Formas de Tratamento e Cordialidade - Mudanca Linguistica e Conceptualizacoes Culturais
Formas de Tratamento e Cordialidade - Mudanca Linguistica e Conceptualizacoes Culturais
Formas de Tratamento e Cordialidade - Mudanca Linguistica e Conceptualizacoes Culturais
FORMAS DE TRATAMENTO E
“CORDIALIDADE”:
MUDANÇA LINGUÍSTICA E
CONCEPTUALIZAÇÕES
CULTURAIS
EDITORA DA ABRALIN
PREFÁCIO
A obra Formas de tratamento e “cordialidade”: mudança
linguística e conceptualizações culturais, de autoria de Geisa Batista,
ora disponibilizada para um público mais amplo da nossa área por
meio de sua publicação pela Editora da ABRALIN é, na sua origem,
uma tese de doutoramento defendida, com louvor, na Faculdade
de Letras da UFMG.
Tive a felicidade de acompanhar o trabalho da autora na
condição de orientador do trabalho e a parabenizo de novo por
mais essa conquista.
Geisa Batista reúne qualidades que a tornam uma pesquisadora
singular, o que está refletido na originalidade do seu texto. Ela
consegue, ao mesmo tempo, ter o rigor técnico na descoberta e
análise de dados linguísticos e demonstrar curiosidade e coragem
intelectual necessárias à atitude científica fundamental que
herdamos dos antigos, o que a permitiu, de fato, a gestar, ainda que
de forma embrionária, uma teoria sobre a interdependência entre
aspectos que nomeamos de civilizatórios ou culturais e seu papel
nomológico no que concerne a fenômenos de variação e mudança
linguísticas.
Ainda que intuída por muitos, não logramos ainda, de
forma consistente ou completa, dar um tratamento objetivo, ou
empiricamente fundamentado, à correlação que se estabelece
entre aspectos culturais, nomeados muitas vezes de “visão de
mundo”, “espírito do tempo”, “mentalidade de uma comunidade” e
outros sintagmas, e sua influência e papel causal no que se refere a
propriedades de linguagem de natureza mais abstrata.
Ora, é exatamente nessa tarefa de explicitar a correlação
supramencionada que se insere o trabalho da autora. Ela retoma
o conceito de “cordialidade” visto como um traço cultural da
“civilização” brasileira, tal qual proposto por Sérgio Buarque de
Holanda; reinterpreta esse conceito com a finalidade de eliminar
certas más compreensões que acompanham esse conceito; e
examina de que maneira esse traço cultural nacional interfere nos
fenômenos de mudança dos pronomes possessivos de segunda para
terceira pessoa do singular e da fixação dessa última forma para
o emprego na segunda pessoa. Tratou-se, para dizer em poucas
palavras, de uma cooptação da terceira pessoa, que indica distância
num primeiro momento, para exprimir a proximidade da segunda
pessoa já que temos, culturalmente, resistência ao distanciamento
interpessoal.
A análise criteriosa do emprego dessas formas em peças de
autores teatrais brasileiros, a partir do século XVIII, aportou uma
solidez empírica bastante convincente. O avanço teórico do trabalho
contou com o desenvolvimento da noção de conceptualização
cultural tomada como uma entidade cognitiva e com efeitos
decisivos na variação e mudança linguísticas.
Acrescente-se ao já dito, o fato de que a leitura do livro é fluída
e muito agradável, com recursos gráficos muito bem-vindos, o que
atesta a correção da composição realizada e, tenho certeza, será
de muito proveito para o leitor não apenas da área de linguística,
mas também para leitores de áreas afins como da sociologia, da
psicologia cognitiva e de outras.
Lorenzo Vitral
Universidade
Federal de Minas Gerais
“A verdadeira trajetória de desenvolvimento do pensamento
não vai no sentido do pensamento individual para o socializado,
mas do pensamento socializado para o individual.”
(VYGOTSKY, [1934]/2001, n.p.)
SUMÁRIO
14 1 INTRODUÇÃO
199 REFERÊNCIAS
13
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
1 INTRODUÇÃO
Esse livro expõe os resultados de uma tese. Contudo, a
referida tese não é uma tese sociolinguística tradicional. O leitor
não encontrará aqui dados para provar o fenômeno de variação/
mudança teu/seu. Os dados aqui possuem caráter ilustrativo, posto
que o fenômeno do qual tratamos é suficientemente documentado.
O que proporemos é uma nova abordagem interpretativa para um
fenômeno conhecido, buscando estabelecer explicação causal para
o fato de os pronomes possessivos de 3a pessoa, seu e as respectivas
variações de gênero e número1, serem usados também para se referir
à 2a pessoa no português brasileiro (PB). Nosso modelo explicativo
considera as contribuições de estudos de abordagem cognitiva,
especialmente, o que nos remete à Linguística Cultural. Contudo,
sabemos que a relação entre propriedades da língua e propriedades
culturais e sociais não é inteiramente clara, o que sempre traz a
necessidade de estabelecê-la cientificamente. Buscaremos então
avançar objetivamente nesse difícil caminho e contribuir também
para os estudos em história social da língua.
Muito, é claro, já foi escrito sobre a cultura brasileira.
Inicialmente, interessa-nos mais de perto o texto Raízes do Brasil,
no qual Sérgio Buarque de Holanda traça um retrato do que seria o
“tipo psicológico do brasileiro”, ou seja, o “homem resultante” das
forças sócio-histórico-culturais que permearam a construção do
país. Tomando tal retrato de identidade como nacional, revelada
no “homem cordial”, o autor nos aponta fenômenos linguísticos
que aparentemente manifestariam a cordialidade, que se porta
1 Para tornar a leitura mais confortável e o texto mais conciso, optamos por citar os pronomes em sua
forma masculina e singular: seu, teu e vosso. Entretanto, naturalmente, eles aparecem nos textos estudados e
em outros exemplos ao longo do trabalho em suas variações de gênero (masculino e feminino) e de número
(singular e plural), próprias do português. Sendo assim, ao ler a forma masculina e singular, é importante ter
em vista que se está considerando as demais variações.
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2 O que ainda seria a esfera dos afetos em nossa interpretação, como ficará claro mais adiante.
