Sistemas de Producao 1
Sistemas de Producao 1
Sistemas de Producao 1
de Produção Julho/2022
Brasília, DF
Sistemas de
Produção 1
Embrapa Café
Brasília, DF
2023
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Presidente
Lucas Tadeu Ferreira
Vice-Presidente
Jamilsen de Freitas Santos
Secretária-Executiva
Adriana Maria Silva Macedo
Membros
Anísio José Diniz, Carlos Henrique Siqueira de Carvalho, Helena
Maria Ramos Alves, Lucilene Maria de Andrade, Mauricio Sergio
Zacarias, Milene Alves de Figueiredo Carvalho, Omar Cruz Rocha,
Rogério Novais Teixeira, Roseane Pereira Villela.
Editoração eletrônica
Thiago Farah Cavaton
1ª edição
Publicação digital (2023): PDF
Autores
Além disso, há que se ressaltar que a produção dos cafés do Brasil, como
um todo, é uma atividade agronômica de grande importância econômica,
social e ambiental, a qual gera mais de 8 milhões de empregos diretos e in-
diretos, receita bruta da lavoura e saldos expressivos da balança comercial.
Introdução ...............................................................................1
Características do café arábica ..............................................4
Clima ........................................................................................7
Faces soalheira e noruega ........................................................................... 9
Espaçamento .................................................................................................... 29
Preparo do solo para plantio ..................................................................... 30
Plantio das mudas ......................................................................................... 31
Referências ..........................................................................128
Glossário ..............................................................................130
Introdução
Marcelo de Freitas Ribeiro
Adriene Woods Pedrosa
Williams Pinto Marques Ferreira
Minas Gerais tem quatro regiões cafeeiras que se destacam como as princi-
pais: Matas de Minas (Zona da Mata/Rio Doce), Sul de Minas (Sul/Sudoeste),
Cerrado de Minas (Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba) e Chapada de Minas
(Vale do Jequitinhonha/Mucuri).
De modo geral o estado tem vocação para a cafeicultura, sendo que suas
quatro principais regiões produtoras apresentam características climáticas
que favorecem a produção do grão. Todavia, não se pode esquecer que a
adoção correta das tecnologias pelo produtor é primordial para assegurar a
máxima produtividade e qualidade no processo produtivo. O cafeeiro é uma
planta perene, e erros na sua implantação acarretarão prejuízos ao longo de
todo o ciclo de vida da cultura. Cerca de 90% dos erros encontrados nos ca-
fezais são, geralmente, provenientes de mudas malformadas e implantação
incorreta da lavoura. Assim, para formar e explorar o cafezal com rendimen-
tos compensadores, é prudente e recomendável o máximo de atenção, já
que os bons resultados desejados pelo produtor não são apenas nos aspec-
tos produtivos, mas também nos econômicos.
Características do café
arábica
Marcelo de Freitas Ribeiro
Adriene Woods Pedrosa
Williams Pinto Marques Ferreira
Plagiotrópicos são os ramos laterais que crescem com inclinação entre 45º
e 90° em relação ao ramo principal, ou seja, nascem e crescem na direção
horizontal, perpendicularmente ao ramo ortotrópico, formando a copa do
cafeeiro (Figura 1). Esses são os ramos produtivos, ou seja, onde serão for-
mados os botões florais e, consequentemente, os frutos do cafeeiro. O ramo
plagiotrópico também possui dois tipos de gemas, as “seriadas” e as “cabe-
ça-de-série”. As gemas seriadas podem originar frutos e ramos plagiotrópi-
cos de ordem secundária, já as gemas cabeça-de-série dão origem apenas
aos ramos plagiotrópicos de ordem secundária. A gema formadora do ramo
plagiotrópico é única, ou seja, jamais surge mais de um ramo plagiotrópico
no mesmo lugar, dessa forma, se um ramo perecer, não nascerá outro no
seu lugar.
