Tema V - Contratos de Construcao Civil PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 12

Contabilidade Avançada

Tema V- Contratos de Construção

Conceitos. Classificação dos contratos. Reconhecimento dos réditos, gastos e resultados.


Enquadramento legal e fiscal. Tratamento contabilístico. Casos Práticos Ilustrativos.

1. Conceito
 Um contrato de construção é um contrato especificamente negociado para a construção de um
activo ou de uma combinação de activos que estejam intimamente inter-relacionados ou
interdependentes em termos da sua concepção, tecnologia e função ou do seu propósito ou uso
final.

 Segundo a NCRF 101, um contrato de construção pode ser negociado para a construção de um
activo único tal como uma ponte, um edifício, uma barragem, um oleoduto, uma estrada, um
navio ou um túnel. Um contrato de construção pode também dizer respeito à construção de um
conjunto de activos intimamente relacionados ou interdependentes em termos da sua
concepção, tecnologia e função ou do seu objectivo ou utilização final.

Para efeitos desta Norma (NCRF 10), os contratos de construção também incluem:
 contratos de prestação de serviços que estejam directamente relacionados com a construção de
um activo como, por exemplo, os relativos a serviços de projectistas e arquitectos; e

 contratos para a demolição ou o restauração de activos e a recuperação do meio ambiente após


a demolição de activos.

2. Classificação dos Contratos: Contratos de Construção Combinados e Segmentados


 Os requisitos desta NCRF são geralmente aplicados separadamente a cada contrato de
construção. Porém, em certas circunstâncias, é necessário aplicar a Norma separadamente
a componentes identificáveis de um único contrato ou conjuntamente a um grupo de
contratos, a fim de reflectir a substância de um contrato ou de um grupo de contratos.

 Quando um contrato cobre uma quantidade de activos, a construção de cada activo deve
ser tratada como um contrato de construção separado quando:
a) Propostas separadas tenham sido submetidas para cada activo;

b) Cada activo tenha sido sujeito a negociação separada e o contratante e o cliente estejam
em condições de aceitar ou rejeitar a parte do contrato relacionada com cada activo; e

c) Os gastos e réditos de cada activo possam ser identificados.

1
Dec. 70/2009, Página, 85

1
 Um grupo de contratos, quer com um único cliente ou com vários clientes, deve ser tratado
como um contrato único de construção quando:
a) O grupo de contratos seja negociado como um único pacote;

b) Os contratos estejam tão intimamente inter-relacionados que sejam, como efeito,


parte de um projecto único com uma margem de lucro global; e

c) Os contratos sejam executados simultaneamente ou em sequência contínua.


 Um contrato pode proporcionar a construção de um activo adicional à opção do cliente ou
pode ser alterado para incluir a construção de um activo adicional. A construção do activo
adicional deve ser tratada como um contrato de construção separado quando:
a) O activo seja diferente significativamente na concepção, tecnologia ou função
do activo ou activos cobertos pelo contrato original; ou

b) Preço do activo seja negociado sem atenção ao preço original do contrato.

3. Reconhecimento de Rédito e Gastos

3.1 Rédito do Contrato


O rédito de um contrato deve compreender:
 Valour inicial contratado;
 As variações no trabalho realizado, a mais e menos, da mesma espécie e/ou de espécie
diferente aos inicialmente contratados, a pedido do cliente;
 Os valores a cobrar como reembolso de despesas suportadas mas não incluídas no valor
do contrato (por exemplo: despesas com levantamento de licenças de construção em nome
do cliente);
 O valor de incentivos e/ou prémios a receber no caso de se alcançar ou ultrapassar um
nível de desempenho pré-definido;
 Valor das penalidades a receber em consequência dos atrasos na execução do contrato.

Estes diferenciais são incluídos quando dois requisitos fundamentais são cumpridos, nomeadamente: é
provável o desfecho que causa o diferencial e o valor do diferencial pode ser mensurado com fiabilidade.