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4 Passagem ilustrativa dessa visão: “Os preconceitos de cor e de sangue, que reinam tão soberanamente
na sociedade do I, II e III séculos, têm, destarte, uma função verdadeiramente providencial. São admiráveis
aparelhos seletivos, que impedem a ascensão até às classes dirigentes desses mestiços inferiores, que formi-
gam nas subcamadas da população dos latifúndios e formam a base numérica das bandeiras colonizadoras”
(VIANA, [1920]2005, pp. 172-3).
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5 Zoon polotikon, animal social, ser que se realiza na sociedade, vida política, na cidade (“comunidade
política”) com seus concidadãos. “Não se pode pôr em dúvida que o Estado está naturalmente sobre a famí-
lia e sobre cada indivíduo, porque o todo é necessariamente superior à parte, posto que uma vez destruído o
todo, já não há partes, não há pés, não há mãos” (ARISTÓTELES, 2016, p.11, tradução nossa).
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6 Corroborando nossa leitura, citamos o recorte de Scocuglia (2002): “[...] a experiência humana é vis-
ta como formada por vivências – experiências de caráter histórico [...] Ambos self e mundo real são, portanto,
dados na totalidade da vida psíquica. Cada um existe em relação com o outro e são igualmente imediatos e
verdadeiros”. (DILTHEY,1882, p. 493-94 apud SCOCUGLIA, 2002, n.p.)
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construção.
Holanda enfatiza em seu texto que compartilhamos uma
“alma comum” com os ibéricos, especialmente com os de Portugal:
“Podemos dizer que de lá nos veio a forma atual de nossa cultura;
o resto foi matéria que se sujeitou mal ou bem a essa forma”
(HOLANDA, [1936]2015, p. 45). Segundo o autor, temos um
sistema próprio de evolução, o que faz com que as tentativas de
implantação de culturas estranhas ao nosso universo acabem por
nos “desterrar de nossa terra” (HOLANDA, [1936]2015, p. 35). Essa
evolução própria também é ilustrada pelo que dirá em seguida
sobre as regras de organização política brasileira e a caracterização
do papel do patriarcalismo nesse processo:
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abster de qualquer juízo de valor. Por mais inquietante que seja, e que
tal inquietação, por si, ateste a relevância da reflexão proposta pelo
autor, nossa intenção primeira, aqui, é a de apresentar um pouco da
diversidade de leituras em torno da cordialidade e da sua atualidade
antes de propormos a nossa própria leitura. A esse respeito, um
interessante apontamento relacionado ao propósito desse livro deve
ser feito, no entanto: a crítica de Souza (2017) refere-se à qualidade
da “noção”, de suas implicações sociais consideradas maléficas, mas
não questiona a sua existência. Ao contrário, acreditamos poder
afirmar que o autor pressupõe que a cordialidade seja um dado da
realidade que se manifesta nas múltiplas produções sociais e, por
isso mesmo, “importante para a autocompreensão da sociedade
brasileira moderna”. Por fim, nesse contexto, outro interessante
apontamento que deve ser feito é o de que, ainda que aceitemos
que a noção de “homem cordial” interesse a um aparato ideológico
doutrinário, dados indicam que a noção de cordialidade pode ser
tomada cognitivamente como um conceito prototípico, concernente
a habilidades de categorização. Possui, pois, implicações mais
abrangentes, como procuraremos demonstrar mais adiante, na
seção A cordialidade e os estudos culturais: da história à linguística
cultural.
Para Avelino Filho (1988), em Raízes do Brasil, Holanda busca
entender a sociedade brasileira a partir de um “tipo próprio de
cultura”, do qual o “homem cordial” seria uma síntese e no qual
“a herança ibérica, específica dentro da Europa, consegue se manter
estruturada enquanto visão de mundo” (AVELINO FILHO, 1988, p.
2). Esse autor concorda com Souza (2017) e com outros intérpretes,
como Hot (2011, p. 9) e Rocha (1998), quanto à interpretação de
“superação” da cordialidade pela urbanização – fato textual em
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Holanda7 – e adverte:
7 “Em palavras mais precisas, somente através de um processo semelhante [ascensão de uma socie-
dade urbana e liberal] teremos finalmente revogada a velha ordem colonial e patriarcal, com todas as conse-
qüências morais, sociais e políticas que ela acarretou e continua a acarretar [...] Estaríamos vivendo assim
entre dois mundos: um definitivamente morto e outro que luta por vir à luz” (HOLANDA, [1936]2015, p.
180)
8 Termo pelo qual Holanda se refere ao “homem cordial” em uma carta a Cassiano Ricardo, publicada
na Revista Colégio, n. 3.
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9 “A crise que acompanhou a transição do trabalho industrial aqui assinalada pode dar uma idéia pá-
lida das dificuldades que se opõem à abolição da velha ordem familiar por outra, em que as instituições e as
relações sociais, fundadas em princípios abstratos, tendem a substituir-se aos laços de afeto e de sangue”.
(HOLANDA, [1936]2015, pp. 142-43)
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11 Afetividade como valor, em sentido etimológico, “aquilo que nos afeta”, só tem valor aquilo que nos
afeta. A afetação, nessa acepção, pode ter valor positivo ou negativo. (Cf. DUROZOI; ROUSSEL, 1993, p.
14).
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[...]
o uso do simples prenome importa em abolir psicologicamente
as barreiras determinadas pelo fato de existirem famílias diferentes
e independentes umas das outras. (HOLANDA, [1936]2015, p. 178)
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por uma sociedade global. Para Ariès (([1978] 2011, p. 270), o fato de
não podermos agir da mesma forma que antepassados nas mesmas
situações “indica, precisamente, que uma mudança de mentalidade
interveio entre o tempo deles e o nosso”:
Certas estruturas [mentais] são dotadas de uma vida tão longa que
se convertem em elementos estáveis de uma infinidade de gerações:
obstruem a história, entorpecem-na e, portanto, determinam o seu
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13 Como nos adverte Robin (1978, p. 73), Febvre parece querer não se ligar diretamente à linguísti-
ca estrutural de sua época. Por outro lado, talvez seja possível aproximá-lo de teorias gerativistas ao notar
que em sua história, ao estudar a “origem das noções e sua evolução semântica em diacronia”, propunha
as “interrelações entre os diversos elementos do todo social” e que o lugar de tal inter-relação, como atesta
Raminelli, seria o léxico. Sobral (1987, pp. 54-5) proporá uma aproximação ainda maior ao dizer “que não
só há grandes semelhanças nos atributos sensórios dos humanos e uma competência linguística universal,
como as diferenças que se manifestam em algumas formas de organização social e, sobretudo, no ritual, na
mitologia e na cosmologia, parecem redutíveis à especificidade de certos modos de vida e de comunicação
em sociedades”.
