(Livro 1 Ao 5) A Rainha Guerreira - Danni D

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Sinopse

Ariel é uma lobisomem de vinte anos que sonha em se tornar uma


guerreira da Matilha. Pelo menos este era o plano antes de ser raptada
por caçadores há dois anos para ser cobaia de terríveis experimentos.
Com a ajuda da Deusa da Lua, Ariel finalmente consegue sua liberdade.
Mas encontrar um par e voltar à vida normal vai ser muito mais difícil do
que ela imaginava.
Classificação etária: 18+
Autora Original: Danni D.

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


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Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda


Sumário dos Livros
Livro 1
Livro 2
Livro 3
Livro 4
Livro 5
Livro 6 – Não Lançado
Livro 1

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!


E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
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Capítulo 1
O DOM DA DEUSA ARIEL
— Vamos Ariel, mostre-me o que você consegue fazer.
Os braços musculosos de Xavier me envolvem, e ele empurra minhas
costas contra a parede.
Seu cheiro terroso faz com que eu me sinta atordoada, e é difícil
respirar quando seu grande tórax é pressionado contra o meu.
Estou perdendo o foco, mas não posso deixar que isso aconteça.
Não posso me entregar.
Eu tenho que provar do que sou capaz.
Rapidamente, pego Xavier pelo pulso, o puxo por cima de meu ombro
e torço o corpo — virando o cara de costas.
Eu sorrio. — Era isso o que você queria?
O público vai à loucura — sim, o público. Porque estou no meio do
teste mais difícil da minha vida, e todos estão na expectativa de saber se
estou à altura da situação, ou se vou quebrar a cara.
Ao olhar para os lados, observo todos os meus colegas torcendo por
mim, esperando que eu passe no teste final para me tornar uma guerreira
completa para a matilha.
De repente, sinto minhas pernas saírem do chão, e caio de costas no
chão, com força.
Dentro de segundos, Xavier está em cima de mim — tipo bem em cima
de mim.
Estou usando apenas um top, e nossos corpos suados ficam grudados
enquanto ele me prende.
Ele se inclina e sussurra no meu ouvido.
— Entregue-se, Ariel. Não lute contra isso.
Meu coração está latejando, ameaçando explodir do meu peito.
O hálito de Xavier aquece meu pescoço. — Talvez mais tarde
possamos fazer isto sem roupa.
Sua mão desliza pelo meu estômago até minha coxa, agarrando-a com
força, com vontade.
Meu corpo se contorce sob ele, desejando seu toque, rendendo-se ao
calor.
Ceder é uma proposta tentadora, especialmente considerando o quão
sexy Xavier é, mas neste momento tenho coisas mais importantes em
minha mente...
Aprecio a surpresa no rosto de Xavier enquanto giro minhas pernas
para cima e as envolvo em torno de seu pescoço, colocando-o em um
estrangulamento triângulo.
Coisas mais importantes — como acabar com ele.
— Parece que sou eu quem está por cima agora, — sussurro.
Pressiono minhas coxas o máximo que posso, garantindo que Xavier
não consiga se libertar.
Momentos depois, Xavier bate no chão, sinalizando sua rendição.
O público irrompe em aplausos, e meus colegas de equipe se
aglomeram na arena, pulando, gritando, jogando bebidas esportivas para
todos os lados.
Eu caio de novo no chão, atordoada. Eu realmente acabei de derrotar
Xavier? Será que eu realmente venci?
Xavier se levanta antes de mim e estende sua mão. Eu aceito e ele me
puxa para cima, diretamente para seu tórax.
— Muito bem, Ariel. Hoje, você provou ser uma verdadeira guerreira.
Ele se inclina, e por um momento penso que vai me beijar, mas...
Xavier rosna suavemente no meu ouvido. — E esta noite, você se
provará digna de um alfa de outras maneiras.
Meu coração salta na garganta e fico totalmente sem palavras.
Ah, minha Deusa — Xavier ME quer?

Sento-me ao lado do lago sereno, sombreado pela copa das árvores


acima de mim, e tiro minhas botas, atirando-as para o lado.
Mergulho meus pés na água e suspiro de alívio.
Meus pés estão me matando. O treinamento é sempre torturante, mas
definitivamente me fortaleceu, e hoje, tudo isso finalmente valeu a pena.
Não sou mais apenas uma aprendiz...
Hoje, sou oficialmente um membro dos guerreiros da matilha.
Observo com orgulho a tatuagem da lua crescente no interior do meu
braço — a marca de um guerreiro.
Minha matilha, a Matilha da Lua Crescente, tem um dos melhores
programas de treinamento de guerreiros da região e meu esquadrão se
tornou minha segunda família.
Nós nos intitulamos o Esquadrão X em homenagem ao nosso
destemido líder de equipe, Xavier.
Bem, na verdade, ele inventou o nome, mas realmente acho bastante
cativante.
O som de grunhidos e rosnados guturais chama minha atenção de
repente para as docas.
Falando no diabo...
Xavier está lutando com nosso colega de esquadrão, James.
Ele lança socos rápidos na direção de James, mantendo-o
desequilibrado, depois salta no ar e dá uma voadora direto em seu
estômago, derrubando-o.
Xavier tira sua camisa lentamente, revelando seu torso tonificado e
seus músculos definidos enquanto limpa o suor de seu corpo reluzente.
Deusa, ele está em ótima forma...
Convencido, Xavier sorri para James. — Você pode ter conseguido sua
marca da lua, mas ainda não está à minha altura, garoto.
Xavier começa a fazer flexões, e enquanto me inclino para frente para
ver melhor, quase caio de cara no lago.
Consegui me equilibrar a tempo, encontrando-me com meu reflexo
na água.
Meu cabelo castanho está completamente bagunçado, mas meus
olhos amarelos escuros se destacam da sujeira em todo o meu rosto.
Quando eu era jovem, meu pai sempre dizia que meus olhos pareciam
girassóis, então ele começou a me chamar de seu pequeno girassol até
que eu protestei contra esse apelido de menina.
Não sou uma flor, sou uma guerreira! Eu gritava, indignada.
Depois disso, ele começou a me chamar de sua pequena guerreira, e
esse ficou.
De todos, mal posso esperar para contar a ele primeiro as novidades
sobre minha aceitação no programa de guerreiros.
Eu sei que ele ficará muito orgulhoso de mim.
Minha mãe, por outro lado...
Ela acha inapropriado as meninas serem guerreiras. Ela sempre diz
que eu deveria ser mais como minha irmã, Natalia.
Natalia jamais seria vista com os cabelos emaranhados e a cara suja —
sempre tão bonita e certinha.
Quando olho para cima, noto que Xavier está me encarando das
docas. Imediatamente tento me arrumar, suavizando os nós do meu
cabelo.
A proposta de Xavier ainda está fresca em minha mente, mas não sei o
que fazer.
Ainda não está confirmado se somos um par e parte de mim quer
esperar...
Mas Deusa, ele é muito sexy. Ele me dá um sorriso, e eu me viro
rapidamente, envergonhada.
Ugh, por que estou tão desajeitada logo agora?
Eu sempre achei que Xavier gostasse de garotas puritanas, como
minha irmã. Eu nunca teria pensado que eu fosse o tipo dele.
Estou realmente arrependida de não ter tomado uma ducha depois da
minha sessão de treinamento, mas estava tão animada em receber a
marca dos guerreiros.
— Mas que diabos você está fazendo, — disse uma voz arrogante, mas
reconfortante, que vinha de trás de mim.
— Você sempre parece que acabou de lutar contra uma matilha de
lobos — pentear o cabelo com os dedos não vai mudar isso.
Ah, Amy, nunca muda
Minha melhor amiga, Amy, senta-se ao meu lado e me acotovela no
ombro.
Me surpreende que sejamos tão amigas, considerando que ela
combina mais com a personalidade da Natalia do que com a minha, mas
somos inseparáveis desde a infância.
— Fiquei sabendo da novidade! Precisamos sair e comemorar!, — diz
ela, balançando seus pés na água, ao lado dos meus.
— Sinceramente, estou exausta, — digo. — Talvez tenhamos que
deixar a comemoração para outra noite.
E, talvez eu tenha planos com Xavier esta noite...
— Você de fato está mais vermelha do que uma lua de sangue, — diz
ela quando percebe Xavier desfilando ao redor da doca, sem camisa. — É
por causa do treinamento ou por causa dele — Não sei do que você está
falando, — digo, meu rosto está ficando quente.
— Por favooor, diz que você não está a fim desse idiota musculoso, —
diz Amy, negando com a cabeça. — Você sabe que ele só é líder da equipe
porque ele é o próximo na fila para ser o Alfa.
— Ele também é um lutador muito bom, — respondo, na defensiva.
— Ah, minha Deusa, você quer que ele seja seu parceiro! — Amy diz,
provocando. — Você quer ter filhotinhos com ele, não quer?
— Claro que não! — Exclamo, jogando água nela. — Não penso nele
assim de maneira alguma! O único tipo de parceiros que somos é o
parceiros de esquadrão.
Claro, continue dizendo isso a si mesma.
— Acho que você terá certeza quando fizer 18 anos daqui poucos
meses, — responde ela, levantando as sobrancelhas.
Os lobisomens só podem reconhecer seus pares quando ambos fazem
18 anos, então, provavelmente, ela tem razão; meu parceiro poderia ter
estado bem debaixo do meu nariz durante todo esse tempo.
Mas alguns lobos nunca encontram seus pares destinados... e acabam
ficando com outros lobos na mesma situação.
Fico triste ao pensar em não esperar por seu verdadeiro par.
— Olha só o seu par destinado poderia ser qualquer um desta matilha,
— diz Amy, suspirando.
— Ou de outra matilha, — respondo, corrigindo-a. — Nossos pares
destinados nem sempre estão tão perto de casa. — Embora a Deusa
queira, não teremos que procurar muito longe.
— Se meu par está em alguma matilha remota, do outro lado do
mundo, acho que posso me converter a uma nova religião, — diz Amy
com um sorriso.
Caímos na gargalhada e deitamos de costas na grama. Conforme o céu
escurece, a lua crescente torna-se cada vez mais brilhante.
— Acho que vou ter que esperar e ver o que o destino tem reservado
para mim, — digo, sorrindo.
DOIS ANOS DEPOIS
Sinto as correntes mais apertadas, e luto contra a vontade de gritar de
dor. Os grilhões de prata roem meus pulsos.
Eu deveria estar acostumada à dor depois de dois anos sendo tratada
como um animal sem valor, como uma experiência científica, mas às
vezes ela se torna insuportável.
O primeiro ano foi o pior...
Os experimentos — injetando micro doses de acônito líquido em
minhas veias e analisando os efeitos no meu corpo. E na minha loba.
Aprendi no início que a sensação de ardor que corria pelas minhas
veias era o acônito, pois enfraquecia e cortava minha conexão com
minha loba.
Fiquei um ano inteiro sem minha loba. Sentindo-a apenas nos cantos
mais distantes de minha mente, chorando de dor e tristeza.
Nunca na minha vida eu me senti tão esmagadoramente só.
Eles levaram minha família...
Meus amigos...
E minha loba.
Meus olhos começam a se fechar à medida que a dor se torna
insuportável.
Sinto uma ponta afiada contra meu rosto já machucado.
— Não desmaie ainda, vadia. — Acabamos de começar hoje. — Curt, o
líder dos caçadores, crava suas unhas sujas no meu ombro.
— Vá para o inferno, — respondo, com a pequena força que me resta.
Os olhos frios e cinzentos de Curt — por mais estranho que pareça —
são a única coisa que tem me mantido viva. A ideia de arrancá-los de sua
cabeça...
Penso bastante na primeira vez que vi esses olhos — na mesma noite
em que passei no treinamento de guerreiros.
Eu tinha adormecido perto do lago, e quando acordei, aqueles olhos
pairavam sobre mim, me encarando com absoluta maldade.
Nossa matilha nunca havia feito nada de violento à humanidade, mas
isso não importava para os caçadores.
Tudo o que eles querem é erradicar completamente os lobisomens.
Mas o que eles querem de mim — por que me mantiveram viva para
fazer experimentos em mim por dois anos — não tenho ideia.
— Acho que você precisa ser lembrada de seu lugar, vira-lata, — diz
Curt enquanto pega uma seringa cheia de prata líquida.
— Não... NÃO! — Grito enquanto ele perfura minha pele.
Minha coluna começa a esticar e, um horrível barulho de rachadura
ecoa por toda a sala enquanto meus ossos quebram.
Ele está forçando minha loba a sair de alguma forma, mas a prata está
impedindo que meu corpo se cure durante a transformação.
A dor é surreal.
Sinto minhas costelas perfurarem meus pulmões e o sangue escorrer
da minha boca.
Na verdade, está escorrendo de vários lugares do meu corpo enquanto
meus ossos penetram na minha pele.
— Merda, merda, merda! — Curt grita. — Acho que lhe dei demais!
Médico! Vem cá, porra!
Eu quero tanto uivar de dor, mas tudo o que eu consigo expressar é
um patético sibilo frenético.
A sala começa a ficar embaçada e a se fechar ao meu redor.
— Faça ela ficar estável! — Curt grita. — Não podemos perder nossa
melhor amostra de teste. Ela está quase aperfeiçoada!
Enquanto a escuridão se instala, ouço uma voz suave e etérea.
— Não desista, minha filha.
Estou sentada na beira do lago novamente, como há dois anos, mas desta
vez não é Amy sentada ao meu lado, mas uma mulher que eu nunca vi antes.
Ela é linda em todos os sentidos — olhos azuis pálidos, longos cabelos
prateados descendo pelas costas e pele lisa e sedosa que quase parece brilhar
Quem é esta mulher cativante?
— Olá, Ariel. Gostaria que nos encontrássemos em melhores
circunstâncias, — diz a mulher calorosamente.
— Quem... quem é você? E como você me conhece? — Pergunto, confusa.
— Meu nome é Selene, embora alguns me chamem de Deusa da Lua, —
ela responde com uma risada suave.
Ah, minha Deusa, A Deusa da Lua. Sagrada...
— Não fique nervosa, minha filha. Devo pedir desculpas a você.
A Deusa da Lua me pedir desculpas? Acho que não sinto exatamente a
presença dela há bastante tempo.
— Você nunca deveria ter sido levada pelos caçadores, — diz ela
calmamente, seu sorriso quente sempre presente em seu rosto.
— Mas minha irmã, Fate, pode ser bastante vingativa e ela tinha outro
plano em mente. Não costumamos estar de acordo.
— Sei como é, — digo eu, pensando em minha própria irmã.
— Para corrigir esses erros, estou lhe dando um dom — o dom da cura.
Selene se inclina para frente e me beija na testa. — Que você possa curar
tanto sua própria dor... como a dor dos outros. — Seja uma luz para aqueles
que mais precisam dela.
Selene recua, coloca a palma da mão contra minha bochecha e seus olhos
brilham.
— Mais uma coisa, Ariel. Esta não é a vida que eu planejei para você. Você
deve fugir deste lugar — e encontrar seu par.
— Meu par? Espere, quem é meu par?
Sinto um calor percorrer meu corpo enquanto a Deusa começa a
desaparecer.
— Encontre-o, Ariel. Só você pode curá-lo.
Eu me levanto, ainda acorrentada à mesa de operação, embora a sala
esteja vazia.
Será que isso foi um sonho esquisito por conta da febre?
Quando a confusão do sonho começa a passar, uma coisa se torna
clara.
Eu deveria estar morta.
Antes de desmaiar, meu corpo inteiro estava quebrado, meus ossos
saltavam para fora do meu corpo, eu estava perdendo tanto sangue...
Então imagine minha surpresa quando estiquei meu pescoço para
olhar para meu corpo espancado e descobri que...
Todas as minhas feridas foram curadas.
Capítulo 2
QUEBRANDO CORRENTES
ARIEL

Sinto uma força dentro de mim que não sinto há muito, muito tempo.
É isso que ela quis dizer com o dom de curar?
Obrigada, Selene. Mas não foi só isso que ela disse...
Ela disse que eu tinha que fugir...
E encontrar meu par.
Meu par?
Eu não saberia nem por onde começar a procurar, mas com certeza ele
não está aqui.
Eu luto com minhas correntes, mas mesmo que a prata não esteja
irritando minha pele como antes, ela ainda dói.
Ouço uma porta abrir no topo da escada e passos irregulares quando
alguém tropeça nela.
Provavelmente será Curt, bêbado novamente. Ele adora me
atormentar quando está bêbado.
Mas ele não sabe que eu recuperei minhas forças. Eu posso usar isso a meu
favor.
— Você finalmente acordou, vira-lata. Ótimo. Vamos jogar um
joguinho, — diz ele, balbuciando.
Curt pega uma coleira de prata e a prende ao redor do meu pescoço,
desfazendo as correntes ao redor dos meus braços.
Ele puxa a corrente presa ao colarinho do meu pescoço, me forçando a
ficar de joelhos.
— Temos alguns convidados lá em cima, e você vai entretê-los. — diz
ele com um sorriso inquietante.
Convidados? Há mais caçadores lá em cima então. Preciso ter cuidado.
Posso estar com minhas forças de volta, mas ainda estou em
desvantagem.
Curt tropeça quando começa a subir as escadas, puxando-me atrás
dele.
Se eles estiverem tão bêbados quanto o Curt, então talvez eu realmente
tenha uma chance...
— Anda logo, vadia! Quero mostrar a minha melhor espécime. Você é
a prova de que realmente é possível ensinar novos truques a um vira-lata
imundo, — diz ele, apertando firme a corrente.
Bom. Segure firme, seu cretino de merda.
Rosnando, minha loba aparece, e eu arranco a corrente com toda a
minha força.
Curt se desequilibra e cai para trás, rolando a escada como um boneco
de pano.
Ouço um crack alto quando as costas dele se arrebentam com o
impacto no chão.
Caminho calmamente até o fim da escada e fico de pé sobre seu corpo,
enquanto ele olha para mim, implorando por misericórdia.
— Por favor...
Coloco minhas mãos em seu bolso e encontro a chave da coleira.
Consigo abri-la, deixando-a cair no chão.
Encaro seus olhos frios e cinzentos. Os olhos que vejo todos os dias
nos últimos dois anos enquanto ele fazia testes em mim.
Enquanto me torturava.
Os olhos que me mantiveram viva. Ah, se um dia eu os arrancasse da
cabeça dele.
Minhas garras se alongam da ponta dos dedos.
— Loba imunda. Vou te matar. Vou matar todos vocês, — ele
murmura, enquanto o sangue escorre de sua boca.
Cravo minhas garras em seu rosto e as arranco de volta em um
movimento rápido.
— Você não vai machucar mais ninguém, nunca mais — eu digo,
limpando seu sangue no fino trapo de um vestido que eu estou usando.
Eu sinto algo dentro de mim, mas não é a força da Deusa. Não, isto é
diferente...
Estou vendo tudo em vermelho. Minha mente está confusa. Estou
perdendo o controle.
A cada passo que subo as escadas, sinto cada vez mais uma raiva
desenfreada.
O que... o que está acontecendo comigo?
Eu não apenas abro a porta no topo das escadas.
... eu a arranco de suas dobradiças.
Desço por um corredor vazio e estéril até chegar a uma porta fechada.
A música de festa é estridente do outro lado, e posso ouvir vários
homens — pelo menos cinco — bêbados dançando e curtindo a vida.
Eu abro a porta com um chute e rosno, furiosa e feroz, pronta para
matar.
Os homens olham para mim, atordoados, enquanto meus olhos
cintilam de um caçador para o outro.
— Quem é o primeiro? — Eu rosno, exibindo minhas garras.
Um dos caçadores puxa uma arma de seu coldre, mas ele é lento
demais, e eu a derrubo de sua mão antes de rasgar sua carne com minhas
garras.
Sou duplamente atingida por dois deles em minhas costas, mas eu me
viro e rasgo seus pescoços.
Eles agarram suas gargantas enquanto o sangue escorre pelos dedos, e
desmoronam no chão ao lado de seu companheiro.
O quarto caçador pega uma faca de sua bota e me ataca, gritando. Ele
me apunhala no rosto e a lâmina parte minha pele, produzindo um
pequeno corte.
Enquanto o sangue escorre pelo meu rosto como uma lágrima
solitária, toco o local onde ele me cortou e sinto-o já se fechando.
Seus olhos se alargam com descrença. — Como... como fez isso?
Arranco a faca de sua mão e a mergulho em seu peito. Ele cai no chão,
com seus olhos ainda esbugalhados.
Eu quero parar e respirar fundo, mas meu corpo não me deixa. Estou
sob adrenalina pura... ou qualquer outra coisa, mas não me sinto no
controle.
Quando me viro para procurar a saída, vejo um jovem caçador
segurando uma arma. Sua mão está tremendo enquanto ele a aponta
diretamente para mim.
Porra. Cinco. Eu esqueci que eram cinco.
BANG!
Sinto uma bala de prata rasgar minha coxa, mas ela não sai do outro
lado, em vez disso permanece alojada na minha perna.
Sem hesitar, pego o jovem caçador e quebro seu pescoço, mas uma dor
ardente domina meu corpo enquanto me levanto.
Merda, como funciona essa coisa de cura? Essa é a pior dor que já senti em
toda a minha vida!
Ao olhar para a carnificina que causei à minha volta, não posso deixar
de me perguntar o que a Deusa pensaria. Ela me disse para fugir, não
para matar todos no prédio.
E por isso que minha cura não está funcionando agora?
Encontro uma lamparina e vou mancando em direção a uma escada
que leva a um alçapão, e subo, através de um túnel escuro.
Ao emergir, levanto minha lamparina para me encontrar no que
parece ser um velho celeiro.
Então eles estavam escondidos em uma instalação secreta no subsolo
durante todo este tempo. Não é à toa que nunca ninguém me tenha
encontrado...
Estou prestes a empurrar as enormes portas do celeiro e deixar este
buraco infernal para sempre quando vejo vários recipientes de querosene
no canto.
Não posso deixar este lugar ser usado para o mal novamente...
Eu despejo querosene em todo o celeiro e esmago a lamparina sobre
ele, criando um inferno instantâneo e furioso.
À medida que o fogo se espalha, eu me sinto triunfante, mas essa
sensação se transforma imediatamente em pavor quando vejo o fogo se
movendo em direção a algo coberto por uma lona no canto — uma
caminhonete.
Merda.
KA-BLA-AAAM!
Meus pés levantam do chão, e eu voo para trás através das portas do
celeiro, agora fragmentadas.
Eu caio de costas, e uma dor ardente percorre meu corpo. As estrelas
cintilantes no céu noturno começam a se transformar em pontos negros
borrados.
À medida que a fumaça avança na clareira e o cheiro do óleo
queimado me arrebata os sentidos, sinto-me cada vez mais longe.
ALEX

O ar fresco da noite parece perfeito enquanto bebo minha cerveja no


topo da velha torre de água, com vista para a floresta.
Tecnicamente, está fora das fronteiras da matilha, mas é realmente o
melhor lugar para se afastar de tudo — da política, dos negócios da
matilha, da pressão.
Olho para minha direita e vejo que Dominic já bebeu quatro cervejas,
e está começando sua quinta.
Caramba, preciso recuperar o atraso.
— Desde quando você se tornou tão fraco? — provoca Dom.
— Sabia que toda aquela cerveja está lhe dando uma bela pança?
Talvez seja por isso que você ainda não encontrou seu par, — eu retruco,
cutucando suas costelas. — Seu par destinado deu uma olhada nessa
barriga e fugiu para as colinas.
— Chama-se corpo de pai de família, Alex. Está super em alta. As lobas
os amam, — responde ele, sorrindo.
Dom é meu melhor amigo desde que éramos filhotes, mas por mais
que eu goste de provocá-lo, não posso deixar de pensar que o estou
segurando.
— Você sabe que é livre para ir procurar seu par sempre que quiser.
Posso cuidar do forte por conta própria, — digo, num tom sério. — Não
fique por minha causa.
— Alex. já falamos sobre isso, e minha resposta continua a mesma. Eu
não vou a lugar algum.
— Olha, cara, sei que estive mal há algum tempo, mas prometo que
estou bem agora, — afirmo, tentando parecer convincente.
— O período de luto já passou. Passaram seis meses desde que Olivia...
desde que ela... — Minha voz se esvai enquanto minha garganta seca.
Dizer seu nome em voz alta me faz sentir como se alguém tivesse
jogado uma carga de tijolos prateados no meu coração.
— E sério, estou bem, — digo, virando e enxugando as lágrimas de
meus olhos.
— Muito convincente, — diz Dominic, suspirando enquanto coloca
sua mão no meu ombro.
— Alex. você perdeu seu par destinado. Foi de repente, e você nem
chegou a se despedir. Você simplesmente não se recupera assim, e tudo
bem. Não é a porra de uma corrida.
Eu sei que ele está certo. A morte de Olivia criou um buraco em mim.
É como se meu próprio coração tivesse sido arrancado do meu corpo e
agora eu tenho um vazio escuro que não pode ser preenchido.
Nenhum tipo de cura pode fechar uma ferida tão aberta como essa.
— Olhe. Dom, eu aprecio que você esteja tentando estar aqui para
mim, mas se for às custas da sua própria...
KA-BLA-AAAM!
Eu derramo minha cerveja em cima de mim enquanto uma explosão
massiva balança a já frágil torre de água.
Uma coluna de fumaça preta sai da floresta à distância enquanto as
brasas de um incêndio tingem o céu de vermelho.
Eu me viro para Dom. Ele parece tão chocado quanto eu.
— Estou indo, — eu digo, de repente.
Talvez seja a cerveja, ou talvez seja toda essa conversa sobre Olivia,
mas por alguma razão, sinto que preciso fazer isso.
— Alex. você está louco? Isso é bem longe das fronteiras da matilha. Eu
não posso permitir que você faça isso, — diz ele, segurando meu braço.
— Você não pode me permitir? — Eu pergunto num tom que o lembra
exatamente quem dá as ordens por aqui.
Dom rosna em submissão. — Merda, por que eu ainda tento? Tudo
bem, se você vai insistir em ser um idiota, eu vou com você.
— Não, vá buscar reforços e traga um esquadrão de guerreiros.
Alguém precisa alertar a matilha.
Dom rosna novamente e pula sobre a grade, pendurado na lateral da
torre. — Tudo bem, apenas não faça nada estúpido, — diz ele, antes de
desaparecer nas copas das árvores.
Estou quase sem fôlego quando chego à clareira onde ocorreu a
explosão. É fácil rastrear o cheiro de queimado, mas há algo mais...
definitivamente um lobo.
Eu me agacho nos arbustos que cercam a clareira, procurando
qualquer sinal de selvagens, mas este lobo não cheira como um selvagem.
O cheiro é agradável, mel misturado com amoras silvestres.
Através da pesada tela de fumaça, eu vejo alguém no chão.
Deixo meu esconderijo para olhar mais de perto e meus olhos se
arregalam com o que encontro à minha frente.
Uma garota, coberta de sangue e cinzas, está completamente imóvel,
quebrada e machucada. Um raio de luar corta a fumaça. iluminando-a
como um anjo caído.
À medida que me aproximo, apenas um pensamento me passa pela
cabeça...
Quem é esta bela loba?
Capítulo 3
O ANJO CAÍDO
ALEX

Enquanto observo a loba de aparência selvagem na minha frente,


deitada inconsciente no chão, não posso deixar de me perguntar se ela
escapou do incêndio... ou se ela o causou.
Há uma característica feroz sobre ela, mas ela definitivamente não é
uma selvagem. Então, o que diabos ela está fazendo neste lugar, sozinha?
Me curvo e examino seu corpo, procurando por qualquer sinal de uma
matilha.
Quando levemente toco seu braço, de repente uma mão envolve
minha garganta. A garota está acordada.
Seus corajosos olhos amarelos me olham com medo, e eles são muito
bonitos, apesar do fato de que ela está tentando me estrangular.
— Eu... não vou... te... machucar, — digo com a voz rouca, forçando
cada palavra.
Ela solta minha garganta e rasteja para longe, parando na base de uma
árvore e se inclinando contra ela para se equilibrar. Ela é
surpreendentemente forte.
Há um ferimento de bala na perna e, embora ela esteja coberta de
sangue, o ferimento estranhamente não está sangrando.
— Quem... quem é você? — Ela pergunta, retendo suas garras, pronta
para atacar se eu chegar muito perto.
— Meu nome é Alex, — eu digo, levantando minhas mãos. — O que
aconteceu aqui? Quem atirou em você?
De repente, farejo mais alguns cheiros, mas esses não são lobos... são
humanos. E eles estão mortos.
Minhas perguntas tranquilas rapidamente se tornam um
interrogatório.
— Você causou aquele incêndio? E assassinou aqueles humanos? — Eu
pergunto em um tom acusatório. — É contra nossas leis matar humanos.
Você é uma selvagem?
— Eu... sim, eu causei o incêndio. Mas eu não sou uma selvagem. E
eles não eram apenas humanos... eles eram caçadores, — ela responde,
com um olhar de dor em seus olhos amarelos.
— Se você não é uma selvagem, então prove, — eu digo, me
aproximando dela. — Por que você está aqui sozinha?
Ela levanta o braço para me mostrar uma pequena tatuagem de lua
crescente — a marca de um guerreiro da matilha.
— Você é da Matilha da Lua Crescente? — Eu pergunto, um tanto
cético. — Como você veio parar aqui? Esta é a fronteira da Matilha Real.
A garota suspira, irritada. — Você é burro? Já disse, caçadores.
— Eu acho que saberia se caçadores estivessem atuando fora da minha
própria matilha, — eu digo, aborrecido.
— Sua matilha? Quem fez de você o Rei? — ela pergunta, revirando os
olhos. — Você é claramente apenas um guerreiro de matilha comum
vindo aqui sozinho.
— E, — ela continua, — se você não conseguiu farejar os caçadores
que estavam bem debaixo do seu nariz, então talvez você precise voltar a
treinar.
Caramba, essa garota é arrogante. Não acredito que ela está falando
assim comigo.
— Muito conveniente que você destruiu qualquer evidência que
provaria a presença de caçadores aqui, — eu rosno.
Estou surpreso ao ver as lágrimas brotando em seus olhos, rompendo
seu exterior forte.
— Eu... eu simplesmente não podia deixá-los viver. O que aconteceu
comigo... não posso deixar acontecer com mais ninguém.
Mesmo que todo o meu treinamento me diga que essa garota é
perigosa, meu lobo está me dizendo que ela está sendo sincera.
Algo terrível aconteceu com essa garota... algo traumático. E isso está
corroendo ela.
Eu sei como é.
É
— Qual o seu nome? — Eu pergunto, me sentindo culpado. É a
primeira pergunta que eu deveria ter feito a ela.
— Ariel. Ariel Thomas.
Ariel Thomas da Matilha da Lua Crescente... que história se esconde por
trás daqueles olhos de girassol?
Eu estendo a mão. — Você precisa de cuidados médicos. Posso te levar
até a matilha?
Ela confirma com a cabeça lentamente enquanto pega minha mão,
mas quando tenta se levantar, ela grita de agonia e suas pernas se
dobram. Eu a pego um pouco antes de ela atingir o chão.
Sangrando ou não, aquele ferimento da bala deve estar feio.
— Por que não está curando? — ela pergunta, frustrada.
Curando? Os lobos podem se curar mais rápido do que os humanos, mas
esta é uma ferida recente. Por que ela esperava que curasse?
O barulho das árvores ao nosso redor anuncia a chegada de um
esquadrão de guerreiros, liderados por Dominic, quando irrompem na
clareira.
— Alex, para trás! Ela pode ser perigosa, — Dom rosna, enquanto se
coloca à minha frente. — Achei que você não fosse fazer nada estúpido.
— Relaxa, a ameaça não é ela. A ameaça eram os caçadores, e eles já
foram neutralizados, — eu respondo.
De repente, penso sobre como é estranho que essa garota ferida tenha
conseguido escapar e matar uma gangue inteira de caçadores sozinha.
Algo não está certo...
Dom sinaliza para alguns guerreiros investigarem os destroços, o
incêndio agora reduzido a uma brasa.
— E quem é essa? — Dom pergunta, apontando agressivamente para a
garota em meus braços.
Ela está suando muito. Está claro que os ferimentos estão fazendo ela
sofrer.
— Ariel Thomas, — eu respondo, tenso. — E ela precisa de cuidados
médicos. Agora.
— Espere, você está sugerindo trazê-la para a matilha? Alex, ela pode
ser uma selvagem, ou...
— Ela não é uma selvagem, — diz um guerreiro mais velho enquanto
dá um passo à frente. Eu o reconheço. Steven, um de nossos guerreiros
mais experientes e mais respeitados.
— Como você sabe? — pergunta Dom, incrédulo.
Os olhos de Ariel se fecham enquanto ela desmaia em meus braços.
Eu a aperto com força para impedi-la de cair.
— Porque... — O olhar de Steve fica sério enquanto observa Ariel. —
Eu conheci o pai dela.
ARIEL

O bipe suave do monitor de frequência cardíaca me acorda do meu


sono enquanto meus olhos se ajustam à forte luz fluorescente acima de
mim.
Os trapos que vestia foram substituídos por uma camisola de hospital
e alguém deixou um buquê de flores ao lado da minha cama.
Um sentimento repentino e avassalador me invade e sinto as lágrimas
escorrendo pelo meu rosto.
Esta é a primeira vez em dois anos que acordo sem correntes ou
algemas prendendo minhas mãos e pés. Estou finalmente livre.
Eu puxo o cobertor para examinar minha perna. Para minha surpresa,
o ferimento da bala fechou completamente. É como se eu nunca tivesse
levado um tiro.
— Ah, você está acordada!
Eu rapidamente jogo o cobertor de volta sobre minha perna, não
querendo chamar atenção para minha habilidade de cura.
Um homem mais velho, mais ou menos da mesma idade do meu pai,
se aproxima da minha cama. Eu o reconheço como um dos guerreiros da
floresta.
— Você está aqui para me vigiar? — Eu pergunto, um tanto
amargamente.
Acho que não deveria me surpreender que essas pessoas não confiam em
mim.
— Pelo contrário, — ele diz alegremente. — Eu vim apenas visitar.
Não te vejo há anos, mas você ainda tem os olhos do seu pai.
— Como ele sempre te chamava? Sua pequena guerreira?
— Como... como você... — eu respondo, engasgando.
— Eu conheci seu pai há muito tempo. Você provavelmente tinha
apenas três ou quatro anos quando a vi pela última vez.
— Ele está... ele está vindo? — Eu pergunto, com medo de que algo
possa ter acontecido com ele nos dois anos que estive fora.
— Ele está vindo neste exato momento, — responde o homem,
sorrindo. — Ele ficou muito feliz quando descobriu que você estava viva e
segura.
— Ele não conseguiu dizer nenhuma palavra a não ser 'graças à Deusa'
por cerca de trinta minutos.
Realmente, graças à Deusa. Selene é a única razão de eu ainda estar aqui.
— Desculpe, não sei o seu nome, — digo, estendendo a mão para o
amigo do meu pai. — Já faz um tempo desde que eu... desde que
realmente conversei com alguém.
— Steven, mas você pode me chamar de Steve.
Sua expressão fica triste quando ele aperta minha mão. — Nem
imagino o que você passou, Ariel.
— Se você precisar conversar, estou aqui. E minha esposa. Louisa,
também. Ela mandou as flores, na esperança de que alegrassem um
pouco este quarto sem graça.
— Vocês dois são muito gentis, — eu digo, com meus olhos
lacrimejando.
— É preciso alguém com muita força para passar pelo que você
passou, — diz Steve, calorosamente. — Uma verdadeira guerreira.
Poderíamos ter alguém como você no esquadrão.
Uma batida suave chama nossa atenção para a porta, onde Alex está
parado, segurando um buquê de girassóis.
— Steve, gostaria de falar com Ariel, se você não se importa.
— Claro — Steve diz, assentindo. — Vejo você em breve, Ariel.
Enquanto ele sai, Alex toma seu lugar ao lado da minha cama e coloca
as flores em um vaso vazio.
— São minhas favoritas, — digo, impressionada. — Como você sabia?
— Ah, uh, na verdade eu não sabia, — ele gagueja. — Os girassóis me
lembravam dos seus olhos.
Talvez seja apenas a iluminação fluorescente desfavorável, mas parece
que o rosto de Alex está vermelho. Ele está ficando corado?
— Eu... desculpe por ter desconfiado de você na floresta, — ele diz,
coçando a nuca.
— Eu deveria saber que você não era uma selvagem.
— Eu também sinto muito, por aquela alfinetada sobre os caçadores,
— eu digo. — Sinto que peguei pesado. Eles estavam se escondendo no
subsolo. Era impossível descobrir o que estava acontecendo.
— Ariel, eu não consigo imaginar... — Alex diz, sua postura ficando
rígida. — As coisas que eles fizeram com você... encontramos alguns de
seus equipamentos de tortura nos destroços.
Seu rosto está vermelho de novo, mas desta vez é de raiva. — Estou
feliz que você acabou com eles... mas, como? Como você conseguiu
escapar?
Alex parece alguém em quem posso confiar, mas acabei de conhecê-lo.
Não me sinto confortável contando a ele todos os meus segredos. E ele
acreditaria em mim se eu contasse?
Ainda não sei como funciona toda essa coisa de cura. Até agora, tem
sido bastante imprevisível.
— Olha. Alex, obrigada pelas flores, mas eu realmente não quero
reviver essas memórias agora, — eu digo rapidamente. — Podemos falar
sobre outra coisa?
— Ah. claro, — ele diz, agitado. — Sobre o que você quer falar?
— Bem, nós dois somos guerreiros da matilha, não somos? Pelo
menos... eu estava treinando para ser uma guerreira da matilha. Não
cheguei exatamente ao meu teste final antes de...
Minha voz some. Dois anos atrás, minha vida foi completamente
tirada de mim. Agora não tenho ideia de onde estou. Não faço ideia do
que perdi.
Só porque eu desapareci não significa que o mundo parou e esperou
por mim.
— Você perdeu muito, — Alex diz como se pudesse ler minha mente.
Seus olhos encontram os meus. — Quando você perde algo... ou
alguém... você se sente deslocado. Leva muito tempo para encontrar seu
propósito novamente.
De repente, percebo que Alex está segurando minha mão, mas não me
afasto.
Eu sinto uma conexão com ele. Pela maneira como ele entende a
perda, ele deve ter perdido algo importante para ele também.
— Com licença, — diz um médico abruptamente ao entrar na sala
com uma prancheta. — Espero não estar interrompendo.
Alex rapidamente puxa sua mão. — Claro, o que foi? — Ele pergunta,
limpando a garganta sem jeito.
— Eu gostaria de fazer mais alguns testes na Sra. Thomas, se estiver
tudo bem, — diz o médico.
Alex assente e se levanta. — Nos falamos mais tarde, Ariel.
Enquanto ele caminha até a porta, o médico se curva para Alex,
fazendo reverência. Que merda foi essa?
— Por favor, mantenha-me atualizado sobre o estado dela, — diz Alex,
enquanto o médico levanta a cabeça.
— Claro, meu Alfa.
Ele acabou de dizer...
Alfa?
Ah, minha Deusa.
Alex não é um guerreiro da matilha. Ele é o Alfa da Matilha Real!
O ALFA!
O que também o torna...
O Rei.
Capítulo 4
TUDO NORMAL
ARIEL

Embora esteja ansiosa para ver minha família novamente, depois de


todo esse tempo, ainda estou morrendo de vergonha pela maneira como
tratei Alex.
Falei com ele como se ele fosse um plebeu quando na verdade é o Rei.
Ele deve pensar que sou uma completa idiota. Mas por que ele não me
corrigiu? E por que ele estava investigando com os guerreiros da matilha?
Ele estava até vestido como um plebeu.
Uma coisa sobre Alex é certa: ele está longe de ser um Rei comum.
Eu distraidamente brinco com as pétalas dos girassóis que Alex deixou
para mim e não consigo parar de sorrir. — Eles me lembram seus olhos, —
foi o que ele disse.
Não é um Rei comum mesmo...
— Onde ela está? Onde está minha garotinha? — uma voz em pânico
de repente interrompe meus devaneios.
Ah, minha Densa. Lágrimas começam a brotar em meus olhos quando
ouço sua voz.
Meu pai aparece na porta do meu quarto de hospital e para no meio
do caminho.
Suas mãos estão tremendo e parece que anos de emoções reprimidas
estão surgindo ao mesmo tempo.
— Ariel... é você mesmo. Você está viva.
Em segundos, meu pai está ao meu lado, envolvendo os braços em
volta de mim o mais forte que pode, e nossos rostos estão encharcados
com as lágrimas.
— Eu orava à Deusa todos os dias por seu retorno seguro, — diz ele,
em meio aos soluços. — Eu nunca perdi as esperanças.
— Pai... — Não há palavras para expressar a alegria que estou sentindo
agora. Nunca pensei que sentiria a segurança dos braços de meu pai
novamente.
— Ariel, não sei o que dizer. Eu nem sei por onde começar, — diz ele,
enxugando minhas lágrimas, embora as dele ainda estejam escorrendo
pelo seu rosto.
— Pai, você não precisa dizer nada. Estou feliz que você esteja aqui, —
eu digo, dando-lhe um abraço reconfortante.
— Eu prometo que falaremos sobre tudo quando estivermos prontos.
Ele acena com a cabeça e aperta minha mão. — E bom ter você de
volta, pequena guerreira.
— E bom estar de volta, — respondo. — Onde está minha mãe? Ela
veio com você?
Meu pai evita meu olhar e olha para o chão.
Claro que ela não veio. Por que ela viria? Sua filha está desaparecida há
apenas dois anos.
— Ela... Ela queria estar aqui, — meu pai diz cuidadosamente. — Mas
sua irmã, Natália, está grávida. Ela precisa de muita ajuda e….
— Espere... Natalia está grávida? Quando ela encontrou seu par? — Eu
pergunto, completamente pega de surpresa.
— Bem, o par dela na verdade é….
— ARIEL! — Uma garota estridente grita em alto e bom som. Eu
definitivamente conheço essa voz.
Amy entra pulando no quarto e, em seguida, na minha cama,
espalhando seu corpo todo no meu.
— Aí, Deusa. Amy! Você sabe que estou em uma cama de hospital, não
sabe? — Eu digo, embora esteja rindo da minha dor.
— Vou deixar vocês, garotas, colocarem o papo em dia, — diz meu pai.
Ele parece aliviado por não ter que falar sobre minha mãe e irmã. —
Vou atrás de Steve e agradecê-lo por me ligar.
Dou a ele um sinal de positivo por baixo da pilha de Amy em cima de
mim. — Conversamos depois.
Quando Amy me dá espaço para respirar, vejo que ela não mudou
nem um pouco e isso é de alguma forma muito reconfortante.
Ela é mais como uma irmã para mim do que minha irmã real.
E por falar na minha irmã...
— Então. Natalia encontrou seu par? — Eu pergunto. — O que mais
eu perdi?
Amy me lança um olhar nervoso. Algo definitivamente está
acontecendo.
— Muita coisa aconteceu nos últimos dois anos, — diz ela com
cautela. — Houve um ataque de selvagens um tempo atrás e o Alfa
Xavier...
— Espere, espere. Alfa Xavier? Ele é o Alfa agora? — Eu pergunto em
estado de choque.
— Sim, o Alfa Blake foi gravemente ferido no ataque de selvagens e
Xavier teve que assumir.
— É difícil governar uma matilha sem uma Luna, — Amy continua, —
e ele se cansou de tentar encontrar seu par destinado, então...
— Espere, você está dizendo... — Uma sensação de pavor invade meu
estômago.
— Sim, Xavier assumiu Natalia como seu par, — diz ela, nervosa. —
Não atire no mensageiro.
— Não acredito que nenhum deles esperou por seus pares destinados,
— eu digo, atordoada.
— Até minha mãe costumava dizer que você deve esperar por seu par
destinado, não importa quanto tempo leve.
— Sim, mas o tom dela mudou assim que um Alfa entrou em cena, —
Amy diz, revirando os olhos.
Parece algo que minha mãe faria. Eu realmente esperava que talvez
pudéssemos nos reconectar, dado o que aconteceu, mas está claro onde
estão suas prioridades.
— Ele merece coisa melhor, — eu digo, deixando escapar vestígios de
ciúme em meu tom.
— Natalia é obcecada por status, e minha mãe também. Xavier merece
alguém que queira estar com ele pelos motivos certos.
— Pessoalmente, não entendo por que todas as lobas uivam por causa
de Xavier, — Amy diz levianamente. — Acho que são os bíceps salientes e
o tanquinho.
— Ele tem outras qualidades, — eu digo defensivamente.
— Diga uma, — Amy responde, me desafiando.
Admito que estou sem palavras porque agora estou imaginando
aquele abdômen definido, mas Amy está pedindo o oposto disso.
Tenho certeza de que ele tem outras boas qualidades.
Meu pai e Steve aparecem no quarto, e meu pai parece estranhamente
surpreso.
— O Rei pediu que nos juntássemos a ele para jantar, — diz ele com
entusiasmo.
Amy se vira para mim tão rápido que juro que seu pescoço poderia
quebrar. — O REI!?

Quando chego ao palácio, fico impressionada com o tamanho e a


beleza dele. Eu só posso imaginar viver em um lugar como este em meus
sonhos mais loucos.
Então, mais uma vez, eu não sonhava muito com palácios e reis e
rainhas quando era pequena...
Sonhava em me tornar uma guerreira. Ainda tenho esse sonho,
mesmo que tenha sido tirado de mim nos últimos dois anos.
Amy praticamente tem que me arrastar enquanto passamos pelo
arsenal a caminho do salão de jantar.
— Não acredito que o Rei nos convidou para jantar, — diz Amy. dando
o braço a mim. — Você não está nem um pouco animada?
O engraçado é que não penso em Alex como um Rei. Ele não é formal
ou chique ou qualquer outra coisa que você esperaria. Ele é apenas ele
mesmo.
— Honestamente, estou mais animada por uma refeição quente. Você
não tem ideia de quanto tempo se passou desde que...
Vejo os olhos de Amy se encherem de pena e me dou conta de que isso
vai acontecer muito.
— Olha, você não tem que pisar em ovos comigo, — eu digo, forçando
um sorriso.
— É, vou dizer várias merdas deprimentes, mas a melhor coisa que
você pode fazer é me tratar como se eu fosse normal.
Normal. Eu sou tudo menos normal.
Depois de todos os experimentos que os caçadores fizeram comigo...
E o que quer que tenha acontecido com a Deusa...
Não sei mais o que é normal. Mas espero poder descobrir.
Amy e eu chegamos ao salão de jantar, onde outro homem que
reconheço da floresta está esperando por nós.
— Eu sou Dominic, o Beta de Alex, — diz ele com um sorriso
encantador. Eu não sorrio de volta. Lembro-me de como me tratou na
floresta.
Dominic parece sentir minha desconfiança e me oferece sua mão.
— Eu sei que tivemos um começo difícil na floresta, — diz ele, — mas
esta noite, você é nossa convidada de honra. Podemos começar de novo?
Guerreiro para guerreira?
Eu agarro seu antebraço, do jeito que os guerreiros fazem, e aceno em
concordância. — Você estava apenas protegendo sua matilha e seu Alfa.
Entendo.
Sorrindo, Dominic abre as portas do salão de jantar. — Então
aproveite o seu banquete!
Amy fica de boca aberta enquanto um grande banquete é colocado
diante de nós.
Uma orquestra toca música clássica animada e garçons circulam
servindo bebidas e aperitivos aos convidados.
Os convidados.
Este não é o jantar íntimo que eu esperava.
Parece que muitos dos membros proeminentes da matilha estão aqui
e todos estão olhando para mim com o mesmo olhar que Amy me deu no
corredor.
Pena.
Enquanto meus olhos se arregalam, posso ouvir os murmúrios de,
Pobre garota, e Ela está bem? — Vindo da multidão.
Alex se aproxima de mim com um sorriso genuíno. — Gostou? Achei
que uma festa poderia fazer você se sentir melhor.
Eu sei que disse que estava bem, mas não estou.
— Eu... eu sinto muito. Não posso fazer isso, — eu digo, virando-me e
correndo pelo corredor, com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Não estou pronta para isso.
Eu preciso de ar. Eu não consigo respirar.
Eu não consigo respirar, porra.
Bruscamente, passo pelas portas que davam para o jardim e desço
correndo os degraus, sentando no fim da escada e colocando minha
cabeça entre as pernas.
Respiro fundo, mas meu coração está disparado.
O que há de errado comigo? Por que estou agindo assim?
Nunca achei que fosse ficar tão sobrecarregada, mas agora percebi que
voltar à vida normal é mais fácil na teoria do que na prática.
De repente, sinto uma mão nas minhas costas quando alguém se
senta ao meu lado.
— Eu deveria ter percebido que seria demais. Sinto muito, — Alex diz,
esfregando minhas costas.
— Não, não é sua culpa. Não tinha como você saber, — eu digo,
tentando tranquilizá-lo.
— Tinha sim, — ele diz, firme. — Quer dar uma volta?
Eu aceno, e ele me ajuda a levantar, me levando para o jardim.
— Recentemente, perdi alguém importante para mim, — diz Alex.
enquanto caminhamos entre fileiras de lindas árvores e flores.
— É eu deveria saber que você não pode simplesmente fingir que
aquela perda não aconteceu.
— Nenhuma distração vai fazer você esquecer. Ainda estou lidando
com isso. E provavelmente lidarei com isso para sempre.
Eu aceno silenciosamente. É exatamente assim que me sinto. Não será
fácil me adaptar, mas mesmo se o fizer, as coisas nunca serão exatamente
como eram. Nunca vou esquecer o que aconteceu comigo.
— Se não se importar em responder, quem você perdeu? — Eu digo
enquanto paramos em frente a uma fonte de pedra.
— Eu perdi... perdi meu par destinado, — ele responde, com tristeza.
— O nome dela era Olivia. Ela morreu há seis meses.
Sentindo uma conexão com Alex, pego sua mão e aperto com força. Se
alguém consegue entender o que eu passei, é ele.
Nós dois perdemos uma parte de nós mesmos...
Alex se afasta depois de um momento, mas seus olhos me dizem que
ele aprecia o gesto. Seu olhar permanece no meu. É como se nós dois
compartilhássemos a tristeza um do outro.
— O que você vai fazer agora? — ele pergunta.
— Acho que vou para casa, — respondo, me perguntando se ainda é
minha casa.
Ele acena e começa a caminhar de volta para o palácio, lutando contra
a dor que nossa conversa fez voltar à tona. — Boa viagem, Ariel.
Enquanto ele se afasta, eu me pergunto...
Será que algum dia nos cruzaremos de novo?
Capítulo 5
NÃO POSSO VOLTAR PARA CASA ARIEL
Enquanto meu pai estaciona o carro na frente de casa, ouço música
alta e risadas vindo do quintal.
Parece que está rolando uma festa, mas apesar da minha volta para
casa, sei que não é para mim.
— É véspera de Ano Novo, — papai diz, apertando meu ombro. — É
que melhor maneira de começar o novo ano do que com você em casa.
É estranho comemorar um feriado novamente. Nos últimos dois anos,
eles nem mesmo existiram para mim.
Eu sorrio e aceno. — É bom estar de volta.
Estou tentando parecer forte, mas por dentro estou uma pilha de
nervos.
Já fiquei sem uma festa porque era demais para mim... e se acontecer
de novo?
Sentindo minha ansiedade, Amy envolve seus braços em volta de mim
do banco de trás.
— Vamos entrar juntas, — ela diz, me consolando. — Se ficar
desconfortável, apenas diga uma palavra, e eu te cubro enquanto você
foge.
Saímos do carro e damos a volta na casa até o quintal, onde uma
fogueira acesa é o ponto central de uma festa barulhenta ao ar livre.
A matilha inteira está aqui, bebendo e comemorando.
Os meninos estão lutando na grama, os filhotes estão à solta e os
casais dançam sob a luz do luar.
Por mais que eu estivesse apavorada, me sinto muito melhor ao ver
que as coisas não mudaram em nada.
— Senti falta disso, — digo, sentindo-me subitamente sentimental. —
Eu... eu nunca pensei que veria este lugar novamente.
— Bem, você está em casa agora. E ninguém nunca mais vai tirar você
de nós. — meu pai diz, me dando um abraço.
— Vou procurar sua mãe e sua irmã. Elas ficarão muito felizes em te
ver.
Quando ele desaparece na festa lotada, eu olho para Amy.
— Não sei porquê, mas duvido que elas fiquem tão felizes em me ver,
— digo, começando a ficar nervosa de novo.
— Eu sei que você teve suas diferenças com elas, mas elas são sua
família, — Amy responde, em desaprovação.
— Quando você foi levada, não foi apenas seu pai que ficou arrasado.
Sua mãe também estava um caco.
Eu quero acreditar em Amy, mas se minha mãe estava tão desolada,
por que ela não foi me visitar com meu pai?
Se ela estivesse tão preocupada comigo, por que não estava esperando
por mim quando cheguei aqui?
Não, minha mãe sempre me desprezou, no fundo. Ela me teve muito
jovem, quando meu pai a engravidou.
Acho que ela me culpa por arruinar suas chances de encontrar seu par
destinado.
Acho que ela culpa meu pai também, mas ele é melhor do que
qualquer par destinado.
Claro, quando Natalia nasceu, minha mãe finalmente poderia viver
em função de alguém. Tão popular, bonita e perfeita.
Enquanto isso, não fui nada além de uma decepção.
A garota que entrou em brigas.
Que brincou na lama.
Que queria ser uma guerreira.
Bem, agora que Nat está com o Alfa, e um filhote a caminho, minha
mãe está vivendo seu sonho.
E o que eu fiz? Fui sequestrada.
— Ariel, você está com aquela cara, — Amy diz firme. — Prometa que
vai, pelo menos, dar uma chance.
— Tudo bem, mas eu só estou fazendo isso pelo meu pai, — eu digo
com um suspiro.
A verdade é que realmente gostaria de me reconectar com minha mãe
e minha irmã. Só não sei se elas vão sentir o mesmo.
— ARIEL, É VOCÊ!?
De repente, sou atacada por um homem gigante. Minha loba começa
a ficar na defensiva até eu ver quem é.
— James, sai de cima de mim, seu cachorrinho enorme, — eu digo,
rindo enquanto ele me joga no chão.
— Eu não acredito que você está realmente aqui, — diz ele, com os
olhos turvos. — Todos nós pensamos que você tinha desaparecido para
sempre.
O resto do meu antigo esquadrão vem correndo e eles se amontoam
em cima de mim enquanto Amy sai do caminho.
Estou sentindo o amor de verdade. Como senti falta de todos esses
idiotas.
— O esquadrão está reunido! — James grita, uivando. Ele me ajuda a
ficar de pé e, de repente, percebo que algo está diferente.
Dwayne... Adam... Shane...
Todos eles têm marcas de quem encontrou o par destinado.
— Vocês estão todos com seus pares? — Eu pergunto em descrença.
Até que vejo a marca de James.
— Até você?
— Ei, fico ofendido com esse tom, — ele diz, sorrindo. — Eu sou
completamente capaz de encontrar meu par.
É surreal quantos de meus amigos estão com seus pares agora. Minha
vida pode ter ficado em espera nos últimos dois anos, mas todo mundo
seguiu sem mim.
— Bem, eu ainda estou solteira pra caralho. então não se sinta mal
com isso, — Amy diz, frustrada.
— E, por falar nisso, vejo que estão abrindo outra garrafa de vinho
perto da fogueira, então se me der licença...
James e eu rimos enquanto Amy corre em direção à fogueira. — Ela
definitivamente não mudou. Pode acreditar, — James diz, balançando a
cabeça.
— Graças à Deusa, — eu digo em concordância.
Embora meu reencontro com James e os outros seja feliz, percebo que
há um membro de nosso antigo esquadrão que ainda não vi.
— Onde está Xavier? — Eu pergunto, esticando o pescoço para olhar
ao redor da festa. Dizer seu nome me dá um frio na barriga por algum
motivo.
— Tenho certeza de que ele está por aqui em algum lugar.
Provavelmente com sua irmã, — diz James.
— Ele pode ser o Alfa agora, mas ela o mantém na linha, — ele
acrescenta, colocando as mãos em volta do pescoço como uma coleira e
fingindo se sufocar.
O frio na barriga desapareceu em um instante. Quase esqueci que
Natalia está com Xavier. Talvez eu precise me juntar a Amy para aquela
garrafa de vinho.
— De qualquer forma, tenho certeza de que ele ficará emocionado em
vê-la, — James diz.
— Você foi a única que conseguiu acompanhá-lo durante o
treinamento. Tenho certeza de que se você falar com ele, ele vai deixar
você se juntar ao esquadrão e se tornar uma guerreira da matilha.
Tornar-se uma guerreira da matilha...
Pela primeira vez desde que cheguei em casa, estou realmente
pensando sobre o que o futuro reserva para mim, e é emocionante.
Eu perdi muito, mas talvez não tenha perdido isso — meu sonho de me
tornar uma guerreira da matilha.
Enquanto olho para as chamas da fogueira dançante e penso em voltar
a treinar, algo frio corta o calor que estou sentindo — minha mãe,
caminhando em minha direção com meu pai.
Ela fica rígida e reservada quando se aproxima de mim.
Sem abraço. Sem lágrimas. Sem emoção.
Este é o encontro que eu esperava, mas não o que desejava.
— Você está linda, — mamãe diz, sem um pingo de sentimento. —
Estou feliz que a Deusa trouxe você de volta para nós em segurança.
Minha loba começa a andar dentro de mim enquanto minha
ansiedade entra em ação.
Por que eu sempre deixo minha mãe ter esse efeito sobre mim?
Papai também parece nervoso, coçando as costas da mão enquanto
espera para ver como vou responder.
— Eu não estaria aqui se não fosse pela Deusa. Sinceramente, era pra
eu estar morta, — eu digo, olhando-a diretamente nos olhos.
— Rezava pela morte todos os dias que os caçadores me mantinham
no cativeiro. A morte teria sido uma doce libertação. Mas acho que a
Deusa tem outros planos para mim.
Minhas palavras contundentes sacodem minha mãe de sua postura
rígida.
— Devemos falar sobre isso na festa? — ela pergunta
desconfortavelmente.
— Imagina, não quero que meu sequestro incomode você, — eu digo
amargamente.
— Você nem se deu ao trabalho de me visitar com o papai quando
descobriu que eu estava viva.
— Ariel, por favor... — meu pai diz, tentando intervir, mas é tarde
demais.
Muita coisa mudou em dois anos, mas a barreira entre minha mãe e
eu é exatamente a mesma.
— Isso não é justo, Ariel, — minha mãe responde, seu tom mudando
defensivamente. — Sua irmã precisa de mim. Eu não poderia
simplesmente deixá-la aqui sozinha.
— Nat tem um par, mãe. Eu precisava de você. Não apenas ontem.
Não apenas hoje.
— Eu sempre precisei de você, mas você só esteve lá para ela. Por que?
— Eu digo, acalorada.
Anos de sentimentos não resolvidos estão vindo à tona e não consigo
evitar.
Outros membros da matilha estão começando a se reunir para assistir
ao show enquanto confronto minha mãe.
— Por que você é sempre tão fria comigo? — Eu grito.
— Então eu sou uma mãe ruim agora? E isso? — ela grita de volta. —
Eu desisti de tudo por você, e você não é nada além de uma ingrata!
Pronto. Essa é a verdadeira razão pela qual ela não me suporta.
— Ariel, eu ordeno que você pare com isso! — Uma Natalia bem
grávida empurra a multidão e fica ao lado de nossa mãe. — Você não vai
falar com nossa mãe desse jeito!
Minha irmã não me vê há dois anos. Ela nem sabia se eu ainda estava
viva. E, mesmo assim, essas são as primeiras palavras dela para mim...
— Você ordena? — Nat sempre achou que o mundo girasse em torno
dela, mas quem diabos ela pensa que é?
— Sim, como sua Luna, eu ordeno que você pare de fazer cena, — ela
diz presunçosamente.
— Eu sou sua irmã, não sua subordinada, — eu digo em descrença.
— O que está acontecendo aqui? — pergunta uma voz rouca.
Meu corpo enrijece quando o cheiro de Xavier me atinge. Lenha e
trevo. É estranhamente inebriante.
Enquanto a multidão se abre para o Alfa, encontro-me olhando
diretamente em seus olhos e ele nos meus.
— Meu par. — A palavra escapa dos meus lábios antes mesmo que eu
possa processá-la.
Ah, minha Deusa. Não pode ser. Isso não está acontecendo.
Minha loba de repente começa a arranhar minha mente, rasgando-a
em pedaços — ela quer sair.
NÃO! NÃO QUERO ME TRANSFORMAR.
Não é apenas minha loba que está assumindo... é outra coisa. Fúria
pura.
Eu seguro minha cabeça em minhas mãos, ofegando fortemente.
Quero gritar. Quero explodir de raiva.
O que está acontecendo comigo?
Meu olhar se volta para Natalia e seus olhos se arregalam.
Tudo o que vejo é vermelho.
Capítulo 6
APRISIONADA
ARIEL

As portas do inferno abriram.


Meus caninos se estendem da minha boca enquanto rosno para
Natalia.
Minhas garras estão prontas para rasgar sua carne.
Tudo o que vejo é vermelho.
Eu quero sangue. Eu quero sentir seu cheiro. Quero saboreá-lo. Não,
eu não apenas quero — eu preciso. É como uma espécie de desejo carnal.
No início, minha loba queria instintivamente lutar com Natalia por
Xavier. Ele é meu par destinado, afinal. Ela é apenas uma impostora.
Não! Eu não quero machucá-la! Por que não me controlar?
Mas agora, eu mal posso sentir minha loba. Outra coisa assumiu o
controle. Uma fúria cega.
Não me sinto no controle do meu próprio corpo. Estou apenas
acompanhando.
Algo dentro de mim quer machucar Natalia e não consigo impedir.
Nem sei de onde está vindo.
Xavier está na frente de Natalia, bloqueando-a de mim, mas eu não
serei detida.
Eu ouço gritos e berros, meu esquadrão, talvez até a voz do meu pai,
mas tudo está abafado. Estou focada em apenas uma coisa.
Meus pés começam a se mover por conta própria enquanto eu ataco
Natalia. Xavier golpeia suas garras em mim, mas eu me esquivo e dou a
volta.
Agachada, sinto que estou me transformando ainda mais. Pedaços de
pelo estão surgindo da minha pele. Meus ossos estão quebrando.
A baba escorre da minha língua enquanto eu olho para o meu alvo
apavorado. Todo o resto é apenas um borrão.
Eu me inclino para frente, em direção à Natalia, mas as garras de
Xavier acertam minhas costelas no ar. Eu voo para trás e bato no chão
com força, segurando minha ferida.
Enquanto Xavier caminha em minha direção, ele parece
absolutamente furioso. Mesmo que ele seja meu par, não há desejo em
seus olhos.
Estou rosnando e uivando no chão como um animal feroz enquanto
meu corpo luta contra si mesmo em seu estado de meia transformação.
A última coisa que me lembro é do meu par destinado, levantando o
punho e batendo na minha cabeça.
Acordar em uma cela não era como eu imaginava começar o ano
novo. Esta não era a volta ao lar que eu esperava.
Eu deveria estar bebendo chocolate quente com minha família. Eu
deveria estar aconchegada na frente de uma fogueira com meu par.
Em vez disso, estou algemada por correntes de prata em uma
masmorra.
As correntes imediatamente me lembram de meu tempo com os
caçadores. Tento reprimir as memórias, mas elas voltam em um instante.
A tortura.
A provocação e o abuso.
Os experimentos intermináveis.
A prata queima meus pulsos e tornozelos enquanto luto contra
minhas algemas.
Minha loba está uivando por dentro e me dá vontade de gritar.
Parece que minha habilidade de cura não está funcionando de novo.
Ainda não entendo como isso funciona, mas está ficando claro que é
de alguma forma condicional.
A última vez que não me curei imediatamente, estava matando todos
aqueles caçadores. Desta vez, tentei machucar Natalia.
Talvez eu não consiga me curar se estiver machucando alguém?
Não consigo processar isso agora. Minha cabeça está latejando e o
lado em que Xavier cravou suas garras ainda está ferido.
Meu próprio par me feriu com suas garras.
A noite passada ainda é um borrão, mas sei que tentei atacar Natalia.
Mesmo que ela seja uma vadia rancorosa, ela ainda é minha irmã.
Como pude atacá-la assim?
Não sei por que fiz isso. Só sei que não consegui me controlar.
Não deixo de pensar se isso tem a ver com os caçadores...
O que eles fizeram comigo com todos esses experimentos? Curt
sempre disse que eu era sua melhor amostra de teste.
Talvez eles tenham criado um monstro... e esse monstro sou eu.
Meus braços começam a ficar dormentes com a posição estranha em
que estão pendurados. Estive aqui a noite toda e ninguém veio ver como
eu estava.
O que a matilha deve pensar depois de me ver enlouquecer de raiva?
Eu me pergunto qual será meu destino.
Destino.
De repente, me lembro de Selene me dizendo que sua irmã. Fate, já
interferiu nos planos de Selene. Eu me pergunto se ela está envolvida
nisso tudo.
Deusa, por que você me trouxe de volta? Você disse para encontrar meu
par. Bem, eu finalmente o encontrei e ele está com a minha irmã, além de que
ele provavelmente me quer morta.
Essa coisa toda parece uma piada de mau gosto.
Eu ouço o rangido da porta da minha cela abrindo no topo da escada.
Provavelmente Xavier, vindo executar seu par destinado.
Em vez disso, vejo meu pai descendo as escadas correndo e meus
olhos se enchem de lágrimas. Ele joga os braços em volta de mim,
lutando contra as próprias lágrimas.
— Pai, não... a prata. Você vai se queimar, — eu digo, sufocando em
soluços.
— Eu não me importo, — ele diz, acariciando meu cabelo. — Minha
pequena guerreira... eu sinto muito. Não suporto te ver assim.
— O que vai acontecer comigo? — Eu pergunto. — Xavier disse
alguma coisa?
Não ataquei apenas minha irmã, ataquei a Luna. E ela está grávida do
herdeiro do Alfa. Não poderia ser pior.
— Estou debatendo em sua defesa, — ele diz enquanto seus olhos
amarelos encontram os meus.
— Você acabou de descobrir o seu par e sua loba instintivamente
tentou reivindicar aquele par. Está claro. É uma reação defensiva normal
para uma loba.
Eu sei que é muito mais do que isso e acho que ele também. Minha
reação foi tudo menos normal. Estou feliz que papai esteja do meu lado.
— Como está Natalia? — Eu pergunto, de repente me sentindo
culpada.
— Sua mãe está cuidando dela. Ela está abalada, mas ela e o bebê estão
bem.
— Pai, por que isso está acontecendo? — Eu pergunto enquanto as
lágrimas caem pelo meu rosto. — Eu não queria nada disso. Eu só queria
voltar para casa.
— Eu sei, pequena guerreira, eu sei, — diz ele, beijando-me na testa.
— Eu te amo. Não perca a esperança. Vai dar tudo certo.
Apesar das palavras de conforto do meu pai, a expressão de dor em seu
rosto não me dá muita esperança.
Deusa Selene por favor, se você está ouvindo... me dê forças.
Papai conseguiu fazer Xavier concordar com uma reunião da matilha,
onde ele anunciaria minha punição.
Eu sei que não vou sair ilesa, mas talvez ser seu par destinado possa
suavizar o golpe.
Amy me deixou tomar um banho em sua casa e me preparar para o
tribunal. Seu rosto parece inchado e vermelho, como se ela tivesse
chorado a noite toda.
— Não posso perder você de novo, — ela diz, enquanto coloco uma
camiseta e jeans limpos. — Você acabou de voltar.
— Não importa o que aconteça, você nunca vai me perder, — eu digo,
sentando ao lado dela na cama. — Você sempre será minha melhor
amiga.
Por que estou tranquilizando ela? Sou eu que estou em julgamento.
Talvez a Deusa realmente tenha me dado um pouco de força.
— Está tudo errado, — Amy diz, sua tristeza se transformando em
raiva. — Ele é seu par. Você tinha todo o direito de reivindicá-lo.
— Eu não acho que Xavier ou Natalia verão dessa forma, — eu digo,
caindo na cama e encarando o teto.
— Eu sou a intrusa, não ela. Todos provavelmente queriam que eu
tivesse ficado com os caçadores.
— Não diga isso! — Amy grita, me golpeando com a mão. — Você já
passou por tanta coisa. Todo mundo sabe disso. Xavier terá que levar isso
em consideração.
Eu ouço uma batida suave na porta, quando James abre e entra. Eu
meio que espero que ele me coloque em correntes, mas ele me dá o maior
abraço de urso em vez disso.
— Eu pedi para ser o único a acompanhá-la ao tribunal, — diz ele,
finalmente se soltando. — Isso é uma loucura. Mas saiba que todo o
esquadrão está com você, pode ter certeza disso.
Fico emocionada com as palavras de James. Talvez ainda haja algumas
pessoas lutando por mim.
— Você está pronta? — ele pergunta hesitantemente.
Eu respiro fundo e aceno com a cabeça. — Vamos fazer isso.
Não sei o que Fate ou Selene reservam para mim, mas estou prestes a
descobrir.

Mantenho a cabeça erguida enquanto a multidão abre caminho para


eu seguir em direção a Xavier e Natalia à frente da matilha. Ela está
cercada por vários guardas, o que acho justo.
Papai fica ao lado da mamãe, embora ela se recuse a olhar para mim.
Quando paro na frente de Xavier, mantenho meus olhos
desafiadoramente fixos com os dele. Não me importo se ele é meu par ou
meu Alfa; não vou agir como uma cadela submissa.
Meu antigo esquadrão está sombriamente atrás de Xavier com os
outros guerreiros, e James me lança um sorriso encorajador.
Um rosnado baixo escapa dos lábios de Xavier enquanto ele fala. —
Ariel Thomas, você está aqui, diante de seu Alfa e sua matilha, para
responder por seus crimes.
Não há emoção na voz do meu par. Destinado ou não, ele não tem
amor por mim.
— Você atacou sua Luna, que está grávida de meu filho, — diz Xavier
friamente.
— Isso pode, no entanto, ser atribuído aos instintos de sua loba em
reivindicar seu par. É natural que as lobas reivindiquem o que é delas,
conforme determinado pela Deusa.
Sinto uma enorme onda de alívio. Talvez Xavier realmente se importe
comigo de alguma forma?
— Mas eu não sou seu, — ele diz, estreitando os olhos para mim.
Meu alívio instantaneamente se transforma em medo.
— Eu rejeito você como meu par e Luna, — ele diz friamente, sem um
momento de hesitação em sua voz.
Uma dor intensa dispara pelo meu corpo e eu uivo quando minhas
pernas se dobram e eu caio no chão.
Natalia sorri para mim. amando me ver no meu ponto mais baixo.
Felizmente, não tenho que suportar aquele sorriso malicioso por muito
tempo, pois minha visão começa a ficar embaçada.
— Você está banida da Matilha da Lua Crescente, para sempre. Se
você voltar, isso significará sua morte. — A voz de Xavier soa distante e
abafada.
Fui torturada e testada por dois anos, mas nunca senti uma dor como
a que estou sentindo agora.
É como se meu coração tivesse acabado de ser arrancado do meu
peito.
O vínculo com meu par está quebrado.
Capítulo 7
A ACEITAÇÃO
ARIEL

Duas horas.
É todo o tempo que tenho para arrumar minhas coisas e deixar para
trás meus amigos e minha família, para sempre.
Duas horas.
Felizmente, não tenho muitos pertences para empacotar.
Meu passado inteiro é composto por algumas caixas danificadas pela
água no porão.
Aparentemente, mamãe transformou meu antigo quarto em um
berçário para quando o bebê chegasse, meses atrás. A maioria das minhas
coisas foi jogada fora ou doada.
Ainda sinto como se tivesse sido cortada ao meio por Xavier,
quebrando nosso vínculo como pares.
Não é nem que eu tenha perdido alguma conexão profunda com ele;
estou triste pela perda do que poderíamos ter tido.
Sim, pares destinados são, bem, destinados, mas o vínculo entre pares
ainda leva tempo para crescer.
Era pra ser eu com Xavier. Era para ser eu tendo seus filhotes.
Mas, honestamente, é isso mesmo que eu quero?
Ser uma Luna e ter filhos nunca foi meu sonho. Eu quero ser uma
guerreira. Eu sempre quis.
É duvidoso que Xavier tivesse permitido que isso acontecesse. Ele é
um grande idiota. Natalia e Xavier se merecem.
Desisto de tentar encontrar algo útil em minhas caixas e caio no chão,
sentindo-me derrotada.
Como vim parar aqui? Depois de tudo que passei?
O destino é realmente uma reviravolta de merda.
Estou prestes a me tornar uma loba sem matilha — uma selvagem.
Não sei se consigo olhar para meus amigos e familiares. Não há nada
que eles possam fazer para me ajudar, com medo de que o Alfa os
castigue.
Estou realmente sozinha agora. Parece que até a Deusa me
abandonou. Achei que ela tinha um plano para mim, mas se for esse,
estou fodida.
Ouço os passos de meu pai descendo até a metade da escada e
espiando por cima do corrimão.
— Ariel, eu tenho algo para mostrar a você. Você pode me encontrar
na garagem?
O que será? Não aguento mais surpresas hoje.
Eu o sigo escada acima e entro na garagem, onde ele caminha até uma
lona no canto.
— Eu sei que as coisas não estão boas agora, mas eu tenho algo para te
dar. Você vai precisar mais do que eu de qualquer maneira, — ele diz,
puxando rapidamente a lona e deixando-a cair no chão.
Meu queixo cai quando vejo o que está por baixo.
A motocicleta do papai!
— Pai... eu não posso levar sua moto. Você trabalha nela desde que eu
era criança. É o seu orgulho e alegria! — Eu digo, ofegante.
— Não, pequena guerreira, você é meu orgulho e alegria. E você não
tem escolha. A moto é sua agora e pronto.
Eu corro para os braços de meu pai, as lágrimas manchando minhas
bochechas. — Eu vou sentir muito a sua falta.
— Eu também vou sentir sua falta, Ariel, mas não perca as esperanças.
Eu disse que não deixaria nenhum mal acontecer com você de novo e eu
falei sério.
— Depois de se despedir, me encontre na fronteira da matilha. — ele
diz, um tanto misterioso.
Com apenas alguns minutos restantes do meu tempo na matilha, Amy
me acompanha até a fronteira.
Ela trouxe uma mochila cheia de itens essenciais para mim. mas
duvido que vá durar muito.
— Não acredito que você realmente está indo embora, — ela diz,
fungando. — Você acabou de chegar.
— Pelo lado bom, eu acho que não aguentaria viver aqui com Natalia
como minha Luna, — eu digo, tentando aliviar um pouco o clima.
— Essa pode ser uma forma pior de tortura do que a que os caçadores
me fizeram passar.
Amy não acha graça. — Ariel, isso é sério. Você está prestes a se tornar
uma selvagem!
— Eu sei, estou tentando não pensar sobre isso, — eu respondo, um
nó se contorcendo no meu estômago enquanto nos aproximamos da
fronteira.
— Espere, o que é isso? — Eu pergunto quando vejo um grupo de
pessoas alinhadas.
— Guerreiros, fiquem atentos! — James grita quando eu me aproximo.
— Saudação!
Todos os membros do meu antigo esquadrão vieram se despedir de
mim. E todos eles me saúdam conforme eu passo por eles.
Meu coração dói com o quanto isso significa para mim.
Eu jogo meus braços em volta de James e luto contra minhas lágrimas.
Já chorei o suficiente hoje.
— Obrigada, James. Obrigada a todos vocês. Sentirei saudades.
— Não desista do seu sonho de se tornar uma guerreira, Ariel. Você é a
melhor lutadora que eu já vi, — James diz, colocando a mão no meu
ombro.
— Não há muita chance disso, agora que não tenho uma matilha, —
digo com tristeza.
— Talvez eu tenha algo a dizer sobre isso, — diz uma voz familiar
atrás de mim.
Eu me viro para ver Dominic, sorrindo de orelha a orelha. Ele está
parado ao lado de Steve e meu pai, que dirigiu minha motocicleta até a
fronteira.
— Dom? Steve? O que diabos vocês estão fazendo aqui? — Eu
pergunto, confusa.
— Levando você para casa, é claro, — diz Dom, como se fosse a coisa
mais óbvia do mundo.
— Casa? — Meu coração dispara.
Por favor, não deixe que isso seja outra brincadeira cruel.
— Sim, sua nova casa na Matilha Real, — Steve diz, radiante.
— O Alfa, Alex, pessoalmente concedeu sua cidadania. Seu pai nos
ligou assim que Xavier te aprisionou e as coisas começaram a dar errado.
Minha cabeça está girando. Isso está realmente acontecendo?
Eu não vou ser uma selvagem afinal...
Vou ser um membro da Matilha Real.

A jornada para a Matilha Real leva o dia todo, mas o tempo passa
rápido enquanto Steve conta suas velhas histórias de guerra e Dominic
conta histórias embaraçosas sobre ter crescido com Alex.
Eles colocaram minha moto e meus pertences na caminhonete de
Steve e todos nós viajamos juntos, mas parte de mim gostaria de ter
viajado sozinha.
Ainda é difícil encarar alguém depois do que aconteceu, mas a
companhia de Steve e Dom me distrai do fato de que fui banida da
minha própria matilha para sempre.
Pelo menos estarei a apenas um dia de viagem. Posso não conseguir
visitar minha família e amigos, mas eles ainda podem me visitar.
Terei que me ambientar a uma matilha totalmente nova, começar
meu treinamento de guerreira de novo, se ainda for aprovada, e terei que
fazer tudo sabendo que encontrei meu par destinado e ele me rejeitou.
Essa última parte ainda dói.
Muito.
Como você se recupera de um rompimento de vínculo com o seu par?
Algo me diz que minha capacidade de cura imprevisível não funcionará.
Conforme a caminhonete para na fronteira da Matilha Real, o palácio
se torna visível. É um pouco assustador sob a luz do luar, as altas torres
de arenito marrom e o enorme portão de ferro.
Apesar das dezenas de coisas pelas quais devo estar ansiosa agora,
estou mais nervosa em ver Alex novamente.
O que ele vai pensar de mim, agora que fui exilada por minha própria
matilha?
Será que ele está me acolhendo por pena? E se ele decidir que sou um
fardo e me banir também?
Quando meu coração dispara, sinto uma mão tocar suavemente meu
ombro.
— Apenas respire, Ariel. Vai ficar tudo bem, — Steve diz calmamente.
— Inspire e expire. Respire fundo.
Sigo as instruções de Steve e um sentimento de paz toma conta de
mim.
— Você está bem? — Dom pergunta com cautela, enquanto a
caminhonete para no portão.
— Sim, desculpe. Eu só... tenho ataques de pânico às vezes. É difícil
para mim confiar em pessoas novas. É difícil até confiar em mim mesma.
Devo parecer uma psicopata instável para esses dois, ainda que...
Ambos estejam olhando para mim com compreensão e compaixão.
— Eu entendo, — Dom diz, saindo da caminhonete e abrindo a porta
para mim. — Saiba que eu e Steve sempre estaremos com você.
— É verdade. Prometi a seu pai que cuidaria de você e pretendo
honrar essa promessa, — acrescenta Steve, dando-me um sorriso
reconfortante.
Eu aceno para os dois, grata por não estar completamente sozinha
nesta nova casa. Mas não é oficialmente minha casa. Ainda não.
— Quando acontece o ritual de aceitação? — Eu pergunto enquanto
passamos pelo portão.
Cada matilha tem sua própria versão do ritual de aceitação, onde um
membro externo deve jurar lealdade eterna ao Alfa e à matilha.
— Eu sei que é tarde, mas podemos fazer isso agora se você quiser —
Dom responde. — Alex queria te ver assim que chegássemos.
— Então vamos acabar com isso, — eu digo. — Estou pronta para
deixar o passado no passado.
— Só avisando... é um ritual meio intenso, — Dom diz.
— Intenso? Como assim? — Eu pergunto.
— E um juramento de sangue, — ele responde em um tom sério.
Um juramento de sangue? Em que diabos estou me metendo?
Enquanto estou diante de Alex, nós dois usamos vestes cerimoniais
brancas.
Estamos em uma capela ornamentada dedicada à Deusa da Lua, com
um teto alto em cúpula e uma arquitetura e decoração elaborada e
meticulosamente trabalhada.
Estou posicionada em um pedestal que fica logo abaixo de um teto
lunar no centro da cúpula. A maioria dos rituais ocorre sob o luar, uma
prática sagrada entre os lobos.
Alex me dá um sorriso reconfortante, mas isso é pouco para acalmar
meus nervos. Ele está segurando uma faca excepcionalmente grande.
Steve e Dom permanecem como testemunhas enquanto Alex se
aproxima de mim.
— Ariel Thomas, você jura sua lealdade e sua vida à Matilha Real, sob
a luz da Deusa? — ele pergunta enquanto pega minha mão.
Os dedos de Alex deslizam suavemente contra minha pele e eu sinto
um frio na barriga.
Era muito mais fácil estar perto dele quando eu pensava que ele era
apenas um plebeu, mas agora que sei que ele é um Rei...
Posso confiar nele? Esta é a decisão certa?
Eu olho nos olhos verde floresta de Alex e procuro por uma resposta.
Ele dá um leve aperto na minha mão enquanto me encara de volta.
— Sim, — eu respondo. — Eu juro minha lealdade eterna à Matilha
Real.
Eu estremeço quando Alex de repente corta a palma de minha mão
com a faca. O sangue pinga em meu manto branco imaculado.
A incisão ameaça trazer de volta memórias dos caçadores, mas eu as
empurro para o fundo da minha mente.
— Portanto, você é aceita nesta matilha. Este lugar agora é sua casa, —
diz ele, levando a faca para suas próprias mãos.
Quando estendemos a mão e colocamos uma contra a outra, nossos
sangues se misturam e eu sinto o vínculo da matilha se fechando.
Eu começo a me sentir tonta, minha visão turva e meu corpo
dormente.
Talvez seja a perda de sangue, ou talvez seja outra coisa, mas ouço
uma voz suave em meu ouvido.
— Ariel.
Eu conheço essa voz. Selene.
O que ela tem reservado para mim desta vez?
Sua voz sedosa é apenas um sussurro.
— Ariel, ouça com atenção. Você deve proteger Alex. Não importa o que
aconteça, você deve mantê-lo seguro.
Capítulo 8
O TOUR REAL
ARIEL

Acordo suando frio, respirando pesado e passando a mão enfaixada


em minha testa úmida.
Não consigo tirar as palavras de Selene da minha cabeça...
Você deve proteger Alex. Não importa o que aconteça, você deve mantê-lo
seguro.
O que ela quis dizer com mantê-lo seguro? Ele está em perigo? Eu
preciso avisar alguém?
Quer dizer... como diria a Alex que recebi uma mensagem da Deusa
me dizendo para mantê-lo seguro?
Ainda não consigo ter certeza se isso era real ou se eu estava apenas
alucinando.
Sinceramente, tenho me sentido estranha ultimamente, tendo
calafrios, como se minhas entranhas estivessem congelando.
Estou tendo outro exatamente agora, e meu corpo está gelado, mas
tento me livrar dele.
Lobisomens raramente ficam com frio, então é definitivamente um
motivo de preocupação, mas não quero que ninguém se preocupe. Já
pareço bastante instável do jeito que está.
Vou guardar as sensações e as mensagens estranhas para mim por
enquanto.
O sol está começando a nascer, então não adianta tentar voltar a
dormir.
Eu saio da cama e me visto, esperando que hoje eu possa explorar a
Matilha Real e me acostumar com meu novo lar.
Steve e seu par, Louisa, me deram um quarto para ficar, e eu não
poderia estar mais grata.
Eles realmente me fizeram sentir em casa e me dão esperança de que
eu poderia começar uma nova vida aqui.
Eu desço as escadas e o cheiro de carne escaldante flutua no ar
enquanto Louisa prepara o café da manhã.
— Espero que você esteja com fome, — diz Louisa quando me sento à
mesa. — Estou fazendo comida suficiente para alimentar uma matilha
inteira.
— Tem um cheiro delicioso. — digo, com água na boca. — Seria meu
sonho acordar com esse cheiro todos os dias.
— Bem, se você encontrar um par cujo cheiro seja bacon e salsicha,
seu sonho pode se tornar realidade, — Louisa diz brincando.
Fico em silêncio quando Louisa menciona encontrar um par. Eu já o
encontrei... ele só não quer nada comigo.
Ela rapidamente percebe o que está dizendo e põe a mão na boca.
— Ah. querida, eu sinto muito. Eu não tive a intenção de trazer esse
assunto à tona. Eu sempre meto os pés pelas mãos. Você aprenderá isso
sobre mim bem rápido.
— Não se preocupe com isso. Honestamente, eu já superei. Estou
pronta para começar um novo capítulo.
Não há nada de honesto nessa declaração.
A ferida emocional de Xavier ainda está fresca, mas não quero que
todos pisem em ovos ao meu redor, especialmente Louisa, que tem sido
tão gentil.
— Você precisa é de uma boa distração, — diz Louisa, colocando uma
montanha de carne no meu prato. — O que você gosta de fazer? Tricô?
Esportes? Pintura?
— Que tal o treinamento de guerreiros? — Steve entra na cozinha,
segurando uma caixa de presente.
Um sorriso gigante se espalha pelo meu rosto enquanto Steve se senta
ao meu lado. — Espere... você está falando sério?
— Claro que estou. Alex aprovou você para o treinamento esta
manhã, — responde Steve.
— Você terá um treinamento comigo antes de se integrar totalmente
com os outros guerreiros da matilha e fazer seu teste de guerreiro.
Jogando meus braços em volta de Steve, eu grito tão alto que Louisa
quase deixa cair a frigideira. — Obrigada, obrigada, obrigada! Isto é
incrível!
— Você será uma grande guerreira, Ariel. Precisamos de alguém como
você — uma sobrevivente.
Parecia que tudo estava perdido, mas parece que tenho pelo menos
uma coisa que ninguém pode tirar de mim — meu sonho.
— Eu não vou decepcioná-lo, senhor, — eu digo, já entrando no modo
guerreiro. Estou segurando minha faca de manteiga como se fosse uma
espada.
Steve ri do meu entusiasmo. — Não tenho dúvidas disso. Mas você
deveria se divertir um pouco também.
Ele desliza o pacote que trouxe consigo pela mesa.
— Eu tenho mais uma surpresa para você. — Eu abro o pacote com
entusiasmo e encontro um celular novo em folha. Certamente parece
mais sofisticado do que os celulares de dois anos atrás.
— Os números de todos no esquadrão, bem como os números do Alfa
e do Beta, já estão salvos.
— Você também receberá alertas sempre que houver uma emergência,
sinais de selvagens ou problemas na fronteira.
— Steve... — Estou sem palavras. — Eu não sei o que dizer. Isso é
incrível!
— Você pode agradecer a Alex por isso. Ele queria ter certeza de que
você tinha tudo de que precisava para se adaptar, incluindo o número
pessoal dele.
Há um brilho malicioso nos olhos de Steve quando ele diz isso e isso
me faz corar um pouco.
— Eu sei que você está ansiosa para começar. E eu prometo que
começaremos seu treinamento em breve, mas hoje, eu só quero que você
se divirta, — diz Steve.
— Essa é uma ordem de seu oficial superior.
Eu rio e saúdo. — Senhor, sim senhor!
Mas o que vou fazer para me divertir? Eu basicamente esqueci o
significado da palavra diversão depois desses últimos dois anos...
Começo a percorrer os contatos no meu celular até encontrar o nome
de Dominic.
Ele provavelmente renderia algumas risadas. Ou pelo menos ele
saberia o que há para se divertir por aqui.
Ariel: Acho que vou fazer algumas explorações hoje Ariel:
Alguma sugestão?

Dom: quem é?

Dom: como vc conseguiu esse número??

Ariel: ué

Dom: brincadeirinha kkk

Dom: vc é minha pequena exilada favorita Dom: (emoji piscando


com a língua para fora) Ariel: MDS, é melhor esse apelido não
pegar Dom: olha...

Dom: eu poderia falar com um de nossos guias turísticos Dom: e


você poderia fazer um tour padrão chato pra caralho Dom: locais
históricos

Dom: fatos inúteis

Dom: blá

Dom: OU

Dom: eu poderia dar a você um tour real de verdade Ariel: Estou


com medo...

Dom: que bom (emoji chorando de rir)

Ariel: Ok, parece divertido

Ariel: Estou dentro


Dom: blz!

Dom: me encontre na entrada do mercado!


Dom e eu caímos na gargalhada enquanto saímos cambaleando do
Canino Branco, um aconchegante e pequeno pub.
Pode ser um pouco cedo para beber durante o dia, mas Dom
definitivamente sabe como se divertir.
— Você sempre começa seus passeios com canecas de cerveja? — Eu
pergunto, me sentindo um pouco tonta.
— Só quando estou tentando impressionar uma garota, — diz ele,
piscando.
Dom é um grande paquerador, mas ele é completamente inofensivo.
Já sinto que ele é um novo irmão e estou feliz por ter um amigo aqui para
me divertir um pouco.
— Então, para onde vamos nessa turnê de verdade?
— Nós poderíamos ir para a Lua Cheia, — Dom diz com um sorriso
atrevido.
— O que é a Lua Cheia, — eu pergunto cautelosamente.
— Apenas um pequeno estabelecimento onde algumas lindas lobas
podem dançar e mostrar os recursos que a Deusa lhes deu, — ele
responde.
— Ah. chame de clube de strip logo, — eu digo, rindo. — Difícil, mas
passo.
— Ei, eles têm alguns dançarinos masculinos também. Algo para
todos, até você, — diz ele, me provocando.
— Esse era o seu trabalho antes de Alex nomeá-lo como Beta? — Eu
pergunto, provocando-o de volta.
— Eu quero que você saiba que eu sou um excelente dançarino, —
Dom responde, rindo. — Mas, infelizmente, essa habilidade é menos
aproveitada como um Beta.
Falando em Alex, esta pode ser uma boa chance de perguntar a Dom
mais sobre ele.
Não é como se eu estivesse procurando informações ou algo assim,
mas Alex continua sendo um grande ponto de interrogação e ele é meu
novo Alfa, afinal.
— Como você e Alex se tornaram amigos? — Eu pergunto enquanto
começamos a caminhar pela movimentada feira. — Você não cresceu no
palácio, não é?
— Não, minha família é plebeia, — Dom responde. — Mas esse tipo
de coisa não importava para Alex. Apenas para seus pais.
— Ele costumava fugir do palácio quando era mais novo para brincar
na cidade com as crianças plebeias. Foi assim que nos conhecemos.
Não é de admirar que Alex parecesse um plebeu quando o conheci...
— Nós nos tornamos amigos e eu o apresentei a Olivia. Nós três
fomos inseparáveis por anos, até que...
Quando Dom começa a falar sobre Olivia, seu comportamento
normalmente despreocupado muda.
— Deve ter sido difícil para vocês dois, perder alguém que vocês
conhecem há tanto tempo, — eu digo.
— Alex e Olivia descobriram que eram pares quando completaram
dezoito anos, mas acho que eles já estavam apaixonados, — Dom diz
melancolicamente.
— Eles só tiveram alguns anos juntos como pares antes de ela partir.
Eu não sei se um dia ele vai superar isso de verdade.
Não sei se é a conversa sobre Olivia que está me dando arrepios ou o
clima, mas começo a tremer de novo.
— Por que está tão frio hoje? — Eu digo, cruzando os braços e
tentando me aquecer.
— Frio? Ariel, não está nada frio, — diz Dom, confuso. — Você está
bem?
— Sim. não é nada. Só um pouco de frio, só isso, — eu digo, acenando.
— Você está realmente muito pálida, — Dom diz, preocupado. —
Talvez você devesse ir ao médico para...
Dom é interrompido por um barulho alto de sirene vindo de seu
celular. Logo em seguida, meu celular também começa a tocar.
Eu coloco a mão no bolso e verifico minhas mensagens.
ALERTA DA MATILHA
Esta é uma mensagem automática para todos os membros da Matilha
Real
ALERTA DA MATILHA
Selvagens foram vistos na fronteira. Todos os cidadãos devem
permanecer em suas casas ou dirigir-se à casa segura mais próxima.
ALERTA DA MATILHA
Os Guerreiros da Matilha devem se reportar à Fronteira Oeste
imediatamente.
Eu olho para Dom e ele balança a cabeça não.
— Eu sei o que você está pensando, Ariel. Mas você precisa ficar aqui,
onde é seguro. Você ainda não completou seu treinamento de guerreiro.
— Dom, eu posso ajudar. Eu preciso ajudar. Não posso ficar parada e
não fazer nada.
— Ariel, é muito...
— Dom, por favor. Deixe-me provar meu valor.
— Tudo bem, mas fique perto de mim, — diz ele em um rosnado
baixo. — Vamos nos transformar. Podemos chegar lá mais rápido.
Os ossos de Dom quebram e suas roupas rasgam quando ele se
transforma em um grande lobo cinza.
Eu sigo seu comando e início a transformação, mas...
— AHHHHHHH!
Grito em agonia enquanto caio de joelhos. Uma dor intensa aperta
todo o meu corpo por dentro. Eu mal consigo respirar. Parece que estou
sendo sufocada de dentro para fora. A mesma sensação gelada de antes,
mas ampliada dez vezes.
Deusa, o que está acontecendo?
Não consigo trazer minha loba...
Capítulo 9
O CONFLITO
ARIEL

O lobo de Dom olha para mim com medo em seus olhos enquanto eu
desabo no chão, praticamente em convulsão.
Meu corpo parece que está desligando e não tenho ideia do porquê ou
do que devo fazer.
Vamos, caramba! Se transforma!
Meu celular começa a tocar de novo.
As orelhas de Dom se levantam e percebo que ele já recebeu a
mensagem. Quando estamos totalmente na forma de lobo, podemos nos
comunicar por meio de ligações mentais.
Ainda dobrada de dor, consigo pegar meu celular.
ALERTA DA MATILHA
Houve uma invasão na fronteira.
ALERTA DA MATILHA
Todos os cidadãos da matilha devem buscar um local seguro
imediatamente.
ALERTA DA MATILHA
Selvagens estão na cidade.
Merda, isso não é bom. Estou completamente vulnerável. As pessoas
estão correndo por toda a feira, tentando chegar a algum lugar seguro,
mas o caos absoluto se instalou e eu não consigo nem me mover.
Quando uma multidão de membros assustados da matilha começa a
correr em minha direção, tenho certeza de que serei pisoteada, mas o
lobo de Dom pula na minha frente e me protege.
— Obrigada, Dom, — eu digo, agarrando seu pelo para me manter de
pé.
ARRR-ROOOO-OOO!
Uivos penetrantes ecoam pela feira.
Eles estão aqui.
Seis lobos de aparência sarnenta de repente cercam Dom e eu, sua
pele irregular e odor rançoso deixando claro que eles são selvagens.
Dom rosna e range os dentes para os selvagens, mas eles não se
intimidam. São seis contra um.
Três dos lobos dão o bote em Dom e começam a mordê-lo e arranhá-
lo, mas ele é o lobo maior. Ele bate com o corpo em um e acerta outro
com seus caninos. Ele está resistindo muito.
Dois dos outros lobos se separam para tentar dominar Dom,
enquanto o lobo restante se move em minha direção, balançando sua
língua escorrendo baba.
O lobo coloca suas patas pesadas em meu peito e sinto seu hálito
quente e úmido em meu rosto.
Convocando cada grama de minha força de vontade, consigo extrair
minhas garras de minhas unhas e as enterro na lateral do lobo.
Ele choraminga de dor, me dando a chance de começar a engatinhar
para longe, mas aquele breve momento de dor rapidamente se
transforma em raiva.
O lobo rosna exalando maldade e salta em minha direção pelo ar.
Tenho certeza de que sou uma mulher morta, até que...
Um enorme lobo marrom-dourado voa sobre mim e abocanha o
selvagem no ar.
O selvagem vira uma massa de pelos e sangue em questão de
segundos.
O lobo dourado se vira para mim, como se estivesse verificando que
estou bem, e volta para a batalha, derrubando os outros selvagens como
pinos de boliche.
Momentos depois, todo o esquadrão surgiu na feira.
Alguns gritos agudos perfuram o ar, seguidos de silêncio. Os selvagens
estão todos mortos.
Eu sinto o frio tomando conta e desabo no chão. Quando começo a
perder a consciência, o lobo dourado está sobre mim.
Sua forma começa a mudar e momentos depois, estou olhando para o
homem que me salvou...
— Alex... — Murmuro, antes de desmaiar.
Mais uma vez, acordei no hospital da matilha e, considerando que
Alex está sentado ao lado da minha cama, roncando, posso supor que ele
me trouxe aqui também.
Eu jogo um travesseiro nele e ele acorda.
— O quê? Os selvagens estão de volta? — ele diz freneticamente,
enquanto seus olhos percorrem a sala.
Tento abafar minha risada. — Tudo limpo, Alfa.
— Ah, você está acordada. Como você está se sentindo? — Ele
pergunta, sua atenção de repente totalmente em mim.
— Muito melhor, — eu respondo.
Tipo, tão melhor que é estranho. Apenas algumas horas atrás, parecia que
eu ia morrer.
— Você me assustou. Por que você não conseguiu se transformar? —
Alex pergunta, preocupado.
Eu estico meus dedos, apenas para testar minha transformação, e
minhas garras surgem com facilidade.
Que merda é essa? Tive que usar o máximo da minha força para puxar
minhas garras mais cedo, mesmo que ligeiramente.
— Na verdade, Alex, há coisas estranhas acontecendo com meu corpo
que nem eu entendo, — eu digo séria. — Eu gostaria de poder lhe dar
uma resposta melhor.
— Você acha que tem algo a ver com os caçadores? — ele pergunta
com cautela. — O que exatamente eles fizeram com você durante todo
esse tempo?
Meu coração desaba com a pergunta de Alex.
Já é ruim o suficiente eu ter meus próprios medos de que os caçadores
de alguma forma me transformaram em algum tipo de projeto de ciência,
mas a insinuação vinda de Alex é absolutamente devastadora.
— Eu... prefiro não falar sobre isso, — digo baixinho.
— Merda, eu sinto muito. Eu não queria te ofender. Você apenas
parece...
— Destruída? — Eu digo, incapaz de mascarar a insegurança em
minha voz. — Porque é assim que me sinto. Como se eu fosse apenas
uma sombra de quem eu costumava ser. Como se eu não estivesse no
controle do meu próprio corpo.
Lágrimas brotam dos meus olhos e não consigo evitar que escorram
pelo meu rosto.
— Ariel, eles não destruíram você. Você está aqui. Você sobreviveu a
tudo que eles fizeram com você, — Alex diz, segurando minha mão. —
Acho que você é a pessoa mais forte que já conheci.
— Eu estava completamente impotente na feira quando os selvagens
atacaram. Se você não estivesse lá...
Alex se senta na beira da minha cama e sinto seu corpo pressionar o
meu enquanto ele coloca o braço em volta de mim.
— O que quer que esteja acontecendo com você, vamos resolver
juntos, — diz ele. — Não sou apenas o seu Alfa... sou seu amigo.
Encontro-me encostada no peito de Alex e sinto seus dedos em meu
cabelo. Apesar de ele ter apenas usado a palavra amigo, esse momento
parece estranhamente íntimo.
Não sei por que, mas me sinto atraída por Alex, como se tivéssemos
algum tipo de conexão.
Sinto-me segura em seus braços, mas também quero protegê-lo.
— Alex, eu... eu sinto que...
Uma batida na porta me interrompe, e Alex rapidamente se levanta
quando o médico entra.
— Alfa Alex, se estiver tudo bem, gostaria de fazer alguns exames de
sangue, — diz ele.
— Claro, doutor. Vou deixar você fazer seu trabalho. — Alex se vira
para mim e me dá um sorriso afetuoso. — Espero que você se sinta
melhor logo, Ariel.
ALEX

Quando volto para o meu escritório, Dom está sentado na minha


mesa, esperando por mim com um engradado de cervejas.
Ele está coberto por uma série de cortes e hematomas que sofreu na
forma de lobo, quando estava lutando com os selvagens, mas saiu
surpreendentemente ileso.
— Você é um filho da mãe sortudo, — eu digo, pegando uma cerveja
dele e abrindo com meus dentes. — Enfrentando aqueles selvagens, seis
contra um. Você deveria ser a porra de um tapete de pele agora.
— Quem você está chamando de sortudo? — Dom pergunta, batendo
sua garrafa contra a minha. — Aqueles projetos de lobos não tiveram
chance contra o Dom-inador.
— Por favor, nunca mais se chame assim de novo, — digo, rindo.
— O que foi? Acho que pode colar, — diz ele sem um traço de
sarcasmo. — As garotas da Lua Cheia gostaram.
— Isso é porque você está pagando a elas para elogiá-lo, — eu digo,
sorrindo. — Deusa, o que diabos eu vou fazer com você?
— Falando em garotas... — Dom diz com um sorriso malicioso. —
Você passou a noite com Ariel, não foi?
— Eu não passei a noite com ela, eu passei ao lado dela, — eu digo
defensivamente.
— Semântica, — Dom diz, rejeitando minha defesa. — Você gosta
dessa garota. Eu te conheço melhor do que ninguém. E você está duro
como uma...
— DOM! — Eu grito, ficando nervoso. — Apenas esqueça isso, ok.
Ele continua sorrindo, claramente sem intenção de esquecer.
— Olha, só estou dizendo que não vejo você mostrar interesse por
uma garota como essa há muito tempo. É legal, só isso.
— Nós somos apenas amigos, — afirmo, olhando pela janela e
bebendo minha cerveja.
Apesar do quão irritante Dom está sendo, ele não está errado sobre
meu interesse em Ariel. Só não tenho certeza de onde vem esse interesse
ou o que significa.
Algo nela parece... especial. Eu sinto que ela me entende de uma
maneira que ninguém mais entende. Pelo menos desde que...
Quando me viro, Dom está me olhando preocupado.
— Está tudo bem se sentir assim, Alex. Ela não gostaria que você se
fechasse para sempre.
Eu sei que ele está certo, mas ainda não a esqueci. Olivia era tudo para
mim e ela ainda é.
Não posso deixar de sentir que ter interesse em outra pessoa é uma
traição ao que tínhamos.
— Ela era meu par destinado, — eu digo, com tristeza. — Eu me
entreguei completamente a ela. Acho que nunca vou conseguir fazer isso
de novo.
ARIEL

Steve e Louisa me trouxeram biscoitos e flores, gentis como sempre,


mas com o passar das horas fico cada vez mais inquieta.
Eu me sinto mil vezes melhor e ficar sentada em uma cama de
hospital esperando os resultados dos exames é uma verdadeira chatice.
Não entendo esse processo de cura a quente e a frio, mas preciso sair
daqui antes que enlouqueça.
No momento em que estou pensando em fugir, o médico retorna. Ele
fecha a porta atrás de si e me lança um olhar preocupado.
— Você tem os resultados? — Eu pergunto, nervosa.
— Sim, Sra. Thomas. Fiz vários exames de sangue e francamente... eles
são bastante alarmantes. Não sei como dizer isso, mas...
Ele faz uma pausa, como se não soubesse como me dar as más
notícias.
— Ariel... você deveria estar morta.
Capítulo 10
QUEBRANDO A CARA ARIEL
Você deveria estar morta.
Eu fico olhando para o médico, completamente sem palavras. É difícil
saber o que responder quando alguém lhe diz que você é basicamente um
cadáver vivo.
— Eu... eu não entendo, — digo, finalmente encontrando minha voz.
— Os exames de sangue revelaram que você tem um nível de prata na
corrente sanguínea nunca visto antes, — explica ele.
— Em toda a minha carreira médica, nunca vi um lobisomem
sobreviver a uma fração da prata que está dentro de você.
Ah, minha Deusa, a bala de prata!
Esqueci que quando minha ferida na perna se curou, a bala ainda
estava dentro de mim. Está dentro de mim há dias.
— Mas essa não é nem a parte mais estranha, — diz o médico,
olhando para mim como se eu fosse uma maravilha médica. — De
alguma forma, seu corpo está lutando contra a prata.
— Seu sangue está absorvendo e erradicando o material. Não consigo
nem imaginar o que você tem sentido dentro de você nos últimos dias.
Os calafrios estranhos. O cansaço. Não conseguir me transformar.
Deve ter sido meu corpo lutando contra a prata.
— Estou completamente perplexo com isso cientificamente, — diz o
médico, balançando a cabeça. — A única palavra para isso é... milagroso.
De repente, sinto uma sensação de pavor na boca do estômago.
Memórias de ser amarrada a uma mesa, sendo injetada com agulhas e
drogada passam pela minha mente.
Não posso contar a este médico sobre o meu dom. Não serei outra
cobaia.
Este segredo ficará seguro comigo e apenas comigo.
— Tem certeza de que seus testes não foram contaminados de alguma
forma? Talvez você devesse executá-los novamente? — Eu digo, agindo
como se sua afirmação fosse ridícula.
— Você mesmo disse que deveria ser impossível eu estar viva.
— Eu admito, pensei o mesmo, — ele diz, esfregando o queixo. —
Algo pode ter se misturado no laboratório. Tem certeza de que não se
importa que eu faça os testes de novo?
Visto que me sinto eu mesma novamente, a prata provavelmente
desapareceu completamente. Esta será minha única chance de convencê-
lo de que sou normal.
— Sem problemas, — eu respondo, forçando um sorriso.
Várias horas depois, estou saindo do hospital com um atestado de
saúde limpo.
Sem nenhuma evidência de prata na minha corrente sanguínea, o
médico não teve escolha a não ser concluir que o teste original estava
contaminado.
Ele atribuiu o incidente na feira ao estresse do ataque de selvagens e
me deu alguns medicamentos ansiolíticos que, honestamente, eu
precisava.
Mas ter meu segredo quase descoberto...
Fico apavorada ao pensar no que acontecerá se todos souberem a
verdade.
Eu nunca vou me permitir ser uma cobaia de novo.
Não posso confiar em ninguém. Posso?
Penso em Alex e em como ele me apoiou e me pergunto qual seria sua
reação...
Ele entenderia, da mesma forma que tem sido tão compreensivo sobre
todo o resto?
Ou ele olharia para mim como se eu fosse uma aberração?
E em momentos como esses que eu realmente preciso do meu pai.
Pego meu celular e envio uma mensagem para ele, esperando que ele
possa me dar algum bom conselho.
Ariel: Oi, pai

Ariel: Estou com saudades


Pai: Eu também, pequena guerreira.

Pai: MUITAS saudades!

Pai: Não é a mesma coisa sem você aqui.

Pai: Como está se adaptando?

Ariel: É difícil, não vou mentir

Ariel: Mas Steve e Louisa têm sido incríveis Pai: Eu sei, eu ligo
para eles diariamente pedindo atualizações Ariel: PAI!

Pai: Desculpe por ser um pai (emoji)

Pai: Mas eu tenho que saber que minha garotinha está segura
Ariel: Eu preciso de um conselho...

Pai: Desembucha. Sou todo (emoji de ouvidos 3 e um emoji


chorando de rir) Ariel: Mds, pai...

Ariel: As piadas estão claramente piorando desde que fui embora


Ariel: Enfim, estou me aproximando de uma pessoa...

Ariel: E mesmo que eu sinta que somos amigos Ariel: Não fui
totalmente honesta com ele Ariel: Não sei se posso confiar nele

Pai: Acho que não dá pra construir uma amizade verdadeira com
alguém...

Pai: Se você não for honesta..

Pai: Essa pessoa lhe deu um motivo para não confiar nela?

Ariel: Não, ainda não

Ariel: Não, ainda não

Pai: Então dê um voto de confiança.


Pai: De qualquer maneira, sei que você fará a escolha certa.

Ariel: Obrigada, pai

Pai: Espero te ver em breve (3 emojis de girassol) Devo dar uma


chance a Alex? Seria bom ter alguém aqui para me ajudar com toda essa
loucura, mas...
Meus problemas de confiança estão em alta. E se Alex começar a me
olhar de um jeito diferente? Não acho que vou conseguir lidar com isso.
Mas como posso me aproximar dele se estou guardando segredos? Sempre
haverá uma barreira entre nós.
Meu celular de repente começa a tocar de novo e vejo que Dom me
mandou uma mensagem.
Dom: ei maluco mclua

Dom: tá fazendo o quê?

Ariel: Você é realmente péssimo com apelidos...

Ariel: Eu saí do hospital

Ariel: Saúde perfeita

Dom: Alex e eu estávamos pensando

Dom: depois de toda aquela loucura de ontem Dom: poderíamos


relaxar com uma noite de cinema Dom: topa?

Ariel: Tem certeza de que Alex quer que eu vá?

Dom: ué, sim

Dom: ele não tão sutilmente me pediu para convidar você Dom:
então...

Dom: arraste esse (emoji de pêssego) até o palácio


É
A sala de cinema do palácio é incrível. É claro que o palácio tem seu
próprio cinema.
Fileiras de sofás confortáveis ficam de frente para a tela enorme e os
alto-falantes por todos os cantos me envolvem completamente no filme,
me surpreendendo.
Mas a empolgação de um filme cheio de ação nem chega perto da
empolgação que estou sentindo quando Alex se aproxima de mim no
sofá.
Ele me pediu para sentar ao lado dele quando o filme começou, mas
de alguma forma, quanto mais o filme avançava, mais perto Alex ficava de
mim.
Nossos ombros estão se tocando agora e eu fico arrepiada toda vez
que o braço de Alex roça o meu quando ele pega a pipoca.
— Você está gostando do filme? — Alex diz, sussurrando em meu
ouvido. — Eu sei que é um pouco cafona, mas Dom insistiu em Lobos
Guerreiros: Heróis do Reino III.
— Imagina, — eu digo, reprimindo uma risadinha. — E um pouco
cafona, mas estou gostando da companhia.
O braço de Alex relaxa atrás do meu pescoço e um arrepio de
excitação desce pela minha espinha.
— Eu queria ter certeza de que você está bem... depois do que
aconteceu com os selvagens, — ele diz, ainda falando baixinho.
— Eu sei que você se sentiu impotente, mas acho que você se
subestima. Eu definitivamente gostaria de ter você ao meu lado se
estivéssemos em uma batalha.
— Mesmo se for a 'batalha pelo reino?' — Eu pergunto brincando,
enquanto dezenas de lobisomens superpoderosos se chocam na tela em
uma exibição espetacular.
— Especialmente essa, — ele diz, rindo.
— SHHHHHHHHH! — Dom se vira com o dedo nos lábios. Ele está
completamente envolvido no filme. — Essa é a melhor parte, caramba!
Alex e eu deslizamos no sofá enquanto Dom joga pipoca em nós.
Agora não estou mais apenas sentada ao lado de Alex, estou
praticamente no colo dele.
Quando minha cabeça se aninha em seu ombro, seu braço envolve
minha cintura.
— Bem, estou feliz que você esteja bem, — ele diz suavemente, seus
dedos me acariciando levemente.
— Eu só queria que você soubesse que se precisar de alguma coisa,
mesmo apenas para falar sobre o que está passando, estou aqui para
ajudá-la.
Eu me aconchego no corpo quente de Alex e fecho os olhos, sorrindo.
Talvez Alex mereça minha confiança...
ALEX

O rosto de Ariel está relaxado e sua respiração suave enquanto ela


dorme, aninhada ao meu lado.
É bom vê-la assim. Ela está sempre tão tensa, carregando o peso de
tantos fardos, mas agora ela parece... em paz.
Deusa, ela fica ainda mais bonita quando abaixa a guarda.
Uma sensação estranha invade meu estômago com o pensamento.
Estou deixando ela se aproximar demais.
É apenas uma atração inofensiva, digo a mim mesmo.
Mas eu sei que é mais do que isso...
Acho que estou me apaixonando por ela.
As lembranças de Olivia começam a passar pela minha mente. Eu não
quero me lembrar, é muito doloroso, mas não consigo evitar.
Ela costumava adormecer ao meu lado, assim, neste mesmo quarto.
Ela costumava gritar para a tela quando um personagem tomava uma
decisão idiota.
Ela costumava ficar até o final dos créditos e bater palmas quando a
tela escurecia.
E agora, são minhas memórias de Olivia que estão começando a
escurecer...
Não posso fazer isso.
Eu abruptamente puxo meu braço de trás de Ariel e ela acorda.
— Deusa, eu adormeci? — ela pergunta sonolenta.
— Sim, e você perdeu as duas cenas pós-crédito, — Dom responde,
irritado.
— Não percebi que estava tão tarde. Eu deveria voltar para casa, — diz
Ariel, levantando-se e se espreguiçando.
Ela olha para mim com seus lindos olhos esperançosos e eu tenho que
desviar o olhar. Eu gostaria de poder oferecer mais a ela, mas não posso.
Não posso oferecer nada a ela agora.
— Bem, acho que vejo vocês mais tarde, — ela diz, com uma pitada de
decepção em sua voz. — Meu treinamento começa amanhã, então
preciso acordar bem cedo.
— Boa sorte, Ariel. Você será uma adição forte aos guerreiros da
matilha, — eu digo, em um tom excessivamente formal.
— Até mais, Ari! Te dou um toque depois do treino e podemos
comprar pizza ou algo do tipo, né? — Dom grita enquanto ela acena para
nós.
— Claro, Dom. — Quando ela sai da sala, sinto uma pontada de culpa.
Por que não posso simplesmente me sentir normal?
Dom levanta a sobrancelha para mim sugestivamente. — Então...
vocês dois pareciam... próximos.
— Dom, agora não. Não estou no clima.
— O que foi? Só estou dizendo... parece que vocês têm química. Por
que você não a convida para um encontro ou algo do tipo?
Foda-se. Eu preciso fazer com que ele pare de encher o saco.
— Não posso perder meu tempo com Ariel. — eu rosno com raiva. —
Eu apenas a convidei porque senti pena dela, ok?
De repente, noto Ariel parada na porta, com lágrimas se formando em
seus olhos.
Merda.
— Eu... esqueci meu celular, — ela diz, com a voz trêmula.
Ela rapidamente passa por mim e pega seu celular, em seguida, corre
para a porta, mas não antes de eu ver o olhar de traição absoluta em seu
rosto.
— Ariel, espere! — Eu a chamo, mas ela não para. Não posso culpá-la.
Eu estraguei tudo. Eu realmente estraguei tudo.
Capítulo 11
O PAR DIGNO
ARIEL

Já se passaram dias desde a minha noite de cinema com Alex, mas a


dor de suas palavras duras ainda parece tão fresca como quando ele as
disse pela primeira vez.
Não posso perder meu tempo com Ariel.
Eu apenas a convidei porque senti pena dela.
Eu sei que não deveria deixar isso me afetar tanto, mas não consigo
evitar. Eu realmente comecei a desenvolver sentimentos por ele.
Tive dias bons e dias ruins.
Acordo confiante e digo — vai se foder. Alex, — determinada a focar
em meus objetivos e não colocar minha energia em garotos estúpidos,
mas no final do dia, estarei de volta pensando em meus sentimentos.
É muito mais difícil superar uma decepção quando ela vem de alguém
que você gosta.
Em todo caso, eu o evitei como uma praga. Ele tentou enviar
mensagens de texto, ligar, enviar flores, mas não estou interessada em
desculpas vazias.
Alex basicamente disse que sou um fardo para ele. Se é assim que ele
se sente, não vou incomodá-lo mais.
Enquanto desço as escadas, onde Louisa está preparando o café da
manhã e Steve lendo o jornal, não posso deixar de me perguntar se sou
um fardo para eles também.
Estou morando na casa deles de graça, depois de ser exilada por
minha própria matilha por meu próprio par.
Será que sou um fardo para todos?
— Bom dia, Ariel, — Louisa diz alegremente. — Você quer alguns
ovos? Eu acabei de fazer...
Sem responder, passo rapidamente por eles e saio pela porta da frente.
Não posso encará-los agora.
Preciso de espaço para organizar meus pensamentos e limpar minha
cabeça de toda a energia negativa que estou sentindo.
Preciso correr.
E relaxante estar na floresta, rodeada pela natureza. Há uma nova
camada de neve no chão e a forma como o sol brilha na superfície branca
é de tirar o fôlego.
Tiro minhas roupas e as coloco em uma árvore próxima. Apesar de
estar nua na neve, não sinto frio.
Agora que a prata sumiu da minha corrente sanguínea, sinto o calor
da minha loba novamente.
Esse calor sobe pela minha espinha enquanto me inclino para frente e
os pelos começam a cobrir minha pele. Eu caio de quatro, totalmente
deslocada, e sacudo minha fina pele branca, com listras cinza claro.
Minha loba está em êxtase por ser livre de novo. Faz muito tempo que
não tenho uma liberdade assim.
Eu começo com uma corrida leve e, em seguida, passo para uma
corrida rápida enquanto passo entre as árvores e salto sobre arbustos,
sentindo o vento em meu pelo.
Passo por alguns dos lobos que patrulham as fronteiras e nós
acenamos um para o outro antes de passar correndo por eles.
Isso é exatamente o que eu precisava — uma chance de me reconectar
com minha loba.
Quando volto para vestir minhas roupas, o sol já está no alto e me
sinto muito mais confiante do que quando acordei esta manhã.
Esta loba vai aproveitar a porra do dia.
Quando empurro a porta da casa de Steve, gotas de suor ainda
brilham em minha pele por causa da corrida, encontro Steve esperando
por mim com uma expressão de preocupação no rosto.
— Está tudo bem? — Eu pergunto.
— Me diz você, — ele responde. — Você parecia muito chateada
quando saiu esta manhã. Está acontecendo alguma coisa?
Ah, sim. Fiz uma saída um tanto dramática esta manhã.
— Steve, posso te perguntar uma coisa? E eu quero que você me
responda honestamente.
— Claro, — ele diz, balançando a cabeça. — Eu quero que você sinta
liberdade de conversar comigo sobre qualquer coisa.
Eu respiro fundo enquanto mexo com a alça do meu top. — Eu sou...
sou um fardo para você e Louisa?
A expressão de preocupação de Steve de repente se transforma em
compaixão.
— Ah, Ariel, é isso que você está pensando? Você nunca será um fardo
para nós. Na verdade, você já enriqueceu muito nossas vidas desde que
chegou aqui.
Sinto as lágrimas começarem a se formar em meus olhos quando
Steve se levanta e me dá um abraço.
— A verdade é que... Louisa e eu... não podemos ter nossos próprios
filhotes, — diz ele, com a voz um pouco trêmula. — É como se você fosse
a filha que nunca tivemos.
— Vocês dois têm sido tão incríveis, — eu digo. — E a maneira como
você me ajudou a treinar... não sei onde estaria sem você, Steve.
— Não posso levar o crédito por isso, — diz ele, com um sorriso no
rosto.
— Recebi várias mensagens esta manhã do esquadrão de patrulha da
fronteira, dizendo que viram você correndo. Você impressionou até
mesmo o próprio General Dave.
Meu rosto fica vermelho com o pensamento do general me vendo
correr.
— Minha Deusa... isso foi... eu estava apenas tentando esfriar minha
cabeça, — eu digo, envergonhada.
— Bem, você impressionou as pessoas certas. Você deve ter sido
extremamente rápida, — diz Steve com orgulho. — O General Dave quer
adiantar a data do seu teste. Portanto, é melhor começarmos a treinar o
dobro.
De repente, me sinto tão estúpida por me preocupar com garotos,
quando tenho um teste de guerreiro chegando. Preciso me concentrar
nisso, não em Alex.
Ele é apenas uma memória distante a partir de agora.
Meu celular vibra e eu o pego para ver uma mensagem de...
Alex.
Ótimo, isso durou dois segundos.
Alex: Oi, Ariel

Alex: Eu sei que você não quer falar comigo e entendo Alex: Mas
preciso falar com você

Alex: É relacionado à matilha

Alex: Meus pais acabaram de voltar de uma viagem ao exterior e


gostariam de conhecer a mais nova integrante da nossa matilha
Alex: Eu disse a eles que você se juntaria a nós para almoçar Alex:
Você vem?

Ariel: Sim, você é meu Alfa

Ariel: Se é isso que você quer de mim, eu estarei lá Alex: Ariel

Alex: Por favor, não faça isso

Ariel: O quê, meu Alfa?

Alex: Você sabe que odeio quando você me chama assim Eu sabia
disso. Mas também não posso fingir que o que ele disse não me
machucou. Se ele quer que eu conheça seus pais, tudo bem, mas isso será
estritamente relacionado à matilha.
Quando apareço no palácio, rapidamente volto a ficar com os nervos à
flor da pele.
Eu sei que conhecer os pais de Alex é uma tradição normal da matilha
para um novo membro. Eles ainda detêm alguma autoridade na matilha,
embora o manto de Alfa tenha sido passado para Alex.
Mas sou uma estranha que Alex impulsivamente convidou para entrar
na matilha enquanto eles estavam fora. E se eles não acharem que sou
boa o suficiente para a Matilha Real?
Vou até a sala de reuniões, onde encontro Alex esperando por mim do
lado de fora. Ele não perde um segundo em me encurralar antes que eu
possa passar por ele e entrar na sala.
— Ariel, precisamos conversar, — ele diz com urgência.
— Alex, você prometeu que isso era relacionado à matilha, — eu digo
com raiva. — Deixe-me passar!
— Não, não até você me ouvir! — Ele grita.
— Eu já ouvi tudo. Eu ouvi quando você disse que eu era uma perda de
tempo. Eu ouvi quando você disse que me convidou por pena, — eu grito
de volta, minhas emoções começando a tomar o controle.
As mãos de Alex de repente estão segurando levemente meus ombros
e seu rosto está a apenas alguns centímetros do meu. Seus olhos estão
cheios de dor quando ele olha para mim.
— Ariel, você não entende. Eu nunca quis te machucar. Eu só disse
essas coisas para fazer com que Dom saísse do meu pé.
— O quê? O que você quer dizer? — Eu pergunto enquanto meu
coração começa a acelerar.
— Quando me senti cada vez mais próximo de você, fiquei com medo.
Aterrorizado, na verdade, — Alex diz com sinceridade. — Dom estava me
provocando e eu... eu não queria admitir como estava me sentindo.
Porque isso tornaria tudo... real.
— Mas você está admitindo agora, — eu digo, e agora quem está
começando a ficar aterrorizada sou eu.
— Eu... acho que estou, — diz Alex, com um sorriso genuíno se
formando em seus lábios.
Seu toque se torna menos urgente e mais terno. Seus olhos verdes
secam meu corpo como se ele tivesse uma sede insaciável.
Eu sinto minha loba ficando inquieta enquanto seu corpo pressiona
contra mim. Ele inclina seus lábios em direção aos meus.
Minha Deusa. Ele vai...
As portas da sala de reunião se abriram de repente e uma mulher alta,
de aparência majestosa, com cabelos negros e um vestido roxo longo,
exalando realeza deslizou para fora tão graciosamente que eu juro que
seus pés nem sequer tocam o chão.
— Alex, por que está demorando tanto...
A mulher para quando me vê, as mãos de Alex ainda coladas em meus
ombros.
Ele rapidamente se afasta, mas esta mulher já percebeu algo e não
gostou, dada a expressão amarga em seu rosto.
— Ariel, conheça minha mãe, Maria, — Alex diz, desajeitado, dando
um passo para o lado.
— Prazer em conhecê-la, — Maria diz com todo o calor de uma
nevasca.
— Ariel é nosso mais novo membro da matilha. Ela está treinando
para ser uma guerreira. Ela é uma das lobas mais fortes que já conheci, —
Alex diz, provavelmente exagerando um pouco.
Ele parece estranhamente nervoso.
— Ah, bem... masculino, — Maria diz, enquanto me avalia. — Parece
mesmo que seria uma guerreira robusta.
Esta mulher está me insultando? Ela literalmente acabou de me conhecer.
— É uma honra treinar com a Matilha Real, — digo, tentando quebrar
o gelo. — Eu vim da Lua Crescente.
— Ah, querida Emily, não é? Eu acho que sei tudo que preciso saber,
— ela diz com uma doçura forçada, enquanto alterna olhares entre mim
e Alex.
— Ariel, — eu respondo de forma concisa, sentindo a vingança em seu
olhar.
— Sim, bem, passamos para um novo tópico de discussão, — diz
Maria com um sorriso de desdém.
— E o que seria? — Alex pergunta, cruzando os braços.
— Você tem se afundado em seus sentimentos há algum tempo, Alex,
— Maria diz sem rodeios.
— E embora um período de luto seja esperado, — ela continua, —
você é o Alfa e o Rei. Você tem uma matilha para comandar. E você não
pode fazer isso sozinho.
Esta pode ser a mulher mais intimidadora que já conheci na minha
vida.
— O que quer dizer, mãe? — Alex pergunta, uma sensação de pavor
surgindo em seu rosto.
Maria olha diretamente para mim enquanto pronuncia sua próxima
palavra, seu sorriso falso agora totalmente rancoroso.
— Ora, vamos encontrar um novo par para você, é claro. Um que seja
digno de estar com um Rei.
Capítulo 12
O PODER DO DOM
ARIEL

Enquanto me sento em frente aos pais de Alex na sala de reuniões,


apenas uma pergunta passa pela minha cabeça...
Por que diabos eu ainda estou aqui?
Esta reunião não é mais sobre minha chegada à matilha. Nunca foi, na
verdade.
Maria quer que Alex encontre um par e ela deixou bem claro que não
sou eu, então por que ela me pediu para ficar para esta reunião?
A tensão na sala toma conta quando Alex enfrenta sua mãe.
É claro que ele não está pronto para deixar seu passado e parte meu
coração vê-lo sendo forçado para isso contra sua vontade.
— Você não pode simplesmente me arrumar um outro par! — Alex
rosna com raiva. — Sou capaz de tomar minhas próprias decisões. E sou
mais capaz ainda de administrar este reino por conta própria.
— Terei que discordar de você nesse assunto, meu filho. — O pai de
Alex lança um olhar firme em sua direção.
George, o ex-Alfa e Rei, tem o comportamento cauteloso e desgastado
de alguém que viveu uma vida inteira de liderança política exaustiva.
Não é à toa que ele se aposentou cedo e passou o manto para Alex.
— Você deve ter um par para governar corretamente. Eu nunca teria
governado com sucesso sem sua mãe ao meu lado, — diz George,
enquanto Maria exibe um sorriso malicioso de satisfação.
— Mas você está propondo um par arranjado! — Alex está
praticamente gritando.
— Não, muito pelo contrário, — Maria diz, comandando a sala
novamente. — Estou propondo um fim de semana de acasalamento.
Fim de semana de acasalamento?
— Fim de semana de acasalamento? — Alex pergunta, ecoando meus
pensamentos. — E o que seria isso?
— É como seu pai e eu nos encontramos. Vai ser um grande festival,
— diz Maria, animada.
— Todos os homens e mulheres sem pares da matilha, e das matilhas
próximas, se reunirão no reino para um fim de semana de festas e
eventos onde podem encontrar seus potenciais pares.
Alex me lança um olhar de lado, mas Maria rapidamente chama sua
atenção de volta para ela.
— E você, Alex, será o convidado de honra. Cada loba elegível no reino
estará aqui, buscando sua atenção, — diz ela.
— Eu não quero a atenção delas, — Alex responde rispidamente.
— Alex, se você não fizer isso pela sua mãe, então pelo menos faça
pelo seu reino, — George diz no mesmo tom áspero. Eles realmente são
pai e filho.
— Basta fazer um pouco de esforço, querido, — Maria diz com sua
doçura forte e característica.
Alex suspira profundamente, claramente pronto para esta conversa
acabar. — Se eu concordar com isso, não vou fazer nenhuma promessa
de que vou escolher um par. Eu só vou concordar em comparecer...
— Isso é tudo que podemos pedir de você. — Maria diz como quem
acabou de ganhar na loteria.
Seu olhar de repente se volta para mim e me pega desprevenida. — E
isso me leva à sua função, minha pequena guerreira.
— Minha função? — Eu pergunto, minha voz rangendo um pouco.
Quando ela me chama pelo apelido que meu pai me chamava, parece
condescendente, não doce.
— Sim, já que Alex garantiu que você é a loba mais valente por aqui,
quero lhe dar uma oportunidade. Quero que você seja a chefe da
segurança no fim de semana de acasalamento, — diz ela.
Em circunstâncias diferentes, isso seria realmente uma honra. Mas eu
sei exatamente qual é o jogo de Maria...
Se eu estiver presa comandando a segurança... então não poderei
participar do festival.
Whack!
— Muito bem. Ariel, continue assim, — Steve diz, me encorajando
enquanto eu soco as almofadas de treinamento presos em suas mãos.
Whack!
Eu dou outro golpe perfeito, mesmo enquanto Steve tenta me
enganar, movendo o alvo no último segundo.
Depois daquela reunião no palácio, estou extremamente irritada e o
treinamento é a maneira perfeita de gastar minha agressividade.
Eu bato nas almofadas com socos rápidos.
Quem diabos essa mulher pensa que é?
Whack!
Agindo como se eu fosse algum tipo de cidadão de segunda classe...
Whack!
E por que Alex concordou com essa ideia estúpida de fim de semana de
acasalamento?
— Cuidado, Ariel, você está exagerando um pouco, — diz Steve.
começando a perder o equilíbrio. — Lembre-se, este é apenas um
exercício de treinam...
WHACK!
Eu pulo no ar e acerto o alvo com um chute circular, colocando todo o
peso do meu corpo nisso.
Steve sai voando, caindo de costas.
— Merda! Steve, sinto muito! — Eu digo, correndo para ajudá-lo a se
levantar. — Estou passando por alguns problemas agora.
— Percebi, — ele diz, parecendo surpreso. — Eu definitivamente não
gostaria de ser o selvagem no seu caminho.
— Talvez ela precise de um novo parceiro de treino?
Minha loba começa a dar cambalhotas no meu estômago quando
ouço sua voz.
Eu me viro para ver Alex caminhando em minha direção com um
sorriso no rosto.
— O q...que você está fazendo aqui? — Eu gaguejo.
— Parece que ele está desafiando você, — diz Steve com um brilho nos
olhos.
O que diabos está acontecendo? Alex enlouqueceu?
— Isso é exatamente o que estou fazendo, — Alex responde, com
aquele sorriso largo ainda estampado em seu rosto. Que vontade de dar
uns tapas.
— Você não tem um fim de semana de acasalamento para planejar? —
Eu digo amargamente.
Alex acaba com o espaço entre nós até que existam apenas alguns
centímetros de distância e meu coração palpita quando sinto sua
respiração ao sussurrar em meu ouvido.
— Você sabe que eu só concordei com isso para tirar minha mãe do
meu pé. Eu não tenho nenhuma intenção de ser um lobo premiado em
um festival de acasalamento.
Um sorriso cruza meus lábios quando Alex dá um passo para trás.
— Então, Ariel, você topa? Ou sou demais para você? — ele diz com
um rosnado brincalhão.
— Pode vir, vossa majestade, — digo, provocando-o.
A essa altura, todos os guerreiros no campo de treinamento se
reuniram para assistir ao evento, como uma espécie de luta no pay-per-
view.
Eu rolo meus ombros antes de afundar em uma posição defensiva.
Minha loba está logo abaixo da superfície, tentando ter um vislumbre
do lobo de Alex, fascinada pelo cheiro do forte oponente à nossa frente.
Eu miro um soco em seu ombro esquerdo, mas me esquivo mais para
baixo quando ele vai bloquear meu golpe. Ele grunhe quando meu punho
acerta seu estômago. E mais difícil do que eu esperava.
Alex se endireita e tira a camisa, revelando seu abdômen definido.
Deusa, como é definido. Espere, não se distraia. Tenho certeza de que esse
é o plano dele. Bem, dois podem jogar nesse jogo.
Sorrindo, eu jogo minha armadura de treinamento no chão, revelando
um top decotado.
Quando levanto meus punhos e salto para frente e para trás em meus
calcanhares, meus seios saltam junto comigo.
Os olhos de Alex se arregalam enquanto fixos em meu peito.
Homens são tão previsíveis.
Aproveitando sua distração, eu me agacho e coloco minhas pernas em
seus joelhos, fazendo-o cair no chão.
Eu rapidamente me movo atrás dele e o coloco em uma chave de
braço.
— Você se rende? — Eu sussurro em seu ouvido, amando cada
segundo disso.
— Sem chance, — ele diz, me agarrando pelos cotovelos e me virando
sobre sua cabeça.
Eu caio no chão com um baque pesado.
Você quer pegar pesado, né?
Antes que ele possa me agarrar, eu rolo para o lado e dou um chute
em sua canela. Jogando minhas pernas para o ar, pulo de volta em uma
posição defensiva.
Alex dá um bote em mim, mas consigo derrubá-lo em um joelho antes
que ele me agarre e me puxe para baixo.
Rolamos no chão antes que ele consiga prender meus braços para
baixo e escarranchar sua cintura enquanto lanço um soco em seu peito.
Enquanto monto em Alex, sinto-o ficar excitado debaixo de mim e
fico boquiaberta. Qualquer tipo de vantagem que eu tinha acabou de
voar pela janela quando senti seu...
WHAM!
Em segundos, Alex me prendeu nas costas. Seu suor escorre na minha
pele nua enquanto seus olhos brilhantes fixam nos meus. Lutei tão bem
que ele começou a se transformar.
Meu peito arfa para dentro e para fora enquanto ele me segura no
chão, minhas pernas começam a envolver involuntariamente em torno
de sua cintura.
— Eu me rendo, — murmuro, sem fôlego. Ainda consigo lutar mais
um pouco, mas se eu não me render agora, não sei onde isso vai parar.
Alex me põe de pé e acena para mim, impressionado. — Uau. Só tenho
isso a dizer, uau.
Enquanto meus colegas guerreiros uivam e gritam ao nosso redor,
noto um espectador que não parece nem um pouco feliz.
Maria.
ALEX

Meu sangue está bombeando. Minha adrenalina à mil. Meu coração


disparado.
Aquela sessão de treinamento com Ariel não foi apenas excitante — foi
totalmente inebriante.
Eu abro caminho através da multidão de guerreiros e pego uma
toalha, enxugando os baldes de suor que escorrem do meu corpo.
Aquela garota realmente tirou o melhor de mim.
— Você sempre teve o hábito de lutar com seus guerreiros em
treinamento? — Eu ouço a voz da minha mãe atrás de mim.
— O que foi agora, mãe?
Ela dá a volta na minha frente, me entregando uma garrafa de água e
se senta em um banco, gesticulando para que eu me sente ao lado dela.
— Aquela garota... ela é uma estranha, — minha mãe diz quando eu
me sento. — Ela não é confiável.
— É por isso que você a fez chefe da segurança no seu fim de semana
de acasalamento? — Eu pergunto, cético. — Porque isso parece besteira.
— E sério, Alex, — diz ela, revirando os olhos. — Só estou dizendo que
acho que ela está escondendo algo de você.
— O que você quer dizer? Se você tem algo a dizer, apenas diga, — eu
rosno, sem paciência para joguinhos.
— Eu andei investigando, — diz ela, batendo as unhas compridas. — E
acontece que nosso mais novo membro da matilha tem alguns registros
médicos no mínimo interessantes.
Mesmo sabendo que minha mãe está apenas tentando me manipular,
algo sobre suas palavras soa verdadeiro. Tenho a sensação de que Ariel
não está sendo totalmente honesta comigo.
Minha mãe desliza uma pasta pela bancada.
— Gostaria de ver por si mesmo?
ARIEL

Enquanto eu vagueio mais fundo na floresta, pensamentos sobre Alex


dominam minha cabeça. Eu tinha tirado conclusões precipitadas sobre o
que o ouvi dizer a Dom.
E agora, parece que estamos cada vez mais próximos. Não sei o que
fazer com todos esses sentimentos, mas sei que preciso de uma boa
corrida para clarear minha mente.
Quando começo a tirar minha camisa, sou interrompida por sons de
rosnados e choro.
— Use seu dom, Ariel! Você deve se apressar! — A voz de Selene diz
urgentemente em minha mente.
Minha loba fica instantaneamente em prontidão quando fareja
sangue.
Eu rompo o arbusto próximo, seguindo o cheiro, e encontro uma
garota com cabelo loiro dourado, deitada no chão, sangrando.
Enquanto três selvagens estão sobre ela, com suas línguas sacudindo
avidamente por entre os dentes à mostra, sinto uma raiva incontrolável
crescendo dentro de mim.
— Vocês todos vão morrer, — eu rosno.
Capítulo 13
SEGREDOS
ARIEL

Ao olhar para a jovem em uma poça de seu próprio sangue, com seu
estômago despedaçado, sinto que estou perdendo o controle e não
consigo me conter.
Eu não quero me conter.
Minha loba assume o controle e me força para o fundo da minha
mente.
Um dos selvagens vem em direção à minha garganta, mas eu me
esquivo e levo a mordida em meu ombro direito.
Eu nem sinto dor. Tudo o que sinto é raiva.
Quando um lobo loiro sujo me golpeia e me joga no chão, eu caio de
quatro, mas não estou me transformando. Minha loba está controlando
meu corpo humano.
Eu ataco e imobilizo o selvagem, rasgando sua garganta enquanto ele
tenta lutar embaixo de mim.
Volto minha atenção para um lobo marrom, cortando minhas garras
em seus olhos enquanto ele se lança contra mim.
Em questão de segundos, dou uma mordida fatal em seu pescoço.
Dois já foram e falta um.
Eu cuspo o sangue nojento da minha boca e olho para o último
selvagem restante. O idiota está tremendo enquanto eu rosno para ele.
Ele se vira e corre em direção à fronteira com o rabo entre as pernas,
mas não vou deixá-lo escapar.
Eu disse que mataria todos vocês.
Eu facilmente o alcanço e pulo em suas costas, afundando meus
dentes em sua nuca. Suas patas se dobram e ele cai no chão em um
baque.
Eu o círculo, desafiando-o a se levantar. Estou gostando disso.
Eu me lanço contra ele e o prendo no chão antes que possa se
levantar, e mordo mais profundamente seu ombro até sentir o osso
contra meus dentes.
Com um puxão forte, quebro seu ombro antes de quebrar seu pescoço
e deixar seu corpo inerte no chão.
Eu cheiro a sangue de selvagem, minhas roupas e minha pele humana
estão cobertas com o sangue espesso e asqueroso.
Mas minha loba está finalmente satisfeita. Eu recupero o controle do
meu corpo.
Minhas mãos tremem quando olho para o sangue que as cobre.
O q-que eu fiz?
Talvez os caçadores realmente tenham me transformado em um
monstro...
Um leve gemido chama minha atenção para o centro da clareira da
floresta.
A garotinha — ela ainda está viva!
Corro em sua direção e caio de joelhos.
Enquanto seguro seu pequeno pulso, posso sentir um batimento
cardíaco fraco, mas se eu não fizer algo rápido, ela morrerá.
Seus ferimentos são quase cruéis demais para olhar, mas me forço a
examiná-los.
Seu estômago está completamente aberto. Pressionar nem mesmo é
uma opção. O sangramento não vai parar.
Selene, o que eu faço? Por favor me diga!
Nada além de silêncio.
— Deusa, por que você está sempre quieta quando eu mais preciso de
você? — Eu grito. — Você me disse para usar meu dom! Como diabos eu
uso isso?
Eu sinto a picada da ferida em meu próprio ombro quando ela começa
a se fechar.
Não, eu não quero me curar! Eu quero curar a criança!
Respirando fundo, coloco minhas mãos sobre a garota.
— Deusa, eu não me importo com o que pode acontecer comigo! Em
vez disso, por favor, cure esta criança!
De repente, sinto uma dor aguda no ombro quando a ferida começa
não apenas a aumentar, mas a infeccionar.
E como se meu ombro estivesse apodrecendo.
Eu grito de dor e continuo segurando a garota, enquanto sua
frequência cardíaca começa a se estabilizar e suas feridas começam a se
fechar milagrosamente.
Conforme eu caio no chão, pontos negros dançam diante dos meus
olhos.
A menina se levanta lentamente, parecendo atordoada, mas
completamente curada.
Ela se ajoelha ao meu lado e segura minha mão enquanto sinto minha
consciência desvanecer.
Eu consigo resmungar um último pedido.
— P-por favor... não conte a ninguém... sobre... meu dom.
ALEX

Dom: alex!

Dom: selvagens foram farejados perto da fronteira novamente


Dom: e uma mulher relatou que sua filha está desaparecida Dom:
precisamos cuidar disso o mais rápido possível Alex: Merda!

Alex: Envie o alerta e certifique-se de que todos estejam em


segurança.

Alex: Estou perto da fronteira. Vou pegar alguns guerreiros e ir eu


mesmo.

Dom: alex tem mais uma coisa Dom: é Ariel

Dom: um dos guerreiros disse que a viu indo para a floresta


sozinha Dom: no mesmo lugar que os selvagens foram farejados
Alex: MERDA!
Corro pela floresta tão rápido quanto minhas pernas de lobo podem
me levar, rezando para a Deusa para que eu não seja tarde demais.
Eu cheiro sangue... muito sangue. E tenho certeza absoluta de que
parte dele pertence à Ariel.
Se alguma coisa tiver acontecido com ela...
Minhas pernas estão pegando fogo, mas eu corro ainda mais rápido.
Estou quase lá, mas o cheiro de morte no ar me impede de seguir em
frente.
Não... Deusa, ela não pode estar morta. Cheguei tarde demais?
Avanço por alguns arbustos e entro em uma clareira, onde meus olhos
imediatamente se fixam no corpo imóvel de Ariel.
Ela está sangrando muito, mas não é nada comparado aos três
selvagens ao seu redor, completamente despedaçados.
Sentada ao lado de Ariel está uma garotinha coberta de sangue, mas
aparentemente ilesa.
Corro até Ariel e verifico o pulso. Ela ainda está viva. Por muito pouco.
— Você pode me contar o que aconteceu? — Eu pergunto à criança
com urgência.
Ela se senta e me encara em silêncio, com os olhos arregalados.
— Não tenha medo. Eu só quero ajudá-la. Mas eu preciso saber o que
aconteceu, — eu digo com cuidado, não querendo traumatizar ainda
mais a garota.
Ela olha para mim e fala baixinho.
— Eu... eu não posso. Ela disse que era... um segredo.
ARIEL

Tudo o que vejo é um vestido branco cintilante quando abro os olhos.


Selene.
Ela paira sobre o lago enluarado na minha velha matilha — o lugar
que costumava ser cenário de tantas boas lembranças para mim, mas que
agora serve apenas como um lembrete do que perdi.
— Estou... estou morrendo? — Eu pergunto, semicerrando os olhos
por causa da luz brilhante refletida em seu corpo.
— Sim. minha filha, mas não por muito tempo. Você será curada, —
ela diz suavemente.
— Selene, como isso funciona? Por favor, diga-me, — eu digo,
implorando por respostas.
Eu continuo. — Sinto que estou enlouquecendo. Num segundo meu
corpo está se curando e no próximo ele está desmoronando! O que eu
tenho que fazer?
— Sua cura depende inteiramente de suas próprias ações, — ela
responde. — Se sua intenção é curar, então você curará. Mas se for para
machucar... você não o fará.
Cada vez que mato ou cometo algum tipo de violência, minha
habilidade de cura não funciona...
E toda vez que mato, sinto como se outra pessoa estivesse pilotando
meu corpo.
— Mas e se eu não conseguir me controlar? E se eu não tiver escolha?
— Eu pergunto, perturbada. — Eu não sou normal. Estou destruída.
— Você sempre tem uma escolha, Ariel. Você deve escolher entre o
plano de minha irmã Fate para você ou o seu próprio. Ela quer que você
seja uma assassina, uma ferramenta dos caçadores... mas o que você
quer?
— Eu... eu quero curar as pessoas, não as machucar.
Selene acena com a cabeça e começa a desaparecer.
— Então esse é o caminho que você deve seguir. Lembre-se de que
você não precisa passar por isso sozinha.

Acordo em um ambiente familiar e uma situação familiar — no


hospital, com Alex ao meu lado.
— Eu disse que temos que parar de nos encontrar assim, — eu digo,
grunhindo.
Tento me sentar, mas uma dor aguda atinge meu ombro. Ainda está
feio, uma massa de carne roxa nodosa.
— Não se esforce, — diz Alex. rapidamente gesticulando para que eu
me deite. — O médico disse que você tem sorte de estar viva.
— A garota... como ela está? — Eu pergunto, enquanto Alex ajusta
meu travesseiro.
— Ela está bem. Sem nem um arranhão, — ele diz, com um tom de
dúvida em sua voz. — Você quer me dizer o que aconteceu?
Não quero. Na verdade. Ainda estou com medo de dizer a verdade a
Alex.
Mas talvez ele mereça saber. Depois de tudo o que aconteceu, ainda
não confio nele?
Lembre-se de que você não precisa passar por isso sozinha.
Selene está certa. Este é um peso muito grande para uma pessoa
carregar.
— Alex... eu preciso te contar uma coisa, — eu digo hesitantemente.
— Mas temo que você me olhe de forma diferente.
— Ariel, eu prometo a você, não vou olhar para você de forma
diferente. Eu só quero te apoiar — diz ele. A compaixão em seus olhos é
sincera.
— E que... não vou me tornar outra cobaia, Alex. Eu não posso voltar
para isso. Eu não posso, — eu digo, com lágrimas brotando em meus
olhos.
Alex envolve cuidadosamente seus braços em volta de mim, evitando
meu ferimento, e passa os dedos pelo meu cabelo emaranhado.
— Nunca vou deixar nada de ruim acontecer com você, — diz ele. —
Você está sempre segura comigo. Mas você precisa ser honesta. Chega de
segredos.
— Chega de segredos, — repito, agarrando a mão de Alex. — Eu... eu
tenho um dom.
— Que tipo de dom? — Ele pergunta, com seus lindos olhos verdes
cheios de confusão.
— Um dom da própria Deusa. O dom da cura.
Enquanto Alex me olha incrédulo, meu ombro mutilado começa a se
preencher e a descoloração desaparece.
Em poucos instantes, a ferida quase mortal está completamente
curada.
— E... e a garota também? — Alex gagueja, com o queixo no chão.
— Sim, eu posso curar outras pessoas também... às vezes.
Não sei se Alex vai começar a xingar, recuar com medo ou pedir ajuda,
mas ele não faz nenhuma dessas coisas.
Em vez disso, ele levanta minha cabeça e coloca as duas mãos no meu
rosto.
Ele olha entre meus olhos e minha boca, mordendo o lábio inferior.
Posso ver que ele está lutando contra o desejo de agir por impulso.
O que ele vai fazer?
Ele vai me beijar?
Ele se inclina e eu prendo a respiração.
Capítulo 14
NUNCA BOA O SUFICIENTE
ARIEL

Seus lábios tocam os meus, suavemente no início, mas então sua


língua busca um caminho entre eles e eu abro minha boca
complacentemente.
Seu sabor é doce, e a pressão de sua língua pressionando a minha
envia ondas de prazer pelo meu corpo.
Sua mão segura firmemente minha nuca enquanto nos beijamos.
Um leve gemido escapa dos meus lábios enquanto ele se afasta,
deixando apenas um fio de sua doce saliva.
É nosso primeiro beijo. E é perfeito.
A pausa é pequena, nossos lábios se separaram apenas por um
segundo.
Quando eles se reconectam, a ternura se foi, agora substituída por
pura paixão.
Eu ouço minha loba fungando e vindo à frente da minha mente.
Ela quer isso. Ela quer que o Alfa esteja com ela.
Alex agarra meu cabelo, enviando raios de prazer pelo meu couro
cabeludo.
Nossos beijos ficam mais intensos e selvagens até que eu não consigo
mais me segurar.
Eu o puxo para a cama e chutamos os lençóis para abrir espaço.
Nossas pernas ficam entrelaçadas.
Minha loba uiva em aprovação, me incentivando.
Eu rolo para ficar em cima dele e continuo a beijá-lo, descendo por
sua mandíbula, pescoço e clavícula.
As mãos de Alex percorrem a curva de minhas costelas e cintura,
espalhando-se pelos meus quadris e, em seguida, parando na minha
bunda.
Suas mãos são tão boas — sólidas e viris, mas gentis ao mesmo tempo.
Assim que começo a brincar com sua camisa, dando uma olhada no
abdômen por baixo dela, a porta do meu quarto se abre, fazendo com que
Alex e eu nos escondamos nos lençóis.
— Minha nossa, desculpe! Não sabia que você ainda estava aqui, Alfa,
— diz o médico.
Suas bochechas ficam vermelhas quando ele alterna olhares entre nós
dois, e tenho certeza de que nossos rostos parecem semelhantes.
— O que foi? — Alex responde. Posso ouvir que ele está tentando
manter a calma e fazer parecer que tudo está normal.
— Eu ia dar alta à paciente, já que ela está saudável, — diz. — Vou te
dar alguns minutos.
Ele fecha a porta silenciosamente atrás de si. Eu olho para Alex e nós
dois começamos a rir.
Alex sai da cama e estende a mão para mim.
Eu aceito e beijo sua bochecha antes de sairmos da sala.
Assim que voltamos para o terreno da matilha, Alex é puxado por sua
mãe para uma reunião de planejamento para a cerimônia de
acasalamento.
Alex olha para mim como se me implorasse para salvá-lo, mas eu foco
no olhar de sua mãe.
Seu olhar frio me deixa paralisada.
Volto para a casa de Steve e Louisa, pronta para um merecido
descanso e relaxamento.
Os próximos dias são um borrão. Só consigo pensar nos lábios de Alex
nos meus.
Todos os dias eu faço um tour pelo palácio, tentando vê-lo, mas toda
vez que nos encontramos, Alex segue na direção oposta antes mesmo de
eu dizer uma única palavra.
Não posso deixar de sentir que ele está me evitando, já que não
conversamos, mas Dom diz que sua mãe está apenas o mantendo
ocupado com os preparativos do fim de semana de acasalamento.
Para ser honesta, não me importo com o espaço.
Quando Alex me beijou, despertou todos os tipos de emoções, e nem
todas eram boas.
Apesar da minha atração por Alex, ele não é meu par destinado. Isso é
algo que nunca mais terei.
E o par destinado dele se foi para sempre... e eu sei com certeza que
ele não a esqueceu.
É muito para minha cabeça, e eu preciso falar sobre isso com alguém.
Eu preciso da minha melhor amiga.
Me aproximo da minha mesa de cabeceira e pego meu celular.
Ariel: Oi, amiga

Ariel: Então... algo meio importante aconteceu recentemente


Amy: uuuuhhh

Amy: isso parece bom. conte-me tudo

Ariel: Eu beijei o Rei

Ariel: Ou ele me beijou, na verdade

Amy: Deusa do céu

Amy: não acredito!!!

Amy: ari isso é incrível

Ariel: Não sei como me sinto

Ariel: Ou como ele se sente quanto a isso Ariel: Não nos falamos
desde que aconteceu Amy: sim, eu entendo, vocês dois passaram
por MUITA coisa Amy: mas não fique aí parada esperando que ele
venha até você Amy: você é uma guerreira pelo amor da Deusa
Amy: confronte aquele alfa esquivo e descubra como ele se sente
Ariel: É, você está certa

Ariel: Obrigada, Amy, você sempre dá os melhores conselhos


Amy: é claro que eu dou

Ariel: Como vão as coisas em casa?

Ariel: Bem, acho que não é mais minha casa...

Amy: Natalia continua tão insuportável como sempre Amy: mas


pelo menos o bebê está chegando e ela logo pode focar sua
loucura nisso Ariel: E Xavier?

Amy: você realmente quer saber dele?

Ariel: Não, você está certa. Desculpe, às vezes isso me atinge de


forma inesperada.

Ariel: Essa sensação do que estou perdendo. O que poderia ter


sido.

Amy: bem, você sabe que estou aqui para ajudá-la sempre que
precisar O beijo inesperado de Alex.

O bebê de Xavier e Natalia.


Minha cabeça está girando e não quero pensar em nada disso.
Eu preciso de uma distração.
Não, eu preciso de uma bebida.
E eu conheço o cara perfeito para isso...
Ariel: Ei

Ariel: Vamos beber hoje à noite

Dom: uhhh vc está tentando me seduzir? (emoji com cara de


esperto) Ariel: Não idiota (emoji revirando os olhos) Ariel: Eu só
preciso me distrair

Ariel: E eu preciso disso na forma de doses de tequila Dom: haha


ok, cuido de você
Dom: te vejo no Canino Branco às 22h

— Desce mais! — Eu ordeno bêbada, enquanto Dom alinha vários


copos no balcão e os enche de tequila desleixadamente.
— Sim, senhora, — diz ele, dando-me uma saudação.
— Não acredito que eles acabaram de lhe dar a garrafa inteira, — eu
digo, pegando outra dose e engolindo.
— Bem, ser um Beta tem algumas vantagens, — ele responde,
tomando um shot.
— Você dormiu com a bartender, não foi? — Eu digo, rindo.
— Tudo bem, talvez uma ou duas vezes. Mas isso foi antes de ela ter
encontrado seu par.
Há uma amargura em seu tom enquanto olha melancolicamente para
sua bebida.
— E se eu nunca encontrar meu par, Ari? Vou morrer velho e sozinho,
sem ninguém para amar!
— Mas que drama, — eu digo, quase caindo da minha banqueta
quando me viro para encará-lo.
Eu continuo. — Pelo menos seu par destinado ainda está lá fora. Eu
encontrei o meu e ele me rejeitou. E ele está com minha irmã terrível.
Dom me observa com uma empatia de bêbado.
— Sim, você venceu, — diz ele. — Você precisa disso mais do que eu.
— Ele desliza o que restou da garrafa para mim.
— Quem sabe... talvez você encontre alguém neste fim de semana de
acasalamento idiota, — eu digo.
Tento não pensar em como Alex estará cercado por todas as garotas
elegíveis em um raio de quinhentos quilômetros.
— Se não, vamos fazer um pacto para nos casarmos quando tivermos
quarenta anos, para não morrermos sozinhos, — diz Dom.
Ele me dá um sorriso desleixado.
Eu o empurro para fora de seu banquinho e ele equilibra seus pés no
chão.
— Vai sonhando, Dom. Eu não estou tão desesperada.

Apesar do fato de que ainda faltam duas semanas para o fim de


semana de acasalamento, Maria me pediu para repassar os detalhes da
segurança com ela.
É óbvio que ela está apenas tentando me manter ocupada para ficar
longe de Alex.
Estou com uma ressaca dos infernos hoje e não estou com vontade de
tolerar os comentários sarcásticos e os insultos velados de Maria.
Felizmente, ela está me ignorando e tagarelando com várias outras
mulheres da matilha, enquanto eu fico parada como um guarda-costas
glorificado.
— Deusa, eu não dou uma festa como esta há anos, — Maria diz de
uma maneira quase orgástica. — Eu simplesmente amo um festival na
primavera.
— A última vez que a matilha fez algo tão grande foi no casamento de
Alex, — disse uma das outras mulheres.
— Sim, e se tudo correr bem, teremos outro casamento pela frente, —
Maria responde cantarolando.
Eu não posso evitar revirar os olhos. Me amordace.
— Não vamos nos distrair, senhoras. Vamos conversar sobre os
detalhes, — diz Maria, batendo palmas.
Ela continua. — Todos os lobos presentes no final de semana chegarão
na sexta-feira, ao longo do dia. À noite, teremos um encontro onde todos
os potenciais pares podem se conhecer.
Você quer dizer que todos os potenciais pares podem se jogar em cima de
Alex.
— Então teremos atividades para encontros no sábado, como
piqueniques na floresta, e terminaremos o fim de semana com um baile
real no domingo, — diz ela com entusiasmo, enquanto as outras
mulheres acenam em aprovação.
— O tema principal é a primavera com lilás e dourado como paleta de
cores, — diz Maria. — O hall todo branco. As toalhas de mesa lavanda
com cadeiras de madeira pintadas de dourado. Não vou economizar!
— Você vai precisar de uma equipe de segurança se as pessoas
pretendem se aventurar na floresta, — eu digo, entrando na conversa. —
É perto da fronteira. É um risco garantido.
Maria faz uma careta como se tivesse achado algo engraçado.
— Bem, que sorte a nossa em termos você de plantão durante todo o
fim de semana, — diz ela, franzindo os lábios. — Tenho certeza de que
você estará muito, muito ocupada.
Sim, e você está adorando isso.
— Todo o fim de semana? — uma das senhoras pergunta, parecendo
surpresa. — Você está solteira, não está? Você não quer participar do
festival? Há um elegível presente.
Antes que eu possa responder, Maria lança um olhar mortal para a
mulher e responde por mim.
— Ariel jurou proteger este reino como uma guerreira da matilha. Ela
sabe que o dever vem em primeiro lugar.
Ela continua. — Além disso, o gosto do meu filho por mulheres é
muito mais refinado do que esta guerreira bruta. Ela não está perdendo
nada.
O tom de Maria é venenoso e me lembra minha própria mãe e a
maneira como ela sempre me diminuía, principalmente por querer ser
uma guerreira.
Assim como nunca fui boa o suficiente para minha mãe, aos olhos de
Maria, nunca serei boa o suficiente para Alex.
Quando Maria finalmente me deixa em paz, eu perambulo pelos
corredores do palácio tentando tirar suas palavras da minha mente.
Quem se importa com o que ela pensa de mim? A única coisa que
importa é como Alex e eu nos sentimos.
E como ele se sente exatamente?
Lembro-me do conselho de Amy para não esperar que Alex viesse até
mim, mas para ir até ele.
Bem, eu já estou no palácio. E melhor acabar com isto.
Eu caminho para o quarto de Alex e encontro a porta entreaberta. Eu
bato, mas ninguém responde.
— Olá? Alex, você está aqui? — Eu pergunto, enquanto empurro as
portas pesadas.
No início, eu não o vejo, mas apenas alguns momentos depois, vejo
muito mais do que deveria.
Alex sai do banheiro, completamente nu e enxugando seu cabelo loiro
molhado e despenteado.
Meus olhos percorrem seu corpo perfeitamente esculpido até o
grande membro entre suas pernas.
— Minha Deusa! — Eu grito enquanto cubro minha boca.
— Ariel! — Alex grita, ficando vermelho. — O que você está fazendo
aqui?
Ele rapidamente cobre sua virilha com a toalha, mas não consigo
deixar de ver o que já vi.
— Eu... eu só vim falar sobre... Deusa, Alex, você pode vestir alguma
coisa? — Eu digo, tentando evitar o contato visual.
Ele veste uma cueca boxer preta justa que está caída no chão e
atravessa o quarto para ficar na minha frente.
— Você veio falar sobre o beijo? — ele diz sem hesitação.
— Está tão óbvio assim? — Eu pergunto, corando. — Eu só... achei que
você tivesse se arrependido. Sinto que você tem me evitado.
Para minha surpresa, Alex coloca as mãos nos meus ombros e me
puxa para um abraço.
Sua pele recém-molhada encharca minha fina camiseta branca e eu
estremeço de excitação quando meus mamilos endurecem.
— É claro que não me arrependi, — diz ele, seus dedos fortes
massageando minhas costas. — Tenho pensado nisso o tempo todo
desde que aconteceu.
— Então por que você está tão distante? — Eu pergunto.
— Porque eu sabia que quando te visse novamente, isso aconteceria,
— ele responde.
— O que você...
Antes que eu me dê conta, os lábios de Alex estão travados nos meus
novamente e eu sinto meu corpo derreter no dele.
Sua mão levanta minha camisa e aperta meus seios e eu gemo de
prazer.
Eu nunca soube o quanto eu queria que ele me tocasse assim. E agora
eu não quero que ele pare.
Caímos de costas em sua cama e ele levanta meus braços acima da
minha cabeça.
Minhas pernas envolvem sua cintura e posso sentir o volume
crescendo em sua boxer.
Alex puxa minha camisa e começa a beijar minha barriga com ternura
até que sua boca alcance meu umbigo.
Ele desabotoa minha calça jeans rapidamente, e sinto sua mão deslizar
para dentro da minha calça.
Seus dedos acariciam meus lábios, me fazendo ofegar de prazer.
Eu nunca fiz nada assim antes, apesar de quão ritmicamente meu
corpo acompanha Alex.
Sinto que minha loba está lutando para assumir o controle, forçando-
se a ficar na minha mente.
Ela tem um Alfa sem par sarado praticamente nu na frente dela. Ela
não vai recusar a oportunidade de tentar acasalar com ele.
Eu ouço meus instintos animais e coloco a mão em direção ao seu
membro.
Eu deslizo para dentro de sua boxer e envolvo minha mão em torno
dele. Alex rosna em prazer e começa a explorar mais com os dedos.
A pressão de seus dedos é tão boa. Quero que isso dure para sempre.
Minha loba uiva de prazer.
Seu dedo indicador se curva dentro de mim, e sei que se ele continuar
fazendo isso, vou explodir.
— Oh, Deusa, — eu respiro enquanto Alex se movimenta com mais
velocidade.
Eu me agarro a ele como se minha vida dependesse disso e deixo
escapar um gemido alto quando ele me leva ao clímax.
Todo o meu corpo estremece e se contrai. Ondas de prazer passam
por mim repetidas vezes.
Quando a maré finalmente diminui, consigo sussurrar: — Isso foi...
tão bom!
— Isso foi apenas uma amostra, — Alex responde com um sorriso.
Ele brinca com minha cintura e me olha nos olhos.
Eu posso ver o lobo por trás de suas lindas íris verdes. É selvagem,
animalesco... ele me quer.
— Você quer continuar? — ele pergunta.
Eu continuo dizendo a mim mesma que isso é loucura. Acabei de
conhecê-lo.
Mas não posso negar que ele está me deixando excitada. Isso parece
tão certo.
Eu aceno lentamente.
Alex sorri antes de mergulhar entre minhas pernas.
Capítulo 15
O LADRÃO NOTURNO
ARIEL

Eu sinto a tensão subindo no meu estômago.


Eu suspiro quando Alex dá um beijo leve no meio do meu sexo,
enviando arrepios pelo meu corpo.
Eu me contorço de prazer. Nunca senti nada assim em toda a minha
vida.
Eu vejo estrelas enquanto sua língua desliza para cima e para baixo em
meus lábios antes de girar em torno do meu clitóris.
Estou praticamente no céu.
— Você tem um gosto tão bom, — eu ouço Alex sussurrar entre
minhas coxas.
Gosto.
O gosto do meu filho é muito mais refinado. As palavras de Maria ecoam
na minha cabeça.
Lembro-me de seu olhar duro quando voltamos do hospital.
Ela estava me olhando com desprezo.
Eu sou apenas uma guerreira, não sou de uma família alfa ou beta,
nem da Matilha Real.
Eu não valho nada.
Eu gosto de Alex, mas eu seria capaz de lidar com alguém como ela,
que estaria constantemente me puxando para baixo, me lembrando que
Alex poderia conseguir algo muito melhor?
Alex é melhor do que eu — acima de mim. Nós não combinamos.
Mas então por que ele está aqui comigo em seu quarto, quase nu?
Sinto a língua de Alex dentro de mim, mas agora estou muito ocupada
pensando no que pode ter o levado se interessar por mim.
Sou apenas um sexo fácil para Alex? Um rolo até ele encontrar alguém
melhor?
Eu não me importo se ele é meu Alfa e Rei, eu não vou ser um brinquedo
simples para ser jogado fora depois.
Eu empurro Alex de cima de mim e fico de pé, puxando
apressadamente minha calcinha e ajustando minhas roupas.
— O que aconteceu? — ele pergunta, parecendo confuso e
preocupado.
— Sinto muito, Alex, mas não posso fazer isso, — digo enquanto me
viro e corro para o hall.
— Ariel, espere!
Não posso olhar para trás porque se eu olhar...
Posso cometer um erro. Posso realmente me apaixonar pelo Alfa com
quem nunca terei uma chance.
ALEX

Eu soco meu travesseiro pela milésima vez, xingando baixo.


Ariel aflige todos os meus pensamentos quando estou acordado — e
até mesmo meus sonhos.
Às vezes, tento pensar em Olivia, mas ela apenas desaparece, sendo
substituída por Ariel.
Quando estou perto de Ariel, me sinto culpado.
Eu me sinto puto.
Eu me sinto dividido entre meu passado e meu presente.
Mas também me sinto...
Feliz.
Ariel me faz sentir coisas que não sentia há muito tempo. E talvez seja
bom sentir essas coisas novamente.
Eu sei que Olivia não iria querer que eu ficasse deprimido pelo resto
da minha vida, mas isso ainda não torna as coisas mais fáceis.
Eu poderia estar menos confuso sobre a coisa toda se Ariel estivesse
realmente falando comigo no momento.
Em vez disso, ela não está respondendo nenhuma das minhas
mensagens de texto ou ligações desde que saiu correndo do meu quarto
algumas noites atrás.
Será que fui rápido demais? E se a deixei desconfortável?
Droga, talvez eu tenha me deixado desconfortável.
Não beijo outra mulher desde que Olivia faleceu, então não posso agir
como se o que aconteceu com Ariel não me assustasse profundamente.
Mas eu preciso falar sobre isso com ela ou vou enlouquecer.
Se ela não responder a mim pelos meios normais, terei de usar minha
carta na manga: sou o Alfa.
Alex: Ariel, tenho uma missão especial para você.

Alex: Acho que você é a guerreira certa para o trabalho.

Ariel: ... o que é?

Alex: Preciso ir à cidade pegar meu smoking no alfaiate.

Alex: Eu gostaria que você me acompanhasse como meu guarda


de matilha.

Ariel: Minha Deusa...

Ariel: Tá falando sério, Alex?

Ariel: Você acha que não sei das suas intenções?

Alex: Não tenho ideia do que você está falando.

Alex: Eu me sentiria mais seguro se minha melhor guerreira me


acompanhasse até a cidade.

Ariel: Você se faz.

Ariel: Mas acho que uma ordem é uma ordem Ariel: Te encontro
no portão
Quando chego ao portão, fico surpreso ao ver Ariel montada em sua
motocicleta.
— Eu ia mandar um carro nos levar, — digo, olhando para a moto com
incerteza. — Ou talvez devêssemos apenas caminhar?
— Não, suba, — diz ela, sorrindo. — Você me pediu para levá-lo para a
cidade, eu vou levá-lo para a cidade.
Ao subir relutantemente na moto com Ariel, me sinto um pouco
fragilizado.
Mas essa sensação desaparece rapidamente quando ela liga o motor e
eu agarro seus quadris.
Eu poderia facilmente me acostumar com isso.
A viagem até a cidade é decepcionantemente curta.
Tenho que ajustar discretamente minhas calças enquanto Ariel desliga
o motor e eu pulo da moto.
A combinação do motor roncando e os quadris macios de Ariel me
deu muito tesão.
— Ok, eu fico de guarda enquanto você pega a sua roupa lavada a
seco, — Ariel diz sarcasticamente enquanto bate o pé.
— Nós dois sabemos que não foi por isso que pedi para você vir
comigo, — digo, olhando para ela. — Você não respondia nenhuma das
minhas mensagens. Precisamos conversar sobre o que aconteceu.
Os olhos de Ariel mudam para o chão desconfortavelmente. Merda,
talvez eu tenha ido longe demais.
— Ariel, eu devo me desculpar se você sentiu qualquer tipo de pressão
ou se eu te fiz sentir...
— Alex, não é isso. Eu também me deixei levar, — ela responde, seus
olhos de girassol murchando um pouco enquanto ela olha para mim com
tristeza.
— Então, o que aconteceu? Por que você saiu correndo? — Eu
pergunto.
— Eu só... não estou em um bom momento agora. Se você está
realmente pronto para superar seu passado, isso é ótimo e você merece
alguém que possa fazer você se sentir completo novamente.
Ela continua. — Mas depois dos caçadores, e tudo com minha antiga
matilha, eu sinto que estou quebrada em um milhão de pedaços. Não sei
se algum dia vou me recuperar do meu passado.
Dou um passo à frente para confortar Ariel, mas seu celular vibra e ela
verifica suas mensagens.
Inicialmente, ela sorri, mas quase instantaneamente, as lágrimas
brotam de seus olhos e ela o guarda.
— Ariel, o que há de errado?
Ela pula abruptamente em sua moto e acelera o motor.
— Ariel. onde você está...
— Me desculpe por continuar fugindo, Alex. Mas eu realmente
preciso ficar sozinha, — diz ela, logo antes de sair correndo, deixando
uma nuvem de poeira em seu rastro.
Ah, Ariel... Eu gostaria de poder ajudar você a se curar, do jeito que você
ajuda a curar os outros. Você nem sabe o quanto me ajudou.
ARIEL

Não sei por que estou tão vulnerável com Alex, mas enquanto conto
todos os meus medos e dúvidas a ele, sinto que ele realmente entende o
que estou passando.
Enquanto ele dá um passo à frente e estende a mão, anseio que ele me
segure do jeito que ele fez na outra noite, mas...
Bzzzzz-Bzzzzz.
Pego meu celular e sorrio quando vejo uma mensagem do meu pai.
Pai: ARIEL ÓTIMAS NOTÍCIAS!!!

Pai: (3 emojis de bebe)

Pai: O bebê nasceu!!!

Pai: (emoji de festa)

Pai: Você é titia agora!


Enquanto coloco meu celular de volta no bolso, sinto que vou
vomitar. O que deveria ser uma ocasião alegre está me trazendo nada
além de dor.
— Ariel, o que há de errado? — Alex pergunta, preocupado.
Preciso ir. Preciso sair daqui.
Subo na minha moto e imediatamente ligo o motor. Sei que estou
fugindo de meus deveres, mas simplesmente não posso enfrentar Alex
agora.
— Ariel, onde você está...
— Me desculpe por continuar fugindo, Alex. Mas eu realmente
preciso ficar sozinha, — eu digo, com lágrimas escorrendo pelo meu
rosto.
Sozinha.
Talvez esse seja meu verdadeiro destino.

O assobio da chaleira corta o silêncio da sala enquanto Louisa a tira


do fogão e me serve uma xícara de chá quente.
— Isso deve resolver. E minha mistura especial, — Louisa diz
calorosamente, colocando o chá na minha frente.
Meus olhos estão vermelhos de tanto chorar. Eu nunca fico
emocionada desse jeito, mas algo sobre Xavier e Natalia simplesmente
vira uma chave dentro de mim.
E como se eu estivesse programada para sentir algo por ele, embora
não haja nenhum sentimento real nisso.
Louisa se senta e esfrega minhas costas, me consolando. — Eu sei que
é difícil, querida. Você perdeu um par destinado. Mas eu prometo a você
que eventualmente você vai perceber que está melhor sem ele.
Eu sei que ela está certa. Não sinto amor por Xavier, mas e se eu nunca
encontrar outro par?
— Steven e eu não éramos pares destinados, — Louisa diz de repente.
Estou tão surpresa que quase derramo o chá no colo.
— Mas vocês dois são perfeitos juntos, — eu digo, levantando minha
boca do chão.
— Eu também acho, — ela diz, sorrindo. — Mas não por causa do
destino. É porque trabalhamos no nosso relacionamento e crescemos
juntos como parceiros.
Louisa continua. — Mesmo se eu encontrasse meu suposto par
destinado, eu não trocaria Steven por nada nesse mundo.
— Isso é lindo, — eu digo, me sentindo um pouco mais à vontade. —
Espero encontrar isso também.
— Você vai, Ariel. Tenho certeza disso. Quem sabe você possa
encontrar alguém no fim de semana de acasalamento?
— Talvez se eu pudesse realmente participar, — digo com tristeza.
— Essa Maria é uma verdadeira... — Louisa se aproxima e sussurra. —
Uma verdadeira vadia.
E a primeira vez que ouço Louisa xingar e não posso deixar de cair na
gargalhada.
— Ah, minha Deusa, eu te amo, Louisa. Você é a melhor. — Você é
como a mãe que eu sempre desejei ter.
Enquanto me preparo para dormir, escovando meu longo cabelo
escuro na frente do espelho de maquiagem, Alex mais uma vez surge em
minha mente.
Espero não ter assustado ele mais cedo, quando peguei minha moto e
saí em disparada.
Eu só não queria explicar logo para ele, de todas as pessoas, o porquê
eu estava ficando chateada com aquele idiota do Xavier.
Eu realmente acho que posso sentir algo por Alex e não quero estragar
tudo, mas entrar em um relacionamento tão complicado como este, com
duas pessoas ainda mais complicadas, é desafiador.
Clack.
Um som na minha janela de repente chama minha atenção.
Clack. Clack.
Alguém está jogando pedras? Abro a janela e desvio quando uma
pedra passa voando ao meu lado.
Eu coloco minha cabeça para fora e vejo Alex, olhando para mim do
quintal.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu assobio por entre os
dentes. — Você vai acordar todo mundo!
— Estou subindo! — Ele grita, ignorando completamente meu apelo
para que ele fique quieto.
Eu me encolho quando Alex crava suas garras na lateral da casa e
começa a escalar.
Minha Deusa, como vou explicar este dano à propriedade para Steve?
Alex tropeça ao entrar pela janela e cai no chão, sorrindo para mim.
— Oi, gata, — ele diz, agarrando minha mão e me puxando para o
chão ao lado dele. — Deduzi que se você fosse continuar fugindo, eu
simplesmente teria que correr até você.
De alguma forma, Alex sempre sabe a coisa certa a dizer.
Em vez de repreendê-lo ou dizer que ele tem que sair, eu apenas me
aconchego ao lado dele e coloco minha cabeça em seu peito.
Ele é caloroso e gentil... sem mencionar aqueles lábios incríveis.
Quando nos beijamos pela primeira vez, parecia que o resto do mundo
tinha desaparecido.
Naquele momento, ele não era o Rei e eu não era uma simples
guerreira, quebrada e sem conserto. Éramos as únicas duas pessoas que
importavam.
Eu levanto minha cabeça e olho em seus lindos olhos esmeralda.
Estamos tão perto.
Devo... beijá-lo? Ou isso passaria a mensagem errada? Ele me beijaria de
volta?
— Ariel, — ele sussurra. — Eu só queria dizer...
Eu coloco um dedo em seus lábios.
Meu olhar se move entre seus olhos e sua boca antes de deixar meu
dedo deslizar lentamente até sua mandíbula e, em seguida, clavícula.
Eu quero esses lábios de volta nos meus. Eu preciso deles de volta nos
meus. Mas será que posso confiar nele? Será que ele quer um relacionamento?
Alex se inclina e eu fecho meus olhos.
Capítulo 16
FANTASMAS DO PASSADO
ARIEL

Poucos centímetros antes de nossos lábios se conectarem, coloco a


mão no peito de Alex, interrompendo-o.
— Não vamos fazer nada do que fizemos na outra noite, — eu digo.
Embora eu tenha adorado a maneira como seus dedos e sua língua me
fizeram sentir, tenho que ter certeza de que ele sabe que tenho limites. —
Isto não é apenas uma ficada tarde da noite.
— Você está certa, não é, — diz ele, virando a cabeça e lançando um
sorriso malicioso. — Isto é um roubo. Eu só vim roubar algo de você.
— Roubar algo? — Eu pergunto ceticamente.
Os lábios de Alex estão de repente pressionados contra os meus e eu
me sinto mais leve que o ar quando ele me pega e me coloca na cama.
— Sim, apenas um beijo — ele diz, piscando.
Alex atravessa o quarto e começa a descer pela janela, mas antes de
pular para fora, ele se vira para mim. — Sinta-se à vontade para vir pegar
ele de volta a qualquer momento.
Quando ele desaparece, eu tenho o sorriso mais largo e feliz em meu
rosto.
Pode deixar, Vossa Majestade. Vou roubar um beijo de você amanhã no
festival de acasalamento.

Esta manhã foi agitada, finalizando os preparativos para a chegada de


todas as outras matilhas esta tarde.
Estou no controle da fronteira, o que significa que verei cada pessoa
que vier para o fim de semana de acasalamento.
Não posso deixar de sentir que Maria mexeu uns pauzinhos para ter
certeza de que eu estaria aqui para assistir Alex cumprimentar todas as
garotas bonitas entrando em sua matilha.
Meu único consolo é que Dom está patrulhando comigo. Ele pode
participar no fim de semana, mas ainda tem que trabalhar na abertura.
Dom e eu nos sentamos debaixo de uma grande árvore com Lyle,
outro dos meus colegas de esquadrão, esperando a primeira matilha
aparecer.
— Acha que vai encontrar seu par? Ela definitivamente será capaz de
sentir o seu cheiro, — eu digo para Dom, provocando.
— Espere... acho que estou sentindo o cheiro dela! — Dom diz,
levantando-se de repente. — Ah, minha Deusa, sim!
Enquanto seus olhos se arregalam e ele estende a mão. Lyle e eu
olhamos um para o outro, confusos.
— Ela está... ela está... BEM AQUI! — Dom diz, Virando-se e
agarrando meus ombros, enquanto franze os lábios comicamente.
Rindo histericamente, eu o jogo no chão e me certifico de dar um bom
chute enquanto ele está lá embaixo.
— Seu idiota, — eu digo, tentando parar de rir. — Por um momento
eu realmente achei que você tinha a encontrado.
Dom se levanta e limpa a sujeira de suas calças. — Quem me dera.
Tenho a sensação de que voltarei à Lua Cheia hoje à noite, afogando
minhas mágoas.
— Atenção, pessoal, lobos se aproximando. — Lyle diz enquanto seus
sentidos avançados farejam a primeira matilha.
Ele é um rastreador treinado, então pode captar sons e cheiros mais
rápido do que a maioria.
— Selvagens ou convidados? — Eu pergunto, sentindo que não estou
preparada para nenhuma das opções.
— Muito grande para ser um grupo de selvagens, — Lyle responde. —
Definitivamente uma matilha.
— Vou enviar um alerta para Alex, — digo, puxando meu celular.
Ariel: A primeira matilha está chegando
Ariel: Vamos preparar sua saudação

Alex: Estou indo.

Alex: Ariel...

Alex: Sobre a noite passada...

Ariel: Devíamos falar sobre isso mais tarde, Alex Ariel: Temos
muito trabalho a fazer aqui
Não estou tentando intencionalmente dispensar Alex. Honestamente,
quero passar toda esta noite com ele.
O beijo roubado de Alex na noite passada foi incrível.
Sempre que nossos lábios se conectam, é como se o mundo inteiro
florescesse em cores. Toda a escuridão do meu passado simplesmente
desaparece.
Meu desejo é encontrá-lo agora, contar tudo que estou pensando,
beijá-lo de novo e de novo e de novo...
Mas se a mãe dele me ver longe do meu posto — ou pior, perto dele —
ela vai me expulsar antes que eu possa dizer uma única palavra.
Há outro fator que me faz hesitar em me aproximar de Alex: por
trás de seus olhos verdes deslumbrantes, também posso ver a dor.
Ele ainda não esqueceu seu falecido par.
Eu ainda estou lutando com os demônios do meu passado também.
Seríamos capazes de nos curar e seguir em frente... juntos?
Ou devo me concentrar em me consertar antes de me envolver em um
relacionamento?
Eu fico ao lado de Dom e Lyle enquanto a Matilha Pedra Azul se
aproxima do portão da fronteira.
Alex chega para cumprimentá-los, a primeira matilha a chegar para o
fim de semana de acasalamento.
— Alfa Tyler, é tão bom vê-lo de novo, — Alex diz, apertando a mão de
um homem alto, mas nada imponente, em vestes cor de safira.
— Igualmente, Alex. Acho que não vejo você desde seu casam... — Alfa
Tyler rapidamente se interrompe quando percebe o que está prestes a
dizer.
Ele tropeça em algumas palavras antes de encontrar algo para dizer.
— Uh. este fim de semana de acasalamento é uma ideia inspiradora.
Estou ansioso para as festividades, — diz ele sem jeito enquanto passa
pelo portão.
Eu nem pensei sobre isso, mas a maioria dos Alfas de matilhas
próximas provavelmente estavam no casamento de Alex.
Isso vai trazer muitas lembranças dolorosas para ele.
Eu observo o resto da matilha enquanto eles entram. É uma matilha
pequena, com menos de trinta membros, a maioria deles mulheres.
Dom esbarra em mim de repente quando seus olhos brilham e ele
começa a cheirar o ar.
— Ei, cuidado! — Eu grito, mas ele está me ignorando
completamente.
— Eu... sinto o cheiro de flores silvestres, mas... onde ela está? Eu não
a vejo! — Dom diz em frustração.
— Pare com isso, Dom. Isso é engraçado quando somos só nós, mas
agora temos convidados e estamos trabalhando, — digo, repreendendo-
o.
Quando Dom começa a empurrar apressadamente a multidão de
pessoas que entra pelos portões, eu rapidamente percebo...
Ele não está brincando.
— Dom, o que diabos você está fazendo? — Alex pergunta, também
notando o comportamento estranho de Dom.
Quando a multidão começa a diminuir e se dispersar, restam apenas
duas pessoas, fixadas nos olhos uma da outra como se não houvesse mais
ninguém no mundo.
Dom encontrou seu par destinado.
— Qual o seu nome? — Dom pergunta enquanto pega a mão da bela e
pequena mulher loira na frente dele.
Seu cabelo ralo é forrado com delicadas flores brancas e seu vestido é
longo e sedoso.
— Meu... meu nome é Helena, — ela diz timidamente.
— Eu sou Dominic, Beta da Matilha Real e... e seu par, — ele diz,
sorrindo de orelha a orelha.
— O primeiro encontro de pares do festival! — Alex grita de repente,
rugindo sobre a multidão. — O primeiro encontro é de meu Beta, Dom, e
ainda nem começamos!
Aplausos e risadas emanam da multidão e eu me junto a ela. Estou
muito feliz por Dom.
Várias horas se passam enquanto mais e mais matilhas passam pelos
portões e Alex continua a cumprimentar a todos.
A equipe de segurança está apenas comigo e Lyle, já que Dom
desapareceu com seu novo par, o que já era esperado.
— Quem falta? — Eu pergunto, bocejando. — Não deve faltar muita
gente.
— Apenas a Matilha da Lua de Sangue, — Lyle responde, checando
suas anotações.
— Bom, essa é pequena. Eles são conhecidos por ter alguns dos
guerreiros mais ferozes de todas as matilhas, — eu digo com admiração.
Eu jogo meu braço em volta do ombro de Lyle. — Bem, é só você e eu
protegendo o forte, campeão. Dom nos trocou por uma loira bonita.
Lyle ri. — Aquele idiota faz de tudo para sair do trabalho. Até mesmo
encontrar um par.
— Tire suas mãos SUJAS de cima dele, sua assanhada!
Um rosnado feroz rasga nossa risada quando uma loba de aparência
imponente caminha em nossa direção.
Ela está usando um conjunto completo de armadura de guerreira e
seu cabelo curto e cortado emoldura bem seu rosto angular... mas a
expressão naquele rosto é assustadora.
— Ele é MEU, — ela diz, rugindo. — Meu nome é Valeria, Beta da
Matilha da Lua de Sangue, e não vou tolerar essa infidelidade!
Percebo que Lyle de repente ficou rígido enquanto olha diretamente
para a mulher. — Meu par, — ele diz em uma voz baixa e aterrorizada.
O olhar de Valeria muda abruptamente para mim e minha loba
começa a se mexer.
Merda, ela acha que estou a fim do par dela.
— Espere, isso tudo é um mal-enten... — A mão de Valeria envolve
meu pescoço e ela começa a me sufocar. Posso ver Alex à distância,
correndo em nossa direção.
— Não há nada acontecendo entre nós! Por favor, solte-a! — Lyle diz,
implorando para que seu novo par não esmague minha traqueia.
Consigo encaixar meu pé entre as pernas de Valéria e faço um
movimento de torção, deixando-a cair no chão.
Ela perde o controle e agora estou em cima dela, prendendo-a.
— Escuta! — Eu grito na cara dela. — Eu sei o que é sentir que alguém
está ameaçando o vínculo com seu par, mas acredite em mim, não é isso
que está acontecendo aqui.
Alex dá um passo para o lado quando vê que tenho tudo sob controle.
Valeria olha para mim e lança um sorriso verdadeiro.
— Você é um oponente formidável, — ela diz, enquanto eu me levanto
e a ajudo a se levantar. — Ninguém me derruba assim. Estou
impressionada.
— Sim, bem, eu entendo que você estava apenas reivindicando seu
par, — eu digo, um pouco nervosa pela mudança repentina de
personalidade desta mulher.
— Você é amiga do meu par? — ela pergunta.
— Sim? — Eu digo hesitante, esperando que essa seja a resposta certa.
Restam apenas nós e alguns outros guardas agora, a cerimônia de
entrada foi oficialmente encerrada. É bom finalmente ter um momento a
sós com Alex.
— Como você está? Deve ser exaustivo, — eu digo, esfregando suas
costas.
— Honestamente. Ariel, não sei como vou conseguir chegar ao fim
deste festival ridículo, — diz ele, suspirando. — Pelo menos eu tenho
você aqui.
Eu coro enquanto ele afasta afetuosamente alguns fios de cabelo do
meu rosto.
— Sabe, eu estava meio desconfiada, mas agora não acho que seja uma
ideia tão ruim, — digo, virando-me e encarando Alex.
Ele me lança um olhar perplexo, então explico.
— Seu melhor amigo encontrou seu par. Vários de nossos outros
amigos também encontraram os deles. E tenho certeza de que muitas
pessoas que não encontram seus pares destinados ainda farão uma
conexão com alguém.
— Até eu? — Alex pergunta, levantando as sobrancelhas e colocando
as mãos nos meus ombros.
— Acho que tudo é possível, — digo, dando-lhe um sorriso malicioso.
À medida que o rosto de Alex se aproxima, sinto meu coração palpitar.
— E se eu já tiver feito uma conexão com alguém? — ele pergunta. —
Devo apenas dizer ‘que se dane' para todo este festival e passar um tempo
com ela em vez disso?
Ainda tenho minhas dúvidas sobre Alex estar pronto, mas, neste
momento, sinto que o desejo tanto tanto.
Eu olho em seus lindos olhos verdes e faço beicinho com meus lábios,
inclinando-me. — Eu acho que parece ótimo...
Os olhos de Alex de repente se arregalam e sua mandíbula afrouxa.
Ele não está mais olhando para mim, mas sim olhando atrás de mim.
Seu rosto está pálido, como se ele tivesse visto um fantasma.
— Minha Deusa, — diz ele, com a voz trêmula.
Eu me viro para ver uma garota sozinha passando pelos portões.
Ela tem cabelo loiro mel e olhos roxos brilhantes, com um rosto
rosado perfeito em formato de coração.
Ela é absolutamente deslumbrante, mas eu sei que não é por isso que
os olhos de Alex estão fixos nela.
Eu vi o retrato no hall...
Esta convidada misteriosa e atrasada se parece exatamente com o
falecido par de Alex, Olivia.
Capítulo 17
O BEIJO ROUBADO
ARIEL

Se eu não tinha certeza sobre Alex ter superado seu antigo par antes,
imagine agora.
A expressão em seu rosto me diz tudo que preciso saber.
Ele está completamente cativado por essa garota — mas não por sua
beleza — não, por sua estranha semelhança com Olivia.
— Alex, você está bem? — Eu pergunto, mas ele nem mesmo me
reconhece. Ele está fascinado.
A garota se aproxima de nós lentamente, dando a Alex um sorriso
doce e açucarado.
— Desculpe pelo atraso, — ela diz, jogando seu cabelo loiro por cima
do ombro.
Seus impressionantes olhos roxos se voltam para mim, me avaliando,
mas apenas por um momento antes que ela volte seu olhar para Alex. —
Meu nome é Lola.
Alex parece surpreso, mas consegue encontrar suas palavras. — Eu
sou... Alex... Rei Alex.
— Ah, Vossa Majestade! É uma honra, — diz ela, fazendo uma
reverência perfeita.
— De que matilha você é? — Eu pergunto, provavelmente um pouco
na defensiva.
— Matilha Espinho de Rosa, — ela responde com um leve sotaque. Ela
tinha aquele sotaque antes?
— Você é de uma matilha real? — Alex pergunta, surpreso.
— Sim, meu pai é o terceiro na fila para ser o Alfa, — diz ela. —
Vivemos em um palácio muito parecido com este.
Já ouvi falar da Matilha Espinho de Rosa, mas não sei muito sobre ela,
em parte porque está bem longe daqui.
— Isso nem fica no nosso continente, — eu deixo escapar. — Como
você ficou sabendo sobre este evento?
— Um amigo da Matilha da Força me enviou um convite, já que ainda
não tenho um par, — ela responde, piscando os cílios para Alex. — Na
verdade, estou muito cansada da viagem...
— Claro, você deve estar exausta, — diz Alex, pegando a mão dela e
levando-a em direção ao portão.
Por que de repente ele está se preocupando com ela? Parecida ou não, ela
ainda é uma estranha.
— Você veio até aqui sozinha? — Eu pergunto desconfiado. — Eu
esperaria que um membro da família real tivesse uma escolta real
acompanhante.
— Fui escoltada até a Matilha da Força e viajei de lá sozinha, — ela
responde, com uma pontada de aborrecimento na voz. — Meu pai não
sabe que eu escapei para um fim de semana de acasalamento.
— Perdoe minha amiga aqui, — diz Alex, sua mão agora na parte
inferior das costas de Lola. — Ela é nossa chefe de segurança do festival,
então é seu trabalho fazer perguntas.
Ah, então sou apenas sua amiga agora?
— Ah. você não vai participar do evento? Que pena, — diz Lola,
embora a expressão em seu rosto me faça pensar que ela está muito feliz
por eu não ser sua concorrente.
— Alguém tem que proteger nós, garotas, desses horríveis selvagens,
— diz ela, agarrando-se ao braço de Alex.
E alguém tem que proteger Alex de lobas interesseiras.
— Você deve estar cansada. Por que não te acompanho até o seu
quarto? — Eu digo, na esperança de tirá-la da minha frente.
— Ou se você preferir, o palácio está prestes a iniciar uma festa, —
Alex interrompe, arruinando meu plano.
— Ah, parece ótimo, adoraria um coquetel! — Lola diz, rindo. — E
talvez você possa me contar mais sobre a Matilha Real.
Enquanto Alex caminha à frente com Lola, completamente fascinado
por seus encantos, fico feliz por estarmos indo para um evento com
coquetéis.
Eu poderia tomar uma bebida forte... ou dez.
Alex quase não saiu de perto de Lola durante todo o evento.
Até Maria parece amá-la enquanto brindam seus martinis juntas e
riem de alguma piada que provavelmente só a realeza entenderia.
Estou me sentindo particularmente amarga no momento, e não é
nem porque estou bebendo um vinho tinto barato.
Algo sobre essa garota parece... estranho. Não consigo definir o que é,
mas vou descobrir.
Felizmente, vejo um assento vago na mesa de Dom. Eu me pergunto o
que ele pensa desta intrusa.
— Eu simplesmente não consigo tirar isso da cabeça, — Dom diz
enquanto eu me aproximo. — Ela é quase exatamente igual à Olivia. Até
os olhos roxos.
— Olhos roxos são muito raros, não são? — O par de Dom, Helena,
pergunta.
— Extremamente raros, — digo, sem tirar os olhos de Lola.
— Ah, Ari! Conheça meu par, Helena! — Dom diz entusiasmado.
— Oi! — ela diz com um pequeno grito. — Minha Deusa, você é a
guerreira mais linda que eu já vi. Você tem uma beleza natural!
Ok, oficialmente gosto de Helena.
— Obrigada, adoro o seu estilo. E tão chique, — eu digo, admirando
sua roupa e me permitindo parar de pensar em Lola e Alex por um
momento. — Você e Dom parecem estar se dando muito bem.
— Eu não posso acreditar que a Deusa me enviou esta joia, — Dom
diz, balançando a cabeça em descrença.
— Bem, é melhor você tratá-la como uma joia preciosa mesmo, ou
essa guerreira aqui acaba com você, — digo, dando um soco leve em seu
braço.
Helena ri e me dá um sorriso amigável.
Quando meu olhar retorna para Alex, fico surpresa ao ver que ele está
olhando diretamente para mim. Seus olhos parecem perdidos e eu
entendo a sensação.
É
É apenas um breve momento, mas parece uma eternidade, e a
distância entre nós neste salão de jantar parece gigantesca.
Deusa, eu só rezo para que possamos encontrar nosso caminho de volta
juntos...
Estou me sentindo extremamente mal no dia seguinte, tanto pelo
comportamento distante de Alex quanto por ter tomado coquetéis
demais.
Eu me pergunto se essa habilidade de cura pode curar uma ressaca...
Hoje, todo mundo deve se juntar a outra pessoa para um piquenique
juntos, o que significa que a equipe de segurança terá muito trabalho.
A floresta separa a matilha da fronteira e é exatamente onde a maioria
dos casais escolherá fazer um piquenique romântico e isolado.
Já estou me sentindo enjoada, mas meu estômago começa a se agitar
ainda mais quando vejo Maria caminhando de braços dados com Lola.
Isso só pode significar...
Claro, Alex não está muito atrás, carregando uma cesta de piquenique
completa.
Eu sei que ele precisa escolher alguém para este evento, mas por que
justo ela?
Lola não me irrita apenas porque está disputando a atenção de Alex,
há algo nela que parece falso — como se ela estivesse fingindo, tentando
ser quem ela pensa que Alex quer que ela seja.
Percebo Alex olhar em minha direção, mas minha visão é
repentinamente obscurecida por uma banshee gritando.
— ARIIIIIIIIIIIIIEEELLL!
Um par de braços esguios envolve meu pescoço, enquanto minha
melhor amiga Amy pula em mim de repente.
— Minha Deusa, Amy! O que diabos você está fazendo aqui? — Eu
pergunto, abraçando-a de volta.
— Estou aqui para o fim de semana de acasalamento! E para ver
minha vadia favorita, dã, — ela diz, levantando os punhos.
— Xavier foi um verdadeiro babaca e não queria me deixar vir, — ela
continua, — mas James ajudou a convencê-lo. Além disso, me ofereci
para ser babá de seu filho.
Ela dá um passo para trás e me olha de cima a baixo.
— Uau, armadura legal. Você com certeza vai conquistar todos os
garotos vestida assim, — ela diz sarcasticamente.
— Estou trabalhando, — digo, suspirando. — O fim de semana
inteiro.
— Ugh, que chato, — ela responde. — Eu esperava partir alguns
corações com você neste fim de semana.
Quando olho para o chão, lágrimas brotam de meus olhos. Amy
imediatamente diminui sua energia e dá um aperto reconfortante em
minha mão.
— Se eu não soubesse, diria que é o seu coração que está partido, —
Amy diz, levantando meu queixo. — Vamos, garota, me diga o que está
acontecendo. É o Alex?
Eu aceno, enxugando minhas lágrimas. — Droga, eu não quero
chorar.
— É normal ter emoções, Ari.
— Eu sei, é que... Amy, fui torturada por caçadores e isso de alguma
forma parece pior.
Amy suspira e coloca o braço em volta de mim. — Isso se chama amor,
Ari.
Amor!?
— Você disse um monte de coisas malucas ao longo dos anos, Amy,
mas isso provavelmente supera todas elas. Eu não estou apaixonada por
ele. Eu só... gosto dele... muito.
Ela me lança um olhar cético, mas seus olhos deslizam rapidamente
para um homem musculoso que está verificando seu reflexo em uma faca
de manteiga.
Exatamente o tipo de Amy.
— Ok, vamos continuar essa conversa mais tarde, mas agora eu
preciso dessa linda cabeça de alfinete para me levar para um piquenique,
— diz ela, enquanto corre para ele. — Isso não termina aqui!
Eu começo a rir, mas meu sorriso desaparece do meu rosto quando
me viro e Maria está a apenas alguns centímetros de mim.
Deusa, há quanto tempo ela está aí?
— Olá, Ariel, querida, — diz ela com seu tom condescendente. — Você
parece tão afiada nessa armadura.
Sim, minha espada também é afiada, vadia.
— Posso te ajudar com alguma coisa? — Eu pergunto com os dentes
cerrados.
— Sim, bem... provavelmente não é nada, mas... eu ouvi alguém
falando que farejaram alguns cheiros estranhos vindos da fronteira oeste,
— ela diz, franzindo as sobrancelhas como se estivesse preocupada.
— A fronteira oeste é tão isolada, — ela continua, — Eu me preocupo
que se um casal fosse lá e selvagens atacassem...
Por mais irritante que seja Maria vir até mim com isso, não posso
ignorar. Isso parece um risco de segurança genuíno.
— Tudo bem, vou dar uma olhada, — digo.
— Esplêndido, — ela responde enquanto seus lábios se curvam em um
sorriso.
Estou bem no meio da floresta e até agora não farejei nenhum cheiro
estranho. Nem vi nenhum casal fazendo piqueniques por aqui.
Maria provavelmente está apenas brincando comigo. Eu deveria ter
notado.
À medida que vou um pouco mais longe, meu nariz de repente sente
um cheiro, mas não é um cheiro estranho — mas familiar.
Eu empurro alguns arbustos e me encontro na beira de uma clareira e
no meio dessa clareira está Alex, em seu piquenique com Lola.
Eles estão deitados no chão e rindo, aconchegados demais para o meu
gosto.
Na verdade, não quero ver isso, mas por algum motivo, não consigo
desviar o olhar.
Alex está de costas para mim, mas Lola para de rir quando me vê
olhando para eles.
Merda, ela vai me entregar e me fazer passar vergonha?
Em vez disso, ela zomba de mim e franze os lábios carnudos.
Lola agressivamente agarra Alex pelo colarinho e dá um beijo nele.
Eu sinto como se o chão tivesse sido tirado debaixo de mim.
Meu coração está em mil pedacinhos... e parece doer cada vez mais.
E a pior parte é que...
Alex está retribuindo o beijo.
Capítulo 18
PEGUE-ME
ARIEL

Acordo com sensação de ressaca de novo, só que dessa vez não tem
nada a ver com álcool.
Tem tudo a ver com o que vi na floresta.
Ver Alex e Lola se beijando foi como uma bala de prata no meu
coração.
Até mesmo a verdadeira bala de prata em meu corpo não me deixou
com a sensação de frio e ferida como me sinto agora.
Não sei como vou enfrentar Alex hoje, mas não tenho outra escolha —
hoje é o último dia do fim de semana de acasalamento, o grande baile
real.
Não só estarei no serviço de segurança, como provavelmente terei que
assistir Alex dançando e flertando com Lola a noite toda.
Deusa, este vai ser um dia e tanto.
Eu cuidadosamente saio da cama e desço as escadas, onde Amy está
conversando com Steve, e Louisa está preparando o café da manhã.
Meu único consolo nessa história toda é que Amy pode passar o fim
de semana comigo.
— Bom dia, raio de sol, — Steve diz, puxando uma cadeira para mim.
— Pronta para o último dia da cerimônia de acasalamento?
— Você não tem ideia, — eu digo, sentando e tomando café.
Amy me lança um olhar preocupado, mas reconfortante. — Não se
preocupe, Ari, estarei ao seu lado o dia todo. Você pode até ser meu par
para o baile.
— O que aconteceu com aquele cara de ontem? — Eu pergunto.
— Olha, eu posso gostar de idiotas, mas até eu tenho meus limites. Eu
nem acho que ele saiba diferenciar de cima para baixo. Mas ele com
certeza pode encontrar uma variedade de superfícies reflexivas para se
olhar, — diz ela, furiosa.
Começamos a rir enquanto Steve alternava olhares entre nós,
confuso.
Meu celular vibra e eu o pego para ver uma mensagem de Dom.
Dom: ei, preciso de um favor

Ariel: Ah, Deusa

Ariel: O que é?

