Sobre A Lembrança - Uma Abordagem Psicanalítica Dos Limites Estruturais Da Memória
Sobre A Lembrança - Uma Abordagem Psicanalítica Dos Limites Estruturais Da Memória
Sobre A Lembrança - Uma Abordagem Psicanalítica Dos Limites Estruturais Da Memória
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Angélica Bastos 1
Universidade Federal do Rio de Janeiro Curriculum ScienTI
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Resumo
Mais
O presente artigo pretende interrogar o advento da lembrança e
situá-lo frente à operação psicanalítica. São estabelecidas Mais
articulações entre os limites em que desemboca a análise da
lembrança encobridora e a natureza estruturalmente incompleta Permalink
da memória. Para tal, procura-se demonstrar na metapsicologia
freudiana da memória a existência de um elemento extra-
mnêmico sob a forma de das Ding, cuja impossibilidade de assimilação as imagens mnêmicas
viriam encobrir.
Abstract
The purpose of this article is to raise questions on the emergence of memories and to situate
them vis-à-vis the psychoanalytical operation. Links are established among the limits to which
the analysis of the concealing event leads and the structurally incomplete nature of memory.
The article therefore attempts to demonstrate that in the Freudian metapsychology of memory
there is an extra-mnemic functional element beyond recollections found in the form of das Ding,
which cannot be assimilated as a memory and must therefore be buried by the formation of
remembered images.
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03/04/2020 Sobre a lembrança: uma abordagem psicanalítica dos limites estruturais da memória
"Vocês não podem nunca estar certos de que uma lembrança não é uma
lembrança encobridora. Quer dizer, uma lembrança que bloqueia o caminho
do que posso situar no inconsciente, isto é, a presença - a ferida - da
linguagem. Nós não sabemos nunca; uma lembrança, tal como ela é
imaginariamente revivida - o que é uma lembrança encobridora - é sempre
suspeita. Uma imagem bloqueia sempre a verdade. (...) O conceito mesmo
de lembrança encobridora mostra a desconfiança do analista no que diz
respeito a tudo que a memória pensa que reproduz."( Lacan, 1976, p.22)
De acordo com essa primeira teoria, o trauma - causa suprema da neurose - deveria ser objeto
de trabalho terapêutico. A dita lembrança traumática constituiria o elemento com o qual as
lacunas da memória deveriam ser preenchidas. No entanto, o trauma não é redutível a traços de
memória. Aquém da lembrança do trauma, sua incidência envolve um excesso quantitativo
aflitivo para o psiquismo. Logo, sob a forma de sua integração à cadeia discursiva, a causa da
neurose passaria à fala, deixando-se absorver - ainda que parcialmente - pela memória. A
anamnese viria ao centro do tratamento: ela deveria perseguir os eventos singulares que
causaram a neurose. Esperava-se deflagrar a rememoração, remontar ao trauma, devolvendo o
sujeito à memória que já o habitava sob a forma do sintoma. A reminiscência é uma expressão
da memória que recusa o saber inconsciente. O tratamento poderia se resumir no percurso que
vai da memória sintomática à memória com saber inconsciente.
Essa concepção liga indissoluvelmente sintoma, memória e trauma. Uma parte considerável do
que estabelece fica preservada, em especial, o efeito a posteriori que remodela as lembranças,
conferindo-lhes uma significação que não possuíam. Com a valorização da fantasia em
detrimento da realidade factual, o trauma se subordina à primeira, que continua a engendrar os
mesmos efeitos retroativos.
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03/04/2020 Sobre a lembrança: uma abordagem psicanalítica dos limites estruturais da memória
inconsciente. Para que isso seja evidenciado, faz-se necessário um exame da lembrança
conjugado a uma incursão na metapsicologia freudiana da memória.
Freud (1899/1969) dispensa à lembrança a mesma abordagem dada ao sintoma, vale dizer,
trata-a como formação de compromisso. O ponto de vista dinâmico está presente na imagem
empregada: a resultante de um paralelogramo de forças serve de metáfora ao conflito psíquico.
