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1.

ª edição

AS GÍRIAS E O VOCABULÁRIO PRISIONAL COMO UM


MECANISMO IDENTITÁRIO E CULTURAL NO SISTEMA
PRISIONAL DO RS

ISBN 978-65-6054-066-8
Autores

Givago Martin de Souza


Roger Rodrigues Islabão
Augusto Rostirolla
Leonardo Mattos
Adriano Dias de Oliveira
Jeronimo Prade da Silva

AS GÍRIAS E O VOCABULÁRIO PRISIONAL COMO UM


MECANISMO IDENTITÁRIO E CULTURAL NO
SISTEMA PRISIONAL DO RS
1.ª edição

SÃO PAULO
EDITORA ARCHE
2024
Copyright © dos autores e das autoras.

Todos os direitos garantidos. Este é um livro publicado em acesso aberto, que permite uso, distribuição e
reprodução em qualquer meio, sem restrições desde que sem fins comerciais e que o trabalho original seja
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Editora: Dra. Patricia Ribeiro


Produção gráfica e direção de arte: Ana Cláudia Néri Bastos
Assistente de produção editorial e gráfica: Talita Tainá Pereira Batista
Projeto gráfico: Ana Cláudia Néri Bastos
Ilustrações: Ana Cláudia Néri Bastos e Talita Tainá Pereira Batista
Revisão: Ana Cláudia Néri Bastos e Talita Tainá Pereira Batista
Tratamento de imagens: Ana Cláudia Néri Bastos

EQUIPE DE EDITORES
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Os autores se responsabilizam publicamente pelo conteúdo desta obra, garantindo que o mesmo é de autoria
própria, assumindo integral responsabilidade diante de terceiros, quer de natureza moral ou patrimonial, em
razão de seu conteúdo, declarando que o trabalho é original, livre de plágio acadêmico e que não infringe
quaisquer direitos de propriedade intelectual de terceiros. Os autores declaram não haver qualquer interesse
comercial ou irregularidade que comprometa a integridade desta obra.
APRESENTAÇÃO

Temos o prazer de apresentar o livro digital intitulado "As

Gírias e o Vocabulário Prisional como um Mecanismo Identitário

e Cultural no Sistema Prisional do RS", uma obra que se divide

em três capítulos e se dedica a uma investigação profunda sobre

o uso de gírias e vocabulário específico no contexto prisional do

Rio Grande do Sul, destacando sua importância como elementos

identitários e culturais entre os privados de liberdade.

No primeiro capítulo, adentramos o conceito de gíria, sua

definição e sua relevância dentro das comunidades linguísticas.

Analisamos minuciosamente a origem e a disseminação das

gírias em diferentes grupos sociais, incluindo o ambiente

prisional, ressaltando seu papel na construção de identidades

grupais e na comunicação interpessoal.

Já no segundo capítulo, intitulado "A Relação entre Gíria e

o Grupo dos Privados de Liberdade no Estado do RS",

exploramos a conexão entre as gírias e o grupo dos privados de


liberdade no estado gaúcho. Investigamos o uso cotidiano das

gírias nas prisões, sua evolução ao longo do tempo e sua

importância dentro da subcultura carcerária, além de

discutirmos como as gírias podem refletir aspectos socioculturais

e políticos do ambiente prisional.

No terceiro e último capítulo, aprofundamos a análise

sobre o papel das gírias e do vocabulário prisional como

mecanismos identitários e culturais. Exploramos como esses

elementos linguísticos contribuem para a construção e

manutenção de identidades individuais e coletivas entre os

detentos, bem como para a preservação de tradições culturais

próprias do ambiente carcerário.

Ao longo de toda a obra, oferecemos uma visão

abrangente e detalhada sobre o tema, embasada em uma

pesquisa minuciosa e em uma análise crítica fundamentada em

teorias sociolinguísticas e estudos antropológicos. Esperamos

que este livro contribua significativamente para uma


compreensão mais ampla e sensível da complexidade da

linguagem e da cultura no contexto prisional do Rio Grande do

Sul.

Desejamos a todos uma excelente leitura e reflexão sobre

os temas abordados.

