Sera o Oleo Vegetal Um Possivel Substituto Do Oleo

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SERÁ O ÓLEO VEGETAL UM POSSÍVEL SUBSTITUTO DO ÓLEO MINERAL PARA


TRANSFORMADORES ? COMPARAÇÃO DA DEGRADAÇÃO TÉRMICA DO
SISTEMA ÓLEO VEGETAL /PAPEL KRAFT COM A DO ÓLEO MI....

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Óleos para transformadores Maria Augusta Martins

SERÁ O ÓLEO VEGETAL UM POSSÍVEL SUBSTITUTO DO


ÓLEO MINERAL PARA TRANSFORMADORES ?

COMPARAÇÃO DA DEGRADAÇÃO TÉRMICA DO SISTEMA


ÓLEO VEGETAL /PAPEL KRAFT COM A DO ÓLEO MINERAL/ PAPEL
KRAFT

M. AUGUSTA G. MARTINS

LABELEC–Grupo EDP - Departamento de Materiais Isolantes


Rua Cidade de Goa nº4, 2685-039 Sacavém, Portugal
[email protected]

ABSTRACT: Uses of natural esters (vegetable oil) as insulating fluid have been reported, recently. This fluid has high
biodegradability and high flash point what for safety reasons is attracting some attention in electrical industry. As
insulating fluid is used for cooling, insulation and protection off the solid insulating paper, it is important to have some
knowledge about the paper ageing in such fluid. It is reported here, a study of paper ageing in vegetable oil, under
laboratory experimental condition, at a dynamic temperature increase in the range 70ºC-190°C. The experiment was
conducted in sealed glass reaction vessels, for both oil (blank) and oil/paper heated inside an oven. The paper used for this
study is kraft paper. Moisture formation at different temperatures, in oil and in oil/paper system, is reported together with
generated gases. Changes of degree of polymerization of paper and formation of furanic compounds with changes of
temperature are also reported. Paper degradation in vegetable oil is compared with paper degradation in mineral oil. Both
degradation rates are similar, at the same temperature. At temperatures under 130ºC the ageing of paper in vegetable oil is
only a little bit quicker, than in mineral oil. However, for temperatures higher than 130ºC, the rate of paper degradation in
vegetable oil is even a little bit lower than in mineral oil.
Finally, are also presented the degradation models, developed to calculate the average viscosimetric polymerization degree
of paper, based on 2FAL concentration dissolved in insulating oil, in both cases.

Key Words: Vegetable insulating oil. Thermal degradation. Transformer. Kraft paper. Biotemp. Polymerization degree.
DPv. Furanic compounds. 2–furfuraldheide. 2FAL.

RESUMO: Tendo em conta que a vida útil dum transformador é dada pela vida útil do seu isolamento sólido, é importante
adquirir informação sobre o envelhecimento do papel isolante, imerso em óleo vegetal.
É aqui relatada uma experiência para caracterização da degradação do papel isolante mergulhado em óleo vegetal,
efectuada numa gama de temperaturas de 70ºC a 190ºC, em condições laboratoriais,
Os resultados obtidos foram comparados com os produzidos na experiência levada a cabo em simultâneo, em condições
experimentais idênticas, mas com um óleo mineral.
O papel isolante utilizado foi papel Kraft, enquanto o óleo vegetal usado foi o Biotemp, desenvolvido pela ABB T&D,
para uso em transformadores.
Para caracterização do processo de degradação do papel e também dos óleos, foram efectuadas várias análises
designadamente:
O teor de humidade e de gases dissolvidos no óleo, o grau de polimerização viscosimétrico médio do papel e a
concentração de produtos furânicos dissolvidos no óleo e absorvidos no papel.
Dos resultados obtidos, concluiu-se que, a velocidade de degradação do papel, em óleo vegetal, embora seja um pouco
superior, até 130ºC, à que ocorre em óleo mineral, nas mesmas condições experimentais, é até um pouco inferior a esta
(para temperaturas superiores a 130ºC).
Finalmente, com base nos resultados desta experiência foram estabelecidas equações matemáticas, que relacionam o valor
do grau de polimerização do papel, com a concentração de 2FAL no óleo onde este se encontra imerso, para ambos os
óleos (vegetal e mineral).