Num vetor, a relevância da fantasia é o critério que impõe sua fixação; no outro, a resistência
impele a memória a distorcê-la. Na resultante, forja-se uma imagem que não coincide com a
representação original: o pensamento é reproduzido sob a forma de uma conciliação, ou melhor,
não é reproduzido, mas deslocado para uma outra cena.
Na condução da análise, a linguagem 2 desempenha papel central: "o passo intermediário entre
uma lembrança encobridora e aquilo que ela esconde é provavelmente uma expressão verbal"
(Freud, 1899/1969, p.350); donde a fantasia de defloramento ser encoberta pela lembrança da
tomada das flores que a menina segurava. De forma análoga, o pão que consta da lembrança
encobridora é interpretado em termos da preocupação com a sobrevivência. Ele está
sobredeterminado. De um lado, representa a necessidade de "ganhar o pão", que na fantasia do
sujeito o afastara da moça por quem ele viria a se apaixonar. De outro, representa as
"ocupações pão com manteiga", isto é, o conforto material que poderia obter caso, seguindo os
planos do pai e do tio, trocasse seus estudos abstratos por uma ocupação prática e viesse a se
casar com a prima mais abastada.
Quanto ao material que participa da formação da lembrança, sabe-se que ela se erige a partir
de traços mnésicos, cuja registro é permanente, indelével. No entanto, a imagem mnêmica
capaz de se reproduzir não corresponde à fantasia relevante: as cenas que constituem o acervo
de lembranças infantis não repetem com exatidão as impressões originalmente recebidas.
Qual é a natureza da lembrança encobridora? Ela é forjada para substituir fantasias que
sobrevieram na juventude e que foram recalcadas; nesse sentido, ela não retrata a infância.
Dizer que ela a distorce e negar-lhe fidedignidade é pouco: de fato, a lembrança encobridora
não é dotada de "precisão histórica" (Freud, 1899/1969, p.354) em sua referência à infância.
Sem constituir um documento da infância ou da juventude, ela, entretanto, é um monumento de
algo que cumpre à análise circunscrever.
constrangimentos; ele apenas significa que a impressão primitiva foi superelaborada. "Mas
nenhuma reprodução da impressão original introduz-se na consciência do sujeito" (Freud,
1899/1969, p.353).
Freud toma o partido da autenticidade das lembranças. Ora, que haja nela algo de autêntico não
significa que ela corresponda à impressão original. Esse é o ponto de vista freudiano, que
estabelece um meio termo entre a natureza puramente ficcional da lembrança e sua reprodução
fiel. Por um lado, estipula-se a exigência de que um traço mnêmico "ofereça um ponto de
contato à fantasia", de que se disponha de um "material bruto utilizável". Enquanto material
bruto, os traços mnésicos, embora possam engendrá-la, não são da ordem da imagem. O traço
detém o primado sobre a expressão plástica de que se reveste a lembrança em seu aspecto
cênico. Elos simbólicos governam o trajeto da fantasia inconsciente à lembrança que, pelo fato
de ser sobredeterminada, presta-se às distorções impostas pelo recalque e assume a forma
visual que ele requer.
Caberia a objeção de que a recordação de Leonardo da Vinci não é classificada por Freud como
uma lembrança encobridora. De fato, ela não se adequa à característica distintiva da ênfase
sensorial conjugada ao conteúdo trivial. Ao contrário, a ave de rapina que vem ao berço do bebê
confere à representação uma feição inusitada, extraordinária, homérica, no sentido que Lacan
atribui às recordações quando diz: "Mesmo se as lembranças da repressão familiar não fossem
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03/04/2020 Sobre a lembrança: uma abordagem psicanalítica dos limites estruturais da memória
verdadeiras, seria preciso inventá-las, o que não deixamos de fazer. O mito é isso, a tentativa de
dar forma épica ao que opera pela estrutura" (Lacan, 1974, p.51).
