Educação Socioemocional Qual o Seu Papel Na Escola Atualmente

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EDUCAÇÃO SOCIOEMOCIONAL: QUAL O SEU PAPEL NA ESCOLA

ATUALMENTE?
Jamille Costa Dias1

RESUMO

Na construção de uma sociedade mais fraterna, produtiva e de sucesso, a educação sempre foi um dos
pontos primordiais juntamente com o papel da família. Nesse sentido, esse artigo traz a discussão do
papel da educação socioemocional em nossas escolas atualmente, como forma de propiciar a formação
integral dos indivíduos, com capacidades e habilidades essenciais para a adaptação a qualquer realidade,
como a empatia, a capacidade de conviver e produzir em equipe, de conhecer e controlar suas emoções,
bem como, favorecer, também, o desenvolvimento das habilidades cognitivas.

Palavras-chave: socioemocional, inclusão, BNCC, neurociência.

INTRODUÇÃO

Nunca se discutiu tanto sobre Educação Socioemocional, na área de educação, como


nos últimos anos. Fazendo uma breve análise da história da educação, por muitos anos, cuidou-
se pouco das questões socioemocionais dos alunos, priorizando normalmente questões
pedagógicas.
Existem muitos programas nesta área, entretanto a implantação e o desenvolvimento do
trabalho dentro das escolas ainda são precários e, muitas vezes, não é atribuído grande
importância em detrimento ao conteudismo. O escritor Paul Tough (2017) afirma que nenhum
programa ou escola é perfeito. Porém, em cada atividade de sucesso, é possível encontrar sinais
para aprimorar intervenções, sendo imprescindível o estudo e a busca por novos caminhos.
Estudos nesta área tem despertado grande interesse no campo dos relacionamentos e o
foco principal está na eficácia de programas socioemocionais, tanto em ações educacionais,
quanto na prevenção de questões de saúde mental e de melhoria no desenvolvimento humano.
Finalmente, busca-se contribuir para a formação integral do indivíduo, compreendendo que o
emocional e o psíquico saudáveis são essenciais para a assimilação de qualquer conteúdo.
Este trabalho pretende discutir a importância da valorização de programas bem
definidos que tenham por objetivo o bom desenvolvimento de aspectos emocionais e psiquicos
dos alunos. Também será realizada uma abordagem sobre a importância do acolhimento e da
empatia para que o aprendizado seja assimilado. O papel do professor, a responsabilidade da
escola em capacitá-lo e da família em acompanhar.

1 Graduada em Pedagogia, Bacharel em Ciência da Computação, Pós Graduada em Psicopedagogia, email:


[email protected]
DESENVOLVIMENTO

Educação socioemocional é o conjunto de ações para o desenvolvimento das


competências socioemocionais – também chamadas de “competências não cognitivas”,
“carater” ou “qualidades pessoais. Segundo a Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE), essas competências são as habilidades que cada pessoa
tem para alcançar seus objetivos, relacionando-se com os outros em trabalhos em grupo e para
administrar e controlar suas emoções (FRAIMAN, 2019).
Várias pesquisas e estudos comprovam o impacto positivo de programas de educação
socioemocional, também no desenvolvimento das habilidades cognitivas. Uma dessas
pesquisas, realizada pela Universidade de Yale/EUA, em 2004, compara os resultados de
desempenho de grupos de alunos que trabalharam com e sem a metodologia do Programa
MenteInovadora, da Mind Lab, que tem como pilar o uso de jogos de raciocínio para o
desenvolvimento de habilidades socioemocionais, cognitivas e éticas (Mind Lab, 2019).
Ao final de três meses, foi observado melhora significativa no desempenho dos alunos
que trabalharam com a metodologia em testes de matemática e habilidades linguísticas.
Em outro trabalho, o Instituto Mind Group, em parceria com o INADE (Instituto de
Avaliação e Desenvolvimento Educacional), realizou em 2011, um estudo com alunos do 5º
ano do Ensino Fundamental de 145 escolas, públicas e privadas. A equipe tinha como objetivo
a comparação, ampliação e aprofundamento dos resultados obtidos em dois estudos anteriores
(2009 e 2010) em relação ao impacto da utilização do Programa MenteInovadora, durante três
meses letivos, nos níveis de proficiência em diferentes áreas do conhecimento. As figuras 1 e
2, ilustram os resultados obtidos:
Figura 1 - Evolução dos alunos segundo os Níveis de Aprendizagem.