O café arábica leva 2 anos para completar o ciclo fenológico (Tabela 1).
No primeiro ano, durante os meses em que os dias se tornam mais longos
(primavera e verão), ocorrem a vegetação e a formação das gemas florais,
ou seja, são formados os ramos plagiotrópicos com as gemas vegetativas
axilares nos nós do ramo ortotrópico. No outono, quando os dias começam
a encurtar, e durante o inverno, período de dias mais curto do ano, as gemas
vegetativas axilares são induzidas, por fotoperiodismo, em gemas produ-
tivas. Essas gemas amadurecem, entram em dormência e se tornam aptas
para antese (abertura dos botões florais) logo após a ocorrência de irrigação
ou de precipitação de no mínimo 10 mm.
O cafeeiro possui sistema radicular pivotante, sendo que cerca de 90% das
raízes se encontram nos primeiros 40 cm de profundidade do solo, mas tam-
bém podem ser encontradas até 2 m de profundidade. O fruto é uma drupa
ovoide e, quando maduro, pode apresentar exocarpo vermelho, amarelo ou
vermelho-alaranjado, denominado cereja. A má-formação do fruto ou da
semente pode ocasionar quatro tipos de anomalias:
Tem sido observado na região das Matas de Minas que, na face noruega das
montanhas até a altitude limite de aproximadamente 900 m, a temperatura mais
amena, nas camadas superficiais dos solos, favorece o vigor vegetativo das plan-
tas de café, sendo, portanto, áreas mais aptas ao desenvolvimento do cafeeiro.
A cafeicultura tem passado por mudanças por causa das exigências de mer-
cado, bem como em função das mudanças climáticas observadas em certas
regiões, sendo necessário, portanto, utilizar técnicas que incluam fatores
agronômicos e geográficos. O fator geográfico refere-se à regionalização
da exploração – ou seja, às condições ambientais que determinarão a via-
bilidade regional para a cafeicultura, uma vez que interferem nos aspectos
referentes à incidência de pragas e doenças –, bem como ao uso de meca-
nização, ao tipo de colheita e à qualidade da bebida. Contudo, a escolha de
uma área para o cultivo do cafeeiro é feita, principalmente, com base nas
exigências fisiológicas das espécies em relação ao clima e nas condições
agrícolas do solo.
Curva de nível
Terraceamento
• 6 kg de superfosfato simples.
• 1 kg de cloreto de potássio.
• 1 kg de calcário dolomítico.
O substrato deve ser tratado termicamente para evitar a infestação por: fitone-
matoides, pragas, doenças fúngicas e/ou bacterianas, ou ainda por sementes
de plantas espontâneas. Para a desinfestação desse material, pode ser feita a
solarização, ou seja, elevar a temperatura do solo ou substrato por meio da
energia solar. Essa técnica consiste na exposição direta do substrato ao sol, o
qual deve ser colocado sobre uma lona preta, distribuído em camadas finas,
umedecido à capacidade de campo, coberto com plástico transparente cujas
bordas devem ser enterradas para evitar a perda de calor. Esse processo deve
perdurar por cerca de 50 dias, proporcionando a eliminação da maioria dos
patógenos, sem causar danos aos organismos benéficos.
A cobertura baixa tem menor custo e facilita a aclimatação das plantas, uma
vez que os canteiros são cobertos individualmente, porém, esse tipo de cober-
tura deve ser 50 cm mais largo que o canteiro a ser coberto. Já a cobertura alta
permite reduzir a área do viveiro, uma vez que os canteiros ficam mais próxi-
mos uns dos outros, além de facilitar o manejo, pois os trabalhos são feitos
sob a cobertura, proporcionando, assim, certo conforto ao viveirista.
