TCC Gabriel Braga de Albuquerque Maranhão
TCC Gabriel Braga de Albuquerque Maranhão
TCC Gabriel Braga de Albuquerque Maranhão
Recife
2022
GABRIEL BRAGA DE ALBUQUERQUE MARANHÃO
1
Recife
2022
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor,
através do programa de geração automática do SIB/UFPE
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
À minha família, em especial à minha mãe, Georgia Paula Braga Cavalcante, minha
irmã, Giullia Braga de Albuquerque Maranhão, à minha tia Germana Patrícia Braga Cavalcante
e meus avós Genilson Simões Cavalcante e Juscineide Tavares Braga, os quais sempre
estiveram dispostos a contribuir para o meu crescimento acadêmico.
À orientadora Profª. Drª. Fernanda Araújo Honorato, por todos os ensinamentos,
instruções, pela disponibilidade, compreensão e suporte na elaboração deste trabalho.
Aos professores Celmy Maria Bezerra de Menezes e Jorge Vinícius Fernandes Lima
Cavalcanti pela amizade e apoio cruciais nessa reta final de conclusão de curso.
Ao meu amigo e professor Prof° Dr° Diego Mendes de Souza, por todos ensinamentos
oferecidos, tanto no campo da ciência como no campo da ética.
Aos amigos e futuros colegas de profissão na Polícia Civil da Paraiba Bruno Henrique
Ferraz de Moura e Desiree Marianne Sales Silveira e Stephanie Rolim Dantas, por todo apoio
oferecido no ano mais importante da minha vida.
Aos amigos e colegas de longa data, em especial a Luiz Felipe Lemos Ferreira, Aderson
de França Bezerra Júnior, Adolfo Gomes Ferraz Soares, Lucas Gladstone Bezerra da Fonsceca
e Rayssa Kelen de Mendonça Gomes, por sempre terem me feito acreditar que tudo é possível
quando se há vontade e perseverança, além do apoio incondicional fornecido em todas etapas
da minha vida estudantil e profissional.
À Universidade Federal de Pernambuco e em especial ao Departamento de Engenharia
Química que forneceu os meios materiais para o meu desenvolvimento acadêmico e pessoal.
A todos os professores e profissionais que contribuíram para minha formação, direta
ou indiretamente.
5
RESUMO
ABSTRACT
The emergence of new psychoactive substances (NPS) is a very complex problem in the
current context. From a forensic analytical point of view, one of the biggest challenges is the
correct identification and quantification of NPS, since the development of analytical
methodologies does not follow the speed with which they appear in the market. This is mainly
due to the huge amount of changes in molecules in a short time and the lack of certified
reference standards. The different forms in which new substances can appear is also a factor
that makes analysis difficult, since drugs can be found in different states of matter and in
different types of matrices. One of the most representative groups of NPS, both in the global
and national context, is the synthetic cathinones, and the analytical challenges for the analysis
of this group are related to: difficulty in establishing reliable analytical methodologies for
identification, quantification and characterization, given the speed of emergence of new
compounds; structural similarities with other substances, such as those in the amphetamine
group; possibility of positional and optical isomerism; possibility of analysis in complex
matrices, lack of reference standards, among others. In this sense, the main objective of the
present work was to propose a bibliographic review on the analytical challenges associated with
the detection, quantification and characterization of synthetic cathinones, exploring advances
from the forensic-analytical point of view and demonstrating what has been developed in terms
of methodology. analysis, unraveling different possibilities of techniques for presumptive and
confirmatory analysis of substances in different matrices. The feasibility of analytical
methodologies already well established in the forensic analysis of classical drugs of abuse, such
as colorimetric tests for presumptive analysis and chromatographic techniques associated with
various detectors, was also discussed.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
3-FMC 3-fluorometacatinona
3-MMC 3-metilmetcatinona
4-EMC 4-etilmetcatinona
4-FMC 4-fluorometacatinona
4-F-PBP 4-fluoro-α-piloridinobutirofenona
CE Eletroforese capilar
CI Ionização química
GC Cromatografia Gasosa
10
IR Espectroscopia de infravermelho
LC Cromatografia líquida
MDMA 3,4-metilenodioximetanfetamina
MDPBP 3,4-metilenodioxi-α-pirrolidinobutirofenona
MDPV 3,4-metilenodioxipirovalerona
MS Espectrometria de massa
N,N-DMC N,N-dimetilmetcatinona
α-PHP α-pirrolidinohexiofenona
α-PHPP α-pirrolidinoheptanofenona
α-POP α-pirrolidino-octanofenona
α‐PVP α-pirrolidinovalero-fenona
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 14
5 CONCLUSÃO..................................................................................................................... 52
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 53
14
1. INTRODUÇÃO
Nesse contexto, a química forense, ramo que se dedica ao estudo e resolução de casos
na área criminal, lançando mão de conhecimentos químicos e visando à garantia da qualidade
dos resultados, possui papel fundamental na identificação das NSP. O desenvolvimento de
protocolos analíticos possibilita solucionar problemas práticos, a partir da aplicação de métodos
que disponibilizam técnicas, as quais auxiliam os peritos criminais na resolução de crimes
(BRANCO et al. 2005; SILVEIRA et al. 2021).