Fonte: Saltos de Aprendizagem: o Percurso de uma Metodologia Inovadora em Educação (2011).


Figura 2 - As experiências anteriores comprovaram que o contato com a metodologia adotada no
estudo promove saltos de aprendizagem no curto prazo de 3 meses.

Fonte: Saltos de Aprendizagem: o Percurso de uma Metodologia Inovadora em Educação (2011).

Na figura 1, percebe-se que uma diminuição significativa no número de alunos situados


no nível “Abaixo do Básico” e “Básico”, bem como, um aumento nos níveis “Adequado” e
“Avançado” nas três áreas do conhecimento avaliadas (referenciando-se com a escala SAEB).
Os dados acima são apenas alguns exemplos de como a educação socioemcional é muito
mais impactante nos alunos do que apenas no que se refere ao autoconhecimento. No sítio
Educador 360, Esther Carvalhaes, analista da OCDE e especialista em habilidades
socioemocionais, comenta que os contéudos escolares não suprem mais as necessidades da
sociedade atual.
“Apenas os conteúdos escolares não parecem mais bastar para as sociedades atuais. Na
escola, os alunos aprendem a se relacionar, a lidar com diferentes opiniões e costumes, a
trabalhar em equipe e até a estabelecer alvos mais elevados para si mesmos. Isso exige
que eles desenvolvam uma série de habilidades não estritamente cognitivas, mas que têm
mais a ver com sua capacidade de construir relações de confiança e de se autoconhecer,
de mobilizar ou controlar suas emoções, seja para atingir objetivos escolares ou para criar
um ambiente positivo ao seu redor”. (CARVALHAES, 2017)

Erroneamente, durante anos, preocupou-se muito com o desenvolvimento das


habilidades cognitivas e pouco com o desenvolvimento das habilidades e competências
socioemocionais. O desenvolvimento de tais competencias também podem e devem ser
ensinadas, pois são um dos fatores para o desenvolvimento integral do indivíduo.
Na figura 3 é apresentada a estrutura da aprendizagem socioemocional, segundo Casel
e o gráfico que a representa:
“O ensino das habilidades socioemocionais é uma das estratégias mais significativas
disponíveis hoje para promover sucesso estudantil e reformas escolares eficazes.
Pesquisas extensas apontam que a aprendizagem socioemocional melhora resultados
acadêmicos, ajuda alunos a desenvolver autorregulação, melhora as relações da escola
com a comunidade, reduz os conflitos entre alunos, melhora a disciplina da sala de aula
e ajuda jovens a serem mais saudáveis e bem-sucedidos na escola e na vida.” (CASEL,
2017)

Figura 3 – Aprendizagem socioemocional.

Fonte: CASEL, 2017


Na figura 3, é possível identificar as principais habilidades socioemocionais que
precisam ser ensinadas e aprendidas para favorecer o desenvolvimento integral do indivíduo:
• Autoconhecimento - A capacidade de reconhecer as próprias emoções e pensamentos e como
isso influencia o comportamento do sujeito.
• Auto regulação - A capacidade de regular as próprias emoções, pensamentos e
comportamentos em diversas situações.
• Relacionamento Pessoal/Habilidades de Relacionamento - A capacidade de estabelecer e
manter relacionamentos saudáveis com diversos indivíduos e grupos.
• Consciência Social - A capacidade de assumir a perspectiva do outro. Demonstrar empatia,
incluindo aqueles de diversas origens e culturas.
• Tomada de Decisões Responsáveis - A capacidade de fazer escolhas construtivas sobre
comportamentos pessoais e interações sociais baseadas em padrões éticos, e normas sociais.
Desta forma, é possível concluir que o desenvolvimento das habilidades
socioemocionais precisa estar alinhado com as outras competências a serem desenvolvidas ao
longa da vida do indivíduo e que, quanto mais se retarda ou se deixa de trabalhar nesse sentido,
maior é o prejuízo para o seu desenvolvimento global. A figura 4, traz claramente a
representação dessa interligação, tendo a Resolução de Problemas como a intersecção das três
áreas a serem desenvolvidas: social, emocional e cognitivo.

