Causa-e-Consequencia PDF Site VERSAO3 FINAL

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Índice

Prefácio ............................................................................ 9

1. Toda a ação gera uma consequência.......................... 15


Saber a causa do problema é meio caminho
para a solução ........................................................ 19

2. O Princípio da Causalidade ........................................ 21


A relação de causa e consequência
na filosofia budista ................................................ 26
A relação de causa e consequência que mais
queremos saber ..................................................... 34
Construímos o nosso próprio destino ....................... 37
Como construímos o nosso destino?......................... 38
As nossas ações de hoje constroem o futuro ............ 40

3. O Princípio da Causa e Consequência na nossa


vida quotidiana ............................................................ 43
Tudo vale a pena, se o esforço está na direção
correta .................................................................... 48
Ter sonhos e perseverança para superar
as dificuldades e ser feliz ...................................... 49

3
M auro M. N akaMura

O inestimável valor de um sorriso ............................. 52


Praticar uma boa ação (verdadeira)............................ 54
Colocar-se no lugar das pessoas — um valor
humano essencial ................................................. 55
Ser honesto é ser tolo? ................................................ 57
Bem e mal — Será que realmente sabemos o que é? 59
Errar é fundamental ................................................... 62
Aprender com os erros dos outros............................. 63
Reconhecer o erro e pedir desculpas ......................... 66
A pessoa mais feliz deste mundo é aquela
que tem gratidão ................................................... 68
Valorizar cada momento ............................................ 70
Viver e aprender .......................................................... 72

4. Boas ações que qualquer pessoa pode praticar


no dia a dia .................................................................. 73
As seis boas ações (paramitas) ................................... 77
Primeira boa ação — Generosidade (doação) ........... 78
Segunda boa ação — Disciplina (cumprir
as promessas) ........................................................ 88
Terceira boa ação — Paciência (perseverança) .......... 90
Quarta boa ação — Esforço (dedicação) .................... 93
Quinta boa ação — Reflexão (discernimento)........... 96
Sexta boa ação — Sabedoria (autoconhecimento) .... 98
Quatro exemplos práticos de como as boas ações
quotidianas podem construir uma vida feliz ...... 99

5. Quando a relação de causa e consequência


é difícil de compreender............................................. 109
Inveja — a ignorância que atinge até o mais
sábio dos seres humanos...................................... 114

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C aus a e C onsequênCia

6. Causa, condição e consequência ................................ 117


O ladrão que sente ódio das algemas ........................ 120
A causa e condição do nosso nascimento ................. 121
Se um deles não tivesse existido,
não teríamos nascido ............................................ 122
Sutra da Gratidão Infinita aos Pais ............................ 123
Por que é que, mesmo distante, a mãe sente
as aflições do filho? ............................................... 129
Alguma vez já deu banho aos seus pais? .................. 131

7. Karma, mente Alaya e mundo kármico .................... 133


Cada pessoa vive no seu mundo kármico
particular ............................................................... 138
Os três mundos nos quais vive a humanidade ......... 140

8. A causa e consequência dos três mundos temporais


— passado, presente e futuro .................................... 143
Somos exatamente o que pensamos .......................... 148
O que pensamos e falamos ........................................ 150
Para cada sofrimento, um caminho,
uma felicidade ....................................................... 151
Por que é que os seres humanos são todos
iguais? .................................................................... 153
A causa básica do sofrimento humano ..................... 156
Viver é como voar........................................................ 158
Pensar no futuro para viver o presente plenamente .. 160
O que é sabedoria? ...................................................... 163
Gerir e aliviar temporariamente a nossa ansiedade
sobre o futuro não é a solução.............................. 165

5
M auro M. N akaMura

9. A importância e necessidade de saber sobre


o presente — Quem somos e como é o nosso
eu interior? .................................................................. 169
O que deveríamos saber, mas não sabemos.............. 171
Por que é tão difícil conhecer-se a si mesmo? .......... 172
Os três espelhos que refletem a nossa imagem........ 173
Quem sou eu? — Uma questão essencial
para a nossa felicidade .......................................... 176

