Artigo2 Material de Leitura
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LORENA – SP
2008
DANIELA SANTOS OLIVEIRA
LORENA – SP
2008
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Catalogação na Publicação
Biblioteca Universitária
Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo
51-7 CDU
DANIELA SANTOS OLIVEIRA
NÚMEROS E SISTEMA DE NUMERAÇÃO
A minha primeira professora, tia Rosângela, por despertar em mim a curiosidade sobre
os números, e aos meus professores de Matemática, Claudete e Rogério, que me incentivaram
a ser professora e cultivaram em mim o prazer de aprender Matemática.
A minha sogra, Nadir, e ao meu sogro, Jean, pela constante ajuda no período da
realização deste trabalho.
Ao meu querido professor, Sérgio Cobianchi, que fez meus olhos brilharem logo na
primeira aula de História da Matemática e a quem eu admiro e respeito muito. Obrigada,
professor, pelo carinho e dedicação com que me orientou.
RESUMO
ABSTRACT
This work is about the studying of the development and construction of the number
and the number system. First, there is a research of the history of numbers, their importance
and how some of the systems used to be throughout history.
There is an entire chapter about the arabic system, in which we can see some topics of
the Indian development until we reach the current number system.
Next we can find Vygotsky and his teacher-student relationship, as well as the role of
the school in the knowledge achievement, taking into consideration the learning of numbers in
a pleasant way.
Finally, the analysis of a research which has been done among teachers and students,
about Mathematics history added to teaching numbers.
INTRODUÇÃO....................................................................................................................... 1
CAPÍTULO 1: UM PANORAMA DA HISTÓRIA DOS NÚMEROS............................... 3
A contagem e o senso numérico................................................................................................ 3
Números..................................................................................................................................... 6
Sistema de numeração babilônico.............................................................................................. 8
Sistema de numeração egípcio................................................................................................... 9
Sistema de numeração grego....................................................................................................10
Sistema de numeração romano.................................................................................................11
Sistema de numeração chinês-japonês......................................................................................12
Sistema de numeração maia......................................................................................................13
CONCLUSÃO.........................................................................................................................32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................35
ANEXOS..................................................................................................................................37
Anexo I – História em quadrinhos............................................................................................37
Anexo II – Questionário da entrevista feita com os professores...............................................41
Anexo III – Questionário da entrevista feita com os alunos.....................................................43
Anexo IV – Especialista de cálculo com o ábaco de peças efetuando suas operações
aritméticas.................................................................................................................................44
Anexo V – Detalhe de uma página do Codex Vigilanus..........................................................45
Anexo VI – Os algarismos e o zero num manuscrito latino do século XIII.............................46
Anexo VII – Os algarismos e a imprensa desde o século XV..................................................47
Anexo VIII- O cálculo escrito com os algarismos “arábicos”..................................................48
Anexo IX – A querela entre os abacistas e os algoristas..........................................................49
Anexo X – Gravura da Senhora Aritmética..............................................................................50
Anexo XI – Figuras que ajudam a criança a formar o conceito de quantidade........................51
Anexo XII – Figuras que ajudam a criança a formar o conceito de quantidade.......................52
Anexo XIII – Figuras que ajudam a criança a formar o conceito de seqüência.......................53
INTRODUÇÃO
mostrando que tudo que existiu e que existe foi criado motivado pela necessidade humana da
evolução.
3
quando o homem faz essa relação de ordem ele está no caminho para aprender a contar,
abstrair o conceito de número, ou seja, enumerar.
A contagem não é uma aptidão natural, sabemos que algumas espécies animais são
mais ou menos dotadas de uma espécie de sensação numérica, o que não quer dizer que eles
saibam contar como nós. A expressão “senso numérico” foi introduzida por Tobias Dantzig
(1970, p.15).
O homem, mesmo nos estágios mais inferiores de desenvolvimento, possui uma faculdade que, `a falta
de melhor nome, chamarei de senso numérico. Essa faculdade lhe permite reconhecer que algo mudou
em uma pequena coleção quando, sem seu conhecimento direto, um objeto foi retirado ou acrescentado
ao conjunto.