Figura 4 – Competências socioemocionais.

Fonte: McCoy, 2017


O sucesso das crianças e dos jovens, tanto escolar como social, depende
fundamentalmente do desenvolvimento das competências socioemocionais (DUNCAN et al,
2007). Essas competências incluem a capacidade das crianças de entender suas próprias
emoções, focar a atenção, relacionar-se bem com os outros e demonstrar empatia. Os programas
de aprendizagem socioemocional implementados em escolas podem apoiar o desenvolvimento
nas crianças dessas habilidades importantes, ao mesmo tempo que melhoram a performance
dos professores (DURLAK et al, 2012).
Fato é que a preocupação com as questões emocionais vem se tornando cada vez mais
prioritárias em todas as famílias, independentemente da classe social. Infelizmente, o
investimento no desenvolvimento destas questões nas instituições públicas ainda está abaixo
do esperado e, muitos pais, não tem outra opção. Entretanto, isso não significa que a
preocupação com o desenvolvimento do socioemocional não esteja presente nessas famílias.
Com base em dados como citados neste trabalho e impulsionados pela Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), as escolas e profissionais ligados à educação tem se movimentado
no desenvolvimento de programas específicos para a área socioemocional. Neste trabalho, dois
deles são citados, foram idealizados por autores brasileiros e reconhecidos mundialmente:
Escola da Inteligência, do Dr. Augusto Cury e Projeto OPEE, do psicoterauta Leo Fraiman.
Ambos propõem que a escola tenha em sua matriz curricular, um componente exclusivamente
para o desenvolvimento da educação socioemocional, equiparando a importância desses
objetivos aos objetivos propostos nas outras áreas como português, matemática, entre outras.
O idealizador do programa “Escola da Inteligência”, escritor, psiquiatra e pesquisador,
Dr. Augusto Cury é o autor mais lido na década e um dos palestrantes mais requisitados para
trabalhar as questões socioemocionais nas escolas. É autor da Teoria da Inteligência Multifocal,
base no programa desenvolvido por ele, onde usou também outras renomadas teorias, como:
Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, a Psicanálise de Sigmund Freud, a Cognitivista
Construtivista de Jean Piaget, a Sociocognitivista de Vygotsky, entre outras.
Outro programa que se expande pelo Brasil é o Projeto OPEE, idealizado pelo
psicoterapeuta Leo Fraiman. O desenvolvimento de um Projeto de Vida com valores sólidos e
tendo a criança e o jovem como protagonista desta construção, é defendido dentro do trabalho
proposto como ponto imprescindível para o desenvolvimento das competências
socioemocionais desde a Educação Infantil até o Ensino Médio (FRAIMAN, 2019).
Além dos programas, existem outras formas de trabalho que desenvolvem nos alunos a
sensação de pertencimento ao espaço escolar, de co-responsabilidade nos resultados atingidos
bem como nos meios utilizados para atingi-los. Assim, cada vez mais, a inclusão de um
profissional da área de psicologia na equipe gestora das escolas, vem sendo discutida e
defendida em ampla escala.
A capacitação da equipe de docentes de como desenvolver essas habilidades sociais e
emocionais é um árduo trabalho para coordenadores e diretores, pois, mesmo com adoções de
programas específicos, o resultado sem a apropriação de todos os professores na proposta,
certamente não será satisfatória. Os principais eventos da área de educação têm trazido essa
realidade e a necessidade para os profissionais da área. Rodas de Conversas, análise do
emocional dos alunos diariamente, propostas de atividades extracurriculares que favoreçam o
entrosamento e socialização entre todos os membros da comunidade escolar, são alguns
exemplos de trabalhos desenvolvidos em nossas escolas que estão propiciando aos nossos
alunos, uma condição emocional e psíquica saudável para que possam se desenvolver nas outras
áreas do conhecimentos.
Os desafios para o sucesso no desenvolvimento socioemocional são muitos, mas, para
a maioria dos educadores, o maior deles é o envolvimento da família no processo. O
entrosamento – escola, família e sociedade – é, sem dúvida, a construção mais difícil. O
empoderamento dos pais para lidar com uma geração tão diferente da deles é, também, parte
das atribuições da escola. A escola e a família precisam ter valores próximos, para que estes
sejam defendidos por todos que tem a responsabilidade da formação do indivíduo.
Uma melhor divisão de tarefas, uma atitude colaborativa, o resgaste do companheirismo
na vida familiar, serão essenciais para o equilíbrio emocional de todos (FRAIMAN, 2019).
Desta forma, promover eventos e atividades que promovam esses objetivos passam a ter que
estarem presentes no planejamento das instituições de ensino e, principalmente, na formação
de professores e gestores.
É possível perceber que programas de aprendizagem socioemocional na escola são
muito importantes para que a pessoa aprenda a tomar decisões mais assertivas que o afastem de
situações adversas.