A lembrança opera como anteparo a um encontro que é traumático para o sujeito e que se
remete ao impossível ligado ao sexo. Assim, compreende-se o empenho de Freud em encontrar
o elemento sexual. Ele não se contenta em detectar a preocupação com a sobrevivência que,
efetivamente, movia o sujeito. A fantasia de defloramento é essencial, pois é ela que encerra o
caráter problemático da sexualidade. O comentário de Lacan a propósito das lembranças parece
visar esse ponto crucial; diz ele: "O impasse sexual secreta as ficções que racionalizam o
impossível do qual ele provém. Eu não as digo imaginadas, eu aí leio como Freud o convite ao
real que a elas corresponde" (Lacan, 1974, p.51). Certamente, as lembranças não se reduzem a
um exercício imaginativo. Esse convite ao real insistente assume a forma de uma lembrança
numa formação de tipo neurótico, mas essa resposta bem poderia comparecer sob a forma de
uma alucinação.
Esse ponto cego apontado na memória não está necessariamente presente em todos os textos
de Freud. Aliás, ele está ausente na referência ao bloco mágico, com o qual nos são ilustrados
os aparelhos mnêmico e perceptivo. Esse artefato consiste em uma prancha de escrever feita de
cera ou resina e uma dupla cobertura transparente, configurando dois sistemas ou partes do
bloco, interligadas pelas bordas. O interesse de Freud incide principalmente sobre a dupla folha
de cobertura: a primeira constitui uma camada protetora em contato com um estilete, enquanto
a segunda recebe a impressão dos sulcos que se formam na prancha à medida que se escreve.
Ao se separar a prancha e cobertura, aquilo que foi escrito desaparece, pois os sulcos não são
mais visíveis. O bloco ficou livre para novas anotações. Segundo a comparação estabelecida por
Freud, a cobertura de celulóide com seu papel encerado subjacente estaria para o sistema
percepção-consciência dotado de seu escudo protetor, assim como a prancha de cera estaria
para o inconsciente. Os obstáculos ao prosseguimento da analogia não tardam: os traços não
são tão permanentes assim e, sobretudo, uma vez destruída a escrita, isto é, rompido o contato
entre cobertura e prancha, os traços não são capazes de reprodução - ou manifestação - a partir
da prancha, isto é, do inconsciente. Mas trata-se apenas de uma analogia e o texto é claro
quanto a isso. De fato, Freud parece mais entusiasmado com as semelhanças entre o bloco e o
aparelho perceptual. Nesse sentido, são usadas expressões tais como: "concordância notável
com nosso aparelho perceptual" (Freud, 1925/1969, p.287), ou "maneira pela qual, segundo a
hipótese que acabo de mencionar, nosso aparelho mental desempenha sua função perceptual"
(Freud, 1925/1969, p.289). Do ponto de vista do inconsciente, a importância dessa ilustração
não é indevidamente minimizada ao se privilegiar o aparelho sensorial, ou, a separação
estrutural entre o sistema percepção-consciência e o que é da ordem da memória.
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03/04/2020 Sobre a lembrança: uma abordagem psicanalítica dos limites estruturais da memória
Passo agora a expor face metapsicológica desses limites demarcados na análise da lembrança,
pretendendo apontar em das Ding, ou no neurônio a, senão a contrapartida conceitual, ao
menos uma aproximação teórica a esses pontos que se furtam à articulação. Esse vetor pode
ser depreendido do ensino de Lacan em sua releitura da obra de Freud, mas a intervenção do
primeiro no texto do segundo será adotada com parcimônia.
"Toda teoria psicológica digna de consideração terá que fornecer uma explicação para a
‘memória’" (Freud, 1895/1969, p.399). Freud responde a essa exigência com sua teoria das
barreiras de contato. Há dois tipos de neurônios. Os f, completamente permeáveis e
imutáveis, não erguem resistência à passagem das quantidades (Qn)5 que os percorrem. São
receptivos ao que se passa no interior do corpo, têm a percepção a seu cargo, nada retêm e
estão sempre prontos a sofrer e transmitir novas excitações. Em uma palavra: neles, as
barreiras de contato não constituem obstáculo à circulação de Qn. Os neurônios y,
impermeáveis, caracterizam-se pela resistência à passagem das excitações e pela capacidade
de reter quantidades. Ele são modificáveis, prestando-se à representação da memória. As
"facilitações" nas barreiras de contato dão a chave dessas propriedades: à medida que
sofrem excitações, os neurônios y tornam-se menos impermeáveis, mais condutíveis, o que
se traduz no grau de "facilitação" das ditas barreiras. Daí, deduz-se uma definição de
memória: ela consiste nas diferenças de "facilitação" entre os neurônios y. Numa formulação
mais completa:
As noções e conceitos que constam do texto freudiano fazem parte de uma intrincada e extensa
trama teórica, a qual dificilmente comporta o recorte de alguns itens em detrimento dos demais.