Palavras Chave: Óleo isolante vegetal. Óleo Biotemp. Degradação térmica. Transformador. Papel Kraft. Grau de
polimerização. DPv. Compostos furânicos. Furfuraldeído. 2FAL.

Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 20, n.º 3/4, 2008 15
Maria Augusta Martins Óleos para transformadores

1. INTRODUÇÃO Para melhorar a viscosidade e o ponto de fluxão e obter


óleos com propriedades mais adequadas ao seu uso como
O óleo mineral, produzido por destilação do petróleo é, até fluidos dieléctricos, os óleos vegetais são normalmente
ao momento, o líquido mais utilizado como dieléctrico, em transesterificados com alcoóis.
transformadores e outros equipamentos eléctricos. Quanto ao BIOTEMP, é um óleo de origem vegetal, não
Para além de dieléctrico, o óleo desempenha ainda outras tóxico, com elevada biodegradabilidade, (cerca de 97%,
funções, tais como a de fluido arrefecedor, e de protector do contra 30% nos óleos minerais) [5] e elevada estabilidade
isolamento sólido, possuindo ainda propriedades de extinção química (elevado ponto de inflamação), [6].
do arco eléctrico. É constituído principalmente por ácido oleico, mono-
insaturado, que lhe confere uma maior estabilidade química
Contudo, a existência de limitadas reservas de crude e as e um mais baixo ponto de escoamento [3], que a maioria dos
crescentes preocupações ambientais, levantadas, por óleos vegetais, sendo caracterizado por ter um grupo
exemplo, pela presença de componentes aromáticos nos carbonilo (C=O) por cada 18 átomos de carbono [3], na
óleos minerais, para além da sua muito baixa cadeia de hidrocarboneto.
biodegradabilidade, fizeram com que a comunidade
científica começasse a encarar os óleos vegetais, como uma O óleo BIOTEMP foi desenvolvido pela ABB Power T&D,
eventual alternativa aos óleos minerais, para uso em para uso em pequenos transformadores de distribuição,
transformadores. embora a sua utilização, em transformadores de mais
elevadas tensão e potência, seja encarada com bastante
Estes fluidos, para além de não tóxicos e biodegradáveis, ao interesse [3], pelo que se torna relevante o conhecimento do
contrário dos óleos minerais, não só não apresentam comportamento do sistema óleo BIOTEMP/papel isolante,
qualquer problema ambiental associado ao seu derrame, ou em termos da respectiva degradação térmica.
desperdício, como podem produzir-se sem quaisquer
limitações.
3. CONDIÇÕES EXPERIMENTAIS
Por estas razões, vários estudos de investigação tem vindo a
ser realizados neste domínio [1] [2], no sentido de 3.1 Materiais utilizados
caracterizar o comportamento destes fluidos, do ponto de
vista físico-químico e dieléctrico [3] [4], ao mesmo tempo Neste estudo foi efectuada uma comparação entre o
que se tem tentado melhorar algumas das suas propriedades comportamento de um óleo vegetal (no caso, óleo
(por exemplo, a estabilidade à oxidação, a viscosidade e o BIOTEMP) e o de um óleo mineral (óleo nafténico não
ponto de fluxão), com vista à sua aplicação na indústria inibido – Nynas Nytro 11 EN, ao qual foi adicionado 0,3%
eléctrica, concretamente em transformadores, como de inibidor DBPC(*) e 25 mg de BTA(**) / kg óleo), em termos
substitutos dos óleos minerais. do seu envelhecimento térmico e principalmente da sua
Assim, torna-se importante caracterizar também o influência sobre o envelhecimento de papel isolante,
comportamento do óleo vegetal, em termos do seu mergulhado nestes óleos.
envelhecimento térmico, e principalmente conhecer as O papel usado foi o papel Kraft, igual ao utilizado nos
características de degradação do papel isolante, mergulhado enrolamentos dos transformadores e amavelmente fornecido
neste fluído. pela ABB Sécheron S.A (Suiça).
A experiência de envelhecimento foi efectuada em ampolas
O presente trabalho reporta os resultados obtidos numa cilíndricas, de vidro borosilicato, de cerca de 3,8 cm de
experiência de simulação laboratorial do envelhecimento diâmetro e 20 cm de altura, munidas de um gargalo de 4 cm
térmico do sistema papel Kraft/óleo vegetal e faz a de altura e 1 cm de diâmetro.
comparação, com os correspondentes resultados obtidos Todas as ampolas foram préviamente preparadas, por
para o sistema papel Kraft/óleo mineral, nas mesmas lavagem com água, seguida de acetona e secagem a 100ºC.
condições experimentais.
3.2 Preparação das amostras
2. ÓLEOS VEGETAIS. ÓLEO BIOTEMP O óleo foi préviamente seco (até um teor de água ” 5 ppm)
por aquecimento a 60ºC sob vácuo, seguido de saturação
Os principais componentes dos óleos vegetais são com ar.
triglicéridos, ou seja, ésteres de glicerol e ácidos gordos. O papel kraft usado nesta experiência foi préviamente seco,
A composição e o grau de insaturação dependem da origem por aquecimento a 80ºC, sob vácuo (até um teor de água <
do óleo, variando significativamente as propriedades físico- 0,5%).
químicas, com a composição, [4]. Foram usados, dentro de algumas ampolas, 2 provetes de
condutor de cobre (5x0,5x0,1 cm), cada um revestido com 3
De referir que as múltiplas ligações duplas e o grupo “ȕ- camadas de papel Kraft.
CH” do glicerol, nos triglicéridos, oxidam facilmente,
provocando um aumento de polaridade e de viscosidade do ____________________________
óleo, ao longo do tempo, o que consequentemente faz com (*) DBPC – Di-ter-butil-para-cresol
que estes óleos, na forma pura, sejam inadequados para a (**) BTA – Benzotriazole – Passivador do cobre
sua utilização como fluidos dieléctricos.