Quatro séculos antes de Cristo, Aristóteles já falava da necessidade de se prover uma
educação que preparasse as pessoas plenamente para a vida, ao dizer que “educar a mente sem
educar o coração não é educação”.
Na Constituição Federal, em seu artigo 205, estabelece o direito a uma educação
integral, refere-se à educação integral, não no que diz respeito ao tempo de permanência do
aluno na escola e sim na inclusão do desenvolvimento de habilidades socioemocionais (tais
como colaboração, autoconhecimento e persistência, entre diversas outras) no processo
educacional (NEVES, 2017).
Muitos são os trabalhos, extremamente importantes, para que as instituições de ensino
estejam preparadas para receber os alunos deficientes, alvos da Educação Especial como prevê
a legislação vigente. Entretanto, como nossas escolas estão se preparando para receber essa
geração muito mais frágil emocionalmente e, em muitos casos, já doentes, também de acordo
com nossa legislação, será o objeto de estudo desse trabalho.
Os dados sobre a saúde emocional tem números alarmantes sobre o problema instaurado
em nossas crianças e jovens. O suicídio é a segunda principal causa mundial de morte de pessoas
entre 15 e 29 anos, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Ele é uma das
consequências de um problema ainda maior, a depressão. Dados do 2º Levantamento Nacional
de Álcool e Drogas, divulgado em 2012 pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
apontam que 3% dos adolescentes do país dizem já ter tido o transtorno. Se considerados
também relatos de ansiedade e outros problemas mentais, o percentual sobe para mais de 20%.
Segundo a OMS, essa é a principal causa de doenças nos jovens de 10 a 19 anos.
Os alunos estão cada vez mais vulneráveis emocionalmente. Os problemas físicos são
facilmente identificados, mas a dificuldade está em identificar problemas de ordem emocional
ou transtornos psíquicos. Os professores precisam estar capacitados e atentos a seus educandos.
A principal manifestação dos transtornos de humor são alterações comportamentais. "Quando
o humor de uma pessoa se torna persistentemente negativo, passando a causar prejuízos, ela
pode estar atravessando um episódio de depressão", afirma o livro Saúde Mental na Escola,
organizado pelos psiquiatras Gustavo Estanislau e Rodrigo Bressan.
Nesse sentido, a capacitação de toda a equipe é essencial. A escola tem que promover
essa capacitação, muitas vezes, em conjunto com profissionais da área de saúde mental.
A escola tem o papel, ao perceber o sofrimento de um aluno, de participar de uma
conversa acolhedora com a família, a fim de criar uma atmosfera favorável a criança ou ao
jovem. A escuta ativa e a observação dos educadores podem fornecer a família, indícios
importantes para que seja providenciada a ajuda e o tratamento necessário.
A prática do bullying é um dos agravantes mais citados por crianças e jovens como a
causa de problemas como baixa autoestima, depressão, isolamento social, entre outros. A
prevenção ao bullying é outra obrigação legal da escola, de acordo com o artigo 5º da lei
13.185/2019, que estabelece a obrigatoriedade das escolas em assegurar medidas de
conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática.
Ainda em termos de legislação, o aluno tem o direito de ser atendido em regime de
exceção, quando em decorrência de transtornos emocionais e psíquicos, estiver impedido de
frequentar as aulas regulares, respaldado por relatórios e laudos médicos.
Analisando somente o exposto acima, já tornaria fundamental o investimento em um
programa de desenvolvimento de habilidades e competências socioemocionais, da própria
instituição ou um modelo já pronto, de maneira essencial e prioritária dentro de todas as
instituições de ensino no país.
Entretanto, a responsabilidade das escolas na área socioemocional tornou-se ainda maior
com a homologação da nova BNCC, que tem efeito de lei e estabelece dez competências gerais
que devem ser desenvolvidas em todos os alunos da educação básica do Brasil, isto é, todas as
escolas tem o dever de propiciar condições para seus educandos terem, ao final do ciclo, essas
competências plenamente desenvolvidas. O estudo dessas competências gerais obrigatórias,
evidencia, sem sombra de dúvidas, que as habilidades socioemocionais estão presentes no texto
de todas elas, especialmente nas cinco últimas.
A neurociência tem ganhado cada vez mais espaço na área da educação, nas últimas
décadas, mudando o paradigma educacional. Os avanços e descobertas da área ligada ao
processo de aprendizagem, isto é, o estudo de como o cérebro aprende, significa uma revolução
para o meio educacional.
A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em sua 5º Semana Nacional
do Cérebro, comprovando a importância da neurociência para a educação, dedicou grande parte
do evento a fim de defender a inserção da neurociência na formação básica do professor. A
neuropsicopedagoga e professora Ana Lúcia Hennemann, foi a autora do trabalho, e trouxe a
reflexão com o diagrama, ilustrado na figura 5.

