SC COSIT N. 32 - 2024

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

Coordenação-Geral de Tributação

PROCESSO

SOLUÇÃO DE 32 – COSIT
CONSULTA
DATA 15 de março de 2024

INTERESSADO CLICAR PARA INSERIR O NOME

CNPJ/CPF 00.000-00000/0000-00

Assunto: Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF


DESPESA MÉDICA. DEDUÇÃO. FISIOTERAPEUTA. MÉTODO PILATES.
São dedutíveis da base de cálculo do IRPF as despesas comprovadas com
serviços prestados por fisioterapeutas, incluindo as sessões do método Pilates
administradas pelo profissional, atendidos os demais requisitos normativos de
dedutibilidade, em especial os previstos no art. 73, caput e § 1º, incisos II e III,
do Regulamento do Imposto sobre a Renda (RIR/2018).
Dispositivos legais: Regulamento do Imposto sobre a Renda (RIR/2018), art. 73,
caput e § 1º, incisos II e III, aprovado pelo Decreto nº 9.580, de 22 de novembro
de 2018.

RELATÓRIO

A pessoa física acima qualificada formula consulta à Secretaria Especial da Receita


Federal do Brasil (RFB) sobre interpretação da legislação tributária que rege o Imposto sobre a Renda
de Pessoa Física (IRPF).
2 Questiona se sessões de Pilates como fisioterapia são dedutíveis no cálculo do IRPF,
conforme art. 73 do Regulamento do Imposto sobre a Renda (RIR/2018), aprovado pelo Decreto nº
9.580, de 22 de novembro de 2018, ainda que o método seja de uso comum a outras profissões, como
educação física. Alega ser atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas
fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do cliente.
3 Pergunta, também, se existe outra condição normativa para a dedutibilidade da referida
despesa, além da indicação do nome, do endereço e do número de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas (CPF) ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) de quem os recebeu.
PROCESSO
SOLUÇÃO DE CONSULTA 32 – COSIT

FUNDAMENTOS

4 O instituto da consulta se encontra disciplinado no Decreto nº 70.235, de 6 de março de


1972, e regulamentado na Instrução Normativa RFB nº 2.058, de 9 de dezembro de 2021. Referidas
normas tratam, dentre outras questões, da legitimidade para formulação de consulta, dos requisitos a
serem atendidos, dos seus efeitos, bem como de suas hipóteses de ineficácia.
5 A Solução de Consulta visa esclarecer ambiguidade ou obscuridade acaso existentes na
legislação e configura orientação oficial da RFB, produzindo efeitos legais de proteção ao contribuinte
que a formula.
6 Nesse sentido, não convalida nem invalida quaisquer informações, interpretações,
ações ou situações jurídico-tributárias informadas pelo Consulente e não gera qualquer efeito caso se
constate, a qualquer tempo, que os fatos descritos não correspondem à realidade.
7 A consulta trata de despesas dedutíveis da base de cálculo do IRPF, tema disciplinado
no art. 73 do RIR/2018 nos seguintes termos:
“DA DEDUÇÃO NA DECLARAÇÃO DE AJUSTE ANUAL
Seção I
Das despesas médicas
Art. 73. Na determinação da base de cálculo do imposto sobre a renda devido na declaração de
ajuste anual, poderão ser deduzidos os pagamentos efetuados, no ano-calendário, a médicos,
dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, e as
despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos e próteses
ortopédicas e dentárias (Lei nº 9.250, de 1995, art. 8º, caput, inciso II, alínea “a”).
§ 1º Para fins do disposto neste artigo (Lei nº 9.250, de 1995, art. 8º, § 2º):
(...)
II - restringe-se aos pagamentos efetuados pelo contribuinte relativos ao próprio tratamento e
ao de seus dependentes;
III - limita-se aos pagamentos especificados e comprovados, com indicação do nome, do
endereço e do número de inscrição no CPF ou no CNPJ de quem os recebeu, e, na falta de
documentação, ser feita indicação do cheque nominativo pelo qual foi efetuado o pagamento;”
(grifos não são do original)

8 Apesar de constar “despesas médicas” no título da Seção I, os dispositivos tratam


nitidamente de despesas com a saúde, já que enumera diversos outros profissionais além do médico,
sem mencionar as respectivas especializações ou eventuais restrições quanto ao tipo de atendimento.
9 Tal compreensão já constou em pronunciamento da própria RFB, quando analisou a
dedutibilidade de despesas com cirurgia plástica estética na Solução de Consulta Interna (SCI) COSIT nº
19, de 4 de dezembro de 2009:
“7. Em relação às deduções do IRPF, a Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995, dispõe no seu
art. 8º acerca da dedução de despesa médica, sem contudo restringir a especialidade médica

