Contrato de Amor (Trilogia Contrato de Amor - Vol. 01) - Vitória Lopes

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 617

PERIGOSAS NACIONAIS

CONTRATO DE AMOR

Vitória Lopes
2019

Copyright © 2019 Vitória Lopes


Capa: Lari Aragão
Revisão: Vitória Lopes
Diagramação Digital: Vitória Lopes

Esta é uma obra de ficção. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produto da imaginação da
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

autora. Qualquer semelhança com


nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
_____________________________________

CONTRATO DE AMOR
Vitória Lopes
1ª Edição
_____________________________________

Todos os direitos reservados. São


proibidos o armazenamento e/ou a
reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios,
tangível ou intangível, sem o
consentimento por escrito da autora. A
violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na Lei nº 9.610/98 e
punido na forma do artigo 184 do
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Código Penal.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Agradecimentos

Agradeço a Deus pelo amor


incondicional e a graça extraordinária.
Agradeço ao meu amor, Mateus, por
me mostrar que o amor tudo sofre, tudo
crê, tudo espera e tudo suporta.
Obrigada por me apoiar e tornar a
minha vida infinitamente mais bonita.
Obrigada mãe e pai, por tudo o que
fazem por mim. Vocês são exemplos.
Obrigada aos meus irmãos, Taiani e
Marcelo, que mesmo com alguns
quilômetros de distância mostraram seu
apoio e proteção.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Sou grata à Família Filhas do Rei


(grupo do WhatsApp). Muito obrigada
por permitirem que eu fizesse parte da
vida de cada uma e vice-versa.
Obrigada aos meus leitores do
Wattpad por contribuírem com votos,
comentários e por fazerem com que
este livro atingisse mais de 1 MILHÃO
de leituras. Vocês são presentes do
Senhor na minha vida.
Mais uma vez, obrigada ao próprio
Amor por me mostrar a excelência de
tal sentimento.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Sinopse

Katherine pensou ser somente mais


um dia comum. Porém, sua vida mudou
em menos de dez minutos, após
adentrar um consultório médico. A vida
de sua mãe estava em risco. Apenas um
milagre poderia salvá-la ou um milhão
de dólares.
Benjamin, com urgência, devia
assumir a presidência da empresa de
sua família , mas devido a sua
nacionalidade, precisava de um visto
permanente ou de uma esposa.
Duas almas atormentadas que se

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

cruzaram de repente; um acordo foi


estabelecido e um contrato assinado.
No entanto, o que deveria ser apenas
um contrato de negócios mudaria suas
vidas para sempre e mostraria o
verdadeiro valor do mais extraordinário
dos sentimentos: o amor.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Epígrafe

Nós amamos porque


ele nos amou primeiro.
1 João 4:19

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 1
A vida nunca foi fácil, sempre tive
dificuldades; no entanto, nada que me
fizesse parar de acreditar no amor do
Criador por mim. Por mais que, muitas
vezes, os furacões viessem em direção
a minha vida, sempre tive a plena
convicção de que Cristo acalma
tempestades e mares revoltos.
Quando tinha oito anos, papai foi até
o mercado comprar pão. Eram os
últimos cinco dólares que nos restavam.
Mamãe esperou, esperou, esperou...
veio à noite, veio à manhã, à tarde,
outra noite e o dia seguinte; até que os
murmúrios da vizinhança chegaram até
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

os nossos ouvidos: papai se foi. Não!


Ele não morreu. Apenas se foi. Deixou-
nos e levou os cinco dólares do pão.
Embora arrasada, minha mãe começou
a trabalhar como empregada doméstica
para nos sustentar. Eram cinco casas
diferentes, em uma semana. Com a
graça de Deus, ela criou-me, deu-me
apoio nos meus estudos e me ajudou a
conseguir concluí-los. Estou com vinte
anos e trabalho como secretária de
Alaric Underwood, um empresário bem
conceituado de Los Angeles. O salário
é o suficiente para pagar o aluguel e as
outras despesas.
O meu pai? Nunca mais o vi. Mas
perdoei. Deus me perdoa todos os dias.
Por que não perdoar papai? Espero
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

encontrá-lo um dia e dizer que o amo,


que ele é importante e que sinto sua
falta.
Acordo com o despertador do celular
tocando. São cinco horas da manhã.
Preciso pegar dois ônibus e uma van
para chegar no trabalho às sete horas.
Já estou acostumada com essa rotina,
meio que um piloto automático.
Levanto-me, dobro meus joelhos e oro
a Deus. Nunca fui o tipo de garota
vaidosa, então, me arrumo bem rápido.
Analiso o uniforme da empresa no
espelho do quarto, um blazer cinza com
o logo da Underwood; uma saia da
mesma cor e os famosos sapatos de
salto que eu odeio, por me causarem
bolhas nos pés.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Bom dia, mãe. — Cumprimento-


a entre um bocejo.
— Bom dia, meu amor. Dormiu
bem? — Ela serve o meu café.
Apenas assinto e dou um gole na
bebida quente.
— Hoje faço hora extra. Vou
precisar, se quiser pagar a internet esse
mês. — Suspiro pesadamente. —
Acabei me apertando quando comprei a
televisão nova. Era uma necessidade,
claro, mas a prestação é cara. Pelo
menos é uma boa televisão.
Não dou muita chance de mamãe
responder-me. Pego minha bolsa e
beijo sua bochecha.
— Já vai, Katherine?
— Vou. Ah, e nada de fazer esforço.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Tenho notado que a senhora parece


mais cansada que o normal. Descansa
um pouco hoje.
Mamãe acompanha-me até a porta e
me dá um abraço apertado. Ela para por
alguns instantes e analisa meu rosto.
Ela sorri.
— Te amo, minha menina.
— Também te amo, mãe. Se cuida.
— Vá com Deus.
Vou para o ponto de ônibus, o qual
chega após alguns minutos. Tiro um
cochilo bem rápido para não perder
minha parada. Geralmente, apesar dos
poucos minutos de sono, sonho com
meu pai.

∞∞∞
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Bom dia, rapazes. —


Cumprimento os seguranças que
sorriem.
Adentro as portas da empresa, há
pouquíssimas pessoas transitando pelo
local. O ponto alto de chegada dos
funcionários é às oito horas da manhã.
Arrumo meus papéis e faço o café
do senhor Underwood. Ele sempre
chega cedo, vive para essa empresa. A
Underwood é uma construtora
extremamente conceituada. Fui
promovida ao cargo de secretária do
presidente depois que a antiga
secretária saiu de licença por problemas
de saúde. Dou duas batidas na porta e
entro em seguida.
— Bom dia, senhor Underwood.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Trouxe seu café e os papéis necessários


para a reunião de hoje à tarde.
Deixo o café e a papelada em sua
mesa de vidro. Provavelmente, essa
mesa é mais cara que todos os móveis
da minha casa juntos.
— Obrigado, senhorita Smith. —
Agradece-me com a mesma expressão
de sempre.
Julgo-o um homem infeliz, apesar de
possuir inúmeros bens. Ele perdeu a
esposa há alguns anos. Segundo alguns
empregados, depois de tal
acontecimento, tornou-se um homem
amargurado e sem enxergar graça
alguma na vida. Como disse, vive para
essa empresa. Sei que ele tem dois
filhos, mas não há foto nenhuma das
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

suas crianças em sua sala e nunca os vi


na empresa. Talvez estudem em um
caro colégio europeu.
— Mais alguma coisa, senhor? —
Pergunto antes de me retirar de sua
sala.
— Espere um minuto... — Responde
antes de atender o telefone que acaba
de tocar. Sua expressão facial torna-se
mais séria que o habitual. — Mais
problemas? Será possível que eu tenho
que resolver tudo nesta empresa? —
Ele praticamente grita no telefone.
Tiro minha atenção do senhor
Underwood quando Anne, uma colega
de trabalho, me chama. Discretamente,
deixo a sala.
— Ele parece mais estressado hoje.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Comento ao me aproximar.
— Nem me diga. — Ela bufa. —
Telefone para você.
Pego o aparelho e atendo. Talvez
seja algum banco querendo me oferecer
cartão de crédito ou a empresa de
internet cobrando o pagamento.
— Alô?
— Senhorita Katherine Smith? –
Pergunta a voz de uma mulher.
— Quem gostaria?
— Aqui é a Laura, secretária do
Hospital Menino Deus, gostaríamos de
informá-la sobre a internação da
senhora Angelina Smith.
Neste instante, tudo para ao meu
redor. E mesmo sem saber do que se
trata, clamo pela misericórdia de Deus.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Uma angústia toma conta de mim, em


questão de segundos.
— O que aconteceu com minha
mãe? — Indago sem rodeios.
— A senhora Angelina passou muito
mal, alguns vizinhos a socorreram e
trouxeram-na pra cá. No momento, ela
está sendo atendida e estamos
aguardando o diagnóstico médico.
— Estou indo.
Encerro a chamada, sem pensar em
mais nada além da minha mãe. Há
tempos vinha notado que ela estava
pálida; parecia cansada; estava
estranha. Insisti para que ela fosse
consultar, mas Angelina Smith é tão
teimosa quanto eu. E odeia hospitais.
— Está tudo bem, Katherine?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Preciso sair, Anne. Minha mãe


está no hospital. Pode avisar o senhor
Underwood? Depois que resolver a
situação da minha mãe, eu volto. —
Respondo pegando minha bolsa.
— Claro, não se preocupe. — Ela
assente.
Corro pelos extensos corredores da
empresa. A agonia, enquanto espero o
elevador descer, parece que vai me
matar. Deixo a empresa e pego um táxi.
Por se tratar do centro de Los Angeles,
sempre há muitos táxis estacionados
em frente à empresa.
— Hospital Menino Deus. Seja
rápido. — Informo ao taxista bigodudo.
O homem dá partida. Esfrego as
mãos na tentativa de aliviar a tensão.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Tento ligar para o celular de mamãe,


mas nada dela atender. Provavelmente,
ficou em casa. O trânsito caótico deixa-
me ainda mais aflita. Depois de
cinquenta e três minutos chego ao meu
destino. Pago o taxista e corro para
dentro do hospital.
— Estou procurando Angelina
Smith, sou filha dela, Katherine. —
Falo à secretária.
— Espere um instante, daqui a
pouco o médico vem falar com você. O
doutor Jason está atendendo a sua mãe.
— Ela sequer tira os olhos do
computador.
Balanço a cabeça em afirmação.
Caminho de um lado a outro,
perguntando-me o que está havendo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Me ajuda, Pai. — Sussurro para


Deus.
Respiro fundo e tento manter a
calma. Depois de alguns minutos, falo
mais uma vez com a secretária que me
manda esperar. Encaro o médico que
aponta no corredor. No seu jaleco:
Doutor Jason.
— Você é Katherine Smith? — Seu
olhar cansado encara-me.
Provavelmente, sejam horas de plantão.
— Como minha mãe está? Eu posso
vê-la? — Indago com receio.
— Pode me acompanhar até a minha
sala? — Suas palavras gelam-me a
alma. Um turbilhão de pensamentos
passam pela minha cabeça. Entramos
na pequena sala branca e o médico
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pede para eu sentar.


— O que minha mãe tem, doutor?
— Sinto meus olhos marejarem junto
de um sentimento ruim que se apossa
do meu corpo.
— Senhorita Smith... — Ele apoia os
cotovelos sobre a mesa. — Notou
alguma mudança na sua mãe ao longo
dos dias que se passaram? Com relação
à saúde.
— Ela parecia estar mais cansada,
um pouco pálida. Há um bom tempo
venho notado isso. Disse para ela ir ao
médico, mas mamãe foi teimosa e não
quis. — Encaro-o.
— A senhora Angelina passou por
alguns exames. Devido ao estágio
avançado, conseguimos o diagnóstico
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

rapidamente. — Seu olhar é sério.


— Diagnóstico? — Questiono em
um sussurro apavorado.
— Sua mãe foi diagnosticada com
Leucemia Linfoide Crônica.
Abro a boca em espanto. Tento
respirar e manter a calma. Em instantes,
as lágrimas começam a jorrar.
Inevitavelmente, sou possuída pelo
medo de perder minha única família,
minha melhor amiga. Enxugo as
lágrimas que rolam e fito o médico
silenciado pela minha reação.
Pergunto-me quantas más noticias ele
já deu e quantas reações semelhantes a
minha presenciou.
— Isso é câncer, não é?
— Sim. E o caso da sua mãe é raro.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Aqui estão os exames. Seu plano de


saúde foi capaz de cobrir. — O homem
entrega-me alguns papéis.
Leio as palavras escritas, mas não
entendo o vocabulário extremamente
técnico.
— O que isso quer dizer? Minha
mãe está morrendo? — Meu receio de
sua resposta é quase palpável.
— Senhorita Katherine, de forma
resumida e leiga: a Leucemia é a
doença dos glóbulos brancos, que
fazem parte do sistema imunitário do
organismo. O nosso sangue é produzido
pelas células-tronco da medula óssea.
Devido à determinada causa, genética
ou não, a medula perde o controle e os
glóbulos brancos da sua mãe crescem
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

de forma desordenada. Isso atrapalha a


produção normal das células
sanguíneas.
— E por que o caso da minha mãe é
raro, doutor? — Tento segurar as
lágrimas que insistem em se formar.
— Sei que é difícil, senhorita, mas
tente manter a calma. Vou explicar
tudo o que precisa saber e depois
veremos sua mãe, certo? — Apenas
assinto. — A Leucemia da sua mãe é
um caso agressivo e requer um
transplante de medula óssea. Por isso
disse que é raro. Outros casos, os mais
simples, podem ser tratados com
quimioterapia e transfusões de sangue.
— Tudo bem. — Busco assimilar
tudo. — E sobre esse transplante?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Minha mãe ficaria bem após fazê-lo?


— Sim, mas há algumas questões
que precisam ser analisadas, para
depois prosseguirmos o tratamento. É
mais complicado do que parece.
— Assim o senhor me desanima.
— Infelizmente, esse é o meu
trabalho. — O homem suspirou. —
Primeiro, precisamos de algum doador
compatível. Sua mãe tem irmãos?
— Não. Somos apenas nós duas.
— Então, caso ela tivesse irmãos, a
chance de ser compatível era cerca de
vinte e cinco por cento. Geralmente, a
chance de ser compatível com filhos é
muito pequena. — Explica-me. — Eu
serei o médico responsável pelo caso da
sua mãe. Tomei a liberdade de,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

imediatamente, procurar algum doador


compatível no banco mundial. Tenho
alguns contatos. Só que, há cada cem
pessoas que procuram um doador,
somente trinta por cento encontram o
doador certo.
— E o senhor encontrou algum
doador? — É inevitável não alimentar
uma chama de esperança dentro de
mim.
— Encontrei. — Suspiro em alívio,
esboçando um sorriso mínimo. — A
doadora vive na Bélgica. A questão em
pauta é que os custos do transplante,
dos procedimentos laboratoriais, são
bem altos e o seu plano de saúde não
cobre, pelo que pude analisar.
Meu coração aperta no peito e a
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

brasa de esperança que havia acendido


em meu coração corre o risco de se
apagar.
— E qual seria esse custo?
— Um milhão de dólares.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 2
Sinto-me impotente, sinto medo.
Engulo em seco e tento ordenar meus
pensamentos. Preciso de um milhão de
dólares para salvar a vida da minha
mãe. As lágrimas jorram sobre meu
rosto, sem pedir licença.
Tenho que dar um jeito e conseguir
o dinheiro. Quando meu pai se foi,
mamãe fez o possível para cuidar de
mim, me dar uma boa criação. É meu
dever, como filha, da mesma forma
fazer o possível para que ela fique bem,
saudável, curada.
Infelizmente, nenhuma solução me
vem ao pensamento. Somente Deus
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

para fazer um milagre. Quer seja na


saúde de mamãe, quer seja financeiro.
Ah, Deus, me ajude.
É a única coisa que consigo pedir a
Ele: Sua ajuda. Sei que o Senhor é o
único que pode me ajudar; é o único a
quem posso recorrer.
— Quanto tempo minha mãe tem
para fazer o transplante? — Questiono
com receio.
— Não tenho um número exato, mas
o mais rápido possível. — O médico
responde-me com seriedade.
Meu coração se estilhaça em mil
pedaços. Como conseguir um milhão
de dólares? Assaltando um banco?
Desfalcando a Underwood? Ganhando
na loteria? Ah, estou a espera de um
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

milagre.
— Não sei como vou conseguir esse
dinheiro. — Levo as mãos a cabeça em
desespero.
Desespero: a palavra que melhor me
define no momento. É inevitável não
lembrar da vida de Jó. O homem que
teve sua fé desafiada após perder tudo o
que possuía. No entanto, o fato mais
interessante, é que Jó só passou a
conhecer Deus, verdadeiramente,
depois de enfrentar a maior guerra da
sua vida. Talvez Deus, em sua
extraordinária maestria, esteja
planejando se apresentar para mim de
uma forma única diante desta situação.
Está difícil, mas eu preciso confiar.
Só me resta confiar. O estopim, é
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

somente o ponto mais bonito


estabelecido por Deus na minha
história.
— Infelizmente, não posso ajudar,
senhorita Katherine. — Ele levanta-se
de sua cadeira. — Devido ao estágio da
doença, sua mãe ficará internada. Por
enquanto, seu plano de saúde cobre os
gastos. Depois terá de passar na
recepção do hospital para assinar
alguns papéis.
— E se eu conseguir esse valor? —
Ponho-me de pé.
— Venha até aqui e peça para falar
comigo. Qualquer coisa, pode me ligar.
Aqui está o meu cartão.
Pego o pequeno cartão com o nome
Jason Finkler em letras grandes, o
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

número de seu telefone e sua


especialização.
— Posso vê-la? — Pergunto, quase
que suplicando.
— Acompanhe-me, por favor.
Seguimos até uma determinada sala.
O médico entrega-me luvas, uma touca
e um jaleco.
Ao entrar no local, deparo-me com
minha mãe extremamente pálida. Ela
parece tão cansada.
— Mãe... — Seguro sua mão. — Eu
não posso te perder. — Ponho-me a
chorar compulsivamente diante das
circunstâncias. Será que serei capaz de
suportar isso? Deus sabe que não estou
pronta para perdê-la, não estou pronta
para ficar sozinha no mundo, sem
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ninguém ao meu lado. — Mãe...


Prometo que farei o possível para
conseguir o dinheiro. A senhora ficará
bem, Deus está conosco, sempre. —
Falo, mesmo ela estando com os olhos
fechados. Falo mais para mim do que
para ela.
— Ela vai dormir mais alguns
minutos, devido aos medicamentos. —
Doutor Jason explica. — Agora precisa
sair, senhorita.
Consinto. Olho uma última vez para
mamãe e deixo a sala.
— Quais os dias de visita, doutor?
— Todos os dias. Das nove às dez,
das duas às três e das cinco às seis. —
Responde com um pequeno sorriso. —
Agora, peço que me dê licença. Preciso
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

atender outro paciente.


Vejo o médico se afastar e volto a
chorar. Vou até a recepção e assino os
papéis referentes à internação de
mamãe.
Saio do hospital e sigo caminhando
para a empresa. Não sei ao certo o que
estou sentindo; também não sei se serei
capaz de suportar este turbilhão de
sentimentos.
Embora em pensamento, tento falar
com Deus, mesmo que minhas palavras
não possuam nexo algum.
Pai... Sei que Tu estás comigo
sempre. E, agora, mais do que nunca,
preciso de Ti; do teu amparo. Senhor,
Tu és fiel, eu sei. Mesmo diante deste
furacão, tenho plena convicção de que
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

os teus planos e propósitos são


perfeitos, por mais que eu não os
entenda nesse momento. Pai, Tu sabes
que eu não tenho todo esse dinheiro
nem de onde tirar. Porém, o Senhor é o
dono do ouro e da prata, Tu és o Deus
que mandou providência para o povo
de Israel quando eles estavam no
deserto. Sei que Tu me darás uma
direção. Entrego tudo em tuas mãos,
pois sei que Tu estás no controle.
Amém!
Levo mais de uma hora caminhando
até resolver pegar um táxi até a
Underwood. Provavelmente, senhor
Alaric deve ter percebido minha
ausência. Fiquei algumas horas longe
da empresa.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

∞∞∞
— Katherine, como sua mãe está?
— Indaga Anne, assim que me vê.
— Ela ficará bem. — Respondo,
tentando transparecer convicção. — O
senhor Underwood deu falta de mim?
— Pergunto.
— Não. — Balança a cabeça
negativamente. — Ei! Espera. — Ela
chama minha atenção, já que estou
prestes a entrar na sala de meu chefe
sem bater ou pedir licença.
Ignoro Anne e entro na sala. Deparo-
me com um homem jovem. Seu terno
preto está perfeitamente alinhado e seus
olhos azuis são amedrontadores quando
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pousam sobre mim.


— Onde está o senhor Underwood?
— Vasculho o local com o olhar.
— Não sabe bater? — Sua voz é
carregada de desdém.
— Sou a secretária do senhor Alaric
Underwood. Onde ele está? — Torno a
perguntar.
— Não me interessa quem é você.
— Ele dá de ombros. — Sou Benjamin
Underwood, filho dele. — Sorri
ironicamente. — Respondendo sua
pergunta: meu pai passou mal por
consequência do estresse. Irá se
ausentar por tempo indeterminado, o
que me torna o novo presidente. —
Analisa-me de cima a baixo.
— Sinto muito pelo senhor
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Underwood. Mas ,como o senhor foi


eleito o novo presidente tão
rapidamente? — Crispo os olhos.
— Se estivesse na empresa no
momento em que tudo aconteceu você
saberia. — Ele é curto e grosso. — A
propósito, onde você estava?
— Tive uma emergência. — Respiro
fundo.
— Hum... — Seu olhar é carregado
de esnobe. — O que você queria para
entrar aqui sem bater? — Indaga
seriamente. — Seja rápida, tenho
muitos problemas para resolver. —
Senta-se em sua poltrona.
— Preciso de um dinheiro. —
Encaro o fundo de seus olhos azuis.
— Quanto?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Um milhão de dólares.
Ele ri da maneira mais debochada
possível. Claro, eu também riria de tal
forma caso alguém me pedisse um
milhão de dólares. No entanto, o senhor
Benjamin, com pequenas atitudes, já
provou ser arrogante, prepotente e
presunçoso.
— Precisa de um milhão de dólares?
— Arqueia uma de suas sobrancelhas.
— Sim senhor. — Balanço a cabeça
em afirmação, abaixando o olhar.
“Que loucura está cometendo,
Katherine? Ele é seu novo chefe e vai
demitir você por achá-la uma retardada.
Quem pede um milhão de dólares no
emprego?”, meu subconsciente aponta.
Ignoro-o.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Tudo bem.
Ao ouvir tais palavras, levanto meus
olhos e encaro o homem por alguns
instantes.
“Ótimo! Achou um mais retardado
do que você.”, penso comigo mesma.
— É sério? — Questiono perplexa.
Não sei se fico feliz ou triste. Talvez
ele possa começar a rir e dizer que está
brincando comigo — o que, claro, não
me surpreenderia — ninguém dá um
milhão de dólares só porque alguém diz
que precisa. Primeiro, porque não é
todo mundo que tem essa quantia.
Segundo, quem tem, geralmente, não
gosta de dividir.
— Sim. — Assente. — Mas, com
uma condição.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— E qual seria essa condição? —


Pergunto temerosa.
Esse homem não parece ser certo.
— Terá que se casar comigo,
durante três meses. Sou canadense,
para cuidar dos negócios, preciso de
um visto ou de uma esposa.
Suas palavras deixam-me em
choque. Não há saída, apenas uma
proposta estranhamente maluca e
tentadora.
— Tem dois minutos para pensar. —
Ele faz um sinal para que me sente na
cadeira a sua frente.
Sento-me e procuro raciocinar.
Certo. Muitas emoções para um dia só.
Descobri que mamãe está doente e
precisa de um transplante que custa
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

caro. Meu chefe ficou estressado, foi


embora e resolveu que o filhinho
metido vai ser o novo presidente da
empresa, sendo que nunca o vi colocar
os pés aqui dentro e trabalho aqui há
um ano. Em um surto de coragem, pedi
um milhão para o filho do meu ex-
chefe e ele aceitou me dar essa quantia
contanto que me case com ele.
O que fazer? Aceitar e saber que
aquela a quem amo está bem? Recusar
e continuar minha vida?
Os minutos que me foram
concedidos para pensar passam de
forma estupidamente rápida.
Respiro fundo.
Então, tomo minha decisão. Mesmo
que isso me afete para sempre. Não
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

importa.
Fecho os olhos com força desejando
que tudo seja um pesadelo.
— Você aceita?
— Sim.
Afirmo olhando no fundo de seus
olhos. O senhor Benjamin sorri
sarcástico. Sinto calafrios só de olhá-lo.
Ele é... Frio.
— Ótimo! — Exclama voltando ao
seu semblante sério. — Você é
Katherine, certo? Mencionaram seu
nome na reunião mais cedo.
— Sim, Katherine Smith.
Esforço-me para sufocar a vontade
de chorar. Nunca imaginei que meu
pedido de casamento seria assim.
Nunca imaginei que chegaria a esse
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ponto. Nunca, nem nos meus piores


pesadelos, pensei que estaria prestes a
perder mamãe de forma dolorosa e
trágica.
— Quantos anos você tem?
— Vinte. E o senhor?
— Vinte e quatro. Quando é o seu
aniversário?
— Por que tantas perguntas? —
Questiono confusa.
— Você tem problema? — Ele
irrita-se. — Vamos nos casar.
Precisamos saber coisas um do outro,
para ninguém desconfiar. Assim eu fico
na presidência da empresa e você tem o
seu dinheiro. — Responde.
Ele pega dois blocos de papel, um
para mim e outro para ele. Ambos
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

começamos a anotar as informações.


— Nasci no dia treze de junho.
Minha insatisfação com sua atitude é
aparente, assim como o medo.
Provavelmente, passar três meses com
esse homem será um teste e tanto. Um
teste para a minha paciência, minha fé.
— Faço aniversário no dia quatro de
maio, Katherine. — Ele faz uma pausa.
Parece estar pensando em possíveis
perguntas. — Tem família?
— Sou apenas eu. — Minto.
Apesar do pecado, não posso
envolver minha mãe nisso tudo.
— Não tem ninguém? — Ele torna a
perguntar.
— Não, senhor. — Balanço a
cabeça.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Bom, tem o meu pai, que você já


conhece. Tenho uma irmã de vinte e
dois anos. Ela se chama Lauren e é
casada há um ano com Bruce Foster.
Ele é empresário. Ambos vivem em
Nova Iorque. — Explica-me. — Cor
favorita?
— Azul.
A cor que me deixa mais próxima do
céu.
— Gosto de verde, por me lembrar o
campo.
“Claro, lembra a sua casa, são onde
os animais vivem.”, meu subconsciente
não perdoa. Graças a Deus, consigo
dominar minha língua e deixar as
respostas afiadas apenas na minha
mente.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

∞∞∞
Já são cinco horas da tarde.
Respondemos inúmeras perguntas e
cheguei a conclusão de que o senhor
Benjamin, apesar de ser um homem
muito bonito, é ,com absoluta certeza, o
homem mais mal educado que eu já
conheci. Acho que por ser rico ele se
intitula superior às outras pessoas.
Confesso que minha vontade era
chorar e gritar com ele, a cada resposta
hostil, como se eu fosse uma palhaça,
mas preciso ser forte. Por mamãe. Ela
também foi forte por mim. Agora é a
minha vez.
— Nosso casamento será depois de
amanhã.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Surpreendo-me com a rapidez em


que tudo ocorrerá. Surpreendo-me com
a volta que minha vida deu em algumas
horas.
— Tudo bem. — Suspiro
pesadamente. — E quanto ao dinheiro?
— No dia do casamento estará na
sua conta. Chamarei alguns amigos de
confiança para serem testemunhas. E
terá que morar na minha casa durante
esses três meses, também ficará sem
trabalhar. Depois que tudo acabar, você
pode voltar a ser secretária.
— Sim, senhor Underwood. —
Concordo com tudo o que me é dito.
— Que merda! Será que pode parar
de me chamar de senhor? — Ele altera-
se sem motivo algum.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Fecho os olhos com força por alguns


instantes; cerro os punhos, esforçando-
me para não gritar com esse troglodita.
— Desculpe, Benjamin. — desvio
meu olhar do seu.
— Espero que finja muito bem no
dia do casamento, pelo menos espero
que me olhe. Agora, saia! — Ordena.
Não estou querendo testar sua
paciência e muito menos a minha, a
qual já está no limite. Quem esse
riquinho pensa que é? Ah, o senhor
Alaric vai deixar saudades. Levanto-me
rapidamente e sinto uma tontura que
faz com que me apoie na mesa.
— O que aconteceu? — Pergunta
vindo até mim.
“Estou fazendo carinho na mesa, não
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

dá pra notar?”. Afasto-me de forma


brusca.
— Não é nada. Conversamos depois.
Despeço-me rapidamente, tentando
sair de sua sala. Entretanto, ele segura
meu braço, fazendo-me encará-lo.
— Você não está bem. — Conclui
carrancudo. — Há quanto tempo não se
alimenta?
— Desde às cinco da manhã.
— Você é anorexa? — Diz do
mesmo jeito arrogante e hostil.
— Não, eu tive alguns problemas. E
mesmo que eu fosse, não deveria falar
de forma tão arrogante. — Fico
igualmente séria.
Ele ri baixinho, ignorando minhas
palavras.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Eu te levo pra comer alguma


coisa. Já seremos vistos juntos, assim
não será tão chocante o nosso
casamento. Depois vamos até o ateliê
de uma conhecida minha para
escolhermos o seu vestido. Você não
parece o tipo de pessoa que entende de
moda. — Analisa-me de cima a baixo
com um olhar esnobe.
Grosso!
Ah, mamãe, é por você!
— Tudo bem.
Pego minha bolsa e saímos da
empresa juntos, os olhares dos
seguranças se voltam para nós,
principalmente quando entro em seu
carro. O caminho é feito em silêncio.
Após alguns minutos, ele estaciona
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

na frente de um restaurante de comida


italiana, extremamente refinado.
Descemos do veículo. Benjamin
segura minha mão como se fôssemos
namorados. Sinto vontade de apertar
seus dedos com força. Já dentro do
restaurante, a recepcionista nos conduz
até a melhor mesa, entregando-nos os
cardápios.
Começo a analisar minhas opções.
Porém, nunca comi comida italiana ou
vim a algum restaurante desse nível.
— Não sabe o que pedir? Nunca
comeu comida italiana, não é? —
Questiona e nego com a cabeça. — Isso
não me surpreende. — Ironiza.
“Juro que se ele fizer mais uma
gracinha ou der mais um sorrisinho
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

debochado, arranco a gravata do


pescoço dele sem desfazer o nó”.
Reviro os olhos em protesto.
— O que me sugere? — Tento
manter a calma.
Benjamin faz os nossos pedidos.
Enquanto não chegam, ficamos nos
encarando. O que me deixa sem graça e
consequentemente irritada.
Benjamin segura minha mão e sorri
como um bobo apaixonado. Olho-o
sem entender nada.
— Tem paparazzis aqui. Aja
naturalmente e sorria, linda Katherine.
— Sorri.
Ok. Benjamin Underwood é um
ótimo ator.
Nossos pedidos chegam e comemos
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

em silêncio. Ele paga a conta e me


conduz para fora do estabelecimento
puxando-me pela mão.
O caminho até o ateliê foi silencioso.
Chegando no local, procurei ser o mais
rápida possível. Escolhi um vestido
simples, mas bem elegante, segundo a
estilista; o que foi o suficiente para
mostrar a Benjamin que tenho senso de
moda.
— Droga! — Murmura, olhando o
espelho retrovisor do carro.
— O que aconteceu?
— Estamos sendo seguidos. Essa
gente me ama. — Ironiza.
— Não vivem sem você. Você muda
a vida deles cada vez que respira. —
Sussurro para mim mesma.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin parece ouvir e não


esconde a insatisfação, ficando calado o
resto do caminho. Depois de um tempo,
ele para o carro em frente ao endereço
que lhe passei.
— Espera! Não desce ainda. — Diz
abrindo a porta do veículo. Ele sai e
abre a porta para mim.
— Obrigada. — Sorrio.
Talvez, um talvez gigantesco, ele
tenha notado que foi um pouquinho
grosso comigo e esteja tentando se
redimir. Benjamin me abraça forte, o
que tenho como surpresa. Seu perfume
é bom.
— Se tentar se afastar, você me
paga. — O sussurro em meu ouvido me
faz arrepiar. Um arrepio de medo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

De repente, ele junta nossos lábios


puxando-me para si. Por mais que tente
me afastar, ele é mais forte do que eu.
Fazer um escândalo me faria perder a
única chance que tenho de ganhar o
dinheiro que preciso para salvar a vida
de mamãe. Sinto nojo dele. Nojo de
mim mesma. Nos separamos e ele me
olha com apatia.
— Te vejo no nosso casamento. —
Diz depositando um beijo em minha
testa.
— Nunca mais faça isso. — Falo
baixinho, com raiva e os olhos
marejados.
Ele nem me olha, entra em seu carro
e some do meu campo de visão.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 3
Para uma mulher que vai se casar
hoje, não estou nem um pouco
animada. Minha vontade é desabar,
chorar, gritar, fugir.
Ontem fui até o hospital, falei com o
médico especializado no caso de minha
mãe e acertamos tudo. Amanhã o
dinheiro já estará disponível.
Benjamin me ligou ontem, para
avisar que vem me buscar às seis horas
para o nosso casamento. Ainda não
acredito que estou fazendo isso.
Olho-me no espelho uma última vez.
O vestido ficou muito bonito. Esboço
um sorriso fraco ao ver meu reflexo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Minha mãe sempre sonhou com o dia


em que me casaria. Como toda menina,
eu também. Entretanto, não nessas
condições. Afinal, nem conheço
Benjamin. E mesmo que o conhecesse,
com certeza, não seria o escolhido para
ser meu marido. Ele mostrou, em pouco
tempo, ser um homem frio, arrogante e
prepotente.
Sou tirada de meus devaneios por
batidas na porta.
— Vamos? — Ele convida-me assim
que abro a porta.
Permito-me analisá-lo por um
instante. Perfeitamente impecável. O
terno preto alinhado, uma gravata num
tom de azul extremamente escuro e os
sapatos pretos lustrados. Ele está lindo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Infelizmente, toda essa beleza não é


capaz de ofuscar a penumbra que paira
sobre seus ombros.
Balanço a cabeça afirmativamente,
pego minha mala e fecho a porta.
— Eu levo isso. — Puxa a mala de
minha mão, sem educação.
Ambos entramos no carro e
seguimos para o cartório. O caminho é
silencioso e martirizante. Olho tudo
passar pela janela.
São sonhos que se vão;
oportunidades; projetos; minha vida.
“Pense em sua mãe, Katherine”, é o
que digo a mim mesma. É o que digo
para conseguir suportar o fato de me
casar com alguém que eu não amo e
que não gosta de mim; o fato de me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

casar com alguém que é tão diferente


de mim, em inúmeros aspectos.
Benjamin estaciona o carro e
descemos do veículo.
— Sorria. — Ordena sério.
De forma instantânea, sorrisos nada
sinceros aparecem em nossas faces.
Para mantê-lo em meu rosto, penso em
todos os bons momentos que tive ao
lado da minha da minha mãe. Lembro-
me das vezes em que íamos juntas aos
cultos, das orações na madrugada, das
vezes em que ela me consolava quando
eu chorava pelo meu pai.
Lembro dela. Penso nela. Afinal,
tudo isso é por ela.
Benjamin pega minha mão,
entramos no local e avisto aqueles que
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

julgo serem sua família, alguns amigos


e o juiz.
— Olá, cunhada! — A irmã dele
corre para me abraçar. Ele me mandou
uma foto dela e do marido.
— Olá, Lauren. — Sorrio.
— Podemos começar? — Questiona
o juiz.
— Quanto antes melhor. —
Responde Benjamim, entrelaçando
nossos dedos.
Falsos!
Nos posicionamos, ficando um de
frente para o outro.
— Estamos aqui, para celebrar a
união de Benjamin Underwood e
Katherine Smith. Um amor que foi
construído de forma especial e bela.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Um amor que será eterno, e


incorruptível. E, embora haja
dificuldades, o amor de vocês irá
superar todas elas. — Inicia sua fala.
Sempre sonhei em me casar, mas na
igreja, com véu e grinalda. Imaginava a
música que iria tocar quando eu
adentrasse as portas e o discurso que
faria.
“Deus está comigo sempre. Por mais
que venham as tempestades”.
Meus olhos ficam marejados, me
esforço ao máximo para não chorar.
Meu cérebro viaja e não ouço
praticamente nada que o juiz fala.
— Benjamin Underwood. — O
homem faz uma pausa considerável. —
Aceita Katherine Smith como sua
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

legítima esposa? Para amá-la e


respeitá-la, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, na riqueza e na
pobreza, até que a morte os separe?
— Aceito. — Responde com um
sorriso no rosto.
Se não o conhecesse, ou seja, se não
soubesse o quão falso ele pode ser —
não que eu também não esteja fingindo
— diria que seu sorriso é real. É um
bonito sorriso.
— Senhorita Katherine Smith, aceita
Benjamin Underwood como seu
legítimo esposo? Para amá-lo e
respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, na riqueza e na
pobreza, até que a morte os separe?
Então, sinto uma solitária lágrima
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

rolar. Alargo ainda mais o meu sorriso,


na tentativa de disfarçar minha tristeza
e reprimir as outras lágrimas que
insistem descer sobre meu rosto.
Pense em sua mãe, Katherine.
— Aceito. — Sorrio mais ainda.
— Eu vos declaro: marido e mulher.
— Diz o juiz baixinho e rechonchudo.
Benjamin pega uma pequena caixinha
vermelha, abre-a revelando belas
alianças douradas. Primeiro, ele coloca
em meu dedo anelar esquerdo, depois,
faço o mesmo com ele. — Pode beijar a
noiva. — Finaliza o juiz.
Havia me esquecido dessa parte.
Benjamin me puxa pela cintura e
inicia um beijo muito mal
correspondido por mim.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

“Pronto, Katherine. Sua mãe ficará


viva”, é o que falo a mim mesma.
— Bem-vinda à família, Katherine.
— O senhor Underwood aperta
cumprimenta-me. Seu olhar é estranho.
— Obrigada, senhor Alaric. —
Tento sorrir.
— Bem-vinda, cunhada. Agora é
oficial: Katherine Underwood. Ficou
bonito. — Lauren dá risada.
— Bem-vinda, Katherine. —
Cumprimenta-me Bruce, o marido de
Lauren, e as outras testemunhas
escolhidas por Benjamin.
— Minhas felicidades ao casal. —
Parabeniza-nos o juiz.
— Obrigado, senhor. — Agradece
meu esposo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

“Ele sabe agradecer”, rio de meu


pensamento desdenhoso.
— Estou feliz. — Digo, assim que
eles percebem que estou rindo sozinha.
— Eu também, meu amor. —
Benjamin encara-me como se fosse o
homem mais apaixonado do mundo.
No entanto, no fundo de seus olhos,
consigo enxergar algo obscuro. Algo
que me assusta sobremaneira, algo que
ainda não consigo desvendar.
Como ele consegue fazer isso,
amedrontar as pessoas com o olhar?

∞∞∞
Katherine Underwood.
Embora tenha achado meu novo
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

nome incrivelmente lindo, ele


simplesmente não é meu.
Após o casamento, nos despedimos
de Lauren e Bruce, ambos retornaram a
Nova Iorque, assim como o senhor
Alaric, que foi para um spa em algum
lugar reservado.
Estamos a caminho da casa de
Benjamin. A viagem é feita em
silêncio. Por um lado, prefiro assim.
Estou ansiosa para acertar tudo com
o hospital e começar a cuidar da saúde
de mamãe. Estou ansiosa para vê-la
novamente, abraçá-la, olhar em seus
olhos, ver seu sorriso.
Estou ansiosa para que tudo isso
acabe logo e eu volte a ser Katherine
Smith. Só isso.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Chegamos até uma fortaleza. Há


inúmeros guardas e seguranças
cuidando da mansão. Os imensos
portões se abrem e surpreendo-me com
a beleza da propriedade. Benjamin
estaciona o carro na frente da casa e
descemos do veículo.
Ao entrar no local, surpreendo-me
ainda mais com tamanho luxo.
— Sinta-se a vontade.
— Obrigada. — Agradeço,
carregando a minha mala.
— Pode deixar isso aí, depois
alguém Leva para o quarto. Agora
venha, vou te apresentar a alguns
empregados. — Sigo Benjamin até o
lugar que julgo ser a cozinha. Uma
cozinha maior que toda a minha casa.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ele coça a garganta, atraindo a


atenção dos presentes. Pelo menos
cheguei a conclusão de que não é só em
mim que ele provoca medo ou ranço.
— Senhor Benjamin. —
Cumprimenta-o uma mulher ruiva, de
aparentemente cinquenta anos.
— Quero que conheçam a senhora
Katherine.
— Olá. — Sorrio simpática.
— Ela ficará conosco? — Indaga
outra, de cabelos curtos e sorriso
singelo.
— Katherine é minha esposa. Nós
nos casamos hoje e espero que ela seja
tratada como tal. — Responde
seriamente.
— Bem-vinda, senhora Katherine.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— A mulher ruiva cumprimenta-me


com um sorriso amigável.
— Obrigada, mas pode me chamar
só de Katherine.
— Aqui você é a senhora Katherine
ou senhora Underwood. — Intromete-
se meu “querido” marido. — Essas são
Olga, — a mulher ruiva — Judith, — a
do sorriso singelo — Amelia e aquele é
o Jeff.
Benjamin sai da cozinha. Respiro
fundo e analiso as pessoas a minha
frente.
— Quando Benjamin não estiver por
perto, os senhores podem me chamar só
de Katherine. — Sorrio.
— Seja bem-vinda, Katherine. —
Jeff ri, enfatizando meu nome. Ele
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

parece simpático.
— Obrigada. A gente se vê depois.
Saio da cozinha e vou a procura de
Benjamin. Sigo-o até o segundo andar,
paramos diante de uma porta branca.
Ele abre e deparo-me com um quarto
de princesa.
Toda a decoração é em tons pastéis.
A cama parece confortável, os lençóis
parecem ser caros e os móveis
aparentam ser feitos com madeira de
lei.
— Esse é o quarto. — Fala apático,
como sempre, desde que o conheci.
— É lindo. — Aproximo-me da
janela, observando a paisagem que me
é concedida.
— Sinta-se a vontade, o quarto é
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

seu.
Antes que eu responda, ele deixa o
cômodo.
Sento-me na cama e suspiro
pesadamente. Embora eu queira chorar,
parece que já derramei todas as
lágrimas que tinha durante os
pouquíssimos dias que se passaram.
O que me consola, além do Espírito
Santo, é saber que minha mãe ficará
bem. Esses três meses passarão
rapidamente, ao menos, é o que eu
espero.
Resolvo tomar um banho. Como
minha mala ainda está lá embaixo,
procuro alguma roupa nesse quarto.
Não estou com vontade de descer e
encontrar meu “marido”. Abro a porta
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

que deduzo ser a do closet, uma


dedução correta. Os armários ainda
estão vazios. Checo as gavetas e
encontro alguns pijamas. Pego um
deles e vou até o banheiro do quarto.
Tomo uma ducha relaxante, enquanto
penso em como vou lidar com todas as
emoções que se seguirão.
— Ah! Quer me matar do coração?
— Levo a mão ao peito assim que saio
do banheiro.
— Não seja dramática. — Benjamin
revira os olhos. Diferente de todas as
poucas vezes em que o vi, ele está com
uma calça de moletom e camiseta de
mangas compridas. Nada de ternos
arrumadinhos ou sapatos lustrosos. —
Vim conversar. Precisa saber de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

algumas regras. — Comenta


autoritário.
— Tudo bem. — Cruzo os braços a
frente do busto.
— Pode se sentar ou está difícil? —
Bufo e sento ao seu lado na cama.
— Sua educação é surpreendente. —
Sorrio irônica.
— Se for sair, terá que me avisar.
Tudo o que for comprar, imóveis,
carros ou joias...
— Não vou comprar imóveis, carros,
joias ou qualquer coisa que custe mais
que vinte dólares. Afinal, é o que o meu
poder aquisitivo permite. — Olho-o
seriamente.
— Continuando: tudo o que for
fazer, terá que falar comigo primeiro.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Quando eu tiver jantares, festas ou


qualquer outro evento importante você
irá comigo e irá sorrir.
— Pra mim, sorrir é fácil. Já pra
você... — Solto uma risada debochada.
— Minha casa, minhas regras.
Amanhã iremos ao shopping, você
precisa de umas roupas a sua altura. —
Ele levanta da cama.
— Tá bom.
— Se precisar de alguma coisa, pode
chamar a Olga. Meu quarto é aqui do
lado, em hipótese alguma, entre lá.
Entendeu? — Aproxima-se, buscando
me intimidar.
— Claro. — Deixo um sorriso
escapar.
Não vamos dormir no mesmo
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

quarto. Ufa!
— Nunca entre lá, Katherine. — Diz
batendo a porta de meu quarto com
força.
Chego a duas conclusões. A
primeira, é que Benjamin Underwood
tem problemas e a segunda, é que serão
longos três meses.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 4
Acordo com a luz do sol em meu
rosto. Pisco várias vezes, na tentativa
de acostumá-los com a claridade. Olho
em volta, analisando tudo o que está ao
meu redor.
Respiro fundo, fecho meus olhos e
conecto-me com o céu mentalmente:
Senhor Jesus, venho neste momento
te agradecer pelo teu infinito amor,
graça, misericórdia e por tudo o que
tens feito em minha vida. Eu preciso de
ajuda, por favor. Me ajude a suportar
aquilo que eu não posso mudar. Me
sustenta, me ajuda a me manter de pé,
mesmo diante deste furacão. Que
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

minha mãe fique bem, por favor.