Nesse sentido, aprimorar o uso de práticas científicas aceitas e validadas requer tempo.
Tempo esse que pode não acompanhar o aparecimento das substâncias em tempo real, dado o
caráter emergente das NSPs. Além disso, métodos confiáveis devem garantir a correta
identificação dos compostos a obtenção padrões para comparação, bem como devem ajudar a
entender como o mercado das novas substâncias evolui (GRAZIANO et al. 2019; BRUNI et
al. 2022).
Este estudo se designa à pesquisa bibliográfica acerca dos desafios analíticos
enfrentados pelos profissionais da química forense associado às análises das novas substâncias
psicoativas, com foco em um dos grupos de maior representatividade tanto em termos de
consumo mundial como em se tratando de perigos para a saúde pública, as catinonas sintéticas.
Na pesquisa também foram levantados dados gerais sobre a problemática das NSP no contexto
global e nacional. Dos objetivos específicos, cita-se:
● Propor uma revisão bibliográfica sobre as metodologias analíticas utilizadas para
identificação, caracterização e quantificação de catinonas sintéticas.
● Realizar uma pesquisa acerca da problemática das NSPs no contexto global e nacional,
apresentando dados que demonstrem a relevância da problemática;
● Pesquisar sobre os avanços legislacionais brasileiros e como estes impactam na vida
dos profissionais forenses;
● Mostrar quais técnicas analíticas vêm sendo utilizadas para análise das catinonas
sintéticas, explorando os desafios atrelados a tal grupo de NSP;
● Investigar sobre a viabilidade da aplicação de técnicas já bem estabelecidas para
análise de drogas tradicionais para análise das catinonas sintéticas;
● Propor uma comparação entre as técnicas, mostrando vantagens e desvantagens de
cada uma na análise das catinonas sintéticas;
16
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para solicitar as análises de caráter definitivo do material, deve-se ter uma análise
preliminar feita corretamente. Além disso, os exames preliminares também servem para
direcionar a técnica a ser utilizada para análise confirmatória (ABRAHAMSSON et al. 2020).
Ademais, todo acrescimo de quantidade de apreensão aumenta a necessidade de que se realizem
análises de caráter definitivo do material e por consequência, fa crescer a necessidade de se ter
testes preliminares simples e específicos, considerando seus aspectos práticos, além das reações
envolvidas. Dessa forma, isso faz com que os testes preliminares sejam amplamente usados
como primeiro passo para análise de material suspeito de conter substâncias ilícitas (BRUNI et
al. 2012).
Os exames preliminares mais utilizados para detecção das substâncias entorpecentes
são os chamados de testes rápidos, ou testes de cor, também chamados erroneamente de
colorimétricos. Na análise, ambos os resultados, sejam eles positivos ou negativos, são de suma
importância para identificação das substâncias apreendidas. Vale salientar que, apesar do nome,
as observações podem ser feitas não apenas em relação à coloração formada, mas também com
relação a formação de precipitado (Philp et al. 2016). A popularidade dos testes colorimétricos
vem do fato que eles são geralmente simples, rápidos, baratos e relativamente sensíveis e
seletivos (ZUBA, 2018).
O Quadro 1 resume os principais testes rápidos para detecção dos seguintes analitos:
maconha, cocaína, anfetaminas, opioides e seus derivados e outros alcaloides, e dietilamina do
ácido lisérgico (LSD), indicando a mudança observada.
20
Como exemplo, cita-se o teste de scott no qual há a reação entre o tiocianato de cobalto
(agente complexante) com a cocaína em meio ácido. O complexo formado é um precipitado de
coloração azul e dessa forma é possível realizar um teste presuntivo para indicar a presença da
droga em uma amostra qualquer (CONCEIÇÃO et al. 2014).
Uma das possíveis linhas de atuação para elaboração dos exames definitivos, bem
como dos laudos elaborados pelos peritos criminais é baseada nas recomendações de métodos
de análise da SWGDRUG.
