês Jean Joyce. Ele foi
nomeado por Dom João VI por meio de uma carta assinada na corte, que versava
sobre a necessidade de uma cadeira de Língua Inglesa(LE). Não existe muita
informação disponível sobre o padre a não ser a informação oficial da nomeação do
imperador. De acordo com LIMA (sem data, p.2), “O início do ensino de inglês teve
como finalidade a prática oral, pois era somente para capacitação de profissionais
brasileiros para a demanda do mercado de trabalho através das relações comerciais
especialmente com a Inglaterra.”

Os primeiros professores particulares da Língua Inglesa (LE) faziam seus anúncios


nos jornais da época. No dia 8 de fevereiro de 1809 foi encontrado o que talvez seja
o primeiro anúncio oferecendo aulas de Inglês no Brasil, em ‘A Gazeta do Rio de
Janeiro’:

“Na Rua do Ourives #27 mora huma Ingleza com casa de educação
para meninas que queirão aprender a ler, escrever, contar, e falar
Inglez e Portuguez, cozer e bordar, etc.” (LIMA, 2012 apud SILVA
2020)

O anúncio da primeira escola de Língua Inglesa(LE) no Brasil foi publicado em 1813,


quando a escola ainda era chamada de ‘academia’:

“D.Catharina Jacob toma a liberdade de fazer sciente ao publico, que


ella tem estabelecido huma academia para instrucção de meninas na
Rua da Lapa, defronte da Exma. Duqueza, em que ensinará a lêr,
escrever, e fallar as línguas Portugueza, e Ingleza
grammaticalmente; toda a qualidade de costurar e bordar, e o
manejo da caza.” (LIMA, 2012)

O ensino oficial da LE em escola regular iniciou-se em 1837, quando da fundação do


tradicional Colégio Dom Pedro II, na cidade do Rio de Janeiro. “A grade curricular da
escola oferecia língua inglesa e língua francesa - que na época era considerada a
“língua universal””. (SILVA, 2020)

Essa época é fundamental para entender a origem da dificuldade apresentada nos


dias de hoje na aprendizagem da Língua Inglesa (LE) no Brasil. O método usado era
o de tradução. Para compreender perfeitamente uma língua, acreditava-se que o
aluno deveria conhecer as regras gramaticais e vocabulário a ponto de fazer uma
tradução perfeita. UPHOFF,2008 explica: “daí o nome do método - método de
gramática e tradução. Os alunos estudavam decorando regras gramaticais e listas
de vocabulário, adquirindo conhecimentos teóricos sobre o sistema linguístico do
inglês.”

Ainda hoje, nas salas de aula de escolas regulares e até mesmo em escolas de
idiomas, o método utilizado e o mais conhecido é este. Mas a questão é que, ao
traduzir, a pessoa não “pensa” na língua e acaba acionando outra parte do cérebro
para realizar a atividade de tradução. Quando pensamos em inglês, falamos inglês.
Basicamente é essa a mecânica de se falar qualquer língua que tenha como base o
alfabeto ocidental. Os motivos pelos quais as pessoas precisam ou querem falar
inglês são outros nos dias atuais. Mais especificamente por almejarem uma carreira
de sucesso no mercado corporativo, os profissionais precisam aprender a se
comunicar com pessoas de vários países. E a língua escolhida pelo mundo dos
negócios globalizado é a Língua Inglesa (LE).

Mas a língua só ganhou destaque no Brasil a partir da década de 1930. Na verdade,


sob o governo de Getúlio Vargas, o ensino da LE passou a ser uma forma de apoiar
as forças aliadas sob o comando dos EUA e da Inglaterra. Nessa época também, a
Inglaterra deixou de ser o líder mundial e os EUA ascenderam fortemente à
liderança econômica global.

Sob o governo do Caudilho, o ministro Francisco de Campos iniciou uma reforma na


educação em 1931. Esta reforma introduziu mudanças importantes que impactaram
o ensino de modo geral. A principal mudança foi em relação ao método utilizada
para ensinar línguas estrangeiras. O ‘método direto’, ou seja, ensinar a língua por
meio da própria língua, sem traduções, passou a ser utilizado.