10. A parábola budista sobre a natureza


do ser humano que explica quem somos
e porque vivemos ...................................................... 179
Viajante = Todos os seres humanos......................... 184
Entardecer de outono = Solidão da vida .................. 197
Ossos humanos = Morte das pessoas ...................... 199
Tigre = Vento da inconstância
(A nossa própria morte)...................................... 202
Pinheiro = As felicidades temporárias .................... 214
Liana = Tempo de vida .............................................. 220
Mar profundo = Mundo após a morte ..................... 221
Os três dragões = As três paixões mundanas
venenosas ............................................................ 226
As cinco gotas de mel = Os cinco desejos humanos .. 236
Nem tudo é como desejamos, mas, mesmo
assim, podemos ser felizes!................................ 237

11. Princípio da Causalidade e Budismo


— O caminho para o desenvolvimento humano
e a felicidade plena e duradoura nesta vida ............ 243

Referências bibliográficas e cinematográficas ...................... 251


I
nkan, ou hanko, são carimbos tradicionalmente usados
para assinar documentos, há milhares de anos, no Japão.
Antes privilégio do imperador e da nobreza, passaram a
ser usados por todos. Acredita-se que a forma e a beleza do
carimbo de assinatura tragam boa sorte.

Carimbos japoneses Inkan, utilizados


no lugar da assinatura pessoal.

No Japão é comum vermos anúncios publicitários di-


vulgando a venda de carimbos que muitos acreditam trazer
felicidade para os seus lares. É assustador calcular o preço
de tais propagandas. Se, apesar do custo dos anúncios, ainda

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M auro M. N akaMura

conseguem obter lucro, pode-se imaginar o número de pes-


soas que realmente acreditam que esses carimbos decidem
a sua felicidade ou infelicidade.
Há, ainda, os que se preocupam com as linhas das mãos,
o formato da casa, a construção dos túmulos, os dias de
sorte e de azar, pois acham que tudo isso leva uma pessoa a
ser feliz ou infeliz. São crenças profundamente arraigadas
no povo japonês.
Para o Budismo, porém, tudo isso é superstição. A ver-
dadeira felicidade vem da qualidade das ações que pratica-
mos no dia a dia. Boas sementes produzem frutos bons;
más sementes, frutos maus; quem semeia colhe os frutos.
De uma semente de abóbora jamais nascerá uma berin-
gela. Apenas as sementes que forem plantadas nascerão.
Há resultados que surgem de imediato, outros que demo-
ram dezenas de anos, e outros ainda que aparecem apenas
na vida futura. O tempo da colheita varia de uma semente
para outra, mas o resultado nunca deixa de aparecer.
Quem estuda e percorre o caminho do Budismo empe-
nha-se numa busca contínua porque acredita profunda-
mente nesse grande princípio de causa e efeito, que não
depende em nada das oscilações da subjetividade.
Talvez se possa dizer que uma qualidade importante que
nos falta hoje em dia é o esforço. Muitos buscam o que é
fácil e acomodam-se no que lhes convém, da mesma forma
que a água escorre sem dificuldade sempre para um nível
mais baixo. Visam apenas o resultado, sonhando alcançar
muito ganho com pouco esforço.
Uma infinidade de escolas e faculdades enfatiza a aquisi-
ção de conhecimentos, mas a formação e o desenvolvimento
das pessoas como seres humanos acabam esquecidos.

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C aus a e C onsequênCia

Certa vez, uma mulher procurou um monge muito


erudito para pedir conselhos sobre a educação do seu filho.
O monge disse: «É tarde demais.» «Mas ele acabou de nas-
cer!?», retrucou a mulher. «Se quer mesmo dar uma boa
educação ao seu filho, comece com a educação da sua mãe.»
Ouvindo a resposta do monge, a mulher assustou-se.

«Uma bela flor só floresce com


dedicação e cuidado contínuos.»