Entrego tudo em tuas mãos, desde já, te
agradeço, no teu nome. Amém!
Arrumo-me na medida do possível,
já que minha mala está lá embaixo
ainda. Não trouxe muitas roupas pra cá.
Não tenho muitas roupas mesmo e não
pretendo ficar aqui mais que o
necessário.
Benjamin abre a porta do quarto
como se fôssemos íntimos. Seus olhos
pousam sobre mim com uma certa raiva
instalada nos mesmos, ou algo muito
parecido com esse sentimento.
Ele não sabe bater?
— Bom dia. — Diz frio.
— Bom dia. — Respondo séria.
— Um dos empregados iria trazer
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

sua mala, mas Olga disse que bateu e


você não abriu. Deduziu que estivesse
dormindo. — Comenta me analisando.
— Aqui está. — Aponta para a
bagagem preta.
— Obrigada. — Esboço um sorriso
fraco.
— Se troque. Nós vamos tomar café
e vamos no shopping. Você precisa de
roupas mais apropriadas para uma
Underwood. — Explica-me.
— Tudo bem. — Assinto entre um
suspiro.
Benjamin sai e me troco. Depois de
estar pronta, deixo meu quarto
descendo para o andar inferior.
— Bom dia. — Cumprimento os
empregados que estão servindo o café
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

da manhã.
— Bom dia, senhora Katherine. —
Respondem-me em uníssono.
Eles deixam Benjamin e eu a sós.
— Está esperando alguém? —
Pergunto devido aos inúmeros
alimentos postos à mesa.
— Não. — Fala apático. — Somos
apenas nós dois.
Fico maravilhada enxergando tanta
comida na minha frente.
Embora nunca tenha passado fome –
graças a Deus – nunca havia me
deparado com uma fartura tão
exorbitante.
— Vai comer ou vai ficar olhando?
— Indaga mal educado. Começo a
comer em silêncio, assim como ele. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Vamos? — Convida-me assim que


termino de devorar o último pedaço de
bolo.
— Vamos.
Saímos da casa e entramos no carro,
rumo ao shopping. Sinto-me como um
peixe fora da água. Esse luxo todo, esse
homem arrogante, ir ao shopping
comprar roupas de marca; isso não faz
parte da minha vida, não faz parte de
quem eu sou. Por um instante, eu daria
a minha vida para poder ter sessenta
segundos de normalidade. Sinto falta de
quando meu maior problema era a
pagar a conta de luz ou de internet.
— O dinheiro já está na minha
conta, Benjamin?
— Já. Pode checar no banco do
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

shopping. — Ele confirma sem tirar os


olhos da estrada.
— Como conseguiu fazer uma
movimentação tão grande em pouco
tempo? — Crispo os olhos.
— Eu tenho dinheiro e contatos. Isso
é tudo o que precisa saber. — Ele me
olha por um instante e volta sua
atenção para o trânsito.
— Obrigada.
— Não precisa agradecer, Katherine.
Não te fiz um favor. Fizemos uma
troca. Você fica com um milhão de
dólares e eu fico com você. —
Novamente, o desdém está impregnado
em sua fala.
Meu celular toca dentro da bolsa. Ao
pegar o aparelho, percebo ser o número
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

do hospital. Benjamin observa-me de


soslaio.
— Alô?
— Senhorita Katherine Smith? —
Reconheço a voz de doutor Jason.
— Sim.
— Aqui é o doutor Jason,
encarregado do caso da sua mãe,
senhora Angelina. Estou ligando para
saber se está tudo certo para depositar
parte do dinheiro? Assim posso acertar
o restante do processo do transplante.
— Está sim. Hoje.
Tento falar o menos possível, não
quero que meu “querido marido”
intrometa-se na minha vida.
— Que bom, senhorita Katherine.
— Como ela está?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Estamos tratando, mas quanto


antes a senhora Angelina fizer o
transplante, melhor será para a saúde
dela. Mas, tudo dará certo.
— Amém.
— Tenha um bom dia.
— Obrigada! Igualmente.
Encerro a chamada e meu Benjamin
olha-me curioso.
— Não vai me falar com quem
estava falando? — Arqueia as
sobrancelhas.
— Com uma amiga. — Dou de
ombros. — Ela notou que não estava
em casa.
Acho que ele não acreditou em
minhas palavras. No entanto, ficou em
silêncio.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Após alguns minutos, Benjamin


estaciona o carro no imenso
estacionamento do shopping.
— Vamos ter que andar de mãos
dadas, ou abraçados. Afinal, somos
marido e mulher. — Sua voz grave e
seu olhar penetrante causam-me
arrepios
Balanço a cabeça afirmativamente.
Descemos do veículo e ele enlaça
nossas mãos.
— Está todo mundo nos olhando. —
Sussurro constrangida, assim chegamos
ao segundo andar do shopping.
— Não posso fazer nada. — Dá de
ombros.
— Vou no banco. — Falo já prestes
a entrar. Porém, Benjamin me puxa
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

para seus braços.


— Não vai dar um beijo no seu
marido, querida? — Pergunta olhando-
me como se fosse sua presa.
— Não. — Digo desviando o olhar.
— Olha aqui, Katherine, nós
fizemos um acordo... — Comenta
apertando-me mais ainda. No entanto,
aqueles que veem a cena de fora,
pensam que estamos nos abraçando. —
Então, quero que aja corretamente,
minha mulher.
Benjamin me beija de forma voraz,
como se eu fosse seu oxigênio e ele
dependesse de mim para respirar. Não!
Isso não é romântico. Benjamim
Underwood não é o tipo de homem
romântico. Nos separamos. Fito-o com
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

raiva. Adentro o banco e começo a


fazer a transferência do dinheiro.
“É tudo pela sua mãe, Katherine”,
penso tentando reprimir as lágrimas.
Após alguns minutos, saio do banco
e volto a fingir, junto de Benjamin.
— Dulce & Gabbana ou Chanel?
— Não quero roupas caras. —
Sequer olho para ele.
— Katherine, você é minha mulher,
ao menos aos olhos alheios. Vou te dar
as melhores roupas. — Ele intimida-me
novamente.
Como ele consegue fazer isso?
Benjamin é capaz de intimidar alguém
com o olhar, com sua voz.
— Olá, quero as melhores roupas
que você tem. Dê uma repaginada nela.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Diz à vendedora.
— Sim, senhor. — A mulher sorri
pervertida, analisando Benjamin
descaradamente. — Vamos deixá-la
deslumbrante.
Sigo a vendedora e começo a
experimentar inúmeras roupas.
Por fim, coloco um vestido rosa
claro, que marca minha cintura e bate
na altura de meus joelhos. Coloco um
scarpin nude. Como já há o salão na
loja, eles arrumam meus cabelos e sou
maquiada. Ao me olhar no espelho,
tenho a visão de uma mulher elegante,
refinada. Meus cabelos tiveram as
pontas amparadas e receberam um
tratamento incrível. A maquiagem
ficou leve, mas notória. Sinto-me bela.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Espero que aprove sua esposa,


senhor Underwood. — Diz a atendente.
Benjamin me olha de uma forma
indecente, o que me faz ficar
constrangida.
— Ótimo trabalho. — Sorri.
Benjamin sorriu? Vou me segurar
em algum pilar do shopping, porque é o
fim.
— Bendito subconsciente. —
Murmuro comigo mesma.
Ele paga a conta e saímos do
estabelecimento com inúmeras sacolas.
— Te trataram bem? — Questiona.
Rio de sua pergunta. Afinal, nem ele
me trata bem. Apenas afirmo e
seguimos para mais lojas.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

∞∞∞
Benjamin estaciona o carro na frente
da casa. Acabamos por almoçar no
shopping.
— Vamos deixar as compras aqui e
vou fingir ser romântico. Ai de você se
me bater. — Ameaça-me.
Ele abre a porta do carro para mim e
me pega no colo.
— Começa a rir de alguma coisa que
eu disse. — Sussurra em meu ouvido.
Ambos começamos a rir quando
entramos em casa. Os empregados nos
olham estranhos.
Meu “esposo” sobe as escadas
comigo em seus braços e entramos no
meu quarto. Ele solta-me e fito seu
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

olhar azul.
— Por que os empregados te olham
assim?
— Não é da sua conta.
“Cavalo!”, penso comigo mesma.
— Então, está bem. — Suspiro
pesadamente.
— Vou para a empresa. Pode
passear pelo jardim, ou se for sair, vá
com o meu motorista. Ele ficará a sua
disposição.
Benjamin sai, deixando-me sozinha
com meus pensamentos.
Coloco uma roupa mais simples,
pego minha bolsa e meus documentos.
— Vai sair, senhora Katherine? —
Indaga Olga.
— Pode me chamar apenas de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Katherine. Vou sair um pouco. —


Sorrio.
— O motorista está a sua espera.
— Eu vou de táxi, não é necessário.
— Sorrio novamente. — Tenha uma
boa tarde. — Despeço-me entrando no
táxi que já havia chamado.
— Para onde, senhora? — Pergunta-
me o taxista.
— Hospital Menino Deus. —
Respondo voltando minha atenção para
o mesmo.
A viagem me faz pensar em tudo o
que aconteceu nas últimas vinte e
quatro horas. Quem diria que Katherine
Smith estaria casada com um bilionário
extremamente lindo e arrogante? E que
esse casamento seria para salvar a vida
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

de mamãe?
— Chegamos, senhora.
— Obrigada. — Pago o homem e
adentro o hospital.
— Bom dia, sou Katherine Smith,
filha de Angelina Smith. — Dirijo-me à
recepcionista. — Preciso falar com o
doutor Jason, sobre o caso de minha
mãe.
— Claro. Siga até o fim do corredor,
porta de número nove. — Explica-me.
— Obrigada.
Sigo o caminho que a mulher me
indicou e bato na porta. Ouço o médico
murmurar um “entre”.
— Olá, doutor Jason.
— Olá, senhorita Katherine. — Sorri
amigável. — Sente-se.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Já fiz a transferência de parte do


dinheiro. Quando começarão os
procedimentos? — Pergunto aflita.
— Amanhã mesmo, senhorita
Katherine. — Afirma sorridente.
— Que bom. — Assinto um tanto
quanto nervosa. — E, quando será o
transplante?
— Daqui a alguns dias, vou lhe
passar a papelada completa. Não se
preocupe, tudo ficará bem.
— Amém!
— Se me permite, senhorita
Katherine... — Ele faz uma pausa,
parece estar formulando as palavras. —
Como conseguiu o dinheiro?
— Doutor Jason, minha mãe cuidou
de mim quando eu mais precisei. Eu
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

prometi que cuidaria dela. — Respondo


sem jeito. — Sabia que Deus me daria
um escape.
— Claro. Perdão pela indelicadeza.
— Posso ver minha mãe?
— Sim, senhorita. Já está no horário
de visitas. Acompanhe-me, por favor.
Saímos de sua sala e vamos em
direção ao local em que mamãe está
instalada, antes de entrarmos, ele
entrega-me luvas, touca e aquele jaleco
hospitalar.
Ao entrar no quarto e vê-la dessa
forma, meu coração se parte. Ela está
mais pálida, mais magra. Seus olhos
estão fechados.
— A medicação a fez dormir,
senhorita. — Comunica-me o médico.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Vou deixá-las a sós.


— Oi, mãe. — Sussurro segurando
sua mão. — A senhora vai ficar bem.
Eu consegui o dinheiro e a senhora vai
ficar bem, eu prometo! — Afirmo
deixando as lágrimas rolarem. —
Depois, a senhora vai voltar para casa e
eu vou cuidar da senhora. Eu prometo,
mãe.
Por ela. Seja forte por ela, Katherine.
— Queria tanto que a senhora
estivesse aqui. Tenho tanta coisa para
te contar, mãe, tanta coisa. — Digo
entre lágrimas. — Sinto falta do seu
colo, do seu carinho. Eu vou orar pela
senhora, agora. Pode ser? — Fecho
meus olhos e começo a orar. — Pai, tu
conheces o meu coração. Oro a Ti,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pedindo pela vida da minha mãe. Há


anos, ela tem te servido, sem medir
esforços. Pai, tens misericórdia da vida
dela. Olha, eu sei que, ela pode estar
pronta para partir, no entanto, não estou
pronta para ficar sem ela. Pai, eu clamo
a Ti... eu te imploro, salve-a. Tu és o
médico dos médicos, especialista nas
causas impossíveis. Entre com
providência e nos ajude... Por favor,
Pai. Desde já, é o que eu te peço e te
agradeço, em nome de Jesus. Amém.
Eu te amo, mãe. — Despeço-me
depositando um beijo em sua testa.
Resolvo mais alguns assuntos com o
doutor Jason, assino alguns papéis e
deixo o hospital.
Como estou perto da igreja em que
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

congrego e como já está na hora do


culto começar, dirijo-me até lá.

∞∞∞
— Paz do Senhor, irmã Katherine,
como vai sua mãe? — Questiona-me o
pastor, assim que entro na igreja.
— Paz do Senhor, pastor. Peço que
ore por ela, ela não está muito bem de
saúde.
— Iremos orar. Deus fará o melhor.
— O homem sorri amistosamente.
O culto começa. Desde a primeira
oração que é feita, já começo a
quebrantar meu coração diante da
gloriosa e santa presença de Deus.
— A irmã Katherine está com a
oportunidade de louvar ao Senhor com
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

um hino.
Desde menina, eu sempre fui
apaixonada por louvar a Deus. Mamãe
ensinou-me nesse caminho. Ensinou-
me a adorar em espírito e em verdade; a
louvar diante de toda e qualquer
tempestade.

∞∞∞
— Boa noite, Olga. —
Cumprimento-a assim que chego a casa
de Benjamin.
Já são nove horas da noite.
— Boa noite, senhora Katherine.
Subo as escadas e vou para meu
quarto. Ao acender a luz, deparo-me
com Benjamin, fitando-me com o seu
olhar cheio de raiva.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Onde estava? — Indaga


aproximando-se. Hesito em responder.
— Onde estava? — Grita prendendo-
me contra a parede.
E agora?

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 5

— Não precisa gritar. — Minha voz


sai em um tom extremamente baixo,
enquanto me encolho, sem coragem de
olhar em seus olhos.
— Não respondeu minha pergunta.
— Diz irritado.
— Eu fui dar uma volta, pensar e
depois eu fui para o culto. — Respondo
nervosa.
— Então, você estava na igreja? —
Arqueia uma de suas sobrancelhas,
afastando-se um pouco.
— Sim. — Balanço a cabeça
afirmativamente.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Não acredito nisso, Katherine! —


Ele grita.
Por instinto, encolho-me mais ainda.
Sinto meus olhos marejarem, quando
percebo, já estou chorando. Estou
chorando por mamãe, por Benjamin,
por tudo.
— Mas é a verdade. Quer ir na casa
do pastor? Dos irmãos da igreja? Pode
ir. Aí eles confirmam essa história pra
você. — Esforço-me para não explodir
em gritos.
— Não me disse que era crente.
— Você nunca me perguntou nada
disso. — Dou de ombros.
— E precisava perguntar? Você é
muito idiota, garota.
— Falou o adulto. — Rebato no
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

mesmo tom.
— Abaixe a voz para falar comigo,
entendeu? — Olha-me
ameaçadoramente, fazendo-me
estremecer.
"É por sua mãe, Katherine.
Arrogante! Grosso! Mal educado!",
meus pensamentos manifestam-se
enquanto assinto.
— Nunca mais faça isso. Se for sair
ou se for para a igreja novamente, me
avise. — Balanço a cabeça em
concordância. — Você acha que os
empregados não falam? Acha que não
falam o quanto somos frios um com o
outro?
— Sabe... Você tem problemas.
Além do mais, acho que deveria tratar
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

melhor não só os seus empregados, mas


todas as pessoas.
— Não pedi sua opinião, Katherine.
— Fala ríspido.
— Você afasta as pessoas de você.
Por ser assim. — Encaro-o por alguns
instantes.
No entanto, me arrependo do que fiz.
Seu olhar penetrante é como se fosse
um fuzil pronto para atirar e fazer
inúmeras vítimas, intimidando-as com
a raiva que emana de seus olhos.
— Você não sabe nada sobre mim,
garota.
— Eu tenho nome. É Katherine
Smith. — Respondo-o séria.
— Quis dizer Katherine Underwood,
porque, durante três meses, você será
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

minha mulher. — Diz saindo do quarto.


— Nunca vou ser sua mulher. —
Sussurro a mim mesma.
Lágrimas grossas começam a rolar
em meu rosto. Me ajuda, Deus! Me
ajuda a suportar aquilo que eu não
posso mudar.
Depois de alguns minutos, a porta se
abre, trato de enxugar minhas lágrimas
para que Olga não perceba.
— Desculpe entrar assim, senhora
Katherine. Trouxe algo para a senhora
comer. — Diz gentilmente, entregando-
me uma bandeja.
— Obrigada, Olga. A senhora não
precisava se incomodar.
— Não é incômodo algum, senhora.
— Sorri sentando ao meu lado na cama.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Então, foi a primeira briga? Perdão


pela intromissão, mas... Podemos
conversar se quiser. — Pergunta sem
jeito.
— Foi. — Assinto. — Mas vai ficar
tudo bem.
— Vai sim. Deus está no controle,
senhora Katherine! — Exclama
segurando minha mão.
— A senhora é cristã?
— Sim.
— Bom saber que não sou a única
nessa casa. — Abraço-a sem pensar em
mais nada.
Olga retribui tal gesto.
— Desde que te vi, pude perceber o
brilho do Espírito Santo de Deus na sua
vida.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Fico feliz em ouvir isso, saber


que estou fazendo a diferença como
filha de Deus. — Agradeço com um
pequeno sorriso.
— Há quanto tempo você é cristã?
— Indaga-me Olga.
— Desde que me conheço por gente.
— Seus pais também são cristãos?
— A história dos meus pais, da
minha, família é complicada. Me
desculpe.
Ainda não estou pronta para falar de
tudo o que aconteceu e de tudo o que
está acontecendo.
— Não se desculpe, querida. Bem,
acho que tinha sua idade quando
conheci Jesus, no pior dia da minha
vida. — Comenta fitando-me.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— A senhora pode me contar o que


aconteceu? — Fico realmente curiosa.
— Claro, com prazer. — Anima-se.
— Falar da graça do Senhor é sempre
uma honra. — Suspira. — Meu pai era
traficante, cresci em meio ao caos, ao
vício e à morte.
— Sinto muito.
— Foi através de tudo isso que Deus
agiu na minha vida, senhora Katherine.
— Olga é o tipo de pessoa que te
motiva e inspira, com pouquíssimas
palavras. — Certo dia, uns inimigos do
meu pai invadiram nossa casa. Eles
mataram minha mãe, depois meu pai e
logo após, abusaram de mim. Eles
pensaram que eu estava morta. Porém,
naquele momento de dor o médico que
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

me atendeu era cristão e me falou de


alguém que estava disposto a me amar,
independente de todos os traumas que
eu enfrentei. — Fico emocionada ao
escutar suas palavras, mesmo que
poucas. — Eu não hesitei em aceitá-lo.
E, naquele instante, Jesus mudou minha
vida. Hoje, o médico que me atendeu é
meu marido e temos dois filhos. — Ela
sorri alegremente.
— Deus é lindo. — São as únicas
palavras que consigo pronunciar diante
da grandeza do meu Senhor e Salvador.
— Não sei o que está passando,
porém, tenha sempre em mente que por
mais difícil que possa parecer, servimos
ao Deus que fez chover comida, fez
abrir um mar e que nos ama tanto, ao
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ponto de dar o único filho dele por nos


amar de forma pura e incondicional. —
Abraça-me novamente.
Ele sempre envia alguém para nos
ajudar nos momentos inoportunos e
tempestuosos que enfrentamos. Olga
foi essa pessoa.
— Obrigada. — Agradeço com um
sorriso estampado em minha face.
— Não precisa agradecer. Agora,
coma. Precisa se alimentar.
Começo a comer e me maravilho
com a comida, está deliciosa.
— Está muito bom.
— Obrigada. Foi Amelia que
preparou. O senhor Benjamin falou que
você não havia jantado e mandou trazer
o jantar aqui para você.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Olho-a surpresa. Benjamin fez isso?


— Foi ele mesmo? — Indago
atônita.
— Sim. Bem, vou deixá-la
descansar. Tenha uma boa noite.
— Obrigada. A senhora também.
— Não esqueça: Deus sempre está
conosco, senhora Katherine.
Principalmente, quando nos
encontramos em meio ao caos.

∞∞∞
Saber que foi Benjamin quem pediu
para me servirem o jantar deixou-me
um tanto quanto perplexa. Esperava
isso de qualquer pessoa, menos dele.
Sinceramente, acho que sob essa
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

armadura que ele usa, existe um bom


coração. Afinal, presumo que ele
possua tal órgão. No entanto, há
momentos em que ele se transforma em
uma verdadeira fera. Em quase todos os
momentos ele é assim, para falar a
verdade.
Gostaria de desvendá-lo. Descobrir
por que ele é tão hostil com as pessoas
quando não tem motivo algum para
isso. Talvez, ele use toda essa máscara
para afastar todos os que desejam se
aproximar. Mas, por quê?
Acordo com sede no meio da noite,
olho a hora no celular. São duas horas
da manhã. Saio do quarto e desço as
escadas, indo em direção à cozinha. Ao
chegar na porta, vejo Benjamin
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

devorando um grande pedaço de bolo


de chocolate. Ele parece distante, nem
notou minha presença.
— Oi. — Digo sentando-me ao seu
lado.
— Não deveria estar dormindo? —
Indaga sem me olhar.
— Deveria lhe fazer a mesma
pergunta. — Olho-o por um instante.
— Mas, respondendo: vim beber água.
Ele dá de ombros e volta a comer.
— Onde ficam os copos ou alguma
caneca? Sei lá. — Questiono. Não
estou na minha casa, portanto, não vou
sair procurando tudo.
— Procure. — Responde
simplesmente.
Bufo e começo a caçar um copo. O
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

problema são a quantidade de armários


nessa cozinha. Parece a de um
restaurante. Um super restaurante.
— O que vai fazer? — Pergunta ao
me ver arrastando uma cadeira até os
armários, para conseguir alcançar os
mais altos.
— Você mandou eu procurar, estou
procurando. — Ironizo.
Subo na cadeira e fico na ponta dos
pés para chegar até os armários mais
altos. Qual a necessidade de tantos
armários? Só Benjamin vive aqui.
Ricos são estranhos.
Acabo desequilibrando-me, meu
coração acelera no peito, imaginando o
impacto. Porém, sou segurada por
braços firmes e fortes.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Meu coração vai parar na boca.


Pela primeira, ambos nos encaramos
sem desviarmos nossos olhares. Pela
primeira vez, Benjamin Underwood
não está com raiva instalada no olhar.
Eu acho.
— Desastrada! — Exclama
soltando-me no chão, embora suas
mãos continuem em minha cintura.
— Obrigada! — Sussurro
envergonhada.
Ele me solta, vai até um dos
armários e me entrega um copo.
— Quer bolo? — Oferece-me um
pedaço do bolo de chocolate.
— Sim. — Balanço a cabeça
afirmativamente.
Benjamin entrega-me um garfo e
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

começo a comer.
— Obrigada por ter pedido para a
Olga levar o meu jantar. — Esboço um
pequeno sorriso.
— Por mais que possua meus
defeitos, nunca deixaria ninguém
morrer de fome sob meu teto. — Fala
sério, como sempre.
— Desculpe por não ter avisado que
eu iria no culto. — Sussurro.
Benjamin fita-me de soslaio, é
nítido.
— Você sabe pedir desculpas. —
Desdenha com um sorriso irônico
estampado em seu rosto.
— Deveria sorrir mais vezes,
sorrisos verdadeiros. — Comento
encarando-o.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Pode cuidar da sua vida?


Obrigado. — Diz ríspido.
— Não precisa ser grosso. — Irrito-
me.
Ele torna a me olhar de forma
ameaçadora. Será que ele é maluco ou
algum tipo de maníaco? Tento não
transparecer meu medo, o que não dá
muito certo. Sei que é arriscado, mas
preciso saber.
— Por que você me olha assim? —
Encorajo-me e pergunto.
— Assim como? — Aproxima-se,
passando a envolver minha cintura com
seus braços.
— Não faça isso. — O repreendo,
devido ao fato de ter colado nossas
testas.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Isso o quê? — Finge-se de


desentendido.
— Benjamin, pare. — Tento me
soltar, mas ele me prende mais.
De repente, seus lábios tocam os
meus. Iniciando um beijo diferente dos
outros.
Estranhamente diferente.
Suas mãos me puxam mais para si,
enquanto as minhas hesitam em pousar
sobre seus ombros e tocá-lo.
— Ah! Me desculpem, senhores....
— Somos interrompidos por Jeff, que ri
envergonhado.
Benjamin solta uma risada baixa.
Ainda assim, é uma risada.
— Sem problemas, Jeff. — Meu
"esposo" nega.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ele me puxa pela mão e deixamos a


cozinha.
— Me desculpe, Katherine. Mas os
empregados precisam acreditar. E
presumo que você não vai querer
dormir junto comigo, no mesmo quarto.
— Sussurra enquanto subimos as
escadas.
— Tenha uma boa noite, Benjamin.
— Você também. — Responde-me
seriamente e entra no quarto.
— Onde foi se meter, Katherine?

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 6
Acordo com o canto dos pássaros
que habitam as árvores da propriedade.
É um belo som e uma bela visão.
Levanto-me da cama, dobro meus
joelhos diante da mesma e começo a
falar com meu Pai.
— Senhor Deus e Pai, neste
momento me chego ante a tua presença
para te agradecer pelo teu infinito
amor, graça e misericórdia, dos quais,
não sou merecedora. Pai, obrigada por
ter mandado providência em relação ao
dinheiro que precisava. Agora, peço
que dê tudo certo no transplante da
mamãe. Senhor, sei que ele pode estar
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

preparada para partir, porém, não estou


preparada para ficar sem ela. Não quero
ficar sozinha. Entrego tudo em tuas
mãos. Desde já, é o que te peço e
agradeço em nome de Jesus. Amém!
Já são oito e meia, provavelmente,
Benjamin já foi para a empresa.
Depois de me arrumar, desço as
escadas e me direciono à sala de estar,
é melhor eu começar a conhecer a casa.
— Posso ajudar? — Pergunto vendo
uma mulher loira, muito bem vestida,
por sinal, sentada no sofá.
— Olá. — Ela encara-me com ar de
superioridade. — Você deve ser a
mulher do Ben, certo? — Arqueia uma
sobrancelha.
Ben? Que intimidade é essa?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Sou. Mas, e você? Quem é? —


Questiono séria.
— Sou Camile Potter. O Ben não
falou sobre mim? — Fita-me com
desdém.
— Não. — Balanço a cabeça
negativamente. — Ele só me fala de
coisas importantes. — Respondo com
um pequeno sorriso no rosto.
— Além de pobre, é mal educada.
Mas, não me surpreende, o Ben sempre
gostou dos pobres. — Ironiza.
Reviro os olhos em protesto e vou
para a cozinha, deixando a metida
falando sozinha.
— Bom dia. — Cumprimento os
empregados, que me respondem um
"bom dia" em uníssono.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Quer comer, querida? —


Pergunta-me Olga.
— Não, obrigada. — Suspiro
pesadamente, enquanto sento-me em
uma cadeira. — Quem é Camile? —
Indago curiosa.
— Conheceu a Bruxa Potter? —
Brinca Jeff.
— É. — Dou de ombros.
— É ex-namorada do senhor
Benjamin. — Explica-me Olga.
— E o que ela está fazendo aqui? —
Crispo os olhos.
— Ela trabalha na empresa. Verá ela
aqui muitas vezes. — Fala Amelia, a
cozinheira, que está cortando tomates
com muita facilidade.
— Ela é tão arrogante quanto
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin. — Acabo deixando escapar.


— Até a senhora acha seu marido
arrogante? — Jeff se surpreende. —
Viu Olga? Se até a Katherine acha o
senhor Benjamin arrogante, quem
somos nós pra não achar isso também?
— Ele solta uma gargalhada capaz de
contagiar o espírito mais triste.
— Não é isso... — Tento
desconversar. — Ele só é arrogante
quando está de mal humor. — Solto
uma risada baixinha.
— O que é quase todos os dias. Sem
querer ofender. — Comenta Jeff.
Rio de sua boa observação.
— Jeffrey! — Judith chama sua
atenção.
— O senhor está certo. — Sussurro
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

e ele ri. — Será que a tal Camile vai


ficar aqui por muito tempo?
— Não sei, senhora Katherine. —
Responde-me Amelia.
— Tomara que não. — Digo a mim
mesma, o que arranca gargalhadas dos
empregados. — Qual a história do
Benjamin e da Camile?
— Ah... Estudaram na mesma
escola, cursaram a mesma faculdade, aí
começaram a namorar, já que seus pais
trabalharam na mesma empresa. —
Conta-me Olga.
— Por que eles terminaram?
— Camile traiu o senhor Benjamin
com o melhor amigo dele. — Sussurra
Jeff.
— Ela tem problema? Como ela foi
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

capaz? — Questiono perplexa.


— A bruxa não merece alguém
como o senhor Benjamin. — Fala
Amelia. — Mas, ele merece alguém
como você, senhora Katherine.
— Já disse que os senhores podem
me chamar apenas de Katherine.
A manhã passou rapidamente, fiquei
conversando com o pessoal da cozinha.
Eles me arrancaram boas risadas,
principalmente Jeff. Camile falou com
Benjamin e foi embora.
Ele?
Não trocou uma palavra comigo.
Grosso!
Liguei para o hospital, segundo o
doutor Jason, está tudo certo para o
transplante de minha mãe.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Tomo um banho e vou escolher uma


roupa para colocar. É estranho possuir
um closet do tamanho do meu antigo
quarto.
— Escolha algo apropriado, haverá
um jantar com os acionistas da
empresa. — Escuto Benjamin sussurrar
ao pé de meu ouvido, o que me faz
arrepiar.
— Não sabe bater? — Indago
seriamente, prendendo ainda mais a
toalha que cobre meu corpo.
— A casa é minha, entro onde eu
quiser, quando eu quiser.
Arrogante!
— Não precisa ser grosso.
— Você fica linda assim. — Fala
aproximando-se e eu afasto.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— A Camile vai estar no jantar? —


Tento mudar de assunto.
— Sim.
— É um jantar de negócios, eu
preciso ir? — Indago impaciente.
— Sim, você é minha mulher. —
Responde óbvio.
— Claro... Você gosta de gente
pobre. — Desdenho.
— Quem te disse isso? — Olha-me
com seu olhar matador.
— A sua amiga: Camile.
— Não liga para o que a Camile
fala. Agora, se arruma. — Ele sai do
quarto.
Procuro uma roupa apropriada para
o jantar. Escolho um vestido na cor
vinho, com mangas. O mesmo, bate na
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

altura dos meus joelhos. Coloco um


scarpin nude, faço uma maquiagem e
arrumo meus cabelos.
Desço as escadas e todos já estão na
sala de jantar, sentados a mesa.
— Boa noite. — Cumprimento-os
com um sorriso no rosto e me sento ao
lado de Benjamin.
— Senhoras e senhores, esta é minha
esposa: Katherine Underwood. —
Benjamin apresenta-me aos presentes.
— É um prazer conhecê-la, senhora
Katherine. — Um dos acionistas sorri.
— O prazer é meu.
A mesa está posta; inúmeros talheres
e taças. Qual a necessidade de tudo
isso? Será que eles não sabem que a
gente só precisa de um garfo e uma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

faca? Às vezes só uma colher é


suficiente também.
— Não sabe comer com todos estes
talheres, não é? — Camile pergunta
com ironia. — Não se preocupe,
sabemos que gente pobre não entende
dessas coisas.
Sinto meu sangue ferver e uma
súbita vontade de socar a cara da bruxa
loira. Porém, Deus envia os
empregados, eles começam a servir o
jantar.
Começo a comer, sabendo distinguir
cada talher e para que cada um serve.
Camile me olha com raiva.
Estou rindo por dentro.
Quando eu era menor, minha mãe
trabalhou em uma casa de pessoas
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ricas. A chefe dela me deu aulas de


etiqueta. O que me machuca, não é o
fato de Camile me humilhar, mas o fato
de Benjamin não me defender em
momento algum.
— Sabe qual o problema dos ricos?
— Arqueio as sobrancelhas olhando
para cada um presente na mesa. —
Achar que as pessoas menos
favorecidas são ignorantes.
— Katherine! — Repreende-me
Benjamin.
— O que foi? Aprendi a me
defender e a não deixar ninguém me
humilhar. Posso não ser a pessoa mais
rica do mundo, no entanto, tenho
caráter, educação e procuro não
humilhar ninguém. — Solto uma risada
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

irônica. — Gente pobre pode não


entender dessas coisas, pelo menos, não
somos ignorantes a ponto de acharmos
que os verdadeiros valores estão
presentes em bem materiais. Eu perdi o
apetite. — Levanto-me e deixo a sala
de jantar.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 7
Vou para meu quarto e choro
compulsivamente. O que está
acontecendo comigo?
Eu era o tipo de pessoa que não se
deixava abalar, independentemente das
circunstâncias, fossem favoráveis ou
não. Presumo que a descoberta da
doença de minha mãe tenha me
deixado... Frágil.
Está tudo uma confusão dentro de
mim e há Benjamin... As coisas estão
confusas.
Neste momento só queria um abraço
de mamãe. Seus abraços são apertados
e reconfortantes.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Quanto ao que houve na sala de


jantar: sempre soube me defender.
Camile estava fazendo o possível para
me humilhar, quer dizer,
definitivamente, ela estava me
humilhando. Porém, Benjamin não foi
capaz de me defender.
Ele não diz que sou esposa dele?
Pois é, acho que ele não sabe o que
quer dizer ser casado com alguém.
Droga, Katherine!
— Não somos casados. — Murmuro
comigo mesma.
Lágrimas grossas rolam sobre meu
rosto, junto da vontade de gritar,
chorar, sumir.
"Deus... preciso do Senhor. Preciso
de ajuda. És o único que pode me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ajudar. Estou me sentindo tão...


sozinha".
Coloco uma roupa mais confortável,
estou prestes a me deitar quando a
porta do quarto é aberta de forma
brusca.
Benjamin.
Seus olhos emanam fúria e
hostilidade.
— O que foi aquilo, Katherine?
É perceptível que ele está se
segurando para não gritar comigo.
— O quê? — Cruzo os braços em
sua frente.
— Não se faça de tola. Por que
insultou Camile?
— Primeiro: quem me insultou foi
ela. — Falo gesticulando com as mãos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Segundo: aprendi a me defender e


assim como qualquer ser humano, não
gosto de ser humilhada. — Sinto meus
olhos marejarem.
Droga! Não quero chorar na frente
dele. Só mostraria o quão frágil eu
estou.
— Ah, por favor! — Cerra os
punhos. — Cresça! — Exclama,
aproximando-se de forma ameaçadora.
— Quem tem que crescer é você.
Afinal, o grande Benjamin Underwood,
— sorrio irônica — não foi capaz de
defender a sua esposa fictícia. Pobre da
mulher que casar com você de verdade.
— Desdenho.
— Pobre do homem que casar com
alguém como você. — Rebate no
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

mesmo tom.
— Está dizendo isso para si mesmo,
não é? — Arqueio uma de minhas
sobrancelhas.
— Você é maluca. — Bufa
indignado.
— Nisso eu concordo com você. —
Balanço a cabeça em concordância. —
Fui maluca o suficiente para me casar
com você. — Respondo séria.
"Foi por sua mãe, Katherine", penso
comigo mesma e não consigo evitar o
choro.
— Não se faça de vítima. — Diz
olhando-me seriamente.
Fecho os olhos com força e reprimo
as lágrimas que desejam jorrar sobre
meu rosto. Não vou dar esse gostinho a
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ele.
— Resumindo: eu sei me defender, e
se aquela sua amiguinha vir testar
minha paciência novamente, aí vou dar
uma resposta a altura de gente rica,
metida, esnobe e ignorante como ela.
— Cuspo as palavras olhando no fundo
de seus olhos.
— Que merda, Katherine! — Grita
passando a mão nos cabelos. — Por sua
resposta tive que convencer os
acionistas e fornecedores a continuarem
na empresa. — Suspira tentando se
acalmar. — Meu pai saiu, eu sou o
novo presidente e eles precisam confiar
em mim, precisam me respeitar. Mas,
como eles vão confiar no homem que
não é respeitado pela própria mulher,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

dentro da própria casa?


— Ah, e você me respeita? —
Pergunto perplexa.
— Isso não vem ao caso. — Dá de
ombros.
— Claro! Quando a questão é você,
importa. Mas quando sou eu, não faz a
menor diferença. Bravo! — Bato
palmas de forma irônica.
— Maldita a hora que eu me casei
com você. Eu poderia ter perdido
minha empresa, garota. — Ele bate a
porta do quarto antes de sair do mesmo.
Sento na cama e desabo novamente.
Por que Benjamin me afeta?
Ouço batidas na porta. Sei que não é
ele porque ele nunca bate.
— Entre.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Querida, está tudo bem? Ouvi os


gritos. — Indaga Olga, sentando ao
meu lado.
— Vai ficar, eu sei que vai. —
Afirmo abraçando-me a ela.
— Lembre-se: Deus sempre está
com você. — Conforta-me, afagando
meus cabelos.
— Não posso me esquecer disso
nunca. Se não eu perco o controle. —
Sussurro alto o suficiente para ela me
ouvir.
— Lembrete número dois: nós
podemos até perder o controle, em
determinadas situações da vida.
Entretanto, nenhuma delas sai do
controle de Deus. — Sorri de forma
reconfortante.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Acho que fui egoísta demais.


Benjamin poderia ter sido prejudicado
por minha causa. — Comento tristonha.
— Descanse e fale com ele amanhã.
— Aconselha-me. — Tenha uma boa
noite. Fique com Deus.
— Igualmente, muito obrigada. —
Agradeço com um pequeno sorriso no
rosto.
Olga deixa meus aposentos e respiro
fundo.
Preciso me desculpar com Benjamin.
Sei que ele disse para não entrar em
seu quarto, mas, preciso falar com ele.
Quando me dou conta, já estou diante
da sua porta. Bato, porém, não obtenho
resposta alguma.
Tomo coragem e adentro o cômodo,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

um belo cômodo, por sinal. Ele não


está na cama, nem no closet. Sigo até a
porta que presumo ser o banheiro, está
entre aberta.
— Benjamin não faça isso. — Grito
desesperada, vendo-o prestes a cortar
seus pulsos com uma navalha.
Escancaro a porta do banheiro e vou até
ele.
Dane-se o pouco de sanidade que me
resta. Arranco a navalha de suas mãos e
me desespero ao olhar para seus pulsos.
Seus olhos estão marejados. Há um
misto de pavor, medo; não consigo
descrever todos os sentimentos que
estão estampados em seu olhar, em sua
face completamente transtornada.
— Você se corta? — É a única coisa
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

que consigo perguntar.


Uma pergunta retórica, idiota, posso
dizer. Sempre o vi de camisa de
mangas compridas, como ele está sem
blusa, seus cortes são chamativos.
Não consigo desvendar o que se
passa em seu olhar. Só sei que ele me
encara de forma intensa. Um silêncio
ensurdecedor instala-se pelo imenso
banheiro branco. É assustador.
— Qual a parte do não entre aqui,
não deu pra entender? — Grita furioso.
Instantaneamente, suas lágrimas secam,
trazendo à tona toda a fúria que emana
de seus belos olhos azuis.— Eu só...
— Não me interessa! — Esbraveja
transtornado. — Falei para nunca entrar
aqui. Você é surda, por acaso? —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Indaga irônico.
— Me desculpa. — Sussurro
apavorada.
— Guarde suas desculpas. Que
merda você pensou que estava fazendo,
garota? — Grita novamente, mas dessa
vez, ele segura meus pulsos com muita
força.
Solto um gemido de dor. Benjamin
olha-me com raiva. Sinto as lágrimas
começarem a descer, levando minha
máscara de força consigo. Ele não solta
meus pulsos em nenhum instante. Eu
poderia gritar, no entanto, esse grito
está reprimido em minha garganta. O
medo o fez.
— Estava impedindo você de acabar
com a sua vida. — Falo em um tom
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

baixo.
— Vida? Que vida? — Ele aperta
mais meus pulsos.
— A vida que Deus te deu,
Benjamin. Sei que pode ser difícil às
vezes, mas...
— Você não sabe de nada. —
Pronuncia as palavras pausadamente.
Seu olhar aterroriza-me de uma
forma surreal.
"É pela sua mãe, Katherine.", digo a
mim mesma. Devo ser forte por minha
mãe.
— Sei o que é ter uma vida difícil.
— Respondo-o temerosa.
Ele ri irônico. Uma risada
assustadora.
— Você é muito petulante.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ele se aproxima mais ainda,


continuando a apertar meus pulsos.
Acho que por instinto, acabo
encolhendo-me de pavor.
— Não queria que se machucasse.
— Sussurro aterrorizada.
— Saia daqui, agora! E não entre
mais aqui. — Grita apertando meus
pulsos com mais força, se é que é
possível.
Grito de dor. Ele me solta e saio
correndo de seu quarto.
Entro no meu e choro. Meus pulsos
ficaram com fortes marcas, estão
doendo demais. Porém, não choro
apenas por isso. Onde eu fui me meter?
Deus, o que será de mim? Meu coração
está quebrado em mil pedaços, só não
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

consigo entender se é por minha mãe


ou por Benjamin. Me ajude. Me dê
direção! Benjamin é horrível por
dentro. É um ser humano ruim e hostil.
Incapaz de se importar com o próximo
ou com aqueles que o rodeiam.
Ele é tão frio quanto o gelo. Seu
coração é mais duro que uma pedra.
Benjamin é um monstro.
Eu queria fugir para longe, esquecer
de absolutamente tudo. Mas, aí eu
lembro de minha mãe e lembro que ela
precisa de mim.
Por mais que seja um martírio estar
aqui, sendo maltratada por Benjamin,
sei que valerá a pena. Minha mãe ficará
bem; sairei desta casa; me demitirei da
empresa; arranjarei outro emprego; se
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

possível, até de cidade eu mudo. Quero


ficar o mais longe que eu puder de
Benjamin Underwood.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 8
Dor: É o que estou sentindo neste
momento. Meus pulsos doem, meu
coração dói. Já é meia noite, ainda não
dormi. Parece que ainda sinto as mãos
fortes de Benjamin a me machucarem.
Vasculhei as gavetas do banheiro
procurando uma pomada, mas, não
encontrei nada. Não vou sair do quarto,
tenho medo de encontrá-lo.
As lembranças do que ele fez
habitam meus pensamentos,
impedindo-me de dormir. Eu quero
gritar desesperadamente. Não sei se irei
aguentar três meses junto com esse
homem.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Às vezes, minha vontade é poder


subir até o Céu, dar um abraço bem
apertado em Jesus e nunca mais sair da
lá. Entretanto, enquanto isso não é
possível, sei que Ele está me vendo. Se
Deus me deu esta prova é porque sabe
que sou capaz de lutar, é porque sabe
até onde minha força vai, sabe até onde
consigo aguentar. Não vou deixar a
minha cruz, afinal, é como se fosse
uma ponte, que me conduz diretamente
para o Céu.
Agora, aqui na terra, as lutas podem
ser difíceis. Meus pés podem estar
cansados de andar, porém, não
desistirei de lutar pelo o que é eterno.
Por mais que as provas tentem tirar o
meu foco, continuarei olhando para o
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

alvo: Cristo. Aguentarei firme, porque


tenho plena convicção de que, quando
Jesus voltar para buscar o seu povo e
formos morar com Ele, todo o esforço
valerá a pena.
Não temerei à doença de mamãe, às
dificuldades ou a Benjamin. Assim
como o apóstolo Paulo fez, guardarei
no peito a minha fé, viverei o chamado
de Deus para mim. Não vou parar de
lutar.
Vou até o banheiro, novamente, e
lavo meu pulsos, alivia um pouco a dor.
Ao retornar para o quarto, congelo ao
ver Benjamin. Simplesmente, não
consigo me mover.
— Podemos conversar? — Pergunta
sério.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Melhor não. — Respondo


recuando alguns passos.
Ele ainda está sem camisa, portanto,
posso ver as cicatrizes de cortes em
seus pulsos. Seus olhos tornam-se
marejados.
Benjamin Underwood está
chorando?
— Ah, deixa pra lá. — Balança a
cabeça negativamente, saindo do
quarto.
Sento-me em minha cama e suspiro
pesadamente.
— Katherine... — Chama minha
atenção, ele está escorado no batente da
porta.
— Sim? — Sussurro um pouco
assustada de tê-lo por perto.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Me desculpa? — Pede-me
olhando no fundo de meus olhos.
Ele sabe pedir desculpas.
Benjamin aproxima-se e senta ao
meu lado.
— Tudo bem. — Digo séria.
Em um ato rápido, ele segura uma de
minhas mãos. Sinto calafrios ao sentir
seu toque. Afinal, há algum tempo, ele
estava me machucando.
— Seus pulsos... — Sussurra com
pesar. — Eu... Me desculpa, por favor,
Katherine. Me perdoa. — Analisa as
marcas presentes em meu pulsos.
— Está tudo bem.
— Não está, não. — Ele nega. É
possível ver a tristeza em seu olhar. —
Eu fui um covarde por ter te
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

machucado, por ter gritado com você.