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14 Vale lembrar que até ao famigerado “jeitinho” a cordialidade se vê associada. Da Matta (1991 apud
MELLO, 2000, p. 22) nos fala de jeitinho como espécie de síntese/solução do dilema lei universal e cordial-
idade.
15 Cf. Cardoso e Vainfas (1997, p. 624) “a história das mentalidades, ascendente nos anos 60 e coroada
nos anos 70, sobretudo na França, foi pouco a pouco perdendo terreno, viu muitos de seus historiadores aban-
donarem o rótulo das mentalidades e acabou se refugiando em microcampos variados ou na hoje assumida e
reconhecida como Nova História Cultural”.
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16 It seems very questionable in how far restriction of the use of certain grammatical form can really
be conceived as a hindrance in the formulation of generalized ideias.it seems much more likely that the lack
of these forms is due to the lack of their need. [...] the mode of life of the people is such that they are not
requered; that they would, however, develop just a soon as needed [...]. That under these conditions the lan-
guage would be moulded rather by the cultural state.
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17 [...] dass die verschiedenen Sprachem die Orgaane der eigenthümlichem Denk-und Empfindungsar-
ten der Nationem ausmachem.
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18 The two modes of representation [picture of a hill] are not identical because they proceed from differ-
ing historical traditions, are executed whit differing pictorial techniques. [...] They differ [the interjections],
now greatly, now but little, because they are builded out of historically diverse materials or techniques, the
respectives linguistics traditions, phonetic systems, speech habits of the two people.
19 [...] there is a relation between a language and the rest of the culture of the society which uses it.
20 These connections are to be found not so much by focusing attention on the typical rubrics of linguis-
tic, ethnographic or sociological descriptions as by examining the culture and the language (always and only
when the two have been together historically for a considerable time) as a whole in which concatenations that
run across these departmental lines may be expected to exist, and if they do exist, eventually discoverable by
study.
21 La langue reflète la culture, et constitue donc pour l'analyste un moyen d'appréhender à travers elle
les réalités culturelles dont elle est dans une certaine mesure le miroir.
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22 Reconhecemos aqui as críticas dos Estudos Pós-modernos aos Estudos Culturais no que tange as re-
lações de poder. Contudo, acreditamos, com Wolf (2014, p. 449), que o medo de tratar da cultura é o “medo
do essencialismo”, o qual esperamos mostrar suficientemente o quanto está afastado de nossa concepção de
cultura. Acreditamos que uma melhor compreensão da complexidade de fenômenos culturais pode contribuir
para visões mais plurais e não simplistas.
23 [...] the dance of culture and biology is delicate, and there appears to be no scientific justification for
making sharp analytical distinctions among emotions, cognitions and discourse.
24 [...] no metaphor can ever be comprehended or even adequately represented independently of its ex-
periential basis [...] [They] are grounded by virtue of systematic correlates within our experience.
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27 Human language and thought emerge from recurring patterns of embodied activity that constrain
ongoing intelligent behavior. We must not assume cognition to be purely internal, symbolic, computational,
and disembodied, but seek out the gross and detailed ways that language and thought are inextricably shaped
by embodied action.
28 Culture does not just inform, but also constitute, embodied experience [...] they [various cultures]
weigh their embodied experiences differently in how they interpret their sensorimotor interactions in and
whit the world around them.
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29 While manifesting embodied cognition, language is after all a cultural form and should be studied
in its social and cultural context, as conceptualizations underlying language and language use are largely
formed and informed by cultural system.
30 Domínio semântico vinculado a um item, composto por elementos prototípicos, por isso definido por
Kövecses (2006, p. 69) como “elementos da imaginação que não se encaixam diretamente em uma realidade
objetiva preexistente”. Em Kövacses (2010, p. 745): “Frames are important in the study of almost any facet
of life and culture”.
31 [...] the conceptual units of frames, or cognitive-cultural models experientally motivated structures;
they are the products of direct or indirect lived experience.
32 Thus, language can be regarded as a repository of meanings stored in the form of linguistic signs
shared by members of a culture.
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33 Man is an animal suspended in webs of significance he himself has spun. I take culture to be those
webs, and the analysis of it to be therefore not an experimental Science in search of law but an interpretative
one in search of meaning.
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tradução nossa)34
34 It is clearly shown that the minds that constitute the cultural network do not equally sha-
re all the elements of the schema, nor does each mind contain all the elements of the sche-
ma. Cultural schemas are depicted here as an emergent property of cognition at the level of cultu-
ral group rather than the individual. That is, in this model, a cultural schema is viewed as emerging
from the interactions between the minds that constitute the cultural group. It shows that the knowle-
dge embodied in these schemas is distributed across the network of the minds in the group.
35 It can be seen that two people can share more elements from the cultural sche-
ma X and less elements from the cultural schema of Y or vice versa.Thus, it is not by vir-
tue of the knowledge of only one schema that one becomes a member of a cultural group.
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36 […] the boundaries as to where one cultural group ends or another begins are difficult, if not
impossible, to determine.
37 Like other complex systems, cultural cognitions have their own unique history of interactions that
constantly construct and reconstruct the system. Often, small changes in the interactions of cultural groups
have had a remarkable influence on the future direction of their cultural cognition. This view is largely
reflected in the writings of Vygotsky (e.g. Vygotsky, 1978), who viewed cognitive phenomena as embodying
the characteristics of historically bound sociocultural relations.
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38 The distribution of cultural cognition extends across the dimensions of time and space.
Members of a cultural group negotiate and renegotiate their cultural cognition across generations,
vertically and horizontally, through a multitude of communicative events.
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39 For the sake of this writing I view cultural models as conceptualizations that hierarchically
characterize higher nodes of our conceptual knowledge and that encompass a network of schemas,
categories and metaphors.