Figura 5. A importância da neurociência na formação básica do professor

Fonte: Ana Lúcia Hennemann


A figura 5, justifica o principal objetivo deste trabalho, que é destacar a importância de
preparar as escolas, portanto, todos os profissionais de educação para o desenvolvimento
integral do indivíduo. Esse objetivo, claramente, não será atingido se houver a continuação
apenas no investimento do desenvolvimento das habilidades cognitivas, sem a atenção
necessária para as habilidades socioemocionais.
Neste sentido, conhecer o sistema nervoso humano e suas funcionalidades tornou-se
fundamental para que especialistas encontrem novas formas de expandir a capacidade cognitiva
das crianças e jovens, fazendo com que aumentem a possibilidade de se tornarem cada vez mais
inteligentes desde pequenos.
As novas descobertas da neurociência, comprovam que o desenvolvimento da emoção
e da razão acontecem conjuntamente, uma vez que o ser humano não é considerado um ser
dicotômico, ou seja, razão e emoção caminham juntas.
Segundo Lima (2004), “a neurociência em si não cria um método. Ela esclarece
processos biológicos e culturais que podem contribuir para o aperfeiçoamento pedagógico”. O
cérebro humano funciona como uma rede interligada, e na medida em que se estimulam as
regiões mais sensíveis às experiências emotivas, segundo estudo, maior será a capacidade de
criação de redes neurais, que terão o papel de realizar conexões com todas as partes da mente,
aumentando a capacidade cognitiva de aprendizagem.
Desta forma, uma proposta pedagógica sem que o aluno seja protagonista na construção
de seu aprendizado, com propostas que não despertem a emoção e ampliem as experiências
concretas e abstratas, não será capaz de aumentar suas redes neurais e sua capacidade de
cognição, não gerando aprendizado mais duradouro, pois não criarão links de significados.
Dentro desse cenário, há uma mudança no papel do professor, não sendo mais um
simples replicador de conhecimento, e sim um mediador do processo de aprendizagem, com a
responsabilidade de aguçar a cognição do aluno, por meio de uma aprendizagem revestida de
emoções.
Com essa nova realidade, a importância da mudança do currículo na formação básica
do professor é imprescindível. Segundo Guerra (2019), “o educador está cotidianamente
atuando nas transformações neurobiológicas que levam à aprendizagem”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os avanços tecnológicos e as mudanças culturais, entre outros fatores, foram


