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A Arte Namban - O Contacto entre os Europeus e o Japão: Contrastes entre


duas culturas diferentes, mas semelhantes, e a questão do “Outro”.

Presentation · April 2022


DOI: 10.13140/RG.2.2.29165.67046

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Liliana Amado
University of Lisbon
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A Arte Namban: o Contacto entre os Europeus e o Japão -
Contrastes entre duas culturas diferentes, e a questão do “Outro”.

História Moderna e da Expansão Portuguesa


Docente: Maria Leonor García da Cruz
Discente: Liliana dos Santos Amado (nº 158105)
2º ano de Arqueologia
Ano Letivo de 2021/2022
Abril de 2022

1
Índice

1. Introdução
2. Contexto Histórico de Portugal
3. Contexto Histórico do Japão e a Chegada dos Portugueses
3.1.A propagação da fé à medida que se negocia
3.2.A nau de trato e as rotas comerciais
4. A Arte Namban
4.1.Lacas Namban
4.2.Lacas namban para o mercado europeu
4.3.Lacas “Kirishitan”
4.4.Lacas namban para o mercado japonês
4.5.Pintura Namban
4.6.Biombos namban com representação dos namban-jin
4.7.Biombos cartográficos
4.8.Pinturas de devoção para altares portáteis e ex-voto
4.9.Escultura Namban
4.10. Esculturas cristãs
4.11. Esculturas profanas
4.12. Objetos para uso militar
4.13. Traje namban
4.14. Cerâmica namban
4.15. Outros
5. Conclusão
6. Notas Finais / Estudos Futuros
7. Bibliografia (I, II, III – não consultadas e consultadas, divididas em categorias)

2
Introdução
Através dos encontros entre os portugueses e os japoneses a partir do século XVI, este
contacto originou fortes mudanças em todos os sentidos, principalmente a nível cultural,
tendo impacto propriamente na história do Japão. Através da análise de algumas fontes,
sem dúvida, os portugueses foram o “arranque” para o estabelecimento de relações com
as culturas do Oriente, muito diferentes das do Ocidente, sendo que a partir daí a
identidade do Japão começa a ganhar forma.
Tendo em conta a imagem do “diferente de nós”, a ideia base é de que a presença do
comércio com este povo e o Cristianismo são fatores indiscutíveis que tiveram forte
impacto na Arte Namban.

Contexto Histórico de Portugal


No final do século XV, a Península Ibérica vivia um momento de intensas transformações.
A 1415, os portugueses haviam iniciado a sua expansão marítima, com a tomada da
cidade de Ceuta, no Norte de África. A coroa de Espanha havia concluído o processo de
reconquista do seu território com a tomada de Granada e em 1494, os dois reinos dividem
as terras “descobertas e por descobrir” entre si com o Tratado de Tordesilhas. A
descoberta do caminho marítimo para a Índia em 1499 por Vasco da Gama, permite aos
portugueses o acesso às riquezas da Ásia e abre caminho para a extensão das suas rotas
até à Malásia, Indonésia e China. Com o crescente comércio, o cristianismo era também
difundido. A associação entre religião e comércio é uma característica que marca a
presença portuguesa em todo mundo, especialmente no Japão, como irei abordar ao longo
do trabalho. Outro fator que reforçava a vinculação entre Igreja e Estado foi a criação da
Companhia de Jesus por Ignácio de Loyola em 1534. O rei Dom João II acolheu
entusiasticamente a nova ordem religiosa e incorporou sua atuação nos planos de
expansão portuguesa pelo mundo. Logo os jesuítas estavam estabelecidos nos pontos
mais distantes do Império Português (Neto, 2017).

Contexto Histórico do Japão e a Chegada dos Portugueses


Sabe-se que os Portugueses foram os primeiros Europeus a ter contacto com os Japoneses.
Alguns argumentos são apresentados por alguns autores, que defendem que estes
encontros, entre o Japão e Portugal no século XVI, tiveram enorme pertinência, na
unificação do Japão e a sua identidade como foi referido anteriormente. 1 (Carvalho,
2000)
Como o autor Newton Ribeiro Machado Neto (2017), refere:
“Enquanto os portugueses avançavam pelos mares entre Portugal, Índia e Ásia, o Japão
vivia o final de um longo período de conflitos internos, denominado Sengoku Jidai. A
autoridade do imperador, residente em Kyoto, havia sido gradativamente reduzida ao
longo dos séculos, até que este se tornasse apenas uma figura decorativa, com funções

1
Este estudo foi feito em colaboração com Shuji Taneguchi, que levou a cabo as entrevistas em Oita e
colaborou na análise dos textos escolares.

3
eminentemente cerimoniais. O poder político de facto passou às mãos da classe
guerreira, com o estabelecimento do shogunato de Kamakura em 1135. Com a queda
deste regime em 1333, o Japão passou a viver um permanente estado de guerra, em que
os vários senhores feudais lutavam entre si pelo comando do país. No final do século
XVI, emergiram no cenário político-militar três senhores feudais que contribuíram para
unificar o país e encerrar o longo período de guerra: os daimyos Oda Nobunaga,
Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu”.
A comando de Afonso de Albuquerque, os portugueses estabelecem-se em Goa em 1510
e no ano seguinte tomam Malaca, na atual Malásia, sendo um dos centros estratégicos no
comércio marítimo com o Extremo Oriente (Romero, 2013).
Com a tomada de Malaca em 1511, os portugueses entram em contacto com a China, a
Sul, em 1513, chegando Jorge Álvares à metrópole de Cantão (Romero, 2013), onde a
pimenta de Samatra era trocada por produtos chineses. No entanto, após uma recorrente
incompreensão e sucessivos mal-entendidos das duas partes, seguiram-se anos de
relações turbulentas, com origem nos acontecimentos que sucederam após a chegada de
Cantão de Simão de Andrade em 1519 e de Martim Afonso de Melo em 1522. O
surgimento das práticas de comércio nesta parte do globo remonta à década de 1540,
embora maioritariamente clandestino, tornado possível através da ação dos wakō, os
piratas que atuavam na região do baixo Yangtze. É provável que, com o comércio no Mar
do Sul da China, que muitos portugueses tenham obtido informações sobre o Japão e a
sua localização geográfica precisa (Campos, 2010).

Fig. 1: As rotas portuguesas. Fonte: (Elearning).

4
A propagação da fé à medida que se negocia
À Europa, chegou pela primeira vez notícias do Japão com os livros de Marco Polo, mas
o interesse pelos Portugueses pelo Japão teve origem no contacto com a China em 1513
(Carvalho, 2000).

Fig. 2: Uma página de “As viagens de Marco Polo”. Fonte: Wikipedia.

É a curiosidade e a desconfiança que leva à aproximação destes supostos “intrusos”


(Campos, 2010).
Sendo Portugal o introdutor da cultura do Ocidente no Japão no século XVI, foi quem
também na Era dos Descobrimentos encontrou os caminhos e bases de ligação entre estas
duas culturas de modo a se influenciarem uma à outra até aos dias de hoje (Jorge, Dias:
A Imagem do Japão).
Não se sabia antes ao certo a data da chegada dos Portugueses ao Japão, mas as principais
fontes históricas apontavam para os anos 1542 ou 1543. O nome dos navegadores que
chegaram primeiro a Tanegashima eram também desconhecidos, indicando alguns
autores como António Galvão, no seu Tratado, o nome de António da Mota, Francisco
Zeimoto e António Peixoto, levados por uma tempestade. Diogo do Couto recebeu esta
versão, que vários historiadores, antigos e modernos, aceitaram. Outros autores nomeiam
Cristóvão Borralho e Diogo Zeimoto. Já na Peregrinação, Fernão Mendes Pinto afirma
ser o primeiro, no entanto, os historiadores George Schurhammer e Charles Boxer
discordam, uma vez que Charles Boxer consegue provar no seu livro que nos anos de
descoberta ele não poderia estar lá, mas reconhecem a sua presença em 1544. Não foram
encontrados documentos nem argumentos para esclarecer de uma vez por todas a questão2
(Costa, 1993). A fonte japonesa, Teppo-Ki, menciona o dia 23 de setembro de 1543 e
indica como praia de desembarque a praia de Nishimura Ko-ura, onde está atualmente
uma lápide em memória dos portugueses. Os escritores japoneses são quase unânimes em
aceitar a data de 1543 (Jorge, Dias: A Imagem do Japão).

2
C. R. Boxer, The Christian Century in Japan, p. 18 e ss.

5
No último livro de Charles Boxer, The Christian Century in Japan, dá como correto o
desembarque de 1543 na ilha de Tanegashima; se alguma viagem se realizou antes, crê
ser às ilhas Riukiu (Costa, 1993).3
No Japão, os Portugueses foram lá mais bem recebidos do que na China. João Paulo
Oliveira e Costa (1993: 19), aponta a arrogância dos portugueses e a xenofobia dos
chineses como a principal causa das discórdias. A entrada em território japonês foi
realizada pelos Jesuítas e pelos negociantes (Romero, 2013).
Os portugueses chegaram ao Japão, vindos do Sul da China, mais ou menos na mesma
altura em que se deu o crescente comércio dos juncos chineses e com a abundante
presença de prata na região, perceberam rapidamente que podiam obter mais lucro ali do
que em qualquer outro país oriental. A rota consistia em abastecer os barcos com pimenta
de Java e Malaca e trocá-la por seda e outros produtos da China, convertendo essa seda
por prata, cobre e outros metais no Japão e depois com essa prata japonesa, voltar a
comprar seda chinesa, retomando à Índia para uma nova troca de seda por especiarias
sendo que a pólvora e o almíscar, etc. também se encontravam nos produtos
comercializados, levando Portugal a um grande lucro comercial (Romero, 2013).
A primeira fragata portuguesa desembarca na ilha de Tanegashima em 1543 4 na ilha de
Kyūshū 5, o Japão encontrava-se no período Muromachi, também conhecida como “Era
de Ashikaga” e em termos cronológicos, compreende-se entre (1333-1573). A altura em
que se inicia o processo de unificação do país, é chamado de “Período Sengoku” (1465-
1573), e é assim denominado pelos historiadores japoneses como referência ao Período
dos Reinos Combatentes na China, um período de guerras políticas e feudais. Durante o
Período Sengoku, dá-se a emergência de uma nova classe de clãs militares poderosa que
aos poucos vai suplantando a classe aristocrática dos antigos daimyo (chefes militares),
que serviam o governo de Ashikaga. Estes emergentes clãs militares, no final do século
XV, já tinham dividido o Japão em pequenos estados marciais com regime de feudo e os
daimyo de cada clã com a ambição constante de expandir os seus territórios, combatiam
entre si. Com alguns daimyo a cair em submissão perante outros mais poderosos, os

