Perspectivas Sobre A Infância - Por Onde 3
Perspectivas Sobre A Infância - Por Onde 3
Perspectivas Sobre A Infância - Por Onde 3
Desenvolvimento
Objetivo da Unidade:
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neuroevolutivos, biomecânicos, entre outros, que são, sem dúvida, necessários para
apoiar a construção de possibilidades de o sujeito realizar atividades significativas a
cada fase do desenvolvimento humano (TAKATORI; BOMTEMPO; BENETTON, 2001).
O brincar pode ser espontâneo e natural, como um recurso terapêutico para estimular
o desenvolvimento de habilidades que, em razão de um transtorno ou de uma
socialmente aceito com o grupo social do qual fazem parte. Muitas vezes, ouve-se o
termo “disfuncional”, mas aqui cabe uma reflexão: quais são as escolhas que divertem
e são genuínas para essa criança? Quais são os movimentos e as formas de explorar o
mundo que lhe permitem algum prazer? A partir de quais experiências ela se
reconhece? Como ampliar as possibilidades de brincar a partir do que ela nos mostra?
Podemos construir o brincar de acordo com as expectativas das crianças e guiá-lo
gradualmente a encontrar a expectativa social sem desconstruí-lo?
Trocando Ideias...
Converse com seus pais, avós, tios e vizinhos idosos sobre quais
atividades eram realizadas na infância deles. Tente localizar como o
O brincar nos tempos dos nossos bisavós ocorria com amplo contato com a natureza e
os elementos naturais. Os relatos de brincadeiras evidenciam elementos naturais que
Em 1937, a sociedade da época teve contato com o primeiro filme da Disney, Branca de
neve e os sete anões, após a criação do cinema. Na década de 40, a maioria das famílias
tinha um rádio, o qual era o universo de diversão dos adolescentes. No ano de 1947, foi
figurinhas, elásticos e rodas, mas dividiam a rotina com os horários dos programas de
TV. Nessa época, as televisões já eram coloridas, e algumas crianças possuíam os
primeiros videogames, cujos jogos eram em preto e branco e simulavam ataques e
fugas, como PacMan, no Atari, ou aventuras do Alex Kid e do Mario Bross, no Super
Nintendo. Esses jogos eram adquiridos para o entretenimento dos filhos de pais que
podiam provê-los e que temiam a violência e a exposição ao uso crescente de
substâncias psicoativas disponíveis em colégios, esquinas, becos e bares. Os pais
assumiam longas horas de trabalho, e os filhos adquiriram uma pseudo rotina dos
bonecos de ação. Havia uma diferença clara nos gêneros “adequados” para cada
brincadeira, e isso apenas era esquecido quando se precisava montar times de
queimada, juntar grupos para esconde-esconde ou pega-pega.
Aquele foi um período de intensa entrada das mulheres no mercado de trabalho, e, para
algumas famílias, os avós ou familiares que não trabalhavam eram a principal rede de
suporte para cuidado dos filhos. Muitas famílias que não tinham rede de suporte
contavam com as mídias televisivas para distrair e tentar manter os filhos em casa e
“seguros”, quando possível, em companhia de irmãos. Nesse período, cunhou-se a
expressão “usar a televisão como babá”.
Já nas famílias que viviam em periferias e que tinham acesso limitado a recursos
tecnológicos, houve a resistência do brincar na rua, com pedras, latas, bolas, corridas,
situações que revivem nas minhas memórias pelos contos dos meus avós, pais e da
minha própria infância. Os pais confiavam os filhos às comunidades ou à
responsabilidade imensa de irmãos mais velhos para poderem trabalhar e trazer o
As transformações sociais entre a infância de uma geração para outra foram drásticas
e altamente midiatizadas. É evidente, nos dias atuais, o envolvimento das crianças com
as mídias em geral: celulares, videogames, televisão e cinema são apenas alguns dos
Seja nos quintais, nas ruas ou nas aulas de esportes, a vivência corporal do brincar
migrou da intensa vivência e vida do corpo ocupando e construindo espaços, para
limites físicos cada vez menores e resguardados, virtualizando o lazer nas diversas
classes sociais.
Atualmente, o nosso público-alvo é composto por uma geração que brinca com o
Na última década, vivenciamos os jogos com Kinect, dispositivo que fazia a leitura
corporal e a interação dos movimentos com a tela, e com Wii, que apresenta até os dias
atuais intensa participação nos programas de reabilitação de crianças, adolescentes e
adultos, até chegarmos à realidade virtual. Essa última pode promover encontros, aulas
e vivências intensas e similares às vividas corporalmente por meio do uso de um
com a criação do CQL, que logo foi substituído pelo chat do MSN. O já falecido Orkut foi
a primeira comunidade de interação social para os jovens em rede. A identidade dos
adolescentes, suas preferências, seus conflitos e suas buscas por autodescoberta
refletiam nos temas das comunidades virtuais às quais escolhiam se filiar nessa
plataforma. Em cada comunidade, as mensagens em grupo eram realizadas em
formato de posts e comentários.