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42 Importante ressaltar que não se esperava um resultado de 100%, posto que, por definição, o modelo
cultural não é universal nem igualmente distribuído.
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43 Cultural models, simply put, are the mental configurations of minimally salient cultural content—
bits of information that we use either for making sense of sensory input or expressing our intentions sensibly
as output. They are not cognitive operations; they are the organization of cultural content stored in our brains.
44 A cultural model is a cognitive schema that is intersubjectively shared by a social group.
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45 A great many schemas are cultural schemas – you share them with people who have had some
experiences like yours, but not with everybody. Another name for cultural schemas (especially of the more
complex sort) is cultural models (DʼAndrade, 1995; DʼAndrade; Strauss, 1992; Holland; Quinn, 1987).
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46 […] schemas, as we think of them, are not distinct things but rather collections of elements that work
together to process information at a given time.
47 Another important characteristic of cultural models is that they are connected to feelings and
motivations (DʼAndrade, 1981; DʼAndrade; Strauss, 1992). In DʼAndrade’s (1984) words, cultural schemas
have ‘directive force’, that is, they are not neutral explanations but also include evaluations and goals that
motivate action, or at least create discomfort if they are not enacted.
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48 We have schemas for everything we encounter or learn about, from the mundane and concrete (how
to recognize and use everyday objects) to the lofty and abstract (what is a desirable life course, whether
there is a higher power, folk psychology, folk economics, and so on). Cultural schemas are derived from
learned, shared experiences, either ones personally experienced by multiple members of a group or ones
communicated among them. Cultural schemas are local models of how the humanly created, natural,
supernatural, interpersonal, and wider sociopolitical worlds work. Since a schema is an interrelated whole,
anything that evokes part of the schema will bring the rest to mind, consciously or unconsciously.
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Não nos parece que o autor propõe que haja entre nós uma
concepção diferente do rito ou do negócio em si, mas, antes, uma
decisão deliberada, “por horror às distâncias”, de transposição de
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3 BREVE RECAPITULAÇÃO DE
ESTUDOS ACERCA DAS FORMAS DE
TRATAMENTO RELACIONADAS
AOS POSSESSIVOS EM PB E A
SOCIOLINGUÍSTICA COGNITIVA
Este capítulo tem por objetivo apresentar revisão da literatura
relativa a: 1) alguns estudos em variação linguística que abarcam os
fenômenos de variação/mudança do uso do pronome possessivo
seu e de formas de tratamento; e 2) estudos em Sociolinguística que
compartilham de pressupostos da Linguística cognitiva em língua
portuguesa, em especial da modalidade falada no Brasil.
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50 On voit maintenant en quoi consiste l'opposition entre les deux premières personnes du verbe et la
troisième. Elles s'opposent comme les membres d'une corrélation, qui est la corrélation de personnalité : “je-
tu” possède la marque de personne; “il” en est privé. La “3a personne” a pour caractéristique et pour fonction
constantes de représenter, sous le rapport de la forme même, un invariant non-personnel, et rien que cela.
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
51 […] it is firmly believed that Cognitive Linguistics itself will unescapably benefit from turning its
attention towards variational and interactionist linguistics. [...] a truly usage-based Cognitive Linguistics
cannot ignore the qualitative and quantitative variation to be found within the standard and non-standard
varieties of a language. [...] A usage-based linguistics takes language as it is actually used by real speakers in
real situations in a specific historical moment as the basis of its enquiry. As a logical consequence of this fact,
Cognitive Linguistics needs to employ empirical methods capable of dealing in adequate ways with social
variation.
52 […] cultural factors will be distinguishes from others social factures in their generality and remoteness
from simple acts face-to-face communication.
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
53 Social factors will designate the effects of linguistics interactions among members of specific social
groups, including recognition of these effects by member and nonmember. Cultural factors will designate the
association of linguistic change with broader social patterners that are partly, if not entirely, independent of
face-to-face interaction. These must involve cognitive process that recognize such cultural patterns, though
this volume has less to say about them.
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54 Words die out because speakers refuse to choose them, and words are added to the lexical inventory
of a language because some speakers introduce them and others imitate these speakers; similarly, words
change their value within the language because people start using them in different circumstances. [...]
To repeat a point made earlier, this pragmatic, usage-based perspective automatically takes the form of
a sociolexicological investigation: in choosing among existing alternatives, the individual language user
takes into account their sociolinguistic, nonreferential value, and conversely, the expansion of a change over
a language community is the cumulative effect of individual choices. In this sense, it is only through an
investigation into factors determining these individual choices that we can get a grasp on the mechanisms
behind the invisible hand of lexical change.
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
55 a. Prototypical categories exhibit degrees of typicality; not every member is equally representative
for a category. b. Prototypical categories are blurred at the edges. c. Prototypical categories cannot be defined
by means of a single set of criterial (necessary and sufficient) attributes. d. Prototypical categories exhibit
a family resemblance structure, or more generally, their semantic structure takes the form of a radial set of
clustered and overlapping readings.
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
56 […] prototype theory highlights the fact that changes in the referential range of one specific word
meaning may take the form of modulations on the core cases within that referential range. In other words,
changes in the extension of a single sense of a lexical item are likely to take the form of an expansion of
the prototypical center of that extension. If the referents in the range of application of a particular lexical
meaning do not have equal status, the more salient members will probably be more stable (diachronically
speaking) than the less salient ones. Changes will then take the form of modulations on the central cases.
57 […] if a particular meaning starts off as a name for referents exhibiting the features ABCDE, the
subsequent expansion of the category will consist of variations on that type of referent. The further the
expansion extends, the fewer features the peripheral cases will have in common with the prototypical center.
A first layer of extensions, for instance, might consist of referents exhibiting features ABCD, BCDE, or
ACDE. A further growth of the peripheral area could then involve feature sets ABC, BCD, CDE, or ACD (to
name just a few).
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
58 If grammar is not a discrete, modular set of relationships, it would seem to follow that no set of changes
can be identified which distinctively characterize grammaticization as opposed to, say, lexical change or
phonological change in general. The only way to identify instances of grammaticization would be in relation
to a prior definition of grammar; but there appear to be no clear ways in which the borders which separate
grammatical from lexical and other phenomena can be meaningfully and consistently drawn. Consequently,
there seems to be no possibility of constructing a typology of grammaticization, or of constructing principles
which will discriminate between grammaticization and other types of change […] In this paper I will suggest
some further principles, ones which (let it be said at the outset) share some of the same defects as Lehmann's,
in that they also characterize aspects of change in general, and are not distinctive for grammaticization.