Dom: algumas das garotas que já encontraram seus pares vão se


arrumar juntas Dom: incluindo helena

Dom: e eu penseeei que seria legal

Dom: se vc fosse o guarda-costas delas (emoji) Ariel: Ugh, Dom...

Ariel: Não sei

Dom: por favor, ariel!

Dom: vc terá a chance de conhecer Helena melhor Dom: e isso é


muito importante pra mim

Ariel: Não posso simplesmente almoçar com ela ou algo do tipo?

Dom: eu fiz a pergunta

Ariel: Que pergunta??

Dom: vc sabe, aquela que leva a uma cerimônia de acasalamento


Ariel: Dom! Como assim!? Você não quer planejar um pouco
primeiro?

Dom: não, estamos apaixonados e queremos ser oficiais o mais


rápido possível Dom: então vc topa? fico te devendo, nadinha!

Á
Ariel: TÁ BOM
Não acredito que concordei com isso. Helena e Valéria aparecem com
bolsas de roupas e kits de maquiagem, — recém-casadas — e prontas
para uma noite mágica com seus homens.
Amy veste o vestido mais lindo que já vi: vermelho, cintilante e
extremamente decotado nas costas.
Val sai em um macacão preto sem mangas de um ombro e botas pretas
de salto alto.
Helena canaliza sua flor interior em um vestido bege longo com
borboletas na saia e lantejoulas na parte de cima.
— Não estamos nada mal, meninas. — Amy diz, tirando uma selfie
com Helena e Valeria.
— Sim, todas vocês estão deslumbrantes, — digo, tentando estar feliz
pelas minhas amigas, embora me sinta péssima. Estou presa em uma
armadura enferrujada enquanto vejo essas garotas se transformarem em
princesas.
Não é que eu não goste de minha armadura, mas por que não posso
ser uma guerreira e abraçar minha feminilidade ao mesmo tempo?
— Não pense que esqueci de você, — Amy diz com um sorriso
malicioso.
— Do que você está falando? — Eu pergunto, nervosa.
Amy enfia a cabeça para fora da porta e grita escada abaixo. — Louisa!
Estamos prontas!
— A ideia foi minha, mas os créditos são da Louisa, — Amy diz,
olhando para mim com entusiasmo. — Ela ficou acordada a noite toda
trabalhando nisso.
Louisa entra na sala carregando uma grande sacola de roupas e com
um enorme sorriso no rosto. — Achei que você gostaria de algo novo
para vestir no baile.
Quando abro o zíper da bolsa, meu queixo cai ao ver a roupa dentro
dela.
Ela converteu uma armadura leve de cota de malha em um
minivestido chique e cintilante coberto de strass.
Ela até incluiu um cinto com uma bainha para minha espada.
— É... é lindo, — eu digo, quase chorando. — Minha Deusa, Louisa.
Eu não posso acreditar que você fez isso.
— Tem mais! — Amy diz, batendo palmas animada. Ela puxa uma
caixa do armário e abre para revelar um par de lindas botas de salto alto.
Depois de vários gritos de — experimente, — visto a armadura e as
botas e me admiro no espelho.
Louisa arrasou. A armadura é justa, mas prática e chique.
— Você é a guerreira mais gata que já existiu, — Helena diz, gritando.
— Honestamente, estou um pouco excitada, — Valeria diz, levantando
uma sobrancelha sugestivamente. — Que pena que eu sou uma mulher
com um par.
— Ari, estou sem palavras. É tão sexy, — Amy diz, me dando um
abraço. — Você está de matar nesse vestido. E digo literalmente — você
tem uma espada enorme amarrada ao quadril.
A voz de Steve de repente ecoa no corredor. — Os garotos chegaram!
Enquanto nós descemos as escadas, vejo Dom e Lyle esperando por
seus pares, junto com...
Alex, e Lola, agarrada em seu braço. Por que não passou pela minha
cabeça que ele provavelmente iria ao baile com Dom e Helena?
Os olhos de Alex examinam meu corpo da cabeça aos pés enquanto
desço as escadas. Sua boca está aberta e seus olhos estão arregalados. —
Ariel... uau.
Alex tira o braço do aperto de Lola e, pela expressão em seu rosto, ela
está furiosa.
Não sou uma pessoa mesquinha, mas não posso deixar de sorrir um
pouco.
— Vamos lá, pessoal! Vamos para o baile porque é hora de FESTA! —
Dom estoura uma garrafa de champanhe e borrifa para cima enquanto
todas as garotas gritam.
Alex não desviou o olhar de mim desde que desci. A maneira como os
olhos de Alex se mantém sobre mim...
Isso me faz sentir como se ele não tivesse esquecido o que há entre nós.
No baile, vou até o bar e observo as pessoas, em vez de observar Lola
com as patas em cima de Alex.
Um bando de machos que ainda não encontraram seus pares estão
amontoados em um canto, ainda na esperança de ter uma chance no
amor. Eles se parecem um pouco com um grupo de apoio triste.
Eu me pergunto se existe um grupo de apoio para lobas que foram
rejeitadas por seus pares destinados.
Percebo Alfa Tyler, o Alfa da Matilha da Pedra Azul, me observando do
outro lado do bar.
Não havia prestado muita atenção nele quando chegou há dois dias,
mas na verdade ele é muito bonito.
Ele tem cabelos castanhos encaracolados e uma mandíbula capaz de
cortar metal.
Mas não importa o quão incrível ele seja, ele não é o homem que está
em minha mente...
Tyler deve ter percebido que eu estava olhando para ele, porque
começou a caminhar em minha direção.
Merda, por que não consigo manter meus olhos para mim mesma?
— Ariel, você está linda esta noite, — diz ele, agarrando minha mão e
beijando-a.
— Você sabe meu nome? — Eu pergunto, surpresa.
— Eu admito, andei perguntando por aí sobre você, — ele diz, me
dando um sorriso encantador. — Você realmente se destaca da multidão.
— Hum, obrigada, — eu respondo, corando. Tenho que admitir que
estou gostando da atenção, mas não está vindo da pessoa que eu queria.
— Você me daria a honra de me conceder uma dança? — ele pergunta,
fazendo uma leve reverência.
— Na verdade, estou trabalhando, — digo, acenando
desajeitadamente com as mãos. — Estou no dever de guerreira. Preciso
ficar de olho nas coisas.
— Então, que melhor ponto de vista do que o meio da pista de dança?
— ele pergunta, estendendo a mão.
Ele tem razão. Relutantemente, eu aceito sua mão e ele me puxa para
a pista de dança.
Seu aperto aumenta na minha cintura enquanto giramos e
rodopiamos em torno dos outros casais. Se é isso que ele chama de
dança, vou vomitar a qualquer momento.
— Você é a garota mais bonita daqui, — Tyler diz, me puxando para
mais perto. — Você é surpreendentemente sexy para uma guerreira.
Eu sei que ele está apenas tentando me elogiar, mas está sendo um
idiota.
— Você não deve ter visto muitas mulheres guerreiras então, — eu
digo, rejeitando o suposto elogio.
— Bem, na minha matilha, não é permitido, — diz ele, sem um pingo
de autoconsciência.
Ugh, esse cara me deixa enojada.
Tyler se inclina para um beijo, sua língua balançando para fora de sua
boca, e eu rapidamente desvio virando minha cabeça.
Quando ele tenta mais uma vez, uma mão de repente agarra seu
ombro com força, as garras parcialmente extraídas.
— Se importa se eu interromper? — Alex pergunta, em um rosnado
baixo e intimidante.
— Ah. uh, Rei Alex... sem problemas, — Tyler diz, recuando e olhando
para o pano amassado do ombro de seu smoking.
— Parece que você precisava de ajuda, — diz Alex, enquanto pega
minha mão e volta a dançar comigo.
— Bem, não precisava, — eu digo, um pouco friamente. — Eu poderia
lidar com aquele idiota sozinha.
— Certo, desculpe, — diz Alex timidamente. — Talvez eu só tenha
vindo porque estava com um pouco de ciúme.
Ciumento? Cuidado, Alex... você vai me fazer pensar que realmente sente
algo por mim.
Eu sorrio para ele e seus olhos brilham enquanto ele olha para mim.
Nós apenas dançamos em silêncio, presos nos olhares um do outro.
Meu coração começa a acelerar e minha loba começa a dar
cambalhotas quando Alex me olha assim.
— Ariel, eu... eu queria te perguntar...
Alguém de repente esbarra em nós e nos separamos.
— Alex, sua mãe está procurando por você. Ela disse que é urgente —
Lola diz. enquanto envolve os braços em volta de Alex como um polvo
vingativo puxando um barco para o fundo do mar.
— Ah, tudo bem... vejo você mais tarde. Ariel — diz Alex
distraidamente enquanto Lola o leva embora.
Enquanto Alex se afasta, nos braços de outra mulher, minha loba
lamenta de tristeza. Ela está com o coração partido... e eu também.
Estou caidinha por você, Alex.
Mas você não está aqui para me pegar.
Capítulo 19
A GUERREIRA
ALEX

— Dom, é oficial — você enlouqueceu, — eu digo, balançando a


cabeça.
Faz apenas uma semana desde que Dom encontrou seu par destinado,
mas agora estamos a poucos dias de sua cerimônia de acasalamento.
Como padrinho e oficiante, estou sendo sugado para o furacão do
caos.
— Alex, estou falando sério, está aqui em algum lugar, — diz ele,
remexendo em uma pilha de roupas.
Eu desvio por pouco de um par de boxers que Dom joga no ventilador
de teto.
— Helena não vai se importar com qual gravata borboleta você usará
para a cerimônia, Dom. Ela provavelmente não se importaria se você
estivesse sem nada!
Dom para de procurar por um momento e considera a sugestão. —
Hmm, ir para a cerimônia de acasalamento nu pode ser uma boa. Eu não
tinha pensado nisso, mas agora que você mencionou...
— Não. Absolutamente não. Como seu Alfa, eu proíbo, — eu digo,
rindo. — Eu só posso lidar com determinado nível da sua loucura.
Dom se levanta e se inclina contra sua cômoda, me dando um olhar
contemplativo. — E você? Você mesmo está um pouco maluco
recentemente.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto, embora eu saiba o que ele
vai dizer.
— Estou falando sobre Lola. E o fato de que ela ainda está aqui, — diz
ele, cruzando os braços. — O que está rolando?
— Eu... eu apenas gosto da companhia dela, só isso. Ela viajou tanto
para chegar aqui, não há razão para ela voltar tão cedo, — eu digo, um
pouco na defensiva. — Eu acho que você realmente gostaria dela se a
conhecesse.
— Bem, não houve muita oportunidade, não é? — Dom diz, irritado.
— Ela tem suas garras em você tão profundas que eu mal te vi desde o
fim de semana de acasalamento.
— Ela não tem mais ninguém! Só estou tentando fazer com que ela se
sinta bem-vinda!
Não sei por que o clima está esquentando de repente, mas sinto que
estou começando a ficar com raiva.
— Alex, é óbvio para todos que você só gosta de Lola porque não lidou
com a perda de Olivia, — diz Dom, levantando a voz. — Você é meu
melhor amigo! Eu só não quero ver você cometer um erro!
— Se você é meu melhor amigo, então pare com isso agora, — eu
rosno. — Essa conversa acabou.
Ok, talvez Lola me lembre um pouco de Olivia. E daí?
Essa não é a única razão pela qual a acho intrigante.
Não é.
— Tudo bem, vamos falar sobre outra coisa, então, — Dom diz em um
tom desafiador. — Vamos falar sobre Ariel.
Seu nome dispara através de mim como uma flecha penetrante. Não a
vejo muito desde que Lola chegou à matilha, mas ainda penso nela todos
os dias.
Meu cérebro está constantemente em conflito com meu coração e
estou em conflito com meus sentimentos por Ariel e Lola.
Ambas despertam emoções diferentes em mim, mas tudo está tão
confuso em minha mente que não consigo distinguir o que é o quê.
Lola me atingiu como um aroma inebriante e está entorpecendo meus
sentidos e fazendo com que eu não consiga pensar direito.
Meus pais a amam. Mamãe já está pressionando por um pedido de
casamento, o que é uma loucura. Não é?
Quando estou com Lola, sinto que estou com Olivia de novo, mas não
é a mesma coisa.
Como poderia ser?
Não há história... apenas um reflexo.
Estou confuso pra caralho agora. Eu sinto falta de Ariel, mas vê-la só
me deixaria mais confuso. Eu preciso resolver isso sozinho.
Dom se senta ao meu lado e cutuca meu ombro com o dele,
rendendo-se.
— Olha cara, eu não quero brigar com você. Seja qual for sua decisão,
sempre serei seu melhor amigo e seu Beta.
— Eu só quero que você pense sobre o que você quer. Não seus pais.
Nem mais ninguém. Você.
O que eu quero?
E uma pergunta importante e para a qual não tenho uma resposta
agora...
ARIEL

O fim de semana de acasalamento me deixou nervosa e tem sido


difícil lutar contra isso. A única coisa que me impede de comer dez potes
de sorvete na cama é meu teste de guerreira e agradeço à Deusa por isso.
Tenho treinado a semana toda e isso serviu como uma distração
muito necessária para Alex e sua nova amiga.
Ficar remoendo minha situação com Alex não vai me ajudar a me
tornar uma guerreira, então hoje, vou dar tudo de mim e esquecer os
garotos no fundo da minha mente.
Me tornar uma guerreira oficial da matilha é meu sonho há anos.
É desesperador pensar que hoje, finalmente terei a chance de provar
que sou digna.
Steve diz que estou pronta e confio em seu julgamento, mas ainda não
tenho tanta certeza.
Enquanto sento em minha barraca, esperando minha deixa para
entrar na arena, meu celular vibra e uma sensação de alívio toma conta
de mim. É meu pai.
Pai: Olá, minha pequena guerreira!

Pai: Hoje é o grande dia!


Pai: Está marcado no meu calendário há semanas!

Pai: Você vai ARRASAR!

Ariel: Haha obrigada pai

Ariel: Eu realmente espero que sim

Pai: Eu gostaria de estar lá para ver.

Pai: Você sabe que eu estaria na primeira fila, torcendo por você.

Ariel: Eu sei, pai.

Ariel: Mas significa muito para mim falar com você um pouco
antes do teste

Pai: Boa sorte! Mesmo que você não precise disso!

Ariel: Merda!

Ariel: Eles acabaram de tocar o sinal! Essa é a minha deixa!

Ariel: Tchau, pai! Amo você


Eu guardo meu celular e respiro fundo quando ouço o sinal soar
novamente.
É isso.
Meu momento de provar a mim mesma.
Pego minha espada e faço os ajustes finais em minha armadura.
Empurrando as abas da tenda, eu entro na arena de terra que está
cercada por centenas de membros da matilha, ansiosos para ver novos
recrutas ascender ou cair.
Procuro Alex, mas meu coração afunda quando ele não está à vista.
Não, eu disse a mim mesma que não pensaria nele.
Isso é sobre mim e meu sonho.
Vejo Dom e Helena na fileira mais próxima da arena e eles gritam e
aplaudem quando eu entro. Dom acena para mim com entusiasmo.
— Ari, puta merda! Você está prestes a se tornar uma guerreira
completa, — Dom grita.
— Ele falou sobre isso a manhã toda, — diz Helena, rindo. — Ele é o
seu maior líder de torcida.
— Estou um pouco decepcionada por você não estar de saia e
acenando com pompons, — digo, provocando-o.
— Ei, se é isso que você quer, está feito, — Dom diz sério.
— Não, por favor, não vamos assustar seu novo par, — eu digo
rapidamente. — Você pode fazer isso muito bem sem nenhuma sugestão
minha.
— Você estará na cerimônia de acasalamento, certo? — Ele pergunta,
colocando o braço em volta de Helena enquanto ela se inclina para ele.
— Não perderia por nada no mundo, — eu digo, sorrindo.
— A PRIMEIRA RODADA COMEÇA EM DOIS MINUTOS! — A voz
de um locutor ressoa por toda a arena.
— Acabe com eles, garota! — Dom grita enquanto eu corro para o
centro da arena.
A primeira rodada do teste é a luta de espadas e a segunda é o
combate corpo a corpo.
Graças ao treinamento de Steve, sinto-me bastante confiante sobre
minhas habilidades com a espada.
Meu oponente entra na arena e tem o dobro do meu tamanho. O sino
toca e a luta começa oficialmente.
Você sabe o que dizem...
Eu avanço com minha espada empunhada, enquanto o idiota gigante
se mantém firme.
Quanto maiores eles são...
Eu finjo um movimento para a direita, em seguida, rolo para a
esquerda e fico atrás dele antes mesmo que ele saiba o que está
acontecendo.
Maior a queda.
Eu deslizo pela terra e o chuto o mais forte que posso na parte de trás
de seus joelhos, fazendo-o cair no chão.
Nossas espadas tinem quando eu o ataco de cima, repetidamente e
sem descanso.
Ele tenta se levantar, mas os golpes da minha espada o estão
mantendo exatamente onde eu o quero.
Ele abaixa a arma por apenas uma fração de segundo para tentar
recuperar o equilíbrio e é tudo que eu preciso.
Lutando com todas as minhas forças, tiro sua espada de sua mão e
seguro a minha contra sua garganta.
A multidão explode em gritos. Vejo os juízes conferindo uns com os
outros, mas sei pelos gritos e socos de Dom que passei nessa rodada com
louvor.
Mas não há pausa. Antes mesmo de a multidão se acalmar, meu
segundo oponente está entrando em campo.
— E COMEÇA A SEGUNDA RODADA!
Eu tiro minha armadura mais pesada quando um homem esguio, mas
magro se aproxima de mim, vestido com equipamento de treino.
Não sou tão confiante no mano a mano, mas esse cara não parece
tão...
Uau!
Antes que eu pudesse controlar seus movimentos, este homem ninja
me dá um soco direto no estômago e eu me dobro.
Merda. Ok, nunca subestime seu oponente.
Ele já está investindo contra mim de novo, mas eu desvio com uma
cambalhota e pulo de volta para os meus pés.
Bloqueio uma série de socos, mas ele consegue acertar um na minha
mandíbula.
Eu ouço o público arfar enquanto eu tropeço para trás. Os testes de
guerreiro podem ser bastante brutais. Afinal, os lobisomens se curam
rapidamente. Mas isso não torna o processo menos doloroso.
Eu ataco, um pouco desajeitadamente, e meu oponente facilmente se
esquiva de mim e me joga no chão novamente.
É quase como se ele estivesse brincando comigo.
Enquanto estou cuspindo sujeira e sangue, levanto os olhos para ver
que alguém está praticamente inclinado sobre a borda da arena, gritando
meu nome.
Alex...
Ele parece tão chateado que eu sinto que ele vai pular na arena e
começar a lutar com esse cara sozinho.
— ARIEL! ACABE COM ELE! — Ele grita.
Sentindo um vigor renovado, eu me levanto e enfrento meu
oponente. Ele me dá um sorriso arrogante.
Não seja tão presunçoso. Eu nem usei todas as ferramentas do meu
arsenal ainda.
Concentro toda a minha energia e, em questão de segundos, sinto
todos os meus ferimentos se curando. E minha exaustão também. Sinto
que poderia correr uma maratona inteira.
Eu olho para Alex e ele sorri, sabendo exatamente o que está
acontecendo.
Eu ataco meu oponente, e ele está tão chocado com minha explosão
de energia que consigo enganchar seu pescoço com meu braço direito e
pular em suas costas, envolvendo minhas pernas em volta de seu torso.
Eu derrubo nós dois no chão, mas não sinto nada. Eu apenas o
mantenho em um estrangulamento forte.
Ele tenta lutar, mas toda sua energia é gasta.
Sua mão batendo no chão sinaliza sua rendição.
Toda a arena explode em aplausos, mas meu olhar está focado em
uma pessoa, enquanto estou em pé na vitória, ofegante e enxugando o
suor da minha testa.
Alex e eu compartilhamos um olhar de saudade enquanto abafamos o
barulho ao nosso redor.
Não tenho certeza do que vai acontecer entre mim e Alex, mas agora,
tenho certeza de uma coisa.
O teste acabou.
Eu ganhei.
Eu sou uma guerreira.
Capítulo 20
SEM CERIMÔNIA ARIEL
A noite da cerimônia de acasalamento de Helena e Dom chegou.
A maioria dos casais planeja sua cerimônia no mínimo durante meses,
mas Dom e Helena mal podiam esperar para começar oficialmente sua
vida juntos.
Faz apenas duas semanas desde que eles se conheceram no festival de
acasalamento, mas ser o Beta da Matilha Real tem suas vantagens, e um
lindo evento foi organizado rapidamente.
Sentada na segunda fileira da capela — a mesma capela onde Alex e eu
realizamos meu ritual de aceitação na primeira noite em que cheguei de
volta à Matilha Real — me sinto deslocada sozinha entre os casais com
seus respectivos pares ao meu redor, mesmo que eles sejam meus amigos.
Alex caminha até a frente do altar da Deusa da Lua, Dom ao seu lado,
tomando seu lugar sob o teto lunar.
Alex examina a multidão, até que nossos olhares se encontram, mas
eu rapidamente olho para baixo.
Logo a música muda e as portas na parte de trás da capela se abrem
para revelar Helena, vestida como uma etérea criança das flores em seu
vestido branco nada convencional.
Todos nós aproveitamos a deixa para ficar de pé e Dom sorri de orelha
a orelha enquanto Helena caminha ao lado de seu pai até o altar.
Helena e Dom se voltam para Alex quando ele começa a recitar o
antigo texto em sua mão.
Conforme a cerimônia continua, meu olhar vagueia pela sala e avisto
Lola sentada do outro lado do corredor.
Um nó se forma na minha garganta.
Minha mente vagueia para a noite da minha cerimônia de aceitação,
quando Alex e eu estávamos exatamente nos mesmos lugares que Dom e
Helena estão agora.
Eu olho para a palma da minha mão, onde estaria a cicatriz da lâmina
cerimonial.
O corte não cicatrizou completamente durante a noite.
Voltando meu olhar para o altar, vejo Alex colocando coroas nas
cabeças do casal agora ajoelhado.
— Membros e convidados da Matilha Real, — proclama Alex, —
apresento a vocês o Príncipe Beta Dominic Greene e a Princesa Beta
Helena Greene.
A multidão aplaude e o casal, agora oficial, se levanta e compartilha
um doce beijo antes de caminhar de volta pelo corredor, coberto de
pétalas de flores enquanto caminham.
Eu fico olhando para a mesa, bebendo minha segunda taça de
champanhe enquanto Val discute sua cerimônia de acasalamento com
Amy.
Eu pego partes da conversa, mas minha mente está sobrecarregada
por pensamentos sobre Alex. Nós mal trocamos duas palavras nas
últimas semanas.
— Não, — diz Amy. — isso era lindo, mas meu gosto é um pouco
menos...
— Tradicional, — Val acrescenta.
— Exatamente!
Eu brevemente penso na cerimônia que eu poderia ter compartilhado
com Xavier se não tivessem me roubado os últimos dois anos da minha
vida.
Eu me pergunto como era o vestido da minha irmã quando ela se
conectou ao meu par destinado.
Val está falando sobre como ela planeja um evento pequeno e elegante
no iate da família de seu Alfa e Amy desliza a tela de seu celular entre
vestidos de grife.
Eu não aguento isso.
Termino meu champanhe em um único gole e me levanto, sem me
desculpar, para voltar ao bar e encher minha taça.
Duvido que Val e Amy tenham notado que deixei a mesa, estavam tão
ocupadas em sua conversa sobre a cerimônia.
A essa altura, troquei meus saltos e coloquei minhas botas de combate
favoritas, que parecem particularmente extraordinárias com meu vestido
midi cor de ameixa.
Caminhando pelo salão de baile do palácio, vejo o mais novo casal e
imagino que devo dar os parabéns oficiais antes da minha terceira taça.
Caminhando, com um sorriso triste, taça de champanhe vazia na mão,
Dom me avista.
— Ari! — Ele coloca os braços em volta de mim em um grande abraço.
— Parabéns, Dom. — Dou-lhe um tapinha nas costas. — Estou tão
feliz por você.
— Eu estava quase vomitando naquele altar! — ele diz, rindo. — Eu
mal conseguia ouvir o que Alex estava dizendo.
— Você foi muito bem, Dom. — Helena dá um beijo amoroso em sua
bochecha e me traz para um abraço.
— Helena, esta foi a cerimônia mais bonita de todas.
Tento ser o mais agradável possível. É o grande dia deles e não há
espaço para minha autopiedade deixar as pessoas tristes.
— Se Dom começar a te deixar maluca, — eu digo, — me avise e eu
ajudarei a colocá-lo na linha — Estou ansiosa para finalmente relaxar, —
diz Helena, sorrindo.
Eles começam a conversar sobre a lua de mel, para a qual partirão pela
manhã.
Alguns amigos de Helena entram na conversa, perguntando para onde
eles estão indo.
Estou meio ouvindo enquanto olho para o bar, avaliando minha
oportunidade de sair do círculo.
Eu vejo um flash do vestido azul brilhante de Lola com o canto do
meu olho. Eu olho para ela e imediatamente começo a me concentrar na
conversa que ela está tendo.
Com Maria.
— Estou muito grata por você ter me convidado, — diz Lola.
— Imagina, querida! — Maria exclama: — Alex parece tão vivo
quando você está por perto.
É preciso controle corporal para não revirar os olhos com o
comentário de Maria.
— Eu não ficaria surpresa se visse você andando por aquele corredor
logo, também, — ela diz.
— Você acha mesmo? — Lola começa a enrolar o cabelo no dedo.
— Absolutamente! Se há alguém que pode conquista-lo, é você, — diz
Maria. — Alex só precisa de um pouco de... convencimento.
Eu sinto como se tivesse levado um soco no estômago. Essas duas não
estão perdendo tempo.
Uma sensação nauseante começa a tomar conta do meu corpo.
E algo mais. Uma sensação avassaladora de pavor me envolve
enquanto as palavras de Selene ecoam em minha mente.
Proteja Alex...
Estou começando a me sentir desconfortável com a presença de Lola
aqui. Não tenho certeza do que é. Não consigo definir o que é, mas algo
parece... estranho.

Estou na minha quarta taça de champanhe neste momento e estou


sozinha em um canto. Eu olho para a multidão e travo os olhos com a
pessoa com quem menos quero falar.
Lola caminha em minha direção com confiança. Eu examino a área
em busca de uma saída, mas não há tempo para eu fazer outro caminho.
Antes que eu possa me mover, ela para na minha frente com um
grande sorriso falso no rosto.
— Ei, Ariel, — diz ela. — Posso falar com você por um minuto?
Deusa, eu só queria desaparecer.
— E aí? — Tento fingir ser agradável, tomando um gole do meu atual
melhor amigo, o álcool.
— Sei que não começamos com o pé direito. Com a maneira repentina
que Alex e eu nos conhecemos, — diz ela.
Eu não tinha percebido até agora o quanto sua voz estridente me
irritava.
Eu não comento. Ficando ereta, quase em uma postura de guerreiro,
eu a perfuro com meus olhos, nunca deixando meu olhar cair.
— Eu sei que você é... amiga dele, — ela continua com
condescendência em seu tom, — e eu não quero atrapalhar nenhuma
amizade dele.
— Ele sabe que você e a mãe dele estão planejando o resto da vida sem
ele?
Seu olhar escurece e um flash de raiva surge em seu rosto antes que
ela tenha a chance de escondê-lo.
— Olha, — ela diz, o veneno aumentando em seu tom. — Alex
encontrou alguém e está feliz. Você precisa lidar com isso. Você pode se
decepcionar porque não foi você...
— Cuidado. Loira, — advirto.
— Você o conhece há mais tempo do que eu. — Há quase um tom de
canto em sua voz agora.
— Se ele estivesse interessado em você, — ela diz, — ele não teria
vindo até mim. Agora você pode continuar sendo amiga dele e aceitar
que estou em sua vida...
Um sorriso tortuoso se espalha em seu rosto. — Ou você pode ver o
que acontece quando me tiram do sério.
— Isso é uma ameaça? — Eu realmente não gosto dessa vadia.
— É uma oportunidade, — ela diz provocativamente. — Veja como a
sua amizade é forte quando eu disser a ele o quão mal você me trata.
— Eu troquei, tipo, doze palavras com você desde que te conheci!
Tento manter meu tom calmo, mas o álcool provavelmente não está
ajudando com isso.
— Ele não sabe disso, — ela diz. Eu quero tirar aquele sorriso falso de
seu rosto. — Como você acha que ele vai reagir quando eu contar a ele
que você me ameaçou para me afastar para que pudesse ficar com ele só
para você?
— Você não dá a mínima para ele, não é? — Eu digo, percebendo as
palavras enquanto as digo. — Isso tudo é algum tipo de jogo para você?
— Não, — ela diz. — Não é um jogo de maneira alguma. Eu levo isso
muito, muito a sério.
Ela se inclina perto o suficiente para que só eu possa ouvir o que ela
vai dizer a seguir.
— Portanto, não fique no meu caminho, a menos que você queira ser
banida desta matilha também.
ALEX

A recepção já dura há mais de uma hora quando finalmente entro no


salão de baile.
Eu disse a Dom que tinha algumas coisas para resolver, mas ele
provavelmente sabia meus verdadeiros motivos para tomar fôlego após a
cerimônia.
Não consegui tirar minha própria cerimônia com Olivia da minha
mente o tempo todo que estive no altar. Eu só precisava de um tempo
para relaxar antes de mergulhar de volta na multidão.
Eu examino a sala quando entro e meus olhos vão imediatamente
para a pequena figura com uma bagunça de cabelo castanho emaranhado
e botas de combate no bar.
Eu engulo em seco enquanto faço meu caminho até Ariel do outro
lado do salão.
Não consigo me lembrar da última vez que ela falou comigo.
— Ei, — eu digo sem jeito, pegando uma taça de champanhe.
— Oi, — Ariel diz friamente enquanto mantém seus olhos de girassol
para frente.
— Eu nunca te parabenizei... por passar no seu teste de guerreira.
Ela não diz nada. Apenas acena um pouco com a cabeça.
— Parabéns... por isso, — murmuro estupidamente.
Há mais coisas que quero dizer. Muito mais, mas entre minha
incapacidade de parar de pensar em Olivia e lidar com a questão dos
selvagens... Eu nem sei por onde começar.
— Obrigada, — é tudo o que ela diz ao terminar sua bebida. Ela
cambaleia um pouco enquanto se afasta do bar.
— Ari, — eu começo, pegando seu ombro nu com minha mão.
Ela congela e olha nos meus olhos.
— Eu... — Eu sou interrompido.
— Alex! — Eu ouço a voz da minha mãe. — Eu estava me perguntando
quando você nos agraciaria com sua presença!
— Desculpe mãe, eu acabei de...
Ela não me deixa terminar. — Tenho notícias empolgantes, querido,
— continua minha mãe.
Ariel olha para baixo e começa a se afastar.
— Ariel, — diz minha mãe, — fique, por favor. Isso também diz
respeito a você.
Ariel para em seu caminho e silenciosamente olha para baixo.
— Convidei Lola para ficar mais uma semana, — diz minha mãe,
sorrindo. — E não consigo pensar em ninguém mais qualificado para
protegê-la. — Ela olha para Ariel, que olha para cima, aparentemente
chocada.
— Ariel, — ela continua, — sei que posso contar com você para
manter nossa convidada de honra segura.
Capítulo 21
SUSPEITAS
ARIEL

Minha moto ruge pela cidade, mas estou tendo dificuldade em


desfrutar a sensação do vento em meu cabelo quando me lembro do
carro que estou acompanhando.
Lola espia pelas janelas escuras do banco de trás do SUV preto.
O convite de Maria para que ela ficasse uma semana fora uma decisão
de última hora e agora, na manhã seguinte, aqui estou eu,
acompanhando-a às compras.
O destino é uma merda inconstante.
Continuo pensando na conversa que tive com Lola ontem à noite.
Inicialmente, pensei que ela não era nada mais do que um
aborrecimento. Algo atribuído ao momento errado.
Mas depois de ouvir a ferocidade em sua voz, a ameaça de falar mal de
mim para Alex... vejo que há algo muito mais sinistro acontecendo com
ela.
De uma coisa eu tenho certeza — ela não se importa com Alex.
Quando paramos em uma rua de lojas de roupas e acessórios, coloco
minha perna por cima da moto e a sigo até a butique de roupas de luxo
mais próxima.
Sento-me perto da entrada, os braços cruzados enquanto ela
experimenta vestidos e sapatos para um mês.
Fico aliviada quando vejo que ela está comprando uns quinze trajes
diferentes.
Pelo menos nós só tivemos que ir até uma loja.
Levanto-me para ajudar a carregar algumas das malas para o carro
quando a vejo entregando o cartão de crédito ao caixa.
Com o nome de Alex nele.
O que diabos há de errado com o cartão de crédito dela? Ela também é
da realeza, não é?
— Qual é o seu título mesmo? — Eu pergunto, tentando soar
indiferente.
Os olhos de Lola se estreitam. — Por que?
— Eu nunca conheci muita gente da realeza antes. Não sei como
todos os títulos e linhagens funcionam. Apenas curiosidade.
— Meu avô é o terceiro filho de um Rei da Linha Alfa.
— Então isso faz de você...
— Uma Princesa da Linha Alfa. O que há com o terceiro grau?
— Eu só estou me perguntando por que sua matilha permitiu que
você ficasse longe por tanto tempo. Sem enviar sua própria guarda real.
— Não gosto de fazer da minha posição algo tão grandioso, — disse
ela rapidamente. — Você terminou?
Dei de ombros. — Desculpe, estava apenas puxando conversa.
Enquanto eu levo a loira ondulada para fora da loja, não posso deixar
de sucumbir à sensação de pavor que tive na noite anterior.
Algo não está certo.
Jogando as sacolas no porta-malas, Lola me repreende por ser tão rude
com elas. Eu reviro meus olhos e fico pronta para pular de volta na minha
moto.
— Para onde você está indo? — ela pergunta.
— De volta ao palácio, — eu respondo.
— Ainda não terminei as compras! — ela diz, batendo o porta-malas.
— Você não acha que já tem o suficiente para durar esta semana? —
Eu gracejo.
— Estou planejando ficar muito mais tempo do que isso. — Ela
caminha em direção a uma joalheria.
— Guarda, — ela grita por cima do ombro para mim. — Você vem? Ou
preciso dizer a Alex que você não está fazendo seu trabalho?
Três horas e cerca de dois mil dólares acumulados no cartão de
crédito de Alex depois, Lola decidiu que já tinha merda suficiente para
voltar para o palácio.
Quando estou prestes a finalmente voltar para a minha moto, sinto
um cheiro familiar de selvagens.
Eu olho para ver que Lola ainda não está no carro e, em vez disso, está
enviando uma mensagem de texto em seu celular, completamente alheia
ao cheiro.
— Lola, entre no carro agora — digo, caminhando até ela.
— Com licença? — ela diz com desprezo. — Quem está trabalhando
para quem?
Eu lanço meus olhos ao redor do perímetro. Não vejo nada ainda, mas
o cheiro de selvagens está se tornando mais proeminente.
— Eu não tenho tempo para discutir com você, — eu digo, agarrando
seus ombros para tentar movê-la mais rápido. — Apenas entre no carro!
Você não sente o cheiro disso?
— Eu não sinto cheiro de nada. Tire suas mãos...
Ela é imediatamente interrompida quando um selvagem se lança
sobre o capô do carro em nossa direção.
— Merda! Abaixe-se! — Eu coloco Lola no chão para fazê-la se
proteger antes de me lançar em uma posição defensiva contra o
selvagem.
Eu dou um soco sólido na mandíbula sarnenta do selvagem,
derrubando-o por tempo suficiente para ganhar o tempo de me
transformar.
Tirando minha jaqueta de couro, eu deixo minha loba sair, me
transformando o mais rápido possível enquanto Lola grita
desagradavelmente do chão.
Agora, totalmente na forma de lobo, estou pronta para lutar.
O selvagem se levanta novamente.
Ele imediatamente salta direto para minha garganta, mas eu
facilmente me esquivo e dou uma mordida em seu ombro, fazendo com
que um uivo escape de sua boca.
Esse selvagem é grande, mas é desajeitado e tenho a velocidade a meu
favor.
Ele tenta acertar minhas costelas, mas rapidamente saio de seu
alcance e, mais uma vez, ele apenas morde o ar.
Eu me viro para flanquear ele e, em segundos, tiro suas patas traseiras
debaixo dele.
Ele se contorce e range os dentes embaixo de mim, mas eu o
mantenho preso.
Eu sei que devido ao meu tamanho, não posso mantê-lo deitado por
muito tempo. Sem perder tempo, agarro sua garganta, mas hesito.
Eu não vou matar novamente. Não se isso afetar minhas habilidades de
cura.
Quando faço uma pausa, o selvagem me joga de cima dele e eu caio no
chão com um baque.
Quando eu pulo de volta de quatro, o selvagem foge. O motorista já
desceu do carro e está confortando Lola, que está gritando no chão.
Olhando para todos os rostos chocados ao meu redor, percebo que,
embora haja dezenas de pessoas ao redor, nenhuma delas ficou ferida.
Havia apenas um selvagem e ele veio direto em nossa direção.
Me escondendo atrás do carro para ter privacidade, eu me transformo
de volta e coloco minhas roupas.
Ariel: Ataque de selvagens na praça da cidade Ariel: 1 inimigo

Ariel: recuou

Steve: Alguém se machucou?

Ariel: Só o selvagem

Steve: Bom trabalho, Ariel!

Steve: Você está de guarda?

Ariel: Sim, levando-a de volta ao palácio agora Steve: Ótimo.


Dave vai enviar um esquadrão para investigar Lola está chorando,
interpretando a rotina da donzela em perigo quando vou até ela, ainda
sentada na calçada, a cabeça entre as mãos.
— Você está bem? — Eu pergunto.
— Não, não estou bem! — Ela olha para mim, os olhos brilhando. —
Você me empurrou! — Ela levanta o cotovelo para me mostrar um rasgo
em seu suéter. — E eu poderia ter morrido!
Nesse momento, percebo algo estranho quando olho em seus olhos
roxos. Um deles parece... marrom.
— Você está... você perdeu uma lente de contato? — Eu pergunto.
— O que? Do que você está falando? — ela dispara.
— Seus olhos... eles parecem ter duas cores diferentes.
Lola imediatamente cobre os olhos. — Não seja estúpida! Eu... eu
preciso ir ao banheiro. Preciso me limpar. — Perturbada, ela desaparece
dentro do café mais próximo.
Ela está... intencionalmente tentando parecer o falecido par de Alex?

Quando chegamos de volta ao palácio, somos recebidos por Alex. Eu


desço da moto para contar a ele como as coisas correram, mas sou
ultrapassada por Lola, que corre para seus braços.
— Alex! Foi tão horrível! Achei que fosse morrer!
Ele a abraça com força e me olha por cima do ombro.
— Alguém se machucou? — ele me pergunta. Eu começo a balançar
minha cabeça quando Lola intervém.
— Apenas quando Ariel me empurrou, — disse ela. mostrando a ele o
rasgo em sua manga. — Achei que estava sentindo cheiro de alguma
coisa, mas ela não quis me ouvir!
— Eu... isso não... — eu começo, mas Alex está atirando adagas em
mim com seus olhos.
— Você não cheirou nada antes de acontecer? — ele pergunta, Lola
ainda em seus braços.
— Minha Deusa. Alex, — ela o faz olhar para ela… — Eu estava com
tanto medo de nunca mais te ver!
— Tudo que eu conseguia pensar era em sair de lá para te ver. Isso era
tudo o que me fazia continuar!
Essa vadia de duas caras!
— Você está bem, — diz ele, esfregando as mãos nas costas dela.
— Ariel não fez nada para me proteger! Ela não me colocou em
segurança quando senti o cheiro de selvagens. Continuou dizendo que
estava exagerando.
Ela se vira para mim. — Espero que esteja feliz! — ela grita, então
enterra o rosto de volta no peito de Alex.
Minha Deusa, Alex TEM que perceber a verdade!
— Ariel. — Alex diz severamente, — por que diabos você não a
colocou em segurança assim que...
— Eu tentei! — Eu interrompo. — Ela não quis me ouvir!
— Você obviamente não tentou o suficiente! — Ele retruca, sua voz
aumentando.
— Eu sabia que você não estava exatamente feliz por ter começado o
serviço de guarda, — ele continua, — mas fala sério, Ariel! Você poderia
ter matado alguém!
— Não quero mais que ela me proteja, Alex — interrompe Lola. — Por
favor! Manter-me segura é a última coisa que ela quer!
Bem, agora é!
— Tudo bem, — diz ele. — Ariel, apenas... informe ao General Dave.
Você está de volta à vigilância do perímetro.
— Eu não... ela... — Eu jogo minhas mãos para cima em frustração.
Não há como falar com ele com ela por perto.
Ela sabe exatamente o que está fazendo e está começando a criar uma
barreira entre mim e Alex.
Eu sei duas coisas agora.
Um: ela está usando Alex, mas não consigo entender por quê.
Dois: vou descobrir a verdade.
Lola desliza a cabeça para trás para olhar na minha direção. Ela me dá
um sorriso malicioso, seus olhos — roxos — dançando com malícia.
Eu não posso esperar para tirar aquele sorriso maligno de seu rosto.
Capítulo 22
PELO BEM DA MATILHA
ALEX

Eu caminho ao longo do perímetro da floresta captando o que resta


dos cheiros de selvagens. Dom está no primeiro dia de sua lua de mel,
então minhas ordens vão direto para o General Dave. Meus pensamentos
sempre voltam aos eventos de hoje.
Depois de acalmar Lola, eu finalmente a convenci a descansar um
pouco em seus aposentos de hóspedes.
Ainda não consigo acreditar na negligência que Ariel demonstrou ao
protegê-la. Eu sabia que ela odiaria essa missão, mas alguém poderia ter
se machucado seriamente. Ou pior.
É simplesmente porque ela está com ciúmes da presença de Lola aqui?
Parece algo tão diferente do que ela faria.
Quando minha mãe sugeriu o dever de guarda, eu disse a ela que não
achava que era uma boa ideia, especialmente dada minha... história com
Ariel. Mas ela insistiu que Lola se sentiria mais confortável com uma
guarda feminina, e Ariel é uma das nossas melhores.
Ainda me sinto dilacerado em minha situação atual.
Há Ariel, forte e imprevisível, em quem aprendi a confiar
implicitamente. E não posso negar que tive outros sentimentos por ela,
mas essa negligência proposital em proteger um convidado real revela
um outro lado dela. Quase vingativo.
Talvez eu não a conheça tão bem quanto pensei.
Então, há Lola, doce e gentil, que me lembra tanto Olivia que é
inebriante. Mas não posso dizer se o que estou vendo é realmente o que
está diante de mim ou se é uma ilusão.
Ela claramente sente algo por mim, e minha mãe parece amá-la, mas
está tudo acontecendo tão rápido que sinto que não tenho tempo para
pensar.
E Olivia... minha bela e graciosa Olivia, meu par destinado... o que ela
pensaria de tudo isso?
Liv... Eu gostaria que você pudesse apenas me dizer qual caminho seguir...
Eu balanço minha cabeça em meus pensamentos. Esta não deveria ser
minha prioridade. Existem cheiros de selvagens por todo o lugar.
Eles sumiram há um tempo, mas é a quantidade que me incomoda. Eu
preciso convocar uma reunião com todos os meus guerreiros.

Eu fico na frente de meus guerreiros, com meus líderes de esquadrão


ocupando a primeira fila de cadeiras na sala de reuniões. Ariel está
sentada atrás, com os braços cruzados e as sobrancelhas franzidas. Eu
encontro seus olhos por uma fração de segundo, mas ela me encara e
desvia o olhar.
Dave está ao meu lado como general guerreiro e puxa o mapa de
nosso território.
— Bom dia, guerreiros da Matilha Real, — eu digo enquanto um
silêncio cai sobre a sala. — Eu convoquei esta reunião para discutir os
cheiros remanescentes de selvagens em nossas fronteiras.
— Vou aumentar a vigilância do perímetro para dois esquadrões por
turno nos próximos dias. Isso significa mais horas para todos, mas
precisamos ficar de olho no incidente de hoje. Vou passar a fala para o
General Dave.
Dave dá um passo à frente. — Como muitos de vocês sabem, também
houve um incidente criminoso hoje na cidade. Ariel estava no lugar certo
na hora certa e neutralizou a ameaça.
Alguns assobios e palmas percorrem o grupo, parabenizando Ariel
pelo trabalho bem executado. Ela não responde. Apenas olha para o chão,
os braços ainda cruzados.
— Muito bem, muito bem. — Dave recupera o controle de seus
guerreiros. — Ariel fez um ótimo trabalho, mas ela estava lá por acaso, e
havia civis por toda parte. Poderia ter terminado de uma forma muito
diferente.
Ele faz uma pausa para absorver isso antes de continuar: — Esse
selvagem não deveria ter percorrido todo o caminho até a cidade, mas de
alguma forma ele passou por nossa patrulha de fronteira.
— É por isso que, além da mudança de perímetro de dois esquadrões,
também vou colocar um esquadrão no meio da cidade durante o horário
comercial e aplicar um toque de recolher estrito em toda a matilha para
todos os não-guerreiros.
Os olhos de Dave se movem sobre a multidão.
— Eu não tenho que dizer a todos vocês o quão estranho é o
comportamento desse selvagem. A maioria ataca e segue em frente, mas
este grupo é o mesmo com o qual lidamos há meses.
— Contamos cerca de uma dúzia de cheiros de selvagens no primeiro
ataque. Entre todos os ataques subsequentes, nós neutralizamos pelo
menos metade deles, mas isso deixa pelo menos seis desses desgraçados
ainda bisbilhotando.
Ele respira fundo e emite sua ordem: — Permaneçam em alerta
máximo e cuidem uns dos outros. Guerreiros, consultem seus líderes de
esquadrão para novas atribuições de patrulha. Dispensados.
Depois que todos os guerreiros têm suas novas atribuições, espero por
Ariel no corredor. Ela é a última a sair do esquadrão de Steve.
— Ariel. — Eu a pego enquanto ela passa por mim. — Você tem um
minuto?
Ela solta um suspiro e fica na minha frente como uma criança
impetuosa.
— E aí? — ela bufa.
— Eu gostaria de falar com você. Sobre o que aconteceu esta manhã.
— Eu impedi um selvagem de machucar alguém na cidade enquanto
eu estava de guarda, — ela diz presunçosamente. — Não há mais nada
para falar.
— Ariel, — eu começo, — Eu sei que você não queria ser guarda de
Lola... — ela revira os olhos quando eu digo o nome — — mas não parece
que você estava fazendo o melhor trabalho de vigiá-la. Como um
selvagem conseguiu chegar tão perto?
— Alex, eu te disse! — Sua voz já está elevada. — Ela não quis me
ouvir!
— Por que alguém não escutaria quando está sendo avisado sobre
estar em perigo? Ariel, isso não faz sentido.
— Então, não faz sentido! — ela dispara. — Eu disse a você que tentei
colocá-la em segurança no segundo que farejei o selvagem. Não sei o que
mais você quer de mim.
— Ariel, Lola me contou o que aconteceu. Ela não tem motivo para
mentir. Você estava apenas distraída ou...
— Ou o que? — ela me encara. — Sou uma guerreira! Fui designada
para proteger um convidado e fiz meu trabalho! Eu nunca colocaria
propositalmente alguém em perigo!
Eu balancei minha cabeça. — Ok, tudo bem.
Decepcionado, estou prestes a me afastar quando ouço a voz de Ariel
novamente.
— Alex, — diz ela. — Há algo de errado com ela!
Eu encontro seus olhos de girassol mais uma vez. — Do que você está
falando?
— Lola está usando você, Alex. Não sei por que, mas ela está
brincando com você.
— De onde vem isso? — Estou genuinamente confuso.
— Ela é uma mentirosa!
— Ariel, Lola é uma convidada real! Cuidado com o que fala, —
advirto.
— Abra seus olhos, pelo amor da Deusa! — Ariel está gritando neste
momento. — Ela não é nada mais do que uma vadia em pele de cordeiro!
— Ariel, eu não quero ter que te lembrar de sua posição, mas você
precisa ver como você fala! — Eu estalo. — Você está deixando o ciúme
levar o melhor de você.
Ela zomba. — Isso não é o que está acontecendo aqui!
— Olha, eu sei que nós... pelo menos eu pensei que poderíamos... —
Eu não posso dizer as palavras. — Você está sendo mesquinha.
— E você só está preso a uma loira bonita porque não consegue
esquecer seu falecido par!
De repente, sinto como se o vento tivesse sido tirado de mim.
Uma onda de compreensão passa pelo rosto de Ariel e ela fala
novamente, baixinho: — Alex...
Eu não quero ouvir mais.
— Você está dispensada, guerreira, — eu digo friamente. — É melhor
você ir. Você tem o turno da tarde para trabalhar no perímetro.
— Alex, — ela tenta novamente, mas estou farto.
— Dispensada.
— Sim, Alfa, — diz ela com a mesma frieza antes de ir embora.

Sento-me sozinho no sofá do meu quarto. Estou na minha quinta


cerveja e ainda não me sinto melhor do que quando comecei. Não tenho
ideia do que pensar sobre o que está acontecendo. Com Ariel... com
Lola...
Pego a foto de Olivia na mesinha lateral. Seus olhos roxos e sorriso
gentil perfuram meu coração. Ela era a personificação da graça e da
paciência. A Luna perfeita. O par perfeito.
Agradeci à Deusa quando descobrimos que éramos pares. Foi como se
o destino se encaixasse perfeitamente. Eu ansiava por uma vida cheia de
sua bondade e luz.
Uma lágrima cai dos meus olhos sobre a imagem dela. Eu gostaria de
ter alguém aqui com quem conversar.
Meu Beta tinha que estar em lua de mel logo agora...
Eu ouço uma batida na minha porta.
— Alex? — minha mãe diz enquanto abre a porta. — Posso entrar?
— Claro, — eu digo, sorrindo.
— Como está meu Alfa? — ela diz enquanto se senta ao meu lado.
— Já estive melhor.
Ela me vê segurando a foto de Olivia.
— Você está sob muito estresse, filho, — ela diz, pegando minha mão.
— E difícil passar por momentos como este sem uma Luna ao seu lado.
— Eu tive uma Luna, mãe.
— Eu sei, querido, mas ela se foi, — diz ela suavemente. — E ela não
gostaria que você ficasse preso no passado. Você sabe disso, não sabe?
Sim... Só não sei se estou pronto...
— Você teve a sorte de encontrar seu par destinado, Alex, —
acrescenta minha mãe. — Alguns nunca vão ter essa alegria.
Ela está falando por experiência própria. Ela e meu pai nunca
encontraram seus pares destinados. Quando coube a ele se tornar Alfa,
ele teve que fazer uma escolha: governar com uma Luna ao seu lado ou
ter uma matilha enfraquecida. Ele e minha mãe decidiram juntos colocar
a matilha em primeiro lugar.
— Isso está consumindo você, Alex, — diz ela. — Você precisa de uma
Luna para governar com você para que possa concentrar seus esforços no
bem de nosso povo.
Eu aceno minha cabeça. Eu sei que minha mãe está certa. Ela sempre
foi prática.
— Lola seria uma combinação perfeita, sabe? — Ela adiciona. — Ela
conhece os padrões da vida real e está completamente apaixonada por
você.
— Mãe..., — eu começo.
— Só estou pensando no que é melhor para a matilha, Alex. Você não
pode estar envolvido em todas as relações públicas e lidar com as
questões de segurança.
Ela aperta minha mão. — Você tem se equilibrado por muito tempo.
Com uma Luna para lidar com o público, você poderá se dedicar
totalmente a liderar e proteger esta matilha.
Minha mãe puxa uma caixa de veludo preto e abre para revelar um
colar de pedra da lua brilhante e iridescente.
Eu o reconheço imediatamente.
É uma herança da família da Matilha Real, forjada pelo primeiro Alfa
para sua Rainha e depois passada para a Luna de cada geração desde
então.
E o colar que dei a Olivia quando decidimos nos oficializar como um
par...
— Está guardado há muito tempo, — diz ela, tirando-o da caixa e
colocando-o em minhas mãos. — E gostaria que você entregasse a Lola.
Como um presente de noivado.
Olhando para baixo, eu inspeciono a bela gema em minhas mãos. A
luz refletida por ele o faz brilhar com todas as cores do espectro.
Tudo o que consigo pensar quando vejo é como ficava perfeito em
volta do pescoço de Olivia.
— E para o bem da matilha, — diz minha mãe finalmente.
Eu sinto meu coração cair.
Mesmo se eu fizer de Lola meu par...
Eu poderia suportar ver este colar em outra mulher?
Capítulo 23
O NOIVADO DO DESTINO
ARIEL

Eu subo em minha moto em direção à fronteira para me encontrar


com Dom e Helena quando eles retornam de sua lua de mel.
Já se passou uma semana desde a última vez em que Alex e eu nos
falamos. Ele está sendo um babaca ao não me ouvir.
Só posso esperar que ter seu Beta de volta ajude a colocar algum juízo
nele.
Fui designada como equipe de segurança para uma festa que Maria
está dando esta noite, então fui empurrada para a patrulha matinal do
dia.
Aceitei de bom grado, sabendo que estaria acompanhando meus
amigos de volta à matilha.
Comecei a sentir que não tenho mais ninguém. Embora Steve e
Louisa tenham sido amáveis, sinto falta da sensação de ter apenas um
amigo da minha idade por perto.
Quando chego à fronteira, imediatamente sinto o cheiro de um
selvagem. Eu paro minha moto e desligo a ignição.
Dom e Helena só voltam daqui a meia hora e sou a primeira de meu
esquadrão a chegar.
Sinto o cheiro de apenas um selvagem, então, cautelosamente, desço a
perna por cima da moto e caminho na direção do cheiro para investigar.
Eu tiro minha jaqueta de couro e desamarro minhas botas no caso de
precisar me transformar.
Quando chego perto de uma clareira, ouço uma voz feminina. Uma
voz feminina tão detestável que tem o poder de arranhar sob minha pele.
Lola?
Furtivamente, chego mais perto para ouvir a conversa. Também ouço
uma voz masculina, que não é familiar.
— Você precisa ter cuidado, — ouço Lola dizer em voz baixa. — Eu o
tenho exatamente onde quero, mas há olhos em todos os lugares. Algo
grande acontecerá esta noite, então mantenha distância.
Algo grande...
As palavras de Selene ressurgem em minha mente.
Proteja Alex.
Eu corro de volta para minha moto e subo, não me importando se eles
ouvirão meu motor girar. De qualquer forma, estarei indo rápido demais
para que alguém possa me acompanhar.
Eu passo pelos membros do meu esquadrão em seu caminho para
encontrar Dom e Helena.
— Ariel, você está indo para o lado errado! — Steve grita enquanto eu
passo voando.
Não tenho tempo a perder explicando. Eu tenho que falar com Alex.
Eu tenho que avisá-lo.

— Alex! — Eu entro abruptamente pela porta de seu quarto para


encontrá-lo vestindo sua camisa, me dando um vislumbre de seu
maravilhoso corpo — mas não posso deixar isso me distrair.
— Deusa, Ariel! — ele diz. — Você poderia bater!?
— Alex, Lola está planejando algo, — eu disparo. — Eu a ouvi
conversando com alguém na fronteira.
— Por que diabos ela estaria na fronteira? Ela sabe o quão perigoso é
— — ele começa.
— EXATAMENTE! — Eu o interrompo. — É isso que estou tentando
te dizer! Ela sabe que não está em perigo porque está envolvida com os
selvagens.
— Ariel, chega! Eu sei que você não gosta dela, mas
— Você pode calar a boca e apenas me ouvir?! — Eu grito. — Ela está
planejando algo! Não sei o quê, mas acho que você está em perigo. Algo
acontecerá. Esta noite!
— Estamos mais seguros do que nunca. — Alex passa por mim em
direção ao corredor. Eu o sigo.
— Não se tivermos sido infiltrados! Lola é...
— Pare! — Alex explode. — Você está agindo como uma maluca! Lola
é uma boa pessoa e ela não fez nada além de mostrar gratidão aos meus
pais e a mim. Não vou permitir que você continue falando dela assim.
— Eu não estou inventando isso! — Eu grito, sem me importar com
quem me ouve.
— Ariel... — ele me encara — Eu tenho sido seu amigo e gostaria de
manter essa amizade intacta. Mas nós dois sabemos que... algo aconteceu
quando aqueles caçadores pegaram você.
Eu não posso acreditar que ele está associando a isso. Um nó se forma
na minha garganta e luto contra as lágrimas enquanto ele continua a
falar.
— Houve incidentes no passado em que você se comportou de
maneira errática e não te culpo pelo que eles fizeram, mas você precisa
começar a assumir a responsabilidade por essas explosões.
— Não importa o que você sinta por Lola, — ele continua, — você
precisa se lembrar de que está falando sobre um membro de uma Matilha
Real.
— Conspirar contra alguém de tal posição é considerado traição,
Ariel.
— Eu preciso que você pare agora, antes de dizer algo que você não
pode retirar.
— Eu...
Ele acha que estou mentindo por ciúme ou louca pelo que os
caçadores fizeram comigo, e honestamente não sei o que é pior.
Não há mais nada a dizer aqui. Eu apenas aceno com a cabeça e me
afasto.
Depois de ser repreendida pelo General Dave por não ter me
apresentado para o serviço de escolta, fico do lado de fora da festa de
Maria pronta para fazer a segurança.
Um pequeno conjunto de cordas toca em um palco em um pátio
cercado por barreiras.
Pelo menos posso fazer o meu melhor para manter a vigilância,
certificando-me de que posso eliminar qualquer grande evento que Lola
tenha planejado.
Minha loba caminha no fundo da minha mente pronta para atacar.
— Ariel. — Eu ouço a doce voz de Helena. Eu me viro e ela me puxa
para um abraço. — É tão bom te ver!
Eu a abraço de volta e engulo um soluço. Eu tinha esquecido como era
bom ter alguém ao meu lado.
— Escute. — eu digo enquanto me afasto. — Mantenha Dom por
perto esta noite, ok?
— Há algum problema? — Um lampejo de preocupação cruza seu
rosto.
— Não sei ainda, — eu digo. — Não quero preocupá-la, mas estou
com um mau pressentimento. Fique perto de Dom e se houver algum
problema, prometa que vai pegá-lo e dar o fora daqui, ok?
— Ariel, você está me assustando, — ela diz.
Por favor, não pense que estou louca. Por favor, não pense que estou louca.
— O que você acha que é? — Helena pergunta. — Tipo, algo com os
selvagens?
— Talvez, — eu digo. — Alex não acredita em mim.
— Alex parece um pouco... distraído, — diz Helena, inclinando a
cabeça na direção de Lola. — Ela está aqui desde a cerimônia?
Eu simplesmente aceno.
— Ah, Ari, eu sinto muito — — Helena começa.
— Não se preocupe comigo, — eu digo. — Sério, não estou tentando
incitar nada, mas...
— Eu não confio nela, — Helena deixa escapar.
Graças à Deusa!
— Tá falando sério?! — Quase não consigo acreditar no que acabei de
ouvi-la dizer, em parte porque me acostumei a não acreditar, mas
também porque Helena gosta de todo mundo!
— Algo parece estranho... meio... falso, e não quero dizer isso apenas
como uma espécie de vadia mesquinha.
Eu poderia beijar Helena agora. Achei que ia enlouquecer sozinha,
mas ela vê. Por que Alex não?
— Não posso provar nada, — digo finalmente em um tom abafado, —
e não sei exatamente o que é, mas ela está tramando algo e acho que está
usando Alex para conseguir isso.
— Ari! — Dom se intromete e me dá um abraço de urso. Quando ele
finalmente me liberta, ele olha para Helena. — Você já perguntou a ela?
— Me perguntar o quê? — Eu alterno olhares entre os dois.
— Bem, com toda a situação dos selvagens, Helena e eu temos
conversado sobre a maneira mais segura de fazer as coisas agora que
estou de volta aos negócios como Beta, — diz ele, olhando para mim.
— Ela vai assumir muitas responsabilidades novas, — continua ele, —
que envolvem estar sob os olhos do público...
— E eu disse a Dom que não queria um guarda pessoal, — Helena
interrompe. — Seria muito estranho.
— Mas então chegamos a um acordo. — Dom continua. — Se
pudéssemos convencer uma amiga que também é uma guerreira da
matilha a apenas, você sabe, sair com ela e ficar de olho nas coisas
quando ela deixar o palácio...
Ambos olham diretamente para mim.
— Vocês dois estão me pedindo para ser a guarda real de Helena?
— Sim, — diz Helena, sorrindo. — Se você quiser o cargo, é claro.
— Eu ficaria honrada, — eu digo, sorrindo de volta.
— Excelente! — Dom coloca o braço em volta de Helena. — Vou falar
com Dave sobre isso amanhã para transferi-la.
Outros casais e grupos estavam caminhando para o pátio e era hora de
eu começar a inspecionar as bolsas.
— Vamos deixar você voltar ao trabalho, — Dom diz. — Obrigado por
isso, Ari. Significa muito. Mesmo. — Ele sorri enquanto entram na festa.
Já se passaram horas e não há nenhum sinal de qualquer atividade de
selvagens. Ninguém sente cheiro de nada nas fronteiras.
Parece tranquilo.
Talvez muito tranquilo.
Eu ouço aplausos dentro do pátio e espreito ao redor das barreiras
para ver Alex tomando um lugar no pequeno palco na frente dos
músicos.
— Senhoras e senhores. — Alex diz com um tom um pouco
desconectado, — Eu quero agradecer a vocês por comparecerem esta
noite. Eu gostaria de dar as boas-vindas ao nosso Príncipe e Princesa Beta
de volta à matilha.
Eu ouço mais aplausos enquanto Dom e Helena acenam para a
multidão.
— E agora que tenho meu Beta de volta aqui comigo, gostaria de
aproveitar esta oportunidade para apresentar uma nova integrante da
nossa matilha. — Ele estende a mão. — Lola, pode se juntar a mim, por
favor?
Minha respiração fica presa na garganta enquanto Lola desliza até o
palco como se tivesse nascido para estar na frente de uma multidão.
Alex sorri, mas o sorriso não condiz com seus olhos. Há algo oco por
trás disso.
Helena se vira e encontra meus olhos com os dela.
Isso é pena na expressão dela? Não... apenas amizade.
— Lola, — diz Alex, — ter você aqui foi um prazer.
Helena revira os olhos e eu mal consigo conter uma risadinha. Gosto
desse lado de Helena.
— Você se comporta com equilíbrio, modéstia e devoção, — continua
Alex.
O que ele...
— Então, Lola, — Alex puxa um colar com a maior pedra da lua que
eu já vi.
Alex... não...
— Eu te peço aqui, na frente da Matilha Real...
Não, não, não!
— Você aceita ser meu par e minha Luna?
Tudo se torna um borrão.
Helena e Dom trocam olhares chocados, então seus olhos disparam
em minha direção.
Acho que vou vomitar.
Saio do pátio e sento-me na grama atrás das barreiras.
Aplausos estrondosos explodem no que eu só posso presumir que foi
o sim de Lola.
Meu coração parece que foi espremido até se desmaterializar. De
repente, não consigo respirar em minhas roupas. Eu tiro minha jaqueta
de couro e cambaleio em direção à floresta.
Eu preciso me transformar. Preciso correr. Preciso estar em qualquer
lugar menos aqui.
Capítulo 24
O PENSAMENTO POSITIVO
ARIEL

Enquanto subo os degraus da suíte real de Helena e Dom, não tenho


certeza se me sinto menos chocada agora do que há uma semana,
quando Alex pediu a Lola para ser seu par.
Desde então, ela ficou no palácio para planejar a cerimônia, que será
em três meses, no verão.
Bastante tempo para uma visita de uma semana.
Com o café de um comércio local na mão, eu empurro a cerimônia
para fora da minha mente e bato na porta do quarto de Dom e Helena.
Helena responde, parecendo cansada.
— Ei, — eu digo, sorrindo, — parece que você precisa disso. — Eu
entrego a ela um dos copos de papel. — Café com leite desnatado.
— Obrigada, Ari. — Ela toma um gole e o coloca na mesa de centro.
— Então, por onde devemos começar? — Eu digo, olhando por toda a
decoração masculina da sala.
Helena está planejando redecorar para atender aos gostos de ambos e
me pediu ajuda.
— Por favor! — Eu ouço Dom antes que ele passe pela porta. — Não
leve minha luz de cerveja! — Eu rio ao vê-lo segurando uma placa de
neon da cerveja Silver Moon.
— Dom, — diz Helena enquanto vai até ele. — Não em nosso quarto.
Nós dois moramos aqui agora e quero sentir que este lugar é meu
também.
— Por que você não coloca na sala de sinuca? — Eu pergunto.
— Boa ideia! — Ela diz com um sorriso cansado enquanto faz um
gesto para mim.
Aparentemente bem com o acordo, Dom dá um beijo em Helena
antes de descer para o trabalho, segurando a placa de neon.
À medida que folheamos algumas revistas de decoração para casa,
nossa conversa continua voltando aos eventos da semana passada.
— Foi tão... do nada! — Helena diz. — E você percebeu como, não sei,
tudo era sem emoção?
Eu apenas aceno. Algo definitivamente parecia estranho com a forma
como Alex agiu durante a coisa toda.
Como se ele estivesse fazendo algo que lhe disseram para fazer...
Ou talvez seja apenas meu pensamento positivo.
— Minha preocupação é com Lola, — eu digo categoricamente. — Eu
sei que ela está usando ele, mas Alex não vai me ouvir sem provas
concretas.
— Tudo sobre ela simplesmente exala desonestidade, — diz Helena.
— Eu disse a Dom sobre meus sentimentos por ela e ele também não
parece adorar a ideia de Alex estar com ela. Mas você conhece Dom...
— Beta leal até o fim, — eu digo, balançando a cabeça.
— Sim, — diz Helena. — Ele enche o saco de Alex, mas não desafia
nenhuma decisão importante.
— Eu só queria poder pegá-la em flagrante novamente. Mas desde o
ataque do selvagem, não estive a menos de quinze metros dela.
— Bem... talvez você não precise.
— Você está dizendo que... estaria disposta a fazer um pouco de...
espionagem? — Eu levanto minhas sobrancelhas.
— Eu já sou forçada a ficar perto dela para negócios da matilha, —
Helena diz, sorrindo maliciosamente. — Maria está pressionando para
que sejamos amigas. Por que não usar isso para o bem?
Sinto uma pontada de culpa por pedir isso a Helena.
Ela tem sido uma amiga verdadeira e, mesmo no pouco tempo que
nos conhecemos, sinto-me quase tão próxima dela quanto de Amy.
— Talvez você não devesse, — eu digo. — Eu odiaria correr qualquer
risco. Não sei o que faria se você fosse colocada em perigo.
— Que perigo? — ela insiste. — Vou sair com ela do jeito que Maria
deseja, e se acontecer de eu ver ou ouvir algo que não devo, então que
seja.
— Tenha cuidado, — eu digo. — Ainda não sei do que ela é capaz.
Helena revira os olhos e se levanta para pegar algumas amostras de
cores da mesa lateral.
Um flash de... algo cruza seu rosto e de repente ela parece muito
pálida.
— Você está bem? — Eu pergunto.
— Sim... eu só acho que... — Ela cobre a boca e corre para o banheiro.
Eu a ouço vomitando no banheiro, seguido por uma descarga.
— Helena? — Eu digo na porta. — Você está bem?
— Sim, estou me sentindo indisposta nos últimos dias.
— Indisposta como?
Ela abre a porta e entra. Ela realmente parece exausta.
— Apenas cansada, — ela diz. — E um pouco enjoada de vez em
quando.
— Helena. Você já parou para pensar que...
Os lobisomens podem detectar a gravidez mais cedo do que os
humanos e nossas gestações duram apenas quatro meses.
Se Helena concebesse em sua lua de mel, ela estaria com duas ou três
semanas agora.
— Sim, — ela diz olhando para baixo. — Tenho adiado a ida ao
médico.
Com isso, obrigo Helena a marcar uma consulta. Felizmente, o
médico da matilha pode vê-la imediatamente — uma das vantagens de
ser a Princesa Beta.
Deixando Dom com sua luz de cerveja, entramos em um dos carros do
palácio e nos dirigimos ao consultório médico.

Seguro a mão de Helena enquanto ela agita ansiosamente as pernas


na mesa de exame.
— E se eu estiver e Dom enlouquecer?
— Dom não enlouquece, — eu digo, sorrindo. — Ele perde
completamente a cabeça.
Helena solta uma risada. — Nós acabamos de nos encontrar. E se for
muito cedo? E se as coisas mudarem entre nós porque não tivemos
tempo suficiente para ser um casal?
Antes que eu possa responder, o médico entra na sala de exames.
— Princesa Beta, — diz ele, sorrindo, — Eu tenho seus resultados.
— E?
— Parabéns. Você está com duas semanas e meia. Vamos marcar uma
ultrassonografia com seu par na próxima semana, certo?
E assim a vida de Helena está se movendo para um novo caminho.
Primeiro como par e agora como mãe.
Ela parece eufórica... e nervosa. — Minha Deusa! Como vou contar ao
Dom?
— Estou grávida! — Helena grita para Dom, que está descendo os
degraus do palácio com Alex.
Eu abaixo a caixa com os resultados do teste que embrulhamos como
um presente para dar a ele como uma surpresa.
Tanto esforço pra nada...
Eu rio de sua explosão enquanto tento não olhar para Alex.
— Você está... o que... — Dom parece que está prestes a desmaiar por
um segundo.
Ele então desce correndo o resto da escada e abraça Helena.
Carrego um sorriso no rosto, mas não posso deixar de pensar em meu
próprio par destinado.
Um novo pai, e não é comigo.
Nunca pensei muito sobre ter filhotes até que me deparei com a dura
realidade de que isso pode não acontecer comigo. Não se eu não escolher
um par.
E eu honestamente não consigo ver isso acontecendo tão cedo,
especialmente desde que...
Eu olho para Alex. Nossos olhos se encontram antes que eu tenha a
chance de desviar o olhar.
— Parabéns, pessoal, — ele diz, puxando seus olhos para longe de
mim.
— Eu vou, hum... Vou dar a vocês um espaço para conversar, — eu
digo enquanto me dirijo para minha moto.
Estou tentada a olhar para trás, para Alex, mas resisto ao impulso.

No fim de semana seguinte. Maria propõe um almoço para


comemorar as boas notícias do casal Beta.
Estou agonizando por não haver álcool neste evento. Mas se Helena
não pode beber, por que todos os outros poderiam beber em sua
celebração?
Em vez disso, encho meu rosto com sanduíches e macarons.
Começo a me afastar da mesa quando vejo Lola e Alex caminhando de
mãos dadas nas proximidades.
— Ariel, — diz Lola com um sorriso falso. — É tão bom ver que você é
capaz de se divertir fora do dever de guarda.
Alex não diz uma palavra e não dou a ela a satisfação de uma réplica.
Acabei de mastigar uma coisa de pepino com cream cheese.
— E essa cor em você... tão bonita! — ela diz, referindo-se ao vestido
trapézio cor de girassol que estou usando.
— É tão bom que você possa sair do estilo de vida difícil de vez em
quando, — ela continua, — deve ser difícil se sentir como uma mulher de
verdade com todo esse treinamento que eles te colocaram.
— Na verdade, — eu digo, — me sinto mais eu mesma em uma luta do
que de salto.
Ela dá unia risada falsa. — Parece que sim. — Ela aponta para as botas
de combate que estou usando com meu vestido. — Eu gostaria de poder
ser mais assim... dá menos trabalho. Mas acho que no fundo sou apenas
uma princesa.
— Você realmente é algo. — eu digo antes de me virar para ir embora.
Antes que eu possa ir muito longe, eu a ouço dizer: — Mal posso
esperar para ter filhotes. Você pode imaginar como o nosso será lindo,
Alex?
Não dê a essa vadia a satisfação de olhar para trás.
Mas eu volto de qualquer maneira. Alex tem uma expressão
desconfortável no rosto.
— Eu... eu vou dizer olá para o futuro pai, — ele diz antes de dar um
beijo rápido na bochecha de Lola. — Bom te ver, Ariel.
— Alfa. — Eu dou um aceno de falso respeitoso enquanto ele passa.
Seu idiota de merda.
— Eu sei que isso não deve ser fácil para você, — Lola interrompe
depois que Alex nos deixa.
Eu rolo meus olhos. — O que?
— Só de ver todos esses casais felizes... — Lola dá um sorriso tortuoso.
— Seus amigos prontos para ter filhotes.
— E você, — ela continua, — presa no mesmo lugar que estava antes
de ser banida de sua própria matilha. Deve ser muito difícil.
— O que quer que você esteja fazendo, Lola, não sou cega — digo em
um tom calmo, mal olhando no rosto dela.
— O que você quer dizer? — ela pergunta, tentando parecer inocente.
— Você sabe exatamente o que quero dizer. Além das lentes roxas,
você nunca volta para sua própria matilha. Alex não deveria ter
conhecido seus pais a essa altura?
— Meu pai está muito doente agora, se você quer saber!
Eu encolho os ombros. — Você não tem guarda real em casa. Não há
damas à espera. Você nem mesmo tem dinheiro suficiente para fazer suas
compras. Não é assim que a maioria da realeza conduz as coisas.
— E como você saberia? — Estou definitivamente entrando em sua
mente. — Você pode estar protegendo a Princesa Beta, mas você não é
nada além de uma plebeia!
— E você tem um estranho grupo de amigos, — eu digo com
confiança.
— O que... do que você está falando?
— Eu estava perto da fronteira algumas semanas atrás e flagrei você
conversando com alguém. Farejei um selvagem na mesma área. Não é o
lugar mais seguro para uma princesa da linha Alfa ter uma conversa.
— O que você... acha que ouviu?
— O suficiente, — eu digo, sorrindo.
— Aí está a nossa futura Luna! — Maria interrompe, com Alex
seguindo atrás dela.
Lola imediatamente corre para Alex, que coloca o braço em volta dela.
— Alex, — diz Lola, — tenho pensado muito sobre isso e realmente
prefiro uma cerimônia na primavera.
— Oh, uh... — Alex diz, — não sobrou muito da primavera.
— Eu sei, — Lola lamenta, — mas é minha estação favorita e, bem, eu
vi como a cerimônia de Dominic e Helena foi linda no curto espaço de
tempo que eles tiveram para planejar. Não poderíamos adiantar apenas
alguns meses?
— Parece ótimo, — diz Maria. — Por que não mudamos as coisas para
o segundo sábado de junho.
O que...
— Isso é em duas semanas! — Alex diz. — Quer dizer, não sei se
podemos...
— Deixe que Lola e eu nos preocupemos com todo o planejamento, —
diz Maria.
Lola grita de alegria. — Isto será muito divertido!
Merda! Estou ficando sem tempo!
Capítulo 25
A FÚRIA
ALEX

Enquanto caminho pelo corredor até o quarto de Lola, minha


pulsação dispara.
Tudo aconteceu tão rápido esta tarde e eu mal consegui dizer uma
palavra antes de Lola e minha mãe tomarem a decisão de adiantar a
cerimônia de acasalamento.
Pedi a ela para ser minha Luna para o bem da matilha, mas passamos
de três meses para duas semanas e agora, por algum motivo, estou me
sentindo inquieto.
Eu bato suavemente em sua porta. — Lola? É Alex.
— Só um minuto! — Ela parece quase frenética e eu a ouço abrindo e
fechando as gavetas da cômoda enquanto espero do lado de fora.
Ela nunca vai a lugar nenhum sem uma cara cheia de maquiagem,
cabelo feito e vestido perfeito para a ocasião.
Embora ela sempre esteja linda e bem arrumada, espero que ela não
ache que precisa fazer tudo isso toda vez que me vê.
Finalmente, sua porta se abre. Ela está usando uma camisola azul que
deixa pouco à imaginação.
Eu engulo em seco e tento não deixar meus olhos vagarem até seu
decote.
Nós apenas nos beijamos até agora e ela disse que quer manter as
coisas assim até a noite da nossa cerimônia.
— Alex, — diz ela, sorrindo para mim, — que surpresa agradável. Por
favor, entre.
Eu entro em sua suíte e sento no sofá. — Podemos conversar? Sobre a
cerimônia? — Eu pergunto.
— Claro. — Ela se aproxima e se senta ao meu lado.
— Ouça, estou começando a pensar que talvez as coisas estejam indo
muito rápido... — Eu começo.
— Você não precisa se preocupar com nada, — ela ronrona. — Sua
mãe tem um planejador de cerimônia maravilhoso e, entre nós três, vai
ser lindo!
— Não é apenas o planejamento, Lola, — eu digo, sem saber quais
serão minhas próximas palavras. — É que... Teríamos três meses para
tentar nos conhecer melhor antes de dar esse salto. E agora, com tudo
em apenas duas semanas...
— Alex, — ela pega meu queixo em suas mãos — Eu entendo
perfeitamente.
Ela fica de joelhos e rasteja para se sentar no meu colo. Me sinto
excitado e espero que ela não perceba.
Ela coloca os braços em volta dos meus ombros e olha profundamente
nos meus olhos. Ela se parece tanto com a Liv... Eu não consigo fazer
com que minha mente pare de lembra-la.
Liv e eu quando éramos filhotes, brincando nos balanços.
Olhando nos olhos de Liv em seu aniversário de dezoito anos, o momento
em que percebemos que éramos pares.
Deitado ao lado de Liv na minha cama na primeira noite em que fizemos
amor.
Liv caminhando pelo corredor com seu pai, vestida de branco.
— Eu não quero te apressar em nada. Espero que não esteja pensando
isso, — diz ela.
— Estou tão animado para começar nossa vida juntos como um casal.
Achei que teríamos o resto de nossas vidas para nos conhecer e não
queria esperar mais do que o necessário.
Eu aceno com a cabeça olhando para os olhos roxos de Liv — quero
dizer, os olhos roxos de Lola.
— Então, duas semanas? — Ela parece tão esperançosa. Tão doce.
— Duas semanas, — eu concordo com um sorriso.
— Oh, Alex! Obrigada! — Ela envolve seus braços em volta de mim
antes de dar um beijo em meus lábios.
— Eu só quero que você seja feliz, — ela diz enquanto se afasta. —
Esta será a cerimônia de acasalamento mais linda que alguém já viu.
Helena: MDS! Acabei de ouvir a coisa mais absurda do mundo!

Ariel: ??

Helena: Lola! Nós a pegamos!

Helena: Mas ela está grudada em mim como cola.

Helena: Preciso voltar, mas depois conversamos!

Ariel: Cuidado. Te vejo esta tarde.


Eu ando atrás de Maria, Lola e Helena ao longo da fronteira da
propriedade do palácio. Agora faltam seis dias para a cerimônia e Lola
insiste em uma recepção ao ar livre.
Nenhum dos pátios é grande o suficiente, então nós com certeza
precisamos encontrar o melhor local na propriedade para isso.
Não importa se cabem mil pessoas dentro do salão de baile do palácio.
Não. Tem que ser lá fora.
Lola fala monotonamente com Maria sobre todos os pequenos
detalhes que fazem o que ela acredita ser a cerimônia ideal para uma
Rainha Luna.
Helena olha para mim enquanto eu assumo a retaguarda.
Estou oficialmente exercendo o serviço de guarda agora, e já que
estamos em uma propriedade do palácio, estou sozinha.
Não é o suficiente, se você me perguntar, devido ao aumento de
rastros de selvagens, mas quem sou eu para dizer? Sou apenas uma
plebeia.
Fico de olho em qualquer coisa estranha enquanto ouço vagamente
Lola falando sobre todas as maneiras de dobrar um guardanapo.
Mas eu noto algo diferente sobre Lola hoje.
Ela parece estar procurando por algo, seus olhos percorrendo a
floresta.
O que você está tramando, sua vadia sorrateira?
Enquanto isso, Helena está claramente tentando se afastar da Mãe
Luna e da futura Rainha Luna, e ela não está sendo tão sutil.
Tento fazer um gesto para que ela continue olhando para frente.
Conversamos depois. Este não é o momento.
Mas não tenho certeza se ela entendeu a dica.
Helena é um monte de coisas maravilhosas, mas furtiva e tática não
são palavras que eu usaria para descrevê-la.
— O que você acha deste lugar? — Lola pergunta a Maria quando ela
para bem na orla da floresta.
— Bem, é definitivamente espaçoso o suficiente, — diz Maria, — mas
eu me preocupo por estar tão perto da floresta...
Ela pode não gostar de mim, mas Maria não é burra. Isso eu admito.
Neste momento, estamos perto da floresta oeste. Um dos últimos
lugares onde os selvagens foram farejados.
As orelhas de minha loba se levantam e ela fica atenta. Eu paro em
meu caminho para ver se consigo detectar novos cheiros ou sons.
Todos os lobisomens têm olfato e audição apurados, mas os guerreiros
treinam para aprimorar seus sentidos ainda mais para detectar
problemas.
Os cabelos da minha nuca se arrepiam. Tem alguém por perto.
Helena finalmente se aproxima.
— Ei, — ela diz em um tom abafado. — Então... eu estava perto do
quarto de Lola esta manhã e a ouvi falando ao telefone — Shh! — Eu
levanto minha mão para ouvir e então o cheiro me atinge. Selvagens.
Pelo menos três.
— Todo mundo, atrás de mim! — Eu grito.
Helena obedece imediatamente. Lola apenas revira os olhos.
— O que foi? — Maria é inteligente o suficiente para se preocupar.
— Estou sentindo o cheiro de selvagens. — Eu fungo novamente. —
Talvez a meia milha de distância.
— Tem certeza? Eu não farejo nada, — Maria continua.
— Com todo o respeito, senhora — eu a olho nos olhos — é para isso
que fui treinada. Vou solicitar reforços.
Ariel: Solicitando reforços

Ariel: Farejo selvagens na fronteira oeste do palácio.

Ariel: Estou com a rainha luna, princesa beta e futura luna aqui
Dave: Estou a caminho com o esquadrão. Tire a realeza do local o
mais rápido possível Ariel: Entendido

— Precisamos voltar para o palácio, — eu digo. Maria relutantemente


começa a se aproximar, mas Lola fica parada, mandando mensagens de
texto em seu celular. — Lola! Agora!
— Você não me diz o que fazer, guarda! — ela ataca.
— Ariel está apenas nos protegendo! — Helena responde por cima do
meu ombro. — Por favor, vamos ouvi-la e voltar para o palácio.
Lola cruza os braços. — Só quero medir esta área para as cadeiras. Só
vai demorar alguns — Acho que devemos ouvi-la, querida, — diz Maria
com força suficiente para lembrar Lola de que ela ainda não é Rainha.
Se Maria não me odiasse, eu poderia começar a gostar dela.
Lola zomba, mas deixa Maria pegar sua mão para levá-la ao resto do
grupo.
O cheiro de selvagens está ficando mais potente a cada segundo. É
forte o suficiente para que todas sintam o cheiro agora.
— Precisamos nos apressar.
Assim que as palavras saem da minha boca, um enorme selvagem
meio transformado com pelo preto salta pelos arbustos, seguido por
outros dois totalmente transformados, um marrom e um cinza.
— Voltem! — Eu grito para as outras mulheres quando começo a me
transformar.
Assim que minha loba rasga minhas roupas e eu caio de quatro, os
selvagens totalmente transformados acertam Helena, tirando seus pés do
chão, e começam a atacar suas pernas.
Ela solta um grito de gelar a espinha enquanto eu avanço em direção a
eles, derrubando-os um por um.
O lobo marrom atinge minha perna traseira com os dentes enquanto
o lobo cinza tenta me imobilizar, cravando seus caninos na minha nuca.
Soltei um grito de dor, mas não deixei que isso me impedisse de lutar
contra esses dois desgraçados sarnentos.
Assim que eu chuto o lobo marrom no rosto para liberar minha perna,
eu olho para Helena.
De pé sobre ela, o selvagem negro, ainda parcialmente transformado,
agora segura uma faca sobre seu corpo ensanguentado.
Não!
Tento ficar de pé, mas o selvagem cinza bate minha cabeça no chão
enquanto o marrom recupera o equilíbrio e mastiga minha coxa.
O selvagem negro levanta a faca acima da cabeça e, quase como se eu
estivesse assistindo em câmera lenta, uivo ao vê-lo brutalmente
esfaquear a barriga de Helena.
Uma, duas, três vezes enquanto Helena grita de horror e dor.
— O bebê! Meu bebê! — Helena chora enquanto segura seu abdômen.
Observando minha amiga sangrar no chão, sinto algo assumindo o
controle de novo.
Não sou eu.
Ou minha loba.
E fúria.
Fúria pura, vermelha, quente e desenfreada. E estou com medo de que
isso me faça matar de novo.
Capítulo 26
O EXÍLIO
ARIEL

À medida que a fúria toma conta, sinto minha força crescendo sob
esses dois selvagens me imobilizando.
Os olhos de Helena encontram os meus e começam a perder o foco.
Eu vejo um fio de sangue escapar de sua boca.
Furiosa, eu me forço para cima, empurrando o lobo cinza das minhas
costas e arrancando minha perna da boca do lobo marrom.
Eu quase não sinto a dor da minha carne sendo rasgada.
Eu pulo sobre o selvagem negro de pé sobre Helena e nós caímos no
chão, arrancando a faca de suas garras.
Quase instantaneamente sou puxada para longe dele pelos outros dois
lobos, e o selvagem negro corre de volta para a floresta.
Com o canto do olho, vejo Maria e Lola amontoadas, completamente
intocadas pelos selvagens, e percebo que...
O alvo deles era Helena.
Em vez de perseguir o covarde que fugiu, me coloquei entre as outras
mulheres e esses dois lobos restantes.
Eu mostro meus caninos para dizer a eles para recuar, ignorando o
desejo de ir direto em suas gargantas.
Eu sei que se eu matasse novamente, minha capacidade de cura seria
inútil, e Helena precisa da minha ajuda.
Enquanto eu penso em como enfrentar esses dois lobos, vejo um
esquadrão correndo em nossa direção — oito ao todo — transformado
em lobo e liderado pelo General Dave, com Dom ao seu lado.
Três lobos guerreiros enfrentam cada um dos selvagens, enquanto
Dave protege a realeza.
Dom me afasta da luta, mas eu quero voltar. Eu estalo de volta para
ele com meus dentes, mas eu paro quando o lobo de Dom se conecta ao
meu.
— Ariel! Eu sinto algo... Helena... ela está...
Mas então ele a vê atrás de Maria e Lola.
— Helena! — Dom corre para seu par, que agora está inconsciente e
sangrando incontrolavelmente.
Ele se transforma de volta em humano e, ainda nu, apoia a cabeça dela
em seus braços.
— Helena, — ele repete em voz alta enquanto uma lágrima desliza por
sua bochecha.
Eu olho brevemente para trás para os outros guerreiros e vejo que eles
estão literalmente rasgando os dois selvagens restantes em pedaços.
Voltando minha atenção para o que está na minha frente, vejo Maria
chorando por Helena, tentando estancar o sangramento.
Lola observa. Sem emoção.
Estou pronta para atacar. Eu sei que Lola está por trás disso. Eu
poderia matar essa vadia.
— Ariel.
Eu ouço a voz de Selene, mas parece distante.
— Saia da escuridão e volte, Ariel. Helena precisa de você.
Eu me forço a deixar a fúria de lado e me transformo de volta para a
minha forma humana.
A essa altura, os outros guerreiros neutralizaram os dois selvagens
restantes, que jazem sem vida, com seus corpos lentamente se
transformando na forma humana.
Maria coloca seu xale sobre Dom, que está chorando por Helena.
Como se a própria Selene estivesse controlando meu corpo, vou até
Helena.
O sangue escapa das minhas feridas de mordida, mas não ligo para
meus próprios ferimentos enquanto me agacho, ainda nua, e tiro as mãos
de Dom e Maria dela.
— O que você... — Maria começa, mas para quando eu coloco minhas
mãos sobre as feridas de faca no abdômen de Helena.
Por favor, funcione. Por favor. Eu faço qualquer coisa...
Meus próprios ferimentos derramam mais sangue e uma dor
lancinante cobre meu corpo enquanto eu foco todas as minhas
habilidades de cura em minha amiga quase morta e em seu filho ainda
não nascido.
Não consigo mais segurar e solto um grito alto de dor ardente
enquanto meus ferimentos começam a sangrar e necrosar.
Aqueles que olham ao meu redor se encontram em choque quando as
feridas de Helena começam a fechar. Primeiro o abdômen e depois as
pernas.
Graças à Deusa!
Desta vez, me sinto enfraquecida, mas não tanto quanto estava
quando ajudei aquela garotinha.
Eu caio de costas na grama em uma posição sentada. Percebo agora
que ainda estou completamente nua e o General Dave me cobre com sua
jaqueta de uniforme.
Dom olha para mim com lágrimas nos olhos e simplesmente
pergunta: — Ari, como?
— Um dia eu te conto, — é tudo que eu digo antes que os outros
guerreiros socorrem Helena e Dom os segue.
— Ela... vai ficar... — Maria começa.
— Não sei, — é tudo o que posso dizer.
— E o bebê?
— Espero que sim.

Sento-me na sala de espera do hospital depois de horas sem ouvir


nada.
Finalmente concentrei minha atenção em meus próprios ferimentos
no caminho até aqui e eles estão completamente curados neste
momento.
Dom está andando de um lado para o outro desde que chegamos.
Lola foi direto para seu quarto após o ataque dos selvagens — grande
surpresa — e Maria ficou por um tempo, mas saiu para contar ao General
Dave exatamente o que aconteceu.
Eu estou fervendo. Repassei os acontecimentos do dia inúmeras vezes
em minha cabeça e cheguei a uma conclusão.
Lola foi responsável por este ataque.
Ela sabia que Helena havia descoberto algo e providenciou para que
ela fosse silenciada.
O que também significa que ela está inegavelmente envolvida com os
selvagens de alguma forma.
Mexer comigo é uma coisa. Mas mexer com alguém que eu amo pode
fazer as coisas ficarem bem feias.
É isso, Lola. E guerra.
Alex entra na sala de espera.
— Dom! Ela está...
— Não sabemos ainda, — Dom diz. Nunca o vi tão instável.
— Onde diabos você estava? — Pergunto a Alex, mas já sei a resposta.
— Lola... estava realmente chateada — — ele começa.
— Pelo amor da Deusa, Alex! Lola causou isso! — Eu o interrompo.
— Do que você está falando?
— Lola providenciou a morte de Helena!
Dom para de andar e olha para mim boquiaberto. — Por que ela faria
isso?
— Ela não fez isso, Dom, — diz Alex. — Isto é ridículo!
— Helena me mandou uma mensagem esta manhã dizendo que
descobriu algo sobre Lola, — eu explico. — Algo grande.
— Antes que ela pudesse me dizer o que era, Lola mandou uma
mensagem para seus amigos selvagens com a nossa localização e eles
atacaram.
— Você acha que Lola está de alguma forma conectada com os
selvagens? — As sobrancelhas de Dom se franzem.
— Por isso eles sabiam onde estaríamos. Maria e Lola nem foram
tocadas. Eles foram direto para Helena.
— Bem, eles foram direto para Lola na última vez que houve um
ataque, — argumenta Alex.
— Porque ela queria um show! — Minha voz está aumentando. — Ela
estava mandando mensagens logo antes do último ataque, também. Isso
não é uma coincidência.
— Ariel, todos mandam mensagens! O tempo todo! — Alex retruca. —
Quantas vezes por dia você olha para o seu celular?!
— Cadê a mensagem de texto? — Dom interrompe.
— Quê?
— A mensagem que Helena enviou a Ariel. O celular dela foi
destruído no local. — Dom olha para mim. — Mas você ainda a teria no
seu celular, certo?
Meu celular. Merda!
Realizei a transformação tão rápido que rasguei minhas roupas... meu
celular deve ter caído no chão.
O mais provável é que Lola o tenha.
— Não está comigo, — eu digo, derrotada.
— Claro que não. — Alex levanta as mãos em frustração.
— Alex! Por favor, apenas me escute! Não posso provar agora, mas
quando Helena estiver melhor...
— Beta. — O médico acaba de passar pela porta.
Dom afunda em uma cadeira. — Ela está... Eles estão...
— Tanto a mãe quanto o filho estão vivos, — diz o médico.
— Ah, graças a Deusa! — Dom deixa escapar um soluço audível. — Eu
posso vê-la?
— Preciso dizer que, — o médico continua, — Helena está em coma.
Não temos certeza de quanto tempo.
— Pode levar horas ou semanas. Mas é um milagre que ela e a criança
tenham chegado tão longe.
— O que quer que você tenha feito, Ariel... — o médico olha para mim
— — você os salvou.
Não posso negar o que aconteceu.
Dom me viu e Maria também, junto com Dave e o esquadrão de
guerreiros. Até aquela vadia da Lola me viu curar Helena.
Meu dom não é mais um segredo.
— Posso te levar ao quarto dela, Beta, — o médico diz e acompanha
Dominic através da pesada porta branca.
— Você curou Helena e o bebê? — Alex pergunta quando estamos
sozinhos.
Eu encolho os ombros. — Eles estão vivos. Isso é tudo que importa.
Ele acena com a cabeça e, por um momento, parece quase como se
houvesse uma verdadeira apreciação em seus olhos.
— Alex, — eu digo, tentando uma nova tática. — Se você não vai
acreditar em mim, você pelo menos pode considerar adiar a cerimônia de
acasalamento até que...
— É disso que se trata realmente? A cerimônia de acasalamento? — ele
interrompe.
— Droga, Alex! Estou tentando te alertar há semanas! — Estou
perdendo a paciência novamente.
— Não acho que Lola seja quem diz ser e acho que ela está usando
você! — Eu continuo: — Não sei para quê, mas honestamente acho que
você está em perigo!
— E eu estou perguntando a você que prova você tem! — Alex retruca.
— Ariel, esta é apenas sua palavra contra a de Lola e ela não tem sido
nada além de gentil e doce...
— Para você! Alex, ela só quer o título de Rainha Luna! Ela está
envolvida com os selvagens e Helena chegou muito perto da verdade! É
por isso que ela está naquela cama de hospital agora.
— Estou cansado disso — Quando ele se vira, coloco minha mão em
seu ombro.
— Ela pode se parecer com Olivia, Alex, mas ela é não é Olivia!
— Você é paranoica, Ariel. — Alex empurra minha mão. — Paranoica
e ciumenta.
— Alex! Lola está tentando se parecer com a Olivia! Eu a vi sem uma
de suas lentes — Pare de dizer o nome dela! — Alex grita. — Eu sei que
ela não é meu falecido par! Eu sei disso!
— Por que você não me escuta?!
— Porque você é louca!
Ouvi-lo dizer as palavras queima como prata.
— Eu me senti tão mal por você, Ariel, — diz ele. — Por tudo o que
você passou. Por tudo o que foi feito com você.
— Mas em algum lugar ao longo do caminho você se tornou
exatamente o que temia.
— Você está destruída. E eu não posso ter você perto da minha Luna.
— O que você quer dizer? — Estou lutando contra as lágrimas com
tudo que tenho.
— Quero dizer que você não pode mais ficar aqui. — Sua voz luta para
permanecer calma. — Eu não quero fazer um grande espetáculo sobre
isso do jeito que sua última matilha fez, mas você precisa ir embora. Para
sempre.
Capítulo 27
LEVANTANDO O VÉU
ALEX

Meu coração dispara enquanto estou ao lado do altar da Capela da


Matilha Real, observando meu futuro par caminhar em minha direção.
Não acredito que isso está acontecendo...
Ela usa um vestido de noiva branco deslumbrante com uma longa cauda,
e seu rosto está completamente coberto por um véu branco.
Tudo está estranhamente silencioso, exceto pelo clique alto de seus saltos
no ladrilho de pedra.
Quando ela se aproxima, sinto vontade de correr, mas meus pés parecem
grudados no chão.
Quando ela chega até mim, eu levanto o véu e vejo Lola olhando para
mim.
— Você está pronto? — ela pergunta, agarrando minhas mãos com força.
Abro a boca, mas nenhuma palavra sai.
Seus olhos roxos brilham de raiva antes de mudar para azul, depois verde,
depois âmbar e, finalmente, um amarelo profundo.
A cor dos girassóis.
Eu abro meus olhos e me levanto.
Meu coração está disparado e um suor frio gela minha pele.
De novo?
E o mesmo sonho que tive todas as noites nos últimos seis dias, mas
desta vez foi ainda mais vívido e intenso.
E eu sei o motivo...
Hoje é o dia.
Minha cerimônia de acasalamento.
Eu deveria estar animado, mas só de pensar nisso meu estômago dói.
Nos últimos dias, toda vez que Lola tentava discutir detalhes da
cerimônia, minha mente dispersava...
Não consigo parar de pensar em Ariel — o que eu disse a ela, como a
expulsei da matilha.
Eu continuo observando a floresta, me perguntando onde ela está...
Se ela está segura...
Ainda me importo com Ariel: acima de tudo, gostaria de poder me
desculpar...
Mas eu tinha que tomar uma decisão e estava sob pressão suficiente
sem o ciúme e as acusações insanas de Ariel contra Lola.
É para o bem da matilha, eu me lembro.
Mas não posso deixar de pensar se fiz a escolha errada...
Fazendo o meu melhor para afastar esses pensamentos, puxo os
lençóis e saio da cama.
Tenho um grande dia pela frente.
ARIEL

Eu sigo pela floresta, com folhas e galhos esmagando sob meus pés.
Já se passaram seis dias desde que Alex me exilou.
E hoje é sua cerimônia de acasalamento.
O que significa que estou ficando sem tempo.
Tenho rastreado esses selvagens desde que saí e estou definitivamente
chegando mais perto. Eu sei que seja lá o que Lola tenha na manga, eles
estão envolvidos.
Mesmo não estando mais na matilha, ainda sou uma guerreira.
E farei tudo o que puder para impedi-la de se tornar o par de Alex.
É claro que cheguei a imaginar um futuro com Alex...
Mas não se trata de ciúme. A própria Deusa da Lua me instruiu a
protegê-lo.
Eu paro em um riacho para reabastecer meu cantil. A água reflete meu
cabelo castanho bagunçado; meu rosto, roupas e mãos manchadas de
sangue e sujeira.
Eu também pareço um selvagem...
Terminei as refeições de Steve e Louisa há dois dias. Tenho caçado
minha comida desde então. Eu como cru em minha forma de lobo para
evitar expor minha posição com a fumaça de fogo, e uso o sangue para
mascarar meu cheiro.
O vento sopra do leste e o cheiro de selvagens preenche meu nariz.
Também sinto cheiro de fumaça e carne queimada... Eles estão
cozinhando algo no fogo.
Eu sorrio. Eles não vão me farejar chegando.
Eu silenciosamente subo nas folhas de um carvalho gigante, olhando
para os quatro selvagens esfarrapados sentados ao redor de uma fogueira.
Finalmente.
Eu encontrei esses desgraçados.
Claramente o líder é um homem grande, com cabelo preto brilhante e
rosto cheio de cicatrizes. Meu sangue ferve quando o reconheço.
Foi ele quem esfaqueou Helena.
— Zeke, — diz um jovem loiro. — Quando recebemos o sinal?
Prazer em conhecê-lo, Zeke.
— Quando a cerimônia começar. Fique tranquilo, — diz Zeke.
— Nós perdemos a maior parte de nossa matilha, cara! — disse o loiro.
— Como diabos eu deveria ficar tranquilo?
— Não se preocupe, — diz outro, que parece estar sem um olho. —
Esses membros da realeza não sabem lutar merda nenhuma.
— Lola disse que a cerimônia começa ao pôr do sol e a recepção é nos
jardins próximos à floresta, — diz Zeke. — O palácio estará vazio quando
entrarmos furtivamente.
Maldita Lola! Eu sabia!
— Nós nos escondemos e esperamos até que tudo esteja quieto
durante a noite, então cortamos suas gargantas enquanto eles dormem.
— Zeke sorri. — Primeiro o Rei, depois seu Beta, depois os bons e velhos
papai e mamãe.
— E quanto ao par do Beta? — pergunta o selvagem número quatro,
um cara mais velho com cabelos grisalhos.
Zeke ri. — Fácil. Essa cadela ainda está em coma. Iremos ao hospital
na saída.
O vermelho se arrasta em minha visão.
Eu quero arrancar a garganta desse cachorro.
Respire, Ariel.
Não mate a única prova do plano de Lola.
Para me acalmar, me esforço para ouvir o resto.
— E você realmente acha que pode simplesmente entrar e as pessoas
irão aceitá-lo como seu novo Alfa? — O caolho pergunta.
— Lola será a única sobrevivente da família real, — diz Zeke. — Ela e
eu assumiremos como o novo Rei e Rainha. Simples.
— Sim, simples, — retruca o vovô. — Lola está fazendo todo o
trabalho. Talvez você devesse colocar seu par no comando desta matilha
também.
Lola é seu PAR?!?
De repente, tudo se encaixou — desde os ataques dos selvagens até o
esfaqueamento de Helena.
Eu tinha razão. Era Lola o tempo todo.
Aquela vadia maligna.
Minha pulsação começa a acelerar e sinto a escuridão se aproximando
novamente.
Algo dentro de mim quer pular e destruir esses selvagens imundos.
Parece que não tenho escolha a não ser deixá-lo sair.
Então as palavras da Deusa da Lua ecoam em minha cabeça...
— Você sempre tem uma escolha, Ariel.
Cure ou machuque.
Com todas as minhas forças, afasto a escuridão e o vermelho começa a
desaparecer.
Com as mãos tremendo, luto para impedir que minhas garras se
estendam.
Eu respiro fundo.
Não.
Faremos isso do meu jeito.
Eu salto da árvore diretamente nas costas do Loiro, deixando-o
inconsciente.
Um a menos.
— Merda! — O Caolho rosna, agarrando sua faca enquanto o Vovô se
levanta e tenta me pegar por trás.
Ele me puxa para uma chave de braço, mas eu jogo minha cabeça para
trás com força em seu nariz.
Ele tropeça para trás, cobrindo o rosto enquanto o Caolho ataca com
sua lâmina. Eu chuto de sua mão e dou-lhe um empurrão com a palma
da mão no rosto antes de chutar suas bolas.
Ele grita e cai no chão.
Dois.
Vovô se abaixa para pegar a faca, mas eu a chuto para longe, em
seguida, o coloco em uma chave de braço enquanto ele luta para se
levantar.
Ele lentamente perde a consciência e eu o deixo cair na grama.
Três.
Eu me viro para onde Zeke estava parado, esperando que o maior dos
selvagens viesse me atacar.
Mas ele desapareceu.
Alex
E como no sonho...
Só que pior.
Tento ignorar a sensação de mal estar no estômago enquanto estou
no altar observando Lola caminhar em minha direção.
A capela está preenchida com toda a matilha. Vejo minha mãe
sorrindo da primeira fila.
Tenho que admitir. Lola está linda em seu vestido de cerimônia longo
e cheio, com o colar de pedra da lua reluzente em volta do pescoço.
Por baixo do véu, ela sorri para mim enquanto dá seus passos finais
em direção ao altar, e eu tento sorrir de volta.
Dom, presidindo a cerimônia, está entre nós parecendo cansado e
triste. Com Helena ainda em coma, é uma surpresa que ele esteja aqui.
Como sempre, o Beta eternamente leal.
Ele abre o texto antigo e começa a recitar nossas passagens sagradas, e
eu olho nos olhos roxos de Lola.
Os olhos que vou olhar para o resto da minha vida.
Mas agora eles parecem diferentes dos olhos roxos brilhantes de
Olivia.
Eles parecem planos e vazios... como se não houvesse nada atrás deles.
ARIEL

Eu corro pela floresta, seguindo o cheiro de Zeke.


Ele é minha única chance de provar o plano de Lola.
Ele pode ser grande, mas eu sou rápida e o alcanço rapidamente.
— Zeke! — Eu grito quando o vejo correndo para uma clareira. Ele se
vira, parcialmente transformado, assim como no dia em que esfaqueou
Helena.
Ele está segurando a mesma faca que usou para esfaqueá-la.
Estou ofegante e meus músculos doem.
Mas não vou descansar até acabar com isso.
Eu ataco Zeke, e ele levanta sua faca, se preparando para me atacar.
Mas no último segundo, eu caio e deslizo em suas pernas.
Ele grunhe de dor enquanto tomba, e eu me levanto e bato em sua
mão segurando a faca, arrancando-a de seus dedos e colocando meu
joelho em sua garganta para mantê-lo preso.
— Que porra você quer? — ele sibila.
— Você, — eu digo enquanto arranco um pedaço de sua camisa.
Ele se debate, depois parece reconhecer que, com um pouco mais de
pressão, posso esmagar sua traqueia.
Eu puxo suas mãos na frente dele, prendendo-as firmemente com o
tecido de sua camisa. Uma vez que ele está amarrado, pego a faca e
coloco em sua garganta.
Eu olho além de seu rosto derrotado para o sol poente.
Merda.
A cerimônia de Alex já começou.
Estou ficando sem tempo.
— Vamos, — eu digo.
— Para onde estamos indo? — Ele me encara.
— Nós vamos invadir um casamento.
ALEX

— Agora é a hora do Rei Alfa proferir seus votos... — Dom diz.


Lola pega minhas mãos, sorrindo para mim.
Abro a boca para falar, mas não sai nada.
Eu sei as palavras de cor.
— Eu... Alexander...
Eu olho para o rosto de Lola.
Parece tudo errado.
— Hum... eu, Alexander... lhe aceito...
Eu... eu não posso fazer isso.
Os olhos de Lola se arregalam em antecipação. Sua cabeça se inclina
para frente como se me encorajasse a continuar.
— Eu, Alexander. lhe aceito como meu...
BAM!
A porta da capela se abre e todos os convidados viram suas cabeças,
ofegando com a visão diante deles.
Quase não reconheço a mulher parada na porta. Ela parece selvagem,
coberta de sujeira e sangue seco.
Mas poderia reconhecer aqueles olhos amarelos em qualquer lugar.
— Membros da Matilha Real, — Ariel grita com voz rouca, — este é o
selvagem que esfaqueou a Princesa Beta Helena!
Atrás dela, ela arrasta um selvagem espancado para a capela e o força a
se ajoelhar.
Eu desço do altar, para longe de Lola.
Que diabos...
— Esta mulher, — ela continua, apontando com uma faca para Lola,
— enganou você. Este selvagem é o par dela!
Todos arfam e se voltam para Lola, que está fervendo de raiva.
— Lola, o que está acontecendo? — Eu pergunto.
— Guardas! — ela grita. — Tirem essa selvagem imunda, louca e
mentirosa do meu casamento! — Dave e os guerreiros da matilha se
movem rapidamente em direção a Ariel, com as mãos em suas anuas.
Eu volto para Ariel, meu coração afundando. Ela se parece quase com
a primeira vez que a conheci.
No entanto, de alguma forma, ainda extremamente linda.
— Diga a eles, — Ariel grita com o selvagem em suas mãos. — Conte a
eles o seu plano!
O selvagem encara Lola, mas mantém a boca fechada.
Ariel olha para mim, seus olhos implorando enquanto os guerreiros se
aproximam e a desesperança cai sobre seu rosto.
ARIEL

Parece que Alex quer me ajudar, mas com Lola gritando e os


guerreiros marchando em minha direção, é tarde demais.
Tenho que protegê-lo. mesmo que isso signifique deixar o monstro
dentro de mim vencer.
De repente, permito que minha raiva reprimida preencha meu corpo.
Eu normalmente tentaria afastar a escuridão — a raiva e o medo que
os caçadores me deram.
A Deusa da Lua disse que sempre tenho escolha.
Mas agora, tenho que escolher a escuridão.
Em uma fração de segundo, pego minha faca e corto a garganta de
Zeke.
As pessoas na multidão soltaram gritos, mas nenhum tão alto quanto
o de Lola.
— Não! — ela grita, caindo no chão com a dor excruciante do
rompimento de seu vínculo com seu par.
— Zeke! Sua vadia, você matou meu par!
A escuridão me consome, e o cheiro do sangue de Zeke derramando
no chão se torna inebriante.
Sinto que estou querendo me transformar, matar mais, extravasar.
Mas não quero prejudicar nenhum inocente.
Eu tenho que ir. AGORA.
Eu largo a faca e viro, correndo o mais rápido que posso em direção à
floresta.
Longe da Matilha Real.
Para sempre.
Capítulo 28
A JUSTIÇA
ARIEL

Eu ouço Alex gritando meu nome, correndo atrás de mim, mas eu


continuo correndo.
Não sei para onde vou.
Só sei que preciso sair antes que o monstro dentro de mim cause mais
danos.
Lola finalmente foi exposta por quem ela realmente é, mas estou
longe de estar aliviada. Não consigo aceitar o fato de que tive de matar
para fazer isso.
A raiva e a escuridão continuam a me consumir. Eu não consigo
controlar isso.
Minha visão ainda está nublada em vermelho, e minhas botas estão
cobertas com o sangue de Zeke, tornando meus pés inseguros.
Quando estou quase chegando à orla da floresta, escorrego em uma
pedra e bato no chão com um baque.
Quando consigo retomar minha orientação, Alex está parado perto de
mim, completamente sem fôlego.
— Você está bem? — ele pergunta, dando-me a mão para me ajudar a
levantar.
Mas eu rejeito isso e me coloco de pé novamente.
Minha cabeça está latejando e não posso suportar olhar para ele.
Para sua própria segurança, preciso ir embora. Mas o pensamento de
nunca mais ver Alex me impede de virar e correr para a floresta.
Posso sentir sua mão em meu braço. Eu quero derreter.
— Ariel, espere... Podemos conversar?
— Não há mais nada para eu dizer.
— Bem, então eu posso falar?
— O que você gostaria de dizer, Vossa Majestade? — Eu rosno.
Eu finalmente deixei meus olhos pousarem nos dele por um
momento, e eu tremo quando minha visão fica ainda mais vermelha.
ALEX

Eu aperto o braço de Ariel com mais força e, finalmente, dou uma boa
olhada nela.
Há anéis escuros ao redor de seus olhos, sua pele está mais pálida do
que o normal, seu cabelo castanho está coberto de sujeira e sangue e seu
olhar está cheio de nojo.
Nojo de mim.
Eu não a culpo. Eu fiz isso com ela. E tudo culpa minha.
— Eu sinto muito, — eu deixo escapar. — Por não acreditar em você.
Por machucar você. Por deixar você de lado. Você merece muito melhor.
Eu desprezei o que eu tinha com você...
— O que você tinha comigo? — ela interrompe. — O que você tinha?
Fico em silêncio por um momento, incapaz de dizer o que sei ser
verdade.
Finalmente, eu crio coragem. — Eu tinha meu par perfeito.
Quando digo essas palavras, seus olhos se afastam de mim
novamente. — Você teve seu par perfeito antes de me conhecer. Você a
perdeu.
— Por um tempo, sim, — eu respondo. — Mas eu te encontrei e... eu
sabia que você era a pessoa certa para mim. Em todos os sentidos. Eu
estava com muito medo para admitir.
— Você não está pronto para seguir em frente, — diz ela. — Seu
relacionamento com Lola provou isso. Mesmo quando tentei te mostrar
a verdade, você me chamou de mentirosa, Alex! Você me baniu!
— Eu estava errado, — eu grito, com vergonha de tudo que fiz para
estragar tudo. — Eu sinto muito.
— Você disse que eu estava louca.
— Eu fui um idiota...
— E você estava certo, — ela diz. — Há algo muito errado comigo. E
eu não consigo controlar isso.
— Isso não é verdade, — eu alcanço seu rosto, mas ela se afasta. —
Talvez sua loba...
— Não é minha loba! — A voz de Ariel aumenta. — É outra coisa. E
quando assume o controle, as pessoas morrem. É o que matou Zeke. Eu
não posso confiar em mim mesma.
— Bem, eu confio em você. Como eu deveria ter confiado o tempo
todo.
Minhas palavras não trazem nenhum conforto para ela. Ela está
tremendo. Ela parece que poderia explodir a qualquer segundo.
ARIEL

Está acontecendo de novo.


Minhas garras estão ameaçando sair.
Alex tenta me segurar, mas eu me afasto.
— Por favor, — ele diz, seus olhos verdes brilhando com paixão. — Por
favor, não vá.
Seus ombros sobem e descem enquanto ele tenta desacelerar sua
respiração, e eu não posso deixar de lembrar a maneira como seu peito
tonificado e abdômen pareciam sem sua camisa.
Pare com isso, Ariel.
Corra.
Tento domar meus pensamentos, mas meu corpo não escuta. Meus
pés não se movem.
Seus lábios estão a poucos centímetros dos meus, posso sentir o calor
de sua respiração na minha pele.
— Esta é a sua casa, Ariel. Esta é a sua matilha.
— Eu não tenho uma matilha. — Eu olho para baixo. Não posso olhar
em seus olhos sem trair meus sentimentos.
— Então fica por mim? — Ele me puxa para ele, seus braços
envolvendo minha cintura.
— Você não está pronto para ficar comigo. E eu não posso... eu não
posso ficar com você.
— Existe alguma parte de você que ainda sente alguma coisa por mim?
— ele pergunta.
— Não é sobre como eu me sinto, — eu digo.
— Deveria ser.
— Alex...
Ele se inclina e me beija, seus lábios firmes, mas gentis. Eu não posso
deixar de retribuir o beijo, abrindo lentamente minha boca para permitir
sua língua.
Minhas mãos viajam até seu peito firme, deixando um rastro de
sangue em sua camisa branca translúcida.
Eu o beijo com mais força, desesperadamente, e ele me segura com
mais força, puxando-me para ele até que nossos corpos estejam colados
um no outro.
Eu sinto seu membro crescendo sob sua calça jeans e meu corpo
responde, enviando ondas de excitação entre minhas pernas.
Mas meu prazer dura pouco quando as imagens de meu assassinato
mais recente começam a penetrar em meus pensamentos, e novamente
sinto minhas garras tentando rasgar as pontas dos meus dedos.
— Alex, — eu repito. — Alex, pare! — Eu o empurro para longe de
mim. Ele parece decepcionado. Machucado.
— Diga-me o que posso fazer por você. Qualquer coisa. Eu faço
qualquer coisa.
— Deixe-me ir, — eu digo enquanto as lágrimas descem pelo meu
rosto.
— Qualquer coisa menos isso. — Seus olhos parecem tristes. — Já
cometi esse erro antes.
— Você precisa fazer isso. — Eu dou um passo para trás. — Eu sinto
muito.
Com isso, me viro e corro para a floresta.
Eu luto contra a vontade de olhar para trás o máximo que puder, mas
antes de desaparecer de vista, olho por cima do ombro para ver Alex me
olhando tristemente enquanto o deixo para trás.
Minha loba choraminga e uma pontada de arrependimento me atinge
de repente. Mas não posso deixar minhas emoções ditarem minhas
ações. Eu me forço a seguir em frente.
Sufocando meus próprios soluços, corro mais fundo na floresta. Não
sei por quanto tempo vou continuar, as árvores passando por mim em
flashes verdes.
Eu corro até meu coração parecer que está prestes a sair do meu peito,
finalmente parando em uma clareira.
Eu desabo no chão e deixo minha tristeza consumir meu corpo.
Minha loba anda com fervor, implorando para ser solta.
Tento empurrá-la para trás, mas de repente sinto meus ossos se
contorcendo e o calor familiar subindo pela minha espinha enquanto o
pelo branco de minha loba brota da minha pele.
Mais uma vez, não estou no controle. Eu começo a entrar em pânico,
tentando afastar a transformação, mas não adianta. Eu rasgo minhas
roupas e minha loba assume completamente.
Tento retomar o controle, voltar à minha forma humana, mas não
consigo.
Minha loba corre mais para dentro da floresta. Ela está arrasada com
mais um par em potencial perdido, e não consigo falar com ela.
Eu corro de quatro, e minha consciência humana afunda cada vez
mais fluido na mente da minha loba.
Sinto que estou gritando para ser libertada, tentando mais uma vez
voltar.
Estou completamente presa na forma de lobo.
E não há como voltar atrás.
ALEX

Estou na frente do meu conselho na sala do tribunal do palácio. O


julgamento da traição de Lola começará em breve.
Ontem foi nossa ridícula cerimônia de acasalamento. Hoje vou
decidir seu destino.
Se eu apenas tivesse confiado em Ariel.
Eu procuro ansiosamente por aqueles olhos de girassol, mas eles não
estão em lugar nenhum. Steve e Louisa estão sentados no fundo. Eu
tinha esperança de que ela pudesse ter voltado durante a noite. Mas se
ela estivesse aqui, provavelmente estaria com eles.
Eu olho para Dom e ele me dá um aceno para indicar que estamos
prontos para começar.
— Guardas, — eu chamo. — Traga a prisioneira.
As portas do tribunal se abrem e Lola é escoltada para dentro. Seus
olhos castanhos me encaram por trás de um olhar implacável.
Os guardas param Lola a um metro de mim. Ela olha para mim com
um quase sorriso malicioso no rosto.
— Esta selvagem foi condenada por trazer outros selvagens para o
território da Matilha Real. — eu começo, — conspirar o assassinato de
membros da Matilha Real e tentar assassinar membros da Matilha Real,
representando uma traição real contra a coroa e a raça dos lobisomens.
— A pena para esses atos é a morte. Há alguma objeção? — Eu olho
para a multidão e vejo Helena na primeira fila, segurando sua barriga. Ela
acordou do coma esta manhã e disse a Dom tudo o que descobrira sobre
Lola.
Tudo o que Ariel disse nas últimas semanas era verdade. Helena ouviu
Lola conversando sobre seus planos com Zeke ao telefone, e Lola fez os
selvagens tentarem silenciá-la.
Se não fosse pelos poderes de cura de Ariel, Helena e o bebê estariam
mortos.
— Sem objeções da matilha, — eu digo, encarando Lola. — Selvagem,
você tem alguma palavra final antes de sua sentença ser executada?
Um sorriso ameaçador cruza seu rosto e ela solta uma risada. — Foi
muito fácil manipular todos vocês, Alex. Bastou algumas lentes de
contato roxas e palavras doces. Com a ajuda de sua estúpida mãe, eu
entrei sem problemas.
— Você quase matou meu par e meu filho, — Dom diz friamente.
— Eu não toquei em um fio de cabelo na cabeça preciosa daquela
vadia, — Lola rebate a Dom. — Se você quer culpar alguém, culpe o seu
Alfa.
Lola se vira para mim. — Você escolheu a palavra de um completo
estranho em vez de seus amigos e guerreiros mais confiáveis, — continua
Lola. — E você me chama de traidora?
Meu coração aperta com o pensamento de tudo o que Ariel passou
simplesmente tentando manter a matilha segura.
Me manter seguro.
Quando Lola vê a dor em meus olhos, ela começa a rir. Eu não
aguento mais olhar para ela.
— Só mais uma coisa. — eu digo, e caminho até Lola. Tiro o colar de
pedra da lua do pescoço dela e coloco no bolso.
Dou sinal verde para Dom e ele a força a se ajoelhar.
Mesmo com a morte se aproximando, Lola continua a rir loucamente.
Dom rapidamente quebra o pescoço de Lola e o silêncio domina,
enquanto ela cai no chão. Dave remove seu corpo imediatamente do
local. Um silêncio sombrio cai sobre a sala.
Enquanto as pessoas se enfileiram para sair, minha mente ainda está
fixada apenas em Ariel.
Após o julgamento, perambulo sozinho até a margem do rio, na orla
do território da matilha.
Eu chamo o nome de Ariel algumas vezes, esperando que ela ainda
possa estar por perto.
Na esperança de que ela pudesse ouvir meus gritos e vir correndo para
mim.
Mas não recebo resposta.
Então, sento-me em uma pedra e sussurro outro nome: — Olivia.
Eu puxo o colar do meu bolso e, enquanto eu olho para ele, meus
olhos se enchem de lágrimas.
— Olivia, — eu digo novamente. — Lamento que você não esteja aqui
comigo. Lamento não podermos passar nossas vidas juntos. E eu
realmente sinto muito por ter que deixar você ir.
Eu pressiono meus lábios na pedra fria e a beijo suavemente. — Eu
vou te amar para sempre. Eternamente. Mas é hora de seguir em frente.
Com isso, deixo a corrente deslizar por entre meus dedos e ouço um
respingo suave quando o colar cai no rio e flutua para longe.
Capítulo 29
DESTRUÍDA
ALEX

Já se passaram vinte e quatro horas desde que Ariel foi embora e, no


tempo em que ela se foi, só tive certeza de uma coisa. Eu preciso
encontrá-la.
Se ela precisar de tempo, vou dar-lhe tempo, mas tenho que vê-la para
ter certeza de que ela está bem. Ela não está segura sozinha agora.
Uma vez que eu cuido de meus deveres de matilha, caminho até a área
da floresta por onde Ariel saiu.
Ando pela floresta, seguindo qualquer traço de seu aroma restante de
mel e amora.
Estou a vários quilômetros de profundidade na vastidão da floresta
quando vejo suas roupas no chão. Elas estão rasgadas em pedaços.
Ela deve ter se transformado enquanto ainda estava vestida.
Estou surpreso ao ouvir um rosnado atrás de mim. Viro-me para ver
um lindo lobo branco com suaves listras cinzentas em sua pelagem
emergir de uma caverna.
— Ariel?
Estendo a mão para ela, mas ela rosna e range os dentes. Seu cheiro
me atinge com força, mas mesmo se eu não pudesse sentir o cheiro de
nada, eu reconheceria aqueles olhos amarelos em qualquer lugar.
Esta é definitivamente a loba de Ariel.
— Ariel... sou só eu.
Ela solta um rosnado profundo e avança em mim. Eu tropeço, dando
um passo para trás. Não há nenhum sinal de reconhecimento em seus
olhos. Ela é selvagem, como se sua loba tivesse ficado brutal.
— Ok... — Eu coloquei minhas mãos para cima, dando um passo para
trás. — Tudo bem. Eu não vou te machucar.
Eu mostro respeito por sua loba, dando-lhe espaço.
Mas não vou desistir.
Resolvo dar a ela um tempo e voltar amanhã.
No segundo dia em que tentei falar com Ariel, trouxe algo que achei
que poderia ajudar a persuadi-la.
Quando coloco uma perna de cordeiro na frente da caverna, ela estica
o nariz, mas late para que eu recue. Eu concordo e me afasto vários
metros.
A alimentação normalmente significa um vínculo especial entre os
lobos. Se eu mostrar a sua loba que posso cuidar dela, talvez ela me deixe
chegar mais perto.
Ela cheira a carne, mas a deixa intacta enquanto volta para dentro da
caverna.
Talvez ela se comunique com meu lobo.
Eu me livro das minhas roupas e então me transformo, caindo de
quatro. Cautelosamente, pego a carne na boca e dou um passo em
direção à caverna.
Eu paro no meu caminho quando a ouço rosnar.
— Ariel — Meu lobo tenta se conectar com o dela, mas não recebo
resposta.
Ela está muito perdida.
Eu me aproximo. — Ariel, sou eu, Alex. Você vai falar comigo?
Ela me golpeia com a pata, as garras totalmente estendidas em meu
rosto.
Ela por pouco não acerta meu olho enquanto eu rapidamente recuo
vários passos, deixando cair a perna de cordeiro do lado de fora da
entrada. Estou a cerca de quatro metros de distância neste momento, e
me deito para mostrar a ela que estou me mantendo longe.
Fico aqui, no mesmo lugar, até o sol se por.
E então, durante toda a noite.
Na manhã seguinte, deixo Ariel para retomar ao palácio. Mal consigo
prestar atenção em minhas reuniões, ansioso para voltar para a floresta.
No momento em que o relógio marca meio-dia, eu praticamente pulo
da minha cadeira, correndo para visitar Ariel no meu horário de almoço.
Eu me aproximo de sua caverna carregando um flanco de boi. Fico
feliz em ver que ela comeu a perna de cordeiro enquanto eu estava fora.
Deixo sua nova refeição ao lado das sobras. Ela ainda rosna com a minha
presença, então eu recuo.
— Eu estarei de volta esta noite para ver como você está.
E por aí vai.
Dia após dia, eu a visito para deixar comida, e noite após noite eu
durmo do lado de fora da caverna em forma de lobo.
Em uma noite, meu lobo vai caçar e traz sua presa. Quando ela dá sua
primeira mordida, eu me aproximo, mas ela rosna quando me aproximo
da comida.
Meu lobo está ferido por sua recusa em compartilhar. Isso significa
que eu mostrei a ela que podemos sustentá-la, mas ela não está disposta a
nos aceitar.
Com o rabo entre as pernas, literalmente, ando até meu lugar de
costume fora da caverna e me deito enquanto ela come.
Dias depois, eu sigo meu caminho usual na floresta para encontrá-la.
Tivemos progresso.
Quando acordei na manhã seguinte que tinha caçado por ela, abri
meus olhos para encontrar Ariel dormindo fora da caverna. Eu me
levantei e suas orelhas se levantaram quando ela me ouviu.
Olhamos nos olhos um do outro, a menos de um metro e meio de
distância.
Mas então ela se levantou e correu de volta para dentro da caverna.
Devagar.
A noite seguinte começou de forma semelhante. Dei um passo à
frente depois de trazer minha caça para ela, apenas para ouvir um
rosnado leve.
— É meu, — sua voz sussurrou em minha mente.
Ouvindo isso, fiquei muito feliz. Foi a primeira vez que Ariel se
conectou a mim.
Ela pode realmente voltar.
Nas noites seguintes, continuamos a dar pequenos passos juntos.
Primeiro ela começou a me deixar comer suas sobras, então,
eventualmente, eu comi ao lado dela. E a cada vez, adormecíamos cada
vez mais perto um do outro.
Ontem à noite, dormi ao lado dela na caverna.
Agora, quando entro na clareira, vejo Ariel sentada do lado de fora da
caverna, esperando por mim. Ela vê que não tenho comida comigo desta
vez e me esfrega com o nariz.
— Vamos caçar juntos? — Eu me conecto com ela. Ela parece
considerar por um momento antes de me morder e, em seguida, disparar
em frente rapidamente.
Ela para e vira a cabeça para mim, abanando o rabo e soltando um
latido brincalhão. Eu felizmente sigo o sinal dela, e corremos lado a lado
para ir em nossa primeira caçada juntos.
Caminhamos sonolentos de volta para a caverna depois de acabar com
o veado que caçamos. Quando me deito ao lado dela, ela me dá um
tapinha de brincadeira com a pata. Eu a acaricio e, com um suspiro, ela
começa a adormecer.
Por um tempo eu observo enquanto ela dorme antes de colocar minha
cabeça sobre seu ombro.
Se eu tivesse que escolher entre o resto da minha vida de volta com a
matilha e ficar aqui assim com Ariel para sempre, eu escolheria Ariel.
Meu coração está leve e me sinto livre o suficiente para finalmente
admitir o que tenho sentido por Ariel todo esse tempo.
É amor.
Tão forte quanto — mas diferente — do que eu tive com Olivia. Sou
uma pessoa diferente do que era quando Liv estava na minha vida, e meu
lobo também mudou.
Agora, Ariel é tudo que eu quero em um par.
Consolado pelo calor de seu corpo ao lado do meu adormeço,
contente.
ARIEL

Eu acordo deitada de lado, me sentindo mais descansada do que


nunca. Sinto o corpo quente de Alex adormecido atrás de mim. Ontem à
noite nossos lobos caçaram juntos pela primeira vez.
Eu olho para baixo enquanto sinto seu braço deslizar sobre minha
pele e me puxar para mais perto dele.
Minha pele...
Puta merda!
Eu me transformei de volta para minha forma humana; eu olho em
volta para ver que Alex e eu estamos deitados nus juntos.
Eu viro meu corpo em direção a ele, e ele abre os olhos para encontrar
os meus.
— Oi, — ele diz suavemente com um sorriso.
— Oi, — eu respondo.
Ele leva a mão ao meu rosto e acaricia minha bochecha com os dedos.
— Você está bem? — Ele pergunta, trazendo seu rosto para mais perto
do meu.
Eu sinto sua excitação contra o meu abdômen e movo meu corpo para
mais perto para tocá-lo tanto quanto possível.
— Você me trouxe de volta, — eu sussurro antes de beijá-lo nos lábios.
Ele se afasta depois de um momento e olha nos meus olhos
novamente.
— Ariel, — diz ele, — eu sei que te decepcionei, mas se você me deixar,
vou passar o resto da minha vida provando o quanto você significa para
mim.
Eu o beijo novamente em resposta, desta vez rolando nossos corpos
para que ele fique posicionado em cima de mim.
Seus lábios e sua língua percorrem meu pescoço enquanto eu corro
uma de minhas mãos por seu cabelo loiro. Minha outra mão percorre seu
peito musculoso e desce para seu abdômen definido.
Ele move sua boca até meu seio, segurando o outro em sua mão.
Meu sexo se tornou uma poça de umidade. Eu pressiono minha pélvis
contra a dele, fazendo com que seu membro fique ainda mais excitado.
Ele move a mão para baixo e eu solto respirações curtas quando ele
entra em mim com o dedo. Ele pode sentir como estou molhada e
adiciona um segundo dedo enquanto pressiona repetidamente.
Minhas paredes internas se contraem cada vez que ele desliza os
dedos de volta.
— Alex. — eu deixo escapar, respirando pesadamente. — Estou
pronta.
Eu sinto seus dedos saírem de mim e se moverem para seu membro.
Ele esfrega a cabeça contra meus lábios externos antes de deslizar
lentamente para dentro, começando com estocadas curtas e superficiais
enquanto me acostumo com seu tamanho. Quando ele desliza
totalmente para dentro de mim, suspiro e ele faz uma pausa, olhando nos
meus olhos em busca de confirmação.
— Continue. — eu digo.
Ele lentamente se puxa para fora antes de afundar ainda mais em
mim, indo mais fundo a cada estocada, e eu gradualmente começo a me
mover com ele, encontrando seus quadris com meus próprios impulsos
para cima.
Ele massageia meus seios, provocando meus mamilos duros enquanto
ganha velocidade e intensidade.
Meu corpo treine e minha respiração fica presa na garganta quando
começo a atingir meu ápice. Ele entende que estou quase, e, envolvendo
minhas costas, ele levanta nossos quadris mais alto do chão, penetrando
mais fundo e mais forte dentro de mim.
Não fico quieta enquanto meu corpo estremece em êxtase,
arranhando suas costas com minhas unhas e deixando escapar um grito
suave quando chego ao clímax.
Meros segundos depois, ele solta um gemido profundo enquanto se
esvazia dentro de mim.
Juntos, desaceleramos nossos corpos oscilantes até que paramos.
Enquanto nos abraçamos, completamente imóveis, gostaria que
pudéssemos ficar assim para sempre.
Os olhos de Alex encontram os meus novamente enquanto ele
acaricia meu cabelo.
— Ariel, — ele sussurra em meu ouvido. — Gostaria de ser meu par?
Capítulo 30
A CURA
ARIEL

Alex acabou de dizer as cinco palavras que sempre quis ouvir.


Mas quando ele me pediu para ser seu par. percebi que não são as
palavras em si que importam.
E a maneira como são ditas.
E pela voz de Alex e seu olhar, eu finalmente acredito que ele deixou
seu passado de lado e está pronto para ficar comigo.
— Sim, — eu confirmo, e quando a palavra escapa da minha boca, seus
lábios macios colidem com os meus.
— Eu te amo tanto, Ariel, — ele me diz, beijando seu caminho até meu
nariz e em minhas pálpebras tremulantes.
— Eu também te amo, Alex.
É verdade.
Estou apaixonada por este homem.
Acho que o amei à primeira vista. Antes de tudo isso acontecer. Antes
mesmo de saber que ele era Rei.
Minha Deusa...
— Mas espere, — eu digo, de repente empurrando-o de cima de mim.
— Qual é o problema?
— Você é o Rei!
— Sim...
— Então, se eu me tornar seu par, isso me faria...
— Minha Rainha. — ele diz, passando os dedos pelo meu cabelo. —
Minha linda Rainha.
Meu corpo congela quando a realidade daquele fato insano surge pela
primeira vez.
Eu estava tão cega por ele que esqueci de todas as responsabilidades
envolvidas em realmente estar com ele — em ser a Rainha dos
lobisomens.
Puta merda!
O pensamento por si só me assusta demais.
Não sei se consigo...
— Shhhh... — Sua respiração é suave contra o meu ouvido.
Ele deve perceber que minha mente está girando.
— Não se preocupe com nada disso agora. Não precisamos tornar
oficial até que você tenha certeza de que está pronta.
— Mesmo?
— Claro, — ele diz.
— Mas o que todos no reino vão pensar?
— Quem dá a mínima para o que eles pensam? — ele diz. — Tudo o
que importa é eu e você, Ariel. Só eu e você.
Ele me beija suavemente na testa e eu sinto todas as minhas
preocupações sobre o futuro começarem a desaparecer.
DUAS SEMANAS DEPOIS
Os lençóis de seda acariciam minha pele nua enquanto eu me estico,
tentando pegar o calor da luz do sol que espreita pela grande janela
saliente.
Quando estico os braços, por pouco não acerto Alex na cabeça.
Ele ronca baixinho, sua cabeça se fundindo com o travesseiro.
Seu peito musculoso sobe e desce com cada respiração superficial.
Eu não posso deixar de sorrir para mim mesma.
Gosto de acordar ao lado de Alex.
Isso me dá uma sensação de conforto que eu não sentia há... na
verdade... nunca.
Algumas semanas atrás, eu estava feroz e desequilibrada, presa em
minha forma de lobo, incapaz de controlar a dor dentro de mim.
Mas Alex me trouxe de volta do abismo.
De certa forma, ele quem me curou.
Mas, apesar do meu progresso, ainda tenho muitos problemas para
lidar...
Intimidade e afeto não são fáceis para mim.
Não depois de tudo o que aconteceu com os Caçadores.
Portanto, embora goste de acordar ao lado de Alex, não me mudei
para o palácio.
É por isso que eu provavelmente deveria sair daqui antes que ele acordasse!
Eu silenciosamente saio da cama, com cuidado para não o perturbar.
Enquanto eu furtivamente enrolo o lençol em volta do meu corpo nu,
deixo Alex descoberto.
Meus olhos se arregalam com sua rigidez matinal.
Seu membro está me dando uma boa saudação.
Corando, eu rapidamente me afasto e imediatamente bato o dedo do
pé na cabeceira da cama.
— Filho da... — Eu rapidamente coloco minha mão sobre a boca, mas
é tarde demais.
Alex acorda e me lança um sorriso brincalhão enquanto seus olhos
secam meu corpo, apenas vagamente coberto pelo lençol de seda.
— Bom dia para você também, — diz ele, apoiando-se no cotovelo. —
Para onde está fugindo?
— Hum, eu estava prestes a voltar para a casa de Steve e Louisa, — eu
respondo, nervosa. — Eu disse a Louisa que a ajudaria com a...
jardinagem e...
— Ariel..., — diz Alex em tom de censura. — Você saiu antes de eu
acordar quase todas as manhãs desta semana. Seria mesmo tão terrível
ficar para um café ou algo assim?
Eu mordo meu lábio, não querendo fazer disso uma grande coisa.
Claro que é tentador, mas...
— Estou começando a me sentir usado, — diz ele, brincando. — Você
só me quer até de manhã.
— Você sabe que não é isso, — eu digo, caminhando de volta para a
cama. — Você concordou que deveríamos ir devagar.
Alex agarra minha mão e me puxa para perto dele, meu lençol agora
pelo chão.
Enquanto nossos corpos nus se pressionam um contra o outro, meu
coração começa a disparar.
— Eu não tenho nenhum problema em ir devagar com isso, — diz ele,
com seu membro latejando contra a minha perna.
Antes que eu possa me impedir, estou montando em Alex e correndo
os dedos por seu cabelo loiro dourado.
Meus lábios encontram os dele, e a faísca que isso cria percorre
minhas veias.
Eu posso até querer ir devagar, mas meu corpo tem outras ideias.
As mãos de Alex agarram meus quadris enquanto eu começo a girá-
los.
Eu sinto minha loba no fundo da minha mente, me encorajando a me
submeter aos meus desejos.
Afinal, sexo é apenas instinto animal.
Nós já fizemos ontem à noite, então por que não fazemos de novo?
Sem contar que o sexo com Alex não é apenas animalesco...
É muito mais profundo do que isso.
Então, preciso manter os limites que estabeleci.
Não importa o quanto eu queira senti-lo dentro de mim agora...
Quando me afasto dos braços de Alex, ouço minha loba choramingar.
— Está tudo bem? — Alex pergunta, olhando para mim com
preocupação.
— Não é nada que você esteja fazendo de errado. Eu prometo, — eu
digo, segurando sua mão.
Alex sorri para mim com carinho e me dá um beijo na bochecha. —
Não há pressa. A cura leva tempo. Estou aqui para ajudá-la em qualquer
situação que precise de mim.
Meu coração engrandece dez vezes seu tamanho normal quando olho
nos olhos sinceros de Alex.
Graças à Deusa tenho alguém como ele em minha vida.
Corro pelos corredores do palácio, mantendo minha cabeça baixa.
E de conhecimento comum entre os outros guerreiros da matilha que
Alex e eu temos algo.
Mas isso não torna menos estranho quando me veem saindo de seus
aposentos nas primeiras horas da manhã.
Eu sei que alguns deles comentam sobre isso...
E alguns até lançam olhares sombrios na minha direção durante os
exercícios de treinamento.
Mas há uma pessoa em específico que constantemente me enche o
saco com isso.
E quando eu viro a esquina ansiosamente, dou de cara com ele.
— Ora, ora — Dom repreende, me dando um olhar presunçoso. —
Alguém está saindo de fininho. De novo.
Essa pequena troca basicamente se tornou nossa rotina matinal.
— Por favor, não conte a ninguém. Eu não posso lidar com o
escândalo, — eu digo, meu tom pingando sarcasmo.
— O que sua mãe diria? — ele pergunta com indignação fingida.
— Acredite em mim, eu não poderia desapontá-la mais ainda, — eu
respondo meio brincando, mas também... é a triste verdade.
Não falo com minha mãe há meses. Ou minha irmã, inclusive.
— Como está Helena? — Eu pergunto, tentando tirar minha mente da
minha família. — Parece que ela está prestes a explodir. E você também.
Eu cutuco o estômago de Dom, brincando.
— Ei, posso ser pai em breve, mas ainda não estou totalmente com o
corpo de pai de família... estou?
— Só estou dizendo que você pode não querer faltar mais em
nenhuma sessão de treinamento, — respondo com um sorriso.
— Eu fico ofendido com o seu bullying, — ele diz, me olhando de lado.
— Mas, falando sério — Dom coloca o braço em volta do meu ombro
— — Estou feliz em ver você sorrir todas as manhãs. Você e Alex
passaram por muita coisa.
— Obrigada, — eu digo, inclinando-me para ele e suspirando. — As
coisas estão muito boas agora. Eu só não quero estragar tudo.
— Você não vai, — ele responde, dando um aperto encorajador no
meu ombro. — Deixe isso com Alex.
Eu rio enquanto dou uma cotovelada nas costelas dele. — Ei, sem
azarar!
Mas apesar das minhas preocupações...
Pela primeira vez em muito tempo...
Sinto-me genuinamente bem com o que o futuro reserva.
Quando chego na casa de Steve e Louisa, espero o cheiro de bacon
escaldante e ovos frescos, mas, em vez disso, outro cheiro me atinge
quando entro pela porta.
É um cheiro familiar, mas por algum motivo não consigo identificá-lo.
Como um perfume que eu conhecia bem, mas de alguma forma
esqueci...
Eu agarro a borda da mesa, começando a me sentir um pouco tonta.
— Steve! Louisa! Vocês estão aqui? — Eu grito, mas ninguém atende.
Eu tropeço escada acima em direção ao meu quarto enquanto o cheiro
fica mais forte.
A porta do meu quarto está entreaberta e um cheiro estranho está
exalando.
Lentamente, entro em meu quarto.
Eu coloco minha mão sobre minha boca quando vejo um visitante
inesperado sentado na minha cama.
Agora me lembro do cheiro.
Lenha e trevo.
E agora sei por que me esqueci disso.
Meu antigo par destinado.
Xavier.
Sou atingida por uma onda de emoção.
Não sei se devo puxar minhas garras ou chorar.
Mas agora. Xavier não parece o Alfa arrogante que me exilou da
matilha.
Em vez disso, ele parece completamente...
Destruído.
Ele me encara atentamente, com seus olhos suplicando, e meu
coração começa a disparar.
— Ariel... preciso da sua ajuda.
Livro 2

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!


E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
https://t.me/GalateaLivros
Capítulo 1
UM VISITANTE INESPERADO
ARIEL

Meu ex-par destinado está em meu quarto.


Mas.
Que.
Diabos.
Aquele que me rejeitou.
Aquele que quebrou nosso vínculo de acasalamento.
Aquele que me exilou.
Aquele que me disse que nunca mais queria ver meu rosto de novo.
Sim, aquele ex-par destinado.
E ele está pedindo minha ajuda?
Isso é um sonho?
A Deusa da Lua está brincando comigo?
Eu pensei que Xavier tinha partido da minha vida para sempre, mas
agora ele está bem na minha frente, sentado na minha cama.
Eu... eu não sei o que dizer.
— É a verdade.
Estou completamente sem palavras.
— Eu sei que isso deve ser confuso. — Xavier responde
hesitantemente, levantando-se e se aproximando de mim. — Você não
precisa dizer nada... eu só preciso que você me escute.
Não tenho certeza se Xavier merece minha atenção, mas há algo em
seu olhar quebradiço que me obriga a ouvir.
Ele pode ser um grande idiota, mas eu realmente quero ouvir o que
ele tem a dizer.
— Vá em frente, — eu digo, cruzando os braços.
Isso deve ser bom.
— Em primeiro lugar, eu... sinto muito por como tudo aconteceu, —
diz ele, olhando para o chão.
— Você quer dizer me rejeitar e me expulsar da matilha? — Eu
pergunto, apenas no caso de ele ter esquecido o que está assumindo.
— Sim, — ele responde, seus olhos de repente se conectando com os
meus. Ele parece genuinamente arrependido. — Eu... eu estava em uma
posição difícil. E ver você depois de dois anos e descobrir que você era
meu par destinado...
Suas palavras desaparecem enquanto seu olhar cai para o chão
novamente.
— Eu não lidei bem com isso, — ele disse calmamente.
Isso é um verdadeiro eufemismo.
— Por que você está aqui? — Eu pergunto desconfiada. — Você disse
que precisava da minha ajuda, não do meu perdão.
Não posso fingir que não é um pedido de desculpas que não mereço,
mas, neste momento, não quero nada de Xavier.
Estou com Alex e Xavier está com minha irmã.
Só a Deusa sabe o que ela pensa sobre ele estar aqui.
— Eu preciso de sua ajuda, — ele responde, seu tom de repente se
tomando sombrio. — É sobre os Caçadores.
Meu coração quase para.
Eles me fizeram passar por um inferno. Não tenho o menor interesse
em me envolver com qualquer coisa relacionada a eles.
— Xavier, eu não posso reviver o que aconteceu comigo nas mãos
deles. E, francamente, também não consigo reviver o que aconteceu
entre nós. Não sei por que você veio até mim, mas...
— Ariel, eles levaram meu filho — meu único herdeiro...
Um arrepio sobe pela minha espinha e minha loba começa a
choramingar em minha mente.
— Minha Deusa...
— Ele é seu sobrinho... e você conhece os Caçadores melhor do que
ninguém, — diz Xavier, sua voz ficando tensa. — Por favor, você tem que
me ajudar a recuperá-lo.
Eu nunca conheci meu sobrinho...
Estou proibida de voltar para a minha matilha.
Mas ouvir que ele está em perigo...
Sei que não posso simplesmente ignorar isso.
Imediatamente entro no modo guerreira da matilha.
— Conte-me tudo o que aconteceu, — eu digo com firmeza. — Eu
preciso de todos os detalhes.
— Eles o levaram à noite... mataram vários de nossos guardas, — ele
rosna.
— Por que você tem tanta certeza de que foram os Caçadores? — Eu
pergunto.
Xavier enrola a manga e me mostra uma marca de queimadura não
cicatrizada — queimada por prata.
— Eles tinham facas de caça de prata. Tive sorte de não ter piorado.
Mas eu... eu não consegui impedi-los.
Não consigo nem imaginar o que Xavier deve estar sentindo agora...
E Natália também.
Eu não desejaria isso ao meu pior inimigo — e ele basicamente é
Xavier e Natália .
— Você tentou rastreá-los? — Eu pergunto. Deixando minha simpatia
levar o melhor de mim, sento-me ao lado de Xavier.
— Sim. mas perdemos o rastro, — ele responde. — Você tem mais
experiência com eles. Talvez você pudesse farejá-los?
— Mas para isso eu precisaria...
— Voltar para a matilha, — Xavier diz, terminando meu pensamento.
Estou atordoada. Ele está revogando meu exílio?
— Eu nunca deveria ter banido você em primeiro lugar, — ele diz,
colocando a mão no meu ombro. — Por favor... me ajude a encontrar
meu filho.
Meu coração de aço se quebra em minha cabeça.
Estou sendo puxada em várias direções ao mesmo tempo.
E minha loba andando de um lado para o outro também não está
ajudando.
Eu sei! Eu sei! Eu grito com ela internamente.
Tenho que ajudar Xavier, mas...
Como posso voltar a um lugar que guarda tantas lembranças ruins?
Uma coisa é certa...
Eu tenho que contar a Alex.
ALEX

— Alex, tudo o que estou tentando dizer é que você precisa pensar
sobre o seu futuro — mamãe diz com apenas uma pitada de julgamento,
bebendo seu café.
Ela está no meu pé durante todo o café da manhã, insistindo sobre eu
me estabelecer.
Achei que ela já teria aprendido a lição agora.
— Mãe, honestamente, qual é a pressa? Estou feliz agora. Não preciso
entrar em uma cerimônia de acasalamento ou algo assim, — eu respondo
em frustração.
Será que ela realmente se esqueceu de como minha última tentativa de
cerimônia de acasalamento foi desastrosa?
— Há muito tempo para tomar essas decisões, — digo com firmeza. —
E essa é minha palavra final sobre o assunto.
Ela começa a roer as unhas, nervosa. Parece que vai iniciar uma
discussão, mas acaba pensando melhor.
Em vez disso, ela olha pela janela em silêncio, uma tristeza clara em
seus olhos.
Droga, eu não fui tão duro, fui?
Eu olho para papai enquanto ele pega sua caneca de café, trêmulo.
Ele esteve estranhamente quieto durante toda essa conversa.
— O que você acha? — Eu pergunto, esperando que ele fique do meu
lado. Meu pai pode ter passado a maioria dos deveres reais para mim,
mas aos meus olhos, ele ainda é o rei.
Sua opinião significa tudo para mim.
Ele respira fundo e fala devagar:
— Eu... acho que sua mãe só quer o melhor para você. E eu também.
— Vocês dois acham que estou apenas perdendo meu tempo, então? É
isso? — Eu pergunto defensivamente.
Minha mãe me olha hesitante.
— Ariel passou a noite aqui novamente? Eu a vi saindo correndo esta
manhã.
Pronto.
A verdadeira razão pela qual mamãe está tão decidida a me acasalar.
— Você não acha que ela é boa o suficiente... — eu digo em um
rosnado baixo. — Caralho... eu deveria saber que isso era sobre Ariel.
— Veja como você fala com sua mãe. — Papai tenta falar com
autoridade, mas sua voz sai fraca e cansada.
O que está acontecendo com ele ultimamente?
— Alex, querido, você entendeu tudo errado, — mamãe diz, erguendo
as mãos. — Eu ia dizer...
— Que ela não é a pessoa certa para mim? Que ela é apenas uma
humilde guerreira de matilha não digna de um rei? — Eu pergunto,
fervendo.
— Não... O que eu ia dizer — mamãe cruza os braços, parecendo um
pouco aborrecida — — é que da próxima vez você deveria convidá-la para
ficar para o café da manhã.
— Oh..., — eu digo, me sentindo envergonhado.
Tenho me sentido um pouco inseguro ultimamente. Um novo
relacionamento nem sempre é a coisa mais fácil de lidar, e talvez eu
tenha projetado isso em minha mãe...
Talvez eu esteja preocupado demais com isso?
Ela se estica sobre a mesa e coloca sua mão sobre a minha.
— Alex, estou contente que você esteja feliz, e honestamente... Ariel
tem mais do que provado ser digna, — ela diz, me dando um sorriso
genuíno. — Eu só gostaria de ver um pouco mais dela. Eu sei que nem
sempre fui a mais simpática com Ariel, mas, por favor, diga a ela que ela é
bem-vinda a se juntar a nós a qualquer momento.
Eu aceno, grato pelo esforço de minha mãe.
— Olivia é uma boa menina, — papai diz de repente, Virando-se para
mim. — Ela vai ser um par excelente.
— Ariel..., — mamãe diz, nervosa, corrigindo-o. — É Ariel, querido.
— Ah, sim, Ariel, — ele diz em um tom distante. — Claro. Apenas
fugiu da minha cabeça.
Lanço um olhar preocupado para minha mãe, que evita contato visual
comigo.
É perturbador ouvir papai se referir a Ariel pelo nome do meu falecido
par, mas não é só isso que me preocupa.
Ele está mais pálido do que o normal e suas palavras são lentas e
emboladas.
Não tenho certeza do que está acontecendo, mas...
Algo está errado com o papai.

Quando volto para o meu quarto após o café da manhã, fico surpreso
ao encontrar Ariel esperando por mim.
Essa surpresa se transforma em indignação quando ela me conta sobre
seu visitante inesperado.
Agora não consigo pensar em mais nada a não ser andar com raiva de
um lado para o outro em meus aposentos, pronto para me transformar e
destruir algo.
— Ele tem muita coragem de aparecer aqui, — eu rosno. — Depois do
que ele fez com você, eu deveria...
Ariel coloca uma mão reconfortante no meu peito.
— Alex, estou feliz que ele fez o que fez. Xavier quebrar nosso vínculo
me permitiu criar um muito mais forte... com você.
Ela tem um bom argumento.
Ainda assim, o pensamento daquele idiota aparecendo no quarto de
Ariel faz meu sangue ferver.
— Você não pode ir com ele de jeito nenhum! — Eu grito. — Ele está
pedindo a você para se colocar de volta na mira dos Caçadores!
— Alex, é minha família, — argumenta Ariel. — Não posso
simplesmente cruzar os braços e não fazer nada!
— Mas Ariel, você progrediu tanto. Tudo que você passou nas mãos
dos Caçadores... — Eu levemente passo meu polegar em sua bochecha. —
E se você...
— Tiver uma recaída? — ela pergunta, parecendo um pouco magoada.
Eu posso dizer pelo olhar em seus olhos que ela estava pensando isso
também.
— Posso enviar todos os nossos melhores rastreadores. Eu mesmo vou
no seu lugar! — Eu digo, tentando dissuadi-la. — Mas não suporto a ideia
de você por aí com ele.
— Tem que ser eu, — ela responde desamparada.
— Por que? — Eu pergunto, frustrado. — Só porque você foi levada
pelos Caçadores? Eu me recuso a..
— É minha família, — ela diz. — Quer nos damos bem ou não.
— Merda... — Eu rosno baixinho.
Eu sei que ela está certa. É seu dever ir.
Ela envolve seus braços em volta de mim e eu descanso minha cabeça
na dela.
— Eu não quero que você vá, — eu digo baixinho.
— Será apenas por alguns dias, — ela responde, aninhando-se em meu
peito.
Quero dizer a ela para esquecê-los, mas sei que significaria muito para
Ariel se ela pudesse se reconectar com sua mãe e irmã.
Suspirando, eu acaricio levemente seu cabelo.
— Eu não vou conseguir te convencer, né?
— Os Caçadores precisam ser detidos, — ela responde. — E se minha
habilidade de cura pode ajudar...
— Então você deve fazer tudo que puder, — eu digo, dando a ela um
aceno de cabeça. — Entendo. Eu não gosto da ideia, mas entendo.
Eu relutantemente liberto Ariel do meu abraço.
— Só tome cuidado... eu te amo demais para te perder.
— Eu também te amo, — ela responde, se afastando, mas não
quebrando o contato visual.
Quando Ariel sai de meus aposentos, sinto uma sensação de
desespero.
Ela pode não ser meu par destinado, mas ela é tão especial para mim.
Eu sei que Ariel precisa ajudar sua família se ainda houver uma
chance.
Mas é provável que muita dor volte à tona.
E vou me certificar de estar lá para ela quando isso acontecer.
ARIEL

A viagem de volta à Matilha da Lua Crescente é terrivelmente


desconfortável.
Xavier mal disse uma única palavra para mim, nem eu para ele.
Suponho que isso seja natural com ex-pares destinados.
Mas talvez seja melhor ele não falar comigo. O que diabos ele diria a
alguém, que ele literalmente baniu de sua vida?
Sinto uma pontada de tristeza enquanto dirigimos pelas ruas
familiares de minha matilha.
Eu cresci aqui.
Algumas das minhas melhores memórias aconteceram neste lugar.
Mas também algumas das minhas piores...
Tento tirar a nostalgia da minha mente.
Estou aqui para ajudar, não para relembrar.
Xavier para em frente a uma enorme casa à beira do lago. É noite
agora, e o luar pálido brilha na superfície da água.
— Este é o lar ancestral Alfa em que cresci. Onde meu pai foi Alfa
antes de mim, — diz ele, falando pela primeira vez. Há uma profunda
tristeza em seu tom. — É onde meu filho teria sido Alfa depois de mim...
— É onde seu filho será Alfa depois de você, — digo, colocando minha
mão em seu ombro de forma encorajadora.
Ele sorri suavemente por um segundo, mas seu rosto cai quando uma
voz estridente grita de fora do carro.
— Que MERDA é essa!
Quando eu olho para cima, vejo Natália avançando em nossa direção
como um lobo selvagem, puto como o inferno.
Ótimo...
Parece que vou ter mais uma recepção hostil.
Capítulo 2
TERRÍVEIS BOAS-VINDAS
ARIEL

Natália anda pela luxuosa sala de estar como um animal enjaulado aos
berros.
— Como você pôde trazê-la aqui? Depois de tudo o que ela fez! E sem
nem me dizer!?
Nos últimos trinta minutos, ela tem falado furiosamente de mim
como se eu não estivesse na sala com ela.
Infelizmente, não a vejo se acalmando tão cedo.
Meu pai confortavelmente coloca seu braço em volta de mim
enquanto minha mãe evita contato visual comigo.
Ela deve estar tão feliz em me ver quanto Natália.
Xavier parece que está pronto para explodir, mas
surpreendentemente, não é comigo.
Seus ferozes olhos castanhos estão fixos em Natália.
— Eu tinha que fazer alguma coisa! Meu herdeiro foi sequestrado
pelos Caçadores! Quem melhor para rastreá-los do que alguém que sabe
como eles funcionam!?
— Seu herdeiro também é meu filho! — ela rosna. — E cada segundo
que passa sem o pequeno Xavi é um segundo que ele poderia estar... —
Sua voz some, o medo tomando conta de sua raiva por um momento.
Xavi...
É estranho pensar que esta é a primeira vez que ouço o nome do meu
próprio sobrinho.
— É exatamente por isso que fui atrás de Ariel! — Xavier grita. — Ela
pode ajudar!
— Ariel nunca ajuda! — Natália grita, me lançando um olhar
desagradável. — Ela só piora as coisas!
Eu quero interromper, mas parece uma má ideia.
Eu conheço Natália. Ela tem que tirar isso de seu sistema.
— Não podemos confiar nela! — Natália diz, sufocando um soluço de
raiva. — Ela tentou me matar! Ou você se esqueceu disso, Xavier? Ela me
atacou enquanto eu estava grávida!
— Ela estava instintivamente defendendo sua reivindicação de seu par
destinado! — Xavier retrucou.
Merda.
Ele disse aquilo.
O termo — par destinado — provavelmente não é a melhor coisa a se
usar agora.
Parece que Natália acabou de levar um tiro no coração.
— Você... você quebrou o vínculo, — ela gagueja. — Ariel não é seu par
des... Ela não é mais seu par.
— Eu sei disso! — Xavier rosna. — Só estou tentando fazer com que
você veja o quão irracional você está sendo!
— Claro que sou irracional! Acabei de perder meu filho! — ela grita. —
E eu não quero você perto dela!
— Eu sou a porra do Alfa! Você não pode decidir o que eu faço ou com
quem eu ando! — O rugido de Xavier reverbera por toda a sala.
Natália fecha os lábios com força, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
Minha mãe me olha pela primeira vez desde que entrei na sala,
lançando-me um olhar desconfiado. O braço de papai aperta meus
ombros.
Por mais que eu odeie Natália na maioria das vezes, posso entender
sua desconfiança.
Até Alex tem o mesmo medo de Xavier e eu estarmos juntos.
Mesmo que eu não tenha controle sobre isso, eu sou o par destinado
de Xavier.
Ou pelo menos eu era...
Isso é algo que Natália nunca vai perdoar nem esquecer.
E por mais que eu queira...
Eu também não consigo esquecer.
Vendo que a discussão não vai acabar tão cedo, decido me retirar.
Além do meu pai. acho que ninguém percebe quando saio da sala.
Enquanto a gritaria continua, começo a vagar pelos corredores da
impressionante mansão.
Subo a escadaria principal e viro à direita, vendo uma coleção de
pinturas em memória de Alfas.
A vida de Xavier gira em torno da linhagem.
É estranho pensar que se eu nunca tivesse sido levada pelos
Caçadores, minha vida giraria em torno dessa linhagem também.
Eu seria aquela que daria a Xavier um herdeiro.
O pensamento me faz estremecer. Essa não é a vida que eu sempre
quis.
Ao passar por uma porta aberta, paro no meio do caminho.
No meio da sala está um berço.
Este deve ser o quarto de Xavi...
Eu cautelosamente entro e espio dentro do berço vazio.
Está coberto de pequenas marcas de garras e, pendurado acima, está
um móbile com adoráveis lobos de brinquedo de cores diferentes.
Meus olhos ficam turvos e tento lutar contra as lágrimas.
Nunca conheci meu sobrinho, mas ainda me sinto conectada a ele.
Pensando no que os Caçadores querem com ele...
Sinto uma mão de repente pousar no meu ombro.
— Quando ele foi levado... — A voz de papai está tensa. Eu me viro
para encará-lo e vejo que ele está lutando contra as lágrimas também. —
Isso... me lembrou de quando perdemos você.
Lágrimas começam a escorrer por seu rosto.
— Eu não posso passar por isso de novo, — ele murmura. — Isso...
quase me destruiu da primeira vez.
— Pai... — Agora minhas bochechas estão molhadas de lágrimas.
Eu jogo meus braços em volta dele, e nós dois nos permitimos chorar.
Sobre o que aconteceu no passado...
Sobre o que está acontecendo agora...
— Ariel, por favor... você precisa trazê-lo de volta, — papai diz, com a
voz falhando.
Eu abraço meu pai e ele beija minha testa.
— Eu prometo, — eu digo suavemente.
Depois que os gritos de Natália param de ecoar por toda a mansão,
Xavier me chama de volta para seu escritório.
Aparentemente, ela concordou em se acalmar com a condição de que
ela nunca tivesse que estar no mesmo ambiente que eu.
Por mim tudo bem.
Pelo menos isso limitará mais brigas para que possamos nos
concentrar em encontrar Xavi.
— Sinto muito pelo que aconteceu mais cedo, — ele diz, suspirando e
se servindo de um copo de uísque enquanto me sento em frente a ele. —
Você sabe como ela fica.
Eu aceno, olhando para ele.
Seus olhos parecem cansados e seu rosto está exausto. A barba de
alguns dias cobre sua mandíbula.
É tão estranho que Xavier esteja se desculpando pelo comportamento
de Nat.
E ainda mais estranho que ele esteja sendo civilizado comigo.
Apesar de nossa situação esquisita e incerta, pelo menos de uma coisa
eu tenho certeza.
O Xavier que está sentado à minha frente agora é uma pessoa
diferente do idiota arrogante que quebrou nosso vinculo sem ao menos
hesitar.
— Você tem um registro de todos os lugares que já procurou? — Eu
pergunto, mudando de assunto e me jogando na investigação.
Xavier apresenta um grande mapa sobre a mesa.
— Sim. É aqui que o rastro esfriou, — diz ele, apontando para uma
área arborizada.
— Vamos começar amanhã, — eu digo. — Se dividirmos seus
guerreiros em equipes de dois e varrer a floresta em linha, podemos
conseguir cobrir a maior parte do terreno.
Ele concorda.
— Boa ideia. Vou chamar os guerreiros da matilha; vamos começar
imediatamente.
Eu olho pela janela. O sol já se pôs e a noite está surgindo.
— Infelizmente, toda aquela discussão acabou com a luz do dia que
tínhamos. Precisamos ser o mais meticulosos possível e é muito fácil
perder algo no escuro. Deveríamos ir logo pela manhã.
Posso ver a impaciência e a raiva crescendo em seu rosto.
A ideia de outra noite sem Xavi pesa muito sobre ele.
— Nós vamos encontrá-lo, — eu digo suavemente. — Eu prometo.
Ele olha para mim, amolecendo. A dureza em seu rosto derrete.
— Ok, — ele diz suavemente. — Eu confio em você.

Eu fico olhando para o teto escuro, sem conseguir dormir. Minha


mente está muito inquieta.
É tão estranho estar de volta à Matilha da Lua Crescente.
Estar de volta à casa da minha infância.
Nunca pensei que teria permissão para entrar aqui novamente.
E mesmo que pareça um pouco desconfortável...
Ainda me sinto em casa.
Como minha mãe transformou meu quarto em um berçário para Xavi,
meu pai arrumou minha cama no grande sofá de couro da garagem.
O espaço de homem do meu pai.
Eu não me importo. Passei tantas noites aqui — adormecendo depois
de assistir a filmes cafonas com meu pai.
O peso absoluto de quanto eu senti falta deste lugar me atinge de uma
vez, e eu me sinto começando a chorar.
DING
Eu espio para olhar meu celular e um sorriso corta a nostalgia.
E uma mensagem de Alex.
Alex: Oi sumida. (emoji com cara de esperto) Ariel: Oiii.

Alex: Como foi seu dia?

Ariel: Ah, tudo bem...

Ariel: Natália gritou comigo.

Ariel: Minha mãe mal olhou para mim...

Ariel: e estou presa com meu ex-par.

Ariel: Nada como voltar para casa.

Alex: Já estou morrendo de saudades.

Ariel: Eu também estou com saudades Alex.

Alex: Esta cama king-size está muuuito vazia agora...

Ariel: (3 emojis chorando de rir) Alex: Sério. Estou morrendo de


vontade de sentir sua pele contra a minha.
Só de ler essas palavras, quase posso sentir a pele quente de Alex me
puxando para mais perto.
Seus dedos deixando rastros de prazer enquanto percorrem meu
corpo.
Seus beijos suaves no meu pescoço.
Provavelmente não é a hora nem o lugar, mas...
Eu não posso evitar.
Depois deste dia louco, eu preciso relaxar.
Eu sinto minha mão entrar debaixo das cobertas, e deixo escapar um
gemido suave enquanto meus dedos encontram seu caminho entre
minhas pernas.
Ariel: Eu quero tanto vc agora...

Alex: Quero estar dentro de você.


Alex: Quero começar devagar, provocando você.

Alex: Devagar o suficiente para que você possa sentir...

Alex: Cada

Alex: Centímetro

Alex: Dele

Ariel: Caralho (emoji babando) Alex: Então eu continuo.

Alex: Cada vez mais rápido.

Alex: Pressionando você contra mim.

Alex: Segurando até eu não aguentar mais.


Eu gemo, deixando cair meu celular, esfregando a inundação entre
minhas pernas, insuportavelmente perto do clímax.
Meus olhos se fecham, eu me imagino agarrando o peito de Alex
enquanto ele geme e faz suas estocadas finais, e nós dois chegamos ao
clímax juntos, uma onda de prazer tomando conta do meu corpo.
Eu fico parada, ciente dos tremores correndo pelo meu corpo até que
eles diminuem lentamente.
Sentindo-me voltar à realidade, pega novamente.
Ariel: Uau

Ariel: Você estava bem aqui comigo.

Alex: Você também estava bem aqui.

Ariel: Tudo o que eu queria era abraçar vc agora.

Alex: Encontre seu sobrinho rápido e volte logo pra cá.

Alex: Estou te esperando, amor.


Ariel: Eu te amo (emoji mandando beijo de coração) Alex: Eu
também te amo. Boa noite. (emoji de lua e de girassol) Eu suspiro,
deixando meu celular de lado.
Isso era exatamente o que eu precisava.
Minhas pálpebras ficaram pesadas de repente e meu corpo relaxou
completamente.
Tudo o que eu mais queria era poder adormecer nos braços de Alex,
mas preciso esperar por enquanto.
Terei um grande dia amanhã.
Agarrando um grande travesseiro e imaginando que estou aninhada
ao lado de Alex em êxtase pós-sexo, fecho meus olhos e caio no sono.

Em algum lugar, bem entre o lugar onde o sonho encontra a realidade,


ouço uma voz chamando meu nome baixinho.
— Ariel.
No começo, eu me pergunto se é Alex sussurrando em meu ouvido.
Mas não é a voz de Alex.
É Selene.
Faz tanto tempo desde que ouvi a voz dela que quase não a reconheci.
— Minha irmã, Fate, ainda não terminou com você, Ariel.
— Há outros que foram levados pelos Caçadores. — A voz de Selene diz.
— Outros como você...
Capítulo 3
A NOVA VERSÃO DO ANJO CAÍDO
O EXPERIMENTO

Minhas algemas de prata queimam minha pele nua enquanto luto


contra elas.
Estou amarrado a uma mesa de operação em algum tipo de
laboratório.
Como diabos eu cheguei aqui!?
Embora a luz esteja fraca, posso ver uma parede de frascos de
amostras e tubos de ensaio.
Meus olhos se arregalam de horror quando vejo o que há dentro
deles...
Filhotes de lobo mutantes!
Garras compridas e enroladas para dentro.
Focinhos alongados e estreitos.
Pelo irregular e despenteado.
As criaturas grotescas estão suspensas em um líquido espesso para
conservação, mas claramente estão mortas.
Experimentos que deram errado...
É isso que eu vou me tornar também? Um experimento que deu errado?
Eu luto ainda mais contra minhas algemas, mas não adianta. Há uma
intravenosa em meu braço que administra pequenas doses de acônito
toda vez que fico muito irritado.
A substância venenosa corre em minhas veias, me deixando tonto e
paranoico.
Eu olho para o meu próprio corpo para ver que quase cada centímetro
está coberto de tatuagens.
Eu gostaria de saber o que elas significam ou de onde vieram, mas não
consigo nem lembrar meu próprio nome, muito menos minhas origens.
Uma das paredes está repleta de armas — bestas, espadas e adagas de
prata afiadas.
Este é claramente o laboratório de um caçador. Não há dúvida sobre
isso.
Mas o que diabos eles querem comigo?
Merda, eu queria conseguir me lembrar...
Eu fecho meus olhos e tento relaxar.
Lentamente, começo a ter flashes de uma doca perto do mar.
Um farol iluminando a água com seu holofote.
Minhas garras cravando em uma praia arenosa.
O som das ondas quebrando na costa.
CRASH!
Minhas memórias são interrompidas por uma porta escancarada no
topo da escada.
Botas pesadas com bico de aço descem os degraus quando um homem
imponente aparece.
Ele está vestido com camuflagem e carrega uma besta de aparência
mortal nas costas.
Mas o que é impressionante sobre o homem não é seu senso de moda
óbvio.
E o rosto dele...
Ou melhor... o que está em seu rosto.
Ele possui dezenas de piercings.
Um pontudo em sua orelha esquerda.
Uma fileira de tachas e anéis na direita.
Um piercing de septo prateado em seu nariz.
Cartilagem, sobrancelhas, queixo...
Seu rosto inteiro possui piercings.
Quando o homem se aproxima e paira sobre mim com um sorriso
tortuoso, tenho uma percepção horrível.
Ele se inclina, seu rosto a apenas alguns centímetros do meu. Meus
olhos lacrimejam e minhas bochechas queimam como se estivessem
pegando fogo.
Estes são piercings de prata.
— O que há de errado? — Ele pergunta, seu tom distorcido com
alegria perversa. — Você não gosta da minha arte corporal? Isso é
bastante hipócrita, considerando que você está coberto de tatuagens.
Ele chega ainda mais perto, até que eu possa sentir seu hálito quente
no meu rosto. Minha pele começa a ferver com a picada da prata.
Finalmente ele se afasta e eu expiro.
Esse psicopata claramente não é alguém que se deva mexer.
— Quem... quem é você? — Eu gaguejo.
— Bem, a maioria das pessoas me chama de Soldado de Prata, mas
você...
Ele agarra meu rosto e mantém minhas pálpebras abertas, me
forçando a encontrar seu olhar.
— Você pode me chamar de Mestre.
Ele caminha até um carrinho de metal e retorna segurando uma
seringa cheia de prata líquida.
— O que você está fazendo? Pare! — Eu grito enquanto ele esguicha
descuidadamente a prata no ar com um sorriso doentio.
— Só quero ver o que você consegue aguentar, — ele responde,
segurando a agulha contra meu braço.
— PARE! — Eu rosno, sentindo a pele quebrar.
Momentos depois, a dor mais intensa que já senti passa por mim. Meu
corpo paralisa e quase instantaneamente fico encharcado de suor.
Eu sinto meu lobo pela primeira vez desde que acordei, só que...
Não parece meu lobo.
É outra coisa.
Algo monstruoso.
Minha espinha começa a se estender e meus ossos quebram quando
sou forçado a me mover.
Eu uivo quando meu corpo inteiro se quebra — e minha mente se
quebra junto com ele.
Não consigo ver.
Não consigo falar.
Está tudo escuro.
ARIEL

No dia seguinte, Xavier e eu não esperamos o orvalho matinal baixar


antes de nos aventurarmos na floresta, em direção ao oeste.
A umidade do ar retém quaisquer odores estranhos, o que poderia
tornar a nossa busca pelo bebê Xavi um pouco mais fácil.
Em minhas mãos, carrego um par de suas meias incrivelmente
minúsculas.
Xavier basicamente teve que arrancá-las dos dedos de Natália esta
manhã. Ela não queria dar a ninguém — especialmente a mim.
Mas nunca conheci meu sobrinho e preciso de algo para farejá-lo.
Eu inalo o tecido macio e continuo caminhando mais fundo na
vegetação.
À medida que avançamos pela floresta ainda dentro dos limites da
matilha, uma memória dos meus dias no programa de treinamento de
guerreiros me atinge.
Estávamos aprendendo a nos esconder de invasores, e Xavier me
instruiu a subir em uma árvore.
Ele subiu atrás de mim e, enquanto eu me pressionava contra o
tronco, podia sentir seu peito contra minhas costas, sua respiração
pesada em meu pescoço.
Eu pensei sobre aquele breve momento por dias depois que
aconteceu.
E agora, com Xavier andando um passo atrás de mim o tempo todo,
não consigo afastar a memória de novo.
Por mais que Xavier tenha me defendido desde que cheguei à Matilha
da Lua Crescente, ele claramente não confia em mim o suficiente para
me deixar fora de sua vista.
Sempre que olho em sua direção, ele tem os olhos fixos em mim, o
que estupidamente me faz corar todas as vezes.
— Devemos nos transformar? — ele me pergunta na próxima vez que
eu encontro seu olhar.
— Ainda não, — digo, continuando a estudar o terreno de perto a
cada passo que dou.
Mesmo que meu olfato fosse mais aguçado na forma de lobo, minha
visão é melhor com meus olhos humanos.
— O que exatamente você está procurando em toda essa sujeira? —
ele me pergunta. — Todas as pegadas já terão sumido.
— Não é isso, — eu digo. — Procuro uma anomalia nas raízes. Algum
sinal de que o terreno foi escavado.
— Por que? — ele pergunta, me alcançando.
— A instalação em que os Caçadores me mantiveram era subterrânea,
o que significa que poderia ser em qualquer lugar aqui.
Continuamos caminhando em silêncio até chegarmos à fronteira da
Matilha da Lua Crescente. Não está claramente marcada, mas posso
reconhecê-la pela mudança no formato das árvores.
Depois de mais alguns minutos, ouço a voz de Xavier ao meu lado.
— Ariel, — diz ele calmamente.
— O que?
— Você esteve no subsolo por dois anos inteiros? — sua voz falha.
Eu apenas aceno.
— Minha Deusa. — ele diz. — Eu não fazia ideia.
— Você não perguntou, — eu digo, dando a ele um olhar fulminante.
Eu poderia dizer muito mais a ele.
O confinamento e a claustrofobia estavam longe de ser as piores
partes da tortura.
Mas evito dizer mais alguma coisa, porque não quero preocupá-lo
ainda mais com seu filho.
Graças à Deusa, sobrevivi ao sequestro — por pouco... Mas será
necessário um milagre mais poderoso para Xavi sobreviver.
Quando estou prestes a mudar de assunto para literalmente qualquer
outra coisa, algo me interrompe no meio do caminho.
Um novo rastro no vento.
Quando me viro para encarar Xavier, tenho certeza de que ele
também sentiu o cheiro.
— É um dos seus homens? — Pergunto-lhe.
— Não, — ele diz, com a voz sombria.
Aumentamos nosso ritmo à medida que seguimos essa nova pista...
O cheiro de um lobo desconhecido.
E algo mais.
Sangue.
ALEX

Sento-me no topo da velha torre de água, com Dom ao meu lado.


Parece que já faz muito tempo desde a última vez que nos sentamos
aqui. Na noite em que fui investigar a explosão. A noite em que conheci
Ariel.
— Esta será provavelmente a última vez que iremos vir aqui juntos por
um tempo, — Dom diz enquanto toma um gole de sua cerveja.
— Como está Helena? — Eu pergunto.
— Acho que ela está bem, — ele responde. — O enjoo matinal passou
desde que ela acordou. Ela acha que tem algo a ver com Ariel curando ela
e Blue.
— Blue?
— O bebê está do tamanho de um blueberry agora, — diz ele,
sorrindo.
De todas as pessoas que eu esperava que fossem pai a essa altura. Dom
seria o último da minha lista. Sua vida deu uma volta completa desde que
conheceu Helena, e acho que nunca o vi tão feliz.
— Ainda não consigo acreditar que você vai ser pai, — digo.
— Correção, — Dom diz. — Um pai que gosta muito de transar.
Eu balanço minha cabeça enquanto solto uma risada. Mas Dom pode
notar que é uma risada forçada.
— O que está acontecendo com você? — Ele me pergunta enquanto
eu pego meu telefone novamente, verificando ansiosamente. — Você já
está abatido desse jeito?
Esmago minha lata de cerveja com um grunhido alto quando vejo que
ainda não tenho novas mensagens de texto.
— Mandei uma mensagem para ela quando acordei esta manhã, —
digo a ele, — e nada.
Dom me dá um tapinha nas costas.
— Não pira, cara. Xavier é um Alfa forte. Ele vai mantê-la segura.
Eu aceno e coloco a lata amassada em meu bolso.
Eu sei que Dom está certo.
Mas eu simplesmente não quero que Ariel comece a se sentir segura
demais com ele.
ARIEL

Quando chegamos à beira da floresta, meus olhos são imediatamente


atraídos para um homem inconsciente deitado de bruços no meio de
uma clareira. Ele está coberto da cabeça aos pés com tatuagens.
Em suas costas está uma enorme tatuagem de asas de anjo.
Sob a luz da lua, ele se parece exatamente assim...
Um anjo caído.
— Quem diabos... — Xavier começa a falar, mas eu o interrompo com
um suspiro quando vejo o homem mais de perto.
Corro passando por Xavier e caio de joelhos ao lado do homem.
— Ariel! Afaste-se! — ele chama por mim, mas eu desconsidero seu
aviso.
O homem tem queimaduras de prata e cortes de algemas nos
tornozelos e pulsos.
Ele tem marcas de injeção por todo o corpo.
Cicatrizes de transformações incontroláveis.
— Ele c... ele é como eu, — murmuro.
A Deusa estava certa.
Ele também é um experimento.
Capítulo 4
O LAR É ONDE ESTÁ O CORAÇÃO
ARIEL

Eu gentilmente coloco minha mão nas costas tatuadas do homem


inconsciente, mas ele não se move. É claro que ele foi espancado e
torturado, assim como eu.
— Ariel, fique longe! — Xavier rosna. — Ele pode ser perigoso!
Eu bloqueio sua voz e, em vez disso, me concentro em minha própria
energia.
Faz um tempo que não preciso usar minha habilidade de cura, mas,
desde que não esteja prejudicando ninguém, deve funcionar.
Embora seja fraco, ouço a voz de Selene ecoando em minha mente.
— Cure-o, querida. Você sabe o que deve fazer.
Só que eu não sei o que devo fazer.
Não tive muito contato com a Deusa da Lua desde que ela me disse
enigmaticamente que havia outros como eu.
E agora ela parece mais distante do que nunca...
Por que minha conexão com ela está diminuindo?
— Selene, você pode, por favor, deixar claro pelo menos uma vez? — —
Murmuro baixinho.
Xavier não sabe sobre o meu dom, e não estou pensando em contar a
ele.
Não há necessidade de complicar as coisas mais do que já estão.
De repente, sinto minha energia correndo pelo meu corpo e se
transferindo para o homem ferido. As queimaduras em seus pulsos
começam a desaparecer e ele desperta.
— Onde estou? — ele pergunta, sentando-se lentamente.
Assim que ele se move, Xavier e seus guardas se aproximam, sacando
suas armas.
Eu levanto minha mão.
— Pare, — eu digo com firmeza. — Eu tenho tudo sob controle.
Eu coloco minha mão suavemente sobre o homem... O Experimento.
— Qual o seu nome? — Eu pergunto com calma.
— Eu... eu não sei, — ele responde, a névoa começando a desaparecer
de seus olhos. — Não me lembro de nada.
— Muito plausível, — grunhe Xavier.
— Você era refém dos caçadores? — Eu pergunto.
— Sim, eu me lembro disso. Caçadores. Eles me amarraram, mas eu...
acho que escapei de alguma forma. — O experimento parece estar
tentando ao máximo ligar os pontos, mas não está conseguindo.
Eu sei melhor do que ninguém as coisas fodidas que eles fazem com
lobisomens nesses laboratórios...
Um arrepio percorre minha espinha ao perceber como a história desse
homem é semelhante à minha.
— Quem é você? — Ele pergunta, focando sua atenção de volta em
mim. Seus olhos são de um roxo pálido assustador.
— Eu sou... — Hesito, sem saber se o que estou prestes a dizer é a
escolha certa.
Mas eu tenho que confiar em mim mesma.
— Eu sou alguém que pode ajudar. — eu digo com confiança.
— Agora espere um minuto, porra, — Xavier rosna, dando um passo à
frente. — Não sabemos nada sobre esse cara!
— Nós sabemos que ele era refém dos caçadores e que ele escapou, —
eu rosno de volta. — E acredite em mim quando digo que o que ele
precisa agora é um espaço seguro para entender a situação.
Xavier claramente não está feliz com isso, mas ele relutantemente
acena com a cabeça para seus guardas.
— Escolte-o para a casa de hóspedes. E não o perca de vista nem por
um segundo.
O Experimento me lança um olhar agradecido enquanto o ajudo a se
levantar.
— P-por que você está me ajudando?
— Porque... — digo, sentindo meu coração se encher de compaixão. —
Não faz muito tempo que... eu era você.

— Ele não pode ficar aqui! — Xavier grita com raiva, andando ao redor
de seu escritório. — Ele deveria estar em uma cela de prisão, não na porra
da casa de hóspedes!
Eu suspiro, tentando controlar minha frustração.
— Você não está pensando no panorama geral. Isto pode ser
exatamente o que precisamos, — digo, tentando falar de uma forma que
o faça entender.
— O que você quer dizer? — ele pergunta, cético.
— Este homem acabou de escapar dos caçadores, — eu respondo. —
Então, ele é nossa melhor chance de rastrear a localização atual deles. Ele
está sem a maior parte de suas memórias, mas se pudermos ajudá-lo...
— Podemos encontrar Xavi, — diz ele, concluindo meu pensamento.
— Mas como você sabe que podemos confiar nele?
— Eu não sei, — respondo honestamente. — Mas ele sofreu o mesmo
trauma que eu. Portanto, posso pelo menos compreendê-lo.
Xavier se senta em sua mesa e ansiosamente bate com os dedos na
madeira.
— Se você acha que pode ajudá-lo a recuperar suas memórias, então
tudo bem...
— Eu preciso tentar. — eu digo, balançando a cabeça. — Ele merece.
— Mas... — Xavier levanta a mão. me interrompendo. — Você precisa
fazer isso em outro lugar. Eu não o quero aqui. Minha matilha já passou
por muita coisa, e não vou permitir um estranho dentro de suas
fronteiras.
— É justo, — eu respondo, embora esteja imediatamente quebrando a
cabeça em busca de soluções alternativas.
Posso ter uma habilidade de cura sobrenatural, mas não sou médica e
certamente não estou qualificada para ajudar ninguém com seu trauma
quando ainda estou trabalhando no meu próprio.
Mas eu disse que o ajudaria, e falei sério.
— Você não precisa se preocupar com isso. Vou levá-lo de volta para a
Matilha Real, — eu digo. — Se Alex me recebeu em sua matilha, ele vai
receber outra pessoa na mesma situação.
Xavier zomba.
— Você realmente acha que seu Alfa vai aceitar esse completo
estranho coberto de tatuagens e cicatrizes?
Havia algo estranho na maneira como Xavier disse Alfa.
Isso é um indício de ciúme?
Não tenho certeza de como ele saberia sobre meu relacionamento
com Alex, mas suponho que as notícias viajem rapidamente.
— Você é uma mulher linda, e ele parece que acabou de sair da prisão.
Há uma grande diferença, — diz ele, olhando nos meus olhos.
Meu coração pula na minha garganta.
Meu ex-par destinado acabou de me chamar de linda!?
Xavier parece perceber seu erro enquanto limpa a garganta
rapidamente e volta a falar com firmeza.
— Apenas tire-o daqui o mais rápido possível.
— Vou levá-lo de volta pela manhã, — respondo rapidamente,
querendo sair de seu escritório antes que as coisas fiquem mais
desconfortáveis.
— Mas tem uma pessoa que preciso ver antes de ir...

— AHHHHHHHHHHHHH!
Amy grita diretamente no meu ouvido enquanto ela joga os braços em
volta de mim na fronteira da matilha.
— Você está em casa! Tipo, casa, casa. Estou tão animada, — ela grita.
— Apenas temporariamente, — eu respondo, dando a ela um sorriso
cauteloso. — E não nas melhores circunstâncias.
O sorriso de Amy desaparece rapidamente.
— Pobre Xavi... eu sei que você vai encontrá-lo. Ariel.
— Faça muitas orações para a Deusa, — eu digo, suspirando. — Vou
precisar de força para superar isso.
— Claro... Trabalhar com Xavier não deve ser fácil, — ela diz, me
dando um olhar astuto. — Ele foi um completo idiota?
— Ele não tem sido tão ruim, — eu respondo. — Natália , por outro
lado...
— Garota, a matilha inteira a ouviu uivar na noite passada, — Amy
diz, levantando as sobrancelhas. — Nat e Xavier realmente estão
passando por um momento difícil. Mesmo antes do sequestro.
Isso é novidade para mim.
Achei que tudo estava perfeito entre eles...
Estou prestes a pedir mais detalhes, mas Amy de repente esboça um
sorriso malicioso.
— E quanto a você e Alex? — Ela pergunta com uma voz cantante. —
Temos sinos para a cerimônia de acasalamento à vista?
Eu rio, mas também não consigo evitar corar.
— As coisas estão... muito boas.
— Hum eu preciso de mais detalhes do que isso, — Amy diz, cruzando
os braços.
— Ele não está me apressando ou indo rápido demais, — eu respondo.
— E isso é exatamente o que eu preciso. Alex sabe que ainda estou
processando tudo o que aconteceu. Tenho sorte de tê-lo em minha vida.
— Ele sabe exatamente o que você precisa, hein? — ela pergunta,
sorrindo. — Ele está atendendo a todas as suas necessidades?
Minhas bochechas queimam ainda mais.
— Eu posso ter passado algumas noites na casa dele... ou talvez todas
as noites.
Amy suspira de alegria.
— Sua. VADIA. Eu te amo.
Nós duas rimos, mas a atenção de Amy rapidamente muda para
alguém atrás de mim.
— Quem é aquele? — Ela pergunta, seus olhos se arregalando de
empolgação.
Eu me viro para ver O Experimento se aproximando da fronteira.
Ele está vestindo uma blusa branca justa que mostra suas inúmeras
tatuagens. Seu corte de cabelo desgrenhado e olhos penetrantes e roxos o
deixam ainda mais provocativo.
Nem sei como responder a Amy porque, sinceramente, não sei quem
ele é.
Mas tenho a sensação de que vou descobrir em breve.

— Você tem certeza disso? — O Experimento pergunta quando


chegamos aos portões do Matilha Real.
— Claro, — eu respondo, forçando um sorriso. — Se pudermos
consertar sua memória, então talvez possamos encontrar meu sobrinho.
— Espero que sim, — ele responde. — Você tem sido tão gentil
comigo... Quero ajudá-la no que puder. — Eu aceno em apreciação. — As
pessoas aqui uma vez mostraram a mesma gentileza comigo quando eu
mais precisava. Isso mudou minha vida.
Steve e Louisa — por me receberem em sua casa e me fazerem sentir
parte de sua família...
Dominic — por ser meu melhor amigo e parceiro de bebida e por ter
se solidarizado comigo...
Helena — por arriscar a vida por mim e me apoiar quando as coisas
ficaram difíceis...
E Alex...
Ele me salvou acima de tudo.
Achei que ele não estaria lá para me pegar quando eu caísse.
Mas ele estava.
Ele me pegou e me ajudou a ficar de pé.
E ele continua a me apoiar todos os dias.
Agora quero fazer o mesmo por este homem que não tem ninguém.
Nada.
Assim como eu, quando Alex me encontrou na floresta.
Mas Xavier está certo?
As coisas serão diferentes desta vez?
Alex pode ter me aceitado, mas...
Ele aceitará esse estranho?
Capítulo 5
CONCESSÕES E CONFISSÕES
ALEX

Eu amo Ariel.
Eu verdadeiramente a amo.
Ela significa o mundo para mim.
Ela me ajudou a me curar da morte do meu par.
Ela salvou todo o reino quando os selvagens tentaram se infiltrar.
Mesmo quando estou sendo um idiota, ela escolhe ver o que há de
bom em mim.
Ela tem um dom, concedido a ela pela própria Deusa.
E ela quer usar isso.
Ajudar a tornar o mundo um lugar melhor.
Mas neste momento...
Estou questionando se a necessidade dela de curar os outros — sua
necessidade de ver o que há de bom nas pessoas — está atrapalhando seu
julgamento.
— Ariel, não sabemos nada sobre ele, — digo, começando a ficar
frustrado. — Até onde sabemos, ele poderia ser um selvagem.
Inicialmente, falamos em voz baixa, já que o estranho que Ariel trouxe
está do lado de fora do meu escritório, mas agora nossas vozes estão
começando a se elevar.
— Não seria a primeira vez que você deixaria um selvagem entrar em
suas fronteiras, — ela retruca.
Ai.
Pesado...
Mas também é justo.
— Você está completamente certa, — eu respondo. — E eu não posso
cometer o mesmo erro.
— Alex, como isso é diferente de quando você me encontrou na
floresta, e eu precisava de ajuda? Eu precisava que alguém me olhasse
como se eu fosse normal. Ele está passando exatamente pela mesma
coisa. E eu posso ajudá-lo com isso.
— Não... não é a mesma coisa...
— Por que? — ela pergunta, não disposta a deixar para lá.
— Porque você é você, — eu respondo, irritado.
Ela parece decepcionada com minha resposta.
— O que? O que eu disse?
— Nada... É que... Alguém me disse que você diria isso, — ela responde
distante.
Porra, agora eu a decepcionei.
Eu envolvo meus braços em volta de Ariel e beijo seu pescoço,
tentando reparar os danos.
— Tudo que eu quis dizer é que eu confiei em você porque senti uma
conexão, — eu digo, respirando o cheiro dela.
Ela se vira e gentilmente segura meu rosto em suas mãos.
— Eu sei que você está apenas tentando manter sua matilha segura e
eu respeito isso, — ela diz. — Mas acredito que ele merece o mesmo voto
de confiança que eu. Ele é uma vítima dos caçadores. Eu não vou
simplesmente abandoná-lo.
— Você nunca desiste das pessoas, — eu digo, suspirando. — Tenho
que admitir... essa é uma das coisas que mais amo em você.
— Então ele pode ficar? — ela pergunta ansiosamente, seus olhos de
girassóis brilhando de esperança.
— Se isso significa tanto para você... então, sim. Vou dar uma chance a
ele, — eu respondo.
Vamos ser realistas... Eu nunca vou conseguir dizer não para Ariel.
— Alex, obrigada! — De repente, ela pressiona seus lábios contra os
meus em um beijo febril. Eu me inclino para ela e a pego em meus
braços.
— Só para eu saber. Quão grata você está? — Eu pergunto com um
sorriso.
Ariel pressiona os lábios de forma sedutora e passa o dedo
provocadoramente no meu peito.
— Assim que você o acomodar, encontre-me em seu quarto.
Caramba, se ela tivesse começado com isso, não teria nem mesmo uma
discussão.
Beijo Ariel mais uma vez, em seguida, sigo para a porta.
— Eu estarei de volta em meio turno! E é melhor você estar sem
roupas!

Enquanto conduzo o — experimento — de Ariel pelos corredores do


palácio, examino suas tatuagens visíveis, esperando que talvez uma delas
pudesse me dizer algo sobre ele.
— Essas são muito boas, — eu digo, admirando a arte.
— Eu gostaria de saber onde as consegui, — ele responde, com uma
pitada de tristeza em seu tom.
— Talvez seja um estilo específico de sua matilha, — eu digo, fazendo
um palpite.
— Pode ser. Eu gostaria de pensar que tenho uma matilha lá fora, em
algum lugar.
Ele não parece um cara mau. Mas não posso descartar a possibilidade
de outro selvagem tentando se infiltrar na minha matilha.
Eu confio no julgamento de Ariel, mas...
Ainda há um milhão de perguntas sem resposta sobre ele.
Para começar...
— Você tem um nome? — Eu pergunto.
— Não um que eu me lembre...
Suponho que chamá-lo de — O Experimento — seria um pouco
insensível.
— Bem, tenho certeza de que Ariel irá ajudá-lo a recuperar suas
memórias. Ela tem mãos que curam... literalmente.
— Eu percebi... quando ela me tocou, — ele responde.
Eu levanto minhas sobrancelhas, mas ele rapidamente acena com as
mãos.
— Não, não... quero dizer, quando ela me acordou na floresta. Eu senti
uma energia surgindo dentro de mim. Tirou a dor que eu estava
sentindo. E algumas das minhas queimaduras também.
Eu concordo.
— Ela é especial. Então, não se aproveite de sua bondade. Ou você vai
se ver comigo.
Quando chegamos ao quarto de hóspedes, o homem de aparência
cautelosa abre um sorriso e estende a mão.
— Obrigado... por me dar uma chance.
Eu aperto com firmeza e sinto que suas intenções são boas.
Talvez Ariel esteja certa.
Este forasteiro tatuado precisa de nossa ajuda. Eu simplesmente não
conseguia ver de imediato.
Um pensamento de repente me ocorre que me faz sorrir.
Ariel será uma Luna incrível algum dia.
ARIEL

Eu diminuo a luz nos aposentos de Alex e rastejo na cama, esperando


que ele volte.
Devo fazer algum tipo de posição sexy?
Tento organizar meus membros de uma forma atraente, mas acabo
parecendo um pretzel torto.
Penso em meu treinamento de guerreiro e tento assumir uma postura
defensiva familiar.
Parece que vou matar Alex. Isso não poderia ser menos sexy.
Eu desabo na cama e fico olhando para o teto.
Realmente não tenho muita experiência com esse tipo de coisa.
Eu nunca realmente me senti sexy.
Forte, sim, mas sexy... definitivamente não.
Embora eu suponha que ser forte é seu próprio tipo de sexy.
Talvez eu deva mostrar minha força?
Eu me levanto e alcanço as vigas da cama de Alex, me içando como se
fosse uma barra de puxar.
A maçaneta da porta gira de repente e Alex entra. Quando ele me vê,
seu queixo cai.
Estou pendurada em sua cama como um macaco, completamente
nua.
Ele começa a rir muito, o que me irrita um pouco.
— O que você está fazendo? — ele pergunta através de sua risada
incontrolável.
— Tentando ser sexy, — eu digo, fazendo beicinho enquanto caio de
volta na cama. — Claramente eu sou péssima nisso.
Alex tira as botas, seguido por sua camisa, e pula na cama, rastejando
em cima de mim.
— Você sabe que é sempre sexy, certo? — Ele pergunta quando começa
a beijar meu pescoço.
Meus dedos acariciam seu abdômen extremamente definido enquanto
sua respiração fica mais pesada.
— Ou talvez você seja apenas fácil de satisfazer, — eu digo enquanto
minhas pernas instintivamente envolvem seu corpo.
— Acredite em mim. estou muito satisfeito, — ele responde, secando
meu corpo com os olhos.
Desabotoo as calças de Alex e, enquanto as deslizo para baixo, vejo
exatamente o quão satisfeito ele está.
— Espero que você esteja pronta para uma longa noite, — diz Alex,
sorrindo. — Porque temos algumas noites para compensar.
Não posso negar que durante todo o tempo que estive na Matilha da
Lua Crescente com Xavier, pensei em estar na cama com Alex.
Ele emite um rosnado rouco e pressiona seu corpo contra o meu, me
fazendo gemer.
Enquanto ele desliza seu enorme membro dentro de mim, eu cravo
minhas garras nos lençóis da cama.
Pelo amor da Deusa!
Suas estocadas se tornam mais fortes e mais rápidas, e a cama começa
a tremer.
Ele olha diretamente nos meus olhos enquanto gotas de suor rolam
por sua testa, lançando-me um sorriso malicioso.
Eu agarro seu peito, arranhando-o.
Ele estremece, mas não para de sorrir.
— Mostre-me do que é capaz, — diz ele, ofegante enquanto seu
movimento se intensifica. — Eu vou fazer o mesmo.
Eu seguro seus ombros e me puxo para cima, montando nele
enquanto minhas garras correm por suas costas musculosas.
— Caralho, sim! — Ele grita, agarrando meus quadris e se
contorcendo.
Alex está tentando trazer à tona a guerreira dentro de mim...
E está funcionando.