3
História de Portugal, de Barcelos, Vol. 3, p. 607 e ss.
4
A data de 23 de setembro de 1543 (12.8.25 da era Tembun, segundo o calendário lunar japonês), que é a
que reúne maior consenso, surge referida no Teppōki (1607), texto escrito pelo padre budista ze Nampo
Buji, então ao serviço de Shimazu, o daimyo de Kagoshima. Porém, aparecem também outras
referências documentais aos anos de 1542 e 1544. Este assunto continua a merecer alguma atenção
por parte da historiografia, pelo que remetemos para a recensão da autoria de Pedro Lage
Correia publicada no Bulletin of Portuguese/Japanese Studies, Vol.8, Lisboa: CHAM/FCSH-UNL,
June 2004, p.93-106, que sumariza as teses mais recentes: Murai Shōsuke, “A Reconsideration of the
Introduction of Firearms in Japan”, Memoirs of the Research Department of the Toyo Bunko,
n.º60, 2002, p.19-39 e Olof Liddin,Tanegashima. The arrival of Europe in Japan. Copenhagen:
Nordic Institute of Asian Studies, 2002.
5
Existe algumas divergências entre historiadores em relação à data oficial. Há quem refira que os
portugueses naufragaram dois anos antes nas ilhas de Kyūshū (Elisseeff, 1980). Alexandra Curvelo, no
entanto, afirma que a data de 23 de setembro de 1543 é a que “reúne maior consenso” (Campos, 2007:
76, nota 197). Em relação à identidade dos primeiros portugueses a chegarem ao Japão, a maioria dos
historiadores inclina-se para a versão de António Galvão, apoiada por Diogo de Couto e pelo Jesuíta
Georg Schurhammer, nomeando Francisco Zeimoto, António Mota e António Peixoto como os primeiros
a pisar solo japonês (Costa, 1993).

6
territórios conquistados pelos daimyo vitoriosos eram consolidados e o Japão fraturado
fica cada vez mais unificado (Romero, 2013).
O Período Azuchi-Momoyama (1573-1603), constitui-se na primeira fase da unificação
do Japão, levada a cabo por Oda Nobunaga (1534-1582), e o seu sucessor Toyotomi
Hideyoshi (1536-1598). Oda Nobunaga foi, sem dúvida, uma figura fundamental na
assimilação dos portugueses no Japão, como se irá observar posteriormente. Coincidindo
a chegada dos portugueses com um dos períodos mais sangrentos da história do Japão,
apesar desta condicionante, foi a melhor altura a nível de oportunidades de comércio uma
vez que, num cenário de guerra há a procura de armamento e metais e os próprios
mosquetes de pavio dos portugueses, chamaram logo à atenção dos locais, incluindo do
general Oda Nobunaga, uma vez que os usos das armas de fogo foram decisivas para a
sua vitória (Romero, 2013).

Fig. 3: Retrato de Oda Nobunaga, pelo pintor jesuíta Giovanni Niccolo,


1583-1590. Fonte: Wikipedia.

Após a morte de Nobunaga em 1582, um terço do Japão já havia sido unificado,


sucedendo-lhe um dos seus aliados mais próximos, o general Toyotomi Hideyoshi que
continua a trabalhar a unificação do país. Mas, ao contrário de Oda Nobunaga, que
mantinha boas relações com os portugueses e jesuítas, usando frequentemente as
doutrinas cristãs para motivar revoltas contra aqueles que se lhe opunham 6. Com
Hideyoshi e o Japão já praticamente unido, os jesuítas começaram a ser vistos mais como
uma ameaça do que uma “ajuda”, tendo em conta que, as doutrinas cristãs entravam em
conflito com os principais neo-confucionistas de um Japão Imperial. Ao mesmo tempo,
os jesuítas também começam a enfrentar a concorrência dos franciscanos nas suas
campanhas de evangelização, resultando em tensões entre ambas as partes (Romero,
2013).

6
Nobunaga usou as doutrinas cristãs para justificar uma guerra contra os monges guerreiros do Monte
Hiei, os quais não só praticavam “paganismo” como também exerciam algumas práticas “sodomitas”
(Spence, 1985: 225).

7
Fig. 4: O Japão em 1582 (Historia de Japam, vol. III)

Fig. 5: As Províncias do Japão (séc. XVI), em (COSTA, O Japão e o Cristianismo no Século XVI).

8
Fig. 6: A ilha de Kyushu (séc. XVI), em
(LEITÃO, “Os jesuítas e o comércio do Japão” in Revista de Cultura, 17, 1993, p.27).

Fig. 7: Toyotomi Hideyoshi montado

em um cavalo. Fonte: Wikipedia.

Fig. 8: Tokugawa Ieyasu, do artista Kano Tanyu.


Fonte: Wikipedia.

9
Em 1587, com Hideyoshi a apoderar-se de Nagasaki, ele ordena a retirada dos
missionários da ilha, tendo, no entanto, o édito não ter sido implementado a fundo. Apesar
de muitos jesuítas continuarem a viver na região pacificamente e de Hideyoshi apreciar
as mercadorias trazidas pelos portugueses, não tendo qualquer intenção em acabar o
comércio português, com o édito emitido, criou-se um crescente sentimento anti-cristão
e consequentemente “anti-português”. Em 1597, Hideyoshi reforça o édito anti-cristão e
nesse ano, seis franciscanos e vinte japoneses convertidos são crucificados em Nagasaki,
tornando-se os primeiros mártires cristãos no Japão (Varley, 1984, 166). (Romero, 2013)
Com a entrada dos espanhóis e holandeses no Japão, os portugueses viram a sua
concorrência no mercado a aumentar. Até 1606, os jesuítas controlavam a evangelização
cristã no Japão, poder dado pelo próprio Papa e acordado com a Espanha e os portugueses
detinham o monopólio do comércio internacional nipónico. Os conselheiros castelhanos
sabiam que não se devia misturar o comércio entre a Ásia (dominado pelos portugueses),
e a América (dominada pelos espanhóis), mas, com Filipe III de Espanha, tudo muda,
tendo a partir de 1606 começado a autorizar o comércio entre as Filipinas e o Japão,
levando à concorrência espanhola na ilha, tanto a nível religioso como de comércio.
Adicionalmente, com o aumento das tensões entre não-cristãos e cristãos, as viagens
portuguesas ao Japão começaram a ser menos frequentes à medida que os riscos iam
aumentando, mas, apesar destas condicionantes, os lucros do comércio continuam a
multiplicar-se (Campos 2007, 98-99). (Romero, 2013)
Com a entrada também dos holandeses a qual a sua superioridade marítima obrigava os
portugueses a alterarem as rotas no Mar da China para não sofrerem emboscadas dos
navios holandeses, também obrigou à divisão da carga em galeões rápidos em vez de
usarem a mais volumosa e vulnerável nau (Boxer 1989, 15). (Romero, 2013)
Ieyasu, ainda mais que seu antecessor, tinha uma enorme desconfiança dos missionários
e não gostava do poder religioso e comercial que os portugueses tinham na ilha de Kyūshū
e para tal, lançou um édito de proibição do Cristianismo a 23 de dezembro de 1614 com
ameaças de morte, ordenando a saída dos missionários do país e fechando a Igreja de
Nagasaki (Romero, 2013).
Alguns missionários, continuaram a desembarcar em Nagasaki, disfarçando-se de
mercadores, o que levou à expulsão dos portugueses da cidade em 1623 (Correia, 2009).
Os portugueses ficam restritos à pequena ilha artificial de Deshima, criada com o objetivo
de controlar e receber o comércio com os estrangeiros, mas, após a revolta de Shimabara,
eles foram expulsos em 1639, ficando a ilha ocupada pelos holandeses. Tentando criar
novamente laços comerciais, uma última embaixada de Macau foi enviada em 1640, mas
os seus membros foram todos executados pelo shōgun em 1641. Em 1647, D. João IV
tenta novamente reativar as relações enviando outra embaixada, mas não bem-sucedido.,
terminando assim o século português no Japão (Pinto 1990, 37). (Romero, 2013)
Várias teorias e fatores são apontados para explicar a decisão política de expulsar os
Cristãos. Segundo a autora Daniela de Carvalho (2000):
“Um desses fatores foi o receio de o Japão ser colonizado por forças europeias. Este
receio foi exacerbado com a colonização das Filipinas pelos Espanhóis. Essa
colonização tinha sido antecedida pela chegada dos missionários. Um outro fator

10
decisivo foi a intolerância dos missionários em relação a outras religiões, o que provocou
má-vontade por parte dos Budistas e Xintoístas. De referir, são também as desavenças
entre jesuítas, dominicanos e franciscanos, que levantavam suspeitas quanto às suas
verdadeiras intenções. As campanhas anti-católicas dos Holandeses e Ingleses
protestantes que começaram a chegar ao Japão na primeira década do século XVI,
contribuíram para acalentar animosidades. O tráfego de escravos, também desagradava
e provocava suspeitas sobre as intenções dos portugueses (Matsuda, 1965: 37). O
tumulto de Shimabara, supostamente organizado por Cristãos, provocou uma grave
desordem social e as autoridades japonesas receavam que os outros tumultos se
sucedessem e desse modo o Cristianismo subvertesse a ordem dominante”.
A diferenças entre os namban-jin, que já foi explicado o significado do seu termo e os
komo-jin (“homens ruívos”), tem relação com a aproximação e convivialidade
diferenciadas, e, larga medida, um reflexo de uma Europa católica vs uma protestante,
com resultados e respostas do ponto de vista cultural e artístico igualmente distintas
(Campos, 2010).
A primeira documentação extensa que se conhece é o relato de Jorge Álvares, que esteve
no Japão em 1544 com Fernão Mendes Pinto. É escrito em dezembro de 1547 e é o
primeiro relato direto da presença de um ocidental sobre o território japonês (Jorge, Dias:
A Imagem do Japão).
Álvares descreveu a ilha de Kyushu como uma maravilhosa paisagem, louvando o seu
encanto. Descreve a presença de terramotos e tufões que assentavam na ilha, bem como
o arvoredo de cor verde, e a abundância de flores e fruta. Em relação aos costumes
japoneses, ele aponta os seus penteados e banhos diários. Fala do enorme orgulho dos
samurais, a honra e os próprios costumes, espadas e arcos e flechas, enaltecendo a sua
curiosidade intelectual, generosidade e cortesia. Observando a culinária japonesa, viu o
uso diário de arroz e hortaliças, e a substituição do consumo da carne pelo tofu. Ele dá-
nos a imagem do povo japonês se sentarem no chão e usarem pauzinhos para comer.
Relata a influência do Budismo e descreve os bonzos. Canta também a beleza das
mulheres, insistindo no rigor da cortesia e etiqueta dos japoneses. A sua impressão foi
claramente muito favorável, e rapidamente foi partilhada entre grande parte dos outros
portugueses. A mesma opinião era geral em Portugal, tal como S. Francisco Xavier afirma
em Kagoshima, em 1549, defendendo que os japoneses têm uma forte cultura e
inteligência. Acreditou-se, a partir daí que haveria semelhanças entre a ética dos samurais
e os próprios portugueses pois, segundo o seu código de procedimento, a honra era mais
importante que a vida – salientando esses traços comuns entre estes dois povos (Jorge,
Dias: A Imagem do Japão).