Não importa qual seja a aptidão Matemática de uma pessoa, ela apresenta um senso
numérico natural e uma capacidade aritmética rudimentar. Os bebês mostram essa capacidade
básica com poucos dias de vida e muitos animais, desde o pombo até o chimpanzé, possuem
um senso numérico e uma capacidade aritmética semelhantes. O senso numérico faz com que
reconheçamos a diferença entre um objeto, um grupo de dois objetos e um grupo de três
objetos. Também através do senso numérico reconhecemos que um grupo de três objetos tem
mais elementos do que um grupo de dois.
O senso numérico não pode ser confundido com a contagem, a contagem é um atributo
exclusivamente humano, apesar de algumas espécies irracionais possuírem um rudimentar
senso numérico semelhante ao nosso. De acordo com Ifrah (1996, p.45) são necessárias três
condições psicológicas para que um homem saiba contar e conceber os números no sentido
em que entendemos:
- ele deve ser capaz de atribuir um “lugar” a cada ser que passar diante dele;
- ele deve ser capaz de intervir para introduzir na unidade que passa a lembrança de todas as que
precederam;
- ele deve saber conceber esta sucessão simultaneamente.
5
FIGURA 1
FIGURA 2
Em Dantzig (1970, p.17), há uma história muito interessante sobre o senso numérico
dos animais:
Um fazendeiro estava disposto a matar um corvo que fez seu ninho na torre de observação de sua
mansão. Por diversas vezes, tentou surpreender o pássaro, mas em vão: à aproximação do homem, o
corvo saía do ninho. De uma árvore distante, ele esperava atentamente até que o homem saísse da torre
e só então voltava ao ninho. Um dia, o fazendeiro tentou um ardil: dois homens entraram na torre, um
ficou dentro, e o outro saiu e se afastou. Mas o pássaro não foi enganado: manteve-se afastado até que
o outro homem saísse da torre. A experiência foi repetida nos dias subseqüentes com dois, três e quatro
homens, ainda sem sucesso. Finalmente, cinco homens foram utilizados como anteriormente, todos
entraram na torre e um permaneceu lá dentro enquanto os outros quatro saíam e se afastavam. Desta
vez o corvo perdeu a conta. Incapaz de distinguir entre quatro e cinco voltou imediatamente ao ninho.
6
Ainda de acordo com Dantzig (1970, p.17) dois argumentos podem ser utilizados:
O primeiro ponto tem procedência. Na verdade, é notável que a faculdade de perceber números, de
uma forma ou outra, pareça estar confinada a alguns insetos e pássaros e ao homem. Quanto ao
segundo argumento, é de pequeno valor, porque o alcance do senso numérico humano também é muito
limitado.
Todos nós distinguimos sem erro ao olhar rapidamente, um, dois, três e até quatro
elementos, além de quatro tudo se confunde e a nossa visão global não possui utilidade
específica.
Experimentos realizados levaram à conclusão de que o senso numérico visual direto
do homem civilizado médio raramente vai além de quatro, e que o senso numérico tátil é
ainda mais limitado em extensão.
Estudos antropológicos sobre povos primitivos revelaram que os selvagens que não
alcançaram a etapa da contagem pelos dedos são quase desprovidos de percepção numérica.
Poucos entre os nativos da Austrália são capazes de discernir quatro, e nenhum australiano em
seu estado selvagem consegue perceber sete. Os selvagens da África do Sul não têm palavras
correspondentes aos números acima de um, dois e muitos. Se julgarmos o desenvolvimento de
nossos ancestrais remotos pelo estado mental das tribos contemporâneas, chegaremos à
conclusão de que o início foi extremamente modesto, digamos que um rudimentar senso
numérico, igual, em seus limites, ao possuído pelos pássaros.
Números
A diferença entre um lobo e muitos, entre um carneiro e um rebanho, entre uma árvore
e uma floresta, sugerem que um lobo, um carneiro e uma árvore têm em comum sua
unicidade, da mesma maneira podemos observar que certos grupos, como os pares, podem ser
postos em correspondência um a um, as mãos podem ser relacionadas com os pés, olhos ou
orelhas. Essa percepção de uma propriedade abstrata que certos grupos têm em comum pode
ser chamada de número.