A maioria dos agronegócios não apresentam sucesso, não por falta de in-
vestimento, mas, sim, por falta de informação técnica, já que o manejo ade-
quado ou a condução propriamente dita da lavoura influencia diretamente
à produtividade e à qualidade do produto final obtido. Portanto, é de funda-
mental importância que o cafeicultor se informe sobre as técnicas de cultivo
antes da implantação da lavoura, para que, dessa forma, tenha os cuidados
especiais com a escolha da área e das cultivares, a produção de mudas, a
implantação e condução da lavoura, o processamento e com o beneficia-
mento final do produto.
Podas XXXXXXXXXXXXX
Controle de pragas XXXXXXX XXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXX
Controle de doenças XXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXX
Colheita XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Pós-colheita XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX
Fonte: Adaptado de DE MINAS (1984).
Boas práticas agrícolas aplicadas à lavoura cafeeira para o estado de Minas Gerais 27
Amostragem do solo
Os solos brasileiros são tipicamente ácidos, sendo essa uma das principais
causas da deficiente assimilação dos nutrientes presentes nos fertilizantes
químicos, além da utilização incorreta dos calcários pelos produtores rurais.
Assim, o primeiro passo no preparo do solo, para a implantação e forma-
ção do cafezal, é a amostragem e a análise química do solo, com o objetivo
fundamental de corrigir a acidez por meio da calagem, e, assim, diminuir os
efeitos tóxicos do alumínio, bem como corrigir as deficiências de cálcio e
magnésio, entre outros.
A amostragem do solo pode ser feita em qualquer época do ano, mas com
antecedência à época do plantio e/ou adubação, para auxiliar nos cálculos
dos insumos a serem aplicados. No momento da amostragem, o solo deve
ter umidade suficiente para conferir friabilidade, de forma a facilitar a coleta
e a homogeneização das amostras simples, para a obtenção da amostra
composta. Há diferentes tipos de equipamentos utilizados para a amostra-
gem do solo, tais como trado tipo rosca, calador, holandês, sonda, caneca,
fatiador e pé de corte ou pá reta.
28 Boas práticas agrícolas aplicadas à lavoura cafeeira para o estado de Minas Gerais
Correção do solo
Calagem
Gesso agrícola
Espaçamento
Prem (mg/L)
0–4 <9,0 9,1–13,0 13,1–18,0 18,1–24,0 >24,0
4–10 <12,0 12,1–18,0 18,1–25,0 25,1–37,5 >37,5
10–19 <18,0 18,1–25,0 25,1–34,2 34,3–52,5 >52,5
19–30 <24,0 24,1–34,2 34,3–47,4 47,5–72,0 >72,0
30–44 <33,0 33,1–47,4 47,5–65,4 65,5–99,0 >99,0
44–60 <45,0 45,1–65,4 65,5–90,0 90,1–135,0 >135,0
Dose de P2O5 (g por cova)
80 65 50 35 20
Fonte: Guimarães et al. (1999).
A B
Fotos: Marcelo de Freitas Ribeiro.
Os macronutrientes
(Figura 1); vegetação rala; secamento dos galhos a partir da ponta para a sua
base se a colheita tiver sido muito grande; diminuição da floração.
O fósforo (P), junto com o enxofre (S), são os macronutrientes menos exigidos
pelo cafeeiro, sendo o P considerado essencial por ser o principal transferidor de
energia, ou seja, participa da molécula de adenosina trifosfato (ATP). Sintomas
de deficiência são visíveis nas folhas velhas, em razão da sua mobilidade no
floema, com crescimento retardado e coloração verde-escura nas folhas velhas,
que podem amarelecer e apresentar grandes manchas pardas ou violáceas
nas pontas e meio; queda prematura das folhas; baixa floração e pegamento;
maturação antecipada dos frutos e raízes mal desenvolvidas. Os sintomas de
deficiência podem evoluir para as folhas mais novas em caso de deficiência
severa, por ser um nutriente móvel no floema (Figura 2).