11
Fig. 9: Retrato japonês de Francisco Xavier da primeira metade do
século XVII, Museu Municipal de Kobe. Fonte: Wikipedia.

Como Neto (2017), refere:


“Em 1549 (…) o padre jesuíta espanhol Francisco de Jasso y Azpilicueta, mais
conhecido como São Francisco Xavier, um dos fundadores da Companhia de Jesus é o
principal responsável pela difusão do cristianismo na Ásia. Acompanhado de um japonês
convertido ao catolicismo (Anjiro, ou Ângelo), Xavier desembarcou com o intuito de
disseminar o catolicismo, reforçando a posição da Igreja e fortalecendo as relações
comerciais entre Portugal e Japão. Em alguns casos, a própria conversão ao catolicismo
dos daimyo e de seus vassalos foi utilizada como moeda de troca, para assegurar a boa
vontade dos padres jesuítas e utilizar suas conexões com os comerciantes portugueses”.
Francisco Xavier fica no Japão até 1551 e em apenas dois anos, conseguiu converter ao
cristianismo 800 pessoas nas cidades de Kagoshima, Hirado e Yamaguchi. O número de
cristãos aumenta, pois, novos jesuítas são enviados pelo vice-rei da Índia, e em 1558, por
causa dos zelos e conflitos com os padres budistas, surgem as primeiras dificuldades com
as autoridades japonesas, tendo o senhor de Hirado expulsado os missionários dos seus
territórios (Costa, 1993).

Fernão Mendes Pinto, um precursor do exotismo do século XIX, entre 1542 e 1556, fez
quatro viagens ao Japão, onde descreveu também o país e a sua cultura, destacando mais
uma vez, a honra, cortesia e o espírito militar presente, apresentando ainda uma visão
bastante favorável de Kyoto. A odisseia denominada de Peregrinação, descreve num
capítulo, a chegada do autor a Tanegashima. Lá, os portugueses caçavam e pescavam e
visitavam os templos, bem recebidos pelos bonzos. Um deles, Diodo Zeimoto, referido
anteriormente, “fez fogo” com uma espingarda, ao caçar patos nos paúis, deixando os
japoneses surpreendidos e maravilhados pois nunca tinham alguma vez visto ou tocado
numa espingarda (Jorge, Dias: A Imagem do Japão).
Ele ofereceu uma ao daimyo local de Satsuma, chamado de Shimazu Takahisa que os
recebeu (Romero, 2013), e este pediu-lhe para lhe ensinar a fazer pólvora e a usar a
espingarda.
12
Shimazu poderá ter oferecido umas destas armas ao shōgun de Kyoto o (Lidin, 2002,
160), e os japoneses terão feto cópias do “modelo deixado pelos portugueses ao senhor
Tanegaxima” (Pinto, 1990: 34). (Romero, 2013)
O que se sabe é que algum tempo mais tarde, os japoneses já haviam feito muitas quando
os portugueses regressaram e em 1556 já havia praticamente milhares no Japão, revelando
o impacto transformador deste pequeno contacto entre estes dois povos (Jorge, Dias: A
Imagem do Japão).
A língua e a cultura, despertou grande interesse por parte dos missionários:
João Rodrigues (1561-1634), influenciado e inspirado por este país, escreve uma primeira
gramática nipónica e trabalha o Dicionário da Língua Japonesa. A sua História da Igreja
no Japão manifestou a sua convicção de que havia a necessidade de conhecer a geografia,
costumes e ainda mais a cultura a fundo do povo japonês. Lá, retrata a pintura, a laca, os
leques, a mentalidade e psicologia, apresentando o uso do sake e expõe a cerimónia do
chá e a filosofia que a inspira. Em Kyoto, nota os banquetes, a cortesia, a beleza dos
arredores da cidade, com os seus jardins e arvoredos, narrando a elegância da língua, o
culto da poesia, os grandes palácios e templos e os banhos públicos. Tanto Kyoto, como
também Nara e Azuchi, aparentam estar repletas de cor, vida e exotismo, sendo a História
da Igreja no Japão um importante documento sociológico porque retrata a largura da
compreensão humana (Jorge, Dias: A Imagem do Japão).
Luís Fróis (1532-1597), na sua obra História do Japão, ele estuda o xintoísmo e o
budismo e conta o seu encontro com Nobunaga em Kyoto a abril de 1569, homem cuja
estatura é mediana é magro e é descrito como “sagacíssimo em ardis de guerra.” As suas
paixões eram a cerimónia do chá, os cavalos, as armas e a caça. Em 1585, ele escreve um
Tratado sobre as contradições e diferenças entre a cultura europeia e japonesa. Ele explica
os contrastes entre as duas áreas em todos os seus aspetos: pelo que toca aos homens e
seus trajes, às crianças e mulheres e respetivos costumes; a religião na sua essência
hierárquica institucional; as armas e a guerra, a nível das raças cavalares e a medicina,
livros, tipos de papel, tintas e cartas, embarcações e divertimentos. Ele detalha a beleza
das casas japonesas, a sua arquitetura, a sua pintura e jardins. Caracteriza o castelo de
Azuchiyama que Nobunaga acabara de construir. Pormenoriza os biombos e dança,
incluindo o bon-odori. Mencionando também o uso do peixe cru, e o seppuku. O Tratado
é o imenso quadro das condições políticas, culturais e religiosas do Japão, sendo um
estudo de antropologia cultural da época de Momoyama (Jorge, Dias: A Imagem do
Japão).
Luís de Almeida (1525-1584), outro português, estabelece-se em Oita e introduz a
medicina ocidental no Japão.
Como se pode ver e, segundo Charles Boxer, a influência portuguesa no Japão foi muito
mais além do que se julga. Têm-se consciência de que o comércio marítimo da Ásia esteve
durante cerca de um século nas mãos dos portugueses e Macau era a base do comércio
com o Japão. Este país importava porcelana, pólvora e sedas que eram trazidas pelos
portugueses da China bem como as especiarias do Sudeste asiático e India. As ciências
trazidas pelos portugueses que tiveram mais repercussão no Japão foram a astronomia,
ciências náuticas, construção naval e a medicina. Em relação à ciência militar, os sucessos

13
militares de Hideyoshi e Nobunaga foram impulsionados pelas armas de fogo que
ajudaram a unificar o país. Quanto às artes, na pintura, o mais importante “espólio” de
influência ocidental é a representação dos biombos namban, sendo o principal tema
favorito, a chegada dos portugueses ao Japão – o namban gyoretsu. Minucia os fidalgos,
os escravos negros, os animais, a nau negra fundeada no mar azul-escuro, com grandes
velas brancas, as bandeiras, os marinheiros, com um fundo dourado, onde sobressai o
verde dos pinhais. Nas artes decorativas e nos castelos também se nota a influência
portuguesa e o próprio urbanismo, de Nagasaki por exemplo, uma cidade construída numa
encosta de montanha. Também no vocabulário japonês, estão introduzidas muitas
palavras de influência portuguesa e uma tipografia de origem ocidental, que a introdução
levou à publicação de obras sobre a cultura japonesa, como a Arte da Lingoa de Japam
(Jorge, Dias: A Imagem do Japão).
Entre os séculos XVI e XVII, Portugal exerceu uma inegável influência sobre o Japão.
Este contacto com a cultura europeia marcou para sempre a cultura japonesa, sendo a
língua portuguesa o primeiro meio de comunicação entre o Japão e o Ocidente, uma vez
que o português era no século XVI, a língua franca da Ásia. Mas, com a política de
encerramento do Japão que foi decretada pelos Tokugawa, interrompeu estas relações
entre Japão e Portugal, sendo que a esquadra do Comodoro Perry só fez abandonar essa
política a partir de 1853, apesar de Portugal já não ser então, a base de um império
mundial como havia sido nos séculos anteriores, pois perdera o Brasil em 1822, tornando-
se um país pequeno e “pobre” mesmo com as suas colónias em África (Jorge, Dias: A
Imagem do Japão).
A Nau de Trato e as Rotas Comerciais
Os portugueses após terem sido expulsos de Liampo e de Chincheu em Fukien, China,
voltam para Catão que, felizmente as autoridades locais aceitaram negociar com eles e
começam por se aventurar nas ilhas do Delta do Rio das Pérolas. Em 1557, é lhes
concedido o porto de Macau, que acaba por se tornar a base do comércio português no
Extremo Oriente. Após Macau estar estabelecido, foi necessário encontrar um porto
permanente no Japão, conseguindo apenas em 1571, após o estabelecimento da rota
Macau-Nagasaki. Em 1580, a cidade de Nagasaki é doada por Ōmura Sumitada (1533-
1587), o primeiro daimyo cristão convertido à Companhia de Jesus, e durante a
permanência portuguesa no Japão, a cidade cresce drasticamente, transformando-se numa
cidade comercial com uma malha urbanística semelhante à de uma cidade europeia
(Canavarro, 1990; Rodrigues, 2006). (Romero, 2013)
No início, o comércio entre Macau e Nagasaki era controlado pelos comerciantes
portugueses privados, mas em 1556, é apontado um capitão-mor para o controlo da rota.
Ele exercia a sua jurisdição sobre os portugueses que viviam no Japão ou que lá faziam
comércio. Cada ano, era então enviado uma grande embarcação de carga, a “Nau de
Trato”, que aportava na costa de Nagasaki, e aí faziam as trocas. As naus permaneciam
no porto de Nagasaki durante muito tempo, pois tinham de esperar pelos “ventos
favoráveis” para voltar a Macau (Canavarro 1989, 24), e durante esse tempo de espera,
os portugueses não perdiam oportunidade para melhorar as suas relações com a população
local, sendo estes momentos mais tarde ilustrados nos famosos biombos namban
(Romero, 2013).