Quando o sol começa a nascer minhas pálpebras se abrem.


Alex ainda está dormindo ao meu lado.
Hora da minha rotina habitual.
Sento-me e deslizo silenciosamente para fora da cama, com cuidado
para não acordar Alex.
Enquanto eu alcanço a maçaneta, a voz de Alex soa atrás de mim
rouca.
— Fique.
Eu me viro para vê-lo passando a mão pelo cabelo loiro dourado e
sorrindo para mim.
— Pelo menos para o café da manhã? — ele pergunta
esperançosamente.
Hesito, mas apenas por um momento.
— Ok, — eu digo, sorrindo de volta. — Café da manhã parece ótimo.
O café da manhã com Alex e seus pais acabou sendo
surpreendentemente agradável.
O pai de Alex não é muito conversador, mas Maria fala pelos
cotovelos.
Ela parece genuinamente se arrepender de como me tratou durante o
fim de semana de acasalamento e tem tentado compensar isso desde
então.
E por incrível que pareça até que gosto de Maria.
Ela é atrevida, teimosa e inteligente.
Mas, apesar de nosso relacionamento restaurado, fico surpresa
quando Maria me puxa de lado quando estou prestes a sair.
— Podemos conversar em particular? — ela pergunta, olhando para
Alex para ter certeza de que ele não percebe.
— Claro... — Eu respondo com cautela.
Maria me leva até seus aposentos na ala leste do palácio, o que é
surpreendentemente íntimo para ela.
Quando entramos, é tão exuberante quanto eu esperava.
Veludo vermelho, cetim, um lustre de cristal...
E a quantidade certa de classe sem exagerar.
— Espere aqui, — diz Maria enquanto caminha até uma gaveta e puxa
um pacote longo embrulhado.
Ela retorna e coloca o pacote em minhas mãos.
— Eu quero dar isso a você. — ela diz um pouco nervosa. — É uma
espécie de pedido de desculpas. Mas também um símbolo da minha
aprovação. Eu fui dura com você antes, mas agora... eu sei que você faz
meu filho feliz. Você seria um bom par para ele.
Estou chocada. Maria realmente quer que eu e Alex fiquemos juntos?
— O-obrigada. — gaguejo enquanto desembrulho o pacote.
Eu suspiro quando vejo o que estou segurando...
Uma adaga absolutamente linda feita de pedra da lua que se curva ao
longo da lâmina.
— Tenha cuidado, — diz Maria. — A ponta da lâmina é fundida em
prata pura. Foi do meu pai. Ele era um guerreiro, e já que você também
é... Eu só achei que seria apropriado que você a tivesse.
— Isso é incrível, — eu digo, pasma. — Mas por que você está me
dando isso agora?
Maria morde o lábio ansiosamente enquanto me lança um olhar
preocupado.
— Há outra coisa que preciso perguntar a você...
— O que é? — Eu pergunto, sua energia ansiosa de repente
encontrando seu caminho para mim.
— Eu... eu espero que você e Alex se casem em uma cerimônia oficial o
mais rápido possível, — ela diz, escolhendo suas palavras com cuidado. —
E eu quero que você convença Alex de que agora é a hora certa.
Meu queixo cai.
Ela quer que sejamos acasalados agora!?
Capítulo 6
O TREINO INOPORTUNO
ARIEL

Alex: Ei, está tudo bem?

Alex: Você meio que saiu sem dizer nada depois do café.

Ariel: Sim, sinto muito por isso...

Ariel: É só que... conversei com sua mãe Ariel: E foi muito para
processar Alex: Oh Deusa

Alex: O que ela disse dessa vez?

Alex: Ela nunca aprende, porra.

Ariel: Não é grande coisa.

Ariel: Esquece.

Alex: Não, vou cuidar disso.


Qual é a melhor maneira de evitar lidar com seus problemas?
Foque no de outra pessoa.
É exatamente por isso que estou evitando pensar no pedido louco de
Maria, tentando ajudar O Experimento a recuperar sua memória.
Xavi ainda está por aí, e esse homem pode ser a chave para encontrá-
lo.
Transformei a sala de teatro do palácio em um centro de meditação
relaxante e estou sentada em frente ao Experimento com as pernas
cruzadas.
Eu coloco minhas mãos em suas têmporas e respiro fundo.
Ok, foco.
Tento direcionar minha energia para ele, mas tudo o que sinto é um
leve chiado.
— Você está... meio que... recebendo, tipo, flashes de memória ou algo
assim? — Eu pergunto, me sentindo frustrada.
— Não, talvez o seu dom tenha limitações, — ele responde.
Ele pode realmente estar certo. Até agora, usei-o para curar feridas
físicas, mas não tenho certeza se a — recuperação da memória — cai sob
o leque de minhas habilidades de cura.
— Quando você estava no laboratório... você teve alguma visão da
Deusa da Lua? — Eu pergunto, lembrando como ela facilitou minha
própria fuga.
— Acho que não, — diz ele, suspirando. — Mas, novamente, minha
mente está uma bagunça que duvido que me lembraria se tivesse tido.
— Bem, era só um pensamento positivo de qualquer maneira, — eu
digo.
Na verdade, senti minha conexão com a Deusa diminuindo
recentemente.
Não tenho certeza do porquê, mas definitivamente não é tão forte
quanto costumava ser.
Eu não machuquei ou matei ninguém, então não tenho certeza de
qual é a desconexão...
Como posso ajudar este homem se nem eu mesma entendo meus
próprios poderes?
O tempo de Xavi pode estar se esgotando e não fiz nenhum progresso.
— Eu... eu me lembro de algo, — diz O Experimento, sentindo meu
desânimo. — Não tenho certeza se será de alguma ajuda.
— O que é? — Eu pergunto, inclinando-me para frente. —
Honestamente, qualquer coisa ajudaria a essa altura.
— Bem. é... não é tangível, mas eu me lembro de uma sensação. Acho
que de quando fui mantido em cativeiro, — diz ele lentamente.
— Uma sensação?
— Sim, como se outra pessoa estivesse no controle... como se eu não
fosse eu mesmo.
Meu estômago se contrai quando as memórias dolorosas ressurgem.
Perdendo controle.
Vendo vermelho.
Perdendo toda a conexão com quem você é.
Eu sei exatamente a sensação de que ele está falando.
— Os caçadores... Eles tentam destruir você, fazer você esquecer quem
você é, — eu digo com tristeza.
— Bem, eles tiveram sucesso pra caralho comigo. — O Experimento
responde amargamente.
Eu aperto sua mão e balanço minha cabeça.
— Não, eles não tiveram. Vamos descobrir quem você é. Eu prometo.
Eu não vou desistir.
Xavier: Ei...

Xavier: Você fez algum progresso?

Xavier: Eu não consigo nem dormir.

Xavier: Sabendo que meu herdeiro está com aqueles


desgraçados.

Ariel: Eles realmente maltrataram o cara que encontramos fora da


matilha.

Ariel: O cérebro dele está frito.

Ariel: Mas acho que ele está começando a chegar lá.

Ariel: Hoje ele se lembrou de uma sensação do laboratório.

Xavier: Uma SENSAÇÃO?

Xavier: De que adianta isso??

Ariel: Xavier, estou tentando...


Xavier: Eu sei, sinto muito.

Xavier: Estou ficando louco aqui.

Xavier: Estou voltando para a Matilha Real.

Xavier: preciso ir embora.

Xavier: Nos vemos em breve.


Está chovendo forte enquanto Xavier corre para o quartel dos
guerreiros da matilha e bate à porta atrás de si.
Ele está encharcado da cabeça aos pés.
— Só um segundo, — grito para ele enquanto termino um exercício
com alguns novos guerreiros em treinamento.
Eu volto minha atenção para os jovens soldados em minha frente.
— Vamos encerrar por hoje. Podem ir tomar uma bebida no Canino
Branco. Vocês merecem.
Eles sorriem e comemoram enquanto correm para a porta. Xavier se
aproxima de mim com um sorriso malicioso no rosto.
— Bem, você definitivamente progrediu muito. Ainda me lembro de
quando você era uma aprendiz de guerreiro e eu era o líder de seu
esquadrão. Agora, você mesma se tornou uma verdadeira líder.
Eu coro com o elogio de Xavier. Não estou acostumada com isso.
— Eles precisam de alguns aperfeiçoamentos, mas eu acho que eu
também, — eu respondo, pegando uma toalha e enxugando o suor do
meu peito.
Percebo os olhos de Xavier fixos no meu top decotado.
— Sim, mas você realmente entrou em forma, — ele diz em um tom
que é um pouco familiar demais para o meu gosto.
— Por que você veio aqui? — Eu pergunto com cautela. — Eu disse a
você que o progresso na investigação foi mínimo.
Na verdade, me sinto um pouco culpada por isso.
Entre manhãs com Alex, tardes com O Experimento e noites com
minha equipe, estou extremamente dividida.
— Eu só pensei que talvez se nós juntássemos nossos esforços,
poderíamos descobrir qual é o nosso próximo passo...
Eu ergo minha sobrancelha. Isso soa como uma desculpa muito
esfarrapada.
— Tudo bem, — ele diz, lendo minha expressão. — A verdade é que
Natália está me deixando louco e eu tive que fugir.
Meus olhos se arregalam. Eu definitivamente não esperava por isso.
Ainda que Amy tenha dito que eles estavam tendo problemas.
— Ela está tão desequilibrada e histérica o tempo todo! Só está
piorando tudo, — ele rosna.
— Ela perdeu o filho. É claro que ela está desequilibrada, — eu digo,
surpresa com sua falta de sensibilidade.
— Você não entende, — ele diz rispidamente. — Ela está terrível.
A diferença é que eu entendo.
Natália sempre foi terrível. Isso não é novidade.
Mas Xavier escolheu ficar com ela. Ele não deveria estar falando sobre
ela assim.
Mesmo que seja verdade.
Xavier apresenta uma expressão cautelosa.
— Desculpe pelo desabafo, — diz ele, tirando a jaqueta molhada e
sentando-se em um dos bancos de treinamento. — Eu sei que não é
problema seu.
— Não, eu estou aqui por vocês dois, — eu digo. — Encontraremos
Xavi custe o que custar.
Xavier acena e mostra um sorriso cativante, seus olhos frios
enrugando nas bordas.
— Eu realmente valorizo ter você para me apoiar nestes tempos
sombrios, — diz ele com gratidão.
ALEX

— MÃE! — Eu praticamente rosno quando entro em seus aposentos.


Ela se assusta quando vou em sua direção, fervendo de raiva.
— O que você disse a Ariel? — Eu grito. — Achei que você a aprovasse
agora!
— Mas eu aprovo! — ela diz, literalmente segurando suas pérolas. —
De onde vem isso?
— Você disse algo que a assustou! Eu sei que você disse! — Eu digo
com raiva.
Pela expressão no rosto da minha mãe, sei que estou certo.
— Então o que foi? O que você disse? — Eu pergunto, cruzando meus
braços. — Quero saber.
— Eu… eu só dei a ela um presente, — ela gagueja. — A adaga do seu
avô.
Agora eu sei que algo estranho está acontecendo. Mamãe preza por
essa adaga com cada parte de seu ser.
— Por que diabos você daria isso a ela?
— Porque estou tentando apoiar vocês dois! — ela grita de volta, na
defensiva.
— Não, eu te conheço, — eu digo, balançando minha cabeça. — Você
tem um motivo por trás disso. Você está escondendo algo.
— Você está sendo paranoico, — diz ela, nervosa. — Foi apenas um
presente inocente. Ela é uma guerreira, pelo amor da Deusa. Eu só achei
que ela fosse gostar.
— E tenho certeza de que você não pediu nada em troca... — eu digo
sarcasticamente.
— Claro que não, — ela responde como se estivesse ofendida com a
própria ideia.
Eu me viro e caminho em direção à porta.
— Onde você está indo? — ela me chama.
— Perguntar a Ariel o que você disse, — eu rosno. — Vou descobrir a
verdade.
ARIEL

Enquanto a tempestade aumenta do lado de fora, Xavier e eu nos


abrigamos na arena de treinamento. Surpreendentemente, estou me
divertindo muito com ele.
— Vamos, admita! Eu era a única que estava a sua altura na prática de
treinamento! — Eu digo com um sorriso desafiador. — Lembra daquela
vez que eu joguei você no lago?
— Claro que lembro, — ele diz, rindo. — Fiquei sem falar com você
por uma semana.
De repente, ele me encara com um brilho malicioso nos olhos.
— Sabe de uma coisa... acho que preciso liberar um pouco dessa
agressividade reprimida.
Ele se levanta e pega um par de luvas de combate.
— Você está falando sério? — Eu pergunto, zombando.
Ele joga outro par aos meus pés.
— É claro. Se você acha que pode me enfrentar. Vamos, será como nos
velhos tempos.
Enquanto Xavier tira sua camisa e a joga de lado, eu fico tensa.
Sim, como nos velhos tempos.
Eu me lembro de como eu costumava sentar na margem do rio e
assistir Xavier e James lutarem, admirando seu corpo esculpido e seu
perfeito método de luta.
Mas isso foi há muito tempo...
— Eu posso enfrentar você, só não vou. — digo, levantando-me e
jogando as luvas para trás.
— Tudo bem, não use as luvas, então, — diz ele, ficando frente a
frente comigo. — Vamos falar a verdade, você provavelmente quis me
socar milhões de vezes depois do que eu fiz com você.
Socá-lo realmente é muito tentador.
Minha loba está rosnando no fundo da minha mente. Ela quer um
pedaço dele também, e não posso culpá-la.
Antes que eu possa me impedir, meu punho atinge seu estômago e ele
tropeça vários passos para trás, surpreso.
Eu também estou surpresa.
— Caramba, tudo bem. Você realmente está vindo para cima, — diz
ele, colocando-se em uma posição defensiva.
Certo.
Já devia ter feito isso há muito tempo.
Eu avanço novamente, mas desta vez Xavier bloqueia meu soco.
Me abaixo e chuto seus pés, mas ele se segura na borda do ringue para
se equilibrar.
Xavier gira por atrás de mim e me segura com força. Posso sentir seu
suor pingando em meus ombros enquanto me contorço.
— Determinada como sempre, — ele sussurra em meu ouvido.
Usando meus cotovelos, eu me liberto e coloco meus braços em volta
de seu pescoço antes de cair no chão, levando-o comigo.
Ele cai de costas enquanto eu o imobilizo.
É uma sensação boa derrubar Xavier.
E é ainda melhor fazê-lo com minhas próprias mãos.
— Você não tem ideia, — eu rosno levemente.
— Ariel?
Eu olho para cima para ver Alex parado do lado de fora do ringue.
E seus olhos estão carregados de traição.
Capítulo 7
A CAMINHO DA RECUPERAÇÃO
ARIEL

— Alex, espere! — Eu grito enquanto corro atrás dele sob a chuva


forte.
Ele não se vira ou me ouve. Ele simplesmente continua caminhando
pelas ruas lamacentas.
Não consigo nem imaginar o quão ruim deve ter parecido me ver em
cima de meu ex-par destinado, mas não foi nem remotamente sexual.
Na verdade, acabar com ele foi terapêutico.
Eu finalmente alcanço Alex e o agarro pelo braço, mas ele me afasta.
— Alex, me escute! — Eu grito.
Ele se vira e seus caninos ficam à mostra.
— Eu sabia que era uma má ideia você ficar perto dele! — ele rosna. —
Vocês estão destinados a serem pares!
— Somos ex-pares destinados! — Eu digo, tirando meu cabelo
molhado do rosto. — E ele não significa nada para mim!
— Ariel, nossos pares destinados sempre significam algo para nós. É
assim que nos conectamos, — Alex responde rispidamente.
— Mesmo que você não sinta essa atração agora, — ele continua, —
isso não significa que você não sentirá no futuro. E isso não significa que
ele já não esteja sentindo isso.
— Foi ele quem quebrou nosso vínculo! — Eu grito, tentando fazer
com que ele seja racional. — Por que ele iria querer alguma coisa comigo?
— Porque ele cometeu um erro de merda! — Alex grita de volta. — Ele
seria o maior idiota do mundo se não pudesse reconhecer isso!
Estou atordoada em silêncio.
Eu não sabia que Alex se sentia assim por eu trabalhar com Xavier.
— Isso pode ter sido uma luta inofensiva para você, mas eu garanto
que não foi para ele, — diz ele, parecendo magoado.
Eu envolvo meus braços em volta do corpo molhado de Alex enquanto
a chuva continua a cair sobre nós.
Eu levanto meu queixo e olho em seus olhos verdes radiantes.
— Alex, quero deixar algo muito claro...
— O que? — ele pergunta hesitantemente.
— Foda-se. Foda-se o destino. Foda-se tudo isso. E você e eu.
Escrevemos nossa própria história.
Sinto meus pés levantarem do chão quando Alex me pega pela cintura
e me gira, fazendo minhas pernas cortarem a chuva que cai.
Ele pressiona apaixonadamente seus lábios contra os meus.
Eu não me importo se eu deveria estar atraída pelo meu par
destinado.
Este é o homem com quem eu quero estar.
Sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, mas elas se misturam às
gotas de chuva.
Alex significa tudo para mim, mesmo que às vezes seja difícil expressar
isso.
Eu ainda estou me recuperando.
Ele me agarra pela mão e me leva para debaixo do toldo de um café,
onde encontramos abrigo da chuva.
Eu rio enquanto olho para nosso reflexo na janela de vidro.
Dois lobisomens encharcados.
Sinto minha loba interior sacudindo o pelo em aborrecimento, mas
estou feliz por ter tido esse momento com Alex.
Enquanto eu me aninho perto dele para me aquecer, ele acaricia meu
cabelo.
— Ariel... posso te perguntar uma coisa?
— Claro, — eu respondo, colocando minha cabeça em seu peito.
— O que minha mãe disse para você?
Ah claro, ainda tem isso...
Eu me afasto e olho para ele séria. Ele merece saber a verdade sobre
como estou me sentindo.
— Ela... quer que eu te convença a ter uma cerimônia de acasalamento
imediatamente, — eu digo, descansando minha mão em sua camiseta
molhada. — Mas Alex... eu não sei se...
— Ariel, acredite em mim quando digo que não tenho nada a ver com
isso, — diz ele, colocando sua mão na minha. — Eu sei que é muito cedo
para isso. Eu não quero que você se sinta pressionada.
Eu aceno, sentindo-me grata por sua paciência.
— Nós dois ainda estamos processando os traumas do nosso passado,
— diz ele. — A última coisa que precisamos fazer é nos apressar em algo
tão importante antes de estarmos prontos.
Sinto como se um peso fosse tirado de mim. Alex aliviou a pressão que
tenho sentido sobre nosso relacionamento.
— Obrigada por entender, — eu digo, beijando-o na bochecha.
— Eu só queria que minha mãe entendesse, — ele responde,
rosnando. — Achei que a essa altura ela já teria aprendido.
— Não seja tão duro com ela. Acho que ela só quer ver você feliz, —
digo, surpresa por estar dando a Maria um voto de confiança.
— Contanto que você esteja feliz... — ele diz, me puxando para perto.
— Então eu também estou.
Acho que é melhor ficar longe de Xavier pelo resto da noite, então
volto para a casa de Steve e Louisa.
Convido Helena para me fazer companhia, e Louisa prepara um chá
quente para nós três.
— Steve não quer tomar chá com as meninas? — Eu pergunto a
Louisa, rindo um pouco.
— Acho que ele prefere enfrentar a tempestade e patrulhar, — ela
responde, rindo.
— Dom faria o oposto. Ele comeria todos os pastéis, beberia todo o
chá e se entrosaria em todas as conversas, — diz Helena, balançando a
cabeça. — Eu praticamente tive que trancá-lo quando estava saindo.
Helena está extremamente grávida e parece que pode explodir a
qualquer segundo. Já que nós lobisomens, levamos menos da metade do
tempo de gestação dos humanos, ela realmente pode.
Estou feliz por ter essas mulheres em minha vida e, neste momento,
preciso desesperadamente de suas opiniões.
— É um problema eu não me sentir pronta para oficialmente me
acasalar com Alex? — Eu pergunto abruptamente antes de tomar um
gole de chá, me escondendo atrás da minha xícara.
Helena e Louisa olham uma para a outra e depois para mim.
— Ariel, por que você acha que isso seria um problema? — Helena
pergunta.
— Bem, porque... basta olhar para você e Dom. Você teve sua
cerimônia de acasalamento poucas semanas depois de descobrir que
eram pares. E agora você está prestes a ter um filhote! Estou atrasando
Alex?
Helena pousa o chá e me lança um olhar severo.
Ela pode ter todas as vibrações de flores e inocência, — mas agora, ela
está prestes a me dar uma bela bronca.
— Em primeiro lugar, Dom e eu não passamos pelo que você e Alex
passaram, — diz ela.
— Você foi sequestrada e torturada por dois anos, e Alex perdeu seu
par destinado, pelo amor da Deusa. Não é uma competição, Ariel, Nem
todo mundo deve ir tão rápido quanto Dom e eu fomos.
Eu aceno, me sentindo um pouco melhor, mas ainda tenho minhas
dúvidas.
— E se Alex estiver pronto antes de mim?
— Então ele vai esperar por você, querida, — Louisa diz
confortavelmente. — Ele te ama. Ele não vai pressioná-la a fazer algo que
você não está pronta.
— E se ele o fizer, terá que nos dar satisfação, — Helena diz enfurecida
e dá um gole em seu chá quente. — Você pode ter seu esquadrão de
guerreiros para cuidar, mas você tem seu esquadrão de garotas cuidando
de você.
Eu rio, e é bom deixar minhas preocupações de lado por um
momento.
Eu sei que elas estão certas. Mas não é só com Alex que estou
preocupada...
Está tudo certo em ele dizer que está disposto a esperar por mim, mas
não tenho uma data de quando vou superar meu trauma.
Infelizmente, não funciona assim.
Estou frustrada por ainda não me sentir normal depois do que os
caçadores fizeram comigo.
Quanto tempo vai demorar para me recuperar?
Às vezes me pergunto...
Será que algum dia vou me sentir normal?
ALEX

Ainda não consigo acreditar na coragem da minha mãe.


Tentando pressionar Ariel para uma cerimônia de acasalamento
depois de tudo que ela passou.
Eu não posso agir como se não estivesse pensando nisso também, mas
eu nunca tentaria manipulá-la para se acasalar antes que ela esteja
pronta.
Ariel é a pessoa mais forte que conheço, mas ao mesmo tempo, ela é
muito frágil.
Ela está destruída e está apenas começando a se curar.
Eu entendo isso melhor do que ninguém.
É por isso que permiti que ela trouxesse um estranho para a matilha.
Sendo sincero, ajudá-lo a superar sua dor pode muito bem ajudá-la a
lidar com a dela.
Ariel é tão adepta da cura dos outros, mas quando se trata de si
mesma, é um caminho longo e difícil.
Mas o caminho para a recuperação sempre é...
Não importa o quão difícil essa jornada fique, eu estarei ao lado de
Ariel.
E minha mãe precisa saber que ela não pode mais empurrar Ariel ou
entrar no meio de nosso relacionamento.
Peço que minha mãe me encontre sozinha porque não quero que meu
pai ouça isso.
Ela bate à porta suavemente e entra em meus aposentos, parecendo
ansiosa.
— Eu falei com Ariel, — eu digo imediatamente.
— Alex, eu...
— Não, — eu digo, levantando minha mão. — Você tentou tramar e
manipular, como sempre faz.
Ela parece magoada com minhas palavras, mas tenho que ser duro
para que ela aprenda a lição.
— Ariel e eu podemos tomar nossas próprias decisões quando se trata
de nosso relacionamento. E se ela não está pronta para se acasalar, então
eu também não estou. Você só precisa aceitar isso.
— Alex, nada disso é o que você pensa! — ela diz freneticamente, à
beira das lágrimas.
— Então, o que é? — Eu pergunto friamente. — Porque me parece que
você está de volta ao seu antigo eu?
— Ele está morrendo, Alex! — ela dispara, com as lágrimas agora
escorrendo pelo rosto. — Seu pai está morrendo!
Todo o meu corpo paralisa e sinto um nó no estômago.
— Eu... eu só queria que seu pai te visse feliz e acasalado antes de
morrer, — ela diz, em soluços. — Eu... eu sinto muito. Mas...
Ela olha para mim, as lágrimas brotando em seus olhos, mas ela as
impede de cair.
— Ele pode durar menos de um ano.
Capítulo 8
A FORÇA DO DESTINO
ARIEL

Xavier voltará para casa esta manhã, e tenho que admitir que estou
aliviada.
Sua presença na Matilha Real mais atrapalha do que ajuda.
E honestamente, se ele não for embora, Alex pode se transformar e
persegui-lo até ele sair.
Pelo menos, decido educadamente me despedir no portão.
Apesar dos meus sentimentos confusos em relação a ele, ele está
passando por muita coisa, e eu sei que ele só veio aqui para distrair a
mente.
— Lamento não ter notícias melhores, — digo enquanto Xavier se
apoia no carro. — Mas eu prometo que não vou parar até encontrarmos
Xavi.
— Isso significa muito, — ele responde, forçando um sorriso. — Eu sei
que estou atrapalhando aqui. Talvez seja melhor se eu lhe der espaço.
— Xavier, não é isso... É que...
— Você não precisa dizer nada. — Ele levanta a mão. — Acredite em
mim, eu entendo. Nossa conexão foi cortada. Mas mesmo assim... ainda a
sinto. E eu acho que você a sente também.
Não respondo porque ele está certo, e sinto que se disser em voz alta,
se tornaria mais real.
— Não é bom para nenhum de nós nos colocarmos nessa posição, —
diz ele.
— Estou com a Natália. E você está com Alex. Não queremos estragar
tudo só porque nossa biologia está tentando nos trair.
Eu consigo sorrir e aceno com a cabeça em concordância. Fico feliz
que ele entenda que trabalhar juntos em ambientes tão próximos é uma
situação ruim para nós dois.
— Dito isso, eu gostei de ter você por perto novamente. Como nos
velhos tempos, — diz ele melancolicamente.
— Eu... espero que você saiba que o exílio não está mais em vigor, —
acrescenta. — Você é bem-vinda para voltar. Eu nunca deveria ter...
Ao ouvir o pesar em seu tom, não posso deixar de pensar que Alex está
certo.
Talvez Xavier realmente perceba que cometeu um erro.
— Obrigada. Xavier, eu realmente agradeço, mas esta é minha casa
agora. — eu digo, com segurança. — Vou mantê-lo atualizado sobre o
meu progresso com a investigação.
Ele acena com a cabeça, parecendo um pouco desapontado.
Xavier de repente envolve seus braços em volta de mim e me dá um
abraço.
Estou tão chocada que inicialmente meus braços permanecem
frouxos, mas depois de um momento, eu o abraço de volta, hesitante.
— Obrigado por tudo o que você está fazendo para encontrar meu
herdeiro, — ele diz, me segurando com força. — Você realmente é a única
luz nesta escuridão.
Meu coração dispara enquanto o abraço dura um pouco mais do que o
esperado.
Eu me afasto e tento me manter firme.
— Boa viagem, — eu digo formalmente.
Enquanto me afasto apressadamente, me sinto em conflito.
Eu não quero me sentir assim.
Mas algo dentro de mim ainda se atrai por Xavier.
Até minha loba sente enquanto ela geme, triste.
Como Xavier disse... minha própria biologia está me traindo.
Amo Alex mais do que tudo e sei que esses sentimentos por Xavier
estão sendo forçados a mim apenas por Fate.
Eu só queria poder fazê-los ir embora...
Posso não conseguir fazer desaparecer a memória do que Xavier e eu
poderíamos ter tido, mas consigo ajudar outra pessoa a recuperar suas
memórias.
Bato na porta do Experimento com entusiasmo.
Ele responde, parecendo confuso com a minha expressão ansiosa.
— Uh, o que foi?
— Tive uma ideia, — digo, agarrando-o pela mão.
Enquanto o puxo para o corredor, digo:
— A meditação e o meu dom não parecem ter nenhum efeito em você,
mas sei de outra coisa que pode refrescar sua memória.
— Estou disposto a tentar qualquer coisa, — diz ele, deixando-me
levá-lo para fora.
Nós seguimos o caminho para o campo de treinamento e eu pulo
dentro da arena. Jogo para ele um equipamento de treinamento. — Vista.
— Você quer que eu lute com você? — ele pergunta, cético.
— Sim, a ideia surgiu quando eu estava lutando com... Bem, não
importa com quem era. A questão é que o treinamento me ajudou a me
encontrar depois que escapei dos caçadores, e acho que pode ajudar você
também.
Ele veste as luvas e se junta a mim no ringue.
— Como eu disse, estou disposto a tentar qualquer coisa.
Enquanto ele assume uma postura desajeitada, eu me pergunto se ele
já teve alguma experiência real de luta.
Eu sei que é um estereótipo, mas suas incontáveis tatuagens me
deram a impressão de que ele poderia ter alguma experiência.
— Enquanto treinamos, quero que você pense em como se sentiu
enquanto estava em cativeiro. A raiva. O medo. A vontade de sobreviver.
Mesmo que você não consiga se lembrar de detalhes, concentre-se nesses
sentimentos.
Ele acena com a cabeça enquanto fico em frente a ele. — Ok, vamos
começar, — eu digo.
Eu começo suave, dando alguns socos lentos que ele pode bloquear
facilmente.
Então eu aumento um pouco a dificuldade.
Um gancho de esquerda furtivo.
Um soco no estômago.
Um chute forte de baixo para cima.
Ele cai de bunda, mas parece que seu ego está mais machucado do que
qualquer outra coisa.
Então, talvez aquela teoria sobre a experiência de luta estivesse muito
errada.
Estendo minha mão para ajudá-lo a se levantar, mas ele ignora e se
levanta sozinho. Ele tira a blusa, revelando seu torso tonificado e
tatuado.
Eu noto as grandes asas de anjo em suas costas novamente. Todas as
suas tatuagens são complexas e requintadas, e eu não ficaria surpresa se
algumas delas tivessem uma história para contar.
Seu punho de repente voa pelo ar e quase acerta minha mandíbula.
Eu provavelmente deveria estar menos focada em suas tatuagens e
mais em suas repentinas habilidades de luta.
Que diabos?
Ele se agacha e então ataca. Ele é tão rápido que praticamente parece
um borrão.
Ele tira o fôlego de mim e me bate no chão.
Tentando respirar, meus olhos se arregalam quando vejo seus punhos
cerrados, vindo em direção à minha cabeça como um martelo.
Eu consigo desviar bem a tempo.
Ele é como um animal, embora haja uma sensação de controle.
Mas será que é ele quem está no controle?
Quando eu olho em seus olhos antes roxos, eles agora estão
vermelhos e inflamados.
Ele vem para cima de mim, mas desta vez. estou pronta.
Eu o engano, e ele desliza de cara pela terra.
Eu pulo em suas costas e o imobilizo com o máximo de força que
tenho.
— Ai, merda! Eu me rendo! — Ele grita.
Confusa, eu o viro e vejo que seus olhos voltaram ao normal.
Será que estou imaginando coisas?
— Onde você aprendeu a lutar? — Eu pergunto. — Esses movimentos
vieram do nada.
— Não faço ideia, — ele responde. — Eu não sabia que conseguia lutar
até agora.
Ofegante, me levanto e o ajudo a se levantar.
— Bem, então, pelo menos nós desbloqueamos algo em sua memória.
— Embora sua estranha luta feroz me deixe apreensiva em persistir nesse
caminho.
Não posso esquecer que os caçadores procuram nos controlar e nos
transformar em armas.
E ainda há muito sobre este homem que eu não sei.
— Olha só! Foi uma luta caprichada! — uma voz familiar ecoa da
borda do ringue.
Eu me viro para ver Dom sorrindo e acenando para nós.
— Dom! Chegou a tempo para ver o show, não é? — Eu digo, sorrindo
de volta.
Dom pula no ringue e se aproxima de nós.
— Esqueci como é divertido ver você lutar, — diz ele. — Mas esse cara
novo também tem habilidades.
Dom estende a mão para O Experimento.
— Qual o seu nome?
— Ah, sim, vocês não se conheceram ainda. Dom, este é...
De repente, percebo que na minha cabeça o tenho chamado de — O
Experimento — esse tempo todo.
Ele ainda não tem um nome próprio.
— Não me lembro do meu nome, na verdade, — diz ele, apertando a
mão de Dom.
— Ahhhh. você é aquele cara, — Dom diz, fazendo a conexão. —
Espere. Isso não vai dar certo. Você tem que ter um nome. E você está
com sorte... Acontece que eu sou o mestre dos apelidos.
Eu zombo.
— Você que se autodenominou mestre.
— Ei, só porque o Dom-inador não pegou... Espere um segundo. —
Dom passa por trás do Experimento e examina suas costas, sorrindo.
— Já sei! O nome perfeito!
— Sem suspense, desembucha, — eu digo, colocando minhas mãos
em meus quadris.
— Angel!
Eu olho para O Experimento e ele sorri lentamente.
— Eu acho que... gostei, — diz ele.
Meu celular de repente começa a zumbir e, quando vejo minha tela,
meu estômago se contrai instantaneamente.
Alex: Ei, precisamos conversar.

Alex: Tenho más notícias.

ALEX

Enquanto estou do lado de fora do quarto do hospital do meu pai,


segurando Ariel com força, me sinto grato por tê-la como conforto.
Lembro-me de todas as vezes que Ariel ficou por um triz e das vezes
em que passei a noite em uma cadeira ao lado de sua cama.
Também me lembro de Olivia... e seus últimos dias.
Este hospital traz muitas lembranças amargas.
Não consigo evitar e deixo as lágrimas caírem enquanto penso em
passar por tudo isso de novo com alguém que amo.
— Eu sinto muito por seu pai, — Ariel diz, enxugando meu rosto com
sua manga. — Quanto tempo ele tem?
— Não muito, — eu respondo, desolado. — Talvez nem mesmo até o
final do ano.
— Eu gostaria que tivesse algo que eu pudesse fazer, — diz ela,
chorando. — Eu sei o quanto ele significa para você.
— Talvez tenha... — eu digo, esperança crescendo em meu coração.
— Alex... eu sei o que você está pensando, mas...
— Você curou Helena. Você curou aquela garotinha na floresta. Ariel,
eu sei que é pedir muito, mas você tem que tentar.
— Nem sempre funciona. Eu só curei ferimentos mortais. Não tenho
certeza se posso salvar alguém que está morrendo de uma doença...
— Ariel, por favor... — eu digo, segurando suas mãos nas minhas.
Ela olha para o quarto de meu pai, onde ele está deitado, parecendo
frágil e doente.
Ela olha para mim e acena silenciosamente.
O poder de cura de Ariel é a última chance de vida de meu pai.
Eu só espero que funcione.
Capítulo 9
SAÚDE E FELICIDADE...
ARIEL

O pai de Alex esboça um sorriso fraco enquanto seguro sua mão. Alex
está do outro lado da sala, olhando para mim nervoso enquanto Maria
tenta confortá-lo.
Deusa, por favor, me guie.
— Hum. Vossa Majestade...
— Eu não sou mais o rei, querida. Apenas me chame de George, — diz
ele, fraco.
— Tudo bem... George. Você está pronto? — Eu pergunto hesitante.
Ele expressa um aceno frouxo, o que eu presumo que significa sim.
Não tenho ideia do que estou fazendo, mas suplico à Deusa que isso
funcione.
Alex ficará arrasado se eu não puder curar seu pai e não quero que ele
perca outra pessoa importante em sua vida.
Foi tão difícil para ele seguir em frente depois de Olivia...
Como ele pode passar por tudo isso de novo tão cedo?
Eu tenho que fazer tudo que posso.
Respirando fundo, coloco minhas mãos no peito de George.
Alex e Maria se juntam a mim ao lado da cama de George. Alex me
lança um sorriso esperançoso.
Eu não posso decepcioná-lo.
Tento direcionar a energia do meu corpo para George, sentindo-a
diminuir e fluir por mim como um rio.
Meu corpo todo estremece enquanto concentro meu poder em
George, mas...
Eu abro meus olhos e olho para baixo.
George está tão pálido e doente como antes.
Por que não está funcionando?
Eu fecho meus olhos e tento novamente.
Selene, por favor, me ajude!
Começo a me sentir ansiosa ao tentar transferir minha energia para
George, mas fica cada vez mais difícil me concentrar.
Algo não está certo e eu sei disso.
Selene!
Finalmente, ouço uma voz fraca no fundo da minha mente e sinto
como se estivesse caindo em um transe.
— Ariel, não se desespere, criança. Você fez tudo que podia...
Estou parada em uma clareira com neblina, mas a Deusa da Lua não está
em lugar nenhum.
Eu só posso ouvir a voz dela, e até mesmo isso soa distante e abafado.
— Por favor, você tem que me ajudar a curá-lo! — Eu imploro.
— Nem todos podem ser curados com o seu dom, — ela responde. —
Minha irmã Fate pode ser instável...
— Mas eu mudei os planos dela antes, não mudei? — Eu pergunto, com
minha voz tremendo. — Não posso mudar de novo?
— Você mudou, — ela responde. — Mas George já se entregou à Fate, e
não há nada que você possa fazer sobre isso.
— Mas por quê? — Eu pergunto desesperadamente. — Por que não posso
curá-lo?
— A doença dele não é uma ferida que você pode fechar ou uma cicatriz
que você pode curar, — ela diz suavemente, com sua voz começando a
desaparecer.
— O único destino que você pode mudar é o seu próprio.
Em um tranco, estou de volta à realidade e descubro que minhas
bochechas estão molhadas de lágrimas.
Alex e Maria estão olhando para mim com preocupação.
— Ariel, o que aconteceu? — Alex pergunta. — Seus olhos rolaram
para trás e você parou de responder por um minuto.
Quando olho nos olhos de Alex, fico cheia de pavor.
Embora a voz de Selene estivesse distante e abafada, sua mensagem
era alta e clara.
— Meus poderes não podem curar uma doença terminal, — eu digo,
derrotada.
Alex fica pálido.
— Você tem... certeza?
Eu aceno enquanto as lágrimas continuam caindo.
Sem mais palavras. Alex se vira e sai, com desespero em seu rosto.
A mão trêmula de Maria cobre sua boca, mas ela não se permite
derramar uma lágrima.
Sinto-me completamente desamparada e arrasada.
Acho que algumas coisas realmente são deixadas nas mãos de Fate.

Após minha tentativa fracassada de curar George, me isolei em meu


quarto, sem vontade de ver ou falar com ninguém.
Eu decepcionei Alex quando ele mais precisava de mim.
De que adianta essa merda de dom se nem mesmo funciona!
Eu gostaria de nunca ter recebido essa habilidade em primeiro lugar.
Pelo menos não haveria nenhuma expectativa sobre mim.
Eu enterro meu rosto no meu travesseiro manchado de lágrimas,
encontrando consolo na escuridão.
Uma batida suave na minha porta me desperta dos meus pensamentos
sombrios.
— Ariel. posso entrar? — Steve pergunta de fora.
— Sim, claro, — eu respondo estoicamente.
Ele abre a porta e se aproxima da minha cama hesitantemente antes
de se sentar na beirada.
— Eu ouvi o que aconteceu, — diz ele. — Você está bem?
— Não estou nada bem. — eu respondo, segurando meu travesseiro
sobre meu estômago. — Eu falhei com Alex. Como ele pode me perdoar
por isso?
— Não há nada a perdoar, — diz Steve com firmeza. — Você não
falhou com ninguém Ariel. Você fez tudo o que podia e não deveria
pensar de outra forma. Alex sabe disso.
— Você não viu a expressão em seu rosto quando eu disse que não
havia nada que eu pudesse fazer. — digo com tristeza.
— Talvez não, mas sei que Alex nunca culparia você por algo que está
fora do seu controle, — ele responde.
— Eu sei que você tem um forte senso de responsabilidade, Ariel, —
ele continua. — Isso é parte do que a torna uma grande guerreira. Mas
você não é responsável por todos.
Eu jogo meus braços em volta de Steve em um abraço. Suas palavras
são exatamente o que eu preciso ouvir.
É difícil não ter meu pai por perto o tempo todo, e Steve realmente
me apoia como uma figura paterna.
— Obrigada, — eu digo, lutando contra minhas lágrimas. — Eu
realmente precisava ser lembrada disso.
— Você faz tanto para curar os outros que às vezes se esquece de si
mesma. Lembre-se de que Louisa e eu estamos aqui para ajudá-la, não
importa o que aconteça, — diz Steve, sorrindo.
A vida de George pode estar fora do meu controle, mas não posso
permitir que isso me impeça de usar minhas habilidades.
Ainda tenho pessoas que precisam da minha ajuda, como Angel e
Xavier.
Eu não vou perder as esperanças.
ALEX

A morte do meu pai é iminente.


E eu tenho que aceitar isso... mesmo que eu não queira.
Saber que o dom de Ariel não pode curá-lo é devastador, mas eu sei
que não é culpa dela.
Seria ingenuidade acreditar que seu poder era algum tipo de cura
abrangente.
A melhor coisa que posso fazer agora é tentar aproveitar ao máximo o
tempo que me resta com ele.
Pergunto a minha mãe se posso falar com ele a sós. Há muito o que
processar antes que eu possa aceitar seu destino.
Sento-me ao lado da cama e seguro sua mão frágil.
Poucos dias atrás, ele estava sentado ereto. A doença o está levando
rapidamente e sem piedade.
Não posso deixar de me lembrar de Olivia em seu leito de morte.
Ela foi levada tão de repente, sem aviso.
Pelo menos com meu pai, eu sei o que está por vir.
Mas não temos muito tempo.
— Não se preocupe comigo, — papai diz com uma leve repreensão. —
Você tem um reino para governar.
— Me repreende mesmo enquanto você está confinado a uma cama.
— eu digo, tentando expressar uma risada. — Não esperaria nada menos.
— Você sabe que vivi uma vida feliz, Alex. Estou pronto para ir, — diz
ele. — Mas eu não quero mais você vivendo no passado. Você se retirou e
colocou sua vida em pausa quando perdeu seu par.
Eu olho para o chão enquanto ele continua.
— Quero que prometa que não fará o mesmo quando eu partir.
Muitas pessoas dependem de você.
Eu respiro fundo e aceno com a cabeça.
— Eu prometo.
— A vida é curta. Não se reprima do que você quer, — diz ele,
respirando forte. — Especialmente quando você tem uma ótima garota
como Ariel.
Ele está certo, como sempre.
A morte de Olivia quase me destruiu.
Por meses, eu mal estava vivendo.
Mas Ariel me reviveu de uma maneira que eu nem sabia que era
possível.
— Ela é realmente incrível, — eu digo, sorrindo.
— Garotas como Olivia e Ariel são raras, mas a Deusa parece
privilegiar você por algum motivo maluco, — diz ele, rindo.
Essa risada rapidamente se transforma em uma tosse seca.
Eu dou um aperto no ombro do meu pai.
— Eu vou deixar você descansar. Há algo que preciso fazer.
Papai está certo...
A vida é muito frágil e curta para me impedir de fazer o que realmente
quero.
E o que eu quero...
... é ser o par de Ariel.
ARIEL

TAP!
TAP!
TAP!
Um barulho na minha janela me desperta.
Parece que alguém está jogando pedras...
Sonolenta, me levanto da cama e vou até a janela.
TAP!
Ao abri-la, coloco minha cabeça para fora e vejo Alex no quintal,
segurando um punhado de pedras.
— Posso subir? — ele pergunta, sorrindo.
Não posso deixar de sorrir ao me lembrar da primeira vez que Alex me
chamou de fora da minha janela.
Ele veio para roubar um beijo, mas acabou roubando meu coração.
Eu me pergunto o que aquele ladrão quer roubar agora.
— Pode, — eu digo, sorrindo de volta. — Apenas fique quieto.
Alex sobe pela lateral da casa e rasteja pela janela, caindo estatelado
no chão.
Enquanto eu o ajudo a se levantar, ele me puxa para perto e me beija
profundamente.
Todos os meus medos de Alex estar decepcionado comigo
desaparecem instantaneamente, e eu derreto em seus braços.
— O que você está fazendo aqui? — Eu pergunto, olhando nos olhos
ansiosos de Alex.
Ele nunca passou a noite aqui, principalmente porque provavelmente
seria estranho para Steve e Louisa saber que o rei está dormindo na casa
deles.
Mas é óbvio que Alex não está aqui para dormir...
— Eu tenho algo que preciso perguntar a você, — ele diz, nervoso. —
Talvez esteja muito cedo... ou talvez o momento não seja o mais
adequado, mas eu sei no meu coração que somos feitos um para o outro.
— Alex, o que você está dizendo... — Meu coração está acelerado.
— Ariel, o que temos é muito mais forte do que o destino. É real e
inquebrável.
Minha Deusa. Ele vai...
— Ariel. você quer ser minha Luna?
— Eu... hum, eu...
Estou completamente atordoada. Meu coração está preenchido e meu
amor por Alex está mais forte do que nunca, mas...
Mesmo que minha resposta esteja na ponta da minha língua...
Não sei qual será.
Capítulo 10
A PROPOSTA EM ESPERA ARIEL
Enquanto Alex me encara em antecipação, parece que o tempo
congelou.
Ele quer que eu me torne sua Luna...
Oficializados em uma cerimônia de acasalamento...
Mas estou pronta para tudo o que vem com o acasalamento com um
rei?
As festas.
As multidões.
Os discursos.
Estou ficando ansiosa só de pensar nisso.
Sem mencionar a perspectiva de eventualmente começar uma
família... algo que é acelerado consideravelmente quando se trata de pares
reais.
Levei tanto tempo para chegar onde estou agora... Só não quero
retroceder.
Talvez Alex tenha lidado totalmente com seu trauma e saído do outro
lado uma pessoa mais forte.
Mas no meu caso?
O outro lado ainda é pouco visível no horizonte. Eu tenho um longo
caminho a percorrer.
— Ariel, você está me matando com este silêncio, — diz Alex,
desconfortável. — Por favor, pelo menos diga alguma coisa.
— Eu te amo... — eu digo, seguido por uma respiração profunda.
— Mas... — Alex diz, seu rosto desanimado.
— Não estou pronta, — digo, embora as palavras pareçam uma lixa na
minha língua.
Por mais que me machuque recusar a proposta de Alex, agora
simplesmente não é o momento certo.
Não posso me jogar de um penhasco enquanto ainda estou
aprendendo a usar minhas asas.
Embora os olhos de Alex estejam impregnados de tristeza, ele ainda
esboça um sorriso.
— Estou feliz que você esteja sendo honesta, — diz ele, envolvendo-
me em um abraço.
Eu finalmente relaxo, me sentindo confortada em seus braços.
— Eu gostaria de estar pronta. Eu realmente gostaria. — murmuro,
tentando lutar contra minhas lágrimas.
— Eu sei, meu amor, — ele diz, acariciando meu cabelo. — É muita
pressão. Pressão demais. Vou esperar por você o tempo que você precisar.
Eu enterro meu rosto em seu peito, tentando secar minhas lágrimas.
Não tenho dúvidas de que tenho um futuro com Alex.
Eu acredito firmemente que ele é o par que Selene me disse para
curar.
Mas por enquanto... eu ainda tenho que lidar com minha própria
cura.

Saio do chuveiro e me seco depois de um longo dia de patrulha.


Enquanto visto uma camiseta e uma calça de couro, me examino no
espelho.
Minha mão está tremendo...
Também estava tremendo durante a patrulha.
Apesar de Alex me dizer que vai esperar por mim o quanto for
necessário, isso não ajuda muito a tranquilizar minha ansiedade.
Minha loba chorou o dia todo, e isso está me fazendo sentir que estou
enlouquecendo.
Tudo que eu quero é me sentir normal...
Como eu era antes dos caçadores.
Talvez se eu me concentrar mais nesta investigação e começar a
encarar meu passado, finalmente encontre uma maneira de seguir em
frente.
Eu preciso enfrentar meus medos. Eu não vou deixar que eles me segurem.
— SURPRESA!!!
Os cabelos da minha nuca se arrepiam e eu imediatamente entro no
modo guerreiro.
Eu me viro, com minhas unhas se alongando em garras, e derrubo o
inimigo que invadiu meu quarto.
— Ai, vadia! O que você está fazendo!?
Encontro-me deitada em cima de Amy, que parece mais do que um
pouco irritada por eu estar prendendo-a na minha cama.
— Amy! Não se aproxime furtivamente de um guerreiro da matilha!
Você é louca?
— Isso é uma pergunta? Claro que sou, — ela responde, sorrindo.
Eu desabo ao lado dela, e nós duas começamos a rir pra caramba.
— Essa é a última vez que tento fazer uma visita surpresa a você, — ela
diz, me cutucando nas costelas.
— Nós duas sabemos que isso não é verdade, — eu respondo,
balançando a cabeça. — Você é dramática demais para não fazer uma
entrada igualmente significativa.
— Isso é verdade, — ela diz brincando. — Eu tenho que alegrar sua
vida chata de alguma forma. Não é como se você fosse uma guerreira da
matilha que estivesse namorando um rei ou algo interessante assim.
Enquanto rimos, uma batida na porta chama nossa atenção.
Angel empurra hesitantemente, mas para quando vê Amy.
— Ah, desculpe... eu não sabia que você tinha companhia. Steve me
disse que você estava aqui.
Amy ergue uma sobrancelha enquanto examina o corpo tatuado à sua
frente.
Deusa, ele é exatamente o tipo dela.
— Amy, — diz ela, de repente se levantando e estendendo a mão. —
Você é o cara que eles encontraram na floresta fora da minha matilha,
certo?
Ã
Uau, delicadeza NÃO é o forte de Amy.
— Hum, sim... eu sou, — diz ele, pegando a mão dela hesitantemente
e dando-lhe um aperto desajeitado.
— Este é Angel, — eu digo, tentando esconder meu sorriso. — Nós
deveríamos nos encontrar agora, mas já que você apareceu sem avisar...
— Tudo bem. conversamos mais tarde, — ela diz. — Já entendi o
recado. Vou ficar mais ou menos uma semana mesmo. Já acertei com
Alex.
Enquanto Amy passa por trás de Angel, ela olha para mim e murmura:
— QUE GATO! — enquanto finge abanar seu rosto.
Eu balanço minha cabeça para ela enquanto ela sai. É melhor Angel
tomar cuidado.
Parece que ele acabou de ser atingido no rosto por uma rajada de
vento inesperada, o que descreve Amy com bastante precisão.
— Sinto muito por ela, — eu digo. — Ela é minha melhor amiga. Nem
todo mundo consegue lidar com ela.
— Ela parece... uma força da natureza, — ele responde. — E isso não é
uma coisa ruim.
Furacões e tornados são forças da natureza também, mas não quero
assustá-lo. então mantenho meus lábios bem fechados.
— Você está pronto para a nossa sessão? — Eu pergunto, de repente
me sentindo nervosa. — Porque eu quero tentar algo diferente hoje...
Algo para o qual espero estar pronta.

— Feche os olhos, — digo baixinho enquanto me sento em frente a


Angel em minha improvisada câmara de meditação. — Tente focar na
minha voz.
Enquanto Angel segue minhas instruções, respiro fundo.
Estou prestes a desenterrar algumas memórias extremamente
sombrias.
Memórias que quero esquecer para sempre.
Mas enfrentá-las pode ser a melhor maneira de ajudar Angel a
recuperar suas próprias memórias sombrias.
— Eu... eu vou contar a você sobre minha experiência... com os
caçadores, — eu digo um pouco trêmula. — Talvez isso desencadeie algo
sobre sua própria experiência.
Ele acena silenciosamente.
Eu fecho meus olhos e começo a pensar sobre aqueles dois anos...
Os piores dois anos da minha vida.
— Eles me mantiveram em uma jaula. Amarraram meus pulsos e
tornozelos com correntes de prata. Injetaram acônito e soro de prata em
mim. — eu rosno, minha garganta parecendo seca.
— Eles... eles me forçaram a me transformar. Repetidas vezes. Eu
podia sentir meus ossos quebrando com uma dor torturante. Em todas as
vezes.
Sem dizer uma palavra, Angel pega minha mão e a aperta. O gesto me
encoraja a continuar.
— Eles tentaram me desconfigurar. Tirar todo o meu livre arbítrio.
Tirar minha loba. — Lágrimas começam a se formar em meus olhos e
tento impedi-las.
— Eu era apenas um experimento para eles. Eles queriam me
controlar. Eles queriam que eu fosse sua arma.
As lágrimas começam a cair enquanto eu penso em cada agulha, cada
queimadura dolorosa, cada osso quebrado.
— Eu pensei que nunca iria escapar. E que ninguém jamais me
encontraria. Eles me mantiveram no subsolo em um laboratório, em que
mal conseguia sobreviver.
Angel aperta minha mão com ainda mais força.
Está funcionando? Porque com certeza está me fazendo sentir uma merda.
Eu engulo um soluço enquanto tento continuar.
— Eles tiraram tudo de mim. Minha família. Minha vida. Meus
sonhos. Minha capacidade de me sentir normal. E não sei se algum dia
terei essas coisas de novo.
De repente, as garras de Angel estão cravadas em minha mão e eu
abro os olhos, ofegando de dor.
Seus próprios olhos estão abertos e vermelhos.
Mas apenas por um momento.
Eles voltam ao seu tom roxo agradável enquanto Angel me encara
intensamente.
— O que aconteceu? — Eu pergunto, preocupada. — Você está bem?
Ele balança a cabeça, mas continua segurando minha mão.
— Ariel... eu... eu me lembro de algo.
— O que? Do que você se lembra? — Eu pergunto com urgência.
— Lembro-me do laboratório... sei onde fica.
Ariel: Tenho uma pista

Ariel: Das grandes

Ariel: Angel se lembrou de onde fica o laboratório Xavier: Espere,


quem?

Xavier: Que laboratório??

Ariel: Angel

Ariel: O experimento

Ariel: Consegui ativar uma parte da memória dele.

Ariel: E o laboratório em que ele foi mantido refém não é muito


longe.

Ariel: Talvez um dia de carro para nós dois.

Xavier: Então me mande as coordenadas e eu te encontrarei no


caminho.

Xavier: Não há tempo a perder!

Ariel: Concordo.

Ariel: Vamos levar Xavi de volta para casa.


ALEX

— É muito perigoso ir sozinha, — eu digo com firmeza enquanto Ariel


calça suas botas de combate. — Os caçadores são imprevisíveis.
Ela já está vestida com seu equipamento de guerreiro tático, pronta
para uma luta.
E ela já se decidiu, independente de eu a proibir ou não.
— Não estarei sozinha, — ela diz, pegando minha mão e tentando me
consolar.
Mas saber que Xavier estará lá não me conforta em nada.
— Alex, eu preciso fazer isso, — diz ela com desespero.
Enquanto eu olho em seus olhos, posso ver o tormento por trás deles.
Eu sei que isso é algo que ela precisa enfrentar.
Mas isso não significa que não será doloroso deixá-la ir.
Sinceramente, não sei o que dói mais...
Ariel rejeitando minha proposta de acasalamento...
Ou entrando em uma situação perigosa sem mim ao seu lado.
Mas Xavier estará ao seu lado...
E de certa forma, isso me assusta mais do que os caçadores.
Capítulo 11
BECOS SEM SAÍDA ALEX
Eu vejo Ariel carregar sua moto enquanto meu estômago se enche de
pavor.
Por fim, concordei quando ela disse que precisava ir. Eu confio nela.
Não confio em Xavier.
Eu sei que ela é uma guerreira forte, mas ainda odeio isso.
Ela está indo direto para o covil dos caçadores.
Eu gostaria de poder ir com ela, mas não posso deixar minha matilha
sozinha.
E meu pai...
— Ariel, pelo menos leve alguns guerreiros da matilha com você, — eu
digo, fazendo um último apelo.
— Um esquadrão de guerreiros vai nos revelar, — ela responde, — e
estamos buscando o elemento surpresa. Qualquer outra pessoa iria
apenas me atrasar.
— Leve Angel, então, — eu digo. — Ele pode ajudar.
— Angel tem sua própria merda para lidar. Alex. Ele precisa de tempo
para tentar recuperar mais de suas memórias. Eu não quero atrasá-lo.
Ariel fica na ponta dos pés e dá um beijo em meus lábios, demorando-
se por um momento, o qual eu gostaria de poder viver para sempre.
— Eu te amo, — Ariel diz com firmeza. — Eu só vou trazer meu
sobrinho de volta, e então estarei bem aqui ao seu lado. Foque em seus
deveres de matilha e em passar o máximo de tempo que puder com seu
pai.
Depois de mais um beijo doce, ela se afasta e monta em sua moto.
Ela olha por cima do ombro antes de partir.
Meu coração se aperta dentro do meu peito quando o som de seu
motor desaparece com a distância.
ARIEL
Eu odeio deixar Alex para trás, mas tenho que priorizar salvar meu
sobrinho. Pelo meu pai. Pela minha irmã. Pela minha família inteira. Eles
estão todos contando comigo.
Estou perto do ponto de encontro combinado e posso ver a silhueta
do carro esportivo preto de Xavier à distância. O carro que ele usava para
levar nosso esquadrão em passeios quando éramos adolescentes.
Ele está encostado nele quando me aproximo.
Eu desligo o motor e passo minha perna por cima da minha moto.
Xavier se endireita enquanto caminho em sua direção.
— Ariel, — diz ele com um sorriso, — obrigado novamente por ter
vindo.
— Estou aqui para ajudar, — digo. — Tudo o que eu puder fazer, eu
farei.
Xavier e eu decidimos que irei na frente com minha moto. Sermos
discretos para afastar qualquer suspeita ou alertar os caçadores de que
estamos chegando é nossa maior prioridade.
A partir deste ponto, temos mais metade de um dia de viagem, mas
nós dois estamos determinados a fazer a jornada de uma vez para que
tenhamos a cobertura da noite para mascarar nossa infiltração no
laboratório.
Nada vai nos impedir de chegar lá.

Já passa da meia-noite quando escondemos minha moto e o carro de


Xavier em diferentes estradas de terra.
O laboratório fica a apenas alguns quilômetros de distância.
Atravessamos uma clareira e chegamos a um prédio de concreto de
dois andares. O laboratório.
Mesmo do lado de fora, é possível sentir o cheiro de alvejante e
suprimentos médicos. Xavier para na minha frente e espero seu comando
como uma boa guerreira.
Eu observo enquanto ele escuta atentamente, examinando a área em
busca de algum sinal. Não consigo sentir nenhum humano. Pelo menos
não pelo som. Mas o cheiro fraco está vindo de algum lugar.
— Avance com cuidado, — diz ele. Não posso deixar de lembrar de
nosso treinamento de esquadrão guerreiro com Xavier no comando.
Antes de sabermos que éramos pares destinados. Antes de ser levada e
minha vida inteira ser arrancada de mim.
Caminhamos ao redor do prédio, nos aproveitando das sombras até
chegarmos a uma entrada lateral.
— Vamos, — ele diz, mal conseguindo manter sua voz em um
sussurro.
Seguindo suas ordens, eu chuto a porta e Xavier entra primeiro.
Nós examinamos a área, mas não há sinais de humanos.
Nem do bebê.
Eu corro escada acima e verifico cada um dos quartos.
Nada.
Apenas o cheiro deles persiste.
Eu desço a escada de metal.
Xavier está inclinado sobre uma mesa, com os braços tensos e a cabeça
baixa.
— Sinto muito, Xavier, — eu digo a ele. — Eles devem ter estado aqui
há apenas algumas horas. Mas nós os perdemos.
Estou surpresa com o som de seu punho batendo na mesa.
— Não consigo sentir o cheiro de Xavi, — diz ele. — Não há sinal de
que ele esteve aqui. — Furioso, Xavier joga os suprimentos médicos da
mesa no chão. Ele levanta e arremessa a mesa, fazendo com que uma das
pernas se quebre.
Quando ele não pode destruir mais nada nesta área, ele se move para
uma maca, batendo-a contra a parede e, em seguida, golpeia um armário
cheio de frascos e suprimentos cirúrgicos.
Ele só para quando um frasco se estilhaça contra sua pele.
Prata líquida.
E está queimando toda a carne de seu antebraço.
— Xavier, pare! — Eu digo enquanto ele grita de dor.
Pego o que parece ser uma toalha limpa dobrada e algumas luvas de
látex para limpar a prata de sua pele. Depois, eu o levo até uma pia para
ter certeza de que vamos enxaguar todo o líquido.
Há uma queimadura de terceiro grau por causa da prata, e posso ver o
tecido sob sua pele sangrando.
Eu não posso curar o pai de Alex, mas...
Tirando minhas luvas, coloco minhas mãos sobre a queimadura e ela
se cura quase que instantaneamente. Sinto a dor se transferir para dentro
de mim ao sair de seu corpo, mas logo passa e sinto uma sensação de
alívio.
Xavier está ofegante e ainda claramente chateado, mas confuso, ele
diz: — O que...
Pelo menos meus poderes foram úteis para alguma coisa.
— O que os caçadores fizeram com você? — Xavier pergunta.
— Explico mais tarde. Deve haver algo que possamos aproveitar daqui,
— eu digo, percorrendo meus olhos ao redor da sala.
Algumas seringas e frascos de sangue estão espalhados pelo chão. Eu
cuidadosamente pego o que não está quebrado para levar de volta à
Matilha Real para análise.
— Ariel, — eu ouço Xavier do outro lado da sala. Quando me viro, o
encontro parado ao lado de um computador extremamente antigo.
Existem pilhas de disquetes ao lado dele. Aproximo-me e vejo que o
que está no topo diz — X7, Dia 42: Transformação com Acônito.
Eu engulo em seco enquanto Xavier coloca o disquete na bandeja do
computador e aperta o play.
A tela é preenchida com uma visão aérea de alguém amarrado à mesa
que Xavier derrubou momentos atrás, com braços e pernas presos com
algemas de prata.
Ele possui o corpo inteiro coberto de tatuagens, e posso reconhecer
imediatamente...
Angel.
Meu corpo reage involuntariamente com um arrepio tenso quando
vejo as queimaduras que cobrem seus pulsos e tornozelos.
Eu sei exatamente como é.
Pessoas em jalecos de laboratório ficam em volta dele, e uma delas
adiciona acônito a um intravenoso com uma seringa.
Na tela, Angel começa a ter convulsões e lutar contra a dor.
Finalmente, ele não aguenta mais e solta um grito horripilante
quando seus ossos se quebram e perfuram a pele de seus braços e pernas.
Eles estão forçando uma transformação, e é quase insuportável assistir
sabendo que eu estava exatamente na mesma situação há apenas alguns
meses.
Eu olho para Xavier enquanto ele observa com horror o que eles estão
fazendo com o lobisomem indefeso na mesa.
Então, ele encontra meus olhos como se procurasse ver se foi isso que
eu passei.
Vencida pelo que quase parece vergonha, direciono o olhar para os
meus pés.
— Foi... isso que eles fizeram com você durante esses dois anos?
— Entre outras coisas, — eu respondo suavemente. Eu olho de volta
para as figuras na tela, um caçador em específico me chama a atenção.
Eu já o vi antes. Ele foi um dos que fez experimentos em mim sob as
ordens de Curt. Um dos que matei para escapar.
Eu vejo a data no canto superior da tela.
12 de dezembro.
Na mesma época, eu também estava trancada em um laboratório
muito parecido com este.
Poucos dias antes de morrer amarrada a uma mesa.
Dias antes de ser trazida de volta pela Deusa.
Dias antes, eu assassinei seis homens para ganhar minha liberdade.
O caçador que reconheço sorri com desdém na imagem do vídeo.
Como se ele estivesse gostando desse show horrível, sangrento e
doloroso.
Sinto minhas mãos começarem a tremer e minha respiração fica presa
no peito. De repente estou suando e não consigo respirar.
— Ariel? — Xavier coloca a mão no meu ombro, mas eu rapidamente
encolho os ombros e tento me afastar do computador, colocando minhas
mãos em meus ouvidos para bloquear os gritos.
Mas não são os gritos de Angel que estou ouvindo mais. São os meus.
Eu caio de quatro e sinto minhas garras se estendendo, o pelo branco
de minha loba começando a brotar da minha pele, e a sensação
inconfundível de meus ossos rachando e se contorcendo.
Deusa, não.
De novo não!
Não aqui!
Minha loba está tentando me proteger do trauma assumindo o
controle, mas temo o que acontecerá se eu deixá-la ter o controle.
A última vez que ela saiu sozinha, fiquei presa por semanas. Apenas
Alex poderia me trazer de volta.
Eu não posso deixá-la assumir. Aqui não. Não longe de Alex e da
segurança da Matilha Real.
— Ariel! — Xavier se posiciona do meu lado e se ajoelha. — Ariel, o
que está acontecendo? O que eu posso fazer?
Tento falar, mas não consigo pronunciar as palavras.
Minha voz é silenciada pelo uivo penetrante de minha loba.
Eu sei que não adianta quando eu finalmente rasgo minhas roupas.
Eu não tenho controle.
Capítulo 12
LUTA OU FUGA ARIEL
Meu corpo está completamente fora do meu controle.
Eu uivo com todas as minhas forças.
Qual é o problema comigo?
Aprendi a me acalmar quando algo me incomoda.
Mas as vozes... os gritos...
Eu uivo novamente e agarro meu peito para tentar manter meu
tormento contido.
Selene...
Onde você está?
Me ajude.
Proteja-me de mim mesma.
Não está funcionando.
E não consigo ouvir a voz suave e calma da Deusa.
Onde ela está?
Há outro grito na gravação.
Eu cravo minhas garras em qualquer coisa que esteja à minha frente,
uivando de dor quando minha mão faz contato com uma viga de metal.
— Deusa, Ariel! — Xavier corre até o computador e o desliga.
— Você está bem? — ele pergunta, tentando ver se estou firme.
Eu uivo novamente.
— Ele não está aqui. É apenas uma gravação. Você está segura.
Logicamente, concordo que ele está certo.
Ninguém está ameaçando minha segurança neste momento.
Mesmo assim, todos os meus instintos de luta ou fuga estão
disparando. Minhas glândulas suprarrenais estão inundando e minha
loba está em pânico total.
Eu pressiono todos os músculos do meu corpo para tentar me
transformar de volta para a minha forma humana, mas isso só consegue
me deixar tonta.
Eu caio no chão, rolando, me contorcendo enquanto meu cérebro
tenta lutar contra meu corpo e perde.
Preciso de ajuda.
Eu preciso da Deusa da Lua.
Eu preciso de Alex.
Mas ele não está aqui.
Xavier está, no entanto.
Eu posso ouvi-lo chamando meu nome.
E agora, posso senti-lo me tocando, tombando sobre meu corpo se
contorcendo. Pressionando suas mãos em meus ombros. Esfregando-os
suavemente.
— Está tudo bem, — diz ele. — Tudo vai ficar bem.
Quanto mais ele me toca, mais o nó no meu estômago começa a se
desfazer.
Posso sentir um calor brilhando em meu interior. A luz no fim do
túnel.
Consigo recuperar o fôlego.
Lentamente, mas com segurança, a voz de Xavier se torna mais alta do
que a voz de minha loba soando na minha cabeça em pânico. Ele aperta
suas mãos em meus ombros enquanto eu finalmente me transformo de
volta para minha forma humana.
Respiro fundo e abro os olhos. Eles encontram os dele. Ele está
praticamente em cima de mim.
Ele coloca a mão na minha bochecha.
A faísca que sinto quando sua pele entra em contato com a minha é
um pouco intensa demais.
Estou nua.
Desvio meu olhar, envergonhada.
Mas ainda posso sentir seus olhos fixos em mim.
Minhas bochechas ficam vermelhas.
— Obrigada, — eu digo baixinho.
— Eu não tinha ideia... — sua voz diminui.
— O quê?
— Eu não tinha ideia do tipo de tortura que você passou quando foi
levada. E o quanto deve ter doído quando te bani da matilha depois que
você voltou.
Eu concordo. Não há mais nada a dizer.
— Eu sinto muito, Ariel, — diz ele, acariciando minha bochecha
novamente. — Pedir desculpas não é o suficiente. Eu era seu Alfa. Eu
falhei com você.
Eu saio debaixo dele e fico de pé.
— Bem, — eu digo, limpando minha garganta, — está tudo no
passado agora.
Eu puxo minha jaqueta rasgada sobre meu corpo.
— Está mesmo? — ele me pergunta com um sorriso sutil, mas muito
atrevido.
— Sim. — eu digo, interrompendo a conversa abruptamente e saindo
para pegar uma muda de roupa na minha moto.
Claro que está!
Pelo menos... eu pensei que estivesse.
ALEX

Observo o prato de comida na minha frente.


Nada disso é apetitoso...
Não consigo comer sabendo que Ariel está em perigo.
E que a única pessoa ao seu lado é seu ex-par destinado.
É mais do que posso lidar... minha imaginação está indo longe.
Afasto o prato, enquanto imagens nojentas de Xavier e Ariel inundam
minha mente.
Helena, que felizmente está devorando um prato cheio de comida na
outra ponta da mesa ao lado de Dom, olha para mim.
— Qual é o problema? — ela me pergunta.
— Nada, — eu minto.
— Desembucha, — ela insiste, — algo deve estar errado, já que você
não está lambendo o seu prato. Fale comigo.
— Tudo bem, — eu admito. — Eu tenho uma pergunta.
— Manda, — ela diz, apoiando as mãos na barriga.
— Você é mulher...
— Essa é a pergunta?
— As mulheres consideram resgatar um bebê sequestrado de um
caçador feroz como uma situação implicitamente romântica?
— Sim, claro. É a fantasia de toda garota.
— Sério?
Com um olhar, seu sarcasmo ardente me queima.
— Ah. — eu digo, tímido.
O rosto de Helena se abre em seu sorriso familiar e amável.
— Você não tem nada com que se preocupar, Alex.
— Sim, — acrescenta Dom. — Ariel e Xavier no máximo toleram um
ao outro.
— Mas e se isso mudar?
— Espero, para o bem de ambos, que isso aconteça, — diz Helena. —
Eles são da mesma família, afinal.
Isso é verdade. Xavier provou ser um idiota diversas vezes, mas duvido
que ele faria algo para prejudicar seu relacionamento com Natalia,
especialmente durante esses tempos difíceis.
E enquanto Ariel está fora com sua família, posso tentar focar minha
mente viajante em mim mesmo.
— Você está certa, — eu digo a Helena. — Obrigado. — Eu me levanto
da minha cadeira.
— Espere. Alex? — ela chama atrás de mim. — Posso comer isso? —
ela pergunta, apontando para o meu prato.
Eu mostro para ela um polegar para cima e rio enquanto ela puxa meu
prato para si.
Comendo por dois, de fato.
Eu corro escada acima em direção aos aposentos dos meus pais. O
hospital deu alta ontem ao meu pai, na esperança de que ele fique mais
confortável no palácio. Estou feliz com isso. Ele estava ficando
claustrofóbico enfiado naquele cubículo do hospital.
Quando eu bato à porta e entro, ele está deitado na cama lendo um
livro. Eu espio a capa.
É uma enciclopédia de plantas medicinais e seus usos medicinais.
Isso faz meu coração apertar.
Meu pai sempre foi cético em relação aos tratamentos holísticos,
então vê-lo explorando esses métodos deve significar que sua vida está
realmente em jogo.
Ele abaixa o livro quando eu me aproximo e um sorriso enorme se
forma em seu rosto.
— Meu garoto... como você está? — ele me pergunta.
Eu me coloco em uma cadeira ao lado dele.
— Você não parece muito bem, — diz ele.
Normalmente, eu apenas diria a ele que está tudo bem e guardaria
tudo para mim.
Mas agora que o tempo de meu pai está se esgotando, lamento cada
vez que evitei suas perguntas e neguei a verdade.
— Estou preocupado com Ariel, — eu digo.
— Ela está investigando os caçadores, não é?
Eu concordo.
— Ariel é uma guerreira, — diz meu pai. — Ela pode muito bem
cuidar de si mesma.
— Claro que ela pode. Não duvido disso nem por um segundo. Ela é a
lutadora mais incrível que já vi.
— Então qual é o problema?
— Bem... — eu começo, — Eu pedi a Ariel para oficializarmos nosso
relacionamento. Pedi a ela para ser minha Luna... e ela disse não.
— Sério? — Meu pai pergunta, mais curioso do que chocado, como eu
esperava que ele fosse.
— Na verdade, — acrescento, — ela disse que ainda não está pronta.
Mas não sei quanto tempo vai demorar até que ela esteja.
— Pense no que você está pedindo a ela, Alex, — diz meu pai. —
Tornar-se seu par significa se tomar a Luna da Matilha Real. A Rainha
dos Lobisomens...
— É uma responsabilidade enorme para qualquer um, ainda mais para
alguém que passou por tanto quanto ela.
— Eu sei, — eu digo, sentindo minhas bochechas começarem a ficar
vermelhas com o calor. — Você vai ter que tentar ficar por mais um
tempo então. Porque eu quero que meu pai me veja acasalado e não sei
quando isso vai acontecer.
Ele alcança fracamente minha mão e eu agarro a dele.
— Eu adoraria. Claro, — ele diz, — mas tudo que realmente quero é
ver meu filho feliz. Depois que Olivia morreu... Eu não sabia se você seria
você de novo. O que você tem com Ariel é especial. Por favor, não se
apresse por minha causa... ou por sua mãe, por falar nisso.
— Mas...
— Promete? — ele me pergunta com um sorriso suave.
Eu aceno, por que o que mais posso fazer?
— Eu prometo.
— Ela será uma grande rainha, — diz ele, recostando-se no travesseiro
e fechando os olhos. — Quando o dia chegar...

Quando saio de seu quarto algum tempo depois, me sinto muito mais
leve do que quando entrei.
Sua bênção me deu uma sensação de paz interior.
Eu sorrio para mim mesmo, pensando no que vou fazer com Ariel
quando ela voltar. Neste momento, encontro Dom e Angel caminhando
juntos no corredor.
— Onde está Helena?
— Descansando, — Dom responde.
Eu aceno.
— Ei... vamos tomar uma bebida.
— Estamos no meio do dia. Não deveríamos estar trabalhando? —
Dom me pergunta.
— Deveríamos, — dou uma piscadinha.
— Você é o melhor Alfa de todos os tempos. — Dom diz. — Vamos.
Seguimos em direção à entrada da frente. Angel fica para trás.
— Você vem? — Pergunto-lhe.
— Eu não quero me intrometer.
— Você vem sim. — eu digo, dando um tapinha em seu ombro.
ARIEL

É tarde quando Xavier e eu voltamos à Matilha Real.


Nós prendemos minha moto na parte de trás do carro dele e viajamos
juntos, mas passamos a maior parte da viagem em silêncio.
Eu ainda estava muito envergonhada com a minha pequena crise para
bater papo.
Durante todo o trajeto, Xavier esteve me lançando olhares, tentando
chamar minha atenção.
E eu segui olhando pela janela, mantendo meu olhar focado na
extensa paisagem à nossa frente.
Ao chegar, Xavier insiste em me deixar na casa de Steve e Louisa.
Digo várias vezes que fico mais do que feliz em caminhar sozinha, mas
ele me acompanha até a varanda da frente da casa.
— Já se passaram dois longos dias, — diz ele. — Eu só quero ter
certeza de que você está bem.
— Estou bem, — digo.
E mesmo se eu não estiver, não é problema seu, não digo.
Com minha mão já posicionada na maçaneta da porta, eu me viro
para ele.
— Tchau, — eu digo. — Lamento não termos encontrado nada. E eu
sinto muito sobre...
— Ariel, — diz ele.
— O que?
E então eu sinto. Xavier pega minha mão livre.
Me puxa em direção a ele.
E antes mesmo de eu perceber o que está acontecendo...
Xavier está me beijando.
Capítulo 13
UM BEIJO ROUBADO
ARIEL

Xavier.
Meu ex-par destinado...
Par da minha IRMÃ...
Está me beijando!
Não.
Isso não pode estar acontecendo.
Eu não posso fazer isso.
Eu me afasto.
Ou tento, pelo menos.
Parece que nossos lábios são dois ímãs.
Eu pressiono minhas mãos contra seu peito e, com toda a força física e
emocional que posso reunir, o empurro para longe de mim.
Ele está olhando para mim com um sorriso tímido.
Eu não sei o que dizer.
Beijar Xavier era minha fantasia adolescente e, para ser honesta, seus
lábios eram tão bons quanto eu sonhei que seriam.
Mas não quero mais essa fantasia. Nossa chance de sermos pares se foi
há muito tempo.
Algo em mim pensa que Xavier não concorda necessariamente. Ele
lambe os lábios e dá mais um passo em minha direção enquanto eu me
afasto.
— Xavier, pare.
— Eu sei que você sente isso, — diz ele. — Nosso vínculo não está
quebrado. Isso parece certo. Nada parecia certo há muito tempo.
— Xavier, não. Você só está chateado. Seu filho está desaparecido e
você... você está...
— Eu não me importo por quê. Só sei o que quero fazer agora. Eu só...
— Ele me puxa para ele novamente, e eu sou praticamente eletrocutada
pela faísca que sinto quando ele toca minha cintura.
Mas não posso beijá-lo de novo, mesmo que meu corpo queira.
— Não, — eu digo, mais uma vez para garantir.
Abro a porta e tropeço para dentro.
Ele chama atrás de mim.
— Eu vou ficar no hotel da Matilha Real esta noite. Quarto 14, — diz
ele. — Venha me ver se mudar de ideia. Por favor, mude de ideia.
Antes que ele possa falar outra palavra, bato a porta na cara dele.
Que merda foi essa?
ANGEL

Sentado no topo da torre de água com Dom e Alex, não posso deixar
de me sentir parte do grupo.
Cada um de nós tem uma cerveja na mão enquanto rimos
histericamente das piadas estúpidas de Dom.
Este é um bom descanso do mistério que me consume toda a minha
existência.
Por apenas uma tarde, posso me sentir normal.
E eu realmente gosto da companhia desses dois.
Especialmente quando estou mais do que um pouco embriagado.
— Não vai ser tão fácil beber no meio do dia, quando o filhote chegar,
— diz Alex, dando uma cotovelada em Dom.
— Espere — bebês não podem consumir bebidas alcóolicas? — Dom
gargalha.
— Estou falando sério, — diz Alex. — As coisas estão prestes a mudar.
Este é o fim de uma era.
— Um brinde ao fim de uma era, — Dom diz, levantando sua garrafa.
— E o começo de uma nova.
Todos nós brindamos com as garrafas.
— A nova era pode começar em breve, — Dom acrescenta.
Por alguma razão, quando Dom disse isso, senti minha pele começar a
arrepiar.
— Você deveria pedir ao doutor para injetar alguns medicamentos em
você, para que você possa manter a calma durante o parto. — Alex diz.
— Eu queria, cara. Mas Helena vai tentar fazer a coisa toda natural.
Como uma supermulher.
Alex está sorrindo. Mas eu não estou.
Essa conversa está me deixando extremamente enjoado. E não tenho
ideia do porquê.
Doutor.
Filhote.
Medicamentos.
Injetar.
Eu fecho os olhos para parar a vertigem.
Mas quando os abro novamente, não estou olhando para o perímetro da
Matilha Real.
Em vez disso, estou olhando para a careta de um caçador.
Um nome passa pela minha mente: Soldado... o Soldado de Prata.
O que...
Ele segura uma seringa brilhante sobre mim.
Meus olhos estão fixos na agulha.
Está me deixando tonto.
Os lábios do Soldado de Prata estão se movendo.
Eu não consigo ouvi-lo.
O que ele está dizendo?
Acho que ele está falando comigo.
Eu observo seus lábios, tentando interpretar as contorções de sua boca.
E então, eu entendo suas palavras.
— Você está quase pronto, — diz ele. — Você vai fazer um ótimo trabalho.
Hã?
Mas não tenho mais tempo para questionar esse sentimento porque ele
enfia a agulha no meu braço.
Eu grito com todas as minhas forças — e de repente estou de volta.
Estou no topo da torre de água novamente. Alex está com a mão no
meu ombro. E estou tremendo, encharcado de suor frio.
— Você está bem, cara? — ele me pergunta.
— Desculpe, eu...
— Você não parece muito bem, — diz ele.
— Sim, é que — bebemos muito com o estômago vazio, — eu digo.
Alex concorda.
— É verdade. Por que não voltamos? Já está na hora, de qualquer
maneira.
— Ok, — eu respondo, juntando as garrafas vazias em meus braços.
Alex e Dom continuam conversando enquanto caminhamos em
direção ao palácio, mas tudo que posso ouvir são as palavras do caçador
ecoando em minha cabeça.
— Você está quase pronto.
Pronto para quê?
ARIEL

Depois de olhar para a porta fechada em estado de choque por mais


um tempo, eu finalmente me viro, desesperada para desabar em minha
cama buscando um pouco de conforto.
Mas, quando me aproximo da escada, dou uma olhada na sala de estar
e vejo Steve e Louisa aninhados no sofá juntos.
Se eu for direto para o meu quarto, vou me afogar em minha própria
confusão e ansiedade.
Preciso falar sobre o que acabou de acontecer e esta é minha chance.
Enquanto eu caminho em direção a eles, eles acenam para mim.
— Ariel, querida! Junte-se a nós! — Louisa me indica a cadeira em
frente a eles.
Tenho estado tão distraída ultimamente que não tenho passado muito
tempo com Steve e Louisa. E alguns conselhos paternais seriam ótimos
agora.
Como meu pai, Steve sempre parece ser capaz de avaliar meu humor
pelas minhas expressões faciais.
— Você está bem? — ele pergunta assim que dá uma boa olhada em
mim.
Balanço a cabeça em negativa.
— O que aconteceu? — Louisa se inclina para frente.
Eu respiro fundo. Eu sei como minhas próximas palavras vão soar
ridículas saindo da minha boca. — Xavier me beijou.
— O QUÊ? — Louisa parece chocada.
Steve se levanta.
— Aquele garoto... vou acabar com ele!
— Ele foi embora, — eu disse.
Louisa puxa Steve de volta para o lado dela.
— Vamos colocar o plano de acabar com ele de lado por um segundo.
Como você está se sentindo? — ela me pergunta.
— Alex vai surtar.
— Esqueça Alex por um segundo também. Como você se sente? — Eu
faço uma pausa. Ainda não tive um momento para processar totalmente
o que acabou de acontecer.
— Xavier é um idiota arrogante com um péssimo temperamento. Eu
sei disso. Mas quando estou com ele meu corpo anseia por ele. E eu me
odeio por isso.
— Ei, — diz Louisa, — não seja tão dura consigo mesma.
— Eu sou uma pessoa má.
Louisa balança a cabeça vigorosamente.
— Não, Ariel. Você não é.
— Na verdade, você é uma das melhores pessoas que conheço —
interrompe Steve.
— Os sentimentos vêm e vão, — diz Louisa. — Não há vergonha neles.
Mas as ações falam mais alto.
— Então... o que devo fazer agora? — Eu pergunto, embora eu saiba a
resposta.
— Fale com Alex, — ela responde.
— O que devo dizer a ele?
— A verdade. Nem mais nem menos.
— Isso sempre funcionou para nós, — Steve concorda.
— Eu entendo o que você está passando, — Louisa continua. — Você e
Alex não são pares destinados, portanto, haverá um sentimento
constante de que você precisa lutar por seu relacionamento.
Ela põe a mão na de Steve e ele a puxa para perto de si.
— Mas com o tempo, percebi que é bom sempre lutar pelo seu
vínculo. Isso significa que vocês vão aprender a dar valor a isso.
— Eu conheço Alex. Ele te ama, — diz Steve. — Diga a ele o que
aconteceu e ele entenderá.
— Ok, — eu digo, — vou fazer isso agora.
Eles estão certos. Eu preciso tirar isso do meu peito antes que me
sufoque.
Antes que nos sufoque.

Enquanto caminho pelos corredores do palácio, tento me encorajar.


Você pode fazer isso.
Alex te ama.
Você o ama.
Tudo vai ficar bem.
E então, ouço a voz de Alex.
E de Dom. E de Angel.
Eu viro em um dos corredores e os vejo.
Alex me vê e vem correndo em minha direção, segurando garrafas de
cerveja vazias em ambas as mãos.
— Ariel! — ele chama.
Ele coloca as garrafas ao lado dos meus pés e me tira do chão, me
girando.
— Você voltou! Graças à Deusa! — Ele diz, dando um grande beijo em
meus lábios.
Posso sentir o gosto do álcool em seu hálito.
Dom assobia atrás de nós.
— Parece que vocês dois precisam de um tempo sozinhos, — ele diz,
agarrando Angel pelo braço. E assim, eles desaparecem em uma sala
adjacente.
— Como foi? — Alex me pergunta. — Você encontrou algo?
Eu balancei minha cabeça.
— Droga, — ele diz. — Pelo menos você voltou linda e inteira.
Ele me aperta contra ele novamente.
— Alex... — eu digo, antes que eu perca a coragem. — Algo aconteceu
com Xavier.
Eu sinto seu corpo ficar tenso contra o meu.
— O que? — ele pergunta.
— Ele me beijou, — eu digo. — Mas eu...
Alex dá um passo para longe, me soltando.
— Alex, espere. — Eu ando em direção a ele, mas ele continua a se
afastar.
A luz em seus olhos é ofuscada por uma grande nuvem cinza.
Eu odeio ver ele sofrer. Ainda mais, odeio ser eu quem o está
machucando.
— Onde ele está? — ele me pergunta.
— Não se preocupe, — eu digo, — ele não está aqui.
— Ariel. — diz ele, mais duro desta vez. — Onde ele está?
Há uma escuridão em seu tom que eu nunca vi.
Não é apenas um simples ciúme. Ou até mesmo mágoa.
Ele está puto pra caralho.
— Ele está... passando a noite no hotel da Matilha Real, — eu digo.
Assim que essas palavras escapam dos meus lábios, Alex sai correndo
pelos corredores do palácio como um louco.
— Alex! — Eu o chamo, mas seu ritmo só acelera ainda mais.
Merda! Ele está bêbado e pronto para acabar com Xavier.
Eu corro atrás dele.
Capítulo 14
UM DUELO DE ALFAS
ALEX

Aquele filho da puta!


Xavier a beijou!
Ele beijou Ariel!
Ele a tocou. Tocou seus lábios. Sua língua. E a Deusa sabe o que mais.
E agora ele vai morrer.
Talvez seja o álcool falando, mas tenho certeza de que deveria
simplesmente matar esse desgraçado.
Eu tropeço pelos corredores e saio pela porta da frente, correndo
furiosamente em direção ao hotel da Matilha Real.
Eu deveria ter confiado no meu instinto.
Eu sabia que não devia deixá-lo ir sozinho com ela.
Eu deveria ter estado lá. Se estivesse, isso nunca teria acontecido.
Mas aconteceu.
E agora ele vai pagar por isso.
Ele vai sentir um pouco da dor que estou sentindo agora.
Ouço Ariel me chamando, mas não paro. Apenas continuo colocando
um pé na frente do outro.
Quando vejo o hotel da Matilha Real, começo a gritar com todas as
minhas forças.
— XAVIER!
É uma pequena acomodação, então tenho certeza de que ele vai me
ouvir. Isto é, se ele já não estiver antecipando minha chegada.
Depois de um momento, a porta da frente do hotel se abre e Xavier
aparece.
Posso dizer pelo olhar presunçoso em seu rosto que ele está feliz por
eu estar aqui. Ele está orgulhoso do que fez.
Minha visão embaça enquanto tento encará-lo.
— Qual é o seu problema? — Eu disparo.
— O que você quer dizer?
— Não me faça perder tempo, Xavier.
Seu sorriso perverso fica mais largo.
— O que você quer fazer? — ele pergunta. — Me dar um soco?
— Algo do tipo. — digo, gesticulando para que ele se junte a mim no
terreno de pedregulhos.
— Uau. Não sabia que nosso rei era um cara tão durão.
— Você não sabe nada sobre mim. Mas você está prestes a descobrir,
— eu digo, me colocando em posição de luta.
— ALEX! — Essa é Ariel. Sua voz está se aproximando agora.
Eu viro minha cabeça, e ela está a poucos passos de distância. Ela para
atrás de mim, tentando recuperar o fôlego.
— Alex, espere. Vamos conversar em outro lugar.
— Então, — diz Xavier, — acho que você contou ao seu namorado
sobre o nosso caso.
— Não foi um caso! — Ariel diz. — Foi um beijo.
Eu posso sentir ela puxando meu braço.
— Vamos, Alex. Eu preciso falar com você.
Mas eu não quero conversar. Eu quero arrancar o sorriso de merda do
rosto de Xavier.
— Ariel, afaste-se. Isso é entre mim e Xavier agora.
E com isso, eu tensiono meu corpo e permito que meu lobo venha à
superfície.
— NÃO! — Eu a ouço gritar. Mas é tarde demais.
Eu salto para frente, derrubando Xavier em seu traseiro presunçoso.
Ele bate no chão com um baque.
Eu pairo sobre ele completamente em minha forma de lobo.
Rosnando, incentivo Xavier a se transformar também e espero seu lobo
emergir. Quero que essa seja uma luta justa.
Sinto Ariel puxando o pelo das minhas costas, mas me puxo para
longe dela e, um momento depois, Xavier se contorce por baixo das
minhas patas.
Quando ele está em sua forma completa e corpulenta, eu o ataco
novamente, jogando-o de volta para a porta.
Ele tenta me golpear com a pata, mas consigo me esquivar, jogando
meu peso em sua perna da frente e prendendo-a na parede atrás dele.
Ai!
Sinto seus caninos roendo meu ombro esquerdo. Eu me afasto, me
soltando de seu domínio.
Xavier aproveita minha recuada, me empurrando ainda mais para trás.
Eu perco o equilíbrio.
Merda.
Por um momento, quase caio.
Mas então recupero meu equilíbrio e o encaro novamente.
Nós rodeamos um ao outro, ambos claramente planejando estratégias.
Nossos lobos são iguais, tanto em tamanho quanto em treinamento de
combate.
Mas por conta da bebida, estou atrapalhado.
Ariel se coloca entre nós.
— Por favor, Alex. Xavier. Parem. Não vale a pena.
Eu ouço o desespero em sua voz, mas meu lobo permanece em
posição, pronto para atacar novamente.
O lobo de Xavier rosna para Ariel. Ela sai do caminho enquanto
continuamos a caminhar em torno um do outro.
Minha pegada está mais desleixada do que deveria. Se eu estivesse
sóbrio, tenho quase certeza de que poderia facilmente derrubá-lo.
Mas agora, é uma disputa.
Eu me encolho quando Xavier se lança contra mim.
Desvio de seu golpe e pulo em minhas patas traseiras com uma
precisão surpreendentemente perfeita para o meu estado comprometido.
Eu caio em cima dele, prendendo-o no chão, meus caninos afiados
avançando perto de sua jugular.
Pelo olhar em seus olhos, ele sabe que eu o prendi. Ele está sem saída.
Isso mesmo, filho da puta.
— Alex... — A voz de Ariel falha enquanto ela olha com horror.
Quando me viro, posso ver as lágrimas escorrendo pelo rosto. — Este não
é você, Alex, — diz ela. — Por favor.
Eu fecho minha mandíbula.
Ela está certa.
Claro que ela está.
Este não sou eu.
Eu deveria fazer Ariel se sentir melhor, não a fazer chorar.
Sem mencionar que estou fazendo exatamente o oposto do conselho
que meu pai me deu. Ele me avisou que não seria fácil. E machucar
Xavier ainda mais seria pegar o caminho mais fácil.
Ainda segurando Xavier no chão, eu me transformo de volta para
minha forma humana.
— Arrume suas coisas e vá embora, — eu sussurro em seu ouvido. —
Você não é mais bem-vindo no território da Matilha Real.
Eu o solto e me movo para o lado, deixando livre seu caminho de volta
para a porta do hotel.
Ele se levanta do chão e se limpa.
— Eu sabia que você não iria até o fim, — ele zomba. — Você não pode
nem mesmo proteger sua mulher. O que isso diz sobre o destino do
reino?
Estou pronto para me transformar de novo, mas Ariel segura meu
braço.
Respiro fundo enquanto observo Xavier caminhar de volta para o
hotel.
— Obrigada, — Ariel diz, tentando me abraçar, mas eu me afasto.
Ainda preciso de algum tempo para me acalmar. Para processar meu
surto antes que eu possa discutir isso mais profundamente.
— Agora não, — eu digo, virando minhas costas e indo embora.
— Então quando? — ela me pergunta.
— Não sei.
Não sei...
ANGEL

Um passo de cada vez, corro pelos jardins do palácio.


O suor escorre pelo meu rosto, tornando minha visão embaçada
enquanto ando por entre as árvores.
Não tenho certeza do que aconteceu no topo da torre de água...
porque uma conversa tão inofensiva desencadeou uma memória tão
visceral.
Talvez realmente fosse o álcool...
Mas, independentemente do gatilho, preciso ficar no controle. É por
isso que estou suando minhas toxinas agora. Quero manter a cabeça
limpa.
Minha meditação de corrida é interrompida quando ouço alguém
chamar meu nome.
Eu me viro e vejo Amy.
— Você sabe onde Ariel está? — ela pergunta. — Achei que ela poderia
estar patrulhando o terreno, mas não a vi.
— A última vez que vi Ariel, ela estava beijando o rei.
— Ok, então, — Amy sorri. — Talvez eles não queiram ser
encontrados agora.
O suor ainda está escorrendo da minha testa.
Eu levanto minha camisa e seco meu rosto
Quando olho para Amy, eu a pego observando meu abdômen.
Ela está olhando minhas tatuagens? Ou meu abdômen?
Espero que seja o último.
Eu lanço um sorriso para ela.
— Que exibido, — ela ri.
— O que? Essa coisa velha? — Eu pergunto, esfregando meu
tanquinho.
— Você se acha, — diz ela, golpeando meu braço com as pontas de
seus dedos finos. — Parece que você abriu meu apetite. Quer comer algo
enquanto espero Ariel aparecer?
— Claro, — eu digo, e ela começa a liderar o caminho de volta para o
palácio.
— Talvez seja melhor tomar um banho primeiro. — Mais uma vez, ela
estende a mão e toca meu braço.
Seu toque é um pouco mais demorado dessa vez.
ARIEL

Eu corro de volta para a casa de Steve e Louisa.


Ao que parece. Louisa está esperando por mim na sala de estar. Ela se
levanta quando eu entro.
— Como foi? — ela pergunta, olhando para mim com expectativa.
— Não foi nada bem. — digo enquanto passo por ela em direção às
escadas. — Sinto muito. Louisa. Acho que preciso ficar sozinha um
pouco.
Ela acena com a cabeça.
— Estarei aqui quando você estiver pronta para conversar, — diz ela.
Lágrimas ameaçam cair em minhas bochechas novamente quando
chego ao meu quarto e fecho a porta atrás de mim.
Eu nem me preocupo em acender as luzes.
Só há uma coisa que posso pensar em fazer neste momento de solidão
total e absoluta.
Eu desabo na minha cama e olho para o teto.
— Selene! — Eu grito. — Selene! Por favor! Onde você está!? Fale
comigo! Eu preciso de sua ajuda! Diga-me o que devo fazer!
Eu aguardo uma resposta. Um sinal. Alguma coisa. Qualquer coisa.
Mas não recebo nada, mais uma vez.
A última vez que ela falou comigo, tudo o que me disse foi que eu não
poderia curar George.
Ela está escolhendo ficar em silêncio agora por causa de algo que eu fiz?
Estou sendo punida?
— Onde você está. Selene? Por que você não responde?
Selene me salvou de meus sequestradores.
Eu vi o rosto dela. Eu ouvi sua voz.
Se ela está me dando um gelo, assim como Alex, deve ser porque eu a
decepcionei. Fiz algo que ela não aprova.
Mas se já a agradei antes, posso fazer de novo.
Depende de mim descobrir qual é a minha transgressão — ser digna
da ajuda da Deusa da Lua.
Preciso restaurar minha conexão com Selene. É a coisa mais
importante que posso fazer.
Porque sem ela do meu lado...
Ali, Deusa... estamos todos perdidos.
Capítulo 15
UMA PROPOSTA INDECENTE
ARIEL

Eu deito na cama e fico olhando para o teto pelo que parecem horas.
Eu vasculho meu cérebro, tentando pensar no que eu poderia fazer
para me colocar de volta nas boas graças da Deusa da Lua.
Só há uma coisa que é gritantemente óbvia para mim...
Cada vez que passo um longo período de tempo com Xavier, não ouço
nada de Selene.
Silêncio total.
Outra coisa que sei é que amo Alex em todos os sentidos — mente,
corpo e alma.
Há apenas um pequeno pedaço de mim que deseja Xavier — a parte
que não pode negar nosso vínculo de acasalamento.
Mesmo se estiver quebrado, ele não desapareceu. Não
completamente.
Preciso aprender como recuperar o controle dessa parte de mim. Se eu
conseguir dominá-lo, deixá-lo enfraquecer até que desapareça, então
poderei me controlar e estar no comando da minha vida.
Se conseguir disciplinar essa parte de mim, estarei livre.
Meditando sobre esse pensamento, caio no sono.

Quando acordo algum tempo depois, alcanço a mesa de cabeceira


para olhar meu celular.
Há milhares de mensagens não lidas, mas não são de Alex como eu
esperava.
Em vez disso, vejo que Dom tentou falar comigo cinco horas atrás.
Dom: O bebê vai nascer!!

Dom: Vá até o hospital agora!

Dom: Esse idiota aqui vai ser pai!!!!!! (emoji de boca aberta, emoji
com coração nos olhos, emoji de boca aberta, emoji com coração
nos olhos) Minha Deusa.

Eu pulo para fora da cama o mais rápido que posso, enfiando um


coque bagunçado em minha cabeça. Momentos depois, coloco meu
celular no bolso, pego uma jaqueta e corro porta afora.

Virando a esquina do hospital, paro em uma banca de jornal e pego


um exemplar do Jornal da Matilha Real de hoje — uma lembrancinha
para Dom e Helena.
Eu tinha planejado comprar um presente melhor para eles, mas, por
estar tão ausente nos últimos tempos, me esqueci completamente.
Pago o jornal e corro em direção às portas do hospital.
Mas eu paro quando vejo Dom e Alex do lado de fora fumando
charutos...
Dom está com um sorriso enorme. Alex também. Fico feliz em ver seu
sorriso novamente, mesmo que não seja direcionado a mim.
Dom acena para mim.
— Então? — Eu pergunto.
— Ela nasceu. Se chama Camélia. Ela é perfeita.
— Como está Helena? — Eu pergunto.
— Incrível.
Eu puxo Dom para um abraço.
— Estou tão feliz por vocês, — eu digo.
— Vou voltar e ver como está Helena. Entre daqui a pouco para ver
Camélia. Mal posso esperar para você conhecê-la.
— Eu também, — digo com um sorriso.
— Vamos entrar em um instante. — Alex diz.
Dom olha entre mim e Alex. O brilho em seus olhos me faz pensar
que Alex lhe contou sobre o que aconteceu hoje.
Ele acena para nós e entra no hospital.
Eu inclino minhas costas contra a parede ao lado de Alex.
Ele suga a fumaça do charuto na boca e, depois de um momento,
passa para mim. Parece que ele está fazendo uma oferta de paz.
— Obrigada, — eu digo.
Dou uma baforada e, quando expiro, as palavras começam a sair da
minha boca.
— Alex, eu realmente sinto muito. Eu deveria ter esperado um
momento melhor para te dizer. E eu deveria ter sido mais honesta com
você sobre o que estou sentindo. — Estou divagando, mas preciso
esclarecer tudo.
— Eu não tenho estabelecido os melhores limites com Xavier, — eu
continuo. — Estávamos ficando muito próximos e... e eu tive uma
pequena recaída — antes de você dizer qualquer coisa, estou totalmente
bem agora — mas parte de mim ainda sente aquele vínculo de
acasalamento.
Não estou nem parando para respirar enquanto falo.
— Eu não queria que nada acontecesse. Ele me beijou. Mas eu estaria
mentindo se dissesse que não senti alguma coisa.
Eu coloco minha mão em seu peito e sinto seu coração batendo
rápido.
— Só preciso que você saiba que estou lutando contra esse
sentimento, — digo. — Eu não quero Xavier. Eu escolho você, Alex. Tudo
que eu quero...
Ele interrompe meu discurso com um beijo longo e terno.
— Eu quem deveria pedir desculpas, Ariel, — ele diz quando se afasta
de mim. — Eu não deveria ter reagido como reagi. Fui impulsivo,
violento e feio. Não foi justo com você. Eu não vou fazer isso de novo.
Vou colocar minhas emoções sob controle e...
Agora eu o silencio com outro beijo.
— Eu te amo tanto, — diz ele, nossos lábios ainda se tocando. — A
ideia de perder você me deixa louco. O pensamento de outra pessoa
beijando você...
— Você não vai me perder, — eu digo. — Eu prometo. Não se
preocupe mais com ele.
— Eu não vou. — ele diz. — Eu confio em você. Eu ainda quero matá-
lo um pouco. Mas eu confio em você.
Eu sorrio quando nossos lábios se encontram novamente.
— Então o que fazemos agora? — Pergunto-lhe.
— Temos um filhote para conhecer, — diz ele.

Com as mãos entrelaçadas. Alex e eu andamos pelos corredores do


hospital e subimos as escadas em direção à maternidade.
Chegamos ao quarto de Helena e estamos prestes a entrar quando
paro de repente.
— Espere, — eu digo, apontando pela janela para o quarto. — Olha
como eles são fofos.
Fazemos uma pausa e olhamos pela janela.
Helena e Dom olham com amor para um conjunto de cobertores.
Dom beija o topo da cabeça de Helena e acaricia seus braços.
Não posso acreditar o quanto Dom amadureceu desde que o conheci.
Ele parece quase um verdadeiro homem de família agora.
— É um milagre, — eu sussurro.
— É mesmo, — concorda Alex.
Eu bato suavemente na porta, e Dom faz um gesto para que entremos.
Caminho até a cama na ponta dos pés e coloco meus olhos em sua
filha pela primeira vez.
— Gente, ela é linda.
— Você quer segurá-la? — Helena pergunta.
Eu aceno e estendo minhas mãos. Ela coloca Camélia em meus braços
e eu a puxo para o meu peito.
Não consigo me lembrar da última vez que segurei um bebê. Não me
lembro deles serem tão pequeninos.
Eu fico olhando para a criaturinha preciosa e, por um momento, sinto
que estou ficando sufocada porque algo de repente surge em minha
mente.
Nunca consegui segurar meu sobrinho antes de ele ser sequestrado.
Não fui convidada para o hospital quando ele nasceu. Eu nem sei como
ele é.
Percebendo isso, seguro Camélia com mais força.
— O que você acha desta imagem? — Dom pergunta a Alex, dando
uma cotovelada em suas costelas. — Acostume-se. Vocês dois são os
próximos. Podemos criar nossos filhotes juntos.
— Uma coisa de cada vez, — diz Alex. — Posso segurá-la? — ele me
pergunta.
Eu delicadamente transfiro Camélia para os braços de Alex.
Há algo inegavelmente sexy em ver Alex cuidadosamente segurar este
bebê.
Ao vê-lo balançá-la para frente e para trás, meu coração salta de
confiança, sabendo que escolhi o parceiro certo.

Eu volto de moto para casa uma hora depois com um grande sorriso
no rosto e o gosto dos beijos de Alex em meus lábios.
Quando estávamos nos despedindo no hospital, perguntei se poderia
ir para casa com ele. Eu queria que ele me segurasse em seus braços
também.
Mas ele disse que precisa de um pouco mais de tempo sozinho para
descomprimir. E então podemos retomar nossa rotina de noites juntos.
Honestamente, fiquei decepcionada. Estou desejando seu toque.
Mas também aprecio que ele esteja sendo intencional com suas
emoções e não apenas me levando de volta à sua casa enquanto a dor de
ontem ainda o atormenta.
Além disso, provavelmente foi melhor assim. Eu preciso descansar
para amanhã.
Eu mudo minha linha de pensamento de volta para o assunto mais
urgente em mãos.
Encontrar Xavi.
Ver Camélia hoje me lembrou de como um bebê realmente é frágil e
indefeso. Preciso encontrar meu sobrinho o mais rápido possível.
Eu oro por este pequeno ser, na maior esperança de que ele não esteja
sofrendo o mesmo abuso terrível que Angel e eu sofremos.
Amanhã, vou retomar a investigação sozinha, sem Xavier.
Aproximo-me da porta de Steve e Louisa e, para meu choque total e
absoluto, a própria pessoa em que estou pensando está lá esperando por
mim.
Xavier!?
Pisco meus olhos, mas não é uma miragem. Xavier está realmente
parado na varanda, no mesmo lugar onde aquele beijo vergonhoso
aconteceu.
Eu não consigo acreditar na audácia.
Ele está desobedecendo às ordens de Alex, permanecendo na Matilha
Real. Ele poderia ser preso por isso. Ou pior.
— O que... o que você está fazendo aqui!? — Eu pergunto a ele,
incapaz de esconder minha surpresa. — Alex disse para você ir embora e
não voltar mais.
— Eu sei, — diz ele, — mas há algo urgente que preciso falar com
você.
— Você tem outra pista sobre Xavi?
— Não, nada disso, — ele diz, balançando a cabeça desanimadamente.
— Então o que? — Pergunto-lhe.
— Posso entrar? — ele pergunta, olhando ansiosamente para trás. Ele
obviamente sabe que terá problemas se alguém o pegar no local.
— Não, Xavier, — eu digo. — Apenas me diga o que está acontecendo
e depois volte para sua matilha.
— Nossa matilha. — ele diz, agarrando minha mão.
O quê?
Eu recuo ao seu toque.
— Ariel, por favor, apenas me escute. Nós deveríamos ficar juntos.
O QUÊ?
— Xavier, estou com Alex. E você está acasalado com minha irmã. Não
sei que tipo de jogo você está jogando, mas não vou fazer parte dele.
— Isso não é um jogo, Ariel! Isto é minha vida! E a sua. Somos pares
destinados. É o que Fate deseja para nós. E eu não consigo parar de
pensar em beijar você.
Ele se inclina em minha direção novamente, mas eu desvio de seus
lábios.
— Ariel, por favor. Seja meu par.
Ele acabou de dizer que...?
— Eu escolho você. Eu sei que é a coisa certa a se fazer. Fuja comigo.
Esta noite.
Minha Deusa!
Por que essa merda continua acontecendo!?
Capítulo 16
PREDESTINADO, MAS NÃO ACASALADO
ARIEL

Eu não ouvi direito ou Xavier está dizendo o que acho que está
dizendo?
Ele está dizendo que quer ficar comigo?
Não apenas flertar comigo ou me beijar, mas me escolherá.
Este é o momento com que toda garota sonha: quando seu par
destinado pede para ser seu futuro.
Mas isso não é um sonho.
É um pesadelo de merda.
— Xavier, — eu digo desesperadamente, recuando enquanto ele dá
um passo em minha direção. — Pare. O que você está... você escolheu
Natália. Estou com Alex.
— Fui um tolo, — diz ele, — deveria ter pensado melhor do que lutar
contra Fate. Eu estava destinado a perder tudo quando rejeitei você. E se
tornou realidade. Eu não tenho mais nada.
Apesar do meu horror com suas palavras, meu corpo está balançando
a cabeça em concordância, ansiando por entrar em seu toque.
O momento em que Xavier me rejeitou como seu par foi um dos mais
dolorosos que já suportei.
Este é o oposto. Parece que a ferida que ele infligiu naquele dia está
sendo curada por essas palavras.
E parece que minha loba está tão confusa quanto eu. Ela é atraída pelo
lobo de Xavier e está tendo dificuldade em lutar contra ele.
— Xavier, você escolheu Natália, — repito, meu cérebro como um
disco arranhado. — Você escolheu Natália.
— Eu sei! — ele grita. — Sinto muito por ter feito isso, sinto muito
mesmo!
— Eu não preciso de um pedido de desculpas, — eu digo. — Eu não
preciso de nada de você. Eu só... preciso que você vá embora agora. Volte
para ela.
— Voltar para quem? — ele pergunta. — Natália não é mais a mulher
forte e segura com quem me acasalei. Não a vejo há dias. Ela fica o tempo
todo em seu quarto com todas as luzes apagadas, chorando sem parar. É
patético.
Perdão?
Eu sinto as borboletas que Xavier tinha liberado no meu estômago
morrem em uníssono.
Como ele pode ter tão pouca empatia por seu par escolhido?
A mãe de seu filho?
Certo, não tenho o melhor relacionamento com Natália. Mas ainda
consigo sentir empatia com a imensidão de sua dor.
— Ela vai lamentar o sequestro de Xavi até que ele esteja de volta em
seus braços. E você também deveria, — eu digo incrédula.
— E se esse dia nunca chegar?
— Xavier, você precisa acreditar
— Não, Ariel. O que eu preciso é de um herdeiro. Posso continuar
perdendo meu tempo procurando meu filhote perdido ou posso fazer
outro. Com você. Você é tão forte, Ariel. Tão bonita. É claro que Fate
escolheu você para mim. Podemos trazer à vida o herdeiro que o destino
pretendia que eu tivesse.
Minha irmã não merece essa palhaçada.
Ele se move em minha direção novamente.
Em um flash, a palma da minha mão faz contato com a bochecha de
Xavier enquanto eu o bato o mais forte que posso.
Isso envia ondas por sua pele, e já há uma marca de mão vermelha se
formando.
Ele me encara com os olhos arregalados, pego de surpresa pela minha
explosão.
— O que... — Ele agarra meu pulso.
Eu luto contra seu aperto, mas não consigo me soltar.
Ele agarra meu outro braço, prendendo-o com força ao meu lado.
— Ariel, não tem que ser assim.
Ele move seu rosto em direção ao meu, com seus lábios prontos para
um beijo.
Eu umedeço minha língua na preparação.
Conforme ele se aproxima de mim, eu cuspo em seu rosto.
Xavier recua, me soltando enquanto ele limpa a saliva.
— Vai se foder, — ele zomba, dilatando as pupilas, curvando os lábios.
— Vai se foder você, — eu rosno. — Saia da minha casa e da minha
matilha agora. Vou continuar perdendo meu tempo tentando encontrar
seu filho. Mas não por você. Por minha irmã.
— Boa sorte em encontrá-lo sem mim, — ele rosna.
— Se eu não fui clara, deixe-me dizer mais uma vez para garantir. Eu
rejeito você como meu par. — Repito com confiança as palavras que ele
proferiu para mim naquela noite terrível.
Pela expressão em seu rosto, posso ver que ouvir suas próprias
palavras jogadas de volta para ele o está destruindo por dentro.
Eu normalmente odiaria ver alguém em agonia, mas por apenas um
momento, eu me permito saborear isso.
Sofra como eu.
Sofra como minha irmã.
Sofra como seu filho.
Sofra.
E então eu bato a porta da frente, deixando-o suportar aquele
sofrimento sozinho.
Assim que a porta se fecha, eu solto um grito agudo e animado.
Parece que um peso gigante foi tirado de mim.
Eu finalmente deixei Xavier ir, liberando a bagagem de meu par
quebrado — expulsando sua sombra. Meu futuro e meu destino estão
completamente em minhas próprias mãos.
E só há uma pessoa com quem quero compartilhar.
Eu olho pela janela e observo Xavier indo embora.
Sorrindo para mim mesma, subo as escadas para o meu quarto.
Mal posso esperar para dizer a Alex que ninguém mais vai ficar entre
nós de novo.
ALEX

Passei a temer batidas inesperadas na porta.


Caminhando cautelosamente em direção ao som, eu me preparo
mentalmente para o pior.
Talvez meu pai esteja...
Mas quando abro a porta e encontro Ariel ali, sorrindo para mim,
minha ansiedade desaparece.
— Preciso te dizer algo. — ela diz, pulando em meus braços.
Pelo brilho que irradia por suas bochechas, por um segundo acho que
ela está prestes a me dizer que serei pai.
Em vez disso, ela diz:
— Xavier se foi para sempre.
Hã?
— Eu disse a ele para ir embora ontem.
— Bem, ele voltou.
— Aquele filho da puta.
— Ele me pediu para ser seu par.
ESSE FILHO DA PUTA!
Se Ariel não tivesse contado o final desta história para mim, eu estaria
destruindo esta sala, quebrando tudo que vejo pela frente.
Em vez disso, apenas pego Ariel pelas mãos.
Ela está linda pra caralho.
Estou dividido entre ouvir sobre o que aconteceu em seguida e beijá-la
até esquecer tudo.
Dou-lhe um selinho e peço para que continue.
— Xavier estava parado na minha frente dizendo tudo que, meses
atrás, eu gostaria de ouvir. Mas eu escolhi você e continuarei a escolher
você todos os dias pelo resto da minha vida, — diz ela.
— Não estou dizendo que estou pronta para uma cerimônia de
acasalamento ainda, — acrescenta ela rapidamente, — mas rejeitei Xavier
de uma vez por todas. Acabou e ele sabe disso.
Um sorriso cobre meu rosto quando sinto seus lábios em minhas
bochechas, minhas pálpebras e, finalmente, pressionando contra minha
boca.
Eu encontro seus lábios com os meus, e o calor de seus beijos se
espalha por todo o meu corpo.
Meu pai estava certo. Eu só preciso ser paciente. Para respeitar sua
jornada. Para dar a Ariel uma chance de se curar.
E a espera está valendo a pena. Ela está mais radiante e irresistível do
que nunca.
Eu a conduzo em direção à minha cama, pronto para contemplar cada
parte de seu corpo com o mesmo entusiasmo.
Mas. para minha surpresa, ela se afasta do meu toque.
— O que foi? — Eu pergunto a ela sem fôlego.
— Na verdade, há algo que preciso fazer, — diz ela.
— O que?
— Eu preciso ir para a Matilha da Lua Crescente.
— Como assim!?
— Pela Natália, — ela continua. — Xavier a traiu e desrespeitou. Ela
tem que saber que ela merece algo melhor do que ele.
— Ariel. Natália te tratou muito mal...
— Eu sei, — ela responde, olhos amarelos olhando para mim. — Mas
ela é minha irmã. E ela está sofrendo. Eu tenho que ir até ela agora.
— Tipo agora, agora? — Eu pergunto, pressionando meu membro
duro em sua pélvis.
Ela acena com a cabeça, mas se inclina ainda mais para mim.
— Terminaremos o que começamos quando eu voltar.
Depois de me dar mais um beijo longo e caloroso, ela vai em direção à
porta.
Meus olhos se fixam em sua bunda e a tentação domina enquanto
tento novamente lembrar as recompensas da paciência.
Ariel: Pai. Preciso de sua ajuda.

Pai: Está tudo bem?

Ariel: Vai estar...

Ariel: Preciso falar com Natália sem que Xavier saiba.

Ariel: Convide-a para jantar em sua casa, mas não diga por quê.

Ariel: Ela não irá se souber que estarei lá.

Pai: O que está acontecendo?

Ariel: Explicarei tudo depois. Por favor, pai. É importante. Chego


em breve.
Saltando na minha moto, eu acelero ao longo da estrada entre a
Matilha Real e a Matilha da Lua Crescente.
Apesar de estar levando más notícias, não posso deixar de me sentir
um pouco animada. Com Xavier como um inimigo comum, talvez minha
irmã e eu finalmente seremos capazes de entrar em consenso.
Talvez possamos consertar cercas em vez de construir paredes.
Estacionando minha moto na garagem de minha casa de infância,
sinto as pontadas agudas da nostalgia me atingirem na garganta. Ou
talvez sejam apenas as lágrimas que já estou sufocando.
Meu pai está esperando por mim na escada da frente, como sempre
fazia quando eu perdia meu toque de recolher quando era adolescente.
Ele me puxa para um abraço e sussurra em meu ouvido:
— Ela está em seu antigo quarto. Boa sorte.
Eu aceno, grata por ele não fazer mais perguntas que eu não esteja
pronta para responder.
— E a mamãe?
— Ela está na cozinha. Eu também não disse a ela que você viria.
— Obrigada, — eu digo com um sorriso suave.
Eu entro em casa e passo na ponta dos pés pelos sons da minha mãe
cozinhando o jantar.
E então vou até a porta do quarto de infância de Natália.
Quando eu era criança, fiquei do lado de fora desta porta inúmeras
vezes, convidando Natália para ficar comigo, deslizando bilhetes após
bilhetes através da faixa de luz — todos sem resposta.
E ao bater agora, recebo o mesmo tratamento silencioso.
Mas não sou mais criança.
O silêncio não me machuca... Porém, isso não significa que Natália
não vai.
Capítulo 17
OS SEGREDOS DA IRMÃ
ARIEL

Eu entro no quarto de Natália e está escuro como breu.


Parece completamente vazio.
Mas, conforme meus olhos se adaptam à escuridão, mal consigo
distinguir a forma de minha irmã sob um mar de edredons.
— Natália... — eu sussurro baixinho, mas não recebo resposta.
Penso em acender as luzes do teto, mas não quero chocar seus
sentidos.
Em vez disso, vou na ponta dos pés até o canto do quarto e ligo uma
pequena lâmpada rosa que fica em cima de uma estante.
No brilho rosado, eu finalmente vejo minha irmã — mas ela está longe
de seu jeito confiante de sempre.
Natália sempre foi o centro das atenções.
A garota mais bonita em todo lugar — com a língua mais afiada.
Mas agora, parece que ela está tentando usar os cobertores para se
fazer desaparecer.
Seu rosto está pálido e manchado de lágrimas.
Suas bochechas, geralmente rechonchudas e jovens, parecem tão
afundadas quanto seu espírito.
Ela está me olhando com olhos arregalados e tristes, mas não posso
dizer se ela está realmente me vendo.
Mas então seus lábios começam a se mover e, eventualmente, sua voz
encontra meu nome.
— Ariel.
— Oi Nat, — eu digo, caminhando lentamente em direção a ela. Ela
não grita comigo para sair de seu quarto, então ganho coragem para
continuar andando.
Ela se iça em uma posição sentada enquanto eu aponto para a beira da
cama.
— Posso me sentar? — Eu pergunto a ela. Para minha surpresa, ela
acena com a cabeça.
— Obrigada, — eu digo, sentindo meu coração batendo forte no meu
peito enquanto me sento ao lado dela.
Eu não percebi o quão difícil seria contar uma notícia arrasadora para
uma mulher que já está destruída.
— Você encontrou Xavi? — ela me pergunta, embora seu tom sugira
que ela já sabe a resposta.
— Não, — eu respondo.
— Então o que você está fazendo aqui? — ela pergunta.
Deusa. Não sei por onde começar.
Então, em vez disso, apenas digo:
— Venha ficar comigo na Matilha Real.
Ela me olha com os olhos confusos.
Eu continuo:
— É melhor para você lá. Você pode me ajudar a procurar Xavi. Alex
vai deixar você ficar no palácio e se certificar de que você tenha tudo que
precisa.
Natália me encara de novo, mas dessa vez parece que todos os
vestígios de confusão desapareceram.
Ela balança a cabeça e mechas de cabelo caem em seu rosto.
— Ariel... o que Xavier fez? — ela me pergunta.
O quê!?
Como ela poderia saber?
Natália lê meu silêncio momentâneo como uma confirmação de suas
suspeitas.
— Apenas me diga, — ela diz. — Não pode doer mais do que todas as
outras merdas que ele fez comigo.
Eu respiro fundo, me preparando para falar, e desvio meus olhos para
evitar seu olhar.
— Ele tentou me convencer a me tornar seu par. Eu sinto muito.
Sua expressão permanece chocantemente conformada quando eu
disparo esse golpe.
— Natália... você está bem? — Eu pergunto a ela.
— Faz sentido, — ela diz.
Faz!?
— Quando eu descobri que você era seu verdadeiro par, quase morri.
Eu sabia que um dia ele perceberia que preferia estar com você. Era só
questão de tempo.
— Natália, por favor.
— Então, você vai aceitá-lo? — ela pergunta, como se estivesse me
oferecendo a última fatia de um bolo e não seu par, o pai de seu filho.
— Não! Claro que não! Ele está acasalado com você!
— Isso não significou nada para várias mulheres desta matilha.
Eu não tinha ideia do quanto ela estava sofrendo, mesmo antes do
sequestro de Xavi.
— Natália, — eu digo agora com firmeza. — Por favor, venha comigo.
Você não precisa dele...
— Ariel...
— Estou falando sério! Você ainda tem a chance de encontrar seu par
destinado.
— Ariel! — ela grita, furiosa, agarrando a ponta do cobertor entre os
dedos. — Eu já encontrei meu par destinado. Eu já o encontrei.
— Eu — eu não sabia.
— Não gosto de falar sobre isso.
— O que aconteceu com ele? Ele está vivo?
— Sim, ele está vivo.
— Então, o que...
— Eu o rejeitei, — ela diz solenemente.
— Por quê? — Eu pergunto, o aperto na minha garganta voltando.
— Porque ele trabalha empacotando mantimentos!
Uau...
Eu sabia que Natália podia ser mesquinha, mas essa é uma razão
terrível para evitar seu par destinado.
— Eu o rejeitei porque eu queria um Alfa. Mas Xavier — eu não tinha
ideia no que estava me metendo.
Eu não acho que qualquer um de nós poderia ter previsto o que o babaca
do Xavier é capaz de fazer...
— Às vezes eu passo pelo supermercado, — Natália continua, — e eu
olho para o meu par destinado pela janela. Eu penso em como nossa vida
juntos teria sido simples e adorável.
Vendo que eu estava prestes a lançar um milhão de perguntas, Natália
me interrompe: — Mas eu fiz minha escolha. E eu tenho que viver com
isso. Certamente estou sendo punida por isso agora, — diz ela enquanto
uma lágrima cai em sua bochecha.
— Isso não é um castigo, — eu digo, colocando minha mão na dela. —
É apenas uma reviravolta cruel do destino. Mas eu vou encontrar Xavi. Eu
prometo.
E pela primeira vez que me lembro em anos, Natália sorri para mim.
ANGEL

Finalmente, não sou mais o membro mais novo da Matilha Real.


Com a chegada do bebê de Dom e Helena, há algo diferente para
todos fofocarem.
Na preparação para a saída do bebê do hospital, as pessoas pararam de
me fazer perguntas sobre o meu passado, as quais eu não sou capaz de
responder, mesmo se quisesse.
Ando pelo palácio em devaneio, aproveitando minha pausa das
indagações e olhares, quando ouço a única voz que consideraria uma
interrupção bem-vinda.
— Angel! — Amy chama por mim e eu me viro. Reprimo um sorriso
grande demais, tentando ir com calma.
— Oi, — eu digo de volta para ela. — E aí?
— Vou para o hospital agora conhecer o bebê, — diz ela. — Quer ir
comigo?
Ainda não vi o bebê, mas estaria mentindo se dissesse que não estou
curioso para conhecê-la.
Na verdade, estou ansioso para vê-la. Esse instinto bizarro me faz
pensar se eu também tinha um filhote antes de ser sequestrado e ter
minha memória apagada.
Quebra meu coração pensar que em algum lugar pode haver uma
criança esperando o pai voltar para casa — um pai que nem mesmo se
lembra do seu nome.
Meus punhos cerram quando penso nisso, mas a tensão diminui
quando olho para o rosto sorridente de Amy.
— Vamos? — ela me pergunta, esperando minha resposta.
Quando Ariel está aqui, estou constantemente tentando recuperar
minhas velhas memórias. Talvez seja hora de começar a fazer algumas
novas. E agora, estou sentindo que quero fazê-las com Amy.
— Vamos, — eu digo.

Quando chegamos ao hospital. Amy teve a doce ideia de comprar um


presente para o bebê.
Escolhemos um balão que diz — É uma garota!
Pego um lobo de pelúcia e amarro-o ao balão como âncora.
Amy sorri enquanto me observa prender cuidadosamente a fita do
balão.
Enquanto caminhamos em direção ao quarto de Helena. Amy olha em
volta melancolicamente.
— Não estou acostumada a vir a um hospital por um motivo feliz.
Passei boa parte do meu tempo em corredores que eram exatamente
como este. Minha mãe ficou doente por um longo tempo antes de... — a
voz de Amy se desvanece.
Eu coloco meu braço em volta de seu ombro.
— Sinto muito, — eu digo, enquanto ela se aconchega em mim.
Um calor surge em meu corpo enquanto a puxo para o meu toque.
Mas quando chegamos na porta do quarto de Helena, parece que meu
coração está sendo dilacerado, enviando arrepios pelo meu corpo.
O que está acontecendo?
Amy percebe a mudança; ela olha para mim, com os olhos cheios de
preocupação.
— Você está bem? — ela pergunta.
— Sim, — eu minto. Não tenho ideia de como explicar o que está
acontecendo comigo.
Amy parece cansada de minhas respostas curtas, mas bate à porta de
qualquer maneira.
— Quem é? — A voz de Dom chama.
— Amy e Angel. — ela responde.
A porta se abre e o rosto animado de Dom espia para fora. Mas seu
sorriso brilhante não muda em nada a crescente angústia que está
inundando meu corpo.
Penso em ir embora, mas Amy já está me agarrando pela mão e me
conduzindo para o quarto.
Agora, meu coração está batendo forte.
Minha cabeça está latejando.
Meus ouvidos estão zumbindo enquanto Dom nos agradece por ter
vindo.
Minhas palmas estão suando quando ele tenta apertar minha mão.
Eu levanto meu olhar e vejo uma cama de hospital.
Minha pele se arrepia.
Um estetoscópio.
Meus dedos formigam.
Um gotejamento intravenoso terminando em uma agulha enfiada na
pele de Helena.
Meu cabelo está em pé.
E então eu vejo.
O bebê adormecido descansando nos braços de Helena.
NÃO!
Está acontecendo
Estou me transformando.
Eu não consigo me controlar.
Contra minha vontade, meu lobo está saindo.
Os rostos dos meus amigos se contorcem de medo enquanto meus
ossos racham e minhas garras emergem.
Me debatendo descontroladamente, tento em vão retornar à minha
forma humana.
Em vez disso, apenas pego o presente que era para a menina.
O balão estoura.
O bebê chora.
Dom se lança contra mim.
Eu me viro e saio correndo pelos corredores do hospital o mais rápido
que posso.
Ouço o som de Amy chamando meu nome, mas temo o que posso
fazer se ela me alcançar.
Finalmente, chego à porta do hospital e desabo na calçada.
Minha forma humana retorna.
Eu fico olhando para minhas mãos, totalmente em estado de choque.
Que porra foi essa?
O equipamento médico me lembrou de meu tempo em cativeiro? Isso
me colocou em um estado de estresse pós-traumático?
Mas se foi apenas um trauma residual... por que parece o começo de
algo totalmente diferente?
Capítulo 18
O JARDIM DOURADO
ARIEL

Estou olhando pela janela e o sol está refletindo no vidro.


Lá fora, vejo Xavier correndo para longe.
Longe, bem longe, até que ele esteja fora de vista. E não estou triste por vê-
lo partir.
Mas outra pessoa apareceu em seu lugar.
Alguém muito mais majestoso do que Xavier poderia sequer imaginar ser.
Ela está vestida com um longo manto branco que desce em cascata até os
pés como uma cachoeira.
É a Deusa da Lua.
Eu temia que eu a tivesse deixado chateada. Que ela estava
intencionalmente me dando um gelo.
Mas aqui está ela perante a mim, caminhando em minha direção.
— Ariel... — ela fala baixinho. — Muito bem, minha filha. Fate escolheu
um par para você, mas você escolheu de forma mais sábia.
Ela ainda está do outro lado da janela, mas eu posso ouvir sua voz
ecoando, clara como o dia. É quase como se estivesse emergindo de
dentro do meu próprio cérebro.
Na verdade, acho que é exatamente o que está acontecendo.
— Eu pensei que você tinha me abandonado, — eu sussurro, com a voz
falhando.
— Eu nunca abandonaria você, Ariel, — diz ela suavemente. — Eu estava
apenas esperando que você tivesse tanta fé em si mesma quanto depositou em
mim.
— Mas Selene, — eu digo, — Eu ainda duvido de mim mesma. Temo não
ser capaz de encontrar meu sobrinho. Temo que ele esteja perdido para
sempre.
— Siga sua intuição, — diz ela, — e você encontrará o caminho que
procura onde menos espera.
Ela pousa a mão de porcelana na vidraça que nos separa. Eu levanto
minha mão e espelho sua ação.
Apesar da barreira entre nós, posso sentir seu poder: uma chuva de luz
dourada derramando-se por mim, lavando minha dor.
Eu fecho meus olhos e saboreio esta limpeza divina.

Abro os olhos, mas não estou parada na frente de uma janela. E a


Deusa da Lua desapareceu.
Em vez disso, estou deitada na cama, com Alex dormindo ao meu
lado.
O sol da manhã está apenas começando a aparecer.
Pode ter sido um sonho, mas isso não significa que não foi real.
A Deusa da Lua não se esqueceu de mim afinal, e seu poder ainda está
correndo em minhas veias. Quero compartilhá-lo com o lindo homem
deitado ao meu lado.
Alex estava dormindo quando voltei para casa da Matilha da Lua
Crescente ontem à noite, mas isso não significa que eu tenha esquecido
do beijo apaixonado que ele me deu quando eu estava saindo pela porta.
Quero terminar o que começamos.
Eu me inclino e corro minhas unhas ao longo dos contornos de seu
rosto. Na testa, no nariz, ao longo da curva dos lábios.
Vejo seus cílios começarem a tremer e, depois de um momento, ele
olha para mim.
Beijo seus lábios e vejo como ele fica atento. Em todas as partes.
— Bom dia, lindo, — eu digo.
— Bom dia, linda, — ele responde.
Beijando-o de novo, de repente tenho uma ideia.
— Ei, — eu digo com entusiasmo, — vista-se. Eu quero te levar a um
lugar.
— Onde? São cinco horas da manhã.
— Não há tempo a perder, — eu respondo antes de pular da cama.
Estou nua enquanto caminho em direção à cômoda... uma pequena
amostra do que está por vir.
Ele pula da cama atrás de mim e veste as roupas que estão penduradas
por perto, limpas e passadas.
Quando nós dois estamos prontos para ir, eu o agarro pela mão e o
conduzo pelo corredor e para fora da porta da frente do palácio.

Eu subo na minha motocicleta.


— Anda, — digo a ele com um sorriso malicioso.
— Você tem sorte de eu estar seguro da minha masculinidade — ele
sorri de volta enquanto sobe atrás de mim.
Eu posso sentir sua ereção crescendo através do tecido de suas calças
enquanto eu acelero a motocicleta e faço a curva da garagem do palácio
para a estrada principal.
— Onde estamos indo? — ele diz, com a voz abafada pelo vento
chicoteando nossos rostos.
— Não sei, — grito de volta.
Mas, na verdade, sei exatamente para onde estamos indo.
Peguei uma estrada alternativa no caminho de volta da Matilha da
Lua Crescente ontem à noite — um trecho sinuoso de estrada que parece
não ter muito tráfego agora que a rodovia oferece uma rota mais direta.
Admirei um local que vi de longe ontem à noite, mas agora estou
pronta para explorá-lo. Fica a pouco mais de uma hora de viagem da
Matilha Real.
Enquanto eu dirijo, Alex agarra meus quadris.
— Espero que haja uma cama aonde quer que estejamos indo, — ele
sussurra em meu pescoço, — porque você está sexy pra caralho dirigindo
essa coisa.
Eu sorrio quando após uma curva avisto o local.
Um lindo campo de papoulas que me chamou a atenção.
Eu desligo o motor e desço da moto. Alex segue o exemplo, olhando
para o cenário impecável sendo iluminado pelo nascer do sol laranja.
— É uma espécie de cama... de flores, — eu digo.
— É incrível, — ele responde enquanto caminhamos pelo mar de
botões dourados. — Como você teve essa ideia?
— Alguém muito sábio me disse para sair do caminho comum para
encontrar o que procuro.
Ele se vira para mim, agarrando minha cintura e me puxando para um
beijo.
— Você encontrou? — ele pergunta.
Eu aceno, beijando-o novamente.
— Se eu não disse isso o suficiente antes, sinto muito por tudo o que
aconteceu por causa de Xavier.
— Isso é passado, — diz ele. — Vamos esquecer isso de agora em
diante. Temos todo o nosso futuro com que nos preocupar.
— Não estou preocupada, — digo. — Apenas excitada. E parece que
você também está. — Eu coloco minha mão no volume visível de sua
calça.
— Muito, — ele diz.
Eu olho em volta mais uma vez para ter certeza de que estamos
sozinhos. Há um galpão de jardim ao longe, mas parece que está
abandonado há muito tempo. Acho que estamos livres.
Com um sorriso malicioso, eu me ajoelho, desabotoo suas calças e
envolvo seu membro em minhas mãos.
Distribuo beijos em seu torso tonificado e vou descendo até estar cara
a cara com ele. Molhando minha língua, dou uma longa lambida da base
até a ponta de seu membro ereto.
Alex solta um suspiro.
Seus joelhos tremem quando o ar da manhã esfria a trilha de minha
saliva quente.
Meus joelhos cavam ainda mais no chão abaixo de mim enquanto o
coloco em minha boca.
Eu sinto sua mão agarrando meu cabelo.
Ouço seus gemidos enquanto o movo para dentro e para fora.
Repetidamente.
Isso me encoraja e decido ver até onde posso ir.
— Ah... Ariel... — sussurra Alex. Eu amo poder fazê-lo se sentir assim.
Uma mão errante desce e agarra meu peito, como uma âncora para
impedi-lo de desabar de prazer.
Com cada gemido de Alex, estou ficando cada vez mais molhada.
Estou pronta para ele fazer amor comigo no meio deste campo de
flores.
Eu o coloco de joelhos e antes que ele possa soltar outro gemido, eu o
empurro de costas.
Tiro minha calça jeans e monto nele.
Ele agarra minhas costas e mordisca meu ombro... qualquer coisa para
dissipar um pouco da tensão que está crescendo em seu corpo... para
impedi-lo de gozar muito rápido.
Quando eu o deslizo dentro de mim, nós dois exalamos bruscamente
e compartilhamos um grito unânime de — Ah, Deusa.
Com ele dentro de mim, todas as minhas inibições desabam.
— É incrível te sentir, — diz ele.
— Você também, — eu respondo.
Eu me contorço em cima dele, agarrando seu tórax, seus braços,
qualquer coisa que eu possa colocar minhas mãos.
Mas ele mantém seu aperto ternamente na parte de trás da minha
cabeça, seus olhos fixos nos meus.
Seu olhar é quase o suficiente para me fazer tremer
incontrolavelmente.
Mas então, ele lambe a ponta do polegar, estende a mão e o coloca no
meu lugar mais doce.
Uau.
Eu sinto de novo.
A mesma chuva de luz dourada do meu sonho.
Mas desta vez, está me preenchendo por dentro.
Eu grito em êxtase, e Alex está apenas alguns segundos atrás,
compartilhando este momento de prazer perfeito e completo.
Desabo em seu tórax enquanto nós dois ofegamos desesperadamente
por ar.
Quando finalmente recuperamos nossos sentidos, trago meu rosto de
volta ao dele e beijo seus lábios.
Eu sempre adoro o primeiro beijo depois do sexo com Alex, drenado
de luxúria, mas transbordando de amor puro e inocente.
Ele sorri enquanto sua mão trilha do meu seio até o meu rosto.
Ele alcança meu cabelo com a outra mão, e eu o sinto puxar
suavemente algo para fora dele.
— O que é isso? — Eu pergunto.
Ele o entrega para mim.
Uma linda papoula dourada.
ALEX

Na viagem de volta à Matilha Real, estou completamente satisfeito. E


exausto.
Eu me aconchego no pescoço de Ariel enquanto a agarro com força na
parte de trás de sua moto.
Mal posso esperar para colocar minha marca de acasalamento neste lindo
pescoço.
Deusa, gostaria que ela estivesse pronta.
Mas, por enquanto, vou me contentar em abraçá-la e respirar seu doce
perfume.
No momento, quase nada soa melhor do que rastejar de volta para a
cama e dormir nu ao lado de Ariel por mais uma hora, antes dos meus
deveres diários.
Mas quando paramos na garagem, Fate claramente tem outro plano
para nós.
Minha mãe está do lado de fora com seu roupão. Ela nunca sai do
quarto sem estar totalmente vestida, então já sei que algo está errado.
Eu pulo da moto de Ariel e corro em sua direção.
Ela vira o rosto coberto de lágrimas para mim.
— Alex.
— Mãe.... o que..?
— É o seu pai, — ela diz. — Venha rápido.
Capítulo 19
ANJO VS. DIABO
ALEX

Minha mãe fica em silêncio enquanto seus pés voam pelos corredores
do palácio. Ela não se vira para esperar por mim.
Ela não me deixa vê-la chorar...
Quando chegamos ao quarto deles, encontro meu pai deitado na
cama, inconsciente, ligado a inúmeros tubos e máquinas.
Eu corro em direção a ele, desabando ao seu lado e pegando sua mão.
Pelos picos e vales rasos no monitor, posso dizer que seu coração
ainda está batendo. Mas está fraco.
— O que aconteceu? — Eu perguntei à minha mãe. — Ele parecia
estar bem ontem.
— Ele se levantou no meio da noite, Deusa sabe o porquê, e caiu na
escada.
— E agora?
— Ele está inconsciente por horas. O médico mandou todo esse
equipamento do hospital e disse para mantê-lo confortável.
Eu não acredito que eu não estava aqui.
Eu deveria estar aqui para ajudá-lo.
— Onde você estava quando tudo isso aconteceu, Alex? — ela me
pergunta, um olhar preocupado. — Eu bati na sua porta sem resposta.
— Eu estava com Ariel. Estávamos longe do palácio.
— Por quê? Houve algum problema? Algo que eu não sei?
— Não. Não houve problema, mãe, — digo baixinho, — apenas
saímos.
— No meio da noite? Sério? — ela pergunta novamente, olhando para
mim com ceticismo.
— Sim. Não se preocupe comigo, ok? Já temos preocupações
suficientes.
— Você está certo, — ela responde, sentando-se em uma cadeira ao
lado da cama do meu pai e inclinando a cabeça no encosto alto estofado.
Ela parece aliviada por tirar pelo menos uma preocupação de sua
mente.
Ajoelho-me ao lado da cama de meu pai e seguro sua mão mais uma
vez.
Eu olho para suas pálpebras, vibrando suavemente a cada respiração
que ele dá.
Elas parecem finas como papel.
Praticamente translúcidas.
Eu examino o restante de sua forma frágil. Acho que nunca percebi
que meu pai, o todo-poderoso Rei dos Lobisomens, era tão... pequeno.
Vê-lo agora me deixou ainda mais orgulhoso de ser seu filho, sabendo
que sua verdadeira força como líder vinha de dentro.
Eu me inclino e descanso meus dedos em seu pulso, sentindo o que
restou de sua pulsação, grato por poder sentir qualquer coisa. Mas então,
a sensação se intensifica. Eu coloco minha mão na dele, e seus dedos
começam a apertar os meus.
Eu olho para ele. Ele está definitivamente olhando para mim.
— Pai, — eu digo, engolindo o choro, embora eu possa ouvir que
minha mãe é incapaz de conter o dela. — Como você está?
— Estou bem, meu filho.
— Precisa de alguma coisa? Está confortável?
— Não se preocupe, Alex, — diz ele, — apenas feliz por estar aqui.
Eu aperto sua mão com mais força e vejo como suas pálpebras caem,
um peso para ele suportar.
Ele volta a dormir enquanto eu e minha mãe observamos.
Estou feliz que você ainda esteja aqui também, Eu quero dizer a ele.
ARIEL
Alex desapareceu com sua mãe antes que eu pudesse entender
completamente o que estava acontecendo.
Eu queria correr atrás dele, mas talvez seja melhor dar a ele um tempo
a sós com sua família.
Então, em vez disso, decido voltar para seu quarto e esperar que ele
me encontre.
Mas quando entro no corredor, vejo alguém que não esperava.
Amy parecendo estranhamente exausta... como se ela não tivesse
conseguido dormir na noite anterior.
Acho que somos duas.
Eu me aproximo dela com os braços estendidos e, sem falar nada, ela
caminha diretamente para o meu abraço.
— Você está bem? — Eu pergunto a ela. Quando ela não responde, eu
a pressiono ainda mais. — O que está acontecendo?
— Estou bem. Mesmo. Vou te contar tudo. Mas primeiro, café, — diz
ela.
— Ok. — Eu concordo. — Bom plano.

Agora no pátio, com canecas em mãos, volto a atenção para minha


amiga. — O que está acontecendo? — Eu pergunto a ela.
— Bem, — ela começa, — ontem à noite, Angel e eu fomos visitar
Dom e Helena no hospital, e Angel... ele...
Ah, não.
O que aconteceu com Angel?
Minha mente já estava imaginando todas as coisas horríveis que
poderiam ter acontecido com ele.
Eu pulo da minha cadeira, quase derrubando minha xícara de café no
processo.
— Eu preciso falar com ele, — eu digo.
Amy agarra minha mão, me puxando de volta para baixo.
— Não. Ariel, — ela diz, — ele está descansando agora. Mal dormimos
depois que o trouxe de volta para casa. Na verdade, ficamos acordados o
restante da noite conversando.
Quando ela diz isso, eu noto um brilho em seus olhos que não estava
lá antes.
Acho que ela pode saber mais sobre Angel do que eu pensava.
— Ele tem alguma ideia de qual foi o gatilho? — Eu pergunto a ela.
— Nós achamos que...
— Então vocês são um nós agora?
Amy golpeia meu braço de leve e continua.
— Nós achamos que estar naquele ambiente hospitalar estéril —
olhando para todo aquele equipamento médico — poderia ter trazido de
volta a sensação de ser sequestrado e torturado.
— Sim, isso faz sentido, — eu respondo. — Eu realmente deveria falar
com ele e me certificar de que ele está bem.
— Ariel, não, — diz ela, mais bruscamente do que talvez pretendesse.
— Ele já se sente tão envergonhado com a coisa toda. Ele só quer se
sentir normal por tipo, um segundo.
— Sem ofensa. Amy, mas você realmente não entende o que ele
passou como eu. Posso me identificar com seu trauma. Posso ajudá-lo.
— Talvez ele não precise de alguém que possa se identificar com seu
passado. Talvez ele só queira alguém para sair. Para jogar conversa fora.
Para ajudá-lo a esquecer as coisas.
Amy está me olhando com olhos brilhantes e esperançosos. Eu nunca
a vi agindo assim com um cara.
E talvez ela esteja certa...
Talvez lembrá-lo de seu trauma não seja o que ele precisa agora,
especialmente depois de uma explosão como essa.
— Então... — eu digo, substituindo minha expressão tensa por um
sorriso malicioso. — Você acha que é o que ele precisa agora?
— Ele parece pensar assim, — Amy diz com um sorriso malicioso.
— É mesmo?
Ela acena com a cabeça.
— Então vá até ele. — eu digo. — Apenas certifique-se de que ele se
mantenha hidratado. E bem descansado.
— Sim, mãe, — Amy responde sarcasticamente.
Tomo o último gole do meu café e Amy põe a mão no meu ombro.
— Espere. Não vá ainda. Como você está? Como está tudo com Alex?
— As coisas estão realmente boas, — eu digo, enquanto as imagens da
noite anterior passam por minha mente.
— Devo começar a escolher um vestido para uma cerimônia de
acasalamento?
Ela ri maliciosamente.
— Não, — eu digo, — ainda não.
— Vamos, Ariel! Não estou ficando mais jovem.
— E?
— Eu quero estar gostosa nas fotos!
— Ahhh. Então deveríamos ter realizado a cerimônia há muito tempo,
— eu digo sarcasticamente.
— Vai se foder, — ela ri. — Já sei que vestido vou comprar, afinal. É
roxo. Eu fico ótima de roxo.
— Esqueça o vestido, — eu digo, — Vá ver como Angel está.
— Estou indo! — ela diz, e logo em seguida sai.
Eu olho para ela, esperando que ela possa realmente ajudá-lo mais do
que eu.
ANGEL

Eu deveria estar descansando.


É isso que todo mundo quer que eu faça.
Depois da minha explosão no hospital, aquela que colocou um bebê
recém-nascido em perigo, eu esperava ser expulso do palácio.
Ser jogado para fora.
Ser deixado para morrer.
Mas, em vez disso, Amy me trouxe de volta aqui e ficou comigo até
meu sangue parar de ferver — até meus nervos se acalmarem.
Essas pessoas continuam a me surpreender com sua generosidade.
E isso me apavora. Porque não consigo escapar da sensação de que
vou estragar tudo. E depois?
Para onde eu iria?
Quem teria misericórdia de mim novamente?
Eu ouço uma batida na porta e espero ver Ariel do outro lado.
Certamente ela já ouviu falar sobre o que aconteceu agora. Ela ficará
preocupada comigo.
Mas quando abro a porta, para minha surpresa, Amy voltou, com um
grande e brilhante sorriso.
— Espero não ter acordado você, — ela diz docemente.
— Na verdade, eu estava quase indo para a cama. — eu digo.
— Ah, é? — ela me pergunta.
— Mas entre, por favor. — Eu aceno para ela entrar. Não quero que
ela me deixe sozinho com meus pensamentos de novo.
— Eu poderia me juntar a você, — ela diz. — Na cama, quero dizer.
Uau.
— Uh.. sim… claro... sério?
— Também estou muito cansada, — diz ela. — e é uma longa jornada
de volta ao meu quarto.
O que está acontecendo aqui?
Eu não vou mentir, eu senti vontade de beijá-la algumas vezes na
noite passada enquanto estávamos conversando até tarde.
Mas eu não tinha certeza de como ela se sentia. E eu não queria dar a
ela mais motivos para ter medo de mim do que já tenho.
Mas agora, ela está me agarrando pela mão e me levando em direção à
cama.
Sento-me na beira do colchão e ela se senta ao meu lado.
— Está tudo bem? — ela me pergunta.
Eu aceno. Não tenho certeza do que exatamente ela tem reservado
para mim, mas sei que quero.
Ela se inclina em minha direção, aproximando seu rosto do meu.
Quando ela está prestes a me beijar, coloco minhas mãos em seus
ombros e a detenho.
— O que foi? — ela me pergunta.
— Eu só… você tem certeza disso? Depois de tudo no hospital, não
tenho certeza se posso confiar mais em mim mesmo.
Ela continua seu movimento, inclinando-se ainda mais até que seus
lábios tocam os meus.
— Eu confio em você. Angel. Eu confio em você.
É como ter meu primeiro beijo de novo, porque não consigo me
lembrar de quando realmente aconteceu.
E é incrível.
Ela me beija novamente. Uma onda quente percorre meu corpo.
Eu corro minha língua sobre seus lábios. Eles são tão suaves quanto
parecem.
Ela se levanta e fica entre minhas pernas. Eu a seguro com a força das
minhas coxas.
Ela me empurra para baixo na cama, deitando em cima de mim agora,
seu jeans pressionado no meu. Eu gostaria de estar usando um tecido
mais leve para poder sentir melhor seu calor.
De uma só vez, eu a viro.
Eu beijo meu caminho até seu pescoço, pressionando meu membro
ereto em seu corpo. Ela geme, e isso me deixa louco.
Eu aperto suas costas. Puxo seu cabelo.
Mas eu paro de repente quando começo a ouvir uma voz familiar
rastejar no fundo da minha mente.
Ah, não.
Estou perdendo o controle de mim mesmo de novo.
Eu posso sentir.
Eu pulo de cima dela e coloco minhas mãos nos ouvidos, mas isso não
abafa a voz. Uma voz que não pertence a mim ou ao meu lobo.
Pertence inteiramente a outra pessoa.
Mas está me controlando. Eu não consigo ignorar.
Sento-me abruptamente na cama.
— Qual é o problema — ? — Amy me pergunta. — Você está bem?
— Saia daqui, — eu rosno para ela.
— Por que? — ela pergunta.
— Apenas saia. Por favor.
Eu não posso suportar olhar para ela enquanto ela ajusta suas roupas e
sai correndo do quarto. Eu me sinto péssimo quando ouço a porta se
fechando atrás dela.
A verdade é que ela não está em perigo. A voz está me dizendo para
fazer algo terrível, mas não com ela.
— Pegue o bebê, — diz a voz. — Pegue o bebê. Pegue o bebê.
POR QUE? Pergunto desesperadamente à voz.
— Você sabe o porquê...
— Pegue o bebê. Pegue o bebê. Pegue o bebê.
Capítulo 20
TRABALHO INTERNO
ANGEL

Eu faço tudo que posso para silenciar a voz que está ecoando na
minha cabeça, ameaçando afogar minha própria consciência e assumir
minha forma física.
Eu coloco uma barricada na porta do meu quarto com uma cômoda e
então começo a bater minha cabeça contra ela.
A madeira não é dura o suficiente.
Eu bato minha cabeça contra a parede.
Sem resultado, a voz fica cada vez mais alta.
Eu me deito na cama, segurando meu tórax, tentando arranhar meu
caminho para fora da minha própria pele. Não quero habitar nela se não
puder controlá-la.
Parece que meu corpo é uma arma, mas outra pessoa está com o dedo
no gatilho.
E eu sei exatamente quem me tem em seu poder.
Eu posso vê-lo em minha mente, falando aquelas palavras horríveis.
— Pegue o bebê. Pegue o bebê.
É o Soldado de Prata, aquele com o rosto repleto de piercings e um
sorriso abominável.
— Pegue, — ele comanda.
— Por quê? — Eu pergunto a ele novamente.
— Porque bebês são folhas em branco. Os bebês têm um potencial
ilimitado.
— Dom e Helena são meus amigos.
— Você não tem amigos. Você nem sabe seu verdadeiro nome. Agora faça
o que eu digo. Pegue o bebê, como você pegou o último.
— O último? Eu peguei o...
— Claro que você pegou. E você vai fazer de novo, — diz ele
ameaçadoramente. Neste momento, eu sei que não tenho escolha. Estou
lutando uma batalha perdida.
— Preparar, apontar... — o Soldado de Prata diz com um rosnado. — Já!
Como se fosse uma deixa, minhas unhas se transformam em garras.
Eu tiro meu próprio sangue tentando me impedir de me transformar,
rasgando as imagens tatuadas em meu peito.
Mas é tarde demais.
Meu pelo começa a emergir.
Meus ossos começam a se quebrar.
Meus músculos começam a inchar.
— Às suas ordens, — eu digo em voz alta, horrorizado com as palavras
que saem da minha boca.
ARIEL

Eu ando pelo meu quarto, esperando ansiosamente o retorno de Alex.


Claro que quero descobrir o que aconteceu, mas tenho certeza de que
o pior ainda não chegou. Se George estivesse morto, todos nós
saberíamos agora.
Eu paro no meio do caminho quando ouço passos correndo pelo
corredor.
Não soa como o andar de Alex. Mas quem...
Minha pergunta é respondida quando a porta se abre e Amy entra
correndo, sem ao menos bater.
Mas pela expressão em seu rosto, posso ver que ela não está aqui para
fofocar mais sobre Alex e Angel.
— Ariel, — ela grita para mim. — está acontecendo de novo.
— Angel?
Ela assente e continua.
— Estávamos em sua cama meio que — beijando um pouco — e então
ele teve a mesma expressão em seus olhos que tinha no hospital. Seus
olhos ficaram vermelhos. E ele começou a tremer.
— O que você fez?
— Nada! Ele me disse para sair!
— Você apenas o deixou sozinho? Algo pode acontecer com ele!
— Algo poderia ter acontecido comigo!
— Você está certa, — eu digo, — sinto muito.
— Não estou, — diz ela, com os olhos cheios de lágrimas. — Eu
deveria ter escutado você. Não entendo o que está acontecendo com ele
como você. Vá ajudá-lo, por favor!
Saio correndo pelo corredor e os passos de Amy se arrastam atrás de
mim.
ALEX

Eu acordo com o som do meu celular zumbindo. Me encontro no


quarto do meu pai, afundado em uma cadeira ao lado de sua cama, ainda
segurando sua mão.
Devo ter cochilado; o início da manhã finalmente me alcançou.
Solto a mão do meu pai gentilmente e pego meu celular. Eu coloco no
silencioso para o caso de o som atrapalhar seu descanso.
Dom: E aí cara! Nós voltamos para casa.

Dom: Venha para o meu quarto! A pequena quer ver seu


padrinho.

Alex: Esse sou... eu???

Dom: Pode ter certeza.

Dom: Você aceita?

Alex: Estou honrado, cara!

Alex: Já vou, me dê um segundo Eu deslizo meu celular no bolso e


beijo meu pai na testa antes de sair do quarto na ponta dos pés.
Mas minha tentativa de ficar quieto se prova inútil porque, assim que
abro a porta, ouço um rugido alto e horrível ecoando pelos corredores do
palácio.
O que...
Meus passos se tornam uma corrida enquanto atravesso o corredor.
O rugido é seguido pelo som de mais gritos. De corpos sendo jogados
no chão.
Ah, não...
Eu ando em círculos, incapaz de descobrir de qual direção o som está
vindo.
E então meu celular toca novamente. Uma horrível sirene uivante.
É um alerta da matilha.
ALERTA DA MATILHA
Esta é uma mensagem automática para todos os membros da Matilha
Real ALERTA DA MATILHA
Há uma perturbação no palácio.
ALERTA DA MATILHA
Todos os cidadãos são aconselhados a evitar a área.
Até parece que vou evitar a área.
Qualquer ataque ao meu palácio é um ataque a mim.
Eu começo a correr a toda velocidade pelo corredor.
ANGEL

Eu assisto horrorizado enquanto meu corpo faz coisas que não


consigo controlar.
Coisas indescritíveis.
Os guardas do palácio se aproximam de mim e eu os rasgo
violentamente, um por um.
Eu os derrubo, um por um.
Desenhando sangue. Deixando-os inconscientes.
E a voz fica cada vez mais alta.
— Pegue o bebê.
— Eu preciso do bebê.
ARIEL

Eu preciso chegar até Angel primeiro — antes que qualquer um dos


guardas tente amarrá-lo. Ou pior...
E se eles tentarem matá-lo?
Preciso me mover mais rápido e só há uma maneira.
Eu tensiono todos os músculos do meu corpo e, em um instante,
estou me transformando em minha loba.
De duas pernas para quatro, corro pelo corredor de mármore.
Eu ouço os pés de Amy fazendo contato com o chão alguns passos
atrás de mim. Eu gostaria que ela tivesse ficado para trás, mas não há
como dizer isso a ela agora.
Eu corro em alta velocidade, ficando cada vez mais perto do caos.
Virando um corredor, observo a cena. É pior do que eu imaginava.
Angel, em sua forma de lobo, está cercado por todos os lados por
membros da Guarda Real e está lutando contra eles.
Eu preciso acabar com isso antes que uma vida seja perdida.
Apoiando-me nas patas traseiras, preparo-me para entrar em ação.
E então eu ouço...
Meu nome sendo chamado do outro lado do corredor.
É o Alex. Ele está correndo em minha direção.
— Ariel, pare!!! — ele grita. — O que você está fazendo??
— Ela está ajudando ele! — Amy chama Alex. — É o Angel!
— Ariel! Não! — Alex grita novamente.
Eu quero responder — tranquilizar seu medo — mas não tenho como
direcionar minha atenção a ele. E não tenho tempo a perder.
Avançando através do círculo de guardas do palácio, eu ataco aquele
que está lutando contra Angel por trás, jogando-o no chão, desorientado
e confuso.
Quando eu olho para cima. Angel está olhando para mim.
Seu lobo reconheceu o meu, e isso o parou em seu caminho.
Ele está olhando para mim com os olhos cheios de medo. Olhos que
imploram...
Me ajude.
Vendo o efeito que estou tendo, os guardas atrás de mim dão um
passo para trás. Isso parece acalmar o lobo de Angel ainda mais.
Na minha visão periférica, vejo Alex. Ele parece estar pronto para se
transformar se Angel fizer um movimento em falso em minha direção.
Eu aceno para ele como se dissesse: Eu cuido disso.
Porque eu acho que consigo.
Mas quando faço contato visual com Angel novamente, recuo. O
medo que antes estava em seus olhos é substituído por uma expressão de
pura raiva.
As bordas de sua boca se curvam quando ele mostra seus caninos em
minha direção.
Parece que ele está prestes a ir direto para minha jugular.
Eu me esquivo, jogando meu corpo para a esquerda. Eu vejo quando
Alex se lança em minha direção, se transformando no ar e caindo bem na
minha frente.
Mas Angel não está vindo em minha direção, afinal.
Ele está correndo a toda velocidade na direção oposta.
Alex e eu olhamos um para o outro por um instante, completamente
confusos. Em seguida, voltamos para as quatro patas e disparamos atrás
dele.
Enquanto o seguimos em sua perseguição, tento descobrir o que ele
pode está fazendo.
Achei que Angel estava apenas tendo outro episódio de estresse pós-
traumático. Mas isso parece algo totalmente diferente.
Ele tem um plano, isso está claro.
Mas o que ele quer?
Quase caio ao subir uma escada para o segundo andar. Mas
rapidamente recupero o equilíbrio.
Eu uivo o mais alto que posso, esperando que o som da minha voz o
tire desse transe. Mas isso não acontece. Ele vira outro corredor e vai
direto para...
Ah, não!
Deusa, por favor, não!
Ele entra na ala do palácio de Dom e Helena.
Todos os meus órgãos internos se amarram em um grande nó
pulsante quando de repente descubro o que está acontecendo.
Angel está indo atrás do bebê.
Estou prestes a entrar no quarto deles.
Angel está se lançando contra Helena, que está gritando.
Ele agarra o bebê pelo cobertor, segurando-o descuidadamente com
os dentes.
Alex e eu pulamos na direção de Angel, assim que Dom corre para fora
do banheiro, todo molhado, coberto apenas por uma toalha.
Camélia está chorando.
Helena também.
Dom está se transformando.
Com uma precisão fora da realidade. Angel salta das patas traseiras e
pula pela janela aberta.
Eu assisto horrorizada quando Angel cai de quatro e começa a correr
pelos jardins do palácio, carregando o filho de Dom e Helena em seus
caninos.
Capítulo 21
CRIME E PUNIÇÃO
ARIEL

Não há tempo para conversar.


Não há tempo para planejar.
Só precisamos trazer o bebê de volta enquanto ele ainda está em nossa
linha de visão.
É claro que o objetivo de Angel não é matá-la, mas sim roubá-la.
Temos que pegá-lo antes que o bebê Camélia desapareça como Xavi.
Estou na frente da matilha, então mergulho pela janela primeiro no
gramado abaixo.
Ofe..
Eu rolo no chão, mas rapidamente recupero o equilíbrio.
Atrás de mim, ouço uma cacofonia de ruídos — lobos se mexendo,
uivando e correndo.
Estou me movendo tão rápido que minha visão começa a ficar
embaçada, mas ainda consigo distinguir o contorno de Angel à distância.
Ah, Deusa.
Proteja Camélia. Por favor.
Eu ouço um rosnado à minha direita e vejo que Alex me alcançou. Ele
está ao meu lado agora quando começamos a alcançar Angel.
Por uma fração de segundo. Alex e eu fazemos contato visual.
Naquele momento, posso ver que ele tem um plano.
Angel pode ter começado na frente, mas Alex conhece este terreno
melhor do que ninguém.
Alex acena para mim e depois corta para a esquerda, levantando a
grama enquanto avança. Mas eu mantenho meu curso.
Se ele está fazendo o que eu acho que está fazendo, devemos
conseguir encurralar Angel em pouco tempo.
Eu estreito meu foco no caminho à minha frente.
Respiro fundo e corro o mais rápido que posso.
Enquanto rastreio Angel, não posso deixar de sentir pena dele.
É uma loucura dada a situação atual. Mas ainda acredito que Angel
está sendo vítima de outro episódio. Outro sintoma do trauma do qual
eu deveria curá-lo.
Fui eu quem o trouxe para a Matilha Real. Se acontecer alguma coisa,
isso é minha culpa e cabe a mim resolver o problema.
E chegou a hora. Como previ, vejo Alex novamente, agachado no topo
de uma colina à distância. Eu o vejo saltar de seu ponto estratégico —
diretamente no caminho de Angel.
Angel para derrapando, me dando tempo suficiente para acelerar em
direção a ele e agarrá-lo por trás com minhas mandíbulas.
Eu afundo meus dentes em sua perna traseira com todas as minhas
forças — até sentir o gosto de sangue. Ele solta um grito e se contorce
desesperadamente para se libertar.
Alex salta em direção a ele, se transformando de volta para sua forma
humana quando alcança Angel.
Ele arranca o cobertor da mandíbula travada de Angel e embala o bebê
esperneando em seus braços. Angel o ataca, mas Alex se esquiva,
decolando na outra direção.
E de repente, Alex é rodeado por três dos guardas do palácio, em
posição de prontidão, assim como o General Dave.
Dave está pronto para atacar Angel se ele der mais um passo em
direção a seus homens.
Mas Angel não consegue se mover, mesmo que ouse, porque, agora,
eu o tenho pregado no chão. Ele está se contorcendo furiosamente, mas
não há nada que ele possa fazer. Ele está exausto e eu tenho a vantagem.
Abaixo de mim, sua forma começa a mudar e, de repente, estou
deitada em cima de um homem em vez de um lobo.
Ele levanta a mão fraca na direção do bebê chorando.
— NÃO! — ele grita, mas a voz não soa como a dele.
E como se ele estivesse possuído e quem quer que esteja no controle
de seu corpo fica absolutamente furioso.
Então, ele começa a chorar, com seu peito arfando. E posso dizer que
as lágrimas pertencem a Angel.
Eu saio do caminho e meus ossos se deslocam até que eu possa ficar
em pé novamente, e meus pés humanos sangram no cascalho embaixo de
mim.
Assim que eu me movo, o corpo molenga de Angel é levantado do
chão por dois guardas do palácio. Eles puxam suas mãos para trás, e eu
ouço o som de algemas fechando.
Eu quero protestar. Odeio vê-lo sendo tratado dessa forma.
Mas não há nada que eu possa dizer para defendê-lo, porque
momentos antes ele tinha um bebê entre os dentes.
Eu corro para Alex para ver como está Camelia, deixando um rastro de
sangue atrás de mim.
Felizmente, ela está completamente ilesa, o que justifica ainda mais
minha suspeita de que ela deveria ser mantida viva.
Graças à Deusa.
Eu vejo Dom e Helena derrapando e parando, e assim que eles se
transformam para suas formas humanas, colocamos Camélia de volta em
seus braços.
Helena segura o bebê contra o peito. Dom segura Helena contra o seu,
mas ele direciona um olhar assassino para Angel, que continua a chorar
baixinho.
ALEX

Talvez este seja um dos dias mais longos da minha vida.


Todos nós voltamos para o palácio, e Dom e Helena foram direto para
sua ala enquanto Angel era levado para a prisão da Matilha Real.
Mas agora é hora de realizar uma reunião do conselho para decidir o
destino de nosso prisioneiro.
Já estou sentado a uma grande mesa de madeira quando o conselho
começa a entrar.
O grupo é composto por vários de nossos guerreiros de matilha mais
condecorados, escrivães reais, General Dave e Dominic.
Eu não tenho um voto no destino de Angel. Estou aqui apenas para
mediar, e estou feliz por isso. Neste momento, estou desesperadamente
em conflito.
A última pessoa a entrar na sala é o próprio prisioneiro. Sua cabeça
está baixa, então ele não faz contato visual com ninguém. Ele apenas
olha diretamente para o chão enquanto é levado para seu assento.
Quanto a mim, minhas pálpebras já estão começando a fechar. Estou
exausto e não há como dizer quanto tempo isso vai durar. O conselho
deve chegar a uma decisão unânime antes que qualquer ação possa ser
tomada.
Eu bato meu martelo na mesa para iniciar os procedimentos.
— Então. — eu começo, — todos nós sabemos o motivo de estarmos
aqui... alguém gostaria de iniciar a discussão?
O General Dave levanta a mão.
— O que testemunhamos hoje foi um ato de crueldade e um ato de
traição. Este Angel foi convidado para o palácio e traiu a boa vontade da
Matilha Real.
Ninguém protesta enquanto Dave continua.
— Ele empreendeu um ataque ao mais vulnerável de todos nós... um
filhote recém-nascido. É um ataque direto e direcionado à futura
linhagem desta matilha.
— Qual você propõe que seja a punição dele? — Eu pergunto, embora
eu tenha a sensação de que já sei o que ele vai dizer.
— Em minha mente, não há dúvida. Ele deveria ser condenado à
morte, — Dave diz sem um traço de hesitação em sua voz.
Eu vejo alguns dos outros acenarem em concordância.
Eu olho para Dom, que ainda carrega um olhar fulminante para
Angel, com os dentes cerrados.
— Eu concordo. É um ato punível com pena de morte, — afirma.
Não posso deixar de pensar que dar o voto a Dom agora representa
um enorme conflito de interesses no júri.
Eu descanso minha mão no braço de Dom para tentar acalmá-lo. Ele
respira fundo, mas repete novamente em voz baixa: — Pena de morte.
De repente, a porta do outro lado da sala se abre.
Eu olho para cima e vejo Ariel avançando em minha direção como um
morcego que saiu do inferno.
— Ariel, o que você está fazendo aqui? — Dave pergunta incrédulo. —
Você não está no conselho.
— Eu sei, — ela grita, — mas esta é uma situação atípica. E há algo que
preciso dizer.
— Guerreira, não está dentro dos direitos de...
Enquanto Dave está tentando silenciar Ariel novamente, eu o
interrompo.
— O que você quer dizer, Ariel?
Ela se prepara e então começa o que é obviamente uma declaração
bem preparada.
— Já implorei pela vida de Angel antes, — diz ela. — E eu vou implorar
por isso novamente. Nenhum de vocês entende o trauma que Angel
suportou quando estava em cativeiro. As injeções. A tortura. A
transformação forçada. O tormento psicológico sem fim.
— Isso não justifica o que ele fez hoje, — Dave interrompe.
— Não justifica, mas pode explicar. Acredito que os sequestradores de
Angel conseguiram obter algum tipo de controle sobre seu cérebro.
Ela direciona seu olhar para Angel.
— Mas nada disso aconteceu com você, e você estava no mesmo tipo
de cativeiro, — eu a lembrei.
— Eu sei, mas... ao apagar sua memória. — ela diz, — acho que os
caçadores foram capazes de atrelar Angel para realizar suas vontades.
Acredito que seja o que aconteceu hoje. Não acho que Angel tinha
qualquer intenção de sequestrar o bebê de Dom e Helena. Outra pessoa
está mexendo os pauzinhos.
Dom acena para Ariel, chamando sua atenção.
— Então o que devemos fazer? Esperar ele tentar de novo? E se ele
tiver sucesso na próxima vez?
— Ele não vai!
— Como você sabe?
— Porque eu tenho a Deusa da Lua ao meu lado novamente.
O General Dave começa a protestar, mas levanto a mão e ele fica em
silêncio novamente.
— Eu só preciso de um pouco mais de tempo. Eu posso consertá-lo.
Tenho certeza de que consigo. Além disso... — ela diz, seus olhos agora se
enchendo de lágrimas, — Angel é minha única esperança de descobrir
onde meu sobrinho está. Acho que se o tivéssemos rastreado um pouco
mais, ele poderia ter nos levado diretamente ao caçador. Ao filho da
minha irmã. Eu preciso da ajuda dele.
Com isso, a sala fica em silêncio.
Como mediador, é minha vez de falar.
— Angel? — Eu digo, e seu olhar se ergue para encontrar o meu. —
Você gostaria de falar? Você pode argumentar por si mesmo, se quiser.
Ele engole em seco.
— Posso?
— Sim, — eu respondo.
Todos olham para ele, esperando por uma palavra.
Ele respira fundo e olha de Ariel para mim.
— Por favor, — ele diz. — Apenas me mate.
Capítulo 22
A LUZ NO FIM DO TÚNEL
ALEX

— Apenas me mate, — Angel repete. — Me deixe morrer. Não mereço


viver depois do que fiz.
— Angel, — Ariel caminha até ele, sentando-se na cadeira ao lado
dele. — Você não está falando sério. Não diga isso.
— Sim, estou, — ele diz. — Você está certa Ariel, Apagar minhas
memórias permitiu que os caçadores controlassem minha mente.
Qualquer voz que esteja vivendo dentro da minha cabeça é mais forte do
que eu. Eu não posso pará-lo. Ele vai vencer no final.
— Não, ele não vai, — diz Ariel. — eu não vou deixar.
— Sim, ele vai, Ariel. Ele já venceu. Por favor, deixe-me morrer.
— O homem nem mesmo quer viver, — grita o General Dave, — e
admite as atrocidades que cometeu. Podemos começar a votação, Alfa?
Eu aceno severamente.
Por mais que eu odeie essa parte do trabalho, está na hora.
— Todos a favor da execução, — eu digo, — levantem as mãos.
Eu olho ao redor da sala e vejo quase todas as mãos na sala se
levantando, incluindo a de Angel.
A única pessoa do comitê que não levantou a mão é Dom. Eu li nas
contorções de seu rosto que ele está dividido sobre o que fazer. Ele está
olhando entre Angel e Ariel... indeciso.
Mas um momento depois, ele balança a cabeça e levanta a mão.
— Sinto muito, Ariel. Ele poderia ter matado minha filha.
— Mas ele não matou! — Ariel protesta. — Alex... por favor.
Todo mundo está olhando para mim agora.
É meu trabalho bater o martelo.
Para selar seu destino.
Mas não consigo desviar os olhos de um rosto: o de Ariel, dominado
pelo desespero.
E naquele momento, eu sei que não posso deixar Angel morrer. Ariel
tem uma missão e preciso ajudá-la a cumpri-la — preciso confiar que ela
consegue.
Então, pela primeira vez em meu reinado como Alfa e rei, respiro
fundo e clamo: — Veto.
Eu ouço um suspiro coletivo do conselho.
Sempre tive o direito de vetar uma decisão, mas nunca o fiz antes...
Sempre segui o julgamento deles.
Desta vez, estou seguindo o exemplo da minha futura Luna.
Ariel agarra a mão de Angel, seu rosto inundando de alegria. Mas
Angel parece um homem que acabou de ser condenado, em vez de
alguém que foi perdoado.
ARIEL

Graças à Deusa.
Alex está colocando sua reputação em risco por mim, e eu não posso
decepcioná-lo.
Eu olho ao redor da sala e vejo os rostos confusos e decepcionados dos
membros do conselho.
— Então, você vai deixá-lo andar livremente? — Dave pergunta.
— Não! — Eu respondo por Alex. — Ele não estará livre. Ele estará sob
estrita supervisão.
— O que você precisa para ajudá-lo, Ariel? — Alex me pergunta.
— Eu preciso ficar sozinha com ele.
— Não, — Angel rosna.
— Sim. — eu rosno de volta. Preciso me manter firme com ele.
Afirmar meu poder para que ele confie que posso ajudá-lo.
— Tem certeza de que é seguro? — Alex me pergunta.
Eu aceno.
— Mas se você estiver preocupado, pode ordenar que os guardas
fiquem do lado de fora da porta.
Alex olha para Dave, que concorda.
— Nós iremos para a biblioteca, — eu digo. — É um local pacífico. E
acho que precisamos de um pouco de paz.
Eu aperto a mão de Angel.
— Você está pronto para vencer essa coisa? — Eu digo.
Ele balança a cabeça, mas o leve sorriso em seu lábio o trai.

A porta se fecha atrás de nós, deixando eu e Angel sozinhos na sala


que está forrada de livros do chão ao teto. Esta biblioteca deve conter
todo o conhecimento da raça dos lobisomens.
Angel me olha com cautela. Ele parece estar esperando que eu dê o
primeiro passo.
— Como você está? — Pergunto-lhe.
— Você realmente quer bater papo agora?
— Eu só quero que você se acalme um pouco.
— Como vou me acalmar? — ele me pergunta. — Quase sequestrei
um bebê recém-nascido hoje, e não acho que você vai conseguir me
consertar. — Você não conseguiu antes. O que está diferente desta vez?
— A Deusa da Lua está falando comigo novamente.
— Pode ser. Mas ela ainda está me ignorando.
— Eu nunca te contei como saí do cativeiro, contei?
Angel balança a cabeça.
— Quando eu estava no fundo do poço... quando pensei que nunca
veria a luz do dia novamente... quando estava deitada amarrada a uma
mesa morrendo, Selene veio até mim. Ela me libertou da minha prisão...
— A Deusa aparece quando você menos espera. Quando toda
esperança estiver perdida.
— Eu cheguei a esse ponto agora, Ariel. Onde ela está?
— Eu estava fazendo a mesma pergunta por um tempo. Meus poderes
não parecem funcionar em memórias reprimidas. Você é a prova viva
disso. Mas talvez eu simplesmente não tenha colocado minha cabeça no
lugar certo.
— Por que você diz isso? — ele me pergunta.
— Eu estive sem contato com a Deusa, — eu admito. — Estava
trabalhando em meio à minha própria dor, lamentando a perda da vida
que eu poderia ter tido se não tivesse sido sequestrada pelos caçadores.
— Estou assombrado por pensamentos como esse, — diz ele. — Todo
santo dia. Quem diabos sou eu? O que eu estaria fazendo agora?
— Não vá por esse caminho agora, — eu digo.
— O que percebi é que ser pega pelos caçadores foi, na verdade, a
melhor coisa que já me aconteceu. Isso me fez ser a pessoa que sou hoje,
com a vida que tenho agora. E me deu o poder de curar você.
— Então... — ele responde, — o que vamos tentar desta vez?
— Vou tentar desencadear outra explosão em você...
— Fala sério...
— Confie em mim. Desta vez, com minhas mãos em você, você não
vai ficar fora de controle. Vou mantê-lo contido.
— E se não funcionar? — ele me pergunta. — E se eu atacar você?
Eu olho para trás.
— Dave? — Eu chamo.
Imediatamente, a porta se abre e o General Dave enfia a cabeça para
dentro.
— Tudo bem, — eu digo, — apenas verificando para ter certeza de que
você está em prontidão.
Dave acena com a cabeça e fecha a porta novamente.
— Viu? — Eu digo. — Estarei perfeitamente segura. Agora, vamos
começar.
Eu levo Angel até um sofá de veludo vermelho no meio da sala.
— Deite-se, — digo a ele, e ele obedece.
— Como você vai desencadear um episódio? — ele me pergunta.
Pego a capa do meu cinto e extraio uma adaga. A pedra da lua com
ponta de prata que Maria me deu — a que pertenceu ao bisavô de Alex.
Assim que Angel vê, sua visão começa a se estreitar. Posso dizer que
seu sangue já está começando a esquentar.
— Você está pronto? — Pergunto-lhe.
— Como nunca estive...
Eu coloco a ponta da lâmina suavemente em seu braço, com cuidado
para não furar a pele.
Mas ele imediatamente começa a tremer.
Eu pego minha outra mão e coloco sobre seu coração.
Quando faço isso, o tremor definitivamente começa a diminuir.
Está funcionando.
Eu esfrego minha mão sobre o peito nu de Angel enquanto mantenho
a lâmina nele.
Ele começa a se contorcer de dor. Quando ele o faz, pressiono com
mais força com a mão, concentrando-me em acalmá-lo.
Começo a cantarolar uma melodia da minha infância que meu pai
costumava cantar para mim. Uma canção folclórica que ele herdou de
seu pai.
A princípio, parece estar diminuindo a frequência cardíaca de Angel.
Mas depois de mais alguns momentos, não é mais suficiente.
Angel começa a gritar.
Eu quero que ele enfrente sua dor. Mas não posso deixá-lo ser
consumido por isso.
— Eu sei que dói. — eu digo a ele, segurando seu peito. — Mas a dor
não é inerentemente ruim.
Angel lamenta. Não tenho certeza se ele pode me ouvir, mas continuo.
— A dor é um professor. Um professor mais rígido do que a alegria,
mas ouça o que ela está lhe dizendo.
Seus gritos estão ficando mais altos. E estão começando a soar mais
como uivos.
Ah, não...
Eu não posso deixá-lo se transformar.
E certamente Dave virá correndo a qualquer segundo se os gritos não
cessarem.
— Ouça a dor. Angel. O que ela está dizendo a você?
Eu deixo cair a adaga e ela se espatifa no chão.
Eu coloco minha outra mão em seu estômago. Ao fazer isso, começo a
sentir a tortura que ele suportou.
É muito parecido com minhas próprias memórias do cativeiro.
A agonia.
A falta de esperança.
O desejo, acima de tudo, de simplesmente morrer.
Para acabar com tudo.
Eu fecho meus olhos...
Mas em vez de ficar envolta em trevas, vejo uma luz branca pura.
Vejo o contorno de uma figura à distância.
Ela não fala comigo, mas eu sei que é ela. Selene.
Eu sei que ela está comigo, me apoiando, mostrando o caminho.
De repente, o desejo de morrer se transforma em uma forte vontade de
viver.
Abro meus olhos novamente e vejo que Angel parou de se contorcer
agora.
Em vez disso, ele parece paralisado. Quase como se ele estivesse em
transe.
— O que você vê? — Pergunto-lhe. — Fale comigo. Não se perca nas
visões.
— Eu me lembro... — ele começa.
— Do que você se lembra?
— Lembro-me de estar com os olhos vendados. Ser nocauteado.
Acordar acorrentado.
— Do que mais você se lembra? — Eu pergunto. — Alguma coisa
nova?
— O Soldado de Prata. Seu rosto cheio de piercings. Sua careta. Sua
boca está se movendo. Ele está dizendo algo para mim.
— O que ele está dizendo para você fazer?
— Ele quer que eu pegue o bebê.
— De Dom e Helena?
— Não. De Xavier e Natalia.
Ah, Deusa.
É isso.
— Para onde ele quer que você leve o bebê? Você consegue ver o lugar?
— Sim, — diz Angel. — Eu consigo ver. Eu consigo ver.
Capítulo 23
ALÉM DAS PAPOULAS
ANGEL

Sim.
Eu consigo ver claramente agora.
Não é mais apenas um sonho.
É uma memória.
É a calada da noite.
Eu tenho um bebê em meus braços.
Quem é o bebê? Não sei.
Ele está dormindo. Parece tão em paz.
Eu quero voltar. Entrar de fininho na casa de onde o tirei. Para devolvê-lo
ao berço.
Mas eu não consigo. Sou compelido a continuar andando.
Eu corro ao longo de uma estrada longa e sinuosa. Parece que nunca vou
parar de correr. Como se eu nunca chegasse aonde preciso ir.
Mas de repente, sem saber o porquê, eu viro para a esquerda. O terreno
muda. Fica mais suave. Mais maleável. Eu olho para baixo e vejo que estou
caminhando por um campo de flores.
— Que tipo de flores? — Eu ouço a voz de Ariel interrompendo
minhas memórias.
— Eu não tenho certeza... mas talvez sejam... amarelas. Ou douradas.
— Foco. Elas poderiam ser... papoulas?
Eu sintonizo de volta na memória, tentando aumentar a clareza dela.
— Sim, — digo, — acho que são. Por quê?
ARIEL
Minha Deusa...
Eu sei onde o Soldado de Prata está.
— Dói muito falar, — diz ele.
— Tudo bem. Apenas relaxe, — eu respondo.
Quero tirar minhas mãos de Angel, mas não quero chocar seu sistema.
Então, continuo absorvendo sua dor e escuridão com as pontas dos
meus dedos, limpando-o de dentro para fora. Parece que estou
realizando algum tipo de fotossíntese psicoespiritual.
E então seus olhos encontram os meus.
— Estou pronto. Me liberte. Eu não aguento mais.
— Ok. — Eu aceno e então, como arrancando um band-aid, eu puxo
minhas mãos de seu corpo.
Ele exala com seu corpo estirado no sofá.
— Como você está se sentindo?
— Diferente.
— De que maneira?
— Como se um peso de 50kg tivesse sido tirado de mim.
— Incrível, — eu respondo.
— Mas ainda não consigo me lembrar de nada de antes de tudo isso
começar, — diz ele com uma pitada de decepção. — Meu nome, minha
família ou minha matilha...
— O Soldado de Prata realmente fez um estrago em você. Quer
enfrentar o desgraçado na vida real? — Eu pergunto. — Porque acho que
sei onde ele está.
Não há tempo para responder a mais perguntas. Eu deslizo a lâmina
de volta em sua capa e corro em direção à porta, ouvindo-o se esforçar
para se levantar do sofá e me seguir.
Abro a porta, esperando ver o rosto do General Dave olhando para
mim. Em vez disso. Alex está esperando do outro lado, andando de um
lado para o outro nervoso.
— O que está acontecendo? — ele me pergunta.
— Eu acho que sei onde Xavi está.
— Isso é ótimo! Onde?
— Você não vai acreditar, mas acho que estávamos lá mais cedo esta
manhã. Vou descobrir.
— Vamos! — Alex diz, pronto para voar para fora da porta.
— Não... Alex, — eu agarro seu antebraço e o puxo para mim. — E se
algo acontecer com seu pai de novo? Pode ser horrível se você não estiver
aqui. Você deveria ficar. Vou apenas com Angel.
— A última vez que você saiu em uma missão de resgate com um
homem, ele a beijou, — diz Alex.
— Hã? — Angel interrompe. — Isso não vai ser um problema aqui.
— Diz o cara que tentou sequestrar o bebê do meu melhor amigo.
Fonte realmente confiável.
— Justo, — diz Angel.
Alex me agarra pela cintura.
— Ariel, você é meu futuro, e eu preciso protegê-la a todo custo. Eu
sei que meu pai me diria a mesma coisa. Eu vou contigo.
— Tudo bem, — eu admito. Se Alex estivesse ao meu lado, eu ficaria
muito mais confiante sobre toda essa situação.
— Devemos alertar Xavier e Natália? — Angel pergunta.
— Não. — eu digo. — Não quero dar esperanças como da última vez.
Vamos embora.
— Precisamos criar uma estratégia! — Angel diz. — Desenvolver um
plano! Alguma coisa!
— Qualquer segundo que perdemos é mais um segundo de abuso que
Xavi tem que suportar! — Eu digo.
— Devemos trazer um esquadrão de guerreiros da matilha? — Alex
pergunta.
— Acho que não, — respondo. — Temos que ser extremamente
discretos. Se invadirmos, com as armas disparando, Xavi pode ser pego
no fogo cruzado. Eu não conseguiria lidar com isso.
Com isso, começo a caminhar pelo corredor.
Quando chegamos à entrada da frente, vejo Amy sentada em uma
cadeira, apoiando a cabeça entre as mãos. Raramente vejo minha amiga
despreocupada parecendo tão derrotada.
Eu me viro para Angel, mas ele não precisa da deixa. Ele já está
caminhando em direção a ela.
— Oi, — diz ele se ajoelhando na frente dela.
Ela espia por entre os dedos.
— E aí?
— Escute, eu não tive a chance de dizer o quanto eu sinto muito. Por
tudo que fiz você passar. Eu só espero que você possa ver... não sou eu....
— Eu sei, — diz Amy. — Eu sei que você nunca faria isso de verdade.
— Obrigado por ver o meu verdadeiro eu, — diz Angel. — Você está
bem? — ele pergunta.
— Vou ficar. Só estou preocupada com você, — Amy responde. —
Como você está?
— Ele vai ficar bem, — eu interrompo, sorrindo para Amy. Quero que
ela saiba quanta fé eu tenho em Angel — que ele irá confrontar seus
demônios e colocá-los a seu favor.
Eu ouço Alex checando com um dos guardas do palácio atrás de mim.
— Você pode trazer um dos SUVs da garagem? Vamos sair um pouco.
Ele faz parecer tão casual!
Mas a verdade é que podemos não encontrar absolutamente nada. E
parte de mim teme que, quando induzi Angel a entrar em transe, tenha
transmitido a imagem do campo de papoulas para sua mente.
E se for apenas mais um beco sem saída?
Mas não há tempo para pensar nessa possibilidade, só há tempo para
agir.
Em um minuto, eu vejo os faróis do SUV saindo da garagem e indo
para a entrada.
— Para onde vocês estão indo? — Amy me pergunta.
— Vamos tentar dar um fim aos nossos problemas de uma vez por
todas. Segure as pontas, está bem? Certifique-se de que Helena e a bebê
Camélia estão bem.
Ela me puxa para um abraço profundo.
— Ok. Tome cuidado.
Eu aceno e sigo Alex para fora da porta da frente, e Angel está logo
atrás de mim.
ALEX

A maior parte da viagem tensa é passada em silêncio, mas Angel


finalmente o quebra.
— Alex, — ele diz, — eu machuquei alguns de seus guardas. Quase
matei o filho do seu Beta. Se eu estivesse no seu lugar, teria me
condenado à morte. Eu sei que até pedi pela morte lá atrás, mas...
obrigado por sua misericórdia.
— Honestamente, a única pessoa a quem você deveria agradecer é
Ariel.
Eu me inclino no banco do passageiro e aperto sua coxa. Ela põe a
mão sobre a minha e fico reconfortado com o calor de sua pele.
A vida tem sido como uma montanha-russa ultimamente. Muitas
voltas e mais voltas imprevisíveis para fingir que estou me orientando.
É difícil imaginar que tipo de governante eu seria nessa situação toda,
sem essa mulher ao meu lado.
Ela me dá uma perspectiva. E mais empatia do que eu era capaz de
sentir antes.
Paro quando chegamos à beira do abundante campo de papoulas.
Não quero chamar a atenção para a nossa presença e não quero
destruir esta paisagem impecável com as rodas do SUV.
É um absurdo estarmos aqui de novo, apenas metade de um dia
depois que Ariel e eu fizemos amor neste mesmo lugar, em
circunstâncias tão diferentes.
Descemos do carro. Angel aponta para a pequena cabana de madeira à
distância.
— Ali, — ele diz.
Parece tão pequena e despretensiosa. Eu mal tinha percebido esta
manhã. Então. Ariel começa a andar nessa direção.
Angel aumenta o ritmo.
— O que você está fazendo? — ela sussurra para ele. — Fique atrás de
mim.
— Não, — ele diz, — você fica atrás de mim. Você tem amor, uma
família e um reino, caramba. Eu não tenho nada — além de uma
memória em branco. Somos apenas eu e o Soldado de Prata por toda a
eternidade, até onde eu sei.
Ele dispara na nossa frente.
Acho que isso não está em discussão.
E depois de mais alguns minutos em silêncio, chegamos à pequena
porta da cabana.
ANGEL

Eu posso sentir.
Este é o lugar.
A fonte dos meus pesadelos está aqui.
Meu estômago se revira. Meu cabelo está em pé.
Coloco minha mão trêmula na velha porta de madeira e a abro.
Posiciono um pé dentro e depois o outro. Está escuro, mas quando meus
olhos começam a se ajustar, fico surpreso com o que vejo.
Não há nada de sinistro neste lugar. É apenas um galpão de jardim
padrão, com ancinhos, baldes e peças sobressalentes de madeira
compensada.
Este não é o laboratório elaborado com extenso equipamento médico
que eu esperava encontrar.
A essa altura, Alex e Ariel se juntam a mim no galpão.
Eu pulo quando a porta se fecha.
— É apenas o vento, — ouço Ariel sussurrar. Embora eu não tenha
tanta certeza de ter sentido alguma brisa.
Olhamos ao redor, cada um esperando ver algum sinal de algo
incomum.
Bem... Cuidado com o que deseja...
Porque, de repente, algo muito incomum acontece.
Uma grande grade de metal desce do teto, bloqueando a porta da
frente e nos trancando lá dentro.
— Deusa! — Ariel grita quando a grade quase cai em seu pé. Ela se
esquiva para fora do caminho, e Alex envolve seus braços em volta dela.
No outro canto da sala, vejo uma das tábuas do piso começar a se
mover sozinha.
É um alçapão. E alguém o está abrindo por baixo de nós.
Eu aponto para ele, e todos nós agachamos, prontos para atacar.
Eu o ouço primeiro: o som de botas com bico de aço vindo em nossa
direção.
Então, no brilho fraco da lua...
Finalmente vejo o rosto do Soldado de Prata.
Capítulo 24
O SOLDADO DE PRATA ANGEL
O Soldado de Prata.
O homem que roubou minhas memórias — a coisa mais preciosa que
você pode roubar de uma pessoa — está bem na minha frente.
Vou matá-lo.
Eu preciso vê-lo morrer.
Dou um passo em sua direção.
— Olá, Marius. Lembra de mim? — ele diz.
Eu rosno e o encaro mortalmente.
— Marius? É esse o meu nome? Eu não me lembraria porque você
limpou minha mente, porra.
— Você está atrasado, — diz ele com indiferença. — Eu estava
esperando você ontem à noite.
— Parece que você não tem tanto controle sobre mim quanto
pensava, — eu disparo para ele.
— Bem, eu sabia que você voltaria. Só não achei que você fosse tolo o
suficiente para trazer companhia.
Ele olha para Alex e Ariel pela primeira vez.
— Mas para ser honesto, — ele continua, — estou feliz que você
trouxe a garota para mim. Eu queria cuidar dela por um tempo.
— Você não vai tocar nela, — Alex rosna.
— Tudo bem, pode ser do seu jeito, — responde o Soldado de Prata. —
Eu não preciso tocá-la para matá-la.
ARIEL

O Soldado de Prata saca uma arma grande e brilhante, que só posso


imaginar estar carregada com pesadas balas de prata.
Uma ferida disso significaria uma agonia excruciante e possível morte.
Eu recuo, com as mãos ao lado do corpo.
— Qual é o seu problema comigo? — Eu pergunto a ele no tom mais
corajoso que consigo. Eu definitivamente não achei que ele iria me
querer especificamente.
Eu olho para ele de perto, tentando me lembrar se eu já o conheci fora
das visões de Angel.
Ele era um dos meus sequestradores?
Não poderia ser... Ele tem características tão específicas, eu não o teria
esquecido.
Mas ele parece... estranhamente familiar.
— Bem, em primeiro lugar, você está invadindo minha propriedade.
Eu não vejo isso com bons olhos. Pela segunda vez, devo acrescentar.
Embora sua visita na noite passada no campo tenha sido mais... agradável
para mim.
— Ah. Deusa. Ele nos viu ontem à noite?
Só de imaginar aquele canalha nos observando fazer amor arruína
completamente a santidade daquele momento perfeito.
Mas essa é a menor das minhas preocupações agora.
Ele espelha meus pensamentos quando diz:
— Mas invadir é o menor dos seus crimes.
— O que mais eu fiz?
— Ah, Ariel...
Eu odeio o som do meu nome em seus lábios.
— Ariel... você é a razão pela qual eu tenho que executar todo o
projeto nesta pequena cabana. Você explodiu a sede. E o líder de toda
esta operação.
De repente, percebo o porquê ele parece tão familiar...
— Curt... Você se parece com ele... Ele era...?
— Ele era meu irmão! E você rasgou o corpo dele em pedaços.
— Bem feito para ele, — grita Alex. — Ele manteve Ariel em cativeiro.
Ele a tratou como um cachorro.
— Ela é um cachorro, não é? Vocês todos são! Vira-latas imundos!
— Curt falava de você às vezes. Eu me lembro agora... Seu nome é....
— Sawyer.
— Sawyer. Isso mesmo!
O Soldado de Prata tem um nome... e um nome formal.
— Você tirou meu irmão de mim, mas agora vou terminar o que ele
começou.
— E o que seria exatamente? — Pergunto. — Qual é o plano mestre
por trás de torturar e fazer experiências com lobisomens inocentes?
Eu planto meus pés firmemente no chão, tentando continuar a
conversa o máximo que posso.
Eu sei que no momento em que a conversa terminar, a matança
começará.
Por sorte, Sawyer parece gostar de um bom monólogo.
— Estamos apenas tentando ajudar sua espécie. Para usar sua força
em todo o seu potencial. Para dar a você um propósito neste mundo
diferente de acasalar e reproduzir como os animais estúpidos que vocês
são, — diz ele.
— Nesse aspecto, não acho que somos tão diferentes dos humanos, —
rosna Alex.
— Somos pensadores civilizados. Vocês são apenas um bando de
cachorros machucados.
— Claro... — responde Angel. — Nada mais civilizado do que
sequestro e tortura...
— Prefiro chamar de experimento. Foi para o seu próprio bem, — diz
o Soldado de Prata para Angel.
— Você roubou minha vida! Você limpou minha mente!
— Bem... eu tentei, — diz o Soldado de Prata com uma risada
desagradável. — Mas, aparentemente, não fiz um trabalho bom o
suficiente.
— Ah é? — Angel zomba.
— Lobisomens totalmente crescidos são bestas complicadas. Seus
cérebros estão totalmente formados. Seu eu passado estava
profundamente enraizado.
— Eu não conseguia nem lembrar meu próprio nome!
— Seu nome foi uma das primeiras coisas que você esqueceu. Mas não
importa quantas sessões de terapia de choque eu fiz em você, sempre
havia traços de sua personalidade que surgiam.
Eu examino a sala em busca de objetos que podem ser usados como
armas enquanto ele continua falando...
— Pelo menos evitou que você tentasse escapar de volta para sua
matilha.
— M-minha matilha? — Angel gagueja. — A qual matilha eu pertenço?
— Você veio da Matilha das Escrituras, mas se tornou uma ferramenta
muito mais instrumental como meu experimento do que como um Alfa.
Alfa!?
Já ouvi falar da Matilha das Escrituras algumas vezes na minha vida.
Por séculos, os líderes da matilha se recusaram a ficar sob a jurisdição
do Rei dos Lobisomens.
Eles acreditam que a Deusa da Lua é a única líder que deve ser
louvada.
Portanto, faz todo o sentido que o palácio não tenha sido alertado
quando seu Alfa desapareceu.
— Então... — Eu tenho mais uma pergunta antes que a violência
comece. — É por isso que você está levando bebês? Porque são mais
fáceis de programar?
— Folhas em branco, — diz o Soldado de Prata. — Se você os cria
desde o nascimento, então você pode ter um exército de feras à sua
disposição. Existem até alguns entre sua espécie que concordam.
Do que ele está falando?
Quem poderia concordar com isso?
Mas então eu ouço algo que atrai minha atenção.
Um grito vindo de baixo.
E eu sei que Xavi está lá.
É hora de atacar.
Todos nós nos viramos para o barulho.
Todos, exceto o Soldado de Prata, que está no caminho.
Corro em um movimento falso em direção ao som.
Quando o Soldado de Prata vem até mim, eu salto para trás e agarro
um ancinho que está encostado na parede.
Eu o jogo nele, mas ele se esquiva.
Eu levanto o ancinho sobre a minha cabeça e o jogo para baixo em seu
ombro, então eu o arrasto para o chão.
Eu o mantenho preso enquanto Alex corre para o alçapão.
Mas o Soldado de Prata agarra sua perna e Alex voa para o chão
também.
Tento lutar com o Soldado de Prata, mas toda vez que minha carne
toca um de seus enfeites corporais de prata, ela queima.
Eu recuo de dor e ele rasteja para longe de mim.
Ele enfia a mão no bolso enquanto eu me arrasto em sua direção.
E quando o vejo desligar a trava de segurança da pistola.
Eu me abaixo atrás de um sofá para me proteger.
Alex avança em direção ao Soldado de Prata e tenta tirar a arma de sua
mão.
Eu imediatamente pulo da minha cobertura e salto para ele do outro
lado, com meu rosto a centímetros do cano da arma.
Eu caio em seu cotovelo.
Ele grita de dor e dispara a arma às cegas.
E então eu ouço um grito tão cheio de agonia que posso sentir em
meus ossos.
É o Angel.
Ele foi atingido.
Não sei onde, mas parece insuportável.
Ah, nem pensar...
Eu coloco minha mão livre o mais forte que posso na lateral da cabeça
do Soldado de Prata.
Eu continuo a socar seu crânio repetidas vezes até que sinto seu corpo
começar a afrouxar debaixo de mim, a luta nele lentamente se esvaindo.
— Eu cuido disso. Socorra Angel! — Eu chamo Alex.
Mas, pelos uivos de Angel, sei que pode ser uma tarefa ainda mais
perigosa.
Ah, não.
Eles são realmente... uivos?
Eu viro minha cabeça e vejo as garras de Angel emergindo das pontas
de seus dedos.
Eu me levanto, substituindo a mão no pescoço de Sawyer pelo meu pé
enquanto ele se contorce embaixo dele.
Encaro Angel, que se tornou uma grande e gritante massa de pelos e
músculos.
Tento encontrar seus olhos, mas congelo quando os encontro.
Eles são vermelho sangue.
— Alex. — eu digo o mais suavemente que posso. — Fique atrás de
mim.
Alex dá passos lentos para longe de Angel, que está se contorcendo
histericamente.
— Angel, — eu digo, — fique calmo. Você vai ficar bem.
— Não, Marius, — Sawyer consegue falar asperamente debaixo da
minha bota. — Você é meu, lembra? Faça o que eu mandar. Mate-os.
Os olhos injetados de sangue de Angel encontram os meus.
Então eles piscam para Sawyer.
E então para mim novamente.
Eu pensei que tinha conseguido.
Pensei que o tinha curado.
Expulsado a influência do Soldado de Prata de sua mente
completamente.
Mas agora, eu não tenho ideia de quem ele está prestes a atacar.
Eu fico congelada enquanto olho nos olhos vermelhos do lobo de
Angel.
— Agora! — o Soldado de Prata grita. — Mate-os agora!
— Angel, — eu digo na voz mais suave que posso. — Não estou aqui
para te machucar.
Dou um passo em direção a ele enquanto Alex restringe Sawyer no
meu lugar.
Angel carrega seus caninos e solta um grunhido.
Não ouso me aproximar.
— Ariel... — Alex diz atrás de mim. — Tome cuidado.
Alex está a segundos de se transformar, mas eu levanto minha mão.
Isso só vai piorar as coisas.
— Angel, eu sei que você está aí, — eu digo. — Eu sei que você não
quer me machucar.
De repente, ouço um grunhido atrás de mim enquanto Alex grita.
— Ariel!
Eu me viro para ver Sawyer, com um fio de prata enrolado no pescoço
de Alex.
Deusa!
— Vira-lata estúpido de merda! — diz o Soldado de Prata, apontando
sua arma novamente. — Ataque!
Estou presa entre dois monstros e posso ver a vida se esvaindo do
rosto de Alex enquanto o arame afunda em seu pescoço. Enquanto faço
meu movimento em direção a Sawyer, rezando para não chegar tarde
demais, uma fera enorme passa zunindo por mim.
Angel me ultrapassou até seu mestre.
Ele mostra os dentes, rosna e faz um movimento abrupto, jogando-o
no chão. Eu pego Alex em meus braços enquanto ele tenta respirar,
segurando sua garganta machucada.
Angel morde o pescoço do Soldado de Prata, e o sangue escorre de sua
jugular.
Angel continua mordendo-o até que o corpo do Soldado de Prata
fique completamente mole.
Ele está morto.
Não há dúvida.
Angel se vira para nos encarar, com sangue escuro escorrendo de seus
caninos e angústia em seu rosto.
Estou tão chocada com a carnificina que nem consigo me mover.
Mas então ouço gritos novamente.
Mais alto dessa vez.
Eu pulo por cima do cadáver do Soldado de Prata e corro para o
alçapão.
Xavi.
Capítulo 25
A MATILHA DAS ESCRITURAS
ARIEL

Depois de remover a grade do chão e descer para o porão, eu suspiro


de horror.
Parece coisa de um filme de terror distorcido: cheio de todo tipo de
máquina, equipamento e engenhoca sinistra que se possa imaginar.
E então, no fundo da sala, eu vejo.
Uma jaula de metal com um bebê meio transformado gritando dentro.
Corro para Xavi o mais rápido que minhas pernas podem me levar e o
puxo para fora de suas restrições.
Eu inspeciono seu corpo e fico chocada.
Ele parece estar perfeitamente intacto.
Nenhum sinal da tortura e do abuso que suportei.
Graças à Deusa.
Eu o seguro com força contra o meu peito e beijo o topo de sua
cabeça.
Precisamos colocar esse filhote em segurança.
Agora.
Sawyer pode estar morto, mas tenho certeza de que ele não estava
trabalhando sozinho. O reforço pode chegar a qualquer minuto.
Alex assume a liderança enquanto subimos novamente a escada e
entramos no galpão.
Angel ainda está deitado no chão, coberto de sangue. Mas agora ele
está em sua forma humana, segurando o ferimento da bala em seu torso.
Percebendo que não podemos ir embora até que eu o cure, entrego o
bebê chorando para Alex e, em seguida, vou em direção à Angel.
Alex acalma Xavi enquanto eu gentilmente movo as mãos de Angel
para longe de seu ferimento e coloco as minhas no lugar.
A prata me queima, e eu recuo com um suspiro.
Mas eu tenho que tirar isso dele.
Merda.
Isso vai doer.
Eu mergulho meu dedo nu na carne ensanguentada e grito de dor
enquanto cavo para fora a bala de prata. Isso queima como o fogo do
inferno.
Angel grita estridentemente, mas em segundos a bala está fora de seu
corpo.
Eu a deixo cair e ela atinge o chão com um tinido.
Agora coloco minhas mãos de volta na ferida de Angel e sinto sua dor
entrando em meu corpo enquanto sua pele se fecha.
Felizmente, meus poderes de cura estão com força total.
O processo é rápido e a dor não dura muito.
Seu ferimento da bala está curado e até as queimaduras em meus
dedos estão melhores.
Angel abre os olhos e dou um suspiro de alívio quando vejo que eles
voltaram à sua serena cor roxa.
Quando entramos no campo de papoulas, tiro Xavi dos braços de Alex
e o pressiono contra o peito novamente.
Pequeno Xavi.
Vivo e bem.
Ainda não consigo acreditar que realmente o encontramos.
Agora que ele se acalmou e não está mais meio transformado, posso
finalmente dar uma boa olhada nele.
Cabelo castanho cacheado, olhos amarelos...
Ele se parece comigo.
Bem... Meu pai e eu.
Aposto que isso acaba com Natália.
Ouço Alex ligando o carro e pulo para dentro.
— Qual matilha está mais próxima? — Pergunto. — Quero levar Xavi
a um médico.
— A Matilha das Escrituras, — diz Alex. — Eles estão apenas cerca de
meia hora ao norte daqui.
A matilha de Angel.
Ou melhor... a Matilha de Marius.
Angel não disse uma palavra desde que voltou a ser humano.
Eu me viro em direção ao banco de trás para encará-lo.
— Você acha que pode lidar com a ida à Matilha das Escrituras agora?
Ele fica em silêncio por um momento.
E depois...
— Dirija. — ele diz com um aceno de cabeça, sua voz falhando.
MARIUS

A viagem é curta demais para eu me preparar.