(HOPPER, 1991, pp. 19-21)
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
(2) Quer dizer que ele (riso) sofreu o diabo, entende? Sofreu! Mas
agora felizmente já está – se se recuperou quase, não é? E ele é muito
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
assim, ele é ele é assim muito bom. É até parecido comigo, sabe?
[Ele é muito] – ele é muito de mim. Eu acho que isso eu transmiti
para ele. (FAL 30). (ABRAÇADO, 2015, p. 563)
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
4 PASSOS METODOLÓGICOS:
COMO OBSERVAR INDÍCIOS
EMPÍRICOS DA RELAÇÃO
ENTRE CONCEPTUALIZAÇÕES
CULTURAIS E LÍNGUA?
Descrevemos, neste capítulo, os pressupostos metodológicos
adotados na nossa pesquisa. Como visto, buscou-se, inicialmente,
apresentar e discutir, em alguma extensão, a noção de “homem
cordial” e os Estudos Culturais em linguística, passando pela
exposição do fenômeno de variação acerca do emprego dos
pronomes de 2a e 3a pessoas. Em seguida, discutiu-se a adequação
da hipótese teórica proposta, isto é, que a forma seu cooptada para
exprimir a 2a pessoa, em um movimento que a retira do público em
direção ao privado, à medida que, diacronicamente, avança em sua
concorrência com o teu, ocorre em contexto de maior afetividade
e pessoalidade. Por meio do desenvolvimento dessa proposta,
pretende-se comprovar a hipótese de tomar a cordialidade como
conceptualização cultural, a qual se manifesta na língua e atua
como fator causal extralinguístico de variação/mudança. É o que
pretendemos demonstrar na nossa análise empírica exposta no
próximo capítulo.
Nessa análise, procedeu-se a uma pesquisa documental em três
textos teatrais de autores brasileiros, a saber, O marido confundido,
de Alexandre Gusmão ([1737]1841) – texto 1; O juiz de paz da roça,
de Martins Pena ([1837]2018) – texto 2, apontada como precursora
do teatro nacional; e Não consultes médico, de Machado de Assis
([1896]2018) – texto 3. Os motivos e os critérios para seleção dos
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE
DOS DADOS:
O QUE ENCONTRAMOS?
Este capítulo tem por objetivo apresentar e analisar os dados
coletados. Para tanto, o subdividimos em três seções: 1) na breve
seção introdutória, indicou-se a relação entre as peças em análise
e o contexto histórico em que foram escritas; 2) na segunda seção,
temos a apresentação de cada peça (autor, enredo e personagens)
e do recorte de dados em análise (pronomes possessivos em uso
na 2a pessoa); 3) na terceira seção é apresentada a análise dos
dados agregados das três peças, considerando o contexto de uso
definido na forma de tratamento. Os dados são observados à luz das
propriedades semânticas da cordialidade, destacadas anteriormente.
Pela apresentação e análise dos dados evidencia-se a nossa hipótese
de pesquisa, ou seja, que os fenômenos de variação/mudança nos
pronomes possessivos de 2a pessoa, relacionados às formas de
tratamento do PB, são motivados por um modelo cognitivo cultural
específico, que caracteriza as relações interpessoais expressas em
PB, cujas implicações teóricas serão melhor exploradas no capítulo
seguinte.
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• Marido/mulher
(1) But. – Apesar de vossos disfarces, bem conheci a verdade do
que tinhão referido; e a pouca atenção que faseis do laço que nos
une. (faz Leandro cortesia a Angélica) Valha-me Deus! Deixemos
por ora essas cortesias. Não he dessa casta de attenções, que fallo; e
assim escusai de faser escarneo.
Ang. – Eu faser escarneo? De nenhum modo. (GUSMÃO,
[1737]1841, p. 284)
• Genro/sogros
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• Amantes (nobres)
• Genro e sogra
(4) But. – Essa nâo está má; a quem me chama de seu Genro,
parece-me que me será licito chamar-lhe minha Sogra.
D. Pab. – Ahi ha muito que diser, o as cousas não são iguaes.
Haveis de saber que vos não compete a vós usar desse nome
com uma pessoa do meu nascimento; que supposto sejais nosso
Genro, vai muita differença de vós a nós, e devereis conhecer-vos.
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• Solilóquio
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(9) D. Pab. – Pelo que toca a isso o ciume há terrivel cousa; aqui
trago minha filha para deslindar o enredo em presença de todos.
Lean. – He V. Sa., minha Senhora, quem disse a seu marido,
que eu estava namorado da sua pessoa?
Ang. – Eu? A que proposito lho havia eu de diser? Porque? Por
ventura isso he assim? Tomara eu vê-lo certamente, que V. S.a se
namorasse de mim. Não fará o favor de se metter nisso; eu lhe déra
esse conselho. Olhe recorra ás traças dos amantes, e experimente
assim por brinquedo de me enviar recadinhos, escreva-me
ocultamente escritos d’atnores, espreite os instantes em que meu
marido não estiver em casa, ou as occasiões em que eu for fora para
me vir fallar de seu amor; venha, sim, venha, que eu lhe prometto,
que será recebido em fórma que lhe lembre para muito tempo.
Lean. – Viva descançada, minha Senhora, que comigo nâo
tem que recear: eu nâo sou homem que cause o minimo dissabor
ás Senhoras, e venero muito a V. S.a e aos seus Parentes, para quo
houvesse de intentar namorar-me da sua gentilesa. (GUSMÃO,
[1737]1841, p. 273-74)
(11) Morg. – Nâo Senhor, quero que acabe, e que as cousas vão em
fórma. Disei: na conta dos seus criados.
But. – Na... na... na... na conta dos seus criados.
Lean. – Eu que o sou de V. M.cs, e o passado passado. V. S.a
se fique embora, e sinto que tivesse este detrimento. (GUSMÃO,
[1737]1841, pp. 278-79)
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(12) Morg. – D. Pabulea vai ter com sua filha, em quanto eu, e
meu Genro imos faltar ao tal mancebo. (GUSMÃO, [1737]1841, p.