16 Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 20, n.º 3/4, 2008
Óleos para transformadores Maria Augusta Martins

3.3 Procedimento de envelhecimento significativo decréscimo da concentração, o que significa


que as reacções de oxidação no sistema óleo mineral/papel
Após enchimento, as ampolas, com a amostra de 150 ml de Kraft ocorrem essencialmente a partir desta temperatura,
óleo, ou a amostra de óleo mais os provetes de cobre tanto para o óleo, como para o papel, nele imerso.
envolvidos com papel, foram fechadas de forma estanque, No óleo vegetal, a concentração de oxigénio dissolvido é,
com auxílio dum maçarico oxi-acetilénico e a seguir para todas as temperaturas ensaiadas, inferior à que se
aquecidas numa estufa, à temperatura de 70ºC. verifica no caso do óleo mineral e decresce pouco, ao longo
de toda a gama de temperaturas.
Após permanecerem 24 horas a esta temperatura, foram
retiradas as primeiras ampolas e a seguir foram 4.2.2 Hidrocarbonetos, hidrogénio e óxidos de carbono
incrementados 10ºC na temperatura da estufa, tendo as
ampolas permanecido 24 horas a esta nova temperatura, O metano, o etano e o etileno dissolvidos no óleo, são
antes de serem retiradas e assim sucessivamente até 190ºC, produzidos principalmente por degradação do óleo (mineral
temperatura à qual também as ampolas remanescentes ou vegetal), embora nas ampolas com papel se verifique um
permaneceram 24 horas. acréscimo da concentração destes gases em relação ás
amostras só com óleo, o que permite concluir que estes
Para cada temperatura, foi preparada e analisada 1 ampola gases são também provenientes da degradação do papel.
com 150 ml de óleo vegetal contendo 2 provetes de cobre Para temperaturas inferiores a 130ºC, não há produção
revestidos de papel, imersos no óleo, 1 ampola de 150 ml de significativa de qualquer daqueles gases, nem por
óleo mineral com os referidos aditivos e igualmente com 2 degradação do óleo, nem do papel.
provetes de cobre imersos no óleo e 1 ampola de branco Para temperaturas superiores a 130ºC, há um
vegetal (óleo vegetal sem papel) e 1 outra ampola de branco significativo acréscimo destes 3 gases, nas ampolas com
mineral (óleo mineral sem papel). papel e óleo mineral, em relação ás ampolas sem papel, o
que significa que estes gases são provenientes da degradação
Após retirar da estufa, deixaram-se arrefecer as ampolas no do papel, imerso no óleo mineral. Em relação ao papel
escuro, até à temperatura ambiente, tendo a seguir sido imerso no óleo vegetal, a degradação daquele só começa a
realizadas as seguintes análises: análise dos gases produzir metano a partir de 180ºC, não se formando etano
dissolvidos no óleo (CEI 60567) [7], análise do teor de água e o etileno em concentrações significativas.
no óleo (CEI 60814) [8], análise dos compostos furânicos O acetileno não foi produzido por nenhum dos 2 óleos, nem
dissolvidos no óleo (CEI 61198) [9] e dos compostos pelo papel neles imerso, em toda a gama de temperaturas
furânicos absorvidos no papel [10] e finalmente o grau de estudada.