Como objetivo aqui não é o de expor a totalidade dessa rede conceitual em seus detalhes, mas
nele localizar detalhadamente alguns aspectos relativos à memória, certas noções, a começar
pela "facilitação", serão enfatizadas. O termo empregado por Freud é Bahnung (1950/1969). Ele
se liga à noção de barreira de contato e , por conseguinte, à diferença de permeabilidade entre
os neurônios.
A propósito deste último ponto, Lacan (1986) critica a tradução inglesa (facilitation), da qual
várias outras se originaram. Procurando ressaltar o aspecto de articulação implicado no
sistema de neurônios y, ele afirma: "Bahnung evoca a constituição de uma via de
continuidade, uma cadeia, e penso mesmo que isso pode ser aproximado da cadeia
significante..." (Lacan, pp. 49-50). O aspecto de articulação diz respeito à memória, e não à
percepção ou à consciência. Por isso, o trilhamento concerne às barreiras de contato do
sistema em que estas se fazem sentir (em f, ao contrário, é "como se" não existissem
barreiras de contato). Onde as barreiras se fazem sentir, os trilhamentos 6 ligam, conectam,
ou estabelecem uma via de continuidade. Esta última expressão aponta para a natureza de
elemento discreto que possui o neurônio e nos adverte contra qualquer ilusão sugerida por
uma anatomia fantasista. Contigüidade não é continuidade: embora possa haver proximidade
e mesmo contato espacial entre os neurônios concebidos, os elementos dessa memória
devem ser entendidos como termos individualizados, descontínuos uns em relação aos que
lhes são contíguos; donde a introdução de uma via de continuidade entre termos discretos.
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uma vez que acúmulo e descarga de quantidade vão se traduzir em desprazer e prazer.
Examinemos a conjunção entre funcionamento e estrutura da memória.
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A propósito de das Ding no texto freudiano, que fique claro o que a particulariza nos limites do
presente trabalho. O interesse em expor algumas idéias contidas no "Projeto..." reside no
estatuto do neurônio a, enquanto um elemento heterogêneo em relação aos elementos da
memória. A definição preliminar de coisa aparece sob a notação a, mais precisamente, como
neurônio a.
Além de responder pela "semelhança parcial" ou pelo denominador comum entre a imagem de
desejo investida - da ordem da experiência de satisfação - e a imagem atual, isto é, a
percepção, o neurônio a desempenha um papel crucial no estabelecimento da identidade de
percepção: ele não a garante, mas é a partir dele que o ego se lança num trabalho de
rastreamento da memória no sentido de conciliar b e c. No exemplo freudiano, a dissemelhança
redutível a uma semelhança é representada pela imagem mnêmica do seio; a imagem desejada
é a do seio visto de frente, com o mamilo, enquanto que a percepção oferece uma imagem de
perfil, desprovida do mamilo. Admitindo-se a hipótese de que a primeira imagem perceptiva do
seio tenha sido a lateral e que ao longo da experiência um movimento de rotação da cabeça
tenha conduzido à imagem frontal - pronto! - temos o elemento intermediário: a imagem
motora da rotação da cabeça. Mas temos também um problema, pois o texto é preciso e
estabelece a equivalência entre, de um lado, b e a imagem frontal e, de outro, c e a imagem
lateral 8. Afinal, a que corresponde a?
