Análise Do Conteúdo de Ginástica Nos Curriculos Brasileiros
Análise Do Conteúdo de Ginástica Nos Curriculos Brasileiros
Análise Do Conteúdo de Ginástica Nos Curriculos Brasileiros
Resumo: O objetivo desta pesquisa foi analisar o enfoque dado à ginástica nos currículos estaduais do segundo ciclo
do Ensino Fundamental, além de compreender alguns indicadores relacionados à sua presença, organização,
conteúdos mais indicados e o tratamento desses conteúdos nos documentos analisados. Utilizou-se como método a
análise documental dos currículos de 16 Estados brasileiros. Os dados obtidos apontam a presença da ginástica em
todos os documentos, com uma organização bastante diversificada entre eles, os conteúdos mais indicados
relacionam-se à ginástica na perspectiva da saúde e para a competição, com tratamento privilegiado dos conteúdos na
dimensão procedimental. Conclui-se que os currículos estaduais apontam para uma perspectiva de ampliação dos
conteúdos e dos olhares sobre a ginástica, ao mesmo tempo que evidenciam dificuldades relacionadas ao tratamento
desse conteúdo no contexto escolar.
Abstract: The objective of this research was to analyze the focus given to the gymnastics in the state curriculun of
the second cycle of Basic Education, and to understanding some indicators related to their presence, organization,
content and most appropriate treatment of these contents in the analyzed documents. Were used as a method to
document analysis of curriculun of 16 Brazilian states. The results indicate the presence of gymnastics in all
documents, with a very diverse organization between them, the most indicated contents are gymnastics from a health
perspective and for the competition, with special treatment of the contents on procedural dimension. It is concluded
that state curriculum point to the prospect of expanding the contents and the looks on the gymnastics, while evidence
difficulties related to the treatment of this content in the school context.
1
Professora titular de Ensino Fundamental II e Médio da Prefeitura Municipal de São Paulo, Brasil.
2
Doutora em Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano pela USP, São Paulo – SP. Livre docente pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Campus de Rio Claro – SP. Assistente Doutora do
Departamento de Educação Física da UNESP, Campus de Rio Claro – SP; Universidade Estadual Paulista, Brasil.
3
Professora Assistente Doutora do Departamento de Educação Física da UNESP, Campus de Rio Claro – SP;
Universidade Estadual Paulista, Brasil.
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INTRODUÇÃO
A Educação Física no Brasil tem uma longa história relacionada com a produção cultural
da sociedade. Possui uma tradição e um conhecimento ligado ao jogo, ao esporte, à luta, à dança,
à ginástica, às práticas circenses, às práticas corporais alternativas, às atividades físicas de
aventura e os exercícios físicos. Esses podem ser considerados os conteúdos da Educação Física
na escola.
Forquin (1993) afirma que o conteúdo que se transmite na educação é sempre alguma
coisa que nos precede, nos ultrapassa e nos institui enquanto sujeitos humanos e, essa produção,
pode ser perfeitamente denominada de cultura. Em consonância com o autor podemos dizer que
todo esse patrimônio construído ao longo do tempo pela Educação Física pode-se denominar de
cultura corporal, cultura corporal de movimento ou cultura de movimento, como vem sendo
utilizado por diferentes autores e linhas pedagógicas da Educação Física. Por questão de
afinidade e facilidade linguística empregar-se-á nesse texto o termo cultura corporal.
Por se tratar de um conjunto de saberes diversificado e riquíssimo, existe uma enorme
importância na transmissão dos conhecimentos da cultura corporal nas aulas de Educação Física
escolar. Esses conhecimentos são indispensáveis para que o aluno tenha uma compreensão da
realidade em que está inserido, que possibilite uma ação consciente e segura no mundo imediato
e que, além disso, promova a ampliação de seu universo cultural. Dito com outras palavras,
espera-se que os conhecimentos adquiridos na escola, na disciplina de Educação Física, tornem as
pessoas capazes de compreenderem o papel que devem ter nas mudanças de seus contextos
imediatos e da sociedade em geral, bem como ajudá-las a obter conhecimentos necessários para
que isso ocorra (MOREIRA, CANDAU, 2008).