Com relação ao currículo escolar das escolas públicas e privadas, em 1961, a Lei de
Diretrizes e Bases (LDB) não deixava clara a obrigatoriedade do ensino de uma LE.
“A não obrigatoriedade do Ensino de LE trouxe como consequência a
ausência de uma política nacional de ensino de línguas estrangeiras
para todo o país; a diminuição drástica da carga horária, chegando a
apenas uma aula por semana em várias instituições; e
um status inferior ao das disciplinas obrigatórias, pois, em alguns
estados, as línguas estrangeiras perdem o "poder" de reprovar”.
(PAIVA, STEVENS E CUNHA. 2003, p.53-84)

A LDB de 1996 reforma alguns parâmetros instituindo os novos nomes dos ciclos –
Ensino Fundamental, substituindo o 1º grau e Ensino Médio substituindo o 2º. grau.
Ainda assim, não impõe uma obrigatoriedade. A presença de uma LE no Ensino
Fundamental é prevista na lei, e a comunidade escolar pode escolher a LE
(geralmente é o inglês, mas não obrigatoriamente). Já no Ensino Médio, é
obrigatório o ensino de uma LE moderna.

Sobre a aprendizagem da Língua Inglesa (LE), a última versão da Base Nacional


Comum Curricular, de 2018, diz que:

“Aprender a língua inglesa propicia a criação de novas formas de


engajamento e participação dos alunos em um mundo social cada
vez mais globalizado e plural, em que as fronteiras entre países e
interesses pessoais, locais, regionais, nacionais e transnacionais
estão cada vez mais difusas e contraditórias. Assim, o estudo da
língua inglesa pode possibilitar a todos o acesso aos saberes
linguísticos necessários para engajamento e participação,
contribuindo para o agenciamento crítico dos estudantes e para o
exercício da cidadania ativa, além de ampliar as possibilidades de
interação e mobilidade, abrindo novos percursos de construção de
conhecimentos e de continuidade nos estudos. É esse caráter
formativo que inscreve a aprendizagem de inglês em uma
perspectiva de educação linguística, consciente e crítica, na qual as
dimensões pedagógicas e políticas estão intrinsecamente ligadas”
– página 241
Mesmo estando claro que a Língua Inglesa (LE) é importante, ainda assim os alunos
brasileiros, especialmente de escolas públicas, apresentam dificuldades que vão
desde professores despreparados até falta de motivação por parte dos alunos.

Início das escolas de inglês no Brasil

A primeira escola de inglês do Brasil foi a Cultura Inglesa. Em parceria com o


Consulado Britânico era chamada anteriormente de Escola Paulista de Letras
Inglesas. Em 1935 alterou o nome para Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa. Em
1938, Domingos Machado, um estudante da USP, fundou o Instituto Universitário
Brasil-Estados Unidos, embrião da União Cultural, com sede próxima à Avenida
Paulista, na cidade de São Paulo. São as mais antigas escolas estabelecidas no
Brasil, em funcionamento até os dias de hoje.

Nos anos 1960 foi fundado no Rio de Janeiro, o CCAA, clássica escola de idiomas
que tem unidades pelo país todo. Com metodologia diferente da aplicadas nas salas
de aula de escolas regulares, essas escolas oferecem cursos completos com
tempos variados. Há cursos que prometem até inglês fluente em 18 meses. A partir
daí, temos escolas variadas, de diferentes métodos e interessadas em divulgar seu
material didático funcionando como verdadeiras editoras. E aí começa uma outra
história...

A PRÁTICA DA LÍNGUA INGLESA(LE) EM SALAS DE AULA

E a história é a seguinte: o que se vê, de fato, são algumas dessas escolas de


idiomas transformadas em editoras com a missão de vender livros. Ou suas
plataformas digitais. O aluno interessado em aprender a Língua Inglesa (LE) torna-
se uma espécie de bumerangue – começa o curso, não termina, muda de escola,
contrata um professor particular, faz um intercâmbio, enfim, vai pra lá e pra cá e isso
tudo compromete sua própria aprendizagem.

Sobre a prática em sala de aula, diz FIGUEIREDO (2009): “quero reiterar a sala de
aula como o cenário ao qual atribuo privilégio para trazer à tona questões que são
silenciadas, porque, nas aulas de LE, geralmente, o foco é a gramática e o
vocabulário como se a língua existisse em um vácuo sócio-histórico”. Entende-se
que o cenário aqui é a sala de aula formal de uma escola pública ou privada. Os
conteúdos transversais que permeiam o ensino-aprendizagem da LE fazem da sala
de aula muito mais do que uma lousa, um dicionário e alguns exercícios práticos.