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Com a crescente ameaça da pirataria japonesa no Sul da China, terão desaparecido os
juncos chineses em 1560 e consequentemente, os portugueses fica com o controlo do
monopólio do comércio da prata japonesa, dando a eles uma clara vantagem no comércio
do Extremo Oriente, fortificando as relações nipo-portuguesas e sino-portuguesas,
acabando por serem por muitas décadas, os únicos intermediários no comércio entre
China e Japão. Tanto no contexto político como histórico, o papel dos portugueses foi
fundamental: por um lado, conseguem o domínio de Macau ao ajudar os chineses a
combater a pirataria e por outro, ajudam indiretamente o general Oda Nobunaga a fundar
a cidade de Nagasaki e unificar o Japão (Romero, 2013).
Para finalizar, sem dúvida pode-se acreditar que a atividade jesuíta estava intrinsecamente
ligada ao comércio pois, os jesuítas precisavam dos comerciantes para sustentarem a sua
atividade no Japão, recebendo uma quota da seda comercializada, e os comerciantes
precisavam dos jesuítas como “intermediários indispensáveis, visto serem
linguisticamente peritos e terem os contactos adequados nas altas esferas” (Boxer, 1989:
10). (Romero, 2013)

A Arte Namban
O termo “namban” deriva da palavra “namban-jin”, que em japonês significa “bárbaro
do Sul”, nome que os japoneses terão dado aos portugueses quando entraram em contacto
com eles pela primeira vez, sendo a “Arte Namban”, um termo usado na história da arte
do Japão para identificar um estilo de arte japonesa que surge dos primeiros contactos
com os europeus. Pode-se afirmar que estes objetos artísticos têm influência na arte
europeia e foram produzidos mais ou menos entre os finais do século XVI e meados do
século XVII. Esta arte, tem determinadas características formais, iconográficas e/ou
decorativas, a qual o período de produção coincide com a permanência dos portugueses
no Japão, e após a sua expulsão, sendo que a produção baixa drasticamente, até ser
totalmente extinta (Romero, 2013).
Tendo em conta a quantidade de objetos que foram trazidos para o Japão como: os cristais
venezianos, os relógios, o mobiliário europeu e indo-europeu, roupas e têxteis (Costa,
1993), bem como os estudos de astronomia, cartografia e construção naval ocidental que
foram difundidos, este novo conhecimento do mundo que os portugueses trouxeram é
testemunhado pelos biombos cartográficos e os biombos namban, com a representação
dos namban-jin, onde as naus figuram em relativa abundância. Os seminários jesuítas
também ensinavam pintura ocidental e alguns artistas da escola Kanō tiveram contacto
com esta instituição (Romero, 2013).
Alguns dos mais notáveis exemplares de biombos namban com a representação de
Europeus no Japão, pertencem à coleção do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa
e são da autoria ou atribuídos, a pintores da escola Kanō. Os pintores da escola Kanō,
estavam inseridos a serviço dos principais círculos mecenáticos do Japão, nos finais so
século XVI e início do século XVII. A sua ligação a Oda Nobunaga nos trabalhos do
castelo de Azuchi, concluído em 1576, a Toyotomi Hideyoshi no Castelo de Osaka
(1585), no Juraku-dai em Kyoto (1587) e no castelo de Fushimi, Kyoto (1594),
assim como a Tokugawa Ieyasu no castelo de Nagoya, em Hōnshu, entre 1609 e 1614,

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colocam os nomes de artistas como Kanō Eitoku, Kanō Mitsunobu, Kanō Sanraku,
Kanō Sadanobu (1597-1623) ou Kanō Tan’yū, entre os mais conhecidos e prestigiados
do período Momoyama e início da era Edo (Campos, 2010).
“As diversas referências bibliográficas escritas por jesuítas na época, provam a
abundância dos objetos religiosos por entre os crentes naturais de territórios orientais
por onde os portugueses passaram e evangelizaram. Os produtos trazidos pelos
portugueses e jesuítas que muitas vezes eram oferecidos às elites locais, eram alvo de
fascínio e curiosidade, e as igrejas e escolas jesuítas não eram apenas locais de culto
religioso, mas também locais de visita para os locais”. (Romero, 2013)
Ao serem oferecidos aos lordes feudais estes objetos de qualidade superior de produção
europeia que fascinava estes senhores, as elites desenvolvem um gosto pelos objetos
ocidentais, ou objetos com decoração retratando os namban-jin, sendo considerada uma
arte exótica (Jörg, 2008: 44). (Romero, 2013)

Lacas Namban
Mesmo sendo muito escassa a documentação que refere o comércio da laca japonesa e
namban entre os séculos XVI e XVII (Impey e Jörg, 2005), é provável que elas foram
primeiramente encomendadas por jesuítas, sendo que, em Kyoto, eles terão ficado
encantados com as lacas kodaji maki-e7, que decoravam o interior dos palácios dos
daimyo, as quais serviram de modelo base para a produção das lacas namban (Akio 1999,
170). Estes missionários, tanto na qualidade de compradores como de intermediários
entre os mercadores portugueses e artífices japoneses, terão encomendado lacas a oficinas
locais, situadas em Nagasaki, Osaka e a maior parte delas em Kyoto (Hutt e Impey 1984,
92). No século XVII, o comércio da laca para exportação ter-se-á desenvolvido e os
lacadores japoneses são contratados para trabalhar sob a orientação dos europeus em
oficinas, produzindo em grandes quantidades escritórios e contadores, cofres, baús, etc.
Todo este mobiliário, tem dimensões portáteis, tendo em conta algumas exceções, como
é o caso da cama de laca namban exibida pelo Museu do Oriente na exposição
“Encomendas Namban. Os portugueses no Japão da Idade Moderna” de 2010-2011. Em
relação às dimensões do mobiliário, a nível da preferência pelas características portáteis,
Jorge Gonçalves assume que estas condicionantes têm:
“a ver com a conceção estética japonesa e com a apropriação do espaço nas suas casas
tradicionais e possivelmente também, por motivos de transporte ao serem exportadas.”
(Gonçalves 1996: 15)”.
Oliver Impey (2001), compreende o período de produção namban entre 1580 e 1639, o
ano de expulsão dos portugueses. O estilo decorativo, em especial a técnica de incrustação
de madrepérola, poderá ser uma influência das lacas coreanas que terão sido enviadas
para o Japão na década de 1580, nas campanhas de Hideyoshi. Tem-se conhecimento de

7
Kōdai-ji maki-e: Estilo decorativo em maki-e que se caracteriza pelos desenhos elegantes de motivos
vegetalistas e folhagens estilizadas a dourado sobre fundo negro da laca. “The predominant feature of
Kōdai-ji lacquer is a design of autumn plants and grasses, known as akikusa. The plants are in clumps,
either freestanding or sttached to a small patch of earth, and are portrayed in a naturalistic manner,
frequently appearing to sway gently in a light breeze.” (Hutt, Impey, 1984: 89).

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que Filipe II recebeu em 1584 “algũas peças de Japão” (Pinto, Okamoto e Bernand, 1942:
88) da embaixada enviada pelos daimyo cristãos, onde se conta um escritório com seis
gavetas e uma bacia para lavar as mãos, “mui bem dourado cõ ouro moído, q lhe poem
debaixo de charão”, possivelmente executados em técnica nashiji (Impey, 2001: 108).
(Romero, 2013)
O documento mais antigo com uma referência diretamente relacionada a uma peça
namban em Portugal, é a legenda escrita no altar onde se encontra o oratório namban da
Igreja de Nossa Senhora da Caridade. Nessa legenda, lê-se que o oratório foi oferecido à
Igreja a 7 de setembro de 1670 (Pinto 1990, 64). (Romero, 2013)
A produção das lacas namban foi extensa na altura pois, há diversos exemplares
espalhados em museus de todo o mundo, apesar da documentação referente ser escassa
(Romero, 2013).
O processo da aplicação da laca era demoroso e lento e era provável que muitas lacas para
consumo europeu não obedecessem a todas as etapas de lavagem e secagem. Ao contrário
destas, as lacas encomendadas por compradores japoneses com posses e pelos daimyo,
eram de grande qualidade de execução, tal como acontece com as lacas de decoração
namban-jin (Romero, 2013).

Lacas namban para o mercado europeu


O grupo diverso de objetos namban de tipologias maioritariamente europeias, obedecem
a um gosto decorativo mais “lusitano”. As lacas que apresenta, este tipo de decoração,
caracterizam-se pelo uso excessivo de incrustações de madrepérola, padrões de
“folhagens namban” e motivos geométricos a ornamentar as arestas. Estes objetos de
mobiliário destinam-se normalmente para o mercado português e espanhol. Segundo os
especialistas, as produções destas lacas não parecem ser realizadas pelo método
tradicional e são, pois, mais “grosseiras”. Andrew J. Pekarik (1996), escreve que: “as
lacas de estilo namban eram produzidas com maior frequência e abundância do que as
outras lacas japonesas, devido ao aumento da procura por parte de recém-convertidos e
missionários jesuítas, e às exigências do mercado externo europeu. Assim, era comum a
produção de lacas namban saltar “passos” no seu processo moroso de produção,
dispensando muitas vezes o forro a papel ou tecido, sendo que em muitos casos os
artesões desenhavam diretamente sobre a madeira nua do objeto”. (Romero, 2013)
Segundo, Romero (2013):
“Um dos elementos de construção comum e facilmente identificável no mobiliário
namban de tipologias europeias diz respeito às pequenas tampas de cobre dourado em
forma de calote baixa, gravadas com uma folha de crisântemo, que são colocadas no
interior do móvel para ocultar os espigões de fixação de pegas ou fechos. A decoração
de folhagens douradas repetidas, ou namban karakusa, que caracteriza grande parte do
mobiliário namban de “exportação” parece ser uma derivação das lacas japonesas
kōdai-ji maki-e, lacas características do período Momoyama. A esta profusão de namban
karakusa é adicionada a madrepérola, culminando num efeito final cintilante e
exuberante, muito ao gosto português. Para além das folhagens, outro motivo decorativo