Os autores,
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 24

GÍRIA 28

A RELAÇÃO ENTRE GÍRIA E O GRUPO DOS PRIVADOS DE


LIBERDADE NO ESTADO DO RS 31

AS GÍRIAS E O VOCABULÁRIO PRISIONAL COMO UM


MECANISMO IDENTITÁRIO E CULTURAL 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS 53

REFERÊNCIAS 57

ÍNDICE REMISSIVO 60
AS GÍRIAS E O VOCABULÁRIO PRISIONAL COMO
UM MECANISMO IDENTITÁRIO E CULTURAL NO
SISTEMA PRISIONAL DO RS

12
PRISON SLANG AND VOCABULARY AS AN
IDENTITY AND CULTURAL MECHANISM IN THE
PRISON SYSTEM OF RS

13
JERGA Y VOCABULARIO CARCELARIO COMO
MECANISMO IDENTITARIO Y CULTURAL EN EL
SISTEMA PENITENCIARIO DE RS

14
RESUMO

Os privados de liberdade pertencem a um grupo formado por

indivíduos excluídos da sociedade por praticaram atos ilícitos

que apresentam algo em comum, no caso a condição em que se

encontram, e utilizam-se de vocábulos e gírias como um meio

alternativo para se comunicarem. Assim como a cultura, a gíria

no sistema prisional é uma construção histórica decorrente de

relações e podem ser entendidas como um mecanismo de

defesa dos apenados, mas ao mesmo um manifesto de

pertencimento e identitário. Mas muito além da criminologia,

do criminoso, do sistema prisional e da sociedade, há uma

cultura prisional, uma relação entre os presos e a prisão, ou seja

o meio que estão inseridos, ou no caso, detidos. Local este onde

são enraizadas práticas e culturas que unificam, identificam e

distinguem os apenados do resto da sociedade.

Palavras chave: Gíria. Cultura. Sistema Prisional.

15
ABSTRACT

Deprived of liberty belong to a group formed by individuals

excluded from society for having committed illicit acts that have

something in common, in this case the condition in which they

find themselves, and they use words and slang as an alternative

means to communicate. Like culture, slang in the prison system

is a historical construction resulting from relationships and can

be understood as a defense mechanism for inmates, but at the

same time a manifest of belonging and identity. But far beyond

criminology, the criminal, the prison system and society, there is

a prison culture, a relationship between prisoners and prison,

that is, the environment in which they are inserted, or in this

case, detained. This place is where practices and cultures that

unify, identify and distinguish the inmates from the rest of

society are rooted.

Keywords: Slang. Culture. Prison System.

16
RESUMEN

Los privados de libertad pertenecen a un grupo conformado por

individuos excluidos de la sociedad por haber cometido actos

ilícitos que tienen algo en común, en este caso la condición en

la que se encuentran, y utilizan palabras y jergas como medio

alternativo para comunicarse. Al igual que la cultura, el argot en

el sistema penitenciario es una construcción histórica resultado

de las relaciones y puede entenderse como un mecanismo de

defensa de los internos, pero al mismo tiempo un manifiesto de

pertenencia e identidad. Pero mucho más allá de la

criminología, lo criminal, el sistema penitenciario y la sociedad,

existe una cultura carcelaria, una relación entre los presos y la

cárcel, es decir, el entorno en el que se insertan, o en este caso,

detenidos. Este es un lugar donde arraigan prácticas y culturas

que unifican, identifican y distinguen a los presos del resto de la

sociedad.

Palabras clave: Argot. Cultura. Sistema penitenciario.

17
INTRODUÇÃO

18
1 INTRODUÇÃO

A Sociologia, um dos ramos das Ciências Sociais, busca

entender o comportamento humano, como se organiza, se

estrutura, e convive. Muito se fala sobre criminalidade, violência

urbana, tráfico de drogas e corrupção. A criminologia é a ciência

que estuda os crimes e os criminosos, isto é, a criminalidade. A

criminologia não estuda apenas o crime, mas também as

circunstâncias sociais, a vítima, o criminoso, o prognósticos

delitivo etc.

Mas muito além da criminologia, do criminoso, do

sistema prisional e da sociedade, há uma cultura prisional, uma

relação entre os presos e a prisão, ou seja o meio que estão

inseridos, ou no caso, detidos. Local este onde são enraizadas

práticas e culturas que unificam, identificam e distinguem os

apenados do resto da sociedade.