Por outro lado, o cenário de uma sala de aula de uma escola de idiomas é bem
diferente de uma sala de aula tradicional porque os objetivos, embora pareçam
similares, divergem um pouco das definições da BNCC. Na escola de idiomas, os
alunos têm motivações diversas. Se for criança, geralmente é matriculada pelos pais
para complementar a carga horária da LE em escola regular e a motivação é que os
filhos “não sofram como eles estão sofrendo para aprender inglês quando são
adultos”. Mesmo caso para os adolescentes. Já para os adultos, a motivação é outra
e aí observamos a questão profissional e de turismo. Adultos com inglês fluente têm
mais chances de crescimento na carreira e ganham 65% a mais do que os que não
falam a LE.Com relação ao turismo, boa parte das pessoas que buscam aprender a
LE, querem aprender a falar de maneira mais natural e não somente “se virar”. A
probabilidade de cometer erros apenas “se virando” é muito maior, como
exemplificado abaixo:

ESTÁGIO DESCRIÇÃO EXEMPLO

1 Alunos erram ao enunciar o verbo na forma ‘eat’ (comer)


passada

2 Alunos começam a produzir a forma irregular do ‘ate’(comi,


verbo no passado comeu,comeram)

3 Alunos generalizam a forma do passado ‘eated’

4 Às vezes, os alunos produzem uma forma híbrida ‘ated’

5 Alunos conseguem produzir a forma correta ‘ate’


- Sequência de aquisição do Simple Past do verbo eat (comer) – ELLIS(1997) p.23
(tradução nossa)

Esse tipo de processo é comum tanto em salas de aula de escolas regulares quanto
em escolas de idiomas. Os processos de ensino são parecidos embora com
métodos diferentes.

Em um estudo de caso sobre duas crianças, ELLIS (1997) conta que uma delas, que
chamaremos de J., era um garoto brasileiro que estava estudando inglês em
Londres, Inglaterra. A sala de aula era formada por crianças de origem internacional
e o objetivo era prepará-las para o equivalente ao Ensino Médio na Inglaterra, the
secondary school. Ambos tinham pouco contato com a língua fora da sala de aula,
muito provavelmente pelo fato de se comunicarem na língua nativa com a família. O
objetivo das aulas era ensinar a pedir coisas em inglês – requests. O professor Ellis
observou que, embora fossem de origens diferentes (o outro garoto era do
Paquistão), a evolução dos dois alunos foi a mesma. Ambos iniciaram com mímicas
até chegarem ao modo correto de pedir, utilizando o verbo modal can - Can you
lend me the pen? (Você pode me emprestar a caneta?).

De minha parte, de alguns casos ocorridos em sala de aula durantes 20 anos


lecionando a Língua Inglesa (LE), a percepção é de que, quanto maior o
conhecimento geral do aluno, sua curiosidade natural e vontade de aprender, mais
rápido dá-se o aprendizado. Não há fórmulas milagrosas, nem grande segredos.
Estudo e dedicação são as bases.

Fatores psicológicos e emocionais na aprendizagem da LE

Relatos variados de alunos durante minha experiência em sala de aula dizem que
existem professores que gritam em sala de aula, que os chamam de ‘burros’, ou que
dizem ‘já falei isso um milhão de vezes’. Isso pode, realmente, marcar
psicologicamente uma pessoa e desmotivar a aquisição de qualquer língua ou
conteúdo diverso. Sem contar o fato de que muitas pessoas sentem vergonha em
falar a LE na frente de colegas de trabalho ou da chefia direta por medo de serem
ridicularizadas. Existe uma impressão no Brasil, de que as pessoas bilíngues gostam
de mostrar seus conhecimentos, gostam de ‘humilhar’ os outros porque sabem falar
inglês. Portanto, estudar a língua ou demonstrar que sabem seria sinal de que a
pessoa estaria, de alguma forma, “humilhando” aqueles que não sabem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo pesquisa do British Council “o nível de conhecimento do idioma inglês