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muito comum nas lacas ditas namban são os padrões geometrizados, que ora recheiam
as bandas verticais e horizontais que circunscrevem as “namban karakusa” em painéis
retangulares, ora preenchem a decoração total da peça. Por último, alguns objetos
apresentam a decoração exterior coberta de mon (escudos heráldicos japoneses)
dispostos simetricamente, embora este motivo decorativo seja mais raro. É interessante
referir aqui as observações de Pekarik (1996), que nota a especial atenção dada pelos
lacadores à simetria e ordem decorativa nos objetos Kirishtan, subordinando a
“decoração à forma [do objecto]” e divergindo completamente dos motivos decorativos
ao gosto nipónico. Rígidos padrões geométricos e flora estilizada contida em molduras
e margens decoradas por linhas paralelas e perpendiculares são os temas dominantes da
Arte Namban, contrastando com a leveza orgânica e assimétrica das restantes lacas
japonesas produzidas no mesmo período para o mercado interno. As inovações
estilísticas na Arte Namban cingiram-se, no entanto, à decoração exterior, sendo que o
interior apresenta uma decoração muito mais minimalista. “Por dentro, no côncavo da
tampa, em peças mais cuidadas, alastravam enrolamentos floridos, em maqui-é de ouro
e cores sobre o fundo de uruxi negro.” (Pinto, 1990: 76). Num período mais tardio
de produção namban, as representações zoomórficas e os enrolamentos de
folhagens namban inseridos nas cartelas decorativas são substituídas por cenas
paisagistas com figuras humanas, muitas vezes cenas dos contos de Genji (Pinto1990,
95). Oliver Impey e Christiaan Jörg (2005) chamama estas lacas de “transição”, que,
segundo os autores, aproxima-se mais do gosto holandês, e terão sido produzidas
sensivelmente entre 1620/30 e 1650”.

Lacas “Kirishitan”
Registando-se mais de 150.000 cristãos no Japão, números que aumentavam
constantemente de ano para a ano em 1580 (Stanley-Baker,1984; Costa,1993), a
celebração das convenções era acompanhada pelo uso dos objetos “Kirishitan”, que eram
produzidos localmente com função puramente religiosa e catequética. Neste grupo,
encontram-se oratórios portáteis, as estantes de missal e as caixas de hóstias, entre outros.
Estas lacas, de arte jesuíta, são facilmente identificáveis pois apresentam na sua decoração
a insígnia IHS apropriada pela escola, com uma cruz em cima e três pregos da Paixão de
Cristo em baixo, a qual aparece frequentemente destacada ao centro. As suas
características são semelhantes às lacas namban de exportação, uma vez que apresentam
também as folhagens namban, as incrustações de madrepérola e decoração profusa da
superfície, etc. Elas distinguem-se pela sua função, e são destinadas aos crentes religiosos
que residiam no Japão. As suas formas podem ser os as estantes de missal, oratórios,
píxides, sendo que em algumas, a tal insígnia IHS é destacada ao centro. Com as
perseguições cristãs, grande parte destes objetos terá sido destruída.
Segundo Oliver Impey e Christiaan Jörg (2005), as lacas Kirishitan terão sido produzidas
entre 1580 e 1614, o ano em que Tokugawa lança o édito de expulsão dos missionários e
bane o Cristianismo. Apesar disso, existe um oratório leiloado pela Christie’s em 2009
(ver figura 10), que apresenta uma decoração de período claramente tardio, aproximando-
se do estilo pictórico holandês. Este objeto pode provar que a encomenda de lacas

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japonesas por missionários não terá sido totalmente interrompida depois do édito de
expulsão (Welsh e Vinhais (eds.) 2009, 167). (Romero, 2013)

Fig. 10: Oratório portátil de suspender com pintura a óleo representando São Francisco de Paula, meados
do século XVII. Dim.: 43,5 cm. Fonte: Newton Ribeiro Machado Neto (2017), Olhares Cruzados.

Lacas namban para o mercado japonês


As lacas executadas para o mercado japonês diferem entre as de consumo europeu ou
para exportação, não só na qualidade material como também em termos decorativos. O
jesuíta João Rodrigues, descreve que as lacas nipónicas eram tão caras que só os daimyo
e os japoneses endinheirados conseguiam comprá-las (Cooper 1965, 259). Apesar de
haver um “segundo tipo” de laca mais barata, da qual se encomendaram os móveis para
exportação para a Europa, os japoneses faziam muito mais uso da laca de qualidade. Para
além da qualidade superior destas lacas, pode-se observar também o uso de diversas
técnicas decorativas sofisticadas como a técnica hirame, que não é comum nas lacas de
produção estandardizada para exportação. No período Edo, o shōgun de Tokugawa
promoveu leis que moderavam a utilização de metais preciosos na decoração das lacas,
logo as decorações a ouro passaram a ser permitidas exclusivamente a objetos destinados
às classes altas, os daimyo e samurais de posses (Pinto 1990, 54). A natureza peculiar
deste tipo de lacas com decoração de namban-jin para o mercado doméstico, onde os
“bárbaros do Sul” são retratados com roupas exageradamente largas e narizes grandes em
jeito de “caricatura”, documenta o que foi uma época de descoberta não só para os
portugueses, como também para os japoneses, que nunca tinham visto um homem
caucasiano e tampouco um homem de pele tão escura, como os escravos que
acompanhavam os portugueses. Estes escravos são frequentemente retratados ao lado dos
portugueses juntamente com o cão de estimação. É pouco provável que um português
tenha tido qualquer interesse em possuir uma laca com uma “caricatura” sua, mas para os
japoneses os namban-jin representavam uma cultura muito diferente da sua. Estas lacas
eram mais certamente encomendadas por daimyo ricos e provavelmente eram vistas como
objetos “exotica” (Impey e Jörg, 2005). Um outro tipo de decoração que apareceu no
período Momoyama, usado na produção de determinadas lacas para consumo interno, é
a decoração geométrica em finas faixas paralelas (shima) podendo ter ou não incrustações
de madrepérola. Os motivos geométricos são os mesmos usados nas lacas namban ditas
de exportação, como shippo-tsunagi, losangos, axadrezados, entre outros. Este tipo de

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decoração nas lacas do período Momoyama para o mercado doméstico só apareceu depois
do contacto com os portugueses. Acredita-se que esta decoração tenha derivado dos
padrões decorativos da indumentária e têxteis do Sudoeste Asiático e Médio Oriente
comercializados pelos portugueses, que eram considerados novidade para os japoneses.
A datação destas lacas é difícil de acertar, pois não é necessariamente correto que todos
os objetos com este tipo de decoração tenham sido produzidos na altura em que os
portugueses estiveram no Japão. Alguns podem ter sido produzidos ou decorados depois
do édito de expulsão, copiando a iconografia do namban-jin e motivos namban (Romero,
2013).

Pintura Namban

Biombos namban com representação dos namban-jin


Segundo, Romero (2013):
“A palavra byōbu deriva da junção das palavras japonesas byo (proteção contra) e bu
(vento). Para além desta definição etimológica, onde os biombos podiam servir como
pára-ventos em piqueniques japoneses, pelo menos a partir do século XVI os biombos
também funcionavam como autênticas estruturas do lar, servindo de paredes “portáteis”
usadas para dividir grandes áreas interiores (Pinto, 1993). Apesar de a arte de
manufatura de biombos ter vindo da China, no século XVII, os biombos japoneses
diferem dos monumentais biombos chineses pela sua função portátil, tendo tamanhos
mais reduzidos. Os byōbu costumam ser produzidos aos pares (Seton 2004, 36), e podem
variar de tamanho e número de painéis ou leques articulados. Os biombos têm
geralmente o tamanho de um adulto. Os maiores podiam atingir os 190 cm de altura, os
de tamanho médio ficavam-se pelos 150 cm de altura, aproximadamente, e os mais baixos
atingiam apenas cerca de 120cm de altura (Dias, 2008). O inconfundível estilo
decorativo dos biombos dourados tem origem no século XIV, onde se começaram a
produzir os primeiros biombos dourados a folha de ouro ou nas fusuma (portas
deslizantes que integram a arquitetura tradicional japonesa), usados quer em rituais
budistas quer como itens decorativos em casa de homens de estatuto. No período
Momoyama, com a ascensão da classe militar e a necessidade dos daimyo exibirem o seu
poder decorando os seus castelos com objetos sumptuosos, a arte do biombo
desenvolveu-se exponencialmente. Os daimyo encomendavam apenas aos melhores
artistas, e com esta crescente procura, as escolas diversificaram-se e a decoração
especializou-se. Os biombos tornaram-se sinónimos de riqueza e poder e as linhas
defensivas dos castelos dos daimyo eram tão importantes como a fineza dos seus
interiores. Os artistas que produziam os melhores biombos, como os artistas da Escola
de Tosa e da Escola de Kanō, tinham um estatuto equivalente ao artista de corte na
Europa. Deste modo, os biombos dourados produzidos nos séculos XVI e XVII (onde se
incluem os biombos namban), são notoriamente os mais importantes do ponto de vista
histórico e artístico, e frequentemente atingem grandes valores no mercado (Seton,
2004). No final do século XVI, o tema rakuchu rakugai, desdobrar-se-á num outro tema
de género, quase “exótico”, completamente novo até então: o tema namban-jin. Também