Depois de meses sem saber nada sobre mim ou de onde vim,
finalmente estou voltando para casa.
Então, por que ainda não consigo me lembrar de nada sobre o meu
passado?
Eu esperava que descobrir quem eu era refrescaria minha memória.
Mas não.
Absolutamente não.
Passamos por um farol na estrada tortuosa cheia de curvas ao longo
da costa.
— Este é oficialmente o território da Matilha das Escrituras, — ouço
Alex dizer.
Quando dirigimos até a casa da matilha, sou visto — e aparentemente
reconhecido — por um guerreiro da matilha que está de guarda.
O jovem guerreiro tem várias tatuagens nos braços, no mesmo estilo e
arte que os meus.
— Santo — Alfa Marius! — o guerreiro diz. — Vou alertar Alfa Lucius!
— Alfa Lucius? — Eu pergunto.
— S-Sim, senhor, — ele gagueja. — Seu irmão assumiu como Alfa
desde que você desapareceu. Mas ele nunca parou de te procurar.
— Marius! — Uma voz chama da porta da casa da matilha. — Graças à
Deusa!
Um homem que se parece muito comigo desce as escadas e me abraça.
Alfa Lucius da Matilha das Escrituras.
Irmão.
Ele tem quase a mesma altura e corpo que eu, e posso ver
imediatamente que compartilhamos os mesmos olhos roxos e muitas das
mesmas tatuagens.
— Lucius, — eu digo com cautela. — Estes são Alex e Ariel da Matilha
Real. Eles salvaram minha vida. E esse filhote precisa de um médico
imediatamente.
Lucius olha para o guerreiro e diz:
— Chame um médico, agora.
O guerreiro assente e corre imediatamente ao seu comando.
— Por favor, — diz Lucius, — entrem, todos vocês.

Estamos conversando há horas agora.


Lucius fica perplexo enquanto conto a história de onde estive nos
últimos oito meses.
E das boas pessoas que me salvaram.
A essa altura, Ariel e Alex foram com o bebê para um quarto de
hóspedes na casa da família de Lucius.
Acho que é minha casa também.
Depois de contar a ele todos os detalhes que eu consigo lembrar, é a
vez de Lucius me dar informações.
— Nossos pais, — eu digo. — Onde eles estão?
— Você assumiu como Alfa apenas dois anos atrás, depois que nosso
pai morreu, — ele me informa, — e nossa mãe faleceu quando éramos
crianças. Você tinha doze anos e eu oito.
— E agora tenho... — Espero que ele responda.
— Você tem 29 anos, — ele responde. — Você realmente não se
lembra de nada?
Eu balanço minha cabeça solenemente.
— Eu tenho mais alguém? Um par ou... filhotes?
— Não. — ele diz. — Você estava muito focado em seus deveres como
Alfa para aceitar um.
Estou aliviado em saber que não deixei um par para trás se
preocupando onde eu estava.
E isso também deixa espaço para o... lance... que tenho com Amy.
— Então você é minha única família. — eu digo.
— Receio que sim.
Mas eu ainda não consigo me lembrar dele.
E me sinto culpado por isso.
— Mas a matilha te ama. — ele diz. — Eles ficarão felizes em recebê-lo
de volta como Alfa.
Eu pisco os olhos.
Alfa.
— Eu... eu não sei o que dizer. Como, em nome da Deusa, posso
governar uma matilha de pessoas que não me lembro?
— Vai levar um tempo.
— Não acho que o problema seja o tempo, — digo. — Acho que a
Matilha das Escrituras está em melhores mãos se... se você mantiver o
título de Alfa.
Uma expressão de surpresa surge em seu rosto.
— Mas se eu mantiver o título de Alfa aqui... o que você fará? — meu
irmão pergunta.
Boa pergunta.
ALEX
Ouve-se uma batida suave na porta do nosso quarto.
Ariel e eu acabamos de fazer Xavi dormir e estamos prestes a nos
deitar por algumas horas antes de devolvê-lo à Lua Crescente.
Abro uma fresta da porta e vejo...
— Angel! Desculpe... quero dizer Marius.
— Posso... posso falar com vocês dois?
Eu olho por cima do ombro para ver Ariel se aproximando ao meu
lado.
— Claro, — eu digo enquanto nós dois saímos do quarto e saímos
para o corredor, fechando a porta suavemente atrás de nós.
— Tenho pensado muito, — diz Marius, — sobre a Matilha das
Escrituras e... não acho que posso ficar aqui.
— Alguma nova memória? — Ariel pergunta.
Ele apenas balança a cabeça em negativa.
— Eu sei como isso é doloroso, — diz Ariel. — Se sentir um estranho
em sua própria casa.
— É horrível, — diz ele rapidamente. — Então... eu queria perguntar a
você, Alex... se você me daria permissão para voltar com você para a
Matilha Real.
— Você está desistindo de seu título de Alfa? — Eu questiono.
— Sim, e prometo minha solidariedade à Matilha Real..., — conclui
ele, — se você me permitir.
— Você já provou sua lealdade, — eu digo, envolvendo meu braço em
volta de seu ombro. — Bem-vindo à família.

Deixamos a Matilha das Escrituras ao amanhecer do dia seguinte e,


em apenas algumas horas, chegamos à Matilha da Lua Crescente.
Quando paramos do lado de fora da casa de Xavier e Natália, vejo
Natália correndo para fora.
— Você está com ele!? — Ela pergunta freneticamente enquanto eu
saio do carro.
Ariel sai segurando o pequeno, com seus olhos amarelos grandes e
penetrantes.
Natália não perde tempo puxando-o para seus braços.
— Meu menino, — diz a irmã de Ariel em lágrimas, abraçando Xavi
contra o peito. — Meu doce, doce menino.
Ela corre de volta para dentro de casa, com seu filho nos braços, sem
nem mesmo agradecer.
Meus ombros ficam tensos quando Xavier aparece na porta.
Ele se aproxima de nós lentamente.
— Você o encontrou, — diz ele com naturalidade.
— Nós o encontramos, — eu digo.
Embora nenhum de nós queira quebrar o contato visual, não consigo
olhar para o rosto dele nem por mais um segundo.
E, felizmente, tenho um motivo para encenar o impasse, porque nesse
momento meu celular toca no meu bolso.
— É minha mãe.
Sem dizer nada, eu me afasto do Alfa ingrato e atendo sua chamada.
ARIEL

Alex se afasta e eu fico sozinha com Xavier.


Eu me viro em direção ao carro, desesperada para ficar longe dele.
Mas então eu sinto suas mãos agarrando meu pulso.
— Não achei que você conseguiria, — disse ele. — Mas você me
surpreendeu. Como sempre.
— Estou feliz que meu sobrinho esteja em casa, — eu digo.
— Apenas pense, — diz ele em um sussurro, — quão fortes nossos
filhotes seriam, com dois grandes guerreiros como pais.
Eu tiro minha mão da dele e procuro por Alex, mas ele está muito
longe. Não posso mais vê-lo.
— Não me toque, — eu rosno. — Você me enoja.
É
— É assim mesmo? — ele pergunta com uma piscadela que eu quero
dar um soco em seu rosto.
— Você tem sorte de estar acasalado com a minha irmã, — digo, —
porque, do contrário, eu acabaria com você agora mesmo.
— Você nunca ganhou uma luta contra mim em seus dias de
treinamento de guerreiro, — diz ele. — Eu gostaria de ver você tentar.
Meus punhos cerram, mas respiro fundo, tentando estabilizar minha
frequência cardíaca.
— Vá para sua família, Xavier. Cuide deles. Eles precisam de você.
— Mas e se eu precisar de você?
É isso.
A gota d' água.
Eu não posso conter minha fúria por ele mais.
Mas então, Alex reaparece ao meu lado, com o celular na mão. Uma
olhada em seu rosto e posso dizer que algo está terrivelmente errado.
— O que foi? — Pergunto.
— É meu pai, — diz Alex. — Ele está morto.
Capítulo 26
A CORRIDA DO LUTO
ALEX

Meu pai morreu há dois dias.


E agora tudo parece...
Vazio.
Sento-me ao lado de minha mãe enquanto ela examina um catálogo
de caixões.
É um dos últimos detalhes que precisamos decidir antes do funeral
desta noite.
— O mogno é muito bom..., — ela diz sombriamente. — Isso deve ser
suficiente.
— Mogno, então, — digo ao agente funerário, e ele responde com
uma reverência formal.
Temos feito arranjos para o funeral sem parar nos últimos dois dias.
Minha mãe está passando por isso como uma máquina, tomando
decisões em um piscar de olhos e mantendo suas emoções sob controle...
Pelo menos na frente dos outros.
Ela chorou no meu ombro por alguns minutos esta manhã, mas
rapidamente se recompôs para não — estragar nosso adorável café da
manhã, — como ela disse.
Como diabos ela está se segurando é inexplicável.
Sei por experiência própria que um vínculo de acasalamento rompido
é como se uma parte de você também tivesse morrido.
Por algum motivo, ainda não chorei.
Meu pai se foi para sempre e eu não chorei.
O que há de errado comigo?
— Tudo bem, — diz minha mãe como se estivesse marcando
mentalmente uma lista, — flores...
— Mãe, — eu digo, — você precisa se afastar disso um pouco? Eu
posso...
— Não, — ela me interrompe. — Eu tenho que fazer isso.
Eu aceno resolutamente quando ouvimos uma batida na porta.
— Oi, — a doce voz de Ariel vem através da porta rachada.
— Entre, querida, — diz minha mãe.
Ariel entra segurando duas canecas de chá.
— Camomila, — ela diz enquanto os coloca na nossa frente. Ariel
encontra meu olhar, seus olhos de girassóis cheios de empatia. — Há algo
que eu possa fazer para ajudar? — ela pergunta.
— Ah, não, mas obrigada, — diz minha mãe. — Todos esses detalhes já
estão quase resolvidos. Por que você não leva Alex para tomar um pouco
de ar fresco?
— Estou bem aqui, mãe.
— Pode deixar. Alex, — ela diz enquanto dá um tapinha no meu
joelho. — Vamos. Por favor. Pelo menos para uma caminhada pelos
jardins do palácio.
— Se você precisar de alguma coisa
— Eu sei, querido, — diz ela, voltando-se para o agente funerário
como se não quisesse ouvir mais nenhuma palavra. Ariel sorri
suavemente e pega minha mão.
ARIEL

As folhas rangem sob nossos pés a cada passo enquanto Alex e eu


caminhamos de mãos dadas por um dos muitos pátios do palácio.
O sol está se pondo.
Eu olho em direção ao Templo da Deusa da Lua e vejo os membros da
Matilha Real colocando flores e oferendas nos degraus em homenagem
ao seu ex-rei falecido.
— Como você está? — Eu pergunto a Alex. Ele tem estado
excepcionalmente quieto nos últimos dias.
— Bem.
— Pode ajudar se você falar sobre isso.
— Eu realmente não tenho nada a dizer.
Caminhamos em direção à floresta e Alex se senta na linha das
árvores. Não consigo ler sua expressão. Ele está simplesmente
indiferente.
Ficamos sentados em silêncio por vários longos momentos antes de
eu falar novamente.
— Eu sei que você sente que tem que ser forte, — eu digo, escolhendo
minhas palavras com cuidado. — Mas... você não tem que se segurar na
minha frente. Se você quiser...
— Ariel, podemos não fazer isso?
Eu suprimo um suspiro. Sinto-me inútil.
De que adianta ter poderes de cura se eu não posso tirar a dor do meu
próprio par?
Quando eu olho para cima, Alex está me olhando.
— O quê? — Eu pergunto.
— Não faça isso.
— Não faça o quê?
— Não se culpe por eu me sentir uma merda.
— Eu não posso evitar, — eu digo. — Eu quero estar te apoiando, mas
não sei como...
Ele apenas acena com a cabeça.
— Eu só... espero que você saiba que pode falar comigo, — digo. — Ou
chorar na minha frente. Ou qualquer coisa.
Alex olha fixamente para a floresta. O sol se pôs completamente e a
luz está desaparecendo rapidamente no céu azul escuro.
— Estou com medo, — ele diz finalmente.
— Com medo de quê?
— Estou com medo de ser um rei terrível sem meu pai por perto para
me orientar. Estou completamente sozinho agora.
Eu gentilmente pego sua mão e a levo até minha boca, beijando-a com
ternura.
— Você não está sozinho.
Ele olha para mim e um pequeno sorriso se forma em seu rosto.
Eu pego sua mão e me levanto, tentando colocá-lo de pé.
— Vamos, — eu digo, assumindo uma postura defensiva.
— O que você está fazendo? — Alex diz, parecendo confuso.
— Lute comigo.
— Ariel, eu não vou lutar com você.
— Isso vai te ajudar a colocar para fora. — Eu levanto meus punhos.
Alex solta uma pequena risada, mas ele balança a cabeça
negativamente.
— Estou falando sério! Isso pode ser exatamente o que o médico
receitou.
Finalmente, Alex se levanta.
Ele, sem muita convicção, dá um golpe lento e desajeitado, e eu o
bloqueio.
— Ah, vamos lá, — eu digo. — Você não vai me machucar. Você sabe
que eu posso acabar com você de qualquer jeito!
Isso causa uma gargalhada e Alex vai para a ofensiva.
Eu mesma disparo alguns socos, testando-o.
Ele os bloqueia e tenta dar uma rasteira, mas eu salto para trás.
Ele se aproxima, realmente indo para cima agora, e eu me direciono
para seus ombros para tentar derrubá-lo.
Ele rebate puxando-me para ele e me girando de modo que estou
quase em uma chave de braço.
Mas não por muito tempo.
Eu agarro seu antebraço e rapidamente jogo Alex por cima do meu
ombro. Mas ele me segura e me leva para baixo com ele.
Estamos na grama agora, e rolo em cima dele, prendendo seus pulsos
acima da cabeça.
Ele usa as pernas para me empurrar para longe dele e, em poucos
segundos, ele está em cima de mim, segurando meus braços ao lado do
meu corpo.
Nós dois estamos ofegantes, e eu paro de me contorcer embaixo dele.
Ele encontra meus olhos e se inclina para que seu rosto fique a
centímetros do meu.
— Corra comigo? — ele pergunta.
— Sempre.
Em segundos, Alex está rasgando suas roupas enquanto ele se
transforma em seu lobo, correndo para a floresta.
Eu também me transformo e, em instantes, estou correndo atrás dele.
Seu lobo é maior, mas eu sou rápida. Eu rapidamente o alcanço e dou
uma mordidinha em seus calcanhares.
O lobo de Alex solta um rosnado, mas não está com raiva.
Agora estamos correndo lado a lado pela floresta. Árvores de outono
passam por nós em uma névoa de vermelhos escuros, laranjas e amarelos.
Finalmente nos aproximamos de uma clareira e Alex para.
É noite agora, e a lua cheia lança sua luz por entre as copas das
árvores.
O lobo de Alex joga a cabeça para trás e solta um uivo triste.
E outro.
Ele uiva repetidamente, cada um mais doloroso do que o anterior.
Minha loba enfia o nariz no peito do nosso par, e logo seus ossos estão
rachando e se contorcendo enquanto se transforma de volta para sua
forma humana e solta mais gritos em meio as lágrimas.
Sob o luar, os gritos de Alex se transformam em soluços ásperos. Eu
me transformo de volta para minha forma humana e envolvo meus
braços em torno dele, segurando-o com força.
Ele cai de lado, chorando, e eu me deito atrás dele, puxando suas
costas contra meus seios.
Beijando-o suavemente vez ou outra, eu o seguro mais perto,
tentando fazê-lo se sentir tão seguro em meus braços como sempre me
sinto nos dele.
MARIUS

O cabelo longo e loiro de Amy faz cócegas no meu antebraço


enquanto ela pressiona a cabeça na curva do meu pescoço.
Desde que voltei para a Matilha Real. Amy e eu temos agido como se
eu tivesse ficado fora por anos — sem sair um do lado do outro.
Estamos deitados nus em sua cama depois da nossa segunda rodada
de sexo esta noite, olhando um para o outro.
A morte do ex-rei deixou uma marca tão grande no palácio que todos
têm se sentido um pouco mais mortais nos últimos dias.
Aparentemente, para Amy, a tática mais fácil para esquecer a morte
que nos espera é foder o máximo possível.
E certamente não estou reclamando.
— Angel?
Ela ainda me chama pelo meu apelido.
Eu não me importo. Ainda não me lembro quem ou o que foi Marius.
— Hum?
— Você tem medo de morrer?
— Acho que todo mundo tem pelo menos um pouco de medo do
desconhecido, — eu digo. — Mas também acho que a vida é melhor
quando paramos de nos preocupar e apenas nos concentramos no que
nos faz felizes.
— Eu também acho. — Ela acena com a cabeça, parecendo
contemplativa.
— O que está passando nessa sua cabeça maluca? — Eu provoco.
— Eu costumava fantasiar sobre encontrar meu par destinado. Como
isso aconteceria, como ele seria. Achei que fosse acontecer
imediatamente.
Ela solta uma risada antes de continuar.
— Eu literalmente passei meu aniversário de dezoito anos viajando
por toda a cidade tentando farejá-lo... mas não deu em nada. Então meu
aniversário de dezenove anos veio e se foi...
Ela franze a testa.
— E meu vigésimo. Eu fui a bares de solteiros, fui ao fim de semana de
acasalamento que Maria organizou, e tive mais encontros de merda com
caras online do que eu gostaria de admitir. Eu estava começando a achar
que não havia ninguém para mim.
— E agora? — Eu pergunto, sentindo como se meu coração estivesse
sendo preenchido.
— Agora eu percebo como tudo foi estúpido. Encontrar meu par
destinado não deveria ser meu objetivo. Eu deveria ter apenas me
concentrado no que me faz feliz.
Ela fica quieta por vários segundos antes de continuar.
— Angel... Marius. Você me faz feliz. Sinto-me mais viva com você do
que jamais me senti antes. E eu não quero perder algo bom — algo bem
na minha frente — perseguindo alguma fantasia estúpida.
— Quero dizer, não que você não seja uma completa fantasia, olhe
para você. — Ela ri. — Mas eu estou... eu estou...
Ela para de falar e estou esperando ansiosamente que ela termine a
frase.
— Tenho quase certeza de que estou completa e totalmente
apaixonada por você, — ela diz finalmente.
Um sorriso se espalha pelo meu rosto.
Eu não poderia conter, mesmo se quisesse.
— Amy, eu também te amo.
Ela solta um suspiro de alívio.
— Mesmo?
— Mesmo, mesmo, — eu respondo.
— Eu estava com medo de que você pensasse que eu estava sendo
estúpida.
— Eu nunca pensaria isso sobre você.
— Mas... — ela continua, — eu não sou seu par destinado. Você está
bem com isso? Quero dizer. Deusa, não estou tentando dizer que
devemos nos acasalar ou algo assim...
Ela é linda mesmo quando está divagando.
Eu paro suas palavras com um beijo.
Quando me afasto, digo:
— Pares ou não. Amy, encontrar você foi um milagre para mim. Eu
não vou desperdiçar isso.
Amy se senta e sobe em cima de mim.
— O que você está fazendo?
— Terceira rodada? — ela pergunta, parecendo uma ninfa maliciosa.
Esse sorriso será o meu fim.
Eu soltei uma risada.
— Quero dizer... se você estiver muito cansado..., — ela brinca.
— De você? Nem de longe! — Eu agarro seus quadris e nos rolo para
que eu fique em cima dela enquanto ela ri.
ARIEL

Alex e eu deitamos lado a lado no chão da floresta.


Nosso único calor é o calor do corpo que compartilhamos. Nossa pele
nua emite um brilho etéreo sob o luar.
Eu respiro seu cheiro seguro e familiar de âmbar e pinho, sentindo o
suave subir e descer de seu peito.
Alex caiu em um sono tranquilo, mas por algum motivo não consigo
relaxar.
Pode ser apenas nervosismo — o funeral é em algumas horas...
Mas parece outra coisa.
Uma bola de ansiedade subindo pelo meu estômago. Mas por que está
lá?
O Soldado de Prata está morto.
Xavi está seguro e com sua família.
O que diabos há com que se preocupar?
Eu ouço a voz prateada da Deusa ecoando fracamente em minha
cabeça.
— Ariel, — diz ela rapidamente.
Ela parece...
Preocupada.
— Devo avisar que ainda há perigo pela frente. Não sei o que Fate
planejou, mas fique alerta, minha filha.
Sento-me rapidamente, sentindo a ansiedade inundar meu corpo.
Nunca ouvi Selene falar assim antes.
O que diabos faria com que uma Deusa parecesse assustada?
Eu silenciosamente grito para ela por uma explicação, mas é claro...
Tudo que consigo é silêncio.
Capítulo 27
O FUNERAL VERMELHO
ARIEL

Enquanto vejo a longa fila de carros pretos reluzentes chegar em


frente à Capela da Lua da Matilha Real para o funeral, não consigo parar
de pensar no aviso da Deusa.
Fique alerta, minha filha.
Eu me sinto mal por não ter contado a Alex sobre o que Selene disse,
mas ele tem mais do que o suficiente para se preocupar agora.
Vou falar com ele sobre isso depois que tudo acabar e os convidados
forem embora.
Supondo que nada aconteça até então.
Estou ao lado de Alex, segurando sua mão enquanto observamos
todos os Alfas, as Lunas e os Betas da região saírem de seus carros.
Eles sobem os degraus da capela em nossa direção, com as cabeças
curvadas em respeito aos seus reis — tanto os antigos quanto os atuais.
Alex desce as escadas para cumprimentar os Alfas sombriamente,
deixando-me sozinha ao lado do General Dave.
Finalmente.
— Preciso te dizer uma coisa, — eu digo a ele calmamente.
— Não pode esperar até depois do funeral? — ele diz, sem olhar para
mim.
— Tenho um mau pressentimento de que algo vai acontecer esta
noite, — digo, tentando conter minha ansiedade. — Algo ruim.
— Ariel, não há nada com que se preocupar, — diz Dave. — Você
cuidou do Soldado de Prata. Os Caçadores não terão força para fazer
nada por muito tempo.
— Nunca é demais ter cuidado.
— Ariel. — Dave põe a mão no meu ombro. É estranho vê-lo tão suave
e reconfortante. — Ninguém entrará neste templo. Temos nossos
melhores guerreiros em todas as equipes de segurança para este funeral.
— Além disso, neste momento, este é o pior lugar para atacar. Quem
tentasse ficaria cara a cara com todos os nossos Alfas — os homens mais
poderosos do reino.
Ele permite um pequeno sorriso.
— Eu gostaria de ver qualquer um daqueles humanos esfarrapados
tentar.
Eu aceno, contendo minha ansiedade.
Talvez Dave tenha razão.
Eu olho para baixo em direção à pequena multidão de Alfas enquanto
eles se reúnem em torno de Alex para o Ritual do Cálice, uma tradição de
— limpeza — realizada antes de qualquer funeral.
Alex segura o cerimonial Cálice Real em suas mãos, uma bela taça de
cristal cheia de um vinho especial que é quase indistinguível de sangue
na aparência.
Ele passa para o Alfa mais próximo, que toma um gole antes de passá-
lo para o homem ao lado dele. Apenas Alex não bebe, pois tomará o
último gole após o término do funeral.
A antiga tradição é realizada completamente em silêncio, o brinde dos
Alfas ao rei morto.
Olhando para todos eles em seus ternos pretos, é quase fácil esquecer
que por baixo estão as estruturas musculosas dos guerreiros mais mortais
do continente.
Uma olhada em seus olhos intensos é um lembrete de que há um lobo
ainda mais poderoso por dentro.
Cada um desses homens seria um desafio para enfrentar em uma
batalha individual.
Mas todos eles juntos...
Ninguém teria chance.
ALEX

Caminhamos sombriamente pelas portas da capela em direção ao


caixão de meu pai. Os Alfas, os Betas e as Lunas seguem atrás de mim.
Cada passo que dou significa um passo mais perto de aceitar que ele se
foi.
Ele realmente se foi.
Assim que chegamos ao caixão de mogno. Dom me puxa para um
abraço.
— Estou aqui se precisar de qualquer coisa hoje, cara, — diz ele. —
Sério, estou bem aqui ao seu lado.
— Eu acho que vou ficar bem. Mas obrigado.
Eu me viro para minha mãe, seu rosto coberto por um véu preto.
— Você está pronta?
Ela acena com a cabeça, e uma música de órgão assustadora começa a
preencher o ar.
Minha mãe se coloca no tradicional — assento do par — ao lado do
caixão — uma forma que os lobisomens prestam respeito a um indivíduo
que está sofrendo com o vínculo de acasalamento quebrado.
As Lunas se revezam trazendo uma única flor e colocando-a aos pés de
minha mãe. Ariel é a última, e então se ajoelha ao lado de minha mãe em
sinal de solidariedade real.
De alguma forma, durante toda a coisa, minha mãe ainda está se
controlando.
Só espero poder fazer o mesmo.
Eu espio por cima da multidão, examinando os rostos.
Alguns dos Alfas eu conheço bem. Outros são completos estranhos.
Mas todos estão calados e respeitosos, com as cabeças curvadas em
respeito ao meu pai.
Eu faço um gesto para que todos se sentem.
Antes que eu possa começar, a bebê Camélia começa a chorar nos
braços de Dom. Ele me lança um olhar de desculpas, mas eu respondo
com um sorriso compreensivo. Bebês são bebês.
Ela se acalma, porém, somente quando Helena a pega e a segura por
cima do ombro.
Eu olho para Ariel, mas ela está examinando a sala, sua expressão
tensa.
— Antes de começar, vamos fazer um momento de silêncio, — eu digo
solenemente.
O órgão para e a capela fica em completo silêncio.
A luz da lua cheia atravessa o teto solar da capela, lançando um brilho
azulado nos rostos da multidão.
Eu ouço minha mãe começar a chorar, e os Alfas mantém suas cabeças
curvadas em oração à Deusa da Lua.
Todos eles têm uma expressão de profunda tristeza em seus rostos.
Todos, exceto um.
Xavier está sentado bem atrás, o rosto quase todo coberto de sombras.
Devo ter passado por ele quando estava cumprimentando os outros Alfas.
Ele olha para cima e meu sangue ferve quando ele olha diretamente
nos meus olhos...
Em seguida, um sorriso malicioso se espalha por seu rosto.
A raiva brota dentro de mim quando vejo o desrespeito absoluto no
rosto de Xavier.
Eu o avisei para nunca mais pisar nas terras da Matilha Real.
Não apenas isso, mas nenhum desses outros Alfas ousaria olhar seu
rei bem nos olhos.
Além disso, ele está sorrindo como se fosse a porra do seu aniversário.
Eu sinto toda a minha raiva crescente explodir instantaneamente.
É isso.
Depois de tudo o que aconteceu com Ariel, esta é a gota d' água.
Vou rasgar esse desgraçado em pedaços.
A mão da minha mãe pousa suavemente no meu ombro, me trazendo
de volta à realidade.
— Alex, você gostaria de fazer o primeiro discurso?
Olhando para minha mãe, lembro-me de que este não é o momento
nem o lugar para acabar com ele.
Eu olho para o rosto presunçoso de Xavier mais uma vez e respiro
fundo, de repente percebendo que Natália e Xavi não estão com ele.
Estranho...
Xavier veio sozinho.
Eu me levanto e subo ao pódio, limpando minha garganta antes de
falar.
— Em nome da Matilha Real, agradeço a todos por estarem aqui hoje
enquanto celebramos a vida de meu pai, George Landon, ex-alfa e rei.
Eu paro por um momento, respiro fundo e continuo, evitando
deliberadamente o olhar de Xavier enquanto olho para a multidão.
— Meu pai foi o Alfa mais jovem a ser nomeado rei na história
moderna após a morte de seu próprio pai quando ele tinha apenas
dezesseis anos. Muito antes de estar pronto, ele carregou o reino nas
costas e governou com uma rara combinação de compaixão, força e
sabedoria.
Sinto que estou começando a engasgar com minhas palavras, e me
dou um momento antes de continuar: — Ele governou sozinho nos
primeiros anos, mas ele sabia que para ser o melhor líder, ele precisava de
uma Luna e uma rainha forte ao lado dele.
Eu faço outra longa pausa e olho para Ariel, que esboça um pequeno
sorriso encorajador.
— Ele era um pai severo, mas amoroso, e eu só posso esperar ser
metade do rei que ele foi. Ele pode ter partido, mas viverá para sempre
em nossos corações.
Eu contenho minhas lágrimas e sei que não posso dizer mais nada
sem desabar.
— Se houver alguém que gostaria de compartilhar uma memória de
meu pai, — eu digo, — por favor, suba ao altar e fale.
Um silêncio domina a capela, como se cada pessoa na sala procurasse
a memória mais profunda que têm de meu pai.
— Eu gostaria de dizer algumas coisas, — grita uma voz arrogante da
última fileira.
Xavier.
Eu cerro meus punhos enquanto ele se levanta e caminha
casualmente pelo corredor em minha direção.
— Você nunca conheceu meu pai, — eu rosno. — O que você poderia
dizer?
— Você está totalmente certo. Nunca conheci o seu velho, — diz ele,
mal escondendo o sorriso. — Mas meu pai o encontrou várias vezes, e
tudo o que ele tinha a dizer sobre o rei era... bem... que ele era um grande
covarde.
Suspiros se erguem da multidão, meu lobo rosna quando Xavier se
aproxima e me encara bem nos olhos.
Desafiando meu domínio.
— E você sabe o que dizem..., — diz Xavier. — Tal pai tal filho.
— Eu deveria ter matado você no segundo que você pisou no terreno
da matilha, — eu rosno, dando um passo em direção a ele quando
minhas garras emergem.
Xavier tem tentado começar uma briga comigo por muito tempo, e
estou cansado disso.
É hora de acabar com isso.
Vejo Ariel com o canto do olho, mas com o sangue correndo pelos
meus ouvidos nem percebo seus gritos para que paremos.
A tensão é intensa, enchendo a sala.
Xavier chegou ao centro da sala agora, mas em vez de diminuir a
distância entre nós, ele para no meio do caminho.
Ele fecha os olhos e levanta as mãos lentamente, sussurrando algo sob
sua respiração.
O que...
De repente, todos os Alfas começam a gritar de dor, levando as mãos à
cabeça como se ouvissem um barulho horrível...
— Hoje não é apenas um funeral para o ex-rei, — Xavier grita acima
dos gemidos dos Alfas enquanto seus ossos quebram e eles começam a se
transformar parcialmente.
Os monstruosos Alfas mutantes estão todos em uníssono, seus olhos
vermelhos e injetados de sangue.
— É um funeral para o rei atual também.
Capítulo 28
A ESCOLHA
ALEX

Um arrepio desce pela minha espinha quando ouço essas palavras


saírem da boca de Xavier. Estou cercado por seu exército de Alfas.
E cada um deles parece tão feroz quanto Marius parecia quando ele
perdeu o controle.
Os olhos de Xavier estão brilhando de alegria enquanto a confusão e o
medo começam a surgir na capela. Posso ver em seu rosto que Xavier
veio aqui por um motivo.
Para me matar.
Mas eu sei que não é só eu que ele está atrás.
Desde que Ariel o rejeitou. Xavier está bravo com ela.
Mas eu jamais o deixaria tocar um único fio de cabelo de Ariel.
Só por cima do meu cadáver.
Eu ataco Xavier, deixando escapar um grito gutural, mas o Alfa mais
próximo parcialmente transformado aparece rápido como um relâmpago
e me joga no chão.
Eu luto contra seu peso, olhando para seus olhos vermelhos brilhantes
enquanto ele me segura, com suas garras cravadas em meus braços.
Eu o reconheço como Jack, o Alfa da Matilha da Lua de Sangue.
— Jack, sou eu. Pare! — Eu grito sobre a euforia crescente que
preenche a capela.
Mas o homem que conheço foi substituído por um monstro
rosnando. Ele não tem controle sobre seu lobo.
Xavier se aproxima, olhando para mim com um sorriso de merda.
— Alfas, — ele grita para a dúzia de monstros de olhos vermelhos que
já começam a causar o caos na capela.
— Atacar.
ARIEL

No momento em que ouço Xavier latir seu comando para os Alfas


atacarem, meu corpo congela.
A Deusa da Lua estava me alertando sobre isso.
Os Caçadores não estavam nos atacando diretamente, como eu
esperava...
Eles estavam fazendo outra pessoa fazer o trabalho sujo por eles.
Mas como diabos Xavier se envolveu com eles, não tenho ideia.
Tudo o que sei é que os Alfas de olhos vermelhos estão
completamente sob seu controle, espalhando-se pelos bancos, quebrando
cadeiras de madeira e quebrando ladrilhos de pedra com força extrema.
Gritos ecoam na capela enquanto as pessoas fogem.
A capela se tornou um caos total.
Eu cerro meus punhos, bombeando raiva e adrenalina em minhas
veias.
Isso não significa que não podemos revidar.
— Todas as Lunas! — Eu me pego gritando para a multidão. —
Afastem-se de seus pares! Precisamos levar todos para o palácio e
bloquear as portas!
— Guerreiros! — Eu ouço o General Dave gritar. — Tirem as mulheres
e as crianças daqui primeiro. Steve, envie um alerta da matilha!
Meus olhos se voltam para Steve, que tem Louisa agarrada ao seu lado.
Um Alfa gigante com pelo marrom escuro olha para eles de forma
assassina e avança em direção a eles, mas eu pulo sobre uma fileira de
bancos e intervenho, empurrando-os para fora do caminho.
Sou imediatamente atingida por uma garra gigante e voo por cima de
várias fileiras de bancos com um estrondo.
A dor dispara pelo meu corpo, meus nervos estão à flor da pele e
minha visão fica branca.
— Ariel! — Eu ouço Alex gritar, sua voz soando em pânico.
Quando minha visão clareia, eu o vejo rastejando para longe de dois
Alfas meio-transformados que estão continuamente o chutando toda vez
que ele tenta se levantar.
Xavier está acompanhando de perto.
Eu cambaleio para trás em uma posição vertical.
Eu quero correr para ajudar Alex, mas agora há um mar de lobos de
olhos vermelhos parcialmente transformados entre nós.
O alarme de alerta da matilha soa em celulares espalhados pelo solo,
enviando um sinal de alerta para o ar.
Um pouco tarde para isso agora.
Eu tiro meus saltos e rasgo as costuras de cada lado do meu vestido
até meus quadris para ter melhor mobilidade.
Estou pronta para lutar.
Fico horrorizada quando vejo todos os meus amigos encostados nos
cantos da capela, parcialmente deslocados.
Amy e Marius agarram com força as mãos um do outro, expondo seus
caninos.
Maria tenta tirar uma criança chorando do caos.
Dom e Helena seguram Camélia, que solta gritos estridentes.
O General Dave parado na frente de um grupo de Lunas com sua
espada erguida.
E Alex encurralado contra o caixão de seu pai.
O que eu faço?
Eu não posso ajudar todos eles.
Tudo o que posso fazer é assistir enquanto os Alfas enlouquecidos e
monstruosos rosnam e se lançam sobre os guardas da Matilha Real,
derrubando suas espadas e prendendo-os no chão, cravando os dentes
em suas gargantas.
Todos na capela estão sendo mantidos como reféns, encurralados nos
cantos ou entre os bancos por lobos ofegantes com olhos vermelhos
venenosos.
Mas, estranhamente, ninguém está me restringindo.
Eu ouço Alex gritar quando dois Alfas parcialmente transformados o
prendem contra o caixão.
Xavier fica em cima dele, claramente saboreando o domínio enquanto
suas mãos apertam a garganta de Alex.
— Pare! — Eu grito, e a atenção de Xavier se volta para mim.
O rosto de Alex está vermelho sangue e ele está ofegante.
— Por favor. Xavier, pare, — eu imploro.
Lentamente, Xavier libera seu aperto, e Alex tosse violentamente,
caindo no chão.
Mas os outros dois Alfas mantêm o controle sobre ele.
Meu ex-par destinado dá a Alex um olhar de desgosto final antes de se
levantar para me encarar.
— Por que você está fazendo isso? — Eu pergunto, feroz.
— Por que estou fazendo isto? — ele responde, como se a resposta
fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Ariel, estou fazendo isso por você.
Quando ouço isso, tenho que impedir que meu queixo caia no chão.
Xavier disse e fez um monte de merdas desde que me rejeitou como
seu par destinado...
Mas isso leva o primeiro lugar.
— Por mim? Do que diabos você está falando, Xavier?
— Você sabe do que eu estou falando. Desde que voltei para sua vida,
pude ver você se esforçando, tentando lutar contra seus sentimentos por
mim.
Ele acena para Alex, que agora está recuperando o fôlego e se
esforçando para se sentar.
— Agora você pode finalmente deixar essa desculpa patética por um
rei.
O ódio que começa a subir em minhas veias cresce com cada palavra
que sai da boca de Xavier.
Como ele ousa falar sobre Alex dessa maneira?
— Ariel, você não vê? O Alfa mais forte deve ser rei, e seu par
destinado, a rainha. É o destino. É Fate. Cada vez que tentamos lutar
contra isso, acabamos apenas nos machucando. Temos que aceitar o que
Fate planejou para nós.
Eu olho nos olhos castanhos escuros de Xavier, tentando ver o homem
com quem eu uma vez imaginei ter um futuro.
Mas aquele homem arrogante e inofensivo que eu conhecia se foi
completamente.
Ele foi substituído por este monstro que está à minha frente.
E por mais que eu queira dizer a Xavier para ir se foder, provavelmente
não é a melhor ideia agora.
Primeiro, tenho que fazer com que Xavier explique como ele
conseguiu esses Alfas sob seu controle.
Só então saberei como impedir.
— Eu tenho que admitir, Xavier, é um plano impressionante. Mas
como você conseguiu que os homens mais poderosos do continente
obedecessem a você?
Xavier ri.
— Simples. Os Caçadores me sugeriram um acordo. Se eu os ajudasse,
eles me fariam um exército de Alfas para que eu pudesse assumir o trono.
— Mas eu não entendo... Eles levaram seu filho!
— Dar a eles Xavi foi apenas um dos sacrifícios que eu precisava fazer.
Além disso, eles nunca iriam machucá-lo — apenas torná-lo um herdeiro
mais forte e mais digno.
— Você é um idiota, Xavier! Eles estão usando você!
— Não, eles só me entregaram as chaves do reino. E tudo estava indo
de acordo com o planejado, exceto por uma coisa...
Ele se aproxima de mim e gentilmente coloca a mão na minha
bochecha. Eu estremeço sob seu toque.
— Eu não esperava me apaixonar por você de novo.
Eu dou um tapa em sua mão.
— Eu rejeitei você como meu par duas vezes, Xavier, — eu rosno. — E
estou fazendo de novo agora.
Xavier olha para baixo, decepcionado com minha resposta.
Alex, ainda lutando contra os Alfas, grita:
— Ariel, não dê ouvidos a...
— CALE A BOCA DELE! — Xavier grita e um Alfa o silencia com um
soco.
Sinto meus olhos arderem de lágrimas quando percebo como todos
nós estamos indefesos agora.
Xavier se volta para mim, levantando a voz para que todos possam
ouvir: — Eu estou te dando uma escolha, Ariel. Em alguns momentos,
vou assumir o trono. Não há nada que alguém possa fazer para impedir.
Quando eu fizer isso, posso matar todos aqui. Assim...
Ele estala os dedos e todos os Alfas avançam com entusiasmo, como se
uma refeição tivesse sido servida na frente deles.
Um grito de terror se espalha pela capela.
— Ou... você pode concordar em ser minha rainha, e nos
acasalaremos esta noite. — Seus olhos brilham diabolicamente.
— Nesse caso, Alex e sua família serão poupados por enquanto. Afinal,
o que é uma cerimônia de acasalamento sem convidados?
Assim que ouço o que Xavier está me fazendo escolher, minha cabeça
começa a girar.
Estou completamente impotente e sinto meu coração começar a
latejar.
Uma escolha impossível.
Ele se ajoelha na minha frente...
— Ariel, eu te amo e vou te dar tudo o que você sempre poderia
sonhar. Eu vou te dar o mundo inteiro. Eu vou te dar muito mais do que
ele jamais poderia.
Sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
Eu considero as opções em minha cabeça silenciosamente, mas a
pressão é insuportável e eu não consigo pensar.
Parece que o peso do mundo está em meus ombros.
Eu olho para os rostos apavorados de minha família da Matilha Real.
As vidas que estão em minhas mãos.
Eu olho para o rosto de Alex, seus olhos verdes indefesos me
implorando.
Mas, no final das contas, só há uma escolha.
— Ok, Xavier..., — eu digo baixinho. — Sou sua.
Capítulo 29
CRIME E PUNIÇÃO
ALEX

— NÃO, — eu grito.
Aquele traidor de merda.
Eu vou matá-lo assim que tiver a chance.
Eu conheço Ariel. Ela fará qualquer coisa para salvar a todos nós.
Mas não posso deixá-lo tê-la. Eu não posso deixá-lo vencer.
Eu luto contra o aperto de um dos Alfas que está me restringindo, mas
ele é inumanamente forte.
É o Alfa Tom. Eu o conheço bem. Ele é um amigo há muitos anos.
Mas agora, ele foi reduzido a uma das bestas de Xavier.
— Ariel! — Eu grito, minha voz falhando. A ideia de perdê-la dói ainda
mais do que a ideia de perder meu reino.
Eu ficaria feliz em desistir de tudo para tê-la ao meu lado.
Ela precisa saber disso.
Ela precisa parar o que está fazendo e fugir para um lugar seguro. Mas
em vez disso, ela está caminhando direto para os braços abertos de
Xavier.
Os sons dos Alfas selvagens rosnando abafam meus gritos.
Ela está cara a cara com ele.
Seus lábios se curvam em um sorriso cruel.
Para meu horror, vejo um sorriso se estender em seu rosto também.
Não...
Ela estende a mão para ele, em direção ao seu rosto presunçoso.
Ela acaricia sua bochecha.
Ariel...
Por quê?
Mas então, com uma sacudida de seu pulso, algo escorrega de sua
manga.
O objeto capta a luz do luar quando ela o agarra.
Eu o reconheço imediatamente.
A adaga da pedra da lua.
E em um flash, ela está segurando contra sua garganta.
ARIEL

Quando pressiono a adaga em sua garganta, os olhos de Xavier se


arregalam.
Não com medo, mas com surpresa.
Ele realmente esperava que eu concordasse de boa vontade com seu grande
plano?
Idiota de merda.
— Não faça isso. Ariel, — Xavier diz para mim em uma voz clara e fria.
— Não é assim que eu gostaria que minha rainha se comportasse.
— Eu nunca serei sua rainha, Xavier. — Eu pressiono a lâmina com
mais força contra sua pele, perfurando-a.
Sua boca se contorce, e eu meio que espero que ele se transforme no
local.
Mas em vez disso, ele levanta o punho e bate no meu braço com força.
A lâmina cai fora do meu alcance.
E quando ele começa a rir. Como um maníaco.
— O que é tão engraçado? — Eu digo com desdém.
— Você realmente acha que é uma boa ideia lutar comigo?
— Parece que é a única opção que me resta.
— Você se esqueceu de que fui eu que te ensinei a lutar? — ele dispara.
— E mesmo com todo aquele treinamento, você nunca ganhou uma
sessão de treinamento contra mim.
Eu engulo em seco. Ele está certo.
Cada vez que eu ia contra o Xavier, acabava derrotada.
Mas desta vez é diferente.
Não é treinamento. É a vida real.
É o destino do reino — e de todos que amo — dependem da minha
vitória.
— Você está assustado? — Eu pergunto a ele com a voz mais
intimidante que posso.
Ele apenas sorri em resposta.
Ele dá um passo para longe de mim e assume uma postura de
combate.
— Você está? — ele me pergunta.
Pra caralho.
— Não, — eu digo, tentando esconder meu medo.
Eu viro minha cabeça por um instante. Preciso ver o rosto de Alex. Em
seus olhos, posso ver que ele acredita em mim, embora eu esteja me
esforçando para acreditar em mim mesma.
Quando eu direciono meus olhos de volta para Xavier, seu punho
cerrado já está voando em meu rosto.
E assim...
Começou.
Eu salto para trás, esquivando-me de seu soco.
Enquanto ele avança em minha direção, eu acerto meu joelho em seu
estômago. Mas seu abdômen é duro como aço.
Implacável, ele dispara outro soco na minha garganta.
Eu o pego com a mão e tento torcer, mas em um segundo ele está livre
do meu alcance.
Ele se move para a esquerda e eu o espelho. Estamos andando em
círculos. Tudo e todos ao meu redor se tornam um borrão.
Todo o meu foco está em Xavier — em tentar ler seus movimentos
como se ele fosse a única coisa no universo.
Ele está começando a suar.
Eu também.
Seu sorriso ainda é confiante, mas posso ver um pingo de inquietação
em seus olhos.
Não podemos ficar nisso para sempre. Um de nós precisa fazer outro
movimento. E mal posso esperar que ele faça isso.
Eu oscilo contra ele com meu braço direito, e enquanto ele tenta se
esquivar, eu agarro a adaga de pedra da lua do chão e a empurro contra
ele.
Ela corta seu peito e o sangue começa a escorrer.
Ele me empurra de cima dele com toda a força e olha para seu
ferimento.
— Você quer jogar sujo, Ariel? — ele diz. — Eu também posso fazer
isso.
Ele dá mais um passo para trás e tira a camisa ensanguentada.
Na última luta do meu treinamento, eu me distraí com o abdômen
dele. Mas agora seu corpo coberto de sangue é repulsivo para mim.
Eu mantenho meus olhos fixos nos dele, que estão mais escuros agora.
E enquanto eu observo, minha visão começa a ficar vermelha.
Deusa.
O monstro dentro de mim está vindo à tona.
Mas algo está diferente desta vez.
Lembro-me de como Angel foi capaz de controlar seu monstro,
escolhendo matar o Soldado de Prata em vez de mim.
Eu não posso deixar isso me consumir. Eu posso controlar isso.
Portanto, abraço a raiva vermelha — não como minha inimiga, mas
como minha arma.
E conforme permito que preencha meu corpo, sinto minha força
aumentar.
Está funcionando.
— Sabe. Xavier. Você está certo, — eu digo com os dentes cerrados.
— Sempre, — diz ele, — mas por que desta vez?
Começamos a andar em círculos novamente.
— Por todo esse tempo, pensei que os Caçadores haviam me deixado
mais fraca. Mas toda aquela tortura... todo aquele trauma... na verdade
me fizeram muito, muito mais forte.
Eu ataco novamente com a adaga em mãos, mais rápido do que eu
pensava ser possível, e corto profundamente seu ombro.
Ele estende a mão para o ferimento e eu pulo em cima dele, jogando-o
no chão. Ele luta, mas sinto a força da raiva correndo em minhas veias.
Com minha mão livre, agarro seu cabelo...
Eu costumava sonhar em passar meus dedos por ele quando era
adolescente.
Agora, eu o uso para puxar sua cabeça para trás e enfiá-la no chão.
Uma vez...
Ele grunhe de dor.
Duas vezes...
Ele grita mais alto agora.
Três vezes...
— Está funcionando, Ariel! — Eu ouço Alex gritar. — Continue!
Não tenho ideia do que ele está falando, mas continuo batendo a
cabeça de Xavier no chão de pedra até que ele cai inconsciente em
minhas mãos.
Eu consegui.
Eu venci Xavier.
Finalmente.
Quando mais precisava.
Exausta, eu olho para cima e vejo Alex correndo em minha direção.
Atrás dele, há vários Alfas parecendo confusos e angustiados. Seus
olhos voltaram à cor normal.
Quando Xavier perdeu a consciência, ele deve ter perdido o controle
dos Alfas.
Graças à Deusa.
Em um instante, Alex está ao meu lado.
Eu caio em seus braços, ofegante, enquanto o vermelho em meus
próprios olhos começa a desaparecer também.
ALEX

Organizei o julgamento de Xavier o mais rápido possível.


É a manhã seguinte ao funeral de meu pai, e todos nós estamos
entrando no tribunal.
Com Ariel de um lado e Dom do outro, vejo os membros do meu
conselho tomarem seus assentos.
Todo mundo parece exausto.
A investigação levou uma noite inteira até descobrirmos como Xavier
realizou sua grande façanha.
Eu bato o martelo e o General Dave conduz o prisioneiro para dentro.
Eu olho para Xavier, com a cabeça ainda machucada e ensanguentada,
feliz que eu finalmente cheguei a ser aquele com o sorriso presunçoso.
E pela primeira vez, ele parece assustado.
Ele sabe que sua sorte acabou. Em questão de minutos, seu cadáver
estará caído no chão do tribunal.
Ele envenenou o Cálice Real com acônito inativo, que ele conseguiria
ativar através da conexão mental.
Não me surpreende que os Caçadores precisassem de um lobo ao seu
lado. Uma mente humana nunca poderia ter assumido o controle de
tantos lobos poderosos de uma vez.
E Xavier teria escapado impune se não fosse por Ariel.
Ela salvou todos nós...
De novo.
— Vamos começar, — eu digo. — Xavier, você é culpado de todos os
piores crimes do livro, e você até foi criativo e escreveu alguns novos. Eu
indico a pena de morte.
Faço uma pausa para deixar minhas palavras afundarem.
— É uma pena que só posso fazer isso uma vez. Gostaria de dizer
alguma coisa antes que meu Beta execute sua punição?
— Tudo o que quero dizer, — começa Xavier, com a voz embargada,
— é que prefiro morrer do que viver em um reino governado por um
pedaço de merda fraco como você.
Eu aceno e solto uma risada.
— Está bem então. Seu desejo é uma ordem. Todos a favor, digam sim.
Eu ouço um eco alto de sim, mas quando estou prestes a bater meu
martelo de novo, sinto a mão de Ariel em meu braço.
— Espere, — ela diz baixinho no meu ouvido.
— Por que?
— Ele não pode morrer hoje. — Ela me perfura com seus olhos de
girassol.
— O quê? — Eu pergunto, confuso.
Pela expressão em seu rosto, sei que ela está falando sério.
E eu não posso deixar de me sentir traído pelo fato de que depois de
tudo que Xavier fez, ela ainda está disposta a defendê-lo.
ARIEL

A expressão de Alex mostra confusão e raiva em partes iguais.


Mas preciso defender meu ponto.
— Não devemos matá-lo, — digo mais alto desta vez para que todo o
conselho possa ouvir.
Vejo os olhos de Xavier se acendendo, fazendo-me arrepender de tudo
o que estou dizendo.
Ainda assim, eu continuo.
— O evento de ontem provou que os Caçadores são capazes de coisas
mais perigosas do que imaginamos. Eles claramente ganharam muito
mais conhecimento e recursos do que quando eu estava em cativeiro.
Eu respiro fundo.
— Se matarmos Xavier, nossa única pista sobre os Caçadores se foi.
Ele sabe mais sobre eles do que qualquer um de nós.
Eu volto para Alex e deixo cair minha voz novamente — desta vez para
um sussurro quase inaudível.
— E no final do dia, ele ainda é o par da minha irmã. Pense na dor que
Natália sentirá se o vínculo de acasalamento for quebrado. Você conhece
esse sentimento melhor do que ninguém.
Eu vejo as engrenagens girando em sua cabeça.
— Por favor, — eu imploro a ele.
Ele levanta o braço e, quando bate com o martelo, eu recuo.
— Prisão perpétua, — diz ele à multidão atordoada.
Então ele se levanta e, sem olhar para mim, sai enfurecido do tribunal.
Eu sigo atrás dele no corredor.
— Alex, espere!
Mas ele continua andando rápido para longe de mim.
— Por favor!
Ele para em seu caminho e se vira tão rápido que esbarro nele.
Coloco minha mão em seu peito, me firmando.
— P-por que você está tão chateado?
— Não se faça de boba, Ariel.
— Eu... só... me diga, por favor.
Ele solta um suspiro alto e frustrado.
— Não importa o quanto eu tente me livrar dessa porra desse cara,
você quer mantê-lo por perto. Você simplesmente não consegue deixá-lo
ir.
Eu pressiono meu rosto em sua camisa.
— Alex...
Não sei o que dizer a ele primeiro.
Eu tenho tantos pensamentos lutando para disparar tudo de uma vez.
Finalmente consigo encontrar minhas palavras.
— Xavier é meu par destinado...
Alex abaixa a cabeça.
Essas foram claramente as palavras erradas para começar...
— Apenas ouça, — eu digo.
Eu me afasto dele e começo a andar.
— Estou assombrada pelo fato de que Fate me destinou a ficar com
alguém tão mau. Isso me faz duvidar da natureza da minha própria alma.
Acho que tenho a atenção dele agora.
— Desde que escapei dos Caçadores, tenho lutado contra toda essa
escuridão dentro de mim. Eu continuei esperando e rezando para que a
escuridão vá embora algum dia. Mas agora eu entendo que nunca vai
acontecer.
Eu paro de andar e olho em seus olhos castanhos suaves.
— É uma parte de mim. Mas só porque é uma parte de mim, não
significa que a escuridão tem que vencer.
Pego a mão de Alex, segurando-a com força na minha.
— Há também uma luz dentro de mim. Você viu primeiro e depois me
fez ver também.
Eu pressiono minha outra mão em sua bochecha.
— Foda-se Fate, foda-se o destino — eu digo. — Eu escolho a luz. Eu
escolho você.
Minha mão está tremendo agora enquanto Alex me puxa para mais
perto dele.
— Estou pronta para ser seu par. — eu digo. — Se você ainda quiser.
Ele se inclina para perto de mim, e o calor de seus lábios contra os
meus é a única resposta de que preciso.
Capítulo 30
ACASALADOS
ARIEL

Levou apenas uma semana para planejar minha cerimônia de


acasalamento com Alex, porque nós dois estávamos decididos a ter algo
casual e íntimo — assim como nosso relacionamento.
Enquanto Louisa me veste o vestido justo e largo que fez para mim,
murmuro meus votos para mim mesma como uma louca.
Helena, Amy e Val me ajudam a pendurar a cauda do meu vestido
sobre o antebraço para que eu possa andar sem tropeçar em nenhum
tecido.
Eu fico na frente do espelho e suspiro quando vejo meu reflexo.
— O vestido é perfeito, Louisa.
Louisa termina de prender meu véu e enxuga as lágrimas dos olhos.
— Ah, vamos, Louisa, você vai me fazer chorar, — digo enquanto lhe
dou um abraço.
Amy grita e me dá um grande abraço.
— Alguma notícia da minha família? — Eu pergunto nervosa em seu
ouvido.
Apesar do meu bom senso, enviei um convite.
Eu não esperava que minha mãe e minha irmã viessem. Mas eu tinha
esperança de que meu pai estivesse aqui para me levar até o altar.
— Não... ainda não, — Amy diz com simpatia.
Ouvimos uma batida suave na porta. Amy vai atender.
Eu me animo, pronta para ser saudada por meu pai.
— Posso entrar? — Eu ouço Maria perguntar.
Meu coração afunda por um segundo de decepção por não ser meu
pai, mas acho que faço um bom trabalho em esconder isso do meu rosto.
Maria entra na sala e me olha de cima a baixo.
— Ah, Ariel. Você está maravilhosa.
— Obrigada, — digo à minha futura sogra.
— Ela tem razão. Ariel, — diz Louisa, — você está... — e então ela
começa a chorar novamente.
— Você está linda, — interrompe Helena.
— Você parece uma guerreira, — diz Val.
— Não, — disse Maria, — você parece uma rainha.
ALEX

Estou sob o altar da Deusa da Lua.


Dom está ao meu lado, pronto para oficiar.
Ao todo, há apenas duas dúzias de pessoas na lista de convidados.
Ariel queria que tudo fosse pequeno e íntimo.
Mas, infelizmente, não há sinal da família de Ariel.
Eu honestamente não me importo com quem vem, contanto que Ariel
apareça. Passei o dia todo preocupado que ela ficasse com medo e fugisse.
Valéria e Louisa são as últimas a se sentar — as últimas pessoas
ajudando Ariel a se preparar.
E, finalmente, as portas do templo se abrem...
E lá está ela, caminhando em minha direção.
Minha Ariel.
Ela usa um elegante vestido de renda de mangas compridas e segura
um buquê de girassóis nas mãos.
Rosto delicado, cabelo selvagem e... descalça?
Um sorriso enorme e estúpido se espalha pelo meu rosto.
Essa é minha garota.
Minha guerreira.
Meu par.
Minha rainha.
Quando ela caminha até o altar, nossos olhares se encontram, e eu
quase me perco em suas órbitas amarelo-escuras.
O conjunto de sardas em seu nariz e bochechas quase parecem dançar
quando ela sorri.
Dom começa seu discurso e, antes que eu perceba, é hora de eu dizer
meus votos.
Eu engulo em seco de forma bastante audível antes de começar a falar.
— Ariel, eu estava destruído quando te conheci. Não afirmo ser
perfeito, mas você me ajudou a curar. Tudo o que sou, sou por causa de
sua paciência, sua orientação e seu amor.
Tento evitar que minha voz trema, embora tenha certeza de que todos
já sabem como estou nervoso.
— Você é a pessoa mais forte que eu já conheci. Você é uma guerreira
incrível, mas também possui a alma mais linda e altruísta que tive a sorte
de ter em minha vida.
Eu sinto meu coração pulsar enquanto eu olho nos olhos do meu par.
— Ariel, eu te amo — amo cada parte de você — e eu quero que você
saiba que eu acredito em você — completamente. Juro respeitar você e
cuidar de você como meu par, minha rainha, minha Luna e como igual a
mim para o resto de nossas vidas.
Seus olhos estão cheios de lágrimas quando Dom diz que é a vez dela.
— Eu escolho você, Alex, como meu par, — ela diz.
— Eu escolho ficar ao seu lado e dormir em seus braços. Eu escolho
aprender e crescer com você, mesmo que o tempo e a vida mudem nós
dois. Eu escolho entrar em nosso futuro de mãos dadas.
— Prometo compartilhar suas alegrias e também suas tristezas.
Prometo ser sua parceira em todos os aspectos de nossa vida juntos.
Prometo ser para sempre leal, honesta e fiel a você.
— Eu faço este voto com um coração aberto e esperançoso.
Seguindo para a próxima etapa, nos ajoelhamos para Dom colocar as
coroas em nossas cabeças. À medida que nos levantamos. Dom anuncia:
— Apresentando o Rei Alfa Alexander Langdon e a Rainha Luna Ariel
Thomas-Langdon!
Minha mãe realmente se esforçou para planejar a pequena recepção.
Há comida e bebida suficiente para duzentas pessoas, mas as duas
dúzias presentes parecem encarar isso como um desafio e desfrutar do
open bar e das montanhas de lanches e sobremesas inspirados no
outono.
Após a cerimônia, Ariel calçou as botas e as está usando enquanto
dançamos. Ela consegue pisar no meu pé a cada poucos passos.
Mas eu não me importo.
Eventualmente, seus pequenos pés revestidos de couro preto
simplesmente ficam em cima dos meus, e eu faço os passos por nós dois.
— Você está linda, — eu sussurro em seu ouvido enquanto a música
lenta da orquestra permeia a sala.
Ela olha para baixo com um sorriso, tentando esconder o fato de que
está corando.
— Eu tentei fazer minha maquiagem, — ela admite, — mas os cílios
falsos estavam me incomodando, então eu apenas lavei tudo.
— Você está linda, — eu repito, e coloco minha mão em sua bochecha.
Estou prestes a me inclinar para beijá-la quando nós dois
simultaneamente pulamos e fazemos uma careta com um grito
estridente.
Voltamo-nos para ver Amy.
— Minha Deusa.
— Ariel! Você está acasalada! Eu não posso acreditar nisso! Posso
interromper? — ela pergunta, mas não espera por uma resposta minha.
Rindo nos braços de sua amiga de longa data, Ariel assume a
liderança, e as duas dançam pelo salão como duas crianças desajeitadas.
Aproximo-me para pegar uma bebida no bar e vejo Marius sozinho,
com uísque com gelo na mão.
Desde o incidente com o Soldado de Prata, Marius tem estado
silencioso.
Ele fica mais na dele se não estiver com Amy, mas tenho autoridade
para dizer que ele vai se juntar aos guerreiros da Matilha Real em breve.
— Amy parece muito feliz desde que voltamos do resgate de Xavi. —
Tento conversar um pouco.
— Amy está sempre feliz, — ele responde.
É uma frase simples, mas há calor por trás dela enquanto ele olha para
Amy e Ariel dançando. Nesse ponto, Valéria e Helena se juntam a elas, e a
música começa a ganhar ritmo.
Marius dá uma gargalhada enquanto Amy anda em volta do grupo
como um pavão raivoso. Esta pode ser a primeira vez que o vejo sorrir em
semanas.
Espero que ele possa experimentar o mesmo tipo de felicidade que
encontrei com Ariel.
ARIEL

Alex se atrapalha com a maçaneta usando a mesma mão que está


atualmente embaralhada sob minhas pernas.
— Você pode me colocar no chão, sabia? — eu digo.
— Não, estou carregando você no colo, — diz ele quando a porta
finalmente se abre.
O quarto de Alex — quer dizer, nosso quarto — foi transformado na
melhor suíte de lua de mel que se possa imaginar.
É iluminada por velas em potes minúsculos. Há champanhe e
morangos na mesa de cabeceira, e pétalas de rosas vermelhas cobrem o
chão e a colcha de cetim.
Ele finalmente me coloca no chão de forma que meus pés tocam o
chão, e eu olho para ele, nervosa.
Obviamente, esta não é a nossa primeira vez, mas esta noite será
diferente.
Eu deixo minha mão deslizar até a curva de seu pescoço.
A área onde meus dentes vão afundar... quando eu o deixar marcado.
Sua marca de acasalamento anterior quase não é visível, apenas alguns
pontos rosa macios onde a pele foi perfurada.
Curou-se com o tempo desde que...
Não. Não vou chegar nesse assunto. Nem mesmo na minha cabeça. Esta é
a nossa noite.
Mas ainda estou nervosa. Tremendo um pouco.
— Eu te amo, Ari, — ele sussurra, e eu sinto arrepios começarem a
formigar minha pele.
— Eu também te amo, — eu respondo com um sorriso.
E ele me beija.
Um beijo longo e profundo.
Eu sinto sua mão se mover para o zíper do meu vestido e puxá-lo para
baixo sem esforço.
Eu deixo escapar um pequeno gemido enquanto ele me guia para mais
perto dele.
Alex.
Meu par.
Ele tira a renda dos meus ombros e o vestido delicado desliza
suavemente para o chão.
Eu tento desfazer o nó de sua gravata, mas eu estrago tudo e acabo
apenas apertando mais.
Ele dá uma risada e a solta ele mesmo, depois a joga de lado junto com
o paletó.
Agora, em um movimento, ele me pega e me deita suavemente na
cama.
Ele se posiciona em cima de mim e começa a traçar beijos do meu
queixo até os meus seios.
Nós nos livramos das demais peças de roupa.
De repente, estou me sentindo fortalecida, nos rolando até ficar em
cima dele.
Estou pronta.
Minhas coxas estão posicionadas em cada lado dos quadris de Alex, eu
uso minha mão para deslizá-lo para dentro de mim.
Nós dois soltamos pequenos suspiros enquanto nossos corpos
derretem um no outro.
Lentamente, começo a cavalgar.
Ele me deixa assumir o controle, mas gradualmente começa a
encontrar meu ritmo com seus próprios impulsos.
— Alex..., — eu digo em um sussurro ofegante, e ele se senta para que
nossos rostos fiquem a milímetros de distância.
Solto um gemido enquanto ele assume mais o controle de nossos
movimentos.
Meus braços estão colocados sobre seus ombros e posso sentir gotas
de suor se formando na minha testa.
A luz oscilante das velas, nosso sexo é lento, sensual, belo e perfeito.
Posso sentir meu corpo ficar tenso por dentro e minhas pernas
tremerem.
— Alex..., — eu sussurro de novo, quase sem fôlego.
Seus olhos encontram os meus e, sem comprometer nosso ritmo
perfeito, uso minha mão para afastar o cabelo do lado esquerdo do
pescoço.
Eu inclino minha cabeça e Alex faz o mesmo.
Sua língua encontra meu pescoço, lambendo o suor do local que ele
deixará sua marca enquanto eu cavalgo com mais força, quase no meu
auge.
Beijo seu ombro e subo, na esperança de que possamos sincronizar
isso perfeitamente.
— Está pronta? — ele diz ofegante no meu ouvido.
— S-Sim, — é tudo que posso dizer enquanto a euforia flui pelo meu
corpo em ondas, e eu transformo meus dentes em caninos alongados.
Alex pega minha mão quando está chegando ao clímax, e sinto o
toque inconfundível de seus caninos.
Ele morde e eu solto um gemido.
Em seguida, eu afundo meus caninos em sua pele.
Nós seguramos firme, cavalgando um ao outro através de ondas
infinitas de êxtase.
Sinto o gosto do sangue que escapa dos meus lábios e escorre pelo
ombro de Alex.
Sinto Alex retrair suas presas e gentilmente lambe e beija minha
marca de acasalamento recém-formada.
Eu sigo o exemplo e nossos olhos se encontram novamente.
Eu levo minha mão para tocar minha marca.
Está macio e quente sob meus dedos.
Alex sorri e toca sua própria marca.
É verdadeiramente oficial.
Estamos acasalados para o resto da vida.
ALEX

Eu acordo nos braços de Ariel e agradeço silenciosamente à Deusa por


não ter sido tudo um sonho.
Eu passo meus dedos sobre seu ombro nu, sua clavícula, em seguida,
até seu pescoço, onde está sua marca.
Ariel se mexe um pouco com o meu toque e suas pálpebras se abrem
lentamente.
Ela sorri para mim e isso enche meu coração.
— Bom dia, lindo, — ela diz enquanto estica os braços e as pernas.
— Bom dia, linda, — eu respondo.
Eu olho para o relógio na mesa de cabeceira. Devemos descer em meia
hora para um café da manhã comemorativo com amigos e família, e
então partiremos para nossa lua de mel.
Lentamente, nós dois nos levantamos e nos vestimos. Ariel para na
frente do espelho para escovar os cabelos.
Eu chego por trás dela e acaricio seu pescoço, sentindo seu doce
perfume. Nossos olhos se encontram no espelho e eu beijo sua marca de
acasalamento.
— Minha, — Posso sentir meu lobo dizer no fundo da minha mente.
Nossa, eu o corrijo com um sorriso malicioso.
Ariel pega minha mão e descemos as escadas para o refeitório.
ARIEL
Quando chegamos ao fim da escada, ouço uma voz estridente
gritando comigo do saguão.
— Lá está ela! Finalmente.
O que...?
Eu conheço bem essa voz.
E definitivamente, de pé na porta da frente do palácio está minha
irmã Natália apontando para mim com um braço e segurando o bebê
Xavi com o outro.
Atrás dela estão meu pai, minha mãe e cerca de dez malas.
— Vocês estão atrasados, — eu digo friamente. — A cerimônia foi
ontem.
— Sinto muito por termos perdido, Ariel, — diz meu pai, dando um
passo em minha direção. — Tivemos alguns... problemas na Matilha da
Lua Crescente.
— Que tipo de problemas? — Eu pergunto.
— Depois de tudo que Xavier fez, ficou claro que não somos mais
bem-vindos lá, — diz meu pai, com o rosto desmoronando. — Eles nos
expulsaram.
— Minha nossa. Lamento ouvir isso. — digo sinceramente ao meu pai.
Eu sei o quanto isso dói...
— Então, o que você vai fazer? — Eu pergunto.
— Ué! — minha mãe diz.
Na forma clássica, essa é a primeira palavra que ela dirige a mim.
Eu travo os olhos com ela e os meus se enchem de desdém.
— Vamos ficar aqui, é claro, — diz ela. — Você é a rainha agora, não é?
O que nos torna parte da família real.
Ela não está pedindo abrigo.
Ela está exigindo.
Minha cabeça está girando quando percebo que só tenho duas opções:
Viver com minha família insuportável.
Ou entregá-los aos selvagens.
Livro 3

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!


E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
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Capítulo 1
UM NOVO CAMINHO ADIANTE
ARIEL

A escuridão da noite garante cobertura enquanto conduzo meu


esquadrão de guerreiros pela floresta, seguindo o cheiro de um bando de
Caçadores.
Eles não vão escapar desta vez...
Desde o funeral, os Caçadores saíram da toca, com a intenção de
derrubar nossa matilha como cupins famintos.
Mas a morte do rei não é a única razão pela qual eles se sentiram
encorajados a cruzar nossas fronteiras...
Eles estavam trabalhando com um dos nossos — ele traiu sua própria
espécie.
Xavier.
A memória está gravada em minha mente.

Estamos presos.
Sem escapatória.
E os Alfas estão se aproximando.
— Formem uma linha de defesa! — Eu grito, me preparando para minha
transformação.
Mas então, Xavier passa por mim, indo direto para os Alfas de olhos
vermelhos.
— O que diabos você está fazendo?
Quando Xavier ergue as mãos, os Alfas se levantam, como se estivessem
conectados à sua mente.
Minha Deusa...
Xavier se vira, exibindo um sorriso perverso que se espalha em seus lábios.
— Foi... foi você, — gaguejo. — Você nos traiu.
— Hoje não é apenas um funeral para o ex-rei, — zomba Xavier.
Os monstruosos Alfas mutantes estão todos em uníssono, seus olhos
vermelhos e injetados de sangue.
— É um funeral para o rei atual também.
Eu agito minha pele de lobo, e junto com ela, minha memória ruim.
Preciso me concentrar no presente... em rastrear os Caçadores.
Nós nos agachamos na vegetação rasteira e eu faço uma conexão
mental com meu esquadrão.
Fiquem alertas. Consigo farejá-los, estão por perto.
De repente, minhas orelhas se levantam enquanto o chão sob minhas
patas vibra.
Passos. Dezenas deles. De todas as direções.
Em poucos instantes, estamos cercados.
As bestas dos caçadores estão apontadas em nossa direção enquanto
recuamos em um círculo fechado.
Eu exponho meus caninos e rosno.

Eu tiro meus saltos e rasgo as costuras de cada lado do meu vestido até
meus quadris para ter melhor mobilidade.
Estou pronta para lutar.
Fico horrorizada quando vejo todos os meus amigos encostados nos
cantos da capela, parcialmente deslocados.
O que eu faço?
Eu não posso ajudar todos eles.
Tudo o que posso fazer é assistir enquanto os Alfas enlouquecidos e
monstruosos rosnam e se lançam sobre os guardas da Matilha Real,
derrubando suas espadas e prendendo-os no chão, cravando os dentes
em suas gargantas.
Como diabos vou nos tirar dessa?
Seis lobos cercados por uma dúzia de Caçadores.
Preciso pensar rápido.
Já estive em situações piores.
Na verdade, estive em uma situação impossível antes.

Xavier se volta para mim, levantando a voz para que todos possam ouvir:
— Eu estou te dando uma escolha, Ariel. Em alguns momentos, vou
assumir o trono. Não há nada que alguém possa fazer para impedir. Quando
eu fizer isso, posso matar todos aqui. Assim...
Ele estala os dedos e todos os Alfas avançam com entusiasmo, como se
uma refeição tivesse sido servida na frente deles.
Um grito de terror se espalha pela capela.
— Ou... você pode concordar em ser minha rainha, e nos acasalaremos
esta noite. — Seus olhos brilham diabolicamente.
Assim que ouço o que Xavier está me fazendo escolher, minha cabeça
começa a girar.
Estou completamente impotente e sinto meu coração começar a latejar.
Uma escolha impossível.
Eu olho parei o rosto de Alex, meu par, e seus olhos verdes indefesos me
imploram para parar
Mas no final das contas, só há uma escolha.

Eu preciso proteger meu esquadrão. Eles são minha responsabilidade.


— Estou prestes a fazer uma loucura, — digo, por meio de nossa
conexão mental. — Apenas confiem em mim.
Dou um passo à frente e volto para a forma humana.
Os Caçadores estão completamente surpresos.
— Eu me rendo, — eu digo. — Vocês venceram.
Um dos Caçadores sorri enquanto seca meu corpo nu. Quando ele
abaixa sua besta e estende a mão para mim, eu retribuo seu sorriso
malicioso.
— AGORA! — Eu grito, avançando e agarrando sua arma.
Quando Xavier coloca a mão em meu rosto e se inclina, estou pronta para
ele. Eu puxo minha adaga de pedra da lua da dobra do meu vestido e
pressiono a lâmina em sua garganta.
Os olhos de Xavier se arregalam. Não com medo, mas com surpresa.
Ele realmente esperava que eu concordasse de boa vontade com seu grande
plano?
Idiota de merda.
— Não faça isso, Ariel, — Xavier diz para mim em uma voz clara e fria. —
Fomos feitos um para o outro. É o destino!
— Eu NUNCA serei sua rainha, Xavier.

Os Caçadores agonizam em seus corpos feridos espalhados pelo chão


coberto de musgo da floresta.
Eu termino de recolocar minha armadura quando Steve entra na
clareira com reforços.
— Leve-os para as masmorras, e vamos interrogá-los mais tarde. —
digo.
O sol começa a aparecer sobre as copas das árvores e eu expiro alto.
Deusa, a rotina é pesada...
Mas eu sorrio enquanto o sol aquece meu rosto.
Eu amo cada maldito segundo disso.
O sol já está no alto enquanto tento me enfiar na cama o mais
silenciosamente possível.
Acabei de voltar de uma patrulha noturna com os guerreiros da
matilha e não quero acordar Alex.
Seu ronco suave é adorável, e eu imagino que seu lobo está tendo o
melhor sonho agora — perseguindo coelhos pela floresta e então
descansando na brisa da primavera.
Eu tiro minhas botas de combate e ando na ponta dos pés pelo quarto,
tomando cuidado para não fazer nenhum som, até que....
— Merda! — Eu tropeço no cajado Bo que uso para treinamento. Eu
realmente não deveria deixar minhas armas espalhadas...
Quando eu olho para cima, os olhos esmeralda de Alex perfuram
minha armadura de couro grosso com um olhar intenso de desejo.
Ele está acordado... em todos os sentidos.
— Tire essa roupa, — ele comanda.
Eu obedeço, removendo lentamente cada alça, provocando-o
enquanto demoro.
Ele se senta e cava suas garras em nossa cama enquanto sua respiração
fica mais alta. Seu peito musculoso salta para dentro e para fora com
antecipação.
— Estou usando cada grama do meu autocontrole para não me lançar
sobre você e arrancar as roupas do seu corpo, — diz ele.
— Paciência é uma virtude, — eu respondo, deixando minha
armadura peitoral cair no chão.
Eu me aproximo dele e subo em seu colo enquanto ele se senta na
beira da cama. Inspirando profundamente, ele não perde tempo e
mergulha de cara em meus seios nus.
— Você cheira a um campo de flores, — diz ele em voz abafada.
Quando sua língua se move para o meu mamilo macio, deixo escapar
um gemido. Ele morde levemente, e imediatamente endurece em sua
boca.
Minha loba choraminga no fundo da minha mente. Ela está cansada
dessa provocação.
E eu também.
Alex parece surpreso quando eu o empurro de costas.
Eu o beijo em uma demonstração carnal de paixão, deixando minha
loba assumir.
Suas mãos agarram minha bunda com força enquanto eu me contorço
em cima dele. Ele abre minhas coxas e posso sentir seu volume crescendo
embaixo de mim.
Eu deslizo para trás, e Alex solta um rosnado baixo enquanto meus
dedos desabotoam sua calça e liberam sua espada de sua bainha.
Gosto de imaginar o membro de Alex como uma espada porque é o
que é mais confortável em minhas mãos.
E eu sou muito habilidosa com uma espada.
Os olhos de Alex reviram quando pego em seu membro e o acaricio
com vigor. Eu me inclino e envolvo meus lábios em torno da cabeça antes
de movê-la mais profundamente em minha garganta.
— Ariel..., — Alex grunhe. — Você vai me fazer... — Provocando-o, eu
subo para respirar, mas Alex agarra meus ombros e me vira, ficando por
cima.
Ele se esfrega com força contra o meu sexo e eu clamo por ele. Minha
loba anseia por seu par. Ela quer se satisfazer.
— Eu quero sentir você dentro de mim, — eu digo. — Não se segure.
Você sabe que eu aguento, Alfa.
— Não se preocupe, — ele responde. — Eu sei como minha guerreira
gosta.
Uma onda de euforia me atinge quando Alex começa a me invadir
com seu enorme...
— WAA-AAA-HHH!
Um bebê gritando me tira do meu estado de êxtase.
— WAA-WAA-WAH!
Em seguida, um segundo bebê gritando.
Alex suspira enquanto sai de cima de mim e sai da cama. — Nós
realmente precisamos instalar algumas paredes à prova de som.
Minha família se mudar para o palácio não foi exatamente um mar de
rosas no último mês. Mas quando Xavier foi preso por conspirar com os
Caçadores, a Matilha da Lua Crescente os expulsou.
Eles não tinham para onde ir, e eu não iria simplesmente jogá-los para
os selvagens.
Embora, se o fizesse, minha vida sexual com Alex certamente melhoraria...
Deveríamos estar em nossa fase de lua de mel, mas ainda não tivemos
a chance de ir em nossa lua de mel de verdade.
Gritos começam a se misturar com os bebês chorando, e eu não
preciso pensar muito para descobrir quem está causando todo o drama.
— Maldita Natalia, — eu murmuro baixinho.
Eu pulo da cama e visto um roupão. — Vou cuidar disso.
Quando chego ao pé da escada, a gritaria se intensifica — tanto dos
bebês quanto das mulheres.
— Você está louca? — Natalia diz, segurando Xavi em seus braços. —
Você conhece os efeitos nocivos que o açúcar refinado pode ter em uma
criança?
— Pela Deusa, Natalia! — Helena se enfurece enquanto segura
Camelia. — É só um biscoito!
Natalia zomba e estreita os olhos. — Só um biscoito? Eu achei que
você fosse toda 'harmonia com a natureza' ou algo do tipo. E ainda assim
você alimenta meu bebê com veneno!
Graças à Deusa que essas duas estão segurando seus filhos, caso
contrário, elas estariam arrancando os olhos uma da outra.
Helena me nota e me lança um silencioso pedido de socorro com os
olhos.
— Natalia, você não acha que está sendo um pouco dramática? — Eu
digo, me colocando entre elas.
— Fique fora disso, Ariel, — Natalia se encaixa. — Você não tem a
menor ideia de como é ser mãe.
Ela está tentando me provocar, mas me recuso a morder a isca.
Aprendi no treinamento de guerreiros que a melhor maneira de lidar
com o conflito é amenizar a situação.
— Se Xavi tem restrições alimentares, tenho certeza de que podemos
acomodá-las, junto com seus muitos outros pedidos. — A frustração não
intencional se infiltra em meu tom.
Droga, o objetivo era amenizar
Natalia me encara. — Ah, me desculpe. Sou um inconveniente para
você? Sou apenas uma mãe solteira tentando criar meu filho da melhor
maneira que posso.
Lá vamos nós...
— Natalia, eu não estou dizendo isso....
— Você colocou o pai do meu filho na porra da masmorra! — Quando
a voz de Natalia aumenta, Xavi começa a chorar novamente. — Eu tenho
que fazer isso sozinha por SUA causa!
Antes que eu possa me defender, outra voz faz isso por mim.
— Isso é tão injusto da sua parte, Natalia, — minha mãe, Dianne, diz
enquanto passa para o meu lado. — E depois que Ariel nos acolheu...
— Dianne, eu posso lidar com isso sozinha, — eu digo, não querendo
que essa luta de boxe se transforme em uma batalha real.
Dianne me ignora e continua: — Xavier merece ser preso depois do
que fez. Ele acabou com a nossa família.
— Claro que você está do lado dela. Típico, — Natalia diz ressentida.
Típico?
RARO!
Durante a infância, minha mãe sempre ficou do lado de Natalia. Ela
não tinha apenas uma filha favorita — eu mal existia aos olhos dela.
Mas no mês passado ela realmente mudou seu discurso, e eu tenho
que admitir... é bom tê-la ao meu lado pelo menos uma vez.
Dianne se aproxima de mim e se dirige a Natalia com desdém: —
Querida, você precisa ser sempre tão ingrata? Eu te criei melhor do que
isso. Mostre alguma postura.
A expressão de Natalia cai e quase sinto pena dela. Eu sei o que é estar
do lado mau da minha mãe. É o único lado que conheci até
recentemente.
Eu sei que deveria questionar seus motivos, mas...
Não quero estragar uma coisa boa.
Quando volto para o meu quarto, fecho a porta com um pouco mais
de força do que pretendia.
— Tudo bem? — Alex pergunta.
— Se ela quer tanto ficar com Xavier, talvez eu deva apenas jogá-la na
cela ao lado dele, — digo, percebendo meu exagero. — Talvez então ela
calasse a boca.
Alex parece divertido enquanto envolve seus braços em volta de mim.
— Você nunca faria isso com sua irmã. Você é gentil demais.
— Claro que não, — eu digo, inclinando-me em seu peito. — Mas a
fantasia é a única coisa que me impede de matá-la.
Alex ri e me beija. — Que bom que você foi abençoada com uma
paciência sem fim. — Ele pega uma toalha e vai para o banheiro. — Vou
tomar banho, quer ir comigo?
— Claro, estarei aí em um minuto, — digo. — Mas não espere a
segunda parte do que começamos esta manhã. Este será um banho frio.
Natalia arruinou completamente meu humor.
Enquanto Alex desaparece no banheiro, respiro fundo. Minha família
está me deixando louca e estou começando a me arrepender de convidá-
los para minha vida.
De repente, sinto uma sensação pulsante que se irradia por todo o
meu corpo. Começo a me sentir tonta quando uma voz sedosa invade
minha mente:
— Você deve fechar a fenda do passado se quiser traçar um novo caminho
adiante, minha filha.
A Deusa da Lua.
Ela sempre aparece na hora certa.
— Selene, você pode me dizer exatamente o que você quer, pelo
menos uma vez?
Sendo honesta comigo mesma, esta mensagem é bem clara.
Não posso simplesmente continuar tolerando a presença da minha
família...
Eu preciso consertar meu relacionamento com eles de verdade.
E será necessário mais do que uma habilidade de cura concedida pela
Deusa para fazer isso...

Enquanto pratico minha técnica de luta com espada no quartel dos


guerreiros, faço o possível para tirar Natalia da cabeça.
O suor escorre pela minha testa enquanto empurro a espada para
frente, cortando o ar.
Esta é minha terapia. A maneira real com que lido com minha
frustração.
Quando estou treinando, todos os meus problemas desaparecem, pelo
menos por um tempo. Eu os expurgo do meu corpo como cada gota de
suor que desce da minha pele.
— Ei, suada! Corrija sua postura. Está muito aberta. — A voz
presunçosa de Dom acaba com meu foco.
Conforme Dom se aproxima atrás de mim, guardo minha espada na
bainha e giro, colocando-o em uma chave de braço. — Sua boca é muito
aberta!
— Ei, guarde a agressão para sua irmã, — ele brinca enquanto o solto.
— Helena te contou sobre esta manhã, eu suponho.
Ele acena com a cabeça e ri. — Acho que vamos evitar os dias de
brincadeira com Xavi em um futuro próximo.
— Desculpe, Natalia pode ser um verdadeiro pé no saco, mas eu acho
que ela gosta de ter esses dias, mesmo que ela não demonstre, — eu digo.
— O que o traz ao quartel?
— Estou procurando por você, — ele responde. — Ou melhor, Alex
está, ele disse que é importante.
Busco em minha mente se teria algum compromisso hoje, mas não
me lembro de nada.
— Acho que vou voltar para o palácio e descobrir o que está
acontecendo, — digo, jogando minha espada para Dom pelo cabo.
Ele pega e sorri. — Velocidade da Deusa, brava guerreira.
Ao me aproximar do palácio, fico surpresa ao ver meia dúzia de vans
de notícias estacionadas perto do pátio. Equipes de câmera se enfileiram
nas escadas e repórteres se aglomeram na entrada como abelhas
zumbindo, enquanto Maria tenta mantê-los em ordem.
De repente, Alex está ao meu lado, segurando meu braço... e me
levando direto para a multidão.
— Ariel, onde você esteva? E por que você ainda está com seu
equipamento de guerreira? Você acabou de treinar?
— Sim, mas... Alex, o que diabos está acontecendo? Quem são todas
essas pessoas?
— Eles estão aqui para o discurso da matilha. Eu te falei sobre isso.
Várias vezes, na verdade. — Há um toque de aborrecimento na voz de
Alex.
Ah, Deusa! Agora me lembro!
Alex tem adiado, mas desde que Xavier fez o ataque no funeral, as
matilhas vêm clamando por uma explicação.
Enquanto Alex me puxa pela multidão e sobe os degraus, de repente
percebo como estou suada e desleixada.
— Alex, talvez eu deva ficar de fora...
— Você é minha Luna, você não pode simplesmente ficar de fora, —
ele responde, em um tom tenso. — Temos que apresentar uma frente
unificada.
— Mas, Alex... estou uma bagunça, — protesto. — E eu não tenho
certeza se consigo...
— Você está linda, — diz ele, seu tom suavizando. — Apenas pegue
minha mão.
A pele quente de Alex contra a minha acalma meus nervos por um
momento. Mas apenas por um momento.
Enquanto estou ao seu lado e as câmeras começam a disparar, minha
ansiedade começa a rastejar em torno da minha mente.
A cada flash, vejo as luzes de uma mesa de operação no covil do
Caçador.
Como todos os olhos estão em mim, só consigo pensar nos olhos frios
e cinzentos do Caçador que me sequestrou.
Minha cabeça começa a girar. Eu ouço os Caçadores rindo enquanto
meu corpo é espancado e torturado.
Alex está falando, mas não consigo entender suas palavras. Um
zumbido incessante abafa todo o resto.
As luzes diante dos meus olhos ficam borradas e, de repente, tudo
perde sua forma.
Meu coração está ameaçando explodir no meu peito.
Minha Deusa. Minha Deusa. Minha Deusa.
Eu não posso fazer isso.
À medida que a ansiedade paralisante toma conta, sinto o peso do
mundo em meus ombros. Meus joelhos dobram e estou esmagada sob
meu passado — todo o trauma que tento enterrar me arrasta para baixo.
— Ariel! — A voz de Alex é a última coisa que ouço.
A multidão desaparece quando meu corpo atinge o chão.
Capítulo 2
AULAS DE LUNA ALEX
Observo Ariel com cautela enquanto ela arranca a pulseira de
identificação do paciente de seu braço.
Ela já está familiarizada com as visitas ao pronto-socorro, mas ainda
me assusta muito cada vez que nos encontramos aqui.
— Tem certeza de que está bem? — Eu pergunto, pairando sobre Ariel
quando saímos do hospital pelas portas deslizantes.
— Sim, Alex, eu apenas desmaiei. Devo ter pegado pesado durante o
treinamento ou algo assim, — ela responde.
Nós dois sabemos que não foi por isso que ela desmaiou, mas
considerando a forma como Ariel está mordendo o lábio com
nervosismo...
Sei que forçar o assunto só vai deixá-la mais ansiosa.
— Apenas... tente pegar leve, — eu digo. — Se estou colocando muita
pressão sobre você, por favor, me diga.
— Estou bem, de verdade, — diz ela, pegando minha mão e
apertando-a. — Você não precisa se preocupar comigo.
Sempre vou me preocupar com Ariel. É meu dever como seu par.
Sei as coisas pelas quais ela passou e também sei que é difícil se
recuperar dessas experiências.
É preciso tempo e paciência.
Eu nunca deveria ter pressionado Ariel para fazer aquela entrevista
coletiva. Ela claramente não estava pronta.
Mas quando ela estará pronta?
Como minha Luna, Ariel terá de comparecer a muitas aparições
públicas, discursos e jantares diplomáticos.
O Alfa e a Luna da realeza devem representar a força e a união, mas só
podemos fazer isso se estivermos lado a lado.
Estou sentindo muita pressão também...
Estar no lugar de meu pai não é fácil. Eu ainda sou novo para governar
a Matilha Real.
E não tenho certeza se consigo fazer isso sozinho.
Ariel puxa meu braço e eu saio dos meus pensamentos.
— Ei, o que está pensando? Você ficou extremamente quieto agora, —
ela diz, estreitando seus olhos com preocupação. — Devo me preocupar
com você?
— Desculpe, minha cabeça estava nas nuvens. Precisava de você para
me trazer de volta à terra, — eu brinco, tentando disfarçar. — Talvez eu
precise tomar um café.
Paramos no meio do corredor e percebo que estamos diante de um
retrato de meu pai.
Ele parece um verdadeiro rei — coroa no topo da cabeça, usando-a
com confiança, sabedoria em cada ruga de seu rosto severo.
Pai, espero não te decepcionar...
— Você realmente sente falta dele, não é? — Ariel pergunta.
— Todos os dias, — eu respondo.
— Alex! Aí está você! — Dom corre pelo corredor em minha direção,
parecendo sem fôlego. — Parece que noventa por cento do meu trabalho
como Beta atualmente é rastrear vocês dois.
— O que está acontecendo? — Eu pergunto quando ele para na minha
frente, bufando.
— Você tem um telefonema em seu escritório.
— Eles podem ligar de volta? Não estou com vontade de...
A expressão de Dom fica séria. — Alex... é o presidente... dos humanos.

— Sr. Presidente, — eu digo, me acomodando em minha mesa com


nervosismo. — A que devo o prazer?
É extremamente incomum que governos humanos e lobisomens se
misturem, mas meu pai sempre afirmou que precisávamos manter uma
aliança.
Nunca conheci o presidente Cooper, mas papai disse que lidar com ele
era um ato de equilíbrio que exigia negociação e compromisso.
Uma voz amigável, mas dura, fala do outro lado da linha: — Bem, não
posso dizer que esta ligação é um prazer, infelizmente. Trata-se mais de
negócios.
Eu engulo em seco enquanto ele continua: — Eu assisti seu discurso
sobre o estado da matilha — bem, todos os trinta segundos dele — até
sua esposa desmaiar.
— Minha Luna, — eu o corrijo.
— Certo, certo, é claro, — diz ele. — Eu preciso atualizar minha
terminologia de lobisomem. Mas talvez isso seja parte do problema —
não tenho o melhor entendimento de vocês. Grupo reservado, não é?
— O que você quer dizer? — Eu pergunto, não gostando de onde isso
vai dar.
— Bem, sendo brutalmente honesto, Alex, o que aconteceu com os
Alfas... Nunca teria acontecido sob a supervisão de seu pai. Sem
mencionar que seu território está cheio de Caçadores.
Meu coração afunda. Ele tem razão. Não posso nem negar.
— E com aquela espo... Luna, sendo tão avessa a falar em público,
parece que você poderia precisar de alguma ajuda.
— O que você está sugerindo? — Eu pergunto, sentindo uma pontada
de aborrecimento.
— Você precisa de alguém para garantir que as coisas não saiam do
controle novamente. Alguém que vai gerar um vínculo mais forte entre
nós. Podemos dizer que 'uma mão lava a outra'.
— Com todo o respeito, Sr. Presidente...
— Então está resolvido, — diz ele jovialmente. — Meu embaixador
chegará esta semana. Estou ansioso para aprender mais sobre os
costumes e o estilo de vida da sua matilha.
Antes que eu possa responder, um forte clique sinaliza o fim de nossa
conversa.
Eu ansiosamente bato minhas garras contra minha mesa, esperando
que isso não acabe em um desastre total.
Um humano está vindo para a Matilha Real.
ARIEL

Quando volto para o meu quarto, tentando me esquecer de como


envergonhei a mim mesma e a toda a matilha ao vivo na televisão, vejo
Dianne esperando no corredor.
Deusa, não posso lidar com a desaprovação dela agora.
Tenho certeza de que minha mãe tem todos os tipos de opiniões sobre
eu desmaiar no meio do grande discurso de Alex.
Sou uma decepção.
Sou uma vergonha.
Sou uma...
— Ah, Ariel! — Dianne envolve seus braços em volta de mim, me
abraçando com força. — Estou tão feliz que você esteja bem, querida.
— Espere... você não está aqui para me repreender? — Eu pergunto,
confusa.
— Deusa, não. — ela diz, como se isso fosse a coisa mais idiota que ela
já ouviu. — Eu só queria ver como você está.
Minha mãe tem agido de maneira diferente perto de mim desde que
se mudou para o palácio, mas isso ainda é inesperado.
— Pensei que você ficaria com vergonha, — eu digo, me puxando para
fora de seu aperto.
— Claro que não, — ela responde. — Ninguém é perfeito, querida.
Acho que isso é ligeiramente falso, considerando nossa história.
Minha mãe sempre esperou que eu fosse perfeita Não tenho certeza do
que mudou agora — além do fato de que sou uma Luna — mas pelo
menos isso é melhor do que brigar com ela.
— Ouça, Dianne...
— Mãe, — ela diz rapidamente. — Você pode me chamar de mãe,
Ariel.
— Dianne, — digo, mais incisivamente desta vez. — Agradeço o apoio,
mas você terá que me perdoar se eu não confiar totalmente em suas
intenções.
Dianne parece magoada por um momento, mas ela ainda esboça um
sorriso. — Eu entendo, Ariel. Sei que nem sempre estive lá para você. Mas
realmente estou tentando mudar. Para fazer melhor.
Ela me abraça de novo, e desta vez eu não luto contra isso.
Vai contra meu bom senso baixar minhas defesas, mas tenho que
admitir...
É uma sensação boa tê-la ao meu lado.
ALEX

Minha mãe se inclina para frente em seu sofá de veludo vermelho e


junta os dedos, olhando para mim com hesitação. — Tem certeza disso,
Alex?
— Não é isso que papai teria feito? Ele sempre falava sobre estabelecer
um tratado de paz com os humanos, — eu digo. — Talvez um
embaixador seja o primeiro passo para formar essa união?
— Seu pai era um homem sábio, mas às vezes confiava um pouco
demais, — diz minha mãe. Ela se levanta de seu assento e se aproxima de
um bar de mármore no canto de sua suíte.
— Como assim? — Eu pergunto.
— Seu otimismo era uma de suas melhores e piores qualidades. Ele
sempre tentou ver o melhor nas pessoas, às vezes prejudicando a matilha,
— diz ela, servindo-se de uma taça de vinho.
— Então, você acha que os humanos não são confiáveis?
Pensativa, ela balança o vinho em seu copo. — Eu honestamente não
sei, Alex. Você precisa confiar em seus instintos. Já falou com Ariel?
— Não, ainda não, — murmuro.
— Alex, ela é sua Luna. Você tem que mantê-la envolvida nos assuntos
da matilha. — O tom de minha mãe é de reprovação, e estremeço porque
sei que ela está certa.
— É que... Ariel não parece se sentir à vontade quando se trata desse
tipo de coisa. E não me entenda mal, eu a amo por isso, mas também não
quero sobrecarregá-la.
— Ela é forte. Dê a ela a oportunidade de provar seu valor. — Ela diz,
dando um longo gole em seu vinho.
— Bem, na verdade, eu queria falar com você sobre isso, — eu digo. —
Pensei que talvez você pudesse... não sei... dar a Ariel algumas aulas de
Luna ou algo assim.
Maria quase cospe seu vinho.
— Au-aulas de Luna? — ela gagueja. — Alex, eu não...
— Mãe, por favor. Eu realmente quero que Ariel se saia bem neste
papel. E quem melhor para prepará-la do que você? Eu sei que não será
fácil, mas estou te implorando. Ela realmente precisa da sua ajuda.
Ela suspira e pousa seu vinho. — Não acredito que estou concordando
com isso...
Envolvo minha mãe em meus braços e dou-lhe um grande abraço. —
Obrigado! Isto significa muito para mim.
Colocando um dedo sobre sua têmpora, como se sentisse uma dor de
cabeça chegando, ela diz: — Deusa, tenha piedade de mim.
ARIEL

— Maria, você está fora de si, pelo amor da Deusa? — Eu digo,


absolutamente pasma.
— Eu devo estar, — ela responde, balançando a cabeça.
Estamos sentadas na biblioteca, onde Maria compilou uma lista de
leituras obrigatórias para mim.
Acabei de descobrir que terei — aulas de Luna — para me preparar
melhor para o meu papel. E não posso dizer que a ideia seja muito
atraente.
— Esta é uma ideia terrível! — Eu deixo escapar.
— Bem, eu acho que é uma ideia maravilhosa, — Dianne diz, sorrindo
de orelha a orelha enquanto ela começa a folhear um livro intitulado
Beleza e Elegância: Um Curso Intensivo em Ser Rainha.
Maria cruza os braços e franze as sobrancelhas arredondadas. —
Lembre-me novamente... por que você está aqui?
Dianne e Maria não se deram muito bem no mês passado, e as duas
trabalhando juntas é uma mistura volátil.
— Eu quero ajudar minha filha a ser a melhor Luna que ela pode ser,
— Dianne retruca. — Acredite ou não, tenho algumas dicas sobre o
assunto.
— Mal posso esperar para ouvi-las, — Maria diz, de modo sarcástico.
— Eu ainda posso opinar sobre isso? — Pergunto.
Maria me lança um olhar simpático. — Eu sei que não é convencional,
mas pode realmente ajudar você. Eu gostaria de ter tido alguém para me
guiar quando me tornei Luna.
Ela tem razão. Fui jogada no fundo do poço com toda essa coisa de
Luna, basta afundar ou nadar.
Ah, Deusa, isso vai ser pior do que tortura, penso comigo mesma.
Talvez isso seja um pouco dramático, considerando a minha história
com os Caçadores, mas...
Eu me viro e me examino em um espelho com detalhes dourados
acima da lareira.
Meu cabelo emaranhado, postura masculina, roupas sujas...
Eu sou uma guerreira por completo.
Elas realmente serão capazes de me moldar em uma rainha?
Eu sei que deixei meu trauma do passado atrasar minha vida por
muito tempo.
Agora Alex precisa que eu me recupere e governe ao seu lado —
especialmente com todo o reino voltado a ele. Examinando seu legado
como rei, no lugar de seu pai.
Mas e meu próprio legado?
Serei uma rainha amada e reverenciada por sua matilha?
Ou estou destinada para sempre a ser uma rainha guerreira?
Capítulo 3
MEIAS VERDADES
ALEX

Guerreiros se alinham em cada lado do caminho que leva aos degraus


do palácio, representando uma oferta de respeito e cooperação ao
embaixador humano que chegará a qualquer minuto.
Eu olho para Ariel do topo da escada, enquanto ela está entre os
guerreiros.
Ela NÃO parece feliz.
Ariel não ficou exatamente entusiasmada quando contei a ela sobre o
embaixador. Não posso dizer que a culpo. Eu mesmo não estou
completamente convencido da ideia.
Mas isso é o que papai gostaria.
Dom me cutuca nas costelas. — Não deveria ser Ariel aqui com você?
Ou fui promovido de Beta para Luna?
Eu rolo meus olhos para ele. — Acredite em mim, eu queria que ela
estivesse aqui em cima em vez de você. As piadas dela são muito
melhores do que as suas.
Dom finge parecer ofendido, mas então sua expressão fica séria. —
Mas, sério... O que está acontecendo?
— Acho que tenho exigido muito dela ultimamente, — digo com um
suspiro profundo. — Primeiro as aulas de Luna, e então o embaixador
humano. Ariel nem sempre se adapta às mudanças tão facilmente.
— Bem, sim, acho que ela preferia muito mais estar lá do que aqui, —
Dom diz.
— Esse é o problema.
O zumbido de um motor e o som de pneus sobre o cascalho sinalizam
a chegada do embaixador. Seu SUV preto com vidros escuros passa
lentamente pelos guerreiros.
Percebo que Ariel segura sua espada com mais força.
Quando o veículo para, o motorista desce e abre a porta do passageiro.
Uma jovem com um terno elegante sai e começa a subir os degraus com
seus saltos altos.
Ela tem cabelos pretos brilhantes que caem sobre os ombros e óculos
ovais enormes e modernos que emolduram perfeitamente seu rosto
determinado.
Ao chegar até mim, ela estende a mão. Tenho que olhar para baixo
porque ela é trinta centímetros mais baixa do que eu.
— Eu sou Vivian, — ela diz enquanto aperta minha mão com firmeza.
— Embaixadora do presidente.
— Eu sou Alex, rei e Alfa da Matilha Real.
Embora muitas pessoas fiquem intimidadas com meu título, o
exterior duro de Vivian não falha nem um pouco.
— É uma honra, Vossa Majestade.
— Você não precisa ser tão formal com Alex. — diz Dom, tentando
aliviar o clima. — Postura real não é bem o seu estilo.
— Ah. eu não queria... quero dizer, eu não acho que... — As bochechas
de Vivian ficam vermelhas, mas ela se recompõe quase imediatamente. —
Vou me adaptar a qualquer título que seja habitual em sua matilha.
— Vamos para o meu escritório, — eu digo, lançando um último olhar
para Ariel. Ela permanece em uma pose estacionária, recusando-se a
fazer contato visual.
Ela ainda está brava.
Eu levo Vivian para o meu escritório e nos sentamos em lados opostos
da minha mesa.
— Seja franca comigo, — eu digo, mal dando a ela uma chance de se
estabelecer. — Quais são exatamente as suas intenções?
— Estou aqui para negociar não apenas a paz entre humanos e
lobisomens, mas uma parceria, — diz ela. — Os caçadores são uma praga
para ambas as comunidades e precisamos trabalhar juntos para eliminá-
los.
Estou surpreso com sua franqueza. Eu esperava politicagem vaga ou
gestos vazios, mas lutar contra Caçadores é algo que posso considerar.
— O que o presidente propõe? — Eu pergunto.
— Uma cerimônia de unificação — a assinatura de um tratado para
unir humanos e lobisomens em uma causa comum. Acredito que seu pai
defendeu essa ideia durante seu reinado.
Recosto na cadeira e fecho os olhos, tentando absorver tudo.
Um tratado.
Uma cerimônia.
Uma chance de seguir os passos de meu pai.
— Ainda há muita animosidade e desconfiança entre a minha espécie
e a sua, — eu digo, reabrindo meus olhos e fixando meu olhar em Vivian.
— Não vai ser fácil.
— É por isso que estou aqui, — ela responde. — Você não terá que
fazer isso sozinho.
Eu continuo a olhar para Vivian, tentando avaliá-la. Ela é
definitivamente esperta, mas não acho que ela seja indigna de confiança.
Ainda assim, não posso tomar essa decisão levianamente. Quero fazer
o melhor para a matilha.
Vivian joga seu cabelo escuro para o lado e esboça um sorriso
confiante. — Acredite em mim, Vossa Majestade... Alex... Eu só estou aqui
para ajudar.
Ela empurra os óculos para cima e posso me ver no reflexo deles. —
Vivemos tempos instáveis com os Caçadores vagando livremente e... com
uma traição acontecendo um pouco mais perto de casa.
Essa última parte dói. Ela está obviamente falando sobre Xavier. E ela
não está errada.
Eu aceno e lhe dou um sorriso de volta. — Se for esse o caso, então
tudo que me resta a dizer é... bem-vinda à Matilha Real.
ARIEL

Os cabelos da minha nuca se arrepiam quando vejo Alex conversando


com a embaixadora de forma tão casual.
Ela é uma humana. Como podemos confiar nela?
Ela nunca vai entender nossa espécie, e nunca vamos entender a dela.
Pronto. Excelente. Perfeito. Vamos apenas deixar por isso mesmo.
Por que precisamos entrar nos negócios uns dos outros?
Eu amo que Alex seja tão confiante — ele me acolheu como uma
estranha, afinal — mas às vezes eu gostaria que ele fosse mais criterioso.
— Ariel, venha aqui. Quero apresentá-la, — diz Alex, quando percebe
que estou à espreita do lado de fora de seu escritório.
Relutantemente, entro e tento forçar um sorriso.
— Esta é Vivian, ela vai ficar por aqui um pouco enquanto planejamos
uma cerimônia de unificação.
Por que não planejamos uma cerimônia de despedida?
Porque, no que me diz respeito, ela já esgotou as boas-vindas.
Vivian se levanta e estende a mão, mas eu não pego.
Diplomacia é coisa de Alex, não minha.
Eu torço meu nariz com o cheiro de Vivian. Não é que cheire mal, mas
algo me incomoda. Não é totalmente natural, como o cheiro de um
lobisomem.
Ela provavelmente se encharcou de perfume.
— Então, você está aqui para salvar os animais de si mesmos, é isso? —
Eu pergunto.
Estou quase surpresa com o quão frio é o meu tom, mas não consigo
evitar.
Depois do que aconteceu com os Caçadores, os humanos acionam um
lado diferente de mim.
— Ariel... — Alex não me repreende, mas sua voz me avisa que devo
escolher minhas palavras com cuidado.
Vivian parece imperturbável. Seu sorriso é inabalável enquanto ela me
encara. — Eu quero me concentrar em eliminar os Caçadores nesta área.
E gostaria de sua ajuda, na verdade. Alex estava me dizendo que você é a
especialista por aqui.
Meu coração começa a bater mais rápido. Eu me viro para Alex, me
sentindo vulnerável. Ele realmente contou a ela sobre minha história
com os Caçadores?
Os olhos de Alex se arregalam quando ele vê minha expressão,
provavelmente marcada pela traição.
— Eu disse a ela que você era um dos melhores líderes de esquadrão
dos guerreiros, — diz ele.
— Sim, a experiência de um guerreiro seria muito bem-vinda, — diz
Vivian graciosamente.
Claro que ela é diplomática e graciosa. Duas qualidades que me faltam
completamente.
Eu sinalizo para Alex com meus olhos: Precisamos conversar. Agora.
— Vivian, posso falar com meu par, sozinhos? — Eu pergunto.
— Seu p — ah, é claro! Ainda estou me acostumando com esses
termos e títulos, — diz ela, reunindo seus documentos e pastas. — Vou
dar a vocês dois um pouco de espaço.
Vivian tenta fazer sua saída silenciosamente, fechando a porta com
um clique suave.
— Eu não confio nela, — digo imediatamente depois que ela sai. — E
definitivamente não gosto da ideia de ela morar no palácio e bisbilhotar
nossos negócios.
Alex suspira enquanto caminha até mim e pega minha mão. — Ela
não é uma Caçadora, Ariel. Na verdade, ela está aqui para nos ajudar a
lutar contra eles.
— Eu não tenho certeza se posso trabalhar ao lado de um humano, —
eu digo. — As memórias que ela traz são muito dolorosas.
Alex acena em compreensão e me puxa para seu peito. — Eu não
quero pedir a você para fazer nada com o que não se sinta confortável,
mas parte de seu dever como Luna é fazer o que é melhor para a matilha.
— E você tem certeza de que isso é o melhor para a matilha? — Eu
pergunto.
Alex não responde imediatamente. — É... é o que meu pai queria. Era
seu sonho ver a união entre os humanos e os lobisomens. Ele queria que
lutássemos contra os Caçadores lado a lado, e eu quero honrar seu
objetivo.
Alex se inclina e me beija suavemente. Sem conseguir evitar, retribuo
o beijo, e minha loba interior choraminga de satisfação, querendo mais.
Eu respiro fundo enquanto pressiono minha cabeça contra seu peito. —
Eu... eu confio em você.
— Que bom... porque eu não posso fazer isso sem você, — ele diz. —
Eu realmente preciso do seu apoio como minha Luna.
O abraço de Alex me conforta, mas não consigo afastar a inquietação
que está dentro de mim.
Ainda estou aprendendo o que significa ser uma Luna...
Só espero poder dar a ele o apoio de que ele precisa.

Vivian: Oi

Vivian: Estou me acomodando na matilha real

Vivian: Pronta para iniciar negociações

Pai: Trabalhar para o Presidente é um privilégio.

Pai: Eu me sacrifiquei muito para você chegar onde está.

Pai: Então não estrague tudo.

Vivian: Não vou

Vivian: Eu prometo

Vivian: Tudo está sob controle

VIVIAN

Tento ansiosamente acalmar as batidas do meu coração, certa de que


Alex e Ariel podem ouvi-las do outro lado da porta.
Eu não esperava que eles confiassem em mim imediatamente, mas
Ariel em específico vai dificultar as coisas para mim.
Eu fui literalmente jogada para os lobos, e não importa o quanto eu
tente fingir que tenho tudo sob controle, a verdade é que eu não tenho
nenhuma ideia do que estou fazendo.
Este trabalho é uma grande oportunidade para mim, e se não consigo
ganhar a confiança deles, o que estou fazendo aqui?
Eu ouço uma voz no fundo da minha mente — minha própria voz:
Ariel sabe... ela sabe que você está escondendo algo... que você tem um
segredo.
Eu balanço minha cabeça, tentando clarear meus pensamentos.
Ninguém sabe. Você está sendo paranoica.
Meu telefone vibra novamente. É como se meu pai pudesse sentir
minha mentira sobre as coisas estarem sob controle.
Pai: Esses animais podem farejar seu medo.

Pai: Não deixe que eles a vejam como alguém fraco, ou eles a
destruirão.

Pai: E aconteça o que acontecer, nunca mostre a eles o que você


realmente é.

Vivian: Não se preocupe, estou controlando minhas emoções

Vivian: Como você me ensinou

Pai: Espero que sim.

Pai: Eu criei você para ser normal.

Pai: Para que você não acabe como a vadia da sua mãe.
Com a menção de minha mãe, meu corpo inteiro fica tenso. Me sinto
mal do estômago, como se estivesse prestes a vomitar.
Sempre que papai fala sobre minha mãe, sinto uma raiva avassaladora
crescer dentro de mim.
Uma raiva profunda que arranha meu corpo, tentando escapar de sua
jaula.
Não fique com raiva, Vivian! Controle-se!
Mas é tarde demais...
As palavras do meu pai ativam um gatilho dentro de mim que não
consigo impedir.
Está acontecendo.
Minhas unhas se estendem de minhas mãos, tornando-se grossas e
pontudas.
Tento forçar minhas garras afiadas a irem embora, mas a
transformação apenas continua.
Sinto uma dor agonizante no céu da boca quando meus caninos se
projetam.
Os pelos dos meus braços e pescoço se arrepiam, e um sentimento
selvagem toma conta da minha mente.
Tento desesperadamente me transformar de volta. Ninguém pode
saber a verdade...
Eu corro pelos corredores do palácio, enfiando minhas garras em meu
blazer e mantendo minha mandíbula cerrada com força.
Ninguém pode saber que sou híbrida.
ARIEL

Quando saio do escritório de Alex, um cheiro estranho, mas familiar,


chega às minhas narinas.
Minha loba interior também cheira, e posso praticamente sentir a
umidade de seu focinho enquanto ela tenta assumir o controle e
discernir a quem pertence.
Eu conheço esse cheiro...
É a embaixadora... Vivian.
Seu cheiro persistente significa que ela estava aqui há apenas um
momento. Mas seu cheiro não é tudo que ela deixou para trás...
Ajoelho-me e pego uma mecha de cabelo preto grosso.
Na verdade, vários fios estão espalhados pelo chão à minha frente.
Algo está errado com essa mulher...
Eu posso sentir isso em minha loba.
Ela é simplesmente perfeita demais. Deve haver algo escondido sob
aquela superfície calma e controlada.
Todo mundo tem algo a esconder...
E logo vou descobrir o que Vivian esconde.
Capítulo 4
SOB PRESSÃO
VIVIAN

Eu preciso me esconder!
Ninguém pode me ver assim. Isso vai estragar tudo.
Corro pelo corredor e, no final dele, encontro uma estátua de bronze
de uma mãe loba com seus filhotes, sugando seus seios.
Eu me agacho e rastejo atrás dela.
Quando estou fora de vista, encosto-me na parede e tento recuperar o
fôlego.
Minhas garras finalmente se retraem e meus dentes voltam ao normal.
O sentimento selvagem em minha mente se dissipou e sou totalmente
humana de novo.
Isso poderia ter dado muito errado.
Papai me criou para rejeitar meus impulsos de lobo, mas quando fico
com raiva, é difícil controlá-los.
Eu só posso me transformar parcialmente, sendo híbrida, mas ainda
parece que eu habito o corpo de outra pessoa.
Não me sinto confortável com minha própria pele... ou pelo.
Nunca estive perto de tantos lobisomens antes. Eu deveria ter
adivinhado que minha loba iria manifestar sua cabeça feia aqui.
O que significa que terei de me esforçar ainda mais para suprimi-la.
Se alguém descobrir a verdade, tudo estará perdido.
Minha vida em Washington...
Minha carreira inteira...
E meu pai.
Ele é a única família que me resta.
Eu olho para a estátua de bronze imponente e sinto meu estômago
apertar. A loba com seus filhotes...
Minha mãe era uma lobisomem.
Papai disse que ela me abandonou logo depois que nasci. Ele disse que
ela era uma prostituta e uma drogada — que ela não tinha amor por
mim.
Eu não tenho nenhuma memória real dela, então talvez ele esteja
certo, mas...
Há uma coisa que ficou comigo todos esses anos. Uma memória tão
tênue que acho que nem posso chamá-la de memória — é mais como um
sentimento.
É como um cobertor quente e felpudo, enrolado em volta da minha
mente. Uma conexão intensa como nenhuma outra.
Gosto de pensar que esse sentimento é da minha mãe, mas sei que
provavelmente estou apenas louca. Faz com que eu me sinta melhor
quando começo a perder o controle.
Eu inspiro profundamente quando percebo o quão perto eu estava de
me expor à Matilha Real. Fui enviada aqui para ser uma embaixadora dos
humanos — para preparar a cerimônia de unificação e a chegada do
presidente.
E o que estou fazendo no meu primeiro dia? Escondida atrás de uma
maldita estátua.
Eu cuidadosamente me levanto e aliso as dobras do meu terninho.
Chega de erros, Vivian, penso comigo mesma. Faça o seu trabalho.
Preciso começar a trazer meu melhor jogo. Porque isso precisa correr
perfeitamente bem.
ALEX

Os olhos de Vivian se iluminam por trás de seus óculos enormes


enquanto ela fala animadamente sobre seus planos para a matilha.
— Um tratado de paz significará que podemos ajudar com a segurança
de seu reino e erradicar futuros ataques de Caçadores. E as
oportunidades que uma aliança pode nos trazer são quase infinitas!
Seminários culturais de conscientização! Reuniões partidárias da
matilha! Uma força-tarefa para caçar os Caçadores!
Seus gestos excessivamente zelosos esbarram em uma pedra da lua
leve que sai voando da minha mesa.
Eu pego com reflexos rápidos como um raio e aceno com a cabeça,
tentando não rir de sua agitação. — Eu concordo, há tantas
possibilidades.
É revigorante trabalhar com alguém que realmente deseja se envolver
na política da matilha. Isso está fora da zona de conforto de Ariel.
— Desculpe pelo meu par, — eu digo. — Ariel é... bem, ela não confia
muito nos humanos... vamos apenas dizer dessa maneira.
— Por que? O que aconteceu?
— Não é... minha história para contar, — eu respondo, pensando
sobre a expressão de traição no rosto de Ariel quando ela pensou que eu
tinha contado a Vivian sobre sua experiência com os Caçadores. — Mas
talvez ela mesma diga a você algum dia.
— Entendo, — ela diz calmamente. — Todos nós temos tópicos que
são difíceis de discutir.
O entusiasmo em seus olhos desaparece por um momento e ela fica
em silêncio.
— Ei, não se preocupe com Ariel. Ela vai mudar de ideia.
— Ah, não, não é isso. Estou realmente animada com essas ideias, —
ela responde, quase instantaneamente voltando à vida. — Mas eu
adoraria conhecer sua Luna melhor.
Eu me pergunto o que meu pai pensaria dos planos que estou fazendo
com Vivian.
Eu daria qualquer coisa para poder falar com papai de novo... Agora sou
eu que fico em silêncio.
Estou trabalhando neste tratado para honrar sua memória — para
cumprir seus desejos.
É a decisão certa para minha matilha? Não tenho certeza...
Mas pelo menos me sinto confiante em trabalhar junto com Vivian.
Nós fazemos uma boa equipe.
Ela me lança um sorriso. — Vamos voltar para o assunto?
— Espero que você seja boa em negociações, — digo com um sorriso.
— Eu sou difícil de vender. Eles me chamam de 'O Lobisomem de Wall
Street' por aqui.
Vivian ri. — Eu duvido muito disso. Mas sou mais do que capacitada
para jogar um pingue-pongue verbal. Que as negociações comecem.
ARIEL

— Fique de pé direito, — Dianne late. — Ombros para trás, pescoço


alto.
Tento desajeitadamente andar em linha reta, equilibrando um livro
pesado no topo da minha cabeça.
Dianne e Maria observam ansiosamente enquanto cambaleio para o
outro lado da biblioteca. Percebo Natalia me olhando com desprezo
enquanto se inclina contra uma prateleira.
Ela me faz perder o foco e dou um passo rápido demais, fazendo com
que o livro caia no chão.
Natalia zomba alto e Dianne suspira.
— Este exercício não é um pouco clichê? — Eu pergunto, frustrada
com minha décima tentativa fracassada. — Isso é uma perda de tempo.
A expressão de Dianne é como se eu tivesse acertado seu rosto com
uma voadora. — Boa postura nunca é uma perda de tempo.
Eu observo Maria revirando os olhos e lhe lanço um sorriso.
— Você quer acabar como a Tia Josephine? — Dianne continua em
tom dramático. — Ela se transformou tanto que desenvolveu escoliose. E
agora ela tem uma corcunda para sempre!
Ugh, Deusa, dê-me paciência.
— Eu sou uma guerreira, Dianne. Eu sei como me transformar
corretamente, — eu digo de forma sucinta. — Se eu desenvolver uma
corcunda, vai ser porque você não sai de cima de mim.
Maria gargalha alto e Dianne se vira para encará-la.
— Sério, Maria? Você não concorda que uma Luna precisa ser digna
na maneira como se apresenta?
— Sim, mas esta é a primeira lição de Ariel, — diz Maria. — Não
podemos simplesmente torcer o braço dela como uma espécie de
brinquedo de corda e esperar que ela passeie pela vida como uma Luna
perfeita.
Enquanto Dianne e Maria discutem, tento escapar discretamente, mas
Natalia bloqueia meu caminho.
— Quem você acha que está enganando com essa rotina de rainha? —
ela zomba. — Nós duas sabemos que isso não é nada você.
— Eu nunca disse que era, — eu retruco. — Você realmente acha que
eu quero estar aqui equilibrando livros na minha cabeça?
— Então, por que você está?
— Eu... estou fazendo isso por Alex... e por mim mesma, — gaguejo.
Não é totalmente convincente.
— Você está fazendo isso por ela — Natalia diz, olhando por cima do
meu ombro.
Viro-me e vejo Dianne ainda brigando com Maria, agitando os braços
freneticamente.
Eu volto para Natalia e cruzo os braços. — Você não sabe do que está
falando. Talvez você esteja apenas com ciúmes porque Dianne não está
mais dando atenção a você.
Quando prendi Xavier, eu definitivamente tirei Natalia de seu
pedestal, e ela não vai me deixar esquecer disso.
Há uma pequena parte de mim — uma parte vergonhosa — que
realmente gosta de vê-la baixando a crista um pouco.
Natalia me lança um olhar frio enquanto passo por ela. Ela pode ser
uma vadia, mas ela está certa sobre uma coisa...
Toda essa persona digna de Luna não sou eu. Estou encerrando o dia e
saindo mais cedo.
Quando saio da biblioteca e vou para o escritório de Alex, esperando
que ele tope um treinamento particular, ouço uma conversa estridente
vindo da sala de reuniões.
Quando abro a porta para investigar, meu coração desaba.
Alex e Dom estão conversando animadamente com Vivian enquanto
ela está na cabeceira da mesa de conferência, ganhando atenção sem
esforço.
Ela está tão confiante e equilibrada. Sua presença na sala é inebriante.
Enquanto ela conduz Alex pelos termos do tratado, é como se ela
estivesse falando uma língua que eu não entendo.
Mas Alex entende — ele também fala.
Eu lentamente me afasto da porta, de repente me sentindo insegura.
O jeito que Alex olha para Vivian... Ele está impressionado com ela.
Ela é tão diplomática, digna e — bem, tudo que eu não sou.
Ela chegou com tudo, pronta para fazer negócios, e eu não consigo
evitar o sentimento de que é impossível estar a sua altura.
O que eu sei sobre administrar uma matilha real?
O que eu sei sobre trazer paz ao reino dos lobisomens?
Eu nem mesmo entendo meu poder de cura pelo amor da Deusa.
Como posso ajudar mais alguém?
Quando me viro, fico surpresa ao ver que Dianne está me observando.
Ela me lança um olhar simpático.
— Você vê agora por que estou pressionando tanto você? — ela diz. —
É porque eu não queria que você se sentisse assim.
Ela se aproxima de mim e coloca o braço em volta do meu ombro.
— Você não sabe como estou me sentindo, — digo, embora não me
afaste dela.
— Uma mãe sempre sabe, — ela responde.
Dianne definitivamente não é a primeira pessoa a quem eu recorreria
para obter conselhos, mas ela é quem está aqui, então...
— O que devo fazer? Não quero decepcionar Alex.
— Então você tem que ser forte para ele. Se precisar escolher entre ser
uma guerreira e ser uma rainha, você deve escolher ser uma rainha.
Todas as vezes. Você deve escolher Alex. Ele é sua prioridade número um.
Eu olho para trás em direção à sala de reuniões, onde Vivian palestra
orgulhosamente com um ar de superioridade.
A sala é dela...
Mas apenas por enquanto.
Porque não vou cair sem lutar.
Vai contra o meu bom senso ouvir minha mãe, mas ela está certa.
Preciso levar isso a sério se quiser ter uma chance de liderar ao lado de
Alex.
Minha loba interior rosna em aprovação.
— Vamos voltar ao trabalho, — eu digo.
Capítulo 5
MATANDO AULA
ARIEL

— SENTIDO! — Steve grita com a linha de guerreiros no campo


aberto fora do quartel. — APRESENTAR ARMAS!
Os guerreiros desembainham suas espadas e as mantêm prontas.
— JUNTOS, ESQUADRÃO!
Os guerreiros se reúnem em uma formação de batalha circular e
apontam suas espadas para fora.
Eu sorrio da minha cadeira do outro lado do campo ao ver o quão
longe o esquadrão chegou sob o comando de Steve.
Meu esquadrão...
Steve assumiu o treinamento do meu esquadrão de guerreiros quando
comecei um tipo diferente de treinamento.
Treinamento de Luna.
Eu gostaria de estar lá com eles agora...
Grunhindo comandos de treinamento.
Executando manobras de defesa.
Ouvindo o som satisfatório de aço contra aço.
Rolando no…
Um estalar de dedos na frente do meu rosto me tira dos meus
devaneios.
Dianne estala a língua. — Ariel, preste atenção. Seu foco é terrível.
— Nunca tive problemas para me concentrar no calor da batalha, —
murmuro baixinho.
Minha atenção volta para a festa do chá que estou sendo forçada a
suportar, um contraste gritante com a luta acontecendo a centenas de
metros de distância.
Eu também fui forçada — literalmente — a usar o vestido que estou
usando.
A parte de cima está tão apertada que mal consigo respirar.
Mas a parte de baixo está tão solta que me sinto completamente
vulnerável a ataques.
Essa coisa NÃO foi projetada para batalhas.
A maioria das pessoas pensam que a armadura é uma roupa mais
restritiva, mas não eu.
Dê-me um peitoral durável e calças de couro sobre esse babado
absurdo em qualquer dia desses.
— O chá da tarde é uma arma fundamental para uma rainha ter em
seu arsenal, — diz Dianne enquanto coloca um bule reluzente no centro
da mesa. — É a maneira perfeita de reunir todas as fofocas mais
interessantes da matilha.
Dianne se referindo a essa festa do chá como uma — arma — só me
faz desejar ter uma espada de verdade na mão, e não uma xícara de chá
de porcelana.
Minha loba está reclamando, inquieta para lutar com os outros
guerreiros.
Quieta, eu assobio para ela. Eu também não gosto disso, mas
concordamos que temos que fazer isso por Alex.
— Agora, a maneira adequada para uma anfitriã cumprimentar seus
convidados é... — Minha loba começa a reclamar ainda mais alto, e abafa
a voz de Dianne.
— Dianne, — eu digo bruscamente. — Acho que preciso de uma
pausa.
Ou minha loba vai me dar enxaqueca.
— Tudo bem, mas não demore muito, — ela diz. — Maria estará aqui
com as outras senhoras em breve.
— Mal posso esperar, — digo sarcasticamente enquanto saio da mesa.
Eu me retiro e sigo para os jardins onde posso ficar um tempo
sozinha, e minha loba finalmente se acalma.
Eu odeio estar evitando o dever de guerreiro por chá e bolinhos...
Simplesmente não parece certo.
Sento-me em um banco de pedra perto de uma parede de rosas e pego
meu telefone.
Preciso da opinião da minha melhor amiga.
Ariel: Ei, como está a Matilha das Escrituras?

Ariel: Queria que você estivesse aqui

Amy: Está ótima, mas mal posso esperar para voltar para casa!

Amy: Honestamente, sinto sua falta!

Amy: Pelo menos nos veremos em breve para a minha cerimônia


de acasalamento!

Amy: Vai ser tão lindo tê-la no palácio.

Amy: E, claro, a despedida de solteira

Ariel: Mal posso esperar! Preciso de você aqui.

Ariel: Dianne e Natalia estão me deixando louca

Amy: Deusa, eu imagino

Ariel: E eu estou tendo aulas de Luna...

Ariel: Para me ensinar como ser uma rainha adequada

Amy: Eca, COMO ASSIM???

Amy: Isso não parece NADA com você

Ariel: Bem, muita coisa mudou na matilha real desde que você
partiu

Ariel: E estou tendo dificuldade em acompanhar...

Amy: Bem, não deixe os desgraçados te derrubarem (ou vadias no


caso de Natalia)
Amy: Continue sendo fiel a você, garota

Amy: E se os deveres de Luna te deixarem muito ocupada para


acabar com a raça de Natalia, eu farei isso por você

Ariel: Haha obrigada Amy

Ariel: Eu sei que você sempre está comigo


Eu coloco meu telefone de lado e suspiro. É melhor eu voltar para o
chá da tarde antes que Dianne envie uma equipe de busca.
Mas pelo menos as palavras de Amy me dão alguma força. Continue
sendo fiel a você.
Vou fazer o meu melhor.
ALEX

— Dom, ela está indo em direção às espadas! — Eu grito enquanto a


pequena Camelia rasteja em direção a uma exibição de armas
ornamentais.
Dom avança em meu escritório e pega sua filha nos braços antes que
ela puxe um machado de batalha.
— Deusa, como essa garota ficou tão rápida? — Dom diz ofegante
enquanto Camelia ri.
— Talvez a gente só tenha ficado mais lento, — digo, afundando na
cadeira. — Helena vai te matar se um fio de cabelo estiver fora do lugar.
— Ei, você se ofereceu para ajudar de babá também, — Dom diz. — E
seu escritório está em extrema necessidade de proteção para bebês.
— Bem, eu não tenho um bebê, tenho? — Eu retruco.
— Ainda não, — Dom responde com um sorriso. — Mas quem sabe,
talvez...
— Ei, ei, ei! Vamos com calma, — eu digo, levantando minhas mãos.
— Já coloquei pressão suficiente em Ariel com esse status de Luna. Não
tem como ela estar pronta para um bebê. E nem eu, por falar nisso.
— Está bem. desculpe, Minha Deusa, — diz ele, levantando as
sobrancelhas. — Só estou pensando em voz alta.
— Bem, mantenha esse tipo de pensamento para você, — eu digo. —
Ariel está passando por um momento difícil.
Camelia baba na camisa de Dom, mas ele não parece notar. —
Inclusive... Como estão as coisas com você e Ariel?
— Como eu disse, isso tem sido difícil para ela. Não me entenda mal...
eu não trocaria o que temos por nada nesse mundo, mas às vezes, só me
pergunto se ela está realmente comprometida com isso.
Dom acena com a cabeça, sorrindo. — Você e Ariel são muito
parecidos. Lembra como você costumava sair de fininho do palácio para
jogar futepata comigo na rua? Ou como ficávamos bêbados na torre de
água quando você queria desabafar?
Camélia cava suas garras minúsculas no braço de Dom enquanto ele
continua. — Ela tem que ter liberdade de errar para aprender. Ela tem
que sentir que pode relaxar. Você sabe melhor do que ninguém como a
vida na realeza pode ser dura.
O conselho de Dom me dá uma ideia. — Sabia que pela primeira vez
acho que você está realmente certo.
— Espere, o que você quer dizer com "pela primeira vez?" — Dom
pergunta, irritado.
— Tudo bem se cuidar de Camelia por conta própria? — Eu pergunto
enquanto me levanto da minha mesa.
— Claro, mas para onde você está indo? — Os olhos arregalados de
Camelia me observam enquanto Dom a balança para cima e para baixo
em seu colo.
— Vou dar a Ariel uma chance de relaxar, — digo.
ARIEL

Depois de cerca de uma dúzia de xícaras de chá e pequenos


sanduíches para combinar, estou me sentindo extremamente esgotada
com todo o conceito.
Eu deveria estar aprendendo a ser uma boa anfitriã...
Mas é normal que a anfitriã sinta vontade de colocar fogo em sua própria
festa?
Não consigo me juntar à conversa que acontece ao meu redor, embora
Dianne tenha me dado uma lista exaustiva de pontos de discussão.
Dianne planejou tudo. Escolheu toda a decoração. Organizou a lista
de convidados.
Eu nem sei quem são essas mulheres...
— Ariel, você parece miserável, — sussurra Helena ao meu lado. Pelo
menos ela está aqui para me fazer companhia.
— Eu não sei quanto mais disso eu posso aguentar, — eu digo
cansada.
Se fossem cervejas com o esquadrão, seria moleza — e não os bolos
irritantemente pequenos e insatisfatórios que estão nesta festa.
Mas bater papo com a realeza é um jogo completamente diferente.
— Não se preocupe, — diz Helena, me dando uma piscadela. —
Quando sua mãe não estava olhando, troquei todo o chá verde por
camomila. Essas mulheres vão cair de sono como pedras a qualquer
momento.
— Minha Deusa, você é a melhor, — eu digo, tentando não rir.
— Ariel!
As cabeças de todos viram quando Alex veio correndo pelo gramado.
— Ariel, preciso de sua ajuda imediatamente, — diz ele enquanto para
na minha frente. Ele estende a mão e, quando eu a pego, ele me puxa da
cadeira.
— Alex, o que há de errado? Está tudo bem? — Maria pergunta,
parecendo preocupada.
— Não há tempo para explicar, — diz ele. — Mas preciso da
cooperação total da minha Luna. — Maria lança um olhar estranho para
Alex, como se ela soubesse de algo que eu não, então sorri. — Parece
sério.
Dianne parece que vai protestar, mas Alex já está me puxando para
longe da festa.
— Espere, o que está acontecendo? Os selvagens atacaram? — Eu
pergunto, prestes a estender minhas garras.
Quando estamos longe o suficiente, Alex começa a rir. — Não, nada
disso. Desculpe ser dramático, mas eu realmente tive que ser
convincente. Minha mãe vai nos cobrir.
— Convincente?
— Estou ajudando você a matar aula, — ele diz sorrindo. — Sem aulas
de Luna, sem assuntos da realeza. Só você e eu.
— Vire à esquerda aqui, — diz Alex, enquanto segura minha cintura
com força. Eu direciono minha moto por um caminho estreito de terra
no fundo da floresta.
— É logo à frente... ali! — Alex aponta para uma velha torre de água.
Eu coloco minha bicicleta em ponto morto e a estaciono ao lado de
uma escada enferrujada. — O que é este lugar? — Eu pergunto.
— É o meu lugar secreto, onde gosto de vir para descontrair, — ele
responde. — Quero que seja um lugar onde você possa fazer o mesmo.
Estou emocionada com seu gesto. Ele sempre parece saber
exatamente do que eu preciso, mesmo antes de eu mesma saber.
Alex salta da moto e começa a subir a escada. — Corrida até o topo!
Quem chegar por último perde!
E o que eu preciso agora é uma pequena competição amigável...
Desafio aceito.
Em vez de subir por baixo de Alex, começo a escalar o lado oposto da
escada, sincronizados degrau por degrau.
Graças à Deusa, eu troquei aquele vestido ridículo.
Agora eu tenho mobilidade de verdade.
Quando nos aproximamos do topo, eu alcanço minha mão através da
escada e agarro Alex pelo colarinho de sua camisa.
— Vem aqui, meu Alfa lindo. — Nossos lábios se encontram entre os
degraus e eu o beijo apaixonadamente.
Mas assim que ele relaxa no beijo, eu me afasto e giro para o seu lado
da escada. Em segundos, estou no topo, deixando meu par perplexo.
— Você me enganou com sua sensualidade! Eu me sinto tão usado.
— Tudo bem, perdedor, suba aqui. — Eu me abaixo e ajudo Alex a
subir no andaime. Meu coração está batendo forte no meu peito e,
quando coloco minha mão na dele, posso sentir seu pulso se movendo no
mesmo ritmo que o meu.
Começamos a nos beijar, de verdade dessa vez, e a mão de Alex desliza
pela minha camisa, apertando meu seio.
Nossas línguas lutam enquanto nos debatemos com força no poleiro
precário.
Os dedos de Alex se enrolam no meu cabelo enquanto ele me
pressiona.
Meu cabelo fica pendurado na borda da torre de água, e a sensação de
estar tão alto é estimulante.
Os beijos de Alex percorrem minha clavícula até minha barriga. Ele
desabotoa minha calça e desliza a outra mão em minha calcinha.
Eu gemo quando seu dedo atinge minha sensibilidade. — Caralho,
isso. — Eu me sinto ficando molhada enquanto ele simultaneamente usa
uma mão para massagear meu sexo e a outra para beliscar meu mamilo.
— Alex... — Eu fecho meus olhos, cedendo às sensações pulsantes.
Minha loba está prestes a uivar de prazer quando
Bzzz-bzzz-bzzz.
O telefone de Alex vibra contra meus quadris enquanto ele deita em
cima de mim. — Merda, desculpe, — diz ele, puxando-o do bolso. — É o
Dom...
— Atende... pode ser importante, — eu digo, na verdade grata por ser
capaz de respirar.
Alex desliza o polegar pela tela do telefone. — O que foi, Dom?
Dom começa a falar ansioso: — Alex, onde diabos você está? Minhas
ligações não estavam completando.
— Desculpe, eu estou fora do território da matilha com Ariel. Na torre
de água.
— Bem, vocês dois precisam voltar. Agora.
Meu coração bate mais rápido quando me inclino para o telefone. —
Dom, o que há de errado?
— Temos um problema com o prisioneiro...
A ligação falha por um momento e, então — ... com Xavier.
Capítulo 6
UM ASSUNTO DE LOBISOMEM
ARIEL

Estou enfurecida.
Natalia foi pega entrando de fininho nas masmorras para ver Xavier.
Depois de dar a ela um voto de confiança, ela me traiu.
Seria diferente se ela apenas quisesse ver seu ex-par — mas ele é meu
ex-par também. E ele provou ser o criminoso mais perigoso do reino.
A traição de Natalia quase me faz lamentar por ter poupado a vida de
Xavier.
Vadia ingrata.
Alex e Dom estão praticamente correndo para me acompanhar
enquanto minha raiva me impulsiona para frente.
Quando nos aproximamos do palácio, os guardas baixam a cabeça em
respeito antes de abrir o portão da entrada. Eu retribuo o gesto com um
breve aceno de cabeça e entro no corredor.
— Onde ela está? — Eu digo. — Onde está minha irmã?
Minha cabeça vira para ver Alex e Dom se arrastando atrás de mim
pelas portas.
— Ela está esperando por você, — Dom diz. — Andar de cima.
Estou fervendo de raiva quando alcanço Natalia, que, mesmo depois
de sua traição, está esperando por nós — desprotegida — nos aposentos
da família.
Preciso de todas as minhas forças para não arrancar o sorriso puritano
de seu rosto quando a vejo.
Alex coloca a mão em meu braço e sussurra em meu ouvido: — Talvez
eu deva começar...
Os olhos de Natalia encontram os meus antes de piscarem para Alex.
— Vossa Majestade?
É
— É um crime grave, — diz Alex. — Xavier é...
— Como você pôde? — Eu digo, interrompendo. Posso dizer que Alex
estava planejando ser diplomático, mas quero que ele fique do meu lado.
— Você está aqui como nossa convidada, Natalia.
— Eu... — Natalia diz.
— Ele é perigoso. Ele é a razão pela qual nossa família teve que buscar
refúgio aqui em primeiro lugar.
— Não é como se eu fosse deixá-lo sair, — diz ela. — Eu só queria vê-
lo...
— Vê-lo? O criminoso mais traiçoeiro do reino? — Eu expiro,
balançando minha cabeça.
— Você realmente não tem remorso?
— Remorso? — A palavra soa estranha, saindo de seus lábios.
Eu sinto o calor subindo para minhas bochechas. — Nós a recebemos
quando você não tinha para onde ir...
— Ah, como você é justa! Ariel: a única pessoa que está entre mim
e a vida de um selvagem...
Fico indignada com o sarcasmo e olho para Alex. Eu quero que ele
interrompa e mostre a gravidade de desobedecer à lei da Matilha Real,
mas ele apenas permanece lá.
— Ele também é da família, Ariel, — diz Natalia.
— Ele não é da minha família.
— Ele é de Xavi... — Natalia move seu olhar através da sala para onde
meu sobrinho está tirando sua soneca da tarde, sereno apesar da disputa
ao seu redor. — Não quero que ele cresça sem pai.
— Você prefere que ele tenha um criminoso em sua vida?
— Na verdade, sim. É melhor do que perder o pai.
Eu me viro para olhar para Alex novamente e percebo que Dianne está
parada na porta.
Alex tem aquela expressão preocupada em seus olhos, e eu sei que ele
está pensando em seu próprio pai. Estou decepcionada por ele não falar
nada.
Natalia sabe o que está fazendo. A paternidade é o ponto fraco de
Alex.
Minha irmã parece triunfante. — Então, se eu quiser ver o pai do meu
filho...
— Ah, cale a boca, querida.
Todos os olhos pousam em Dianne.
— Você não percebe? — ela diz. — Sua irmã não é apenas uma Luna...
ela é a rainha. Se ela disser que você não pode ver Xavier, você não pode
ver Xavier.
Uma onda de apreciação me invade e sorrio para Dianne.
— É uma decisão sábia. E Ariel está certa em fazer isso. Não queremos
Xavi seguindo os passos do lobo que nos colocou nesta situação,
queremos?
— Mas eu...
— Mas nada. Obedeça a sua irmã. Esse é o seu papel agora.
Natalia parece chocada. Ela leva um momento para fechar a boca e se
recompor.
Estou tão surpresa quanto.
Dianne está do MEU lado em uma discussão? Finalmente.
VIVIAN

Eu bato na porta ornamentada do escritório de Ariel. O guarda parece


me ver com desdém, lançando-me um olhar de reprovação.
Depois de um momento, ele dá um passo para o lado a contragosto e
eu passo.
Eu sei que para ter sucesso em meu papel aqui, vou precisar da rainha
ao meu lado. E acho que encontrei minha oportunidade.
— Vossa Majestade.
Seus olhos amarelos encontram os meus. Há uma intensidade logo
abaixo da superfície.
Eu não posso deixar de imaginar sua loba quando encontro seu olhar.
Quase admiro como a rainha não faz nenhum esforço para esconder o
lado animalesco de sua natureza.
— Embaixadora, — ela diz. — Há algo que eu possa fazer por você?
— Eu...
Ela arqueia uma sobrancelha.
— Na verdade, eu gostaria de poder ajudar... você. Soube do incidente
com o prisioneiro e... — Estou falando rápido demais. — Embora eu
pessoalmente não tenha uma irmã...
— Não, obrigada.
— Eu só pensei que poderia...
— Este é um assunto de lobisomem.
Sem mais nada a oferecer, eu me viro para sair da sala.
Achei que uma disputa familiar seria a oportunidade perfeita para dar
orientações. Conheço bem atritos familiares.
Mas a maneira como a rainha descartou o assunto de sua irmã e do
prisioneiro me faz pensar que julguei mal a natureza do problema.
Um assunto de lobisomem.
Se ela soubesse a verdade sobre a minha identidade...
Eu mantive esse lado de mim em segredo por toda a minha vida, com
vergonha de tê-lo em mim. Na escola, eu costumava corar na aula de
história sempre que estudávamos conflitos entre humanos e lobisomens
— como se a única coisa que essas raças tivessem em comum fossem suas
brigas.
Sendo uma mistura das duas raças, inicialmente pensei que era
perfeita para o papel de embaixadora quando o presidente Cooper o
designou para mim. Mas estar aqui é trazer à tona sentimentos que eu
não sabia que tinha.
Eu me sinto quase culpada por reprimir minha loba interior. Quase
com inveja dos lobisomens despreocupados, se transformando de forma
aberta e à vontade.
Quase.
Meu telefone vibra no bolso.
Meu pai vai me trazer de volta à realidade.
Pai: Você não me atualizou o dia todo.
Vivian: Não há muito o que relatar...

Pai: Você vai deixar por isso mesmo?

Pai: Você não está exatamente exalando confiança.

Vivian: Desculpe

Vivian: Tenho tentado me aproximar da rainha. Sua irmã decidiu


visitar o prisioneiro, e houve uma discussão em seguida Pai: O que
aconteceu?

Vivian: Eu tentei tocar no assunto, mas acho que ainda não ganhei
a confiança dela Pai: Droga, Vivian! Você está perdendo essa
oportunidade?

Pai: Você precisa se aproximar da rainha.

Pai: O que quer que ela esteja fazendo, ofereça ajuda. Insira-se
nos negócios dela. Torne-se indispensável.

Pai: Você deve ganhar a confiança deles, acima de tudo.

Pai: É para isso que você está aí.

Pai: Não me decepcione de novo.

Pai: Você deveria valorizar cada oportunidade que tiver.

Pai: Afinal, eu não te joguei fora quando sua mãe te deixou.

Pai: Achei que você pudesse ser útil. Não demonstre o contrário.

ARIEL

Vivian invade meu escritório novamente. Não estou feliz em vê-la,


mas talvez eu tenha sido um pouco grossa antes.
— Embaixadora?
— Vossa Majestade, não sei como posso ajudá-la da melhor maneira,
mas quero ajudar.
— Pensei ter dito que não precisava.
— Estou oferecendo minha cooperação em qualquer capacidade que
você achar conveniente. A verdade é que não acho que posso ter sucesso
sem o seu apoio.
Eu sei que ela está me adulando, mas... eu deveria ouvi-la, pelo menos.
— Quaisquer que sejam suas ressalvas sobre os humanos, você deve
concordar que isso seria uma coisa boa. Paz. Para ambas as nossas
espécies.
Ela não tem ideia do que significaria para mim — finalmente ver o
reinado de terror dos Caçadores chegar ao fim. Parece bom demais para
ser verdade.
Eu imaginei os Caçadores vindo à justiça tantas vezes enquanto eles
estavam me torturando.
Eu encontro seus olhos, tentando discernir suas verdadeiras
intenções. Aliso meu vestido desconfortável, sabendo que pareço uma
rainha mais do que o sinto. — Sim, seria muito bom.
Ela sorri. — Podemos trabalhar juntas então, Vossa Majestade?
— É Ariel. E sim. Nós podemos tentar.
Mas eu ainda estou de olho em você...

É o tipo de dia de primavera perfeito para treinar — ensolarado, mas


com uma brisa que o refresca enquanto corre.
Eu ando pelos jardins da Matilha Real em busca do local ideal para a
cerimônia de unificação. Mas nenhum local em específico parece
adequado para uma — assinatura de tratado.
Dianne puxa um xale sobre os ombros à menor rajada de vento. Do
meu outro lado. Maria dá sua opinião para Vivian, que fica para trás.
— Precisa ser um local grande o suficiente para uma tenda, em caso de
chuva. Em algum lugar sem histórico de violência entre...
Tenho dificuldade em me concentrar na tarefa em mãos. Não é um
trabalho difícil, mas também não é emocionante.
Eu olho para Vivian. Eu a incluí depois que ela ofereceu sua ajuda
porque eu sei que, no fundo, o que ela representa é certo.
Não quero perder meu tempo escolhendo os locais dos eventos. E
certamente não quero fazer isso com um humano. Mas preciso dar um
bom exemplo para meu povo.
Se um tratado entre humanos e lobisomens vai funcionar, então
devemos começar nos dando bem em um nível pessoal.
Afinal, nem todos são Caçadores.
Tento prestar atenção na conversa como se estivesse interessada.
Ainda assim, não é assim que imaginei passar meu tempo como Luna e
rainha.
Eu sou uma organizadora de festas glorificada.
Ouvimos vozes — gritos e grunhidos — conforme nos aproximamos
do campo de treinamento. Eu tenho que conscientemente dizer a mim
mesma para não suspirar enquanto meus olhos pousam no esquadrão.
— Ariel! — Steve diz, acenando para os jovens recrutas que lutam no
ringue. — Quer enfrentar o vencedor?
Estou tentada a pular no ringue com meu antigo esquadrão, mas
Dianne balança a cabeça levemente. Eu me sinto como uma criança
muito velha para brincar com seus brinquedos favoritos.
Eu balanço minha cabeça em negativa para o esquadrão, esperando
que meu sorriso seja transmitido pelos meus olhos. — Não, obrigada,
coronel. Continuem o bom trabalho rapazes.
Eu levo as mulheres para longe do campo de treinamento antes que
minha melancolia se torne óbvia.
— Toda essa área é pitoresca, — Vivian me diz. — Como você vai
escolher?
Ela está tentando ser diplomática. Não é como se eu realmente me
importasse com quem escolhe o local ou o que ela pensa dos terrenos da
Matilha Real.
— Que tal ao longo da fronteira oeste? — Maria diz. — Já é uma
espécie de ponte entre o território dos lobisomens e dos humanos.
Dianne concorda, puxando o saco da — competência de rainha — de
Maria.
Estamos indo para o lado oeste da floresta quando sinto o cheiro de
algo desconhecido — humano.
Por um segundo, acho que uma memória ruim está me deixando
paranoica, mas Dianne e Maria enrijecem também.
Uma sensação estranha percorre minha espinha, como se eu já tivesse
estado nesta situação antes.
Muito tempo se passou desde que Lola nos atraiu para a floresta para
orquestrar um ataque desonesto, mas o momento ainda parece recente.
Um cheiro mais potente chega às minhas narinas, sacudindo-me para
fora da minha hesitação.
Meus instintos de guerreiro entram em ação um pouco mais devagar
do que o normal.
Pego a espada em meu quadril — mas não há nenhuma. Uma Luna
não carrega uma arma.
Merda!
Eu ouço um barulho de folhas estalando e olho para Vivian em
suspeita. Ela é a estranha entre nós.
Mas é tarde demais.
Um Caçador surge atrás dela assim que eu me viro.
Ele segura uma faca contra sua garganta. — Traidora de merda!
Eu olho de um lado para o outro em pânico enquanto seus
companheiros nos cercam.
Um cai de uma árvore com uma besta na mão. Dois outros emergem
de um esconderijo a vários metros de distância.
Como eu não os senti antes? Agora eles nos cercaram.
Enquanto a lâmina roça o pescoço de Vivian, o Caçador grita: —
Humanos e lobisomens nunca serão aliados!
Capítulo 7
O INCIDENTE ENTRE ESPÉCIES
ARIEL

O Caçador aponta sua faca para a garganta de Vivian, seus três


companheiros se aproximam de Dianne, Maria e eu.
E aqui estou eu, desarmada. Como uma boa Luna.
Se eu atacar, arrisco a vida da embaixadora. Se não o fizer, arrisco
todas nós.
Eu travo os olhos com Vivian, e ela parece ter a mesma ideia.
Precisamos surpreendê-los antes de perdermos nossa chance.
Sob o controle do Caçador, seus lábios se movem. Ela está
murmurando algo. Comunicando-se comigo silenciosamente.
Três...
Dois...
Um!
Eu ataco e me movo simultaneamente enquanto Vivian chuta seu
captor na virilha, aproveitando a oportunidade para se esquivar fora do
alcance de sua arma.
Deixo o vestido chique em farrapos enquanto minha loba explode
pela minha fachada real.
A faca raspa no braço de Vivian antes de eu afundar minhas garras no
ombro do Caçador, e ele deixar cair sua lâmina.
Nós nos viramos para enfrentar os outros Caçadores. Dianne e Maria
ainda estão vulneráveis na forma humana. Eu gostaria que elas
deixassem sua etiqueta para trás por um momento e se defendessem.
Mas Maria está acostumada a ter guarda-costas, e Dianne é... Dianne.
Eu ataco, de novo e de novo, desfigurando um Caçador após o outro.
Eu rasgo a carne com dentes e garras, mas contenho minha raiva. Não
deixo isso me dominar.
Não vou matar.
Eu deixo meus instintos de lobo assumirem enquanto lido com os
Caçadores. Ouço um grito e viro minha cabeça para longe do Caçador
que prendi no chão da floresta.
Dianne está se contorcendo de dor enquanto se esforça para seguir
em direção ao palácio. Uma flecha atingiu seu ombro, deixando um
ferimento sangrento na carne.
Estou com raiva de mim mesma por deixar um dos meus em uma
posição vulnerável. Parece que essas mulheres são meu esquadrão agora.
Eu olho para o agressor, mas Vivian representa mais uma ameaça com
a faca do primeiro Caçador do que a besta do homem, agora que ele está
a uma distância menor.
Os Caçadores feridos se amontoam, protegendo uns aos outros
enquanto recuam.
Quero ir atrás deles, levá-los à justiça — mas fico para proteger Maria
e Vivian.
— Vamos atrás de Dianne, — eu digo.
Odeio deixar os Caçadores desaparecerem na floresta, mas só posso
enfrentar os quatro matando um deles.
E até eu sei que matar um humano na frente da nossa embaixadora
humana é uma má ideia.
Eu olho para Vivian. — Como está essa ferida?
— É apenas um arranhão, — diz ela. — Estou feliz por estar com você.
— No treinamento de guerreiro, eles nos ensinam que... Quando você
está desarmado e seu agressor tem uma lâmina, não importa o quão hábil
você seja na luta, ele vai tirar sangue.
Eu quero que ela saiba que ela fez bem. A verdade é que até estou
abalada pelos Caçadores terem nos surpreendido com tanta facilidade.
Estou ficando desleixada...
Eu olho para Maria para me certificar de que ela está bem. Ela
também parece abalada.
Começamos a seguir o rastro do sangue de Dianne.
Parece muito para a forma como a flecha a acertou de raspão...
Enquanto nos sentamos na sala de espera do hospital, não posso
deixar de pensar nos Caçadores.
Vivian foi atacada por causa de sua dedicação. Ela acredita na paz
entre humanos e lobisomens. E seus agressores não suportam isso.
Os Caçadores não suportam isso.
Eu não confio em nenhum humano — não até que eles provem ser
confiáveis — mas tenho que admitir, ela ganhou meu respeito hoje.
Não há nada como um inimigo comum para colocar as coisas em
perspectiva. Se este tratado não for assinado, os Caçadores serão uma
ameaça maior do que nunca.
Precisamos de humanos do nosso lado para que possamos enfrentar
os Caçadores juntos. Eu entendo isso agora.
Quando uma enfermeira chama Vivian para tratar de seu ferimento,
abordo o assunto com Alex.
— Eu gostaria de ser a guarda-costas pessoal de Vivian.
— O que? Sem chance, — diz ele.
Estou surpresa. Eu não esperava nenhuma resistência dele. — Ela
quase foi morta hoje.
— Vou dar a ela uma equipe de segurança. Eu sei que você é uma forte
lutadora, mas você também é uma Luna. A rainha.
Eu zombo.
— Você deveria se concentrar em seus deveres reais agora. A
cerimônia de unificação. Esse tipo de coisa.
Não quero desistir de meus deveres de guerreiro, não inteiramente.
Esta tarde foi a primeira vez que me senti eu mesma em muito tempo.
— O que você acha que vai acontecer, Alex, se nossa embaixadora
humana for morta? Você realmente acha que o presidente vai continuar
com a cerimônia de unificação? O tratado?
As sobrancelhas de Alex se franzem e ele passa a mão pelo cabelo.
— Eu quero fazer isso. É meu dever como rainha. — Eu me levanto,
sem esperar sua aprovação.
— Ariel, você pode...
— Preciso ver Dianne, — eu digo sem olhar para trás.
ALEX

É sempre desafiador manter a cabeça limpa em uma crise. Mas eu sou


o rei e é meu trabalho permanecer composto quando meu povo está em
pânico.
Meu pai fez isso muito bem. Ele fez com que parecesse fácil. Ele
costumava permanecer totalmente sem emoção enquanto pesava as
opções de cada decisão.
Era quase humano a maneira como ele calculava suas ações sem
perder a cabeça.
Mas não posso evitar minhas emoções me influenciarem enquanto
Ariel me convence.
Não tenho certeza se deixá-la ser a guarda-costas pessoal de Vivian é
uma decisão estrategicamente sensata.
Embora eu queira manter nossa embaixadora segura, não posso
ignorar a ótica da rainha dos lobisomens servindo à embaixadora
humana.
Será que nosso povo verá isso como um sinal de submissão?
E o povo deles?
Mas decidi não insistir no assunto com Ariel. Algumas decisões eu
tomo pelo reino e outras pela rainha.
Ariel quer o melhor para o reino também, e eu tenho que dar a ela
tempo para viver seu novo papel.
Com o tempo, ela descobrirá que embora tenha sido treinada para ser
uma guerreira, ela nasceu para ser uma rainha.
Eu posso ver isso, mesmo quando ela não vê.
Dom entra no corredor onde Ariel e eu discutimos sua posição.
— Desculpe interromper... mas o presidente está no telefone.
Eu sinto meu estômago embrulhar.
Ele já sabe?
Pego o receptor e faço um gesto para que Dom fique enquanto ligo o
viva-voz.
— Ouvi dizer que você teve uma violação na fronteira hoje, — disse o
presidente.
— Havia um pequeno grupo de humanos...
— Caçadores, certo?
— Certo. Quatro caçadores. A Luna os afastou e eles recuaram para
fora do nosso território.
É estranho falar francamente com o presidente humano sobre nossas
fraquezas. Mas talvez isso esteja certo. Talvez este seja o único caminho a
seguir.
Temos que nos unir contra nossa ameaça comum.
— Hmm... não me sinto confortável com isso, — diz ele.
— Não, eu também não.
— Minha embaixadora poderia ter morrido. Ela me ligou muito
abalada com isso.
Vivian não parecia abalada, mas ela é uma diplomata. Talvez ela tenha
mascarado seus sentimentos. É uma experiência traumática ter sua vida
ameaçada, com certeza.
— Talvez você precise de ajuda mais cedo do que eu pensava, — disse
o presidente. — Eu não tinha ideia de que vocês não tinham capacidade
de se defender.
Eu mordo minha língua.
Quero dizer que nos defendemos. Ariel lutou contra os Caçadores,
não foi?
Quero dizer que os Caçadores são mais um problema dos humanos do
que dos lobisomens — eles são humanos criminosos que o presidente
não conseguiu apreender.
Mas, novamente, mantenho meus pensamentos para mim mesmo.
Essa divisão não levará à paz. E não levará ao nosso objetivo comum:
prender os Caçadores.
— O que você tinha em mente? — Eu digo.
— Vou enviar alguns homens para ajudá-lo.
Dom limpa a garganta e eu encontro seus olhos. Ele balança a cabeça
negativamente. Também não estou confortável com isso.
Mas este tratado poderia acabar com os Caçadores de uma vez por
todas. Eu tenho que protegê-lo.
Eu quero ser um líder forte. E às vezes, a coisa mais forte que um líder
pode fazer é engolir seu orgulho.
— O que você acha? — o presidente pergunta. — Devo dar a ordem?
Eu mantenho meus olhos em Dom, que ainda está balançando a
cabeça. Eu gostaria de saber qual é a decisão certa.
Minha mente está em branco, mas preciso agir agora. Decisivamente.
O que meu pai faria?
ARIEL

Dianne correu direto para o palácio na primeira oportunidade.


Eu não a culpo. Ela é uma civil. Não é como se ela pudesse ter
protegido o resto de nós dos Caçadores.
Ela era apenas mais um alvo.
Meu pai envolve o braço em volta do ombro bom dela, enquanto ela
geme de dor.
— Não se preocupe, querida, — ele diz. — Tenho certeza de que os
médicos vão deixar você nova em folha logo.
Eu estudo a ferida feia em seu ombro.
A flecha tinha a ponta de acônito, e o médico disse que Dianne
precisará de um tratamento extenso para remover todo o veneno de seu
sistema.
Ela não estará nova em folha tão cedo, a menos que eu faça algo por
ela.
— Pai..., — eu digo. — Posso falar com Dianne em particular
primeiro?
Meu dom de cura é uma parte íntima de quem eu sou, e a ideia de
compartilhá-lo com Dianne me deixa ansiosa.
Meu pai me olha como se eu tivesse enlouquecido. — Ela precisa de
tratamento. Você não pode falar mais tarde?
— Confie em mim, eu sei, — digo. — Mas por favor. Deixe-me cuidar
disso.
Amo meu pai, mas é melhor que ele não saiba muito. Ele já se
preocupa o suficiente comigo.
— Estarei lá fora se precisar de alguma coisa, — diz ele, olhando para
Dianne. — Que a mão da Deusa lhe dê algum alívio.
Capaz...
Não posso acreditar no que estou prestes a fazer quando me aproximo
de Dianne, que ainda está gemendo de dor.
Estendo a mão para ela, minha mente girando.
Posso realmente confiar nela?
Posso compartilhar meti dom com ela?
As palavras de Dianne mal são compreensíveis em meio aos soluços:
— Ariel, por favor...
Eu não quero fazer uso indevido do dom da Deusa da Lua, então eu a
alcanço com minha mente. Tento me conectar com o divino.
Coloco minhas mãos em Dianne enquanto peço ajuda à Deusa.
Não sinto o brilho usual para indicar a presença da Deusa. Há uma luz
oscilante em minhas mãos, mas é tudo.
Enfatizo a importância dessa ação para mim mesma, quebrando a
cabeça em busca de uma memória positiva com Dianne para me
conectar.
Mas não consigo reunir a energia.
Eu quero curá-la, mas não sei se posso...
Capítulo 8
A TALENTOSA
ARIEL

A energia em minhas mãos pisca e chia enquanto luto para relembrar


um momento positivo com minha mãe.
Minha mente viaja no passado, folheando as memórias da infância em
busca de uma interação decente com Dianne.
Meu brinquedo favorito quando eu era menina era uma espada de
madeira que Dianne achava perigosa.
Ela estava certa de que eu precisava ter cuidado com isso. Uma vez,
me lançando contra um inimigo imaginário, acabei tropeçando em mim
mesma e ralando os dois joelhos.
Eu estava com medo de que ela me desse o discurso de — eu avisei, —
mas em vez disso ela limpou minhas feridas e as beijou para sararem.
Agora é minha vez de curar Dianne.
Sinto a presença da Deusa da Lua, embora a conexão não seja estável.
As mesmas palavras que ela me disse noites atrás parecem estar
repetidas: Você deve fechar a fenda do passado se quiser traçar um novo
caminho adiante.
O ombro de Dianne repousa e treme sob minhas mãos enquanto ela
chora de confusão e dor.
Não tenho tempo para analisar as palavras da Deusa. Ela parece estar
falando sobre minha família, no entanto. Decido confiar em Dianne.
Quero poupá-la da dor o máximo possível.
Concentro-me no sentimento afetuoso que a memória de Dianne
cuidar de mim gera.
O calor flui pelas minhas mãos, transferindo energia de mim para
Dianne.
Ela suspira.
É
É doloroso, mas eu continuo até sentir o acônito sendo sugado de seu
corpo, e a ferida começando a cicatrizar.
Os olhos de Dianne se arregalam enquanto ela observa seu ombro se
fechar novamente.
Ela olha para trás e para frente entre mim e o local onde deveria estar
seu ferimento.
— O que... Como?
Eu sorrio com sua admiração. Dianne não é fácil de impressionar.
— Ariel... Você me curou...
— Como se sente?
— Como se eu nunca tivesse sido atingida. Você me curou. Incrível.
Eu me sinto constrangida. — Não sou eu: é a Deusa da Lua. Ela é
quem te surpreende.
Ouço um par de saltos vindo pelo corredor e entro em pânico.
— Dianne, olhe... Por favor, não conte a ninguém.
Ela acena com a cabeça rapidamente e ouço a porta se abrir. Eu
levanto minha cabeça e encontro Natalia. Sua expressão é fria, ilegível.
Dianne olha para Natalia e depois de volta para mim. — Você está
errada sobre quem me surpreende, Ariel... Eu nunca havia percebido, mas
deveria ter imaginado antes. Você é a talentosa.
Parece que Natalia está segurando as lágrimas. Em seguida, seu rosto
fica vermelho e ela sai enfurecida.
— Com licença, — eu digo. — Eu tenho que...
Eu passo por meu pai no corredor enquanto sigo Natalia. Faço um
gesto para que ele se junte a Dianne e corro atrás de minha irmã.
Eu a alcanço antes que ela deixe o palácio. — Espere, pare.
— O que?
— O que você ouviu...
— Que você é a nova favorita da mamãe?
Eu sei como é isso. E não quero que Natalia viva com o buraco que eu
costumava sentir. — O que eu posso fazer?
— Você pode me deixar ver Xavier.
Isso me pega desprevenida. — Natalia... Ele é perigoso. Não podemos
confiar nele.
— Xavi precisa do pai dele, Ariel. — Sua voz é sincera, desprovida do
artifício usual. — Por favor, não o prive disso.
Natalia deve realmente acreditar neste argumento. Pessoalmente,
acho que crescer sem um pai é melhor do que ter Xavier em sua vida.
Mas não é da minha conta, na verdade. Ela é a mãe. Deve ser sua
decisão.
Por mais que eu odeie fazer isso, preciso me esforçar mais com minha
irmã. Tenho me conectado mais com Dianne. Talvez seja possível com
Natalia também.
— Por favor, — Natalia diz. — Pelo seu sobrinho...
Eu vejo que ela está falando sério. Não gosto disso, mas tenho que
concordar.
Xavier pode ser meu prisioneiro, mas Xavi é filho de Natalia.
ALEX

Eu ando em direção à ala de hóspedes do palácio em busca de Vivian.


Preciso do conselho da embaixadora humana mais do que nunca.
Dom discorda de mim, mas sei que o presidente é um bom homem.
O tratado que ele quer que assinemos é histórico. Isso nos permitirá
tomar uma posição contra os violentos Caçadores, juntos.
Quando penso em tudo que aqueles bastardos fizeram com Ariel,
estou motivado a fazer o que for preciso para destruí-los para sempre.
O telefonema foi desconfortável, mas eu não deveria deixar um pouco
de tensão atrapalhar meu julgamento.
O presidente só estava preocupado com a segurança de Vivian. É
normal que um líder queira proteger seus cidadãos.
Ele sente que não podemos nos proteger o suficiente.
Houve uma violação de fronteira. E houve um ataque.
Como Ariel disse, Vivian poderia ter morrido.
Se os Caçadores estão cruzando nossa fronteira à vontade, esse é mais
um motivo para proteger o tratado.
Encontro Vivian na biblioteca. — Como você está se sentindo —
depois da emboscada?
Ela parece assustada. — Tudo bem. Estou feliz que Ariel estava lá. Sem
ela...
— Precisamos garantir que isso não aconteça novamente. O
presidente quer estabelecer uma presença militar aqui, no meu território.
Ela balança a cabeça lentamente.
— O que você acha?
— É normal oferecer ajuda aos nossos aliados quando eles precisam
de proteção, especialmente quando a situação é grave...
— Você acha que eu deveria deixá-lo fazer isso?
— O que você disse para ele?
— Nada ainda...
— O tratado é importante. Eu acho que... você deve protegê-lo.
Sei que, ao pedir conselho à embaixadora humana, espero que ela dê
um toque especial à oferta do presidente. Ela é um deles e representa
seus interesses.
Mas ela acredita na mesma causa que meu pai acreditava, então ela
deve ter alguma sabedoria para me oferecer.
Ela deve ter integridade.
— Você conhece o presidente melhor... Sua orientação é permitir que
suas tropas entrem na Matilha Real, então?
Vivian emite um longo suspiro. — Sim. Ele é seu aliado.
— Claro.
— Nós estamos aqui para ajudar. E este — este símbolo visual da
aliança humano-lobisomem — enviará uma forte mensagem aos
Caçadores.
Ela me olha. — Honestamente... estou preocupada que o presidente
desista da cerimônia de unificação se houver outro incidente.
— Obrigado, Vivian. Eu sei que posso confiar em você.
Deixo a embaixadora continuar seus trabalhos.
Uma forte mensagem.
Não é de surpreender que ela tenha concordado com o sentimento do
presidente. Mas tenho medo de uma forte mensagem.
VIVIAN

Quando Alex me deixa sozinha com meus pensamentos, eles


começam a correr soltos.
E se o presidente Cooper decidir usar o ataque de Caçadores como
desculpa para apresentar uma presença militar aqui?
Isso realmente ajudaria?
Eu dei um bom conselho a Alex?
Na minha qualidade de embaixadora, sei que a resposta a essas
perguntas não importa. Não importa qual seja a motivação do presidente
Cooper, estou aqui para apoiá-lo.
É minha responsabilidade representar os humanos neste tratado. Não
está na minha descrição de trabalho dar conselhos ao rei dos lobisomens.
Não posso perder esta oportunidade boicotando os próprios
interesses que estou aqui para apoiar.
Seria melhor não fazer essas perguntas, então.
Mas eu não consigo evitar. Contra minha vontade, começo a sentir
minha loba em minha mente.
Não sou apenas um humano. Sou híbrida. E, goste ou não, também
me preocupo com o bem-estar da Matilha Real. De todos os lobisomens.
No que você nos meteu? Diz ela.
Tento ignorar sua presença, mas não consigo.
Eu olho para a porta da biblioteca, ainda balançando nas dobradiças
com a saída do rei. Metade de mim pensa em ir atrás dele e retirar tudo o
que disse.
Mas apenas metade de mim.
Se eu trair os humanos, não terei mais ninguém. Eu sou apenas
metade lobisomem, e nem humanos nem lobisomens vão me aceitar por
quem eu sou.
Mas fui criada por meu pai e deveria ser grata por ter chegado até aqui
sem ser descoberta.
Não pude escolher ser criada como humana, mas fui. E agora é tarde
demais para mudar isso.
Minha loba se afasta da minha mente conforme me torno mais
decidida.
Eu sinto como se tivesse escapado de um perigo agora que minha loba
está em silêncio novamente. Ela tem estado mais presente ultimamente,
e isso me assusta.
Ela quase me convenceu a trair minha posição.
Estou me tornando um deles?
ARIEL

Estou permitindo que Natalia veja Xavier. Mas vou vigiá-la de perto. E
vigiá-lo também. Além disso, vou garantir que nada de ruim aconteça ao
meu sobrinho.
Vejo Xavi nos braços de Natalia enquanto os conduzo para a
masmorra. Ele parece tão confortável, tão confiante no abraço de sua
mãe. Cachos de cabelo castanho caem sobre seus olhos de girassol. Ele
está crescendo rápido, e posso ver mais semelhança comigo a cada dia.
Eu gostaria de protegê-lo, não importa o quê. Ainda assim, há algo em
sua semelhança aparente que me lembra especialmente de cuidar dele.
Mesmo quando eu tinha a idade de Xavi, meu vínculo com meu pai
era inquebrável. Não vou deixar Xavier machucar ou influenciar
negativamente seu filho.
Não vou deixá-lo tirar vantagem do filho da mesma forma que usou
Natalia.
Há uma sensação de ansiedade crescendo na boca do estômago
enquanto descemos cada vez mais para baixo do palácio. Nada de bom
poderia ser mantido tão profundo no subsolo.
Eu me pergunto o que viver aqui embaixo fez com Xavier.
Quando chegamos às masmorras, os guardas abrem caminho para nós
sem questionar. Acompanhada pela Luna e pela rainha dos lobisomens,
minha irmã não precisa se esgueirar por eles desta vez.
Eu estaria com raiva de ela ainda conseguir me manipular para dar a
ela o que ela quer, se eu não estivesse convencida de que ela realmente
está fazendo isso pelo seu filho.
Sei em primeira mão como é doloroso ver meu ex-par. Nosso ex-par.
Minha frequência cardíaca aumenta à medida que avançamos pelo
corredor, chegando mais perto dele a cada passo que damos.
Como ele vai reagir quando nos ver? Quando ele ME ver?
Mas chegamos à cela úmida de Xavier agora. E é hora de enfrentá-lo
juntos.
A primeira coisa que vejo quando minha visão se ajusta à luz fraca são
seus olhos, brilhando através das sombras.
Uma lanterna na parede lança um raio de luz em sua cela quando ele
dá um passo à frente, iluminando metade de seu rosto enrugado.
Seus olhos continuam a arder com uma intensidade que me deixa
perplexa.
Apesar das algemas de prata amarrando seus pulsos, sua presença é
tão dominante como sempre. Ele é de alguma forma ainda maior do que
eu me lembro dele.
Meu coração salta na minha garganta. Quero mais do que tudo me
mostrar confiante, mas sinto que posso definhar sob aquele olhar.
Capítulo 9
O PAPEL DE UMA LUNA ARIEL
Minhas garras se extraem instintivamente. Tenho que me lembrar que
estamos aqui para deixar Xavier ver seu filho.
Ele não está prestes a nos atacar sem motivo.
Ainda assim, é reconfortante saber que ele está atrás de uma porta
trancada, preso por algemas de prata que o impedem de se mover.
Embora eu saiba que posso derrotar Xavier, não quero arriscar nada com
este prisioneiro.
Seu olhar está me dando arrepios, e eu direciono meus olhos ao redor
de sua cela para evitar o contato visual. É pequena e escura — não há
muito mais do que uma cama imunda.
Um cheiro podre permeia o ar e musgo úmido sobe pelas paredes.
Xavier está acorrentado ao outro lado, o que o impede de se
aproximar muito da porta.
— Olá... Xavier, — Natalia diz. — Eu trouxe Xavi. Sei que você devia
estar querendo ver seu filho.
Ela estende a criança para ele e fico surpresa ao ver Xavi estender os
braços também. Ele não parece nem um pouco perturbado com a
aparência selvagem de seu pai.
Meu coração brilha e, naquele momento, sinto que fiz a escolha certa.
Toda criança precisa de seu pai.
Mas o sentimento se dissipou rapidamente quando Xavier começou a
falar: — Você está errada, mulher. Eu não queria isso.
Xavi choraminga, sem entender o que está acontecendo, e Natalia
puxa o filho decepcionado de volta para o peito.
— Eu não queria ver você nem aquela criança.
— "Aquela criança" é seu filho, — diz ela.
— Ele é meu filho tanto quanto você é meu par.
— Como assim?
— Você me ouviu. — Os olhos de Xavier brilham com o veneno de
suas palavras. — Eu me recuso a reconhecer um herdeiro de qualquer
mulher, exceto meu par destinado.
Eu não posso acreditar que este é o mesmo lobo que me baniu.
Ele dá um passo em nossa direção e estende uma mão carinhosa
através das barras — para mim.
Eu o afasto com um movimento do meu pulso.
— Ariel... — diz ele.
— Não estou aqui para falar com você, — digo. — Estou aqui apenas
para garantir que você não tente nada estúpido.
Ele abre a boca para falar, mas minha raiva crescente me faz
continuar.
— Você já passou dos limites. Você não merece ver seu filho, e ainda
assim você... você... tem coragem de desconsiderá-lo? Você vai apodrecer
aqui até morrer. Eu vou fazer com que...
— Não, — Natalia diz, me olhando bem nos olhos. — Você não vai.
Eu fico olhando para ela sem acreditar.
— Eu não quero isso para o pai do meu filho.
Um som sarcástico emerge das profundezas da garganta de Xavier.
— Quer ele aceite esse papel ou não, — diz ela.
Eu não posso acreditar que ela perdoaria Xavier depois de tudo que ele
fez.
A essa altura, é difícil dizer qual de nós ele mais machucou, mas acho
que nada se compara a recusar-se a reconhecer o próprio filho.
E, ainda assim, Natalia quer que seu ex-par seja livre.
Isso é patético ou maduro?
— Vamos tirar Xavi daqui, — eu digo.
— Você pode ter quebrado nosso vínculo de acasalamento, mas nunca
vai se livrar de mim, — zomba Xavier.
Não se vire. Não se deixe levar
— Estarei sempre com vocês. Em seus pensamentos. Em seus
pesadelos. Em seus corações. Com as duas.
Alex está esperando por nós de braços cruzados quando chegamos ao
topo da escada.
Quem disse a ele onde estávamos?
— Sério, Ariel? — Ele olha incisivamente para Xavi como se não
quisesse dizer mais nada na frente da criança.
Natalia sai correndo da sala, fechando firmemente a porta atrás dela.
— O que? — Eu digo. — Ela me convenceu. Ela disse que…
— Eu não me importo com o que ela disse. Xavier é um criminoso
perigoso — você sabe disso.
— Eu fui cuidadosa. Existem guardas lá embaixo. E você realmente
acha que ele iria...
— Cuidado. Você é minha Luna agora. Você não pode sair por aí
fazendo qualquer ideia que surgir na sua cabeça. Não se trata do que
Xavier faria, mas de você.
— Como assim?
Ele desdobra os braços. — Sinto muito, mas a impulsividade não é
mais o seu papel. Você é uma Luna. Uma rainha.
— E qual é exatamente o meu papel, então? Fazer o que você diz?
Onde você tem escondido esse lado controlador?
Alex não está recuando. — Você ao menos se importa em ser a rainha?
Porque se você se importar, eu não percebi. Suas ações têm
consequências agora, mas você apenas sai por aí fazendo o que quiser.
ALEX

Sei que me expressei mal assim que ouvi as palavras, mas não posso
voltar atrás agora.
Estou tentando dizer algo a Ariel e, pelo menos dessa forma, minhas
frustrações estão à tona.
Ela sai furiosa do corredor e sobe as escadas.
Eu não sigo.
Quero que estejamos na mesma página, mas não estou calmo o
suficiente para amenizar essa situação. Se eu tentar explicar minha
perspectiva agora, só vou piorar as coisas.
Estou apenas tentando protegê-la de Xavier, mas sei que ela não vai
querer ouvir isso. Ela é uma guerreira: ela sabe se proteger.
Mas ele é perigoso. Ele é manipulador. E ele é... seu ex-par.
Embora eu espere que minhas intenções não tenham sido
obscurecidas por isso, é algo que nunca irá embora. Um fato que não
pode ser esquecido.
Não acho que isso esteja me influenciando agora, mas seria ingênuo
dizer que está fora de cogitação.
Eu só queria que Ariel pudesse ver que eu tenho suas melhores
intenções no coração. Se ela soubesse disso, ela confiaria em mim sem
questionar.
Se peço a ela que não faça algo, não é porque quero controlá-la. mas
porque, como seu par, me preocupo com seu bem-estar.
E, como o Alfa da Matilha Real, eu me preocupo com o reino. Eu
gostaria que ela levasse suas responsabilidades como Luna a sério.
— O que está pensando? — Eu olho para cima para ver minha mãe
examinando meu rosto.
— É Ariel, — eu digo antes de pensar. — Ela precisa...
A expressão de minha mãe é uma mistura de preocupação e o que
parece diversão.
— O que? — Eu digo.
— Não é nada. Vocês dois são exatamente como seu pai e eu éramos.
Eu gostaria que isso fosse verdade, mas meus pais eram governantes
natos. Não me sinto preparado para ser rei, e Ariel é nova em seu papel...
— Você não parece convencido, — diz minha mãe.
— Eu não estou.
— Vamos dar uma volta, — diz ela, estendendo o braço.
Eu pego e saímos.
— Sabe, — ela diz, — quando seu pai me pediu para ser seu par, eu
tive minhas dúvidas. Eu o amava, é claro, mas meus amigos me avisaram
que minha vida mudaria da noite para o dia... e eles estavam certos.
Descemos os degraus do palácio e passeamos pelos jardins.
— Você tinha dúvidas sobre ser rainha?
— Ah, sim. Eu amava minha vida e, embora ainda não tivesse uma
direção sólida, ficava feliz em descobrir para onde estava indo à medida
que prosseguia.
Nunca ouvi minha mãe falar assim sobre se tornar realeza. Ela sempre
pareceu ter nascido para o papel.
— Mas quando eu escolhi ser a Luna de seu pai, eu sabia que, em certo
ponto, o caminho da minha vida havia se tornado predeterminado.
— Isso é tão ruim assim? Você governou um reino.
Minha mãe dá de ombros. — Foi uma sensação desagradável para
mim. E eu nem mesmo tinha um plano para ser uma guerreira como
Ariel tinha. Eu não sabia o que estava deixando para trás — e ainda assim
parecia que estava deixando muito.
Percebo a fragrância dos jardins por um momento, tentando
entender. A vida de Ariel foi roubada dela — duas vezes. Uma vez pelos
Caçadores e novamente por mim.
Eu quero dar a ela o mundo, mas até mesmo isso vem com restrições.
Talvez eu não deva ser tão duro com ela...
ARIEL

Quando eu era criança, nunca corria para Dianne para me consolar


quando estava chateada. Essa era a área do meu pai.
Mas estou procurando por ela agora. Meu relacionamento com ela
tem melhorado recentemente. Já que a fonte de minha angústia é meu
casamento — meu homem — quero a opinião de uma mulher.
Eu bato na porta do quarto dela.
— Quem é? — ela diz.
— É Ariel.
Sua voz se ilumina. — Entre, querida.
Ela dá um tapinha na lateral da cama e eu me sento ao lado dela. Eu
respiro fundo antes de começar.
— Levei Natalia e Xavi para ver Xavier. Não deu muito certo.
— Eu soube. É sobre isso que quer conversar?
— Na verdade. Alex está bravo comigo. Ele disse que preciso abraçar
mais meu 'papel'...
— Lamento dizer isso, mas tenho que concordar com ele.
Meu estômago embrulha. — Sério?
— Você é uma garota brilhante. Você pode ter sucesso em tudo o que
quiser...
Meu coração salta na minha garganta. Eu sinto um 'mas' vindo.
— Mas você precisa escolher onde vai colocar sua mente. Quando você
se acasalou com Alex, você escolheu o papel de Luna.
Aí está aquela frase de novo: o papel.
Por mais que eu queira continuar resistindo, posso ouvir a verdade em
suas palavras. Eu escolhi Alex. E a consequência disso é que agora sou a
Luna.
— Eu não acho que seja apropriado para você ir perambulando até a
masmorra, — diz ela. — Você precisa se submeter ao seu par.
— O quê?
— Não fique tão chocada. Você é uma rainha. Seu povo se submete a
você. Você se submete ao rei. É a ordem natural das coisas.
Lembro-me de como me senti quando Dianne disse a Natalia que ela
precisava me obedecer. Ela disse que era seu papel agora. Este é o outro
lado disso.
A ideia de me submeter a Alex me deixa enjoada. Não se encaixa em
nosso relacionamento.
É isso que todos esperam de mim?
— Obrigada, Dianne, — eu digo, levantando-me para sair. — Você me
deu muito o que refletir.
Até demais.
Minha ansiedade está realmente começando a tomar conta quando
saio dos aposentos de Dianne. Ela e Alex parecem em sintonia... então,
sou eu a errada?
Não sei para onde ir agora. Se submeter-se a Alex é necessário para ser
um bom par, talvez eu não seja feita para o papel.
Meu telefone vibra e eu relaxo um pouco quando vejo o nome de Amy
na tela.
Amy: Ei, vadia!

Amy: Estou tão animada para vê-la na matilha real amanhã à tarde
Amy: E eu mal posso ESPERAR para ver o que você planejou para
minha despedida de solteira!!!
Merda.
A despedida de solteira de Amy.
Esqueci totalmente e nem comecei a planejá-la.
Ariel: Mal posso esperar, vai ser incrível!
Vai ser um completo desastre.
Capítulo 10
O PLANEJAMENTO DA FESTA
ARIEL

Estou pesquisando strippers.


Eu deveria estar planejando a cerimônia de unificação com Vivian,
mas a despedida de solteira de Amy precisa ser perfeita.
E estou mais preocupada em decepcionar minha melhor amiga do que
em decepcionar todos os lobisomens e a humanidade.
Estou começando a perceber por que Alex não acha que estou levando
meu papel de Luna e rainha a sério...
Nada poderia estar mais longe da verdade, é claro.
Eu quero ser uma grande rainha. Só estou tendo problemas para me
adaptar.
Não fui treinada para isso. Fui treinada para ser uma guerreira e é um
desafio negar esses instintos, que parecem me encorajar a fazer
exatamente o oposto de como uma rainha deve se comportar.
Uma coisa de cada vez...
Eu clico em aba após aba, percorrendo as fotos de homens sarados em
vários níveis de nudez.
Esses são o tipo de Amy?
Eu deveria ter começado a planejar mais cedo. Não poderei fazer nada
quando ela chegar.
E esta é a despedida de solteira de Amy. Ela é uma garota que gosta de
comemorar e meu medo é que, se eu a decepcionar, ela ficará chateada
por não a ter priorizado.
Não posso me dar ao luxo de decepcionar mais ninguém em minha vida.
Se eu não posso planejar uma simples despedida de solteira para
minha melhor amiga, como posso esperar organizar o evento que deve
unir lobisomens e humanos de uma vez por todas?
— Não tenho certeza se isso é um entretenimento apropriado para a
cerimônia de unificação... — Vivian está se inclinando sobre meu ombro
para dar uma olhada na minha tela.
Eu coro. — Ah, não — isso é para a despedida de solteira da minha
melhor amiga.
Ela ri. — Graças a Deus. Eu ia dizer...
Eu também rio. — Imagine todos aqueles políticos humanos rígidos
reagindo a um bando de strippers lobisomens dançando no palco na
assinatura do tratado?
Assim que as palavras saem da minha boca, fico nervosa pensando se
posso ter ofendido a embaixadora humana.
Ela sorri, no entanto. — Seria impagável.
— Eu estou perdida, — eu digo.
— Posso ajudar? — Ela puxa uma cadeira. — Você está estressada, e eu
ainda não compensei você... Por me salvar, quero dizer.
— Hum, você quer ver strippers comigo?
— Para te retribuir por salvar minha vida? Sim. Sim, eu veria.
— Fique à vontade, — eu digo, apontando para a dúzia ou mais de
guias abertas na minha área de trabalho.
— Ok, primeiro o mais importante — você tem que tornar a festa
pessoal para a noiva.
— Eu tenho?
— Sua amiga confiou em você para organizar a despedida de solteira
dela porque você a conhece melhor do que ninguém.
Sinto minha confiança voltando. Isso é verdade. Amy e eu somos
amigas desde a infância. Nós nos conhecemos melhor do que ninguém
— talvez incluindo os homens em nossas vidas.
Vivian puxa um bloco de notas. — Quanto você pode gastar? Quantos
convidados o local comporta? Alguma ideia já implementada?
— O quê? — Eu respondo. Vivian me pegou completamente
desprevenida.
— Há quatro coisas que você deve manter em mente ao organizar
qualquer festa. — Vivian repassa tarefas em seus dedos: — Orçamento.
Localização. Tema. Entretenimento.
— Você já fez isso antes?
— Planejei muitos eventos quando era estagiária.
Existe alguma coisa que essa mulher não consiga fazer?
Em uma hora, Vivian e eu estamos no caminho certo para criar a
melhor despedida de solteira de todos os tempos... até Dianne descobrir
nossos planos.
— Ah não, não, não! — ela estala ao ver a tela cheia de homens sem
camisa. — Que negócio é esse?
— A despedida... de solteira de Amy, — eu respondo calmamente. Eu
aponto para o bloco de notas de Vivian, cheio de preços e locais. —
Estamos organizando.
— Isso está abaixo de você, Ariel, querida, — diz Dianne. — Você é a
rainha e Luna. Você deveria estar se preparando com os planos da
cerimônia de unificação.
— Já dei algumas festas no meu tempo. Deixe o planejamento comigo.
Mas NÃO TEREMOS STRIPPERS!
Dianne rouba o bloco de notas de Vivian e arranca a página antes de
sair para fazer planos.
— Eu acho que ela está certa, — eu digo para Vivian. — A cerimônia
de unificação deve vir em primeiro lugar.
— Se é isso que você quer, — diz Vivian, voltando a se sentar.
— Como estão os termos do tratado? — Eu pergunto. — Eu sei que
mediar as negociações faz parte do seu trabalho.
O rosto de Vivian cai e seus olhos vão para o telefone na mesa à nossa
frente. — Para ser honesta, Ariel, também estou perdida.
Eu conheço esse sentimento, mas eu não tinha ideia de que Vivian,
com sua experiência política e comportamento para fazer as coisas,
pudesse se sentir assim.
— Eu sinto que esse peso está em meus ombros. As apostas são tão
altas para que este tratado dê certo.
— Esta é a sua especialidade. Tenho certeza de que vai dar certo.
Vivian não parece convencida. — Esta é literalmente minha primeira
vez por dentro das águas desconhecidas da elaboração do tratado.
— Minhas responsabilidades geralmente são mais... simbólicas. Mas,
neste caso, se acontecer algo errado... Se o tratado não for assinado — ou
se for assinado, mas os termos não estiverem certos...
— É vida ou morte, — eu digo.
— Sim. Poderia ser. O presidente me confiou essa enorme
responsabilidade... Eu só não quero decepcioná-lo.
— Eu sei como é. Eu sinto que estou decepcionando todo mundo
agora. Eu quero ser uma boa Luna, mas não sei se atuar de forma
majestosa está na minha natureza.
O que Alex pensa de mim?
Até eu posso dizer que não serei uma boa Luna, ele deve saber.
ALEX

Ariel estava dormindo quando eu fui para a cama e não tive a chance
de me desculpar com ela.
Estou procurando por ela agora, refletindo sobre o que minha mãe me
disse ontem à noite enquanto caminho pelo palácio em busca de meu
par.
É quase impossível pensar que houve uma época em que minha mãe
não queria ser rainha. Ela assumiu o papel tão bem — ela personificou
isso para mim, na verdade.
Talvez isso seja parte do problema. Minha mãe fez um trabalho tão
bom como rainha que não consigo imaginar isso sendo feito de outra
forma.
Mas agora percebo que preciso mudar minha atitude. Se a Rainha
Maria precisou amadurecer em seu papel, eu não deveria esperar que
Ariel já fosse uma Luna confiante.
A Deusa sabe que demorei para me acostumar a ser rei — e fui criado
para isso. Sem Dom ao meu lado naqueles primeiros anos, eu estaria
perdido.
Preciso encorajar Ariel da mesma forma que Dom me apoiou.
Espero que ela aceite minhas desculpas.
Sigo o som da voz de Ariel e acabo em seu escritório.
Ela está com a Vivian. Elas estão debruçadas sobre o computador de
Ariel, tendo uma conversa aparentemente séria.
Elas finalmente estão trabalhando juntas?
Eles não me notam na porta até que eu bato nela com os nós dos
dedos. — Posso entrar?
— Entre, — Ariel diz. — Estamos apenas discutindo que tipo de
strippers teremos na cerimônia de unificação.
Estou confuso. Strippers?
Vivian ri.
Elas têm piadas internas agora também?
— Eu estava me perguntando, Embaixadora, se eu poderia pegar meu
par emprestado?
— Claro.
Ariel se junta a mim no corredor e eu fecho a porta atrás dela.
— Desculpe interromper... — eu digo.
— Sinto muito, — ela diz. — Por decepcionar você. Eu realmente...
— Não sinta. Eu sou aquele que deveria estar — está — se
desculpando.
A ansiedade em seu rosto se dissipou imediatamente. Suas
sobrancelhas se franzem e seus olhos brilham enquanto eu continuo:
— Sinto muito, Ariel. Lamento se eu fiz você se sentir como se
estivesse tudo menos feliz com você e como você está lidando com suas
novas funções. É muito para lidar e você está indo muito bem.
Eu estico meus braços e ela imediatamente dá um passo em meu
abraço. Ela encosta a cabeça no meu peito e solta um longo suspiro.
— Não deve ser fácil, — eu digo.
— Não é.
— Você está fazendo um trabalho incrível. Realmente não há nada que
você não possa fazer.
Ela olha para mim e sorri. Nossos lábios se encontram para um beijo e

— Com licença.
Eu olho para cima do rosto de Ariel e encontro Natalia olhando para
nós.
Ela parece terrível. Seus olhos estão vermelhos e inchados, e seu
cabelo está despenteado e sujo.
— Você está bem? — Eu pergunto, mas Ariel me interrompe.
— Você quer alguma coisa?
— Sim. Por favor..., — ela pergunta, com a voz trêmula, — Vossa
Majestade, — ela acrescenta rapidamente no final. Ela está se esforçando
tanto para ser respeitosa.
Deve ser importante se ela sentiu necessidade de nos interromper
para perguntar. Ela desvia o olhar, como se tivesse vergonha de se
aproximar de mim.
— Liberte Xavier. Por favor.
O rosto de Natalia está cheio de dor. É como se ela estivesse
implorando à irmã.
Ariel se afasta de mim para se dirigir a Natalia: — Claro que não.
Sério, Natalia? O que você está pensando?
— Tenho certeza de que ele vai embora. Não acho que ele queira ficar
por aqui e causar problemas...
— Depois de tudo que ele fez para você — para nós — como você
ainda pode amá-lo? Ou confiar nele?
— Eu não o amo! — O rosto de Natalia fica vermelho. — Ele quebrou
nosso vínculo... mas ele ainda está aqui. — Natalia bate lentamente em
sua têmpora. — E aqui, me torturando. — Ela bate no peito, acima do
coração.
Ela parece estar em real estresse emocional. Eu olho para Ariel, mas
ela é difícil de ler.
Natalia continua, tentando convencê-la: — Ainda posso senti-lo.
mesmo depois de todo esse tempo, mesmo depois do que ele fez comigo
e com Xavi.
— Você pode simplesmente mandá-lo para longe? Então posso
começar a me curar e dedicar meu tempo a Xavi...
Posso sentir a dor de Natalia. Isso não é um chilique, isso é real.
— Só não o quero debaixo dos meus pés, apodrecendo na masmorra.
Não é bom para Xavi.
Isso faz Ariel parar, e os duas olham para mim.
— Então? — Natalia diz.
— Eu não sei, — eu digo. — Certamente não posso deixá-lo livre...
Ariel está certa. Não podemos confiar nele. Mas, talvez ele pudesse ser
mantido em outro lugar, em outra matilha...
— Isso iria... ajudar, — diz Natalia.
— Vou cuidar disso depois da cerimônia de acasalamento, — digo,
virando-me para Ariel para confirmação.
Xavier ainda está vivo por causa de Ariel. Quero que ela esteja
satisfeita com onde ele for parar. Seu destino está em suas mãos desde
que ela implorou por sua vida.
Ariel acena com a cabeça.
Natalia parece aliviada.
— Nada está decidido ainda, — eu digo. — Mas vou dar uma olhada
nisso e ver se conseguimos resolver.
Natalia acena com a cabeça.
— Agora, com licença, por favor, — digo, — eu estava dizendo ao meu
par algo importante.
VIVIAN

Gostei de trabalhar com Ariel esta manhã. Estou esperando que ela
volte depois da conversa com Alex para que possamos continuar
planejando a cerimônia de unificação.
Já progredimos muito, e foi construtivo ter a opinião de um
lobisomem sobre os arranjos.
Ariel está no corredor com seu par e sua irmã agora.
Não quero ficar escutando, mas com Natalia ali, é difícil não ouvir.
Ela tem uma voz que atravessa facilmente a porta, e não é difícil
entender a essência da conversa apenas com suas palavras.
Ela quer que seu ex-par — que também é de Ariel — seja libertado.
Embora Alex e Ariel não sejam ingênuos o suficiente para concordar com
isso, eles chegaram a um acordo.
Droga, isso não é bom para mim.
Quanto mais perto eu fico de Alex e Ariel, mais complicado meu
trabalho parece ser.
Pego meu telefone em pânico.
Vivian: Eles vão transferi-lo

Vivian: O prisioneiro

Vivian: Eles vão transferir Xavier após a cerimônia de


acasalamento

Vivian: O que devo fazer???

