(Livro 1 Ao 5) A Rainha Guerreira - Danni D
(Livro 1 Ao 5) A Rainha Guerreira - Danni D
(Livro 1 Ao 5) A Rainha Guerreira - Danni D
Sinto uma força dentro de mim que não sinto há muito, muito tempo.
É isso que ela quis dizer com o dom de curar?
Obrigada, Selene. Mas não foi só isso que ela disse...
Ela disse que eu tinha que fugir...
E encontrar meu par.
Meu par?
Eu não saberia nem por onde começar a procurar, mas com certeza ele
não está aqui.
Eu luto com minhas correntes, mas mesmo que a prata não esteja
irritando minha pele como antes, ela ainda dói.
Ouço uma porta abrir no topo da escada e passos irregulares quando
alguém tropeça nela.
Provavelmente será Curt, bêbado novamente. Ele adora me
atormentar quando está bêbado.
Mas ele não sabe que eu recuperei minhas forças. Eu posso usar isso a meu
favor.
— Você finalmente acordou, vira-lata. Ótimo. Vamos jogar um
joguinho, — diz ele, balbuciando.
Curt pega uma coleira de prata e a prende ao redor do meu pescoço,
desfazendo as correntes ao redor dos meus braços.
Ele puxa a corrente presa ao colarinho do meu pescoço, me forçando a
ficar de joelhos.
— Temos alguns convidados lá em cima, e você vai entretê-los. — diz
ele com um sorriso inquietante.
Convidados? Há mais caçadores lá em cima então. Preciso ter cuidado.
Posso estar com minhas forças de volta, mas ainda estou em
desvantagem.
Curt tropeça quando começa a subir as escadas, puxando-me atrás
dele.
Se eles estiverem tão bêbados quanto o Curt, então talvez eu realmente
tenha uma chance...
— Anda logo, vadia! Quero mostrar a minha melhor espécime. Você é
a prova de que realmente é possível ensinar novos truques a um vira-lata
imundo, — diz ele, apertando firme a corrente.
Bom. Segure firme, seu cretino de merda.
Rosnando, minha loba aparece, e eu arranco a corrente com toda a
minha força.
Curt se desequilibra e cai para trás, rolando a escada como um boneco
de pano.
Ouço um crack alto quando as costas dele se arrebentam com o
impacto no chão.
Caminho calmamente até o fim da escada e fico de pé sobre seu corpo,
enquanto ele olha para mim, implorando por misericórdia.
— Por favor...
Coloco minhas mãos em seu bolso e encontro a chave da coleira.
Consigo abri-la, deixando-a cair no chão.
Encaro seus olhos frios e cinzentos. Os olhos que vejo todos os dias
nos últimos dois anos enquanto ele fazia testes em mim.
Enquanto me torturava.
Os olhos que me mantiveram viva. Ah, se um dia eu os arrancasse da
cabeça dele.
Minhas garras se alongam da ponta dos dedos.
— Loba imunda. Vou te matar. Vou matar todos vocês, — ele
murmura, enquanto o sangue escorre de sua boca.
Cravo minhas garras em seu rosto e as arranco de volta em um
movimento rápido.
— Você não vai machucar mais ninguém, nunca mais — eu digo,
limpando seu sangue no fino trapo de um vestido que eu estou usando.
Eu sinto algo dentro de mim, mas não é a força da Deusa. Não, isto é
diferente...
Estou vendo tudo em vermelho. Minha mente está confusa. Estou
perdendo o controle.
A cada passo que subo as escadas, sinto cada vez mais uma raiva
desenfreada.
O que... o que está acontecendo comigo?
Eu não apenas abro a porta no topo das escadas.
... eu a arranco de suas dobradiças.
Desço por um corredor vazio e estéril até chegar a uma porta fechada.
A música de festa é estridente do outro lado, e posso ouvir vários
homens — pelo menos cinco — bêbados dançando e curtindo a vida.
Eu abro a porta com um chute e rosno, furiosa e feroz, pronta para
matar.
Os homens olham para mim, atordoados, enquanto meus olhos
cintilam de um caçador para o outro.
— Quem é o primeiro? — Eu rosno, exibindo minhas garras.
Um dos caçadores puxa uma arma de seu coldre, mas ele é lento
demais, e eu a derrubo de sua mão antes de rasgar sua carne com minhas
garras.
Sou duplamente atingida por dois deles em minhas costas, mas eu me
viro e rasgo seus pescoços.
Eles agarram suas gargantas enquanto o sangue escorre pelos dedos, e
desmoronam no chão ao lado de seu companheiro.
O quarto caçador pega uma faca de sua bota e me ataca, gritando. Ele
me apunhala no rosto e a lâmina parte minha pele, produzindo um
pequeno corte.
Enquanto o sangue escorre pelo meu rosto como uma lágrima
solitária, toco o local onde ele me cortou e sinto-o já se fechando.
Seus olhos se alargam com descrença. — Como... como fez isso?
Arranco a faca de sua mão e a mergulho em seu peito. Ele cai no chão,
com seus olhos ainda esbugalhados.
Eu quero parar e respirar fundo, mas meu corpo não me deixa. Estou
sob adrenalina pura... ou qualquer outra coisa, mas não me sinto no
controle.
Quando me viro para procurar a saída, vejo um jovem caçador
segurando uma arma. Sua mão está tremendo enquanto ele a aponta
diretamente para mim.
Porra. Cinco. Eu esqueci que eram cinco.
BANG!
Sinto uma bala de prata rasgar minha coxa, mas ela não sai do outro
lado, em vez disso permanece alojada na minha perna.
Sem hesitar, pego o jovem caçador e quebro seu pescoço, mas uma dor
ardente domina meu corpo enquanto me levanto.
Merda, como funciona essa coisa de cura? Essa é a pior dor que já senti em
toda a minha vida!
Ao olhar para a carnificina que causei à minha volta, não posso deixar
de me perguntar o que a Deusa pensaria. Ela me disse para fugir, não
para matar todos no prédio.
E por isso que minha cura não está funcionando agora?
Encontro uma lamparina e vou mancando em direção a uma escada
que leva a um alçapão, e subo, através de um túnel escuro.
Ao emergir, levanto minha lamparina para me encontrar no que
parece ser um velho celeiro.
Então eles estavam escondidos em uma instalação secreta no subsolo
durante todo este tempo. Não é à toa que nunca ninguém me tenha
encontrado...
Estou prestes a empurrar as enormes portas do celeiro e deixar este
buraco infernal para sempre quando vejo vários recipientes de querosene
no canto.
Não posso deixar este lugar ser usado para o mal novamente...
Eu despejo querosene em todo o celeiro e esmago a lamparina sobre
ele, criando um inferno instantâneo e furioso.
À medida que o fogo se espalha, eu me sinto triunfante, mas essa
sensação se transforma imediatamente em pavor quando vejo o fogo se
movendo em direção a algo coberto por uma lona no canto — uma
caminhonete.
Merda.
KA-BLA-AAAM!
Meus pés levantam do chão, e eu voo para trás através das portas do
celeiro, agora fragmentadas.
Eu caio de costas, e uma dor ardente percorre meu corpo. As estrelas
cintilantes no céu noturno começam a se transformar em pontos negros
borrados.
À medida que a fumaça avança na clareira e o cheiro do óleo
queimado me arrebata os sentidos, sinto-me cada vez mais longe.
ALEX
Duas horas.
É todo o tempo que tenho para arrumar minhas coisas e deixar para
trás meus amigos e minha família, para sempre.
Duas horas.
Felizmente, não tenho muitos pertences para empacotar.
Meu passado inteiro é composto por algumas caixas danificadas pela
água no porão.
Aparentemente, mamãe transformou meu antigo quarto em um
berçário para quando o bebê chegasse, meses atrás. A maioria das minhas
coisas foi jogada fora ou doada.
Ainda sinto como se tivesse sido cortada ao meio por Xavier,
quebrando nosso vínculo como pares.
Não é nem que eu tenha perdido alguma conexão profunda com ele;
estou triste pela perda do que poderíamos ter tido.
Sim, pares destinados são, bem, destinados, mas o vínculo entre pares
ainda leva tempo para crescer.
Era pra ser eu com Xavier. Era para ser eu tendo seus filhotes.
Mas, honestamente, é isso mesmo que eu quero?
Ser uma Luna e ter filhos nunca foi meu sonho. Eu quero ser uma
guerreira. Eu sempre quis.
É duvidoso que Xavier tivesse permitido que isso acontecesse. Ele é
um grande idiota. Natalia e Xavier se merecem.
Desisto de tentar encontrar algo útil em minhas caixas e caio no chão,
sentindo-me derrotada.
Como vim parar aqui? Depois de tudo que passei?
O destino é realmente uma reviravolta de merda.
Estou prestes a me tornar uma loba sem matilha — uma selvagem.
Não sei se consigo olhar para meus amigos e familiares. Não há nada
que eles possam fazer para me ajudar, com medo de que o Alfa os
castigue.
Estou realmente sozinha agora. Parece que até a Deusa me
abandonou. Achei que ela tinha um plano para mim, mas se for esse,
estou fodida.
Ouço os passos de meu pai descendo até a metade da escada e
espiando por cima do corrimão.
— Ariel, eu tenho algo para mostrar a você. Você pode me encontrar
na garagem?
O que será? Não aguento mais surpresas hoje.
Eu o sigo escada acima e entro na garagem, onde ele caminha até uma
lona no canto.
— Eu sei que as coisas não estão boas agora, mas eu tenho algo para te
dar. Você vai precisar mais do que eu de qualquer maneira, — ele diz,
puxando rapidamente a lona e deixando-a cair no chão.
Meu queixo cai quando vejo o que está por baixo.
A motocicleta do papai!
— Pai... eu não posso levar sua moto. Você trabalha nela desde que eu
era criança. É o seu orgulho e alegria! — Eu digo, ofegante.
— Não, pequena guerreira, você é meu orgulho e alegria. E você não
tem escolha. A moto é sua agora e pronto.
Eu corro para os braços de meu pai, as lágrimas manchando minhas
bochechas. — Eu vou sentir muito a sua falta.
— Eu também vou sentir sua falta, Ariel, mas não perca as esperanças.
Eu disse que não deixaria nenhum mal acontecer com você de novo e eu
falei sério.
— Depois de se despedir, me encontre na fronteira da matilha. — ele
diz, um tanto misterioso.
Com apenas alguns minutos restantes do meu tempo na matilha, Amy
me acompanha até a fronteira.
Ela trouxe uma mochila cheia de itens essenciais para mim. mas
duvido que vá durar muito.
— Não acredito que você realmente está indo embora, — ela diz,
fungando. — Você acabou de chegar.
— Pelo lado bom, eu acho que não aguentaria viver aqui com Natalia
como minha Luna, — eu digo, tentando aliviar um pouco o clima.
— Essa pode ser uma forma pior de tortura do que a que os caçadores
me fizeram passar.
Amy não acha graça. — Ariel, isso é sério. Você está prestes a se tornar
uma selvagem!
— Eu sei, estou tentando não pensar sobre isso, — eu respondo, um
nó se contorcendo no meu estômago enquanto nos aproximamos da
fronteira.
— Espere, o que é isso? — Eu pergunto quando vejo um grupo de
pessoas alinhadas.
— Guerreiros, fiquem atentos! — James grita quando eu me aproximo.
— Saudação!
Todos os membros do meu antigo esquadrão vieram se despedir de
mim. E todos eles me saúdam conforme eu passo por eles.
Meu coração dói com o quanto isso significa para mim.
Eu jogo meus braços em volta de James e luto contra minhas lágrimas.
Já chorei o suficiente hoje.
— Obrigada, James. Obrigada a todos vocês. Sentirei saudades.
— Não desista do seu sonho de se tornar uma guerreira, Ariel. Você é a
melhor lutadora que eu já vi, — James diz, colocando a mão no meu
ombro.
— Não há muita chance disso, agora que não tenho uma matilha, —
digo com tristeza.
— Talvez eu tenha algo a dizer sobre isso, — diz uma voz familiar
atrás de mim.
Eu me viro para ver Dominic, sorrindo de orelha a orelha. Ele está
parado ao lado de Steve e meu pai, que dirigiu minha motocicleta até a
fronteira.
— Dom? Steve? O que diabos vocês estão fazendo aqui? — Eu
pergunto, confusa.
— Levando você para casa, é claro, — diz Dom, como se fosse a coisa
mais óbvia do mundo.
— Casa? — Meu coração dispara.
Por favor, não deixe que isso seja outra brincadeira cruel.
— Sim, sua nova casa na Matilha Real, — Steve diz, radiante.
— O Alfa, Alex, pessoalmente concedeu sua cidadania. Seu pai nos
ligou assim que Xavier te aprisionou e as coisas começaram a dar errado.
Minha cabeça está girando. Isso está realmente acontecendo?
Eu não vou ser uma selvagem afinal...
Vou ser um membro da Matilha Real.
A jornada para a Matilha Real leva o dia todo, mas o tempo passa
rápido enquanto Steve conta suas velhas histórias de guerra e Dominic
conta histórias embaraçosas sobre ter crescido com Alex.
Eles colocaram minha moto e meus pertences na caminhonete de
Steve e todos nós viajamos juntos, mas parte de mim gostaria de ter
viajado sozinha.
Ainda é difícil encarar alguém depois do que aconteceu, mas a
companhia de Steve e Dom me distrai do fato de que fui banida da
minha própria matilha para sempre.
Pelo menos estarei a apenas um dia de viagem. Posso não conseguir
visitar minha família e amigos, mas eles ainda podem me visitar.
Terei que me ambientar a uma matilha totalmente nova, começar
meu treinamento de guerreira de novo, se ainda for aprovada, e terei que
fazer tudo sabendo que encontrei meu par destinado e ele me rejeitou.
Essa última parte ainda dói.
Muito.
Como você se recupera de um rompimento de vínculo com o seu par?
Algo me diz que minha capacidade de cura imprevisível não funcionará.
Conforme a caminhonete para na fronteira da Matilha Real, o palácio
se torna visível. É um pouco assustador sob a luz do luar, as altas torres
de arenito marrom e o enorme portão de ferro.
Apesar das dezenas de coisas pelas quais devo estar ansiosa agora,
estou mais nervosa em ver Alex novamente.
O que ele vai pensar de mim, agora que fui exilada por minha própria
matilha?
Será que ele está me acolhendo por pena? E se ele decidir que sou um
fardo e me banir também?
Quando meu coração dispara, sinto uma mão tocar suavemente meu
ombro.
— Apenas respire, Ariel. Vai ficar tudo bem, — Steve diz calmamente.
— Inspire e expire. Respire fundo.
Sigo as instruções de Steve e um sentimento de paz toma conta de
mim.
— Você está bem? — Dom pergunta com cautela, enquanto a
caminhonete para no portão.
— Sim, desculpe. Eu só... tenho ataques de pânico às vezes. É difícil
para mim confiar em pessoas novas. É difícil até confiar em mim mesma.
Devo parecer uma psicopata instável para esses dois, ainda que...
Ambos estejam olhando para mim com compreensão e compaixão.
— Eu entendo, — Dom diz, saindo da caminhonete e abrindo a porta
para mim. — Saiba que eu e Steve sempre estaremos com você.
— É verdade. Prometi a seu pai que cuidaria de você e pretendo
honrar essa promessa, — acrescenta Steve, dando-me um sorriso
reconfortante.
Eu aceno para os dois, grata por não estar completamente sozinha
nesta nova casa. Mas não é oficialmente minha casa. Ainda não.
— Quando acontece o ritual de aceitação? — Eu pergunto enquanto
passamos pelo portão.
Cada matilha tem sua própria versão do ritual de aceitação, onde um
membro externo deve jurar lealdade eterna ao Alfa e à matilha.
— Eu sei que é tarde, mas podemos fazer isso agora se você quiser —
Dom responde. — Alex queria te ver assim que chegássemos.
— Então vamos acabar com isso, — eu digo. — Estou pronta para
deixar o passado no passado.
— Só avisando... é um ritual meio intenso, — Dom diz.
— Intenso? Como assim? — Eu pergunto.
— E um juramento de sangue, — ele responde em um tom sério.
Um juramento de sangue? Em que diabos estou me metendo?
Enquanto estou diante de Alex, nós dois usamos vestes cerimoniais
brancas.
Estamos em uma capela ornamentada dedicada à Deusa da Lua, com
um teto alto em cúpula e uma arquitetura e decoração elaborada e
meticulosamente trabalhada.
Estou posicionada em um pedestal que fica logo abaixo de um teto
lunar no centro da cúpula. A maioria dos rituais ocorre sob o luar, uma
prática sagrada entre os lobos.
Alex me dá um sorriso reconfortante, mas isso é pouco para acalmar
meus nervos. Ele está segurando uma faca excepcionalmente grande.
Steve e Dom permanecem como testemunhas enquanto Alex se
aproxima de mim.
— Ariel Thomas, você jura sua lealdade e sua vida à Matilha Real, sob
a luz da Deusa? — ele pergunta enquanto pega minha mão.
Os dedos de Alex deslizam suavemente contra minha pele e eu sinto
um frio na barriga.
Era muito mais fácil estar perto dele quando eu pensava que ele era
apenas um plebeu, mas agora que sei que ele é um Rei...
Posso confiar nele? Esta é a decisão certa?
Eu olho nos olhos verde floresta de Alex e procuro por uma resposta.
Ele dá um leve aperto na minha mão enquanto me encara de volta.
— Sim, — eu respondo. — Eu juro minha lealdade eterna à Matilha
Real.
Eu estremeço quando Alex de repente corta a palma de minha mão
com a faca. O sangue pinga em meu manto branco imaculado.
A incisão ameaça trazer de volta memórias dos caçadores, mas eu as
empurro para o fundo da minha mente.
— Portanto, você é aceita nesta matilha. Este lugar agora é sua casa, —
diz ele, levando a faca para suas próprias mãos.
Quando estendemos a mão e colocamos uma contra a outra, nossos
sangues se misturam e eu sinto o vínculo da matilha se fechando.
Eu começo a me sentir tonta, minha visão turva e meu corpo
dormente.
Talvez seja a perda de sangue, ou talvez seja outra coisa, mas ouço
uma voz suave em meu ouvido.
— Ariel.
Eu conheço essa voz. Selene.
O que ela tem reservado para mim desta vez?
Sua voz sedosa é apenas um sussurro.
— Ariel, ouça com atenção. Você deve proteger Alex. Não importa o que
aconteça, você deve mantê-lo seguro.
Capítulo 8
O TOUR REAL
ARIEL
Dom: quem é?
Ariel: ué
Dom: blá
Dom: OU
O lobo de Dom olha para mim com medo em seus olhos enquanto eu
desabo no chão, praticamente em convulsão.
Meu corpo parece que está desligando e não tenho ideia do porquê ou
do que devo fazer.
Vamos, caramba! Se transforma!
Meu celular começa a tocar de novo.
As orelhas de Dom se levantam e percebo que ele já recebeu a
mensagem. Quando estamos totalmente na forma de lobo, podemos nos
comunicar por meio de ligações mentais.
Ainda dobrada de dor, consigo pegar meu celular.
ALERTA DA MATILHA
Houve uma invasão na fronteira.
ALERTA DA MATILHA
Todos os cidadãos da matilha devem buscar um local seguro
imediatamente.
ALERTA DA MATILHA
Selvagens estão na cidade.
Merda, isso não é bom. Estou completamente vulnerável. As pessoas
estão correndo por toda a feira, tentando chegar a algum lugar seguro,
mas o caos absoluto se instalou e eu não consigo nem me mover.
Quando uma multidão de membros assustados da matilha começa a
correr em minha direção, tenho certeza de que serei pisoteada, mas o
lobo de Dom pula na minha frente e me protege.
— Obrigada, Dom, — eu digo, agarrando seu pelo para me manter de
pé.
ARRR-ROOOO-OOO!
Uivos penetrantes ecoam pela feira.
Eles estão aqui.
Seis lobos de aparência sarnenta de repente cercam Dom e eu, sua
pele irregular e odor rançoso deixando claro que eles são selvagens.
Dom rosna e range os dentes para os selvagens, mas eles não se
intimidam. São seis contra um.
Três dos lobos dão o bote em Dom e começam a mordê-lo e arranhá-
lo, mas ele é o lobo maior. Ele bate com o corpo em um e acerta outro
com seus caninos. Ele está resistindo muito.
Dois dos outros lobos se separam para tentar dominar Dom,
enquanto o lobo restante se move em minha direção, balançando sua
língua escorrendo baba.
O lobo coloca suas patas pesadas em meu peito e sinto seu hálito
quente e úmido em meu rosto.
Convocando cada grama de minha força de vontade, consigo extrair
minhas garras de minhas unhas e as enterro na lateral do lobo.
Ele choraminga de dor, me dando a chance de começar a engatinhar
para longe, mas aquele breve momento de dor rapidamente se
transforma em raiva.
O lobo rosna exalando maldade e salta em minha direção pelo ar.
Tenho certeza de que sou uma mulher morta, até que...
Um enorme lobo marrom-dourado voa sobre mim e abocanha o
selvagem no ar.
O selvagem vira uma massa de pelos e sangue em questão de
segundos.
O lobo dourado se vira para mim, como se estivesse verificando que
estou bem, e volta para a batalha, derrubando os outros selvagens como
pinos de boliche.
Momentos depois, todo o esquadrão surgiu na feira.
Alguns gritos agudos perfuram o ar, seguidos de silêncio. Os selvagens
estão todos mortos.
Eu sinto o frio tomando conta e desabo no chão. Quando começo a
perder a consciência, o lobo dourado está sobre mim.
Sua forma começa a mudar e momentos depois, estou olhando para o
homem que me salvou...
— Alex... — Murmuro, antes de desmaiar.
Mais uma vez, acordei no hospital da matilha e, considerando que
Alex está sentado ao lado da minha cama, roncando, posso supor que ele
me trouxe aqui também.
Eu jogo um travesseiro nele e ele acorda.
— O quê? Os selvagens estão de volta? — ele diz freneticamente,
enquanto seus olhos percorrem a sala.
Tento abafar minha risada. — Tudo limpo, Alfa.
— Ah, você está acordada. Como você está se sentindo? — Ele
pergunta, sua atenção de repente totalmente em mim.
— Muito melhor, — eu respondo.
Tipo, tão melhor que é estranho. Apenas algumas horas atrás, parecia que
eu ia morrer.
— Você me assustou. Por que você não conseguiu se transformar? —
Alex pergunta, preocupado.
Eu estico meus dedos, apenas para testar minha transformação, e
minhas garras surgem com facilidade.
Que merda é essa? Tive que usar o máximo da minha força para puxar
minhas garras mais cedo, mesmo que ligeiramente.
— Na verdade, Alex, há coisas estranhas acontecendo com meu corpo
que nem eu entendo, — eu digo séria. — Eu gostaria de poder lhe dar
uma resposta melhor.
— Você acha que tem algo a ver com os caçadores? — ele pergunta
com cautela. — O que exatamente eles fizeram com você durante todo
esse tempo?
Meu coração desaba com a pergunta de Alex.
Já é ruim o suficiente eu ter meus próprios medos de que os caçadores
de alguma forma me transformaram em algum tipo de projeto de ciência,
mas a insinuação vinda de Alex é absolutamente devastadora.
— Eu... prefiro não falar sobre isso, — digo baixinho.
— Merda, eu sinto muito. Eu não queria te ofender. Você apenas
parece...
— Destruída? — Eu digo, incapaz de mascarar a insegurança em
minha voz. — Porque é assim que me sinto. Como se eu fosse apenas
uma sombra de quem eu costumava ser. Como se eu não estivesse no
controle do meu próprio corpo.
Lágrimas brotam dos meus olhos e não consigo evitar que escorram
pelo meu rosto.
— Ariel, eles não destruíram você. Você está aqui. Você sobreviveu a
tudo que eles fizeram com você, — Alex diz, segurando minha mão. —
Acho que você é a pessoa mais forte que já conheci.
— Eu estava completamente impotente na feira quando os selvagens
atacaram. Se você não estivesse lá...
Alex se senta na beira da minha cama e sinto seu corpo pressionar o
meu enquanto ele coloca o braço em volta de mim.
— O que quer que esteja acontecendo com você, vamos resolver
juntos, — diz ele. — Não sou apenas o seu Alfa... sou seu amigo.
Encontro-me encostada no peito de Alex e sinto seus dedos em meu
cabelo. Apesar de ele ter apenas usado a palavra amigo, esse momento
parece estranhamente íntimo.
Não sei por que, mas me sinto atraída por Alex, como se tivéssemos
algum tipo de conexão.
Sinto-me segura em seus braços, mas também quero protegê-lo.
— Alex, eu... eu sinto que...
Uma batida na porta me interrompe, e Alex rapidamente se levanta
quando o médico entra.
— Alfa Alex, se estiver tudo bem, gostaria de fazer alguns exames de
sangue, — diz ele.
— Claro, doutor. Vou deixar você fazer seu trabalho. — Alex se vira
para mim e me dá um sorriso afetuoso. — Espero que você se sinta
melhor logo, Ariel.
ALEX
Ariel: Mas Steve e Louisa têm sido incríveis Pai: Eu sei, eu ligo
para eles diariamente pedindo atualizações Ariel: PAI!
Pai: Mas eu tenho que saber que minha garotinha está segura
Ariel: Eu preciso de um conselho...
Ariel: E mesmo que eu sinta que somos amigos Ariel: Não fui
totalmente honesta com ele Ariel: Não sei se posso confiar nele
Pai: Acho que não dá pra construir uma amizade verdadeira com
alguém...
Pai: Essa pessoa lhe deu um motivo para não confiar nela?
Dom: ele não tão sutilmente me pediu para convidar você Dom:
então...
Alex: Eu sei que você não quer falar comigo e entendo Alex: Mas
preciso falar com você
Alex: Você sabe que odeio quando você me chama assim Eu sabia
disso. Mas também não posso fingir que o que ele disse não me
machucou. Se ele quer que eu conheça seus pais, tudo bem, mas isso será
estritamente relacionado à matilha.
Quando apareço no palácio, rapidamente volto a ficar com os nervos à
flor da pele.
Eu sei que conhecer os pais de Alex é uma tradição normal da matilha
para um novo membro. Eles ainda detêm alguma autoridade na matilha,
embora o manto de Alfa tenha sido passado para Alex.
Mas sou uma estranha que Alex impulsivamente convidou para entrar
na matilha enquanto eles estavam fora. E se eles não acharem que sou
boa o suficiente para a Matilha Real?
Vou até a sala de reuniões, onde encontro Alex esperando por mim do
lado de fora. Ele não perde um segundo em me encurralar antes que eu
possa passar por ele e entrar na sala.
— Ariel, precisamos conversar, — ele diz com urgência.
— Alex, você prometeu que isso era relacionado à matilha, — eu digo
com raiva. — Deixe-me passar!
— Não, não até você me ouvir! — Ele grita.
— Eu já ouvi tudo. Eu ouvi quando você disse que eu era uma perda de
tempo. Eu ouvi quando você disse que me convidou por pena, — eu grito
de volta, minhas emoções começando a tomar o controle.
As mãos de Alex de repente estão segurando levemente meus ombros
e seu rosto está a apenas alguns centímetros do meu. Seus olhos estão
cheios de dor quando ele olha para mim.
— Ariel, você não entende. Eu nunca quis te machucar. Eu só disse
essas coisas para fazer com que Dom saísse do meu pé.
— O quê? O que você quer dizer? — Eu pergunto enquanto meu
coração começa a acelerar.
— Quando me senti cada vez mais próximo de você, fiquei com medo.
Aterrorizado, na verdade, — Alex diz com sinceridade. — Dom estava me
provocando e eu... eu não queria admitir como estava me sentindo.
Porque isso tornaria tudo... real.
— Mas você está admitindo agora, — eu digo, e agora quem está
começando a ficar aterrorizada sou eu.
— Eu... acho que estou, — diz Alex, com um sorriso genuíno se
formando em seus lábios.
Seu toque se torna menos urgente e mais terno. Seus olhos verdes
secam meu corpo como se ele tivesse uma sede insaciável.
Eu sinto minha loba ficando inquieta enquanto seu corpo pressiona
contra mim. Ele inclina seus lábios em direção aos meus.
Minha Deusa. Ele vai...
As portas da sala de reunião se abriram de repente e uma mulher alta,
de aparência majestosa, com cabelos negros e um vestido roxo longo,
exalando realeza deslizou para fora tão graciosamente que eu juro que
seus pés nem sequer tocam o chão.
— Alex, por que está demorando tanto...
A mulher para quando me vê, as mãos de Alex ainda coladas em meus
ombros.
Ele rapidamente se afasta, mas esta mulher já percebeu algo e não
gostou, dada a expressão amarga em seu rosto.
— Ariel, conheça minha mãe, Maria, — Alex diz, desajeitado, dando
um passo para o lado.
— Prazer em conhecê-la, — Maria diz com todo o calor de uma
nevasca.
— Ariel é nosso mais novo membro da matilha. Ela está treinando
para ser uma guerreira. Ela é uma das lobas mais fortes que já conheci, —
Alex diz, provavelmente exagerando um pouco.
Ele parece estranhamente nervoso.
— Ah, bem... masculino, — Maria diz, enquanto me avalia. — Parece
mesmo que seria uma guerreira robusta.
Esta mulher está me insultando? Ela literalmente acabou de me conhecer.
— É uma honra treinar com a Matilha Real, — digo, tentando quebrar
o gelo. — Eu vim da Lua Crescente.
— Ah, querida Emily, não é? Eu acho que sei tudo que preciso saber,
— ela diz com uma doçura forçada, enquanto alterna olhares entre mim
e Alex.
— Ariel, — eu respondo de forma concisa, sentindo a vingança em seu
olhar.
— Sim, bem, passamos para um novo tópico de discussão, — diz
Maria com um sorriso de desdém.
— E o que seria? — Alex pergunta, cruzando os braços.
— Você tem se afundado em seus sentimentos há algum tempo, Alex,
— Maria diz sem rodeios.
— E embora um período de luto seja esperado, — ela continua, —
você é o Alfa e o Rei. Você tem uma matilha para comandar. E você não
pode fazer isso sozinho.
Esta pode ser a mulher mais intimidadora que já conheci na minha
vida.
— O que quer dizer, mãe? — Alex pergunta, uma sensação de pavor
surgindo em seu rosto.
Maria olha diretamente para mim enquanto pronuncia sua próxima
palavra, seu sorriso falso agora totalmente rancoroso.
— Ora, vamos encontrar um novo par para você, é claro. Um que seja
digno de estar com um Rei.
Capítulo 12
O PODER DO DOM
ARIEL
Ao olhar para a jovem em uma poça de seu próprio sangue, com seu
estômago despedaçado, sinto que estou perdendo o controle e não
consigo me conter.
Eu não quero me conter.
Minha loba assume o controle e me força para o fundo da minha
mente.
Um dos selvagens vem em direção à minha garganta, mas eu me
esquivo e levo a mordida em meu ombro direito.
Eu nem sinto dor. Tudo o que sinto é raiva.
Quando um lobo loiro sujo me golpeia e me joga no chão, eu caio de
quatro, mas não estou me transformando. Minha loba está controlando
meu corpo humano.
Eu ataco e imobilizo o selvagem, rasgando sua garganta enquanto ele
tenta lutar embaixo de mim.
Volto minha atenção para um lobo marrom, cortando minhas garras
em seus olhos enquanto ele se lança contra mim.
Em questão de segundos, dou uma mordida fatal em seu pescoço.
Dois já foram e falta um.
Eu cuspo o sangue nojento da minha boca e olho para o último
selvagem restante. O idiota está tremendo enquanto eu rosno para ele.
Ele se vira e corre em direção à fronteira com o rabo entre as pernas,
mas não vou deixá-lo escapar.
Eu disse que mataria todos vocês.
Eu facilmente o alcanço e pulo em suas costas, afundando meus
dentes em sua nuca. Suas patas se dobram e ele cai no chão em um
baque.
Eu o círculo, desafiando-o a se levantar. Estou gostando disso.
Eu me lanço contra ele e o prendo no chão antes que possa se
levantar, e mordo mais profundamente seu ombro até sentir o osso
contra meus dentes.
Com um puxão forte, quebro seu ombro antes de quebrar seu pescoço
e deixar seu corpo inerte no chão.
Eu cheiro a sangue de selvagem, minhas roupas e minha pele humana
estão cobertas com o sangue espesso e asqueroso.
Mas minha loba está finalmente satisfeita. Eu recupero o controle do
meu corpo.
Minhas mãos tremem quando olho para o sangue que as cobre.
O q-que eu fiz?
Talvez os caçadores realmente tenham me transformado em um
monstro...
Um leve gemido chama minha atenção para o centro da clareira da
floresta.
A garotinha — ela ainda está viva!
Corro em sua direção e caio de joelhos.
Enquanto seguro seu pequeno pulso, posso sentir um batimento
cardíaco fraco, mas se eu não fizer algo rápido, ela morrerá.
Seus ferimentos são quase cruéis demais para olhar, mas me forço a
examiná-los.
Seu estômago está completamente aberto. Pressionar nem mesmo é
uma opção. O sangramento não vai parar.
Selene, o que eu faço? Por favor me diga!
Nada além de silêncio.
— Deusa, por que você está sempre quieta quando eu mais preciso de
você? — Eu grito. — Você me disse para usar meu dom! Como diabos eu
uso isso?
Eu sinto a picada da ferida em meu próprio ombro quando ela começa
a se fechar.
Não, eu não quero me curar! Eu quero curar a criança!
Respirando fundo, coloco minhas mãos sobre a garota.
— Deusa, eu não me importo com o que pode acontecer comigo! Em
vez disso, por favor, cure esta criança!
De repente, sinto uma dor aguda no ombro quando a ferida começa
não apenas a aumentar, mas a infeccionar.
E como se meu ombro estivesse apodrecendo.
Eu grito de dor e continuo segurando a garota, enquanto sua
frequência cardíaca começa a se estabilizar e suas feridas começam a se
fechar milagrosamente.
Conforme eu caio no chão, pontos negros dançam diante dos meus
olhos.
A menina se levanta lentamente, parecendo atordoada, mas
completamente curada.
Ela se ajoelha ao meu lado e segura minha mão enquanto sinto minha
consciência desvanecer.
Eu consigo resmungar um último pedido.
— P-por favor... não conte a ninguém... sobre... meu dom.
ALEX
Dom: alex!
Ariel: Ou como ele se sente quanto a isso Ariel: Não nos falamos
desde que aconteceu Amy: sim, eu entendo, vocês dois passaram
por MUITA coisa Amy: mas não fique aí parada esperando que ele
venha até você Amy: você é uma guerreira pelo amor da Deusa
Amy: confronte aquele alfa esquivo e descubra como ele se sente
Ariel: É, você está certa
Amy: bem, você sabe que estou aqui para ajudá-la sempre que
precisar O beijo inesperado de Alex.
Ariel: Mas acho que uma ordem é uma ordem Ariel: Te encontro
no portão
Quando chego ao portão, fico surpreso ao ver Ariel montada em sua
motocicleta.
— Eu ia mandar um carro nos levar, — digo, olhando para a moto com
incerteza. — Ou talvez devêssemos apenas caminhar?
— Não, suba, — diz ela, sorrindo. — Você me pediu para levá-lo para a
cidade, eu vou levá-lo para a cidade.
Ao subir relutantemente na moto com Ariel, me sinto um pouco
fragilizado.
Mas essa sensação desaparece rapidamente quando ela liga o motor e
eu agarro seus quadris.
Eu poderia facilmente me acostumar com isso.
A viagem até a cidade é decepcionantemente curta.
Tenho que ajustar discretamente minhas calças enquanto Ariel desliga
o motor e eu pulo da moto.
A combinação do motor roncando e os quadris macios de Ariel me
deu muito tesão.
— Ok, eu fico de guarda enquanto você pega a sua roupa lavada a
seco, — Ariel diz sarcasticamente enquanto bate o pé.
— Nós dois sabemos que não foi por isso que pedi para você vir
comigo, — digo, olhando para ela. — Você não respondia nenhuma das
minhas mensagens. Precisamos conversar sobre o que aconteceu.
Os olhos de Ariel mudam para o chão desconfortavelmente. Merda,
talvez eu tenha ido longe demais.
— Ariel, eu devo me desculpar se você sentiu qualquer tipo de pressão
ou se eu te fiz sentir...
— Alex, não é isso. Eu também me deixei levar, — ela responde, seus
olhos de girassol murchando um pouco enquanto ela olha para mim com
tristeza.
— Então, o que aconteceu? Por que você saiu correndo? — Eu
pergunto.
— Eu só... não estou em um bom momento agora. Se você está
realmente pronto para superar seu passado, isso é ótimo e você merece
alguém que possa fazer você se sentir completo novamente.
Ela continua. — Mas depois dos caçadores, e tudo com minha antiga
matilha, eu sinto que estou quebrada em um milhão de pedaços. Não sei
se algum dia vou me recuperar do meu passado.
Dou um passo à frente para confortar Ariel, mas seu celular vibra e ela
verifica suas mensagens.
Inicialmente, ela sorri, mas quase instantaneamente, as lágrimas
brotam de seus olhos e ela o guarda.
— Ariel, o que há de errado?
Ela pula abruptamente em sua moto e acelera o motor.
— Ariel. onde você está...
— Me desculpe por continuar fugindo, Alex. Mas eu realmente
preciso ficar sozinha, — diz ela, logo antes de sair correndo, deixando
uma nuvem de poeira em seu rastro.
Ah, Ariel... Eu gostaria de poder ajudar você a se curar, do jeito que você
ajuda a curar os outros. Você nem sabe o quanto me ajudou.
ARIEL
Não sei por que estou tão vulnerável com Alex, mas enquanto conto
todos os meus medos e dúvidas a ele, sinto que ele realmente entende o
que estou passando.
Enquanto ele dá um passo à frente e estende a mão, anseio que ele me
segure do jeito que ele fez na outra noite, mas...
Bzzzzz-Bzzzzz.
Pego meu celular e sorrio quando vejo uma mensagem do meu pai.
Pai: ARIEL ÓTIMAS NOTÍCIAS!!!
Alex: Ariel...
Ariel: Devíamos falar sobre isso mais tarde, Alex Ariel: Temos
muito trabalho a fazer aqui
Não estou tentando intencionalmente dispensar Alex. Honestamente,
quero passar toda esta noite com ele.
O beijo roubado de Alex na noite passada foi incrível.
Sempre que nossos lábios se conectam, é como se o mundo inteiro
florescesse em cores. Toda a escuridão do meu passado simplesmente
desaparece.