Após anos de sucesso, a plataforma do Orkut foi substituída pelo Facebook, que permitia
postagens e interações diretas por mensagens, “likes e dislikes” e inúmeros
“joguinhos” embutidos nas interações, que lembravam os primeiros games vividos
pela minha geração.
Os jogos embutidos nesses celulares eram simples, mas, novamente, nos lembravam
dos antigos jogos de infância. Assistimos ao impacto social e ao escancarar das
performance ocupacional.
brincar tem sido estudada por inúmeros pesquisadores, que investigam alterações nos
diversos domínios do desenvolvimento.
Reflita
Ao assistir vídeos que mostram outras crianças brincando, será que a
criança está vivenciando de formas diferentes o brincar, desejado e
consumido como produto em si? A empolgação que a brincadeira
proporciona pode ser transferida para o ato de assistir o vídeo de
outra criança brincando?
compartilhá-lo com centenas de supostos amigos passou a ser uma forma de a criança
brincar e interagir com o mundo ao seu redor. Uma atividade que, assim como tantas
outras que compõem a cultura, é socialmente aprendida a partir das telas (ANDRADE,
PEREZ, 2021).
Segundo Castro (2012), como outras tantas atividades que compõem a cultura, o
consumo não é natural, mas socialmente aprendido. Uma prática cujas dimensões
material e simbólica são indissociáveis. É por isso que “modos de ser, estilos de vida,
valores e discursos são socialmente apreendidos, bem como gostos e hábitos que
As crianças migram a vivência do corpo brincante, que explora, corre, agita-se e é livre
para explorar o ambiente, sentir as inúmeras sensações e desafios que o brincar
oferece para assistir e adorar corpos que brincam nas telas de videogame e no Youtube.
verdes.
A conexão das crianças com a natureza é essencial para um desenvolvimento pleno e
saudável (CHAWLA, 2015). O crescente afastamento desse contato tem implicações
ambientais, sociais, psicológicas e acentua uma série de distúrbios do
desenvolvimento infantil conhecidos como transtornos do déficit de natureza
(CHARLES et al., 2008). Segundo Cunha (2022), a vivência das crianças em áreas
verdes aumenta o bem-estar emocional, amplia os benefícios do exercício físico,
melhora aspectos relacionados ao desempenho escolar, à autodisciplina e à cognição,
bem como ameniza problemas comportamentais, sintomas de déficit de atenção e
hiperatividade e previne a obesidade e outras doenças crônicas. Além disso, a presença
de crianças em ambientes naturais pode despertar questões éticas e de cidadania,
influenciando comportamentos em prol do meio ambiente.
Quando existem limitações de ordens física, social, cognitiva, sensorial ou motora que
interrompem a participação e o desempenho ocupacional, cabe ao terapeuta
ocupacional avaliar e intervir com seus recursos específicos, uma vez que seu objetivo
final é a promoção ou a restauração do desempenho adequado dessas atividades,
visando garantir a máxima independência e satisfação das necessidades e das metas
do indivíduo.
Caso 1: Yuri
que são levados a fazer o que a criança quer, mesmo que ele tenha
habilidades motoras e perceptuais para pegar os objetos e alimentos
sozinho.
Negaram intercorrências na gestação e não a planejaram. Referiram
que amaram o filho desde o momento em que souberam da sua
Caso 2: Valentina
2°) De acordo com o relato dos pais, quais são os pontos críticos que
impactam o desempenho ocupacional?
Vídeo
Filmes
ANTERIO, D.; FERNANDES, M.; DIAS, A. O brincar em sentido ecológico. Revista Teias,
Rio de Janeiro, v. 23, n. 70, p. 367-388, jul. 2022.
BORBA, A. M. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. In: Brasil, Ministério
da educação, 2006.
CHARLES, C.; LOUV, R.; BODNER, L.; GUNS, B. Crianças e natureza 2008. Um Relatório
sobre o Movimento para Reconectar as Crianças ao Mundo Natural. Santa Fé: Rede
Infantil e Natureza, 9-11. 2008.
GIROUX, H. A. Os filmes da Disney são bons para seus filhos? In: STEINBERG, S. R.;
KINCHELOE, J. L. (Orgs.). Cultura infantil: a construção corporativa da infância. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.