Os micronutrientes
Adubação de formação
Classe de fertilidade
Muito
Baixo Médio Bom
Período Dose de N (g) bom
(Teor de K no solo (mg/dm3)
<60 60–120 120 – 200 > 200
Aplicação por cova K2O (g), aplicação por cova ao ano
Ano 1 10 40 20 10 0
Ano 2 20 60 40 20 0
Fonte: Guimarães et al. (1999).
Adubação de produção
A amostragem das folhas para análise química deve ser uma prática
rotineira, realizada anualmente, para auxiliar nas adubações. A amostragem
deve sempre ser feita pelo menos 30 dias após a aplicação de fertilizantes
ou de uma pulverização foliar, para evitar que as folhas cheguem ao
laboratório com resíduos de fertilizantes. As épocas mais indicadas para
a coleta de amostras de folhas são: antes do início das chuvas (primavera)
e no início da granação dos frutos, na fase denominada chumbinho. Na
primeira época, os resultados ajudam na programação da adubação, e,
na segunda época, são importantes para verificar os teores foliares no
momento de maior demanda de nutrientes pela planta.
A poda do cafeeiro deve ser realizada logo após a colheita, o mais rápido
possível, observando-se sempre o estado nutricional da lavoura. Em lavouras
depauperadas, deve-se aguardar a recuperação, pelo menos parcial, das
Boas práticas agrícolas aplicadas à lavoura cafeeira para o estado de Minas Gerais 47
plantas para então executar a poda, mesmo que seja realizada no início da
estação chuvosa. Deve-se sempre considerar o perfil da lavoura, ou seja, a
idade, o espaçamento e mesmo o nível tecnológico utilizado, para se obter
ganhos de produtividade de forma econômica. A poda deve ser associada
aos trabalhos de manejo do cafezal.
Recepa
Decote
Esqueletamento
Poda programada
Capina manual
Capina mecânica
Capina química
Bicho-mineiro
Broca-do-café
Cigarras
O controle pode ser: cultural, com a remoção das plantas; biológico, com
o uso de fungos entomopatógenos; físico, com o uso de armadilha sonora
que atrai as fêmeas e as mata com inseticida; e químico, com a aplicação
de inseticida específico granulado sistêmico.
Manejo das principais
doenças
Marcelo de Freitas Ribeiro
Adriene Woods Pedrosa
Ferrugem do cafeeiro
Cercóspora
Mancha-aureolada-do-cafeeiro
O controle pode ser cultural, evitando-se áreas elevadas e sujeitas a vento frio,
bem como utilizando-se quebra-ventos. Já o controle químico pode ser feito
com a aplicação de fungicidas cúpricos.
Phoma ou requeima
O fungo Phoma sp. que causa esta doença ataca folhas, flores e frutos novos,
extremidades de ramos e botões florais, como também pode penetrar no ponto
de abscisão das folhas. Os sintomas nas folhas são lesões irregulares de cor
escura próximas ao limbo foliar, provocando o entortamento da folha (Figura 4).
Também, formam-se pequenas pontuações salientes de cor marrom-clara nas
folhas; os ramos secam progressivamente quando a infecção ocorre na inserção
das folhas; as flores e os frutos apresentam lesões escuras, deprimidas e de
aspecto úmido que causam a mumificação e queda dos frutos. Dessa forma, a
incidência dessa doença causa prejuízos por reduzir a área foliar, morte de ramos
produtivos, queima de inflorescência, queda de frutos e superbrotamento.
Foto: Marcelo de Freitas Ribeiro.
comum, uma vez que seu efeito é paliativo, já que reduz temporariamente a
população de nematoides.
Meloidogyne sp.
Pratylenchus sp.
O gênero Pratylenchus sp. causa lesões escuras nos tecidos das raízes durante
sua movimentação e parasitismo. Há oito espécies de Pratylenchus, porém,
apenas o P. coffeae tem maior disseminação e importância econômica e
é mais frequente nos solos do estado de São Paulo. Após a eclosão dos
ovos, todos os estádios de vida são capazes de iniciar o parasitismo em
raízes novas. Os nematoides P. coffeae em solo arenoso causam baixo
desenvolvimento radicular, tornando o cultivo dispendioso.