Meu desejo é encontrá-lo agora, contar tudo que estou pensando,
beijá-lo de novo e de novo e de novo...
Mas se a mãe dele me ver longe do meu posto — ou pior, perto dele —
ela vai me expulsar antes que eu possa dizer uma única palavra.
Há outro fator que me faz hesitar em me aproximar de Alex: por
trás de seus olhos verdes deslumbrantes, também posso ver a dor.
Ele ainda não esqueceu seu falecido par.
Eu ainda estou lutando com os demônios do meu passado também.
Seríamos capazes de nos curar e seguir em frente... juntos?
Ou devo me concentrar em me consertar antes de me envolver em um
relacionamento?
Eu fico ao lado de Dom e Lyle enquanto a Matilha Pedra Azul se
aproxima do portão da fronteira.
Alex chega para cumprimentá-los, a primeira matilha a chegar para o
fim de semana de acasalamento.
— Alfa Tyler, é tão bom vê-lo de novo, — Alex diz, apertando a mão de
um homem alto, mas nada imponente, em vestes cor de safira.
— Igualmente, Alex. Acho que não vejo você desde seu casam... — Alfa
Tyler rapidamente se interrompe quando percebe o que está prestes a
dizer.
Ele tropeça em algumas palavras antes de encontrar algo para dizer.
— Uh. este fim de semana de acasalamento é uma ideia inspiradora.
Estou ansioso para as festividades, — diz ele sem jeito enquanto passa
pelo portão.
Eu nem pensei sobre isso, mas a maioria dos Alfas de matilhas
próximas provavelmente estavam no casamento de Alex.
Isso vai trazer muitas lembranças dolorosas para ele.
Eu observo o resto da matilha enquanto eles entram. É uma matilha
pequena, com menos de trinta membros, a maioria deles mulheres.
Dom esbarra em mim de repente quando seus olhos brilham e ele
começa a cheirar o ar.
— Ei, cuidado! — Eu grito, mas ele está me ignorando
completamente.
— Eu... sinto o cheiro de flores silvestres, mas... onde ela está? Eu não
a vejo! — Dom diz em frustração.
— Pare com isso, Dom. Isso é engraçado quando somos só nós, mas
agora temos convidados e estamos trabalhando, — digo, repreendendo-
o.
Quando Dom começa a empurrar apressadamente a multidão de
pessoas que entra pelos portões, eu rapidamente percebo...
Ele não está brincando.
— Dom, o que diabos você está fazendo? — Alex pergunta, também
notando o comportamento estranho de Dom.
Quando a multidão começa a diminuir e se dispersar, restam apenas
duas pessoas, fixadas nos olhos uma da outra como se não houvesse mais
ninguém no mundo.
Dom encontrou seu par destinado.
— Qual o seu nome? — Dom pergunta enquanto pega a mão da bela e
pequena mulher loira na frente dele.
Seu cabelo ralo é forrado com delicadas flores brancas e seu vestido é
longo e sedoso.
— Meu... meu nome é Helena, — ela diz timidamente.
— Eu sou Dominic, Beta da Matilha Real e... e seu par, — ele diz,
sorrindo de orelha a orelha.
— O primeiro encontro de pares do festival! — Alex grita de repente,
rugindo sobre a multidão. — O primeiro encontro é de meu Beta, Dom, e
ainda nem começamos!
Aplausos e risadas emanam da multidão e eu me junto a ela. Estou
muito feliz por Dom.
Várias horas se passam enquanto mais e mais matilhas passam pelos
portões e Alex continua a cumprimentar a todos.
A equipe de segurança está apenas comigo e Lyle, já que Dom
desapareceu com seu novo par, o que já era esperado.
— Quem falta? — Eu pergunto, bocejando. — Não deve faltar muita
gente.
— Apenas a Matilha da Lua de Sangue, — Lyle responde, checando
suas anotações.
— Bom, essa é pequena. Eles são conhecidos por ter alguns dos
guerreiros mais ferozes de todas as matilhas, — eu digo com admiração.
Eu jogo meu braço em volta do ombro de Lyle. — Bem, é só você e eu
protegendo o forte, campeão. Dom nos trocou por uma loira bonita.
Lyle ri. — Aquele idiota faz de tudo para sair do trabalho. Até mesmo
encontrar um par.
— Tire suas mãos SUJAS de cima dele, sua assanhada!
Um rosnado feroz rasga nossa risada quando uma loba de aparência
imponente caminha em nossa direção.
Ela está usando um conjunto completo de armadura de guerreira e
seu cabelo curto e cortado emoldura bem seu rosto angular... mas a
expressão naquele rosto é assustadora.
— Ele é MEU, — ela diz, rugindo. — Meu nome é Valeria, Beta da
Matilha da Lua de Sangue, e não vou tolerar essa infidelidade!
Percebo que Lyle de repente ficou rígido enquanto olha diretamente
para a mulher. — Meu par, — ele diz em uma voz baixa e aterrorizada.
O olhar de Valeria muda abruptamente para mim e minha loba
começa a se mexer.
Merda, ela acha que estou a fim do par dela.
— Espere, isso tudo é um mal-enten... — A mão de Valeria envolve
meu pescoço e ela começa a me sufocar. Posso ver Alex à distância,
correndo em nossa direção.
— Não há nada acontecendo entre nós! Por favor, solte-a! — Lyle diz,
implorando para que seu novo par não esmague minha traqueia.
Consigo encaixar meu pé entre as pernas de Valéria e faço um
movimento de torção, deixando-a cair no chão.
Ela perde o controle e agora estou em cima dela, prendendo-a.
— Escuta! — Eu grito na cara dela. — Eu sei o que é sentir que alguém
está ameaçando o vínculo com seu par, mas acredite em mim, não é isso
que está acontecendo aqui.
Alex dá um passo para o lado quando vê que tenho tudo sob controle.
Valeria olha para mim e lança um sorriso verdadeiro.
— Você é um oponente formidável, — ela diz, enquanto eu me levanto
e a ajudo a se levantar. — Ninguém me derruba assim. Estou
impressionada.
— Sim, bem, eu entendo que você estava apenas reivindicando seu
par, — eu digo, um pouco nervosa pela mudança repentina de
personalidade desta mulher.
— Você é amiga do meu par? — ela pergunta.
— Sim? — Eu digo hesitante, esperando que essa seja a resposta certa.
Restam apenas nós e alguns outros guardas agora, a cerimônia de
entrada foi oficialmente encerrada. É bom finalmente ter um momento a
sós com Alex.
— Como você está? Deve ser exaustivo, — eu digo, esfregando suas
costas.
— Honestamente. Ariel, não sei como vou conseguir chegar ao fim
deste festival ridículo, — diz ele, suspirando. — Pelo menos eu tenho
você aqui.
Eu coro enquanto ele afasta afetuosamente alguns fios de cabelo do
meu rosto.
— Sabe, eu estava meio desconfiada, mas agora não acho que seja uma
ideia tão ruim, — digo, virando-me e encarando Alex.
Ele me lança um olhar perplexo, então explico.
— Seu melhor amigo encontrou seu par. Vários de nossos outros
amigos também encontraram os deles. E tenho certeza de que muitas
pessoas que não encontram seus pares destinados ainda farão uma
conexão com alguém.
— Até eu? — Alex pergunta, levantando as sobrancelhas e colocando
as mãos nos meus ombros.
— Acho que tudo é possível, — digo, dando-lhe um sorriso malicioso.
À medida que o rosto de Alex se aproxima, sinto meu coração palpitar.
— E se eu já tiver feito uma conexão com alguém? — ele pergunta. —
Devo apenas dizer ‘que se dane' para todo este festival e passar um tempo
com ela em vez disso?
Ainda tenho minhas dúvidas sobre Alex estar pronto, mas, neste
momento, sinto que o desejo tanto tanto.
Eu olho em seus lindos olhos verdes e faço beicinho com meus lábios,
inclinando-me. — Eu acho que parece ótimo...
Os olhos de Alex de repente se arregalam e sua mandíbula afrouxa.
Ele não está mais olhando para mim, mas sim olhando atrás de mim.
Seu rosto está pálido, como se ele tivesse visto um fantasma.
— Minha Deusa, — diz ele, com a voz trêmula.
Eu me viro para ver uma garota sozinha passando pelos portões.
Ela tem cabelo loiro mel e olhos roxos brilhantes, com um rosto
rosado perfeito em formato de coração.
Ela é absolutamente deslumbrante, mas eu sei que não é por isso que
os olhos de Alex estão fixos nela.
Eu vi o retrato no hall...
Esta convidada misteriosa e atrasada se parece exatamente com o
falecido par de Alex, Olivia.
Capítulo 17
O BEIJO ROUBADO
ARIEL
Se eu não tinha certeza sobre Alex ter superado seu antigo par antes,
imagine agora.
A expressão em seu rosto me diz tudo que preciso saber.
Ele está completamente cativado por essa garota — mas não por sua
beleza — não, por sua estranha semelhança com Olivia.
— Alex, você está bem? — Eu pergunto, mas ele nem mesmo me
reconhece. Ele está fascinado.
A garota se aproxima de nós lentamente, dando a Alex um sorriso
doce e açucarado.
— Desculpe pelo atraso, — ela diz, jogando seu cabelo loiro por cima
do ombro.
Seus impressionantes olhos roxos se voltam para mim, me avaliando,
mas apenas por um momento antes que ela volte seu olhar para Alex. —
Meu nome é Lola.
Alex parece surpreso, mas consegue encontrar suas palavras. — Eu
sou... Alex... Rei Alex.
— Ah, Vossa Majestade! É uma honra, — diz ela, fazendo uma
reverência perfeita.
— De que matilha você é? — Eu pergunto, provavelmente um pouco
na defensiva.
— Matilha Espinho de Rosa, — ela responde com um leve sotaque. Ela
tinha aquele sotaque antes?
— Você é de uma matilha real? — Alex pergunta, surpreso.
— Sim, meu pai é o terceiro na fila para ser o Alfa, — diz ela. —
Vivemos em um palácio muito parecido com este.
Já ouvi falar da Matilha Espinho de Rosa, mas não sei muito sobre ela,
em parte porque está bem longe daqui.
— Isso nem fica no nosso continente, — eu deixo escapar. — Como
você ficou sabendo sobre este evento?
— Um amigo da Matilha da Força me enviou um convite, já que ainda
não tenho um par, — ela responde, piscando os cílios para Alex. — Na
verdade, estou muito cansada da viagem...
— Claro, você deve estar exausta, — diz Alex, pegando a mão dela e
levando-a em direção ao portão.
Por que de repente ele está se preocupando com ela? Parecida ou não, ela
ainda é uma estranha.
— Você veio até aqui sozinha? — Eu pergunto desconfiado. — Eu
esperaria que um membro da família real tivesse uma escolta real
acompanhante.
— Fui escoltada até a Matilha da Força e viajei de lá sozinha, — ela
responde, com uma pontada de aborrecimento na voz. — Meu pai não
sabe que eu escapei para um fim de semana de acasalamento.
— Perdoe minha amiga aqui, — diz Alex, sua mão agora na parte
inferior das costas de Lola. — Ela é nossa chefe de segurança do festival,
então é seu trabalho fazer perguntas.
Ah, então sou apenas sua amiga agora?
— Ah. você não vai participar do evento? Que pena, — diz Lola,
embora a expressão em seu rosto me faça pensar que ela está muito feliz
por eu não ser sua concorrente.
— Alguém tem que proteger nós, garotas, desses horríveis selvagens,
— diz ela, agarrando-se ao braço de Alex.
E alguém tem que proteger Alex de lobas interesseiras.
— Você deve estar cansada. Por que não te acompanho até o seu
quarto? — Eu digo, na esperança de tirá-la da minha frente.
— Ou se você preferir, o palácio está prestes a iniciar uma festa, —
Alex interrompe, arruinando meu plano.
— Ah, parece ótimo, adoraria um coquetel! — Lola diz, rindo. — E
talvez você possa me contar mais sobre a Matilha Real.
Enquanto Alex caminha à frente com Lola, completamente fascinado
por seus encantos, fico feliz por estarmos indo para um evento com
coquetéis.
Eu poderia tomar uma bebida forte... ou dez.
Alex quase não saiu de perto de Lola durante todo o evento.
Até Maria parece amá-la enquanto brindam seus martinis juntas e
riem de alguma piada que provavelmente só a realeza entenderia.
Estou me sentindo particularmente amarga no momento, e não é
nem porque estou bebendo um vinho tinto barato.
Algo sobre essa garota parece... estranho. Não consigo definir o que é,
mas vou descobrir.
Felizmente, vejo um assento vago na mesa de Dom. Eu me pergunto o
que ele pensa desta intrusa.
— Eu simplesmente não consigo tirar isso da cabeça, — Dom diz
enquanto eu me aproximo. — Ela é quase exatamente igual à Olivia. Até
os olhos roxos.
— Olhos roxos são muito raros, não são? — O par de Dom, Helena,
pergunta.
— Extremamente raros, — digo, sem tirar os olhos de Lola.
— Ah, Ari! Conheça meu par, Helena! — Dom diz entusiasmado.
— Oi! — ela diz com um pequeno grito. — Minha Deusa, você é a
guerreira mais linda que eu já vi. Você tem uma beleza natural!
Ok, oficialmente gosto de Helena.
— Obrigada, adoro o seu estilo. E tão chique, — eu digo, admirando
sua roupa e me permitindo parar de pensar em Lola e Alex por um
momento. — Você e Dom parecem estar se dando muito bem.
— Eu não posso acreditar que a Deusa me enviou esta joia, — Dom
diz, balançando a cabeça em descrença.
— Bem, é melhor você tratá-la como uma joia preciosa mesmo, ou
essa guerreira aqui acaba com você, — digo, dando um soco leve em seu
braço.
Helena ri e me dá um sorriso amigável.
Quando meu olhar retorna para Alex, fico surpresa ao ver que ele está
olhando diretamente para mim. Seus olhos parecem perdidos e eu
entendo a sensação.
É
É apenas um breve momento, mas parece uma eternidade, e a
distância entre nós neste salão de jantar parece gigantesca.
Deusa, eu só rezo para que possamos encontrar nosso caminho de volta
juntos...
Estou me sentindo extremamente mal no dia seguinte, tanto pelo
comportamento distante de Alex quanto por ter tomado coquetéis
demais.
Eu me pergunto se essa habilidade de cura pode curar uma ressaca...
Hoje, todo mundo deve se juntar a outra pessoa para um piquenique
juntos, o que significa que a equipe de segurança terá muito trabalho.
A floresta separa a matilha da fronteira e é exatamente onde a maioria
dos casais escolherá fazer um piquenique romântico e isolado.
Já estou me sentindo enjoada, mas meu estômago começa a se agitar
ainda mais quando vejo Maria caminhando de braços dados com Lola.
Isso só pode significar...
Claro, Alex não está muito atrás, carregando uma cesta de piquenique
completa.
Eu sei que ele precisa escolher alguém para este evento, mas por que
justo ela?
Lola não me irrita apenas porque está disputando a atenção de Alex,
há algo nela que parece falso — como se ela estivesse fingindo, tentando
ser quem ela pensa que Alex quer que ela seja.
Percebo Alex olhar em minha direção, mas minha visão é
repentinamente obscurecida por uma banshee gritando.
— ARIIIIIIIIIIIIIEEELLL!
Um par de braços esguios envolve meu pescoço, enquanto minha
melhor amiga Amy pula em mim de repente.
— Minha Deusa, Amy! O que diabos você está fazendo aqui? — Eu
pergunto, abraçando-a de volta.
— Estou aqui para o fim de semana de acasalamento! E para ver
minha vadia favorita, dã, — ela diz, levantando os punhos.
— Xavier foi um verdadeiro babaca e não queria me deixar vir, — ela
continua, — mas James ajudou a convencê-lo. Além disso, me ofereci
para ser babá de seu filho.
Ela dá um passo para trás e me olha de cima a baixo.
— Uau, armadura legal. Você com certeza vai conquistar todos os
garotos vestida assim, — ela diz sarcasticamente.
— Estou trabalhando, — digo, suspirando. — O fim de semana
inteiro.
— Ugh, que chato, — ela responde. — Eu esperava partir alguns
corações com você neste fim de semana.
Quando olho para o chão, lágrimas brotam de meus olhos. Amy
imediatamente diminui sua energia e dá um aperto reconfortante em
minha mão.
— Se eu não soubesse, diria que é o seu coração que está partido, —
Amy diz, levantando meu queixo. — Vamos, garota, me diga o que está
acontecendo. É o Alex?
Eu aceno, enxugando minhas lágrimas. — Droga, eu não quero
chorar.
— É normal ter emoções, Ari.
— Eu sei, é que... Amy, fui torturada por caçadores e isso de alguma
forma parece pior.
Amy suspira e coloca o braço em volta de mim. — Isso se chama amor,
Ari.
Amor!?
— Você disse um monte de coisas malucas ao longo dos anos, Amy,
mas isso provavelmente supera todas elas. Eu não estou apaixonada por
ele. Eu só... gosto dele... muito.
Ela me lança um olhar cético, mas seus olhos deslizam rapidamente
para um homem musculoso que está verificando seu reflexo em uma faca
de manteiga.
Exatamente o tipo de Amy.
— Ok, vamos continuar essa conversa mais tarde, mas agora eu
preciso dessa linda cabeça de alfinete para me levar para um piquenique,
— diz ela, enquanto corre para ele. — Isso não termina aqui!
Eu começo a rir, mas meu sorriso desaparece do meu rosto quando
me viro e Maria está a apenas alguns centímetros de mim.
Deusa, há quanto tempo ela está aí?
— Olá, Ariel, querida, — diz ela com seu tom condescendente. — Você
parece tão afiada nessa armadura.
Sim, minha espada também é afiada, vadia.
— Posso te ajudar com alguma coisa? — Eu pergunto com os dentes
cerrados.
— Sim, bem... provavelmente não é nada, mas... eu ouvi alguém
falando que farejaram alguns cheiros estranhos vindos da fronteira oeste,
— ela diz, franzindo as sobrancelhas como se estivesse preocupada.
— A fronteira oeste é tão isolada, — ela continua, — Eu me preocupo
que se um casal fosse lá e selvagens atacassem...
Por mais irritante que seja Maria vir até mim com isso, não posso
ignorar. Isso parece um risco de segurança genuíno.
— Tudo bem, vou dar uma olhada, — digo.
— Esplêndido, — ela responde enquanto seus lábios se curvam em um
sorriso.
Estou bem no meio da floresta e até agora não farejei nenhum cheiro
estranho. Nem vi nenhum casal fazendo piqueniques por aqui.
Maria provavelmente está apenas brincando comigo. Eu deveria ter
notado.
À medida que vou um pouco mais longe, meu nariz de repente sente
um cheiro, mas não é um cheiro estranho — mas familiar.
Eu empurro alguns arbustos e me encontro na beira de uma clareira e
no meio dessa clareira está Alex, em seu piquenique com Lola.
Eles estão deitados no chão e rindo, aconchegados demais para o meu
gosto.
Na verdade, não quero ver isso, mas por algum motivo, não consigo
desviar o olhar.
Alex está de costas para mim, mas Lola para de rir quando me vê
olhando para eles.
Merda, ela vai me entregar e me fazer passar vergonha?
Em vez disso, ela zomba de mim e franze os lábios carnudos.
Lola agressivamente agarra Alex pelo colarinho e dá um beijo nele.
Eu sinto como se o chão tivesse sido tirado debaixo de mim.
Meu coração está em mil pedacinhos... e parece doer cada vez mais.
E a pior parte é que...
Alex está retribuindo o beijo.
Capítulo 18
PEGUE-ME
ARIEL
Acordo com sensação de ressaca de novo, só que dessa vez não tem
nada a ver com álcool.
Tem tudo a ver com o que vi na floresta.
Ver Alex e Lola se beijando foi como uma bala de prata no meu
coração.
Até mesmo a verdadeira bala de prata em meu corpo não me deixou
com a sensação de frio e ferida como me sinto agora.
Não sei como vou enfrentar Alex hoje, mas não tenho outra escolha —
hoje é o último dia do fim de semana de acasalamento, o grande baile
real.
Não só estarei no serviço de segurança, como provavelmente terei que
assistir Alex dançando e flertando com Lola a noite toda.
Deusa, este vai ser um dia e tanto.
Eu cuidadosamente saio da cama e desço as escadas, onde Amy está
conversando com Steve, e Louisa está preparando o café da manhã.
Meu único consolo nessa história toda é que Amy pode passar o fim
de semana comigo.
— Bom dia, raio de sol, — Steve diz, puxando uma cadeira para mim.
— Pronta para o último dia da cerimônia de acasalamento?
— Você não tem ideia, — eu digo, sentando e tomando café.
Amy me lança um olhar preocupado, mas reconfortante. — Não se
preocupe, Ari, estarei ao seu lado o dia todo. Você pode até ser meu par
para o baile.
— O que aconteceu com aquele cara de ontem? — Eu pergunto.
— Olha, eu posso gostar de idiotas, mas até eu tenho meus limites. Eu
nem acho que ele saiba diferenciar de cima para baixo. Mas ele com
certeza pode encontrar uma variedade de superfícies reflexivas para se
olhar, — diz ela, furiosa.
Começamos a rir enquanto Steve alternava olhares entre nós,
confuso.
Meu celular vibra e eu o pego para ver uma mensagem de Dom.
Dom: ei, preciso de um favor
Ariel: O que é?
Dom: eu fiz a pergunta
Á
Ariel: TÁ BOM
Não acredito que concordei com isso. Helena e Valéria aparecem com
bolsas de roupas e kits de maquiagem, — recém-casadas — e prontas
para uma noite mágica com seus homens.
Amy veste o vestido mais lindo que já vi: vermelho, cintilante e
extremamente decotado nas costas.
Val sai em um macacão preto sem mangas de um ombro e botas pretas
de salto alto.
Helena canaliza sua flor interior em um vestido bege longo com
borboletas na saia e lantejoulas na parte de cima.
— Não estamos nada mal, meninas. — Amy diz, tirando uma selfie
com Helena e Valeria.
— Sim, todas vocês estão deslumbrantes, — digo, tentando estar feliz
pelas minhas amigas, embora me sinta péssima. Estou presa em uma
armadura enferrujada enquanto vejo essas garotas se transformarem em
princesas.
Não é que eu não goste de minha armadura, mas por que não posso
ser uma guerreira e abraçar minha feminilidade ao mesmo tempo?
— Não pense que esqueci de você, — Amy diz com um sorriso
malicioso.
— Do que você está falando? — Eu pergunto, nervosa.
Amy enfia a cabeça para fora da porta e grita escada abaixo. — Louisa!
Estamos prontas!
— A ideia foi minha, mas os créditos são da Louisa, — Amy diz,
olhando para mim com entusiasmo. — Ela ficou acordada a noite toda
trabalhando nisso.
Louisa entra na sala carregando uma grande sacola de roupas e com
um enorme sorriso no rosto. — Achei que você gostaria de algo novo
para vestir no baile.
Quando abro o zíper da bolsa, meu queixo cai ao ver a roupa dentro
dela.
Ela converteu uma armadura leve de cota de malha em um
minivestido chique e cintilante coberto de strass.
Ela até incluiu um cinto com uma bainha para minha espada.
— É... é lindo, — eu digo, quase chorando. — Minha Deusa, Louisa.
Eu não posso acreditar que você fez isso.
— Tem mais! — Amy diz, batendo palmas animada. Ela puxa uma
caixa do armário e abre para revelar um par de lindas botas de salto alto.
Depois de vários gritos de — experimente, — visto a armadura e as
botas e me admiro no espelho.
Louisa arrasou. A armadura é justa, mas prática e chique.
— Você é a guerreira mais gata que já existiu, — Helena diz, gritando.
— Honestamente, estou um pouco excitada, — Valeria diz, levantando
uma sobrancelha sugestivamente. — Que pena que eu sou uma mulher
com um par.
— Ari, estou sem palavras. É tão sexy, — Amy diz, me dando um
abraço. — Você está de matar nesse vestido. E digo literalmente — você
tem uma espada enorme amarrada ao quadril.
A voz de Steve de repente ecoa no corredor. — Os garotos chegaram!
Enquanto nós descemos as escadas, vejo Dom e Lyle esperando por
seus pares, junto com...
Alex, e Lola, agarrada em seu braço. Por que não passou pela minha
cabeça que ele provavelmente iria ao baile com Dom e Helena?
Os olhos de Alex examinam meu corpo da cabeça aos pés enquanto
desço as escadas. Sua boca está aberta e seus olhos estão arregalados. —
Ariel... uau.
Alex tira o braço do aperto de Lola e, pela expressão em seu rosto, ela
está furiosa.
Não sou uma pessoa mesquinha, mas não posso deixar de sorrir um
pouco.
— Vamos lá, pessoal! Vamos para o baile porque é hora de FESTA! —
Dom estoura uma garrafa de champanhe e borrifa para cima enquanto
todas as garotas gritam.
Alex não desviou o olhar de mim desde que desci. A maneira como os
olhos de Alex se mantém sobre mim...
Isso me faz sentir como se ele não tivesse esquecido o que há entre nós.
No baile, vou até o bar e observo as pessoas, em vez de observar Lola
com as patas em cima de Alex.
Um bando de machos que ainda não encontraram seus pares estão
amontoados em um canto, ainda na esperança de ter uma chance no
amor. Eles se parecem um pouco com um grupo de apoio triste.
Eu me pergunto se existe um grupo de apoio para lobas que foram
rejeitadas por seus pares destinados.
Percebo Alfa Tyler, o Alfa da Matilha da Pedra Azul, me observando do
outro lado do bar.
Não havia prestado muita atenção nele quando chegou há dois dias,
mas na verdade ele é muito bonito.
Ele tem cabelos castanhos encaracolados e uma mandíbula capaz de
cortar metal.
Mas não importa o quão incrível ele seja, ele não é o homem que está
em minha mente...
Tyler deve ter percebido que eu estava olhando para ele, porque
começou a caminhar em minha direção.
Merda, por que não consigo manter meus olhos para mim mesma?
— Ariel, você está linda esta noite, — diz ele, agarrando minha mão e
beijando-a.
— Você sabe meu nome? — Eu pergunto, surpresa.
— Eu admito, andei perguntando por aí sobre você, — ele diz, me
dando um sorriso encantador. — Você realmente se destaca da multidão.
— Hum, obrigada, — eu respondo, corando. Tenho que admitir que
estou gostando da atenção, mas não está vindo da pessoa que eu queria.
— Você me daria a honra de me conceder uma dança? — ele pergunta,
fazendo uma leve reverência.
— Na verdade, estou trabalhando, — digo, acenando
desajeitadamente com as mãos. — Estou no dever de guerreira. Preciso
ficar de olho nas coisas.
— Então, que melhor ponto de vista do que o meio da pista de dança?
— ele pergunta, estendendo a mão.
Ele tem razão. Relutantemente, eu aceito sua mão e ele me puxa para
a pista de dança.
Seu aperto aumenta na minha cintura enquanto giramos e
rodopiamos em torno dos outros casais. Se é isso que ele chama de
dança, vou vomitar a qualquer momento.
— Você é a garota mais bonita daqui, — Tyler diz, me puxando para
mais perto. — Você é surpreendentemente sexy para uma guerreira.
Eu sei que ele está apenas tentando me elogiar, mas está sendo um
idiota.
— Você não deve ter visto muitas mulheres guerreiras então, — eu
digo, rejeitando o suposto elogio.
— Bem, na minha matilha, não é permitido, — diz ele, sem um pingo
de autoconsciência.
Ugh, esse cara me deixa enojada.
Tyler se inclina para um beijo, sua língua balançando para fora de sua
boca, e eu rapidamente desvio virando minha cabeça.
Quando ele tenta mais uma vez, uma mão de repente agarra seu
ombro com força, as garras parcialmente extraídas.
— Se importa se eu interromper? — Alex pergunta, em um rosnado
baixo e intimidante.
— Ah. uh, Rei Alex... sem problemas, — Tyler diz, recuando e olhando
para o pano amassado do ombro de seu smoking.
— Parece que você precisava de ajuda, — diz Alex, enquanto pega
minha mão e volta a dançar comigo.
— Bem, não precisava, — eu digo, um pouco friamente. — Eu poderia
lidar com aquele idiota sozinha.
— Certo, desculpe, — diz Alex timidamente. — Talvez eu só tenha
vindo porque estava com um pouco de ciúme.
Ciumento? Cuidado, Alex... você vai me fazer pensar que realmente sente
algo por mim.
Eu sorrio para ele e seus olhos brilham enquanto ele olha para mim.
Nós apenas dançamos em silêncio, presos nos olhares um do outro.
Meu coração começa a acelerar e minha loba começa a dar
cambalhotas quando Alex me olha assim.
— Ariel, eu... eu queria te perguntar...
Alguém de repente esbarra em nós e nos separamos.
— Alex, sua mãe está procurando por você. Ela disse que é urgente —
Lola diz. enquanto envolve os braços em volta de Alex como um polvo
vingativo puxando um barco para o fundo do mar.
— Ah, tudo bem... vejo você mais tarde. Ariel — diz Alex
distraidamente enquanto Lola o leva embora.
Enquanto Alex se afasta, nos braços de outra mulher, minha loba
lamenta de tristeza. Ela está com o coração partido... e eu também.
Estou caidinha por você, Alex.
Mas você não está aqui para me pegar.
Capítulo 19
A GUERREIRA
ALEX
Pai: Você sabe que eu estaria na primeira fila, torcendo por você.
Ariel: Mas significa muito para mim falar com você um pouco
antes do teste
Ariel: Merda!
Ariel: recuou
Ariel: Só o selvagem
Ariel: ??
Ariel: Estou com a rainha luna, princesa beta e futura luna aqui
Dave: Estou a caminho com o esquadrão. Tire a realeza do local o
mais rápido possível Ariel: Entendido
À medida que a fúria toma conta, sinto minha força crescendo sob
esses dois selvagens me imobilizando.
Os olhos de Helena encontram os meus e começam a perder o foco.
Eu vejo um fio de sangue escapar de sua boca.
Furiosa, eu me forço para cima, empurrando o lobo cinza das minhas
costas e arrancando minha perna da boca do lobo marrom.
Eu quase não sinto a dor da minha carne sendo rasgada.
Eu pulo sobre o selvagem negro de pé sobre Helena e nós caímos no
chão, arrancando a faca de suas garras.
Quase instantaneamente sou puxada para longe dele pelos outros dois
lobos, e o selvagem negro corre de volta para a floresta.
Com o canto do olho, vejo Maria e Lola amontoadas, completamente
intocadas pelos selvagens, e percebo que...
O alvo deles era Helena.
Em vez de perseguir o covarde que fugiu, me coloquei entre as outras
mulheres e esses dois lobos restantes.
Eu mostro meus caninos para dizer a eles para recuar, ignorando o
desejo de ir direto em suas gargantas.
Eu sei que se eu matasse novamente, minha capacidade de cura seria
inútil, e Helena precisa da minha ajuda.
Enquanto eu penso em como enfrentar esses dois lobos, vejo um
esquadrão correndo em nossa direção — oito ao todo — transformado
em lobo e liderado pelo General Dave, com Dom ao seu lado.
Três lobos guerreiros enfrentam cada um dos selvagens, enquanto
Dave protege a realeza.
Dom me afasta da luta, mas eu quero voltar. Eu estalo de volta para
ele com meus dentes, mas eu paro quando o lobo de Dom se conecta ao
meu.
— Ariel! Eu sinto algo... Helena... ela está...
Mas então ele a vê atrás de Maria e Lola.
— Helena! — Dom corre para seu par, que agora está inconsciente e
sangrando incontrolavelmente.
Ele se transforma de volta em humano e, ainda nu, apoia a cabeça dela
em seus braços.
— Helena, — ele repete em voz alta enquanto uma lágrima desliza por
sua bochecha.
Eu olho brevemente para trás para os outros guerreiros e vejo que eles
estão literalmente rasgando os dois selvagens restantes em pedaços.
Voltando minha atenção para o que está na minha frente, vejo Maria
chorando por Helena, tentando estancar o sangramento.
Lola observa. Sem emoção.
Estou pronta para atacar. Eu sei que Lola está por trás disso. Eu
poderia matar essa vadia.
— Ariel.
Eu ouço a voz de Selene, mas parece distante.
— Saia da escuridão e volte, Ariel. Helena precisa de você.
Eu me forço a deixar a fúria de lado e me transformo de volta para a
minha forma humana.
A essa altura, os outros guerreiros neutralizaram os dois selvagens
restantes, que jazem sem vida, com seus corpos lentamente se
transformando na forma humana.
Maria coloca seu xale sobre Dom, que está chorando por Helena.
Como se a própria Selene estivesse controlando meu corpo, vou até
Helena.
O sangue escapa das minhas feridas de mordida, mas não ligo para
meus próprios ferimentos enquanto me agacho, ainda nua, e tiro as mãos
de Dom e Maria dela.
— O que você... — Maria começa, mas para quando eu coloco minhas
mãos sobre as feridas de faca no abdômen de Helena.
Por favor, funcione. Por favor. Eu faço qualquer coisa...
Meus próprios ferimentos derramam mais sangue e uma dor
lancinante cobre meu corpo enquanto eu foco todas as minhas
habilidades de cura em minha amiga quase morta e em seu filho ainda
não nascido.
Não consigo mais segurar e solto um grito alto de dor ardente
enquanto meus ferimentos começam a sangrar e necrosar.
Aqueles que olham ao meu redor se encontram em choque quando as
feridas de Helena começam a fechar. Primeiro o abdômen e depois as
pernas.
Graças à Deusa!
Desta vez, me sinto enfraquecida, mas não tanto quanto estava
quando ajudei aquela garotinha.
Eu caio de costas na grama em uma posição sentada. Percebo agora
que ainda estou completamente nua e o General Dave me cobre com sua
jaqueta de uniforme.
Dom olha para mim com lágrimas nos olhos e simplesmente
pergunta: — Ari, como?
— Um dia eu te conto, — é tudo que eu digo antes que os outros
guerreiros socorrem Helena e Dom os segue.
— Ela... vai ficar... — Maria começa.
— Não sei, — é tudo o que posso dizer.
— E o bebê?
— Espero que sim.
Eu sigo pela floresta, com folhas e galhos esmagando sob meus pés.
Já se passaram seis dias desde que Alex me exilou.
E hoje é sua cerimônia de acasalamento.
O que significa que estou ficando sem tempo.
Tenho rastreado esses selvagens desde que saí e estou definitivamente
chegando mais perto. Eu sei que seja lá o que Lola tenha na manga, eles
estão envolvidos.
Mesmo não estando mais na matilha, ainda sou uma guerreira.
E farei tudo o que puder para impedi-la de se tornar o par de Alex.
É claro que cheguei a imaginar um futuro com Alex...
Mas não se trata de ciúme. A própria Deusa da Lua me instruiu a
protegê-lo.
Eu paro em um riacho para reabastecer meu cantil. A água reflete meu
cabelo castanho bagunçado; meu rosto, roupas e mãos manchadas de
sangue e sujeira.
Eu também pareço um selvagem...
Terminei as refeições de Steve e Louisa há dois dias. Tenho caçado
minha comida desde então. Eu como cru em minha forma de lobo para
evitar expor minha posição com a fumaça de fogo, e uso o sangue para
mascarar meu cheiro.
O vento sopra do leste e o cheiro de selvagens preenche meu nariz.
Também sinto cheiro de fumaça e carne queimada... Eles estão
cozinhando algo no fogo.
Eu sorrio. Eles não vão me farejar chegando.
Eu silenciosamente subo nas folhas de um carvalho gigante, olhando
para os quatro selvagens esfarrapados sentados ao redor de uma fogueira.
Finalmente.
Eu encontrei esses desgraçados.
Claramente o líder é um homem grande, com cabelo preto brilhante e
rosto cheio de cicatrizes. Meu sangue ferve quando o reconheço.
Foi ele quem esfaqueou Helena.
— Zeke, — diz um jovem loiro. — Quando recebemos o sinal?
Prazer em conhecê-lo, Zeke.
— Quando a cerimônia começar. Fique tranquilo, — diz Zeke.
— Nós perdemos a maior parte de nossa matilha, cara! — disse o loiro.
— Como diabos eu deveria ficar tranquilo?
— Não se preocupe, — diz outro, que parece estar sem um olho. —
Esses membros da realeza não sabem lutar merda nenhuma.
— Lola disse que a cerimônia começa ao pôr do sol e a recepção é nos
jardins próximos à floresta, — diz Zeke. — O palácio estará vazio quando
entrarmos furtivamente.
Maldita Lola! Eu sabia!
— Nós nos escondemos e esperamos até que tudo esteja quieto
durante a noite, então cortamos suas gargantas enquanto eles dormem.
— Zeke sorri. — Primeiro o Rei, depois seu Beta, depois os bons e velhos
papai e mamãe.
— E quanto ao par do Beta? — pergunta o selvagem número quatro,
um cara mais velho com cabelos grisalhos.
Zeke ri. — Fácil. Essa cadela ainda está em coma. Iremos ao hospital
na saída.
O vermelho se arrasta em minha visão.
Eu quero arrancar a garganta desse cachorro.
Respire, Ariel.
Não mate a única prova do plano de Lola.
Para me acalmar, me esforço para ouvir o resto.
— E você realmente acha que pode simplesmente entrar e as pessoas
irão aceitá-lo como seu novo Alfa? — O caolho pergunta.
— Lola será a única sobrevivente da família real, — diz Zeke. — Ela e
eu assumiremos como o novo Rei e Rainha. Simples.
— Sim, simples, — retruca o vovô. — Lola está fazendo todo o
trabalho. Talvez você devesse colocar seu par no comando desta matilha
também.
Lola é seu PAR?!?
De repente, tudo se encaixou — desde os ataques dos selvagens até o
esfaqueamento de Helena.
Eu tinha razão. Era Lola o tempo todo.
Aquela vadia maligna.
Minha pulsação começa a acelerar e sinto a escuridão se aproximando
novamente.
Algo dentro de mim quer pular e destruir esses selvagens imundos.
Parece que não tenho escolha a não ser deixá-lo sair.
Então as palavras da Deusa da Lua ecoam em minha cabeça...
— Você sempre tem uma escolha, Ariel.
Cure ou machuque.
Com todas as minhas forças, afasto a escuridão e o vermelho começa a
desaparecer.
Com as mãos tremendo, luto para impedir que minhas garras se
estendam.
Eu respiro fundo.
Não.
Faremos isso do meu jeito.
Eu salto da árvore diretamente nas costas do Loiro, deixando-o
inconsciente.
Um a menos.
— Merda! — O Caolho rosna, agarrando sua faca enquanto o Vovô se
levanta e tenta me pegar por trás.