7
O conceito de número inteiro tem dois aspectos: o cardinal e o ordinal (fig. 3). O
cardinal que é baseado somente no princípio da equiparação, ou seja, indica o número ou a
quantidade dos elementos de um conjunto (1,2,3,4,...), já o ordinal introduz ordem e dá a idéia
de hierarquia (primeiro, segundo, terceiro, ...).
FIGURA 3
O mês de janeiro comporta trinta e um dias. O número 31 indica aqui o número total de dias desse
mês: trata-se então de um número cardinal. Se, ao contrário, consideramos uma expressão como “dia
31 de janeiro”, o número 31 não está sendo empregado sob seu aspecto cardinal, apesar da
terminologia, que não passa de um abuso de linguagem consagrado pelo uso. Este conceito designa “ o
trigésimo primeiro” dia de janeiro: ele especifica o lugar bem determinado de um elemento (no caso, o
último) de um conjunto que compreende trinta e um dias; trata-se então de um número ordinal ( ou,
como se costuma dizer, de um número).
Devido a esta dificuldade para números muito elevados que vários entre os sistemas de
numeração que veremos a seguir fazem a disposição dos números em grupos básicos
convenientes. De acordo com Cobianchi (2006, p.2), o método consistia em escolher um
número b como base e atribuir nomes aos números 1, 2, ..., b, sendo que para números
maiores que b os nomes eram combinações dos nomes dos números já escolhidos.
Segundo Ifrah (1992, p.20), os babilônios desenvolveram numa época anterior ao ano
2000 a. C., o sistema de numeração sexagesimal (base 60) que empregava o princípio
posicional, na verdade esse sistema era uma mistura de base 10 com base 60. Os números
menores que 60 eram representados pelo uso de um sistema de base dez simples, por
agrupamentos, e o número 60 e os maiores eram designados pelo princípio da posição na base
sessenta.
Os babilônios escreviam em tábuas de argila e num estilo cujas extremidades podem
ter sido triângulos isósceles penetrantes. Eles produziam caracteres semelhantes a cunhas
(cuneiformes) e as tábuas eram cozidas em fornos até endurecer, obtendo assim registros
permanentes.
O símbolo representava a unidade e era repetido para números até 9. O símbolo
representava o 10 e era repetido e usado com o símbolo da unidade, conforme o necessário,
para representar números de 11 a 59. Os números de 60 em diante eram representados em
termos dos símbolos para os números de 1 a 59, usando o princípio da posição para indicar
múltiplos de potências de 60.
Os babilônios não tinham por volta de 1800 a 1600 a.C. nenhum símbolo para
representar o zero, eles deixavam um espaço em branco quando havia uma potência de 60
ausente. Já no período Selêucida (últimos três séculos a.C.) eles colocavam um símbolo
separatório, representado por , e que era usado para indicar tal espaço vazio.
Segundo Boyer (2003, p.18), o símbolo para o zero parece ter sido usado somente para
posições intermediárias, (ou seja, entre dígitos), o que constituía a maior desvantagem do
sistema babilônico, pois, a não ser pelo contexto, não havia como determinar, por exemplo, se
a combinação significava 11, 11 . 60 ou 11⋅ 60 2 .
9
1
Hieróglifos: Inscrições sagradas.
10
Dos vários sistemas de numeração usados pelos gregos, dois são dignos de serem
mencionados, o ático ou herodiânico e o jônico.
O primeiro sistema é mais antigo e foi chamado de ático porque os símbolos ocorriam
com freqüência em inscrições atenienses e herodiânico por estar descrito num fragmento
atribuído a Herodian, um gramático do segundo século (BOYER, 2003, p.40).
Nesse sistema, I era usado para 1, Γ para 5, ∆ para 10, Η para 100, Χ para 1 000 e
Μ para 10 000. Os últimos cinco símbolos são as letras iniciais das palavras-número gregas
correspondentes.
O outro sistema começou a entrar em uso por volta do ano 200 a. C., embora Atenas
ainda tenha preservado seu sistema antigo por mais um século. O sistema jônico é aditivo, de
base dez, e emprega vinte e sete símbolos.
Como se vê nos exemplos anteriores eram usados recursos especiais para denominar
números grandes. Os múltiplos de 1 000 até 9 000 eram indicados por um traço ou acento
colocado antes de cada uma das primeiras nove letras, abaixo ou acima e as dezenas de
milhares eram indicadas sob a forma multiplicativa, usando-se o símbolo Μ (miríade) de
10 000 abaixo do numeral a ser multiplicado.