269)
(13) Pasc. – Por certo que merecia que a Senhora fisesse o seu dito
verdadeiro, se fora comigo não me havia de faser de rogar. Sim, meu
Senhor, será muito bem feito, para o ensinar, que V. S.a namore
minha ama. Vá por minha conta, que he bem empregado; aqui me
tem V. S.a muito á sua ordem para o servir, já que o Senhor assim
mo imputa. (Vai-te.). (GUSMÃO, [1737]1841, p. 275)
• Outros
(14) Lean. – Com que he seu Genro de V. S.a quem...
Morg. – Sim Senhor, elle foi mesmo quem me fez a queixa.
Lean. – Por certo que pôde agradecer a Deus a vantagem que tem
de ser cousa sua; quando não, eu lhe ensinara a diser semelhantes
cousas das pessoas como eu. (GUSMÃO, [1737]1841, p. 272)
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(16) Lamb. – Sim, vossê. Logo o foi pôr no bico ao marido, e por sua
culpa andou lá tudo asul. Estimo muito saber, que he linguarudo,
escusarei de lhe coutar mais nada.
But. – Ora escuta, meu amigo.
Lamb. – Se vossê não fosse mexeriqueiro, saberia agora o que
vai; mas escusa-lo-ha para seu castigo. (GUSMÃO, [1737]1841, p.
290)
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(17) But. – Não, não, não pôr o mel pelos beiços com tanta facilidade,
e bem sei que tudo o que me disserão foi muita verdade. Não sou
tão cego como vossês cuidão, e não lhe pareça que me capacito dos
seus artificios. (GUSMÃO, [1737]1841, p. 284)
(19) Morg. – Ora ouvi, que isto importa mais do que vos parece.
Se o sujeito me falia por terceira pessoa, adargo-me na mesma
forma, e nella me mantenho até que o tempo faça o milagre. Mas,
se me responde por mercê (que só algum melancólico se encontra
hoje, que se obstine nessa antigualha) assento-o em lembrança,
para evitar d’aliem diante a sua conversação. Isto que vos tenho
dito, se entende com os que são Cavalheiros, ou com aquelles de
quem dependo; porque com essoutros escudeirotes e peões de tres
ou quatro avós, e com outra gente inferior, se duvidam dar-me
Senhoria, fujo de fallar-lhes, e dessa sorte são elles os que ficão peor,
porque se privam da honra de tratar comigo. (GUSMÃO, [1737]1841,
p.263)
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64 Manteremos em letras maiúsculas as iniciais das funções profissionais que se equivalem à identificação
do personagem, a saber, o Escrivão e o Juiz de paz. O Escrivão não tem nome, é identificado exclusivamente
pela sua função. Do Juiz, só saberemos o nome na última cena.
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65 Apesar de escrita no Período Regencial (1831-1840), a peça de Martins Pena, em relação ao papel do
negro na sociedade, retrata bem a continuidade de uma herança cultural e social colonial no Brasil Império.
Com o escravagismo colonial, que permanecerá legal ainda por todo o Império, tem-se um dos traços visíveis
da permanência de um modelo cultural colonial, no qual a cordialidade encontra suas raízes, segundo Holanda
([1936]2015).
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• Pais e filha
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• Amantes
• Senhor e criada(o)
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• Enamorados
• Personagens secundárias
(30) TOMÁS – É verdade que o leitão era dêle, porém agora é meu.
SAMPAIO – Mas se era meu, e o senhor nem mo comprou,
nem eu lho dei, como pode ser seu? (PENA, [1837]2018, p. 15)
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FORMAS DE TRATAMENTO E “CORDIALIDADE”:
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Alcunha 55 37,93
Vossa 1 0,69
Ilustríssimo/Ilmo. 3 2,07
Você 6 4,17
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Dona/D. 3 2,07
Senhor 35 24,14
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(43) MANUEL ANDRÉ – Mas, Sr. Juiz, êle também está ocupado
com uma plantação.
JUIZ – Você replica? Olhe que o mundo para a cadeia.
MANUEL ANDRÉ – Vossa senhoria não pode prender-me à
toa; a Constituição não manda.
JUIZ – A constituição!... Está bem!... Eu, o Juiz de paz, hei
por bem derrogar a Constituição! Sr. Escrivão, tome têrmo que a
Constituição está derrogada, e mande-me prender êste homem.
MANUEL ANDRÉ – Isto é uma injustiça! (PENA, [1837]2018, p.
137
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(46) MANUEL JOÃO – Vai dizer que traga, pois estou com muito
calor.
(ANINHA SAI. M. JOÃO, PARA O NEGRO) – Olé, Agostinho,
leva estas enxadas lá para dentro e vai botar êste café no sol.
(O PRÊTO SAI. MANUEL JOÃO SENTA-SE) – Estou que não
posso comigo; tenho trabalhado como um burro! (PENA, [1837]2018,
p. 7)
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• Tia e sobrinha
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• Amigos
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• Enamorados
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• Tia e sobrinho
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• Cavalcante e D. Leocádia
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Diminutivo 5 5,56
Primeiro nome 8 8,89
Alcunha 6 6,67
Sobrenome 7 7,78
Vosso/V.S. 0 0
V. exce. 1 1,12
Doutor/Dr. 10 11,12
Você 11 12,22
Dona/D. 2 2,22
Senhor 40 44,44
Total 90 100
150
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MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
um item prototípico.
Assim, com o intuito de explicitar o processo de variação/
mudança que nos ocupa, buscaremos apontar de que maneira
se pode (ou não) dizer que no fenômeno de variação/mudança
estudado, as formas teu e seu perdem ou adquirem propriedades
semânticas à medida que avançam no tempo e passam a
concorrer com os pronomes possessivos de 2ª pessoa. Para tanto,
primeiramente, vamos classificar semanticamente cada forma de
tratamento utilizada em cada texto. A partir dessa classificação,
esperamos evidenciar o contexto semântico de cada texto em
relação às propriedades semânticas da cordialidade já identificadas,
a saber, menor formalidade, maior pessoalidade e maior afetividade.