Ele me puxa para uma chave de braço, mas eu jogo minha cabeça para
trás com força em seu nariz.
Ele tropeça para trás, cobrindo o rosto enquanto o Caolho ataca com
sua lâmina. Eu chuto de sua mão e dou-lhe um empurrão com a palma
da mão no rosto antes de chutar suas bolas.
Ele grita e cai no chão.
Dois.
Vovô se abaixa para pegar a faca, mas eu a chuto para longe, em
seguida, o coloco em uma chave de braço enquanto ele luta para se
levantar.
Ele lentamente perde a consciência e eu o deixo cair na grama.
Três.
Eu me viro para onde Zeke estava parado, esperando que o maior dos
selvagens viesse me atacar.
Mas ele desapareceu.
Alex
E como no sonho...
Só que pior.
Tento ignorar a sensação de mal estar no estômago enquanto estou
no altar observando Lola caminhar em minha direção.
A capela está preenchida com toda a matilha. Vejo minha mãe
sorrindo da primeira fila.
Tenho que admitir. Lola está linda em seu vestido de cerimônia longo
e cheio, com o colar de pedra da lua reluzente em volta do pescoço.
Por baixo do véu, ela sorri para mim enquanto dá seus passos finais
em direção ao altar, e eu tento sorrir de volta.
Dom, presidindo a cerimônia, está entre nós parecendo cansado e
triste. Com Helena ainda em coma, é uma surpresa que ele esteja aqui.
Como sempre, o Beta eternamente leal.
Ele abre o texto antigo e começa a recitar nossas passagens sagradas, e
eu olho nos olhos roxos de Lola.
Os olhos que vou olhar para o resto da minha vida.
Mas agora eles parecem diferentes dos olhos roxos brilhantes de
Olivia.
Eles parecem planos e vazios... como se não houvesse nada atrás deles.
ARIEL
Eu aperto o braço de Ariel com mais força e, finalmente, dou uma boa
olhada nela.
Há anéis escuros ao redor de seus olhos, sua pele está mais pálida do
que o normal, seu cabelo castanho está coberto de sujeira e sangue e seu
olhar está cheio de nojo.
Nojo de mim.
Eu não a culpo. Eu fiz isso com ela. E tudo culpa minha.
— Eu sinto muito, — eu deixo escapar. — Por não acreditar em você.
Por machucar você. Por deixar você de lado. Você merece muito melhor.
Eu desprezei o que eu tinha com você...
— O que você tinha comigo? — ela interrompe. — O que você tinha?
Fico em silêncio por um momento, incapaz de dizer o que sei ser
verdade.
Finalmente, eu crio coragem. — Eu tinha meu par perfeito.
Quando digo essas palavras, seus olhos se afastam de mim
novamente. — Você teve seu par perfeito antes de me conhecer. Você a
perdeu.
— Por um tempo, sim, — eu respondo. — Mas eu te encontrei e... eu
sabia que você era a pessoa certa para mim. Em todos os sentidos. Eu
estava com muito medo para admitir.
— Você não está pronto para seguir em frente, — diz ela. — Seu
relacionamento com Lola provou isso. Mesmo quando tentei te mostrar
a verdade, você me chamou de mentirosa, Alex! Você me baniu!
— Eu estava errado, — eu grito, com vergonha de tudo que fiz para
estragar tudo. — Eu sinto muito.
— Você disse que eu estava louca.
— Eu fui um idiota...
— E você estava certo, — ela diz. — Há algo muito errado comigo. E
eu não consigo controlar isso.
— Isso não é verdade, — eu alcanço seu rosto, mas ela se afasta. —
Talvez sua loba...
— Não é minha loba! — A voz de Ariel aumenta. — É outra coisa. E
quando assume o controle, as pessoas morrem. É o que matou Zeke. Eu
não posso confiar em mim mesma.
— Bem, eu confio em você. Como eu deveria ter confiado o tempo
todo.
Minhas palavras não trazem nenhum conforto para ela. Ela está
tremendo. Ela parece que poderia explodir a qualquer segundo.
ARIEL
— Alex, tudo o que estou tentando dizer é que você precisa pensar
sobre o seu futuro — mamãe diz com apenas uma pitada de julgamento,
bebendo seu café.
Ela está no meu pé durante todo o café da manhã, insistindo sobre eu
me estabelecer.
Achei que ela já teria aprendido a lição agora.
— Mãe, honestamente, qual é a pressa? Estou feliz agora. Não preciso
entrar em uma cerimônia de acasalamento ou algo assim, — eu respondo
em frustração.
Será que ela realmente se esqueceu de como minha última tentativa de
cerimônia de acasalamento foi desastrosa?
— Há muito tempo para tomar essas decisões, — digo com firmeza. —
E essa é minha palavra final sobre o assunto.
Ela começa a roer as unhas, nervosa. Parece que vai iniciar uma
discussão, mas acaba pensando melhor.
Em vez disso, ela olha pela janela em silêncio, uma tristeza clara em
seus olhos.
Droga, eu não fui tão duro, fui?
Eu olho para papai enquanto ele pega sua caneca de café, trêmulo.
Ele esteve estranhamente quieto durante toda essa conversa.
— O que você acha? — Eu pergunto, esperando que ele fique do meu
lado. Meu pai pode ter passado a maioria dos deveres reais para mim,
mas aos meus olhos, ele ainda é o rei.
Sua opinião significa tudo para mim.
Ele respira fundo e fala devagar:
— Eu... acho que sua mãe só quer o melhor para você. E eu também.
— Vocês dois acham que estou apenas perdendo meu tempo, então? É
isso? — Eu pergunto defensivamente.
Minha mãe me olha hesitante.
— Ariel passou a noite aqui novamente? Eu a vi saindo correndo esta
manhã.
Pronto.
A verdadeira razão pela qual mamãe está tão decidida a me acasalar.
— Você não acha que ela é boa o suficiente... — eu digo em um
rosnado baixo. — Caralho... eu deveria saber que isso era sobre Ariel.
— Veja como você fala com sua mãe. — Papai tenta falar com
autoridade, mas sua voz sai fraca e cansada.
O que está acontecendo com ele ultimamente?
— Alex, querido, você entendeu tudo errado, — mamãe diz, erguendo
as mãos. — Eu ia dizer...
— Que ela não é a pessoa certa para mim? Que ela é apenas uma
humilde guerreira de matilha não digna de um rei? — Eu pergunto,
fervendo.
— Não... O que eu ia dizer — mamãe cruza os braços, parecendo um
pouco aborrecida — — é que da próxima vez você deveria convidá-la para
ficar para o café da manhã.
— Oh..., — eu digo, me sentindo envergonhado.
Tenho me sentido um pouco inseguro ultimamente. Um novo
relacionamento nem sempre é a coisa mais fácil de lidar, e talvez eu
tenha projetado isso em minha mãe...
Talvez eu esteja preocupado demais com isso?
Ela se estica sobre a mesa e coloca sua mão sobre a minha.
— Alex, estou contente que você esteja feliz, e honestamente... Ariel
tem mais do que provado ser digna, — ela diz, me dando um sorriso
genuíno. — Eu só gostaria de ver um pouco mais dela. Eu sei que nem
sempre fui a mais simpática com Ariel, mas, por favor, diga a ela que ela é
bem-vinda a se juntar a nós a qualquer momento.
Eu aceno, grato pelo esforço de minha mãe.
— Olivia é uma boa menina, — papai diz de repente, Virando-se para
mim. — Ela vai ser um par excelente.
— Ariel..., — mamãe diz, nervosa, corrigindo-o. — É Ariel, querido.
— Ah, sim, Ariel, — ele diz em um tom distante. — Claro. Apenas
fugiu da minha cabeça.
Lanço um olhar preocupado para minha mãe, que evita contato visual
comigo.
É perturbador ouvir papai se referir a Ariel pelo nome do meu falecido
par, mas não é só isso que me preocupa.
Ele está mais pálido do que o normal e suas palavras são lentas e
emboladas.
Não tenho certeza do que está acontecendo, mas...
Algo está errado com o papai.
Quando volto para o meu quarto após o café da manhã, fico surpreso
ao encontrar Ariel esperando por mim.
Essa surpresa se transforma em indignação quando ela me conta sobre
seu visitante inesperado.
Agora não consigo pensar em mais nada a não ser andar com raiva de
um lado para o outro em meus aposentos, pronto para me transformar e
destruir algo.
— Ele tem muita coragem de aparecer aqui, — eu rosno. — Depois do
que ele fez com você, eu deveria...
Ariel coloca uma mão reconfortante no meu peito.
— Alex, estou feliz que ele fez o que fez. Xavier quebrar nosso vínculo
me permitiu criar um muito mais forte... com você.
Ela tem um bom argumento.
Ainda assim, o pensamento daquele idiota aparecendo no quarto de
Ariel faz meu sangue ferver.
— Você não pode ir com ele de jeito nenhum! — Eu grito. — Ele está
pedindo a você para se colocar de volta na mira dos Caçadores!
— Alex, é minha família, — argumenta Ariel. — Não posso
simplesmente cruzar os braços e não fazer nada!
— Mas Ariel, você progrediu tanto. Tudo que você passou nas mãos
dos Caçadores... — Eu levemente passo meu polegar em sua bochecha. —
E se você...
— Tiver uma recaída? — ela pergunta, parecendo um pouco magoada.
Eu posso dizer pelo olhar em seus olhos que ela estava pensando isso
também.
— Posso enviar todos os nossos melhores rastreadores. Eu mesmo vou
no seu lugar! — Eu digo, tentando dissuadi-la. — Mas não suporto a ideia
de você por aí com ele.
— Tem que ser eu, — ela responde desamparada.
— Por que? — Eu pergunto, frustrado. — Só porque você foi levada
pelos Caçadores? Eu me recuso a..
— É minha família, — ela diz. — Quer nos damos bem ou não.
— Merda... — Eu rosno baixinho.
Eu sei que ela está certa. É seu dever ir.
Ela envolve seus braços em volta de mim e eu descanso minha cabeça
na dela.
— Eu não quero que você vá, — eu digo baixinho.
— Será apenas por alguns dias, — ela responde, aninhando-se em meu
peito.
Quero dizer a ela para esquecê-los, mas sei que significaria muito para
Ariel se ela pudesse se reconectar com sua mãe e irmã.
Suspirando, eu acaricio levemente seu cabelo.
— Eu não vou conseguir te convencer, né?
— Os Caçadores precisam ser detidos, — ela responde. — E se minha
habilidade de cura pode ajudar...
— Então você deve fazer tudo que puder, — eu digo, dando a ela um
aceno de cabeça. — Entendo. Eu não gosto da ideia, mas entendo.
Eu relutantemente liberto Ariel do meu abraço.
— Só tome cuidado... eu te amo demais para te perder.
— Eu também te amo, — ela responde, se afastando, mas não
quebrando o contato visual.
Quando Ariel sai de meus aposentos, sinto uma sensação de
desespero.
Ela pode não ser meu par destinado, mas ela é tão especial para mim.
Eu sei que Ariel precisa ajudar sua família se ainda houver uma
chance.
Mas é provável que muita dor volte à tona.
E vou me certificar de estar lá para ela quando isso acontecer.
ARIEL
Natália anda pela luxuosa sala de estar como um animal enjaulado aos
berros.
— Como você pôde trazê-la aqui? Depois de tudo o que ela fez! E sem
nem me dizer!?
Nos últimos trinta minutos, ela tem falado furiosamente de mim
como se eu não estivesse na sala com ela.
Infelizmente, não a vejo se acalmando tão cedo.
Meu pai confortavelmente coloca seu braço em volta de mim
enquanto minha mãe evita contato visual comigo.
Ela deve estar tão feliz em me ver quanto Natália.
Xavier parece que está pronto para explodir, mas
surpreendentemente, não é comigo.
Seus ferozes olhos castanhos estão fixos em Natália.
— Eu tinha que fazer alguma coisa! Meu herdeiro foi sequestrado
pelos Caçadores! Quem melhor para rastreá-los do que alguém que sabe
como eles funcionam!?
— Seu herdeiro também é meu filho! — ela rosna. — E cada segundo
que passa sem o pequeno Xavi é um segundo que ele poderia estar... —
Sua voz some, o medo tomando conta de sua raiva por um momento.
Xavi...
É estranho pensar que esta é a primeira vez que ouço o nome do meu
próprio sobrinho.
— É exatamente por isso que fui atrás de Ariel! — Xavier grita. — Ela
pode ajudar!
— Ariel nunca ajuda! — Natália grita, me lançando um olhar
desagradável. — Ela só piora as coisas!
Eu quero interromper, mas parece uma má ideia.
Eu conheço Natália. Ela tem que tirar isso de seu sistema.
— Não podemos confiar nela! — Natália diz, sufocando um soluço de
raiva. — Ela tentou me matar! Ou você se esqueceu disso, Xavier? Ela me
atacou enquanto eu estava grávida!
— Ela estava instintivamente defendendo sua reivindicação de seu par
destinado! — Xavier retrucou.
Merda.
Ele disse aquilo.
O termo — par destinado — provavelmente não é a melhor coisa a se
usar agora.
Parece que Natália acabou de levar um tiro no coração.
— Você... você quebrou o vínculo, — ela gagueja. — Ariel não é seu par
des... Ela não é mais seu par.
— Eu sei disso! — Xavier rosna. — Só estou tentando fazer com que
você veja o quão irracional você está sendo!
— Claro que sou irracional! Acabei de perder meu filho! — ela grita. —
E eu não quero você perto dela!
— Eu sou a porra do Alfa! Você não pode decidir o que eu faço ou com
quem eu ando! — O rugido de Xavier reverbera por toda a sala.
Natália fecha os lábios com força, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
Minha mãe me olha pela primeira vez desde que entrei na sala,
lançando-me um olhar desconfiado. O braço de papai aperta meus
ombros.
Por mais que eu odeie Natália na maioria das vezes, posso entender
sua desconfiança.
Até Alex tem o mesmo medo de Xavier e eu estarmos juntos.
Mesmo que eu não tenha controle sobre isso, eu sou o par destinado
de Xavier.
Ou pelo menos eu era...
Isso é algo que Natália nunca vai perdoar nem esquecer.
E por mais que eu queira...
Eu também não consigo esquecer.
Vendo que a discussão não vai acabar tão cedo, decido me retirar.
Além do meu pai. acho que ninguém percebe quando saio da sala.
Enquanto a gritaria continua, começo a vagar pelos corredores da
impressionante mansão.
Subo a escadaria principal e viro à direita, vendo uma coleção de
pinturas em memória de Alfas.
A vida de Xavier gira em torno da linhagem.
É estranho pensar que se eu nunca tivesse sido levada pelos
Caçadores, minha vida giraria em torno dessa linhagem também.
Eu seria aquela que daria a Xavier um herdeiro.
O pensamento me faz estremecer. Essa não é a vida que eu sempre
quis.
Ao passar por uma porta aberta, paro no meio do caminho.
No meio da sala está um berço.
Este deve ser o quarto de Xavi...
Eu cautelosamente entro e espio dentro do berço vazio.
Está coberto de pequenas marcas de garras e, pendurado acima, está
um móbile com adoráveis lobos de brinquedo de cores diferentes.
Meus olhos ficam turvos e tento lutar contra as lágrimas.
Nunca conheci meu sobrinho, mas ainda me sinto conectada a ele.
Pensando no que os Caçadores querem com ele...
Sinto uma mão de repente pousar no meu ombro.
— Quando ele foi levado... — A voz de papai está tensa. Eu me viro
para encará-lo e vejo que ele está lutando contra as lágrimas também. —
Isso... me lembrou de quando perdemos você.
Lágrimas começam a escorrer por seu rosto.
— Eu não posso passar por isso de novo, — ele murmura. — Isso...
quase me destruiu da primeira vez.
— Pai... — Agora minhas bochechas estão molhadas de lágrimas.
Eu jogo meus braços em volta dele, e nós dois nos permitimos chorar.
Sobre o que aconteceu no passado...
Sobre o que está acontecendo agora...
— Ariel, por favor... você precisa trazê-lo de volta, — papai diz, com a
voz falhando.
Eu abraço meu pai e ele beija minha testa.
— Eu prometo, — eu digo suavemente.
Depois que os gritos de Natália param de ecoar por toda a mansão,
Xavier me chama de volta para seu escritório.
Aparentemente, ela concordou em se acalmar com a condição de que
ela nunca tivesse que estar no mesmo ambiente que eu.
Por mim tudo bem.
Pelo menos isso limitará mais brigas para que possamos nos
concentrar em encontrar Xavi.
— Sinto muito pelo que aconteceu mais cedo, — ele diz, suspirando e
se servindo de um copo de uísque enquanto me sento em frente a ele. —
Você sabe como ela fica.
Eu aceno, olhando para ele.
Seus olhos parecem cansados e seu rosto está exausto. A barba de
alguns dias cobre sua mandíbula.
É tão estranho que Xavier esteja se desculpando pelo comportamento
de Nat.
E ainda mais estranho que ele esteja sendo civilizado comigo.
Apesar de nossa situação esquisita e incerta, pelo menos de uma coisa
eu tenho certeza.
O Xavier que está sentado à minha frente agora é uma pessoa
diferente do idiota arrogante que quebrou nosso vinculo sem ao menos
hesitar.
— Você tem um registro de todos os lugares que já procurou? — Eu
pergunto, mudando de assunto e me jogando na investigação.
Xavier apresenta um grande mapa sobre a mesa.
— Sim. É aqui que o rastro esfriou, — diz ele, apontando para uma
área arborizada.
— Vamos começar amanhã, — eu digo. — Se dividirmos seus
guerreiros em equipes de dois e varrer a floresta em linha, podemos
conseguir cobrir a maior parte do terreno.
Ele concorda.
— Boa ideia. Vou chamar os guerreiros da matilha; vamos começar
imediatamente.
Eu olho pela janela. O sol já se pôs e a noite está surgindo.
— Infelizmente, toda aquela discussão acabou com a luz do dia que
tínhamos. Precisamos ser o mais meticulosos possível e é muito fácil
perder algo no escuro. Deveríamos ir logo pela manhã.
Posso ver a impaciência e a raiva crescendo em seu rosto.
A ideia de outra noite sem Xavi pesa muito sobre ele.
— Nós vamos encontrá-lo, — eu digo suavemente. — Eu prometo.
Ele olha para mim, amolecendo. A dureza em seu rosto derrete.
— Ok, — ele diz suavemente. — Eu confio em você.
Alex: Cada
Alex: Centímetro
Alex: Dele
— Ele não pode ficar aqui! — Xavier grita com raiva, andando ao redor
de seu escritório. — Ele deveria estar em uma cela de prisão, não na porra
da casa de hóspedes!
Eu suspiro, tentando controlar minha frustração.
— Você não está pensando no panorama geral. Isto pode ser
exatamente o que precisamos, — digo, tentando falar de uma forma que
o faça entender.
— O que você quer dizer? — ele pergunta, cético.
— Este homem acabou de escapar dos caçadores, — eu respondo. —
Então, ele é nossa melhor chance de rastrear a localização atual deles. Ele
está sem a maior parte de suas memórias, mas se pudermos ajudá-lo...
— Podemos encontrar Xavi, — diz ele, concluindo meu pensamento.
— Mas como você sabe que podemos confiar nele?
— Eu não sei, — respondo honestamente. — Mas ele sofreu o mesmo
trauma que eu. Portanto, posso pelo menos compreendê-lo.
Xavier se senta em sua mesa e ansiosamente bate com os dedos na
madeira.
— Se você acha que pode ajudá-lo a recuperar suas memórias, então
tudo bem...
— Eu preciso tentar. — eu digo, balançando a cabeça. — Ele merece.
— Mas... — Xavier levanta a mão. me interrompendo. — Você precisa
fazer isso em outro lugar. Eu não o quero aqui. Minha matilha já passou
por muita coisa, e não vou permitir um estranho dentro de suas
fronteiras.
— É justo, — eu respondo, embora esteja imediatamente quebrando a
cabeça em busca de soluções alternativas.
Posso ter uma habilidade de cura sobrenatural, mas não sou médica e
certamente não estou qualificada para ajudar ninguém com seu trauma
quando ainda estou trabalhando no meu próprio.
Mas eu disse que o ajudaria, e falei sério.
— Você não precisa se preocupar com isso. Vou levá-lo de volta para a
Matilha Real, — eu digo. — Se Alex me recebeu em sua matilha, ele vai
receber outra pessoa na mesma situação.
Xavier zomba.
— Você realmente acha que seu Alfa vai aceitar esse completo
estranho coberto de tatuagens e cicatrizes?
Havia algo estranho na maneira como Xavier disse Alfa.
Isso é um indício de ciúme?
Não tenho certeza de como ele saberia sobre meu relacionamento
com Alex, mas suponho que as notícias viajem rapidamente.
— Você é uma mulher linda, e ele parece que acabou de sair da prisão.
Há uma grande diferença, — diz ele, olhando nos meus olhos.
Meu coração pula na minha garganta.
Meu ex-par destinado acabou de me chamar de linda!?
Xavier parece perceber seu erro enquanto limpa a garganta
rapidamente e volta a falar com firmeza.
— Apenas tire-o daqui o mais rápido possível.
— Vou levá-lo de volta pela manhã, — respondo rapidamente,
querendo sair de seu escritório antes que as coisas fiquem mais
desconfortáveis.
— Mas tem uma pessoa que preciso ver antes de ir...
— AHHHHHHHHHHHHH!
Amy grita diretamente no meu ouvido enquanto ela joga os braços em
volta de mim na fronteira da matilha.
— Você está em casa! Tipo, casa, casa. Estou tão animada, — ela grita.
— Apenas temporariamente, — eu respondo, dando a ela um sorriso
cauteloso. — E não nas melhores circunstâncias.
O sorriso de Amy desaparece rapidamente.
— Pobre Xavi... eu sei que você vai encontrá-lo. Ariel.
— Faça muitas orações para a Deusa, — eu digo, suspirando. — Vou
precisar de força para superar isso.
— Claro... Trabalhar com Xavier não deve ser fácil, — ela diz, me
dando um olhar astuto. — Ele foi um completo idiota?
— Ele não tem sido tão ruim, — eu respondo. — Natália , por outro
lado...
— Garota, a matilha inteira a ouviu uivar na noite passada, — Amy
diz, levantando as sobrancelhas. — Nat e Xavier realmente estão
passando por um momento difícil. Mesmo antes do sequestro.
Isso é novidade para mim.
Achei que tudo estava perfeito entre eles...
Estou prestes a pedir mais detalhes, mas Amy de repente esboça um
sorriso malicioso.
— E quanto a você e Alex? — Ela pergunta com uma voz cantante. —
Temos sinos para a cerimônia de acasalamento à vista?
Eu rio, mas também não consigo evitar corar.
— As coisas estão... muito boas.
— Hum eu preciso de mais detalhes do que isso, — Amy diz, cruzando
os braços.
— Ele não está me apressando ou indo rápido demais, — eu respondo.
— E isso é exatamente o que eu preciso. Alex sabe que ainda estou
processando tudo o que aconteceu. Tenho sorte de tê-lo em minha vida.
— Ele sabe exatamente o que você precisa, hein? — ela pergunta,
sorrindo. — Ele está atendendo a todas as suas necessidades?
Minhas bochechas queimam ainda mais.
— Eu posso ter passado algumas noites na casa dele... ou talvez todas
as noites.
Amy suspira de alegria.
— Sua. VADIA. Eu te amo.
Nós duas rimos, mas a atenção de Amy rapidamente muda para
alguém atrás de mim.
— Quem é aquele? — Ela pergunta, seus olhos se arregalando de
empolgação.
Eu me viro para ver O Experimento se aproximando da fronteira.
Ele está vestindo uma blusa branca justa que mostra suas inúmeras
tatuagens. Seu corte de cabelo desgrenhado e olhos penetrantes e roxos o
deixam ainda mais provocativo.
Nem sei como responder a Amy porque, sinceramente, não sei quem
ele é.
Mas tenho a sensação de que vou descobrir em breve.
Eu amo Ariel.
Eu verdadeiramente a amo.
Ela significa o mundo para mim.
Ela me ajudou a me curar da morte do meu par.
Ela salvou todo o reino quando os selvagens tentaram se infiltrar.
Mesmo quando estou sendo um idiota, ela escolhe ver o que há de
bom em mim.
Ela tem um dom, concedido a ela pela própria Deusa.
E ela quer usar isso.
Ajudar a tornar o mundo um lugar melhor.
Mas neste momento...
Estou questionando se a necessidade dela de curar os outros — sua
necessidade de ver o que há de bom nas pessoas — está atrapalhando seu
julgamento.
— Ariel, não sabemos nada sobre ele, — digo, começando a ficar
frustrado. — Até onde sabemos, ele poderia ser um selvagem.
Inicialmente, falamos em voz baixa, já que o estranho que Ariel trouxe
está do lado de fora do meu escritório, mas agora nossas vozes estão
começando a se elevar.
— Não seria a primeira vez que você deixaria um selvagem entrar em
suas fronteiras, — ela retruca.
Ai.
Pesado...
Mas também é justo.
— Você está completamente certa, — eu respondo. — E eu não posso
cometer o mesmo erro.
— Alex, como isso é diferente de quando você me encontrou na
floresta, e eu precisava de ajuda? Eu precisava que alguém me olhasse
como se eu fosse normal. Ele está passando exatamente pela mesma
coisa. E eu posso ajudá-lo com isso.
— Não... não é a mesma coisa...
— Por que? — ela pergunta, não disposta a deixar para lá.
— Porque você é você, — eu respondo, irritado.
Ela parece decepcionada com minha resposta.
— O que? O que eu disse?
— Nada... É que... Alguém me disse que você diria isso, — ela responde
distante.
Porra, agora eu a decepcionei.
Eu envolvo meus braços em volta de Ariel e beijo seu pescoço,
tentando reparar os danos.
— Tudo que eu quis dizer é que eu confiei em você porque senti uma
conexão, — eu digo, respirando o cheiro dela.
Ela se vira e gentilmente segura meu rosto em suas mãos.
— Eu sei que você está apenas tentando manter sua matilha segura e
eu respeito isso, — ela diz. — Mas acredito que ele merece o mesmo voto
de confiança que eu. Ele é uma vítima dos caçadores. Eu não vou
simplesmente abandoná-lo.
— Você nunca desiste das pessoas, — eu digo, suspirando. — Tenho
que admitir... essa é uma das coisas que mais amo em você.
— Então ele pode ficar? — ela pergunta ansiosamente, seus olhos de
girassóis brilhando de esperança.
— Se isso significa tanto para você... então, sim. Vou dar uma chance a
ele, — eu respondo.
Vamos ser realistas... Eu nunca vou conseguir dizer não para Ariel.
— Alex, obrigada! — De repente, ela pressiona seus lábios contra os
meus em um beijo febril. Eu me inclino para ela e a pego em meus
braços.
— Só para eu saber. Quão grata você está? — Eu pergunto com um
sorriso.
Ariel pressiona os lábios de forma sedutora e passa o dedo
provocadoramente no meu peito.
— Assim que você o acomodar, encontre-me em seu quarto.
Caramba, se ela tivesse começado com isso, não teria nem mesmo uma
discussão.
Beijo Ariel mais uma vez, em seguida, sigo para a porta.
— Eu estarei de volta em meio turno! E é melhor você estar sem
roupas!
Alex: Você meio que saiu sem dizer nada depois do café.
Ariel: É só que... conversei com sua mãe Ariel: E foi muito para
processar Alex: Oh Deusa
Ariel: Esquece.
Xavier voltará para casa esta manhã, e tenho que admitir que estou
aliviada.
Sua presença na Matilha Real mais atrapalha do que ajuda.
E honestamente, se ele não for embora, Alex pode se transformar e
persegui-lo até ele sair.
Pelo menos, decido educadamente me despedir no portão.
Apesar dos meus sentimentos confusos em relação a ele, ele está
passando por muita coisa, e eu sei que ele só veio aqui para distrair a
mente.
— Lamento não ter notícias melhores, — digo enquanto Xavier se
apoia no carro. — Mas eu prometo que não vou parar até encontrarmos
Xavi.
— Isso significa muito, — ele responde, forçando um sorriso. — Eu sei
que estou atrapalhando aqui. Talvez seja melhor se eu lhe der espaço.
— Xavier, não é isso... É que...
— Você não precisa dizer nada. — Ele levanta a mão. — Acredite em
mim, eu entendo. Nossa conexão foi cortada. Mas mesmo assim... ainda a
sinto. E eu acho que você a sente também.
Não respondo porque ele está certo, e sinto que se disser em voz alta,
se tornaria mais real.
— Não é bom para nenhum de nós nos colocarmos nessa posição, —
diz ele.
— Estou com a Natália. E você está com Alex. Não queremos estragar
tudo só porque nossa biologia está tentando nos trair.
Eu consigo sorrir e aceno com a cabeça em concordância. Fico feliz
que ele entenda que trabalhar juntos em ambientes tão próximos é uma
situação ruim para nós dois.
— Dito isso, eu gostei de ter você por perto novamente. Como nos
velhos tempos, — diz ele melancolicamente.
— Eu... espero que você saiba que o exílio não está mais em vigor, —
acrescenta. — Você é bem-vinda para voltar. Eu nunca deveria ter...
Ao ouvir o pesar em seu tom, não posso deixar de pensar que Alex está
certo.
Talvez Xavier realmente perceba que cometeu um erro.
— Obrigada. Xavier, eu realmente agradeço, mas esta é minha casa
agora. — eu digo, com segurança. — Vou mantê-lo atualizado sobre o
meu progresso com a investigação.
Ele acena com a cabeça, parecendo um pouco desapontado.
Xavier de repente envolve seus braços em volta de mim e me dá um
abraço.
Estou tão chocada que inicialmente meus braços permanecem
frouxos, mas depois de um momento, eu o abraço de volta, hesitante.
— Obrigado por tudo o que você está fazendo para encontrar meu
herdeiro, — ele diz, me segurando com força. — Você realmente é a única
luz nesta escuridão.
Meu coração dispara enquanto o abraço dura um pouco mais do que o
esperado.
Eu me afasto e tento me manter firme.
— Boa viagem, — eu digo formalmente.
Enquanto me afasto apressadamente, me sinto em conflito.
Eu não quero me sentir assim.
Mas algo dentro de mim ainda se atrai por Xavier.
Até minha loba sente enquanto ela geme, triste.
Como Xavier disse... minha própria biologia está me traindo.
Amo Alex mais do que tudo e sei que esses sentimentos por Xavier
estão sendo forçados a mim apenas por Fate.
Eu só queria poder fazê-los ir embora...
Posso não conseguir fazer desaparecer a memória do que Xavier e eu
poderíamos ter tido, mas consigo ajudar outra pessoa a recuperar suas
memórias.
Bato na porta do Experimento com entusiasmo.
Ele responde, parecendo confuso com a minha expressão ansiosa.
— Uh, o que foi?
— Tive uma ideia, — digo, agarrando-o pela mão.
Enquanto o puxo para o corredor, digo:
— A meditação e o meu dom não parecem ter nenhum efeito em você,
mas sei de outra coisa que pode refrescar sua memória.
— Estou disposto a tentar qualquer coisa, — diz ele, deixando-me
levá-lo para fora.
Nós seguimos o caminho para o campo de treinamento e eu pulo
dentro da arena. Jogo para ele um equipamento de treinamento. — Vista.
— Você quer que eu lute com você? — ele pergunta, cético.
— Sim, a ideia surgiu quando eu estava lutando com... Bem, não
importa com quem era. A questão é que o treinamento me ajudou a me
encontrar depois que escapei dos caçadores, e acho que pode ajudar você
também.
Ele veste as luvas e se junta a mim no ringue.
— Como eu disse, estou disposto a tentar qualquer coisa.
Enquanto ele assume uma postura desajeitada, eu me pergunto se ele
já teve alguma experiência real de luta.
Eu sei que é um estereótipo, mas suas incontáveis tatuagens me
deram a impressão de que ele poderia ter alguma experiência.
— Enquanto treinamos, quero que você pense em como se sentiu
enquanto estava em cativeiro. A raiva. O medo. A vontade de sobreviver.
Mesmo que você não consiga se lembrar de detalhes, concentre-se nesses
sentimentos.
Ele acena com a cabeça enquanto fico em frente a ele. — Ok, vamos
começar, — eu digo.
Eu começo suave, dando alguns socos lentos que ele pode bloquear
facilmente.
Então eu aumento um pouco a dificuldade.
Um gancho de esquerda furtivo.
Um soco no estômago.
Um chute forte de baixo para cima.
Ele cai de bunda, mas parece que seu ego está mais machucado do que
qualquer outra coisa.
Então, talvez aquela teoria sobre a experiência de luta estivesse muito
errada.
Estendo minha mão para ajudá-lo a se levantar, mas ele ignora e se
levanta sozinho. Ele tira a blusa, revelando seu torso tonificado e
tatuado.
Eu noto as grandes asas de anjo em suas costas novamente. Todas as
suas tatuagens são complexas e requintadas, e eu não ficaria surpresa se
algumas delas tivessem uma história para contar.
Seu punho de repente voa pelo ar e quase acerta minha mandíbula.
Eu provavelmente deveria estar menos focada em suas tatuagens e
mais em suas repentinas habilidades de luta.
Que diabos?
Ele se agacha e então ataca. Ele é tão rápido que praticamente parece
um borrão.
Ele tira o fôlego de mim e me bate no chão.
Tentando respirar, meus olhos se arregalam quando vejo seus punhos
cerrados, vindo em direção à minha cabeça como um martelo.
Eu consigo desviar bem a tempo.
Ele é como um animal, embora haja uma sensação de controle.
Mas será que é ele quem está no controle?
Quando eu olho em seus olhos antes roxos, eles agora estão
vermelhos e inflamados.
Ele vem para cima de mim, mas desta vez. estou pronta.
Eu o engano, e ele desliza de cara pela terra.
Eu pulo em suas costas e o imobilizo com o máximo de força que
tenho.
— Ai, merda! Eu me rendo! — Ele grita.
Confusa, eu o viro e vejo que seus olhos voltaram ao normal.
Será que estou imaginando coisas?
— Onde você aprendeu a lutar? — Eu pergunto. — Esses movimentos
vieram do nada.
— Não faço ideia, — ele responde. — Eu não sabia que conseguia lutar
até agora.
Ofegante, me levanto e o ajudo a se levantar.
— Bem, então, pelo menos nós desbloqueamos algo em sua memória.
— Embora sua estranha luta feroz me deixe apreensiva em persistir nesse
caminho.
Não posso esquecer que os caçadores procuram nos controlar e nos
transformar em armas.
E ainda há muito sobre este homem que eu não sei.
— Olha só! Foi uma luta caprichada! — uma voz familiar ecoa da
borda do ringue.
Eu me viro para ver Dom sorrindo e acenando para nós.
— Dom! Chegou a tempo para ver o show, não é? — Eu digo, sorrindo
de volta.
Dom pula no ringue e se aproxima de nós.
— Esqueci como é divertido ver você lutar, — diz ele. — Mas esse cara
novo também tem habilidades.
Dom estende a mão para O Experimento.
— Qual o seu nome?
— Ah, sim, vocês não se conheceram ainda. Dom, este é...
De repente, percebo que na minha cabeça o tenho chamado de — O
Experimento — esse tempo todo.
Ele ainda não tem um nome próprio.
— Não me lembro do meu nome, na verdade, — diz ele, apertando a
mão de Dom.
— Ahhhh. você é aquele cara, — Dom diz, fazendo a conexão. —
Espere. Isso não vai dar certo. Você tem que ter um nome. E você está
com sorte... Acontece que eu sou o mestre dos apelidos.
Eu zombo.
— Você que se autodenominou mestre.
— Ei, só porque o Dom-inador não pegou... Espere um segundo. —
Dom passa por trás do Experimento e examina suas costas, sorrindo.
— Já sei! O nome perfeito!
— Sem suspense, desembucha, — eu digo, colocando minhas mãos
em meus quadris.
— Angel!
Eu olho para O Experimento e ele sorri lentamente.
— Eu acho que... gostei, — diz ele.
Meu celular de repente começa a zumbir e, quando vejo minha tela,
meu estômago se contrai instantaneamente.
Alex: Ei, precisamos conversar.
ALEX
O pai de Alex esboça um sorriso fraco enquanto seguro sua mão. Alex
está do outro lado da sala, olhando para mim nervoso enquanto Maria
tenta confortá-lo.
Deusa, por favor, me guie.
— Hum. Vossa Majestade...
— Eu não sou mais o rei, querida. Apenas me chame de George, — diz
ele, fraco.
— Tudo bem... George. Você está pronto? — Eu pergunto hesitante.
Ele expressa um aceno frouxo, o que eu presumo que significa sim.
Não tenho ideia do que estou fazendo, mas suplico à Deusa que isso
funcione.
Alex ficará arrasado se eu não puder curar seu pai e não quero que ele
perca outra pessoa importante em sua vida.
Foi tão difícil para ele seguir em frente depois de Olivia...
Como ele pode passar por tudo isso de novo tão cedo?
Eu tenho que fazer tudo que posso.
Respirando fundo, coloco minhas mãos no peito de George.
Alex e Maria se juntam a mim ao lado da cama de George. Alex me
lança um sorriso esperançoso.
Eu não posso decepcioná-lo.
Tento direcionar a energia do meu corpo para George, sentindo-a
diminuir e fluir por mim como um rio.
Meu corpo todo estremece enquanto concentro meu poder em
George, mas...
Eu abro meus olhos e olho para baixo.
George está tão pálido e doente como antes.
Por que não está funcionando?
Eu fecho meus olhos e tento novamente.
Selene, por favor, me ajude!
Começo a me sentir ansiosa ao tentar transferir minha energia para
George, mas fica cada vez mais difícil me concentrar.
Algo não está certo e eu sei disso.
Selene!
Finalmente, ouço uma voz fraca no fundo da minha mente e sinto
como se estivesse caindo em um transe.
— Ariel, não se desespere, criança. Você fez tudo que podia...
Estou parada em uma clareira com neblina, mas a Deusa da Lua não está
em lugar nenhum.
Eu só posso ouvir a voz dela, e até mesmo isso soa distante e abafado.
— Por favor, você tem que me ajudar a curá-lo! — Eu imploro.
— Nem todos podem ser curados com o seu dom, — ela responde. —
Minha irmã Fate pode ser instável...
— Mas eu mudei os planos dela antes, não mudei? — Eu pergunto, com
minha voz tremendo. — Não posso mudar de novo?
— Você mudou, — ela responde. — Mas George já se entregou à Fate, e
não há nada que você possa fazer sobre isso.
