2014 Teoria Da Comunicação J M de Mello
2014 Teoria Da Comunicação J M de Mello
2014 Teoria Da Comunicação J M de Mello
Secretaria
Maria do Carmo Silva Barbosa
Genio Nascimento
Jovina Fonseca
Direção Editorial
Osvando J. de Morais
Presidência
Muniz Sodré (UFRJ)
São Paulo
INTERCOM
2014
Teorias da Comunicação: Correntes de Pensamento e Metodolo-
gia de Ensino
Copyright © 2014 dos autores dos textos, cedidos para esta edição à Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM
Direção
Osvando J. de Morais
Capa
Marina Real
Revisão
Carlos Eduardo Parreira
Organização Técnica
Marthins Machado.
Prefácio ...................................................................9
Rose Mara Vidal de Souza
Apresentação.......................................................... 11
José Marques de Melo
8. O “Estar-Junto”: da comunidade ao
neotribalismo ............................................... 418
Edna de Mello Silva
Frederico Palladino
Prefácio 9
queiram se aventurar pelo mundo das teorias da comunica-
ção, possam ter acesso de uma forma ágil e direta.
Lecionar teorias da comunicação para muitos docentes se
torna quase um tabu e para os alunos uma forma inatingível,
uma das disciplinas que possuem alto nível de rejeição só pelo
nome. A questão da aprendizagem em matérias teóricas é um
grande desafio, não só para a comunicação, mas para todas
as áreas. Porém, estamos propondo novos olhares e abrindo
precedentes para outras experiências. Quem disse que estudar
teorias tem que ser maçante? Por exemplo, eu e o professor
Gian Danton (UNIFAP) utilizamos confecção de Fanzines
para explicar contracultura em Marcuse, a meninada aprende
de uma forma divertida, ilustrada e não esquece tão cedo.
Os recursos audiovisuais estão aí para nos auxiliar e a ge-
ração “conectada” exige uma dinâmica equiparada com o
mundo em que vivem. Um lugar onde a dromocracia im-
pera, o rápido, o veloz tem que caminhar com o conteúdo.
Os alunos necessitam serem desafiados. Aquele posiciona-
mento do professor opressor ou mesmo o que fala 50 mi-
nutos sem parar não cabe mais e ainda mais em disciplinas
teóricas. A proposta deste livro é apresentar essas alternati-
vas por meio de experiências de vários docentes brasileiros,
de norte a sul do país, de universidades públicas e privadas.
Pois acreditamos que a oferta de uma outra proposta me-
todológica será tão benéfica e eficaz para o enriquecimento
dos nossos alunos. Debruçar-se sobre os estudos das teorias
da comunicação não é algo que se limita aos bancos acadê-
micos ou aos teóricos renomados internacionalmente, mas
se concretiza por aqueles que envolvem com o cotidiano das
pessoas, se relacionam no espaço social e se relacionam entre
outras culturas originando e ressignificando códigos morais.
Por essa condição que há a necessidade do conteúdo desse
livro, uma discussão ampla para trazer ao universo habitual
aquilo que marca presença na vida de milhares de pessoas.
Prefácio 10
Apresentação
Apresentação 11
quarteto europeu Adorno-Horkheimer-Althusser-Matte-
lart ou a la droite o quinteto americano formado pelos 4
pais fundadores – Lasswell, Lazarsfeld, Hovland, Lewin – e
seu padrinho inventor – Schramm.
A organizadora Rose Vidal logrou produzir um ma-
nual empaticamente sintonizado com as aspirações dos
estudantes que lotam as classes das universidades, so-
bretudo das periféricas.
Sua estratégia assemelha-se ao procedimento usual no
mundo esportivo. Eles convocaram um verdadeiro time de
goleadores, cada qual ocupando a posição que lhe compete
durante uma partida de futebol, mas agindo de forma sinér-
gica para encabeçar o placar, vencendo a disputa.
Tal esforço didático-pedagógico resultou na produção
de um “livro realmente diferenciado”, mobilizando a nova
geração que se prepara para ingressar nas indústrias midiá-
ticas na idade da internet.
Desta maneira, a presente antologia pode funcionar
tranquilamente como introdução plural à teoria da comu-
nicação, correspondendo às aspirações da gurizada, petiza-
da, molecada ou meninada que perfila discretamente como
pretendente a um lugar ao sol na sociedade de consumo.
Eles desejam penetrar na engrenagem das indústrias, ser-
viços e organizações terciárias que informam, educam e
divertem. Evidenciando que não pretendem “fazer a ca-
beça”, mas dar alento e esperança aos produtores de bens
simbólicos, os novos teóricos ensinam seus leitores a pensar
com autonomia e tirar as próprias conclusões.
Tal qual vem ocorrendo hoje no âmbito dos shopping
centers, onde os proprietários tomam providências para
impedir a entrada dos “rolezinhos” consumistas, não cau-
saria surpresa se os timoneiros da nossa comunidade aca-
dêmica agissem discricionariamente para inibir os “rolezi-
nhos” pedagógicos. Favorecendo a vida, outrora tranquila,
Apresentação 12
das “patricinhas” e dos “mauricinhos” que fortalecem o
“pacto da mediocridade”, estes reforçariam o consumo
hegemônico. De forma exclusiva ou alternada, continua-
riam vigentes as ideias oriundas das escolas de Chicago ou
Frankfurt... Ou melhor, triunfaria a lei do menor esforço...
Demonstrando que a realidade contemporânea é
bem mais complexa e contraditória, os autores reuni-
dos nesta coletânea prestam relevantes serviços à uni-
versidade crítica, sinalizando através de uma dezena ou
mais correntes de pensamento.
Apresentação 13
PARTE I.
TEORIAS FUNDADORAS
Apresentação 14
1.
Os processos de massificação:
fronteiras entre massa e multidão
De fato as massas
1. UFRRJ
11. Cf. Negri, T. Por uma definição ontológica de multidão. Lugar Comum,
número 19-20, Rio de Janeiro, pg 17.
Referências
Introdução
A Teoria Hipodérmica 34
Sua influência sobre os estudos a respeito da comuni-
cação massiva foi enorme, o que alimentou a imaginação
popular com a ideia de que a mídia tem um poder abso-
luto sobre sua audiência.
A teoria hipodérmica (ou da bala mágica, como tam-
bém é conhecida) influenciou até mesmo um subgênero
da ficção-científica, as distopias. Em obras como 1984, de
George Orwell, Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, e Admi-
rável mundo novo, de Aldous Huxley, a televisão, o cinema e
outras mídias são usados para massificar e idiotizar os indi-
víduos, tirando-lhes a capacidade crítica.
A Teoria Hipodérmica
A Teoria Hipodérmica 35
interrogação: que efeito têm os mas media numa
sociedade de massa? (WOLF, 2001, p. 22-23)
A Teoria Hipodérmica 36
pacientes (hipo é abaixo e derme é pele), assegurando uma res-
posta mais rápida do paciente à medicação. Assim, “a mídia é
vista como uma agulha, que injeta seus conteúdos diretamente
no cérebro dos receptores, sem nenhum tipo de barreira ou
obstáculo”. (OLIVEIRA, 2002, p. 9)
Laswell, o criador da hipótese hipodérmica, foi um dos
pais da análise de conteúdo, que consistia em estudar o
conteúdo da mídia sob a ótica de sua eficácia ao provocar
respostas nos receptores (WOLF, 2001).
Nessa percepção, o processo de comunicação é total-
mente assimétrico, com um emissor ativo, que produz o
estímulo e os destinatários são vistos como uma massa
passiva à qual só resta obedecer ao estímulo. Os papéis
emissor – receptor surgem isolados de qualquer contexto
social ou cultural.
Segundo Wolf (2001, p. 30):
A Teoria Hipodérmica 37
Na noite do dia 30 de outubro de 1938, rádio CBS
(Columbia Broadcasting System) interrompeu sua progra-
mação musical para noticiar uma invasão extraterrestre ini-
ciada na cidade de Grover´s Mill, no estado de New Jersey.
O programa era, na verdade, uma adaptação do livro A
guerra dos mundos, de H. G. Wells. O diretor, Orson Welles,
organizou a adaptação como uma grande cobertura jor-
nalística com reportagens externas, entrevistas com teste-
munhas, opiniões de peritos e autoridades, efeitos sonoros,
sons ambientes, gritos e repórteres emocionados.
A Teoria Hipodérmica 38
O pânico total, provocado por um fato criado pela mí-
dia convenceu pesquisadores de que esta tinha um poder
absoluto sobre sua audiência. A audiência passou a ser vista
como uma massa amorfa, que apenas respondia, passiva-
mente, aos estímulos dos meios de comunicação.
Massa
A Teoria Hipodérmica 39
pessoais do passado. Eles não conheciam a pessoa que lhes
vendia alimentos e a moça que registrava sua correspon-
dência era apenas uma funcionária postal.
Assim, o homem moderno está rodeado de gente, mas é
solitário. Ele é como um átomo isolado, que apenas reage aos
estímulos dos meios de comunicação. Apesar de seu estado
de submissão, o indivíduo tem medo de sair da massa, ser
diferente dos outros, ser rejeitado. Ele evita a todo custo ter
opiniões ou comportamentos que o distanciem da maioria.
Segundo Mauro Wolf (2001, p. 25):
A Teoria Hipodérmica 40
e passiva diante dos estímulos dos meios de comunicação.
A propaganda é facilmente inoculada, idiotizando os indi-
víduos que se transformam em zumbis, governados pelos
M.C.M. ou por quem os controla.
A Teoria Hipodérmica 41
O princípio básico de Goebbels era unir propagan-
da e diversão de modo que o receptor não conseguisse
diferenciar um do outro. O filme Os Rothschild (diri-
gido por Erich Waschmeck, 1940), por exemplo, conta
como uma família de judeus ingleses enriquece graças
às guerras napoleônicas. O judeu Suss (1940) mostrava
um ministro das finanças ambicioso e libidinoso que
se apaixona por uma moça ariana e faz de tudo para
separá-la de seu amado, igualmente ariano. O filme, um
enorme sucesso na época, era exibido no leste europeu,
para soldados responsáveis pelo fuzilamento de judeus e
para guardas de campos de concentração. O diretor,Veit
Varlan, chegou a ser processado pelo Tribunal Estadual
de Hamburgo por crime contra a humanidade.
Um dos clássicos da propaganda nazista é O triunfo da
vontade, filme de Leni Riefenstahl sobre o congresso nazista
de 1936. Em uma das cenas mais emblemáticas, o avião que
traz Hitler plana sobre as nuvens, que se abrem enquanto
ele desce sobre a cidade, como se o líder estivesse trazendo
o sol para a Alemanha.
De acordo com Nazário (apud Lenharo, 1990, p. 60):
A Teoria Hipodérmica 42
Distopias hipodérmicas
A Teoria Hipodérmica 43
A influência da hipótese hipodérmica fica ainda mais
clara em 1984, de George Orwell. No livro, escrito em
1948 (o título é apenas uma inversão da data), as pessoas são
vigiadas 24 horas por dia através de teletelas, aparelhos ca-
pazes de enviar e receber imagens. Cartazes enormes, com
a foto do Big Brother e os dizeres: “O grande irmão zela
por ti”, são espalhados por todos os cantos e os olhos do
ditador, enormes, parecem vigiar a todos.