Para classificar semanticamente o contexto como de maiores ou
menores pessoalidade e afetividade, considerou-se que as formas
de tratamento, em especial as nominais, são marcas de afetividade
e pessoalidade (Kerbrat-Orecchioni, 2011, p. 37). Em um segundo
momento, buscaremos relacionar o uso do pronome possessivo seu
como de 2ª pessoa e o contexto semântico identificado e classificado
em cada texto e, assim, evidenciar a quais propriedades semânticas
se associa. Se associa-se às propriedades semânticas da cordialidade,
associa-se à cordialidade (modelo cultural). Evidencia-se, pois, a
motivação cognitiva cultural na manifestação das propriedades
agregadas ao contexto do possessivo.
No Quadro 1, apontamos, de início, o conjunto de formas de
tratamento identificadas e extraídas de cada texto. Essas formas
foram classificadas morfologicamente como pronominais ou
nominais e semanticamente conforme suas propriedades cordiais:
maior formalidade e menor formalidade (maior pessoalidade e
maior afetividade). Diante de cada termo, entre colchetes, temos
os números absolutos de ocorrência em cada texto:
162
FORMAS DE TRATAMENTO E “CORDIALIDADE”:
MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
Pronominais Nominais
Mais formais Menos formais Mais formais Menos formais
Senhor [25]; Vossê [12] Genro [29]; amigo [5] Salcim [10]
Dona [4]; Meu Senhor [23] Primeiro nome Meu Rico/a [9] Paisinho [1]
Morgado/a (título) Vossia [3] precedido de Sra. Meu pai [1] Maridinho [1]
TEXTO 1 FT TOTAIS: 249
Vossa senhoria [18] Você [6] (Sr.) Juiz [9]; amigo [6] mulher [2]
Senhor [31] (Sra.) Doninha [1] (Sr.) Escrivão homem [6] rapaz [2]
Dona [3] Meu Senhor [3] [12]; menina [2] sujeito [1]
Ilmo. [3] Primeiro nome malcriado [1] Manuel João
Vossa [1] precedido de Sr./ brejeiro [1] [1]
TEXTO 2 FT TOTAIS: 145
Vossa excelência [1] Você [11] Sobrenome marido [1] mamãe [1];
Senhor [35] Minha senhora [5] precedido de Dr. amigo [1] doentezinhos
Dona [2] (Cavalcante) [3] sobrinho [1] [3];
Doutor [10] primo [1] Leocádea [2];
TEXTO 3 FT TOTAIS: 90
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6 CORDIALIDADE E POSSESSIVOS
DE 2ª. P EM PB: COMO SE ATIVAM
E SE MANIFESTAM OS MODELOS
COGNITIVOS CULTURAIS.
Vejamos agora mais detalhes sobre o modelo teórico utilizado,
o qual considera a cultura enquanto produto de operações
cognitivas, isto é, corpórea situada, como um sistema conceitual
(KÖVECSES, 2017), e que também incorpora os elementos dos
estudos históricos e antropológicos, em especial como proposto
por Ariès ([1978] 2011) e Braudel ([1958]1982). Nessa perspectiva,
chamamos grupo cultural um grupo de pessoas que conceptualizam
mais ou menos da mesma maneira, compartilhando os mesmos
modelos culturais (SHARIFIAN, 2011). Nessa visão, o que se chama
de cultura é um sistema conceitual de valores, crenças e tradições.
Esse sistema torna-se um modelo cognitivo à medida que é composto
por conceptualizações culturais negociadas e renegociadas pelos
membros do grupo (SHARIFIAN, 2011, 2017).
Em síntese, nossa proposta de modelos culturais são modelos
distribitivos emergentes, distribuidos de maneira heterogênea
entre a comunidade de fala ao mesmo tempo que dela emerge
(SHARIFIAN, 2011). Modelos culturais devem ser compreendidos
como sinônimos de esquemas culturais ampliados (DʼANDRADE,
1987; STRAUSS; QUINN, 1998; KRONENFELD, 2008; BENNARDO;
MUNCK, 2014), quais sejam, espécies de repositórios de crenças,
valores e expectativas de comportamento baseados em nossas
experiências vivenciadas e compartilhadas.
Posto isso, a cordialidade, tal como intuída por Holanda
([1936]2015) e por outros pensadores do Brasil, antes e depois dele
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67 A intenção aqui é mostrar que a cordialidade entendida como modelo cultural compreende a percepção
(já trazida por outros autores) de que é mutável, “não essencial”, mas não necessariamente defender seu
enfraquecimento com a urbanização.
68 […] an important aspect of our conceptual life is what can be referred to as the reconceptualization
of cultural conceptualizations.
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do -inho, por exemplo, seria uma indicação verbal para ativar, por
meio da metáfora, o modelo cultural no outro.
Assim, por similaridade, propomos que elementos linguísticos,
verbais ou não-verbais, possam ativar conceptualizações culturais.
E pela ativação de uma conceptualização cultural pode-se ativar
o modelo cultural ao qual pertence. Na interação comunicativa
haverá, então, elementos linguísticos salientados pelo emissor que
ativam o modelo cultural do qual se parte, que é também ativado
no interlocutor, ainda que os coparticipantes não estejam, é claro,
plenamente conscientes disso (ARIÈS, [1978] 2011; BERNNADO;
MUNCK, 2014; SHARIFIAN, 2011).
Há, contudo, uma divergência entre nossa visão e o que
propõem Bernnado e Munck (2014): aquilo que chamamos de
modelo cultural não é um repositório, aparentemente estático, como
querem esses últimos. Aproximando-nos de Ibarretxe-Antuñano
(2013), afirmamos que uma vez ativado o modelo cultural, inicia-se
o processo pelo qual se filtra a realidade, ocorrendo participação do
modelo na construção do significado. A construção e a compreensão
do sentido bem-sucedidas dependeriam, assim, dessa ativação.
Esses elementos de ativação, verbais ou não-verbais69, devem, pois,
trazer em si características desse modelo cultural, tal como na
metaforicidade trazem elementos semânticos do domínio-fonte. No
caso da ativação da cordialidade, seria preciso que tais elementos
trouxessem pessoalidade (intimidade), afetividade e/ou ausência
de formalidade. Assim, mais uma vez chegamos aos fenômenos de
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70 The world as we experience it is always the product of some prior categorization and framing by
ourselves and others.
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71 Com Langacker (1987) e outros, por “gramaticalizado” entende-se o termo que é do inventário de
construções linguísticas organizadas conceitualmente.