É possível verificar inúmeras dificuldades na implementação de propostas renovadoras na
prática concreta da disciplina de Educação Física escolar, o que inclui problemas no trato dos
conteúdos da cultura corporal de modo geral e em específico da ginástica, embora esse conteúdo
tenha sido privilegiado ao longo da história da disciplina na escola (SOARES, 1996). Os
obstáculos perpassam questões como: as condições dos espaços físicos e a falta de materiais
adequados, (SCHIAVON; NISTA-PICCOLO, 2007), deficiências na formação inicial do
profissional, carência de literatura e pouca importância dada ao conteúdo pelos diferentes atores
escolares (NUNOMURA; TSUKAMOTO, 2009).
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Do mesmo modo Ayoub (2003), aponta que o conteúdo da ginástica tem sido
desprestigiado no Ensino Fundamental, apesar das transformações ocorridas na área da Educação
Física escolar a partir da década de 1980. Na verdade, o que ocorre é que o esporte ainda exerce
grande influência e a aula de Educação Física tornou-se, em muitos casos, sinônimo de “jogar
bola”. No caso da ginástica quando ela é tratada, ou aparece exclusivamente na perspectiva
esportivista, (ginástica artística e rítmica) ou enquanto sob a concepção da saúde, por meio de
atividades de aquecimento e/ou relaxamento no início ou final da aula (DARIDO, 2003).
Na Educação Física, muitos professores, ainda influenciados pela concepção esportivista,
continuam restringindo as suas aulas aos esportes mais tradicionais, como, por exemplo,
basquetebol, voleibol e futebol. Não bastasse este fato, é muito comum que estes conteúdos
esportivos sejam transmitidos superficialmente, apenas na ótica do "saber fazer", o que acaba
limitando a perspectiva do que se ensina/aprende, do conhecimento produzido pela humanidade
sobre a cultura corporal.
É preciso destacar que toda Educação do tipo escolar, realiza uma seleção no interior da
cultura e uma re-elaboração dos conteúdos da cultura a serem transmitidos às novas gerações.
Assim, a Educação de modo geral e a Educação Física de modo particular, não transmitem jamais
a cultura, elas transmitem, no máximo, algo da cultura, elementos de cultura, que podem provir
de fontes diversas, ser de épocas diferentes (FORQUIN, 1993). Isso quer dizer que nem todo o
conhecimento produzido pela cultura corporal (sobre jogos, esportes, danças, ginásticas, lutas
etc.) pode e deve ser ensinado na escola. Na verdade, deve haver uma seleção no interior da
cultura.
A questão que se coloca nesse trabalho é a seguinte: a ginástica está presente nos diversos
currículos dos Estados brasileiros? Se a resposta é afirmativa quais são os conteúdos
privilegiados? O que se julga relevante transmitir às novas gerações?
Após a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB/BRASIL, 1996), das
Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs/BRASIL, 1998) e dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs/BRASIL, 1997) houve uma indicação explícita dos órgãos públicos sobre a
necessidade dos Estados brasileiros apresentarem suas propostas educacionais, conforme
assevera Sampaio (2010).
Assim, o objetivo geral dessa pesquisa foi analisar o enfoque dado à ginástica nos
currículos estaduais do segundo ciclo do Ensino Fundamental. Como objetivo específico,
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MÉTODO
Para atingir o objetivo dessa pesquisa, realizou-se uma análise documental dos currículos
de 16 Estados brasileiros, justamente os quais se obteve acesso. Deste total, 15 documentos
foram encontrados on line (AC, AL, DF, ES, GO, MA, MG, MT, PE, PR, RJ, RO, RS, SP e SE)
e apenas de um Estado (MS) utilizou-se o material impresso.
Sampaio (2010), em estudo apoiado pelo Ministério da Educação, buscou identificar
tendências, regularidades e singularidades nos diferentes currículos estaduais e também não
obteve os documentos de todos os Estados brasileiros. Dos 26 Estados da união a autora contou
com 21 currículos, sendo que eles foram enviados diretamente à pesquisadora. É importante frisar
que o trabalho de Sampaio contou com o apoio oficial do governo federal.
Segundo Bardin (2009), a análise documental possibilita representar o conteúdo de um
documento de uma forma diferente da original, a fim de facilitar a sua consulta (BARDIN, 2009).
A autora indica algumas etapas para o trabalho de análise documental, que são: a organização da
análise, a codificação dos dados e a categorização dos elementos constitutivos do documento.
Na organização da análise, constam as etapas de: pré-análise (escolha dos documentos,
formulação das hipóteses e objetivos); exploração do material; tratamento dos resultados brutos
obtidos e interpretação (BARDIN, 2009). Nessa etapa buscou-se reunir a maior parte dos
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currículos estaduais aos quais se obteve acesso e foi feita uma leitura inicial dos mesmos, a fim
de verificar se a ginástica era contemplada em todos eles e quais elementos eram comuns ao
tratamento desse conteúdo nos diversos currículos.