Muitas destas práticas culturais ou locais que existem

19
dentro do sistema prisional são as gírias e o vocabulário prisional

como um mecanismo indenitário e cultural que transcende a

noção de código secreto. Além de uma linguagem que foge à

compreensão daqueles que nela não estão inseridos, a gíria

estabelece também uma maneira de identificar participantes

desse mundo e garantir a unidade de comunicação.

De acordo com a SUSEPE (Superintendência dos

Serviços Penitenciários) o RS possui hoje uma população

prisional de 43.353 presos distribuídos em 114

estabelecimentos prisionais.

As gírias e o vocabulário carcerário se originam quase

sempre de palavras do cotidiano dos presos submetidos à

necessidade de comunicação. Assim, havendo a necessidade e

a oportunidade, surge uma palavra nova ou é reinvestida de

significado.

Muitas gírias mudam de estabelecimento para

estabelecimento, de Estado para Estado, mas muitos termos

20
ultrapassam fronteiras territoriais e se enraízam na linguagem de

todas as pessoas. Este artigo busca analisar as expressões,

vocábulos e gírias usadas por detentos do RS e seu mecanismo

identitário e cultural.

21
GÍRIA

22
2 GÍRIA

Segundo Petri (2001) a palavra gíria (argot, em francês)

foi relacionada em 1628 à confraria dos indigentes, mendigos.

Mais tarde, seria definida como a linguagem específica de um

grupo social que a utiliza, até mesmo como forma de

manutenção deste grupo do qual faz parte.

Para Bagno (2005) a gíria pode ser considerada como

um conjunto de unidades linguísticas que caracterizam um

determinado grupo social, nem sempre mereceu um estudo

específico, visto que faz parte, predominantemente, da

modalidade oral da língua e informal.

Conforme Nascentes (2003) o conceito de gíria

demorou para ter um estudo mais aprofundado pelo fato que

esta tende para o vocabulário especial de criminosos,

contrabandistas, vadios e outras pessoas de índole duvidosa.

A gíria é um tipo de linguagem que surge restrita a

23
determinado grupo, como um código, que com o passar dos

anos invade a sociedade sendo utilizada pelas pessoas de forma

inconsciente, impendentemente da idade ou nível social da qual

fazem parte, tornando seu uso muito frequente em qualquer

situação de interação (PETRI, 2001).

A gíria portanto, é uma forma de manifestação da

cultura, manifestada linguisticamente.

24
A RELAÇÃO ENTRE GÍRIA E O GRUPO DOS
PRIVADOS DE LIBERDADE NO ESTADO DO RS

25
3. A RELAÇÃO ENTRE GÍRIA E O GRUPO DOS
PRIVADOS DE LIBERDADE NO ESTADO DO RS

A Superintendência dos Serviços Penitenciários

(SUSEPE), subordinada à Secretaria de Justiça e Sistemas Penal

e Socioeducativo (SJSPS), é o órgão estadual responsável pela

execução administrativa das penas privativas de liberdade e das

medidas de segurança.

Os privados de liberdade pertencem a um grupo

formado por indivíduos excluídos da sociedade por praticaram

atos ilícitos que apresentam algo em comum, no caso a condição

em que se encontram, e utilizam-se de vocábulos e gírias como

um meio alternativo para se comunicarem.

Para Petri (2001) a utilização de gíria pela sociedade, de

uma maneira geral, reflete hábitos e costumes dessa mesma

sociedade e isso, também, ocorre em grupos sociais restritos que

têm uma linguagem e uma gíria particular. Os privados de

liberdade não fogem desta regra. A gíria das prisões é uma

26
criação própria, em geral criptológica. Essa linguagem é extraída

do léxico comum, onde os significados são outros.

As gírias no sistema prisional podem ser entendidas

como um mecanismo de defesa dos apenados, mas ao mesmo

um manifesto de pertencimento e identitário, pois muitas destas

gírias sobressaem deste meio, chegando em toda a sociedade. É

inegável dizer que os presos são criativos. Usam diversas

metáforas, e artigos do código penal para definir alcunhas ou

grupo de presos, assim como palavras e um vocabulário

específico (BAGNO, 2005).