O trabalho que se realiza de um dia para outro não basta


para uma linda flor produzir perfume agradável. Da mesma
forma, educar uma criança para que adquira um belo cará-
ter e formação humana exige trabalho árduo e contínuo.
A educação escolar exerce grande influência na forma-
ção do caráter humano, mas acima de tudo, é importante
a educação recebida em casa, ou seja, aquela que vem da

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M auro M. N akaMura

postura e das atitudes dos pais. A personalidade dos filhos


é moldada com base no que se apreende dos mínimos atos
e palavras dos pais.
Ignorando o Princípio da Causalidade, os pais que se
rendem às práticas de más ações colhem como resultado o
sofrimento. Isso não só gera a própria infelicidade, como
joga os filhos no fundo da tristeza. Se a agulha não costurar
bem, a linha nunca seguirá de forma correta. Educar um
filho é dar exemplos por meio da própria conduta.
Os tempos mudam, mas o espírito dos seres humanos
continua o mesmo. Os nossos antepassados também pas-
saram pelas dificuldades e pelos sofrimentos que enfren-
tamos hoje. Estudar as causas do êxito ou do fracasso,
do sofrimento ou da felicidade daqueles que viveram no
passado e refletir sobre isso ajuda-nos a levar uma vida
melhor e feliz.
«A semente plantada certamente germinará, mas o que
não for semeado jamais crescerá»: esta é uma sólida lição
que os antigos nos ensinam com as suas vidas. Sem uma
causa, nenhum efeito se produzirá. Todo o êxito e toda a
felicidade não são nada mais do que o resultado do esforço
e da perseverança de cada um.
Depois da noite, vem sempre o amanhecer. O inverno
termina para dar lugar à primavera. Mais cedo ou mais tarde,
se a semente plantada for boa, certamente dará bons frutos.

KENTETSU TAKAMORI
Professor de Budismo
Autor do livro Porque Vivemos

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1
TODA A AÇÃO GERA
UMA CONSEQUÊNCIA
T
oda a ação tem uma consequência. Por ser assim,
toda a consequência teve uma causa. Este é um
princípio que não muda com o tempo nem com o
lugar. E continuará a ser válido em quaisquer país e época.
Muitas pessoas sentem a necessidade de mudar e reno-
var, mas enfrentam dificuldades. Como é possível iniciar
um processo de mudança na vida?
O primeiro passo é refletir sobre as nossas atitudes e a
postura mental. Sem reflexão, não há como mudar as nos-
sas ações. Sem mudar as ações, as consequências que tere-
mos na vida serão sempre as mesmas.
A busca pela felicidade é algo inerente ao ser humano.
Não há ninguém neste mundo que viva para sofrer. Todos,
sem exceção, desejam a felicidade. Mas por que razão, em-
bora se esforcem, as pessoas não conseguem ser felizes?
Vivemos numa sociedade em que as pessoas são educa-
das e formadas para buscar a felicidade a partir de ganhos
materiais, praticidade tecnológica e conforto. Não há mal

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M auro M. N akaMura

nenhum em ter uma vida assim e precisamos de tudo isso


para viver. O problema acontece quando as pessoas se esque-
cem de si mesmas.
Acreditamos que ter dinheiro, bens, uma boa família,
bons amigos e boa saúde seja suficiente para uma vida
feliz. Mas, pensando bem, quantas pessoas possuem tudo
isso e nem assim são total e verdadeiramente felizes?
Um exemplo disto foi a vida do inventor do nylon,
Wallace Hume Carothers. A empresa americana Dupont,
para a qual Carothers trabalhava, como um meio de asse-
gurar o sigilo industrial da invenção, fechou um contrato de
exclusividade comprometendo-se a pagar todas as despesas
pessoais de Carothers até ao fim da sua vida. Mesmo assim,
aos 41 anos, Carothers suicidou-se.
Se observarmos a História, veremos que não são raros
casos semelhantes.
O século XX foi aquele em que a humanidade conheceu
um avanço científico e tecnológico jamais visto, proporcio-
nando uma vida de conforto e bem-estar. Contudo, também
nos mostrou a outra face da moeda, ou seja, que a causa do
sofrimento humano não está na falta de bens materiais ou
de uma vida mais confortável.
O século passado provou à humanidade que dinheiro,
bens e conforto, embora muito importantes para se viver,
não são suficientes para proporcionar a verdadeira felicidade.
Buda Shakyamuni, o precursor do budismo, ensinou
que «ter e não ter são a mesma coisa»: em qualquer des-
sas duas condições, a nossa incapacidade para escapar ao
sofrimento não se altera. A pessoa que não possui dinheiro
ou bens sofre tentando obtê-los e quem já possui também
sofre para os administrar e manter.