— Mas por quê? — Eu pergunto desesperadamente. — Por que não posso
curá-lo?
— A doença dele não é uma ferida que você pode fechar ou uma cicatriz
que você pode curar, — ela diz suavemente, com sua voz começando a
desaparecer.
— O único destino que você pode mudar é o seu próprio.
Em um tranco, estou de volta à realidade e descubro que minhas
bochechas estão molhadas de lágrimas.
Alex e Maria estão olhando para mim com preocupação.
— Ariel, o que aconteceu? — Alex pergunta. — Seus olhos rolaram
para trás e você parou de responder por um minuto.
Quando olho nos olhos de Alex, fico cheia de pavor.
Embora a voz de Selene estivesse distante e abafada, sua mensagem
era alta e clara.
— Meus poderes não podem curar uma doença terminal, — eu digo,
derrotada.
Alex fica pálido.
— Você tem... certeza?
Eu aceno enquanto as lágrimas continuam caindo.
Sem mais palavras. Alex se vira e sai, com desespero em seu rosto.
A mão trêmula de Maria cobre sua boca, mas ela não se permite
derramar uma lágrima.
Sinto-me completamente desamparada e arrasada.
Acho que algumas coisas realmente são deixadas nas mãos de Fate.
TAP!
TAP!
TAP!
Um barulho na minha janela me desperta.
Parece que alguém está jogando pedras...
Sonolenta, me levanto da cama e vou até a janela.
TAP!
Ao abri-la, coloco minha cabeça para fora e vejo Alex no quintal,
segurando um punhado de pedras.
— Posso subir? — ele pergunta, sorrindo.
Não posso deixar de sorrir ao me lembrar da primeira vez que Alex me
chamou de fora da minha janela.
Ele veio para roubar um beijo, mas acabou roubando meu coração.
Eu me pergunto o que aquele ladrão quer roubar agora.
— Pode, — eu digo, sorrindo de volta. — Apenas fique quieto.
Alex sobe pela lateral da casa e rasteja pela janela, caindo estatelado
no chão.
Enquanto eu o ajudo a se levantar, ele me puxa para perto e me beija
profundamente.
Todos os meus medos de Alex estar decepcionado comigo
desaparecem instantaneamente, e eu derreto em seus braços.
— O que você está fazendo aqui? — Eu pergunto, olhando nos olhos
ansiosos de Alex.
Ele nunca passou a noite aqui, principalmente porque provavelmente
seria estranho para Steve e Louisa saber que o rei está dormindo na casa
deles.
Mas é óbvio que Alex não está aqui para dormir...
— Eu tenho algo que preciso perguntar a você, — ele diz, nervoso. —
Talvez esteja muito cedo... ou talvez o momento não seja o mais
adequado, mas eu sei no meu coração que somos feitos um para o outro.
— Alex, o que você está dizendo... — Meu coração está acelerado.
— Ariel, o que temos é muito mais forte do que o destino. É real e
inquebrável.
Minha Deusa. Ele vai...
— Ariel. você quer ser minha Luna?
— Eu... hum, eu...
Estou completamente atordoada. Meu coração está preenchido e meu
amor por Alex está mais forte do que nunca, mas...
Mesmo que minha resposta esteja na ponta da minha língua...
Não sei qual será.
Capítulo 10
A PROPOSTA EM ESPERA ARIEL
Enquanto Alex me encara em antecipação, parece que o tempo
congelou.
Ele quer que eu me torne sua Luna...
Oficializados em uma cerimônia de acasalamento...
Mas estou pronta para tudo o que vem com o acasalamento com um
rei?
As festas.
As multidões.
Os discursos.
Estou ficando ansiosa só de pensar nisso.
Sem mencionar a perspectiva de eventualmente começar uma
família... algo que é acelerado consideravelmente quando se trata de pares
reais.
Levei tanto tempo para chegar onde estou agora... Só não quero
retroceder.
Talvez Alex tenha lidado totalmente com seu trauma e saído do outro
lado uma pessoa mais forte.
Mas no meu caso?
O outro lado ainda é pouco visível no horizonte. Eu tenho um longo
caminho a percorrer.
— Ariel, você está me matando com este silêncio, — diz Alex,
desconfortável. — Por favor, pelo menos diga alguma coisa.
— Eu te amo... — eu digo, seguido por uma respiração profunda.
— Mas... — Alex diz, seu rosto desanimado.
— Não estou pronta, — digo, embora as palavras pareçam uma lixa na
minha língua.
Por mais que me machuque recusar a proposta de Alex, agora
simplesmente não é o momento certo.
Não posso me jogar de um penhasco enquanto ainda estou
aprendendo a usar minhas asas.
Embora os olhos de Alex estejam impregnados de tristeza, ele ainda
esboça um sorriso.
— Estou feliz que você esteja sendo honesta, — diz ele, envolvendo-
me em um abraço.
Eu finalmente relaxo, me sentindo confortada em seus braços.
— Eu gostaria de estar pronta. Eu realmente gostaria. — murmuro,
tentando lutar contra minhas lágrimas.
— Eu sei, meu amor, — ele diz, acariciando meu cabelo. — É muita
pressão. Pressão demais. Vou esperar por você o tempo que você precisar.
Eu enterro meu rosto em seu peito, tentando secar minhas lágrimas.
Não tenho dúvidas de que tenho um futuro com Alex.
Eu acredito firmemente que ele é o par que Selene me disse para
curar.
Mas por enquanto... eu ainda tenho que lidar com minha própria
cura.
Ariel: Angel
Ariel: O experimento
Ariel: Concordo.
Quando saio de seu quarto algum tempo depois, me sinto muito mais
leve do que quando entrei.
Sua bênção me deu uma sensação de paz interior.
Eu sorrio para mim mesmo, pensando no que vou fazer com Ariel
quando ela voltar. Neste momento, encontro Dom e Angel caminhando
juntos no corredor.
— Onde está Helena?
— Descansando, — Dom responde.
Eu aceno.
— Ei... vamos tomar uma bebida.
— Estamos no meio do dia. Não deveríamos estar trabalhando? —
Dom me pergunta.
— Deveríamos, — dou uma piscadinha.
— Você é o melhor Alfa de todos os tempos. — Dom diz. — Vamos.
Seguimos em direção à entrada da frente. Angel fica para trás.
— Você vem? — Pergunto-lhe.
— Eu não quero me intrometer.
— Você vem sim. — eu digo, dando um tapinha em seu ombro.
ARIEL
Xavier.
Meu ex-par destinado...
Par da minha IRMÃ...
Está me beijando!
Não.
Isso não pode estar acontecendo.
Eu não posso fazer isso.
Eu me afasto.
Ou tento, pelo menos.
Parece que nossos lábios são dois ímãs.
Eu pressiono minhas mãos contra seu peito e, com toda a força física e
emocional que posso reunir, o empurro para longe de mim.
Ele está olhando para mim com um sorriso tímido.
Eu não sei o que dizer.
Beijar Xavier era minha fantasia adolescente e, para ser honesta, seus
lábios eram tão bons quanto eu sonhei que seriam.
Mas não quero mais essa fantasia. Nossa chance de sermos pares se foi
há muito tempo.
Algo em mim pensa que Xavier não concorda necessariamente. Ele
lambe os lábios e dá mais um passo em minha direção enquanto eu me
afasto.
— Xavier, pare.
— Eu sei que você sente isso, — diz ele. — Nosso vínculo não está
quebrado. Isso parece certo. Nada parecia certo há muito tempo.
— Xavier, não. Você só está chateado. Seu filho está desaparecido e
você... você está...
— Eu não me importo por quê. Só sei o que quero fazer agora. Eu só...
— Ele me puxa para ele novamente, e eu sou praticamente eletrocutada
pela faísca que sinto quando ele toca minha cintura.
Mas não posso beijá-lo de novo, mesmo que meu corpo queira.
— Não, — eu digo, mais uma vez para garantir.
Abro a porta e tropeço para dentro.
Ele chama atrás de mim.
— Eu vou ficar no hotel da Matilha Real esta noite. Quarto 14, — diz
ele. — Venha me ver se mudar de ideia. Por favor, mude de ideia.
Antes que ele possa falar outra palavra, bato a porta na cara dele.
Que merda foi essa?
ANGEL
Sentado no topo da torre de água com Dom e Alex, não posso deixar
de me sentir parte do grupo.
Cada um de nós tem uma cerveja na mão enquanto rimos
histericamente das piadas estúpidas de Dom.
Este é um bom descanso do mistério que me consume toda a minha
existência.
Por apenas uma tarde, posso me sentir normal.
E eu realmente gosto da companhia desses dois.
Especialmente quando estou mais do que um pouco embriagado.
— Não vai ser tão fácil beber no meio do dia, quando o filhote chegar,
— diz Alex, dando uma cotovelada em Dom.
— Espere — bebês não podem consumir bebidas alcóolicas? — Dom
gargalha.
— Estou falando sério, — diz Alex. — As coisas estão prestes a mudar.
Este é o fim de uma era.
— Um brinde ao fim de uma era, — Dom diz, levantando sua garrafa.
— E o começo de uma nova.
Todos nós brindamos com as garrafas.
— A nova era pode começar em breve, — Dom acrescenta.
Por alguma razão, quando Dom disse isso, senti minha pele começar a
arrepiar.
— Você deveria pedir ao doutor para injetar alguns medicamentos em
você, para que você possa manter a calma durante o parto. — Alex diz.
— Eu queria, cara. Mas Helena vai tentar fazer a coisa toda natural.
Como uma supermulher.
Alex está sorrindo. Mas eu não estou.
Essa conversa está me deixando extremamente enjoado. E não tenho
ideia do porquê.
Doutor.
Filhote.
Medicamentos.
Injetar.
Eu fecho os olhos para parar a vertigem.
Mas quando os abro novamente, não estou olhando para o perímetro da
Matilha Real.
Em vez disso, estou olhando para a careta de um caçador.
Um nome passa pela minha mente: Soldado... o Soldado de Prata.
O que...
Ele segura uma seringa brilhante sobre mim.
Meus olhos estão fixos na agulha.
Está me deixando tonto.
Os lábios do Soldado de Prata estão se movendo.
Eu não consigo ouvi-lo.
O que ele está dizendo?
Acho que ele está falando comigo.
Eu observo seus lábios, tentando interpretar as contorções de sua boca.
E então, eu entendo suas palavras.
— Você está quase pronto, — diz ele. — Você vai fazer um ótimo trabalho.
Hã?
Mas não tenho mais tempo para questionar esse sentimento porque ele
enfia a agulha no meu braço.
Eu grito com todas as minhas forças — e de repente estou de volta.
Estou no topo da torre de água novamente. Alex está com a mão no
meu ombro. E estou tremendo, encharcado de suor frio.
— Você está bem, cara? — ele me pergunta.
— Desculpe, eu...
— Você não parece muito bem, — diz ele.
— Sim, é que — bebemos muito com o estômago vazio, — eu digo.
Alex concorda.
— É verdade. Por que não voltamos? Já está na hora, de qualquer
maneira.
— Ok, — eu respondo, juntando as garrafas vazias em meus braços.
Alex e Dom continuam conversando enquanto caminhamos em
direção ao palácio, mas tudo que posso ouvir são as palavras do caçador
ecoando em minha cabeça.
— Você está quase pronto.
Pronto para quê?
ARIEL
Eu deito na cama e fico olhando para o teto pelo que parecem horas.
Eu vasculho meu cérebro, tentando pensar no que eu poderia fazer
para me colocar de volta nas boas graças da Deusa da Lua.
Só há uma coisa que é gritantemente óbvia para mim...
Cada vez que passo um longo período de tempo com Xavier, não ouço
nada de Selene.
Silêncio total.
Outra coisa que sei é que amo Alex em todos os sentidos — mente,
corpo e alma.
Há apenas um pequeno pedaço de mim que deseja Xavier — a parte
que não pode negar nosso vínculo de acasalamento.
Mesmo se estiver quebrado, ele não desapareceu. Não
completamente.
Preciso aprender como recuperar o controle dessa parte de mim. Se eu
conseguir dominá-lo, deixá-lo enfraquecer até que desapareça, então
poderei me controlar e estar no comando da minha vida.
Se conseguir disciplinar essa parte de mim, estarei livre.
Meditando sobre esse pensamento, caio no sono.
Dom: Esse idiota aqui vai ser pai!!!!!! (emoji de boca aberta, emoji
com coração nos olhos, emoji de boca aberta, emoji com coração
nos olhos) Minha Deusa.
Eu volto de moto para casa uma hora depois com um grande sorriso
no rosto e o gosto dos beijos de Alex em meus lábios.
Quando estávamos nos despedindo no hospital, perguntei se poderia
ir para casa com ele. Eu queria que ele me segurasse em seus braços
também.
Mas ele disse que precisa de um pouco mais de tempo sozinho para
descomprimir. E então podemos retomar nossa rotina de noites juntos.
Honestamente, fiquei decepcionada. Estou desejando seu toque.
Mas também aprecio que ele esteja sendo intencional com suas
emoções e não apenas me levando de volta à sua casa enquanto a dor de
ontem ainda o atormenta.
Além disso, provavelmente foi melhor assim. Eu preciso descansar
para amanhã.
Eu mudo minha linha de pensamento de volta para o assunto mais
urgente em mãos.
Encontrar Xavi.
Ver Camélia hoje me lembrou de como um bebê realmente é frágil e
indefeso. Preciso encontrar meu sobrinho o mais rápido possível.
Eu oro por este pequeno ser, na maior esperança de que ele não esteja
sofrendo o mesmo abuso terrível que Angel e eu sofremos.
Amanhã, vou retomar a investigação sozinha, sem Xavier.
Aproximo-me da porta de Steve e Louisa e, para meu choque total e
absoluto, a própria pessoa em que estou pensando está lá esperando por
mim.
Xavier!?
Pisco meus olhos, mas não é uma miragem. Xavier está realmente
parado na varanda, no mesmo lugar onde aquele beijo vergonhoso
aconteceu.
Eu não consigo acreditar na audácia.
Ele está desobedecendo às ordens de Alex, permanecendo na Matilha
Real. Ele poderia ser preso por isso. Ou pior.
— O que... o que você está fazendo aqui!? — Eu pergunto a ele,
incapaz de esconder minha surpresa. — Alex disse para você ir embora e
não voltar mais.
— Eu sei, — diz ele, — mas há algo urgente que preciso falar com
você.
— Você tem outra pista sobre Xavi?
— Não, nada disso, — ele diz, balançando a cabeça desanimadamente.
— Então o que? — Pergunto-lhe.
— Posso entrar? — ele pergunta, olhando ansiosamente para trás. Ele
obviamente sabe que terá problemas se alguém o pegar no local.
— Não, Xavier, — eu digo. — Apenas me diga o que está acontecendo
e depois volte para sua matilha.
— Nossa matilha. — ele diz, agarrando minha mão.
O quê?
Eu recuo ao seu toque.
— Ariel, por favor, apenas me escute. Nós deveríamos ficar juntos.
O QUÊ?
— Xavier, estou com Alex. E você está acasalado com minha irmã. Não
sei que tipo de jogo você está jogando, mas não vou fazer parte dele.
— Isso não é um jogo, Ariel! Isto é minha vida! E a sua. Somos pares
destinados. É o que Fate deseja para nós. E eu não consigo parar de
pensar em beijar você.
Ele se inclina em minha direção novamente, mas eu desvio de seus
lábios.
— Ariel, por favor. Seja meu par.
Ele acabou de dizer que...?
— Eu escolho você. Eu sei que é a coisa certa a se fazer. Fuja comigo.
Esta noite.
Minha Deusa!
Por que essa merda continua acontecendo!?
Capítulo 16
PREDESTINADO, MAS NÃO ACASALADO
ARIEL
Eu não ouvi direito ou Xavier está dizendo o que acho que está
dizendo?
Ele está dizendo que quer ficar comigo?
Não apenas flertar comigo ou me beijar, mas me escolherá.
Este é o momento com que toda garota sonha: quando seu par
destinado pede para ser seu futuro.
Mas isso não é um sonho.
É um pesadelo de merda.
— Xavier, — eu digo desesperadamente, recuando enquanto ele dá
um passo em minha direção. — Pare. O que você está... você escolheu
Natália. Estou com Alex.
— Fui um tolo, — diz ele, — deveria ter pensado melhor do que lutar
contra Fate. Eu estava destinado a perder tudo quando rejeitei você. E se
tornou realidade. Eu não tenho mais nada.
Apesar do meu horror com suas palavras, meu corpo está balançando
a cabeça em concordância, ansiando por entrar em seu toque.
O momento em que Xavier me rejeitou como seu par foi um dos mais
dolorosos que já suportei.
Este é o oposto. Parece que a ferida que ele infligiu naquele dia está
sendo curada por essas palavras.
E parece que minha loba está tão confusa quanto eu. Ela é atraída pelo
lobo de Xavier e está tendo dificuldade em lutar contra ele.
— Xavier, você escolheu Natália, — repito, meu cérebro como um
disco arranhado. — Você escolheu Natália.
— Eu sei! — ele grita. — Sinto muito por ter feito isso, sinto muito
mesmo!
— Eu não preciso de um pedido de desculpas, — eu digo. — Eu não
preciso de nada de você. Eu só... preciso que você vá embora agora. Volte
para ela.
— Voltar para quem? — ele pergunta. — Natália não é mais a mulher
forte e segura com quem me acasalei. Não a vejo há dias. Ela fica o tempo
todo em seu quarto com todas as luzes apagadas, chorando sem parar. É
patético.
Perdão?
Eu sinto as borboletas que Xavier tinha liberado no meu estômago
morrem em uníssono.
Como ele pode ter tão pouca empatia por seu par escolhido?
A mãe de seu filho?
Certo, não tenho o melhor relacionamento com Natália. Mas ainda
consigo sentir empatia com a imensidão de sua dor.
— Ela vai lamentar o sequestro de Xavi até que ele esteja de volta em
seus braços. E você também deveria, — eu digo incrédula.
— E se esse dia nunca chegar?
— Xavier, você precisa acreditar
— Não, Ariel. O que eu preciso é de um herdeiro. Posso continuar
perdendo meu tempo procurando meu filhote perdido ou posso fazer
outro. Com você. Você é tão forte, Ariel. Tão bonita. É claro que Fate
escolheu você para mim. Podemos trazer à vida o herdeiro que o destino
pretendia que eu tivesse.
Minha irmã não merece essa palhaçada.
Ele se move em minha direção novamente.
Em um flash, a palma da minha mão faz contato com a bochecha de
Xavier enquanto eu o bato o mais forte que posso.
Isso envia ondas por sua pele, e já há uma marca de mão vermelha se
formando.
Ele me encara com os olhos arregalados, pego de surpresa pela minha
explosão.
— O que... — Ele agarra meu pulso.
Eu luto contra seu aperto, mas não consigo me soltar.
Ele agarra meu outro braço, prendendo-o com força ao meu lado.
— Ariel, não tem que ser assim.
Ele move seu rosto em direção ao meu, com seus lábios prontos para
um beijo.
Eu umedeço minha língua na preparação.
Conforme ele se aproxima de mim, eu cuspo em seu rosto.
Xavier recua, me soltando enquanto ele limpa a saliva.
— Vai se foder, — ele zomba, dilatando as pupilas, curvando os lábios.
— Vai se foder você, — eu rosno. — Saia da minha casa e da minha
matilha agora. Vou continuar perdendo meu tempo tentando encontrar
seu filho. Mas não por você. Por minha irmã.
— Boa sorte em encontrá-lo sem mim, — ele rosna.
— Se eu não fui clara, deixe-me dizer mais uma vez para garantir. Eu
rejeito você como meu par. — Repito com confiança as palavras que ele
proferiu para mim naquela noite terrível.
Pela expressão em seu rosto, posso ver que ouvir suas próprias
palavras jogadas de volta para ele o está destruindo por dentro.
Eu normalmente odiaria ver alguém em agonia, mas por apenas um
momento, eu me permito saborear isso.
Sofra como eu.
Sofra como minha irmã.
Sofra como seu filho.
Sofra.
E então eu bato a porta da frente, deixando-o suportar aquele
sofrimento sozinho.
Assim que a porta se fecha, eu solto um grito agudo e animado.
Parece que um peso gigante foi tirado de mim.
Eu finalmente deixei Xavier ir, liberando a bagagem de meu par
quebrado — expulsando sua sombra. Meu futuro e meu destino estão
completamente em minhas próprias mãos.
E só há uma pessoa com quem quero compartilhar.
Eu olho pela janela e observo Xavier indo embora.
Sorrindo para mim mesma, subo as escadas para o meu quarto.
Mal posso esperar para dizer a Alex que ninguém mais vai ficar entre
nós de novo.
ALEX
Ariel: Convide-a para jantar em sua casa, mas não diga por quê.
Minha mãe fica em silêncio enquanto seus pés voam pelos corredores
do palácio. Ela não se vira para esperar por mim.
Ela não me deixa vê-la chorar...
Quando chegamos ao quarto deles, encontro meu pai deitado na
cama, inconsciente, ligado a inúmeros tubos e máquinas.
Eu corro em direção a ele, desabando ao seu lado e pegando sua mão.
Pelos picos e vales rasos no monitor, posso dizer que seu coração
ainda está batendo. Mas está fraco.
— O que aconteceu? — Eu perguntei à minha mãe. — Ele parecia
estar bem ontem.
— Ele se levantou no meio da noite, Deusa sabe o porquê, e caiu na
escada.
— E agora?
— Ele está inconsciente por horas. O médico mandou todo esse
equipamento do hospital e disse para mantê-lo confortável.
Eu não acredito que eu não estava aqui.
Eu deveria estar aqui para ajudá-lo.
— Onde você estava quando tudo isso aconteceu, Alex? — ela me
pergunta, um olhar preocupado. — Eu bati na sua porta sem resposta.
— Eu estava com Ariel. Estávamos longe do palácio.
— Por quê? Houve algum problema? Algo que eu não sei?
— Não. Não houve problema, mãe, — digo baixinho, — apenas
saímos.
— No meio da noite? Sério? — ela pergunta novamente, olhando para
mim com ceticismo.
— Sim. Não se preocupe comigo, ok? Já temos preocupações
suficientes.
— Você está certo, — ela responde, sentando-se em uma cadeira ao
lado da cama do meu pai e inclinando a cabeça no encosto alto estofado.
Ela parece aliviada por tirar pelo menos uma preocupação de sua
mente.
Ajoelho-me ao lado da cama de meu pai e seguro sua mão mais uma
vez.
Eu olho para suas pálpebras, vibrando suavemente a cada respiração
que ele dá.
Elas parecem finas como papel.
Praticamente translúcidas.
Eu examino o restante de sua forma frágil. Acho que nunca percebi
que meu pai, o todo-poderoso Rei dos Lobisomens, era tão... pequeno.
Vê-lo agora me deixou ainda mais orgulhoso de ser seu filho, sabendo
que sua verdadeira força como líder vinha de dentro.
Eu me inclino e descanso meus dedos em seu pulso, sentindo o que
restou de sua pulsação, grato por poder sentir qualquer coisa. Mas então,
a sensação se intensifica. Eu coloco minha mão na dele, e seus dedos
começam a apertar os meus.
Eu olho para ele. Ele está definitivamente olhando para mim.
— Pai, — eu digo, engolindo o choro, embora eu possa ouvir que
minha mãe é incapaz de conter o dela. — Como você está?
— Estou bem, meu filho.
— Precisa de alguma coisa? Está confortável?
— Não se preocupe, Alex, — diz ele, — apenas feliz por estar aqui.
Eu aperto sua mão com mais força e vejo como suas pálpebras caem,
um peso para ele suportar.
Ele volta a dormir enquanto eu e minha mãe observamos.
Estou feliz que você ainda esteja aqui também, Eu quero dizer a ele.
ARIEL
Alex desapareceu com sua mãe antes que eu pudesse entender
completamente o que estava acontecendo.
Eu queria correr atrás dele, mas talvez seja melhor dar a ele um tempo
a sós com sua família.
Então, em vez disso, decido voltar para seu quarto e esperar que ele
me encontre.
Mas quando entro no corredor, vejo alguém que não esperava.
Amy parecendo estranhamente exausta... como se ela não tivesse
conseguido dormir na noite anterior.
Acho que somos duas.
Eu me aproximo dela com os braços estendidos e, sem falar nada, ela
caminha diretamente para o meu abraço.
— Você está bem? — Eu pergunto a ela. Quando ela não responde, eu
a pressiono ainda mais. — O que está acontecendo?
— Estou bem. Mesmo. Vou te contar tudo. Mas primeiro, café, — diz
ela.
— Ok. — Eu concordo. — Bom plano.
Eu faço tudo que posso para silenciar a voz que está ecoando na
minha cabeça, ameaçando afogar minha própria consciência e assumir
minha forma física.
Eu coloco uma barricada na porta do meu quarto com uma cômoda e
então começo a bater minha cabeça contra ela.
A madeira não é dura o suficiente.
Eu bato minha cabeça contra a parede.
Sem resultado, a voz fica cada vez mais alta.
Eu me deito na cama, segurando meu tórax, tentando arranhar meu
caminho para fora da minha própria pele. Não quero habitar nela se não
puder controlá-la.
Parece que meu corpo é uma arma, mas outra pessoa está com o dedo
no gatilho.
E eu sei exatamente quem me tem em seu poder.
Eu posso vê-lo em minha mente, falando aquelas palavras horríveis.
— Pegue o bebê. Pegue o bebê.
É o Soldado de Prata, aquele com o rosto repleto de piercings e um
sorriso abominável.
— Pegue, — ele comanda.
— Por quê? — Eu pergunto a ele novamente.
— Porque bebês são folhas em branco. Os bebês têm um potencial
ilimitado.
— Dom e Helena são meus amigos.
— Você não tem amigos. Você nem sabe seu verdadeiro nome. Agora faça
o que eu digo. Pegue o bebê, como você pegou o último.
— O último? Eu peguei o...
— Claro que você pegou. E você vai fazer de novo, — diz ele
ameaçadoramente. Neste momento, eu sei que não tenho escolha. Estou
lutando uma batalha perdida.
— Preparar, apontar... — o Soldado de Prata diz com um rosnado. — Já!
Como se fosse uma deixa, minhas unhas se transformam em garras.
Eu tiro meu próprio sangue tentando me impedir de me transformar,
rasgando as imagens tatuadas em meu peito.
Mas é tarde demais.
Meu pelo começa a emergir.
Meus ossos começam a se quebrar.
Meus músculos começam a inchar.
— Às suas ordens, — eu digo em voz alta, horrorizado com as palavras
que saem da minha boca.
ARIEL
Graças à Deusa.
Alex está colocando sua reputação em risco por mim, e eu não posso
decepcioná-lo.
Eu olho ao redor da sala e vejo os rostos confusos e decepcionados dos
membros do conselho.
— Então, você vai deixá-lo andar livremente? — Dave pergunta.
— Não! — Eu respondo por Alex. — Ele não estará livre. Ele estará sob
estrita supervisão.
— O que você precisa para ajudá-lo, Ariel? — Alex me pergunta.
— Eu preciso ficar sozinha com ele.
— Não, — Angel rosna.
— Sim. — eu rosno de volta. Preciso me manter firme com ele.
Afirmar meu poder para que ele confie que posso ajudá-lo.
— Tem certeza de que é seguro? — Alex me pergunta.
Eu aceno.
— Mas se você estiver preocupado, pode ordenar que os guardas
fiquem do lado de fora da porta.
Alex olha para Dave, que concorda.
— Nós iremos para a biblioteca, — eu digo. — É um local pacífico. E
acho que precisamos de um pouco de paz.
Eu aperto a mão de Angel.
— Você está pronto para vencer essa coisa? — Eu digo.
Ele balança a cabeça, mas o leve sorriso em seu lábio o trai.
Sim.
Eu consigo ver claramente agora.
Não é mais apenas um sonho.
É uma memória.
É a calada da noite.
Eu tenho um bebê em meus braços.
Quem é o bebê? Não sei.
Ele está dormindo. Parece tão em paz.
Eu quero voltar. Entrar de fininho na casa de onde o tirei. Para devolvê-lo
ao berço.
Mas eu não consigo. Sou compelido a continuar andando.
Eu corro ao longo de uma estrada longa e sinuosa. Parece que nunca vou
parar de correr. Como se eu nunca chegasse aonde preciso ir.
Mas de repente, sem saber o porquê, eu viro para a esquerda. O terreno
muda. Fica mais suave. Mais maleável. Eu olho para baixo e vejo que estou
caminhando por um campo de flores.
— Que tipo de flores? — Eu ouço a voz de Ariel interrompendo
minhas memórias.
— Eu não tenho certeza... mas talvez sejam... amarelas. Ou douradas.
— Foco. Elas poderiam ser... papoulas?
Eu sintonizo de volta na memória, tentando aumentar a clareza dela.
— Sim, — digo, — acho que são. Por quê?
ARIEL
Minha Deusa...
Eu sei onde o Soldado de Prata está.
— Dói muito falar, — diz ele.
— Tudo bem. Apenas relaxe, — eu respondo.
Quero tirar minhas mãos de Angel, mas não quero chocar seu sistema.
Então, continuo absorvendo sua dor e escuridão com as pontas dos
meus dedos, limpando-o de dentro para fora. Parece que estou
realizando algum tipo de fotossíntese psicoespiritual.
E então seus olhos encontram os meus.
— Estou pronto. Me liberte. Eu não aguento mais.
— Ok. — Eu aceno e então, como arrancando um band-aid, eu puxo
minhas mãos de seu corpo.
Ele exala com seu corpo estirado no sofá.
— Como você está se sentindo?
— Diferente.
— De que maneira?
— Como se um peso de 50kg tivesse sido tirado de mim.
— Incrível, — eu respondo.
— Mas ainda não consigo me lembrar de nada de antes de tudo isso
começar, — diz ele com uma pitada de decepção. — Meu nome, minha
família ou minha matilha...
— O Soldado de Prata realmente fez um estrago em você. Quer
enfrentar o desgraçado na vida real? — Eu pergunto. — Porque acho que
sei onde ele está.
Não há tempo para responder a mais perguntas. Eu deslizo a lâmina
de volta em sua capa e corro em direção à porta, ouvindo-o se esforçar
para se levantar do sofá e me seguir.
Abro a porta, esperando ver o rosto do General Dave olhando para
mim. Em vez disso. Alex está esperando do outro lado, andando de um
lado para o outro nervoso.
— O que está acontecendo? — ele me pergunta.
— Eu acho que sei onde Xavi está.
— Isso é ótimo! Onde?
— Você não vai acreditar, mas acho que estávamos lá mais cedo esta
manhã. Vou descobrir.
— Vamos! — Alex diz, pronto para voar para fora da porta.
— Não... Alex, — eu agarro seu antebraço e o puxo para mim. — E se
algo acontecer com seu pai de novo? Pode ser horrível se você não estiver
aqui. Você deveria ficar. Vou apenas com Angel.
— A última vez que você saiu em uma missão de resgate com um
homem, ele a beijou, — diz Alex.
— Hã? — Angel interrompe. — Isso não vai ser um problema aqui.
— Diz o cara que tentou sequestrar o bebê do meu melhor amigo.
Fonte realmente confiável.
— Justo, — diz Angel.
Alex me agarra pela cintura.
— Ariel, você é meu futuro, e eu preciso protegê-la a todo custo. Eu
sei que meu pai me diria a mesma coisa. Eu vou contigo.
— Tudo bem, — eu admito. Se Alex estivesse ao meu lado, eu ficaria
muito mais confiante sobre toda essa situação.
— Devemos alertar Xavier e Natália? — Angel pergunta.
— Não. — eu digo. — Não quero dar esperanças como da última vez.
Vamos embora.
— Precisamos criar uma estratégia! — Angel diz. — Desenvolver um
plano! Alguma coisa!
— Qualquer segundo que perdemos é mais um segundo de abuso que
Xavi tem que suportar! — Eu digo.
— Devemos trazer um esquadrão de guerreiros da matilha? — Alex
pergunta.
— Acho que não, — respondo. — Temos que ser extremamente
discretos. Se invadirmos, com as armas disparando, Xavi pode ser pego
no fogo cruzado. Eu não conseguiria lidar com isso.
Com isso, começo a caminhar pelo corredor.
Quando chegamos à entrada da frente, vejo Amy sentada em uma
cadeira, apoiando a cabeça entre as mãos. Raramente vejo minha amiga
despreocupada parecendo tão derrotada.
Eu me viro para Angel, mas ele não precisa da deixa. Ele já está
caminhando em direção a ela.
— Oi, — diz ele se ajoelhando na frente dela.
Ela espia por entre os dedos.
— E aí?
— Escute, eu não tive a chance de dizer o quanto eu sinto muito. Por
tudo que fiz você passar. Eu só espero que você possa ver... não sou eu....
— Eu sei, — diz Amy. — Eu sei que você nunca faria isso de verdade.
— Obrigado por ver o meu verdadeiro eu, — diz Angel. — Você está
bem? — ele pergunta.
— Vou ficar. Só estou preocupada com você, — Amy responde. —
Como você está?
— Ele vai ficar bem, — eu interrompo, sorrindo para Amy. Quero que
ela saiba quanta fé eu tenho em Angel — que ele irá confrontar seus
demônios e colocá-los a seu favor.
Eu ouço Alex checando com um dos guardas do palácio atrás de mim.
— Você pode trazer um dos SUVs da garagem? Vamos sair um pouco.
Ele faz parecer tão casual!
Mas a verdade é que podemos não encontrar absolutamente nada. E
parte de mim teme que, quando induzi Angel a entrar em transe, tenha
transmitido a imagem do campo de papoulas para sua mente.
E se for apenas mais um beco sem saída?
Mas não há tempo para pensar nessa possibilidade, só há tempo para
agir.
Em um minuto, eu vejo os faróis do SUV saindo da garagem e indo
para a entrada.
— Para onde vocês estão indo? — Amy me pergunta.
— Vamos tentar dar um fim aos nossos problemas de uma vez por
todas. Segure as pontas, está bem? Certifique-se de que Helena e a bebê
Camélia estão bem.
Ela me puxa para um abraço profundo.
— Ok. Tome cuidado.
Eu aceno e sigo Alex para fora da porta da frente, e Angel está logo
atrás de mim.
ALEX
Eu posso sentir.
Este é o lugar.
A fonte dos meus pesadelos está aqui.
Meu estômago se revira. Meu cabelo está em pé.
Coloco minha mão trêmula na velha porta de madeira e a abro.
Posiciono um pé dentro e depois o outro. Está escuro, mas quando meus
olhos começam a se ajustar, fico surpreso com o que vejo.
Não há nada de sinistro neste lugar. É apenas um galpão de jardim
padrão, com ancinhos, baldes e peças sobressalentes de madeira
compensada.
Este não é o laboratório elaborado com extenso equipamento médico
que eu esperava encontrar.
A essa altura, Alex e Ariel se juntam a mim no galpão.
Eu pulo quando a porta se fecha.
— É apenas o vento, — ouço Ariel sussurrar. Embora eu não tenha
tanta certeza de ter sentido alguma brisa.
Olhamos ao redor, cada um esperando ver algum sinal de algo
incomum.
Bem... Cuidado com o que deseja...
Porque, de repente, algo muito incomum acontece.
Uma grande grade de metal desce do teto, bloqueando a porta da
frente e nos trancando lá dentro.
— Deusa! — Ariel grita quando a grade quase cai em seu pé. Ela se
esquiva para fora do caminho, e Alex envolve seus braços em volta dela.
No outro canto da sala, vejo uma das tábuas do piso começar a se
mover sozinha.
É um alçapão. E alguém o está abrindo por baixo de nós.
Eu aponto para ele, e todos nós agachamos, prontos para atacar.
Eu o ouço primeiro: o som de botas com bico de aço vindo em nossa
direção.
Então, no brilho fraco da lua...
Finalmente vejo o rosto do Soldado de Prata.
Capítulo 24
O SOLDADO DE PRATA ANGEL
O Soldado de Prata.
O homem que roubou minhas memórias — a coisa mais preciosa que
você pode roubar de uma pessoa — está bem na minha frente.
Vou matá-lo.
Eu preciso vê-lo morrer.
Dou um passo em sua direção.
— Olá, Marius. Lembra de mim? — ele diz.
Eu rosno e o encaro mortalmente.
— Marius? É esse o meu nome? Eu não me lembraria porque você
limpou minha mente, porra.
— Você está atrasado, — diz ele com indiferença. — Eu estava
esperando você ontem à noite.
— Parece que você não tem tanto controle sobre mim quanto
pensava, — eu disparo para ele.
— Bem, eu sabia que você voltaria. Só não achei que você fosse tolo o
suficiente para trazer companhia.
Ele olha para Alex e Ariel pela primeira vez.
— Mas para ser honesto, — ele continua, — estou feliz que você
trouxe a garota para mim. Eu queria cuidar dela por um tempo.
— Você não vai tocar nela, — Alex rosna.
— Tudo bem, pode ser do seu jeito, — responde o Soldado de Prata. —
Eu não preciso tocá-la para matá-la.
ARIEL
— NÃO, — eu grito.
Aquele traidor de merda.
Eu vou matá-lo assim que tiver a chance.
Eu conheço Ariel. Ela fará qualquer coisa para salvar a todos nós.
Mas não posso deixá-lo tê-la. Eu não posso deixá-lo vencer.
Eu luto contra o aperto de um dos Alfas que está me restringindo, mas
ele é inumanamente forte.
É o Alfa Tom. Eu o conheço bem. Ele é um amigo há muitos anos.
Mas agora, ele foi reduzido a uma das bestas de Xavier.
— Ariel! — Eu grito, minha voz falhando. A ideia de perdê-la dói ainda
mais do que a ideia de perder meu reino.
Eu ficaria feliz em desistir de tudo para tê-la ao meu lado.
Ela precisa saber disso.
Ela precisa parar o que está fazendo e fugir para um lugar seguro. Mas
em vez disso, ela está caminhando direto para os braços abertos de
Xavier.
Os sons dos Alfas selvagens rosnando abafam meus gritos.
Ela está cara a cara com ele.
Seus lábios se curvam em um sorriso cruel.
Para meu horror, vejo um sorriso se estender em seu rosto também.
Não...
Ela estende a mão para ele, em direção ao seu rosto presunçoso.
Ela acaricia sua bochecha.
Ariel...
Por quê?
Mas então, com uma sacudida de seu pulso, algo escorrega de sua
manga.
O objeto capta a luz do luar quando ela o agarra.
Eu o reconheço imediatamente.
A adaga da pedra da lua.
E em um flash, ela está segurando contra sua garganta.
ARIEL
Estamos presos.