determinantes para a construção de uma sociedade muito diferente do que há uma década. As
escolas estão recebendo crianças e jovens com outras perspectivas, outras habilidades, muito
mais imediatistas, mais críticos e com maneiras muito diferentes de aprender. Diante disso,
compreender que nossas escolas não estão preparadas para esses alunos e que a capacitação de
nossos profissionais de educação, por meio da introdução de outras áreas de estudo e
conhecimento, é o caminho para a construção de um sistema de ensino-aprendizagem
significativo e duradouro para essa geração com tanto potencial, se faz urgente e
imprescindível.
Aliado a esse cenário, observamos, infelizmente, números alarmantes de pessoas com
sérios problemas psíquicos e emocionais. A escola sempre foi o reflexo da sociedade, assim,
tem recebido um número cada vez maior, também, de crianças e jovens com esses mesmos
problemas.
Professores, psicólogos, psiquiatras, neurocientistas, psicoterapeutas se unem na árdua
tarefa de entender melhor o funcionamento do cérebro e como trabalhar para que ele seja
estimulado a construir conhecimentos. A unanimidade é que somente os conteúdos para o
desenvolvimento das habilidades cognitivas não atendem mais nossos alunos. A educação
socioemocional é uma realidade e precisa estar presente na formação básica do professor, como
ferramenta para o desenvolvimento das habilidades socioemocionais, indispensáveis para o
indivíduo do século XXI.
As escolas estão formando crianças para profissões que, muitas vezes, ainda não
existem. O desenvolvimento de algumas habilidades não-cognitivas, como a capacidade de
trabalho em equipe, resiliência, tato social, comunicação desenvolta e criatividade, é essencial
para que a adaptação à nova realidade seja possível.
Nesse sentido, existem vários exemplos positivos de práticas e programas na área de
Inteligência Emocional, aplicados em todo o Brasil, com resultados significativos, tanto na
prospecção dos objetivos das diversas áreas do conhecimento, como no desenvolvimento do
autoconhecimento, da empatia e da capacidade de conhecer e lidar com suas emoções.
Ferramentas pedagógicas já empregadas, principalmente na Educação Infantil e nos
primeiros anos do Ensino Fundamental, como música, jogos, dramatizações, ganham cada vez
mais espaço. Os jogos de computador (adorados pelas crianças e adolescentes), ainda em
discussão no âmbito acadêmico, são fantásticos na sua forma de manter os alunos atentos e
podem ser mais uma ferramenta facilitadora, pois possibilitam estimular o raciocínio lógico, a
concentração, a fixação dos conceitos matemáticos e, por meio da interatividade, desenvolvem
habilidades das demais áreas do conhecimento humano de maneira desafiadora e prazerosa para
os alunos.
A chegada de 2020, traz para a educação, por meio da homologação da BNCC, a
obrigatoriedade do desenvolvimento em todas as instituições de ensino de dez competências
gerais em todos os alunos ao final do ciclo do Ensino Fundamental, nas quais as habilidades
socioemocionais estão presentes em todas. Desta forma, rompe-se a barreira do opcional e a
inserção dos meios para propiciar a educação socioemocional em nossas escolas torna-se um
dever previsto em lei.

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