Não é nem mesmo necessário cometer qualquer crime
contra o regime para ser preso e torturado. O simples pen-
samento incorreto já é uma transgressão. Para evitar que se
tenha pensamentos errados, até a linguagem é manipulada.
Nos dizeres de um dos personagens:
A Teoria Hipodérmica 44
olhos da polícia e ao alcance da propaganda oficial,
fechados os outros canais de comunicação. Existia,
pela primeira vez, a possibilidade de impor não
apenas a completa obediência à vontade do Estado,
mas também completa uniformidade de opinião
em todos os súditos. (ORWELL, 1979, p. 193)
A Teoria Hipodérmica 45
o personagem que, no romance, representa o pen-
samento crítico, não consegue resistir e logo está,
assim como os outros, envolto num frenesi de ódio
contra o inimigo do regime.
A Teoria Hipodérmica 46
O personagem principal é Montang, um bombeiro, mas,
uma vez que as casas são revestidas de plástico resistente ao
fogo, sua função é queimar livros. Sua vida muda quando
encontra com uma garota que lhe pergunta se ele é feliz, o
que o leva a uma reflexão crítica sobre sua vida: “Não es-
tava feliz. Não estava feliz. Disse as palavras para si mesmo.
Admitiu que este era o verdadeiro estado das coisas. Usava
sua felicidade como uma máscara e a garota fugira com ela
pelo gramado [...]” (BRADBURY, 2008, p. 32)
A partir dessa reflexão, ele se interessa por livros e, a
partir daí, torna-se um perigo para o sistema. Ao sistema
não interessa pessoas que pensem por si mesmas, que sejam
público. Daí porque Montang passa a ser perseguido.
Críticas
A Teoria Hipodérmica 47
Esses líderes de opinião influenciam o pensamento
de sua comunidade e relativizariam o poder dos meios
de comunicação.
Oliveira (2002, p. 39) argumenta que o esquema E – R
implica que haveria sempre um feedback positivo por parte
do público a toda mensagem emitida pela mídia:
A Teoria Hipodérmica 48
acordo com seus interesses imediatos, mas adora, acima de
tudo, o espetáculo que lhe é oferecido”.
Paul Lazzarsfeld e Robert Merton (1975) argumentam
que a influência dos meios de comunicação tem sido exa-
gerada. Segundo eles, para que a propaganda exerça o po-
der previsto na teoria hipodérmica, como ocorreu com o
nazismo são necessárias as seguintes condições: 1) mono-
polização; 2) canalização, ao invés de mudança de valores
básicos; 3) contato pessoal suplementar.
O monopólio da mídia garante que não haja estímu-
los discordantes, o que, como vimos, pode diminuir a
influência da propaganda.
A Teoria Hipodérmica 49
O nazismo não atingiu seu rápido momento de he-
gemonia através do controle dos meios de comu-
nicação. Estes desempenharam um papel auxiliar,
complementando o uso da violência organizada, a
distribuição de prêmios por conformismo e os cen-
tro organizados de doutrinação local (LAZZARS-
FELD; MERTON, 1975, p. 248).
Conclusão
A Teoria Hipodérmica 50
Uso em sala de aula
A Teoria Hipodérmica 51
Como sugestões de atividades, além de debates a partir
de filmes e músicas, pode-se pedir aos alunos que pesqui-
sem casos em que os estímulos da mídia tiveram uma res-
posta equivalente ao proposto pela teoria hipodérmica.
A Teoria Hipodérmica 52
Referências
A Teoria Hipodérmica 53
OLIVEIRA, Ivan Carlo Andrade de Oliveira. Distopias
hipodérmicas. In: LAZARIN, Denise; LONDEIRO, Ro-
dolfo Rorato. Literatura lado B. Guarapuava: Unicentro,
2012, p. 117 – 133.
OLIVEIRA, Ivan Carlo Andrade de. Introdução à ciber-
nética. Pará de Minas:Virtual Books, 2010.
ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1979.
TAVARES, Bráulio. O que é ficção científica. São Paulo:
Brasiliense, 1986. (Coleção Primeiros Passos)
TENÓRIO, Maria Clara Corrêa. O Admirável Mundo
Novo: Fábula Científica ou Pesadelo Virtual? Dispo-
nível em: http://www.urutagua.uem.br//ru10_sociedade.
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WOLF, Mauro. Teorias da comunicação. Lisboa: Pre-
sença, 2001.
LAZZARSFELD, Paul F.; MERTON, Robert. Comuni-
cação de massa, gosto popular e ação social organizada. In
COHN, Gabriel. Comunicação e indústria cultural. São
Paulo: Nacional, 1975, p. 230 – 253.
SANTOS, Roberto Elísio. As teorias da comunicação: da
fala à internet. São Paulo: Paulinas, 2008.
BELTRÃO, Luiz. Sociedade de massa: comunicação e
literatura. Petrópolis: vozes, 1972.
A Teoria Hipodérmica 54
3.
As bestas do Apocalipse: a teoria
adorniana da indústria cultural
Referências
Luciana Panke1
Mário Messagi Jr2.
Introdução
O Estado repressor
Em sala de aula
Atividade 2:
Exibir um trecho do filme O Enigma de Kaspar Hau-
ser(1974) do diretor alemão Werner Herzog. A partir da exi-
bição e da leitura do capítulo “Os Aparelhos Ideológicos do
Estado” (livro Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado, p.
41-52) debater as diferenças entre sujeito e indivíduo.
Referências
Introdução
O surgimento da cibernética
Informação
Quantificação da informação
Redundância
Entropia
Introdução
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 127
estudos de recepção
panorama da teoria dos Usos e Gratificações, a partir de
uma revisitada às principais vozes que pensaram, discutiram
e fundamentaram essa corrente de estudos, tendo em vista
os seus dois momentos: o período “clássico” e o período
“moderno”.
A corrente de estudos denominada “Usos e Gratifica-
ções” está inserida, no que pode ser considerada a segun-
da geração das investigações sobre os efeitos limitados. Os
primeiros estudos foram realizados na década de 1940, mas
foi a partir de 1970 que a teoria ganhou dimensão com as
investigações de Elihu Kats, Denys McQuail e Jay Blumler.
Em sua abordagem, o eixo de indagação sobre o processo
comunicacional se desloca e, ao invés de questionar o que
os meios fazem com as pessoas, a preocupação está em saber
o que as pessoas fazem dos meios. Por que usam e para que
usam? Parte do princípio de que as necessidades das pessoas
têm influência na forma como elas usam e respondem aos
meios. A partir das suas motivações individuais, selecionam
os canais e consomem os conteúdos que lhes interessam e,
gratificam de alguma forma.
Inserida na teoria funcionalista1, a hipótese dos Usos e
Gratificações concebe, em termos funcionais, a satisfação
das necessidades dos indivíduos, onde os usos dos meios são
analisados do ponto de vista das suas consequências, para o
funcionamento do sistema social. São estabelecidos como
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 128
estudos de recepção
princípios norteadores dessa corrente: reconhecer os re-
ceptores como ativos; priorizar os usos e as gratificações de
necessidades sociais em detrimento do efeito direto; perce-
ber que a influência dos meios de comunicação está além
ou aquém do conteúdo das mensagens, embora remetam
às características tecnológicas e estéticas de cada veículo e
aos seus contextos; considerar que a simples exposição aos
meios já representa importância para um receptor, inde-
pendente do conteúdo veiculado (GOMES, 2001, p.62).
A partir da perspectiva, de que os efeitos dos meios são
parte de um complexo fluxo comunicacional e da consta-
tação da capacidade de resposta das audiências, foram rea-
lizados na década de 1940, os primeiros estudos acerca do
comportamento do receptor. É o chamado período “clás-
sico” da teoria dos Usos e Gratificações, marcado sobretudo
pelo estudo das motivações das audiências de rádio e jornal
impresso, onde eram questionadas sobre o que pensavam,
sentiam e apreciavam, com base no uso pessoal da mídia.
Na década de 1970 a corrente é redescoberta e definida
seus pressupostos. É o que vem a ser o “período moderno”
da teoria que, segundo Denys McQuail e Sven Windahl
(l993, p.116), marca a saída da obscuridade da investigação
dos estudos sobre os efeitos, com a audiência sendo “[...]
finalmente estudada no seu devido lugar, com escolhas e
respostas aos media exigindo compreensão e explicação in-
dependente de qualquer efeito mediático”.
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 129
estudos de recepção
1920, foram iniciados estudos mais sistemáticos, com a apli-
cação de questionários e métodos experimentais. Essas pes-
quisas iniciais estavam ancoradas nos pressupostos teóricos
da psicologia social, onde a ação era entendida como uma
resposta a um estímulo, como também, nos pressupostos da
cultura de massa2, que via a sociedade como uma multidão.
O erro inicial, conforme ressaltam Denis McQuail e Sven
Windahl (1993, p.115), ao referirem ao modelo unidire-
cional de comunicação, foi supor que os meios escolhiam
as suas audiências. Uma perspectiva dos U&G viria romper
com essa concepção de domínio dos meios sobre as audi-
ências, considerando que os meios “procuram fazê-lo, mas
as suas seleções são menos decisivas do que as escolhas dos
membros da audiência em canais e conteúdos mediáticos”.
Em 1927, Harold Lasswell publicou um ensaio sobre o
poder da propaganda e da mídia3 em período de guerra,
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 130
estudos de recepção
o qual é considerado um marco para a pesquisa sobre os
meios de comunicação de massa. Com base em pesqui-
sas quantitativas, o estudo buscava respostas objetivas para
atender às questões demandadas pelos gestores dos novos
meios de comunicação como também por organismos go-
vernamentais ligados, principalmente as Forças Armadas.
“Os meios de difusão apareceram, então, como instrumen-
tos indispensáveis à “gestão governamental da opiniões pú-
blicas”, quer as das populações aliadas quer as dos inimigos”
(MATTELART, 2002, p.31). Com a expansão da produção
industrial e, consequentemente a necessidade de ampliar
o mercado consumidor, cresceu a demanda por pesquisas.
Era preciso entender como funcionavam os processos co-
municativos para que os próprios meios de comunicação
de massa pudessem desenvolver novos conteúdos e lidar
com a concorrência.
Nesse período, que segue até o final da década de 1930,
os meios de comunicação de massa eram vistos como
poderosos veículos de manipulação, capazes de moldar o
comportamento de suas audiências, conforme o interesse
dos emissores. A crença aumentou no final da II Guerra
Mundial, onde prevalecia a ideia de que a vitória dos Alia-
dos sobre a Alemanha, tinha sido resultado dos trabalhos de
propaganda realizados na época. Era uma visão construída,
basicamente, por meio da observação da grande popula-
ridade que tinha a imprensa, como também do cinema e
do rádio que, apesar de estarem numa fase inicial de vida,
já partilhavam do cotidiano das comunidades. A propagan-
da tornava-se então numa grande aposta para conquistar
a adesão das massas, podendo ser utilizada tanto para o
bem quanto para o mal. “Essa visão instrumental consagra
uma representação da onipotência dos media, considerados
como instrumentos de circulação dos símbolos eficazes”,
sinalizam Armand e Michèlle Mattelart (2002, p.31).