Abaixo estão algumas gírias extraídas do Jornal NH1 em

uma reportagem de 2014 sobre as gírias e o significado das

palavras utilizadas pelos detentos dentro do presídio central que

se estendem a todo o sistema prisional do RS:

1
Disponível em:
https://www.jornalnh.com.br/2014/02/noticias/regiao/17242-maior-parte-
dos-detentos-do-central-sao-da-regiao-saiba-o-que-eles-falam-la-dentro.html.
Acesso em 21 set. 2022.

27
ÁGUA BOMBADA – água aquecida no fogão de mola

ALEMANHA – É galeria “já puxei na Alemanha D, na

Alemanha C – os caras da Alemanha C tem uns bagulhos bons

lá... “ VILA eles chamam para o corredor da galeria,

COMARCA eles chamam para a cela.

AZEITONA – projétil

AZULZINHO – viagra

BALÃO – maconha

BARRANCO – significa demora (ex: levei um barranco na

visita, barranco para ser atendido pelo médico, estou a três

meses de barranco para ir embora...)

BARRANCO NO BOI – quando o detento demora muito no

banheiro – (o outro que quer usar grita – olha o barranco no

boi)

28
BATER AS TAMPAS – fazer tremer a galeria (toda a galeria

bate as portas das celas ao mesmo tempo, enquanto estas estão

abertas, até as 22:00, porque depois desse horário são fechadas,

fazem isso para reivindicar melhorias (as portas são de ferro e

muito pesadas, então dois detentos se posicionam

estrategicamente para bater a porta de sua cela, um lança a porta

para a batida e o outro abre a mesma para posicioná-la aos

outros baterem, eles fazem isso cadenciado, todas as portas

batem ao mesmo tempo, param também ao mesmo tempo para

gritarem palavras de ordem e recomeça as batidas novamente).

isso quando é rebelião, todas as galerias tem o mesmo objetivo

de reivindicação. Quando o motivo da reclamação é de uma

única galeria, que não importa para as outras, então as outras

não se envolvem, é uma briga individual, não é uma reclamação

organizada, é vista como uma baderna, bagunça. “sem

fundamento”

29
BOI – local onde os detentos fazem suas necessidades

fisiológicas – é um buraco aberto sem vaso sobreposto.

BOMBADOR – aquecedor de água (rabo quente) feito de

resistor de chuveiro elétrico. Obs: Também com as capas

metálicas de pilhas comum de rádio, eles fazem aquecedores de

água.

BROOKLIN – cela suja, cela usada somente para uso de

entorpecentes

BUBU ou PEPÃO – Coca-Cola

CABEÇA DE LATA – é aquele que assume algo que não fez,

assume para outro (crime, espancamento etc..)

CAGUETE – aquele que denuncia os outros, às vezes para

30
trocar favor com a segurança

CAÍDO NO SISTEMA – aquele que não recebe visitas, não

tem apoio

CAMINHADA – fazer algo ilícito dentro da cadeia

CARNE DE MONSTRO – carne de panela

CASQUILHO ou SEMENTE – ovo

CHOCADOR – é aquele que olha ou cuida a visita de outro

detento, isso é uma infração gravíssima dentro da ética dos

detentos no sistema prisional, pode ser caso de morte. Quando

isso acontece, nos dias de visita é óbvio, nada acontece enquanto

a última visita não deixar a galeria, é só as visitas saírem que as

consequências podem ser gravíssimas, espancamento é o

mínimo que acontece.

31
CHUVA – quando a polícia passa na rede (corredores elevados

dos policiais que observam as galerias)

COELHINHO – é aquele que dá uma rapidinha (ex: cada um

tem direito a uma hora de visita íntima na cela, mas aquele que

em 5 ou 10 minutos faz o serviço, os outros observam ele saindo

da cela, então é chamado de coelhinho, é motivo de chacota por

2 ou 3 dias)

COFRE – é denominado o detento que coloca dentro do ânus:

drogas, dinheiro, celular, chips ou qualquer objeto de valor e

que é ilícito para transporte dentro do presídio.