apresentado pelos brasileiros é decorrência direta das oportunidades educacionais a
que eles têm acesso. É importante, portanto, um exame das condições educacionais
em geral para que então se possa analisar adequadamente os aspectos
relacionados ao conhecimento do idioma inglês por parte da população brasileira.”
Ou seja, levando em conta o histórico do ensino-aprendizagem da Língua Inglesa
(LE) no Brasil, é possível concluir que há várias razões para explicar a dificuldade
em aprendê-la. O primeiro fator- conforme pudemos ver acima em Ensino da
Língua Inglesa (LE) no Brasil - é realmente histórico na questão do método
gramática-tradução que persiste até hoje dificultando o objetivo da atualidade, que é
primordialmente, falar a LE para fins profissionais e de turismo

O segundo fator é socioeconômico. Pelo fato de haver muita desigualdade social no


país, as oportunidades de estudo de melhor qualidade acabam concentrando-se nas
classes média e alta, especialmente a alta, conforme diz a reportagem do Jornal
Nacional citada na página 4. Muitos matriculam suas crianças em escolas bilíngues
ou que oferecem uma carga horário maior da LE. Isso faz com que sejam adultos
mais preparados e, portanto, tenham mais chance de obter sucesso na carreira.
Ainda nesse campo, os adultos que precisam se matricular em escolas de idiomas
para aprender a LE, ou contratar professores particulares, adequam seus
orçamentos ao que é possível pagar. Ou seja, a probabilidade de uma pessoa
completar seus estudos em uma escola pública e dominar a LE é praticamente nula.
São raros os casos.

O terceiro fator é psicológico e/ou emocional. Conforme citamos, muitos alunos


reclamam do modo como são tratados pelos professorem em sala de aula, com
desrespeito e grosseria. Somado a isso, existe a questão de muitos sentirem-se
‘humilhados’ ou ‘diminuídos’ por pessoas que sabem falar inglês, especialmente no
ambiente profissional.

Podemos concluir que ainda há muito a ser feito para que o Brasil possa ter
realmente uma parcela significativa da população que fala inglês como L2 (segunda
língua) – ESL – English as a Second Language. De minha parte, continuarei dando
meu melhor como professora em prol da melhoria do ensino.

REFERÊNCIAS

BOAVENTURA, EM. A construção da universidade baiana: objetivos, missões e


afrodescendência [online]. Salvador: EDUFBA, 2009. A educação brasileira no
período joanino. pp. 129-141. ISBN 978-85-2320-893-6. Disponível em SciELO
Books . https://books.scielo.org/id/4r/pdf/boaventura-9788523208936-08.pdf. Acesso
em 21 de agosto.
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MEC, 2018.Disponível em
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_sit
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BRITISH COUNCIL. Demandas de Aprendizagem de Inglês no Brasil Elaborado
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https://www.britishcouncil.org.br/sites/default/files/demandas_de_aprendizagempesq
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DUARTE, Solange De Souza. COÊLHO, Márcio Wendel Santana. Dificuldade de
aprendizagem na disciplina Língua Inglesa e sua relação com o ambiente
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ELLIS, Rod. Second Language Acquisition. New York. Oxford University Press..
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FIGUEIREDO, Luciana M. da Silva. O Ensino-Aprendizagem de Língua Inglesa
como Prática de Letramento: por uma Intervenção Híbrida e Desestabilizadora.
In: SINAIS – Revista Eletrônica - Ciências Sociais. Vitória: CCHN, UFES, Edição
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G1 (portal da internet de notícias). Brasileiros fluentes em inglês conseguem
ganhar mais que o dobro no início da carreira. https://g1.globo.com/jornal-
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LIMA, Denilso de. Como começou o ensino de inglês no Brasil? Inglês na Ponta da
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Notas de fim
1
‘L2 acquisition’, then, can be defined as the way in which people learn a language other than their
mother tongue, inside or outside of a classroom.
2
A historian of English describes not how an individual speaker used language at some moment in
the past, but how through time the shared abstract patterns of language have gradually changed since
the fifth century A.D., when those first Germanic tribes from Northern Europe invaded the island of
Britain and, by the mere political fact of the invasion thereupon began speaking a language we no
longer call West Germanic or Frisian or Jutish or whatever, but Old English (which we shall henceforth
frequently abbreviate as OE)

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