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 131
estudos de recepção
Nesse período, que compreende a primeira fase dos es-
tudos relacionados aos efeitos dos meios, iniciados ainda no
século XIX e, com mais intensidade no século XX, com a
chegada do cinema e do rádio, o processo comunicativo é
visto de maneira linear, fragmentado e mecanicista, a exem-
plo da abordagem hipodérmica. Uma visão que ressaltava
a separação entre emissores e receptores, com um emissor
onipotente e um receptor passivo. Ou seja, com efeitos di-
retos e imediatos dos meios sobre as audiências.
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 132
estudos de recepção
dos receptores como agentes ativos não teve expressão sig-
nificativa na investigação durante décadas. Podemos situar
nos meados anos 40, do século passado, o balbuciar deste
novo olhar”, diz José Carlos Abrantes (2006, p.8).
Os estudos tinham como foco, identificar as razões para o
apelo popular nos diferentes programas de rádio, principal-
mente nas novelas e na leitura dos jornais diários. McQuail
e Windhal (1993) apontam como pioneiros, os estudos re-
alizados em 1940 pelo Bureau of Applied Social Research, em
Nova Iorque, que conduziram a tipologias de motivação da
audiência dos folhetins e concursos. Seus resultados indica-
vam, por exemplo, que as novelas embora fossem conside-
radas histórias superficiais para preencher o tempo, tinham
grande significado para seus ouvintes. A maioria do públi-
co era formado por mulheres que identificavam-se com os
programas e encontravam ali, uma referência para o papel
de donas de casa, mãe e mulher. Com os leitores de jornal,
não era diferente. Além de fonte de informação os jornais
proporcionavam aos seus leitores assunto para as conver-
sas diárias. “As descrições das investigações de audiências
tenderam, cada vez mais, a enfatizar a “redescoberta” das
pessoas e a noção de uma audiência ativa4 e obstinada face
às tentativas de manipulação” (MCQUAIL, 2003, p. 370).
É este conceito de audiência ativa que está no cerne da
concepção do paradigma dos Usos e Gratificações, ao ver
a sociedade composta por indivíduos autônomos, livres e
racionais nas suas escolhas.
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 133
estudos de recepção
Em 1944 Paul Lazarsfeld, Bernard Berelson e Hazel
Gaudet publicam o livro The People’s Choice, apontado
como um dos estudos pioneiros sobre a audiência da
imprensa escrita e do rádio. Ao analisarem o processo
de tomada de decisão durante uma campanha eleitoral,
os autores chegaram a conclusão de que o fluxo da co-
municação de massa poderia ser menos direto do que
se imaginava na época. As influências transmitidas pelos
meios de comunicação alcançariam primeiro os “líde-
res de opinião” e estes, transmitiriam as suas leituras
aos grupos mais próximos da sua vida cotidiana, sobre
os quais teriam influência. A hipótese, designada “fluxo
de comunicação em dois níveis” sugeria uma revisão da
sociedade urbana da época, ao considerar que as pessoas
pudessem ser mais facilmente persuadidas pela comu-
nicação interpessoal do que pelos meios de comunica-
ção de massa (KATZ, 2009, p.63).
Em 1955, em um outro estudo, Personal influence: The
Part Played by People in the Flow of Mass Communication,
Paul Lazarsfeld e Eliuh Katz apresentam o resultado de
um levantamento feito dez anos antes, com consumi-
dores de moda e lazer, mais especificamente a escolha
de filmes. Ao analisarem os processos de decisão indi-
vidual de um público feminino formado por oitocen-
tas pessoas, confirmaram a existência e importância do
“grupo primário”, como no trabalho anterior. O fluxo
de comunicação é visto como um processo em duas
etapas e em que o papel dos “líderes de opinião” se
revela decisivo. “No primeiro patamar há as pessoas re-
lativamente bem informadas, porque estão diretamente
expostas aos media; no segundo há as que frequentam
menos os media e que dependem das outras para obter
a informação” (MATTELART, 2002, p.39). Vai sendo
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 134
estudos de recepção
assim, desenhada a figura do gatekeeper5, como controla-
dor do fluxo de comunicação, no papel desempenhado
pelo líder de opinião. Esses estudos evidenciavam a ne-
cessidade de uma revisão na imagem de passividade em
que a audiência, até então, era caracterizada na maior
parte das investigações realizadas.
Em 1974, a publicação da coletânea de artigos sob o
título The Uses of Mass Communication, marcou a emer-
gência de uma nova escola teórica de investigação, deline-
ando o que vinha a ser a Teoria dos Usos e Gratificações.
Com o avanço das investigações empíricas vieram a tona
os gostos e percepções das audiências, permitindo assim,
produzir apontamentos sobre a origem e a forma como
estão estruturadas as suas buscas. Em um dos capítulos do
livro, Elihu Katz, Jay Blumler e Michael Gurevitch apre-
sentam um modelo lógico que pressupõe uma audiência
ativa e faz escolhas motivadas, onde o processo de sele-
ção dos meios de comunicação de massa está relacionado
com: (1) as origens sociais e psicológicas do individuo
que, por sua vez, apresentam (2) suas necessidades que (3)
geram expectativas sobre, (4) os meios de comunicação
ou de outras fontes, que (5) levam a padrões diferenciais
de exposição na mídia (ou envolvimento em outras ati-
vidades), que (6) resulta uma necessidade de gratificação
e, (7) outras consequências, principalmente aquelas não
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 135
estudos de recepção
intencionais (1974, p.20). Nesse modelo, existe ainda a
premissa de que o uso dos meios de comunicação de mas-
sa seja apenas um, entre outros meios de satisfazer necessi-
dades cotidianas dos consumidores. Ao destacarem o cará-
ter social das necessidades pessoais, os autores identificam
alguns motivos para as escolhas: a orientação cognitiva; o
entretenimento; e a identificação pessoal. Como gratifi-
cações propostas pelos meios de comunicação de massa,
apontam a facilitação da aquisição de conhecimentos na
busca por informação; a percepção da realidade social em
consonância com aquela representada pela mídia; e o re-
forço da identidade pessoal.
Segundo Denis McQuail (2003, p.377), a forma como
as audiências interpretam os conteúdos mediáticos e faz
suas escolhas, indicam a existência de uma “estrutura de
procuras muito estável e consistente”. A partir desses es-
tudos, quase trinta anos depois de sua criação, a teoria foi
estruturada com os seus pressupostos teóricos definidos da
seguinte forma:
r "FTDPMIBEPTNFEJBFEPTDPOUFÙEPTTFSHFSBM-
mente racional e dirigida para certas finalidades e
satisfações específicas (a audiência é portanto, ativa
e a sua formação pode ser explicada logicamente);
r 0TNFNCSPTEBBVEJËODJBFTUBSFNDPOTDJFO-
tes das necessidades relacionadas com os me-
dia, que aparecem em circunstâncias pessoais
(individuais) e sociais (partilhadas) e poderem
expressá-las em termos de motivação;
r %FNBOFJSBHFSBM BVUJMJEBEFQFTTPBMTFSVNEF-
terminante mais significativo da formação da audi-
ência dos que os fatores estéticos ou culturais;
r 5PEPTPVBNBJPSJBEPTGBUPSFTSFMFWBOUFTQBSB
a formação de audiência (motivos, satisfações
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 136
estudos de recepção
percebidas ou obtidas, escolha dos media, variá-
veis contextuais) poderem, em princípio, ser me-
didos (MCQUAIL, 2003, p.393, 394).
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 137
estudos de recepção
Estudos que nortearam os U&G
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 138
estudos de recepção
um complexo campo multifuncional das possibilidades de
gratificações. O perfil e a personalidade dos apresentadores,
assim como, as doses de humor ou drama nos seus comen-
tários foram consideradas variáveis que também interferiam
na resposta do consumidor (WOLF, 1992).
Um outro exemplo de pesquisa sobre os Usos e Grati-
ficações citado por Mauro Wolf (1992), refere-se ao con-
sumo televisivo por parte das crianças e adolescentes nos
Estado Unidos. O trabalho do pesquisador George Coms-
tock, publicado em 1978, mostrou que a maioria dos entre-
vistados buscava diversão e entretenimento nos programas a
que eram expostos. Os resultados revelaram que as escolhas
dos estudantes mudavam, conforme os seus ciclos de vida
e, a opção em estar diante da televisão prevalecia sobre a
escolha do programa. Ou seja, qualquer programa inserido
em horários considerados nobres, teria audiência. O conte-
údo é visto como algo que fica em segundo plano. É nesse
sentido que a hipótese dos Usos e Gratificações propõe
um deslocamento da origem do efeito do conteúdo para
todo o contexto da comunicação, conforme pontua Mauro
Wolf (1992, p.66). “De fato, a fonte das satisfações que o
destinatário, eventualmente, extrai dos mass media, pode ser
o conteúdo específico da mensagem, a exposição ao meio
de comunicação em si mesma ou a situação comunicativa
particular ligada a um determinado mass media”.
Na década de 1980 uma equipe de pesquisadores, liderada
por Eliuh Katz e Tamar Liebes, analisou a interpretação do
programa norte-americano Dallas, exibido em muitos países.
Com suas leituras singulares em diferentes culturas, os dados
revelados levaram a uma aproximação da noção de “leitura
negociada7” trabalhada pela corrente dos Estudos Culturais.
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 139
estudos de recepção
Conforme mostram Armand e Michèlle Mattelart (2002,
p.126), o estudo comprovou que o sentido e os efeitos nas-
cem da interação dos textos e dos papéis assumidos pelas au-
diências. “As decodificações estão ligadas à implicação destas;
esta implicação depende, ela própria, da maneira como as
diferentes culturas constroem o papel do receptor”.
Um programa televisivo, por exemplo, só terá índices de
audiência, se houver gratificação de seu público e, este, der
retorno assistindo e elevando os índices. É uma relação esta-
belecida por um ciclo vicioso, onde os meios de comunica-
ção dependem do público e, o público, por sua vez, precisa
dos meios para satisfazer suas necessidades. De um lado, o
consumidor procura entretenimento e outras satisfações de
caráter afetivo e emocional. Ou seja, fazem uma “leitura ne-
gociada” dos conteúdos midiáticos, podendo responder de
forma positiva ou negativa aos emissores. Do outro lado do
processo comunicativo, os emissores criam seus programas
baseados em pesquisas junto aos públicos. Buscam mapear
quais as necessidades das audiências, para então gratificá-las.
Após a realização de estudos em diferentes mídias e, a
reabilitação da atividade do receptor, os idealizadores dos
U&G propuseram um esquema teórico geral da interação
entre os meios de comunicação de massa e as audiências,
onde pudessem ser inseridos resultados particulares sobre
as suas motivações. Numa tipologia construída por Denis
McQuail (2003, p.394,395), quatro tópicos deveriam ser
observados: 1) Diversão: escape da rotina e dos problemas,
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 140
estudos de recepção
libertação das emoções; 2) Relações Pessoais: companhei-
rismo, utilidade social; 3) Identidade Pessoal: referência pró-
pria, exploração da realidade, reforço dos valores; 4) Vigi-
lância (formas de procura de informação).