Qualidade de bebida,
colheita e pós-colheita
Sammy Fernandes Soares
Juarez de Sousa e Silva
Sérgio Maurício Lopes Donzeles
Marcelo de Freitas Ribeiro
Williams Pinto Marques Ferreira
Colheita
Pré-limpeza e limpeza
Figura 2. Fluxograma das etapas do processamento do café por meio de via seca.
Figura 5. Fluxograma das etapas do processamento do café por meio de via úmida.
Para reutilizar a APC, é preciso remover parte dos resíduos sólidos nela
contidos, a fim de facilitar o fluxo e evitar entupimentos na rede hidráulica
da unidade de processamento. Na maioria dos casos, a remoção é feita em
um tanque de decantação, de onde a água é bombeada para uma caixa de
reúso, sendo, então, reutilizada no descascador. Nesse caso, removem-
se apenas os resíduos mais densos que a água; os mais leves e aqueles
com densidade próxima à da água não são removidos e podem entupir o
“esguicho” do descascador.
Secagem
Secagem em terreiros
Alguns cuidados devem ser observados no uso dos terreiros, como cercar
e higienizar, não misturar lotes diferentes de café. O ideal é esparramar
o café sem deixar um fruto de café sobre o outro, e não virar o café com
equipamentos mecânicos, tais como motos, nos primeiros dias para não
descascar o café natural. Caso não seja possível, esparramar o café, de
preferência lavado, no mesmo dia da colheita, em camadas finas de 3,0 cm
a 5,0 cm, e formar minileiras com a utilização do rodo enleirador manual
para pequenas áreas (Figura 8). Já para grandes áreas de terreiro, esse
método pode ser feito com o uso de uma motocicleta ou microtrator
(Figura 9). Em todos os casos, o operador deve cuidar para que parte do
terreiro seja raspada, de modo que fique exposto ao sol, a fim de propiciar
indiretamente a secagem do café na próxima virada. Ao abrir as leiras de
café, o operador deve ter sempre o cuidado com a orientação ou posição
do sol. As leiras de café devem ficar paralelas ou no mesmo sentido da
sombra do operador.
Foto: Juarez Sousa e Silva.
A partir da meia seca (ponto em que ele não se adere à mão quando
apertado), deve-se enleirar o café. Essa operação é muito importante, pois
o grão de café em coco ou em pergaminho tem a propriedade de trocar
calor entre si, proporcionando homogeneidade na secagem. Essa operação
deve ser feita por volta das 15 horas e, se possível, cobrir os grãos com saco
de juta e, por cima deste, ser colocada uma lona plástica. No dia seguinte,
por volta das 9 horas, quando o terreiro estiver quente e a umidade relativa
do ar adequada, o café deve ser espalhado e movimentado até as 15 horas,
quando devem ser novamente amontoados e cobertos. Esse processo
continua até a secagem final, quando o café frio é recolhido para a tulha,
pela manhã, com 11% a 12% de teor de água.
Secagem em estufa
Secagem mecânica
Deve-se cuidar para não secar o café abaixo do teor de água recomendado
(11% a 12% em base úmida ), pois a seca excessiva provoca perda de peso
e quebra dos grãos no beneficiamento, além do maior consumo de energia
e de mão de obra. Ao terminar a secagem, deve-se esperar que os grãos
esfriem para que sejam armazenados.
Terreiro secador
Secador rotativo
Secador-caixa
Figura 17. Torra dos grãos de café em função do tipo de secagem, com a secagem
desuniforme dos grãos (à esquerda) e secagem homogênea dos grãos (à direita).
Figura 18. Tulhas de café: com sistema de ventilação para secagem em silos
em baixas temperaturas (à esquerda); visão superior do café na tulha ventilada
(à direita).
