Entrevista Psicopatológica

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FICHAMENTO DE PSICOPATOLOGIA

Entrevista psicopatológica: o que muda entre a psiquiatria e a psicanálise? p63

O importante não é compreender, é atingir o verdadeiro. Temos de induzir no sujeito um


estado de espírito que o leve a monologar e a discutir; a partir daí nossa tática consistirá
em nos calar ou em contradizer apenas o suficiente para parecermos incapazes de
compreendê-lo completamente.

Interrogatório: primórdios da psiquiatria


A loucura deixa de ser considerada uma doença do cérebro para ser concebida como
doença das faculdades mentais (um desarranjo, um desequilíbrio), e então agora pode ser
tratada. Para Pinel, “nenhuma loucura implica perda total da razão”, mas um defeito de
julgamento, um erro de elaboração das ideias.
Sem uma terapêutica própria, recolher as palavras do paciente se destacou como uma das
principais vias de acesso às manifestações da loucura. Assim, o interrogatório se tornaria o
principal instrumento da psiquiatria clássica, de intervenção sobre a loucura. O
interrogatório consistia na prática de convocar o paciente a falar tanto sobre suas vivências
mórbidas e sobre sua doença, como sobre sua história de vida.
Isso levou a um grande avanço de diagnóstico, uma vez que foi permitido aos doutores um
conhecimento aprofundado sobre os fenômenos psíquicos e sua evolução.
O interrogatório era um instrumento para extrair confissões, e usado como meio de
intervenção terapeutica. O doutor conduzia esse processo já com informações prévias
fornecidas pela família ou por conhecidos do asilo, o que permitia que o psiquiatra pudesse
confrontá-lo em seus relatos sobre algumas informações que foram compartilhadas com
ele, o que tornava insustentável o pensamento delirante.
Griesinger e Falret ->apesar de organicistas, achavam importante ouvir os relatos dos
pacientes para entender mais sobre a doença.
A psiquiatria clássica entra em declínio, uma vez que já há um bom montante de
conhecimento sobre as doenças mentais, e o interrogatório não serve mais para construir
conhecimentos, e sim para diagnosticar.

Entrevista Psiquiátrica
O interrogatório caiu em desuso. Decerto que as entrevistas que realizamos atualmente
não se prestam mais a confrontar nem a persuadir o louco a se adequar à nossa realidade,
mas foi dele que tiramos a base que hoje praticamos. Uma boa avaliação implica
apreender o funcionamento do psíquico do paciente, no que diz respeito tanto às suas
características afetivas e de personalidade quanto à dinâmica de seus sintomas, de forma
a permitir a formulação do diagnóstico, do prognóstico (desenvolvimento futuro), assim
como de um plano de tratamento. Essa avaliação possui dois aspectos: longitudinal e
transversal.O aspecto longitudinal é composto pela história de vida, e o transversal
visa apreender o estado mental do paciente. o psíquico é inapreensível diretamente,
sendo necessário captá-lo não apenas através da conversação, mas também da
observação da conduta do paciente.
Uma boa entrevista é que se deve “dizer o menos possível, deixando que o paciente fale.
Enquanto se conversa, dá-se atenção à conduta e aos gestos do paciente: às muitas
manifestações expressivas, ao tom de voz, a um sorriso, a um olhar, a tudo quanto,
inconscientemente, vem a formar nossa impressão” (JASPERS, 1987, p. 980).
É um desafio ao entrevistador, ao mesmo tempo que permite aos pacientes que contem
suas histórias em suas próprias palavras, na ordem que consideram mais importante,
conseguir reconhecer e extrair de seu discurso os pontos de fato indispensáveis para a
avaliação do paciente, o que implica saber quando e como introduzir questões relevantes.
DSM-> manual das doenças mentais
A entrevista vai dar foco a diferentes pontos dependendo da abordagem escolhida pelo
profissional, mas existem alguns pontos em comum, como o reconhecimento desta como
um excelente instrumento de diagnóstico, como um momento único para a aliança
terapeutica e tambem uma estrutura basica que orienta o entrevistador. Estrutura :
identificação queixa principal/motivo - nem sempre é facil de obter história da doença atual
doenças passadas - físicas que pode ter tido
história pessoal - questões físicas e emocionais
história familiar e social
No que diz respeito à perspectiva transversal, trata-se do exame, do estado do
funcionamento psíquico no momento da entrevista. Portanto, a perspectiva transversal,
ao contrário da perspectiva longitudinal, vai operar não com os dados relatados pelo
paciente, mas com aquilo que pode ser capturado, apreendido pela observação, pela
sintonia do paciente com o observador.
Habitualmente, deve constar como se encontram as seguintes funções:
Aparência, impressão física geral (apresentação, postura, autocuidado); atitude para com o
examinador. Consciência (nível e campo), atenção, orientação, memória e inteligência.
Humor e afeto, comportamento, vontade, psicomotricidade, sensopercepção. Consciência
do eu; linguagem, pensamento (curso e forma), juízo de realidade; crítica.
A entrevista com a família é importante em vários aspectos, tanto para adquirir mais
informações, quanto para comparar com o relato do paciente. Também pode ser importante
para uma intervenção com a família, como estão lidando com a doença, orientação, etc. -
Como divergências na entrevista, temos aquilo que é interessante focar na fala do
paciente, dados subjetivos x objetivos. Jasperianos = entrar no intramundo
psicótico,conduzir o paciente a auto observação, relatar vivências. perspectivas mais
descritivas = valorizava-se o “conhecimento exato dos fatos”, a descrição objetiva dos
comportamentos.
Porem isso se perde na psiquiatria atual, visto que temos uma psiquiatria de caráter
universalizante, cuja lógica se encontra representada nos manuais de classificação dos
DSMs e do CID 10, orientada para a supressão dos sintomas, que já não se interessa pela
história de vida do paciente

Subversão Psicanalítica
Os fenômenos, tais como os delírios e as alucinações, eram considerados por Clérambault
como sendo as manifestações psíquicas secundárias a esse processo de origem orgânica.
Clérambault acreditava que era preciso mostrar-se incapaz de compreender
completamente o paciente e, usando técnicas de manipulação, procurava emocionar o
paciente, pois comovendo-o era possível ativar sua emoção de forma que esta escapasse
às tentativas do enfermo de se ocultar, acabando por revelar, ainda que por sinais
discretos, o ponto inconfessável.Lacan perpetuou o seu interesse agudo e penetrante, que
buscava, para além dos fenômenos, a posição do doente.
Podemos dizer que, assim como seu mestre, a intenção de Lacan era buscar, para além
dos fenômenos psicóticos, o “nó central do caso”. Lacan vai se interessar, então, pela
dimensão inconsciente, deslocando assim o interesse do enunciado para a enunciação
p82.

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