Algumas dessas investigações começaram por especificar
necessidades e, em seguida, tentaram rastrear em que medi-
da os consumidores estão satisfeitos, com os meios de co-
municação de massa. Outras, tomavam as satisfações como
ponto de partida para, então, reconstruir as necessidades
gratificadas. Havia ainda aquelas, cujo foco centravam-se
nas origens sociais das expectativas e gratificações do pú-
blico. No entanto, por mais variado que tenham sido os
seus pontos de partida, os estudos dos Usos e Gratificações
tinham como direcionamento, avaliar o consumo da mí-
dia por parte da audiência e, não em termos tecnológicos,
estéticos ou ideológicos, conforme reforçam seus autores.
Segundo eles, é essa convergência de seus focos, bem como,
de seus resultados de base metodológica e teórica, que am-
plia a discussão sobre os caminhos futuros dessa hipótese.
(KATZ; BLUMLER; GUREVITCH, 1974).
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 141
estudos de recepção
sociais, a corrente dos Usos e Gratificações avançou na com-
preensão da problemática dos efeitos o que, para a autora, não
chega a ser uma viragem epistemológica ou, em mudanças de
paradigmas, visto que a preocupação e os estudos referentes
ao comportamento das audiências já vinham sendo desenvol-
vidos em anos anteriores.
Mauro Wolf (1992) apresenta como elemento fundamen-
tal da hipótese dos Usos e Gratificações a associação do con-
sumo, da utilização e, dos efeitos dos meios de comunicação
de massa, à estrutura das necessidades do destinatário. De tal
forma que o efeito gerado pelos meios de comunicação de
massa, passa a ser entendido como consequência das satisfa-
ções frente às necessidades do receptor onde, tanto o emissor
quanto o receptor desempenham papéis ativos no processo
comunicativo. Segundo o autor, a hipótese mostrou-se mais
atenta aos contextos e às interações sociais dos receptores,
sobrepondo a ideia inicial de transmissão unilateral (estímu-
lo/resposta). Assim, o efeito da comunicação de massa passa
a ser entendido como consequência das satisfações frente as
necessidades do receptor. “Os mass media são eficazes se e na
medida em que o receptor lhes atribui tal eficácia, baseando-
-se precisamente na satisfação das necessidades” (p.61).
É um período, em que o consumidor passa a ocupar
uma posição central, numa concepção neoliberal da socie-
dade, conforme argumentam Armand e Michèlle Matterlat
(2002, p.127). “Não se trata de um consumidor qualquer,
mas do consumidor dito soberano nas suas escolhas, num
mercado dito livre”. Essa nova postura de valorização do
receptor e a relativização da capacidade dos emissores em
atingir seus objetivos altera as relações de influência e de
poder, reforçam os autores.
Mas, ao longo do tempo, essa abordagem foi também
criticada por apresentar demasiadas tendências de origem
comportamental e funcionalista. A ausência de explicações
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 142
estudos de recepção
causais para o uso e escolha da mídia e de previsões bem
sucedidas também fazem parte do rol das críticas, como
afirma Denis McQuail (2003, p.395): “As razões para a po-
bre previsibilidade podem estar, em parte, nas dificuldades
de medida e, em parte, no fato de muito do uso dos media
ser, realmente, muito circunstancial e fracamente motiva-
do”. Segundo o autor, as tipologias construídas para apon-
tar os resultados referentes às motivações das audiências,
nem sempre funcionam como esperado, falhando muitas
vezes na adequação dos padrões reais de seleção. “[...] e é
difícil encontrar uma relação lógica e consistente entre os
três fatores sequenciais ordenados: gosto/preferência; escolha
real; avaliação subsequente” (p.395).
A ideia de que os meios de comunicação de massa per-
mitem recompensas que já são aguardadas e até mesmo pre-
vistas pelos consumidores também põe em questão algumas
fragilidades da hipótese dos Usos e Gratificações. Os pró-
prios criadores da teoria, Katz, Blumler e Gurevitch (1974)
levantaram a possibilidade de que os meios de comunicação
de massa pudessem criar as necessidades para depois satisfa-
zê-las. Ou seja, se em um determinado programa são cria-
das as necessidades que posteriormente serão satisfeitas, as
respostas do público estariam comprometidas, podendo não
evidenciar as reais necessidades. É nesse sentido, que os au-
tores convocam os pesquisadores a questionarem se os meios
realmente satisfazem os consumidores. Para isso, é imprescin-
dível o estudo das necessidades humanas, já que o público
está no cerne das discussões da teoria (KATZ, 1974).
Uma preocupação que também vai de encontro ao
pensamento de Mauro Wolf (1992), ao levantar a questão a
respeito do papel que desempenha os meios de comunica-
ção, no que se refere a atividade seletiva dos conteúdos. O
fato da utilização dos meios de comunicação de massa estar
orientada a uma determinada finalidade é visto como uma
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 143
estudos de recepção
dificuldade a ser superada pela hipótese, pondera o autor:
“A associação entre satisfação da necessidade e escolha do
meio de comunicação é representada como uma opção do
destinatário num processo racional de adequação dos meios
disponíveis aos fins que pretende atingir” (p.67).
Itania Gomes (2001), reconhece a importância da hipóte-
se dos Usos e Gratificações para a pesquisa em comunicação,
mais especificamente para o que se convencionou chamar
de estudos de recepção mas, não descarta as suas fragilidades.
Para a pesquisadora, a preocupação demasiada da corrente
em afirmar o poder do receptor, resultou em dois modos
correlatos de abordar a relação entre emissor e receptor: Pri-
meiro, que o texto não era analisado. Partia-se, a princípio da
concepção de que os textos são polissêmicos, de que as men-
sagens são “abertas”. Segundo, que do lado da audiência, na
maioria dos casos, o programa de investigação preocupou-
-se em aferir os tipos de satisfações ligadas à utilização dos
meios ou a suportes específicos, a partir dos depoimentos
dos receptores. Ao supor que as pessoas são suficientemente
conscientes para informar seus interesses e seus motivos, os
resultados dos estudos deram origem a uma lista de razões
que as pessoas alegam para justificar o consumo dos meios,
com uma ênfase nas necessidades psicológicas, critica a au-
tora: “[...] é um levantamento cada vez mais exaustivo das
diferenças individuais de interpretação, sem que essas leituras
idiossincráticas que os receptores realizam possam ser com-
preendidas em qualquer marco mais amplo de análise (p.64).
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 144
estudos de recepção
dos produtos midiáticos. A partir da convergência das mídias e,
associada a ela, a possibilidade de interação, surge um receptor
com mais poder para participar e interferir. Um consumidor
que também é produtor ou “prosumer”, como refere Alvin To-
ffler (1995). E, não é só a relação entre as tecnologias existentes,
industriais, mercados, gêneros e públicos que a convergência
altera, como nos chama a atenção Henry Jenkis (2009, p. 41):
“A convergência altera a lógica pela qual a indústria midiáti-
ca opera e pela qual os consumidores operam e processam as
notícias e o entretenimento”. Na mesma esteira de discussão,
Salaverría (2010, p.33), reforça que:“Estas nuevas posibilidades
tecnológicas se convierten automaticamente em demandas de
servicios que los medios están obligados a satisfacer”.
Ao referir-se à chegada dos novos meios de comunicação
de massa, como o cinema, o rádio e a televisão, ainda no final
do século XIX e início do século XX, Marshall McLuhan
(1995) já sinalizava que independente do uso que é feito de-
las, as tecnologias alteram as relações pessoais e interpessoais,
interferindo diretamente na evolução das culturas, moldando
a forma de viver da humanidade.“Qualquer invenção tecno-
lógica é uma extensão ou auto-amputação de nosso corpo, e
essa extensão exige novas relações e equilíbrio entre os de-
mais órgãos e extensões do corpo” (p.63). Numa visão mais
contemporânea e distante do “determinismo tecnológico”
proposto por Mcluhan, ao supervalorizar o meio, afirmando
que a sociedade é determinada pela tecnologia, nos embasa-
mos no conceito de “domesticação”8, proposto por Roger
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 145
estudos de recepção
Silverstone (2006), para afirmar que cada nova tecnologia in-
serida no cotidiano de uma sociedade, requer um tempo de
adaptação e apropriação, numa espécie de negociação entre
os membros da família, com seus diferentes estatutos, papéis
e poderes, assim como da relação da família com o exterior
e a esfera pública.
A cada nova tecnologia inserida na sociedade, são cria-
das novas demandas de investigação. E ao passo que avan-
çam os estudos, diferentes orientações surgem, paradigmas
são revistos e novos são propostos. Assim, as teorias vão so-
brepondo umas às outras. Mas cada abordagem teórica traz
consigo distintos fundamentos, o que implica, geralmente,
em diferentes olhares sobre um mesmo objeto.
No campo da recepção não existe uma teoria geral que
explique todo o comportamento do receptor diante dos
meios e as suas consequências, como reforça Antônio Car-
los Ruótolo: “Todas as análises tendem a ser perspectivas
teóricas de médio alcance enfatizando apenas um grupo de
respostas e, portanto, adequadas para análise dos fenômenos
relacionados àquele grupo de respostas” (p.152).
A ideia de que o uso dos meios de comunicação de
massa, depende das satisfações e das necessidades do con-
sumidor é tão antiga como a própria investigação sobre
a mídia, afirma Denis McQuail (2003). As audiências, são
quase sempre formadas com base na semelhança das ne-
cessidades, interesses e gostos individuais, onde geralmente
apresenta uma origem social ou psicológica. A exemplo das
necessidades típicas dos consumidores, como informação,
lazer, companhia e entretenimento, ao selecionarem um
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 146
estudos de recepção
programa em um veículo específico. “A afinidade relativa
com diferentes media associa-se às diferenças de expecta-
tivas e gratificações pretendidas” (p.393). São os mistérios
que envolvem a relação mídia/audiência, onde apesar do
indivíduo ter, no geral, um padrão estável de preferências
mediáticas, ao escolher seus canais/conteúdos e o tempo de
exposição, cada dia vive uma experiência única, afetada por
circunstâncias variadas e imprevisíveis, destaca o autor. Caso
contrário, “[...] a indústria dos media não seria tão arriscada
como é, e todos os filmes, canções, livros ou espetáculos
teriam sucesso” (p.390).
Como esse processo comunicativo ocorre em um am-
biente complexo, com variáveis que interferem nos efeitos,
as respostas dos receptores nem sempre atendem ao que
foi planejado pelos emissores, o que alimenta o ciclo de
procuras e ofertas. Exemplo do que acontece quando as
audiências são expostas às chamadas que as emissoras fazem
nos intervalos comercias, convidando para o “imperdível”
capítulo da novela. São estímulos externos provocados pe-
los emissores, que sinalizam aos receptores suas prováveis
recompensas. O sucesso dos, tão criticados, reality shows, é
outro exemplo de como a teoria dos “Usos e Gratifica-
ções” pode ser analisada. Em ambos os casos, as audiências
podem estar em busca do que Mc Quail (2003) propõe em
sua tipologia de análise: Diversão, ao buscarem formas de
escapar da rotina e dos problemas; Relações Pessoais, ao
buscarem companhia; Identidade Pessoal, ao buscarem
referencias próprias e reforço dos valores, como também a
Vigilância, no sentido de busca por informações.