Sem escapatória.
E os Alfas estão se aproximando.
— Formem uma linha de defesa! — Eu grito, me preparando para minha
transformação.
Mas então, Xavier passa por mim, indo direto para os Alfas de olhos
vermelhos.
— O que diabos você está fazendo?
Quando Xavier ergue as mãos, os Alfas se levantam, como se estivessem
conectados à sua mente.
Minha Deusa...
Xavier se vira, exibindo um sorriso perverso que se espalha em seus lábios.
— Foi... foi você, — gaguejo. — Você nos traiu.
— Hoje não é apenas um funeral para o ex-rei, — zomba Xavier.
Os monstruosos Alfas mutantes estão todos em uníssono, seus olhos
vermelhos e injetados de sangue.
— É um funeral para o rei atual também.
Eu agito minha pele de lobo, e junto com ela, minha memória ruim.
Preciso me concentrar no presente... em rastrear os Caçadores.
Nós nos agachamos na vegetação rasteira e eu faço uma conexão
mental com meu esquadrão.
Fiquem alertas. Consigo farejá-los, estão por perto.
De repente, minhas orelhas se levantam enquanto o chão sob minhas
patas vibra.
Passos. Dezenas deles. De todas as direções.
Em poucos instantes, estamos cercados.
As bestas dos caçadores estão apontadas em nossa direção enquanto
recuamos em um círculo fechado.
Eu exponho meus caninos e rosno.
Eu tiro meus saltos e rasgo as costuras de cada lado do meu vestido até
meus quadris para ter melhor mobilidade.
Estou pronta para lutar.
Fico horrorizada quando vejo todos os meus amigos encostados nos
cantos da capela, parcialmente deslocados.
O que eu faço?
Eu não posso ajudar todos eles.
Tudo o que posso fazer é assistir enquanto os Alfas enlouquecidos e
monstruosos rosnam e se lançam sobre os guardas da Matilha Real,
derrubando suas espadas e prendendo-os no chão, cravando os dentes
em suas gargantas.
Como diabos vou nos tirar dessa?
Seis lobos cercados por uma dúzia de Caçadores.
Preciso pensar rápido.
Já estive em situações piores.
Na verdade, estive em uma situação impossível antes.
Xavier se volta para mim, levantando a voz para que todos possam ouvir:
— Eu estou te dando uma escolha, Ariel. Em alguns momentos, vou
assumir o trono. Não há nada que alguém possa fazer para impedir. Quando
eu fizer isso, posso matar todos aqui. Assim...
Ele estala os dedos e todos os Alfas avançam com entusiasmo, como se
uma refeição tivesse sido servida na frente deles.
Um grito de terror se espalha pela capela.
— Ou... você pode concordar em ser minha rainha, e nos acasalaremos
esta noite. — Seus olhos brilham diabolicamente.
Assim que ouço o que Xavier está me fazendo escolher, minha cabeça
começa a girar.
Estou completamente impotente e sinto meu coração começar a latejar.
Uma escolha impossível.
Eu olho parei o rosto de Alex, meu par, e seus olhos verdes indefesos me
imploram para parar
Mas no final das contas, só há uma escolha.
Vivian: Oi
Vivian: Eu prometo
VIVIAN
Pai: Não deixe que eles a vejam como alguém fraco, ou eles a
destruirão.
Pai: Para que você não acabe como a vadia da sua mãe.
Com a menção de minha mãe, meu corpo inteiro fica tenso. Me sinto
mal do estômago, como se estivesse prestes a vomitar.
Sempre que papai fala sobre minha mãe, sinto uma raiva avassaladora
crescer dentro de mim.
Uma raiva profunda que arranha meu corpo, tentando escapar de sua
jaula.
Não fique com raiva, Vivian! Controle-se!
Mas é tarde demais...
As palavras do meu pai ativam um gatilho dentro de mim que não
consigo impedir.
Está acontecendo.
Minhas unhas se estendem de minhas mãos, tornando-se grossas e
pontudas.
Tento forçar minhas garras afiadas a irem embora, mas a
transformação apenas continua.
Sinto uma dor agonizante no céu da boca quando meus caninos se
projetam.
Os pelos dos meus braços e pescoço se arrepiam, e um sentimento
selvagem toma conta da minha mente.
Tento desesperadamente me transformar de volta. Ninguém pode
saber a verdade...
Eu corro pelos corredores do palácio, enfiando minhas garras em meu
blazer e mantendo minha mandíbula cerrada com força.
Ninguém pode saber que sou híbrida.
ARIEL
Eu preciso me esconder!
Ninguém pode me ver assim. Isso vai estragar tudo.
Corro pelo corredor e, no final dele, encontro uma estátua de bronze
de uma mãe loba com seus filhotes, sugando seus seios.
Eu me agacho e rastejo atrás dela.
Quando estou fora de vista, encosto-me na parede e tento recuperar o
fôlego.
Minhas garras finalmente se retraem e meus dentes voltam ao normal.
O sentimento selvagem em minha mente se dissipou e sou totalmente
humana de novo.
Isso poderia ter dado muito errado.
Papai me criou para rejeitar meus impulsos de lobo, mas quando fico
com raiva, é difícil controlá-los.
Eu só posso me transformar parcialmente, sendo híbrida, mas ainda
parece que eu habito o corpo de outra pessoa.
Não me sinto confortável com minha própria pele... ou pelo.
Nunca estive perto de tantos lobisomens antes. Eu deveria ter
adivinhado que minha loba iria manifestar sua cabeça feia aqui.
O que significa que terei de me esforçar ainda mais para suprimi-la.
Se alguém descobrir a verdade, tudo estará perdido.
Minha vida em Washington...
Minha carreira inteira...
E meu pai.
Ele é a única família que me resta.
Eu olho para a estátua de bronze imponente e sinto meu estômago
apertar. A loba com seus filhotes...
Minha mãe era uma lobisomem.
Papai disse que ela me abandonou logo depois que nasci. Ele disse que
ela era uma prostituta e uma drogada — que ela não tinha amor por
mim.
Eu não tenho nenhuma memória real dela, então talvez ele esteja
certo, mas...
Há uma coisa que ficou comigo todos esses anos. Uma memória tão
tênue que acho que nem posso chamá-la de memória — é mais como um
sentimento.
É como um cobertor quente e felpudo, enrolado em volta da minha
mente. Uma conexão intensa como nenhuma outra.
Gosto de pensar que esse sentimento é da minha mãe, mas sei que
provavelmente estou apenas louca. Faz com que eu me sinta melhor
quando começo a perder o controle.
Eu inspiro profundamente quando percebo o quão perto eu estava de
me expor à Matilha Real. Fui enviada aqui para ser uma embaixadora dos
humanos — para preparar a cerimônia de unificação e a chegada do
presidente.
E o que estou fazendo no meu primeiro dia? Escondida atrás de uma
maldita estátua.
Eu cuidadosamente me levanto e aliso as dobras do meu terninho.
Chega de erros, Vivian, penso comigo mesma. Faça o seu trabalho.
Preciso começar a trazer meu melhor jogo. Porque isso precisa correr
perfeitamente bem.
ALEX
Amy: Está ótima, mas mal posso esperar para voltar para casa!
Ariel: Bem, muita coisa mudou na matilha real desde que você
partiu
Estou enfurecida.
Natalia foi pega entrando de fininho nas masmorras para ver Xavier.
Depois de dar a ela um voto de confiança, ela me traiu.
Seria diferente se ela apenas quisesse ver seu ex-par — mas ele é meu
ex-par também. E ele provou ser o criminoso mais perigoso do reino.
A traição de Natalia quase me faz lamentar por ter poupado a vida de
Xavier.
Vadia ingrata.
Alex e Dom estão praticamente correndo para me acompanhar
enquanto minha raiva me impulsiona para frente.
Quando nos aproximamos do palácio, os guardas baixam a cabeça em
respeito antes de abrir o portão da entrada. Eu retribuo o gesto com um
breve aceno de cabeça e entro no corredor.
— Onde ela está? — Eu digo. — Onde está minha irmã?
Minha cabeça vira para ver Alex e Dom se arrastando atrás de mim
pelas portas.
— Ela está esperando por você, — Dom diz. — Andar de cima.
Estou fervendo de raiva quando alcanço Natalia, que, mesmo depois
de sua traição, está esperando por nós — desprotegida — nos aposentos
da família.
Preciso de todas as minhas forças para não arrancar o sorriso puritano
de seu rosto quando a vejo.
Alex coloca a mão em meu braço e sussurra em meu ouvido: — Talvez
eu deva começar...
Os olhos de Natalia encontram os meus antes de piscarem para Alex.
— Vossa Majestade?
É
— É um crime grave, — diz Alex. — Xavier é...
— Como você pôde? — Eu digo, interrompendo. Posso dizer que Alex
estava planejando ser diplomático, mas quero que ele fique do meu lado.
— Você está aqui como nossa convidada, Natalia.
— Eu... — Natalia diz.
— Ele é perigoso. Ele é a razão pela qual nossa família teve que buscar
refúgio aqui em primeiro lugar.
— Não é como se eu fosse deixá-lo sair, — diz ela. — Eu só queria vê-
lo...
— Vê-lo? O criminoso mais traiçoeiro do reino? — Eu expiro,
balançando minha cabeça.
— Você realmente não tem remorso?
— Remorso? — A palavra soa estranha, saindo de seus lábios.
Eu sinto o calor subindo para minhas bochechas. — Nós a recebemos
quando você não tinha para onde ir...
— Ah, como você é justa! Ariel: a única pessoa que está entre mim
e a vida de um selvagem...
Fico indignada com o sarcasmo e olho para Alex. Eu quero que ele
interrompa e mostre a gravidade de desobedecer à lei da Matilha Real,
mas ele apenas permanece lá.
— Ele também é da família, Ariel, — diz Natalia.
— Ele não é da minha família.
— Ele é de Xavi... — Natalia move seu olhar através da sala para onde
meu sobrinho está tirando sua soneca da tarde, sereno apesar da disputa
ao seu redor. — Não quero que ele cresça sem pai.
— Você prefere que ele tenha um criminoso em sua vida?
— Na verdade, sim. É melhor do que perder o pai.
Eu me viro para olhar para Alex novamente e percebo que Dianne está
parada na porta.
Alex tem aquela expressão preocupada em seus olhos, e eu sei que ele
está pensando em seu próprio pai. Estou decepcionada por ele não falar
nada.
Natalia sabe o que está fazendo. A paternidade é o ponto fraco de
Alex.
Minha irmã parece triunfante. — Então, se eu quiser ver o pai do meu
filho...
— Ah, cale a boca, querida.
Todos os olhos pousam em Dianne.
— Você não percebe? — ela diz. — Sua irmã não é apenas uma Luna...
ela é a rainha. Se ela disser que você não pode ver Xavier, você não pode
ver Xavier.
Uma onda de apreciação me invade e sorrio para Dianne.
— É uma decisão sábia. E Ariel está certa em fazer isso. Não queremos
Xavi seguindo os passos do lobo que nos colocou nesta situação,
queremos?
— Mas eu...
— Mas nada. Obedeça a sua irmã. Esse é o seu papel agora.
Natalia parece chocada. Ela leva um momento para fechar a boca e se
recompor.
Estou tão surpresa quanto.
Dianne está do MEU lado em uma discussão? Finalmente.
VIVIAN
Vivian: Desculpe
Vivian: Eu tentei tocar no assunto, mas acho que ainda não ganhei
a confiança dela Pai: Droga, Vivian! Você está perdendo essa
oportunidade?
Pai: O que quer que ela esteja fazendo, ofereça ajuda. Insira-se
nos negócios dela. Torne-se indispensável.
Pai: Achei que você pudesse ser útil. Não demonstre o contrário.
ARIEL
Estou permitindo que Natalia veja Xavier. Mas vou vigiá-la de perto. E
vigiá-lo também. Além disso, vou garantir que nada de ruim aconteça ao
meu sobrinho.
Vejo Xavi nos braços de Natalia enquanto os conduzo para a
masmorra. Ele parece tão confortável, tão confiante no abraço de sua
mãe. Cachos de cabelo castanho caem sobre seus olhos de girassol. Ele
está crescendo rápido, e posso ver mais semelhança comigo a cada dia.
Eu gostaria de protegê-lo, não importa o quê. Ainda assim, há algo em
sua semelhança aparente que me lembra especialmente de cuidar dele.
Mesmo quando eu tinha a idade de Xavi, meu vínculo com meu pai
era inquebrável. Não vou deixar Xavier machucar ou influenciar
negativamente seu filho.
Não vou deixá-lo tirar vantagem do filho da mesma forma que usou
Natalia.
Há uma sensação de ansiedade crescendo na boca do estômago
enquanto descemos cada vez mais para baixo do palácio. Nada de bom
poderia ser mantido tão profundo no subsolo.
Eu me pergunto o que viver aqui embaixo fez com Xavier.
Quando chegamos às masmorras, os guardas abrem caminho para nós
sem questionar. Acompanhada pela Luna e pela rainha dos lobisomens,
minha irmã não precisa se esgueirar por eles desta vez.
Eu estaria com raiva de ela ainda conseguir me manipular para dar a
ela o que ela quer, se eu não estivesse convencida de que ela realmente
está fazendo isso pelo seu filho.
Sei em primeira mão como é doloroso ver meu ex-par. Nosso ex-par.
Minha frequência cardíaca aumenta à medida que avançamos pelo
corredor, chegando mais perto dele a cada passo que damos.
Como ele vai reagir quando nos ver? Quando ele ME ver?
Mas chegamos à cela úmida de Xavier agora. E é hora de enfrentá-lo
juntos.
A primeira coisa que vejo quando minha visão se ajusta à luz fraca são
seus olhos, brilhando através das sombras.
Uma lanterna na parede lança um raio de luz em sua cela quando ele
dá um passo à frente, iluminando metade de seu rosto enrugado.
Seus olhos continuam a arder com uma intensidade que me deixa
perplexa.
Apesar das algemas de prata amarrando seus pulsos, sua presença é
tão dominante como sempre. Ele é de alguma forma ainda maior do que
eu me lembro dele.
Meu coração salta na minha garganta. Quero mais do que tudo me
mostrar confiante, mas sinto que posso definhar sob aquele olhar.
Capítulo 9
O PAPEL DE UMA LUNA ARIEL
Minhas garras se extraem instintivamente. Tenho que me lembrar que
estamos aqui para deixar Xavier ver seu filho.
Ele não está prestes a nos atacar sem motivo.
Ainda assim, é reconfortante saber que ele está atrás de uma porta
trancada, preso por algemas de prata que o impedem de se mover.
Embora eu saiba que posso derrotar Xavier, não quero arriscar nada com
este prisioneiro.
Seu olhar está me dando arrepios, e eu direciono meus olhos ao redor
de sua cela para evitar o contato visual. É pequena e escura — não há
muito mais do que uma cama imunda.
Um cheiro podre permeia o ar e musgo úmido sobe pelas paredes.
Xavier está acorrentado ao outro lado, o que o impede de se
aproximar muito da porta.
— Olá... Xavier, — Natalia diz. — Eu trouxe Xavi. Sei que você devia
estar querendo ver seu filho.
Ela estende a criança para ele e fico surpresa ao ver Xavi estender os
braços também. Ele não parece nem um pouco perturbado com a
aparência selvagem de seu pai.
Meu coração brilha e, naquele momento, sinto que fiz a escolha certa.
Toda criança precisa de seu pai.
Mas o sentimento se dissipou rapidamente quando Xavier começou a
falar: — Você está errada, mulher. Eu não queria isso.
Xavi choraminga, sem entender o que está acontecendo, e Natalia
puxa o filho decepcionado de volta para o peito.
— Eu não queria ver você nem aquela criança.
— "Aquela criança" é seu filho, — diz ela.
— Ele é meu filho tanto quanto você é meu par.
— Como assim?
— Você me ouviu. — Os olhos de Xavier brilham com o veneno de
suas palavras. — Eu me recuso a reconhecer um herdeiro de qualquer
mulher, exceto meu par destinado.
Eu não posso acreditar que este é o mesmo lobo que me baniu.
Ele dá um passo em nossa direção e estende uma mão carinhosa
através das barras — para mim.
Eu o afasto com um movimento do meu pulso.
— Ariel... — diz ele.
— Não estou aqui para falar com você, — digo. — Estou aqui apenas
para garantir que você não tente nada estúpido.
Ele abre a boca para falar, mas minha raiva crescente me faz
continuar.
— Você já passou dos limites. Você não merece ver seu filho, e ainda
assim você... você... tem coragem de desconsiderá-lo? Você vai apodrecer
aqui até morrer. Eu vou fazer com que...
— Não, — Natalia diz, me olhando bem nos olhos. — Você não vai.
Eu fico olhando para ela sem acreditar.
— Eu não quero isso para o pai do meu filho.
Um som sarcástico emerge das profundezas da garganta de Xavier.
— Quer ele aceite esse papel ou não, — diz ela.
Eu não posso acreditar que ela perdoaria Xavier depois de tudo que ele
fez.
A essa altura, é difícil dizer qual de nós ele mais machucou, mas acho
que nada se compara a recusar-se a reconhecer o próprio filho.
E, ainda assim, Natalia quer que seu ex-par seja livre.
Isso é patético ou maduro?
— Vamos tirar Xavi daqui, — eu digo.
— Você pode ter quebrado nosso vínculo de acasalamento, mas nunca
vai se livrar de mim, — zomba Xavier.
Não se vire. Não se deixe levar
— Estarei sempre com vocês. Em seus pensamentos. Em seus
pesadelos. Em seus corações. Com as duas.
Alex está esperando por nós de braços cruzados quando chegamos ao
topo da escada.
Quem disse a ele onde estávamos?
— Sério, Ariel? — Ele olha incisivamente para Xavi como se não
quisesse dizer mais nada na frente da criança.
Natalia sai correndo da sala, fechando firmemente a porta atrás dela.
— O que? — Eu digo. — Ela me convenceu. Ela disse que…
— Eu não me importo com o que ela disse. Xavier é um criminoso
perigoso — você sabe disso.
— Eu fui cuidadosa. Existem guardas lá embaixo. E você realmente
acha que ele iria...
— Cuidado. Você é minha Luna agora. Você não pode sair por aí
fazendo qualquer ideia que surgir na sua cabeça. Não se trata do que
Xavier faria, mas de você.
— Como assim?
Ele desdobra os braços. — Sinto muito, mas a impulsividade não é
mais o seu papel. Você é uma Luna. Uma rainha.
— E qual é exatamente o meu papel, então? Fazer o que você diz?
Onde você tem escondido esse lado controlador?
Alex não está recuando. — Você ao menos se importa em ser a rainha?
Porque se você se importar, eu não percebi. Suas ações têm
consequências agora, mas você apenas sai por aí fazendo o que quiser.
ALEX
Sei que me expressei mal assim que ouvi as palavras, mas não posso
voltar atrás agora.
Estou tentando dizer algo a Ariel e, pelo menos dessa forma, minhas
frustrações estão à tona.
Ela sai furiosa do corredor e sobe as escadas.
Eu não sigo.
Quero que estejamos na mesma página, mas não estou calmo o
suficiente para amenizar essa situação. Se eu tentar explicar minha
perspectiva agora, só vou piorar as coisas.
Estou apenas tentando protegê-la de Xavier, mas sei que ela não vai
querer ouvir isso. Ela é uma guerreira: ela sabe se proteger.
Mas ele é perigoso. Ele é manipulador. E ele é... seu ex-par.
Embora eu espere que minhas intenções não tenham sido
obscurecidas por isso, é algo que nunca irá embora. Um fato que não
pode ser esquecido.
Não acho que isso esteja me influenciando agora, mas seria ingênuo
dizer que está fora de cogitação.
Eu só queria que Ariel pudesse ver que eu tenho suas melhores
intenções no coração. Se ela soubesse disso, ela confiaria em mim sem
questionar.
Se peço a ela que não faça algo, não é porque quero controlá-la. mas
porque, como seu par, me preocupo com seu bem-estar.
E, como o Alfa da Matilha Real, eu me preocupo com o reino. Eu
gostaria que ela levasse suas responsabilidades como Luna a sério.
— O que está pensando? — Eu olho para cima para ver minha mãe
examinando meu rosto.
— É Ariel, — eu digo antes de pensar. — Ela precisa...
A expressão de minha mãe é uma mistura de preocupação e o que
parece diversão.
— O que? — Eu digo.
— Não é nada. Vocês dois são exatamente como seu pai e eu éramos.
Eu gostaria que isso fosse verdade, mas meus pais eram governantes
natos. Não me sinto preparado para ser rei, e Ariel é nova em seu papel...
— Você não parece convencido, — diz minha mãe.
— Eu não estou.
— Vamos dar uma volta, — diz ela, estendendo o braço.
Eu pego e saímos.
— Sabe, — ela diz, — quando seu pai me pediu para ser seu par, eu
tive minhas dúvidas. Eu o amava, é claro, mas meus amigos me avisaram
que minha vida mudaria da noite para o dia... e eles estavam certos.
Descemos os degraus do palácio e passeamos pelos jardins.
— Você tinha dúvidas sobre ser rainha?
— Ah, sim. Eu amava minha vida e, embora ainda não tivesse uma
direção sólida, ficava feliz em descobrir para onde estava indo à medida
que prosseguia.
Nunca ouvi minha mãe falar assim sobre se tornar realeza. Ela sempre
pareceu ter nascido para o papel.
— Mas quando eu escolhi ser a Luna de seu pai, eu sabia que, em certo
ponto, o caminho da minha vida havia se tornado predeterminado.
— Isso é tão ruim assim? Você governou um reino.
Minha mãe dá de ombros. — Foi uma sensação desagradável para
mim. E eu nem mesmo tinha um plano para ser uma guerreira como
Ariel tinha. Eu não sabia o que estava deixando para trás — e ainda assim
parecia que estava deixando muito.
Percebo a fragrância dos jardins por um momento, tentando
entender. A vida de Ariel foi roubada dela — duas vezes. Uma vez pelos
Caçadores e novamente por mim.
Eu quero dar a ela o mundo, mas até mesmo isso vem com restrições.
Talvez eu não deva ser tão duro com ela...
ARIEL
Amy: Estou tão animada para vê-la na matilha real amanhã à tarde
Amy: E eu mal posso ESPERAR para ver o que você planejou para
minha despedida de solteira!!!
Merda.
A despedida de solteira de Amy.
Esqueci totalmente e nem comecei a planejá-la.
Ariel: Mal posso esperar, vai ser incrível!
Vai ser um completo desastre.
Capítulo 10
O PLANEJAMENTO DA FESTA
ARIEL
Ariel estava dormindo quando eu fui para a cama e não tive a chance
de me desculpar com ela.
Estou procurando por ela agora, refletindo sobre o que minha mãe me
disse ontem à noite enquanto caminho pelo palácio em busca de meu
par.
É quase impossível pensar que houve uma época em que minha mãe
não queria ser rainha. Ela assumiu o papel tão bem — ela personificou
isso para mim, na verdade.
Talvez isso seja parte do problema. Minha mãe fez um trabalho tão
bom como rainha que não consigo imaginar isso sendo feito de outra
forma.
Mas agora percebo que preciso mudar minha atitude. Se a Rainha
Maria precisou amadurecer em seu papel, eu não deveria esperar que
Ariel já fosse uma Luna confiante.
A Deusa sabe que demorei para me acostumar a ser rei — e fui criado
para isso. Sem Dom ao meu lado naqueles primeiros anos, eu estaria
perdido.
Preciso encorajar Ariel da mesma forma que Dom me apoiou.
Espero que ela aceite minhas desculpas.
Sigo o som da voz de Ariel e acabo em seu escritório.
Ela está com a Vivian. Elas estão debruçadas sobre o computador de
Ariel, tendo uma conversa aparentemente séria.
Elas finalmente estão trabalhando juntas?
Eles não me notam na porta até que eu bato nela com os nós dos
dedos. — Posso entrar?
— Entre, — Ariel diz. — Estamos apenas discutindo que tipo de
strippers teremos na cerimônia de unificação.
Estou confuso. Strippers?
Vivian ri.
Elas têm piadas internas agora também?
— Eu estava me perguntando, Embaixadora, se eu poderia pegar meu
par emprestado?
— Claro.
Ariel se junta a mim no corredor e eu fecho a porta atrás dela.
— Desculpe interromper... — eu digo.
— Sinto muito, — ela diz. — Por decepcionar você. Eu realmente...
— Não sinta. Eu sou aquele que deveria estar — está — se
desculpando.
A ansiedade em seu rosto se dissipou imediatamente. Suas
sobrancelhas se franzem e seus olhos brilham enquanto eu continuo:
— Sinto muito, Ariel. Lamento se eu fiz você se sentir como se
estivesse tudo menos feliz com você e como você está lidando com suas
novas funções. É muito para lidar e você está indo muito bem.
Eu estico meus braços e ela imediatamente dá um passo em meu
abraço. Ela encosta a cabeça no meu peito e solta um longo suspiro.
— Não deve ser fácil, — eu digo.
— Não é.
— Você está fazendo um trabalho incrível. Realmente não há nada que
você não possa fazer.
Ela olha para mim e sorri. Nossos lábios se encontram para um beijo e
…
— Com licença.
Eu olho para cima do rosto de Ariel e encontro Natalia olhando para
nós.
Ela parece terrível. Seus olhos estão vermelhos e inchados, e seu
cabelo está despenteado e sujo.
— Você está bem? — Eu pergunto, mas Ariel me interrompe.
— Você quer alguma coisa?
— Sim. Por favor..., — ela pergunta, com a voz trêmula, — Vossa
Majestade, — ela acrescenta rapidamente no final. Ela está se esforçando
tanto para ser respeitosa.
Deve ser importante se ela sentiu necessidade de nos interromper
para perguntar. Ela desvia o olhar, como se tivesse vergonha de se
aproximar de mim.
— Liberte Xavier. Por favor.
O rosto de Natalia está cheio de dor. É como se ela estivesse
implorando à irmã.
Ariel se afasta de mim para se dirigir a Natalia: — Claro que não.
Sério, Natalia? O que você está pensando?
— Tenho certeza de que ele vai embora. Não acho que ele queira ficar
por aqui e causar problemas...
— Depois de tudo que ele fez para você — para nós — como você
ainda pode amá-lo? Ou confiar nele?
— Eu não o amo! — O rosto de Natalia fica vermelho. — Ele quebrou
nosso vínculo... mas ele ainda está aqui. — Natalia bate lentamente em
sua têmpora. — E aqui, me torturando. — Ela bate no peito, acima do
coração.
Ela parece estar em real estresse emocional. Eu olho para Ariel, mas
ela é difícil de ler.
Natalia continua, tentando convencê-la: — Ainda posso senti-lo.
mesmo depois de todo esse tempo, mesmo depois do que ele fez comigo
e com Xavi.
— Você pode simplesmente mandá-lo para longe? Então posso
começar a me curar e dedicar meu tempo a Xavi...
Posso sentir a dor de Natalia. Isso não é um chilique, isso é real.
— Só não o quero debaixo dos meus pés, apodrecendo na masmorra.
Não é bom para Xavi.
Isso faz Ariel parar, e os duas olham para mim.
— Então? — Natalia diz.
— Eu não sei, — eu digo. — Certamente não posso deixá-lo livre...
Ariel está certa. Não podemos confiar nele. Mas, talvez ele pudesse ser
mantido em outro lugar, em outra matilha...
— Isso iria... ajudar, — diz Natalia.
— Vou cuidar disso depois da cerimônia de acasalamento, — digo,
virando-me para Ariel para confirmação.
Xavier ainda está vivo por causa de Ariel. Quero que ela esteja
satisfeita com onde ele for parar. Seu destino está em suas mãos desde
que ela implorou por sua vida.
Ariel acena com a cabeça.
Natalia parece aliviada.
— Nada está decidido ainda, — eu digo. — Mas vou dar uma olhada
nisso e ver se conseguimos resolver.
Natalia acena com a cabeça.
— Agora, com licença, por favor, — digo, — eu estava dizendo ao meu
par algo importante.
VIVIAN
Gostei de trabalhar com Ariel esta manhã. Estou esperando que ela
volte depois da conversa com Alex para que possamos continuar
planejando a cerimônia de unificação.
Já progredimos muito, e foi construtivo ter a opinião de um
lobisomem sobre os arranjos.
Ariel está no corredor com seu par e sua irmã agora.
Não quero ficar escutando, mas com Natalia ali, é difícil não ouvir.
Ela tem uma voz que atravessa facilmente a porta, e não é difícil
entender a essência da conversa apenas com suas palavras.
Ela quer que seu ex-par — que também é de Ariel — seja libertado.
Embora Alex e Ariel não sejam ingênuos o suficiente para concordar com
isso, eles chegaram a um acordo.
Droga, isso não é bom para mim.
Quanto mais perto eu fico de Alex e Ariel, mais complicado meu
trabalho parece ser.
Pego meu telefone em pânico.
Vivian: Eles vão transferi-lo
Vivian: O prisioneiro
Pai: Onde você está e o que está fazendo que pode ser mais
importante do que me responder?
Pai: Sabe de uma coisa? Eu não me importo com o que você está
fazendo.
Pai: Se você não está cuidando das coisas, se não está fazendo o
que eu pedi, você não tem desculpa.
Pai: Puta merda, garota inútil. Sei que você está lendo essas
mensagens! Por que você não está me atendendo, porra?
Ariel: Hum, devo ter mais aulas de Luna com Maria e Dianne Amy:
Affff
Eu coloco meu telefone de lado e desço as escadas, esperando que
uma xícara de café e algo para comer ajudem a diminuir minha dor de
cabeça.
Quando me aproximo da cozinha, no entanto, a dor na minha cabeça
só lateja mais forte. O choro de Xavi ecoa pelos corredores.
Natalia ergue os olhos e me vê, é tarde demais para dar meia volta.
Entro na cozinha e vou direto para a cafeteira.
— Shhh, bebê, está tudo bem, — diz Natalia. — Tudo bem...
O choro de Xavi só fica mais alto, em um fluxo contínuo de
descontentamento.
— O que você quer? — Natalia diz, chateada. — Você está cansado?
Está com fome? Você está tentando deixar a mamãe louca?
Nossos olhos se encontram por um segundo enquanto eu alcanço o
moedor de café, e eu olho para longe.
Minha mente se volta para Xavier na masmorra.
Ele merece estar lá, não há dúvida sobre isso.
Ainda assim, não posso deixar de me sentir um pouco responsável
pela situação difícil de Natalia.
Quando eu escapei dos Caçadores, ela estava felizmente acasalada
com um bebê a caminho. E agora...
Eu olho para ela.
Ela balança Xavi para frente e para trás, quase sufocando-o em um
abraço apertado para abafar o barulho.
Ela encontra meus olhos novamente e lança um olhar furioso em
minha direção. — O que foi?
— Nada. Eu...
Minha mãe entra na cozinha usando roupas passadas e maquiagem
perfeita. Você jamais imaginaria que ela passou a noite passada ficando
bêbada e dizendo coisas das quais deveria se arrepender.
— Ah, faça ele parar, — ela diz a Natalia. — Ele está me dando dor de
cabeça.
Duvido que ele seja a única coisa que está lhe dando dor de cabeça...
Se eu me sinto destruída depois de ontem à noite, não há como saber
como é a ressaca da minha mãe.
— Sabe o que era bom em Ariel... — diz minha mãe.
Deusa, ela ainda está nisso?
Ela olha para mim. — Quando era bebê, quero dizer. A coisa boa sobre
você é que você nunca chorou. Não como sua irmã.
— Dianne..., — digo, servindo o café.
Ela apenas dá de ombros e olha para Natalia. — Você vai acalmá-lo
antes da entrevista, certo?
Estou confusa.
Do que ela está falando? Que entrevista?
Natalia revira os olhos. — Vou levá-lo para cima enquanto vocês duas
têm seu encontro.
— Termine seu café, Ariel, — diz minha mãe. — Uma rainha está
sempre pronta.
Eu pouso minha caneca de café. — O que? Dianne, o que você...?
— Ah... — Minha mãe estampou uma expressão inocente em seu
rosto. — Eu esqueci de te dizer, querida?
Eu cerro os dentes. — Esqueceu de me dizer o quê?
— Marquei uma entrevista de mãe e filha para nós esta manhã. Vai ser
fofo. É melhor você se apressar, eles estão se preparando agora.
O quê?!
Vai ser tudo menos fofo.
Natalia sorri, sem conseguir evitar, claramente se divertindo com meu
desconforto.
Meu coração começa a disparar e posso ouvir o sangue latejando em
meus ouvidos.
Minha mãe oferece uma mão. — Vamos, — ela diz. — Não há como
escapar disso agora.
Eu expiro fortemente, tentando diminuir minha ansiedade.
Minha mãe me pega pela mão e me leva para fora da cozinha.
Eu me concentro na minha respiração. Vejo o jornalista bem vestido e
a câmera já montada no local destinado para um café da manhã
tranquilo.
E então eu vejo sua lista de perguntas da entrevista...
Todo o texto ao redor fica embaçado quando meus olhos se fixam em
uma palavra: CAÇADORES
Acho que vou vomitar.
Não estou preparada para revisitar essas memórias traumáticas.
Respire fundo e mantenha a calma.
De repente, sinto minha loba no fundo da minha mente.
Ela se adianta e aquece todo o meu corpo, dando-me uma sensação de
conforto.
Enquanto ela rosna levemente e anda de um lado para o outro, sinto
uma onda de confiança.
Ela está me encorajando a não recuar desta vez e dizer o que estou
pensando.
Eu aceno, decidindo confiar em minha loba.
Ela está certa...
Se algum dia eu for deixar minhas memórias dolorosas, tenho que falar
sobre elas.
Talvez esta seja finalmente a hora...
A hora de contar minha verdade.
Capítulo 14
A VISÃO PARENTAL
ARIEL
Vivian: Mas você disse que eu nunca deveria deixar minha loba
sair.
Por mais tocante que seja o fato de Ariel acreditar em mim, sua fé está
equivocada.
Eu certamente não tenho as coisas sob controle aqui. Isso é
exatamente o oposto de controle.
Um fugitivo está à solta e, pelo menos em partes, a culpa é minha.
Na verdade, eu sou o Alfa e o rei — é totalmente minha culpa.
É meu trabalho manter a matilha e o reino seguros, e eu falhei.
O criminoso mais perigoso do reino escapou bem debaixo do meu
focinho. E ele foi ajudado por alguém de dentro.
Possivelmente alguém em quem confio...
É exatamente por isso que precisamos de humanos do nosso lado.
Precisamos da ajuda militar deles, gostemos ou não.
Não consigo nem cuidar da porra da minha própria casa.
Eu me viro para Dom. — Precisamos mobilizar um grupo de busca
maior. Um esquadrão não é suficiente. Esta é a nossa maior prioridade.
Não há como dizer quem o deixou sair ou quais são seus planos...
Dom assente. — Eu concordo. Não podemos esquecer do que ele fez.
Este é o criminoso que envenenou os Alfas. Este é o lobisomem que
trabalha com Caçadores.
Estou feliz que estamos na mesma sintonia. — Exatamente. Todo
cuidado é pouco.
Também preciso da ajuda do presidente. Não posso negar isso agora.
A fuga de Xavier é um exemplo flagrante de minha incompetência
como líder. Tenho certeza de que recusar ajuda militar agora faria os
humanos pensarem duas vezes antes de assinar um tratado com um rei
tão tolo.
Não posso deixar meu ego atrapalhar.
E mesmo assim... não consigo evitar. Uma pequena parte de mim
pensa sobre o quão fraco isso vai me fazer parecer — não apenas para os
humanos, mas também para todo o reino dos lobisomens.
Eu deixei o ex-par psicopata do meu par escapar de dentro dessas
paredes.
Mas por mais fraca que seja a minha posição, seria pior não fazer
nada. Seria pior não aceitar ajuda quando ela é oferecida.
— Queria saber quem foi, — Dom diz. — Queria dizer ao traidor
umas verdades...
— Eu sei quem é, — diz Ariel. — Eu sei exatamente quem fez isso.
Sem dizer mais nada, ela sai furiosa da suíte real, deixando a porta
balançando nas dobradiças.
Merda.
Tenho a sensação de que sei para onde ela está indo. Eu poderia dizer
pela expressão de raiva em seu rosto quando ela saiu daqui em busca de
vingança.
Isso vai ser um caos.
Eu sei que ela tem um excelente motivo para fazer essa suposição, mas
é apenas isso — um palpite? Ou ela sabe algo que eu não sei?
Dom levanta uma sobrancelha para mim enquanto eu hesito.
Eu sei que é meu trabalho como rei, e como par de Ariel, resolver isso.
Mas é a última coisa que quero fazer agora.
Eu expiro, antecipando o que está por vir.
Eu sigo meu par para fora do quarto e pelo corredor. Dom segue logo
atrás de mim.
Ariel já localizou a acusada antes de seguirmos pelo corredor e
entrarmos na ala de hóspedes.
— Nataliaaa! — A voz de Ariel ecoa pelo corredor. — Natalia! Saia
daqui...
A ameaça em seu tom é palpável. Na verdade, ouço um rosnado no
final de sua explosão.
Ariel está pronta para entrar em combate. Ela pode matar Natalia se ela
perder o controle.
Enquanto sua irmã chama seu nome, Natalia emerge de seu quarto
como se ela não tivesse pregado o olho.
Poderia ter sido ela?
Xavi começa a chorar de dentro do quarto, mas ela não se vira.
— O que foi? — ela diz. — Você está acordando o castelo inteiro.
Os olhos de Ariel se acendem com o fogo da raiva de um lobisomem.
— Você. O. Libertou.
Ariel avança, empurrando Natalia de volta para a sala.
Seus corpos colidem enquanto Natalia resiste, mas Ariel segura os
ombros de sua irmã e a joga contra a estrutura da cama de madeira.
Natalia se afasta da moldura e ataca Ariel, jogando-a contra a parede
com tanta força que deixa uma marca.
O choro de Xavi se intensifica com a violência.
Eu ouço Dom respirar fundo enquanto Ariel agarra Natalia pelos
cabelos e a joga de volta no corredor.
— Por que você fez isso Natalia? — Ariel grita.
Eu posso ver a fúria animalesca crescendo entre as duas.
Há silêncio enquanto as lobas se encaram, e então o pandemônio se
inicia.
Natalia ruge, estende as garras e salta para a frente. Ariel faz o mesmo.
Se eu não parar com isso agora, eles vão se matar.
Capítulo 17
DESPERTARES INCONVENIENTES
ARIEL
A raiva está tomando conta dos meus sentidos e não vou tentar
impedir.
Eu não me importo mais.