— Eu entrei no seu quarto, sem a
sua permissão. — Respondo sem jeito.
— Isso não justifica meus atos. Eu
fui um grosso, um covarde por ter te
machucado... Me perdoa?
— Mas, está tudo bem, Benjamin.
— Fala que me perdoa, eu preciso
ouvir. — Suplica com os olhos
marejados.
— Eu perdoo você. — Esboço um
sorriso quase que imperceptível.
Benjamin me envolve em seus
braços. Inicialmente, sinto receio.
Entretanto, parte mim, acha seu abraço
estranhamente apertado e acolhedor.
— Prometo: nunca mais vou te
machucar. — Diz afagando meus
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

cabelos.
Olho-o por um instante, até que me
pego olhando para seus lábios.
Seja prudente, Katherine.
Desvio o olhar e ele volta a me
abraçar.
— Benjamin? — Sussurro.
— O que foi? — Indaga.
Posso sentir a preocupação no tom
de sua voz.
— Posso te pedir uma coisa? —
Pergunto um tanto quanto
envergonhada.
— Qualquer coisa.
— Eu procurei no banheiro, mas,
não encontrei nenhuma pomada ou
algum gel para passar nos meus pulsos.
Estão doendo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Como eu fui capaz de fazer isso?


— Questiona a si mesmo. — Vamos lá
para o meu quarto, cuido de você.
— Não vou entrar lá. — Falo
rapidamente.
— Katherine, não vou te machucar
novamente, eu prometo. — Diferente
de antes, agora, seu olhar está
emanando culpa e ternura.
— Está bem. — Assinto.
Saímos de meu quarto e entramos no
dele.
— Benjamin, por que você se corta?
Ele olha-me por alguns instantes,
aparenta estar com medo de responder.
— Vamos cuidar dos seus
ferimentos primeiro. Depois... Eu te
conto. — Responde visivelmente
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

desconfortável.
— Não precisa falar, se não quiser.
Eu entendo. — Realmente entendo.
Não que eu já tenha me cortado,
mas, lembro-me de ter passado por
maus momentos quando meu pai foi
embora. Eu era só uma criança que não
tinha muita estrutura emocional.
Apesar de tê-lo perdoado, até hoje,
pergunto-me o porquê de sua partida.
Não divido isso com ninguém. Apenas
com Deus. Mamãe já teve que aguentar
muita coisa, não seria justo com ela.
Sei que ela não reclamaria caso
quisesse desabafar, mas também sei
que ela sentiria tanta dor quanto eu.
Benjamin puxa-me para o banheiro e
começa a mexer nas gavetas. Ele pega
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

uma pomada e delicadamente passa em


meus pulsos. Nem parece ser o bruto
com quem me casei, ou seja, ele
mesmo.
— Agora vai melhorar. — Afirma
sorrindo.
“Benjamin Underwood sorriu? Isso
é um fenômeno. Daqui a pouco ela
manda você chamar a imprensa pra
registrar o fato.”, meu subconsciente
aponta. Trato de ignorá-lo.
— Obrigada! — Agradeço com um
pequeno sorriso rosto.
— Não precisa agradecer, era o
mínimo que eu poderia fazer. — Diz
ligando a torneira da pia, a mesma
começa a jorrar água para todos os
lados. Finalmente, ele consegue
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

desligá-la.
Começamos a rir como dois
malucos. Dois malucos molhados.
— Nunca havia visto você rir dessa
forma. — Comento surpreendida.
— Nunca havia rido dessa forma. —
Ele pega duas toalhas e me entrega
uma.
— Ah... eu vou para o meu quarto.
— Saio do banheiro e me dirijo a porta
do quarto.
— Espera! Fica. — Pede olhando no
fundo de meus olhos.
— Minha roupa está toda molhada.
Ele vai até o closet e tira uma camisa
de lá.
— Pode vestir. — Entrega-me a
mesma. Começo a rir. — Você está de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

bermuda e a camisa vai ficar


praticamente um vestido pra você. —
Argumenta.
— Tudo bem, você venceu. —
Levanto as mãos em sinal de rendição.
Troco-me no banheiro. A camisa
ficou na metade das minhas coxas,
junto da bermuda que estou usando
forma um look perfeito para a semana
da moda de Paris. Ele assobia assim
que me vê. Algo que me deixa
intensamente corada.
— Fica linda de qualquer jeito.
Principalmente com a minha camisa e
essa bermuda estilosa. — Brinca.
— Está me deixando constrangida.
— Falo sem jeito.
— Constrangida? — Suas
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

sobrancelhas erguem-se. — Somos


casados. Não precisa ter vergonha de
mim.
Sento-me ao seu lado, na imensa
cama. Benjamin segura minha mão
com delicadeza.
— Comecei a me cortar quando
tinha dezessete anos.
— Benjamin, não precisa me falar se
não estiver a vontade. Vou entender
perfeitamente. — Encaro seus orbes
azuis.
— Eu quero dividir isso com
alguém, entende?
— Sim. Mas, por que comigo? —
Indago realmente curiosa.
— Porque você é minha mulher. E,
acredite, você é a pessoa que está mais
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

próxima de mim.
Por um instante, sinto... Pena de
Benjamin. Sei o quanto a solidão é
prejudicial. Estou há poucos dias longe
de mamãe e sinto-me só, mesmo
sabendo que Deus sempre está comigo.
— Vem cá. — Faço um sinal para
que ele deite a cabeça em meu colo.
Então, ele o faz.
De repente, pouco a pouco,
Benjamin vai abaixando a guarda; o
muro que o envolve. De repente, como
o gelo, ele vai derretendo. Como a
pedra, ele vai se quebrando.
— Comecei a me cortar quando eu
tinha dezessete anos. — Repete as
mesmas palavras, no entanto, seu olhar
fica fixo no teto.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Por quê? — Começo a afagar


seus cabelos. Ambos relaxamos na
imensa cama. É como se nos
conhecêssemos há anos e não só há
alguns dias.
— Depois que a minha mãe morreu.
O câncer a levou de mim. — Seus
olhos tornam-se marejados.
Entendo como ele se sente. Afinal,
estou sentindo o que ele já sentiu. Por
um instante, sinto um medo avassalador
tomar conta de mim. Medo por mamãe
e medo por Benjamin. Sei lá, algo
diferente. Por um instante, penso o que
seria de mim caso ele tivesse cometido
algo pior contra si mesmo.
— Sinto muito. — Sussurro triste.
— Ela era a única pessoa que me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

entendia, que me aguentava, que batia


de frente comigo, impondo suas
opiniões e ideias, sem se importar com
os outros. Ela era a única pessoa que
realmente se importava comigo, que me
amava de verdade.
As lágrimas começam a escorrer
sobre seu rosto. Nunca pensei que o
veria dessa forma. Sob sua armadura
impecável e, aparentemente,
invencível, existe um soldado ferido.
Consequência de inúmeras batalhas
travadas consigo mesmo. Batalhas que
foram vencidas, uma a uma, mas, que
esgotaram suas forças. O soldado
necessita, urgentemente, descansar nos
braços Daquele que o arregimentou
para a guerra.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Ela devia ser uma mulher


extraordinária. — Esboço um sorriso.
— A melhor pessoa que já conheci.
Você é parecida com ela, em quase
todos os aspectos. — Suas palavras
deixam-me extática e honrada.
Benjamin encontra o seu olhar com o
meu e sorri. — A única diferença entre
você e ela é que você é mais nova do
que eu e não me manda fazer o dever
de casa. — Brinca. — Depois que a
minha mãe morreu, meu pai distanciou-
se ainda mais. Pouco depois a Lauren
casou e foi embora. Fiquei sozinho. E
comecei a me cortar. — Conta-me,
voltando a ficar com seus olhos
marejados.
A máscara que cobria a face de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin Underwood caiu. Sob o


homem de ferro, astuto, persuasivo,
prepotente e hostil existe um coração
machucado, que reflete em pulsos
cortados.
— Você não precisa disso. —
Enxugo as lágrimas que descem, com o
meu polegar. — Na verdade, nunca
esteve sozinho. Não sei se você
acredita ou não, mas Deus sempre
esteve e está ao seu lado. E agora, você
pode contar comigo. — Falo com um
pequeno sorriso no rosto.
— Ela era cristã, assim como você.
— Sua mãe? — Pergunto perplexa.
— Sim. Eu também ia à igreja.
Porém, desde que ela se foi, eu nunca
mais tive coragem de falar com Deus.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

O culpei durante muito tempo.


Agora, definitivamente, estou
atônita.
— Fale com Ele novamente, Ele
sente sua falta. — Respondo com
convicção.
— Posso te pedir uma coisa?
— Claro. — Balanço a cabeça em
concordância.
— Não conte nada para ninguém. Só
você sabe disso. — Pede-me gentil,
sem olhares aterrorizantes.
— Pode deixar.
— Eu sinto tanta falta dela... — Seu
sussurro é carregado de saudade.
Abraço-me a ele, como se tal gesto
pudesse transferir sua dor para mim.
Odeio ver as pessoas com quem me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

importo sofrerem. Ok! Eu me importo


um pouquinho com Benjamin, ainda
mais depois de tudo o que ouvi. Ele
ainda carrega as feridas da perda, as
quais, se não tratadas, podem só
aumentar com o tempo.
— Sua mãe não deixou você porque
quis. — Tento confortá-lo.
— Você... Já perdeu alguém?
— Quando eu tinha oito anos, meu
pai saiu para comprar pão, eram os
últimos cinco dólares que nos restavam.
Então, o tempo passou e descobri que
meu pai se foi. — Conto e sinto meus
olhos embaçarem devido às lágrimas.
— Hein, vem cá. — Benjamin senta
na cama e puxa-me para seus braços.
— Ele me abandonou e até hoje eu
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

nem sei qual foi o motivo. Eu o amava


tanto. — Digo chorando.
— Você tem a mim agora. Vou
cuidar de você. — Ele aperta-me ainda
mais contra si.
Aconchego minha cabeça em seu
peito Aconchego meu corpo em seu
corpo quente, não de uma forma
maliciosa, mas para um homem tão frio
quanto o gelo, ele provou estar vivendo
o seu aquecimento global. Adormeço
ouvindo as batidas de seu coração: o
órgão que eu pensava que Benjamin
Underwood não possuía.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 9
Acordo e percebo que Benjamin
ainda dorme tranquilamente. Minha
cabeça está apoiada em seu peito,
enquanto seus braços envolvem minha
cintura.
As lembranças da noite anterior
fazem com que um grande sorriso brote
em meu rosto.
Benjamin foi tão carinhoso,
atencioso e amável. Cuidou de mim de
uma forma extraordinária. Acho que a
noite passada compensou todos os
nossos antigos diálogos repletos de
hostilidade. Sinto-me protegida nos
braços de Benjamin.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Estou errada por sentir-me assim?


Eu dormi no quarto dele, na cama
dele, com ele. Tudo bem, nós só
dormimos, no entanto – é estranho – às
vezes parece-me errado. Lembro-me
que somos casados.
O que está acontecendo comigo?
— Katherine... — Sussurra afagando
meus cabelos.
— Bom dia. — Sussurro com um
sorriso no rosto.
— Está acordada há quanto tempo?
— Ele boceja.
— Há uns dez minutos, Benjamin.
— Posso te pedir uma coisa? —
Indaga sentando-se na cama. Faço o
mesmo.
— Pode. — Balanço a cabeça.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Pode me chamar de Ben, se


quiser. — Dá de ombros.
— Pode me chamar de Kat, se
quiser. — Sorrio.
— Tudo bem, Kat.
Ele levanta-se da cama e vai para o
banheiro. Fecho meus olhos e começo
meu diálogo mental com Deus:
Senhor Deus e Pai, venho neste
momento agradecer pelo teu infinito
amor, graça e misericórdia, dos quais
eu não sou merecedora. Obrigada por
tudo o que tens feito em minha vida e
por todas as bênçãos que o Senhor tem
me proporcionado. Reconheço minhas
falhas, meus pecados e peço que me
perdoe. Ajude-me a melhorar e que
sempre venha te agradar. Abençoe
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

todos aqueles que estão a minha volta.


Ajude àqueles que precisam de Ti.
Entrego tudo em tuas mãos, pois sei
que tu estás no controle, cuidando de
mim. Fica comigo Pai, abençoe o meu
dia. Amém!
Levanto-me enquanto Ben sai do
banheiro.
— Pode ajudar-me a escolher a
gravata? — Pergunta assim que adentra
o closet.
— Claro. — Seguimos até o closet e
me deparo com uma infinidade de
roupas. — Quanta coisa! — Exclamo
perplexa.
— Pode ir fazer compras, se quiser.
— Imagina! Já me deu roupas
demais. — Brinco.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— No fim de semana eu te levo no


shopping, quero te dar uns presentes.
— Comenta vestindo a camisa.
— É sério. Não precisa.
— É feio recusar presentes. —
Desdenha. — Agora, qual gravata fica
melhor? — Mostra-me uma preta e
uma azul marinho.
— A preta. Vou deixar você se
trocar e vou trocar de roupa. Até mais.
— Estou prestes a sair quando Ben
puxa-me para seus braços, depositando
um beijo em meus lábios.
"Pernas, pulmões e coração:
comportem-se.", meu cérebro aponta
rapidamente.
— Obrigado por ter me ajudado
ontem. — Agradece sorrindo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Digo o mesmo.
Saio de seu quarto – encabulada – e
vou para o meu. Ao fechar a porta atrás
de mim, respiro fundo. Digo para mim
mesma que não gostei do beijo que ele
me deu e que assinamos apenas um
contrato. Um milhão de dólares por um
casamento. Simples assim! Nada de
sentimentos envolvidos; é assim que
tem que ser. Me arrumo e desço para
tomar café.
Ao chegar na sala de jantar – local
onde o café também é servido – acabo
vendo uma cena que não esperava ver.
Na verdade, que não queria ver.
Benjamin está aos beijos com
Camile. Meus olhos ficam marejados.
Não vou derramar minhas lágrimas por
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ele, ele não merece. Ele pode beijar


quem ele quiser. Nós só assinamos um
contrato.
— Bom dia, ah, me desculpe. — Diz
Jeff, completamente envergonhado. Ele
nota que estou na porta da sala de jantar
e parece sentir pena de mim.
Benjamin fica sério, assim como
Camile.
— Bom dia. — Cumprimento os
dois com um sorriso irônico no rosto.
— Bom dia, Kat. — Fala Benjamin.
Ele, realmente, vai fingir que nada
aconteceu?
Se ele quer jogar, eu vou jogar.
— Bom dia, Katherine. — Fala a
Bruxa Potter.
— Camile veio tratar de assuntos da
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

empresa, depois vamos para uma


reunião, almoçarei com ela. —
Comenta Benjamin.
Eu vi o tipo de assunto que eles
estavam tratando.
— Claro. Sem problemas. — Dou de
ombros e começo a tomar café.

∞∞∞
— Tchau, Katherine. — Despede-se
a Bruxa.
— Tchau. — Falo seca.
— Tchau, Kat. Até mais tarde. —
Despede-se Benjamin, dando-me um
selinho.
Falso.
Ao ver que eles saíram, permito que
as lágrimas rolem. Que droga! Por que
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

estou chorando? Devo estar na TPM.


Respiro fundo e vou para a cozinha,
preciso me distrair.
— Olá. — Esboço um sorriso fraco.
— Olá, querida. — Cumprimenta-
me Olga.
— Como vão as coisas no
casamento, senhora Katherine? —
Indaga Amelia.
— Indo. — Suspiro pesadamente.
— Me desculpe, Katherine... Mas o
senhor Benjamin não merece a senhora.
— Diz Jeff.
Balanço a cabeça negativamente, na
tentativa de não entrarmos nesse
assunto. Uma falha tentativa.
— O que aconteceu? — Pergunta
Olga.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Eu vi... — Hesito em responder.


— Vi o Benjamin beijando a Bruxa
Potter. — Sinto as lágrimas rolarem em
meu rosto.
— A senhora Camile? — Questiona
Amelia, apavorada.
— Exatamente.
A manhã passou rápido. Agora vou
para o hospital. Afinal, de acordo com
o que doutor Jason disse, amanhã será o
transplante de mamãe. Pego um táxi e
me dirijo ao Hospital Menino Deus.
— Boa tarde, doutor Jason. Como
minha mãe está? — Pergunto a ele.
— Boa tarde, senhorita Katherine.
Ela acordou. Quer vê-la?
— Claro.
Seguimos até o quarto em que minha
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

mãe está. Entro e assim que seus olhos


pousam sobre mim, ela sorri.
— Mãe... — Abraço-me a ela. —
Como a senhora está?
— Minha filha, estou bem. Mas, e
você?
Como senti falta de ouvir sua voz.
— Graças a Deus, estou ótima.
— O médico contou que terei que
fazer um transplante. — Comenta
analisando-me.
— Vai dar tudo certo. Deus está
conosco. — Afirmo segurando sua
mão.
— Amém. E você? Tem comido
direitinho? Ah, não deveria estar no
trabalho?
— Não se preocupe. Meu chefe me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

deu folga.
— Eu te amo, Katherine.
— Também te amo, mãe.
— Está tudo bem mesmo? — Indaga
desconfiada.
— Claro. — Balanço a cabeça em
concordância.
Passo a tarde conversando com
minha mãe. Não contei sobre
casamento, Benjamin ou mencionei o
valor do transplante. Entendendo a
situação, o doutor Jason permitiu que
ficasse com ela até às oito horas da
noite, excepcionalmente.

∞∞∞
— Boa noite. — Cumprimento Jeff,
assim que adentro a casa.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Boa noite, senhora Katherine. —


sorri amigável.
Subo as escadas e vou para meu
quarto.
— Onde você estava? — Pergunta-
me Benjamin.
Está certo que a casa é dele, no
entanto, é potencialmente desnecessário
ele me esperar no "meu" quarto como
se eu fosse um adolescente que fugiu e
chegou tarde.
Seu semblante está sério e
aterrorizante. De novo.
— Eu saí. — Dou de ombros.
— Ah, você saiu... — Solta uma
risada sarcástica. — Foi para onde?
Somos casados, mesmo que seja apenas
um contrato, continuamos casados. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Esbraveja irritado.
— Digo o mesmo para você. —
Respondo da mesma forma.
— Eu exijo que me respeite. —
Grita segurando meus pulsos.
Era só o que me faltava.
— Respeito? Ah, por favor! Eu vi
você aos beijos com a Camile hoje de
manhã. — Grito com os olhos
marejados. — Agora, me solta. Está me
machucando!
Ele larga meus pulsos e sai do
quarto.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 10
E, novamente, Benjamin tornou-se
tão frio quanto o gelo e mais duro que
uma pedra. Mais uma vez, Benjamin
tornou-se um monstro.
Quem ele pensa que é para exigir
respeito? Tudo bem, o que temos não é
um casamento, é um contrato. Porém,
ele poderia ser mais... bem, eu não sei.
Vê-lo aos beijos com a Bruxa Potter
deixou-me de uma forma
estupidamente estranha. Não deveria
me sentir assim. Ele não é nada meu.
São tantas coisas. São tantos
problemas. Dias de desespero, tão
tempestuosos e tão hostis quanto
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin.
Hoje será o transplante de minha
mãe. Só peço a Deus para que Ele não a
tire de mim. Ela é tudo o que eu tenho.
Minha única família.
Desde ontem, Benjamin não fala
comigo. Nenhuma palavra. Meu medo
é que ele volte a se cortar.
Isso acabaria comigo.
Apronto-me para ir até o hospital, só
irei tomar um café antes, não sei quanto
tempo eu ficarei por lá.
Dirijo-me até a sala de jantar, onde o
café é servido diariamente. Benjamin
está extremamente concentrado lendo o
seu jornal, ou, minha teoria preferida:
sendo hostil, bruto, mal educado,
arrogante... Será que esqueci de alguma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

coisa?
Sento-me e começo a comer. O
silêncio é perturbador. Pode parecer
estranho, mas sinto falta de ouvir sua
voz.
"Deixe de asneiras, Katherine!",
penso.
— Com licença. Os senhores têm
algum pedido para o almoço? —
Questiona Olga.
— Já disse que essas questões
devem ser resolvidas com a mulher da
casa, Olga. — Responde ríspido,
olhando-a por alguns instantes. — E eu
não sou a mulher da casa. — Conclui,
voltando sua atenção para o jornal.
— Não precisa ser grosso,
Benjamin. — Repreendo-o, irritada.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ele lança-me um olhar reprovador.


— Não fui grosso. — Balança a
cabeça negativamente.
— Claro! E eu sou o Papai Noel. —
Solto uma risada irônica.
— Você é uma criança. — Revira os
olhos em protesto.
— Não pior do que você! — Afirmo
fazendo careta. — E, não! Não precisa
fazer nada para o almoço, senhora
Olga. Vou almoçar fora. — Respondo
gentilmente.
— Você vai almoçar fora. E quanto
a mim? — Pergunta Benjamin
indignado.
— Essas são questões que devem ser
resolvidas com a mulher da casa,
Benjamin. — Sorrio. — Você não é a
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

mulher da casa. — Provoco-o.


— Com licença, senhores. — Olga
retira-se.
— Com quem vai almoçar,
Katherine?
— Sozinha. — Respondo óbvia.
— Onde?
— Não se preocupe, Benjamin. Vou
almoçar na antiga lanchonete que
frequentava. Gosto da comida de lá.
— Quer ir almoçar comigo e com os
acionistas depois da reunião? —
Convida-me.
É muito ser idiota!
— Não, obrigada. Prefiro ser
prudente, não quero voar no pescoço de
uma certa Bruxa. — Desdenho.
— Está com ciúmes de mim? —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Indaga convencido.
— Ciúmes? — Solto uma risada
debochada. — Não sinto ciúmes de
você. — Pronuncio as palavras
pausadamente.
— Não é o que parece, cara
Katherine.
— Nem sempre o que parece é. Às
vezes, aquele que aparenta ser o mais
forte e inquebrável, é o mais fraco,
frágil e vulnerável de todos. Você
ensinou-me isso. — Cuspo as palavras
em sua face.
Então, eu arrependo-me. Arrependo-
me do que disse.
— Desculpa. — Sussurro. Ele
apenas assente.
Termino de comer, chamo um táxi e
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

vou para o hospital.

∞∞∞
— Olá doutor Jason. Tudo certo para
o transplante? — Cumprimento-o com
um aperto de mãos.
— Está tudo encaminhado, senhorita
Katherine. — Assente com um leve
sorriso no rosto. — Vamos realizar o
transplante e venho dar as notícias,
assim que possível. — Comenta
analisando-me.
— Claro, doutor. — Balanço a
cabeça em concordância.
— Não se preocupe, tudo dará certo.
— Afirma indo para o local onde será
realizado o transplante.
Respiro fundo e sento-me em uma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

poltrona, na sala de espera. Meus


pensamentos estão completamente sem
nexo. Eles variam entre mamãe e
Benjamin.
Quanto mais desejo expulsá-lo de
minha mente, parece que mais ele fixa-
se em meu cérebro, tomando conta de
boa parte de meus pensamentos,
suspiros, expectativas e, infelizmente,
mais lágrimas do que sorrisos.
As horas se passam, oro a Deus em
pensamento, para que tudo ocorra bem.
Pai, sei que teus planos são maiores
que os meus. Tu és bom. Me amas e
sempre estás comigo, mesmo eu sendo
falha e pecadora. Estou com medo,
confesso. Sei que já te disse isso, no
entanto, torno a repetir: ajude minha
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

mãe, guie as mãos dos médicos e que


tudo dê certo. Sei que ela pode estar
pronta para partir, porém, não estou
pronta para ficar sem ela. Sei que Tu
estás no controle de tudo. Amém!
Já são oito horas da noite. Estou
exausta e faminta. Não tinha dinheiro
para comprar alguma coisa para eu
comer.
Estou nervosa. O doutor Jason ainda
não apareceu para dar notícias sobre
minha mãe. Espero que tudo esteja
bem.
— Senhorita Katherine. — Ouço a
voz do médico.
Seu semblante está cansado.
— Como foi o transplante? —
Indago sem rodeios, preocupada.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Foi um sucesso. — Responde


com um largo sorriso no rosto.
— Graças a Deus. — Agradeço.
Instantaneamente, as lágrimas de
gratidão começam a rolar. Apesar de
tudo, mamãe ficará bem, ficará viva.
Apesar das consequências, valeu a
pena. — Quando posso vê-la, doutor?
— Somente pela manhã. — Sorri. —
Agora, sugiro que vá para casa
descansar.
— Claro. Obrigada, doutor Jason!
Deus abençoe o senhor.

∞∞∞
Chego na casa de Benjamin exausta
e faminta. Tudo está silencioso.
Que ele já esteja dormindo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ao entrar no meu quarto, deparo-me


com ele, sentado em minha cama. Isso
está virando rotina.
— Olá, Katherine. — Lança-me um
olhar penetrante e ameaçador.
— Oi. — Coloco minha bolsa sobre
a cômoda.
— Onde estava? Liguei e você não
atendeu? — Arqueia uma de suas
sobrancelhas.
— Fui para a lanchonete, para a
biblioteca e depois levei quase um
século para encontrar um táxi.
Sei o quanto é errado mentir. Mas,
não posso contar a ele sobre minha
mãe.
— Desculpe por ontem. — Ele olha
no fundo de meus olhos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Tudo bem, não significou nada


mesmo. — Dou de ombros.
— Agora, vá tomar um banho, trago
algo pra você comer.
Por mais que minha vontade seja
gritar com ele, estou cansada demais
para fazer isso.
Tomo um banho e coloco uma roupa
confortável.
Ao sair do banheiro, há uma bandeja
com espaguete sobre minha cama.
Agradeço pelo alimento e ponho-me
a comer. Benjamin analisa cada
movimento meu.
— Como estão seus pulsos? —
Indaga pegando uma de minhas mãos
delicadamente.
— Como a Bella disse para o
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Edward: suas mudanças de humor estão


acabando comigo. — Rio irônica. —
Mas, respondendo sua pergunta: estão
melhorando, obrigada. — Esboço um
leve sorriso.
Termino de comer e coloco a
bandeja em cima do criado mudo. De
repente, sem me dar tempo de pensar,
Benjamin me beija. Ele envolve-me
com seus braços, puxando-me para si.
É um sentimento único.
Um sentimento que precisa ser
cortado pela raiz.
Afasto-me de forma brusca.
O que estava pensando? Não somos
casados. Apenas assinamos um
contrato.
— Eu não posso. — Sussurro
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

fechando os olhos com força.


— Por quê? Sinto que quer isso
tanto quanto eu. — Ele faz carinho em
meu rosto. Sinto um arrepio assim que
ele me toca.
— Vai contra meus princípios. —
Argumento.
— Somos casados.
— Não somos, não. Nós assinamos
um contrato, que acaba daqui a três
meses. Então, eu não posso... Por mais
que queira, mesmo sabendo que não
devo querer.
— Tudo bem. — Sua decepção é
evidente. — Boa noite. — Deposita um
beijo em minha testa, logo sai de meu
quarto.
Deus, me ajuda.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 11
Benjamin
Katherine Smith... Ah! Ela tem me
deixado maluco.
Desde o dia em que a conheci, a
garota tem habitado meus pensamentos.
No início, eu sentia raiva, afinal, não
queria me casar dessa forma.
Nem de forma alguma.
Quando a vi na empresa, me pedindo
dinheiro, um milhão de dólares, nunca
imaginei que ela poderia me dar tantos
problemas.
Quando minha mãe morreu, me vi
completamente sozinho e criei uma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

muralha a minha volta, uma guarda.


Meu coração congelou, tornou-se duro
como uma pedra e tudo isso repercutiu
em minhas cicatrizes internas e
externas: meus pulsos cortados. Porém,
Katherine chegou e conseguiu fazer o
que pensei que ninguém nunca faria:
Ela se aproximou. Se aproximou e
ousou destruir a muralha, abaixar a
guarda, descongelar meu coração e
quebrar a pedra que havia no lugar do
mesmo. Ela teve a audácia de me
enfrentar, entrando no meu quarto,
vendo meu estado de calamidade, de
fragilidade.
E, comprovando o quanto sou fraco,
chorei diante dela, contei-lhe coisas que
nunca havia dito a ninguém.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ela mexeu comigo.


No entanto, há momentos que
Katherine me tira fora do sério. Seu
jeito autossuficiente e dependente de
seu Deus é admirável e irritante. Há
momentos que a desejo, como nos
últimos dois dias. Eu a desejo com
todas as minhas forças. Até hoje,
nenhuma mulher me rejeitou; até
Katherine aparecer. Sinto necessidade
de estar ao seu lado, beijá-la, tê-la em
meus braços.
São sete horas da manhã, estou
pronto para ir para a empresa. Mas, não
antes de vê-la. Sorrateiro, adentro seu
quarto e a observo dormir. Ela parece
estar tranquila, calma. Sento-me ao seu
lado. Afago seus cabelos de forma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

carinhosa, faço carinho em seu rosto,


logo deposito um beijo em seus lábios.
De repente, ela se afasta bruscamente.
Katherine está assustada, seus olhos
emanam medo.
— O que pensou que estava
fazendo? — Questiona indignada.
— Beijando você. — Respondo
óbvio.
— E o que te leva a pensar que pode
fazer isso? — Indaga visivelmente
irritada.
Droga, Benjamin!
— Você é minha mulher, Katherine.
Deve agir como tal. — Dou de ombros,
tentando me manter calmo.
— Não somos casados, Benjamin.
Apenas assinamos um contrato. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Argumenta, levantando-se da cama.


— Que diz que você é minha
mulher. E durante três meses, você
deve agir como minha mulher. — Paro
em sua frente encarando-a.
— Mas isso não te dá o direito de
me beijar dessa forma e nem de forma
alguma. — Fala brava.
— Você é minha agora, minha
mulher. — Seguro seus pulsos, ela me
olha assustada. — Merda! Eu desejo
você, Katherine e vou tê-la. Paguei um
milhão para você. Suas colegas não
devem receber tudo isso e com certeza,
elas fazem muito mais do que você. —
Desdenho com hostilidade, soltando
seus pulsos.
— Minhas colegas? — Arqueia as
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

sobrancelhas, sem entender nada ou


não querendo entender.
— Claro! Qualquer prostituta de
esquina faz muito mais do você e por
muito menos. — Cuspo as palavras em
sua face.
Sou surpreendido por um tapa em
meu rosto. Olho-a surpreso. Katherine
está chorando, lágrimas grossas rolam
sobre seu rosto.
— Saia daqui! — Suplica tentando
segurar o choro compulsivo.
— Não se faça de vítima, Katherine.
Você é uma das piores prostitutas que
já vi. — Respondo saindo do quarto.
Espero mais alguns minutos e a vejo
descer as escadas rapidamente. Um táxi
está a sua espera. Ela entra no veículo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Começo a seguir o mesmo, sem me


deixar ser visto. O táxi para em frente
ao Hospital Menino Deus.
O que ela está fazendo aqui?
Katherine sai do carro e entra no
prédio. Adentro o hospital, porém, não
a encontro.
— Estou procurando Katherine
Underwood. — Dirijo-me à
recepcionista.
Ela checa algo no computador e
sorri. Provavelmente, me achou bonito.
Todas acham.
— Não há nenhum registro com esse
nome. — Responde-me simpática.
— E tem algum para Katherine
Smith? — Indago seriamente.
— Não. Mas tem a senhorita
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Katherine Smith...
— Onde ela está? — Interrompo-a,
impaciente.
— No quarto de número cento e
trinta e sete... Espere, senhor.
Saio sem olhar para trás, indo a
procura do tal quarto.
Chegando até o local, a porta está
entre aberta. Katherine está falando
com uma mulher.
— Senti sua falta, mãe. — Diz ela.
Mãe? Ela me disse que não tinha
ninguém.
— Eu também, minha filha. —
Responde-lhe a mulher. — Mas... tem
certeza que está tudo bem? Parece
triste. — Questiona a mulher, afagando
seus cabelos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Tenho sim, mãe. Graças a Deus.


— Balança a cabeça em concordância.
— Filha... Eu escutei as enfermeiras
falando que o meu transplante de
medula custou muito caro. — Comenta
olhando para Katherine.
— Nada demais. — Dá de ombros.
— Um milhão de dólares, Katherine.
Um milhão de dólares.
Lembranças do dia em que nos
conhecemos vêm a minha mente:
— Preciso de um dinheiro. — Diz.
— Quanto?
— Um milhão de dólares. —
Responde receosa.
Solto uma risada macabra.
— Precisa de um milhão de dólares?
— Arqueio uma de minhas
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

sobrancelhas.
— Sim senhor. — Responde sem
coragem de olhar-me.
— Tudo bem.
Ela levanta seu olhar e encara-me
por alguns instantes.
— É sério? — Questiona perplexa.
— Sim. — Assinto. — Mas, com uma
condição.
— E qual seria essa condição? —
Pergunta temerosa.
— Terá que se casar comigo,
durante três meses. Sou canadense,
para cuidar dos negócios, preciso de
um visto, ou de uma esposa. Tem dois
minutos para pensar. — Falo fazendo
sinal para ela se sentar na cadeira a
minha frente.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ela fecha os olhos com força, logo


os abre.
— Você aceita? — Pergunto
seriamente.
— Sim.
Então, o dinheiro que ela me pediu
foi para a mãe dela. Sinto meu coração
sangrar, sinto-me o pior ser humano do
mundo. Tudo o que Katherine fez foi
para salvar a vida da mãe. Tudo o que
ela suportou.
Droga, Benjamin! Você é um
monstro mesmo.
Como fui capaz de maltratá-la
daquela maneira? Eu a comparei com
uma prostituta, quando na verdade,
Katherine é uma verdadeira guerreira.
— De onde tirou o dinheiro, filha?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Como arranjou um milhão de dólares?


— Sua mãe torna a perguntar.
— Mãe... Eu... Eu consegui... —
Katherine hesita em responder.
— Fale, Katherine. — Pede a
mulher, impaciente.
— Fui eu. — Entro no quarto e
Katherine me olha surpresa. — Fui eu
que emprestei o dinheiro para
Katherine.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 12
Ele adentra o quarto do hospital e se
senta na cadeira ao meu lado.
— Quem é o senhor? — Questiona
mamãe, visivelmente intrigada e
curiosa.
— Perdão por não ter me
apresentado. Sou Benjamin
Underwood. — Ele responde com um
pequeno sorriso no rosto.
— Você tem o mesmo sobrenome
do chefe da Katherine.
— Sou filho dele. — Diz Benjamin.
Não consigo falar nada, fico sem
reação diante da situação que estou
enfrentando.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

O que fazer agora?


— Por que deu o dinheiro para
minha filha?
— Porque... — Ele hesita em
respondê-la. — Porque somos amigos.
— Sorri abertamente.
Olho-o perplexa.
— Bom saber que minha filha tem
um amigo como o senhor. — Ela sorri.
— É uma grande honra poder ajudá-
la, senhora...
— Angelina, Angelina Smith. —
Apresenta-se. — Por que não me disse
que seu amigo havia lhe dado todo esse
dinheiro, Kat?
— Mãe eu... Eu estava com muita
coisa na cabeça. Desculpe. — Sussurro
desconfortável.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Sempre preocupada! Katherine é


a melhor filha do mundo, sempre
procurando cuidar de mim. — Mamãe
fala para Benjamin, o qual sorri.
— Realmente! Katherine é uma
pessoa incrível. — Seu olhar sobre
mim é indescritível.
— Com licença. — Doutor Jason
adentra o quarto. — Como se sente,
senhora Angelina?
— Muito bem, obrigada doutor.
— Bom... Vamos fazer sua
medicação. Peço que se retirem
senhores.
— Claro, doutor. — Balanço a
cabeça em concordância. — Já volto,
mãe. — deposito um beijo em sua testa.
— Até logo, senhora Angelina. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Despede-se Ben.
— Até mais tarde, rapaz.
Ambos saímos da sala. Fecho os
olhos com força, esperando gritos
vindos da parte de Benjamin, olhares
penetrantes ou que ele segure meus
pulsos com força. Sou surpreendida por
seus braços me envolvendo em abraço
acolhedor.
— Me desculpe, Katherine. Fui um
monstro com você. — Sussurra em
meu ouvido, posso ouvir a amargura no
tom de sua voz.
Então, permito-me chorar. Chorar
por tudo o que aconteceu e por tudo o
que está acontecendo dentro de mim.
— Eu que peço desculpas... Mas eu
estava desesperada, eu não sabia o que
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

fazer e...
— Calma! Eu estou aqui. Vou cuidar
de você. — Afaga meus cabelos de
forma carinhosa.
— Sinto muito. — Murmuro
enterrando a cabeça em seu peito.
— Por que não me contou,
Katherine? Acha que não teria te dado
o dinheiro? — Indaga fazendo com que
olhe nos seus olhos.
— Sinceramente? — Arqueio uma
de minhas sobrancelhas. — Acho que
não. — Concluo com pesar. — Afinal,
eu fui até o filho do meu chefe, pedi um
milhão de dólares e você nem
perguntou o porquê.
— Por que não me contou quando
nos casamos?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Tinha medo. — Minha voz está


trêmula.
— De mim?
— Sim. Você não foi a pessoa mais
amigável do mundo. Até a maneira que
você me olhava me assustava,
Benjamin. — Respondo sentindo as
lágrimas rolarem.
— Me perdoa? — Pede elevando o
polegar até o meu rosto e enxugando as
lágrimas que insistem em cair.
— Está tudo bem. — Afirmo
esboçando um pequeno sorriso.
— Quando foi o transplante da sua
mãe?
— Ontem. Por isso cheguei tarde na
sua casa. — Explico.
— Não se preocupe. Sua mãe não
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ficará sabendo que somos casados.


— Como assim?
— Continuamos casados até
completarem os três meses, mas você
pode viver na sua casa, com a sua mãe,
pode voltar a trabalhar na empresa e
quando fecharem os três meses, nos
divorciamos.
Suas palavras deveriam me deixar
feliz. Entretanto, há um desconforto
instalado em meu peito.
— Nós fizemos um acordo. —
Argumento olhando no fundo de seus
belos olhos azuis.
— Sim, só que eu quero ver você
bem. — Torna a envolver-me em seus
braços.
— Obrigada, Benjamin.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Está com fome? Deveria comer,


já que não tomou café. — Diz de uma
forma extremamente gentil e educada.
Nem parece ele.
— Um pouco. — Dou de ombros.
— Vou até a cantina pegar algo pra
você comer e já volto. — Comunica-
me prestes a sair, no entanto, puxo seu
braço fazendo com que nossos olhares
se encontrem.
— Posso ir com você? — Indago
envergonhada.
Afinal, há minutos atrás nunca me
imaginei pedindo para sair ao lado de
Benjamin Underwood, por mais que
quisesse e queira estar ao seu lado.
— Claro. — Esboça um sorriso
sincero.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Vamos até a cantina e ele pega dois


sanduíches, ambos nos sentamos em
uma mesa mais afastada.
— Ainda não consigo acreditar... —
Ouço-o murmurar, enquanto passa a
mão de forma frenética pelos cabelos.
— Me desculpa... — Balanço a
cabeça em negatividade. — Sei que
deveria ter contado, mas... Bem, pra ser
sincera, nem eu sei todos os motivos
porquê não contei. Desculpe. —
Decepciono-me comigo mesma.
— Você não precisa se desculpar...
Confesso que eu fiquei um pouco
chateado por você não ter me falado
nada. Porém... — Suspira pesadamente.
— Porém, isso nunca me daria o direito
de agir daquela maneira com você.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Suplico que me perdoe.


Benjamin segura uma de minhas
mãos entre as suas, olhando no fundo
de meus olhos. Minha vontade é beijá-
lo, estar em seus braços e... “Está
maluca, Katherine? Recobre a pouca
sanidade que te resta e aproveite para
sair da enrascada que se meteu”, meu
amado cérebro me aconselha.
— Não precisa se desculpar, já disse.
Como vai ser agora?
— Disse que poderia ir para a sua
casa e viver ao lado de sua mãe.
Quando der os três meses, apenas
assinamos os papéis do divórcio.
Mas eu não quero.
Não quero ir. Não quero deixá-lo.
Mesmo que ele grite comigo,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

novamente. Eu não quero abandoná-lo.


Benjamin despertou sentimentos até
então desconhecidos por mim. Apesar
das nossas brigas constantes, eu
simplesmente amei quando ele foi
gentil, como está sendo agora. Nunca
me esquecerei da noite em que ele
cuidou de mim, ajudou a fazer sarar os
machucados que ele mesmo provocou.
E, deixá-lo seria um grande risco. Se
Benjamin voltar a se cortar? Quem iria
ajudá-lo? Nenhum dos empregados,
extremamente dovotos, se atreveriam a
adentrar a porta de seu quarto. Seria um
risco iminente.
Ou apenas um pretexto para não me
afastar dele?
— Não me interprete mal... —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Hesito em prosseguir. — Entretanto,


preciso saber se você quer que eu vá
embora da sua casa? — Minhas
bochechas fervem diante da pergunta
que fiz.
De repente, o olhar dele torna-se
aterrorizante de novo. O que fiz de
errado?
— Não ouse contar isso a ninguém,
senhora Katherine Underwood... —
Alerta-me de forma ameaçadora. —
Quero que fique. — Sua expressão
torna-se suave e ele ri.
Sorrio aliviada. Ele quer que eu
fique.
— Por que a pergunta, Katherine?
Isso me pegou de surpresa. Não
pensei que ele iria me perguntar isso.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Talvez... Talvez eu não queira ir.


— Sussurro sem olhar em seus olhos.
Posso apostar que há um sorriso em seu
rosto.
— Não vá. — Sua voz sai em um
tom de suplica. Levanto o olhar e o
encaro.
— Ainda não sei... A minha mãe,
bem...
— De qualquer forma, a casa foi
passada para o seu nome. — Dá de
ombros.
Olho-o perplexa.
— O quê? Como?
— Passei a casa para o seu nome, já
que não casamos em comunhão de
bens. Achei que seria propício você ter
algo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Não posso aceitar.