Esquematicamente:
Rédito a reconhecer para o (=)% de (*) Valor do (-)Rédito reconhecido no ano
período acabamento contrato anterior

3.2. Custos a Incluir nos Contratos


Os incorridos que se relacionem directamente com o contrato especifico como:
 Os custos de mão-de-obra local, incluindo supervisão local;
 Os custos de materiais usados na construção;
 A depreciação de activos fixos tangíveis utilizados no contrato;
 Os custos de movimentar os activos fixos tangíveis e os materiais para e do local do contrato;
 Os custos de alugar instalações e equipamentos;
 Os custos de concepção e de assistência técnica que estejam directamente relacionados com o
contrato;
 Os custos estimados de rectificar e garantir os trabalhos, incluindo os custos esperados de
garantia; e
 As reivindicações de terceiras partes.

E, os que sejam atribuíveis a actividade do contrato em geral e que possam ser imputados como:
 Os seguros;
 Os custos de concepção e assistência técnica que não estejam directamente relacionados com
um contrato específico; e

2
 Os custos gerais de construção. (incluem salários do pessoal de construção, também podem
incluir os custos de empréstimos obtidos quando a entidade contratada adopte o sistema de
tratamento permitido na NCRF 10 - Custos de empréstimos obtidos).

 Relacionados directamente com o contrato


Custos do contrato  Atribuíveis à actividade do contrato em geral e possam ser
de construção= imputados ao contrato
 Outros especificamente debitáveis nos termos do contrato

3.3. Reconhecimento dos Resultados


O critério a seguir para o reconhecimento de resultados constitui um dos aspectos contabilísticos mais
importantes nas empresas que operam com Contratos de Construção e genericamente são dois os
métodos previstos:
 Método da Percentagem de Acabamento
 Método do Lucro Nulo (Contrato Completado)

3.3.1. Método da Percentagem de aAcabamento


O CIRC obriga a utilização do método de percentagem de acabamento quando:
“a determinação dos resultados de contratos de construção cujo ciclo de produção ou tempo de
execução seja superior a um ano …”.

% de acabamento =(CI/CE)*100%

3.3.2. Método do Lucro Nulo (Contrato Completado)


Este método pode aplicar-se quando o desfecho de um Contrato de Construção não possa ser fielmente
estimado.

Assim, os custos do contrato devem ser reconhecidos como um gasto no período em que sejam
incorridos e o rédito deve ser reconhecido somente até ao ponto em que seja provável que os custos
incorridos sejam recuperáveis. Isto é, devem ser contabilizados réditos de igual valor aos custos
incorridos recuperáveis.

Desta forma, o resultado só é reconhecido no ano da conclusão do contrato, em cada um dos períodos
o LUCRO RECONHECIDO É NULO.

Quando for provável que os custos totais do contrato excedam os réditos totais do contrato, esta perda
deve ser reconhecida imediatamente como um GASTO, reflectindo-se no resultado do período.

3.4. Reconhecimento das Perdas Esperadas


No CIRC não são dedutíveis as perdas esperadas relativas a Contratos de Construção correspondentes
a gastos ainda não suportados.

4. Tipos de Contratos
Rodrigues (2009) apud NRCF 10, refere que de acordo com o modo de retribuição do empreiteiro, os
Contratos de Construção podem ser:
 Preço global: A entidade que realiza a obra acorda previamente um preço fixo global para
a empreitada;

 Séries de preços: A entidade que realiza a obra utiliza um pré-fixo por unidade de output,
isto é, a remuneração do empreiteiro resulta da aplicação dos preços unitários previstos no
contrato para cada tipo de trabalho a realizar às quantidades dos trabalhos efectivamente
executados;

3
 Percentagem (Cost Plus): A entidade que realiza a obra é reembolsada pelos gastos
suportados acrescidos de uma percentagem destes ou de um valor fixo (margem de lucro).