COMARCA – cela

CORTADOR – faquinha para cortar alimentos

32
CORUJA – cueca (usado também para aqueles que observam

para fazer denúncia – famoso X9, delator)

CUIA - chimarrão - (detento não usa a expressão chimarrão

..esta tem conotação sexual)

CUIUDA , PANELÃO ou (PANELÃO DO(A) + nome do

governador em exercício) – assim é chamada a comida oferecida

pelo sistema prisional

DENTÃO – pedra de crack

DESBLOQUEADO PARA AS QUATRO OPERADORAS –

é aquele que aceita todo o tipo de drogas, não rejeita nenhuma,

derrete todas ...

DORMIR DE VALETE – Quando dormem em sentido

invertido um com o outro. Os pés de um fica no mesmo lado

33
que a cabeça do outro.

DRAGÃO – isqueiro

DUCHA – é o banho, usado somente para os homens, se o

detento falar que vai se lavar, é chamado de mulher dentro do

sistema

DUQUE 13 – estuprador e pedófilo – vem do cód. 213

EMBRETAR – entrar na cela (ex: o jurídico sai gritando no

corredor da galeria “tá na mão para se embretar meu” nesta hora

todos tem que entrar na cela, 22:00 é a hora que fecha a cadeia

como eles dizem.

ENSACOLAR – delatar sem a vítima ter culpa, e esta sofre as

consequências disso (ex: um apenado inventou que um rival tem

34
um celular, sendo que ele não o tem, mas sofre as

consequências do delato – isso é ensacolar)

FARINHA – cocaína

FOGÃO DE MOLA ou MOLA - Os fogões das galerias “fogão

de mola ou simplesmente mola” é um tijolo escavado e a

resistência é acomodada nestes sulcos, esses fogões ficam

ligados constantemente na galeria, no inverno é mais.

FOSQUIAR – quando vai ao banheiro (boi) fazer a

necessidade número dois (vai dar uma fosquiada)

FUZIL – Cabo de vassoura

FUZIL COM PENTE – Vassoura completa, cabo e vassoura.

“me empresta o fuzil com pente”

35
GIBÓIA – corda feita de lençol ou manta. Eles amarram sacola

na ponta e serve para transferir material de uma galeria para

outra podendo ser produtos lícitos ou ilícitos (transferem de

uma galeria para outra (do primeiro ao terceiro andar dos

pavilhões): refrigerantes, celulares, armas, comida.....) Pode

servir também para fuga.

GRANADA – Almôndega

HELICÓPTERO – é a mulher gostosa, bonita...(mulher

conhecida como avião)

INCENTIVO – mais utilizado para a maconha, mas pode ser

usado também para qualquer droga.

JEGA – cama

36
JURÍDICO – é aquele que entrega documentações aos demais

detentos

LANHADA – rapadura

LANHADO DE CADEIA - É o apenado com muitas broncas,

tem muitos anos de cadeia a cumprir

LAVADOR DE LOUÇA – É o mesmo que caguete “ ahh está

lavando louça para a brigada”

LIGAR – quando um detento grita para outro na janela de outra

galeria para chamar alguém (ex: fulano! Me liga o beltrano,

falam gritando pela janela de uma galeria para a outra )

MACACA – banana

37
MISTURA – margarina com schmier ou chimia

MOCA – café

MORANGA – bunda, (ex: chegou com a moranga colada na

parede – é aquele que entra no presídio com medo, evita virar-

se de costas para alguém – anda com as costas voltada para a

parede). Normalmente acontece com detentos que ainda não

conhecem o sistema.

MUCA – cela suja, usado também para aquele que não toma

banho

PACOTINHO – pessoa em boas condições financeiras

PAISANA – comida feita pelos detentos na própria cela ou

38
alimentos trazidos pelos familiares.

PALETÓ DE MADEIRA – caixão de defunto (ex: paletó de

madeira pra ti !!!!. é uma ameaça de morte)

PANDECO – prato, pote...

PENTE – vassoura sem o cabo

PERCEBES – percevejo

PH – papel higiênico

PIRIRI – aparelho celular

PISANTE – tênis

39
PIT BULL – seguranças do plantão

POROTI – feijão

PREFEITURA – os caras de frente, (são embolados), trabalham

para os plantões

PRETINHA ou PRETA – estrada, asfalto (ex: detentos do

semi-aberto quando querem fugir ou fogem: vou pegar a preta

(pretinha) ou peguei a pretinha).