— Não aceite. — Responde
olhando-me de maneira intensa, sua
voz está calma. — Não aceite e
continue vivendo comigo, leve sua mãe
para viver conosco. Ela terá os
melhores médicos, os melhores
tratamentos. Você não precisará se
preocupar com mais nada, eu cuidarei
de você e a terei ao meu lado.
Suas palavras me deixam perplexa.
Agora, mais do que nunca, tenho
certeza de que o impiedoso Benjamin
Underwood sente algo por mim. Assim
como eu sinto por ele.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 13
Estamos diante do quarto de mamãe.
Benjamin está segurando minha mão.
Ele sorri.
Ben decidiu, ou melhor, nós
decidimos que vamos dizer para minha
mãe que somos apenas bons amigos e
ele é um chefe extremamente generoso.
Enquanto mamãe ficar no hospital,
ficarei na casa de Benjamin, depois,
voltarei para minha casa.
— Oi mãe. Como se sente? —
Indago assim que adentramos o quarto.
— Muito bem, meu amor. — Esboça
um sorriso singelo. — Você se
alimentou? — Questiona preocupada.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Sim, mãe.
— Comeu alguma besteira, filha?
— Não, eu mesmo me certifiquei,
senhora Angelina. — Ben manifesta-se
pela primeira vez.
— Então... Desde quando vocês são
amigos? — Pergunta mamãe.
— Ah... Desde que eu assumi a
presidência. — Responde Benjamin.
— Quanto tempo faz?
— Um bom tempo, senhora
Angelina.
— Katherine não comentou nada
comigo. — Diz analisando-me.
— Eu esqueci. — Dou de ombros.
— E, o que levou o senhor a dar um
milhão de dólares para a minha filha?
Benjamin coloca as mãos nos bolsos
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

da calça e parece pensar em uma


resposta.
— Katherine sempre foi uma
excelente funcionária e amiga. E,
sempre gostei de ajudar as pessoas.
Minha mãe me ensinou isso.
— Ela deve ser uma pessoa muito
generosa. — Comenta mamãe com um
sorriso no rosto.
Minha vontade é abraçar Benjamin.
Sei o quanto esse assunto lhe machuca.
— É... Ela era. — Sussurra com
pesar.
— Sinto muito. — Diz mamãe. —
Ben, é bom saber que minha filha tem
um amigo como o senhor.
— É, Ben e eu somos bons amigos.
— Sorrio.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Só tenho uma dúvida. —


Comenta mamãe.
— O quê? — Indago nervosa.
O que vem por aí?
— Se vocês dois são tão amigos
assim, por que usam alianças iguais?
De casados.
Suas palavras deixam-me inerte.
Benjamin e eu nos entre olhamos
perplexos. Respiro fundo. Ben assente,
fazendo o inesperado: ele pega minha
mão e sorri.
— A verdade é que... Katherine e eu
nos casamos.
— Como? O quê? Quando? Por que
me escondeu isso, Katherine? — Minha
mãe desespera-se.
— Calma, mãe. Vou explicar tudo.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Respiro fundo. — Quando o médico


me disse que o transplante custaria um
milhão de dólares, eu me desesperei...
não suportaria perdê-la. — Inicio
minha explicação com os olhos
marejados.
— Calma, Kat. — Ben sussurra,
acariciando minha mão.
— Então, eu fui até a empresa, como
o senhor Alaric saiu da presidência,
encontrei apenas Benjamin e lhe pedi
um milhão de dólares. — Enxugo as
lágrimas que insistem descer. — Ele
concordou em me dar o dinheiro, caso
me casasse com ele, já que Ben é
canadense e precisava de um visto ou
de uma esposa. Então, nós nos
casamos. Foi isso. — Suspiro
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pesadamente.
— Ual! Pelo menos vocês se amam.
— Comenta mamãe.
Espero algum dia alcançar o nível de
calma e paciência que ela tem.
Benjamin me olha e sorri.
— Vamos nos divorciar daqui a três
meses. — Sussurro com tristeza na voz.
Mamãe ri.
— Você que está dizendo. Foi muito
corajosa. Espero que tenha valido a
pena.
— Com absoluta certeza, mãe. A
senhora está bem agora.
— Também fiquei surpreso quando
soube, senhora Angelina. Katherine não
havia me dito. Se ela tivesse falado,
certamente, lhe daria o dinheiro
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

necessário.
— Deus tem os seus propósitos,
rapaz. Ele faz as coisas de forma
perfeita.
Ficamos mais algum tempo
conversando com mamãe, ela e
Benjamin se deram muito bem. Graças
a Deus.
Estamos a caminho de casa, Ben está
sendo extremamente carinhoso.
— O que acha de um jantar
especial? — Sugere, tirando os olhos
da estrada por um instante.
— Acho ótimo. — Sorrio.
— Sua mãe é muito legal.
— Ela gostou de você.
— Graças a Deus. Não seria legal se
a minha sogra não gostasse de mim. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Brinca, me arrancando risadas.

∞∞∞
Tomo um banho, me visto e desço
para a sala de jantar. Benjamin puxa a
cadeira para mim e ambos nos
sentamos à mesa.
Espero que goste de lasanha.
— Minha comida preferida. —
Assinto.
— Então, vai se apaixonar pela
minha, senhora Katherine. —
Pronuncia-se Olga, servindo-nos a
lasanha.
— Parece ótima.
— Digo o mesmo, Olga. —
Concorda Ben.
A empregada o fita surpresa,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

inclusive eu. Afinal, Benjamin


Underwood não é o tipo de pessoa que
tece elogios. Olga se retira, deixando-
nos a sós.
— Então... Já namorou? — Ele
questiona-me sem jeito.
— Nunca namorei ninguém.
— Sou sortudo... Então, você...
Espera... Você é... — Benjamin parece
estar procurando a palavra certa. —
Você é virgem?
Sua pergunta me deixa
desconfortável. Coro intensamente.
— Sim. — Respondo sem olhar em
seus olhos.
— É a primeira mulher de vinte anos
que eu conheço que é... Pura. — Ele ri.
— Podemos mudar de assunto? —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Falo visivelmente desconfortável.


— Claro... Me desculpe.
— Não, está tudo bem. — Balanço a
cabeça afirmativamente.
Nosso jantar foi magnífico. Ben e eu
conversamos, rimos e minha vontade
de ir embora diminui a cada segundo
que olho em seus olhos. Até assistimos
a um filme juntos. Fizemos uma guerra
de pipoca, ele me roubou um beijo e cá
estou. No meu quarto, mirando o teto e
pensando nele. Pensando no coração de
pedra que se quebranta a cada dia.
Ouço meu celular tocar e o atendo.
— Alô?
— Senhorita Katherine Smith?
— Sim. Quem está falando?
— É do Hospital Menino Deus.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Sentimos em informar, mas a senhora


Angelina faleceu.
Fico em estado de choque. O celular
cai de minha mão e sinto a primeira
lágrima rolar, em instantes, o choro
compulsivo e o desespero me
dominam.
— Não... Eu não posso ficar
sozinha... — Sussurro para mim
mesma. — Não... Não, mãe. A senhora
não pode me deixar, não pode me
deixar, eu não quero ficar sozinha... —
Grito desesperada.
Acordo em um sobressalto. Eu
estava gritando. Meu rosto está
molhado, estou angustiada. Tento
reprimir os soluços, devido ao choro,
mas é uma falha tentativa. A porta de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

meu quarto se abre, Benjamin acende a


luz e corre até mim. Lanço-me em seus
braços, abraçando-o com força.
— Está tudo bem, Kat? Me assustei
quando ouvi seus gritos. — Afaga
meus cabelos de forma carinhosa.
— Eu tive um pesadelo... A minha
mãe... — Não consigo terminar de
falar, os soluços não deixam.
— Shi... — Enxuga minhas lágrimas
com o polegar. — Eu estou com você e
prometo que irei cuidar de você.
Apenas assinto e encosto minha
cabeça em seu peito.
— Desculpe por ter te acordado...
Que horas são?
— Não precisa se desculpar, Kat...
Devem ser duas horas da manhã.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Posso te pedir uma coisa? —


Pergunto envergonhada.
— Claro...
— Fica aqui comigo.
Ele solta uma risada abafada e se
deita na cama junto comigo.
— Pode dormir, vou estar aqui
quando você acordar. — Deposita um
beijo no topo de minha cabeça.
— Obrigada, Ben. — Agradeço
aconchegando-me em seus braços.
— Não precisa agradecer, minha
Katherine. — Sussurra.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 14
Acordo com os raios de sol em meu
rosto. Pisco várias vezes tentando
acostumar meus olhos com a luz.
Respiro fundo e me lembro da noite
anterior. Dormi com Benjamin
afagando meus cabelos de uma maneira
extremamente carinhosa. Ele não está
mais na cama.
Que horas são?
Sento-me na cama e olho tudo ao
meu redor. Minha vida mudou de uma
forma inusitada nos últimos dias.
Benjamin também mudou. Para melhor.
Às vezes, penso como seria se não
tivéssemos nos casado. A cada instante,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

minha vontade de deixá-lo diminui,


quero estar ao seu lado em todos os
momentos.
Mas... É isso mesmo que ele quer?
A porta do quarto se abre e Ben
adentra o cômodo com uma bandeja
com café da manhã em mãos.
Ele já está devidamente trajado para
ir para a empresa.
— Bom dia. — Cumprimenta-me
com um belo sorriso no rosto.
— Bom dia. — Sorrio.
— Então... Como se sente? —
Pergunta sentando ao meu lado e me
entregando a bandeja.
— Bem. — Assinto. — E, obrigada
pelo café. — Agradeço olhando em
seus belos olhos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Não precisa agradecer... Achei


que seria bom tomarmos o café juntos.
— Comenta relaxando na cama.
— Ótima ideia. — Balanço a cabeça
em concordância. — Ah, obrigada por
ter ficado aqui comigo ontem.
— Já disse que não precisa
agradecer. Foi bom ficar com você. —
Suas palavras fazem-me corar.
Envergonhada, começo a comer.
— Vou para a empresa daqui a
pouco. Você vai ver sua mãe? —
Questiona comendo uma maçã.
— Vou, sim. — Respondo
apreciando o delicioso capuccino,
provavelmente preparado por Olga.
— Te deixo no hospital.
— Não precisa se incomodar.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Não é incômodo. — Sorri


amigável.
Terminamos de tomar nosso café.
— Bom... Vou deixar você se
arrumar, te espero lá embaixo. —
Avisa-me depositando um beijo em
meus lábios.
Fui pega de surpresa, confesso.
Há um sorriso bobo em nossos
lábios. Ele sai do quarto, dobro meus
joelhos e oro a Deus.

∞∞∞
— Quer que eu mande o motorista te
buscar? — Pergunta-me Benjamin.
Estamos a caminho do hospital.
— Não há necessidade... Pego um
táxi depois.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Mande um abraço para a sua mãe.


— Diz assim que paramos em frente ao
hospital.
— Pode deixar. — Assinto. —
Obrigada pela carona.
— Foi um prazer, Kat. — Sorri.
— Nos vemos mais tarde. — Faço
menção para sair do carro, porém, ele
me puxa para si, começando um beijo
cheio de carinho. Gesto que é
correspondido por mim. Afinal, ambos
queríamos isso.
— Tenha um bom dia. Qualquer
coisa, me ligue.
— Pode deixar.
Adentro o hospital, passo pela
recepção e vou falar com mamãe.
— Bom dia, mãe. — Cumprimento-
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

a depositando um beijo em sua testa.


— Bom dia, filha. Tudo bem?
— Graças a Deus. Como a senhora
está se sentindo? — Pergunto sentando-
me ao seu lado.
— Estou ótima. E Benjamin?
— Mandou um abraço.
— Transmita outro a ele... Como
Benjamin é? — Indaga curiosa.
— Ele é... — Sorrio ao pensar em
tudo o que Benjamin Underwood é. —
É incrível... Carinhoso, amigo, amável,
às vezes irritante e mal humorado, mas
é tão... Incrível e imprevisível.
— Katherine, quero que me
responda uma coisa e seja sincera: está
gostando de Benjamin? — Arqueia as
sobrancelhas.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Eu... Não... Eu acho que não. —


Respondo confusa.
— Gostar dele não é errado, afinal,
ele aparenta gostar muito de você.
— Antes dele descobrir sobre a
senhora, ele passou a mansão para o
meu nome. Sendo assim, segundo ele,
quando nos divorciássemos não ficaria
desamparada. — Explico a ela.
— É com prazer que lhe informo:
minha intuição de mãe diz que vocês
não irão se divorciar.
— Ele me pediu pra ficar. — Há um
sorriso bobo em meu rosto.
— E você quer ficar?
— Sim. — Confesso olhando nos
olhos de mamãe.
— Então, fique. — Diz
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

simplesmente e sorri.
Ouço meu celular tocar, é um
número desconhecido por mim.
Atendo-o:
— Alô?
— Senhora Underwood? — Diz a
voz grave que me faz sorrir
instantaneamente apenas em ouvi-lo.
— Ben.
— Pensei que não reconheceria
minha voz. — Comenta. Posso apostar
que ele está sorrindo. — Ainda está no
hospital?
— Estou, sim.
— Vou passar aí pra te buscar.
Havia me esquecido, mas temos uma
festa da empresa para irmos hoje à
noite.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Tudo bem. É algo muito chique?


— Digno de você. Passo aí em
alguns minutos.
— Está bem.
— Beijos.
— Beijos.
Encerro a ligação e mamãe fita-me
com um sorriso divertido no rosto.
— Era Benjamin?
— Ele mesmo. Disse que tem uma
festa da empresa para irmos hoje à
noite. Ele vem me buscar daqui a
pouco. — Respondo animada.
— Que bom, minha filha. Espero
que se divirtam muito.

∞∞∞
Estou diante do closet, tenho
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

inúmeros vestidos de festa, porém, não


sei qual escolher. São tantos. Acabo por
optar por um preto, incrivelmente
lindo, com um pouco de brilho, mas
nada muito exagerado. Arrumo meu
cabelo e faço uma maquiagem
caprichada. Por fim, olho-me no
espelho com satisfação.
— Está linda! — Ouço Ben ao pé de
meu ouvido.
— Obrigada. — Agradeço com as
bochechas coradas.
— Com certeza, será a mais linda da
festa. — Arranca-me uma risada com
seu comentário.
— A sua amiga Camile vai estar lá?
— Indago ficando séria.
— Vai. — Responde naturalmente.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Mas meus olhos só estarão fixos em


você.
Inesperadamente, ele me puxa para
um beijo bom e demorado.
— Vamos, senhora Underwood? —
Pergunta assim que separamos nossos
lábios.
Assinto e vamos para a festa. O
caminho é feito em silêncio. Ao
chegarmos no local – um belo salão,
por sinal – Ben entrega o carro ao
manobrista. Encaixo meu braço no seu
e adentramos o salão de festas, mas não
antes de inúmeros fotógrafos e algumas
perguntas.
— Sejam bem-vindos, senhor e
senhora Underwood. — Cumprimenta-
nos um dos acionistas que vi no jantar
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

na casa de Benjamin.
— Obrigada. — Sorrio e Ben faz o
mesmo.
Nos dirigimos até a mesa
concernente a nós. Infelizmente, vejo a
Bruxa loira se aproximar com um
sorriso falso estampado em sua face.
— Olá. — Sorri irônica. Devolvo o
sorriso e não a respondo. — Ben, está
na hora do discurso.
— Claro... Já volto. — Comunica-
me, indo junto de Camile.
— Boa noite, senhoras e senhores
presentes. É com extrema alegria que,
em nome da Companhia Underwood,
inauguramos nossa nova ONG. Para
falar melhor sobre isso, gostaria de
chamar o presidente, senhor Benjamin
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Underwood. — Fala um homem


baixinho.
— Boa noite a todos os presentes.
Quero agradecer a todos aqueles que
contribuíram para a fundação da nova
ONG, a qual a Companhia Underwood
patrocina. Obrigado aos acionistas,
fornecedores, colaboradores e
principalmente, a minha inspiração:
minha esposa, Katherine. — Suas
palavras me deixam surpresa e feliz.
Sorrio abertamente.
— Declaro, oficialmente, aberta a
ONG Katherine Underwood.
Ele colocou meu nome em algo tão
importante? Ok, Eu não sei qual a
finalidade da ONG, mas deve ser
importante.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Eu amo esse homem.


Acho que acabei de confessar para
mim mesma, só falta dizer isso a ele.
Assim que Benjamin desce do palco
e chega até mim, lanço-me em seus
braços e lhe dou um abraço apertado.
Ainda não consigo acreditar! Ele
colocou o meu nome na nova ONG que
a Companhia Underwood patrocina.
— Parece que gostou da surpresa. —
Comenta fazendo-me encará-lo.
— Não mereço isso, Ben.
— Claro que merece... Depois de
tudo o que fez por mim naquela noite
em que me viu me cortando, você
merece tudo isso e muito mais, minha
Katherine. — Diz acariciando o meu
rosto.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Você é incrível. — Torno a


abraçá-lo.
— Graças a você. — Sussurra ao pé
do meu ouvido.
Voltamos à mesa. A festa está
animada, vários fornecedores vieram
conversar conosco. Alguns são legais,
outros esnobes, de nariz empinado.
— Boa noite. — Cumprimenta-nos
um homem, sentando-se conosco.
Benjamin fica extremamente sério e
cerra os punhos.
— Boa noite, Kellan. — Responde
ríspido.
— Parece que ainda não esqueceu do
passado. — Comenta o homem de
aparentemente uns trinta anos.
Do que ele está falando?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Muito pelo contrário, estou ótimo


agora. — Esboça um leve sorriso. —
Tudo o que aconteceu foi
extremamente promissor, afinal, estou
com uma mulher maravilhosa.
Obrigado. — Dá seu sorriso cínico e
amedrontador.
— Claro... Sua esposa é lindíssima.
— Ele me olha com malícia. Encolho-
me e sinto um braço de Benjamin
envolver meus ombros.
— Realmente, sou um homem de
muita sorte. Minha Katherine é tudo
pra mim.
Suas palavras deixam-me feliz e
intensamente corada.
— Assim como Camile?
O quê?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Olho surpresa para Benjamin.


— Camile não significava
absolutamente nada, você me mostrou
isso, meu caro. — Dá de ombros.
— Éramos melhores amigos,
Benjamin. — Fala se levantando. —
Aproveite a festa e a sua esposa. Eu
aproveitaria. — Desdenha.
Ben bufa de raiva e bate na mesa.
— Calma, Benjamin. É exatamente
isso que ele quer. — Tento tranquilizá-
lo.
— Você viu o jeito que aquele
canalha te olhou? Ele praticamente
comeu você com os olhos. —
Responde-me irritado.
Benjamin está com ciúme?
— Está com ciúme? — Arqueio uma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

de minhas sobrancelhas, com um


sorriso brincalhão nos lábios.
— Estou. — Fala simplesmente.
De repente, deposito um beijo em
seus lábios. Ele sorri assim que nos
separamos.
— Você é incrível, Katherine.
— Quem era aquele homem? —
Questiono curiosa.
— Kellan Ferris. — Faz cara de
nojo. — Ele era meu melhor amigo até
eu descobrir que a Camile estava me
traindo com ele. — Fala sério.
— Sinto muito. — Respondo
desconfortável.
— Eu não. — Balança a cabeça
negativamente. — Tudo isso me trouxe
até aqui, me trouxe até você. — Ele
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

aproxima-se consideravelmente.
Permaneço imóvel, apenas olhando
seus belos olhos, sentindo seu cheiro.
Somos interrompidos por um dos
acionistas que se aproxima sem jeito.
— Desculpe atrapalhar, senhores. —
Sorri amigável. — Os fornecedores da
Sumpter desejam conversar com o
senhor sobre os projetos de Chicago. —
O homem de cabelos grisalhos explica.
— Tudo bem. — Assente. — Vem
comigo?
— Já vou. Só vou ir até o banheiro.
— Está bem.
Benjamin some do meu campo de
visão e vou a procura de um banheiro.
Após alguns minutos, encontro um
grande banheiro, quase todo de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

mármore branco. É muito bonito.


Retoco minha maquiagem e ajeito meu
vestido.
— Benjamin sempre foi sortudo com
as mulheres. — Ouço a voz de Kellan e
sinto algo ruim. Viro-me e o encaro
séria.
— Não pode entrar aqui, é um
banheiro feminino.
— Você é muito gata, Katherine. —
Ele encurrala meu corpo na parede do
banheiro. Tento me soltar, porém, ele é
mais forte do que eu.
— Me solta! — Grito desesperada.
— Vamos nos divertir um
pouquinho, bebê... — Responde
rasgando o busto de meu vestido, logo
tenta me beijar de forma indecente.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Para! Socorro... — Choro


compulsivamente.
— Cala a boca. — Meu rosto vira
para o lado com o tapa que ele dá. Sinto
o lugar arder.
Kellan começa a tentar tirar meu
vestido e me debato freneticamente.
Tento mordê-lo, mas não consigo.
— Me solta... — Suplico sentindo
minhas forças se esvaírem. Então, sinto
seu corpo ser puxado violentamente de
sobre o meu.
— Seu cafajeste! — Benjamin grita
pondo-se a minha frente.
Rapidamente, ele pega Kellan pelo
colarinho da camisa, socando seu rosto.
— Canalha! Se ousar encostar na
minha mulher novamente eu mato
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

você. — Grita ameaçador. —


Entendeu? Eu te mato!
Alguns seguranças adentram o
banheiro, levando Kellan. Ben abraça-
me fortemente.
— Eu estou aqui. Ele não vai mais
encostar em você. — Sussurra
apertando-me contra si.
— Eu senti tanto medo que ele... —
Não consigo terminar a frase, encontro-
me entre lágrimas e soluços.
— Eu estou aqui, Katherine. Vou
cuidar de você. — Ele pega-me em seu
colo e nos encaminhamos para fora do
salão pelos fundos do local.
Entramos no carro e Ben não me
solta nenhum minuto.
Meu anjo da guarda.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ainda estou trêmula, meu vestido


está rasgado e ainda estou apavorada.
— Vai ficar tudo bem, eu prometo.
— Sussurra afagando meus cabelos.
— Obrigada por me ajudar.
— Não há necessidade de agradecer,
Kat. Não consigo nem imaginar o que
faria com aquele maldito se ele fizesse
algo a mais com você. — Aperta-me
contra si.
Chegamos em casa, Ben insiste em
me levar para dentro em seus braços.
— Ah, Deus! O que aconteceu? —
Olga pergunta preocupada.
— Está tudo bem, agora. — Ben
responde sério. — Faça algo pra
Katherine comer. — Ordena subindo
comigo para o segundo andar.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Ei... — Protesto assim que


entramos em seu quarto.
— Hoje você fica aqui comigo. Meu
quarto é mais confortável. — Ele
coloca-me na cama delicadamente.
— Eu preciso de um banho. — Digo
envergonhada.
— Claro. Vou no seu quarto e pego
umas roupas pra você.
Benjamin sai enquanto sinto as
lágrimas rolarem em meu rosto. Há um
aperto em meu peito. Ao mesmo
tempo, sou agradecida a Deus por ter
me dado um livramento tão grande.
— Ei... Uma mulher tão linda como
você não deve chorar. — Enxuga
minhas lágrimas.
Pego minhas roupas e tomo um
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

banho relaxante. Visto-me de roupas


confortáveis e volto para o quarto. Há
uma bandeja com meu jantar sobre o
criado mudo.
— Se sente melhor? — Indaga
Benjamin, assim que me sento na cama.
— Sim. — Assinto.
Começo a comer. Depois de estar
devidamente alimentada, deito-me na
cama e Ben cobre-me com um cobertor
muito macio.
— Agora, descanse. Vou ficar aqui
com você. — Deposita um beijo em
minha testa e logo deita ao meu lado.
— Obrigada por ter me ajudado... —
Esboço um pequeno sorriso. — Você
se tornou o meu anjo da guarda. —
Comento encarando seus olhos azuis.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Você que é um anjo, Kat. E não


precisa agradecer, porque, se depender
de mim, ninguém vai te machucar
novamente. — Tranquiliza-me,
passando-me segurança através das
suas palavras.
— Boa noite, Ben.
— Boa noite, Kat. — Apaga a luz do
abajur ao seu lado.
Obrigada por todos os livramentos,
Jesus.
— Ben?
— Sim? Está tudo bem? — Posso
sentir a preocupação em sua voz.
— Me abraça? — Peço
envergonhada, sentindo as lágrimas
rolarem.
Benjamin aproxima-se e me envolve
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

em seus braços, passando-me


segurança. Quem diria que as mãos que
um dia me machucaram, hoje iriam
estar me ajudando?
Deus e seus propósitos.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 15
Acordo com o barulho da porta do
quarto se abrindo. Mas não é Benjamin,
seus braços estão envolvendo minha
cintura.
— Bom dia, pombinhos. — Ouço a
voz de uma mulher. Uma voz carregada
de animação. Ela liga a luz do quarto.
Lauren! Mas, o que ela está fazendo
aqui?
Benjamin cobre nossas cabeças com
o cobertor e resmunga alguma coisa
que não consigo decifrar.
— Acordem, amores! Temos um
lindo dia pela frente. — Fala animada,
tirando a coberta de nossas faces.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Merda! Vá dormir, Lauren. —


Resmunga Benjamin, extremamente
irritado.
— Quanto mau humor, Benjamin.
— Desdenha. — Não sei como a Kat te
aguenta! — Revira os olhos em
protesto.
Benjamin se levanta da cama
relutante.
— O que está fazendo aqui? —
Indaga bravo.
— Vamos ter um almoço em
família, irmão querido e... Vim ver
como Katherine está. Papai me contou
o que ocorreu ontem na festa. —
Explica, olhando-me com um sorriso
no rosto.
— Obrigada por se preocupar,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Lauren. — Agradeço levantando-me da


cama.
— Não precisa agradecer, somos da
mesma família agora. — Sorri
amigável. — Bom... Vou deixá-los
dormir mais um pouquinho, são sete
horas da manhã. — Ela retira-se do
quarto.
Ben e eu rimos e voltamos a nos
deitar.
— Pode descansar, princesa. —
Sussurra em meu ouvido.
Ele me chamou de princesa. Isso é
tão lindo. Como estou com sono,
ignoro meu subconsciente me alertando
sobre os riscos de me apegar ainda
mais a Benjamin Underwood. Balanço
a cabeça em concordância, aconchego-
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

me em seus braços e volto a dormir


tranquila.

∞∞∞
O sol brilha lá fora, não sinto mais
os braços de Ben envolta de minha
cintura. Reviro-me na cama e respiro
fundo. Levanto-me, dobro meus joelhos
e começo a falar com Deus.
— Pai, venho neste momento te
agradecer pelo teu amor, graça e
misericórdia. Obrigada por cuidar de
mim e pelo grande livramento que o
Senhor me proporcionou. Peço que
abençoe Benjamin e tenha misericórdia
de Kellan. Pai, obrigada por ter feito
com que ocorresse tudo bem no
transplante de mamãe. Peço que fique
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

comigo sempre, preciso de Ti. Perdoa


os meus pecados, ajuda-me a ser uma
pessoa melhor, que eu venha mover o
teu coração, te adorar
independentemente das circunstâncias,
sendo elas favoráveis ou não. Obrigada
por me amar. Obrigada por ter
colocado Benjamin em meu caminho.
Entrego tudo em tuas mãos e te
agradeço por tudo, em nome de Jesus.
Amém!
Após minha oração, percebo que há
um bilhete no criado mudo.
“Bom dia, minha Katherine.
Espero que tenha dormido bem. Fui
resolver alguns assuntos da empresa
com meu pai. Pode nos encontrar no
jardim, estamos a sua espera. Deixei
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

um vestido separado para você, está no


meu closet.
Com carinho, Benjamin.”
Sorrio ao ler tais palavras. Pego o
vestido e me arrumo adequadamente.
Apesar de estar aqui há alguns dias,
nunca havia conhecido o jardim. É um
lugar encantador. Avisto um toldo
branco, parece coisa de filme. Há uma
mesa posta com inúmeras guloseimas,
provavelmente, feitas por Olga, Judith
e Amelia. Benjamin vem até mim, suas
mãos estão nos bolsos da calça jeans e
a camisa azul deixa-o incrivelmente
lindo. Contrastou com seus belos olhos.
— Bom dia. — Esboça um sorriso
sincero. — Se sente melhor? — Indaga
passando um de seus braços por sobre
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

meus ombros.
— Graças a Deus e a você. —
Respondo em um suspiro.
— Estávamos esperando você para
tomarmos café. — Comenta enquanto
nos aproximamos da mesa.
— Bom dia, cunhada. Como se
sente? — Pergunta-me Lauren,
extremamente animada.
— Bem, obrigada. — Sorrio.
O senhor Alaric e Bruce apenas
assentem com a cabeça, enquanto me
sento ao lado de Ben.
— Está se sentindo melhor,
Katherine? — Questiona senhor Alaric.
— Graças a Deus. Muito obrigada,
senhor Alaric.
— Nunca vi Benjamin tão furioso.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Comenta Bruce com um sorrisinho


irônico no rosto. — Kellan era um dos
fornecedores da Underwood, até
ontem... Benjamin poderia ter
prejudicado a empresa por conta disso,
no entanto, ele mostrou que antes do
bem da empresa, a coisa mais
importante pra ele é você.
Suas palavras deixam-me surpresa e
intensamente corada.
— Prejudicou a empresa por minha
causa, Ben?
— Não. — Balança a cabeça
negativamente. — A Underwood está
muito melhor sem o Kellan, fiz um
bem, na verdade. — Dá de ombros.
— Quando fez isso? — Crispo os
olhos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Já faz um tempo que acordei. Fiz


algumas ligações e decidi Kellan não
atua mais como fornecedor da empresa.
— Explica-me. — Ontem à noite
mandei mensagem para meu pai
avisando o que aconteceu e o que eu
pretendia fazer.
— Kellan sempre foi irresponsável e
idiota, a empresa está melhor sem ele.
— Confirma senhor Alaric.
— Vai visitar sua mãe hoje? —
Benjamin indaga tomando um gole de
seu café.
— Não.
— Por quê? Posso te levar lá. —
Disponibiliza-se.
— Não posso. — Sussurro sentindo
meus olhos embaçarem.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Kat, está tudo bem? — Segura


uma de minhas mãos.
— Está. — Balanço a cabeça em
concordância. — Só que se eu for no
hospital ela vai perceber... Enfim... Só
vou ligar pra ela depois.
— Você que sabe, mas se quiser, eu
te levo lá.
— Obrigada.
— Ben nos contou porque você
aceitou se casar com ele. — Fala
Lauren. — Foi uma atitude linda. —
elogia-me com um sorriso singelo.
— Qualquer um faria a mesma
coisa. — Olho-a por um instante.
— Gosto de pensar que Lauren e
Benjamin fariam isso por mim. —
Senhor Alaric tenta descontrair.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Já falamos que o senhor não sabe


fazer piadas, pai. — Lauren revira os
olhos em protesto, agora nos
arrancando algumas risadas.
— Vão ficar muito tempo aqui? —
Questiona Ben, dirigindo-se à Lauren e
Bruce.
— Só alguns dias, tenho que
organizar o desfile da Victoria Secret’s.
— Lauren responde.
— O que acha de fazermos um
encontro de casais? Nós quatro. —
Bruce sugere.
— A ideia é ótima Bruce, mas Kat
não deve estar preparada para isso...
— Por mim não tem problema,
Benjamin. — Tento soar o mais
convincente possível.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Eu não acredito. — Meu


“marido” responde simplesmente.
— É sério... Está tudo bem.
— Então vamos ver a sua mãe. —
Rebate.
Ele sabe que minha mãe me conhece
melhor do que ninguém, certamente,
ela perceberia a quilômetros de
distância que algo ocorreu comigo.
Olho para Ben. Ele percebe meu estado
de fragilidade, afinal, dá-me um sorriso
reconfortante, capaz de me aquecer o
coração.
— Vai ficar tudo bem! — Exclama
passando-me segurança.
— Eu sei.
— Vocês ficam tão lindos juntos. —
Diz Lauren com sua típica empolgação.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

A família Underwood é
estranhamente peculiar. Segundo Ben,
faz muito tempo que eles não passavam
algum tempo juntos, como no nosso
café da manhã. É bom saber que eles
estão se aproximando.

∞∞∞
Acabo de tomar meu banho e
resolvo ligar para minha mãe. Tomo
coragem e disco o número do celular
que deixei com ela no hospital. Chama
algumas vezes, ela logo me atende.
— Oi, mãe!
Sinto minha voz trêmula.
— Oi, minha filha. Como você está?
Sinto algumas lágrimas rolarem e
tento reprimir o choro. Os flashbacks
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

da noite anterior retornam a minha


mente.
— Estou bem, graças a Deus. E a
senhora, como se sente?
— Estou bem, meu amor. E
Benjamin?
— Ele está bem. Mandou um abraço.
— Transmita outro a ele.
— Pode deixar... Ben, liguei para
avisar que não poderei ir visitá-la hoje.
— Não tem problema, meu amor.
Agradeço a Deus por mamãe não ter
perguntado o porquê de eu não ir visitá-
la.
— Qualquer coisa me ligue. Eu te
amo muito, mãe.
— Eu também, minha vida. Te amo
demais. Fica com Deus, que Ele
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

abençoe você e seu esposo.


— Amém, a senhora também.
Ela encerra a chamada. Foi estranho
a parte do meu “esposo”, ainda não me
acostumei com isso. Porém, seria ainda
mais estranho se ela se referisse apenas
a mim, pois, sinto que agora, Benjamin
ocupa um grande e importante espaço
na minha vida.
A porta de meu quarto se abre e
encaro os olhos azuis que julgo serem
os mais lindos do mundo.
— Vim ver como você está. —
Senta-se ao meu lado na cama,
puxando-me para seus braços.
— Estou bem. — Aconchego a
cabeça em seu peito.
— Que bom, princesa... Prometo que
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

não vou deixar ninguém te machucar.


— Obrigada por tudo, Ben.
— Eu que tenho que te agradecer,
Katherine. Por me dar amor e me
mostrar que a vida ainda vale a pena
quando temos a Deus e alguém que
amamos.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 16
Ontem Ben e eu conversamos
durante horas, até a madrugada, para
ser mais exata. No entanto, ambos
dormimos em nossos quartos;
separados.
Lauren me convidou para fazermos
compras e depois disso vamos visitar
minha mãe. Ben insistiu para que
fôssemos em seu carro, com o seu
motorista. Segundo ele, é perigo duas
belas damas andarem desprotegidas
pelas ruas de Los Angeles.
— Ben está me surpreendendo. —
Comenta minha cunhada, enquanto
escolhe algumas roupas.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Por quê? — Pergunto curiosa.


— Ah... Ele está... Diferente.
Radiante. Dá pra ver na forma que ele
te olha, na forma que ele sorri quando
te vê. — Responde em um suspiro.
— É... Benjamin mudou muito
desde que nos casamos.
— Você o mudou, Katherine. —
Conclui com um sorrisinho no rosto.
— Deus o mudou, eu fui apenas uma
ferramenta.
— Sua fé é tão bonita. Parece a da
minha mãe.
— É... Ben me falou sobre ela.
— O quê? — Aparenta estar
confusa.
— Ele me falou sobre a mãe de
vocês. — Explico franzindo o cenho.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Então... Ele deve te amar muito.


Benjamin nunca falou sobre ela com
ninguém, nem com a bruxa da Camile.
— Diz animada.
Ela também não gosta da Camile.
— Você não gosta da Camile?
— Ninguém gosta. — Fala fazendo
careta.
— Conheci a Bruxa Potter... Quer
dizer, a Camile... Ela vive se
oferecendo para o Benjamin.
— Parece que tem alguém com
ciúme. — Desdenha.
— E se fosse o Bruce? — Rebato no
mesmo tom e Lauren torna sua
expressão séria. — Acho que também
não iria gostar.
— O que acha de ficarmos mais
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

lindas para os nossos maridos e


surpreendê-los na empresa? — Sugere
empolgadíssima.
— Será que o Ben vai gostar?
— Claro que vai... Ele, com certeza,
vai babar quando ver você
incrivelmente linda, cunhada.
— Tudo bem. — Dou-me por
vencida. — Mas vamos visitar minha
mãe antes.
— Claro. Perfeito!
Compramos mais algumas roupas e
nos dirigimos até o hospital. Passamos
pela recepção, logo indo para o quarto
de mamãe.
— Olá, mãe. — Cumprimento-a
assim que Lauren e eu adentramos o
quarto.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Olá, amor. Como está? — Indaga


gentil, como sempre.
— Ótima, graças a Deus. E a
senhora, como se sente?
— Estou bem, obrigada, filha.
— Esta é Lauren Underwood, irmã
de Ben. Lauren, esta é minha mãe,
Angelina.
— É um prazer conhecê-la, senhora
Angelina. — Diz Lauren com um
sorriso no rosto.
— O prazer é meu, Lauren. —
Mamãe retribui o sorriso.
— É uma grande honra conhecer a
mãe da mulher que conquistou o
coração do meu irmão. — Brinca.
— Seu irmão é um homem muito
generoso, Lauren.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Acho que é de família. —


Ironizo, arrancando risadas de mamãe e
minha cunhada.
Conversamos a tarde inteira, minha
mãe e Lauren se deram muito bem.
Ligamos para a empresa, para
perguntar se Ben e Bruce estavam, no
entanto, eles estão em casa. Estamos a
caminho de lá.

∞∞∞
— Olá, meninas. — Cumprimenta-
nos Bruce, assim que adentramos a
porta de casa.
— Oi. — Respondemos em
uníssono.
— Onde está o Ben? — Pergunto.
— Está na sala de ginástica.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— E onde fica? — Arqueio minhas


sobrancelhas. — Ainda não conheci
nem metade da casa. — Argumento.
— É no segundo andar, quarta porta
à esquerda. — Explica.
— Obrigada. — Agradeço subindo
as escadas.
Dirijo-me até o local indicado por
Bruce. A porta está entre aberta,
observo Benjamin se exercitando em
uma barra de ferro.
Ele está sem camisa. Foco,
Katherine!
Entro na sala e fico o observando
treinar. Ele ainda não notou minha
presença.
Coço a garganta, fazendo com que
ele me olhe. Ben sorri e sai da barra de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ferro.
— Oi. — Cumprimenta-me com um
largo sorriso no rosto.
— Oi.
— Como foram as compras com
Lauren? — Indaga pondo-se ao meu
lado.
— Foram ótimas. Sua irmã é muito
legal.
— Visitou sua mãe?
— Sim, ela te mandou um abraço.
— Não vai me dar o abraço? Eu
estou suado, mas... Já que sua mãe me
mandou um abraço, quero meu abraço.
— Fala em tom de brincadeira.
Rio de seu comentário.
Inesperadamente, Ben me prende em
seus braços, girando-me no ar.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Já recebeu seu abraço. — Brinco


tentando me soltar.
— E se eu não quiser soltá-la,
senhora Underwood? — Pergunta
olhando-me de maneira intensa.
— Não solte.
Foco, Katherine! Tenha sanidade. O
que eu fui falar para Ben! Ele tem um
sorriso um tanto quanto malicioso nos
lábios.
— Não quero te soltar. — Conclui
colando nossas testas. Seus lábios
tocam os meus, iniciando um beijo
incrivelmente bom.
Suas mãos prendem minha cintura,
enquanto as minhas prendem-se nos
discretos cachos de seus cabelos. Nos
separamos por falta de ar. Ambos
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

estamos ofegantes.
— O que acha de irmos jantar fora?
Quero te mostrar um lugar depois.
— Claro. — Balanço a cabeça em
concordância.
— Então é melhor irmos nos
arrumar. — Sugere.
Saímos da sala de ginástica, vamos
cada um para nossos respectivos
quartos. Chamei Lauren para me ajudar
a escolher uma roupa apropriada.
Digamos que ela entende mais de moda
do que eu.
— Perfeito! — Exclama minha
cunhada, batendo palminhas.
Ela escolheu um vestido azul
marinho, um pouco colado no corpo,
mas nada vulgar. As alças do vestido
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

são finas, o mesmo, fica uns dois dedos


a cima do joelho. Lauren escolheu uma
sandália de salto alta na cor nude e fez
uma maquiagem linda em mim. Deixei
meus cabelos soltos, como de costume.
— Obrigada, Lauren! — Abraço-a
em gratidão.
— Não precisa agradecer, minha
cunhada, amada... Agora vá! O gato do
meu irmão está a sua espera.

∞∞∞
— Está linda! — Elogia-me Ben,
acho que pela quarta vez. Já estamos a
caminho do restaurante.
— Obrigada.
— Vou precisar ficar esperto, com
certeza, você vai atrair muitos olhares,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

senhora Underwood. — Comenta


tirando os olhos da estrada por um
instante.
Solto uma risada alta. Em um ato
sorrateiro, Benjamin segura minha mão
e vamos assim até o nosso destino.
O restaurante é extremamente
refinado. Ben reservou a melhor mesa.
— Gostou daqui, Katherine?
— Claro. É muito bonito.
— Digno de você.
Fazemos nossos pedidos.
Começamos a comer enquanto
conversamos sobre assuntos aleatórios.
— Vamos? — Convida-me
levantando-se.
— Claro.
Ele paga a conta e voltamos ao
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

carro.
— Onde nós vamos? — Questiono
curiosa.
— Surpresa... Mas, acho que vai
gostar.
A viagem dentro da cidade dura uns
trinta minutos. Logo entramos em uma
área verde.
Para que lugar ele está me levando?
Após uns vinte minutos, adentramos
uma propriedade muito bonita. Há um
belo chalé.
— Chegamos, minha Katherine.
Ben abre a porta do carro pra mim.
Me encanto ao ver a tamanha beleza do
local, mesmo sendo pouco iluminado.
— Este lugar é incrível!
— Meu pai deu essa propriedade
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

para minha mãe e ela passou para mim.


Eu amava vir aqui... Depois que ela se
foi, eu nunca mais voltei, até hoje.
— É um lugar, realmente, lindo.
— Mas esta não é minha parte
preferida da propriedade... Vem.
Ele me conduz até um belo caminho
de pedras. A iluminação aqui é maior...
e...
Incrível!
Deparo-me com o lago mais lindo
que já vi na vida. Sua água é
extremamente azul. A areia deixa o
local com um clima litorâneo. Tiro
meus sapatos e sinto a areia em meus
pés.
— Este é o meu lugar preferido.
— Com razão.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ben também tira os sapatos e o


casaco. Ele enlaça nossas mãos
enquanto caminhamos na beira do lago.
— Você sabe nadar? — Indaga com
um sorriso brincalhão no rosto.
— Não. — Balanço a cabeça
negativamente.
De repente, Benjamin me toma em
seus braços e corre para dentro do lago.
A água está fria, o que faz com que me
encolha ainda mais.
— Você é maluco! — Exclamo
rindo.
— Talvez eu seja.
Como se fôssemos duas crianças,
começamos a jogar água um no outro.
Rimos como nunca. É bom estar aqui
com Benjamin.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ficamos uns dez minutos na água.


Ao sairmos o vento frio bate contra
meu corpo, fazendo-me tremer. Nos
sentamos na areia macia, Ben me puxa
para seu colo, colocando seu casaco,
que está seco, em mim. Aconchego-me
em seus braços.
— Você está gelada. Não devia ter te
puxado para a água. Me desculpe. —
Sussurra em meu ouvido, posso sentir a
preocupação em sua voz.
— Não precisa se desculpar, Ben...
Eu estou bem. — Respondo da mesma
forma.
— Vamos voltar para casa?
— Vamos. — Sorrio.
Vou tirar o casaco para devolver,
porém, ele me interrompe, fazendo com
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

que fique com o mesmo. Fazemos o


mesmo caminho de volta. Benjamin
liga o ar quente do carro.
— Se quiser, pode dormir. Te
acordo quando chegarmos, Kat.
— Obrigada... Mas não vou dormir.
Acabo por pegar no sono.
Acordo em uma cama macia, com
cobertores peludos e fofinhos. A luz
está apagada, mas sei que é o quarto de
Benjamin.
— Ben? — Sussurro sonolenta.
A porta do banheiro é aberta, ele sai
do cômodo, vestindo apenas uma calça
de moletom.
— Você dormiu e resolvi trazê-la
pra cá... Pode descansar, falta muito
para amanhecer. — Explica deitando-se
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

e me envolvendo em seus braços.


— Obrigada... Boa noite, Ben.
— Boa noite, Kat. — Diz
depositando um beijo no topo de minha
cabeça. Então, adormeço em seus
braços.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 17
Os dias passaram rapidamente.
Lauren e Bruce já voltaram para Nova
Iorque. O senhor Alaric voltou para seu
spa.
Falta uma semana. Uma semana para
os três meses chegarem ao fim. Meu
relacionamento com Benjamin continua
o mesmo. Ele me beija, às vezes acabo
dormindo em seu quarto ou ele no meu.
Mamãe está morando conosco. Ben
insistiu para que ela viesse pra cá.
Minha mãe e Olga são ótimas amigas,
até o senhor Alaric conversou bastante
com ela.
Nesse meio tempo, Ben foi em dois
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

cultos comigo, porém, apenas como


meu amigo. Ele simplesmente amou me
ver cantar. Às vezes, ele pede pra eu
cantar aqui em casa, principalmente
quando chega estressado da empresa e
não consegue dormir.
— Ben... Já são sete horas, precisa ir
pra empresa... — Sussurro balançando-
o delicadamente.
Acabei dormindo em seu quarto,
conversamos até às três horas da manhã
e peguei no sono aqui.
— Mais cinco minutos... —
Murmura prendendo-me ainda mais em
seus braços.
— Ben... Você vai se atrasar. —
Argumento com um pequeno sorriso no
rosto.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Será que não posso me atrasar na


minha própria empresa? — Indaga
fingindo estar indignado, finalmente
abrindo os olhos.
— Não, senhor Underwood. —
Respondo séria.
— Queria ver o seu sorriso... —
Comenta encarando-me.
Instantaneamente, um enorme sorriso
aparece em minha face e um maior
ainda no rosto de Benjamin. — Agora
posso levantar.
Ele deposita um beijo em meus
lábios. Ato que é correspondido por
mim. Ambos nos levantamos da cama e
dobramos nossos joelhos. Sim! De uns
dias pra cá, Ben passou a orar comigo.
Deus está agindo na vida dele de uma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

forma extraordinária e bela.