Tais recomendações estabelecem três categorias de técnicas agrupadas de acordo com
o elevado nível de seletividade. Sendo a categoria A o grau mais elevado de seletividade,
engloba o conjunto de técnicas cuja seletividade é baseada na capacidade de determinação da
informação estrutural. Para a categoria B, as técnicas são agrupadas considerando que a
seletividade é baseada nas características químicas e físicas. Na categoria C, a seletividade é
baseada a partir de informações gerais ou de classes estruturais (SWGDRUG, 2019).
O Quadro 2 mostra como as técnicas analíticas são agrupadas nas diferentes categorias,
segundo a SWGDRUG (2019).
21
Quando uma técnica da categoria A é usada em uma análise para o exame definitivo,
deve-se utilizar pelo menos uma técnica das demais categorias, sejam elas A, B ou C. Já quando
uma técnica da categoria A não é usada para a análise, deverão ser empregadas três diferentes
técnicas, sendo que necessariamente duas delas devem ser da categoria B (SWGDRUG, 2019).
Alguns exemplos de determinações de drogas em matrizes biológicas e não biológicas
a partir da combinação de técnicas analítico instrumentais estão apresentadas na Quadro 3.
22
Os núcleos dos átomos apresentam uma propriedade que pode os diferenciar: o spin.
Tal fenômeno ocorre devido a presença de momento angular de spin ou momento magnético.
O spin é evidenciado em núcleos com número ímpar de prótons ou nêutrons, sendo os núcleos
cujas propriedades magnéticas são mais aproveitadas para fim de análise o 1H e o 13
C.
(PANDINO, 2022).
Em uma dada amostra, na ausência de campo magnético externo (Bo), os spins dos
núcleos podem se orientar de qualquer forma e, assim, qualquer orientação é possível. Mas,
caso seja aplicado um campo magnético externo a núcleos que possuem momentos magnéticos
diferentes de zero, os spins se alinham ao campo, podendo adquirir uma orientação de menor
energia (paralela) ou uma de maior energia (antiparalela) (RIBEIRO, 2019).
O nível de menor energia é a favor do campo e por isso é chamada de α, enquanto o
nível de maior energia é chamado de β, por estar contra o campo magnético. A Figura 1
exemplifica o estado degenerado (a), bem como a quebra de degenerescência (b):
23
rv
Fonte: adaptado de Faria (1996).
coluna cromatográfica, por exemplo, é composta pela fase estacionária, a qual é a principal
responsável pela separação dos analitos em uma análise e um tubo longo, que pode ser
constituído de aço inox, vidro, sílica fundida, alumínio, PTFE (NASCIMENTO et al. 2018).
Já o detector é responsável por gera um sinal elétrico proporcional à quantidade de
mols de analito que chega até ele. Esse sinal é traduzido na forma de gráfico. A área do pico é
diretamente proporcional à concentração e isso permite que se estabeleça uma relação linear
entre a área do pico e a concentração. Os principais detectores para cromatografia gasosa são o
por condutividade térmica (TCD), ionização em chama (FID), captura de elétrons (DCE) e
espectrômetro de massas. Os detectores se diferenciam pela sua seletividade, sensibilidade e
pela compatibilidade com o gás de arraste (NASCIMENTO et al. 2018).
A espectrometria de massas usa a relação carga massa de íons em fase gás para
identificar compostos. Um espectrômetro de massa é o mais poderoso detector existente para a
cromatografia, pois possui alta sensibilidade. Além disso, fornece informações tanto
quantitativas como qualitativas, sendo possível, inclusive a separação de compostos com
tempos de retenção semelhantes (HARRIS, 2015). Metodologias que usam técnicas
cromatográficas acopladas ao espectrômetro de massa conseguem realizar análise quantitativa
a uma sensibilidade em mg.L-1 (LA MAIDA et al. 2021).
Os equipamentos chamados espectrômetros de massas são compostos basicamente por
um sistema de introdução de amostras, fonte de ionização, analisador de massas e detector. Em
alguns casos, a ionização buscada deve ser suave e não induzir a fragmentação do analito, pois
dessa forma é possível atribuir a massa molecular exata, bem como facilita a visualização e
atribuição das espécies (DOMINGUES, 2015).
Um equipamento é composto por basicamente três componentes: um sistema de
ionização, um analisador de massas e um detector. Atualmente, existem diversos tipos de fontes
ionização e alguns exemplos estão apresentados no Quadro 4.
29
Alguns dos materiais que são encaminhados para perícia criminal podem se apresentar
em concentrações muito baixas (a níveis traço). Além disso, os compostos de interesse
(analitos) podem estar na presença de outros materiais que podem interferir nos nossos
resultados analíticos (interferentes), a exemplo do que acontece com uma droga ou metabólito
presente em uma amostra se sangue. Ou ainda estar em uma fase que não é compatível com a
técnica instrumental que será usada por exemplo, na forma sólida em situação em que a técnica
instrumental adequada exige apresentação na forma líquida (QUEIROZ, 2001).