Pai: Você está perdendo o controle, Vivian.

Pai: Lembre-se do porquê você está aí.

Pai: Você já deveria ter ganhado a confiança deles. O ataque dos


Caçadores que organizei deve ter ajudado com isso, certo?
Fico paralisada diante das palavras que aparecem na minha tela.
Ele organizou o ataque dos Caçadores?!
Eu quase MORRI. Ele não dá a mínima...
Meu pai continua mandando mensagens de texto.
Sem desculpas. Sem condolências.
Sou um objeto descartável — apenas um meio para um fim.
Pai: Seu trabalho deve ser fácil de agora em diante. Portanto, siga
o plano.

Pai: Não os deixe transferir o prisioneiro. Ele sabe demais e temos


outros planos para ele.

Pai: Está na hora, Vivian.

Vivian: Hora de quê?


É
Pai: Garota idiota... É hora de amarrar as pontas soltas.

Pai: Você precisa matá-lo.


Capítulo 11
A DESPEDIDA DE SOLTEIRA ARIEL
Amy pode chegar a qualquer momento...
E ainda não estou pronta para ela!
À medida que a chegada da minha melhor amiga se aproxima, toda a
confiança que ganhei ao falar com Vivian desaparece.
Só tenho ideias vagas para uma festa de despedida de solteira. E com
Dianne sendo tão desdenhosa ao plano original dos strippers, me sinto
ainda mais perdida.
Eu olho ao redor para o salão de baile ainda sem decoração. — O que
eu faço?
— Sobre o quê? — minha mãe diz.
Não percebi que estava falando em voz alta. — Hum...
— É a festa?
— Dianne, estou totalmente perdida...
— Com a decoração? Eu posso ajudar, — Maria diz, aparecendo na
porta como minha fada madrinha.
— Eu também, — diz minha mãe. — É uma tarefa de mãe.
— Vamos começar pelo mais importante, — diz Maria. — Vou pedir
ao chef que traga as bandeiras.
— Bandeiras? — minha mãe diz. — Esta não é uma festa de
aniversário de criança.
— O que você estava pensando então?
— Um belo banner grande para cobrir algumas dessas pinturas
horríveis da Deusa.
— Essas 'pinturas horríveis da Deusa' são heranças de família.
Eu não aguento essa discussão. Encontro-me olhando em volta à
procura de ajuda novamente.
Vivian atravessa o corredor do outro lado do salão.
— Espere! — Eu digo.
Ela se vira para caminhar em minha direção. — O que foi?
— Eu preciso de você. Por favor... Você é uma rainha do planejamento
de festas e tudo está desmoronando...
Vivian sorri. — Você acabou de me chamar de a rainha?
Solto um riso. — Uma rainha, não a rainha. Vamos! Por favor?
Vivian concorda, e meu estresse se dissipa.
— Desculpe te pedir isso, — eu digo. — Eu só... não sei como lidar
com a disputa delas agora.
Vivian morde o lábio enquanto observa Maria e minha mãe. A
discussão avançou da decoração de festas para a decoração geral e para a
educação dos filhos.
Deusa, me ajude.
— Não se preocupe, — diz Vivian. — Posso lidar com elas também.
Eu invejo seu comportamento equilibrado enquanto ela caminha em
direção às mulheres.
— Ei, Vivian! — Eu chamo atrás dela.
— Sim? — Ela se vira e olha para mim.
— Eu estava pensando... Você não conhece muitas pessoas aqui —
quer vir para a despedida de solteira esta noite?
— Eu adoraria! — Ela sorri, então retoma seu caminho.
Eu assisto de uma distância segura enquanto Vivian usa suas duas
armas secretas de diplomacia e bajulação para de alguma forma
convencer Maria e minha mãe a dar uma trégua.
Estou mais do que feliz em esperar e permitir que essas três façam os
arranjos para a festa de despedida de solteira de Amy.
Cada uma delas está mais familiarizada com o modo de planejamento
de festas do que eu jamais poderia estar e, juntas, imagino que serão uma
força a ser reconhecida.
Crio desculpas a mim mesma por não ter um envolvimento mais ativo
na agitação que acontece ao meu redor. Eu sou uma rainha. A delegação
faz parte do acordo.
Estou me sentindo menos estressada agora que tenho ajuda para me
preparar para a chegada de Amy, mas ainda sinto que estou deixando
algo escapar.
Quando olho pela janela para o tempo ensolarado, fica claro o que é.
Meus deveres reais me impediram de treinar como guerreira por
muito tempo.
Faz um tempo que não me sinto eu mesma, mas terei de fingir que
está tudo ótimo e bancar a anfitriã quando Amy chegar. Ela saberá
imediatamente que algo está errado comigo.
Estou olhando pela janela agora, perdida em pensamentos.
Treinar esta tarde me faria bem...
Isso aliviaria o estresse e me prepararia para esta noite...
Meus dedos se contraem com a ideia de empunhar uma espada
novamente.
Maria, Vivian e minha mãe formam uma equipe tão equilibrada que
duvido que eu pudesse acrescentar algo a mais aos seus preparativos.
Como se fosse uma deixa, ouço os gritos distantes de Steve, dando
ordens ao meu esquadrão.
Ou estou imaginando isso?
Eu ouço de novo: a voz de Steve entrando pela janela aberta. Ele tem a
voz de um homem a quem você nunca deveria contar um segredo.
Tudo bem, eu vou.
Decido fugir um pouco, prometendo a mim mesma que estarei de
volta quando Amy chegar.
Eu me viro e dou de cara com Dianne carregando uma braçada de
banners de lona.
— Ariel. — diz ela, olhando-me de cima a baixo. — Graças à Deusa.
Que tal você me ajudar a pendurar isso?
Eu olho ao redor como uma presa encurralada.
Estou sem saída.
Ela me agarra pelo braço. Com força. — Ajude-me a escolher algumas
combinações de mesa.
Os grunhidos dos guerreiros desaparecem enquanto Dianne me puxa
de volta para o centro do salão.
Tenho a sensação de que agora Dianne vai me observar como um
falcão. Qualquer chance de escapar desse planejamento monótono de
festa simplesmente desapareceu junto com o meu devaneio.
— O trabalho de uma Luna nunca termina, — diz Dianne com um
sorriso.

— Vadiiiiia! Onde você está?


Eu ouço a voz de Amy antes de vê-la. Eu arrasto Alex de seu escritório
para se juntar a mim e saudar nossos convidados.
Com a força de um furacão, Amy invade a entrada da frente do
palácio, e Marius está sendo carregado logo atrás dela.
Ela sobe a escada em nossa direção e me atinge em um abraço
incrivelmente apertado.
Alex tem que nos equilibrar antes de cairmos escada abaixo.
— Que saudade!
Eu rio das expressões quase assustadas dos cortesãos que passam pelo
corredor abaixo enquanto Amy continua a se dirigir a mim tão
casualmente.
— Vadia, estou pronta para festejar! Mal posso esperar para ver o que
você planejou.
— Apenas. Deixe. Eu. Respirar, — eu digo enquanto consigo me
desvencilhar.
O abraço dela foi tão entusiasmado que eu tive que tirar seus grampos
do meu cabelo.
O sinal de uma amizade verdadeira.
— Podemos cumprimentar o pobre Marius também? — Alex
pergunta.
— Tudo bem, — diz Amy. — Mas hoje não é realmente sobre Angel.
Marius faz uma careta como se estivesse ofendido.
— O que? É minha despedida de solteira. E, além disso, você tem a
noite com os meninos ou algo assim.
— Minha despedida de solteiro?
— Deve ser. Tenho certeza de que não será nada comparado ao que
Ariel planejou para mim! Não é mesmo?
Meu estômago embrulha. — Claro..., — eu digo.
Alex e eu cumprimentamos Marius, e Amy relutantemente aceita um
beijo na bochecha antes de dizer: — Vamos. Estou completamente
pronta. Esta noite vai ser louca!
— Sim, está tudo pronto no salão de baile, — eu digo com confiança.
Rezo para que Dianne tenha tudo sob controle.
Amy levanta as sobrancelhas, mas apenas diz: — Mostre o caminho,
vadia.
Nós descemos as escadas e Amy entra no salão de baile, dando uma
olhada ao redor. Eu estou atrás dela, mas minha loba está me dizendo
que algo está errado. Não estamos em perigo, mas... isso não está certo.
Ela pega o banner — Feliz Despedida de Solteira, Amy — pendurado
acima da mesa em estilo buffet com chá da tarde e petiscos.
Minha melhor amiga me olha como se tudo isso fosse uma grande
piada.
Tento dizer a ela com meus olhos que não foi ideia minha.
Mas será que é pior? Não assumir a responsabilidade por algo que ela
confiou em minhas mãos?
— Espero que você goste. D-Dianne ajudou.
Parecia uma boa ideia na hora deixar tudo nas mãos de Vivian. Maria
e Dianne.
Eu tinha visto Dianne admirar os jogos de chá na cozinha real, mas
não pensei em perguntar a ela sobre seus planos.
A única coisa que ela disse foi que quando uma garota como Amy
sossega, é um sinal de maturidade.
E essa festa deve refletir esse amadurecimento.
Ela então relacionou o meu próprio crescimento pessoal. Disse que
estava orgulhosa por eu estar deixando para trás meu estilo de vida de
guerreira pelos meus deveres reais.
Eu sabia que Dianne saberia como planejar uma festa melhor do que
eu, mas...
Eu sou a única que poderia ter planejado uma festa no estilo Amy.
Eu deveria ter priorizado melhor os interesses de Amy.
Eu olho para ela agora, derrotada.
— Para quem você planejou esta festa? — Amy diz.
— Bem. — eu digo. — Eu não...
— Você não fez o quê? Planejou?
Amy está certa, isso não é nada parecido com ela. Tenho tentado tanto
encontrar o novo e majestoso eu que me esqueci da única pessoa em
quem sempre posso confiar e que nunca mudará: minha melhor amiga.
— Merda, — eu digo em uma tentativa de pular para o fim da
discussão. — Você tem razão.
— É claro que eu tenho razão, vadia. — E desta vez, o termo não
parece cativante.
Eu preciso assumir a culpa. É minha culpa.
Era meu trabalho, como madrinha, planejar a despedida de solteira
perfeita.
— Sinto muito, Amy, — eu digo. — Isso é tudo minha culpa. Pedi
ajuda a outras pessoas com o planejamento, mas era meu trabalho
garantir que esta noite fosse a melhor noite da sua vida...
— A segunda melhor, — Amy diz. Ela sorri sem conseguir se conter.
— Certo, a segunda melhor, — eu digo. — E embora eu não possa
controlar o amanhã, esta noite estava — e ainda está — sob meu
controle.
Amy está na minha frente com os braços cruzados.
— Por favor, — eu digo. — Você pode ficar com raiva de mim de novo
depois da cerimônia, se quiser... Mas não vamos deixar minha estupidez
arruinar esta noite para você. Vou compensar você e dar a você a noite
que você merece.
Amy descruza os braços e relaxa o maxilar.
Eu sei que ela ainda está chateada, mas ela está claramente tentando
deixar esse contratempo para trás.
— Como? — ela diz, emburrada.
— Como o que? — Eu digo.
— Como você vai me compensar?
Eu expiro, pensando muito. — Eu prometo que vou dar a você a festa
de despedida de solteira que seu coração deseja.
Ela arqueia uma sobrancelha como se me desafiasse a fazer uma
sugestão idiota.
Lembro-me de um clube que Dom costumava frequentar antes de
conhecer Helena. Ele tentou me convidar várias vezes.
Isso seria exatamente o estilo de Amy.
— Não se preocupe, — eu digo. — Estou levando você para o Lua
Cheia, onde você pode conseguir todos os strippers que quiser...
O rosto de Amy se eleva em um sorriso malicioso.
— Por minha conta, é claro, — eu digo. — Você é a noiva.
— Agora sim!
Eu abro meus braços, hesitantemente, e Amy pula neles.
— Sinto muito, — eu digo. — Eu estraguei tudo.
— Não se preocupe com isso, — ela diz.
Nós saímos de nosso abraço e Amy acena para alguém atrás de mim.
— Vocês estão prontas?
Viro a cabeça para ver que Maria, Vivian e minha mãe ouviram nossa
conversa.
— Esse não é o comportamento recatado que uma futura esposa
deveria ter, — diz Dianne.
— Ah, pare com isso, — Maria diz com uma risada. Ela sorri para mim,
obviamente entendendo que o que a noiva quer, a noiva consegue.
Dianne parece que levou um tapa na cara.
— Eu não sei se deveria..., — Vivian diz quando um flash de
preocupação cruza seu rosto.
— Vamos... desculpe, qual é o seu nome? — Amy diz, antes de acenar
com a mão na frente do rosto de Vivian. — Não importa, se Ariel chamou
você aqui, então você é minha amiga também!
— Mas... meu gosto por homens... não gosto de homens, na verdade,
— Vivian responde, desviando o olhar.
— Não é um problema, — diz Amy. — Tenho certeza de que este clube
tem strippers para todos os formatos, tamanhos e pessoas!
Vivian parece ter se animado com o incentivo de Amy.
— Ok, então, — ela diz. — Vamos!
— Difícil, meninas... — Dianne hesita, mas cede quando Amy faz bico.
Tento não imaginar o rosto da minha mãe no clube de strip enquanto
o melhor rabo de lobisomem da Matilha Real gira diante de seus olhos
desaprovadores.
— Esta vai ser uma noite inesquecível! — Amy diz.
— Ou completamente esquecível, — eu digo, antecipando a tolerância
de Amy para o álcool.
Isso não vai ser... majestoso.
Capítulo 12
A FESTA
ARIEL

Eu preciso me redimir como madrinha.


A noite é uma criança e decidi que, ao final dela, nenhuma de nós se
lembrará de que já houve um plano para o chá da tarde.
Amy vai ter a despedida de solteira que ela merece.
Maria e minha mãe concordaram hesitantemente em se juntar ao
nosso evento de última hora, e Vivian parece estar com tudo dentro. E
convidar Natalia era... inevitável.
A embaixadora precisava de encorajamento para sentir que ela não
seria imponente. Ainda assim, eu percebi que ela queria ser convencida.
Amy fez um ótimo trabalho ao recebê-la.
Meu palpite é que ela não se solta há algum tempo.
Junte-se ao clube.
Amy e eu estamos dando os retoques finais em nossa maquiagem no
banheiro da suíte real agora. Vamos nos juntar às outras no bar do
palácio quando a solteira estiver satisfeita com sua aparência.
— Seja honesta, — diz Amy. — Como estou?
Eu examino minha melhor amiga.
Ela está deslumbrante em um vestido preto justo e saltos de 15
centímetros. Seu cabelo loiro está preso no alto da cabeça em uma torção
elaborada, seus cílios falsos acentuando seus lindos olhos azuis.
— Hmm, — eu digo. — Está faltando algo...
— O que?! — Amy parece horrorizada.
— Eu volto já. Tenho a coisa certa.
Eu corro para fora do banheiro e volto em menos de um minuto.
— Feche os olhos, — eu digo.
Amy suspira dramaticamente. — Tudo bem.
— Isso, — eu digo, — era para a solteira original, antes de eu pedir
ajuda...
Eu coloco algo em seu cabelo.
— Ok, pode olhar.
Amy abre os olhos e se avalia no espelho. — Perfeito! — ela diz,
admirando a tiara perfeitamente colocada em cima de seu penteado. —
Agora, todos saberão que é minha noite.
Enquanto ela sorri para si mesma no espelho, seus olhos se estreitam
e ela estende a mão para tocar a tiara cintilante. Ela a levanta suavemente
e, quando sente seu peso, seu queixo cai.
— Esta é uma tiara de verdade! Tipo... uma tiara de Luna da realeza!
— Apenas o que há de melhor para a noiva, — digo com um sorriso.
E qualquer coisa para reparar a tensão criada pela minha falta de
planejamento.
— Está pronta para se juntar às outras? — Eu digo, pegando a mão de
Amy.
Helena precisa ficar com sua filha Camelia esta noite. E Louisa
cancelou no último minuto porque Steve está gripado.
Quase tremo com a ideia de ter este tipo de festa com Natalia, minha
mãe e minha sogra, mas tenho fé no poder quase mágico de Vivian para
mediar discussões.
— Eu nasci pronta, — diz Amy.
ALEX

— Ao casal feliz, — eu digo. — Que eles possam encontrar alegria na


vida de acasalado.
— Bleh, — Dom diz. — Isso não é um brinde.
Estamos celebrando a despedida de solteiro de Marius no Canino
Branco com ele e seu irmão Lucius.
— A Marius, e... — Dom levanta sua cerveja. — Porra... Deusa, qual é o
nome dela?
— Bom trabalho, amigo, — eu digo, dando tapinhas nas costas de
Dom. — Você ganhou.
Dom faz uma careta.
Eu me viro para Lucius. — Como está a Matilha das Escrituras?
— Parece que resolvendo problemas atrás de problemas, — diz ele.
— A vida de um Alfa, — eu suspiro.
— É exaustivo. Tenho duas famílias em guerra que discutem sobre
quem corta a grama na frente de suas casas. Esta discussão já se arrasta
por três gerações!
— O trabalho nunca termina. Atender às expectativas de cada
membro da matilha...
— É impossível! — Lucius diz.
— Ninguém entende isso. Eles acham que podemos agradar a todos,
mesmo quando seus desejos se contradizem...
Lucius me dá uma olhada.
— Por que eu sinto que isso está se transformando em algo?
Eu tenho que confessar. Sem rodeios.
— Xavier. A irmã de Ariel quer que ele seja libertado — isso não pode
acontecer, mas me peguei dizendo a ela que tentaria transferi-lo. Quem
aceitaria o criminoso mais perigoso do reino?
— Por que ela quer que ele seja solto?
— Algo sobre não ser bom para o filho dela crescer com o pai preso
sob seus pés. Entendo...
Lucius dá um longo gole na cerveja e engole deliberadamente. —
Talvez eu pudesse aceitá-lo... Nós temos uma instalação segura. E
podemos até conseguir... reabilitá-lo.
A Matilha das Escrituras não me reconhece como seu rei. Estou
emocionado que Lucius esteja oferecendo sua ajuda sem nenhum senso
de obrigação.
— Vou lançar alguns bons negócios para você: algo para suavizar
qualquer solavanco de sua matilha.
Lucius levanta a mão, mas balança a cabeça.
— Você fez mais do que o suficiente ajudando Marius. Ter meu irmão
de volta é todo o incentivo de que preciso.
— Do que estamos falando aqui? — Dom diz, se levantando e se
inclinando entre nós. — Chega de conversa de negócios! Isso é uma festa!
— Tudo bem, falaremos sobre os termos mais tarde, — digo a Dom. —
O que você sugere?
— Ah, eu sei... do que esta festa precisa...
— E o que seria? — Eu digo.
— Não é uma despedida de solteiro sem strippers. Para o Lua
Cheeeeia!
— Não sei... Você está tão bêbado que mal consigo entender você.
— O que você acha? — Lucius diz, virando-se para Marius.
Marius coloca seu copo de cerveja no bar. — Não é uma despedida de
solteiro sem strippers.
Posso discordar de meu Beta, mas nem mesmo o rei tem autoridade
sobre um noivo em sua despedida de solteiro.
Isso vai ser um desastre.
VIVIAN

Enquanto uma mulher peituda me apresenta uma dança erótica, não


posso deixar de rir de mim mesma.
Não era onde eu esperava estar quando aceitei esta designação do
presidente.
No entanto, este trabalho não está sendo nada do que eu esperava.
Eu admiro a bunda rebolando contra mim.
Assim que chegamos ao Lua Cheia, Ariel imediatamente se identificou
como a Luna real e fez a atendente nos encontrar a stripper loba mais
sexy que eles tinham, especialmente para mim.
A stripper percebeu que eu era humana imediatamente e deu à
performance um toque distinto de lobisomem — alongando seus caninos
brancos perolados e fazendo seus olhos dourados queimarem com
energia feroz.
— Você tem uma queda por lobas, meu amor? — ela sussurra em meu
ouvido, causando arrepios na minha espinha.
— Se for tão bonita quanto você, — eu digo de volta.
A quantidade de bebidas que ingeri faz meus ouvidos zumbirem.
Do outro lado da stripper, Amy e Ariel estão discutindo quase em
lágrimas sobre qual melhor amiga ama mais a outra.
Lobisomens são legais.
Eu volto minha atenção para a stripper curvilínea enquanto ela desliza
pelo meu corpo.
Mais do que legais.
Estou me divertindo muito.
Amy é um amor — o tipo de garota que transmite o alto astral para
você, dando-lhe uma confiança que você nem sabia que tinha.
Depois de cerca de seis doses de uma bebida local desconhecida,
qualquer preocupação em ser uma embaixadora humana exemplar foi
embora.
Dou uma gorjeta à stripper quando ela termina.
— Se você estiver na cidade de novo, apareça por aqui, — ela sussurra,
se afastando.
Quando estou me levantando para me juntar ao grupo, meu telefone
começa a zumbir no bolso.
É uma ligação do meu pai, então eu a ignoro.
Melhor não falar com ele neste estado.
Meu telefone vibra novamente.
Tenho que segurar o telefone perto do rosto para que minha visão
fique clara o suficiente para ler as mensagens.
Pai: Que porra é essa, Vivian! Você não atende minhas ligações
agora?

Pai: Onde você está e o que está fazendo que pode ser mais
importante do que me responder?

Pai: Sabe de uma coisa? Eu não me importo com o que você está
fazendo.
Pai: Se você não está cuidando das coisas, se não está fazendo o
que eu pedi, você não tem desculpa.

Pai: Você precisa amarrar essas pontas soltas agora.

Pai: Você não deveria ter nenhuma outra prioridade.

Pai: Puta merda, garota inútil. Sei que você está lendo essas
mensagens! Por que você não está me atendendo, porra?

Pai: Você está me decepcionando. Como sempre.

Pai: ATENDA À PORRA DO TELEFONE.


Eu olho para as mulheres ao meu redor.
Eu nunca teria imaginado que alguma delas me aceitaria, mas elas me
receberam de coração e de braços abertos.
Uma despedida de solteira de lobisomem é uma grande ocasião para
ser convidada — e é indiscutivelmente a última ocasião em que eu
deveria me deixar ser mandada por um homem.
Até mesmo meu pai.
Eu seguro o botão liga/desliga e desligo meu telefone para sempre,
antes de ir para o bar e pedir sete doses de vodca... só para mim.
Eu não posso seguir com o plano dele se estou bêbada demais para me
lembrar dele.
ARIEL

O Lua Cheia é exatamente o que precisávamos.


Agora entendo o porquê Dom adorava este lugar!
Tem... tudo.
Incluindo homens com roupas rasgadas, eu me pergunto se eles estão
parcialmente transformados. Mas então eles tiram as roupas, e não há
mais dúvida. Eles são homens, com toda certeza.
Mas tenho que admitir que todos esses homens tonificados só me
fazem pensar em Alex e seu corpo perfeitamente esculpido.
— Caramba, — diz Amy. — Isso é exatamente o que eu queria!
Ela está dizendo isso desde que chegamos.
Vivian também está relaxando. Aquela dança sensual da loba a deixou
bem solta.
Fico feliz em vê-la relaxar, mas gostaria que houvesse alguém para
manter todas sob controle.
As tensões são mais apertadas do que um fio-dental.
Eu rio alto da minha piada interna, mas ninguém parece notar.
— Não tenha tanta certeza do que você quer, — diz minha mãe. —
Uma vez que vocês estão acasalados... Tudo isso..., — ela gesticula para os
dançarinos, — acaba.
— O quê? — Amy diz.
— Sim, o quê? — Eu digo.
Dianne derrama sua bebida enquanto continua: — Eu queria coisas.
Eu queria ver o mundo e conhecer novas pessoas.
— Talvez até mesmo ficar no mundo humano um pouco e ver como
eles vivem... Não engravidar e ter Ariel tão cedo...
— Você está passando vergonha, — diz Maria. — Estamos aqui para
celebrar a cerimônia de Amy.
— Quando você teve Alex? — Dianne pergunta, cambaleando
precariamente para frente e para trás.
— Quando eu tinha vinte e nove anos, — Maria responde. — A
melhor decisão da minha vida.
— Eu tive Ariel aos vinte e um! Tudo que eu sempre fiz foi ser mãe! —
Dianne bêbada grita. — Eu tinha planos antes que ela os arruinasse.
Droga, Dianne...
Natalia aproveita para dar sua opinião: — Chamam de gravidez 'não
planejada' porque estraga todos os seus planos. É por isso que estou tão
feliz por ter esperado e...
— Ter tido um filhote com o par de sua irmã? — Minha mãe diz.
Vivian, voltando para o salão com uma bandeja de bebidas, ouve a
conversa esquentando e dá meia volta.
Maria parece ser a única disposta a enfrentar minha mãe. — Você
deveria ter vergonha. Jogando suas filhas umas contra as outras do jeito
que você faz.
— Eu não faço isso, — diz minha mãe. — Ariel acasalou com um rei e
Natalia com um criminoso. Ela deveria ter escolhido um par melhor ou
encontrado o seu próprio!
— E você teria ficado tranquila se Ariel acasalasse com Xavier? —
Maria retruca.
— Pelo menos a Deusa da Lua teria desejado, em vez de sua irmã
conseguir suas sobras!
A essa altura, é um milagre da Deusa da Lua que Dianne possa até
mesmo ficar de pé. — Sem mencionar que Natalia não foi capaz de
manter Xavier nas rédeas, deixando-o dormir com todas as lobas daqui
até a Lua Crescente!
Só quero que minha mãe pare de falar. Eu olho ao redor, mas Natalia
responde antes que eu possa encontrar uma distração adequada.
— Não é minha culpa, mãe! Ariel é quem tentou roubar meu par. Ela é
quem o prendeu na masmorra. — Ela se vira para mim. — Você arruinou
meu relacionamento com ele!
— Tenho certeza de que as traições dele são responsáveis por isso,
Nat... — Amy nunca consegue conter um comentário sarcástico.
Antes que eu possa olhar ao redor novamente, uma distração me
encontra.
Um braço envolve minha cintura e me põe de pé. Sou empurrada para
a pista de dança, de uma situação tensa para outra.
Minhas reações parecem atrasadas. Estou tonta e leva um segundo
para meus olhos se ajustarem após o movimento.
Eu suspiro quando encontro os olhos de um homem desconhecido:
um dos strippers de roupas rasgadas em que estávamos babando antes.
Ele está usando uma cueca de vinil brilhante — e apenas isso.
Ele me ergue em seus braços e me deita no sofá estofado de couro
atrás de mim.
— Parecia que você estava em busca de um homem de verdade, — diz
ele com uma voz que deve considerar sedutora.
Eu ouço Amy gritar e uivar à distância.
É
— É isso minha Luna. Viva a experiência de verdade!
— Luna, hein? — o stripper diz com um sorriso. — Nunca conheci
alguém tão importante! Procurando por um novo Alfa?
Alex comeria você no café da manhã se ouvisse você dizer isso!
Meu coração dispara quando me encontro debaixo de seu corpo
musculoso. Seus braços de cada lado da minha cabeça parecem me
prender, permitindo seu corpo apenas roçar o meu.
Eu gostaria de não ter bebido tanto quando encontro meu cérebro
respondendo tão lentamente ao que está acontecendo.
Estou no limite, meus instintos de guerreiro não sabem se devo ou
não entrar em ação. Através da minha névoa de embriaguez, meu corpo
não sabe se este é um amigo ou inimigo.
Ele se contorce contra mim agora, e posso sentir seu volume através
do vinil. Ele agora está ultrapassando todos os limites aceitáveis. Isso vai
muito além de uma dança sensual!
Estou congelada contra seu corpo de medo ou algo...
Excitação?
De repente, sinto um cheiro: um que adoro.
Um que eu associo com sexo.
— A rainha quer um show privado? — Ele pergunta enquanto eu
tento me contorcer debaixo dele.
Antes que eu tenha a chance de responder, uma voz firme responde
por mim: — Só se for do rei.
Mesmo nas luzes vermelhas e pulsantes, posso ver o rosto do stripper
pálido.
Nós dois erguemos os olhos para ver o homem que falou as palavras se
aproximando de nós.
Alex?!
Capítulo 13
O TRATAMENTO REAL
ALEX

Eu empurro o stripper de cima do meu par e ele cai de joelhos,


implorando por misericórdia.
— Eu vou deixar você viver... desta vez, — eu rosno, adorando
interpretar o Alfa dominante.
— Sim, meu rei, — o stripper tropeça enquanto se levanta, mantendo
o olhar fixo no chão.
— Agora, saia da minha frente, — eu disparo por entre os dentes. Ele
foge, desaparecendo nas profundezas do clube.
Eu o deixo ir. Não estou aqui por ele.
Estou aqui por Ariel.
Eu a puxo do sofá.
— O que você está fazendo aqui? — ela diz.
— A mesma coisa que você está fazendo aqui, eu imagino... Bem, não
exatamente a mesma coisa.
Ela olha ao redor, parecendo nervosa.
— Está tudo bem, — eu digo. — Ou ficará assim que eu lhe der aquela
dança erótica.
Eu me curvo e tiro seus pés do chão, levantando-a em meus braços
como uma noiva.
Ela encontra meus olhos, com um olhar de surpresa dominando sua
feição.
— Você estava falando sério? — ela diz depois de eu lhe dar um
momento para recuperar o fôlego.
— Eu tenho que entreter a minha rainha.
Já faz um tempo que não temos privacidade. Morar no palácio com a
família de Ariel tem suas desvantagens.
Eu sigo em direção aos quartos privados na parte de trás do clube com
Ariel em meus braços, dando passos largos para me equilibrar. Ela não é a
única que bebeu esta noite.
— Eu não acredito que você está aqui... — ela diz em meu pescoço.
Eu olho para ela intrigado.
— Ah. — ela diz, parecendo entender a inevitabilidade de eu estar
aqui. — Dom.
Eu ri. — Este é um de seus antigos refúgios. — Não mencionei que
também costumava frequentar este lugar. Depois que perdi Olivia, e
antes de Ariel aparecer, Dom costumava me arrastar até aqui na
esperança de que isso — me alegrasse. — Mas isso nunca aconteceu.
Pisco para o gerente parado perto de uma corda de veludo enquanto
me aproximo carregando minha rainha, e ele acena em compreensão. —
Por aqui, Vossas Majestades, — diz ele.
Ele nos guia para um quarto dos fundos e se retira. As paredes são do
mesmo couro estofado do sofá que as acompanha, e um balde de gelo
mantém uma garrafa de champanhe gelada em uma mesinha.
Eu coloco Ariel no sofá e admiro seus olhos. Eles parecem mais
brilhantes do que antes, um pouco menos vidrados do que quando a
encontrei.
— Você deseja alguma coisa antes do show começar? — Eu digo. Me
inclino e pressiono meus lábios contra sua orelha. — Qualquer coisa que
você quiser, minha rainha, eu sou todo seu esta noite!
— Quero me sentir como se fosse a única loba no mundo, — ela
sussurra suavemente de volta.
ARIEL

Alex mexe em algo na entrada do quarto.


As luzes se alternam algumas vezes até que ele consiga o ambiente
perfeito, e então ele liga uma música também.
Isso abafa os sons do clube, fazendo parecer que somos as únicas duas
pessoas no reino.
Alex começa a mover seu corpo no ritmo, dançando em minha
direção sem quebrar o contato visual.
Eu adoro quando ele é divertido assim. Eu rio alto com sua expressão
falsa séria enquanto ele continua a me entreter.
Ele começa a desabotoar a camisa, dando-me um vislumbre de seu
abdômen antes de encolher os ombros para fora da coisa toda, revelando
seu tórax.
Ele joga a camisa para longe, e ela aterrissa no meu rosto, me fazendo
cair na gargalhada.
Eu admiro seu corpo enquanto ele continua me provocando, tirando
uma peça de roupa de cada vez.
Ele sempre me surpreende...
E se eu achava que ele não iria se arriscar no pole dance, eu estava
errada.
Alex desajeitadamente gira em torno do mastro, mas sua expressão
confiante me diz que ele pensa que está se saindo como um profissional.
Entre rir de suas palhaçadas sem dignidade e admirar seu corpo
definido, não sei se estou mais entretida ou excitada...
Como se estivesse lendo minha mente, Alex se aproxima de mim
agora, exibindo a luxúria que ilumina seus olhos.
Ele está na ponta dos meus joelhos, os afastando.
Abro minhas pernas para que ele possa se aproximar.
— Foi muito... — eu digo.
Ele se inclina e coloca um dedo nos meus lábios, interrompendo meu
elogio. Em seguida, ele agarra meu queixo e puxa minha boca para
encontrar a dele.
O beijo é agressivo e faminto, e posso sentir minha excitação
acumulando-se entre minhas pernas.
Faz tanto tempo que não temos um momento a sós de verdade —
longe dos deveres, da família e de bebês chorando — que ele só precisa
me beijar uma única vez para me deixar molhada.
Ele se inclina sobre mim, vestindo apenas sua boxer. Eu me reclino no
couro do sofá e abro minhas pernas enquanto sua mão desce e encontra
meu sexo.
O beijo se intensifica quando seus dedos entram em mim, e um
grunhido escapa de seus lábios quando deixo escapar um gemido.
Ele sobe no sofá, me prendendo embaixo dele. Ele pressiona sua
ereção contra mim, não muito diferente do stripper anterior — mas
desta vez, não estou confusa. Sinto que está certo.
Estendo a mão para puxar sua boxer para baixo, e ele me ajuda a tirar
sua última peça de roupa.
Ele levanta meu vestido curto e penetra seu membro em mim.
Solto um gemido com a sensação de nossos corpos se unindo.
Porra, como senti falta disso.
Ele empurra mais forte, mais rápido, e minha excitação — minha
necessidade desesperada — por ele cresce.
— Alex..., — eu digo, incapaz de proferir outra palavra.
Ele não me dá um descanso. Ele desce a mão para o meu sexo e
começa a se mover em pequenas rajadas diagonais. Ele me faz sentir
como se estivesse nas nuvens.
— Alex, — eu digo novamente, mais alto.
E, sem mais nenhum aviso, gozo em um choque de euforia. Eu suspiro
em seu ouvido.
— Ahhh, — ele diz. — Ariel... — Ao som do meu clímax, ele chega ao
dele.
Ficamos deitados juntos por um momento, deixando o êxtase
diminuir lentamente.
Eu coloco a mão dentro do meu sutiã e tiro algumas notas que eu não
tinha jogado nos strippers do lado de fora.
— Então, quanto ficou? Deve ser por volta de $300..., — eu digo com
um sorriso sarcástico.
— Eu sou tão barato assim? — Alex ri. — Se esse bico de Alfa não der
certo, eu posso começar a trabalhar como stripper!
— Por mim tudo bem, — digo, beijando-o levemente. — Contanto
que eu possa assistir!
Eu acordo na minha cama ao lado de Alex, com uma dor de cabeça
enorme sendo a única evidência da festa da noite passada.
Alex ainda está respirando pesadamente em seu travesseiro e decido
não o acordar.
Tenho certeza de que ele prefere dormir durante sua ressaca.
Pego meu telefone na mesa de cabeceira e vejo que já recebi três
mensagens de Amy.
Amy: Vadia!!!!!

Amy: A festa acabou sendo perfeita!

Amy: Obg por estar aberta a algumas mudanças de última hora


Ariel: Que bom que gostou! Sua ideia foi mais divertida Amy: O
que você vai fazer hoje?

Ariel: Hum, devo ter mais aulas de Luna com Maria e Dianne Amy:
Affff
Eu coloco meu telefone de lado e desço as escadas, esperando que
uma xícara de café e algo para comer ajudem a diminuir minha dor de
cabeça.
Quando me aproximo da cozinha, no entanto, a dor na minha cabeça
só lateja mais forte. O choro de Xavi ecoa pelos corredores.
Natalia ergue os olhos e me vê, é tarde demais para dar meia volta.
Entro na cozinha e vou direto para a cafeteira.
— Shhh, bebê, está tudo bem, — diz Natalia. — Tudo bem...
O choro de Xavi só fica mais alto, em um fluxo contínuo de
descontentamento.
— O que você quer? — Natalia diz, chateada. — Você está cansado?
Está com fome? Você está tentando deixar a mamãe louca?
Nossos olhos se encontram por um segundo enquanto eu alcanço o
moedor de café, e eu olho para longe.
Minha mente se volta para Xavier na masmorra.
Ele merece estar lá, não há dúvida sobre isso.
Ainda assim, não posso deixar de me sentir um pouco responsável
pela situação difícil de Natalia.
Quando eu escapei dos Caçadores, ela estava felizmente acasalada
com um bebê a caminho. E agora...
Eu olho para ela.
Ela balança Xavi para frente e para trás, quase sufocando-o em um
abraço apertado para abafar o barulho.
Ela encontra meus olhos novamente e lança um olhar furioso em
minha direção. — O que foi?
— Nada. Eu...
Minha mãe entra na cozinha usando roupas passadas e maquiagem
perfeita. Você jamais imaginaria que ela passou a noite passada ficando
bêbada e dizendo coisas das quais deveria se arrepender.
— Ah, faça ele parar, — ela diz a Natalia. — Ele está me dando dor de
cabeça.
Duvido que ele seja a única coisa que está lhe dando dor de cabeça...
Se eu me sinto destruída depois de ontem à noite, não há como saber
como é a ressaca da minha mãe.
— Sabe o que era bom em Ariel... — diz minha mãe.
Deusa, ela ainda está nisso?
Ela olha para mim. — Quando era bebê, quero dizer. A coisa boa sobre
você é que você nunca chorou. Não como sua irmã.
— Dianne..., — digo, servindo o café.
Ela apenas dá de ombros e olha para Natalia. — Você vai acalmá-lo
antes da entrevista, certo?
Estou confusa.
Do que ela está falando? Que entrevista?
Natalia revira os olhos. — Vou levá-lo para cima enquanto vocês duas
têm seu encontro.
— Termine seu café, Ariel, — diz minha mãe. — Uma rainha está
sempre pronta.
Eu pouso minha caneca de café. — O que? Dianne, o que você...?
— Ah... — Minha mãe estampou uma expressão inocente em seu
rosto. — Eu esqueci de te dizer, querida?
Eu cerro os dentes. — Esqueceu de me dizer o quê?
— Marquei uma entrevista de mãe e filha para nós esta manhã. Vai ser
fofo. É melhor você se apressar, eles estão se preparando agora.
O quê?!
Vai ser tudo menos fofo.
Natalia sorri, sem conseguir evitar, claramente se divertindo com meu
desconforto.
Meu coração começa a disparar e posso ouvir o sangue latejando em
meus ouvidos.
Minha mãe oferece uma mão. — Vamos, — ela diz. — Não há como
escapar disso agora.
Eu expiro fortemente, tentando diminuir minha ansiedade.
Minha mãe me pega pela mão e me leva para fora da cozinha.
Eu me concentro na minha respiração. Vejo o jornalista bem vestido e
a câmera já montada no local destinado para um café da manhã
tranquilo.
E então eu vejo sua lista de perguntas da entrevista...
Todo o texto ao redor fica embaçado quando meus olhos se fixam em
uma palavra: CAÇADORES
Acho que vou vomitar.
Não estou preparada para revisitar essas memórias traumáticas.
Respire fundo e mantenha a calma.
De repente, sinto minha loba no fundo da minha mente.
Ela se adianta e aquece todo o meu corpo, dando-me uma sensação de
conforto.
Enquanto ela rosna levemente e anda de um lado para o outro, sinto
uma onda de confiança.
Ela está me encorajando a não recuar desta vez e dizer o que estou
pensando.
Eu aceno, decidindo confiar em minha loba.
Ela está certa...
Se algum dia eu for deixar minhas memórias dolorosas, tenho que falar
sobre elas.
Talvez esta seja finalmente a hora...
A hora de contar minha verdade.
Capítulo 14
A VISÃO PARENTAL
ARIEL

Minha loba tenta me encorajar enquanto cumprimento a jornalista —


uma mulher de aparência intensa que conduzirá minha entrevista.
Não sei se devo admitir que ela me pegou desprevenida ou presumir
que ela já saiba disso.
Talvez isso fosse parte do plano?
Meu nervosismo deve ser evidente.
A entrevistadora, cujo nome já esqueci, diz: — Estamos aqui para
deixá-la bem na fita, Vossa Majestade. Se você precisar de alguma coisa, é
só me avisar.
— Você se importaria de me dar um minuto? — Eu digo. — Eu não...
— Teve a chance de se preparar para a câmera, — diz minha mãe.
— Sem problemas, — diz a entrevistadora.
Linda. Acho que o nome dela é Linda.
Ou Lisa?
Depois de cinco minutos me preparando para o flash das câmeras,
saio de novo, esperançosamente parecendo um pouco menos de ressaca
do que estou.
— Não se preocupe, — diz minha mãe. — Isso vai ser ótimo para a
nossa imagem.
Suas palavras não são convincentes. Ainda posso mandar a equipe para
casa.
— Alex ficará orgulhoso, — diz minha mãe.
Eu penso sobre a maneira como lidei com minha primeira aparição na
imprensa e decido que ela está certa. Por mais inconveniente que seja o
fato de ela não ter me contado, talvez seja melhor assim.
Não é como se eu fosse concordar com isso...
— Vamos começar com a sua história, — diz Linda/ Lisa enquanto nos
acomodamos em nossos assentos. — Você começou como uma guerreira
para a Matilha da Lua Crescente?
— Sim, eu...
— Demorou algum tempo para Ariel se tornar a mulher que é hoje, —
diz minha mãe. — Quando criança, ela era insegura em sua feminilidade
e buscava refúgio em seu esquadrão de guerreiros.
— Hum. Bem, não, estou muito orgulhosa... — eu digo.
— De quem ela se tornou desde então. Bem colocado, minha querida.
Estamos todos orgulhosos de você. Você chegou tão longe.
A entrevistadora tenta outra tática. — Você diria que sempre valorizou
ser um líder, tendo ascendido nas patentes militares?
— Sim, — eu digo. — Muitas vezes me beneficiei de ter excelentes
mentores em minha vida. E espero que um dia possa oferecer um pouco
de sua sabedoria a outros.
Minha mãe faz uma careta como se eu tivesse falado a coisa errada.
A entrevistadora faz uma pausa. — Não sei se você gostaria de tocar
no assunto, mas você foi torturada por Caçadores durante dois anos...
— Está tudo bem, — eu digo. — Essas memórias são dolorosas, mas
elas fizeram eu me tornar quem sou hoje.
— Acho que é tudo o que precisamos dizer sobre isso, — diz minha
mãe. — Ariel está completamente recuperada da experiência. Passado é
passado.
Eu olho pra ela. Ela parece achar que está me salvando de mim
mesma, mas meu passado faz parte de quem eu sou, e não tenho
vergonha disso.
Eu penso sobre o tipo de líder que ela tem me pressionado para ser.
Isso é mesmo quem eu sou?
Minha loba rosna com as respostas de Dianne à pergunta dos
Caçadores.
Ela quer falar — cortar as respostas obviamente preparadas que minha
mãe está recitando e dar à jornalista os fatos verdadeiros.
Mas me vejo recuando quando Dianne me lança um olhar que me
avisa para não falar mais sobre o assunto.
Foi uma experiência horrível, mas me trouxe aqui e para a vida de Alex.
Isso é tudo que importa.

Vivian se aproxima enquanto a jornalista sai com sua equipe de


filmagem. Ela me lança um olhar simpático.
— Lidar com a atenção da mídia é sempre um desafio, — diz ela. —
Estou nesta área há anos e ainda não é fácil.
— Não sei se estou preparada para isso, — digo.
— Acho que ninguém está. Mas existem certos truques que você
aprende com o tempo. Estou aqui para ajudar. — Ela sorri.
— Alguma coisa em mente?
— Persista na mensagem. Não importa o que eles perguntem, você
trabalha em sua narrativa.
Eu coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha. — E se você não
souber o que é essa narrativa?
— Você pode precisar de um estrategista de mídia, — diz ela. — E não
me refiro à sua mãe.
Eu sorrio. — Pode ser. É tão difícil projetar essa imagem de quem eu
sou, quando nem eu mesma sei. Hoje em dia... é como se eu estivesse me
perdendo nas expectativas.
— Imagino, — Vivian diz. — Lidei com certo nível de escrutínio da
imprensa. Mas uma embaixadora não é tão interessante quanto uma
rainha.
— Eu só... não quero me transformar em alguém que não sou.
— Me identifico. Não sei se tenho sido fiel a mim mesma
ultimamente, — ela diz, olhando ao redor como se para garantir que
ninguém possa ouvir nossa conversa.
— O que você quer dizer?
— Aprendi muito nas últimas semanas... Ficar na Matilha Real abriu
meus olhos.
Eu realmente não tinha considerado isso antes. Vivian sempre é tão
profissional que presumi que ela estivesse intimamente familiarizada
com os costumes tanto dos lobisomens quanto dos humanos.
Estou curiosa para ir mais longe. — Abriu seus olhos para o quê,
exatamente?
As bochechas de Vivian coram. — Ah, todos os tipos de coisas... A
cerimônia de acasalamento de Amy, por exemplo! Mal posso esperar para
ver. Nunca estive em uma antes.
— Vai ser lindo. Você pode me dar um resumo das diferenças entre
casamentos humanos e cerimônias de acasalamento depois.
— Seria ótimo! Já posso dizer que o conceito de pares é uma grande
diferença. — Vivian diz. — Isso realmente me intriga.
— É um assunto complicado. A maioria dos lobisomens nem mesmo
entende isso. Amy e Marius não são pares destinados, e nem Alex e eu.
Meu 'verdadeiro' par acabou sendo um psicopata...
Vivian faz um barulho empático. Deve ser difícil para ela entender
essa experiência como humana sem um par destinado. Mesmo seu
marido escolhido nunca será tão conectado a ela como um par
lobisomem seria.
Eu gostaria que Xavier e eu não fôssemos pares destinados, mas sem
essa experiência dolorosa, eu não estaria com Alex — nossa conexão
significa tudo para mim.
— Eu perdi meu par destinado, mas isso me levou ao meu par
escolhido, Alex.
— Interessante... Então, mesmo que não seja o seu par destinado, uma
vez que vocês marcam um ao outro...
— Vocês se tornam pares. Sim.
— De certa forma, contornando o destino, — diz ela. — Hmm.
— Exatamente, Fate, o Destino, é a irmã de Selene, a Deusa da Lua.
O queixo de Vivian cai.
— Uma de suas Deusas é literalmente o Destino?
— Sim. E o que ela planejou para mim não era exatamente uma
história agradável, — eu digo. — Fate pode ser cruel. Eu sei disso melhor
do que ninguém.

— Eu não acredito que você finalmente está sossegando. — eu digo.


— Nem eu, para ser honesta, — Amy diz, observando seu vestido para
a cerimônia no espelho.
Depois de algumas tentativas. Amy encontrou um vestido que ela
adora.
Ela está impressionante em um vestido justo e largo com um decote
em coração. É branco, com um detalhe assimétrico de rosas pretas
enrolando em volta da cintura e descendo pela saia.
Tão dramático. Tão Amy.
O material de renda é alguns tons mais escuro do que seu cabelo loiro
platinado, complementando perfeitamente sua pele de alabastro.
Fiz uma trança francesa em seu cabelo e destaquei seus olhos azuis
deslumbrantes com um delineado de gatinho espesso. — Eu estou tão
feliz que me sinto idiota.
Eu rio com ela. Conheço o sentimento.
O dia — a hora — da cerimônia de acasalamento de Amy finalmente
chegou. E, como o evento acontecerá no palácio, estamos nos
preparando no banheiro da suíte real.
— Você está linda, — eu digo. — Está pronta?
— Eu só preciso do véu, — diz ela. — O certo — não aquele que eu
possa ou não ter deixado no clube de strip.
— Acho que está no outro quarto. — Eu pego a mão de Amy quando
saímos.
Sei por experiência própria como é fácil tropeçar na cauda de um
vestido de cerimônia. E os saltos brilhantes de Amy contrastam
fortemente com os pés descalços que usei na minha própria cerimônia.
Fixamos o véu e descemos a escada — e quase somos pisoteadas por
um desfile de parentes de Amy no momento em que alcançamos a
entrada.
— Você está tão linda, querida! — Sua mãe parece em êxtase.
— Obrigada, mãe, — Amy diz.
— Ariel, tanta coisa mudou desde a última vez que te vi. — A mãe de
Amy me beija nas duas bochechas. — Estou feliz que você encontrou seu
lugar. Depois de tudo.
— Obrigada, Beverly, — eu digo. — Não é incrível que Amy esteja se
acasalando?
— É incrível demais. Marius é um homem tão bom.
Continuamos a trocar gentilezas enquanto Amy cumprimenta o
restante de seus parentes. Não vejo Beverly desde antes de ser
sequestrada, mas ela era importante para mim naquela época.
Meu relacionamento com minha própria mãe era tão distante que,
quando eu era adolescente, Beverly preencheu essa lacuna.
— Aquela é Natalia, — alguém diz em um sussurro alto atrás de mim.
— O bebê é dele.
— De quem? — outra voz diz.
— De Xavier. Aposto que ela gostaria de não ter escolhido aquele Alfa
psicótico agora, mas o que você pode fazer? Não tem como desfazer um
bebê. Espero que seu comportamento criminoso não seja genético.
Eu giro no meu calcanhar, furiosa.
Quem disse isso?!
Eu localizo os agressores: um casal de meia-idade. Eles devem ser
parentes distantes de Amy.
— O que vocês sabem sobre minha irmã? Ou o que ela passou? — Eu
digo.
— Eu... nós... bem... — o homem gagueja.
— Vocês são meus convidados aqui. Peço que não insultem nenhum
membro da família real enquanto estiverem dentro das muralhas do
castelo.
As bochechas do homem ficam rosadas, e seu par acena com a cabeça
furiosamente.
Eu me viro a tempo de ver Natalia passando por mim.
— Obrigada, — ela diz quase baixinho demais para ouvir.
Eu fico olhando para ela enquanto ela desaparece com Xavi.
Isso foi coisa da minha cabeça?
Ela realmente me agradeceu?
VIVIAN

A cerimônia de acasalamento de Amy é tão bonita como o esperado.


Acontecerá no salão de baile do palácio, decorado com guirlandas de
rosas brancas.
Sinto-me parte hóspede e parte lupinologista, experimentando e
observando a beleza diante de mim.
Existem muitas semelhanças entre um casamento humano e uma
cerimônia de acasalamento de lobisomem.
Ariel é a madrinha de Amy, ao seu lado com um vestido dourado e cor
de lavanda. O padrinho de Marius é seu irmão. Alfa Lucius.
Uma das principais diferenças entre casamentos e cerimônias de
acasalamento parece ser a linguagem usada tanto pelo oficiante quanto
pelos cônjuges.
Eles não fazem promessas que parecem o mínimo do que o amor
deveria ser. Essas coisas são presumidas. Suas palavras são mais
profundas porque se entende que esse vínculo durará para sempre.
Não há nenhuma indicação de qualquer outra opção, exceto a morte.
Alex faz seu discurso aos recém-acasalados:
— Eu tenho minha própria experiência em começar um
relacionamento com um par escolhido.
— Mas não pensem que porque vocês escolheram um ao outro em vez
de serem destinados, que seu amor é menos poderoso ou real.
— O fato de que você escolheu, olhou nos olhos do outro lobo e disse:
'Eu escolhi ficar com você pela vida e pela morte... ' Isso é mais forte do
que qualquer vínculo ordenado pela Deusa da Lua.
Estou com vergonha pelas lágrimas enchendo meus olhos.
Quando eu olho ao redor, noto que não há um olho seco no ambiente.
Estou surpresa ao ver que os lobisomens possuem tanto contato com
seus sentimentos. Que eles são tão amorosos. Que eles são tão... o que
em casa nós chamaríamos de humanos.
Eu gostaria de ter um par
É possível que um híbrido tenha um?
Talvez se eu orasse para a Deusa da Lua, ela poderia ser gentil comigo...
Eu ouço meu telefone vibrar contra a lateral da minha bolsa e o pego
discretamente. O calor que eu estava sentindo é drenado do meu corpo.
Pai: Chega de perder tempo.

Pai: Essa é sua última chance.

Pai: Você tem que fazer isso HOJE À NOITE.


Por um momento — um lindo momento — esqueci o motivo de estar
aqui.
O que meu pai espera de mim...
Mas esta é sua vingança, não minha.
Posso realmente continuar com isso?
Deus... ou Deusa... me dê forças para ir até o fim.
Eu tenho que seguir as ordens do meu pai. Ele não aceitará menos que
isso.
Eu tenho que matar Xavier.
Capítulo 15
NAS PROFUNDEZAS DO CASTELO
ARIEL

A cerimônia de acasalamento de Amy foi tão linda que até eu chorei.


E agora, a diversão começou. A festa é como minha melhor amiga:
uma jornada selvagem. Em outras palavras, uma farra.
Todos estão dançando loucamente, com os recém-acasalados dando o
exemplo.
Nunca vi Amy tão feliz. E Marius, geralmente tão tímido, dança com
ela com confiança. Um largo sorriso se estende por seu rosto.
Eles se merecem.
Eu olho em volta procurando por Alex, mas não o vejo. Dom o puxou
para algum dever real, e eles não parecem ter retornado ainda.
Percebo Helena movimentando-se sozinha e vou em sua direção.
Ela sorri para mim. — Ariel, você está linda.
— Obrigada, você também! Foi uma cerimônia linda, não foi?
— Com certeza. Eu não consigo tirar meus olhos deles. Eles são
perfeitos juntos.
— Sim. — eu digo. — Ei, você viu Alex ou Dom?
Ela balança a cabeça. — Não, não vi a dupla encrenqueira.
Conhecendo-os, eles devem estar tramando alguma coisa.
Reabastecemos nossas bebidas e Helena vai com Maria para a pista de
dança.
Quando estou prestes a sair à procura de meu par, alguém cobre meus
olhos por trás.
Eu dou um gemido baixo enquanto lábios quentes acariciam minha
marca de acasalamento.
Eu sei quem é.
— Amor, — eu digo. — Onde você esteve?
— Procurando por você.
Alex tira as mãos de meus olhos e as envolve em minha cintura, me
girando em seus braços.
Posso sentir seus lábios se movendo contra minha orelha enquanto
ele diz: — Tenho uma surpresa para você.
Eu me afasto e olho em seus olhos, tentando conseguir uma pista. —
O que é?
Ele ri. — Boa tentativa. Não seria uma surpresa se eu te contasse.
— Tudo bem, então... me mostre.
— Por aqui, minha rainha, — ele diz, oferecendo seu braço para me
escoltar até — bem, onde quer que seja.
Eu sei que não devo perguntar de novo, mas não posso deixar de me
perguntar: Para onde estamos indo?
Dou uma última olhada em Amy e Marius, mas posso dizer que eles
não vão sentir minha falta. Eles dificilmente parecem perceber que não
estão sozinhos.
Alex me leva até a escada da masmorra.
Isso não é o que eu esperava.
Ele fala com o guarda que vigia os presos: — Ei, Daniel, que tal você
dar uma pausa?
— Claro, Vossa Majestade. — O guarda tira o capacete e encosta a
espada na parede, depois sai sem fazer mais perguntas.
Eu sei que Alex não quer que o guarda testemunhe o que ele está
prestes a fazer. Mas por que?
Alex sorri para mim. — Confusa?
Ele aponta para a parede oposta da masmorra. — Está vendo algo fora
do lugar?
Eu olho para a frente. Parece apenas uma parede de tijolos padrão,
com candelabros de cada lado.
Apenas um contém velas de cera.
— Bem, além dos candelabros serem feitos de latão em vez de um
material mais barato, apenas um deles foi aceso.
Alex me dá um beijo na bochecha.
— Observadora como sempre.
Alex alcança o candelabro apagado e o puxa rapidamente.
Algo se encaixa e a parede se move. Uma nuvem de poeira surge
quando parte da parede balança para frente.
— Vamos, — ele diz, oferecendo uma mão. Ele pega uma lanterna do
posto de guarda e fecha a porta atrás de nós.
Caminhamos em silêncio até que o túnel se abre em uma grande sala.
Eu observo tudo enquanto Alex caminha ao redor das paredes,
acendendo cada lanterna.
Não é tão empoeirado como pensei que seria.
Tem uma armadura polida e um armamento complexo pendurado nas
paredes — que remonta, imagino, centenas de anos.
Existem mapas táticos de antigos conflitos entre lobisomens e
humanos, e meu palpite é que sejam os originais.
— Alguns deles estão aqui desde que o castelo foi construído, — diz
Alex. — Esta sala também.
Agora que a sala está totalmente iluminada, noto o moderno
equipamento de treinamento.
É uma sala de treinamento secreta!
— Eu amei! Alex... — Eu me viro para ver tudo e vejo o ringue de luta
no meio da sala.
Eu corro, pulo por cima das cordas e fico em uma posição defensiva.
— Está preparado? — Eu digo, chutando meus saltos para longe.
— Mesmo? — Alex pergunta.
— Eu já brinquei sobre uma luta?
Ele sorri e pisa na corda, entrando no ringue comigo.
Estou esperando que ele assuma uma postura defensiva como a
minha, mas em vez disso, ele tira a jaqueta e começa a desabotoar a
camisa. — Não gostaria de estraga-las.
Ele fica apenas com a boxer e empilha as roupas na beira do ringue.
Ele acena para mim. — Você provavelmente deveria fazer o mesmo.
Mostrando minha flexibilidade, eu mesma desabotoo o vestido,
levanto-o pela cabeça e penduro na lateral do ringue. — Satisfeito?
— Imensamente. — E, com isso, ele está pronto para lutar.
Nós dois nos agachamos, rodeando um ao outro. Nós conhecemos os
estilos de luta um do outro tão bem a essa altura que somos igualmente
compatíveis.
Eu lanço o primeiro soco e Alex o bloqueia.
Eu lanço mais dois e uso sua distração para dar um chute rápido na
lateral de seu corpo.
Ele é muito rápido e desvia de mim.
Ele segue seu movimento rápido com um soco que passa de raspão
pelo meu corpo.
Eu recuo, já ofegante.
Estou sem prática.
Alex se aproxima de mim novamente e eu me concentro, tentando
adivinhar seu próximo movimento.
Ele empurra o punho em direção ao meu peito, mas estou preparada.
Eu o agarro pelo pulso e giro meu corpo em torno de 270 graus para
que seu cotovelo caia, com a face para cima, em cima do meu ombro.
Ainda segurando seu pulso, se eu puxar para baixo, posso quebrar um
osso.
Em vez disso, eu o pego de surpresa, tirando suavemente sua perna
esquerda do chão, e nós dois caímos no chão.
— Eu amorteci sua queda? — Ele ri.
Antes que eu possa responder, ele rola para cima de mim, me
prendendo. Nossos rostos estão quase se tocando e não posso deixá-lo
vencer, então o beijo.
Nossas línguas se entrelaçam e eu ganho a vantagem enquanto ele me
solta.
Eu levanto meus quadris e nos viro, ficando por cima agora.
— Eu me rendo, — ele diz quando eu finalmente interrompo o beijo.
Nossos lábios se encontram novamente, e eu movimento meus
quadris para frente e para trás contra os dele.
ALEX

Enquanto Ariel se esfrega contra mim, fico imediatamente excitado.


Minha ereção empurra minha boxer. Eu quero arrancar o resto de
nossas roupas e penetrá-la.
Mas ela está no controle agora, e eu amo a maneira como seus olhos
de girassol brilham quando ela está por cima, comandando todos os
nossos movimentos.
Ela tem uma expressão selvagem em seus olhos, semelhante à sua
expressão ávida de luta.
Eu posso sentir a pressão do meu membro contra seu núcleo, e ela
começa a gemer conforme fica mais excitada.
— Vamos tirar isso, — diz ela, puxando a faixa da minha boxer.
Ela puxa para baixo, levantando-se e descartando sua própria calcinha
em um movimento fluido.
Ela monta no meu torso, estendendo a mão para trás para me
provocar, acariciando para cima e para baixo.
Ela está tão linda neste momento enquanto eu a observo. Seu cabelo
castanho e encaracolado está solto; seus olhos amarelos ferozes queimam
os meus.
Eu posso sentir sua excitação pingando em meu abdômen enquanto
suas mãos continuam em meu membro.
Ela levanta os quadris e me guia para dentro. Empurro com força, e
sua cabeça pende para trás por um segundo enquanto ela solta um
gemido de êxtase.
Em seguida, ela começa a se mover novamente.
Eu quero enterrar meu membro completamente em seu núcleo, mas
seus joelhos a seguram um pouco alto demais.
Ela olha para mim, encontrando meus olhos com um sorriso
malicioso. Ela está me provocando.
De repente, ela desce mais e eu mergulho nela.
Nós gememos simultaneamente enquanto ela continua a esfregar
seus quadris contra meu corpo.
O chão frio embaixo de mim está ficando úmido de suor conforme eu
fico mais e mais perto do clímax.
— Espere, — ela diz.
Ela se vira para que eu tenha uma visão extraordinária de sua bunda, e
valeu a pena a pausa momentânea enquanto ela continua seus
movimentos encantadores.
Ela ofega conforme sua velocidade aumenta, e eu não consigo esperar
mais. Eu gozo nela em um choque de euforia.
Ariel expressa seu próprio gemido, enquanto seu corpo estremece e
treme ao cair para o lado.
Ela sai de cima de mim, sem fôlego. Abro os braços e ela deita a cabeça
no meu peito.
— Ariel, — eu digo depois de alguns minutos. — Eu sei que você está
perdendo seus deveres de guerreiro.
— Sim.
— Eu esperava que este pudesse ser um lugar onde você pudesse
aliviar o estresse.
Ela sorri para mim. — Bem, claramente funciona.
Eu rio, distraidamente movendo meus dedos por seu cabelo sedoso. —
Eu também quero ter certeza de que você saiba que...
— O que?
— Você é minha prioridade número um. Mais importante do que ser
Alfa. Mais do que ser rei. Eu sou seu par. Fazer você feliz é tudo que eu
quero.
VIVIAN

Saio do salão e me afasto da festa como se estivesse atordoada.


Esta é a última posição que quero ocupar.
Acabei de passar uma noite testemunhando o vínculo mais sagrado
que os lobisomens têm — a cerimônia de acasalamento. E agora?
Agora estou sem tempo.
Vivian: Como vou matá-lo?
Vivian: Você me disse que lobos só podem ser mortos por prata.

Pai: Use suas garras.

Vivian: Mas você disse que eu nunca deveria deixar minha loba
sair.

Pai: Ninguém vai suspeitar de um humano. Você tem o álibi


perfeito.

Vivian: Acho que não consigo fazer isso.

Vivian: Não sei se consigo me controlar.

Pai: Não me importo se você não pode fazer isso.

Pai: Use sua doença. Abrace a mestiça imunda.

Pai: E então rasgue a garganta dele Suas provocações são como um


gatilho... Posso sentir o desejo de me transformar fervendo dentro de
mim.
Eu tenho que andar logo. No caso de eu me transformar na frente de
todo o palácio.
Lobisomens estão circulando pelo palácio enquanto eu me esgueiro
por eles, fazendo uma pausa na intensidade da festa antes de retornar à
dança com vigor renovado.
Eu gostaria de poder ser como eles. Eu gostaria de poder pertencer. Eu
gostaria de poder ficar despreocupada.
Mas há algo que preciso fazer.
Eu deveria saber que não poderia fugir de quem sou para sempre.
Tenho um segredo a esconder e uma obrigação a zelar.
Eu não tenho escolha.
Eu sei o caminho, então vou direto para a escada em espiral.
Eu olho ao redor. Ninguém aqui me conhece, ninguém vai se lembrar.
E como meu pai disse, ninguém vai suspeitar que um humano esconda um
segredo como este.
Mas como vou passar pelo guarda?
No entanto, quando chego ao pé da escada, não há ninguém lá. Não
acredito na minha sorte. É quase conveniente demais.
Está escuro, então uso a luz do meu celular enquanto desço os
corredores da masmorra até chegar a ele.
O prisioneiro.
Ao som da minha chegada, Xavier se aproxima da porta de sua cela e
olha para fora. — Quem é você? — ele diz. — O que você quer?
— Eu sou o Anjo da Morte, — eu digo, extraindo minhas garras. — E
estou aqui para amarrar as pontas soltas.
Capítulo 16
O DESTINO DO PRISIONEIRO
VIVIAN

Eu insiro uma garra no buraco da fechadura e mexo até ouvir um


clique satisfatório.
Eu destranco a fechadura e, em seguida, abro a pesada porta de metal.
Está quase completamente escuro lá dentro. A única luz vindo das
duas pitadas de luz ofuscante: os olhos de Xavier.
Meus olhos se ajustam lentamente e vejo que seus braços estão
amarrados com algemas de prata, deixando marcas de queimadura em
seus pulsos.
Quando entro na cela, ele dá um passo para trás. — O que você está
fazendo?
As palavras de meu pai ecoam em minha cabeça.
Use suas garras. Rasgue a garganta dele.
Sinto minha loba querendo sair. Querendo se provar.
Querendo seu sangue.
Mas quanto mais eu ouço a loba rosnando, eu percebo...
Minha loba está me dizendo para NÃO fazer isso.
Ela está lutando com a voz do meu pai. Rosnando e arranhando,
tentando abafá-lo.
Ela está tentando me impedir de cometer um erro.
Eu tenho que agir rapidamente. Quanto mais tempo eu ficar aqui,
maior a probabilidade de ser pega.
Eu poderia terminar o trabalho agora e afundar minhas garras em seu
pescoço...
Mas minha loba me segura.
Eu não posso fazer isso.
— Você precisa ir, correr, se esconder...
Xavier sorri. Claramente não é seu estilo.
Dou um passo em direção a ele para desfazer suas correntes.
— Você vai precisar da chave, — ele diz. — Há prata dentro delas para
nos impedir de nos transformar.
— Não é um problema para mim, — eu digo.
Meu pai, em sua infinita sabedoria, me disse que eu tinha alguns
benefícios de ser parcialmente humana.
Embora eu tenha as habilidades aprimoradas de visão, cheiro e som
dos lobisomens, não sou afetada por sua aversão à prata ou à acônito.
Insiro uma garra novamente e uma das algemas se abre.
Xavier me lança um olhar perplexo. — Quem é você? Por que você
está me deixando ir? Eu nem te conheço...
Eu insiro uma garra na fechadura em sua outra mão e tento fazer o
enferrujado mecanismo interno girar. — Você não me conhece, mas
conhece meu pai...
Ele parece mais confuso do que nunca.
— Ele quer você morto. Eu deveria te matar. Mas eu não vou.
— Por que não?
— Eu não sou uma assassina.
Xavier ri. — Qualquer um pode ser um assassino.
Eu ignoro sua observação. — Você tem que desaparecer. Se Alex não
encontrar você, meu pai certamente encontrará.
— Por que ele me quer morto?
— Ele considera você uma ponta solta. Você sabe muito sobre seus
'amigos'... os Caçadores.
Os olhos de Xavier brilham em compreensão. Ele deve saber quem é
meu pai. E ele deve conhecer o fluxo de informações que ele está
tentando conter.
A segunda algema se abre e Xavier fica livre.
Verifico se o guarda ainda não voltou antes de sair da cela.
— Tudo bem. — eu digo. — Vai.
Sem dizer mais nada, Xavier passa por mim.
Observo a silhueta de sua figura corpulenta desaparecer no corredor.
O que eu fiz?
Eu deveria estar negociando uma paz duradoura entre humanos e
lobisomens. Como semear o caos funciona em direção a esse objetivo?
ARIEL

Eu acordo, de volta na minha cama, com a sensação de Alex beijando


meu pescoço. Eu me aconchego mais perto dele enquanto ele aperta seus
braços em volta de mim.
Imagens da noite passada flutuam em minha memória.
A cerimônia de acasalamento. A sala de treinamento secreta. O sexo.
Eu suspiro. Foi uma noite perfeita.
— Você está bem, amor? — Alex diz. — O que você está pensando?
— Estou apenas feliz, — eu digo. — Por Amy e Marius. Por nós.
Alex abre espaço atrás de mim para que ele possa me virar de costas.
Ele me olha bem nos olhos, apoiado no cotovelo ao meu lado.
— Você gostou da surpresa? — ele diz. — Você não achou que era uma
velha sala de guerra suja?
— É uma velha sala de guerra suja, — eu digo. — Mas eu amei.
Ele sorri.
— Ninguém sabe tão bem do que eu preciso como você.
— Você também sabe do que preciso, — diz ele. — Normalmente
antes de eu mesmo saber.
— Verdade, — eu digo. — E é por isso que tenho que perguntar...
Como vão as negociações? Deve ser muita pressão. Eles são muito
importantes.
Alex expira. — Não sei.
— O que você quer dizer?
— O tratado não deu errado nem nada, — diz ele. — Mas tenho que
fazer concessões com as quais não me sinto confortável...
Eu levanto minhas sobrancelhas como uma indicação para ele
continuar.
— O presidente quer patrulhar nossas fronteiras com seus militares.
Em ambos os lados. Ele quer que eu permita tropas humanas nas terras
da Matilha Real.
Eu me arrepio com isso, mas faço um esforço para permanecer
concentrada. Eu sei que não sou exatamente imparcial quando se trata
de humanos. — Sei que esse tratado era importante para meu pai, — diz
Alex. — Mas eu me sinto perdido. Não sei qual é a decisão certa...
— Alex, — eu digo, estendendo a mão e acariciando seu rosto. — Você
é um rei forte. Não se trata do que seu pai faria. Isso é sobre o que você
acha que é certo. Confie nos seus instintos.
— Não sei, — diz ele. — Eu não quero que eles ocupem nossas terras.
Mas...
— Então você não precisa deles, — eu digo. — Temos as coisas sob
controle aqui.
Ouve-se uma batida na porta e somos arrancados da conversa.
Deve ser minha família. Eles são os únicos inconvenientes o suficiente para
bater à porta tão cedo pela manhã...
— Estamos ocupados, — digo, levantando a voz. — Seja o que for,
você pode nos contar mais tarde.
— Estão muito ocupados? — Para minha surpresa, a voz do outro lado
da porta é a de Dom.
Se ele está nos interrompendo tão cedo, deve ser algo importante. E
deve ser ruim.
Alex se levanta e me entrega meu roupão.
— Um segundo... — eu digo, amarrando o roupão em volta da minha
cintura. — Pode entrar!
Dom abre a porta, com cautela no início. Ele olha Alex em sua boxer e,
em seguida, para mim em meu roupão e sorri. Depois, como se tivesse se
lembrado de suas notícias urgentes, ele começa.
— Lamento interromper, mas — bem, não há uma maneira fácil de
dizer isso — houve uma violação de segurança.
— Que tipo de violação de segurança? — Alex diz.
— O tipo de violação interna. O prisioneiro, Xavier, escapou. Não há
sinal dele. Mandei uma mensagem para o General Dave e ele colocou um
esquadrão nas buscas, mas até agora... nada.
Uma memória repentina passa pela minha mente: Alex dispensando o
guarda da masmorra para que pudéssemos entrar no túnel secreto sem
revelar sua entrada.
Eu olho para ele e ele tem uma expressão sombria no rosto.
Ele lê minha mente: — Sim, pode ter sido naquela hora... Mas ainda
assim, ele precisaria de ajuda para sair de sua cela, sem mencionar suas
algemas.
— Ele não conseguiria escapar sozinho? — Eu digo. — Enquanto o
guarda estava na pausa?
— Não, — diz Alex. — Ele estava bem preso. Seria impossível sair sem
ajuda. Alguém de dentro do palácio o ajudou a escapar na noite passada.
Um trabalho interno. Alguém traiu o reino.
Dom expira. — Então, nossos suspeitos são apenas... centenas de
pessoas no palácio na noite passada.
— Isso. Deve ter sido durante a comoção da cerimônia de
acasalamento, — diz Alex. — Foi a distração perfeita para alguém se
aproveitar do momento e soltá-lo...
ALEX

Por mais tocante que seja o fato de Ariel acreditar em mim, sua fé está
equivocada.
Eu certamente não tenho as coisas sob controle aqui. Isso é
exatamente o oposto de controle.
Um fugitivo está à solta e, pelo menos em partes, a culpa é minha.
Na verdade, eu sou o Alfa e o rei — é totalmente minha culpa.
É meu trabalho manter a matilha e o reino seguros, e eu falhei.
O criminoso mais perigoso do reino escapou bem debaixo do meu
focinho. E ele foi ajudado por alguém de dentro.
Possivelmente alguém em quem confio...
É exatamente por isso que precisamos de humanos do nosso lado.
Precisamos da ajuda militar deles, gostemos ou não.
Não consigo nem cuidar da porra da minha própria casa.
Eu me viro para Dom. — Precisamos mobilizar um grupo de busca
maior. Um esquadrão não é suficiente. Esta é a nossa maior prioridade.
Não há como dizer quem o deixou sair ou quais são seus planos...
Dom assente. — Eu concordo. Não podemos esquecer do que ele fez.
Este é o criminoso que envenenou os Alfas. Este é o lobisomem que
trabalha com Caçadores.
Estou feliz que estamos na mesma sintonia. — Exatamente. Todo
cuidado é pouco.
Também preciso da ajuda do presidente. Não posso negar isso agora.
A fuga de Xavier é um exemplo flagrante de minha incompetência
como líder. Tenho certeza de que recusar ajuda militar agora faria os
humanos pensarem duas vezes antes de assinar um tratado com um rei
tão tolo.
Não posso deixar meu ego atrapalhar.
E mesmo assim... não consigo evitar. Uma pequena parte de mim
pensa sobre o quão fraco isso vai me fazer parecer — não apenas para os
humanos, mas também para todo o reino dos lobisomens.
Eu deixei o ex-par psicopata do meu par escapar de dentro dessas
paredes.
Mas por mais fraca que seja a minha posição, seria pior não fazer
nada. Seria pior não aceitar ajuda quando ela é oferecida.
— Queria saber quem foi, — Dom diz. — Queria dizer ao traidor
umas verdades...
— Eu sei quem é, — diz Ariel. — Eu sei exatamente quem fez isso.
Sem dizer mais nada, ela sai furiosa da suíte real, deixando a porta
balançando nas dobradiças.
Merda.
Tenho a sensação de que sei para onde ela está indo. Eu poderia dizer
pela expressão de raiva em seu rosto quando ela saiu daqui em busca de
vingança.
Isso vai ser um caos.
Eu sei que ela tem um excelente motivo para fazer essa suposição, mas
é apenas isso — um palpite? Ou ela sabe algo que eu não sei?
Dom levanta uma sobrancelha para mim enquanto eu hesito.
Eu sei que é meu trabalho como rei, e como par de Ariel, resolver isso.
Mas é a última coisa que quero fazer agora.
Eu expiro, antecipando o que está por vir.
Eu sigo meu par para fora do quarto e pelo corredor. Dom segue logo
atrás de mim.
Ariel já localizou a acusada antes de seguirmos pelo corredor e
entrarmos na ala de hóspedes.
— Nataliaaa! — A voz de Ariel ecoa pelo corredor. — Natalia! Saia
daqui...
A ameaça em seu tom é palpável. Na verdade, ouço um rosnado no
final de sua explosão.
Ariel está pronta para entrar em combate. Ela pode matar Natalia se ela
perder o controle.
Enquanto sua irmã chama seu nome, Natalia emerge de seu quarto
como se ela não tivesse pregado o olho.
Poderia ter sido ela?
Xavi começa a chorar de dentro do quarto, mas ela não se vira.
— O que foi? — ela diz. — Você está acordando o castelo inteiro.
Os olhos de Ariel se acendem com o fogo da raiva de um lobisomem.
— Você. O. Libertou.
Ariel avança, empurrando Natalia de volta para a sala.
Seus corpos colidem enquanto Natalia resiste, mas Ariel segura os
ombros de sua irmã e a joga contra a estrutura da cama de madeira.
Natalia se afasta da moldura e ataca Ariel, jogando-a contra a parede
com tanta força que deixa uma marca.
O choro de Xavi se intensifica com a violência.
Eu ouço Dom respirar fundo enquanto Ariel agarra Natalia pelos
cabelos e a joga de volta no corredor.
— Por que você fez isso Natalia? — Ariel grita.
Eu posso ver a fúria animalesca crescendo entre as duas.
Há silêncio enquanto as lobas se encaram, e então o pandemônio se
inicia.
Natalia ruge, estende as garras e salta para a frente. Ariel faz o mesmo.
Se eu não parar com isso agora, eles vão se matar.
Capítulo 17
DESPERTARES INCONVENIENTES
ARIEL

A raiva está tomando conta dos meus sentidos e não vou tentar
impedir.
Eu não me importo mais.
Meu corpo voa em cima de Natalia.
Minha irmã grita enquanto eu a derrubo no chão e a mantenho presa
com o peso do meu corpo.
Ela se contorce debaixo de mim, desesperada para fugir.
Mas não vou deixar.
Ela foi longe demais.
Ela me machucou demais.
Eu puxo minha mão para trás, me preparando para entregar a maior
surra do século, quando sinto Alex me agarrar por trás.
Ele me tira de cima de Natalia, arrastando minha bunda ao longo do
piso de madeira liso enquanto eu tento me soltar furiosamente.
— Me larga, — eu grito para ele, mas ele apenas segura ainda mais
forte. — Não se envolva. Isso é entre mim e minha irmã.
— Qual é o problema exatamente? — Natalia diz. — Além do fato de
que você está agindo como um psicopata.
— Não se faça de boba. Natalia. Como você pôde me trair assim? — Eu
pergunto. — Depois de tudo que fiz por você?
— Hah! — Ela bufa. — O que você fez por mim?
— Quando você quis ver Xavier, eu levei você até ele. E depois,
quando você mudou de ideia e queria ele fora daqui, providenciei para
que ele fosse transferido!
Eu me aproximo dela, lentamente, metodicamente, enquanto flashes
vermelhos começam a nublar minha visão.
— Mas você não podia deixar ser do meu jeito, não é? — Eu continuo.
— Você precisava ajudá-lo a escapar. Você precisava que fosse do seu jeito.
Conforme as palavras saem da minha boca, os olhos de Natalia
instantaneamente, quase comicamente, se enchem de lágrimas.
— Xavier... Xavier se foi?
Uma grande lágrima escorre dramaticamente em sua bochecha.
Eu já vi Natalia fazer esse teatrinho de choro falso quando éramos
adolescentes, mais vezes do que eu poderia contar.
— Essa cena sempre funcionou com Dianne, mas não vai funcionar
comigo, — disparo.
— Ariel, você está equivocada, — diz ela, enxugando o rosto com a
manga. — Mas você claramente tem sua opinião. Nada do que eu disser
vai fazer você acreditar que não fui eu.
Ela dá um passo destemido para longe do canto em que estava se
encolhendo momentos antes.
Eu vejo seus olhos brilharem diabolicamente para Alex, ainda parado
em silêncio atrás de mim.
— Se Xavier escapou, não é minha culpa, — diz ela. — Não é minha
culpa que seu par seja tão fraco. Ele não consegue controlar o que está
acontecendo em sua masmorra, muito menos em seu reino.
É isso.
A gota d'água.
Ela pode me insultar o quanto quiser...
Mas Alex?
Ele está fora de cogitação.
Eu me atiro nela e sinto meu corpo tremendo, pronto para se
transformar novamente.
Mas agora dois pares de mãos me seguram enquanto Dom e Alex me
puxam de volta.
Merda.
— Alex! Você ouviu o que ela disse, não ouviu?! Ela libertou Xavier e
agora ela está culpando você!
Ele me vira para que fiquemos cara a cara.
Eu vejo um olhar distante e dolorido em seus olhos que
imediatamente me cala.
— Ela está certa. Ariel, — Alex diz suavemente. — Eu não sei quem
ajudou Xavier a escapar, mas precisamos de provas antes que você possa
começar a torturar Natalia.
— Mas Alex...
— Não. Ariel. Se você precisa ficar com raiva de alguém, — diz ele
sombriamente, — fique com raiva de mim. Eu dispensei o guarda.
Ele abaixa a cabeça, soltando suas mãos de mim.
Eu olho de volta para Natalia.
Ela está alisando suas roupas e cabelos emaranhados.
— Você ainda vai me dar um tapa? — ela pergunta.
Eu balanço minha cabeça em negativa.
— Parece que a única coisa que ele consegue controlar é você, — ela
diz.
Respiro fundo e expiro lentamente pela boca.
Você não pode matá-la, Ariel, eu me lembro.
Ela tem um filho.
Mas mesmo assim...
— Você está morta para mim, — eu digo, antes de me virar e sair
correndo.
ALEX

Enquanto caminho pelo corredor em direção ao meu escritório, ouço


as palavras de Natalia ecoando em minha cabeça: Ele não consegue
controlar o que está acontecendo em sua masmorra, muito menos em seu
reino.
Eu gostaria de poder esquecê-las e apenas prendê-la como fiz com seu
par... mas eu sei que ela está certa.
A cada dia que passa, parece que o reino está escapando das minhas
mãos.
E agora Xavier está solto novamente.
Aquele filho da puta.
Eu deveria tê-lo matado quando tive a chance, em vez de deixá-lo viver
para me humilhar assim.
Quando o encontrarmos...
Bem...
Minha misericórdia por aquele monstro acabou, para não dizer outra
coisa.
Quando me aproximo da porta do meu escritório, vejo que Vivian está
lá, esperando por mim.
Pela expressão sombria em seu rosto, posso ver que ela já soube da
fuga de Xavier.
Sem dizer nada, eu destranco a porta e a deixo entrar.
Quando estamos sentados frente a frente na minha mesa, finalmente
consigo engolir em seco e falar as palavras mais honestas que consigo
pensar.
— Eu não sei o que fazer, — eu digo, minha voz tremendo.
— Eu sinto muito, — ela diz.
— Não é sua culpa, — eu respondo, afundando minha cabeça em
minhas mãos.
Eu rejeitei a oferta de intervenção militar de seu presidente.
Eu disse ao guarda para deixar seu posto.
E eu mantive Xavier vivo todo esse tempo, em vez de dar a ele o
castigo que ele merecia.
Se a culpa for de alguém, é minha.
VIVIAN

— Não é sua culpa, — ele me diz, e tenho que engolir um pouco da


bile que sobe pela minha garganta.
Deusa... se ele soubesse a verdade.
É totalmente minha culpa.
Eles me receberam em sua matilha, me convidaram para suas festas, me
contaram seus segredos...
E foi assim que eu os retribuí.
Metade de mim quer confessar tudo agora — admitir tudo.
Mas a outra metade está apavorada com meu pai e com o castigo
brutal que ele vai me dar se eu arruinar seu plano.
Então, em vez disso, apenas fico sentada em silêncio, fervendo de
raiva de mim mesma.
— Você pode me fazer um favor, Vivian? — Alex pergunta, e eu me
ajeito para prestar atenção.
— Qualquer coisa, — eu digo... e falo sério. Farei o que for preciso
para tirar essa expressão perturbada de seu rosto.
— Você pode marcar outra ligação com o presidente? — ele pergunta.
— Estou pronto para aceitar sua ajuda.
O quê?
Não posso acreditar que ele está dizendo isso depois de ser tão
resistente à ideia.
— Tem certeza? — Pergunto-lhe.
— Sim, — diz ele com firmeza. — É hora de impor mais poder. Os
Caçadores foram capazes de usar Xavier para se infiltrar no meu reino
antes. Se eles o encontrarem antes de nós, estaremos com sérios
problemas.
Eu aceno humildemente em concordância. — Vou agendar a ligação,
— eu digo.
Em seguida, eu saio da cadeira e caminho para o corredor, culpada
demais para olhar nos olhos dele por mais um segundo.
Enquanto sigo em direção ao meu quarto, minha respiração falha e o
pânico começa a se instalar.
Não há para onde correr.
Eu traí os lobos ao libertar Xavier e desobedeci a meu pai ao não o
matar.
O que quer que eu faça, quem quer que eu tente agradar, nunca será
bom o suficiente.
Estendo minha mão e a pressiono contra a parede.
Estou respirando tão forte e rápido agora que minha cabeça está
começando a girar.
Sinto que estou prestes a desmaiar.
Até que recebo um alerta em meu telefone que torna meu pânico
ainda mais paralisante: Uma mensagem de meu pai.
Pai: Eu disse para você matá-lo.

Pai: Mas você é incapaz de fazer uma coisa simples.

Pai: Agora talvez eu deva matar você.

Pai: Para mostrar como é realmente fácil.

Vivian: Ele se foi.

Vivian: Isso é tudo que importa.

Vivian: Ele não vai dar as caras aqui de novo.

Pai: É melhor você torcer para que esteja certa...

Pai: Pelo seu próprio bem.

ARIEL

Merda.
Estou atrasada para as aulas de Luna.
De novo.
E pela primeira vez, não estou apreensiva, porque honestamente
preciso de alguns conselhos.
Adoraria saber como Maria lidaria com toda a situação de Natalia, já
que bater na minha irmã está aparentemente fora de questão.
Mas enquanto corro em direção à ala do palácio de Maria, alisando
meu vestido e tentando parecer apresentável, posso instantaneamente
sentir que algo está errado.
Normalmente quando eu chego, Maria e minha mãe estão me
esperando com impaciência, já brigando entre si.
Quando me aproximo da sala agora, o ambiente está absolutamente
silencioso.
Quando eu abro a porta e entro, eu as vejo sentadas juntas com seus
rostos enterrados em um jornal.
Maria espia por cima do papel quando ouve meus passos.
Sua expressão é fria, como uma pedra.
— A notícia sobre Xavier foi divulgada? — Eu pergunto timidamente,
com medo de quebrar o silêncio.
— Sim..., — diz Maria. — E outras coisas também.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto.
Ela dobra o papel e o estende para mim.
Eu me aproximo e pego de suas mãos.
Eu engulo em seco quando vejo a foto estampada na primeira página.
É uma foto minha.
Deitada com as pernas abertas na pista de dança.
Enquanto um stripper se esfrega em cima de mim.
Deusa, não.
Meus olhos voam para a manchete no topo da página em letras
grandes: LUNA FESTEIRA SE SOLTA ENQUANTO O REINO ESTÁ EM
CRISE
— Ah, Ariel, — eu ouço Dianne suspirar. — Olhe o que você fez. Eu
disse que nunca deveríamos ter ido àquele lugar.
Ela está certa.
Eu estrague! tudo.
Tudo mesmo.
Capítulo 18
POR UM BEM MAIOR
ARIEL

Eu desabo na cadeira mais próxima e leio a manchete do jornal de


novo.
E de novo.
LUNA FESTEIRA SE SOLTA ENQUANTO O REINO ESTÁ EM
CRISE
Não acredito que fui reduzida a isso aos olhos do público.
Uma garota fútil recebendo uma dança erótica no Lua Cheia.
Isso é o que eu ganho por tirar uma noite de folga...
— Maria, — digo quando a vejo se levantar da cadeira. — Eu sinto
muito. Não fazia ideia de que alguém estava tirando fotos.
— Eu sei que não, — ela diz. — Avante. Devo providenciar para que
uma resposta seja emitida do palácio.
— Como posso ajudar? — Eu digo, levantando-me para alcançá-la.
— Por enquanto, acho melhor você não fazer nada, querida.
— E as aulas? — Eu pergunto, minha voz gotejando com desespero. —
Eu preciso de um conselho.
— Hoje não, — ela diz, firme.
Quando ela desaparece da sala, afundo-me na cadeira, desviando os
olhos do olhar crítico de Dianne.
Mas eu sei que não posso evitar minha mãe para sempre.
— O que quer que você vá dizer, não preciso ouvir agora. — Minha
voz falha quando eu falo. — Estou fazendo o meu melhor.
— Isso não é verdade, Ariel. Você não tentou tudo.
— Eu nunca faltei nas minhas aulas de Luna. Eu uso os vestidos
sufocantes. Eu digo as palavras educadas. Eu como com os talheres
certos. O que mais eu posso fazer?
— Você pode parecer uma rainha por fora, mas eu sei que seu coração
está em um lugar diferente. Você está sempre distraída por aqueles
guerreiros da matilha.
— Não posso simplesmente esquecer meus deveres de guerreira por
completo.
— Esse é o problema. Enquanto você tiver deveres além de ser Luna,
você nunca será capaz de apoiar Alex de todas as maneiras que deveria.
Eu sei o que ela está me dizendo para fazer.
Ela quer que eu saia dos guerreiros da matilha — acabar com meu
serviço para sempre.
— Mas isso não é o que Alex iria querer, — digo a ela. — Ele não quer
que eu faça esse tipo de sacrifício por ele.
Minha mente passa por imagens da noite anterior...
Lutando com meu par...
Prendendo-o no chão...
Vendo como seus olhos se iluminaram enquanto ele me observava fazer
algo que eu gostasse...
— Deixe-me contar um segredo sobre o acasalamento, Ariel. — diz
minha mãe, me puxando de volta ao presente.
— O quê?
— Às vezes seu par não sabe o que é melhor para ele. Às vezes, você
precisa tomar as decisões difíceis sozinha e mostrar a ele o que precisa.
Merda.
Eu nunca pensei que viveria para ver esse dia, mas minha mãe pode
realmente estar certa.
Meu olhar volta para o jornal.
Luna Festeira...
Eu já decepcionei o reino.
Posso realmente decepcionar os guerreiros também?
ALEX

Alex: Alguma atualização sobre a situação do Xavier?

Gen. Dave: Nós vasculhamos a fronteira da matilha por todos os


lados.

Gen. Dave: Nenhum cheiro dele ainda.

Alex: Continue procurando.


Eu bato meu celular na minha mesa.
Não adianta...
Xavier teve muito tempo para ir o mais longe possível da matilha.
Ele se reunirá com os Caçadores a qualquer momento, se já não
estiver com eles.
E só a Deusa sabe que problemas estão reservados para mim e Ariel... e
para todo o reino.
Nesse momento, o telefone fixo da minha mesa toca.
Eu sei o que isso significa...
Respiro fundo e atendo a chamada.
Imediatamente, ouço a voz suave do presidente do outro lado da
linha.
— Olá, Vossa Majestade, — ele diz, — Fiquei muito feliz quando
Vivian me disse que você queria conversar.
— Olá, senhor presidente, — eu digo. — Tenho certeza de que você já
ouviu falar sobre a fuga de nosso prisioneiro, Xavier.
— Sim, é uma situação muito... infeliz, — diz ele com um expiro alto.
— Como vão as buscas?
— Nenhuma boa notícia ainda, — eu digo, derrotado.
Há uma pausa antes que o presidente fale novamente.
— Sei como é difícil engolir seu orgulho e pedir ajuda, — diz ele. —
Mas não há vergonha em deixar nossas tropas patrulharem suas
fronteiras. Temos um interesse comum em encontrar Xavier. Ele
também representa uma ameaça para as minhas comunidades.
E lá vamos nós...
Pedir intervenção militar humana é a última coisa que esperava fazer
em meu primeiro ano oficial como rei.
Mas os lobos planejam e a Deusa ri...
— Obrigado, Sr. Presidente, — eu digo. — Ficaria muito grato pela sua
ajuda.
— Bom, — ele diz. — Estou feliz que você finalmente tenha mudado
de ideia. Vou avisar meu general imediatamente.
— Vou avisar o meu também.
Desligo o telefone e tento ignorar o som do meu ego estourando
como um balão.
Em todo o reinado de meu pai, ele nunca precisou pedir esse tipo de
ajuda.
Mas não tem como voltar atrás agora.
Tenho trabalho a fazer
Se vamos ter soldados humanos chegando às nossas fronteiras, os
Alfas precisam ser informados.
Alex: Ei, Dom — convoque uma entrevista coletiva o mais rápido
possível.

Dom: Qual é o anúncio?

Dom: Você engravidou a Rainha???

Alex: Dom, por favor Alex: É coisa séria Alex: Faça isso logo
Dom: Deixa comigo, chefe Eu desvio o olhar do meu telefone ao ouvir
passos e encontro Ariel parada no batente da porta, carregando uma
feição contorcida de preocupação.
Ah não...
O que foi agora?
Eu me levanto da minha mesa e corro até ela.
— Qual é o problema, amor? — Eu pergunto.
Ela empurra um jornal em minhas mãos.
Eu desdobro e leio a manchete.
Deusa...
Este dia realmente não pode ficar pior.
Eu a puxo para um abraço apertado.
— Estou estragando tudo, — diz ela, com o rosto enterrado no meu
peito.
— Bem-vinda ao clube, — eu sussurro em seu cabelo. — Mas eles
estão apenas tentando vender jornais. Eu poderia fazer um álbum com
todas as manchetes de 'Príncipe Playboy' que eles escreveram sobre mim.
Vai passar.
Eu gostaria de poder ficar até ter certeza de que ela se sente melhor,
mas não tenho tempo.
— Ariel, — digo depois de um momento, — sinto muito, mas tenho
que ir. Há uma coletiva de imprensa...
— Sério? — ela diz, alisando o cabelo. — A que horas começa? Devo
me vestir para isso agora?
Eu olho para seu rosto angustiado. E depois para a primeira página do
jornal ainda em minhas mãos.
— Sabe de uma coisa, amor? Por que você não tira o resto do dia de
folga? — Eu digo. — E você odeia coletivas de imprensa mesmo.
Eu pressiono meus lábios nos dela e, em seguida, saio pela porta, me
preparando para o que com certeza será um caos midiático.
ARIEL

Eu vejo Alex ir e meu coração afunda.


Mesmo que o que ele disse seja verdade — mesmo que eles estejam
apenas tentando vender jornais — eu sei que o envergonhei.
Uma das minhas principais funções como Luna é apresentar uma
frente unida com Alex aos olhos do reino. Agora, ele nem quer que eu
fique ao lado dele na coletiva de imprensa.
Eu penso no conselho de minha mãe.
E agora sei que não tenho outra escolha a não ser ouvi-la.

Eu sigo o caminho de sempre para o quartel dos guerreiros.


Não consigo contar quantas vezes fiz essa rota, usando meu uniforme.
Agora estou com um vestido de seda, segurando minha armadura em
minhas mãos.
Quando entro na sala de treinamento, Steve já está lá esperando por
mim.
Ele se levanta quando me vê.
— Está tudo bem, Ariel? — ele diz, seu rosto cheio de preocupação. —
Sua mensagem foi tão vaga.
— Alguma notícia sobre o Xavier? — Eu pergunto, tentando adiar o
inevitável.
Ele balança a cabeça. — Não. Por que você não estava patrulhando
conosco? Enviamos um alerta a todos os guerreiros.
— Steve... é sobre isso que vim falar com você.
— O que foi?
— Eu... bem, eu só...
As palavras estão presas na minha garganta.
Meu coração não quer dizê-las.
Mas minha mente sabe o que é melhor...
Se eu não fizer isso agora, nunca farei.
— Eu preciso renunciar aos guerreiros, — eu digo resolutamente.
— O quê?!
Pela expressão em seu rosto, sei que essa é a última coisa que ele
esperava ouvir.
— Não me pergunte o porquê, — eu digo. — Apenas saiba que não
tenho escolha.
Seus olhos confusos procuram os meus.
Se mais uma pessoa olhar para mim com decepção hoje, sinto que
posso quebrar ao meio.
— Eu não entendo..., — diz ele. — Você é a melhor que temos. Eu ia
recomendá-la para coronel quando me aposentasse.
Ai.
Suas palavras doem.
Mas não há tempo para questionamentos.
— Eu realmente sinto muito, Steve, — eu digo.
— E quanto ao seu esquadrão? — ele pergunta. — Como você acha
que eles vão se sentir sobre sua capitã abandoná-los?
— Atribua a eles um novo capitão. — eu digo, tentando disfarçar a dor
em minha voz. — Eles merecem alguém que possa se dedicar totalmente
a eles.
De repente, sua expressão triste se torna algo parecido com raiva.
Ele dá um passo firme em minha direção e agarra meu pulso.
Ele o vira para que eu olhe diretamente para a minha tatuagem de
guerreiro em forma de coroa — aquela que me foi dada no dia da minha
iniciação.
— Quando conseguiu essa marca, você se comprometeu. Isso não
significa nada para você? — ele pergunta.
— Claro que significa, — eu digo, puxando minha mão de volta. —
Mas, desde então, recebi uma nova marca.
Eu puxo a gola do meu vestido e aponto para a cicatriz da mordida de
Alex no meu pescoço.
— Fiz novos compromissos, — digo.
— Alex está obrigando você a fazer isso? — Steve pergunta incrédulo.
— Não. É minha decisão. Por favor, não torne isso mais difícil do que
já é.
E com isso, entrego a ele minha armadura e saio da sala de
treinamento.
Capítulo 19
QUEM REALMENTE É VOCÊ?
ARIEL

Na manhã seguinte, durmo mesmo depois do despertador tocar,


devastada por uma ressaca de arrependimento.
Renunciar aos guerreiros é a coisa mais difícil que já fiz — e já passei
por dificuldades suficientes por várias vidas.
Eu me espremo em mais um vestido sufocante e caminho pelo
corredor em direção à sala de jantar, sentindo uma dor de cabeça terrível.
Encontro minha mãe sentada à mesa, tentando persuadir o bebê Xavi
a comer alguns ovos mexidos.
Xavi resiste, cuspindo cada mordida em seu babador já imundo.
— Mamãe! — ele grita. — Mamãe!
— Onde está a 'mamãe' dele, afinal? — Eu pergunto, sentando ao lado
deles.
Não vi Natalia desde que a ataquei e estou feliz por isso.
Já estou oscilando à beira de um colapso, e a visão de seu rosto
presunçoso pode me fazer surtar.
— Natalia ainda não saiu da cama, — diz Dianne com um suspiro. —
Aparentemente, nem mesmo o som de seu filho chorando é suficiente
para acordá-la.
Eu vejo a hora no meu telefone. São 11h30.
Dormir até tão tarde não é comum para ela.
Natalia sempre acordou cedo, levando pelo menos uma hora para
escolher a roupa e se maquiar.
Acho que ser uma traidora de merda é um trabalho cansativo...
Eu me levanto de novo, limpo o rosto de Xavi com um guardanapo e
dou um beijo na bochecha dele.
É
É engraçado como posso amar essa criança com todo o meu coração,
apesar de meus problemas profundos com seus pais.
— Para onde está indo? — Dianne me pergunta. — Treinamento de
guerreiro?
— Sobre isso... — eu digo, olhando para o chão de madeira. — Eu
renunciei aos guerreiros.
Eu olho de volta para minha mãe e vejo um sorriso satisfeito dominar
seus lábios.
— É sério? — ela me pergunta.
Eu aceno em afirmativa.
— Ariel, minha filha, — diz ela, pegando minha mão em sua mão
gelada. — Estou tão orgulhosa de você.
Uau.
É a primeira vez que ouço minha mãe dizer essas palavras para mim —
palavras que, no fundo, sempre quis ouvir.
Então, por que ainda me sinto um lixo?
Acho que até mesmo a famigerada aprovação de minha mãe não é
suficiente para reparar uma ferida tão profunda e tão recente.
— Obrigada, mãe, — eu digo.
Seu sorriso fica ainda mais brilhante.
É quando eu percebo que esta é a primeira vez que a chamo de mãe
em anos. Provavelmente porque é o mais próximo que me sinto dela
desde...
Bem...
Sempre.
— Você gostaria de tomar café da manhã comigo? — ela pergunta. —
Agora que seu tempo não está sendo tomado por esse absurdo...
— Não, desculpe, — eu disse. — Vou me encontrar com Vivian em
breve.
Eu faria qualquer coisa para me manter ocupada hoje e manter minha
mente longe dos guerreiros. Mesmo que isso signifique ajudar Vivian a
planejar cada detalhe chato da cerimônia de unificação.
— Muito bom, — ela diz.
Eu me viro para sair, mas sou interrompida por minha mãe chamando
por mim.
— Pode não parecer agora, — diz ela, — mas você tomou a decisão
correta.
Deusa, espero que ela esteja certa.
Porque tudo isso não poderia parecer mais errado Eu tenho que
impedir que meus olhos rolem para a parte de trás da minha cabeça
enquanto Vivian me entrega mais uma pasta cheia de amostras de toalhas
de mesa.
— Esse aqui é perfeito, — eu digo, abrindo a pasta e apontando para
um pedaço de pano aleatório, desesperada para acabar com isso.
— Ah, não, — diz ela, — essa cor é muito áspera.
— É azul, — eu digo.
— Um azul muito áspero. A estética da cerimônia precisa ser serena.
Acolhedora.
— Minha Deusa, — eu suspiro, — Eu não fui feita para isso.
Vivian me olha com um sorriso tranquilizador. — É por isso que você
tem a mim.
Ela continua folheando meticulosamente as amostras dispostas na
mesa do pátio.
— Sabe, — ela diz após um momento de silêncio, — de onde eu
venho, todo mundo está sempre dizendo 'Meu Deus' isso, 'Meu Deus'
aquilo. Deve ser muito... fortalecedor que seu deus seja uma mulher.
Hum...
Todo mundo que conheço foi criado louvando Selene. Muitas vezes
esqueço que grande parte do mundo não a honra.
— Eu nunca pensei sobre isso dessa forma, — eu digo. — Mas, para ser
honesta, não tenho me sentido muito fortalecida atualmente.
E eu não tenho me sentido muito conectada com a Deusa também...
— Diga-me se estou ultrapassando meus limites aqui, — Vivian diz,
fechando a pasta e olhando para mim com atenção, — mas você parece
diferente hoje. Quer conversar sobre isso?
Não sei...
Eu quero?
Alex tem estado muito ocupado nos últimos dias. E com Amy
viajando, não tenho uma amiga com quem conversar sobre tudo o que
tenho sentido.
É isso que Vivian é para mim agora?
Uma amiga?
Sinto seu olhar gentil quebrando minhas barreiras e me surpreendo
quando começo a falar.
— As últimas semanas têm sido realmente difíceis, — eu digo.
Ela acena com a cabeça de forma encorajadora, então eu continuo.
— Eu sinto que tenho que mudar quem eu sou, indefinidamente, para
agradar a todos. É como se eu estivesse me tornando uma colcha de
retalhos mutante das expectativas de outras pessoas.
— Isso não deve ser bom, — diz ela. — Especialmente com os olhos do
reino em você.
— Eu quero fazer a coisa certa para todos. Mas como posso fazer isso
se ainda estou tentando descobrir quem eu sou?
— Isso vai soar clichê, Ariel. — diz ela, — mas acredite em mim
quando digo que sei exatamente como você se sente.
— Mesmo? — Eu pergunto a ela. — Acho difícil. Você parece sempre
tão organizada. Como se você tivesse tudo planejado.
— Esta moradia pode parecer incrível por fora, — diz ela, acenando
com a mão sobre suas roupas passadas, seu cabelo liso, sua maquiagem
intacta. — Mas a base está cheia de cupins, meu bem.
Solto uma risada e sinto um pouco da tensão sendo liberada do meu
corpo.
Ela se junta a mim e, de repente, estamos ambas rindo.
— É bom rir, — eu digo. — Acho que estou precisando disso.
— Eu também, — ela diz.
— Estou feliz que você esteja aqui, — eu digo. — É muito bom ter
alguém em quem posso confiar.
VIVIAN
Alguém em quem posso confiar...
Assim que ela diz essas palavras, minha risada diminui e eu enterro
meu rosto em outra pasta para esconder minha culpa.
Ariel está se abrindo para mim sobre seus problemas, enquanto eu
ainda estou mentindo sobre muitas coisas.
Mas há uma coisa sobre a qual não menti...
Eu realmente entendo como se sente ao constantemente comprometer
partes de si mesma por outras pessoas.
Meu pai controlou todos os aspectos da minha vida e da minha mente
desde o dia em que nasci.
Ele me ensinou que os lobisomens são criaturas sujas, nojentas e
subumanas.
Mas quanto mais tempo passo aqui, mais percebo que tudo o que ele
me ensinou era infundado e errado.
Em minha curta estadia, esses lobisomens me mostraram mais
humanidade do que ele jamais conseguiria.
Eu olho por cima da borda da pasta para Ariel, e não posso deixar de
me perguntar...
E se eu contasse a ela minha verdadeira identidade agora...
E se eu confessasse tudo que fiz...
Ela me aceitaria?
De jeito nenhum.
Isso é apenas ilusão.
O que fiz é imperdoável.
É tarde demais.
Eu vejo meu telefone acender em cima da mesa.
Falando no diabo...
É uma mensagem do meu pai.
Eu deveria abri-la. mas prefiro fazê-lo em particular.
— Ei, Ariel, — eu digo, — se vamos analisar todas essas amostras, acho
que poderíamos tomar um café.
— Definitivamente, — ela diz. — Vou buscar.
Eu não posso deixar de sorrir enquanto a vejo se afastar. Eu estava
planejando usar a desculpa de desaparecer na cozinha e ter um pouco de
privacidade, mas em vez disso, ela se ofereceu.
Ela pode ter o título de Rainha, mas ela não espera ser servida...
Meu sorriso dura pouco quando ouço o som de mais mensagens de
meu pai.
E lá vamos nós...
Pai: Seja discreta, Vivian.

Pai: É melhor você se comportar da melhor maneira possível.

Vivian: O que mais você quer de mim?

Vivian: Xavier se foi.

Vivian: Me deixe em paz e me concentrar no meu trabalho.


Não acredito que acabei de digitar essas palavras.
Algo na minha conversa com Ariel me deu uma faísca de confiança.
E uma onda de raiva de meu pai.
Eu fico olhando para o meu telefone com a respiração presa,
esperando por sua resposta.
E então ela chega.
Pai: Deixar você em paz?!?!

Pai: Eu deveria ter feito isso quando você nasceu Pai: Eu deveria
ter deixado você na sarjeta.

Pai: Mas eu não fiz.

Pai: Agora o MÍNIMO que você pode fazer é me obedecer,


porque se eu te deixar, você não terá nada.

Pai: NADA.
Eu jogo meu telefone na mesa em uma fúria cega.
Como ele ousa dizer coisas tão terríveis?
Agora estou começando a perceber...
Eu sou apenas um peão em seu esquema...
Um peão descartável.
Eu sou um...
Ah não...
Meu telefone cai no chão enquanto os ossos em minhas mãos
começam a rachar, um por um.
NÃO, NÃO, NÃO!
Está acontecendo.
Eu não consigo conter.
Minha pele tem pelos.
Minhas unhas se estendem em garras.
Caninos afiados cortam a pele dos meus lábios até eu sentir o gosto de
sangue.
Eu preciso fugir.
Agora.
Antes que alguém veja que eu me transformei.
Antes que alguém veja que sou um...
— Vivian?
Minha visão está turva, mas a voz de Ariel ressoa em meus ouvidos
alta e clara.
Eu enterro meu rosto em minhas patas... o único lugar que resta para
me esconder agora.
— Vivian... você... você é um lobisomem?!
Capítulo 20
TRANSFORMANDO A REALIDADE
ARIEL

Quase deixo cair os cafés no chão quando volto para o pátio e a vejo.
A pessoa parada na minha frente tem as roupas de Vivian, o cabelo de
Vivian, até mesmo o rosto de Vivian... mas ela também tem pelos, garras
e caninos afiados.
Nunca vi nada parecido com ela antes.
Não totalmente humano, não totalmente lobo.
— Vivian... você... você é um lobisomem?! — Eu pergunto, em choque
completo. Mas em vez de uma resposta, ela apenas enterra o rosto nas
patas.
Estou vendo coisas?
Eu oficialmente enlouqueci?
Todo o estresse está finalmente me afetando?
Mas à medida que me aproximo dela, sei que não estou louca.
Minhas mãos tremem enquanto coloco os cafés na mesa.
Ela ainda não respondeu minha pergunta.
Ela continua escondendo o rosto enquanto seu corpo treme com as
lágrimas.
Mas não vou deixar que ela me evite para sempre.
Eu preciso de respostas.
Eu ando até ela e coloco a mão em seu ombro.
— Vivian, — eu digo suavemente, — você consegue falar desta forma?
Na minha loba, consigo falar somente por meio de uma conexão
mental. Mas ela não se transformou totalmente.
Ela me espia por trás de suas patas.
— Consigo, — ela diz sombriamente.
Eu observo sua aparência.
Seus olhos são da mesma cor castanha profunda, mas agora estão
pontilhados com manchas douradas.
Sua expressão, geralmente fria e controlada, de repente tem uma
característica feroz.
— O que você é? — Eu pergunto maravilhada.
— Meu pai é humano, — ela diz depois de uma longa pausa. — Mas
minha mãe era uma lobisomem.
Minha Deusa!
— Você era uma lobisomem esse tempo todo?!
— Metade lobisomem. — ela diz.
Eu não consigo acreditar nisso.
Eu me sinto mal. Passei muito tempo duvidando de Vivian porque
pensei que ela era humana, mas na verdade ela era uma de nós o tempo
todo.
— Por favor, não conte a ninguém, — ela me implora. — Ninguém
sabe.
— Ninguém?
Ela balança a cabeça.
— Vivian, por quê? Por que tem que ser um segredo?
— Eu não fui criada em torno de lobos, Ariel, — ela diz. — Se as
pessoas me vissem assim, pensariam que sou um monstro.
— Mas você está com a gente agora. Você pode ser livre para mostrar
esse seu lado.
— Ariel, não, — diz ela bruscamente. — Você não entende. Isso
arruinaria minha carreira.
— O presidente não sabe que sua embaixadora é híbrida?
O desespero enche seus olhos enquanto ela procura os meus
suplicando.
— Prometa que não vai dizer nada. Para ninguém, — ela diz.
Como posso recusar?
— Eu prometo.
— Obrigada, Ariel, — ela diz, e então tenta se afastar de mim
novamente.
Eu a paro.
— Estou tão envergonhada. Estou horrível.
— Eu acho que você nunca esteve melhor, — eu digo com um sorriso.
Ela sorri também, e eu tenho outro vislumbre de seus caninos
impressionantes.
— Juro que queria contar a você, — ela diz. — Eu pensava nisso o
tempo todo. Mas eu simplesmente não sabia se você me aceitaria.
Uau...
Não consigo acreditar no trauma que Vivian suportou, tendo que
esconder essa parte de sua identidade para o resto da vida.
Os lobos não gostam de ser ignorados.
O dela deve estar sempre arranhando suas entranhas, desesperado
para sair.
Fui arrancada de minha família pelos Caçadores quando tinha
dezessete anos. Eles tentaram diminuir minha conexão com minha loba.
Mas Vivian não cresceu perto de lobos.
Ela nunca teve a experiência da comunidade de uma matilha ou da
orientação da Deusa da Lua.
Ela teve que navegar na vida de um lobisomem sozinha.
— Claro que te aceito, Vivian, — digo. — Posso te dar um abraço?
Ela acena com a cabeça e eu a puxo para mim.
Eu a aperto, e quando ela afunda no meu toque, não posso deixar de
me perguntar se sou a primeira pessoa a abraçá-la dessa forma.
Quando me afasto, seu pelo sumiu, seus caninos afiados se retraíram e
suas garras foram substituídas por unhas rosa pastel.
Ela enxuga uma lágrima da bochecha agora sem pelos.
— Como você pode ser tão legal comigo quando eu menti para você
esse tempo todo?
— Eu mesma tenho segredos, — digo. — Todo mundo tem.
É verdade.
Poucas pessoas nesta terra sabem sobre minhas habilidades de cura.
Não sei o que faria se essa parte de mim fosse revelada contra a minha
vontade.
— Vou retocar a maquiagem, — diz ela. — Acho que a transformação
borrou tudo.
Mas antes que ela se afaste, ela me olha nos olhos. — Ariel, eu sei que
você sente que todo mundo está tentando mudar você. Por favor, não os
deixe fazer isso.
Com isso, ela pega suas amostras de toalha de mesa e desaparece de
vista.
Eu desabo na cadeira mais próxima, me recuperando de tudo que
acabei de saber.
Não consigo acreditar que Vivian escondeu um segredo tão grande
esse tempo todo.
E ela ainda estaria escondendo se eu não tivesse entrado naquele
exato momento.
Em seguida, minha visão escurece quando duas mãos quentes e
familiares cobrem meus olhos.
— Oi. amor, — a voz de Alex sussurra em meu ouvido.
Eu me levanto, me viro e colo meus lábios nos dele.
— Você parece um pouco abalada, — diz ele. — Aconteceu alguma
coisa?
Eu fiz uma promessa para Vivian.
E vou mantê-la.
Mesmo que isso signifique esconder sua verdadeira identidade de Alex.
— Acabei de planejar mais alguns detalhes para a cerimônia de
unificação, — digo. — Quer dar uma volta pelos jardins?
— Uma volta pelos jardins? — ele me imita. — Podemos nos divertir
mais do que isso!
ALEX

Eu pego a mão de Ariel e começo a puxá-la atrás de mim.


— Vamos em uma aventura!
Depois de alguns passos, minha caminhada se torna uma corrida
enquanto nos conduzo na direção do rio mais próximo.
Deusa.
Eu gostaria que pudéssemos realmente fugir do palácio.
De todas as nossas responsabilidades.
Só nós dois.
— Devagar! — Ariel grita atrás de mim. — Alex, espere!
Eu paro no meu caminho e a pego em meus braços.
— O que foi? Não consegue mais me acompanhar?
— Não... é que... meu calcanhar fica enroscando na bainha do meu
vestido, — ela diz. — Eu não quero que rasgue.
Eu a olho de cima a baixo, finalmente observando sua aparência
completa.
O vestido longo. Os sapatos pontudos. O colar cintilante.
Ela está deslumbrante.
Mas ela não se parece com minha Ariel.
Minha Ariel tem botas sujas, cabelo bagunçado e joelhos machucados.
Ela me vê olhando para ela.
— O que foi? Você não gosta da minha roupa?
— Você está sexy, não me entenda mal, — eu digo. — Mas você fica
ainda mais sexy em sua armadura.
Ela morde o lábio, seus olhos caindo no chão.
— Alex, preciso te contar uma coisa, — ela diz.
Meu coração afunda com aquela combinação horrível de palavras.
— Eu renunciei aos guerreiros.
— O quê!? Por quê?
Eu não acredito no que ela está dizendo.
— Eu... eu não estava mais gostando. Quero me concentrar em
minhas outras responsabilidades.
— Mas você ama os guerreiros mais do que tudo.
— Isso não é verdade, — ela diz. — Eu amo você mais do que tudo.
— Mas...
— Acabou, Alex. Eu já disse ao Steve.
Eu não acredito nisso...
E pelo amor da Deusa, espero que ela não tenha feito isso por minha
causa.
— Não se preocupe, — ela diz, tirando meu cabelo da testa. — Eu
posso tentar roubar de volta minha armadura se quisermos usá-la no
quarto.
Pelo olhar dela, posso ver que ela não quer mais falar sobre isso.
Então eu não vou obrigá-la.
Tiro minha jaqueta e a estendo para ela na grama.
— Seu trono, minha donzela, — eu digo.
Ela alisa o vestido e se senta nele. Eu me sento ao lado dela.
Nós deitamos e olhamos para o céu.
— Tudo está mudando, — eu digo. — Eu odeio isso.
— Acho que crescer é isso. Está vendo? Você está até começando a
ficar com cabelos brancos.
— É sério?! — Eu digo. — Pode arrancar!
Ela me beija na bochecha e ri. — Estou brincando!
Eu rolo em cima dela e afundo meu rosto em seu pescoço.
— Vamos entrar e tirar este vestido frágil de você, — eu rosno em seu
ouvido. — Quero pegar pesado.
ARIEL

Seguimos direto para o palácio.


Eu sinto a mão de Alex descansando nas minhas costas, me
empurrando por trás.
Mal posso esperar para estarmos sozinhos e tirar sua roupa. Eu não
me importo se for no meio da tarde.
Mas, quando estamos quase chegando ao saguão, ouço um grito vindo
de dentro do palácio.
— O que foi isso? — Alex me pergunta.
— Parece Natalia, — eu digo. — Tendo um outro chilique.
Quando abro a porta, ouço outro grito angustiante.
Meu coração quase para quando vejo Natalia na parte inferior da
escada, segurando Xavi em seus braços.
Seus lamentos ficam mais altos a cada segundo.
Corro até eles e vejo Xavi.
Há um grande corte em sua testa e sangue escorrendo pelo rosto.
— O que aconteceu? — Eu suspiro.
— Eu desviei o olhar por um segundo, — ela soluça. — Ele caiu no
corrimão — ele bateu com a cabeça...
— Minha Deusa, Natalia...
— Eu não queria — eu não — eu não sei como isso aconteceu...
— Dê ele para mim! — Eu digo.
Tento tirar Xavi dos braços dela, mas ela o puxa.
— Não! Eu preciso levá-lo a um hospital.
— Natalia, confie em mim, — eu digo. — Eu prometo, não vou deixá-
lo morrer!
A última pessoa que quero que saiba sobre meus poderes de cura é
Natalia.
Mas Xavi está inconsciente, sua respiração está ficando mais fraca e
seu corpinho está perdendo sangue rapidamente.
— Dê ele para mim, — eu ordeno.
Não há tempo a perder.
Capítulo 21
A SEGUNDA CHEGADA ARIEL
Estendo meus braços em direção ao pequeno corpo ferido de Xavi e
olho com expectativa para minha irmã.
Natalia segura Xavi contra o peito por mais um momento, mas
finalmente o entrega para mim.
— Eu preciso de um pouco de espaço, — eu digo, e olho para Alex.
Ele entende.
Ele agarra Natalia pelos ombros e a puxa para longe de mim. Ela tenta
lutar contra seu aperto, mas ele é mais forte do que ela.
— O que ela está fazendo com meu bebê? — Natalia grita enquanto eu
coloco o corpo inerte de Xavi no chão. — Ele vai morrer! Por favor,
chame um médico!
— Xavi vai ficar bem, — diz Alex a ela. — Eu prometo.
Em seguida, ouço outro conjunto de passos correndo para o saguão.
— Minha Deusa! — a voz de minha mãe grita quando vê seu neto
ensanguentado. — O que...
— Será que vocês podem, por favor, CALAR A BOCA, — grito.
A última coisa de que preciso é minha mãe interferindo agora
também.
Eu preciso que todos eles fiquem quietos para que eu possa sentir
minha conexão com a Deusa da Lua.
A sala ao meu redor felizmente cai em silêncio.
Eu fico olhando para meu sobrinho inconsciente.
Sua curta vida já foi atormentada por muita dor e perigo. Não sinto
nada além de puro amor e simpatia por ele.
Deusa, meu coração lamenta quando coloco minhas mãos sobre sua
ferida aberta.
Deusa, por favor, me ajude a curar essa criança.
Por favor
Enquanto oro, sinto uma onda familiar de energia pulsando em meu
coração.
Ela dispara em minhas veias e sai pelas pontas dos meus dedos.
Conforme o calor da energia se mistura com o calor do sangue de
Xavi, sinto o corte começar a cicatrizar.
Está funcionando.
Obrigada, Selene.
Obrigada.
Xavi solta um grito suave.
Eu removo minhas mãos de sua testa e vejo que sua pele está intacta.
Toda vez que meus poderes de cura funcionam — não importa
quantas vezes eles tenham funcionado antes — fico chocada.
E quando olho ao redor da sala, especialmente para o rosto de minha
irmã, vejo que ela está absolutamente pasma.
Alex solta Natalia e ela corre para o meu lado, beijando a testa curada
de Xavi.
— Como DIABOS você fez isso? — ela pergunta.
— É uma longa história, — digo, exausta e mal conseguindo falar.
— Como isso aconteceu, Natalia? — minha mãe grita, ajoelhando-se
ao meu lado.
Ela pega Xavi do chão e o leva nos braços.
— Foi um acidente, — diz Natalia. — Devolva meu filho.
— Não na sua condição, — diz minha mãe. — Você mal sai da cama.
Você não o alimenta. Você não o troca. E agora olhe o que você fez.
Observo o rosto de Natalia cair sob o olhar severo e desaprovador de
minha mãe.
Então minha mãe olha para mim e seu rosto se transforma em um
sorriso.
— Deusa te abençoe, Ariel. — diz ela.
Ela me beija na testa e sobe as escadas, ainda segurando Xavi nos
braços.
Os ombros de Natalia afundam ao vê-la ir embora. Então ela se volta
para mim.
— Isso foi... eu... obrigada.
— Eu fiz isso por ele. Não por você, — eu digo, me levantando sem
dizer mais nada.
Quando Alex e eu estamos novamente sozinhos no corredor, ele se
vira para mim.
— Isso foi uma coisa muito dura de se dizer para sua irmã, você não
acha?
— Ela traiu o reino, Alex. E ela não pode mais cuidar de seu filho. Ela é
um perigo para a matilha e para ela mesma.
— Então, o que você quer fazer sobre isso? — Alex me pergunta.
A verdade é que...
— Não sei, — digo, sentindo-me derrotada.
Eu começo a andar na direção do nosso quarto novamente, mas ao
contrário de antes, eu não estou mais no clima.
Curar Xavi drenou completamente toda a minha energia.
Assim que caio na cama, adormeço profundamente.
Eu acordo no dia seguinte ao som de duas mensagens de Vivian.
Vivian: preciso de ajuda para decidir que tipo de luz usar.

Vivian: você pode me encontrar nos jardins onde será realizada a


cerimônia?

Ariel: Desço em alguns instantes.


A última coisa que quero fazer agora é planejar a cerimônia de
unificação, mas estou ansiosa para ver Vivian depois de descobrir seu
segredo ontem.
— Ei! — Grito para Vivian quando a vejo parada ali, cercada por
lâmpadas de todos os tamanhos e cores.
— Alguma primeira impressão? — ela me pergunta quando eu me
aproximo dela.
— Aquela parece áspera, — digo, apontando para uma grande
lâmpada amarela.
Ela solta uma meia risada, mas desvia os olhos, evitando o contato
com os meus.
— Vivian, — eu digo, — está tudo bem?
— Eu só quero acertar os detalhes...
— Não estou falando da cerimônia. Você está bem?
Finalmente ela olha para mim, e eu vejo pela sua expressão que ela
definitivamente não está.
— Eu me sinto péssima, — diz ela, — por mentir. Mas estou com
medo da minha própria loba.
— Aqui, — eu digo, estendendo minha mão para ela. — Vamos
esquecer a iluminação por enquanto.
— Você quer retomar com as toalhas de mesa?
— Não. Hoje não, — eu digo. — Vem comigo.
Ela passa pelas lâmpadas com cuidado e pega minha mão.
— Onde estamos indo? — Ela pergunta enquanto eu a levo em direção
à floresta.
— Bem, agora que eu sei que você é metade lobisomem...
— Shhh! — ela diz, carregando pânico em seu rosto.
— Tudo bem. Estamos sozinhas. Ninguém pode nos ouvir. Mas eu
estava pensando..., — faço uma breve pausa antes de continuar: — Você
me apresentou à sua loba. Mesmo que você não quisesse. Agora quero
apresentá-la oficialmente à minha.
VIVIAN

As palavras de Ariel me deixam animada.


E me apavoram ao mesmo tempo.
— Sério?
— Sim. Apenas siga meus passos.
— Tem certeza de que é uma boa ideia? — Eu pergunto a ela.
Ela acena com a cabeça.
Eu vejo quando ela alcança seu torso e abre o zíper do vestido.
Ela deixa o tecido cair no chão aos seus pés enquanto meu olhar passa
por seu corpo incrível.
— Não tenha medo, ok? Eu não mordo.
Assim que a última palavra escapa de sua boca, ouço um barulho
ensurdecedor quando todos os ossos de seu corpo começam a rachar.
Parece que ela está explodindo de dentro para fora.
Pelos brotam em todas as superfícies de seu corpo, formando um
casaco branco brilhante com listras cinza.
As vestes da rainha estão espalhadas no chão e sobre elas, de quatro,
está uma loba com os penetrantes olhos amarelos de Ariel.
Nunca vi nada tão assustador antes.
Ou tão bonito.
A loba dá um passo em minha direção e eu instintivamente dou um
passo para trás.
Mas então me lembro das palavras de Ariel:
Eu não mordo.
Eu mantenho meus pés plantados no chão, respirando fundo para me
equilibrar.
A loba se aproxima de mim e se senta aos meus pés.
Estendo minha mão e ela descansa o focinho suavemente na minha
palma.
Eu acaricio o pelo macio e sedoso no topo de sua cabeça.
Eu juro que posso ver seus olhos dourados sorrindo para mim.
Então me lembro da outra coisa que Ariel me disse antes de se
transformar: Siga meus passos.
Eu entendo o que ela quis dizer agora.
No passado, todas as vezes que me transformei foram por causa de
uma raiva incontrolável.
Mas agora eu quero fazer isso por vontade própria.
Vamos, Vivian.
Transforme-se.
Meu corpo obedece muito mais rápido do que eu poderia imaginar.
Em um flash, minha loba sobe à superfície. Eu ainda tenho o corpo e
as roupas de um humano, mas meu rosto e mãos se reconfiguram em
minha loba meio transformada.
A loba de Ariel acena para mim com aprovação.
E então ela se vira e se move mais para dentro da floresta.
Eu a vejo cheirar o chão enquanto ela caminha.
Ainda estou de pé, mas começo a cheirar o ar enquanto caminho atrás
dela.
Eu nunca havia percebido isso antes, mas meu olfato nessa forma é
muito mais agudo do que eu imaginava. Eu inalo profundamente e
absorvo tudo.
Normalmente estou tão desesperada para voltar à minha forma
humana que nunca dei à minha loba a chance de explorar.
Percebo que minha visão também está melhor.
Os sulcos da casca da árvore e os pequenos insetos nas folhas se
destacam para mim agora em alta definição.
Mas nada é mais poderoso do que minha audição.
Não são apenas os sons da natureza...
Eu juro que posso ouvir outra coisa.
A voz de Ariel.
Mas a boca de sua loba não está se movendo.
Em vez disso, sua voz soa como se estivesse vindo de algum lugar no
fundo do meu cérebro.
— Você consegue me ouvir, Vivian? — Ela pergunta.
— Consigo, — eu digo em voz alta.
— Não fale as palavras. Apenas pense nelas.
— Puta merda, — digo dentro da minha mente.
— Como isso está acontecendo?
— Isso se chama conexão mental, — ela responde. — É como nos
comunicamos quando estamos em nossa forma de lobo.
Já li sobre esse fenômeno, mas nunca o experimentei em primeira
mão.
— Isso é incrível!
É
— É, — ela me diz. — Você deve ter orgulho de ser uma loba.
— Pela primeira vez, eu tenho.
Eu vejo a loba de Ariel agachada em suas patas traseiras ao olhar para
o céu.
— Awoooooo, — ela deixa escapar um uivo alto e poderoso que me
envia a um ataque de riso.
— Vamos, — Eu a ouço falar em minha mente.
— Uive comigo.
— Vai soar ridículo.
— Quem se importa como você soará? É sobre como você se sentirá.
— Awooooo, — ela uiva novamente.
— Awo-ooo-oooo, — eu grito de volta, enquanto minha voz falha.
— Isso, — diz ela. — De novo! Mais alto!
— AWOOOOOOOO!
Ariel está certa.
Me sinto incrível.
Me sinto livre.
Finalmente.
ARIEL

Enquanto Vivian e eu caminhamos pela trilha de volta ao palácio, nós


duas em nossas formas humanas novamente, ela parece uma pessoa
totalmente diferente.
— Obrigada, Ariel, — ela diz. — Você não tem ideia de como isso é
incrível.
— De nada, — eu digo.
Foi muito divertido vê-la abraçar sua loba.
Também me deu a chance de me soltar de uma maneira que não fazia
há muito tempo.
Mas, à medida que nos aproximamos do palácio, ouço uma grande
comoção que arranca aquele sentimento despreocupado do meu peito.
Viramos uma esquina em direção ao som e vejo de onde vem.
Há uma enorme multidão em torno das portas do palácio. Membros
da matilha e jornalistas clamam para entrar, e guerreiros estão tentando
empurrá-los para fora.
— O que está acontecendo? — Eu pergunto a Vivian. — Temos outra
conferência de imprensa?
— Não que eu saiba, — Vivian diz.
Nós nos aproximamos da multidão e um jornalista me avista.
— Lá está ela, — ele grita, apontando sua câmera para mim. — Aí está
nossa rainha!
Deusa...
O que eu fiz agora?
Uma multidão de pessoas vem correndo em minha direção.
Por um instante, acho que eles estão prestes a me atacar.
E então algo realmente estranho acontece.
Quando eles me alcançam, eles param na minha frente.
E então eles começam a alcançar minhas mãos, curvando-se aos meus
pés e beijando a bainha do meu vestido.
O que...?
— Cure-me, — diz um deles. — Por favor, estou doente.
— Cure-me primeiro, — grita outra pessoa.
Estou paralisada, incapaz de responder, tentando encontrar alguma
clareza no caos.
Um repórter empurra um microfone na minha cara e eu a reconheço.
Ela é a mesma mulher que entrevistou a mim e minha mãe.
— Por que você mentiu sobre seus poderes de cura e os escondeu do
público? — ela me pergunta. — Parece muito egoísta, não?
De repente, tudo faz sentido.
Minhas bochechas coram...
Minhas palmas suam...
Minha visão embaça...
Não!
Não, não, NÃO!
O pior aconteceu.
Meu segredo foi revelado.
Capítulo 22
SEGREDOS, SEGREDOS
ARIEL

Os gritos suplicando por cura só ficam mais altos enquanto Vivian


tenta abrir um caminho para mim no meio da multidão.
As pessoas estão se aproximando de mim agora de todos os lados.
Eu preciso sair daqui.
Eu mal consigo respirar.
— Ariel!
Eu ouço a voz de Alex me chamando e, momentos depois, sinto sua
mão agarrando meu braço.
— Saiam da frente, — ele grita. — AGORA!
Ao comando de seu rei, a multidão recua como a maré.
Mas isso não impede o flash das câmeras ou as súplicas pela salvação,
que me seguem até que eu entre no saguão do palácio.
Quando as portas se fecham atrás de mim, Alex e eu olhamos um para
o outro com horror e descrença.
— O que diabos foi isso? — Vivian me pergunta.
— Você não é a única com segredos, — eu digo. — Embora o meu não
seja mais um.
— Sinto muito, Ariel, — diz ela. — Vou deixar vocês dois sozinhos.
Ela desaparece no corredor e Alex me puxa para seus braços.
Eu soco seu peito em frustração. — Eu não acredito que ela fez isso.
— Quem? Vivian? — ele me pergunta.
— Natalia! — Eu digo. — Eu curo o filho dela, e então no dia seguinte
ela conta para o mundo inteiro sobre isso!
— Você acha que ela fez isso?
— Tenho certeza.
Alex acaricia minha bochecha com o polegar.
Parece que ele está procurando as palavras certas.
— Viu? — ele diz depois de um momento. — A foto do stripper não
parece mais grande coisa, não é?
Sem conseguir evitar, solto uma pequena risada.
— Acho que não, — eu digo. — Mas o que devo dizer a todos? Nem eu
mesma entendo direito o meu poder. Então, como vou explicar isso a
todos eles.
— Você não precisa fazer nada que não queira, Ariel, — diz ele.
É bom ouvir isso. Mas toda a minha vida tem sido a prova de que essas
palavras estão longe de ser verdade.
— Vamos descobrir como lidar com isso juntos, — diz ele. — Apenas
saiba que você não tem que lidar com isso sozinha.
— Eu sei disso. — Eu encosto minha testa na dele. — Se você precisar
de mim, vou me esconder na cama pelo próximo... ano ou mais, — eu
digo e saio de seu abraço.
Alex está tentando o seu melhor para me fazer sentir melhor, mas a
verdade é que agora eu realmente quero ficar sozinha.
ALEX

Merda, merda, MERDA.


Eu não sei mais o que fazer.
Posso tentar confortar Ariel.
Fazê-la rir.
Aliviar um pouco a pressão.
Mas não posso fazer a única coisa que realmente quero: não posso
fazer com que os problemas dela desapareçam.
Eu ando pelos corredores do palácio, me virando quando chego aos
aposentos de minha mãe.
Bato três vezes na porta e espero sua permissão.
— Entre, — ela diz.
Abro a porta e a encontro sentada em seu lugar de costume no sofá de
veludo, bebendo uma xícara de chá.
— Mãe...
— Eu sei, — ela diz. — Consigo ouvir os gritos da minha janela. Eles
descobriram os poderes dela, não é?
Eu aceno e sento ao lado dela.
— Estou preocupada com Ariel, — eu digo.
— Claro que você está.
— Só esta semana, seu ex-par destinado escapou, ela renunciou aos
guerreiros, e agora... isso! Não sei quanta dor mais ela pode aguentar.
— Nunca subestime a força de Ariel. — diz minha mãe. — Aquela
garota passou por mais torturas do que qualquer um de nós poderia
imaginar.
Claro, ela está certa.
— Mas eu odeio vê-la assim, — eu digo. — Ela está totalmente
destruída e estou ficando sem alternativas de fazê-la se sentir melhor.
— Se a Deusa quiser, Ariel será rainha por muitos, muitos anos.
Haverá momentos incríveis e haverá momentos terríveis. Faz parte do
trabalho.
— Eu nasci nesta vida. Mas ela não, — eu suspiro. — E se um dia ela
decidir que não aguenta mais e resolve me deixar?
— Isso não vai acontecer, meu filho. Ariel te ama mais do que tudo no
mundo.
Ela coloca a mão no meu ombro.
— Ela só precisa de tempo para encontrar seu caminho.
— As aulas com você e Dianne estão ajudando?
— Estou começando a achar que foi uma ideia tola tentar ensinar
qualquer coisa a ela, — diz ela, tomando outro gole de sua xícara
fumegante.
— Qualquer um pode falar, agir ou se vestir como uma rainha. Mas
nem todo mundo tem um coração real. Ariel tem.
ARIEL
Eu puxo as cobertas sobre minha cabeça, tentando abafar meus
pensamentos com a escuridão.
Mas não adianta.
Consigo ouvir os gritos e apelos da multidão do lado de fora através da
minha janela fechada.
Eles não vão embora e, honestamente, não os culpo.
Se eu ouvisse falar de alguém com capacidades de cura dadas pela
Deusa, também gostaria de ver por mim mesma.
É por isso que eu estava tão decidida a manter isso em segredo.
E é por isso que estou tão arrasada que o segredo foi revelado.
Todo mundo vai querer um pedaço de mim.
Mas mal sei como usá-los. E toda vez que o faço, drena
completamente cada grama de energia do meu corpo.
Eu mal conseguia curar Xavi.
Como posso curar os ferimentos de um reino inteiro?
Eu saio da cama me sentindo inquieta e desconfortável, e começo a
andar pelo meu quarto.
Achei que queria ficar sozinha, mas agora não tenho ideia do que fazer
comigo mesma.
Eu ouço passos no corredor e peço à Deusa que seja Alex vindo para
ver como estou.
Abro a porta e olho para fora.
Mas não é Alex.
É Natalia.
Cambaleando pelo corredor, descalça, de pijama, pendurado um copo
na mão.
— Ei, — eu grito para ela, a raiva transbordando dentro de mim. —
Por que diabos você falou com a imprensa?
Ela para e tropeça nos próprios pés enquanto se vira para mim.
Seu rosto está pálido.
Seus olhos estão vidrados.
— Você está bêbada? — Eu pergunto a ela.
— Quer um pouco? — Ela oferece o copo em minha direção. — E
destilado.
Eu o puxo da mão dela, mas não tenho intenção de beber.
— Onde está o seu filho, Natalia? — Eu pergunto a ela.
— Por que isso importa? — ela pergunta. — Com quem quer que
esteja, é mais seguro do que estar comigo.
— Você está orgulhosa disso?
— Ninguém está mais orgulhoso de mim, Ariel. Especialmente eu.
— Eu sei exatamente qual é o seu problema, — eu disparo. — Você
não consegue suportar me ver ganhar a atenção da nossa mãe. Do meu
par. Até mesmo do seu par.
Quando eu olho para o rosto dela, flashes vermelhos começam a se
infiltrar em minha visão. Palavras continuam saindo da minha boca
como lava quente: — O jogo virou e você simplesmente não suporta.
Você não aguenta ficar na minha sombra por cinco segundos, quando eu
fiquei na sua sombra por toda a minha vida!
Natalia agarra o copo da minha mão e dá outro grande gole,
derramando o líquido de sua boca até o queixo.
— É por isso que você libertou Xavier, não é? E é por isso que você
divulgou minhas habilidades de cura para a imprensa! Você fará qualquer
coisa para me sabotar porque você é uma rancorosa desgraçada!
— Você está certa, — diz Natalia, jogando as mãos para o ar em sinal
de rendição.
O copo escorrega de suas mãos e se espatifa no chão, lançando cacos
de vidro em todas as direções.
— Você está absolutamente certa, — ela continua, imperturbável. —
Você tem tudo e eu não tenho nada. Nada. E agora meu filho vai crescer
com um presidiário fugitivo como pai e uma vadia rancorosa como mãe.
— Sabe, Natalia, — eu digo, — eu me senti muito mal por você depois
de tudo que Xavier fez. Eu coloquei você nesta matilha, mesmo sabendo
que você não teria feito o mesmo por mim se os papéis estivessem
invertidos.
Claro que ela não faria.
Ela não fez, na verdade.
Ela nem mesmo tentou me salvar quando Xavier me exilou da Matilha
da Lua Crescente. Ela o encorajou.
— Você não sente nenhum remorso pela forma como você me tratou?
E por como você traiu a Matilha Real? Você não quer pedir desculpas?
— Eu nunca aprendi a pedir desculpas, — ela zomba.
Ela dá um passo para longe de mim e imediatamente solta um grito
agudo.
— Natalia!
Eu olho para baixo e vejo que ela pisou em um caco de vidro. O
sangue jorra debaixo de seu pé.
Eu envolvo seu braço em volta do meu ombro e a ajudo a mancar para
longe do resto dos fragmentos de vidro.
Eu a inclino contra a parede, e ela desliza para baixo até se sentar no
chão.
Eu me agacho até o nível dela e ela reclama enquanto eu puxo o caco
de seu pé.
— Você... você é perigosa, — eu digo. — Você é um perigo para si
mesma.
— Graças à Deusa, minha irmã possui um dom, — ela zomba. — Me
cure!
Eu coloco minha mão na ferida sangrando.
E eu tento...
Tento o meu melhor para invocar uma memória feliz dela que possa
me ajudar a estabelecer uma conexão com a Deusa da Lua.
Mas cada uma está obscurecida pelo rancor e por um profundo
sentimento de traição.
Não está funcionando.
— Eu não consigo fazer isso. Sinto muito, — eu digo.
— Tudo bem, — ela dispara. — Se você não pode me curar, então me
jogue na masmorra! Me mate! Não tenho mais motivos para viver.
— Eu não vou te matar, Natalia.
— Por que não? Você me odeia. Todo mundo me odeia.
— Porque você é minha irmã.
Eu respiro fundo.
— Mas eu não posso deixar você ficar aqui. Você precisa de ajuda. E eu
não acho que consigo te ajudar mais.
— O que isso significa?
— Você precisa fazer as malas e deixar a Matilha Real, — eu digo com
firmeza. — Esta noite.
Capítulo 23
A VAIDADE DA MÃE
ARIEL

Deixar a Matilha Real.


Esta noite.
Quase parece que outra pessoa acabou de dizer essas palavras, não eu.
Mas de alguma forma, chegou a esse ponto.
E para piorar ainda mais, usei exatamente o mesmo tom gelado que
Xavier usou quando me baniu da Matilha da Lua Crescente.
Sinto um aperto de culpa crescer em meu peito e meu primeiro
instinto é pedir desculpas a Natalia e tentar voltar atrás.
Mas eu não posso mais fazer isso. Fiz tudo o que pude para ajudá-la
desde que ela se mudou.
Agora, ela foi longe demais. Eu cruzo meus braços e espero por sua
resposta ardente.
Afinal, é de Natalia que estamos falando. Ela nunca foi do tipo que
facilita e aceita qualquer coisa sem rebater.
Mas desta vez, ela apenas ouve.
Em silêncio.
Ela não diz uma palavra em sua própria defesa. Em vez disso, ela olha
para as mãos, tentando ansiosamente esfregar o sangue seco delas.
— Você não vai dizer nada? — Eu pergunto.
— Você está falando sério? — ela diz finalmente.
— Você... você não teria que se tornar um selvagem, — eu digo,
tentando soar mais compassiva do que eu me sinto. — Você sabe que eu
nunca faria isso com você.
— Ah, que rainha generosa você é, — ela diz, pronunciando suas
palavras com raiva. — Tirando meu filho de sua mãe.
Sinto outra pontada de culpa.
Não tinha pensado em Xavi.
— Isso não será permanente, Natalia. Você sabe que Xavi será bem
cuidado aqui.
— Então, para onde eu devo ir? Para casa? Toda a Matilha da Lua
Crescente me odeia depois do que aconteceu com Xavier.
— Você... você poderia ir para a Matilha das Escrituras, — digo. — Eles
têm os melhores programas de reabilitação do território. Eles poderiam
realmente ajudá-la, Nat.
Natalia revira os olhos e alcança a garrafa de destilado quase vazia a
seus pés.
— Você precisa de ajuda Natalia, — eu continuo. — Você é um perigo
para...
— Eu sei, — ela diz baixinho, exibindo um olhar de derrota em seu
rosto. — É o melhor para Xavi.
Momentos atrás, eu estava fervendo de raiva da minha irmã. Mas
agora que a vejo tão desanimada, conformada em deixar Xavi...
Eu só consigo ficar triste por ela.
Esta é realmente a melhor coisa a fazer?
— Natalia...
— Ariel, não. Eu não vou deixar Xavi se machucar de novo.
Ela rapidamente se levanta, evitando meu olhar para esconder seus
olhos marejados. Ela cambaleia até seu quarto e pega um casaco sem
dizer uma palavra.
— Natalia, espere! Deixe-me pelo menos conseguir uma escolta para
você, — eu digo, seguindo-a para dentro.
— Você já fez o suficiente por mim, Ariel.
Ela desaparece no corredor, deixando-me sozinha no quarto
silencioso. Penso em ir atrás dela para perguntar aonde ela está indo, mas
decido não fazer isso.
Solto um suspiro. Comecei a discussão com Natalia porque estava
furiosa por ela ter contado à imprensa sobre meus poderes de cura.
Mas agora que acabou, de alguma forma eu me sinto como a vilã.
Eu poderia tê-la ajudado sem mandá-la embora?
Eu olho para o berço de madeira vazio de Xavi no canto da sala.
Pequenos brinquedos com a forma de diferentes fases da lua estão
espalhados.
Não. Isso é para o bem de Xavi também.
É o que precisava ser feito. Para o bem de toda a matilha.
Respiro fundo, endireitando minhas costas, lembrando-me de minha
postura de rainha.
Minha mãe está certa.
Isso me faz sentir um pouco melhor.
VIVIAN

Em cima do palco quase construído, observo os trabalhadores da


matilha enquanto eles erguem a bandeira humana para o céu, e ela
começa a tremular com o vento bem ao lado da bandeira da Matilha Real.
Tenho que admitir, estou orgulhosa de ver tudo se encaixando.
De ver se tornar realidade.
Este é o auge de todo o trabalho árduo que Alex e eu fizemos nas
últimas semanas.
Rascunho após rascunho de acordos, cronogramas e planos de
segurança.
Debates e discussões sem fim.
E agora, neste fim de semana, está finalmente acontecendo.
A cerimônia de unificação.
Você está tão perto, Vivian.
Mas quando me imaginei em pé neste palco antes de vir para a
Matilha Real, eu nunca teria imaginado quem estaria aqui comigo, com
suas patas firmes no fundo da minha mente: Minha loba.
Ontem — estar na floresta com Ariel — deixar minha loba sair por
vontade própria...
Soltar aquele uivo no ar fresco da noite.
Aquele foi um dos momentos mais felizes da minha vida.
— Alguém já disse que você é viciada em trabalho? — Eu ouço Alex
dizer brincando, me arrancando de meus pensamentos.
Ele sobe no palco, observando o progresso que fizemos até agora.
— Você é o primeiro, — eu digo friamente.
— Isso se chama 'fazer uma pausa', — diz ele, pegando duas cervejas
de um refrigerador escondido e estendendo uma para mim. — Você
deveria tentar.
Eu balanço minha cabeça em negativa. — O estresse acaba quando a
cerimônia acaba.
— Vamos! — Ele insiste. — Eu não sei como eles fazem isso na capital
dos humanos, mas aqui você pode relaxar um pouco.
Eu suspiro, pegando a cerveja enquanto Alex brinda sua garrafa com a
minha. Ele solta um pequeno uivo — do jeito que os lobisomens dizem
saúde.
Eu sorrio, deixando escapar meu próprio AAA-WW-OOOO, um
pouco alto demais.
— Uau! — ele diz, rindo. — Isso é muito bom para uma primeira
tentativa. Você tem um talento natural.
Eu sorrio, tomando um gole.
Você nem imagina.
— Se alguém tivesse tentado me dizer há um mês que eu estaria em
um palco com um humano, prestes a assinar um tratado de paz, eu teria
desacreditado, — diz ele. — Mas você me fez acreditar que não é tão
louco, afinal.
Eu sorrio, sentindo a confiança e o respeito em seus olhos.
— Estou apenas fazendo meu trabalho, — eu digo, um pouco
desconfortável.
Nunca fui capaz de aceitar um elogio. Crescendo com meu pai,
aprendi a trabalhar sem receber nem mesmo uma única palavra positiva.
— Bem, você é a melhor embaixadora que poderíamos ter.
Largo minha cerveja, sentindo minhas bochechas corarem de orgulho.
— Obrigada, Vossa Majestade. Mas eu realmente devo voltar ao trabalho.
Ainda há muito o que fazer na área de recepção do jardim.
Eu me viro para passar por ele, mas ele estende a mão e agarra meu
antebraço.
— Sim, Vossa Majestade? — Eu pergunto, tentando esconder meu
choque.
— Pegue meu antebraço. Exatamente como estou fazendo, — diz ele
sério. — É um aperto de mão de honra entre nós, lobos. Um sinal de
verdadeiro respeito.
Eu cumprimento com os antebraços o rei dos lobisomens, e ele me
olha verdadeiramente de igual para igual. Sem conseguir evitar, deixo um
sorriso florescer em meu rosto.
— Meu pai ficaria orgulhoso do que fizemos, — diz ele.
De repente, meu sorriso desaparece. Eu solto seu braço, enquanto
meu peito é inundado com desconforto.
Meu pai, seja o que for que ele esteja planejando, ficaria orgulhoso
também.
ARIEL

Agora que Natalia se foi, a raiva que eu tinha fervendo dentro de mim
evaporou completamente.
Tudo o que resta é uma culpa ansiosa e persistente.
Normalmente eu lutaria até esquecer dela, mas não posso exatamente
treinar com os guerreiros agora, depois de desistir, e agir como se nada
tivesse acontecido.
Eu preciso falar com alguém.
Não posso incomodar Alex: ele está trabalhando sem parar na
cerimônia de unificação.
No momento, só há uma pessoa em todo o palácio com quem posso
realmente falar sobre Natalia.
Minha mãe.
Eu timidamente bato na porta de madeira de seu quarto, me sentindo
um pouco incômoda. Ainda parece estranho pedir conselhos à minha
mãe.
— Mãe? — Eu digo baixinho, empurrando a porta aberta e olhando
para dentro.
Minha mãe está sentada em uma penteadeira de madeira gigante do
outro lado da sala, folheando a última edição do Resumo dos Lobos.
Meu pai anda de um lado para outro, segurando Xavi em seus braços e
fazendo caretas engraçadas para ele.
Nenhum deles me notou.
Eu olho para Xavi chupando o dedo e rindo de alegria com meu pai, e
a tristeza toma conta de mim quando penso em como ele pode não ver
sua mãe tão cedo.
— Deusa, Peter! Não o deixe chupar o dedo enquanto está cravando
os caninos! — Minha mãe diz para meu pai repreensivamente.
Eu limpo minha garganta e os olhos da minha mãe se iluminam
quando ela percebe que estou em pé na porta. — Ariel! Como você está,
querida?
Depois de olhar para o meu rosto, meu pai percebe como estou
chateada e se aproxima. — O que há de errado, pequena guerreira?
— Eu... mandei Natalia embora, — eu digo, tentando manter minha
voz firme.
— O que aconteceu? — meu pai pergunta, expressando um olhar
triste.
Ele normalmente me apoia tanto, mas, neste momento, posso sentir
sua decepção com minhas ações.
Não vou suportar piorar as coisas.
— Pai, eu te amo com todo o meu coração, — digo. — Mas você acha
que posso falar um pouco a sós com minha mãe?
Meu pai parece chocado inicialmente, mas acena com a cabeça
compreensivamente. — Eu estarei lá fora com o Xavi. — Ele me dá um
beijo na bochecha e me deixa sozinha com ela.
Em um instante, minha mãe está com os braços em volta de mim,
acariciando meu cabelo, e eu apenas me permito derreter em seu
aconchego e deixar minhas lágrimas escorrerem.
— Sinto muito, mãe, — eu digo, tentando abafar um soluço.
— Shhh, Ariel, querida, está tudo bem, — diz ela suavemente.
— Não, mãe, não está tudo bem. Eu a mandei para longe de você, de
meu pai e de Xavi.
Ela endireita os braços e me olha com seriedade. — Ariel. Você tem
que entender. Você fez a escolha certa.
O quê?
— Mas... ela também é sua filha, mãe, — digo, me sentindo confusa.
— Sim, mas existem regras, Ariel. Sua irmã era um perigo para a
matilha, assim como para Xavi, — ela diz calmamente. — E como uma
rainha, você teve que tomar uma decisão difícil. Mas era o certo a se
fazer.
Eu olho para baixo, furiosa com o quão casual minha mãe parece.
O jeito que ela está falando sobre sua própria filha ser exilada...
Ela se sentiu da mesma maneira quando Xavier me exilou?
Sua mão levanta meu queixo em sua direção, me forçando a fazer
contato visual.
— Lembre-se do que eu te ensinei. Cabeça erguida.
Sempre.
Limpo as lágrimas do meu rosto, procurando nos olhos da minha mãe
por qualquer sinal de que ela se preocupa em trazer de volta sua filha
desonrada.
Mas em vez disso, ela está sorrindo para mim.
— E Xavi? — Eu digo, tentando conter minha raiva. — Você não acha
que isso vai afetá-lo?
— Você não precisa se preocupar com ele. Ele tem seus avós para isso.
Tudo o que você precisa fazer é ser forte por Alex. Agora mais do que
nunca, — diz ela.
Minha mãe pega minha mão e me guia para sentar em frente ao
espelho da penteadeira.
Eu fico olhando para os meus próprios olhos inchados enquanto ela
passa os dedos pelo meu cabelo. Ela pega uma escova e começa a
trabalhar nos meus emaranhados.
É algo que ela nunca fez quando eu era uma garotinha. Pelo que me
lembro, ela sempre desprezou meu cabelo bagunçado e indomável.
Mas isso parece tão relaxante.
— Olhe para você mesma. Ariel. Você parece uma verdadeira rainha
agora.
Eu fico olhando para meu reflexo no espelho. Estou usando um
vestido da realeza e joias de pedra da lua reluzentes, e meu cabelo sedoso
desce em cascata pelos meus ombros.
Quase não me reconheço.
— Você se tornou o que Natalia sempre sonhou. Então, é claro que ela
nunca ficaria feliz por você, — diz ela.
— Eu tentei ser gentil com ela, — eu digo, enxugando as lágrimas do
meu rosto. — Eu realmente tentei.
— Não importa o quão boa você foi. Ela sempre terá ciúmes da
mulher forte e bonita que você se tornou.
— Obrigada, mãe, — eu digo, suspirando e fechando os olhos,
sentindo as mãos dela passando pelo meu cabelo.
— De nada, querida.
— Eu... eu consigo acreditar que ela vazou aquela história para a
imprensa sobre minha habilidade de cura, — eu digo.
Dianne ri. — Bem, foi eu quem fiz isso, querida.
Eu me viro para ela, chocada. — P-por que você faria isso?!
Ela franze a testa, olhando para mim como se eu tivesse feito a
pergunta mais estúpida que ela já ouviu.
— Bem, Ariel, depois daquela confusão em que você se meteu com
aquelas fotos obscenas dos tabloides, eu tive que fazer algo para trazer
sua boa reputação de volta à matilha.
— Mãe, esse não era o seu segredo para contar! — Eu digo, sentindo a
raiva crescer dentro de mim.
— Querida, me diga: por qual dos dois você prefere ser conhecida? A
curadora? Ou a rainha dos strippers?
Estou totalmente sem palavras.
— Como você pôde? — Eu choro, afastando a escova da minha mãe e
me levantando com raiva.
— O quê? — ela diz. — Eu apenas troquei o assunto.
Uau. Minha mãe traindo minha confiança é uma coisa...
Mas é a maneira como ela age com indiferença, como se minha vida
fosse apenas uma fofoca de fim de semana de acasalamento. Ela sempre
sabe como cutucar a ferida.
Minha mãe realmente não consegue perceber que fez algo errado.
Mas não é da minha mãe que estou com raiva...
Estou com raiva de mim mesma.
Desisti completamente de Natalia.
Eu a culpei por algo que ela não fez e tentei passá-la para a Matilha
das Escrituras como se ela fosse um objeto quebrado a ser consertado.
Mas não.
Ela é minha irmã.
Eu cometi um erro.
Me afasto da minha mãe e sigo em direção à porta.
— Querida, onde você está indo? Não terminei com o seu cabelo. Você
ainda tem nós.
Eu olho para ela, bagunçando meu cabelo. — Claro que é com isso que
você se preocupa quando Natalia está lá fora. Foda-se os nós.
Antes que ela possa responder, eu saio correndo pela porta e a fecho.
Posso lidar com minha mãe mais tarde.
Para onde estou indo, não preciso do visual de rainha.
Minha irmã foi embora e deve estar em algum lugar fora das
fronteiras da matilha agora.
E se a Deusa quiser, vou encontrá-la antes que seja tarde demais.
Capítulo 24
O CLOSET DA REALEZA ALEX
Eu deito na cama completamente exausto com os eventos dos últimos
dias, mas minha mente segue funcionando a todo vapor.
Você está tão perto, Alex.
Termine em grande estilo.
Exatamente como seu pai gostaria.
Pensamentos ansiosos passam pela minha cabeça sobre a cerimônia
de unificação e o encontro com o presidente.
As câmeras.
Os discursos.
O mundo inteiro assistindo.
Eu sou arrancado dos meus pensamentos quando a porta se abre.
— Ariel?
Meu par entra, arrancando seu vestido da realeza com fúria e
marchando em direção ao armário trajando apenas sua calcinha.
Eu sorrio enquanto meus olhos traçam suas curvas, mas quando ela
desaparece no closet, eu percebo que isso não faz parte de um strip-tease.
Ela nem mesmo olhou para mim.
Eu me levanto rapidamente, em seguida, vou até o closet e espio
dentro. — O que está acontecendo, meu bem?
Enquanto ela bagunça o guarda-roupas, puxando suas roupas dos
cabides, ela me lança um olhar.
O olhar que passei a conhecer muito bem.
O olhar que ela tem quando está prestes a fazer algo que sabe que não
vou gostar.
Algo maluco.
Aprendi que, quando ela me olha assim, não posso fazer muito para
impedi-la.
— Onde você está indo? — Eu pergunto.
Ela tenta me mostrar uma expressão tranquilizadora. — Eu tenho que
encontrar Natalia.
— Para onde ela foi?
— Eu... eu não sei. Fora da matilha. Eu a mandei embora. Eu disse a
ela que ela deveria ir para a Matilha das Escrituras para reabilitação, mas
não tenho certeza se ela irá.
Eu sabia que Natalia a estava deixando louca, mas não sabia que a
situação tinha ficado tão ruim.
— Eu gostaria que você tivesse me contado. Nós poderíamos ter
lidado com ela juntos.
— Alex, quanto menos você tiver que lidar com a minha família
fodida, melhor.
— Então ela está em algum lugar lá fora neste momento? — Eu
pergunto. Uma garota como Natalia não duraria um segundo sozinha na
floresta.
Ela acena com a cabeça. — É por isso que tenho que encontrá-la e
trazê-la de volta.
Eu pego sua mão, virando-a em minha direção antes que ela possa
colocar uma blusa de gola alta preta.
— Alex, eu sei o que você vai dizer, — ela acrescenta rapidamente
quando vê a expressão no meu rosto.
— A cerimônia de unificação é amanhã, — eu digo. — Eu preciso da
minha Luna ao meu lado.
— Posso tentar voltar a tempo. Alex, mas não posso prometer nada.
Eu solto sua mão e me afasto. Claro que entendo, mas depois de todo
o esforço colocado nesta cerimônia...
Eu quero compartilhar esse momento com meu par.
— Bem, eu sei que não devo tentar impedir você, — eu digo. — Mas
eu só queria meu par em meus braços esta noite.
Ela olha para mim com tristeza, e eu envolvo meus braços em torno
dela enquanto ela coloca sua cabeça no meu peito.
— Eu sei. Sinto muito, Alex, — diz ela. — Isso tudo é por causa da
porra da minha mãe. Foi ela quem vazou meus poderes de cura para a
imprensa.
— Porra, Dianne, — eu digo, beijando o topo de sua cabeça.
— Como eu deixei ela me influenciar tanto? Mesma mãe
manipuladora, filha diferente.
— Bem, mesmo se você tentar tirá-la da sua vida, isso não significa
que ela não terá influência sobre você.
— Como você sabe disso?
— Porque ainda me preocupo com o que meu pai pensaria de mim
todos os dias.
Ela olha para mim, enquanto a expressão de compreensão cresce em
seu rosto.
Ariel e eu podemos ter demônios diferentes, mas quando se trata
disso, nos entendemos perfeitamente.
— É por isso que você está indo em frente com a cerimônia de
unificação? — ela pergunta suavemente.
— Eu não sei, — eu suspiro. — Pode ser.
Ariel fica na ponta dos pés, beijando suavemente meu pescoço. Eu
fecho meus olhos enquanto ela pontua suas palavras com os lábios na
minha pele.
— Confie em você mesmo, Alex.
— É difícil fazer isso quando todo o reino está perdendo a confiança
em mim.
Ela me encara com aqueles olhos de girassol dos quais nunca me
canso.
— Isso não é verdade. Você tem uma rainha bem aqui que confia em
você de olhos fechados.
ARIEL

— Você tem que ir agora? — Alex pergunta.


Eu aceno em confirmação.
— E se eu não te ver antes da cerimônia? — Ele pergunta, dando um
passo mais perto, absorvendo meu corpo com seus olhos.
Seu sorriso me diz exatamente o que ele está pensando.
E por mais que eu queira, eu preciso ir.
— Alex, eu preciso ir...
Seu dedo percorre minhas costas, desabotoando meu sutiã. — Bem,
seu rei precisa que você fique um pouco mais.
— Ele precisa? — Eu digo, enquanto meu sutiã cai no chão.
— Na verdade, o destino de toda a Matilha Real depende disso, — ele
rosna.
As mãos de Alex agarram meus quadris e me puxam para mais perto, e
nós nos encaramos. Ele sabe que tenho que ir, mas agora um simples
adeus não basta.
No silêncio, nossos olhos gritam uma coisa:
Eu preciso de você.
Ele me puxa para um beijo profundo que me mostra exatamente o
tamanho dessa necessidade.
Eu deixo escapar um gemido suave enquanto ele puxa meu corpo
ainda mais perto, pressionando seu volume quase totalmente duro sob
sua calça jeans.
Eu quero que cada pedacinho da minha pele toque a dele enquanto
nossos corpos se pressionam juntos.
Eu sei que deveria ir, mas não consigo me afastar.
Não até que tenhamos nosso adeus.
Eu precisava disso, e ele também. Nossos lábios apagam todo o resto
por um momento.
Tudo, exceto o desejo ardente de que ele me foda forte e rápido.
Bem aqui em nosso closet.
Agora mesmo.
Eu tiro sua camisa e jogo de lado, deixando meus dedos deslizarem
para baixo em seu abdômen e sentindo seus músculos apertarem quando
chego mais perto de sua virilha.
Sedenta, eu abro seu cinto, puxando sua calça e cueca para baixo em
um único movimento, e envolvendo seu membro cada vez mais ereto em
minha mão enquanto nos beijamos.
Eu o sinto agarrar minha bunda com força, deslizando os dedos para
baixo para me sentir molhada, e então ele levanta minhas pernas e me
pega no colo sem esforço. Eu gemo com o impacto dele me empurrando
contra a parede.
Com um golpe, ele derruba todos os meus saltos altos de Luna no chão
enquanto me coloca na superfície da sapateira, puxando minha calcinha
facilmente.
Não há nada no mundo que possa impedir minha mão de guiar seu
membro agora totalmente ereto dentro de mim.
Em um impulso forte, ele me preenche completamente.
Eu agarro seus ombros e me esfrego contra ele, que mete loucamente
ao mesmo tempo.
Deusa, que delícia!
A cada impulso, mais sapatos e roupas caem das prateleiras ao nosso
redor.
Eu me inclino para trás e grito seu nome, agarrando o cabideiro acima
de mim para me apoiar enquanto ele agarra meus quadris e mete mais
rápido, deixando escapar aqueles pequenos suspiros que ele dá quando
eu sei que ele está quase lá.
Eu sinto a euforia pulsante dominar meu corpo, e fixamos nossos
olhos nos momentos finais de êxtase.
Ele solta um rosnado baixo enquanto goza, e eu estremeço,
agarrando-o com força dentro de mim, tentando segurar esse sentimento
pelo máximo de tempo que eu puder.
Ele me puxa para mais perto, me dando beijos suaves, tocando nossas
sobrancelhas suadas umas nas outras.
— Eu te amo, — eu digo ofegante.
— Eu também te amo, — diz ele. — Agora vá buscar sua irmã.
— Você realmente não vai tentar me impedir?
— A essa altura, eu sei que não adianta, — ele sorri.
Beijo meu par apaixonadamente mais uma vez antes de sair de seus
braços, mesmo que seja a última coisa que eu queira fazer.
Pego minhas roupas leves e botas de combate do chão do closet, que
está forrado com metade das nossas outras roupas que derrubamos
durante a paixão dos últimos minutos.
— Mas você pode, pelo menos, me deixar mandar alguns guerreiros
com você? — ele diz. Eu olho para seu corpo nu musculoso e resisto à
vontade de parar de vestir minhas roupas e pular em cima dele para outra
rodada.
— Não. Isso é entre mim e minha irmã. Eu preciso fazer isso sozinha.
Ele se ajoelha quando termino de amarrar minhas botas, e posso dizer
que ele está tentando esconder a preocupação em seu rosto. Ele pega
minha mão.
— Lembre-se de que eu confio em você. Espero que você volte a
tempo.
Um sorriso se espalha pelo meu rosto e eu o beijo profundamente
mais uma vez.
Eu entro na garagem real, passando pelos carros antigos lustrosos que
pertenceram ao pai de Alex, mas que o próprio Alex nunca toca, em
direção à minha fiel motocicleta estacionada no canto oposto.
Eu amarro minha mochila com suprimentos para os próximos dias
nas costas.
Afinal, não sei quanto tempo isso vai levar.
Mas preciso estar preparada.
Eu passo minha perna sobre a motocicleta e insiro minha chave, mas
sou interrompida por uma voz firme atrás de mim: — E onde diabos você
pensa que está indo?
Eu me viro e encontro Dianne parada perto de um carro esportivo,
carregando um olhar de desaprovação.
Merda.
Eu realmente poderia ter saído sem ver minha mãe de novo hoje, mas
eu tenho que admitir: ela tem um verdadeiro talento para aparecer nos
piores momentos.
— Encontrar Natalia, — eu digo friamente.
— Ariel, você não pode simplesmente sair pela noite! Você é uma
rainha. Você tem um dever a cumprir aqui. Deusa, o que a matilha vai
pensar? — Eu cerro meus dentes, tentando conter minha raiva. Eu queria
ter essa conversa depois, mas ela está me forçando a dizer o que sinto.
— É com isso que você sempre se preocupou, não é? — Eu digo. —
Status e reputação. Você sempre colocou Natalia e eu uma contra a outra,
tentando nos moldar em quem você queria ser.
Dianne fica pálida, com uma expressão de choque em seu rosto.
— Eu... eu estava errada, — ela diz timidamente. Agora é a minha vez
de ficar chocada.
Em vez de lançar qualquer crítica para mim, como costuma fazer, ela
me olha com genuína mágoa nos olhos.
Ela está realmente admitindo isso?
— Eu escolhi a filha errada. Eu deveria ter sido mais gentil com você.
Eu balanço minha cabeça, decepcionada, mas não surpresa. É claro
que ela não percebe o verdadeiro problema.
Giro a chave na ignição e o motor começa a roncar. O som ecoa nas
paredes da garagem.
— Eu também fiz a escolha errada, — grito, colocando meu capacete.
— Eu nunca deveria ter confiado em você.
Giro o acelerador e o motor ruge, abafando tudo o que Dianne tem a
dizer, então saio em direção ao portão do palácio.
Em direção à floresta que escurece rapidamente.
E com sorte, se a Deusa quiser, em direção à Natalia.
Capítulo 25
A CASA DE INFÂNCIA ARIEL
Eu sopro levemente o fogo de uma pequena fogueira, observando o
brilho laranja das brasas queimando na escuridão da noite.
No começo eu consegui farejar o cheiro de Natalia com bastante
facilidade — não é como se ela soubesse como escondê-lo ou cobrir seus
rastros.
Mas agora já está tarde da noite e estou definitivamente ficando cada
vez mais preocupada com ela.
Seu cheiro desapareceu de repente, e sem uma trilha de cheiro fresca
ou a capacidade de detectar seus rastros no escuro, não tenho escolha a
não ser esperar aqui.
O que é uma má notícia, porque estamos profundamente no território
dos caçadores agora.
Se Natalia estiver vagando por esta floresta sozinha, ela não terá a
chance de se proteger contra qualquer um daqueles desgraçados.
Eles comeriam uma princesa como ela viva.
Estremecendo com o pensamento, eu olho para minha espada
estendida ao meu lado, brilhando à luz do fogo.
Quando éramos mais novas, Natalia zombava de mim
incansavelmente por sempre praticar com minha espada.
Naquela época, eu a ressentia por me provocar sobre isso. Mas agora
eu só queria ter mostrado a ela algumas coisas sobre autodefesa.
Eu odeio perceber que não há nada que eu possa fazer para protegê-la
agora.
E que é minha culpa ela estar aqui em primeiro lugar.
Deusa.
Como eu deixei chegar a esse ponto?
No trajeto de moto até aqui, tive algum tempo para refletir.
Eu não tinha percebido o quanto eu queria a aprovação da minha
mãe, o quão sedenta eu estava por seu amor.
Quanto mais atenção ela me dava, mais eu me permitia mudar para
mantê-la feliz.
E quando me tornei a favorita, ignorei completamente que Natalia
estava desmoronando bem na nossa frente.
Sei agora que errei em culpá-la por isso. E espero à Deusa que não seja
tarde demais para consertar esses erros.
— Você deve fechar a fenda do passado se quiser traçar um novo caminho
adiante, minha filha. — As palavras da Deusa da Lua ecoam em minha
cabeça e, de repente, o vento aumenta. Rajadas fortes apagam minha
fogueira, chicoteiam meu cabelo no rosto e farfalham as folhas nas
árvores acima de mim.
Como se a própria Selene tivesse ouvido minhas orações, uma nova
onda de cheiros atinge meu nariz.
E entre eles, um é familiar:
Morango silvestre e açúcar mascavo.
O cheiro inconfundível de Natalia.
E a julgar pela direção do vento, parece que vem do sul.
Eu franzo a testa. Essa é a direção da Matilha da Lua Crescente.
Natalia decidiu voltar para casa?
Corro para minha moto, ligando o motor e derrapando de volta para a
estrada.
Acho que só há uma maneira de descobrir
Definitivamente estou indo na direção certa. Quanto mais perto eu
chego da Matilha da Lua Crescente, mais forte o cheiro da minha irmã se
torna.
Todo mundo sempre amou seu cheiro, mas Deusa, pela maior parte
da minha vida eu odiei esse cheiro e tudo o que ele representa.
Normalmente, isso me lembra de um adoçante falso, não de açúcar de
verdade.
Mas agora que estou rastreando Natalia, não poderia estar mais grata
por isso.
Ainda está fresco no ar, o que me diz que ela pode realmente estar
bem.
Entrando no território da matilha, espero que a trilha me leve à
mansão Alfa, onde ela morava com Xavier.
Mas isso não acontece.
Na verdade, a trilha me leva até a cidade, pelas ruas que conheço de
cor e que guardam uma mistura de dolorosas e belas lembranças,
descendo por um beco sem saída até um lugar que nunca pensei que
veria novamente.
Minha casa de infância.
Eu paro no meio-fio, olhando para a frente da casa. Todas as luzes
estão apagadas, o gramado está coberto de mato e uma placa de —
Vende-se — desbotada balança com o vento.
Se eu não sentisse o cheiro persistente de Natalia, nunca diria que
alguém esteve lá dentro por meses.
Eu me aproximo da porta, testando a maçaneta.
Destrancada.
Eu entro na sala de estar escura e rangente. Natalia e eu sempre
assistíamos TV aqui, brigando sobre assistir ou não A Próxima Top Model
da Matilha Real.
Mas depois da briga, parávamos de resmungar e deitávamos juntas,
com as cabeças sobre os travesseiros e os pés apontados para o ar.
Eu sigo seu cheiro escada acima, descendo o corredor escuro onde
nossas sorridentes fotos de família costumavam ficar penduradas.
Ao me aproximar do antigo quarto de Natalia no final do corredor,
sinto a mesma ansiedade que sempre sentia quando passava em frente à
sua porta e a ouvia rindo com suas amigas.
Tudo o que elas fizeram naquela época foi se maquiar e falar sobre
meninos, e quando eu voltava para casa do treino de guerreiro, elas
abriam a porta e me provocavam incansavelmente.
Mas agora, o quarto está em silêncio.
Eu lentamente abro a porta e vejo minha irmã deitada na cama no
escuro, olhando para o teto. Seus olhos estão vidrados, e ela nem mesmo
reage ao me ver parada na porta.
— Como você me achou? — ela suspira.
— Só porque desisti de ser uma guerreira não significa que esqueci
como rastrear como uma.
Ela rola na cama, para longe de mim.
— De qualquer modo, não importa. Não há mais nada que você
precise dizer.
Eu me aproximo e sento na beira da cama.
— Não, Natalia, eu preciso dizer algo. Eu estava errada. Eu sinto
muito. Eu nunca deveria ter banido você, e estou aqui para trazê-la para
casa.
— Estou em casa agora.
— Não, Natalia. O lar é onde está sua família. Com Xavi, papai e eu.
— Sim, e quanto a mamãe? Ela me odeia.
— Assim como ela costumava me odiar. Mas isso é um problema dela,
não nosso. Podemos descobrir como lidar com ela juntas.
— Juntas? Nunca fizemos nada juntas, Ariel.
Eu paro, sentindo o veneno em sua voz. Ela está com raiva e tem o
direito de estar.
— Eu acusei você de coisas que você não fez, Natalia, — eu digo. — E
eu sinto muito. Na verdade, foi a nossa mãe quem contou à imprensa.
Ela se vira e olha para mim com uma expressão de dor no rosto. —
Isso sempre volta para a mamãe, não é? — ela diz.
Eu aceno, deitando ao lado dela, e nós duas encaramos o teto. — Com
ela, das duas uma: ou nós nos envergonhamos por sermos quem somos
ou recebemos amor por nos tornarmos quem não somos.
Ficamos em silêncio por um momento, absorvendo essa verdade.
— Eu não queria estar com Xavier no começo, na verdade, — ela diz
finalmente. — Você sabia disso? — Eu nego. O olhar em seu rosto me diz
que ela finalmente vai admitir algo que manteve enterrado por muito
tempo.
— Eu não queria me tornar uma Luna.
— Bem, eu não te culpo, — eu digo. — É um saco.
Ela sorri, permitindo-se uma risada leve.
— Logo antes de me acasalar com Xavier, eu encontrei meu par
destinado. Eu o vi no supermercado, mas ele não me viu. Ele era apenas
um empacotador. E eu...
Sua voz falha um pouco. — Eu apenas fui embora. Eu o privei de saber
quem era seu par destinado porque eu estava muito preocupada com o
status. E nunca mais o vi depois disso.
De repente, me lembro de quem ela está falando. Ele era um menino
tímido de cabelos escuros que tinha mais ou menos a mesma idade que
eu. Não era o tipo de Natalia.
Mas a Deusa escreve certo por linhas tortas...
— Mas quando Xavier se tornou Alfa, eu me tornei sua Luna porque
era a única coisa no mundo que eu sabia que deixaria minha mãe
orgulhosa.
Eu aceno em compreensão.
— E... eu também sinto muito, — ela diz.
— Por quê?
Ela me olha como se eu fosse louca.
— Eu realmente preciso responder isso? Você poderia encher as
prateleiras da biblioteca da Matilha Real listando todas as vezes em que
fui horrível com você.
Agora eu solto uma risada. É incrível ouvir isso dela.
— Não foi só você. Você estava apenas tentando fazer Dianne feliz. Ela
é quem nos separou, — eu digo.
Ela me cutuca nas costelas. — É sério? Ariel, você é boazinha demais.
Tipo, grite comigo, fique brava ou algo assim! Eu tenho sido uma escrota!
Mesmo que o quarto esteja coberto de escuridão, eu finalmente sinto
que estou vendo minha irmã.
Eu me viro para Natalia. — Eu... eu simplesmente não consigo odiar
alguém que passou pela mesma dor que eu.
Parece que ela está tentando conter as lágrimas, mas está falhando.
Sinto minhas próprias lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
— Mas... não precisamos mais ser assim, certo? — ela diz. — Não
precisamos ser como a mamãe.
— Essa merda acaba aqui.
Ela começa a soluçar agora, forte. — Mas eu já fui uma péssima mãe
para Xavi...
Eu coloco meus braços em volta dela, puxando-a para perto. — Não,
você é uma ótima mãe, e sempre achei isso.
— Obrigada, — ela diz, me abraçando de volta.
Neste momento, percebo que não consigo me lembrar de outra vez
que Natalia e eu nos abraçamos.
Ela é minha irmã.
Como isso é possível?
Tudo o que posso fazer é agradecer à Deusa o que está acontecendo
agora.
As lágrimas me deixam mais leve do que há muito tempo, e sinto um
grande peso saindo do meu peito.
Algo está acontecendo.
O que é esse sentimento?
Bem dentro de mim, algo está sendo consertado.
Uma rachadura invisível, consertada.
As palavras da Deusa da Lua ecoam em minha cabeça: Você deve fechar
a fenda do passado se quiser traçar um novo caminho adiante.
Eu finalmente entendi.
Você pode ser capaz de mudar de matilha, mas nunca pode mudar de
família.
Enquanto minha irmã e eu compartilhamos um sorriso amoroso,
outro cheiro atinge meu nariz.
Um perfume familiar e poderoso.
Um cheiro que passei a temer acima de quase tudo, e imediatamente
me arrependo de ter vindo aqui sozinha.
Lenha e trevo.
Passos pesados sobem as escadas rangentes, um por um.
Xavier.
— Quem diria! — ele diz, aparecendo na porta. Seus olhos são
selvagens, sua barba é irregular e desleixada e parece que ele não dorme
há semanas.
Um sorriso sinistro se espalha por seu rosto.
— Meus dois pares favoritos, bem aqui no mesmo lugar.
Capítulo 26
A ESPADA DE BRINQUEDO
ARIEL

Meu coração pulsa quando Xavier dá mais um passo para dentro da


sala, enquanto as tábuas do piso rangem sob seu peso. Natalia agarra
minha mão aterrorizada.
Mas eu me recuso a mostrar a este idiota um pingo de medo.
Instintivamente, eu me levanto, ficando entre ela e Xavier.
— O que você quer, Xavier? — Eu digo com os dentes cerrados.
— O que eu quero!? — ele grita. — Eu quero tudo.
— Não podemos ajudá-lo com isso.
Ele dá mais um passo e minha mão se move instintivamente para o
meu quadril, onde minha espada geralmente está.
Mas desta vez não está lá. Devo ter deixado com o resto do meu
equipamento na motocicleta quando entrei.
Merda.
Minha mente fica acelerada. Preciso de outra maneira de me defender.
Uma arma.
E rápido.
— Eu costumava ser um Alfa, — diz ele, estendendo suas garras e
escurecendo seus olhos. — O lobo mais poderoso da minha matilha. E,
para minha sorte, aqui estão as duas vadias que tiraram tudo isso de mim.
— Tudo o que aconteceu foi culpa sua, Xavier, — Natalia dispara atrás
de mim.
— Como você ousa? — ele ruge, investindo contra ela como um raio, e
eu mal tenho tempo para reagir.
Sua velocidade furiosa me desequilibra, me lançando contra a parede
enquanto ele agarra Natalia pelo pescoço.
Ela luta para respirar e ele range os dentes. — Você me deixou naquela
masmorra para apodrecer!
Eu me esforço para recuperar o equilíbrio enquanto Natalia tenta se
soltar, mas o aperto dele é forte demais para ela. Há uma fúria ardente
em seus olhos escuros, mais forte do que eu já vi antes.
— Você poderia ter me tirado de lá, mas não! Aquela híbrida de merda
tinha que fazer isso. Alguém que trabalha com os Caçadores tem mais
decência do que meu próprio par.
Minha cabeça começa a girar.
Híbrida?
Vivian?
Ela libertou Xavier?
Vivian está trabalhando com os Caçadores?
Se Xavier está dizendo a verdade, estamos com sérios problemas.
Minha mente passa por Alex, que não tem ideia de que está planejando a
cerimônia com um espião.
Mas preciso deixar isso para mais tarde.
Um traidor de cada vez.
Primeiro, preciso lidar com o desgraçado parado na minha frente.
— Solte ela, Xavier! — Eu grito, preparando minha posição de
combate. — Lute comigo. Ou você está com medo de que eu acabe com
você como da última vez?
Isso cutuca uma ferida.
Ele se vira para mim com uma fúria desequilibrada, deixando Natalia
cair no chão enquanto ela tenta respirar.
Em um flash, ele se transforma, suas roupas se rasgam em pedaços, e
seu lobo enorme rosna diante de mim.
Eu mal tenho tempo para reagir antes de ele me lançar contra a
parede com um rosnado. Ele tenta cravar suas garras gigantes no meu
peito, mas eu o chuto com minhas pernas e fico de pé.
Pense rápido, Ariel.
Eu preciso afastá-lo de Natalia.
Eu corro para fora do quarto e ele rosna alto, me perseguindo
enquanto salta pelo corredor atrás de mim. Eu posso ouvir suas garras
gigantes arranhando o chão de madeira, e sinto seus dentes avançando
sobre mim, quase mordendo meus calcanhares.
No final do corredor, logo antes das escadas, eu me viro de repente
para o banheiro. Ele reage tarde demais, deslizando com um grunhido.
Enquanto seu lobo gigante tropeça nas escadas com pancadas
enormes, sei que ganhei um tempo precioso. Eu bato a porta do banheiro
e a tranco, puxando meu telefone do bolso.
Eu preciso deixar Alex saber que Xavier está aqui
BOOM!
Xavier se joga na porta do banheiro assim que começo a escrever uma
mensagem, tentando evitar que meus dedos tremam muito.
Ariel: Alex eu...
Mas antes que eu consiga enviar, a porta do banheiro se quebra em
pedaços e Xavier vem correndo para dentro, carregando raiva em seus
olhos.
Ele me ataca, fazendo meu telefone voar para fora da minha mão
quando eu caio ao lado da banheira.
Xavier olha para o telefone e seu focinho se curva em um sorriso de
dentes afiados.
Merda.
Sua pata gigante pisa sobre a tela, quebrando qualquer chance que eu
tinha de contatar Alex em um milhão de pedaços.
Só resta uma opção agora.
Eu me transformo o mais rápido que posso, mostrando meus dentes
para Xavier.
— Agora sim, — diz ele, se conectando com minha mente.
Eu disparo para cima dele, lançando uma enxurrada de arranhões,
cada um mais cruel do que o anterior.
Caímos de volta no corredor, cortando o papel de parede floral com
nossas garras.
Se eu estivesse na forma humana, estaria tentando tudo que pudesse
para nocauteá-lo e mantê-lo vivo.
Mas minha loba não quer estender essa bondade ao meu ex-par
destinado.
Suas patas traseiras me chutam para longe dele, e ele ataca, me
arranhando e agarrando meu pescoço.
Eu rosno e tento ignorar a dor de suas garras afiadas enterradas em
meu pelo, em vez disso me concentro em escorregar para fora de seu
domínio e disparar em direção à porta aberta mais próxima.
A porta do meu quarto de infância.
Eu examino o ambiente com minha mente a milhão. Está vazio,
exceto pela minha cama de infância e uma dúzia ou mais de caixas.
Além de uma espada de brinquedo, não há uma arma à vista.
Eu me viro para enfrentar o lobo que se aproxima bem atrás de mim:
seus olhos são ferozes e a saliva escorre de sua boca.
Vou ter que lutar e tentar ganhar tempo o máximo que eu puder para
Natalia ir para longe, bem longe daqui.
Eu me preparo para o impacto quando ele me ataca, e nós caímos na
cama, quebrando a estrutura de madeira. Minha loba ataca com todas as
suas forças, arranhando e mordendo furiosa.
Mas ele é muito maior, e minha loba não vai querer admitir, mas...
Ela está presa.
Sua mandíbula agarra meu pescoço, ameaçando morder, e ouço sua
conexão mental entrar na minha cabeça como um assobio.
Renda-se diz ele.
Se transforme de volta e sua irmã viverá.
Rezo à Deusa da Lua para que Natalia esteja em segurança.
Mas preciso ganhar mais tempo para ela.
Ceder a Xavier é a última coisa que quero fazer, mas não tenho
escolha.
Sinto minha loba escapar relutantemente de volta à minha mente.
Meus ossos ficam menores, os pelos do meu corpo afundam na minha
pele.
Eu fico ali deitada nua, presa por Xavier, sentindo meu coração
trovejar e meu corpo congelar.
Ele se transforma de volta também, mas ainda me mantém
firmemente presa com seu próprio peso humano. Seus olhos brilham
com uma intensidade feroz, e ele está ofegando fortemente.
— Ariel, por que você não enxerga? Somos pares destinados! Isso é o
que Fate planejou para nós! — Eu me esforço para tentar fugir, mas seu
aperto fica mais forte.
Então, de repente, uma voz grita atrás de nós.
— Ei, idiota, — diz Natalia, com a voz firme. Em suas mãos, ela segura
minha velha espada de brinquedo de madeira como um taco de beisebol.
— Saia de cima da minha irmã.
Ela se prepara e o golpeia o mais forte que pode, acertando-o bem na
cabeça e nocauteando-o com um gigante CRACK.
Ele instantaneamente fica mole e cai de cima de mim no chão, mas ela
se prepara novamente, atingindo-o com ainda mais força.
— SEU FILHO DA PUTA!
Eu rolo para longe e vejo como Natalia libera toda a sua agressão
reprimida em Xavier, atacando-o repetidamente com a espada de
brinquedo.
Quando ela finalmente fica sem fôlego, ela deixa cair sua arma no
chão, atordoada com o que acabou de fazer.
Meu coração se enche de orgulho. Minha irmã, a garota que grita
loucamente no segundo em que vê uma aranha, acaba de derrubar um
lobo Alfa.
Depois de vestir rapidamente algumas das minhas roupas velhas das
caixas ao lado da cama, corro até minha irmã e a abraço.
— Ainda bem que aquela espada de brinquedo ainda estava aqui, — eu
digo.
— Eu duvido que qualquer uma das bonecas no meu quarto o teria
nocauteado daquele jeito.
Eu olho para baixo e vejo Xavier — uma bagunça ensanguentada —
deitado no chão. Minha loba rosna para ele, ainda nervosa. Acalme-se,
digo a ela. Parece que ele não vai acordar tão cedo.
Graças à Deusa.
Mas antes que possamos recuperar o fôlego, de repente me lembro do
que Xavier disse antes.
Que Vivian está trabalhando com os Caçadores.
— Precisamos avisar Alex sobre Vivian antes da cerimônia de
unificação, — digo, formulando um plano. — Xavier quebrou meu
telefone, você está com o seu?
Natalia balança a cabeça. — Eu estava tão atordoada quando saí do
palácio que não o trouxe.
— Então temos que voltar para a Matilha Real o mais rápido possível.
— Mas e quanto a ele? — Ela diz enquanto seu olhar se move em
direção ao local no chão onde deixamos Xavier.
Meu coração pulsa — tudo o que há agora é uma poça de sangue.
Ele sumiu.
Uma trilha vermelha leva à janela do banheiro do outro lado do
corredor, e ouvimos o vidro estilhaçar.
Aquele desgraçado.
Ao correr para o banheiro, o encontramos vazio. Espiamos pela janela
quebrada e vemos o lobo de Xavier mancando na escuridão.
— Parece que não fiz um trabalho bom o suficiente, — diz Natalia
séria, pegando a espada de brinquedo. — Vamos atrás dele.
— Espere, — eu digo, agarrando seu braço. Natalia me lança um olhar
confuso.
Estou completamente dividida.
Minha loba está me dizendo para rastrear e capturar Xavier, farejando
seu sangue ainda no ar.
Mas então penso em Alex. Deitado na cama, provavelmente bem
acordado e morrendo de preocupação por mim, quando ele realmente
deveria estar preocupado com a traição de Vivian.
Toda a matilha está em perigo se não voltarmos a tempo.
— Não, deixe ele ir, — digo a Natalia. — Precisamos voltar para o
palácio agora.
VIVIAN
Já é tarde da noite e eu rolo de um lado para o outro na cama, sem
conseguir desligar minha mente.
Parte de mim quer esgueirar-se de volta para a floresta e deixar minha
loba sair novamente.
Deixá-la assumir faz com que eu me sinta tão bem.
Posso senti-la andando para frente e para trás no interior da minha
mente, incitando-me a uivar novamente.
Eu sei que realmente deveria dormir um pouco.
Amanhã é o grande dia.
Mas não é a cerimônia em si que me deixa nervosa.
É a ideia de ver meu pai novamente que me enche de ansiedade.
Ele tem um jeito de me fazer sentir... insignificante.
Mas, assim que ele ver o que planejamos, ele pode finalmente me
enxergar como uma parceira.
De igual para igual.
Meu telefone toca e a tela acende, preenchendo meu quarto escuro
com uma luz brilhante.
Meu pai sempre aparece no momento exato.
Pai: Espero que tudo esteja perfeitamente em ordem amanhã.

Vivian: Vai estar.

Pai: Você tem sido descuidada até agora.

Pai: E agora você tem uma última chance de acertar.

Pai: Eu poderia facilmente ter largado você como a vira-lata que


você é, mas não o fiz.

Pai: Eu criei você como uma humana.

Pai: Não me faça lamentar essa decisão.

Vivian: Não vou te decepcionar, pai.


Pai: Não me chame assim.

Pai: Você ainda não conquistou esse privilégio.

Pai: Você não provou sua lealdade.

Pai: Até então, se dirija a mim pelo título.

Vivian: Você tem razão...

Vivian: Me desculpe...

Vivian: Sr. Presidente.