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72 Interessante notar que a Dra. Adriana Fernandes Barbosa, em vídeo conferência em 5/12/2020,
apontou recente fenômeno que pode estar em curso no alemão e que envolve certa flexibilização do uso de
Sie e de Du (forma mais formal e mais pessoal de tratamento, respectivamente), o que também é apontado
em matéria do Portal DW (disponível em https://www.dw.com/pt-br/sie-ou-du-quando-usar-o-tratamento-
formal-ou-%C3%ADntimo-na-alemanha/a-16494417?maca=pt-BR, acessado em 18/3/2021). Podemos
então talvez dizer que o fenômeno de “pessoalização” e “afetivização” da língua pode não ser exclusivo do
PB, mas nele estaria em processo mais adiantado.
73 Portal Larousse. Disponível em: https://www.larousse.fr/dictionnaires/francais/vous/82569.
Acessado em 18/3/2021.
74 Interessante notar que no século XV Lei foi usado como Vossa Senhoria, marca de hierarquia. Istituto
della Enciclopedia Italiana fondata da Giovanni Treccani S.p.A. Disponível em: https://www.treccani.it/
enciclopedia/lei/. Acessado em 01/05/2021.
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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS: UM
NOVO OLHAR SOBRE FENÔMENOS
LINGUÍSTICOS.
Neste trabalho, propomos e ilustramos a relação entre
conceptualização cultural e fenômenos de variação/mudança
linguística.
No primeiro capítulo definimos a cordialidade, a qual significa
aversão à impessoalidade, que caracterizaria o brasileiro como
um “ser mais emoção que razão”. A cordialidade, no entanto, não
é caráter essencial. Com Avelino Filho (1988), Monteiro (1999),
Wegner (2000) e outros intérpretes, concordamos que a cordialidade
é cultural. Lembramos que em Raízes do Brasil o próprio Holanda
([1936]2015, p. 241) nos remete a estudos sociológicos e afirma
textualmente que a cordialidade é uma “forma cultural” constituída
de comportamentos sociais. Essa “forma cultural”, segundo
Holanda, manifesta-se nas mais diversas áreas de atuação humana,
inclusive na linguagem (HOLANDA, [1936]2015, p. 178).
Contribuímos com o campo das relações entre os estudos
culturais históricos, sociais e linguísticos, nosso primeiro objetivo
específico, no primeiro capítulo quando discutimos que, apesar de
alguns de seus principais intérpretes, como Avelino Filho (1988),
tratarem a cordialidade como “mentalidade”, a terminologia é
problemática. Mentalidade é um termo ambíguo que, se para Ariès
([1978] 2011) é sócio-histórico-cultural, para Vovelle ([1987] 1991)
é universal e imutável, um “inconsciente coletivo”. Após incursão
teórica, conclui-se a possível aproximação da mentalidade em Ariès
com os estudos linguísticos culturais e o tratamento da cordialidade
como conceptualização cultural: falar em conceptualização é
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FORMAS DE TRATAMENTO E “CORDIALIDADE”:
MUDANÇA LINGUÍSTICA E CONCEPTUALIZAÇÕES CULTURAIS
SOBRE A AUTORA
Doutora em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Geisa Mara Batista é Mestra em Filosofia,
Bacharela Licenciada em Filosofia, além de Licenciada em Língua
Portuguesa. Profissional da educação desde 2002, atua na Educação
Privada e na Educação Pública como professora da Educação Básica
e Superior (Graduação e Pós-graduação). Com experiência nas
áreas de Filosofia e Letras, é autora de artigos acerca dos temas
Metafísica, Ética, Leitura, Língua e Cultura. Com contribuições
aos estudos em leitura, letramento e ensino, coorganizou os livros
Hoje tem Clube? e Releituras em Belo Horizonte: leitura e produção
escrita. Atualmente debruça-se, especialmente, sobre o tema
Filosofia, Língua e Cultura.
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EDITORES
Gabriel de Ávila Othero (UFRGS)
Valdir do Nascimento Flores (UFRGS)
CONSELHO EDITORIAL
Adeilson P. Sedrins (UFRPE/UAG)
Adelia Maria Evangelista Azevedo (UEMS)
Ana Paula Scher (USP)
Aniela Improta França (UFRJ)
Atilio Butturri Junior (UFSC)
Carlos Alberto Faraco (UFPR)
Carlos Piovezani (UFSCar)
Carmem Luci Costa e Silva (UFRGS)
Cassiano R. Haag (MPSC)
Cátia de Azevedo Fronza (Unisinos)
Cláudia Regina Brescancini (PUCRS)
Claudia Toldo Oudeste (UPF)
Dermeval da Hora (UFPB)
Eduardo Kenedy (UFF)
Edwiges Maria Morato (Unicamp)
Eliane Silveira (UFU)
Elisa Battisti (UFRGS)
Esmeralda Negrão (USP)
Heloisa Monteiro Rosário (UFRGS)
Heronides Moura (UFSC)
Ingrid Finger (UFRGS)
Jairo Nunes (USP)
Janaína Weissheimer (UFRN)
João Paulo Cyrino (UFBA)
Juciane Cavalheiro (UEA)
Leonel Figueiredo de Alencar (UFC)
Luiz Francisco Dias (UFMG)
Mailce Mota (UFSC)
Marcelo Ferreira (USP)
Marcos Lopes (USP)
Marcus Lunguinho (UnB)
Maria Eugenia Duarte (UFRJ)
Mariangela Rios de Oliveira (UFF)
Pablo Ribeiro (UFSM)
Plínio Barbosa (Unicamp)
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OBRAS JÁ PUBLICADAS
COLEÇÃO ALTOS ESTUDOS EM LINGUÍSTICA
A aventura de Saussure
Eliane Silveira
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O caso mais grosseiro da semiologia: o que Saussure pode nos dizer sobre os nomes
próprios?
Stefania Montes Henriques
REVISÃO
Monah Karime El Kadri
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FICHA CATALOGRÁFICA
Bibliografia.
ISBN 978-85-68990-27-8
23-144522 CDD-401.4
1. Sociolinguística 401.4
Henrique Ribeiro Soares - Bibliotecário - CRB-8/9314
DOI 10.25189/9788568990278
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