A abordagem dos Usos e Gratificações tem sido revisi-
tada e reposicionada em investigações que buscam compre-
ender a relação das audiências com as novas mídias. Seus
pressupostos teóricos constituem base para análise da re-
cepção, a partir de uma perspectiva menos dominante dos
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 147
estudos de recepção
meios de comunicação, num momento de experimentação
e adaptação, como o que presenciamos com a implantação
e implementação das tecnologias digitais. Ao referir-se a
natureza interativa da internet que, por sua vez, gera gran-
des expectativas, exigindo ação do usuário para atender a
essas mesmas expectativas, João Canavilhas (2007) aponta o
paradigma dos U&G como um bom modelo para avaliar o
que os usuários fazem com os meios e os conteúdos. “En
la Web es el usuario quien dirige, quien decide qué ver,
cuándo ver y cómo ver” (p.72). Para averiguar o grau de
satisfação ou gratificação dos usuários de web jornais em
Portugal, Canavilhas levantou junto aos usuários as seguin-
te questões: Em que medida tem sido gratificante a leitura
da notícia? Em que medida a notícia tem despertado seu
interesse para a temática? Em que medida gostou da notí-
cia? Em que medida a informação pareceu ser relevante?
Em que medida sentiu-se envolvido ao assunto da notícia?
Também no cenário português, com o estudo Mobile
TV Consumption Intentions: A Portuguese Perspective, o pes-
quisador Luis Miguel Pato utiliza a teoria dos U&G para
analisar o consumo de conteúdos multimídia através de dis-
positivos móveis. O objetivo é perceber quais as motivações
psicológicas que levam as audiências a adotarem a televisão
móvel, ou seja, acompanharem a programação da televisão,
via celular. Os resultados preliminares indicam que além
dos aspectos técnicos e instrumentais do dispositivo móvel,
“a possibilidade de acessar ou receber diversos gêneros de
conteúdo de TV (informação e entretenimento) já é con-
siderado como uma importante motivação para a adoção
deste tipo de tecnologia” (PATO, 2011).
Considerando o quão são voláteis as necessidades que
delineiam o comportamento do público diante dos meios
de comunicação de massa, o resultado dessa relação consu-
midor/mídia, é quase sempre um “mistério”, parafraseando
Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 148
estudos de recepção
McQuail. É o receptor, com suas idiossincrasias, que vai
agir sobre a informação e utilizá-la, conforme suas necessi-
dades naquele determinado momento.
Referências
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Usos e Gratificações - Uma revisita à Teoria que deu um novo impulso aos 151
estudos de recepção
7.
Espiral do Silêncio e Mídias
Sociais: a participação da
opinião pública no Twitter
Introdução
6. Idem.
7. Idem.
Opinião pública
Por ser opinião ela não coincide com a verdade, ela expres-
sa mais juízo de valor do que juízo de fato. “A opinião é um
fenômeno social. Existe apenas em relação a um grupo, é um
dos modos de expressão desse grupo e difunde-se utilizando as
redes de comunicação do grupo”12.A opinião pública também
Considerações finais
Referências
Cosette Castro
Introdução
E complementa
Referências
Introdução
Referências
Introdução
Os EC contemporâneos: consolidando/renovando
objetos e metodologias de pesquisa
10. Paul Du Gay, Stuart Hall, Linda James, Hugh MacKay e Keith Negus.
Referências
TEORIAS INOVADORAS
Introdução
A Teoria do Agendamento
9. Disponível..em..http://www.estadao.com.br/noticias/
tecnologia,twitter-e-muito-mais-do-que-rede-social-diz-cofunda-
dor,825928,0.htm. Acesso em 23 jan. 2012.
11. Timeline: Página do Twitter onde são postados os tweets, por ordem
decrescente de atualização.
12. Disponível..em:..http://brasileconomico.ig.com.br/noticias/
twitter-informa-que-possui-mais-de-200-milhoes-de-usuarios-
-ativos_126311.html Acesso em 25 mai 2013.
Período
Notícia Acontecimentos Correntes
(17h às 19h)
28/11 10% 60% 30%
29/11 40% 20% 40%
30/11 50% 30% 20%
01/12 40% 50% 10%
02/12 40% 40% 20%
Considerações Finais
Referências
Geder Parzianello1
Introdução
O desafio da leitura
Breve biografia
Jürgen Habermas nasceu em Düsseldorf, na Alema-
nha, em agosto de 1929. Ele provém de uma família de
classe média, na Renânia. Estudou em Göttingen e em
Bonn na Alemanha e em Zurique, na Suíça. Seus estu-
dos incluíram História, Psicologia, Economia, Filosofia,
Literatura alemã e Economia. Atuou como jornalista
independente, foi assistente de Adorno no Instituto de
Pesquisa Social em Frankfurt, professor em diferentes
universidades, e diretor do Instituto Max-Planck de
Starnberg para pesquisa das condições de vida do mun-
do técnico-científico, entre outros cargos e funções.
Recebeu diversos prêmios, entre eles, o Prêmio Hegel
da cidade de Stuttgart e o Prêmio Paz das editoras ale-
mãs, este concedido em 2001. Algumas de suas Princi-
pais Obras: (1963) Theorie und Praxis; (1968) Erkenntnis
und Interesse; (1968) Technik und Wissenschaft als Ideologie;
(1981) Theorie des Kommunikativen Handels; (1985) Der
Philosophische Diskurs der Moderne- die Neue Unübersi-
chtlichkeit; (1999) Wahrheit und Rechtfertigung entre ou-
tras publicações.
Laura Seligman1
Introdução
Estudos preliminares
Estudos contemporâneos
Modelos
N - notícias brutas
M - audiência
- Fluxo de notícias
Na sala de aula
Exercício 1
O exercício é simples – consiste em escolher uma man-
chete do dia ou dos últimos dias que não seja um aconteci-
mento não pautado (desastres naturais, acidentes, etc.). Por
exemplo, uma reportagem a respeito de um determinado
político, seja qual for a angulação do texto.
Imediatamente, até os alunos menos experientes po-
dem identificar critérios de noticiabilidade que levaram
o fato a receber destaque na mídia. O exercício está em
ir além da camada superficial e fazer perguntas que ul-
trapassam a técnica:
1) Quem pautou esta notícia ou reportagem?
2) Que interesses podem estar envolvidos?
3) Que instituições se beneficiam ou são prejudicadas
com esta publicação?
4) Por que ela foi pautada e publicada?
Exercício 2
A ideia aqui é comparar a mídia pouco interativa
com a que se submete diretamente à aprovação do pú-
blico. Que tal comparar durante determinado perío-
do o comportamento de jornais impressos e online e
analisar que tipo de assunto recebeu mais atenção do
veículo e, por consequência, maior destaque?
Jornais online têm a resposta imediata através do sistema de
hits, que informa prontamente que textos foram mais lidos, en-
viados, comentados. Já o jornalismo impresso depende de nossas
crenças em o que seria realmente o interesse do público. Nossos
“sagrados” critérios de noticiabilidade. A diferença costuma ser
gritante, vide artigo publicado por Seligman e Furtado (2011).
Se o ensino das Teorias da Comunicação é feito sem
a devida contextualização, talvez seja pouco clara sua
função na vida profissional. Mas, dado o devido con-
texto e a problematização, elas podem se tornar instru-
mentos de análise da própria prática profissional. É o
que três ex-alunos de Jornalismo da Universidade do
Vale do Itajaí nos contam.
Dos nós...
Enlaces possíveis
Referências
3. O termo foi usado pela primeira vez por John Locke em 1690 para
se referir à mente humana no nascimento, depois preenchida pelo
conhecimento adquirido no decorrer da vida.
Referências
19. Idem.
Introdução
4. Grifo do autor.
Referências
Introdução
Introdução
Características do neotribalismo
Considerações finais
Referências
Introdução
A sociedade vigiada
À guisa de conclusão
Referências
Muriel Amaral1
Introdução
Lucia Santaella.
1. UNESP
Categorias de Pensamento
Na perspectiva do aluno
Considerações Finais
Referências
Considerações finais
Introdução
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 503
Deste modo, “recuperar sua trajetória e seu pensamento
é recuperar uma parte importante do debate comunica-
cional e pedagógico latino-americano e encontrar nele
aspectos em plena vigência”, como afirma seu filho Ga-
briel Kaplún (KAPLÚN G., 2006, p.35)1.
Mario Kaplún (1923-1998) foi professor, pesquisador,
jornalista, publicitário, roteirista, produtor, diretor e âncora
de programas de rádio e televisão, além de autor de diversas
obras de referência no campo da comunicação. Sua tra-
jetória profissional foi multifacetada, entretanto, “podemos
simbolizar a sua contribuição quando o descrevemos como
educador e comunicador, no mais amplo sentido da junção
destas palavras” (MEDITSCH, BETTI, 2008, p.92).
Kaplún descobriu os meios de comunicação como novos
instrumentos para trabalhar com educação pouco antes de gra-
duar-se no magistério. Sua principal contribuição destaca-se no
conceito pioneiro de comunicação educativa enquanto agente
transformador da realidade social, com produções criativas, di-
retamente vinculadas às necessidades das comunidades. Neste
modelo, a mensagem é um meio, um instrumento para suscitar
processos e alcança seu ápice quando os destinatários a compre-
endem, discutem, recriam e aplicam (KAPLÚN, 1998, p.250).
A iniciação em educação fez dele um comunicador demo-
crático, que sempre respeitou as identidades locais e buscou as
possibilidades e os estímulos para criar formas interativas de co-
municação, muito antes da interatividade ser projetada como
recurso comunicativo praticamente inerente às tecnologias di-
gitais e de servir como novo atrativo da comunicação comercial.
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 504
Mário Kaplún acreditava que muito além de como, era ne-
cessário compreender para que produzimos rádio, propondo
uma pedagogia para o meio radiofônico. O que significa
que além da preocupação com os aspectos éticos e narrativos,
priorizava os referidos aos objetivos e o sentido fundamen-
tal da ação comunicativa. Assim, justificamos a escolha do
pensamento do autor para compor esta coletânea tanto pela
extraordinária atualidade presente em uma obra publicada
originalmente em 1978, quanto pela relevância e aplicabili-
dade de sua teoria. Os aportes conceituais e profissionais de
Kaplún têm logrado resistir ao tempo e aos frequentes ciclos
de atualização tecnológica e de hábitos culturais, também
têm transposto as barreiras geográficas e idiomáticas.
Biografia do Autor
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 505
experiência no rádio educativo teve início em 1° de setem-
bro de 1942, com apenas 19 anos, quando a Rádio do Estado
e a Rede Argentina de Emissoras Splendid transmitiram seu
primeiro roteiro sobre a história argentina (KAPLÚN, 1999,
p.165). Não demorou para que Kaplún assumisse a direção
da Escuela del Aire. Em sua autobiografia o autor conta que,
com a audácia de jovem foi solicitar a tarefa ao diretor da
emissora, pois estava insatisfeito com a forma que estavam
dirigindo seus roteiros (KAPLÚN, 1993, p.127).