O número 120 000, por exemplo, era indicado escrevendo-se o símbolo do 12, ,
acima de M (GUNDLACH, 1992, p.27).
Segundo Gundlach (1992, p.24), nas inscrições mais antigas feitas em monumentos de
pedra, o “um” era indicado por um traço vertical, o “cinco” era representado por V, talvez
representando uma mão, o “dez” era representado por X que naturalmente sugere dois “V’s”.
Não existe nenhuma informação segura para a origem de L para “cinqüenta”. A palavra
romana para “uma centena” era centum, e a palavra para “um milhar” era mille, e talvez por
isso tenham sido usados o C para “uma centena” e o M para “um milhar”, também era usado o
símbolo par “um milhar”, o que pode ter originado o D para “cinco centenas” se
pensarmos no formato da parte dianteira deste símbolo que também era usado para “um
milhar”.
Símbolo I V X L C D M
Valor 1 5 10 50 100 500 1 000
Nesse sistema, somente os símbolos I, X, C, M podem ser repetidos até três vezes.
Então, o número 15 é XV (10+5) e não VVV (5+5+5).
12
9 → IX (10 – 1)
29 → XXIX (10 + 10 + 9)
552 → DLII (500 + 50 + 1 + 1)
FIGURA 7
13
O grande avanço dos maias começou por volta do século IV d.C., sendo que a
Matemática era uma de suas pedras angulares. Uma das mais notáveis entre as suas
realizações foi o desenvolvimento de um sistema de numeração vigesimal (base 20) com
notação posicional e um símbolo especial para o zero.
O sistema de numeração mais usado pelos maias empregava um ponto (seixo) para o
1, uma barra (vareta ou bastão) para o 5 e um símbolo especial para o zero que lembra o
desenho de uma concha.
Os algarismos indos-arábicos
FIGURA 9
Esses algarismos não eram ainda submetidos à regra de posição e, portanto, não eram
tão operacionais como são hoje. A numeração dos indianos usava o princípio de adição e
atribuía um algarismo especial a cada um dos números.
15
Segundo Ifrah ( 1996, p. 265) a antiga numeração dos indianos comportava algarismos
particulares para as unidades, dezenas, centenas, milhares e dezenas de milhares.
Ainda de acordo com o mesmo autor, para representar o número 7 629 era preciso
justapor, nesta ordem, os algarismos “7 000”, “600”, “20” e “9”.
Como o número mais elevado correspondia a 90 000, então não era possível passar de
99 999.
Por causa da dificuldade para representar números grandes por meio de algarismos,
eles começaram a exprimi-los por extenso. Começaram atribuindo um nome particular a cada
um dos nove primeiros números inteiros (IFRAH, 1996, p.266).
e que no sistema falado dos indianos a cada potência de 10 eram atribuídos nomes totalmente
independentes uns dos outros, diferente do que acontece na nossa numeração atual (em que os
números 10 000, 100 000, 10 000 000 e 100 000 000, por exemplo, são denominados,
respectivamente, “dez mil”, “cem mil”, “dez milhões” e “cem milhões” e em que os nomes do
milhar e do milhão desempenham o papel das bases auxiliares).
Potência de 10 dos sábios da Índia:
10 – dasa
100 – sata
1 000 – sahasra
10 000 – ayuta
16
“UM. TRÊS”
O que quer dizer:
1 + 3 × 10 , que significa 31 e não 301.
Ainda de acordo com Ifrah, para resolver este problema os sábios indianos recorreram
_
à palavra s u nya , que significa o “vazio”. Desta forma o número 301 passou a ser enunciado
da seguinte maneira:
_
eka s u nya tri
(“UM. VAZIO. TRÊS”)
e que com o uso dessa palavra não havia mais possibilidade de equívocos. Além disso, eles
dispunham de todos os pré requisitos para constituir o que hoje nós chamamos de numeração
moderna. Ou seja, eles dispunham de algarismos distintos e independentes de qualquer
intuição visual direta para as unidades de 1 a 9, conheciam o princípio de posição e
descobriram o zero.