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C aus a e C onsequênCia

O mesmo se aplica a todo o tipo de posses: se não temos,


somos infelizes, se temos, sofremos por conta delas. Quem
tem está preso com uma corrente de ouro, e quem não tem
está preso com uma corrente de ferro. Seja qual for o mate-
rial das correntes, o sofrimento por elas causado é igual-
mente real.
Mesmo que todos os nossos desejos de posse sejam
satisfeitos, a menos que a causa do sofrimento seja corre-
tamente diagnosticada e totalmente solucionada, jamais
obteremos uma felicidade plena e duradoura.
A chave para a felicidade não está fora, e sim dentro
de cada um de nós. Por mais que a sociedade mude, ainda
assim o ser humano continuará a sentir que falta algo mais
para se considerar plenamente feliz.
Voltar os olhos para si e redirecionar a forma de pensar
e agir. Aqui começa o caminho que nos conduzirá a um
mundo novo e feliz.

SABER A CAUSA DO PROBLEMA


É MEIO CAMINHO PARA A SOLUÇÃO

Algumas pessoas estão sempre sorridentes, de bem com a


vida e parecem não ter nenhum sofrimento. Todavia, será
que existem realmente pessoas assim?
A filosofia budista diz que embora todos os seres huma-
nos busquem a felicidade, a vida é repleta de sofrimentos. Isso
significa que, mesmo aquela pessoa que aparenta ser plena-
mente feliz, no seu íntimo, carrega algum tipo de sofrimento.
Problemas de relacionamento familiar ou no trabalho, de-
silusões amorosas, dificuldades no estudo, e até momentos

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M auro M. N akaMura

em que nos perguntamos para que estamos vivos, fazem


parte do rol de angústias das quais estamos vulneráveis.
Quem nunca passou por essas situações?
No entanto, no meio de tudo isso, notamos algo muito
interessante e positivo. Ao entendermos a razão pela qual
passamos por um momento difícil, só pelo facto de tomar-
mos consciência da causa do sofrimento sentimos um alívio.
Ao contrário, por não sabermos porque sofremos, sentimos
uma insegurança além do normal ou ficamos a martirizar-
-nos com a ira até perdermos o equilíbrio emocional.
Por exemplo, quando não estamos bem fisicamente e não
sabemos ao certo se estamos doentes, ficamos inseguros.
Isso leva a que imaginemos diversas doenças, fazendo com
que a nossa cabeça fique cheia de dúvidas obscuras.
Entretanto, se resolvermos ir ao médico e recebermos
o diagnóstico, não haverá necessidade para mais angús-
tias, pois bastará fazer o tratamento para ficarmos curados.
Só pelo facto de compreendermos corretamente a causa do
sofrimento, já teremos avançado metade do caminho até à
solução.
Quando nos deparamos com alguma dificuldade, pre-
cisamos de parar, pensar e refletir: afinal, por que estou a
sofrer? Se a causa da nossa angústia for clara, mesmo que
ainda não se chegue a uma solução, sentir-nos-emos mais
leves e o caminho à nossa frente abrir-se-á.

20
2
O PRINCÍPIO
DA CAUSALIDADE
Q
ual é a nossa reação quando algo inesperado nos
acontece?
Se for um acontecimento bom, consideramo-
-nos uma pessoa de sorte, que por acaso teve um bom des-
tino. Mas no caso de infelicidade, pensamos: porque é que
logo eu é que tenho de passar por isso?
Quando não conseguimos compreender porque é que
algo acontece, achamos logo que é «coisa do destino» ou
que aconteceu por acaso.
Algo ocorrer por acaso significa que aconteceu casual-
mente, ou seja, sem nenhuma causa. Mas será que nesta vida
realmente existe algum facto que aconteça sem nenhuma
causa?
Um acontecimento inusitado e folclórico que ocorreu
nos Estados Unidos faz-nos refletir sobre esta questão. Se é
uma história real ou lenda urbana, ninguém tem a certeza.
Mas o que importa é a mensagem que ela transmite e que
pode agregar à nossa vida.

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M auro M. N akaMura

Este episódio começa quando o gerente da divisão de


carros da Pontiac, da General Motors dos EUA, recebeu
uma curiosa carta de reclamação de um cliente.