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neste período a escola de Kanō Eitoku (1543-1590), desenvolve o estilo konpeki,
caracterizado pelo uso de cores minerais sobre folha de ouro de modo a criar figuras
ricamente coloridas, que se tornará no estilo dominante dos biombos namban,
executados na técnica yamato-e ou combinada. O desenho das nuvens douradas era
usado de forma a combinar diferentes planos e perspetivas horizontais, tornando-se uma
fórmula estilística muito caracterizadora da época, e em especial, dos biombos namban
(Okamoto, 1972). Conhecem-se cerca de noventa e dois biombos namban em todo o
mundo (Christie’s, 2011), que estilisticamente, não diferem muito entre si. Com exceção
dos biombos com selo, a maioria dos biombos não é assinada, mas historiadores
japoneses atribuem-nos à Escola de Kanō, e em menor escala, à Escola de Tosa. Biombos
tardios são geralmente atribuídos à escola de Jokei ou Sumiyoshi. Tendo em conta que
os materiais usados na sua conceção eram caros (o uso da folha de ouro não era
poupado), os clientes principais destes biombos eram sem dúvida daimyo e mercadores
ricos. O elemento decorativo mais importante dos biombos namban é o kurofune ou
Barco Negro, nome com origem na cor dos cascos das naus portuguesas. A grande
importância dada à representação da nau portuguesa não só revela o fascínio e interesse
dos japoneses pela cultura dos portugueses, como também parece estar ligada à
simbologia do takara-bune, o barco majestoso carregado de tesouros e comandado pelos
Sete Deuses da Sorte da mitologia xintoísta que traria fortuna e felicidade às populações.
A seguir à iconografia da kurofune destaca-se a iconografia dos namban-jin, onde os
mercadores portugueses aparecem representados quase como caricaturas de
desproporcionados traços fisionómicos (narizes muito grandes), e roupas
exageradamente pomposas, em contraste com o modesto código de vestuário japonês.
Estes são acompanhados por representações figurativas dos austeros jesuítas,
franciscanos e dominicanos, e toda uma iconografia de mercadorias estrangeiras,
escravos de pele escura de Goa ou África e animais exóticos, cada um executado no mais
atencioso detalhe, sob o ponto de vista do pintor japonês. Os biombos namban são de
facto o elemento mais representativo e conhecido da Arte Namban, tendo até
caracterizados como uma das primeiras imagens que documentam o fenómeno da
globalização iniciado pelos portugueses.
“Os biombos eram executados a partir de desenhos e esboços de machi-echi (artistas de
rua) da Escola de Kanō, que passaram no porto de Nagasaki e assistiram à chegada das
majestosas naus portuguesas e ao comércio namban. Os primeiros biombos namban
datam de 1593, executados pela escola Kanō por encomenda de Toyotomi Hideyoshi
para o seu castelo em Nagaoya, na província de Hizen (Takamizawa 1981). Em termos
de composição, o historiador Tadao Takamizawa (1981), agrupa os biombos namban em
três diferentes grupos estilísticos. Os biombos do primeiro grupo copiam o esquema
original desenhado por Kanō Mitsunobu, e terão sido produzidos entre 1593 e 1605. A
composição destes biombos consiste na representação de um barco português ancorado
no porto e uma cena de descargas de mercadorias no biombo do lado esquerdo, e uma
vista de Nagasaki com uma igreja cristã e um grupo de portugueses no biombo do lado
direito. A produção destes biombos é atribuída às escolas de Kanō Domi e Tosa. O
Museu Nacional de Arte Antiga tem um par de biombos na sua coleção com esta
composição, atribuível a Kanō Domi. Os biombos do segundo grupo são atribuídos à
escola de Kanō Naizen (1570-1615), do qual só se conhecem alguns exemplares no
mundo inteiro, um destes encontrando-se no Museu Nacional de Arte Antiga. Os pares

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de biombos deste grupo apresentam já dois cenários diferentes: as cenas representadas
no primeiro grupo são contidas num só biombo, do lado direito. O biombo do lado
esquerdo ilustra uma cidade estrangeira, provavelmente Macau ou Goa, imaginada pelo
artista, com a nau portuguesa a partir. Os do terceiro grupo são atribuídos a Kanō
Sanraku (1559-1635), e ao seu sucessor Tomonobu (Takagawa, 1981), e a sua produção
enquadra-se no período entre 1606 e 1615. A composição destes pares é semelhante à
anterior, com a diferença de que, no biombo esquerdo, em vez de estar representada a
nau portuguesa a sair do porto da cidade estrangeira, está representada uma cena da
vida quotidiana nessa mesma cidade. Existe um exemplar de Kanō Sanraku no Museu de
Arte Suntory. Por último, Tadao Takamizawa refere que existem outros, produzidos já
após a expulsão dos portugueses, durante a segunda metade do século XVII, mas
considera-os “artisticamente de qualidade inferior”. Estes biombos copiam os esquemas
de composição anteriores, mas a representação dos portugueses aparece
“descaracterizada” (Pinto, 1996), apresentando feições asiáticas. A nau portuguesa é
muitas vezes representada como um junco chinês. Takamizawa justifica a
descaracterização dos namban-jin com o facto de que os artistas que pintaram estes
biombos nunca terem visto os portugueses, ao contrário dos anteriores. O Museu
Nacional de Arte Antiga possui um biombo namban (o segundo de um par), na sua
coleção datável da segunda metade do século XVII”.
Como o autor Newton Ribeiro Machado Neto (2017), refere:
“Nos biombos namban, as técnicas tradicionais de desenho e pintura japonesa são
utilizadas para retratar de forma detalhada a chegada dos navios portugueses. Cada painel
conta uma parte da história, como é possível observar em um conjunto formado por dois
painéis de seis folhas, mantido no Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. As
pinturas são um registo fiel do momento e permitem conhecer em detalhes os trajes, a
hierarquia e os costumes dos portugueses, conforme observados pelos japoneses”.

Figura 11: A Chegada dos Europeus, biombo 1. Escola Kano, início do séc. XVII. Fonte: Newton Ribeiro
Machado Neto (2017), Olhares Cruzados.

No primeiro biombo, é mostrada a chegada do navio mercante português em um porto


japonês não identificado. As velas da nau estão baixadas e pequenos botes são utilizados
para desembarcar as pessoas e as mercadorias. Na praia, o desembarque é observado por
dois oficiais, acompanhados por um criado indiano e por um par de religiosos

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franciscanos. As caixas com as mercadorias são empilhadas em uma praia cercada de
pinheiros. Os botes são tripulados por criados indianos e africanos, todos vestindo o
mesmo tipo de calças que os oficiais e marinheiros, mas em tecidos mais simples. No
navio, um grupo de oficiais conversa animadamente em torno de uma mesa, enquanto
alguns marinheiros e criados descansam no convés e outros observam a paisagem do cesto
da gávea. Os portugueses são invariavelmente retratados com grandes narizes, usando
barbas e com a cabeça coberta por chapéus. A pintura é dividida em diversos planos por
nuvens douradas, que eram usadas na pintura clássica japonesa como um recurso para
integrar na mesma imagem cenas ocorridas em locais e momentos diferentes (Neto,
2017).

Figura 12: A Chegada dos Europeus, biombo 2. Escola Kano, início do séc. XVII. Fonte: Newton Ribeiro
Machado Neto (2017), Olhares Cruzados.

O segundo biombo mostra o cortejo do capitão do navio e sua tripulação caminhando pela
cidade portuária. Em uma casa da feitoria, um funcionário português e seus empregados
registam os fardos de seda trazidos pelo navio. No alto da imagem, padres jesuítas e
franciscanos aparecem conversando com fiéis em uma igreja católica. Ao contrário do
outro biombo, que mostra apenas os tripulantes do navio, neste aparecem vários
japoneses, samurais, famílias e monges budistas, a observar atentamente a passagem dos
europeus pela cidade. Na frente do cortejo, são mostradas três mulheres em trajes
chineses, o que é historicamente incorreto, pois as primeiras mulheres trazidas pelos
europeus ao Japão foram as integrantes da família do diretor holandês do entreposto
comercial de Dejima, no início do século XIX. Além das imagens dos portugueses, outro
tema recorrente nos biombos namban eram os mapas-mundi, denotando o interesse dos
japoneses pelo mundo exterior que se abria a partir dos contatos iniciados no século XVI
(Neto, 2017).

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Figura 13: Biombo com Mapa Mundi, início do séc. XVII. Fonte: Newton Ribeiro Machado Neto (2017),
Olhares Cruzados.

Biombos cartográficos
Após a criação de um seminário de pintura pela Companhia de Jesus no Japão (Campos
2007, 233-224), parecem ter surgido os mapa-mundi e biombos cartográficos, onde os
artistas japoneses copiam a partir de mapas, gravuras e pinturas publicadas na Europa no
século XVI, trazidos pelos portugueses, de escola flamenga. Os biombos cartográficos
destacam-se de toda a produção no ponto de vista artístico em comparação com os vários
mapas e documentos cartográficos. Segundo Charles Boxer (1936, 27), a execução de
mapas do Japão e mapas-mundi em forma de biombos era provavelmente encomendada
por daimyo cristãos ricos ou simpatizantes. Embora detalhados, muitos destes mapas
produzidos em forma de biombos nem apresentavam sequer a nomenclatura, reduzindo-
os à sua mera função decorativa (Romero, 2013).
A introdução dos mapas-mundi com a chegada dos portugueses revelou ser um
acontecimento importante porque até à segunda metade do século XVI, o mundo que o
Japão conhecia não ia para além da China e da Índia (Okamoto, 1972). (Romero, 2013)
Conhecem-se exemplos magníficos desta pequena vertente de pintura em biombo no
Japão, todos pertencentes a coleções museológicas como o par de biombos de seis folhas
que retratam os “Costumes Sociais Europeus” no Museu de Arte MOA em Atami, ou o
par de biombos de quatro folhas que nos mostram “Quatro Reis Ocidentais” no Museu de
Arte Suntory. Ao contrário dos conhecidos biombos namban, estes biombos são
primariamente executados em cores vivas de aguarela sobre papel de arroz e o desenho
segue os cânones pictóricos ocidentais, executados por alunos provenientes da Escola de
Kanō formados nas escolas de pintura jesuítas no início de 1590 (Okamoto 1972).
(Romero, 2013)
Pinturas de devoção para altares portáteis e ex-voto
Os oratórios namban, eram fabricados para conter uma escultura ou pintura no interior.
A origem dessas pinturas não se sabe ainda, mas Maria Helena Pinto (1990, 64), afirma
que estas pinturas eram copiadas de originais trazidas por jesuítas e pintadas por
discípulos japoneses em escolas inauguradas no Japão. Pedro Cancela Abreu (2008: 57),
escreve que as pinturas “eram realizadas na Índia ou no Japão por artistas locais, sob
orientação de um pintor europeu”. No entanto, Pedro Dias (2008, 53), argumenta que
muitas destas pinturas religiosas, geralmente executadas em óleo sobre cobre, têm a sua
origem possivelmente em Portugal, e não são propriamente da oficina de Giovanni
Niccolo no Japão. Segundo o autor, é provável que estas pinturas tenham chegado ao
Japão por meio dos padres da Companhia de Jesus que tenham sido reaproveitadas na
construção dos oratórios. Alexandra Curvelo (2007, 418), avança ainda que, tendo em
conta a qualidade superior de algumas destas pinturas religiosas, alguns oratórios podem
ter origem no contexto da Nova Espanha, e que a sua encomenda, neste caso, podia não
ser exclusiva da ordem dos jesuítas, mas também da ordem dos franciscanos. Os ex-votos
são outro grupo de pinturas devocionais presentes na Arte Namban, mas os exemplares
são escassos. O termo refere-se a pinturas votivas a têmpera sobre uma tábua de madeira.
O templo budista Kiimizu em Kyoto, conserva diversos exemplares destas tábuas, cuja
pintura pode “significar uma oferta para tornar propícia a divindade protetora como um

24
agradecimento, qual ex-voto católico, por benesse implorada e concedida” (Canavarro
1990: 46). (Romero, 2013)
A pintura namban tem sobretudo um carácter religioso e litúrgico. Do mesmo modo a
escultura. Com a chegada dos primeiros missionários da companhia de Jesus no final do
século XVI, estes trouxeram consigo imagens de representações religiosas de Cristo e dos
Santos. Tanto a escultura como a pintura namban são um tema muito pouco estudado e
escasso devido às perseguições que se fizeram sentir aos cristãos no período das
proibições (DIAS, Pedro 2008).