Segundo Ifrah (1996, p.270), a descoberta da regra de posição e do zero datam no
máximo, do século V de nossa era e que seus primeiros exemplos se encontram num tratado
_
de cosmologia com o título de Lokavibh a ga , publicado por membros do movimento
religioso indiano jainista2 em 25 de agosto do ano de 458 do calendário juliano3.
Segundo Cobianchi (2006, p.11), o sistema de numeração indo-arábico tem esse nome
devido aos indianos (hindus) que o inventaram, e aos árabes, que o transmitiram para a
Europa Ocidental.
A partir do século VI, o sistema de numeração indiano se expandiu até fora das
fronteiras da Índia, em inscrições em pedras das civilizações Khmer (Camboja), Cham
(sudoeste do Vietnã), javanesa etc.
2
Jainista: uma das religiões mais antigas da Índia, juntamente com o hinduísmo e o budismo, compartilhando
com este último a ausência da necessidade de Deus como criador ou figura central).
3
Calendário juliano: calendário implantado pelo líder romano Júlio César, em 46 a.C.
18
4
Usadas no ábaco. Ábaco: A origem da palavra ábaco não é certa. Alguns remontam-na ao semita abac, poeira;
outros acreditam que vem do grego abax, placa. O instrumento era amplamente usado na Grécia, e encontramos
referências a ele em Herótodo e Políbio.
5
As Cruzadas foram a contra-ofensiva da cristandade diante do avanço do Islã. Do século VIII ao século XI a
Europa tinha ficado na defensiva, sem condições de reagir em relação aos árabes, que controlavam todo o
Mediterrâneo e tinham se apoderado de grande parte da Península Ibérica. No século XI surgiram as condições
materiais para uma guerra santa contra os muçulmanos, que era a idéia de muitos papas. As Cruzadas teriam sido
impossíveis sem a crise do sistema feudal, que marginalizou a mão-de-obra militar indispensável à realização
das campanhas militares. A espiritualidade e o sentimento religioso do homem medieval eram muito fortes; antes
de tudo ele era um fiel servidor de Deus e da Igreja. A Cruzadas representavam para ele uma satisfação material
e também o cumprimento de uma obrigação religiosa. Combater o infiel muçulmano era uma ação santa e
representava a possibilidade de salvação eterna, garantida pelas indulgências oferecidas pela Igreja aos cruzados.
Foram muitos os motivos que justificaram as Cruzadas. No século XI a Igreja passou a ter dois papas: o
verdadeiro no exílio, e o antipapa, em Roma. O papa no exílio, Urbano II, queria demonstrar que era o
verdadeiro papa e que tinha autoridade perante toda a Igreja. E convocar a cruzada era uma demonstração de
força e prestígio junto aos fiéis. (Arruda, 1976, p.378-9).
Um outro motivo para as Cruzadas foi um pedido de ajuda, em 1095, do imperador bizantino Aleixo Comneno.
Aleixo nutria a esperança de reconquistar territórios bizantinos na Ásia Menor, perdidos pouco antes para os
turcos. Como já existia o costume em usar mercenários ocidentais como tropas auxiliares, pediu ao papa que o
ajudasse a reunir algum apoio militar no Ocidente. No entanto, o imperador verificou, com surpresa, que estava
recebendo não apenas uma simples ajuda, mas uma cruzada. Ao invés de um bando de mercenários para lutar na
Ásia Menor, o Ocidente despachou um enorme exército de voluntários, cuja meta era arrancar Jerusalém das
mãos do Islã. Uma motivação de Urbano II para esta que seria primeira Cruzada, seria trazer a Igreja Ortodoxa
grega de volta ao redil (em 1054 o patriarca de Constantinopla rejeitou definitivamente a supremacia do papa e
passou a considerar-se o chefe supremo da Igreja no Império Bizantino, surgindo a Igreja Ortodoxa). Com esse
poderoso exército de voluntários ao Oriente, talvez Urbano poderia espantar os bizantinos com a força ocidental
e convencê-los a aceitar o papado de Roma. A Cruzada, assim, seria tanto contra os infiéis muçulmanos, quanto
contra os cristãos cismáticos do Império Bizantino. Outra finalidade seria causar embaraço ao maior inimigo do
papa, o imperador alemão Henrique IV, que havia conseguido uma força militar tão grande que obrigou Urbano
a fugir da Itália, e refugiar-se na França. Com esse poder, o papa demonstraria a sua capacidade para ser o líder
espiritual do Ocidente. Um outro motivo seria capturar Jerusalém, considerada como o centro do mundo e