 Ainda que perfeitamente tipificados, os anteriores tipos de contratos não são mutuamente
exclusivos, ou seja, poderão coexistir na mesma empreitada diversas formas de
remuneração, para diferentes tipos de trabalho ou diferentes partes de obra.

 Trabalhos a mais de espécie diferente, são os trabalhos que não estavam contemplados no
projecto inicial/caderno de encargos, mas se destinem à mesma obra e se tenham tornado
necessários, indispensáveis e desde que não possam ser técnica ou economicamente
isolados do contrato ou, ainda que dissociáveis do contrato, sejam estritamente necessários.

Exemplo ilustrativo 12
Um empreiteiro assinou um contrato de preço fixo de 10.000.000,00 para construir um edifício. A
estimativa inicial do empreiteiro dos custos totais do contrato foi de 6.000.000,00. No final do primeiro
ano do projecto (20X1) o contratado tinha incorrido em 9.000.000,00 de custos do contrato e espera
incorrer em mais 3.000.000,00 para concluir o projecto. O contratante determina a fase de acabamento
por referência à proporção dos custos incorridos sobre os custos totais estimados.

No final de 20X1, o contrato encontra-se completo em 75% - cálculo: 9.000.000,00 custos incorridos ÷
12.000.000,00 custos totais estimados do contrato. Nesse sentido, em 20X1, o contratado tem de
reconhecer o rédito de 7.500.000,00, ou seja, 75% de 10.000.000,00. Além disso, o contratado deve
reconhecer os custos do contrato de 9.000.000,00 e uma provisão adicional para a perda esperada
relativa ao desfecho do contrato de 500.000,00, ou seja, o montante pelo qual os custos estimados para
completar o contrato (3.000.000,00) excede os futuros réditos do contrato a reconhecer (2.500.000,00).

Por outras palavras, a perda esperada total (2.000.000,00) do contrato oneroso deve ser contabilizada
nas demonstrações financeiras de 20X1 (quando o contrato se torna oneroso).

Exemplo Ilustrativo de Apuramento de Resultados3 (Método da percentagem de acabamento)


Início da obra Jan. N
Duração prevista 3 anos
Preço estabelecido 100.000.0
Custo total estimado 80.000.0

Custos Custos Estimados p/completar a


Facturação
incorporados obra
Até 31/12/N 40.000.0 55.000.0 45.000.0
Até 31/12/N+1 60.000.0 60.000.0 25.000.0
Até 31/12/N+2 86.000.0 100.000.0 -

Cálculos:
Ano N:
% de facturação= 55.000.0/100.000.0=55%
Grau de acabamento= 40.000.0/(40.000.0+45.000.0)=47%

Neste exercício, os rendimentos são os correspondentes ao grau de acabamento.


O resultado seria assim calculado:
Rendimentos 100.000 x 47%= 47.000.0
(-) Custos incorridos (40.000.0)

2
Adaptado do IASC Foundation: Training Material for the IFRS for SMEs - version 2010-2 - Ex 52.
3
Adaptado de Neto & Neto

4
Resultados 7.000.0

Transitariam como Proveitos diferidos 8.000.0 (55.000.0 – 47.000.0).


Ano de N+1:
 % Facturação 60.000.0/100.000.0 = 60 % ;
 Grau de acabamento = 60.000.0/(60.000.0+25.000.0)= 70,5%

De acordo com a Directriz 3/91, atribui-se a cada período contabilístico um resultado correspondente
ao grau de acabamento, balanceando-se os proveitos respectivos com os custos incorridos:

Rendimentos 100.000 x 70,5%= 70.500.0


Rendimentos já considerados (47.000.0)
Rendimentos do exercício 23.500.0
Grau de Acabamento x Facturação Global – Facturação Emitida
0,705 x 100.000.0 – 60.000.0 = 10.500.0

Assim o Resultado seria:


Rendimentos 23.500.0
(-)bCustos incorridos = (60.000.0-40.000.0) ( 20.000.0)
Resultado 3.500.0