— Senhor Jesus, neste momento, me
chego a Tua presença. Te agradeço
pelo teu amor, graça, misericórdia e
pelo ato da cruz. Obrigada por ter
devolvido a saúde a minha mãe,
obrigada por ter colocado Benjamin em
meu caminho. Abençoe a todos aqueles
que estão ao meu redor. Reconheço
minhas falhas, meus pacados e te peço
perdão. Eu preciso de Ti. Quero dar o
meu melhor, como Tua filha. Usa-me
conforme a Tua santa e maravilhosa
vontade, quero ser um canal de
bênçãos, fazer a diferença em um
mundo indiferente, como verdadeira
cidadã do céu. Ensina-me a Te adorar e
render louvor, independentemente das
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

circunstâncias, sejam elas favoráveis ou


não. Independentemente das provas que
vierem, das lutas ou dificuldades, que
em todo o tempo, eu sempre venha ter
em mente de que Tu estás comigo,
cuidando de mim. Que eu venha
lembrar que Tu estás no controle.
Desde já, é o que eu te peço e agradeço,
em teu nome, Jesus. Amém!
Benjamin e eu vamos nos arrumar
para o café da manhã. Fazemos nossa
refeição, acompanhados de mamãe, que
já acordou. Conversamos sobre vários
assuntos, principalmente sobre a
Palavra de Deus.
— Vá com Deus e bom trabalho,
Ben. — Despeço-me.
— Obrigado. Qualquer coisa me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ligue. — Diz dando-me um beijo.


— Pode deixar. — Balanço a cabeça
em concordância. Ele entra no carro e o
vejo partir, rumo à empresa.
Retorno para dentro de casa,
deparando-me com Olga e mamãe
conversando amistosamente.
— O senhor Underwood está tão
mudado... — Comenta Olga.
— Graças a Deus. — Esboço um
sorriso de orelha a orelha.
— Fico feliz que vocês estejam se
dando bem, filha.
— Ben está sendo incrível.
— Percebemos isso, Katherine. —
Pronuncia-se Jeff, adentrando a sala de
estar.
— Tem algum desejo para o almoço,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

senhora Katherine? — Pergunta


Amelia, acompanhando Jeff.
— Não. O que quer que as senhoras
fizerem, sei que ficará maravilhoso.
— O senhor Benjamin tirou a sorte
grande... com todo o respeito, é claro.
— Brinca Jeff, arrancando-nos risadas.
— Concordo! — Exclamo
convencida.

∞∞∞
O almoço estava delicioso, as
cozinheiras fizeram uma macarronada,
especialidade da casa. Depois de
almoçar, minha mãe foi descansar um
pouco.
— Tenho uns negócios da empresa
para tratar, mas é fora da cidade. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Avisa-me Benjamin.
Estamos em seu quarto. Minha
cabeça está sobre seu colo e ele afaga
meus cabelos de forma carinhosíssima.
— Quem vai com você?
— Outros três acionistas, a Camile e
você.
Até a Bruxa Potter? Eu mereço! Pelo
menos eu vou.
— Não quero te atrapalhar.
— E não vai atrapalhar... Quero que
vá comigo, por favor.
— Vai ser muito bom. — Sorrio.
— O pessoal da empresa ficará em
um hotel, nós ficaremos em uma
propriedade de minha família. Você irá
gostar.
— Com certeza... E quando nós
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

vamos? — Arqueio as sobrancelhas.


— Daqui a uma hora. — Diz
naturalmente.
— Quanto tempo vamos ficar? Não
deveríamos arrumar nossas coisas?
— Vamos ficar uns dois dias e leve
roupas quentes, lá é um pouco frio.
Fazemos nossas malas e comunico
mamãe de nossa viagem repentina.
Olga garantiu-me que cuidará dela.
Assim fico mais tranquila em sair e
deixá-la.
Minha mala não está tão carregada.
Levo apenas o básico e um vestido
mais refinado, afinal, não sei o que
faremos lá. Nos despedimos de todos e
vamos em direção à propriedade da
família Underwood.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

O caminho é longo e cansativo, a


estrada já não possui mais asfalto. A
viagem dura cerca de cinco horas.
Estou exausta, preciso esticar minhas
pernas.
Adentramos uma bela propriedade.
Há uma casa, uma grande casa. O
campo é lindo, algumas margaridas
trazem mais beleza ao lugar. Descemos
do veículo e finalmente estico as
pernas.
— Vamos... Assim como eu, deve
estar faminta.
Acompanho Ben até a porta
principal da casa. Por dentro, o lugar é
todo de madeira rústica, os móveis são
antigos e extremamente elegantes.
— Sejam bem-vindos, senhor e
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

senhora Underwood. — Cumprimenta-


nos uma mulher de aparentemente
cinquenta anos.
— Obrigado, Marta.
— Acompanhem-me, mostrarei seu
quarto. — Seguimos ela até o segundo
andar. Entramos no cômodo que está
muito bem decorado com rosas
vermelhas. — Se me dão licença,
preciso ir. — Despede-se com um
pequeno sorriso no rosto.
— Claro. Obrigado, Marta. — A
mulher sai do quarto, deixando-nos a
sós. — Espero que não se importe de
dormir aqui, afinal, os empregados
arrumaram apenas um quarto.
— Sem problemas. — Sorrio.
Ouço meu celular tocar, é Lauren.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Oi, Lauren!
— Olá, Kat. Tudo bem?
— Sim. E com você?
— Estou bem... Já estão na fazenda?
— Acabamos de chegar.
— Vá até o closet, deixei um
presente pra você. Aproveite. Tchau.
Antes que eu possa responder,
minha querida cunhada desliga.
— O que ela queria?
— Disse que deixou um presente pra
mim no closet. — Explico confusa.
Ben me puxa até o closet. Sobre uma
mesa, há um embrulho.
— O que será? — Indago curiosa.
— Abra!
Com cuidado, desembrulho o
pacote. Fico perplexa ao ver o baby
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

doll rendado. Coro intensamente e


Benjamin não segura o riso.
— Isso é... Ousado. — Desdenha
Benjamin.
— Sua irmã é maluca. — Solto uma
risada nervosa.
Ben aproxima-se consideravelmente
e rouba-me um beijo. Um beijo
demorado e muito bom.
— Vamos jantar? — Indaga assim
que separamos nossos lábios.
— Claro... Estou faminta.
— Hoje você irá provar minha
comida.
— Você sabe cozinhar? —
Questiono rindo.
— Sei... Sou um cozinheiro de mão
cheia. — Fala com um falso ar de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

superioridade.
Ben me conduz até a cozinha, sento-
me no grande balcão de mármore,
enquanto o vejo cozinhar.
— Amanhã à tarde vou te levar para
cavalgar, Kat.
— Morro de medo de cavalos.
— Você vai gostar e vou estar ao teu
lado te protegendo. — Argumenta
vindo até mim e me dando um pouco
de molho para provar.
— Está delicioso... É um grande
cozinheiro, senhor Underwood. —
Digo com um sorriso brincalhão.
— Mereço um beijo? — Arqueia
uma sobrancelha.
— Não sei. — Dou de ombros.
De repente, seus lábios tocam os
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

meus, enquanto seus braços envolvem


minha cintura.
— Satisfeito? — Pergunto com
ironia.
— Pensando bem... Não. — Solto
uma risada, antes que ele volte a me
beijar.
Benjamin não estava brincando
quando disse que aqui fazia muito frio.
A falta de pijamas compridos fizeram-
me vestir um de seus moletons, afinal,
me recuso a usar o presente que Lauren
me deu.
— Quer mais um cobertor? —
Questiona Ben, antes de deitar na cama.
— Não, obrigada.
Ele deita ao meu lado. Escoro minha
cabeça em seu peito.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Boa noite, Ben.


— Boa noite, Kat.
Seus lábios tocam os meus por
alguns consideráveis segundos, acabo
por dormir escutando as batidas de seu
coração.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 18
Acordo com o barulho do
despertador invadindo meus ouvidos.
Ben desliga o aparelho e me encara
com um pequeno sorriso nos lábios. O
sorriso mais lindo do mundo.
— Bom dia. — Sussurra.
— Bom dia. — Respondo em um
bocejo.
— Vou para a reunião, vamos tratar
com os fornecedores daqui... Mas, um
motorista ficará a sua disposição. —
Levanta-se da cama.
— Tudo bem. — Balanço a cabeça
em concordância.
— Se quiser, pode dormir mais um
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pouco. Ainda é cedo. — Deposita um


beijo em minha testa.
— Está bem.
Acordo em um sobressalto. Como se
algo importante estivesse acontecendo.
Respiro fundo e levanto-me da cama.
São oito horas. Deve fazer uns trinta
minutos que Ben saiu para a tal
reunião. Dobro meus joelhos e começo
a orar.
— Senhor Jesus, venho neste
momento te agradecer por tudo o que
tens feito em minha vida. Obrigada
pela tua graça, misericórdia, pelo
imenso amor que nos demonstra todos
os dias, principalmente, a prova da
cruz. Reconheço minhas falhas e te
peço perdão. Dá-me direção e ensina-
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

me a fazer a tua vontade. Peço que


abençoe mamãe, guarde-a e mantenha
sua fé viva. Abençoe o senhor Alaric,
Lauren e Bruce. Que eles possam
reconhecer que só tu és Deus. Obrigado
por ter colocado Benjamin em meu
caminho. Peço que o abençoe, guarde,
livre de todos os males. Pai, não sei o
que está acontecendo naquela reunião,
mas, dê direção a Benjamin, lhe dê as
palavras certas. Entrego minha vida em
tuas mãos. O meu ser pertence
inteiramente a Ti. Fica comigo. Ajuda-
me a ter uma fé inabalável,
independente das circunstâncias. Que
mesmo diante das provas, eu venha te
adorar, em espírito e em verdade.
Obrigada pelo pão de cada dia, o qual o
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Senhor não tem deixado faltar. Entrego


tudo em tuas mãos e te agradeço em teu
nome, Jesus. Amém!
Escovo meus dentes e vou a procura
de uma roupa apropriada para uma
reunião com os diretores, presidentes,
fornecedores e acionistas da
Underwood. Acabo por escolher um
vestido nude, o mesmo bate na altura
de meus joelhos, é discreto, mas muito
elegante. Arrumo meus cabelos e faço
uma maquiagem discreta. Calço meus
sapatos, apanho minha bolsa e me
dirijo ao hall da casa.
— Bom dia, senhora Katherine. —
Cumprimenta-me Marta.
— Bom dia. — Sorrio.
— Quer que ponha seu café?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Não, obrigada. — Agradeço


cordialmente. — Onde está o
motorista? — Arqueio as sobrancelhas.
— Por sorte, está em frente a casa.
Organizando o carro.
— Obrigada. Até logo, Marta.
— Até logo, senhora Katherine. —
Despede-se. — Ah... — Chama minha
atenção, fazendo-me olhá-la. — Tem
alguma preferência para o almoço,
senhora?
— Não... Até mais. — Respondo
deixando a casa.
— Bom dia, senhora Katherine. —
Cumprimenta-me o motorista.
— Bom dia, senhor...
— Bobby.
— Pode me levar até onde Benjamin
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

está?
— Sim senhora. — Ele abre a porta
do carro e adentro o veículo.
Bobby é muito legal. Seus cabelos
grisalhos combinam perfeitamente com
o bigode no estilo Chaplin. Ele faz
alguns comentários engraçados, falando
sobre os costumes locais e como gosta
do campo.
Um sentimento estranho toma conta
de meu ser. Como se Benjamin
estivesse precisando de minha ajuda.
Um aperto no peito me faz suspirar
pesadamente.
Perdida em meus devaneios, nem
percebo que o carro para em frente a
um restaurante. Não presto atenção no
nome do local. Bobby abre a porta do
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

carro para mim e agradeço com um


sorriso.
— Pode ir, Bobby... Depois eu volto
com Ben.
— Sim senhora. Até mais.
Respiro fundo e adentro o
estabelecimento. Posso ouvir a
conversa dos presentes. Não é nada
amigável. Permaneço imóvel, nenhum
deles consegue me ver de onde estou.
— Você falta a reuniões importantes
e, quando chega, é extremamente
atrasado ficou dias sem ir à empresa e
às vezes vai embora repentinamente. —
Vocifera um dos homens barbudos.
Todos estão bem trajados, até
mesmo as mulheres e... Camile. Ela é
tão bonita. Não sei o que Benjamin viu
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

em mim. Ah! Ele estava desesperado e


procurava um esposa, foi isso. Eu fui a
única opção.
— Tive meus motivos, Fred. Além
do mais, eu sou o presidente e não devo
satisfações a ninguém. — Retruca Ben.
— Ora, ora... — O tal Fred ri
sarcástico. — Deve satisfações a todos
nós, Benjamin. Fazemos parte da
equipe. A Underwood é como se fosse
uma família. Você nunca defende a sua
família, nunca está lá quando
precisamos de você. Como podemos
confiar a presidência de uma grande
empresa a um jovem irresponsável e
imaturo, que não se preocupa com
alguém além de si mesmo? — Indaga.
Meu sangue ferve. Quem ele pensa
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

que é para falar assim com Benjamin?


Se Ben faltou o trabalho foi... Por mim.
Eu afetei Benjamin. E agora, sua
posição na empresa corre risco.
— Felizmente, senhor, Benjamin é o
tipo de pessoa que sempre está ao lado
da família. E o senhor, até onde eu sei,
não é íntimo de meu marido para saber
o que nossa família enfrenta. —
Manifesto-me, sentando ao lado de Ben
que me olha surpreso. — Perdão, bom
dia, senhores. — Cumprimento-os com
um pequeno sorriso no rosto.
— O que faz aqui? — Pergunta
Camile.
— Até onde pude perceber, os
senhores desejam tirar meu marido da
presidência e sem motivos. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Argumento. — E, respondendo sua


pergunta, Camile: este é um
estabelecimento público. Resolvi passar
por aqui. — Sorrio.
— E o que aconteceu de tão
importante para Benjamin deixar a
empresa de lado? — Questiona Fred.
— Ele priorizou a família. — Olho
no fundo de seus olhos.
— Katherine, não é necessário... —
Segura minha mão.
— Está tudo bem. — Balanço a
cabeça positivamente.
— Prossiga, senhora Katherine. —
Diz um dos acionistas.
— Benjamin faltou ao trabalho, às
reuniões, pois... Pois minha mãe
estava... Morrendo. — Falo e sinto
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

meus olhos marejarem. — Graças a


Deus, ela está bem agora. No entanto,
quando eu mais precisei, Ben esteve do
meu lado.
— Tudo bem, mas... — Interrompe-
me Fred.
— Deixe-me terminar, por favor...
— Peço educadamente e o mesmo
assente. — Há algum tempo, eu fui
vítima de tentativa de estupro.
Novamente, em um dos piores
momentos da minha vida, Ben estava
lá. — Suspiro pesadamente. — Então,
não diga que Benjamin não prioriza a
família. Pois ele o faz. Ele me defendeu
com unhas e dentes e esteve comigo
nos piores momento. Um homem que
defende a família dessa maneira, é apto
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

para defender uma empresa. Uma


família. E, com certeza, nos altos e
baixos que qualquer empresa enfrenta,
Benjamin estará presente. Estará
disposto a defender a Underwood,
assim como está disposto a defender a
própria família. — Falo por fim.
Há um pequeno sorriso no rosto de
Ben. Graças a Deus, minha resposta
calou a boca desses homens. O Senhor
colocou as palavras em minha boca.
— Sentimos muito, senhora
Katherine. — Murmura um dos
acionistas.
— Obrigada.
— Bom... podemos dar a reunião por
encerrada. Tenham um bom dia,
senhores. — Despede-se Fred.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

E um a um, inclusive Camile,


deixam o restaurante.
— Obrigado. — Sussurra Benjamin,
orgulhoso demais para falar em alto e
bom som.
— Não entendi? — Brinco.
— Obrigado. — Repete um pouco
mais alto.
— Não precisa agradecer. Sei que
faria a mesma coisa. — Dou de
ombros.
— Já falei hoje o quanto você é
incrível? — Questiona se aproximando
consideravelmente.
— Não. — Crispo os olhos.
— Você é incrível!
— Obrigado por me defender. —
Ele sorri.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Que sorriso.
— Apenas senti que precisava de
mim... — Murmuro sorrindo.
— Sempre preciso de você. —
Deposita um beijo em meus lábios, ato
que é correspondido por mim.
— Eles queriam te tirar da
presidência, não é? — Arqueio as
sobrancelhas.
— É... Todos são lobos dentro da
empresa. Não confio em nenhum deles.
— Responde-me, voltando a sua
expressão séria.
— É complicado... — Sussurro.
— Mas... Agora, vamos parar de
falar sobre empeesa, presidentes,
acionistas, fornecedores ou qualquer
outra coisa que envolva trabalho e
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pessoas insuportáveis e egoístas


tentando tomar o meu lugar. Certo? —
Sugere com um pequeno sorriso nos
lábios.
— Certo. — Balanço a cabeça em
concordância.
— O que vai querer? — Refere-se
ao cardápio do local.
— Pode ser... Hum... Essa torta de
bombom e um chocolate quente.
— Vou querer a mesma coisa.
Ben faz nossos pedidos e
conversamos animados, sobre assuntos
diversos, enquanto o café não chega.
— Aqui está, senhor... — O garçom
entrega seu pedido.
— Obrigado.
Devo acostumar-me com Benjamin
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

falando “obrigado”. Quando cheguei


em sua casa isso era algo extremamente
raro.
— Aqui está seu pedido, senhorita...
— Entrega-me o bolo e o chocolate
quente. — Se quiser... Me liga, gata. —
Sussurra em meu ouvido, passando-me
um pedaço de papel com seu número
anotado.
Olho-o séria, há um sorrisinho idiota
estampado em seu rosto.
— Do que você chamou minha
mulher, seu desgraçado? — Questiona
Ben, cerrando os punhos. — Responde,
ordinário! — Ele trinca os dentes. É
nítida a sua fúria.
— Desculpe... Eu não sabia que ela
era sua esposa, senhor... — Defende-se.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Então você é cego! — Benjamin


solta uma risada macabra. — Não viu a
aliança no dedo dela? — Esbraveja.
— Não senhor... — Desespera-se o
homem.
— Ben... — Seguro seu braço, na
tentativa de acalmá-lo. — Vamos
embora? — Peço olhando em seus
olhos.
Ele assente.
— Nunca mais... — Trinca os
dentes. — Nunca mais ouse se
aproximar da minha mulher. — Alerta
o garçom.
Benjamin deixa o dinheiro em cima
da mesa e saímos do estabelecimento.
Ele coloca a mão nos bolsos da calça,
fica fofo. Parece estar envergonhado.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Pudera!
— Olha, Katherine... Desculpe. —
Sussurra.
Finalmente, posso soltar a risada que
estava reprimida em minha garganta.
— Seu ataque foi... Foi... Inusitado...
E muito, muito divertido... — Falo
entre gargalhadas.
— Não tem graça. — Responde
seriamente.
— Tem sim. — Balanço a cabeça
freneticamente.
— Vamos embora logo. — Apressa-
nos.
— Está com ciúmes, está com
ciúmes... — Bato palmas com ironia.
— E se eu estiver? — Dá de ombros,
enquanto entramos no carro.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Tudo bem... — Sussurro com um


pequeno sorrisinho nos lábios.
Benjamin sente ciúme de mim. E
quem sente ciúme é por que gosta,
certo?
O caminho de volta à propriedade é
feito em silêncio. Isso me incomoda.
Gosto de ouvir o som da voz de
Benjamin. É algo que me deixa feliz.
— Vamos cavalgar, à tarde? —
Questiona-me, tirando os olhos da
direção por alguns instantes.
— Tenho medo de cavalos. — Digo
voltando meu olhar para a paisagem.
— Não precisa ter medo. Vou estar
com você. — Conforta-me, segurando
minha mão.
Instantaneamente, abro um sorriso
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

de orelha a orelha. Benjamin mexe


comigo de uma maneira incrível e
indescritível.
Chegando na propriedade, ele me
mostra os arredores enquanto o almoço
não fica pronto.
É um lugar muito bonito.
Encantador.
— Senhores... — Chama-nos Marta.
Estamos sob a sombra de um grande
carvalho. Característica da propriedade.
Os carvalhos se estendem pelos
inúmeros hectares que pertencem a
Benjamin e sua família.
— Posso servir o almoço? — Indaga
gentil.
— Pode, senhora Underwood? —
Ben arqueia as sobrancelhas. Olho-o
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

confusa. — Você é a mulher da casa,


Katherine. — Conclui.
— Nesse caso... — Sorrio. — Pode
servir, Marta... Mas sirva a gente no
jardim, por favor.
— Sim, senhora. Com licença. —
Ela deixa-nos a sós.
— Vamos para o jardim? — Ben
convida.
— Sim. — Inesperadamente, ele me
pega em seus braços, arrancando-me
uma risada nada discreta. — O que
significa isso, senhor Underwood? —
Pergunto em tom de brincadeira.
— Estou sendo o cavalheiro que eu
nunca fui. — Seus olhos azuis
encontram os meus. Minhas bochechas
ficam vermelhas como o fogo, eu sinto.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Se importa?
— Oh... Claro que não. — Nego.
— Então... Vamos.
Como um verdadeiro cavalheiro,
Ben me conduz até o jardim. Ele me
solta assim que ficamos frente à mesa,
que já está posta. Puxa a cadeira para
mim e se senta a minha frente.
— A comida da Marta é
maravilhosa. — Comento, assim que
dou a segunda garfada.
— Realmente... — Concorda. — A
minha comida você não elogiou... —
Finge indignação.
— Sua comida também é muito boa.
— Digo rindo.
— Muito boa? — Questiona rindo.
— A comida da Marta é maravilhosa e
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

a minha, a do seu excelentíssimo


marido é só “muito boa”? — Faz aspas
com os dedos. — Agora, você me
magoou. — Finge chorar.
— Não seja dramático, Ben. Sabe
que eu amei sua comida. — Dou um
suquinho em seu braço.
— Mesmo? — Arqueia uma de suas
sobrancelhas.
— Mesmo. — Assinto.
— Então... Posso pedir uma
recompensa? — O quê? — Crispo os
olhos, desconfiada.
— Vá cavalgar comigo, senhora
Underwood.
— Eu sou medrosa e um pouco
escandalosa...
— Não adianta vir com seus mil e
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

um argumentos. Sei que você é mais


inteligente do que eu, mas eu mereço
minha recompensa. — Determina, com
o seu sorriso de um milhão de dólares
estampado em seu rosto.
— Tudo bem. — Levanto as duas
mãos, em sinal de rendição. — Mas, se
eu cair ou me machucar, a culpa é sua.
— Aponto o dedo indicador para seu
rosto.
— Nunca vou deixar que isso
aconteça. — Com toda a delicadeza,
Ben segura minha mão, a que está
apontada para seu rosto, e deposita um
beijo nas costas da mesma.
Desprendo-me de seu toque,
absolutamente corada.
— Ben eu... Eu...
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Hesito em continuar. Pudera! Como


posso dizer que eu o amo? E se... E se
ele disser que não sente o mesmo?
Quer dizer, Benjamin Underwood é
uma caixinha de surpresas,
completamente imprevisível. Tenho
medo de falar tudo o que sinto e me
machucar. Benjamin tornou-se muito
mais do que eu esperava. Eu o amo. O
amo com todas as minhas forças. Ben
foi um presente enviado por Deus.
Bom... Eu o tenho assim. Mas, será que
ele sente o mesmo?

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 19
Minha cabeça está escorada em seu
peito. Seus braços estão envolvendo
meu corpo, impedindo-me de cair do
cavalo. Benjamin demorou uns vinte
minutos para me convencer a montar
com ele. Até que o cavalo é bem dócil.
Ouço o coração de Ben martelar.
Isso me relaxa. Sinto-me confortável
em seus braços.
— Kat... — Sussurra ao pé de meu
ouvido, fazendo-me arrepiar.
— O que foi? — Pergunto virando-
me um pouquinho para olhá-lo.
— Pensei que havia dormido. —
Brinca.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Estamos cavalgando há uns trinta


minutos. O estábulo é um lugar
enorme, mas fica longe da casa.
Segundo Ben, isso se deu devido às
reformas que fizeram.
— Ben... — O chamo em um
momento de loucura.
— O que foi? Está tudo bem? —
Indaga preocupado.
— Você... Você já amou alguém? —
Questiono hesitante.
— Eu... — Ele suspira. — Eu não
sei... O amor, sentimentos... São coisas
complicadas para mim.
Suas palavras quebram-me.
Benjamin tem ataques de ciúmes, me
beija, me abraça, trata-me como uma
verdadeira rainha e ainda assim... Diz
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

que não acredita no amor? Engulo o


choro. Pisco várias vezes tentando
reprimir as lágrimas. Como ele pôde?
Arg! Como fui burra!
— Katherine.
— O que foi? — Sou mais seca do
que esperava.
— Talvez eu saiba o que é o amor...
— Murmura.
Então, é como o bálsamo. Sorrio
aliviada. Conversamos sobre assunto
aleatórios. Principalmente sobre a
paisagem que nos cerca.
— Droga. — Resmunga Ben, dando
meia volta com o cavalo.
— Tudo bem? — Olho para ele
assustada.
— Precisamos voltar... — Diz
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

fazendo o cavalo correr. Seguro-me


ainda mais em Benjamin.
— Por quê? Pode ir devagar. —
Peço com uma ponta de desespero na
voz.
— Tem uma tempestade vindo. —
Olho para o céu e me apavoro ainda
mais.
O primeiro trovão me faz encolher.
Benjamin faz o cavalo correr ainda
mais rápido. Os primeiros grossos
pingos de chuva começam a cair. Os
trovões aumentam, causando-me
arrepios. Ben me ajuda a descer do
cavalo e adentramos o imenso estábulo.
Ajudo-o a fechar a grande porta. A
chuva cai lá fora, intensamente. Os
raios e trovões me fazem encolher.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ambos estamos encharcados.


— Tudo bem? — Questiona vindo
até mim.
— Sim... — Assinto. — E você?
— Estou bem. — Balança a cabeça
em concordância. Ele vai até um
grande armário e tira dois pacotes de
dentro. — Meus empregados são
eficientes... Sempre têm cobertores
novos para os cavalos... — Comenta
abrindo um dos pacotes. Benjamin
estende um deles no chão e se deita
sobre o mesmo.
— Vamos passar a noite aqui? —
Crispo os olhos.
— A casa está muito longe e acho
que a tempestade não vai passar tão
cedo... — Responde fazendo um sinal
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

para me deitar ao seu lado.


Há pouquíssima iluminação no local.
Acho que, por estarmos molhados, o
frio se intensifica. Ben me abraça, na
tentativa de me aquecer. Devem ser
umas sete horas da noite. Os
relâmpagos e trovões me fazem apertar
Benjamin.
— Tem medo de tempestade? —
Questiona rindo.
— Não tem graça. — Faço um
biquinho. Ele solta uma risada abafada.
— Não precisa ter medo, Kat...
Estou com você. — Sussurra, puxando
minha cabeça para seu peito.
Estar tão perto de Benjamin é algo
surreal. Minha vontade é gritar aos
quatro ventos o quanto eu o amo e o
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

quanto ele é importante.


— Ben... — Sento-me para encará-lo
e ele faz o mesmo.
Embora a iluminação seja pouca,
permite-me ver seus olhos. Um trovão
me faz estremecer e ele ri.
— Ben eu... — Hesito em continuar.
Há um nó em minha garganta.
Minhas mãos tornam-se trêmulas e meu
coração bate descompassado.
— Pode falar, Kat. — Garante-me
com seu olhar intenso.
Seus olhos azuis são capazes de me
hipnotizar. Perco-me na imensidão que
seu olhar é.
— Eu te amo! — Pronuncio tais
palavras em alto e bom som.
Um silêncio ensurdecedor se instala
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pelo estábulo. Meu coração bate tão


forte e depressa que até acho que
Benjamin pode ouvi-lo saltitar em meu
peito.
Pelo menos você confessou,
Katherine.
O semblante de Benjamin torna-se
obscuro. Seus olhos tornam a emanar
raiva, ódio. Ele volta a ser frio.
— Não podia ter confundido as
coisas. — Balança a cabeça em
negação.
Meu coração se estilhaça em mil
pedaços. Não preciso de uma bola de
cristal para saber o que tais palavras
significam.
— Confundido as coisas? Você me
disse coisas, você... — Desespero-me.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Chega, Katherine! — Grita


irritado. — Você é muito ingênua,
mesmo. Não sabe jogar? — Indaga
arqueando as sobrancelhas. Meus olhos
ficam marejados. — Eu só queria uma
convivência pacífica... Uns beijos...
Nada mais que isso. — Dá de ombros.
— Você tem razão... Eu sou uma
idiota por ter pensado que alguém tão
frio e tão duro como você fosse capaz
de amar. — Falo com amargura.
Benjamin revira os olhos, como se
estivesse dizendo: estou nem aí.
Por mais que tente evitar, a primeira
lágrima rola, logo as outras escorrem
sobre minha face. Benjamin sorri com
desdém.
— Você é muito ingênua, Katherine.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Ele ri. Uma risada fria. —


Realmente achou, que alguém como eu,
— ele gesticula com as mãos,
apontando para nós dois — fosse amar
alguém como você? Uma
secretariazinha qualquer, sem
perspectiva de futuro? — Debocha.
Cerro os punhos. Minha vontade é
sumir. Quero ficar o mais longe
possível de Benjamin Underwood.
Como ele pôde me iludir dessa forma?
Se não houvesse o risco de um raio cair
em minha cabeça, eu sairia correndo.
Benjamin está com a mesma expressão
de quando nos conhecemos: indiferente
a todos; um ar de superioridade;
esnobe; frio.
Ele volta a se deitar sobre o pequeno
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

cobertor, ignorando-me
completamente. Como pude ser tão
burra? Minha vontade é bater com a
cabeça na parede e ver se minha
sanidade mental retorna. Como fui
capaz de me apaixonar por alguém
como ele? Deito-me o mais longe
possível. No piso do local. Quero
manter distância de Benjamin. Viro de
costas para ele e me permito chorar.
Está doendo. Meu coração dói.
A tempestade lá fora é uma brisa
suave, comparada às tempestades
internas, as quais enfrento no presente
momento. Tempestades que deixarão
um rastro de destruição. Tempestades
que deixarão meu coração
completamente estraçalhado.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Tempestades que me lembrarão o


quanto Benjamin Underwood é frio,
duro e monstruoso.
De repente tudo o que eu vivi é
como se tivesse desaparecido. Meu
coração está em estilhaços. Eu queria
fugir. Se soubesse o caminho de volta,
sairia correndo. Eu queria um abraço de
mamãe agora. Ela saberia me confortar,
falaria as palavras certas e como eu
devo agir diante dos últimos
acontecimentos.

∞∞∞
O sono demorou a chegar, segurei o
choro ao máximo. Quando voltamos
para a casa, no amanhecer, entrei para
um dos banheiros e explodi. Chorei
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

como nunca. Meu coração doeu


demais. Benjamin provou ser cruel. Ele
voltou a ser como antes, como quando
nos conhecemos. Benjamin Underwood
sempre foi e sempre será o homem
mais frio que eu conheço.
— Katherine! — Ele bate na porta
do banheiro. Lavo o rosto pela quarta
vez. — Precisamos ir. — Fala
indiferente.
Abro a porta e passo por ele, sem
sequer olhá-lo. Um dos empregados
coloca as malas no carro, enquanto
Benjamin se despede dos outros
funcionários.
— Façam uma boa viagem, senhor e
senhora Underwood. — Marta fala
cordialmente.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Obrigado. — Agradece
Benjamin, com um falso sorriso no
rosto.
— Foi uma prazer conhecê-la,
senhora Underwood... Espero vê-la em
breve.
— O prazer foi meu, Marta. —
Sorrio.
Infelizmente... Acho que não iremos
nos ver tão cedo. Talvez nunca mais.
Adentramos o carro e permanecemos
em silêncio. É ensurdecedor. Eu quero
gritar. Chorar. Após alguns minutos,
Benjamin para em frente a um hotel.
— Por que paramos? — Pergunto
sem olhá-lo.
— Não é da sua conta. — Responde
ríspido.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Cavalo. — Falo rapidamente.


Seus olhos emanam raiva. Benjamin
me fita de forma assustadora. Como
quando o conheci.
— Você ama esse cavalo. —
Desdenha com um sorriso macabro no
rosto.
— Vai jogar isso na minha cara até
quando? — Grito sentindo as lágrimas
rolarem.
— Nunca pensei que seria tão
divertido... Você é uma pobre iludida,
Katherine... — Debocha.
Trato de enxugar minhas lágrimas e
ignorar a dor que estou sentindo. Tento.
Uma das portas de trás do carro se abre
e Camile entra.
— Oi Ben... — Ela sorri pervertida.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Oi. — Diz seca.


— Oi, Cami. — Ele a fita pelo
retrovisor.
Cami? Poupe-me. Arg!
Encolho-me contra a porta do carro,
tentando ficar o mais distante possível
de Benjamin. Ele e Camile conversam
como se não estivesse aqui. Gostaria de
não estar. Sinto-me tão insignificante.
Deus, me ajuda.
Como fui capaz de acreditar que
alguém tão frio como Benjamin fosse
capaz de me amar? Ainda mais a mim.
Sou uma simples secretária. Benjamin é
um herdeiro bilionário.
No entanto... As palavras dele...
Camile faz comentários para me
atingir, no entanto, prefiro ignorar. Só
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

quero voltar para casa. Para a minha


casa. Só quero voltar a ser Katherine
Smith. Nada mais que isso.
De repente, o carro começa a fazer
um barulho estranho e para.
— Merda! — Murmura Benjamin.
— Tem uma casa ali na frente. —
Aponta Camile.
— Eu vou até lá e pergunto se
alguém pode ajudar. — Prontifico-me.
— Espere Katherine... Pode ser
perigoso.
Solto uma risada debochada.
— Não se preocupe, Benjamin.
Não finja. Já chega!
Saio do carro e caminho até a casa
de madeira verde. Bato palmas na
frente da propriedade. Um senhor
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

aparece diante de mim. Seus ombros


estão meio encurvados, ele usa um
chapéu de palha, camisa azul e botas de
cowboy e seus olhos...
— Papai, onde você vai? —
Questionei vendo ele prestes a sair de
casa.
—Vou comprar pão para o café. Eu
te amo, Kat. — Respondeu deixando a
casa.
Ele está diante de mim. Meu pai está
aqui. Meus olhos tornam-se marejados
e sinto meu coração doer ainda mais.
— Posso ajudá-la, moça? —
Pergunta gentilmente, tirando o chapéu
de sua cabeça.
— Qual o seu nome, senhor?
— Sou Liam Perry. — Meu coração
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

bate mais forte. — Nos conhecemos?


— Indaga curioso. Um nó se forma em
minha garganta e as primeiras lágrimas
caem. — Está tudo bem, moça?
— Eu... — Hesito em continuar. —
Eu sou Katherine... Katherine Smith.
— Olho em seus olhos claros, há
espanto e choque nos mesmos.
— Katherine... — Ele simplesmente
não consegue continuar.
— Sim. — Balanço a cabeça em
concordância. — Pai... Eu tenho tantas
perguntas... — Comento me
aproximando.
— Me desculpe. — Sussurra.
— Eu perdoei o senhor, pai...
— Não posso corresponder a isso,
Katherine. Você não faz mais parte da
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

minha vida... Há muito tempo. — Seu


olhar é indiferente.
Meu próprio pai... Sinto tudo ficar
cinza ao meu redor. Como se o meu
mundo tivesse desmoronado. Como se
uma grande ferida, por inúmeros
motivos, se abrisse em meu peito.
Apenas viro as costas e volto para
onde o carro está.
O que aconteceu?
Meu cérebro não raciocina direito.
Minhas mãos estão trêmulas, estou
suando frio.
— Benjamin... — Sussurro,
involuntariamente, ao vê-lo aos beijos
com Camile. De novo.
Agora estou quebrada. Meu coração
dói como nunca antes.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Já estava chorando, as lágrimas


apenas se intensificam.
— Conseguiu ajuda? — Pergunta
Benjamin, como se nada tivesse
acontecido.
— Liga o carro.
— Você é maluca? — Camile
pronuncia-se.
Respiro fundo.
— Apenas ligue esse bendito carro.
— Falo pausadamente.
— O que deu em você, garota? —
Indaga Benjamin. Ele está irritado.
Vejo em seus olhos. Pergunto-me como
fui capaz de acreditar que ele poderia
sentir algo por mim. Eu quero gritar
com ele, mas nenhuma palavra sai.
Permaneço inerte.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Enlouqueceu de vez. —
Desdenha Camile.
— Cala a boca, Bruxa Potter. —
Irrito-me.
— Do que você me chamou?
— Apelido carinhoso. — Sorrio sem
mostrar os dentes.
Sem pedir permissão, passo por
Benjamin e sua bruxinha, adentro o
carro, sento-me no banco do motorista
e giro a chave. Ligou. Tudo funciona
perfeitamente. Saio do carro e encaro
os dois. Ambos me olham perplexos.
— Vamos logo. — Bato o pé.
— Posso ir na frente, com o Ben? —
Pede Camile.
Não quer ir de vassoura? Combina
mais com você.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Claro. — Dou de ombros.


Quero chegar na minha casa e
chorar. Quanta coisa para um dia só.
Jesus, me ajuda! Tento reprimir as
lágrimas. Não é nem tanto por
Benjamin. Quer dizer, um considerável
percentual de lágrimas é por causa dele,
no entanto, um percentual ainda maior
é por meu pai. Sonhei em reencontrá-
lo. Pelo visto, ele não. Benjamin me
humilhou de uma forma cruel. Não
restou muito de meu coração, apenas
estilhaços e a esperança de que Deus
irá restituí-lo algum dia.
O caminho de volta para a casa de
Benjamin foi terrível. Camile fez
piadinhas idiotas, Benjamin fazia o
possível para me provar. Eu? Eu
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ignorei. Ignorei tudo o que sinto por


ele. Ignorei Camile. Ignorei Benjamin e
seu ego sem fim. Benjamin largou
Camile em seu apartamento, o resto do
caminho é feito em silêncio.
— O que aconteceu lá naquela casa?
— Indaga indiferente.
— Não finja que se importa,
Benjamin! Não precisa mais fingir.
Chega. — Murmuro com pesar.
— Pense pelo lado positivo,
Katherine... — Crispo os olhos. — Sua
mãe está bem e...
— Isso é a única coisa que me
importa e a única coisa que o nosso
“contrato” — faço aspas com os dedos
— trouxe de beneficio para mim.
— E a parte que você me ama? —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Questiona arqueando as sobrancelhas.


Há um sorriso zombeteiro em seu rosto.
Reviro os olhos em protesto.
— Essa é a parte que eu prefiro
esquecer. — Sorrio, irônica.
— Aí que você se engana, cara
Katherine... Você me ama muito para
esquecer. — Rebate olhando-me pelo
retrovisor do carro.
— Obrigada por jogar na minha
cara, Benjamin!
Os portões da mansão se abrem. O
carro para em frente a porta principal.
Saio do carro o mais rápido possível.
Ao entrar na casa, deparo-me com
mamãe e os outros empregados
conversando de forma amistosa.
— Seja bem vinda, senhora
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Underwood. — Cumprimenta-me
Judith.
— Obrigada. — Forço um sorriso.
— Está tudo bem, filha? — Pergunta
mamãe, vindo me abraçar. Retribuo tal
gesto, mas não por muito tempo pois
Benjamin entra na casa.
— Está tudo ótimo, mãe. — Afirmo.
— Precisamos conversar, Benjamin! —
Falo seriamente.
Ele sustenta a mesma expressão.
— Concordo.
— Bem-vindo, senhor Benjamin. —
Jeff esbanja alegria.
Ele o ignora por completo e sobe as
escadas. Cerro os punhos. Por que ele
tem que ser tão mal educado?
— O que aconteceu com o senhor
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin? — Indaga Olga.


— Ele apenas está sendo o que
sempre foi: frio. — Dou de ombros e
subo para meu quarto.
Vou até o closet, pego minha mala e
somente as roupas que trouxe da minha
casa. Não quero levar nada de
Benjamin.
— Katherine. — Chama-me mamãe.
— Estou no closet.
Ela aparece na porta, parece
preocupada.
— O que aconteceu, filha?
— Nada... Arrume suas coisas, nós
vamos voltar para casa. — Sinto meus
olhos marejarem.
— Por quê?
— Porque acabou. — Respondo
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

chorando. Mamãe corre e me abraça.