Escultura Namban
Relativamente à escultura, esta podia ter sido importada da Europa ou mandada fazer no
Japão por artífices. Mais tarde, durante as perseguições, os católicos japoneses vão fazer
pequenas figurinhas de Kuan-Yin, que era uma divindade budista, mas que os cristãos
confundiram com a virgem Maria e o seu filho, o que permitiu que se rezasse em segredo
sem levantar suspeitas. Existem mais exemplares de escultura feita com técnicas
orientais, mas com representações ocidentais, como é o caso de um Cristo representado
numa igreja de Sevilha (DIAS, Pedro 2008).
Esculturas cristãs
Conhece-se alguns Meninos-Jesus de marfim, numa posição deitada e “serena”, os quais
(Felgueiras 1991: 22), descreve da seguinte forma: “cabeça esférica, pescoço curto, nariz
lardo e achatado, orelhas anatomicamente perfeitas e naturais, corpo exageradamente
refegado, especialmente nos punhos e tornozelos.” No mesmo texto, o autor descreve
também as dificuldades em identificar estas esculturas geograficamente devido às suas
semelhanças com as produções chinesas da época. Os jesuítas terão levado algumas obras
escultóricas para a prática do culto, como os oratórios portáteis com esculturas no interior.
Artífices locais teriam copiado a partir dessas esculturas e produzido outros exemplares
semelhantes. Pedro Dias (2008, 43), refere a existência de um Cristo em marfim de 15
cm no Museu Nacional de Tóquio, que pela sua qualidade inferior poderia ser uma
produção local (Romero, 2013).
Esculturas profanas
Conhecem-se muito poucos exemplos de estatuária fabricados nesta época. Todas as
peças que se conhecem são de pequenas dimensões ou portáteis, e retratam as figuras de
namban-jin, geralmente fazendo alguma atividade associada ao (estrangeiro). Pedro Dias,
ilustra dois exemplos de escultura profana retratando portugueses, um tocando flauta,
outro carregando uma bilha (Dias 2008, 43-45). (Romero, 2013)

Objetos para uso militar


Segundo, Romero (2013):
“Durante o sangrento século XVI japonês, com a emancipação de uma classe militar
poderosa e aristocrata, a procura por armamento e arreios de cavalos de alta qualidade

25
executados com rapidez para equipar os exércitos pessoais dos daimyo aumentou. Selas
e estribos com decoração requintada a condizer já faziam parte do equipamento standard
de um senhor militar no período Momoyama (Welsh e Vinhais (eds.), 2008), e as de
decoração da tsuba, ou guarda de sabre, começaram a ser desenvolvidas durante o final
do período Muromachi (1333-1573), culminando no período Edo. Conhecem-se tsuba
com motivos namban e cristãos, tal como armaduras de samurai e capacetes (kabuto).
Existem também koshirae (decoração ornamental exterior), de espadas com motivos
namban. Oliver Impey e Christiaan Jörg (2005, 202, ills. 488-490), ilustram um exemplar
de um mosquete com decoração de folhagens namban de uma coleção privada em Lisboa.
Por último, as máscaras faciais de guerra (somen), representando rostos de portugueses,
cujos exemplares no mercado são raríssimos (Welsh e Vinhais (eds.), 2008, 104-9)”.

Figura 14: Arcabuses japoneses, produzidos no período Edo (1615-1868). Fonte: Newton Ribeiro
Machado Neto (2017), Olhares Cruzados.

Figura 15: Armaduras samurai de inspiração portuguesa (Namban Yoroi), do século XVII. Fonte: Newton
Ribeiro Machado Neto (2017), Olhares Cruzados.

26
Outros itens como as guardas de espada (tsuba), também incorporaram a estética namban.
Nos exemplos a seguir, a tsuba ao centro traz um desenho gravado mostrando dois
portugueses acompanhados de um cachorro. À esquerda e à direita, são mostradas duas
tsuba com motivos de cruzes, indicando a fé católica de seus possuidores (Neto, 2017).

Figura 16: Guardas de espada (tsuba), com motivos namban. Fonte: Newton Ribeiro Machado Neto
(2017), Olhares Cruzados.

Traje namban
A palavra japonesa jibon (calças), deriva da palavra portuguesa “gibão”. Existem alguns
exemplares de roupas japonesas inspiradas nas roupas dos europeus ou com motivos
namban, publicados em “Traje Namban” pelo Instituto Português de Museus, Lisboa,
1994 (Romero, 2013).

Cerâmica namban
O século cristão no Japão coincidiu com o desenvolvimento da cerimónia do chá, e os
missionários que se instalavam no Japão e se tentavam integrar na cultura japonesa
entendiam a sua importância. Valignano ordenou que todos os missionários deviam ter
um conjunto completo de chá e uma sala equipada própria para este passatempo
(Guitérrez, 1971). Serviços de chá em cerâmica karatsu, oribe e raku com símbolos
cristãos ainda prevalecem em algumas coleções no Japão, mas devido à sua raridade, é
possível que a grande maioria destes objetos tenham sido destruídos com as perseguições
cristãs. Para o mercado doméstico, existe um tokkuri (garrafa de sake), de cerâmica de
Awata com decoração retratando namban-jin na coleção do Metropolitan Museum of Art
(inv. 1975.325.6). Não existem estudos sobre este assunto (Romero, 2013).
Outros
As peças decoradas com motivos europeus tornaram-se bastante populares entre as elites
japonesas. Além dos biombos, a arte namban passou a decorar outros objetos da vida
cotidiana, como caixas, frascos, bolsas e acessórios de vestuário (Neto, 2017).

27
Figura 17: Netsuke (fivela), retratando um português e o seu servo; Figura 13: Inro (estojo), com motivos
namban; Figura 14: Frasco de saquê com imagem de portugueses. Fonte: Newton Ribeiro Machado Neto
(2017), Olhares Cruzados.

Figura 18: Tebako (caixas sobrepostas), decorada com motivos namban; Figura 16: Estojo de caligrafia
decorada com cena retratando os portugueses. Fonte: Newton Ribeiro Machado Neto (2017), Olhares
Cruzados.

28
Figura 19: Oratório namban com imagem da Virgem com o Menino. Escola de Giovanni Niccolò, séc.
XVII. Fonte: Newton Ribeiro Machado Neto (2017), Olhares Cruzados.

Figura 20 – Arca namban com duas gavetas na base,


decoração em laca ilustrando reservas de namban karakusa em fundos preenchidos por madrepérola
incrustrada. Circa1600. Proveniência: Coleção do Príncipe de Ligne do Château de Belœil. Lote 64,
Leilão PF1201 “Important Mobilier, Sculptures et Objets d’Art”, Sotheby’s, Paris, 20 de abril de 2012.

Figura 21 - Bandeja retangular de cantos recortados


em estilo namban com decoração representando cena do Conto de Genji, Dim.: 76,3 x 40,7 cm. Lote 17,

29
Leilão 6215 “Netsuke & Lacquer from the Japanese Department of Eskenazi”, Christie’s, Londres, 17
novembro 1999.

Figura 22 – Baú namban com pele de raia na decoração exterior. Interior com pintura de crustáceos sobre
laca negra. Dim.: 29,5 x 46 x 25 cm. Lote 114, Leilão 101, Palácio do Correio Velho, Lisboa, 3 de junho
de 2002.

Figura 23 – Caixa retangular de cantos arredondados


com um escudo heráldico (mon), na decoração da tampa, e painéis de shippo-tsunagi nas faces, século
XVI/XVII. Dim.: 39 cm. Lote 38, Leilão 7416 “Japanese Art and Design and the Francois Storno
Collection of Netsuke”, Christie’s Londres, 16 de maio de 2007.

Figura 24 – Tabikushibaku (necessaire de


viagem), século XVII. Dim: 13 x 22,4 x 16,6 cm. Lote 49, Leilão 6821 “Fine European Furniture,
Sculpture, Tapestries and Carpets.”, Christie’s Londres, 13 de novembro de 2003.

30
Figura 25 – Caixa-cofre com tampa de levantar
ligeiramente abaulada. Este objeto apresenta motivos decorativos muito comuns nas lacas namban: bandas
de “chevrons” a rematar as arestas, motivos axadrezados na decoração da tampa, e painéis retangulares e
cartelas ao centro das faces e da tampa com animais envoltos por densos enrolamentos de namban karakusa.
Século XVI/XVII. Dim.: 19,5 x 36 x 21,5 cm. Lote 113, Leilão 78 “Pintura, Antiguidades, Obras de Arte
e Pratas”, Cabral Moncada Leilões, 6 de março de 2006.

Figura 26 – Cofre namban. Decoração representado uma cena da História de Genji executada em várias
técnicas (hiramaki-e, usu-niku-takamaki-e, heidatsu, tsukemaki, nashiji e kirikane), ouro e prata sobre
laca negra. Com inscrição “MOROCAUA LUÍS,”. Período Edo, meados do século XVII. Dim: 23,3 cm.
Lote 99, Leilão 6099 “Japanese Art & Design”, Christie’s Londres, 2 de junho de 2011.

31
Figura 27 –Cofre em laca namban com
decoração típica representando painéis de namban karakusa divididos por faixas de madrepérola
incrustada, e bandas de losangos em madrepérola e maki-e a rematar as arestas. Século XVI. Dim.: 15,5 x
22,5 x 13 cm. Lote 266, Leilão 219 “Antiguidades”, Palácio do Correio Velho, Lisboa, 4 de novembro de
2009.