representava o santuário mais sagrado da religião cristã. Ao papado deve ter parecido direito que as
19
peregrinações a Jerusalém não fossem obstadas e que os cristãos deviam governar a cidade diretamente. (Burns,
2000, p.279-281)
Foram oito as Cruzadas e, aconteceram entre 1095 até 1270. As razões do fracasso dessa empreitada devem-se
em primeiro lugar ao caráter superficial da ocupação. A presença cristã no Oriente Médio limitou-se aos quadros
administrativos, não criando raízes entre as populações locais. Outra razão foi a anarquia feudal, que enfraquecia
as colônias militares estabelecidas em território inimigo. A luta fraticida foi uma constante entre as ordens
religiosas e os cruzados latinos, principalmente entre os genoveses e venezianos. Em resumo, o fracasso foi uma
conseqüência da rivalidade nacional entre as potências ocidentais e da incapacidade do papado em organizar uma
força que soubesse superar essas dissenções. Em toda parte, a obra das Cruzadas foi destruída pelos próprios
organizadores. (Arruda, 1976, p.385)
6
O astrolábio é um instrumento naval antigo, usado para medir a altura dos astros acima do horizonte.
7
Catalão: língua romântica falada em várias regiões do sudoeste da Europa.
20
Por causa dessa relutância os algarismos “arábicos” não foram difundidos no Ocidente
de forma imediata. O conhecimento desses algarismos ficou relacionado a um ensino oral do
cálculo, que foi criado por Gerbert d’Aurilac e seus discípulos e os povos cristãos
continuavam utilizando quase que exclusivamente os algarismos romanos.
Em conseqüência dessa relutância os algarismos e a numeração ditas “modernas”
(“arábicas”) que já eram conhecidas desde o final do século X, ficaram por mais de duzentos
anos tendo uma utilização muito primitiva.
Aos poucos o novo sistema de numeração serviu para simplificar métodos arcaicos e
acabar de vez com as regras que os abacistas (pessoas que usavam o ábaco para fazer contas)
só compreendiam com muito esforço e prática.
Foi no Renascimento8 europeu que se constituiu uma etapa decisiva na difusão do
cálculo de origem indiana, e que se estabilizou e racionalizou as formas cursivas desses
algarismos, foi a partir dessa época que houve a utilização da grafia árabe e seus algarismos
começaram a tomar uma forma cursiva que se estabilizou e adquiriu o formato que
conhecemos atualmente (IFRAH, 1997 – 2v, p.473).
8
Renascimento: Designa-se por esse termo o movimento literário, artístico e filosófico que começa no fim do
século XIV e vai até o fim do século XVI, difundindo-se da Itália para os outros países da Europa. Durante toda
a Idade Média, esse termo significava o retorno do homem a Deus, sua restituição à vida perdida com a queda de
Adão. Mas a partir do século XV, essa palavra passa a ser empregada para designar a renovação moral,
intelectual e política decorrente do retorno aos valores da civilização em que, supostamente, o homem teria
obtido suas melhores realizações: a greco-romana. As características do Renascimento podem ser resumidas
como: a) Humanismo, como reconhecimento do valor do homem e crença de que a humanidade se realizou em
sua forma mais perfeita na Antigüidade clássica. B) Renovação religiosa, através da tentativa de reatar os laços
com uma revelação originária, na qual se teriam inspirado os próprios filósofos clássicos, como os do platonismo
(Nicolau de Cusa, Pico della Mirandola, M.Ficino), ou através da tentativa de restabelecer o contato com as
fontes originárias do cristianismo, ignorando a tradição medieval, como é o caso da Reforma protestante. C)
Renvação das concepções políticas, com o reconhecimento da origem humana ou natural das instituições sociais.
d) Naturalismo, como novo interesse pela investigação direta da natureza, tanto na forma do aristotelismo, das
manifestações de magia ou da metafísica da natureza (Campanella e Giordano Bruno) quanto na forma das
primeiras conquistas da ciência moderna. (Abbagnano, 1999, p.852-3)
21
Dentre alguns estudiosos pesquisados tais como Emilia Ferreiro, Howard Gardner e
Jean Piaget, o que mais se adequou a este estudo foi Vygotsky; posto que segundo nossa
opinião o sócio-interacionismo é uma linha de pensamento que se enquadra nos objetivos
educacionais atuais.