Ano de N+2:
Facturação Total 100.000.0
Proveitos considerados em anos anteriores 70.500.0
Proveitos do exercício 29.500.0
Custos incorridos = (86.000.0-60.000.0) 26.000.0
Resultado 3.500.0

5. Tratamento Contabilisticos dos Contratos de Construção


5.1 Pelo adiantamento do preço fixado ano N:
Descrição Auxiliar Débito Crédito
121 Bancos-DO xxx
419 Adiantamentos de clientes xxx

5.2 Reconhecimento dos gastos incorridos em N:


Descrição Auxiliar Débito Crédito
6x-Gastos diversos xxx
121- Bancos-DO xxx

5.3 Reconcimento do Rédito em 31/12/N:


Descrição Auxiliar Débito Crédito
4923- Acrésc e diferimentos-CC xxx
72- Prestação de serviços xxx

Registos contabilísticos no ano N+1:


5.4 Facturação da % realizada em N+1:
Descrição Auxiliar Débito Crédito
411- Clientes, c/c xxx
72- Prestação de serviços xxx

5.5 Regularização parcial dos devedores por acréscimos de rendimentos (N+1)


Descrição Auxiliar Débito Crédito
72- Prestação deserviços xxx

5
4923- Acrésc e diferimentos-CC xxx
Caso Prático #1:
A sociedade ALFA, S.A. dedica-se à actividade da construção em regime de empreitada. Em Abril do
ano de N, esta empresa iniciou a construção de um complexo balnear numa zona turística, para o qual
foi negociado um contrato de construção com uma sociedade hoteleira, cujo valor foi inicialmente
fixado em 2.500.000.0. O contrato previa a conclusão do serviço em Setembro de N+2, bem como uma
cláusula mediante a qual a ALFA, S.A. teria de pagar à sociedade hoteleira uma penalidade por eventual
atraso na conclusão da construção, a qual foi fixada em 0,5% do valor do contrato por cada mês de
atraso.

Do sistema de apuramento dos custos de produção da ALFA, S.A., assim como dos orçamentos
apresentados à sociedade hoteleira para efeitos de negociação do acordo da prestação de serviços, foram
recolhidos os elementos seguintes relativos aos custos estimados e incorridos na construção do
complexo balnear.

Custos acumulados incorridos Custos totais da construção


N 700.000.0 2.000.000.0
N+1 1.560.000.0 2.400.000.0
N+2 2.650.000.0 –

Durante a construção do complexo, a ALFA, S.A. foi confrontada com a necessidade de executar
alguns serviços que não havia previsto, incorrendo deste modo em mais custos do que os inicialmente
estimados. Apenas no final de N+1 a sociedade hoteleira assumiu a responsabilidade parcial por aqueles
custos, uma vez que ficou provado que parte destes decorreu de algumas insuficiências do projecto de
arquitectura fornecido pela sociedade hoteleira. O valor do contrato foi então revisto, fixando-se
naquela data em 3.000.000.0.

Relativamente às condições de pagamento, constava do contrato o seguinte:


 15% na data da adjudicação da construção do complexo balnear;
 30% em Junho de N+1, com a 1ª facturação;
 o remanescente aquando da conclusão da construção, com a facturação dos restantes 70% do
valor do contrato.

Sabe-se ainda que a ALFA, S.A. apenas concluiu a construção do complexo balnear em finais de
Novembro de N+2.

Pretende-se:
a) Registos contabilísticos associados ao contrato de construção do complexo balnear, de N a N+2,
nos termos do disposto na NCRF 10.
b) Proceda igualmente aos registos contabilísticos do contrato de construção admitindo que para este
mesmo contrato a ALFA, S.A. não conseguiu estimar os custos totais com o complexo, dada a
incerteza no desenvolvimento dos trabalhos a executar, já que o complexo está a ser construído
numa zona próxima de achados arqueológicos.
c) Analise os diferentes efeitos nos resultados, decorrentes da utilização dos dois métodos aplicados
nas alíneas anteriores.