— Faltam só quatro dias para esse
contrato acabar. Aí eu vou estar
completamente desligada de Benjamin.
— O contrato acaba... Mas o amor
não.
— Que amor? Eu disse o que eu
sinto e ele não sente o mesmo. Somos
pessoas completamente diferente, de
mundos diferentes... Nunca daria certo!
Eu que me iludi demais. — Jogo para
fora tudo o que sinto.
— Tudo bem... Vou arrumar minhas
coisas. — Ela sai do quarto e termino
de arrumar a mala.
Era só o que me faltava! Deixei
roupas no quarto de Benjamin. Saio de
meu quarto e adentro o dele. Ele está
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

deitado na cama, lendo alguma coisa


que não me dou o trabalho de prestar
atenção.
— Não sabe bater? — Questiona
bravo.
— Poupe-me. — Vou em direção ao
seu closet.
Pego minhas roupas. Quando estou
prestes a sair do closet, Benjamin barra
minha passagem.
— Pode sair da minha frente? —
Bato o pé, impaciente.
— Pode me dar um beijo?
Minha mão vai de encontro ao seu
rosto, mas ele segura a mesma antes de
ser atingido. Deixo as roupas caírem de
minha mão e tento socá-lo, no entanto,
ele me segura, prendendo-me contra a
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

parede. Minha respiração está


acelerada. Benjamin me encara de
forma intensa... Não sei explicar.
Ele une nossos lábios e não resisto.
Sei que esse será o nosso último beijo;
último contato; nosso último adeus.
Minhas mãos afagam seus cabelos,
enquanto as suas prendem minha
cintura. Tudo isso, enquanto meu
subconsciente grita "Não seja burra,
Katherine". Porém, minha parte
irracional, não quer deixá-lo. Benjamin
tornou-se parte de minha vida.
Benjamin tornou-se minha vida. A
questão é que não sou nada disso para
ele. Então, vou guardar apenas as boas
lembranças. Os bons momentos que
tive ao lado de Benjamin.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin separa nossos lábios. Há


lágrimas em meus olhos. Pela última
vez, encaro os olhos azuis que mais
amo no mundo.
— Eu... Eu preciso ir. — Gaguejo,
desvencilhando-me de seus braços.
— Meu motorista pode levá-las.
— Não precisa. — Olho-o
novamente, antes de sair pela porta. —
Adeus Benjamin.
Saio do quarto e pego minha mala.
Mamãe já está a minha espera na sala
de estar.
— O táxi já chegou, filha.Abraço
cada um dos empregados. Jeff chora
discretamente.
— Até breve, senhora Underwood.
— Despede-se Olga, com um sorriso
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

no rosto.
— Acho que nem tão breve assim.
— Forço um sorriso. — E... É
Katherine Smith. — Dou de ombros.
— Sei que nos veremos em breve,
senhora Underwood. — Insiste Olga.
Ela e mamãe sorriem e se abraçam.
Adentramos o carro e vamos rumo a
nossa casa. Lugar o qual eu nunca
deveria ter saído. Apesar disso, sentirei
falta daqui. Falta de Benjamin.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 20
Benjamin
Estou sucumbindo. Nunca pensei
que uma mera secretária poderia mexer
tanto comigo. Ela sabe me dominar.
Confundir-me e convencer-me de meus
erros. Katherine tornou-se minha ruína
e minha salvação. Eu a quero mais que
tudo. Desejo Katherine com todas as
minhas forças. Daria a minha vida por
ela, se necessário.
No entanto... Eu precisava parar. E
assim o fiz. Neguei meus sentimentos.
Neguei todo o amor que sinto por ela.
Katherine tornou-se absolutamente
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

tudo para mim. E, sendo meu bem mais


precioso, não posso permitir que ela se
machuque. Afinal, não sou a pessoa
mais equilibrada do planeta. Eu mesmo
já a machuquei. Não queria tornar a
fazê-lo, então, eu permiti que ela
partisse.
Sempre fui uma pessoa fria, com um
coração de pedra, um legítimo monstro.
Katherine é como uma flor singela,
delicada demais para ser apanhada por
um brutamontes como eu. Quando ela
disse que me amava no estábulo, sob
uma tempestade, meu íntimo pulou de
alegria. Fazia muito tempo que não
ouvia tais palavras. Nunca as ouvi
dessa maneira.
Mas minha mente tinha certeza de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

que não poderia sustentar uma relação


saudável ao lado de Katherine. Por
mais que eu queira. Sou uma pessoa
ruim. Além do mais, possuo inúmeros
inimigos querendo me tirar da
presidência da empresa. Ela seria só
mais uma fraqueza, ou melhor, ela é.
Contratei homens para observá-la de
longe. Para me assegurar de que minha
Katherine estará segura sempre. Sinto
falta dela. De seu sorriso. De seu
cheiro. De seu cabelo. De tudo o que
diz respeito a ela.
Senti-me um idiota quando precisei
humilhá-la. Era a única forma dela se
afastar de mim, para a própria
segurança dela. Senti-me pior ainda por
ter que beijar Camile e entrar em seus
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

joguinhos de manipulação e
calculismo. Quando beijei seus lábios,
eu queria que fosse Katherine ali, sendo
extremamente doce e forte ao mesmo
tempo.
O pior de tudo, foi o temível adeus.
O pior e o que se tornou mais
martirizante foi deixá-la ir. Queria
nunca ter que deixá-la. Os dias que
passei ao lado dela foram os melhores
da minha vida. Afinal, por mais que eu
odeie admitir, Katherine conseguiu me
mudar de uma maneira absurda.
Katherine quebrou minha barreira de
contenção, despedaçou a muralha que
me cercava e apresentou-me o amor.
Apresentou-me Deus.
Quanto mais tento esquecê-la, mais
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Katherine atormenta meus


pensamentos. Já tentei me deitar e
dormir, mas seu cheiro está na cama.
Pedi para uma das empregadas trocar
os lençóis, mas o seu cheiro continua
lá. Por mais que eu a queira com todas
as minhas forças, o lugar mais seguro
para Katherine é bem longe de mim.
Resolvo sair do quarto e me dirijo à
cozinha. Preciso comer. Ao adentrar o
cômodo, encontro os empregados
cochichando. Patéticos.
— Mais trabalho e menos conversa.
— Falo seriamente. Abro a geladeira e
pego um pedaço de torta de chocolate.
— Desculpe, senhor Benjamin. —
Diz Olga.
Ignoro seu pedido de desculpas.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Senhor Benjamin, posso


perguntar uma coisa? — Indaga Jeff.
— Já está perguntando. — Dou de
ombros.
— A senhora Katherine vai voltar?
— Questiona receoso.
Sua pergunta me pega desprevenido.
Sinto meus olhos marejarem.
Provavelmente, eles percebem, pois
suas expressões faciais, antes
amedrontadas, agora aparentam sentir...
Pena.
— Isso não diz respeito a você,
idiota! Agora vá trabalhar. — Ordeno
tentando não chorar.
— O senhor fez alguma coisa para
ela sair daquela maneira? Ela parecia
triste. Muito triste. — Pergunta Amelia.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Katherine e eu vamos nos


divorciar. Agora parem de cuidar da
minha vida, seus incompetentes. —
Respondo autoritário. —
Simplesmente, não a amo. — Eu a amo
muito.
Olga solta uma risada baixa.
— Não sei o que aconteceu, senhor
Benjamin, mas tudo ficará bem. Deus
está cuidando de tudo. — Fala Olga.
— Vão trabalhar.
Por mais que esteja destruído por
dentro. É para o bem de Katherine. Ela
precisa estar segura. E eu a amo
demais, para permitir que algo de ruim
lhe aconteça. Eu a amo demais, por
isso, prefiro sua segurança, mesmo que
ficar longe dela me mate por dentro.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Eu também te amo, Katherine. —


Sussurro e somente as paredes de meu
quarto ouvem.
Era isso que eu queria dizer lá no
estábulo. Era isso que eu queria dizer
agora.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 21
Nunca pensei que alguém frio e
arrogante, como Benjamin Underwood,
me faria tanta falta. Faz uma semana
que não nos vemos. O divórcio já foi
assinado, mas não nos vimos. Contei a
mamãe o que aconteceu lá na fazendo e
como foi reencontrar meu pai. Chorei
por horas. Chorei por meu pai e chorei
por Benjamin. Chorei de saudade.
Estou trabalhando na Empresa
Underwood, em outra divisão e como
secretária de uma das acionistas. Pelo
menos não preciso ver Benjamin, isso
só tornaria as coisas mais difíceis. Mais
difíceis para mim. Ele, provavelmente,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

iria me ignorar ou me humilhar diante


de seus “amigos” ricos e esnobes, como
a Bruxa Potter.
Olho no relógio que marca cinco
horas. Hora de ir trabalhar. Levanto-me
da cama e dobro meus joelhos, diante
da mesma, iniciando meu diálogo com
meu Pai celestial:
— Pai... Quero te agradecer por tudo
o que tens feito na minha vida, Senhor.
Obrigada pelo teu infinito amor, graça,
misericórdia, por sempre estar comigo,
nos momentos bons e ruins, me dando
forças para seguir em frente. Pai...
Proteja Benjamin, Lauren, Bruce, o
senhor Alaric e todos aqueles que
trabalham na mansão. Tire de meu
coração tudo o que sinto por
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin... Me ajude a suportar a


imensa saudade que sinto. Ele me faz
muita falta. Senhor, quero me dedicar a
Ti, a tua obra e ao teu querer; desejo ser
um instrumento em tuas mãos. Usa-me
conforme a tua santa e maravilhosa
vontade. Fica comigo, Pai. Abençoe
minha mãe, continue conservando sua
saúde. Entrego tudo a Ti, pois sei que
tu tens cuidado de mim. Pois sei que
tudo o que tu fazes é perfeito e que
coopera para o meu bem. Desde já, é o
que te peço e agradeço, em nome de
Jesus. Amém!
— Bom dia, mãe. — Dou um beijo
em sua testa.
— Bom dia, Kat. — Sorri.
Benjamin me chamava de Kat.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Dormiu bem? — Questiono


tomando um gole de meu café.
— Graças a Deus. Sinto-me melhor
a cada dia. — Responde animada.
— Que bom, mãe. Graças a Deus. —
Esboço um sorriso.
— Sente falta dele... Não é? —
Indaga arqueando as sobrancelhas.
— De quem? — Faço-me de
desentendida.
— Do seu marido. — Diz
simplesmente.
— Benjamin não é e nunca foi meu
marido. Apenas assinamos um contrato.
— Cerro os punhos.
Sinto meus olhos marejarem.
— Um contrato de amor. — Mamãe
segura minha mão.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Eu... Eu tenho que ir, mãe. Se


cuide e qualquer coisa me ligue. —
Pego minha bolsa. — Fica com Deus.
Te amo! — Lhe dou um beijo na
bochecha e vou rumo à empresa.
No caminho, penso em Benjamin e
em tudo o que vivemos. Penso nos
momentos em que ele era carinhoso,
gentil, amável. Penso nos momentos
em que ele cuidou de mim e defendeu-
me de Kellan.
Sinto falta dele. Sinto falta das
nossas conversas e orações durante a
madrugada. Provavelmente, ele nem
lembra que eu existo. Após um bom
tempo, chego na empresa e passo pela
recepção. Há uma grande
movimentação.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— O que está havendo? — Pergunto


a um dos funcionários.
— Amanhã haverá uma festa com os
fornecedores, acionistas e mais alguns
empresários. Será no salão de festas
King Los Angeles. Grande maioria da
empresa foi convidada. — Explica-me.
— Entendi. — Murmuro.
Vou até minha sala, divido-a com
mais três secretárias: Amber, Megan, e
Elianor.
— Bom dia. — Cumprimento as
meninas, organizando meus papéis
sobre a mesa.
— Bom dia. — Respondem-me em
uníssono.
— Quem será que o gato do senhor
Benjamin vai levar como
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

acompanhante na festa? — Questiona


Amber.
Percebo a malícia em suas palavras.
Afinal, todos sabem que Ben e eu já
fomos casados. A mídia deixou isso
bem claro quando nos separamos.
Fomos manchetes de vários telejornais
e programas de fofoca.
— Talvez a senhorita Potter. Camile
é a única mulher a altura do senhor
Benjamin. Diferente de outras pessoas.
— Responde Elianor.
Indireta direta.
— Quem você acha que o senhor
Benjamin vai levar, Katherine?
Conhece ele muito melhor do que nós.
— Megan desdenha.
— Os atos do senhor Benjamin não
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

dizem respeito a mim e a nenhuma de


vocês. Portanto, sugiro que parem de
fofocar sobre a vida do chefe e façam
seu trabalho direito. — Respondo
seriamente.
— Quem você pensa que é para falar
assim com a gente? Você é uma
simples secretariazinha que foi trocada,
vale ressaltar. — Elianor fita-me com
ojeriza.
Ignoro seus comentários maldosos e
vou trabalhar.

∞∞∞
Graças a Deus, meu expediente
chegou ao fim. Arrumo minhas coisas e
preparo-me para ir embora.
— Mal educado. — Ouço Amber
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

reclamar.
Ela, Megan e Elianor estão com
raiva, é perceptível.
— Tudo bem? — Indago pegando
minha bolsa.
— Fomos demitidas. — Diz Megan.
— Por quê? — Crispo os olhos.
— O senhor Underwood disse que
achou secretárias melhores para o cargo
e resolveu nos trocar.
— Sinto muito, Megan. — Murmuro
intrigada.
Tomo o rumo de volta para minha
casa. O caminho é cansativo e
entediante. Estou exausta, preciso
dormir.
— Oi mãe. — Dou um beijo em sua
testa, assim que entro em casa.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Olá filha. — Sorri. — Como


estava o trabalho?
— A mesma coisa de sempre. —
Dou de ombros. — Vou tomar banho.
Já volto.
Dirijo-me ao banheiro e tomo um
banho relaxante. Não é a banheira da
mansão, mas é relaxante. Após o
banho, coloco uma roupa confortável e
volto para a sala. Assim que me sento
no sofá, ouço batidas na porta.
Levanto-me e vou atender.
Meu coração para por um instante.
Assim que nossos olhares se
encontram, flashbacks me vêm à
mente. Perco-me no azul de seus olhos.
Há um discreto sorriso em seus lábios.
— Oi. — Cumprimenta-me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin.
— Oi. — Tento soar firme.
— Podemos conversar? — Pergunta
arqueando as sobrancelhas.
— Conversar?
— Olá Benjamin. — Mamãe o
cumprimenta.
Ele passa por mim, entrando na casa
e abraçando minha mãe.
— Como vai, senhora Angelina? —
Ele questiona.
— Muito bem, obrigada. — Sorri
amigável. — Sente-se. — Diz mamãe.
— Como vai, Katherine? —
Pergunta Benjamin.
Sério? Que tipo de pergunta é essa?
Primeiro eu digo que eu o amo, ele me
rejeita, me humilha, aí resolve bater na
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

porta da minha casa e perguntar como


eu estou? Isso é a cara de Benjamin
Underwood.
— Melhor impossível. — Nem eu
acredito em minhas palavras.
— Agora Amber, Megan e Elianor
não irão mais te incomodar. Fiquei
sabendo que elas estavam implicando
com você. — Comenta me encarando.
O que ele quer? Um cartão de
agradecimento? Megan, Amber e
Elianor não me importunavam tanto
quanto ele importuna meus
pensamentos e meu coração.
— Aceita um café? — Mamãe
oferece. Lanço um olhar reprovador a
ela.
— Claro. — Benjamin sorri.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ela vai para a cozinha e deixa-nos a


sós.
— Por que está aqui? — Sou
objetiva.
— Estou muito bem, obrigado. —
Desdenha. — Amanhã terá uma festa
e... Queria saber se você aceita ir
comigo? — Convida-me sem jeito.
— Por que eu? Por que não convida
a Camile ou alguma outra mulher do
seu nível? Afinal, sou uma mera...
Secretariazinha. — Respondo irritada.
— Porque gosto da sua companhia,
já fomos casados e...
— Já assinamos um contrato, nunca
fomos casados. — Interrompo-o.
— Você entendeu. — Crispa os
olhos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Não sei. — Balanço a cabeça


negativamente.
— Pense e... Me dê sua resposta.
Vou até a cozinha e encaro mamãe
servindo o café.
— Ele me convidou para ir a uma
festa amanhã, mãe. O que eu faço? —
Sussurro.
— O que quer fazer, filha?
— Mãe... Benjamin é imprevisível.
— Não respondeu minha pergunta,
Katherine.
— Eu sinto falta dele. — Confesso.
— Vá à festa. — Sorri. — Problema
resolvido. — Sussurra de volta.
Voltamos para a sala e mamãe serve
o café.
— Como sua família está,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin? — Questiona mamãe.


— Ah... — Ele hesita em continuar.
— A Lauren e o Bruce estão em Nova
Iorque e meu pai está viajando... Está
tudo... Quer dizer... Estou trabalhando
bastante. — Conclui.
— Sinto falta de conversar com
Olga, Judith, Amelia e até do Jeff. —
Diz minha mãe.
— É sempre bem-vinda, senhora
Angelina. Podem ir me fazer uma
visita.
Reviro os olhos em protesto a sua
cordialidade.
— Eu aceito. — Olho no fundo dos
olhos de Benjamin.
— Fico feliz. — Sorri da maneira
que só ele sabe. — Preciso ir... Já está
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

tarde. Tenham uma boa noite e


obrigado pelo café.
— Foi bom vê-lo, Benjamin. — Fala
mamãe. — Katherine, acompanhe
Benjamin até o portão. — Ordena
minha mãe.
Ela fecha a porta atrás de nós, assim
que saímos de dentro de casa.
— Amanhã o motorista irá trazer
alguns vestidos e irá levá-la no salão.
— Explica-me.
— Tá bom. — Tento não olhar em
seus olhos.
— Boa noite, Katherine.
— Boa noite, Benjamin.
Ele entra no carro e some do meu
campo de visão, deixando-me apenas
com um sorriso no rosto. Ok! Posso
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

estar correndo um risco colossal de ser


trouxa novamente. No entanto, quantas
vezes o amor verdadeiro bate a nossa
porta? Talvez essa seja a chance das
coisas darem certo de uma vez por
todas. Preciso me arriscar, só mais uma
vez.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 22
Hoje é o dia da festa. Estou ansiosa,
mas ao mesmo tempo com sentimentos
que não consigo descrever. Benjamin
me ligou ontem à noite, depois que saiu
daqui, informando-me que não
precisaria trabalhar hoje, mas ele não
falou mais nada. Nem um boa noite.
Porém, está tudo bem. O motorista já
trouxe as roupas, daqui a pouco, ele
vem me buscar para me levar ao salão.
— Qual você vai usar, Katherine? —
Indaga mamãe, extremamente animada.
— Não faço ideia. — Respondo em
um suspiro.
Todos os sete vestidos de gala estão
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

sobre minha cama. Todos diferentes e


lindos. Ainda não sei o que escolher.
Fico imaginando qual que Benjamin
gostaria. Ouvimos batidas na porta e
mamãe me olha curiosa.
— Quem será? — Pergunta
arqueando as sobrancelhas. — Será que
o motorista já chegou?
— Eu vou lá ver.
Saio de meu quarto e vou atender a
porta.
— Surpresa! — Grita Lauren, assim
que me vê.
— Que saudade. — Abraço-a, a
mesma retribui tal gesto. — Entre. —
Dou espaço para minha ex-cunhada
entrar em casa.
— Também sinto sua falta, cunhada.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Comenta sorridente.
— Ex... — Murmuro.
— Você e meu irmão estão mais
ligados que não sei o quê. — Dá de
ombros.
— Concordo plenamente. —
Pronuncia-se mamãe.
— Olá, senhora Angelina.
— Olá, Lauren.
— Como vai o Bruce? — Questiono.
— Bem... Mandou um abraço. —
Responde colocando sua bolsa sobre o
sofá. — Vim ajudar... Sei que vai ter
uma festa hoje à noite e também sei que
você precisa da minha ajuda.
— Foi Deus quem enviou você. —
Dou risada.
Puxo-a para meu quarto e ela
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

observa cada vestido.


— Benjamin até que me
surpreendeu... Os vestidos que ele te
mandou são lindos. Será uma escolha
difícil. — Conclui pensativa.
— Verdade... Gostei mais do rosa.
— Você vai experimentar todos,
Katherine. — Ordena Lauren.
Experimento todos os vestidos, duas
vezes, cada um. Por fim, Lauren achou
melhor eu ir com um vestido azul
marinho, tipo sereia. O vestido é
rendado, com um decote comportado
nas costas. Minha sandália é linda, por
mais que não apareça, pois o vestido é
longo, mesmo assim, achei perfeita.
Lauren almoçou conosco e
conversamos sobre Benjamin e tudo o
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

que aconteceu na fazenda. O motorista


nos conduz até o shopping e vamos
direto para o salão.
— Lauren... — Chamo enquanto
uma mulher faz minhas unhas.
— O quê? — Seu olhar encontra o
meu por um instante. — Quero o
esmalte marfim. — Pede à manicure.
— O Ben... Quer dizer, o Benjamin
fala sobre... Sobre mim? — Pergunto
hesitante.
— Como se Benjamin conversasse
com alguém além de você!? — Revira
os olhos. — Meu irmão só conseguia
ser “ele mesmo” — ela faz aspas com
as mãos — quando estava com você. —
Suspira pesadamente. — Não consigo
entender o motivo para ele ter deixado
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

você escapar...
— Vamos mudar de assunto,
Lauren?
— Claro. Não vamos nos estressar,
afinal, você precisa ficar linda para a
festa hoje à noite. — Anima-se.
— Será que o Benjamin vai me
achar... Bonita? — Questiono
arqueando as sobrancelhas.
— Depois não vem pedir para
mudarmos de assunto. — Desdenha. —
E, respondendo sua pergunta: Benjamin
te acha a mulher mais linda do mundo,
conheço ele muito bem para saber.
— Ele sabe que você está aqui?
— Não. — Balança a cabeça.
— Por que não foi visitá-lo?
Benjamin sente sua falta, Lauren.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Ele é explosivo demais. — Fala


com repulsa.
— Eu sei... Mas mesmo assim, ele
sente sua falta. É a família dele. —
Argumento com um pequeno sorriso no
rosto.
— Parece que quem sente mais falta
dele é você. — Conclui vitoriosa.
— Muita falta. — Sussurro para
mim mesma.
Depois de horas no salão,
finalmente, o motorista nos leva de
volta. Lauren ficou apenas para me
ajudar a me vestir e foi embora.
Sinto-me tão bela. Espero que
Benjamin pense o mesmo. Estou
ansiosa para vê-lo, mesmo que seja
apenas na condição de sua
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

acompanhante. Meus sentimentos


continuam os mesmos. Intactos.
Embora meu coração esteja dilacerado.
De meu quarto, ouço batidas na
porta e o barulho da mesma se abrindo.
Devagar, caminho em direção à sala.
Mamãe cumprimenta Benjamin de
forma amistosa. Ele está lindo. Trajado
de um terno preto e gravata azul, o que
contrasta com seus olhos. Seu olhar
encontra o meu e ambos sorrimos.
— Está linda. — Seu elogio me faz
corar.
— Obrigada. — Murmuro
encabulada.
— Trago-a em segurança, senhora
Angelina. Dou minha palavra.
— Sei que sempre protegerá minha
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Katherine, Benjamin. — Mamãe


assente.
— Qualquer coisa me liga, mãe. Te
amo. — Deposito um beijo em sua
bochecha.
— Pode deixar. Te amo muito. Vão
com Deus.
Ambos saímos de casa e Ben abre
porta do carro para eu entrar.
— Já foi no salão em que ocorrerá a
festa? — Tenta puxar assunto, assim
que dá partida no carro.
— Não. — Digo sem olhá-lo.
— É lindo. Você irá gostar. —
Afirma.
Um silêncio instala-se entre nós.
Sinto falta de estar nos braços de
Benjamin, sinto falta de seu beijo e de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

seu carinho. Sinto falta de nós dois.


Por mais que estejamos juntos, não é
a mesma coisas. Ele não sente o
mesmo. O carro para diante de um
imponente salão, extremamente
iluminado e cercado de repórteres e
fotógrafos.
— Tem tanta gente. — Comento
apavorada.
— Apenas aja naturalmente. —
Sorri.
Ele desce do carro e abre a porta
para mim. Encaixo meu braço no seu e
caminhamos pelo tapete vermelho,
seguidos por inúmeros flashes.
— Senhor Benjamin... — Alguns
repórteres o interceptam. — O jornal
Breaking News Los Angeles tem
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

algumas perguntas.
— O senhor e a senhora Katherine
estão juntos novamente? — Questiona
uma mulher loira.
— É verdade que o motivo da
separação foi traição? — Pergunta
outro homem.
— Sua mulher é uma gata, senhor
Underwood. — Fala um dos repórteres.
Benjamin cerra os punhos.
— Disse bem, minha mulher. —
Responde com arrogância.
Benjamin me puxa para o salão,
ignorando todas as outras perguntas
que lhe foram feitas.
— Sejam bem-vindos, senhores. —
Cumprimenta-nos um ancião de
cabelos grisalhos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Adentramos outra porta imensa e


Ben faz com que paremos.
— Seremos anunciados. — Explica-
me, percebendo que estou sem entender
absolutamente nada.
— Senhor Benjamin Underwood e
senhorita Katherine Smith. — Anuncia-
nos um homem de voz firme e grave.
Será que ele canta ópera?
Descemos as escadas até o salão
principal e inúmeras pessoas nos
cumprimentam. Algumas com falsos
sorrisos no rosto. Dá pra notar.
— Está radiante, Katherine.
— Também está muito elegante,
Benjamin.
Ele segura minha mão e sinto um
choque percorrer meu corpo. Será uma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

festa e tanto.

∞∞∞
A festa corre muito bem. Benjamin e
eu trocamos poucas palavras, o que me
incomoda. Conversei com
fornecedores, acionistas e cheguei a
conclusão de que algumas festas de
ricos são extremamente chatas.
— Quer ir lá fora? — Convida-me
Benjamin.
— Pode ser. — Assinto.
Ele pega minha mão, conduzindo-
me para fora do salão. Chegamos no
jardim. O local está iluminado por
inúmeras pequenas lâmpadas. É
encantador.
— Te trouxe aqui porque eu... Eu
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

precisava... — Ele hesita em continuar.


Benjamin se aproxima
consideravelmente e une nossos lábios.
É como se estivesse flutuando. Ele
puxa-me para si e prendo minhas mãos
em seus cabelos. Esperei por esse beijo.
Senti falta disso. Senti falta dele.
— Eu... Eu senti sua falta. — Fala-
me ofegante. Esboço um leve sorriso e
o abraço. — Quer dançar comigo,
senhora Underwood? — Indaga
arqueando as sobrancelhas.
— Sim... Embora não seja mais a
senhora Underwood. — Respondo.
Benjamin coloca um de seus braços em
torno de minha cintura, enquanto o
outro segura minha mão.
— Para mim... Você sempre será a
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

senhora Underwood. — Sussurra ao pé


de meu ouvido, fazendo-me arrepiar.
— Benjamin... Eu não quero me
machucar mais. — Murmuro olhando
em seus olhos. Ele apenas assente. —
Lauren esteve lá em casa hoje. —
Comento.
— Legal. — Desdenha. — Minha
família gosta mais de você do que de
mim.
— Como consolo, também acho que
minha mãe gosta mais de você do que
de mim. — Argumento.
— Mas eu não me importo. — Dá de
ombros. — Você me ama... Isso é
muito mais do que eu mereço. — Ele
me gira rapidamente e volta a me
prender em seus braços, enquanto
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

dançamos de maneira lenta.


— Por que você me convidou para
essa festa? Seja sincero.
— Porque gosto da sua companhia...
Você é uma mulher linda e... — Ele
desvia seu olhar do meu. — Estava
com saudade.
— Eu também. — Sussurro
levantando seu rosto com uma de
minhas mãos.
— Sinto falta das nossas conversas.
Sinto falta de ouvir você cantar. Sinto
falta de tê-la em meus abraços e de
dormir e acordar ao seu lado. Sinto
falta do seu sorriso, da maneira como
você ousa me enfrentar... Sinto falta de
você. — Confessa.
Sinto a intensidade do seu olhar e de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

suas palavras. As quais me deixam


perplexa, mas feliz. Ele sente minha
falta, tanto quanto eu sinto dele.
— Ben eu...
— Porém...
— Sempre tem um porém. —
Protesto soltando-me de seus braços e
me afastando dele.
— Katherine entenda...
— Entender o que, Benjamin? Que
você não me ama e que só sente atração
por mim? É isso? — Sinto meus olhos
marejarem.
— Eu não sinto só atração por você.
— Esbraveja.
— Então o que você sente? Me
fale... Ou me deixe ir. Você já me
machucou muito, Benjamin. — A
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

primeira lágrima rola em meu rosto.


— Como alguém como você pode
amar um monstro como eu? Não sou
bom o bastante para você. Alguns me
chamam de iceberg, por ser frio. Já me
chamaram das piores coisas que você
pode imaginar. Eu sou um lixo.
— Você não é um monstro! Muito
menos um lixo! — Discordo
balançando a cabeça.
Ele ri irônico. Pergunto-me de quê.
— Você foi gentil e esteve ao meu lado
quando eu precisei de você. Você não
me julgou, mesmo quando eu ocultei a
doença da minha mãe. Acredite ou não,
você é meu anjo da guarda. — Falo por
fim.
— Que romântico! — Arrepio-me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ao ouvir sua voz. Meu coração dispara


assim que vejo Kellan, o homem que
tentou me estuprar, com uma arma na
mão.
— Kellan... Abaixe essa arma. —
Benjamin pede com cautela.
— Se qualquer um se mexer, eu
atiro. — Ameaça-nos.
— Não precisa ser assim, Kellan...
Seu problema é comigo. Deixe
Katherine ir. — Benjamin tenta manter
a calma.
— Deixá-la ir? — Kellan solta uma
risada macabra. — A vadia da sua
mulher arruinou minha vida! Graças a
ela, você me tirou da empresa, seu
idiota! — Posso ver a fúria em seus
olhos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Não mandei tocar nela. —


Benjamin grita.
— Cala a sua boca! — Kellan o
repreende.
— Faça o que quiser comigo, se
sente tanta raiva de mim, mas deixe
Benjamin ir. — Suplico entre lágrimas.
— Que lindo... — Debocha. — O
amor de vocês é tão bonitinho... A
secretária que casou com o chefe. —
Desdenha. — Vou tirar o que você
mais estima Benjamin. — Aponta a
arma para mim.
Minha vida está em tuas mãos,
Jesus. Um turbilhão de pensamentos.
Minha vida passando como um
flashback em minha mente. Kellan
dispara e fecho os olhos com força.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Tudo acontece muito rápido. Apenas


sinto Benjamin me empurrar e cair
sobre mim.
— Você está bem, meu amor? —
Pergunta assustado.
— Estou. — Afirmo. Percebo que
Benjamin está sangrando muito. —
Ben... Você... Você levou o tiro. —
Apavoro-me.
Kellan sumiu.
— Prometi... Prometi a sua mãe que
iria protegê-la, minha Katherine. —
Sussurra com dificuldade.
— Shi... Fica calmo. Tudo vai ficar
bem.
Pego meu celular e ligo para a
emergência. Graças a Deus, consegui
manter tudo o que ocorreu longe da
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

imprensa e mídia. Meu coração dói.


Não posso perder Benjamin. Ele é
minha vida. Simplesmente, não consigo
imaginar um mundo sem Benjamin
Underwood.
Uma ambulância chega e o
imobilizam na maca.
— Katherine... — Sussurra ele.
Já estamos a caminho do hospital.
— Eu estou aqui... Vai ficar tudo
bem. — Afirmo segurando sua mão.
— Obrigado por me mostrar o que é
o amor... E... Obrigado por me
reapresentar a Deus... Eu... Eu...
— Benjamin! — Grito ao vê-lo
desmaiar.

∞∞∞
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Chegamos no hospital. Os médicos


levaram Benjamin para a sala de
cirurgia. A bala está alojada próximo
ao coração. Tomo coragem e disco o
número de minha mãe.
— Oi filha.
— Mãe... — Soluço.
— Katherine, o que aconteceu?
— Eu estou no hospital, o mesmo
que a senhora ficou internada.
— Você está bem, minha filha?
Onde está Benjamin?
— Mãe... — Choro
compulsivamente.
— Me diga o que aconteceu, meu
amor. — Suplica.
— O Ben levou um tiro mãe. Os
médicos levaram ele para a sala de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

cirurgia. Parece que a bala ficou


alojada perto do coração... Mãe, eu o
amo e não posso perdê-lo.
— Eu estou indo para aí... Tudo
ficará bem.
— Mãe... Ora comigo?
— Claro. Senhor Jesus... Neste
momentos, te imploramos que proteja
Benjamin. Guia as mãos daqueles
médicos e devolva sua saúde. Pai, que
possamos confiar em Ti, mesmo em
meio às dificuldades. Entregamos tudo
em tuas mãos. Amém!
— Vem pra cá, mãe.
— Já estou a caminho.
Encerro a ligação e lembro de
Lauren. Como contarei isso a ela?
Disco seu número. Ela não me atende.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Tento novamente.
— Oi cunhada. — Cumprimenta-me
com sua típica empolgação.
— Lauren... — Minha voz vacila.
— Está tudo bem, Katherine?
— Eu estou no hospital. Kellan
Ferris atirou no Ben e... — Soluço,
sentindo mais lágrimas rolarem. — Ben
está correndo risco de vida... Ele está
na sala de cirurgia, a bala ficou alojada
perto do coração. — Explico, tentando
não atropelar as palavras.
— Aquele desgraçado! — Grita do
outro lado. — Estamos indo.
— Lauren, avisa o senhor Alaric, por
favor.
— Tudo bem... Fica calma,
Katherine. Já, já, estamos aí.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Prefiro viver longe de Benjamin ou


até mesmo, preferia nunca tê-lo
conhecido. Assim, ele não estaria
sofrendo agora. Minha vida estaria
segura, ou seja, ele estaria são e salvo.
Deus, me ajuda. Tu és minha única
esperança.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 23
Eu não dormi na noite passada.
Como dormir diante da situação que
estamos enfrentando?
Meus olhos estão pesando, porém,
recuso-me a dormir. Quero estar aqui
quando Benjamin sair da sala de
cirurgia. São sete horas da manhã. Ben
está lá há horas.
Estou com medo.
Lauren, Bruce, o senhor Alaric e
minha mãe estão tão nervosos quanto
eu. Queria poder voltar atrás. Ao menos
na noite anterior. Eu tomaria o lugar de
Benjamin. Daria um jeito de levar o tiro
em seu lugar.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Katherine... — Senhor Alaric me


chama.
— Sim?
— Vá para a casa... Você está
exausta. Precisa descansar. —
Aconselha-me.
— Não estou cansada. — Balanço a
cabeça negativamente. — Quero estar
aqui quando Benjamin acordar. —
Forço um sorriso.
— A polícia encontrou o Kellan...
Ele já foi detido. — Pronuncia-se
Bruce, adentrando a sala de espera.
— Aquele canalha vai pagar por
tudo o que fez ao meu filho. — Nunca
vi senhor Alaric tão furioso.
— O tiro era pra mim... — Sussurro,
voltando a chorar.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Calma, Katherine... — Diz


Lauren, afagando meus cabelos. —
Acha mesmo que Ben não iria defender
você? Ele te ama mais que tudo. —
Tenta confortar-me.
— Tudo ficará bem, filha. Lembre-
se de quem Deus é e de tudo o que Ele
é capaz de fazer. — Mamãe me dá um
abraço.
Preciso confiar. Encontro-me no
olho do furacão. É como se eu fosse um
barquinho no meio do mar revolto,
prestes a afundar. Preciso que Jesus
acalme essa tempestade que assola
minha vida. Se preciso, Ele pode me
levar, mas que Benjamin viva. Eu não
me importo com tanto que ele esteja
bem; feliz; saudável. Jesus, tem
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

misericórdia de mim! Ajuda-me a me


manter forte e com fé.
— Eu não posso perdê-lo... —
Murmuro comigo mesma.
— Não vai. Benjamin é duro na
queda. — Responde-me Bruce.
— Eu o amo tanto... — Soluço.
Mamãe me abraça forte.
— Familiares de Benjamin
Underwood. — O médico se aproxima.
Ele parece exausto.
— Eu sou a mulher dele. —
Levanto-me do banco em que estava
sentada.
— Ele é meu filho. — Fala senhor
Alaric.
— A cirurgia foi um sucesso. —
Comunica-nos o doutor.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Obrigada Jesus. — Agradeço


com um pequeno sorriso no rosto.
— Porém, o senhor Benjamin está
em coma por tempo indeterminado.
O sorriso desaparece de minha face.
O mundo desaba a minha volta e sinto
vontade de gritar. Abraço-me a mamãe
e choro.
— Eu posso vê-lo? — Pergunto em
meio a lágrimas.
— Sim, senhora. Acompanhe-me.
Sigo o médico, ele entrega-me luvas
e uma touca. Entro em pânico assim
que entro na sala onde meu Benjamin
está. É como se ele estivesse dormindo.
Aproximo-me e seguro sua mão. Puxo
uma cadeira e sento-me ao seu lado.
— Eu sei que você é forte... Volta
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pra mim. Preciso de você, Ben. —


Sussurro afagando seus cabelos. —
Quando nos conhecemos, eu te odiei...
No entanto, o imponente e frio
Benjamin Underwood conseguiu fazer
com que eu me apaixonasse por ele. —
Soluço. — Pensando bem... Não
precisa voltar pra mim... Apenas volte.
Eu te amo, Benjamin.

∞∞∞
Faz uma semana. Uma semana que
Benjamin está em coma, sem
apresentar nenhuma reação. Uma
semana que quase não consigo dormir,
afinal, quando não passo à noite, passo
o dia no hospital. Uma semana que meu
coração bate descompassado. Uma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

semana que choro compulsivamente,


acho que chorei o suficiente para uma
vida toda. Faz uma semana que eu oro.
Oro a Deus com toda a minha alma.
Peço para que Ele traga Ben de volta.
Ele é o médico dos médicos, Rei dos
reis, Senhor dos senhores, Criador dos
céus, da terra e de tudo o que neles
existem, Ele é o dono da vida. Durante
todos estes dias em que fiquei no
hospital eu cantei, orei e conversei com
Benjamin. Talvez, talvez ele esteja me
ouvindo.
Enquanto isso, mamãe tem me
ajudado muitíssimo; tem me ajudado a
manter minha fé viva e inabalável.
“Deus está no controle. Ore a Ele,
não desista de clamar. A oração de um
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

justo pode muito em seus efeitos. É


tudo uma questão de fé.”, é isso que ela
tem me dito: Basta acreditar. Basta ter
fé. Estou tentando fazê-lo. Por mais
difícil que seja. Às vezes, é difícil
acreditar em algo que não vemos.
Então, lembro-me de meu Deus. Eu não
o vejo, porém, eu O sinto. Assim é a fé.
A gente não vê, a gente sente.
Acordo com o barulho do
despertador. São sete horas da manhã,
estou ansiosa para ver Benjamin.
Levanto-me da cama e dobro meus
joelhos, iniciando minha oração:
— Pai, venho neste momento te
agradecer por mais um dia de vida que
tens me concedido. Obrigada pelo pão
de cada dia, minha casa, minha família
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

e o tamanho privilégio que é poder te


servir. Reconheço minhas falhas, meus
pecados e te peço perdão. Neste
momento, peço que tenhas misericórdia
de Benjamin. Traga-o de volta, Tu és o
único que pode fazer isto. Bem sabes
que eu o amo. Eu te imploro... Traga-o
de volta, Pai. Rogo pela vida do senhor
Alaric, de Lauren, Bruce, de minha
mãe. Da mesma forma, peço que tenhas
misericórdia de Kellan, que ele possa
ser alcançado por Teu amor e que possa
se arrepender do crime que cometeu.
Senhor, peço por meu pai, onde quer
que ele esteja, que ele possa ter um
verdadeiro encontro contigo. Que
mesmo diante desta luta, eu venha
glorificar o teu santo nome, sabendo
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

que Tu estás comigo, que Tu estás no


controle e que tudo é uma questão de
fé. Fica comigo. Entrego tudo em tuas
mãos, desde já, é o que te peço e o que
te agradeço, em nome de Jesus. Amém!
Arrumo-me e vou tomar café.
— Bom dia, mãe. — Sirvo-me de
café com leite.
— Bom dia, meu amor. Dormiu
bem? — Indaga sorrindo.
— Graças a Deus. — Forço um
sorriso. — E a senhora?
— Estou bem. — Assente. — Vai ir
para o hospital?
— Sim. — Balanço a cabeça. — O
senhor Alaric vai vir me buscar. —
Explico.
Terminamos de tomar o café em
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

silêncio. Após alguns minutos,


despeço-me de mamãe, já que minha
carona chegou.
— Bom dia. — Cumprimento
Lauren, assim que chego ao hospital.
Foi ela que passou à noite com Ben.
— Oi, cunhada. — Abraça-me.
— Como ele está? — Questiono
sentando-me ao lado da cama de
Benjamin.
Ele parece um anjo. Aparenta estar
tranquilo, calmo.
— Ele vai ficar bem. — Sorri. —
Afinal, eu preciso de alguém para tirar
fora do sério. — Brinca.
— Verdade. — Concordo.
— Eu vou para casa, descansar um
pouco. Qualquer coisa, pode me ligar.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Lauren prontifica-se.
— Tudo bem. Vá com Deus.
— Fique com Ele. — Ela deixa o
quarto.
— Oi Ben... Estava com saudade. —
Seguro sua mão e sinto meus olhos
marejarem. — Ultimamente, não tem
ninguém para me tirar fora do sério. —
Sorrio em meio às lágrimas. — Você
me faz tanta falta, Benjamin. Se eu
pudesse, tomaria o seu lugar. Eu não
iria me importar. — Suspiro. — Ontem
eu tive um sonho lindo... Nós
estávamos naquela propriedade que
pertencia a sua mãe. Estávamos
sorrindo, felizes. Olha... Eu sei que
você pode até não sentir nada por
mim... Mas, enquanto você estiver aqui,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pode ter certeza de que, além de Deus,


existe outro alguém que te ama demais.
— Deposito um beijo em sua testa.
Ponho-me a andar pelo quarto. De
alguma forma, isto me acalma. Então,
lembro-me do sonho que tive: O sol
brilhava. Ben e eu estávamos sentados
na areia. Ríamos de algo. Estávamos
felizes. De repente, ele pega-me em
seus braços e corre comigo para dentro
da água.
— Eu te amo, Katherine. — Disse-
me com um sorriso no rosto.
Encarei os olhos que mais amo e
sorri.
— Pode repetir? — Arqueei as
sobrancelhas, com um sorriso
zombeteiro no rosto.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Claro que posso, senhora


Underwood. — Assentiu. — Eu te
amo, minha Katherinte. — Tornou a
falar.
Ele beijou-me. Beijou-me de forma
intensa.
Depois disso, eu acordei.
— Volta logo, Ben... Eu tenho fé
que Deus vai trazê-lo de volta pra mim.
Eu acredito!

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 24
Benjamin
Eu nunca permitiria que Kellan
machucasse minha Katherine. Não
importavam as consequências nem
mesmo se eu perdesse minha vida.
Guardei em minha mente o seu rosto,
talvez, pudesse ser a última vez que
tenha a visto. E foi. Foi a última vez
que olhei em seus olhos e pude ver o
desespero estampado nos mesmos.
Pensei que havia morrido. No
entanto, descobri estar em coma. De
acordo com meus cálculos, faz mais ou
menos uma semana. Ouvi os médicos
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

falarem que não sabem quando eu irei


acordar.
Estou desesperado. Grito
interiormente, mas ninguém me ouve.
Meu corpo não responde aos meus
comandos e o bipe desses aparelhos
hospitalares estão me deixando maluco.
Não mais maluco do que quando
Lauren vem aqui. Ela tagarela demais.
Dou graças a Deus quando ela cala a
boca.
Meu pai fica calado, ele chora às
vezes. Bruce passa o tempo inteiro no
celular, ouço o som dele tocando a tela.
E ela... Amo quando Katherine vem
aqui, o que é todo o dia, ou à tarde ou à
noite. Ouvir sua voz é como uma brisa
suave, é como ouvir o som de anjos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Como queria poder ter apenas mais


um minuto; um minuto para abraçá-la,
beijá-la e dizer que eu também a amo.
Eu queria gritar naquele momento,
ainda quero, mas ninguém me ouve;
meu corpo, principalmente.
Uma forte luz invade meus olhos,
fecho-os devido à agressão que a
lâmpada provocou. Eu acordei. Meus
olhos pesam, porém, vasculho o quarto
a procura de alguém. Encontro Lauren
dormindo.
— Ei... — Sussurro. Ela permanece
imóvel. — Lauren! Lauren! —
Aumento o tom de voz.
Minha irmã acorda em um
sobressalto, parece surpresa ao me ver
acordado.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Ben... — Ela corre e me abraça.