Neste período a programação radiofônica apresentava ra-
dioteatros, revistas, programas de auditório, humor, que eram
transmitidos pelas mais de 50 estações de rádio em todo
país, e para aproximadamente um milhão de aparelhos de
rádio. (ELIADES, p.8). E neste cenário, Kaplún compreendia
a potencialidade educativa do meio. A preocupação com o
desenvolvimento político, econômico, social e cultural nas
comunidades interioranas marcou as produções de Kaplún,
assim como suas experiências e convicções pessoais.
Foi a censura do regime peronista que obrigou a deixar
Argentina e mudar-se com Ana Hirz sua esposa e com Da-
niel seu primeiro filho para Montevidéu no ano 1952, “em
busca de ares mais livres e mais dignos” (KAPLÚN, 1993,
p.127). No Uruguai trabalhou no programa Buenas Noticias
da Rádio Carve. Posteriormente vinculou-se com a Gallar-
do Propaganda, uma agência publicitária nacional da qual se
tornaria sócio. Além de seu trabalho como publicitário, foi
produtor jornalístico de programas de televisão.
Neste período, além do crescente interesse de Ka-
plún pela educação, também merece destaque seu afas-
tamento do judaísmo - uma herança religiosa familiar
- e a aproximação do cristianismo. “O sentido de busca
religiosa levou a Mario e Ana em 1958 à Franca, para
viver na comunidade não violenta - A Arca, dirigida
por Lanza del Vasto, o “mensageiro da paz” de Gandhi
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 506
na Europa. Passaram quase um ano nesta comunidade”
(SILVA PINTOS, 2001).
De volta ao Uruguai a família Kaplún vinculou-se ao
Centro Pedro Fabro de orientação cristã, aproximando-se
do teólogo, pensador e humanista Juan Luis Segundo, “que a
partir do Concílio Vaticano II propôs uma teologia baseada
na liberdade do homem – o homem como criador de si
mesmo e cocriador do mundo -, distante do fundamentalis-
mo de alguns dogmas e enfrentando a teologia meramente
intelectual” (SILVA PINTOS, 2001). Esta vivência, na qual se
mantiveram vinculados por quase 25 anos, foi determinante
em muitas das experiências educativas e comunicacionais de
Kaplún, que incorporou a pergunta pedagógica e o questio-
namento da realidade como atitudes constantes.
Entre 1962 e 1968 Mario César4 produziu e apresentou
Sala de Audiências, um programa semanal de debates polí-
ticos e sociais. O autor lembra que “participavam, como
convidados e polemistas, as personalidades mais relevantes
do mundo político, os mais prestigiados intelectuais, etc. Os
debates que realizávamos eram, no dia seguinte, pautas de
jornais, comentários editoriais; transcendiam” (KAPLÚN,
1993, p.128). Com o início de um arranjo ditatorial no
governo de Pacheco Areco a censura no Uruguai no final
dos anos 1960, a suspensão de direitos constitucionais e as
pressões dos militares no início da década de 1970 o força-
ram a viajar pela América Latina.
No final da década encontrou exílio na Venezuela e en-
gajou-se com o CESAP (Centro de Serviço da Ação Popu-
lar), uma instituição não governamental na qual organizou
a divisão de Comunicação e Cultura Popular.
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 507
A partir daí, junto com Ana, realizou cursos a gru-
pos de base venezuelanos sobre comunicação foto-
gráfica, audiovisual e jornalística e também sobre
teatro, aplicando uma metodologia de capacitação
de comunicadores / educadores populares. Pou-
co tempo depois a Divisão criou os laboratórios
latino-americanos de Comunicação Popular, um
projeto que durante quatro anos formou mais de
cem comunicadores / educadores populares de 16
países de América Latina (SILVA PINTOS, 2001).
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 508
livro Producción de Programas de Radio (Quito: CIES-
PAL, 1978) (KAPLÚN, 1993, p.131).
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 509
e meramente instrumentais, a concebendo tão so-
mente como veículo multiplicador e distribuidor
dos conteúdos que ela predetermina. [...] Desta
forma foi-se petrificando o duplo e pertinaz mal
entendido: a comunicação equiparada ao emprego
de meios tecnológicos de transmissão e difusão e, ao
mesmo tempo, vista como mero instrumento subsi-
diário, percepção que a cerceia e a despoja do muito
que ela tem para oferecer aos processos de ensino/
aprendizagem” (KAPLÚN, 1973).
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 510
A comunicação educativa como proposta meto-
dológica
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 511
entre os anos de 1977 e 1978. O grupo recebia material
sobre um tema pontual em um lado da fita; no outro lado
gravava seu próprio aporte; no final recebia uma nova grava-
ção com as sínteses dos aportes de todos os grupos, o intuito
era de superar a unidirecionalidade e recuperar o sentido
dialógico da comunicação (KAPLÚN, 1993, p.136). Ao
orientar sobre a organização para a aplicação do método
C-F, Kaplún novamente explica a necessidade de estabele-
cer objetivos, “o programa conseguirá ser eficaz à medida
em que possam responder aos interesses e necessidades
dos participantes” (KAPLÚN,1990, p.52-53).
A prática com grupos populares o permitiram dese-
nhar também o método Leitura Crítica de Meios, que
acabaria por aplicar formalmente alguns anos depois.
O método sustenta a ideia de que, para potencializar
novos emissores há que exercitar a capacidade críti-
ca deles, a qual exige ensinar-lhes a decodificar cultu-
ral e ideologicamente as mensagens para que possam
analisá-las, compreende-las e posicionar-se diante delas
(SILVA PINTOS, 2001).
Para Kaplún era prioritário estimular a capacidade
de olhar a realidade além das aparências. Sua perspec-
tiva de análise alertava para a necessidade de propi-
ciar a consciência crítica nos cidadãos, como um meio
para fomentar verdadeiras mudanças sociais. É no rá-
dio onde enfatiza sua vocação pedagógica original, e
é lá também onde estabelece as articulações entre a
comunicação e as teorias da aprendizagem. Ele sempre
buscou visualizar as potencialidades e limitações peda-
gógico-comunicacionais dos meios e apontou a neces-
sidade de uma comunicação educativa comprometida
com a transformação social das realidades percebidas
como injustas, pela maioria das populações da América
Latina. Por exemplo, o método de leitura crítica e a sua
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 512
preocupação com o ideológico aparecem em suas mais
reconhecidas séries radiofônicas, Jurado no. 13 e El Padre
Vicente, com as quais buscava incentivar o conhecimen-
to e debate da realidade.
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 513
Em Producción de Programas de Radio, Kaplún fundamenta-se
na caracterização dos modelos de educação proposta por Juan
Díaz Bordenave5 para discutir como devemos utilizar as técni-
cas radiofônicas a serviço de uma ação educativa. De acordo
com o autor, a distinção se daria pela ênfase no conteúdo, no
resultado ou no processo. Kaplún (1994, p.26-35) compreende
que a divisão não impõe barreiras estanques e que os métodos
que determinam cada modelo podem ser utilizados de forma
complementar. No entanto, afirma que, em uma esquematiza-
ção bastante pontual, poderíamos definir que o primeiro tipo
objetiva que o sujeito aprenda, o segundo busca que o sujeito
aja. Ou seja, que ele adote determinadas práticas que lhe são
indicadas, e o terceiro tipo é aquele que permite e incentiva
que o indivíduo pense. A educação com ênfase no processo
pretende que o sujeito aprenda a aprender e desenvolva sua ca-
pacidade intelectual conjuntamente com sua consciência críti-
ca e social, sempre em um processo de interação dialética entre
o indivíduo e sua realidade.
Referenciando Los materiales de autoaprendizaje: Marco
para su elaboración6, Silva Pintos aponta que é na década de
1990 que Kaplún identifica
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 514
“sua afinidade com as correntes pedagógicas cons-
trutivistas, mais concretamente com as ideias do
psicólogo suíço Jean Piaget sobre a aprendizagem
como processo autónomo de descoberta individu-
al, com os aportes do psicopedagogo estadunidense
Jerome Bruner que inspirado em Piaget, promoveu
a ideia de aprendizagem como processo construí-
do na exploração e na práxis, e com o psicólogo
e linguista russo Lev Vygotsky, que aprofundou o
conceito de aprendizagem como processo social
em quanto o sujeito aprende na interação com os
outros” (SILVA PINTOS, 2001).
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 515
Uma pedagogia da produção radiofônica
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 516
de informação ou educativo-culturais devem ignorar os
aspectos estéticos e subestimarem a necessidade de oferecer
bons atrativos para seus ouvintes. Uma lição amparada em
sua experiência com a produção de Jurado no. 13, que, de
acordo com o próprio Kaplún, comprovou que é possível
fazer programas educativos, com conteúdo social crítico,
de maneira atraente e alcançando as audiências populares,
inclusive em emissoras comerciais (KAPLÚN, 1993, p.130).
Kaplún é um comunicador munido de refinada per-
cepção, disposição, ferramental prático e de vasto conheci-
mento educativo. Por isto, sempre parte da premissa de que
todos os programas radiofônicos possuem potencial educa-
tivo, desde que haja intenção e recursos de formação para
desenvolver nos profissionais e estudantes de comunicação,
a capacidade de aliar diversas formas, com diferentes con-
teúdos para várias finalidades específicas. O desafio conce-
bido por Kaplún começa com a dificuldade cotidiana de
se conjugar dialeticamente gêneros, formatos, conteúdos e
finalidades comunicativas, com necessidades de ensino re-
gular ou de formação com escopo cultural mais universal.
Deste modo, como inserir seus conceitos no ensino da
prática radiofônica? Temos o entendimento de que este in-
trincado processo cognitivo poderá ser composto primeira-
mente por três etapas: 1. incentivar os alunos a conhecer e
analisar criticamente a produção radiofônica já existente; 2.
Identificar os níveis de interesse do aluno pelas informações
culturais-educativas, quais os conceitos que eles trazem de
conteúdo educativo e também por que tipos e atividades
de entretenimento eles são preferencialmente motivados; e
3. ampliar a compreensão deles sobre o desenvolvimento
social, econômico, político e cultural das comunidades nas
quais estão inseridos e apontar a comunicação radiofôni-
ca como recurso permanente e ferramenta eficiente para
ensino regular e para difusão de informações práticas ou
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 517
de formação cultural local ou universal. No Brasil o rádio
completou 90 anos de sua primeira transmissão oficial com
aproximadamente 4089 emissoras comerciais (AM/FM)7,
4449 emissoras comunitárias autorizadas8 e 176 emissoras
FM Educativas9. Considerando um universo desta magni-
tude podemos seguramente afirmar que, seja no trajeto his-
tórico ou na programação cotidiana atual, o rádio brasileiro
possui grande diversidade de produtos e de formatos, que
muitas vezes, apresentam excelentes padrões de qualidade.
E, apresentar esta produção aos alunos é o primeiro passo.
O conhecimento das produções transmitidas pela imensa
quantidade e diversidade de emissoras brasileiras, nos permite
analisar os acertos e erros cometidos, e serve como referencial
para auxiliar a fundamentação do planejamento da produção
radiofônica regional ou até nacional, de gêneros, formatos e
conteúdos para ensinar e educar em muitas localidades em
que as estações de rádio são as principais interlocutoras da vida
pública e da existência privada. Muitas rádios servem como
repositórios da cultura e dos costumes locais e também de
tribuna para o debate econômico, político, religioso e muitos
outros problemas ou dos conflitos da comunidade.