A etapa de codificação do material, refere-se ao processo de transformação dos dados
brutos para uma organização em unidades que permitam uma descrição das características exatas
de cada conteúdo (BARDIN, 2009). Para cumpri-la, realizou-se uma leitura mais aprofundada
dos documentos e a codificação dos dados observando-se a organização proposta para a ginástica,
os conteúdos mais indicados e o tratamento desses conteúdos nos diversos currículos estaduais.
Por fim, a categorização é a classificação final dos elementos a partir de suas
características comuns, de modo a organizar os dados obtidos e facilitar a análise (BARDIN,
2009). Nessa última fase, os dados foram classificados nas categorias que são apresentadas nos
resultados, para interpretação e análise.
RESULTADOS
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A ginástica na escola tem sofrido um reducionismo dos seus conteúdos, como aponta
Almeida (2005). Por meio de uma pesquisa realizada na rede pública da Bahia, a autora constatou
que a ginástica não está mais presente nesse contexto enquanto conhecimento alicerçado em uma
consistente base teórica, mas sim como uma modalidade esportiva para poucos ou então uma
série de práticas diluídas em atividades diferentes para a preparação esportiva.
Nesse sentido, observou-se nos currículos analisados que poucas informações são
detalhadas, além de não apresentarem uma organização similar dos conhecimentos sobre a
ginástica para os diferentes anos ou ciclos do Ensino Fundamental II.
No quadro 2, apresenta-se em quais anos escolares os temas da ginástica são
contemplados em cada currículo:
Entre os Estados que propuseram uma organização por ano escolar, 4 deles (AL, MG, MT
e MS) apresentaram os mesmos conteúdos da ginástica para todo o ciclo do Ensino Fundamental
do 6º ao 9º ano; os Estados de PE, PR e SE apresentaram conteúdos diferentes para cada ano
6º/7º/8º/9º.
Os Estados de GO, RJ e RS apontam o mesmo conteúdo da ginástica para cada ciclo de
dois anos 6º/7º e 8º/9º; o Estado do AC também, porém, só trata da ginástica no ciclo de 6º/7º
anos.
O Estado do ES e o Distrito Federal apresentam conteúdos da ginástica somente no 6º
ano; o Estado do MA um conteúdo diferenciado para o 6º ano enquanto para 7º/8º/9 anos são
iguais, e por último o Estado de SP que não apresenta conteúdos da ginástica no 9º ano.
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Constata-se, em concordância com González (2006) e Darido et al. (2010), que pouco se
tem discutido na área sobre princípios e propostas de sistematização para a Educação Física
escolar. Por exemplo, em estudo realizado por Impolcetto et al. (2006), foi identificado que
grande parte dos professores do Ensino Superior não consegue apontar uma possível
sistematização dos conteúdos para o Ensino Fundamental, inclusive da ginástica e quando o
fazem se reportam exclusivamente à perspectiva procedimental, ou seja, às práticas que podem
ser desenvolvidas em cada ano considerando-se o princípio do aumento da complexidade do
"saber fazer".
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profissional exercida durante o expediente, que visa compensar as estruturas mais utilizadas no
trabalho e ativar as que não são requeridas, relaxando-as e/ou tonificando-as (LIMA, 2004).
Os exercícios são basicamente compostos por alongamento e relaxamento, em momentos
de pausa. Os movimentos são planejados de acordo com as funções praticadas por cada
profissional.
A ginástica laboral deveria ser um tema das aulas de Educação Física escolar? Parece que
os autores dos currículos estaduais não entendem tal prática como relevante. É importante
ressaltar que conforme Sampaio (2010), a maioria dos currículos estaduais foi elaborado com o
auxílio de professores da rede pública de ensino e contou com a consultoria de professores de
diferentes universidades brasileiras.
Mostra-se preocupante a ausência da ginástica laboral da escola, primeiro, porque muitos
alunos irão trabalhar em empresas e poderão ter (ou não) a disposição essas práticas corporais.
Nesse sentido, seria importante terem tido a possibilidade de discutir na escola, por um lado, a
questão do aumento da produtividade no trabalho e o interesse dos empregadores, por outro, a
possibilidade de melhorias no próprio bem-estar pessoal, a partir de pausas no trabalho.