Figura 28 – Contador do estilo “Ambras”, com


nove gavetas iguais aparentes e sete reais (duas são ilusórias), séc. XVI. Dim.: 32,3 x 45,5 x 30,5 cm.
Lote 601, Leilão 2433 “Chinese and Japanese Ceramics and Works of Art”, Christie’s Amesterdão, 19 de
outubro de 1999.

32
Figura 29 – Escritório de grandes dimensões com decoração
lacada namban karakusa e painel central com insígnia jesuíta (provavelmente proveniente de uma estante
de missal), século XVI. Suporte provavelmente de fabrico chinês. Lote 258, Leilão 7553 “The Bob Moore
Collection of Japanese Art and Design”, Christie’s, Londres, 5 de novembro de 2007.

Figura 30 – Mesa de formato europeu com decoração em


laca namban desgastada, século XVI/XVII Dim.: 36,2 x 56,5 x 43,5cm. Lote 126, Leilão 6385 “Japanese
Art and Design”, Christie’s, Londres, 16 de novembro de 2000.

Figura 31 - Par de tokkuri (garrafas de sake) namban. O Museu


Nacional de Kyoto dispõe um conjunto de 6 tokkuri muito semelhante a este, datado de finais do séc. XVI.
(Christie’s, 1997). Lote 621, Leilão 5807 “Japanese Lacquer”, Christie’s, Londres, 19 de junho de 1997.

33
Figura 32 – Oratório namban em forma de tabernáculo hexagonal. Dim.: 58 cm.
Fotografia retirada de Jorge Manuel da Silva Gonçalves (1996-97), “Lacas Namban”, p.77.

Figura 33 – Estante de missal nambam com


insígnia IHS ao centro, século XVI. Base e reverso com decoração namban karakusa rodeada por padrão
geométrico. Dim.: 35,1cm. Lote 622, Leilão 5807 “Japanese Lacquer”, Christie’s, Londres, 19 de junho de
1997.

Figura 34 – Menino-Jesus deitado em marfim, século XVII. Escultura cingalo-


portuguesa ou namban. Dim.: 22 cm. Lote 120, Leilão 158 “Especial II”, Palácio do Correio Velho, Lisboa,
9 de maio de 2006.

34
Figura 35 – Escultura bifronte, representando figura de mercador
português numa face figura de jesuíta na outra face. Dim.: 12,5 cm. Lote 205, Leilão 83 “Pintura,
Antiguidades, Obras de Arte e Pratas”, Cabral Moncada Leilões, Lisboa, 6 de novembro de 2006.

Figura 36 – Fumi-e em bronze dourado, montado numa placa de madeira, com


decoração representando Cristo crucificado. Lote 835, Leilão 2426 “Japanese & Korean Art”, Christie’s,
Nova Iorque, 23 de março de 2011.

Figura 37 – Inrō com decoração a dourado sobre laca negra


representado um pavão, e as palavras Zun de um lado (sol em holandês), e Maan (“lua” em holandês), do
outro lado. Ojime de metal em forma de cruz e netsuke de porcelana representando um barco de
mercadorias europeu. Contém na interior placa de madeira entalhada representando a Virgem e o Menino
de um lado e Cristo crucificado no outro lado. Assinado Shonzui. Século XVIII. Dim.: 8,3 cm. Lote 3015,
Leilão 17513 "Fine Japanese Works of Art”, Bonhams, Nova Iorque, a 16 de setembro de 2009.

Figura 38 – Taça japonesa em laca possivelmente namban. Dim.: 6,5 x


11 cm. Lote 268, Leilão 109 “Antiguidades e Obras de Arte Pintura, Pratas e Jóias”, Cabral Moncada
Leilões, Lisboa, 29-28 de setembro de 2009.

Conclusão:
Como se pode concluir neste trabalho, sem dúvida o Namban mono (as coisas dos
bárbaros do Sul), atraíram o povo japonês, tal como Daniela de Carvalho (2000), refere,
uma vez que os portugueses impressionavam bastante os japoneses, não só pelas suas

35
vestes e trajes da época, como o seu grande conhecimento que influenciou tanto a cultura
como a própria identidade do Japão, levando muitos artistas da altura a retratarem-nos
nas suas obras. Acredito que a intolerância pelo “outro e o diferente”, nomeadamente as
diferenças culturais eram sentidas mutuamente e, passado o fascínio inicial dos japoneses,
eles começam por se questionar sobre a “estranheza” dos costumes estrangeiros que à
primeira partida pareciam ser semelhantes, principalmente no que tocava em relação à
questão da honra. Ao ressentirem este grande conjunto de transformações que assentavam
no país, a “diferença” começa por ser usada para construir o Cristianismo como a religião
do “outro” e o Japão fecha-se no seu próprio mundo para procurar “respostas” e perceber
“quem é” no meio de todas estas pessoas e informações novas. Sendo o Japão, um país
dividido entre senhores feudais e a guerra, para conseguir a unificação e formar uma
nação, era necessário pensar e trabalhar a sua consciência nacional que só se inicia com
a identificação dos Europeus e os Cristãos - os Namban-jin. A meu ver, as culturas
nacionais constroem as suas identidades através do “olhar para o outro e comparar”, pois,
ao definirem o “outro”, eles autodefinem-se, daí ser necessário por parte do Japão, um
contacto diferente com outros povos que não os Asiáticos, mas sim os Europeus. Foi
bastante óbvio ao longo do meu estudo, a oscilação entre a total aceitação e total rejeição
da cultura estrangeira, com influência da China, que acreditava que todos eram “bárbaros”
em comparação com eles.
Como Beatriz Shizuko Takenaga em “A Cultura Namban” diz, o ano de 1549 marca o
início da Cristianização no Japão, com a chegada de São Francisco Xavier (1506-1552).
Com ele, inicia-se a conversão de fiéis à fé cristã e o processo de introdução da cultura
europeia. Esta cultura, levada ao Japão entre os meados do século XVI e a primeira
metade do século XVII, recebe o nome de Namban Bunka – a Cultura Namban. Este
termo, serviu para designar os portugueses, espanhóis e italianos dos holandeses e
ingleses que foram ao Japão meio século depois. Este conceito não se refere apenas aos
costumes e hábitos europeus, como também às suas artes e ciências europeias difundidas
pelos jesuítas.
De todas as artes referidas ao longo do trabalho, a Arte Namban, sem dúvida tem o
destaque principal, até por ser a representação e imagem destes indivíduos que
revolucionaram a visão tradicional japonesa. Destaco em particular a pintura, muito
relacionada com a arte ocidental, criada durante o século cristão que também foi muito
importada. Ela é dividida em duas categorias: a primeira, é dividida pelos trabalhos
introduzidos pelos missionários ou a sua execução sob a orientação dos europeus,
resultando em trabalhos geralmente de temas religiosos e a segunda, os trabalhos dos
artistas japoneses que utilizam as suas técnicas tradicionais para pintar sobre temas como
os costumes europeus, as batalhas entre europeus e mouros e vistas de cidades famosas,
como Sevilha, Roma e Lisboa. Estes trabalhos eram influenciados pelas pinturas da escola
italiana, espanhola e flamenga. Através da pintura, podemos perceber que detalhes da
vida europeia mais chamava atenção aos japoneses, sendo um objeto de estudo muito
pertinente. Fora da arte pictórica, têm-se também os objetos decorativos laqueados, peças
de cerâmica, etc. destacando das cerâmicas a cerimónia do chá. A música profana,
religiosa e europeia também é introduzida e nas escolas dos jesuítas eram ensinadas hinos
e canções religiosas, introduzidas provavelmente pelas orquestras e bandas de
marinheiros portugueses. A influência portuguesa é também notável no urbanismo e
arquitetura dos castelos feudais, como por exemplo o Castelo de Osaka. Graças ao hábito
36
dos portugueses em presentearem os senhores feudais, os japoneses têm também
oportunidade de conhecer e contactar com muitos objetos ligados aos hábitos europeus,
como por exemplo, as armas de fogo.
Mesmo com a censura jesuíta que se fez sentir, e na mesma, graças a ela, a Arte Namban
foi a chave para perceber o impacto deste contacto, não só a níveis de comércio, como
culturais e religiosos, observando pelos numerosos trabalhos produzidos pelos jesuítas e
pelos japoneses, a maioria com destino às elites locais. Sem dúvida, a relação entre os
portugueses e japoneses foi duradora, e estes missionários levaram a cabo ideais, dentro
de outros fatores que permitiram uma evolução constante deste país em todos os sentidos.

Notas Finais / Estudos Futuros


Definindo-se a Arte Namban pela influência da presença lusa em território nipónico, tal
como (Ribeiro, 2018), refere, e manifestando-se de diversas formas, como nos biombos,
objetos de carácter religioso, etc. As pinturas são realizadas numa estrutura leve,
constituída por diversas camadas de papel com um fundo de folha de ouro, inserido numa
grade de madeira que, de acordo com Maria Helena Mendes Pinto (1986), estes biombos
são normalmente constituídos por seis folhas articuláveis, com duas unidades de modo a
formar um par e a narrativa do primeiro prossegue no segundo. Nestes biombos observa-
se o ponto de vista oriental da história portuguesa, tornando não só a pintura como todos
os objetos relacionados à Arte Namban, fortes fontes de estudo que devem ser realizadas
futuramente, à medida que se analisa mais documentos históricos e se descobre mais
destas antiguidades. O contacto entre japoneses e portugueses traduz-se no choque de
duas culturas diferentes, e isso observa-se mais uma vez nos biombos, que os seus
desenhos quase parecem uma caricatura deste povo, exagerando muitas vezes nos
detalhes, seja pelo espanto ou como forma de se diferenciarem-se/individualizarem-se ou
criarem a sua própria identidade em contraste com os europeus. Nos motivos
representados, a Nau que efetuava a ligação de Macau ao Japão é recorrente aparecer, o
que atribui importância à atividade tanto religiosa como comercial. Através da Arte
Namban, podemos ir mais além, porque dentro dela está os reflexos e metáforas, da
junção de dois estilos de vida diferentes, filosofias, pensamentos, e passados históricos
muito diferentes um do outro, permitindo perceber o impacto e as mudanças que
ocorreram com estas conexões, e em como cada um dos lados foi enquadrado na
sociedade da época.

37
Bibliografia
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