As técnicas mais comumente utilizadas para extração e/ou pré-concentração de
compostos presentes em fluidos biológicos são: extração líquido-líquido (ELL) ou do inglês
líquid-líquid extraction (LLE), extração em fase sólida (EFS) do inglês solid extraction (SPE),
microextração em fase sólida (SPME), extração com fluido supercrítico, extração por
headspace (HS), e extração com membranas sólidas ou líquidas Tais técnicas têm sido
automatizadas para uso em análises de rotina, porque além de eliminar erros humanos de
manipulação, diminuem o tempo de assistência do analista durante a análise, bem como evitam
30
o risco de contato com substâncias nocivas à saúde, além de aumentar o número de análises de
amostras por tempo (QUEIROZ, 2001 ; BORDIN, 2015).
31
3. MATERIAIS E MÉTODOS
I) Pesquisa científica voltada para a coleta de informações sobre NSP, com foco no
contexto global e nacional;
II) Pesquisa científica voltada para coleta de informações sobre as técnicas analíticas
aplicadas à análise de catinonas sintéticas;
Para o grupo de dados I, a pesquisa foi feita a partir da busca de palavras chaves como
“Novas Substâncias Psicoativas” e “New Psychoactive Substances”. A coleta de dados foi feita
observando a relevância das problemáticas no contexto forense, para que se entenda como as
NSP afetam o trabalho de pesquisadores, peritos criminais e outras profissões associadas ao
contexto forense, jurídico e social.
Para tal, também foi necessário entender a evolução das legislações nacionais e
internacionais. Nesse caso, a coleta de dados foi feita a partir dos sites institucionais como
ANVISA, UNODC e European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction (EMCDDA).
Para o grupo de dados II, coletou-se informações de trabalhos acadêmicos e científicos,
bem como de sites institucionais como ANVISA, UNODC, EMCDDA. Para tal, foi necessário
buscar por palavras chaves que remetem às principais técnicas analíticas, juntamente com as
palavras “catinonas sintéticas”, ou em inglês “synthetic cathinones”.
32
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apesar dos notórios avanços acerca do controle proposto pelos governantes ao redor
do mundo, a problemática associada às NSPs continua em evidência, dada a velocidade
alarmante com que se proliferam. Segundo dados atualizados da UNODC, até o mês de agosto
de 2021, um total de 1049 NSPs já haviam sido devidamente identificadas e reportadas por 133
países ao redor do globo. Observa-se, dessa forma, que o mercado global continua marcado
pela emergência de um grande número de novas substâncias, as quais pertencem a diferentes
grupos químicos.
Fazendo uma comparação com dados ao longo da última década, a partir da última
publicação do The Global SMART Programme da UNODC, a problemática fica ainda mais
evidente: no ano de 2009 foram reportadas 131 NSP ao UNODC, sendo que até o ano de 2019,
541 NSP foram reportadas (Figura 4). Tal fato implica em um aumento de mais de 300% no
número de substâncias detectadas de 2009 a 2019.
A análise dos números na última década revelou também que, apesar de crescerem até
o ano de 2015, a partir de tal ano houve uma estabilização no número de substâncias detectadas
pela primeira vez, chegando até a diminuir no ano de 2016.
Sobre essa estabilização, o “Relatórios de Drogas Sintéticas” da Polícia Federal de
2021 cita: “as causas desta redução não são claras, mas podem refletir os resultados de esforços
contínuos para controlar o crescimento das novas substâncias mundialmente, bem como
iniciativas legislativas na China, a principal produtora mundial de NSP.”.
Além disso, em termos de efeitos químicos, as NSPs disponíveis no mercado possuem
efeitos bem semelhantes aos das substâncias sobre controle internacional, tais como cocaína,
heroína, LSD, MDMA (ecstasy) e metanfetamina. Em termos de efeitos, o grupo das drogas
estimulantes foi o mais reportado até dezembro de 2021, seguido dos agonistas sintéticos dos
receptores canabinoides e alucinógenos clássicos, destacando-se o aumento recente dos
opióides sintéticos (UNODC, 2021).
A Figura 5 demonstra um comparativo sobre a quantidade de NSP e a quantidade de
NSP identificadas pela primeira vez nos anos de 2017, 2018, 2019 e 2020, com base nos dados
dos “Relatórios de Drogas Sintéticas” da Polícia Federal dos diferentes anos. Os dados para
elaboração dos laudos foram coletados a partir dos laudos emitidos pelas unidades de
criminalística da polícia em todo território nacional nos anos de 2016 a 2020.