«Esta é a segunda vez que vos envio uma carta, e não


vos culpo por não me responderem. Embora possa parecer
louco, o facto é que a minha família tem uma tradição,
que é a de comer gelado depois do jantar. Repetimos este
hábito todas as noites, variando apenas o tipo do gelado.
E eu estou encarregado de ir comprá-lo.
Recentemente comprei um novo Pontiac e desde então
as minhas idas à gelataria transformaram-se num pro-
blema. Sempre que compro gelado de baunilha, quando
volto da loja para casa, o carro não pega. Se comprar gelado
de qualquer outro sabor, o carro pega normalmente.
Os senhores devem achar que eu estou realmente louco,
mas não importa o quão tola possa parecer minha recla-
mação. O facto é que estou muito irritado com meu
Pontiac modelo 99».

A carta gerou tantos comentários do pessoal da GM que


uma cópia da reclamação chegou ao presidente da empresa.
Ele resolveu levá-la a sério e mandou um engenheiro con-
versar com o autor da carta.
O funcionário e o reclamante, um senhor bem-sucedido
na vida e dono de vários carros, foram juntos à gelataria no
fatídico Pontiac.
O engenheiro sugeriu o sabor baunilha para testar a re-
clamação e o carro efetivamente não pegou. O funcionário
da GM voltou nos dias seguintes, à mesma hora, e fez o
mesmo trajeto. Apenas variava o sabor do gelado. Mais uma

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C aus a e C onsequênCia

vez, o motor do carro só não funcionava quando o sabor


escolhido era baunilha.
O problema acabou por se tornar uma obsessão para o
engenheiro, que passou a fazer experiências diárias, ano-
tando todos os detalhes possíveis.
Depois de duas semanas veio a primeira grande desco-
berta. Quando escolhia baunilha, o comprador saía mais
depressa da gelataria, porque este tipo de gelado estava
mesmo à frente.
Examinando o carro, o engenheiro fez uma nova des-
coberta: como o tempo de compra era muito mais redu-
zido no caso da baunilha, em comparação com o tempo dos
outros sabores, o motor não chegava a arrefecer. Com isso
os vapores do combustível não se dissipavam, impedindo
que a nova partida do motor fosse instantânea.
A partir deste episódio, a GM mudou o sistema de
alimentação de combustível e introduziu a alteração em
todos os modelos a partir da linha do Pontiac 99. Mais do
que isso, o autor da reclamação ganhou um carro novo,
além da reforma do que não funcionava com gelado de
baunilha.
A GM distribuiu também um comunicado interno, exi-
gindo que os funcionários levassem a sério até as reclama-
ções mais estapafúrdias, «porque pode ser que uma grande
inovação esteja por trás de um gelado de baunilha», dizia o
documento da empresa.
Para toda e qualquer consequência que temos na vida,
com certeza existe uma causa. Não há nada neste mundo
que aconteça por acaso, isto é, sem uma causa.
Obviamente, existem situações em que a causa pode
ser desconhecida, como no caso da queda de um avião no

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M auro M. N akaMura

meio do oceano. No entanto, «a causa ser desconhecida»


e «a causa ser inexistente», são situações completamente
diferentes.
Há mais de 2600 anos, na Índia, Buda Shakyamuni
(Siddhartha Gautama) já ensinava que para toda e qualquer
consequência, com certeza existiu uma causa, que não há
nada que aconteça sem causa, por acaso. Isto é explicado
em profundidade pelo Princípio da Causalidade (causa e
consequência), base de toda a filosofia budista e, também,
de uma vida feliz.

A RELAÇÃO DE CAUSA E CONSEQUÊNCIA


NA FILOSOFIA BUDISTA

A palavra Budismo significa ensinamento de buda, ou seja,


refere-se à filosofia transmitida pelo Buda Shakyamuni.
Buda não é um nome próprio de uma pessoa, e sim o
termo que se refere à pessoa que alcançou o mais alto grau
de iluminação (conhecimento).
No Budismo, atingir a iluminação de buda significa des-
cobrir e adquirir o conhecimento pleno da verdade do
Universo. Esta verdade universal é o princípio que possibi-
lita a toda e qualquer pessoa, seja ela como for e em qual-
quer época, ser plenamente feliz nesta vida.
Desde que obteve a iluminação de buda, aos 35 anos de
idade, até falecer, aos 80 anos, por um período de 45 anos,
Shakyamuni explicou a filosofia que hoje conhecemos como
Budismo.