Vygotsky
processo dinâmico, no qual cada sujeito é ativo e nele acontece a interação entre o mundo
cultural e o mundo subjetivo de cada um.
A escola é, ou deveria ser, o lugar onde ocorrem a apropriação e a sistematização do
conhecimento. É nela que a criança deve formalizar os conhecimentos já adquiridos e os que
ainda serão. Ela deve ser, portanto, um ambiente motivador, ou seja, um ambiente em que os
professores e toda a equipe escolar sejam motivadores, capazes de envolver os alunos,
fazendo com que eles se sintam estimulados a participar de todo o processo ensino-
aprendizagem.
Cabe ao professor transformar o conhecimento espontâneo em conhecimento
científico, e é fundamental destacarmos que esse processo deve sempre ser interativo, ou seja,
um processo em que todos devem ter a possibilidade de falar, levantar hipóteses e chegar a
conclusões.
A zona de desenvolvimento proximal, que é a interação de pessoas mais experientes
com pessoas menos experientes é essencial. Posto que é a partir desse processo interativo que
as crianças aprendem como abordar e resolver problemas.
acontece de forma prática, o que para Vygotsky é importante que aconteça para que haja
avanços na construção do conhecimento. Nos anexos XII, XIII e XIV, as figuras ajudam a
criança a formar o conceito de quantidade, relacionando-a com um número correspondente.
Pescando números
Espaço → sala de aula.
Material → patinhos feitos em EVA , barbante, varinhas de madeira, clips e uma bacia com
água.
Objetivo → Seqüência de números; compreensão prática de operações; somas, subtrações e
multiplicações de até dois dígitos.
Como jogar:
Os patinhos estão nadando e possuem, em sua base, um número a ser trocado por
palitos.
1. Distribua as varetas para os alunos e deixe que eles pesquem.
2. Quando um aluno conseguir pescar, dê a ele palitos de sorvete de acordo com o número que
está escrito no pé do patinho, contando junto com o aluno o número de palitos entregues.
3. Devolva o patinho na água.
4. Repita o ritual com todos os alunos que conseguirem pescar.
5. Ao final da pescaria, utilize-se ao máximo dos palitos que cada aluno juntou para criar
operações, propondo questões como: Quantos palitos vocês juntaram? Se reunirmos os palitos
de todos, quantos palitos teremos? Se cada um de vocês tivesse pescado o dobro de patinhos,
quantos palitos teriam agora? E se cada um tivesse de dar metade de seus palitos ao colega ao
lado: com quantos palitos ficariam?
No anexo I, segue uma história em quadrinhos, utilizada em uma atividade
desenvolvida pela professora Simone Fonseca da Silva em uma classe de alfabetização no ano
de 2006 no Sesi de Taubaté. A professora contou a história para as crianças e ao final pediu
para que elas continuassem o desenho e a história.
24
Um dos professores entrevistados afirmou gostar, ter facilidade e que optou por
licenciatura em Matemática porque pretende seguir carreira acadêmica:
Um entrevistado, afirma que fez Matemática por questão financeira, mas que hoje se
sente realizado com o que faz:
• “Sim. Acredito que o aluno quando tem contato com a história da Matemática
compreende sua importância.”
• “Certamente. Tanto que a grande parte dos materiais didáticos atuais faz
referência à história da Matemática. É um assunto cativante, principalmente
se o professor demonstrar isso aos alunos.”
• “Sim, pois os alunos ficam curiosos para saber como surgiu e quem inventou
os números.”
• “Eu tento dar exemplos com situações que eles vivenciam diariamente para
que eles percebam que os números estão presentes constantemente em nossas
vidas.”