Capítulo 27
BEM-VINDO, SR. PRESIDENTE
ALEX

É a manhã da cerimônia, e eu fico olhando ansioso para o sol


nascendo gradualmente no céu.
Ariel ainda não está em casa.
Deusa, onde ela está?
Para piorar, ela não atende ao telefone. Cada vez que ligo, vai direto
para a caixa postal.
Eu tenho que confiar que meu par está seguro. Ela me mostrou
inúmeras vezes que pode cuidar de si mesma.
Mas não importa o quanto eu passei a confiar nela, sempre terei
aquele aperto de ansiedade no estômago sempre que ela se for.
Como se eu não tivesse o suficiente com que me preocupar hoje...
Estou no palco montado nos jardins do palácio real. É aqui que vou
encontrar o presidente em algumas horas.
Tudo está quieto, exceto a bandeira da Matilha Real e a bandeira
humana acima de mim, balançando ao vento. Espalhadas na minha
frente, há intermináveis filas de cadeiras vazias. Parece que o reino
inteiro estará presente.
Meu reino.
Contando comigo para tomar a decisão certa.
Esperando que este tratado seja o melhor para todos os lobos do
território.
Eu também espero.
Tudo o que sei é que esta será a primeira vez que um presidente
humano visitará o território dos lobisomens em centenas de anos.
Meu nome aparecerá nos livros didáticos de lobisomem, ao lado do de
meu pai. Hoje, estou realmente fazendo história.
Vamos torcer para que eu esteja do lado certo.
Eu me viro e encontro minha mãe subindo no palco em minha
direção, parecendo digna. Ela me examina de cima a baixo, ajusta minha
gola e sorri.
— Você está pronto? — ela pergunta.
— Tanto quanto possível, — eu digo. — Eu só queria que papai
estivesse aqui para ver.
Ela se vira e olha para o mar de cadeiras brancas se expandindo ao
longe.
— Quando o seu reino preencher esses assentos para vê-lo hoje,
imagine que ele está lá no meio, em algum lugar, assistindo você com
orgulho.
Eu sorrio ao pensar em meu pai cuidando de mim hoje. Mas a alegria
dura pouco.
Eu não posso simplesmente imaginar que Ariel está sentada ao meu
lado.
Eu preciso do meu par hoje.
Onde diabos ela está?
VIVIAN

Eu fico na frente do palácio, observando o longo comboio de carros


pretos brilhantes entrar na garagem e se aproximar da entrada principal.
Meu pai, seguido por uma centena de seus guarda-costas.
Típico.
Desço os degraus do palácio em direção à limusine quando ela
estaciona, me endireitando e tentando manter o rosto inexpressivo.
Nada além de profissional.
Um segurança de terno preto abre a porta da limusine e meu pai sai.
Ele é um homem baixo, com cabelos prateados penteados para trás e
um rosto cheio de rugas de uma vida inteira carrancuda. E ele não parece
exatamente feliz em me ver.
— Sr. Presidente, — eu digo. — Bem-vindo à Matilha Real.
Ele abre as narinas, mal me reconhecendo, farejando o ar.
— É impressão minha ou cheira a merda de cachorro por aqui?
Não sei o que dizer, então mostro meu sorriso treinado e diplomático.
— Você gostaria de me acompanhar e conhecer o Rei Alex antes da
cerimônia?
Ele grunhe. — Prefiro não chegar muito perto de nenhum desses vira-
latas se não for preciso. Não quero pegar nenhuma pulga.
Eu aceno, tentando o meu melhor para ignorar o comentário e
rezando para que ele não diga nada assim para Alex. Começamos a subir
as escadas e uma dúzia de homens do Serviço Secreto nos segue.
— Se você quiser, posso te mostrar o palácio, — digo. — É muito
bonito, na verdade.
Ele acena com a mão. — Não há necessidade. Assim que este tratado
for assinado e eu tiver ensinado a todos como agir, vou destruir este lugar
de qualquer maneira.
Destruir o palácio?
O que diabos ele está falando?
— Sr. Presidente, — eu digo, escolhendo minhas palavras com
cuidado, — Eu morei aqui nas últimas semanas. É um lugar lindo. Seria
uma pena derrubá-lo sem motivo.
— É lindo demais para uma casa de cachorro, — ele grunhe. — Esses
vira-latas devem estar em um quintal ou uma gaiola.
Meu pai odeia lobisomens desde que me entendo por gente, e
enquanto crescia nunca pensei muito nas coisas desagradáveis que ele
dizia sobre eles.
Mas isso foi antes do meu tempo na matilha. Antes de realmente
conhecer qualquer lobisomem.
Antes de conhecer minha loba.
Alex e Ariel não me trataram com nada além de gentileza e respeito, e
tentei tornar esse tratado tão bom para eles quanto para nós.
Mas agora que estou ouvindo meu pai falar sobre isso, percebo que o
que vai acontecer com os lobisomens está longe do que tenho prometido
a eles.
— Pa... Sr. Presidente. Sobre este tratado. O que exatamente você está
planejando fazer quando tiver permissão para trazer seus militares?
Ele me olha com os olhos semicerrados. — Não se preocupe com isso.
— Você está planejando destruir a Matilha Real, não é? Você nunca
teve nenhuma intenção de paz. Depois de tudo que tentei fazer aqui,
depois de todo o tempo que passei criando um relacionamento com o rei
e a rainha, você vai jogar tudo fora! Você...
SMACK!
A grande mão do meu pai se estende e dá um tapa na minha bochecha
como um raio, me interrompendo. Seu rosto fica vermelho de raiva e ele
me encara com olhos esbugalhados.
— Paz? Você quer falar sobre a porra da PAZ?
Eu seguro minha bochecha ardendo e tento conter minha raiva.
Minha loba está implorando para lançar uma garra de volta, mas eu
consigo contê-la.
Agora não é a hora.
— Eu... sinto muito, senhor presidente.
O presidente dá um passo à frente, agarrando meu braço com força e
mantendo a voz baixa para que os guarda-costas não ouçam.
— Parece que você ficou um pouco confortável demais aqui com esses
lobos. Eu tentei criá-la como uma humana, mas acho que realmente não
se pode ensinar novos truques a um cachorro.
Ao ouvir essas palavras, sinto que não consigo respirar. Uma raiva
crescente queima dentro de mim, e eu quero uivar o mais alto que puder
para soltá-la.
— Agora, se você quer ser minha filha, aja como tal. Coloque uma
coleira de volta naquele seu lado animal e me ajude a terminar o que
começamos.
Ele solta meu braço e eu uso todas as minhas forças para resistir e não
mostrar a ele qualquer lágrima. Endireito meu paletó, me recomponho
rapidamente e coloco meu sorriso experiente.
— Bem, vamos continuar então, Sr. Presidente.
Meu pai assente. — Assim está melhor. Nunca use esse tom comigo de
novo, entendeu?
No meu exterior, eu escorrego de volta para o papel de diplomata
perfeita que meu pai me treinou para ser, balançando a cabeça em
concordância.
Mas por dentro, minha loba e eu estamos tremendo de raiva e
uivando por vingança.
ARIEL

Minha motocicleta ruge enquanto acelera em direção ao Palácio da


Matilha Real com Natalia sentada atrás de mim, me segurando como se
sua vida dependesse disso. Conseguimos voltar da Matilha da Lua
Crescente em tempo recorde.
Durante toda a volta para casa, me xinguei por ter confiado em Vivian.
Preciso contar a Alex a verdade sobre a embaixadora o mais rápido
possível.
Se eu conseguir fazer isso, ainda pode haver uma chance de
impedirmos esta cerimônia.
Mas quando nos aproximamos dos portões do palácio, meu coração
afunda quando percebo que já pode ser tarde demais.
Os enormes portões de entrada estão firmemente fechados e um
bloqueio de soldados humanos monta guarda na entrada.
Merda.
Eu rapidamente conto quantos deles são.
Dez.
Muitos para enfrentar.
Vou ter que tentar passar por eles na base da conversa.
— Pare imediatamente! — Um homem diz, levantando a mão e
parando minha moto. Escondida debaixo de seu braço está uma
metralhadora cintilante.
Eu tiro meu capacete, sacudindo meu cabelo e nem mesmo tentando
esconder meu aborrecimento.
— Saia da nossa frente, — eu digo, olhando para ele.
Ele bufa. — Por que deveríamos?
— Porque eu sou a Luna.
O homem parece confuso. — Isso deveria significar algo para mim?
Eu suspiro. — Eu sou a rainha.
Ele solta uma risada. — Gente, essa garota em uma motocicleta diz
que é a rainha. Vocês acreditam nisso?
Outro homem ri, balançando a cabeça. — Ela com certeza não se
parece com uma rainha. Parece mais um selvagem imundo para mim.
Eu cerro meus punhos. Meu sangue ferve com o fato de que um
humano está me impedindo de entrar na minha própria casa, mas
Natalia coloca a mão no meu braço antes que eu cale a boca dele e faça
algo que não possa voltar atrás. Ela me lança um olhar que diz não.
— Senhor, não queremos nenhum problema. Chame qualquer pessoa
no palácio, — diz Natalia, tentando mostrar um sorriso amigável. — Eles
vão confirmar quem somos imediatamente.
O homem balança a cabeça. — A cerimônia está prestes a começar e a
segurança do presidente é prioridade máxima. Estamos sob ordens
estritas de impedir a entrada de qualquer animal abandonado enquanto
ele estiver aqui.
É isso.
— Eu não tenho tempo para isso. Afaste-se, — eu digo, pegando a mão
de Natalia e tentando empurrar o soldado, mas ele não se move.
Ele me empurra para trás e, em um instante, dez armas são apontadas
diretamente para nós.
— Eu disse saia daqui! — ele ordena.
— Ou o que? — Eu digo ferozmente. — Você vai atirar em um
lobisomem no dia da cerimônia de unificação?
— Seria apenas menos um vira-lata para mim, — murmura um dos
homens.
Meu coração troveja e a adrenalina enche meu corpo. O ar está denso
de tensão, enquanto cada um dos homens me olha com os dedos no
gatilho.
Em seus olhos, vejo a mesma expressão que os Caçadores tinham
quando me mantiveram em seu laboratório há muito tempo.
Nesses homens, posso ver Curt.
Posso ver o Soldado Prateado.
E se não fosse por como isso afetaria Alex, eu me transformaria aqui
mesmo e os deixaria exatamente como deixei os Caçadores que
assombram meu passado.
— Baixem as armas, soldados! — uma voz feminina comanda.
Uma voz familiar.
Todos nós nos viramos e encontramos Vivian se aproximando,
esmagando o asfalto da garagem com seus saltos altos.
Solto um grunhido baixinho.
— Embaixadora, — diz um dos homens, — este lobo...
Ela o interrompe. — Este lobo que está hostilizando é a rainha. Você
está na presença da realeza, então tenha um pouco de respeito. Deixe-a
entrar.
Natalia e eu trocamos olhares perplexos enquanto os homens
resmungões abrem o portão para nos deixar passar.
Não posso confiar nela, mas...
Não tenho escolha a não ser atravessar os portões e acompanhá-la.
Capítulo 28
A CANETA OU A ESPADA ARIEL
Natalia e eu seguimos Vivian pela longa e sinuosa entrada de
automóveis em direção ao palácio. Olhando para trás, noto que saímos
de vista dos soldados no portão.
Em um flash, eu agarro Vivian pela gola e a puxo em minha direção.
— Fale um bom motivo pelo qual eu não deveria acabar com você
neste exato momento, — eu digo ferozmente.
Vivian se recupera rapidamente do choque, sabendo exatamente do
que estou falando. A culpa cobre seu rosto como uma sombra.
— Ariel, eu posso explicar. Meu pai é o presidente. A razão pela qual
ele me enviou foi para ganhar sua confiança e semear o caos na matilha.
Ele queria que eu fizesse Alex parecer fraco.
— Bem, isso não está te ajudando, — eu rosno.
— Mas eu não sabia que ele queria usar o tratado para assumir o
controle da Matilha Real!
Minhas garras cravam em sua jaqueta. — Ainda estou esperando por
esse bom motivo.
— Porque eu realmente quero a unificação entre os humanos e os
lobisomens. Desde que você me levou para a floresta, e eu me reconectei
com minha loba, eu... eu entendi que isso é o que precisa ser feito por
todos nós.
— Por que eu deveria acreditar em uma palavra que você diz?
— Porque você viu o que aconteceu quando minha loba saiu. Você viu
a verdadeira eu.
Eu aperto sua gola por um momento, buscando em seu rosto qualquer
vestígio de que ela possa estar mentindo.
Mas eu sei que não há nada em seu rosto além de pura culpa. Ela está
certa.
Eu vi isso.
E se aprendi alguma coisa ao passar as últimas horas com minha irmã,
é que as pessoas podem mudar.
Mas se Vivian realmente mudou, ela vai ter que provar isso. Minhas
garras recuam em meus dedos e eu a solto. Seu rosto está inundado de
alívio.
— Então, se você realmente é um de nós agora, você vai nos ajudar a
impedir essa cerimônia.
Ela acena com a cabeça seriamente.
— Vamos, — digo, e subimos correndo a colina em direção ao palácio.
ALEX

A cerimônia começou.
Estou no palco, fazendo o meu melhor para sorrir e acenar para as
dezenas de câmeras filmando.
Atrás das equipes de câmera, toda a Matilha Real se reuniu para
testemunhar este evento.
Eu sorrio, afastando meu nervosismo ao imaginar meu pai no meio da
multidão em algum lugar, balançando a cabeça com orgulho.
Eu procuro na multidão por outros.
Dom, Helena e Camelia estão na primeira fila. Meu Beta me dá uma
piscadela tranquilizadora.
Vejo Amy e Marius, mas eles estão apenas dando uns amassos, sem
prestar atenção em mim.
Minha mãe está na primeira fila, sorrindo.
Mas o assento ao meu lado, o assento da Luna, está vazio.
Onde ela está? Uma onda de ansiedade surge dentro de mim.
Ariel, a única pessoa que eu realmente preciso ao meu lado agora, está
longe de ser vista.
Respiro fundo, enviando uma última conexão mental para ela,
esperando que de alguma forma ela receba: — Ei.
— Eu não vejo você em lugar nenhum, e só queria dizer antes que isso
comece que nada disso seria possível sem você. Eu acho que todas aquelas
aulas idiotas de Luna preparando você para isso não importaram no final,
não é? Talvez eu devesse ter tido aulas no seu lugar.
— Eu sei que você sabe disso, mas... você é minha rainha, não importa o
que você está vestindo ou onde você está no mundo.
— Mas ainda assim, volte logo.
— Eu te amo.
De repente, a multidão irrompe em aplausos estrondosos e outro
homem sobe no palco.
O Presidente Cooper.
É a primeira vez que o vejo, porque quando ele chegou estava —
muito cansado das viagens para me cumprimentar.
Pelo menos foi isso que Vivian disse.
Honestamente, estou um pouco decepcionado.
Sou trinta centímetros mais alto do que ele, e ele não possui
exatamente a melhor aparência. Mas, novamente, essa parece ser uma
tendência com presidentes humanos.
Ele me abre um sorriso e estende a mão para um aperto de mão.
Eu aceito, sorrindo enquanto milhares de câmeras tiram uma foto de
nós nos cumprimentando.
— Sr. Presidente, — eu digo cordialmente.
— Vossa Majestade! — ele diz com entusiasmo. — Que prazer
finalmente conhecê-lo. Vamos começar?
— Seria uma honra.
O presidente esboça mais um sorriso e então se afasta, caminhando
até o palanque, baixando o microfone de forma adequada a sua pequena
altura.
Vê-lo prestes a falar me deixa um pouco nervoso. Já que ele recusou
qualquer ensaio, não tenho ideia do que ele vai dizer.
— Sabe, é bom estar aqui, — diz ele, ecoando sua voz aos alto-falantes
até a multidão. — Eu preciso admitir, não é nada como aqueles filmes de
lobisomem sangrentos com os quais eu cresci assistindo quando era
criança. De jeito nenhum. — Vocês todos parecem boas pessoas,
realmente parecem. Mas quando o mundo está ficando mais louco — e
acredite, está ficando mais louco — às vezes você só precisa fazer algo
para consertá-lo.
Ele levanta o papel que contém os termos do tratado — o futuro do
reino.
— E esse tratado bem aqui em minhas mãos é a solução. Quero dizer,
vocês tiveram uma vida difícil. Basta olhar para o ano passado. Primeiro,
vocês foram invadidos por aqueles selvagens que entraram
sorrateiramente, depois tiveram todo aquele fiasco do casamento falso.
Tento esconder minha expressão quando ele menciona Lola e os
selvagens.
— E então, é claro, temos aquele criminoso — Xavier era o nome dele,
não era? Primeiro ele estava trabalhando com os Caçadores, então ele
estava atacando seu próprio povo, agora ele escapou da prisão e está em
algum lugar à solta.
Quando finalmente percebo o que ele está fazendo, meu sangue ferve.
Ele está recontando meus fracassos um por um.
— Quer dizer, em algum momento vocês vão ter que se perguntar, —
continua o presidente, — quando chegaremos ao limite?
Odeio admitir, mas essa é a pergunta que tenho feito a mim mesmo a
todo momento.
— É por isso que vim aqui hoje, — diz ele. — Ao permitir que os
humanos deem a vocês uma pequena ajuda militar, vocês todos estarão
mais seguros. Isso é uma promessa. E...
Ele se vira para olhar para mim por um momento, sorrindo.
— Vocês poderão dar ao seu Alfa um descanso. O seu rei é um cara
legal. Provavelmente um pouco legal demais. Mas ele está fazendo o
melhor que pode.
Eu não posso deixar de rosnar para isso.
Fique calmo, Alex.
Ele provavelmente não quis dizer nada com isso. Ele pega uma caneta do
bolso da frente e assina o tratado no palanque, depois a estende para
mim. — Então, com apenas um toque da caneta, — diz ele. — O resto é
história.
Eu olho para a caneta e vejo as câmeras apontadas para mim,
ampliando em minha direção.
Eu olho para frente mais uma vez, procurando por Ariel em algum
lugar na multidão.
Mas, infelizmente, não vejo meu par em lugar nenhum.
Então eu olho para o mar de rostos da minha matilha, minha família,
meus entes queridos, todos me observando atentamente.
Me vendo aqui em cima, não meu pai.
Vendo que tipo de Alfa eu realmente sou.
Eu pego a caneta.
ARIEL

Eu empurro a multidão o mais rápido que posso, com Vivian ao meu


lado e Natalia sendo praticamente arrastada.
À distância, posso ver Alex no palco.
Meu coração dispara quando o vejo ali, parecendo majestoso em um
terno trespassado. Em qualquer outra circunstância, eu sentiria o desejo
de rasgar aquele terno imediatamente.
Mas agora, a única coisa que preciso rasgar é aquele tratado no
palanque.
Ele se estica e pega algo do presidente.
Uma caneta.
Alex, não!
Olhando para o tratado, sua testa está franzida.
— Ele vai assinar! — Vivian dispara.
Com o pânico crescendo, começo a me aproximar o mais rápido que
posso, mas há muitas pessoas no caminho. A família inteira de cada lobo
veio assistir isso.
Meu coração sofre. Acho que não vou conseguir.
Mas então, de repente, ele abaixa a caneta.
Ele não assina.
O presidente fica vermelho, enrubescendo de desgosto.
— Que diabos está fazendo? — A voz do presidente está perto o
suficiente do microfone para ecoar na multidão pelos alto-falantes.
— Estou tomando uma decisão, — diz Alex. — Não é a decisão mais
fácil, mas é a melhor decisão para o meu povo. Eu não vou assinar isso.
Um sorriso floresce em meu rosto quando vejo meu par se afastando
do presidente e se voltando para seu povo na multidão.
— Este tratado mostra apenas o problema, não a solução, — diz ele. —
E o problema é que humanos e lobisomens vivem em mundos
completamente diferentes.
Alex se volta para o presidente. — Nós não nos entendemos de forma
alguma. E trazer mais soldados para as terras da matilha não é a maneira
de consertar isso.
— Alex, quero dizer, Vossa Majestade, — implora o presidente. —
Meus soldados são a única maneira de proteger seu reino.
— Sr. Presidente, minha Luna é uma guerreira e salvou nosso reino
mais vezes do que posso contar. Nosso pessoal pode pertencer a grupos
diferentes, mas sempre protegemos uns aos outros. E isso nunca vai
mudar.
Eu continuo me movendo em direção ao palco, querendo nada mais
do que jogar meus braços em volta de Alex.
Parece que a cabeça do presidente vai explodir. — E quanto ao seu pai,
Alex? Pense em como ele ficaria desapontado com isso.
— Eu não posso mais viver na sombra do meu pai. Então, eu tenho
que fazer isso do meu jeito, não do seu.
Meu coração se enche de orgulho por meu par. Estou perto o
suficiente para vê-lo melhor agora, ereto, seus olhos brilhando de
confiança enquanto ele olha para os rostos de sua matilha.
Alex não se parece apenas com um rei.
Ele parece um verdadeiro líder.
Alex levanta o tratado e o rasga ao meio, e a multidão explode em
aplausos.
— Certo! — o presidente grita. — Eu queria fazer isso do jeito bom, eu
realmente queria. Mas parece que vocês, vira-latas, não respondem à
bondade de forma alguma.
Ele olha para a matilha. — A única maneira de adestrar monstros
sarnentos é mostrar quem é o seu mestre.
A multidão explode em vaias, dizendo ao presidente para sair do
palco. O presidente aponta para Alex e grita aos berros: — Chega dessa
merda. PRENDAM O REI!
Em um instante, dezenas de agentes em ternos pretos invadem o
palco, todos convergindo em um só lugar. Todos se movendo em direção
a Alex.
O caos se instala e as pessoas começam a gritar. Estou perto do palco,
mas abrir caminho no meio da multidão em pânico é quase impossível.
Tentando chegar mais perto, eu puxo minha espada quando vejo os
homens se aproximando de Alex, que tenta se defender. Mas são muitos
deles.
Por favor, Deusa.
Por favor, deixe-me chegar a tempo.
Capítulo 29
A RAINHA GUERREIRA ARIEL
Enquanto os agentes do Serviço Secreto invadem o palco e cercam
Alex, dezenas de soldados humanos se dispersam pela multidão.
A matilha está um caos absoluto, mas meu único foco agora é chegar
até Alex.
— Eu preciso subir naquele palco, — eu rosno.
— Vá, — diz Vivian. — Não se preocupe comigo.
Eu aceno em agradecimento e, em seguida, empurro a multidão,
tentando encontrar um caminho até o palco.
Minha loba está desorientada, recuando para o limite da minha
mente.
Eu mal consigo me mover. É como tentar nadar através de uma massa
de corpos.
Muitas pessoas.
Muitos gritos.
Eu não posso me transformar nessas condições.
Estou sendo jogada em ondas de confusão.
A multidão é como uma maré crescente — assim que me aproximo de
Alex, sou puxada de volta para o mar novamente.
Deusa... Selene... por favor, me ajude a encontrar meu caminho!
De repente, é como se a multidão se separasse por um momento e eu
pudesse ver uma rota livre à minha frente.
Não tenho tempo a perder. Eu corro em direção ao palco, cravando
meus pés no chão.
Mas assim que eu atravesso a multidão, meu coração afunda.
Há um bloqueio de soldados cercando completamente o palco. Não
há nenhuma maneira de eu conseguir entrar sozinha.
Seis agentes abordam Alex, prendendo-o com força, enquanto o
presidente grita a plenos pulmões: — Animais! Animais imundos!
Minha missão parece impossível, até que…
ARR-RRR-OOO-OOO!
Um uivo ensurdecedor perfura o ar. Mas não é apenas um uivo
qualquer...
É um grito de guerra.
Dezenas de lobos invadem o palco de todas as direções, e eu os
reconheço imediatamente.
Os guerreiros!
O lobo de Dom está liderando o ataque. Os soldados humanos
começam a se espalhar enquanto os lobos guerreiros os arremessam
como brinquedos de mastigar.
O lobo de Dom se vira para mim e sua voz entra em minha mente: —
O que você está esperando? Salve o seu homem!
Minha loba interior uiva junto com os guerreiros, e sua determinação
me impulsiona para o palco.
Eu salto um metro e oitenta até a superfície da plataforma com
facilidade e ergo minha espada.
— Ariel! — Alex levanta a cabeça e tenta me alcançar enquanto os
agentes usam toda a sua força para segurá-lo.
Se ele tentar se transformar, ficará muito vulnerável. E eu também.
Eles vão atirar em mim antes mesmo de um pelinho brotar em minha
pele.
Os homens do Serviço Secreto começam a atacar e eu mantenho
minha posição.
Não mate ninguém, digo à minha loba. Apenas desarme-os.
Enquanto um agente aponta sua arma para mim, eu uso minha
lâmina de pedra da lua para cortar o cano da arma antes que ele possa
apertar o gatilho.
Eu me esquivo das balas de outro agente me encolhendo e rolando,
então uso minha espada para cortar sua perna. Enquanto ele se dobra de
dor, tiro a arma de sua mão.
Um de seus colegas tenta me segurar, mas eu uso ambas as minhas
pernas para o chutar para fora do palco.
Em um salto, fico de pé e giro a espada em minha mão.
— Quem é o próximo? Estou apenas me aquecendo.
Outro agente avança em minha direção e eu desvio. Eu uso a
extremidade plana da minha lâmina para desequilibrá-lo, em seguida, o
envio em direção a um de seus colegas agentes. Ambos caem do palco em
uma pilha.
Não posso deixar de sorrir enquanto arremesso os guardas do
presidente. É incrível sentir o calor da batalha novamente.
É aqui que eu me sinto em casa. É isso que devo fazer.
Mas quando me viro, minha alegria se transforma em pavor.
Um agente aponta uma arma para a cabeça de Alex, posicionando seu
dedo trêmulo no gatilho.
Leva apenas um segundo para eu perder minha vantagem. Dentro de
instantes, estamos cercados novamente.
O presidente passa pelo círculo de homens do Serviço Secreto,
olhando para mim com um brilho maligno nos olhos. Ele se volta para as
câmeras e meu estômago aperta.
Eles ainda estão gravando...
Estivemos ao vivo esse tempo todo.
— Vocês estão vendo isso? — O presidente grita para a câmera um
pouco desequilibrada. — Exatamente como eu disse — lobisomens são
selvagens! Isso apenas prova meu ponto!
Meu sangue está fervendo, mas não há nada que eu possa fazer. Alex
está sob a mira de uma arma e, se eu atacar o presidente ao vivo na TV, só
vou piorar as coisas.
Ele continua seu discurso desvairado: — Vim aqui para oferecer paz,
mas esses cachorros queriam morder a mão que os alimenta. Se eles
querem guerra, então será guerra!
— Você nunca quis paz! — Uma voz grita do outro lado do palco.
Vivian sobe na plataforma, segurando os saltos altos em suas mãos.
Ela caminha diretamente na frente da câmera e fica cara a cara com seu
pai.
— Você não queria unir lobisomens e humanos. Você só queria
controlá-los! — A voz de Vivian é inabalável enquanto ela confronta o
presidente. — Você tinha algo que poderia ser lindo e o trocou por poder!
O rosto do presidente fica vermelho e ele parece um vulcão prestes a
explodir.
— Vivian, não diga mais uma palavra, ou eu vou...
— Não, pai, cansei de ficar quieta! Cansei de esconder quem eu
realmente sou!
Meu queixo cai quando as garras de Vivian se estendem de seus dedos,
e ela cresce em pedaços de pelo. Quando ela abre a boca novamente para
falar, expõe seus caninos afiados.
— Estou orgulhosa de ser metade lobisomem!
Vivian acabou de expor a hipocrisia de seu pai para o mundo.
Ele imediatamente se inclina sobre ela e a atinge no rosto. Com força.
— Sua vadia imunda e ingrata! Eu deveria ter matado você há muito
tempo, assim como fiz com sua mãe.
Com suas palavras cruéis, vejo algo mudar por trás dos olhos de
Vivian. Suas pupilas se transformam em fendas estreitas e há uma
energia selvagem inconfundível emanando de seu corpo.
Ela está totalmente conectada com sua loba.
VIVIAN

No início, sinto minha mente confusa e minhas habilidades motoras


parecem prejudicadas.
Mas então — como um holofote cortando a névoa — tudo fica claro.
Meu pai matou minha mãe.
Ele finalmente admitiu.
Ele a desprezava por ser diferente. Assim como ele me desprezou
todos esses anos. Tentando me forçar a me conformar com sua ideia do
que era normal.
Mas cansei de aceitar essa desculpa patética de um homem.
Eu não vou deixar ele me controlar por mais tempo.
Eu sou a única no controle agora.
Eu pego impulso e cravo minhas garras no rosto de meu pai em um
movimento rápido, deixando para trás uma ferida profunda de três
pontas.
Ele grita em agonia enquanto segura o rosto ensanguentado. —
Desgraçada!
— Você pode usar essa cicatriz como sua marca de vergonha, — eu
rosno. — Assim como você me fez carregar minha vergonha por quem eu
sou todos esses anos. Mas não tenho mais vergonha. Eu sei exatamente
quem eu sou.
Minha loba interior uiva em aprovação.
E eu uivo junto com ela.
ALEX

Enquanto Vivian crava suas garras no rosto do presidente, isso me dá


a abertura de que preciso. O agente que está segurando sua arma na
minha cabeça aponta a arma para ela, e eu rapidamente transformo meus
dentes em caninos afiados, afundando-os em seu braço.
O agente grita. — Filho da...
Dou uma cotovelada na têmpora dele, nocauteando-o.
No caos que se seguiu, Ariel volta à ação, enfrentando o Serviço
Secreto um por um.
Quando ela está no meio de uma batalha, ela se move com tanta
graciosidade e precisão.
Sua técnica de luta é uma forma de arte e sua habilidade com a lâmina
é incomparável.
Eu não posso deixar de pensar comigo mesmo, Essa é minha rainha.
Minha rainha guerreira.
Ariel pode não ser a diplomata mais equilibrada.
Ou a anfitriã mais graciosa.
Na verdade, ela não é realmente uma rainha convencional em
qualquer sentido da palavra.
Mas não poderia ser de outra forma.
Foda-se o convencional.
Vamos traçar nosso próprio caminho — juntos.
Eu cravo minhas garras nos ombros de um dos agentes e o jogo para
fora do palco, juntando-me a Ariel na luta.
— Estou feliz que você chegou a tempo, — eu digo enquanto lutamos
ombro a ombro. — Você quase perdeu toda a diversão.
Ariel vira um agente por cima do ombro, então se vira para me
encarar.
Seus lábios colidem com os meus, e o mundo inteiro desaparece por
um momento.
Então ela se afasta e me dá um sorriso malicioso. — Eu sempre vou
aparecer para salvar sua pele.
ARIEL

Os agentes do presidente estão quase derrotados. Eles estão fugindo


com o rabo entre as pernas, e os guerreiros empurraram os soldados
humanos para além da fronteira.
Há apenas mais uma pessoa em que eu realmente adoraria colocar
minhas garras...
O presidente Cooper está correndo pelo campo aberto próximo ao
palco, segurando seu celular na mão.
Estou pronta para uma perseguição, se ele estiver
Meus ossos quebram e minhas roupas rasgam enquanto eu me
transformo e me posiciono em quatro patas.
Eu pulo do palco e persigo o presidente, pisando furiosamente no
chão macio com minhas patas.
Ele olha aterrorizado por cima do ombro.
Eu acelero meu ritmo, me aproximando rápido.
Estou quase em seus calcanhares quando...
Uma rajada de vento quase me desequilibra. Um zumbido mecânico
ensurdece minha audição aguçada.
Um helicóptero desce sobre o campo. Dois homens puxam o
presidente para a cabine, mas ele se vira para me encarar antes que volte
a voar.
Seus olhos mal são visíveis por trás da enorme cicatriz sangrenta...
Mas eles ainda estão cheios de ódio.
O helicóptero fica cada vez menor, desaparecendo na distância. Achei
que ficaria decepcionada se ele conseguisse fugir, mas não estou.
Seu acerto de contas virá.
O mundo inteiro viu sua verdadeira face.
Agora eles sabem quem é o verdadeiro monstro.

Depois de me certificar de que expulsamos todos os militares


restantes das terras da matilha, eu volto para o palácio, me
transformando de volta para a forma humana e vestindo minha
armadura.
Vivian está sentada nos degraus, parecendo desorientada, mas
aliviada. Sento-me ao lado dela e suspiro. — Não foi bem a cerimônia de
unificação que esperávamos.
— Não, mas talvez seja a que precisávamos, — ela responde.
— Obrigada por nos ajudar, — eu digo. — Eu sei que não deve ter sido
fácil para você.
— Não, eu é quem deveria estar agradecendo a você, Ariel, — ela diz,
pegando minha mão. — Você me ajudou a me aceitar como eu sou.
Finalmente sinto que estou sendo verdadeira comigo mesma, e devo isso
a você.
— O que você vai fazer agora? — Eu pergunto. — Presumo que você
não pode voltar para sua antiga vida.
— Honestamente, eu nem quero. Minha vontade é traçar um novo
caminho adiante. Quero ser uma ponte entre lobisomens e humanos.
Lutar pela verdadeira paz e união.
As palavras de Vivian ecoam em minha mente. Traçar um novo
caminho adiante. As mesmas palavras que Selene falou para mim.
Que mulher inteligente. Acho que não era apenas minha família que
precisava de cura. Vivian também precisava da minha ajuda.
— Nunca pensei que pudesse enfrentar o meu pai assim, — diz Vivian.
— Mas isso já devia ter acontecido há muito tempo.
Por trás do ombro de Vivian, vejo Dianne conversando com um grupo
de repórteres, exibindo o drama para a câmera.
Eu me levanto, sentindo uma onda de inspiração. Se Vivian pode
enfrentar seu pai abusivo, então não tenho desculpa.
Eu começo a marchar em direção a minha mãe e a equipe de
filmagem.
— Acho que finalmente é hora de eu fazer o mesmo.
Capítulo 30
FECHANDO A FENDA ARIEL
Dianne está contando aos repórteres uma história exagerada dos
eventos de hoje, relatando a experiência angustiante da filha.
Minha mãe montou um circo de mídia — e ela é a líder.
Estou cansada de sua manipulação.
Isso acaba agora.
Pego Dianne pelo braço e a arrasto para longe das câmeras. — Ariel,
estou no meio de uma entrevista!
— A entrevista acabou, Dianne. Agora você vai ouvir o que eu tenho a
dizer.
Eu a levo para o palácio e, em seguida, para o escritório de Alex,
fechando a porta atrás de nós.
— Sente-se, — eu ordeno.
Dianne parece nervosa, mas se senta perto da lareira e eu me sento de
frente para ela.
— Precisamos conversar, — digo, iniciando o que sem dúvida será a
conversa mais desagradável da minha vida. — Precisamos conversar há
muito tempo, na verdade.
Dianne fica em silêncio, então eu continuo: — Por toda a minha vida,
fui invisível para você... até me tornar uma rainha. Agora você de repente
me vê. Agora você quer ser vista comigo.
— Isso não é totalmente verdade, — ela responde baixinho.
— Não tente minimizar isso, Dianne, — eu digo, mantendo minha
posição. — Você sempre me desprezou até que eu me acasalasse com a
realeza. Quando eu era uma guerreira em treinamento, você não tinha
um único segundo para gastar comigo.
— Eu só queria o melhor para você, — ela protesta. — Que tipo de
vida você poderia levar como uma guerreira?
— Aquele que escolhi para viver, — digo. — Todo esse tempo eu tenho
tentado muito agradar você. Tentado corresponder às suas expectativas
elevadas. Mas tudo que eu realmente quero é que você me aceite como
eu sou.
— Você está me culpando por querer que minha filha tenha a melhor
vida possível?
Não vou deixá-la bancar a vítima. Não dessa vez.
— Seu apoio vem com amarras, Dianne. Você só está lá para mim se
eu fizer exatamente o que você quiser. Mas nunca serei a filha perfeita.
Ou a Luna perfeita.
Há um silêncio constrangedor entre nós por um momento.
— Eu... eu não sei o que você quer que eu diga, — Dianne finalmente
diz, evitando o contato visual e olhando para o fogo.
— Quero que diga que está orgulhosa de mim, independentemente do
que eu escolher fazer. Posso ser uma rainha por título, mas em meu
coração e alma, eu sou, e sempre serei, uma guerreira.
Quando Dianne se vira para mim, fico chocada ao ver as lágrimas
escorrendo por seu rosto.
Eu nunca a vi mostrar tanta emoção. Ou qualquer tipo de emoção.
— Eu sei que fui uma mãe horrível para você e Natalia. E não posso
voltar atrás.
Sinto lágrimas se formando em meus próprios olhos. — Você nunca
esteve lá para mim. Não antes de ser sequestrada pelos Caçadores. E não
esteve depois também. Eu senti como se você me odiasse. É não entendo
o porquê.
Fico surpresa quando minha mãe se estica e agarra minha mão. —
Não, Ariel, eu nunca te odiei, eu só... eu nunca quis ser mãe. Então, eu fui
dura com você. Eu queria que você tivesse o sucesso que eu não consegui
ter.
Dianne desmorona, disparando suas palavras mais rápido do que as
lágrimas podem cair de seus olhos.
— Deusa, eu queria poder voltar atrás. Te dar uma infância melhor. Te
dar o amor que você merece. Mas Ariel, eu não tinha nenhum amor para
dar. Eu me odiei por muito tempo porque estava infeliz.
Dianne se esforça para continuar, mesmo soluçando: — Seu pai é um
grande homem, mas eu não o amo. Eu nunca amei. E quando fiquei
grávida, enterrei meus sonhos e me tornei uma mulher amarga e
ressentida.
É difícil ouvir minha mãe dizer isso. Principalmente sobre papai.
Eu quero odiá-la. Eu realmente quero. Mas não consigo mais
encontrar o ódio dentro de mim.
Tenho que deixar isso de lado se pretendo seguir em frente.
Dianne olha para mim, com rímel escorrendo pelo rosto. — Tudo o
que posso oferecer a você agora é meu mais profundo arrependimento.
Eu sinto muito.
Não há como negar que ela agiu de forma egoísta durante anos, mas
suas palavras não parecem desculpas. Ela está sendo honesta, talvez pela
primeira vez na vida.
Minha voz treme enquanto eu falo: — Gostaria que pudéssemos
voltar também, mas não podemos. Você tem que viver com as decisões
que tomou no passado. Mas isso não significa que você não possa
encontrar a felicidade em seu futuro.
Dianne acena com a cabeça, apertando minha mão com mais força. —
Será que um dia você vai me perdoar?
Eu aceno de volta. — Sim, eu te perdoo. Não sei se posso confiar
totalmente em você novamente, mas eu te perdoo.
Eu me afasto de minha mãe e a deixo sozinha perto da lareira. Mas
antes de ir, tenho uma última coisa a dizer a ela: — Ainda dá tempo de
encontrar sua felicidade, Dianne. Não é tão tarde.
Quando volto para o meu quarto, ouço Xavi chorando do berçário.
Quando abro a porta para ver como ele está, vejo Natalia embalando-o
nos braços.
— Shhhh, está tudo bem, — ela diz suavemente. — Mamãe está com
você.
Xavi fecha os olhos lentamente, aninhado com segurança nos braços
de sua mãe.
Já chorei o suficiente hoje, então seguro as lágrimas, mas me
emociona ver Natalia se reencontrar com seu filho.
Sento-me ao lado dela no sofá perto do berço de Xavi e coloco minha
cabeça no ombro de Natalia.
— Estou feliz que você voltou para casa, — eu digo.
— Eu também. — ela diz. — Mas não sei quanto tempo vou ficar.
Eu me sento e olho para ela. — O que você quer dizer?
— Não me entenda mal... Estou grata por você ter aberto sua casa para
mim, mas preciso descobrir a que lugar realmente pertenço.
— Sei que tivemos nossas diferenças no passado, mas acredite em
mim quando digo que esta é a sua casa também. E de Xavi. Além disso, eu
não quero que você vá a lugar nenhum com Xavier ainda lá fora.
— Obrigada, Ariel, mas você tem que entender... Xavier é exatamente
a razão pela qual eu preciso ir.
— Natalia, — eu digo, agarrando seu ombro. — Não me diga que você
ainda sente algo por aquele monstro. Ele é...
— Não, não é isso, — ela diz, me interrompendo. — Eu desisti da
minha vida por Xavier. E isso foi um erro. Mas meu par destinado ainda
está por aí em algum lugar. Não sei se ele me quer, mas...
Eu sorrio para minha irmã. — Mas você tem que pelo menos tentar.
Ela acena com a cabeça e sorri de volta.
Dou um abraço em Natalia, com cuidado para não incomodar Xavi. —
Farei tudo o que puder para ajudá-la a encontrar seu par.
— Eu... eu te amo. Ariel. — As palavras de Natalia soam tão estranhas,
mas tão familiares ao mesmo tempo.
— Eu também te amo, irmã.

Deito na cama com Alex, grata por ter um momento a sós com meu
par.
Enquanto nos encaramos, ele acaricia minha bochecha com o polegar.
— Sempre me surpreendo com o tamanho da sua força.
— Eu sinto o mesmo por você, — eu digo.
— A cerimônia de unificação foi um fracasso total... Não sei o
tamanho desse impacto na minha força.
— Alex, você defendeu o que acreditava. Você não escolheu o caminho
mais fácil. Essa é a decisão mais forte que você poderia ter feito.
— Eu só espero que a matilha confie em mim tanto quanto você.
Eu entrelaço meus dedos pelo cabelo dourado ondulado de Alex. — A
cerimônia de unificação pode ter falhado em aproximar humanos e
lobisomens, mas ela nos aproximou.
Alex sorri. — Eu concordo.
Ele abaixa a gola da minha camisa e beija meu ombro.
Seus lábios são quentes e suaves contra minha pele.
Eu levanto meus braços e ele puxa minha camisa sobre a minha
cabeça. Então ele remove a sua e me puxa para seu peito.
Alex beija meu pescoço, e isso me traz de volta à memória de quando
ele me marcou pela primeira vez.
Isso acende um fogo dentro de mim, e minha loba arfa de excitação.
A compaixão, a lealdade e o amor de Alex se espalham pela minha
mente e me aquecem de dentro para fora.
Estou tomada por uma necessidade incontrolável de me sentir perto
dele.
Não perco tempo removendo o resto das minhas roupas e, em
seguida, arrancando as calças de Alex.
— Minha loba está indo à loucura por você, — eu digo.
— E o meu lobo vai à loucura por você, — ele responde. — Não vamos
deixá-los na mão.
Eu subo em Alex e o beijo profundamente, segurando seus braços
atrás da cabeça.
Ele agarra com força minha bunda e, em seguida, puxa a mão para trás
e dá um tapa.
Eu me posiciono diretamente sobre seu membro, e ele endurece
imediatamente.
Alex desliza para dentro do meu sexo e eu arqueio minhas costas, em
êxtase.
A sensação do meu par dentro de mim é um prazer diferente de
qualquer outra coisa — e toda vez é melhor do que a anterior.
— Não importa quantas vezes estive dentro de você, meu lobo te
deseja cada vez mais, — Alex diz.
Minhas mãos seguram seu tórax como se não houvesse o amanhã,
enquanto ele mete em mim e meu corpo estremece como um terremoto.
Meus orgasmos são como tremores estrondosos, cada um atingindo
um ponto mais alto na escala Richter.
— Minha Deusa! — Alex está me dividindo da melhor maneira
possível, e a sensação de ondas correndo pelo meu corpo estão deixando
minha visão embaçada.
— Ariel, eu vou... — Alex se retira e chega ao clímax, explodindo em
minha barriga.
Ele se senta e beija minha testa, depois respira fundo. — Caramba,
você me deixa louco todas as vezes.
Eu rio enquanto empurro Alex de volta nos lençóis. — Então é melhor
você se preparar. Estou apenas começando. — Seus olhos brilham de
entusiasmo.
É aquilo que dizem sobre terremotos...
Sempre há uma réplica.
Acordo com o cheiro de bacon fresco e ovos, e o forte aroma de café
recém-moído.
— Hummmm, — eu gemo enquanto abro meus olhos e estico meus
músculos doloridos.
A noite passada foi um grande treino.
Saio da cama e vou até a penteadeira, onde Alex me deixou o café da
manhã em uma bandeja.
E tem outra coisa: um jornal. Está saindo de baixo da bandeja.
Sinto uma sensação de pavor ao pegá-lo. Deusa, o que eles têm a dizer
sobre mim agora?
Mas quando leio a manchete na primeira página, meus lábios se
abrem em um sorriso.
RAINHA GUERREIRA LUTA COM ESTILO E SALVA O REINO
Sinto um par de braços fortes em volta da minha cintura.
— Gostou do café da manhã? — Alex sussurra em meu ouvido.
— Eu amo suas pequenas e atenciosas surpresas, — eu digo, virando-
me e beijando-o na bochecha.
— Bem, preciso confessar que — eu tenho outra surpresa, — Alex diz
maliciosamente. — Mas definitivamente não é pequena.
— O que você quer dizer?
— Vá para a varanda e você verá, — ele diz, me dando um leve
empurrão.
Eu puxo as cortinas, abro as portas francesas, e quando saio…
— Minha Deusa! Alex, você...
No meio do campo abaixo está um avião de hélice leve.
Dom sorri e acena para nós enquanto coloca nossas malas na modesta
aeronave.
— Achei que precisávamos de um descanso, — diz Alex.
— O que você tem em mente? — Eu pergunto, intrigada.
Alex pega minha mão e seus olhos esmeralda brilham ao sol da
manhã.
— Você apenas terá que confiar em mim.
Livro 4

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!


E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
https://t.me/GalateaLivros
Capítulo 1
LOBOS A BORDO
ARIEL

Meus olhos brilham enquanto eu intercalo olhares entre o avião de


hélice no gramado do palácio e Alex parado ao meu lado na varanda do
nosso quarto.
— Me conte para onde estamos indo, — eu digo, liberando sua mão e,
em seguida, sacudindo seus ombros.
— Eu disse que você tem que confiar em mim. Já fiz as malas com
tudo que você precisa.
— Apenas me dê uma dica, — eu digo. — Praia? Montanhas? Selva?
— Você realmente não entende o conceito de surpresa, não é? — Alex
me diz com uma risada.
— Eu sou uma guerreira, — eu digo. — Fui treinada para odiar
surpresas.
Ele coloca o braço em volta da minha cintura. — Vou apenas dizer que
há uma cama grande e confortável, uma vista deslumbrante e bebidas
sem fim esperando por nós do outro lado.
Eu relaxo em seu peito. — E vamos ter que sair da cama?
— Não se não quisermos, — ele diz em meu ouvido.
Nossa lua de mel está atrasada há muito tempo.
Finalmente vamos conseguir a privacidade que desejamos.
— Então. — eu digo, virando-me e dando-lhe um beijo na bochecha,
— o que estamos esperando?
Com isso, eu corro para fora do nosso quarto, enquanto meus pés
voam sob mim.
Depois do desastre completo que foi a cerimônia de unificação, mal
posso esperar para soltar o cabelo, tomar alguns coquetéis a mais e fazer
amor com Alex repetidamente.
Mas, enquanto corro pelo corredor e entro no saguão, paro no meio
do caminho quando vejo Natalia caminhando em direção à porta da
frente, arrastando uma pequena mala rosa atrás dela.
Minha irmã e eu temos nos dado melhor, mas se ela acha que vai
comigo na minha lua de mel surpresa, tudo o que tenho a dizer é...
Sem chances.
— Natalia, o que está acontecendo?
— Estou indo para a Matilha da Lua Crescente. — ela diz com firmeza.
De repente, tudo faz sentido.
Natalia vai encontrar seu par destinado.
— Agora mesmo? — Eu pergunto.
— Eu não posso esperar mais.
— Você nunca foi uma pessoa muito paciente, — eu digo com um
sorriso.
— Você me conhece, — ela responde. — Mamãe está cuidando de Xavi
esta noite. Você poderia ver como ele está em algum momento e se
certificar de que ela não está sendo inconveniente com ele?
— Bem, na verdade, — eu digo, caminhando até a porta da frente do
palácio e abrindo-a, — você não é a única que está saindo da cidade hoje.
Ela revira os olhos quando vê o avião de hélice.
— Deve ser bom, — diz ela. — estar acasalada com o maldito rei.
Mas então seu rosto se suaviza em um sorriso e ela me puxa para um
abraço. — Divirta-se, Ariel.
Sei que não é fácil para ela ficar feliz por mim, mas em sua defesa, ela
está dando o melhor de si.
Começo a sair do palácio em direção ao avião quando ouço Natalia me
chamando. — Espere...
Eu me viro e vejo um pouco de medo transbordando por trás de seus
cílios carregados de rímel.
— E se ele não gostar de mim? — ela pergunta.
— Você é a Natalia! — Eu digo. — Os meninos sempre caíram aos seus
pés!
— Mas e se... e se ele já estiver acasalado com outra pessoa?
— Caso você tenha esquecido, alguém roubou meu par destinado.
Eu limpo minha garganta e olho para ela de uma forma diabólica. Ela
muda de pé desconfortavelmente.
— Mas tudo deu muito certo para mim no final, — eu continuo. —
Esse cara pode não ser para você, mas pelo menos você não vai perder
mais tempo se perguntando se ele é ou não.
Ela assente e eu lanço um sorriso tranquilizador antes de correr em
direção ao avião.
Dom está terminando de colocar nossas coisas no porta-malas.
Quando ele me vê chegando, ele me abre um grande sorriso.
— Olha quem está recebendo tratamento real, — diz ele. — Eu sou o
melhor amigo do cara durante toda a sua vida, e ele nunca me levou para
uma viagem particular.
— E que você não fica tão bem de biquíni, — ouço a voz de Alex atrás
de mim.
Eu me viro e o vejo se aproximando com Vivian.
— Biquíni! Então, é uma viagem à praia!
Alex apenas dá de ombros. — Você saberá em breve. Mas primeiro,
Vivian queria nos dar um resumo final sobre Xavier.
— No início desta manhã, um esquadrão de guerreiros da matilha
conseguiu encontrar vestígios de seu cheiro.
Meus ouvidos se animam. Xavier tem nos despistado por muito
tempo.
— Parece que ele está indo para o oeste, — ela continua. — Envio
atualizações se eles chegarem mais perto da localização dele.
— Obrigada, Viv, — eu digo.
— É o mínimo que posso fazer desde... bem... eu o deixei ir.
— Ah, claro. — eu digo com uma risada. — Esqueci desse pequeno
detalhe.
Eu dou um abraço de despedida nela.
— Mantenha o forte seguro por mim, — Alex diz a Dom antes de
entrar no avião.
Meu par estende a mão e me puxa atrás dele.
— Uau! — Eu grito enquanto olho ao redor para o interior elegante.
Alex sorri com orgulho.
Em frente a dois assentos de couro macio há uma mesa dourada — e
sobre ela há um balde com uma garrafa de champanhe.
Eu nunca tive gosto por luxo... mas eu poderia me acostumar com
isso.
O piloto fecha a porta atrás de nós e depois sobe na cabine.
— Este é o Dusty, — diz Alex, nos apresentando. — Ele viaja com
minha família desde que eu tinha dez anos.
— É um prazer conhecê-la, Vossa Majestade, — ele me diz com um
sorriso.
— Vamos dar o fora daqui, — diz Alex.
Dusty pisca de volta em concordância e, momentos depois, ouço o
motor ligar e vejo as hélices começarem a girar.
E quando meu coração começa a disparar.
Eu estico meu braço e pego a mão de Alex.
— O que foi? — ele me pergunta. — Você está nervosa?
— E que... eu nunca estive em um avião antes.
— Sério? — ele me pergunta.
Eu aceno quando o avião começa a se mover.
— Bem, tenho uma tradição que sempre me faz sentir melhor, — diz
Alex. — Sempre que estou decolando em um avião, faço uma oração
silenciosa para a Deusa da Lua.
Ele fecha os olhos.
Eu fecho os meus também.
Selene. Por favor, guie-nos com segurança para onde precisamos ir, eu
digo.
Mas se ela responder à minha oração, não conseguirei ouvi-la por
causa do som do motor rugindo cada vez mais alto enquanto decolamos
para o céu.
ALEX
Termino minha oração, abro os olhos e reclino-me no assento.
— Um pouco de champanhe para minha dama? — Eu pergunto a ela,
abrindo a garrafa.
Ariel assente, empolgada, enquanto seus olhos seguem a rolha
conforme ela atinge o teto.
Eu tomo um gole direto da garrafa e, em seguida, entrego a ela.
— Parece que vai ser uma viagem tranquila, — Dusty responde para
nós.
— Excelente. Então, vamos tentar descansar um pouco.
Eu fecho a porta entre a área de nossos assentos e a cabine.
Em seguida, sinto a mão de Ariel no meu joelho e olho em seus olhos
de girassol brilhantes.
— Obrigada por isso, — ela me diz.
— Eu não posso compartilhar você com o reino o tempo todo. Às
vezes eu preciso de você só para mim.
E eu não quero esperar até chegarmos ao nosso destino...
Pego a garrafa de champanhe da mão dela e coloco de volta no balde.
E então, em um instante, eu saio do meu assento e monto nela.
— Sabia que, — eu sussurro em seu ouvido, — quando eu era um
adolescente com tesão, costumava sonhar em trazer meu par neste avião
e fazer algo nas alturas.
— Ah é? — ela pergunta.
Eu aceno lentamente.
— E agora?
— Agora sou um adulto com tesão.
— Estou vendo, — ela diz enquanto eu pressiono minha ereção cada
vez mais em sua perna.
— Você é uma mulher perigosa, Ariel. Você não sabe que deveria estar
usando cinto de segurança?
Eu puxo o cinto de segurança sobre seu colo, intencionalmente
prendendo seus pulsos com ele também.
Ela se esforça contra a faixa, mas vejo um sorriso de aprovação rastejar
em seus lábios.
— Aproveite a viagem. — eu digo, dando um beijo suave em sua
bochecha.
Em seguida, eu puxo a alavanca do lado esquerdo de sua cadeira. Seu
assento reclina quase todo para trás.
Eu continuo beijando-a, cada vez mais forte enquanto me movo para
baixo em seu pescoço e em seus seios.
Ela já está começando a gemer.
Eu coloquei um dedo nos meus lábios.
— Shhhhh, — eu digo, apontando para a porta fina entre nós e o
piloto.
— Mas você já está me deixando louca, — ela sussurra.
Eu me ajoelho na frente dela e desabotoo sua calça, puxando-a para o
chão.
Eu afasto sua calcinha para o lado e beijo sua dobra delicada.
Então, eu a encontro molhando minha língua.
Eu a ouço gemer de novo, mais alto dessa vez.
Com meu rosto enterrado em seu núcleo, eu coloco minha mão de
volta em sua boca, lembrando-a de ficar quieta.
O pensamento dela segurando gritos de prazer me deixa ainda mais
excitado.
Eu guio minha língua para dentro até encontrar seu ponto mais doce.
Mas posso dizer que ela já está no limite. Leva apenas mais alguns
beijos ásperos antes que seu corpo comece a tremer debaixo de mim e
seus braços lutem contra suas amarras.
Eu sinto seus dentes mordendo a carne da palma da minha mão para
conter os gritos.
Então, de repente, a tensão em seu corpo diminui e ela derrete no
assento de couro.
Eu puxo minha mão de sua boca e a ouço suspirar baixinho. — Isso foi
tão bom.
Eu não posso deixar de sorrir.
Nada me satisfaz mais do que satisfazê-la.
Eu me levanto de novo, puxo minha calça para baixo e a deixo cair no
chão ao lado dela.
Em seguida, eu abro suas pernas, usando os braços do assento como
apoio.
— Pronta para ir às alturas? — Eu pergunto, provocando-a,
pressionando minha ereção suavemente contra seu núcleo.
Ela balança a cabeça ansiosa, e eu não perco mais tempo.
Eu penetro profundamente dentro dela...
Bem quando chegamos a um ponto de turbulência.
A força dele me empurra ainda mais em seu calor perfeito.
Eu mantenho meu rosto enterrado em seu cabelo para abafar meus
próprios sons de prazer.
Seguro no assento para me equilibrar enquanto continuo a guiar meu
membro para dentro e para fora...
Cada vez mais forte...
Até que, como o champanhe, minha rolha se abre e eu explodo todo o
meu líquido dentro dela.
Até a última gota.
Eu desabo em seu corpo, sentindo o brilho do doce e perfeito alívio.
— Uau, — ela sussurra, — Eu adoro quando você assume o comando.
Eu esboço a ela um sorriso satisfeito. Então, eu saio de cima dela e
sigo para o meu assento enquanto ela libera as mãos do cinto de
segurança.
Pego minha calça enquanto ela começa a subir a dela, e quase bato
com a cabeça na porta da cabine. A turbulência não diminuiu.
Está ficando cada vez mais intensa. E tornando difícil vestir nossas
roupas de volta.
Assim que consegui me vestir completamente, olho para meu par e
vejo o êxtase que estava consumindo sua expressão momentos antes de
desaparecer rapidamente.
Ela está com medo, e não posso negar que estou começando a ficar
nervoso também.
— Ei, Dusty. — eu grito. — Está tudo bem?
— É estranho, — diz ele. — Não estou recebendo nenhum alerta
meteorológico, mas parece que vamos enfrentar uma grande tempestade.
Eu olho pela janela e vejo nuvens cinza escuro girando furiosamente,
ameaçando nos consumir.
— Dusty, me dê boas notícias, — eu digo.
— Estou trabalhando nisso. Vossa Majestade, — diz ele.
Após outro momento de turbulência intensa, o avião parece recuperar
a estabilidade.
— Vai ficar tudo bem. — eu digo para Ariel apertando sua mão. — Isso
tudo é normal... Acontece em todo.
Mas quando essas palavras saem da minha boca, olho pela janela
novamente.
Como se estivesse em câmera lenta, vejo uma das pás da hélice
quebrar na lateral do avião.
Que porra é essa?!
Isso é definitivamente não normal.
Eu me agarro aos apoios de braço como se não houvesse o amanhã
enquanto o avião inicia uma queda livre repentina e íngreme.
ARIEL

O avião começa a cair e meu estômago também.


Eu sinto cada gota de adrenalina sendo liberada em meu corpo, e dou
a Alex um olhar que diz tudo: Estamos mortos.
— Não. — ele diz, lendo minha mente. — Não vamos morrer hoje.
Mas não há mais nada a fazer.
Nada a fazer, exceto orar.
Fecho meus olhos e tento me conectar com a
Deusa novamente.
— Deusa, por favor, — digo a ela. — Por favor, nos salve. Guie este avião
para baixo suavemente. Por favor, Deusa, não nos deixe morrer hoje.
Espero sua voz se infiltrar em minha mente como tantas vezes antes,
mas não consigo ouvi-la.
— Selene, onde está você? SELENE?
O avião continua caindo, acelerando cada vez mais.
Alex está chamando Dusty. A porta está empenada e ele está tentando
abri-la.
Eu fecho meus olhos, e tento abafar sua voz quando eu finalmente
ouço outra ecoando em minha cabeça.
— Você fugiu de mim por muito tempo, — diz a voz. — Agora você será
minha.
O que...?
Algo está errado.
A voz soa semelhante à da Deusa, mas não é a dela.
E muito mais profunda. Mais sedutora. E muito mais sinistra.
— Quem é você? — Eu pergunto, desesperada por uma resposta.
Mas não recebo nada.
Nesse momento, o avião dá uma guinada para a frente.
Eu ouço um estrondo vindo da cabine enquanto continuamos a cair
no céu.
O mundo começa a girar ao meu redor.
E agora eu sei que estava certa antes.
Nós realmente estamos mortos.
Capítulo 2
UM CHAMADO DE AVENTURA ALEX
— Dusty, — grito para o piloto, mas não há resposta.
— DUSTY!
Preciso entrar na cabine, mas a porta está empenada.
Tentando me estabilizar, eu abro minhas mãos e solto minhas garras.
Eu as enterro no metal e o arranco.
Não...
A cabine parece uma cena de crime.
Há sangue por todo o painel, uma rachadura no para-brisa dianteiro e
outra no crânio de Dusty.
Ele deve ter batido com a cabeça quando o avião virou, e agora está
afundado em seu assento, imóvel.
Eu libero seu cinto de segurança e empurro seu corpo no chão.
— Alex, o que você está fazendo? — Ariel chama por mim.
— Estou pousando este avião.
— Você sabe como?
— Não faço a menor ideia.
Mas isso não vai me impedir de fazer isso.
Não vou deixar meu par morrer no caminho para nossa lua de mel.
De jeito nenhum.
Eu agarro o manche e puxo lentamente em minha direção para firmar
a ponta do avião.
Eu freneticamente examino o cenário.
Estamos cercados por montanhas por todos os lados. Abaixo de nós,
na base de todas as montanhas, há uma densa floresta.
Isso não vai dar certo.
Mas entre a floresta e uma das montanhas existe uma clareira
pequena, mas rochosa.
Eu preciso nos levar até lá.
É
É nossa única opção.
Puxo o volante suavemente para a direita e sinto o vento batendo nas
asas do avião.
Bom.
Pelo menos não estamos mais em queda livre.
— Puta merda, você está conseguindo! — Eu ouço Ariel dizer. Detecto
um pouco de surpresa e alívio em sua voz.
Mas certamente não é hora de comemorar.
O motor está engasgando, fazendo com que o avião sacuda
descontroladamente.
Acho que preciso desligar o motor e rezar para que o vento esteja a
nosso favor.
Quando eu era criança. Dusty costumava me deixar acompanhá-lo na
cabine. Ele me ensinava sobre todos os botões e alavancas.
Agora, eu procuro nas profundezas da minha mente e tento me
lembrar do que ele havia me ensinado.
Eu me arrisco e puxo para baixo a terceira alavanca à esquerda do
volante.
Sem dúvida, em instantes, o som do motor morre e nós giramos com
o vento, movendo-nos com mais suavidade agora do que antes.
Eu continuo a nos guiar na direção da clareira.
Novamente, vasculho em minha memória e tento descobrir como
soltar os pneus do avião.
Um botão verde piscante no painel me chama a atenção.
Eu pressiono e respiro um suspiro de alívio quando ouço o som
familiar dos pneus descendo.
Por algum milagre, os ventos realmente ajudam a guiar o avião até
meu objetivo como local de pouso.
— Prepare-se, — eu grito para Ariel. — Vai ser um pouso difícil.
Ariel cambaleia até a cabine e se acomoda no assento ao lado do meu.
Conforme o avião se aproxima do solo, nossos olhos se fixam
brevemente mais uma vez.
Deusa, não deixe ser a última.
Eu puxo o volante e os pneus fazem um contato forte e rápido com o
chão.
Eu ouço o som de metal rasgando abaixo de nós enquanto a parte
inferior do avião colide com o solo rochoso.
Meu pescoço chicoteia para frente com um estalo e eu grito de dor,
mas rapidamente recupero meu foco.
Disparamos pela clareira, mas o solo lamacento diminui a velocidade
do avião.
A poucos metros de colidir com a encosta de uma montanha, o avião
finalmente para.
Puta merda.
Eu consegui.
Nós pousamos.
Eu olho para Ariel em pânico.
— Você está bem? — Eu pergunto a ela. — Você está machucada?
— Estou bem... — diz ela, examinando seu corpo. — Eu estou...
Mas ela está claramente em choque.
Eu também estou.
Estávamos à beira da morte e, de alguma forma, por pouco escapamos
dela.
— Como diabos você conseguiu fazer isso? — ela me pergunta.
— Dusty. — eu digo baixinho, e meus olhos descem para seu corpo
mole no chão.
Ariel solta o cinto de segurança e se agacha ao lado dele.
Ela pega o pulso dele e o sente por um momento.
Então ela olha para mim e balança a cabeça.
— Está morto? — Eu pergunto sombriamente.
— Sim, — ela diz.
Mas não tenho tempo para processar essa perda, porque de repente
todas as luzes do avião começam a piscar e o motor começa a engasgar
novamente.
Não parece bom.
Definitivamente.
Então, eu detecto o cheiro sutil, mas distinto de fumaça.
— Ariel, — eu digo.
— Corre?
— Corre!
Eu abro a porta do avião, agarro a mão de Ariel e pulo para fora.
Enquanto corremos em direção à encosta da montanha, o motor
explode em chamas, engolindo o avião e o corpo de Dusty com ele.
ARIEL

Meus olhos ardem enquanto vejo o avião ser consumido pelas


chamas.
Alex me segura em seus braços com força. Parece que ele nunca mais
vai me soltar. E eu não quero que ele solte.
— Puta merda. — é tudo que consigo dizer. — Puta merda. Puta
merda. Puta merda.
— Faço das suas palavras as minhas, — diz Alex, com a voz trêmula.
Eu me viro para que nossos rostos fiquem juntos.
Beijo seus lábios trêmulos com os meus.
— Você nos salvou. — eu digo. — Você salvou nossas vidas.
— Ainda não acabou, — diz ele. — Nosso único rádio e ambos os
nossos telefones estão queimando enquanto conversamos. Precisamos
encontrar alguém — qualquer um — que possa nos ajudar a entrar em
contato com a Matilha Real.
Minha mente vagueia de volta para a voz misteriosa que me chamou
enquanto estávamos no avião, mas eu rapidamente afasto o pensamento.
— Onde diabos estamos, afinal? — Eu observo nosso entorno.
— Não faço ideia, — diz ele.
Estamos cercados por montanhas. As árvores ao nosso redor não se
parecem em nada com as da floresta ao redor da Matilha Real.
A natureza selvagem aqui é totalmente desconhecida e intocada.
Uma névoa cinza prateada cai sobre nós, e eu sinto um arrepio
percorrer toda a extensão da minha espinha.
De repente, eu ouço aquela voz novamente.
— O que está destinado a acontecer sempre encontrará um caminho, — a
voz sussurra ao vento.
— Você está ouvindo isso? — Eu pergunto a Alex.
— O quê?
— Venha me encontrar, — diz a voz, de uma forma quase provocadora.
— Isso pode parecer loucura, — digo a Alex, — mas ouço alguém me
chamando.
— Amor, você disse coisas muito mais malucas desde que te conheci,
— diz ele. — Quem quer que seja tem abrigo para nós? Ou que tal um
rádio?
— Vamos descobrir, — eu digo. — Que outra escolha temos?
É verdade.
Estamos sem opções.
Então, em vez de começar a subir a montanha à nossa frente, eu nos
conduzo mais fundo no vale arborizado, em direção ao som do estranho
misterioso.
NATALIA

Eu estaciono meu carro de qualquer jeito, fora das linhas.


Tanto faz.
Não há tempo para isso.
Tenho um par destinado a encontrar. E nunca fui muito boa em
estacionar, de qualquer maneira.
Virando o espelho retrovisor para ver meu reflexo, aplico uma nova
camada de batom.
Quero estar bonita na primeira vez que ele me vir, embora não seja a
primeira vez que o vejo.
Quando saio do carro e caminho em direção à entrada do Fred's
Grocers, sou instantaneamente atirada de volta àquele dia fatídico há
mais de dois anos...
Foi um mês após meu aniversário de dezoito anos. Entrei lá para
comprar uma garrafa de vinho para levar para a casa de Xavier.
Um olhar para a nuca do menino das sacolas, e eu sabia que ele era
meu par.
Eu não pude acreditar.
Eu
Natalia.
Destinada a um empacotador de supermercado.
Quando eu já estava namorando o futuro Alfa!
Saí correndo de mãos vazias, antes que ele pudesse me ver de relance,
e nunca mais voltei ao Fred’s.
Mas eu enviei minha melhor amiga em uma missão de espionagem no
dia seguinte.
Minha loba não descansaria até que eu soubesse seu nome.
Charlie.
Charlie Woodworm.
Na época, até mesmo seu nome me enjoava.
Mas não mais.
Apenas o pensamento dele provocava calafrios de excitação pelo meu
corpo.
Posso sentir que estou chegando mais perto dele.
Meus saltos estalam contra o piso de cerâmica quando entro pelas
portas de vidro deslizantes.
Eu examino os corredores, mas não o vejo.
Talvez ele seja um gerente agora?
Ou isso é apenas um pensamento positivo?
Respiro fundo e me lembro de que não estou aqui para julgá-lo.
Não se trata da profissão dele, Natalia.
Se trata da nossa conexão.
Gerente ou não, vou dar a ele uma chance de verdade.
Pego um chiclete e entro na fila.
— Olá, — digo ao balconista quando chega a minha vez.
Ele olha para mim com um sorriso bobo.
— Eu estava me perguntando, — começo nervosa, — se por acaso
você sabe onde está Charlie Woodworm? Ele trabalhou aqui como o
menino das sacolas. Um empacotador de supermercado. Um...
Deusa...
Qual é o termo politicamente correto?
O sorriso no rosto do balconista fica ainda mais amplo. — Você
conhece Charlie? Ele é uma lenda por aqui.
— É mesmo?
— Com certeza, — ele diz. — Ele largou o emprego há dois anos,
guardou muito dinheiro e viajou o mundo. Agora ele mora na floresta
fora da matilha.
— Ah. — eu digo suavemente. — Com seu par?
— Hah! De jeito nenhum. Charlie não fala com ninguém. Ele é o
próprio eremita da Matilha da Lua Crescente.
Meu coração acelerado sofre.
Isso não era exatamente o que eu esperava ouvir.
Mas ainda não estou pronta para desistir dele.
E daí se Charlie mora na floresta?
Talvez ele tenha um belo chalé particular por ai!
— Como faço para encontrá-lo? — Eu pergunto.
— Pegue a rodovia 41. Ao chegar à base da Floresta Crescente, pegue a
primeira à direita e continue dirigindo. Não tem erro. É a única casa por
lá.

Eu subo a montanha cada vez mais...


Cada vez mais fundo na floresta...
A que distância da civilização esse homem vive exatamente?
Enquanto eu dirijo, posso ouvir minha loba ofegando no fundo da
minha mente. Ele deve estar perto.
Finalmente, viro uma esquina e vejo algum tipo de estrutura
precariamente empoleirada em uma colina à distância.
Não pode ser aquilo!
Quase não é uma casa — mais como um par de toras pregadas uma na
outra com uma porta de madeira e uma lona como telhado.
Mas o balconista disse que a casa de Charlie é a única aqui.
Eu estaciono meu carro no meio da estrada. Ao sair, a poeira se
acumula em meus saltos novos. Tento limpá-los, mas não adianta.
Com timidez, subo uma rampa íngreme e rochosa em direção à —
casa.
À medida que me aproximo, vejo que há objetos coloridos pendurados
em todas as árvores nas proximidades...
Molduras circulares amarradas com fios prateados formando padrões
de tecido intrincados. Pedras da lua brilhantes e vibrantes estão
empoleiradas no centro de cada uma.
Eu sei exatamente o que são.
Filtros da Lua.
Minha mãe sempre pendurava um em nossa casa durante a lua cheia
para dar sorte.
Mas não há apenas um aqui. Existem centenas.
Que tipo de pessoa precisa de tantos desses pequenos enfeites?
Me aproximo da cabana lentamente e espio pelas ripas de madeira da
janela.
Está vazio... Sem Charlie e sem mobília.
De onde estou, tudo que consigo ver é um colchão no chão.
Eu respiro fundo, tentando acalmar meus pensamentos fora de
controle, enquanto minha loba me encoraja o tempo todo.
Ela não se importa com a aparência da casa dele, ou quantos filtros da
lua ele tem.
Ela quer apenas ele.
Tudo bem, Natalia.
Não o julgue até conhecê-lo.
Você consegue.
Eu olho para a minha esquerda e vejo uma cabana ainda menor a
alguns metros de distância.
A porta já está uma fresta aberta e a curiosidade falou mais alto.
Eu ando até ela e abro a porta.
Há um balde no chão.
E um rolo de papel higiênico ao lado dele.
Esquece.
Eu definitivamente não consigo fazer isso.
Eu me viro e corro de volta para o meu carro.
ARIEL

Já caminhamos pelo que parece uma eternidade, mas continuamos


descendo o vale.
A voz canta baixinho ao vento, sussurrando para eu andar mais e mais
fundo no terreno florestal.
— Estou ficando nervosa, — digo a Alex sem fôlego.
— E se estivermos caminhando para um monte de nada? Ou um
monte de coisa ruim?
— Graças à Deusa eu tenho minha guarda-costas guerreira da matilha
comigo, — ele diz, e eu rio.
Mas a cada passo que damos, fico mais cautelosa.
A floresta está se tornando mais densa. Está começando a bloquear o
que resta da luz do dia.
Eu olho para cima de mim, e o que vejo me faz parar no meio do
caminho.
Não são apenas as folhas que estão cobrindo o céu, mas também o que
são inconfundíveis teias de aranha — maciças e intrincadamente tecidas.
Eu aponto para cima e Alex segue meu dedo.
Ele engole em seco. — Talvez você esteja certa, — diz ele. — Talvez
devêssemos voltar.
— Continue trilhando o caminho que preparei para você, minha filha, —
diz a voz.
Está ficando mais alta agora, mas de alguma forma Alex ainda não
consegue ouvi-la.
— Diga, por favor, quem é você? — Eu pergunto.
— Eu sou a Deusa do Destino, — diz ela.
Fate!?
Fate, o destino, é a irmã da Deusa da Lua.
Por isso ela soa como Selene.
— Bem-vinda à minha teia.
Capítulo 3
SEM VOLTA NATALIA
Eu volto para o meu carro.
Charlie não está em lugar nenhum, então ele não vai sentir minha
falta.
Posso simplesmente voltar à minha vida normal e ele pode continuar
vivendo sua vida completamente bizarra.
Claramente, ele nem mesmo quer um par.
Caso contrário, por que ele estaria morando aqui, onde nunca poderia
encontrar um?
Enquanto desço a colina correndo, meu calcanhar fica preso em uma
pedra e eu tropeço e caio de bunda no chão, deslizando pelo resto do
caminho.
AIII!
Isso dói.
Muito.
Viu? Não fui feita para essa vida.
Esse foi um GRANDE erro.
Eu me levanto, tiro a poeira, aliso meu cabelo e continuo meu
caminho mais curto em direção ao meu carro.
Deusa, não.
Há algo em meu caminho.
Ou melhor, alguém.
Um grande lobo com uma espessa camada de pelo preto.
Seus olhos penetrantes capturam os meus e, naquele instante, tenho
certeza de que não se trata de um selvagem aleatório.
É o Charlie.
De repente, ouço o estalo de ossos quando ele começa a se
transformar em humano.
E então, eu não estou mais fazendo contato visual com ele, mas com
seu impressionante membro em seu corpo nu.
Eu coro e me forço a olhar para o rosto dele. Ele me encara em total
descrença.
— Meu par, — sua voz profunda ressoa. — E você. E você mesmo. Eu
não acredito.
Mas não digo uma palavra.
Eu apenas observo sua aparência.
Suas feições ásperas emolduradas por longos cabelos escuros e uma barba
espessa.
Seus olhos azuis brilhantes.
Ele não se parece em nada com o adolescente magricelo que era
quando o vi pela última vez.
Ele é definitivamente um homem agora — e um homem enorme, em
todos os sentidos.
Ele se aproxima de mim, completamente confortável com o fato de
que ele está totalmente nu.
— Meu par. — ele diz novamente.
E então ele me puxa para um abraço profundo.
O terno abraço de urso deve ter sido inventado para descrever minha
situação atual, engolida por seus braços fortes, com meu rosto enterrado
em seu peito.
Estou envolvida em seu perfume delicioso.
Canela e cipreste.
Seu abraço é suado, pegajoso e sujo...
Mas é incrivelmente inebriante.
— Minha Deusa, — diz ele com um suspiro de satisfação. — Você
cheira exatamente como eu me lembro.
Hã?
Ele se afasta de mim e ouço minha loba choramingar.
Ela queria que aquele abraço durasse para sempre.
Suas mãos ainda estão na minha cintura, nós apenas olhamos um para
o outro.
O que diabos devemos fazer agora?
Eu suspiro de alívio quando ele quebra o silêncio primeiro.
— Entre, — ele diz. — Vou preparar um mexido para nós e podemos
nos conhecer melhor.
— O que é um... mexido? — Eu pergunto com timidez, tentando
esconder o nojo na minha voz.
— E um prato em que você simplesmente mistura todos os
ingredientes disponíveis em uma panela e reza para a Deusa da Lua para
que fique gostoso.
Ele entrelaça sua mão enorme na minha, provocando um
formigamento inconfundível por todo o meu corpo. Ele começa a me
levar de volta ao caminho de sua casa.
Meus calcanhares tropeçam nas rochas novamente.
— Bem, esses sapatos não prestam, não é? — ele diz.
E então, em um movimento rápido, ele me levanta do chão,
carregando-me sem esforço em seus braços em direção à cabana.
Este homem não é nada parecido com o que eu esperava.
Tudo nele é o oposto de mim.
E embora eu saiba o que eles dizem sobre os opostos, ainda estou
chocada com o quão atraída eu estou por ele.
— Bem-vinda à minha casa, — diz ele à medida que nos aproximamos.
— Gosto de chamar esse lugar de Palácio do Chuck.
— Quem é Chuck? — Eu pergunto.
— Eu, é claro, — ele diz. — Meu nome é Charlie, mas prefiro Chuck.
— Sério? — Eu digo. — Mas... eu gosto muito mais de Charlie.
Eu vejo um sorriso surgir por trás de sua barba.
— Querida, você poderia me chamar de 'aquele desgraçado filho da
puta' e eu ainda seria o homem mais feliz do mundo, — diz ele. — Eu não
acredito que você finalmente me encontrou.
Seu sorriso é contagiante e, antes que eu perceba, estou sorrindo
também.
— Qual o seu nome? — ele me pergunta.
— Me chamo Natalia, — eu digo.
— Natalia, — ele repete de volta para mim, e eu quase desmaio ao som
do meu nome em seus lábios.
Deusa...
Estou encrencada, não estou?
ARIEL

Eu continuo andando com cautela, um pé após o outro, enquanto as


teias acima de nós ficam mais densas, bloqueando cada vez mais a luz.
Nunca tive muito medo de insetos, mas uma aranha com a habilidade
de tecer esse tipo de teia deve ser absolutamente assustadora.
Mesmo assim. Fate me trouxe até aqui e algo me diz que devo
encontrá-la cara a cara.
Minha curiosidade falou mais alto. Preciso ver o que está me
esperando nas profundezas deste cânion.
Eu sinto meu caminho através da escuridão crescente.
Mas, ao fazermos uma curva, percebo que nosso caminho está
bloqueado por uma enorme teia prateada, tão espessa que nem consigo
ver o que está do outro lado dela.
Tiro minha espada de pedra da lua do bolso. Graças à Deusa, eu nunca
saio de casa sem ela. Eu abro um buraco na teia e vejo que estamos
parados na entrada de uma caverna.
Eu passo pela abertura.
Alex segue atrás de mim.
Meu coração aperta quando percebo que agora estamos cercados por
paredes de teias firmemente tecidas. Elas formam uma passagem estreita
na caverna, iluminada apenas por uma luz brilhante de fosforescência
nas teias acima de nós.
— Alex, — eu digo, tateando atrás de mim procurando sua mão. —
Vamos voltar.
Eu olho por cima do ombro e um grito escapa dos meus lábios.
Um mar de pequenas aranhas consertou de repente o rasgo na teia
que acabei de criar. E essa nova teia parece ainda mais densa.
— Não adianta voltar agora, — Fate diz, enquanto sua voz ecoa ao
nosso redor.
— O que você quer de mim, Fate? — Eu pergunto em voz alta, com o
pânico transparecendo na minha garganta.
— Não quero fazer mal a você, minha filha, — diz ela. — Eu poderia ter
matado você naquele acidente de avião, mas em vez disso, meus ventos
estavam a seu favor.
— Foi você? — Eu pergunto incrédula. — Você causou a queda do
nosso avião?
— Devo me desculpar se te assustei, — ela responde. — Mas eu precisava
encontrar uma maneira de atrair você para a minha teia.
Sinto uma rajada de vento nas minhas costas, empurrando-me ainda
mais pelo corredor, e me permito seguir. É como se sua voz tivesse me
hipnotizado, pronta para obedecer a seus comandos.
Enquanto caminho, juro que posso sentir pequenas aranhas subindo e
descendo pelas minhas pernas. A sensação provoca arrepios na minha
espinha.
— Quer jogar um jogo? — Alex sussurra em meu ouvido.
— Agora? — Eu pergunto.
— Você prefere quase morrer em um acidente de avião ou ficar presa
em uma caverna escura cheia de aranhas?
Eu não posso deixar de rir do absurdo da situação.
— Espero que sua resposta seja ambos, — diz ele.
— Deusa, — eu suspiro, — por que não podemos apenas ter um fim de
semana de paz?
Nesse momento, dou um passo com o pé direito, mas não há chão sob
mim quando tento pousá-lo.
Sinto que estou começando a cair, mas Alex me agarra pela cintura e
me puxa de volta.
Eu olho através da escuridão e vejo que estou parada na beira de uma
cratera.
— Puta merda, — diz Alex. — Cuidado.
— Entende? Sem paz, — eu digo. — Eu vou para a esquerda, você vai
para a direita.
Nós dois andamos na ponta dos pés em cada lado da circunferência da
cratera.
Eu me agarro à parede de teias para ter estabilidade.
E é quando eu sinto — as teias começando a se agarrar a mim.
Elas estão envolvendo minhas mãos, como algemas finas e prateadas.
— Estou presa! Não consigo me soltar! — Eu grito para Alex.
— Ela me pegou. Ariel! — ele diz. — Ela me pegou também!
As teias começam a girar em torno de mim cada vez mais rápido até
que me encontro completamente emaranhada na substância pegajosa e
rígida.
Estou perdendo todo o senso de direção. Não tenho ideia de qual
caminho é para cima ou para baixo. Sem mencionar que mal consigo
respirar.
Ainda posso ouvir Alex me chamando.
— Ariel! — ele grita. — ARIEL!
— ALEX! — Eu grito de volta.
Mas o som da sua voz está ficando mais fraco e eu estou ficando mais
tonta.
Depois de um momento encapsulada nos fios grossos e pegajosos,
sinto que eles começam a se soltar.
Minhas mãos recuperam a mobilidade e começo a cortar minhas
amarras até que estou livre novamente, caindo no chão.
Quando olho em volta, não tenho a menor ideia de onde estou.
E Alex não está em lugar nenhum.
E como se eu tivesse sido absorvida pela parede de teias e jogada em
outra passagem paralela.
— ALEX! — Eu grito.
Sem resposta.
Eu me levanto e tento estabilizar minha tontura.
Você é uma guerreira, Ariel, digo para mim mesma.
Você não tem medo de aranhas. Você não tem medo do escuro. Você não
está com medo...
Mas minha loba sabe mais do que eu.
Ela está tremendo, paralisada pelo peso esmagador do total e
completo medo.
ALEX

— ARIEL? — Eu grito. — ARIEL!


As teias apenas envolveram meus braços, mas vi meu par ser
consumido por elas inteiramente. E agora ela desapareceu.
Eu me transformo parcialmente, arranhando desenfreadamente a
parede com minhas ganas até conseguir me libertar.
Me preparando, eu salto sobre a cratera para o outro lado, onde Ariel
desapareceu.
Eu continuo cortando as teias para tentar encontrá-la. mas cada corte
que faço se fecha instantaneamente.
Eu não estou chegando mais perto dela.
Não adianta.
Preciso tentar outra coisa.
Eu decido continuar no caminho.
Talvez eu encontre alguma abertura que me leve até ela.
Mas conforme eu me movo na escuridão, eu ouço algo
Um som que faz meu coração doer e meu estômago embrulhar...
O som do meu par gritando.
ARIEL

Não consigo conter o grito que escapa dos meus lábios quando o vejo.
A princípio, acho que minha mente está me pregando uma peça na
escuridão.
Mas pequenos raios de luz vazam pelas teias acima de mim,
iluminando seu rosto, e tenho certeza de que é realmente ele.
A última pessoa no mundo que eu esperava ver aqui...
Xavier.
— Olá, Ariel, — ele diz. — Estava esperando por você.
Capítulo 4
ROSTOS, LUGARES
ALEX

Eu sei que meu par pode se proteger, mas só a Deusa sabe que tipo de
magia negra está no fundo desta caverna. Precisamos ir o mais longe
possível daqui.
Ariel está em perigo.
Mas a cada curva, fico cada vez menos confiante de que serei capaz de
encontrá-la — ou que qualquer um de nós será capaz de encontrar o
caminho para sair daqui.
Os gritos de Ariel diminuíram, e agora eu só posso ouvir o som do
meu próprio coração batendo forte.
De alguma forma, seu silêncio me perturba ainda mais do que seu
grito.
Se ela pode gritar, ela pode respirar. E se Ariel pode respirar, ela pode
lutar.
Continue lutando, Ariel.
Por favor.
Enquanto corro pelos corredores estreitos e tortuosos, minha mente
está enlouquecendo.
Não acredito que estou na teia da Deusa do Destino. E que ela vive
dentro de um covil tão escuro e sujo.
Ela não poderia ter se destinado a um lugar melhor para morar?
Sou arrancado de meus pensamentos quando viro em um corredor e
vejo a silhueta de uma mulher bloqueando meu caminho.
— Ariel, — eu grito. — Ari...
Mas quando a mulher se vira, minha voz fica presa na garganta.
Não é Ariel, mas...
— Olivia? — Minha voz falha quando seu nome escapa dos meus
lábios.
É oficial.
A escuridão da caverna deve estar me deixando louco.
Meu par destinado está parado na minha frente, em perfeitos
detalhes.
Mas não pode ser ela.
Certo?
Olivia está morta. E fantasmas não são reais. Ou pelo menos era o que
eu pensava.
Então, o que diabos está acontecendo?
Eu não colocava os olhos em meu par destinado desde o dia em que
ela deu seu último suspiro em meus braços.
Vê-la novamente agora instantaneamente traz de volta todas aquelas
memórias pesadas e horríveis.
E também as boas — antes de ela ficar doente, quando estávamos
completamente apaixonados.
Ela se aproxima de mim e seu rosto fica mais claro, praticamente
iluminado por dentro.
É ela.
Cada centímetro dela.
Cada detalhe.
Ela chega ainda mais perto e abre a boca.
Ela está dizendo algo.
Ela está dizendo meu nome.
— Alex. Aí está você. Estive procurando por você.
— Olivia, — eu murmuro.
Por que estou falando com ela?
Ela não é real.
Estou ficando louco.
Ainda assim, meu lobo não pode evitar uivar de alegria ao vê-la.
— Eu não posso ficar aqui, — eu digo a ela enquanto ela continua a se
aproximar. — Eu preciso encontrar Ariel.
Ao som do nome de Ariel, o rosto de Olivia se contorce em raiva pura
e genuína.
— Você escolheria a ela e não a mim?
— Olivia... não é... você está morta. Eu estava comprometido com
você para o resto da vida. Mas Fate tinha outros planos.
— Você disse que eu continuaria vivendo em seu coração. Mas você
deixou minha memória morrer também.
— Eu não fiz isso, — eu disse. — Você está sempre comigo.
Eu vejo uma lágrima prateada brilhante cair de seus olhos em sua
bochecha.
Eu odeio ver Olivia tão chateada.
Mas então eu tenho que me lembrar... esta não é Olivia, de jeito
nenhum.
— Você me traiu, — ela grunhe.
— Olivia, — digo suavemente, — você se lembra do que me disse no
dia em que morreu?
Ela não diz nada, apenas enxuga outra lágrima.
É tão doloroso reviver suas últimas palavras para mim... mas eu
continuo.
— Enquanto eu te segurava em meus braços, você me disse para
encontrar outro par. Você não queria que eu passasse o resto da minha
vida sozinho, sofrendo por você. Você queria que eu seguisse em frente. A
sua verdadeira face fez isso.
Eu engulo em seco.
— E agora. — eu continuo, — Ariel está em perigo. Eu não posso
perdê-la também. Eu preciso encontrá-la.
Com isso, encontro forças para me reerguer.
Eu fecho meus olhos e mergulho em direção à forma de Olivia.
Quando eu colido com ela, seu corpo desaparece, se transformando
em uma névoa fina e fria.
Era um fantasma.
Nunca vi nada parecido.
Fate deve ter criado isso para me parar no meio do caminho.
Essa é uma forma doentia de tortura.
Vai se foder, Fate.
Eu não vou deixá-la tirar meu par de mim. De novo não.
Eu continuo correndo cada vez mais fundo na caverna.
E então eu ouço uma voz ao longe.
A voz de Ariel.
Tenho certeza disso.
Mas ela não está sozinha. Ela está falando com alguém. Um homem.
Quem?
Corro em direção ao som, mais rápido agora.
Eu continuo. Sua voz está ficando mais alta.
Mas então, de repente, perco o equilíbrio.
Consigo me segurar com as mãos, raspando minhas palmas no chão
rochoso.
Eu olho para trás e vejo que meu tornozelo esquerdo está amarrado
com teias de aranha.
Merda.
Está acontecendo de novo.
As teias começam a puxar meu corpo para trás, longe da voz de Ariel.
Tento enfiar os dedos no cascalho e me puxar para cima, mas é tarde
demais.
Estou preso na firme armadilha das teias.
ARIEL

Eu fico olhando para Xavier, não ousando me aproximar, mas fixando


meus olhos nos dele.
Eu mal consigo distinguir sua forma nos feixes de luz que iluminam a
caverna.
Uma coisa é certa. Ele está esboçando seu típico sorriso de merda.
— Isso é tudo culpa sua. — eu grito para ele.
— O quê?
— Tudo! A queda do avião! O fato de que estou presa nesta caverna
abandonada pela Deusa!
— E como exatamente você acha que fiz isso?
— Primeiro você conspirou com os Caçadores. Agora você está
conspirando com Fate. Por que você simplesmente não me deixa em paz?
— HAHA! — ele solta uma risada alta que ecoa por todo o corredor.
— Ariel. Não posso te deixar em paz, — diz ele. — Estamos destinados
a realizar grandes coisas juntos. Fate vai garantir isso.
— Eu já disse e vou dizer mais uma vez: nunca serei sua, Xavier.
— Você deveria se sentir honrada pelos esforços que fiz para torná-la
minha, — ele grita. — O que ele tem que eu não tenho?
— Algo que eu não sei se você é capaz de oferecer. — digo a ele. —
Amor.
Pego minha espada de pedra da lua novamente — a mesma arma que
me ajudou a derrotar Xavier da última vez que duelamos.
Eu corro em direção a ele e mergulho a lâmina em seu peito...
Mas...
Assim que a espada entra em contato com sua forma... ele desaparece
completamente no ar.
Um arrepio passa por mim.
Eu olho ao meu redor, procurando por ele. Mas ele sumiu.
Que porra é essa?!
Será que minha própria insanidade invocou essa imagem de Xavier?
Ou Fate era responsável por isso?
Que tipo de jogo doentio é esse?
A Deusa da Lua me deu o poder de curar.
Mas a Deusa do Destino está fazendo o oposto.
Ela está tentando me destruir.
Por quê?
O medo que consome meu corpo está rapidamente se transformando
em pura raiva.
Preciso encontrar Alex e dar o fora daqui.
Eu continuo correndo ao longo da pequena passagem até que de
repente ela se abre em um grande espaço cavernoso.
Está escuro como breu — nenhum feixe de luz vem de fora.
Em vez disso, está iluminado apenas pelos olhos luminosos de
incontáveis pequenas aranhas cobrindo cada centímetro das paredes.
No meio do espaço úmido e escuro, pendurado em um casulo de teias
de aranha, está meu par.
— Alex! — Eu grito.
Mas ele não pode gritar de volta.
Sua boca está coberta por teias.
Suas mãos estão presas a cada lado do corpo.
Ele está completamente preso.
Eu corro em direção a ele, mas de repente outra figura surge no meio
do espaço, descendo lentamente de um único fio prateado.
É uma aranha enorme, com pelo menos o dobro do meu tamanho,
oito pernas pretas e oito olhos escuros e brilhantes.
Quando a aranha faz contato com o solo, sua face muda
repentinamente para a aparência de uma mulher.
Eu dou um passo para trás em estado de choque quando a vejo.
Ela é assustadora, mas completamente linda, com características
esqueléticas e bochechas esguias.
Como a Deusa da Lua, ela tem cabelo comprido. Mas em vez da marca
prata de Selene, o cabelo dessa mulher é da cor de alcatrão.
Fate.
Não fazia ideia de que ela tinha a forma de uma aranha.
Tudo faz sentido agora.
— Finalmente. — ela diz, fluindo a palavra de seus lábios finos e
vermelhos. — Estou muito feliz em conhecê-la cara a cara.
— Desça ele, — eu ordeno, apontando para Alex.
— Por favor, vamos conversar um pouco primeiro, — ela diz. — Eu sei
que você está sempre se comunicando com minha irmã Selene. Agora é a
minha vez.
Sua voz goteja de ódio quando ela diz o nome da Deusa da Lua.
— Apenas diga o que você quer, então, — eu digo. — O que é tão
importante a ponto de você derrubar nosso avião e matar nosso piloto?
Fate estala a língua e balança a cabeça. — É uma pena o que aconteceu
com o pobre Dusty, não é? — ela diz. — Mas às vezes meus grandes
planos têm infelizes danos colaterais.
— E qual é exatamente o seu 'grande plano'? — Eu retruco.
Ela sorri, e vejo presas brancas projetando-se por trás de seus lábios
vermelhos brilhantes.
— Preciso consertar o que deu terrivelmente errado, — diz ela. — Os
lobisomens têm louvado minha irmã há muito tempo.
E por um breve momento — tão breve que novamente quase acredito
estar alucinando — seu rosto se transforma no de Xavier.
Em seguida, ele desaparece.
— Pare de fazer isso, — digo, me sentindo profundamente
conturbada. — Por favor, não quero olhar para o rosto dele.
— Você deve sucumbir ao que planejei para você, — diz ela. — Você
deve procurar seu par destinado e estar com ele, ou então seu destino
será alterado... e não para melhor.
Capítulo 5
PRESA A VOCÊ
NATALIA

Eu me sento a uma pequena mesa de madeira dentro do Palácio do


Chuck, observando meu par destinado colocar uma porção enorme de
mexido em uma tigela.
Ele traz a tigela para mim, abaixando-se para impedir que sua cabeça
acerte os vários filtros da lua que estão pendurados na lona acima.
Ele a coloca na minha frente e eu cautelosamente pego a comida com
minha colher enferrujada.
Eu torço meu nariz enquanto dou a primeira colherada, antecipando
o pior. Mas instantaneamente minha loba uiva em aprovação.
— Isso é surpreendentemente delicioso, — eu digo a Charlie,
enquanto ele se senta na minha frente.
Ele claramente concorda, porque está engolindo uma colherada atrás
da outra.
— Esse é o milagre do mexido, — diz ele. — É diferente toda vez, mas
sempre gostoso.
Ele levanta os olhos do prato e me observa de perto enquanto eu
como mais um pouco. Posso sentir minhas bochechas corarem com o
calor do seu olhar.
— O que foi? — Eu pergunto. — Tem algo no meu rosto?
— Não, não, — diz ele. — Não é como se eu me importasse se
houvesse.
— Então, o que foi? — Eu digo.
— Eu simplesmente não acredito que você é meu par. Você não é nada
como eu imaginava.
— Sério?
Somos dois, então.
Eu me pergunto se ele está desapontado com quem eu sou. Ou como
me pareço.
Constrangida, ajeito meu cabelo e pisco meus cílios.
— Você é mais bonita do que jamais ousei esperar, — diz ele.
Eu derreto com suas palavras enquanto o alívio lava meu corpo.
Ele também não é nada como eu esperava — e ele é totalmente
deslumbrante.
Está sendo difícil me segurar para não levar este homem robusto até
seu colchão e conseguir o que eu quero.
Eu não acredito que estou tendo pensamentos assim, mas nosso
vínculo de acasalamento destinado é tão poderoso.
Sinto um desejo por ele que nunca senti por Xavier.
— Natalia, — ele diz de repente. Então ele se levanta e começa a andar
ao redor da pequena cabana. — Eu deveria ser honesto com você sobre
algo.
Deusa...
Não sei se aguento mais surpresas.
Ele respira fundo. — Esta não é a primeira vez que estamos na mesma
sala.
Eu me forço a reprimir um suspiro.
Será que ele também me viu naquele dia?
— Eu estava trabalhando em um turno na Fred's Grocers quando senti
o seu cheiro delicioso, — diz ele. — Morango e açúcar mascavo.
Ele para de andar na minha frente. — No primeiro sopro, eu sabia que
meu par estava em algum lugar da loja. Corri para cima e para baixo pelos
corredores como um louco procurando por você. Mas você já tinha ido
embora.
Eu dou outra colherada no mexido para evitar contato visual com ele.
Ele continua falando: — Procurei por você na matilha. E quando não
consegui te encontrar, larguei meu emprego e fui viajar para todas as
matilhas próximas procurando por você também.
O balconista disse que ele tinha feito uma viagem...
Ele estava na verdade procurando por mim?
— Mais uma vez, não tive sorte, — diz ele. — Mas eu ainda não
consegui tirar seu cheiro da minha cabeça. Foi quando me lembrei de
algo que minha mãe costumava me dizer quando eu era pequeno.
— E o que seria? — Eu pergunto com nervosismo.
— Ela me disse que se eu me perder e não conseguir encontrar o
caminho de casa, devo ficar em um lugar e esperar que ela venha até mim
Ele pega um filtro da lua da mesa e se senta ao meu lado.
— Então, eu montei esta casinha na floresta, onde a energia dos
espíritos queima com mais intensidade. E eu passei todos os dias tecendo
esses filtros da lua, rezando para que um dia a luz do luar te guiasse até
aqui.
Ele coloca a bela obra de arte em minha mão. O fio que envolve a
pedra da lua é prateado. Praticamente iridescente.
— Este é o que eu estava tecendo hoje. Este é o que finalmente trouxe
você até mim.
— Isso... você fez tudo isso por mim? — Eu pergunto, com minha voz
falhando.
— Tudo o que fiz desde aquele fatídico dia... foi tudo por você,
Natalia, — diz ele. — E funcionou. Fiquei em um lugar e, por algum
milagre, você me encontrou.
Meu coração está acelerando.
Eu não sei o que sentir.
Por um lado, estou tonta com a ideia da devoção desse homem por
mim...
Por outro lado, estou apavorada com o que ele pensaria se soubesse a
verdade.
A luz do luar não me guiou até aqui.
Nem um pouco.
Conheço sua identidade há anos e escolhi estar com outra pessoa,
apenas pelo status.
Como ele poderia me perdoar se soubesse que o fiz perder tanto
tempo?
Nossos olhos se encontram.
Ele está ansiosamente esperando que eu diga algo.
E eu digo.
— Deusa abençoe a luz do luar que me trouxe até você, — eu digo.
Minha loba lamenta dentro de mim.
Ela odeia que eu esteja mentindo para ele.
Eu também odeio.
Mas que outra escolha eu tenho?
Não estou pronta para ele me desprezar... ainda não.
Ele pega minha mão e a pressiona contra seus lábios suculentos. Ele a
beija e sente meu perfume.
— Meu morango com açúcar, — ele sussurra. — Minha luz do luar.
A eletricidade de seu toque me enche de desejo.
Se ele pode me fazer sentir tão bem com apenas um beijo na minha
mão...
Mas não.
Estou me precipitando.
Ainda há muito que não sei sobre ele.
E tanto que ele não sabe sobre mim.
Ele não sabe que sou uma mentirosa.
E ele não sabe que tenho um filho com outro homem.
Nesse momento, meu celular toca.
— Com licença, — eu digo, puxando minha mão dele e estragando o
momento.
Pego minha bolsa e verifico o identificador de chamadas. É meu pai.
— Uau, os telefones com certeza parecem diferentes do que
costumavam ser, — diz Charlie.
— Você não tem um telefone? — Eu pergunto incrédula.
— Realmente não vejo sentido neles...
É oficial: somos polos opostos.
Estou rindo quando atendo a chamada, mas paro instantaneamente
quando ouço o som da voz do meu pai. Ele definitivamente está
chorando.
— Qual é o problema... O que aconteceu? — Eu pergunto.
— Alex e Ariel, — diz meu pai.
Meu coração para.
— O que aconteceu?
— Eles estão desaparecidos.
— O quê? Como?
— Achamos que o avião deles caiu...
— Estou voltando para casa imediatamente, — digo.
Eu toco o telefone, desligando.
Minha cabeça está girando.
Não consigo entender as palavras que ele acabou de me dizer.
Tudo que sei é que preciso voltar para o palácio.
Agora.
— Charlie, eu sinto muito. Eu preciso ir. Aconteceu um acidente.
Ele me olha com os olhos arregalados.
— Tem certeza de que não pediu a um amigo que ligasse para você
com uma emergência caso se decepcionasse comigo?
— Não — não... claro que não, eu só — é minha irmã. Ela está com
problemas. Eu preciso ir à Matilha Real.
— Certo, — ele diz, levantando-se e pegando minha mão. — Vamos.
Eu te levo.
— Não, tudo bem — estou bem...
— Natalia, você está tremendo. Você está nervosa.
Não deve dirigir assim.
— Mas...
— Por favor, deixe eu te levar, Natalia, — ele diz.
— Você acabou de me encontrar. Não estou pronto para me despedir
ainda.
Posso realmente trazer esse desconhecido comigo de volta para o palácio?
Com sua barba enorme e seu cabelo desgrenhado?
O que minha mãe vai dizer?
Mas então eu me lembro...
Nada disso importa.
Nada, exceto descobrir o que aconteceu com Ariel e Alex.
— Tudo bem, — eu digo. — Vamos. Rápido.
— Minha caminhonete está logo acima na estrada, — diz ele. — E
você não vai chegar rápido a lugar nenhum com esses sapatos.
Ele me levanta do chão novamente e começa a correr porta afora em
direção a uma velha caminhonete enferrujada que parece não ser usada
há anos.
ARIEL

Eu quero correr para Alex — para cortar sua prisão de teias antes que
cubram seu rosto por completo.
Mas Fate está entre nós, bloqueando meu caminho até ele. Eu preciso
lidar com ela primeiro.
— Por que você quer que eu fique com Xavier? — Eu pergunto
enquanto seus olhos negros perfuram os meus. — Por quê?
— Eu permiti o reinado supremo de minha irmã por muito tempo, —
ela diz com um sorriso sinistro.
— Por que isso tem alguma coisa a ver comigo? Por que você se
importa com quem estou acasalada?
— Porque você é Ariel, — ela ri com desdém. — Você é especial. Ou
pelo menos é o que minha irmã deve ter decidido, já que ela interveio e
deu a você aqueles poderes de cura milagrosos.
Densa...
Eu vejo onde isso vai dar.
— Todos os lobisomens verão a magia da Deusa da Lua através dos
milagres realizados por sua rainha. E todos eles continuarão a louvá-la
cegamente para sempre, — diz ela com amargura.
De repente, eu entendo. Estou presa no meio de uma briga de irmãs
— algo que tive bastante experiência em meu relacionamento com
Natalia.
Conseguimos resolver nossos conflitos. Mas parece que esteja existe
há séculos.
— Há coisas que você não sabe sobre minha irmã. Coisas terríveis, —
Fate continua. — Junte-se a Xavier e veja a grandeza que está reservada
para você. Em vez de deixá-la usar você como um peão em seu esquema
enquanto finge que é tudo em nome do livre arbítrio.
— Sinto muito, Fate, — eu digo. — Eu fiz minha escolha. Estou com
Alex agora.
— Mas toda escolha tem consequências, — diz ela.
— Isso é uma ameaça? — Eu pergunto a ela, tentando firmar meu tom
hesitante.
— E a verdade, minha filha.
Olhando além de Fate, vejo que as teias estão começando a cobrir a
boca de Alex. Se eu ficar aqui falando por mais um segundo, posso ter um
vislumbre das consequências que ela tem em mente.
É agora ou nunca.
Eu me transformo em minha loba, e o estalar dos meus ossos ecoa
pelo espaço cavernoso, parecido com uma masmorra.
Eu saltei sobre a forma de oito pernas de Fate e cravei minhas garras
no casulo que prendia Alex. Eu o puxo para o chão com um grande
estrondo que parece doloroso.
Usando minhas ganas, eu rasgo o resto das teias que cercam seu
corpo.
Quando Alex está quase livre das teias, ele se transforma em lobo.
— Por ali, — ele se conecta com a mente, apontando seu focinho em
direção a uma passagem que leva até a saída.
— Então é assim? — Fate me desafia. — Você me recusa antes mesmo
de eu contar a verdade para você? Você vai correr de volta para os braços
manipuladores da minha irmã?
— Selene nunca tentou me aprisionar como você está fazendo agora! —
Eu retruco em minha mente.
Com isso, corro atrás de Alex pela passagem mais próxima.
Fate nos persegue. Eu ouço suas diversas pernas correndo pelo chão,
nos seguindo furiosamente.
— Você fez sua escolha, Rainha Ariel, — ela me provoca. — Agora
vamos ver se você consegue conviver com as consequências.
Suas palavras me arrepiam profundamente.
Mas eu não olho para trás de novo.
Eu apenas continuo correndo.
Capítulo 6
ALFINETES
NATALIA

O queixo de Charlie praticamente bate no painel enquanto passamos


pelos portões do palácio.
— Quando você disse que morava na Matilha Real, não sabia que se
referia ao palácio, caramba!
Eu estava preocupada que ele ficasse assustado. Mas ele parece
surpreso e totalmente animado.
— Há muitas coisas que você ainda não sabe sobre mim, — digo. —
Para começar, minha irmã é a rainha.
— Alguém me belisque, — diz ele, — porque este dia está ficando cada
vez mais louco.
— Nem me fale, — eu digo.
Abro a porta do carro, mas de repente sinto meus músculos ficando
pesados.
Eu não quero entrar.
Assim que ponho os pés no palácio, tenho que enfrentar a realidade
de que Ariel está desaparecida. De novo.
Quando ela foi sequestrada há vários anos, aliviava a dor fingindo que
não me importava com ela.
Mas não posso fingir desta vez.
Ela é minha irmã. Eu preciso que ela esteja bem.
Eu preciso que ela volte para casa.
Eu sinto minha respiração acelerar enquanto o pânico cresce na
minha garganta.
Em seguida, eu sinto outra coisa: a mão firme e pesada de Charlie
descansando em meu ombro.
— Natalia, — ele diz, — tenha fé na Deusa da Lua. Sua luz guiou você
até mim. Ela guiará sua irmã para casa também.
Mas a luz dela não me guiou até você, eu quero dizer. Então, o que isso
significa para Ariel?
Eu me preparo para a tempestade que se aproxima, saio da
caminhonete e sigo em direção ao palácio.
Quando entramos pela porta da frente, não há nada do caos que eu
esperava.
De jeito nenhum. É um silêncio mortal.
Eu passo pelo saguão, e Charlie se arrasta atrás de mim.
Viramos um corredor na sala de jantar e vemos minha mãe sentada
sozinha à grande mesa de madeira, enxugando os olhos com um
guardanapo de pano.
— Espere aqui, — eu sussurro para Charlie, deixando-o na entrada.
Eu me aproximo de minha mãe e me sento ao lado dela à mesa.
Eu envolvo um braço em volta de seus ombros frágeis e a puxo para
um abraço estranho.
— Alguma notícia? — Eu pergunto a ela.
— Nada, — ela diz. — Nenhuma palavra do piloto. O rádio está mudo.
É como se eles tivessem desaparecido no ar.
Meu coração aperta. Eu esperava que eles tivessem algumas
informações novas no tempo que levei para voltar da Matilha da Lua
Crescente.
— Onde está Xavi? — Eu pergunto em um sussurro.
— Ele está com seu pai, — ela diz, — que está inconsolável, aliás. Ela
era sua pequena guerreira favorita.
— Ela é sua guerreira favorita, mãe. Não comece a falar sobre ela no
pretérito. Ela não está morta.
— Gostaria de ter o seu otimismo juvenil, — diz minha mãe,
enxugando outra lágrima com o guardanapo.
— Onde está Dom? — Eu pergunto, desesperada para falar com
alguém com mais informações e, espero, um pensamento melhor.
— No escritório de Alex, eu acho, — ela diz.
Eu me levanto da cadeira e dou um beijo rápido na testa dela. — Por
favor, mãe, — eu digo, — tente ter um pouco de fé. Ela vai voltar para
casa.
Eu ando de volta em direção a Charlie e faço um gesto para ele me
seguir enquanto o levo escada acima para o escritório de Alex.
Quando bato na porta, Vivian a abre. Ela não diz uma palavra, mas
libera a passagem e me deixa entrar.
General Dave e Dom estão sobre a mesa de Alex, olhando para um
mapa gigante.
Eu corro em direção a eles e espio por cima do ombro de Dom.
— Me conte tudo, — eu digo.
Dom olha para mim e eu imediatamente vejo a dor em seus olhos.
— Estamos tentando descobrir para onde enviar esquadrões de
guerreiros da matilha para fazer uma busca terrestre.
— Este é um assunto oficial, — General Dave me disse com firmeza.
— E eu sou oficialmente irmã de Ariel, — eu retruco.
— Quero saber o que está acontecendo e ajudar no que puder.
Dom acena com simpatia e aponta para um alfinete vermelho no
mapa.
— Foi aqui que o avião apareceu pela última vez no radar, — diz ele.
Eu olho para o local. Ele está situado logo acima do pico de uma
cordilheira em uma ilha no meio do oceano.
— O céu estava limpo e Dusty é um dos nossos pilotos mais
experientes, — diz Dom. — Então, deve ter sido um defeito no avião.
Eu ouço os passos de Charlie enquanto ele se aproxima e se junta a
nós na mesa.
— E quem diabos é você? — General Dave pergunta.
— Este é Charlie, — eu digo.
— Mas você pode me chamar de Chuck, — ele interrompe. — Eu sou
o par destinado de Natalia.
Dom não consegue esconder a expressão de choque em seu rosto ao
ouvir essas palavras.
— Quer saber? — Charlie diz. — Posso pegar alguns desses alfinetes?
— Não. O tempo é... — Ouço o General Dave começar a protestar,
mas Charlie já pegou o pote de alfinetes.
Eu instantaneamente fico corada e tento esconder meu rosto atrás do
meu cabelo. Eu não posso deixar de ficar envergonhada por sua falta de
tato.
Alcançando meu corpo, ele começa a colocar alfinetes no mapa.
Depois de um momento, ele puxa a mão para revelar mais sete
alfinetes em sete outros picos de montanhas na circunferência da ilha,
criando um círculo completo.
— O que é tudo isso? — Dave pergunta.
— Em minhas viagens, ouvi uma lenda do vale entre esses oito picos
de montanha, — diz ele. — Bem no meio do círculo, no fundo do
desfiladeiro, está o local de nascimento da Deusa do Destino.
— Charlie... — eu digo baixinho. Mas ele não me ouve e não para de
falar.
— Ela controla tudo na área, inclusive os ventos. É por isso que o local
é conhecido como A Teia de Fate.
Quando Charlie finalmente para de falar, Dom e Vivian estão se
olhando, totalmente confusos.
O General Dave, por outro lado, só parece irritado.
— Bem, então, — diz ele, puxando os alfinetes de Charlie do mapa, —
agora que terminamos a hora da historinha, vou alertar os guerreiros da
matilha sobre a missão.
— Me avise se eu puder fazer alguma coisa, — eu digo.
— Você sabe pilotar um helicóptero de resgate? — Dave pergunta
friamente.
Eu balanço minha cabeça em negativa.
— Então você e seu par podem parar de perder nosso tempo, — Dave
diz, saindo rapidamente da sala em seguida.
Ele para na porta e avisa Dom. — Fique atento ao rádio da Matilha
Real, — diz ele, — para o caso de o rei e a rainha encontrarem uma
maneira de nos enviar um SOS.
Com isso, ele desaparece.
Dom sorri para mim se desculpando. — Sinto muito por ele, — Dom
diz. — Tem sido um longo dia.
— Eu também sinto muito, — eu digo. — Me mantenha informada.
Saio do escritório e vou para o corredor. Quando Charlie se junta a
mim, posso ver sua expressão desapontada.
— Eu te envergonhei, — disse ele. — Não era minha intenção, Natalia.
— Está tudo bem. Está...
— Não, não está, — ele diz. — Eu vivo uma vida muito espiritual. E
não passo muito tempo com as pessoas. Eu esqueço que minhas ideias
podem parecer um pouco malucas.
— Eu não acho que você é louco, — eu digo para confortá-lo.
— Ótimo, — ele diz, — porque acho que estou certo. E se sua irmã
realmente está presa na Teia de Fate, ela pode estar muito encrencada.
— Bem, — eu digo, tentando soar confiante, — ninguém é melhor em
sair de encrencas do que Ariel.
Por favor, Deusa. Deixe-a escapar dessa vez.
ARIEL

Corremos pela passagem escura, pata após pata, de volta na direção de


onde viemos.
Não há tempo para pensar — apenas para continuar fugindo de Fate, a
todo custo.
Alex está na frente. E Fate está bem atrás de mim.
Em sua forma de lobo, Alex pode facilmente abrir caminho através de
qualquer teia que surja em nosso caminho.
Quanto mais subimos, mais fina se torna a estrutura da teia ao nosso
redor.
O luar começa a se infiltrar pelas rachaduras e sei que estamos
chegando perto da saída.
Enquanto corro, percebo que não ouço mais o arranhar das diversas
pernas de Fate no chão de cascalho.
Ela parou pouco antes de pisar sob a luz do luar.
Mas eu não penso duas vezes sobre isso. Não há tempo.
Posso ver que estamos correndo direto em direção a uma parede de
teias.
— Vou arriscar, — Alex diz ao se conectar com minha mente.
Sem pausa, Alex irrompe por ela. Eu sigo o exemplo.
Quando minhas patas pousam no chão novamente, eu olho ao redor e
suspiro de alívio.
Estamos fora da caverna labiríntica e de volta à floresta.
Mas mesmo assim, continuamos correndo, continuando no caminho,
até chegarmos à encosta da montanha.
Escalamos a superfície rochosa, com nossos lobos nos impulsionando
para frente.
Só paramos quando chegamos ao pico.
Eu observo a extensão. Não há nada até onde a vista alcança do outro
lado, exceto a floresta, e além da floresta, água... nos cercando por todos
os lados.
— Puta merda, — Digo em conexão mental com Alex.
— Estamos em uma...
— Uma ilha, — ele confirma.
Nós nos aconchegamos para nos aquecer sob o céu iluminado pela
lua.
Mas antes de fechar meus olhos, vejo algo estranho.
O luar está se intensificando, ficando mais claro a cada segundo.
Eu me sento e vejo que há um raio lunar distinto e singular abrindo
um caminho limpo pelo céu noturno.
De repente, minha cabeça se enche de um som que fiquei desesperada
para ouvir o dia todo: A voz da Deusa da Lua.
— Siga o caminho para casa, minha filha, — diz ela.
Então, como um holofote, o raio lunar muda de direção, iluminando
um caminho que desce do outro lado da montanha.
— Você acha que tem um pouco mais de energia sobrando? — Eu
pergunto a Alex, e seus olhos brilham à luz do luar.
— Vamos voltar ao nosso reino, — diz ele, enquanto começamos a
seguir a luz.
Capítulo 7
O CODFATHER
ALEX

A luz forte e definida de um único raio de lua nos guia por trechos
infinitos de árvores, arbustos e outras folhagens.
Descemos a montanha no lado oposto da Teia de Fate, finalmente
emergindo da floresta, e nos encontramos parados na costa.
Então... a Deusa da Lua está nos levando diretamente para a maré alta
do oceano.
— Bem, isso não é tão útil, — Eu digo em conexão mental com Ariel. —
E agora? Devemos nadar até a Matilha Real?
Mas então, o holofote da lua corta o mar e consigo detectar algo à
distância.
E o contorno de um pequeno e humilde barco de pesca. Mas agora,
aos meus olhos, parece a coisa mais milagrosa do mundo.
— AWO-OOOOOO, — eu deixei escapar um uivo alto na direção do
barco. Mas então eu percebo que um uivo poderia apenas impedi-lo de se
aproximar.
Eu imediatamente me transformo de volta à minha forma humana.
Ariel segue o exemplo.
— Ei! — Grito na direção do barco. — SOCORRO! ESTAMOS
PERDIDOS! SOCORRO!
Ariel continua: — POR FAVOR! PRECISAMOS DE AJUDA!
Continuamos gritando mais alto, tentando fazer nossas vozes serem
ouvidas acima do som das ondas quebrando.
E depois de um momento, o barco começa a mudar de direção e se
aproxima de nós.
A luz da lua, posso ver as palavras O Codfather pintadas
desleixadamente em grandes letras vermelhas na lateral do barco.
Finalmente, ouvimos a voz grave de um homem idoso nos chamando.
— Bem, olhe para isso, — diz ele. — Estão nus!
Certo...
Esqueci disso.
— Estamos em apuros! — Eu grito para ele. — Estamos muito longe
de casa e precisamos voltar!
— Há pedras nessa costa. Isso vai destruir a parte inferior do meu
barco, — diz ele.
Meu sorriso desmancha.
— Mas se vocês nadarem até aqui, — ele continua, — eu dou uma
carona.
Eu assisto Ariel se arrastar em direção à beira da água. Ela mergulha os
dedos dos pés e recua.
— Está fria?
— Congelando.
— Nós fomos para o inferno e voltamos hoje, — eu digo. — Já era hora
de nos resfriamos.
Estou tentando manter um pensamento positivo, mas meu corpo
teme completamente o próximo obstáculo.
Eu respiro fundo e expiro, agarro a mão do meu par e dou meu
primeiro passo na água gelada. Minha pele se arrepia e queima com a
intensidade do frio.
Para piorar, o coral na parte rasa corta a carne do meu pé. O sal faz as
feridas abertas arderem.
Mas se conseguirmos apenas chegar até aquele barco, tenho certeza
de que podemos voltar para casa.
Continuamos andando até sentir que as pedras embaixo de nós estão
prestes a sumir.
— Respira fundo, — eu lembro Ariel, e eu mesmo. — A mente
prevalece sobre o corpo. Nós vamos conseguir.
Eu aperto a mão de Ariel e mergulho de cabeça na água, lutando
contra a maré violenta.
Eu ouço o som de Ariel chutando através da água enquanto ela
acompanha o meu ritmo. Abro caminho através de lodo, algas marinhas
e só a Deusa sabe o que mais. Mas cada braçada aquece meu corpo, então
continuo.
Finalmente, quando penso que estou chegando perto, tiro minha
cabeça da água e respiro fundo.
Eu aceno para o pescador, e ele joga uma câmara de ar em nossa
direção. Eu me agarro a ela como se minha vida dependesse disso
enquanto Ariel se agarra a mim.
Nadando juntos simultaneamente, alcançamos a lateral do barco. Há
uma escada de corda pendurada. Eu conduzo Ariel escada acima
enquanto as ondas batem em meu rosto, ardendo em meus olhos.
Eu engasgo com a boca cheia de água do mar e minha mão quase
escorrega. Mas consigo ficar firme. Eu me levanto atrás de Ariel e subo a
bordo do barco.
Caímos no convés, ofegando, enquanto o ar da noite apenas
intensifica o frio em nossa pele nua.
— Esperem aqui, vocês dois, — diz o pescador.
Ele retoma um momento depois com dois cobertores grossos de lã
marrom. Nesse momento, eu trocaria uma tonelada de ouro por essas
mantas.
Eu me embrulho com força enquanto olho para o rosto do nosso
herói. Ele tem cabelos grisalhos ralos, pele coriácea e um sorriso largo e
desdentado.
— Obrigado, — eu digo.
— Muito obrigada, — acrescenta Ariel.
— Que escolha eu tive? — diz o pescador. — Vocês dois saíram de lá
como Adão e Eva, não foi?
— Quem são eles? — Pergunto.
Seu rosto se transforma em uma expressão de confusão absoluta,
embora eu não tenha certeza do porquê. A última coisa de que
precisamos é que ele suspeite de nós.
— É muito difícil explicar como perdemos nossas roupas, — eu digo.
— E como acabamos lá em primeiro lugar.
— Tente, — diz ele, mostrando-nos seu sorriso boquiaberto. — Vivi
nesta área toda a minha vida. Nunca ouvi falar de alguém conseguindo
sair da Teia inteiro.
— Você sabe sobre a teia? — Ariel pergunta.
— Sim, — ele diz. — Não sei por que é chamado assim, mas todos que
escalaram os picos daquelas montanhas nunca conseguiram voltar com
vida. Dizem que é pior do que o Triângulo das Bermudas.
Eu tremo só de pensar nisso.
— Vocês dois têm muita sorte de eu ter aparecido ou vocês poderiam
ter tido o mesmo destino.
— Ei, senhor...? — Eu paro, esperando ele dizer seu nome.
— Não me chame de senhor. Esse é o nome do meu pai. Me chame de
Grimsby.
— Bem, Grimsby, você tem um rádio?
— Claro que eu tenho. O que você acha? Que eu sou um louco? Vindo
aqui à noite sem ter como entrar em contato com ninguém?
— Poderíamos usá-lo?
NATALIA

Bato novamente na porta do escritório de Alex. Desta vez, estou


sozinha. Charlie está preparando uma cama para ele em sua
caminhonete.
— Entre, — Dom diz. Sua voz geralmente jovial soa áspera e rígida.
Eu entro e o encontro andando de um lado para o outro no escritório.
Helena está sentada na cadeira de Alex, segurando Camelia adormecida
em seus braços.
— Onde está o Chuck? — Dom me pergunta.
— Eu achei que — depois da última vez — eu não queria incomodar...
— Ah, por favor. Não deixe o General Dave atingir você, — Dom diz.
— Ele só está estressado.
— Claro. Todos nós estamos, — eu digo. — Alguma boa notícia?
Ele balança a cabeça em negativa. — Nenhuma notícia, — diz ele. —
Os helicópteros não conseguem detectar nenhum vestígio de destroços
em meio à névoa espessa. E agora está muito escuro. Eles vão retomar as
buscas pela manhã.
Não acredito que um dia inteiro se passou sem uma palavra de
nenhum deles.
Talvez minha mãe estivesse certa. Talvez eu tivesse um otimismo
juvenil. Talvez eles realmente tenham desaparecido.
Fu afundo no sofá de couro escuro enquanto meus joelhos começam a
ceder embaixo de mim. Eu coloco minha cabeça em minhas mãos.
Se eles se foram... e agora?
Como o reino se recuperaria da perda de seu rei e rainha?
Como eu me recuperaria da perda de minha irmã?
De novo.
Eu fui cruel com ela por tanto tempo.
Eu nunca vou me perdoar.
Eu nunca..
De repente, eu ouço um ruído crepitante que me tira da minha
desgraça.
Espio por entre os dedos e vejo Dom correndo até a mesa e pegando o
rádio da Matilha Real.
Alguém está falando do outro lado da linha. A voz está abafada,
picotada e quase totalmente confusa.
— Está na escu... é Al... Matilha... Re...
Mas Dom mexe nos botões e, de repente, posso ouvi-lo.
— Alex falando. Está na escuta? Alguém está ouvindo?
Em um pulo, corro em direção a Dom, que está segurando o rádio
agora com um sorriso brilhando em seu rosto.
— Alex! — ele diz. — Puta merda! Você está bem.
Eu arranco o rádio de suas mãos.
— E quanto à minha irmã? — Eu pergunto. — Onde está Ariel?
— Eu também estou bem, Natalia, — ela diz. — O que foi? Você estava
preocupada comigo ou algo assim?
Ela ri, mas ainda não estou pronta para isso. Meus joelhos começam a
falhar novamente, mas desta vez de alívio.
— Onde vocês estão? — Dom pergunta, pegando o rádio de volta de
mim.
— Estamos em um barco de pesca, navegando ao longo da costa, ao
sul de um lugar chamado Teia. E agora não temos dinheiro e nem roupas.
Teia?
Não apenas eles estão bem, mas Charlie estava certo. No final das
contas, ele não é louco.
— Graças à Deusa, cara, — Dom diz. — Nós realmente achamos que
vocês tinham desaparecido.
— Nós também, — diz Alex.
— Vou falar com o General. Ele vai providenciar o resgate, — Dom
diz. — É hora de trazer nosso rei e rainha para casa. Câmbio.
— Obrigado, cara, — diz Alex. — Câmbio e desligo.
Dom coloca o rádio de volta na mesa, e Helena imediatamente pula
direto para os braços dele, apertando Camelia contra o peito. Ele a abraça
enquanto os pares destinados compartilham um beijo de pura alegria.
Minha loba choraminga. Ela quer comemorar com seu par destinado
também.
Ela quer Charlie.
ARIEL

Grimsby abre uma escotilha no convés e ilumina uma pequena escada


de madeira.
— Vocês dois podem ir lá para baixo e se aquecer, — diz ele.
Ele fica no convés para dirigir o barco e fecha a escotilha. Alex e eu nos
encontramos sozinhos na escuridão novamente.
Mas tudo está melhor agora. Entramos em contato com a Matilha
Real. A ajuda está a caminho. O pior já passou.
Não há nenhum lugar para sentar, exceto a pequena cama manchada
de Grimsby. Então, simplesmente afundamos no chão.
— Deixe-me ver seus pés, — eu digo a Alex.
As feridas que obtive ao caminhar sobre as rochas do oceano já
sumiram, mas posso ver que as de Alex não.
Ele coloca os pés no meu colo e encosta as costas na parede forrada de
madeira.
Sempre é mais fácil para mim curar as pessoas que amo. E amo Alex
mais do que qualquer pessoa no mundo. Assim, com um toque suave e
sem esforço, seus cortes cicatrizam milagrosamente.
— Novo em folha, — eu digo.
— Vantagens de acasalar com a favorita da Deusa da Lua, — ele diz.
Eu abro suas pernas e me encaixo entre elas para que minhas costas
fiquem pressionadas em seu peito.
— Então..., — diz ele após um momento, — essa foi a melhor lua de
mel de todas, ou o quê?
Eu não posso deixar de rir. — Você estava certo quando disse que seria
uma surpresa.
— Só não esperava que fosse uma surpresa para nós dois, — diz ele.
Mesmo enquanto ele está brincando, sinto alguma escuridão em seu
tom.
— Você consegue acreditar em todas aquelas coisas que Fate estava
dizendo sobre mim e Xavier? — Pergunto.
Alex não responde. Eu sei que nada o perturba mais do que o fato de
que eu estivesse destinada a ficar com aquele monstro.
— Tudo o que posso dizer, — eu continuo, — é que aquela vadia não
faz ideia do que está falando. Você é o único par para mim. E lutarei
contra Fate todos os dias para manter isso, se for necessário.
Seus braços apertam minha cintura. Ele pressiona seus lábios no meu
pescoço. — Eu sei que você vai, — diz ele.
— Xavier nunca será meu destino, — eu digo. — Você é a única coisa
que preciso.
Posso dizer que minhas palavras estão tendo um efeito positivo sobre
ele, pela crescente ereção pressionando minhas costas.
Já fomos até as alturas hoje. Por que não ir até as profundezas do
oceano também?
Mas, no momento em que sinto sua mão deslizar sob meu cobertor e
entre minhas coxas, alguém bate na escotilha.
— Ei, Adão e Eva! — Grimsby grita. — Sua carona chegou. E puta
merda, ela é enorme!
Nós subimos e saímos para o convés.
Com certeza, o enorme iate da Marinha da Matilha Real está se
aproximando, tornando este pequeno barco de pesca minúsculo E oficial.
Finalmente estamos salvos.
O alívio começa a tomar conta de mim.
Mas então o vento aumenta e eu ouço a voz sedutora de Fate uma
última vez.
— Adeus, Ariel — diz ela. — Por enquanto...
Capítulo 8
INDESTRUTÍVEL
ALEX

— Obrigado mais uma vez por seus serviços prestados à Coroa,


Grimsby, — digo enquanto o navio da Marinha da Matilha Real flutua ao
lado do pequeno barco de pesca de nosso salvador.
— Sem problemas Adão e Eva, — ele grunhe, maravilhado com o
tamanho do navio a poucos metros.
A Marinha nos deu uniformes para substituir as mantas finas, e o
Almirante está ao meu lado, pronto para nos escoltar até o navio.
Mas tenho mais uma coisa a fazer antes de partirmos.
— Devemos recompensá-lo, — diz Ariel. — Você salvou todo o reino
dos lobisomens!
— Certamente, — eu digo. — Sua bravura em patrulhar essas águas e
seus serviços à Coroa devem ser recompensados. Acho que encontrei o
novo Cavaleiro da Lua.
Ariel parece completamente confusa, mas eu dou uma piscadela,
sinalizando para ela entrar no jogo.
Grimsby provavelmente não sabe muito sobre as tradições dos
lobisomens e quero que ele se sinta especial, mesmo que eu esteja
inventando tudo isso na hora.
Ariel entendeimediatamente, e de forma audível, deixa escapar um
oooh.
— Cavaleiro do quê?
— Da Lua. Para os guerreiros mais corajosos... e mais dedicados, —
digo, engolindo o cargo que acabei de inventar. — Almirante, — eu digo,
apontando para o chapéu em sua cabeça, e então o sabre em seu cinto.
— Sim, senhor, — ele responde, entregando-os sem questionar.
Volto-me para Grimsby e digo com orgulho: — Ajoelhe-se.
Grimsby tira o chapéu e se ajoelha enquanto eu tiro a espada.
— Agora, qual é o seu nome completo? — Eu digo.
— Cawthor Harold Rains Glamis Grimsby.
Para encher a boca.
— Cawthor Harold Rains Glamis Grimsby, — repito, — Eu, por meio
deste, o condecoro Cavaleiro da Lua, membro honorário da Matilha Real.
Eu torno Grimsby um cavaleiro, colocando a espada levemente em
cada ombro, antes de colocar o boné de almirante em sua cabeça.
— Aqui está sua espada também, se você precisar entrar em uma
batalha pela matilha, — digo, guardando a espada e oferecendo-a a ele.
— E como se meu aniversário tivesse chegado mais cedo! — ele diz,
acenando a espada no alto em empolgação. — A patroa não vai acreditar!
Ariel começa a subir a escada de corda, pendurada no navio, e ela o
cumprimenta.
— Cuide-se pelo caminho, — eu digo enquanto a sigo até o convés
real.
— Vocês também, meu rei e minha rainha! — Grimsby responde,
acenando com o boné enquanto partimos.
ARIEL

Depois que nosso navio atraca no porto mais próximo, somos


rapidamente guiados para um comboio real e levados de volta pelo
campo, para o palácio.
Nosso desaparecimento foi mantido em sigilo por Dom e nossos
conselheiros mais próximos. Ninguém mais sabe sobre o acidente e
queremos que continue assim.
Quando finalmente chegamos em casa, entramos no palácio pela
entrada da cozinha, nos escondendo de olhos curiosos e correndo escada
acima para o nosso quarto.
Apesar de a viagem desde o porto ter levado a maior parte do dia, não
consegui dormir um minuto.
Assim que a porta se abre, eu me jogo na cama.
— Que viagem, — eu digo, fechando meus olhos. Eu ouço Alex fechar
a porta atrás de nós. — Sinto que poderia dormir o resto do dia.
— Com certeza, — ele diz. Eu o sinto deitando suavemente ao meu
lado no edredom.
Ficamos deitados em silêncio por um tempo, contentes por saber que
agora estamos seguros, longe daquele lugar horrível.
Sinto Alex ficar tenso e lentamente abro os olhos, voltando-me para
ele.
— Sinto que você quer me perguntar algo, — eu digo. — Você
costuma cerrar os dentes antes de fazer uma pergunta difícil.
Alex suspira.
— Eu só quero te proteger. Eu quero saber o que aconteceu no covil
de Fate quando estávamos longe um do outro.
Não respondo imediatamente, tentando pensar na melhor maneira de
contar a ele sobre o decreto de Fate. Eu pego a mão de Alex e beijo
levemente seus dedos.
— Eu vi Olivia, — diz Alex. — O fantasma dela, na verdade. Ela disse
que eu não a amava porque escolhi você. Mas isso não é verdade. Eu a
amava naquela época e agora amo você.
Eu fungo o nariz e tento afastar as lágrimas que se formam em meus
olhos. — Foda-se Fate. Foda-se tudo o que ela planejou. Nós nos
encontramos sem ela. E estamos mais fortes para isso.
— Eu te amo, — sussurra Alex antes de se inclinar e me beijar.
Ficamos aninhados por um longo tempo, até ouvirmos uma batida
suave na porta e uma voz do outro lado.
— Ariel? — Natalia chama baixinho pela porta. — Você está aí?
Eu pulo da cama como uma gazela e corro para a porta, abrindo-a
com força.
Eu mal tenho tempo de cumprimentar minha irmã antes que ela
jogue os braços em volta de mim.
— Você está segura... Você está bem, — Natalia diz, acariciando
suavemente minhas costas. — Pensei que nunca mais te veria! Eles
procuraram em todos os lugares, mas não conseguiram encontrar você!
— Ah, Natalia, — eu consigo dizer, muito ocupada abraçando ela para
dar uma resposta adequada.
— Está tudo bem, você está em casa agora, — ela responde.
Eu me lembro da última vez que voltei para — casa, — para a Matilha
da Lua Crescente depois de perder dois anos da minha vida para os
Caçadores.
Como minha irmã, minha própria mãe, e até mesmo meu par
destinado, me rejeitaram e me baniram da matilha.
Como o tempo muda.
Agora estou com um par que amo, com um poder dado a mim pela
Deusa da Lua, e minha irmã ao meu lado depois de anos brigando.
— O que você está fazendo aqui? — Eu pergunto quando finalmente
nos afastamos. — Você não deveria estar procurando seu par?
Natalia baixa os olhos para os pés.
— Eu o encontrei. Ele estava fora da Matilha da Lua Crescente.
Minha mente de repente pensa em milhares de perguntas...
Como você o encontrou?
Como ele é?
Como vocês se conheceram?
Mas uma questão está acima das demais:
— Por que você não está com ele agora?
— Eu voltei quando você desapareceu... e meio que trouxe ele
comigo..., — Natalia responde calmamente.
— Onde ele está? Vamos conhecê-lo!
NATALIA

Sinto meu rosto arder de vergonha.


— Tem certeza de que não quer descansar? — Eu digo, tentando
mandá-la de volta para a cama. — Você passou por uma longa jornada, é
melhor dormir um pouco!
Mas Ariel segue firme na minha frente.
— Vamos, quero dar as boas-vindas ao mais novo membro da família,
— diz ela, com um largo sorriso de orelha a orelha. — Agora, onde ele
está? Ele está em um dos quartos de hóspedes?
— Não...
— Como não? — Ariel diz. — Você o fez ficar em um hotel?
— Não...
— Então, onde ele está? — Ariel insiste.
— Ele está... lá fora.
— Como assim? Tipo, trabalhando no jardim? — A expressão de Ariel
está ficando mais e mais confusa a cada minuto.
Deusa, me dê força.
Eu desisto e conduzo Ariel pela escada principal, depois pelo gramado,
passando pelos canteiros de flores e arbustos.
— Nós achamos que você estava perdida ou morta, não conseguíamos
descobrir onde o avião havia caído. Onde exatamente você estava? — Eu
pergunto, tentando mudar de assunto.
— Não sei. Essa é a verdade honesta da Deusa, — Ariel responde.
Lembro do que Charlie disse quando estávamos olhando o mapa.
A cordilheira conhecida como A Teia de Fate.
Quando ele disse isso na reunião, pensei que fosse só folclore. Não
achei que tivesse qualquer base na realidade.
— Para onde você está me levando? — Ariel me questiona enquanto
passamos pelos fundos do palácio.
— Apenas mais alguns passos, — eu digo enquanto fazemos uma
curva e ficamos cara a cara com meu par destinado.
Ele está sem camisa, parado perto do trailer de sua caminhonete,
rasgando blocos de lenha com suas próprias garras.
Seus longos cabelos escuros estão presos em uma trança holandesa e
sua barba está trançada de maneira complexa.
— Esse é... seu par destinado? — Ariel diz, reconhecendo claramente a
ironia.
Ela está absolutamente adorando isso.
— Hum, sim, esse é Charlie, — eu digo.
— Por que a caminhonete dele está estacionada no gramado?
— Ele gosta de dormir na natureza.
Isso é um pesadelo.
Ao ouvir nossas vozes, Charlie levanta os olhos e joga os pedaços de
madeira que estava cortando em uma pilha.
— Linda manhã, — diz ele, com seus olhos azuis claros brilhando ao
sol. — Quem é essa?
— Charlie, esta é minha irmã Ariel, a rainha e Luna, — eu digo,
apontando para Ariel.
— Oi, Ariel, — Charlie diz, antes de puxar Ariel para um abraço
apertado. — Natalia me contou tudo sobre você. É tão bom conhecer sua
irmã. Mas, por favor, me chame de Chuck.
Ariel consegue se separar de meu par e esboça um sorriso. — Ok,
Chuck. Mas, honestamente, temos tantos quartos no palácio. Por que
você simplesmente não fica em um deles?
— Obrigado pela oferta, mas prefiro ficar aqui. Nunca dormi melhor
do que quando durmo sob as estrelas!
Por favor, pare.
— Ok Charlie, Ariel e eu precisamos conversar, então te vejo mais
tarde, — eu digo, agarrando a mão de Ariel e correndo de volta ao redor
do palácio.
— Tudo bem, prazer em conhecê-la, Ari! — Charlie diz atrás de nós.
— O prazer é meu! — ela responde antes de eu puxá-la para trás da
parede de pedra.
— Um bom partido, devo dizer, — diz ela com um sorriso. — Peito
largo, definido, e suas costas são incríveis!
— Coloque a língua de volta na boca e pare de babar em meu homem,
— digo, irritada. Então eu baixo minha voz: — Você gostou dele?
— Ele é uma escolha infinitamente melhor do que seu último par, —
ela responde.
— Isso não é exatamente uma competição! — Eu digo. — Por favor,
fale a verdade!
Ariel começa a rir.
— Natalia, ele é ótimo. Contanto que você goste dele, ele é bem-vindo.
Ele parece honesto e legal, talvez um pouco exagerado demais. Ele
poderia ter esmagado minhas costelas com aquele abraço!
Meu corpo relaxa com a resposta de Ariel.
— Mas tenho uma pergunta, — Ariel diz, enchendo seu rosto de
malícia. — Você o apresentou à mamãe?
Ah. Mãe.
Rápida para julgar e ainda mais rápida para verbalizar esse
julgamento.
Assim que eu apresentar os dois, ela imediatamente expressará sua
opinião — Não, eles não se conheceram, — eu respondo baixinho.
— Bem, boa sorte com isso. Acho que você vai precisar. Vou voltar
para a cama.
ARIEL

Estou em um vazio branco, flutuando, sem força.


Estou sonhando?
Ou isso é outra coisa?
A última coisa que me lembro é de adormecer ao lado de Alex...
— Ariel?
Eu me viro, tentando encontrar a voz chamando por mim.
— Quem está aí? — Eu pergunto.
Um grande raio de luz aparece vários metros à minha frente e se
materializa na Deusa da Lua.
— Selene! — Eu digo, tentando me curvar, mas descobrindo que não
ter força torna o ato dez vezes mais difícil.
— Lamento que você tenha conhecido minha irmã, Fate, — ela diz. —
Ela sempre se ressentiu de mim, desde o início dos tempos.
Selene continua, deslizando para mais perto: — Eu realmente não
posso culpá-la. Ela não traz apenas o destino para os lobos, ela também
traz morte e caos. E com tantos lobos escolhendo seus pares, parece que
ela é desnecessária quando se trata de amor.
— Mas por que ela está tão obcecada por mim? — Eu pergunto. — Por
que ela quer que eu fique com Xavier?
Selene sorri.
— Ela sente que o mundo seria melhor se vocês dois estivessem
acasalados. Mas isso simplesmente não é verdade. Se você estivesse
acasalada com Xavier, você não teria seus poderes de cura. Ela está com
ciúmes porque eu escolhi você para curar os lobos e desafiá-la.
— E por isso que você me escolheu? Para brigar com sua irmã? — Eu
digo.
Lembro de algo que Fate disse em seu covil. Como a Deusa da Lua
estava apenas me usando como um peão em sua rivalidade.
Selene balança a cabeça e seu sorriso fica mais largo.
— Minha filha, eu escolhi você porque seu espírito e sua vontade são
indestrutíveis. Isso é o que a torna única.
Selene estende a mão e tenho um desejo intenso de estender a minha
também.
— Seja meu canal. Seja a esperança. Eles vão louvar a mim e a você,
Ariel, rainha e Luna da Matilha Real!
Eu estendo minha mão... e finalmente nos conectamos
De repente, sinto um calor subindo pelo meu corpo, completamente
diferente de tudo que já experimentei antes.
Parece que o fogo está inundando minhas veias.
Puta merda!
Estou tocando a Deusa da Lua...
E me sinto invencível...
Capítulo 9
ARIEL, A TODO-PODEROSA ARIEL
Eu acordo em um pulo, ainda sentindo os poderes de Selene fluindo
através dos meus dedos.
Eu quero correr e deixar minha loba sair. Eu sinto o poder em meu
corpo e em minha alma.
Eu não me sentia assim há muito tempo.
Com tudo o que aconteceu na minha vida — os Caçadores, os
selvagens, Xavier, a luta com o presidente dos humanos e agora Fate —
estou perpetuamente em alerta.
É como a síndrome das pernas inquietas da mente, tendo que estar
constantemente em movimento para o caso de algo estar atrás de mim.
Mas agora, eu sinto que a Deusa da Lua restaurou minha confiança,
tranquilizando minha mente.
Eu me espreguiço enquanto ainda estou deitada na cama, cutucando
Alex levemente para acordá-lo.
— Bom dia, dorminhoco, — eu digo, inclinando-me e dando-lhe um
beijo.
Alex resmunga por ser acordado, tolerando meu beijo em vez de
retribuir.
Eu vou um pouco mais além e subo em cima dele.
Deusa, estou me sentindo como se estivesse andando nas nuvens.
— Vamos, Alex, — eu digo enquanto meu par tenta enterrar a cabeça
em seu travesseiro. — Vamos levantar, o dia está lindo.
— De onde vem toda essa energia? Normalmente sou o primeiro a
levantar, — ele murmura.
Eu levemente bato em seu peito antes de sair da cama e tirar todas as
minhas roupas.
— Vou tomar banho, vem comigo, — eu digo, caminhando para o
banheiro.
Eu deixo os jatos de água quente fluírem sobre minha cabeça e
ombros, formando correntes pelo meu corpo.
Eu revivo o sonho que tive na noite passada sobre a Deusa da Lua.
Não sei explicar, mas tocá-la mudou algo dentro de mim.
Alex não se junta a mim, então eu termino de tomar banho, me seco e
vou até o espelho para pentear meu cabelo.
E foi quando me dei conta.
Puxar meus cachos para trás expõe uma fina mecha de cabelo branco
ofuscante, com cerca de uma polegada de diâmetro, da raiz até as pontas.
E um contraste gritante com a minha cor castanha normal.
De onde veio isso?
Eu não vi ontem à noite quando fui para a cama.
Selene fez isso também?
Na verdade, não me importo. Achei muito legal.
É minha própria fração de estilo divino.
Eu penteio meu cabelo de uma forma que a mecha fique à mostra e,
em seguida, me visto.
Estou quase saltando escada abaixo, me sinto tão viva.
Eu pulo os últimos três degraus e deslizo pelo piso recentemente
polido do saguão.
Sigo para a mesa do café da manhã no jardim, onde minha irmã,
minha mãe e meu pai estão sentados.
— Bom dia, — eu digo, abrindo um largo sorriso.
O queixo de Dianne cai quando ela me vê. Natalia para no meio da
alimentação de Xavi, pairando a colherada de papinha fora do alcance de
sua boca.
— Ariel... você... você está... — Dianne começa.
— Loira! — Papai interrompe. — Combina com seus olhos de girassol.
Dou um abraço no meu pai antes de me sentar ao lado dele.
— Parece que você está brilhando. Radiante! — Natalia termina.
— Eu me sinto bem hoje. Cheia de energia, — digo, tentando
responder em termos que eles entendam.
— E seu cabelo... — Dianne diz novamente, levantando-se e indo até
mim para ver melhor. Eu enrolo a mecha platinada em meus dedos,
sentindo eles formigarem com eletricidade.
— Ei, o que você... — Eu começo antes de Dianne colocar as mãos
frias contra meu estômago, me fazendo respirar fundo.
— Eu sei o que é.. Dianne diz dramaticamente. — Haverá um herdeiro
para o trono da Matilha Real em alguns meses.
Eu rolo meus olhos.
— Acho que saberia se estivesse grávida, mãe, — digo, afastando a
mão dela do meu estômago.
— Eu sei melhor do que ninguém nesta mesa. Sua pele está brilhando,
você se sente cheia de energia, sua aparência muda.
— O cabelo muda de cor? — Eu digo ceticamente.
— Bem... eu nunca ouvi falar disso, — diz Dianne, sentando-se
novamente à mesa.
— Já que você está tão cheia de energia, quer levar este poço de energia
para o berçário comigo? — Natalia diz, se levantando da mesa. — Não
dormi a noite toda por causa dele!
— Claro! Qualquer coisa pelo meu sobrinho favorito! — Eu digo,
levantando-o de sua cadeira alta e dando-lhe um beijo na bochecha. —
Está pronto?
NATALIA

— Então, como está o Chuck? — Ariel diz enquanto caminhamos para


o berçário, cada uma segurando uma das mãos de Xavi para mantê-lo de
pé enquanto ele cambaleia.
— Ele está bem... só estou um pouco preocupada, — digo, olhando
para Xavi. Suas pernas cedem, e Ariel e eu o colocamos de volta em pé.
Ele ri de alegria.
— Xavi? — Ariel diz, e eu aceno lentamente.
Desde que deixamos toda a animosidade entre nós para trás, é como
se ela agora pudesse sentir minhas emoções.
Nunca pensei que seria próxima da minha irmã, mas agora ela é a
única que me sinto segura em confiar.
— Como posso contar a ele sobre Xavi?
Ariel franze os lábios, parecendo imersa em pensamentos.
— Eu acho que... você só tem que ser honesta e apresentá-los, — ela
finalmente diz, olhando para seu sobrinho.
— Mas e se ele o rejeitar como Xavier fez? — Eu digo, sentindo as
lágrimas se formarem em meus olhos.
— Minha Deusa, você está chorando? — Ariel diz. Ela para e se vira
para mim, colocando uma mão suave no meu ombro.
— Não, está tudo bem, está tudo certo, — eu digo, enxugando minhas
lágrimas.
— Acho que o que eu quis dizer é que pode ser uma surpresa para
Charlie, mas que muitos lobos nunca encontram seus pares, então vocês
são dois sortudos.
Ariel continua: — Todos nós temos história — você, ele, eu, Alex,
Marius... todos nós. Vocês são pares destinados, então já existe uma
conexão profunda, mas a honestidade é a melhor base para um bom
relacionamento.
Ariel olha direto nos meus olhos. — Vocês podem ser pares
destinados, mas se ele não estiver cem por cento com você e não aceitar
sua história e bagagem, dê um pé na bunda dele.
Ariel me dá uma piscadela quando chegamos à porta do berçário.
Dizer a ele a verdade... Há muito mais na minha história do que apenas
Xavi. Quando ele souber de Xavier... como ele reagirá?
Ariel me dá um abraço rápido e um beijo em Xavi antes de se virar e
quase trombar com Dom.
ARIEL

— Ariel, precisamos de você! — Dom diz, ofegante.


Parece que ele acabou de correr uma maratona para me encontrar; ele
mal consegue terminar uma frase.
— Os guerreiros que estavam rastreando Xavier... ele fez uma
emboscada. Trouxemos os feridos para o quartel!
Eu começo a correr sem ao menos hesitar.
Eu sinto minha loba empurrando seus limites.
Eu quero me transformar, chegar aos meus companheiros feridos o
mais rápido que puder.
Eu passo voando pela porta do quartel e sou recebida com uma visão
aterrorizante.
O chão está coberto de sangue.
Seis guerreiros, alguns que eu treinei, outros que eu conheço, estão
deitados lado a lado nas camas, todos gritando em agonia.
Os médicos da matilha tentam conter os sangramentos e cuidar dos
ferimentos, mas os guerreiros estão delirando de dor.
Até Alex e Vivian foram chamados para ajudar, mas nenhum deles está
fazendo muita diferença.
Vivian parece particularmente desconfortável. Mas ela quer ser um
membro útil da matilha, então ela finge coragem e busca curativos e
morfina.
Alex levanta os olhos de um jovem guerreiro e seus olhos se conectam
aos meus.
— Ariel... nos ajude, — ele implora.
Meu estômago embrulha.
Nunca usei meus poderes na frente de tanta gente antes.
Serei capaz de fazer isso com todos assistindo?
Sem mencionar que geralmente fico exausta depois de curar alguém.
Posso salvar todos eles?
Vou começar com aqueles nas piores condições.
Respiro fundo e me preparo para a dor que estou prestes a sentir.
Me aproximo de um guerreiro, que foi deixado sozinho pelos médicos.
Seu nome é Richard. Ele acabou de fazer dezenove anos, ainda no
início de sua vida adulta.
Uma profunda marca de garra se estende do quadril até o ombro, e
sua jugular parece mutilada, como se ele tivesse sido mordido. Ambas as
feridas transbordam sangue O único sinal de que ele ainda está vivo são
seus olhos abrindo e fechando.
Como Xavier pôde ter feito isso?
E com ele que Fate quer que eu esteja? O que isso diz sobre mim?
Ele destrói e eu curo?
Os lábios de Richard se movem, mas ele está fraco demais para
produzir sons.
Eu coloco a mão em seu peito e fecho meus olhos, me concentrando.
— Selene. Por favor, ajude-o. Por favor, deixe-o sobreviver.
Sinto o calor fluir pelo meu corpo e chegar às pontas dos dedos.
Eu espero a energia deixar meu corpo... mas o calor continua me
inundando.
Eu olho para baixo e vejo as feridas fatais de Richard magicamente
costuradas novamente.
— Ariel... — Alex se aproxima e fica ao meu lado.
— Você está bem?
Ele coloca a mão nas minhas costas, pronto para me pegar se eu me
sentir tonta.
— Alex... eu estou bem. Estou pronta para o próximo, — eu respondo,
arregaçando as mangas.
Eu passo por Richard em direção ao seu companheiro, David, outro
adolescente que treinei, e que acabou de se formar no treinamento,
apenas há duas semanas.
Eu coloco minhas mãos sobre ele e concentro meu poder.
Alex fica atrás de mim, pronto para o caso de eu desabar devido à
energia sendo drenada de mim.
Mas eu permaneço de pé.
Ao longo dos próximos dez minutos eu vou de um colega de
esquadrão para o outro, meus amigos e parceiros de treinamento,
colocando minhas mãos sobre eles e deixando o calor da Deusa da Lua
fluir por elas.
Depois que eu terminei, nem um único arranhão sobrou no
esquadrão.
— Ariel, como você fez isso? — Alex diz incrédulo. — Normalmente
você fica exausta depois de curar uma pessoa!
— Não sei, — digo a ele, abrindo um sorriso. — Nunca me senti tão
bem antes. Acho que meus poderes estão ficando mais fortes.
Nós nos viramos para sair e eu vejo meu reflexo no espelho.
Ainda estou tão radiante quanto no início do dia, mesmo depois de
curar todo um esquadrão de guerreiros.
Mas então eu passo meus dedos pelo meu cabelo e descubro duas
novas mechas platinadas, em perfeito paralelo com a primeira.
Quando estou indo para a saída, Richard surge na minha frente.
— Eu achei que Fate fosse me levar, — ele começa. — Você me salvou.
Você é mesmo abençoada. Louvada seja a Deusa da Lua! Você é Ariel, a
Todo-Poderosa!
Ele cai de joelhos e abaixa a cabeça.
Meu queixo cai quando todo o esquadrão segue seus movimentos e
começa o coro...
— Ariel, a Todo-Poderosa!
Minha Deusa...
Eles estão agindo como se eu fosse a própria Deusa!
Capítulo 10
UM JOGO PERIGOSO
ARIEL

Sinto que estou flutuando ao deixar o quartel.


O que Selene fez comigo?
Meus poderes parecem mais fortes.
Eu me lembro do que ela me disse.
Seja meu canal. Seja a esperança.
Desde que meus poderes foram vazados por minha mãe, lobos de todo
o país viajavam para serem curados pelo meu toque.
Alex tentou mantê-los afastados, com medo de que fosse muito
desgastante para mim.
Mas agora que tenho esses poderes mais fortes, deve ser a vontade de
Selene.
Eu me viro para Alex, me sentindo confiante. — Acho que consigo
ajudar mais — curar mais — pessoas do que antes.
— Tem certeza? — Alex diz. — Você esqueceu que usou seu poder na
frente de uma pequena multidão e desmaiou completamente?
— E diferente desta vez, — eu digo. — Você me viu lá. Consigo fazer
muito mais. Amanhã de manhã, se houver pessoas nos portões... deixe-os
entrar. — Eu nunca gostei de me arrumar para eventos da realeza, me
sentindo mais confortável com minhas botas de combate e roupas de
guerreira.
Mas hoje, eu decido fazer algo grande.
Coloquei a armadura cerimonial do quartel: uma armadura de corpo
inteiro folheada a ouro com uma tiara na cabeça e uma capa azul-escura
de pele.
Ao meio-dia, Alex, vestindo sua própria capa real e coroa, pega minha
mão e entramos na sala do trono.
— Abra as portas, — diz Alex a um guarda.
Em segundos, centenas de pessoas se aglomeram lá dentro, cada uma
clamando pela cura.
Eu não via multidões assim desde a cerimônia de unificação.
A notícia da minha cura para os guerreiros da matilha se espalhou
rapidamente.
As crianças cambaleiam entre as pernas dos adultos para se
aproximarem, enquanto os mais velhos usam muletas e cadeiras de rodas
como aríetes, deixando um rastro de canelas machucadas.
A multidão luta por um lugar, todos querendo estar na frente para nos
ver.
Alex se coloca na minha frente, protegendo meu corpo.
— SILÊNCIO! — ele berra, reverberando sua voz pela sala.
A multidão se acalma instantaneamente.
— Eu sei por que vocês estão aqui: vocês querem ser curados, — diz
ele.
A multidão vibra em aprovação.
— Mas a menos que vocês se acalmem, nenhum de vocês a tocará.
Não se atropelem! Um de cada vez!
Há alguns resmungos da multidão, mas logo uma fila se forma.
Quando há ordem, Alex dá um passo para o lado e eu dou um passo à
frente.
Uma garotinha, de não mais que dez anos, se aproxima com o braço
em uma tipoia.
— O que aconteceu com você? — Eu digo, radiante.
— Eu estava lutando com os meninos. Eu caí e quebrei meu braço, —
ela responde.
— Uma pequena guerreira, então? — Eu digo enquanto me agacho e
pego o braço dela em minhas mãos. — Eu também sou uma guerreira.
Eu concentro meu poder e deixo fluir através dela, sentindo seus ossos
se unirem quase que instantaneamente.
— Agora me prometa que você terá um pouco mais de cuidado, —
digo a ela, me levantando.
— Eu prometo, — a garota diz, abraçando minhas pernas antes de
correr de volta para a multidão.
Eu vejo a garota sair e percebo que a multidão não acaba nas portas da
sala do trono.
Ela continua até os portões principais!
Se eu curar uma pessoa de cada vez, levará o dia todo.
Eu tenho um plano, mas Alex não vai gostar.
Eu olho para trás em sua direção e, em seguida, solto minha capa e
dou um passo à frente.
— Ariel, o que você está fazendo? — ele chama atrás de mim, mas eu
não paro.
A fila se abre diante de mim. Estendo minhas mãos para os lados,
deixando as pontas dos meus dedos roçarem levemente em todos na
multidão.
Os ombros curvados se endireitam, a tosse diminui, algumas pessoas
até parecem que ficaram mais jovens, apenas com o meu toque.
Começo a ouvir a entoação dos curados.
— Louvada seja a Deusa da Lua!
— Ariel, a Todo-poderosa!
Eu me concentro em meu poder, deixando-o correr por toda a sala do
trono.
Parece que a eletricidade está fluindo de meus dedos.
A cada pessoa curada, sinto minha conexão com a Deusa da Lua cada
vez mais forte.
— Muito bem, minha filha, — ela grita enquanto eu continuo. — Use
meu poder e cure todos eles!
ALEX

Quase corro atrás de Ariel quando ela caminha no meio da multidão.


Mas, à medida que ela demonstra controle total sobre as pessoas,
percebo que ela se tornou muito mais forte do que jamais pensei ser
possível.
Desde que nos conhecemos, sinto um forte desejo de protegê-la, de
mantê-la segura.
Mas pelo que vi no quartel, e hoje...
Ela ainda precisa de mim para protegê-la?
Algum dia ela precisou?
Alguém com uma conexão direta com a Deusa da Lua precisa se
preocupar com o perigo de algo acontecer?
Mas então eu penso em Fate — como a irmã da Deusa da Lua tem sua
mira apontada para Ariel.
Como ela quer que ela acasale com Xavier.
Qual é a recompensa?
Por que Ariel?
Quando a multidão finalmente diminui, Ariel volta para mim.
Nós nos retiramos da sala do trono, mas o coro — Ariel, a Todo-
Poderosa — continua por horas depois.
Eles realmente acreditam que ela é uma personificação da Deusa.
É difícil não a ver dessa forma.
Mas mesmo com todas as mudanças e seus poderes, eu ainda a vejo
apenas como Ariel.
A mulher por quem me apaixonei e não desistiria por nada nesse mundo.
— Isso foi grandioso, — eu digo. — Como você está se sentindo?
— Incrível! — ela diz, soltando a tiara.
Seu cabelo cai em ondas ao redor de seu rosto, e eu identifico várias
outras mechas de cabelo platinado.
— Quero fazer de novo amanhã, — diz Ariel. — Eu quero que todo o
reino louve a Deusa da Lua e sinta seu poder de cura.
— Tudo bem, mas da próxima vez precisamos de alguns guerreiros da
matilha, — eu digo. — Você quase causou um tumulto quando entrou na
multidão!
NATALIA

Diga a ele a verdade. Ele vai te aceitar.


Espero que Ariel esteja certa.
Eu não quero estragar tudo.
Mas vamos começar com pequenos passos.
Literalmente.
Pego Xavi no berçário e vou direto para a caminhonete de Charlie.
Tenho que me conter e respirar fundo quando o vejo.
Sem camisa. De novo.
Ele está sentado na porta traseira, talhando algo na mão.
Ele leva o objeto semiconstruído aos lábios e sopra.
Um som agudo chia.
Charlie começa a esculpir novamente, então faz uma pausa e olha
para mim.
Ele acena em minha direção.
— Olá, luz do luar, — ele diz, abrindo um grande sorriso e passando a
mão pelo cabelo.
Se ele não fosse tão inocente e romântico, eu acharia que ele estivesse
fazendo isso de propósito.
— Oi, Charlie, — eu digo.
Então seu olhar se volta para a criança de um ano em meus braços.
— Então... quem é esse carinha? — Charlie pergunta, inclinando-se
para conhecer Xavi e dando-lhe um pequeno aperto de mão.
— Este é...
Deusa, me dê força.
Por favor, não fuja quando eu te contar.
— Este é Xavi... meu... meu filho, — eu finalmente digo.
Charlie olha para cima, mas eu olho para baixo, incapaz de suportar
seu olhar penetrante.
Ele fica em silêncio por um momento antes de dizer: — Isso... isso é
incrível!
Eu olho para trás em seus olhos azuis pálidos e vejo que ele está
emocionado em conhecer Xavi.
— Posso? — ele diz, largando sua escultura e estendendo as mãos para
frente. Eu entrego Xavi para ele.
— Ei, lobinho, você não é uma graça? — Charlie diz, balançando Xavi
de um lado para o outro.
Xavi grita de alegria por ser balançado, e encontro meu coração
derretendo mais uma vez.
Ariel estava certa. Tudo o que tenho que fazer é contar a verdade a ele.
Toda a verdade.
Como se estivesse lendo minha mente, Charlie pergunta: — Então,
quem é o pai desse filhote?
Ah. Isso pode ser uma conversa para outro dia.
— Ele não é presente, — eu digo.
Charlie concorda.
— Tudo bem, não precisamos falar sobre isso se você não quiser.
Tento dizer — obrigada, — mas minha voz falha antes mesmo de eu
pronunciar as palavras.
Eu só não quero estragar tudo.
Ficamos em silêncio por alguns segundos antes de Charlie perguntar:
— Você quer dar uma volta pelos jardins? As flores estão desabrochando e
eu quero absorver a energia da cromaticidade dos novos botões. É a
melhor coisa para boas vibrações.
— Croma o quê? — Eu pergunto, rindo. — Ok, hippie, vamos lá.
— Primeiro, — diz Charlie, agarrando sua escultura e fazendo os
poucos entalhes finais na madeira. — Fiz um apito com som de pássaro.
Ele sopra em uma das pontas e o som de uma coruja-das-torres sai
pela outra. Xavi ri com o som.
— Se o filhote gostou, você pode ficar com ele! — Charlie diz,
oferecendo para mim.
Eu testo o apito, fazendo Xavi e Charlie rirem.
— Muito obrigada, — eu digo.
Cada um de nós pega a mão de Xavi e começa a caminhar em direção
à entrada do jardim.
Primeiro obstáculo concluído. O próximo é dizer a ele que meu ex-par é o
mais procurado pela Matilha Real!
ARIEL

Acordei esta manhã com pessoas gritando — Ariel, a Todo-Poderosa!


— dos portões.
Parece que todo mundo quer receber o primeiro toque do dia.
Alguns até tentam escalar as paredes.
Os comerciantes começaram a vender cerveja e comida para quem
aguardava.
Tornou-se um esporte com espectadores.
Não que eu me importe.
Gosto de ajudar as pessoas, e qualquer coisa que irrite Fate é uma
coisa boa.
Eu uso meu cabelo solto, permitindo que minhas novas mechas
platinadas fluam livremente.
Eu entro na sala do trono e me sento. Vejo que uma multidão de
centenas de pessoas já se reuniu ali.
Alex está diante do povo, tentando manter a paz.
Ele seguiu seu plano de colocar guardas ao redor da sala, tanto para
manter a multidão sob controle, mas também no caso de Xavier estar
escondido entre ela.
— Meus companheiros lobos, vocês devem ficar calmos! Ariel virá até
vocês! — ele berra.
Na maioria das vezes, as pessoas obedecem. Mas alguns na multidão
estão um pouco animados demais, deixando suas naturezas selvagens
soltas.
Conforme os guerreiros tentam organizá-los em uma fila, eles
começam a se empurrar.
Eu vejo um jovem forçar seu caminho até a frente da multidão e dar
um soco no nariz de um guerreiro.
— Eu preciso de sua ajuda, minha Luna, — ele chama.
O jovem corre em direção ao trono e, por um momento, fico
preocupada.
Alex dá um passo à minha frente e o homem para de repente, se
encolhendo para longe do rei.
Ele pode golpear um guerreiro, mas não ousaria fazer isso com o rei.
Os guerreiros atacam o homem e o levam embora.
Tenho que fazer algo antes que isso saia do controle.
Levantando-me do meu trono, sinto a multidão avançar, como da
última vez.
Eles estão todos gritando, querendo ser ouvidos uns sobre os outros,
todos competindo pelo primeiro toque.
— Eu tenho raquitismo!
— Minhas costas estão tortas!
— Eu engoli um palito de dente!
Dou um passo à frente e uma mãe carregando um embrulho de pano
empurra seu bebê na minha direção, enquanto as lágrimas escorrem pelo
seu rosto.
— Por favor, ele é tudo que me resta, por favor, abençoe-o com seu
poder!
Estendo a mão para pegar o bebê, mas quase recuo horrorizada
quando o vejo.
Deusa!
O bebê tem o rosto de Xavier.
Ele tem um sorriso malicioso.
A jovem mãe agarra meu braço e sinto o tempo parar. Eu olho para ela
e suspiro.
Fate.
Seus olhos são duas poças profundas de escuridão. Seus dentes se
estendem, pingando gotas de prata em minha manga.
— Você não pode escapar de mim, Ariel. Você não pode escapar do seu
destino.
— Eu já escapei antes, e vou escapar de novo, — eu retruco. — Eu
posso salvar essas pessoas de você.
— Você está jogando um jogo perigoso. Eles a chamam de salvadora,
mas você está brincando com coisas que não entende.
Seus olhos escuros me deixam tonta. — Cada vez que você salva uma
vida, devo refazer a teia. Isso significa machucar outros. Cada alma que
você salva condena outra.
— O que você quer dizer? Se eu salvar alguém, outro deve morrer?
Fate ri, mas o som se perde na tagarelice da multidão, que não percebe
sua presença. — Adeus, Ariel.
Tento impedir Fate, mas quando pego sua capa ela evapora, como se
nunca tivesse estado lá.
A ameaça de Fate me abala profundamente.
Quem será o próximo alvo dela?
Capítulo 11
PLATINADA E DESPREOCUPADA ARIEL
Eu acordo suando frio.
Desde a pequena visita de Fate, não tenho dormido bem.
Sinto que estou a vendo em cada esquina, mas então ela desaparece
em um piscar de olhos.
Talvez eu esteja apenas perdendo a cabeça...
Eu me levanto e vou tomar uma ducha, tentando lavar meu suor — e
meus medos.
Quando eu saio, vejo meu telefone vibrando na borda da pia.
Amy: Eu volteeeeei!

Amy: Onde está minha recepção digna da realeza??


Quase esqueci que Amy voltou da lua de mel hoje.
Eu deveria estar mais animada, mas...
A ameaça de Fate ainda me dá calafrios.

Desço a escada correndo quando as portas da frente do palácio se


abrem e Amy entra.
Ela me envolve em um grande abraço, depois se afasta e me olha da
cabeça aos pés.
— O que você fez com o seu cabelo? Eu amei! E absolutamente divino!
— Amy diz, brincando com meu número crescente de mechas platinadas.
— Obrigada, eu também acho, — eu digo.
Na verdade, minha cabeleireira é divina!
— Como foi sua lua de mel? — Eu pergunto.
— Ah, foi linda, — Amy diz, encaixando seu braço no meu. — Sol,
mar, areia, sangria... e SEXO!
— Então, qual é o plano para vocês dois? — Eu pergunto.
— Vamos nos acomodar por alguns dias antes de seguirmos para a
Matilha das Escrituras para ver o irmão de Angel.
Vejo Marius entrando no saguão, carregando várias malas sozinho. Eu
aceno para ele.
— Então, você está definitivamente decidida a fazer isso? — Eu digo a
Amy com um sorriso irônico.
O queixo de Amy cai de forma cômica.
— Quando eu NÃO estive procurando um relacionamento de longo
prazo?
— Lembro claramente de você pedindo Wilbur Willard em namoro na
segunda série no recreio e largando-o no final do dia porque ele não te
beijava no almoço.
Amy dá de ombros.
— Você simplesmente sabe quando acontece. E Wilbur agora está
felizmente acasalado com seu marido, então foi definitivamente mútuo.
Nós duas rimos.
— Mas é interessante: é como se este lugar estivesse cheio de pares
não destinados, — eu digo.
— Como assim?
— Bem, eu e Alex, você e Marius, meus pais, Steve e Louisa. Natalia
parece ser a única com um par destinado.
— Natalia tem um par?
— Sim, ele está dormindo do lado de fora.
Amy parece pensativa.
— O hippie musculoso na caminhonete caindo aos pedaços? Esse é o
par de Natalia?
Eu concordo.
— Bem, se isso a deixa feliz, então ela deveria irem frente, — Amy diz.
— Eu acho que ela tem muita sorte de encontrar seu par destinado. Eu
nunca consegui.
— Você quer encontrar seu par destinado? — Eu pergunto.
— Mais por curiosidade, apenas para ver quem é. Mas não acho que
poderia amar alguém mais do que amo Angel. Bem, além de você, amor.
Eu dou um leve aperto no braço de Amy.
Entende, Fate? Você está equivocada ao tentar nos combinar com nossos
pares.
Não aceitaríamos de outra maneira.
NATALIA

Eu me sinto como uma princesa, olhando pela janela do meu quarto


na torre do palácio, observando o gramado ao anoitecer, meu príncipe e
sua nobre cavalgada.
Bem... Charlie e sua caminhonete.
Eu adoro observá-lo em seu ambiente.
Ele está trabalhando nos jardins e ajudando na colheita de alimentos
para a cozinha real.
Posso jurar que o vi conversando com um esquilo que estava sentado
na palma de sua mão.
Somos tão diferentes — e não apenas fisicamente.
Por um lado, temos tolerâncias muito diferentes para sujeira. Charlie
adora, e geralmente está coberto dela... Eu, por outro lado, amo me sentir
limpa.
Mas o mais importante, ele é bem humorado e honesto... e eu não sou
nenhuma dessas coisas.
Quero passar cada segundo do dia com ele — ouvi-lo falar, vê-lo
trabalhar.
Não posso negar que estou atraída por ele, mas é por causa do nosso
vínculo de pares destinados ou... estou começando a me apaixonar por
ele de verdade?
Por que ainda precisamos de pares destinados?
Ariel era o par destinado de Xavier, e olha no que deu.
Sou despertada de meus pensamentos por um apito de dois tons
vindo de baixo.
Eu olho para baixo e percebo que Charlie está olhando diretamente
para mim, adornando um sorriso gentil em seu rosto.
Mesmo à distância, posso ver a dobra divertida em seus olhos.
Sinto uma onda de calor percorrer meu corpo. Eu imediatamente
desvio o olhar e começo a enrolar meu cabelo em meus dedos.
Eu ouço o ranger do carro de esgoto ao lado da minha janela e não
posso deixar de espiar para fora.
Meu queixo cai.
Charlie está escalando o carro em direção ao meu quarto.
Ele enfia a cabeça pela janela e não consigo deixar de rir.
Meu próprio homem da montanha, vindo salvar a princesa do castelo.
Quem seria o dragão?
Provavelmente Dianne.
— Desculpe, mas não pude deixar de notar que você estava olhando
para mim? — Charlie diz.
Meu coração bate forte.
Nunca me senti assim com Xavier.
— Bem, não posso deixar de olhar alguém tão lindo como você.
— Ei, eu quero te mostrar uma coisa, desça até a minha caminhonete,
— diz ele enquanto começa a descer pelo carro. — Você vem?
— Sim, mas vou usar a porta da frente. E vou levar algumas
almofadas. Minha coluna ainda não se recuperou da última viagem.
Pego alguns travesseiros e cobertores da cama e os levo para o jardim.
Charlie está esperando encostado em sua caminhonete.
Eu jogo a roupa de cama na traseira e afofo antes de deitar. Charlie se
junta a mim e pega minha mão com nervosismo.
Ele estende um dos meus dedos e aponta para o céu noturno.
— Você está vendo, onde está a ponta do seu dedo? — ele pergunta.
Eu aperto os olhos e vejo uma fileira de três estrelas: duas pequenas e
uma grande.
Charlie move minha mão ligeiramente para baixo, parando em outro
conjunto de estrelas.
— Você sabe o que é isso? — ele pergunta.
Eu nego.
— Essa é a constelação de Lupus, o lobo, — Charlie narra. — Eu
sempre olhava para aquela constelação quando estava procurando por
você. Sempre que me preocupava em não encontrar você, olhava para o
céu noturno para me lembrar que estava em uma jornada.
— Uma jornada? — Eu pergunto.
— Tentar encontrar meu par, você. O destino e as estrelas me guiaram
em sua direção.
— Você confiou nas estrelas? — Eu sussurro. — Você esperou por
mim... mas você nem sabia quem eu era.
Charlie se vira para mim.
— Verdade, mas eu não pensei em mais nada desde que senti seu
cheiro naquela época.
— Eu segui as estrelas e agora as vejo em seu rosto. — Ele passa o dedo
pela minha bochecha e a ponta do meu nariz.
— Constelações de sardas, galáxias em seus olhos.
Isso é o que ele pensa que seu par destinado quer ouvir?
O que ele vai dizer quando descobrir os segredos que escondi dele?
— Você acha que um relacionamento pode realmente durar só porque
duas pessoas estão destinadas a ficarem juntas? — Eu pergunto.
Charlie encolhe os ombros.
— Por que o destino nos uniria se não fôssemos compatíveis um com
o outro?
Eu olho para longe, tentando esconder minha preocupação.
Não achei que éramos compatíveis quando o vi pela primeira vez.
Ainda seremos compatíveis quando ele descobrir quem é meu ex-par?
Quando ele descobrir que escolhi Xavier ao invés dele...
Charlie pega minha mão novamente e começa a traçar o céu acima de
nós, identificando os pontos de luz no escuro.
Eu puxo um dos cobertores em torno de nós dois.
Pela primeira vez em muito tempo, me sinto segura e aquecida ao lado
de outra pessoa.
Logo, a voz rouca de Charlie lentamente me faz dormir.
ARIEL

Recebo uma carta no café da manhã, escrita à mão em papel


pergaminho.
Querida Luna Ariel,
Minha mãe está doente. Ela tem setenta anos e teve uma queda feia
recentemente.
Os médicos dizem que não há nada que possamos fazer, apenas deixá-la
confortável.
Queríamos comparecer às cerimônias, mas sempre as perdemos.
Suponho que você provavelmente receba muitas mensagens como esta
diariamente, mas peço a sua empatia nesse momento.
Minha mãe é tudo que me resta. Não tenho um par, nem filhos.
Eu só quero que ela viva o máximo possível.
Espero que você possa ajudar.
Jacqueline N.
Levanto, nem mesmo terminando minha comida, correndo para o
meu guarda-roupa para me arrumar.
E para isso que meu poder deve ser usado. Curar aqueles que Fate está
tentando levar.
Eu sorrio.
Qual é, Fate — acha que pode me vencer?
Alex manda um esquadrão inteiro de lobos me escoltar até a casa da
senhora idosa.
— Esta é uma missão ultras secreta, — diz ele, olhando para cada um
deles.
— Tenha cuidado, — ele diz suavemente. — Só não quero que alguém
descubra isso e você fique sobrecarregada de pedidos.
— Eu vou ficar bem, — eu digo, dando a ele um beijo de despedida.
Os lobos se posicionam na formação de diamante, me protegendo
como se eu fosse algum chefe de estado ou da realeza.
É
É estranho pensar a respeito, mas na verdade sou as duas coisas...
Chegamos à casa e o líder do esquadrão insiste em vasculhar o local
antes que eu entre.
Depois de se certificar de que os ocupantes — uma senhora de setenta
anos de idade acamada e sua filha de cinquenta — são inofensivos, o
esquadrão se retira.
Entro na humilde habitação, me sento na cama ao lado da senhora e
pego sua mão.
Ela é tão frágil. Eu sinto que se eu colocar uma pequena quantidade de
pressão em seu corpo, posso parti-la ao meio.
Eu fecho meus olhos e concentro meu poder. O calor flui por mim e
pela mulher... mas algo está diferente.
Algo está errado.
Quando curo outras pessoas, posso sentir sua força vital ficando mais
forte a cada segundo. Mas com esta mulher, está ficando mais fraca a
cada momento que passa.
Meus poderes de cura não estão funcionando como deveriam.
Então eu ouço aquela voz sinistra invadir minha mente.
— E hora dela ir, Ariel.
— Ela está muito velha e muito fraca.
— Você tentou o seu melhor, mas não pode enganar a morte.
Afasto as palavras de Fate da minha cabeça e me concentro ainda
mais, agarrando a mão da senhora como uma prensa.
Parece que fogo está saindo de minhas mãos enquanto coloco toda a
minha energia nela.
— Apenas desista.
— Você não pode me vencer.
— Já teci o fio final na teia dela.
— NÃO! — Eu grito, assustando a filha da mulher.
Concentro todo o meu poder na mão da senhora, orando para Selene.
Estou preocupada em machucá-la, mas tenho que tentar. Eu tenho
que vencer Fate.
Meu peito começa a apertar enquanto continuo insistindo.
A pressão aumenta em meu coração, até que eu sinto uma explosão
dentro de mim, reverberando a energia de minhas mãos para a senhora.
— Deusa! — ela grita, pulando na cama.
Solto a mão da mulher e ela lentamente se levanta da cama, testando
cada perna.
Ela fica instável no início, mas então consegue firmeza, e um sorriso se
espalha por seu rosto. A filha grita de alegria e as duas se abraçam.
— Ela deveria morrer! — Fate grita comigo.
— Parece que sou mais poderosa do que você! — Eu respondo em meus
pensamentos.
— Você não é mais poderosa do que uma Deusa! — Ela grita. — Você
alterou o destino dela quando ela pertencia a mim. Agora vou levar outra
pessoa.
— Vá em frente e tente, vadia, — eu retruco.
— Da próxima vez será alguém próximo a você. Até mesmo os poderes
dados a você por minha irmã não irão salvá-los. — Fate sussurra, antes de
cortar nossa conexão.
Capítulo 12
A PARANOIA DA LUNA ARIEL
Scritch scritch.
Eu coço meu braço e depois minha perna.
Scritch scritch.
Eu não consigo dormir.
Minha pele parece estar arranhando.
Eu continuo me revirando na cama, repassando as últimas palavras de
Fate em minha mente.
Alguém próximo a você.
Fate mencionou sua irmã.
Ela vai machucar Natalia?
Eu rolo novamente e sinto algo roçar no meu braço por baixo das
cobertas.
Eu as puxo para baixo... e grito.
Centenas de aranhas estão rastejando sobre meu corpo.
Não apenas as pequenos — algumas são tão grandes quanto minha
mão.
Eu viro minha cabeça ligeiramente e vejo uma subindo pelo meu
braço em direção ao meu ombro e pescoço.
Mesmo na calada da noite, posso ver suas pernas grossas e peludas,
além de seus olhos brilhantes.
Eu grito novamente e me levanto, acordando Alex com um pulo.
— O que — o que foi? — Alex pergunta enquanto eu pulo
freneticamente para cima e para baixo, tentando afastá-las.
— Me ajude, me ajude! — Eu grito.
— Com o quê? — ele diz, claramente confuso.
— As aranhas! As aranhas! — Eu respondo, ainda dançando para cima
e para baixo.
Os braços fortes de Alex seguram os meus, me forçando a ficar quieta.
Eu continuo a me contorcer, sentindo milhares de pernas rastejantes
em cima de mim.
— Ariel, olhe para mim. Olhe para mim! — Alex chama. Ele parece tão
distante. — Não há nada aqui! Não há aranhas, nada além de nós dois!
Eu freneticamente olho para o chão e não vejo nenhum vestígio das
aranhas.
Eu fico olhando nos olhos de Alex, então desabo em seus braços,
convulsionando e soluçando.
— Shh, shh. Está tudo bem. Estou com você. Você está segura, — Alex
sussurra, acariciando meu cabelo. — Foi apenas um pesadelo.
Mas não foi apenas um pesadelo. Foi um presságio.
Foi um aviso de Fate.
Alex me guia de volta para a cama e continua tentando me acalmar: —
Você está segura. Não vou deixar nada acontecer com você. Eu prometo.
Eu sei que estou segura, mas você está?
Eu posso curar, mas posso proteger você?
— Eu sinto que você está guardando algo de mim. Qual é o problema?
Você pode me dizer qualquer coisa, — Alex sussurra, dando um beijo
suave na minha testa.
Quero contar a ele tudo o que Fate me disse.
Seguir meu próprio conselho que dei a Natalia a sério — seja honesta.
Mas eu não consigo.
Eu sinto que se eu confiar em Alex, Fate virá atrás dele de todas as
maneiras que ela puder.
Ela dirá que estou me metendo de novo no destino por ter o avisado.
Se eu não disser as palavras em voz alta, elas não se tornarão reais.
Eu balanço minha cabeça e esboço um sorriso corajoso.
— Está tudo bem. Eu estou bem. Estou feliz, — eu respondo, dando-
lhe um beijo.
Alex parece comprar minha desculpa e passa o braço em volta da
minha cintura, me puxando para o seu peito.
Eu fecho meus olhos e logo caio de volta no confortável sono,
enquanto meu par acalma meus medos noturnos.
ALEX

Ariel adormece em meus braços, mas não consigo dormir.


O jeito que ela estava agindo... Eu não a vi tão traumatizada desde a
primeira vez que a conheci, deitada naquela floresta há tantas luas atrás.
Seus olhos estavam arregalados e vermelhos, sua respiração estava
falhando.
Eu estava com medo de que ela desmaiasse de puro choque.
Ariel resmunga e se agita durante o sono.
Muitas vezes ela acidentalmente me chutou ou me chamou, apenas
para se virar e voltar a dormir.
Mas isso é diferente.
E como se ela tivesse visto um fantasma.
Eu olho para ela, aconchegada contra meu peito nu.
Ela está radiante, parecendo tão doce e bela como os primeiros botões
da primavera.
Eu passo meus dedos por seu cabelo, traçando o número crescente de
mechas platinadas que agora tomam mais da metade de seus cabelos.
Ela pode parecer em paz e no controle, mas me preocupo se algo está
errado.
Ela está em uma missão para salvar todos que puder.
É tão diferente de alguns meses atrás, quando ela não queria contar a
ninguém sobre seus poderes.
Ela parece gostar de caminhar no meio da multidão e curar pessoas,
mas agora quando estamos aqui, longe dos olhos expectantes do mundo,
posso dizer que ela não está bem.
Ela pode ter pensado que me enganou dizendo — está tudo bem, —
mas eu sei quando ela está preocupada por dentro.
Eu quero ajudá-la, abraçá-la e dizer a ela que está tudo bem, e dizer
isso com sinceridade.
Se ao menos ela se abrisse para mim.
ARIEL
Não consigo evitar a sensação de que Fate virá atrás de Natalia. Não
quero que nada de ruim aconteça à minha irmã.
Então, eu tenho um plano para nivelar o campo de jogo. Natalia vai
aprender a se defender.
Talvez eu esteja sendo paranoica, mas não quero correr nenhum risco.
— O que é este lugar? — Natalia sussurra enquanto eu a puxo mais
para dentro do túnel, levando-a para a minha sala de treino particular.
— Este, irmãzinha, vai ser seu novo lugar favorito, — eu digo, pulando
no ringue. — Agora venha, entre aqui!
Natalia olha boquiaberta para a sala. Seus olhos se arregalam quando
ela encontra a coleção de espadas e lanças na parede oposta.
— Vamos, molenga, entre no ringue! — Eu digo, agarrando seu braço
e puxando-a entre as cordas.
— Mas não posso lutar com você, — diz Natalia.
— Você tem que aprender a se defender! — Eu digo com firmeza.
— Não, quero dizer, acabei de fazer as unhas, — diz Natalia, exibindo
seu acabamento à base de verniz.
— Eu não quero lascar o esmalte.
Eu balanço minha cabeça. Ela pode não ser mais uma vadia tagarela,
mas ela ainda é o tipo arrumadinha e certinha.
Esperançosamente, a estética do homem da montanha e amante da
natureza de Charlie passe para ela.
— Você precisa aprender a lutar, Natalia! — Eu digo.
— Por quê? Os guardas vão me proteger, — diz ela com um sorriso.
Porque Fate está com raiva de mim e pode vir atrás de você!
— E o que acontece se você estiver por aí e Xavier aparecer? — Eu
digo.
— Vou nocauteá-lo, como fiz da última vez, — Natalia sorri, pegando
um par de luvas de boxe no assoalho de lona.
— Mas o que acontece se você não tiver uma arma com você? E
quando você não tem o elemento surpresa? Se surgir uma situação
semelhante, quero saber se você pode cuidar de si mesma.
Eu não conto a ela sobre Fate. Isso seria demais.
Natalia suspira, cedendo ao meu regime de treinamento. — Tudo
bem.
— Vamos lá, hoje vou te ensinar algumas técnicas simples para se
manter segura.
Durante a hora seguinte, mostro a Natalia alguns lances e
fechamentos e, surpreendentemente, ela pega o jeito bem rápido.
— Certo, agora vamos aumentar a aposta, — eu digo. — Eu irei em
sua direção como um agressor. Eu quero que você faça o lance sobre o
ombro comigo.
— O quê?! — Natalia diz, mas ela mal tem tempo para reagir quando
me lanço sobre ela.
Eu dou socos de brincadeira, que ela mal consegue se esquivar.
Eu avanço com um pouco mais de velocidade e acidentalmente acerto
um direto em seu nariz.
Natalia geme e tropeça para trás, batendo nas cordas.
— Deusa, você está bem? — Eu digo, colocando minhas mãos na
minha boca.
Natalia está um pouco atordoada, mas então seus olhos se estreitam.
Sua loba está assumindo a direção.
Natalia rosna e pula para frente.
Ela lança um gancho largo, me pegando desprevenida. Consigo me
esquivar, mas o soco ainda me acerta no ombro.
Eu me afasto, mas Natalia não desiste. Ela dá mais dois socos diretos
no meu rosto — que eu bloqueio na hora certa — antes de lançar um
chute nas minhas costelas.
Eu me dobro e tusso, tentando bloquear enquanto Natalia continua
avançando.
Ela me dá um chute final, jogando-me nas cordas, antes de agarrar
minha manga e executar um lance sobre o ombro perfeito.
Eu caio com força no assoalho, ofegante.
— Ótimo, — eu tusso. — Isso foi ótimo!
Natalia estende a mão e me põe de pé.
— Acho que isso conclui a lição de hoje, — digo.
NATALIA

— Você está bem? — Eu pergunto enquanto Ariel e eu caminhamos


juntas de volta pelo palácio.
— Sim, estou bem. Por que a pergunta? — Ariel diz, dando um sorriso
largo demais para ser real.
— As olheiras me dizem tudo o que preciso saber, — digo. — Você tem
dormido bem?
Ariel olha para seus pés.
— Eu não dormi muito na noite passada. Eu tive... um pesadelo que
acabou comigo.
Apesar de parecer como se ela fosse a reencarnação da Deusa, com seu
cabelo platinado e olhos amarelos brilhantes, sinto que ela está instável
sob sua aparência externa.
Ela está calma e controlada por fora, mas furiosa e preocupada abaixo da
superfície.
— Eu só preciso de uma boa noite de sono, — diz Ariel.
— Eu acho que posso te ajudar, então, — eu digo, animada.
Eu procuro no meu bolso e pego um filtro da lua que cabe na palma da
mão. Charlie fez para mim.
— Estou carregando isso por todo lugar. É uma maneira de manter
Charlie por perto quando não estou com ele. Ele disse que isso capta
boas energias e as amplificam. Parece que você está precisando, — eu
digo.
— Um filtro da lua, — Ariel diz, inspecionando-o. — Lembro de
quando costumávamos fazer isso com a mamãe quando éramos mais
novas.
— Uma das únicas vezes em que todas parávamos de guerrear umas
com as outras, — digo com um sorriso.
Isso tudo parece ter sido há muito tempo.
Eu desamarro um dos meus cadarços e prendo-o ao filtro da lua,
colocando-o ao redor do pescoço de Ariel, em uma aproximação
grosseira de um colar.
Os olhos de Ariel começam a brilhar enquanto as lágrimas se formam.
— Obrigada, — Ariel diz baixinho, me abraçando.
— Está bem, está bem, pare com isso, — eu digo, nos separando. —
Continue assim e vou começar a chorar, e não quero borrar minha
maquiagem.
Ariel ri e dá uma grande fungada, enxugando os olhos com as costas
da mão.
— Te vejo amanhã para a 'aula', — ela diz antes de nos separarmos.
Volto para o meu quarto, ansiosa por uma boa noite de sono.
Minha mãe se ofereceu para passar a noite com Xavi para me dar
algum tempo sozinha.
Estou ansiosa para um banho longo e quente depois daquele treino
com Ariel.
Quando abro a porta, sinto que algo está errado.
Antes que eu possa entender o que está acontecendo, um par de mãos
fortes aperta meus ombros Eu grito — mas então a memória muscular
que Ariel colocou em mim antes entra em ação.
Pise no pé dele.
Cabeçada para trás.
Golpe no queixo.
Pegue o braço dele.
Jogue-o no chão.
Meu agressor geme sob a enxurrada de ataques, antes de levantar as
mãos em defesa e denota enquanto eu preparo outro ataque.
— Sou eu, sou eu! — Charlie diz, rindo.
— Misericórdia!
— O que você está fazendo aqui? — Eu digo.
— Então você estava treinando hoje? Não consegui te encontrar. Eu
queria conversar.
Oh não. Alguém contou a ele sobre Xavier?
— Sobre o que você quer conversar? — Eu digo, com a esperança de
conseguir disfarçar a preocupação em minha voz.
— Tive uma ideia de algo que poderíamos fazer... juntos.
Charlie se levanta, limpa a poeira e aponta para a porta.
— Tenho uma surpresa e um pedido. Se você quiser se juntar a mim...
Ele estende a mão.
Eu hesito por um momento antes de colocar minha mão na dele.
Charlie me leva para fora do palácio, em direção ao crepúsculo.
— Onde estamos indo? — Eu pergunto, cada vez mais animada.
— Você vai ter que esperar para ver, — ele responde maliciosamente.
Ele segue o caminho até a floresta antes de se virar para me encarar.
— Tire a roupa, — ele sussurra.
Minhas roupas?
Minha Deusa! Ele quer...
— O que você tinha em mente? — Eu digo.
Ele se inclina em direção ao meu rosto e meu coração parece que está
prestes a explodir no meu peito.
Ele vai me beijar?
Esse vai ser nosso primeiro beijo?
Mas, em vez disso, ele sussurra: — Eu quero ver a sua loba. Eu quero
ver você de verdade.
Capítulo 13
BRINCANDO COM FOGO
NATALIA

Meu coração acelera enquanto Charlie sorri para mim.


— Quero correr com você, — diz ele.
Correr?
A última vez que me transformei totalmente foi quando tinha acabado
de fazer dezoito anos.
Foi um evento da matilha — uma chance para as pessoas conhecerem
os novos lobos que acabaram de atingir a maioridade.
E a noite em que Xavier me escolheu para ser seu par.
Há muito tempo. Eu era tão ingênua na época.
Eu nunca fui realmente uma garota destemida, então empurrei minha
loba bem fundo dentro de mim.
Na verdade, foi Xavier quem me fez empurrá-la.
Quando eu estava com Xavier, ele me proibia de ir aos eventos da
matilha.
Ele queria que eu estivesse bem arrumada, sempre usando maquiagem
e salto alto.
Ele nunca quis que eu me transformasse.
Agora que Charlie está aqui, quero ser mais livre do que nunca.
Charlie acaricia minha bochecha suavemente.
Eu posso ouvir minha loba uivando para ser solta.
— Somos pares destinados, nossos lobos sempre desejaram se
encontrar, — diz Charlie.
Eu já o vi nu, mas esta é a primeira vez que estarei nua na frente dele.
Eu respiro bem fundo, tentando acalmar meus nervos, antes de puxar
lentamente minha camisa sobre a minha cabeça.
Eu desamarro meu sutiã, deixando-o cair no chão, e lentamente desço
minha calça e calcinha.
Eu me levanto sob a luz do luar, vendo Charlie olhar para mim.
Estou tensa, tentando fazer com que meus joelhos parem de tremer.
— Sua vez, — eu sussurro.
Charlie tira a camisa e a calça.
Quase esqueci o quão grande ele é.
Foi um choque quando o vi nu do lado de fora de sua cabana, mas
agora estou animada.
Eu quero explorar cada centímetro dele: seu corpo rígido, suas linhas
bronzeadas, suas costas e ombros largos, o V de seus quadris... e seu...
— Mostre-me sua loba, — sussurra Charlie.
No fundo da minha mente desejo que minha loba venha à superfície.
Quase grito de dor e prazer quando meus ossos racham e o pelo loiro
arrepia meus braços e pernas.
Sinto minhas orelhas se estenderem e meus dentes se alongarem.
Enquanto minhas mãos se transformam totalmente em patas, eu caio
de quatro e dou um alongamento poderoso.
Como isso é bom!
Charlie também se transforma, emergindo como um lobo preto
desgrenhado com uma grande juba de pelo. Seus olhos azuis brilham ao
luar.
Olhamos um para o outro por alguns momentos, absorvendo cada
músculo e diferença em nossos lobos.
Eu me movo um pouco para frente, erguendo meu focinho no ar.
Eu avanço mais um pouco e começo a acariciar seu pescoço.
Seu cheiro é inebriante.
— Ei, — Charlie se conecta com minha mente.
— Faz muito tempo desde que eu me relacionei mentalmente com alguém,
— eu respondo.
— Eu também, — Charlie responde. — Às vezes me transformava por
dias tentando encontrar você pela conexão mental.
O lobo de Charlie acena com a cabeça e aponta para a floresta.
— Primeiro as damas.
Ele quer correr atrás de mim.
— Vamos lá!
Dou alguns passos leves antes de me lançar para frente.
A sensação é inacreditável.
E como finalmente estar livre mais uma vez, para correr e passear por
onde eu quiser.
Ouço galhos e folhas quebrando atrás de mim.
Charlie está saltando de forma divertida entre as árvores.
Ele chuta folhas e terra em mim, sujando meu pelo loiro.
Eu chuto um pouco de volta e ele pula em mim.
Ele me derruba e saímos rolando no mato.
Agora você conseguiu!
Meus ouvidos captam o som de água corrente e minha loba começa a
me puxar em sua direção.
Eu corro para frente, e Chuck está logo atrás de mim.
Enquanto eu corro, mais manchas de sujeira cobrem meu pelo loiro
brilhante.
Mas eu não me importo.
Eu não me importo mais em estar suja ou com a minha aparência.
Quando estou com Charlie, todo o resto desaparece.
Chego a um pequeno riacho e paro no momento em que Charlie salta
por entre os arbustos.
Tento sair do caminho, mas ele acidentalmente bate em mim, jogando
nós dois para dentro.
Eu grito quando caio na água fria, Charlie aterrissa ao meu lado,
espalhando lama por toda parte.
Trocamos um rápido olhar antes de sair e nos sacudir.
Depois de um momento, Charlie vem até mim e acaricia meu
pescoço.
— Você está bem? — Pergunta ele.
— Estou bem. Sentindo um pouco de frio, — eu respondo.
Charlie faz um gesto para que eu me junte a ele, então se deita nas
raízes de uma velha árvore e eu me aconchego nele. Ele balança o rabo
em volta de mim, me aquecendo com o calor de seu corpo.
— Um último pedido, — diz ele. — Quero escutar um uivo.
Respiro fundo, inclino minha cabeça para a lua e dou um uivo longo e
profundo.
— AAAAWWWWWOOOOOO!
Charlie começa a uivar também, e nossos chamados reverberam pela
floresta.
Me sinto tão bem — é como finalmente libertar algo que eu tinha
escondido por muito tempo.
Nós nos transformamos de volta, deixando nossas roupas perto das
árvores, e caminhamos pelo palácio, nus e cobertos de sujeira.
Estamos rindo como adolescentes, totalmente maravilhados um com
o outro.
Felizmente é tão tarde que todos já estão na cama.
Quando viramos o corredor em direção ao meu quarto, eu paro no
meio do caminho.
Minha mãe está parada na minha porta, segurando Xavi em seus
braços.
— O que é isso? — ela diz, olhando para o meu cabelo desgrenhado e
corpo respingado de lama.
Antes mesmo que eu tenha a chance de responder, ela se volta para
Charlie.
— E quem é você?
Charlie está em silêncio, sem saber quem ela é.
Eu hesito.
Eu tentei evitar...
Mas aconteceria mais cedo ou mais tarde.
Vamos acabar com isso.
— Mãe, este é Charlie. Meu... meu par destinado.
Minha mãe fica vermelha.
— Par destinado?! Não, não, não! Achei que ele fosse o jardineiro! —
Ela grita.
— Mãe, sou uma mulher adulta. Eu posso escolher...
— Primeiro um criminoso procurado, agora um sem-teto!
— Criminoso procurado? — Charlie diz.
Perfeito. Obrigada, mãe.
Este não é o lugar certo. Não posso lidar com os dois ao mesmo tempo.
Eu sinto Charlie se afastando lentamente. Eu olho para ele,
implorando com meus olhos para ele ficar, antes de voltar a atenção para
minha mãe.
Eu sabia que isso seria difícil.
— Mãe, acalme-se. Charlie não é nada como Xavier. Você pode
apenas... conversar com ele e conhecê-lo primeiro?
— Ele parece um preguiçoso, — minha mãe dispara. — Olhe para
aquela barba. Qualquer homem que não esteja barbeado não tem
respeito próprio! Sem mencionar que vocês estão NUS!
— É melhor eu ir, — Charlie diz. Ele inclina a cabeça antes de correr
para longe de nós.
— O que diabos foi isso, mãe? — Eu digo.
— Eu tenho ligado sem parar para você na última hora! Você deixou
Xavi comigo e fugiu!
Eu a lembraria que ela se ofereceu para cuidar de Xavi, mas nem vale a
pena.
— Eu não sou mais uma adolescente, mãe. Você soa como se estivesse
me repreendendo! — Eu respondo.
— Não, você está muito ocupada vagando por aí comum vagabundo!
— ela responde. — Como uma mãe adolescente estereotipada,
encontrando um novo homem em vez de cuidar de seu filho!
Enquanto ela caminha de volta pelo corredor com Xavi, bato a porta.
Estou morrendo de vergonha.
Eu entro direto no chuveiro, em parte para tirar a lama e em parte
para esconder minhas lágrimas.
Por que minha mãe tem que ser assim?
Quando finalmente me sinto limpa, fecho a água e enrolo uma toalha
em volta de mim.
Eu olho pela minha janela. Charlie está deitado na traseira de sua
caminhonete, parecendo chateado.
Como faço para chamar sua atenção?
Lembrando do apito de pássaro que ele me deu, vou até minha mesa
de cabeceira e o pego, soprando dois tons quando chego à janela.
Eu vejo Charlie sentar em sua caminhonete e olhar para mim.
Dou um passo para trás e, em um minuto, ele está subindo pelo carro
de esgoto.
— Uau, o que aconteceu com você? — Eu digo enquanto ele se
aproxima.
A barba de Charlie sumiu completamente.
— Para me fazer parecer menos preguiçoso, — diz ele.
Existem linhas tênues de bronzeado onde sua barba costumava ser, as
covinhas em suas bochechas são mais pronunciadas sem os pelos e seu
queixo forte e quadrado é mais visível.
O novo visual está provocando eletricidade entre minhas pernas.
Os olhos de Charlie se arregalam antes que ele os afaste de mim.
Eu olho para baixo e percebo que estou apenas em uma toalha.
— Entre, antes que você caia, — eu digo, agarrando sua mão e
puxando-o para dentro.
Eu respiro antes de começar um discurso que preparei pela metade no
chuveiro.
— Sinto muito pela minha mãe. Ela é apenas uma velha bruxa
intrometida que enfia o focinho onde não é chamada e julga a todos
porque sua própria vida é uma merda e encontra prazer em me colocar
contra Ariel e...
Charlie coloca um dedo nos meus lábios para me impedir.
— Está tudo bem, de verdade. Já fui chamado de coisa pior.
Seu dedo contra meus lábios é tão bom.
Charlie move sua mão para minha nuca.
Eu inclino minha cabeça em direção a dele e pressiono meus lábios
contra os dele.
Em um instante, o mundo se dissolve ao nosso redor. Nós somos as
únicas coisas que importam.
Isso é muito melhor do que com Xavier.
Quando eu estava com Xavier, meu prazer sempre vinha em segundo
lugar — às vezes nem isso. Eu estava lá apenas para dar prazer a ele.
Mas com Charlie, nós dois somos iguais. As sensações em meu corpo
me fazem querer rosnar de satisfação.
Os lábios de Charlie são suaves, ao contrário do resto de seu corpo
rígido e robusto.
Suas mãos envolvem minha cintura e eu me puxo para perto de seu
peito, amando como meu corpo se encaixa no dele.
Já faz muito tempo desde que fui tocada assim.
Nós nos separamos e eu imediatamente quero seus lábios de volta nos
meus. Na verdade, eu os quero por todo o meu corpo, beijando-me entre
as minhas pernas.
Charlie começa a deixar beijos provocantes na minha mandíbula e
pescoço, do ombro à clavícula. Eu tremo de prazer.
Eu quero — não, EU PRECISO — de mais.
Eu o puxo para mais perto da cama, querendo sentir sua forma rígida
em cima de mim. Eu posso vê-lo já mexendo na calça.
Ele está empolgado!
Vou puxar minha toalha, mas assim que puxo o tecido, Charlie
estende a mão e me para.
— Não... apenas, não.
Ele desvia o olhar. Ele quer dizer algo, mas hesita.
Deusa, eu estraguei tudo.
Eu fui rápida demais.
— O que foi? — Eu sussurro. — Você não gosta de mim?
— Mais do que tudo no mundo, minha Luz do Luar, — ele sussurra de
volta. — Mas eu quero esperar... para que seja perfeito.
Suas palavras são tão doces, porque sei que são verdadeiras.
Eu o abraço, deixando seus braços fortes me envolverem.
— Oh. Chuck...
Ele ri.
— Chuck?
— E assim que você disse que seus amigos o chamam, não é?
— Acho que somos um pouco mais do que amigos, Luz do Luar!
Nós rimos juntos.
Eu amo simplesmente estar com esse homem.
De repente, ele se afasta e fareja o ar. O nariz de Chuck está se
contraindo.
— Algo errado? — Eu pergunto.
Em seguida, um alarme começa a soar por todo o palácio.
— Lá fora! — Diz Chuck.
Corremos até a janela para ver um fogo ardente à distância!
ARIEL

Alex e eu acordamos com o alarme soando em todo o palácio.