Resolução do exercicio:

 Natureza do Problema
Reconhecimento do rédito e dos gastos de um contrato de construção;
a) Método da percentagem de acabamento;
b) Método do “lucro nulo”;

 Norma Base Aplicável: NCRF 10 – Contratos de Construção


6
 Objectivo da NCRF 10: prescrever o tratamento contabilístico de réditos e custos associados
a contratos de construção (…).

 Classificação do Contrato de Construção


No caso concreto, e tendo presente as definições apresentadas na NCRF 10, o contrato de construção
do complexo balnear consubstancia um contrato de preço fixado, porquanto a ALFA, S.A. aceitou a
fixação do preço no acordo firmado com a sociedade hoteleira.

 Rédito do Contrato
No caso concreto da construção do complexo balnear, o valor inicial do contrato foi fixado em
2.500.000.0 e, por força de acontecimentos não previstos inicialmente, parte dos quais da
responsabilidade da sociedade hoteleira, foi acordada uma reivindicação efectuada pela ALFA, S.A.,
de que resultou uma alteração do valor do contrato em finais de N+1, para 3.000.000.0. Esta alteração
aumenta a quantia do rédito a reconhecer a partir daquela data, não se devendo contudo regularizar os
réditos já reconhecidos em anos anteriores. Com efeito, dispõe a ainda NCRF 10 que os efeitos de uma
alteração na estimativa no rédito do contrato e nos custos do contrato, ou os efeitos de uma alteração na
estimativa do desfecho de um contrato, são contabilizados como uma alteração na estimativa
contabilística (ver a NCRF 4 – Políticas Contabilísticas, Alterações nas Estimativas Contabilísticas e
Erros).

Por outro lado, a empresa de construção irá sofrer uma penalidade pelo atraso de 2 meses na conclusão
da obra. Esta penalidade irá reduzir, como dispõe a NCRF 10, o valor do rédito do período da sua
ocorrência, ou seja, N+2, no montante de 30.000.0 (= 3.000.000.0 x 0,5% x 2 meses).

 Custos do Contrato
Os custos do contrato devem compreender ( NCRF 10):
a) Os custos que se relacionem directamente com o contrato específico incluem:
 mão-de-obra, incluindo supervisão;
 materiais usados na construção;
 depreciação de activos fixos tangíveis utilizados no contrato;
 custos de movimentar os activos fixos tangíveis e os materiais para e do local do contrato;
 custos de arrendar/alugar instalações e equipamentos;
 custos de concepção e de assistência técnica que estejam directamente relacionados com
o contrato;
 custos estimados de rectificar e garantir os trabalhos, incluindo os custos esperados de
garantia; e,
 reivindicações de partes terceiras.

b) Os custos que sejam atribuíveis à actividade do contrato em geral e possam ser imputados
ao contrato incluem:
 seguros;
 custos de concepção e assistência técnica que não estejam directamente relacionados com
um contrato específico; e,
 gastos gerais de construção.

c) Outros custos que sejam especificamente debitáveis ao cliente nos termos do contrato podem
incluir:
 alguns custos gerais administrativos e custos de desenvolvimento para os quais o
reembolso esteja especificado nos termos do contrato.
 Os custos que possam ser atribuíveis à actividade do contrato em geral e possam ser
imputados a contratos específicos, devem sê-lo com base no nível normal de actividade
de construção (i.e. custeio racional).

7
d) A NCRF 10 enuncia ainda exemplos de custos que são excluídos dos custos de um contrato
de construção, designadamente:
 custos administrativos gerais cujo reembolso não esteja especificado no contrato;
 custos de vender;
 custos de pesquisa e desenvolvimento cujo reembolso não esteja especificado no contrato;
e,
 depreciação de instalações e equipamentos ociosos que não sejam usados em um particular
contrato.