Para exemplificar, no Brasil, segundo o “Relatório de Drogas Sintéticas” da Polícia
Federal, elaborado em 2021, no ano de 2020 foram identificadas 33 novas substâncias
psicoativas, sendo 10 substâncias identificadas pela primeira vez. Foram elas: 2-fluoro-
desclorocetamina, MD-PV8, 3-CDC, 4F-MDMB-BINACA, 5-MeO-DMT, bufotenina, 6-Br-
DMPEA, N,N-Dietilpentilona, N-butilhexedrona e N-etilheptedrona.
Figura 5. Número de NSPs novas e totais reportadas em laudos da Polícia Federal por ano.
2020 10
33
2019 3
29
2018 16
43
2017 10
42
2016 11
35
-5 5 15 25 35 45
Fonte: adaptado dos Relatórios de drogas sintéticas da Polícia Federal (2017, 2018, 2019, 2020 e 2021).
34
Figura 6. Número de NSPs por classes ao longo dos últimos quatro anos.
Como é possível perceber na Figura 6, o grupo das feniletilaminas teve o maior número
de Laudos produzidos sobre NSP de 2019 a 2021. O grupo das catinonas sintéticas também
apresentam protagonismo em território nacional: nos anos de 2017 e 2018 o grupo liderava com
o maior número de laudos produzidos entre as classes de NSP e como se pode ver, apesar de
serem o segundo grupo com maior número de laudos, em 2019 houve uma acentuada queda
nesse número. O grupo das substâncias tipo cetamina ou fenciclidina é o terceiro grupo com
35
maior número de laudos desde 2019, enquanto os canabinoides sintéticos ocupa a quarta
posição atualmente.
Outro passo importante foi tomado em 2019 quando a ANVISA lançou o chamado
formulário de notificação de NSP. Essa ferramenta tem como objetivo possibilitar o canal de
comunicação direta entre a Agência e os laboratórios forenses vinculados à Polícia Federal ou
vinculados às Secretarias de Segurança Públicas dos Estados e do Distrito Federal. Dessa forma,
quando há a identificação de NSP circulando no território brasileiro, essa informação pode ser
comunicada rapidamente ao órgão sanitário, garantindo celeridade à inclusão de NSP na lista
de substâncias proscritas da Portaria SVS/MS n° 344/98 (ANVISA, 2019).
faz parte de um anel pirrolidinico, sendo que a maioria é produzida como sais de cloridrato
(EMCDDA, 2015).
Figura 7. Estrutura geral de uma catinona sintética.
Fonte: Autor.
de realizar testes tanto in loco como em laboratório (como no método ELISA), a baixa
especificidade da técnica leva a resultados falsos positivos e negativos.
Além disso, a emergência de novas substâncias no mercado de drogas exige o
desenvolvimento de novos testes de reatividade cruzada, uma vez que não se pode garantir que
uma técnica previamente validada para determinado grupo de drogas possa ser capaz de detectar
substâncias derivadas da catinona.
Testes colorimétricos são bastante utilizados como métodos presuntivos para diversas
drogas. Das vantagens dos métodos colorimétricos, talvez a mais relevante seja a simplicidade
e a velocidade com que um analista pode realizá-lo. Além disso, boa parte dos testes são
bastante sensíveis e, sendo assim, uma pequena quantidade de amostra pode ser detectada. No
mundo real, amostras geralmente podem conter uma mistura de substâncias diferentes e as cores
observadas devem ser interpretadas com cautela (UNODC, 2006).
Em estudo realizado pela UNODC foi mostrado que os testes colorimétricos foram os
mais utilizados para análise presuntiva para drogas de abuso no período de 2014 a 2016. Os
dados foram avaliados em 181 laboratórios espalhados em 67 países diferentes (UNODC,
2015).
Apesar de bastante difundidos para a análise de drogas lícitas e ilícitas tradicionais,
atualmente não existe uma metodologia regulamentada para identificação presuntiva de
catinonas sintéticas.
Cuypers et al. (2015) avaliaram testes colorimétricos presuntivos disponíveis
comercionalmente pela “MMC International BV”, partindo-se de reagentes tipicamente
utilizados nos testes, como Marquis, Scott, Mecke, Simon e Mandelin. O estudo foi realizado
com 80 substâncias diferentes, das quais 40 eram NSPs (33 anfetaminas, 4 catinonas sintéticas,
2 piperazinas e 5 canabinoides sintéticos). As demais substâncias eram fármacos, drogas e
agentes de corte comuns. Utilizando reagente de Mecke, o qual consiste em uma mistura de
ácido sulfúrico concentrado e ácido selenoso, a coloração marrom-amarelada surgiu para a
presença de feniletilaminas e algumas catinonas sintéticas. O teste, que foi descrito inicialmente
com o intuito de detectar opióides sintéticos, mostrou que falsos-positivos são uma
consequência do fato de tal teste não ser capaz de especificar tais classes de drogas.