polimerização viscosimétrico médio do papel isolante (DPv) Relativamente ao hidrogénio, enquanto no óleo vegetal as
(CEI 60450) [11]. concentrações deste gás são significativas em toda a gama
de temperaturas e sempre superiores às concentrações no
óleo mineral para cada temperatura, este gás só começa a
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO aparecer no óleo mineral em concentrações significativas,
para temperaturas superiores a 130ºC. Nas ampolas
4.1 Teor de água no óleo contendo provetes de papel, para temperaturas inferiores a
150ºC, o óleo vegetal produz uma concentração mais
À medida que a temperatura sobe, o teor de água dissolvida elevada de hidrogénio, que no óleo mineral (hidrogénio esse
no óleo aumenta, não sómente no caso do óleo BIOTEMP, proveniente exclusivamente da degradação do óleo vegetal)
mas também no óleo mineral. enquanto que para temperaturas superiores a 150ºC a
Contudo, a quantidade de água analisada no óleo vegetal é situação se inverte o que está de acordo com o facto da
muito superior à analisada no óleo mineral, à mesma degradação do papel ser superiorr no óleo mineral em relação
temperatura, em toda a gama de temperaturas . ao óleo vegetal, para temperaturas mais elevadas.
Uma vez que a solubilidade da água no óleo vegetal é maior Para além disso, não se verifica qualquer acréscimo de
que no óleo mineral, então a maior concentração de água no hidrogénio nas ampolas de óleo vegetal com papel imerso, em
óleo BIOTEMP e que é devida à sua natureza hidrofílica, não relação ás ampolas sem papel, ao contrário do que se passa no
significará uma maior concentração de água no papel, mas caso do óleo mineral, a partir de 130ºC, o que está de acordo
sim o contrário, visto que, a águaa terá mais tendência a passar com os resultados obtidos para os hidrocarbonetos.
do papel para o óleo vegetal, do que deste para o óleo mineral. No caso do monóxido de carbono, nota-se uma maior
Da comparação entre o teor de água no óleo mineral com os concentração deste gás no óleo vegetal, até à temperatura de
provetes de papel imersos, e o teor de água no oleo sem papel, 130ºC, enquanto que para temperaturas superiores a esta, a
vê-se que só a partir de 130ºC, ocorre a produção de água, por concentração de CO no óleo mineral é superior à
degradação do papel imerso no óleo mineral. concentração no óleo vegetal, o que está de acordo com os
restantes resultados obtidos.
4.2 Gases dissolvidos no óleo Isto é muito provavelmente devido ao facto dos grupos
carbonilo, presentes no ácido oleico do óleo BIOTEMP,
4.2.1 Oxigénio começarem a produzir monóxido de carbono, a temperaturas
inferiores às de produção de CO, pelo óleo mineral.
No caso do óleo mineral, a concentração de oxigénio No caso do óleo mineral, que apresenta uma estabilidade
mantém-se mais ou menos constante, até cerca de 130ºC, térmica superior ao óleo vegetal, só se verifica a produção
temperatura a partir da qual se começa a verificar um de CO, em quantidades significativas a partir de 130ºC.

Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 20, n.º 3/4, 2008 17
Maria Augusta Martins Óleos para transformadores

Comparando agora os resultados obtidos nas amostras com No caso do 5HMF, a subida de concentração deste no papel,
papel imerso em óleo vegetal e papel imerso em óleo ocorre em ambos os óleos, desde 130ºC até 180ºC,
mineral podemos concluir que: temperatura a partir da qual se verifica o decréscimo da
concentração de 5HMF.
- Para temperaturas inferiores a 130ºC, a De referir que, estes decréscimos da concentração de 2FAL
concentração do CO, proveniente da degradação do e 5HMF no papel, correspondem a uma subida nos
papel imerso no óleo vegetal, é superior à acréscimos das concentrações destes dois produtos
concentração deste gás também proveniente da dissolvidos no óleo, para estas mesmas temperaturas.
degradação do papel, imerso no óleo mineral, o que
significa que, para temperaturas inferiores a Isto permite concluir que, à temperatura de 160ºC para o
130ºC, é maior a degradação do papel no óleo 2FAL e 180ºC para o 5 HMF, o equilíbrio destes produtos,
vegetal. que se estabelece para cada temperatura, entre a fracção que
- Para temperaturas superiores a 130ºC a permanece no papel e a que se dissolve no óleo, é deslocado
concentração de CO no óleo vegetal é bastante no sentido da passagem destes produtos furânicos, do papel
inferior à concentração de CO no óleo mineral, o para o óleo.
que está de acordo com os resultados de DP
apresentados no gráfico da Figura 3 e que permitem 2 FAL em óleo
concluir que a degradação do papel é menor no 2,50
óleo vegetal, para estas temperaturas. Óleo Mineral
Óleo Biotemp
2,00
Quanto ao dióxido de carbono, as conclusões são

[2 FAL], mg/kggóleo
semelhantes, à excepção do facto do teor deste gás no óleo 1,50
mineral, ser superior ao teor do gás no óleo vegetal, em toda
a gama de temperaturas, tanto comparando os dois óleos
1,00
sem papel, como comparando os dois óleos, com papel
imerso.
0,50

4.3 Compostos furânicos


0,00
60 70 80 90 10 0 110 12 0 13 0 14 0 150 16 0 170 18 0 19 0 2 0 0
Os únicos compostos furânicos detectados, tanto no óleo
BIOTEMP como no óleo mineral, foram o furfuraldeído Temperatura (ºC)
(2FAL) e o 5-hidroxi-metil-2-furfuraldeído (5HMF). Os
restantes compostos não foram encontrados, nem Fig. 1. Valores de [2 FAL] no óleo, para diferentes
dissolvidos no óleo, nem sequer absorvidos no papel. temperaturas
Até cerca de 130ºC não há produção de compostos
furânicos, uma vez que estes não são encontrados nem no 2 FAL em papel
300
óleo, nem no papel (tanto para o óleo vegetal, como para o Óleo Mineral
óleo mineral), o que é para o 2FAL, visível nas Fig. 1 e 2 2 50
Óleo Biotemp
que apresentam respectivamente a variação com a
gpapel

temperatura, do 2FAL dissolvido no óleo e absorvido no 200


[2 FAL], mg/kg

papel.
150

Acima de 150ºC, a concentração, tanto de 2FAL como de


5HMF, dissolvidos no óleo mineral, é superior à 10 0

concentração de cada um destes compostos dissolvidos no


50
óleo vegetal, verificando-se o mesmo para uma temperatura
superior a 130ºC, para ambos os compostos absorvidos no
0
papel. Conclui-se assim que o 2FAL e 5HMF que se 60 70 80 90 10 0 110 12 0 13 0 14 0 150 16 0 170 18 0 19 0 2 0 0

produzem no papel desde 130ºC, só começam a exsudar Temperatura (ºC)


para o óleo a partir de 150ºC.