 Reconhecimento do Rédito e dos Gastos do Contrato


Regra geral, por aplicação do método percentagem de acabamento, mas apenas quando o desfecho de
um contrato de construção puder ser fiavelmente estimado, ou seja, quando estiverem cumulativamente
cumpridas as seguintes condições:
 O rédito do contrato possa ser mensurado fiavelmente;
 Seja provável que os benefícios económicos associados ao contrato fluirão para a entidade;
 Tanto os custos do contrato, como a fase de acabamento do contrato na data do balanço,
possam ser fiavelmente mensurados;
 Contrato com duração de mais de um ano; e,
 Os custos atribuíveis ao contrato possam ser claramente identificados e fiavelmente
mensurados de forma que os custos reais do contrato possam ser comparados com
estimativas anteriores.

 Método da Percentagem de Acabamento:


 O rédito e os custos associados ao contrato de construção devem ser reconhecidos como
rédito e gastos, respectivamente, com referência à fase de acabamento da actividade do
contrato à data do balanço.
 O rédito do contrato é reconhecido como rédito na demonstração dos resultados nos
períodos contabilísticos em que o trabalho seja executado.
 Os custos do contrato são geralmente reconhecidos como um gasto na demonstração dos
resultados nos períodos contabilísticos em que o trabalho com o qual se relacionam seja
executado.
 Dependendo da natureza do contrato, uma entidade pode usar um dos seguintes métodos
para determinar a fase de acabamento:
a) Proporção dos custos do contrato incorridos no trabalho executado relativamente aos
custos estimados totais do contrato;
b) Levantamentos do trabalho executado; e,
c) Conclusão de uma proporção física do trabalho contratado.

 Método do “Lucro Nulo” (Contrato Completado):


Em situações excepcionais, quando o desfecho de um contrato de construção não possa ser estimado
fiavelmente:
a) o rédito somente deve ser reconhecido até ao ponto em que seja provável que os custos do
contrato incorridos serão recuperáveis; e,
b) os custos do contrato devem ser reconhecidos como um gasto no período em que sejam
incorridos.

No caso concreto, e segundo as informações obtidas, o contrato de construção do complexo


balnear é fiavelmente mensurado, pelo que será utilizado na contabilização do rédito e gastos
associados ao Método da Percentagem de Acabamento. Todos os valores relevantes, que
servirão de suporte aos registos contabilísticos a efectuar, encontram-se sistematizados no
quadro seguinte (em unidades monetárias), com a explicação dos cálculos em notas
referenciadas.

8
DESCRIÇÃO N N+1 N+2 TOTAL
Custos incorridos 700.000 860.000 (1) 1.090.000 (2) 2.650.000
Custos incorridos acumulados 700.000 1.560.000 2.650.000
Custos totais estimados 2.000.000 2.400.000 –
% de Acabamento (3) 35% 65% 100%
Valor do contrato 2.500.000 3.000.000 2.970.000 (4) 2.970.000
Rédito acumulado até ao período (5) 875.000 1.950.000 2.970.000
Rédito do período (6) 875.000 1.075.000 1.020.000 2.970.000
Facturação emitida no período 0 750.000 (7) 2.220.000 (8) 2.970.000
Devedores por acréscimos de rendimentos 875.000 (D) 750.000 (C) 1.200.000 (C) –
(movimentos no período) 1.075.000 (D)
Recebimentos no período 375.000 (9) 750.000 1.845.000 2.970.000
(10)