Meu corpo voa em cima de Natalia.
Minha irmã grita enquanto eu a derrubo no chão e a mantenho presa
com o peso do meu corpo.
Ela se contorce debaixo de mim, desesperada para fugir.
Mas não vou deixar.
Ela foi longe demais.
Ela me machucou demais.
Eu puxo minha mão para trás, me preparando para entregar a maior
surra do século, quando sinto Alex me agarrar por trás.
Ele me tira de cima de Natalia, arrastando minha bunda ao longo do
piso de madeira liso enquanto eu tento me soltar furiosamente.
— Me larga, — eu grito para ele, mas ele apenas segura ainda mais
forte. — Não se envolva. Isso é entre mim e minha irmã.
— Qual é o problema exatamente? — Natalia diz. — Além do fato de
que você está agindo como um psicopata.
— Não se faça de boba. Natalia. Como você pôde me trair assim? — Eu
pergunto. — Depois de tudo que fiz por você?
— Hah! — Ela bufa. — O que você fez por mim?
— Quando você quis ver Xavier, eu levei você até ele. E depois,
quando você mudou de ideia e queria ele fora daqui, providenciei para
que ele fosse transferido!
Eu me aproximo dela, lentamente, metodicamente, enquanto flashes
vermelhos começam a nublar minha visão.
— Mas você não podia deixar ser do meu jeito, não é? — Eu continuo.
— Você precisava ajudá-lo a escapar. Você precisava que fosse do seu jeito.
Conforme as palavras saem da minha boca, os olhos de Natalia
instantaneamente, quase comicamente, se enchem de lágrimas.
— Xavier... Xavier se foi?
Uma grande lágrima escorre dramaticamente em sua bochecha.
Eu já vi Natalia fazer esse teatrinho de choro falso quando éramos
adolescentes, mais vezes do que eu poderia contar.
— Essa cena sempre funcionou com Dianne, mas não vai funcionar
comigo, — disparo.
— Ariel, você está equivocada, — diz ela, enxugando o rosto com a
manga. — Mas você claramente tem sua opinião. Nada do que eu disser
vai fazer você acreditar que não fui eu.
Ela dá um passo destemido para longe do canto em que estava se
encolhendo momentos antes.
Eu vejo seus olhos brilharem diabolicamente para Alex, ainda parado
em silêncio atrás de mim.
— Se Xavier escapou, não é minha culpa, — diz ela. — Não é minha
culpa que seu par seja tão fraco. Ele não consegue controlar o que está
acontecendo em sua masmorra, muito menos em seu reino.
É isso.
A gota d'água.
Ela pode me insultar o quanto quiser...
Mas Alex?
Ele está fora de cogitação.
Eu me atiro nela e sinto meu corpo tremendo, pronto para se
transformar novamente.
Mas agora dois pares de mãos me seguram enquanto Dom e Alex me
puxam de volta.
Merda.
— Alex! Você ouviu o que ela disse, não ouviu?! Ela libertou Xavier e
agora ela está culpando você!
Ele me vira para que fiquemos cara a cara.
Eu vejo um olhar distante e dolorido em seus olhos que
imediatamente me cala.
— Ela está certa. Ariel, — Alex diz suavemente. — Eu não sei quem
ajudou Xavier a escapar, mas precisamos de provas antes que você possa
começar a torturar Natalia.
— Mas Alex...
— Não. Ariel. Se você precisa ficar com raiva de alguém, — diz ele
sombriamente, — fique com raiva de mim. Eu dispensei o guarda.
Ele abaixa a cabeça, soltando suas mãos de mim.
Eu olho de volta para Natalia.
Ela está alisando suas roupas e cabelos emaranhados.
— Você ainda vai me dar um tapa? — ela pergunta.
Eu balanço minha cabeça em negativa.
— Parece que a única coisa que ele consegue controlar é você, — ela
diz.
Respiro fundo e expiro lentamente pela boca.
Você não pode matá-la, Ariel, eu me lembro.
Ela tem um filho.
Mas mesmo assim...
— Você está morta para mim, — eu digo, antes de me virar e sair
correndo.
ALEX
ARIEL
Merda.
Estou atrasada para as aulas de Luna.
De novo.
E pela primeira vez, não estou apreensiva, porque honestamente
preciso de alguns conselhos.
Adoraria saber como Maria lidaria com toda a situação de Natalia, já
que bater na minha irmã está aparentemente fora de questão.
Mas enquanto corro em direção à ala do palácio de Maria, alisando
meu vestido e tentando parecer apresentável, posso instantaneamente
sentir que algo está errado.
Normalmente quando eu chego, Maria e minha mãe estão me
esperando com impaciência, já brigando entre si.
Quando me aproximo da sala agora, o ambiente está absolutamente
silencioso.
Quando eu abro a porta e entro, eu as vejo sentadas juntas com seus
rostos enterrados em um jornal.
Maria espia por cima do papel quando ouve meus passos.
Sua expressão é fria, como uma pedra.
— A notícia sobre Xavier foi divulgada? — Eu pergunto timidamente,
com medo de quebrar o silêncio.
— Sim..., — diz Maria. — E outras coisas também.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto.
Ela dobra o papel e o estende para mim.
Eu me aproximo e pego de suas mãos.
Eu engulo em seco quando vejo a foto estampada na primeira página.
É uma foto minha.
Deitada com as pernas abertas na pista de dança.
Enquanto um stripper se esfrega em cima de mim.
Deusa, não.
Meus olhos voam para a manchete no topo da página em letras
grandes: LUNA FESTEIRA SE SOLTA ENQUANTO O REINO ESTÁ EM
CRISE
— Ah, Ariel, — eu ouço Dianne suspirar. — Olhe o que você fez. Eu
disse que nunca deveríamos ter ido àquele lugar.
Ela está certa.
Eu estrague! tudo.
Tudo mesmo.
Capítulo 18
POR UM BEM MAIOR
ARIEL
Alex: Dom, por favor Alex: É coisa séria Alex: Faça isso logo
Dom: Deixa comigo, chefe Eu desvio o olhar do meu telefone ao ouvir
passos e encontro Ariel parada no batente da porta, carregando uma
feição contorcida de preocupação.
Ah não...
O que foi agora?
Eu me levanto da minha mesa e corro até ela.
— Qual é o problema, amor? — Eu pergunto.
Ela empurra um jornal em minhas mãos.
Eu desdobro e leio a manchete.
Deusa...
Este dia realmente não pode ficar pior.
Eu a puxo para um abraço apertado.
— Estou estragando tudo, — diz ela, com o rosto enterrado no meu
peito.
— Bem-vinda ao clube, — eu sussurro em seu cabelo. — Mas eles
estão apenas tentando vender jornais. Eu poderia fazer um álbum com
todas as manchetes de 'Príncipe Playboy' que eles escreveram sobre mim.
Vai passar.
Eu gostaria de poder ficar até ter certeza de que ela se sente melhor,
mas não tenho tempo.
— Ariel, — digo depois de um momento, — sinto muito, mas tenho
que ir. Há uma coletiva de imprensa...
— Sério? — ela diz, alisando o cabelo. — A que horas começa? Devo
me vestir para isso agora?
Eu olho para seu rosto angustiado. E depois para a primeira página do
jornal ainda em minhas mãos.
— Sabe de uma coisa, amor? Por que você não tira o resto do dia de
folga? — Eu digo. — E você odeia coletivas de imprensa mesmo.
Eu pressiono meus lábios nos dela e, em seguida, saio pela porta, me
preparando para o que com certeza será um caos midiático.
ARIEL
Pai: Eu deveria ter feito isso quando você nasceu Pai: Eu deveria
ter deixado você na sarjeta.
Pai: NADA.
Eu jogo meu telefone na mesa em uma fúria cega.
Como ele ousa dizer coisas tão terríveis?
Agora estou começando a perceber...
Eu sou apenas um peão em seu esquema...
Um peão descartável.
Eu sou um...
Ah não...
Meu telefone cai no chão enquanto os ossos em minhas mãos
começam a rachar, um por um.
NÃO, NÃO, NÃO!
Está acontecendo.
Eu não consigo conter.
Minha pele tem pelos.
Minhas unhas se estendem em garras.
Caninos afiados cortam a pele dos meus lábios até eu sentir o gosto de
sangue.
Eu preciso fugir.
Agora.
Antes que alguém veja que eu me transformei.
Antes que alguém veja que sou um...
— Vivian?
Minha visão está turva, mas a voz de Ariel ressoa em meus ouvidos
alta e clara.
Eu enterro meu rosto em minhas patas... o único lugar que resta para
me esconder agora.
— Vivian... você... você é um lobisomem?!
Capítulo 20
TRANSFORMANDO A REALIDADE
ARIEL
Quase deixo cair os cafés no chão quando volto para o pátio e a vejo.
A pessoa parada na minha frente tem as roupas de Vivian, o cabelo de
Vivian, até mesmo o rosto de Vivian... mas ela também tem pelos, garras
e caninos afiados.
Nunca vi nada parecido com ela antes.
Não totalmente humano, não totalmente lobo.
— Vivian... você... você é um lobisomem?! — Eu pergunto, em choque
completo. Mas em vez de uma resposta, ela apenas enterra o rosto nas
patas.
Estou vendo coisas?
Eu oficialmente enlouqueci?
Todo o estresse está finalmente me afetando?
Mas à medida que me aproximo dela, sei que não estou louca.
Minhas mãos tremem enquanto coloco os cafés na mesa.
Ela ainda não respondeu minha pergunta.
Ela continua escondendo o rosto enquanto seu corpo treme com as
lágrimas.
Mas não vou deixar que ela me evite para sempre.
Eu preciso de respostas.
Eu ando até ela e coloco a mão em seu ombro.
— Vivian, — eu digo suavemente, — você consegue falar desta forma?
Na minha loba, consigo falar somente por meio de uma conexão
mental. Mas ela não se transformou totalmente.
Ela me espia por trás de suas patas.
— Consigo, — ela diz sombriamente.
Eu observo sua aparência.
Seus olhos são da mesma cor castanha profunda, mas agora estão
pontilhados com manchas douradas.
Sua expressão, geralmente fria e controlada, de repente tem uma
característica feroz.
— O que você é? — Eu pergunto maravilhada.
— Meu pai é humano, — ela diz depois de uma longa pausa. — Mas
minha mãe era uma lobisomem.
Minha Deusa!
— Você era uma lobisomem esse tempo todo?!
— Metade lobisomem. — ela diz.
Eu não consigo acreditar nisso.
Eu me sinto mal. Passei muito tempo duvidando de Vivian porque
pensei que ela era humana, mas na verdade ela era uma de nós o tempo
todo.
— Por favor, não conte a ninguém, — ela me implora. — Ninguém
sabe.
— Ninguém?
Ela balança a cabeça.
— Vivian, por quê? Por que tem que ser um segredo?
— Eu não fui criada em torno de lobos, Ariel, — ela diz. — Se as
pessoas me vissem assim, pensariam que sou um monstro.
— Mas você está com a gente agora. Você pode ser livre para mostrar
esse seu lado.
— Ariel, não, — diz ela bruscamente. — Você não entende. Isso
arruinaria minha carreira.
— O presidente não sabe que sua embaixadora é híbrida?
O desespero enche seus olhos enquanto ela procura os meus
suplicando.
— Prometa que não vai dizer nada. Para ninguém, — ela diz.
Como posso recusar?
— Eu prometo.
— Obrigada, Ariel, — ela diz, e então tenta se afastar de mim
novamente.
Eu a paro.
— Estou tão envergonhada. Estou horrível.
— Eu acho que você nunca esteve melhor, — eu digo com um sorriso.
Ela sorri também, e eu tenho outro vislumbre de seus caninos
impressionantes.
— Juro que queria contar a você, — ela diz. — Eu pensava nisso o
tempo todo. Mas eu simplesmente não sabia se você me aceitaria.
Uau...
Não consigo acreditar no trauma que Vivian suportou, tendo que
esconder essa parte de sua identidade para o resto da vida.
Os lobos não gostam de ser ignorados.
O dela deve estar sempre arranhando suas entranhas, desesperado
para sair.
Fui arrancada de minha família pelos Caçadores quando tinha
dezessete anos. Eles tentaram diminuir minha conexão com minha loba.
Mas Vivian não cresceu perto de lobos.
Ela nunca teve a experiência da comunidade de uma matilha ou da
orientação da Deusa da Lua.
Ela teve que navegar na vida de um lobisomem sozinha.
— Claro que te aceito, Vivian, — digo. — Posso te dar um abraço?
Ela acena com a cabeça e eu a puxo para mim.
Eu a aperto, e quando ela afunda no meu toque, não posso deixar de
me perguntar se sou a primeira pessoa a abraçá-la dessa forma.
Quando me afasto, seu pelo sumiu, seus caninos afiados se retraíram e
suas garras foram substituídas por unhas rosa pastel.
Ela enxuga uma lágrima da bochecha agora sem pelos.
— Como você pode ser tão legal comigo quando eu menti para você
esse tempo todo?
— Eu mesma tenho segredos, — digo. — Todo mundo tem.
É verdade.
Poucas pessoas nesta terra sabem sobre minhas habilidades de cura.
Não sei o que faria se essa parte de mim fosse revelada contra a minha
vontade.
— Vou retocar a maquiagem, — diz ela. — Acho que a transformação
borrou tudo.
Mas antes que ela se afaste, ela me olha nos olhos. — Ariel, eu sei que
você sente que todo mundo está tentando mudar você. Por favor, não os
deixe fazer isso.
Com isso, ela pega suas amostras de toalha de mesa e desaparece de
vista.
Eu desabo na cadeira mais próxima, me recuperando de tudo que
acabei de saber.
Não consigo acreditar que Vivian escondeu um segredo tão grande
esse tempo todo.
E ela ainda estaria escondendo se eu não tivesse entrado naquele
exato momento.
Em seguida, minha visão escurece quando duas mãos quentes e
familiares cobrem meus olhos.
— Oi. amor, — a voz de Alex sussurra em meu ouvido.
Eu me levanto, me viro e colo meus lábios nos dele.
— Você parece um pouco abalada, — diz ele. — Aconteceu alguma
coisa?
Eu fiz uma promessa para Vivian.
E vou mantê-la.
Mesmo que isso signifique esconder sua verdadeira identidade de Alex.
— Acabei de planejar mais alguns detalhes para a cerimônia de
unificação, — digo. — Quer dar uma volta pelos jardins?
— Uma volta pelos jardins? — ele me imita. — Podemos nos divertir
mais do que isso!
ALEX
Agora que Natalia se foi, a raiva que eu tinha fervendo dentro de mim
evaporou completamente.
Tudo o que resta é uma culpa ansiosa e persistente.
Normalmente eu lutaria até esquecer dela, mas não posso exatamente
treinar com os guerreiros agora, depois de desistir, e agir como se nada
tivesse acontecido.
Eu preciso falar com alguém.
Não posso incomodar Alex: ele está trabalhando sem parar na
cerimônia de unificação.
No momento, só há uma pessoa em todo o palácio com quem posso
realmente falar sobre Natalia.
Minha mãe.
Eu timidamente bato na porta de madeira de seu quarto, me sentindo
um pouco incômoda. Ainda parece estranho pedir conselhos à minha
mãe.
— Mãe? — Eu digo baixinho, empurrando a porta aberta e olhando
para dentro.
Minha mãe está sentada em uma penteadeira de madeira gigante do
outro lado da sala, folheando a última edição do Resumo dos Lobos.
Meu pai anda de um lado para outro, segurando Xavi em seus braços e
fazendo caretas engraçadas para ele.
Nenhum deles me notou.
Eu olho para Xavi chupando o dedo e rindo de alegria com meu pai, e
a tristeza toma conta de mim quando penso em como ele pode não ver
sua mãe tão cedo.
— Deusa, Peter! Não o deixe chupar o dedo enquanto está cravando
os caninos! — Minha mãe diz para meu pai repreensivamente.
Eu limpo minha garganta e os olhos da minha mãe se iluminam
quando ela percebe que estou em pé na porta. — Ariel! Como você está,
querida?
Depois de olhar para o meu rosto, meu pai percebe como estou
chateada e se aproxima. — O que há de errado, pequena guerreira?
— Eu... mandei Natalia embora, — eu digo, tentando manter minha
voz firme.
— O que aconteceu? — meu pai pergunta, expressando um olhar
triste.
Ele normalmente me apoia tanto, mas, neste momento, posso sentir
sua decepção com minhas ações.
Não vou suportar piorar as coisas.
— Pai, eu te amo com todo o meu coração, — digo. — Mas você acha
que posso falar um pouco a sós com minha mãe?
Meu pai parece chocado inicialmente, mas acena com a cabeça
compreensivamente. — Eu estarei lá fora com o Xavi. — Ele me dá um
beijo na bochecha e me deixa sozinha com ela.
Em um instante, minha mãe está com os braços em volta de mim,
acariciando meu cabelo, e eu apenas me permito derreter em seu
aconchego e deixar minhas lágrimas escorrerem.
— Sinto muito, mãe, — eu digo, tentando abafar um soluço.
— Shhh, Ariel, querida, está tudo bem, — diz ela suavemente.
— Não, mãe, não está tudo bem. Eu a mandei para longe de você, de
meu pai e de Xavi.
Ela endireita os braços e me olha com seriedade. — Ariel. Você tem
que entender. Você fez a escolha certa.
O quê?
— Mas... ela também é sua filha, mãe, — digo, me sentindo confusa.
— Sim, mas existem regras, Ariel. Sua irmã era um perigo para a
matilha, assim como para Xavi, — ela diz calmamente. — E como uma
rainha, você teve que tomar uma decisão difícil. Mas era o certo a se
fazer.
Eu olho para baixo, furiosa com o quão casual minha mãe parece.
O jeito que ela está falando sobre sua própria filha ser exilada...
Ela se sentiu da mesma maneira quando Xavier me exilou?
Sua mão levanta meu queixo em sua direção, me forçando a fazer
contato visual.
— Lembre-se do que eu te ensinei. Cabeça erguida.
Sempre.
Limpo as lágrimas do meu rosto, procurando nos olhos da minha mãe
por qualquer sinal de que ela se preocupa em trazer de volta sua filha
desonrada.
Mas em vez disso, ela está sorrindo para mim.
— E Xavi? — Eu digo, tentando conter minha raiva. — Você não acha
que isso vai afetá-lo?
— Você não precisa se preocupar com ele. Ele tem seus avós para isso.
Tudo o que você precisa fazer é ser forte por Alex. Agora mais do que
nunca, — diz ela.
Minha mãe pega minha mão e me guia para sentar em frente ao
espelho da penteadeira.
Eu fico olhando para os meus próprios olhos inchados enquanto ela
passa os dedos pelo meu cabelo. Ela pega uma escova e começa a
trabalhar nos meus emaranhados.
É algo que ela nunca fez quando eu era uma garotinha. Pelo que me
lembro, ela sempre desprezou meu cabelo bagunçado e indomável.
Mas isso parece tão relaxante.
— Olhe para você mesma. Ariel. Você parece uma verdadeira rainha
agora.
Eu fico olhando para meu reflexo no espelho. Estou usando um
vestido da realeza e joias de pedra da lua reluzentes, e meu cabelo sedoso
desce em cascata pelos meus ombros.
Quase não me reconheço.
— Você se tornou o que Natalia sempre sonhou. Então, é claro que ela
nunca ficaria feliz por você, — diz ela.
— Eu tentei ser gentil com ela, — eu digo, enxugando as lágrimas do
meu rosto. — Eu realmente tentei.
— Não importa o quão boa você foi. Ela sempre terá ciúmes da
mulher forte e bonita que você se tornou.
— Obrigada, mãe, — eu digo, suspirando e fechando os olhos,
sentindo as mãos dela passando pelo meu cabelo.
— De nada, querida.
— Eu... eu consigo acreditar que ela vazou aquela história para a
imprensa sobre minha habilidade de cura, — eu digo.
Dianne ri. — Bem, foi eu quem fiz isso, querida.
Eu me viro para ela, chocada. — P-por que você faria isso?!
Ela franze a testa, olhando para mim como se eu tivesse feito a
pergunta mais estúpida que ela já ouviu.
— Bem, Ariel, depois daquela confusão em que você se meteu com
aquelas fotos obscenas dos tabloides, eu tive que fazer algo para trazer
sua boa reputação de volta à matilha.
— Mãe, esse não era o seu segredo para contar! — Eu digo, sentindo a
raiva crescer dentro de mim.
— Querida, me diga: por qual dos dois você prefere ser conhecida? A
curadora? Ou a rainha dos strippers?
Estou totalmente sem palavras.
— Como você pôde? — Eu choro, afastando a escova da minha mãe e
me levantando com raiva.
— O quê? — ela diz. — Eu apenas troquei o assunto.
Uau. Minha mãe traindo minha confiança é uma coisa...
Mas é a maneira como ela age com indiferença, como se minha vida
fosse apenas uma fofoca de fim de semana de acasalamento. Ela sempre
sabe como cutucar a ferida.
Minha mãe realmente não consegue perceber que fez algo errado.
Mas não é da minha mãe que estou com raiva...
Estou com raiva de mim mesma.
Desisti completamente de Natalia.
Eu a culpei por algo que ela não fez e tentei passá-la para a Matilha
das Escrituras como se ela fosse um objeto quebrado a ser consertado.
Mas não.
Ela é minha irmã.
Eu cometi um erro.
Me afasto da minha mãe e sigo em direção à porta.
— Querida, onde você está indo? Não terminei com o seu cabelo. Você
ainda tem nós.
Eu olho para ela, bagunçando meu cabelo. — Claro que é com isso que
você se preocupa quando Natalia está lá fora. Foda-se os nós.
Antes que ela possa responder, eu saio correndo pela porta e a fecho.
Posso lidar com minha mãe mais tarde.
Para onde estou indo, não preciso do visual de rainha.
Minha irmã foi embora e deve estar em algum lugar fora das
fronteiras da matilha agora.
E se a Deusa quiser, vou encontrá-la antes que seja tarde demais.
Capítulo 24
O CLOSET DA REALEZA ALEX
Eu deito na cama completamente exausto com os eventos dos últimos
dias, mas minha mente segue funcionando a todo vapor.
Você está tão perto, Alex.
Termine em grande estilo.
Exatamente como seu pai gostaria.
Pensamentos ansiosos passam pela minha cabeça sobre a cerimônia
de unificação e o encontro com o presidente.
As câmeras.
Os discursos.
O mundo inteiro assistindo.
Eu sou arrancado dos meus pensamentos quando a porta se abre.
— Ariel?
Meu par entra, arrancando seu vestido da realeza com fúria e
marchando em direção ao armário trajando apenas sua calcinha.
Eu sorrio enquanto meus olhos traçam suas curvas, mas quando ela
desaparece no closet, eu percebo que isso não faz parte de um strip-tease.
Ela nem mesmo olhou para mim.
Eu me levanto rapidamente, em seguida, vou até o closet e espio
dentro. — O que está acontecendo, meu bem?
Enquanto ela bagunça o guarda-roupas, puxando suas roupas dos
cabides, ela me lança um olhar.
O olhar que passei a conhecer muito bem.
O olhar que ela tem quando está prestes a fazer algo que sabe que não
vou gostar.
Algo maluco.
Aprendi que, quando ela me olha assim, não posso fazer muito para
impedi-la.
— Onde você está indo? — Eu pergunto.
Ela tenta me mostrar uma expressão tranquilizadora. — Eu tenho que
encontrar Natalia.
— Para onde ela foi?
— Eu... eu não sei. Fora da matilha. Eu a mandei embora. Eu disse a
ela que ela deveria ir para a Matilha das Escrituras para reabilitação, mas
não tenho certeza se ela irá.
Eu sabia que Natalia a estava deixando louca, mas não sabia que a
situação tinha ficado tão ruim.
— Eu gostaria que você tivesse me contado. Nós poderíamos ter
lidado com ela juntos.
— Alex, quanto menos você tiver que lidar com a minha família
fodida, melhor.
— Então ela está em algum lugar lá fora neste momento? — Eu
pergunto. Uma garota como Natalia não duraria um segundo sozinha na
floresta.
Ela acena com a cabeça. — É por isso que tenho que encontrá-la e
trazê-la de volta.
Eu pego sua mão, virando-a em minha direção antes que ela possa
colocar uma blusa de gola alta preta.
— Alex, eu sei o que você vai dizer, — ela acrescenta rapidamente
quando vê a expressão no meu rosto.
— A cerimônia de unificação é amanhã, — eu digo. — Eu preciso da
minha Luna ao meu lado.
— Posso tentar voltar a tempo. Alex, mas não posso prometer nada.
Eu solto sua mão e me afasto. Claro que entendo, mas depois de todo
o esforço colocado nesta cerimônia...
Eu quero compartilhar esse momento com meu par.
— Bem, eu sei que não devo tentar impedir você, — eu digo. — Mas
eu só queria meu par em meus braços esta noite.
Ela olha para mim com tristeza, e eu envolvo meus braços em torno
dela enquanto ela coloca sua cabeça no meu peito.
— Eu sei. Sinto muito, Alex, — diz ela. — Isso tudo é por causa da
porra da minha mãe. Foi ela quem vazou meus poderes de cura para a
imprensa.
— Porra, Dianne, — eu digo, beijando o topo de sua cabeça.
— Como eu deixei ela me influenciar tanto? Mesma mãe
manipuladora, filha diferente.
— Bem, mesmo se você tentar tirá-la da sua vida, isso não significa
que ela não terá influência sobre você.
— Como você sabe disso?
— Porque ainda me preocupo com o que meu pai pensaria de mim
todos os dias.
Ela olha para mim, enquanto a expressão de compreensão cresce em
seu rosto.
Ariel e eu podemos ter demônios diferentes, mas quando se trata
disso, nos entendemos perfeitamente.
— É por isso que você está indo em frente com a cerimônia de
unificação? — ela pergunta suavemente.
— Eu não sei, — eu suspiro. — Pode ser.
Ariel fica na ponta dos pés, beijando suavemente meu pescoço. Eu
fecho meus olhos enquanto ela pontua suas palavras com os lábios na
minha pele.
— Confie em você mesmo, Alex.
— É difícil fazer isso quando todo o reino está perdendo a confiança
em mim.
Ela me encara com aqueles olhos de girassol dos quais nunca me
canso.
— Isso não é verdade. Você tem uma rainha bem aqui que confia em
você de olhos fechados.
ARIEL
Vivian: Me desculpe...
A cerimônia começou.
Estou no palco, fazendo o meu melhor para sorrir e acenar para as
dezenas de câmeras filmando.
Atrás das equipes de câmera, toda a Matilha Real se reuniu para
testemunhar este evento.
Eu sorrio, afastando meu nervosismo ao imaginar meu pai no meio da
multidão em algum lugar, balançando a cabeça com orgulho.
Eu procuro na multidão por outros.
Dom, Helena e Camelia estão na primeira fila. Meu Beta me dá uma
piscadela tranquilizadora.
Vejo Amy e Marius, mas eles estão apenas dando uns amassos, sem
prestar atenção em mim.
Minha mãe está na primeira fila, sorrindo.
Mas o assento ao meu lado, o assento da Luna, está vazio.
Onde ela está? Uma onda de ansiedade surge dentro de mim.
Ariel, a única pessoa que eu realmente preciso ao meu lado agora, está
longe de ser vista.
Respiro fundo, enviando uma última conexão mental para ela,
esperando que de alguma forma ela receba: — Ei.
— Eu não vejo você em lugar nenhum, e só queria dizer antes que isso
comece que nada disso seria possível sem você. Eu acho que todas aquelas
aulas idiotas de Luna preparando você para isso não importaram no final,
não é? Talvez eu devesse ter tido aulas no seu lugar.
— Eu sei que você sabe disso, mas... você é minha rainha, não importa o
que você está vestindo ou onde você está no mundo.
— Mas ainda assim, volte logo.
— Eu te amo.
De repente, a multidão irrompe em aplausos estrondosos e outro
homem sobe no palco.
O Presidente Cooper.
É a primeira vez que o vejo, porque quando ele chegou estava —
muito cansado das viagens para me cumprimentar.
Pelo menos foi isso que Vivian disse.
Honestamente, estou um pouco decepcionado.
Sou trinta centímetros mais alto do que ele, e ele não possui
exatamente a melhor aparência. Mas, novamente, essa parece ser uma
tendência com presidentes humanos.
Ele me abre um sorriso e estende a mão para um aperto de mão.
Eu aceito, sorrindo enquanto milhares de câmeras tiram uma foto de
nós nos cumprimentando.
— Sr. Presidente, — eu digo cordialmente.
— Vossa Majestade! — ele diz com entusiasmo. — Que prazer
finalmente conhecê-lo. Vamos começar?
— Seria uma honra.
O presidente esboça mais um sorriso e então se afasta, caminhando
até o palanque, baixando o microfone de forma adequada a sua pequena
altura.
Vê-lo prestes a falar me deixa um pouco nervoso. Já que ele recusou
qualquer ensaio, não tenho ideia do que ele vai dizer.
— Sabe, é bom estar aqui, — diz ele, ecoando sua voz aos alto-falantes
até a multidão. — Eu preciso admitir, não é nada como aqueles filmes de
lobisomem sangrentos com os quais eu cresci assistindo quando era
criança. De jeito nenhum. — Vocês todos parecem boas pessoas,
realmente parecem. Mas quando o mundo está ficando mais louco — e
acredite, está ficando mais louco — às vezes você só precisa fazer algo
para consertá-lo.
Ele levanta o papel que contém os termos do tratado — o futuro do
reino.
— E esse tratado bem aqui em minhas mãos é a solução. Quero dizer,
vocês tiveram uma vida difícil. Basta olhar para o ano passado. Primeiro,
vocês foram invadidos por aqueles selvagens que entraram
sorrateiramente, depois tiveram todo aquele fiasco do casamento falso.
Tento esconder minha expressão quando ele menciona Lola e os
selvagens.
— E então, é claro, temos aquele criminoso — Xavier era o nome dele,
não era? Primeiro ele estava trabalhando com os Caçadores, então ele
estava atacando seu próprio povo, agora ele escapou da prisão e está em
algum lugar à solta.
Quando finalmente percebo o que ele está fazendo, meu sangue ferve.
Ele está recontando meus fracassos um por um.
— Quer dizer, em algum momento vocês vão ter que se perguntar, —
continua o presidente, — quando chegaremos ao limite?
Odeio admitir, mas essa é a pergunta que tenho feito a mim mesmo a
todo momento.
— É por isso que vim aqui hoje, — diz ele. — Ao permitir que os
humanos deem a vocês uma pequena ajuda militar, vocês todos estarão
mais seguros. Isso é uma promessa. E...
Ele se vira para olhar para mim por um momento, sorrindo.
— Vocês poderão dar ao seu Alfa um descanso. O seu rei é um cara
legal. Provavelmente um pouco legal demais. Mas ele está fazendo o
melhor que pode.
Eu não posso deixar de rosnar para isso.
Fique calmo, Alex.
Ele provavelmente não quis dizer nada com isso. Ele pega uma caneta do
bolso da frente e assina o tratado no palanque, depois a estende para
mim. — Então, com apenas um toque da caneta, — diz ele. — O resto é
história.
Eu olho para a caneta e vejo as câmeras apontadas para mim,
ampliando em minha direção.
Eu olho para frente mais uma vez, procurando por Ariel em algum
lugar na multidão.
Mas, infelizmente, não vejo meu par em lugar nenhum.
Então eu olho para o mar de rostos da minha matilha, minha família,
meus entes queridos, todos me observando atentamente.
Me vendo aqui em cima, não meu pai.
Vendo que tipo de Alfa eu realmente sou.
Eu pego a caneta.
ARIEL
Deito na cama com Alex, grata por ter um momento a sós com meu
par.
Enquanto nos encaramos, ele acaricia minha bochecha com o polegar.
— Sempre me surpreendo com o tamanho da sua força.
— Eu sinto o mesmo por você, — eu digo.
— A cerimônia de unificação foi um fracasso total... Não sei o
tamanho desse impacto na minha força.
— Alex, você defendeu o que acreditava. Você não escolheu o caminho
mais fácil. Essa é a decisão mais forte que você poderia ter feito.
— Eu só espero que a matilha confie em mim tanto quanto você.
Eu entrelaço meus dedos pelo cabelo dourado ondulado de Alex. — A
cerimônia de unificação pode ter falhado em aproximar humanos e
lobisomens, mas ela nos aproximou.
Alex sorri. — Eu concordo.
Ele abaixa a gola da minha camisa e beija meu ombro.
Seus lábios são quentes e suaves contra minha pele.
Eu levanto meus braços e ele puxa minha camisa sobre a minha
cabeça. Então ele remove a sua e me puxa para seu peito.
Alex beija meu pescoço, e isso me traz de volta à memória de quando
ele me marcou pela primeira vez.
Isso acende um fogo dentro de mim, e minha loba arfa de excitação.
A compaixão, a lealdade e o amor de Alex se espalham pela minha
mente e me aquecem de dentro para fora.
Estou tomada por uma necessidade incontrolável de me sentir perto
dele.
Não perco tempo removendo o resto das minhas roupas e, em
seguida, arrancando as calças de Alex.
— Minha loba está indo à loucura por você, — eu digo.
— E o meu lobo vai à loucura por você, — ele responde. — Não vamos
deixá-los na mão.
Eu subo em Alex e o beijo profundamente, segurando seus braços
atrás da cabeça.
Ele agarra com força minha bunda e, em seguida, puxa a mão para trás
e dá um tapa.
Eu me posiciono diretamente sobre seu membro, e ele endurece
imediatamente.
Alex desliza para dentro do meu sexo e eu arqueio minhas costas, em
êxtase.
A sensação do meu par dentro de mim é um prazer diferente de
qualquer outra coisa — e toda vez é melhor do que a anterior.
— Não importa quantas vezes estive dentro de você, meu lobo te
deseja cada vez mais, — Alex diz.
Minhas mãos seguram seu tórax como se não houvesse o amanhã,
enquanto ele mete em mim e meu corpo estremece como um terremoto.
Meus orgasmos são como tremores estrondosos, cada um atingindo
um ponto mais alto na escala Richter.
— Minha Deusa! — Alex está me dividindo da melhor maneira
possível, e a sensação de ondas correndo pelo meu corpo estão deixando
minha visão embaçada.
— Ariel, eu vou... — Alex se retira e chega ao clímax, explodindo em
minha barriga.
Ele se senta e beija minha testa, depois respira fundo. — Caramba,
você me deixa louco todas as vezes.
Eu rio enquanto empurro Alex de volta nos lençóis. — Então é melhor
você se preparar. Estou apenas começando. — Seus olhos brilham de
entusiasmo.
É aquilo que dizem sobre terremotos...
Sempre há uma réplica.
Acordo com o cheiro de bacon fresco e ovos, e o forte aroma de café
recém-moído.
— Hummmm, — eu gemo enquanto abro meus olhos e estico meus
músculos doloridos.
A noite passada foi um grande treino.
Saio da cama e vou até a penteadeira, onde Alex me deixou o café da
manhã em uma bandeja.
E tem outra coisa: um jornal. Está saindo de baixo da bandeja.
Sinto uma sensação de pavor ao pegá-lo. Deusa, o que eles têm a dizer
sobre mim agora?
Mas quando leio a manchete na primeira página, meus lábios se
abrem em um sorriso.
RAINHA GUERREIRA LUTA COM ESTILO E SALVA O REINO
Sinto um par de braços fortes em volta da minha cintura.
— Gostou do café da manhã? — Alex sussurra em meu ouvido.
— Eu amo suas pequenas e atenciosas surpresas, — eu digo, virando-
me e beijando-o na bochecha.
— Bem, preciso confessar que — eu tenho outra surpresa, — Alex diz
maliciosamente. — Mas definitivamente não é pequena.
— O que você quer dizer?
— Vá para a varanda e você verá, — ele diz, me dando um leve
empurrão.
Eu puxo as cortinas, abro as portas francesas, e quando saio…
— Minha Deusa! Alex, você...
No meio do campo abaixo está um avião de hélice leve.
Dom sorri e acena para nós enquanto coloca nossas malas na modesta
aeronave.
— Achei que precisávamos de um descanso, — diz Alex.
— O que você tem em mente? — Eu pergunto, intrigada.
Alex pega minha mão e seus olhos esmeralda brilham ao sol da
manhã.
— Você apenas terá que confiar em mim.
Livro 4
Não consigo conter o grito que escapa dos meus lábios quando o vejo.
A princípio, acho que minha mente está me pregando uma peça na
escuridão.
Mas pequenos raios de luz vazam pelas teias acima de mim,
iluminando seu rosto, e tenho certeza de que é realmente ele.
A última pessoa no mundo que eu esperava ver aqui...
Xavier.
— Olá, Ariel, — ele diz. — Estava esperando por você.
Capítulo 4
ROSTOS, LUGARES
ALEX
Eu sei que meu par pode se proteger, mas só a Deusa sabe que tipo de
magia negra está no fundo desta caverna. Precisamos ir o mais longe
possível daqui.
Ariel está em perigo.
Mas a cada curva, fico cada vez menos confiante de que serei capaz de
encontrá-la — ou que qualquer um de nós será capaz de encontrar o
caminho para sair daqui.
Os gritos de Ariel diminuíram, e agora eu só posso ouvir o som do
meu próprio coração batendo forte.
De alguma forma, seu silêncio me perturba ainda mais do que seu
grito.
Se ela pode gritar, ela pode respirar. E se Ariel pode respirar, ela pode
lutar.
Continue lutando, Ariel.
Por favor.
Enquanto corro pelos corredores estreitos e tortuosos, minha mente
está enlouquecendo.
Não acredito que estou na teia da Deusa do Destino. E que ela vive
dentro de um covil tão escuro e sujo.
Ela não poderia ter se destinado a um lugar melhor para morar?
Sou arrancado de meus pensamentos quando viro em um corredor e
vejo a silhueta de uma mulher bloqueando meu caminho.
— Ariel, — eu grito. — Ari...
Mas quando a mulher se vira, minha voz fica presa na garganta.
Não é Ariel, mas...
— Olivia? — Minha voz falha quando seu nome escapa dos meus
lábios.
É oficial.
A escuridão da caverna deve estar me deixando louco.
Meu par destinado está parado na minha frente, em perfeitos
detalhes.
Mas não pode ser ela.
Certo?
Olivia está morta. E fantasmas não são reais. Ou pelo menos era o que
eu pensava.
Então, o que diabos está acontecendo?
Eu não colocava os olhos em meu par destinado desde o dia em que
ela deu seu último suspiro em meus braços.
Vê-la novamente agora instantaneamente traz de volta todas aquelas
memórias pesadas e horríveis.