RAINHA DE PANDECO – Provavelmente com origem em

“pandeco” que significa prato, pote. Mas Rainha de Pandeco é

uma pena imposta pelo detento mais velho da cela para detento

que comete alguma infração para um certo grupo deles dentro

da cela. É aplicada a pena que pode variar em 5 ou até 15 dias

que é lavar todos os pratos , na verdade potes, de todos os

40
usuários da cela. – não são todas as galerias que adotam isso.

REMO – colher

REMO DE GARFO – garfo

ROSTO – pessoa falsa

SEM FRONTEIRA – Chip da TIMM

SURFAR – Dormir com a moranga (bunda) para cima.

TÁ NA MÃO A VILA – corredor das galerias liberado para

transitar

TEM CHÃO PARA IR EMBORA – vai demorar a sair

41
TIGUIRA – linguiça

TIRA – chinelo de dedo (ex: me empresta as tiras p/ tomar um

banho)

VAQUINHA ou TITI – leite , jamais eles pronunciam a palavra

“leite”

VASSOURÃO – É aquele que rouba na galeria

VASSOURINHA NOS DENTES – tratamento dentário

superficial

VILA – corredor da galeria – Alemanha é chamada a galeria

ZICA – escabiose (sarna).

42
AS GÍRIAS E O VOCABULÁRIO PRISIONAL COMO
UM MECANISMO IDENTITÁRIO E CULTURAL

43
4. AS GÍRIAS E O VOCABULÁRIO PRISIONAL COMO
UM MECANISMO IDENTITÁRIO E CULTURAL

“Desde os primórdios o homem sente a necessidade de

conviver em grupo, sendo esta uma característica intrínseca ao

ser humano. Encontramos diferentes grupos, formados por

pessoas com características comuns, dentre eles o grupo que

vive à margem das leis que regem a vida em sociedade

“(PINHEIRO, 2012, p. 26).

“A esfera da cultura é um domínio dos símbolos, e

sabemos, o símbolo tem a capacidade de apreender e relacionar

as coisas. Neste sentido, o homem é um animal simbólico e a

linguagem uma das ferramentas imprescindíveis que define sua

humanidade. Não existe, portanto, sociedade sem cultura, da

mesma maneira que linguagem e sociedade são

interdependentes. Os universos simbólicos “nomeiam” as

44
coisas, relacionam as pessoas, constituem-se em visões de

mundo.” (STUART HALL, A centralidade da cultura, 1997).

Presídios, periferias e delegacias já não tem mais

controle sobre a gíria ligada ao universo criminal, que se espalha

pela mídia e pelo cotidiano do cidadão comum. Conforme Petri

(2001) a gíria é um mecanismo identitário que transcende a

noção de código secreto. Além de ser uma linguagem que foge

à compreensão daqueles que nela não estão inseridos, a gíria

estabelece também uma maneira de identificar participantes

desse mundo e garantir a unidade da comunicação.

Isto se relaciona com Hall (1997) que fala que a cultura

é uma construção histórica que decorre da história das relações,

na maior parte das vezes desigual, entre os grupos sociais. Ainda

conforme Hall a cultura tem uma natureza dinâmica, mutável e

plural que é aprendida e difundida socialmente, ou seja, culturas

são carregadas de códigos e convenções socialmente

transmitidos.

45
Os privados de liberdade pertencem a um grupo

formado por indivíduos excluídos da sociedade por praticaram

atos ilícitos que apresentam algo em comum, no caso a condição

em que se encontram, e utilizam-se de vocábulos gírios como

um meio alternativo para se comunicarem e identificarem.

Assim, para Luiz Antônio Marcuschi em Linguagem e classes

sociais, ― o meio social é um fator importante para o

surgimento de um ou outro código. Um código restrito pode

surgir em qualquer ponto da sociedade em que as condições

prévias requeridas forem preenchidas (MARCUSCHI, 1975,

p.41).

46
CONSIDERAÇÕES FINAIS

47
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização da gíria pela sociedade, de uma maneira

geral, reflete hábitos e costumes dessa mesma sociedade e isso,

também, ocorre em grupos sociais restritos que têm uma

linguagem gíria particular. O grupo dos restritos de liberdade

também não foge desta regra. A gíria das prisões é uma criação

própria, em geral com códigos e significados específicos, isto é,

uma marca de identidade.