O trabalho supracitado propõe, então, um fluxograma para análise das diferentes
classes de NSP, no qual, a partir do uso de pelo menos três testes colorimétricos distintos, a
42
identificação de qualquer uma das NSPs estudadas pode ser feita. Isso comprova que, apesar da
detecção de NSPs, como as catinonas sintéticas, por métodos clássicos ser possível, há uma
limitação associada, principalmente em misturas com mais de um tipo de NSP.
Toole et al. (2012) estudaram a viabilidade de aplicação de testes colorimétricos para
identificação de metacatinona e seus derivados. O estudo mostrou que os reagentes de Marquis
e de Liebermann são os mais adequados para análise de 11 catinonas sintéticas estudadas, dentre
elas a mefedrona e a N,N-dimetilmetcatinona (N,N-DMC). Nos dois testes, colorimétricos
houve a formação de produtos de coloração amarela intensa. No caso do reagente de
Liebermann também houve formação de produtos laranjas após a reação com a mefedrona. De
todas catinonas estudadas, apenas a 3-FMC não reagiu em teste algum.
Apesar das tentativas em usar técnicas colorimétricas já consolidadas para outras
substâncias tradicionais, outras metodologias têm sido desenvolvidas ao longo dos anos para
detecção das catinonas sintéticas.
Uma alternativa de teste colorimétrico proposta consiste na reação com o cobre (II)-
2,9-dimetil-1,10-fenatrolina (Cu(II)-neocuproína). A metodologia se mostrou eficiente para 39
das 44 catinonas sintéticas estudadas e se baseia na redução do reagente de cobre (II) a cobre
(I) na presença da droga. A reação produz um complexo de cor amarelo-alaranjada que
possibilita a identificação da substância em análise (PHILP et al., 2016).
A metodologia ressalta a dificuldade no desenvolvimento de técnicas colorimétricas
que não apresentem resultados falso negativos (uma vez que nem todas as 44 catinonas foram
detectadas). Os resultados falsos positivos foram avaliados diante de substâncias adulterantes e
outras drogas recreativas e se mostrou eficaz, pois, das 83 substâncias avaliadas, apenas 10
deram resultado positivo (distinguível de um positivo verdadeiro).
A técnica mostrou poder ser promissora para análises em laboratórios forenses, mas o
fato de necessitar em um procedimento de adição de três reagentes separados com posterior
aquecimento durante 10 minutos demonstrou inviabilidade para aplicações in loco.
feniletilaminas, por exemplo, pode levar a resultados de falsos positivos, dificultando a correta
identificação das substâncias ali presentes.
Nesse sentido, outras técnicas têm se mostrado como uma boa opção na hora dos testes
presuntivos. Um exemplo é o uso da espectroscopia de mobilidade iônica (IMS). A IMS
também é um poderoso método analítico utilizado para detecção das NSP no próprio local. Cita-
se como vantagens sua alta sensibilidade, o que permite que os analitos sejam detectados em
matrizes com pouca preparação de amostra, o tempo de análise rápido e facilidade no manuseio.
Tudo isso permite que o IMS móvel opere em pontos de segurança como aeroportos ou nas
prisões. (JOSHI et al. 2014).
Como desvantagem, pode-se citar a falta de força na identificação, pois apenas os
valores de mobilidade reduzida que estejam na base de dados dos padrões de referência
fornecem dicas sobre a substância. Desse modo, pode ocorrer resultados falso-positivos devido
aos componentes da matriz.
A análise da viabilidade de tal técnica aplicada a algumas catinonas sintéticas e outras
substâncias psicoativas semelhantes foi estudada por Joshi et al. (2014). O estudo em questão
discutiu a viabilidade da técnica para 13 catinonas sintéticas típicas, mostrando ser uma opção
rápida e eficiente das catinonas, uma vez que foi possível detectar pelo menos uma delas em
77% das amostras analisadas. Apesar da possível detecção das catinonas, infelizmente algumas
feniletilaminas foram detectadas, gerando falsos positivos.
Os autores também investigaram o possível uso de um IMS de alto desempenho
(HPIMS) de ionização por eletrospray (ESI), mostrando que a técnica possibilita vantagens na
ionização direta da amostra, bem como possibilita uma maior resolução para a análise.