De facto, o tipo de óleo influencia a concentração de Fig. 2. Valores de[ 2 FAL] no papel, para diferentes
compostos furânicos, dissolvidos no óleo e absorvidos no temperaturas
papel, designadamente a sua solubilidade e estabilidade, de
acordo com o já reportado por outros investigadores, [12]. 4.4 Grau de polimerização (DPv)
De referir que, a concentração de 2FAL absorvido no papel
aumenta com a subida de temperatura, a partir de 130ºC e Até 130ºC verifica-se que, para uma mesma temperatura, o
até 160ºC, tanto no papel imerso em óleo mineral, como no valor de DPv do papel mergulhado em óleo vegetal, é menor
papel imerso no óleo vegetal, verificando-se, em ambos os que o valor de DPv do papel mergulhado em óleo mineral,
óleos, um decréscimo de 2FAL absorvido no papel, com a observando-se o inverso para temperaturas superiores a
subida da temperatura, a partir de 160ºC. 130ºC, de acordo com o gráfico apresentado na Figura 3.

18 Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 20, n.º 3/4, 2008
Óleos para transformadores Maria Augusta Martins

Assim, pode afirmar-se que, a velocidade de degradação do 2 FAL em óleo .vs. DPv
papel em óleo vegetal, é maior que em óleo mineral, para 10 0 0 0

temperaturas inferiores a 130ºC, ocorrendo o inverso para Óleo mineral


temperaturas superiores. Óleo Biotemp
10 0 0
Os resultados obtidos nestas análises são consistentes com o

[2 FAL], μ g/kg óleo


facto da degradação inicial do papel consistir somente em
algumas cisões de ligações fracas, unicamente com 10 0
produção de uma muito pequena quantidade de 2FAL
(inferior ao limite de detecção), o que aliás está de acordo lo g 10 [ 2 F A L] = - 0 . 0 0 4 6 D P v + 4 . 4 3 9 4
com os resultados apresentados nos gráficos 1 e 2, assim 10 R 2 = 0 .9 9 70

como com os reportados por outros investigadores [12]. lo g 10 [ 2 F A L] = - 0 . 0 0 3 2 D P v + 3 . 3 7 3 2


R 2 = 0 .8 6 4 2
1
4.5 Relação DPv versus [2FAL] 0 200 400 600 800

DPv
Dos resultados obtidos para a concentração de 2 FAL
dissolvido no óleo e para o grau de polimerização
viscosimétrico médio do papel, (DPv), para as diversas Fig. 4. Relação [2FAL] no óleo vs DPv do papel nos casos
temperaturas, extraíram-se as seguintes relações, de papel kraft imerso no óleo vegetal e imerso no óleo
respectivamente para o óleo vegetal e mineral, representadas mineral
graficamente na Figura 4.