A ginástica terapêutica é utilizada quando se pretende recuperar o corpo de doenças
congênitas ou causadas por acidentes, seu objetivo é a melhora da condição física, mas é
empregada, sobretudo para a reabilitação. Um dos exemplos de ginástica terapêutica é o método
Pilates, sua prática engloba exercícios que buscam o equilíbrio do sistema muscular e melhora da
postura.
Não foram identificadas nos currículos estaduais práticas relacionadas a este grupo. É
curioso que estas questões ainda não se façam presentes na escola, já que existe uma demanda em
crescimento de pessoas buscando práticas como Pilates, por exemplo.
A categoria denominada como ginástica de competição, inclui as práticas destinadas ao
desenvolvimento das ginásticas esportivas. Utilizou-se como referencial as ginásticas regidas pela
Federação Internacional de Ginástica (FIG), para a composição dessa categoria, são elas:
artística, rítmica, acrobática, aeróbica esportiva e trampolins.
Encontrou-se a citação de três tipos de ginásticas de competição nos currículos estaduais:
a ginástica rítmica em 9 Estados (AL, GO, MA, MS, PR, SE e SP), a ginástica artística em 7
Estados (AL, ES, GO, MA, MS, PE, PR, SE e SP), a ginástica acrobática em 5 Estados (ES, GO,
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MA, PE e RS) e 5 Estados (AC, DF, MG, MT, RJ e RO) não citaram qualquer tipo de ginástica
competitiva.
A ginástica rítmica é a modalidade que utiliza a manipulação dos aparelhos: corda, arco,
bola, fita e maças. Apesar de pouco divulgada na mídia, foi a mais indicada nos currículos, talvez
pelo fato das escolas contarem com alguns desses tipos de materiais.
A ginástica artística é uma modalidade praticada em grandes aparelhos: solo, mesa para
salto, paralelas simétricas, trave, paralelas assimétricas, cavalo com alças, argolas e barra fixa.
Apareceu como o segundo tipo de ginástica de competição mais sugerido nos currículos
estaduais.
Observa-se uma proximidade de seus conteúdos com o desenvolvimento dos aspectos
procedimentais. No currículo do Estado do Paraná, por exemplo, aparece “Aprender e vivenciar
os movimentos básicos da ginástica (ex: saltos, rolamentos, parada de mãos e rodas)”, no Estado
do Maranhão, “Fundamentos da ginástica artística, rítmica e acrobática”, e no Distrito Federal,
“Atividades ginásticas: Equilíbrio geral – um pé, dois pés, de forma dinâmica e estática”.
Percebe-se assim, um contexto da ginástica artística alicerçada no “saber fazer”, não
havendo uma preocupação com as dimensões conceituais e atitudinais.
Conforme Venâncio e Carreiro (2005), a ginástica como um conteúdo histórico das
práticas corporais, não pode ter como referência somente as vivências, ao contrário, suas práticas
devem ser contextualizadas, ressignificadas e transformadas na escola.
A ginástica acrobática, modalidade que tem como base as acrobacias e equilíbrios
acrobáticos como as pirâmides humanas, foi indicada nos currículos de 5 estados (ES, GO, MA,
PE e RS). Dado que aponta para uma ampliação da ginástica no contexto escolar, considerando-
se a complexidade que envolve a manipulação dos implementos acrobáticos e a realização dos
equilíbrios em grupos.
Dentre as categorias que compõe a ginástica competitiva, não foram citadas nos currículos
estaduais a ginástica aeróbica e a ginástica de trampolim, que são evidentemente menos
conhecidas do que a artística e rítmica.
Por fim, a categoria de ginástica para demonstração, refere-se às práticas sem caráter
competitivo, que utilizam os fundamentos de todas as outras categorias de ginásticas. Seus
objetivos são voltados para o lazer e não para competições esportivas.
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Esse tipo de ginástica foi identificado em documentos de 3 Estados (MA, PR e SP), mas
em nenhum deles encontrou-se um detalhamento de como essa modalidade deve ser trabalhada
ou desenvolvida na escola. Para exemplificar, observa-se no documento de GO, apenas a citação
dos conteúdos que devem ser abordados, dentre eles a ginástica geral: “Tipos de ginástica:
natural, rítmica, acrobática, artística, geral, circense e outras”.
Ayoub (2003) apresenta como visão da ginástica geral práticas que promovem a
integração entre os elementos primordiais da ginástica e as diversas manifestações gímnicas
construídas historicamente pela humanidade.