Armazenamento
Outros produtos não devem ser armazenados junto com o café, que deve
ser beneficiado apenas por ocasião da comercialização. O café beneficiado
deve ser colocado em sacaria de juta limpa. O excesso de umidade durante
o armazenamento favorece a formação de mofo e o branqueamento dos
grãos. O preço do café depende do aspecto geral dos grãos, da peneira, da
cor e, principalmente, do tipo e da bebida.
O objetivo da cafeicultura
Figura 2. Esquema das relações que caracterizam a atividade cafeeira como usuária
de recursos e geradora de receitas.
em que S = sustentabilidade
Em uma atividade sustentável, sabe-se que o lucro tem que ser positivo,
a não ser que seja executada por diletantismo, por puro gosto, o que é
entendível, mas não é nosso caso. O empresário tem uma atividade
econômica, portanto, um negócio. Assim, ele trabalha procurando um
aumento da receita ou buscando meios para conseguir um decréscimo dos
custos e, quase sempre, em ambas as partes.
Aumento da receita
R = Pc x Qc
Na maioria dos anos o preço de café apresenta evolução sazonal típica, ou seja,
maior no início e no final do ano e menor no período de safra, o que indica, em
média, quais os meses de preço mais elevado e, portanto, a melhor época para
vender o produto. Contudo, é oportuno e importante alertar o administrador
que, não obstante a tendência comum, cada ano tem sua própria dinâmica
(Figura 5), e recomenda-se estar atento a ela. Inclusive, em alguns anos, por
razões climáticas e de mercado, pode ocorrer, como aconteceu em 2011, um
comportamento dos preços atípico com relação à sua evolução sazonal. Nesse
ano, os preços iniciaram um processo de subida em março, pouco antes do
início da safra, e mantiveram uma tendência de alta até o final do ano.
Fonte: Cepea (2021).
Figura 5. Evolução anual das médias mensais dos preços, em reais, da saca de 60
kg do café arábica no Brasil entre 2011 e 2020.
Boas práticas agrícolas aplicadas à lavoura cafeeira para o estado de Minas Gerais 93
As duas alegações mais gerais para que esse tipo de flutuação ocorra são:
a rápida expansão da oferta pelos cafeicultores e a redução da demanda
de café por parte de compradores. A ocorrência do fenômeno provocado
pela oferta, deve-se ao comportamento típico do cafeicultor, que tende a
aumentar sua produção nos períodos de preços altos. Também concorrem
para tal, fenômenos naturais, como geadas, secas e enchentes. Do lado da
94 Boas práticas agrícolas aplicadas à lavoura cafeeira para o estado de Minas Gerais
Com base nos ciclos ao longo dos anos, se observa que logo a pós-
períodos de preços elevados sempre se ocorrem períodos de preços
deprimidos, assim, medidas que otimizem os efeitos desses fenômenos
podem ser executadas. No entanto, quando o preço está elevado um
número significativo de cafeicultores procura expandir suas lavouras,
compram mudas e insumos – quase sempre mais caros – e preparam
novos plantios, que estarão em franca produção somente após quatro
anos, quando então, o preço começa a baixar novamente. Por outro lado,
em período de preço baixo, não apresentam interesse de expandir a
área de lavoura e até negligenciam o tratamento daquelas existentes, e
quando o preço se eleva, possuem pequena capacidade de resposta ao
aumento de preço.
• Elaboração de orçamentos.
C = ∑ Pi x qi
custo proposta tem como foco principal a apuração dos custos associados
a um produto específico – o café - considerando que esse seja gerador
de custos durante um ano safra que, dependendo da região, será, por
exemplo, de agosto a julho do ano subsequente, uma vez que na lavoura,
o período de safra abrange todo o processo desde a pré-florada até o fim
da colheita. Além disso, ela se estende às operações de beneficiamento,
comercialização e vendas. Por exemplo, em uma determinada região
cafeeira, a colheita pode se estender até outubro, a pós-colheita até abril do
outro ano, e a comercialização ser realizada até dois anos depois. Mesmo
assim, as informações relativas a essas atividades deverão ser alocadas em
sua safra de origem, O importante é que o período contenha as despesas
referentes a uma determinada safra e seja mantido na sequência dos anos
acompanhados.