Para o sistema papel kraft/óleo vegetal : A degradação do papel em óleo vegetal, ser um pouco
inferior à ocorrida em óleo mineral, a temperaturas acima
Log 10 [2FAL] = -0,0032 DPv + 3,3732 (coeficiente de dos 130ºC, está de acordo com os resultados obtidos por
regressão = 0,864) Rapp e colaboradores [13] e pode ser explicada por dois
mecanismos:
Para o sistema papel kraft/óleo mineral ;
Log 10 [2FAL] = -0,0046 DPv + 4,4394 (coeficiente de 1 – Uma reacção de hidrólise dos triglicéridos
regressão = 0,997) constituintes do óleo vegetal, com produção de ácidos
gordos de cadeia longa.
Estas relações são muito importantes por permitirem calcular,
através da determinação de furfuraldeído
f dissolvido no óleo, o Nesta reacção consome-se água dissolvida, o que por sua
nível médio de degradação do papel a dos enrolamentos de um vez provoca a passagem de mais água do papel para o óleo,
transformador de uma forma muito simples, não invasiva, até se restabelecer o equilíbrio. Isto foi confirmado
nem perturbadora do normal funcionamento do experimentalmente neste estudo, pela variação do teor de
transformador, o qual se pode manter em serviço durante a água no óleo Biotemp, em função da temperatura. O
recolha das amostras de óleo para a análise. No entanto, a sua resultado é uma significativa diminuição do teor de
utilização, na prática, carece de alguns cuidados. humidade do papel, com uma consequente redução da
degradação térmica deste, por hidrólise.
Idênticas relações foram estabelecidas
a para o 5HMF, mas
optámos por só apresentar as relativas ao 2FAL, uma vez que, 2 - Um segundo mecanismo consiste numa
é este o produto furânico que aparece mais frequentemente no transesterificação.
óleo, (em transformadores com papela kraft) e como tal, é o
mais usado no cálculo do DPv do papel, o qual é uma medida Os ácidos gordos produzidos por hidrólise são esterificados,
directa do estado de degradação deste. por reacção destes com os grupos hidroxilo reactivos na
molécula de celulose, impedindo portanto as reacções de
DPv do papel degradação da celulose, (despolimerização por abertura dos
16 0 0 anéis de glucose constituintes da celulose).
Óleo mineral Os locais activos da celulose ficam assim protegidos por
14 0 0
Óleo Biotemp impedimento estereoquímico. Esta reacção ocorre a
12 0 0
velocidades inferiores para temperaturas mais baixas, mas
10 0 0 torna-se cada vez mais importante, à medida que a
DPv do papel

800
temperatura sobe.
O facto da concentração de oxigénio dissolvido no óleo
600
vegetal não diminuir significativamente com a subida da
400 temperatura está também de acordo com a tese, defendida
200
por Rapp e colaboradores [13], de que a reacção
predominante de envelhecimento do óleo vegetal a elevadas
0
60 70 80 90 10 0 110 12 0 13 0 14 0 150 16 0 170 18 0 19 0 2 0 0
temperaturas, é a hidrólise e não a oxidação, o que, por seu
turno, mantém o nível de moléculas insaturadas no fluido,
Temperatura (ºC) tornando portanto a transesterificação do papel, uma reacção
mais favorável.
Fig. 3. Variação de DPv com a temperatura

Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 20, n.º 3/4, 2008 19
Maria Augusta Martins Óleos para transformadores

A reacção de transesterificação do papel foi aliás 6. BIBLIOGRAFIA


anteriormente confirmada [13], por Infravermelhos com
transformada de Fourier (FTIR) como a reacção que ocorre [1] Oommen, T.V. and Claiborne, C.C. – “Biodegradable
no sistema óleo vegetal/papel Kraft a 170ºC. insulating fluid from high oleic vegetable oils” –
CIGRÉ, Paper 15-302, Paris, 1998.