— Assim você está me impedindo
de respirar. — Brinco.
— Mal acordou e já está me tirando
fora do sério. — Ironiza. — Como você
se sente? — Ela afaga meus cabelos.
— Acordado. — Desdenho. Lauren
revira os olhos em protesto.
Ela chamou o médico, ele disse que
daqui há dois dias eu terei alta e que
não ouve nenhuma sequela.
— Vou ligar para a Katherine. —
Comenta minha irmã.
— Não. — Murmuro, Lauren me
olja incrédula.
— Como assim “não”? — Ela faz
aspas com as mãos. — Ela quase
morreu quando você estava entre a vida
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

e a morte, veio aqui todos os dias e


você não a quer? — Grita.
— É, eu não a quero. Tenho os meus
motivos e quero que respeite. Katherine
faz parte do meu passado.
Lauren sai do quarto, mas não antes
de bater a porta com força. Permito-me
fazer algo que não fazia há muito
tempo: chorar.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 25
Não fiquei ontem à noite com
Benjamin e preciso ligar para Lauren
para avisá-la que não poderei ir hoje
durante a manhã, mamãe tem consulta
e preciso acompanhá-la. Coloco uma
roupa apropriada depois de orar e vou
tomar o meu café.
— Bom dia, mãe. — Dou-lhe um
beijo na testa.
— Bom dia, meu amor. — Esboça
um sorriso singelo.
— Pegou os exames que a senhora
fez? — Indago servindo-me de café.
— Sim. — Assente. — Podemos ir
ver Benjamin? O que acha? — Sugere.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Instantaneamente, um sorriso brota em


meus lábios. Sinto falta dele.
O hospital em que mamãe consulta e
faz seu tratamento é o mesmo que
Benjamin está internado. Poderei vê-lo,
mesmo que por pouco tempo.
— Claro. Ideia ótima. — Balanço a
cabeça em concordância.
Pego meu celular e disco o número
de Lauren. Ela não me atende.
— Para quem está tentando ligar,
filha?
— Para a Lauren.
Disco seu número, de novo.
— Oi, Lauren.
— Oi. — Sua voz está... Diferente.
— Está tudo bem? Aconteceu
alguma coisa com Benjamin? —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Pergunto aflita.
— É... Aconteceu. — Responde-me
nervosa, é perceptível.
— O que houve, Lauren? —
Desespero-me. No entanto, ela cala-se
do outro lado da linha, fazendo meu
coração saltitar no peito. — Fala,
Lauren. Por favor. — Suplico.
— Ele acordou. — Diz-me com uma
ponta de tristeza na voz. Mas, por quê?
— Graças a Deus! — Exclamo
sorrindo.
— Ele acordou ontem à noite. —
Comenta.
— Por que não me ligou?
— Katherine... O Ben não quer vê-
la. — Suas palavras fazem com que o
sorriso que há em meu rosto
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

desapareça.
— Como? — Sussurro.
— Ele não... Ah, droga! Não sei
como te falar isso Kat... Mas, Benjamin
não quer mais você.
— Tudo bem. Tchau Lauren. —
Encerro a chamada antes que ela possa
me responder.
— Filha, o que aconteceu? —
Indaga minha mãe. Sinto meus olhos
marejarem.
— O Benjamin acordou. — Engulo
em seco. — Ontem à noite. — A
primeira lágrima rola. — Ele não quer
me ver. — suspiro pesadamente.
— Ah, filha... — Mamãe abraça-me
e permito-me chorar. — Deus está no
controle. Ele sabe o que faz. — Sorri.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Amém! — Forço um sorriso. —


Vamos? Já está quase na hora da sua
consulta. — Pego minha bolsa. Mamãe
fecha a casa e adentramos o táxi que
chamei há mais ou menos uma hora.
O caminho é feito em silêncio. Uma
vez ou outra minha mãe fala sobre a
mudança de estação, o outono está
chegando ao fim.
No entanto, meus pensamentos, por
mais que estejam desconexos e
incoerentes, estão concentrados em
Benjamin. Queria tanto vê-lo, olhar em
seus olhos ao menos mais uma vez.
Porém, não posso ir até lá, sabendo que
ele não quer me ver. Mas há algo que
me deixa extremamente feliz: ele
acordou. Ele poderá continuar sua vida,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

mesmo que sem mim. Benjamin tem a


chance de reescrever sua história. Fico
feliz por ele, mesmo não estando feliz
por mim. Afinal, vou ficar apenas com
as boas lembranças, os bons momentos
que desfrutamos um ao lado do outro,
momento inesquecíveis que ficarão
eternamente em minha memória.
Perdida em meus devaneios, não
percebo o táxi parar em frente ao
hospital. Pago o motorista e descemos
do veículo.
— Bom dia. Sou Angelina Smith,
tenho uma consulta com o doutor
Jason. — Diz mamãe à recepcionista.
— Claro. A senhora pode entrar. —
A mulher sorri amigável.
Mamãe e eu seguimos para o
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

escritório do doutor Jason. A porta está


aberta, ele sorri assim que nos vê.
— Bom dia senhora Angelina,
senhorita Katherine. — Ele faz um
sinal para nos sentarmos.
— Bom dia, doutor. — Responde
minha mãe. — Trouxe os exames que o
senhor me pediu.
Será que Benjamin está bem? Queria
tanto vê-lo. No entanto, minha
consciência está cansada de saber que
não posso. Arg! Por que tem que ser
assim? Às vezes é tão difícil entender
os planos e propósitos de Deus para as
nossas vidas. Preciso acreditar. Devo
confiar. É preciso ter fé. Preciso confiar
em Deus, mesmo perante a
cruzamentos cegos, afinal, sei que Ele
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

tudo vê e que Ele tem o melhor para


minha vida, mesmo que eu não entenda
as formas que o Senhor age.
— Katherine. — Grita mamãe.
— O quê? — Indago confusa.
— Estávamos falando com você...
— Responde-me.
— Perdão doutor... — Balanço a
cabeça.
— Não precisa se desculpar... Sei
que está enfrentando uma situação
complicada... — Comenta doutor
Jason. — O que estava dizendo é que
sua mãe está em perfeitas condições...
— Sorri de maneira amistosa.
— Graças a Deus. — Murmuro. —
Vou beber uma água... Com licença.
Deixo a sala do doutor Jason e
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

permito-me chorar. As lágrimas rolam


sobre meu rosto, livremente. Meu
coração está machucado,
completamente quebrado. Não queria
me sentir assim, mas eu sinto. Não
queria sentir o que sinto por Benjamin,
no entanto, eu sinto.
Vou em direção ao quarto dele,
preciso vê-lo, mesmo que de longe.
— Katherine... — Ouço uma voz
familiar.
— Ah... Oi Bruce. — Forço um
sorriso, enquanto enxugo as lágrimas
de minha face.
— Olha... O Benjamin sempre foi
um idiota... Não deixe ele afetar você...
Você sabe que ele é frio e tem prazer
em ver as outras pessoas sofrerem. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Fala-me com certo cuidado.


— Eu sei, Bruce... Obrigada. —
Aceno com a cabeça e sigo meu
caminho.
Por mais que tenha plena certeza de
que Bruce está certo, preciso certificar-
me, ver com meus próprios olhos se
Benjamin está bem.
Nós amamos porque Ele nos amou
primeiro.
Talvez, Benjamin não mereça meu
amor. No entanto, eu também não sou
merecedora do amor de Deus. Só me
resta amá-lo. De longe, miro Benjamin.
Ele está sorrindo. Sorrindo para
Camile. Ambos estão conversando
animadamente. Eles não me enxergam.
— Eu te amo, Benjamin. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Sussurro estas palavras pela última vez.

∞∞∞
Inevitavelmente, Benjamin consome
boa parte de meus pensamentos.
Preocupo-me com ele, com como estão
o tratando. Faz uma semana que ligo
para Lauren todos os dias. Ela me dá
notícias dele. Graças a Deus, Ben já
está em casa e sem nenhuma sequela.
Continuo trabalhando na empresa.
Benjamin ainda está se recuperando.
Talvez seja melhor assim. Vê-lo só
intensificaria ainda mais os sentimentos
que meu coração nutre por ele. Mamãe
tem me apoiado muito, mas Deus... Ah!
O Senhor tem me sustentado de uma
maneira excepcional. Não tenho
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

palavras suficientes para agradecer pelo


infinito amor do Criador para comigo.
Sinto falta dos beijos que Bem me
roubava. Sinto falta de seus abraços
desesperados e cheios de carinho. Sinto
falta das nossas conversas e até mesmo
das nossas brigas.
— Como você faz falta Ben... —
Murmuro comigo mesma.
— Está tudo bem, filha? — Indaga
mamãe.
Estamos jantando, embora não tenha
tocado na comida.
— Está. — Balanço a cabeça em
concordância.
— Sente falta de Benjamin, não é?
— Suas sobrancelhas se erguem.
— Muita. — Respondo com
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

lágrimas nos olhos.


Mamãe levanta-se de seu lugar e me
abraça. Um abraço acolhedor.
— Katherine... Talvez Benjamin
esteja confuso e...
— Confuso? — Indago perplexa. —
Ele está bem certo do que quer, ou
melhor, do que não quer e... Eu me
odeio por ter esses sentimentos, mãe...
Eu quero gritar e chorar sem parar...
Benjamin me faz muita falta. — Jogo
para fora o que estou sentindo.
— Nós amamos porque Ele nos
amou primeiro. — Comenta me
analisando. — Benjamin precisava de
uma boa dose de amor, filha. Você lhe
mostrou o amor, lhe deu amor. Sabe
por quê? Porque você, um dia, recebeu
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

o amor de Deus. — Suas mãos afagam


meus cabelos. — Não se odeie por
amá-lo. Sinta-se feliz, afinal, o fato de
você amar, significa que você recebeu
amor. — Conforta-me.
— A senhora tem o dom de me
acalmar. — Sorrio em meio as
lágrimas.
— É Deus quem faz isso.
Converso com mamãe por mais
algumas horas. É bom desabafar com
ela. Ela não me julga, apenas ouve e
aconselha. Pego meu celular e disco o
número de Lauren. Ela não me atende.
Nunca atende de primeira. Após alguns
minutos, vejo uma mensagem.
Lauren: Oi, cunhada. Tudo bem?
Você me ligou?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Disco seu número novamente,


chama algumas vezes e ela me atende.
— Oi, Lauren.
— Oi, Kat. Tudo bem?
— Graças a Deus. Como você está?
— Estou bem. Desculpe não atender
antes, estava com Benjamin.
— Como ele está?
— Está se recuperando, mas
continua sendo o mesmo arrogante de
sempre. — Posso apostar que ela está
revirando os olhos.
— Sinto falta dele.
— Ele também sente a sua, por mais
que não queira admitir.
— Estão cuidando bem dele?
— Claro, sua boba. Não se
preocupe. Eu mesma estou cuidando
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

dele.
— É exatamente isso que me
preocupa.
Ela ri.
— Ben sente muito a sua falta. Pode
acreditar.
— Também sinto falta dele.
Benjamin se tornou extremamente
importante e... Eu o amo mais que a
minha própria vida, Lauren. — Deixo
as lágrimas rolarem.
— Ah, Kat... Não sei nem o que te
falar... Vamos acreditar que tudo dará
certo.
— Amém! — Fungo. — Vou deixar
você fazer suas coisas... Qualquer coisa
me avise. Cuide direitinho de
Benjamin. Tchau.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 26
Benjamin
Os últimos dias foram uma droga.
Todas às noites, tenho pesadelos com
Katherine e em tais sonhos, sempre
vejo Kellan a machucando. Não
suportaria se algo de ruim lhe
acontecesse. Tudo isso me lembra do
dia em que pensei que perderia minha
vida, minha Katherine.
— No que você tanto pensa,
maninho? — Indaga Lauren.
Ela está cuidando de mim. Estou
pagando meus pecados.
— Não é da sua conta. — Dou de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ombros.
— Agora Katherine Smith chama-se
“não é da sua conta”? — Ela faz aspas
com as mãos.
— Será que dá para parar de me
atormentar? Obrigado. — Falo ríspido.
— Falando nela... Tem uma
chamada perdida. — Murmura fitando
seu celular.
— Chamada? — Questiono
abismado.
Apesar de tudo, ela continua a se
importar comigo?
— Ela liga todos os dias, para saber
como você está... — Responde-me
Lauren, sem humor algum.
— E o que você diz?
— Que você continua o mesmo
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

cavalo, mal educado, hostil e frio, ou


seja, que você continua sendo você. —
Sorri irônica.
Por mais que odeie concordar,
Lauren está certa. Sou um monstro, tão
frio quanto gelo, tão bruto quanto uma
pedra.
O celular de minha irmã toca, ela
fita-me antes de atendê-lo.
— Oi, Lauren.
Ouço a voz de minha Katherine,
instantaneamente, sorrio. Fico feliz por
Lauren ter colocado a chamada para eu
ouvir.
— Oi, Kat. Tudo bem?
— Graças a Deus. Como você está?
— Estou bem. Desculpe não atender
antes, estava com Benjamin.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Como ele está?


Katherine realmente preocupa-se
comigo.
— Está se recuperando, mas
continua sendo o mesmo arrogante de
sempre.
Lauren revira os olhos.
— Sinto falta dele.
Também sinto sua falta, minha
Katherine.
— Ele também sente a sua, por mais
que não queira admitir.
Minha irmã olha-me de soslaio.
— Estão cuidando bem dele?
— Claro, sua boba. Não se
preocupe. Eu mesma estou cuidando
dele.
— É exatamente isso que me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

preocupa.
Lauren ri, eu também solto uma
pequena risada.
— Ben sente muito a sua falta. Pode
acreditar.
É verdade.
— Também sinto falta dele.
Benjamin se tornou extremamente
importante e... Eu o amo mais que a
minha própria vida, Lauren.
Katherine parece estar chorando.
Como queria abraçá-la agora.
— Ah, Kat... Não sei nem o que te
falar... Vamos acreditar que tudo dará
certo.
Lauren fita-me brava.
— Amém! Vou deixar você fazer
suas coisas... Qualquer coisa me avise.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Cuide direitinho de Benjamin. Tchau.


Lauren desliga o celular e me olha
com reprovação.
— Não preciso falar nada,
Benjamin.
— Só quero protegê-la. — Falo com
os olhos marejados.
— Do quê? Kellan já está preso e
com certeza, não sai da cadeia tão cedo.
Ben, não deixe Katherine escapar, se
realmente a ama. — Ela me abraça com
um misto de carinho e raiva.
O que fazer?

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 27
Acordo com o barulho do
despertador invadindo meus ouvidos. É
mais um dia que está começando, mais
um dia que Deus me concede. Levanto-
me da cama e dobro meus joelhos
diante da mesma e oro al Senhor. Me
arrumo como sempre, com o uniforme
da Underwood.
— Bom dia, mãe. — Dou um beijo
em sua testa.
— Bom dia, meu amor. Dormiu
bem?
— Graças a Deus. E a senhora?
— Muito bem.
— Já vou para a empresa... Estou
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

atrasada para pegar o ônibus. Te amo,


mãe. Qualquer coisa me ligue. —
Despeço-me rapidamente.
Corro para o ponto de ônibus. Hoje
será um longo dia. Um longo dia
chuvoso. Uma chuva terrível começa a
cair. Tempestades trazem-me
lembranças ruins. Coisas as quais não
gostaria de lembrar. Depois de algum
tempo, consigo chegar até a empresa,
sem estar muito molhada.
— Bom dia, senhora Kelly. —
Cumprimento minha chefe.
Ela tem quarenta anos, é ruiva,
possui cabelos curtos, baixa estatura e
tem olhos negros. É uma ótima chefe.
— Bom dia, Katherine. — Sorri
amigável. — Essa chuva pegou todos
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

nós de surpresa. — Comenta


analisando alguns relatórios.
— Realmente. — Balanço a cabeça
em concordância.
— Teremos uma importante reunião
amanhã, precisarei de você... Afinal, o
senhor Underwood vai estar presente
e... — Kelly fita-me por um instante.
— Benjamin... Quer dizer, o senhor
Underwood volta para a empresa
amanhã? — Crispo os olhos.
— Exatamente. — Assente. —
Desculpe falar dele assim... Sei do seu
relacionamento com o senhor
Underwood e...
— Sem problemas... Não há mais
nenhum relacionamento, entre nós dois.
Infelizmente.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Continuando: vamos apresentar


algumas propostas e precisarei de você
para me auxiliar com os relatórios de
Chicago e da filial de Washington. —
Explica-me, olhando por cima de seus
óculos quadrados.
— Tudo bem. — Anoto minhas
tarefas em meu bloco de notas verde.
— Agora... — Ela é interrompida
por Bradley, ele também é acionista.
— Aconteceu um desastre, Kelly. —
O homem adentra o escritório
desesperado. — Minha secretária
deveria entregar alguns papéis na casa
do Benjamin, mas ela sofreu um
acidente em casa; os outros acionistas
estão em reuniões; você e eu não
podemos sair da empresa e agora? —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

desespera-se ainda mais. — O senhor


Underwood vai ficar furioso se não
receber esses papéis. — Apoia as duas
mãos na cabeça.
— Droga! — Murmura Kelly, então,
ela me olha. — Katherine... Você
conhece Benjamin, deve saber que ele
odeia que suas ordens não sejam
cumpridas. Por favor, leve esses papéis
até a casa dele. — Suplica-me.
— Tudo bem. — Assinto.
Bradley entrega-me cópias dos tais
papéis e pego um táxi. É estranho saber
que estou voltando para a casa que um
dia já foi minha. Ao passarmos pela
estrada que conduz a um dos portões de
entrada da casa de Ben, sinto um frio
na barriga.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

“Não crie expectativas.”, é o que


falo comigo mesma. O táxi para em
frente à porta principal. Corro, devido à
chuva, e adentro a casa. Tudo está
exatamente igual.
— Olga? — Chamo por alguma
alma viva. — Jeff? Judith? Amelia?
Alguém? — Indago entrando na
cozinha, o local encontra-se vazio.
Saio do cômodo e respiro fundo,
antes de subir as escadas que levam até
o quarto de Benjamin. Bato na porta.
Não obtenho resposta. Devagar,
adentro seu quarto. Sorrio apenas ao
sentir seu cheiro no ambiante. Largo a
papelada sobre sua cômoda, enquanto
observo o local.
— Não sabe bater? — Arrepio-me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

dos pés a cabeça ao ouvir sua voz, ao


sentir o calor emanar de seu corpo.
Viro-me para encará-lo. Ben está tão
lindo.
— Desculpe senhor Underwood. —
Sussurro sem desviar nossos olhares.
— Como você está?
— Bem. — Sai apenas um fio de
voz. — E você?
— Estou me recuperando... Pode me
ajudar a chegar até a cama? Meus
empregados sumiram.
Um de meus braços envolve a
cintura de Benjamin, o fato dele estar
sem camisa deixa-me encabulada. Ele
senta-se na cama e sorri.
Benjamin não podia sorrir.
Seu sorriso faz com que fique
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ruborizada, faz com que abra um


sorriso de orelha a orelha.
Recomponho-me e tento ficar séria.
— Eu...
— Fica aqui comigo... Pelo menos,
até meus empregados chegarem. —
Pede-me.
Sento em uma poltrona, de frente
para sua cama. Minha respiração está
pesada. Tento não olhar muito para
Benjamin. Isso faria com que abaixasse
minha guarda. A chuva cai com muita
força, ouço um raio e estremeço. Ben
ri.
— Ainda tem medo de raios? —
Crispa os olhos.
— Não tem graça. — Reviro os
olhos em protesto.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Você está molhada... — Analisa-


me. — Pode pegar uma roupa ali no
closet.
— Estou bem, assim. Obrigada.
— Se você não for pegar, eu vou
levantar daqui para pegar uma camisa
para você eu vou cair, me machucar e
parar no hospital. E, se eu bem conheço
você, você irá se sentir culpada. — Fala
rapidamente, prestes a se levantar.
— Tudo bem. — Levanto as mãos
em sinal de rendição.
Vou até seu closet e coloco uma de
suas camisas por sobre a saia. Volto e
sento-me na poltrona.
— Pode sentar aqui, ao meu lado. —
Gesticula.
— Estou bem aqui.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Kat? — Chama minha atencão.


— Está tudo bem? — Questiono
preocupada, indo até ele.
— Fica aqui do meu lado. — Ele
olha no fundo de meus olhos.
— Senhor Underwood, acho que
isso não é prudente... — Argumento.
— Que droga, Katherine! —
Murmura. — Por que não é prudente?
Você já esteve aqui neste quarto, já
usou uma camisa minha, já dormiu
nesta cama... E pare de me chamar de
senhor. Já fomos casados. — Protesta.
— Já assinamos um contrato.
— Não foi só um contrato pra mim,
você sabe... Eu só queria proteger você,
minha Katherine... — Puxa-me para um
abraço e eu não resisto.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Sento-me ao seu lado, enquanto


aconchego minha cabeça em seu peito.
— Eu senti sua falta... — Sussurro
contornando a cicatriz que há em seu
peito.
— Eu também... Muita falta,
Katherine. — Afaga meus cabelos. —
Lauren falou que você liga para ela...
Para saber como estou. Obrigado.
— Não precisa agradecer.
— Obrigado por tudo, mesmo...
Então, ele une nossos lábios.
Benjamin puxa-me para si. É um beijo
de saudade. Muita saudade. Ao nos
separarmos, paro para observar se seus
pulsos não contém nenhuma marca.
— Não me cortei mais, desde aquele
dia que você e eu conversamos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Fico feliz e Deus mais ainda. —


Sorrio.
— Eu também estou feliz. Muito
feliz...
— Eu vi meu pai... — Comento.
— O quê? Quando?
— Um dia depois de... Sabe... Um
dia depois de cavalgarmos lá na
fazenda. Quando o carro estragou, eu
fui até uma casa. Um homem me
atendeu e... O pior de tudo é que... Por
mais que eu tenha dito que eu o
perdoei, meu pai não quer que eu faça
parte da vida dele. — Respondo
deixando as lágrimas rolarem.
— Mas eu quero que você faça parte
da minha vida.
— Benjamin... Eu não quero me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

machucar mais.
— Prometo que não vai. — Sorri. —
Sei que mentir é pecado... No entanto,
precisava que ocorresse um acidente de
mentira com a secretária do Bradley...
— Franze a testa. — Lauren me ajudou
e os empregados também. Eles devem
estar escondidos em algum cômodo da
casa. — Explica-me.
— Você armou tudo isso? —
Minhas sobrancelhas se erguem.
— Sim. Armei tudo isso, porque
queria te ver. Armei tudo isso, porque
estava com saudade.
Volta a beijar-me.
— Ben... Não quero apressar as
coisas, porque não quero me machucar
novamente.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Não vai se machucar. Eu


prometo! E não precisamos ter pressa.
— Acaricia meu rosto.
Ficamos conversando durante horas.
Volta e meia, Benjamin roubava-me
alguns beijos.
— A chuva já parou. Preciso ir para
casa, minha mãe já deve estar
preocupada.
— Liga para ela e pede para ficar
aqui. — Pede como uma criança.
— Não precisamos ter pressa.
Lembra? Além do mais, não seria
prudente ficar aqui com você. Não
somos mais casados. — Argumento.
— Não somos mais casados, apesar
disso, ainda usamos nossas alianças. —
Diz entrelançando nossas mãos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Exatemente. — Sorrio.
— Senti falta dessa risada. —
Suspira.
— Preciso ir.
Vou até o closet e coloco minha
roupa.
— Meu motorista vai levá-la e eu
vou com você... Sabe... Explicar para a
sua mãe que você estava aqui e também
para te roubar mais alguns beijos. —
Lrende-me em seus braços.
— Isso realmente está acontecendo?
— Se é um sonho, não quero acordar
nunca, senhora Underwood. —
Sussurra em meu ouvido.

∞∞∞
O caminho até a minha casa é feito
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

com muito carinho. Após algum tempo,


chegamos.
— Katherine Smith, onde você...
Benjamin? — Mamãe indaga perplexa,
assim que nos vê.
— Olá, senhora Angelina. Como
vai? — Ben a abraça.
— Muito bem. Fico feliz em vê-lo,
rapaz. — Ela sorri.
— Roubei sua filha... Por isso o
atraso. Vim trazê-la pessoalmente.
— Acho que minha filha já não é tão
minha. — Mamãe ri.
— Preciso ir... Tenho que tomar um
remédio daqui a pouco. Foi um prazer,
senhora Angelina. — Despede-se.
— O prazer foi meu.
Acompanho Benjamin até o portão.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Inesperadamente, ele me beija.


— Nos vemos amanhã. Tenha uma
boa noite, senhora Underwood.
— Tudo bem. Tenha uma boa noite,
senhor Underwood. — Sorrio.
Ele entra no carro e vejo o veículo
sair do meu campo de visão.
— Quero que me conte tudo. —
Mamãe puxa-me para o sofá, assim que
volto para dentro de casa.
— Deus é incrível. — Grito estérica.
Explico a mamãe tudo o que
aconteceu, obviamente, ela falou que
Benjamin e eu vamos voltar.
Sinceramente? Eu espero que sim. No
entanto, deixo nas mãos de Deus,
afinal, sei que Ele tem o melhor para
mim.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 28
Ontem à noite fui dormir com um
largo sorriso estampado em meu rosto.
Pudera! Simplesmente não tenho
palavras para agradecer a Deus por
todos os seus feitos.
Já estou na empresa, não vejo a hora
da bendita reunião começar. Quero ver
Benjamin. Enquanto isso, resta-me
apenas checar minhas mensagens.
Você: Olá, Lauren. Preciso
conversar com você. É urgene!
Lauren: Aconteceu alguma coisa?
Você: Aconteceu, sabe disso.
Lauren: Só dei um empurrãozinho
pra você e o cabeça dura do meu irmão
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ficarem bem.
Você: Acontece que não ficamos
bem.
Lauren: Como assim? O que o
idiota do meu irmão fez?
Você: Acalma o coração, menina.
Não ficamos bem, pois estamos ótimos.
Lauren: Que tudo! E como vão ficar
as coisas?
Você: Vamos ir com calma, deixar
tudo fluir naturalmente.
Lauren: Vocês dois são lerdos
demais.
Você: Isso não se chama lerdeza.
Chama-se prudência.
Lauren: Pelo menos vocês se
acertaram. Como foi?
Você: Seu irmão foi um fofo. Sabe?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Lauren: Não, não sei. Afinal, só


você conhece o lado fofo do meu irmão.
Você: Ele é incrível, Lauren.
Lauren: Sério que você vai ficar
falando o quanto Benjamin é incrível,
quando na verdade, fui eu que ajudei
vocês
Você: Não fica brava, cunhada...
Tenho uma reunião, agora. Beijos.
Lauren: Beijos, cunhada.
Separo meus papéis e vou para o
escritório de Kelly.
— Já separei tudo, senhora Kelly.
— Obrigada, senhorita Katherine.
Vamos? A reunião começa daqui a
pouco. — Ela convida-me.
Caminhamos até a sala de reunião.
Inevitavelmente, esboço um sorriso,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

assim que meu olhar encontra o de


Benjamin. Ele também sorri, embora
seja um sorriso discreto. Camile olha-
me com desprezo, mas eu não ligo.
— Bom dia, senhores. — Benjamin
inicia sua fala. — Estamos aqui para
tratarmos das promoções das Empresas
de Chicago e de Washington.
— As secretárias não precisam ficar
aqui. — Comenta Camile.
Indireta direta.
Algumas secretárias deixam a sala
de reuniões, apenas mais duas e eu
permanecemos aqui.
— Prosseguindo... — Diz um dos
acionistas.
— Esse é um assunto concernente
apenas aos acionistas e fornecedores.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Não precisamos de pessoas de fora.


Peço que saiam. — Insiste Camile,
dirigindo-se a mim e às outras duas
secretárias. Elas saem, exceto eu. A
Bruxa Potter fuzila-me com o olhar. —
Você não ouviu? — Indaga a Bruxa.
— Desculpe senhorita Potter, porém,
apenas sigo as ordens da senhora Kelly.
Afinal, ela é a minha chefe. Portanto, se
ela não me dispensou, vou ficar aqui
nesta sala. Devido a isso, sugiro que
cuide da sua secretária. — Respondo-a
seriamente.
Ben segura uma risada, assim como
Kelly.
— Como ousa falar assim comigo,
sua secretariazinha de quinta? —
Esbraveja a loira.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Contenha-se Camile! — Grita


Benjamin, chamando a atenção de
todos os presentes. — Se não quer
deixar essa sala, sugiro que peça
desculpas à senhorita Katherine.
— Desculpe. — Sussurra sem me
olhar.
— Não escutei. — Fala Benjamin,
com uma expressão irônica em sua
face.
— Desculpe. — Ela trinca os dentes.
Assinto e tento segurar o riso.
Durante a reunião, Benjamin e eu
trocamos vários olhares. Como gostaria
de mandar todos saírem desta sala e
abraçá-lo com todas as minhas forças.
Depois de três horas e trinta minutos, a
reunião é dada por encerrada. Todos os
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

acionistas deixam a sala, exceto


Benjamin e eu.
— Obrigada por me defender. —
Agradeço.
— Ninguém insulta minha mulher.
— Ele aproxima-se consideravelmente.
— Não somos mais casados, Ben.
— Não me interessa! Você sempre
será a senhora Underwood, a minha
Katherine. — Deposita um beijo em
meus lábios.
— Ben... — Repreendo-o entre o
beijo.
— Tudo bem?
— Estamos na empresa. —
Respondo como se fosse óbvio.
— E daí? A empresa é minha e você
é minha mulher, então... Se alguém
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

entrar por esta porta e ver nós dois nos


beijando, simplesmente, não vai ter
nada a ver com isso. E se vier se
intrometer, eu demito o ser humano.
Simples. — Dá de ombros, arrancando-
me uma risada.
Benjamin volta a me beijar. É um
sentimento indescritível. Simplesmente
único e maravilhoso.
— Aceita jantar comigo hoje à
noite? — Questiona assim que nos
separamos.
— Aceito.
— Tudo bem... Vem, vou te levar
pra casa. — Diz pegando seu casaco.
— Não precisa se incomodar com
isso.
— Vamos. — Insiste puxando-me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pela mão.
Da mesma maneira que saímos da
sala de reuniões, ou seja, de mãos
dadas, Ben e eu deixamos a sede da
Underwood, atraindo olhares de todos
os que nos cercam.

∞∞∞
— Quer entrar? — Indago, assim
que Ben estaciona na frente de minha
casa.
— Não... Tenho uma reunião daqui
há quarenta minutos, mas passo aqui às
oito. — Sorri.
— Vamos a um lugar muito chique?
— Minhas sobrancelhas se erguem.
— Seja você mesma. — Diz
puxando-me para um beijo
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

incrivelmente bom.
— Meu Deus! — Separo nossos
lábios.
— Aconteceu alguma coisa? —
Questiona preocupado.
— Eu saí da empresa... Sendo que
preciso trabalhar à tarde. A senhora
Kelly vai me demitir. — Apavoro-me.
Benjamin ri. — Não tem graça. — Dou
um tapinha de leve em seu ombro.
— Esqueceu que é mulher do dono
da empresa?
— Não somos mais casados. —
Argumento.
— Mas continuo sendo o dono da
empresa e continuo te considerando
minha mulher. — Responde-me. — E
tem a tarde de folga. Já acertei com a
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Kelly.
— Está bem... Até à noite. — Saio
do carro.
— Kat, não vá de salto. — Ele pisca
para mim antes de dar partida no
veículo.
— Olá mãe. — Cumprimento-a com
um abraço, assim que entro em casa.
— Oi, meu amor. Não devia estar na
empresa?
— É... Mas vou jantar com o Ben,
hoje à noite. Ele me trouxe em casa e,
como consequência, tenho a tarde de
folga. — Comento animada.
— É... Parece que as coisas estão
indo para o lugar.
— Graças a Deus, mãe.
Pego meu celular e escrevo uma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

mensagem para Lauren.


Você: Preciso da minha consultora
de moda particular. É urgente!
Lauren: Qual o evento, cunhada?
Você: Ben me convidou para jantar
hoje à noite.
Lauren: Que tudo! Estou pulando
aqui... o idiota do meu irmão está
criando juízo. Ele falou onde vocês
vão?
Você: Não. Apenas disse que não
devo ir de salto.
Lauren: Não faço ideia de que local
possa ser, no entanto, tenho a roupa
perfeita para você. Chego na sua casa
depois do almoço.
Você: Ok. Beijos.
Ainda não faço ideia do que vestir
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

hoje à noite. Estou nervosa. Até parece


que é a primeira vez que vou jantar
com Benjamin. As batidas na porta
denunciam a chegada de Lauren.
— Finalmente! — Puxo-a para
dentro de casa.
— É bom ver você também. —
Desdenha. — Não falei para você, mas
Bruce e eu nos mudamos para Los
Angeles, definitivamente.
— Que bom! — Abraço-a. — Vou
ter minha consultora de moda pertinho
de mim. — Sorrio abertamente.
— Olá Lauren.
— Oi, senhora Angelina.
— Vamos escolher uma roupa? Não
faço ideia do que vestir. — Digo
impaciente.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Por isso estou aqui, querida.


Lauren e eu tiramos, praticamente,
todas as roupas de meu roupeiro.
— Que hora o Ben vem te buscar?
— Às oito.
— Estamos aqui desde às duas
horas, já são seis e meia e ainda não
escolhemos nada. — Resmunga.
Meus olhos pousam sobre um
vestido verde água, ele é confortável e
muito bonito. Encaro Lauren e ela me
entende.
— O que acha? — Refiro-me ao
vestido.
— Perfeito... Está aprendendo,
menina! — Brinca. — Agora vá tomar
banho, depois vou arrumar seu cabelo e
fazer uma maquiagem.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Obedeço-a e vou me arrumar.


Exatamente às oito horas, estou pronta.
Lauren está comemorando sua “obra de
arte”, como ela me chama. Alguém
bate à porta, provavelmente, é Ben. Do
quarto, consigo ouvir a voz dele.
— Arrase! — Sussurra Lauren.
Saio do cômodo e assim que meus
olhos encontram os de Benjamin, nós
sorrimos.
— Você está linda. — Elogia-me.
— Obrigada. — Coro intensamente.
— Agradeça a mim, maninho. —
Lauren se manicesta.
— O que faz aqui, megera? — Ben
não esconde a indignação.
— Não é da sua conta, ogro. —
Minha cunhada dá de ombros. Mamãe
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

apenas ri.
— A relação de vocês é tão bonita.
— Ironizo.
— Melhorou muito desde que você
apareceu. — Lauren comenta.
— Então, antes de eu aparecer vocês
viviam no meio da Guerra Fria. —
Desdenho.
— Basicamente. — Ambos
concordam com minha teoria.
Nos despedimos de mamãe e
Benjamin deixa Lauren em casa.

∞∞∞
Pegamos a estrada já faz alguns
minutos. Conheço esse caminho.
Lembra-me o nosso primeiro jantar.
Estamos indo para a propriedade que
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pertencia à mãe de Benjamin. Agora


entendo o porquê dele ter pedido para
eu vir sem saltos. Até Ben está com
roupas confortáveis: calça jeans,
camisa e sapatos, nada de ternos caros e
gravatas elegantes. Simples e
incrivelmente lindo. Minha tese estava
certa. Quando adentramos a
propriedade, ele abre a porta do carro
para eu descer.
— Por aqui. — Guia-me,
entrelaçando nossas mãos.
— Benjamin... — Minhas palavras
somem diante do que vejo. — Isso é
incrível. — Esboço um sorriso de
orelha a orelha.
Há uma bela mesa posta, iluminada
a luz de velas. A mesa está diante do
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

grande lago. Ben não exagerou na


decoração do local, há várias lâmpadas
e rosas. Ele puxa a cadeira para eu
sentar e ele logo faz o mesmo.
— Fico feliz que tenha gostado. —
Segura minha mão. Sinto um choque
percorrer meu corpo.
Uma sensação boa me domina por
completo. É incrível o efeito que
Benjamin Underwood tem sobre minha
pessoa.
— Estou feliz de estar aqui.
Benjamin sorri e suspira.
— Katherine... Quero que saiba que
o que eu vou fazer agora será muito,
muito difícil pra mim.
— Olha Benjamin, se você me
trouxe até aqui só pra falar que não
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

quer que eu faça parte da sua vida, seria


melhor ter...
— Posso continuar? — Apenas
assinto. — Sempre fui o tipo de homem
que esconde o que sente, para não
demonstrar a minha fraqueza. Sempre
me senti inquebrável, inatingível;
afinal, ninguém era capaz de me
desafiar. Até uma certa Katherine
Smith aparecer. — Meus olhos ficam
marejados, diante de suas palavras. —
Você me quebrou, me atingiu e me
desafiou de uma forma intrigante e
inigualável. Você conseguiu fazer com
que o gelo que me envolvia derretesse,
quebrou a pedra que envolvia meu
coração e trouxe humanidade para
dentro desse monstro. — Aponta para
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

si mesmo. Seus olhos já estão


marejados. Enquanto isso, as lágrimas
já rolam em meu rosto. — Você foi
capaz de me amar, mesmo eu sendo tão
frio quanto gelo, tendo o coração tão
duro quanto uma pedra, mesmo eu
sendo um monstro. Você me amou
Katherine. — Ben sorri em meio às
lágrimas. — Eu tentei afastá-la de mim
quando você disse que me amava lá
naquele estábulo. Sabe por quê? —
Balanço a cabeça em negação. — Por
que sabia que Kellan queria se vingar
de mim. Sabia que tê-la comigo era
perigoso. Por isso, naquele dia, lá no
estábulo, juntei todas as minhas forças
e menti. Afinal, tornou-se inegável.
Sempre fui o tipo de pessoa que odeia
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

assumir as coisas, no entanto, não tem


como negar que... Eu te amo,
Katherine.
Choro como uma criança
extremamente feliz. Ben e eu nos
levantamos da mesa, ele envolve minha
cintura e me beija. Ele me ama!
— Eu te amo, Benjamin. —
Sussurro entre o beijo, um sorriso, e
nossas lágrimas de felicidade.
— Eu te amo, Katherine. — Grita
em alto e bom som, arrancando-me
uma risada. — Sei que falamos que
iríamos ir com calma, porém, preciso
saber... — Ele tira algo do bolso e
ajoelha-se diante de mim. Em sua mão,
há uma caixinha com um lindo anel.
— Quero passar o resto dos meus
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

dias ao seu lado, quero cuidar de você,


quero tê-la em meus braços e quero
viver com você tudo aquilo que Deus
quiser que eu viva, quero que você seja
minha esposa. — Diz-me com os olhos
marejados. — Você aceita?
A mesma pergunta, sob condições
tão diferentes.
— Sim.
A mesma resposta, mas desta vez,
com extrema convicção, vontade e
felicidade. Ben coloca o anel em meu
dedo, levanta-se e gira-me no ar.
— Eu te amo. — Fala olhando no
fundo de meus olhos.
— Pode repitir? — Peço com um
sorriso enorme no rosto.
— Eu te amo. — Repete as palavras
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pausadamente.
Simplesmente, não tenho palavras
para descrever o quão feliz estou.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 29
Antes, sob condições completamente
diferentes, peculiares e problemáticas,
disse sim. Naquele dia, nunca imaginei
que iria me apaixonar pelo frio, astuto e
persuasivo Benjamin Underwood.
Nunca pensei que iria amá-lo, no
entanto, minha mãe disse que “nunca”
é uma palavra muito forte, de fato, ela
estava certa. O eu te amo que Ben me
falou ainda ecoa em meu
subconsciente.
Após nosso momento, jantamos,
conversamos e namoramos um
pouquinho. Agora, por volta de meia
noite, estamos a caminho da minha
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

casa. Benjamin me disse que deseja


fazer tudo corretamente. Portanto, ele
irá pedir a minha mão para minha mãe.
Isso é muito fofo.
Não vejo a hora de contar isso à
mamãe, Lauren, Olga, Jeff, Judith e
Amelia. Com absoluta certeza, eles
ficarão muito felizes por Ben e eu.
Deus é incrível. Seus feitos são
únicos, maravilhosos. Embora não
tenha os entendido no início, agora,
posso ver claramente que Deus queria
me trazer até Benjamin. Desde o
princípio, Deus tinha um plano para o
jovem cabeça dura, que, por se sentir
solitário e sem amor algum,
extravasava sua dor através do sangue
que escorria de seus pulsos.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin estaciona o carro na frente


da minha casa. Descemos do veículo e
ele segura minha mão. Pego a chave
extra debaixo do vaso de cravos e abro
a porta. Provavelmente, mamãe já está
dormindo.
— Só espere um minuto... Vou
chamar minha mãe. — Caminho até
seu quarto, abro a porta com cautela. —
Mãe. — Ela acorda em um sobressalto.
— Tudo bem, filha? — Indaga
sonolenta.
— Claro. — Assinto. — Benjamin
está aqui e quer falar com a senhora.
— Já vou. Só vou trocar de roupa.
Deixo seu quarto e mw sento no
sofá, ao lado de Benjamin.
— Boa noite. — Mamãe fala em um
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

bocejo.
— Boa noite, senhora Angelina.
Desculpe tirá-la da cama uma hora
destas... Mas, é por um bom motivo. —
Diz Benjamin.
— Prossiga. Boas notícias são
sempre bem vindas. — Mamãe sorri.
— Eu pedi Katherine em casamento
e ela aceitou. No entanto, preciso saber
se a senhora está de acordo. Por isso,
estou aqui para pedir o seu
concentimento e a sua bênção. —
Prossegue Benjamin.
Mamãe fita-nos com os olhos
marejados. A felicidade está estampada
em seu rosto na forma de um enorme
sorriso.
— Que Deus abençoe vocês dois. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

seu abraço é acolhedor. — Fico muito,


muito, muito feliz por vocês.
— Vou cuidar bem de nossa
Katherine, senhora Angelina.
— Sei disso, Benjamin. — Concorda
minha mãe. — Qualquer homem que
leva um tiro no lugar de minha filha, é
digno dela.
— Precisamos contar para Lauren.
— Comenta meu futuro esposo.
— Exatamente.
Disco seu número e chama algumas
vezes.
— Oi, cunhada.
— O que você quer, Katherine? —
Indaga sonolenta.
— Tenho uma super novidade.
— Deixa eu adivinhar: o Benjamin
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

pediu você em casamento?


— Você sabia? — Olho confusa
para Ben.
— Claro, sua boba! Ou você acha
que o ogro do meu irmão seria capaz de
preparar um jantar daqueles?
— Foi um complô. — Finjo estar
brava.
— Um complô do bem... Foi você
que lembrou de me dar essa notícia?
— Foi o Ben.
— Só para me acordar. — Ela bufa.
— Mas fico muito feliz por vocês.
Vocês merecem toda a felicidade do
mundo.
— Obrigada, Lauren. Ah, fico feliz
que você e Benjamin estejam
trabalhando juntos. — Rio.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Boa noite pra vocês.


— Boa noite.
— Nosso complô valeu a pena. —
Ben sorri.
— Com absoluta certeza. — Afirmo.
— Quando será o casamento? —
Pergunta mamãe.
— Se Katherine estiver de acordo,
daqui a um mês.
— Perfeito, para quem já casou em
dois dias. — Dou de ombros.
Com certeza, será um casamento e
tanto.

∞∞∞
Sinto-me extremamente feliz, não
tenho palavras para agradecer a Deus
por todas as bênçãos que Ele tem me
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

concedido. Faz dois dias que Benjamin


me pediu em casamento. Tempo
suficiente para Lauren arrumar tudo,
quase tudo. Será algo bem íntimo,
segundo ela, apenas para os mais
próximos. Lauren também me ajudou a
escolher um vestido para hoje à noite.
Já começamos a organizar as coisas
para o nosso casamento. Será na
mesma propriedade que Benjamin fez o
pedido. Logo vou escolher o modelo do
meu vestido de noiva. Desta vez, tudo
será diferente. Graças a Deus, as coisas
estão se encaixando. Kellan foi
condenado a mais de vinte anos de
prisão. Peço ao Senhor para que Ele
tenha misericórdia da vida dele.
Benjamin está sendo tão fofo
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

comigo. Devido ao casamento, estou de


“férias”, temporariamente. Benjamin
almoçou comigo e Lauren ontem,
também fomos ao shopping. Um
homem deu em cima de mim, Ben se
estressou e me fez dar várias risadas.
Como sempre, Benjamin tem cuidado
de mim.
— Como estou? — Indago a mamãe,
enquanto me olho no espelho.
— Linda como sempre, filha.
Estamos na mansão, no meu antigo
quarto, para ser mais precisa.
— Já viu Olga ou algum dos outros?
— Refere-se aos empregados.
— Não, mas, com certeza, eles
ficarão surpresos e felizes ao saberem
que o jantar que estão preparando é
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

para o meu noivado. — Respondo


sorridente.
— Com licença... — Ben adentra o
quarto. Ele está lindo. Usa um terno
preto e gravata cinza. — Você está
linda. — Elogia-me.
— Vou lá para baixo. Nos vemos
daqui a pouco. — Mamãe deixa-nos a
sós.
— Você também está lindo. —
Sorrio.
— Nossos convidados já chegaram.
— Comenta me analisando.
— Você convidou a Bruxa Potter?
— Indago fazendo careta.
— Amor, eu já expliquei que a
Bruxa, — ele ri — digo, Camile, é uma
das acionistas. E como convidei eles,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

tive de convidá-la. — Explica-se.


— Tudo bem. — Assinto.
— Mesmo? — Suas sobrancelhas se
erguem.
— Mesmo! — Balanço a cabeça. —
Só estou por ver a reação de Olga, Jeff,
Amelia e Judith ao saberem que é
nosso jantar de noivado.
— Eles vão ficar estéricos. Gostam
muito de você. — Fala prendendo-me
em seus braços. Escoro minha cabeça
em seu peito e me permito relaxar. —
Eu não me importo de ficar aqui,
abraçado em você. — Deposita um
beijo em meu pescoço.
— Nossos convidados estão a nossa
espera. Precisamos ir, agora... Mas, eu
também queria ficar aqui. — Solto uma
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

risada.
Ben e eu nos dirigimos até a sala
principal. Nossos convidados nos
cumprimentam e esboçam sorrisos
sinceros. Existem suas exceções, como
Camile, mas prefiro ignorar.
— Gostaria de propor um brinde...
— Senhor Alaric chama atenção de
todos. — Quero propor um brinde ao
amor de Benjamin e Katherine.
Felicidades. — Ele ergue sua taça e
todos brindam alegres.
Após muita conversa, nos
encaminhamos para a sala de jantar. A
mesa já está posta. Porém, não há
nenhum dos empregados presentes.
Nos sentamos e logo Jeff, Amelia,
Judith e Olga aparecem. Todos
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

parecem surpresos ao me ver. Esboço


um sorriso e eles retribuem.
— Espero que gostem do jantar.
Afinal, Katherine e eu desejamos
desfrutar deste momento único, de
nosso noivado, ao lado de todos os que
estimamos. — Diz Benjamin.
— Meu Deus! A senhora vai voltar.
— Jeff comemora.
— Vou. — Rio.
— Aquela Bruxa Potter esnobe e
mal educada perdeu a guerra. Sempre
soube que a senhora era o melhor para
o senhor Benjamin. — Jeff ri,
percebendo a reação de Camile, tenta
ficar sério.
— Vai mesmo ficar com ela,
Benjamin? Com essa pobre, crente e
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

sem graça? — Camile exalta-se.