Do ponto de vista das localizações, Freud (1895/1969) postula duas correlações que são assim
enunciadas:
"A linguagem estabelecerá mais tarde o termo juízo para classificar esse
processo de análise, descobrindo simultaneamente a semelhança que de
fato existe [por um lado] entre o núcleo do ego e a parte constante do
complexo perceptivo e [por outro] entre as catexias cambiantes do pallium
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Comecemos pela segunda correlação: ela só parece se referir aos aspectos incongruentes entre
as imagens mnêmica e a perceptiva, ficando, por conseguinte, representada pelos neurônios b e
c, respectivamente, ambos situados no pallium. Mediante a, essa relação tende a caminhar no
sentido da identidade de percepção.
Duas idéias se depreendem do estatuto singular de a. Em primeiro lugar, ele é uma condição de
possibilidade para o reconhecimento do objeto da satisfação, ele conecta memória e percepção,
pondo em andamento a recognição. Em segundo lugar, ele não encerra, nem se torna imagem
mnêmica de nada, não podendo ser considerado um precursor da representação (Vorstellung),
nem sob a forma da representação-coisa (Sachvosrtellung), nem sob a forma da representação-
palavra (Wortvorstellung).
Ora, a que corresponde a? Qual seu estatuto? Sua natureza de imagem revela-se problemática,
pois se ele contivesse o que há de comum a todas as imagens do seio, ele não seria mais uma
imagem como as outras, envolveria uma abstração, seria quase um conceito. Bem, o próprio
Freud nos impede de tratar esse impasse nos termos de uma psicologia da memória de cunho
intelectualista, quando ele postula algo de inassimilável à memória. Isso ocorre a propósito da
experiência do próximo (Nebenmensch), na qual a aplicação de um raciocínio semelhante ao
desenvolvido em torno da percepção e imagem mnêmica do seio, acrescenta-nos uma nova
perspectiva sobre a. Prossegue Freud em sua exposição:
O que pode ser compreendido pela atividade de memória são os traços do próximo equiparáveis
a uma atividade do sujeito, algo em que ele pode se reconhecer. Freud ilustra esse aspecto com
a percepção visual do movimento das mãos, que "coincidirão no sujeito com a lembrança de
impressões visuais muito semelhantes, emanadas de seu próprio corpo, que estão associadas a
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lembranças de movimentos experimentados por ele mesmo" (Freud, 1895/1969, p. 438). Esses
traços podem ser notados como c, como uma dissemelhança suscetível de evoluir no sentido de
uma congruência 10, isto é, capaz de vir a se associar a b, mediante a dita atividade de
rastreamento da memória. De resto, reencontra-se aí a imagem mnêmica motora que se
intercala entre c e b, ao longo das associações possíveis, vale dizer, trilhadas. O exemplo não se
restringe à esfera visual, sendo endossado com a menção a um grito ouvido, que o sujeito, à
semelhança de outros movimentos, identificará a seu próprio grito.
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"A lembrança encobridora está ligada à história por toda uma cadeia, é uma parada nessa
cadeia, e é nisso que ela é metonímica, pois a história por sua natureza, continua" (Lacan,
1994, p.154). Se, no tratamento, a análise da lembrança se choca contra o incognoscível, é
porque a imagem pode perder sua função de escudo, fazendo a fala beirar esse ponto cego,
vazado, de direito lacunar. Ao fazê-lo, a fala não torna a memória mais completa, apenas se
reconcilia com a cadeia, ou com a história, contornando o ponto anteriormente velado. Em sua
natureza de imagem, a lembrança ao mesmo tempo estancava o desfiladeiro dos significantes e
respondia ao convite do real com um véu, um anteparo frente a ele e, em última instância,
frente à própria verdade subjetiva que aí permanecia encoberta.
Referências
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Piaget, J. & Inhelder, B. (1979). Memória e inteligência. Rio de Janeiro: Artenova. [ Links ]
Recebido em 20.03.99
Revisado em 12.06.99
Aceito em 15.06.99
Sobre a autora:
1 Angélia Bastos é Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Professora do
Programa de Pós-Graduação em Teoria Psicanalítica da UFRJ e Psicanalista.
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