Somente dois dos entrevistados responderam que usam a história dos números:
Os que não tiveram afirmam ter que buscar esse conhecimento em livros e que com o
tempo vão acumulando experiências e buscando informações:
• “Eu tenho que buscar sozinha algumas coisas para que eles possam entender
melhor o que eu estou transmitindo.”
• “Isso depende da escolha do livro didático. Os livros mais atuais tratam dos números
em forma de histórias, curiosidades, o que é muito válido.”
20
18
16
14
12
Frequência 10
8
6
4
2
0
11 12 13 14 15
Idade
Figura 10
Com relação ao sexo, 44 % são do sexo feminino e 56% do sexo masculino, o que
pode ser visualizado na figura 11.
44%
Feminino
Masculino
56%
Figura 11
A pesquisa revelou que 14% dos alunos não gostam de estudar Matemática, 40%
gostam e o restante, 46% mais ou menos, o que pode ser mais bem visualizado através da
figura 12.
30
Dos 14% que não gostam de estudar Matemática, 29% acham que o professor deve ser
mais incentivador para que eles possam gostar de Matemática, 29% acham que o uso de jogos
em sala de aula os motivaria mais e ajudaria no gosto pela Matemática, 29% acreditam que as
atividades em grupo seriam um grande incentivo e 13 % consideram a utilização do
computador um grande aliado para o aprendizado da Matemática.
40% Sim
46%
Não
Mais ou Menos
14%
Figura 12
De acordo com a pesquisa feita com os alunos, 42% se interessam pela história da
Matemática, 40% não se interessam e 18% se interessam mais ou menos, o que está
representado na figura 13.
Dos que se interessam ou se interessam mais ou menos, a maior parte tem curiosidade
em saber como os números eram antes de ser como são na atualidade.
18%
42% Sim
Não
Mais ou Menos
40%
Figura 13
31
Com relação à criação dos números, 77% não sabem por que os números foram
criados, conforme pode ser visualizado na figura 14. Dentre os alunos que não sabem por que
os números foram criados, 78% têm curiosidade em saber sobre a criação dos números.
23%
Sim
Não
77%
Figura 14
32
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DANTZIG, Tobias. Número: A Linguagem da Ciência. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1970.
DEVLIN, Keith. O Gene da Matemática: O talento para lidar com os números e a evolução
do pensamento matemático. Rio de Janeiro: Record, 2005.
GUIA PRÁTICO PARA PROFESSORAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL. São Paulo: Lua das
Artes, n.28, maio 2005.
GUNDLACH, Bernard H. História dos números e numerais. São Paulo: Atual, 1992.
IFRAH, Georges. Os números: história de uma grande invenção. São Paulo: Globo, 1996.
IFRAH, Georges. História universal dos algarismos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997 –
2v.
36
REVISTA NOVA ESCOLA. São Paulo: Abril, edição especial, agosto 2006.
ANEXO I
38
39
40
41
ANEXO II
1. Dados Pessoais
Nome:
2. Qual foi seu incentivo para sua escolha como professor (a)? (Se for professor (a) de
matemática: o que o incentivou a fazer o curso de licenciatura matemática?)
4. Você usa história da matemática antes de falar sobre números com os alunos?
( ) Sim ( ) Não
Se a resposta for sim, qual o material usado para falar da história dos números para os alunos?
Se for negativa, porque não utiliza deste recurso didático?
5. Como você introduz didaticamente para seus alunos as questões que envolvem números?
9. Desde a época que você cursou a Universidade ou o Magistério até hoje, ocorreram
mudanças nas suas justificativas matemáticas com relação à questão números? Justifique.
10. Em sua opinião, os livros didáticos tratam da maneira correta o tema números?
43
ANEXO III
1. Idade:
2. Sexo:
( ) feminino ( ) masculino
ANEXO V
ANEXO VI
Os algarismos e o zero num manuscrito latino do século XIII. BN, Paris. MS. Lat. 7413, 11ª
parte, f o 36v. Escola de Chartres. Fac-súmile,AF 1.113
47
ANEXO VII
ANEXO VIII
O cálculo escrito com algarismos “arábicos”. Segundo uma ilustração européia do século
XV. Palácio da Descoberta, Paris.
49
ANEXO IX
ANEXO X
ANEXO XI
52
ANEXO XII
53
ANEXO XIII