Notas Explicativas:
(1) Custos incorridos em N+1 = 1.560.000 – 700.000 = 860.000 .
(2) Custos incorridos em N+2 = 2.650.000 – 1.560.000 = 1.090.000 .
(3) % de acabamento = Custos incorridos acumulados / Custos totais estimados.
(4) Valor do contrato em N+2 = Último valor acordado do contrato, decorrente da reivindicação – penalidade por atraso na entrega da obra
(0,5% do valor do contrato por cada mês de atraso) = 3.000.000 – (3.000.000 x 0,5% x 2 meses) = 2.970.000 .
(5) Rédito acumulado até ao período = Valor do contrato no período x % acabamento no período.
(6) Rédito do período = Rédito acumulado até ao período – rédito acumulado até ao período anterior.
(7) Facturação emitida em N+1 = 2.500.000 x 30% = 750.000 .
(8) Facturação emitida em N+2 = 2.970.000 – 750.000 = 2.220.000 .
(9) Recebimentos em N = adiantamento de 15% x 2.500.000 = 375.000 .
(10) Recebimentos em N+2 = Facturação emitida em N+2 – Adiantamento de N = 2.220.000 – 375.000 .
(D) Débito.
(C) Crédito.

9
a) Lançamentos no Diário pelo Método de % de Acabamento
Descrição Auxiliar Débito Crédito
Abr/N 121- Bancos - DO 375 000.00
419- Adiantamento de clientes 375 000.00
P/ adiantamento do cliente

Ano N 6X- Gastos diversos 700 000.00


121- Bancos-DO ou 421- Fornecedores,c/c 700 000.00
P/ custos incorridos em N

31/12/N 4923- Acresc e rendimentos- contratos de construcao 875 000.00


72- Prestacao de servicos 875 000.00
P/ reconhecimento dos rendimentos de N

Junho/N+1 411- Clientes, c/c 750 000.00


72- Prestação deserviços 750 000.00
P/ Facturação de 30%

Junho/N+1 72- Prestação de serviços 750 000.00


4923- Acresc e diferimentos- contratos de construcao 750 000.00
P/Regularizacao dos devedores por
Acresc/Diferimentos

Junho/N+1 121- Bancos-DO 750 000.00


411- Clientes 750 000.00
P/ recebimento de 30% do valor do contrato

Ano N+1 6x- Gastos Diversos 860 000.00


121-Bancos-DO/421-Fornecedores, c/c 860 000.00
P/ gastos do ano N+1

31/12/N+1 4923- Acresc e diferimentos- contratos de construcao 1 075 000.00


72- Prestação de serviços 1 075 000.00
P/ reconhecimento do rédito

6x- Gastos Diversos 1 090 000.00


Ano N+2 121-Bancos-DO/421-Fornecedores, c/c 1 090 000.00
P/ reconhecimento de gastos do ano N+2

30/11/N+2 411- Clientes, c/c 2 220 000.00


72- Prestação de serviços 2 220 000.00
P/ Facturação de 70%

30/11/N+2 72- Prestação de serviços 1 200 000.00


4923- Acrésc. e diferimentos- contratos de construcao 1 200 000.00
P/Regularização dos devedores por
Acresc/Diferimentos

419- Adiantamento de clientes 375 000.00


411- Clientes, c/c 375 000.00
P/ regularizacao do adiantamento

30/11/N+1 121- Bancos-DO 1 845 000.00


411- Clientes 1 845 000.00
P/ recebimento de remanescente da divida do contrato
TOTAL 12.865.000.00 12 865 000.00
10
b) Lançamentos no Diário Geral da Empresa – Método de Contrato Completado
Descrição Auxiliar Débito Crédito
Registos do Ano N
-1-
Abril de N 121- Bancos-DO 375.000,00
419- Adiantamento de clientes 375.000,00
P/ adiantamento recebido
-2-
Durante N 61/2/3- Gastos diversos 700.000,00
121- Bancos-DO/46-Fornecedores 700.000,00
P/ gastos incorridos em N
-3-
Dez. de N 4933- Acrésc. e diferimentos- contratos de constr. 700.000,00
72- Prestação de serviços 700.000,00
P/ reconhecimento do rédito de N
-4-
Registos do Ano N+1