2
PROCESSO
SOLUÇÃO DE CONSULTA 32 – COSIT

destas despesas. Por outro lado, o mesmo artigo traz, em rol taxativo, os tipos de próteses
dedutíveis, excluindo, desta maneira, a possibilidade de dedução de próteses de silicone, para
utilização em cirurgia plástica.
Art. 8º A base de cálculo do imposto devido no ano-calendário será a diferença entre as
somas:
I - de todos os rendimentos percebidos durante o ano-calendário, exceto os isentos, os
não-tributáveis, os tributáveis exclusivamente na fonte e os sujeitos à tributação
definitiva;
II - das deduções relativas:
a) aos pagamentos efetuados, no ano-calendário, a médicos, dentistas, psicólogos,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, bem como as
despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos ortopédicos e
próteses ortopédicas e dentárias;
(...)
§ 2º O disposto na alínea a do inciso II:
I - aplica-se, também, aos pagamentos efetuados a empresas domiciliadas no País,
destinados à cobertura de despesas com hospitalização, médicas e odontológicas, bem
como a entidades que assegurem direito de atendimento ou ressarcimento de despesas
da mesma natureza;
II - restringe-se aos pagamentos efetuados pelo contribuinte, relativos ao próprio
tratamento e ao de seus dependentes;
III - limita-se a pagamentos especificados e comprovados, com indicação do nome,
endereço e número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas - CPF ou no Cadastro
Geral de Contribuintes - CGC de quem os recebeu, podendo, na falta de documentação,
ser feita indicação do cheque nominativo pelo qual foi efetuado o pagamento;
IV - não se aplica às despesas ressarcidas por entidade de qualquer espécie ou cobertas
por contrato de seguro;
V - no caso de despesas com aparelhos ortopédicos e próteses ortopédicas e dentárias,
exige-se a comprovação com receituário médico e nota fiscal em nome do
beneficiário.
(Grifou-se)
8. Nesse mesmo sentido, o art. 80 do Decreto nº 3.000, de 26 de março de 1999 – Regulamento
do Imposto de Renda (RIR/1999), e os arts. 43 a 48 da Instrução Normativa (IN) da Secretaria da
Receita Federal (SRF) nº 15, de 6 de fevereiro de 2001, não fazem qualquer restrição quanto à
especialidade de despesa médica, no que se refere a dedutibilidade destes gastos, limitando-se
a autorizar a dedução de pagamentos feitos a médicos, no caso de pagamentos efetuados pelo
contribuinte, relativos ao seu próprio tratamento ou a de seus dependentes, e condicionados a
que os pagamentos sejam especificados e comprovados com documentos originais que
indiquem nome, endereço e número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) ou
Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) de quem os recebeu, podendo, na falta de

3
PROCESSO
SOLUÇÃO DE CONSULTA 32 – COSIT

documentação, a comprovação ser feita com a indicação do cheque nominativo pelo qual foi
efetuado o pagamento.
9. Pode-se afirmar que os serviços de saúde abrangem o diagnóstico e o tratamento da
enfermidade, e a prevenção e a manutenção da saúde, ou seja, são serviços voltados
diretamente à promoção da saúde, capazes de fornecer ao cidadão uma vida plena. A legislação
tributária não faz restrição à dedução das despesas médicas, quanto à finalidade do serviço de
saúde prestado, não se preocupando se seria reparador ou estético, limitando-se tão somente
a que haja tratamento e recuperação da saúde física e mental do beneficiário.”