Então, qualquer proposta de formação de novos quadros
para atuar na educação e ensino pelo rádio, ou mesmo pela
televisão e pelos novos meios informáticos, seja de pro-
fissionais do meio, de leigos interessados em dominar os
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 518
segredos do(s) veículo(s) ou de estudantes de comunica-
ção, de pedagogia e de tantas outras licenciaturas dedicadas
a formar professores, deve se preocupar com identificação
das especificidades da programação e as preferências da po-
pulação em relação a determinados tipos de programas e
de repertórios. Afinal os comunicadores educativos, sejam
radiofônicos ou de outros meios, sempre desejam adicionar
determinados repertórios e experimentar novos formatos e
linguagens, ao realizar propostas de educação mediada.
No caso de rádio, ao se apresentar um programa com
finalidade educativa e cultural, é imprescindível avaliar e res-
peitar os modelos de linguagem e as formas de apresentação
utilizadas pelas emissoras em determinadas comunidades.
Aquelas pessoas estão habituadas a ouvir um tipo de pro-
gramação e a interagir com seus locutores e apresentadores,
e, poderão rechaçar uma alteração abrupta de linguagem, de
conteúdo e da maneira de apresentar um programa.
Muitas vezes os jovens estudantes, pela euforia da possi-
bilidade de experimentar, de criar e de questionar padrões,
em um comportamento tão próprio da idade, costumam es-
palhar o discurso sobre a necessidade de inovação pelas salas
de aula e pelos espaços de representação discente e de con-
vivência acadêmica, empolgando-se facilmente com ideias
nem sempre tão novas. É exatamente por esta razão, que é
imprescindível que a universidade conte com o conheci-
mento e a experiência de seus professores para orientar um
experimento de comunicação educativa. Só assim a comu-
nidade universitária conseguirá cumprir verdadeiramente
seu papel de estimular a experimentação e a inovação dos
conhecimentos e das práticas de educação mediada. A pes-
quisa e a ação acadêmica deverão partir da apresentação dos
padrões históricos e da observação dos formatos, linguagens
e conteúdos atuais, e cobrar de professores e alunos, a cole-
ta sistemática de dados, realizando constantemente análises
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 519
críticas dos resultados ou efeitos das novas produções apre-
sentadas a partir de pressupostos renovadores.
Kaplún pretende não somente demonstrar que um pro-
grama radiofônico que objetiva a educação não precisa ser
chato, mas sim, que não deve sê-lo, deste modo, ampliar
a compreensão dos estudantes e produtores de rádio para
que possam partilhar desta visão consiste na quebra de pre-
conceitos comunicativos. Se experimentação é um concei-
to imediatamente contagiante nos espaços universitários,
propor a produção de programas educativos parece causar
o efeito oposto, remetendo à monotonia de um processo
educativo verticalizado, impositivo e invariável. Para vencer
a resistência inicial buscamos demonstrar que,
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 520
faturamento publicitário dos oligopólios de radiodifusão
existentes em quase todos os países da América Latina.
Ainda, como afirma Kaplún, qualquer que seja a orien-
tação pedagógica escolhida, é necessário conhecer o meio
com o qual se vai trabalhar, sua natureza, especificidades e
exigências (KAPLÚN, 1994, p 46).
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 521
o desenvolvimento social e cidadão. Kaplún acredita que
a produção radiofônica pode ser uma forma eficiente de
visibilidade às carências da população latino-americana,
suprindo-as, quando possível, através da educação. Para ele,
a educação radiofônica deve ser entendida para além das
emissoras especializadas agregando todas as transmissões
que incentivem a promoção o desenvolvimento integral
do homem e da comunidade, se propondo a elevar o nível
de consciência crítica e convertendo o homem em um
agente ativo na transformação de seu entorno.
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 522
Algumas considerações sobre o contexto brasileiro
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 523
cultural nacional.A criação do Ministério da Educação, a auto-
rização da radiodifusão comercial e o estímulo à difusão das sa-
las de exibição de cinema sonoro ocorreram em tempos simul-
tâneos e como parte da mesma estratégia do Estado brasileiro.
Em 1934, o escolanovista e Diretor do Instituto de Educação
do Distrito Federal, Lourenço Filho, ao prefaciar a publicação
pioneira na discussão sobre o rádio educativo brasileiro, Rádio e
Educação, de Ariosto Espinheira, afirmou que a “radiocomuni-
cação, embora com uma aplicação não potencializada, era ver-
dadeira maravilha do século XX” (MAGNONI, 2001).
Entre as principais experiências educativas brasileiras
podemos destacar: A Universidade do Ar, o Movimento de
Educação de Base - MEB, o Serviço de Assistência Ru-
ral (SAR), o Programa Brasileiro-Americano de Ajuda ao
Ensino Elementar – PABAEE, o Sistema Rádio Educativo
Nacional – SIRENA, o Projeto Minerva, a Radiobrás e a
criação da Associação de Comunicação Educativa Roquet-
te-Pinto – ACERP (MAGNONI, 2001).
Ainda, no cenário brasileiro contemporâneo, merece
destaque o trabalho realizado pelo Núcleo de Comunica-
ção e Educação da Universidade de São Paulo por meio do
Projeto Educom.radio, especialmente pelo diálogo estabele-
cido com o pensamento de Mario Kaplún.
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 524
produtiva no que tange à exploração da potencialidade edu-
cativa do meio, contudo, a educação pública e a comunica-
ção massiva brasileira seguiram caminhos simultâneos sem
que houvesse, de fato, uma convivência construtiva entre
as duas áreas, apesar de surgirem como peças complemen-
tares da mesma estratégia política e hegemônica das classes
dominantes. Talvez tal distanciamento tenha sido causado
pela intervenção autoritária do governo federal, que optou
pelo uso da radiodifusão mais como recurso de propaganda
do regime e de estímulo ao desenvolvimento da iniciativa
privada, mais do que um instrumento de difusão cultural e
educativa (MAGNONI, 2001).
Em verdade, os anos 50 marcaram, ao mesmo tempo,
o apogeu econômico e profissional do rádio como meio
de comunicação eletrônica mais popular e abrangente, e o
início de um ciclo de decadência do qual, passadas cinco
décadas, ele ainda não se recuperou. Mesmo a discussão
(teórica e metodológica) sobre rádio e educação pouco
avançou a partir da segunda metade do século XX. As aten-
ções se voltaram para a tevê educativa nos anos 70, para o
videocassete e o computador nos anos 80 e para a Internet
nos anos 90, atualmente incluindo projetos relacionados à
televisão digital.
No entanto, em 1960, Luiz Beltrão alertava que,
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 525
e consequências dos acontecimentos, sente-se apto à
ação (BELTRÃO, 1992, p.33).
Depoimentos
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 526
produções, entretanto, no ritmo cotidiano dos processos de
produção não se pode dizer que essa é a prioridade, mas
talvez seja o desafio”.
Beatriz Vital, aluna de Jornalismo da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho
A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 527
motivo, ter contato com as ideias de Kaplún já na academia
- colocando-as em prática, evidentemente - aumenta a pos-
sibilidade de formação de profissionais criativos e capazes
de enfrentar (e cumprir) o desafio de utilizar as técnicas da
comunicação para promover a educação e a cidadania. Se
lembrarmos que as concessões de rádio e televisão são bens
públicos, o objetivo de educar por meio dos conteúdos
transmitidos é, na verdade, uma obrigação das equipes que
trabalham nesses locais. Acredito, portanto, que isso torna
ainda mais relevante estimular estudantes e profissionais a
colocarem em prática as teorias e técnicas de Kaplún”.
Kelly De Conti – aluna de Jornalismo da Universidade
Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho.
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A pedagogia radiofônica de Mario Kaplún: a educação como meta possível e permanente 531
A ONDA:
Aplicação das principais teorias
de comunicação do período en-
tre guerras1
Introdução
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 532
conta geralmente com uma base de massas, mas apenas seus
dirigentes têm poder de decisão”. Segundo este mesmo livro,
uma das principais características desta forma de governo é
o uso massivo dos meios de comunicação de massa. A justi-
ficativa para sua utilização foi para a difusão da ideologia do
regime e exaltar tanto a figura do líder quanto a do governo.
Outras características, citadas por Gislane Azevedo e Rei-
naldo Seriacopi (2005, p. 416), são o uso da censura em larga
escala, da delação (sinônimo de acusação, denúncia) e da vio-
lência contra grupos minoritários (principalmente ciganos,
judeus, homossexuais e imigrantes). Desse modo, os regimes
totalitários se estabeleceram em vários países da Europa, após
a Primeira Guerra Mundial, que ocorreu entre 1914 e 1918.
Dentre os principais adeptos do totalitarismo estão Benito
Mussolini, com o Facismo, na Itália, e Adolf Hitler, e o Na-
zismo, na Alemanha, que será brevemente resumido agora.
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 533
[...] não era uma ideologia irracional; o nazismo tra-
balhava, mais que outras ideologias, o componente
irracional das pessoas. E o fazia de uma forma abso-
lutamente racional, premeditada e planejada, desde
os desfiles, rigorosamente coreografados, os discur-
sos de Hitler, em que uma iluminação colocada atrás
dava a ilusão de que o sol o elevava, as bandeiras e
estandartes colocados nas ruas dando uma aparência
de festa e compondo os elementos cenográficos de
um ritual que reforçava a comunhão nacional, etc.
Estes aspectos do nazismo são tão centrais na com-
preensão da adesão das pessoas quanto a análise dos
seus conteúdos políticos (CYTRYNOWICZ, apud
CAMPOS e CLARO, 1995, p. 211).
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 534
Quanto a educação nazista, as escolas transmitiam aos
seus alunos sua ideologia. José Flavio de Campos e Regina
Claro relatam que:
O filme “A Onda”
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 535
Então, Ross pesquisou vários livros sobre o regime de
Hitler e chegou a suas conclusões. Nas aulas seguintes, co-
meçou a trabalhar os conceitos de disciplina, comunidade
e ação com os alunos, que aceitaram tudo conforme era
ordenado a eles, como se quisessem ser disciplinados, assim
como o havia dito o professor a sua esposa.
O professor Ross e a turma da aula de história criaram o
grupo “A Onda”, fazendo com que os alunos se sentissem uni-
dos por um ideal.Tinha esse nome, pois uma onda, para o edu-
cador, era um modelo de mudanças e tinha movimento, direção
e impacto. Inicialmente, a ideia parecia boa, pois tornava a classe
mais unida.Todavia, a experiência fugiu do controle, pois hou-
ve vários casos de violência dentro da escola, em nome de “A
Onda”. A situação chegou a um ponto tão incontrolável, que
Laurie foi agredida pelo namorado, também estudante e mem-
bro da “organização”, David (John Putch).
Portanto, o professor Ross resolveu dar fim à experiên-
cia, convocando os membros de “A Onda” para uma espé-
cie de comício do movimento, na escola onde estudavam,
para apresentar o “líder nacional jovem”, assustando Laurie
e David. Mas, neste evento, ele mostrou um vídeo de Hitler,
o suposto comandante, e explicou que todos poderiam ser
“ótimos nazistas”, pois foram facilmente manipulados pe-
las mensagens de união, disciplina, ação, mudanças, etc. que
Ross difundia. A moral da história é que deveriam pensar
por si mesmos e refletir as atitudes que eram transmitidas
antes de agirem ou seguirem algum ideal.