Alerta da Matilha: Incêndio na rua Scaletta 14! Todos os bombeiros
voluntários da matilha se reúnam imediatamente!
Rua Scaletta 14? Essa é a casa de Steve e Louisa!
Alex e eu pulamos da cama. Alex vai se trocar, mas já estou saindo
correndo.
— Ariel, espere, você não pode combater um incêndio assim! — Alex
chama atrás de mim, mas eu não ouço.
Desço a escada descalça e de pijama, pulando três degraus de cada vez.
Metade de mim quer se transformar, apenas para chegar lá mais
rápido.
Eu irrompo pelas portas da frente do palácio e sigo o grupo de
voluntários até o incêndio.
A casa inteira está em chamas, como se tivesse sofrido uma
combustão espontânea Todas as memórias criadas naquele lugar... tudo
engolido pela fumaça!
Eu ouço um grito de dentro.
Steve e Louisa estão presos!
Eu corro para o fogo.
Deusa, não me deixe chegar tarde demais!
Capítulo 14
QUEIME, QUERIDA, QUEIME
ARIEL

— Steve! Louisa! — Eu chamo, protegendo meus olhos das chamas.


Respiro fundo, cerro os dentes e me jogo através da parede de fumaça.
Eu posso sentir as chamas envolvendo meus braços e pernas,
queimando meu pijama fino, mas então o calor do fogo é substituído
pelo calor suave do meu poder de cura.
Uma grande brasa de uma viga do segundo andar flutua e pega meu
braço. Eu rapidamente a afasto e vejo minha pele queimada, mostrando
minha massa muscular derretida por baixo.
Mas quase imediatamente, a pele se recompõe e parece nova em folha.
Graças à Deusa da Lua!
Eu ouço um grito de um dos quartos no térreo.
Corro através do fogo e chuto a porta, fazendo a madeira fraca dobrar
com o calor e a força do meu pé.
Steve e Louisa estão presos em um canto, cercados por chamas.
Uma das vigas caiu, esmagando a perna de Louisa e prendendo-a no
chão.
Steve está tentando libertá-la, mas o calor da viga é demais para ele.
— Steve! Louisa! — Eu chamo, e ambos se viram em estado de
choque.
— Ariel! O que você está fazendo aqui?! — Steve grita, lutando para
ser ouvido acima do barulho do fogo.
Seu rosto está adornado com marcas carbonizadas, e há algumas
queimaduras desagradáveis ao longo de seus braços e mãos.
Louisa parece a mesma, embora eu possa ver o sangue escorrendo de
sua perna.
Lágrimas traçaram linhas limpas através das marcas de fuligem em
seu rosto.
— Steve, saia daqui. Vou ajudar Louisa, — digo.
— Não, eu não posso deixá-la, — ele grita de volta, tentando erguer a
viga novamente.
Ele grita de dor enquanto as palmas de suas mãos queimam.
— Vá agora! Eu vou tirá-la daqui! Vou usar meu poder! — Eu digo
novamente.
Ele lança um olhar ansioso à Louisa antes de se levantar rapidamente
e sair da mesma maneira que entrei.
Um a menos.
Eu olho para a viga. Deve ter pelo menos o dobro do peso de um
homem.
Sem mencionar o calor escaldante.
Consigo fazer isso?
Coloco minhas mãos na viga e imediatamente sinto a dor intensa do
fogo.
Não pense, Ariel!
Você tem que se manter forte!
Você tem que tirar Louisa de lá!
O calor intenso é rapidamente substituído pelo calor da minha
habilidade de cura.
Eu resmungo e me transformo parcialmente, removendo lentamente
a viga de Louisa antes de jogá-la para o lado com todas as minhas forças.
Eu olho para a perna de Louisa. Está quase dividida em duas. De jeito
nenhum ela consegue andar assim.
Eu coloco Louisa nas minhas costas, como se fosse um elevador de
bombeiro, e começo a fazer meu caminho de volta através do fogo.
ALEX

Eu corro atrás de Ariel, alcançando a casa assim que a vejo entrar no


fogo.
— Ariel! — Eu grito, correndo atrás dela.
Dom me segura enquanto tiro minha camisa.
— Deixa, Alex!
— Não, não posso! E o meu par! Ariel! — Eu grito atrás dela.
Dom ainda está me segurando quando vemos uma figura carbonizada
cambalear para fora da casa.
Steve!
Mas é só ele.
Onde está Ariel? Onde está Louisa?
— Steve, onde estão os outros? — Pergunto. Ele gesticula para dentro
enquanto tosse violentamente.
— Lá dentro... Ariel está libertando Louisa... me mandou para fora!
Meu estômago embrulha.
— Não vá, — Dom diz, dando um passo na minha frente. — Ela tem
seu poder de cura, ela vai ficar bem!
— Você não sabe disso! — Eu grito.
Eu a vi fazer milagres, curando os outros e a si mesma, mas um
incêndio? Ela pode realmente se salvar?
Estou prestes a passar por Dom e entrar correndo quando outra figura
carbonizada emerge da porta.
As chamas envolvem seu corpo nu enquanto ela sai da casa incendiada
e vai para a rua.
E Ariel, carregando Louisa sobre o ombro.
A perna de Louisa está presa por um fio.
Ariel lentamente a coloca no chão enquanto Steve corre até elas.
Ela fecha os olhos e coloca as mãos em Louisa.
Eu assisto maravilhado enquanto a perna de Louisa se junta
novamente, e as marcas de fuligem e queimaduras evaporam de seu
corpo.
O alívio toma conta de mim, mas então o pavor rapidamente o
substitui quando eu percebo Ariel está mudando de maneiras que eu nem
entendo...
E eu não sei se consigo acompanhar...
Ela abraça Steve e Louisa enquanto as equipes de bombeiros
continuam lutando contra o incêndio.
Corro com minha jaqueta e cubro Ariel.
— Ariel! — Eu digo enquanto a abraço. — Eu pensei que poderia ter
perdido você.
Eu a beijo apaixonadamente e a abraço. Ela parece atordoada, mas se
acomoda em meu abraço.
Enquanto olhamos um para o outro, eu noto os últimos cachos
castanhos de seu cabelo ficando platinados.
ARIEL

— Eu sou tão estúpida! Eu sou tão estúpida! — Louisa lamenta


enquanto os bombeiros atrás dela tentam acalmar o inferno.
— Qual é o problema? — Eu pergunto, colocando uma mão
reconfortante em seu ombro.
— O fogo — acho que esqueci de apagar as velas depois do jantar. Eu
sou tão estúpida!
— Não pode ser, Louisa. Uma vela não poderia causar tudo isso! — Eu
respondo.
Eu me viro para Alex. — Eu sei quem fez isso.
Ele franze a testa. — Como você sabe?
Eu me contorço. — Eu deveria ter te contado antes.
— Me contado o quê? Você está começando a me assustar, Ariel...
Parece tão óbvio para mim, mas Alex parece confuso.
— Fate fez isso. Ela me disse que se eu continuasse usando meus
poderes... Ela me ameaçou... Isso tem que ser obra dela!
Eu olho de volta para os destroços em chamas.
Tantas memórias perdidas.
Lembro de meus primeiros dias na Matilha Real, morando com Steve
e Louisa... Descendo a escada com o cheiro de bacon pela manhã. Alex
me chamando, jogando pedras na minha janela.
Eles são minha família, e isto é como perder minha casa de família.
— Pelo menos Steve e Louisa estão bem, — diz Alex, me consolando e
fazendo meus pensamentos ecoarem.
Nesse momento, sinto uma coceira no braço. Eu rolo a manga da
jaqueta de Alex e vejo uma pequena aranha.
Vadia de merda. Ainda me provoca!
Eu pego a aranha e a esmago entre as palmas das mãos.
NATALIA

Meia hora depois de os alarmes tocarem, os céus se abriram e a chuva


apagou o incêndio na casa de Steve e Louisa.
Assim que voltamos ao palácio, Chuck foi para sua caminhonete
depois de dizer boa noite.
Desde que ele foi embora, tenho me sentido inquieta, virando e
revirando na cama, incapaz de dormir sem ele ao meu lado.
Posso sentir minha loba lamentando e choramingando, querendo
estar perto dele como se estivéssemos na floresta.
Quando ele colocou seu rabo em volta de mim, me senti tão completa.
Eu saio da cama e vou até minha janela.
A chuva está muito forte, chicoteando o vidro.
Não consigo ver nada através das gotas na janela, então abro uma
fresta e espio.
Vejo Chuck tentando ficar confortável na carroceria de sua
caminhonete, com apenas um pedaço de lona o protegendo do vento e
da chuva.
A lona se agita e dobra sob a tempestade, antes de voar direto para
fora da estrutura de arame que a conecta à caminhonete.
Chuck salta para tentar pegá-la, mas dentro de alguns segundos, ele
está totalmente ensopado.
Eu não posso deixá-lo assim.
Eu visto um robe e o amarro firmemente em torno de mim, então
desço a escada para o corredor principal.
Em um pequeno anuário ao lado da porta da cozinha, encontro
dezenas de guarda-chuvas gigantes usados para festas de gala e visitantes
da matilha.
Pego um, mas levo um pouco de tempo para abrir o guarda-chuva — é
tão grande que não consigo segurá-lo direito.
Estou prestes a pisar no gramado quando olho para baixo e percebo
que não estou usando sapatos.
Se isso tivesse sido há um mês, eu teria subido correndo para pegar
um par.
Mas, desde que Conheci Chuck — sem mencionar a diversão que
tivemos antes, correndo pela floresta lamacenta e caindo naquele riacho,
— lama e sujeira não me assustam.
Dou um passo à frente no chão frio e úmido, deixando a lama
esmagar entre meus dedos.
Eu ouço minha loba rosnar de satisfação.
E assim que deve ser.
Eu iniciei a caminhada pela grama em direção à caminhonete de
Chuck quando o vento aumentou e levou o guarda-chuva da minha mão,
mandando-o para o céu e me encharcando.
Bem, isso não foi como o esperado.
Eu me arrasto até Chuck.
Ele parece um rato afogado, seus longos cabelos negros gradados na
testa, pingando em seus olhos.
Toda vez que ele parece ter consertado a lona, o vento aumenta de
novo e atrapalha todo o seu progresso.
— Ei, Chuck, — eu digo baixinho. Ele não me ouve com o vento
uivante, então tenho que praticamente gritar para chamar sua atenção.
— CHUCK!
Chuck se vira, afastando os longos cabelos dos olhos. Ele parece
completamente confuso por eu estar aqui, com nada além de um robe
fino para me proteger da chuva.
— Natalia, o que você está fazendo aqui? Você está ficando
encharcada! — ele grita sobre a chuva.
Eu me estico para frente e toco seu braço gelado.
Meu coração está batendo mais forte do que nunca, e cada batida
ressoa por mim como um trovão.
— Você gostaria de ficar dentro de casa esta noite?
Chuck me lança um olhar hesitante, mas eu sei exatamente o que
quero.
— Você quer... dormir no meu quarto?
Minha loba abana o rabo em aprovação, então começa a ofegar.
Ela sabe o que estou pensando...
Ninguém vai dormir esta noite.
Capítulo 15
O ESPELHO
NATALIA

Chuck sacode sua juba. Sua aparência robusta parece tão deslocada ao
lado da decoração extravagante do meu quarto.
Estremeço ao pensar em como devo estar com meu robe, mas Chuck
não parece se importar.
Ele dá um passo em minha direção, sorrindo timidamente.
As orelhas de minha loba se animam. Ela não se importa que a chuva
tenha dado ao meu cabelo uma aparência desgrenhada. Ou que nunca
me imaginei com um homem como Chuck.
Eu o pego pela mão e o levo em direção à cama.
Sentamos na beirada. Os olhos azul-gelo de Chuck encontram os
meus, e sinto que ele está prestes a dizer algo.
Eu me inclino, interrompendo suas palavras com um beijo. Seus lábios
são macios e quentes, e ele me beija de volta suavemente.
Minha loba está totalmente alerta agora.
Eu coloco minha mão na nuca de Chuck, passando meus dedos por
seus longos cabelos enquanto aprofundo o beijo.
Chuck se move na mesma direção que eu.
Eu inclino meu pescoço para o outro lado, mas acabamos batendo
nossas testas.
Eu rio enquanto nos afastamos um do outro.
— Nós dois sentimos a atração do vínculo, — eu digo.
— Te quero tanto.
— Eu também, — diz Chuck.
— Por que isso é tão difícil para nós? E como perder minha virgindade
de novo.
Chuck fica vermelho. — Uhh... Bem, na verdade...
— O que foi?
— Na verdade, eu nunca..., — diz ele. — Eu nunca...
— Você nunca fez sexo?
Chuck fica vermelho de novo. — Eu estava me guardando para meu
par.
Sinto uma pontada de culpa ao encarar seu romantismo. Ele nunca
fez sexo porque estava esperando por mim.
Considerando que eu dei uma olhada nele e corri direto para os braços de
Xavier...
— Tudo bem, — eu digo. — Eu estou aqui agora.
Eu o empurro para baixo sobre as cobertas macias e, em seguida,
monto nele e arranco sua camisa.
A princípio, Chuck parece um pouco surpreso com minha
agressividade, mas depois sorri e tira meu robe e minha camisola
também.
Seus olhos se iluminam com a visão do meu corpo, e eu sinto uma
sensação de calor se espalhar por mim.
Eu coloco a mão em seu membro, sentindo uma emoção percorrer
meu corpo ao primeiro toque.
Os olhos de Chuck se enchem de entusiasmo enquanto o guio em
direção ao meu núcleo úmido.
Nós dois gememos quando nossos corpos se encontram, e ele entra
em mim pela primeira vez.
Eu sei que isso deveria ser um grande acontecimento para Chuck —
mas é uma primeira vez para mim também. Minha primeira vez com
meu par destinado.
Realmente é como perder minha virgindade de novo.
Eu movo meus quadris contra ele.
Ele começa a assumir o controle conforme entramos em um ritmo,
entrando em mim cada vez mais forte.
Ele encontra meus olhos e coloca a mão entre nós antes que eu o guie
até o meu clitóris. Ele começa a mover os dedos contra mim, e sinto uma
energia crescente diferente de tudo que já experimentei antes.
Eu gemo de prazer enquanto suas carícias se tornam mais intensas até
que eu não posso conter minha euforia por mais tempo.
Eu estremeço quando chego ao clímax, e ele explode em mim
também. Um sorriso feliz se espalha em seu rosto enquanto nos
deitamos juntos, recuperando o fôlego.
Xavier nunca se preocupou com meu prazer.
Eu nunca senti uma conexão como a que tenho com Chuck.
Então isso é o que significa ser pares destinados...
Eu encontro seus olhos sorridentes.
Ele estende a mão e acaricia meu cabelo. — Minha Luz do Luar linda.
— ele diz.
ALEX

Quando voltamos para o nosso quarto, Ariel joga meu casaco no chão.
O fogo queimou suas roupas, e ela está mais sexy do que nunca.
Seu cabelo flui pelas costas, completamente platinado. Ele realça
quando a luz da lua entra pela janela. A cor se mistura com sua pele
macia que quase brilha de vitalidade.
Eu não consigo tirar meus olhos dela. Ela parece tão... poderosa.
Estendo a mão e toco seu ombro nu, e uma pequena emoção sobe
pelo meu braço como um choque elétrico agradável.
— O que foi? — ela diz, Virando-se.
— Você... — eu digo, dando um passo em sua direção. — Você está
radiante.
Um sorriso ilumina seu rosto. — Eu estou...
— Irresistível? Sim.
Sinto-me atraído por ela como um ímã e não consigo mais resistir. Eu
seguro seu queixo com minhas mãos e me inclino para beijá-la.
Ela me beija de volta com paixão e, embora pareça Ariel, algo mudou.
Há uma faísca entre nós — como se esta fosse a primeira vez que nos
tocamos.
Eu envolvo meus dedos em volta de sua cintura e a puxo para mais
perto. Eu desço a mão pelo seu corpo.
Ela geme enquanto meus dedos massageiam sua entrada brilhante.
Eu a pego no colo e me movo em direção à cama. Eu a coloco deitada
e subo em cima dela.
Ela estende a mão para desfazer os botões da minha camisa. Eu me
desfaço dela junto com o restante das minhas roupas.
Ela arrasta as pontas dos dedos pelo meu peito, e cada toque provoca
outra onda de emoção pelo meu corpo.
E como ser tocado pelo divino.
Ela coloca a mão no meu membro e eu sinto uma onda de eletricidade
percorrer minhas veias.
Eu a penetro com força, e ela grita em êxtase.
Eu me sinto atordoado quando entro nela. A euforia é quase demais. É
como se eu estivesse flutuando nas nuvens, vendo Ariel e eu de cima.
Ela geme quando eu coloco a mão em seu sexo novamente, e seu
cabelo platinado flutua no ar como se tivesse sido atingido por uma
rajada de vento imaginária.
Ela se junta a mim no céu enquanto eu viajo cada vez mais alto.
Seu grito amoroso perfura o ar. A lua eclipsa o sol quando nos
tomamos um. Eu me sinto estremecer dentro dela enquanto nós dois
gozamos.
Um choque mais forte do que antes eletrifica o ar e, depois de um
segundo, me sinto voltando à terra, com minha mente habitando meu
corpo mais uma vez enquanto uma brisa suave nos traz para baixo.
Eu caio na cama ao lado do meu par, nunca tendo realmente partido.
Eu viro Ariel e olho em seus olhos, que estão iluminados com o brilho
de uma lâmpada. Eles desbotam de volta ao seu amarelo girassol usual.
Ela está linda, mas eu não acho que conseguiria perder essa sensação
de olhar em seus olhos familiares. Eles são a única característica que eu
não poderia viver sem.
— Ariel, — eu digo.
Ela estica os braços e afunda no travesseiro.
— Sim?
— Aquilo foi...
Ela som. — Divino.
— Um eclipse, — eu digo. — Um eclipse total.
ARIEL

Enquanto Alex continua ofegante ao meu lado, pulo da cama depois


de um momento de silêncio. Há muita energia correndo em minhas veias
para fazer uma pausa por muito mais tempo.
Meus poderes estão tão inerentemente conectados ao mundo físico e
ao meu corpo, que ter uma experiência fora do corpo como essa foi uma
surpresa completa.
Eu me pergunto o que mais eu posso fazer?
Essa recente sobretensão em meus poderes é muito para processar. É
um pouco sufocante.
Eu entro no banheiro da suíte real para me refrescar.
A água fria toca meu rosto de forma agradável, despertando todas as
terminações nervosas do meu corpo.
Nunca me senti tão viva, tão saciada — quase invencível.
Enquanto pisco as gotas de água dos meus cílios, fico surpresa com
minha própria aparência no espelho.
Meus olhos e o formato do rosto são as únicas características que não
mudaram desde que comecei a curar de modo mais abrangente.
Meu cabelo está totalmente branco — não a cor rala de uma mulher
idosa, mas o branco vibrante e brilhante da lua em uma noite sem
estrelas.
Minha pele quase combina com meu cabelo. Estou mais pálida do que
nunca, mas me sinto saudável e forte.
Enquanto eu olho para meu reflexo no espelho, vejo minha pele
começar a brilhar mais.
O reflexo pisca e os olhos se tornam um azul prateado.
Então, sem mais nenhum aviso, o reflexo diz: — Você se saiu bem,
minha filha.
Estou assustada, mas consigo me controlar ao reconhecer a voz de
Selene.
— S-selene?
Ela sorri. — Quem mais poderia ser?
— Eu pensei que era...
— Você? — ela diz.
Eu apenas aceno. A Deusa da Lua e eu temos uma semelhança tão
impressionante agora que quase não percebi quando ela recolocou meu
reflexo no espelho.
Ela ri. — É compreensível. Nós ficamos muito parecidas.
— Por quê? — Superei o choque da aparição repentina de Selene e
estou genuinamente curiosa.
— É uma consequência do fortalecimento da nossa conexão, Ariel.
Você se conectou comigo com tanta frequência e de um modo tão
profundo ultimamente que sua aparência externa começou a refletir sua
iluminação espiritual.
Iluminação espiritual?
Eu não me sinto iluminada. Estou apenas... curando pessoas.
Eu sinto uma pontada repentina de dúvida. — E isso... o que devo
fazer com o meu dom?
Selene ri. — Você parece me confundir com minha irmã. Eu acredito
no livre arbítrio. E como eu disse, minha filha você se saiu bem Ela está
certa. E Fate quem afirma que eu sou destinada a ser acasalada com
Xavier.
O pensamento mal passou pela minha cabeça quando o espelho se
quebra.
Uma rachadura irregular vai de ponta a ponta, lançando cacos de
vidro para o chão.
Eu salto para trás para evitar os estilhaços.
Um grito alto enche meus ouvidos quando as duas metades do
espelho se separam totalmente, criando uma lacuna.
— Selene? — Eu digo.
Mas ela já se foi.
— Você não deve confiar em minha irmã, Ariel, — diz uma voz.
Eu observo ao redor, tentando encontrar quem está zombando de
mim, e então eu a vejo.
Ela emerge como que das sombras da rachadura do espelho e toma o
lugar onde sua irmã estava um momento antes: Fate.
A semelhança familiar é clara. Ela é tão pálida quanto Selene, mas seus
olhos são cavidades escuras, sem o calor da Deusa da Lua.
— Você, — eu digo antes que eu possa me impedir. — O que você
quer?
— Quero ajudar você, Ariel. — Vindo dela, parece uma ameaça. —
Você realmente não sabe quem é minha irmã. O que ela fez. Sobre o que
ela mentiu para você...
Fate faz uma pausa para avaliar minha reação.
Eu confio em Selene! Ela não faria nada para me machucar...
Faria?
Eu encaro os olhos escuros de Fate, como vazios infinitos, e ela som.
— Permita-me mostrar a você, — ela diz.
Capítulo 16
O LADO ESCURO DA LUA ARIEL
Não quero duvidar de Selene, mas minha curiosidade me impede de
desviar o olhar. Fate diz que sua irmã mentiu para mim, e eu quero saber
o que ela quis dizer com isso.
A imagem de Fate desaparece do espelho, sendo substituída pela
minha.
Mas não aparenta como sou agora. Ou até mesmo como eu era antes
de começar a curar pessoas com tanta frequência.
A imagem no espelho rachado é uma versão quase irreconhecível de
mim — acorrentada a uma mesa de laboratório enquanto Curt injeta
acônito em mim.
Eu sei que é apenas uma imagem — uma memória — mas me ver me
contorcer de dor enquanto meus ossos se quebram parece tão visceral
que é como se estivesse acontecendo comigo agora.
— Pare com isso, — eu digo. — Não consigo assistir.
Para minha surpresa, a imagem desaparece e Fate retoma ao espelho.
— Você não gosta de assistir o trabalho da minha irmã? — ela diz. — E
eu pensei que vocês duas fossem tão... próximas.
Meu coração ainda está batendo forte no meu peito, e há um zumbido
em meus ouvidos. Estou lutando para trazer minha mente de volta
daquele período...
Mas é como se eu estivesse presa na memória.
— O que você quer dizer? — Eu digo. — Você me colocou lá.
Fate solta uma risada sem humor.
— Você fez isso! — Eu digo. — Selene me ajudou a escapar. Sem meu
dom de cura...
— Sem minha irmã, — Fate diz. — Você não precisaria do seu 'dom' de
cura.
Estou chocada com tal afirmação de Fate. Nunca pensei que ela não
estaria orgulhosa em admitir seus erros.
Ela parece registrar a reserva em minhas características.
— Se você não confiar em mim, — ela diz. — Pelo menos confie na
razão. Tudo que eu queria era que você estivesse com seu par destinado,
Xavier. Por que eu faria qualquer coisa para impedir isso?
Ela tem razão... Talvez minha mente ainda esteja confusa com a
imagem da minha própria tortura, mas seu argumento está fazendo
sentido.
O que eu sei com certeza é que Fate me destinou a ficar com Xavier.
Meu sequestro foi o que impediu isso.
Se ela quisesse que eu ficasse com ele, por que ela iria querer que eu fosse
sequestrada por Caçadores?
E se ela não for a responsável por isso...
— Agora você começa a enxergar, minha filha, — diz Fate.
O uso que ela faz da frase — minha filha — me tira dos meus
pensamentos. Soa tão diferente vindo de seus lábios do que de Selene.
— Eu não acredito em você, — eu digo. — Selene não iria...
Mas não sei terminar a frase.
— Se você não confia em mim, — Fate diz. — Pergunte a ela você
mesma.
Eu quero confiar na Deusa da Lua. Eu sou um lobisomem — é como
fui criada. E, além disso, talvez eu esteja mais conectada a ela do que
qualquer outro da minha espécie.
Achei que fosse um dom...
Mas talvez seja uma maldição.
Aparentemente satisfeita em plantar a semente da dúvida, Fate
desaparece do espelho quebrado e fico olhando para mim mesma mais
uma vez.
Eu estudo minhas feições — as feições de Selene. Depois do que vi e
ouvi esta noite, não confio mais no meu próprio reflexo.
E certamente não confio na Deusa da Lua.
NATALIA
Acordo me sentindo mais descansada do que nunca.
Chuck ainda está com o braço em volta de mim, embora esteja
profundamente adormecido. Eu me aconchego mais perto dele e fecho
meus olhos novamente.
A noite passada foi mais do que eu poderia esperar.
Nunca me imaginei com um homem como Chuck. A Deusa deve
saber algo que eu não sei, porque nunca estive mais contente do que
estou agora.
Depois de alguns minutos imóvel, sinto Chuck acordar e começar a se
alongar.
Eu me viro para encará-lo.
— Bom dia, Luz do Luar, — ele diz.
Eu o beijo em resposta.
Ele suspira quando nos separamos. — A noite passada foi... linda.
Eu posso me sentir corando. — Você também acha?
Ele passa o dedo pelo meu rosto. O olhar em seus olhos representa
pura e completa admiração.
— Estou tão grato..., — diz ele, — por ter esperado por você. Você vale
a pena esperar.
Eu me sinto enjoada. Quanto mais doce ele é comigo, menos me sinto
merecedora de seus elogios.
O rosto de Chuck fica sério quando algo parece passar por sua mente.
— O que foi? — Eu digo.
— Natalia, tenho que admitir...
Ele faz uma pausa e me pergunto se ele também tem guardado um
segredo.
— Houve momentos em que perdi a fé de que um dia iria te
encontrar. Mas Fate tinha você em suas mãos o tempo todo, e eu deveria
ter confiado nela. Ela levou você a me encontrar.
Se eu me sentia enjoada antes, agora meu estômago está se revirando
de culpa.
Mas Chuck não terminou. — Quem poderia acreditar que você
apareceria praticamente na minha porta assim?
Olhando nos olhos inocentes de Chuck, sei que a pergunta é retórica.
Mas é um chute no estômago ser tão implicitamente confiável — e não
merecer essa confiança.
— Sim, — eu digo. — É...
— Incrível, — diz ele. — A Deusa está nos recompensando por nossa
paciência.
Eu sinto que se eu não o impedir, ele vai continuar até que seja tarde
demais para eu confessar.
Eu quero ser honesta e transparente com ele. Não acho que nosso
relacionamento possa continuar sem isso, mas...
— O que há de errado? — ele diz, olhando fixamente para mim. —
Tem algo em mente?
Sim, Chuck. Eu tenho mentido para você sobre quase tudo.
— Você pode me contar, — ele diz. — O que é?
Sei que parece o momento de se abrir — ele está até me pedindo isso,
— mas não acredito quando diz que posso contar Se ele soubesse que
menti para ele sobre as crenças que ele mais preza...
Ele nunca mais olharia para mim da mesma maneira.
Eu evito seus olhos azuis analíticos. Dói olhar para a preocupação
neles.
Por mais que eu não aguente mentir para ele, perder seu respeito seria
pior. Não posso arriscar perder sua confiança — não posso arriscar perdê-
lo.
ARIEL

Depois de uma noite inquieta, desço os degraus do palácio. Não


consigo me conectar mentalmente com Selene e preciso de respostas.
Estou desapontada comigo mesma por morder a isca de Fate, mas sei
que não ficarei satisfeita até que este assunto seja resolvido.
O que isso significa sobre o Selene? Sobre quem eu sou?
Não sei se estou mais brava com Fate ou Selene, mas estou prestes a
descobrir.
Eu atravesso o saguão dos fundos e sigo até a Capela da Lua.
Eu permito que meus olhos se ajustem à luz fraca. Este local está
preparado para cerimônias noturnas. É estranho estar aqui durante o dia.
Uma fiel parece surpresa quando eu entro no santuário vazio, e faço
um esforço para compor minhas feições.
— Onde ela está? — Digo sem pensar. — Onde está Selene?
A mulher, que evidentemente acabou de terminar suas orações, está
boquiaberta olhando para mim com uma expressão perplexa no rosto.
— Mas você...
É agora que percebo que minha aparência deve estar a confundindo.
Certamente, essa mulher não é uma daquelas que acredita na ideia de
que eu sou a Deusa da Lua.
— Eu sou apenas Ariel, — eu digo. — Estou aqui para ver...
Mas então eu a ouço em minha mente. — Vire-se, Ariel.
Falo novamente com a fiel: — Você se importa se eu tiver a capela só
para mim para orar?
A mulher balança a cabeça vigorosamente, ainda aparentemente
hipnotizada pela minha aparência, e sai da capela.
Eu me viro e Selene está de pé no altar.
Demoro um momento para me recompor. Mas lembro do porquê
estou aqui e não vou perder esta oportunidade.
— Fate falou comigo, — eu digo. — Sobre minhas... experiências
traumáticas.
Um olhar de compreensão se espalha pelo rosto da Deusa da Lua.
— Ela ressaltou que nenhuma dessas experiências estava destinada a
acontecer. Ela diz que... — Não suporto olhar para Selene enquanto faço
a acusação, e minha voz falha.
— Ela disse que eu fiz essas coisas acontecerem? — Selene diz. — É
isso?
Eu aceno, com vergonha de falar as palavras em voz alta.
— Bem, — Selene diz. — Eu sabia que esse dia chegaria. É verdade...
eu orquestrei seu sequestro e cativeiro.
De repente, me sinto atordoada.
Eu me agarro a um banco para me equilibrar.
Fate estava dizendo a VERDADE?!
Minha mente começa a girar descontroladamente enquanto me pego
questionando tudo. Selene foi minha salvadora. A luz no meu momento
mais escuro.
Agora eu descubro que ela é responsável pela própria crueldade da
qual ela me salvou?
Foi ela quem me fez passar por todo aquele sofrimento, tortura, dor...
Meu coração dói como se estivesse se partindo em dois como meu
espelho. Só que, desta vez, a Deusa da Lua está causando o estrago.
Eu procuro em minha alma as palavras certas, mas não encontro nada.
— Como você pôde? — Eu digo. — Como? Por quê?
— Minha filha, — diz Selene. — Você deve entender, eu fiz o que tinha
que fazer para o seu próprio bem...
Eu balanço minha cabeça com raiva.
— Confie em mim. Isso me doeu tanto quanto a você. Mas você teve
que ser destruída para ser reconstruída ainda mais forte. Você teve que
sentir dor para se tomar...
— Pare, — eu digo. — Eu não quero ouvir suas desculpas. Fui
torturada por dois anos. Não há desculpa para isso.
— Ariel...
— Você não tinha o direito. Eu costumava pensar que sua irmã era
cruel, mas isso está além de qualquer coisa que eu pudesse imaginar.
Selene nem mesmo está tentando responder agora. Ela apenas fica em
pé no altar, aparentemente esperando que eu termine.
— Por que você fez isso? — Eu digo. — Para que eu pudesse me tomar
sua curandeira? Seu fantoche? Você é pior do que Fate.
— Eu entendo sua raiva, — diz Selene. — Mas você deve entender que
foi melhor assim. Olhe para você! Você se tornou a curandeira de todo o
reino dos lobisomens.
— Mas que escolha eu tive? Você deveria representar o livre arbítrio, e
ainda assim você brincou comigo mais do que até mesmo sua irmã.
Os olhos de Selene escurecem com isso. Pela primeira vez, sua
expressão está nublada com dúvida.
Sinto as lágrimas começando a crescer atrás dos meus olhos, mas
estou muito ferida para permitir que ela as veja.
— Você é tão maluca quanto sua irmã.
Selene está visivelmente magoada com minhas palavras.
É doloroso magoá-la, mas estou irritada demais para me conter agora.
— Eu renuncio a você, — eu digo com os dentes cerrados. — Eu não
quero nada com você.
Uma lágrima prateada desliza pelo rosto de Selene, e ela desaparece
sem outra palavra. Ela desaparece como um brilho de luar abafado por
uma nuvem passageira.
Uma onda de dor me atinge e eu desabo no chão de pedra.
Capítulo 17
UMA ROSA COM QUALQUER, OUTRO NOME
ARIEL

A dor ardente continua me dilacerando por dentro.


Eu me contorço no chão por um minuto antes de conseguir me erguer
novamente.
Um terremoto parece derrubar meu mundo, deixando-me atordoada
com ondas de tremores secundários.
Eu sinto minha conexão com a Deusa da Lua esticar até seu limite e
sumir. Estou sozinha, separada da Deusa.
Quando fui rejeitada por meu par destinado, me senti confusa e
sozinha.
Quando fui banida de minha matilha de origem, me senti perdida e
sem lar.
Mas esta é a primeira vez que me desconecto da Deusa da Lua. Eu me
sinto impotente, vulnerável e fraca.
Como se eu tivesse perdido um pedaço de mim mesma.
Meu corpo parece mortal de novo, exaurido de sua vitalidade anterior.
Eu ainda me sinto traída, mas minha loba clama por algo que ela está
perdendo. Ela não entende o que está acontecendo do jeito que eu
entendo.
Isso é o que eu ganho por acusar a Deusa da Lua.
À medida que a dor diminui um pouco, lembro que, se nossa conexão
foi cortada, é melhor assim.
Eu não posso continuar amarrada a alguém tão sangue-frio.
Sempre achei que Fate era a irmã cruel e que Selene era a gentil. Eu
acreditava que Fate queria ditar minha vida, e que sua irmã queria me
ajudar a fazer minha própria vida.
Eu achava que ela apoiava minhas escolhas.
Mas eu não fazia ideia da verdade.
A verdade é que a Deusa da Lua era tão tirana quanto sua irmã, me
empurrando em direção a um destino que eu não tinha escolha. Pelo
menos Fate admite quem ela é.
O que é realmente manipulador sobre a Deusa da Lua é que ela finge
ser uma agente do livre arbítrio.
Ela me deixou acreditar que o dom de cura servia para escapar dos
Caçadores.
Na verdade, ela orquestrou meu sequestro para que mais tarde
pudesse me salvar. Estremeço ao lembrar o quão grata eu estava.
Selene me enganou. Eu me sinto mais traída do que nunca.
Mas não me arrependo de ter renunciado a ela.
Eu faria de novo em um piscar de olhos.
Selene planejou meu sequestro e Fate me destinou a um psicopata.
Que as duas vão para o inferno. Estou farta.
ALEX

— Tenho notícias de Xavier, — diz Vivian, entrando rapidamente no


escritório. — Eu ouvi dos guerreiros.
— Vá em frente, — eu digo. — Eles o pegaram?
Ela balança a cabeça. — Receio que não sejam boas notícias...
Eu aperto meus dedos e espero que ela continue.
— A equipe de Steve está rastreando Xavier para o oeste há seis dias.
No início, a trilha era nova, promissora...
Ela faz uma pausa. — Mas agora eles me dizem que ela... desaparece.
Completamente.
— O quê? — Eu digo. — Como assim? Eles têm alguns dos melhores
rastreadores do reino entre eles.
Como um lobisomem pode superar todo o meu exército? Como Xavier
pode me enganar?
— Não sei, — ela diz. — Mas eles dizem que é como se ele tivesse
evaporado no ar.
Sinto meu sangue começar a ferver.
— Eu sei que essa não é a notícia que você queria ouvir..., — diz
Vivian. — E me sinto especialmente responsável.
Eu deixei meu brilho encontrar seus olhos por um momento. Ela foi a
pessoa que libertou o desgraçado.
Uma expressão preocupada se instala no rosto de Vivian, e eu suavizo.
Não quero desviar minha raiva. E Xavier que eu quero colocar em
minhas mãos, mais ninguém.
— Já falamos sobre isso, — eu digo. — Eu não culpo você.
— Obrigada, — ela diz, sua voz menos confiante do que o normal.
— Você provou sua lealdade desde então. Não se culpe. Esse psicopata
teria encontrado uma maneira de causar problemas de uma forma ou de
outra.
Vivian acena com a cabeça.
— Agora, se isso é tudo...
— E, — ela diz. — Vou deixá-lo com seu trabalho.
Ela sai do meu escritório e eu coloco minha cabeça em minhas mãos.
Eu tinha certeza de que o pegaríamos. Que finalmente o levaríamos à
justiça.
Mal posso esperar para colocar minhas mãos nele e torcer seu
pescoço.
Ariel não vai me parar neste momento.
Eu me levanto com relutância. Boas ou más notícias, devo atualizar
meu par sobre esse recente fato. Eu sei que ela vai ficar tão desapontada
quanto eu.
Não é possível — evaporar no ar.
Onde diabos ele está?
ARIEL

Alex me encontra no escritório. Estou encolhida na minha cadeira


favorita, tentando me sentir inteira novamente quando ele entra na sala.
Eu registro o choque em seu rosto quando ele me vê.
— Ariel, — diz ele, cruzando a sala rapidamente. — Você parece...
— Como eu de novo? Eu sei.
Ele acaricia meu cabelo, que voltou ao tom castanho natural. — O que
aconteceu?
— Eu renunciei à Deusa da Lua. — Sei que se há alguém que vai
entender o que fiz, é ele. — Ela — ela...
Não sei por onde começar, mas tenho que ser honesta. Tenho que
pelo menos dar a ele uma chance de entender.
Alex fica pálido ao perceber a gravidade do que fiz, mas seu tom
permanece calmo. — O que ela fez?
Meu coração aquece com sua resposta.
Ele não me culpa por rejeitar a divindade que todos os lobisomens
deveriam adorar. Ele imediatamente confia que eu tenho um bom
motivo para o que fiz Finalmente, as lágrimas que venho segurando
desde que vi Selene na capela começaram a cair.
— Ela — ela enviou os Caçadores para me sequestrar, — eu digo. —
Não foi Fate. Foi ela.
Alex pega minha mão. — O que você quer dizer? Não pode ser...
— Fate me contou, e Selene admitiu. Ela disse que me torturou 'para o
meu próprio bem'. Eu consigo acreditar nela... eu confiei nela...
Alex parece enojado, mas não responde. Ele apenas balança a cabeça
como se estivesse sem palavras.
— Eu sei que Fate está tentando entrar na minha cabeça. Mas Selene
admitiu a coisa toda também. Ela é tão ruim quanto Fate.
Contar a história me faz sentir como se a estivesse vivenciando pela
primeira vez de novo, e ondas de emoção começam a tomar conta de
mim.
— Eu sinto muito, Ariel, — Alex diz, envolvendo seus braços em volta
de mim. — Essas duas fizeram você passar por tanta coisa...
Eu me inclino em seu peito enquanto ele me abraça.
— Você acha que talvez seja capaz de perdoar Selene?
— Como? Eles me algemaram em prata e me injetaram acônito. Eles
me forçaram diversas transformações e me trataram como um cachorro.
Se eu não posso perdoar os Caçadores, como posso perdoar a pessoa que
me enviou a eles?
O rosto de Alex escurece enquanto eu conto minhas aflições.
Eu suspiro, cobrindo meu rosto com as mãos.
— Ariel. — Alex se ajoelha para que seu rosto fique no meu nível.
Eu deixo minhas mãos caírem e encontro seus olhos.
— Que tal uma caminhada? — ele diz.
Eu aceno, limpo meu rosto com um lenço de papel e me levanto.
Enquanto descemos os degraus do palácio e entramos nos jardins,
Alex pega minha mão.
— Eu costumava culpar a Deusa depois que Olivia morreu...
Quando os Caçadores estavam me torturando, Alex estava perdendo
seu par destinado.
Se estou passando por uma crise de fé agora, ele certamente passou
naquela época.
— Como posso dizer isso? — Ele me olha sério. — Não tem um jeito
bom de...
— O quê? — Digo, confusa. Onde ele está indo com isso?
— Ariel, estou tão grato por ter conhecido você. Você mudou minha
vida...
Mesmo depois de todo esse tempo, meu coração desabrocha ao ouvi-
lo dizer essas coisas. Mas sinto que ele não terminou, então espero que
ele continue.
— Agora, quando digo que estou grato por ter conhecido você... Estou
dizendo que estou feliz por meu primeiro par ter morrido? Claro que
não.
Eu aceno. Faz sentido.
Alex se apaixonou por mim por quem eu sou. Ao contrário de quando
ele estava com Lola, ele não está tentando substituir Olivia por mim.
Somos pessoas diferentes.
— Mas isso não teria acontecido, — diz Alex, — se ela não tivesse
morrido. Essas questões são demais para um lobisomem às vezes.
— Talvez até para uma Deusa, — eu digo.
— Talvez, — ele diz, parando em uma roseira. — Mas se você ser
torturada trouxe você até mim...
Ele agarra uma rosa pelo caule e arranca-a do arbusto.
— Bem, então eu sinto a mesma coisa sobre isso como perder meu
primeiro par. Eu não queria que isso acontecesse, mas amo estar com
você.
Ele me entrega a rosa. Quando vou aceitá-la, um espinho em seu caule
perfura a pele do meu polegar.
Eu estalo minha mão de volta com a repentina pontada de dor.
— Desculpe, — diz Alex, retirando a rosa.
— Não se preocupe, — eu digo.
Eu examino o pequeno corte: uma gota de sangue está escorrendo
pela minha mão do ferimento com o espinho.
Por que não está curando? Normalmente, ele estaria fechando agora.
Limpo o sangue e concentro minha energia no ferimento. Eu fecho
meus olhos, respiro fundo e tento fechar a pequena lacuna na minha
pele.
Quando abro os olhos, meu polegar ainda está doendo e ainda estou
sangrando.
Por que não para?
Alex me olha confuso.
— Vou tentar de novo, — digo.
Eu reúno todas as minhas forças e direciono-as para unir a minúscula
fatia de pele.
Não sinto a passagem normal de energia. E, quando desisto, o corte
está sangrando como antes.
Agora não tenho dúvidas em minha mente...
Quando cortei minha conexão com Selene, perdi minha capacidade
de cura.
O que eu fiz?
Capítulo 18
DESPEDIDA FINAL
ALEX

Ariel parece perturbada — quase com medo — ao perceber que ela


não tem mais nenhum poder de cura.
— Não acredito que fui tão estúpida! — ela diz. — O que eu vou fazer
agora?
— Vai ficar tudo bem, amor, — eu digo. — Você não precisa de
poderes para ser uma rainha incrível.
— Mas eu preciso deles para ajudar as pessoas, — diz ela. — Quem vai
curar a todos agora?
— Essa responsabilidade nunca deveria ter sido sua. Ninguém pode
curar um reino inteiro. Talvez seja melhor assim... Agora você pode
finalmente descansar.
É ruim eu me sentir... aliviado?
Eu quero proteger meu par das demandas da matilha...
— As pessoas vão se machucar, Alex, — ela diz. — Não se trata apenas
do meu ego.
Eu sei disso. E eu sei que ela não queria me irritar.
Pelo som das lágrimas em sua voz, eu sei que Ariel está levando isso a
sério. Ela deve realmente acreditar que é sua responsabilidade garantir
que ninguém no reino se machuque.
— Você já fez muito bem. Ninguém deve esperar mais.
— E aquelas multidões de pessoas que precisam de ajuda? Alguns
deles vão morrer...
— Eu acho que Fate não teria permitido que você interferisse por
muito mais tempo, de qualquer maneira, — eu digo. — Sério... Pode ser
melhor assim.
Ariel parece que vai chorar de novo.
Eu largo a rosa no chão e a envolvo em um abraço. — Vai dar tudo
certo.
— E a matilha? — ela diz em meu peito. — E...
— Vou explicar tudo para a matilha.
— Você vai?
— Claro. Eles vão entender. Eu não quero que você se preocupe.
— Você não acha que eu cometi um erro?
Isso me faz parar e pensar. Eu sei que tenho que ser honesto com
Ariel, mas não sei a resposta para essa pergunta.
Não gosto que as Deusas a tenham usado como peão em sua briga
fraternal. Talvez fosse certo se distanciar delas.
— Alex? — ela diz. — Você não respondeu minha pergunta.
Eu suspiro. — Eu honestamente não sei. Mas lamento que você já
tenha estado na posição de ter que fazer essa escolha. E estou orgulhoso
de quão forte você é.
Será que acabou mesmo?
NATALIA

Parece que somos uma família e não me sinto assim há muito tempo.
Estou com Chuck e Xavi em um dia perfeito no local perfeito para um
piquenique — no pomar do palácio.
— Purê de maçã para o pequenino? — Chuck abre o pequeno pote e
pega uma colher.
Xavi sorrj e abre bem a boca enquanto Chuck o alimenta, limpando o
queixo a cada colherada.
Estou continuamente surpresa com Chuck. Eu não teria pensado que
este homem recluso seria tão bom com crianças.
Ele já é um pai melhor para Xavi do que Xavier. E isso me lembra que
ainda preciso contar a história completa para Chuck...
Quando Xavi se recusa a comer seu purê de maçã, Chuck come até
que o bebê o agarre novamente. Eu assisto, satisfeita em ver a conexão
entre eles crescendo.
— Chuck..., — eu digo. — Você deve estar curioso sobre o pai de Xavi.
Chuck não tira os olhos de Xavi, mas vejo suas sobrancelhas franzirem
um pouco antes de responder. — Naturalmente.
— Ainda não falei sobre ele porque não é um assunto fácil...
— Você não precisa me contar.
— Mas eu quero! — Eu digo com força demais.
Chuck se inclina para frente e deixa Xavi puxar seus longos cabelos.
Ele não me responde, e sei que está esperando que eu continue.
— O pai de Xavi não é presente na vida dele. Ou na minha. Xavier se
recusa a reconhecer seu filho...
As linhas na testa de Chuck ficam mais ressaltadas. — Você quer dizer
o Xavier? Aquele que eles estão tentando rastrear?
Eu concordo. — Ele não é um bom homem...
Chuck espera que eu explique.
— Ele me traiu. Ele abusou de mim. Ele... Não há muito que ele não
tenha feito.
Chuck se vira para mim e encontra meus olhos. — Eu sinto muito,
Natalia. Você merece o melhor.
Não quero que haja segredos entre nós, então prossigo: — Ele é um
criminoso. Ele foi condenado, mas escapou... Ele é perigoso, e às vezes
fico com tanto medo que ele apareça e...
Não sei como terminar.
— Está tudo bem, Luz do Luar, — Chuck diz, envolvendo um braço
em volta de mim.
Eu seguro um soluço.
— Eu vou te proteger agora. O que aconteceu não é sua culpa, e eu
sinto muito que você teve que passar por isso.
Eu quero ser honesta. Quero dizer a Chuck que é minha culpa. Eu
sabia quem era meu par destinado, e escolhi Xavier de qualquer maneira.
Mas também quero que Chuck continue me apoiando. E temo que se
eu contar esse último detalhe, ele vá embora.
ARIEL
Ainda estou abalada enquanto desço os degraus do palácio e entro
pela porta da frente.
No entanto, acima de tudo, estou magoada com a traição de Selene.
Ainda não consigo acreditar que ela pode justificar me mandar aos
Caçadores para ser torturada.
Ter sido decepcionada por alguém em quem tinha tanta fé só reforça a
importância dos relacionamentos em que posso confiar.
Nunca mais vou considerar um amigo verdadeiro como algo garantido.
E, por falar em amigos, Amy e Marius devem partir para a Matilha das
Escrituras a qualquer minuto.
Mesmo que eu esteja uma bagunça completa, eu preciso ver se eles
têm uma despedida adequada.
A Matilha das Escrituras não está muito longe, mas toda vez que me
separo de Amy, parece que é a última vez que a verei.
À medida que Marius continua a mergulhar em seu passado, faz
sentido que o casal divida seu tempo entre a Matilha Real e a Matilha das
Escrituras, mas odeio ver Amy partir para mais uma visita.
Vejo que o carro deles já está estacionado do lado de fora do palácio e
aceno à distância ao me aproximar deles.
Marius está enfiando as malas no porta-malas e Amy, ao que parece,
está supervisionando o trabalho pesado.
— Amy! — Eu digo. — Você está saindo agora?
— Assim que Angel estiver satisfeito jogando Tetris com as malas, —
ela diz.
— Desculpe, senhorita, — diz Marius, — mas a maioria delas são suas.
Envolvo Amy em um abraço apertado. — Eu vou sentir saudade.
Amy parece surpresa. Normalmente não sou a amiga mais emotiva,
mas foi um dia difícil.
— Eu também vou sentir saudade, — ela diz.
— Não demore muito, — eu digo enquanto nos separamos.
— Eu prometo. Gostei do cabelo novo, aliás, — diz ela. — Bem, o
cabelo antigo... fica melhor em você.
— Obrigada.
— Você e Alex ainda precisam de férias decentes, — diz ela, olhando
para mim com preocupação.
— Talvez vocês possam ir até a Matilha das Escrituras um dia desses, e
todos iremos para a praia.
— Seria legal, — eu digo. — Vamos fazer acontecer.
Marius finalmente fecha o porta-malas. Também dou um abraço de
despedida nele.
Eles entram no carro e começam a seguir pela estrada.
Eu aceno, desejando que eles ficassem. Eu realmente poderia usar o
apoio de Amy agora, mas ela tem sua própria vida.
Eu me xingo por ser melodramática. Ela estará de volta.
O carro de Amy e Marius segue seu caminho descendo a colina.
Vou sentir falta deles.
Eu aceno dos portões do palácio até que o carro se tome apenas uma
mancha vermelha à distância.
Quando finalmente paro de acenar, ouço uma voz fria no vento:
— Você se saiu bem, minha filha.
Fate.
As palavras fazem meu coração apertar de dor. São as mesmas palavras
que recebi uma vez da Deusa da Lua, mas agora estou ouvindo de sua
irmã.
Não sinto nada da tranquilidade que senti quando ouvi essas palavras
pela primeira vez. Agora o pavor toma conta de mim, e luto para
responder com confiança.
— O que você quer? — Eu digo.
— Eu só queria dizer que estou, orgulhosa de você.
— Você cortou sua conexão com minha irmã.
— Não deve ter sido fácil cortar a Deusa que tem manipulado você
durante toda a sua vida adulta.
— E sério isso? — Eu digo. — Você vai falar comigo sobre
manipulação? Eu pensei que tinha cortado vocês duas.
Uma pequena brisa me atinge, e é como se o próprio vento estivesse
rindo sombriamente.
— Eu cortei relações com vocês duas. Eu não vou jogar seus jogos.
— Se ao menos você tivesse escolha...
— Eu renunciei à sua irmã, — eu digo. — Desisti do meu dom de
cura... Certamente você está satisfeita agora?
— Ah, minha filha..., — diz Fate. — Você ainda tem muito que aprender.
Não ficarei satisfeita até que você esteja com seu par destinado.
— E, quanto aos seus amigos, há fios que estive destinada a tecer muito
antes de você cortar sua conexão com minha irmã.
O sangue drena do meu rosto enquanto eu me pergunto quem essa
deusa terá como alvo a seguir.
Eu olho para o meti polegar em frustração, examinando a crosta no
corte que eu não consegui curar.
— Não se preocupe, minha filha, — diz Fate. — Desta vez, deixei você
dizer seu último adeus.
À medida que entendo o que está acontecendo, começo a suar frio.
— Espere, — eu digo. — O que você quer dizer? Algo vai acontecer
com Amy ou Marius?
Uma forte rajada de vento me atinge e passa por entre as árvores
como se transportasse Fate para causar danos em outro lugar — Fate! —
Eu digo. — Por favor!
Mas ainda não há resposta e não tenho tempo a perder. Se as palavras
dela significam o que eu acho que significam, eu preciso ir.
Eu me viro e corro pela estrada, em direção à garagem.
Pego as chaves do gancho na parede e subo na minha motocicleta. O
motor gira por um momento, então eu saio com apenas um propósito
em minha mente.
Eu tenho que avisá-los.
Achei que poderia rejeitar as duas deusas, mas parece que sempre terei
que escolher uma em vez da outra.
E, agora, acho que escolhi a irmã errada.
Meu coração aperta enquanto eu dirijo pela rodovia.
O tráfego está se tornando um engarrafamento, mas corto entre os
carros e vejo — uma nuvem de fumaça pairando sobre os destroços de
um veículo vermelho.
Está completamente destruído, projetando-se através de uma mureta
quebrada.
Meu coração para.
Cheguei tarde demais...
Capítulo 19
IMPOTENTE
ARIEL

Paro minha motocicleta em frente aos destroços.


Marius irrompe do lado do motorista, com o rosto machucado e
ensanguentado.
Ele aponta freneticamente para o veículo. — Preciso... de ajuda...
Eu corro com ele para o lado do passageiro do veículo e tento abrir a
maçaneta.
O teto do carro desabou e não há como dizer os danos internos...
Mas a porta não se move.
E Amy lá dentro. Eu deveria estar perdendo minha cabeça — chorando
e gritando de dor e preocupação.
Mas eu sinto meu treinamento de guerreiro entrar em ação enquanto
meu corpo responde à crise em mãos sem perder o ritmo.
— Transforme seus membros, — eu digo.
Marius segue meu comando e eu me transformo com ele. Podemos
não ter tanta destreza nesta forma, mas não há como termos força
suficiente enquanto somos totalmente humanos.
Eu mantenho minhas mãos em forma humana para que possa agarrar
as portas, mas agora tenho a força da minha loba em meus braços
enquanto puxo ao lado de Marius.
E isso funciona.
Marius e eu conseguimos abrir a porta de Amy.
Ela está inconsciente. E há sangue — muito sangue.
Tentamos puxá-la para fora. O braço dela está preso e Marius dá um
soco no teto com a pata até ela finalmente estar livre do veículo
fumegante.
Com cuidado, nós a levantamos juntos e a carregamos para uma
distância segura longe do carro.
O peso de Amy inconsciente em meus braços traz à tona o que esse
momento significa pela primeira vez.
Enquanto eu estava lutando para libertá-la do carro esmagado, minha
adrenalina não me permitiu pensar um segundo.
Mas agora que estou deitando-a na beira da estrada, penso que: eu
poderia perdê-la.
Eu olho para o rosto ensanguentado de Marius e percebo que ele
espera que eu cure seu par.
Eu tenho que tentar...
Eu coloco minhas mãos no peito de Amy.
Tento curá-la.
Eu tenho que curá-la.
Não pode ser o fim para Amy.
Não pode ser.
Assim como quando tentei curar o corte no meu polegar, não senti
nada.
Não há aquela onda familiar de energia fluindo pelas pontas dos meus
dedos. A única coisa fluindo é o sangue de Amy, para fora de seu corpo.
Mas eu não desisto. E Amy. Eu não me importo com o que tenho que
fazer para salvá-la, eu farei de tudo. Eu vou fazer isso acontecer. Não
consigo imaginar viver comigo mesma se ela morrer Será minha culpa —
abri mão do meu dom.
Eu tento falar com a Deusa da Lua em minha mente, orando por
misericórdia.
— Selene...
— Por favor, restaure em mim a capacidade de curar, só desta vez.
— Se você não me ajudar, pelo menos poupe Amy.
— Por favor, Selene.
Mas não há resposta. Nem um sussurro na brisa. Nada.
Os carros continuam passando zunindo por nós na rodovia, e me
lembro que o tempo está passando enquanto a vida de Amy está se
esvaindo. Eu olho para Marius.
— Eu não consigo, — eu digo. — Eu sinto muito.
— O quê? — ele diz. — O que você quer dizer com você não consegue?
— Quer dizer que estou tentando e falhando!
— Bem, tente mais, caramba!
Ele cai de joelhos e começa a orar para a Deusa da Lua.
Isso não vai funcionar agora...
— Chame uma ambulância! — Eu digo, tentando trazê-lo de volta à
realidade. — Rápido!
Finalmente, parecendo perceber a sinceridade em minha voz, ele se
atrapalha com seu telefone e o deixa cair no desespero.
Estendo a mão para discar para ele, mas o que vejo me faz congelar.
Marius consegue discar o número enquanto olho para as minhas
mãos, cobertas com o sangue quente de Amy.

Alex e eu estamos sentados na sala de espera do hospital.


Já estive nesta sala tantas vezes e a sensação é sempre a mesma.
Incerteza.
Está rapidamente se tornando meu sentimento menos favorito. Estar
esperando grandes notícias e não saber se Fate vai balançar seu pêndulo
para a esquerda ou para a direita é enlouquece dor.
Marius acaba de ser chamado para falar com o médico em particular, e
Alex e eu estamos esperando que ele volte com notícias.
Boas? Ruins? Não sabemos.
Nesta sala, cinco minutos parecem cinco horas.
Estou batendo os dedos incontrolavelmente, transbordando
nervosismo em qualquer oportunidade. Alex coloca sua mão na minha.
Eu paro meus dedos, mas meu coração continua acelerado.
Uma porta se abre e Marius vem em nossa direção. Por baixo do rosto
enfaixado, sua expressão é pesada.
São hematomas ou ele estava chorando?
Ele apenas balança a cabeça quando chega até nós.
Minha respiração fica presa enquanto espero por ele para encontrar as
palavras.
— O médico disse que... Eles induziram o coma. Ela está no suporte
vital. Mas o trauma foi grave. Eles não esperam que ela sobreviva.
Quando as palavras saem, Marius desaba na cadeira ao meu lado e as
lágrimas escorrem silenciosamente de seus olhos machucados.
Eu salto da minha cadeira sem pensar e corro pelas portas de vaivém.
Encontro o quarto de Amy quase imediatamente e me aproximo de
sua cama.
Ela parece um pouco abatida, mas não à beira da morte. Ela ainda se
parece com ela mesma — apenas dormindo.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto coloco minhas mãos em
seu peito mais uma vez.
Tento novamente, e novamente não há resposta.
— Por favor, Deusa, — eu digo em voz alta. — O que eu tenho que
fazer?
Minha voz aumenta enquanto continuo tentando trazer Amy de volta.
— Eu faço qualquer coisa. Eu estou te implorando... Apenas me diga!
Alex entra na sala atrás de mim e envolve seus braços em volta de
mim.
Eu começo a soluçar enquanto ele tenta gentilmente me afastar da
cama de Amy.
Eu sei que falhei. Nunca me senti tão fraca em minha vida. Eu não sei
o que fazer, e minha mente começa a ficar fora de controle enquanto
Alex me puxa para longe de Amy.
— Chega, Ariel, — ele diz. — Você fez tudo o que podia nesse
momento.
— O que e-e-eu fiz? — Eu digo através das minhas lágrimas. — O que
eu fiz além de abrir mão do meu dom... minha amiga...
— Shhh, acalme-se, — ele diz. — Me deixe te levar para casa.
Eu permito que Alex me guie para o cone dor.
Eu soluço, tentando parar de chorar antes de chegarmos à sala de
espera.
Imagino que Marius ainda esteja lá e não quero que ele me veja assim.
Já é difícil para ele...
Agora falhei em curar seu par duas vezes.
Tenho que encontrar uma maneira de proteger Amy — e todos os
meus entes queridos — sem meu dom de cura.
Eu sei que não posso confiar na Deusa da Lua. E eu sei que não posso
confiar em Fate.
Mas talvez eu não precise confiar nelas... Talvez elas ainda poupem
minha família e amigos. Talvez elas poupem Amy.
Talvez seja o suficiente apenas para dar a elas o que elas querem...
Já que Selene não responde minhas orações, sou forçada a voltar para
Fate.
Ela começou a ter como alvo minha família e amigos porque eu me
recusei a obedecer a sua vontade.
Fate não é como sua irmã. Ela não precisa ser amada e confiável como
uma amiga. Tudo o que ela parece querer é poder.
E se eu cedesse à Fate?
Alex aperta minha mão enquanto me leva para fora do hospital, e me
lembro o que significa ceder à Fate.
Ela quer que eu acasale com Xavier.
Eu me viro para Marius, que está caminhando do meu outro lado.
— Não desista, — eu digo. — Não sei como, mas... Vou encontrar uma
maneira de restaurar minha conexão com a Deusa da Lua. Vou salvar
Amy antes… antes que...
Marius me interrompe, agarrando meu braço enquanto eu falo.
Alex e eu nos voltamos para ele.
Marius parou de andar como se de repente tivesse congelado. Ele tem
uma expressão selvagem no rosto.
Ele é um homem que quase perdeu seu par, e a princípio me pergunto
se ele está passando por algum tipo de choque.
Eu olho para Alex, que parece tão confuso quanto eu.
É
Volto minha atenção para Marius enquanto ele tenta falar: — É que...
Ariel... por que não pensei nisso antes… acho que... talvez...
Ele me lembra uma criança com uma ideia tão grande que só precisa
colocar tudo para fora de uma vez.
A confusão de palavras não significa nada para mim, mas ele
conseguiu transmitir sua empolgação e, ouso dizer, esperança?
— Amigo, — diz Alex, colocando a mão no ombro de Marius. —
Queremos entender você, mas você tem que ir devagar.
Marius parece entender isso. Ele respira fundo várias vezes e fala mais
devagar dessa vez, embora sua voz ainda esteja tremendo.
— Seus poderes de cura não estão funcionando porque você foi
desconectada da Deusa da Lua, certo?
— Sim. Na verdade fui eu quem...
— Não se preocupe com isso, — diz ele, aparentemente impaciente
para continuar. — Você só precisa recuperar sua conexão, e então você
pode curar Amy.
Estou desapontada. Achei que ele pudesse ter descoberto algo, mas
agora acho que ele pode estar perdendo a cabeça.
— Sim, mas eu tentei... — eu digo.
— Se uma conexão cortada com a Deusa é o problema, — diz Marius.
— Acho que sei exatamente onde podemos ir para consertar isso.
Meu coração pula na minha garganta.
— Para onde eu preciso ir? — Eu digo. — Me diga.
Farei de tudo para salvar Amy. Eu só preciso de orientação. Estou no
fim da linha e, a essa altura, vou agarrar qualquer coisa.
— A Matilha das Escrituras, — diz Marius. — Para o nosso lugar mais
sagrado. Há um templo lá onde muitos afirmam comungar com o divino,
não importa quão graves sejam seus pecados...
Eu renunciei completamente à Deusa...
Mesmo que eu esteja disposta a dar a Selene uma segunda chance...
Meu coração bate tão forte que minha cabeça zumbe e minha
garganta se fecha em torno da pergunta: Ela vai me dar uma?
Capítulo 20
SEGUNDAS CHANCES
ARIEL

— Chama-se Farol da Deusa, — diz Marius. — Ele aponta o caminho


para a Deusa da Lua, independentemente de quão perdido você esteja.
— Mas como é diferente de qualquer outro templo? Por que ela me
aceitaria lá, se ela não me reconhece aqui?
— Ela fez uma promessa à Matilha das Escrituras quando o
construímos para ela. É o presente dela para nossa matilha como uma
recompensa por sermos seus seguidores mais leais.
Eu me pergunto se o que Marius está dizendo realmente se aplica a
mim. Não confio na Deusa da Lua e sei que ela também não deve estar
feliz comigo.
Eu olho para Alex.
— Vamos, — ele diz. — Vou pedir a Dom e Vivian para segurarem as
coisas por aqui.
— Faremos uma parada no palácio e nos prepararemos para a viagem.
— Eu me viro para Marius novamente. — Você vai nos guiar até lá?
— Claro, — ele diz. — Amy é meu par. Eu farei o que puder.
Eu aceno. Não estou confiante de que esse empenho terá tanto
sucesso quanto ele parece acreditar, mas não vou frustrar suas
esperanças.
Há uma diferença entre um pecado menor e renunciar à Deusa que
lhe deu o seu dom.
Não sei se Selene poderá me perdoar por isso.
NATALIA

Eu preciso consertar as coisas. Convido Chuck para um passeio.


Eu não fui tão transparente quanto queria ser ontem.
Chuck segura a porta ornamentada do palácio para mim enquanto
saímos.
Para um homem que fica mais confortável dormindo em sua
caminhonete do que em uma cama adequada, ele parece estar se
adaptando facilmente à vida no palácio.
Ele se curva quando eu passo por ele, e eu não posso evitar, mas solto
uma risadinha.
Então, quando começamos a passear pelo caminho de cascalho, fico
séria novamente. Eu pretendo ser honesta.
Mais honesta.
— Sobre o que eu disse ontem..., — eu digo.
— Sim, Luz do Luar?
— Eu só quero deixar claro. Tenho vergonha de ter acabado com um
homem como Xavier.
— Não se arrependa de suas ações, — diz ele. — Isso negaria as lições
que a Deusa estava lhe ensinando por meio de suas experiências.
Mas eu me arrependo de minhas ações. Como não me arrependeria?
— Eu não esperava que você esperasse por mim como eu esperava por
você, — diz ele. — É só que desde que eu cheirei você pela primeira vez,
eu não poderia imaginar estar com outra pessoa.
Deusa...
— Além disso, você não sabia onde estava o seu par destinado, ou
tinha qualquer maneira de saber que tipo de homem Xavier viria a ser.
Mas eu sabia dessas duas coisas.
Para ser justa, eu só sabia que Xavier tinha um lado cruel — eu não
fazia ideia de que ele acabaria se tornando um monstro. Mas ainda assim,
eu estava tão obcecada com seu status que ignorei todos os alertas.
Chuck me impede de dar mais um passo e olha direto nos meus olhos.
— Sinto que você está remoendo o passado. Mas o passado é apenas isso
— coisas que passaram — O que quer que esteja lá atrás, podemos
começar nosso futuro juntos.
Meu coração aquece ao ouvi-lo dizer isso. Talvez ele esteja certo.
Eu não preciso contar a ele. Podemos começar do zero agora.
ARIEL

Alfa Lucius nos cumprimenta quando entramos na Matilha das


Escrituras. Ele se levanta como se estivesse antecipando o momento
exato de nossa chegada.
Esta matilha de lobisomens religiosos — antes tão estranha e distante
para o restante de nós — rapidamente se tomou um dos meus grupos
favoritos de pessoas.
E hoje, sua piedade pode apenas livrar Amy do perigo.
— Irmão, — Lucius diz, envolvendo seus braços tatuados ao redor de
Marius. — Lamento muito que a Deusa tenha lhe dado este julgamento.
— Obrigado, Lucius, — diz Marius. — Vamos orar para que termine
logo.
Eu não gosto do som disso.
Os irmãos podem achar reconfortante, mas não posso deixar de
lembrar que, se eu falhar aqui, como já falhei tantas vezes
recentemente... Esta provação pode chegar ao fim, mas não do jeito que
queremos.
Não há tempo a perder com conversa fiada.
— Poderiam me levar ao templo? — Eu digo a ninguém em específico.
Lucius olha para Marius. — Tudo bem se eu te acompanhar?
Marius acena com a cabeça. — Mostre o caminho.
Alex coloca o braço em volta dos meus ombros e seguimos os dois
irmãos pela cidade.
As pessoas nos encaram — não porque somos rei e rainha — mas
porque somos estranhos. Tento não olhar para suas lindas tatuagens.
Tenho uma dedicada aos meus esquadrões, mas nenhuma à Deusa da
Lua.
Talvez isso diga algo sobre minhas prioridades...
Ainda assim, meu esquadrão não teria me entregado aos Caçadores.
Eu afasto o pensamento da minha cabeça. Eu deveria estar me
arrependendo.
Minha respiração fica presa na garganta enquanto tento me preparar
mentalmente para o que está para acontecer.
Estou nervosa em pensar que a Deusa da Lua pode não aparecer para
mim. Mas também estou com medo de vê-la novamente se ela voltar.
Ela deve estar com raiva por eu ter renunciado a ela.
Como vou convencê-la a restaurar meu dom?
Lucius e Marius nos levam por um caminho de terra, e através de um
bosque denso, até que deixamos completamente a cidade para trás.
Se Lucius não estivesse pisando com tanta precisão, eu pensaria que
estávamos perdidos.
Eventualmente, nos encontramos em uma praia.
Diante de nós, sobe um penhasco com um caminho perigoso
serpenteando desde a areia até seu pico rochoso.
Uma torre branca aparentemente interminável ergue-se no topo da
encosta, onde o sol se põe.
O Farol da Deusa.
Todos nós respiramos fundo antes de prosseguir.
Eu não tinha ideia de que a Matilha das Escrituras tinha um terreno
como este.
Lucius mostra o caminho subindo por bem mais de uma hora
enquanto Marius, Alex e eu o seguimos, escolhendo o caminho
cuidadosamente pelas rochas íngremes.
Embora não seja uma escalada fácil até o pico, seguimos avançando.
Eu mantenho meus olhos na torre, que só parece ficar mais alta à medida
que nos aproximamos.
Conforme chegamos mais perto e eu forço meus olhos, ainda não
consigo ver o topo dela — ela desaparece nas nuvens acima.
Não é por acaso que Selene os favoreça...
Como a Matilha das Escrituras conseguiu trazer tanto mármore até
aqui, me surpreende.
À medida que alcançamos o cume e nos aproximamos da torre no
nível do solo agora, Marius finalmente fala: — E aqui que ela restaurará o
seu dom. Você será capaz de salvar Amy.
Eu aceno, sem saber o que dizer.
Ao nos aproximarmos do templo, vejo que ele se parece muito com o
que era à distância: uma espiral de mármore branco e liso alcançando as
nuvens.
Não há janelas visíveis. E um arco comparativamente pequeno em sua
base serve como entrada.
Não consigo imaginar o que está dentro.
Quem quer que tenha desenhado esta peça de arquitetura claramente
tinha apenas um objetivo em mente — alcançar o céu tijolo por tijolo.
Lucius e Marius param na porta. Eles se olham brevemente, depois se
voltam para Alex e eu.
— Você precisa entrar sozinha, Ariel, — diz Marius. — Você é a única
com a conexão para consertar.
— Eu vou com ela, — diz Alex.
Eu me viro para ele. — Não, Marius está certo... Eu é que preciso vê-la.
Alex aperta minha mão e a solta.
Dou um passo à frente, ficando bem na frente da entrada. Está escuro
como breu.
— Estamos bem atrás de você, — diz Alex.
Eu passo pela porta e sou engolida pela escuridão. Eu não consigo ver
nada na minha frente. Eu me viro para encontrar os olhos de Alex, mas
também não consigo vê-lo.
Os outros estavam bem atrás de mim, mas agora...
O chão abaixo de mim começa a tremer.
Eu jogo meus braços para frente em busca de algo para me segurar e
me encontro segurando algo frio e macio que parece um corrimão.
A escada inteira parece estar girando agora.
Vejo a porta pela qual acabei de entrar piscar continuamente diante
dos meus olhos. Mas com a velocidade do movimento da espiral,
ninguém pode entrar e ninguém pode sair.
Quando a porta se fecha em uma parede, a torre inunda com uma luz
branca suave, como a da lua em uma noite sem estrelas.
Conforme a escada gira em direção ao topo, eu percebo que a única
maneira de sair daqui será por meio de um confronto direto com Selene.
O único caminho a seguir é para cima...
Capítulo 21
O PINÁCULO DE SELENE
ALEX

As sombras envolvem Ariel completamente quando ela passa pela


porta.
Eu a ouço gritar de surpresa com alguma coisa, e corro para segui-la.
Mas o pináculo gira, e eu bato direto na parede sólida. Eu caio para
trás, atordoado.
Marius e Lucius me pegam, um em cada braço.
Quando recupero o equilíbrio, corro em direção à entrada uma
segunda vez.
Mas agora, o arco está se fechando diante dos meus olhos.
Antes que eu possa tentar novamente, é apenas uma parede de pedra,
indistinguível do restante da estrutura.
Eu olho para Marius.
— Está tudo bem, — diz ele. — A Deusa da Lua fechou a porta porque
esta é a jornada de Ariel sozinha.
— Ela vai voltar, — diz Lucius. — Quando ela terminar.
— Ela perdeu a fé, — diz Marius. — E só ela pode encontrá-la
novamente.
Eu gostaria de poder estar lá para Ariel. Eu não quero nada mais do
que ficar ao lado do meu par a cada passo do caminho.
Mas eu entendo.
E o dom de cura de Ariel que está em jogo. Foi ela quem acusou a
Deusa da Lua. E é o relacionamento delas que precisa ser reparado.
Eu sei que meu par é forte o suficiente para enfrentar quaisquer
desafios que a aguardem dentro do Farol da Deusa.
— Você gostaria de orar conosco? — Lucius diz.
Prefiro estar na torre com Ariel, mas pelo menos orar é melhor do que
simplesmente esperar.
— Obrigado, — eu digo. — Isso seria útil.
— Ouça-nos, Selene, Deusa da Lua, — Lucius diz, levantando as mãos.
— Pedimos que você abençoe a jornada de Ariel em boas graças.
— Pedimos que poupe a vida de Amy, — diz Marius.
— E que você traga Ariel de volta para nós em segurança, — eu digo.
ARIEL

Começo a subir a escada em espiral. Não consigo imaginar quanto


tempo vou demorar para chegar ao topo.
Lá fora, o pináculo desaparece nas nuvens. Aqui, a luz é tão forte que
não consigo olhar diretamente para cima.
No entanto, enquanto subo, o farol parece começar a girar
novamente. Ou melhor, a escada começa a girar dentro do farol, me
levando para mais perto do topo.
Tudo o que tenho a fazer é me segurar no corrimão, e seguro como se
minha vida dependesse disso. Eu sigo em direção a Selene, subindo em
minha escada rolante para o céu.
A escada diminui à medida que continuo subindo. Enquanto isso, a
luz se intensifica até quase me cegar.
Eu fecho meus olhos, mas a luz brilha como se fosse a luz de um
projetor, jogando momentos da minha vida no fundo das minhas
pálpebras...
Fico impressionada com as imagens que passam por minha mente
sobre a dor, a tristeza, a cura e a beleza que vivi em minha vida.
Eu vejo as memórias se desenrolarem como se eu realmente as
estivesse revivendo.
Há um homem inconsciente deitado no chão, coberto da cabeça aos pés
por tatuagens.
Em suas costas há uma enorme tatuagem de asas de anjo.
Sob a luz da lua, ele se parece exatamente assim...
Um anjo caído.
Eu caio de joelhos ao lado do homem.
Ele tem queimaduras de prata de algemas em seus tornozelos e pulsos.
Ele tem marcas de injeção por todo o corpo.
Cicatrizes de transformações incontroláveis.
— Ele é... ele é como eu, — murmuro.
Ele é um experimento.
A imagem desaparece e vejo Marius como ele é hoje em dia. Ele é
alguém amoroso, que nunca se esquece de quem é ou de onde veio.
Em seguida, há Vivian.
Os olhos de Vivian se iluminam como se lembrando do que eu disse a ela
antes de me transformar...
Siga meus passos.
Ela balança a cabeça, parecendo entender o que quero dizer agora.
No passado, ela só se transformou por causa de uma raiva incontrolável.
Mas agora ela quer fazer isso por vontade própria.
Vamos, Vivian.
Transforme-se!
Eu ouço o estalo familiar e crescente quando ela começa.
Em um instante, seu corpo está se quebrando. Ela ainda tem o corpo e as
roupas de um humano, mas seu rosto e mãos se reconfiguram em sua loba
meio transformada.
Minha loba acena para ela com aprovação.
Vivian ainda está de pé, mas eu a ouço cheirar o ar enquanto anda.
Ela inala profundamente como se apreciasse esta forma pela primeira vez.
Ela está se conectando com sua loba.
O uivo confiante de Vivian enche minha mente enquanto a imagem
dela desaparece, sendo substituída por uma de Natalia.
Estamos sentadas juntas em nossa casa de infância.
Lágrimas enchem os olhos de Natalia enquanto ela se desculpa comigo
por tudo que aconteceu no passado.
— Não foi só você. Você estava apenas fazendo o seu melhor. Foi a
mamãe, — eu digo.
Ela me cutuca nas costelas. — E sério? Ariel, você é boazinha demais. Tipo,
grite comigo, fique brava ou algo assim! Eu tenho sido uma escrota!
Mesmo que o quarto esteja coberto de escuridão, eu finalmente sinto que
estou vendo minha irmã.
— Eu.. eu simplesmente não consigo odiar alguém que passou pela mesma
dor que eu Parece que Natalia está tentando conter as lágrimas, mas está
falhando. Eu sinto minhas próprias lágrimas escorrendo pelo meu rosto.
— Mas... não precisamos mais ser assim, certo? — ela diz. — Não
precisamos ser como a mamãe.
— Essa merda acaba aqui.
Ela começa a soluçar, ainda mais forte. — Mas eu já fui uma péssima mãe
para Xavi...
Eu coloco meus braços em volta dela, puxando-a para perto. — Não, você
é uma ótima mãe, e sempre achei isso.
— Obrigada, — ela diz, me abraçando com mais força.
Neste momento, percebo que não consigo me lembrar de outra vez que
Natalia e eu nos abraçamos.
Ela é minha irmã.
Como isso é possível?
Tudo que posso fazer é agradecer à Deusa o que está acontecendo agora.
As lágrimas me fazem sentir mais leve do que há muito tempo, e sinto um
grande peso saindo do meu peito.
Bem dentro de mim, algo está sendo consertado.
Uma rachadura invisível, consertada.
Eu volto à realidade e percebo que estou quase no topo do pináculo.
Eu ouço a Deusa da Lua em meu ouvido: — Você vê, minha filha, o bem
que você fez?
— Você curou todos ao seu redor.
A escada para de girar pouco antes de eu chegar ao topo, e mais uma
imagem passa pela minha mente.
É o Alex.
A emoção toma conta de mim com a simples visão dele. Eu sei que é
apenas uma imagem, mas sinto um desejo irresistível de estender a mão
e tocá-lo.
Estou revivendo o momento em que Alex me trouxe de volta do
precipício...
Quando eu estava presa na minha forma de lobo.
Eu acordo, deitada de lado, me sentindo mais descansada do que nunca.
Sinto o corpo quente de Alex adormecido atrás de mim. Eu olho para baixo
enquanto sinto seu braço deslizar sobre minha pele e me puxar para mais
perto dele.
Eu me transformei de volta para minha forma humana, e eu olho em
volta para ver que Alex e eu deitamos nus juntos.
Eu viro meu corpo em direção a ele, e ele abre os olhos para encontrar os
meus.
— Oi, — ele diz com um sorriso.
— Oi, — eu respondo.
Ele leva a mão ao meu rosto e acaricia minha bochecha com os dedos.
— Você está bem? — ele diz, trazendo seu rosto para mais perto do meu.
— Você me trouxe de volta, — eu sussurro antes de beijá-lo nos lábios.
Ele se afasta depois de um momento e olha nos meus olhos novamente.
— Ariel, — ele diz, — Eu te amo. Eu sei que te decepcionei, mas se você me
deixar, vou passar o resto da minha vida provando o quanto você significa
para mim.
Quando a luz forte diminui e minha visão se ajusta, descubro que
minhas bochechas estão encharcadas de lágrimas.
A Deusa da Lua fala em meu ouvido novamente, de maneira suave:
— Ao curar o rei, você curou o reino.
— Minha irmã, Fate...
— Ela sempre teve ciúme da atenção que vocês lobisomens me deram.
— Afinal, ela é quem dá à maioria de vocês os vínculos de acasalamento.
— Em um acesso de ciúme, ela destinou o reino dos lobisomens ao caos.
Me sinto orgulhosa quando percebo isso. Alex estava de luto quando o
conheci, e Lola tentou tirar vantagem de seu estado vulnerável.
Mas eu o curei. E salvei o reino da ruína.
— E por isso que você me deu meu dom de cura? — Eu digo. — Você
queria que eu me tornasse rainha? Você queria que eu salvasse o reino de
Lola e dos selvagens?
— Não exatamente, — diz ela. — Eu não sabia o que aconteceria quando
eu lhe desse o dom de cura. Mas eu sabia que queria o futuro nas mãos de um
lobisomem...
— Eu queria que todos vocês tivessem uma ESCOLHA no que aconteceu.
A escada começa a subir novamente.
Quando eu alcanço o pico do pináculo, ela se inclina e prende no
lugar, rente à parede que me cerca.
Agora estou em uma pequena sala cupulada com teto de vidro.
Acima de mim está pendurada uma pedra da lua gigante e brilhante.
Ela também está girando no lugar — zumbindo à medida que
aumenta sua velocidade.
Está se movendo tão rápido agora que não consigo mais distinguir
suas características — tão rápido que parece uma orbe branca.
Enquanto eu observo, um raio de luz dispara de seu centro, pousando
em meu rosto como um raio de lua.
Involuntariamente, solto um uivo. Eu nunca fiz isso na forma humana
antes. Eu nem sabia que era possível.
A experiência é quase indescritível, a sensação de plenitude que vem
de ser banhada por essa luz.
O calor se espalha pelo meu corpo, e o vazio dolorido que venho
sentindo desde minha desconexão da Deusa da Lua é preenchido por
este lindo luar.
Uma onda de compreensão passa por mim enquanto faço a conexão
entre meu passado e meu presente.
Em uma extremidade do espectro, Curt está injetando acônito em
minhas veias. Na outra, Alex está afundando os dentes no meu pescoço
para nos unir para sempre.
Eu não poderia ter um sem o outro.
Sem a profundidade do meu sofrimento, eu não poderia experimentar
essa intensidade de prazer.
Se eu não precisasse me curar, nunca teria aprendido como curar os
outros.
Selene estava certa: eu precisava ser destruída para ser reconstruída.
Eu sinto a presença da Deusa da Lua me preencher, e tudo que eu
quero dizer desta vez é — obrigada.
— Selene, — eu digo. — Por favor, apareça.
Eu olho ao meu redor, mas não há nada aqui além da luz do luar.
— Eu estava errada, — eu digo. — Eu só quero agradecer a você... por
tudo.
Eu ouço sua voz novamente: — Reconheço sua gratidão, minha filha.
— Eu estava errada por duvidar de suas intenções, — eu digo.
— Tudo está perdoado.
— Nosso vínculo é ininterrupto.
Minha mente volta para Amy. Ela é a razão de eu estar aqui em
primeiro lugar.
— Isso significa que... você vai restaurar meu dom? — Eu digo. — Eu
posso curar de novo?
A voz da Deusa está fraca, mas eu ouço claramente: — Não, minha
filha.
As palavras me cortam como uma espada. O que tenho que fazer para
salvar Amy?
— Eu sei que estava errada, — eu digo. — Mas vou consertar as
coisas...
Dentro da sala fechada, uma rajada de vento parece me envolver
enquanto a Deusa da Lua me interrompe, falando com mais firmeza
agora — Você não estava totalmente errada, Ariel.
— O dom de cura era um fardo pesado para carregar, especialmente para
um mortal.
— Você me acusou de agir como minha irmã Fate...
— E eu admito agora que você estava certa.
— Sempre quis que os lobisomens fizessem suas próprias escolhas.
— Você não deve ser meu peão mais do que deve estar vinculada ao
destino que minha irmã estabelece.
— Estou libertando você do fardo do seu dom, para que possa seguir seu
próprio caminho com mais liberdade.
— Mas...
O vento diminui, e eu sei que ela se foi.
O luar desaparece e a escuridão me envolve enquanto piso na escada.
Ela se inclina ligeiramente, deslizando suavemente em direção ao chão.
Estou feliz por ter me reconciliado com Selene.
Me sinto completa de novo agora que nos perdoamos. Me sinto eu
mesma.
Não quero viver em um mundo onde todas as divindades têm
intenções maliciosas e estou aliviada por não viver em um.
Mas se ir ao seu templo mais sagrado e consertar meu relacionamento
com ela não restaurou meu dom, então acho que nada o restauraria.
Porém, não posso desistir de Amy. Deve haver outra maneira de evitar
o que o médico diz que é inevitável.
Marius está lá fora esperando por mim agora, e não vou lhe dar más
notícias.
A escada finalmente se encaixa na parte inferior da torre, e eu coloco
meus pés em chão sólido.
Se a Deusa da Lua não vai salvar Amy, então resta apenas uma opção...
Eu tenho que enfrentar Fate...
Capítulo 22
PERDENDO A MARCA ALEX
Eu estico meu pescoço e olho para a parede de pedra branca do farol
enquanto a luz brilhante no topo da torre de repente desaparece de
forma ameaçadora.
Agora, eu não consigo ver nada lá em cima.
Apenas a névoa escura das enormes ondas do mar ao nosso redor.
Onde diabos você está, Ariel?
Por que está demorando tanto?
Lucius e Marius se sentam calmamente nas rochas ao meu lado, em
uma prece meditativa. Apesar de todo o caos do acidente de Amy, de
alguma forma eles são capazes de ficar completamente calmos.
Mas isso é impossível para mim agora.
Eu ando de um lado para o outro na frente da torre. Ariel está lá
dentro há muito tempo, e agora estou ficando cada vez mais inquieto.
Eu sei que Ariel pode cuidar de si mesma...
Mas desde o que aconteceu dentro do covil de Fate, fico muito mais
confortável estando ao lado dela.
Especialmente quando estamos lidando com Deusas.
Se ela não aparecer logo, digo a mim mesmo. Eu não me importo com o
quão sagrado este lugar seja...
Vou derrubar aquela parede e encontrá-la.
ARIEL

A porta antiga se abre sozinha conforme eu me aproximo, e dou meu


primeiro passo para fora da escuridão em direção ao luar lá fora.
Alex está parado bem na frente das portas segurando um enorme
tronco, que ele deixa cair antes de correr para mim. Ele me puxa para
seus braços e eu me permito derreter em seu peito por um momento de
paz.
Marius e Lucius interrompem suas meditações e se aproximam atrás
dele, ansiosos para saber se suas orações foram atendidas.
— O que aconteceu? — Marius pergunta, exalando esperança em seus
olhos. — A Deusa concedeu seus poderes de volta?
Eu balanço minha cabeça com tristeza.
— Sinto muito. Marius.
Estendo minha mão para confortá-lo, mas seu semblante cai e ele se
vira em silêncio.
Eu me sinto péssima ao vê-lo tão arrasado. Eu odeio não conseguir
ajudá-lo agora.
Seu par está no hospital e nem mesmo a Deusa da Lua pode fazer
nada a respeito.
— Mas há outra maneira, — eu digo a ele — Fate é responsável pelo
que aconteceu com Amy. Isso significa que a Deusa do Destino é a única
que pode desfazer essa situação. Vou voltar para a Teia de Fate e
confrontá-la.
Alex abre a boca para falar, mas eu rapidamente o interrompo. — Eu
sei o que você vai dizer, Alex. É muito perigoso, é muito...
Ele balança a cabeça, me dando um sorriso tranquilizador.
— Onde quer que você precise ir, estou com você, Ariel, — diz ele,
pegando minha mão.
Eu mal posso conter meu choque.
Ele está falando sério?
— Mesmo? — Digo, tentando esconder minha suspeita. — É um plano
maluco. Você não vai tentar me convencer do contrário?
— Sei bem que não devo tentar isso agora.
Meu corpo sente o alívio e meu rosto se desdobra em um sorriso. Eu o
puxo para um beijo, saboreando seus lábios, que me beijam de volta tão
intensamente que é como se ele não me beijasse há anos.
Sua compreensão significa o mundo para mim.
Dentro do farol, vi todas as pessoas que curei sem meus poderes —
incluindo ele.
Percebi que já mudei o caminho de Fate tantas vezes...
Então, por que não posso fazer de novo?
E com Alex ao meu lado, tenho a sensação de que isso pode realmente
funcionar.
Eu olho para Marius, cujos olhos ainda estão cheios de dúvida.
— Vamos fazer com que Amy consiga passar por isso. Eu prometo, —
eu digo.
Ele acena ainda sério e se vira para voltar ao lado de Lucius. Alex pega
minha mão e nós os seguimos.
— A propósito..., — eu pergunto, curiosamente olhando para o pedaço
gigante de madeira aos nossos pés. — O que você estava fazendo com isso
quando eu saí?
— Ah. E apenas um aríete, — diz ele. — Mais cinco minutos e eu teria
quebrado esse pináculo ao meio para te procurar.
Eu olho para seu rosto determinado.
Deusa, ele está falando sério.
Eu sorrio e fico na ponta dos pés, beijando-o nos lábios. — Aposto que
a Deusa não teria gostado muito isso.
— Parece que estamos sempre irritando uma das Deusas, — diz ele,
encolhendo os ombros. — Será que pode ficar pior?
Eu suspiro, caminhando com ele enquanto nos afastamos da torre.
Acho que veremos em breve.
NATALIA

Deito nua, esparramada na cama, com minha pele coberta de suor.


Meu coração está lentamente voltando ao normal depois da nossa
terceira rodada de sexo esta noite.
Deusa...
Chuck certamente está recuperando o tempo perdido.
Ele desliza o braço por baixo de mim e eu me apoio em seu ombro,
que é tão macio quanto um travesseiro.
Ele beija minha bochecha com ternura, repetidas vezes, e agora, me
sinto completamente segura.
Ele se ajeita na cama e, de repente, sinto seu membro pressionado
contra mim.
Completamente ereto.
— Sério? — Eu digo, rindo. — Mas já?
Seus olhos azuis claros secam meu corpo enquanto seus dedos traçam
levemente meus seios, me provocando arrepios enquanto ele explora
minha pele.
— Quando a Deusa me abençoa com um par como você, — diz ele, —
te satisfazer é tudo que posso fazer em troca.
Eu me contorço um pouco enquanto seus dedos roçam minha barriga,
demorando para descer lentamente até que deslizam entre as minhas
pernas, pairando acima da minha entrada.
A eletricidade de seu toque cria choques trêmulos contra a umidade
do meu sexo. Minha respiração fica mais pesada quando ele começa a
mover seus dedos.
Agora, ele sabe exatamente onde fazer isso.
Eu fecho meus olhos, apreciando o prazer. Eu realmente não estou
acostumada com alguém passando tanto tempo comigo.
Não estou nem acostumada a ser íntima de alguém com quem
realmente me sinto segura.
Alguém com quem não sinto necessidade de me encobrir ou me
esconder...
Alguém que sabe exatamente do que eu gosto.
Como eu tive tanta sorte?
Depois de mordiscar minha orelha, ele desce pelo meu pescoço com
beijos divinos, e eu passo minha mão em seu abdômen definido, sentindo
minha umidade aumentar.
Estou começando a querer mais do que apenas seus dedos.
Mas então, seus lábios deslizam sobre a marca de acasalamento de
Xavier no meu ombro, e eu tenho que resistir ao desejo de me afastar
desconfortavelmente.
Eu não posso evitar. Tenho consciência de que a marca de outro
homem está ali.
E Xavier é a última coisa em que quero pensar enquanto estou na
cama com Chuck.
— Natalia..., — ele sussurra.
— Sim, Chuck? — Eu digo, ansiosa por alguma sacanagem para tirar
meu ex-par da cabeça e voltar ao clima.
— Eu quero marcar você.
O quê?
Meus olhos se abrem e me viro para olhar para ele. Seus grandes olhos
azuis me olham com uma intensidade feroz.
— V-você está falando sério?
Todo o prazer é drenado instantaneamente do meu corpo e meu
coração começa a disparar. Ele percebe minha inquietação e se inclina
para beijar minha bochecha.
— Natalia, o que estamos esperando? Somos pares destinados. Vamos
passar o resto de nossas vidas juntos. Vamos apenas completar nosso
vínculo agora.
Abro a boca, mas, honestamente, não consigo pensar em nada para
dizer.
Ele parece confuso. — Você... Você não quer?
— Sim, Chuck, claro que quero! E que...
Eu paro antes que eu possa dizer mais alguma coisa.
Antes que eu diga qualquer coisa que o machuque.
— E que o quê? — ele pergunta, se afastando e se sentando.
Eu me afasto dele, tentando organizar meus pensamentos.
— Estar com você tem sido um sonho..., — eu digo baixinho. — Você
tem sido tão bom para mim.
É verdade. Há uma parte de mim que deseja desesperadamente que
seus dentes se afundem em mim agora.
— Mas? — ele pergunta.
Achei que poderia seguir em frente e não dizer nada sobre o passado.
Achei que poderia começar um novo capítulo.
Posso realmente deixar Chuck me marcar sem dizer a verdade?
Chuck espera ansiosamente que eu diga mais alguma coisa.
Mas as palavras não vêm. Não consigo contar como o vi naquele dia,
quando tinhamos dezoito anos.
Deusa, isso o machucaria tanto.
Eu me afasto e sento na beira da cama, tremendo. Comparado com o
calor de Chuck, a sala de repente parece gelada.
— Natalia, vamos apenas conversar sobre isso, — ele diz, parecendo
estar decepcionado. — Lamento ter surpreendido você assim.
— Só preciso ficar sozinha para pensar, — digo, puxando meu robe da
pilha de roupas no chão, enrolando-o em volta de mim e me levantando.
A sala está silenciosa, exceto pela minha loba choramingando alto
enquanto eu caminho em direção à porta.
Ela quer que eu volte para Chuck. Ela quer que eu conte tudo a ele.
Cale a boca Eu grito de volta para ela.
Eu evito o olhar de Chuck enquanto abro a porta e entro no corredor.
Tenho certeza de que se eu vir a maneira como ele está olhando para
mim agora, meu coração vai se partir em um milhão de pedaços.

Entro no quarto escuro e gentilmente fecho a porta, com cuidado para


não incomodar Xavi em seu berço, caso ele esteja dormindo.
Mas ele está bem acordado. Eu o ouço balbuciando, arranhando de
forma divertida as barras do berço. Vê-lo faz meu corpo derreter em
alívio.
São três da manhã, mas ele claramente quer brincar.
Eu me abaixo e o pego, balançando seu pequeno corpo quente contra
o meu corpo na escuridão. Mil emoções me inundam enquanto sinto seu
pequeno coração batendo contra meu peito.
Meu bebezinho perfeito.
Meus olhos ficam turvos quando eu sinto suas pequenas garras
começarem a brincar com meu cabelo e puxar suavemente meus brincos
de pedra da lua.
— Você sabe que a mamãe te ama mais do que tudo no mundo, não
sabe? — Eu sussurro.
Ele solta um pequeno gorgolejo em resposta.
— Você me ensinou muito, sabia? — Eu digo, beijando sua testa. — Eu
não saberia o que é o amor verdadeiro se não fosse por você.
Ele me encara, enquanto seus olhos amarelos brilham levemente no
escuro, como se eu tivesse acabado de dizer a coisa mais estranha do
mundo.
— Mas eu realmente amo o Chuck também. Só não sei se consigo dar
o próximo passo com ele, sabe?
Seu lábio treme e, de repente, ele começa a chorar, soltando pequenos
uivos no ar noturno.
Eu o puxo para mais perto de mim. — Shhh. Pare com isso, Xavi. Tudo
bem.
Mas ele não para.
Ele fica mais alto. E antes que eu percebesse, eu me junto a ele,
escorrendo minhas próprias lágrimas pelo meu queixo.
— Vai ficar tudo bem, Xavi. Eu prometo.
Mas não sei se isso é verdade.
Eu nem sei se mereço o amor de Chuck.
Sou uma mentirosa e uma pessoa horrível, e Chuck é o homem mais
gentil que já conheci.
Por que eu teria um par destinado assim?
Fate está apenas brincando comigo?
Os uivos de Xavi ficam mais baixos e eu começo a balançá-lo em meus
braços. Eu sinto a última lágrima rolar pela minha bochecha também.
Quando olho para baixo em seu rosto pacífico, tenho certeza de uma
coisa: Não posso me arrepender do que vivi com Xavier, porque Xavi é
fruto disso.
Meu filho é uma bela criação que nasceu de uma situação
desagradável.
E então talvez...
Talvez se eu mostrar a Chuck meu lado ruim...
Se eu contar a verdade...
Talvez algo bonito possa resultar disso também.
Abro a porta silenciosamente e olho para dentro do meu quarto
escuro.
Eu meio que esperava que Chuck tivesse ido embora e dormido sob as
estrelas depois do que aconteceu.
Mas ele está bem ali, ainda nu, esparramado nas minhas cobertas.
Esperando por mim, como ele sempre faz.
— Chuck..., — eu sussurro, um pouco preocupada que ele já tenha
adormecido.
Ele vira a cabeça, olhando para mim com olhos esperançosos.
— Estou pronta, — digo. — Eu quero que você me marque.
Capítulo 23
VERDADE SEJA DITA NATALIA
— Eu quero que você me marque..., — eu digo, finalmente reunindo
coragem para dizer a verdade. — Mas primeiro...
Antes que eu possa terminar, Chuck se joga para fora da cama, com
seus olhos brilhando de alegria, beijando as palavras dos meus lábios.
— Eu sabia! — ele diz com entusiasmo, me beijando sem parar. — É o
destino. Não há nada a temer.
— Chuck, eu...
— Volte para a cama, — ele diz, puxando minha mão e olhando para
mim com seus olhos maliciosos.
Mas eu não o sigo.
Por mais que eu queira pular sobre ele e sentir seus dentes no meu
pescoço agora, eu preciso dizer a ele a verdade primeiro.
Não tenho a menor ideia do que pode acontecer depois disso.
Mas pelo menos terei finalmente dito.
— Antes de fazermos isso, — digo, — você precisa saber de algo sobre
meu passado. Algo que tenho escondido de você durante esse tempo
todo.
Ele se senta na beira da cama, olhando para mim com cautela. — Você
pode me dizer qualquer coisa, Luz do Luar.
Eu me inclino contra a porta, respirando fundo e tirando meu cabelo
do rosto.
Vamos lá.
— Eu tinha acabado de fazer dezoito anos..., — começo, — e
realmente parece que foi há muito tempo agora, depois de tudo o que
aconteceu. Eu estava pegando uma garrafa de vinho no supermercado
para levar para a casa de Xavier naquela noite.
Chuck parece confuso.
— E então, eu estava quase entrando na fila do caixa, quando notei
um menino empacotando alimentos. Apenas o vi à distância... mas eu
soube naquele momento que ele era meu par destinado.
Chuck fecha os olhos, cerrando os dentes. Ele começa a entender
tudo.
Mas eu tenho que dizer mesmo assim.
— Mas... eu fui embora. Eu me virei e corri, e nunca mais voltei, —
digo. — Eu nunca o vi novamente... até o dia em que apareci na sua
porta.
Ele parece completamente destruído. Uma lágrima escapa, escorrendo
por sua bochecha. — Por que você não veio até mim? Porque você foi
embora?
Tento engolir em seco. A resposta está presa na minha garganta.
— Eu passei minha vida inteira sonhando com o que meu par
destinado seria. Eu costumava fantasiar sobre como ele seria, e então eu
vi você e você era...
— Ninguém, — diz ele, tentando enxugar as lágrimas do rosto. — E
então você foi embora e se acasalou com o futuro Alfa.
Seus olhos me perfuram com decepção enquanto eu deslizo para
baixo pela porta, sentindo os joelhos fracos.
Sinto as lágrimas quentes começarem a escorrer pelo meu rosto.
— Como você pôde esperar tanto tempo para me contar? — ele
pergunta.
— E-eu não queria te machucar.
— Procurei o amor da minha vida em cada centímetro deste
continente, e agora você está me dizendo que foi tudo em vão, — diz ele
com amargura. — Você não apenas me machucou, Natalia. Você roubou
minha vida inteira.
— Você tem todo o direito de estar bravo, — eu digo humildemente.
— Não estou bravo, — diz ele. — Eu me sinto um idiota.
Sinto vontade de me levantar e gritar com ele, como costumava fazer
com Xavier. Eu quero dizer a ele que ele é um idiota, e virar isso contra
ele. Eu quero tomar tudo isso sobre ele.
Mas Chuck não é Xavier.
E isso é tudo minha culpa.
Então eu puxo minhas pernas para perto do meu peito, sentindo que
quero me esconder do mundo.
Tenho que dizer a ele como me sinto.
E agora ou nunca.
— Eu te amo, Chuck, — digo a ele. — Eu te amo de verdade. Se você
pudesse me perdoar, eu faria qualquer coisa para mostrar isso.
Nos olhos de Chuck, posso ver que sua cabeça está a mil.
Discutindo com seus instintos.
Eu procuro o brilho gentil em seus olhos. A parte dele que vê a
bondade em tudo.
Mas então aquele brilho desaparece como a lua atrás de nuvens
espessas.
— Eu finalmente vi quem você é de verdade, Natalia, — ele diz. — E eu
não gosto do que vejo.
Meu coração está disparado enquanto olho para Chuck. Ele parece
completamente arrasado.
— Estou começando a pensar que talvez a Deusa da Lua tenha
cometido um erro com a gente, — diz ele calmamente. — Talvez não
fôssemos destinados a ser pares, afinal de contas.
Eu quero responder, mas estou com medo de dizer qualquer outra
coisa. Mas eu sei que se não disser a coisa certa agora...
Eu poderia perdê-lo para sempre.
— Chuck, foi horrível da minha parte esconder isso de você, — digo,
colocando minha mão na dele. — Eu quero dizer 'sinto muito' um milhão
de vezes. Eu só queria poder mostrar a você agora o quanto eu realmente
te amo.
Chuck vira as costas para mim, olhando pela janela.
— Mas eu sei que não posso fazer isso, — eu continuo, novas lágrimas
caindo. — Então estou implorando a você, Chuck. Me dê outra chance.
Ele se vira e olha para mim.
— Temos o resto de nossas vidas pela frente, — imploro. — Existe
alguma maneira de deixarmos o passado e apenas olhar para o nosso
futuro?
Em algum lugar daqueles olhos azuis claros, posso vê-lo pensando na
resposta.
ALEX

Finalmente chegamos de volta à Matilha Real por volta do nascer do


sol.
Acabei de dirigir toda a viagem de dezoito horas de volta e estou
muito feliz por finalmente ver meu palácio, brilhando na luz dourada da
manhã.
Mas estamos fazendo apenas uma parada rápida.
No momento em que estiver tudo certo para nossa volta à Teia de
Fate, Ariel e eu partiremos.
Ariel ainda está dormindo no banco do passageiro, aninhada contra a
janela. Eu gentilmente coloco a mão em sua perna.
— Ei. Acorde, amor.
Olho de volta para Marius, que esteve quase todo em silêncio durante
todo o trajeto de volta. A única coisa que ouvi dele foi uma oração
ocasional que ele murmurou em voz alta.
Parece que ele não dormiu nada.
Eu realmente sinto muito por ele. Ele é um cara legal, e desde que ele
e Amy se uniram, eles são praticamente inseparáveis.
Honestamente, ele está se saindo muito melhor do que eu quando
Olivia estava no hospital.
Eu estaciono o carro e saio, esticando minhas pernas. Ariel sai do
carro também, bocejando.
Dom desce os degraus do palácio para me cumprimentar, segurando
Camelia nos braços.
— Como foi na Matilha das Escrituras? — ele diz.
— Não muito bem, — eu respondo. — Eu gostaria que você começasse
a organizar uma viagem de volta à Teia de Fate. Ligue para nossa marinha
e diga a eles para preparar um navio o mais rápido possível.
Ele sorri. — Parece pedir muito. Você não vai me pagar nem um jantar
antes de eu fazer isso?
Eu lanço para ele um olhar sério e começo a subir a escada. — Apenas
faça, Dom. Preciso dormir algumas horas antes de começarmos.
— E para já! Mas você está me dizendo que vai tentar ficar preso na
teia de aranha desta vez? Esse é realmente o melhor plano? — Ele me
olha duvidoso.
— Não, é o único plano. Diga a Helena que seus deveres de papai
acabaram pela manhã. Você tem trabalho a fazer.
Ele acena com a cabeça, nos observando chegar às portas do palácio.
— Ei, Alex, — ele grita, sorrindo, — por um momento você quase soou
como um Alfa.
Eu mostro o dedo do meio enquanto entro no palácio.
ARIEL

Alex e eu caminhamos pelo corredor em direção à ala real, de mãos


dadas.
Sinceramente, mal posso esperar para me aconchegar e adormecer em
seus braços por algumas horas antes de começarmos nosso planejamento
para a Teia de Fate.
Mas então eu ouço um soluço pelo corredor.
— Você ouviu isso? — Eu pergunto a Alex. Ele acena com a cabeça e
aponta para uma porta que está ligeiramente entreaberta à frente.
E o quarto de Natalia.
Alex e eu olhamos um para o outro.
— Não espere acordado, — eu digo. — Parece que ela precisa de um
momento fraternal.
Ele acena com a cabeça compreensivamente e me beija antes de
desaparecer no corredor.
Eu sigo na ponta dos pés em direção à porta e a empurro, olhando
para dentro.
Natalia está sentada na cama com seu robe rosa felpudo. Seus olhos
inchados mostram que ela provavelmente chorou a noite toda.
Algo ruim aconteceu.
E considerando o fato de que Chuck não está em lugar nenhum,
tendo estado ao lado dela a cada segundo nos últimos dias...
Eu me preparo para o pior.
Ah, Natalia.
Eu entro, desviando de lenços amassados e um campo de batalha de
roupas espalhadas pelo chão.
Não há garrafas de destilado em lugar nenhum, graças à Deusa.
Eu silenciosamente sento na cama e coloco meu braço em volta dela,
empurrando seu cabelo atrás das orelhas e olhando para seu rosto
manchado de rímel.
— Nat, o que aconteceu? — Eu pergunto suavemente.
Ela olha para mim, com seus olhos vermelhos e inchados.
— Eu estraguei tudo, Ariel.
— Sempre há algo que você pode fazer. Nat. Confie em mim. Se vocês
se amam, vocês encontrarão um jeito.
Ela balança a cabeça em negativa.
— Não com isso. Ele pegou todas as coisas dele. Sua caminhonete
sumiu.
Ela respira fundo, como se a ficha tivesse caído pela primeira vez.
— Ele realmente me deixou para sempre.
Capítulo 24
GRANDES MULHERES NÃO
NATALIA

— Então, o que você vai fazer, Natalia? — ela pergunta.


Eu balanço minha cabeça.
Eu sou patética.
Eu arruinei a coisa mais linda que já aconteceu comigo.
— Não há realmente nada que eu possa fazer. Eu estraguei tudo.
Ariel pega minha mão e a aperta confortavelmente.
Ela ouviu toda a história do que aconteceu com Chuck e agora está
olhando para mim com simpatia.
Embora eu saiba que não há muito que ela possa fazer, foi muito bom
contar a alguém.
— Olhe para mim, — diz Ariel, olhando para mim com uma
determinação feroz em seus olhos amarelos. — Natalia, você tinha
dezoito anos! Você era jovem e egoísta. Mas acredite em mim, você
mudou muito. Então, não seja tão dura consigo mesma por quem você
era naquela época.
Limpo as lágrimas do meu rosto, manchando as costas da minha mão
com rímel.
Talvez ela esteja certa...
Eu mudei.
Mas há uma pessoa que está sempre me impedindo. A única pessoa
que sempre me impediu de ser feliz.
Tem sempre a ver com ela.
Mãe.
Eu puxo minha mão de Ariel e cerro meu punho com raiva. Eu me
levanto e corro em direção à porta.
Não sei o que vou fazer com Chuck, mas sei exatamente o que vou
fazer com a pessoa que me fez perdê-lo.
— Onde você está indo? — Ariel pergunta surpresa.
— Bater um papo com a mamãe. Ela é tão culpada por isso quanto eu.
— Espere! — Ariel grita quando eu entro no corredor.
— Me deixe lidar com isso, Ariel!
Minha irmã sempre vai bancar a diplomata.
Ela sabe exatamente como a mamãe nos manipulou.
Mas agora vou atrás de algumas respostas.
Isso já deveria ter sido feito há muito tempo.
Eu marcho pelo palácio, mal percebendo Vivian quando ela pula para
fora do meu caminho, deixando cair uma pilha de papéis que se
espalham no chão.
Eu bato na porta inúmeras vezes.
— Dianne! Abra essa porta.
A porta se abre e vejo minha mãe em seu pijama de seda. Seus olhos
ainda estão pesados de sono e mechas de seu cabelo grisalho estão
espetadas em alguns lugares.
Ela me examina da cabeça aos pés e solta um suspiro alto.
— Pelo amor de Deus, Natalia. São seis da manhã.
O que você quer?
— O que eu quero? — Eu grito. — Eu quero que você se desculpe!
Ela cinza os braços. — Pelo quê?
— Por me ferrar! Por causa da maneira que você me criou, meu par
destinado foi embora.
Ela levanta as sobrancelhas como se esperasse que fosse uma piada.
Mas quando ela percebe que não é, ela se vira, entrando de volta no
quarto.
— Pode entrar, se quiser, — ela grita. — Parece que vou precisar de
um café para isso.
Bato a porta com força enquanto a sigo para dentro de sua suíte.
Eu sei que não posso contar com o apoio do meu pai desta vez. Ele
está hospedado em um quarto diferente há semanas, enquanto tentam —
resolver as coisas.
Isso é apenas entre Dianne e eu.
E eu não vou deixá-la virar a situação de volta para mim como ela
sempre faz.
Eu entro na pequena cozinha enquanto ela despeja café preto dentro
de uma caneca que diz Mamãe da Realeza.
— Então, seu par destinado correu com o rabo entre as pernas, — ela
diz casualmente. — E você acha que de alguma forma isso é minha culpa?
— Se você não estivesse tentando me moldar em sua princesinha
perfeita durante toda a minha vida, Xavier e eu nunca teríamos ficado
juntos, e eu estaria com Chuck agora.
Minha mãe toma um gole de seu café e se senta à mesa.
— Eu te forcei a ficar com Xavier?
Eu começo a andar de um lado para o outro na frente dela. — O
tempo todo, você me empurrou para ficar com ele.
— Natalia, tudo que eu disse a você foi que se você fosse acasalada
com Xavier, você estaria com a vida feita. Às vezes, o amor não tem nada
a ver com isso.
Eu paro de andar e olho para ela enquanto ela toma outro gole de seu
café.
— Ah, é? Então é por isso que papai não mora mais aqui com você? —
Eu disparo. — Você não precisa mais dele?
— Esta família inteira sempre me imagina como o Lobo Mau, eu sei
disso, — ela continua. — Mas eu sempre desejei o melhor para você —
mesmo que não tenha conseguido fazer você ver isso.
— Você realmente achou que Xavier era o melhor para mim? — Eu
pergunto incrédula.
— Eu nunca encontrei meu par destinado, Natalia. Nunca senti a
atração especial desse vínculo. Só você sentiu. Então, no final das contas,
você já tinha sua escolha: Charles ou Xavier.
— Você me ensinou a valorizar o status acima do amor.
— Me culpe, culpe a Deusa..., — ela diz, olhando distraidamente para
o anel de acasalamento em seu dedo. — É sempre culpa de todos, menos
sua.
Eu sinto minha raiva se dissipando a cada segundo.
Minha frequência cardíaca diminui, e o vermelho nas bordas da
minha visão também.
De repente, me sinto uma idiota por invadir seu quarto.
Odeio admitir, mas Dianne está certa...
Tentei culpá-la por todos os meus erros do passado.
Mas isso realmente é tudo culpa minha.
Um silêncio toma conta do ambiente no mesmo momento em que o
sol dourado se levanta sobre as árvores e inunda a cozinha pela pequena
janela acima da pia.
— Agora, se você não se importa, Natalia..., — diz ela, olhando para a
luz, — eu gostaria de terminar meu café e aproveitar o resto da minha
manhã em paz.
ARIEL

Eu entro no escritório e encontro Alex e Dom olhando intensamente


por cima da enorme mesa perto da janela.
Mapas do reino dos lobisomens estão espalhados por toda parte. Alex
traça o dedo em um grande oceano.
— Aqui é onde a Marinha nos socorreu daquele pescador, — diz Alex.
— Então, se voltarmos a este local, poderemos voltar na direção da Teia
de Fate até vermos a ilha. A partir daí, Ariel e eu iremos refazer nossos
passos até a caverna.
— Só vocês dois? Você está louco? Precisamos enviar um esquadrão de
nossos melhores guerreiros com vocês, — Dom diz.
Eu fico atrás de Alex e deslizo meus braços em volta de sua cintura.
— Sem guerreiros, — eu digo. — Não quero arriscar a vida de
ninguém durante o confronto com Fate.
Alex enrola o mapa e o entrega a Dom. — Eu concordo.
Continuaremos isso mais tarde. Você pode atualizar Vivian e o General
Dave, por favor?
Dom suspira. — Sempre vocês dois contra o mundo, não?
Pegando mais algumas coisas da mesa, ele nos dá um pequeno aceno e
sai da sala.
Assim que a porta se fecha, Alex se vira e me puxa para um beijo.
— Eu pensei que você fosse dormir um pouco antes de começar com
isso, — eu digo suavemente.
— Eu tentei, — diz ele, com as mãos apoiadas na parte inferior das
minhas costas. — Mas eu simplesmente não conseguia pegar no sono
sem minha rainha ao meu lado.
— Desculpe, demorou mais do que eu pensava.
Chuck deixou Natalia ontem à noite. Ela realmente precisava
desabafar.
— Droga, eu estava começando a gostar do cara.
Ele me puxa em direção ao sofá e eu o sigo, deixando-me cair na
divina nuvem de travesseiros. Eu derreto em seu aconchego.
— Eles eram pares destinados que se amavam, — eu digo. — Eu
simplesmente não entendo... Como não deu certo?
Seus braços me puxam com mais força e nossos pés se entrelaçam.
— Eu tive um par destinado e um par escolhido, — diz ele. — Sim, Liv
e eu éramos predestinados, mas isso não significa que não decidimos ficar
juntos também.
— O que você quer dizer?
— Estávamos apaixonados desde que éramos adolescentes e eu a teria
escolhido independentemente do destino.
Eu ouço o batimento cardíaco constante de Alex enquanto ele
continua: — Então, embora estivéssemos destinados, ainda nos
sentamos e fizemos uma promessa de sermos honestos e comprometidos
com tudo o que tínhamos no relacionamento.
— Assim como nós fizemos, — eu digo.
— Isso, — diz ele, beijando meu ombro.
— Comprometimento.
De repente, memórias horríveis de Xavier passam pela minha mente.
Xavier é a prova de que pares destinados não significam nada sem
comprometimento.
Ele me rejeitou na hora, e desde então, passou o tempo todo tentando
me trazer de volta.
— Só quero ajudar Natalia a ser feliz, — digo. — Depois de tudo com
Xavier, ela merece ser amada.
— Eu sei que você quer. Mas tudo que você pode fazer é ouvir e dar
conselhos a ela. Ela é a única que pode escolher o que quer.
Eu concordo. Ele tem razão. Eu sinto essa necessidade de apenas tirar
a dor de Natalia, especialmente antes que minha irmã comece a pensar
que a próxima garrafa de destilado pode fazê-la tão feliz quanto Chuck.
Não posso fazer com que ela veja seu próprio valor.
Ela precisa superar seus medos e realmente decidir se quer passar a
vida com ele.
Mas, talvez eu possa dar a ela o empurrão — ou chute na bunda —
que ela precisa.
Fate pode puxar as cordas, mas ela não pode nos fazer dançar.
— Eu já volto, — eu digo, dando um beijo na bochecha de Alex e
pulando do sofá.
— Onde você está indo?
Eu entro no quarto escuro de Natalia.
Exatamente como eu temia.
Ela está deitada na cama, enrolada firmemente em um casulo de
cobertores. As persianas estão bem fechadas e posso ouvir uma música
triste estrondosa em seus fones de ouvido do outro lado do quarto.
Merda.
Ela está entrando em modo de separação.
Pelo menos não há uma garrafa à vista.
Ainda.
Eu pulo na cama e Natalia me encara, irritada.
— Vá embora, — ela murmura. — Eu só quero ficar sozinha.
Eu salto para cima e para baixo na cama, apontando para ela tirar os
fones de ouvido.
Ela revira os olhos para mim e tira um deles. — O que foi?
— Eu não vou deixar você desistir assim. De jeito nenhum.
Ela puxa o cobertor sobre o rosto, abafando a voz. — Ariel, obrigada
por dar a mínima, mas você não pode simplesmente me deixar sofrer um
pouco?
— Natalia, você ainda pode ir atrás dele! Não é tarde demais. Vou te
ajudar.
— Ariel, mesmo que você ainda tenha sua capacidade de cura, isso não
é algo que você pode consertar.
— Por que você desistiria de seu par destinado assim? Por que você
está apenas deixando-o ir?
Eu salto para cima e para baixo na cama com ainda mais força, e ela se
senta, jogando as mãos para cima com raiva.
— Porque ele merece muito mais do que eu!
Eu paro por um momento, chocada com sua vulnerabilidade. É tão...
diferente de Natalia.
Normalmente, ela sempre ataca todo mundo quando está chateada.
Mas isso me dá alguma esperança.
— Você pode escolher se redimir com ele, — eu digo. — Você pode
escolher mudar!
— Tudo bem. Se eu posso escolher, então escolho ficar aqui até
esquecer tudo sobre ele.
Eu paro de pular.
Parte meu coração ouvir isso, mas no fundo eu conheço minha irmã.
Ela não vai mudar de ideia por causa de qualquer coisa que eu disser.
Eu recuo para fora da cama, me sentindo denotada.
Pelo menos eu tentei.
— Se é assim que você se sente, não posso ajudá-la. — Eu suspiro.
Ela desliza de volta para baixo das cobertas, agarrando seus fones de
ouvido.
— Natalia, logo vou partir para a Teia de Fate com Alex. Apenas
prometa que não fará nada estúpido até voltarmos?
Sua cabeça se vira para mim com interesse.
— Você vai ver Fate?
— Sim, eu...
Ela tira o cobertor e pula da cama.
Um fogo familiar retoma a seus olhos.
— Bem, então eu vou com você. Só porque ela é uma porra de Deusa
não significa que ela pode me dar Chuck e depois levá-lo embora.
— O quê? Nat, não, é muito perigoso!
Quase soltei uma risada ao ver como a ideia dela é absurda.
Não há a menor possibilidade de Natalia ir com a gente.
Ela tira a calça de moletom, sem ouvir, e começa a vasculhar o
anuário.
— Ariel, você não é a única que tem algo para resolver com aquela
vadia rancorosa. Eu vou com você e pronto — Você não pode estar
falando sério, — eu digo.
— Claro que estou, — ela diz, jogando as roupas por cima do ombro.
— Eu só preciso encontrar a roupa certa primeiro.
— Natalia, isso não é um jogo!
Ela se vira, olhando para mim com seriedade. — Ariel, Fate tirou
muito de mim também.
Ela pega minha mão.
— Então, vamos enfrentar Fate juntas, ou nenhuma de nós vai.
Capítulo 25
QUEBRANDO TUDO
NATALIA

Eu procuro através dos vestidos formais, vestidos de festa e saias maxi


no meu armário.
Ugh, nada.
— Natalia, pare com isso, — diz Ariel. — Não é uma festa de
Halloween. A última vez que Alex e eu estivemos na Teia de Fate, mal
escapamos com vida!
Eu me viro para olhar para ela.
— Então, você precisará de reforço extra desta vez. Obviamente.
Ela passa os dedos pelos cabelos, ficando agitada agora.
— Vamos entrar em uma caverna escura cheia de perigos
desconhecidos em cada esquina e confrontar a porra de uma Deusa
aranha! Isso realmente soa como algo em que você foi treinada para
ajudar?
Ah, agora entendi.
Ela precisa ver minhas credenciais.
Volto a vasculhar meu anuário, procurando algo sólido por baixo de
todas as roupas.
Aqui está.
Pego uma espada de brinquedo de madeira e aponto direto para o
peito dela.
— Isso parece familiar para você? — Eu pergunto, tentando evitar que
um sorriso cresça no meu rosto.
Ela a reconhece imediatamente.
E a espada que usei para acertar a cabeça de Xavier durante nosso
último encontro na Matilha da Lua Crescente.
— Você realmente guardou essa coisa? — ela pergunta, um pouco
chocada.
— Ari, este é um dos meus bens mais valiosos, — digo com orgulho,
examinando os respingos de sangue seco de Xavier que ainda estão nela.
— Talvez sua memória esteja um pouco vaga daquela noite, mas eu
me lembro de ter usado isso para salvar sua pele de um certo ex-
namorado idiota.
Ela pega a espada de madeira de mim. — Isso foi apenas uma vez.
— Talvez, — eu continuo, — mas você também me treinou bastante
desde então. Partir a cabeça daquele babaca ao meio é apenas a ponta do
iceberg quando se trata do que sou capaz.
— Natalia, não é
— Ariel, eu só quero ficar ao seu lado, — eu digo, estendendo a mão e
agarrando a mão dela. — Somos irmãs e isso significa que sempre
cuidaremos uma da outra. Já passamos por tantas coisas juntas, boas e
ruins. E isso tem que valer de alguma coisa.
Dou a minha irmã o olhar que sei que ela odeia.
O olhar que diz não vou aceitar um não como resposta.
— Natalia..., — ela começa.
— Basta dizer sim, — eu digo. — Me dê um propósito diferente de
ficar deitada na cama e ouvir R&B triste.
Ela olha para baixo.
— Não acredito que estou concordando com isso, — ela murmura,
balançando a cabeça.
Eu grito de alegria e envolvo meus braços em torno dela, jogando-a no
tapete.
— Sim, sim, sim, obrigada! — Eu grito, tirando o fôlego dela e
cobrindo-a de beijos.
Juro que nunca amei minha irmã mais do que agora.
— Tudo bem, Nat, acalme-se! — ela diz, tentando fingir que ainda
está chateada.
Mas eu vejo você sorrindo também, vadia.
— Você não vai se arrepender disso, — eu digo, sorrindo para ela.
Ela revira os olhos e solta um grande suspiro que parece cansado.
Com minha irmã convencida, só há uma coisa a fazer...
Eu olho sua blusa preta, calça de couro colada ao corpo e botas de
combate.
Proteção confortável e decente, e apenas no caso de alguém me ver
saindo...
Extremamente sexy.
Perfeito.
Ela balança a cabeça, já lendo minha mente.
— Não.
— Por favor! — Eu grito. — Você sempre se saiu muito bem com o
estilo militar chique, e só vou pegar emprestado. Afinal, vestimos o
mesmo tamanho.
Ela cinza os braços séria, sem achar graça.
— E então o que eu devo vestir agora? — ela pergunta.
Eu sorrio diabolicamente e olho em direção ao meu armário.
ARIEL

Eu caminho de volta pelo corredor para o meu quarto, me sentindo


exausta.
Natalia é a última pessoa que eu gostaria que viesse com a gente, mas
mesmo assim...
Ela realmente cuida de mim.
O que me preocupa é ter que ficar de olho nela.
Acabei de cometer um erro?
Natalia não conseguiu apenas me convencer a deixá-la ir para a Teia
de Fate...
Eu olho para o vestido vermelho com zíper que está abraçando
minhas curvas enquanto eu ando.
De alguma forma, ela negociou uma troca de roupas também.
Tanto faz.
Vou tirar essa coisa quando voltar para o meu quarto.
Eu silenciosamente abro a porta do quarto.
Alex provavelmente está dormindo agora.
Deusa, depois de toda a confusão nos últimos dias, ele merece um
pouco de paz e sossego.
Mas ele não está na cama.
Onde ele está?
— Alex, onde...
De repente, uma explosão enorme e estrondosa de chamas surge do
lado de fora da janela.
Meu corpo inunda com adrenalina e eu entro em ação, disparando em
direção às portas da nossa varanda. Veio de algum lugar lá fora.
Eu irrompo pelas portas e encontro
O quê?!
Alex está parado sem camisa na varanda, com suas costas largas
viradas para mim.
Minha. Deusa.
Em suas mãos, ele segura algum tipo de arma estranha. O cilindro
flamejante exala fumaça como a boca de um dragão.
Ele levanta a arma e outra erupção de fogo se espalha para o céu
enquanto ele ri como uma criança no dia de Natal.
— O que diabos é isso, Alex? — Eu grito.
Ele se vira para mim, sorrindo, com seus músculos flexionando
enquanto ele levanta a coisa pesada em suas mãos.
— Aparentemente, é chamado de lança-chamas. Algo que os militares
do ex-presidente Cooper inventaram. Vivian me deu para a jornada na
Teia de Fate.
Eu levanto minhas sobrancelhas. — Você vai levar essa coisa com a
gente?
Ele assente, colocando-o na mesa da varanda. — E para as teias de
aranha.
— Você não acha que está sendo um pouco exagerado? — Eu digo.
Ele aponta para outra bolsa na mesa cheia de espadas, armaduras e
todos os tipos de armas mortais de todo o reino. — Nunca é demais estar
preparado.
— Bem, estou feliz que você vai levar seus brinquedos, — eu digo
provocativamente, me virando de volta para o quarto.
— Parece que não sou o único que encontrou algo novo para
experimentar, — diz ele, me seguindo para dentro e observando minhas
curvas neste vestido.
— Não se acostume com isso, — eu digo. — E de Natalia. Vou tirar
essa coisa agora.
— Não tão rápido, — ele diz, me virando em sua direção. Seu
abdômen ainda brilha com o calor das chamas. — Não é todo dia que
vejo minha rainha vestindo algo impróprio para o combate.
Eu puxo a lateral do meu vestido e mostro minha fiel espada de pedra
da lua presa a uma bainha de couro na parte superior da minha coxa.
— Não se preocupe, — eu digo, provocando. — Estou sempre
preparada.
Alex sorri, olhando para minha pele nua como se fosse devorá-la. —
Percebi. E há alguma outra arma escondida em você?
— Não, isso é tudo que eu preciso, — eu digo, ajeitando meu vestido
de volta enquanto ele se aproxima.
— Será mesmo? — Ele diz, descendo suas mãos pela minha cintura e
me puxando em sua direção. — Talvez eu precise dar uma olhada
debaixo desse vestido para ter certeza.
Há uma sede em seus olhos, e posso senti-lo muito animado por baixo
da calça jeans.
Mas antes que eu possa entrar no clima, tenho a sensação de que
ainda precisamos ter a conversa.
A conversa que sempre temos antes de fazer algo perigoso e louco.
A conversa de pares preocupados.
— Então, esta é a parte em que você me fala sobre como eu preciso ter
cuidado e que você está preocupado que eu me machuque? — Eu
pergunto.
Ele ri enquanto seus dedos começam lentamente a abrir o zíper do
meu vestido. — Eu sou tão previsível assim?
Ele abre a parte superior, expondo meus seios. O filtro da lua de
Natalia está pendurado como um colar, brilhando ao sol contra meu
peito.
Ele o examina, brincando com ele entre os dedos. — O que é isso?
— Um filtro da lua. Natalia me deu para dar sorte.
Ele levanta meu queixo em sua direção. Seus olhos esmeralda me
penetram com confiança.
— Não precisamos de sorte, e não estou preocupado com você porque
estarei ao seu lado a cada momento que estivermos lá. Eu não me
importo se ela é uma Deusa. Vou matá-la se ela tocar um único fio de
cabelo seu.
Seu corpo exala pura confiança e acredito em cada palavra que ele
acabou de dizer.
A umidade começa a aumentar entre minhas pernas enquanto ele me
puxa para um beijo profundo, com sua língua clamando pela minha.
Seus beijos se tomam mais fortes, e eu deixo escapar gemidos suaves
enquanto eles descem pelo meu pescoço.
Ele suga levemente minha marca de acasalamento, provocando uma
explosão de prazer pelo meu corpo.
— Fiquei esperando a manhã toda, Ariel, e estou ficando impaciente.
E por mais que eu ame ver você com esse vestido, eu quero que você o
tire agora, — ele comanda.
Eu mordo meu lábio enquanto imediatamente faço o que ele diz,
descendo o restante do zíper e puxando minha calcinha, deixando
minhas roupas caírem no chão ao redor dos meus pés.
A única coisa que sobrou no meu corpo é minha espada de pedra da
lua.
Ele rosna, e algo sobre sua respiração profunda e animalesca está me
excitando imensamente.
Alex me encara como se a qualquer segundo ele fosse devorar meu
corpo inteiro.
— Vem aqui, — ele comanda.
Eu dou um passo à frente. Há algo no tom de sua voz que faz meu
corpo queimar de desejo.
Eu traço meu dedo na fivela de seu cinto, lentamente a abrindo
enquanto ele me encara com desejo. Ele está me dando um olhar que diz
que ele quer me sentir agora, mas eu quero provocá-lo primeiro.
Eu quero deixá-lo louco.
Tiro seu cinto e o deixo cair no chão. Lentamente, começo a abrir sua
calça.
Eu observo o volume em sua calça crescendo cada vez mais,
ameaçando estourar através do tecido.
Eu fico de joelhos e puxo seu membro para fora, deixando minha
língua dançar para cima e para baixo.
Ele fecha os olhos e geme, agarrando um punhado do meu cabelo e
guiando ele todo na minha boca.
Eu permito que ele defina o ritmo, usando sua mão para guiar minha
cabeça enquanto faço mágica com minha língua.
Deusa, parece que fica cada vez maior.
Sinto uma umidade se acumulando entre minhas pernas enquanto
antecipo o momento em que serei capaz de senti-lo dentro de mim, paro
e olho para ele.
— Eu quero você, — eu digo. — Agora.
Ele me puxa para cima e, sem esforço, me levanta e coloca minhas
pernas em volta de sua cintura enquanto ele começa a me beijar com
força.
Nosso desejo está queimando de uma forma que ele nem mesmo me
leva até a cama.
Em vez disso, ainda de pé, ele se coloca dentro de mim ali mesmo. Eu
gemo e envolvo meus braços ao redor de seu pescoço para me apoiar
enquanto ele desliza todo o seu membro para dentro.
Deusa...
Quando ele começa a meter, o prazer surge dentro de mim e parece
que estou flutuando.
Eu tento me mover contra ele, precisando controlar o ritmo, mas suas
mãos agarram meus quadris e me param.
Ele quer controlar tudo agora.
A velocidade.
O ritmo.
Tudo.
E estou mais do que feliz em permitir.
Ele me joga na cama e eu me contorço em antecipação, percorrendo
minhas mãos pelo meu corpo enquanto ele se inclina sobre mim como
um lobo faminto se aproximando de sua presa.
Alex puxa meus quadris para cima em direção a ele na beira da cama, e
eu grito de prazer quando ele me penetra nesta nova posição.
Minhas costas estão arqueadas contra a cama e, desse ângulo, cada
impulso desliza perfeitamente contra meu ponto mais agradável.
Tudo o que posso fazer é agarrar a grade da cama, segurando com
todas as minhas forças enquanto vejo Alex avança cada vez mais forte,
fazendo meus seios balançarem descontroladamente.
Eu amo vê-lo assim.
Ele mete de forma desenfreada e imprudente, deixando escapar uma
energia selvagem e dominante que eu nunca vi antes. A estrutura da
cama de madeira range sob o poderoso balanço de nossos corpos.
Eu nem acredito na intensidade do êxtase vibrante enchendo meu
corpo enquanto me aproximo do clímax, e agarro seus quadris para
manter o ritmo de cada impulso constante enquanto ele usa seu polegar
para tocar meu ponto latejante.
Minha mente começa a girar e preciso gemer ainda mais alto para
evitar que o prazer me oprima.
Nosso colchão começa a deslizar e eu ouço algo estalar na cama, mas
agora eu não dou a mínima para algo assim.
Tudo que me importa é o ritmo das estocadas de Alex, seus dedos me
esfregando na medida certa, e o prazer ardente ameaçando acabar
comigo.
— Estou quase lá, — eu grito — alto o suficiente para todo o palácio
ouvir. — Não pare.
Mas eu sei que ele não tem nenhuma intenção em parar. A euforia se
torna tão intensa que não aguento mais.
Eu preciso me permitir.
Eu estremeço, com minhas pernas tremendo enquanto gozo em
completo êxtase quando Alex também chega ao ápice. Nossos corpos
chegam exatamente juntos como CRASH!
A madeira da estrutura da nossa cama estala. A cama se quebra ao
meio quando o colchão cai no chão, e nós caímos junto com ele.
Alex e eu olhamos um para o outro, com os olhos arregalados de
choque, ainda atordoados de prazer extasiante.
Então, de repente, começamos a rir. Ele cai em cima de mim.
— Nós acabamos de quebrar a cama? — Eu pergunto, ofegante.
— Vamos quebrar todas as vezes, — ele grunhe.
Nós deitamos nos destroços de nosso antigo leito real, recuperando o
fôlego e rindo. Ainda sinto um eco de Alex dentro de mim.
Não há uma maldita Deusa neste mundo que possa tirar esse
sentimento de nós.
— Eu precisava disso, porra, — ele diz, me beijando.
— Eu te amo muito.
— Você não era o único, — eu digo, passando meus dedos em seu
peito. — Eu também te amo, Alex.
Eu fico olhando para ele por um momento, saboreando o olhar corado
e sexy em seu rosto.
De repente, meu telefone toca.
Mensagens chegando.
— Esqueça isso, — ele murmura, me puxando para mais perto. — Eu
quero você sozinha por mais cinco minutos.
— Eu quero, — eu digo, — mas deixe eu dar uma olhada, só por
precaução.
Marius: Ariel, o que quer que você precise fazer...

Marius: Faça logo.

Marius: Os médicos acabaram de dizer que a situação de Amy


está piorando.

Marius: Ela não tem muito tempo.


Sentamos entre os destroços de nossa cama e trocamos um olhar
preocupado.
A realidade sempre volta mais cedo ou mais tarde.
Fate está acelerando o relógio.
Ela está nos chamando de volta para seu covil.
Isso significa que teremos que sair antes do que pensávamos.
Para melhor ou pior, é hora de encontrar nosso destino.
Capítulo 26
O CODFATHER PARTE II ARIEL
Estou no convés oscilante do navio da Marinha da Matilha Real,
sentindo um arrepio percorrer minha espinha.
Uma névoa escura está surgindo, começando a bloquear a luz da lua
cheia no céu noturno.
Estamos chegando perto.
Consigo sentir.
Natalia ainda está abaixo do convés — ela entrou lá com cerca de
vinte minutos de viagem, depois de vomitar as tripas por conta das ondas
fortes.
Mas eu não me movi durante toda a viagem, olhando para a distância
deste local.
Eu posso sentir Fate rondando no limite da minha mente.
Quanto mais nos aproximamos, mais forte sua presença se torna.
Esta viagem é um erro?
Ela já sabe o que vai acontecer?
Ela está apenas puxando os cordões desta armadilha?
Sou arrancada de meus pensamentos perturbados por uma silhueta à
distância.
Eu aperto os olhos, analisando através da névoa.
Parece um pequeno barco.
Um sorriso caloroso se espalha pelo meu rosto enquanto nos
aproximamos mais um pouco. E o Codfather mais uma vez.
E Grimsby, o velho pescador que nos salvou da última vez.
— AHOY! — ele grita, agitando os braços com entusiasmo. Seu
cachimbo de madeira pende para fora de sua boca, e seu chapéu de
almirante da Marinha da Matilha Real fica orgulhosamente acima de seu
rosto queimado de sol.
Nosso barqueiro da Teia de Fate chegou.
Assim que embarcamos, Alex, Natalia e eu nos sentamos perto da
frente do barco.
Mas não somos os únicos passageiros. Estamos dividindo nossos
assentos com um bando de peixes gigantescos de aparência estranha.
A pesca recente de Grimsby.
Natalia aperta o nariz e se afasta da cabeça de peixe escancarada ao
lado dela. Ela tenta não sujar suas — quero dizer, minhas — botas de
sangue.
— Não se preocupe, senhorita, eles não vão te morder, — Grimsby diz
para Natalia, exibindo o sorriso de um único dente mais charmoso que
ele tem.
— Obrigado por nos levar a bordo, — diz Alex, apertando sua mão.
— Então, você estava falando sério mesmo sobre voltar para a Teia de
Fate, não é? — Grimsby pergunta a ele, fumando seu cachimbo.
— Sim, precisamos voltar para a costa, — eu digo.
— Você pode nos deixar perto de lá?
— Ah, por você, Senhora Rainha, eu a levaria para os portões do
Inferno e voltaria.
Eu olho para Alex, que tenta esconder seu sorriso.
— Mas você sabe o que dizem: não se engana Fate duas vezes.
— Veremos, — diz Alex, examinando as águas à frente.
A névoa está ficando mais pesada e escura, mas não parece incomodar
nem um pouco o pescador.
— Fiquem à vontade. Ainda temos um caminho pela frente.
Natalia bufa, parecendo miserável.
— Tempo suficiente para uma segunda rodada abaixo do convés? —
Alex sussurra em meu ouvido.
— Terminar o que começamos da última vez?
Eu rio, dando um soco leve em seu braço. — Em vez de quebrar a
cama, afundaríamos o barco desta vez.
Ele sorri e coloca o braço em volta de mim enquanto olhamos para
longe, em busca de qualquer sinal da ilha no horizonte.
Nossas botas de surfe respingam na areia úmida da costa, e
caminhamos pela pequena praia em direção às árvores escuras e de
aparência sinistra.
Tiramos as roupas de mergulho e as botas impermeáveis que nos
protegiam do coral.
Desta vez, pelo menos, viemos preparados.
Eu olho de volta para Grimsby, que acabou de nos deixar lá. Ele se
despede de nós.
— Boa sorte, seus lunáticos! — ele grita, acendendo seu cachimbo. —
Vocês vão precisar!
Posso ouvir sua gargalhada ecoar no ar enquanto seu barco vira e
desaparece de volta na névoa, deixando-nos sozinhos na costa da Teia de
Fate.
As árvores são escuras e o luar mal passa pelas nuvens acima. A noite
está completamente quieta e os insetos gritam ao vento.
— Vamos, — Alex diz, jogando sua bolsa de armas por cima do ombro
e fazendo o seu caminho para a floresta. Natalia me lança um olhar
inseguro antes de nós duas o seguirmos.
Enquanto caminhamos pela floresta úmida, tentamos fazer nossos
passos o mais silenciosos possível. Eu mantenho meus ouvidos atentos e
meu nariz em sintonia com qualquer sinal de perigo.
Mas há um milhão de odores estranhos aqui, e nenhum deles cheira
exatamente como algo bom.
A névoa é tão densa que parece que estou andando em uma nuvem.
Mais espessa que da última vez.
O que torna absolutamente impossível acompanhar em que direção
estamos indo.
Todo o meu treinamento de rastreamento com os guerreiros é
basicamente jogado no lixo aqui.
Em pouco tempo, estamos completamente perdidos.
Vamos, Fate.
Pare com esse jogo.
Apenas nos leve para sua caverna.
Logo, eu ouço algo.
Uma voz.
Mas não posso dizer se está dentro da minha cabeça ou flutuando em
algum lugar no nevoeiro.
— Você finalmente está pronta para aceitar seu destino? — A voz
ameaçadora de Fate provoca.
Eu olho para Alex e Natalia. Parece que eles não ouviram nada.
— Pode vir, — digo a ela.
Assim que respondo mentalmente, a névoa se desfaz como se fosse
cortada por uma faca.
A distância, uma caverna gigante aparece através da linha das árvores.
O covil de Fate.
A entrada parece uma boca gigante aberta, pronta para nos engolir
por completo na escuridão dentro dela.
Teias de aranha prateadas alinham a entrada, formando uma barreira.
Conforme nos aproximamos, uma rajada de vento uiva em nossa
direção e irrompe da caverna, soprando meu cabelo para trás e
provocando um calafrio por todo o meu corpo.
Com ela, vem a voz assustadora de Fate.
— Bem-vindos de volta à minha teia, minhas pequenas moscas. Este
encontro está destinado a acontecer há muito tempo.
Alex e Natalia congelam ao ouvir a voz arrepiante de Fate.
Sinto uma raiva crescer dentro de mim.
Ela está me provocando.
Isso não está destinado.
Eu escolhi lutar com ela o tempo todo, e estou escolhendo acabar com
isso agora.
Eu não vou mais jogar seu joguinho.
Esta é minha vida.
Eu espio as teias à nossa frente, bloqueando nosso caminho.
— Alex, queime essa merda.
— Com prazer.
Ele dá um passo à frente, erguendo seu lança-chamas e abrindo um
túnel de fogo, incinerando cada uma das teias de Fate à vista.
Deusa, como é bom vê-las queimar.
ALEX

Eu assumo a liderança, guiando-nos cada vez mais fundo na caverna e


queimando tudo em nosso caminho.
Eu gostaria de ter essa coisa em minhas mãos da primeira vez.
O ar está ficando úmido e centenas de gotas de água ecoam como
metrônomos quebrados.
Mesmo que estejamos mais preparados desta vez, ainda caminhamos
com cuidado, observando cada um de nossos passos.
Você nunca sabe quando Fate tem uma armadilha para você ao virar a
esquina.
De repente, surgindo na escuridão, uma figura anda em minha
direção.
Olivia.
Ela está de pé com uma camisola fina, como se tivesse acabado de
rastejar para fora da cama.
— Alex, — ela diz sedutoramente, — Eu procurei por você em todos os
lugares. Você não vai ficar aqui comigo?
Mas não importa o quão real ela pareça, não serei enganado por Fate
duas vezes.
— Desculpe, Liv. Eu não posso fazer isso.
Eu disparo meu lança-chamas em sua direção, e ela se dissolve em
névoa.
— Que porra foi essa? — Natalia grita.
— Não se preocupe com isso, Nat, — eu digo, tentando tranquilizá-la.
— Eles são apenas aparições inofensivas. Como fantasmas. Veja.
Eu aponto para longe, onde Lola está olhando para mim. Sua cabeça
pende para o lado de seu pescoço quebrado.
— Por que você fez isso comigo, Alex? Eu era inocente. Foi Ariel quem
mentiu sobre tudo.
Ok, agora Fate nem está tentando.
Eu nunca cairia nessa.
Com uma explosão do meu lança-chamas, mando Lola de volta para
qualquer tumba de onde ela saiu.
— Que ótimo. Então, ninguém pensou em mencionar que os
fantasmas de nossos ex-namorados vagam por esta caverna assustadora?
— Natalia grita.
Eu olho para trás. Ela está apontando sua lanterna para Xavier.
Ele está em um túnel à nossa esquerda, ofegando com força e olhando
para ela com olhos cheios de raiva. Ele está imundo, seu cabelo e barba
estão completamente despenteados e seus dentes amarelados estão à
mostra.
Ele parece a morte.
— Não se preocupe, Natalia. Quer que eu o destrua? — Eu digo,
erguendo meu lança-chamas.
— Não. Ele pode ser um fantasma, mas isso não significa que eu não
queira aproveitar ao máximo esta oportunidade para dar um tapa no
filho da puta.
Ela timidamente se aproxima, acenando com a mão na frente do rosto
dele para testá-lo. Ele sorri, mantendo os olhos fixos nela.
Ela pega impulso com a mão. — Vai se foder, Xavier.
Mas assim que Natalia está prestes a dar um tapa na cara dele, sua
mão dispara e agarra a dela.
Natalia está completamente chocada.
— O que...?
De repente, sua outra mão se estende e a agarra pelo pescoço.
Não...
O horror se apodera de mim enquanto Natalia tenta gritar, mas ela
está lutando para respirar.
Isso não pode estar acontecendo.
Xavier se vira para olhar para nós, sorrindo maliciosamente.
Ele não é um fantasma desta vez.
E realmente ele.
Capítulo 27
A LUZ DO LUAR
NATALIA

Minha mente começa a girar e o pânico inunda meu corpo enquanto


agito meus braços, tentando acertar Xavier com cada grama de força que
tenho.
Eu preciso escapar.
Agora.
Mas o aperto de Xavier no meu pescoço é tão inevitável quanto a
mordida de um lobo. A dor queima minha garganta enquanto eu luto
para levar ar para meus pulmões.
— Xavier... por favor..., — eu tento pedir.
Mas qualquer vestígio do homem que eu conhecia se foi. Seus olhos
são completamente ferozes.
— Eu tenho que admitir, Natalia. Estou surpreso em ver você aqui.
Meu objetivo era apenas matar Alex para que eu pudesse finalmente ficar
com meu par destinado...
Sua garra aperta ainda mais forte, fazendo minha visão começar a ficar
turva.
— Mas ter você aqui também é um belo presente de Fate, — ele diz.
Com o canto do olho, vejo Alex avançando em nossa direção, gritando
em fúria.
Socorro.
Por favor.
Mas o chão embaixo dele — coberto por um tapete de teias — se rasga
e, antes que ele possa dar outro passo, ele cai em uma cratera,
escorregando para a Deusa sabe onde.
Meu coração dói quando minha visão começa a escurecer.
Suspensas no ar, as patas de aranha afiadas de Fate se agarram a uma
teia de prata, e ela me encara com oito olhos brilhantes e redondos.
Eu ouço um alto sibilo e ela me cobre com suas teias prateadas. Elas
prendem meu corpo no chão e apertam meus membros.
Eu luto com todas as minhas forças, observando Natalia dar seu
último suspiro para Xavier a alguns metros de distância.
— Xavier! — Eu grito. — Deixe ela ir! — Eu tento puxar as teias, mas
os fios parecem ficar ainda mais fortes quanto mais eu luto contra eles.
— Apenas se entregue, pequena, — Fate sussurra em meu ouvido. —
Aceite o seu destino.
Um sorriso vitorioso se espalha pelo rosto de Xavier quando Natalia
para de se mover.
Não...
Por favor...
De repente, Natalia ganha vida, chutando a perna dele e agarrando
seu braço, jogando-o no chão.
O movimento que ensinei a ela.
Xavier geme de dor, distraído por um momento.
— NATALIA, CORRE! — Eu grito.
NATALIA

Minhas botas batem no chão molhado da caverna, ecoando pelos


túneis.
Corro o mais rápido que meus pés podem me levar, mas perdi
completamente a noção de onde estou.
De repente, o túnel se abre em uma enorme caverna circular.
Paredes rochosas me cercam e não há outra saída que eu possa ver.
Acima, o teto é grosso com teias brilhantes dispostas em padrões
complexos.
Não sei o que diabos é esse lugar, mas agora, é melhor do que ser
estrangulada por Xavier.
Eu olho para trás no túnel, mas está muito escuro para ver se ele está
atrás de mim.
Mas se o comportamento dele até agora serve de indício...
Ele não vai desistir até que eu esteja morta.
Eu posso sentir isso.
Eu mergulho nas sombras atrás de uma grande pedra, colocando
minha mão sobre a boca para manter minha respiração pesada o mais
silenciosa possível.
Eu esforço meus ouvidos para ouvir qualquer coisa além do som do
meu batimento cardíaco trovejando no meu peito.
Ah.
Eu ouço algo.
Passos.
E...
Assobios?
Xavier assobia uma melodia alegre como se estivesse dando um
passeio pelo parque em um belo dia. A forma como as notas ecoam na
caverna gigante faz minha pele arrepiar.
Ele parece estar brincando comigo.
Aquele psicopata desgraçado.
Ele está gostando disso.
Para piorar, os ecos fazem com que eu não consiga dizer o quão perto
ou longe ele está.
Mas eu sei que ele está aqui.
Em algum lugar.
E agora estou presa com ele.
— Natalia, querida, eu posso sentir seu cheiro, — ele grita. — Por que
você tentaria brincar de esconde-esconde comigo, hein?
Tento ficar o mais imóvel possível.
Há mil odores de mofo nesse lugar.
Talvez ele simplesmente passe e eu consiga encontrar um caminho de
volta para Ariel e Alex.
— Aw, agora você está apenas ferindo meus sentimentos, Natalia, —
ele grita. — ESPECIALMENTE DEPOIS DE VOCÊ ARRUINAR A PORRA
DA MINHA VIDA!
Eu não posso evitar, mas dou um pulo quando ele grita, e uma pedra
se quebra sob meu pé quando eu me movo.
Meu coração erra uma batida.
Merda.
— Você sabe o que dizem sobre Fate, Natalia? — ele brada.
Eu escuto aterrorizada, mas pelo som de sua voz, parece que ele está
se distanciando.
Eu acho.
— Você tem que fazer seu próprio destino..., — ele continua.
Eu lentamente espio em torno da rocha, analisando a escuridão e
buscando por qualquer sinal de Xavier.
Onde diabos ele está?
Ele se foi?
Eu sinto seu hálito quente em meu pescoço antes de ouvir seu
sussurro: — Ou alguém terá que fazer isso para você.
ARIEL

Meus olhos se arregalam quando o grito de Natalia ecoa de algum


lugar nas profundezas da caverna.
Natalia...
Rangendo os dentes, tento uma última vez sair das teias com toda a
minha força.
Mas não adianta.
Fate me prendeu completamente.
Ela sai das sombras e se transforma em sua forma humana, olhando
para mim com seus olhos escuros sem fundo.
— Apenas fique quieta e deixe o destino seguir seu rumo, Ariel. Aceite
isso.
Como se fosse uma deixa, outro grito soa de algum lugar. Desta vez,
no entanto, é mais alto.
— O que você quer, Fate?
— Logo, sua irmã e seu par estarão mortos. Você finalmente poderá se
juntar a Xavier, e tudo voltará ao seu devido lugar em minha tapeçaria.
— Não se eu tiver algo a dizer sobre isso, — eu disparo para ela.
— Ninguém vai te ajudar aqui, Ariel, — ela sorri, mostrando seus
dentes brancos.
Eu paro de lutar contra as teias e fecho os olhos.
Veremos.
— Selene, preciso de sua ajuda. Eu sei que você me deixou para resolver
isso sozinha, mas eu só preciso de algo de você. Por favor, — grito em minha
mente. — Apenas me dê o poder para me ajudar a sair dessa.
Fate ri. — Ela nunca vai te alcançar aqui embaixo, querida. Minha
irmã não tem poder em meu covil.
Mas de repente, eu noto uma luz minúscula acima de mim.
É tão pequena que é quase imperceptível, mas na escuridão da
caverna, a luz faz um pequeno raio através das teias grossas acima.
A luz do luar.
O feixe pousa bem no meu peito e eu sinto um estranho poder
pulsante emanando de algum lugar.
Eu olho para baixo. O colar de filtro da lua brilha com poder ao captar
a luz.
A pedra brilhante no centro irradia ainda mais luz, queimando
qualquer teia que o luar toque como fogo.
As teias ao redor do meu corpo se desintegram, me libertando.
E isso ai!
— Obrigada, Deusa!
Fate sibila, recuando. Ela se transforma de volta para sua forma de
aranha e foge da luz, desaparecendo no túnel mais escuro que ela pode
encontrar.
Eu movo minhas mãos para o feixe e queimo os fios pegajosos
restantes.
Mas não perco tempo celebrando minha liberdade. Um terceiro grito
ecoa e eu corro o mais rápido que posso naquela direção.
Eu corro pelo túnel à minha esquerda e entro em uma caverna
circular gigante.
Minha frequência cardíaca acelera e meu corpo fica tenso quando vejo
o enorme teto de teias brilhantes acima de mim.
Lembro deste lugar desde a primeira vez que estive aqui.
Esta arena gigante é a casa de Fate.
O centro de sua teia.
No meio da caverna, Xavier está parado sobre Natalia, carregando
fúria nos olhos. Ela está no chão, ficando sem ar.
— Você não entende, Natalia? Isso não é sobre você, — diz ele,
caminhando até uma pedra gigante perto dele. — Assim que eu matar
você e Alex, Ariel não terá mais ninguém, e ela finalmente poderá ver que
sempre estivemos destinados a ficar juntos.
Aquele desgraçado.
Eu grito e começo a correr em direção a ele enquanto ele pega a pedra,
caminha de volta para Natalia e a levanta sobre sua cabeça para esmagá-
la.
NÃO!
De repente, um lobo gigante loiro salta das sombras e joga Xavier no
chão, fazendo a pedra espatifar ao lado deles.
Alex!
Natalia rasteja para longe enquanto as garras gigantes de Alex
prendem Xavier no chão de pedra da caverna.
Ele coloca seus caninos a centímetros da garganta de Xavier, rosnando
de fúria.
Meu coração dispara.
Alex o prendeu.
Eu nunca o vi olhar para ninguém do jeito que ele está olhando para
Xavier agora.
Seus olhos estão com sede de sangue, mas ele está hesitando.
Ele está decidindo entre recuar e levá-lo à justiça ou usar sua poderosa
mandíbula para acabar com essa loucura para sempre.
Xavier assiste à indecisão e começa a rir.
— Você sempre foi muito fraco para fazer isso. Você não merece um
par como Ariel. Ela precisa de um Alfa de verdade. E um Alfa é algo que
você nunca...
A mandíbula de Alex se fecha com uma trituração nauseante e o
impede de dizer mais uma palavra.
Ele chacoalha a cabeça para frente e para trás, rasgando a garganta de
Xavier, espirrando um arco de sangue em todo seu pelo.
O corpo de Xavier cai de volta no chão da caverna, completamente
silencioso e mole.
O que estava destinado nunca acontecerá.
Xavier está morto.
Capítulo 28
A TEIA DESFIADA ALEX
Eu mal percebo que me transformei de volta para a minha forma
humana, enquanto meu lobo volta para o fundo da minha mente.
Eu o matei.
Eu finalmente o matei.
Meu lobo rosna de satisfação, saboreando a sensação de vingança.
Mas eu...
Não sinto absolutamente nada.
Já condenei pessoas à morte antes, mas isso é diferente.
Isso era pessoal.
De repente, sinto o frio glacial nesta caverna e começo a tremer em
minha pele nua.
Eu olho mais uma vez para Xavier deitado ao meu lado, sem vida,
ensanguentado e imóvel.
Ele não causou nada além de dor para todos. E prometi a mim mesmo
que da próxima vez que o visse, ele não sobreviveria.
Agora cumpri essa promessa.
E eu faria de novo se isso significasse manter Ariel segura.
Eu sinto os braços de Ariel em volta de mim. Deusa, seus braços são
tão quentes.
— Eu nunca vou deixar nada de mim acontecer com você, — eu
sussurro para ela. — Nunca.
ARIEL

Acabou.
Fate não tem mais nada comigo.
Xavier está morto e não há nada que ela possa fazer a respeito.
Finalmente estou livre.
Enquanto ajudo Alex a se levantar, olho para Natalia, que está sentada
atordoada.
Estou prestes a ir confortá-la quando de repente seus olhos se
arregalam de honor.
Ela aponta para trás de mim.
Pelo amor da Deusa, não posso respirar um pou...
— VOCÊ DESTRUIU SEU DESTINO! — Fate grita, descendo do teto
em uma teia, fazendo sua voz soar como uma espada em meu tímpano.
— Não, — eu digo, puxando minha espada de pedra da lua e me
virando para encará-la. — Eu me libertei dele.
De repente, toda a caverna começa a tremer. Vibrações estrondosas
provocam rachaduras nas paredes, e o chão parece que está prestes a se
quebrar em um milhão de pedaços.
Meu coração dispara quando vejo no que a furiosa Deusa se
transformou.
Ela parece ter saído de um pesadelo!
Todos os seus oito olhos redondos estão vermelhos com fúria
assassina, e ela cresceu duas vezes mais do que antes. Sua mandíbula está
espumando veneno de prata.
Normalmente, meu primeiro instinto é lutar.
Mas agora, é exatamente o oposto.
— CORRE! — Eu grito, puxando Natalia antes que uma pedra caia do
teto bem onde ela estava sentada.
Isso a teria esmagado.
A raiva de Fate está destruindo a caverna.
E estamos bem no meio dela.
Precisamos sair daqui.
Agora.
Corremos em direção ao túnel que nos trouxe até aqui, desviando dos
destroços que caem do teto.
Mas meu coração sofre quando vejo que a única saída deste lugar
desabou, bloqueando nosso caminho.
Procuro qualquer outra forma de sair daqui, mas percebo que estamos
presos.
Eu me viro e olho para Fate, com suas enormes e afiadas pernas de
aranha parecendo que poderiam nos cortar ao meio sem o menor
esforço.
— Ariel, olhe para cima! — Natalia grita ao meu lado.
Acima de nós, pequenas lacunas apareceram na espessa camada de
teias. Raios brilhantes da luz do luar fluem como holofotes, iluminando
parcialmente o chão da caverna.
É isso! A luz do luar!
Mas Fate se aproxima rapidamente, nos colocando contra a parede.
— Você matou seu par destinado, e agora toda esperança de equilíbrio
está destruída! — ela grita, retumbando sua voz por toda a caverna.
— Eu te disse, eu nunca vou deixar ninguém escolher meu destino! —
Eu grito de volta.
Esta é minha luta, mas Alex e Natalia permanecem firmes ao meu
lado.
Eu não posso conter um pequeno sorriso.
Aconteça o que acontecer, esses dois estão comigo até o fim.
— Então, resta apenas uma parte do seu destino..., — ela diz, expondo
suas presas. — Morte.
Fate me ataca com um golpe rápido de suas pernas. Eu rolo para o
lado e lanço um golpe com minha espada de pedra da lua.
Mas nem mesmo deixa uma marca em sua armadura negra e
aracnídea.
Merda.
Achei que armas normais não funcionariam.
Hora do plano B.
Fate me golpeia novamente, evitando cuidadosamente os raios
lunares.
Eu rolo para longe de outro ataque, olhando para a luz fluindo através
das teias acima.
Eu arranco o filtro da lua do meu peito e jogo para Natalia.
— Use isso para redirecionar a luz do luar para ela, — eu ordeno, desta
vez quase sem conseguir desviar de Fate quando tenta me rasgar ao meio
com sua mandíbula enorme.
Eu lanço dois golpes em seu baixo-ventre, mas as feridas se curam
instantaneamente.
Ela levanta a pata dianteira para me atacar e, desta vez, percebo que
não há para onde me esquivar.
Mas bem quando estou prestes a encontrar meu destino para sempre,
o lobo de Alex se lança sobre ela, desequilibrando-a e me dando tempo
suficiente para rolar de volta para um local seguro.
— Natalia, agora! — Eu grito.
Natalia ergue o filtro da lua em um raio lunar, usando-o como um
espelho para direcionar a luz em direção à Fate, que grita em agonia
enquanto queima sua pata dianteira como um laser.
Eu sorrio.
Te peguei agora, vadia.
— Continue! — Eu grito enquanto Natalia sobe em uma pedra
quebrada para que ela possa ter uma visão melhor.
Fate corre em busca de refúgio para evitar a luz, mas Alex permanece
atrás dela, golpeando-a onde pode. Suas garras não causam nem um
arranhão, mas o importante é que ela está distraída.
Não tenho um segundo a perder.
Eu corro para a parede rochosa, subindo o mais rápido que posso.
Algumas das pedras despencam com o meu peso e quase perco o
equilíbrio várias vezes.
Mas logo, eu alcanço o topo da caverna.
Olhando de relance para baixo, estou em uma altura vertiginosa.
Deusa, espero que funcione.
Pego minha espada, mal alcançando a teia gigante que forma o
restante do teto.
Estendo a mão e rasgo o máximo que posso do material pegajoso.
Assim que eu faço isso, o luar de cima entra, inundando toda a
caverna com seu brilho vibrante e azulado.
Fate grita enquanto é queimada pela luz, correndo desesperadamente
para qualquer lugar escuro para se esconder.
Eu continuo cortando as teias, e a pedra da lua em minha espada
capta a luz e faz elas queimarem, até que não haja nenhum lugar onde ela
possa se esconder.
Ela cai no chão, presa, enquanto sua pele borbulha e a fumaça branca
sobe.
Pego uma grande corda de teia pendurada nas proximidades e deslizo
para baixo em direção a ela, com o vento chicoteando meu cabelo.
Eu salto no último momento, deixando escapar um grito de batalha
enquanto eu cravo minha espada com toda a minha força em Fate.
Minha lâmina corta seu peito macio e derretido.
Seus olhos vermelhos brilhantes se arregalam em choque, olhando
para mim enquanto voltam à sua cor preta de costume.
— Aposto que você não previu isso, vadia, — eu sussurro enquanto
arranco a espada de seu peito.
Ela abre a boca para falar, mas ela só consegue deixar escapar um
último assobio antes que todo o seu corpo e rosto derretam, formando
uma poça brilhante no chão da caverna.
A caverna para de tremer e os destroços se acomodam.
Eu fico sobre o que sobrou de Fate, recuperando o fôlego.
Eu não posso acreditar.
A Deusa do Destino se foi.
Eu consegui.
De repente, um grito me arranca da minha celebração silenciosa.
Eu me viro e vejo Natalia cair de joelhos, com as mãos em seu coração.
As lágrimas começam a escorrer por seu rosto.
Ela começa a chorar histericamente e eu corro até ela.
— Natalia, você se machucou? — Eu pergunto, verificando se há
feridas em seu corpo.
Mas não há sangue em lugar nenhum.
Natalia mal consegue falar, engasgando com os soluços.
— Chuck..., — ela grita. — Não consigo mais senti-lo...
Uma nova onda de agonia cai sobre ela enquanto ela se joga de volta
no chão, clamando por seu par destinado.
— Ele se foi..., — ela chora. — Tudo se foi.
Oh, não.
Em um instante, percebo o que acabei de fazer.
Eu conheço exatamente essa dor. Já senti isso antes com Xavier.
Natalia está sentindo a dolorosa perda de um vínculo de acasalamento
destinado.
Mas tenho a sensação de que não é só Natalia...
Ao matar Fate, acho que quebrei todos os vínculos de acasalamento
existentes.
Deusa...
O que eu fiz?
Capítulo 29
MUDANDO DE RUMO
NATALIA

Meu vínculo de acasalamento destinado está quebrado.


Meu coração está partido.
Apenas alguns momentos atrás, eu compartilhava uma conexão com
alguém que me importo profundamente. Uma conexão que transcendeu
todas as outras.
Estávamos amarrados juntos por uma força divina — uma sensação
que me fazia sentir mais leve que o ar cada vez que estava na presença de
meu par.
Mas agora...
Agora me sinto vazia.
Não sinto a atração — o anseio — que senti antes.
Esse sentimento de desejo é substituído por um vazio sem fim que
nunca poderá ser preenchido.
Minha loba está em silêncio. Nem mesmo uma lamentação. Ela
apenas está no fundo da minha mente, com os olhos vidrados.
Foi assim que Ariel se sentiu quando Xavier a rejeitou como seu par?
Eu aperto minhas mãos contra o chão frio abaixo de mim, e minhas
lágrimas caem nas pedras.
A mão de Ariel treme quando ela toca meu ombro. — Natalia... eu... eu
não sabia que isso iria...
Eu me jogo nos braços da minha irmã e continuo a soluçar. Sua mão
se fuma e ela me segura com força.
— Eu sinto muito, — ela diz. — Eu sei exatamente o que você está
sentindo agora.
— Eu sei que você sente, — eu respondo, fungando enquanto tento
conter meu dilúvio de lágrimas. — E quando você passou por isso, eu não
estava lá para ajudá-la.
— Isso é passado. Você está aqui para mim agora. E eu estou aqui para
você. Eu prometo a você que vai melhorar.
Ariel se afasta e olha para Alex, dando-lhe um sorriso suave.
Eu quero acreditar em Ariel, eu realmente quero. Mas o que ela tem
com Alex é um em um milhão.
— Chuck se foi, — eu digo. — E sem o destino nos mantendo juntos...
Mesmo se ele puder me perdoar, ele ainda vai me querer?
Talvez não houvesse realmente uma conexão entre nós em primeiro
lugar...
Talvez fosse tudo uma ilusão — um truque cruel orquestrado por Fate.
Ariel pega minha mão e me ajuda a ficar de pé.
— Destinado ou não, se Chuck não consegue ver o quão incrível você
é, então ele não te merece.
Eu aceno, enxugando a última das minhas lágrimas.
Mesmo que meus pensamentos estejam dispersos e meu corpo pareça
que foi quebrado em mil pedaços, pelo menos eu tenho Ariel aqui, me
apoiando.
Não mereço uma irmã como ela. Ela é uma luz constante na minha
escuridão.
Embora suas palavras sejam reconfortantes, aquela escuridão ainda
permanece, pairando sobre mim como uma nuvem.
Se eu não mereço o amor de Ariel...
Então eu também não mereço o de Chuck.
Talvez meu verdadeiro destino seja ficar sozinha...
ARIEL

Embora Natalia esteja tentando ser corajosa, posso ver o quão


derrotada ela realmente está.
E ela não é a única a fingir coragem...
Estou tentando ser forte pela minha irmã, alguém em quem ela possa
confiar para se apoiar, mas por dentro minhas paredes estão
desmoronando.
Estou uma bagunça absoluta.
Ao matar Fate, acabei de cortar o vínculo de acasalamento destinado
de Natalia.
E não só de Natalia...
Eu quebrei todos os vínculos de acasalamento existentes.
Tudo que eu queria era escolher meu próprio caminho.
Para estar livre da teia emaranhada de Fate.
Mas sem querer eu libertei todo mundo de seu destino sem seu
consentimento.
Posso apenas imaginar a dor e o tormento que milhões de lobos estão
sentindo agora.
Depois de curar tantos, eu dei meia-volta e os machuquei.
Minha própria loba quer uivar de angústia por aqueles que perderam
seus pares, mas ela não consegue nem levantar a cabeça.
Há uma tristeza que permeia o ar e está nos oprimindo.
Alex caminha até mim e envolve seu braço em volta do meu ombro.
Eu encontro conforto em seu peito enquanto respiro seu perfume.
— Vai ficar tudo bem, — diz ele.
Suas palavras soam tão confiantes que quase acredito nele.
Agora que as teias de aranha foram removidas do teto, o luar brilha
através da enorme caverna.
Eu olho para cima e vejo que o lindo céu estrelado está visível.
Milhares de luzes cintilantes.
Elas me dão esperança — pelo menos um pouco — de que todas as
almas perdidas lá fora encontrarão sua luz novamente.
De repente, uma das estrelas brilha mais forte do que as outras.
Eu aperto os olhos para ver se meus olhos estão me enganando.
Mas não há engano. Não está apenas ficando mais brilhante, está
ficando cada vez maior.
— Você está vendo isso? — Eu digo, me afastando de Alex.
Enquanto eu caminho para o centro da caverna, eu percebo que a luz
não está ficando apenas maior, está chegando mais perto.
Não é uma estrela, mas uma orbe luminescente — a mesma que vi no
pináculo de Selene.
A esfera de luz brilhante para na minha frente e pisca com tanta
intensidade que sinto como se tivesse ficado cega.
Pisco furiosamente e, quando minha visão se reajusta, Selene está
parada na minha frente.
Seu cabelo prateado trilha graciosamente pelo chão coberto de pedras,
e sua pele brilhante fica ainda mais radiante ao luar.
Minha respiração falha quando ela estende a mão. — Venha, minha
filha. Há muito o que conversar.
Alex parece que está prestes a intervir, mas eu aceno para ele ficar com
Natalia.
Fui eu quem matou Fate.
O que quer que a Deusa da Lua tenha reservado para mim, eu tenho
que enfrentar sozinha.
Pego a mão de Selene e meus pés são instantaneamente levantados do
chão. Alex e Natalia ficam cada vez menores enquanto a Deusa me guia
até o topo da caverna.
Ela me coloca no chão e nós nos sentamos na beira da orla, nos
aquecendo ao luar.
Há um momento de silêncio, mas então encontro minha voz.
— Eu a matei... Fate... sua irmã. — Não consigo nem olhar nos olhos
dela, então mantenho minha cabeça baixa.
Selene fica em silêncio, então eu continuo: — Sei que não há perdão
pelo que fiz, mas apenas peço que seja a única a sofrer por meu erro. Não
Alex, não Natalia, e não...
Eu finalmente reúno a coragem de olhar Selene no rosto, e fico
chocada ao descobrir que ela está sorrindo para mim.
Selene coloca a mão no meu ombro e uma sensação de formigamento
quente preenche todo o meu corpo.
— Ariel, você fez o que precisava ser feito.
— Você... você não está brava? — Eu pergunto.
— Eu arruinei tudo matando Fate. Cortei todos os vínculos de
acasalamento destinados. Causei tanta dor.
Selene balança a cabeça, ainda sorrindo. — Não se preocupe, minha
filha. Você não matou Fate... você simplesmente mudou o rumo dela.
Eu fico olhando para Selene, confusa. — O que você quer dizer?
Selene aponta para o céu. — Neste momento a lua está cheia. Mas ele
mudará gradualmente de forma, passando por muitas fases antes de se
tornar inteira novamente. Assim como a lua... como eu... Fate faz parte
de um ciclo.
— Então, isso significa...
De repente, sinto uma coceira na pele.
Uma pequena aranha rasteja na minha mão. Meu primeiro instinto é
afastá-la, mas Selene calmamente segura sua mão ao lado da minha.
A aranha corre até ela e ela a embala na palma da mão.
— Isso significa que Fate renascerá, — diz ela.
Quase engasgo quando percebo o que ela está dizendo. — Então eu
não estraguei tudo? Os vínculos de acasalamento destinados vão
retomar?
— Os vínculos existentes forjados por Fate ainda estão rompidos, mas
novos serão feitos, — explica. — Embora você tenha alterado o destino
de muitos, você também deu a eles um dom — o dom do livre arbítrio.
Meu coração aperta. Estou aliviada em saber que novos vínculos de
acasalamento destinados se formarão, mas os de Natalia — e de tantos
outros... continuam quebrados.
— Todos devem escolher, — diz Selene. — Estando destinados a ficar
juntos ou não.
Lembro que Alex disse algo parecido para mim.
Eu me viro para Selene. — Talvez recomeçar seja uma coisa boa?
— No mínimo, você me deu um novo começo, minha filha. — Selene
sorri com carinho para a pequena aranha em sua mão. — Espero que
neste ciclo, eu possa ser melhor com minha querida irmã. Obrigada por
nos dar uma segunda chance.
Falando em segundas chances...
Eu respiro fundo. — Hum... eu estava esperando que você me desse
outra chance também. Eu gostaria de ter meus poderes de cura de volta.
Selene me olha atentamente. — Tem certeza de que é isso que você
realmente quer? Essa habilidade é um dom, mas também um grande
fardo. De qualquer forma, deixo a escolha para você neste momento.
— Eu sei que não sou uma deusa, — eu digo. — E eu sei que há tanto
que não consigo controlar, mas...
Penso em Amy, deitada em sua cama de hospital, e não há
absolutamente nenhuma dúvida em minha mente.
— Eu quero o poder de curar aqueles que eu mais amo, — eu digo.
— Você tem certeza disso, minha filha?
— Sim, — eu digo de forma breve.
Selene sorri como se esperasse que eu dissesse isso. Ela pega minha
mão e nós flutuamos suavemente de volta para dentro da caverna, onde
Alex e Natalia estão esperando.
Quando tocamos no chão, Selene coloca seu dedo fino na minha testa
e começo a me sentir tonta, como se estivesse caindo no sono.
Então, de repente, acordo com uma onda de energia pulsando por
todo o meu corpo.
Eu olho para minhas mãos e mexo meus dedos.
Eu posso sentir meus poderes de novo.
— Selene, muito obri...
Quando eu olho para cima, Selene se foi.
Mas ela me deixou com um presente de despedida.
E desta vez, vou levá-lo a sério.
Observo os picos montanhosos da Teia de Fate desaparecerem na
névoa enquanto nosso barco viaja de volta ao mar.
Mas mesmo que a ilha desapareça de vista, sei que a memória daquele
lugar ficará comigo para sempre.
Eu cruzo meus braços sobre o meu corpo, tremendo com o ar frio. Um
momento depois, sinto um cobertor cair sobre meus ombros.
Alex está ao meu lado com um sorriso tranquilizador.
— As coisas vão voltar ao normal agora. Você vai ver.
Eu inclino minha cabeça em seu ombro e olho para o horizonte
enquanto o sol começa a nascer.
Eu gostaria de acreditar que ele está certo...
Mas no fundo do meu coração, eu sei a verdade.
Eu mudei o mundo como o conhecemos.
E não tenho ideia de como será quando voltarmos.
Eu tentei brincar de Deusa...
E agora eu tenho que enfrentar as consequências.
Capítulo 30
QUANDO O DESTINO CHAMA ARIEL
Os saltos de Vivian batem no chão de linóleo enquanto ela me conduz
pelo corredor com pressa.
Eu mantenho o ritmo com ela, mas Alex e Natalia estão se esforçando
para acompanhá-la.
Assim que chegamos de volta à Matilha Real, fomos direto para o
hospital — para Amy.
Vários pacientes me olham com esperança, sem dúvida tendo ouvido
as histórias de minhas habilidades de cura de Deusa.
Eu gostaria de poder ajudar, mas aprendi minha lição: não posso
salvar todos.
Só espero não ser tarde demais para salvar Amy.
— Graças a Deus — ou melhor, à Deusa — que você voltou na hora
certa, — diz Vivian. — A situação de Amy está piorando. Marius não saiu
do lado dela.
Por ter sido criada no mundo humano. Vivian provavelmente não
sabe muito sobre a Deusa da Lua, mas se ela tivesse passado pelo que
acabamos de passar...
Selene certamente teria uma nova seguidora.
Entramos no quarto de Amy e Marius instantaneamente se levanta ao
lado da cama dela.
— Você voltou! — ele diz, com a esperança crescendo em sua voz. —
Eu nunca parei de orar para que você voltasse.
— Bem, a Deusa ouviu você, — eu respondo. — Ela ouviu você alto e
em bom som. Acredite em mim.
Eu fico ao lado da cama de Amy e coloco minhas mãos em seu peito.
Apesar de estar um pouco abalada, ela ainda parece em paz. Mas ela
está pálida como um fantasma, e eu mal posso sentir seus batimentos
cardíacos.
Aguente firme, garota.
Alex e Natalia finalmente nos alcançam e ficam do outro lado da
cama, parecendo nervosos.
Eu me viro para Marius. — Bem, não pare de orar agora. Vou precisar
de toda fé que você tiver.
Ele assente e fecha os olhos, orando em silêncio. Alex, Natalia e Vivian
fazem o mesmo, dando as mãos na ponta da cama.
Agora depende de mim.
Eu fecho meus olhos e limpo minha mente.
— Selene, eu queria este dom por uma razão — para que eu pudesse
ajudar aqueles que eu amo.
— Por favor, dê-me sua força.
Eu sinto o poder da Deusa bombeando em minhas veias. A energia
dela flui por mim como um rio tranquilo, mas se derrama em Amy como
um oceano.
Um suspiro agudo faz minhas pálpebras se abrirem e eu vejo Amy se
sentando, parecendo chocada.
Marius a abraça e ela se derrete com ele.
— Eu pensei que você não acordaria nunca, — ele diz, sua voz tensa.
— Até parece, Angel. Tenho muito o que viver para morrer em você,
— brinca Amy, tentando mascarar sua própria voz trêmula. — Quem vai
ser a alegria da festa se eu estiver quase um metro abaixo do chão?
O olhar de Amy se conecta com o meu e eu sorrio para ela.
Quase espero que Amy diga algo como: — Por que você demorou
tanto, vadia? — mas, em vez disso, ela apenas murmura — Obrigada.
Parece ser tudo o que ela pode dizer.
Vê-la nos braços de Marius — viva e bem — e tão cheia de amor...
Faz com que tudo o que passei valha a pena.
Mas também não posso deixar de me lembrar que Amy e Marius são
pares escolhidos.
Eu olho para Natalia, que os está observando de forma desconfortável.
Quantos pares destinados estão lá fora, sentindo uma perda intensa em
vez de um reencontro alegre?
ALEX

Ver Amy sã e salva fez meu coração transbordar de felicidade.


O amor que ela compartilha com Marius... é o mesmo tipo de amor
que tenho por Ariel.
Nós nos conhecemos em circunstâncias estranhas, mas com o tempo
nosso amor cresceu e se tornou algo tão lindo — embora as coisas ainda
fiquem um pouco estranhas de vez em quando.
Estar acasalado com uma rainha guerreira com poderes de cura dados
pela Deusa certamente me mantém alerta.
Percebo Dom parado do lado de fora da porta e algo nele parece
estranho.
Ele não está com seu sorriso bobo de sempre. Em vez disso, ele
parece... conturbado.
De repente me lembro e me sinto mal.
Dom e Helena são pares destinados.
Densa...
— Com licença, — eu digo para Natalia e Vivian, silenciosamente me
afastando delas e indo para o corredor.
Dom quase parece um zumbi, com sua postura desleixada e sua voz
monótona.
— Sumiu... tipo puf... sumiu, — Dom diz, com os olhos vidrados. — Eu..
eu pensei que estava morrendo quando aconteceu.
Eu coloco minha mão no ombro de Dom, mas então o puxo para um
abraço. — Eu sinto muito, cara. Como está Helena?
— Ela não parou de chorar, — Dom responde. — Ela disse... ela disse...
A voz de Dom falha e ele não consegue continuar. Dou um tempo
para ele encontrar as palavras.
Ele olha para mim com os olhos cheios de dor. — Ela disse que agora
parece que sou um estranho.
Eu não aguento ver meu Beta assim — denotado, destruído, distante.
De repente, tenho vontade de sacudi-lo. Ou dar um tapa no rosto
dele. Qualquer coisa para acordá-lo.
— Dom, — eu digo severamente. — Helena parece uma estranha para
você?
— Eu.. eu... não sei, — ele gagueja. — É uma sensação diferente.
— DOM, — eu digo ainda mais incisivamente. — Você realmente
sente que sua conexão com Helena era tão frágil que a única coisa que os
mantinha juntos era o destino?
Dom não responde, mas posso ver a luz começando a voltar para seus
olhos.
— Quer você perceba ou não, você escolheu Helena, dane-se o destino.
Então, vou perguntar de novo — o seu amor realmente significa nada
sem um vínculo de acasalamento destinado?
Dom se endireita. — Não... eu... a amo. Ela ainda é tão perfeita como
quando a vi pela primeira vez no fim de semana de acasalamento.
— Então vá dizer isso a ela! — Eu grito. — Porque ela provavelmente
está apenas com medo de que você ainda não sinta o mesmo por ela.
— Eu sou um completo idiota. — Dom se vira e começa a correr pelo
corredor. — Me lembre de te agradecer mais tarde!
Eu balanço minha cabeça quando meu Beta irrompe por um par de
portas vaivém e quase derruba uma enfermeira.
Se há esperança para aquele maluco, então talvez haja esperança para
outros pares destinados também.
NATALIA

— Então vá dizer isso a ela! — Alex grita do corredor. — Porque ela


provavelmente está apenas com medo de que você ainda não sinta o
mesmo por ela.
Dom decola como um foguete, como se as palavras de Alex
acendessem um fusível sob seus pés.
Eu não pude deixar de ouvir a conversa deles, e tenho que admitir...
Isso me afetou muito.
Eu estava tão ocupada me preocupando que, sem um vínculo de
acasalamento destinado, Chuck não iria me querer, ou que eu não iria o
querer...
Mas eu deveria estar me perguntando, Alguma coisa realmente mudou
sem esse vínculo?
Fate não nos uniu.
Eu escolhi ir procurá-lo.
Fate também não determinou meus sentimentos por ele.
Eu me apaixonei por ele.
E ele precisa saber disso.
Corro pelo corredor do palácio, em direção ao meu quarto.
Vou pegar minhas coisas e partir.
Xavi ainda está com meus pais e não quero nada mais do que abraçá-
lo agora. Mas é melhor ir para a Matilha da Lua Crescente sozinha.
Xavi já foi rejeitado pelo próprio pai. Eu não aguentaria se Chuck...
Não, não pense assim.
Chuck não é Xavier.
Não sei se Chuck vai me aceitar ou me rejeitar...
Mas não quero passar mais um segundo sem saber.
Abro a porta do meu quarto e meu coração para imediatamente.
Um suspiro involuntário escapa dos meus lábios.
Porque sentado na minha cama está...
— Chuck, — murmuro. — O que você está...
Ele se levanta e atravessa o quarto no que parece ser um único passo.
Em um instante, ele me pega em seus braços fortes.
— Eu vim assim que senti nosso vínculo de acasalamento quebrar, —
diz ele, seus lábios pairando a poucos centímetros dos meus. — Eu nunca
deveria ter ido embora em primeiro lugar.
Eu pensei que nosso vínculo quebrado iria afastá-lo ainda mais, mas
em vez disso, o trouxe de volta para mim.
— Você... você esperou por mim? — Eu gaguejo.
— Eu sempre vou esperar por você. O tempo que você precisar.
Meu coração transborda enquanto olho em seus olhos. Destinada ou
não, tenho muito amor por este homem.
— Eu quero estar com você, — eu digo. — Mesmo que Fate, ou minha
mãe, não nos queira juntos.
Chuck solta uma risada profunda e robusta. — Sua mãe vem acima de
Fate na hierarquia?
— Ela é mais assustadora do que Fate, — eu digo. — E eu encarei
aquela vadia aracnídea nojenta em todos os seus oito olhos redondos.
Chuck pressiona seus lábios contra os meus, e saboreio o doce sabor
de sua língua enquanto ela levemente faz seu caminho em minha boca.
Quando ele finalmente se afasta, ele sorri, e seus olhos normalmente
intensos se enrugam de alegria.
— Eu quero estar com você também.
Chuck me coloca na cama e eu agarro a gola de sua camisa, puxando-
o para baixo de mim.
— Então não há mais espera, — eu digo. — Você já esperou por mim
tempo suficiente.
Eu abaixo a manga da minha camisa, expondo meu ombro nu — mas
não aquele que Xavier marcou.
Chuck acena com a cabeça e abre a boca, mostrando seus caninos
afiados.
Ele tira a camiseta e se inclina, pairando sobre meu ombro.
Sua língua provoca minha pele, provando-a antes que ele dê a
mordida.
Um momento depois, sinto seus dentes afundarem na minha carne.
Não é doloroso, é completamente o oposto.
Puro prazer.
Meu par finalmente me marcou.
A marca de Xavier parece uma cicatriz horrível para mim, mas a marca
de Chuck me deixa orgulhosa.
Eu sou dele.
E agora é hora de mostrar a ele que ele é meu.
Minha loba assume. Ela é a selvagem.
E ela está pronta para reivindicar o que é dela.
Pego Chuck pela nuca e me puxo para cima, mordendo seu ombro e
marcando-o.
Sou muito menos gentil do que ele comigo.
Ele geme em êxtase quando eu me afasto, deixando para trás uma
grande marca.
Suas mãos se enredam no meu cabelo enquanto ele me segura perto
de seu corpo. Eu me aconchego em seu peito me sentindo feliz.
Nunca me senti mais em casa do que neste momento.
Agora, não somos apenas pares.
Somos pares escolhidos.
ARIEL

Alex segura minha mão enquanto me leva para o quartel dos


guerreiros. Eu me sinto relaxada de uma maneira que não sentia há
muito tempo.
Xavier se foi para sempre.
Fate renasceu.
Novos vínculos de acasalamento destinados se formarão, apesar dos
antigos serem rompidos.
— No que você está pensando? — Alex pergunta quando paramos em
frente ao quartel.
— No futuro, — eu digo. — Estou cautelosamente otimista.
Alex ri e me beija na testa. — Eu disse que as coisas voltariam ao
normal.
— Assim que eu estiver lutando com o esquadrão na arena, isso será
verdade, — eu digo, dando um soco leve em seu ombro.
— Pegue leve com eles, — diz Alex, sorrindo. — Você acabou de
ganhar um duelo com Fate. Não é exatamente uma luta justa.
— Vou tentar o meu melhor para me conter.
Alex levanta meu queixo e dá um beijo suave em meus lábios. Quando
ele se afasta, ele me lança um sorriso. — Isso foi para te dar sorte... não
que você precise.
Dou um último aperto em sua mão antes de entrar no quartel.
Quando termino de vestir meu equipamento de treinamento, Steve
passa por mim no vestiário.
— Já voltou para a rotina? — ele pergunta. — Nenhum dever de cura?
— Você sabe. Estou morrendo de vontade de voltar para os guerreiros,
— eu digo, esticando meus braços acima da minha cabeça. — Essas mãos
não vão curar nada hoje, eu prometo.
— Bem, temos alguns novos recrutas por aí, — diz ele, piscando para
mim. — Talvez um deles finalmente consiga encontrar seu ponto fraco.
Eu rio e dou um tapinha nas costas dele enquanto vou para a arena. —
Sem chance na terra da Deusa.
Passo um pouco de giz em minhas mãos e caminho até o centro do
ringue, ansiosa para ver esses novos recrutas.
Vários homens estão de costas para mim, conversando perto das
arquibancadas.
— Se alguém quiser treinar, estou louca para acabar com vocês hoje!
— Eu grito, esperando atrair um deles para uma luta.
— Aceito o desafio, — diz uma voz confiante atrás de mim.
Eu me viro, pronta para ver que filhote é arrogante o suficiente para
entrar no ringue comigo, mas...
Estou paralisada em completo choque quando nossos olhares se
encontram.
Suas íris são de uma cor âmbar vibrante e uma cicatriz horizontal
atravessa seu olho esquerdo.
Uma energia pulsante percorre meu corpo.
Um sentimento inconfundível de anseio.
Um calor entre minhas pernas.
Um fogo incandescente que arde de desejo.
Minha loba interior uiva em confusão e excitação.
Eu me senti assim apenas uma vez antes — com Xavier, meu par
destinado.
O que significa...
Minha Deusa, não pode ser...
— Puta merda, — diz ele, deixando cair a espada no chão. — Você é
meu...
Eu quero desviar o olhar, mas minha loba não me deixa. Nossos
olhares permanecem fixos um no outro.
Seus olhos são tudo que vejo. Todo o resto é um borrão.
Achei que fosse escapar de Fate, mas eu estava totalmente errada.
Ela acabou de me chamar...
E me deu um novo par destinado.
Livro 5

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!


E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
https://t.me/GalateaLivros
Capítulo 1
NÃO QUEBRE MEU CORAÇÃO
ARIEL

Meu coração está batendo a mil por hora agora.


Tento respirar fundo, para me acalmar, mas uma centena de
sensações diferentes pulsam pelo meu corpo.
Desejo, anseio, cobiça, luxúria, excitação...
Entre outros...
Posso sentir os nervos se juntando em minhas sinapses e a
eletricidade disparando em minhas veias.
Uma nova conexão está se formando...
Um vínculo de acasalamento.
Eu fico olhando para o homem parado na arena de treinamento
diretamente na minha frente. Ele parece tão confuso e desorientado
quanto eu.
Ele tem pele castanha dourada, cabelo escuro e encaracolado e uma
cicatriz sobre o olho esquerdo que me faz pensar que ele é um guerreiro
mais experiente do que sugere seu status de recruta. Eu me sinto tonta
quando meus olhos voam para seus músculos definidos, seu corpo
escultural, e sua barba por fazer, terminando em seus olhos âmbar
marcantes.
Um de nós precisa falar, dizer alguma coisa — qualquer coisa — para
quebrar esse silêncio, mas ambos estamos em estado de choque.
Minha loba está tão silenciosa em minha mente. Ela sabe quem é seu
verdadeiro par, mas esta maldita conexão destinada a está confundindo.
O recruta dá um passo à frente e minha loba recupera o juízo, assim
como eu. Estamos imediatamente em alerta.
— Quem é você? — Eu finalmente consigo proferir.
— Eu sou... — ele hesita — ... Eu sou... meu nome é Matt.
Meu novo par; Matt. Que ótimo.
— Você é um novo recruta dos guerreiros da Matilha Real? — Eu
questiono.
Ele assente, ainda parecendo desorientado com o repentino vínculo
de pares que invadiu seu corpo como um alienígena.
— Escute, — digo com firmeza, — sei que isso é confuso e não consigo
nem começar a explicar como isso aconteceu — essa história é longa
demais...
Matt espera que eu continue, perplexo.
— Mas eu não posso ser seu par! — Eu digo, muito mais alto do que
eu planejei.
Estou surpresa ao ver não decepção passando pelo rosto de Matt, mas
ao invés... alívio.
— Oh, graças à Deusa, — ele diz, relaxando seus ombros
instantaneamente.
Espere, o quê?!
Não é que eu queira que ele me deseje, mas também...
Que diabos?
Eu sou tão terrível?
— Você está bem? — Matt pergunta, tirando-me dos meus
pensamentos.
— Oh, sim, desculpe..., — eu digo. Quase posso ouvir a voz de Amy no
fundo da minha mente, embora ela esteja na Matilha das Escrituras.
Controle-se, vadia!
— Então, somos tecnicamente pares, mas não queremos isso...
concorda? — Matt diz, esfregando a barba por fazer nas bochechas. Seus
dedos parecem calejados e ásperos.
— Concordo, — eu respondo.
Aprendi minha lição com meu primeiro par destinado.
O destino me colocou com Xavier. Pares destinados são muito mais
problemáticos do que valem.
Hoje não, Fate, HOJE NÃO.
— Já tenho um par e estou muito apaixonada, — digo. — Pelo alfa
real.
Os olhos âmbar de Matt se arregalam em descrença.
— O rei é seu par?! Mas então isso faz de você...
— A Luna, — eu digo incisivamente. — E também sou a líder do seu
esquadrão, o que é igualmente inadequado.
— Certo, isso ficou ainda mais complicado, — murmura Matt
baixinho.
Sim, como você acha que eu me sinto?!
Matt de repente me lança um olhar intenso de determinação.
— Rejeite-me, — diz ele asperamente. — Aqui e agora.
Estou surpresa ao ver como ele parece completamente determinado.
— Serei eu quem aguentará a dor, — diz ele. — É o único jeito.
A dor...
A voz zombeteira de Xavier entra na minha cabeça antes que eu possa
impedir.
Sua voz é fria, completamente desprovida de emoção. — Eu rejeito
você como meu par e Luna.
No momento em que Xavier quebrou nosso vínculo de
acasalamento...
Lembro-me daquela sensação como se fosse ontem.
Toda a tortura que enfrentei nas mãos dos Caçadores, meu corpo
sendo rasgado por seus experimentos...
Isso não foi nada comparado ao que eu senti naquele dia na Matilha
da Lua Crescente.
Parecia que meu coração ainda batendo havia sido arrancado do meu
peito e transformado em pó.
Uma onda de imensa culpa me atinge enquanto eu olho nos olhos de
Matt.
Posso realmente fazer isso?
Posso fazer o que Xavier fez comigo, sabendo o quanto isso me destruiu?
— Por favor, estou pedindo que você faça isso, — diz Matt, com uma
pitada de desespero na voz. — E o que é melhor para nós dois.
Eu sei que ele está certo, mas isso não torna as coisas mais fáceis.
E ele não tem ideia da dor que o aguarda.
Deusa da Lua, dê-me força.
Eu tenho que fazer isso. Não apenas por mim, mas por Alex.
Sinto muito. Matt...
Respiro fundo, pronta para dizer as palavras...
As palavras que irão cortar nossa conexão para sempre.
Mas antes que a rejeição escape de meus lábios, uma luz branca
envolve minha visão.
— Ariel..., — diz uma voz sedosa e distante.
— Selene? — Eu respondo, sem saber se ainda estou na arena de
treinamento com Matt ou se estou em algum lugar no fundo da minha
própria mente.
Selene aparece diante de mim com um sorriso gracioso no rosto.
Sempre fico maravilhada com sua beleza etérea, não importa quantas
vezes ela apareça para mim, e dessa vez não é diferente.
Ela pega minhas mãos e me beija na testa.
— Eu tenho pedido muito de você, minha filha. Mas devo pedir sua
ajuda mais uma vez.
Eu me sinto leve quando Selene coloca a mão em meu coração.
— Seu amor por seu par escolhido é lindo e puro. Você e Alex se
completaram novamente.
Eu aceno, sorrindo enquanto penso no relacionamento que construí
com Alex.
Superamos todos os obstáculos que Fate lançou em nosso caminho.
— Mas seu novo par destinado... o coração dele não está completo
ainda, — Selene diz, fazendo meu sorriso vacilar.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto.
— Ele está perdido e seu coração está doendo.
— Mas o que isso tem a ver comigo?
— Eu te dei o dom da cura, minha filha. Você deve usá-lo para
consertar o que está quebrado.
De repente, entendo o que Selene está pedindo de mim.
Talvez sejam os anos interpretando enigmas vagos de literalmente
uma deusa, mas sei exatamente o que devo fazer.
— Eu não posso quebrar meu vínculo de acasalamento com Matt
ainda..., — eu digo. Selene acena com a cabeça.
Parece que vou ficar amarrada a Matt por mais um tempo...
— Primeiro, eu tenho que curar seu coração partido.
Capítulo 2
MENSAGEM RECEBIDA ARIEL
— Minha rainha, — uma voz diz, cortando a escuridão. — Minha
rainha, você está bem?
Abro os olhos e vejo o rosto preocupado de Matt pairando sobre o
meu.
Sinto o chão de treinamento emborrachado sob minhas costas.
Merda. Devo ter desmaiado.
Seria de esperar que depois de todas as visões que recebi da Deusa da
Lua, eu seria capaz de manter os dois pés firmemente plantados no chão.
Mas não...
— Estou bem, — digo, limpando-me. — Acho que só estou em
choque.
Matt estende a mão para me ajudar a levantar do chão.
Eu aceito, mas no momento em que minha palma toca a dele, sinto
uma onda de eletricidade percorrendo meu corpo.
Ele puxa o braço para trás. Ele também deve ter sentido.
Por causa do nosso vínculo de acasalamento, um único toque pode
acender meu corpo em chamas. Consigo me levantar do chão sem a
ajuda dele, mas minha cabeça ainda está girando.
As palavras de Selene ecoam em minha mente novamente.
Você tem que consertar o que está quebrado.
Estou desesperada para saber mais sobre Matt e como posso curá-lo,
mas de repente tenho a sensação de que alguém está parado bem atrás de
mim.
Eu me viro e encontro Jo em posição de sentido.
Jo se tornou uma de nossas guerreiras mais respeitadas. Com apenas
um metro e meio de altura, ela parece longe de ser a lutadora forte e
durona que realmente é. É por isso que ela se especializou em operações
furtivas.
— Capitã, — diz ela, dirigindo-se a mim pelo meu título de guerreiro
em vez do meu título real. — O cara novo está te incomodando? Porque
eu posso fazê-lo correr algumas centenas de voltas só para constar.
— Não, Jo, está tudo bem, — eu digo. — Eu só vou levar Matt para dar
uma volta ao redor do terreno. Quero conhecer nosso novo recruta um
pouco melhor.
A última coisa que preciso é que todo o bando saiba sobre meu novo
vínculo de acasalamento. Preciso falar com Matt em particular.
Eu me movo em direção à porta da arena, mas me viro quando
percebo que Matt não está me seguindo.
— Vamos, — eu digo a ele. — Eu não mordo. Pelo menos não na
minha forma humana. — Eu lanço um sorriso para ele, tentando trazer
um pouco de leveza para esta situação totalmente confusa.
Matt segue atrás de mim, mas posso detectar relutância em cada
passo.
Saímos do quartel e caminhamos em um silêncio estranho e
desconfortável pelos jardins.
Aproximo-me de um mirante e sento-me em um banco de frente para
o palácio. Ele se senta do outro lado.
Sozinha com ele, posso sentir a intensidade de nosso vínculo de
acasalamento ainda mais forte agora.
Não há dúvida de que Fate nos uniu.
Minha mente vagueia de volta para a primeira vez que senti essa
atração de acasalamento... o dia fatídico quando voltei das garras dos
Caçadores e vi Xavier novamente.
A sensação foi tão forte que ataquei Natalia quando ela estava grávida
do bebê Xavi.
Os lobos só devem sentir essa atração uma vez em suas vidas...
Acho que é isso que ganho por mexer com Fate, o destino...
É difícil ignorar o desejo de deslizar para mais perto de Matt. Para
segurar sua mão na minha. Para...
Mas não.
Meu coração pertence a Alex.
E eu nunca faria nada para machucá-lo.
Eu preciso descobrir como posso consertar o coração de Matt,
satisfazer a Deusa da Lua e quebrar este vínculo de acasalamento
estúpido de uma vez por todas.
— Ouça, minha rainha, — Matt diz de repente, me puxando de volta
para o momento presente.
— Me chame de Ariel, — eu digo.
— Ariel, — ele continua.
— Vim para a Matilha Real para servir como um guerreiro fiel e viver
uma vida tranquila. Não desejo causar atrito dentro das paredes do
palácio. Então, por favor, apenas me rejeite agora. Já sofri muito em
minha vida.
Uma olhada nos olhos de Matt e posso ver que ele está dizendo a
verdade. Eles carregam aquele peso distinto, aquela entrega solene de um
coração destruído.
— Você está apaixonado por outra pessoa? — Pergunto-lhe.
Ele acena com a cabeça, sua expressão escurecendo. Minha pergunta
claramente tocou em um ponto fraco.
— Ela não te ama? — Eu pergunto.
Matt desvia o olhar, estreitando os olhos no chão abaixo de nós.
— Ela também me ama, — diz ele.
A alegria começa a crescer em meu peito. Matt ama alguém e ela
também o ama.
— Qual é o problema então? — Eu pergunto. — Por que vocês não
estão juntos?
— É... complicado, — diz ele.
— Mas o amor torna tudo simples! — Eu exclamo.
— Você não entende, — responde Matt. — Nossas famílias são
inimigas mortais. Algumas fraturas são muito antigas. Algumas feridas
são muito profundas...
Oh Deusa...
Esse cara fala mais como um poeta do que como um guerreiro...
— Bem, — eu disse com segurança, — você me tem do seu lado agora.
Vou rejeitá-lo, mas só quando eu souber que você será feliz em acasalar-
se com a mulher que ama.
A expressão de Matt se torna rígida. — Por que perder seu tempo
ajudando um guerreiro comum? Apenas me machuque. Eu mereço sentir
a dor. — Suas palavras são como facas direto no meu coração. Nossos
lobos estão conectados, e a minha não suporta ouvi-lo dizer coisas tão
horríveis.
De repente, percebo que minha missão não é apenas reparar seu
relacionamento arruinado, mas também curar seu espírito destruído.
A cicatriz em sua testa é apenas a ponta do iceberg — apenas uma dica
do trauma pelo qual este homem claramente passou.
Farei tudo o que puder para ajudá-lo a se recompor.
Mas antes de começar na missão da Deusa, há algo que devo fazer. E
não vai ser fácil.
***

Aproximo-me da porta do escritório de Alex e bato suavemente três


vezes... nosso código particular: Eu. Amo. Você.
Quando vi Alex há apenas uma hora, estávamos nos sentindo muito
otimistas. Tão pacífico.
Pareceu, por um instante, que tudo estava exatamente como deveria
ser.
Mas então, eu conheci Matt e meu mundo inteiro virou de cabeça
para baixo.
Agora, de repente, eu tenho um novo vínculo de acasalamento. E eu
não posso quebrá-lo até que eu cumpra os desejos da Deusa da Lua.
— Entre, — eu o ouço dizer.
Eu entro e meu par me abre um sorriso enorme.
— Ariel, — diz ele, — como foi o treinamento?
Meu coração se parte, sabendo o que estou prestes a dizer a ele... e
sabendo que seu grande sorriso está prestes a desaparecer.
Capítulo 3
VERDADE SEJA DITA ARIEL
Estou prestes a arrancar o curativo.
Preciso contar a Alex a notícia de que Fate escolheu outro par para
mim... E que não é ele...
Mas de repente ouço outra voz e percebo que Alex e eu não estamos
sozinhos em seu escritório.
— Ariel, — ouço Vivian me chamando da grande cadeira em frente à
mesa de Alex. — Como está?
— Viv! — Eu digo um pouco entusiasmada demais. — Trabalhando
duro ou mal trabalhando? — Eu continuo com uma risada estranha.
Oh Deusa...
Meu nervosismo está levando o melhor de mim.
— Trabalhando duro, — Vivian diz com um meio sorriso. — Nós
realmente precisamos de sua ajuda.
— Certo, — eu digo, sentando ao lado dela. — Qual é o problema?
— Desde que Fate renasceu, muitos lobisomens encontraram novos
pares destinados, — diz ela. — Está criando o caos no reino. Há muita
raiva e confusão.
Bem-vinda ao meu mundo...
— Estamos tentando fazer uma declaração para trazer um pouco de
paz, — continua Vivian.
— Queremos enviar a mensagem de que esta é uma oportunidade de
ouro. Uma chance de evitar a tradição — seguir o amor em vez de Fate.
— Eu acho isso ótimo, — eu respondo, desesperada para encerrar a
conversa para que eu possa falar com Alex sozinha. — Inspirador, —
acrescento.
Alex suspira e eu olho para ele. — O que foi? — Eu pergunto.
— Só estou preocupado que uma pequena declaração do palácio não
faça nenhum efeito, — diz Alex. — Se você de repente tivesse outro par,
eu teria que exilar o cara para a Teia de Fate, onde ele nunca veria a luz
do dia novamente.
— Bem, — eu digo, minha frequência cardíaca acelerando. — Isso não
é muito justo.
— Quando se trata de você, eu não jogo limpo, — diz Alex. — Você viu
o que eu fiz com Xavier. Qualquer outra pessoa que tenha uma atração
de acasalamento sobre você viraria comida para aquela maldita aranha.
— Alex, você não pode exilá-lo, — eu de repente deixo escapar. — Não
é culpa dele.
Lá se vai o curativo...
A expressão de Alex congela. — Exilar... quem? — ele me pergunta.
— Eu vim aqui para te dizer — Fate..., — eu murmuro, minha voz
falhando. — Ela me deu um novo par destinado.
— Como você sabe? — Alex pergunta, levantando-se de sua cadeira.
— Porque acabei de conhecê-lo, — digo.
A sala cai em um silêncio ensurdecedor.
De repente, a vozinha de Vivian corta a tensão como uma faca. — Vou
deixar vocês dois sozinhos, — ela diz. — Podemos discutir a declaração
mais tarde.
Com isso, ela desaparece da sala, deixando eu e Alex em um concurso
de encarar sem vencedores.
— Eu sinto muito, Alex, — eu digo. — Esta é a última coisa que eu
sempre quis que acontecesse. Mas é verdade. Eu tenho um novo par
destinado.
ALEX

Meus músculos se contraem.