5. CONCLUSÃO [2] Oommen, T.V.; Claiborne, C.C.; Walshi, E.J and


Baker, J.P. – “Biodegradable transformer fluid from
Da comparação efectuada entre os resultados obtidos para a high oleic vegetable oils” – Proceedings of the Sixty-
degradação do sistema papel/óleo vegetal, com os obtidos Sixth Annual International Conference of Doble
para o sistema papel/óleo mineral, conclui-se que, para cada Clients, 1999, Section 5-3.
temperatura (na gama estudada), a velocidade da
degradação do papel, no óleo vegetal é muito semelhante [3] Lewand, L.R. – Report of the Doble Oil Committee
à que ocorre no óleo mineral. De facto, constatou-se o Meeting, April 14, 1999.
seguinte:
[4] Kapila, S.; Seemamahannop, R.; Shi, H.;
Na gama de temperaturas 70ºC–130ºC, a velocidade de Kittiratanapiboon, K; Koneni, V.; Kolli, Ranjith;
degradação do papel é um pouco superior no óleo Flanigan, V.; Tumiatti, V. – “Assessment of relative
vegetal, em relação à verificada, no óleo mineral. oxidative stability and physical properties of biogenic
insulating oils” - My Transfo Conference, Torino,
Para temperaturas superiores a 130ºC/140ºC, a 2004.
velocidade de degradação do papel no óleo vegetal é, por
[5] Bertrand, Y.; Hoang, L. C.; Valagro – “Vegetable oil
sua vez, um pouco inferior a que ocorre no óleo mineral.
as substitute for mineral insulating oils in medium–
Isto é visível, através do seguinte:
voltage equipments”- CIGRÉ, Paper D1–202, Paris,
2004.
- A concentração de 2FAL e 5HMF dissolvidos no óleo
vegetal é inferior aos respectivos valores medidos no [6] Oommen, T.V.; Claiborne, C. C.; Mullen, J. T. –
óleo mineral, para toda a gama de temperaturas em que “Biodegradable electrical insulating fluids” – IEEE
as concentrações destes produtos são mensuráveis no Electrical Insulation Conference, Chicago, Illinois,
óleo (140ºC–190ºC) e o mesmo se passa com a Sept. 22-25, 1997.
concentração destes produtos retidos no papel.
- O grau de polimerização do papel mergulhado no óleo [7] Norma CEI 60567 – “Oil-filled electrical equipment –
vegetal é maior que o grau de polimerização do papel Sampling of gases and of oil for analysis of free and
mergulhado em óleo mineral, para a mesma dissolved gases – Guidance– 3rd edition, June 2005.
temperatura, na gama de 130ºC-180ºC.
- A mais baixa concentração de CO2 e a muito mais [8] Norma CEI 60814 – “Insulating liquids – Oil-
baixa concentração de CO, no óleo vegetal com papel impregnated paper and pressboard – Determination of
imerso, em relação ao óleo mineral com idêntico papel water by automatic coulometric Karl Fischer titration”
imerso. – 2nd edition, August 1997.

Estas observações, relativas à degradação do papel num e [9] Norma CEI 61198 – “Mineral insulating oils –
noutro tipo de óleo, permitem assim considerar, deste ponto Methods for the determination of 2-furfural and related
de vista, o óleo vegetal, como um possível competidor do compounds” – 1st edition, September 1993.
óleo mineral, não só para os muito pequenos
transformadores de distribuição, mas também para [10] Pablo A. – CIGRÉ TF 15-01-03 – Documento interno
transformadores de maior potência, que normalmente – 2001.
funcionam com cargas e consequentemente com
temperaturas mais elevadas. [11] Norma CEI 60450 – “Measurement of the average
viscometric degree of polymerization of new and aged
Portanto, embora seja bastante desejável e até cellulosic insulating materials” – 2nd edition, April
imprescindível, a melhoria das propriedades dos óleos 2004.
vegetais, referidas anteriormente como piores que as dos
[12] Mulej, M.; Varl, A; Koncһn-Gradnik, M. – “Up-to-
óleos minerais, nomeadamente a sua baixa estabilidade,
elevada viscosidade e elevado ponto de fluxão, podemos date experience on furans for transformers
dizer que, os resultados aqui apresentados levam a diagnostics” (Documento interno EIMV), 2005.
considerar o óleo vegetal, como um sério candidato a futuro [13] Rapp, K.J.; Mcshane, C.P; Luksich, J. – “Interaction
substituto do óleo mineral, para a utilização como
mechanisms of natural ester dielectric fluid and kraft
dieléctrico, em transformadores de potência.
paper” – IEEE International Conference on Dielectric
Liquids, Coimbra, Portugal, 2005.

20 Ciência & Tecnologia dos Materiais, Vol. 20, n.º 3/4, 2008

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