26
C AUS A E C ONSEQUÊNCIA

Buda Shakyamuni, o lavrador de corações

Este episódio aconteceu quando Shakyamuni e os seus


discípulos andavam de casa em casa, recolhendo doações
e transmitindo a virtude da prática do bem.
Ao ver o grupo de Shakyamuni, um dos lavradores que
descansava após o almoço, disse em tom de ironia:
«Por que não trabalham e cultivam a terra para produzir
alimentos para a população, como nós fazemos, ao invés de
apenas andar e pedir doações?»

27
M AURO M. N AKAMURA

Buda respondeu calmamente:


«Nós também somos lavradores, e trabalhamos.»
Surpreendido pela resposta inusitada, o agricultor
perguntou:
«Então diga-me, onde estão os vossos utensílios agríco-
las? Onde está a enxada? E a semente? E os frutos?»
E, novamente com serenidade, Shakyamuni explicou:
«Cultivamos a “terra” do coração das pessoas, com o
“arado” que se chama paciência ou perseverança. Com a
“enxada” da diligência, plantamos a “semente” da felici-
dade para que as pessoas possam colher os seus “frutos”,
com uma vida verdadeiramente feliz.»

Maior que a terra infértil,


é a dificuldade de cultivar
o coração das pessoas.
(BUDA SHAKYAMUNI)

A única ferramenta utilizada por Shakyamuni foi a pa-


lavra. Ao longo de toda a sua vida, proferiu palestras para
explicar o caminho para a felicidade plena e duradoura,
possível nesta vida para todas as pessoas.

28
C AUS A E C ONSEQUÊNCIA

A filosofia ensinada por Shakyamuni foi registada pelos


seus mais graduados discípulos, dando origem aos mais de
sete mil volumes de sutras, livros que relatam o conteúdo
das palestras proferidas pelo Buda.
Dentro de um desses sutras, há uma frase que diz:

Se colocarmos todo o Universo dentro


de uma semente de papoila, não ficará largo,
nem apertado. Caberá perfeitamente.

Uma curiosa e até mesmo estranha afirmação, mas com


uma sabedoria muito profunda, que explica muitos factos
do nosso quotidiano.
Contudo, o que quis Buda dizer com essa afirmação
enigmática?
Consideremos uma pequena planta, um mato que pode
surgir em qualquer floresta do planeta. Por que é que essa
planta nasceu naquela floresta, naquele exato lugar? Decerto
porque, de alguma maneira, a semente que originou a planta
caiu ou foi plantada nesse lugar. Essa semente, por sua vez,
foi produzida por outra planta, que também surgiu de outra
semente, e assim por diante.

29
M auro M. N akaMura

Para uma única planta brotar, foram necessárias mui-


tas e muitas sementes, incontáveis gerações de plantas que
produziram as sementes «ancestrais». O mesmo pode ser
dito acerca do nosso nascimento. Sem os nossos pais, avós,
bisavós e todos os nossos ancestrais, não teríamos nascido.
Se um deles não tivesse existido, não estaríamos, neste
momento, vivos.
Para que uma pessoa esteja viva neste momento, para
que uma única planta exista, todo o Universo teve de estar
em harmonia e colaborar direta ou indiretamente para
que esse único evento acontecesse. Por isso, podemos afir-
mar que «Se colocarmos todo o Universo dentro de uma
semente de papoila, não ficará largo, nem apertado. Caberá
perfeitamente».
Decorridos mais de 2600 anos desde que foi proferida,
esta verdade não se alterou, pois trata-se de uma verdade
universal. No Budismo, esta verdade é chamada Princípio
da Causalidade, causa e consequência ou causa e efeito,
e ensina-nos que para todos os acontecimentos da nossa
vida houve uma causa anterior, e que essa causa refere-se
às ações que viemos praticando até hoje, ao longo de todo
o nosso passado.
O Princípio da Causalidade é a base de toda a filosofia
budista, sendo, por isso, o ensinamento que está presente
em todos os sutras budistas. A partir de uma compreen-
são mais profunda do Princípio da Causalidade poderemos
perceber melhor por que é que determinados factos acon-
tecem na nossa vida e de que maneira o nosso destino é
construído.
O Princípio da Causalidade explica a relação entre causa
e consequência da seguinte forma:

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C aus a e C onsequênCia

As boas causas geram boas consequências.