A grande limitação da técnica fica evidente: à medida que o número de NSPs aumenta,
é necessário atualizar o banco de dados, pois um pico no espectro de mobilidade pode pertencer
a qualquer composto psicoativo que não esteja ali presente. Acontece que, aumentando o
número de substâncias no banco de dados, mais falsos positivos ocorrerão. No entanto, é preciso
salientar que o objetivo da técnica é detectar substâncias ilícitas presentes em amostras
apreendidas.
A espectrometria de massa empregando fonte de ionização por eletrospray (DESI-MS)
também mostrou viabilidade para detecção e análise química da mefedrona. A grande vantagem
da técnica é possibilitar a análise direta em superfícies ambientes, não sendo necessária
preparação prévia da amostra (STOJANOVSKA et al. 2014).
Investigando a literatura mais atual, o futuro das técnicas presuntivas para as NSPs
parece se voltar para o desenvolvimento de outras metodologias analíticas, como as baseadas
44
extração em fase sólida (SPE), microextração em fase sólida (SPME), hidrólise ácida, digestão
básica e derivatização.
Técnicas analíticas comuns usadas por muitos anos em laboratórios forenses para
detecção de drogas clássicas, quais sejam cromatografia líquida com detector de arranjo de
diodos (HPLC-DAD) ou a cromatografia gasosa com detector de ionização em chama (GC-
FID) têm se mostrando insuficientes para análise das NSPs. Isso se deve justamente à limitada
seletividade que tais técnicas possuem frente às novas substâncias. Até mesmo a cromatografia
gasosa associada ao espectrômetro de massas apresenta limitações na detecção das NSPs
(ZUBA, 2018). Atualmente, as técnicas mais utilizadas nas polícias brasileiras são a GC-MS e
a espectroscopia de infravermelho.
Alguns dos problemas relatados da análise das drogas emergentes desse grupo e dos
demais por GC-MS se refere ao fato de que os analitos geralmente são lábeis e métodos
clássicos de ionização como a de impacto por elétrons clássica (EI) resultam em fragmentação
que produz pouco ou nenhum íon molecular. Nesse sentido, técnicas como a EI fria vem sendo
utilizada a fim de reduzir a fragmentação do íon molecular (LEVITAS, 2018). A técnica se
baseia na redução da energia interna dos analitos por resfriamento vibracional ao utilizar um
feixe molecular supersônico na junção entre um GC e um MS. Essa ferramenta possibilita
aumentar a abundância relativa do íon molecular para compostos lábeis (AMIRAV et al. 2008).
Tanto a ausência do íon molecular como a falta de um padrão de fragmentação
semelhante para as catinonas sintéticas pode causar equívocos na detecção de substâncias
desconhecidas em amostras apreendidas. Outra estratégia estudada por Gwak (2014) é a
utilização da cromatografia gasosa acoplada ao espectrômetro com triplo quadrupolo utilizando
uma fonte de ionização do tipo ionização química (CI). Esse tipo de fonte facilita a
determinação da massa molecular, o que por consequência facilita a identificação das catinonas
em amostras apreendidas. Os autores também desenvolveram um método de monitoramento de
reações múltiplas (MRM), o qual pode aumentar a seletividade e sensibilidade na análise de
drogas apreendidas.
Outra dificuldade associada ao uso da técnica se relaciona com a polaridade de
algumas amostras, pois pode ocorrer interação com os sítios de silanol no revestimento e na
coluna de injeção, exigindo preparo de amostras com o uso de extrações líquido-líquido,
derivatização, dentre outras (PLOUMEN, 2020).
46
Para análise móvel no local em que se encontram as NSPs, as técnicas escolhidas são
as baseadas em métodos espectroscópicos portáteis como espectroscopia de infravermelho e
Raman. Uma das razões é devido ao seu alto potencial de identificação via impressão digital
espectral (JONES et al. 2016).
Uma característica importante dos instrumentos Raman portáteis em comparação com
espectrômetros IR é a possibilidade de análise direta de substâncias embaladas, pois sacos de
plástico e garrafas de vidro geralmente são transparentes a radiação dos lasers de
espectrômetros Raman (WEYERMANN et al. 2011).
A espectroscopia Raman apresenta diversas vantagens para análise de NSP de maneira
geral: as análises são simples, diretas, rápidas e não destrutivas. Além de possibilitar a
caracterização química da substância principal (WEST ; WENT, 2011). Das desvantagens, cita-
47
apresenta um menor custo frente a técnicas de alto poder de discriminação, como a RMN. A
técnica apresenta como desvantagem a necessidade de que as amostras estejam puras, livres de
componentes de matrizes complexas e por isso é necessária uma técnica de separação como a
GC para a separação prévia das diversas substâncias. Nesse sentido, o desenvolvimento de
metodologias em outras técnicas como a GC-IR permite a discriminação dos isômeros
posicionais das catinonas sintéticas (LEE et al. 2019).