Assim como a cultura, a gíria no sistema prisional é uma

construção histórica decorrente de relações. As gírias no sistema

prisional podem ser entendidas como um mecanismo de defesa

dos apenados, mas ao mesmo um manifesto de pertencimento

e identitário.

Muitas destas gírias ultrapassaram os muros dos

presídios, algumas são mais específicas e restritas ao ambiente

prisional, visto que há diferença de vocábulos de Estado para

48
Estado, por exemplo, “cuia” dentro do sistema prisional é o

chimarrão, visto que chimarrão tem conotação sexual.

“Vaquinha” significa leite.

Outro processo que merece atenção é o da transposição

do número para a pessoa. O empréstimo do artigo do Código

Penal referente ao crime do presidiário passa a ser atribuído à

pessoa que cometeu tal delito: o “doze” é uma maneira de

identificar o traficante, preso com base no Artigo 12 do Código.

Assim acontece com o famoso “um-sete-um”: o Artigo 171, que

classifica o estelionato. O termo “Tá na mão” é um exemplo de

gíria que ultrapassou as barreiras dos presídios e chegou na

sociedade.

Percebe-se que a metaforização é um processo comum

nestas gírias e vocábulos. É um mecanismo de defesa dos

apenados, mas ao mesmo um manifesto de pertencimento e

identidade. Logo, conclui-se, a gíria dentro do sistema prisional

49
é uma forma de manifestação da cultura, manifestada

linguisticamente e metaforicamente.

50
REFERÊNCIAS

51
REFERÊNCIAS

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz.


37ed. São Paulo: Loyola, 2005.

HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as


revoluções culturais do nosso tempo. In:Educação & Realidade.
jul/dez. 1997.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguagem e classes sociais. Rio


Grande do Sul: Movimento. v.7, 1975.

NASCENTES, Antenor (1886-1972). Estudos filológicos:


volume dedicado à
memória de Antenor Nascentes. Organizado por Raimundo
Barbadinho Neto;
apresentação de Evanildo Bechara. – Rio de Janeiro: Academia
Brasileira de Letras, 2003.

PINHEIRO, Fabiana Paiva da Silva. A gíria como processo


alternativo de comunicação de jovens privados de liberdade do
Centro Educacional São Miguel. 2012. 61f. TCC
(Especialização) - Universidade Federal do Ceará, Faculdade de
Educação, Escola de Gestão Penitenciária e Ressocialização,
Curso de Especialização em Educação de Jovens e Adultos

52
(EJA) para professores do Sistema Prisional, Fortaleza (CE),
2012.

RIO GRANDE DO SUL. Secretaria da Administração


Penitenciária. Superintendência dos Serviços Penitenciários.
Disponível em:
<http://www.susepe.rs.gov.br >. Acesso em: 25 set. 2022.

URBANO, Hudinilson. Dino Preti e seus temas - Oralidade,


Literatura, Mídia e Ensino. São Paulo: Editora Cortez, 2001.