Sinto meu sangue ferver.
— Cala a boca, Camile. — Ben a
repreende.
— Cala a sua boca para falar da
minha filha. Quem você pensa que é?
Ah, não me responda, eu sei. Você é a
Bruxa Potter. — Nunca esperei que
mamãe fosse falar isso.
Inevitavelmente, soltamos uma
risada e Camile sai pisando duro.
— Sabia disso. Desde o início, tinha
certeza de que o senhor Benjamin e a
senhora ficariam juntos. O amor de
vocês é concedido por Deus. Algo
concedido por Deus é duradouro, é
eterno. — Olga abraça-me.
— Amém!
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Ficamos muito felizes de ter a


senhora e sua mãe conosco, novamente.
— Amelia sorri.
— Obrigada. É muito bom estar de
volta.
— Um brinde à senhora Underwood.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 30
Os preparativos para o casamento
correm de vento em polpa. Lauren e eu
já elaboramos a decoração. Benjamin e
eu também conversamos com o pastor,
para ele realizar a cerimônia. Já
decidimos o buffet, meu vestido,
padrinhos e a música. Graças a Deus,
tudo está dando certo.
Nossa lua de mel será em Verona, na
Itália. Nunca saí para fora do estado,
então, será extremamente empolgante
sair para fora do país, ainda mais ao
lado do homem que eu amo. Combinei
de sair com Benjamin, mais tarde.
Vamos escolher o bolo, modelo,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

sabores e etc... Será algo divertido e,


literalmente, delicioso.
— Katherine... — Minha mãe me
chama.
Saio de meu quarto e vou até a sala.
— Tudo bem? — Indago
preocupada. Mamãe pega o controle e
aumenta o volume da televisão.
“O homem mais cobiçado de Los
Angeles está de casamento marcado.”,
diz a legenda do programa de fofocas.
Ao lado, há uma foto de Benjamin e eu.
Eu estou na tv!
— O gato, Benjamin Underwood,
um dos homens mais cobiçados de Los
Angeles e por que não, dos Estados
Unidos, está de casamento marcado. A
bomba, é que ele irá casar, novamente,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

com Katherine Smith. Não sabemos


muito sobre a mulher misteriosa que
fisgou o coração do empresário,
apenas que ela tem vinte anos e que
trabalhava como secretária na
Empresa Underwood. — Diz a
apresentadora.
— Eu ainda trabalho lá. —
Resmungo.
— Minha menina está na tv. —
Mamãe brinca.
— Há algum tempo, Benjamin
Underwood pegou todos de surpresa,
ao aparecer casado com a jovem
Katherine. Após três meses, eles se
divorciaram. Até hoje, ninguém sabe o
motivo da separação. Há boatos de que
tenha sido pivô do divórcio a
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

empresária Camile Potter, mas nada


foi confirmado. Dias depois, Benjamin
apareceu em uma festa com sua ex-
mulher, chamando a atenção de todos,
como sempre.
— Gente fofoqueira. — Murmuro.
— Não gosta de se ver na tv? —
Indaga mamãe.
— Prefiro o anonimato e minha
privacidade. — Desdenho. — Ser vista
pelo Criador do Universo já é mais do
que eu mereço. — Sorrio.
— Verdade, filha.
— Como se não bastasse, na noite
da festa, Benjamin foi alvo de tentativa
de assassinato. Porém, o motivo pelo
qual Kellan Ferris, ex-acionista da
Underwood, atirou foi mantido em
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

sigilo. Hoje, Benjamin já está


devidamente recuperado e de
casamento marcado. Daqui a uma
semana, ocorrerá o casamento do ano.
Com certeza, a festa esbanjará luxo e,
nós, do Vida Alheia, estaremos lá, para
conversar com os convidados e tentar
chegar nos noivos.
— Benjamin vai pirar. — Comento.
— Benjamin não vai deixá-los
entrar. — Mamãe concorda.
— Falando nele... O carro chegou.
Volto daqui a pouco, mãe. Te amo. —
Dou-lhe um beijo na bochecha, saio de
casa e entro no carro de meu noivo.
— Oi, amor. — Seu beijo ainda me
pega de surpresa.
— Olá. — Sorrio. — Acabei de ver
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

uma reportagem sobre nós, naquele


programa de fofocas, o Vida Alheia.
— Já fiquei sabendo. Prepare-se,
senhora Underwood. Ainda vamos dar
o que falar. — Diz dando partida no
veículo.
O caminho até a confeitaria é feito
entre louvores que entoamos a Deus e
muita conversa sobre o casamento.
Chegamos no nosso destino, descemos
do carro e adentramos o
estabelecimento. Os empregados
cumprimentam-nos com educação e o
próprio dono leva-nos até uma mesa
reservada e nos traz muitos bolos.
— Esse... — Fala Ben. — Esse é
maravilhoso.
— Falou isso dos outros sete. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Rio.
— De qual você gostou mais?
— Daquele que tem rechei de
brigadeiro e beijinho. Bem brasileiro.
— Então, o bolo está escolhido. —
Sorri.
— Com licença... — Aproxima-se
um homem de óculos e estilo
despojado. — Sou Dave Carson, da Los
Angeles Magazine. Podem me
responder algumas perguntas? —
Pergunta gentimente.
Benjamin me olha, apenas assinto.
Dave senta-se ao nosso lado e liga uma
espécie de gravador.
— Senhor Underwood, quando se
deu conta de que estava apaixonado por
uma das secretárias da sua empresa?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Acho que demorei para perceber


isso, no entanto, apaixonei-me desde
que a vi.
— Senhorita Katherine, como foi,
para você, saber que Benjamin
Underwood estava apaixonado por
você?
— Foi... Foi simplesmente
maravilhoso.
— Já nutria sentimentos por ele,
antes dele se declarar?
— Pode-se dizer que sim.
— Quanto ao casamento... Vocês
casaram de repente, pegando todos de
surpresa. Depois, vocês se divorciaram
e vão se casar daqui há uma semana.
Como explicam isso?
— Nós nos amamos e... Não
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

conseguimos ficar longe um do outro.


— Benjamin responde.
— O motivo da separação foi
traição? E, se realmente foi isso,
Camile Potter está envolvida?
— Katherine e eu nos divorciamos
por motivos pessoais, que, graças a
Deus, não foram traição e Camile não
está envolvida nisso.
Em parte.
— Quanto a sua tentativa de
assassinato, quer dizer, o tiro atingiria
Katherine, mas o senhor tomou a frente
dela. O que passou na sua cabeça
quando viu a arma apontada para ela?
— Que eu não poderia perder minha
vida. — Bem segura minha mão e sorri.
— Sua vida? — Dave crispa os
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

olhos.
— Katherine.
— Em algum momento, arrependeu-
se de ter sido baleado no lugar dela?
— Não. Jamais! Como disse, depois
de Deus, Katherine é o que eu mais
amo e é tudo para mim.
— Muito obrigado pela atenção. —
Dave agradece, desligando o gravador.
— Não precisa agradecer. — Sorrio.
— Com todo respeito, a senhorita é
uma mulher muito bonita.
Benjamin bufa.
— Já fez todas as suas perguntas,
Dave? — Questiona meu futuro
marido.
— Sim, senhor.
— Então, vá embora. — Responde
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

ríspido.
— Você não tem jeito, Ben... —
Rio.
— Mas eu te amo, Kat.
— Também te amo, ogro.

∞∞∞
Deus age de inúmeras maneiras, a
maioria delas, complexas demais para o
nosso débil entendimento. No entanto,
absolutamente tudo o que Ele faz é
perfeito. Deus nunca erra. Se desde o
início tivesse isso em mente, teria
evitado muitas lágrimas. Porém, sei que
nada saiu do controle do Senhor.
Para a honra e glória Dele, minha
mãe está curada fisicamente. Da mesma
forma, para a honra e glória Dele,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin está curado de uma doença


da alma. Afinal, ele permitiu que Cristo
adentrasse as portas de seu coração e o
libertasse da automutilação. Graças a
Deus, Ben sabe que seu corpo é o
templo do Espírito Santo e deve ser
para a glória de Deus.
Simplesmente não consigo acreditar
em tudo o que me aconteceu nos
últimos meses. Lembro-me do meu
“casamento”, embora ainda ache que
“contrato” seja uma definição muito
melhor para o que Benjamin e eu
tínhamos. Eu não queria casar com ele;
até eu conhecê-lo de verdade; até eu
não querer partir, mas me ver obrigada
a deixá-lo; até me dar conta de que
Benjamin é o grande amor da minha
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

vida e até estar impaciente para o Bruce


vir me buscar. Não vejo a hora de
chegar até o altar, de tornar-me,
novamente, a senhora Underwood.
Bruce ofereceu-se para me levar até
o altar, fiquei imensamente grata.
Mesmo tendo dito que a cerimônia
seria algo simples, Benjamin convidou
quase quatrocentas pessoas. Ah,
esqueci que praticamente nada é
simples para Benjamin Underwood.
Com absoluta certeza, ele é o homem
mais complexo que já conheci.
— Com licença... — Bruce adentra o
quarto. Me arrumei aqui na
propriedade, Ben contratou um salão de
beleza e Lauren supervisionou tudo. —
Está linda, cunhada.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Obrigada, Bruce. — Agradeço


com um sorriso no rosto.
— Vamos? Os convidados já estão
esperando e Ben está quase tendo um
treco. — Ri.
— Vamos. — Assinto.
Encaixo meu braço no de Bruce e
caminhamos até o lado de fora da casa.
Ouço o som da música, então,
começamos a pisar no tapete vermelho
que foi estendido.
De frente para o lago, está o altar e
meu amor. Benjamin sorri. Ele está tão
lindo. Absolutamente tudo está como
sonhei um dia: véu e grinalda, vestido
longo, mamãe está bem, um casamento
de princesa, um príncipe (meio
complicado), mas ainda assim, é o meu
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

príncipe.
Bruce entrega-me para Ben e deixo
meu buquê com Lauren.
— Boa tarde a todos. Estamos aqui
para celebrarmos o amor de Benjamin
Underwood e Katherine Smith. Um
jovem casal que, com certeza,
enfrentou inúmeros obstáculos para
chegar até aqui. — Inicia o pastor. Já
posso perceber que os olhos de
Benjamin estão marejados. — A
palavra do Senhor diz-nos que: nós
amamos porque Ele nos amou
primeiro... Meus jovens, vocês estão
aqui, todos nós estamos aqui, porque,
um dia, Deus tanto amou o mundo que
deu Jesus para morrer por nossos
pecados. E se existe amor entre vocês
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

dois, é porque Deus os amou primeiro.


— Prossegue. — Benjamin
Underwood, aceita Katherine Smith
como sua legítima esposa? Para amá-la
e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, na riqueza e na
pobreza, até quando o Senhor permitir?
— Sim. — Uma lágrima rola de seu
rosto e eu sorrio. Afinal, Benjamin
Underwood chorou em público.
— Katherine Smith, aceita Benjamin
Underwood como seu legítimo esposo?
Para amá-lo e respeitá-lo, na alegria e
na tristeza, na saúde e na doença, na
riqueza e na pobreza, até quando o
Senhor permitir?
— Sim.
O sim de verdade.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Eu, Benjamin Underwood,


prometo amá-la enquanto eu viver,
prometo estar ao seu lado em todos os
momentos e protegê-la com a minha
vida. — Coloca a aliança em meu dedo.
— Obrigado por me amar, mesmo eu
sendo como sou. Obrigado por não
desistir e ser forte. Obrigada por me
mostrar o verdadeiro amor e por me
amar primeiro. Eu te amo! — Diz em
meio às lágrimas.
— Eu, Katherine Smith, prometo
amá-lo enquanto eu viver, prometo
estar ao seu lado em todos os
momentos e protegê-lo com a minha
vida. — Coloco a aliança em seu dedo.
— Obrigada por me ensinar a ser forte
e lutar pelo o que quero. Obrigada por
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

cuidar de mim e proteger com a sua


vida. Obrigada por me ensinar que o
amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta. E se eu te amo, foi porque
Deus me amou primeiro. Eu te amo. —
Sorrio em meio às lágrimas que rolam
em minha face.
— Eu os declaro: marido e mulher.
Pode beijar a noiva.
Benjamin envolve minha cintura e
beija-me. Nossos convidados vibram.
— Eu te amo, senhora Underwood.
— Sussurra em meu ouvido.
— Eu te amo, senhor Underwood.
— Respondo da mesma forma.
— Parabéns, meus filhos. — Senhor
Alaric nos abraça.
— Obrigada.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Obrigado, pai.
Graças a Deus, a relação de Ben com
a sua família tem melhorado muito.
— Meus amores... Eu desejo toda a
felicidade do mundo para vocês. —
Lauren nos parabeniza. Como sempre,
ela é estérica.
— Obrigada. — Dou risada. Ben
revira os olhos com o escândalo da
irmã.
— E, Kat, parabéns! Você conseguiu
domar o meu irmão. — Aparenta
perplexidade.
— Não sou um animal para ser
domado. — Indigna-se.
— Ah, você é um cavalo quando
quer, Ben. — Desdenha Lauren.
— Não briguem, crianças. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ironizo.
— Parabéns, que Deus abençoe
vocês. — Mamãe nos abraça. — Cuide
de minha filha, Benjamin.
— Pode deixar, senhora Angelina.
Os outros cumprimentam-nos
felizes. Olga apresentou-me sua
família, são pessoas ótimas. Jeff dava
pulos de alegria e foi Amelia quem
pegou o buquê. Ela e Jeff ficam muito
bonitinhos, juntos.
Pois é... parece que sou a senhora
Underwood. De novo. De verdade.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 31
Nossa festa de casamento perdurou
até o amanhecer. Estava simplesmente
maravilhosa. Tiramos várias fotos,
sorrimos, choramos de alegria e nos
alegramos ao lado de nossos entes
queridos.
Depois da festa, apenas tomamos um
banho, trocamos de roupa, pegamos
nossas malas e nos despedimos da
nossa família. Agora estamos no avião,
a caminho de Verona, onde passaremos
nossa lua de mel.
Nunca imaginei que viajaria de
avião, afinal, sempre andei a pé ou de
ônibus. Nunca imaginei que sairia para
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

fora do país, conheceria a Itália,


passaria a minha lua de mel ao lado do
homem que julgo ser o mais lindo do
mundo. Não tem lógica. Ninguém
explica Deus e o seu modo de agir.
— Vai gostar do lugar que vamos
ficar. — Comenta Ben.
— É um hotel?
— Não... Aluguei uma propriedade
pra gente, assim teremos nossa
privacidade. — Apenas assinto. — Eu
te amo. — Fala olhando no fundo de
meus olhos. Ao ouvir tais palavras, é
como se meu coração saltitasse em meu
peito. Abro um sorriso enorme. —
Também amo o seu sorriso. —
Murmura me beijando.
As próximas horas de viagem são
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

exaustivas, acabo por dormir. Acordo


apenas quando ouço a voz do piloto
avisando que vamos pousar. Saímos do
avião, pegamos nossas malas e
entramos no carro que já estava a nossa
espera. Depois de mais ou menos uma
hora de viagem, adentramos uma bela
propriedade. A casa é antiga, porém,
conserva muita elegância.
— Vamos entrar? — Ben me
convida.
— Vamos.
Ele pega-me em seus braços, sendo
um verdadeiro cavalheiro, então,
entramos na casa. Não é tão grande,
mas é linda. Benjamin sobe as escadas
comigo, solta-me apenas quando
chegamos no quarto. Ben envolve
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

minha cintura em seus braços e me


beija.
— Ben... — Separo nossos lábios.
— Eu... Você sabe que...
— Não vou fazer nada que você não
queira, está bem? — Ele acaricia meu
rosto. — Vamos fazer assim: vamos
jantar, acender a lareira e deixar as
coisas acontecerem naturalmente.
Certo? — Ele franze o cenho. Ben fica
lindo quando faz isso.
— Certo. — Sorrio.
Ben e eu vamos para a cozinha, ele
vai cozinhar. Nós comemos lasanha.
Benjamin cozinha muito bem, diferente
de mim, é claro. Ele me disse que sua
mãe o ensinou a cozinhar.
— Você foi a melhor coisa que já
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

me aconteceu. — Sussurra em meu


ouvido, fazendo-me arrepiar.
A única luz que ilumina o quarto é o
fogo da lareira.
— Posso dizer o mesmo. — Esboço
um leve sorriso.
Ben contorna cada traço do meu
rosto. Ele inala meu perfume e me
arrepio ao senti-lo tão perto. Suas mãos
prendem minha cintura e ele puxa-me
para mais perto. Meu coração bate
descompassado. Uma de minhas mãos
contorna a cicatriz que há em seu peito.
Às vezes, nem parece real. Depois de
tantos altos e baixos, lágrimas, sorrisos,
bruxas Potter e Kellans, finalmente,
Ben e eu seremos felizes. Finalmente,
teremos Deus, paz, amor e um ao outro.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Eu te amo, Katherine. — Beija-


me.
Então, diante de muitas juras de
amor, Benjamin e eu nos tornamos um,
consumamos nosso amor de uma forma
bela.
A iluminação do quarto é pouca, no
entanto, consigo enxergar seus olhos,
posso ver felicidade, calma e amor
emanarem dos mesmos. Nem parece
que há algum tempo, seus olhos já
emanaram ódio e me causaram medo.
— No que está pensando, senhora
Underwood? — Indaga sorridente.
— Nada demais. — Dou de ombros.
Escoro minha cabeça em seu peito e
sorrio. Graças a Deus, todas as coisas
contribuíram e ainda contribuem para o
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

meu bem.
— Vamos cavalgar, amanhã? Quero
levar você para conhecer a
propriedade?
— Cavalgar? Você não vai me tirar
da sua vida novamente, não é? —
Pergunto em tom de brincadeira.
— Acredite, aquele dia no estábulo,
o que eu mais queria dizer era que eu
também te amava.
— Eu sei... Como a Lauren diz: eu
domei você, Ben. — Brinco.
— Não costumo discordar, mas...
— Você sempre, sempre discorda.
— Continuando... Você não me
domou, você me amou. Fico feliz por
isso, amor.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

∞∞∞
Acordo com o canto dos pássaros
que rodeiam a propriedade. Benjamin
ainda dorme tranquilo. Ele fica lindo
com os cabelos bagunçados. Levo
minha mão até o criado mudo e pego
meu celular, já são onze horas da
manhã. Faz tempo que não dormia
tanto. Contorno a cicatriz que há no
peito de Benjamin. Cicatriz da cirurgia
que ele fez por salvar minha vida.
— Meu físico é tão atraente? —
Ouço a voz rouca de Ben.
— Definitivamente, sim. — Balanço
a cabeça.
— Bom dia. — Sussurra.
— Bom dia, Ben.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Sempre que eu olho meu reflexo


no espelho e vejo esta cicatriz, eu
lembro de você. — Comenta me
prendendo em um abraço apertado.
— Lembra que quase morreu por
minha causa. — Murmuro.
— Não. Lembro que a mulher da
minha vida está bem, segura e que, de
certa forma, sempre tenho ela comigo.
— Beija-me delicadamente.
— Eu te amo.
— Eu também amo você, minha
Katherine. — Sorri. — Acho melhor
nos vestirmos... Temos um longo dia
pela frente, senhora Underwood.
Ben e eu nos levantamos e vamos
nos arrumar.
— Vamos tomar café?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Acho melhor já fazermos o


almoço. — Sugiro.
— Ideia perfeita.
Preparo macarrão, uma das poucas
coisas que sei cozinhar. Após nosso
rápido almoço, Ben e eu vamos até o
estábulo. Ele mostra-me cada cavalo e
demora cerca de vinte minutos para me
convencer a montar com ele.
Escoro minha cabeça contra seu
peito e ele prende-me em seus braços.
O cavalo troteia de forma mansa. Fecho
os olhos e sinto a leve brisa de Verona.
— Kat...
— Hum?
— Lembra quando você perguntou
se eu acreditava no amor, quando
estávamos cavalgando, da primeira
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

vez?
— Sim. — Sussurro.
— Passei a acreditar no amor, a
partir do dia que você invadiu meu
quarto e me viu daquele estado. E,
apesar de tê-la machucado, naquela
noite, você cuidou de mim e não me
julgou. Nunca havia dito obrigado. —
Diz ao pé de meu ouvido.
— Não precisa agradecer... Você
está aqui agora...
— O que acha de conhecermos a
cidade mais tarde?
— Claro. — Sorrio. — Você já tinha
vindo para a Itália?
— Já, mas apenas para uma reunião
de negócios.
De repente, ouvimos o barulho de
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

um trovão. Encolho-me e Benjamin ri.


— É melhor voltarmos. Você deve
ter ficado traumatizada com
tempestades. — Brinca.
— Na verdade, não... Não muito. —
Ironizo, enquanto ele dá meia volta
com o cavalo.
— Prometo: só teremos tempestades
de alegria, amor...
As primeiras gotas de chuva
começam a cair. Benjamin apressa o
cavalo para chegarmos mais rápido ao
estábulo.
Benjamin deixa o cavalo no estábulo
e corremos para dentro de casa.
— Estamos completamente
molhados. — Rio de nossa condição,
assim que adentramos a casa.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Um trovão ecoa e me abraço a Ben.


— Minha princesa...
— Que tem medo de tempestades.
— Desdenho.
— Você não tem medo de
tempestades. — Afirma, olhando-me
no fundo dos olhos. — Sabe por quê?
Você enfrentou a tempestade que foi a
doença da sua mãe, a tempestade de
conseguir o dinheiro para o tratamento
dela. Você enfrentou a mim e, com
certeza, não sou uma brisa suave. Você
enfrentou o meu mau humor, minhas
brigas, você me enfrentou. As
tempestades que você enfrentou, foram
muito maiores do que essa.
— Sabe de uma coisa? — Ele crispa
os olhos. — Todas as tempestades que
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

eu enfrentei valeram a pena e, se


preciso, enfrentaria tudo novamente.
Até as suas trocas de humor. Tinha dias
que... Eu, realmente, não te entendia...
Quer dizer, acho que nem você
conseguia se entender. Até pensei que
você fosse meio bipolar.
Benjamin ri.
— Vamos tirar essa roupa molhada?
Não quero que você fique doente.
Trocamos de roupa, Ben acende a
lareira e vamos assistir televisão.
— Parece que não vamos conhecer a
cidade hoje... A chuva está cada vez
mais forte. — Comento olhando pela
janela do quarto.
— Não me importo de ficar aqui
com você. — Fala depositando um
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

beijo em meus lábios.


— Sabe que eu também não. —
Sorrio.
— Já disse que te amo? — Suas
sobrancelhas se erguem.
— Não agora, mas pode repetir. Não
me canso de ouvir isso.
— Eu te amo, minha princesa com
medo de trovão.
— Eu te amo, meu príncipe mal
humorado e bipolar.

∞∞∞
A nossa lua de mel passou rápido.
Ficamos duas semanas na Itália,
conhecemos inúmeros lugares incríveis,
cavalgamos mais algumas vezes. Foi
simplesmente maravilhoso e único. Ben
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

e eu estamos a caminho de casa. Ainda


temos mais algumas horas de voo.
— Lauren ligou... Eles vão almoçar
lá na sua casa. — Comento com Ben.
— Nossa casa. — Sorri.
— Ainda tenho que me acostumar
com isso. — Brinco.
— Já mandei os empregados
arrumarem suas coisas no meu quarto e
mandei aumentarem o closet. Terá
bastante espaço.
— Estou com saudade de casa, por
mais que tenha amado nossa viagem.
— Vamos viajar mais vezes, pode
ter certeza.
— Tenho vontade de conhecer
Israel.
— Podemos ir pra lá, no seu
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

aniversário.
— Com licença... — Aproxima-se
um homem, que aparenta ter a idade de
Ben. — Sou George Fox, da revista
Runway. Posso fazer umas perguntas,
senhor e senhora Underwood?
— Se não for dar em cima da minha
mulher, tudo bem. — Benjamin dá de
ombros. George e eu rimos da situação.
— Por mais que sua mulher seja
linda, com todo respeito, eu sou casado.
— Mostra-nos a aliança em seu dedo.
George senta-se na poltrona vaga a
nossa frente e pega um bloco de notas e
uma caneta.
— Primeiro, quero parabenizá-los
pelo casamento.
— Obrigada, George. — Sorrio em
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

agradecimento.
— Onde passaram a lua de mel?
— Na Itália, grande maioria do
tempo em Verona e arredores. —
Responde Benjamin.
— Senhora Underwood, como foi
ficar famosa de forma tão repentina?
— Não acho que sou famosa. —
Crispo os olhos.
— A senhora está estampando capas
de revistas, sua imagem está em
programas de televisão... Acho que isso
quer dizer muita coisa.
— Em parte... Mas, não tenho isso
como algo importante. Eu nunca gostei
de holofotes ou de ser o centro das
atenções.
— Vocês são o casal mais querido
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

dos Estados Unidos. Apesar de todos os


boatos, negados por vocês, o amor
prevaleceu. Mas me contem, vocês já
tiveram alguma briga séria?
— Já brigamos, sim. Mas nada que
não aconteça com qualquer casal. —
Benjamin responde rapidamente.
Tudo bem, minhas brigas com
Benjamin não eram nada normais. Ele
costumava ser muito rude e eu sempre
procurava ter uma resposta para seus
insultos. Durante o voo, respondemos
mais algumas perguntas de George.
Finalmente, chegamos em casa.
— Bem-vinda ao seu lar, senhora
Underwood. — Benjamin me puxa para
um abraço, assim que entramos em
casa.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Ele pega-me pela mão e leva até a


cozinha. Meus amigos sorriem assim
que surgimos em sua frente.
— Pessoal, quero apresentar
Katherine Underwood, minha esposa.
— Ben brinca.
— Sejam bem-vindos, senhores. —
Jeff cumprimenta-nos.
— Obrigada. — Sorrio.
— Onde estão os outros habitantes
da casa? — Pergunta meu marido.
— A senhora Angelina, o senhor
Alaric, a senhora Lauren e o marido
estão esperando por vocês na estufa.
Servirei o almoço lá. — Olga
comunica-nos.
Abraço cada um dos empregados e
vou trocar de roupa. Os saltos estavam
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

me matando. Assim que entro no


quarto de Ben é... Diferente. Agora será
o nosso quarto.
— Acho que eles não vão se
importar se demorarmos mais alguns
minutos. — Comenta me beijando.
— Claro... A Lauren só vai entrar
aqui no quarto e sem bater e
provavelmente irá nos pegar em uma
situação constrangedora. — Desdenho.
— Pronto. — Murmura depois de
trancar a porta.
— Você é maluco.
— Só se for por você, Katherine.
Depois de mais alguns minutos,
Benjamin e eu vamos para a estufa.
— Que saudade, minha princesa. —
Mamãe me abraça.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Também senti sua falta, mãe.


— Sejam bem-vindos. —
Cumprimenta-nos o senhor Alaric.
— Vocês chegaram só agora? —
Lauren pergunta desconfiada.
— Há alguns minutos, mas fui trocar
de roupa. Os saltos estavam me
matando.
— Sei... — Debocha, minha
cunhada. — Depois quero que me
conte tudo. — Sussurra.
— Pode deixar. — Balanço a cabeça
em concordância.
— Como foi a viagem? —
Questiona mamãe.
— Foi ótima, graças a Deus.
— Tirando o George. — Resmunga
Ben.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Quem é George? — Bruce franze


o cenho.
— Um repórter da revista Runway.
Ele nos abordou no avião e olhava para
a Katherine sem parar.
Todos rimos da expressão facial de
Benjamin.
— Sabe que eu só tenho olhos pra
você, Ben.
— Também só tenho olhos para
você. — Responde-me enquanto
deposita um beijo em meus lábios.
— Vocês já não se agarraram o
suficiente nas últimas duas semanas?
Nada contra, mas, se vocês querem se
agarrar é só procurar um quarto. —
Lauren indigna-se.
— É bom estar em casa. — Concluo
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

comigo mesma.

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 32
Hoje, Ben e eu completamos um ano
de casados. O tempo passou de uma
forma estupidamente rápida. Até
Lauren já tem um lindo bebezinho de
dois meses, ele chama-se Ethan.
Minha mãe e o senhor Alaric
casaram-se há três meses. A novidade
pegou todos nós de surpresa, mas
ficamos muito felizes por eles.
Inclusive, eles estão morando em uma
casa perto da nossa. É muito bom tê-los
como vizinhos. Estou trabalhando com
minha cunhada, ajudo Lauren com os
desfiles e eventos de moda que ela
organiza. Até que é legal.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin está congregando na


igreja, junto comigo. Ele está
começando seu ministério, vez ou
outra, lhe dão a oportunidade de ler
uma palavra, fazer uma oração ou até
mesmo ministrar. É linda a forma que
Deus tem agido na vida dele.
A Bruxa Potter? Camile foi
transferida para uma filial da empresa
no Japão. Fiquei feliz por ela, afinal,
estamos a vários quilômetros de
distância, mas, ok! De verdade, fiquei
feliz por ela ter ganhado essa
promoção.
Acordo com os raios de sol
invadindo o quarto. Ben já não está na
cama. Provavelmente, está na empresa.
Olho para o criado mudo e observo um
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

bilhete. É a letra de meu marido.


“Bom dia, minha Katherine
Parabéns pelo nosso dia. Perdoe-me
por não estar aí quando você acordar,
mas saiba que você estará preenchendo
todos os meus pensamentos ao longo
do dia. À noite, iremos jantar juntos.
Infelizmente, terei uma reunião
importante e não poderei cancelar.
Vamos viajar no final de semana, para
compensar minha falta. Eu amo você.
Com carinho, de seu mal humorado
bipolar, Ben.”
Sorrio ao ler tais palavras.
Levanto-me, dobro meus joelhos e
agradeço a Deus por mais um dia de
vida.
Arrumo-me e vou tomar café.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Bom dia. — Cumprimento os


empregados com um largo sorriso no
rosto.
— Bom dia, Kat. — Eles dizem.
— Está com fome, querida? —
Indaga Olga.
— Sim... Quero uma torrada e um
chocolate quente, por favor.
— Já está saindo.
— Obrigada, Judith.
Tomo meu café e peço para o
motorista me levar à empresa.
— Bom dia, senhora Katherine.
— Bom dia, Stella. O Ben está em
reunião? — Indago à secretária de meu
marido. Ela tem uns cinquenta anos e é
um amor de pessoa.
— Está, sim.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Pode me fazer um favor?


— Sim, senhora.
Explico a Stella o que ela deve fazer
e caminho até o escritório de Ben.
Sempre que entro aqui, flashbacks de
quando nos conhecemos vêm a minha
mente:
Deparo-me com um homem jovem.
Seu terno preto está perfeitamente
alinhado e seus olhos azuis são
amedrontadores quando pousam sobre
mim.
— Onde está o senhor Underwood?
— Vasculho o local com o olhar.
— Não sabe bater? — Sua voz é
carregada de desdém.
— Sou a secretária do senhor Alaric
Underwood. Onde ele está? — Torno a
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

perguntar.
— Não me interessa quem é você. —
Ele dá de ombros. — Sou Benjamin
Underwood, filho dele. — Sorri
ironicamente. — Respondendo sua
pergunta: meu pai passou mal por
consequência do estresse. Irá se
ausentar por tempo indeterminado, o
que me torna o novo presidente. —
Analisa-me de cima a baixo.
— Sinto muito pelo senhor
Underwood. Mas como o senhor foi
eleito o novo presidente tão
rapidamente? — Crispo os olhos.
— Se estivesse na empresa no
momento em que tudo aconteceu você
saberia. — Ele é curto e grosso. — A
propósito, onde você estava?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Tive uma emergência. — Respiro


fundo.
— Hum... — Seu olhar é carregado
de esnobe. — O que você queria para
entrar aqui sem bater? — Indaga
seriamente. — Seja rápida, tenho
muitos problemas para resolver. —
Senta-se em sua poltrona.
— Preciso de um dinheiro. —
Encaro o fundo de seus olhos azuis.
— Quanto?
— Um milhão de dólares.
Minha vida mudou completamente,
desde aquele dia. Embora tenha
enfrentado dificuldades, também
desfrutei inúmeros momentos felizes.
— Espero que seja importante...
Katherine?
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Benjamin aparenta estar confuso,


assim que me vê. Pedi para Stella dizer
a ele que um importante fornecedor de
Nova Iorque, vulgo eu, estaria o
esperando em sua sala para tratar de um
assunto urgente. Ele acreditou.
— Foi aqui... Foi aqui nesta sala que
tudo começou. Foi aqui que eu conheci
o homem mais arrogante do mundo e o
mais carinhoso. Foi aqui que eu odiei e
amei alguém com todas as minhas
forças. Foi aqui que a minha vida
mudou completamente, a partir do
momento que eu aceitai casar com
você. E achei que deveria ser aqui que
eu tinha que te falar isso. Parabéns pelo
nosso dia.
— Amor... Obrigado por tudo. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Prende-me em seus braços. Ben une


nossos lábios e beija-me com paixão.
— Eu te amo, Kat. — Sussurra entre o
beijo.
— Eu amo você, Ben. — Separo
nossos lábios e sorrio. — Desculpe
mentir, mas precisava tirar você
daquela reunião.
— Acredite, amei sua visita. — Ele
volta a me beijar. — Porém, preciso
voltar para a reunião, estamos
decidindo questões importante da
empresa e eu preciso saber o que será
decidido. A gente se vê mais tarde. —
Dá-me um selinho e está prestes a sair
do escritório quando chamo sua
atenção.
— Sem problemas, amor... Mas vim
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

até aqui porque também achei que você


gostaria de saber que vai ser pai. —
Falo naturalmente, até que lágrimas de
alegria começam a rolar em meu rosto.
Benjamin corre até mim e gira-me
no ar. Seus olhos estão marejados e
acho que nunca o vi tão feliz.
— Vamos ter um filho... —
Comenta maravilhado. — Vamos ter
um filho, minha Katherine. — Beija-
me em meio a nossa felicidade
extremamente abundante. — Stella,
diga aos acionistas que não poderei
voltar a reunião. Tenho assuntos mais
importantes para resolver. — Diz-lhe
no telefone, sem sequer dar chance da
secretária respondê-lo.
— Pode ir para a reunião, Ben. Não
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

quero atrapalhar.
— Você nunca me atrapalha, amor.
Nós vamos ter um filho. — Sorri. —
Quando descobriu estar grávida?
— Há dois dias, faz um tempo que
sentia alguns enjoos e tonturas. Fui até
o médico, fiz um exame e ficou
comprovado que estou esperando um
bebê. — Respondo animada.
— Alguém mais já sabe? — Crispa
os olhos.
— Apenas minha mãe.
— Nosso bebê será muito amado,
terá tudo o que quiser e nós seremos
muito felizes, meu amor. Amém?
— Amém!

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Capítulo 33
Nunca imaginei que um dia iria
assinar um contrato. Sempre os achei
peculiares, complexos; complicados e,
sinceramente, não queria nada disso
para a minha vida. Meus objetivos –
que se limitavam a trabalhar e pagar as
contas – estavam traçados e muito bem
planejados, até eu descobrir que minha
mãe estava morrendo.
Meu salário não era alto, nunca
conseguiria um milhão de dólares.
Então, pedi para Deus que Ele entrasse
com providência.
Lembro-me de pensar que só tinha
duas alternativas: ou eu conseguia o
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

dinheiro ou Deus realizava um milagre


e eu sabia que, para Ele, nenhuma das
duas alternativas era impossível de ser
realizada. Porém, não sabia que tudo o
que estava acontecendo serviria para
me levar até Benjamin. No início, casar
com ele foi difícil; depois, o que foi
difícil foi deixá-lo.
Dentro de poucos dias, encontrei-me
perdida e incondicionalmente
apaixonada por Benjamin Underwood,
o homem mais frio que o gelo. No
entanto, Ben precisava apenas de uma
boa dose de amor. Benjamin precisava
de Deus. Suas mudanças de humor
deixavam-me maluca. Em um instante,
Benjamin era como uma brisa suave e
calma, no outro, era como um furacão,
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

tão furioso quanto o furacão Katrina.


Mesmo assim, eu o amei.
Nós amamos porque Ele nos amou
primeiro.
Amei Benjamin com todas as
minhas forças, amei aquele homem
mesmo quando ele não me amou.
Afinal, o amei porque Deus me amou
primeiro. Mesmo eu não merecendo,
Deus, em sua infinita misericórdia, deu
o seu Filho por amor a minha vida. Não
foi um contrato que me prendeu a
Benjamin, foi o amor que sentia e ainda
sinto por ele. Um amor que cresce a
cada dia, a cada instante.
Já faz sete anos que estamos
casados. O tempo passa rápido demais.
Temos uma linda princesa de cinco
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

anos. Ela chama-se Sarah. Lembro-me


de quando sugeri o nome para Ben, já
era madrugada e estávamos deitados.
— Ben... — Chamei sua atenção.
— Tudo bem, amor? — Indagou
afagando meus cabelos.
— Já pensou em algum nome para o
nosso bebê?
— Não. Você teve alguma ideia?
— Pensei que, se for menino, pode
ser Jeremy e ser for menina, pode ser
Sarah. O que acha? — Sugeri olhando
no fundo de seus olhos, os mesmos
tornaram-se marejados.
— Minha mãe se chamava Sarah.
— Então, é mais um motivo pra esse
ser o nome.
Por fim, a Sarah nasceu. Foi o dia
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

mais feliz de nossas vidas.


— É uma menina. — Falou-nos o
médico. Ben estava chorando de
alegria. Ele colocou a pequena Sarah
em meus braços.
— Nossa princesa... — Sorri em
meio às lágrimas.
— Eu amo vocês. — Sussurrou meu
marido.
— Também amo você, Ben.
Obrigada por tudo, meu amor.
— Eu que devo agradecer, minha
Katherine. Afinal, você não só me
apresentou o amor, mas também me
amou e me deu o bem mais precioso de
todos: nossa Sarah.
Hoje, Sarah tem cinco anos. É a
versão feminina de Benjamin. Tanto os
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

cabelos meio encaracolados, quanto os


olhos azuis; absolutamente tudo nela é
igualzinho a ele. Quer dizer, nem tudo,
suas personalidades diferem muito.
Sarah é mais parecida comigo nesse
quesito e fico feliz por isso. Não queria
que ela herdasse o mau humor de Ben.
Se bem que, foi por esse mal humorado
que eu me apaixonei.
São mistérios de Deus, coisas que
nosso débil entendimento humano não
é capaz de entender. Ninguém explica
Deus.
— Amor... — Sussurro na tentativa
de acordar Benjamin.
Ele prende-me mais em seus braços
e continua dormindo. — Ben, temos
que acordar. Daqui a pouca as visitas
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

chegam.
— Vamos ficar aqui, amor. —
Murmura sonolento, depositando um
beijo em meus lábios.
— Se nós ficarmos aqui,
provavelmente, a sua irmã vai derrubar
essa porta. — Argumento.
— Está bem, senhora Underwood.
— Levanta-se relutante.
— Amo o seu mau humor matinal.
— Sorrio.
— Amo o seu sorriso, minha Kat.
Ben e eu oramos a Deus e nos
arrumamos. Depois, vou arrumar a
Sarah.
Hoje é domingo, então, mamãe, meu
sogro, Lauren, Bruce e Ethan virão
almoçar conosco. Ethan é praticamente
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

um ano mais velho que Sarah. Os dois


se dão muito bem e sempre brincam
juntos.
— Olá gente. — Cumprimentamos
nossos familiares assim que chegam.
Sarah corre para o colo de mamãe.
— Oi tia, Kat. — Ethan me dá um
abraço.
— Oi, meu amor.
Pedi para Olga preparar a mesa no
jardim. É primavera, as flores estão
enfeitando o local.
— Quem vai orar? — Indaga
mamãe.
— O papai. — Sarah responde com
um lindo sorriso no rosto.
— Tudo bem. — Benjamin assente.
— Oramos: Senhor Jesus, queremos te
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

agradecer por todas as bênçãos que o


Senhor tem nos concedido. Obrigado
pelo alimento, que nunca venha faltar
em nossas mesas. Lembra-te da viúva,
do órfão, do necessitado e do
missionário. Agradeço pela
maravilhosa família que o Senhor me
presenteou. Obrigado por meu pai, um
amigo querido, que sempre posso
contar e que sempre está disposto a me
ajudar. Obrigado por minha sogra
amada, sem ela, não teria minha
Katherine. Obrigado pelo meu
cunhado, peço que lhe dê paciência
para aguentar a Lauren. Obrigado pelo
meu lindo sobrinho, Ethan, o qual, não
saiu parecido com a Lauren. Obrigado
pela megera da minha irmã. Por mais
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

que eu a odeie, eu a amo muito e não


posso viver sem ela. Obrigado por ter
me dado a filha mais linda, educada,
gentil do mundo e obrigado por ela ser
completamente o oposto de mim.
Senhor, quero agradecer pela
maravilhosa mulher que colocou em
minha vida. Não sou digno dela,
todavia, o Senhor me ama muito e teve
misericórdia de mim. Devo tudo o que
tenho ao Senhor e ao contrato que
assinei com Katherine. Desde já,
entrego tudo em tuas mãos e te
agradeço, em teu nome Jesus. Amém!
— Também te amo, ogro. — Lauren
murmura.
— Mamãe, que contrato a senhora e
o papai assinaram? — Sarah pergunta
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

curiosa.
Benjamin e eu trocamos olhares
cúmplices e sorrimos.
— Um contrato de amor. —
Respondo sorridente.
— Agora, vamos comer. — Bruce
anima-se.
Ele é bem quieto, mas não esconde o
amor que sente por qualquer coisa que
seja comestível.
— Tenho algo a dizer. — Todos
voltam sua atenção para mim. — Tem
mais um Underwood a caminho. —
Concluo, pondo as mãos em minha
barriga.
Benjamin levanta-se de sua cadeira e
abraça-me fortemente.
— Vamos ter mais um bebê. —
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

comenta maravilhado e ao mesmo


tempo perplexo. — Um pequeno mini
Ben.
— Tá repreendido. — Lauren
arranca-nos altas risadas.
— Amém! — Jeff concorda,
enquanto serve o suco de laranja.
Nosso almoço foi ótimo. Estamos
todos muito felizes com a chegada do
bebê. Depois da nossa refeição, todos
foram tirar uma soneca. Exceto Ben e
eu. O jardim está lindo demais para
deixá-lo. Estamos sentados na grama,
sentindo a brisa da primavera.
— Eu amo você. — Sussurra em
meu ouvido.
— Ainda tem vergonha de confessar
seus sentimentos ao mundo? — Minhas
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

sobrancelhas se erguem.
— Não. — Balança a cabeça.
— Grite para o mundo, então. —
Olho no fundo de seus olhos.
— Eu te amo, Katherine
Underwood. — Sussurra em meu
ouvido, novamente. O olho confusa. —
Você é o meu mundo. — Seu sorriso
aquece meu coração.
— Também amo você. — Dou um
beijo em seus lábios. — Tirou essa
frase clichê da internet, não é? —
Indago rindo.
— Exatamente... Sabe que não sou
bom com as palavras. E nada referente
a nós é clichê. Afinal, começamos
nosso casamento com um contrato. —
Argumenta.
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

— Existem vários tipos de contrato,


o nosso foi um contrato de amor. Ainda
acho clichê. — Entrelaço nossos dedos.
— Tudo bem, você está certa. Nossa
história de amor é totalmente clichê. É
algo comum a secretária entrar na sala
do chefe; encontrar o filho do chefe,
pedir um milhão de dólares e aceitar
casar com ele. Acontece todos os dias.
— Desdenha e dou um tapa de leve em
seu ombro. — Ele é arrogante com ela
e tenta afastá-la de todas as formas,
mas ela é doce, gentil e ela o ama sem
pedir nada em troca. Ainda não consigo
acreditar que isso aconteceu com a
gente, amor, que você me amou,
mesmo eu sendo como eu era. Nossa
história é linda. Com certeza, deixa os
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

contos de fadas da Disney pra trás. —


Ele puxa-me ainda mais para seus
braços.
— Acredite, essa é nossa história. —
Contorno seus lábios com meus dedos.
— Sabe por que eu te amei? Porque eu
sabia que por trás do homem tão frio
quanto o gelo existia alguém amável,
carinhoso, protetor. Sabia que por trás
do homem tão duro quanto uma pedra,
existia um homem doce, forte e gentil.
— Sorrio, embora meus olhos estejam
marejados. — Sabia que por trás do
homem que parecia um monstro, uma
fera, existia um verdadeiro príncipe,
que também era capaz de amar. E, sabe
por que eu te amei? Porque um dia
Deus me amou, sem cobrar nada em
PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

troca. Então, nós só amamos, porque


Ele nos amou primeiro.

PERIGOSAS ACHERON

Você também pode gostar