I = juros
MB = RT - COE
RT = receita total
ML = RT – COT
RT = receita total
ISP = IT / NSC
IT = investimento total
visto que ela tem remunerado o seu custeio, a mão de obra familiar e a
depreciação de suas benfeitorias, máquinas e equipamentos. Mas, é instável
no longo prazo, já que o capital não está sendo remunerado adequadamente.
A “propriedade D” terá seu custeio coberto, portanto viabiliza-se apenas no
curto prazo e a “propriedade E”, por não cobrir seu custeio torna-se inviável,
exigindo o aporte de capital externo para sua sobrevivência.
recorrer à Lei de Pareto e lembrar que 80% dos custos de uma empresa
são provenientes de 20% dos seus elementos de despesas ou atividades.
Ressalta-se que, se a proporção não for exatamente 80/20, ela sempre se
aproxima disso.
Esses exemplos citados são, tão somente, uma pequena parte do grande
número de análise que podem ser feitas pelo cafeicultor. Pode-se,
inclusive, utilizar as observações para o estabelecimento de metas a serem
alcançados em safras futuras. Por exemplo, na Região das Matas de Minas
um cafeicultor pode querer estabelecer a redução de 10% do valor gasto
com a mão de obra na próxima safra e, a partir daí, planejar maneira
para alcançar seu objetivo. Já na cafeicultura do Cerrado, um cafeicultor
Boas práticas agrícolas aplicadas à lavoura cafeeira para o estado de Minas Gerais 117
Análise comparativa
Análise evolutiva
Tendo em vista esse fenômeno, além das análises anuais, faz-se necessário
realizar análises de indicadores bienais, baseadas nos cálculos de médias dos
custos e das receitas em dois anos subsequentes. Quando se analisa apenas os
dados de um ano isoladamente, os indicadores podem estar superestimados
ou subestimados, na dependência de, respectivamente, se estar considerado
dados de um ano de alta ou de baixa produção. Esse cuidado deve estar
presente em todos os tipos das análises descritas neste documento.
Fluxo de caixa
Controle de
1.736 6.344 3.349 27.072 26.588 12.888 13.141 10.762 13.389 7.233 1.181 59
plantas daninhas
Continua...
123
124
... continuação.
e crédito
Boas práticas agrícolas aplicadas à lavoura cafeeira para o estado de Minas Gerais 125
Importância da informação
Convém alertar que a análise de custo só terá todas essas utilidades se, e
somente se, os dados levantados forem confiáveis e organizados de forma a
propiciar conhecimento sobre a real situação do empreendimento, inclusive
direcionando a procura das informações externas à propriedade, atualmente
disponíveis em tempo real, em grande quantidade e em inúmeras fontes.
Nesse caso, o grande desafio está em selecionar as informações que
realmente são relevantes para fundamentar o conhecimento útil e suportar
adequadamente as decisões a serem tomadas. O conhecimento dos detalhes
sobre o custo de produção pode direcionar melhor essa seleção.
Referências
Glossário
Antese – período de abertura das flores, quando um dos seus órgãos sexuais
amadurece e o perianto se abre, iniciando o ciclo reprodutivo da flor.
Copa – projeção vertical da parte aérea que forma a copa das plantas.
Drupa – tipo de fruto carnoso que contém núcleo muito duro, denominado
como o caroço e aderido ao endocarpo, que só pode ser separado
mecanicamente.
Gemas seriadas – são aquelas que dão origem a gemas florais ou ramos
laterais.