53
ÍNDICE REMISSIVO

54
ÍNDICE REMISSIVO

A Atenção, 55

Administrativa, 32 Atribuído, 55

Algo, 36 B

Almôndega, 42 Banheiro, 41

Alternativo, 21, 32 Beltrano, 43

Ameaça, 45 Bombador, 36

Analisar, 27 Brooklin, 36

Animal, 50 Buraco, 36

Ânus, 38 C

Aparelho Celular, 45 Cabo, 41

Apenados, 25 Caguete, 43

Artigo, 27 Caguete, 37

Asfalto, 46 Caminhada, 37

Assume, 36 Característica, 50

55
Caracterizam, 29 Comunicação, 26

Cela, 38, 45 Condição, 21, 32

Celular, 38 Condições, 44

Celulares, 42 Conjunto, 29

Central, 33 Consequências, 41

Chips, 38 Considerada, 29

Chocador, 37 Construção, 21, 51

Cima, 47 Costumes, 32, 54

Circunstâncias, 25 Cotidiano, 26

Código, 55 Criação, 33

Coelhinho, 38 Crime, 55

Coelhinho, 38 Criminologia, 21, 25

Colher, 47 Criminoso, 21, 25

Comportamento, 25 Criminosos, 29

Compreensão, 26 Criptológica, 33

Comum, 21, 32 Cultura, 21, 51

56
Cultura, 21 Empréstimo, 55

Culturas, 25 Enraizadas, 25

D Entendidas, 21, 54

Definida, 29 Entorpecentes, 36

Delito, 55 Escabiose, 48

Demorar, 47 Escavado, 41

Denominado, 38 Espancamento, 37

Detentos, 44 Específicas, 54

Detidos, 21 Estabelecimento, 26

Dinheiro, 38 Estadual, 32

Diversas, 33 Estrada, 46

Documentações, 43 Excluídos, 32

Drogas, 25, 38 Exemplo, 55

E Expressões, 27

Embolados, 46 Extraída, 33

Embretar, 40

57
F Geral, 54

Familiares, 45 Gibóia, 42

Famoso, 55 Gíria, 29, 32, 54

Faquinha, 38 Gíria, 21

Feijão, 46 Governador, 39

Financeiras, 44 Gravíssimas, 37

Fisiológicas, 36 Grupo, 21, 54

Fogões, 41 H

Forma, 29 Hábitos, 32, 54

Frequente, 30 Helicóptero, 42

Fuga, 42 Histórica, 21, 54

Fuzil, 41 Homem, 50

G I

Galeria, 35, 42, 43 Idade, 30

Galerias, 41 Identidade, 55

Garfo, 47 Identificam, 25

58
Identitário, 21, 33, 51 Linguagem, 26, 27, 54

Ilícito, 37 Linguiça, 48

Ilícitos, 32 M

Incentivo, 42 Maconha, 42

Indenitário, 26 Madeira, 45

Indigentes, 29 Maneira, 32, 54

Indivíduos, 21, 32 Manifestação, 30, 56

Inseridos, 26, 51 Manifestada, 30, 56

Interação, 30 Manifesto, 21

J Manutenção, 29

Jega, 43 Marca, 54

L Margarina, 44

Lavar, 47 Mecanismo, 21, 54

Leite, 48, 55 Medidas, 32

Léxico, 33 Merece, 55

Liberdade, 21, 32 Metáforas, 33

59
Metaforicamente, 56 P

Metaforização, 55 Palavra, 48

Metálicas, 36 Palavras, 33, 35

Moca, 44 Pandeco, 46

Modalidade, 29 Pente, 45

Monstro, 37 Pepão, 36

Moranga, 44, 47 Percevejo, 45

Mulher, 42 Pertencimento, 55

Mundo, 26 Pessoa Falsa, 47

N Pessoas, 30

Necessidade, 26 Ph, 45

Noção, 51 População, 26

O Porta, 35

Ocorre, 32, 54 Práticas, 21, 25

Operadoras, 39 Prato, 45

Oportunidade, 26 Pratos, 47

60
Preenchidas, 52 Rapadura, 43

Presídio, 33 Rapidinha, 38

Presídios, 54, 55 Rebelião, 35

Presos, 25, 33 Reflete, 32

Preta, 46 Relação, 25

Pretinha, 46 Requeridas, 52

Prisão, 25 Responsável, 32

Prisional, 25, 26, 34, 55 Restritos, 54

Privados, 21 S

Processo, 55 Secretaria, 32

Prognósticos, 25 Seguranças, 46

Própria, 54 Semi-Aberto, 46

Q Serviço, 38

Quase, 26 Serviços, 32

R Sexual, 55

Ramos, 25 Significado, 33

61
Significados, 33 Tijolo, 41

Simbólico, 50 Timm, 47

Sistema, 33, 37 Traficante, 55

Sistema, 21 Transporte, 38

Sistemas, 32 Transposição, 55

Sjsps, 32 Trocar, 37

Social, 29 U

Sociedade, 21, 25, 30, 32, 50, 54 Usadas, 27

Socioeducativo, 32 Utilizadas, 33

Sociologia, 25 V

Subordinada, 32 Vassoura, 41

Superintendência, 32 Vassourinha, 48

Surgir, 52 Visitas, 37

Susepe, 32 Vocabulário, 33

T Vocábulos, 27, 32, 55

Territoriais, 27

62
Z

Zica, 48

63

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