Junho N+1 411- Clientes, c/c 750.000,00


72- Prestacao de servicos 750.000,00
P/ facturacao de 30% do valor de contrato
Junho N+1 -5-
72- Prestacao de serviços 700.000,00
4923- Acresc e diferimentos- contratos de const. 700.000,00
P/ regularização de diferimentos/acrescimos
-6-
Junho N+1 121- Bancos-DO 750.000,00
411- Clientes, c/c 750.000,00
P/ recebimento de 30% do valor de contrato
-7-
Dez. de N+1 61/2/3- Gastos diversos 860.000,00
121- Bancos-DO/ 42- Fornecedores 860.000,00
P/ gastos incorridos em N+1
-8-
Dez. de N+1 4933- Acrésc. e diferimentos- CC 810.000,00
72- Prestação de serviços 810.000,004
P/ reconhecimento do rédito em N+1
Registos do Ano N+2
-9-
61/2/3- Gastos diversos 1.090.000,00
121- Bancos-DO/ 42- Fornecedores 1.090.000,00
P/ gastos incorridos em N+2
-10-
30.09.N+2 411- Clientes, c/c 2.220.000,00
72- Prestação de servicos 2.220.000,00
P/ facturacao de 70% do valor de contrato
-11-
72- Prestação de serviços 810.000,00
4933- Acrésc. e diferimentos- CC 810.000,00
P/ regularizacao de acresc/diferimentos de N+1
-12-
419- Adiantamento de clientes 375.000,00
411- Clientes, c/c 375.000,00
P/ regularizacao do adiantamento

4 860.000-(750.000-700.000)=860.000-50.000=810.000,00

11
-13-
121- Bancos-DO 1.845.000,00
411- Clientes,c/c 1.845.000,00
P/ recebimento do valor remanescente em dívida

c) Analise os diferentes efeitos nos resultados, decorrentes da utilização dos dois métodos aplicados nas
alíneas anteriores.
Método da % Método do “Lucro
Descrição Diferença = (a) – (b)
Acabamento (a) Nulo” (b)
Rédito de N 875.000 700.000 175.000
Gastos de N 700.000 700.000 0
Resultado em N (1) 175.000 0 175.000
Rédito de N+1 1.075.000 860.000 215.000
Gastos de N+1 860.000 860.000 0
Resultado em N+1 (2) 215.000 0 215.000
Rédito de N+2 1.020.000 1.410.000 - 390.000
Gastos de N+2 1.090.000 1.090.000 0
Resultado em N+2 (3) - 70.000 320.000 -390.000
Lucro total no contrato de
320.000 320.000 0
construção = (1) + (2) + (3)

O quadro acima apresentado reflecte os diferentes efeitos nos resultados, decorrentes da utilização do
método da percentagem de acabamento e do método do “lucro nulo”, permitindo confirmar as
diferenças no reconhecimento do rédito do contrato, como decorre da substância de cada um daqueles
métodos.

Como se pode verificar, no método da percentagem de acabamento os réditos, gastos e os resultados


vão sendo reconhecidos na demonstração dos resultados à medida que decorre a execução do contrato,
permitindo balancear os réditos com os gastos nos períodos em que são efectivamente incorridos.

Já no método do “lucro nulo” existe um insuficiente balanceamento dos réditos com os gastos, de que
resulta o não reconhecimento dos resultados do contrato ao longo da sua execução. Os lucros são apenas
reconhecidos no final do contrato (N+2).

Estas diferenças, em geral, materialmente relevantes, têm inevitáveis efeitos na informação divulgada
aos utilizadores das DF’s e, portanto, nas suas tomadas de decisão. Com efeito, nos contratos de constru-
ção em que não são estimadas perdas futuras, a utilização do método da percentagem de acabamento
antecipa a divulgação de melhor desempenho. Em contrapartida, no ano em que se torna fiavelmente
expectável a finalização do contrato – que no caso concreto coincidiu com o ano de conclusão – os
resultados no método do “lucro nulo” são sobrevalorizados, pois a totalidade do resultado do contrato
é reconhecido nesse ano.

Continua com exercícios práticos...

12

Você também pode gostar