Como a cromatografia gasosa exige certa preparação da amostra e alguns compostos
podem sofrer degradação durante a porta de injeção da GC, uma alternativa viável é o uso da
LC para separação dos isômeros. Além disso, a maioria desses compostos não pode ser
totalmente separados por GC sem derivatização ou sem o uso de fases estacionárias não polares
especiais. Ademais, seus espectros de massa EI podem ser parecidos ou até idênticos (LI ;
LURIE, 2014).
Outros métodos de separação capazes de separar os isômeros posicionais incluem
eletroforese capilar (CE) (LI, 2015) e cromatografia de fluido supercrítico. (PAUK et al. 2015).
Carnes et al. (2017) compararam a cromatografia de fluido supercrítico de ultra-alta
performance (UHPSFC), a cromatografia líquida de ultra eficiência (UHPLC) e a cromatografia
gasosa na capacidade de separação de catinonas sintéticas. Dois conjuntos diferentes de
compostos foram analisados: um conjunto de 15 catinonas sintéticas controladas e um conjunto
especial de 34 isômeros posicionais. O estudo chegou à conclusão que uma combinação de
UHPSFC e GC é suficiente para separar todas as catinonas sintéticas estudadas e a maioria dos
subconjuntos de isômeros posicionais.
Assim como as anfetaminas, as catinonas sintéticas possuem um carbono assimétrico
em sua estrutura, o que implica na existência de dois enantiômeros. Cada enantiomero apresenta
tanto propriedades farmocinéticas como farmodinâmicas diferentes entre si. A literatura aponta
que os efeitos estimulantes são atribuídos geralmente ao isômero S. (KOLANOS et al. 2015).
A exemplo, os efeitos aversivos da catinona α‐PVP se devem principalmente ao seu isômero S.
(NELSON, 2019).
Nesse sentido, faz-se necessário, no contexto forense, o desenvolvimento de
metodologias analíticas futuras que sejam capazes de separar os dois enantiômeros.
Possibilidades envolvem o uso de técnicas cromatográficas e eletroforese (SCHMID e
HÄGELE, 2020).
5. CONCLUSÃO
Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo propor uma revisão
bibliográfica sobre os as metodologias analíticas aplicadas para análise de catinonas sintéticas,
uma classe de grande representividade de NSPs, explicitando os desafios atrelados às técnicas
analíticas consolidadas para análise de drogas de abuso clássicas. O maior desafio acerca das
NSPs diz respeito a celeridade de seu aparecimento, uma vez que as metodologias analíticas
não acompanham a velocidade com que novas substâncias são criadas. Além disso, a falta de
padrões de referência em laboratórios forense, a dificuldade de se lidar com diferentes matrizes,
a falta de literatura específica a falta de banco de dados e de outras informações tanto acerca
das substâncias como das classes estruturais são fatores que dificultam a análise.
Algumas metodologias para análise presuntiva como as baseadas nos testes de
imunoensaio e colorimétricos já são estudadas para as catinonas. Alguns testes para drogas de
abuso clássicas podem ser utilizados e outros estudos têm sido levantados para o
desenvolvimento de novos procedimentos. Outras técnicas podem ser aplicadas para a análise
presuntiva das catinonas, como a IMS e a espectrometria de massas e a literatura mais atual se
volta para o desenvolvimento de novas metodologias baseadas em detectores específicos, os
quais podem ser baseados em nanomateriais ou macromoléculas. Dessa forma é possível
reduzir os erros associados à falsos positivos e negativos.
O uso de algumas técnicas para análise confirmatória de drogas clássicas, como GC-
FID e HPLC-DAD, parece não atender mais a resolução e sensibilidade exigidas para a análise
das catinonas sintéticas e demais NSPs e as metodologias para análise confirmatória incluem o
uso de diversas técnicas, quais sejam: Raman, IR, RMN, técnicas cromatográficas associadas a
diversos detectores, como MS, UV-VIS e IR. Um dos maiores desafios na análise das catinonas
sintéticas se deve à semelhança estrutural entre as substâncias do grupo e as anfetaminas. A
distinção é possível pela presença do grupo o grupo β-cetona nas catinonas, outros desafios se
renacionam com a ausência do íon molecular nos espectros de massa; falta de um padrão de
fragmentação semelhante para as catinonas sintéticas; ocorrência de interação com os sítios de
silanol no revestimento e na coluna de injeção e decomposição na porta de injeção, como
degradação oxidativa durante a análise.
53
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