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 536
Comportamento Condicionado, de Ivan Pavlov e anali-
sa as propagandas oriundas do rádio, principal meio de
comunicação de 1930, ano de sua teorização. Também
é chamada de Teoria da Agulha Hipodérmica, Teoria
da Bala Mágica e Teoria da Correia de Transmissão. O
professor Ivan Carlo Andrade de Oliveira (2003, p. 9)
enfatiza que ela “influenciou todo o pensamento comu-
nicacional da primeira metade do século passado e tor-
nou-se um ponto de partida essencial tanto para os que
concordam com seus ditames quanto para os que discor-
dam”, pois foi a primeira grande teoria de comunicação,
influenciando outras ideias e críticas posteriores.
Oliveira também explica os fundamentos da Teoria Hi-
podérmica. Ela tem explicações no Behaviorismo, pois essa
última parte do princípio de que toda resposta corresponde
a um estímulo, pois não existe estímulo sem resposta e vice-
-versa. Esta reação da mensagem radiofônica correspondia à
aceitação das massas. Porém quando isso ocorre significa que
não há o feedback propriamente dito, uma crítica ou uma
análise quanto ao conteúdo exposto ao público, considerado
atomizado, amorfo, agindo de maneira uniforme e imediata.
Enquanto isso, a teoria do Comportamento Condicio-
nado, também relacionada à Hipodérmica, parece ser uma
extensão do Behaviorismo, pondo em prática sua ideia.
Oliveira cita a experiência do cachorrinho como exemplo
de seu funcionamento:
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 537
Tomando como base essa exemplificação da Teoria do
Comportamento Condicionado, percebe-se que realmente
há uma afirmação do Behaviorismo, ou seja, o feedback,
de fato, não existiria, pois o público responderia de forma
imediata ao que é exposto, assim como o cachorro reagiu
salivando ao toque da sineta, uma representação da chegada
do alimento, havendo ou não comida para o animal.
Através desses conceitos, imprescindíveis para o enten-
dimento da teoria, surgiu a ideia de sociedade de massa.
Mauro Wolf, citado por Maria Ivanúcia Costa e Marcí-
lia Mendes, considera o termo “massa” como: “um gru-
po homogêneo de pessoas, aparentemente iguais, mas que
provém de ambientes e grupos sociais diferentes” (WOLF
apud COSTA, MENDES, s.d., p.2). Pensava-se então que a
massa poderia ser tranquilamente manipulada pelos deten-
tores dos meios de comunicação, pois eram características
dessa categoria não haver contato entre as pessoas que o
compõe, ela forma-se de modo espontâneo e não há a pos-
sibilidade de crítica, devido à falta desse atributo por parte
de seus componentes.
Em “A Onda”, a Teoria Hipodérmica é a mais in-
fluente, até mesmo pelo fato de ser uma experiência ne-
onazista em uma sala de aula. As mensagens do professor
Ross à turma são, de acordo com o modelo comunicativo
estabelecido pelo norte-americano Harold Lasswell, os
estímulos. E o modo que eles reagiam, ou seja, se entre-
gando às atividades e filosofia empregadas neste grupo,
agindo de maneira uniforme, são as respostas.
Para exemplificar como funcionava a Teoria do Com-
portamento Condicionado na sala do professor Ross, po-
de-se utilizar da parte do filme na qual o mestre ensinou o
modelo de respostas.Toda pergunta feita por ele deveria ser
respondida no seguinte formato: o aluno deveria levantar
de seu assento e dizer “Senhor Ross, ...”. Portanto, os jovens
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 538
com o passar do tempo estariam condicionados a respon-
dê-lo dessa maneira, enfatizando o ideal disciplinador do
grupo neonazista “A Onda”.
O vídeo mostrou perfeitamente que o teste feito repre-
sentava uma psicologia de massas, aproveitando-se de uma
necessidade dos alunos (de serem disciplinados) para incutir
e reforçar uma ideia, devendo seguir até alcançar um obje-
tivo. Vale lembrar que a Teoria Hipodérmica não pode ser
mais aplicada nos dias atuais, pois existe outros veículos de
comunicação além do rádio e, principalmente, a Internet,
a principal Self Media existente, onde pode-se escolher os
próprios meios de informação.
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 539
realidade existente se define por uma função, isto é, pela
atividade que lhe cabe em um conjunto cujas partes são
necessariamente solidárias” (POLISTCHUCK E TRIN-
TA, apud COSTA E MENDES, 2003, P.84). Ou seja, se na
Teoria Hipodérmica os meios de comunicação de massa
eram considerados o “Quarto Poder”, agora eles passavam
a ser um pedaço de um todo social.
Assim como a “Bala Mágica”, o Funcionalismo possuia
um modelo comunicativo, o chamado “Paradigma do Ato
Comunicativo”, também pensado por Harold Lasswell. Ma-
ria Ivanúcia Costa e Marcília Mendes explicam o contexto
da criação desse modelo: “O contexto teórico em que se
situava Lasswell era definido pelo ímpeto da comunicação
política e publicitária, que o incumbiram de formular o
paradigma clássico da comunicação”.Veja a imagem abaixo,
que mostra o esquema elaborado pelo norte-americano:
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 540
e cada instituição existentes contribuem funcionalmente
para a manutenção da organização social”. “Diz o quê”,
através da análise de conteúdo; “em que canal”, por qual
meio, representado pela análise dos meios; “para quem”, o
chamado receptores, pela análise de audiência; e “com que
efeito”, o feedback, por meio da análise dos efeitos.
O Paradigma do Ato Comunicativo parece funcionar, apa-
rentemente, de forma quase perfeita, diminuindo os impactos da
“Bala Mágica”. Porém, esse esquema não conseguiu resolver a
questão imposta pela Teoria Hipodérmica, porque este Paradig-
ma também resultava na manipulação dos indivíduos. Para tan-
to, Charles Merton e Paul Lazarsfeld, juntamente com Harold
Lasswell, procuraram estabelecer funções para os meios de co-
municação de massa. Lasswell apontou três funções. A primeira
é a vigilância sobre o meio ambiente, na qual a mídia revela
aonde pode estar a ameaça ao sistema de valores vigente na so-
ciedade. A integração significa, segundo Lasswell (apud COS-
TA e MENDES, 1971, p. 106),“a correlação das partes de uma
sociedade em resposta ao meio”, ou seja, a sociedade trabalha
em conjunto para manter a ordem social, podendo se unir até
mesmo para excluir aqueles que não partilham da mesma ideia.
E, por fim, a transmissão da herança cultural. A mídia transmite
mensagens em busca de endossar patrimônios culturais, dissemi-
nando-os de geração em geração.Além dessas, Lasswell apontou
uma função adjacente a essas três, que é a do entretenimento,
na qual a mídia oferece diversão para seu público. Polistchuck e
Trinta (apud COSTA E MENDES 2003, p.89), destacam algu-
mas características das funções apontadas por Lasswell:
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 541
seios e expectativas, latentes ou não, dos membros que
o compõem; Há clara influência do contexto (social,
cultural, ideológico) e de predisposições especiais nas
reações manifestas pelo público; Os conteúdos disse-
minados pela mídia estão inseridos no contexto; Os
conteúdos disseminados constituem, portanto, um dos
fatores que provocam reações por parte do público”.
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 542
Ou seja, a disfunção é considerada “narcotizante” devido
ao surgimento de vários outros meios de comunicação e
suas convergências, que produzem infinitas informações so-
bre diversos temas em tempo muito curto, sendo difícil para
as pessoas poderem assimilar esse conteúdo naturalmente.
A Teoria do Funcionalismo continua sendo aplicada, de-
vido ao constante surgimento de tecnologias responsáveis
pela transmissão de infinitas mensagens a todo o momento.
Em “A Onda”, a Teoria Funcionalista é visível, no que
tange as funções dos meios de comunicação. A integração,
correspondente ao reforço das normas sociais em Paul La-
zarsfeld e Charles Merton está presente, eliminando aqueles
que são contra o movimento, a fim de que haja a manuten-
ção do sistema. Alguns integrantes do grupo agiam violenta-
mente contra outros alunos em nome de “A Onda”, dizendo
seu lema “força pela disciplina, força pela comunidade, força
pela ação”, excluindo quem era contra, assim como Laurie
quase foi agredida pelo namorado por causa disso.
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 543
do por alguém e espera que ele será compreendido como
tal na sua recepção” (FERREIRA, HOHLFELDT, MAR-
TINO, MORAIS, 2010, p.43). Shannon e Weaver pregam
também o uso da repetição do estímulo, quantas vezes fo-
rem necessárias, para evitar o ruído e, consequentemente,
alcançar o claro entendimento.
No sistema de comunicação de Shannon e Weaver exis-
te um emissor que envia uma mensagem, por um deter-
minado canal, para um receptor, que dissecará o que lhe
foi emitido. O livro Teorias da Comunicação- Trajetórias
Investigativas endossa essa informação, esclarecendo que:
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 544
para reduzir a equiprobabilidade na fonte. A in-
formação apreendida pelo seu lado mensurável,
no interior do código, coloca em destaque o sis-
tema sintático. Todo outro aspecto do significado,
intrínseco à comunicação humana, não é levado
em conta (FERREIRA, HOHLFELDT, MAR-
TINO, MORAIS, 2010, p.43).
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 545
em seu texto “Teorias da Comunicação dos EUA”, afirma
sobre a origem do termo “cibernética” que:
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 546
O Paradigma Matemático Informacional atualmente
ainda existe, pois ruídos são comuns na linguagem oral e
até mesmo por meio de tecnologia. A Cibernética também
sobrevive, com muita força, pois as tecnologias se renovam
em um curto espaço de tempo, influenciando nas emissões
e respostas de mensagens a todo o momento.
Aplicando seus conceitos em “A Onda”, a Cibernéti-
ca predomina no filme. Para ilustrar a presença do estudo
de Shannon e Weaver no vídeo, as aulas do professor Ross
eram diferenciadas, pois ele explicava cada um dos lemas
do grupo, além de ordenar insistentemente aos alunos que
repetissem oração “força pela disciplina, força pela comu-
nidade, força pela ação”. Vale lembrar que o símbolo do
movimento transmite seus valores, sendo mais um recurso
de reforço dos ideais, ou seja, ajuda na repetição de uma
mensagem, auxiliando a alienação daquela turma.
Conclusão
A ONDA: Aplicação das principais teorias de comunicação do período entre guerras 547
manter o grupo unido de qualquer ameaça a sua ordem,
necessitando alerta da população e a exclusão por parte
do povo contra, por exemplo, os judeus, considerados
por Adolf Hitler como um povo que deveria ser ex-
terminado em nome de uma sociedade ariana. O Para-
digma Matemático Informacional está representado pela
repetição dos valores nazistas nas propagandas desse go-
verno totalitário, causando a alienação em grande parte
dos alemães na época da Segunda Guerra Mundial.
Referências Cinematográficas:
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