Meus punhos se apertam.
Minha visão embaça.
É como se meu corpo estivesse entrando em ação antes que minha
mente tivesse a chance de processar o que Ariel acabou de dizer.
Depois de tudo que passamos...
Todos os obstáculos que tivemos que enfrentar...
Por que diabos isso está acontecendo?
Por que Fate está colocando mais uma pedra em nosso final feliz?
Por que não podemos ter apenas um maldito momento de paz?
De repente, deixo escapar a única coisa que consigo pensar. — Você
está apaixonada por ele? — Eu pergunto.
Assim que as palavras saem da minha boca, eu sei que estou sendo
estúpido e mesquinho.
Mas não consigo evitar.
O ciúme desenfreado está levando o melhor de mim.
Ariel se aproxima de mim com os olhos arregalados. — Alex. Do que
você está falando? Eu amo você. Você é meu par, para sempre. Você sabe
que não me importo com o que Fate tem a dizer sobre isso.
— Então vamos, — eu digo, agarrando-a de repente pelo braço. — Eu
quero ver você rejeitá-lo. Agora.
Tento puxá-la em direção à porta, mas ela permanece firme onde está.
— É que..., — ela diz.
— Qual é o problema?! — Eu pergunto. — Por que sempre tem que
haver um problema?!
— Não posso rejeitá-lo, — diz ela. — Ainda não.
— Por que não?
Ela puxa o braço e dá um passo em direção à porta. Parece que as
lágrimas estão prestes a derramar de seus olhos.
Merda.
Eu preciso me acalmar.
Isso não é culpa de Ariel, e ela não precisa que eu torne esta situação
mais difícil para ela.
Eu respiro fundo, inspiro e expiro, tentando acalmar meu coração
acelerado.
— Sinto muito, — eu digo. — Eu realmente sinto muito. Vamos
recomeçar essa conversa. Diga-me o que aconteceu.
Ariel assente e me leva até o sofá.
Ela entrelaça seus dedos nos meus e começa.
— O nome dele é Matt, — ela diz.
Matt.
Esse sempre pareceu um nome bastante padrão para mim.
Agora parece que pode estar escrito na certidão de nascimento do
diabo.
— Ele é um dos novos guerreiros recrutas, — continua Ariel. — Eu
soube que ele era meu par no instante em que o vi, e estava preparada
para rejeitá-lo na hora. Mas a Deusa da Lua tem outros planos...
— Claro que ela tem...
— Ela quer que eu o cure antes de machucá-lo, — diz ela. — Eu
preciso reuni-lo com a mulher que ele ama, ou então a dor da rejeição
será demais para ele. Ele está destruído, Alex. Como eu estava antes de te
conhecer.
— Como você vai ajudá-lo? Você nem conhece o cara.
— Ainda não sei, — diz Ariel. — Mas nós matamos a Deusa do
Destino, lembra? Acho que podemos reunir um casal de amantes
perdidos.
Ariel descansa a outra mão na minha coxa e começa a esfregá-la
lentamente.
— Não importa quanto tempo demore, você é meu verdadeiro par, —
diz ela. — E eu farei absolutamente qualquer coisa para provar isso a
você.
Um brilho ilumina seus olhos de girassol.
Eu conheço esse olhar...
O olhar que ela tem quando algo pervertido passa por sua mente...
O olhar que me deixa louco...
Sua mão desliza mais para cima na minha coxa.
— Devíamos trancar a porta, — eu digo, mas Ariel apenas balança a
cabeça e me puxa para um beijo, chupando meu lábio inferior entre os
dentes.
— Eu quero você agora, — ela diz. — Eu quero que você saiba que
você é o único para mim.
Ela me empurra de volta para que eu fique deitado no sofá e, em um
instante, ela está montada em mim.
Eu pressiono meu membro duro em suas coxas abertas.
Ela está me deixando mais e mais excitado a cada segundo.
Eu a sinto mexendo na fivela do meu cinto, mas está demorando
muito.
De repente, sou o único ansioso, desesperado para lembrá-la de que
nossa conexão é muito mais forte do que qualquer vínculo de par
destinado. Eu envolvo meus braços em volta de Ariel com força e ela grita
quando eu a rolo. Quase caímos do sofá, mas não me importo. Eu ficaria
feliz em fazer amor com ela no tapete.
Minhas mãos vagam livremente sobre suas roupas de treinamento
apertadas que definem cada curva perfeita em seu corpo.
Eu puxo sua blusa e pressiono meus lábios em seus seios macios.
Ela geme quando deslizo um mamilo em minha boca enquanto
massageio o outro entre meus dedos.
— Oh Deusa..., — ela sussurra. — Você conhece meu corpo melhor do
que eu.
Eu deixo uma trilha de beijos em sua barriga macia até seus quadris e
tiro sua legging de spandex e calcinha preta apertada.
— Você me quer? — Eu pergunto a ela.
— Você é tudo que eu sempre quis, — ela diz.
Eu pego meu membro rígido em minha mão e o descanso suavemente
em sua abertura macia e úmida.
Ariel é o meu mundo inteiro, e vou lembrá-la por que ela me escolheu
para ser seu par, aqui e agora.
Capítulo 4
UM CONVITE REAL
ARIEL

Os olhos de Alex analisam os meus. Ninguém mais pode me ver


verdadeiramente, todo o meu ser, minha alma, como ele pode.
Com um impulso forte, Alex mergulha dentro de mim.
Me enchendo...
Me esticando...
Não há nada melhor do que essa sensação de estar completa.
Totalmente completa.
A química que tenho com Alex é muito mais intensa do que um
vínculo de acasalamento, porque é baseada na confiança. No
compromisso. No amor.
E estamos fazendo ainda mais desse amor agora.
Enquanto Alex se move para dentro e para fora de mim, seus lábios
encontram meu pescoço e apertam com força.
— Alex, — eu respiro ofegante. — Não é muito típico de uma rainha
ter um chupão.
— Eu preciso dar a você outra pequena marca, — ele ofega. — Apenas
no caso de alguém estar confuso sobre a quem você pertence.
Ele passa a mão pelos meus quadris e pontua cada impulso com um
círculo suave no meu ponto mais sensível.
Meu gemido fica cada vez mais alto até que eu tenho que cobrir
minha própria boca para me impedir de gritar.
— Oh, Ariel, — diz ele. — Você é tão boa. — Um raio de sol entra pela
janela, lançando um brilho perfeito no cabelo dourado de Alex.
Eu corro meus dedos por seus fios espessos e brilhantes, e o seguro
mais perto enquanto envolvo minhas pernas em volta de seus quadris.
Presos juntos assim, acho que podemos apenas nos fundir em um
único ser.
— Eu sou sua, — eu rosno em seu ouvido. — Eu sempre serei sua.
Com minhas palavras, eu o sinto explodir dentro de mim. A sensação
desencadeia meu próprio orgasmo que me consome.
Continuamos abraçados com força, estremecendo enquanto o puro
prazer cai sobre nós dois como o sol da tarde brilhando através da janela.
Eu olho em seus olhos verdes e esfrego a ponta do meu nariz contra o
dele.
Encontrar outro par destinado só me fez mais grata pelo que escolhi.
Meu par perfeito.
Enquanto ele está se aquecendo na luz do sol, eu sussurro: — Viu?
Você não tem nada com o que se preocupar.
— Talvez você possa me lembrar novamente esta noite porque não
tenho nada com que me preocupar, — diz ele com um grande sorriso.
— A qualquer hora, — eu digo.
E estou falando sério.
MATEO

Oh, mi Diosct.
Oh minha deusa...
Isso é un disastro.
Eu vim para a Matilha Real para me esconder do caos, mas está claro
agora que o caos me segue aonde quer que eu vá.
Quando mudei meu nome para Matt e comecei a usar esse lamentável
sotaque falso, pensei que teria uma chance de me misturar com a
multidão.
Mas no meu primeiro dia, descubro que meu par é a própria rainha!
Todo lobo sonha em encontrar seu par destinado.
Então, por que sinto que estou vivendo em una pesadilla?
Um pesadelo.
A rainha Ariel é linda, não há como negar. E ela é muito mais gentil do
que qualquer membro da realeza que eu já conheci.
Mas quando eu olho em seus olhos, eu só quero ver meu verdadeiro
amor olhando para mim...
Isabella.
Oh, como eu te desejo....
Quando durmo, sonho com ela.
Quando acordo, penso nela.
Durante o meu dia, eu a vejo com o canto do olho. Mas quando eu me
viro, ela não está em lugar nenhum...
Isabella é a única mulher que já amei.
Seus lábios são suaves pétalas de rosa.
Cada fio de cabelo de sua cabeça é uma mecha do mais puro ouro.
Sua pele é um creme fresco em um dia quente de verão.
Mas até mesmo sua beleza é palpável em comparação com a doçura
absoluta de sua alma.
Isabella é tudo que eu sempre quis.
E tudo que eu nunca poderei ter.
Levei um mês para viajar de minha terra natal e encontrar uma função
em uma nova matilha.
Mas agora que a rainha Ariel se interessou por mim, devo partir
novamente.
Estou condenado a viver uma vida em fuga. Fui um tolo em pensar
que teria uma chance aqui, quando o que realmente mereço é ser um
selvagem.
Alcançando debaixo da minha cama, puxo minha pequena mala.
Eu a preencho com os poucos itens restantes que deixei com meu
nome — tudo que pude pegar quando minha matilha estava cercada...
Algumas roupas, um cachecol que minha mãe fez e uma foto
desbotada de Isabella.
Olho para a foto por um momento — pelo tempo que posso suportar
— e depois a enrolo no cachecol e fecho o zíper da minha mala.
Eu preciso sair deste lugar agora, antes que a rainha tente me
conhecer melhor, antes que minha verdadeira identidade seja revelada.
Mas então, eu estremeço quando ouço uma batida na minha porta.
Quem pode ser?
Quase não conheço ninguém nesta matilha e certamente não
convidei visitantes.
Eu coloco minha mala debaixo da minha cama novamente, caminho
até a porta e a abro.
Um homem que eu nunca vi antes me cumprimenta com um sorriso
largo e bem-humorado.
— Olá, — ele diz, — você deve ser o cara novo. Matt, certo?
— Sim, — eu digo, lembrando-me de usar meu sotaque americano. —
E você é...?
— Me chamo Dom. Eu sou o braço direito do rei. O merdinha do rei,
se você quiser.
— Você é o beta?
Dom não se parece em nada com qualquer beta que já conheci. O meu
era muito mais sério e imponente... mas ele foi o melhor amigo que já
tive.
— Como posso ajudá-lo? — Eu pergunto a ele, desesperado para que
ele saia e eu possa ir embora daqui.
— Vim para lhe dizer que o rei quer que você se junte a ele para jantar.
Ay... Isso é ruim.
Muito ruim.
Claramente a rainha contou ao rei sobre nosso vínculo de
acasalamento.
Ele pode muito bem mandar me executar se for um típico da realeza
sem coração.
E até mesmo isso seria melhor do que o pior resultado possível...
O rei pode descobrir minha verdadeira identidade.
Eu não posso deixar isso acontecer. Preciso encontrar uma maneira de
escapar do jantar sem que seu beta suspeite de nada.
— Que convite generoso, — digo.
— É mesmo, — Dom diz. — Você deve ser um novo recruta e tanto
para receber esse tipo de tratamento especial.
Esboço a Dom meu melhor sorriso falso. — Bem, — eu digo, — deixe-
me vestir algumas roupas melhores e irei para o palácio em trinta
minutos.
Quando ele me deixar em paz, irei correr para floresta e nunca mais olhar
para trás...
— Não, não, não, — Dom diz. — Você não precisa se arrumar para o
nosso rei. Ele é apenas um cara normal, sério. Um irmão com uma coroa.
Além disso, se eu levar você até lá, posso fazer um pequeno tour pelo
palácio no nosso caminho.
Eu fico hesitante na porta.
Oh, mierda...
O caos me encontrou novamente.
Não há como escapar disso agora.
Em breve, vou sentar-me face a face com o rei e rezar para la Diosa
Luna para que ele não me reconheça.
Capítulo 5
O QUE HÁ EM UM NOME?
ALEX

Sento-me em frente a Ariel na sala de jantar, esperando esse tal de


Matt chegar.
Na maioria das noites, Ariel e eu jantamos aninhados na frente da TV.
Mas na maioria das noites, o novo par do meu par não vem para o
jantar...
Então eu acho que esta seria considerada uma ocasião especial.
Ariel está decidida a curar Matt e, em nossa cerimônia de
acasalamento, jurei apoiá-la até que a morte nos separe.
Mas ainda vou ficar de olho nesse cara e me certificar de que ele não
fique à vontade demais com Ariel.
— Eu sei como isso deve ser desconfortável para você, — diz Ariel, —
mas só precisamos descobrir onde está a garota dele e o que os separou
em primeiro lugar.
— Parece bastante simples, — eu digo.
De repente, vejo Ariel estremecer em seu assento. Seu rosto fica
vermelho.
— Qual é o problema? — Eu pergunto a ela. — Você está bem?
— S-sim, é q-que, — ela gagueja, — Matt está aqui. E-ele está no
palácio.
— Você pode sentir a presença dele, não é?
Ariel acena com a cabeça e o calor aumenta em meu rosto também.
Isso vai ser mais difícil de suportar do que eu pensava.
Dentro de instantes, ouço passos no corredor e de repente Dom e
Matt aparecem na porta.
Então... MERDA.
Matt é um filho da puta muito atraente.
Por que Deusa, POR QUÊ?!
Eu esperava ver o equivalente humano de um porco barrigudo. Não
era um guerreiro musculoso com características sombrias e afiadas e uma
cabeça repleta de cabelos negros.
Sem uma palavra, eu me levanto da minha cadeira e lentamente
caminho até ele.
Estendo minha mão para ele, com a palma para baixo, como meu avô
costumava fazer.
— Meu rei, — Matt diz, ajoelhando-se na minha frente e pegando
minha mão.
Eu continuo a encará-lo enquanto o forço a me cumprimentar dessa
forma bizarra e antiquada.
Mas preciso ter certeza de que Matt sabe onde está: abaixo de mim.
— O que diabos está acontecendo? — Dom diz de repente. — Você
está tirando uma com o cara novo ou algo assim?
— Dom, — eu digo, — Matt é o novo par destinado de Ariel.
O rosto de Dom se contorce em choque.
— Eu acho que ele deixou de fora esse pequeno detalhe durante sua
caminhada até aqui, não é? — Eu digo.
— Definitivamente, — Dom diz. Ele dá um tapa nas costas de Matt e
abre um sorriso malicioso. — Seu malandro... o que mais você está
escondendo?
Eu vejo Matt engolir em seco com as palavras de Dom.
Gotas de suor estão se formando em suas têmporas e seus olhos estão
se movendo com nervosismo pela sala de jantar.
Se ele está escondendo outra coisa, vou descobrir.
— Bem, — diz Dom, — enquanto estou morrendo de vontade de ficar
para este jantar inacreditavelmente estranho, devo ir. Helena fez um
assado.
— Helena é vegana, — Ariel interrompe.
— Certo, — Dom engasga. — Vamos todos fingir que eu inventei uma
mentira melhor. Boa noite! — ele diz, e então desaparece no corredor.
Agora somos apenas nós três a sós, prontos para o jantar mais
disfuncional do mundo.
— Vamos comer, — digo, apontando para a mesa.
Ariel escolhe um assento e eu aponto para a cadeira na extremidade
da mesa mais distante dela. — Você se senta ali, Matt, — eu digo.
— Claro, — ele diz com um aceno de cabeça e se senta.
É hora de obter as informações de que precisamos e acabar com essa
tortura.
MATEO

Isso é exatamente tão horrível quanto eu esperava.


Eu só preciso manter meu sotaque, lembrar meu disfarce e sair daqui.
Mas estou tendo dificuldade em me concentrar quando Ariel está na
mesma sala que eu.
Nosso vínculo de acasalamento é tão forte que devo apertar todos os
músculos do meu corpo para resistir a me mover para mais perto dela.
Posso dizer pela expressão em seu rosto que ela está sentindo a
atração também, e toda a culpa que vem junto com isso. Eu também me
sinto culpado... como se estivesse traindo Isabella.
— Bem, — Alex diz enquanto tomo um gole da sopa que foi colocada
na minha frente. — Fale-me sobre você, Matt.
Eu levo um momento para organizar meus pensamentos e então
começo. — Eu venho da Matilha da Lua de Sangue, — eu digo.
— Oh, — Ariel interrompe, — essa é a matilha de Valeria! Como ela e
Lyle estão?
— Nunca passei muito tempo com o Alfa e a Luna, — digo. — Eu era
apenas um guerreiro humilde.
— Por que você foi embora? — Alex pergunta.
— Razões pessoais, — eu digo. — Decidi que meu tempo seria melhor
gasto servindo ao rei e à rainha na Matilha Real.
— Razões pessoais, hein? — Ariel diz. — E onde ela está? A garota que
você ama? Ela está na Matilha da Lua de Sangue?
Posso sentir o suor continuando a se formar na minha testa. E a sopa
escaldante certamente não está ajudando.
— Não importa onde ela esteja, — eu digo. — Eu não posso ficar com
ela. O destino tem outros planos para a minha Isabella.
Eu detectei meu sotaque americano começando a escorregar
conforme a frustração crescia dentro de mim. Eu só queria que o rei e a
rainha me deixassem em paz.
— Nesta casa, temos um lema, — diz Ariel. — Foda-se o destino.
Isabella será sua novamente.
A rainha Ariel é agressiva, mas não tem ideia dos obstáculos que se
colocam entre mim e a mulher que amo.
ALEX

Matt está devorando sua comida em um ritmo alarmante.


É claro que ele está desconfortável e quer sair daqui o mais rápido
possível.
É porque seu vínculo de acasalamento com Ariel é tão forte?
Ou é outra coisa?
Sua compostura está lentamente se desfazendo.
Até mesmo sua fala soa diferente do que parecia quando ele entrou.
Ariel mencionou que ele tem um sotaque leve e não identificável. Agora
está começando a ficar mais forte.
Que porra é essa?
E eu me encontrei com os guerreiros da Matilha da Lua de Sangue. Eu
definitivamente não o vi lá.
Embora algo sobre ele pareça familiar...
Eu simplesmente não consigo definir o que é.
Depois que terminamos com os pratos de sopa, o prato principal é
servido: uma coxa de frango assado e uma salada.
Mas eu não toco na minha comida. Eu não tenho estômago para isso.
Eu apenas sento em silêncio e vejo Matt comer.
O homem tem modos perfeitos à mesa.
Seu guardanapo está dobrado no colo. Seus cotovelos descansam ao
lado do corpo, em vez de na mesa. Sua postura é reta como uma tábua. E
ele usa o garfo e a faca corretos para cada mordida na comida.
Este homem tem melhores maneiras reais à mesa do que eu.
E, além disso, quem se refere a si mesmo como um guerreiro humilde,
mesmo que seja um.
Tenho certeza agora... este homem está definitivamente escondendo
algo.
Meus olhos voam para seu rosto novamente.
E de repente, eu percebo...
Eu já vi seu rosto, antes que houvesse uma cicatriz marcante em sua
testa.
Eu conheço esse homem.
Tenho certeza disso.
— De onde você disse que veio mesmo? — Pergunto-lhe.
— Da Matilha da Lua de Sangue, — ele diz, um pouco rápido demais.
— Que tal desta vez você me contar a verdade, — eu digo, minhas
mãos cerradas em punhos.
— Alex, do que você está falando? — Ariel diz. — Você prometeu que
não perderia a cabeça esta noite.
— Eu não estou perdendo a cabeça, Ariel, — eu digo. — Este homem
não é Matt da Matilha da Lua de Sangue. O nome dele é Mateo.
Os olhos de Mateo sobem para encontrar os meus.
— É ele não é um guerreiro humilde. Ele é o príncipe herdeiro da
Matilha Real da Catalunha.
Capítulo 6
O CONTO DO PRÍNCIPE
MATEO

— Ele é o príncipe herdeiro da Matilha Real da Catalunha.


As palavras de Alex caem como uma bomba na sala de jantar.
Os olhos de Ariel se arregalam em descrença. Mas não há mais como
negar. O rei fala a verdade.
Eu esperava esconder minha verdadeira identidade por um tempo —
me esconder nas patentes dos guerreiros — mas, infelizmente, o disfarce
já era.
Alex está me olhando fixamente, esperando que eu confesse.
Quando finalmente o faço, abandono meu horrível sotaque
americano e falo no meu próprio sotaque espanhol.
— Você está certo, meu rei, — eu digo.
Alex se levanta, a fúria gravada em seu rosto.
— O que é isso? — Alex diz. — Algum tipo de insurgência? Você está
tentando se infiltrar em nossa matilha?
— Não, claro que não, — eu digo, levantando minhas mãos em sinal
de rendição. — Eu venho em paz.
— Você sabia que minha Luna era seu par? — Alex pergunta. — Você
veio aqui para encontrá-la?
— Diosa, não, — eu digo. — Eu prometo, isso foi uma surpresa tanto
para mim quanto para você.
— Então por que você está aqui? — Ariel pergunta.
Eu não tenho escolha agora. Devo contar a eles toda a verdade.
— Talvez você tenha ouvido a notícia, — comecei. — Minha matilha
se fundiu com a Matilha Real Espanhola.
— Sim, — diz Alex. — Fiquei feliz em saber de uma unificação
pacífica. Eu sei que suas matilhas estão em conflito há muitos anos.
— Não houve nada de pacífico sobre a fusão, — eu disparei de volta.
— Então o que aconteceu? — ele pergunta.
— A rainha da Matilha Espanhola, Esmeralda, assumiu o controle do
meu bando à força, — digo. — Ela organizou um ataque contra nós. Meu
povo se escondeu, temendo por suas vidas. E eu fui banido.
— Como não ouvi nada sobre isso? — Alex diz, claramente ainda não
acreditando na minha história.
— Ninguém pode se manifestar contra Esmeralda, por medo da
perseguição. Se alguém o fizer, enfrentará a morte certa.
Alex e Ariel se olham e depois se olham de volta para mim.
— Como podemos confiar no que você diz? — Alex me pergunta.
— Eu não espero que você faça isso, — eu digo. — Depois de todas as
mentiras que já contei...
— Ele está dizendo a verdade, — Ariel diz de repente. — Minha loba
pode sentir isso.
Ariel também se levanta da cadeira e se aproxima lentamente de mim.
Ela pousa a mão gentilmente na minha, que envia um raio de eletricidade
pelo meu corpo.
— Venha agora, — ela diz. — Vamos para a sala e você pode nos contar
toda a história. A verdadeira. Do começo.
Sentado em frente ao rei e à rainha, seus olhos fixos nos meus, sinto
meu coração batendo forte no peito.
— Como você disse, — eu começo, — as Matilhas Reais Espanhola e
da Catalunha são inimigos jurados. A Matilha Espanhola tem disputado
por nossa terra e nossos recursos por séculos.
— Quando a falecida rainha da Matilha Espanhola morreu no ano
passado e sua filha Esmeralda assumiu o trono, a tensão aumentou ainda
mais.
— Ela começou a espalhar mentiras sobre nosso bando, encorajando
seus seguidores a atacar nossas fronteiras. Uma guerra estava se
formando e meu pai estava desesperado para impedi-la.
Minha voz começa a falhar enquanto eu revivo as memórias
dolorosas.
— Foi então que meu pai teve uma ideia, — eu continuo.
— Ele decidiu que eu deveria me casar com a Rainha Esmeralda, como
um símbolo de união entre as matilhas. Ele esperava escrever um novo
capítulo e acabar com a rivalidade de uma vez por todas. Para minha
surpresa, a rainha concordou. — Eu faço uma pausa, sentindo a agonia
inundar meu corpo, mas Ariel acena com a cabeça de forma
tranquilizadora, me incentivando a continuar.
— Meu pai organizou um baile para as duas famílias reais, — eu digo.
— Era para ser uma ocasião alegre. Mas assim que conheci Esmeralda,
soube que não tinha futuro com ela. Seu coração era frio como gelo e eu
não senti nenhum pingo de calor por ela para derretê-lo. E então... eu
conheci a irmã dela, Isabella.
Meu corpo treme ao me lembrar daquele momento fatídico... a
primeira vez que coloquei os olhos nela.
— Eu me apaixonei por Isabella à primeira vista, — eu digo. — E ela se
apaixonou por mim também. De jeito nenhum eu poderia me casar com
Esmeralda, quando meu coração pertencia a outra pessoa.
— Oh Deusa... — Ariel murmura baixinho.
— Eu disse a meu pai que não poderia continuar com isso. Ele era um
bom homem. Ele não queria que eu sacrificasse minha felicidade, então
concordamos em encontrar outro caminho a seguir.
— O que aconteceu com a Esmeralda? — Alex me pergunta.
— Você já ouviu a expressão 'Nem o inferno tem a fúria de uma
mulher desprezada'? — Eu digo. — Quando rejeitei Esmeralda, abri os
portões do inferno.
— Ela lançou um ataque em grande escala à minha matilha. Ela
matou meu pai. Ela se apoderou de nossas terras. Ela aterrorizou meu
povo. E, claro, ela tentou me matar também, — eu digo. — Mas eu
consegui escapar.
Toco suavemente a cicatriz acima do meu olho.
Alex e Ariel me examinam, os olhos agora cheios de pena.
— Entrei em um barco cargueiro e, uma semana depois, atracamos em
seu território.
— E quanto a Isabella? — Ariel pergunta.
— Ela ainda está na Espanha. Sua irmã cruel está mantendo-a em
cativeiro.
— Mateo, — diz Ariel, — sinto muito.
— Você não vê agora? — Eu digo desesperadamente.
— Isabella e eu nunca podemos ficar juntos. Não enquanto a rainha
má se sentar no trono...
— E quanto ao seu reino? Seu povo? — Alex me pergunta. — Você não
quer se vingar de Esmeralda pelos danos que ela causou?
— Claro, — eu digo. — Eu tenho sonhado em matá-la com minhas
próprias mãos. Mas atacar a Matilha Real Espanhola significaria colocar
Isabella em perigo. E se algo acontecer com ela...
O simples pensamento me causa ânsia no estômago.
— Eu não seria capaz de viver comigo mesmo, — digo. — Eu mal
consigo agora.
ARIEL

Eu quero correr para o Mateo. Quero colocar minhas mãos curadoras


sobre as dele e livrá-lo de um pouco de sua dor.
Mas mal consigo me mover. E nem mesmo meus poderes são
suficientes para curar o desgosto que ele sofreu. Apenas Isabella poderia
fazer isso.
Sua história é muito, muito pior do que eu esperava.
Agora eu entendo que a missão da Deusa da Lua para mim não é
simples.
Claro que não...
Quem eu estava enganando?
Nunca é...
Não quero nada mais do que reunir Mateo com Isabella para que eu
possa rejeitá-lo como meu par destinado, de uma vez por todas.
Mas fazer isso significaria mexer com outra matilha real, uma
rivalidade antiga e uma rainha vingativa capaz de males além da minha
imaginação.
Capítulo 7
FATE NÃO É TOTALMENTE RUIM
ARIEL

No dia seguinte, perambulo ansiosamente pelos corredores do


palácio, repassando a história de Mateo em minha mente.
Eu não consigo acreditar nos horrores que ele suportou antes de
encontrar seu caminho para o nosso bando.
E pensar... se Fate nunca tivesse nos juntado, eu nunca teria
conhecido seu passado doloroso.
Só então, algo me puxa para longe dos meus pensamentos em
espiral... o som da voz de Xavi ecoando pelo corredor.
Natalia e Chuck devem ter acabado de voltar de sua viagem. Eu os
incentivei a viajar após nosso encontro com Fate. Eu poderia dizer que
Natalia estava abalada e precisava de um descanso adequado.
Eu acelero meu passo e saio para o saguão, onde vejo Natalia e Chuck
puxando suas malas pela porta da frente.
Natalia parece bronzeada, saudável e mais feliz do que nunca.
— Ariel! — ela chama por mim.
— Natalia! Chuck! — Eu chamo de volta, correndo e dando um abraço
apertado em cada um deles.
Pego Xavi em meus braços e ataco seu rostinho com beijos. — Bem-
vindo ao lar, — eu digo. — Senti saudades de vocês.
Nunca pensei que diria isso sobre minha irmã, mas é verdade.
Nossa família ainda está longe de ser perfeita. Minha mãe me dá uma
dor de cabeça perpétua e meu pai atende cegamente a todos os seus
caprichos.
Mas meu relacionamento com Natalia nunca foi melhor. Já passamos
pelo inferno e voltamos juntas, e não consigo mais imaginar minha vida
sem ela.
— Vou levar a bagagem para o nosso quarto, — diz Chuck.
— Eu posso ajudar, — diz Natalia.
— Não precisa, Luz do Luar, — ele responde, pegando todas as três
malas em seus braços fortes sem nenhum problema e desaparecendo
escada acima.
— Como estão as coisas por aqui? — Natalia me pergunta. — Tudo
tranquilo?
A última coisa que quero é sobrecarregá-la com toda a verdade agora,
mas basta olhar para o meu rosto e ela perceberá que algo está errado.
— Oh Deusa..., — diz ela. — O que foi agora?
— Bem, — eu digo, ainda quicando Xavi no meu quadril, — acontece
que matar Fate não foi o fim de nossos problemas. Fate reencarnada me
designou um novo par destinado. E ele está aqui.
Os olhos de Natalia percorrem o saguão. — Aqui? — ela sussurra.
— Não nesta sala, — eu digo com uma risada. — Mas ele está na
matilha.
— Merda, merda, merda, — Natalia diz, um olhar de horror rastejando
em seu rosto. — Isso significa que temos que voltar para a porra da ilha e
matar Fate de novo?
— Não, — eu digo bruscamente. — Eu nunca vou voltar para aquele
lugar abandonado pela deusa. Vamos tentar resolver este problema da
maneira mais fácil possível. Não quero que ninguém se machuque desta
vez.
— Avise-me se puder ajudar de alguma forma, — diz Natalia.
— Você ajudou o suficiente, — eu digo. — Eu só quero que você e
Chuck relaxem e comecem suas vidas juntos.
Um sorriso vertiginoso aparece no rosto de Natalia. — Enquanto
estávamos fora, ele fez a pergunta.
— Que pergunta? — Eu questiono. — Vocês já estão acasalados.
— Ele perguntou se poderia adotar Xavi oficialmente, — ela exclama.
Antes que eu possa controlar, sinto lágrimas inundando os cantos dos
meus olhos.
Xavier merecia morrer, eu sei disso. Mas quando Alex o matou, uma
parte de mim ficou arrasada sabendo que Xavi não iria crescer com um
pai.
Agora ele vai.
E eu sei que ninguém será um pai melhor para ele do que Chuck.
— Oh, Natalia, — eu murmuro. — Isso é incrível.
— Não sei o que fiz para merecê-lo, — diz Natalia. — Devo ter feito
algo bom em uma vida passada, porque fui uma vadia total nesta.
— Precisamos comemorar, — eu digo. — Talvez possamos ter uma
festinha esta noite.
— Você acha que podemos organizar uma festa apropriadamente
incrível esta noite? De jeito nenhum, — diz Natalia. — Já comecei a
planejar. Vai ser em uma semana e vai ser uma noite inesquecível.
— Entendi, — eu digo. — Eu estarei lá.
Eu a puxo para outro abraço e, por um momento, a euforia de sua
notícia quase me faz esquecer todos os problemas que estão por vir.
Mas então eu vejo Vivian emergindo no saguão com uma prancheta
na mão.
— Você está pronta, Ariel? — ela me pergunta.
Vivian, Alex e eu devemos ter uma reunião para discutir a situação de
Mateo, e estou atrasada.
Dou um último beijo em Xavi e o devolvo a Natalia.
— Deseje-me sorte, — eu digo.
— Você tem uma vida louca, sabe disso, não sabe? — Natalia diz. —
Alguns lobos nunca encontram seus pares destinados. Você encontrou
dois e não quer nenhum deles.
— O que posso dizer? — Eu encolho os ombros. — Eu sou uma
rebelde nata. Eu só queria que Fate recebesse o recado de que já tive
pares suficientes para esta vida.
Eu vejo o olhar de Vivian se voltar ao chão com as minhas palavras, e
não posso deixar de sentir uma pontada de culpa.
Eu sei que Vivian realmente quer encontrar um par. Não deve ser fácil
para ela me ouvir menosprezar minha situação.
Eu sigo Vivian para fora do saguão e pelo corredor em direção ao
escritório de Alex, dando-lhe um tapinha gentil nas costas enquanto
avançamos.
Quando chegamos ao escritório de Alex, ele já está sentado atrás de
sua mesa esperando por nós.
— Então, — eu digo, sentando-me em frente a ele e me lançando
imediatamente, — o que diabos vamos fazer?
— Isso não é mais apenas uma questão de amantes perdidos, — diz
Alex. — É uma crise diplomática.
Posso dizer que Alex está extremamente ansioso com tudo isso.
Ele trabalhou muito para obter o respeito de nosso próprio reino. Mas
esta situação está totalmente fora de sua jurisdição. A última coisa que
ele quer é travar uma guerra contra outra matilha real.
E eu definitivamente não quero isso também.
— Bem..., — diz Vivian. — E se houver uma maneira de ajudar Isabella
a escapar e trazê-la aqui sem a Rainha Esmeralda saber que estamos por
trás disso?
— Você acha que é possível? — Alex pergunta.
— Vale a pena tentar, — diz Vivian. — Todas as outras opções que
consigo pensar terminam em violência.
— Há um membro dos guerreiros que está no comando das operações
especiais, — eu digo. — Devíamos trazê-la aqui e ouvir o que ela tem a
dizer.
Pego meu telefone do bolso e envio um alerta da Matilha Real para Jo,
nossa ninja residente.
Ariel: Jo, preciso de sua ajuda.
Ariel: Encontre-me no escritório de Alex.
Jo: Estou indo.
Eu coloco meu telefone no bolso novamente e volto minha atenção
para Vivian e Alex.
— Eu acho que estamos no caminho certo, — eu digo. — Se
conseguirmos tirar Isabella da Espanha e dar a ela abrigo com Mateo
aqui, então podemos nos livrar de todo esse problema.
Nesse momento, alguém bate na porta.
Caramba, Jo é rápida.
É por isso que ela é tão boa em seu trabalho...
— Entre, — eu grito.
Jo abre a porta e fica em posição de sentido. — O que você precisa,
Capitã? — ela me pergunta.
Mas antes que eu tenha a chance de responder, sua postura
repentinamente vacila e seu olhar se afasta do meu.
Ela olha direto para Vivian.
Vivian a encara de volta.
Ambas têm um brilho alucinado nos olhos.
— O que foi? — Eu pergunto. — Qual é o problema?
— Par, — Vivian diz calmamente.
— Par, — Jo repete.
Puta merda...
Acho que essa nova Fate não é totalmente ruim, afinal.
Capítulo 8
VINCULADOS
ARIEL

Jo e Vivian se entreolham em um silêncio atordoado.


Eu olho para Alex e vejo a emoção em seu rosto espelhando o meu.
WOW !
Isso é incrível.
Eu nem tinha certeza de que Vivian seria capaz de reconhecer seu par
destinado, porque ela é apenas meio lobisomem. Mas estou muito feliz
por estar errada.
Matar Fate causou tantas consequências desastrosas. Agora,
finalmente algo bom aconteceu.
Vivian encontrou seu par, e não consigo pensar em ninguém mais
perfeito para ela do que esta guerreira espoleta de tamanho divertido.
— Eu sinto muito... — Vivian diz de repente. — Podemos remarcar
esta reunião... eu só... eu preciso... eu não sei o que está acontecendo...
Seu corpo frágil está tremendo de excitação.
— Claro! — Eu grito. — Vocês duas saiam daqui antes que eu as
expulse.
Vivian me lança um olhar e eu pisco de volta para ela.
Ela se levanta e se aproxima de Jo timidamente.
— Eu sou Vivian, — ela diz, estendendo a mão.
— E não sou muito boa em conversa fiada, — diz Jo.
— Estou esperando há tanto tempo por isso, — diz Vivian.
— Bem, então não vamos esperar mais, — Jo diz, um sorriso raro se
espalhando em seu rosto. Com isso, ela agarra o braço de Vivian e a leva
para fora da sala.
Não consigo tirar o sorriso estupidamente grande do meu rosto
enquanto as vejo partir.
Mesmo a nuvem mais escura tem um forro prateado...
Eu ando até a cadeira de Alex e sento em seu colo.
— A vida parece tão difícil, — eu digo, — e então algo assim acontece,
e eu me lembro de como somos sortudos. Ter alguém para amar faz com
que valha a pena suportar toda a dor.
Alex dá um beijo suave em meus lábios. Nossas línguas giram juntas
em um doce abraço.
— Vamos deixar essas duas pombinhas terem um tempo para se
conhecerem, — diz ele. — Vamos resolver a situação de Mateo
eventualmente. Não adianta ter pressa.
Eu pressiono meus lábios em sua bochecha e me levanto. — Se vamos
dar um tempo, vou treinar, — digo.
— Você realmente não entende o conceito de 'um tempo', não é? —
Alex diz com uma risada.
— Aparentemente não, — eu digo, me virando e saindo de seu
escritório.
***

Eu entro na arena esperando encontrá-la vazia... O treino diário


terminou horas atrás.
Mas então eu ouço o som de um grunhido vindo de um canto escuro
da sala.
Ando na ponta dos pés e encontro Mateo ali, lutando uma batalha até
a morte com um grande saco de pancadas preto.
Eu nunca o vi em ação antes, e não posso deixar de assistir fascinada.
O homem tem uma forma incrível.
Ele é claramente um guerreiro altamente treinado; seus socos são
fortes, rápidos e precisos.
Eu me pergunto quem ele está imaginando cada vez que dá um golpe
forte, mas com base em sua história, acho que posso fazer um palpite
bem fundamentado.
Esmeralda.
— Nada mal, — eu digo a ele. — Fico feliz por ter você em nossa
equipe.
Mateo dá um salto ao ouvir a minha voz. Ele claramente não me ouviu
se aproximando.
— Ariel, olá, — diz ele, enxugando o suor da testa cheia de cicatrizes.
— Está tudo bem? — Pergunto-lhe. — Parece que aquele saco de
pancadas estava prestes a encontrar um túmulo prematuro.
Mateo me abre um sorriso torto.
— Você pode não acreditar, — diz ele. — Mas eu tenho um pouco de
raiva reprimida dentro de mim.
— Somos dois, — eu digo. — Mas estamos trabalhando em um plano
para colocar Isabella de volta em seus braços sem colocar nenhum de
vocês em perigo. Espero que isso ajude um pouco com a raiva.
— Não sei como lhe agradecer, — diz Mateo, — por toda a sua
gentileza. Eu não teria sido tão generoso se os papéis fossem invertidos.
— Eu não acho que isso seja verdade, — eu digo a ele. — Inclusive,
vejo muito de mim mesma em você.
— Eu sinto o mesmo, — diz Mateo. — Meu pai sempre disse que eu
tinha que escolher entre ser um guerreiro e ser rei. Mas treinar era minha
paixão. Eu entendo que é o mesmo para você.
Eu concordo. — Você quer tentar lutar com algo que não está cheio de
areia? — Pergunto-lhe.
— Sim, — diz ele ansiosamente. — Tenho estado desesperado por um
adversário digno.
Eu o levo para o meio da arena.
Um círculo no chão designa o ringue de luta perfeito.
Eu olho para ele de cima a baixo, analisando meu oponente. Ele tem o
dobro do meu tamanho, mas acho que tenho uma chance.
— Preparado? — Eu pergunto. E antes mesmo de dar a ele uma
chance de responder, eu lanço meu braço direito em seu peito.
Ele segura meu braço e me vira, me fazendo voar pelo ar.
Eu consigo cair de pé.
Caramba, ele é bom.
Seus instintos são rápidos.
Mateo avança em minha direção, mas eu me abaixo e rolo, emergindo
do outro lado dele.
Eu agarro seus braços por trás e o giro para que ele fique de frente
para mim novamente, então eu envio um chute forte em seu estômago e
faço contato.
Ele arfa por ar, mas se recupera em um instante, agarrando minha
perna e puxando-a debaixo de mim.
Eu caio com força nas minhas costas com um baque.
Ele desliza até mim e tenta me prender no chão.
Mas consigo me desvencilhar de suas mãos e subir em cima dele.
Eu tenho a vantagem agora. Mas não por muito tempo...
Ele agarra meus ombros com suas mãos enormes e nos rola.
Ele está em cima de mim agora. Estou presa.
Eu sei que tenho energia para continuar lutando.
Mas há outra parte de mim, ficando mais forte a cada segundo, que
está gostando da sensação de seu peso pressionando em mim.
Meus olhos encontram os dele.
Com nossos corpos presos juntos assim, nossa atração de pares é mais
intensa do que nunca.
Eu sei que ele também sente.
Meus punhos se desfazem e pressiono minhas mãos em seu peito.
Sinto seu coração disparar a mil por hora enquanto nossos membros e
suor se misturam.
— Merda, — eu digo.
— Mierda — Mateo confirma.
Estou desesperada para transformar nossa postura de combate em um
abraço apaixonado.
Mas não posso fazer isso.
Eu nunca trairia Alex dessa forma.
Reunindo cada grama de força que me resta, empurro Mateo de cima
de mim.
Ele cai para trás e rapidamente foge de mim.
— Obrigado, — diz ele, ofegante. — Eu me prometi a Isabella, quer eu
possa tê-la ou não. Eu nunca me perdoaria.
— Nem eu, — eu digo.
Mas mesmo que Mateo esteja sentado a vários metros de distância
agora, a atração do vínculo ainda está me puxando com força e cegando
meu julgamento.
Eu preciso sair daqui.
Agora.
Eu me levanto e começo a correr para longe de Mateo.
Corro direto para o palácio, procurando desesperadamente por Alex.
Eu finalmente o encontro caminhando pelos corredores com Dom.
Sem dizer uma palavra a nenhum deles, pego sua mão e o arrasto atrás
de mim, finalmente puxando-o para o nosso quarto.
Batendo a porta, eu o empurro para a cama.
— O que está acontecendo, Ariel? — ele me pergunta, totalmente
confuso. — Qual é o problema?
— Você disse que não há pressa para encontrar Isabella. Mas há...
— O que você quer dizer? — ele pergunta.
— Meu vínculo de acasalamento com Mateo está ficando mais forte,
— eu digo. — Não sei por quanto tempo mais vou conseguir resistir a ele.
Capítulo 9
O PLANO
ALEX

Oh Deusa...
Ariel está lutando para resistir a Mateo.
Meu pior pesadelo está se tornando realidade.
Eu sei que não é culpa de Ariel. Eu não posso ficar com raiva dela.
Mas ver o vermelho emergindo em suas bochechas, e saber que outro
homem causou isso...
Isso absolutamente me mata.
Eu confio em Ariel completamente, mas também sei o quão forte um
vínculo de acasalamento realmente é.
Nada além da morte prematura de Olivia poderia ter me mantido
longe dela.
Portanto, teremos que partir para a Espanha assim que for
humanamente possível. Não posso tentar o destino perdendo mais
tempo.
Ariel parece ter sua mente definida em apenas uma coisa... e não é
uma viagem internacional.
Ela está com as mãos na fivela do meu cinto novamente.
Qualquer desejo que ela sentiu por Mateo claramente precisa ser
satisfeito.
E por mais que eu queira resistir a ela, fico desamparado quando ela
começa a esfregar seus quadris contra os meus.
Dentro de instantes, estou duro como uma rocha.
Mesmo quando estou com raiva, não posso negar a essa mulher o
prazer que ela merece.
Sempre que seu vínculo de par destinado começar a disparar, vou me
certificar de que sou o único a atiçar as chamas.
Eu coloco minha mão dentro de sua calça e ela geme enquanto
mergulho em sua umidade.
— Alguém está animada, — eu digo.
— Meu corpo está acelerado, Alex, — ela diz. — Eu preciso de você.
Ajude-me.
Sua loba pode estar desejando Mateo, mas ninguém sabe como
satisfazer aquela besta uivante melhor do que eu.
Eu tiro suas calças e rastejo entre suas pernas.
Eu dou uma lambida lenta e provocante ao longo do comprimento de
sua dobra e ela grita de prazer.
Ela segura meu cabelo e enfia meu rosto mais fundo em suas dobras.
Eu me agarro a ela ferozmente, segurando seus quadris em minhas
mãos e apertando com força, sentindo seus músculos se contraírem de
puro prazer.
Em pouco tempo, eu a tenho à beira de um orgasmo explosivo.
Minha língua desliza sobre seu ponto mais doce uma última vez e
sinto seu corpo se contorcer enquanto suas terminações nervosas
explodem como dinamite.
Eu mantenho minha cabeça entre suas pernas enquanto ela
lentamente se recupera e consegue respirar novamente.
— Obrigada, — ela sussurra. — Obrigada.
— Eu sempre estarei aqui para te satisfazer, — eu digo. — Mas acho
que é hora de começarmos a fazer as malas. Estamos indo para a
Espanha.
Estou sentado no meu escritório com Ariel e Jo quando Vivian entra, o
som de seus saltos estalando no chão de mármore.
Eu a vejo abrir um sorriso suave para Jo antes de puxar uma cadeira ao
meu lado.
— Acabei de falar ao telefone com a embaixadora lobisomem
espanhola, — diz Vivian. — Eu disse a ela que o Alfa e a Luna da Matilha
Real farão uma viagem pela Europa e querem visitar a rainha. Ela disse
que me ligaria o mais rápido possível.
— Perfeito, — eu digo. — Bom trabalho, Vivian.
Juntei-me a minha mãe e meu pai em várias viagens reais quando era
criança, então sei exatamente o que esperar.
— Se a Rainha Esmeralda abrir as portas, ela provavelmente dará uma
festa em nossa homenagem. Isso é normal, — digo a Ariel.
Jo tira um pedaço de papel de uma pasta e o joga na mesa à nossa
frente.
— Esta é a planta do palácio espanhol. Consegui acesso no registro
público, — diz Jo. — Precisamos memorizá-lo antes de entrarmos.
Eu aceno, estudando o layout intrincado.
— Não teremos ideia de onde Isabella está sendo mantida quando
chegarmos. Dada a situação, acho improvável que ela vá à festa, —
continua Jo, — então será seu trabalho descobrir o paradeiro dela com
Esmeralda.
— E como faremos isso? — Eu pergunto.
— Com bajulação. Encante-a. Mostre a ela aquele seu sorriso de
Príncipe Encantado. Dê um jeito.
— Entendi, — eu digo com uma risada. — Depois de reunir as
informações, Ariel e eu levaremos Mateo até Isabella.
— Mateo? — Ariel diz de repente. — Achei que tivéssemos
concordado que ele não viria.
— Ele precisa estar lá, — diz Jo. — Caso contrário, corremos o risco de
Isabella ficar assustada e se recusar a vir conosco.
— Mas e se Esmeralda o vir? — Eu pergunto. — Nosso plano será
arruinado.
— Será meu trabalho garantir que ela não o veja, — diz Jo.
Só então, ouço um telefone tocando.
Telefone de Vivian.
Ela o tira do bolso e atende.
— Olá, — ela diz, e então, — obrigada. Excelente. O rei e a rainha
ficarão maravilhados.
Ela desliga. — A rainha da Espanha está esperando por vocês, — diz
ela.
— Quando? — Eu pergunto.
— Amanhã, — Vivian diz.
Eu engulo em seco.
A coisa ficou séria.
MATEO

Estou na porta do escritório do rei e mais uma vez tenho que resistir
ao desejo desesperado de correr para a floresta e nunca mais aparecer por
aqui.
Eu levanto meu punho e bato. Ariel abre a porta para me
cumprimentar.
Vê-la novamente após nosso último encontro faz aquelas irritantes
mariposas começarem a se agitar no meu estômago.
— Por favor, sente-se, Mateo, — Alex comanda, e eu me junto a eles
ao redor da mesa.
Ele não precisa me dizer duas vezes... Eu fico feliz em sentar o mais
longe possível de Ariel.
Eu vejo uma planta na mesa entre eles e a reconheço
instantaneamente.
E o layout do palácio espanhol, onde vive Esmeralda.
Aquele onde Isabella está sendo mantida em cativeiro.
Aprendi cada centímetro daquele lugar quando estava visitando
Isabella às escondidas a altas horas da noite.
— Por que você tem isso? — Eu pergunto.
— Vamos para a Espanha amanhã, — diz Ariel. — E você também vai.
Eu suspiro. — Diosa, não. Não pode ser, — eu digo. — Esmeralda
jurou que se ela visse meu rosto novamente, ela mataria Isabella
imediatamente. Eu não posso voltar.
— Temos um plano, — diz Ariel. — Isabella estará segura. Mas será
difícil convencê-la a vir conosco se você não estiver lá.
Isso está realmente acontecendo?
Vejo os olhares sinceros em seus rostos e quero acreditar que eles
terão sucesso... que terei Isabella em meus braços mais uma vez.
Mas eles não conhecem Esmeralda. Quão cruel ela pode ser.
— Então..., — diz Ariel. — Você virá conosco?
ARIEL

Posso dizer que a mente de Mateo está acelerada enquanto espero


ansiosamente por sua resposta.
— Eu irei com vocês, — Mateo diz de repente, e o alívio inunda meu
corpo. — Mas há algo que vocês precisam saber...
— O quê? — Alex pergunta a ele.
— Esmeralda não é como qualquer outro membro da realeza. Ela é
pura maldade, e assim é a companhia que ela mantém ao seu lado.
— Companhia? — Eu pergunto. De repente, Mateo se abaixa e puxa a
bainha da camisa, tirando-a do corpo.
— Ei, ei, — Alex diz. — O que você pensa que está fazendo?
— Preciso te mostrar uma coisa, — ele diz, jogando a camisa no chão.
Eu não vejo nada além de um abdômen impressionante.
Mas quando ele se levanta e se vira, tenho que cobrir minha boca para
abafar um grito.
As costas inteiras de Mateo estão cobertas de cicatrizes. Cicatrizes
profundas, rosadas e raivosas.
Eles se parecem inconfundivelmente com marcas de garras.
— Um lobo fez isso com você? — Eu pergunto.
— Não, — diz Mateo. — Não um lobo. Algo muito pior.
Capítulo 10
O GIRASSOL
ARIEL

Respiro fundo e examino todo o meu equipamento de guerreiro pela


milionésima vez para ter certeza de que não estou esquecendo nada de
que vou precisar na missão.
Adaga de pedra da lua. Confere.
Coldre para arma de liga. Confere.
Meu traje inteiramente preto, justo ao corpo, desenvolvido
especialmente para missões secretas. Confere.
Isso deveria ser tudo, mas ainda há algo para o qual não fui capaz de
me preparar.
Quando perguntei o que fez aquelas marcas de arranhões gigantes nas
costas de Mateo, pareceu que a memória era dolorosa demais para ele
reviver.
Como alguém que já passou por sua própria cota de traumas, eu
entendo.
Mas, como uma guerreira, não estou muito animada com a ideia de
poder enfrentar algo lá fora que pode deixar alguém tão apavorado.
Eu ouço uma batida na porta atrás de mim, o que me arranca dos
meus pensamentos.
Natalia casualmente entra no quarto e pega meu traje de guerreiro,
verificando.
— Garota..., — ela diz, parecendo quase ofendida, — você vai vestir
isso? Em vez de um vestido de verão? Você vai para a Espanha, não roubar
um banco!
Eu reviro meus olhos. — E uma missão, não férias, Natalia.
— E daí? Você pode simplesmente resgatar a princesa rapidamente e
depois relaxar na praia com um copo de sangria.
— Talvez, — eu digo, pegando meu traje de volta.
— Mas você veio aqui só para encher o meu saco?
— Alguém está um pouco irritada hoje..., — diz ela, sorrindo. — Mas
na verdade não, vim porque tenho algo para você. Um presente.
— Para mim? — Eu olho para baixo com curiosidade quando ela
alcança uma sacola aos pés.
Ela puxa um vestido dourado cintilante, completo com mangas
compridas e gola alta. Ele brilha na luz quando ela o estende em minha
direção.
Eu suspiro. E lindo. — O que é isso, Natalia?
— Bem, eu comecei a fazer algumas roupas como um hobby. Nada de
especial... apenas por diversão. E... bem, eu tentei fazer algo para você.
Eu olho para o vestido lindo, completamente chocada que ela
realmente o tenha feito.
— Eu sei, ficou horrível, não é? — ela diz, ficando vermelha. — Tudo
bem, você não precisa usar, eu só...
— Meu Deus! Eu amei! — Eu digo, jogando meus braços ao redor
dela. Um sorriso surge em seu rosto. — Você é tão talentosa. Obrigada,
Natalia.
Ela sorri desconfortavelmente, mas posso dizer que ela está brilhando
por dentro com o elogio.
— Além disso, ele cobre tudo, então eu consigo usar meu
equipamento de guerreiro por baixo também! — Eu digo. — É perfeito.
— Oh Deus! — ela grita. — Vou fingir que não ouvi isso.
— Prometa que vai cuidar de tudo enquanto eu estiver fora? — Eu
pergunto, sorrindo.
Ela parece surpresa. — Eu acabei de ouvir você me pedindo para ser a
rainha interina?
— Umm, algo assim..., — eu digo.
— Ariel! Seria um sonho se tornado realidade! — ela grita, seus olhos
ficando marejados. Ela me puxa para um abraço e eu rio enquanto ela me
aperta com força.
— Só não comece nenhuma guerra ou queime nada, está bem? — Eu
digo, me afastando, pegando minha bolsa de equipamentos e me
dirigindo para a porta.
— Ariel?
Eu me viro para encarar Natalia. — Sim?
— Só... não morra, está bem? Quero que a tia de Xavi esteja lá para a
cerimônia de adoção na próxima semana.
Eu rio e sopro um beijo para ela. — Eu não vou morrer. Prometo.
Ela sorri e eu saio, caminhando pelos corredores do palácio.
Eu olho para o céu azul nítido enquanto caminho pelos jardins. O sol
está brilhando sobre as flores coloridas e o chilrear dos pássaros. E um
dia absolutamente perfeito.
Sempre é um pouco estranho quando eu saio de casa, mas sei que está
em boas mãos e estará bem aqui me esperando quando eu voltar.
Por enquanto, tenho que me concentrar na missão.
Isso e sobreviver ao voo para a Espanha.
Já posso sentir meu estômago embrulhando só de pensar no que
aconteceu da última vez que Alex e eu entramos em um avião.
O motor do avião explodindo...
Nosso piloto. Rusty, morto na cabine...
Alex e eu quase morrendo quando calmos em uma montanha...
Eu balanço minha cabeça, tentando limpar as memórias. Eu não
chamaria exatamente de a primeira vez mais tranquila no ar.
Mas eu só tenho que engolir meus medos e tentar novamente.
Além disso, quais são as chances de algo assim acontecer duas vezes?
Respiro fundo, tentando me acalmar enquanto caminho para a pista
de pouso real. Mas quando vejo o que está esperando por mim lá, meu
queixo praticamente cai no chão.
Um jato particular elegante e novinho em folha está ali, brilhando ao
sol. Faz com que o velho avião real pareça um brinquedo.
Na lateral, em letras douradas, está escrito: Girassol.
Alex sai da porta do avião e acena para mim.
Ele está vestindo uma camisa de botão branca justa e seu cabelo
dourado esvoaçando com o vento forte.
Quando me aproximo, ele desce e me beija, de forma profunda e
longa.
— Você gostou? — ele diz, sorrindo, pegando minha bolsa.
— É...
— Incrivelmente lindo, é isso o que é! — Dom grita, os olhos
arregalados de admiração. — Dois motores turbofan, assentos de couro
italiano, um quarto principal completo...
Ele e Helena caminham pela frente do avião em nossa direção. Dom
fica de joelhos na frente de Alex. — Apenas me deixe ir, mano. Uma
viagem. Como nos velhos tempos. Mandando ver e... ai!
Helena dá um tapa na cabeça dele. — Você tem deveres de pai.
— E deveres de beta, — Alex continua, dando a ele outro tapa de
brincadeira para completar.
Alex se volta para mim. — O que eu ia dizer... é que este é o avião mais
seguro que o dinheiro pode comprar. Nada como da última vez. Eu
prometo.
Eu aceno ansiosamente enquanto ele pega minha mão e me leva
escada acima em direção à entrada do avião.
— Mateo, Jo..., — Alex se vira e grita. — Vamos lá!
Sob a sombra da asa do avião, vejo Vivian e Jo se abraçando. Elas
mantêm suas testas unidas e fecham os olhos.
Vivian tenta conter as lágrimas, mas Jo mantém uma expressão
corajosa.
— Não se atreva a morrer, — Vivian avisa.
Jo sorri e passa o dedo pela bochecha de Vivian antes de dar-lhe um
beijo profundo. — Sem chance, amor.
Por mais feliz que eu esteja em vê-las juntas, também conheço a dor
de ter que deixar seu par.
Vamos acabar logo com isso. Para o bem de todos.
Os motores do avião começam a rugir ainda mais alto, e Alex me leva
para dentro do avião. Jo e Mateo seguem atrás de nós.
No segundo que olho para dentro, tudo que posso fazer é suspirar
pelo interior. Os assentos são tão grandes quanto sofás e há grandes TVs
de plasma nas paredes.
Tudo é estiloso, forrado de ouro e couro. É profissional e elegante,
mas ao mesmo tempo aconchegante.
Uma porta deslizante se abre para a cabine do piloto, e um homem
usando aviador e uma roupa de piloto da realeza olha para nós.
— Bem-vindos a bordo! — ele diz. — Sentem-se. Temos muito
champanhe, caso precisem.
Ele fecha a porta e eu sinto o avião começar a se mover. Eu aperto a
mão do meu par enquanto os nós voltam ao meu estômago.
Apesar do luxo, ainda não estou exatamente feliz com a ideia de voltar
ao ar. O que eu realmente preciso é de algo para tirar minha mente disso.
— Alex?
— Sim?
— Dom mencionou algo sobre um... quarto?
Ele sorri maliciosamente.
Sigo Alex até a parte de trás do avião, onde há uma porta de madeira
fechada com o símbolo da Matilha Real gravado nela.
Ele empurra a porta para revelar um quarto inteiro. Cobertores de
veludo cobrem uma cama king-size com grandes janelas de cada lado.
Eu sorrio quando Alex me leva para dentro, fecha a porta atrás de nós
e me puxa para mais perto.
Ele me empurra no colchão celestial, seus dedos subindo pelas minhas
pernas e espalhando-as.
Eu gemo enquanto deito nos lençóis macios e o puxo para perto de
mim. Posso sentir seu volume já crescendo.
— O piloto me prometeu que não há uma única chance de
tempestade hoje, — diz ele, tirando minhas botas e beijando meu
pescoço.
— Mas..., — ele sussurra maliciosamente em meu ouvido. — Ainda
pode ser uma viagem turbulenta.
Capítulo 11
O ANIMAL DE ESTIMAÇÃO DA RAINHA
ARIEL

O avião ruge quando começa a ganhar velocidade na pista, e meu


coração começa a disparar.
Eu não sei dizer se é ansiedade por voar ou a emoção dos dedos de
Alex desabotoando minha calça e deslizando por baixo da minha
calcinha.
Um pouco dos dois, provavelmente.
Ele me beija de forma tranquilizadora, e eu sinto minha mente
instantaneamente ser acalmada por seus lábios enquanto eles percorrem
meu pescoço.
Ele levanta minha camisa sobre a minha cabeça e seus beijos começam
a descer pelos meus seios e ao longo da minha barriga nua, enviando
uma sensação de formigamento por todo o meu corpo. Lá fora, o avião
acelera, mas eu mal percebo porque os lábios de Alex estão agora
descendo pela parte interna da minha coxa.
Ele puxa minha calcinha, e eu sinto um desejo por Alex enquanto
corro minhas mãos por seu cabelo e ele olha para mim com sede em seus
olhos verde-floresta.
Eu deixo escapar um gemido enquanto sua língua traça levemente o
contorno da minha entrada, bem no momento exato em que o avião
decola.
Quando o avião começa a voar, a gravidade força sua cabeça para
baixo, colocando mais pressão no meu ponto ideal, e eu gemo ao ser
presa de volta na cama.
Sua língua começa a se mover cada vez mais rápido, fazendo mais e
mais prazer fluir pelo meu corpo.
— Alex..., — eu chamo, concentrando-me na incrível sensação de sua
língua dentro de mim, em vez do fato de que estou em uma caixa de
metal subindo milhares de metros no ar.
Eu envolvo minhas pernas em volta do seu pescoço e o puxo para mais
perto, deixando meus gemidos ficarem mais altos.
— Bem aí... Não pare!... Sim! Sim! — O prazer avassalador inunda
todo o meu corpo, e eu estremeço enquanto gozo incrivelmente forte
com os movimentos circulares de sua língua.
Eu me deito, recuperando o fôlego, mal percebendo que o avião está
nivelado agora e que as nuvens estão constantemente passando do lado
de fora das janelas.
Ouve-se a voz do piloto pelo interfone: — Senhoras e senhores,
estamos no ar. É seguro tirar os cintos de segurança agora.
Alex se senta sorrindo e tira a camisa. — Bem, então, parece que meu
trabalho está feito.
— Não, não está, — eu rosno. — Vem cá.
Ele se inclina sobre mim e começa a me beijar sedento enquanto eu
desabotoo seu cinto e puxo suas calças para baixo, deixando seu já
esperando membro duro como uma rocha livre.
Eu o guio, ofegando quando ele entra em mim.
Eu corro minhas mãos sobre as costas de Alex enquanto nossos corpos
se esfregam juntos.
Ele está enterrado profundamente dentro de mim, e todo o seu peso
está em cima de mim, esfregando contra meu ponto sensível e enviando
um prazer ainda maior de arrepios para cima e para baixo em meu corpo.
— Deusa..., — eu grito.
Ele rosna e ergue minha cintura, nos virando para que eu fique por
cima.
Eu assumo o comando, pressionando minhas mãos em seu peito e
levantando. Eu o monto, apreciando suas mãos enquanto elas agarram
meus seios e descem até meus quadris.
Alex geme enquanto continua empurrando, enviando meu corpo em
um êxtase trêmulo com cada movimento.
— Alex, não pare! — Eu aviso. — Eu vou...
Ele agarra meus quadris com ainda mais força, suspirando de prazer
enquanto balançamos juntos em um ritmo constante.
O prazer aumenta cada vez mais até atingir o meu clímax. Sinto Alex
chegar lá também.
Eu me inclino em cima dele, meu corpo todo inundado de alívio e
amor pelo meu par enquanto nos abraçamos.
Ele me beija e deixa suas mãos percorrerem todo o meu corpo,
enviando arrepios onde quer que ele toque.
Nunca me sinto mais segura do que quando estou nos braços de Alex.
Se houver uma chance de nós morrermos no avião agora, estou muito
feliz e cansada para sequer dar a mínima.
Nós rastejamos sob as cobertas, seus braços envolvendo em volta de
mim enquanto nos ajeitamos, e em alguns minutos estamos ambos
dormindo.
***

Abro os olhos de repente quando ouço a voz do piloto no interfone


novamente.
— Pessoal, agora estamos sobrevoando a Espanha e nos aproximando
do castelo. Preparem-se para pousar.
O quê?
Eu afasto a mão de Alex que está envolta em meu corpo e
rapidamente me sento na cama.
É isso?
Já chegamos?
Tudo o que fiz foi fazer sexo e dormir o tempo todo...
Bem, se isso é o que acontece em todos os voos normais, acho que fui
muito rápida em julgar.
Talvez eu até faça isso com mais frequência...
Eu me levanto e vou até a janela, olhando para fora enquanto começo
a colocar minhas roupas de volta.
Abaixo de nós, posso ver um castelo enorme.
Não é como nosso palácio, mas mais como um castelo que você veria
em um filme.
Parece meio medieval, com paredes de pedra e duas torres
pontiagudas que se erguem no céu. Ao redor do castelo existem jardins
verdes que, mesmo daqui de cima, posso dizer que são perfeitamente
cuidados.
De um lado do castelo há uma floresta sem fim e, do outro, um
penhasco íngreme, com o mar batendo contra ele.
É de tirar o fôlego, mas ao mesmo tempo intimidante.
Em algum lugar daquele castelo está o par de Mateo.
E vamos encontrá-la e trazê-la de volta.
ALEX

No segundo em que saio do avião, fico cara a cara com uma procissão
de guardas reais.
Todos estão vestindo roupas militares pretas e as expressões sérias em
seus rostos não parecem exatamente acolhedoras.
Os facões e as metralhadoras em suas mãos também não estão
ajudando.
— Um... buenos dias digo sem jeito para o guarda mais próximo.
Ele não responde, silenciosamente gesticulando para que entremos
em um caminhão blindado esperando por nós na pista.
Ariel e eu compartilhamos um olhar tenso antes de entrar na
caminhonete. Mateo e Jo — ambos vestidos como guerreiros da Matilha
Real — estão logo atrás de nós.
Eles nos levam pela floresta em direção ao castelo, que se avulta sobre
as árvores à distância. A primeira coisa que noto sobre este lugar é a
parede enorme e impenetrável que o cerca.
Isso, e o fato de que para todo lugar que eu olho, um guarda armado
está de vigia.
Este lugar foi obviamente projetado para manter as pessoas fora.
Ou mantê-las dentro.
Eu pego a mão de Ariel e aperto quando saímos do caminhão e sigo os
guardas escada acima para a entrada principal do castelo.
À minha direita, Mateo caminha ao meu lado, carregando nossas
malas. Ele está usando um capacete de guerreiro que cobre todo o rosto
para que Esmeralda não consiga reconhecê-lo.
Mas não preciso ver seu rosto para saber que está tenso.
Estar de volta aqui provavelmente está reacendendo muitas
memórias.
— Está pronto? — Eu sussurro para ele.
— Sim, — ele diz. — Vamos fazer isso logo e sair daqui rápido.
Eu aceno em concordância conforme chegamos ao topo da escada,
onde as tropas se espalham e se ajoelham diante da porta gigante que
leva ao castelo.
A porta se abre de forma ameaçadora e, no meio da escuridão, uma
mulher aparece.
No topo de seu cabelo preto, ela usa uma enorme coroa coberta com
joias vermelhas.
O vestido dela parece feito de pedras preciosas pretas cintilantes, e
enquanto ela caminha mais longe para a luz do sol, dois servos carregam
sua cauda enorme e esvoaçante atrás dela.
Basta uma olhada para saber exatamente quem ela é.
Rainha Esmeralda.
Seus olhos castanhos escuros me examinam da cabeça aos pés, e então
seus lábios vermelho-rubi se voltam para cima em um sorriso fino.
— Rei Alex da Matilha Real, — ela diz, estendendo a mão em minha
direção. — Que honra.
Já posso dizer pela maneira como ela se apresenta que ela é o tipo de
nobre que eu desprezo, que pensa apenas em termos de poder e status.
Mas se vou fazer tudo correr bem, então não tenho escolha a não ser
jogar o jogo dela.
Eu sorrio e me ajoelho diante dela, pegando sua mão e beijando-a
levemente. — Rainha Esmeralda da Espanha. A honra é toda minha.
Ela irradia, mostrando seus dentes brancos.
— Oh, você é encantador! E bonito também. E eu pensando que vocês
americanos eram todos tão mal-educados.
Eu me levanto, colocando meu melhor sorriso falso. — Para nossos
inimigos, talvez. Mas em minha Matilha Real, tratamos nossos amigos
com o maior respeito.
Ela sorri. Isso parece agradá-la.
— E eu sou Ariel. Prazer em conhecê-la, — Ariel diz,
inconscientemente estendendo a mão para Esmeralda.
A rainha recua de horror enquanto olha para a mão estendida de Ariel.
— Mi Diosa, que pegajosa — Esmeralda pragueja baixinho.
Elas se olham com julgamento, e é imediatamente óbvio para mim
que essas duas não vão se dar bem.
— Então, eu pensei que tivesse uma irmã? — Eu pergunto
rapidamente, tentando direcionar a conversa para algo útil. — A Princesa
Isabella não está aqui para cumprimentar seus visitantes?
Esmeralda acena com a mão com desdém. — Ah, Isabella. Ela é uma
péssima companhia. Confie em mim.
Meus olhos se voltam para Mateo, que posso ver que está cerrando os
punhos.
— Vamos fazer um passeio pelos jardins reais? — Esmeralda pergunta.
— Eu posso garantir a você, eles são os mais bonitos de toda a Europa.
— Sabe, acho que estamos um pouco cansados de nossa... — Ariel
começa.
— Ótimo, — Esmeralda diz, pegando meu braço e nem mesmo
olhando para Ariel. — Venha por aqui, Alex.
Ariel revira os olhos e eu lanço um olhar de desculpas.
— Então... Rainha Esmeralda, — eu digo enquanto caminhamos por
uma garagem cheia de carros esportivos exóticos em direção aos jardins.
— Eu queria agradecer por nos permitir uma visita assim tão de repente.
Ela sorri para mim. — Por favor. Me chame de Esmeralda. Nós dois
somos da realeza, o que significa que nos é permitido uma certa...
intimidade.
Ela aperta minha mão quando diz isso, e olho desconfortavelmente
para Ariel, mas ela está de olho em uma motocicleta esportiva na
garagem.
A maneira como Esmeralda está olhando para mim agora me deixa
profundamente desconfortável.
— Uh... certo. Claro, — eu digo, tentando manter minha compostura.
— Esses seus jardins são realmente lindos...
— Sim..., — diz ela, sorrindo. — Sou conhecida por meu exuberante e
bem cuidado... jardim.
Ela está...
Dando em cima de mim?
Caminhamos desajeitadamente além das intermináveis fileiras de
plantas exóticas e flores coloridas, nos aprofundando nos jardins.
Este lugar é enorme, com sebes altas e caminhos em zigue-zague que
levam em todas as direções.
E como um labirinto gigante...
— Então..., — eu digo, tentando mudar de assunto. — O que mais
você...
Mas as palavras param assim que viramos uma esquina e vejo o que
está na clareira à minha frente.
Há ossos espalhados por toda a grama.
Ossos humanos...
Uma trilha de sangue manchado sai de onde estamos, direto para a
entrada de uma caverna.
Minha pulsação acelera enquanto olho para a escuridão da caverna. Lá
dentro, posso ouvir um barulho estranho.
Um ruído diferente de tudo que já ouvi antes.
Parece quase...
Um ronronar.
E então, aquele ronronar fica cada vez mais alto, e eu posso ver um par
de olhos dourados cintilantes olhando diretamente para mim da
escuridão.
Eu ouço um rugido ensurdecedor, e algo salta das sombras.
Bem na minha direção.
Capítulo 12
TREINANDO A PONTARIA ARIEL
Assim que ouço o rugido, eu desvio meu olhar da motocicleta
brilhante para o som.
Eu corro em direção a ele, Mateo e Jo seguindo bem na minha cola,
correndo mais fundo no labirinto dos jardins. Eu viro uma esquina e
suspiro com o que vejo.
Um tigre gigante!
Ele está bem na frente de Alex, mostrando as presas do tamanho de
sua cabeça. É absolutamente enorme, seu corpo musculoso coberto de
pelo laranja listrado que ondula de raiva.
— Ei, gatinho! — Eu grito. — Fique longe do meu par.
Ele se vira para olhar para mim. Apenas olhando em seus olhos
dourados, posso sentir minha loba soltar um leve gemido.
Normalmente, ela está acostumada a ser o predador ápice. Mas essa
coisa é facilmente duas vezes maior que ela.
E está me olhando como se eu fosse um lanche saboroso da tarde
agora.
— Bubbles. Seja gentil! — Esmeralda diz rindo e coçando-o entre as
orelhas. Ele imediatamente começa a ronronar. — Você está proibido de
comer nossos convidados.
Eu olho para Alex e nós dois conseguimos dar um suspiro de alívio
quando Bubbles cai no chão e Esmeralda coça sua barriga.
Ele rola no chão, ronronando.
Hã?
Talvez ele seja manso?
Mas então sinto Mateo agarrar minha mão com urgência, apertando-a
com força.
Seus olhos estão cheios de medo enquanto ele encara o tigre.
— Por favor..., — ele sussurra aterrorizado, — me tire de perto dessa
maldita coisa!
De repente, enquanto olho para todos os ossos espalhados pela grama,
somei dois mais dois.
As marcas de garras que cobrem as costas de Mateo...
Elas foram causadas por aquele tigre. Apesar de Esmeralda acariciá-lo
agora, não é um animal de estimação manso.
Deusa...
Estou tendo a sensação de que se ela desse a ordem... aquela coisa
tentaria matar a todos nós.
***

— Aquela mulher é absolutamente loca! — Mateo sussurra, jogando o


capacete no chão em frustração. — Vamos pegar Isabella e sair deste
lugar o mais rápido possível!
Eu olho para Alex, que está olhando as paredes de nossa suíte de
hóspedes real com desconfiança.
A bela e extravagante sala de estar está localizada em sua própria torre
isolada com vista para o oceano.
Mas só porque é luxuoso, não significa que a rainha não terá ouvidos e
olhos em todos os quartos opulentos.
Nunca podemos ser cuidadosos demais.
— Acalme-se, — sussurra Alex. — Ela pode estar ouvindo.
Mateo acena com a cabeça, mas ainda anda de um lado para o outro
ansiosamente, passando os dedos pelos cabelos.
E, honestamente, depois de ver os brinquedinhos de ossos humanos
do tigre por todo o lugar, estou igualmente incomodada.
— Mi Diosa..., — Mateo diz, seus olhos se arregalando de horror. — E
se um daqueles crânios fosse de Isabella?
— Eu já vi muita coisa horrível em meus dias como guerreira, — Jo diz
calmamente, — mas eu ainda não acredito que ela faria isso com sua
própria irmã.
— Você não a conhece! — Ele sussurra, tentando sem sucesso manter
sua voz baixa. Seus olhos estão arregalados e posso ver o preço que isso
está cobrando de sua mente.
Este lugar o está enchendo de memórias.
Memórias dolorosas.
Eu entendo. Conheço a sensação de voltar para um lugar que quase
destruiu você.
Mas é mais do que isso. Por causa do nosso vínculo de pares, eu posso
realmente sentir sua dor.
É como se a angústia em seu coração estivesse no meu também.
Sem pensar, estendo o braço e pego sua mão.
Meu toque o acalma, fazendo-o sair do ataque de ansiedade e olhar
profundamente nos meus olhos.
— Respire, Mateo, — eu digo. — Nós vamos encontrar Isabella. Eu
prometo.
Ele respira fundo enquanto a calma retoma ao seu rosto.
— Obrigado, Ariel.
— Certo, agora que vocês tiveram seu momentinho..., — Alex diz sem
jeito, tirando minha mão da de Mateo. — Vamos nos preparar para a
festa?
Eu aperto a mão de Alex de forma tranquilizadora enquanto seguimos
em direção ao salão de baile principal, com Jo e Mateo bem atrás de nós.
Estou usando o vestido de Natalia, que envolve minhas curvas
perfeitamente. O material dourado cintilante contrasta com o smoking
preto impecável de Alex.
Além disso, ele fez a barba e seu cabelo está levemente penteado para
trás. Deusa, Alex é um tipo especial de atraente quando ele está assim.
Mal posso esperar para rasgar esse terno e deixá-lo me consumir no
voo para casa.
Mas primeiro o mais importante.
A missão.
Chegamos às portas principais que conduzem ao salão de baile do
castelo. Alex olha para mim, abrindo um sorriso.
— Preparada? — ele pergunta.
— Para assistir Esmeralda dando em cima de você descaradamente? —
Eu digo, revirando os olhos. — Claro que estou.
Ele envolve seu braço em volta da minha cintura e me puxa para
perto, beijando-me profundamente.
— Não vamos esquecer que você tem a parte divertida desta missão,
está bem? — ele diz, se afastando. — Então, vamos acabar com isso logo e
dar o fora daqui?
Eu aceno, endireitando sua gravata borboleta, e então empurramos as
portas abertas.
Mas o que encontramos do outro lado não é exatamente a rígida
reunião real que me acostumei a ver ao longo dos anos.
Todo o salão de baile está escuro, iluminado apenas por luzes de néon
pulsantes. Corpos se contorcem na pista de dança ao som da música
eletrônica.
Dançarinos pendurados no teto acima de nós, flutuando e girando no
ar como lustres humanos.
Em um palco, um grupo de homens sem camisa segura tochas na
frente de seus rostos e sopra enormes nuvens de fogo para o ar.
— Bem... pelo menos ela sabe como dar uma festa, — Alex diz
espantado enquanto caminhamos para o andar principal.
— Sim, meu aniversário está chegando, — eu digo. — Você deveria
pegar algumas dicas.
No meio da sala, uma plataforma elevada se ergue acima do resto da
multidão, onde Esmeralda está sentada em um sofá gigante de veludo.
Ela parece completamente diferente de quando nos cumprimentou
antes, em seu traje real.
Ela está usando salto agulha preto com espinhos, e o vestido justo de
látex que ela está usando mostra muito mais pele do que cobre.
— Alex! — ela diz, acendendo um cigarro e dando tapinhas na
almofada de veludo ao lado dela.
— Venha, sente-se e aproveite o show.
Alex lança outro olhar para mim, mas eu apenas finjo não notar
enquanto me sento em frente a eles, cruzando os braços sobre o peito.
— Você está deslumbrante, — diz Esmeralda, virando-se para encará-
lo. Ela move os ombros para a frente para que seus seios se pressionem, e
coloca a mão na perna dele. — Um verdadeiro James Bond.
Deusa...
Estou tentando me comportar, mas essa vadia está tornando isso
realmente difícil.
— Obrigado, — diz Alex, tentando bater papo. — Que festa incrível
você organizou aqui.
— Deixe-me pegar algo para você beber, — ela diz.
— Claro, eu gostaria de um...
— Não, não, não. Não me diga. Você parece um cara que gosta de
uísque.
Ela bate palmas e um garçom traz um uísque para ele. Ele sorri sem
jeito enquanto toma um gole. — Está gostando da sua estadia? Você tem
tudo que você precisa? — Ela chega mais perto dele, sorrindo ainda mais.
— Eu acredito que um homem na sua posição deve conseguir tudo que
deseja.
Alex me olha se desculpando novamente. Eu coloco meus dedos na
boca e finjo que estou vomitando, e Alex tenta abafar uma risada.
— Sim, está tudo ótimo, obrigado, — diz ele, recuperando a
compostura. — Mas, a Princesa Isabella vai se juntar a nós esta noite
também?
O sorriso desaparece do rosto de Esmeralda assim que Alex diz o
nome de Isabella.
— Ah, Claro, — ela diz. — Você disse que queria conhecê-la, então me
certifiquei de que ela fizesse uma aparição esta noite, só para você.
Alex irradia. — Sério?
— Sim, — ela diz friamente, Virando-se para seu servo. — Traga a
pequena puta aqui.
A música corta de repente, e um holofote ganha vida, iluminando uma
garota enquanto ela tropeça no palco que sai de nossa plataforma.
Sua pele está completamente pálida e seu cabelo loiro está
despenteado. Ela usa um vestido simples e esfarrapado que fica solto em
seu corpo magro.
Ela parece um cervo parado em frente aos faróis de um carro
enquanto seus olhos arregalados encaram a multidão com terror.
— Alex..., — diz Esmeralda, — gostaria que você finalmente
conhecesse minha irmã.
MATEO

Estou de guarda atrás de Ariel quando de repente olho para o palco e


meu coração acelera.
Lá está ela.
Mi amor...
Meu amor...
Por um lado, meu peito se enche de alegria pelo fato de que minha
Isabella está viva, que meus olhos podem até ser agraciados por sua
beleza novamente.
Mas, esse sentimento não dura muito.
Uma raiva ardente preenche minhas veias quando um guarda
rudemente a agarra pelo braço e a amarra na parede. Ela luta enquanto o
guarda prende suas pernas e braços em restrições de prata.
Lágrimas começam a cair em seu rosto e a multidão grita e dispara
vaias para ela.
Desgraçados...
Como essas pessoas podem ser tão cruéis?
— Meus súditos leais, — Esmeralda diz em voz alta, dirigindo-se à
multidão. — Todos vocês conhecem a história da Princesa Isabella e
como ela se apaixonou por um terrorista e quase destruiu este reino.
Meus punhos cerram enquanto tento conter minha raiva com essas
mentiras.
Só queríamos nos amar, mas Esmeralda não suportava ver a irmã feliz.
Ela começou a guerra, não nós.
— Esta pequena puta causou a todos nós muito estresse, — Esmeralda
continua. — Então eu acho que é justo se ela nos deixar nos divertir um
pouco também, vocês não acham?
A multidão começa a aplaudir.
O que diabos é isso?
Do que ela está falando?
Esmeralda acena com a cabeça para o guarda, que caminha para o
outro lado do palco e puxa uma grande faca.
Meu corpo inteiro fica tenso quando ele a levanta acima de sua
cabeça.
O que ele vai fazer com isso?
Deusa, ele vai?
O guarda atira a faca e ela voa pelo palco diretamente na direção de
Isabella.
THUD
A multidão ofega quando Isabella solta um gemido de medo. A faca
estremece, bem entre suas pernas, prendendo a saia de seu vestido na
parede.
A multidão explode em gritos e meu sangue começa a ferver.
Eles a estão torturando.
Por diversão.
Sinto meu lobo começar a uivar em agonia, clamando para que eu me
transforme, para deixá-lo protegê-la.
Esmeralda ri com alegria. — Vamos tentar de novo? — ela pergunta à
multidão.
Eu sinto minhas garras saindo e não consigo pará-las. Todos nesta sala
deveriam pagar pela maneira como a estão torturando.
Todos eles precisam morrer, ser dilacerados em pedaços.
Foda-se o plano.
Eu vou acabar com isso. Ela precisa da minha ajuda.
Agora.
ARIEL

Posso sentir a raiva de Mateo como se fosse minha.


Está subindo como um vulcão, e posso senti-lo a instantes de se
transformar e perder o controle.
Tenho que fazer algo antes que ele destrua nosso disfarce.
Eu consigo fazer contato visual com ele. Seus olhos estão cheios de
raiva, a aparência de um lobo sanguinário pronto para ser libertado.
O soldado levanta a mão e arremessa outra faca pelo palco. Isabella
grita.
THUD
A faca cai bem ao lado de sua cintura, e Isabella começa a soluçar de
medo. A multidão enlouquece.
Não faça isso tento dizer com os olhos, implorando a Mateo.
Se ele se transformar, será suicídio para todos nós.
Esmeralda saca uma faca e se vira para encarar Alex.
— Alex, meu querido, — diz ela, — seria uma grande honra para mim
se você atirasse a última.
Mateo e eu olhamos para Alex, que parece chocado com a proposta.
— Hum... sabe, eu realmente prefiro não fazer isso, — diz ele.
— Aw, você é uma graça, — ela diz suavemente, acariciando sua
bochecha. — Mas não tem problema se você errar. Na verdade, eu
realmente espero que você erre.
Alex está sendo encurralado.
Mateo está prestes a matar todos nesta sala.
O caos vai se instalar e nosso plano será arruinado.
Eu preciso fazer alguma coisa...
AGORA .
Então, eu rapidamente pego a faca das mãos de Esmeralda, e a
multidão arfa quando eu a jogo do outro lado do salão, direto para
Isabella.
Capítulo 13
A TORRE
ARIEL

THUD
A faca aterrissa apenas alguns centímetros acima da cabeça de
Isabella.
Exatamente onde eu queria.
A multidão explode em gritos e Mateo relaxa ao meu lado.
Esmeralda se vira para mim com uma expressão de completo choque
no rosto. Não era assim que seu joguinho deveria terminar.
Mas rapidamente ela recupera a compostura, e aquele sorriso
desagradável de sempre rasteja de volta para seu rosto atento.
— Ora, ora... — diz ela, — ela não é cheia de surpresas?
— Só estou ficando um pouco entediada com essa parte do show, —
eu disparo de volta, nem mesmo me preocupando em esconder o veneno
na minha voz.
Eu sei que para fazer este plano funcionar, devo agir como uma rainha
inocente, indefesa e tudo mais...
Mas depois de vê-la torturar Isabella daquele jeito, eu tive que fazer
algo.
Ela me olha com desconfiança, depois se volta para Isabella no palco.
— Estou ficando cansada de olhar para essa vadia, — ela grita. —
Leve-a de volta para sua torre! — De repente, meus olhos se arregalam.
Ela acabou de nos dizer onde Isabella está sendo mantida.
A torre.
Existem apenas duas em todo o castelo, então ela deve estar se
referindo àquela em que não estamos ficando.
Alex observa e acena silenciosamente, o que significa que é hora de ir
para a próxima parte do nosso plano.
Minha parte.
Graças à Deusa.
Porque se eu tiver que passar mais um segundo assistindo Esmeralda
colocar suas patas sujas no meu par bem na minha frente...
Talvez eu tenha que ver como ela se sente sobre duas facas sendo atiradas
em seu rosto — Não quero ser indelicada, mas estou ficando meio
cansada..., — digo inocentemente. — Acho que vou dormir cedo esta
noite. Mas você pode ficar acordado e fazer companhia à rainha, não é,
Alex?
Ele sorri para mim, jogando junto. — Claro, meu bem.
Eu o beijo profundamente, certificando-me de demorar e usar o
máximo de língua possível, porque sei que Esmeralda está ali assistindo.
Apenas no caso de ela ter esquecido que ele é meu.
Quando me afasto, Alex parece sem fôlego por causa do meu beijo.
— Boa noite, meu amor, — eu digo enquanto faço um gesto para que
Jo e Mateo me sigam. — E comporte-se.
Eu sorrio, porque posso sentir os olhos de Esmeralda me fuzilando
enquanto eu me viro e saio do local.
Assim que saímos, atravessamos o saguão, virando um corredor e nos
afastando de quaisquer outros hóspedes remanescentes.
— Por aqui, — eu sussurro para Jo e Mateo enquanto examino se o
corredor está vazio. — A outra torre fica na ala oeste.
Quando eu tenho certeza de que a barra está limpa, abro o zíper da
lateral do meu vestido dourado e deslizo perfeitamente para fora dele,
revelando meu traje preto por baixo. Enfio na bolsa de Jo.
Eu cansei de ser da realeza hoje.
E hora de fazer o que faço de melhor.
Ser uma guerreira.
Eu aceno para Jo e Mateo seguirem enquanto furtivamente entramos
mais fundo no castelo.
ALEX
Agora que Ariel se foi, Esmeralda chega desconfortavelmente mais
perto.
Perto demais.
Quer dizer, ela está praticamente sentada no meu colo agora.
Basta um olhar em seus olhos para saber exatamente o que ela quer de
mim. Ela pisca os cílios sedutoramente enquanto sua mão se move na
minha coxa.
— Então... agora somos só nós, — ela ronrona. — Que tal tomarmos
uma bebida em algum lugar mais reservado?
Não gosto nem um pouco de onde isso está indo, mas preciso ganhar
tempo para Ariel.
A ideia de ficar sozinho com essa mulher me enoja, mas se vou mantê-
la distraída, vou ter que continuar jogando.
— É uma ótima ideia! — Eu digo, rapidamente me levantando
enquanto sua mão desliza muito alto na minha perna.
Ela sorri e pega minha mão. Descemos da plataforma elevada e
Esmeralda me guia para fora do salão.
Afastamo-nos da música alta e de todas as pessoas, entramos no
castelo e passamos por uma grande porta de madeira no que parece ser
seus aposentos privados.
Ela fecha a porta atrás dela, e assim, somos apenas nós.
Sozinhos.
Eu olho ao redor do quarto em busca de algo que eu possa usar como
distração.
Uma grande porta de vidro se abre para a varanda com vista para os
jardins e o mar, fazendo as cortinas soprarem com o vento.
Incontáveis velas tremeluzentes estão por toda parte, iluminando a
única peça real de mobília neste quarto: A maior cama que já vi, com
lençóis de seda dourada e preta cobrindo-a.
Merda.
Isso não parece bom.
Esmeralda se vira para me encarar, embriagada de desejo. Ela franze
os lábios, fecha os olhos e se inclina.
E então, eu localizo algo no canto. Um pequeno bar!
— Talvez... possamos tomar algo primeiro? — Eu digo, empurrando-a
suavemente para longe e andando rapidamente pela sala para pegar
alguns copos.
Seus olhos brilham com uma pitada de frustração, mas então ela sorri
maliciosamente.
— Claro. Uma bebida, — diz ela. — Mas saiba que paciência não é
uma das minhas virtudes. — Eu faço tudo ao meu alcance para forçar um
sorriso convincente enquanto lentamente sirvo dois uísques para nós.
Vamos, Ariel...
Apresse-se...
ARIEL

Certo.
Até agora, tudo bem.
Conseguimos nos esgueirar pelo castelo sem problemas. A maioria
dos guardas pelos quais passamos estão distraídos ou completamente
bêbados por causa da festa.
— Devemos estar perto agora..., — sussurra Jo. — A torre deve estar
bem acima de nós. — Ela está na curva de um corredor e espia
cuidadosamente ao redor. Seus olhos se arregalam e ela faz um
movimento para que paremos.
Nós congelamos e meu coração troveja enquanto procuro ouvir
qualquer som.
E então, eu ouço algo.
Dois guardas conversando. Eles parecem entediados, mas eu não
entendo nada porque tudo o que eles dizem é em espanhol.
— O que estão dizendo? — Eu sussurro para Mateo. Ele para e escuta.
— Algo sobre... perder uma aposta... e agora ele está preso em um turno
da noite vigiando a princesa enquanto todo mundo está se divertindo.
— Bem, vamos acabar com o sofrimento dele, então.
Mateo e Jo acenam com a cabeça.
Aponto para que Jo pegue o guarda da esquerda e eu fico com o
guarda da direita.
Eu levanto meus dedos para a contagem regressiva.
3...
2...
1...
Em um instante, viro o corredor e rolo pelo chão, derrubando um
deles e colocando-o em meu domínio.
Com o canto do olho, vejo Jo puxar o outro para baixo enquanto
Mateo rapidamente o deixa inconsciente com a extremidade de sua
espada.
Além dos corpos caindo no chão com um thud, tudo acontece tão
silenciosamente quanto uma pata pressionando a neve.
Do jeito que eu gosto.
Jo pega um molho de chaves tilintantes do bolso de um dos guardas e
o joga para mim. Eu abro a porta, entro e começamos a subir os degraus
da torre.
Mateo mal consegue conter a emoção em seu rosto. Eu também posso
sentir. Minha loba está latindo feliz dentro de mim.
Estamos tão perto de nos livrarmos desse vínculo.
Estamos tão perto de tudo voltar ao normal entre mim e Alex.
No topo da torre, há uma porta simples de madeira. Eu coloco minha
mão na de Mateo, ignorando os choques que ela cria quando toco sua
pele.
— Entre, — eu digo, piscando para ele um sorriso. — Nós daremos
privacidade a vocês.
Ele assente e desliza a chave na fechadura, abrindo a porta
lentamente.
MATEO

Eu silenciosamente abro a porta e entro em um quarto vazio


escassamente decorado com móveis de madeira simples.
E então eu a vejo.
Isabella.
Meu lobo fica tão animado que parece que vai pular do meu peito e
atravessar a sala em direção a mi amor.
Ela está de costas para mim e está sentada no chão perto da janela
aberta, olhando para o crepúsculo sobre o oceano infinito.
Uma brisa fria entra pela janela do quarto, fazendo seu cabelo loiro
esvoaçar para que eu possa ver o perfil de seu rosto delicado e pálido.
Esse lindo rosto costumava ser tão feliz, tão despreocupado. Isabella
estava sempre sorrindo.
Mas agora ela parece tão triste, como uma flor que foi mantida
escondida do sol por muito tempo e está começando a murchar.
— Isabella..., — sussurro, tão baixinho que tenho medo de que ela não
me ouça.
Ela se anima, como se estivesse ouvindo minha voz vindo do vento.
— Mateo? — ela sussurra, fora da janela, em direção ao mar.
— Estou aqui, mi amor, — digo, mais alto desta vez.
Ela se vira para mim e me encara com descrença, sua expressão cheia
de medo.
Por um momento, me perco em seus olhos hipnotizantes. Essas íris,
azuis como o oceano, com manchas douradas como o sol brilhando em
suas ondas.
— Mateo..., — ela suspira. — Eles me disseram que você estava morto.
Dou um passo em sua direção. — Aqui estou, meu amor.
— V-você é um fantasma? — ela pergunta.
— Um fantasma..., — eu digo, ajoelhando-me ao lado dela e tirando
uma mecha de cabelo loiro de seu rosto. — Não poderia fazer isso.
Eu me inclino e reivindico seus lábios macios, beijando-a
profundamente.
Todos os dias, durante meses, tenho sonhado com este momento.
No momento em que tocaria em meu par novamente.
Em que sentiria seus lábios nos meus.
Quando ela foi tirada de mim, todo o meu mundo foi destruído. Mas
agora, com um único beijo, ela restaurou tudo de novo.
Eu me sinto completo.
Nossos lábios se chocam continuamente, cada vez mais forte,
enquanto meu corpo se agita de desejo e minhas mãos agarram sua
cintura como se eu tivesse medo de que a qualquer momento ela
desaparecesse.
Mas ela está aqui.
Ela é real.
Ela geme e passa os dedos pelo meu cabelo. — Mateo, — ela suspira,
— não deveríamos ir?
— Sim, mi amor... — eu digo entre beijos. — Deveríamos.
Mas nós dois não nos afastamos e os beijos não param.
Longe disso. Eles ficam cada vez mais apaixonados, e logo meu corpo
assume o controle e eu a pego, deitando-a suavemente na cama.
Eu me inclino sobre ela, beijando seu pescoço, seus gemidos como
música para meus ouvidos.
— Mateo..., — ela diz, colocando levemente a mão no meu peito. Eu
paro e olho em seus olhos preocupados.
— Eu sinto muito, — eu digo rapidamente. — Agora não é o momento
certo.
Seu dedo traça suavemente o contorno da minha cicatriz.
— Não, — ela sussurra. — Talvez... seja o único momento que temos.
Se não conseguirmos escapar, talvez nunca tenhamos a chance de estar
juntos novamente.
— Isso não vai acontecer, — digo a ela. — Eu prometo.
Ela puxa delicadamente as alças do vestido para baixo e eu a ajudo a
tirá-lo.
Eu olho para seu corpo nu perfeito, tão bonito quanto eu me
lembrava.
— Você não pode prometer isso, — diz ela enquanto sua mão acaricia
minha bochecha. — E como não sabemos o que vai acontecer...
Ela se inclina para um beijo, sua pele macia nua contra a minha, me
deixando sem fôlego.
— Vamos fazer amor como se fosse a nossa última vez, Mateo.
Capítulo 14
A GRANDE FUGA MATEO
Isabella me encara. Suas bochechas estão vermelhas, seus olhos estão
em chamas de luxúria.
Esse olhar — o olhar que ela sempre tinha antes de fazermos amor —
é algo que nunca pensei que veria novamente.
Pelo resto da minha vida, achei que só veria aquele olhar em meus
sonhos, quando ela viria até mim em meu sono, após uma noite longa e
solitária pensando interminavelmente nela.
Mas agora, aqui está ela.
Em carne e osso. Tão real quanto qualquer outra coisa neste mundo.
Cada toque é algo que quero saborear, como uma taça do melhor
vinho espanhol ou o perfume de uma rosa perfeita.
O beijo lento de seus lábios tenros.
A suave lambida circular ao redor de seus mamilos inchados.
Mas logo, a expectativa se torna mais do que posso suportar.
Meu membro rígido se estende contra minha calça enquanto suas
mãos traçam ansiosamente seu contorno. A ideia de não estar dentro
dela por um único momento se toma insuportável.
Ela abre o zíper da minha calça e alcança, agarrando meu eixo.
— Quiero que me folies, guapo ela geme. — Eu quero que você faça
amor comigo. — Ela abre as pernas e eu gemo com a sensação dela
colocando a extremidade do meu membro em seu núcleo molhado e
lentamente me deslizando para dentro.
Eu me encaixo perfeitamente dentro dela, como uma chave dentro de
uma fechadura, abrindo a porta para todo o prazer do mundo.
Como se fôssemos feitos um para o outro.
Eu puxo e empurro, e ela grita cada vez mais alto e passa os dedos pelo
meu cabelo, suas pernas envolvendo minha cintura e me puxando para
mais perto e mais fundo.
Eu a beijo com vontade enquanto continuo empurrando, minhas
mãos explorando sua pele.
Eu vou cada vez mais rápido, agarrando-a e gemendo alto enquanto
toda a minha força de vontade para saborear este momento se esvai.
Eu deixei minha testa suada descansar sobre a dela enquanto nossos
corpos esfregavam um contra o outro. Nossos beijos e respiração se
entrelaçam enquanto o prazer aumenta para uma força imparável.
— Mi Diosa! — ela grita. — Agora, Mateo!
Eu rosno e me liberto.
A sincronia perfeita.
Nossos orgasmos acontecem simultaneamente, e lentamente
deixamos nossos corpos descansar um ao lado do outro. Meus braços a
envolvem, sem querer deixá-la ir nunca mais.
Ela me olha com aquele olhar que quero ver todos os dias pelo resto
da minha vida.
O olhar de prazer máximo.
De segurança.
De amor.
— Te quiero, — eu sussurro. — Eu te amo.
— Eu também te amo, guapo.
Ela mordisca minha orelha, suas mãos correndo para cima e para
baixo em meu abdômen.
— Eu não me importo mais com o que acontecer, — ela sussurra. —
Se Esmeralda viesse e me levasse agora, eu poderia morrer feliz.
Eu olho para ela.
— Não, Isabella. Não vamos morrer hoje, — eu digo. — Esta é a
primeira noite do resto de nossas vidas. Eu vou tirar você daqui.
Um grande sorriso se espalha em seu rosto. — Mas como? Há tantos
guardas, e se Esmeralda nos encontrar...
Eu coloco meu dedo em seus lábios. — Shh, mi amor. Sua voz é linda
demais para ser suja pelo nome dela. Não se preocupe com nada. Tenho
alguns amigos que vão nos ajudar. Temos um plano.
Sentamos e colocamos nossas roupas de volta, então eu pego sua mão.
— Venha. Precisamos ir agora.
Tento puxá-la para cima, mas quando ela põe o pé no chão, ela
estremece de dor e cai de volta na cama.
— O que foi? — Eu pergunto ansiosamente.
Ela levanta o vestido para revelar uma ferida vermelha com bolhas em
todo o tornozelo.
A marca de algemas de prata.
— Esmeralda me amarrou com prata quando me levou para o show de
facas, — diz Isabella, olhando para o tornozelo.
Puta...
— Você pode andar? — Eu pergunto.
— Si, — ela diz, gemendo enquanto tenta colocar peso nisso. — Mas
lenta e dolorosamente.
— Chega de dor para você, mi amor. Eu não vou permitir isso.
Eu deslizo meus braços sob ela e a pego. Ela é leve como uma pena, e
eu a carrego pelo quarto em direção à porta.
Ariel e Jo nos observam enquanto eu saio do quarto.
— Você demorou muito... — Jo diz, revirando os olhos.
Ariel sorri para mim. — Estou feliz por isso. Está pronto?
Eu aceno, e silenciosamente descemos a escada.
ALEX

Eu jogo minha cabeça para trás e bebo o último gole do meu terceiro
copo de uísque.
Bem, na verdade, é meu terceiro copo de água, com um pouquinho de
uísque para disfarçar.
Não estou nem um pouco bêbado, porque precisava manter meu juízo
para impedir as tentativas cada vez mais desesperadas de Esmeralda de
me seduzir.
Mesmo agora, enquanto estamos na varanda, ela me encara com
luxúria em seus olhos e passa os dedos em meu colarinho, rindo com o
efeito da bebida.
Deusa.
Esta mulher está agindo como se ela não transasse em uma década.
E os três verdadeiros uísques que dei a ela provavelmente também não
estão ajudando.
Mas acho que meu trabalho está praticamente concluído agora. Dei a
Ariel o máximo de tempo possível e só espero que tudo tenha corrido
bem com ela.
Agora, é hora de fazer minha saída sem grandes dificuldades.
Eu me viro para Esmeralda e lanço um sorriso amigável. — Bem. Foi
um prazer conversar com você, mas sabe, estou ficando muito cansado...
Eu me movo para sair, mas Esmeralda agarra meu colarinho com mais
força.
— Oh não, não, não. Você me evitou por tempo suficiente, Alex, — ela
ronrona. — Você deve saber que sou uma mulher que está acostumada a
conseguir o que quer. E quando você se faz de difícil, eu fico muito,
muito, impaciente.
Eu respiro fundo e afasto suas mãos.
— Você tem sido mais do que gentil, Esmeralda. Mas acho que é hora
de voltar para minha rainha.
Seus olhos brilham de raiva. — Sua rainha? — ela diz com nojo. —
Aquela vagabunda fede como uma plebeia. Ela não é uma verdadeira
rainha. Ela não merece o título.
Ela dá um passo mais perto e envolve seus braços em volta de mim. O
pensamento dessa mulher me tocando por mais um momento me deixa
fisicamente enjoado.
Especialmente quando ela está falando sobre Ariel dessa forma.
— Você e eu — nós temos o verdadeiro sangue da realeza. Nós
merecemos estar juntos, — ela diz, sua mão serpenteando ao redor do
meu torso em direção à minha virilha.
— Pense em como nossos reinos seriam poderosos... Você não fica
excitado só de pensar?
— Boa noite, — eu rosno, empurrando-a de cima de mim e nem
mesmo me preocupando em esconder minha raiva. — E se considere
sortuda por ser mulher. Se um homem dissesse essas coisas sobre meu
par, eu rasgaria sua garganta.
Eu ando até a porta que conduz para fora do quarto e puxo a
maçaneta.
Deusa, mal posso esperar para sair daqui.
Mas quando eu abro a porta, fico cara a cara com dois guardas
gigantes com armaduras esperando do outro lado.
Antes que eu possa reagir, eles estendem a mão e agarram meus
pulsos.
— Ei! Que diabos está fazendo? — Eu grito, lutando e dando socos,
mas isso só machuca minhas mãos. A armadura deles é muito grossa.
Atrás de mim, ouço Esmeralda começar a gargalhar.
— Você foi uma diversão e tanto esta noite, Alex..., — diz ela, sua voz
misturada com um toque de veneno. — Mas agora, você está apenas
sendo rude.
Os guardas me viram e me levam de volta para o quarto, encarando
Esmeralda enquanto ela sorri.
— E quando meus convidados são rudes, temo não ter escolha a não
ser puni-los.
Eu olho para baixo e a vejo segurando um chicote de couro gigante
cravejado de pontas de metal, e apenas um pensamento consegue passar
pela minha cabeça: Merda.
ARIEL

Graças à Deusa.
Tudo está indo de acordo com o planejado.
Mas isso não significa que podemos relaxar.
Ainda precisamos tirar Isabella em segurança do castelo e então
encontrar Alex no ponto de encontro perto do avião.
A raiva sobe dentro de mim quando penso em Esmeralda tocando
meu par.
Foco, Ariel.
Você tem sua parte no plano, ele tem a dele.
Nós cuidadosamente passamos por cima dos guardas desmaiados e
escorregamos pelo corredor que conduz por onde viemos.
É madrugada e o castelo está mortalmente silencioso agora. A festa
acabou e todos estão dormindo ou inconscientes com a bebedeira.
Ambos são ótimos para nós.
Menos chance de alguém arruinar nossa fuga.
Isabella, ainda nos braços de Mateo, aponta para uma porta. — Essa
porta deve dar para fora, — ela sussurra. — Vai ser mais rápido.
Nós passamos pela porta, saindo para o ar quente de verão.
À nossa frente, estendidos infinitamente na escuridão, estão os jardins
reais. Durante o dia, eles parecem tão verdes e coloridos, mas à noite,
tudo que posso ver são as sombras escuras e assustadoras das plantas
estranhas.
Os caminhos são iluminados apenas por tochas tremeluzentes. Fora
isso, quase não consigo ver nada.
Quando começamos a caminhar para os jardins, Mateo sussurra
ansiosamente atrás de nós. — Não podemos ir por aqui. Precisamos
encontrar outro caminho.
Eu me viro para encará-lo. — Do que você está falando? Esta é a única
saída.
Ele olha os arbustos ao nosso redor com medo. — Mas... o tigre mora
aqui...
Merda...
Ele está certo.
Mas não temos tempo para nos preocupar com isso agora.
— Não é nada além de um grande gatinho, — eu digo, continuando o
caminho. — Agora vamos, vamos dar o fora daqui.
Mateo resmunga baixinho em espanhol enquanto continuamos,
procurando por guardas em patrulha e qualquer sinal do tigre.
Mas os únicos sons são o piscar das tochas e o cascalho sendo
esmagado sob nossos pés.
— O avião deve ficar na direção oeste, — sussurra Jo, apontando para
um caminho. — Por aqui.
Eu aceno e todos nós a seguimos pela escuridão, mas damos apenas
alguns passos antes que eu possa sentir os cabelos da minha nuca se
arrepiarem.
Uma sensação de ansiedade toma conta de mim. Uma sensação de
pavor.
Meu estômago começa a revirar de nervosismo e minha loba solta um
gemido.
Eu estremeço ao olhar para a escuridão ao nosso redor, procurando
por qualquer sinal de perigo.
Mas tenho a sensação inconfundível de que estou sendo observada
por algo.
Ao ouvir o estalar de um galho, viro a cabeça na direção do som, que
vem de algum lugar das plantas.
E então eu ouço.
O rosnado do tigre.
— Mi Diosa Lima, — Mateo sibila. — Ele está aqui.
— Onde? — Jo diz, puxando sua espada.
Os rosnados ficam mais altos à medida que procuramos nas sombras
por qualquer sinal do tigre.
De repente, eu localizo algo.
Dois gigantescos olhos dourados cintilantes.
Olhando bem para mim.
— CORRAM! — Eu grito.
Capítulo 15
A REUNIÃO
ALEX

— Tirem as mãos de mim! — Eu grito, lutando com todas as minhas


forças enquanto os guardas pegam meus pulsos e começam a amarrá-los
nas colunas da cama.
Minha mente dispara furiosamente enquanto tento encontrar uma
maneira de sair dessa.
Ser chicoteado por uma rainha espanhola psicopata definitivamente
não fazia parte do plano.
Ariel e os outros provavelmente já estão na metade do caminho para o
avião agora.
O que significa que estou realmente sozinho até que percebam que
não estou lá.
Merda.
Tento mais uma vez chutar os guardas e me afastar deles, mas eles são
como rochas imóveis. Assim que estou totalmente preso, eles se afastam,
permitindo que Esmeralda se aproxime.
— Ora, ora, Alex... — Esmeralda murmura. — Quantas chicotadas
deve ser a sua punição?
— Uh... nenhuma? — Eu respondo.
— Silêncio! — ela diz, estalando o chicote contra o chão, o que me
assusta como o inferno. — Eu não estava perguntando a você.
— Oh. Você não estava?
— Não! — ela grita. — De agora em diante... eu sou a única no
controle. O que eu quiser, você vai me dar. Vamos começar com vinte e
ver se você se sente um pouco mais cooperativo depois disso.
Ela levanta o chicote e eu seguro a cabeceira da cama, enrijecendo
meu corpo em antecipação à dor.
Mas então eu ouço um grande ROAR vindo de algum lugar de fora.
— Bubbles? — Eu dou um suspiro de alívio enquanto me viro para
Esmeralda. Ela abaixa o chicote e olha pela janela, examinando os jardins
escuros.
— Isso é estranho, — ela diz. — Meu bebê nunca ruge, a menos que
encontre alguma presa.
E então, com horror, eu percebo quem pode estar lá fora.
Deusa...
Ariel.
Eu começo a lutar contra minhas amarras, sentindo meu corpo se
encher com um novo fogo para proteger meu par do perigo.
— ME SOLTE! — Eu grito. — SUA VADIA LOUCA!
Esmeralda solta um suspiro e joga o chicote no chão.
— Sabe, você não é nada divertido, — diz ela, com um tom de voz
entediado. — Por que não o dou como alimento ao tigre em vez disso?
Eu cerro os dentes enquanto os guardas me colocam de pé.
Estou mais feliz por estar indo em direção a um tigre monstruoso do
que por estar aqui.
Especialmente se isso significar estar mais perto de Ariel.
Eu só espero que ela esteja bem.
ARIEL

Corremos mais fundo no labirinto, e o tigre está bem atrás de nós.


Deusa... como diabos vamos sair desse lugar?
Eu olho por cima do ombro, procurando o tigre.
Mas... não há nada.
— Esperem! — Eu grito. — Acho que o despistamos.
Todos nós paramos, procurando nas sombras por qualquer sinal da
besta.
Mas mal tenho tempo de recuperar o fôlego antes que o tigre salte das
sombras, com as garras estendidas.
Eu grito quando ele me joga no chão e luto com todas as minhas
forças para mantê-lo longe de mim.
As mandíbulas do tigre se fecham a apenas alguns centímetros do
meu rosto.
Eu grito quando sua saliva espirra em cima de mim, e uso cada grama
de força do meu corpo para evitar que ele se aproxime e arranque meu
rosto.
O corpo musculoso gigante do tigre está praticamente me
esmagando, e eu mal posso respirar enquanto ele me pressiona e tenta
novamente rasgar minha garganta.
Mas, de repente, ele grita de dor quando Jo o chuta de cima de mim, e
ele voa para um arbusto próximo.
Ela me ajuda a levantar, pouco antes de o tigre voltar saltando do
arbusto em nossa direção, sibilando.
Conseguimos desviar do caminho, virando-nos para enfrentar o tigre
que desliza no chão e se prepara para outro ataque.
Não parecia muito animado antes, mas agora parece completamente
irritado.
Eu olho para Mateo, que ainda está segurando Isabella em seus
braços.
— Hum, uma ajudinha aqui? — Eu grito, evitando outro golpe da
garra do tigre.
Ele coloca Isabella no chão suavemente e corre, pulando em suas
costas. Ele ruge com raiva enquanto tenta despistá-lo, mas ele se agarra
com força à sua espessa camada de pelo.
— TIRE AS MÃOS DO MEU BUBBLES! — uma voz grita atrás de nós.
Mateo se assusta e o tigre o atira, fazendo-o rolar no chão. O resto de
nós se vira surpreso para a voz.
Esmeralda se aproxima de nós, e o tigre salta feliz em sua direção,
esfregando a cabeça em suas pernas e ronronando enquanto ela coça seu
queixo.
Ao redor dela estão duas dúzias de guardas com facões. E bem ao lado
dela, amarrado por cordas grossas, está Alex.
Nossos olhos se encontram e brilham de alívio; felizmente, nós dois
estamos praticamente ilesos.
Mas esse alívio não dura muito.
— Agora, o que temos aqui? — Esmeralda diz, olhando para Isabella
com curiosidade. — Minha querida irmãzinha fugindo no meio da noite.
Que frio da sua parte não dizer adeus.
Alguns guardas dão um passo em direção a ela, mas Mateo
imediatamente se coloca entre eles, puxando sua espada.
— Se tocarem nela perdem a cabeça, — ele ameaça.
— Mateo, — ela diz friamente. — Você deveria estar morto.
— Você deveria ter feito um trabalho melhor, — ele rebate.
— Oh, bem, desta vez você pode ter certeza disso, — ela sibila.
Ela olha para todos nós e então me lança um sorriso malicioso.
— Guardas, matem todos eles, — ela diz casualmente. — E deem seus
cadáveres para Bubbles como sobremesa.
Capítulo 16
VOANDO PARA LONGE
ARIEL

Esmeralda se vira e se afasta enquanto seus guardas nos cercam. Eles


apontam suas lâminas ameaçadoramente, dando um passo à frente.
Meu coração está batendo forte e eu entro em uma posição de batalha
quando olho para Alex, que acena para mim sutilmente.
Em um instante, ele dá uma cotovelada nas bolas do guarda mais
próximo e se solta com sua espada.
Os guardas soltam gritos de batalha e atacam, e eu me esquivo de um
facão que se aproxima e passa zunindo bem sobre minha cabeça. Jo puxa
sua espada e corta dois em um golpe.
Mas para todos os lados que olhamos, há mais guardas se
amontoando.
Seria impossível lutar contra todos eles. Há muitos para lutar.
— Pessoal! — Eu grito. — Transformem-se e recuem para o avião!
— Mas e eu? — Isabella diz, apontando para sua perna. — Eu não
posso correr na forma de lobo assim!
Eu examino meus arredores apressadamente, minha mente correndo
para formular um plano.
Se vamos sair daqui, precisamos de algo rápido.
Agora.
E então eu vejo.
Além das árvores, vejo uma garagem cheia de carros exóticos
brilhando ao luar.
Meus olhos pousam em uma motocicleta estacionada — aquela que vi
quando cheguei.
E isso!
— Você vem comigo, — eu digo, pegando a mão de Isabella e
puxando-a para longe da luta.
— Eu não vou sair do lado dela! — Mateo diz ferozmente, enquanto
ele desvia de outra espada e esfaqueia a sua própria no peito de um
guarda, enviando um jorro de sangue carmesim para o ar.
— Confie em mim, — digo a ele. — Vou me certificar de que ela está
segura!
Ele balança a cabeça relutantemente e, em seguida, se desloca e foge
para a floresta atrás de Alex e Jo.
Minha mente dispara enquanto puxo Isabella junto. Ela geme de dor a
cada passo, e posso ouvir os passos dos soldados enquanto nos
perseguem.
Eles não estão muito atrás, mas felizmente chegamos à motocicleta
antes deles.
Eu balanço minha perna sobre o assento e percebo que as chaves já
estão na ignição.
Perfeito.
Isabella sobe atrás de mim.
— Você já esteve em um desses antes? — Eu pergunto, ligando o
motor.
— Não.
— Bem, então segure firme!
O rugido do motor enche meus tímpanos enquanto eu desço rápido
pela calçada e o vento chicoteia meu cabelo enquanto aceleramos.
Essa coisa é muito mais rápida do que a minha, e Isabella me agarra
com força enquanto avançamos pela estrada.
Mas quando chegamos ao final da garagem, noto que mais à frente, o
portão está fechado. E na frente dele, uma dúzia de guardas estão
apontando metralhadoras para nós.
— CUIDADO! — Isabella grita.
As balas passam zunindo enquanto eu desvio para o lado, saindo da
estrada e indo para os jardins ao longo da muralha do castelo.
A sujeira se acumula ao nosso redor enquanto eu dirijo sobre a grama
irregular e os arbustos. Eu mal posso respirar porque Isabella está me
segurando com força.
Merda.
Eu preciso passar por aquela parede.
Mas como?
Tem mais de seis metros de altura e está alinhada com ainda mais
guardas, todos apontando suas armas e atirando em nós.
Eu desvio em torno de uma cerca viva alta, as balas atingem o lago
atrás de nós, e me viro para dirigir por um canteiro de flores coloridas e
cristalinas, fazendo-as voar no ar atrás da moto.
Mais à frente, os jardins terminam e tornam-se zona de construção.
Andaimes revestem a parede do castelo e parece que eles estão
cavando muita sujeira ao redor com máquinas enormes.
A princípio, parece um beco sem saída. Nada além de metal e sujeira.
Mas então vejo algo que pode funcionar.
Um caminhão gigante, com uma caçamba enorme destinada a
carregar muita sujeira — uma caçamba que é elevada, inclinada em
direção ao céu.
Uma rampa perfeita.
Deusa...
Por favor, faça isso dar certo.
Eu acelero o motor — empurrando a moto o mais rápido que posso,
enviando o velocímetro para o vermelho — e subo a rampa rapidamente.
Por um momento, o motor para enquanto voamos no ar...
Tudo o que posso ouvir é Isabella gritando a plenos pulmões.
Nós voamos por cima do muro... Os guardas olham para cima com
espanto.
Caímos...
E pousamos — derrapando — na estrada do outro lado.
Puta merda.
Nós conseguimos.
Eu estabilizo a moto, sentindo meu coração bater forte no meu peito,
e dou mais gás enquanto ganhamos velocidade e zunimos pela estrada
pavimentada vazia e silenciosa.
Eu me permito dar um suspiro de alívio.
Essa foi por pouco. Mas agora, com sorte, eles se foram.
De repente, algumas luzes brilhantes nos iluminam por trás. Um coro
raivoso de motores de caminhão perfura o ar.
Merda.
Era cedo demais para comemorar
Ainda não estamos livres.
Faço outra curva fechada, em direção à floresta, na direção do campo
de aviação.
Vai ser difícil.
Mas vamos conseguir.
Eu espero.
ALEX

Voltamos para o avião, mas ainda não há sinal de Ariel.


Coloco a cabeça para fora da porta, examinando as árvores escuras
que alinham a pista de pouso. Os motores do avião já estão aquecidos e
preparados.
Vamos, Ariel.
Onde você está?
— Nós nunca deveríamos ter as deixado! — Mateo grita, andando de
um lado para o outro com raiva na cabine do avião atrás de mim. —
Devíamos voltar.
— Elas vão conseguir, — digo, tentando me tranquilizar tanto quanto
a ele. — Confie em Ariel. Ela pode cuidar de si mesma.
Ele rosna com raiva e pega uma taça de champanhe vazia da mesa.
— Estamos prontos para decolar, Vossa Majestade! — o piloto grita.
— Espere! — Eu digo a ele. — Ainda precisamos esperar.
Eu olho para fora da porta mais uma vez, meu coração trovejando
enquanto procuro na floresta por qualquer sinal do meu par.
E então eu vejo algo.
Um único holofote, zunindo pela pista de pouso em nossa direção.
O farol de uma motocicleta. Um sorriso surge no meu rosto.
Isso! Deve ser ela.
Eu sabia que ela conseguiria.
— Olha, aí está ela! — Conto para Mateo, que corre ansioso para a
janela.
Eu me inclino para fora da porta quando ela se aproxima. Mas desta
vez, meu sorriso desaparece rapidamente.
Bem atrás dela estão cinco caminhões, com homens para fora das
janelas e disparando contra ela.
As balas perdidas atingem o exterior do avião e lançam faíscas. Eu me
abaixo para me proteger.
— Eles estão atirando em nós! Temos que decolar agora, senhor! — o
piloto diz, tentando manter o pânico longe de sua voz.
Ele tem razão. Não há tempo suficiente para colocar Ariel e Isabella a
bordo sem os homens de Esmeralda nos pegar.
Portanto, há apenas uma outra opção.
— Comece a decolar, — digo a ele. — E abaixe a rampa de carga.
Mateo me agarra furiosamente pela gola. — Você está louco? Que
diabos está fazendo?
— Me adiantando, — eu digo a ele tenso.
ARIEL

Deusa...
O avião está...
Se movendo?
Eu vejo a rampa de carga atrás do avião começar a descer, com Alex se
inclinando para fora da entrada. Jo e Mateo nos olham com medo pela
janela.
Alex também tem uma expressão de terror no rosto. Mas quando
fazemos contato visual, ele tenta me dar um sorriso tranquilizador.
Ele estende a mão em nossa direção. De repente, entendo seu plano.
— Por que eles estão decolando? — Isabella grita.
— Nós vamos ter que dirigir até lá! — Eu digo.
O motor da motocicleta zumbe enquanto tento alcançar o avião. Está
ganhando cada vez mais velocidade agora. Posso até ver os pneus
dianteiros começando a levantar.
Minha adrenalina está bombeando em minhas veias enquanto eu
manobro ainda mais perto, tentando manter a moto o mais estável
possível. Tento ignorar as balas zunindo por nossas cabeças, fazendo
buracos na lateral do avião.
Mais perto.
Calma...
Estou quase na rampa...
A apenas alguns metros de distância de entrar no avião.
Para nossa fuga.
Mas então eu ouço um estalo alto quando uma bala atinge o pneu
traseiro da moto.
Nós derrapamos para longe do avião, faíscas voam por toda parte, e
tento manter o equilíbrio, mas estamos indo rápido demais.
A moto balança e depois tomba, fazendo-nos derrapar no asfalto. Eu
ouço o som estridente horrível de metal ao meu lado.
Uma dor terrível percorre todo o meu corpo.
Por um segundo, tudo fica escuro.
Quando eu fracamente consigo abrir meus olhos, eu olho para o céu e
posso ver o avião já subindo no ar.
Eles decolaram...
— Alex... — Eu gemo de dor.
Minha visão começa a ficar embaçada e posso ouvir uma risada cruel
ecoar.
A última coisa de que me lembro antes de minha visão escurecer é
Esmeralda em pé sobre mim, com um sorriso malicioso nos lábios.
Capítulo 17
O TEMPO ESTÁ ACABANDO
ARIEL

KLANG!
A porta de metal se fecha atrás de nós.
Eu chuto a porta e grito de raiva.
Estávamos tão perto. Estávamos quase no avião.
Eu me sinto fisicamente enjoada. Esta masmorra, com todas as suas
correntes e grades, me lembra os Caçadores.
Foi há muito tempo, mas a dor e a tortura que me fizeram passar
ainda estão gravadas na minha memória.
Eu sinto arrepios pipocando por todo o meu corpo e eu estremeço.
Tenho a mesma sensação de impotência, de estar presa em uma cela
apertada esperando minha condenação, e isso está deixando meus
sentidos em um frenesi.
Eu não vou ser mantida em cativeiro novamente. Vou encontrar uma
maneira de escapar.
Eu soco a porta mais algumas vezes, mas grito de dor quando um dos
meus nós dos dedos quebra sob a pressão.
— Você quebrou sua mão? — Isabella diz. Ela manca até mim, mas
minha capacidade de cura entra em ação antes que ela possa ver.
— Não, — eu digo, mostrando a ela minha mão. — Está tudo bem. Só
estou com raiva por termos ficado tão perto de libertar você, e então
tudo deu errado. E que estamos presas aqui!
Eu olho ao redor em nosso entorno sombrio.
As paredes são escuras e úmidas. O musgo está crescendo nos cantos
da masmorra.
Quando estávamos do lado de fora, o ar noturno estava fresco. Aqui
embaixo, minha respiração sobe em nuvens.
Isabella encolhe os ombros.
— Estou trancada em minha torre há dois meses. O que é trocar uma
gaiola por outra?
Eu concordo.
— Passei pelo mesmo, aprisionada contra a minha vontade, — eu
digo. — Embora tenha sido por dois anos.
— Como você aguentou? — Isabella pergunta. — Como você
sobreviveu?
— É uma história meio maluca, — eu digo. — A Deusa da Lua me
libertou do cativeiro.
Isabella acena com a cabeça.
— Rezava todas as noites para que alguém trouxesse Mateo de volta
para mim e me libertasse.
— Bem, é por isso que estamos aqui, — eu digo.
— Ainda estou na missão de te libertar.
Isabella tenta se encostar na parede, mas tropeça para frente sobre o
tornozelo.
Seu rosto se contorce de dor e sua respiração fica ofegante. Eu me
aproximo e faço um movimento em direção ao seu pé.
— Quer que eu olhe sua perna? Eu posso te ajudar, — eu digo
baixinho.
— Eu não acho que você pode ajudar, está muito feio, — diz Isabella.
— Felizmente para você, minhas habilidades são aprovadas pela Deusa
da Lua, — eu digo com um sorriso.
Isabella sem palavras chega um pouco mais perto. Eu puxo a bainha
de seu vestido e dou uma olhada. Eu suspiro. E muito mais do que uma
torção no tornozelo.
Há hematomas ao redor de seu pé. Toco a pele e percebo que ainda
está quente. Eu sei o que é, porque já vivi isso antes. E envenenamento
por prata.
Eu olho para Isabella e vejo lágrimas prestes a se formar em seus olhos
azuis.
Colocando minhas mãos em sua perna, chamo Selene em minha
mente. Eu sinto a dor de Isabella crescer através de mim enquanto o
poder de cura da Deusa se derrete nela.
— Diosa mio! — ela diz, olhando para sua perna. — Você é abençoada!
— Ok, — eu digo, levantando-me novamente. — Agora, vamos
encontrar uma maneira de sair daqui.
Eu volto para a porta de metal e começo a examinar a maçaneta.
Talvez eu possa abrir a fechadura com um grampo de cabelo ou um
brinco.
Isabella fala enquanto eu planejo nossa fuga.
— Vocês são muito amigos do Mateo? Ele fala sobre mim? — ela
pergunta.
Merda. Eu esperava que pudéssemos juntá-los novamente antes de
termos que mencionar os detalhes complicados de como nós — nos
conhecemos.
É melhor eu contar a ela agora, antes que ela acidentalmente descubra.
— Sim, então, é uma história engraçada..., — eu começo. — Mateo e
eu... somos uma espécie de pares destinados.
As sobrancelhas de Isabella erguem-se de surpresa.
— Mas Mateo e eu..., — exclama ela. — Nós fizemos... oh não!
Isabella afunda contra a parede, novas lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Eu o amo, ele me ama. Mas ele está com você. Nós não podemos
ficar juntos.
Ela levanta as mãos para o teto.
— La Diosa Luna, me mate! Eu não posso suportar viver sem ele como
meu par.
— Não, Isabella, não é o que você pensa, — eu digo, caminhando até
ela e pegando suas mãos nas minhas.
— Não se preocupe. Já tenho meu próprio par, Alex, o rei. Fui rejeitada
por meu primeiro imediato, mas então Alex e eu nos conhecemos e nos
apaixonamos. Nós escolhemos um ao outro. Você e Mateo podem fazer o
mesmo.
Eu continuo.
— A Deusa da Lua ordenou-me que curasse o coração de Mateo. E a
única maneira de fazer isso era juntá-lo com você. Ele quer que você seja
seu par escolhido e esteja com ele para sempre.
Isabella sorri enquanto eu digo as últimas palavras. Acho que ela o
ama tanto quanto ele a ama.
Eu conto nosso plano para ela.
— Assim que escaparmos, quebraremos nosso vínculo de
acasalamento, e então vocês dois serão capazes de viver felizes juntos
como eu e Alex, como pares escolhidos. Eu prometo.
Meus ouvidos captam passos vindo em direção à porta. Pego Isabella e
a puxo para o lado, para as sombras.
— Fique perto de mim, — eu sussurro quando ouço a chave girar em
nossa fechadura. Eu silenciosamente exponho minhas garras.
ALEX

— Vire o avião! — Mateo ruge para o piloto.


— De jeito nenhum! — ele diz. — Você não os viu atirando em nós?
Eu puxo Mateo de volta e viro para o piloto.
— Nós temos que voltar! — Eu digo. — Eles estão com Ariel e Isabella,
precisamos salvá-las!
— Está fora de questão, — grita o piloto de volta, segurando os
controles. — Estou fazendo tudo que posso para nos manter no ar. Se
voltarmos, todos seremos mortos!
— Eu estou ordenando a você, como seu rei, para virar o avião, — eu
grito.
— E eu estou lhe dizendo que é meu dever proteger o rei quando
estamos voando, — diz o piloto. — Se voltarmos, estamos mortos!
Eu rosno e exponho minhas garras, pronto para arrancar os controles
dele e virar o avião eu mesmo, mas Jo agarra meu braço com força.
— Alex, acalme-se, — diz ela com uma voz severa. Eu puxo meu braço
e saio da cabine. Eu soco um compartimento superior, amassando o
metal rígido sob meu punho.
— Precisamos pensar de forma racional, meu rei, — diz Jo. — Não
podemos simplesmente voltar sem um plano. Seríamos eliminados em
segundos.
— Mas precisamos voltar, — diz Mateo. — Nossos pares estão lá!
— E eu gostaria de voltar para o MEU par VIVA, — diz Jo. — Não vou
invadir o palácio de Esmeralda sem um plano!
Eu inspiro e expiro algumas vezes. Jo tem toda a razão: precisamos
ficar calmos e tranquilos, essa é a única maneira de sair dessa situação.
— Certo, vamos nos acalmar e tentar pensar em um plano, — eu digo.
— Ariel é um dos melhores guerreiros da matilha, — diz Jo. — Ela vai
manter Isabella segura. Ela provavelmente já começou a formular uma
fuga.
Ouvimos bipes na cabine. O piloto pressiona alguns botões antes de
chamar de seu assento.
— Estamos recebendo uma ligação da Matilha Real — Vivian — vou
repassar. Há fones de ouvido na parte de trás.
Nós três corremos para a parte de trás do avião e pegamos fones de
ouvido sobressalentes para que possamos ouvi-la.
— Ei, querida, — Jo diz docemente, sua voz mudando imediatamente
do tom severo de sargento para um doce açucarado.
— Vivian, o que está acontecendo? — Eu pergunto.
— Talvez eu devesse te perguntar isso, — Vivian diz, sua voz séria. —
O que diabos aconteceu com o plano?
— Quase conseguimos, — eu digo. — Mas Esmeralda nos pegou no
último minuto. Mateo, Jo e eu fomos embora. Nós nos separamos de
Ariel e Isabella. Você sabe de alguma coisa?
— Sim, más notícias, — diz ela com seriedade.
— Acabei de falar ao telefone com o embaixador dos lobisomens
espanhol. Eles capturaram as duas.
— O que vai acontecer com elas? — Eu pergunto, tentando esconder o
tremor em minha voz.
— O embaixador disse que Esmeralda quer perdoar a noite toda e
começar do zero... — Ela para.
— O que ela quer em troca? — Eu pergunto.
— Ela vai libertar Ariel... em troca de Mateo.
— Quanto tempo nós temos? — Eu respondo.
— Ela deu a você 48 horas para a troca, — diz Vivian.
— E se não concordarmos com isso? — Eu digo.
— Ela vai matar Ariel e Isabella!
Desistir de Mateo em troca de Ariel?
Por um segundo, meu cérebro me diz para fazer isso, pousar o mais
rápido que pudermos, fazer Mateo prisioneiro e resolver imediatamente
tudo isso.
Mas então penso em Ariel e no que ela faria se fosse eu a ser
capturado em vez dela.
Ela nem mesmo considerou a ideia por um segundo, então por que eu
deveria?
Não podemos desperdiçar todos os nossos esforços.
Eu me viro para Mateo e olho nos olhos dele enquanto tiramos nossos
fones de ouvido.
— Ouça o que vou dizer: não há a menor chance de eu entregar você.
Capítulo 18
HORA DO ALMOÇO
ARIEL

O metal frio de uma arma pressiona minhas costas.


Eu acelero meu passo, subindo as escadas e saindo da masmorra.
Os guardas vieram e tiraram Isabella e eu de nossa cela, mas não
disseram para onde estávamos indo.
Esmeralda vai nos executar?
Estamos sendo levadas para um pelotão de fuzilamento ou para a forca?
Tento manter a calma e tranquilizar minha mente. Tenho que estar
atenta e aproveitar qualquer oportunidade que tivermos para escapar.
Saímos das masmorras em uma parte do palácio que não vimos
durante a festa e continuamos pelos corredores sinuosos até estarmos do
lado de fora.
O sol está começando a nascer, deixando o céu em chamas com uma
cor laranja forte.
Os guardas ordenam que continuemos até chegarmos aos jardins
reais.
Vejo Esmeralda caminhando entre os canteiros de flores, segurando
uma coleira dourada. Bubbles está do outro lado.
Ele me encara e lambe os lábios ameaçadoramente. Eu gentilmente
empurro Isabella atrás de mim, pronta para protegê-la se Bubbles decidir
que quer um lanche.
— Bem-vinda, Ariel, — diz Esmeralda, sorrindo.
— O que você quer? — Eu digo concisamente quando Esmeralda se
aproxima. Ela coça Bubbles atrás das orelhas antes de me responder.
— Por favor, Ariel, nós duas somos pessoas civilizadas, não há
necessidade de ser rude.
— Tenho certeza de que pessoas civilizadas não aprisionam suas
famílias em torres, — disparo de volta.
— E você é uma rainha exemplar? Eu investiguei você, Ariel...
— Atacar o presidente dos Estados Unidos, guardar seus
extraordinários poderes de cura para si mesma, matar lobos no meio de
cerimônias de acasalamento, a lista vai longe.
Eu fecho a cara.
— Não sabia que você era uma ã, — digo.
— Como disse, eu investiguei você, — diz Esmeralda. — Eu queria
conhecer o rei e a rainha que viriam me visitar. Embora chamá-la de
rainha seja ridículo. Como Alex acabou com uma loba pobre como você?
Esmeralda me lança um olhar fulminante enquanto continua.
— Ele tem sangue real. Ele deve estar acasalado com alguém da
realeza. Alguém como eu. Poderíamos ser o casal mais poderoso do
mundo. — Eu posso sentir a raiva prestes a explodir de mim, mas eu a
reprimo. Eu não quero atacá-la com uma arma pressionada contra minha
espinha.
— O que você quer, Esmeralda? — Eu repito.
Ela abre um sorriso. — Eu achei que você gostaria de estar aqui ou no
palácio, em vez de naquela masmorra apertada e fedorenta. Uma rainha
como você não deve ser tratada como uma prisioneira.
— Eu não me importo em ser mimada, — eu digo.
— Onde quer que Isabella vá, eu vou com ela.
— Bem, vocês não ficarão juntas por muito mais tempo, — diz
Esmeralda. — Eu já liguei para Alex. Chegamos a um acordo: sua vida
pela de Mateo.
— O quê? — Isabella e eu dizemos ao mesmo tempo. Alex fez um
acordo? Ele estava tão comprometido com esta missão quanto nós. Ele
não jogaria todos os nossos esforços fora agora, não é?
— Eu dei a Alex um prazo de amanhã à noite. Se ele não entregar
Mateo, ou se você tentar escapar, haverá consequências terríveis.
Sinto Isabella ficar tensa atrás de mim. Tento tranquilizá-la
retrucando Esmeralda.
— Suas ameaças não me assustam. Se você me investigou, você sabe
que fui capturada por caçadores de lobisomem antes mesmo de
completar dezoito anos. Eu estive no inferno e voltei. Qualquer coisa que
você fizer não chegará perto da brutalidade deles.
— Oh, acho que tenho algo que pode, — diz ela antes de me dar um
sorriso cruel. Ela se ajoelha ao lado de Bubbles e começa a coçar seu
queixo e pescoço.
Um grito vem das portas do palácio. Eu me viro e vejo um homem
sendo arrastado por dois guardas de Esmeralda.
Por seus longos cabelos emaranhados e roupas surradas, e as algemas
em seus pulsos, posso dizer que o homem é um prisioneiro, assim como
Isabella e eu.
— Está quase na hora do almoço — outro prisioneiro de Catalunha, —
ela diz enquanto Bubbles lambe seu rosto.
— Depois disso, a próxima refeição do Bubbles será Mateo... ou você!
Bubbles nunca teve o prazer de saborear carne da realeza, mas tenho
certeza de que ele vai adorar.
Os guardas arrastam o prisioneiro até nós e o jogam no chão aos pés
de Esmeralda. Ele se esquiva das fungadas inquisitivas de Bubbles, seus
olhos cheios de terror.
— Comece a correr, vamos, — Esmeralda diz para o homem, chutando
terra nele.
Apesar das mãos algemadas e da aparência fraca, o homem fica de pé e
começa a correr pelos jardins.
Instintivamente, eu avanço, para me colocar na frente de Bubbles e do
homem em fuga. Eu sei o que está prestes a acontecer e vou impedir.
Mas, assim que dou um único passo, ouço o clique dos dispositivos de
segurança da arma sendo desligados.
Esmeralda sorri cruelmente enquanto eu recuo. Eu não posso impedi-
la.
Bubbles começa a puxar sua coleira, querendo perseguir sua refeição.
Esmeralda espera mais alguns instantes antes de soltar a guia.
Bubbles dispara atrás do homem, avançando sobre ele a cada segundo.
Isabella e eu nos afastamos. Eu não quero ver o que acontece.
Um grito rasga o ar e Esmeralda gargalha de alegria.
— É melhor você rezar para que Alex faça a escolha certa, — ela diz
enquanto os guardas nos levam de volta ao palácio. — Caso contrário,
você estará no próximo menu!
ALEX

— Vou me entregar à Esmeralda, — diz Mateo.


— Já disse, não vou deixar isso acontecer, — respondo.
— Mas você merece estar com seu par, — Mateo responde. — Não me
importa que Esmeralda me mate assim que me tiver. Agora que vi
Isabella uma última vez, posso morrer como um lobo feliz.
— Não, nós vamos pensar em um plano, — eu digo, colocando uma
mão reconfortante em seu ombro. — Vamos salvar Isabella, eu prometo.
— O que podemos fazer? — Mateo diz. — Somos apenas três contra
um exército inteiro.
Eu cerro meus lábios enquanto penso.
— Eu estou trabalhando nisso.
Eu olho para cima e vejo Jo ainda na ligação com Vivian.
Jo está brincando com alguns fios de cabelo rebeldes e seu sorriso vai
de orelha a orelha.
Então, é como se um raio me atingisse. Vivian.
Pego um dos fones de ouvido.
— Mal posso esperar para te ver de novo. Eu sei que pode ser muito
cedo, mas eu acho que amo — Vivian diz antes que eu a interrompa.
— Ei Vivian, estou aqui. Eu preciso de sua ajuda.
— Claro, err, Alex... ahem, — Vivian diz, tentando se recompor. Jo
sorri. — Diga, o que eu posso fazer?
Mateo tinha razão, precisamos de um exército para enfrentar
Esmeralda. Então, vou conseguir um.
Isso é maior do que juntar Mateo e Isabella agora.
Ela é uma rainha cruel que destruiu completamente o reino de Mateo,
só porque ele escolheu amar outra pessoa.
Ela fez minha rainha como refém e ameaçou matá-la.
Só a Deusa sabe o que ela fará a seguir se cedermos às suas exigências.
Agora que ela sabe que intervimos para trazer Mateo e Isabella de
volta, ela tem todo o direito de invadir a Matilha Real.
Não vou permitir que isso aconteça. Precisamos acabar com seu
reinado de terror... hoje!
— Alugue um avião e reúna o General Dave e tantos guerreiros
quanto pudermos, — eu digo.
— Para onde? — Vivian pergunta. — Para a Espanha?
— Sim. A Matilha Real está indo para a guerra!
Capítulo 19
FANTASMAS DO PASSADO
MATEO

Não posso acreditar no que Alex acabou de dizer.


— Você está falando sério? Você vai começar uma guerra por mim e
por Isabella? — Eu digo.
Alex me lança um olhar severo.
— Isso é maior do que você e Isabella agora, — diz Alex. — Esmeralda
está com Ariel e planeja machucá-la. Podemos acabar com seu governo
despótico esta noite. Mandei chamar meus guerreiros.
— Quantos estão vindo? — Eu pergunto.
— O máximo que pudermos, — diz Alex. — Temos cerca de cem
prontos para começar.
— Ou teremos que ser furtivos ou precisaremos de um grande
armamento, — diz Jo, entrando na conversa.
— Eu investiguei ao planejar nossa fuga. O palácio sozinho tem quase
trezentos guardas. Estaremos em menor número, — acrescenta ela.
— Eu sei onde podemos encontrar mais ajuda, — eu digo. Eu sigo em
direção à cabine, Alex e Jo correndo atrás de mim.
Eu me sento ao lado do piloto e verifico o visor de navegação do avião.
— Onde estamos? — Eu pergunto, examinando o mapa no painel em
busca de qualquer coisa que seja reconhecível.
— Quase passando pelas montanhas entre a Espanha e a França, — ele
responde. — Precisamos sair da Espanha o mais rápido possível se
quisermos escapar de Esmeralda.
— Vire em direção à costa, — eu digo, apontando para um trecho de
ruínas na borda do mapa. — Eu conheço um lugar longe de Esmeralda
onde podemos pousar e fazer reparos.
— Tem certeza? — o piloto diz. — Este avião não aguenta mais danos.
Eu me viro para Alex. Ele concorda.
— Faça isso, — diz Alex. — Eu confio em Mateo com a minha vida.
***

Uma hora depois, estamos seguros no solo.


Já faz muito tempo que não venho aqui. Ver este lugar novamente traz
à tona muitos sentimentos enterrados: raiva, ódio, orgulho... mas acima
de tudo, tristeza.
À meia-luz do sol da manhã, vejo as colunas em ruínas e cômodos
desabados que já foram minha casa, rodeados por árvores.
O piloto pousou o avião no que costumava ser o gramado da frente,
um longo trecho de grama perfeito para uma pista improvisada.
Ele está correndo ao redor do perímetro do avião e suspirando toda
vez que vê um buraco de bala, antes de tentar consertá-lo.
Vou até Alex e Jo. Eles estão planejando o ataque ao palácio de
Esmeralda, traçando linhas na areia e nos escombros, pedregulhos que
representam os lobos.
— Vivian acabou de enviar uma mensagem, — diz Alex.
— General Dave e os guerreiros estão a caminho. Cento e quatro
membros da Matilha Real.
Assim que eles pousarem aqui, marcharemos para o palácio. Não
podemos perder o prazo que Esmeralda estabeleceu.
— Então não vou perder mais um minuto, — digo.
— Eu tenho algo a fazer primeiro.
Eu tiro minhas roupas e me transformo, deixando meu lobo se esticar,
antes de disparar para a floresta.
É bom correr por esta floresta novamente, o ar fresco da manhã
bagunçando meu pelo enquanto corro pelo matagal.
Eu corro por quilômetros, nas profundezas da floresta. Por favor, ainda
estejam aqui.
Eu paro perto de um riacho e inclino minha cabeça para o céu.
AAAWWWWOOOOO!
Meu uivo reverbera pelas árvores, mas não há resposta.
Eu uivo de novo, por mais tempo e mais alto.
Por favor, respondam.
Eu ouço os arbustos atrás de mim farfalhar. Eu me viro lentamente,
examinando meus arredores.
A minha frente, vejo um lobo cinza-escuro emergir do matagal. Com o
canto do olho, vejo dois lobos dourados espreitando silenciosamente por
entre os arbustos.
Mais e mais lobos aparecem da floresta, até que estou completamente
cercado.
Eu inclino minha cabeça em respeito a eles.
— Você não se curva diante de nós, — diz uma voz atrás de mim. Eu
olho para cima para ver um homem terminando a transformação de
volta para sua forma humana.
Ele parece um pouco diferente desde a última vez que o vi. Seu cabelo
grisalho, da mesma cor de seu lobo, é mais longo e mais despenteado, e
ele é mais magro do que eu me lembrava dele.
Mas ele ainda tem um brilho de vida em seus olhos azuis enérgicos.
— O rei não se curva ao seu povo, — diz Manuel.
Eu me viro para trás e abraço o homem, as lágrimas marejando em
meus olhos. Nunca pensei que veria essas pessoas de novo, muito menos
vivas.
— Manuel, já faz tanto tempo.
— Quanto tempo, meu rei, — meu antigo beta diz. — Oramos a la
Diosa Luna por sua segurança. — Manuel dá um passo para trás e me
olha de cima a baixo.
— Mas por que você voltou? — Manuel diz. — Nós o enviamos para a
América para ficar seguro. Se você ficar aqui, Esmeralda vai te encontrar
e te matar. Ela fará qualquer coisa para tirar seu direito de nascença, para
deixar de ser o rei.
— É por isso que estou aqui, — digo. — Eu voltei para reivindicar meu
trono e salvar meu amor.
Eu continuo: — Eu fiz amigos na América, e eles vieram comigo para
salvar Isabella e derrubar aquela bruxa, Esmeralda. Vamos lutar... e quero
sua ajuda. Se você estiver disposto.
Manuel sorri. — Por você, meu rei, nós lutaríamos com a própria
Diosa Lima. Estávamos esperando a chance de nos vingarmos de
Esmeralda! Mostre o caminho!
ARIEL

O relógio na torre de Isabella toca e meu coração afunda.


Já se passaram dois dias desde que me separei de Alex.
Esse era o prazo de Esmeralda.
Ele não fechou um acordo.
Antes mesmo de o toque do relógio terminar, a porta do quarto de
Isabella é destrancada e um pelotão de guardas entra.
Eles nos pegam com força e nos levam de volta aos jardins reais.
Esmeralda está esperando por nós, sentada em um trono que foi
movido para fora. Bubbles está aos pés dela, em sua coleira.
— Seus pares abandonaram vocês, — diz Esmeralda. — Eles nem
tentaram negociar. Nenhuma palavra.
Eu conheço Alex. Ele não iria simplesmente me deixar aqui. E Mateo
moveria céus e terras para chegar a Isabella.
Bubbles começa a puxar sua guia. Ele está ficando impaciente.
— Está quase na hora do lanche, — diz Esmeralda com um sorriso
cruel. — Bubbles vai ter um tratamento especial. Ele vai comer vocês
duas.
Isabella se vira para mim, um olhar apavorado em seu rosto. Tento
permanecer forte enquanto Esmeralda continua a nos insultar.
— Acho que vou tornar isso divertido — que tal te dar uma vantagem
de um minuto?
Ela coloca a mão na gola de Bubbles, pronta para soltá-lo. Seus olhos
voltam para nós. — É melhor vocês começarem a correr!
Eu me viro e corro pelos jardins, Isabella está logo atrás.
— Temos que sair daqui, ou pelo menos ir para algum lugar que
Bubbles não possa nos encontrar, — eu digo.
— Por aqui, — diz Isabella, apontando para a esquerda. — Podemos
despistá-lo no labirinto de sebes!
Não é o melhor plano, mas é melhor do que qualquer coisa que eu
possa imaginar. Precisamos despistá-lo rapidamente, porque não há
como lutar contra ele.
Nossos dentes e garras de lobo não são nem de longe tão longos ou
afiados quanto os de Bubbles. Ele provavelmente poderia nos cortar pela
metade com um golpe.
Nós ziguezagueamos pelo labirinto, mas paramos rapidamente ao
chegar a um beco sem saída.
Enquanto voltamos, ouço Esmeralda gritar: — Está na hora! Bubbles
está a caminho! — Merda. Precisamos sair daqui!
Isabella e eu manobramos por uma série de caminhos, apenas para
nos encontrarmos sem saída novamente. Nós nos viramos e posso ouvir
as patas de Bubbles se aproximando de nós.
Oh minha Deusa, é assim que eu morro?
Comida por um tigre?
Eu pego Isabella pelo braço e transformo minha outra mão em uma
garra para cortar as sebes, eventualmente parando quando alcançamos a
parede do castelo que margeia o labirinto.
— Estamos encurraladas! — Isabella sussurra. — O que vamos fazer?
Antes que eu possa responder, ouço um rosnado atrás de nós.
Bubbles nos encontrou. Ele lambe os lábios e sorri ameaçadoramente.
Eu empurro Isabella atrás de mim e me preparo para me transformar.
Não vou cair sem lutar e farei tudo ao meu alcance para salvar Isabella.
Mas quando estou prestes a pular na direção de Bubbles...
THUD!
RRRAAAAWWWWRRRR!
Um lobo dourado aparece na minha frente, com seu rugido ecoando
pelo labirinto.
ALEX! Ele veio!
Alex ruge novamente e golpeia Bubbles com uma pata, tentando
intimidá-lo. Bubbles não parece muito incomodado enquanto ele se
aproxima, pronto para atacar.
Mais três lobos pulam a parede e pousam entre Bubbles e eu. Eu não
os reconheço.
Um deles levanta a cabeça para o céu e solta outro rugido... e então
um tsunami de lobos entra no labirinto.
É uma onda interminável de lobos de todas as formas e tamanhos,
irrompendo pelas sebes e jardins, em direção ao palácio.
Bubbles se encolhe, aparentemente intimidado pelas centenas de
lobos que aparecem como mágica na frente dele.
Ele sai correndo, com o rabo entre as pernas.
Alex se transforma em sua forma humana. Um guerreiro vem e
entrega a Alex e a mim dois conjuntos de uniformes de combate.
Assim que nos vestimos, nós nos abraçamos.
Apesar do perigo, minha atenção está exclusivamente em meu par.
Eu acaricio o pescoço de Alex, sentindo seu cheiro. Não faz muito
tempo, mas eu sinto tanto a falta dele...
— Ei, pombinhos, já chega, há uma guerra acontecendo! — General
Dave ruge para nós.
Nós nos separamos enquanto eu olho em volta para os lobos correndo
por nós.
— O que é isso? Quem são todos esses lobos? — Eu pergunto.
— A antiga matilha de Mateo, — diz Alex. — Eles estão aqui para
lutar.
— Lutar? — Eu respondo.
— Vamos derrotar Esmeralda... hoje!
Capítulo 20
O GUERREIRO CAÍDO
ALEX

Mateo aparentemente trouxe um bando inteiro, desde guerreiros


rígidos até civis que querem lutar por seu lar.
Eu vejo alguns lobos, seus pelos ficando grisalhos com a idade,
invadindo o palácio espanhol.
Com o canto do meu olho, eu noto Ariel corar e sorrir com as palavras
do oficial comandante. Eu sorrio também, antes de me virar para Dave.
— Jo e eu bolamos um plano. Precisamos cercar o palácio e empurrar
o inimigo para dentro. De lá, os guerreiros podem tomar o palácio
cômodo por cômodo, — eu digo. — Estamos apenas procurando ferir,
não matar, mas se for preciso, vamos igualar as forças.
Dave não responde, mas um pequeno sorriso se espalha por seu rosto.
— A cada dia que passa, vejo mais do seu pai em você, Alex, — ele diz
baixinho.
— O quê? — Eu digo, completamente perplexo. Dave sempre fez parte
da minha — família, — mas nunca o vi mostrar suas emoções ou dizer
algo assim antes.
— Eu não sei, talvez seja apenas conhecê-lo desde que você era um
filhote e pensar que você era muito jovem para liderar, mas você se
tornou um alfa forte e sábio.
— Dave, não sei o que dizer...
— Você não precisa dizer nada, eu só queria te dizer... Eu sei que fui
duro com você, mas é porque vejo muito potencial em você.
— Obrigado, — eu digo baixinho, — por tudo o que você fez.
Dave inclina levemente a cabeça, depois se vira e sai correndo para
reunir os guerreiros.
— Vamos? — Ariel me diz, antes de nós dois corrermos em direção ao
palácio e entrarmos na briga.
ARIEL

Alex e eu lutamos lado a lado, nos defendendo dos soldados


espanhóis.
Enquanto lutamos, examinamos a área, para ver se Esmeralda está por
perto.
Eu ouço um grito agudo vindo do fundo do corredor principal.
Eu me viro e vejo Isabella encolhida no canto. Jo está na frente dela,
tentando protegê-la, mas elas estão cercadas por um grupo de soldados
de Esmeralda, que clamam por sangue.
— Alex, temos que ajudá-la, — digo, antes de me virar e sair correndo
em direção a elas.
Consigo romper a batalha acalorada e me juntar a Jo para acabar com
os soldados um por um.
Dou uma olhada rápida em Isabella para ter certeza de que ela não
está machucada.
— Estou bem, de verdade, apenas fui pega de surpresa, — diz ela.
— Fique com ela, certifique-se de que ela não se machuque, — ordeno
a Jo.
Ela acena brevemente e, em seguida, envolve o braço em volta do
ombro de Isabella e a conduz para longe da batalha.
Eu volto para Alex.
— Não vi Esmeralda aqui, — diz Alex. — Devemos verificar os jardins?
Eu concordo. Esquivamos o enxame de soldados no salão principal,
mas ao chegarmos à saída dos jardins, vemos Mateo sendo derrubado por
alguns dos guardas de Esmeralda.
Alex e eu saltamos em sua defesa, pegando os guardas de surpresa.
Mateo aproveita para se libertar e se juntar a nós para nocautear seus
captores.
— Olhem, ali! — ele diz. Sigo seu dedo e vejo as joias cintilantes do
vestido de Esmeralda flutuando atrás dela.
Lutando nos braços de Esmeralda está Isabella. Isabella tenta golpear
sua irmã, mas Esmeralda saca uma adaga, obrigando-a a ser complacente.
Jo está muito ocupada com um grupo de soldados e não será capaz de
chegar até ela a tempo.
— Não, Isabella! — Mateo ruge, correndo enquanto Esmeralda arrasta
Isabella para longe.
Estamos prestes a segui-la quando, do nada, outro esquadrão de
soldados espanhóis desce sobre nós.
— Alex! — Eu grito.
Um soldado o golpeia no rosto com o cabo da arma e o sangue escorre
de seu nariz.
Tento lutar contra os soldados, mas eles bloqueiam facilmente meus
ataques. Eu não posso derrotá-los sozinha.
— Ariel! Alex! — outra pessoa grita. Eu olho e vejo o General Dave
correndo em nossa direção.
Dave chega como um tornado, repelindo nossos agressores.
Ele golpeia suas garras, empurrando os soldados de Esmeralda para
trás, nos libertando.
— Vamos lá, soldados, voltem à luta, — Dave diz com um sorriso. — A
guerra ainda não acabou!
Eu sorrio e aceno, antes de ouvir um grito de guerra atrás de nós.
Viramos e vemos um dos soldados espanhóis que derrubamos
correndo em nossa direção.
Ele está segurando um facão e correndo na direção de Alex, pronto
para parti-lo em dois.
— NÃO! — gritamos em uníssono, mas o general Dave se move
primeiro. Ele empurra Alex para fora do caminho, levando a espada de
frente.
O sangue jorra quando Dave é golpeado, desmoronando aos pés de
seu agressor. Alex se lança sobre o agressor de Dave, eviscerando-o com
suas garras, enquanto eu caio de joelhos ao lado do General Dave.
O golpe da espada rasgou totalmente seu torso. Seu uniforme está
manchado de vermelho escuro. Seus olhos estão começando a piscar.
— Dave, você tem que ficar comigo, — eu digo claramente. — Isso vai
doer, mas preciso que você fique acordado.
— Já passei por coisas piores, — diz Dave, tossindo sangue. Alex pousa
a mão na testa de Dave.
— Pega leve, Dave. Poupe suas forças, — diz Alex.
Eu rasgo a camada superior do meu uniforme e coloco no peito de
Dave para impedir que a quantidade abundante de sangue saia, mas não
adianta.
Nunca curei ninguém tão ferido. Meus poderes serão capazes de
neutralizar algo tão traumático?
Eu coloco minhas mãos no peito de Dave, sentindo o sangue quente
escorrer por entre meus dedos.
— Deusa da Lua, por favor. Eu tenho que salvá-lo.
Capítulo 21
A BATALHA FINAL
ARIEL

Eu concentro minha energia e sinto a sensação familiar de calor fluir


por mim, mas assim que chega aos meus dedos, ela se dissipa.
Eu me concentro mais, tensionando todos os músculos do meu corpo
e direcionando meus poderes para Dave, mas eles simplesmente não
fluem através dele.
— Por favor, Selene, me ajude.
— Sinto muito, minha filha, — Eu ouço a Deusa da Lua dizer para mim.
— Ele está gravemente ferido. Não há nada que você possa fazer.
— Não! — Eu grito, assustando Alex. Eu empurro com mais força,
esticando cada fibra do meu ser para salvar Dave, mas quando eu olho
em seus olhos, não vejo nenhuma luz dentro deles.
Lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto quando Alex fecha os
olhos de Dave e coloca as mãos sobre o peito.
— Ariel, você fez o que pôde, — diz Alex.
— Eu deveria ter levado o golpe em vez dele, — digo, enxugando as
lágrimas em meu rosto.
— Dave gostaria de partir como um guerreiro, — Alex diz enquanto
pega minha mão e nos levantamos. — Podemos honrar a memória dele...
acabando com isso, hoje.
Eu aceno, tentando me acalmar e focar minha mente.
Esmeralda precisa pagar por isso.
MATEO

— Esmeralda, pare! — Eu grito.


Eu salto para frente, bloqueando seu caminho.
Esmeralda coloca sua adaga na garganta de Isabella.
— Chegue mais perto, puta, e eu vou matá-la, — esmeralda rosna.
— Você está disposta a matar sua própria irmã? — Eu digo. — Você é
patética!
— Olhe em volta, Mateo, você está tentando tirar meu reino de mim,
— diz Esmeralda. — Então, vou tirar a única coisa que você deseja.
Ela pressiona a ponta da faca mais profundamente, quase tirando
sangue.
— Esmeralda, você já tirou de mim tudo o que pôde, — digo. — Você
destruiu minha casa, me forçou ao exílio... Se você quer me machucar,
então me mate agora! Eu troco minha vida pela dela!
— Não, Mateo! — Isabella soluça. — Eu não posso viver sem você!
— Cale a boca, vadia, — Esmeralda sibila, antes de voltar sua atenção
para mim. — Mateo, se você quiser salvá-la, fique de joelhos.
Eu faço o que ela pede, ajoelhando-me lentamente, sem tirar os olhos
dela.
Assim que estou no chão, Esmeralda joga Isabella para o lado e avança
sobre mim.
— Pelo menos terei o prazer de finalmente matar você, — diz ela. —
Você tem sido uma pedra no meu sapato por tempo demais.
Eu fecho meus olhos, pronto para ela cortar minha garganta, mas a
lâmina nunca chega.
Abrindo lentamente os olhos, vejo o que parece ser medo no rosto de
Esmeralda.
Cercando-nos por todos os lados está minha matilha.
Muitos para um único lobo lutar.
Vejo o lobo de Manuel dar um salto para frente, atacando Esmeralda.
O restante da matilha vai se acumulando.
Eu corro para Isabella e a pego em meus braços, protegendo-a de ver
sua irmã ser espancada.
Esmeralda grita quando os lobos começam a despedaçá-la. Manuel
aperta as mandíbulas em volta do pescoço dela, silenciando-a.
A rainha má fica mole enquanto Manuel rasga sua garganta, matando-
a instantaneamente.
Acabou. Finalmente acabou.
Esmeralda está morta.
Eu dou um suspiro final e fecho meus olhos.
Eu posso parar de fugir. Isabella e eu... podemos ficar juntos.
— Mateo... olhe, — eu ouço Isabella sussurrar. Abro meus olhos e sigo
sua linha de visão.
Fora dos arbustos, vejo dois olhos dourados olhando para mim.
Bubbles.
Eu lentamente me afasto, protegendo Isabella atrás de mim enquanto
Bubbles avança. O sangue está cobrindo sua boca e patas.
Bubbles olha para os guerreiros à sua frente, rosnando
ameaçadoramente.
Mesmo com nossos números superiores, aposto que ainda seria uma
luta terrível tentar derrubá-lo. Eu lentamente estico minhas garras,
pronto para partir para o ataque, mas Bubbles não parece muito
preocupado conosco.
Em vez disso, ele volta sua atenção para sua antiga dona. Meus
guerreiros recuam enquanto ele cheira seu peito e rosto.
Ele começa a choramingar, tentando fazer com que ela responda, mas
ela obviamente não se move.
Bubbles rosna, mas não de uma forma ameaçadora ou hostil. Parece
que ele está de luto.
Ele gentilmente segura o vestido de Esmeralda com os dentes... e
começa a puxá-la para o labirinto e sua toca.
Enquanto Bubbles se retira, Manuel ordena os guerreiros de volta ao
palácio, de volta à luta, deixando-me a sós com Isabella.
Eu olho para ela. Vejo algumas lágrimas em seu rosto, deixando linhas
transparentes até o queixo, mas ela rapidamente as enxuga.
Apesar de Esmeralda trancá-la na torre e praticamente torturá-la,
Isabella sempre vê o melhor nas pessoas e está de luto pela irmã assim
como Bubbles.
— Ela finalmente se foi, — eu digo a Isabella, beijando-a na testa.
— Então, realmente acabou e... podemos ficar juntos? — ela sussurra
para mim. Eu concordo.
— E isso faz de você a rainha. Você pode parar a batalha.
Os olhos de Isabella se arregalam quando ela se volta para o palácio. A
batalha continua, sem saber que uma nova rainha acaba de assumir o
trono.
Isabella se impõe e grita: — Eu sou sua rainha, e ordeno que parem de
lutar!
Mas ninguém pode ouvi-la por causa do rugido, gritos e metal contra
metal.
Isabella franze a testa, então ela lentamente se transforma em sua
loba, seu pelo loiro deslumbrante, assim como seu cabelo.
Ela segue em frente, deixando escapar o uivo mais longo e alto que já
ouvi.
Uivo de um nobre.
A luta aparentemente para imediatamente, enquanto todos viram
suas cabeças para ouvir o chamado.
Eu sinto algo ondular através de mim, como se Isabella tivesse o poder
de comandar cada movimento meu.
Isabella uiva novamente. Eu posso sentir a mensagem por trás disso.
A luta termina agora. Abaixem suas armas. A rainha ordena.
Percebo alguns olhares confusos de alguns dos soldados espanhóis,
mas lentamente, todos no campo de batalha abaixam suas armas e
retraem suas garras.
Os guerreiros da Matilha Real e meu povo sentem uma mudança no
ar também, baixando suas armas também.
A batalha acabou. Nós ganhamos.
Capítulo 22
QUEBRANDO O VÍNCULO
ARIEL

Finalmente vencemos a guerra... mas agora não é hora de comemorar.


A batalha foi longa e brutal — ambos os lados perderam muitos
guerreiros fortes.
Perdemos o General Dave.
Tudo por causa da fúria de Esmeralda.
Aqueles que conseguiram sobreviver podem não passar pela noite.
Suas feridas são profundas demais até para minha cura.
Eu ouço gemidos de dor ao meu redor.
— Vá em frente, minha filha, — eu ouço a Deusa da Lua dizer. — Vá e
cure-os. Eles precisam de você.
— Como, Selene? — Eu digo em voz alta. — São tantos, não sei se sou
forte o suficiente.
Desde que lutei contra Fate e recuperei meus poderes, estou
apreensiva em usá-los com a mesma liberalidade que fazia no passado.
— Você é a única que pode.
Hã?
Selene não respondeu. Eu olho para a minha esquerda e vejo Alex
olhando para mim.
— Você é a pessoa mais forte que já conheci, Ariel, — diz Alex. — Você
consegue fazer isso.
Nós nos abraçamos mais uma vez, então eu me viro e respiro fundo.
Aqui vai.
Eu me concentro muito e sinto um calor pulsante e radiante encher
meu peito, como se eu tivesse acabado de mergulhar em um banho
quente.
Eu estendo meus braços, roçando levemente em todos que eu passo —
guerreiros da Matilha Real, os guardas de Esmeralda, os lobos de Mateo.
A guerra acabou, a luta acabou. Somos todos aliados agora.
Eu lentamente me movo por um grupo de soldados reais espanhóis,
certificando-me de tocar em todos. Eu vejo a pele se recompor e os ossos
se reformarem, deixando os soldados renovados. Alguns deles se
levantam e apalpam onde costumavam ficar os ferimentos, maravilhados
com a recuperação.
Eu passo por todo o palácio, curando todos aqueles em meu caminho,
antes de voltar para Alex.
Ele estremece de dor, mas está tentando não deixar transparecer.
Esmeralda e seus guardas realmente o atacaram.
Eu coloco minhas mãos em seu peito enquanto nos inclinamos um
contra o outro.
Eu sinto os últimos fragmentos do meu poder de cura fluindo para
Alex, me fazendo desabar. Alex me pega antes que eu caia no chão.
Eu olho nos olhos verde-floresta de Alex e dou um beijo suave em seus
lábios.
Estamos juntos de novo e mais fortes um ao lado do outro do que
jamais poderíamos ser separados.
ALEX

Eu olho para o rosto em paz e repouso do General Dave.


Após a batalha, Isabella e Mateo começaram a enterrar seus mortos.
Mas tenho meus próprios planos para homenagear o general Dave.
Quando meu pai morreu, Dave me puxou de lado e disse que se
precisássemos conversar, ele estaria lá para mim.
Ele sempre me encheu de esperança e coragem, mas eu não sabia
disso na época. Eu só queria poder pagar a dívida.
Eu sei que ele gostaria de partir como um verdadeiro guerreiro, então
tomei as providências adequadas.
Ariel e Jo me ajudam a construir uma jangada de madeira com toras e
gravetos. Colocamos o General Dave em cima dela.
O restante dos guerreiros da Matilha Real se juntam a nós, e os líderes
do esquadrão carregam a jangada até a costa.
Assim que a jangada está na água, Ariel me entrega uma caixa de
fósforos.
Acendo três e os coloco entre os gravetos que coletamos, antes que
Ariel e os guerreiros se inclinem e empurrem a jangada para o mar.
Eles recuam e observamos enquanto a pira funerária se afasta. Decido
dizer algumas palavras enquanto seu corpo nos deixa.
— Dave, você foi mais do que apenas nosso general, — eu digo,
tentando manter minha voz firme. — Você foi um mentor e um amigo.
Você nos ajudou a levantar quando caímos e nos motivou ainda mais
quando sabia que poderíamos fazer mais.
Ariel desliza sua mão na minha. Eu respiro fundo antes de continuar.
— Seu serviço, não apenas para mim, mas para meu pai antes de mim,
e para sua matilha, foi inspirador. Sua inabalável lealdade, tenacidade e,
acima de tudo, liderança, nos guiou por muitos momentos sombrios,
tanto em toda a matilha quanto pessoais.
Pisco muitas vezes para impedir que as lágrimas se formem em meus
olhos. Eu aperto-os antes de abri-los novamente e termino meu discurso.
— Sua força e bravura nunca serão esquecidas, e você viverá através
dos tempos, como um exemplo brilhante de quem podemos ser e por
quem nos esforçamos, para as gerações jovens e velhas admirarem.
Ariel esfrega o polegar em pequenos círculos em cima da minha mão,
antes de dar um passo à frente e dizer algumas palavras.
— Quando cheguei à Matilha Real, o General Dave foi uma das
primeiras pessoas que conheci. Minha reação inicial foi... esse cara é osso
duro de roer.
Os guerreiros sorriem e riem. Ariel sorri e continua.
— Durante os treinos, mesmo quando estávamos dispensados, ele
nunca deixou de ser um chato. Eu dizia: 'Por favor, estamos de folga'.
— Mesmo assim, ele nunca parou. Porque, assim como Alex disse, ele
sabia que poderíamos fazer mais. Vamos manter sua memória viva... e
continuar a provar a ele que podemos fazer melhor!
Ariel acena com a cabeça para Jo, que se vira para os guerreiros e dá a
ordem: — Guerreiros, continência!
Eu me viro e vejo todos os guerreiros erguendo suas mãos direitas às
sobrancelhas, estoicos em face da morte de um de nossos maiores lobos.
Os lobos lentamente começam a voltar para o palácio espanhol.
Eu vejo a jangada de Dave flutuar e puxo Ariel para perto. Eu a seguro
por um longo tempo, sentindo seu batimento cardíaco contra meu peito,
respirando seu cheiro.
— Eu me sinto tão... culpado, — murmuro contra seu pescoço. — Eu
ordenei que ele viesse aqui, e agora ele se foi.
— Alex, o General Dave era um guerreiro. Ele morreu cumprindo seu
dever e morreu pelo bem maior.
— Mas eu não precisava ter o chamado, — eu digo. — Ele ainda
estaria vivo.
— E nós poderíamos estar mortos, — Ariel responde. — Você
derrotou Esmeralda. Dave teria dito o mesmo. É difícil, mas foi a escolha
certa.
Ariel me puxa com mais força e eu fecho meus olhos.
Deusa da Lua, cuide dele.
Ele merece as boas-vindas de um guerreiro em seu reino.
ARIEL

Nos juntamos a Mateo e Isabella nos jardins reais, pegando os últimos


raios do sol poente.
— Sentimos muito pelo General Dave, — diz Mateo.
— Nós pudemos ver a jangada do palácio, eu acho que como um
guerreiro é bastante apropriado, — diz Isabella. — Para onde vocês vão
agora? De volta para casa?
Alex e eu olhamos um para o outro, mas antes que possamos
responder, Mateo nos interrompe.
— Vocês deveriam ficar um pouco. Temos quartos suficientes, — diz
ele, apontando para o palácio. — Vocês merecem um descanso.
Eu me viro para Alex.
— Parece incrível, — eu digo a ele. Alex abre um sorriso.
— Descanso e lazer não seriam nada mal, — diz ele, pegando a mão de
Mateo e apertando-a. — Também temos outra coisa para conversar.
— Mateo, agora que você e Isabella estão juntos... podemos— — digo,
mas Mateo levanta a mão.
— Você nem precisa pedir, mi amiga, — ele diz com um sorriso. —
Isabella e eu estamos prontos. Estamos prontos para compartilhar a dor.
Eu entrelaço meus dedos com os de Alex, e Mateo faz o mesmo com
Isabella. Eu aperto Alex com um pouco mais de força do que o normal.
Eu conheço a dor de um vínculo de acasalamento quebrado, mas sei que
com ele ao meu lado, vai ficar tudo bem.
Respiro fundo e olho nos olhos de Mateo, sentindo uma pontada final
no vínculo de acasalamento.
Por um momento, deixei-me cair no feitiço e imaginar como seria
acordar todos os dias com aquela sensação... de que estávamos
destinados a ficar juntos.
Talvez em outra vida, em outro tempo, Mateo e eu poderíamos ter
sido pares.
Poderíamos ter nos conhecido e nos apaixonado... mas não é a vida
que eu quero.
Eu tenho meu próprio par escolhido, e Mateo também.
— No três? — Mateo diz. Eu concordo.
— Um...
— Dois...
— TRÊS!
Capítulo 23
SEX ON THE BEACH
ARIEL

— Eu rejeito você como meu par... e quebro meu vínculo com você, —
Mateo e eu dizemos ao mesmo tempo.
Eu seguro a mão de Alex, pronta para suportar a dor lancinante que
senti muitas luas atrás, quando Xavier me rejeitou...
Mas nenhuma dor vem.
Em vez disso, sinto uma sensação de calor, não muito diferente do
poder de cura da Deusa da Lua.
É como afundar no quente Mar Mediterrâneo, as sensações tomando
conta de mim.
Eu não perdi uma parte de mim, eu deixei ir por vontade própria.
Eu olho para Mateo e Isabella, que estão praticamente brilhando.
Estamos com nossos pares escolhidos agora.
A vida é perfeita.
***

Esta é a vida, penso comigo mesma enquanto me estico na areia e


fecho os olhos.
Este é o nosso segundo dia no palácio de Mateo e Isabella, ou no meu
caso, na praia aqui perto.
Este é o nosso último dia completo aqui, o que infelizmente significa
perder a cerimônia oficial de acasalamento de Mateo e Isabella, mas
temos que voltar para nossa matilha.
O palácio está agitado com preparativos e decretos reais agora que a
Rainha Isabella está escolhendo seu par, o Rei Mateo.
Com a sua união, eles reúnem as comunidades de lobos espanhóis e
catalães, sob um reinado pacífico e feliz.
Temos ajudado onde podemos, dando recomendações sobre
decoração e preparação de eventos.
Mas agora, estou tomando sol.
Tanta coisa aconteceu desde que entrei para a Matilha Real: os
Caçadores, Angel, o presidente humano, Fate e Xavier e, por fim, tudo
isso na Espanha.
Depois de toda a loucura, acho que Alex e eu precisávamos desse
descanso.
Nada além de um pouco de mar, sol, areia... e talvez um pouco de sexo
também!
Parece a lua de mel que nunca tivemos.
É bom simplesmente ficar de biquíni, sem pensar duas vezes em mais
nada.
Eu ouço o som de passos suaves quando alguém se aproxima e se
senta ao meu lado.
Abro um olho e vejo Alex deitado ao meu lado, seus olhos
percorrendo minhas pernas longas e bronzeadas, minha barriga
tonificada e meu peito brilhante. Meu biquíni deixa pouco para a
imaginação.
— Gosta do que vê? — Eu pergunto com um sorriso.
— Muito, — ele responde.
Pego a bolsa de praia que tenho comigo e pego um pouco de óleo de
bronzear. Eu entrego a garrafa para ele antes de desfazer as alças do meu
biquíni.
— Quero melhorar meu bronzeado, acha que pode me ajudar com
meu óleo? — Eu digo com um sorriso.
Alex aceita imediatamente, me cobrindo com um líquido de bronze.
Eu olho para baixo em seu short de praia e vejo que ele está começando a
se excitar.
Eu me inclino e sussurro sedutoramente em seu ouvido. — Sabe, esta
é uma praia particular. Se você quisesse ficar pelado, ninguém estaria aqui
para impedi-lo.
Alex levanta uma sobrancelha antes de sorrir de volta. Ele descarta o
short e a camisa e se ajoelha ao meu lado.
Ele continua a esfregar óleo no meu peito, na minha barriga, parando
na ponta do meu biquíni.
— Você diz que esta é uma praia particular? — ele diz.
— O que você está pensando? — Eu respondo com um sorriso. Eu o
puxo para cima de mim e o beijo apaixonadamente.
MATEO

Isabella e eu estamos escondidos em nosso quarto.


Nos últimos dias, estivemos nos preparando para nossa cerimônia de
acasalamento e a coroação de Isabella. Não tivemos nenhum tempinho
para passarmos juntos.
Mas, finalmente, quando os criados estavam pendurando as coroas de
flores e tirando o pó do corredor principal, peguei Isabella pela mão e
corremos escada acima.
Ela não demorou a trancar a porta do quarto atrás dela,
instantaneamente alcançando a fivela do meu cinto.
— Eu sonhei com este momento por tanto tempo, — Isabella sussurra
para mim entre beijos. — Onde não temos que nos esconder e nos
esgueirar, onde podemos estar juntos e todos sabem.
Eu puxo minha camisa sobre a minha cabeça, em seguida, deslizo as
alças do vestido de Isabella por seus braços, deixando-o cair no chão. Ela
não está usando nada por baixo, apenas seu pingente de lobo dourado.
Ela ainda parece tão magnífica quanto da primeira vez que a vi, no
baile planejado para o meu casamento com Esmeralda.
Isabella me agarra e me puxa em direção à cama. — Diosci! — Eu grito
de surpresa, rindo enquanto batemos no colchão juntos.
A boca de Isabella é como um fuego ardentena minha, tão cheio de
paixão e desejo.
Ela me pega em sua mão e, um segundo depois, dois se tornam um.
Eu gemo e coloco minha cabeça para trás enquanto esfregamos
nossos quadris juntos. Isabella coloca as mãos no meu peito para se
firmar.
Ela fecha os olhos e sussurra continuamente: — Mierda, esto es tem
bueno!
Eu me sento e a embalo, penetrando mais fundo nela, fazendo-a
gemer de prazer.
— Mateo..., — diz Isabella, olhando para mim. Eu amo a maneira
como meu nome soa em sua voz. É um dos sons mais doces que um
homem pode ouvir.
— Sim, mi amor, o que foi? — Eu digo, dando um beijo em seu nariz.
— Eu sei que planejamos marcar um ao outro após a nossa cerimônia
de acasalamento, mas não posso esperar mais, — diz ela com emoção. —
Eu quero usar sua marca. Quero que todos saibam que estamos unidos
um ao outro.
Nada me daria mais prazer do que afundar meus dentes em sua pele
macia e perfeita.
— Tem certeza, mi amor? — Eu digo. — Eu não quero que você faça
algo só porque parece bom no momento. Nós podemos esperar.
— Achei que nunca mais fosse ver você, — ela diz, segurando meu
rosto com as mãos. — Eu cansei de esperar. Não há outro par para mim
no mundo que não seja você. Estou pronta, Mateo.
Isabella me puxa para ela e nossos lábios se unem em uma mistura de
paixão e ternura.
Enquanto continuamos nos movendo em sincronia, eu começo a
trilhar lentamente um caminho até seus ombros, deixando beijos
provocadores ao longo de sua bochecha e queixo.
Isabella se inclina para trás, dando-me acesso ao seu pescoço. Eu beijo,
lambo e chupo todo o caminho até entre o ombro e o pescoço, logo
acima da clavícula.
Eu estendo meus caninos um pouco, deixando as pontas afiadas
descansarem no ombro de Isabella sem perfurar sua pele.
— Agora, Mateo, faça agora! — Isabella respira, me segurando perto.
Eu mordo seu ombro e ela grita de prazer.
Eu fico lá por um momento, então retraio lentamente meus dentes e
lambo as pequenas feridas para limpá-las.
Isabella afunda os dentes no meu ombro também. A dor dura apenas
um momento antes que meu corpo seja inundado com uma sensação
quente e formigante... de amor eterno.
E como ver o sol depois de ficar no escuro por mil anos, como
enxergar pela primeira vez.
Estou tão cheio de amor que estou transbordando, minha alma presa
pela perfeição com a qual estou acasalado.
Agora estamos juntos, finalmente.
Encaro os olhos azuis cintilantes do meu par escolhido e me inclino
para beijá-la.
Eu não poderia pedir mais nada.
ARIEL

Rolo na toalha de praia de areia, tentando recuperar o fôlego.


— Isso foi..., — eu suspiro, mas não consigo nem terminar meu
pensamento, pois ainda estou me recuperando do êxtase feliz que acabei
de vivenciar.
Alex começa a beijar e lamber meu pescoço, bem onde está nossa
marca de acasalamento.
— Minha filha.
Hã?
— Ariel, sou eu. Selene.
A Deusa da Lua... de novo? Ela está prestes a me enviar em outra
missão?
Pelo menos ela esperou até terminarmos...
— Minha filha, você prestou um grande serviço à Mateo e Isabella.
Enquanto eles celebram seu amor, quero que você celebre o seu.
— O que você está dizendo, Selene?
— Você reuniu dois pares escolhidos. Protegerei seu amor, não permitindo
que mais pares destinados interfiram. Eu ofereço o mesmo presente para você.
Marque seu par novamente, e eu garanto que vai durar a vida toda!
— Obrigada, Selene!
— Não me agradeça, querida. Depois de tudo que você passou — acho que
você merece!
Minha conexão termina e eu olho nos olhos de Alex. Há muito amor
por trás deles.
— Alex, — eu digo, — quero que você me marque de novo!
— O quê? — Alex diz.
— Eu quero que você me marque, — eu repito. — Então seremos
pares, não importa o que aconteça.
Alex sorri e extrai seus caninos, puxando-me para perto. Eu faço o
mesmo, descansando meus dentes logo acima de nossa antiga marca.
Nós perfuramos um ao outro ao mesmo tempo, e uma leve onda de
alívio e felicidade rola sobre mim.
Estamos marcados novamente. Solidificamos nosso vínculo.
Ninguém jamais ficará entre nós novamente.
Somos pares escolhidos... para sempre.
Capítulo 24
PARA TODO O SEMPRE
ARIEL

Quase não saímos da cama pelo resto do dia, chegando a pedir a


cozinha para deixar comida na porta.
Comemos, conversamos... e o mais importante, fazemos amor.
Mesmo que nada realmente tenha mudado muito entre nós, estar
com Alex agora é dez vezes melhor do que antes.
Sabemos que não importa o que aconteça, somos... indestrutíveis.
Quando o sol começa a baixar, finalmente decidimos sair da cama e
descer as escadas.
Eu uso um vestido de verão branco puro e simples, complementando
minha pele bronzeada.
Alex usa calça preta e uma camisa de botão com gola aberta.
Temos planos para um jantar com Mateo e Isabella, e os vemos
vagando de braços dados pelos jardins reais enquanto descemos as
escadas. Eles ficam tão fofos juntos, como dois adolescentes vivendo seu
primeiro amor.
Juntando-nos a eles, caminhamos lado a lado, curtindo juntos os
jardins, as flores coloridas, estando com nossos pares escolhidos.
E o palácio parece mais bonito do que nunca com as decorações da
cerimônia de acasalamento. Coroas florais em diferentes cores e formas
vão da torre mais alta aos portões principais, criando uma bela e vibrante
dossel em direção ao salão principal.
Os gazebos também já estão montados, prontos para os futuros
convidados.
— Ainda podemos colocar vocês na lista, — diz Isabella. — Tenho
certeza de que tenho alguns tios-avós que posso desconvidar.
— Nós adoraríamos, — diz Alex, — mas temos que voltar para nossa
própria matilha real.
— Queríamos dar a vocês um presente de despedida antes irem, — diz
Isabella. — Assim que estivermos acasalados, vamos nos mudar para o
antigo palácio de Mateo. Estamos prestes a começar a reconstruí-lo...
— Então, como não vamos usá-lo, — diz Mateo, gesticulando para o
palácio, — gostaríamos de dar este lugar a vocês como um palácio de
férias.
— Um o quê? — Eu grito. Eu olho para Alex, que está olhando para o
palácio com admiração.
— Você está falando sério? — ele fala para Mateo e Isabella. Eles
sorriem em resposta.
— Você fez muito por nós, e não importa o quanto lhe dermos, isso
nunca poderia se igualar à dívida que temos com você, — diz Isabella,
aninhando-se perto de Mateo.
— Parece demais, — diz Alex. — Este é seu palácio.
— Sinceramente, quero ficar longe desse lugar, ficar longe daquela
torre e de todas as coisas que me lembram Esmeralda, — diz Isabella. —
Eu quero um novo começo, com meu par escolhido.
Eu olho para o palácio com um novo olhar.
Isso é... nosso?
Juro que vamos passar férias aqui até morrer.
Ficar no nosso próprio palácio espanhol e vir ver Mateo e Isabella.
Podemos não ser parentes, mas agora eles são parte de nossa família.
Mal posso esperar para vê-los novamente.
***

Os guerreiros e Jo voaram de volta antes de nós, mas Isabella nos


emprestou o jato particular da Matilha Real Espanhola.
Eu olho pela janela e vejo o avião começar a subir, deixando o
continente espanhol. Em breve estaremos voando sobre o oceano, de
volta para nossa casa.
Eu olho para Alex e vejo um sorriso gentil em seu rosto.
Estamos de mãos dadas desde que o avião decolou.
Eu me inclino e sussurro para ele.
— Eu não disse a você, mas a Deusa da Lua falou comigo quando
estávamos no nosso momento íntimo.
— Que horas? — Alex ri. — Nós passamos muito tempo entre os
lençóis juntos.
— Um pouco antes de você me marcar, — eu digo. — Ela me disse que
protegeria nosso vínculo — e o de Isabella e Mateo. Fate não vai mexer
mais conosco. Nosso vínculo vai durar a vida toda. — Alex sorri antes de
falar.
— Também tenho uma surpresa para você, esperando em casa.
— O quê?
— Você sabe como eu venho trocando mensagens com Vivian?
— Sim, sobre as novas delegações e tratados que você deseja assinar
com Isabella?
— Com o falecimento de Dave, lemos suas notas e cartas finais. Ele
havia dado uma recomendação de quem deveria assumir sua função se
ele morresse ou se aposentasse.
— E quem é? — Eu pergunto.
— Dave nomeou você para ser nossa próxima general. Falei com meus
conselheiros, meu beta, e os guerreiros. Eles estão todos de acordo.
— Você está falando sério? — Eu suspiro.
— Bem, isso é se você quiser o cargo? — Alex diz com uma risada. Eu o
soco no braço.
— Claro que quero o cargo! — Eu digo antes de beijá-lo.
— Bom, já organizei a cerimônia, — diz ele. — Vou nomear você
amanhã!
Desde que eu era uma garotinha, eu queria ser uma guerreira da
matilha...
E agora estou me tomando uma general! Meus sonhos estão se
tornando realidade!
Capítulo 25
UMA NOVA COROA ARIEL
BBBZZZ!
BBBZZZ!
Eu expiro e relaxo enquanto Steve desce a agulha da tatuagem e
perfura minha pele.
O costume da matilha determina que sempre que alguém sobe no
posto de guerreiro, ele recebe uma nova adição.
Lembro-me de quando ganhei minha primeira, uma pequena lua
crescente no interior do meu pulso, para mostrar que era uma guerreira
da Matilha da Lua Crescente.
Na noite anterior à minha captura pelos Caçadores.
Quando me juntei à Matilha Real como guerreira, ganhei uma coroa
logo acima da lua.
Para cada promoção, de líder de esquadrão a comandante e agora a
general, recebo uma coroa extra.
As tatuagens se estendem do meu pulso até a curva do meu cotovelo,
ficando mais intrincadas e detalhadas a cada classificação. Se eu não
tomar cuidado, vou acabar fechando o braço inteiro.
Eu sorrio quando percebo que serei a guerreira com a patente mais
alta em um bando inteiro.
Estamos nos jardins fora do palácio, e parece que toda a matilha
acabou de me ver sendo tatuada.
Na parte de trás, vejo os guerreiros, todos saudando quando a
cerimônia termina. Vejo Helena e Dom, com sua filha. Camélia,
dormindo nos braços de Dom.
Meus olhos percorrem Natalia e Chuck, Xavi pulando no joelho de seu
padrasto. Na primeira fila estão Maria e meu pai.
Vejo círculos escuros sob seus olhos e ele parece um pouco mais
pálido do que o normal. Ele me lança um sorriso fraco, mas posso dizer
que ele está forçando.
Falei com ele um pouco antes de partirmos para a Espanha e ele
parecia bem. Só espero que não seja algo sério.
Ele tem sido minha rocha desde que eu era pequena, e se não fosse
por ele, eu nunca teria entrado na Matilha Real depois que Xavier me
baniu...
Eu planejo falar com ele após a cerimônia. Eu faria qualquer coisa
para fazê-lo se sentir melhor.
Eu examino a plateia mais uma vez e descubro que há uma pessoa
faltando...
Mãe.
Típico.
Ela sempre foi contra minhas ambições de guerreira, só realmente se
aproximando de mim depois que me tomei a rainha.
Agora sou uma general, A general de toda a Matilha Real... e ela não está
em lugar nenhum.
A minha esquerda está Alex e Steve à minha direita, tatuando minha
patente. Alex está olhando para longe de mim, com a testa franzida.
— Qual é o problema? — Eu sussurro, estendendo meu braço não
tatuado e pegando sua mão. Ele ainda não olha para mim, em vez disso,
franze os olhos.
— Agulhas..., — murmura Alex. — Não sou muito ã.
Eu rio com surpresa.
— Olhe para você, o rei, o alfa, um dos guerreiros mais corajosos que
eu conheço, e está com medo de uma pequena agulha! — Eu brinco.
— Continue assim e eu retirarei sua promoção, — diz ele, meio sério,
meio brincando.
— Você não pode fazer isso — eu tenho a tatuagem agora! Não há
nada que você possa fazer para me impedir! — Eu digo enquanto Steve se
senta, seu trabalho terminou.
Eu olho para o meu braço. A nova coroa se encaixa perfeitamente,
como se sempre tivesse pertencido a ela.
Alex pega minha mão e anuncia para a multidão: — Levante-se, Ariel,
rainha e general da Matilha Real!
Eu fico de pé quando a multidão reunida começa a aplaudir.
Quando a cerimônia termina e os convidados começam a se
encaminhar para a recepção, tento falar com meu pai, mas antes que
possa alcançá-lo ou chamá-lo, ele se foi.
Sinto alguém roçar meu braço. Eu me viro e vejo Natalia, claramente
parecendo preocupada.
— Você viu o papai? — Eu pergunto. — Ele parecia um pouco
estranho durante a cerimônia. Falando nisso, onde diabos está a mamãe?
Natalia desvia o olhar e se contorce sem jeito, antes de dizer baixinho:
— Você pode querer se sentar para ouvir isso.
Ela me guia até alguns dos assentos da primeira fila e nos sentamos.
— O que diabos está acontecendo? — Eu digo, olhando minha irmã
bem nos olhos.
— Mamãe... se foi, — Natalia resmunga. — Ela se foi.
— O quê? — Eu digo. — Por quê? O que aconteceu?
— Ela encontrou seu par destinado, — Natalia diz.
Oh minha deusa, pai!
Ele deve estar arrasado!
***

Após a recepção, Alex e eu caminhamos de mãos dadas pelos jardins


juntos.
Eu precisava esfriar minha cabeça após as notícias de Natalia.
Alex diz que eu não deveria me culpar, mas não posso evitar. Eu sou
aquela que trouxe novos vínculos de acasalamento destinados ao mundo.
— Psst! Olhe ali, — sussurra Alex de repente.
Ele aponta entre dois arbustos e eu sigo seu dedo. Aninhadas em uma
pequena alcova, sentadas em um banco de pedra, estão Jo e Vivian.
Elas estão enroladas uma contra a outra, Vivian brincando com o
cabelo de Jo, Jo deixando beijos provocantes ao longo do pescoço de
Vivian.
Elas parecem tão felizes juntas, como se não tivessem nenhuma
preocupação no mundo. Elas são o casal mais fofo que eu já vi.
— Eu acho que não estraguei tudo completamente reiniciando Fate,
— eu digo com uma risada. — O destino ainda deu certo para algumas
pessoas.
Nesse momento, eu me dei conta.
Pares destinados.
Assim como Vivian e Jo encontraram o amor uma com a outra, eu
poderia ajudar outros lobisomens a encontrarem o amor.
Encontrarem novos pares.
Eu machuquei tantas pessoas quando quebrei todos os vínculos de
pares destinados, mas agora tenho a chance de consertar...
Vou fazer o maior fim de semana de acasalamento de todos os tempos,
reunindo todas as matilhas de todos os Estados Unidos na Matilha Real.
Vou até encontrar um par para meu pai... Vou mostrar a ele que ele
pode encontrar a felicidade novamente.
E, finalmente, tudo será curado.
Continua no Livro 6…
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