E também as boas — antes de ela ficar doente, quando estávamos
completamente apaixonados.
Ela se aproxima de mim e seu rosto fica mais claro, praticamente
iluminado por dentro.
É ela.
Cada centímetro dela.
Cada detalhe.
Ela chega ainda mais perto e abre a boca.
Ela está dizendo algo.
Ela está dizendo meu nome.
— Alex. Aí está você. Estive procurando por você.
— Olivia, — eu murmuro.
Por que estou falando com ela?
Ela não é real.
Estou ficando louco.
Ainda assim, meu lobo não pode evitar uivar de alegria ao vê-la.
— Eu não posso ficar aqui, — eu digo a ela enquanto ela continua a se
aproximar. — Eu preciso encontrar Ariel.
Ao som do nome de Ariel, o rosto de Olivia se contorce em raiva pura
e genuína.
— Você escolheria a ela e não a mim?
— Olivia... não é... você está morta. Eu estava comprometido com
você para o resto da vida. Mas Fate tinha outros planos.
— Você disse que eu continuaria vivendo em seu coração. Mas você
deixou minha memória morrer também.
— Eu não fiz isso, — eu disse. — Você está sempre comigo.
Eu vejo uma lágrima prateada brilhante cair de seus olhos em sua
bochecha.
Eu odeio ver Olivia tão chateada.
Mas então eu tenho que me lembrar... esta não é Olivia, de jeito
nenhum.
— Você me traiu, — ela grunhe.
— Olivia, — digo suavemente, — você se lembra do que me disse no
dia em que morreu?
Ela não diz nada, apenas enxuga outra lágrima.
É tão doloroso reviver suas últimas palavras para mim... mas eu
continuo.
— Enquanto eu te segurava em meus braços, você me disse para
encontrar outro par. Você não queria que eu passasse o resto da minha
vida sozinho, sofrendo por você. Você queria que eu seguisse em frente. A
sua verdadeira face fez isso.
Eu engulo em seco.
— E agora. — eu continuo, — Ariel está em perigo. Eu não posso
perdê-la também. Eu preciso encontrá-la.
Com isso, encontro forças para me reerguer.
Eu fecho meus olhos e mergulho em direção à forma de Olivia.
Quando eu colido com ela, seu corpo desaparece, se transformando
em uma névoa fina e fria.
Era um fantasma.
Nunca vi nada parecido.
Fate deve ter criado isso para me parar no meio do caminho.
Essa é uma forma doentia de tortura.
Vai se foder, Fate.
Eu não vou deixá-la tirar meu par de mim. De novo não.
Eu continuo correndo cada vez mais fundo na caverna.
E então eu ouço uma voz ao longe.
A voz de Ariel.
Tenho certeza disso.
Mas ela não está sozinha. Ela está falando com alguém. Um homem.
Quem?
Corro em direção ao som, mais rápido agora.
Eu continuo. Sua voz está ficando mais alta.
Mas então, de repente, perco o equilíbrio.
Consigo me segurar com as mãos, raspando minhas palmas no chão
rochoso.
Eu olho para trás e vejo que meu tornozelo esquerdo está amarrado
com teias de aranha.
Merda.
Está acontecendo de novo.
As teias começam a puxar meu corpo para trás, longe da voz de Ariel.
Tento enfiar os dedos no cascalho e me puxar para cima, mas é tarde
demais.
Estou preso na firme armadilha das teias.
ARIEL
Eu quero correr para Alex — para cortar sua prisão de teias antes que
cubram seu rosto por completo.
Mas Fate está entre nós, bloqueando meu caminho até ele. Eu preciso
lidar com ela primeiro.
— Por que você quer que eu fique com Xavier? — Eu pergunto
enquanto seus olhos negros perfuram os meus. — Por quê?
— Eu permiti o reinado supremo de minha irmã por muito tempo, —
ela diz com um sorriso sinistro.
— Por que isso tem alguma coisa a ver comigo? Por que você se
importa com quem estou acasalada?
— Porque você é Ariel, — ela ri com desdém. — Você é especial. Ou
pelo menos é o que minha irmã deve ter decidido, já que ela interveio e
deu a você aqueles poderes de cura milagrosos.
Densa...
Eu vejo onde isso vai dar.
— Todos os lobisomens verão a magia da Deusa da Lua através dos
milagres realizados por sua rainha. E todos eles continuarão a louvá-la
cegamente para sempre, — diz ela com amargura.
De repente, eu entendo. Estou presa no meio de uma briga de irmãs
— algo que tive bastante experiência em meu relacionamento com
Natalia.
Conseguimos resolver nossos conflitos. Mas parece que esteja existe
há séculos.
— Há coisas que você não sabe sobre minha irmã. Coisas terríveis, —
Fate continua. — Junte-se a Xavier e veja a grandeza que está reservada
para você. Em vez de deixá-la usar você como um peão em seu esquema
enquanto finge que é tudo em nome do livre arbítrio.
— Sinto muito, Fate, — eu digo. — Eu fiz minha escolha. Estou com
Alex agora.
— Mas toda escolha tem consequências, — diz ela.
— Isso é uma ameaça? — Eu pergunto a ela, tentando firmar meu tom
hesitante.
— E a verdade, minha filha.
Olhando além de Fate, vejo que as teias estão começando a cobrir a
boca de Alex. Se eu ficar aqui falando por mais um segundo, posso ter um
vislumbre das consequências que ela tem em mente.
É agora ou nunca.
Eu me transformo em minha loba, e o estalar dos meus ossos ecoa
pelo espaço cavernoso, parecido com uma masmorra.
Eu saltei sobre a forma de oito pernas de Fate e cravei minhas garras
no casulo que prendia Alex. Eu o puxo para o chão com um grande
estrondo que parece doloroso.
Usando minhas ganas, eu rasgo o resto das teias que cercam seu
corpo.
Quando Alex está quase livre das teias, ele se transforma em lobo.
— Por ali, — ele se conecta com a mente, apontando seu focinho em
direção a uma passagem que leva até a saída.
— Então é assim? — Fate me desafia. — Você me recusa antes mesmo
de eu contar a verdade para você? Você vai correr de volta para os braços
manipuladores da minha irmã?
— Selene nunca tentou me aprisionar como você está fazendo agora! —
Eu retruco em minha mente.
Com isso, corro atrás de Alex pela passagem mais próxima.
Fate nos persegue. Eu ouço suas diversas pernas correndo pelo chão,
nos seguindo furiosamente.
— Você fez sua escolha, Rainha Ariel, — ela me provoca. — Agora
vamos ver se você consegue conviver com as consequências.
Suas palavras me arrepiam profundamente.
Mas eu não olho para trás de novo.
Eu apenas continuo correndo.
Capítulo 6
ALFINETES
NATALIA
A luz forte e definida de um único raio de lua nos guia por trechos
infinitos de árvores, arbustos e outras folhagens.
Descemos a montanha no lado oposto da Teia de Fate, finalmente
emergindo da floresta, e nos encontramos parados na costa.
Então... a Deusa da Lua está nos levando diretamente para a maré alta
do oceano.
— Bem, isso não é tão útil, — Eu digo em conexão mental com Ariel. —
E agora? Devemos nadar até a Matilha Real?
Mas então, o holofote da lua corta o mar e consigo detectar algo à
distância.
E o contorno de um pequeno e humilde barco de pesca. Mas agora,
aos meus olhos, parece a coisa mais milagrosa do mundo.
— AWO-OOOOOO, — eu deixei escapar um uivo alto na direção do
barco. Mas então eu percebo que um uivo poderia apenas impedi-lo de se
aproximar.
Eu imediatamente me transformo de volta à minha forma humana.
Ariel segue o exemplo.
— Ei! — Grito na direção do barco. — SOCORRO! ESTAMOS
PERDIDOS! SOCORRO!
Ariel continua: — POR FAVOR! PRECISAMOS DE AJUDA!
Continuamos gritando mais alto, tentando fazer nossas vozes serem
ouvidas acima do som das ondas quebrando.
E depois de um momento, o barco começa a mudar de direção e se
aproxima de nós.
A luz da lua, posso ver as palavras O Codfather pintadas
desleixadamente em grandes letras vermelhas na lateral do barco.
Finalmente, ouvimos a voz grave de um homem idoso nos chamando.
— Bem, olhe para isso, — diz ele. — Estão nus!
Certo...
Esqueci disso.
— Estamos em apuros! — Eu grito para ele. — Estamos muito longe
de casa e precisamos voltar!
— Há pedras nessa costa. Isso vai destruir a parte inferior do meu
barco, — diz ele.
Meu sorriso desmancha.
— Mas se vocês nadarem até aqui, — ele continua, — eu dou uma
carona.
Eu assisto Ariel se arrastar em direção à beira da água. Ela mergulha os
dedos dos pés e recua.
— Está fria?
— Congelando.
— Nós fomos para o inferno e voltamos hoje, — eu digo. — Já era hora
de nos resfriamos.
Estou tentando manter um pensamento positivo, mas meu corpo
teme completamente o próximo obstáculo.
Eu respiro fundo e expiro, agarro a mão do meu par e dou meu
primeiro passo na água gelada. Minha pele se arrepia e queima com a
intensidade do frio.
Para piorar, o coral na parte rasa corta a carne do meu pé. O sal faz as
feridas abertas arderem.
Mas se conseguirmos apenas chegar até aquele barco, tenho certeza
de que podemos voltar para casa.
Continuamos andando até sentir que as pedras embaixo de nós estão
prestes a sumir.
— Respira fundo, — eu lembro Ariel, e eu mesmo. — A mente
prevalece sobre o corpo. Nós vamos conseguir.
Eu aperto a mão de Ariel e mergulho de cabeça na água, lutando
contra a maré violenta.
Eu ouço o som de Ariel chutando através da água enquanto ela
acompanha o meu ritmo. Abro caminho através de lodo, algas marinhas
e só a Deusa sabe o que mais. Mas cada braçada aquece meu corpo, então
continuo.
Finalmente, quando penso que estou chegando perto, tiro minha
cabeça da água e respiro fundo.
Eu aceno para o pescador, e ele joga uma câmara de ar em nossa
direção. Eu me agarro a ela como se minha vida dependesse disso
enquanto Ariel se agarra a mim.
Nadando juntos simultaneamente, alcançamos a lateral do barco. Há
uma escada de corda pendurada. Eu conduzo Ariel escada acima
enquanto as ondas batem em meu rosto, ardendo em meus olhos.
Eu engasgo com a boca cheia de água do mar e minha mão quase
escorrega. Mas consigo ficar firme. Eu me levanto atrás de Ariel e subo a
bordo do barco.
Caímos no convés, ofegando, enquanto o ar da noite apenas
intensifica o frio em nossa pele nua.
— Esperem aqui, vocês dois, — diz o pescador.
Ele retoma um momento depois com dois cobertores grossos de lã
marrom. Nesse momento, eu trocaria uma tonelada de ouro por essas
mantas.
Eu me embrulho com força enquanto olho para o rosto do nosso
herói. Ele tem cabelos grisalhos ralos, pele coriácea e um sorriso largo e
desdentado.
— Obrigado, — eu digo.
— Muito obrigada, — acrescenta Ariel.
— Que escolha eu tive? — diz o pescador. — Vocês dois saíram de lá
como Adão e Eva, não foi?
— Quem são eles? — Pergunto.
Seu rosto se transforma em uma expressão de confusão absoluta,
embora eu não tenha certeza do porquê. A última coisa de que
precisamos é que ele suspeite de nós.
— É muito difícil explicar como perdemos nossas roupas, — eu digo.
— E como acabamos lá em primeiro lugar.
— Tente, — diz ele, mostrando-nos seu sorriso boquiaberto. — Vivi
nesta área toda a minha vida. Nunca ouvi falar de alguém conseguindo
sair da Teia inteiro.
— Você sabe sobre a teia? — Ariel pergunta.
— Sim, — ele diz. — Não sei por que é chamado assim, mas todos que
escalaram os picos daquelas montanhas nunca conseguiram voltar com
vida. Dizem que é pior do que o Triângulo das Bermudas.
Eu tremo só de pensar nisso.
— Vocês dois têm muita sorte de eu ter aparecido ou vocês poderiam
ter tido o mesmo destino.
— Ei, senhor...? — Eu paro, esperando ele dizer seu nome.
— Não me chame de senhor. Esse é o nome do meu pai. Me chame de
Grimsby.
— Bem, Grimsby, você tem um rádio?
— Claro que eu tenho. O que você acha? Que eu sou um louco? Vindo
aqui à noite sem ter como entrar em contato com ninguém?
— Poderíamos usá-lo?
NATALIA
Chuck sacode sua juba. Sua aparência robusta parece tão deslocada ao
lado da decoração extravagante do meu quarto.
Estremeço ao pensar em como devo estar com meu robe, mas Chuck
não parece se importar.
Ele dá um passo em minha direção, sorrindo timidamente.
As orelhas de minha loba se animam. Ela não se importa que a chuva
tenha dado ao meu cabelo uma aparência desgrenhada. Ou que nunca
me imaginei com um homem como Chuck.
Eu o pego pela mão e o levo em direção à cama.
Sentamos na beirada. Os olhos azul-gelo de Chuck encontram os
meus, e sinto que ele está prestes a dizer algo.
Eu me inclino, interrompendo suas palavras com um beijo. Seus lábios
são macios e quentes, e ele me beija de volta suavemente.
Minha loba está totalmente alerta agora.
Eu coloco minha mão na nuca de Chuck, passando meus dedos por
seus longos cabelos enquanto aprofundo o beijo.
Chuck se move na mesma direção que eu.
Eu inclino meu pescoço para o outro lado, mas acabamos batendo
nossas testas.
Eu rio enquanto nos afastamos um do outro.
— Nós dois sentimos a atração do vínculo, — eu digo.
— Te quero tanto.
— Eu também, — diz Chuck.
— Por que isso é tão difícil para nós? E como perder minha virgindade
de novo.
Chuck fica vermelho. — Uhh... Bem, na verdade...
— O que foi?
— Na verdade, eu nunca..., — diz ele. — Eu nunca...
— Você nunca fez sexo?
Chuck fica vermelho de novo. — Eu estava me guardando para meu
par.
Sinto uma pontada de culpa ao encarar seu romantismo. Ele nunca
fez sexo porque estava esperando por mim.
Considerando que eu dei uma olhada nele e corri direto para os braços de
Xavier...
— Tudo bem, — eu digo. — Eu estou aqui agora.
Eu o empurro para baixo sobre as cobertas macias e, em seguida,
monto nele e arranco sua camisa.
A princípio, Chuck parece um pouco surpreso com minha
agressividade, mas depois sorri e tira meu robe e minha camisola
também.
Seus olhos se iluminam com a visão do meu corpo, e eu sinto uma
sensação de calor se espalhar por mim.
Eu coloco a mão em seu membro, sentindo uma emoção percorrer
meu corpo ao primeiro toque.
Os olhos de Chuck se enchem de entusiasmo enquanto o guio em
direção ao meu núcleo úmido.
Nós dois gememos quando nossos corpos se encontram, e ele entra
em mim pela primeira vez.
Eu sei que isso deveria ser um grande acontecimento para Chuck —
mas é uma primeira vez para mim também. Minha primeira vez com
meu par destinado.
Realmente é como perder minha virgindade de novo.
Eu movo meus quadris contra ele.
Ele começa a assumir o controle conforme entramos em um ritmo,
entrando em mim cada vez mais forte.
Ele encontra meus olhos e coloca a mão entre nós antes que eu o guie
até o meu clitóris. Ele começa a mover os dedos contra mim, e sinto uma
energia crescente diferente de tudo que já experimentei antes.
Eu gemo de prazer enquanto suas carícias se tornam mais intensas até
que eu não posso conter minha euforia por mais tempo.
Eu estremeço quando chego ao clímax, e ele explode em mim
também. Um sorriso feliz se espalha em seu rosto enquanto nos
deitamos juntos, recuperando o fôlego.
Xavier nunca se preocupou com meu prazer.
Eu nunca senti uma conexão como a que tenho com Chuck.
Então isso é o que significa ser pares destinados...
Eu encontro seus olhos sorridentes.
Ele estende a mão e acaricia meu cabelo. — Minha Luz do Luar linda.
— ele diz.
ALEX
Quando voltamos para o nosso quarto, Ariel joga meu casaco no chão.
O fogo queimou suas roupas, e ela está mais sexy do que nunca.
Seu cabelo flui pelas costas, completamente platinado. Ele realça
quando a luz da lua entra pela janela. A cor se mistura com sua pele
macia que quase brilha de vitalidade.
Eu não consigo tirar meus olhos dela. Ela parece tão... poderosa.
Estendo a mão e toco seu ombro nu, e uma pequena emoção sobe
pelo meu braço como um choque elétrico agradável.
— O que foi? — ela diz, Virando-se.
— Você... — eu digo, dando um passo em sua direção. — Você está
radiante.
Um sorriso ilumina seu rosto. — Eu estou...
— Irresistível? Sim.
Sinto-me atraído por ela como um ímã e não consigo mais resistir. Eu
seguro seu queixo com minhas mãos e me inclino para beijá-la.
Ela me beija de volta com paixão e, embora pareça Ariel, algo mudou.
Há uma faísca entre nós — como se esta fosse a primeira vez que nos
tocamos.
Eu envolvo meus dedos em volta de sua cintura e a puxo para mais
perto. Eu desço a mão pelo seu corpo.
Ela geme enquanto meus dedos massageiam sua entrada brilhante.
Eu a pego no colo e me movo em direção à cama. Eu a coloco deitada
e subo em cima dela.
Ela estende a mão para desfazer os botões da minha camisa. Eu me
desfaço dela junto com o restante das minhas roupas.
Ela arrasta as pontas dos dedos pelo meu peito, e cada toque provoca
outra onda de emoção pelo meu corpo.
E como ser tocado pelo divino.
Ela coloca a mão no meu membro e eu sinto uma onda de eletricidade
percorrer minhas veias.
Eu a penetro com força, e ela grita em êxtase.
Eu me sinto atordoado quando entro nela. A euforia é quase demais. É
como se eu estivesse flutuando nas nuvens, vendo Ariel e eu de cima.
Ela geme quando eu coloco a mão em seu sexo novamente, e seu
cabelo platinado flutua no ar como se tivesse sido atingido por uma
rajada de vento imaginária.
Ela se junta a mim no céu enquanto eu viajo cada vez mais alto.
Seu grito amoroso perfura o ar. A lua eclipsa o sol quando nos
tomamos um. Eu me sinto estremecer dentro dela enquanto nós dois
gozamos.
Um choque mais forte do que antes eletrifica o ar e, depois de um
segundo, me sinto voltando à terra, com minha mente habitando meu
corpo mais uma vez enquanto uma brisa suave nos traz para baixo.
Eu caio na cama ao lado do meu par, nunca tendo realmente partido.
Eu viro Ariel e olho em seus olhos, que estão iluminados com o brilho
de uma lâmpada. Eles desbotam de volta ao seu amarelo girassol usual.
Ela está linda, mas eu não acho que conseguiria perder essa sensação
de olhar em seus olhos familiares. Eles são a única característica que eu
não poderia viver sem.
— Ariel, — eu digo.
Ela estica os braços e afunda no travesseiro.
— Sim?
— Aquilo foi...
Ela som. — Divino.
— Um eclipse, — eu digo. — Um eclipse total.
ARIEL
Parece que somos uma família e não me sinto assim há muito tempo.
Estou com Chuck e Xavi em um dia perfeito no local perfeito para um
piquenique — no pomar do palácio.
— Purê de maçã para o pequenino? — Chuck abre o pequeno pote e
pega uma colher.
Xavi sorrj e abre bem a boca enquanto Chuck o alimenta, limpando o
queixo a cada colherada.
Estou continuamente surpresa com Chuck. Eu não teria pensado que
este homem recluso seria tão bom com crianças.
Ele já é um pai melhor para Xavi do que Xavier. E isso me lembra que
ainda preciso contar a história completa para Chuck...
Quando Xavi se recusa a comer seu purê de maçã, Chuck come até
que o bebê o agarre novamente. Eu assisto, satisfeita em ver a conexão
entre eles crescendo.
— Chuck..., — eu digo. — Você deve estar curioso sobre o pai de Xavi.
Chuck não tira os olhos de Xavi, mas vejo suas sobrancelhas franzirem
um pouco antes de responder. — Naturalmente.
— Ainda não falei sobre ele porque não é um assunto fácil...
— Você não precisa me contar.
— Mas eu quero! — Eu digo com força demais.
Chuck se inclina para frente e deixa Xavi puxar seus longos cabelos.
Ele não me responde, e sei que está esperando que eu continue.
— O pai de Xavi não é presente na vida dele. Ou na minha. Xavier se
recusa a reconhecer seu filho...
As linhas na testa de Chuck ficam mais ressaltadas. — Você quer dizer
o Xavier? Aquele que eles estão tentando rastrear?
Eu concordo. — Ele não é um bom homem...
Chuck espera que eu explique.
— Ele me traiu. Ele abusou de mim. Ele... Não há muito que ele não
tenha feito.
Chuck se vira para mim e encontra meus olhos. — Eu sinto muito,
Natalia. Você merece o melhor.
Não quero que haja segredos entre nós, então prossigo: — Ele é um
criminoso. Ele foi condenado, mas escapou... Ele é perigoso, e às vezes
fico com tanto medo que ele apareça e...
Não sei como terminar.
— Está tudo bem, Luz do Luar, — Chuck diz, envolvendo um braço
em volta de mim.
Eu seguro um soluço.
— Eu vou te proteger agora. O que aconteceu não é sua culpa, e eu
sinto muito que você teve que passar por isso.
Eu quero ser honesta. Quero dizer a Chuck que é minha culpa. Eu
sabia quem era meu par destinado, e escolhi Xavier de qualquer maneira.
Mas também quero que Chuck continue me apoiando. E temo que se
eu contar esse último detalhe, ele vá embora.
ARIEL
Ainda estou abalada enquanto desço os degraus do palácio e entro
pela porta da frente.
No entanto, acima de tudo, estou magoada com a traição de Selene.
Ainda não consigo acreditar que ela pode justificar me mandar aos
Caçadores para ser torturada.
Ter sido decepcionada por alguém em quem tinha tanta fé só reforça a
importância dos relacionamentos em que posso confiar.
Nunca mais vou considerar um amigo verdadeiro como algo garantido.
E, por falar em amigos, Amy e Marius devem partir para a Matilha das
Escrituras a qualquer minuto.
Mesmo que eu esteja uma bagunça completa, eu preciso ver se eles
têm uma despedida adequada.
A Matilha das Escrituras não está muito longe, mas toda vez que me
separo de Amy, parece que é a última vez que a verei.
À medida que Marius continua a mergulhar em seu passado, faz
sentido que o casal divida seu tempo entre a Matilha Real e a Matilha das
Escrituras, mas odeio ver Amy partir para mais uma visita.
Vejo que o carro deles já está estacionado do lado de fora do palácio e
aceno à distância ao me aproximar deles.
Marius está enfiando as malas no porta-malas e Amy, ao que parece,
está supervisionando o trabalho pesado.
— Amy! — Eu digo. — Você está saindo agora?
— Assim que Angel estiver satisfeito jogando Tetris com as malas, —
ela diz.
— Desculpe, senhorita, — diz Marius, — mas a maioria delas são suas.
Envolvo Amy em um abraço apertado. — Eu vou sentir saudade.
Amy parece surpresa. Normalmente não sou a amiga mais emotiva,
mas foi um dia difícil.
— Eu também vou sentir saudade, — ela diz.
— Não demore muito, — eu digo enquanto nos separamos.
— Eu prometo. Gostei do cabelo novo, aliás, — diz ela. — Bem, o
cabelo antigo... fica melhor em você.
— Obrigada.
— Você e Alex ainda precisam de férias decentes, — diz ela, olhando
para mim com preocupação.
— Talvez vocês possam ir até a Matilha das Escrituras um dia desses, e
todos iremos para a praia.
— Seria legal, — eu digo. — Vamos fazer acontecer.
Marius finalmente fecha o porta-malas. Também dou um abraço de
despedida nele.
Eles entram no carro e começam a seguir pela estrada.
Eu aceno, desejando que eles ficassem. Eu realmente poderia usar o
apoio de Amy agora, mas ela tem sua própria vida.
Eu me xingo por ser melodramática. Ela estará de volta.
O carro de Amy e Marius segue seu caminho descendo a colina.
Vou sentir falta deles.
Eu aceno dos portões do palácio até que o carro se tome apenas uma
mancha vermelha à distância.
Quando finalmente paro de acenar, ouço uma voz fria no vento:
— Você se saiu bem, minha filha.
Fate.
As palavras fazem meu coração apertar de dor. São as mesmas palavras
que recebi uma vez da Deusa da Lua, mas agora estou ouvindo de sua
irmã.
Não sinto nada da tranquilidade que senti quando ouvi essas palavras
pela primeira vez. Agora o pavor toma conta de mim, e luto para
responder com confiança.
— O que você quer? — Eu digo.
— Eu só queria dizer que estou, orgulhosa de você.
— Você cortou sua conexão com minha irmã.
— Não deve ter sido fácil cortar a Deusa que tem manipulado você
durante toda a sua vida adulta.
— E sério isso? — Eu digo. — Você vai falar comigo sobre
manipulação? Eu pensei que tinha cortado vocês duas.
Uma pequena brisa me atinge, e é como se o próprio vento estivesse
rindo sombriamente.
— Eu cortei relações com vocês duas. Eu não vou jogar seus jogos.
— Se ao menos você tivesse escolha...
— Eu renunciei à sua irmã, — eu digo. — Desisti do meu dom de
cura... Certamente você está satisfeita agora?
— Ah, minha filha..., — diz Fate. — Você ainda tem muito que aprender.
Não ficarei satisfeita até que você esteja com seu par destinado.
— E, quanto aos seus amigos, há fios que estive destinada a tecer muito
antes de você cortar sua conexão com minha irmã.
O sangue drena do meu rosto enquanto eu me pergunto quem essa
deusa terá como alvo a seguir.
Eu olho para o meti polegar em frustração, examinando a crosta no
corte que eu não consegui curar.
— Não se preocupe, minha filha, — diz Fate. — Desta vez, deixei você
dizer seu último adeus.
À medida que entendo o que está acontecendo, começo a suar frio.
— Espere, — eu digo. — O que você quer dizer? Algo vai acontecer
com Amy ou Marius?
Uma forte rajada de vento me atinge e passa por entre as árvores
como se transportasse Fate para causar danos em outro lugar — Fate! —
Eu digo. — Por favor!
Mas ainda não há resposta e não tenho tempo a perder. Se as palavras
dela significam o que eu acho que significam, eu preciso ir.
Eu me viro e corro pela estrada, em direção à garagem.
Pego as chaves do gancho na parede e subo na minha motocicleta. O
motor gira por um momento, então eu saio com apenas um propósito
em minha mente.
Eu tenho que avisá-los.
Achei que poderia rejeitar as duas deusas, mas parece que sempre terei
que escolher uma em vez da outra.
E, agora, acho que escolhi a irmã errada.
Meu coração aperta enquanto eu dirijo pela rodovia.
O tráfego está se tornando um engarrafamento, mas corto entre os
carros e vejo — uma nuvem de fumaça pairando sobre os destroços de
um veículo vermelho.
Está completamente destruído, projetando-se através de uma mureta
quebrada.
Meu coração para.
Cheguei tarde demais...
Capítulo 19
IMPOTENTE
ARIEL
Acabou.
Fate não tem mais nada comigo.
Xavier está morto e não há nada que ela possa fazer a respeito.
Finalmente estou livre.
Enquanto ajudo Alex a se levantar, olho para Natalia, que está sentada
atordoada.
Estou prestes a ir confortá-la quando de repente seus olhos se
arregalam de honor.
Ela aponta para trás de mim.
Pelo amor da Deusa, não posso respirar um pou...
— VOCÊ DESTRUIU SEU DESTINO! — Fate grita, descendo do teto
em uma teia, fazendo sua voz soar como uma espada em meu tímpano.
— Não, — eu digo, puxando minha espada de pedra da lua e me
virando para encará-la. — Eu me libertei dele.
De repente, toda a caverna começa a tremer. Vibrações estrondosas
provocam rachaduras nas paredes, e o chão parece que está prestes a se
quebrar em um milhão de pedaços.
Meu coração dispara quando vejo no que a furiosa Deusa se
transformou.
Ela parece ter saído de um pesadelo!
Todos os seus oito olhos redondos estão vermelhos com fúria
assassina, e ela cresceu duas vezes mais do que antes. Sua mandíbula está
espumando veneno de prata.
Normalmente, meu primeiro instinto é lutar.
Mas agora, é exatamente o oposto.
— CORRE! — Eu grito, puxando Natalia antes que uma pedra caia do
teto bem onde ela estava sentada.
Isso a teria esmagado.
A raiva de Fate está destruindo a caverna.
E estamos bem no meio dela.
Precisamos sair daqui.
Agora.
Corremos em direção ao túnel que nos trouxe até aqui, desviando dos
destroços que caem do teto.
Mas meu coração sofre quando vejo que a única saída deste lugar
desabou, bloqueando nosso caminho.
Procuro qualquer outra forma de sair daqui, mas percebo que estamos
presos.
Eu me viro e olho para Fate, com suas enormes e afiadas pernas de
aranha parecendo que poderiam nos cortar ao meio sem o menor
esforço.
— Ariel, olhe para cima! — Natalia grita ao meu lado.
Acima de nós, pequenas lacunas apareceram na espessa camada de
teias. Raios brilhantes da luz do luar fluem como holofotes, iluminando
parcialmente o chão da caverna.
É isso! A luz do luar!
Mas Fate se aproxima rapidamente, nos colocando contra a parede.
— Você matou seu par destinado, e agora toda esperança de equilíbrio
está destruída! — ela grita, retumbando sua voz por toda a caverna.
— Eu te disse, eu nunca vou deixar ninguém escolher meu destino! —
Eu grito de volta.
Esta é minha luta, mas Alex e Natalia permanecem firmes ao meu
lado.
Eu não posso conter um pequeno sorriso.
Aconteça o que acontecer, esses dois estão comigo até o fim.
— Então, resta apenas uma parte do seu destino..., — ela diz, expondo
suas presas. — Morte.
Fate me ataca com um golpe rápido de suas pernas. Eu rolo para o
lado e lanço um golpe com minha espada de pedra da lua.
Mas nem mesmo deixa uma marca em sua armadura negra e
aracnídea.
Merda.
Achei que armas normais não funcionariam.
Hora do plano B.
Fate me golpeia novamente, evitando cuidadosamente os raios
lunares.
Eu rolo para longe de outro ataque, olhando para a luz fluindo através
das teias acima.
Eu arranco o filtro da lua do meu peito e jogo para Natalia.
— Use isso para redirecionar a luz do luar para ela, — eu ordeno, desta
vez quase sem conseguir desviar de Fate quando tenta me rasgar ao meio
com sua mandíbula enorme.
Eu lanço dois golpes em seu baixo-ventre, mas as feridas se curam
instantaneamente.
Ela levanta a pata dianteira para me atacar e, desta vez, percebo que
não há para onde me esquivar.
Mas bem quando estou prestes a encontrar meu destino para sempre,
o lobo de Alex se lança sobre ela, desequilibrando-a e me dando tempo
suficiente para rolar de volta para um local seguro.
— Natalia, agora! — Eu grito.
Natalia ergue o filtro da lua em um raio lunar, usando-o como um
espelho para direcionar a luz em direção à Fate, que grita em agonia
enquanto queima sua pata dianteira como um laser.
Eu sorrio.
Te peguei agora, vadia.
— Continue! — Eu grito enquanto Natalia sobe em uma pedra
quebrada para que ela possa ter uma visão melhor.
Fate corre em busca de refúgio para evitar a luz, mas Alex permanece
atrás dela, golpeando-a onde pode. Suas garras não causam nem um
arranhão, mas o importante é que ela está distraída.
Não tenho um segundo a perder.
Eu corro para a parede rochosa, subindo o mais rápido que posso.
Algumas das pedras despencam com o meu peso e quase perco o
equilíbrio várias vezes.
Mas logo, eu alcanço o topo da caverna.
Olhando de relance para baixo, estou em uma altura vertiginosa.
Deusa, espero que funcione.
Pego minha espada, mal alcançando a teia gigante que forma o
restante do teto.
Estendo a mão e rasgo o máximo que posso do material pegajoso.
Assim que eu faço isso, o luar de cima entra, inundando toda a
caverna com seu brilho vibrante e azulado.
Fate grita enquanto é queimada pela luz, correndo desesperadamente
para qualquer lugar escuro para se esconder.
Eu continuo cortando as teias, e a pedra da lua em minha espada
capta a luz e faz elas queimarem, até que não haja nenhum lugar onde ela
possa se esconder.
Ela cai no chão, presa, enquanto sua pele borbulha e a fumaça branca
sobe.
Pego uma grande corda de teia pendurada nas proximidades e deslizo
para baixo em direção a ela, com o vento chicoteando meu cabelo.
Eu salto no último momento, deixando escapar um grito de batalha
enquanto eu cravo minha espada com toda a minha força em Fate.
Minha lâmina corta seu peito macio e derretido.
Seus olhos vermelhos brilhantes se arregalam em choque, olhando
para mim enquanto voltam à sua cor preta de costume.
— Aposto que você não previu isso, vadia, — eu sussurro enquanto
arranco a espada de seu peito.
Ela abre a boca para falar, mas ela só consegue deixar escapar um
último assobio antes que todo o seu corpo e rosto derretam, formando
uma poça brilhante no chão da caverna.
A caverna para de tremer e os destroços se acomodam.
Eu fico sobre o que sobrou de Fate, recuperando o fôlego.
Eu não posso acreditar.
A Deusa do Destino se foi.
Eu consegui.
De repente, um grito me arranca da minha celebração silenciosa.
Eu me viro e vejo Natalia cair de joelhos, com as mãos em seu coração.
As lágrimas começam a escorrer por seu rosto.
Ela começa a chorar histericamente e eu corro até ela.
— Natalia, você se machucou? — Eu pergunto, verificando se há
feridas em seu corpo.
Mas não há sangue em lugar nenhum.
Natalia mal consegue falar, engasgando com os soluços.
— Chuck..., — ela grita. — Não consigo mais senti-lo...
Uma nova onda de agonia cai sobre ela enquanto ela se joga de volta
no chão, clamando por seu par destinado.
— Ele se foi..., — ela chora. — Tudo se foi.
Oh, não.
Em um instante, percebo o que acabei de fazer.
Eu conheço exatamente essa dor. Já senti isso antes com Xavier.
Natalia está sentindo a dolorosa perda de um vínculo de acasalamento
destinado.
Mas tenho a sensação de que não é só Natalia...
Ao matar Fate, acho que quebrei todos os vínculos de acasalamento
existentes.
Deusa...
O que eu fiz?
Capítulo 29
MUDANDO DE RUMO
NATALIA
Oh, mi Diosct.
Oh minha deusa...
Isso é un disastro.
Eu vim para a Matilha Real para me esconder do caos, mas está claro
agora que o caos me segue aonde quer que eu vá.
Quando mudei meu nome para Matt e comecei a usar esse lamentável
sotaque falso, pensei que teria uma chance de me misturar com a
multidão.
Mas no meu primeiro dia, descubro que meu par é a própria rainha!
Todo lobo sonha em encontrar seu par destinado.
Então, por que sinto que estou vivendo em una pesadilla?
Um pesadelo.
A rainha Ariel é linda, não há como negar. E ela é muito mais gentil do
que qualquer membro da realeza que eu já conheci.
Mas quando eu olho em seus olhos, eu só quero ver meu verdadeiro
amor olhando para mim...
Isabella.
Oh, como eu te desejo....
Quando durmo, sonho com ela.
Quando acordo, penso nela.
Durante o meu dia, eu a vejo com o canto do olho. Mas quando eu me
viro, ela não está em lugar nenhum...
Isabella é a única mulher que já amei.
Seus lábios são suaves pétalas de rosa.
Cada fio de cabelo de sua cabeça é uma mecha do mais puro ouro.
Sua pele é um creme fresco em um dia quente de verão.
Mas até mesmo sua beleza é palpável em comparação com a doçura
absoluta de sua alma.
Isabella é tudo que eu sempre quis.
E tudo que eu nunca poderei ter.
Levei um mês para viajar de minha terra natal e encontrar uma função
em uma nova matilha.
Mas agora que a rainha Ariel se interessou por mim, devo partir
novamente.
Estou condenado a viver uma vida em fuga. Fui um tolo em pensar
que teria uma chance aqui, quando o que realmente mereço é ser um
selvagem.
Alcançando debaixo da minha cama, puxo minha pequena mala.
Eu a preencho com os poucos itens restantes que deixei com meu
nome — tudo que pude pegar quando minha matilha estava cercada...
Algumas roupas, um cachecol que minha mãe fez e uma foto
desbotada de Isabella.
Olho para a foto por um momento — pelo tempo que posso suportar
— e depois a enrolo no cachecol e fecho o zíper da minha mala.
Eu preciso sair deste lugar agora, antes que a rainha tente me
conhecer melhor, antes que minha verdadeira identidade seja revelada.
Mas então, eu estremeço quando ouço uma batida na minha porta.
Quem pode ser?
Quase não conheço ninguém nesta matilha e certamente não
convidei visitantes.
Eu coloco minha mala debaixo da minha cama novamente, caminho
até a porta e a abro.
Um homem que eu nunca vi antes me cumprimenta com um sorriso
largo e bem-humorado.
— Olá, — ele diz, — você deve ser o cara novo. Matt, certo?
— Sim, — eu digo, lembrando-me de usar meu sotaque americano. —
E você é...?
— Me chamo Dom. Eu sou o braço direito do rei. O merdinha do rei,
se você quiser.
— Você é o beta?
Dom não se parece em nada com qualquer beta que já conheci. O meu
era muito mais sério e imponente... mas ele foi o melhor amigo que já
tive.
— Como posso ajudá-lo? — Eu pergunto a ele, desesperado para que
ele saia e eu possa ir embora daqui.
— Vim para lhe dizer que o rei quer que você se junte a ele para jantar.
Ay... Isso é ruim.
Muito ruim.
Claramente a rainha contou ao rei sobre nosso vínculo de
acasalamento.
Ele pode muito bem mandar me executar se for um típico da realeza
sem coração.
E até mesmo isso seria melhor do que o pior resultado possível...
O rei pode descobrir minha verdadeira identidade.
Eu não posso deixar isso acontecer. Preciso encontrar uma maneira de
escapar do jantar sem que seu beta suspeite de nada.
— Que convite generoso, — digo.