As más causas geram más consequências.
As minhas causas geram as minhas consequências.

Se considerarmos o Budismo como uma árvore, o Princípio


da Causalidade é o tronco e a raiz da árvore, ou seja, ele é o
ensinamento básico do Budismo.
Sem raiz a árvore acabará por secar, e se se cortar o
tronco ela perderá o sustento. Portanto, se não entendermos
o Princípio da Causalidade, não será possível compreender
a filosofia budista e as relações de causa e consequência que
ela explica.
Vejamos o que significa «Princípio da Causalidade».
O termo «causalidade» refere-se à relação existente entre
«causa» e «consequência». Para toda e qualquer consequên-
cia existe, com certeza, uma causa. Mesmo dentre bilhões
de casos ou acontecimentos, jamais surgirá um resultado
sem a preexistência de uma causa. Não há qualquer exceção
a este princípio universal.
No entanto, existem inúmeras situações em que a causa
é desconhecida ou que ainda não foi esclarecida. No caso
de um avião que caiu e desapareceu nas profundezas do
oceano, investigar o motivo da queda é, algumas vezes, pra-
ticamente impossível.
Mesmo que jamais a causa do acidente seja descoberta,
isso não significa que não existiu uma causa para a queda
da aeronave. Como a queda do avião é um facto concre-
to, ou seja, uma consequência que aconteceu, podemos
afirmar categoricamente que existiu uma causa. Indepen-
dentemente da natureza da causa, que pode ter sido, por
exemplo, uma avaria elétrica, mecânica, falha humana ou

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M auro M. N akaMura

o conjunto de tudo isso, com certeza houve uma causa que


provocou a queda.
Por isso, «a causa ser desconhecida» e «a causa não
existir» são situações totalmente diferentes. É preciso ter
cuidado para não confundir as duas coisas. Por mais que
a consequência seja impercetível ou muito pequena, com
certeza existiu uma causa para tal acontecimento.
Tudo o que acontece neste mundo, mesmo os mais
insignificantes acontecimentos, são provenientes das suas
respectivas causas.
A palavra «princípio» refere-se a algo que é válido nos
três mundos temporais (passado, presente e futuro) e nas
dez direções do Universo (norte, sul, leste, oeste, nordeste,
noroeste, sudeste, sudoeste, acima e abaixo). Por outras pa-
lavras, princípio é uma verdade que é válida e jamais muda,
em qualquer época e lugar.
Algo que antigamente era considerado correto, mas que
hoje já não é aceite ou se comprovou que já não é válido,
não pode ser considerado um princípio. Portanto, se for
considerado um princípio, será verdadeiro em Portugal ou
em qualquer outro país do mundo, independentemente do
idioma ou cultura.
Este é o princípio da causa e consequência ensinado na
filosofia budista há mais de 2600 anos.
Sem uma causa jamais existirá a consequência, ou seja,
todo e qualquer acontecimento infalivelmente possui a causa
que o gerou. Não há nada que ocorra sem uma causa. Se exis-
tir uma causa, certamente surgirá uma consequência. Esta é
a verdade do Universo descoberta pelo Buda Shakyamuni.
O Princípio da Causalidade não foi criado, nem inven-
tado pelo Buda. Já existia antes de ser descoberto e sempre

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C AUS A E C ONSEQUÊNCIA

existirá, exatamente por ser uma verdade universal, como


a lei da gravitação universal descoberta por Isaac Newton.
A semente não plantada jamais germinará. Da mesma
forma, a semente plantada certamente um dia germinará
e crescerá, independentemente do tempo que demorará a
acontecer.

Em 2012, cientistas russos fizeram uma flor nascer a par-


tir de uma semente que ficou conservada por 32 mil anos
numa toca de esquilos na Sibéria, perto do Pólo Norte. Isso é
um exemplo de que para toda a consequência, com certeza,
houve uma causa. Mesmo na Ciência, esse princípio se
verifica. Aliás, todos os campos de conhecimento humano
partem desse pressuposto básico.
No passado, muitas doenças contagiosas causaram epi-
demias e mortes. Com o avanço das pesquisas na medicina,
chegou-se à cura das mesmas e, com isso, muitas delas
foram exterminadas do planeta.

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