O Que É Filosofia Política
O Que É Filosofia Política
O Que É Filosofia Política
Apresentação:
Há diversas formas de se definir “filosofia política”. Aliás, mais do que distintas
formas de se definir o campo, há um conflito sobre o que constitui o próprio campo. Isto
é, enquanto há relativo consenso acerca do que é “sociologia política” e/ou “ciência
política”, quando se fala “filosofia política” não se pode pressupor a compreensão de
quem escuta.
Norberto Bobbio afirma que a filosofia política pode ser entendida de quatro modos:
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“Por ‘filosofia política’ pode-se entender também a determinação do conceito geral de
‘política’, como atividade autônoma, modo ou forma do Espírito, como diria um
idealista, que tem características específicas que a distinguem tanto da ética quanto da
economia, ou do direito, ou da religião.” (Idem.)
4) Como metodologia das ciências políticas: reflexão crítica sobre o discurso político.
Isto é, análise, esclarecimento e classificação da linguagem, dos argumentos e das
finalidades de todos aqueles que fazem da política seu objeto de discussão. Paradigma:
Filosofia analítica contemporânea (não há, contudo, um “clássico” que sustente tal
posição).
“A filosofia política como discurso crítico, voltado para os pressupostos, para as
condições de verdade, para a pretensa objetividade, ou não-valoração da ciência
política. Nesta acepção, pode-se falar de filosofia como metaciência, isto é, do estudo
da política em um segundo nível, que não é aquele, direto, da busca científica
compreendida como estudo empírico dos comportamentos políticos, mas aquele,
indireto, da crítica e legitimação dos procedimentos através dos quais é conduzida a
pesquisa no primeiro nível.” (Idem, p. 69).
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descrição do Estado perfeito, pode ser: “aquela que assegura ou promove a liberdade
dos cidadãos” ou “aquela que é justa”; do mesmo modo, a questão da legitimidade do
exercício do poder, a de quem, quando e como obedecer, pode ser: “deve-se obedecer ao
governo que garante ou promove a liberdade (ou a justiça)”. Estes dois conceitos,
liberdade e justiça, são basilares da filosofia política, são questões recorrentes, de modo
que a história da filosofia política pode ser narrada usando-as como fio condutor. Uma
história das diferentes concepções de liberdade ou de justiça seria uma historia da
filosofia política.
Isaiah Berlin, em “Ainda existe a teoria política?”, observa que há dois tipos de
problemas para os quais são possíveis respostas claras. O primeiro é aquele cuja
resposta depende da observação e da inferência dos dados observados. É o caso das
ciências naturais. O segundo é aquele cuja resposta depende da observação das
premissas e/ou axiomas e da observância das regras de dedução e cálculo. É o caso das
ciências formais, exatas. Há, porém, outras questões que não se enquadram em nenhum
destes dois grupos:
“Quando pergunto ‘por que não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo?’, ‘por
que não posso retroceder ao passado?’ ou, para explorar outra região, ‘o que é a
justiça?’ ou ‘a justiça é subjetiva e absoluta?’ ou ainda ‘como ter certeza de que
determinada ação é justa?’, não existe à mão nenhum método óbvio de esclarecer essas
questões. Uma das marcas mais seguras de uma pergunta filosófica – pois é isso que
todas essas perguntas são – é que nos sentimos perplexos desde o início, que não há
nenhuma técnica automática, nenhum conhecimento especializado universalmente
reconhecido para tratar dessas questões. Descobrimos que não sabemos ao certo como
proceder para esclarecer nossa mente, encontrar a verdade, aceitar ou rejeitar respostas
anteriores a essas perguntas. Nem a indução (em seu sentido mais amplo de raciocínio
científico), nem a observação direta (apropriada às pesquisas empíricas), nem a dedução
(exigida pelos problemas formais) parecem prestar algum auxílio. Quando percebemos
com clareza como devemos proceder, as perguntas já não parecem filosóficas.” (Berlin,
2002, p. 102)
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“Quando perguntamos – o que é talvez a mais fundamental de todas as questões
políticas – ‘por que uma pessoa obedece a outra pessoa?’, não perguntamos ‘por que os
homens obedecem?’ – algo que a psicologia, a antropologia e a sociologia empíricas
talvez fossem capazes de responder –, nem ainda ‘quem obedece a quem, quando, onde
e por quê?’, o que talvez pudesse ser respondido com base em evidências tiradas desses
campos e de outros semelhantes. Quando perguntamos por que um homem deve
obedecer, estamos pedindo a explicação do que é normativo em noções como
autoridade, soberania, liberdade, e a justificação de sua validade em argumentos
políticos. Essas são palavras em nome das quais ordens são dadas, homens são
coagidos, guerras são travadas, novas sociedades são criadas e antigas destruídas –
expressões que continuam a desempenhar um grande papel em nossas vidas hoje em
dia. O que torna essas questões prima facie [à primeira vista (AF)] filosóficas é o fato
de que não existe um consenso amplo sobre o significado de alguns dos conceitos
envolvidos.” (Berlin, 2002, p. 105).