— É mesmo, — Dom diz. — Você deve ser um novo recruta e tanto
para receber esse tipo de tratamento especial.
Esboço a Dom meu melhor sorriso falso. — Bem, — eu digo, — deixe-
me vestir algumas roupas melhores e irei para o palácio em trinta
minutos.
Quando ele me deixar em paz, irei correr para floresta e nunca mais olhar
para trás...
— Não, não, não, — Dom diz. — Você não precisa se arrumar para o
nosso rei. Ele é apenas um cara normal, sério. Um irmão com uma coroa.
Além disso, se eu levar você até lá, posso fazer um pequeno tour pelo
palácio no nosso caminho.
Eu fico hesitante na porta.
Oh, mierda...
O caos me encontrou novamente.
Não há como escapar disso agora.
Em breve, vou sentar-me face a face com o rei e rezar para la Diosa
Luna para que ele não me reconheça.
Capítulo 5
O QUE HÁ EM UM NOME?
ALEX
Oh Deusa...
Ariel está lutando para resistir a Mateo.
Meu pior pesadelo está se tornando realidade.
Eu sei que não é culpa de Ariel. Eu não posso ficar com raiva dela.
Mas ver o vermelho emergindo em suas bochechas, e saber que outro
homem causou isso...
Isso absolutamente me mata.
Eu confio em Ariel completamente, mas também sei o quão forte um
vínculo de acasalamento realmente é.
Nada além da morte prematura de Olivia poderia ter me mantido
longe dela.
Portanto, teremos que partir para a Espanha assim que for
humanamente possível. Não posso tentar o destino perdendo mais
tempo.
Ariel parece ter sua mente definida em apenas uma coisa... e não é
uma viagem internacional.
Ela está com as mãos na fivela do meu cinto novamente.
Qualquer desejo que ela sentiu por Mateo claramente precisa ser
satisfeito.
E por mais que eu queira resistir a ela, fico desamparado quando ela
começa a esfregar seus quadris contra os meus.
Dentro de instantes, estou duro como uma rocha.
Mesmo quando estou com raiva, não posso negar a essa mulher o
prazer que ela merece.
Sempre que seu vínculo de par destinado começar a disparar, vou me
certificar de que sou o único a atiçar as chamas.
Eu coloco minha mão dentro de sua calça e ela geme enquanto
mergulho em sua umidade.
— Alguém está animada, — eu digo.
— Meu corpo está acelerado, Alex, — ela diz. — Eu preciso de você.
Ajude-me.
Sua loba pode estar desejando Mateo, mas ninguém sabe como
satisfazer aquela besta uivante melhor do que eu.
Eu tiro suas calças e rastejo entre suas pernas.
Eu dou uma lambida lenta e provocante ao longo do comprimento de
sua dobra e ela grita de prazer.
Ela segura meu cabelo e enfia meu rosto mais fundo em suas dobras.
Eu me agarro a ela ferozmente, segurando seus quadris em minhas
mãos e apertando com força, sentindo seus músculos se contraírem de
puro prazer.
Em pouco tempo, eu a tenho à beira de um orgasmo explosivo.
Minha língua desliza sobre seu ponto mais doce uma última vez e
sinto seu corpo se contorcer enquanto suas terminações nervosas
explodem como dinamite.
Eu mantenho minha cabeça entre suas pernas enquanto ela
lentamente se recupera e consegue respirar novamente.
— Obrigada, — ela sussurra. — Obrigada.
— Eu sempre estarei aqui para te satisfazer, — eu digo. — Mas acho
que é hora de começarmos a fazer as malas. Estamos indo para a
Espanha.
Estou sentado no meu escritório com Ariel e Jo quando Vivian entra, o
som de seus saltos estalando no chão de mármore.
Eu a vejo abrir um sorriso suave para Jo antes de puxar uma cadeira ao
meu lado.
— Acabei de falar ao telefone com a embaixadora lobisomem
espanhola, — diz Vivian. — Eu disse a ela que o Alfa e a Luna da Matilha
Real farão uma viagem pela Europa e querem visitar a rainha. Ela disse
que me ligaria o mais rápido possível.
— Perfeito, — eu digo. — Bom trabalho, Vivian.
Juntei-me a minha mãe e meu pai em várias viagens reais quando era
criança, então sei exatamente o que esperar.
— Se a Rainha Esmeralda abrir as portas, ela provavelmente dará uma
festa em nossa homenagem. Isso é normal, — digo a Ariel.
Jo tira um pedaço de papel de uma pasta e o joga na mesa à nossa
frente.
— Esta é a planta do palácio espanhol. Consegui acesso no registro
público, — diz Jo. — Precisamos memorizá-lo antes de entrarmos.
Eu aceno, estudando o layout intrincado.
— Não teremos ideia de onde Isabella está sendo mantida quando
chegarmos. Dada a situação, acho improvável que ela vá à festa, —
continua Jo, — então será seu trabalho descobrir o paradeiro dela com
Esmeralda.
— E como faremos isso? — Eu pergunto.
— Com bajulação. Encante-a. Mostre a ela aquele seu sorriso de
Príncipe Encantado. Dê um jeito.
— Entendi, — eu digo com uma risada. — Depois de reunir as
informações, Ariel e eu levaremos Mateo até Isabella.
— Mateo? — Ariel diz de repente. — Achei que tivéssemos
concordado que ele não viria.
— Ele precisa estar lá, — diz Jo. — Caso contrário, corremos o risco de
Isabella ficar assustada e se recusar a vir conosco.
— Mas e se Esmeralda o vir? — Eu pergunto. — Nosso plano será
arruinado.
— Será meu trabalho garantir que ela não o veja, — diz Jo.
Só então, ouço um telefone tocando.
Telefone de Vivian.
Ela o tira do bolso e atende.
— Olá, — ela diz, e então, — obrigada. Excelente. O rei e a rainha
ficarão maravilhados.
Ela desliga. — A rainha da Espanha está esperando por vocês, — diz
ela.
— Quando? — Eu pergunto.
— Amanhã, — Vivian diz.
Eu engulo em seco.
A coisa ficou séria.
MATEO
Estou na porta do escritório do rei e mais uma vez tenho que resistir
ao desejo desesperado de correr para a floresta e nunca mais aparecer por
aqui.
Eu levanto meu punho e bato. Ariel abre a porta para me
cumprimentar.
Vê-la novamente após nosso último encontro faz aquelas irritantes
mariposas começarem a se agitar no meu estômago.
— Por favor, sente-se, Mateo, — Alex comanda, e eu me junto a eles
ao redor da mesa.
Ele não precisa me dizer duas vezes... Eu fico feliz em sentar o mais
longe possível de Ariel.
Eu vejo uma planta na mesa entre eles e a reconheço
instantaneamente.
E o layout do palácio espanhol, onde vive Esmeralda.
Aquele onde Isabella está sendo mantida em cativeiro.
Aprendi cada centímetro daquele lugar quando estava visitando
Isabella às escondidas a altas horas da noite.
— Por que você tem isso? — Eu pergunto.
— Vamos para a Espanha amanhã, — diz Ariel. — E você também vai.
Eu suspiro. — Diosa, não. Não pode ser, — eu digo. — Esmeralda
jurou que se ela visse meu rosto novamente, ela mataria Isabella
imediatamente. Eu não posso voltar.
— Temos um plano, — diz Ariel. — Isabella estará segura. Mas será
difícil convencê-la a vir conosco se você não estiver lá.
Isso está realmente acontecendo?
Vejo os olhares sinceros em seus rostos e quero acreditar que eles
terão sucesso... que terei Isabella em meus braços mais uma vez.
Mas eles não conhecem Esmeralda. Quão cruel ela pode ser.
— Então..., — diz Ariel. — Você virá conosco?
ARIEL
No segundo em que saio do avião, fico cara a cara com uma procissão
de guardas reais.
Todos estão vestindo roupas militares pretas e as expressões sérias em
seus rostos não parecem exatamente acolhedoras.
Os facões e as metralhadoras em suas mãos também não estão
ajudando.
— Um... buenos dias digo sem jeito para o guarda mais próximo.
Ele não responde, silenciosamente gesticulando para que entremos
em um caminhão blindado esperando por nós na pista.
Ariel e eu compartilhamos um olhar tenso antes de entrar na
caminhonete. Mateo e Jo — ambos vestidos como guerreiros da Matilha
Real — estão logo atrás de nós.
Eles nos levam pela floresta em direção ao castelo, que se avulta sobre
as árvores à distância. A primeira coisa que noto sobre este lugar é a
parede enorme e impenetrável que o cerca.
Isso, e o fato de que para todo lugar que eu olho, um guarda armado
está de vigia.
Este lugar foi obviamente projetado para manter as pessoas fora.
Ou mantê-las dentro.
Eu pego a mão de Ariel e aperto quando saímos do caminhão e sigo os
guardas escada acima para a entrada principal do castelo.
À minha direita, Mateo caminha ao meu lado, carregando nossas
malas. Ele está usando um capacete de guerreiro que cobre todo o rosto
para que Esmeralda não consiga reconhecê-lo.
Mas não preciso ver seu rosto para saber que está tenso.
Estar de volta aqui provavelmente está reacendendo muitas
memórias.
— Está pronto? — Eu sussurro para ele.
— Sim, — ele diz. — Vamos fazer isso logo e sair daqui rápido.
Eu aceno em concordância conforme chegamos ao topo da escada,
onde as tropas se espalham e se ajoelham diante da porta gigante que
leva ao castelo.
A porta se abre de forma ameaçadora e, no meio da escuridão, uma
mulher aparece.
No topo de seu cabelo preto, ela usa uma enorme coroa coberta com
joias vermelhas.
O vestido dela parece feito de pedras preciosas pretas cintilantes, e
enquanto ela caminha mais longe para a luz do sol, dois servos carregam
sua cauda enorme e esvoaçante atrás dela.
Basta uma olhada para saber exatamente quem ela é.
Rainha Esmeralda.
Seus olhos castanhos escuros me examinam da cabeça aos pés, e então
seus lábios vermelho-rubi se voltam para cima em um sorriso fino.
— Rei Alex da Matilha Real, — ela diz, estendendo a mão em minha
direção. — Que honra.
Já posso dizer pela maneira como ela se apresenta que ela é o tipo de
nobre que eu desprezo, que pensa apenas em termos de poder e status.
Mas se vou fazer tudo correr bem, então não tenho escolha a não ser
jogar o jogo dela.
Eu sorrio e me ajoelho diante dela, pegando sua mão e beijando-a
levemente. — Rainha Esmeralda da Espanha. A honra é toda minha.
Ela irradia, mostrando seus dentes brancos.
— Oh, você é encantador! E bonito também. E eu pensando que vocês
americanos eram todos tão mal-educados.
Eu me levanto, colocando meu melhor sorriso falso. — Para nossos
inimigos, talvez. Mas em minha Matilha Real, tratamos nossos amigos
com o maior respeito.
Ela sorri. Isso parece agradá-la.
— E eu sou Ariel. Prazer em conhecê-la, — Ariel diz,
inconscientemente estendendo a mão para Esmeralda.
A rainha recua de horror enquanto olha para a mão estendida de Ariel.
— Mi Diosa, que pegajosa — Esmeralda pragueja baixinho.
Elas se olham com julgamento, e é imediatamente óbvio para mim
que essas duas não vão se dar bem.
— Então, eu pensei que tivesse uma irmã? — Eu pergunto
rapidamente, tentando direcionar a conversa para algo útil. — A Princesa
Isabella não está aqui para cumprimentar seus visitantes?
Esmeralda acena com a mão com desdém. — Ah, Isabella. Ela é uma
péssima companhia. Confie em mim.
Meus olhos se voltam para Mateo, que posso ver que está cerrando os
punhos.
— Vamos fazer um passeio pelos jardins reais? — Esmeralda pergunta.
— Eu posso garantir a você, eles são os mais bonitos de toda a Europa.
— Sabe, acho que estamos um pouco cansados de nossa... — Ariel
começa.
— Ótimo, — Esmeralda diz, pegando meu braço e nem mesmo
olhando para Ariel. — Venha por aqui, Alex.
Ariel revira os olhos e eu lanço um olhar de desculpas.
— Então... Rainha Esmeralda, — eu digo enquanto caminhamos por
uma garagem cheia de carros esportivos exóticos em direção aos jardins.
— Eu queria agradecer por nos permitir uma visita assim tão de repente.
Ela sorri para mim. — Por favor. Me chame de Esmeralda. Nós dois
somos da realeza, o que significa que nos é permitido uma certa...
intimidade.
Ela aperta minha mão quando diz isso, e olho desconfortavelmente
para Ariel, mas ela está de olho em uma motocicleta esportiva na
garagem.
A maneira como Esmeralda está olhando para mim agora me deixa
profundamente desconfortável.
— Uh... certo. Claro, — eu digo, tentando manter minha compostura.
— Esses seus jardins são realmente lindos...
— Sim..., — diz ela, sorrindo. — Sou conhecida por meu exuberante e
bem cuidado... jardim.
Ela está...
Dando em cima de mim?
Caminhamos desajeitadamente além das intermináveis fileiras de
plantas exóticas e flores coloridas, nos aprofundando nos jardins.
Este lugar é enorme, com sebes altas e caminhos em zigue-zague que
levam em todas as direções.
E como um labirinto gigante...
— Então..., — eu digo, tentando mudar de assunto. — O que mais
você...
Mas as palavras param assim que viramos uma esquina e vejo o que
está na clareira à minha frente.
Há ossos espalhados por toda a grama.
Ossos humanos...
Uma trilha de sangue manchado sai de onde estamos, direto para a
entrada de uma caverna.
Minha pulsação acelera enquanto olho para a escuridão da caverna. Lá
dentro, posso ouvir um barulho estranho.
Um ruído diferente de tudo que já ouvi antes.
Parece quase...
Um ronronar.
E então, aquele ronronar fica cada vez mais alto, e eu posso ver um par
de olhos dourados cintilantes olhando diretamente para mim da
escuridão.
Eu ouço um rugido ensurdecedor, e algo salta das sombras.
Bem na minha direção.
Capítulo 12
TREINANDO A PONTARIA ARIEL
Assim que ouço o rugido, eu desvio meu olhar da motocicleta
brilhante para o som.
Eu corro em direção a ele, Mateo e Jo seguindo bem na minha cola,
correndo mais fundo no labirinto dos jardins. Eu viro uma esquina e
suspiro com o que vejo.
Um tigre gigante!
Ele está bem na frente de Alex, mostrando as presas do tamanho de
sua cabeça. É absolutamente enorme, seu corpo musculoso coberto de
pelo laranja listrado que ondula de raiva.
— Ei, gatinho! — Eu grito. — Fique longe do meu par.
Ele se vira para olhar para mim. Apenas olhando em seus olhos
dourados, posso sentir minha loba soltar um leve gemido.
Normalmente, ela está acostumada a ser o predador ápice. Mas essa
coisa é facilmente duas vezes maior que ela.
E está me olhando como se eu fosse um lanche saboroso da tarde
agora.
— Bubbles. Seja gentil! — Esmeralda diz rindo e coçando-o entre as
orelhas. Ele imediatamente começa a ronronar. — Você está proibido de
comer nossos convidados.
Eu olho para Alex e nós dois conseguimos dar um suspiro de alívio
quando Bubbles cai no chão e Esmeralda coça sua barriga.
Ele rola no chão, ronronando.
Hã?
Talvez ele seja manso?
Mas então sinto Mateo agarrar minha mão com urgência, apertando-a
com força.
Seus olhos estão cheios de medo enquanto ele encara o tigre.
— Por favor..., — ele sussurra aterrorizado, — me tire de perto dessa
maldita coisa!
De repente, enquanto olho para todos os ossos espalhados pela grama,
somei dois mais dois.
As marcas de garras que cobrem as costas de Mateo...
Elas foram causadas por aquele tigre. Apesar de Esmeralda acariciá-lo
agora, não é um animal de estimação manso.
Deusa...
Estou tendo a sensação de que se ela desse a ordem... aquela coisa
tentaria matar a todos nós.
***
THUD
A faca aterrissa apenas alguns centímetros acima da cabeça de
Isabella.
Exatamente onde eu queria.
A multidão explode em gritos e Mateo relaxa ao meu lado.
Esmeralda se vira para mim com uma expressão de completo choque
no rosto. Não era assim que seu joguinho deveria terminar.
Mas rapidamente ela recupera a compostura, e aquele sorriso
desagradável de sempre rasteja de volta para seu rosto atento.
— Ora, ora... — diz ela, — ela não é cheia de surpresas?
— Só estou ficando um pouco entediada com essa parte do show, —
eu disparo de volta, nem mesmo me preocupando em esconder o veneno
na minha voz.
Eu sei que para fazer este plano funcionar, devo agir como uma rainha
inocente, indefesa e tudo mais...
Mas depois de vê-la torturar Isabella daquele jeito, eu tive que fazer
algo.
Ela me olha com desconfiança, depois se volta para Isabella no palco.
— Estou ficando cansada de olhar para essa vadia, — ela grita. —
Leve-a de volta para sua torre! — De repente, meus olhos se arregalam.
Ela acabou de nos dizer onde Isabella está sendo mantida.
A torre.
Existem apenas duas em todo o castelo, então ela deve estar se
referindo àquela em que não estamos ficando.
Alex observa e acena silenciosamente, o que significa que é hora de ir
para a próxima parte do nosso plano.
Minha parte.
Graças à Deusa.
Porque se eu tiver que passar mais um segundo assistindo Esmeralda
colocar suas patas sujas no meu par bem na minha frente...
Talvez eu tenha que ver como ela se sente sobre duas facas sendo atiradas
em seu rosto — Não quero ser indelicada, mas estou ficando meio
cansada..., — digo inocentemente. — Acho que vou dormir cedo esta
noite. Mas você pode ficar acordado e fazer companhia à rainha, não é,
Alex?
Ele sorri para mim, jogando junto. — Claro, meu bem.
Eu o beijo profundamente, certificando-me de demorar e usar o
máximo de língua possível, porque sei que Esmeralda está ali assistindo.
Apenas no caso de ela ter esquecido que ele é meu.
Quando me afasto, Alex parece sem fôlego por causa do meu beijo.
— Boa noite, meu amor, — eu digo enquanto faço um gesto para que
Jo e Mateo me sigam. — E comporte-se.
Eu sorrio, porque posso sentir os olhos de Esmeralda me fuzilando
enquanto eu me viro e saio do local.
Assim que saímos, atravessamos o saguão, virando um corredor e nos
afastando de quaisquer outros hóspedes remanescentes.
— Por aqui, — eu sussurro para Jo e Mateo enquanto examino se o
corredor está vazio. — A outra torre fica na ala oeste.
Quando eu tenho certeza de que a barra está limpa, abro o zíper da
lateral do meu vestido dourado e deslizo perfeitamente para fora dele,
revelando meu traje preto por baixo. Enfio na bolsa de Jo.
Eu cansei de ser da realeza hoje.
E hora de fazer o que faço de melhor.
Ser uma guerreira.
Eu aceno para Jo e Mateo seguirem enquanto furtivamente entramos
mais fundo no castelo.
ALEX
Agora que Ariel se foi, Esmeralda chega desconfortavelmente mais
perto.
Perto demais.
Quer dizer, ela está praticamente sentada no meu colo agora.
Basta um olhar em seus olhos para saber exatamente o que ela quer de
mim. Ela pisca os cílios sedutoramente enquanto sua mão se move na
minha coxa.
— Então... agora somos só nós, — ela ronrona. — Que tal tomarmos
uma bebida em algum lugar mais reservado?
Não gosto nem um pouco de onde isso está indo, mas preciso ganhar
tempo para Ariel.
A ideia de ficar sozinho com essa mulher me enoja, mas se vou mantê-
la distraída, vou ter que continuar jogando.
— É uma ótima ideia! — Eu digo, rapidamente me levantando
enquanto sua mão desliza muito alto na minha perna.
Ela sorri e pega minha mão. Descemos da plataforma elevada e
Esmeralda me guia para fora do salão.
Afastamo-nos da música alta e de todas as pessoas, entramos no
castelo e passamos por uma grande porta de madeira no que parece ser
seus aposentos privados.
Ela fecha a porta atrás dela, e assim, somos apenas nós.
Sozinhos.
Eu olho ao redor do quarto em busca de algo que eu possa usar como
distração.
Uma grande porta de vidro se abre para a varanda com vista para os
jardins e o mar, fazendo as cortinas soprarem com o vento.
Incontáveis velas tremeluzentes estão por toda parte, iluminando a
única peça real de mobília neste quarto: A maior cama que já vi, com
lençóis de seda dourada e preta cobrindo-a.
Merda.
Isso não parece bom.
Esmeralda se vira para me encarar, embriagada de desejo. Ela franze
os lábios, fecha os olhos e se inclina.
E então, eu localizo algo no canto. Um pequeno bar!
— Talvez... possamos tomar algo primeiro? — Eu digo, empurrando-a
suavemente para longe e andando rapidamente pela sala para pegar
alguns copos.
Seus olhos brilham com uma pitada de frustração, mas então ela sorri
maliciosamente.
— Claro. Uma bebida, — diz ela. — Mas saiba que paciência não é
uma das minhas virtudes. — Eu faço tudo ao meu alcance para forçar um
sorriso convincente enquanto lentamente sirvo dois uísques para nós.
Vamos, Ariel...
Apresse-se...
ARIEL
Certo.
Até agora, tudo bem.
Conseguimos nos esgueirar pelo castelo sem problemas. A maioria
dos guardas pelos quais passamos estão distraídos ou completamente
bêbados por causa da festa.
— Devemos estar perto agora..., — sussurra Jo. — A torre deve estar
bem acima de nós. — Ela está na curva de um corredor e espia
cuidadosamente ao redor. Seus olhos se arregalam e ela faz um
movimento para que paremos.
Nós congelamos e meu coração troveja enquanto procuro ouvir
qualquer som.
E então, eu ouço algo.
Dois guardas conversando. Eles parecem entediados, mas eu não
entendo nada porque tudo o que eles dizem é em espanhol.
— O que estão dizendo? — Eu sussurro para Mateo. Ele para e escuta.
— Algo sobre... perder uma aposta... e agora ele está preso em um turno
da noite vigiando a princesa enquanto todo mundo está se divertindo.
— Bem, vamos acabar com o sofrimento dele, então.
Mateo e Jo acenam com a cabeça.
Aponto para que Jo pegue o guarda da esquerda e eu fico com o
guarda da direita.
Eu levanto meus dedos para a contagem regressiva.
3...
2...
1...
Em um instante, viro o corredor e rolo pelo chão, derrubando um
deles e colocando-o em meu domínio.
Com o canto do olho, vejo Jo puxar o outro para baixo enquanto
Mateo rapidamente o deixa inconsciente com a extremidade de sua
espada.
Além dos corpos caindo no chão com um thud, tudo acontece tão
silenciosamente quanto uma pata pressionando a neve.
Do jeito que eu gosto.
Jo pega um molho de chaves tilintantes do bolso de um dos guardas e
o joga para mim. Eu abro a porta, entro e começamos a subir os degraus
da torre.
Mateo mal consegue conter a emoção em seu rosto. Eu também posso
sentir. Minha loba está latindo feliz dentro de mim.
Estamos tão perto de nos livrarmos desse vínculo.
Estamos tão perto de tudo voltar ao normal entre mim e Alex.
No topo da torre, há uma porta simples de madeira. Eu coloco minha
mão na de Mateo, ignorando os choques que ela cria quando toco sua
pele.
— Entre, — eu digo, piscando para ele um sorriso. — Nós daremos
privacidade a vocês.
Ele assente e desliza a chave na fechadura, abrindo a porta
lentamente.
MATEO
Eu jogo minha cabeça para trás e bebo o último gole do meu terceiro
copo de uísque.
Bem, na verdade, é meu terceiro copo de água, com um pouquinho de
uísque para disfarçar.
Não estou nem um pouco bêbado, porque precisava manter meu juízo
para impedir as tentativas cada vez mais desesperadas de Esmeralda de
me seduzir.
Mesmo agora, enquanto estamos na varanda, ela me encara com
luxúria em seus olhos e passa os dedos em meu colarinho, rindo com o
efeito da bebida.
Deusa.
Esta mulher está agindo como se ela não transasse em uma década.
E os três verdadeiros uísques que dei a ela provavelmente também não
estão ajudando.
Mas acho que meu trabalho está praticamente concluído agora. Dei a
Ariel o máximo de tempo possível e só espero que tudo tenha corrido
bem com ela.
Agora, é hora de fazer minha saída sem grandes dificuldades.
Eu me viro para Esmeralda e lanço um sorriso amigável. — Bem. Foi
um prazer conversar com você, mas sabe, estou ficando muito cansado...
Eu me movo para sair, mas Esmeralda agarra meu colarinho com mais
força.
— Oh não, não, não. Você me evitou por tempo suficiente, Alex, — ela
ronrona. — Você deve saber que sou uma mulher que está acostumada a
conseguir o que quer. E quando você se faz de difícil, eu fico muito,
muito, impaciente.
Eu respiro fundo e afasto suas mãos.
— Você tem sido mais do que gentil, Esmeralda. Mas acho que é hora
de voltar para minha rainha.
Seus olhos brilham de raiva. — Sua rainha? — ela diz com nojo. —
Aquela vagabunda fede como uma plebeia. Ela não é uma verdadeira
rainha. Ela não merece o título.
Ela dá um passo mais perto e envolve seus braços em volta de mim. O
pensamento dessa mulher me tocando por mais um momento me deixa
fisicamente enjoado.
Especialmente quando ela está falando sobre Ariel dessa forma.
— Você e eu — nós temos o verdadeiro sangue da realeza. Nós
merecemos estar juntos, — ela diz, sua mão serpenteando ao redor do
meu torso em direção à minha virilha.
— Pense em como nossos reinos seriam poderosos... Você não fica
excitado só de pensar?
— Boa noite, — eu rosno, empurrando-a de cima de mim e nem
mesmo me preocupando em esconder minha raiva. — E se considere
sortuda por ser mulher. Se um homem dissesse essas coisas sobre meu
par, eu rasgaria sua garganta.
Eu ando até a porta que conduz para fora do quarto e puxo a
maçaneta.
Deusa, mal posso esperar para sair daqui.
Mas quando eu abro a porta, fico cara a cara com dois guardas
gigantes com armaduras esperando do outro lado.
Antes que eu possa reagir, eles estendem a mão e agarram meus
pulsos.
— Ei! Que diabos está fazendo? — Eu grito, lutando e dando socos,
mas isso só machuca minhas mãos. A armadura deles é muito grossa.
Atrás de mim, ouço Esmeralda começar a gargalhar.
— Você foi uma diversão e tanto esta noite, Alex..., — diz ela, sua voz
misturada com um toque de veneno. — Mas agora, você está apenas
sendo rude.
Os guardas me viram e me levam de volta para o quarto, encarando
Esmeralda enquanto ela sorri.
— E quando meus convidados são rudes, temo não ter escolha a não
ser puni-los.
Eu olho para baixo e a vejo segurando um chicote de couro gigante
cravejado de pontas de metal, e apenas um pensamento consegue passar
pela minha cabeça: Merda.
ARIEL
Graças à Deusa.
Tudo está indo de acordo com o planejado.
Mas isso não significa que podemos relaxar.
Ainda precisamos tirar Isabella em segurança do castelo e então
encontrar Alex no ponto de encontro perto do avião.
A raiva sobe dentro de mim quando penso em Esmeralda tocando
meu par.
Foco, Ariel.
Você tem sua parte no plano, ele tem a dele.
Nós cuidadosamente passamos por cima dos guardas desmaiados e
escorregamos pelo corredor que conduz por onde viemos.
É madrugada e o castelo está mortalmente silencioso agora. A festa
acabou e todos estão dormindo ou inconscientes com a bebedeira.
Ambos são ótimos para nós.
Menos chance de alguém arruinar nossa fuga.
Isabella, ainda nos braços de Mateo, aponta para uma porta. — Essa
porta deve dar para fora, — ela sussurra. — Vai ser mais rápido.
Nós passamos pela porta, saindo para o ar quente de verão.
À nossa frente, estendidos infinitamente na escuridão, estão os jardins
reais. Durante o dia, eles parecem tão verdes e coloridos, mas à noite,
tudo que posso ver são as sombras escuras e assustadoras das plantas
estranhas.
Os caminhos são iluminados apenas por tochas tremeluzentes. Fora
isso, quase não consigo ver nada.
Quando começamos a caminhar para os jardins, Mateo sussurra
ansiosamente atrás de nós. — Não podemos ir por aqui. Precisamos
encontrar outro caminho.
Eu me viro para encará-lo. — Do que você está falando? Esta é a única
saída.
Ele olha os arbustos ao nosso redor com medo. — Mas... o tigre mora
aqui...
Merda...
Ele está certo.
Mas não temos tempo para nos preocupar com isso agora.
— Não é nada além de um grande gatinho, — eu digo, continuando o
caminho. — Agora vamos, vamos dar o fora daqui.
Mateo resmunga baixinho em espanhol enquanto continuamos,
procurando por guardas em patrulha e qualquer sinal do tigre.
Mas os únicos sons são o piscar das tochas e o cascalho sendo
esmagado sob nossos pés.
— O avião deve ficar na direção oeste, — sussurra Jo, apontando para
um caminho. — Por aqui.
Eu aceno e todos nós a seguimos pela escuridão, mas damos apenas
alguns passos antes que eu possa sentir os cabelos da minha nuca se
arrepiarem.
Uma sensação de ansiedade toma conta de mim. Uma sensação de
pavor.
Meu estômago começa a revirar de nervosismo e minha loba solta um
gemido.
Eu estremeço ao olhar para a escuridão ao nosso redor, procurando
por qualquer sinal de perigo.
Mas tenho a sensação inconfundível de que estou sendo observada
por algo.
Ao ouvir o estalar de um galho, viro a cabeça na direção do som, que
vem de algum lugar das plantas.
E então eu ouço.
O rosnado do tigre.
— Mi Diosa Lima, — Mateo sibila. — Ele está aqui.
— Onde? — Jo diz, puxando sua espada.
Os rosnados ficam mais altos à medida que procuramos nas sombras
por qualquer sinal do tigre.
De repente, eu localizo algo.
Dois gigantescos olhos dourados cintilantes.
Olhando bem para mim.
— CORRAM! — Eu grito.
Capítulo 15
A REUNIÃO
ALEX
Deusa...
O avião está...
Se movendo?
Eu vejo a rampa de carga atrás do avião começar a descer, com Alex se
inclinando para fora da entrada. Jo e Mateo nos olham com medo pela
janela.
Alex também tem uma expressão de terror no rosto. Mas quando
fazemos contato visual, ele tenta me dar um sorriso tranquilizador.
Ele estende a mão em nossa direção. De repente, entendo seu plano.
— Por que eles estão decolando? — Isabella grita.
— Nós vamos ter que dirigir até lá! — Eu digo.
O motor da motocicleta zumbe enquanto tento alcançar o avião. Está
ganhando cada vez mais velocidade agora. Posso até ver os pneus
dianteiros começando a levantar.
Minha adrenalina está bombeando em minhas veias enquanto eu
manobro ainda mais perto, tentando manter a moto o mais estável
possível. Tento ignorar as balas zunindo por nossas cabeças, fazendo
buracos na lateral do avião.
Mais perto.
Calma...
Estou quase na rampa...
A apenas alguns metros de distância de entrar no avião.
Para nossa fuga.
Mas então eu ouço um estalo alto quando uma bala atinge o pneu
traseiro da moto.
Nós derrapamos para longe do avião, faíscas voam por toda parte, e
tento manter o equilíbrio, mas estamos indo rápido demais.
A moto balança e depois tomba, fazendo-nos derrapar no asfalto. Eu
ouço o som estridente horrível de metal ao meu lado.
Uma dor terrível percorre todo o meu corpo.
Por um segundo, tudo fica escuro.
Quando eu fracamente consigo abrir meus olhos, eu olho para o céu e
posso ver o avião já subindo no ar.
Eles decolaram...
— Alex... — Eu gemo de dor.
Minha visão começa a ficar embaçada e posso ouvir uma risada cruel
ecoar.
A última coisa de que me lembro antes de minha visão escurecer é
Esmeralda em pé sobre mim, com um sorriso malicioso nos lábios.
Capítulo 17
O TEMPO ESTÁ ACABANDO
ARIEL
KLANG!
A porta de metal se fecha atrás de nós.
Eu chuto a porta e grito de raiva.
Estávamos tão perto. Estávamos quase no avião.
Eu me sinto fisicamente enjoada. Esta masmorra, com todas as suas
correntes e grades, me lembra os Caçadores.
Foi há muito tempo, mas a dor e a tortura que me fizeram passar
ainda estão gravadas na minha memória.
Eu sinto arrepios pipocando por todo o meu corpo e eu estremeço.
Tenho a mesma sensação de impotência, de estar presa em uma cela
apertada esperando minha condenação, e isso está deixando meus
sentidos em um frenesi.
Eu não vou ser mantida em cativeiro novamente. Vou encontrar uma
maneira de escapar.
Eu soco a porta mais algumas vezes, mas grito de dor quando um dos
meus nós dos dedos quebra sob a pressão.
— Você quebrou sua mão? — Isabella diz. Ela manca até mim, mas
minha capacidade de cura entra em ação antes que ela possa ver.
— Não, — eu digo, mostrando a ela minha mão. — Está tudo bem. Só
estou com raiva por termos ficado tão perto de libertar você, e então
tudo deu errado. E que estamos presas aqui!
Eu olho ao redor em nosso entorno sombrio.
As paredes são escuras e úmidas. O musgo está crescendo nos cantos
da masmorra.
Quando estávamos do lado de fora, o ar noturno estava fresco. Aqui
embaixo, minha respiração sobe em nuvens.
Isabella encolhe os ombros.
— Estou trancada em minha torre há dois meses. O que é trocar uma
gaiola por outra?
Eu concordo.
— Passei pelo mesmo, aprisionada contra a minha vontade, — eu
digo. — Embora tenha sido por dois anos.
— Como você aguentou? — Isabella pergunta. — Como você
sobreviveu?
— É uma história meio maluca, — eu digo. — A Deusa da Lua me
libertou do cativeiro.
Isabella acena com a cabeça.
— Rezava todas as noites para que alguém trouxesse Mateo de volta
para mim e me libertasse.
— Bem, é por isso que estamos aqui, — eu digo.
— Ainda estou na missão de te libertar.
Isabella tenta se encostar na parede, mas tropeça para frente sobre o
tornozelo.
Seu rosto se contorce de dor e sua respiração fica ofegante. Eu me
aproximo e faço um movimento em direção ao seu pé.
— Quer que eu olhe sua perna? Eu posso te ajudar, — eu digo
baixinho.
— Eu não acho que você pode ajudar, está muito feio, — diz Isabella.
— Felizmente para você, minhas habilidades são aprovadas pela Deusa
da Lua, — eu digo com um sorriso.
Isabella sem palavras chega um pouco mais perto. Eu puxo a bainha
de seu vestido e dou uma olhada. Eu suspiro. E muito mais do que uma
torção no tornozelo.
Há hematomas ao redor de seu pé. Toco a pele e percebo que ainda
está quente. Eu sei o que é, porque já vivi isso antes. E envenenamento
por prata.
Eu olho para Isabella e vejo lágrimas prestes a se formar em seus olhos
azuis.
Colocando minhas mãos em sua perna, chamo Selene em minha
mente. Eu sinto a dor de Isabella crescer através de mim enquanto o
poder de cura da Deusa se derrete nela.
— Diosa mio! — ela diz, olhando para sua perna. — Você é abençoada!
— Ok, — eu digo, levantando-me novamente. — Agora, vamos
encontrar uma maneira de sair daqui.
Eu volto para a porta de metal e começo a examinar a maçaneta.
Talvez eu possa abrir a fechadura com um grampo de cabelo ou um
brinco.
Isabella fala enquanto eu planejo nossa fuga.
— Vocês são muito amigos do Mateo? Ele fala sobre mim? — ela
pergunta.
Merda. Eu esperava que pudéssemos juntá-los novamente antes de
termos que mencionar os detalhes complicados de como nós — nos
conhecemos.
É melhor eu contar a ela agora, antes que ela acidentalmente descubra.
— Sim, então, é uma história engraçada..., — eu começo. — Mateo e
eu... somos uma espécie de pares destinados.
As sobrancelhas de Isabella erguem-se de surpresa.
— Mas Mateo e eu..., — exclama ela. — Nós fizemos... oh não!
Isabella afunda contra a parede, novas lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Eu o amo, ele me ama. Mas ele está com você. Nós não podemos
ficar juntos.
Ela levanta as mãos para o teto.
— La Diosa Luna, me mate! Eu não posso suportar viver sem ele como
meu par.
— Não, Isabella, não é o que você pensa, — eu digo, caminhando até
ela e pegando suas mãos nas minhas.
— Não se preocupe. Já tenho meu próprio par, Alex, o rei. Fui rejeitada
por meu primeiro imediato, mas então Alex e eu nos conhecemos e nos
apaixonamos. Nós escolhemos um ao outro. Você e Mateo podem fazer o
mesmo.
Eu continuo.
— A Deusa da Lua ordenou-me que curasse o coração de Mateo. E a
única maneira de fazer isso era juntá-lo com você. Ele quer que você seja
seu par escolhido e esteja com ele para sempre.
Isabella sorri enquanto eu digo as últimas palavras. Acho que ela o
ama tanto quanto ele a ama.
Eu conto nosso plano para ela.
— Assim que escaparmos, quebraremos nosso vínculo de
acasalamento, e então vocês dois serão capazes de viver felizes juntos
como eu e Alex, como pares escolhidos. Eu prometo.
Meus ouvidos captam passos vindo em direção à porta. Pego Isabella e
a puxo para o lado, para as sombras.
— Fique perto de mim, — eu sussurro quando ouço a chave girar em
nossa fechadura. Eu silenciosamente exponho minhas garras.
ALEX
— Eu rejeito você como meu par... e quebro meu vínculo com você, —
Mateo e eu dizemos ao mesmo tempo.
Eu seguro a mão de Alex, pronta para suportar a dor lancinante que
senti muitas luas atrás, quando Xavier me rejeitou...
Mas nenhuma dor vem.
Em vez disso, sinto uma sensação de calor, não muito diferente do
poder de cura da Deusa da Lua.
É como afundar no quente Mar Mediterrâneo, as sensações tomando
conta de mim.
Eu não perdi uma parte de mim, eu deixei ir por vontade própria.
Eu olho para Mateo e Isabella, que estão praticamente brilhando.
Estamos com nossos pares escolhidos agora.
A vida é perfeita.
***