Causa certo estranhamento o baixo número de citações da ginástica de
demonstração/geral, já que esse tema vem sendo discutido no país, desde a década de 1980, por
exemplo, “Ginástica Geral e Educação Física Escolar”, Ayoub (2003); “Ginástica Geral:
experiências e reflexões”, Paoliello et al. (2008); “Ginástica para Todos”, Santos (2009); como
tema de dissertações e teses: “Ginástica Geral na escola: uma proposta pedagógica desenvolvida
na rede estadual de ensino”, Bertolini (2005); “Formação Humana e Ginástica Geral na Educação
Física”, Gutierrez (2008); além das produções oriundas do “Fórum Internacional de Ginástica
Geral”, realizado desde 2001 na cidade de Campinas e mesmo como linha de pesquisa de
Programas de Pós-Graduação.
A falta de indicação da ginástica de demonstração/geral reforça o contexto histórico da
Educação Física em que ainda persistem as referências pautadas na perspectiva da saúde e do
esporte de rendimento, enquanto a ginástica demonstrativa busca uma aproximação com o
discurso da inclusão e do lúdico, tanto que atualmente é conhecida também como ginástica para
todos.
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Uma análise desse conteúdo a partir das três dimensões, permite classificar os conteúdos
conceituais como os relacionados à identificação e compreensão dos diferentes tipos de ginástica,
a origem e as transformações históricas das ginásticas no Brasil e suas manifestações atuais em
nossa sociedade. Os conteúdos procedimentais relacionam-se a vivência os diferentes tipos de
ginásticas, as atividades com os aparelhos da ginástica rítmica e as brincadeiras e atividades
rítmicas com e sem música. Já a dimensão procedimental fica por conta dos princípios éticos que
serão tratados por meio dos conhecimentos adquiridos e das vivências indicadas.
O quadro 5 apresenta o resultado da identificação dessas dimensões nos currículos
examinados:
Estado Dimensão conceitual Dimensão Dimensão atitudinal
procedimental
AC ---- X ----
AL ---- X ----
DF ---- X ----
ES X X ----
GO X X X
MA ---- X ----
MG X X ----
MT ---- ---- ----
MS ---- X ----
PE X X ----
PR X X ----
RJ X X X
RO X X ----
RS X X ----
SE ---- X ----
SP X X ----
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Apenas o Estado do MT não foi indicado no quadro e na análise deste trabalho, pois
existe apenas a indicação da ginástica no currículo, sem qualquer detalhamento de conteúdo a ser
desenvolvido.
Os resultados apontam que a dimensão procedimental ainda é a mais recorrente no
desenvolvimento dos conteúdos da ginástica na Educação Física escolar, aparecendo na
totalidade dos currículos analisados. A dimensão conceitual apareceu em segundo lugar, sugerida
nos documentos de 9 Estados (ES, GO, MG, PE, PR, RJ, RO, RS e SP) e por último a dimensão
atitudinal, identificada em apenas dois currículos (GO e RJ).
Os resultados desta pesquisa corroboram com os obtidos por Almeida (2010). A autora
ressalta que os valores e as atitudes são pouco detalhados nos currículos, mas os procedimentos
são expostos de modo pormenorizado, explicitando as habilidades, sustentando a direção de
formação das competências.
Os PCNs (BRASIL, 1997) apontam que os conteúdos são os meios pelos quais o aluno se
apropria da cultura corporal, relacionando seus conhecimentos com a realidade, ressignificando
suas práticas e promovendo uma transformação de seus saberes.
Darido (2003) evidenciou a falta de tradição da Educação Física no encaminhamento dos
conteúdos numa dimensão conceitual e atitudinal e a na predominância do procedimental ao
observar as aulas de professores do Ensino Fundamental e Médio. No seu estudo ficou evidente a
dificuldade dos professores no tratamento equilibrado das dimensões dos conteúdos.
Barros (2006), indicou que apesar da predominância dos conteúdos procedimentais nas
aulas de Educação Física, muitos estudos na área têm apresentado a necessidade de inclusão dos
conteúdos conceituais para que o papel pedagógico da Educação Física contribua para a
Educação numa perspectiva integral.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise documental dos currículos estaduais brasileiros apontou a presença da ginástica
em todos eles, evidenciando a sua importância para a Educação Física escolar e a tradição da
ginástica como conteúdo curricular da disciplina desde meados do século de 1920. Apesar do
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