10 O raciocínio que fundamenta a dedutibilidade de despesas com cirurgias plásticas em


geral pode ser aplicado às técnicas utilizadas pelo fisioterapeuta em prol da saúde dos pacientes. A
normatização da dedutibilidade de despesas com a saúde não discrimina a especialidade do
fisioterapeuta nem a técnica a ser por ele utilizada, bastando que o serviço prestado guarde, de fato e
de direito, correlação com o exercício da profissão.
11 Nessa linha, o método Pilates já se encontra regulamentado pelo Conselho Federal de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO), que assim dispôs:
“RESOLUÇÃO n° 386, de 08 de junho de 2011
(DOU nº. 113, Seção 1, em 14/06/2011, página 182)
Dispõe sobre a utilização do método Pilates pelo fisioterapeuta e dá outras providências.
O Plenário do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, no uso das atribuições
conferidas pelo inciso II do Art. 5° da Lei 6.316 de 17 de setembro de 1975, em sua 211ª Reunião
Plenária Ordinária, realizada no dia 08 de junho de 2011, na sede do CREFITO-8, situada na Rua
Jaime Balão, 580, Hugo Lange, Curitiba-PR, deliberou:
CONSIDERANDO que a fisioterapia é profissão regulamentada pelo Decreto Lei 938 de 1969;
CONSIDERANDO o disposto na Resolução COFFITO 8 de 1978;
CONSIDERANDO o disposto na Resolução COFFITO 80 de 1987;
CONSIDERANDO o amplo reconhecimento social do método Pilates, prescrito e exercido por
profissionais fisioterapeutas;
CONSIDERANDO a Resolução CNE/CES 4 de 19 de fevereiro de 2002 que normatiza as Diretrizes
Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Fisioterapia;
CONSIDERANDO as ações de promoção da saúde, bem estar social e qualidade de vida da
Organização Panamericana da Saúde (OPA) e Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil.
RESOLVE:
Artigo 1° – Compete ao Fisioterapeuta, para o exercício do método Pilates, prescrever, induzir
o tratamento e avaliar o resultado a partir da utilização de recursos cinesioterapêuticos e/ou
mecanoterapeuticos, devendo observar:
a) Que o método Pilates é um recurso cinesioterapêutico e mecanoterapêutico que promove a
educação e reeducação do movimento corporal, composto por exercícios terapêuticos de
promoção, prevenção e recuperação da saúde físico funcional;

4
PROCESSO
SOLUÇÃO DE CONSULTA 32 – COSIT

b) Que o objetivo da utilização do método Pilates, é a estabilização postural, melhoria da força


muscular para desempenho das atividades de vida diária, mobilidade articular, equilíbrio
corporal e harmonia das cadeias musculares, entre outras com vistas à melhora da condição de
saúde e qualidade de vida de seus clientes/pacientes.
c) Que a avaliação dos seus clientes/pacientes ocorrerá para eleger o melhor recurso do método
Pilates e propedêutica apropriada, tais como: tempo, intensidade e freqüência do tratamento
individualizado ou em grupo, de forma que garanta a qualidade da assistência fisioterapêutica.
d) Que a avaliação, prescrição e a evolução da intervenção fisioterapêutica constarão em
prontuário, cuja responsabilidade deverá ser assumida pelo Fisioterapeuta, inclusive quanto ao
sigilo profissional, bem como a observância dos princípios éticos, bioéticos, técnicos e
científicos.
Artigo 2° Para os efeitos éticos e legais desta Resolução, o método Pilates sempre que indicado
e administrado por profissional fisioterapeuta estará vinculado ao controle ético e fiscalizatório
do Sistema COFFITO/CREFITOs, sendo, portanto, necessário o registro, por parte do profissional
fisioterapeuta, do seu consultório ou empresas no CREFITO de sua circunscrição.
Artigo 3° Os casos omissos serão deliberados pelo Plenário do COFFITO.
Artigo 4° Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.
Dra. Elineth da Conceição da Silva Braga
Diretora-Secretária do COFFITO
Dr. Roberto Mattar Cepeda
Presidente do COFFITO

12 Importante frisar que a dedutibilidade fica sujeita à comprovação da despesa mediante


documento hábil e idôneo, que deve atender aos requisitos normativos previstos no art. 73, §1º,
incisos II e III, do RIR/2018, já acima transcritos.

CONCLUSÃO

13 Responde-se ao consulente que as despesas com a saúde pagas em função de serviços


prestados por fisioterapeutas são dedutíveis da base de cálculo do IRPF, incluindo as sessões do
método Pilates, desde que administradas pelo profissional, atendidos os demais requisitos normativos
de dedutibilidade, em especial os previstos no art. 73, §1º, incisos II e III, do RIR/2018.

Assinado digitalmente
Rogério Leal Reis
Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil

De acordo. Encaminhe-se ao Coordenador da Coordenação de Tributos sobre a Renda,


Patrimônio e Operações Financeiras (Cotir).

Assinado digitalmente

5
PROCESSO
SOLUÇÃO DE CONSULTA 32 – COSIT

Milena Rebouças Nery Montalvão


Auditora-Fiscal da RFB - Chefe da Disit05

De acordo. Ao Coordenador-Geral de Tributação, para aprovação.

Assinado digitalmente
Gustavo Salton Rotunno Abreu Lima da Rosa
Auditor-Fiscal da RFB – Coordenador da Cotir

ORDEM DE INTIMAÇÃO

Aprovo a Solução de Consulta. Publique-se e divulgue-se nos termos do art. 43 da


Instrução Normativa RFB nº 2.058, de 2021. Dê-se ciência ao consulente.

Assinado digitalmente
Rodrigo Augusto Verly de Oliveira
Auditor-Fiscal da RFB - Coordenador-Geral de Tributação

Você também pode gostar